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1 Texto, partituras e pinturas elaborados por participante do Curso Antropomúsica turma 3 Baixado do site www.ouvirativo.com.br

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SUMÁRIO:

I. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .5

II. O que eles disseram . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

III. Afinando o instrumento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

IV. As urgências do cotidiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12

V. Minhas vivências – nível micro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15

VI. Transpondo para o âmbito macro . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

VII. Causando uma agitação interna . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19

VIII. Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21

IX. Anexos (partituras e figuras):

1 – A LUA AZUL . . . . . . . . . . . . . . . .24 2 – ÁGUA DE CHUVA . . . . . . . . . . . .25 3 – Fim de feira . . . . . . . . . . . . . . .31 4 – fim de feira com swing . . . . 32 5 – axé, eiwá . . . . . . . . . . . . . . . . .33 6 – as vogais . . . . . . . . . . . . . . . . .40 7 – lemniscata com vogais . . . 43 8 – as vogais nos modos . . . . . . 44

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I. INTRODUÇÃO

“Compor é fazer escolhas”

(Marcelo Petraglia)

Sou economista de formação, bancária aposentada, cantora e autodidata no

violão. Comecei a estudar piano formalmente aos seis anos de idade e a tocar

violão aos dez, de ouvido e procurando repetir o que outros violonistas faziam.

Como qualquer aluno que opta por outra carreira, parei de tocar na época do

cursinho preparatório para a faculdade (até aqui, nenhuma novidade). Voltei a

tocar e a cantar pouco depois, participando de grupos na faculdade. Retomei os

estudos de música a pouco mais de três anos, de forma sistematizada.

Como eu poderia contribuir com esta turma constituída em sua maioria de

professores de música, profissão esta que não é a minha? O que eu poderia

acrescentar à história deles, alguns ainda em início de carreira e outros já

bastante experientes? Foi com estas perguntas que iniciei o Antropomúsica, no

módulo II (ainda por cima, entrei com o curso já andando...). E é a estas questões

que estou tentando responder nestas linhas.

Observando a eles, os meus colegas de turma, na sua maneira de agir, em cada

momento que estivemos juntos, em cada palavra que trocamos, foi com a

bagagem adquirida deles que pude formular este trabalho sobre o ato de compor.

Porque professores são compositores em inúmeras situações, não só quando

escrevem e reescrevem arranjos musicais para seus grupos executarem, mas

também quando planejam suas aulas.

Compõem, e muito, quando enfrentam suas dificuldades pessoais e entram em

uma sala recheada de rostos ansiosos por saber a que vem esse professor, se

ele será amigável ou exigente, manipulável ou rígido.

Compondo, dão o melhor de si para que aqueles indivíduos desenvolvam suas

potencialidades, descubram caminhos a percorrer e façam suas próprias

escolhas, conscientes do que isto implica.

São compositores ao perceberem a enorme responsabilidade que lhes é atribuída

quando escolheram formar o caráter de seres humanos, os seus alunos.

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Assim me portei durante o curso: fazia anotações em sala e no período entre

módulos, registrando minhas impressões. Recopiava frases ouvidas dos mestres

nas aulas ou dos colegas durante o café. Refletia sobre tudo e tirava minhas

próprias conclusões. Procurei participar de todas as atividades propostas, mesmo

as que considerava difíceis, encarando qualquer desafio que me era solicitado.

Concordâncias e discordâncias à parte, optei por registrar, neste trabalho, minhas

experiências e conclusões próprias, por considerar importante dar um

depoimento pessoal no final do curso. Livros e pesquisas existem aos montes,

facultando a quem quiser ler e pesquisar sobre qualquer assunto. Mas a

experiência pessoal é única e está salvaguardada de críticas. Pode despertar

interesse e curiosidade em quem estiver aberto a ouvir.

São, portanto, impressões pessoais que passo a descrever. Pretendo contar ao

leitor algumas de minhas experiências no processo de compor música. Assunto

por demais polêmico, não tenho a pretensão de esgotá-lo. Quero traçar um

paralelo entre o processo interno, no nível individual, no ambiente micro, e

transpô-lo, na medida do possível, para o ambiente macro, onde vários indivíduos

fazem parte de um todo e interagem entre si. Em ambos os níveis, inúmeras são

as inspirações. Dúvidas surgem a todo momento. É fácil concluir, então, que as

possibilidades se tornam mais infinitas ainda, em cada caminho que escolhemos.

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II. O que eles disseram

Definição de Compor, segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa1:

Verbo transitivo direto: 1. Formar ou construir de diferentes partes, ou de várias coisas. 2. Entrar na composição de, fazer parte de. 3. Produzir, inventar (escrevendo, pintando, esculpindo, etc.). 4. Colocar ou dispor com certa ordem ou arranjo. 5. Conformar, aparentar. 6. Melhorar, aliviar. 7. Reconciliar, harmonizar. 8. Por em ordem; arranjar, arrumar, ajeitar. 9. Representar, interpretar. 10. Escrever música. 11. Adornar. 12. Consertar. 13. Reunir no componedor os caracteres móveis para ir formando as palavras do original. Verbo pronominal: 1. Harmonizar-se, conciliar-se, recompor-se. 2. Resignar-se, conformar-se. 3. Amoldar-se, afeiçoar-se. 4. Ser composto, constituir-se, constar.

O ato de compor música se mostrou fascinante para mim justamente por

acontecer, no primeiro momento, a um nível inconsciente. Poderíamos dizer que

se inicia de forma imanifesta em uma região auditiva a que não tenho acesso, por

se situar fora das frequências audíveis que meu ouvido consegue captar. Essas

vibrações vão aumentando de frequência até que, no momento seguinte, o som

se dá a conhecer a mim, na forma de vibrações sonoras que, aos poucos, vou

escutando internamente. Até aqui, minha atitude motora é passiva. Apenas o

ouvido está ativo. Em seguida, transformo esse som que ouvi em notas musicais,

seja executando no piano ou no violão, e as transponho para a pauta, dando

forma, assim, ao que era imaterial.

Mas antes de explicar melhor como acontece comigo, quero recuperar e citar

aqui o que alguns compositores disseram sobre o processo deles.

JOSEF HAYDN (1732-1809)2

“ Não tive professores, propriamente dito. Meu começo foi sempre logo na prática

– primeiro no canto e na música instrumental, em seguida também na

composição. Nela escutei mais aos outros do que estudar, mas eu escutei o mais

belo e o melhor de todos os gêneros que existiam na época...

... eu prestei atenção e procurei aproveitar o que me impressionara e me parecia

excelente. Apenas que eu nunca imitava simplesmente. Assim, paulatinamente

crescia o que eu sabia e o que eu dominava...

... o talento, no entanto, estava dentro de mim, por meio dele e com muita

assiduidade eu progredia. Enquanto meus amigos estavam brincando, eu pegava

meu clavicórdio sob os braços e ia até o porão para poder treinar sossegado.

... os jovens podem ver no meu exemplo que pode surgir algo do nada, sim...

1 A. B. H. Ferreira, Dicionário Aurelio Básico da Língua Portuguesa.

2 M. Petraglia, História da Música, Antropomúsica Turma 3, Módulo III, apostila de aula expositiva.

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... eu me sentava, começava a improvisar, de acordo com meu humor, triste ou

alegre, sério ou brincalhão. Quando apanhava uma idéia, me esforçava para

desenvolvê-la conforme as regras de composição. Assim procurava me virar, e é

isso que carecem os compositores modernos: eles adicionam uma peça à outra,

interrompem quando mal terem começado, porém nada permanece no coração

depois de ter escutado a música.

... eu nunca fui um compositor rápido, sempre escrevi com cuidado e

assiduidade.

... quando estava lutando com empecilhos de todos os tipos que estavam se

opondo aos meus trabalhos, quando minhas forças mentais e físicas estavam

definhando e eu tive dificuldade de permanecer dentro da minha carreira, então

um sentimento secreto sussurrou: existem aqui na terra tão poucas pessoas

piedosas e contentes, por toda parte os perseguem o sofrimento e a

preocupação, talvez seu trabalho possa ser às vezes uma fonte de sossego e de

recuperação para o homem carregado de negócios e de preocupações. Esta

então foi uma motivação poderosa para ir em frente, sendo também a razão para

uma retrospectiva serena e animada em relação aos meus trabalhos que eu

tenho desenvolvido durante tantos anos com esforço incansável e com muito

suor... ”

WOLFGANG AMADEUS MOZART (1756-1791)3

“... Quando estou sozinho, em paz e de bom humor, por exemplo, viajando numa

carruagem, passeando após uma boa refeição ou à noite quando não consigo

dormir, chegam a mim os pensamentos fluindo da melhor maneira. De onde e

como vem, isso eu não sei. E também não posso influenciá-los. Aqueles que me

agradam eu guardo na cabeça e parece que os cantarolo para mim, pelo menos

é o que as outras pessoas me dizem. Seguro-os firmemente e então logo vêm,

um depois do outro, como se fossem pedaços destinados a fazer um empadão:

contrapontos, os sons de diversos instrumentos, etc. Isso esquenta minha alma...

depois torna-se cada vez maior e eu o amplio e ilumino cada vez mais. A coisa

fica realmente quase pronta na cabeça, mesmo sendo longa... Assim na minha

imaginação eu não ouço uma coisa seguida da outra, da forma em que será

realizada depois, mas ouço tudo junto de uma vez...”

3 Idem.

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LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770-1827)4

“... Eu carrego minhas idéias comigo por muito tempo, às vezes por um tempo

prolongado, antes de anotá-las. Nisso minha memória permanece tão fiel que eu

posso ter certeza de que não esquecerei um tema que já concebi, mesmo depois

de anos. Modifico algumas coisas, abandono um bocado e tento de novo, até eu

ficar contente. Mas em seguida começa na minha cabeça o processamento para

o largo, para o estreito, para a altura e para as profundezas, e tendo consciência

daquilo que quero, a idéia musical básica nunca me abandona, ela sobe, ela

cresce para o alto, eu enxergo e escuto a imagem em toda sua extensão como

em uma totalidade diante do meu espírito, e apenas resta o trabalho de anotar, o

que se faz depressa, dependendo do tempo que eu arrumo pois às vezes estou

com vários trabalhos em andamento ao mesmo tempo, mas nunca confundo uma

composição com outra.

De onde tiro minhas idéias?- Não consigo dizer por certo; elas vêm sem serem

chamadas, espontaneamente ou por desvios, eu podia apanhá-las com minhas

mãos na natureza livre, na floresta, em caminhadas, no silêncio da noite, de

madrugada, estimuladas por humores que se traduzem no poeta em palavras, em

mim em música, soando, ventando, ressoando, até que elas estejam diante de

mim em partitura...”

ARNOLD SCHÖENBERG (1874-1951)5

“... Eu acho: Arte (“kuust”) não vem de saber fazer (“können”), mas precisar fazer

(“müssen”). O artesão sabe fazer. O que ele recebeu de herança ele

desenvolveu; e desde que ele queira, ele consegue. O que ele quer, ele

consegue, bem ou mal, raso ou profundo, progressista ou retrógrado, ele

consegue! Mas o artista precisa fazer. Ele não tem influência sobre aquilo, não

depende da sua vontade. Mas já que ele tem que fazer, ele consegue! Mesmo

aquilo que não recebeu de herança, ele adquire... Mas não aquilo dos outros, e

sim o que é dele próprio. O artesão sabe fazer aquilo que o artista precisava

criar...”

Observando atentamente os depoimentos citados, evidencia-se mais claramente

as semelhanças com o que quero expor.

4 Ibidem.

5 A. Schöenberg, Problemas da aula de arte, 1910/1911, citação.

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III. Afinando o instrumento

Descrevendo de uma maneira genérica, meu processo de compor música inicia-

se com uma agitação, no nível físico. É intraduzível, porque ainda está emergindo

do nível sensorial e não posso afirmar, com segurança, de onde vem. Aos

poucos, conforme me deixo levar por esta sensação, essa agitação vai

aumentando até que uma enxurrada de sons e idéias me toma de sobressalto,

vindo de todas as direções até chegar aos meus poros. Esta correnteza entra,

então, em contato com o ser que sou, com meus pensamentos, valores, gostos e

costumes, moral e ética, enfim, com tudo o que abarca a mente. Algumas dessas

idéias sonoras se chocam com as minhas porque são antagônicas, provocando

conflitos e causando certo desconforto.

Neste estágio, posso escolher:

1) O caminho mais fácil, que seria desprezar o que causou choques em

minhas idéias e ficar com o que me é mais simpático. Neste sentido,

compor seria, então, agrupar segundo determinados critérios, quais

sejam, os meus, os que abraço, deixando de lado o que não se enquadra

nisso.

2) O caminho mais difícil demanda sair de uma zona de conforto e abrir a

mente ao novo, ao que é diferente. Esta atitude é mais exigente porque

leva a profundas reflexões. Pede que se escute o que este novo som

provoca internamente, deixando a curiosidade fluir livremente. Isto pode

acarretar mudanças profundas e um convite a trilhar caminhos ainda não

percorridos. Se escolho esta alternativa, a opção é mais consciente,

porque posso até desprezar o novo som depois, mas aí não teria

simplesmente aceito o que era mais fácil, sem conhecer outra alternativa.

Compor, então, significa fazer ajustes, fazer escolhas.

Voltando ao meu processo, qualquer que seja o caminho que siga, escrevo na

pauta as notas que ouvi e me distancio do trabalho por algum tempo, para que o

fruto amadureça. Vale acrescentar que às vezes os sons me chegam nos lugares

e momentos mais inusitados possíveis. Há ocasiões em que acordo de

madrugada ouvindo uma melodia. Por isso, tenho sempre lápis e papel em minha

cabeceira, para poder fazer anotações. Podem chegar quando estou dirigindo, no

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trânsito ou mesmo nas ruas, quando estou caminhando. E nessas situações, nem

sempre tenho papel à mão. Então, após repetir algumas vezes as notas, gravo

em meu celular ou ligo para casa e canto a melodia para minha secretária

eletrônica. Feito o registro, recupero, depois, a melodia e anoto numa pauta.

Retomo, então, após alguns dias e, se necessário, faço algumas correções

chegando, às vezes, a modificar vários compassos. E uma pergunta sempre me

vem à mente: meu ouvido estava totalmente preparado para ouvir o som que

queria se materializar naquele momento?

Ao me afastar por alguns dias da minha composição, adquiro mais consciência e

posso refinar melhor as notas, escutando com mais cuidado e mais

pausadamente a harmonia que escrevi. Contudo, em relação a alguns trechos,

quando os repasso e percebo alguma diferença entre o que ouvi e o que escrevi,

tenho certa resistência em corrigir o que propus anteriormente. Isto se deve a

influências externas adquiridas de outros compositores? Ou ainda permanece

certa distorção em meu ouvir, proveniente de aspectos pessoais que preciso

trabalhar internamente e que, consequentemente, afetarão meu escutar? Sob

este aspecto, nosso corpo seria um instrumento que precisa ser afinado? Diante

destas reflexões, compor significa também conviver com perguntas sem

resposta momentânea.

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iv. As urgências do cotidiano

Até aqui descrevi uma situação mais calma, quando posso dar vazão à minha

inspiração e escutar atentamente os sons que me chegam aos ouvidos. Contudo,

nem sempre as situações do dia a dia nos permitem seguir este caminho.

Inúmeras são as ocasiões de nosso cotidiano em que se faz necessário lançar

mão de outras ferramentas, dada a urgência do momento e os desafios a

cumprir. Às vezes compomos sob encomenda ou então precisamos preparar um

tema para o teatro da classe, por exemplo.

De minha prática como compositora de letra e música, quero citar três situações

possíveis que podem facilitar a criação. São situações bem práticas, que podem

ser feitas como exercício individual ou em grupo6:

1) Compor a partir de um mote – Em determinadas ocasiões necessitamos

compor uma canção a partir de um pensamento, uma idéia. Podemos

captar este mote em cartazes de rua, ou pequenas frases ouvidas ao

acaso de outras pessoas que passam por nós. Vamos, então, repetindo o

mote em voz alta, seguidas vezes, em vários ritmos, mais lento ou mais

rápido, procurando captar a sonoridade oculta de cada palavra. Assim,

vamos construindo uma pequena melodia para aquela frase. A partir dessa

frase, agora já musicada, continuamos acrescentando outras palavras e

novas frases, desenvolvendo aquela primeira idéia. Vamos, também,

encadeando notas musicais, que melhor se encaixem na primeira melodia

que compusemos. As anotações do que criamos podem ser feitas em

papel e depois passadas a limpo. E se a situação não nos permite ter

papel à mão, podemos registrar a melodia recém composta gravando no

celular, por exemplo. Uma vez recuperada, o próximo passo é passá-la

para a pauta musical e harmonizá-la ao violão ou ao piano. No ANEXO 1,

transcrevo a primeira anotação de uma canção, cuja idéia surgiu de uma

criação coletiva, composta a partir de um mote. A trajetória dessa

composição foi bastante interessante: estávamos na época da Lua Azul,

que é definida como a segunda lua cheia que acontece no mesmo mês.

Este fenômeno astronômico pode ocorrer, basicamente, de dois em dois

6 Resultado de minhas vivências a partir de oficina de composição O Compositor me falou, coordenada por

Lucina Carvalho (Canto do Brasil, São Paulo/ SP, setembro/2012).

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anos, em determinados meses. Fiquei com essa idéia por alguns dias. Em

grupo, fomos acrescentando ao mote “Lua Azul” outras palavras e frases,

criando uma história para aquele pensamento inicial. Conforme descrevi

acima, o próximo passo foi compor uma pequena melodia, a partir da

sonoridade das palavras. Para não esquecer a idéia, gravamos em um

celular. Posteriormente, passei a canção para a pauta (ANEXO 1).

Retomei a composição alguns dias depois. Percebi que a melodia tinha um

balanço que não tinha ficado muito bem escrito da primeira vez. Refletindo

melhor, acrescentei notas e modifiquei o ritmo, refazendo o arranjo

musical, acrescentando inclusive alguns instrumentos. A partitura final está

no ANEXO 2.

2) Compor a partir de um poema – requer maior empenho e atenção. Lendo

várias vezes o poema, também podemos ir captando o ritmo que está por

trás dele, se é mais lento ou mais rápido. Seguimos improvisando notas

musicais e harmonizando palavra por palavra, criando frases musicais.

Podemos separar as frases em partes diferentes e decidir por repetir

algumas delas como num refrão. Podemos criar novas harmonias, que

estejam mais de acordo com o tema do poema, se é mais romântico ou

mais efusivo, encadeando tons maiores e menores. Lembremos que as

escolhas aqui são subjetivas e se norteiam pelo grau de dificuldade a

executar e pelos objetivos que queremos alcançar.

3) Compor a partir de um tema – neste caso, podemos utilizar a técnica da

tempestade cerebral para chegar à letra final da canção que queremos

compor. É bastante simples: Versão 1 - num papel, vamos escrevendo a

esmo palavras que tenham ligação com o tema que queremos desenvolver

ou quaisquer gêneros de palavras, sem nenhum tipo de censura de idéias.

Depois da relação completa, vamos agrupando as palavras, cortando

umas e outras, até que o conjunto faça sentido com o tema que temos em

mente. A partir deste ponto, podemos ir musicando as frases, conforme o

item anterior. Versão 2 – para ser feito em grupo: em uma roda, cada

pessoa vai falando uma palavra que lhe venha à mente, em voz alta. Em

seguida, individualmente, as pessoas anotam em um papel o máximo

possível das palavras que foram ditas que conseguirem lembrar. O

próximo passo é formarem pequenos grupos e cada um lê a sua relação

de palavras. Neste ponto, as pessoas vão, então, cortando e formando

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frases, conforme o tema a ser musicado. Uma vez terminada a letra, pode-

se ir musicando frase por frase, até compor a melodia inteira. Como

ilustração, incluí no ANEXO 3 uma música que surgiu de uma explosão de

idéias em grupo, na versão mais simples, da primeira anotação. No

ANEXO 4, trago a versão já melhor trabalhada por mim, com arranjo para

2 vozes.

Esses exercícios descritos anteriormente podem ser feitos em grupo. O desafio

da composição passa a ser do grupo, que vivenciará, então, cada fase até chegar

à canção final. Podem trazer uma experiência bastante rica a todos, contribuindo

para criar uma ligação e harmonia entre os participantes. Podem auxiliar também

as pessoas a adquirirem confiança e cumplicidade umas com as outras, para o

trabalho de classe.

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V. MINHAS VIVÊNCIAS – NÍVEL MICRO

Ao longo do curso Antropomúsica, tive oportunidade de passar por experiências

bastante ilustrativas do processo de compor, tanto no nível pessoal como no

grupal. Descrevo aqui três situações vivenciadas, que vão desde um nível mais

complexo – escrever, arranjar, montar e reger uma peça composta por mim – até

um nível mais simples, sendo apenas instrumentista num conjunto.

A primeira situação ocorreu entre os módulos II e III, quando compus uma peça

para coro e instrumentos de corda (partitura no ANEXO 5). No módulo IV, mostrei

essa composição aos mestres. Eles sugeriram, então, que a montasse e a

apresentasse, regida por mim, no concerto final daquele módulo. Superadas as

primeiras dificuldades, tais como: minha timidez, escolha dos participantes,

substituição de músicos e cantores, sendo que alguns eram mais experientes e

detinham maior conhecimento do que eu, a etapa seguinte foi ajustar a agenda

de todos para alguns encontros, ensaiar e lidar com os conflitos que o trabalho

em grupo geralmente traz. Eram pessoas de diferentes temperamentos, reunidas

sob minha batuta, para realizar um objetivo comum. Como minha peça não seria

a única a ser apresentada, meu trabalho concorria com outros e alguns dos

intérpretes estavam escalados para outras peças também, tendo que se dividir

em outros ensaios. Habilidades e capacidades pessoais à parte, ajustando isto ou

aquilo, ouvindo palpites de todos, ponderando e criando harmonia entre o grupo,

o objetivo foi alcançado: a peça foi montada e apresentada para o público.

A segunda situação ocorreu no módulo V, que foi a escolha, concepção,

interpretação e apresentação por mim de um solo de canto à capela. Na

interpretação vocal realizei alguns movimentos de Eurritmia. Escolhi uma canção

popular brasileira, escrita por um conhecido compositor7. Cantar me

acompanhando ao violão é uma constante em minha vida artística. E esta

música em especial esteve presente em diversas fases, indo e voltando, após

meus períodos de silêncio. Cantá-la para um público significava expor certos

aspectos pessoais a outros indivíduos, atitude que nem sempre estamos

preparados a fazer. Contudo, se esta questão estava emergindo, era necessário

encará-la, porque talvez estivesse madura para ser trabalhada. E havia outros

7 C. Veloso, O Ciúme, canção popular brasileira.

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desafios: interpretar uma música sem o acompanhamento do instrumento que

domino, introduzindo movimentos de Eurritmia, que estava começando a

aprender. Aqui também foi preciso muita paciência e respeito comigo mesma,

para ir até aonde conseguia, sem ferir meus sentimentos. Na prática, aprendi que

os movimentos devem ser bastante contidos quando se canta, para não

comprometer nem um nem outro ato, porque o ar inspirado, o fôlego, será

compartilhado entre o mover-se e o cantar8. No âmbito pessoal, percebi depois

que se tratou de trabalhar uma questão íntima que precisava ser transformada. E

o fiz de uma maneira artística, com suavidade e beleza, clareando e superando

as dificuldades que elaborar este processo me trouxe internamente.

A terceira situação ocorreu no módulo VII e envolveu minha participação como

instrumentista em um grupo musical de alunos. No concerto final daquele módulo,

executamos uma peça também de compositor conhecido9, mas aqui sob a

regência de outra pessoa, escolhida dentre os alunos. No processo, me coloquei

de maneira proativa para executar o que me foi pedido. Procurei ensaiar com

meu naipe, tirando dúvidas de execução com os colegas que tinham maior

conhecimento do instrumento do que eu. Observei a maneira como a regente

conduziu o grupo, com firmeza, mas de maneira leve e elegante, deixando a

todos confortáveis em suas posições. Aceitou sugestões, mas colocou suas

idéias com calma, sem ferir as individualidades dos músicos mais experientes.

8 Orientação que recebi de Veronika Brunis, euritmista e uma das coordenadoras do Curso de

Antropomúsica.

9 Senhora Chichera, folclore chileno, arr. M. Petraglia

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VI. TRANSPONDO PARA O ÂMBITO MACRO

Na trajetória de um trabalho solo para um grupal, observei que o grupo aciona

elementos internos que o solo demanda em menor escala, tais como paciência e

escuta. Emergem também, em ambos os casos, algumas dificuldades pessoais,

no processo como um todo.

Para nos auxiliar nessas exigências, a Antroposofia pode trazer os meios e as

ferramentas necessárias para conhecer o indivíduo em sua totalidade. O estudo

dos temperamentos pode clarear certas maneiras de lidar com as pessoas

envolvidas em determinado trabalho. A música provê técnicas e métodos para

compor, construir as notas ou desconstruir a harmonia para criar sons diversos. A

escola do Desvendar da Voz pode contribuir com exercícios corretos para

alcançar este ou aquele tom, mostrando como canalizar o ar, transportar a voz,

entoar, respirar, etc. A Eurritmia propõe os movimentos mais adequados para

transmitir determinado conceito ou objeto que se queira representar.

Mas como lidar com os conflitos que sempre ocorrem quando interagimos com

pessoas ou quando se lidera essas pessoas? Interesses diversos, pensamentos

e motivações adversas, motivos pessoais ou afetivos podem construir

relacionamentos ou provocar desafetos. E como superar esses conflitos, de modo

que a obra possa ser executada e o objetivo alcançado?

Para lançar luz a essas questões, peço licença aos Antropomúsicos para

descrever um exercício bastante simples, mas extremamente interessante, do

qual participei, em um dos Seminários de Pedagogia Social10, no tema da

administração de conflitos. Trata-se de um jogo composto de 6 peças que são

distribuídas a cada um dos participantes de um grupo, também em número de

seis. As peças, devidamente encaixadas, formam uma figura geométrica. O

objetivo do grupo é formar essa figura, sem que lhes seja dito nada. Apenas se

distribui as peças. Numa primeira etapa, não é possível os integrantes se

comunicarem entre si. Na segunda etapa sim, é permitido falarem e todos já

sabem que se trata de formar uma figura. Fácil? Nem tanto. Inúmeras situações

de dificuldades acontecem em cada uma das fases. Pode até ocorrer um

10 Seminário de Introdução à Pedagogia Social de Base Antroposófica, coordenação Herwig Haetinger,

exercício para trabalho em grupo, São Paulo, SP, 1990.

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bloqueio nos participantes e não se chegar a resultado algum, levando o grupo a

se dissolver e não completar o objetivo. Como resolver esta situação, quando o

grupo não consegue chegar a um consenso e o conflito é evidente?

Simplesmente sugerimos desmanchar o que está feito, embaralhar e redistribuir

as peças novamente, recomeçando o exercício. Em princípio, pode parecer uma

atitude inconsequente, mas a mudança e a surpresa que o ato de dissolução

causa podem trazer a solução e dissolver o mal estar provocado pelos embates

que ocorreram.

É preciso experimentar uma dose de anarquismo, às vezes, ou sempre, para

darmos espaço ao novo. Através de tentativas e erros, começando e

recomeçando, vamos descobrindo outros caminhos e abrindo infinitos leques de

possibilidades.

Se não houvesse os transgressores, que não se sujeitaram às regras comuns

vigentes e aceitas por todos, que levaram o desconforto às últimas

consequências, sem esses “curiosos” teríamos deixado de conhecer a música

atonal, no início do século XX, com Arnold Schonberg. Não teria havido espaço

para a contemporaneidade trazer o dodecafonismo nem a nova estrutura rítmica

de Igor Stravinsky em contraposição à música erudita européia vigente.

Neste ponto, nos permitimos acrescentar que compor é lidar com o que é

diferente. E como tudo o que ainda não está estabelecido gera dissabores,

compor é administrar conflitos: que nos foram trazidos pelo que é inusitado,

pelo desconhecido, e nos fizeram produzir uma nova harmonia.

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VII. CAUSANDO UMA AGITAÇÃO INTERNA

No intuito de compartilhar uma vivência que tive recentemente e que se aproxima

muito do que tratei neste trabalho, descrevo a seguir um exercício de vocalize

apresentado por Christiaan Boele, na Conferência Internacional “The World of

Singing”, no verão de 2012, em Dornach (Suíça), da qual tive a felicidade de

participar. Após os exercícios preliminares de vocalize (consoantes S, F, V, M

dois tons e outros), Christiaan introduziu o exercício das vogais, concebido pela

Escola do Desvendar da Voz11, executado em tons maiores, com o acréscimo de

consoantes a cada vogal. Lembro que as consoantes são instrumentos auxiliares

que apoiam e posicionam as vogais para que elas ressoem na direção correta,

daí a recomendação de que sua pronúncia seja exagerada:

TSU TO RA BÊ TCHÉ DÜ LI TSU

(e voltando na escala de tons:)

TSU LI DÜ TCHÉ BÊ RA TO TSU

Como este exercício foi elaborado no idioma alemão, não existe, em português, a

vogal correspondente ao som “Ü”, que deve ser executado com os lábios fazendo

um bico, um pouco mais aberto do que quando se executa o som “U”, e mais

fechado do que o “I”.

Repito, aqui, o exercício da forma como Christiaan nos apresentou, com

acompanhamento ao piano (a partitura se encontra no ANEXO 6). Sugiro, em

sua execução, que tenhamos uma atitude de surpresa e de admiração a cada

sílaba pronunciada. Com essa imagem em mente, o exercício é facilmente

cantado. Começamos em C Maior, seguindo os 7 tons da escala ascendente até

a oitava acima e voltando na escala descendente até a tônica. Subimos meio tom

e repetimos as notas nesta nova tonalidade, na escala ascendente e na

descendente. Assim vamos subindo de meio em meio tom, até Eb Maior e

retornamos, de meio em meio tom, até C Maior. Primeiramente, as notas devem

ser executadas lentamente, pronunciando bem as sílabas e exagerando bem as

consoantes. Passo a passo, conforme vamos adquirindo confiança na execução

e na pronúncia das sílabas, podemos ir acelerando o ritmo, mas não muito.

11 Escola de canto concebida por Valborg Werbeck-Svärdström, no início do século 20, a partir de sua

experiência pessoal, orientada por Rudolf Steiner.

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À medida que vamos avançando nas tonalidades, observemos o que esta

harmonização nos provoca internamente e qual é nossa atitude em relação a isto.

Estamos diante de nossa zona de conforto? A execução dessas escalas maiores

produz uma sensação de bem estar interno? Este é um caminho conhecido e fácil

de seguir?

No ANEXO 7, desenhei o mesmo exercício para ser executado juntamente com

passos, unindo movimento e canto, formando uma lemniscata no chão. Podem

ser feitos os gestos das vogais da Eurritmia, conforme são entoadas.

Agora quero propor outro exercício vocal, para ser efetuado imediatamente após

o anterior12. Trata-se de transpor o exercício das vogais para os outros Modos,

quebrando a sensação de conforto que a harmonia anterior trouxe (partitura no

ANEXO 8). Começamos pelo Modo Jônio e seguimos: Dórico, Frígio, Lídio,

Mixolídio, Eólio e Lócrio e voltamos na ordem inversa para o Modo Jônio.

Lembremos que, a partir do Mixolídio, no tom G, devemos cantar na oitava

abaixo, para não forçar a voz. Não nos esqueçamos de manter a expressão de

admiração e surpresa ao entoar cada sílaba.

Observemos, agora, o que esta nova harmonia nos provocou internamente.

Como foi percorrer este caminho sonoro pelas notas musicais a partir dos

Modos? Quando finalmente voltamos para o Modo Jônio, após percorrer todos os

outros, podemos dizer que nosso espaço interno está com a mesma qualidade

que tínhamos quando começamos o exercício, também no Modo Jônio? Que

sensações pudemos experimentar? Estávamos em nossa zona de conforto? Foi

fácil seguir este caminho? Podemos transpor nossas observações para o grupo

e anotar as inúmeras possibilidades e comentários que surgiram.

Compartilhemos este resultado com o grupo, dando transparência às nossas

atitudes. Facilitando a comunicação entre as pessoas, contribuímos para

aperfeiçoar e harmonizar nossas relações, que é o que, no fundo, todos

queremos.

12 Adaptação feita por mim a partir de exercício vocal proposto por Christa Waltjen, no I International World

of Singing, Dornach, Suiça, julho/2012.

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VIII. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quero destacar pérolas que colhi deste aprendizado:

Viver é fazer escolhas. A cada momento somos convidados a tomar decisões,

que podem nos levar a outros caminhos e seguir direções que sequer

supúnhamos.

O compositor da obra é apenas uma parte do processo, assim como cada

músico, cada cantor e o próprio regente. O resultado final, a execução da obra,

está num universo mais abrangente que apenas o do compositor.

Existe uma diferença entre o que escrevi e o que o músico executa, porque

ele também acrescenta algo de seu universo à obra, a sua interpretação, que

enriquece o resultado final.

É preciso uma dose de humildade para reconhecer que em nenhum processo

sou perfeita, mas posso me aperfeiçoar e me corrigir a todo instante,

transformando a mim e aos que interagem comigo em determinada situação.

Em um momento de extremo estresse, quando se quer tirar algo de dentro

para fora, a primeira coisa que sai é um som.

Tudo tem um tempo de maturação. Esperar por esse tempo para colher um

fruto melhor e mais saboroso. A Gestalt já diz: “Não apresse o rio. Ele corre

sozinho”13.

Olhar as questões pessoais com carinho e atenção. Não desprezar meus

sentimentos. Escutar o que eles querem me dizer. Respeitá-los e respeitar a mim

mesma.

Acreditar em meu trabalho. Fazer com que todos percebam que ele é tão ou

mais importante do que outros.

Valorizar sempre o esforço e a participação de quem interage comigo na

execução de uma peça. O reconhecimento é uma chave que abre portas e

caminhos.

Escutar e ponderar diferentes idéias e interpretações, abrindo a mente para

novas possibilidades, porque podem contribuir para o resultado final soar melhor.

Separar o aspecto pessoal do profissional. E se o conflito persistir, respirar

fundo e procurar ter uma postura aberta, sem cristalizar em minhas opiniões.

13 B. Stevens, Não apresse o rio: ele corre sozinho, trad. G. Schlesinger, São Paulo, Summus, 1978.

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Refletir sobre minhas atitudes. Elas também contribuem para manter ou

dissolver a situação. Se nada disso adiantar, embaralhar e dar as cartas

novamente14.

Qualquer que seja a situação, sejamos autênticos. Temos os meios e o

conhecimento para fazer o que nos é pedido. Preparamo-nos para estar onde

estamos, dominando técnicas, conceitos e fórmulas. Temos a possibilidade de

trocar ideias e dirimir dúvidas com colegas. Deixemos a intuição fluir e recebamos

a ajuda Divina que vem em nossa direção quando nos abrimos para acolhê-la.

Façamos ajustes. Agrupemos. Façamos escolhas com discernimento e uma boa

dose de improviso, para criar novas possibilidades. Convivamos com nossas

questões momentaneamente insolúveis. Talvez nosso “instrumento” ainda não

esteja preparado para ouvir as respostas.

Bom canto e felizes inspirações!

Porque “quem canta, os males espanta”.

Maria Cecília Censoni

Micael, 2012

14 Alusão a um dos exercícios de dinâmica de grupo proposto no Seminário de Introdução à Pedagogia

Social de Base Antroposófica, coordenado por Herwig Haetinger, 1990.

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IX. Anexos (partituras e figuras) ANEXO 1 – A LUA AZUL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24 Anexo 2 – ÁGUA DE CHUVA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 Anexo 3 – Fim de feira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Anexo 4 – fim de feira com swing . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32 Anexo 5 – axé, eiwá . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33 Anexo 6 – as vogais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .40 Anexo 7 – lemniscata com vogais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43 Anexo 8 – as vogais nos modos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .44

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