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ABÓBORAS AO VENTO... A PROPAGANDA NO ENSINO DE GEOGRAFIA marisavalladares Abóboras ao vento... A propaganda tem sido, desde 1987, companheira em meus estudos de como ensinar a Geografia. Tenho explorado seu material concreto e suas imagens como um jeito de ler o mundo, investigando com ela movimentos de intervenção no espaço geográfico. Assim, juntei as experiências e as inquietudes vivenciadas em torno da propaganda para viver a pesquisa de mestrado (VALLADARES, 2000). Embora continue problematizando sua ação nas sociedades, sob o foco do ensino de Geografia, com minhas turmas de licenciatura, não tenho sistematizado como pesquisa formal essa prática. A ousadia de retomar este estudo foi motivada pelo convite de estar com este grupo, enfatizando tratar-se de um recomeço, com resgate de experiências vividas numa proposta diferente desta. Assim, apropriei-me da expressão “Abóboras ao vento”, de origem incerta, mas bastante expressiva no meio publicitário e que se refere aos comerciais bem produzidos, mas que, por não terem sido bem planejados, são frágeis e não expressam exatamente o que desejam. Como vêem, é um atrevimento reconhecer a fragilidade causada pelo tempo restrito na produção deste trabalho. Contudo, tanto como a fragilidade assumida, há uma perspectiva de colocar essa investida tão disponível aos professores quanto a expressão entre o pessoal da propaganda. Também desejo que seja uma estratégia para exploração da propaganda. Se a expressão lembra propagandas que valorizam mais a beleza e produção da peça, do que a mensagem, prejudicando a fixação da marca ou produto, isto provocará na pesquisa que se inicia, um rigor científico no uso da propaganda pelo ensino de Geografia. Este texto, organizado em itens sugeridos por slogans de propagandas. Pretende apenas registrar um retrospecto da exploração da propaganda para leitura geográfica do mundo, organizando algumas compreensões, apresentando como se trabalhou a temática ao longo do tempo, anunciando a pretensa questão e os objetivos que poderão orientar o estudo. Ao final, anuncia-se prenúncios de como imagens da propaganda podem

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  • ABBORAS AO VENTO...

    A PROPAGANDA NO ENSINO DE GEOGRAFIA

    marisavalladares

    Abboras ao vento...

    A propaganda tem sido, desde 1987, companheira em meus estudos de como ensinar a

    Geografia. Tenho explorado seu material concreto e suas imagens como um jeito de ler

    o mundo, investigando com ela movimentos de interveno no espao geogrfico.

    Assim, juntei as experincias e as inquietudes vivenciadas em torno da propaganda para

    viver a pesquisa de mestrado (VALLADARES, 2000). Embora continue

    problematizando sua ao nas sociedades, sob o foco do ensino de Geografia, com

    minhas turmas de licenciatura, no tenho sistematizado como pesquisa formal essa

    prtica.

    A ousadia de retomar este estudo foi motivada pelo convite de estar com este grupo,

    enfatizando tratar-se de um recomeo, com resgate de experincias vividas numa

    proposta diferente desta. Assim, apropriei-me da expresso Abboras ao vento, de

    origem incerta, mas bastante expressiva no meio publicitrio e que se refere aos

    comerciais bem produzidos, mas que, por no terem sido bem planejados, so frgeis e

    no expressam exatamente o que desejam. Como vem, um atrevimento reconhecer a

    fragilidade causada pelo tempo restrito na produo deste trabalho. Contudo, tanto

    como a fragilidade assumida, h uma perspectiva de colocar essa investida to

    disponvel aos professores quanto a expresso entre o pessoal da propaganda. Tambm

    desejo que seja uma estratgia para explorao da propaganda. Se a expresso lembra

    propagandas que valorizam mais a beleza e produo da pea, do que a mensagem,

    prejudicando a fixao da marca ou produto, isto provocar na pesquisa que se inicia,

    um rigor cientfico no uso da propaganda pelo ensino de Geografia.

    Este texto, organizado em itens sugeridos por slogans de propagandas. Pretende apenas

    registrar um retrospecto da explorao da propaganda para leitura geogrfica do mundo,

    organizando algumas compreenses, apresentando como se trabalhou a temtica ao

    longo do tempo, anunciando a pretensa questo e os objetivos que podero orientar o

    estudo. Ao final, anuncia-se prenncios de como imagens da propaganda podem

  • provocar aprendizagens de Geografia, com parceria de alunos e professores. O comeo,

    assim, so apenas abboras ao vento...

    O tempo passa, o tempo voa...(Bamerindos)

    Como professora, independente do nvel de escolarizao das minhas turmas, ao

    problematizar os processos de produo e organizao do espao geogrfico, com meus

    parceiros de aprendizagens, busco explorar no cotidiano, recursos e metodologias que

    me permitam realizar essa geograficizao como parte das vidas de ns todos. Acredito

    que se assim no o fizer, torno a Geografia, que elegi como fio condutor de meu

    trabalho na educao, apenas, um amontoado de informaes estreis.

    Por isto, penso ser possvel e necessrio resgatar da e na sociedade em que vivemos,

    meios - como imagens - que realizem uma articulao dialtica entre o vivido, o

    percebido e o concebido, entre o senso comum, o conhecimento cientfico e o saber,

    para fazer educao geogrfica escolar.

    Essa crena me parece ser a forma de dar educao sua real dimenso, que no

    apenas informar, fazer saber por saber, mas participar da contnua transformao do ser

    humano e da sociedade. Persevero, pois, no trabalho com meus alunos a partir do que

    vivenciamos, tentando descobrir com eles, tramas que ligam nossas vidas aos fatos,

    fenmenos e situaes, de perto e de longe, que possibilitem aprender, ensinar, intervir,

    cuidar e (re)criar o mundo...

    Incomoda-me a restrita capacidade de fala e de ao da escola diante do enorme volume

    de divulgao de opinies e informaes - a respeito de fatos, fenmenos,

    acontecimentos, produtos e servios presentes no dia-a-dia das pessoas - alcanado

    pelos meios de comunicao avanados, no mundo atual. Isso no significa querer a

    escola como centralizadora do conhecimento, mas expresso do desejo que seja

    potente produtora de conhecimento - reconhecida como tal, por seus protagonistas e

    pela sociedade - explorando, multiplicando, transformando, questionando, avaliando os

    saberes que pulsam e vibram na vida das sociedades.

    Percebo que o assdio das comunicaes sobre as pessoas afeta suas concepes de

    mundo e tambm interfere nas decises que norteiam as subsequentes aes praticadas,

    individual ou coletivamente. Na esteira disso, a organizao espao-temporal das

    sociedades vai se transformando...

  • Discutindo a teia de comunicaes do mundo atual, em minhas aulas, percebo o fascnio

    exercido pela propaganda sobre alunos de todas as idades e segmentos educacionais.

    Partindo da, sem muitas pretenses, mas com curiosidade cognitiva, comecei a prestar

    muita ateno na presena macia e constante da propaganda no cotidiano das pessoas,

    no seu poder de atrao e de influncia sobre indivduos, alm de sua capacidade de se

    fazer absorver fcil e rapidamente.

    Passei a usar a propaganda como recurso na prtica pedaggica em atividades

    desenvolvidas junto a turmas de magistrio, em 1987, no municpio de Nova Vencia

    (ES).

    Na poca, sugeri que estudssemos como a propaganda criava situaes sugestivas

    aceitao e assimilao de sua mensagem. Investigvamos os recursos usados e como

    eram usados: imagens, textos, sons, texturas, graa, choque, informao... Esse

    exerccio tinha como objetivo realizar uma leitura de mundo que sugerisse uma escritura

    de vida capaz de cuidar melhor das pessoas e do nosso planeta. Os alunos gostaram e

    passaram a usar a propaganda em seus trabalhos escolares. Analisvamos, avalivamos

    propagandas, realizando crticas ao consumo exagerado, sem cuidados com a finitude

    do sistema Terra e sem considerar o suprimento de necessidades vitais de pessoas ou

    grupos.

    Posteriormente, trabalhando com alunos de ensino fundamental, estimulei que

    efetuassem uma anlise crtica de imagens de toda espcie que a propaganda veiculava,

    buscando relacionar com desdobramentos da produo, do uso e do desuso dos servios

    ou produtos propagandeados. Houve um interesse genuno pelas atividades propostas.

    Percebi que suas argumentaes se tornaram mais espontneas, mais crticas e

    desassustadas na apresentao de trabalhos sobre os assuntos estudados, valendo-se de

    recursos como cartazes, slogans, jingles, imagens, imitaes ou adaptaes de

    propagandas de sucesso.

    As propagandas veiculadas pela TV tornaram-se frequentes referncias em suas

    comparaes, anlises e inferncias nas aulas. Os materiais de propaganda, que

    coletavam e usavam em seus trabalhos, demonstravam criatividade diante das

    situaes cotidianas; criticidade em elaborar questes ou propor respostas para elas;

    esmero e zelo em apresentaes dos estudos, o que, de modo geral, se expandia tambm

    s suas aes e compreenses na complexidde das situaes escolares.

    A partir de 1994, como professora de Prtica de Ensino de Geografia, na UFES, retomei

    o estudo da propaganda, explorando-a sob dois aspectos: como contedo, por sua

  • participao no processo de produo do espao geogrfico, e como metodologia, na

    apropriao de suas tcnicas de criao e do seu material publicitrio como arte

    didtica no trabalho docente.

    A experincia na Universidade expandiu-se em projetos de extenso, que envolviam a

    formao em servio de professores da rede pblica estadual e de redes municipais.

    Essa prtica exigiu um olhar mais cuidadoso e atento aos materiais publicitrios,

    fornecedores de subsdios e idias para a elaborao de materiais didticos como jogos,

    mapas, relias etc. As propostas de seu uso foram enriquecidas pelas sugestes de

    professores com os quais estive ao longo desses anos.

    As aprendizagens experenciadas me levavam a constantes conversas e reflexes junto a

    outros professores de Prtica de Ensino. Eles me permitiram realizar algumas incurses

    em suas turmas, apresentando aos seus alunos essa viso de trabalho com a propaganda,

    como exemplos para diferentes reas de estudo, o que era enriquecedor e estimulou o

    desejo de sistematizar as experincias adquiridas nessa prtica.

    Essas observaes me aguaram o desejo de intensificar e aprofundar a experincia de

    trabalhos com a propaganda, o que fiz no mestrado. A forma como tratei os estudos com

    a propaganda estavam coerentes com o contexto em que aconteceram tais incurses

    tericas e prticas. As relaes tericas, datadas, no satisfazem mais as interrogaes e

    as perspectivas que busco hoje. Por isto...

    "Prazer em conhecer!" (C&A)

    A minha insero neste program de pesquisa, uma audcia: uma tentativa de arrastar

    para c, outros colegas, por acreditar na immportncia deste estudo coletivo. uma

    audcia, porque no trago nada seno questes e tentaes. uma audcia pelo gosto do

    experimentar, do inventar, do provocar aprendizagens.

    A proposta de usar imagens da propaganda, na educao escolar, para efetuar leituras

    geogrficas da vida que pulsa e que precisa continuar pulsando, implica em no olhar

    para ela como um simples produtor de venda (embora tambm como isto...). No contato

    cotidiano com tantos apelos de compre, use, faa, desfrute, tenha, seja... inventar outros

    olhares para descobrir, interrogar, desnudar a propaganda em seu fazer comercial, pode

    ser um meio de us-la na leitura de sua interveno e (re)criao de territrios na

    explorao de lugares, de paisagens, de espaos geogrficos.

  • Inquieta-me a questo: como reunir o potencial crtico-reflexivo do saber pedaggico ao

    potencial criativo-esttico da propaganda, favorecendo a prtica de professores e

    possibilitando-lhes usar a propaganda como uma alternativa para leitura de mundo ?

    Para tentar viv-la em novas questes e possveis aprendizagens, coloco...

    "Andando na frente" (Chevrolet)

    A pretenso de estudo, neste trabalho, neste momento, apenas ser problematizar o

    potencial de uso das imagens publicitrias em possibilidades de explorao

    metodolgica para que professores e alunos da educao bsica elaborem significaes do

    espao vivenciado, percebido e concebido.

    O que provoca(va) espanto, dvidas, desejo de uso e de roubo de idias, para mim e

    para meus alunos, permanece. O como fazer isto promover vida, tambm permanece:

    como desejo de mais saber, como desejo de perguntar, de discutir, de pensar junto...

    Os estudos efetuados me levam a crer que o potencial da propaganda, como material

    para leitura crtica de mundo, no s estimula o exerccio e o desempenho

    crticoreflexivo na relao cotidiana com o desejo de consumo e com simulacros do

    poder ter (CARVALHO, 2002), como tambm insinua caminhos de fuga para

    alternativas de criao e sustentao de outros modos de escrever a vida, tornados outras

    questes que, para no se perderem ou para se perderem, seguem a recomendao de...

    "Pe na cnsul!" (Cnsul Refrigeradores)

    A problematizao deste estudo, est baseada, ainda, em estudos feitos num momento

    datado, por isto no reflete a contemporaneidade da proposta atual. Isto ser refeito, a

    partir desta nova investida, mas vale a pena o resgate do que j foi sistematizado para

    compreenso de como se chegou at aqui.

    Historicamente o ser humano se organizou em sociedade visando a satisfao de suas

    necessidades. O trabalho criou produtos e servios para saciar necessidades,

    disponibilizados pelo sistema de trocas. A progressiva complexidade de trocas,

    associada sofisticao das necessidades e de correspondentes servios e produtos,

    exigiu a criao de sistemas monetrios, traduzidos no capital. No domnio do capital,

    tudo se transformou em potencial mercadoria. A variedade cada vez mais ampla de

    mercadorias tornou a diferena entre elas uma caracterizao cultural de sociedades,

  • possibilitando a elitizao dos desejos, como um referencial do poder de determinados

    sujeitos e grupos sociais. O destaque das diferenas, a provocao de vaidades, a

    (re)criao de necessidades e o jogo dos desejos, cuja saciedade cria simulacros,

    ajudaram a originar a propaganda como hoje conhecida. A sua seduo fez com que as

    necessidades se desdobrassem em novos desejos e em novas mercadorias (ZUIN, 2007;

    PUCCI, 2007).

    possvel, pois, afirmar que as necessidades humanas podem se tornar sujeitas

    manipulao de interesses. Assim, as necessidades e os desejos podem ser minimizadas,

    reprimidas, censuradas, ampliadas ou desdobradas em mltiplos desejos, tornando-se

    contraditrios em sua prpria saciedade fugaz, como podem ser renovados, reinventados

    e disseminados, por exemplo, pela ao da propaganda.

    Com base nessa rpida retrospectiva da sociedade, considero adequada a definio de

    propaganda segundo Brown (1971, p. 23) que a explica como uma ao ou projeto para

    propagar uma doutrina ou prtica. Esse conceito ajuda a identificar a propaganda, em

    sua mais antiga notcia, que corresponde a um papiro de cerca de trs mil anos,

    descoberto em Thebas, no qual se descreve um escravo fujo, indicando um prmio por

    sua devoluo na loja de ...Hapu, o tecelo, onde a melhor roupa tecida conforme

    voc deseja... (CABRAL, 1991, p.24).

    O uso do termo propaganda foi oficializado no sculo XVII, representando a reao da

    Igreja Catlica, por meio da Sacra Congregatio Nomini Propaganda, expanso da

    Reforma Protestante, disseminando o catolicismo e regulamentando os assuntos

    eclesisticos, usando ou ocultando os conhecimentos disponveis.

    A propaganda ganhou forte repercusso na sociedade moderna, quando os veculos de

    comunicao ganharam espao na sociedade, influenciando sentimentos e articulando

    comportamentos e representaes sociais, divulgando produtos como prprios de uma

    dada cultura.

    A ao da propaganda se torna cada vez mais abrangente, ultrapassando a dimenso de

    venda de um produto material ou intelectual. Tem se destacado como fenmeno social

    ao convencer o pblico rumo a uma mudana de postura, despertando a credibilidade e

    a adeso s qualidades/benefcios daquilo que apregoa.

    Essa propriedade tem sido explorada para imprimir continuidade de consumo de

    produtos, projetando essa permanncia, como se fosse algo natural, tanto no espao

    contemporneo, quanto para o tempo futuro, como por exemplo quando no ambiente

    futurista de Blade Runner (1982, de Ridley Scott) situado na cidade de Los Angeles

  • no ano de 2019, aparece reiteradamente um grande anncio luminoso de Coca-

    cola(FERRES, 1998, p.248). Os custos destas investidas podem ser avaliados em

    situaes como quando a Columbia pagou NASA 60 milhes de pesetas para que

    gravasse o nome do filme [The last action hero] e o de Schwazenegger na fuselagem de

    um de seus foguetes, retardando trs semanas o lanamento para que o ator estivesse

    presente e acionasse o boto de lanamento da nave. (FERRS, 1998, p.248).

    preciso considerar que no se trata apenas da propaganda de um objeto ou de um

    servio, mas do modo de usufruir deles, legitimando um modo de vida e um estilo de

    viv-la, especialmente marcante para crianas e jovens, constantemente em contato com

    os componentes tecnolgicos difusores desse tipo de propaganda.

    O modo de compreender o mundo, prprio do tempo e da sociedade em que vivem,

    sofre a influncia das mensagens miditicas emitidas tanto pelo mais sofisticado

    equipamento de informtica (nem sempre disponveis para todos) quanto pelo mais

    banal jogo eletrnico de bolso ou pelas mquinas interativas de jogos (comuns at em

    pequenos comrcios de periferia urbana) e pela televiso ou redes de comunicao,

    caracterizando a gerao audiovisual (BABIN & KOULOUMDJIAN, 1989) e os

    estudantes cyborg (MCLAREN, 2000).

    Ainda assim, concordando com Maranho (1998), a difuso de ideias provocada pela

    propaganda, no toma o lugar da prpria ideia, antes representa uma gerao artificial,

    porque cultivada, de concepes e opinies. Pressupe da parte de quem cria a

    propaganda uma capacidade de elaborao crtica e, da parte do receptor, a

    possibilidade de discernimento crtico. Por isso, a perda de controle total por parte do

    receptor no pode ser generalizada ou confirmada. A intensidade e a quantidade de

    propagandas a que o receptor est exposto cria nele uma capacidade de seleo, varivel

    segundo o seu grau de criticidade e da qualidade da propaganda.

    Embora se componha, genericamente, de um conjunto de atividades e tcnicas que visa

    informar e persuadir o pblico acerca de um produto ou servio, a propaganda se

    submete a alguns mecanismos de controle tico, relativos s informaes e s

    estratgias usadas. Contudo, ela pode se colocar a servio de muitos donos e a todos

    pode servir indistintamente, no tendo obrigatoriedade de trabalhar na construo de um

    modelo de sociedade democrtica e justa. Por conseguinte, ela se utiliza e produz

    sistemas de representao factvel de tendncias mltiplas, apenas objetivando provocar

    a ateno, o interesse, o desejo, a ao, a satisfao mxima e a culpa mnima

    (CABRAL, 1991). Para alcanar tais intentos, ela pode no desejar promover reflexes

  • para alcanar seus objetivos, valendo-se apenas de mecanismos de automao, de

    repetio, de proposio, de demonstrao e de sugesto (LEDUC, 1980). Mesmo

    propagandas educativas, como de campanhas sobre desarmamento, de trnsito e outros

    assuntos similares, criam apenas pistas para discusses e reflexes posteriores.

    A educao, ao contrrio da propaganda, no pode fugir do seu potencial de

    transformao pessoal e social, a partir de um projeto poltico-cultural que deve

    assumir.

    Esse entendimento implica em que os professores elaborem uma pedagogia de

    fronteiras largas, capaz de mediar a produo do conhecimento e a sua aplicao na

    sociedade. preciso considerar como os significados produzidos pelas expresses e

    solicitaes culturais da sociedade de consumo so introjetados na identidade dos

    alunos.

    Assim sendo, os estudos de leitura da propaganda podem favorecer o dilogo entre o

    conhecimento sistematizado pela ao docente e alunos, como mais uma linguagem na

    prtica escolar, geradas pelo cotidiano vivido neste tipo de sociedade onde o consumo

    to expressivo. A propaganda tem sido considerada uma das mais marcantes expresses

    de leitura da sociedade, a ponto de McLhuan (2002, p.78) afirmar que os historiadores

    e os arquelogos descobriro um dia que os anncios de nossa poca constituem o mais

    rico e o mais fiel reflexo cotidiano que uma sociedade jamais forneceu de toda a gama

    de suas atividades.

    A intensidade de ao da propaganda tem aumentado e torna mais insistente a

    emergncia de se elaborar linguagens pedaggicas que reconheam e dem conta de

    trabalhar com produtos da mdia e tecnologias de informao, tendo cuidado com a

    transformao de investimentos intelectuais e afetivos em discursos de desejos e de

    consumo. Se esta a proposta, questes devem aliment-la, na perspectiva de que...

    O desafio nossa energia (PETROBRAS)

    Algumas questes se instalam inicialmente, deslizando num movimento que ainda no

    informa o que vir, o que ser feito...So apenas, anncios...

    1. possvel usar a propaganda como uma alternativa de leitura do mundo na

    prtica pedaggica

    2. Como justificar teoricamente uma proposta de uso da propaganda em situaes

    de ensino

  • 3. Como efetuar uma experienciao de formao continuada de professores

    explorando a propaganda para uma prtica pedaggica crtica e criativa

    4. possvel desenvolver tcnicas e recursos didticos usando a propaganda numa

    perspectiva crtica

    Para intervir pedagogicamente no processo de explorao da propaganda, professores

    precisam avaliar a ao da propaganda na leitura de mundo de estudantes, que esto

    escrevendo o futuro da humanidade e do sistema Terra. Para tanto, pesquisar e conhecer

    um pouco de sua histria e de sua metodologia, pareceu-me ser interessante para lidar

    com ela no ensino, da a insero de alguns dados coletados, mais como provocao

    para seu aprofundamento do que como exposio de um conhecimento amealhado numa

    pesquisa, j que a propaganda tem...

    Mil e uma utilidades (Bombril)

    A metodologia usada para trabalhar a propaganda sempre foi variada. A partir de uma

    discusso sobre a propaganda, o entendimento relativo sua ao sobre o espao

    geogrfico e sobre a sociedade que o produz comea a ser visvel, estimulando

    estudantes a investigar:

    impactos resultantes da ao da propaganda sobre o sistema Terra;

    artifcios usados para seduzir o consumidor, selecionando aspectos que so

    reconhecveis ou no nos lugares vividos e concebidos;

    aplicabilidade de estratgias no ensino;

    modos de uso do material de propaganda como recurso didtico...

    A propaganda fornece materiais didticos prontos para uso em sala de aula, na forma de

    cartazes e vdeos, por exemplo. Isso representa economia de tempo e de custo para

    professores - j que eles podem ser obtidos gratuitamente em muitos pontos de venda de

    produtos, em empresas prestadoras de servios e nas redes de comunicao. Tambm

    em revistas e jornais, esse material se multiplica em possibilidades atraentes, acessveis

    e exigentes de anlise. Os comerciais de televiso se tornam um recurso dinmico,

    rpido, organizado com criatividade, esttica, imagens e linguagem bastante atraentes

    para os alunos, permitindo uma leitura de espaos geogrficos semelhantes aos lugares

    onde vivem os alunos ou de espaos no vivenciados por eles, mas que podem ser

    estudados.

  • Muitas propagandas divulgam informaes sobre o trabalho desenvolvido pela empresa

    ou sobre o produto que vendem, relacionando-as com o conhecimento sobre o ambiente,

    a economia, a cincia, por exemplo. Investigar se essas informaes so corretas ou se o

    uso dos produtos ou servios corresponde maneira como os estudos da Geografia

    abordam a sustentabilidade dos recursos naturais e organizao do espao, pode ser

    uma boa maneira de realizar discusses numa abordagem geogrfica produtiva.

    As imagens e os textos vinculados pela propaganda podem fornecer elementos que vo

    alm do que ela quer demonstrar. Assim, uma propaganda sobre um mvel luxuoso de

    madeira de lei pode ser usada para discutir sobre a devastao de florestas provocada

    por essa produo, assim como a relao desse produto com os modos de trabalho, nos

    quais operrios lidam com maquinaria inapropriada. Propaganda de imveis, que

    apresentam manses maravilhosas, construdas com rochas retiradas em condies

    altamente impactantes, lanando dejetos sobre vegetao e recursos hdricos sem o

    menor cuidado, podem resgatar estudos que, aparentemente, no tm sentido para os

    alunos.

    O investimento maior do professor, em relao ao uso da propaganda, se refere ao

    estudo cuidadoso e constante do material, concretizado num planejamento cuidadoso

    para definio de objetivos para uso da propaganda.

    Os aspectos de criatividade, de evidenciao do belo, do cuidado com o resultado a ser

    apresentado, que so marcas da propaganda, devem estimular reflexes e aes, tal

    como Freire nos ensina: a apreciao do belo como um ato poltico de amorosidade com

    a humanidade. Isto pode ser...

    Uma boa idia (Cachaa 51)

    O maior propsito do estudo com a propaganda explorar dela elementos para ler o

    mundo e escrever a vida, com ensinamentos da cincia geogrfica.

    Descobrir esse caminho mais do que ser nmero um (Cerveja Brhama) ou nota

    dez (Cerveja Kaiser). No se esgota na perversa competitividade de quem no o

    maior, tem que ser o melhor(Cia.Atlantic de Petrleo) , nem se gasta na inexorvel

    lgica de que o tempo passa, o tempo voa(Bamerindus)... Esse caminho construdo

    com profissionais movidos pela paixo(Fiat) de ensinar, descobrindo na propaganda a

    riqueza de mil e uma utilidades(Bombril), na riqueza de doar oceanos, florestas,

    desertos(DMP Doao de crneas). Com o prazer em conhecer(C&A), essa boa

    idia(Caninha 51) por certo h de descer redondo(Cerveja Skol), porque nosso

  • desafio a energia(Petrobrs) que abre um novo canal de conhecimento (TV Futura)

    e que move o mundo. Ento...

    Por que no agora? (Nescaf)

    (power point)

    Referncias Bibliogrficas:

    BABIN, P. & KOULOUMDJIAN, M-F. Os novos modos de compreender a gerao

    do audiovisual e do computador. So Paulo: Paulinas, 1989.

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    paradigmas de resistncia e reproduo em educao. In PUCCI, B.. Teoria crtica e

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    Vozes, 2007.