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Textos:Hélio Batista Barboza(a partir das informações fornecidaspelos finalistas e dos relatórios devisita de campo elaboradospelos pesquisadores doPrograma Gestão Pública e Cidadania)

Projeto gráfico e capa:Liria Okoda

Foto da capa:Artesanato de ostras - Florianópolis

Impressão:Gráfica Dedone

Impresso em novembro de 2003São Paulo, SP

Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Karl A. Boedecker da Escola deAdministração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas

Programa Gestão Pública e Cidadania – Histórias de um Brasil que funciona –2003 / São Paulo:

Programa Gestão Pública e Cidadania, 2003. 96p.

ISBN 85-87426-10-9

1. Administração Pública – Brasil. 2. Políticas Públicas – Brasil. 3. Go-verno Local – Brasil. I.Programa Gestão Pública e Cidadania.

CDU – 35 (81)

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Uma política para a igualdade pág. 09

Saúde em grande escala pág. 13

Ouvidos para o cidadão pág. 17

Os agricultores da água pág. 21

Exemplo de recuperação humana pág. 25

Vida nova no sertão pág. 29

Pastos bem cuidados e lucrativos pág. 33

Uma questão de toda a tribo pág. 37

O soro bendito pág. 41

A trupe do conhecimento pág. 45

Um país chamado Xingu pág. 49

O tribunal que ensina pág. 53

A arquitetura da inclusão pág. 57

Via rápida para a cidadania pág. 61

O exército da limpeza pág. 65

Estudar não dói pág. 69

Bons negócios na rede pág. 73

Um celeiro de cooperação pág. 77

A memória em boas mãos pág. 81

Computador não é luxo pág. 85

Apresentação pág. 05

Equipe do Programa Gestão Pública e Cidadania

Publicações

Sumário

Belo Horizonte – MG

Campinas – SP

Ceará

Florianópolis – SC

Itaúna – MG

Lajedo do Tabocal – BA

Lajes – SC

Londrina – PR

Maranguape – CE

Monsenhor Gil – PI

Parque Indígena do Xingu

Pernambuco

Porto Alegre – RS

Recife – PE

Recife – PE

Ribeirão Preto – SP

Rio Grande do Sul

Santa Catarina (intermunicipal)

Santana do Parnaíba – SP

São Paulo – SP

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Apresentação

Histórias de umBrasil que funciona

As 20 histórias deste livro descrevem as experiências finalistas dociclo de premiação de 2003 do Programa Gestão Pública e Cidadania,uma iniciativa da Fundação Getulio Vargas e da Fundação Ford, comapoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social(BNDES). O Programa funciona desde 1996, com o objetivo de premiare disseminar práticas inovadoras de governos estaduais e municipais,bem como das organizações próprias dos povos indígenas.

Embora sejam de diversas regiões do país e procurem atender a dife-rentes demandas da população, há vários pontos pontos em comum en-tre as experiências. Por exemplo: todas as iniciativas apresentadas:

1) introduzem mudanças significativas em relação a práticas an-teriores em determinada área geográfica ou temática;

2) têm impacto positivo sobre a qualidade de vida da comunidade;3) podem ser repetidos ou transferidos para outras regiões ou ad-

ministrações;4) ampliam ou consolidam o diálogo entre a sociedade civil e os

agentes públicos e5) utilizam recursos e oportunidades de forma responsável, visan-

do à auto-sustentabilidade.

Isso acontece porque o Programa Gestão Pública e Cidadania ba-seia-se nas qualidades acima para identificar as experiências inova-

GOVERNOS LOCAIS AJUDANDO A CONSTRUIRUM PAÍS MAIS JUSTO

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doras. Para chegar aos 20 finalistas, a equipe do Programa realiza umtrabalho que se estende ao longo de quase todo o ano, começandopelo envio do folder de apresentação e da ficha de inscrição para maisde 20 mil endereços. A seleção das experiências inscritas divide-seem três fases. Na primeira, são escolhidas 100 iniciativas semifinalis-tas, num processo que reúne grupos de pesquisadores, especialistasem políticas públicas, representantes de órgãos do governo e mem-bros de entidades da sociedade civil.

As 100 experiências semifinalistas são convidadas a preencher umquestionário complementar, com informações mais detalhadas, que ser-vem a uma outra seleção, novamente com a participação de pessoasdas universidades, órgãos públicos e ONGs. As 30 iniciativas escolhi-das dessa forma recebem a visita de técnicos enviados pelo Programa.Com base nos relatórios elaborados por esses técnicos, selecionam-seas 20 iniciativas finalistas. Os textos deste livro também se baseiam nos

relatórios de visita de campo,bem como nas informaçõesdas fichas de inscrição preen-chidas pelos participantes dociclo de premiação.

O número de inscriçõesrecebidas pelo Gestão Públi-ca e Cidadania tem crescidoa cada ano, totalizando maisde 5 mil nos sete anos de fun-cionamento do Programa. To-das fazem parte de um bancode dados, disponível na Inter-net (http://inovando.fgvsp.br)

e na forma impressa. O Programa também produz vídeos e progra-mas de rádio e publica estudos aprofundados sobre várias dessas ini-ciativas (ver a seção “Publicações e vídeos do “Programa Gestão Públi-ca e Cidadania” no final deste volume). Temos a convicção de que es-tas 20 Histórias de um Brasil que funciona são representativas de umuniverso muito mais amplo, formado não somente pelos participan-tes do ciclo de premiação de 2003 como também pelas inovações quese apresentaram ao Programa desde 1996. Portanto, são apenas umapequena parte de um país muito maior, que não costuma aparecer nonoticiário, mas que funciona.

Apresentação

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Uma políticapara a igualdade

As mulheres que procuram atendimento no Benvinda – Centrode Apoio à Mulher, em Belo Horizonte, logo se deparam com umespelho na parede. Segundo a gerente do Centro, Maria das Gra-ças Rodrigues, o espelho serve como um símbolo para que a usuáriacomece a se enxergar, a se perceber e a se valorizar. De fato, asmulheres atendidas reconhecem o resgate de sua auto-estima comouma das principais conquistas após passarem pela instituição.

“Chegamos de cabeça baixa e recebemos uma palavra”, afirmouuma delas, num encontro de mulheres promovido pela prefeitura.

Benvinda - Centro de Apoio à MulherÁrea de implantação: Belo Horizonte – MG

Instituição: Coordenadoria Municipal dosDireitos da Mulher - Comdim

Contato: Márcia de Cássia GomesRua Paraíba, 29 - 6º Andar

Belo Horizonte, MG – CEP: 30130-140Telefone: (31) 3277-9756 – Fax: (31) 3277-9758

e-mail: [email protected]: www.pbh.gov.br/cidadania/mulher-coordenadoria

ALÉM DE CRIAR DOIS ABRIGOS PARA MULHERES VÍTIMASDE VIOLÊNCIA, BELO HORIZONTE MOBILIZOU VÁRIASINSTITUIÇÕES EM TORNO DA QUESTÃO DE GÊNERO

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

ciclo depremiação 2003

BENVINDA: ORIENTAÇÃO,APOIO E ESPERANÇA

“As pessoas não têm medo de entrar no nosso problema e ajudar”,disse outra. “É lá que começa a esperança”, declarou uma terceira.

Inaugurado em 1996, o Benvinda já atendeu cerca de 9 mil mu-lheres vítimas de violência de gênero ou em outras situações de ris-co social. O Centro surgiu a partir de discussões entre grupos demulheres e representantes da área de saúde e de outras entidades

da capital mineira.As usuárias chegam de diversos municípios e são

encaminhadas ao local por hospitais, postos de saú-de, conselhos tutelares, abrigos, ou ainda pelo Dis-que-Cidadã – serviço telefônico oferecido pela pre-feitura para orientação sobre os direitos das mulhe-res. Algumas tomam conhecimento do Centro pormeio de outras pessoas ou dos cartazes espalhadospela cidade. Elas são recebidas por assistentes soci-ais e depois passam pelo atendimento jurídico e psi-cológico realizado pelo próprio Centro.

O serviço jurídico presta orientação não apenas sobre como pro-ceder nos casos de violência de gênero, mas também sobre outrasquestões, como as da área trabalhista, por exemplo. Além disso, aadvogada entra em contato com outras instituições que podem aten-der a usuária do Benvinda: a delegacia, a defensoria pública, as or-ganizações não-governamentais e os centros de apoio e atendimen-to jurídico mantidos por universidades.

Para fortalecer as mulheres diante dos agressores e encorajá-lasa lutar por seus direitos, o Benvinda acompanha as usuárias nasaudiências judiciais. A área jurídica faz ainda a mediação de confli-tos: se a usuária solicita a presença do agressor, este é chamadopara uma conversa entre o casal e a advogada.

Quando sofrem risco de morte, as mulheres ficam na Casa AbrigoSempre Viva (CASV). Localizada num endereço sigiloso, a Casa temcapacidade para abrigar até 12 famílias (mulheres e seus filhos meno-res de 16 anos) e é o único abrigo no Brasil onde as famílias são acomo-dadas em quartos separados. Elas permanecem no abrigo pelo períodomédio de 90 dias, durante os quais recebem apoio psicológico, jurídico,de saúde e participam de oficinas profissionalizantes. As crianças pas-sam a freqüentar creches ou escolas públicas das imediações.

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Históriasde um Brasilque funciona

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Benvinda -Centro de Apoioà Mulher

FUNCIONÁRIAS: ATENDIMENTOSOCIAL, JURÍDICO E PSICOLÓGICO

O Benvinda entra novamente em ação quando as mulheres saemda Casa Abrigo Sempre Viva. Quinzenalmente, elas participam deencontros organizados pelo Centro para, juntamente com a assisten-te social, discutirem sobre sua situação e suas perspectivas.

A rede de atendimentoA fim de coordenar a atuação da Casa Abrigo e do Benvinda, bem

como elaborar e executar políticas voltadas para as mulheres e parao combate à discriminação, o governo de Belo Horizonte criou em1998 a Coordenadoria Municipal dos Direitos da Mulher (Comdim).A Coordenadoria está vinculada à Secretaria Munici-pal de Direitos de Cidadania e fundamenta suas açõesem três eixos: Políticas Afirmativas, Formação para aCidadania e Inclusão Social e Produtiva.

Além dos serviços oferecidos pelo Benvinda, pelaCasa Abrigo e pelo Disque-Cidadã, a Comdim realizacursos para os funcionários públicos, palestras so-bre os direitos femininos e o Fala Mulher – um fórumque reúne membros da comunidade e do poder pú-blico para discutir assuntos de interesse das mulhe-res. A Coordenadoria também leva as questões degênero para outros fóruns governamentais e para as organizaçõesda área da saúde.

No eixo Inclusão Social e Produtiva, a Comdim começou a desen-volver ações para estimular o empreendedorismo entre as mulheres,além de encaminhá-las para cursos profissionalizantes financiadospelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e para instituições queoferecem o microcrédito. Nos últimos três anos, foram oferecidasquase 5 mil vagas em cursos profissionalizantes e, aos poucos, asbeneficiárias conseguem capacitar-se para profissões tradicionalmen-te ocupadas pelos homens, tornando-se pedreiras, bombeiras hidráu-licas e eletricistas, por exemplo.

Também é no âmbito da Coordenadoria que se estabelecem diver-sas parcerias para o atendimento às mulheres vítimas de violência.Graças a essas parcerias, tais mulheres contam com uma rede de aten-dimento na região metropolitana de Belo Horizonte, integrando as ad-

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

ciclo depremiação 2003

PALESTRA SOBRE DIREITOSDAS MULHERE

ministrações regionais, as delegacias gerais e especializadas em cri-mes contra a mulher, os centros de saúde, pronto-socorros e hospi-tais, o Ministério Público, os Conselhos Municipais de Belo Horizontee das cidades vizinhas, as organizações do movimento de mulheres, aPastoral da Mulher e a Pastoral da Criança, entre outras instituições.Um dos resultados mais relevantes de todo esse processo é a valori-zação da temática de gênero na Prefeitura de Belo Horizonte.

Depois do abrigoAs parcerias entre a Comdim e as diversas secretarias municipais

possibilitam ainda que as mulheres continuem a ter o apoio do poderpúblico quando saem do abrigo e buscam reconstruir a vida. Na cha-

mada “fase de pós-abrigamento”, elas recebem ajudapara encontrar uma nova moradia, seja por meio dabolsa-aluguel oferecida pela Secretaria Municipal deAssistência Social, seja por meio dos programas daSecretaria Municipal de Habitação.

A Secretaria de Assistência Social também con-tribui para a solução de necessidades emergenciais(passagens de ônibus para outros municípios, uten-sílios domésticos, providências para retirada de do-cumentação, etc.). Outro apoio importante é o daSecretaria Municipal de Abastecimento, que forne-

ce a alimentação da Casa Abrigo Sempre Viva, além de cestas-básicas para as usuárias do Benvinda e para as famílias na fasede pós-abrigamento.

Com o objetivo de divulgar os serviços e capacitar os servido-res para um atendimento diferenciado à mulher vítima de violên-cia, a Comdim atua em parceria com a Secretaria Municipal deSaúde. Um dos frutos dessa atuação conjunta é a Notificação Com-pulsória, documento no qual os casos de violência contra as mu-lheres atendidos nos serviços de saúde são notificados pela pró-pria equipe médica. Isso incentiva as mulheres a fazerem a denún-cia e garante que a violência não fique impune. Com base nos da-dos das notificações, será possível identificar os atos de violênciae planejar políticas públicas para combatê-los.

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Saúde emgrande escala

Paidéia é uma palavra grega que significa “desenvolvimento in-tegral do ser humano”. É também o nome com o qual a Secretaria deSaúde de Campinas, terceiro maior município do Estado de São Pau-lo, batizou o seu Programa de Saúde da Família. Segundo a Secreta-ria, o Programa Paidéia de Saúde da Família busca alcançar os obje-tivos resumidos nesse nome: cuidar da saúde dos campineiros, daeducação, das relações sociais e do ambiente, respeitando as dife-renças entre as pessoas e os grupos.

Os gestores da iniciativa consideram que o Programa de Saúdeda Família (PSF), do governo federal, é suficiente para os municípiospequenos, mas não para Campinas, uma metrópole com mais de um

A CRIAÇÃO DE EQUIPES DE REFERÊNCIATORNOU O ATENDIMENTO MÉDICO EMCAMPINAS (SP) MAIS ÁGIL E ABRANGENTE

Programa Paidéia de Saúde da FamíliaÁrea de implantação: Campinas – SP

Instituição: Secretaria Municipal de SaúdeContato: Roberto Mardem Soares Farias

Av. Anchieta, 200Campinas, SP – CEP: 13015-904

Telefone: (19) 3735-0287

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

milhão de habitantes. Por isso, o Paidéia é constituído por um con-junto de correções e complementações do Programa de Saúde daFamília, a fim de adequá-lo às demandas locais, podendo ser adota-do por outros municípios com mais de 200 mil habitantes.

Dentre as características do Programa de Saúde da Família des-tacam-se a vinculação das famílias a uma equipe de profissionais dasaúde; o foco no grupo familiar e não apenas no indivíduo e as açõesvoltadas para a prevenção de doenças. A essas características, oPrograma Paidéia acrescenta algumas adaptações: a equipe de saú-

de é multiprofissional e seus integrantestrabalham de forma a buscar a troca e a“soma” de saberes. Outra diferença é queo atendimento da população não segueapenas o agendamento prévio ou a ordemde chegada na unidade de saúde, sendofeito de acordo com as condiçõesemergenciais e os riscos que correm osusuários. Tal modelo de funcionamentotem por finalidade aumentar a capacida-de de resolução do sistema.

O Programa reorganiza as instituiçõesde saúde para que elas possam cumprir

funções pedagógicas, além de promover atenção básica, prevenirriscos, cuidar de doenças e da reabilitação de pessoas com proble-mas crônicos. Para realizar esses propósitos, o Programa se desen-volve por meio de cinco componentes: a adscrição da clientela, aequipe de referência, o acolhimento, o núcleo de saúde coletiva e ocolegiado gestor.

A adscrição da clientela é o cadastramento das famílias e a cria-ção de um vínculo entre elas e as equipes de referência. Dessa forma,cada família passa a ter uma equipe de sua confiança, formada porum médico generalista – que trabalha em regime de tempo integral –, um pediatra, um ginecologista-obstetra, um enfermeiro, três auxili-ares de enfermagem, quatro agentes comunitários, um dentista e umauxiliar de consultório dentário.

Cada equipe se reúne semanalmente e define os chamados “pro-jetos terapêuticos singulares”. São tratamentos individualizados paraos usuários que apresentam maior debilidade. O trabalho acaba re-

ciclo depremiação 2003

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Históriasde um Brasilque funciona

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Programa Paidéia deSaúde da Família

velando quais as terapias individuais e os problemas mais freqüen-tes na comunidade. Portanto, permite definir quais os maiores ris-cos, inclusive segundo a faixa etária, a classe social, etc.

A construção da confiançaDepois que as equipes de referência cadastram as famílias de suas

respectivas circunscrições, elas passam a ser acompanhadas por umagente comunitário. Morador do próprio bairro em que presta serviços,o agente tece a teia de relações e de confiança entre a comunidade e osistema de saúde, tornando-se um elemento-chave para o sucesso doPrograma Paidéia. Além das tarefas de rotina, ele muitas vezes é procu-rado pelos usuários durante os finais de semana e à noite.

Já o acolhimento é realizado, geralmente, por um auxiliar de enfer-magem, nas unidades de saúde do município. Trata-se de uma escutaqualificada, de uma conversa que aumenta o vínculo do usuário com osistema de saúde e possibilita atendermelhor às suas demandas, pois ele é en-caminhado imediatamente para o atendi-mento. Assim como o usuário recebe aequipe de referência em sua residência, oauxiliar de enfermagem recebe os usuári-os nas unidades de atendimento.

Outro componente do Programa é onúcleo de saúde coletiva, composto portrês representantes de cada equipe da uni-dade. O núcleo se reúne periodicamentepara discutir temas que não estão direta-mente ligados aos atendimentos, como oplanejamento anual e a distribuição de tarefas. Um dos núcleos che-gou a realizar atividades nas escolas de sua região, visando a saúdebucal dos alunos. Os dentistas ensinaram as crianças a escovar osdentes, examinaram-nas e avaliaram o seu risco de cárie.

O colegiado gestor ainda não foi implantado em todas as unida-des, mas deve ser composto por dois representantes de cada equipede referência e pelo coordenador da unidade. Ao colegiado cabe de-cidir se a unidade realizará ações que vão além das consultas médi-cas e dos procedimentos tradicionais. De acordo com a demanda lo-

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

ciclo depremiação 2003

Esperava-se em média dois mesespor uma consulta, que hoje

não demora mais de uma semana

cal ou a descoberta de problemas recorrentes, como pressão alta oudores lombares, o colegiado pode providenciar a introdução de tera-pias alternativas (como a acupuntura), e de outras atividades, comoaulas de ginástica postural, criação de centros de vivência, cursos deculinária, cursos sobre a importância dos chás e sucos, formação degrupos para caminhadas e para outros esportes, etc. Tais ações sãopossibilitadas por parcerias com organizações comunitárias e comoutras secretarias municipais.

Rapidez e agilidadeO Programa Paidéia conta com 150 equipes de referência e, até o

final de 2004, pretende chegar a 100% das famílias atendidas peloSistema Único de Saúde (SUS) em Campinas. Cada equipe deve cui-

dar de 1.200 a 1.500 famílias, a umcusto mensal de até R$ 34 mil porequipe. Atualmente, o Programadispõe de mais de 2.800 funcioná-rios, em 46 unidades de saúde.

Os benefícios obtidos até agora justificam a expansão da iniciativa.Antes da implantação do Programa, esperava-se em média dois mesespor uma consulta, que hoje não demora mais de uma semana para acon-tecer. O paciente é orientado pelo agente comunitário sobre qual unida-de deve procurar quando tiver problemas de saúde, e seu caso pode terprioridade, conforme as informações apuradas pelo agente.

Como resultado, o atendimento ficou mais ágil e reduziram-se asfilas. Houve um aumento de 25% no número de profissionais atuan-tes no sistema e de 49% na quantidade de atendimentos. Enquantosomente 5% da população brasileira têm acesso a tratamentoodontológico curativo, em Campinas o índice chega a 12%. Das ges-tantes campineiras, 80% fazem acompanhamento pré-natal.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o principal limite im-posto ao Programa é o apego, entre profissionais e usuários, à espe-cialização e à segmentação do conhecimento. Um curso de qualifica-ção e sensibilização dos profissionais de saúde, realizado em conjun-to com a Unicamp, está ajudando a superar essa dificuldade.

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Ouvidos parao cidadão

Não é raro ouvirmos reclamações dos usuários do Sistema Úni-co de Saúde (SUS) quanto aos serviços prestados, o tempo de espe-ra, a falta de médicos, etc. Difícil é encontrar quem ouça tais queixase tome providências. No Ceará, um decreto do governador criou, em1991, a Ouvidoria de Saúde do Estado. O objetivo era estabelecer umcanal de comunicação direta com a população, identificar suas ne-cessidades, ouvir as queixas e buscar soluções para os problemasinformados pelos usuários.

A Ouvidoria deveria atender inicialmente as demandas relativasàs unidades de saúde localizados em Fortaleza, públicas ou priva-das. O ouvidor recebia as queixas pessoalmente, por carta ou pormeio da linha telefônica do Alô Saúde, um dos primeiros serviços

NO CEARÁ, AS QUEIXAS DE QUEM PROCURA O SISTEMADE SAÚDE SÃO ATENDIDAS, ENCAMINHADAS ERESPONDIDAS, AJUDANDO A MELHORAR OS SERVIÇOS

Sistema de Ouvidoriaem Saúde Pública do Estado

Área de implantação: CearáInstituição: Secretaria Estadual de Saúde

Contato: Dayse Gadelha Lima FurquesAv. Almirante Barroso, 600

Fortaleza, CE – CEP: 60060-440Telefone: (85) 488-2123 Fax: (85) 488-2122

e-mail: [email protected]

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

OUVIDORIA: ATENDIMENTOEM REDE

oferecidos. Além de providenciar o encaminhamento e cobrar as res-postas a essas demandas, o ouvidor solicitava dos órgãos de saúdeexplicações quanto aos problemas noticiados pela mídia.

Em 1998, uma portaria do Secretário da Saúde expandiu e descen-tralizou a Ouvidoria, criando uma rede de ouvidorias em quinze unida-des de saúde do Estado. A rede está presente nos hospitaisespecializados, todos localizados na capital do Estado e a Secretaria

estuda ampliá-la, com a instalação de ouvidorias nasunidades do interior. Enquanto isso não acontece, osmoradores do interior do Estado podem contatar aOuvidoria por telefone, carta ou pela Internet.

Assim como o ouvidor da Saúde, que coordenao Sistema de Ouvidoria, os ouvidores das unidadessão nomeados diretamente pelo Secretário da Saú-de, com mandato de um ano. A Ouvidoria tem sobsua responsabilidade seis canais de comunicaçãocom os usuários. Juntamente com o Alô Saúde ecom a Rede de Ouvidores, há também a Caixa de

Sugestões, o Birô da Cidadania, o Programa Netsaúde e a visita àsunidades (ou mutirão de ouvidores).

Como se fazer ouvirO Alô Saúde funciona em regime de plantão Por intermédio de

uma linha 0800, o cidadão tem acesso a informações sobre a área desaúde, campanhas, endereços, etc., e ainda pode denunciar casosde mau atendimento. Ele recebe um número de protocolo para acom-panhar o atendimento à sua reclamação. Quando o cidadão se iden-tifica, os próprios técnicos do Alô-Saúde entram em contato paracomunicar a resposta. Entre janeiro e junho de 2003, o Alô-Saúdeatendeu 8.857 ligações.

Também é possível falar com a Ouvidoria por meio da Caixa deSugestões, utilizando-se uma comunicação por escrito que tambémterá uma resposta enviada diretamente ao cidadão. Outra forma écomparecer pessoalmente para registrar a reivindicação no Birô daCidadania, uma central de atendimento da Ouvidoria instalada nasede da Secretaria de Saúde. Na Internet, o usuário conta com o Pro-grama Netsaúde, que funciona por meio dos sites do governo estadu-

ciclo depremiação 2003

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Históriasde um Brasilque funciona

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al e da Secretaria de Saúde e do e-mail da Ouvidoria.Finalmente, o Sistema de Ouvidoria entra em contato com a po-

pulação por meio de visitas sistemáticas de todos os integrantes darede de ouvidores às unidades de saúde. Durante um dia inteiro, elesatendem numa determinada unidade. Esses mutirões têm como ob-jetivos principais favorecer o intercâmbio de informações entre osouvidores, integrar, padronizar e consolidar as ações e procedimen-tos a serem realizados.

Em 2002, o Sistema de Ouvidoria atendeu mais de 35 mil solicita-ções, sendo 18 mil pelo Alô Saúde e 500 pelo Netsaúde, que atendemos usuários de todo o Estado do Ceará, mais 16.800 solicitações pelaRede de Ouvidores e pelas Caixas de Sugestões, circunscritas à capi-tal do Estado.

Os ouvidores trabalham em sa-las cedidas pela diretoria de cadaunidade, que também cede um fun-cionário de apoio, telefone, fax ecomputador. As salas geralmenteestão localizadas próximas à entra-da das unidades, ou no local de es-pera pelo atendimento.

Todas as demandas e encaminha-mentos são registrados e levados aosconhecimento da Ouvidoria da Saúde, que mensalmente consolida asinformações e as discute com o Secretário da Saúde. Tais informaçõesconstam de um relatório padronizado, consolidado por unidade desaúde e que classifica as reclamações segundo o tipo: mau atendi-mento, falta de atendimento, demora, problemas de comunicação, pro-blemas com recursos humanos (incluindo queixas dos funcionáriosquanto aos direitos trabalhistas e ao relacionamento com as chefias) eproblemas relacionados ao ambiente e às instalações.

A eliminação das filasA principal dificuldade encontrada na implementação da rede,

segundo os ouvidores, foi a resistência inicial dos diretores e funcio-nários das unidades. Os ouvidores eram vistos como um corpo estra-nho ao hospital, uma ”corregedoria” permanente. No início, era tam-

Sistema deOuvidoria emSaúde Públicado Estado

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

CAIXA DE SUGESTÕES:RESPOSTA AO CIDADÃO

bém comum que os funcionários desejassem identificar os reclaman-tes. Com o tempo, a resistência diminuiu e hoje a relação entreouvidores e funcionários dos hospitais é boa.

Muitas das solicitações dos usuários são resolvidas diretamentecom a chefia das áreas, sem trâmites burocráticos e sem a necessida-de de se levar os assuntos aos diretores do hospital. Os ouvidores nãodeixam ninguém sem resposta e, quando esta não pode ser dada deimediato, o usuário é informado sobre os procedimentos a seremadotados pelo ouvidor, bem como sobre o prazo para a solução.

No Ceará, cada hospital estadual atende uma determinada especi-alidade, cabendo o atendimento básico aos postos de saúde munici-

pais. Como essa divisão é recente, os hospitais ain-da recebem diariamente um fluxo de usuários quedeveriam ser atendidos pelos postos de saúde. Sem-pre que isso ocorre, o ouvidor explica o funciona-mento do sistema e imediatamente marca a consul-ta no posto de saúde mais próximo à residência dousuário. Em alguns casos, o hospital faz um primei-ro atendimento, antes de encaminhar a pessoa paraoutra unidade. A ouvidoria garante o atendimentomesmo quando os usuários são encaminhados paraos hospitais municipais.

Como conseqüência do processo de escuta das sugestões e re-clamações dos usuários, alguns procedimentos foram modificados.Providenciaram-se mudanças no espaço físico dos hospitais,melhorias na sinalização e a reestruturação da recepção. Onde an-tes a fila de espera era desorganizada, foi instituído um sistema desenhas. Em hospitais onde os pacientes e seus familiares espera-vam de pé, a céu aberto, agora há salas cobertas, com televisão eserviço de chá.

As longas filas no hospital São José, especializado em doençasinfecciosas, motivaram sua ouvidora a elaborar uma pesquisa paraverificar a procedência e o problema de saúde dos usuários. O resul-tado da pesquisa levou a direção a mudar procedimentos,redimensionar o atendimento, fechar a emergência e orientar os usu-ários. Hoje, o hospital atende os usuários de HIV durante as vinte equatro horas e não há mais filas.

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Os agricultores da água

Em Florianópolis, várias gerações viveram do mar e dacomercialização de seus produtos, aproveitando as facilidades geo-gráficas do município, cujo território se divide entre a ilha e o conti-nente. Nas últimas duas décadas, a pesca e o extrativismo marinhoforam complementados pela maricultura – técnica de criar frutos domar em fazenda marinha.

O desenvolvimento da atividade deve muito às pesquisas da Uni-versidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Empresa de Pes-quisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). Os

AO INCENTIVAR A MARICULTURA, FLORIANÓPOLIS PRESERVAO MEIO AMBIENTE E OFERECE ALTERNATIVA DE RENDA PARA UMAPOPULAÇÃO QUE SEMPRE VIVEU DO MAR

Desenvolvimento Sustentável daMaricultura do Município de Florianópolis

Área de implantação: Florianópolis – SCInstituição: Prefeitura Municipal de Florianópolis – EscritórioMunicipal de Agropecuária, Pesca e Abastecimento – Emapa

Contato: Domingos Sávio ZancanaroRua Conselheiro Mafra, 656 - 3² Andar - Sala 304

Florianópolis, SC – CEP: 88010-914Telefone: (48) 251-6040 – Fax: (48) 251-6086

e-mail: [email protected]

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

primeiros estudos sobre a produção de ostra (ostreicultura) datam dadécada de 70.

Atualmente, a ilha dispõe do mais avançado laboratório de produ-ção de sementes do Brasil, considerado um centro de referência in-ternacional. A capital catarinense também é favorecida pelas baias

que se formam entre o continente e a ilha, comáguas calmas e influência de correntes frias, ricasem produção primária (como fitoplânctons).

O aumento do número de maricultores trouxe anecessidade de legalizar a ocupação do meio ambi-ente marinho: em 1992, a Epagri e o Ibama demarca-ram 102 áreas de cultivo no litoral catarinense, dasquais 50 estavam localizadas em Florianópolis.

Em 1999, após reuniões com os maricultores, aPrefeitura de Florianópolis identificou os principaisproblemas do setor: falta de organização, dificulda-

de para legalizar as áreas de cultivo, necessidade de ampliação domercado consumidor e barreiras de acesso à tecnologia e ao crédito.Para ajudar os maricultores a superar esses obstáculos, a Prefeituraimplementou o Programa de Desenvolvimento Sustentável daMaricultura, por intermédio do Escritório Municipal de Agropecuária,Pesca e Abastecimento (Emapa).

O Programa visa incentivar o cultivo de moluscos (ostras e mexi-lhões) como alternativa de geração de renda à população que vive dapesca artesanal, propiciando a melhoria da qualidade de vida e, tam-bém, a recuperação e preservação ambiental.

Festa da OstraPara viabilizar o acesso ao crédito, foi criado o Fundo Municipal de

Desenvolvimento Rural e Marinho (Funrumar). O Fundo apóia financei-ramente projetos na área da maricultura (68%), pesca (30%) e agricultu-ra (2%), por meio da concessão de microcrédito e do financiamento depesquisas, palestras, seminários, workshops e desenvolvimento de no-vas tecnologias. Atualmente, seus recursos ultrapassam os R$ 750 mil,com um investimento da Prefeitura de R$ 250 mil ao ano.

O Conselho Diretor, responsável pela definição das normas de fun-cionamento e pelo gerenciamento do Fundo, é formado por represen-

ÁREA DE CULTIVO: APOIODA PREFEITURA

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Históriasde um Brasilque funciona

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DesenvolvimentoSustentável daMaricultura doMunicípiode Florianópolis

tantes dos três setores – um maricultor, um pescador e um agricultor– e por três representantes indicados pela Prefeitura. Um banco dedados permite que se verifique a situação de cada credor, funcionan-do de modo interligado ao Banco do Estado de Santa Catarina (BESC).O acompanhamento sistemático resulta em uma inadimplência deapenas 2%.

Com o intuito de abrir novos mercados para a ostra, a Prefeitura crioua Festa Nacional da Ostra e da Cultura Açoriana (Fenaostra). O eventoanual reúne em um mesmo espaço atividades técnico-científicas, cultu-rais, comerciais e gastronômicas. A IV Fenaostra, re-alizada em 2002, teve um custo de quase R$ 1 mi-lhão, divididos entre a Prefeitura, a Fundação Muni-cipal Franklin Cascaes, o Banco do Brasil, o FundoEstadual de Cultura e o governo do Estado.

Durante a Festa, que ocorre no mês de outu-bro, o mercado para os produtos da mariculturase aquece. Os produtores vendem diretamente aosconsumidores nos estandes da Associação deMaricultores do Sul da Ilha (AMASI) e da Associa-ção de Maricultores do Norte da Ilha (AMANI) oupara os restaurantes que participam do evento. A cada ano, a Festarecebe um número maior de visitantes, tanto de Santa Catarina, comode outros estados.

Intercâmbio com a FrançaA fim de ampliar os conhecimentos dos maricultores de

Florianópolis, a Prefeitura implementou em 2002 um termo de coope-ração técnica com o governo de La Rochele, na França, um dos princi-pais centros produtores de ostras e mexilhões do mundo. O termo decooperação possibilita o intercâmbio técnico-científico entre produ-tores, técnicos e estudantes dos dois países. A cada ano, são sortea-dos três maricultores, que viajam para a França com passagens finan-ciadas pelo Funrumar. Durante um mês, eles trabalham com os pro-dutores franceses e aprendem novas técnicas de manejo.

A França produz ostras e mexilhões há aproximadamente 200 anos evem desenvolvendo técnicas que possibilitam a mecanização do proces-so e geram uma produção em larga escala. Em Florianópolis, a atividade

FENAOSTRA: MERCADOSE AQUECE

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

PROGRAMA CRIOU400 EMPREGOS

tem apenas 15 anos e é praticamente artesanal. Mas a capital catarinensepossui vantagens que lhe garantem boas perspectivas: na Espanha, naFrança e no Canadá, o ciclo da produção da ostra varia de dois a quatroanos, e em Santa Catarina é de apenas seis meses. Além disso, a ausên-cia de grande variação das marés possibilita trabalhar dia e noite; a pro-

ximidade entre as áreas de cultivo e as residênciasdos produtores facilita o manejo e, finalmente, a re-produção das ostras, induzida em laboratório da Uni-versidade Federal de Santa Catarina, permite um con-trole maior da produção.

Como o mercado interno é muito competitivo, amargem de lucro se mantém reduzida, o queinviabiliza a capitalização e dificulta o aumento daprodução. Para enfrentar esse problema, a Prefei-tura investiu na criação da Cooperativa Aqüícola deSanta Catarina (Cooperilha) e na futura aquisição

do Certificado de Inspeção Federal (Cife), que permitirá a venda doproduto em qualquer lugar do país e do mundo.

Quando a sede da Cooperativa estiver concluída, a entidade cui-dará de toda a comercialização, que se dará para fora do Estado oudo país. A Cooperilha também poderá controlar a qualidade sanitáriados produtos e obter preços melhores, além de fazer um trabalho deconscientização dos consumidores, excluindo do mercado a produ-ção irregular.

Desde o início do Programa, o número de maricultores e de áreasde cultivo aumentou, possibilitando a criação de 400 empregos dire-tos e 1.500 indiretos. Observa-se também o incremento na renda dosprodutores, atualmente estimada em um valor bruto de R$ 23 mil percapita ao ano.

Hoje, os maricultores já não precisam migrar para outras locali-dades da ilha, à procura de trabalho e renda. Conseguem sobreviverdo mar, como seus antepassados, e preservar sua identidade cultu-ral, seu vínculo com o mar.

A maricultura também incrementou o turismo, com a construçãode vários restaurantes e pousadas, e gerou um impacto positivo nomeio ambiente, a partir da conscientização das comunidades. Agoraos próprios maricultores fiscalizam as áreas de cultivo, que se torna-ram um refúgio natural para a biodiversidade marinha.

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Exemplo derecuperação humana

Em 2001, o Estado de Minas Gerais tinha mais de 18 mil detentos,segundo relatório sobre a situação prisional da Comissão de Direi-tos Humanos da Assembléia Legislativa. De 1997 a 2001, a popula-ção prisional de Minas havia aumentado em 49%. A Comissão apon-tou, entre os principais problemas do sistema penitenciário mineiro,as fugas e rebeliões, a tortura, a superlotação, o tratamento desuma-no aos presos, a subutilização das penas alternativas e a falta deassistência jurídica, entre outros.

Em setembro daquele ano, o presidente do Tribunal de Justiça doEstado, acompanhado por juizes de Execução Penal e promotores de

JUSTIÇA MINEIRA QUER ESPALHAR PELO ESTADO O MODELO DEITAÚNA, ONDE A PRISÃO TEM SUCESSO NA REEDUCAÇÃO DOS PRESOS

Humanização da PenaPrivativa de Liberdade

Área de implantação: Itaúna – MGInstituição: Vara Criminal da Comarca de Itaúna

Contato: Paulo Antônio de CarvalhoPraça Dr. Augusto Gonçalves, 10

Itaúna, MG – CEP: 35680-054Telefone: (37) 3242-1966 Fax: (37) 3242-2330

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Justiça da Grande Belo Horizonte, visitou o Centro de Reeducação deCondenados de Itaúna, administrado pela Associação de Proteção eAssistência aos Condenados (Apac). Depois da visita e de umavideoconferência com juízes de diversas comarcas mineiras, o presi-dente do Tribunal decidiu que o “Método Apac” deveria ser implantadoem todo o Estado, tendo a experiência de Itaúna como referência.

Surgiu, assim, o Projeto Novos Rumos, que busca a humanizaçãodo cumprimento da pena privativa de liberdade. Várias comarcas jáadotaram o método e, em outras, sua implantação está em andamen-to. Um dos aspectos positivos do Projeto é a municipalização da exe-cução penal: o preso não é retirado de seu município, mantendo ocontato com a família.

A Apac de Itaúna, a mais antiga de Minas Gerais, atende a comarcaformada pelos municípios de Itaúna e Itatiaiuçu, localizados a cerca de80 km de Belo Horizonte. A experiência começou em 1986, após um gru-po de voluntários cristãos que visitavam a cadeia local ter conhecidouma iniciativa semelhante, desenvolvida desde a década de 70 em SãoJosé dos Campos (SP). Naquela época, o índice de reincidência entre os

presos de Itaúna era de 84%.Na cadeia paulista, o índiceera de 5% e praticamente nãohavia fugas nem rebeliões.Hoje, o modelo Apac já estáimplantado em mais de 130 ci-dades brasileiras e em paísescomo Argentina, Equador, Es-tados Unidos, Peru, Escócia,Coréia do Sul e Alemanha,entre outros.

Em 1991, foi criado emItaúna o primeiro Centro deReintegração Social, respon-

sável pelo recebimento dos sentenciados ao regime aberto e pela fis-calização do cumprimento de sursis e livramento condicional. Apósuma rebelião que destruiu a cadeia local em 1995, o Centro passou areceber também os presos dos regimes fechado e semi-aberto.

Iniciou-se, então, um trabalho com a comunidade para a constru-ção de um “presídio” que recebesse apenas os presos da comarca. A

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Históriasde um Brasilque funciona

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Humanizaçãoda Pena Privativade Liberdade

prefeitura doou o terreno e os recursos financeiros foram obtidos pormeio de contribuições de empresários, de paróquias e da população.Os presos forneceram a maior parte da mão-de-obra.

Presídio com playgroundAtualmente, a Apac de Itaúna administra dois Centros de Reinte-

gração Social (um masculino e um feminino), e é referência nacional einternacional para o método. Os Centros recebem os sentenciados in-dependentemente do crime praticado, do tempo de pena, da origemou etnia do indivíduo. A Apac considera os presos como reeducandos,partindo do pressuposto de que todo ser humano é recuperável, desdeque haja um tratamento adequado. Os princípios seguidos são os daindividualização do tratamento; daredução da diferença entre a vidana prisão e a vida livre; da partici-pação da família e da comunida-de no processo de ressocialização;e do oferecimento de educaçãomoral, assistência religiosa e for-mação profissional.

Nos Centros de Reintegração Social de Itaúna, não há agente daPolícia Civil ou Militar. Os próprios reeducandos ficam com as cha-ves do presídio e a revista dos visitantes está a cargo de voluntários.O Conselho de Sinceridade e de Solidariedade (CSS), formado pelosreeducandos, cuida da administração, limpeza, manutenção, disci-plina e segurança.

O fato de existirem apenas presos de Itaúna tem possibilitado umaatuação mais efetiva com as famílias, bem como a busca de sua reinte-gração ao mercado de trabalho. Eles recebem assistência espiritual ereligiosa, têm acesso à educação; à assistência médica, odontológica,psicológica, jurídica e documental; bem como a atividades culturais.Do total de presos, 31% trabalham e 15% estudam.

Os Centros de Reintegração Social nem parecem presídios, e simescolas, oficinas ou abrigos. Cada reeducando mantém a sua identi-dade, tem nome, usa a sua própria roupa, é conhecido pela equipe.Está em fase de elaboração o projeto arquitetônico de quiosques eplaygrounds para as crianças que visitam seus pais e parentes. Nessa

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linha, outros direitos básicos são garantidos, como as visitas íntimas.A Apac valoriza o protagonismo dos reeducandos, que podem, inclu-sive, sugerir melhorias no sistema.

De novembro de 1995 a julho de 2003, contabilizavam-se 88 fugasde presos, com o retorno de 71 deles, sendo seis de forma espontâ-nea. Não houve rebeliões ou motins nos últimos seis anos e as esta-tísticas realizadas desde 2000 apontam uma reincidência de menosde 8%, bem abaixo da média do sistema carcerário brasileiro, que sesitua entre 65% e 85%. O custo de cada reeducando na Apac de Itaúnaé de R$ 343,69; e no sistema convencional é de R$ 1.200,00.

Vários modelosPara reproduzir a experiência de Itaúna em outras comarcas, o

Tribunal de Justiça de Minas Gerais promove, por meio do ProjetoNovos Rumos, seminários; teleconferências; visitas à Apac de Itaúnae distribuição de material explicativo sobre a proposta. No entanto,embora o modelo de Itaúna seja uma referência, o Estado de MinasGerais conta com outros exemplos interessantes.

Uma iniciativa diferenciada é a da Apac de Sete Lagoas, ondefuncionários estaduais administram o centro de reintegração em par-ceria com a Apac local. Outro tipo é o de Nova Lima, onde se esperater, em breve, um presídio auto-suficiente, num trabalho realizado como apoio de administradores e economistas. Em Conselheiro Lafaiete,município localizado no cinturão verde de Belo Horizonte, planeja-sea implantação de uma Apac agrícola.

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais é o primeiro do país a ter umprograma de humanização da execução penal com o incentivo à adoçãode penas alternativas e ao modelo Apac. Esse trabalho está começandoa mudar a visão do Judiciário, do Ministério Público e da sociedade arespeito do Direito Penal e do preso.

Apesar de o Tribunal ter estabelecido a meta de implantar o mo-delo da Apac em todas as 291 comarcas mineiras, até julho de 2003 aexperiência funcionava em 15 comarcas, estando em fase de implan-tação em outras 30. O Projeto atendia cerca de mil dos 19 mil presosde Minas Gerais. Alterar a atuação punitiva para um atendimento pre-ventivo requer tempo e exige a capacitação de profissionais do siste-ma prisional, da polícia e do Poder Judiciário.

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Vida nova no sertão

Há décadas os pequenos proprietários rurais às margens do rioJiquiriçá e de seus afluentes, no centro-sul baiano, utilizam técnicasagrícolas ultrapassadas: irrigação por gravidade, queimadas, aradura,solo descoberto, etc. Essas práticas causam grande erosão e a con-seqüente obstrução das principais vias de escoamento da água dachuva, disponível apenas durante poucos meses do ano. A maioriados cursos d’água da região conhecida como Alto Jiquiriçá são in-termitentes, isto é, ficam secos durante as épocas de estiagem.

O plantio de tomate e maracujá nas encostas dos morros, assimcomo a “limpeza” e utilização das margens dos rios para a agricultu-ra e a pecuária, resultaram na diminuição da quantidade de água

A PREFEITURA DE LAGEDO DO TABOCAL (BA) OFERECEEDUCAÇÃO AMBIENTAL E ALTERNATIVAS ECONÔMICAS AOSPRODUTORES RURAIS PARA PRESERVAR O RIO JIQUIRIÇÁ

Programa de Manejo Agroambientalem Microbacias do Rio JiquiriçáÁrea de implantação: Lajedo do Tabocal – BA

Instituição: Prefeitura Municipal de Lagedo do TabocalContato: Marcos César Félix Ferreira

Praça José Anacleto Barbosa, 20Lajedo do Tabocal, BA – CEP: 45365-000

Telefone: (73) 556-1225 / 1226 – Fax: (73) 556-1225e-mail: [email protected]

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

APICULTURA: TRABALHADORESFORAM TREINADOS

disponível. Com isso, a região ficou ameaçada de sofrer um processode desertificação que, no longo prazo, inviabilizaria qualquer tentati-va de aproveitamento do solo e de fixação do homem no campo.

O Programa de Manejo Agro-Ambiental em Microbacias do RioJiquiriçá visa enfrentar o peso da tradição e o desconhecimento dossertanejos quanto à escassez e à dificuldade de regeneração dos re-cursos hídricos. Trata-se de uma iniciativa da Prefeitura de Lagedo

do Tabocal, município de 9 mil habitantes que deci-diu atuar sobre as microbacias hidrográficas situa-das em seu território.

Para promover a recomposição das matasciliares e a recuperação de áreas degradadas, o Pro-grama conjuga o plantio de mudas nativas e frutífe-ras com o desenvolvimento de atividades capazesde gerar renda para a população beneficiária. Aequipe do Programa considera que a conservaçãoda biodiversidade da mata de cipó e da caatingadepende da criação de alternativas para a subsis-

tência dos pequenos proprietários e dos trabalhadores rurais.Concebido em 1999 pela administração municipal, com assesso-

ria da empresa Ambiental Associados, o Programa foi submetido àaprovação do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA). A libera-ção dos primeiros recursos do Fundo desencadeou as ações de edu-cação ambiental, que buscam conscientizar a população rural sobreos problemas existentes e suas possíveis soluções. Realizaram-seseminários sobre a importância da mata ciliar, a questão da água, odesmatamento, o emprego de agrotóxicos e o lixo, entre outros te-mas, envolvendo professores, agricultores e alunos da zona rural. Nasescolas, houve projeção de vídeos, além de debates, plantio de árvo-res e uma gincana intercolegial. Mais tarde, a criação de uma sala devídeo possibilitou ampliar as atividades de educação ambiental parao restante da comunidade.

Frutas, mel e rapaduraO município realizou também um diagnóstico socioambiental, com

o cadastramento das propriedades rurais situadas às margens do rioJiquiriçá num trecho de 15 km, e a identificação das áreas com ero-

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Históriasde um Brasilque funciona

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PRODUÇÃO DE MELAÇOE RAPADURA

são e desmatamento das matas ciliares. Os produtores cadastradospassaram a receber mudas de árvores nativas e frutíferas, produzi-das num viveiro construído com o dinheiro do Fundo. Como forma deincentivar a fruticultura, 25 agricultores ganharam mudas de cajuanão precoce e de outras espécies nativas, recebendo também oacompanhamento técnico por parte do Programa.

À medida que prosseguiam as atividades de produção de mudas,plantio e reflorestamento e se realizavam os cursos de treinamento ecapacitação dos produtores, foram implantados cinco apiários cole-tivos com abelhas Apis melífera, em cujo manejo estão envolvidos 42trabalhadores rurais residentes nos povoados, incluindo 18 mulhe-res. Parte das colméias foram instaladas em áreas coletivas, cedidasem comodato por produtores com propriedades no entorno dos po-voados. Os trabalhadores rurais recebem treinamento periódico ematerial de custeio das colméias, sendo a produ-ção beneficiada, embalada e rotulada paracomercialização. Em contrapartida, cada famíliaatendida dedica um dia de trabalho por semana,em regime de mutirão, para o plantio das matasciliares e a manutenção das mudas.

Resgatando uma antiga tradição familiar daregião, o Programa construiu um pequeno enge-nho para produção de rapadura e melaço de cana.Os produtos são agora rotulados e embalados naunidade de beneficiamento, e representam maisuma fonte de renda para os pequenos produtores. Como a implanta-ção dessa unidade de produção não estava prevista no convênio como Fundo Nacional do Meio Ambiente, novos convênios foram firma-dos, com o Ministério da Agricultura e órgãos estaduais, a fim de seampliar o número de famílias atendidas. Diante dos resultados al-cançados, a produção de mel e dos derivados de cana deverá aindareceber o apoio da Secretaria Estadual de Combate à Pobreza e Desi-gualdades Sociais (Secomp), do governo da Bahia.

Grupo de mulheresAo lado do estímulo a essas atividades econômicas, busca-se

também fomentar a organização dos produtores rurais, realizando

Programa de ManejoAgroambiental em Microbaciasdo Rio Jiquiriçá

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

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periodicamente seminários, reuniões e visitas de campo. Além dofortalecimento das associações já existentes, pretende-se consoli-dar uma nova associação, que terá por meta dar continuidade àsações do Programa e comercializar a produção. Trata-se da Associa-ção de Agricultura Familiar e Apicultura (Agriapis), fundada em ja-neiro de 2002, e que vem se fortalecendo com o apoio técnico dacoordenação do Programa.

Parcerias entre o Programa e instituições estaduais ou de âmbi-to regional, como o Sebrae, têm possibilitado cursos para os peque-nos agricultores, apicultores e grupos de mulheres, abordando te-mas como associativismo, produção de alimentos e beneficiamentode mel e derivados. O apoio do Sebrae, aliás, revelou-se decisivopara a formação de um grupo de mulheres no Povoado do Peixe.Depois de freqüentar os cursos, elas começaram a fazer doces epolpas de frutas, sendo responsáveis por todo o processo de produ-ção e comercialização. As 18 integrantes do grupo planejam cons-

truir um forno a lenha e diver-sificar as atividades.

Desde o início, o Progra-ma também recebe o impor-tante apoio do Consórcio In-termunicipal do Rio Jiquiriçá,cujo presidente é o prefeitode Lagedo do Tabocal. O Con-sórcio fornece material paraa educação ambiental e orga-niza os usuários da bacia nos

chamados Fóruns Municipais da Água. Em 2002, o Consórcio finan-ciou a realização do vídeo de divulgação da experiência.

A mobilização dos produtores na recomposição das matasciliares, no desenvolvimento de alternativas econômicas e na con-solidação da Agriapis são os resultados mais visíveis do Progra-ma. O resultado menos aparente, mas não menos importante, é aconscientização a respeito da necessidade de uma convivência maisharmônica com o meio ambiente, sem a qual não será possível pre-servar o rio Jiquiriçá.

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Pastos bemcuidados e lucrativos

A paisagem do sudoeste de Santa Catarina, na região do planal-to serrano, compreende pequenas áreas de mata nativa, montanhasque superam os 1.000m de altitude e grandes campos ondulados (aschamadas coxilhas), onde a principal atividade econômica é a pecu-ária extensiva. Nesse sistema, o gado é criado solto na propriedade enão se faz nenhum tipo de manejo das pastagens.

Isso reduz os índices de produtividade da pecuária local, já prejudi-cada pelo rigoroso inverno que caracteriza o clima do planalto serrano.Os baixos índices de produtividade concorrem para diminuir cada vezmais a renda do homem do campo e aumentar o êxodo rural. Situada a

A MELHORIA DOS CAMPOS NATURAIS DO PLANALTO CATARINENSEPRESERVA O MEIO AMBIENTE E AMPLIA O POTENCIALDE DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO MAIS POBRE DO ESTADO

Programa Campos Naturais doPlanalto Serrano Catarinense

Área de implantação: Lages – SCInstituição: Epagri (Estação Experimental De Lages)

Contato: Ulisses de Arruda / Nelson Eduardo PrestesRua João José Godinho, S/Nº

Lages, SC – CEP: 88502-970Telefone: (49) 224-4400 – Fax: (49) 224-4400

e-mail: [email protected]

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

ciclo depremiação 2003

Com técnicas simples e acessíveis,o Programa propicia aos produtores

o incremento da renda por meiodo ganho de produtividade

cerca de 100 Km do litoral, com 19 municípios e cerca de 280 mil habitan-tes, a região hoje é considerada a mais pobre do Estado, depois de terocupado uma posição de destaque na economia catarinense.

O Programa de Melhoramento de Campos Naturais surge como umaresposta criativa a essa sombria trajetória. Utilizando técnicas simples eacessíveis, o Programa propicia aos produtores o incremento da rendapor meio do ganho de produtividade. Como efeito indireto, a iniciativacontribui para manter o homem do campo em sua terra de origem.

O aumento de produtividade é conseguido mediante práticas demanejo e melhoramento, tais como: correção da acidez do solo, sub-

divisão das pastagens, descan-sos estratégicos, roçadas, ajus-te da lotação de bovinos porunidade de área, fertilização su-perficial, controle de plantas in-desejáveis e a introdução con-

sorciada de espécies de alto valor forrageiro, resistentes aos perío-dos de frio intenso, época em que os campos nativos perdem seuvalor nutritivo.

A combinação dessas práticas, aliadas ao manejo sanitário preventi-vo e adequado do rebanho, permitem, no mínimo, dobrar a eficiência deutilização de campos naturais. Os beneficiários do Programa são peque-nos produtores rurais, que têm na agropecuária, e especificamente nabovinocultura, uma importante fonte de renda; ou cujas propriedadesapresentam potencial para essa atividade. Para participar do Programa,o produtor deve freqüentar um curso profissionalizante em pecuária decorte ou de leite e outro em manejo e melhoramento de campo nativo.Cada produtor inscrito pode ser contemplado com o financiamento ne-cessário à implantação de, no máximo, 15 hectares.

A rede de parceirosOs recursos financeiros são provenientes do Fundo de Desenvol-

vimento Rural (FDR) – operado diretamente pelas prefeituras, comrecursos repassados pelo governo estadual – das associações de pro-dutores rurais, principalmente a Federação dos Agricultores de SantaCatarina (FAESC), e do Programa Pró-Pasto, uma linha de crédito doBNDES para a implantação e recuperação de pastagens degradadas.

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Históriasde um Brasilque funciona

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No caso dessa linha de crédito, porém, há uma grande dificuldade deacesso para os pecuaristas do planalto serrano, devido às garantiasexigidas do tomador de empréstimos. Para superar tal dificuldade, o Pro-grama conta com a articulação e a coordenação da rede de atores envol-vidos, que permitem tanto o acesso às outras fontes externas de financi-amento quanto a mobilização de recursos da própria região.

A iniciativa para a implementação do Programa coube à Empresade Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri).O órgão é responsável pela geração e difusão da tecnologia para omanejo dos campos naturais, pela capacitação de produtores e técni-cos e pela organização de eventos, cuidando ainda da coordenaçãotécnica do Programa. Além das suas atividades de pesquisa, a Epagriestabelece convênios com universidades, principalmente a Universi-dade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade Federal doRio Grande do Sul (UFRGS).

A Associação dos Municípios da Região Serrana (Amures), com-posta pelos 19 municípios, participa do Programa com a alocação derecursos, a organização de eventos e a promoção da iniciativa peranteas prefeituras. Seu papel é extremamente importante, pois é a organi-zação com maior capacidade de mobilização política entre os municí-pios da região. A Fede-ração dos Agricultoresde Santa Catarina (FA-ESC) possibilita, pormeio dos recursos doServiço Nacional deAprendizagem Rural(Senar), a realização damaioria dos eventos dedifusão tecnológica ede capacitação dos téc-nicos e dos produtores.Outro ator relevante é o Fórum de Secretários Municipais de MeioAmbiente (Forsema), que constitui o principal espaço de discussãodo Programa.

Participam ainda a Secretaria Estadual da Agricultura e PolíticaRural, que tem financiado máquinas e insumos para grupos de produ-tores por meio do Fundo de Desenvolvimento Rural (FDR), além do

Programa CamposNaturais doPlanalto SerranoCatarinense

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

MELHORIA DAS PASTAGENSAUMENTOU PRODUTIVIDADE

Banco do Brasil e do Banco Regional de Desenvolvimento do Extre-mo Sul (BRDE), que repassam os recursos do Pró-Pasto e do Progra-ma Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf).

“Boi verde”A relação entre os parceiros da iniciativa está assentada em um

ambiente de confiança mútua, que levou os pecuaristas a assumir orisco de adotar uma nova técnica de produção. A Epagri coordena asações no plano regional e em cada município há um agente respon-sável pelo contato e apoio direto aos produtores. Em alguns casos,esse papel é cumprido pela prefeitura, em outros pelo sindicato ruralou ainda pelo próprio extensionista da Epagri.

Em seis anos de funcionamento, o Programarealizou 55 eventos de difusão tecnológica, com aparticipação de mais de 6 mil pessoas. Duranteesse período, o melhoramento dos campos natu-rais beneficiou 650 produtores, possibilitando o in-cremento de produtividade de 50 para 365 kg depeso vivo/ha/ano.

Graças à melhoria das pastagens, o planaltocatarinense pode se consolidar como uma das me-lhores regiões do país para a criação do “boi orgâ-nico” ou “boi verde”. Nesse tipo de criação, a en-

gorda dos rebanhos ocorre em regime de alimentação natural, utili-zando o mínimo possível de produtos químicos. A carne assim pro-duzida recebe um preço médio superior ao da carne comum.

Indo além dos aspectos econômicos, o Programa tem contribuídopara o aumento do associativismo entre os produtores, uma vez queagora há um elemento aglutinador de interesses. São raras as pessoasque voltam ao sistema tradicional de produção após a implantação doPrograma em suas propriedades, e a percepção da viabilidade da pe-cuária faz o serrano se sentir novamente uma figura importante nocenário local. Outro conjunto de benefícios pode ser percebido no meioambiente, a começar pela diminuição das queimadas. O Programa tam-bém contribui para a manutenção do equilíbrio ecológico, para a recu-peração de pastagens degradadas e para a promoção de práticaspreservacionistas, como o controle da erosão do solo.

ciclo depremiação 2003

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Uma questãode toda a tribo

Cerca de 70 quilômetros separam o centro de Londrina da TerraIndígena do Apucaraninha, que se encontra sob a jurisdição da Fun-dação Nacional do Índio (Funai). A aldeia abriga 1.250 Kaingáng (emtorno de 220 famílias) e seus 6.300 hectares são o que restou de umareserva de 54 mil hectares.

Como toda a população indígena brasileira, os Kaingáng sofremas conseqüências trazidas por cinco séculos de expropriação das suasterras e de perda da sua autonomia. Em Londrina, tal processo resul-

PROJETO ENFRENTA O ALCOOLISMO ENTRE OS KAINGÁNGDE LONDRINA, COM MÚLTIPLAS AÇÕES DE SAÚDE,EDUCAÇÃO E REVITALIZAÇÃO CULTURAL

Projeto de Pesquisa, Prevençãoe Intervenção sobre o Uso de Bebidas

Alcoólicas e Alcoolismo entre osKaingáng da T.I. Apucaraninha

Área de implantação: Terra Indígena Apucaraninha – PRInstituição: Secretarias Municipais de

Assistência Social e de SaúdeContato: Marlene de Oliveira

Av. Duque de Caxias, 635Londrina, PR – CEP: 86015-901

Telefone: (43) 3372-4000 / 3252 – Fax: (43) 3372-4359e-mail: [email protected]

MIN

OR

IAS

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

KAINGÁNG: CONFINAMENTO EPROBLEMAS DE SAÚDE

tou no confinamento dos Kaingáng em aldeias controladas por admi-nistradores brancos, missionários e civis.

Uma das transformações impostas pelos brancos foi a introdução dealambiques nas aldeias. Até então, os índios ingeriam bebidas fermenta-das, em ocasiões específicas, como parte de seus ritos. Isso não configu-ra dependência ou patologia no sentido hoje preconizado pela Organiza-

ção Mundial da Saúde, mas abriu caminho para aocorrência posterior do alcoolismo. Segundo a an-tropóloga Marlene de Oliveira, no século XIX osKaingáng plantavam cana-de-açúcar e produziamgrande quantidade de aguardente, que eracomercializada nas vilas próximas pelos diretores dosaldeamentos.

Mais de cem anos depois, em 1993, a Prefeitu-ra de Londrina implementou, de forma inédita nopaís, o Programa de Atendimento aos Kaingáng,com atuação nas áreas social, de saúde, educação,

agricultura e meio ambiente. A Secretaria Municipal de AssistênciaSocial coordena o trabalho, que está integrado a outras secretarias.

Entre os problemas de saúde identificados pelo Programa(subnutrição, doenças infecto-respiratórias, infecto-contagiosas,parasitoses intestinais, tuberculose, etc.), o alcoolismo apareceu comoum agravo importante entre jovens acima de 12 anos e adultos. Alémdisso, várias crianças apresentavam patologias ligadas à situação dospais alcoolistas, como a desnutrição e malformações físicas e cere-brais decorrentes do abuso de bebidas alcoólicas durante a gestação.Também se verificaram óbitos causados por acidentes e violênciamotivados pelo álcool.

O Projeto para Redução do Uso de Álcool e Alcoolismo foiimplementado nesse contexto, sob a responsabilidade da SecretariaMunicipal de Ação Social, que faz um trabalho articulado ao da Se-cretaria de Saúde. A iniciativa implementa ações de pesquisa, pre-venção e de intervenção sobre o uso de bebidas alcoólicas e alcoolis-mo; capacita os profissionais de saúde e de educação que atuam naárea indígena e sensibiliza a comunidade para o problema do alcoo-lismo como uma questão coletiva.

ciclo depremiação 2003

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Históriasde um Brasilque funciona

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COMUNIDADE PARTICIPADE AÇÕES PREVENTIVAS

Projeto de Pesquisa,Prevenção sobreo Uso de BebidasAlcoólicas e Alcoolismoentre os Kaingángda T.I. Apucaraninha

Do consumo para a doençaAssociando estudo e pesquisa com a intervenção sobre a realida-

de dos Kaingáng, o Projeto desloca o conceito de alcoolismo do cam-po físico/individual para o campo coletivo/social e convida a comuni-dade a participar de ações preventivas. Conforme explica Marlene deOliveira, “somente através do resgate da identidade individual e co-letiva e do fortalecimento organizacional, social/cultural, é que se daráo resgate da cidadania e, portanto, maior efetividade e resultadospositivos”. Por isso, mudanças efetivas só poderão ser observadasno médio e no longo prazos.

Um instrumento fundamental para a execução do Projeto é o In-quérito Antropológico: uma série de entrevistas com pessoas quevivenciam o problema do alcoolismo. Busca-se conhecer melhor suaorigem, compreender qual o significado da bebida alcoólica para ogrupo e saber como se dá a mudança das formas tradicionais de be-ber para a introdução de bebidas destiladas, ou seja,do consumo para a doença. Já o Estudo dePrevalência (Diagnóstico Epidemiológico) possibili-ta dimensionar o consumo do álcool na área indí-gena, ao mesmo tempo em que se verifica a situa-ção socioeconômica das famílias.

Durante a realização desse trabalho, apurou-seque 10,7% da população da Terra Indígena está emrisco. Os índios consomem preferencialmente acachaça e alguns fazem uso de vinho e de cerveja,mas não os consideram bebidas de álcool. Produ-tos como álcool de farmácia e desodorantes também são consumi-dos por alguns membros da comunidade.

Para detectar se uma pessoa está em situação de risco, utiliza-seo Cage, um questionário-padrão muito usado em ambulatórios e hos-pitais. O questionário passou por algumas adaptações antes de seraplicado aos indígenas do Apucaraninha. Por exemplo: a palavra “cul-pa”, que aparece no Cage original, foi substituída pelo termo “vergo-nha”, que faz mais sentido para os Kaingáng.

Oficinas de Capacitação em Alcoolismo e DST/Aids reuniram re-presentantes indígenas, professores bilíngües, profissionais de saú-

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

PROJETO RETOMA AS FESTASTRADICIONAIS

de, mulheres e adolescentes, resultando na elaboração de cartilhas eoutras publicações educativas bilíngües.

Futebol e danças

Professores indígenas foram capacitados para prevenir o alcoolismoentre as crianças e existe a intenção de se incluir o tema no currículotransversal. Conforme constatado em pesquisa, o uso de bebidas alcoó-licas pelos Kaingáng começa por volta dos 11 ou 12 anos, embora váriasnarrativas revelem que alguns começam a beber aos sete anos.

Entre as atividades voltadas para as crianças e os adolescentes,destaca-se a Escolinha de Futebol Goifa to Ve~me. Os treinos são rea-lizados por dois instrutores indígenas, que ministram aulas diariamen-

te a todos os estudantes da 1ª a 4ª série, em perío-dos alternados. Ao final de cada treino, instrutorese alunos discutem a questão do álcool.

Profissionais de saúde também passaram poruma capacitação a fim de se garantir o adequadoatendimento ambulatorial e o acompanhamentocontínuo à pessoa alcoolista e à sua família. A Uni-dade Básica de Saúde do Apucaraninha atende, emmédia, 420 pessoas por mês e, de janeiro a agostode 2003, realizou 120 atendimentos ambulatoriaisespecíficos a alcoolistas.

A fim de se revitalizar a cultura dos Kaingáng e resgatar sua auto-estima, o Projeto trabalha com a retomada de festas tradicionais. Adança Kaingáng, por exemplo, tem ressurgido pelo grupo de dançasVãnh Tãn. A recriação da Festa do Eme e do Ritual da Pesca do Pãrideu um novo sentido a essas celebrações, inserindo-as em festivida-des dos brancos, como o Dia do Índio, o Natal, o Ano-Novo, os dias deSanto Antonio, São João e São Pedro.

Tais atividades despertam o entusiasmo da comunidade pelo tra-balho e mostram a necessidade de uma abordagem multidisciplinarem relação ao problema do alcoolismo. Com o sucesso da experiên-cia, índios de aldeias próximas manifestam o desejo de viver noApucaraninha, enquanto a equipe do Projeto tem sido convidada aparticipar de discussões sobre o alcoolismo em Terras Indígenas doParaná e de outros estados.

ciclo depremiação 2003

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O soro bendito

Até 1998, o município de Maranguape, na região metropolitanade Fortaleza, registrava um elevado índice de mortalidade infantil.Com aproximadamente 90 mil habitantes, Maranguape tinha apenasdois médicos, cuja atuação na extensa área rural era bastante limita-da. Em 1999, o município ampliou o Programa de Saúde da Família eaumentou o numero de médicos para 19, que trabalham em conjun-to com os agentes comunitários de saúde.

Mas a mortalidade infantil continuou elevada, e 40% dos óbitosem menores de um ano decorriam de diarréia. Uma equipe da Secre-taria de Saúde, formada por uma epidemiologista, uma assistente so-cial e uma assessora de projetos especiais, decidiu investigar essasmortes por meio de um processo conhecido como “autópsia verbal”.

EM MARANGUAPE (CE), REZADEIRAS E MÉDICOSSUPERAM PRECONCEITOS E SE TORNAM PARCEIROSNA REDUÇÃO DA MORTALIDADE INFANTIL

Soro, Raízes e RezasÁrea de implantação: Maranguape – CE

Instituição: Secretaria Municipal de SaúdeContato: Maria Ruth Cavalcante Martins

Praça Senador Almir Pinto, S/NMaranguape, CE – CEP: 61940-000

Telefone: (85) 369-9130 – Fax: (85) 369-9131

SA

ÚD

E

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

ciclo depremiação 2003

A população preferia seguir as reco-mendações das rezadeiras – mais próxi-

mas do cotidiano da comunidade

Trata-se da aplicação de questionários detalhados, que buscam identi-ficar desde as condições socioeconômicas da família e a sua relaçãocom a comunidade, até o atendimento no serviço de saúde.

As autópsias verbais mostraram que várias crianças morriam nasmãos das rezadeiras – pessoas de confiança da comunidade, às quaisos familiares recorriam quando a criança não estava bem. EmMaranguape, para cada médico há 10 rezadeiras. A diarréia seria fa-cilmente superada pela hidratação oral, mas elas muitas vezes orien-tavam a suspensão de qualquer tipo de alimento e concentravam-sena reza, deixando a hidratação da criança em segundo plano.

A equipe da Secretariade Saúde concluiu que,para diminuir a mortalida-de infantil decorrente dediarréia, havia a necessida-

de de conhecer as rezadeiras do município e compreender melhor oseu papel na comunidade, envolvendo-as na hidratação das crian-ças. Por outro lado, seria preciso também que os profissionais desaúde tivessem disponibilidade para aprender com as rezadeiras,compreendendo o significado da reza na efetivação da cura. Surgiu,assim, o Programa Soro, Raízes e Rezas.

Integração das açõesA iniciativa tem, como principal objetivo, reduzir os casos graves

de diarréia e diminuir os óbitos por essa causa em menores de umano. Para isso, é fundamental garantir a hidratação oral da criança,ampliando o uso do soro oral. Porém, não basta o profissional de saú-de receitar o soro, pois a prescrição nem sempre é seguida pela popu-lação. A receita tinha de ser introduzida na ocasião da reza.

No início do Programa, em 1999, os agentes comunitários de saú-de identificaram as rezadeiras existentes em suas comunidades deatuação e as convidaram a se cadastrar na Secretaria Municipal deSaúde para um trabalho conjunto. Na época, cadastraram-se 155rezadeiras. Para elas, a iniciativa significava um reconhecimento porparte do poder público quanto à importância de seu trabalho.

A partir do cadastramento, a Secretaria realizou três tipos deações. Primeiro, buscou a valorização do “dom da reza” e a troca de

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Históriasde um Brasilque funciona

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experiências entre as próprias rezadeiras. Elas não costumam reve-lar seus conhecimentos, mas pretendia-se que conversassem sobreas dificuldades do dia-a-dia e sobre as possibilidades de diálogo comas equipes de Saúde da Família. Com essa finalidade, a Secretariade Saúde organizou o primeiro encontro de rezadeiras, em 1999, eum outro, em 2003.

Outro tipo de ação desenvolvida pela Secretaria diz respeito àintegração entre as equipes de Saúde da Família e as rezadeiras queatuam no mesmo bairro. Havia um abismo entre os dois grupos, por-que um não confiava no trabalho do outro. A população, por sua vez,preferia seguir as recomendações das rezadeiras – mais próximas docotidiano da comunidade. Para transformar essa atuação competitivanum trabalho cooperativo, foi precisoque os dois grupos compreendessemsuas próprias limitações. Com a criaçãode relações de proximidade entre os pro-fissionais de saúde e as rezadeiras, elaspassaram a encaminhar a populaçãopara o médico e vice-versa. A assistên-cia médica e o saber tradicional torna-ram-se complementares.

Reuniões periódicas entre ambos osgrupos contribuem para a superação depreconceitos recíprocos. Nessas ocasi-ões, as estatísticas sobre óbitos por di-arréia em menores de um ano são ana-lisadas e comparadas com os atendi-mentos realizados pelas rezadeiras ecom os encaminhamentos feitos porelas e pelos profissionais de saúde. Na medida em que se constatamos benefícios da ação conjunta, reforça-se a importância de uns cola-borarem com os outros.

“Cantinho da fé”Um terceiro conjunto de ações do Programa refere-se à

capacitação das rezadeiras, que muitas vezes procuravam tratar ascrianças usando chás e infusões com água não filtrada. Além de de-

Soro, Raízese Rezas

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

ciclo depremiação 2003

Elas agora passam por um processode esclarecimento quanto à

importância do aleitamento maternoaté o sexto mês de vida

monstrar a elas a importância do soro caseiro e da água filtrada, oPrograma entregou-lhes utensílios como filtro, jarra para preparaçãodo soro e uma colher de cabo longo para misturar o soro sem que amão entre em contato com o soro. Os sais de hidratação oral sãorepassados pelos agentes de saúde, de acordo com a demanda. Paramotivar as mães, as rezadeiras passaram também a benzer o soro,fortalecendo as recomendações médicas.

Uma Unidade Básica de Saúde da área urbana chegou a implantarum “cantinho da fé”, onde uma das rezadeiras do bairro dedica parte doseu dia ao atendimento das famílias que saem do consultório médico.Ela benze a criança e o medicamento, e em sua mesa os objetos religio-sos misturam-se ao material para a preparação do soro.

Os óbitos por diarréia foram reduzidos para 5% do total de óbitos emmenores de um ano e o número de rezadeiras cadastradas subiu para

188. Nas áreas urbanas, co-merciantes e empresários do-aram placas de identificaçãopara serem afixadas na portadas rezadeiras. Tal identifica-ção simboliza o reconheci-

mento de seu papel por parte da comunidade e do poder público. Elasagora passam por um processo de esclarecimento quanto à importân-cia do aleitamento materno até o sexto mês de vida da criança.

Outra frente de atuação aberta recentemente pelo Programa en-volve os raizeiros (vendedores de raízes e ervas). Pretende-se fazê-los utilizar água filtrada em seus xaropes e garrafadas, além de subs-tituir o uso de ervas que, segundo comprovação científica, podemser tóxicas conforme o uso. É um trabalho mais difícil pois, ao con-trário das rezadeiras, que não cobram nada por seus serviços, oraizeiro vive de vender as ervas e as raízes, relutando em alterar asreceitas tradicionais. Além disso, os raizeiros temem o controle daVigilância Sanitária.

Para convencer os raizeiros, a equipe do Programa usa a mesmadisposição com que venceu a resistência dos médicos e dasrezadeiras. Ao fazê-lo, o Programa se insere num movimento maisamplo, apoiado pela Organização Mundial da Saúde, de valorizaçãodo saber tradicional para garantir a saúde das populações.

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A trupe doconhecimento

Em Monsenhor Gil, município a 57 km de Teresina, a rotina de al-gumas escolas é interrompida mensalmente pela chegada de cincoprofessoras e um motorista. O grupo surge às sete da manhã, numavan que transporta também uma inusitada parafernália: dois micro-computadores, um aparelho de TV com videocassete, um aparelho desom, fitas de vídeo, CD’s, duas caixas de livros, fantoches, máscaras,um palco desmontável de papelão, uma caixa de flautas, um teclado,uma cítara e um órgão de garrafas, entre outros engenhos.

Esse sortimento de novidades é motivo de surpresa e alegriaentre alunos e professores. Trata-se da Biblioteca Itinerante, umprograma concebido pela Secretaria de Educação do municípiopara levar atividades culturais, pedagógicas e artísticas aos alu-nos de nove escolas.

EQUIPE DE PROFESSORAS PERCORRE ESCOLASDE COMUNIDADES POBRES LEVANDO RECURSOSQUE ENCANTAM OS ALUNOS

Biblioteca ItineranteÁrea de implantação: Monsenhor Gil – PI

Instituição: Secretaria Municipal de EducaçãoContato: Calíope Chagas Barreto

Rua José Noronha, 312Monsenhor Gil, PI – CEP: 64450-000

Telefone: (86) 258-1257 – Fax: (86) 258-1166e-mail: [email protected]

ED

UC

ÃO

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

A maioria dos 11.500 habitantes de Monsenhor Gil vive no campoe a economia local sustenta-se com as transferências de verbas dasoutras esferas de governo e com as aposentadorias dos trabalhado-res rurais. Segundo a secretária de Educação, Calíope Chagas Barreto,os prefeitos que até há alguns anos se sucediam no poder limita-

vam-se a construir escolas, sem preocupação quan-to às condições das salas de aula nem quanto à qua-lidade do ensino. Havia muitas escolas de taipa evárias delas eram utilizadas pela comunidade comoabrigo para os bodes durante a noite, o que obriga-va os estudantes a conviver com o mau cheiro. Tam-bém havia escolas funcionando nas residências dasprofessoras, que se dedicavam às tarefas domésti-cas enquanto deixavam os alunos a copiar as pala-vras do quadro-negro. O salário médio dos professo-res não passava de R$ 60 e muitos não tinham a for-

mação mínima para exercer a profissão.Melhorias na educação de Monsenhor Gil só foram possíveis após

a instituição, pelo governo federal, do Fundo de Desenvolvimento doEnsino Fundamental e Valorização do Magistério (Fundef). Com a cria-ção do Fundo, em 1996, o salário médio dos professores subiu para R$400. Além disso, a Secretaria de Educação do município reduziu de 54para 26 o número de escolas de educação infantil e de ensino funda-mental, sem deixar de atender os mais de 2.500 alunos. Os materiaisde construção dos estabelecimentos desativados foram reaproveitados,servindo, por exemplo, para construir sanitários nas escolas restan-tes. As mudanças possibilitaram uma administração mais eficaz e con-tribuíram para o controle da qualidade do ensino.

Promoção da cidadaniaNo entanto, as condições das escolas rurais ainda são precárias.

Algumas sequer possuem água encanada e todas padecem com acarência de livros e de recursos pedagógicos. Nas casas que as ro-deiam, o rádio muitas vezes é o único meio para entrar em contatocom o resto do mundo, já que os aparelhos de TV são artigos raros.Existe, inclusive, uma comunidade rural onde ninguém possui tele-visão. Foi para superar essas limitações e melhorar o aprendizado

ATIVIDADES ENVOLVEM MAISDE 1200 ALUNOS

ciclo depremiação 2003

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Históriasde um Brasilque funciona

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Biblioteca Itinerante

das crianças que a Secretaria de Educação desenvolveu o ProgramaBiblioteca Itinerante.

O Programa tem como objetivo principal estimular alunos e pro-fessores para que compreendam a importância da arte e da culturalocais como instrumento de promoção da cidadania. Uma equipe decinco professoras, todas especialistas em suas respectivas áreas deatuação, visita mensalmente as escolas participantes do Programa,desenvolvendo ao longo do dia experimentos científicos e atividadesde música, teatro, cinema, literatura e informática. As atividades en-volvem mais de 1.200 alunos e cerca de 80 professores, atingindoquase a metade da rede municipal de ensino.

A Biblioteca Itinerante priorizou as unidades não beneficiadaspelo Escola Ativa, um programa do Ministério da Educação para asescolas com classes multisseriadas (séries diferentes na mesma salade aula) das áreas rurais doNorte e do Nordeste. O Progra-ma do governo federal oferececursos de capacitação aos pro-fessores, fundos para a melho-ria da infra-estrutura escolar ekits pedagógicos.

Em Monsenhor Gil, o Esco-la Ativa atende 17 escolas e aBiblioteca Itinerante, as outrasnove (quatro na zona urbana ecinco na zona rural). Mas o sucesso da iniciativa municipal tem feitocom que as escolas beneficiadas pelo Escola Ativa também peçam avisita da Biblioteca Itinerante.

Sucatas e criatividadeTanto interesse se deve ao enriquecimento cultural proporciona-

do pelo Programa. Os alunos trabalham com a literatura de cordel,têm acesso a livros emprestados pela Secretaria, produzem peças deteatro, aprendem a usar o microcomputador e assistem a fitas devídeo. Eles também conhecem diferentes estilos musicais e, graçasà colaboração da banda municipal, podem manusear os instrumen-tos. Uma das professoras confeccionou um órgão de garrafas e a

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

ciclo depremiação 2003

Biblioteca Itinerante adquiriu uma caixa de flautas doces, tendo emvista formar grupos de flauta nas escolas. Usando algumas sucatas emuita criatividade, a equipe do Programa confecciona Instrumentosde laboratório, driblando a escassez de recursos. Um medidor da ca-pacidade do pulmão, por exemplo, foi montado a partir de uma baciae um garrafão de água. A Secretaria de Saúde também colabora, em-prestando materiais como luvas e microscópio. Assim, os alunos po-dem vivenciar experiências que antes conheciam apenas por meioda sua imaginação ou dos livros didáticos.

Todas as atividades têm por princípio a interdisciplinaridade, me-diante um trabalho articulado entre os professores de todas as maté-rias: os filmes podem suscitar questões de Geografia, a música ajudaa ensinar Matemática e o teatro ilustra lições de História. Mas a preo-cupação central de todos os professores é o aprimoramento da leitu-ra e da escrita.

Para as classes de 5a. a 8a. séries, as atividades acontecem emsalas diferentes e os alunos têm liberdade para escolher as de sua

preferência. Espontaneamente, muitos pas-saram a assistir a todas as aulas. Outro as-pecto importante é que o Programa não im-põe as atividades a serem realizadas, pro-curando respeitar o planejamento e o cro-nograma dos professores. As datas de visi-ta às escolas são definidas com antecedên-cia, mas não são comunicadas aos alunos,a fim de acrescentar o gosto do inesperadoao prazer de cada encontro.

O impacto do Programa estende-se à fa-mília, aos vizinhos e à comunidade em ge-ral, disseminando conhecimentos aos cida-dãos do município. Após a implementaçãoda experiência, aumentou o movimento nabiblioteca pública municipal e cresceu o in-

teresse dos moradores pelos eventos culturais promovidos pela pre-feitura. Nas escolas, nota-se uma integração maior na relação entreos professores e os alunos, que se tornaram mais investigativos, cri-ativos, sensíveis e críticos. No futuro, eles certamente terão maiorespossibilidades de romper o ciclo de pobreza em que vivem.

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Um paíschamado Xingu

Segundo a Unesco, o Parque Indígena do Xingu representa omais rico mosaico lingüístico das Américas: abrigando uma popu-lação de 4 mil índios numa área equivalente à de Sergipe, o Parquereúne 14 povos indígenas, cada um com a sua própria língua. Cria-do em 1961, chegou a ser considerado o cartão de visita da políticaindigenista oficial. Durante 17 anos, o Parque Indígena ficou sob adireção de Orlando Villas-Bôas, que procurou impedir ao máximo ocontato de seus habitantes com o exterior. Apesar desse esforço, oXingu não resistiu à influência do modelo de ocupação que se de-senvolveu à sua volta.

Projeto de Formação de Professoresdo Parque Indígena Xingu

Área de implantação: Parque Indígena do Xingu – MTInstituição: Associação Terra Indígena do Xingu

Contato: Mairawe Kaiabi / Makupa Kaiabi / Alupá KaiabiAv. Mato Grosso, 688

Canarana, MT – CEP: 78640-000Telefone: (11) 3660-7949 – Fax: (11) 3660-7945

COM PROFESSORES FORMADOS NAS PRÓPRIAS ALDEIAS,ÍNDIOS DE MATO GROSSO EXECUTAM UM PROJETO DEEDUCAÇÃO QUE FORTALECE A DEFESA DE SEU TERRITÓRIO

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

XINGU É HABITADO POR14 POVOS INDÍGENAS

A partir da década de 70, com o incentivo do governo, grandesfazendas de soja e de gado instalaram-se na bacia do rio Xingu. Nadécada de 80, começaram as invasões de pescadores e caçadores.

Ao final dos anos 90, a ameaça vinha das queimadasnas fazendas localizadas a nordeste e das madeirei-ras instaladas a oeste. Além disso, a ocupação doentorno começou a poluir as nascentes dos rios queabastecem o Parque.

Para proteger seu território e enfrentar as conse-qüências da intensificação do contato entre as al-deias e o mundo externo, as lideranças indígenas doXingu fundaram, em 1994, a Associação Terra Indí-gena Xingu (ATIX). Dentre os projetos desenvolvi-dos pela Associação, destaca-se o de educação, con-

siderado fundamental para trazer às aldeias o conhecimento a res-peito dos não-índios, ao mesmo tempo em que valoriza a língua e oscostumes de cada um dos povos que habitam o Parque.

Avaliação da comunidadeNo começo da década de 80, a Funai realizou um programa de edu-

cação em algumas terras indígenas, dentre elas o Xingu. Professoresnão-índios passaram a freqüentar as aldeias, dando aulas em portuguêse utilizando o currículo e o calendário da escola oficial. “Tínhamos difi-culdade de manter diálogo com a professora, que não entendia nossalíngua”, lembra Korotowi Ikpeng, hoje professor de uma escola estadu-al no Parque. “O conteúdo era da cidade e não tinha nada a ver com anossa realidade; não despertava o interesse. Quando a gente saía parapescar ou para a roça com os nossos pais, recebíamos falta”.

No final dos anos 80, os professores deixaram de ir ao Xingu poruma série de razões, como a falta de pagamento dos salários e depessoas interessadas em continuar o trabalho. Durante esse perío-do, a pedido das comunidades, alguns ex-alunos começaram a daraulas. Ao mesmo tempo, um grupo de ex-professoras da Funai sub-meteu um projeto de formação de professores indígenas à organiza-ção não-governamental Fundação Mata Virgem, apoiada pela Rainfo-rest Foundation, da Noruega.

ciclo depremiação 2003

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Históriasde um Brasilque funciona

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Projeto de Formaçãode Professores doParque Indígena Xingu

AULAS ABORDAM AREALIDADE XINGUANA

O projeto foi aprovado e, em 1994, iniciou-se o primeiro curso deformação de professores. A iniciativa ganhou um novo impulso a par-tir de 1996, quando o Instituto Socioambiental (ISA) assumiu a coor-denação do projeto e intensificou a busca de recursos e parcerias. ASecretaria Estadual de Educação e o Ministério da Educação, por exem-plo, passaram a fornecer recursos para a compra de materiais escola-res, a construção de escolas e a disseminação da iniciativa para ou-tras comunidades indígenas. A Secretaria também fornece técnicospara o acompanhamento pedagógico das escolas.

A formação de professores acontece em duas etapas. A primeiraetapa compõe-se de dois cursos intensivos, realizados nos meses demaio e outubro. Cada curso dura 30 dias e englobaHistória, Geografia, Matemática e Pedagogia, den-tre outras matérias. O conteúdo das aulas abordaaspectos da realidade xinguana, como as questõesambientais, a história de cada povo, o manejo derecursos naturais e do lixo.

Os cursos representam também uma oportunida-de de encontro entre os professores das diferentesetnias do Xingu para a troca de experiências, a discus-são sobre o processo de gestão das escolas e o enca-minhamento de reivindicações às autoridades.

A segunda etapa da formação corresponde ao acompanhamentopedagógico dos professores nas escolas das aldeias. Ocorre nos me-ses entre cada curso intensivo e é realizado por uma equipe de educa-dores do ISA, da Secretaria de Educação do Estado e por professoresindígenas que concluíram o curso. O acompanhamento pedagógico visaavaliar o resultado da formação de professores e inclui também o pla-nejamento das aulas e a avaliação da comunidade sobre a escola.

Estudos sobre o meio ambienteAo participar do curso, cada professor deve fazer, anualmente, um

trabalho de pesquisa sobre um tema da sua realidade sociocultural.Os trabalhos são registrados por meio de desenhos e textos, em lín-gua portuguesa ou indígena, e acabam servindo para a elaboração demateriais didáticos.

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

ciclo depremiação 2003

ESCOLA PODE AJUDAR ALUTA PELA TERRA

Os trabalhos dos professores abordam as tradições e a históriade cada povo; bem como o uso e a conservação dos recursos dispo-níveis na região. Tais trabalhos deram origem a importantes estudossobre o meio ambiente do Parque Indígena e de seu entorno. Os pro-fessores fizeram, inclusive, um diagnóstico da bacia do rio Xingu elevantaram uma discussão sobre a necessidade de se controlar o lixodentro do Parque.

Com a formação dos professores, as aulas passaram a ser maisfreqüentes e os alunos estão conseguindo ir alémdas atividades tradicionais (trabalhar na roça, pes-car, caçar, fazer artesanato, etc.). Tornam-se agen-tes de saúde, apicultores, professores e motoristasde barco, por exemplo. Os professores, por sua vez,começam a se especializar, sendo que alguns ingres-saram no concorrido curso universitário indígena daUniversidade Estadual do Mato Grosso (Unemat).

O projeto tem conseguido enfrentar um proble-ma apontado em algumas iniciativas de educaçãoindígena no país, nas quais o ensino da língua indí-

gena se dá na forma oral e os alunos apresentam dificuldades em seexpressar na forma escrita. No Xingu, os livros de alfabetização pos-sibilitam o desenvolvimento da escrita nas diversas línguas indíge-nas existentes no Parque.

As instalações e o calendário das escolas variam de acordo comos costumes de cada comunidade, que define essas característicasem discussões com os professores. Além disso, as escolas estaduaistêm autonomia para gerenciar os recursos destinados à compra damerenda, uma conquista alcançada após intensa mobilização dos pro-fessores, da comunidade e de instituições parceiras, como o ISA.Graças a isso, a merenda escolar é composta por produtos adquiri-dos na própria aldeia e que fazem parte dos hábitos alimentares dosíndios, como a mandioca e o mel.

Tais inovações fazem com que a iniciativa seja utilizada pelo Mi-nistério da Educação como referência para outras comunidades indí-genas do país. “No futuro, a escola vai servir para a luta do povoindígena do Xingu pela sua terra”, acrescenta Makaulaka Mehinako,um dos professores formados pelo projeto.

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O tribunal que ensina

Poucos cidadãos sabem o que é e como é feito o orçamentodos governos e menos ainda procuram se informar sobre a presta-ção de contas dos governantes. A desinformação e o desinteressea respeito desses assuntos criam um ambiente favorável à corrupçãoe impedem o pleno exercício da cidadania.

Encarregados de zelar pela correta aplicação dos recursos pú-blicos, os tribunais de contas são outros ilustres desconhecidos.Em 2001, o Tribunal de Contas de Pernambuco realizou uma pes-quisa em todo o Estado e descobriu que 52% dos entrevistados nãoconheciam o órgão. Por outro lado, dos que sabiam de sua existên-cia e de suas finalidades (24,5%), quase todos o consideravam umainstituição necessária.

Democratizando o Conhecimentosobre as Contas Públicas

Área de implantação: PernambucoInstituição: Escola de Contas Públicas Professor Barreto

Guimarães - Tribunal de Contas de PernambucoContato: Carlos Maurício Cabral Figueiredo

Rua da Aurora, 883Recife, PE – CEP: 50050-000

Telefone: (81) 3413-7724 – Fax: (81) 3221-3417e-mail: [email protected]

EM PERNAMBUCO, O TRIBUNAL DE CONTAS SE APROXIMADA SOCIEDADE CIVIL E CRIA UMA ESCOLA ONDE SE APRENDEA FISCALIZAR OS GOVERNOS

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

Além do desconhecimento por parte da população, o Tribunalenfrentava as queixas das prefeituras, que clamavam por uma atua-ção menos punitiva e mais pedagógica em relação aos procedimen-tos de prestação de contas exigidos após a Constituição de 1988 e aLei de Responsabilidade Fiscal. Para atender a essa demanda e paracapacitar os seus próprios servidores e os de outros órgãos públi-cos, o Tribunal pernambucano criou, em 1998, a Escola de ContasPúblicas Professor Barreto Guimarães.

Posteriormente, a Escola também se voltou para a capacitação derepresentantes de movimentos sociais, bem como dos cidadãos obri-gados a prestar contas dos recursos públicos recebidos por meio deconvênios ou de instituições de fomento. Busca-se, assim, evitar ainterrupção dos repasses por um eventual erro de procedimento.

As atividades desenvolvidas pela Escola de Contas Públicas se divi-dem entre os cursos oferecidos rotineiramente na sua sede e os proje-tos especiais, realizados em parceria com organismos internacionais,

governo do Estado e prefeituras.Em 2003, a Escola ofereceu

em sua sede nove cursos, abran-gendo desde a contratação debens e serviços pela administra-ção pública até a legislação detrânsito. Os cursos custam entreR$ 200 e R$ 400 e são freqüenta-dos por prefeitos, parlamenta-res, membros do Judiciário, ser-vidores do legislativo estaduale municipal e de diversos ór-gãos, bem como por pessoasque lidam diretamente com ostemas abordados.

Numa parceria com associa-ções de pequenos produtores ru-rais, a Escola de Contas Públicas

também ofereceu cursos aos beneficiários de dois projetos do gover-no de Pernambuco (financiados pelo Banco Mundial) para o combateà pobreza no campo. Entre 2000 e 2001, foram capacitados mais de 3mil pequenos produtores rurais, a maioria semi-analfabetos, em 60

ciclo depremiação 2003

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Históriasde um Brasilque funciona

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dos 184 municípios pernambucanos. A iniciativa buscou capacitar osprodutores para a prestação de contas dos recursos recebidos do go-verno estadual, uma vez que a rejeição das contas os colocaria numasituação de inadimplência e impediria novos aportes financeiros.

Cartilha em forma de cordelTanto nos cursos oferecidos na sede da Escola de Contas Públicas

quanto nos projetos especiais, um instrumento pedagógico bastanteeficiente são as cartilhas populares. A cartilha Tomando Conta da Es-cola, por exemplo, demonstra a necessidade de se cuidar do patrimônioescolar e ensina como garantir que os recursos sejam bem utilizadosna Educação. A Cartilha do FUNDEF traz informaçõessobre a gestão dos recursos desse fundo bem comosobre a forma de se prestar contas. Já a cartilha ObrasPúblicas – fazendo certo utiliza uma cidade imagináriapara ilustrar os benefícios trazidos à comunidade pelatransparência nos gastos do governo, além de mos-trar a importância de a sociedade acompanhar as obraspúblicas desde o início. Numa linguagem acessível, aEscola editou também uma versão simplificada do Pa-recer Sobre as Contas do Governo do Estado.

A Escola de Contas Públicas lançou ainda umacartilha sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal, com o título Tudo àsClaras. O livreto explica o que o governante pode e o que não podefazer, destacando a proibição de se gastar mais do que se arrecada.Além disso, a cartilha informa como os cidadãos podem denunciarirregularidades cometidas pelos gestores públicos. A fim de se co-municar melhor com as comunidades rurais, onde são baixos osíndices de escolaridade, a Escola lançou uma versão dessa cartilhaem forma de cordel e a editou também em CD.

“Eu não tinha a noção de que um prefeito pode ser punido pelodesvio do dinheiro do povo”, conta o agricultor Natanael Paulo daSilva, aluno de um curso realizado pela Escola de Contas Públicas nomunicípio de Glória do Goitá, a 100 km do Recife. Natanael aprendeua acompanhar a execução das obras públicas e a conscientizar suacomunidade sobre a necessidade de cuidar do patrimônio coletivo.“Agora não vou mais ser passado para trás”, afirma.

CURSOS AJUDAM A ENTENDERO ORÇAMENTO

Democratizandoo Conhecimento sobreas Contas Públicas

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

ESCOLA ATENDE TAMBÉM OSMOVIMENTOS SOCIAIS

Rede de Combate à CorrupçãoO diálogo da Escola de Contas Públicas com a sociedade civil

não tem se limitado aos cursos. A partir dessa experiência, houveuma aproximação com diversas organizações não-governamentais,a fim de ajudá-las a acompanhar os gastos públicos em suas res-

pectivas áreas de atuação. Ao mesmo tempo, asONGs têm sido um espaço privilegiado para a dis-seminação das cartilhas populares.

Como resultado dessa aproximação, foi criado oFórum de Transparência Sobre a Gestão Pública Esta-dual e Municipal. No médio prazo, o Fórum deve darorigem à Rede de Combate à Corrupção no Estado. Opapel da Escola será oferecer à Rede um banco de da-dos, em linguagem de fácil compreensão, sobre os gas-tos e investimentos de cada setor da administraçãopública nos municípios e no Estado. Ela terá também a

incumbência de capacitar os integrantes da futura Rede para a avaliaçãodos gastos dos governos. As ONGs, por sua vez, farão a análise do im-pacto setorial dos gastos das prefeituras e do Estado, produzindo relató-rios acerca da qualidade dos investimentos.

Por meio de um convênio com a prefeitura do Recife, a Escola jáprepara a capacitação de todos os conselheiros e delegados do Orça-mento Participativo da capital, em temas relacionados com a elabo-ração e execução do orçamento. Fora de Pernambuco, a experiênciada Escola de Contas Públicas Professor Barreto Guimarães despertaa atenção de outros tribunais de contas, que procuram conhecer ametodologia, implantar iniciativas semelhantes ou estabelecer par-cerias para o oferecimento de cursos aos seus servidores.

Os cursos representam, aliás, a principal fonte de sustentaçãoda Escola, que recebe uma repasse anual de R$ 60 mil do governodo Estado. Todo o seu corpo de funcionários faz parte do quadro fixode servidores do Tribunal de Contas de Pernambuco. Porém, segun-do o diretor da Escola, Carlos Maurício Figueiredo, a tendência éque a instituição torne-se auto-sustentável no médio prazo, inclusi-ve com a construção de um prédio próprio.

ciclo depremiação 2003

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A arquiteturada inclusão

Programas de habitação popular não costumam atentar para asnecessidades diferenciadas das pessoas portadoras de deficiência.Os imóveis são construídos com as mesmas dimensões dos destina-dos às outras famílias. O máximo que se costuma fazer é destinarum apartamento no andar térreo do edifício para o morador em ca-deira de rodas. As leis municipais geralmente obrigam os locais deuso público a prover pleno acesso aos portadores de deficiência, masse omitem quanto às habitações. Em Porto Alegre, essa realidadecomeçou a mudar em maio de 2003, quando foram entregues as pri-

PORTO ALEGRE COMEÇA A INTRODUZIR EM SEUSPROGRAMAS HABITACIONAIS MORADIAS ADAPTADASAOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA

Unidade Habitacional Acessívela Pessoas Portadoras de Deficiência

em Loteamentos de Habitaçãode Interesse Social

Área de implantação: Porto Alegre – RSInstituição: Departamento Municipal de Habitação

da Prefeitura de Porto Alegre (Demhab)Contato: Luciane Maria Tabbal

Av. Padre Cacique, 708Porto Alegre, RS – CEP: 90810-240

Telefone: (51) 3231-8811 e-mail: [email protected]

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

ciclo depremiação 2003

BARRAS DE APOIO FACILITAMA CIRCULAÇÃO

meiras unidades especiais de um conjunto habitacional construídopela prefeitura.

A iniciativa surgiu há cerca de dois anos, quando a arquitetaLuciane Maria Tabbal, do Departamento Municipal da Habitação(DEMHAB), participou de um seminário na Câmara Municipal. No

evento, ela teve seu primeiro contato com o concei-to de acessibilidade plena e se convenceu da ne-cessidade de incorporá-lo aos projetos que desen-volvia para o Departamento.

Luciane propôs à sua chefe, a arquiteta SilviaCarpenedo, o desenvolvimento de um projeto deunidade habitacional especial para portadores dedeficiência, incluindo dimensões compatíveis coma mobilidade da cadeira de rodas. Com a colabora-ção da autarquia municipal, Luciane saiu em buscade subsídios para o projeto, para o qual contou com

o incentivo e a ajuda de Adriana Almeida, do Centro de Estudos ePesquisas em Administração Municipal – Fundação Prefeito Faria Lima(CEPAM), órgão do governo paulista.

Como principal apoio técnico para o projeto, Luciane recorreu àNBR 9050 – “Acessibilidade de Pessoas Portadoras de Deficiências aEdificações, Espaço, Mobiliário e Equipamento Urbano” – norma edi-tada em 1994 pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).Apoiou-se também na Comissão Permanente de Acessibilidade, cria-da pela prefeitura de Porto Alegre e composta por representantes daadministração municipal, de entidades representativas dos portado-res de deficiências, arquitetos e engenheiros.

Soluções simples e eficazesOs estudos e discussões levaram a uma alternativa para a im-

plantação de unidades especiais no Programa Integrado Entrada daCidade (PIEC), iniciativa do governo municipal que incorpora diver-sas políticas de reassentamento, inclusão social e geração de rendaem uma região ao norte de Porto Alegre. As três primeiras unidadesdesse projeto já foram entregues e são ocupadas por famílias quetêm membros cadeirantes.

As moradias apresentam soluções simples e eficazes para a mobi-

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Unidade HabitacionalAcessível a Pessoas Portadoras deDeficiência em Loteamentos deHabitação de Interesse Social

ACESSOS TÊM RAMPAE CORRIMÃO

lidade e autonomia de um portador de deficiência. As dimensões doscômodos são compatíveis com o giro de uma cadeira de rodas e osacessos à unidade são feitos por rampa com corrimão. As torneirastêm uma alavanca para pessoas com limitações motoras nas mãos eo vaso sanitário está sobre uma base de concreto que o torna maisalto e cômodo para quem não tem mobilidade nos membros inferio-res. Todas as portas têm 0,80m de largura para dar acesso à cadeirade rodas e as maçanetas e interruptores são instalados na altura ade-quada para o alcance de uma pessoa sentada. Nas portas e ao lado detodos os equipamentos, há barras de apoio para que a pessoa consi-ga alcançar qualquer coisa de que necessite. O localdo chuveiro, com banco metálico engastado na alve-naria e torneira baixa, permite plena autonomia parao banho do usuário.

Segundo Luciane, tais alterações do projeto pa-drão resultaram em um acréscimo de aproximada-mente R$ 2 mil no custo da unidade habitacional, oucerca de 20% de uma moradia comum. O acréscimose deve à ampliação da área construída, que é 10%maior, e à instalação dos equipamentos especiais.No entanto, as famílias contempladas com as unidades especiais pa-gam o mesmo valor que as outras famílias, ou seja, o custo adicionalé parcialmente bancado pelos demais moradores. Isso não gerou qual-quer protesto por parte das famílias que, pelo contrário, se mostramsolidárias e aceitam, inclusive, os privilégios de localização das uni-dades especiais (próximas às avenidas, onde há linhas de ônibus tam-bém especiais).

A história de TanisePara que o projeto se tornasse realidade, Luciane teve de vencer

algumas dificuldades e, por outro lado, recebeu muita solidariedade.Alguns engenheiros demonstravam ceticismo quanto à viabilidade deuma solução que alterava o equilíbrio de custo das unidadeshabitacionais e criava itens especiais em obras regidas pela econo-mia de escala. Com uma argumentação técnica, porém pautada poruma visão humanista, os arquitetos tiveram papel de destaque no con-vencimento de seus colegas engenheiros.

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

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Depois de crescer num cômodoinsalubre, Tanise pela primeira vez

pode circular pela casa e pelobairro onde mora

Vencida essa barreira, faltava conhecer o tamanho da demanda,uma vez que a ficha cadastral usada para inscrição das famílias noprograma habitacional do município não contemplava nenhuma in-formação sobre a existência ou não de um membro da família comdeficiência motora e usuário de cadeira de rodas. As assistentes soci-ais que trabalham com o PIEC incluíram, então, uma anotação à mar-gem da ficha cadastral, informando sobre a existência de membrocadeirante na família cadastrada.

Tal informação permitiu que se soubesse quantas unidades espe-ciais seriam necessárias no conjunto habitacional: oito, número apa-rentemente insignificante, mas que ainda não representa o atendi-mento de todas as famílias com membros cadeirantes do bairro. Éimportante lembrar, porém, que o Programa Integrado Entrada da Ci-dade prevê um investimento total de R$ 170 milhões para a

reestruturação urbana da área, in-cluindo a construção de 3.061 no-vas moradias. Parte dessas mora-dias deverá contemplar os porta-dores de deficiência, conforme astrês unidades já entregues.

Uma destas, por exemplo, transformou a vida da menina Tanise,de nove anos. Ela nasceu com graves deficiências neurológicas emotoras resultantes de complicações durante o parto. Hoje, ocupan-do uma casa especial na área do PIEC, ela pode freqüentar seções defisioterapia em um dos postos de saúde que oferece esse serviço.Antes de morar no novo endereço, isso era impensável: a família dagarota habitava um barraco de madeira, no qual ela nem podia sairdo quarto, pois a cadeira de rodas não passava pela porta. Depois decrescer num cômodo insalubre, Tanise pela primeira vez pode circu-lar pela casa e pelo bairro onde mora.

Para que histórias de inclusão social como essa se tornem maiscomuns, os técnicos acham necessário dar uma forma institucional àexperiência de Porto Alegre. Trata-se de criar, para os programas dehabitação popular, a obrigação legal de destinarem unidades especi-ais aos portadores de deficiência. Encontrada a solução técnica, faltaapenas que um legislador apresente projeto de lei nesse sentido. Al-guém se habilita?

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Via rápidapara a cidadania

São muitas as pedras no caminho dos brasileiros em direção àjustiça, principalmente quando se trata da população de baixa ren-da, que muitas vezes não tem acesso nem à informação sobre seusdireitos. Para ajudar os munícipes a vencer essas dificuldades e pres-tar-lhes assistência jurídica gratuita, a Prefeitura do Recife criou oProjeto Justiça Cidadã.

A Secretaria de Assuntos Jurídicos (SAJ) descentralizou o servi-ço de assistência jurídica por meio de cinco núcleos em bairros peri-féricos da capital pernambucana. O serviço funcionava apenas noedifício sede da Prefeitura, com um corpo limitado de funcionários.A sede foi reestruturada e seus funcionários foram requalificados,

NÚCLEOS DE ASSISTÊNCIA JURÍDICA IMPLANTADOSPELA PREFEITURA ENCURTAM A DISTÂNCIA ENTREA JUSTIÇA E A POPULAÇÃO DA PERIFERIA DO RECIFE

Justiça Cidadã: Descentralizando aAssistência Judiciária Municipal

Área de implantação: Recife – PEInstituição: Secretaria Municipal de Assuntos Jurídicos

Contato: Bruno Ariosto Luna de HolandaCais do Apolo, S/N – 3o. Andar

Recife, PE – CEP: 50000-000Telefone: (81) 3425-8138 – Fax: (81) 3425-8738

e-mail: [email protected]

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ciclo depremiação 2003

pois não tinham preparo para lidar com o público. Em seguida, a Se-cretaria tratou de desenvolver atividades de educação em direitoshumanos nas comunidades onde se localizam os núcleos.

Dirigido pelo Secretário de Assuntos Jurídicos, o Justiça Cidadã édesenvolvido em parceria com a organização não-governamental Ga-binete de Assessoria Jurídica a Organizações Populares (Gajop), queatua na promoção e defesa dos direitos humanos. A iniciativa envolve28 profissionais, incluindo duas equipes técnicas: a psicossocial, for-mada por uma psicóloga e dois assistentes sociais, e a jurídica, com-posta por 12 advogados e 10 estagiários de direito.

O Gajop é responsável pela contratação e capacitação dos profissio-nais, pelo monitoramento das atividades e pelo gerenciamento dos re-cursos financeiros destinados à remuneração dos funcionários que tra-balham nos núcleos. A Secretaria de Assuntos Jurídicos avaliou que acontratação por meio de concurso público não garantiria a seleção defuncionários com o perfil desejado. Havia a preocupação de não repro-

duzir o perfil dos antigos funcio-nários da sede, geralmente des-comprometidos com o bom aten-dimento aos cidadãos.

Por meio de encontros e de-bates, os antigos e os novos fun-cionários da assistência jurídicadiscutiram temas relacionadosao trabalho dos advogados coma comunidade, bem como direi-tos humanos, violência domés-

tica e violência contra a mulher. Passaram ainda por um curso de aper-feiçoamento oferecido pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Orientação, encaminhamento e educaçãoA divulgação do Projeto se deu por intermédio das reuniões do

Orçamento Participativo e das organizações comunitárias, e por bici-cletas equipadas com megafone, as chamadas “bicicletas de som”.No dia seguinte à inauguração – marcada por um grande evento fes-tivo, que contou com a presença de representantes de entidades lo-cais – os núcleos já ficaram cheios, pois a população aguardava seu

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Justiça Cidadã: Descentralizando aAssistência Judiciária Municipal

FUNCIONÁRIAS DO PROJETO:ASSISTÊNCIA E EDUCAÇÃO

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funcionamento desde a reforma dos prédios.O trabalho se desenvolve a partir de dois tipos de atividade:

assistência jurídica e educação sobre direitos. A assistência jurí-dica é aberta a todos os cidadãos que solicitam orientação e enca-minhamento. Nos casos em que há necessidade de intervençãojudicial, o atendimento se limita à população debaixa renda. Ninguém enfrenta filas porque, paraser atendida, a pessoa precisa fazer um agen-damento, à exceção dos casos considerados pri-oritários, como os de violência contra a mulher.Atualmente, a espera pelo atendimento podechegar a dois meses.

Diante da impossibilidade de abarcar todas asmatérias, a atuação dos núcleos limita-se ao âm-bito do direito penal, previdenciário, civil e do di-reito da criança e do adolescente. No âmbito dodireito penal, são atendidas as vítimas de crimes de menor potencialofensivo e os casos de violação de direitos humanos. No âmbito dodireito previdenciário, os núcleos atendem os pedidos de alvará paraliberação de benefícios.

Em relação ao direito civil, não são atendidos casos que envolvemdisputas de posse e direito do consumidor. No que se refere ao direitoda criança e do adolescente, excetuam-se os atos infracionais. Essalimitação objetiva também evitar a sobreposição de funções já exercidaspor outros órgãos (como o Procon, no caso de direito do consumidor, eos sindicatos, no caso de direito trabalhista). A sede permanece pres-tando assistência jurídica em todas as matérias.

Cerca de 70% dos atendimentos realizados pelos núcleos relacio-nam-se a temas de direito de família (especialidade do direito civil),como pedidos de pensão alimentícia, divórcio, investigação de pater-nidade, guarda e tutela. O público atendido é formado principalmen-te por mulheres de baixa renda.

Integração com outras secretarias

O Justiça Cidadã privilegia a conciliação extrajudicial como for-ma de resolução rápida dos conflitos, o que contribui paradescongestionar o Judiciário. Resolvem-se desse modo cerca de 60%

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

ciclo depremiação 2003

Com a descentralização, o número deatendimentos no serviço deassistência jurídica dobrou,

chegando a quase 6 mil em 2002

dos casos de família e os acordos extrajudiciais para pagamento depensão alimentícia costumam ser cumpridos.

O Gajop recebe um relatório mensal dos atendimentos, tendo di-vulgado seu telefone e seu e-mail para acolher sugestões e reclama-ções da população. A entidade funciona, assim, como uma espéciede ouvidoria não formalizada. Além disso, durante o curso de aperfei-çoamento técnico oferecido pela OAB, há a discussão de casos e aavaliação conjunta de documentos elaborados pelos advogados.

Em sua segunda frente de atuação, o Justiça Cidadã realiza ativi-dades de educação em direitos e articula as comunidades, os núcle-os de assistência jurídica e outros serviços municipais. A equipecontatou as diversas secretarias municipais e mapeou os seus servi-ços, com a proposta de construir uma rede de proteção de direitos.Esse trabalho é realizado pela equipe psicossocial, que também apóiaos advogados, acompanhando o atendimento dos casos mais com-plexos e estudando os casos emblemáticos.

As demais secretarias municipais participam ainda, juntamentecom as organizações comunitárias, das atividades de educação emdireitos. Em tais atividades, aproveitam-se estruturas já existentes,

como as reuniões do Orçamen-to Participativo e as oficinas doprograma Agente Jovem (da Se-cretaria da Assistência Social).No caso deste último, temas dedireito constitucional, de famí-

lia, da criança e do adolescente são incluídos em oficinas de teatro,cordel, desenho ou redação, buscando transformar os jovens emmultiplicadores do conhecimento nas suas comunidades.

Com a descentralização, o número de atendimentos no serviçode assistência jurídica dobrou, chegando a quase 6 mil em 2002. Oserviço ficou mais acessível à população; que agora tem maior co-modidade para buscar os seus direitos. Por meio do trabalho de edu-cação e da articulação com outros órgãos municipais e entidades dasociedade civil, o Projeto ultrapassa o atendimento de demandas in-dividuais e procura abordar preventivamente os problemas, além dediminuir a distância entre a população e a justiça.

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O exército da limpeza

Devido ao grande número de ilhas e canais, o Recife também éconhecido como “Veneza brasileira”. No entanto, a degradação dospântanos e dos cursos d’água trouxe sérios problemas de saúde pú-blica para o município, agravados por sua localização tropical.

O suprimento de água da capital pernambucana está entre ospiores do Brasil, e embora a rede de abastecimento cubra quase todaa cidade, muitas áreas têm água apenas duas vezes por semana. Alémdisso, a má qualidade da água deixa o Estado com um dos mais altosíndices de hospitalização por cólera do país. As interrupções no for-necimento levam a população a fazer grandes reservas de água den-tro e ao redor de suas casas, criando um ambiente propício à repro-dução de mosquitos transmissores de doenças.

UM BATALHÃO DE AGENTES DA PREFEITURA SEDISTRIBUI PELOS BAIRROS DO RECIFE PARA COMBATEROS FATORES AMBIENTAIS DE RISCO À SAÚDE

Programa de Saúde Ambiental – PSAÁrea de implantação: Recife – PE

Instituição: Diretoria de Epidemologia e Vigilânciaà Saúde – Secretaria Municipal de Saúde

Contato: Tereza Maciel LyraRua Major Codeceira, 194

Recife, PE – CEP: 50100-070Telefone: (81) 3413-1213 / 1214 – Fax: (81) 3413-1258

e-mail: [email protected]

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

Apenas 21% das residências estão conectadas ao sistema de esgo-tos, ou seja, mais de 1,1 milhão de moradores despejam esgoto em ca-nais, rios e valas. Como conseqüência, o Recife é uma das poucas cida-

des no mundo com altos índices de filariose(elefantíase) e dengue. Até o ano passado, a popula-ção ainda sofria com a elevada incidência de hepatiteA, raiva e leptospirose. Eram freqüentes as picadas deescorpião e de outros insetos, que se proliferavam gra-ças ao acúmulo de lixo. Nas épocas de chuva, os des-moronamentos viravam rotina.

Soluções eficazes e eficientes para a superaçãodesse quadro dependem de ações preventivas, con-forme reconheceu a prefeitura ao criar, no final de2001, o Programa de Saúde Ambiental. O objetivo

do Programa é implantar uma política de saúde universal, integradae eqüitativa, com foco no meio ambiente, por meio da identificação,eliminação ou redução dos riscos. Para isso, estabeleceram-se qua-tro frentes de atuação: fauna, água, solo e habitações.

Funcionando sob a responsabilidade da Secretaria Municipal deSaúde, o Programa se apóia na cooperação entre diversos setores daadministração municipal e no trabalho de 921 pessoas, que operamem três níveis: central, distrital e local. O nível central encarrega-seda coordenação, do planejamento, do suporte técnico e da avaliação.As informações provenientes desse nível são transmitidas aos seisdistritos de saúde, que cuidam de coordenar e gerenciar os esforçosdo PSA em suas respectivas áreas de abrangência.

“Pontos estratégicos”A maior parte do trabalho se desenvolve no nível local, por meio

de 716 agentes de saúde ambiental (ASA), que atuam em todos os 97bairros do Recife. Cada agente se responsabiliza por um territórioespecífico, visitando espaços públicos, parques e edificações, comintervalos de 40 dias. Eles identificam e procuram resolver proble-mas ambientais que trazem riscos à saúde. Quando não conseguemsolucioná-los, podem contar com o apoio de 111 agentes operacionaise 72 supervisores. Antes do Programa, o Recife tinha apenas oito fun-

AGENTES TRABALHAM EMTODOS OS BAIRROS

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Históriasde um Brasilque funciona

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cionários para monitorar a saúde ambiental de todo o município.Os bairros do Recife foram classificados em três patamares de

risco: alto, médio e baixo, de acordo com uma combinação entre osdados sobre qualidade de vida (educação, renda e habitação) e osdados de saúde pública (incluindo as informações sobre os locaiscom prevalência de doenças transmissíveis).

A distribuição dos agentes de saúde ambiental pelo municípioobedece à classificação dos bairros em patamares de risco. Dessaforma, bairros pobres receberam mais agentes do que bairros ricos.Cerca de 56% dos agentes estão em áreas de alto risco, 33% nas demédio risco e 11% em áreas de baixo risco.

Dentro de suas áreas, cada agente identifica “pontos estraté-gicos”, que necessitam de melhorias. Os agentes desempenhamum papel fundamental no sucesso do Programa, já que servem deligação entre a comunidade e o governo. Em muitas localidades,eles são os únicos represen-tantes governamentais queos moradores vêem com fre-qüência, estando presentesseis horas por dia, cinco diaspor semana.

A população colaboracom o trabalho dos agentes,levando ao seu conhecimen-to ocorrências que nem sem-pre são percebidas pela admi-nistração de uma grande ci-dade, como o vazamento deuma tubulação, por exemplo. A comunidade também se mobiliza emmutirões de combate aos focos de mosquitos e de coleta de lixo. Taismutirões são organizados pelos agentes de saúde ambiental que,dessa forma, atuam como elementos catalisadores.

No sentido inverso, os agentes representam uma forma de o go-verno prestar contas à população, pois acompanham o atendimentoàs queixas dos cidadãos. Servem ainda para transmitir informaçõesde interesse do governo municipal e para ajudar na implementaçãode políticas públicas em nível micro.

ProgramaSaúde Ambiental

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

Integração e prevençãoAté agosto de 2003, o Programa de Saúde Ambiental havia reali-

zado mais de 3,4 milhões de visitas a casas, edifícios e a espaçospúblicos, providenciado 500 mil tratamentos antimosquito, limpadosete canais, vacinado 260 mil animais contra a raiva, monitorado 100%do suprimento de água e realizado 10 mil visitas a residências consi-

deradas de alto risco para desmoronamentos.Todos esses serviços foram feitos com um orça-

mento anual de R$ 7,3 milhões; dos quais R$ 4,6milhões referem-se ao pagamento da mão-de-obra.A prefeitura do Recife responde por 42% das ver-bas, e o restante vem do governo federal. O orça-mento do Programa representa 8,4% dos gastos emsaúde do município. Ao enfatizar a cooperação en-tre os órgãos do governo, a nova política promove aeficiência na aplicação dos recursos.

Antes da implantação do PSA, predominava afragmentação entre as iniciativas de saúde pública, sem qualquer co-ordenação ou cooperação entre os departamentos e secretarias mu-nicipais. Era comum a sobreposição de programas e muitas açõesdeixavam de ser executadas porque cada secretaria atribuía a res-ponsabilidade a outro setor da administração. Ao invés de agir pre-ventivamente, na maioria das vezes o poder público enfrentava os pro-blemas de saúde à medida que surgiam. O alcance dessas medidasera limitado e não havia consistência quanto à definição das áreas aserem priorizadas.

Como resultado do Programa, a capital pernambucana conta hojecom uma política de saúde pública ampla e de alcance universal,implementada durante todo o ano e em todas as partes do município.

A partir do reconhecimento de que a saúde pública requer esfor-ços coordenados, que levem em conta os aspectos ambientais, o PSAconseguiu o envolvimento dos departamentos municipais de saúde,planejamento, esgotos, serviços públicos e políticas sociais, assimcomo das companhias municipais de resíduos sólidos e de água, daagência de defesa civil e da própria prefeitura. O sucesso do Progra-ma se reflete em muitas das estatísticas de saúde do Recife e com-prova a importância de ações preventivas e integradas.

NAS CASAS, COMBATE AOSFOCOS DE MOSQUITOS

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ciclo depremiação 2003

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Estudar não dói

Desde o início da década de 70, as crianças internadas no Hos-pital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto dãocontinuidade aos estudos recebendo aulas no próprio Hospital, queé ligado à Universidade de São Paulo. A Classe Hospitalar surgiunaquela época por iniciativa da assistente social Silvana Mariniello,sendo as aulas ministradas por uma estagiária do curso de magis-tério. Também havia aulas para os adultos que se alfabetizavampelo antigo método Mobral. Mais tarde, professoras voluntáriasassumiram a Classe Hospitalar.

Esse padrão de atendimento voluntário continuou até a décadade 90, sem que Silvana conseguisse o reconhecimento das aulas por

CRIANÇAS INTERNADAS CONTINUAM A TER AULASNO HOSPITAL, O QUE EVITA PREJUÍZOS AO ANO LETIVOE ACELERA A RECUPERAÇÃO DA SAÚDE

Classe Hospitalardo Hospital das Clínicas

Área de implantação: Hospital das Clínicas daFaculdade de Medicina da Universidade de

São Paulo (campus Ribeirão Preto – SP)Instituição: Hospital das Clínicas da

Faculdade de Medicina da USPContato: Silvana Mariniello

Campus UniversitárioRibeirão Preto, SP – CEP: 14048-900

Telefone: (16) 602-2393 – Fax: (16) 633-1144

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

ciclo depremiação 2003

PROGRAMA SEGUEO CURRÍCULO ESCOLAR

parte do Ministério da Educação, apesar de ter encaminhado ao go-verno federal diversos projetos nesse sentido. Havia a descrença dosprofissionais da educação de que fosse possível desenvolver ativida-des pedagógicas para as crianças num ambiente hospitalar.

O regime de voluntariado apresentava desvan-tagens: as aulas não eram dadas com regularida-de, pois dependiam da boa vontade dos voluntári-os; e atendiam apenas as crianças que não passari-am por cirurgia. As professoras voluntárias não ti-nham conhecimento das rotinas operacionais e ad-ministrativas do Hospital e o acesso à criança eramuito mais restrito.

Sem o reconhecimento do Ministério da Educa-ção, a Classe Hospitalar não impedia que as escolasregistrassem as faltas dos alunos durante o período

de hospitalização. Com isso, o Programa não conseguia cumprir a prin-cipal finalidade para a qual fora criado: facilitar a ressocialização dascrianças na escola, evitando a repetência e a evasão escolar.

Em 1997, finalmente o Programa conseguiu o reconhecimento ofi-cial e passou a funcionar nos moldes atuais, com as professoras volun-tárias cedendo o lugar a pedagogas da rede estadual de ensino. Elasreceberam do Hospital cursos complementares sobre humanizaçãohospitalar, cuidados com pacientes e psicologia hospitalar.

Um convênio entre os Ministérios da Saúde e da Educação garan-te que as aulas da Classe Hospitalar sejam consideradas como parteintegrante do ano letivo. Para não prejudicar o aprendizado, aspedagogas seguem o currículo da escola de cada criança. O contatoentre as escolas e o Programa do Hospital das Clínicas é feito pelosfamiliares da criança hospitalizada.

Livros no freezerAssim, a criança sente a segurança trazida não apenas pelo acom-

panhamento da família, como também pela continuidade de sua roti-na escolar. Tal segurança lhe ajuda a enfrentar o período preparatóriopara a cirurgia e o pós-operatório, reduzindo a ansiedade e o medodecorrentes da enfermidade e da internação. Depois da cirurgia, a

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Históriasde um Brasilque funciona

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Classe Hospitalardo Hospital das Clínicas

CRIANÇAS NO LEITO TAMBÉMTÊM AULAS

criança recebe um “diploma de coragem”, numa tentativa de se re-produzir o ambiente externo ao hospital.

Mas as aulas não se destinam apenas às crianças internadas, be-neficiando também as que recebem tratamento durante o dia e de-pois voltam para casa. As pedagogas atendem principalmente crian-ças e adolescentes de seis a 14 anos, a partir do momento que este-jam nas dependências do Hospital.

Atualmente, há três classes em funcionamento, uma pela manhãe duas no período da tarde. As aulas são realizadas em salas específi-cas para essa finalidade e nos leitos, dependendoda mobilidade da criança. Coloridas e decoradascom desenhos, as salas são repletas de livros in-fantis, jogos educativos e brinquedos. Dispõemtambém de recursos audiovisuais, como televisãoe videocassete.

As aulas duram cinco horas, divididas em duasetapas. Nesse período, as pedagogas atendem si-multaneamente as crianças que estão nas salasda Classe Hospitalar e as que estão nos leitos, in-clusive os que se encontram isolados. No caso dosleitos isolados, porém, adotam-se alguns procedimentos adicionaispara se evitar a infecção hospitalar. Por esse mesmo motivo, depoisde utilizados os livros vão para um freezer: o congelamento elimina asbactérias e impede que infecções se espalhem por intermédio dosusuários do material didático.

Na primeira etapa da aula, a pedagoga percorre as salas e os lei-tos deixando uma tarefa ou exercício a ser feito pela criança. A segun-da parte é reservada para o recolhimento das tarefas e a avaliação dodesempenho de cada criança. Crianças que cumprem uma rotina deretornos periódicos ao hospital trazem de casa as lições a seremcorrigidas pelas pedagogas.

O braço da injeçãoMédicos e enfermeiras antecipam ou prorrogam as medicações e

os exames, a fim de não interromper as atividades escolares, numademonstração do comprometimento das equipes de saúde com o Pro-

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

ciclo depremiação 2003

SALAS SÃO COLORIDAS EDECORADAS COM DESENHOS

grama. Nem sempre foi assim: no início, havia a resistência de gran-de parte desses profissionais à idéia de se implantar no Hospital umambiente de aprendizagem para as crianças enfermas. Hoje existe,inclusive, o cuidado na escolha do braço onde será aplicada a inje-ção, para que as crianças possam continuar escrevendo.

É comum elas terem alta hospitalar e terminarem a fase de recu-peração em casa, mas sem que possam se locomover para a escola,

como no pós-operatório de cirurgias ortopédicas.Nesses casos, as pedagogas enviam à escola a so-licitação de um professor itinerante. Se a criançaainda não estiver matriculada na rede de ensino, oHospital providencia seu registro na Escola Esta-dual Prof. Dr. Aymar Baptista Prado, que mantémum vínculo com o Programa.

Em 2002, o Programa Classe Hospitalar atendeuquase 700 pacientes, incluindo adultos que solici-taram a alfabetização. Embora não existam estatís-ticas sobre o tempo médio de permanência das cri-

anças no Hospital, é possível perceber a redução do período dehospitalização. Com o Programa, elas voltam a ter auto-confiança ese recuperam mais rápido. Nas escolas, por outro lado, constata-seque a Classe Hospitalar diminuiu a evasão escolar dos alunos quepassaram por um período de internação.

A área de assistência social, responsável pelo Programa, agorabusca a criação de um espaço fora do Hospital para a recreação dascrianças, a implantação de mais uma Classe Hospitalar (na unidadede emergência) e a realização de um fórum entre as classes hospita-lares do Brasil. São projetos factíveis, considerando-se o apoio dadireção do Hospital das Clínicas ao Programa.

O reconhecimento da iniciativa cresceu ainda mais após umaexposição dos trabalhos dos alunos, realizada em 2002 na recep-ção do Hospital. O evento incluiu uma feira de ciências e chamoua atenção até da mídia local. Funcionários e médicos que aindanão conheciam o Programa, passaram a compreender seu signifi-cado. No âmbito externo, equipes de outros hospitais têm buscadoinformações e conselhos práticos para a implantação da experiên-cia em suas unidades.

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Bons negóciosna rede

Há alguns anos, Mauro Abreu de Camargo assumiu a proprieda-de de um açougue em Porto Alegre sem ter experiência no negócio.Ao procurar aprender com seus colegas do ramo, descobriu que to-dos enfrentavam sérias dificuldades: vendas e lucros definhavam,muitos estabelecimentos estavam prestes a fechar as portas e al-guns partiam para a comercialização de outros produtos, perdendosua identidade como casas de carnes. “Imagine uma situação des-sas aqui, na terra do churrasco!”, exclama o comerciante. Funcioná-rios trabalhavam bêbados e a falta de higiene era generalizada. “Exi-biam com orgulho o avental sujo de sangue, para mostrar que ti-nham trabalhado”, lembra Mauro.

Programa Redes de CooperaçãoÁrea de implantação: Rio Grande do Sul

Instituição: Secretaria do Desenvolvimentoe dos Assuntos Internacionais

Contato: Jorge Renato de Souza Verschoore FilhoAv. Borges De Medeiros, 1501 – 17º Andar

Porto Alegre, RS – CEP: 90119-900Telefone: (51) 3288-1075 – Fax: (51) 3228-6634

e-mail: [email protected]

GOVERNO GAÚCHO ESTIMULA MICROEMPRESÁRIOSA SE ORGANIZAREM PARA ENFRENTAR ACONCORRÊNCIA DAS GRANDES EMPRESAS

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

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Com a ajuda de um consultor contratado pelo governo gaúcho,Mauro e outros 10 donos de açougues de Porto Alegre criaram a mar-ca ChefCarnes. Os açougues da rede tornaram-se ambientes higiêni-cos, servindo inclusive como referência para a vigilância sanitária.Os funcionários agora trabalham uniformizados e são motivados pelocrescimento dos negócios. Campanhas promocionais atraem o pú-blico com a oferta de brindes, sorteios, degustação de vinhos e chur-rasco. A lucratividade aumentou porque os proprietários de açouguesnegociam coletivamente com os fornecedores, obtendo melhores pre-ços. “Buscamos carne até em Mato Grosso, para conseguir qualida-de e preço”, diz Mauro, o presidente da ChefCarnes.

Os problemas dos açougues da capital gaúcha não eram diferen-tes dos enfrentados por muitas micro e pequenas empresas do Bra-sil, um grupo do qual também fazem parte padarias, mercearias, ofi-cinas mecânicas, farmácias e uma infinidade de outros negócios cuja

presença na paisagem urbana é tãomarcante quanto na economia. Segundouma pesquisa do IBGE, as oportunidadesde trabalho nas micro e pequenas empre-sas (com receita bruta inferior a R$ 1,5 mi-lhão) de comércio e serviços no Brasil fo-ram responsáveis por 60,8% do total deempregos nestes setores em 2001, contra50,7%, em 1985. O número de pessoasocupadas passou de 3,4 milhões em 1985para 7,3 milhões em 2001 (9,7% da popu-lação ocupada).

No entanto, as micro e pequenas em-presas ainda enfrentam muitas dificulda-des para se manter no mercado e a mai-oria fecha as portas pouco depois de co-

meçarem a funcionar. Um levantamento realizado pelo Sebrae en-tre 1998 e 1999 em 12 estados constatou uma “mortalidade” de 55%a 73% das empresas com menos de três anos de funcionamento. Osprogramas de apoio aos micro e pequenos empresários não têmconseguido reduzir essa mortalidade.

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Históriasde um Brasilque funciona

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ProgramaRedes de Cooperação

Estratégia do governoImplementado em 2000 pelo governo do Rio Grande do Sul, o Pro-

grama Redes de Cooperação está ajudando as micro e pequenas em-presas não apenas a sobreviver, como também a se expandir e enfren-tar a concorrência dos grandes grupos econômicos. O Programa in-centiva os micro e pequenos empresários a formarem redes de coope-ração e a trabalharem unidos para negociar com os fornecedores, de-senvolver estratégias de marketing e conquistar novos mercados.

Grupos de pelo menos 10 micro e pequenos empresários de um mes-mo ramo de negócios fundam associações, trocam experiências e con-tribuem mensalmente para as des-pesas da rede, como a contrataçãode agências de publicidade e ainformatização das lojas. Os estabe-lecimentos comerciais que traba-lham em rede criam uma marca epassam a ter a mesma identidadevisual, como se fizessem parte deuma única grande empresa.

Cada grupo conta com o apoiode um consultor, aluno ou ex-alunode uma das universidades regionais parceiras do Programa. O con-sultor auxilia os micro e pequenos empresários a identificar os pon-tos fortes e fracos de sua atividade e a elaborar um planejamentoestratégico. Além disso, as universidades oferecem cursos de capaci-tação gerencial para os microempresários.

Tendo se iniciado em 2000, na gestão petista do então governadorOlívio Dutra, o Programa Redes de Cooperação prossegue no governode Germano Rigotto, do PMDB. Segundo Jorge Renato de Souza, coor-denador do Programa, a iniciativa pode se transformar numa estraté-gia do governo para impulsionar o desenvolvimento do Estado.

Até agosto de 2002, o Programa já havia formado cerca de 50 re-des, envolvendo aproximadamente 1500 micro e pequenas empresas,com faturamento mensal de R$ 20 mil a R$ 120 mil. Juntas, elas eramresponsáveis por 10 mil postos de trabalho e movimentavam cerca deR$ 500 milhões por ano. Além das redes formadas por empresas do

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

ciclo depremiação 2003

REDEMAC: LOJAS DEMATERIAIS DE CONSTRUÇÃO

varejo, existem as que reúnem micro e pequenas indústrias e as que sãointegradas por prestadoras de serviço ou por produtores rurais.

Primeiro emprego

Na região de Bento Gonçalves, 21 indústrias de móveis criaram a As-sociação dos Fabricantes de Estofados e Móveis Complementares (Afecom).Segundo o empresário Clainor Luís Scotton, presidente da entidade, a or-ganização em rede não apenas ajudou as empresas a implementar medi-das para melhorar a qualidade e a produtividade, como também foi funda-

mental para que elas chegassem ao mercado externo.“Minha empresa exportava apenas para a Argentina,porque os compradores vinham buscar nossos produ-tos”, conta o empresário. Hoje, o grupo exporta móveispara mercados como o México, o Panamá e principal-mente os Estados Unidos, onde há um show room comos produtos da Afecom em Miami.

Entre os setores que participam do Programa estãoos de padarias e confeitarias, farmácias, lavanderias,laboratórios de análises clínicas, papelarias, academi-as de ginástica, laticínios, lojas de autopeças e servi-

ços automotivos, floriculturas, produtores de frutas, apicultura, etc.A Redefort é composta por mais de 100 mercados distribuídos por

vários municípios gaúchos. Eles ganharam o acesso direto a algumasindústrias, o que lhes permite dispensar a intermediação dos atacadis-tas. Para facilitar as negociações, a rede dispõe de um software quecentraliza as informações sobre os pedidos feitos pelos associados esobre os preços oferecidos pelas indústrias. O trabalho em rede possi-bilitou ainda a informatização dos mercados e a criação de um cartãomagnético para os clientes, que ganham um limite pré-aprovado decompras para pagamento em até 30 dias. Na prática, o sistema organi-za e dá um status formal ao antigo “fiado”.

Alguns donos de mercados apontam uma elevação de 40% nofaturamento de suas lojas, o que lhes deu condições de competir atécom as grandes redes de hipermercados. Todos têm hoje mais empre-gados do que antes de ingressar na rede. “A maioria deles está no pri-meiro emprego”, conta o comerciante Leonel Bittencourt, que dobrouo número de funcionários da sua loja.

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Um celeirode cooperação

A região do Alto Uruguai Catarinense é a maior produtoraagropecuária do Estado de Santa Catarina, tendo suas atividades base-adas principalmente em suinocultura, avicultura e produção de leite.Dentre estas, a suinocultura destaca-se como a de maior importânciaeconômica, estando presente em mais de 70% das propriedades e im-pulsionando a industrialização. Graças aos setores de suínos e aves, aregião possui o maior complexo agroindustrial do Brasil.

É na base da economia local, portanto, que se encontra um dosmais sérios problemas ambientais e de saúde pública do Alto Uru-guai Catarinense: a poluição provocada pelos dejetos suínos. Tais re-síduos fazem com que a região, ocupada por 142 mil pessoas, tenha

Consórcio Intermunicipal de GestãoAmbiental Participativa do Alto Uruguai

Catarinense – Consórcio LambariÁrea de implantação: diversos municípios,

sede em Concórdia – SCInstituição: Consórcio Lambari

Contato: Cleinor Zózimo ZampieriRua Atalípio Magarinos, 277

Concórdia, SC – CEP: 89700-000Telefone: (49) 442-1034 – Fax: (49) 442-2722

e-mail: [email protected]

A UNIÃO DE 16 MUNICÍPIOS CATARINENSES PROMOVEA MELHORIA DO MEIO AMBIENTE COMAÇÕES INTEGRADAS E PARTICIPAÇÃO POPULAR

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

ciclo depremiação 2003

uma poluição equivalente à gerada por 5,5 milhões de habitantes.Mais de 90% das fontes superficiais de água tornaram-se imprópriaspara consumo humano

Um levantamento constatou que cerca de 80% das propriedadessuinícolas estão em desconformidade com a legislação ambiental esanitária. Entretanto, o custo de adequá-las às exigências da lei é tãoalto que inviabilizaria grande parte das propriedades.

Os problemas causados pelos dejetos suínos foram o principalmotivo para a fundação, em 2001, do Consórcio Lambari, formado por16 municípios. À exceção de Concórdia (64 mil habitantes) e Seara (16

mil habitantes), todos os demais pos-suem menos de 6 mil habitantes.

A iniciativa surgiu após um cur-so sobre “Planejamento AmbientalParticipativo em Nível de BaciasHidrográficas”, ministrado pelo pro-fessor chileno Pedro Hidalgo aosmembros da Associação dos Muni-cípios do Alto Uruguai Catarinense

(AMAUC), que congrega 15 dos municípios consorciados.O Consorcio nasceu com o objetivo de integrar a ação de seus mem-

bros no tocante às questões ambientais. Três problemas foram conside-rados prioritários: os lixões, o esgoto urbano e os dejetos suínos.

Bosque no lugar do lixãoOs municípios desativaram os lixões após a construção de quatro

aterros sanitários, que atendem todo o Consórcio e estão em confor-midade com as exigências para o licenciamento ambiental. Os mora-dores das proximidades dos antigos lixões foram consultados a res-peito da nova destinação dessas áreas. No caso do município de Con-córdia, por exemplo, a população optou pela criação de um bosquecom área de lazer.

Oito municípios implantaram a coleta seletiva, e nos demais suaimplantação está em andamento. As pessoas que viviam nos lixõesagora participam de projetos para a geração de trabalho e renda, comoo Projeto Colibri, em Concórdia. Nesse município, o Consórcio Lambari

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Históriasde um Brasilque funciona

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Consórcio Intermunicipal de GestãoAmbiental Participativo do Alto UruguaiCatarinense – Consórcio Lambari

Em Concórdia, o Consórcio Lambariinstalou uma cooperativa de reciclagemequipada até com salas de aula

instalou uma cooperativa de reciclagem equipada até com salas deaula. Os membros da cooperativa têm acesso à alfabetização, ao ensi-no fundamental e a atividades artísticas e manuais.

O Projeto providenciou documentação para os cooperados e seusfamiliares, além de assistência médica e odontológica gratuita, cincomoradias de alvenaria destinadas às famílias que viviam em barracosno lixão e uma creche para as crianças que antes passavam o dia tra-balhando no local com seus pais.

Também faz parte do Projeto uma fábrica de vassouras de palha, quepossibilita uma segunda alternativa de renda aos membros da cooperati-va, além da obtida com a venda dos materiais recicláveis.

Outra questão eleita como prioritária pelo Consórcio é a reduçãodo impacto ambiental provocado pelo esgoto urbano. Mas a constru-ção de Estações de Tratamento de Esgoto está entre os objetivos demédio e longo prazos, devido ao custo elevado. Por enquanto, o quese pretende é a conscientização das comunidades sobre a questão doesgoto, encorajando cada bairro, escola, clube, etc., a pelo menos eli-minar os esgotos a céu aberto e construir sumidouros.

No que se refere aos dejetos suínos, o Consórcio Lambari acatouuma proposta do Ministério Público Estadual e está coordenando a ela-boração do Termo de Compromisso de Ajustamento de Condutas (TAC)da Atividade Suinícola, envolvendo todos os atores ligados à cadeiaprodutiva (suinocultores, agroindústrias, municípios, órgãos ambientaise governo do Estado, empre-sas de pesquisa, Instituiçõesde ensino e ONGs).

O assunto é complexodevido ao grande número deatores envolvidos e ao eleva-do volume de investimentos (estimados em R$ 12 milhões) necessáriosà adequação das propriedades. Como nenhum dos atores pode se res-ponsabilizar isoladamente por esses investimentos, o Consórcio exer-ce um papel aglutinador, reunindo os interessados ao redor da mesa denegociações. A primeira etapa para a efetivação do Termo já foi conclu-ída: o levantamento das propriedades e instalações utilizadas na pro-dução de carne suína. Atualmente, executam-se programas de educa-ção ambiental voltados à problemática dos dejetos suínos.

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

ciclo depremiação 2003

O Consórcio tem levado as pessoasa refletir sobre a situação ambiental

de seu entorno, incentivando-as atomar parte na busca de soluções

Envolvimento da comunidadeAlem de enfrentar essas questões consideradas prioritárias, o Con-

sórcio Lambari pretende colocar em prática os princípios de umaAgenda 21 regional, já implantada em quatro dos municípios e com aimplantação em andamento pelas demais prefeituras.

O Consórcio também quer extrair benefícios de sua participaçãono Comitê da Bacia do Rio Jacutinga e seus Contíguos, cuja criaçãofoi recentemente aprovada pelo Conselho Estadual de RecursosHídricos. Uma das grandes expectativas em relação ao Comitê é queos municípios comecem a receber a compensação financeira pagapela Tractbel Energia, empresa responsável pela administração de duashidrelétricas na região. O dinheiro será aplicado na recuperação dasbacias hidrográficas do Alto Uruguai Catarinense.

Mais recursos poderiam vir de um possível acordo para que asgrandes agroindústrias patrocinem parte dos investimentos neces-sários à adequação das propriedades suinícolas.

Enquanto esses recursos não chegam, o Consórcio financia suasatividades de rotina com uma contribuição mensal de R$ 8 mil de

cada município. Alguns projetossão bancados conjuntamentepelo Consórcio, pelos municípi-os e por alguns parceiros, comoas agroindústrias instaladas naregião. Ao mesmo tempo, cada

município se responsabiliza pela manutenção de seus “Grupos de Tra-balho Municipais” e de seus projetos específicos.

Um papel fundamental cabe à Associação dos Municípios do AltoUruguai Catarinense (AMAUC), que fornece as instalações e os fun-cionários administrativos do Consórcio Lambari.

O sucesso da iniciativa, porém, está fortemente ligado aoenvolvimento da comunidade regional, que participa de quase todas asetapas do trabalho. Dessa forma, o Consórcio tem levado as pessoas arefletir sobre a situação ambiental de seu entorno, incentivando-as a to-mar parte na busca de soluções para os problemas observados.

Cada município tem a sua própria estratégia para envolver a soci-edade civil, mas em todos o resultado é um profundo senso de res-ponsabilidade, participação e cooperação.

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A memóriaem boas mãos

Situado na Região Metropolitana de São Paulo, às margens dorio Tietê, o município de Santana de Parnaíba ainda preserva muitasconstruções de quando era ponto de partida dos bandeirantes quedesbravaram o sertão. Suas ruas abrigam 209 edificações construídasem taipa entre os séculos XVII e XIX, incluindo o único exemplarrestante de casa bandeirista urbana, onde atualmente funciona ummuseu. O conjunto arquitetônico foi tombado pelo Condephaat, ór-gão estadual de defesa do patrimônio histórico.

Com 85 mil habitantes e uma renda per capita de R$ 762,05, Santanade Parnaíba apresenta, entre os municípios paulistas, o sétimo maior

Projeto Oficina-Escola de Artes e OfíciosÁrea de implantação: Santana de Parnaíba – SP

Instituição: Secretaria Municipal de Cultura e TurismoContato: Oswaldo Luiz Oliveira Borelli

Largo da Matriz, 19Santana de Parnaíba, SP – CEP: 06501-005

Telefone: (11) 4154-5042 – Fax: (11) 4154-2377e-mail: [email protected]

SANTANA DE PARNAÍBA OFERECE UMA PERSPECTIVAPARA OS JOVENS DE BAIXA RENDA ENSINANDO-LHES ARESTAURAR CONSTRUÇÕES HISTÓRICAS

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

CONJUNTO ARQUITETÔNICOFOI TOMBADO

Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) e o 25º doBrasil. Apesar desses indicadores favoráveis, o município registratambém as condições de pobreza que marcam a Região Metropolita-na: quase 10% de sua população vive em cerca de 2 mil barracos espa-lhados por 31 favelas na periferia da cidade.

Até recentemente, a exclusão social de tais moradores juntava-se a outro grave problema: o descaso em relação ao patrimônioarquitetônico, que sofria pichações e aos poucos se deteriorava com

a ação do tempo. Para a população, morar numacidade histórica não chegava a ser motivo de or-gulho, mas uma dor de cabeça, devido à dificul-dade de se cumprirem as exigências quanto à re-forma dos imóveis tombados.

A fim de recuperar as construções históricase ao mesmo tempo oferecer uma perspectiva aosjovens das famílias de baixa renda, a prefeiturade Santana de Parnaíba criou, em 1999, o ProjetoOficina-Escola de Artes e Ofícios.

Graças ao Projeto, jovens entre 16 e 21 anos re-cebem formação profissional na área da construção civil, aprendendoa restaurar e conservar o patrimônio cultural. Os alunos ganham cer-tificados emitidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial(Senai) e pela Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg).

A iniciativa surgiu de uma viagem do vereador e atual Secretáriode Cultura e Turismo de Santana de Parnaíba, Osvaldo Borelli, àscidades históricas de Minas Gerais. Borelli buscava um modelo depolítica para a recuperação e preservação do centro histórico deSantana de Parnaíba e conheceu o Projeto Oficina-Escola, da Secre-taria de Turismo e Cultura de Ouro Preto.

A experiência mineira funcionava desde 1997, tendo se origina-do de uma proposta dos restauradores Turinã Inácio e Júlio CésarBarros, que pretendiam divulgar e popularizar o trabalho de restau-ração, além de criar uma alternativa de formação para adolescentesem situação de risco. Após um convênio com a prefeitura de OuroPreto, o município de Santana de Parnaíba implantou o Projeto, como ambicioso objetivo inicial de restaurar as 209 fachadas do centrohistórico da cidade, tarefa realizada em oito meses.

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Históriasde um Brasilque funciona

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ProjetoOficina-Escolade Artese Ofícios

ALUNOS RECEBEM BOLSAE OUTROS BENEFÍCIOS

Teoria e prática

Turinã Inácio deixou a cidade de Ouro Preto para coordenar aOficina-Escola de Santana de Parnaíba. “O município absorveu oProjeto com tanto carinho, que o implantou como prioridade”, afir-ma o restaurador.

Até julho de 2003, a iniciativa havia atendido 103 jovens, sele-cionados entre os mais de 600 que compõem a lista de espera. AOficina-Escola prioriza os candidatos mais velhos e de mais bai-xa renda. Dois membros da equipe técnica visitam a residênciado candidato para avaliar sua condição socioeconômica. Evita-se, também, a participação de membros do mesmo núcleo fami-liar, de modo a estender a oportunidade ao maior número possí-vel de famílias.

Ao ser admitido, o aluno cumpre uma série de procedimen-tos, dentre os quais uma prova de português e matemática, pormeio da qual a equipe de coordenação pedagógi-ca avalia suas potencialidades e dificuldades.Caso não esteja estudando, o jovem é encaminha-do a uma escola, tendo seu desempenho acom-panhado também pela coordenação pedagógica.Além disso, ele passa por exames médicos, inclu-indo uma consulta psicológica.

Com duração diária de quatro horas (de manhãou à tarde), as aulas têm um conteúdo teórico e umaparte prática, oferecida nos imóveis a serem res-taurados. As características originais dos imóveissão resgatadas por meio de pesquisa histórica, documental e foto-gráfica e pelos depoimentos de membros da comunidade.

Os alunos recebem bolsa-incentivo, vale-transporte e duas re-feições diárias. Periodicamente assistem a palestras sobre drogas,doenças sexualmente transmissíveis, dicas de segurança (ministra-das pelo Corpo de Bombeiros) e relacionamento humano e familiar,entre outros assuntos. Um conselho discente, eleito pelos própriosalunos, ouve suas sugestões e promove a comunicação entre os jo-vens e a equipe técnica, além de visitar periodicamente as famíliase as escolas.

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

IMÓVEIS RECUPERAMCARACTERÍSTICAS ORIGINAIS

Referência nacional

Santana de Parnaíba pode ser considerada hoje um centro dereferência nacional em restauração e preservação de bens históri-cos, distinção outrora pertencente a Ouro Preto. O município trans-mite para outras localidades do país os conhecimentos técnicos ne-cessários ao restauro do patrimônio histórico e à formação profissio-nal, nessa área, de jovens em risco psicossocial. Até o momento, fo-

ram firmados convênios com oito municípios brasi-leiros, com o governo do Estado de São Paulo e comuma fundação de Jundiaí (SP).

O Projeto também estabeleceu convênios comquatro entidades portuguesas para oferecer estági-os em Portugal aos mestres e alunos, possibilitan-do-lhes aperfeiçoar as técnicas de restauro, princi-palmente da taipa. A Oficina-Escola conta ainda como apoio da Fundação Kellogg, do Instituto IBI (liga-do à Fundação C&A) e da Construtora Tamboré S.A.No âmbito da administração municipal, existe uma

colaboração intersetorial entre algumas secretarias, visando a umaabordagem integral no atendimento ao aluno. Em 2003, o Projeto con-seguiu uma parceria com o Sebrae e o Instituto IBI para aimplementação de uma cooperativa, que deve promover a inserçãodos alunos no mercado de trabalho.

“Hoje um morador tem muito mais consciência do que é uma casatombada pelo órgão publico”, conta Douglas Moraes, que está no Pro-jeto desde o início e exerce atualmente a função de contra-mestre.Antes, os moradores dificilmente conseguiam a aprovação doCondephaat para reformar suas residências. Agora, o arquiteto da Ofi-cina-Escola fica à disposição dos moradores para propor uma soluçãoque esteja em conformidade com as normas, respeitando as caracte-rística originais do imóvel e utilizando o material adequado. A Oficina-Escola fornece ainda a mão-de-obra para a execução da reforma. Sãojovens que readquiriram a confiança no futuro e o sentimento de que acidade, mais colorida e mais bonita, também lhes pertence. “Nós recu-peramos o objeto e o indivíduo”, diz Turinã Inácio.

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Computadornão é luxo

Como uma prefeitura em situação de penúria financeira, numacidade de dimensões gigantescas, pressionada por diversas carênci-as da população pobre, poderia enfrentar também o problema da ex-clusão digital? Há dois anos, a Prefeitura de São Paulo se propôs aresponder essa questão.

A falta de acesso ao computador e à Internet não é apenas umaspecto da exclusão social, mas também um dos fatores que aumen-tam ainda mais a distância entre ricos e pobres. Numa metrópolecomo São Paulo, o problema torna-se critico por questões de escala:são milhões de pessoas excluídas, muitas das quais sequer perce-bem o obstáculo que isso representa para o seu direito à cultura, ao

COM OS TELECENTROS COMUNITÁRIOS, A PREFEITURALEVA INFORMÁTICA E ACESSO À INTERNET PARA ASREGIÕES MAIS POBRES DE SÃO PAULO

Telecentro – Plano deInclusão Digital e Cidadania

Área de implantação: São Paulo – SPInstituição: Coordenadoria do Governo Eletrônico

Contato: Beatriz de Castro Bicudo TibiriçáParque do Ibirapuera - Pavilhão Eng. Armando de Arruda Pereira

São Paulo, SP – CEP: 04094-900Telefone: (11) 5080-9507 – Fax:(11) 5080-9633

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

TELECENTRO: SOFTWARE LIVREE CURSOS GRATUITOS

trabalho, à educação, à informação... enfim, à própria cidadania.A solução encontrada pela prefeitura paulistana combina partici-

pação popular, parcerias com empresas e organizações da sociedadee utilização de software livre (que pode ser distribuído e alterado semo pagamento de licenças e não requer equipamentos sofisticados).

Com essa combinação, a prefeitura criou em 2001 umapolítica de inclusão digital baseada na implantaçãode telecentros comunitários nas regiões com menorÍndice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Em agosto de 2003, a capital paulista contava com61 telecentros, somando mais de 183 mil usuários ca-dastrados. A meta era chegar a 107 unidades até ofinal do ano e a 128 unidades em 2004. Entre 2001 e2002, mais de 23 mil cidadãos haviam concluído ocurso de informática básica.

Cada telecentro dispõe de 20 computadores, quefuncionam em rede. Em geral, 15 desses equipamentos são reserva-dos aos cursos de informática e os restantes ao uso livre. Nestes, ousuário tem direito a períodos de utilização entre 30 e 45 minutos,podendo, entre outras aplicações, fazer pesquisas escolares, elabo-rar currículo, navegar na Internet, receber e enviar mensagens pelocorreio eletrônico e até jogar. Os critérios de utilização variam umpouco de um telecentro para outro, mas todos os serviços são gratui-tos, inclusive a impressão dos arquivos.

Os monitores que ministram as aulas e orientam os usuários sãocontratados pela organização não-governamental Rede de Informa-ções do Terceiro Setor (RITS) e recebem um treinamento especialmenteconcebido para o Programa. Em geral, são moradores das própriasregiões onde se localizam as unidades.

Uma opção barataAlguns telecentros funcionam dentro de entidades sem fins lu-

crativos, que firmaram convênio com a Prefeitura. As entidades ce-dem o espaço e recebem uma verba mensal de R$ 1.100 para a manu-tenção do telecentro, ficando responsável por sua gestão. Além deinstalar os equipamentos, a Prefeitura fornece os monitores (por meiode convênio com a RITS), que são indicados pela própria entidade.

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Há também telecentros instalados em Centros Educacionais Unifica-dos (CEUs), escolas municipais de grande porte que oferecem umasérie de serviços complementares às aulas.

Os telecentros administrados diretamente pela Prefeitura têm con-selhos gestores eleitos entre membros da comunidade, usuários e fun-cionários. A coordenação do Programa pretende implantar conselhostambém nas unidades conveniadas. Compostos geralmente por sete anove membros, os conselhos têm um representante dos funcionáriose um da subprefeitura. Os representantes populares muitas vezes sãotambém conselheiros do Orçamento Participativo e de conselhossetoriais. Além de se definirem as normas de funcionamento dostelecentros, os conselhos gestores também têm papel fiscalizador, apon-tando deficiências e reivindicando a solução de problemas.

O Programa é gerido pela Coordenadoria do Governo Eletrônico(CGE), da Secretaria de Comunicação e Informação Social. A gestãoenvolve ainda equipes específicas para manutenção e suporte; capaci-tação de monitores; distribuição dos software, fornecimento de mate-riais e infra-estrutura. Existem dez supervisores regionais, que visitamos telecentros e fazem con-tato com as subprefeiturase com outros órgãos muni-cipais da região. Há tam-bém equipes regionais desuporte e manutenção e,além dos monitores, cadatelecentro conta com agen-tes técnicos.

O uso do software livrepermitiu que os telecentrosfossem implantados commáquinas de especificação mais simples, portanto mais baratas. Redu-ziu expressivamente o custo de gestão de rede e os custos de manuten-ção. Os responsáveis pela iniciativa estimam que conseguiram econo-mizar R$ 1 milhão em equipamentos e R$ 14 milhões em licenças.

Para viabilizar essa opção tecnológica, a Prefeitura investiu emprodução de conhecimento. Uma pequena equipe desenvolveu asferramentas de conexão em rede, utilizando software livre como base.Ao invés de gastar com as licenças de uso dos programas, a Prefeitu-

Telecentro -Plano de InclusãoDigitale Cidadania

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ProgramaGestão Públicae Cidadania

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Existe um telecentro especializadoem atendimento de pessoas

portadoras de deficiências e outropara os moradores de rua

ra agora conta com sua própria versão do GNU/Linux e está em con-dições de distribuí-la gratuitamente para outras prefeituras e iniciati-vas de inclusão digital.

Revitalização na periferiaO custo de instalação de um telecentro, com a reforma do edifí-

cio público, é de cerca de R$ 105 mil, chegando a R$ 226 mil se oedifício tiver de ser construído. As instalações (equipamentos, mo-biliário, comunicação visual e cabeamento) somam R$ 44 mil. Oscustos de operação totalizam cerca de R$ 5.000 por mês, reduzindo-se a R$ 1.100 para os telecentros conveniados.

Parte considerável do investimento foi obtido por meio de parceriascom empresas. A Telefonica doou equipamentos e mobiliário dos pri-meiros 19 telecentros; a Telesp Celular (Vivo) doou três telecentros, in-cluindo a construção; a Comgás doou mais cinco telecentros, tambémcompletos; a Editora Conrad doou equipamentos para montagem de bi-blioteca e sala de vídeo de um telecentro; o provedor de internet IG doou300 mil contas de e-mail gratuito e a SOS Computadores doou o treina-

mento em GNU/Linux para osfuncionários da Coordenadoriado Governo Eletrônico.

No interior da administra-ção municipal, as subprefeitu-ras promovem a articulação en-

tre os moradores de cada região. A companhia de habitação do mu-nicípio (COHAB) cedeu espaços e reformou 16 unidades. A Secreta-ria da Educação e a Secretaria de Assistência Social estão implan-tando telecentros em espaços sob sua responsabilidade.

Existe um telecentro especializado em atendimento de pessoas por-tadoras de deficiências, operado em convênio com uma associação. Umoutro destina-se aos moradores de rua, funcionando 24 horas por dia

O Programa impulsionou a revitalização de áreas públicas degra-dadas na periferia da cidade, especialmente em conjuntoshabitacionais. A instalação do telecentro significou a presença da Guar-da Civil Municipal, a reforma de instalações abandonadas (algumasserviam ao tráfico de drogas), a chegada de outros serviços públicos ea criação de novos espaços de sociabilidade e encontro.

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Peter Spink (Diretor)Marta Ferreira Santos Farah (Vice-diretora)Fernando Guilherme Tenório eRicardo Bresler (CoordenadoresAcadêmicos)

Daniela Paschoal SanchesFabiana Paschoal Sanches de MouraFernanda Martinez de OliveiraHélio Batista BarbozaIlka CamarottiJacqueline Isaac Machado BrigadãoLília Asuca SumiyaMarco Antonio Carvalho TeixeiraMarlei de OliveiraNathalie PerretPaula Maciel PedrotiVerena Pinto

Comitê TécnicoAgende - Ações em Gênero Cidadaniae DesenvolvimentoMarlene Libardoni

Banco Nacional de DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES)Marta Prochnik e Isis Pagy

Coordenação das Organizações Indígenasda Amazônia Brasileira (COIAB)Paulo Pankararu

Escola de Governo / Fundação João PinheiroLaura da Veiga

Fundação FordElizabeth Leeds

Geledes - Instituto da Mulher NegraSueli Carneiro

Instituto Socioambiental (ISA)Beto Ricardo

Núcleo de Altos Estudos Amazônicos(NAEA / UFPA)Edna M. Ramos de Castro

Núcleo de Estudos da Violência - USPNancy Cardia

Pólis - Instituto de Estudos, Formaçãoe Assessoria em Políticas SociaisSilvio Caccia Bava

Programa de Pós-Graduação emCiência Ambiental da Universidade deSão Paulo (Procam-USP) /Faculdade de Educação - USPPedro Jacobi

Universidade Federal da Bahia /Núcleo de Pós-Graduação emAdministração (NPGA/EA - UFBA)José Antonio Gomes de Pinho

Universidade Federal da Paraíba/Programa de Pós-Graduação emAdministração (PPGA/ UFPB)Humberto Marques Filho

Universidade Federal do Rio Grande do Sul /Programa de Pós-Graduaçãoem Administração (PPGA/ UFRS)Luis Roque Klering

Universidade Federal Fluminense/ Viva RioFranklin Coelho

Equipe do ProgramaGestão Pública e Cidadania

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Visitas de CampoBenvinda - Centro de Apoio à MulherFernanda Martinez de Oliveira eGabriela Spanghero Lotta

Programa Paidéia de Saúde da FamíliaEduardo de Lima Caldas eEstevão Passos Eller

Sistema de Ouvidoria em SaúdePública do EstadoAlexandre Schneider

Desenvolvimento Sustentável da Mariculturado Município de FlorianópolisAdriana Mariano e Melody Porsse

Humanização da Pena Privativade LiberdadeMaria do Carmo Meirelles Toledo Cruz

Programa de Manejo Agroambientalem Microbacias do Rio JiquiriçáAntônio José Faria da Costa

Programa Campos Naturais PlanaltoSerrano CatarinenseFernando Monteiro e Diego Pedalino

Projeto de Pesquisa, Prevenção eIntervenção sobre o Uso de BebidasAlcoólicas e Alcoolismo entre osKaingáng da T. I. ApucaraninhaSílvia Salgado e Rafael D’Almeida Martins

Soro, Raízes e RezasVerônika Paulics e Pedro Paulo Piani

Biblioteca ItineranteLília Asuca Sumya

Projeto de Formação de Professoresdo Parque Indígena XinguSílvia Craveiro

Programa Democratizando o Conhecimentosobre as Contas PúblicasMarco Antonio Carvalho Teixeira eFernanda Teles De Lima

Unidade Habitacional Acessível a PessoasPortadoras de Deficiência em Loteamentosde Habitação de Interesse SocialGuilherme Henrique de Paula e Silva

Justiça Cidadã - Descentralizando aAssistência Judiciária MunicipalCristina Neme

Programa de Saúde Ambiental (PSA)Drew Nelson

Classe Hospitalar do Hospital das ClínicasFernanda Teles de Lima e Kristin Lion

Programa Redes de CooperaçãoHélio Batista Barboza

Consórcio LambariMaria Castellano e Carlos Kraemer

Oficina-Escola de Artes e OfíciosPaula Maciel Pedroti e Nathalie Perret Gentil

Telecentro - Plano de InclusãoDigital e CidadaniaJosé Carlos Vaz e Fernando Coelho

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Cadernos Gestão Públicae Cidadania

Volume 1: A Administração Pública BrasileiraInovando a Forma de Governar:apresentação dos 629 programas inscritosno Ciclo de Premiação 1996 – RicardoErnesto Vasquez Beltrão (org.), 1997.

Volume 2: Criação do Capital Social: o casoda Asmare – Pedro Jacobi e Marco AntonioCarvalho Teixeira, 1997.

Volume 3: Desafio e Inovação em PolíticasPúblicas: programas para crianças eadolescentes em situação de risco –Laura Veiga, Bruno Lazarotti Diniz Costa eCarla Bronzo Ladeira Carneiro, 1997.

Volume 4: Governo Local e Novas Formas deProvisão e Gestão de Serviços Públicos noBrasil – Marta Ferreira Santos Farah, 1997.

Volume 5: Gestão Pública em Busca deCidadania: experiências de inovação emSalvador – José Antônio Gomes de Pinho,Mercejane Santana e Sonia Cerqueira, 1997.

Volume 6: Estudo Comparativo de ResultadosAlcançados por Programas na Área de Saúde– Humberto Marques Filho, 1997.

Volume 7: Gestão Pública e Cidadania:metodologias participativas em ação –Fernando Guilherme Tenório e Jacob E.Rozenberg, 1997

Volume 8: A Administração PúblicaBrasileira Inovando a Forma de Governar:apresentação dos 297 programas inscritosno Ciclo de Premiação 1997 – RicardoErnesto Vasquez Beltrão (org.), 1997.

Volume 9: Avaliação da Importância deAtributos de Projetos de DesenvolvimentoInovadores – Luis Roque Klering, RobertoCosta Fachin e Zilá Mesquita, 1997.

Volume 10: Relatório sobre as ExperiênciasSemifinalistas do Programa Gestão Pública

e Cidadania - Ciclo de Premiação 1997 –Fernando Guilherme Tenório eAugusto P. G. Cunha, 1997.

Volume 11: PROVE: uma experiência deimplantação de microempresasagroindustriais – Humberto Marques Filho eDilma Maria Guedes, 1998.

Volume 12: A Administração PúblicaBrasileira Inovando a Forma de Governar:apresentação dos 631 programas inscritos noCiclo de Premiação 1998 – Ricardo ErnestoVasquez Beltrão, Carlos Eduardo EvangelistiMauro e Patrícia Laczynski (org.), 1999.

Volume 13: Programas para Crianças eAdolescentes em Situação de Risco: acomplexidade do objeto e a dimensãoinstitucional – Bruno Lazarotti Diniz Costa,Carla Bronzo Ladeira Carneiro e CarlosAurélio Pimenta de Faria, 1999.

Volume 14: Uma Releitura dos ProgramasSelecionados nos Ciclos de Premiaçãode 1996 e 1997 – Humberto Marques Filho eAndré Luiz Felisberto, 1999.

Volume 15: A Sociedade é Protagonistana Relação com o Estado? –Fernando Guilherme Tenório e GylcileneRibeiro Storino, 2000.

Volume 16: A Administração PúblicaBrasileira Inovando a Forma de Governar:apresentação dos 888 programasinscritos no Ciclo de Premiação 1999 –Patrícia Laczinski, Sabrina AddisonBaracchini e Ricardo Ernesto VasquezBeltrão (org.), 2000.

Volume 17: The Rights Approach toSubnational Government: the experience ofthe public management and citizenshipprogram – Peter Spink, 2000.

Volume 18: Parcerias, Novos ArranjosInstitucionais e Políticas Públicas Locais –Marta Ferreira Santos Farah, 2000.

Volume 19: A Administração PúblicaBrasileira Inovando a Forma de Governar:

Publicações

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no nível municipal um estudo de caso:o programa de fortalecimento financeiro doMunicípio de Vitória da Conquista – FernandaTelles de Lima e Sílvia Craveiro, 2003.

Volume 30: Análise dos Projetos daÁrea Legislativa inscritos no ProgramaGestão Pública e Cidadania – FernandoMachado, 2003.

Volume 31: Mitos e Realidades sobre aInclusão Social: Participação Cidadã eDesenvolvimento Local – Silvio Caccia Bava,2003.

Volume 32: Innovations in Government fromaround the World – Peter Spink e JacquelineBrigagão, 2003.

Volume 33: A Administração PúblicaBrasileira Inovando a Forma de Governar:apresentação dos 1156 programas inscritosno Ciclo de Premiação 2003 – Peter Spink,Lília Asuca Sumiya, Marco Antônio CarvalhoTeixeira e Paula Maciel Pedroti (orgs.), 2003.

Outras publicações

20 Experiências de Gestão Pública eCidadania. SPINK, Peter e CLEMENTE,Roberta (org.). Estudo das 20 experiênciasfinalistas do ciclo de premiação 1996.

20 Experiências de Gestão Pública eCidadania. FUJIWARA, Luis Mario, ALESSIO,Nelson Luiz Nouvel e FARAH, Marta FerreiraSantos (org.). Estudo das 20 experiênciasfinalistas do ciclo de premiação 1997.

20 Experiências de Gestão Pública eCidadania - 1998. FUJIWARA, Luis Mario,ALESSIO, Nelson Luiz Nouvel e FARAH,Marta Ferreira Santos (org.). Estudo das 20experiências finalistas do ciclo de premiação1998.

Novas Experiências de Gestão Pública eCidadania. FARAH, Marta Ferreira Santos eBARBOZA, Hélio Batista (orgs.). Estudo das20 experiências finalistas do ciclo depremiação 1999.

apresentação dos 946 programas inscritosno Ciclo de Premiação 2000 – Marta FerreiraSantos Farah, Patrícia Laczynski, PauloJábali Júnior e Odélio Rodarte Arouca Filho(orgs.), 2000.

Volume 20: O Governo Municipal no Brasil:construindo uma nova agenda política nadécada de 90 – José Antônio Gomes dePinho e Mercejane Wanderley Santana, 2000.

Volume 21: A Administração PúblicaBrasileira Inovando a Forma de Governar:apresentação dos 727 programas inscritosno Ciclo de Premiação 2001 – Peter Spink,Patrícia Laczynski e Francine Lemos Arouca(orgs.), 2002.

Volume 22: A Administração PúblicaBrasileira Inovando a Forma de Governar:apresentação dos 981 programas inscritosno Ciclo de Premiação 2002 – Peter Spink,Francine Lemos Arouca e Marco AntônioCarvalho Teixeira (orgs.), 2003.

Volume 23: Informação, transparênciae cidadania - o controle da execuçãoorçamentária pelo cidadão –Peter Spink, 2003

Volume 24: Projeto Saúde e Alegria: umensaio crítico – Mônica Mazzer Barroso, 2003.

Volume 25: The Brazilian PublicManagement and Citizenship Program: anOverview – Marta Farah e Peter Spink, 2003.

Volume 26: Estudo da Continuidade dosProjetos Educacionais do Município de Icapuí– Gabriela Lotta e Rafael Martins, 2003.

Volume 27: Análise da atuação institucionaldo Poder Judiciário e de agentes afins –Daniel Strauss, 2003.

Volume 28: Exclusão social e políticaspúblicas:algumas reflexões a partir dasexperiências descritas no Programa GestãoPública e Cidadania – Carla Bronzo LadeiraCarneiro e Bruno Lazarotti Diniz Costa, 2003.

Volume 29: Tributação e política fiscal

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20 Experiências de Gestão Pública eCidadania – Ciclo de Premiação 2000.FARAH, Marta Ferreira Santos e BARBOZA,Hélio Batista (orgs.). Estudo das20 experiências finalistas do ciclo depremiação 2000.

20 Experiências de Gestão Pública eCidadania – Ciclo de Premiação 2001.SPINK, PETER e BARBOZA, Hélio Batista(orgs.). Estudo das 20 experiências finalistasdo ciclo de premiação 2001.

20 Experiências de Gestão Pública eCidadania – Ciclo de Premiação 2002. LOTTA,Gabriela Spanghero; BARBOZA, HélioBatista; TEIXEIRA, Marco Antonio e PINTO,Verena (orgs.). Estudo das 20 experiênciasfinalistas do ciclo de premiação 2002.

Descobrindo o Brasil Cidadão – 1999.FARAH, Marta Ferreira Santos, SOARES,Ana Paula Macedo, BARBOZA, Hélio BatistaBarboza e FUJIWARA, Luis Mário. Descriçãodas 20 experiências finalistas do ciclo depremiação 1999.

Histórias de um Brasil que Funciona.FARAH, Marta Ferreira Santos, BARBOZA,Hélio Batista Barboza e FUJIWARA, LuísMário. Descrição das 20 experiênciasfinalistas do ciclo de premiação 2000.

Histórias de um Brasil que Funciona - 2001.SPINK, Peter e BARBOZA, Hélio BatistaBarboza. Descrição das 20 experiênciasfinalistas do ciclo de premiação 2001.

Histórias de um Brasil que Funciona - 2002.SPINK, Peter e BARBOZA, Hélio BatistaBarboza. Descrição das 20 experiênciasfinalistas do ciclo de premiação 2002.

Publicações PráticasPúblicas e Pobreza

Estratégias Locais para Redução da Pobreza:Construindo a Cidadania. CAMAROTTI, Ilkae SPINK, Peter (orgs.). Relatório final dociclo de oficinas realizados em 1998 e 1999pelo subprojeto Práticas Públicas e Pobreza.

Parcerias e Pobreza: Soluções Locais naConstrução de Relações Socioeconômicas.CAMAROTTI, Ilka e SPINK, Peter (orgs).Estudo de 5 entre as 10 experiênciasescolhidas em 1999 pelo subprojeto PráticasPúblicas e Pobreza.

Parcerias e Pobreza: Soluções Locais naImplementação de Políticas Sociais.CAMAROTTI, Ilka e SPINK, Peter (orgs.).Estudo de 5 entre as 10 experiênciasescolhidas em 1999 pelo subprojeto PráticasPúblicas e Pobreza.

Redução da Pobreza e Dinâmicas Locais.CAMAROTTI, Ilka e SPINK, Peter (orgs).Estudo de 10 experiências escolhidas em 2000pelo subprojeto Práticas Públicas e Pobreza.

Estratégias Locais para Redução da Pobreza:Construindo a Cidadania. CAMAROTTI, Ilkae SPINK, Peter (orgs.). Apresentação deexperiências e debates do ciclo de oficinasrealizado em 1998 e 1999 pelo ProjetoPráticas Públicas e Pobreza. 2º Edição, 2003.

O que as empresas podem fazer pelaerradicação da pobreza. CAMAROTTI, Ilka eSPINK, Peter (orgs.). Análise do conceito depobreza, dados numéricos sobre a situaçãobrasileira e propostas de como erradicá-la.Realizado em parceria com o Instituto Ethosde Responsabilidade Social Empresarial.

Governo local e desigualdades de gênero.CAMAROTTI, Ilka e SPINK, Peter (orgs.).Reúne experiências apresentadas no fórumde discussão Governo Local e Desigualdadesde Gênero, realizado nos dias 10 e 11 dejunho de 2002, em São Paulo. EditoraAnnablume. Edição bilíngüe (português eespanhol).

Vídeos

Novos Caminhos para uma Gestão Públicacom Cidadania. (1998) Apresenta o Programae estuda as tendências de inovaçãoobservadas nos governos subnacionaisatravés de diversos exemplos de experiênciasdos ciclos de premiação de 1996 e 1997.

Publicações

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Série Brava Gente Brasileira (1999).Panorama de programas em diferentes áreastemáticas, produzido pela TV Futura.

Apresentando o Programa Gestão Pública eCidadania. (2001) Apresentação geral doPrograma e seus objetivos.

Finalistas do Ciclo de 1999. (2001) Panoramados programas finalistas do ano de 1999.

Construindo Cidadania. (2001) Introdução aoPrograma; a administração pública na óticados direitos humanos; cidadania política ecidadania social; tendências observadas nosprogramas inscritos; exemplos de projetosselecionados entre os finalistas de 2000;depoimentos: onde estamos na conquista dacidadania dentro do espaço público?

Combate à Pobreza na Gestão Pública.(2001) Quadro de pobreza no Brasil; análisedo conceito de pobreza; a importância dasparcerias e alianças; programas de combateà pobreza e formação de parcerias reunidosno banco de dados; exemplos de projetosselecionados entre os finalistas de 2000;apresentação de depoimentos referentes aotema: as experiências de parceria alteram aresponsabilidade de governos na prestaçãode serviços?

Parcerias, Pobreza e Cidadania. Apresentatrês iniciativas estudadas pelo ProjetoPráticas Públicas e Pobrezas: APAEB deValente (BA), Programa SISAR (CE), e oASMARE, de Belo Horizonte (MG).

Série Práticas Públicas em Construção. (2003)Levar temas e práticas inovadoras para apauta de discussão da agenda públicamunicipal é o objetivo desta série. Os quatroprimeiros vídeos da série já estão disponíveis:

1 - Violência contra a mulher – sem medo demeter a colher, mostra um conjunto deações desenvolvidas no município deCamaragibe (PE), destinadas às mulheresem situação de risco social ou vitimadas porqualquer tipo de violência;

2 - Agricultura Familiar – tradição que temfuturo, retrata três iniciativas que buscam o

desenvolvimento socioeconômico local pormeio da agricultura familiar e comunitária.Ilustram este tema o Programa deVerticalização da Produção Agrícola doPantanal (MS), o Fundo Municipal de Aval dePoço Verde (SE) e o Projeto Castanha (AP);

3 - Consórcios Municipais – a descoberta doconjunto, ilustra as soluções advindas doconsorciamento de 15 municípios noMaranhão (Consórcio Intermunicipal deProdução e Abastecimento, CINPRA) e detrês municípios catarinenses, São Bento doSul, Rio Negrinho e Campo Alegre(Consórcio Quiriri), que reuniram esforços napreservação ambiental.

4 - Gestão Participativa – uma proposta,vários caminhos, apresenta o Programa SobralCriança (CE) e o Orçamento Participativode Porto Alegre (RS), experiências queilustram alternativas possíveis para aimplementação de formas de participaçãoda sociedade na administração pública.

Programas de rádio

Buscando Soluções - O Brasil TrocandoIdéias (1999) – disponível em 3 CDs

Buscando Soluções - Sempre Uma Boa Idéiano Ar - Supermercado Mesa Pronta (2001) –disponível em 3 CDs

Buscando Soluções - Supermercado MesaPronta – CD duplo (2001/2002)

Buscando Soluções - Supermercado MesaPronta (2003/2004)

Buscando Soluções - Sempre Uma Boa Idéiano Ar – CD triplo (2003/2004)

Páginas na Internet

Programa Gestào Pública e Cidadania:http://inovando.fgvsp.br

Banco de Dados de Fomento Social:http://fosocial.fgvsp.br

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