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Dissertação sobre fitossociologia.

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  • UFRRJ INSTITUTO DE FLORESTAS

    CURSO DE PS-GRADUAO EM CINCIAS

    AMBIENTAIS E FLORESTAIS

    DISSERTAO

    Florestas e carvoeiros: resultantes estruturais do uso

    da Mata Atlntica para fabricao de carvo nos

    sculos XIX e XX no Rio de Janeiro

    Fernanda Vieira Santos

    2009

  • UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

    INSTITUTO DE FLORESTAS

    CURSO DE PS-GRADUAO EM CINCIAS AMBIENTAIS E

    FLORESTAIS

    FLORESTAS E CARVOEIROS: RESULTANTES ESTRUTURAIS

    DO USO DA MATA ATLNTICA PARA FABRICAO DE CARVO

    NOS SCULOS XIX E XX NO RIO DE JANEIRO

    FERNANDA VIEIRA SANTOS

    Sob a Orientao do Professor

    Rogrio Ribeiro de Oliveira

    Dissertao submetida ao programa de ps-graduao em Cincias Ambientais e Florestais, como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Cincias, rea de concentrao em Conservao da Natureza.

    Seropdica, RJ

    Maro de 2009

  • DEDICO

    A Deus em primeiro lugar, e a minha querida

    sobrinha Manuela, que em Setembro estar conosco

  • AGRADECIMENTOS

    A minha me por todo o apoio, compreenso, e por ser um exemplo de pessoa que me faz

    seguir em frente com tanta confiana e amor;

    A PGCCA por ter oferecido este curso que foi de extrema importncia para a minha vida

    acadmica, e apara a vida em geral, que me fez crescer como profissional e como pessoas;

    A Capes por ter me concedido a bolsa de mestrado, sem a qual no teria sido possvel eu

    ingressar no curso;

    Ao meu orientador Rogrio Ribeiro de Oliveira por todo o conhecimento passado e dedicao

    em todos esses anos que estivemos trabalhando juntos, e por toda a orientao que foi

    fundamental para que me transformasse na profissional que sou hoje em dia. Muito obrigada

    do fundo do corao!

    Ao prof. Luiz Mauro por ter aceitado participar da banca da minha dissertao, e pelas

    sugestes feitas que incrementaram e melhoraram meu trabalho;

    A prof. Rita Schell por ter participado da minha banca, ajudando com seu exmio

    conhecimento sobre carvoarias, que foi de essencial importncia para minha dissertao;

    A minha irm Bruna Vieira Santos por todos os ensinamentos da vida, e por todas as vezes

    que teve que me ajudar a pegar formulrios na Rural, e as vezes que tive que pegar o carro

    para ir estudar, deixando ela a p.

    Ao meu namorado Maximiliano Moreno Lima por todos os fins de semana que esteve comigo

    fazendo as correes e a formatao da dissertao, e por todo o apoio, carinho, compreenso,

    amor e a pacincia durante este perodo;

    As queridas amigas Eline e Priscila, por todas as vezes que me hospedaram com a maior

    alegria em seus respectivos alojamentos, pela ajuda na parte mais biolgica, e por todas as

    risadas que demos nos churrascos e nas aulas;

    Aos amigos queridos da Turma 2007.1 do mestrado em cincias ambientais e florestais:

    Dbora, Aline, Cristiane, Flavio, Gustavo, Rolf Batman por todas as vezes que estivemos

    juntos nas aulas e nos trabalhos de campo, sempre me ajudando e dando o apoio necessrio;

    Aos queridos amigos Evelyn Flor, Marion Flor, Paula Belmiro, Felipe Bagatoli, Natalia

    Moreno, Nathalia, por toda a fora que me deram enquanto eu estava no mestrado, dispostos a

    me ajudar e a entender quando no pude ir aos churrascos ou festas porque estava escrevendo

    a dissertao;

  • As amigas Cristiane, Bianca Segreto, Juliana Freire, por todas as tardes que passamos no

    Herbrio Friburgense, identificando, ou tentando identificar as espcies do meu trabalho, e

    pelas boas risadas e aprendizado que tive nestas tardes;

    Ao amigo e Mestre Alexandre Chrtisto pela necessria e importante ajuda na Anlise de

    Correspondncia Cannica, sem a qual eu no teria conseguido entregar a dissertao na data

    limite. E pelas aulas de estatstica bsica que foram de fundamental importncia. Muito

    obrigada!

    A toda a famlia do meu orientador, por todos os momentos divertidos que passei nesses anos,

    e em especial, cachorrinha Petnia, por todos os trabalhos de campo que esteve conosco,

    sempre atenta ao caminho e auxiliando na hora de voltar na trilha;

    A todos que acreditaram e torceram por mim nestes dois anos maravilhosos!

  • UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE FLORESTAS PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS AMBIENTAIS E FLORESTAIS

    FERNANDA VIEIRA SANTOS

    Dissertao submetida como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Cincias,

    no Curso de Ps-Graduao em Cincias Ambientais e Florestais rea de Concentrao em

    Conservao da natureza.

    DISSERTAO APROVADA EM 31/03/2009

    ________________________________________________

    Rogrio Ribeiro de Oliveira Professor Dr. PUC - Rio

    (Orientador)

    _______________________________________________

    Luiz Mauro Sampaio Magalhes Professor Dr. UFRRJ

    _____________________________________________

    Rita Scheel-Ybert Professora Dra. MN/UFRJ

  • RESUMO

    SANTOS, Fernanda Vieira. Florestas e carvoeiros: resultantes estruturais do uso da Mata Atlntica para fabricao de carvo nos sculos XIX e XX no Rio de Janeiro. 2009. 91p Dissertao (Mestrado em Cincias Ambientais e Florestais, Conservao da Natureza). Instituto de Florestas, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropdica, RJ, 2009. A maioria dos remanescentes florestais encontrados na Mata Atlntica pode ser classificada

    como florestas secundrias, devido a seus usos anteriores variados, principalmente a

    agricultura de subsistncia e explorao madeireira. Um desses usos que ocorreu no macio

    da Pedra Branca entre os sculos XIX e XX, foi o corte seletivo para fabricao de carvo

    vegetal in situ. Os carvoeiros eram os principias agentes desta atividade, e eram

    principalmente pequenos posseiros que, sem outra condio de sobrevivncia, vendiam sua

    fora de trabalho por um preo irrisrio para o proprietrio da terra. Este uso dos recursos

    florestais constitui um paleoterritrio, que seria uma das etapas antrpicas dos processos

    biticos e abiticos que condicionam o processo da regenerao das florestas, onde a cultura

    das populaes tradicionais desempenha relevante papel. O carvo era fabricado in situ nos

    chamados balo de carvo. Esta atividade caiu em desuso na dcada de 1950, e a vegetao se

    regenerou, sendo hoje encontrados os vestgios desta atividade atravs das chamadas cavas

    (plats na encosta de aproximadamente 100 m que apresentam solo com pedaos de carvo

    at a profundidade de 60 cm). O paleoterritrio de carvoeiros no macio da Pedra Branca

    durou cerca de um sculo, e o presente trabalho avaliou a resultante ecolgica desta atividade

    na composio e estrutura da Mata Atlntica remanescente. A estrutura dos trechos

    inventariados foi determinada atravs do mtodo de parcelas, com 10 x 10m, alocadas ao

    redor de cada cava de balo de carvo, a partir de seu centro: a direita, a esquerda, a jusante e

    a montante, totalizando 4.000 m ou 0,4 ha. Foram amostradas 10 cavas de balo de carvo,

    sendo cinco no fundo de vale, e cinco no divisor de drenagem. O critrio de incluso para os

    indivduos arbreos foi DAP > 5 cm. Para a anlise qumica do solo, foram coletas amostras

    na profundidade de 0 a 10 cm nas parcelas de estudo de cada uma das 10 carvoarias,

    analisando - se a fertilidade do solo. Nas reas circunvizinhas a cavas de balo de carvo no

    macio da Pedra Branca, foram encontrados 543 indivduos (sendo 43 mortos em p),

    distribudos em 125 espcies, subordinados a 96 gneros e 36 famlias. A rea total amostrada

    (0,4 ha) apresentou densidade de 1.357 ind/ha e rea basal de 35,4 m/ha. A partir do teste de

    hiptese T de Fischer no foram encontradas diferenas significativas para as reas basais e as

    densidades entre as dez carvoarias amostradas. O dendograma de similariadade florstica

  • evidenciou a diviso das cavas de balo de carvo, em dois grandes grupos, de um lado as

    cavas do fundo de vale e de outro as cavas do divisor de drenagem. A ordenao dos dados

    de solo e vegetao foi realizada pela anlise de correspondncia cannica (ACC) que indicou

    que existe correlao entre as variveis florestais e ambientais. A ACC tambm evidenciou a

    separao das cavas de fundo de vale das do divisor de drenagem. Espcies como

    Chrysophyllum flexuosum, Gomidesia schaueriana, Miconia tristis, Rudgea langsdorffii,

    Sapium glandulatum e Sloanea garckeana, tendem a ser abundantes em reas com drenagem

    mais forte, localizadas prximas ao divisor de drenagem, que tambm apresentam teores de

    Al e H+ AL mais altos, enquanto no outro extremo do gradiente, que corresponde aos locais

    com drenagem mais deficiente, com solos mais ricos em nutrientes como K, CA e Saturao

    de bases (V) e com pH mais elevado, localizadas no fundo do vale, concentram-se espcies

    como Artocarpus heterophyllus, Ficus insipida, Guarea guidonia, Miconia calvescens,

    Nectandra membranacea e Piptadenia gonoacantha. A partir das anlises estatsticas, ficou

    comprovado que no somente o uso anterior da rea, como tambm as variaes do ambiente,

    como os elementos qumicos do solo, est afetando o desenvolvimento das espcies neste

    ambiente.

    Palavras-chave: Histria Ambiental, paleoterritrio, Mata Atlntica, Florstica, Estrutura, Similaridde florstica, ACC.

  • ABSTRACT SANTOS, Fernanda Vieira. Forest and Charcoal makers: structural resultants of Mata

    Atlntica use to charcoal fabrication in the century XIX and XX, Rio de Janeiro. 2009.

    91p. Dissertation (Master Science in Environmental and Forest Science, Nature

    Conservation). Instituto de Florestas, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,

    Seropdica, R.J, 2007.

    Most of the forest remainders found in the Atlantic Forest can be classified like secondary

    forests, due to his previous varied uses, principally the agriculture of subsistence and

    exploration madeireira. One of these uses that took place in the massif from macio da Pedra

    Branca between the centuries XIX and XX, was the selective cut for manufacture from

    vegetable charcoal in situ. The charcoal makers were begin them agents of this activity, and

    it was principally small leaseholders who, without another condition of survival, were selling

    his workforce at a derisory price to the owner of the land. This use of the forest resources

    constitutes a paleoterritory, which would be one of the human stages of the processes biotics

    and non - biotics what stipulates the process of the regeneration of the forests, where the

    culture of the traditional populations fulfills relevant paper. The charcoal was manufactured in

    situ in the calls balloon from charcoal. This activity fell into disuse in the decade of 1950,

    and the vegetation was regenerated, when the tracks of this activity found today through the

    hollow calls (plateaus in the slope of approximately 100 m what present ground with pieces

    from charcoal up to the depth of 60 cm). The paleoterritory of charcoal makers in the massif

    from macio da Pedra Branca lasted around one century, and the present work valued the

    ecological resultant force of this activity at the composition and structure of the Atlantic

    Forest is more than enough. The structure of the made an inventory passages was determined

    through the method of plots, with 10 x 10m, allocated around each armhole of balloon from

    charcoal, from his centre: on right, the left, downstream and to amount, when 4.000 are

    totalizing m or 0,4 ha. Individual trees with diameter at breast height (dbh) > 5 cm were

    sampled. For the chemical analysis of the soil, they were collections samples in the depth

    from 0 to 10 cm in the plots of study of each one of 10 charcoal -pits, analysing if the

    fertility of the soil. In the circumambient areas to armholes of balloon from coal in the massif

    from the Pedra Branca, there were found 543 individuals (being 43 dead men in foot),

    distributed in 125 sorts, subordinated to 96 types and 36 families. Total area documented (0,4

    ha) presented density of 1.357 ind/ha and basal area of 35,4 m /ha. From the test of

  • hypothesis T of Fischer significant differences were not found for the basal areas and the

    densities between ten charcoal -pits documented. The floristic similarity (cluster) showed up

    the division of the armholes of balloon from coal, in two great groups, from a side the

    armholes of the bottom of valley and of other the armholes of the divisor of drainage. The

    ordination of the data of soil and vegetation was carried out by the canonical correspondence

    analysis (CCA) that it indicated that there is correlation between the forest and environmental

    variables. The ACC also showed up the separation of the armholes of bottom of valley of that

    of the divisor of drainage. The species Chrysophyllum flexuosum, Gomidesia schaueriana,

    Miconia tristis, Rudgea langsdorffii, Sapium glandulatum e Sloanea garckeana, have a

    tendency to be abundant in areas with stronger drainage, located near to the divisor of

    drainage, which they also present Al's tenors and H AL higher, while in another extreme,

    which corresponds to the places with more defective drainage, with richer grounds in

    nutritious K, CA, Basic saturation (V) and with pH more elevated, located in the bottom of

    the valley, sorts are concentrated like Artocarpus heterophyllus, Ficus insipida, Guarea

    guidonia, Miconia calvescens, Nectandra membranacea e Piptadenia gonoacantha. From the

    statistical analyses, it was proved that not only the previous use of the area, like also the

    variations of the environment, like the chemical elements of the ground, is affecting the

    development of the sorts in this environment.

    Key words: Environmental History, paleoterritory, Atlantic Forest, structure, floristic, floristic similarity (cluster), CCA.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1- Aspecto de um balo de carvo no Macio da Pedra Branca em rea de encosta

    (Magalhes Correa, 1933). .......................................................................................................18

    Figura 2 - Mapa do municpio do Rio de Janeiro, com os trs macios que o recobrem

    (macio da Pedra Branca, Tijuca e Mendanha)........................................................................34

    Figura 3 - Aspecto geral da camada superficial da floresta evidenciando a cor enegrecida do

    solo e com detritos de carvo vegetal at aproximadamente 30 cm no subsolo. .....................36

    Figura 4 - Detalhe na rea de estudo apresentando uma cava de balo de carvo. ..................37

    Figura 5- Mapeamento das cavas de balo de carvo na vista area da rea de estudos, Bacia

    do Rio Caambe, Macio da Pedra Branca, RJ. .......................................................................38

    Figura 6- Mapeamento das cavas de balo de carvo na vista em perspectiva das curvas de

    nveis da rea de estudos, Bacia do Rio Caambe, Macio da Pedra Branca, RJ. ...................39

    Figura 7 - Disposio das parcelas de estudo em relao s cavas de carvo..........................40

    Figura 8 - Vista da rea de estudos evidenciando a formao florestal secundaria bacia do Rio

    Caambe, Macio da Pedra Branca, RJ....................................................................................45

    Figura 9 Grfico de classe de dimetros em reas circunvizinhas, a cavas de balo de

    carvo, Macio da Pedra Branca. .............................................................................................52

    Figura 10 - Classificao das espcies e indivduos em estgios sucessionais, no Macio da

    Pedra Branca, RJ (Pi = Pioneira; Si = Secundaria Inicial; St = Secundaria Tardia e Sd = Sem

    Dados).......................................................................................................................................53

    Figura 11 - Dendrograma de similaridade florstica de Sorensen em reas utilizadas para

    fabricao de carvo vegetal, sculo XIX e XX, macio da Pedra Braa, RJ..........................60

    Figura 12 - Ordenao da analise de Twinspan realizada com 24 espcies em reas

    circunvizinhas a cavas de balo de carvo, macio da Pedra Branca, RJ. (Sloa garc = Sloanea

    garcqeana; Anad colu = Anadenanthera colubrina e Allo seri = Allophylus sericius). ...........61

    Figura 13 - Diagramas de ordenao das parcelas baseada na distribuio do nmero de

    indivduos de 24 espcies em 40 parcelas amostradas em reas circunvizinhas a cavas de

    balo de carvo vegetal, macio da Pedra Branca, RJ, e sua correlao com as seis variveis

    edficas utilizadas (setas). ........................................................................................................65

    Figura 14- Diagramas de ordenao das espcies baseada na distribuio do nmero de

    indivduos de 24 espcies em 40 parcelas amostradas em reas circunvizinhas a cavas de

  • 12

    balo de carvo vegetal, macio da Pedra Branca, RJ, e sua correlao com as seis variveis

    edficas utilizadas (setas). ........................................................................................................68

  • 13

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Principais caractersticas fsico qumicas do solo em reas utilizadas para corte e

    fabricao de carvo vegetal, macio da Pedra Branca, RJ. (Na = Sdio; Ca = Clcio; Mg =

    Magnsio; K = Potssio; H+Al = Saturao de alumnio; Al = teor de alumnio; V =

    Saturao de Bases; Corg = Carbono orgnico).......................................................................46

    Tabela 2 - Comparao entre as famlias encontradas nos estudos realizados na Floresta

    Atlntica da regio sudeste. ......................................................................................................48

    Tabela 3 - Comparao entre os resultados encontrados para dap, densidade e rea basal, entre

    este estudo e demais realizados na Mata Atlntica da regio sudeste. .....................................49

    Tabela 4 - Parmetros Estruturais de reas circunvizinhas a cavas de balo de carvo, bacia do

    rio Caambe, macio da Pedra Branca, RJ...............................................................................50

    Tabela 5- Sumrio estatstico produzido pela Anlise de Correspondncia Cannica (ACC)

    realizado em 40 parcelas de 10 10 m utilizadas para amostrar a comunidade arbreo-

    arbustiva e solos de reas circunvizinhas a cavas de balo de carvo vegetal no macio da P62

    Tabela 6 Resultado do teste de Monte Carlo, com 998 permutaes, para os autovalores

    produzidos pela anlise de correspondncia cannica (ACC) de 40 parcelas de 10 10 m

    utilizadas para amostrar a comunidade arbreo-arbustiva e solos de reas circunvizinhas a

    cavas de balo de carvo vegetal no macio da Pedra Branca, RJ. ..........................................63

    Tabela 7 - Resultado do teste de Monte Carlo, com 998 permutaes, para as correlaes

    espcie-ambiente produzidas pela anlise de correspondncia cannica (CCA) de 40 parcelas

    de 10 10 m utilizadas para amostrar a comunidade arbreo-arbustiva e solos de reas

    circunvizinhas a cavas de balo de carvo vegetal no macio da Pedra Branca, RJ................63

    Tabela 8 - Anlise de correspondncia cannica (ACC) de 40 parcelas utilizadas para

    amostrar a comunidade arbreo-arbustiva e solos em reas circunvizinhas a cavas de balo de

    carvo vegetal no macio da Pedra Branca, RJ. Os valores so correlaes internas

    (intraset) nos dois primeiros eixos de ordenao e de correlaes ponderadas entre as

    variveis ambientais utilizadas na anlise. ...............................................................................64

    Tabela 9 - Valores correspondentes mdia dos valores edficos somados ou subtrados dos

    respectivos desvios, em 40 parcelas de 10 x 10 m distribudas entre fundo de vale e divisor de

    drenagem em reas circunvizinhas a cavas de balo de carvo,bacia do rio Caambe, macio

    da Pedra Branca, RJ. (n= nmero de parcelas).........................................................................66

  • 14

    Tabela 10 - Coeficientes de correlao de Spearman entre as abundncias das 24 espcies nas

    40 parcelas amostradas em reas circunvizinhas a cavas de balo de carvo vegetal, macio da

    Pedra Branca, RJ. .....................................................................................................................69

  • 15

    SUMRIO

    1 INTRODUO....................................................................................................................16

    1.1 Objetivos........................................................................................................................19

    2 REVISO DE LITERATURA ............................................................................................21

    2.1 Histria Ambiental .........................................................................................................21

    2.2 Sucesso Ecolgica, Estrutura, Composio e Funcionalidade nos Ecossistemas.........25

    2.3 Pontes Entre as Cincias Sociais e as Biolgicas ..........................................................28

    2.4 A Fabricao de Carvo Vegetal no Macio da Pedra Branca.......................................31

    3 MATERIAIS E MTODOS..................................................................................................34

    3.1 rea de Estudos ..............................................................................................................34

    3.1.1 Relevo e Solo...........................................................................................................35

    3.1.2 Clima .......................................................................................................................35

    3.1.3 Vegetao ................................................................................................................35

    3.2 Procedimentos Metodolgicos .......................................................................................36

    3.2.1 Mapeamento das carvoarias.....................................................................................37

    3.2.2 Composio e estrutura da comunidade florestal ....................................................40

    3.2.3 Caractersticas fsico-qumicas do solo ...................................................................41

    3.2.4 Tratamento estatstico..............................................................................................42

    3.2.4.1 Anlise de agrupamento (Anlise de Cluster) ......................................................42

    3.2.4.2 Anlise de correspondncia cannica (ACC).......................................................42

    4 RESULTADOS E DISCUSSO ..........................................................................................44

    4.1 Estrutura Geral da Comunidade Florestal ......................................................................45

    4.1.1 Classe de dimetro...................................................................................................51

    4.1.2 Estgio sucessional ..................................................................................................52

    4.2 Parmetros Estruturais da Comunidade Florestal das Cavas de Balo de Carvo ........53

    4.3 Anlise de Similaridade Florstica Anlise de Cluster............................................57

    4.3.1. Anlise de Twinspan ..............................................................................................60

    4.4. Anlise de Correspondncia Cannica (ACC) ..............................................................61

    5 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................................71

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .....................................................................................73

    ANEXOS..................................................................................................................................82

  • 16

    1 INTRODUO

    Em uma perspectiva histrica evidente que a paisagem que nos chegou at hoje

    produto das relaes histricas de populaes com o seu ambiente. Apesar de numerosos

    ecossistemas guardarem marcas deste legado ambiental, importante lembrar que muitos

    bilogos e eclogos ainda concebem os sistemas ecolgicos como naturais, desconectados

    das atividades humanas que se passaram em diversas escalas de tempo. Assim, a considerao

    de que os ambientes florestais constituem espaos livres da interferncia humana algo que

    pervade numerosas vises de mundo e at mesmo conceitos consagrados na literatura

    ecolgica. Neste sentido, os termos floresta primria, conservada ou intocada so exemplos

    que constituem o vis de numerosas pesquisas em Ecologia, Cincias Ambientais e

    disciplinas afins. Isto porque muitos autores no levam em considerao as alteraes que o

    ser humano, a partir do uso dos ecossistemas, promove nestes ambientes. Assim sendo,

    tendem a esquecer o aspecto da transformao pelo trabalho humano, e passam a considerar

    as florestas como ambientes isentos de interferncias, e ainda, que a fisionomia atual destas

    resultado apenas de processos naturais (Denevan, 1992; Adams 1994; GarcaMontiel, 2002).

    A este propsito, Simmons (1996) explica que muitas vezes o problema no se

    encontra em conscientemente escolher entre considerar os aspectos passados ou esquec-los,

    mas sim na dificuldade de se delimitar o grau de degradao ao qual as florestas esto

    associadas. Neste sentido, o autor aponta as duas dificuldades que podem ser relacionadas a

    este fato: primeiro, a falta de conhecimento do histrico de ocupao das florestas, e segundo,

    a dificuldade de julgar o quanto da destruio ou transformao est associada ao impacto

    humano.

    Dentro deste contexto, da relao homem x natureza, Brown & Lugo (1990)

    demonstram em seus estudos que 31% das florestas densas do planeta, que eram consideradas

    intocadas, so na verdade florestas secundrias, com diversos tipos de perturbaes no espao

    e no tempo. Essas florestas secundrias se apresentam como um mosaico vegetacional de

    diferentes tamanhos e idades. Gmez-Pompa & Vasquez Yanes (1974) consideram o

    momento presente como sendo a era da vegetao secundria, corroborando as idias

    anteriores. No entanto, estas formaes secundrias apresentam um impacto global bastante

    positivo, pois tm implicaes no seqestro de carbono, na biodiversidade regional e na

    estabilidade do solo (Piussi & Farrel, 2000).

  • 17

    A fim de diferenciar e melhor entender as perturbaes nas florestas neotropicais,

    Garca - Montiel (2002) apresenta dois tipos que podem ser detectados nas florestas: as

    perturbaes naturais, causadas por eventos naturais, como furaces, ou o prprio processo

    natural de sucesso ecolgica; e o outro, os impactos humanos, que deixam resqucios e/ou

    vestgios que podem ser detectados e analisados.

    Deste modo, o bioma Mata Atlntica pode ser observado da mesma maneira,

    entendido como um mosaico vegetacional de diferentes idades, tamanhos e estgios

    sucessionais. Muito da heterogeneidade intrnseca a esse bioma ocorre devido distribuio

    em condies climticas e em altitudes variveis, que favorece a diversificao de espcies

    que esto adaptadas s diferentes condies topogrficas de solo e umidade, e aos diferentes

    usos pretritos antrpicos, assim como o manejo dessas reas no presente.

    Especificamente na regio Sudeste, tal heterogeneidade foi classificada por Joly et al.

    (1991), em trs formaes distintas: as florestas das plancies litorneas, as de encosta e as de

    altitude. Outro ponto de destaque so os endemismos, como descrito em Myers et al. (2000),

    que apontaram que este bioma apresenta aproximadamente 8.000 espcies de plantas

    endmicas, 73 de pssaros, 160 de mamferos, entre outros taxa. Assim, apesar da grande

    devastao qual a Mata Atlntica esteve submetida, esta ainda guarda uma biodiversidade

    compatvel com as florestas tropicais mais diversas do planeta.

    No que tange maioria dos remanescentes florestais encontrados na Mata Atlntica,

    estes podem ser classificados como florestas secundrias, devido a seus usos anteriores

    variados, principalmente a agricultura de subsistncia e explorao madeireira. Acredita-se

    serem escassas reas de floresta de encosta sem a presena de usos anteriores; estas podem ser

    encontradas apenas em vertentes declivosas, em encosta de tlus com excesso de mataces, ou

    em linhas de cumeadas. A maioria das demais reas florestadas apresenta vestgios histricos

    de uso anterior como baldrames de casa, fragmentos de carvo no solo, espcies exticas ou

    escapadas de cultivo, explicando assim a ocorrncia de vastas reas de florestas secundrias.

    Esta situao, com poucas variaes, se repete em numerosos trechos da Serra do Mar.

    Este bioma, atualmente, evidencia em sua composio, estrutura e funcionalidade, a

    resultante dialtica da presena dos seres humanos. Muito do que entendemos hoje por

    natureza primitiva na verdade um mosaico vegetacional de usos pretritos para a

    subsistncia de populaes tradicionais (indgenas, quilombolas, caiaras, sitiantes, etc.), que

    se sobrepem com maior ou menor freqncia e muitas vezes deixam vestgios.

    Um dos muitos usos passados que pode ser detectado na Mata Atlntica,

    particularmente no Rio de Janeiro, a fabricao de carvo vegetal, que ocorreu nas encostas

  • 18

    dos macios da cidade na transio do sculo XIX para o XX. Neste perodo, grande parte dos

    foges domsticos do permetro urbano da cidade passou a ser alimentada com carvo vegetal

    ao invs de lenha. Tratou-se de uma atividade economicamente relevante para a populao

    que dela sobrevivia, os carvoeiros, assim como para a depleo da Mata Atlntica dos

    macios litorneos do Rio de Janeiro.

    Uma das poucas evidncias sobre essa atividade no macio da Pedra Branca

    localizado na Zona Oeste do municpio do Rio de Janeiro encontrada no livro O Serto

    Carioca de Magalhes Corra1 (1933), que descreve desde a preparao do balo de carvo,

    at a total queima da lenha e a distribuio do carvo para a cidade do Rio de Janeiro.

    Segundo esse autor, existiam algumas etapas principais para a fabricao do carvo vegetal

    atravs dos bales de carvo, que eram: a roada e a derrubada, onde ocorria

    respectivamente, o corte dos pequenos arbustos e a derrubada das rvores de porte, a coivara,

    que consistia na queima da folhas e dos galhos, o aplainamento do terreno que receberia o

    balo e a parte final, a combusto da lenha dentro do balo com seu posterior recolhimento e

    distribuio. A Figura 1 ilustra um balo de carvo, conforme Correa (1933).

    Figura 1- Aspecto de um balo de carvo no Macio da Pedra Branca em rea de encosta (Magalhes

    Correa, 1933).

    1 Magalhes Corra foi um grande estudioso, historiador e admirador das florestas do macio da Pedra Branca, e com seus relatos de vivencia e estudos no macio, escreveu o livro O Serto Carioca, onde narra um pouco sobre s condies das florestas e as atividades que ocorriam nesse macio no incio do sculo XX.

  • 19

    O carvo era fabricado in situ, por meio de carvoarias os chamados bales de carvo

    ou cavas de balo estabelecidas em pequenos plats abertos enxada, ou ampliando-se

    degraus de origem lito-estrutural nas encostas as chamadas cavas. Hoje em dia temos os

    vestgios da existncia desses bales de carvo atravs de plats com dimenses entre 100 e

    200 m, que apresentam fragmentos de carvo no solo at 60 cm de profundidade ou mais.

    Tais cavas so comuns a inmeras reas de Mata Atlntica onde se deu a explorao do

    carvo, ocorrendo tambm em muitos locais da Amrica Latina, como em Porto Rico (Garca-

    Montiel & Scatena 1994).

    Os carvoeiros eram principalmente pequenos posseiros que, sem outra condio de

    sobrevivncia, vendiam sua fora de trabalho por um preo irrisrio para o proprietrio da

    terra, ou produziam o carvo por conta prpria. A fabricao e comercializao do carvo

    vegetal por parte dos carvoeiros garantiam a sobrevivncia de suas famlias. Com a

    modernizao da cidade esta atividade caiu em desuso, e as reas desmatadas recompuseram-

    se em parte por meio da sucesso ecolgica.

    A fabricao de carvo no macio da Pedra Branca durou cerca de um sculo, e o

    presente trabalho pretende avaliar a resultante ecolgica desta atividade na composio e

    estrutura da Mata Atlntica remanescente.

    1.1 Objetivos

    O objetivo do presente estudo detectar e analisar as resultantes da presena e atuao

    de populaes passadas de carvoeiros na Mata Atlntica, no que se refere sua estrutura, isto

    , ao seu arranjo espacial e constituio. Objetiva-se assim saber como aconteceu a sucesso

    ecolgica em reas onde ocorreu o corte para a produo de carvo vegetal.

    Com o intuito de analisar com maior detalhe a condio da vegetao e do solo das

    reas que foram utilizadas para fabricar o carvo vegetal no macio da Pedra Branca, esse

    estudo tem como objetivos especficos:

    Caracterizar a composio florstica de trechos de Mata Atlntica utilizados no passado para explorao de carvo;

    Verificar a sucesso ecolgica em reas onde ocorreu corte seletivo para a produo de carvo;

    Analisar as alteraes que a estrutura do balo e a fabricao do carvo possam ter causado ao solo;

  • 20

    Verificar a possibilidade da datao aproximada via estrutura da vegetao de distintas carvoarias localizadas na rea de estudos;

    Compreender a dinmica e a correlao de dados florsticos e edficos entre as diferentes cavas de carvo encontradas;

    Promover uma aproximao das abordagens das cincias sociais com a ecologia por meio da anlise da resultante florstica e estrutural da atividade dos carvoeiros em

    funo das caractersticas de suas territorialidades.

  • 21

    2 REVISO DE LITERATURA

    2.1 Histria Ambiental

    Como destacado anteriormente, a maior parte das florestas existentes hoje no planeta

    so secundrias, ou seja, florestas que j sofreram algum tipo de interveno. Autores como

    Denevan (1992), Adams (2000) e Garca-Montiel (2002) reforam esta idia no caso das

    florestas do continente americano, onde, segundo esses autores, as mesmas j eram manejadas

    por comunidades nativas antes mesmo da chegada dos europeus, a partir do sculo XVI.

    Desta forma, florestas virgens no sentido de no terem sido manejadas em algum momento

    pelo homem, podem no existir, pelo menos em uma escala regional (Clark, 1996; Garca-

    Montiel, 2002).

    Diegues (1998) disserta em seu livro O mito moderno da natureza intocada sobre as

    florestas intocadas, onde mostra como existe a interveno humana nas florestas, e que nem

    sempre essa interveno ocorre de maneira destrutiva e predatria. No caso das chamadas

    populaes tradicionais, esse uso se faz muitas vezes de maneira mais racional e limitada, o

    que permite que a floresta volte a se regenerar.

    Cronon (1996) tambm acredita que as florestas existentes hoje so florestas que j

    foram e ainda so manejadas pelo homem, e se refere sobre a relao homem x ecossistema

    nos seguintes termos: a escolha que ns fazemos no deve ser de no deixar marcas, que

    impossvel, mas sim quais marcas ns desejamos deixar.

    Acreditase que estudos realizados sobre este tema, tenham contribudo para a

    formao da Histria Ambiental, um campo relativamente novo, que vem sendo construdo h

    cerca de 20 anos, ligando a Histria Natural Histria Social, compreendendo as interaes

    entre elas a partir das resultantes encontradas na natureza. Tal disciplina constituda de

    forma bastante interdisciplinar, tendo contribuies, alm da prpria Histria, da Geografia,

    Ecologia, Sociologia e Antropologia, dentre outras disciplinas.

    Bengoa (1999) explica como a Histria Ambiental um campo do saber

    interdisciplinar, que precisa contar com outras vertentes de anlise, para que a relao homem

    x natureza seja abarcada na sua totalidade. Ele cita dentre outros, o Materialismo Histrico, a

    Ecologia Humana, a Histria Ecolgica e Histria Urbana.

  • 22

    A Histria Ambiental comea aparecer no cenrio internacional na dcada de 70, em

    meio s revoltas e crises globais ambientais com conferncias sobre meio ambiente e

    sociedade, como a Conferncia de Estocolmo em 1972. Carvalho (2005) relaciona o

    nascimento da Histria Ambiental com a crise ambiental, no momento em que esta comea

    a figurar como preocupao socialmente difundida.

    O principal centro irradiador da Histria Ambiental so os Estados Unidos, tendo

    Roderick Nash como o primeiro autor a verdadeiramente tentar definir quais seriam os

    pressupostos desse novo campo do saber. Seu ensaio The state of enviromental history

    dissertava acerca da situao da Histria Ambiental, onde o autor encarava a paisagem como

    um documento histrico, que serviria para remontar as relaes passadas das populaes com

    o meio e ecossistemas. Este tipo de abordagem, de base fundamentalmente interdisciplinar,

    promove aberturas para a Ecologia Histrica, a Ecologia da Paisagem e a Geografia (Crumley

    1994).

    Ainda nos Estados Unidos, temos autores como Richard White, que tambm

    trabalhava com as idias pioneiras de Nash (1982), alm de Samuel P. Hays, Frederick

    Jackson Turner (1990), Walter Prescott Webb e James Malin. De fato todos esses autores,

    mesmo utilizando de meios distintos, objetivavam um mesmo fim: considerar o papel do

    ambiente na formao da sociedade norte-americana (Worster, 1991).

    Outro centro inovador nesse campo do conhecimento a Frana, com autores como

    Fernand Braudel, que entendia que o ambiente deveria ser considerado uma parte preeminente

    de seus estudos histricos e Emmanuel Le Roy Ladurie, que apontava que a Histria

    Ambiental reunia os temas mais antigos com os mais recentes na historiografia

    contempornea. A ustria configura-se igualmente como um importante plo irradiador da

    Histria Ambiental, apresentando temticas bastante atuais, como a Histria da

    Sustentabilidade (Haberl et al. 2006; Winiwarter 2008).

    No Brasil um dos difusores da Histria Ambiental Drummond (1991), que traduziu o

    trabalho de Worster (1991) intitulado Para fazer histria ambiental, alm de produzir uma

    vasta bibliografia sobre o assunto.

    O principal objetivo desta disciplina interpretar e analisar as relaes entre natureza,

    cultura, sociedade, compreendendo como a natureza afetou o ser humano e, ao mesmo tempo,

    como o homem afeta a natureza (Worster, 1991). Para tanto, a Histria Ambiental parte de um

    esforo para tornar a disciplina Histria muito mais aberta incluso do elemento natureza

    nas suas narrativas do que ela tem tradicionalmente sido, e acima de tudo, rejeitar a premissa

  • 23

    de que os humanos conseguiram se desenvolver sem restries naturais e de que as

    conseqncias ecolgicas de seus feitos passados podem ser ignoradas (Worster, 1991).

    Nas palavras de Martins (2008), o objetivo da Histria Ambiental conferir

    natureza o estatuto de agente condicionador ou modificador da cultura, atribuir aos

    componentes naturais a capacidade de influir significativamente sobre os rumos da histria,

    ressaltando, que em nenhum momento este pretendeu conferir um carter determinista

    Histria Ambiental.

    Simmons (1996) corrobora a idia, ao analisar que a Histria Ambiental rejeita a

    premissa convencional de que a experincia humana se desenvolveu sem restries naturais,

    de que os seres humanos so uma espcie distinta e supranatural, e de que as conseqncias

    ecolgicas dos seus feitos passados podem ser ignoradas.

    Oliveira (2006) considera que o legado ambiental que nos chegou at hoje produto

    das relaes de populaes passadas com o meio, e que a resultante ambiental encontrada nas

    florestas, particularmente a Mata Atlntica, hoje, devida presena e atuao do homem, e

    no sua ausncia.

    A Histria Ambiental , portanto, um campo que sintetiza muitas contribuies. A sua

    originalidade est na disposio e no equilbrio com que busca a interao e a influncia

    mtua entre sociedade e natureza. Para atingir seus objetivos, segundo Worster (1991), parte-

    se de trs pontos essenciais, que funcionam como as trs premissas pelas quais as discusses

    devem passar:

    Entendimento da natureza propriamente dita: ou seja, a histria natural, entendida atravs da paisagem que apresentada e seus aspectos orgnicos e inorgnicos;

    Anlise do domnio scio-econmico: o estudo de uma sociedade, de como ocorrem as relaes sociais e de poder entre os homens e destes com o ambiente. Nas palavras

    de Worster (1991), grande parte da Histria Ambiental se dedica justamente a

    examinar essas mudanas, voluntrias ou foradas, nos modos de subsistncia e suas

    implicaes para as pessoas e para a terra.

    Apreenso de valores ticos, e principalmente da cultura: levam em considerao as questes culturais, como os mitos, costumes, hbitos de uma sociedade e a interao

    desta com a natureza. Ou, como Turner (1990) chamou, uma histria espiritual.

    Para Cronon (1996), a Histria Ambiental, a partir de seus trs pilares, tenta colocar a

    natureza na histria ou, como Worster (1991) analisa, a histria que inclui a natureza no s

  • 24

    como objeto, mas tambm como resultante de processos engendrados pelo homem e pela

    evoluo natural da rea, ou seja, da paisagem.

    Martins (2008) aponta ainda algumas abordagens que os trabalhos de Histria

    Ambiental analisam, estando entre essas, a dos usos conflitivos de recursos naturais por povos

    com diferenas culturais acentuadas, ou por grupos sociais distintos dentro de sociedades

    complexas. Mais uma vez este autor ressalta que, dependendo de como o grupo se apropria

    dos recursos naturais existentes em determinada rea, sero formados ambientes

    heterogneos, e com diferenas no modo como ocorrer a sucesso ecolgica.

    Warren Dean (1996) um dos mais conhecidos historiadores ambientais da Mata

    Atlntica, tendo escrito o livro A ferro e fogo: a histria e a devastao da Mata Atlntica

    brasileira, onde foram descritas a trajetria e as transformaes que ocorreram neste bioma.

    Desde mais de treze mil anos, com a chegada da primeira leva de invasores desta floresta,

    at os dias atuais, este autor evidencia como a histria desta floresta esteve intrinsecamente

    ligada interveno humana.

    J nos dia atuais podemos citar Pdua (2002), que traz o histrico de discusses sobre

    a questo ambiental, mostrando como j havia uma preocupao muito grande em relao ao

    uso indiscriminado dos recursos da natureza, ainda no Brasil escravista (1786-1888),

    apresentando nomes como Jos Bonifcio, Joaquim Nabuco, que fizeram parte do debate

    poltico e ambiental e exigiram reformas no s no modo de pensar o ambiente, como tambm

    a sociedade.

    Garcia-Montiel (2002) afirma que diversos padres de estrutura e composio das

    espcies so o produto direto de prticas agrcolas e outras formas de uso da terra no passado,

    mais uma vez ressaltando a necessidade de se avaliar como o homem se apropriou dos

    recursos naturais no passado para entender as resultantes encontradas na floresta.

    Assim, a Histria Ambiental a rea do conhecimento que tenta explicar as relaes

    entre a sociedade e a natureza, analisando como um afeta e controla o funcionamento do

    outro. Nas palavras de Martins (2008): ... o programa da Historia Ambiental pode ser

    resumindo na busca para inserir a natureza na histria, de lidar com o papel e o lugar da

    natureza na vida humana.

    O estudo da sucesso ecolgica constitui uma importante ferramenta que serve

    Histria Ambiental na compreenso das transformaes da paisagem. A sucesso ecolgica,

    bem como a estrutura, composio e funcionalidade nos ecossistema sero discutidas a seguir.

  • 25

    2.2 Sucesso Ecolgica, Estrutura, Composio e Funcionalidade nos Ecossistemas

    Brown & Lugo (1990) consideram florestas secundrias aquelas que sofreram impacto

    humano, e, assim, excluem de seu conceito as florestas resultantes de distrbios naturais, tais

    como furaces ou deslizamentos de terra. Ao mesmo tempo, estes mesmos autores definem

    florestas secundrias como um mosaico de vegetao, de diferentes idades, onde so includos

    todos os complexos de vegetao lenhosa derivados da agricultura itinerante, assim como os

    fragmentos de vegetao intacta e de terra de agricultura.

    Pode-se dizer que estas esto passando por um processo de sucesso ecolgica, onde

    passam de um estgio mais perturbado, a floresta secundria em estgio inicial, que apresenta

    predominncia de espcies pioneiras, em direo a um estgio mais equilibrado, ou avanado,

    a florestas clmax, que apresenta espcies mais avanadas sucessionalmente. Odum (1983)

    analisa a sucesso ecolgica afirmando que envolve mudanas na estrutura de espcies e

    processos da comunidade ao longo do tempo, afirmando que ela resulta da modificao do

    ambiente fsico pela comunidade e de interaes de competio e coexistncia em nvel de

    populao.

    Mueller-Dombois & Ellenberg (1974) salientaram a importncia de distinguir trs

    tipos bsicos de mudanas na vegetao, decorrentes da natureza do distrbio, do momento de

    sua ocorrncia e das modificaes provocadas pela vegetao em si mesma, ou seja: as

    mudanas ficolgicas, a sucesso secundria e a sucesso primria.

    A sucesso primria ocorre quando a sucesso tem incio em uma rea que ainda no

    foi anteriormente ocupada por uma comunidade, como um campo de lava (Odum, 1983). J a

    sucesso secundria ocorre se o desenvolvimento da comunidade se processa numa rea da

    qual foi eliminada uma outra comunidade caso de um campo lavrado ou de uma floresta

    derrubada. A sucesso secundria geralmente mais rpida, porque pelo menos alguns

    organismos esto presentes (Mueller-Dombois & Ellenberg,1974; Odum, 1983).

    O grau de degradao ao qual uma floresta ou um ecossistema est associado pode ser

    avaliado atravs de anlise florstica e da fitossociolgica. Estudos sobre florstica ainda so

    relativamente escassos no Sudeste do Brasil em funo da sua extenso, mas j apresentam

    alguns importantes trabalhos.

    Dentro da perspectiva da anlise da florstica e fitossociologia, Pessoa et al. (1997)

    estudaram a composio e estrutura de um trecho de floresta secundria Montana em Maca

    de Cima; ainda no mesmo ano, Rolim & Nascimento (1997) analisaram a estrutura de

    comunidades arbreas tropicais, riqueza, diversidade e a relao espcie-abundncia em sete

    trechos de diferentes dimenses, ou seja, com diferentes intensidades amostrais na Reserva

  • 26

    Florestal de Linhares, ES. Os resultados demonstraram que as resultantes ambientais so

    sensveis s diferentes intensidades amostrais.

    Tabarelli e Mantovani (1999) avaliaram as informaes existentes sobre a riqueza de

    espcies arbreas em uma floresta atlntica de encosta no estado de So Paulo, em

    comparao com outras florestas neotropicais, constatando a baixa diversidade florstica

    associada a esta regio. J Kurtz & Arajo (2000) analisaram a composio e estrutura de

    uma floresta climxica na Estao Ecolgica do Paraso em Cachoeira de Macacu, RJ,

    enquanto Oliveira et al. (2001), realizaram estudos fitossociolgicos em uma floresta

    secundria em Perube, SP.

    Silva & Soares (2001) analisaram os parmetros fitossociolgicos de um fragmento

    florestal no municpio de So Carlos, SP e constataram que a rea se encontra muito

    degradada, sugerindo planos de recuperao florestal para essa e outras florestas que se

    apresentam em situao semelhante.

    Borm e Oliveira-Filho (2002), analisaram a estrutura fitossociolgica ao longo de

    uma topossequncia muito alterada pela ao antrpica no municpio de Silva Jardim, RJ,

    comparando-a com uma topossequncia pouco alterada na mesma regio, enquanto Moreno et

    al. (2003) analisaram a estrutura e composio do estrato arbreo de um remanescente de

    Mata Atlntica submontana na regio do Imb, RJ, comparando duas zonas altitudinais (50 e

    250 m), e encontraram que, em relao composio, existe uma variao significativa,

    medida que muda o ambiente altitudinal, mas que em relao estrutura e diversidade, o

    mesmo no ocorre.

    Ainda considerando a anlise fitossociolgica, temos o trabalho de Gomes et al.

    (2005), que estudaram a estrutura e composio do componente arbreo na Reserva Ecolgica

    do Trabiju, SP, e de Peixoto et al. (2005) que avaliaram a composio do estrato arbreo na

    rea de Proteo Ambiental na Serra de Capoeira Grande (RJ), a fim de fornecer subsdios

    para a conservao deste remanescente, que ainda apresenta indivduos de pau-brasil

    (Caesalpinia echinata Lam.).

    Mantovani et al. (2005) analisaram o estgio sucessional de uma floresta secundria

    ombrfila densa no municpio em So Pedro de Alcntara, SC, atravs da diversidade,

    densidade e composio das espcies arbreas, e constataram que a floresta est se

    recuperando, graas ao mosaico vegetacional ao qual esse trecho de floresta est relacionado.

    Um foco que aos poucos vem emergindo na literatura atual sobre a sucesso ecolgica

    o estudo da sucesso a partir de eventos antrpicos especficos. A este propsito, de se

    destacar a questo dos usos passados dos ecossistemas, considerando-os como um

  • 27

    condicionante relevante para os rumos da sucesso que vem a ocorrer, afetando as vertentes

    da composio, da estrutura e da funcionalidade dos mesmos.

    Oliveira (2008) analisou as resultantes ecolgicas aps uso da floresta por populaes

    Caiaras em Ilha Grande, RJ, em trs diferentes estgios sucessionais, 5, 25 e 50 anos, tendo

    como comparao uma floresta primria. Ainda em relao s resultantes do uso de solo

    passado, Santos et al. (2006), avaliaram a florstica da bacia do rio Caambe aps distrbios

    causados para fabricao de carvo vegetal.

    Carvalho et al. (2006) avaliaram a composio florstica arbrea de um trecho de

    Floresta Atlntica submontana na regio de Imba, Silva Jardim, RJ, de aproximadamente 50

    anos, que teve como uso passado a atividade de agropecuria. Os resultados encontrados

    demonstraram que esta rea encontra-se em processo de regenerao, e quando comparada a

    outras reas do municpio do Rio de Janeiro, RJ, ficou claro que deveriam ser criadas polticas

    de conservao para esta rea.

    Estudos de Solrzano (2006) realizados no Macio da Pedra Branca, RJ, compararam

    a regenerao florestal em dois trechos, que tiveram dois usos diferenciados, sendo o primeiro

    causado por fabricao de carvo na dcada de 50, e o segundo aps o uso para plantaes de

    banana no mesmo perodo. As resultantes estruturais apresentaram-se diferenciadas, uma vez

    que os manejos, as condies de solo, os ambientes geomorfolgicos, as vertentes, dentre

    outros so fatores, so diferenciados para cada rea.

    Outras pesquisas relacionam diretamente a questo da populao florestal com as

    condies edficas encontradas nessas florestas, objetivando estabelecer correlaes entre as

    variveis florestais e ambientais de determinada regio.

    Carvalho et al. (2005) realizaram o levantamento da comunidade arbrea de um trecho

    de floresta alto - montana no macio do Itatiaia, MG, com o propsito de avaliar as

    correlaes entre variaes estruturais e variaes ambientais relacionadas ao substrato.

    Segundo esses autores, o regime de gua no solo foi provavelmente a varivel ambiental

    chave, relacionada s variaes florsticas e estruturais da floresta.

    Dalanesi et al. (2004) descreveram a composio florstica e a estrutura da

    comunidade arbrea da floresta do Parque Ecolgico Quedas do Rio Bonito, MG, e avaliaram

    a correlao entre a distribuio das espcies com variveis ambientais em trs trechos da

    floresta, constatando que as variveis distncia da borda e classe de drenagem foram as mais

    fortemente relacionadas com a distribuio e abundncia das espcies.

    A correlao entre variveis ambientais e a composio e estrutura da comunidade

    arbrea tambm foi estudada em outras florestas neotropicais, como o caso de Thompson et

  • 28

    al. (2002) na Floresta de Luquillo, Porto Rico, que apresentaram a relao entre uso passado e

    a atual configurao da floresta, percebendo que muitas vezes, no s as variveis do

    ambiente afetam a estrutura da floresta, e sim o modo como essa floresta foi usada no

    passado, ressaltando tambm a questo da fabricao de carvo nessas reas. Este estudo

    tambm foi realizado com o intuito de estabelecer um critrio de hierarquizao dos fatores,

    para descobrir qual seria o fator que estaria mais fortemente relacionado comunidade

    arbrea.

    Durigan et al. (2008) analisaram as relaes de similaridade florstica entre

    comunidades florestais localizadas na regio do Planalto de Ibina, SP, Brasil. Como

    resultados, encontram que os estgios sucessionais e a questo da localizao geogrfica

    foram os fatores que se apresentaram mais importante para a definio de padres de

    comportamento na comunidade arbrea em questo. No entanto, o estudo tambm constatou

    que a evoluo estrutural da floresta no acompanha, necessariamente, as mudanas florsticas

    ao longo da sucesso ecolgica.

    Algumas pesquisas tentam considerar o processo sucessional em uma perspectiva de

    conjunto de variveis. Fonseca et al. (2004) realizaram um trabalho em que verificaram a

    possibilidade da utilizao de mtodos multivariados na caracterizao das fases do

    desenvolvimento do mosaico sucessional de um trecho de floresta Estacional Semidecdua,

    atravs de variveis estruturais. Foi constatado que realmente h a possibilidade de se usar os

    mtodos multivariados, no entanto, precisam ser feitos alguns aprimoramentos na anlise para

    que ela possa ser feita de forma correta.

    De certa forma, como verificado nos estudos assinalados acima, muito comum a

    interferncia do homem no processo de regenerao das florestas ou ecossistemas. Os

    aspectos sociais, e de certa forma, o modo como esses grupos se apropriam dos recursos

    florestais constitui um ponto importante para anlise integrada dos ecossistemas. Assim, em

    grande parte destes estudos pode-se constatar a interdependncia da estrutura da floresta com

    aspectos sociais que sero abordados no tpico a seguir.

    2.3 Pontes Entre as Cincias Sociais e as Biolgicas

    Alguns conceitos e enfoques encontrados na bibliografia contemplam aspectos

    interdisciplinares relevantes para o que seria um estudo integrado da sucesso ecolgica.

    Dentre as cincias humanas, alm da Histria, a Antropologia, a Sociologia e a Geografia

    usam conceitos que podem ajudar em uma anlise integrada da relao sociedade x ambiente.

  • 29

    A vertente ambiental tem aparecido com freqncia na produo cientfica destas cincias

    (Galafassi, 1999; Herculano, 2000; Vitte, 2005). Um destes conceitos o de territrio.

    Este conceito se apresenta de forma multisemntica, sendo utilizado em vrias

    disciplinas. Muitos autores apresentam suas contribuies para esta temtica. Abordaremos

    aqui alguns autores que dissertam acerca do conceito de territrio.

    Como ponto de partida para a discusso, Haesbaert (2004) apresenta as diversas

    formas de se entender e perceber o territrio, analisando-o a partir de trs vertentes bsicas:

    Poltica: onde o territrio visto como um espao delimitado e controlado e atravs do qual se exerce determinado poder;

    Cultural: onde o territrio visto, sobretudo, como produto da apropriao / simblica de um grupo em relao ao seu espao vivido;

    Econmica: onde o territrio pode ser visto como fonte de recursos.

    Segundo este mesmo autor, ainda pode-se encontrar outra vertente, a naturalista, onde

    o territrio visto com base na relao da territorialidade entre os animais e seu meio.

    No entanto, este autor atenta para a questo de que no podemos esquecer que uma

    viso segmentada no apresenta a complexidade inerente ao conceito, portanto, deve se,

    sempre que possvel, analisar o territrio sob uma viso mais integradora e relacional.

    Neste sentido, Souza (2005) analisa o territrio a partir do poder, e afirma que

    necessariamente este conceito passa por relaes de poder, entre os que esto inseridos

    naquele espao, e os que, por diversas razes, esto excludos. Segundo ele, o territrio o

    espao apropriado e controlado por um grupo social que por sua vez alicera razes e uma

    identidade com este espao.

    Godelier (1976, apud Haesbaert 2004) analisa o territrio como uma poro da

    natureza, sobre a qual uma determinada sociedade reivindica e garante a todos ou a parte de

    seus membros direitos estveis de acesso, controle e de uso com respeito totalidade ou parte

    de seus recursos que a se encontram e que ela deseja e capaz de explorar.

    Milton Santos (2001) por sua vez afirma que o territrio no apenas um substrato

    material, mas igualmente, uma identidade, um sentimento de pertencer a um dado espao.

    Neste sentido, o territrio base das trocas materiais, do trabalho, da residncia dentre outros

    aspectos. Desta forma, no podemos pensar o territrio apenas como base de recursos.

    Souza (2004) analisa a questo das escalas de anlise, a temporalidade e a

    permanncia que podem ser inerentes ao territrio, mostrando as vrias facetas que o mesmo

    pode adquirir. Assim ele analisa essa questo em um trecho de um artigo:

  • 30

    Territrios existem e so construdos nas mais diversas escalas, da mais acanhada internacional: territrios so construdos dentro de escalas temporais as mais diferentes: sculos, dcadas, anos, meses ou dias: territrios podem ter um carter permanente, mas tambm podem ter uma existncia peridica, cclica.

    Um ponto importante na discusso do territrio entender a temporalidade inerente a

    este conceito, ou seja, h tambm que ser compreendido a partir de uma perspectiva

    relacional, onde o mesmo analisado completamente inserido dentro de relaes scio-

    histricas. Assim, o termo territrio no de maneira alguma ahistrico, sendo essencial a

    anlise do passado para seu entendimento presente.

    Assim, deve-se atentar para o fato de que no territrio est intrnseca a idia tanto da

    historicidade, ou seja, situado no tempo, como da geograficidade, entendida como o territrio

    no espao. De maneira mais prtica, o territrio no seria algo esttico e imutvel.

    Alm de apresentar-se historicamente situado, o territrio se apresenta bastante

    multifacetado, e muitas vezes difcil de conseguir separar suas vertentes. Sack (1986) analisa

    o territrio dentro de uma viso mais integradora, e prope a discusso que reivindica o

    territrio como sendo uma rea de feies ou, pelo menos, de relaes de poder relativamente

    homogneas, onde as formas de territorializao como controle do acesso de uma rea

    seriam fundamentais, seja para usufruir de seus recursos, seja para controlar fluxos,

    especialmente fluxos de pessoas e de bens.

    Portanto, partiremos do territrio aqui analisado como fonte de recursos (viso

    econmica), onde certo grupo se apropria e exerce poder (viso poltica) e onde h uma

    identidade, uma apropriao simblica por parte das pessoas que de alguma forma a ele esto

    relacionadas (viso cultural), o que demonstra claramente como podemos ter um nico

    territrio apresentando uma viso integrada. Resta ainda o que seria a viso ecolgica.

    Usando parte destes conceitos de territrio, Oliveira (2008) prope o termo

    paleoterritrio, em um contexto particular, categorizado como a espacializao do uso

    passado dos ecossistemas por populaes tradicionais ou ciclos econmicos na busca de suas

    condies de existncia. Este conceito pode ser usado como parte da anlise dos processos

    sucessionais e na compreenso das caractersticas ecolgicas do presente.

    O paleoterritrio constitui, portanto, uma das etapas antrpicas dos processos biticos

    e abiticos que condiciona o processo da regenerao das florestas, onde a cultura das

    populaes tradicionais desempenha relevante papel. Com o passar do tempo, estes

    paleoterritrios se sobrepem em um mesmo espao, formando uma realidade nica. Este

  • 31

    verdadeiro mosaico de usos faz com que as florestas tropicais, sejam constitudas, em grande

    parte, por paleoterritrios utilizados por populaes passadas que os habitaram.

    Especificamente no macio da Pedra Branca, RJ, estes paleoterritrios foram formados

    por populaes de carvoeiros entre o sculo XIX e XX, e suas resultantes podem ser

    observadas na paisagem atual. Dessa forma, a territorialidade dos carvoeiros pode ter sido um

    dos fatores responsveis e condicionantes da floresta como se encontra no momento presente.

    Assim, com o intuito de melhor entender o processo de produo de carvo, e sua

    populao, que seriam os carvoeiros, ser descrito na seo a seguir o processo de fabricao

    do carvo in situ no macio da Pedra Branca, RJ.

    2.4 A Fabricao de Carvo Vegetal no Macio da Pedra Branca

    A atividade da fabricao do carvo vegetal que ocorreu no macio da Pedra Branca,

    RJ, teve os carvoeiros como os autores principais e ativos nesse processo. Esses eram,

    segundo Corra (1933), principalmente pequenos sitiantes e posseiros, que vendiam sua fora

    de trabalho em troca de condies de sobrevivncia.

    O momento exato do incio da atividade de fabricao do carvo vegetal no macio da

    Pedra Branca, RJ, ainda incerto, uma vez que no existe histria contada, e sim resqucios

    na floresta de que essa atividade de fato ocorreu. A partir de estudos da vegetao da rea

    realizados por Solrzano (2006) e Santos et al. (2006), pode-se inferir que a floresta no trecho

    estudado tem pelo menos 50 anos de regenerao, o que nos remete ao fato de que a atividade

    de fabricao de carvo vegetal no macio da Pedra Branca, RJ, provavelmente ocorreu at

    meados dos anos 50.

    Deste modo, ainda no se sabe de que forma os carvoeiros comearam a utilizar os

    recursos florestais, ou qual foi a sistemtica utilizada (se havia alguma), nem o quanto eles

    adentraram na mata. As informaes que existem a respeito desse tema mostram a forma

    como os carvoeiros queimavam a lenha e produziam o carvo, mas no qual era o critrio para

    escolha da rea onde o balo seria construdo. Desta forma, existem inmeras reas

    espacializadas no macio da Pedra Branca, que evidenciam o que outrora fora um balo de

    carvo.

    Assim, no tem como afirmar se cada cava de balo de carvo foi utilizada somente

    uma vez, ou se os carvoeiros se utilizaram primeiramente da parte mais baixa da encosta ou

  • 32

    da mais alta. Essas so questes requerem um estudo mais aprofundado em relao

    antracologia2 e a histria passada dessa rea.

    O processo de fabricao do carvo vegetal que foi empregado no macio da Pedra

    Branca, RJ, foi o processo primitivo das pilhas, denominado balo. Magalhes Corra (1933)

    descreve toda a preparao para a queima da lenha no balo de carvo:

    A construco do balo requer preliminarmente a seguinte technica: a roada, que precede derribada da matta, a qual consiste em cortar, a foice, os pequenos arbustos e vegetaes, que possam embaraar o manejo do machado; em seguida, a derribada, acto de abater as arvores de porte por meio dos machados; feito do extermnio, procede se ao corte de galhos e ramagens, e logo a seguir a coivara, queima dos montes de folhas, galhos e gravetos reduzindo os a cinzas.

    Mais adiante, e dando prosseguimento a atividade, ocorre o processo de aplainamento

    do terreno que ir receber o balo, assim Corra descreve o aplainamento e a fase de

    construo da estrutura do balo.

    Preparado o terreno no mesmo local da derribada, na encosta da serra (matta mesophila) ou na plancie que muito rara, fazem um terreiro em plano horizontal que d a area desejada, mas no caso da declividade da encosta ser pronunciada, fazem um revestimento, com paus rolios ou varas em forma de prateleira, para suportar a terra que o cobre, formando o terreiro desejado, denominado estiva. Sobre o terreiro, determina se o dimetro da base a constituir se o balo; ao centro, coloca se um tronco ou deixa se um vcuo, que ser a chamin; ao redor da mesma arruma se a lenha traada regularmente a machado, que se pretende carbonizar em pilhas, formando um cone truncado, e com lenha menor, termina se o vrtice do cone, tendo se de dispor canaes horizontaes que vo ter chamin central;

    Aps a combusto e queima da lenha, o carvo vegetal esta pronto, e Magalhes

    Corra, analisa como ocorre a retirada do carvo de dentro do balo, e o processo de

    distribuio do carvo desde a rea onde foi produzido, at os consumidores, atravs do

    lombo do burro.

    2 Cincia abrange o estudo e a interpretao dos restos de madeira carbonizados.

  • 33

    A no serem esses casos inesperados, que demandam trabalho e atteno, o resto faclimo; pachorrentamente esperam o arrear o balo a que chamam dar p, isto , final da combusto. A rea em que est o carvo ou cova denomina se cafuca. O carvoeiro prepara se ento com uma p, peneira e ancinho de po para pinchar, isto , retirar, fazer saltar o carvo dentre a terra do vrtice para a base do balo... O transporte do alto da serra feito por burros de cangalha, que levam seis saccos de cada vez, at o rancho, na raiz da serra ou na vrzea, onde so depositados.

    A existncia de um mercado consumidor bem consolidado a regio metropolitana do

    Rio de Janeiro , onde o carvo era utilizado nos foges domsticos, favoreceu o

    estabelecimento de uma densa rede comercial ligando a produo ao consumo. Bernardes

    (1962) faz referncia ao fato de que lenhadores e carvoeiros penetravam por toda serrania do

    Rio de Janeiro valendo-se da inexistncia de sitiantes. Em 1919, nas partes superiores destas

    vertentes, o autor descreve: no existiam seno lenhadores, no se encontrando a um nico

    lavrador.

    A produo do carvo era dividida em etapas: o primeiro homem era o chamado

    carbonizador, que era o trabalhador que enchia e esvaziava os fornos, o segundo homem era o

    cortador, que era o que cortava a lenha, o terceiro era o pinchador que pinchava a lenha com o

    ancinho e o ltimo homem era aquele que descia o macio no burro com o carvo para a

    cidade para a distribuio e comercializao. Assim, cada trabalhador recebia um percentual

    do valor arrecadado conforme a tarefa que realizou dentro da carvoaria.

    Muitas vezes estes trabalhadores criavam laos de afetividade e ajuda mtua entre

    eles, que seria mais uma maneira de eles conseguirem se manter dentro da carvoaria. Estes

    laos tambm apresentamse como uso de poder para com os outros que esto fora da

    estrutura. Segundo moradores do local, a atividade de fabrico de carvo no macio da Pedra

    Branca, RJ, encerrou-se por volta de 1950.

  • 34

    3 MATERIAIS E MTODOS

    3.1 rea de Estudos

    O macio da Pedra Branca, juntamente com os macios da Tijuca e Mendanha,

    delineiam e caracterizam a paisagem do Rio de Janeiro. Os mesmos vm sofrendo os efeitos

    de uma urbanizao desenfreada h algum tempo e as conseqncias de um forte processo de

    expanso imobiliria. A Figura 2 apresenta o municpio do Rio de Janeiro com os macios,

    com os remanescentes florestais, que se encontram nos macios acima citados.

    Figura 2 - Mapa do municpio do Rio de Janeiro, com os trs macios que o recobrem (macio da Pedra

    Branca, Tijuca e Mendanha).

    Atualmente o Macio da Pedra Branca quase em sua totalidade englobado pelo

    Parque Estadual da Pedra Branca, criado em 1974, com a extenso de 12.500 ha. O Pico da

    Pedra Branca, com 1.024 m de altitude, o ponto culminante do Parque e tambm do

    municpio.

  • 35

    3.1.1 Relevo e Solo

    A geologia desta formao pertence ao Pr-Cambriano e a litologia composta por

    rochas na maior parte metamrficas do tipo biotita-gnaisse, e algumas magmticas do tipo

    granticas leucocrticas. Tais rochas deram origem a solos residuais jovens e coluviais. O

    Macio da Pedra Branca composto, basicamente, por rochas cristalinas e cristalofilianas,

    granitos e principalmente o gnaisse facoidal, entrecortados por rochas bsicas, como o

    diabsio (Galvo 1957). A geologia da regio da bacia do Camorim caracterizada, nas partes

    mais baixas, pela presena de ampla faixa de gnaisse melanocrtico, enquanto, nas mais

    elevadas, por granitos de diversos tipos. No entanto, a presena desses granitos conspcua

    nos trechos de baixa encosta e fundos de vale, sob a forma de mataces oriundos de

    desabamentos ocorridos em pocas diversas. Esta litologia, juntamente com o clima regional,

    gera os seguintes solos na regio do Camorim: os latossolos, nas encostas mais elevadas do

    macio, que so solos rasos e aparecem associados a cambissolos, solos litlicos e podzlicos,

    estes recobrindo principalmente as vertentes mais suaves de menor altitude (Oliveira et al.

    1980).

    Geomorfologicamente, o trecho de floresta de fundo de vale estudado se localiza

    dentro de um vale suspenso, a mais de 200 m de altitude, do Rio Caambe, que se encontra

    incluso dentro do grande anfiteatro montanhoso do Camorim. A rea do divisor de drenagem

    se encontra a uma altitude aproximada de 300 m.

    3.1.2 Clima

    O clima da regio, segundo a diviso de Koeppen, do tipo Af, ou seja, clima tropical

    mido sem uma estao seca, megatrmico, com 60 mm de precipitao no ms mais seco,

    que agosto. A altura pluviomtrica media da regio de 1.187 mm, ocorrendo deficincia

    hdrica episdica nos meses de julho a outubro. A temperatura mdia anual se encontra em

    torno de 26C, com o calor distribudo uniformemente por todo ano (Oliveira 2005).

    3.1.3 Vegetao

    A vegetao que recobre o macio da Pedra Branca, RJ, na bacia estudada, segundo

    Veloso (1991) a Floresta Ombrfila Densa Submontana, apresentando uma cobertura

    arbrea densa e uniforme, bem desenvolvida, atingindo 25 a 30 m de altura, com rvores

    emergentes de at 40 m de altura.

  • 36

    3.2 Procedimentos Metodolgicos

    Foi delimitado como recorte espacial para o presente estudo o paleoterritrio dos

    carvoeiros na bacia do rio Caambe, Floresta do Camorim, Rio de Janeiro, que se materializa

    atravs das cavas de balo existente na rea de estudos. As referidas cavas constituem plats

    com dimenses entre 50 e 100 m2 localizados em pontos diversos da encosta. Geralmente

    apresenta o solo negro com fragmentos de carvo. O recorte espacial utilizado foi escolhido

    para permitir realizar uma anlise estrutural que privilegia as resultantes ambientais de um uso

    pretrito especfico da paisagem local. Para se avaliar as resultantes do uso passado sobre a

    estrutura da floresta, optou-se pela conjugao dos mtodos fitossociolgicos do ponto

    quadrante e das parcelas (Sylvestre & Rosa, 2002).

    As Figuras 3 e 4 demonstram respectivamente um piso florestal evidenciando o solo

    com a colorao negra e com pedaos de carvo vegetal, e o plat na encosta que seria a cava

    de balo de carvo.

    Figura 3 - Aspecto geral da camada superficial da floresta evidenciando a cor enegrecida do solo e com

    detritos de carvo vegetal at aproximadamente 30 cm no subsolo.

  • 37

    Figura 4 - Detalhe na rea de estudo apresentando uma cava de balo de carvo.

    A seo a seguir descrever, mais especificamente, o georeferenciamento e posterior

    mapeamento das carvoarias inseridas na regio em estudo, evidenciando as reas utilizadas

    para a produo de carvo.

    3.2.1 Mapeamento das carvoarias

    Por meio de diversos trabalhos de campo na rea de estudos foram marcadas as

    carvoarias encontradas na bacia do rio Caambe, floresta do Camorim, com o uso de um GPS

    (Garmin, modelo Etrex). As referidas carvoarias foram procuradas de maneira aleatria pela

    rea, sendo esta busca influenciada pelas caractersticas de campo extenso e declividade da

    rea e, ainda, dificuldade de serem avistadas a mais de 10 metros o que faz supor que deva

    existir um nmero muito superior de carvoarias na rea.

    Os dados de posicionamento geogrfico foram transferidos para o programa (Arc

    View 9.3), a partir do qual foram confeccionados dois mapas com a disposio das cavas. No

    total foram mapeadas 24 carvoarias, sendo que destas foram selecionadas 10 para anlise da

    estrutura, composio florstica e caractersticas fsicas e qumicas do solo. Cada cava contou

    com quatro parcelas de 100 m, totalizando 4.000 m, ou 0,4 ha. As Figuras 5 e 6 descrevem

  • 38

    respectivamente a rea do estudo a partir de uma perspectiva area e atravs das curvas de

    nveis, tambm chamadas de isolinhas, com intervalo de 25 em 25m.

    Figura 5- Mapeamento das cavas de balo de carvo na vista area da rea de estudos, Bacia do Rio

    Caambe, Macio da Pedra Branca, RJ.

  • 39

    Figura 6- Mapeamento das cavas de balo de carvo na vista em perspectiva das curvas de nveis da rea

    de estudos, Bacia do Rio Caambe, Macio da Pedra Branca, RJ.

    A partir de estudos preliminares sabe-se que a madeira utilizada para a fabricao do

    carvo vegetal no sofria nenhum processo de seleo, tanto so aproveitadas para sua

    produo as matas virgens quanto s capoeiras formadas aps o desflorestamento, no

    havendo preocupao alguma de seleo de madeiras (Correa, 1933; Prado, 2000). Portanto,

    a madeira utilizada para carbonizao era das rvores que estivesse mais prxima da rea do

    balo de carvo. Assim, assume-se como hiptese de trabalho que a floresta que hoje existe ao

    redor das carvoarias seja produto da sucesso ecolgica. Desta forma, ao redor de cada cava

    foram estabelecidas quatro parcelas de 10 x 10 m, (100 m), localizadas a partir de seu centro,

    a jusante, a montante, direita e esquerda, conforme ilustrado na Figura 7:

  • 40

    Figura 7 - Disposio das parcelas de estudo em relao s cavas de carvo.

    A seguir ser explicado o processo utilizado para a coleta e tratamento dos dados

    utilizados no estudo, relacionados s questes florestais e edficas.

    3.2.2 Composio e estrutura da comunidade florestal

    O critrio de incluso dos indivduos arbreos foi de 5 cm dimetro altura do peito

    (dap). Para os indivduos bifurcados, foi includa toda ramificao abaixo de 1,30 m, tendo

    dap 5 cm. Foram amostrados os indivduos mortos em p, seguindo o mesmo critrio de

    incluso. Para cada rvore amostrada, alm das medidas biomtricas (altura e dimetros)

    foram feitas as observaes biolgicas pertinentes em planilha, como cor da casca, cheiro,

    ocorrncia e cor do ltex, cor da flor etc. A coleta do material foi realizada com tesoura de

    alta poda; para as rvores mais altas foi necessria a escalada das mesmas.

    Para identificao taxonmica utilizouse bibliografia especializada, consultas a

    especialistas e comparao com material do herbrio do Instituto de Pesquisas Jardim

    Botnico do Rio de Janeiro (RB), da Fundao Estadual de Engenharia do Meio Ambiente

    (GUA) e Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro (FCAB), onde se encontra

    depositado o material testemunho. O sistema de classificao taxonmica adotado segue

    Cronquist (1988) com exceo da famlia Leguminosae que foi considerada como famlia

    nica, de acordo com Polhill et al. (1981).

  • 41

    Para anlise dos estgios sucessionais das espcies e indivduos foram adotados os

    critrios de Gandolfi et al. (1995), que as distinguem em quatro categorias:

    Pioneiras dependentes de luz, que no ocorrem no sub-bosque, se desenvolvendo em clareiras ou nas bordas das florestas;

    Secundrias iniciais ocorrem em condies de sombreamento mdio ou luminosidade no muito intensa, ocorrendo em clareiras pequenas, bordas de clareiras

    grandes, bordas da floresta ou no sub-bosque no densamente sombreado;

    Secundrias tardias se desenvolvem no sub-bosque em condies de sombra leve ou densa, podendo a permanecer toda a vida ou ento crescer at alcanar o dossel ou a

    condio de emergente;

    Sem dados espcies que em funo da carncia de informao no puderam ser includas em nenhuma das categorias anteriores.

    Com o intuito de tentar datar as cavas e diferencialas quanto ao tempo de regenerao,

    foi aplicado Teste de hiptese T de Fischer, entre as reas basais das cavas amostradas e as

    densidades, foi realizado o com as varincias encontradas em cada uma das duas variveis.

    Assumiu se que para aproximao quanto idade de regenerao das florestas, a rea basal

    e as densidades poderiam ser os parmetros adequados.

    3.2.3 Caractersticas fsico-qumicas do solo

    A situao geral de fertilidade de solo das reas estudadas foi levantada por meio de

    coletas na profundidade de 0 a 10 cm nas parcelas de estudo de cada uma das 10 carvoarias

    estudadas sob o ponto de vista da estrutura. Em cada uma das quatro parcelas de cada

    carvoaria (montante, jusante, direita e esquerda) foram tomadas 10 amostras compostas de

    solo, que uma vez homogeneizadas foi retirada uma alquota destinada anlise no

    Laboratrio de Fertilidade do Solo da UFRRJ. Na grande maioria dos casos a parcela

    localizada a jusante da carvoaria, representada na figura esquemtica 7 por Ib, apresentava

    grande quantidade de carvo e solo negro decorrente da operao da mesma, h cerca de 50-

    100 anos atrs.

    No total foram obtidas 14 variveis de solo: Na, Ca, Mg, K, H+Al, Al, S e T

    (expressos em Cmolc/dm3); saturao por bases (valor V), m e Corg (expressos em %);

    pHgua (na proporo 1:2,5); P e K (expressos em mg/L).

  • 42

    3.2.4 Tratamento estatstico

    Para cada cava de balo foram amostradas as seguintes variveis: DAP, altura, riqueza

    de espcies, propriedades fsicas e qumicas do solo, altitude e ambiente geomorfolgico e

    grupos funcionais. A partir destes dados, foi confeccionado um dendograma de similaridade

    florstica entre as dez cavas de balo de carvo, e realizadas as correlaes entre as variveis

    florestais e as variveis ambientais, representadas pelas caractersticas edficas.

    3.2.4.1 Anlise de agrupamento (Anlise de Cluster)

    Os mtodos de agrupamento, ou cluster, so modelos de classificao, onde cada

    grupamento contm dados com caractersticas similares. Estes agrupamentos determinam um

    modelo para a estrutura de dados e, se analisados adequadamente, podem revelar informaes

    importantes.

    Na literatura podem ser encontradas diferentes modelos para o agrupamento dos

    dados, sendo neste trabalho aplicado o modelo de agrupamento particional e hierrquico para

    a elaborao e anlise de um dendograma. Cabe destacar que para a anlise de similaridade

    entre as cavas de balo de carvo, obtidos em levantamentos florstico, foi utilizado o ndice

    de Sorensen (Mueller-Dombois & Ellenberg, 1974). As anlises de agrupamento entre

    parcelas foram baseadas no mtodo no ponderado pelas mdias aritmticas (UPGMA). A

    elaborao do dendograma de similaridade florstica (Dice/Sorensen/Czekanowski) foi feita a

    partir do programa FITOPAC 4.25.

    Com o intuito de melhor analisar a similaridade florstica entres as reas amostradas

    neste estudo, foi realizada a anlise de Twinspan, para determinar a espcie indicadora, e as

    espcies preferenciais dos grupos que se formaram.

    3.2.4.2 Anlise de correspondncia cannica (ACC)

    A Anlise de Correpondncia Cannica (ACC) um mtodo que apresenta a relao

    entre a distribuio das espcies e a distribuio dos fatores ambientais, associados a

    gradientes (Kent & Coker, 1992). Na ACC os eixos so definidos em combinao com as

    variveis ambientais, produzindo diagramas biplots, em que se apresentam conjuntamente

    espcies e parcelas, como pontos (timos aproximados no espao bidimensional), e variveis

    ambientais, como flechas indicando a direo das mudanas destas variveis no espao de

    ordenao. (ter Braak, 1988).

  • 43

    Para analisar as correlaes entre os gradientes ambientais e vegetacionais no entorno

    dos bales de carvo do macio da Pedra Branca, RJ, foi empregada a Anlise de

    Correspondncia Cannica (ACC) (ter Braak, 1987) utilizando o programa PC-ORD for

    windows verso 5.0 (McCune & Mefford, 1999). A matriz de abundncia das espcies foi

    constituda do nmero de indivduos por parcela das espcies que apresentaram cinco ou mais

    indivduos na amostra total. De acordo com as recomendaes de ter Braak (1995) e utilizado

    por Botrel et al. (2002), Rodrigues et al. (2007) e Oliveira-Filho et al. (2004), os valores de

    abundncia (a) foram transformados pela expresso ln (a + 1) para compensar os desvios

    causados por alguns valores muito elevados devido dominncia ecolgica de determinadas

    espcies. A seleo de espcies com maior nmero de indivduos se justifica, principalmente,

    pelo fato de as espcies menos abundantes contriburem pouco para a anlise dos dados e

    aumentarem desnecessariamente o volume de clculos Rodrigues et al. (2007).

    A matriz de variveis ambientais incluiu, a princpio, todas as variveis qumicas e

    texturais dos solos. Aps realizar uma ACC preliminar, foram eliminadas oito variveis

    ambientais fracamente correlacionadas ou altamente redundantes com outras variveis. A

    ACC final foi processada com as seis variveis mais representativas e mais fortemente

    correlacionadas com os eixos de ordenao: teores de Ca, K, H+Al, Al, V e pH.

    Para confirmar os padres indicados na ACC, foram calculados os coeficientes de

    corrrelao de Spearman (rs) entre as 24 espcies e as seis variveis ambientais selecionadas

    na ACC final.

  • 44

    4 RESULTADOS E DISCUSSO

    Os sucessivos usos decorrentes das intervenes antrpicas sobre o macio da Pedra

    Branca determinaram a configurao de uma singular resultante ambiental. Em particular a

    atuao de carvoeiros no referido macio se deu na transio do sculo XIX para o XX,

    provocando mudanas na estrutura e funcionalidade do ecossistema, que podem, hoje, ser

    mensurados e analisados, a partir do estudo da vegetao.

    O uso dos recursos florestais por populaes passadas de carvoeiros, em conjunto com

    as variveis ambientais que se apresentam na rea de estudo, desenvolveram uma resultante

    nica, que se apresenta de forma distinta de outras reas no municpio do Rio de Janeiro,

    como por exemplo, no macio da Tijuca, que teve como principal interferncia humana as

    plantaes de caf no final do sculo XIX.

    Em certa medida, estudar a floresta na sua fisionomia e funcionalidade hoje na

    verdade estudar os efeitos do paleoterritrio estabelecido na floresta. A Figura 8 apresenta

    uma viso da rea de estudos, evidenciando a formao florestal secundria resultante da

    presena e atuao de populaes de carvoeiros.

    A anlise dos resultados inicia se com a avaliao das resultantes da fabricao de

    carvo vegetal para o solo e a estrutura da vegetao nas parcelas circunvizinhas a reas de

    fabricao de carvo vegetal no macio da Pedra Branca, RJ, avaliando tambm, como ocorre

    a sucesso ecolgica.

    Utilizando os parmetros da rea basal e da densidade dos indivduos para

    diferenciao da idade aproximada de regenerao entre as caractersticas estruturais de cada

    cava de balo de carvo, com o teste de hiptese t de Fischer para as reas basais e as

    densidades em cada cava. Em seguida, feito o ordenamento e a organizao da composio

    florstica de cada cava a partir da discusso do resultado da similaridade florstica de

    Sorensen, atravs de um dendrograma. Por ltimo, so correlacionadas as variveis

    ambientais com as variveis florestais atravs da estatstica da Anlise de Correspondncia

    Cannica (ACC).

  • 45

    Figura 8 - Vista da rea de estudos evidenciando a formao florestal secundaria bacia do Rio Caambe,

    Macio da Pedra Branca, RJ.

    4.1 Estrutura Geral da Comunidade Florestal

    A anlise dos resultados inicia se a partir da coleta e tratamento de amostras dos solos

    de reas utilizadas para corte e queima de lenha para produo de carvo. Onde percebe se

    que o alto teor de alumnio na soluo do solo (Tabela 1) est relacionado ao baixo pH

    encontrado (5,1), visto que a precipitao de hidrxidos de alumnio ocorre a partir do pH 5,4

    (Sollins 1998). Os teores de clcio, magnsio e potssio so considerados adequados para o

    desenvolvimento vegetal (Freire e Almeida 1988). O teor de carbono no solo reflete um

    grande aporte de material orgnico na rea, a matria orgnica presente no solo aumenta a

    capacidade do solo de reter gua e nutrientes (Silva et al. 2000). Este teor de carbono tambm

    est associado diretamente a estrutura do balo de carvo. Essas caractersticas de solo sero

    mais adiante neste trabalho estudadas em consonncia com a estrutura e composio florestal

    dessas reas. O valor das principais caractersticas edficas dessas reas apresentada na

    tabela 1, que apresenta tambm os desvios padres para cada caracterstica.

  • 46

    Tabela 1 - Principais caractersticas fsico qumicas do solo em reas utilizadas para corte e fabricao

    de carvo vegetal, macio da Pedra Branca, RJ. (Na = Sdio; Ca = Clcio; Mg = Magnsio; K = Potssio;

    H+Al = Saturao de alumnio; Al = teor de alumnio; V = Saturao de Bases; Corg = Carbono

    orgnico).

    Na Ca Mg K H+Al Al V pH (1:2,5)

    Corg

    -------------------------- Cmolc / dm3 ------------------------- % H2O %

    Mdia 0,01 5,26 1,65 0,02 8,65 0,56 45,68 5,10 1,69 Desvio Padro 0,002 2,294 0,796 0,008 3,780 0,655 14,633 0,781 0,940

    Avaliando-se a floresta resultante do paleoterritrio dos carvoeiros no macio da Pedra

    Branca como uma unidade amostral, considerando-se o total das dez cavas de balo de carvo

    amostradas, foram encontrados 543 indivduos (sendo 43 mortos em p), distribudos em 125

    espcies, subordinados a 96 gneros e 36 famlia