textos- semana 1

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_<^JL -^-rOLA^ : ^tnj*C Z-ai-\Ai &s£*ín, I<fa0. I O objeto da fonética e da fonologia Enquanto a fonética estuda os sons como entidades físico-artículatórias isoladas, a fonologia irá estudar os sons do ponto de vista funcional como elementos que integram um sistema lingüístico determinado. Assim, à fonética cabe descrever os sons da linguagem e analisar suas particularidades articulatórias, acústicas e perceptivas. À fonologia cabe estudar as diferenças fônicas intencionais, distintivas, isto é, que se vinculam a diferenças de significação, estabelecer como se relacio nam entre si os elementos de diferenciação e quais as condições em que se combinam uns com os outros para formar morfemas, palavras e fra ses. A fonética se distingue, pois, da fonologia pelo fato de considerar os sons independentemente de suas oposições paradigmáticas - aque las cuja presença ou ausência imporia em mudança de significação (pa la: bala: mala: fala: vala: sala: cala: gala etc.) - e de suas combinações sihtagmáticas, ou seja, os seus arranjos e disposições lineares no contí nuo sonoro (Roma, amor, mora, ramo etc). A unidade da fonética é o som da fala ou o fone, enquanto a uni dade da fonologia é o fonema. Fonética e fonologia têm sido entendidas como duas disciplinas interdependentes, uma vez que para qualquer estudo fonológico é indispensável partir do conteúdo fonético, articulatório e/ou acústico para determinar quais são as unidades distintivas de cada língua. A caracterização da fonética como ciência que trata da substância da ex pressão e da fonologia como a ciência que trata da forma da expressão é aceita pela maioria dos lingüistas por não implicar a oposição entre os dois campos do conhecimento, nem sua independência e autonomia. Na escola norte-americana, o termo fonêmica em lugar de fono logia teve grande penetração, principalmente entre os estruturalistas. Na Europa, alguns fonólogos preferiram a designação fõnemática. No entanto, fonologia c fonêmica só podem ser considerados equivalentes n 12 iniciação à fonética e fonologia' se tanto os elementos segmentais quanto os supra-segmentais puderem ser analisados como fonemas, visão esta não compartilhada por alguns fonólogos da escola britânica. No modelo firthiano, fõnemática abrange apenas o estudo dos fonemas segmentais que ocorrem em seqüência linear, tal como as vogais e consoantes, não incluindo os ele mentos prosódicos. Os termos fonética e fonologia têm em sua composição vocabular \ a raiz grega phon - som, voz. O termo fonologia, cunhado por volta do final do século XVIII, teve, a princípio, a acepção de ciência dos sons da fala esóa partir de 1928 passou a ter o sentido que tem hoje. A \ contribuição de Ferdinand de Saussure e Baudoin de Courtenay foi ] decisiva para a mudança de interpretação lingüística do termo. Baudoin de Courtenay, em fins do século XIX, foi um dos pri- meiros a tentar distinguir de modo mais sistemático o estudo dos ele- i mentos que têm um papel na significação (os fonemas) - estudo esse que denominou psicofonética - daqueles que são o resultado das reali zações individuais dos falantes (os fones ou sons da fala), A esse estudo deu o nome de fisiofonética. Ferdinand de Saussure no Curso de lingüística geral distingue fonética de fonologia, reservando à fonética o seu uso original de estudo das evoluções dos sons. Segundo ele "a fonética é uma ciência histórica, analisa acontecimentos, transformações e se move no tempo. A fonologia se coloca fora do tempo, já que o mecanismo da articula ção permanece sempre igual a si mesmo". (Saussure, 1969, p. 43). Embora essa concepção esteja distinta das acepções atuais dos dois termos, a distinção entre fonética e fonologia foi possível a partir do pensamento saussuriano, pelo uso de suas noções de língua (langue) e fala (parole), forma e substância, sintagma e paradigma. É somente com os trabalhos de Trubetzkoy, Jakobson e outros componentes do Círculo Lingüístico de Praga, no 1.° Congresso Internacional de Lin güística (Haia, 1928) que a fonologia se constitui como um campo dis tinto da fonética, tendo um objeto próprio de estudo. A autonomia da fonética em relação à fonologia é tema contro verso. Conforme se verá adiante, o termo fonética pode significar tanto o estudo de qualquer som produzido pelos seres humanos quanto o estudo da articulação, acústica e percepção dos sons utilizados em lín guas específicas..No primeiro tipo de investigação fica evidente a auto nomia da fonética com relação à fonologia, já no segundo as conexões entre as duas ciências se tornam patentes. A perspectiva adotada por Ladefoged (1971) é um excelente exemplo da interdependência dos dois campos, perspectiva essa que será adotada nos diversos parágrafos da seção seguinte.

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Page 1: Textos- Semana 1

_<^JL -^-rOLA^ : ^tnj*C Z-ai-\Ai &s£*ín,I<fa0.

I

O objeto da fonética e da fonologia

Enquanto a fonética estuda os sons como entidades físico-artículatóriasisoladas, a fonologia irá estudar os sons do ponto de vista funcionalcomo elementos que integram um sistema lingüístico determinado.Assim, à fonética cabe descrever os sons da linguagem e analisar suasparticularidades articulatórias, acústicas e perceptivas. À fonologiacabe estudar as diferenças fônicas intencionais, distintivas, isto é, quese vinculam a diferenças de significação, estabelecer como se relacionam entre si os elementos de diferenciação e quais as condições em quese combinam uns com os outros para formar morfemas, palavras e frases. A fonética se distingue, pois, da fonologia pelo fato de consideraros sons independentemente de suas oposições paradigmáticas - aquelas cuja presença ou ausência imporia em mudança de significação (pala: bala: mala: fala: vala: sala: cala: gala etc.) - e de suas combinaçõessihtagmáticas, ou seja, os seus arranjos e disposições lineares no contínuo sonoro (Roma, amor, mora, ramo etc).

A unidade da fonética é o som da fala ou o fone, enquanto a unidade da fonologia é o fonema.

Fonética e fonologia têm sido entendidas como duas disciplinasinterdependentes, uma vez que para qualquer estudo fonológico éindispensável partir do conteúdo fonético, articulatório e/ou acústicopara determinar quais são as unidades distintivas de cada língua. Acaracterização da fonética como ciência que trata da substância da expressão e da fonologia como a ciência que trata da forma da expressãoé aceita pela maioria dos lingüistas por não implicar a oposição entre osdois campos do conhecimento, nem sua independência e autonomia.

Na escola norte-americana, o termo fonêmica em lugar de fonologia teve grande penetração, principalmente entre os estruturalistas.Na Europa, alguns fonólogos preferiram a designação fõnemática. Noentanto, fonologia c fonêmica só podem ser considerados equivalentes

n

12 iniciação à fonética e fonologia'

se tanto os elementos segmentais quanto os supra-segmentais puderemser analisados como fonemas, visão esta não compartilhada por algunsfonólogos da escola britânica. No modelo firthiano, fõnemáticaabrange apenas o estudo dos fonemas segmentais que ocorrem emseqüência linear, tal como as vogais e consoantes, não incluindo os elementos prosódicos.

Os termos fonética e fonologia têm em sua composição vocabular \a raiz grega phon - som, voz. O termo fonologia, cunhado por voltado final do século XVIII, teve, a princípio, a acepção de ciência dossons da fala e sóa partir de 1928 passou a ter o sentido que tem hoje. A\contribuição de Ferdinand de Saussure e Baudoin de Courtenay foi ]decisiva para a mudança de interpretação lingüística do termo.

Baudoin de Courtenay, em fins do século XIX, foi um dos pri-meiros a tentar distinguir de modo mais sistemático o estudo dos ele- imentos que têm um papel na significação (os fonemas) - estudo esseque denominou psicofonética - daqueles que são o resultado das realizações individuais dos falantes (os fones ou sons da fala), A esse estudodeu o nome de fisiofonética.

Ferdinand de Saussure no Cursode lingüística geral distinguefonética de fonologia, reservando à fonética o seu uso original deestudo das evoluções dos sons. Segundo ele "a fonética é uma ciênciahistórica, analisa acontecimentos, transformações e se move no tempo.A fonologia se coloca fora do tempo, já que o mecanismo da articulação permanece sempre igual a si mesmo". (Saussure, 1969, p. 43).

Embora essa concepção esteja distinta das acepções atuais dosdois termos, a distinção entre fonética e fonologia foi possível a partirdo pensamento saussuriano, pelo uso de suas noções de língua (langue)e fala (parole), forma e substância, sintagmae paradigma. É somentecom os trabalhos de Trubetzkoy, Jakobson e outros componentes doCírculo Lingüístico de Praga, no 1.°Congresso Internacional de Lingüística (Haia, 1928) que a fonologia se constitui como um campo distinto da fonética, tendo um objeto próprio de estudo.

A autonomia da fonética em relação à fonologia é tema controverso. Conforme se verá adiante, o termo fonética pode significar tantoo estudo de qualquer som produzido pelos seres humanos quanto oestudo da articulação, acústica e percepção dos sons utilizados em línguas específicas..No primeiro tipo de investigação fica evidente a autonomia da fonética com relação à fonologia, já no segundo as conexõesentre as duas ciências se tornam patentes. A perspectiva adotada porLadefoged (1971) é um excelente exemplo da interdependência dosdois campos, perspectiva essa que será adotada nos diversos parágrafosda seção seguinte.

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cavidade nasal

(fossas nasais)

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8.1. Fonética

Já vimos que a fonética trata dos sons da fala em sua materialidade.Acontece que os sons da fala em sua materialidade podem ser encarados detrês modos diferentes. Para explicitá-los, partamos do conhecido esquemada comunicação, sobretudocomo foi formulado por Shannon/Weaver(1975:7,34) emodificado por Jakobson 1969:). Éoque sevê no quadro da Fig. 1,abaixo (cf. também o esquema do "ato de fala", de Saussure 1969: 19):

22

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f. articulatória f. acústica f. perceptiva

Fig. 1Desse esquema se depreende que os sons da fala podem ser consi-

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derados em três momentos diferentes do ato de fala, isto é, do ato decomunicação pelo qual um emissor (E) envia uma mensagem (M) a umreceptor (R). Ou seja, eles podem ser surpreendidos (a) no momento mesmo de sua prolação pelo falante (E), (b) enquanto vibrações das partículas de ar que medeiam entre o falante e o ouvinte e (c) no momento de suacaptação pelo ouvinte (R).

A parte da fonética que estuda os sons da fala do ponto de vista desua produção pelo falante é a fonética articulatória. Às vezes sé chamaesse estudo de fonéticafisiológica, por tratar do modo como os sons sãoproduzidos na fisiologia humana, ou seja, pelo aparelhofonador, que estáreproduzido na Fig. 2 da página seguinte.

A partir do que se vê na Fig. 2, pode-se definir o mecanismo deprodução da fala da seguinte maneira: o ar que entra nos pulmões pelarespiração (inspiração) é pressionado para fora, fazendo vibrar as cordasvocais (duas membranas na altura da laringe) e com isso se produz o som.Mais abaixo veremosque os "sons" resultantesdesse processo são chamados sonoros, por oposição aos que passam pelas cordas vocais abertas, semvibrá-las, e que serão chamados de surdos, apesar da aparente contradiçãoembutida na expressão"som surdo". Por fim, o som recebemodulações notrato bucal, fazendo dele um som (bi)labial, labiodental, alveqlar, palatal,velar, uvular ou glotal. Há outros nomes para a fonética articulatória, taiscomo fonética motora e fonética da produção.

A parte da fonética que estuda o som no momento de sua propagação pelo ar, isto é, enquanto fenômeno acústico, é ãfonética acústica. Comoacústica que é, ela faz parte da física. Seu estudo só é possível em laboratórios onde se possam medir a altura, a intensidade e o timbre bem comooutras propriedades físicas do som como os formantes e suas combinações.Isso é feito com o auxílio dos espectrogramas. Com o avanço dos estudosacústicos já é possível simular a voz humana, ou seja, "fazer as máquinasfalar". Para mais detalhes sobre o assunto, pode-se consultar Malmberg(1970), Rosetti (1962) e Martins (1988).

Quanto ao som no momento de sua recepção pelo ouvinte (R) éestudado pela fonética perceptiva. Trata-se, como o próprio nome jádiz, de uma abordagem psicológica ou, mais especificamente, perceptivado som. A fonética perceptiva trabalha basicamente com testes de percepção. Por exemplo, freqüentemente ouvimos (percebemos) mais o quejá esperávamos que o falante proferisse do que o que ele efetivamenteproferiu. Enfim, como a psicologia da percepção demonstrou há muitotempo, a percepção é influenciada pela experiência prévia em alto grau.

23

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Page 4: Textos- Semana 1

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•Si,VÜJ 8. Adescrição dos segmentos vocálicos

Apresentamos aseguir os parâmetros articulatórios relevantes na descrição dossegmentos vocálicos. Na produção de um segmento vocálico apassagem da correntede ar não éinterrompida na linha central eportanto não há obstrução ou fricção no tratovocal. Segmentos vocálicos são descritos levando-se em consideração os seguintes aspectos: posição da língua em termos de altura; posição da língua em termos anterior/posterior; arredondamento ou não dos lábios. Vejamos cada um destes aspectos.

8.1. Altura da língua

Este parâmetro refere-se àaltura ocupada pelo corpo da língua durante aarticulação do segmento vocálico. Aaltura representa adimensão vertical ocupada pela línguadentro da cavidade bucal. Há um ponto alto em oposição aum ponto baixo epode haveralturas intermediárias. Ladefoged (1984) propõe que aaltura das vogais pode variar emquatro valores (de 1a4). Na descrição do português devemos considerar quatro níveisde altura: alta, média-alta, média-baixa, baixa. Alguns autores referem-se àaltura emtermos de abertura/fechamento da boca. Neste caso os quatro níveis de altura são: fechada, meio-fechada, meio-aberta, aberta. Isto que dizer que os seguintes termos sãoequivalentes: alta=fechada, baixa=aberta (e os termos intermediários também são correspondentes). Neste trabalho geralmente adotamos os termos: alta, média-alta, média-baixa, baixa. Faça os exercícios abaixo observando aposição da língua na dimensãovertical.

Fonética - A descrição dos segmentos vocálicos 67

Exercício 1

1. Pronuncie emseqüência as vogais i e a. A posição da língua encontra-se maisalta durante aposição de qual vogai? Classifique uma destas vogais^omo alta ea outracomo baixa •

2. Pronuncie em seqüência as vogais ê(cf. "ipê") e a.Aposição da língua encontra-se mais alta durante aposição de qual vogai? Classifique uma destas vogais comoalta e a outra como baixa. .

3. Pronuncie em seqüência as vogais ê (cf. "ipê") e é (cf. "pé"). Aposição dalíngua encontra-se mais alta durante aposição de qual vogai? Classifique uma destasvogais como alta eaoutra como baixa .

4. Pronuncie em seqüência as vogais i (cf. "vi"); ê (cf. "ipê"); é (cf. "pé") e a.Como temos quatro vogais classifique-as em quatro níveis de altura começando damais alta e indo para a vogai mais baixa, (nível 1: alta) (nível 2: média-alta) (nível 3: média-baixa) .(nível 4: baixa) .

5.Pronuncie emseqüência as vogais ô (cf. "avô") e ó (cf. "avó"). A posição dalíngua encontra-se mais alta durante a posição de qual vogai? Classifique uma destasvogais como alta e a outra como baixa .

6. Pronuncie emseqüência as vogais u (cf. "jacu"); ô (cf. "avô"); ó (cf. "avó")e a.Como temos quatro vogais classifique-as emquatro níveis dealtura começando damais alta e indo para a vogai mais baixa, (nível 1: alta) (nível 2: média-alta) (nível 3: média-baixa) (nível 4: baixa) .

7. Assumimos quehá quatro níveis de altura (1-4). As vogais i e u são altas epertencem ao(nível 1). A vogaia é baixae pertence ao(nível 4).Como você classificaas vogais ê (cf. "ipê")e é (cf. "pé") em termos do (nível 2) e (nível 3)?E como vocêclassifica as vogais ô (cf. "avô") e ó (cf. "avó") emtermos do (nível 2) e (nível 3)?(nível 2: média-alta) (nível 3: média-baixa) .

8. Classifique as vogais i, ê (ipê), é (pé), a, ó (avó), ô (avô), u nas seguintescategorias:Alta: Média-alta: Média-baixa: Baixa: .

8.2. Anterioridade/Posterioridade da língua

Este parâmetro refere-se à posição do corpo da língua nadimensão horizontaldurante a articulação do segmento vocálico. Divide-se acavidade bucal em três partessimétricas. Uma parte localizada a frente dacavidade bucal (anterior) e uma parte loca-

Page 5: Textos- Semana 1

È:

óo Fonética —A descrição dos segmentos vocálicos

lizada na parte final da cavidade bucal (posterior). Entre estas duas partes tem-se umaparte central.

As três posições que podem ser assumidas pela língua são: anterior, central eposterior. Faça oexercício abaixo observando aposição do corpo da língua.

Exercício 2

1. Pronuncie em seqüência as vogais ieu. Observe aposição da língua durante aarticulação destas vogais. Classifique uma vogai como anterior: e a outraposterior: .

2. Pronuncie em seqüência as vogais ê (cf. "ipê") e ô (cf. "avô"). Observe aposição da língua durante aarticulação destas vogais. Classifique uma vogai comoanterior: e a outra como posterior: .

3. Pronuncie em seqüência as vogais é (cf. "pé") e ó (cf. "avó"). Observe aposição da língua durante aarticulação destas vogais. Classifique uma vogai comoanterior: e a outra como posterior: .

4. Classifique as vogais i, e (ipê), é (pé), a, ó(avó), ô (avô), u nas seguintescategorias (note que avogai ajáencontra-se classificada como uma vogai central):Anterior: Central: a Posterior:

8.3. Arredondamento dos lábios

Durante aarticulação de um segmento consonantal os lábios podem estar estendidos (distensos) ou podem estar arredondados. Estes dois parâmetros são suficientes paraa descrição dossegmentos vocálicos.

Exercício 3

1. Pronuncie as vogais i, ê(ipê), é(pé), a, ó(avó), ô(avô), u. Observe aposiçãodos lábios durante aarticulação destas vogais. Classifique estas vogais como arredondadas: e como não-arredondadas:

Atabela abaixo ilustra a relação entre oarredondamento (ou não) dos lábios eaaltura da língua na articulação de segmentos vocálicos. Mais especificamente, ilustra-se aposição aser assumida pelos lábios em termos dos diferentes graus de altura quepodem serassumidos pela língua.

Fonética - A descrição dos segmentos vocálicos 69

Lábios estendidos Lábios arredondados

o

<3> O

<o O

Aseguir apresentamos um quadro fazendo uso dos símbolos adotados pela Associação Internacional de Fonética para atranscrição dos segmentos vocálicos. Noteoue há quatro graus de altura. Em sistemas vocálicos em que apenas três graus dealtura são relevantes, temos as seguintes categorias para aaltura da língua: alta,média ebaixa Você deverá utilizar os critérios articulatórios descritos acima paracaracterizar os segmentos vocálicos do quadro. Por exemplo avogai [ui] difere-seda vooal [u] somente quanto ao arredondamento dos lábios. Temos então que [ui] eum [o] produzido com os lábios estendidos. Da mesma maneira avogai [y] difere-seda vo*al [i] somente quanto ao arredondamento dos lábios (que são arredondadosem [y]) Temos então que [y] éum [i] produzido com os lábios arredondados. Se-«uindo os critérios articulatórios tente pronunciar as vogais ilustradas abaixo.

alta

média-alta

média-baixa

baixa

anterior

arred não-arred

y

02

CE ae

central

arred não-arred

U 1

posterior

arred não-arred

UI

T

Figura 8: Classificação das vogais quanto ao arredondamento dos lábios, anterioridadelposterioridade e altura

Das vogais listadas acima selecionamos sete que ocorrem em posição tônica noportuguês:

Page 6: Textos- Semana 1

70 Fonética - Articulações secundárias dos segmentos vocálic

dincntoS™08 eXatamente "deSCriÇ3° de ™a "«-P°*™» Uti,izar um dosqualidade mais altaqualidade mais baixaqualidade maisposteriorqualidademaisanterior

mais alto

mais baixo

retraído

avançado

diacríticos SãoSS^ZSSTS^^r?*C°m° "**»*•°ssegmento vocálico Por exenínln , , """^utll'zad»P^caracteriZarum

mos indicarque avogai que estamos d«™„ ? P°S'enor-Se 1uiser-devcmos colocar os dZ"icos e ,h7 , 7""^' ">mbém mais teareferência.S£S.d^SS£!^ í ^ <" t0mi"™s »™'çaessecnndáriasdasvo^Cco:;:^^^^mentos vocálicos. ""wuescnçao mais precisa dos seg-

Page 7: Textos- Semana 1

26Fo

nétic

a-

Ade

scri

ção

dos

segm

ento

sco

nson

anta

is

3.A

desc

rição

dos

segm

ento

sco

nson

anta

is

Toda

sasl

íngua

snatu

rais

poss

uem

cons

oant

esev

ogais

.Ent

ende

rem

ospo

rseg

men

toco

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anta

lum

som

que

seja

prod

uzid

oco

malg

umtip

ode

obstr

ução

nas

cavid

ades

supr

aglot

aisde

man

eiraq

ueha

jaob

struç

ãotot

alou

parci

alda

passa

gem

daco

rrente

dear

pode

ndo

ounã

oha

verf

ricçã

o.Po

routr

olad

o,na

prod

ução

deum

seg

ment

ovo

cálic

oap

assa

gem

daco

rrent

ede

arnã

inter

rom

pida

nalin

hace

ntral

epo

rtanto

não

háob

struç

ãoóu

fricç

ão.C

ertos

segm

entos

têmca

racte

rístic

asfo

nétic

asnã

otão

prec

isas,

seja

deco

nsoa

nteou

devo

gai.

Estes

segm

entos

sãod

enom

inado

sna

liter

atura

dese

mivo

gais,

sem

icont

óide

soug

lides

.Ado

tamos

oter

mog

lide(

pron

uncia

-se

"gl[a

i]de"

)para

referi

ratai

sseg

men

tos.S

egm

entos

vocá

licos

eglid

essã

otrat

ados

após

ades

criçã

odo

sseg

men

tosc

onso

nant

ais.

Ade

scriç

ãoap

resen

tadaa

baixo

segu

eparâ

metr

osar

ticul

atório

s.Há

ainda

apos

sibili

dade

deca

racte

rizar

segm

ento

sado

tando

-sepa

râm

etros

acús

ticos

.Tais

parâ

metr

osde

screv

emas

prop

rieda

des

física

sdo

sso

nsda

fala.

Reco

men

dam

osal

eitur

ade

Fry

(197

9)ao

sinte

ressa

dose

min

vesti

gara

spec

tost

eóric

osda

desc

rição

acús

tica.

Umtex

toem

portu

guês

quea

bord

aasp

ectos

acús

ticos

dafal

aéM

ottaM

aia(1

985)

.C

lass

ifica

mos

asco

nsoa

ntes

deac

ordo

com

apr

opos

taap

rese

ntad

aem

Abe

rcro

mbi

e(1

967)

.Em

bora

tenha

sido

publ

icad

ohá

três

déca

das

otex

tode

Abe

rcro

mbi

eof

erec

ere

curs

oste

óric

osai

nda

atua

is,se

ndo

aobr

am

aisa

dequ

ada

para

aca

racte

rizaç

ãodo

spar

âmetr

osar

ticul

atório

sdos

sons

dafal

a.Na

prod

ução

dese

gmen

tosco

nson

antai

sos

segu

intes

parâ

metr

ossã

ore

levan

tes:o

mec

anism

oe

dire

ção

daco

rrent

edea

r;se

háou

não

vibr

ação

dasc

orda

svoc

ais;s

eoso

mén

asal

ouor

al;qu

aissão

osart

iculàd

ores

envo

lvido

snap

rodu

ção

doss

onse

qual

éam

aneir

autili

zada

naob

struç

ãoda

corre

ntede

ar.A

desc

rição

articu

latór

iade

qualq

uers

egm

ento

cons

onan

talép

ossív

elap

artir

dasr

espo

stasa

estes

parâm

etros

.Fare

mosu

soda

sque

stões

abaix

opa

raam

elhor

com

pree

nsão

desta

desc

rição

.

Ql.

Qua

lom

ecan

ismo

daco

rrent

ede

ar?

Q2.A

corre

nte

dear

éing

ress

ivao

ueg

ress

iva?

Q3.

Qua

loes

tado

dagl

ote?

Q4.

Qua

lapo

sição

dové

upa

latin

o?

Q5.

Qua

loar

ticul

ador

ativ

o?

Q6.

Qua

loar

ticul

ador

pass

ivo?

-

Q7.

Qua

logr

aue

natu

reza

daes

tritu

ra?

Pass

emos

entã

oa

cons

ider

ação

deca

daum

ade

stas

perg

unta

sem

deta

lhes

.

Fo

nét

ica

-A

des

criç

ãod

os

seg

men

tos

co

nso

nan

tais

27

Ql.

Qua

lo

mec

anis

mo

daco

rren

tede

ar?

Pouc

osso

nspr

oduz

idos

pors

eres

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anos

pode

mse

rdes

crito

sse

mle

varm

osem

cons

ider

ação

om

ecan

ism

oda

corr

ente

dear

.Ent

reos

sons

quen

ãofa

zem

uso

dom

eca

nism

ode

corr

ente

dear

emsu

apr

oduç

ãoo

mai

sco

nhec

ido

éo

rang

erdo

sde

ntes

.Aco

rren

tede

arpo

dese

rpu

lmon

ar,

glot

álic

aou

vela

r.O

sse

gmen

tos

cons

onan

tais

dopo

rtugu

êssã

opr

oduz

idos

com

om

ecan

ismo

deco

rrent

edea

rpul

mon

ar.E

steéo

mec

ani

smo

utili

zado

norm

alm

ente

noat

ode

resp

irar.

Om

ecan

ism

ode

corr

ente

dear

glot

álic

onã

ooc

orre

empo

rtugu

êse

om

ecan

ism

ode

corr

ente

dear

velá

rico

ocor

reem

algu

mas

excl

amaç

ões

dede

boch

ee

nega

ção.

Q2.

Aco

rren

tede

aré

ingr

essi

vaou

egre

ssiv

a?E

mso

nspr

oduz

idos

com

aco

rren

tede

areg

ress

iva

oar

sedi

rige

para

fora

dos

pulm

ões

expe

lido

porm

eio

dapr

essã

oex

erci

dape

los

mús

culo

sdo

diaf

ragm

a.O

sse

gmen

tos

cons

onan

tais

dopo

rtugu

êssã

opro

duzi

dos

com

aco

rren

tede

areg

ress

iva.

Jáno

sson

spro

duzi

dos

com

umac

orre

nte

dear

ingr

essi

vao

arse

diri

gede

fora

para

dent

rodo

spu

lmõe

s(c

omo

sees

tivés

sem

os"e

ngol

indo

"ar

).A

corr

ente

dear

ingr

essi

vaoc

orre

emex

clam

açõe

sde

surp

resa

dece

rtos

fala

ntes

dofr

ancê

se

não

ocor

reem

port

uguê

s.

Q3.

Qua

lo

esta

doda

glot

e?A

glot

oes

paço

entr

eos

mús

culo

sesf

riad

osqu

epo

dem

ounã

oob

stru

ira

pass

age

mde

ardo

spul

mõe

spar

aa

farin

ge.

Est

esm

úscu

loss

ãoch

amad

osde

cord

asvo

cais

.D

irem

osqu

eo

esta

doda

glot

voze

ado

(ou

sono

ro)q

uand

oas

cord

asvo

cais

estiv

ere

mvi

bran

dodu

rant

ea

prod

ução

deum

dete

rmin

ado

som

.Em

outr

aspa

lavr

as,d

uran

tea

prod

ução

deum

som

voze

adoo

smús

culo

squ

efo

rmam

agl

otea

prox

imam

-se

ede

vido

apa

ssag

emda

corr

ente

dear

eda

ação

dos

mús

culo

soc

orre

vibr

ação

.Em

opos

ição

,de

nom

inam

oso

esta

doda

glot

ede

desv

ozèa

do(o

usu

rdo)

quan

donã

oho

uver

vibr

ação

dasc

orda

svoc

ais.

Não

hávi

braç

ãoda

scor

dasv

ocai

snem

ocor

reru

ído

dura

nte

apr

odu

ção

deum

segm

ento

desv

ozèa

do.

Isto

sedá

porq

ueos

mús

culo

squ

efo

rmam

agl

ote

enco

ntra

m-s

ecom

plet

amen

tese

para

dosd

em

anei

raqu

eo

arpa

ssa

livre

men

te.N

ave

rda

deas

cate

gori

asvo

zead

oe

desv

ozèa

dopo

dem

seri

nter

pret

adas

com

olim

itesd

eum

cont

ínuo

que

faz

uma

grad

ação

deso

nsvo

zead

osa

sons

desv

ozea

dos

(pas

sand

opo

rso

nsqu

etê

mca

ract

erís

ticas

devo

zeam

ento

inte

rmed

iári

as).

Pore

xem

plo,

osso

ns[b

,d,g

]no

portu

guês

são

prod

uzid

osco

ma

vibr

ação

das

cord

asvo

cais

esã

opo

rtan

toso

nsvo

zead

os.J

áem

ingl

êsos

sons

[b,d

,g]s

ãopr

oduz

idos

com

avi

braç

ãoda

scor

das

voca

isem

umgr

aum

enor

doqu

eaq

uele

obse

rvad

opa

rao

port

uguê

s.E

mbo

raos

sons

[b,d

,g]

seja

mvo

zead

osta

nto

empo

rtug

uêsq

uant

oem

ingl

êsao

faze

rmos

uma

desc

riçã

ode

stes

sons

emca

daum

ades

tasl

íngu

asde

vem

osca

ract

eriz

aros

dife

rent

esgr

ausd

evo

zeam

ento

:co

mpl

etam

ente

voze

ados

empo

rtug

uêse

parc

ialm

ente

voze

ados

emin

glês

.Ent

reta

nto,

esta

sdu

asm

odal

idad

es-

voze

ado>

ede

svoz

èado

-sã

osu

fici

ente

spa

rao

prop

ósit

oda

desc

riçã

odo

sse

gmen

tos

cons

onan

tais

apre

sent

ada

aqui

.Obs

erve

avi

braç

ão(o

unã

o)da

sco

rdas

voca

isna

prod

ução

dos

sons

ve

f.

Page 8: Textos- Semana 1

li

28Fo

nétic

a-

Ade

scri

ção

dos

segm

ento

sco

nson

anta

is

Ta

refa

Coloq

ueas

uamã

oesp

almad

acon

traap

arte

cent

rala

nter

iord

ope

scoço

(onde

nos

hom

ens

temos

o"P

omo

deAd

ão").

Pron

uncie

entã

oo

som

inicia

lda

palav

ra"v

á"de

man

eira

contí

nua

(ver

ifiqu

equ

eap

enas

aco

nsoa

nte

este

jase

ndo

pron

uncia

da).

Agora

pronu

ncie

dame

smam

aneir

acon

tinua

daos

omini

ciald

apala

vra"

fé".F

açaa

alter

nânc

iaen

trev

efa

lguma

sve

zes

(Pro

nunc

ieap

enas

aco

nsoa

nte!).

Você

deve

obse

rvar

qued

uran

teap

rodu

ção

devh

averá

vibraç

ãotra

nsfe

rida

para

asua

mão

eque

duran

teap

roduç

ãode

favib

ração

nãooc

orre.

Osom

vévo

zead

oeo

somf

éd

esv

ozèad

o.

Nodia

gram

aaba

ixoilu

stram

osoc

aso

emqu

easc

orda

svoc

aises

tãovib

rando

epo

rtanto

temos

umse

gmen

tovo

zead

oou

sono

ro(es

querd

a)eo

caso

emqu

easc

orda

svo

cais

não

estã

ovi

bran

doe

tem

osum

som

desv

ozèa

doou

surd

o(d

ireita

).

co

rdas

vo

cais

co

rdas

vo

cais

glo

tegl

ote

Figu

ra2:

Oest

ado

daglo

teem

segm

ento

svoz

eado

s(esq

uerd

a)ed

esvo

zead

os(di

reita)

.

Nafig

urad

adire

itaos

mús

culos

quef

orm

amas

cord

asvo

cais

estão

sepa

rados

enã

ovib

ramco

ma

pass

agem

daco

rrent

ede

arqu

eve

mdo

spu

lmõe

s.Na

figur

ada

esqu

erdao

smús

culos

quef

orma

mas

cord

asvo

cais

vibram

com

apas

sage

mda

corre

nte

dear

que

vem

dosp

ulm

ões.

Q4.

Qua

lapo

sição

dové

upa

latin

o?Pa

raob

serv

arm

osao

posiç

ãoen

treum

segm

ento

oral

eum

segm

ento

nasa

ldev

em

osno

scon

cent

rarn

apo

sição

dové

upa

latin

o.Pa

raist

o,po

dem

osac

ompa

nhar

oqu

eac

ontec

eco

maú

vula,

pois

elalo

caliz

a-se

nofin

aldo

véu

palat

ino

oupa

lato

mol

e.A

úvul

com

umen

tech

amad

ade

"cam

pain

ha".

Éaq

uela

"got

ade

carn

e"qu

eve

mos

quan

doob

serv

amos

aboc

adeu

map

esso

aabe

rta(p

orex

emplo

para

vers

eape

ssoae

stáco

mdo

rdeg

argan

ta(c

onsu

lteaf

igura

5).P

eçaa

umco

legap

araalt

erna

rapr

onún

ciada

voga

ia(c

omo

em"lá

")co

ma

voga

iã(c

omo

em"lã

")m

anten

doab

ocao

mais

aber

ta

Fo

nét

ica

—A

des

criç

ãod

os

seg

men

tos

co

nso

nan

tais

29

poss

ível

(som

ente

asvo

gais

deve

mse

rpro

nunc

iadas

!).O

que

você

deve

ráob

serv

aré

qued

uran

teap

rodu

ção

davo

gaia

aúvu

lade

verá

esta

rlev

anta

dapo

rtant

oo

arnã

ote

ráac

esso

àca

vida

dena

sale

não

have

ráre

sson

ânci

ane

staca

vida

de.T

emos

entã

oum

som

oral

.Nap

rodu

ção

davo

gaiã

aúvu

lade

verá

esta

raba

ixad

aeo

arde

veen

tão

pene

trarn

aca

vida

dena

salh

aven

doal

ires

sonâ

ncia

.Tem

osen

tão

umso

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Con

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Obs

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siçã

oda

próp

riaúv

ula

dura

nte

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oduç

ãode

segm

ento

scon

sona

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tãos

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pena

tent

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gmen

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segm

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ado

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Figu

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Q5.

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Osa

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ativ

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Page 9: Textos- Semana 1

30 Fonética - A descrição dos segmentos consonantais

são: o lábio inferior (que modifica acavidade oral), a língua (que modifica acavidadeoral), ovéu palatino (que modifica acavidade nasal) e as cordas vocais (que modificam a cavidade faringal). Eles são denominados articuladores ativos devido ao seupapel ativo (no sentido de movimento) na articulação consonantal (em oposição aosarticuladores passivos que são discutidos abaixo). Identifique cada um dos articuladoresna figura abaixo.

1. Cavidade oral

2. Cavidade nasal

3. Cavidade nasofaringal4. Cavidade faringal5. Lábio superior6. Dentes superiores7.Alvéolos

(Èâ 1 ••'• *

8. Palato duro

9. Véupalatino (oupalatomole)10. Úvula11. Lábio inferior

12. Dentes inferiores

13. Ápice da língua14. Laminada língua

15. Parte anterior da língua16. Parte média da língua17. Parte posterior da língua

18. Epiglote19. Laringe20. Esõfago21. Glote

Figura 4: Oaparelho fonador e os articuladores passivos e ativos, ascavidades oral, nasal,faringal e a glote(cordas vocais)

Alíngua é dividida em ápice, lâmina, parte anterior, parte mediai e parte posterior. Océu daboca é dividido emalvéolos, palato duro, véu palatino (ou palato mole) eúvula. Observe que ovéu palatino pode também ser denominado nnlnto mole. Identifique oápice ealâmina da língua, aúvula eos álveolos na figura 5apresentada aseguir.

Fonética - A descrição dos segmentos consonantais 31

Figura 5: Esquema ressaltando os alvéolos, o ápice e lâmina da línguae a úvula

Note que tanto o ápice quanto a lâmina da língua localizam-se -na parte maisfrontal da língua. Enquanto o ápice localiza-se na borda lateral frontal da língua, alâmina localiza-se na bordasuperiorfrontal da língua. Nos segmentos consonantais doportuguês nãoé relevantese o articuladorativoé o ápice ou a lâminada língua. Contudo, tal parâmetro articulatório é relevante em outras línguas.

Q6. Qual o articulador passivo?Os articuladores passivos localizam-se namandíbula superior, exceto o véu palatino

queestá localizado na parte posterior do palato. Os articuladores passivos são o lábiosuperior, os dentessuperiorese o céu da bocaque divide-se em:alvéolos, palatoduro,véu palatino (ou palato mole) e úvula conforme ilustrado na figura 4. Note queo véupalatino pode atuarcomoarticulador ativo (naprodução desegmentos nasais) oucomoarticulador passivo(na articulação desegmentos velares).

Vejamos a relação entre articuladores ativos e passivos. A partir da posição doarticulador ativo em relação ao articulador passivo (podendo ou não havero contatoentre eles) podemos definir o lugar de articulação dos segmentos consonantais deacordo comascategorias listadas abaixo. Osnúmeros quese encontram entreparênteses indicam o número correspondente aoarticulador - ativo oupassivo - na figura 4.OrK(*rve queas letras em negrito referem-se a pronúncia associada a tal letra. Arelaçãoletra/som não éuma relação direta um-a-um. Temos casos emque uma letra corresponde

Page 10: Textos- Semana 1

oZ Fonética —A descrição dos segmentos consonantais

a dois sons diferentes - como por exemplo c em "cá" e em "cela". Temos tambémcasos em que omesmo som é representado por duas letras diferentes - como por exemplo cem "cela" e s em "sela". 0 leitor deve estar atento para o fato de que nos exemplos apresentados aqui estamos interessados nos sons produzidos e não nas letras correspondentes aestes sons. Para uma discussão detalhada da relação letra/som veja Lemle(1987), Cagliari (1989) e Faraco (1994). Listamos a seguir as categorias de lugar dearticulação que são relevantes paraa descrição do português.

Lugar de articulação

Bilabial: 0 articulador ativo é o lábio inferior (11) e como articulador passivo temos olábiosuperior (5).Exemplos: pá, boa, má.

Labiodental: O articulador ativo é o lábio inferior (11) ecomo articulador passivo temosos dentes incisivossuperiores (6). Exemplos: faca, vá.

Dental: 0 articulador ativo é ou o ápice ou a lâmina da língua (13 ou 14) e comoarticulador passivo temos os dentes incisivos superiores (6). Exemplos: data, sapa, Zapata,nada, lata.

Alveolar: Oarticulador ativoé o ápice oua lâmina da língua (13ou 14)e comoarticuladorpassivo temos os alvéolos (7). Consoantes alveolares diferem de consoantes dentaisapenas quanto ao articulador passivo. Em consoantes dentais temos como articuladorpassivo os dentes superiores. Já nas consoantes alveolares temos os alvéolos comoarticulador passivo. Exemplos: data, sapa, Zapata, nada, lata.

Alveopalatal (ou pós-alveolares): Oarticulador ativo éaparte anterior da língua (15) eo articulador passivo é a parte mediai do palato duro(8). Exemplos: tia, dia (nodialetocarioca), chá, já.

Palatal: Oarticulador ativo é a parte média da língua (16) e o articulador passivo é apartefinal do palatoduro (8). Exemplos: banha, palha.

Velar: Oarticulador ativo éa parte posterior da língua (17) e oarticulador passivo é ovéu palatino ou palato mole (9). Exemplos: casa, gata, rata (o som r de "rata" variaconsideravelmente dependendo do dialeto em questão. Indicamos aqui apronúncia velarqueocorre tipicamente nodialeto carioca. Umadiscussão detalhada dos sonsder emportuguês será apresentada posteriormente).

Glotal: Osmúsculos ligamentais daglote (21) comportam-se como articuladores. Exemplo: rata (na pronúncia típica do dialeto de Belo Horizonte).

As categorias listadas acima caracterizam os lugares de articulação dos segmentos consonantais relevantes para adescrição do português. Uma vez definido olugarde articulação de um segmento sabemos qual é o articulador passivo e qual é oarticulador ativo envolvido naarticulação. Além deidentificarmos olugar dearticulação de um segmento, devemos caracterizar a sua maneira oumodo dearticulação.A maneira oumodo de articulação de umsegmento está relacionada ao tipode obstru

Fonética - A descrição dos segmentos consonantais 33

ção da corrente de arcausada pelos articuladores durante aprodução de um segmento.Identificando o"grau e naturezada estritura" (ou seja, a maneira como sedáa obstrução da corrente de ar) estamos caracterizando a sua maneira ou modo de articulação.As categorias referentes aograu ea natureza daestritura são listadas abaixo respondendoa sétimae últimaperguntapropostapor Abercrombie (1967).

Q7. Qual o grau e natureza da estritura?Estritura é o termo técnico para a posição assumida pelo articulador ativo em

relação ao articulador passivo, indicando como e em qual grau a passagem dacorrentedear através do aparelho fonador (ou trato vocal)é limitada neste ponto [Abercrombie(1967:44)]. Apartir danatureza daestritura classificamos ossegmentos consonantaisquanto àmaneira oumodo dearticulação. Definimos abaixo as categorias de estriturarelevantes para a descrição do português.

Modo ou maneira de articulação

Oclusiva: Os articuladores produzemuma obstruçãocompletada passagem da correntede ar através da boca. O véu palatino está levantado e o ar que vem dos pulmões encaminha-se para a cavidade oral. Oclusivas são portanto consoantes orais. As consoantesoclusivas que ocorrem em português são (brevemente identificaremos os símbolos fonéti-cos que serão utilizados em transcrições): pá, tá, cá. bar, dá, gol.

Nasal: Os articuladoresproduzem uma obstruçãocompleta da passagem da corrente dear através da boca. O véu palatino encontra-se abaixado e o ar que vem dos pulmõesdirige-se às cavidades nasal e oral. Nasais são consoantes idênticas às oclusivas diferen-ciando-se apenas quanto ao abaixajnento do véu palatino para as nasais. As consoantesnasais que ocorrem em português são: má, nua, banho.

Fricativa: Os articuladores se aproximam produzindo fricção quando ocorre a passagem central da corrente de ar. A aproximação dos articuladores entretanto nãochegaacausar obstrução completa e sim parcial que causa a fricção. As consoantes iricativasque ocorrem em português são: fé, vá, sapa, Zapata, chá, já, rata (em alguns dialetos osom r de "rata" pode ocorrer como uma consoante vibrante, descrita a seguir, e nãocomo uma consoante fricativa indicadaaqui. O r fricativoocorre tipicamente no português do Rio de Janeiro e Belo Horizonte, por exemplo).

Africada: Na fase inicial da produçãode uma africada os articuladores produzem umaobstrução completa na passagem da corrente de ar através da boca e o véu palatinoencontra-se levantado (como nas oclusivas). Na fase final dessa obstrução (quando sedá a soltura da oclusão) ocorre então uma fricção decorrente da passagem central dacorrente de ar (como nas fricativas). A oclusiva e a fricativa que formam a consoanteafricada devem ter o mesmo lugar de articulação, ou seja, são homorgânicas. O véupalatinocontinua levantadodurantea produçãode umaafricada.Africadas são portantoconsoantes orais. As consoantes africadas que ocorrem em algumas variedades do português brasileiro são tia, dia. Imagine as pronúncias "tchia" e "djia" para estes exemplos.

Page 11: Textos- Semana 1

34 Fonética - Articulações secundárias

Para alguns falantes de Cuiabá, consoantes africadas ocorrem em palavras como "chá"e "já" (que são pronunciadas como "tchá" e "djá" respectivamente). Na maioria dosdialetos doportuguês brasileiro temos umaconsoante fricativa naspalavras "chá"e "já".

Tepe (ou vibrante simples): O articuladorativo toca rapidamente o articulador passivoocorrendo uma rápida obstruçãoda passagemda correntede ar através da boca. O tepeocorreem portuguêsnos seguintes exemplos: cara, brava.

Vibrante (múltipla): O articulador ativo toca algumas vezes o articuladorpassivo causando vibração. Em alguns dialetos do português ocorre esta variante em expressõescomo "orra meu!" ou em palavras como "marra". Certas variantes do estado de SãoPauloe do portuguêseuropeu apresentam umaconsoantevibrante nestesexemplos.

Retroflexa: O palato duro é o articulador passivo e a ponta da língua é o articuladorativo.A produçãode uma retroflexa geralmentese dá com o levantamentoe encurvamentoda ponta da língua em direção do palato duro. Ocorrem no dialeto "caipira" e no sotaquede norte-americanos falando português como nas palavras: mar, carta.

Laterais: O articulador ativo toca o articulador passivo e a corrente de ar é obstruída nalinhacentraldo trato vocal.O ar seráentãoexpelido porambosos ladosdestaobstruçãotendo portanto saída lateral. Laterais ocorrem em português nos seguintes exemplos: lá,palha, sal (da maneira que "sal" é pronunciada no sul do Brasil ou em Portugal).

Classificamos os segmentos consonantais quanto ao mecanismo da corrente de ar(egressiva); ao vozeamento ou desvozeamento; a oralidade/nasalidade;ao lugar e modode articulação. A notaçãodos segmentos consonantaissegue a seguinte ordem:

Notação dos segmentos consonantais

(Modode articulação + Lugar de articulação + Grau de Vozeamento)Exemplos:[pi Oclusiva bilabial desvozeada[b] Oclusiva bilabial vozeada

A seguir tratamos de aspectos de articulações secundárias que podemserproduzidos concomitantemente com uma determinada articulação consonantal.

/

Page 12: Textos- Semana 1

o}.

5. Tabela fonética consonantal

Apresentamos abaixo uma tabela consonantal que lista os segmentos consonantaisque ocorrem no português brasileiro. Acoluna da esquerda lista omodo ou maneira dearticulação apartir da natureza da estritura conforme definido anteriormente. Quandorelevante, foi indicado o estado da glote separando, portanto, segmentos vozeados edesvozeados. Na parte superior indicamos olugar de articulação definido conforme arelação entre oarticulador ativo eoarticulador passivo.

Fonética —Tabela fonética consonantal 37

Articulação

Maneira LugarBilabial Labiodental

Dental

ou

Alveolar

Alveopalatal Palatal Velar Glotal

Oclusiva desvvoz

Pb

t

d

koo

Africada desvvoz

tid3

Fricativa desvvoz

fV

s •

z

í3

X

Y

h

li

Nasal voz m n Ji y

Tepe voz r

Vibrante voz f

Retroflexa voz j

Lateral voz 1 i X 1*

Tabela: Símbolos fonéticos consonantais relevantes para transcrição do português

O quadro abaixo listaexemplos de palavras queilustram cadaumdossegmentosda tabela fonética apresentada acima. No exemplo ortográfico a letra (ou letras) emnegrito corresponde(m) aosegmento consonantal cujosímbolo fonético é apresentadona primeira coluna. Asegunda coluna lista a nomenclatura dosegmento consonantal. Aforma ortográfica do exemplo é apresentada na terceira coluna e a representação fonética correspondente é fornecida naquartacoluna. Finalmente, a última coluna apresenta observações quanto a região dialetal predominante de ocorrência do segmento emquestão. Note que as transcrições fonéticas encontram-se entre colchetes. Adotamos osímbolo [aj paraas vogaistranscritas-abaixo (excetopara [ij em "tia, dia"). O símbolo['] precede a sílaba acentuada.

SímboloClassificação do

segmento consonantalExemplo

ortográfico

Transcriçãofonética

Observação*

P Oclusiva bilabialdesvozeada

pata ['patal Uniforme cm todos os dialetos do portuguêsbrasileiro.

b Oclusiva bilabialvozeada

bala ['bala] Uniforme em todos os dialetos do portuguêsbrasileiro.

t Oclusiva alveolardesvozeada

tapa ['tapa] Uniforme em todos os dialetos do portuguêsbrasileiro podendo ocorrer com articulaçãoalveolar ou dental.

d Oclusiva alveolarvozeada

data ['data] Uniforme em todos os dialetos do portuguêsbrasileiro podendo ocorrer com articulaçãoalveolar ou dental.

k Oclusiva velardesvozeada

capa pkapa] Uniforme em todos os dialetos do portuguêsbrasileiro.

g Oclusiva velarvozeada

gata [•gata] Uniforme em todos os dialetos do portuguêsbrasileiro.

Page 13: Textos- Semana 1

38 Fonética - Tabela fonética consonantal

6

cIC3

CO)

J

SímboloClassificação do

segmento consonantal

Exemplo

ortográfico

Transcriçãc

fonéticaObservação

ti Africadaalveopalataldesvozeada

tia ['tjia] Pronúnciatípicado Sudeste brasileiro. Corresponde aoprimeiro somdapalavra"tcheco-eslo-váquia" em todos os dialetos. Ocorre tambémem outras regiões menos delimitadas (comoNorte e Nordeste).

g

a

d3 Africada alveopalatalvozeada

dia ['d3ia] Pronúncia típica do Sudeste brasileiro. Ocorretambém em outras regiões menos delimitadas(como Norte e Nordeste).

V)o

•a

|f Fricativa labiodental

desvozeada

faca ['faka] Uniforme em todosos dialetos do portuguêsbrasileiro.

S V Fricativa labiodentalvozeada

vaca pvaka] Uniforme em todososdialetosdo portuguêsbrasileiro.

£>

_o

s Fricativa alveolar

desvozeada

salacaçapaz

['sala]['kasa]Ppas]

Uniforme em início de sílaba em todos os dia

letos do português brasileiro podendo ocorrercom articulação alveolar ou dental. Marcavariação dialetalem finalde sílaba:paz;vasta.

d

o•o

z Fricativa alveolarvozeada

Zapatacasa

paz

[za'patalpkaza]['paz]

Uniforme em início de sílaba em todos os dia

letos do português brasileiro podendo ocorrercom articulação alveolar ou dental. Marcavariação dialetalem finalde sílaba: rasga.

_oo

X)

i Fricativa alveopalataldesvozeada

cháachapaz

['ajalPpaJ]

Uniforme em início de sílaba em todos os dialetos do português brasileiro. Marca variaçãodialetalem finalde sílaba:paz, vasta.

o

o

3 Fricativa alveopalatalvozeada

jáhaja

[»3a][•a3a]

Uniforme em início de sílaba em todos os dialetosdo português brasileiro. Marcavariaçãodia-letalem final de sílaba: rasga.

o

o

c•a

c

X Fricativa velar

desvozeada

rata

marra

mar

carta

['Xata]['maXa]1'maX]['kaXta]

Pronúncia típica do dialeto carioca. Ocorrefricçãoaudível na região velar.Ocorreem início de sílaba que seja precedidapor silêncioe portantoencontra-se em início de palavra:"rata"; em iníciode sílaba que seja precedidapor vogai: "marra" e em início de sílaba queseja precedida porconsoante: "Israel". Em alguns dialetosocorreem finalde sílabaquando seguido por consoante desvozeada: "carta" e em final de sílaba que coincide com final de palavra: "mar".

yIOO"

o

YFricativa velar

vozeada

carga ['kayga] Pronúncia típica do dialeto carioca. Ocorrefricção audível na região velar. Ocorre em final de sílaba seguida de consoante vozeada.

H

rt<>•C3

tt.

Og

<*

h Fricativa dotaldesvozeada

rata

marra

mar

carta

['hata][•mana]['mah]['kahta"]

Pronúncia típica do dialeto de Belo Horizonte. Não ocorre fricção audível no trato vocal.Ocorreem iníciode sílabaque sejaprecedidapor silêncio e portanto encontra-se cm iníciode palavra: "rata"; eminíciodesílabaquesejaprecedida por vogai: "marra" e em início desílabaque seja precedida por consoante: "Israel". Em alguns dialetos ocorre em final de

m

J1ou

y

T

OU

Classificação dosegmento consonantal

Fricativa glotaldesvozeada

Fricativa glotalvozeada

Nasal bilabialvozeada

Nasal alveolarvozeada

Nasal palatalvozeada

Tepe alveolarvozeado

Vibrante alveolarvozeada

Retroflexa alveolar

vozeada

Lateral alveolarvozeada

Lateral alveolar

vozeada velarizada

Exemplo

ortográfico

mala

nada

banha

cara

pratamar

carta

rata

marra

lata

plana

salsalta

Fonética - Tabela fonética consonantal 39

Transcrição

fonética

[•kafiga]

Pmalal

•nada]

pbajla]

ou

['bãya]

Pkafa][i pfata]í'maf]pkafta]

rata

•mafa]

['maJ]

['lata][•plana]

['sai]['salta]['saw]Psavvta]

Observação

sílabaquandoseguidoporconsoantedesvozeada:"carta" e em final de sílaba que coincide comfinalde palavra:"mar".

Pronúncia típica do dialeto de Belo Horizonte. Não ocorre fricção audível no trato vocal.Ocorre em final de sílaba seguida de consoante vozeada.

Uniforme em todos os dialetos do portuguêsbrasileiro.

Uniforme em todos os dialetos do portuguêsbrasileiro, podendo ocorrer com articulaçãoalveolar ou dental.

A consoante nasal palatal [ji] ocorre na fala depoucos falantes do português brasileiro. Geralmente um glide palatal nasalizado que étranscrito como [y] ocorre no lugar da consoante nasal palatal para a maioria dos falantesdo portuguêsbrasileiro.Esta variaçãoserá discutida em breve.

Uniformeem posição intervocálicae seguindoconsoante em todos os dialetos do portuguêsbrasileiro, podendo ocorrer com articulaçãoalveolar ou dental. Em alguns dialetos ocorreem final de sílaba em meio de palavra: "carta"ou em final de sílaba que coincide com final depalavra: "mar".

Ocorreem algunsdialetos(ou mesmoidioletos)do português brasileiro. Pronúncia típica doportuguês europeu e ocorre em certas variantes do português brasileiro (por exemplo emcertos dialetos do português paulista). Ocorreem início de sílaba que seja precedida por silêncio: "rata"; em início de sílaba que seja precedida por vogai: "marra" e em iníciode sílaba queseja precedida porconsoante: "Israel".

Pronúncia típica do dialeto caipira do r em final de sílaba: mar, carta. Adota-se também o

símbolo[\\."

Uniforme em início de sílaba e seguindo consoante em todos os dialetos do português brasileiro, podendo ocorrer com articulaçãoalveolar ou dental.

Ocorre em final de sílaba em alguns dialetos (ouidioletos)do portuguêsbrasileiro,podendoocorrercom articulaçãoalveolar oudental. Pode ocorrer a vocalização da lateral em posição final desílaba e neste caso temos um segmento com ascaracterísticas articulatórias deumavogaido tipo[u] que é transcrito como [\v].

Page 14: Textos- Semana 1

40 Fonética —Tabela fonética consonantal

Símbolo Classificação do segmento consonantalExemplo

ortográficoTranscrição

fonéticaObservação

Á"OU

1'

Lateral palatal vozeada malha ['ma/Ca]

ou

PmaPa]

A consoante lateral palatal [Á~] ocorre na fala de poucos falantes do português brasileiro. Geralmente uma lateral

alveolar(oudental)palatalizadaque é transcrita por [l'j ocorrepara a maioria dos falantes doportuguês brasileiro. Esta variação será discutida em breve.Pode ocorrer a vocalização dalateral palatal e neste caso temos um segmento com as ca

racterísticas articulatórias de

uma vogai do tipo [i] que étranscrito como[y|: ['maya]."

O leitordeveráencontrarumsubconjuntodos segmentosconsonantaisapresentadosacima paracaracterizaras consoantes que ocorremem seu idioleto.Os símbolos listadosacima devemser suficientespara caracterizara fala sem distúrbiosde qualquer falantedoportuguêsbrasileiro. Taissímbolossão propostospelaAssociaçãoInternacional de Fonética.Observa-secontudo na literaturaa utilizaçãode alguns símbolosconcorrentesaqueles listados na tabela acima. Por exemplo, para representar um segmento "africadoalveopalatal desvozèado" a Associação Internacional de Fonética propõe o símbolo [t\](este é o segmento inicial da palavra "tcheco")- Na literatura, encontra-se o símbolo [c]para representar o mesmo segmento africado alveopalatal desvozèado (cf. "tcheco"). Osímbolo[c] é geralmenteutilizadona literaturanorte-americana. Listamosabaixosímbolos fonéticos concorrentes aos do alfabeto da Associação Internacional de Fonética.

Símbolos propostos pela AssociaçãoInternacional de Fonética

Símbolos concorrentes

í §

3 Z

ti c ou tá

d3 j ou dz

P n

Na página seguinte apresentamos a tabela proposta pela Associação Internacional de Fonética. Tal tabela propõe símbolos para transcrever qualquer som daslínguas naturais. A partir dos parâmetros articulatórios descritos anteriormente o leitor deverá ser capaz de inferir e pronunciar todos os segmentos consonantais listadosna tabela. Os segmentos vocálicos serão tratados posteriormente. Aos interessadosem ter as fontes para tais símbolos, estas podem ser obtidas gratuitamente pela internetno seguinte endereço: http://www.sil.org/computing/fonts/Lang/silfonts.html (consultetambém: http://www2.arts.gla.ac.uk/IPA/ipa.html para obter informações detalhadasdesta associação).

Logo após a tabela da Associação Internacionalde Fonética, apresentamos umasériede exercíciosque tem por objetivosedimentaros aspectosteóricosapresentados nas páginas precedentes. Respostas aos exercícios propostos são apresentadas no Final do livro.

Fonética - Tabela fonética consonantal 41

Oalfabeto internacional de fonética (revisado em 1993, atualizado em 1996'Consoantes (mecanismo de corrente de ar pulmonar)

pós-alvcolar palatal faringal glotal

t 4 k g

X Y X u h ç

J ut

Em pares de símbolos tem-se que osímbolo da direita representa uma consoante vozeada. Acredita-se ser impossível as articulaçõesnasáreas sombreadas.

Tons e acentos nas palavrasNível Contorno

Consoantes (mecanismo de corrente de ar não-pulmonar) Suprasegmentosmplosivas vozeantes Ejectivas

6 bilabial ' como cm

d dcntal/alvcolar p' bilabial

! pós-alveolar J palatal f dental/

alveolar

* palato-alveolar çf velar k' velar

| lateral alveolar G uvular s fricativa

alveolar

Vogais

fechada(oualta)

meia-fechada(oumédia-alta)

meia-aberta(oumédia-baixa)

aberta(oubaixa)

Quando ossímbolos aparecem em paresaqueledadireita representa umavogaiarredondada.

Outros símbolos

/A fricativa

lábio-velar desvozeada

W aproximadamenteIábio-velar vozeada

tf aproximadamente

lábio-palatal vozeada

posterior

cz fricativas

vozeadascpiglotal

J flepealveolar lateral

fj articulaçãosimultânea de r

cX

H fricativa cpiglotal Para representar consoantesdesvozeada africadas e uma articulação du-

Ç fricativa cpiglotal pia utiliza-se um elo ligando osvozeada t'°'s s'mbolos emquestão.

* oclusiva cpiglotal Icp ts.

acento primário

, acentosecundário

,founo'tiron

: longa c:

' semi-longa C

muito breve c

. divisão silábica ji.ajkt

| grupoacentuaimenor

|| grupoentonativo principal

ligação (ausência dedivisão) f upstep(subida brusca)

C ou"] muito c ou /jascendentealta

é -| alta ê

ê i média c

\Jdescendente

Ialto ascendente

; j baixa

muito e *1ascendente-baixo descendente etc.

S Abaixo ascendente

Idownstep / ascendência(quebra brusca) global

\ descendênciaglobal

Diacríticos Pode-se colocar um diacritico acima de símbolos cujarepresentação sejaprolongada naparteinferior, porexemplo IJ

desvozèado n d voz. sussurrado b a dental t d

^vozeada Sv tv voz trcmulante b a uapical t ri

^aspirada t" d" linguolabial t d laminai t d

mais arred. g wlabializado tw dw ~nasalizado c

c menosarred. Q jpalatalizado r cr "soltura nasal dn

avançado u+

-rvelarizado t* dv lsolturalateral d1

_retraído e vfaringalizado t' dY n soltura não-audível d

"centralizada ê "*vclarizada ou faringalizada \

x centraliz. médiaXe levantada e (J = fricativa bilabial vozeada)

silábicai

n abaixada C (p =aproximante alveolar vozeada)

não silábica c raiz da línguaavançada e

-. roticização a-a- . raiz dalíngua retraida p

* AAssociação Internacional de Fonética gentilmente autorizou a reprodução desta Tabela Fonética.