textos didáticos em indologia - história política

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Introdução O objetivo deste texto é, antes de tudo, fornecer uma base didática para o estudo da Índia Antiga. Longe de ser um texto completo, trato aqui dos dados mais superficiais e abrangentes que possam conduzir o interessado num estudo sério e esclarecido sobre o tema, de modo a realizar uma exposição que não seja nem cansativa, nem muito complexa. Inevitavelmente, somos obrigados a nos deparar com algumas relativizações teóricas necessárias ao aprofundamento do estudo desta civilização, cujas especificidades invocam um olhar bastante cuidadoso. No entanto, deter-me-ei, aqui, num conjunto de explanações básicas que sirvam de referencial a todas estas questões. Igualmente, a determinação dos elementos bibliográficos serve a proposta inicial de tornar um pouco mais acessível este nosso estudo. Busquei, pois, indicar textos que sejam facilmente encontrados, que estejam em nosso idioma e que sejam de academicamente válidos, afastando-me propositalmente de toda e qualquer

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ÍNDICE - 4a Aula - História Política - Texto de Apoio - Leis de Manu - Texto de Análise - O período de Expansão e Conflito. - Texto de Análise - O Império Maurya

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Page 1: Textos Didáticos em Indologia - História Política

Introdução

O objetivo deste texto é, antes de tudo, fornecer uma base didática para o estudo da Índia Antiga. Longe de ser um texto completo, trato aqui dos dados mais superficiais e abrangentes que possam conduzir o interessado num estudo sério e esclarecido sobre o tema, de modo a realizar uma exposição que não seja nem cansativa, nem muito complexa. Inevitavelmente, somos obrigados a nos deparar com algumas relativizações teóricas necessárias ao aprofundamento do estudo desta civilização, cujas especificidades invocam um olhar bastante cuidadoso. No entanto, deter-me-ei, aqui, num conjunto de explanações básicas que sirvam de referencial a todas estas questões.

Igualmente, a determinação dos elementos bibliográficos serve a proposta inicial de tornar um pouco mais acessível este nosso estudo. Busquei, pois, indicar textos que sejam facilmente encontrados, que estejam em nosso idioma e que sejam de academicamente válidos, afastando-me propositalmente de toda e qualquer publicação de caráter exotérico ou de fonte duvidosa. No caso específico da Indologia, sabemos que tais textos abundam em profusão, dificultando o estudo sério da Índia e comprometendo um trabalho esclarecido.

Page 2: Textos Didáticos em Indologia - História Política

ÍNDICE

4a Aula - História PolíticaTexto de Apoio - Leis de ManuTexto de Análise - O período de Expansão e Conflito.Texto de Análise - O Império Maurya

4a Aula - História Política

Os Mahajanapadas

A característica fundamental deste período (sécs – 9 a – 4) é

o aprofundamento das relações políticas, que geram um

processo de unificação entre reinos no Norte e na parte

central da Índia. As razões pelas quais estas mudanças

acontecem são pouco conhecidas, mas apontam para um

desenvolvimento do comércio e da metalurgia, aliado ao

aprimoramento da irrigação e da agricultura, que permitem

um assentamento definitivo das populações no espaço. A

criação de gado continuou a ser um fator fundamental de

riqueza, mas as atividades econômicas se diversificam,

ensejando a organização de governos mais complexos,

extensos e atuantes.

A história política dos Mahajanapadas salvou-lhes o nome,

mas pouco, além disso, em termos de cronologia ou

detalhes administrativos e históricos. Teriam sido ao todo 16

reinos, dos quais os mais poderosos seriam Maghada, Kuru,

Kosala e Gandhara. Outros reinos menores também são

reconhecidos: Kasi, Anga Vajji, Malla, Chedi, Vatsa, Kuru,

Panchala, Matsya, Surasena, Assaka, Avanti e Kamboja.

Especula-se, por vezes, se reinos como os de Kuru não

seriam os mesmos que aparecem nas epopéias antigas,

como o Mahabharata, mas não tal afirmação não encontra

base sólida.

Page 3: Textos Didáticos em Indologia - História Política

Esta estrutura política continuaria a durar até o período das

invasões persas e depois gregas, quando parte deles seria

absorvido. Apenas Maghada continuaria a sobreviver, sendo

o alicerce da subseqüente dinastia Maurya, o primeiro

grande império indiano.

Este panorama de riqueza material e abundância,

controlado ideologicamente pela casta bramânica e

politicamente pelos Xátrias, traz consigo também um

aumento das desigualdades sociais, derivadas da

exploração do trabalho das castas inferiores e do

subseqüente problema de divisão de renda. Este fenômeno

leva uma série de intelectuais, provenientes das mais

diversas varnas, a reexaminar o sistema de crenças

estabelecido, colocando em questão a validade da moral

vigente e dos aspectos metafísicos da vivência humana.

O resultado disso seria a produção inovadora dos

Brahamanas, Aranyakas e Upanishads. Por fim, esta é a

época onde não só o hinduísmo (sanatana dharma) se

constrói mas também, é quando surgem as doutrinas do

jainismo e do budismo, se contrapondo como formas

radicais a uma concepção reencarnacionista fatalista.

O Tempo das Invasões

O século -5 testemunhou um período conturbado de

invasões, disputas e fragmentação do território indiano. O

nascente império persa, sob a dinastia Aquemênida, investiu

sobre as regiões do noroeste indiano, englobando vários dos

mahajanapadas sob um único regime. Apesar disso, a

liberdade religiosa e social foi mantida, de acordo com a

prática comum de tolerância estabelecida pelos persas.

Transformar-se numa satrapia era apenas uma perda de

liberdade relativa, mas não absoluta. Junto com o domínio

Page 4: Textos Didáticos em Indologia - História Política

persa, aliás, várias contribuições foram dadas a cultura

indiana, tais como a transmissão de um sistema de escrita

para o sânscrito (e para outras línguas em uso na época,

com o pakrit, o karoshit e o pali), a adoção de novos padrões

artísticos e o contato com a diversidade cultural do império.

A duração do domínio persa na área situo-se entre – 520 até

-334, quando os gregos finalmente suplantaram o domínio

persa e chegaram as fronteiras da Índia. Vindos com

Alexandre Magno, os gregos se estabeleceram no noroeste

da Índia (sem, no entanto, ultrapassar os limites antes

conquistados pelos persas), e construíram uma interessante

fusão cultural com as populações locais. Após a prematura

morte de Alexandre, porém, o domínio grego se fracionou

num incontável número de efêmeros reinos, cujo número e

nome só conhecemos ocasionalmente pelas moedas e

referências textuais. Um desses reis, Menandro, por

exemplo, ficou famoso pelo seu diálogo com o sábio budista

Nagasena, relatado no livro “Milinda Panha”. A contribuição

da arte grega nas escolas de Gandhara e Mathura foi

significativa, e toda uma iconografia budista surge da fusão

destes elementos culturais – ao que tudo indica, era a

intenção dos budistas dialogar nesta época com o Ocidente,

e não com o Oriente.

A Ascensão dos Maurya

Foi com Bimbisara (-6-5) que finalmente a Índia começou a

se unir politicamente, através da construção de um

protótipo de Império que seria absorvido e consolidado por

Chandragupta em -323.

A História desse soberano é complexa, e parece que ele não

vinha de nenhuma varna importante. É provável que

Chandragupta representasse para a Índia a ascensão de

uma força renovadora, capaz de restaurar (mas ao mesmo

Page 5: Textos Didáticos em Indologia - História Política

tempo, modificar) a conformação política e social da região.

Ele organiza seu império lançando mão de um grande

aparelho burocrático que se encarregou de controlar a vida

das regiões submetidas segundo um critério político

centralizador, de acordo com uma perspectiva única na

História indiana. A manifestação completa desta inusitada

articulação política estava representada em um dos

ministros de Chandragupta, chamado Kautylia, que escreveu

o Artashastra, um tratado de governo social cuja crueldade

e objetividade são chocantes. Mas este livro é um passo

importante para compreendermos a tentativa de substituir

uma práxis governamental pautada na religião para uma

monarquia materialista, forte e pragmática.

No entanto, Chandragupta, no final de seu governo, largou o

Império nas mãos de seu filho e foi morrer como um asceta

jainista. Seu neto, chamado Asoka (ou ainda Ashoka, ou

Açoka) elevaria ao máximo o poder dos maurya no século -

3. E da mesma forma que o avô, se converte num dado

momento de sua vida à pregação religiosa, divulgando a fé

budista-ecumênica através de uma série de éditos gravados

em pedra (que viriam a ser a primeira fonte escrita indiana,

embora estando em várias línguas, inclusive grego e

aramaico, além das indianas) que o elevaram a condição de

um grande soberano pacifista e culto. Asoka encerra um

grande período de transformações na História da Índia, que

estabeleceram o poder da diversidade em sua civilização.

Vencedor de Dario III, em 331 a.C., Alexandre Magno da

Macedônia conquistou o antigo império persa, província

após província. Quando chegou às margens do Indo, dois

séculos após Dario I - menos um decênio -, teve de enfrentar

o poderoso exército de um soberano indiano Poros (sans.

Puro), que reinava provavelmente no Pandjab. Ao mesmo

tempo, um jovem general da Índia oriental ter-se-ia

revoltado contra o seu soberano (da dinastia dos Nanda, no

Page 6: Textos Didáticos em Indologia - História Política

Magadha) e, levado por um ardor ambicioso, teria procurado

o apoio do conquistador grego para destronar o rei de

Magadha, seu senhor. b pelo menos o que sugere Plutarco

(Alex., Lxii). Sejam quais forem as razões - e são numerosas

- que impediram Alexandre de atender este atraente projeto

que lhe teria dado acesso à Índia gangética, o general

magadi teve de passar sem o auxílio dos invasores.

Conhecido dos gregos com o nome de Andrakotos,

Sandracotos ou Sandrakuptos, iria desempenhar um

importante papel no destino da Índia. Teria sido a recusa de

Alexandre que o colocou na oposição? A verdade é que logo

após a morte do grande macedônio, em 323, teria assumido

o papel de «chefe da liberdade». Os prefeitos de Alexandre

foram mortos e as suas tropas obrigadas a retirarem-se

(317-316). Três anos mais tarde, em 313-312, Sandrakoto

subia ao trono do Magadha, pondo fim à dinastia dos Nanda,

e inaugurando, com o nome sânscrito de Chandragupta, a

dos Maurias. E quando, pouco antes de 305, Seleuco,

fundador do reino e da dinastia selêucida, veio ao Pandjab,

seguindo o caminho de Alexandre, Chandragupta possuía

um verdadeiro império que se estendia do Indo ao Ganges,

dominava o delta destes dois rios, e se apoiava num

poderoso exército. A organização administrativa parece ter

sido bem empreendida, vigiada por inspetores imperiais, e

facilitada pelo bom estado das estradas que o soberano

tinha em grande cuidado. Não se tratava já, para Seleuco,

de desprezar a aliança de um monarca tão poderoso:

abandonou-lhe os territórios para lá do Indo, e concedeu-lhe,

diz-se, a mão de uma princesa grega. A partir desse

momento, a Índia entrou na órbita dos grandes impérios do

tempo; a sua capital, situada em Pataliputra ou Magadha, foi

durante muitos decênios centro de uma embaixada grega

que o embaixador Magasténio ilustrou, e cujas informações

são preciosíssimas, embora em segunda mão. As conquistas

territoriais de Chandragupta parece terem-se aumentado

com a Índia central e uma grande parte do Decão no reinado

Page 7: Textos Didáticos em Indologia - História Política

do filho Bindusara, de quem nada de exato se conhece. Mas

foi um filho deste, o célebre Açoka, que levou a dinastia ao

seu apogeu; as fontes gregas nada dizem a respeito dele e a

tradição búdica conservou dele apenas um retrato

insignificante. Felizmente, este imperador teve o cuidado de

mandar gravar éditos por todo o lado, nos territórios que

governava, graças aos quais se pode reconstituir a sua

personalidade e o modo da sua propaganda imperial. Tendo-

se apoderado do poder por volta de 264 a.C., teria sido

coroado em 260; oito anos mais tarde, tendo conquistado de

modo particularmente brutal o poderoso reino de Kalinga

(que se estendia do delta da Mahanadi ao do Godavari),

Açoka manifesta a sua tristeza e arrependimento no XIII

édito, que merece ser largamente citado:“...Cento e

cinqüenta mil pessoas foram deportadas; cem mil lá foram

mortas; várias vezes este número pereceu...A tristeza

assaltou o Amigo dos Deuses (Açoka) depois que ele

conquistou Kalinga. Com efeito, a conquista de um país

independente é o morticínio, a morte ou o cativeiro para as

gentes: pensamento que magoa imenso o Amigo dos

Deuses, que lhe pesa. E isto pesa ainda mais ao Amigo dos

Deuses: os habitantes, brâmanes, samanes ou de outras

comunidades, os cidadãos que praticam obediência aos

superiores, ao pai e mãe, aos senhores, a perfeita cortesia

em relação aos amigos, familiares, companheiros e

parentes, em relação aos escravos e criados, e a constância

na fé, todos então são vítimas da violência, do morticínio ou

da separação daqueles que lhes são queridos. Até os felizes

que conservaram os seus afetos, se acontece mal aos

amigos, familiares, camaradas ou parentes, sofrem com isso

um golpe violento. Esta participação de todos os homens é

um pensamento que pesa ao Amigo dos Deuses... Seja qual

for o número dos mortos, dos falecidos e dos cativos na

conquista de Kalinga, fosse esse número cem ou mil vezes

mais pequeno, pesa presentemente no pensamento do

Amigo dos Deuses”. (trad. para o francês por Jules Bloch).

Page 8: Textos Didáticos em Indologia - História Política

Esta conquista sangrenta provoca em Açoka uma crise

moral, e determina a sua conversão ao budismo, fato que

iria ter uma incalculável repercussão na Índia. Daí em

diante, segundo o mesmo edital, Açoka quer que «haja, para

todos os seres, segurança, domínio dos sentidos,

equanimidade e doçura»; a vitória que ele «considera como

primacial é a vitória da Lei». Esta lei é tanto a sua como a do

budismo e do bramanismo: é o dharma indiano,

simultaneamente lei, religião e ordem moral: Finalmente,

aconselha aos seus sucessores que não pensem em novas

vitórias, mas pelo contrário a elas prefiram «a paciência e a

leve aplicação da força». Açoka não se contenta com fazer

gravar estes conselhos «nas montanhas e em pilares de

pedra»: ordena que sejam proclamados ao som de tambor a

toda a população. Durante os trinta e seis anos do seu

reinado, instituiu pelo império uma organização

administrativa muito firme, cujo papel parece ser tanto

social quanto religioso; não poupa aos funcionários nem

críticas nem pregações, e exerce sobre eles uma vigilância

que penetra até no gineceu. Ele próprio não se cansa de

fazer peregrinações aos lugares santos do budismo,

organizando também excursões regulares de propaganda

que servem ao mesmo tempo para inspecionar o bom

andamento das coisas administrativas. O seu zelo para com

o budismo não o impede, porém, de aconselhar a tolerância

mútua das seitas, nem que as favoreça quando calha. Enfim,

tornou-se célebre pela caridade para com os animais,

renunciando pessoalmente aos prazeres da caça, e

ordenando que fossem reduzidos os massacres de animais

destinados à cozinha do palácio imperial: em vez de matar

todos os dias «centenas de milhares», basta matar três: dois

pavões e uma gazela, e ainda assim «nem sempre»; mais

tarde, suprime completamente o uso da carne na sua mesa.

O seu império englobava toda a Índia do Norte e do

Noroeste, compreendendo nele uma parte do Afeganistão

(uma inscrição dele foi recentemente descoberta em

Page 9: Textos Didáticos em Indologia - História Política

Kandahar), e estendia-se ao Sul, até ao país dos Andra

(vales inferiores da Godavari e da Krisna). Mantinha relações

diplomáticas com a Síria, a Cirenaica, o Egipto, a Macedónia,

o Epiro ou Corinto. A unificação política da qual Açoka foi o

mais augusto fator estimulou o desenvolvimento econômico

de todo o país. Com ele, o budismo tornou-se um poderoso

fator civilizador; difundiu-o em Caxemira, nas regiões

gregas, e até no Ceilão, onde enviou o filho (?) em missão.

Paralelamente, as artes plásticas tiveram grande surto,

sendo empregadas pela primeira vez, parece, matérias

duradouras. Após a sua morte, o império foi dividido. O

Magadha, o Malva e a região de Ayodia passaram para as

mãos dos Sungas (176-64 a.C.?), depois para as dos Kanvas

(64-50): o centro de gravidade deslocou-se para Ocidente.

Isto coincidiu com graves acontecimentos que se produziam

a Noroeste, e que iriam ter profunda repercussão na própria

Índia. Depois de Alexandre, os reinos indo-gregos tinham-se

fundido na Bactriana, no Gandara (Pexavar), no Kapixa

(Cabul), etc. Em constantes lutas uns contra os outros, e

alvo dos ataques dos Iranianos e dos Partos, um dos reis de

Bactriana, Demétrio, empreendeu a conquista da Índia cerca

de 189, e avançou até Pataliputra. O seu sucessor,

Menandro, manteve-se aí apenas até 168, mas conservou

um reino no Pandjab. A partir desta época, as regiões de

Cambaia e de Broach foram incluídas na rota comercial dos

gregos. Parece que o primeiro dos Sungas, Puxiamitra (I76-

I40?), teria repelido os invasores. Coube ao seu neto repeli-

los para o outro lado do Indo. A importância dos Sungas e

dos Kanvas não pode ser minimizada, embora não tenha

podido conservar o império mauria. A administração foi

menos espectacular do que a de Açoka, mas pode afirmar-

se que mantiveram uma elevada tradição cultural e artística

nas regiões que dominaram; foi na época deles que se

cavaram as mais belas grutas antigas, e que se erigiram,

entre outros, os célebres monumentos (stupa) de Barhut e

de Sanchi, cujos relevos historiados ilustram tão

Page 10: Textos Didáticos em Indologia - História Política

perfeitamente as descrições literárias. da vida do tempo. Por

outro lado, o budismo fazia consideráveis progressos na

evangelização: não só se expandia na Índia, compreendendo

nela as regiões do sul (particularmente a do Amaraviti),

como atingia os indo-gregos até à Bactriana; o rei

Menandro, por exemplo, ficou célebre na tradição búdica

pelas «perguntas» que fazia ao sacerdote Nagasena, cujas

respostas são um elogio do budismo. Por seu lado, o

bramanismo evoluía ao mesmo tempo para um teísmo cada

vez mais acentuado, e para uma tradição épica, em perfeito

acordo com a estrutura guerreira da Índia desse tempo.

Seitas cada vez mais numerosas se fundam nesta época:

adoradores de Siva, que o sacerdote Lakuliça em breve

organizará; de Visnu que tende a tornar-se o símbolo místico

da paz do coração; da sua encarnação, o deus bucólico

Krisna, cujos adoradores recebem o nome de bagavata; da

sua outra encarnação, Rama, herói do grande poema épico,

o Ramaiana. Que esta forma afectiva de religião indiana

tenha podido agradar aos Ocidentais, temos disso prova

concreta no pilar, ornamentado com o pássaro mítico de

Visnu, Garuda, e consagrado a Vasudeva-Krisna; foi erigido

cerca de 100 a. C., não longe de Vidiça, em Besnagar, pelo

grego Heliodoro, oriundo de Taxila, e embaixador do rei

Antiálquidas junto do rei Sunga.

Auboyer, J. A vida cotidiana na Índia Antiga (1961)

Texto de Apoio - Leis de Manu

Só a punição governa todos os seres criados, só a punição

os

protege; é a punição o que os protege enquanto dormem; os

sábios

declaram que a punição é a lei.

Se a punição for devidamente aplicada depois de exame

devido,

Page 11: Textos Didáticos em Indologia - História Política

toma feliz o povo; mas aplicada sem exame, destrói tudo.

Se o rei não aplicasse incansavelmente a punição aos que

me-

recem ser punidos, os mais fortes assariam os mais fracos,

como pei-

xes em um braseiro;

O corvo comeria o bolo sacrifical e o cachorro lamberia as

car-

nes sacrificais, e a propriedade não ficaria com pessoa

alguma, e os

inferiores usurpariam o lugar dos superiores.

Todo o mundo é mantido em ordem pela punição, pois é

difícil

achar um homem sem culpa; pelo medo a punição, todo o

mundo pro-

porciona os desfrutes que deve.

Os deuses, os Danavas, os Gandharvas, os Rakshasas, (a) as

dei-

dades de pássaro e serpente, só proporcionam os prazeres

devido.s

aos mesmos se forem atormentados pelo medo da punição.

Todas as castas se corromperiam pela mistura, todas as

barrei-

ras se romperiam e todos os homens se irariam uns contra

os outros,

em conseqüência de erros com relação a punição.

Mas onde a Punição com cor negra e olhos vermelhos

impera,

destruindo os pecadores, os súditos não se perturbam,

desde que quem a aplique tenha o necessário

discernimento.

(manava dharma shastra 7.18, 20-25)

a) Classes de demônios ou semideuses.

Page 12: Textos Didáticos em Indologia - História Política

Texto de Análise - O período de Expansão e Conflito

Foi provavelmente por volta do século VI que as tribos árias,

até então estabelecidas entre os cursos do Indo e do

Ganges, progrediram para o oriente. Um certo número de

Estados ou de reinos mais ou menos estáveis fundou-se,

então, na região de Delhi, no "País do Meio" (Madiadeça), no

Aud (Coçala e Videa), no Biar meridional (Magada);

estendem-se, ao sul, até os montes Vindia e possuem todos

eles muitas cidades importantes, entre as quais podemos

citar Cauçambi sobre o Yamuna e Caci (Benares) sobre o

Varanavati.

Depois da hegemonia tentada pelo reino dos Currus (Delhi)

na época precedente, é o Magada (Biar meridional) que

tentará a sua oportunidade. Apresenta-se como uma região

menos profundamente arianizada que as de oeste, e na qual

os característicos aborígines são mais firmemente

assinalados; é, de resto, considerado pelos árias como uma

região semibárbara. Entre os séculos VI e IV cabe- lhe

empreender a conquista da bacia do Ganges; é o momento

em que a dinastia dos Siçunagas, vinda de Avanti (isto é, do

reino ária mais meridional da época precedente), derruba a

dinastia de Briadrata, sobre a qual praticamente nada se

sabe. Os Siçunagas -dos quais apenas os reis Bimbisara

(543-491?) e Ajataçatru (491-459?) são bem conhecidos, em

razão do papel que desempenham na literatura budista -

teriam anexado Bengala, a região de Caci (Benares), o

Coçala (Aud) e o Videa (Biar setentrional). Controlando,

assim, uma vasta região cujo eixo era formado pelo curso

médio e inferior do Ganges, o reino de Magada transportou

a sua capital de Rajagria, no Biar setentrional, para

Pataliputra (Patna), na confluência do Sone e do Ganges. Por

volta do fim do século IV a. C., os Siçunagas foram

substituídos no trono de Magada pelos Nandas, sob os quais,

segundo se supõe, prosseguiu a atividade unificadora, e que

Page 13: Textos Didáticos em Indologia - História Política

foram os antepassados dos Maurias que, por sua vez,

conseguiram fundar, por volta de 320, o primeiro império

pan-hindu.

Enquanto os territórios orientais da Índia ária assim se

organizavam e procuravam unir-se, os do oeste conheciam a

ameaça de novos invasores: o Império Persa empreendia a

conquista das províncias limítrofes, a princípio sob a direção

de Ciro (557-529), ao qual se atribui a conquista do Capiça

(região de Cábul), e em seguida sob Dario (521-485), cujas

novas possessões teriam englobado o Gândara (regiâo de

Peshawar); o conjunto do Pendjab central até o Biar e,

enfim, o Sind. Isto constituiu, para o noroeste da Índia, o

prelúdio de um longo período de agitações, que manteve a

região durante muito tempo à margem da vida hindu

propriamente dita. Isto porque a dominação persa

prolongou-se por quase dois séculos e foi seguida de uma

nova intrusão: a dos exércitos de Alexandre, o Grande, em

326-325. cujas conseqüências estudaremos mais tarde.

Podemos, portanto, considerar que a época do reinado de

Bimbisara tem sua importância, pois consagra a primeira

unificação de um vasto território a leste e uma dissidência

forçada do oeste, através do qual as influências iranianas

penetram novamente, como no tempo em que os próprios

árias as importavam. Mas esta época é ainda notável em

virtude de acontecimentos de ordem religiosa, espirituais e

sociais, cujas conseqüências repercutirão por muito tempo.

De fato, a religião védica transformou-se profundamente sob

a ação cada vez mais rígida dos brâmanes; paralelamente,

uma codificação mais marcada começa a encerrar em

castas a sociedade; a moral, tomando-se mais rígida, por

imposição dos brâmanes, tende a restringir a liberdade dos

costumes. Em poucas palavras, o conjunto de fenômenos

que compõem a civilização védica evoluiu para um

formalismo que suscitou toda uma série de "reformas".

Multiplicaram-se as seitas, cada uma propondo uma

modalidade diferente, quanto à obediência à tradição, ao

Page 14: Textos Didáticos em Indologia - História Política

sacerdócio, à obtenção da libertação etc. Na época do

reinado de Bimbisara, dois homens agem no mesmo

sentido: Sáquia-Múni, que funda o budismo, e aquele que é

designado pelo nome de Maavira, fundador do jainismo.

Ambos encontram os espíritos hindus preparados para a

admissão de um reajustamento do pensamento em relação

aos problemas que lhes surgem com crescente acuidade.

Mas não devemos enxergar nestas diversas tendências -

pertençam elas ao antigo vedismo ou aos novos sistemas

budista e jaina - uma revolução brutal apoiada numa guerra

santa; trata-se, antes, de um alargamento das preocupações

morais e metafísicas, trazendo consigo a necessidade de

regras de vida que melhor estivessem de acordo com o

indivíduo. Tais foram as preocupações que, certamente,

provocaram a redação dos comentários (brâmanas) e das

lições esotéricas (upanichades), desde então acrescentados

aos textos védicos da época anterior. Foram elas também

que permitiram que Sáquia-Múni encontrasse tal eco para as

leis da moral que pregava, baseada na caridade para com

todos os seres. É preciso, pois, conceber este período - cor-

respondente aos séculos VI e V aproximadamente - como o

de um verdadeiro despertar espiritual, paralelo a

persistentes tentativas de unificação política e de contatos

efetivos com os ocidentais. Será preciso, entretanto, esperar

ainda um certo tempo antes que se esboce nitidamente uma

real oposição entre as tradições budista e védica; esta

diferença não existe ainda profundamente, porque o

budismo está apenas nos inícios; é ele, então, menos uma

religião do que uma moral e não despreza o panteão

popular e, menos ainda, os modos de vida habitualmente

admitidos. Só a partir dos primeiros séculos da era cristã,

estas oposições surgem claramente, quando a redação dos

textos budistas e a manifestação da arte budista as tomam

perfeitamente tangíveis. Mas ainda assim, serão de ordem

religiosa e social, mais do que material.

Page 15: Textos Didáticos em Indologia - História Política

in Auboyer, J. "Elementos Históricos da Índia". in Crouzet, M.

(org.) História Geral das Civilizações. Lisboa: Difel, 1957, v.2

Texto de Análise - O Império Maurya

Vencedor de Dario III, em 331 a.C., Alexandre Magno da

Macedônia conquistou o antigo império persa, província

após província. Quando chegou às margens do Indo, dois

séculos após Dario I - menos um decênio -, teve de enfrentar

o poderoso exército de um soberano indiano Poros (sans.

Puro), que reinava provavelmente no Pandjab. Ao mesmo

tempo, um jovem general da Índia oriental ter-se-ia

revoltado contra o seu soberano (da dinastia dos Nanda, no

Magadha) e, levado por um ardor ambicioso, teria procurado

o apoio do conquistador grego para destronar o rei de

Magadha, seu senhor. b pelo menos o que sugere Plutarco

(Alex., Lxii). Sejam quais forem as razões - e são numerosas

- que impediram Alexandre de atender este atraente projeto

que lhe teria dado acesso à Índia gangética, o general

magadi teve de passar sem o auxílio dos invasores.

Conhecido dos gregos com o nome de Andrakotos,

Sandracotos ou Sandrakuptos, iria desempenhar um

importante papel no destino da Índia. Teria sido a recusa de

Alexandre que o colocou na oposição? A verdade é que logo

após a morte do grande macedônio, em 323, teria assumido

o papel de «chefe da liberdade». Os prefeitos de Alexandre

foram mortos e as suas tropas obrigadas a retirarem-se

(317-316). Três anos mais tarde, em 313-312, Sandrakoto

subia ao trono do Magadha, pondo fim à dinastia dos Nanda,

e inaugurando, com o nome sânscrito de Chandragupta, a

dos Maurias. E quando, pouco antes de 305, Seleuco,

fundador do reino e da dinastia selêucida, veio ao Pandjab,

seguindo o caminho de Alexandre, Chandragupta possuía

um verdadeiro império que se estendia do Indo ao Ganges,

dominava o delta destes dois rios, e se apoiava num

Page 16: Textos Didáticos em Indologia - História Política

poderoso exército. A organização administrativa parece ter

sido bem empreendida, vigiada por inspetores imperiais, e

facilitada pelo bom estado das estradas que o soberano

tinha em grande cuidado. Não se tratava já, para Seleuco,

de desprezar a aliança de um monarca tão poderoso:

abandonou-lhe os territórios para lá do Indo, e concedeu-lhe,

diz-se, a mão de uma princesa grega. A partir desse

momento, a Índia entrou na órbita dos grandes impérios do

tempo; a sua capital, situada em Pataliputra ou Magadha, foi

durante muitos decênios centro de uma embaixada grega

que o embaixador Magasténio ilustrou, e cujas informações

são preciosíssimas, embora em segunda mão.

As conquistas territoriais de Chandragupta parece terem-se

aumentado com a Índia central e uma grande parte do

Decão no reinado do filho Bindusara, de quem nada de

exato se conhece. Mas foi um filho deste, o célebre Açoka,

que levou a dinastia ao seu apogeu; as fontes gregas nada

dizem a respeito dele e a tradição búdica conservou dele

apenas um retrato insignificante. Felizmente, este

imperador teve o cuidado de mandar gravar éditos por todo

o lado, nos territórios que governava, graças aos quais se

pode reconstituir a sua personalidade e o modo da sua

propaganda imperial.

Tendo-se apoderado do poder por volta de 264 a.C., teria

sido coroado em 260; oito anos mais tarde, tendo

conquistado de modo particularmente brutal o poderoso

reino de Kalinga (que se estendia do delta da Mahanadi ao

do Godavari), Açoka manifesta a sua tristeza e

arrependimento no XIII édito, que merece ser largamente

citado:

“...Cento e cinqüenta mil pessoas foram deportadas; cem

mil lá foram mortas; várias vezes este número pereceu...A

tristeza assaltou o Amigo dos Deuses (Açoka) depois que ele

conquistou Kalinga. Com efeito, a conquista de um país

independente é o morticínio, a morte ou o cativeiro para as

gentes: pensamento que magoa imenso o Amigo dos

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Deuses, que lhe pesa. E isto pesa ainda mais ao Amigo dos

Deuses: os habitantes, brâmanes, samanes ou de outras

comunidades, os cidadãos que praticam obediência aos

superiores, ao pai e mãe, aos senhores, a perfeita cortesia

em relação aos amigos, familiares, companheiros e

parentes, em relação aos escravos e criados, e a constância

na fé, todos então são vítimas da violência, do morticínio ou

da separação daqueles que lhes são queridos. Até os felizes

que conservaram os seus afetos, se acontece mal aos

amigos, familiares, camaradas ou parentes, sofrem com isso

um golpe violento. Esta participação de todos os homens é

um pensamento que pesa ao Amigo dos Deuses... Seja qual

for o número dos mortos, dos falecidos e dos cativos na

conquista de Kalinga, fosse esse número cem ou mil vezes

mais pequeno, pesa presentemente no pensamento do

Amigo dos Deuses”. (trad. para o francês por Jules Bloch).

Esta conquista sangrenta provoca em Açoka uma crise

moral, e determina a sua conversão ao budismo, fato que

iria ter uma incalculável repercussão na Índia. Daí em

diante, segundo o mesmo edital, Açoka quer que «haja, para

todos os seres, segurança, domínio dos sentidos,

equanimidade e doçura»; a vitória que ele «considera como

primacial é a vitória da Lei». Esta lei é tanto a sua como a do

budismo e do bramanismo: é o dharma indiano,

simultaneamente lei, religião e ordem moral: Finalmente,

aconselha aos seus sucessores que não pensem em novas

vitórias, mas pelo contrário a elas prefiram «a paciência e a

leve aplicação da força».

Açoka não se contenta com fazer gravar estes conselhos

«nas montanhas e em pilares de pedra»: ordena que sejam

proclamados ao som de tambor a toda a população. Durante

os trinta e seis anos do seu reinado, instituiu pelo império

uma organização administrativa muito firme, cujo papel

parece ser tanto social quanto religioso; não poupa aos

funcionários nem críticas nem pregações, e exerce sobre

eles uma vigilância que penetra até no gineceu. Ele próprio

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não se cansa de fazer peregrinações aos lugares santos do

budismo, organizando também excursões regulares de

propaganda que servem ao mesmo tempo para inspecionar

o bom andamento das coisas administrativas. O seu zelo

para com o budismo não o impede, porém, de aconselhar a

tolerância mútua das seitas, nem que as favoreça quando

calha. Enfim, tornou-se célebre pela caridade para com os

animais, renunciando pessoalmente aos prazeres da caça, e

ordenando que fossem reduzidos os massacres de animais

destinados à cozinha do palácio imperial: em vez de matar

todos os dias «centenas de milhares», basta matar três: dois

pavões e uma gazela, e ainda assim «nem sempre»; mais

tarde, suprime completamente o uso da carne na sua mesa.

O seu império englobava toda a Índia do Norte e do

Noroeste, compreendendo nele uma parte do Afeganistão

(uma inscrição dele foi recentemente descoberta em

Kandahar), e estendia-se ao Sul, até ao país dos Andra

(vales inferiores da Godavari e da Krisna). Mantinha relações

diplomáticas com a Síria, a Cirenaica, o Egipto, a Macedónia,

o Epiro ou Corinto. A unificação política da qual Açoka foi o

mais augusto fator estimulou o desenvolvimento econômico

de todo o país. Com ele, o budismo tornou-se um poderoso

fator civilizador; difundiu-o em Caxemira, nas regiões

gregas, e até no Ceilão, onde enviou o filho (?) em missão.

Paralelamente, as artes plásticas tiveram grande surto,

sendo empregadas pela primeira vez, parece, matérias

duradouras.

Após a sua morte, o império foi dividido. O Magadha, o

Malva e a região de Ayodia passaram para as mãos dos

Sungas (176-64 a.C.?), depois para as dos Kanvas (64-50): o

centro de gravidade deslocou-se para Ocidente. Isto

coincidiu com graves acontecimentos que se produziam a

Noroeste, e que iriam ter profunda repercussão na própria

Índia. Depois de Alexandre, os reinos indo-gregos tinham-se

fundido na Bactriana, no Gandara (Pexavar), no Kapixa

(Cabul), etc. Em constantes lutas uns contra os outros, e

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alvo dos ataques dos Iranianos e dos Partos, um dos reis de

Bactriana, Demétrio, empreendeu a conquista da Índia cerca

de 189, e avançou até Pataliputra. O seu sucessor,

Menandro, manteve-se aí apenas até 168, mas conservou

um reino no Pandjab. A partir desta época, as regiões de

Cambaia e de Broach foram incluídas na rota comercial dos

gregos. Parece que o primeiro dos Sungas, Puxiamitra (I76-

I40?), teria repelido os invasores. Coube ao seu neto repeli-

los para o outro lado do Indo.

A importância dos Sungas e dos Kanvas não pode ser

minimizada, embora não tenha podido conservar o império

mauria. A administração foi menos espectacular do que a de

Açoka, mas pode afirmar-se que mantiveram uma elevada

tradição cultural e artística nas regiões que dominaram; foi

na época deles que se cavaram as mais belas grutas

antigas, e que se erigiram, entre outros, os célebres

monumentos (stupa) de Barhut e de Sanchi, cujos relevos

historiados ilustram tão perfeitamente as descrições

literárias. da vida do tempo.

Por outro lado, o budismo fazia consideráveis progressos na

evangelização: não só se expandia na Índia, compreendendo

nela as regiões do sul (particularmente a do Amaraviti),

como atingia os indo-gregos até à Bactriana; o rei

Menandro, por exemplo, ficou célebre na tradição búdica

pelas «perguntas» que fazia ao sacerdote Nagasena, cujas

respostas são um elogio do budismo. Por seu lado, o

bramanismo evoluía ao mesmo tempo para um teísmo cada

vez mais acentuado, e para uma tradição épica, em perfeito

acordo com a estrutura guerreira da Índia desse tempo.

Seitas cada vez mais numerosas se fundam nesta época:

adoradores de Siva, que o sacerdote Lakuliça em breve

organizará; de Visnu que tende a tornar-se o símbolo místico

da paz do coração; da sua encarnação, o deus bucólico

Krisna, cujos adoradores recebem o nome de bagavata; da

sua outra encarnação, Rama, herói do grande poema épico,

o Ramaiana. Que esta forma afectiva de religião indiana

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tenha podido agradar aos Ocidentais, temos disso prova

concreta no pilar, ornamentado com o pássaro mítico de

Visnu, Garuda, e consagrado a Vasudeva-Krisna; foi erigido

cerca de 100 a. C., não longe de Vidiça, em Besnagar, pelo

grego Heliodoro, oriundo de Taxila, e embaixador do rei

Antiálquidas junto do rei Sunga.

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