texto estado territorial e estado nacional

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Rede So Paulo de

Cursos de Especializao para o quadro do Magistrio da SEESP Ensino Fundamental II e Ensino Mdio

So Paulo 2011

UNESP Universidade Estadual Paulista Pr-Reitoria de Ps-Graduao Rua Quirino de Andrade, 215 CEP 01049-010 So Paulo SP Tel.: (11) 5627-0561 www.unesp.br

Governo do Estado de So Paulo Secretaria de Estado da Educao Coordenadoria de Estudos e Normas Pedaggicas Gabinete da Coordenadora Praa da Repblica, 53 CEP 01045-903 Centro So Paulo SP

http://1.bp.blogspot.com/-n4oIzYLw-6g/TX5hqlGWLQI/AAAAAAAAAkc/mfKN8Ka8PLE/s1600/Terra%2Bplaneta.jpg

Estado, Estado-territorial e Estado Nacional

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tema

Ordem geopoltica mundial atores e escalas de ao

Ficha da Disciplina

Eduardo Augusto Werneck Ribeiro Regina Celia Correa de Araujo Raul Borges Guimares

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Ementa:originou e estruturou a hegemonia americana, considerando a relao econmico-financeira e poltico-militar dos Estados Unidos com os pases latino-americanos, europeus, asiticos e africanos. Em vista dos conflitos regionais, movimentos migratrios internacionais e o auimpactam o sistema poltico internacional. A preocupao central desta disciplina de analisar o contexto histrico-geogrfico que

mento da desigualdade regional, os alunos sero desafiados a avaliar diferentes processos que

Palavras chaves:Ordem Mundial, Hegemonia, Estado, Nao e Poder.

Estrutura da Disciplina1. Estado, Estado-territorial e Estado Nacional 2. Relaes estratgicas internacionais e a estruturao da ordem mundial 1.1 Poder, territrio e Estado 1.2 A geografia poltica clssica alem 2.1 A geopoltica no mundo entre guerras 2.2 Hegemonia americana e repartio do poder mundial 3.1 Guerra Fria e bipolaridade 3.2 A crise da ordem mundial 4.1 A agenda ambiental 4.2 A fora dos jovens 5.1 A formao do mundo rabe 5.2 Tabuleiro poltico atual

Ordem geopoltica mundial - atores e escalas de ao

3. A (des)ordem mundial 4. Novos atores e escalas de ao 5. A crise do mundo rabe

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Ementa: ................................................................................... 3 Palavras chaves: ....................................................................... 3 Vdeo da Semana ...................................................................... 5Estado, Estado-territorial e Estado Nacional ............................................5 Um incio de conversa ................................................................................5 1.1. Poder, territrio e Estado .....................................................................6 1.2. A geografia poltica clssica alem ..................................................... 14

Referncia bibliogrfica: ......................................................... 1 7

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Vdeo da Semana

Unesp/Redefor Mdulo V Disciplina 07 Tema 1

Estado, Estado-territorial e Estado NacionalUm incio de conversanos Estados Territoriais, organizados a partir do fortalecimento do poder soberano dos reis, com a ascenso do Absolutismo na Europa Ocidental e sua dominao sobre os sditos. Se o poder tinha como fonte a riqueza patrimonial (terras, barras de ouro, especiarias e etc) das famlias reais (poder dinstico centrado na pessoa do rei), progressivamente, os Estados Territoriais permitiram a associao entre o poder e o espao. A formao dos Estados Nacionais, do modo conhecido nos dias de hoje, tem sua gnese

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uma vez que permitiu a formulao de uma outra concepo de Estado, cujo poder soberano deslocou-se da pessoa do rei (poder hereditrio) para o espao pblico. Assim, a personagem

A Revoluo Francesa representou um movimento de fortalecimento dessa associao,

do sdito substituda pela do cidado um sujeito com os direitos universais da igualdade,

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temaUnesp/Redefor Mdulo V Disciplina 07 Tema 1

liberdade e fraternidade, comum a todos os outros cidados. destacados, vamos analisar os fundamentos que permitiram o desenvolvimento dos Estados Nacionais a partir dos Estados territoriais, tornando indissocivel a ideia de poder e espao. Para que possamos compreender as mudanas no mundo e seus efeitos sobre os conceitos

1.1. Poder, territrio e Estadomodelo, desenvolvido por Aristteles (384-322 a.C.) razo pela qual tambm chamado de modelo aristotlico encontrado nos trabalhos de outros filsofos como Santo Agostinho de Hipona (354-430) e Santo Toms de Aquino (1225-74), segundo BOBBIO (2001). No famlias, estruturado hierarquicamente, tal como as relaes existentes entre pai, me e filhos At a metade do sculo XVII, a ideia de poltica era dominada pelo modelo organicista. Tal

chamado modelo organicista, o Estado considerado como um natural prolongamento das ou entre o dono da casa e os servos, sendo que a passagem do estado pr-poltico para o Estado

ocorre como efeito de causas naturais, tais como o aumento do territrio, o crescimento da poetc., ou seja, a legitimao se d pela necessidade.

pulao, a necessidade de defesa, a exigncia de assegurar os meios necessrios subsistncia, Uma caracterstica importante desse modelo aristotlico de poltica o do lugar secund-

rio do indivduo na ordem social. Assim, os indivduos no gozam de direitos anteriores ao Estado. Pelo contrrio, os direitos nascem no e com o Estado. Nesse sentido, podemos ler nas cidade por natureza anterior ao indivduo (ARISTTELES, 2001: 14). Assim, mais do que do indivduo, entre os quais ressalta, como principal, o de obedecer s leis.

primeiras pginas da Poltica de Aristteles: o todo precede necessariamente parte (...), a de seus direitos, a tradio poltica aristotlica dominante at a Era Moderna fala dos deveres Sendo assim, o Estado (que na poca de Aristteles era a Polis) tinha a ao e o poder de

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suas leis submetidos a uma fronteira entre o indivduo e sua comunidade. Ou seja, na polis grega, em especial Atenas dos sculos IV a II a.C., o espao local tinha um papel central, uma vez que o cidado participava diretamente das deliberaes pblicas, no gora. Esta situao revela como o Estado grego desvalorizava o indivduo fora de sua participao dentro do prpblica, dentro dos limites da polis. prio Estado, ou seja, o indivduo s tinha valor enquanto participante do espao de deliberao

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Saiba maisblico e o Privado no contexto do surgimento da Poltica, disponvel no link abaixo: Sobre este tema assista a aula da Professora Marilena Chau, sobre as relaes entre o P-

Unesp/Redefor Mdulo V Disciplina 07 Tema 1

http://www.youtube.com/watch?v=aOKIrHuvvNA Em outro momento, j na Roma Antiga, a 1. Na repblica romana, os magistrados eram funciorelao entre o poder e o espao ganhou outra nrios pblicos detentores de imperium e tinham o poder supremo do Estado Romano na ordemescoltados por lictores com bastes enfeitados com

dimenso. Os romanos precisavam manter o poder de executar ordens e, para simboliz-lo, eram poltica e administrativa dos povos conquis- da cidade de Roma. O grau de autoridade variava com tados. desta necessidade que se desenvolve o cargo ocupado e era demonstrado pelo nmero de ritrio de origem, personificando o poder dePretor (6) e Cnsul (12). A ideia do consulado nos dias de hoje decorrente deste princpio (uma reprefasces (feixes) de cereais. Este ttulo s era vlido fora

um novo conceito de Estado fora de seu ter- lictores que constituam a escolta, Edil (2 lictores), imperium na figura do magistrado1, ou seja, sentao de um Estado em outro pas, ou seja, um poo poder para agir e fazer o que for necessrio der para tomar decises em nome do Estado, fora do para governar em nome de Roma.lugar de origem).

apenas aos reis, esvaziando-se o poder poltico de outros cargos pblicos. Tal situao veio a se

Na passagem da Repblica para o Imprio Romano, o poder de imperium ficou atribudo

agravar com a queda do Imprio Romano do Ocidente (475 d.C.), uma vez que a participao

no governo pulverizou-se por meio do poder hereditrio dos nobres. Desta forma, a concepo

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de poder tornou-se mais restrita, pois o poder para governar nos lugares distantes de Roma, transformou-se no exerccio de subordinao da comunidade local ao comando do senhor das terras, o poder de um sobre os outros. Neste momento, vale a pena diferenciar como as relaes de poder se desenvolveram duran-

te o perodo medieval da Europa Ocidental.

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temaUnesp/Redefor Mdulo V Disciplina 07 Tema 1

era, sobretudo, de proteo dos senhores de suas terras, prio Romano do Ocidente (sculo V) at os feudos, com relativa autonomia econmica, social e poltica.o sculo IX, com a diminuio das invases o dos primeiros principados. brbaras, estabilizao dos feudos e forma-

Na Alta Idade Mdia,2 o objetivo poltico central 2. perodo demarcado pela queda do Im-

marqueses, condes) e de clero (papa, bispos, abades). Esses prncipes leigos e clericais eram suseranos e vassalos entre si, com base em juramentos de lealdade mediante os quais forma-

Os senhores feudais mantinham entre si relaes hierrquicas de nobreza (reis, duques,

vam uma pirmide hierrquica de poder e dignidade. Mas todos eram senhores feudais. Cada um era dono (dominus) de um domnio (dominium) feudal e exercia o poder sobre as terras que possua como feudo: o rei exercia o poder sobre o reino, o duque exercia o poder sobre o

ducado, o marqus, no marquesado, o conde, no condado, o papa, nas terras papais, o bispo, no bispado, o abade, na abadia. Em suma, cada prncipe governava seu principado, por efeito de um domnio poltico sobre as coisas e os sditos que viviam em suas terras.

dos bens patrimoniais implicava no poder poltico. O dono da terra, com base no direito napoder s terras e riquezas patrimoniais.

Eis a a fonte do poder poltico caracterstico da Europa Medieval: o domnio das terras e

tural, governava o que se passava em seus domnios. Era um domnio poltico que vinculava o No entanto, esse modo de exerccio do poder no se desenvolveu da mesma maneira em

todos os lugares. Certos senhores feudais construram muralhas para alm de seus domnios

principais, propiciando a aglutinao de moradia dos camponeses do feudo e uma estrutura

social diversa dentro de seus muros, o que favoreceu o ressurgimento de cidades e do comrcio. ganharam autonomia e prestgio poltico diante do trono Algumas destes feudos ficaram to complexos e ricos que 3. um ttulo de origem romana,mas foi muito usado pelos monarcas germnicos como ttulo de rei, po-

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central. Outros romperam com a relao de vassalagem e rm, em outros pases, o duque era lealdade e tornaram-se independentes. desta forma que um regente territorial muito imporsurgem principados e ducados3.tante, abaixo apenas do prncipe.

bilidade de uma autoridade estatal se mostrar capaz de assegurar a ordem e a unidade poltica da Europa Ocidental, o que provocou uma profunda instabilidade poltica, agravada pelas constantes guerras internas.

Diante desse quadro de grande diversidade de formas de pode local, era evidente a impossi-

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O sistema feudal europeu carecia de trs caractersticas essenciais de uma organizao estatal: 1. a soberania (nenhum poder tinha condies de se impor aos numerosos poderes particulares); 2. a impessoalidade (as relaes de poder eram do tipo pessoal); 3. juridicidade (no obstante a presena de um complicado sistema de regras acerca das rede fora entre os mesmos). laes entre o imperador e os habitantes dos feudos, prevaleciam na realidade as relaes4. O monarca seria a lei, e os nobordinados ele. bres estariam su-

se desenvolveram novas idias a respeito do poder poltico, como de Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632-1704).

mento e centralizao do poder do rei4. neste contexto de mudanas que

A Idade Moderna pode ser caracterizada politicamente pelo fortaleci-

a sociedade civil abrisse mo de alguns direitos em detrimento de uma entidade chamada Estado (na viso do autor, o Leviat). Segundo essa teoria, em seu estado natural, os indivduos lobo do homem. viviam isolados e em luta permanente, vigorando a guerra de todos contra todos ou o homem por isto que para Hobbes, nesse estado (natural), reinaria o medo e, principalmente, o da

Na concepo de Thomas Hobbes (em seu livro Leviat, de 1651), a paz s aconteceria se

morte violenta. Para se protegerem uns dos outros, a nica lei seria a fora do mais forte, que pode tudo quanto tenha fora para conquistar e conservar. Para cessar o estado natural, os homens deveriam passar desse estado de natureza socie-

dade civil, mas isso somente seria possvel com a implantao de um sistema de leis de uma entidade maior por meio de contrato social.5

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tural e do Contrato , evidenciam algumas inovaes polticas de grande importncia.

Essas ideias polticas de Hobbes, reunidas na Teoria do Direito Na-

5. Tambm conhecido como jusnaturalismo.

dida como um grupo humano uno, homogneo, indiviso, que compartilha os mesmos bens, as

Em primeiro lugar, observa-se o desenvolvimento da ideia de sociedade civil. Compreen-

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temaUnesp/Redefor Mdulo V Disciplina 07 Tema 1

mesmas crenas e ideias, os mesmos costumes e que possui um destino comum; a sociedade civil seria a fonte do poder poltico. Dessa ideia de poder produzido pelas relaes polticas da sociedade civil resulta outra

igualmente importante: a do soberano. Desta forma, o soberano que governar o Estado, ma-

terializar em nome da sociedade o poder e interesse coletivo. Esta entidade maior ficaria responsvel pelo coletivo, desde que orientada por regras: a do consenso e a submisso a um poder poltico central inquestionvel. Na tica de Hobbes, a sociedade precisaria de um Estado cujos

limites territoriais estabeleceria o poder do soberano. Estabelece-se a uma aproximao cada vez maior entre poder e espao a partir da formao dos Estados Territoriais, sob o comando central e forte do rei.

indivduos entre si, para obedecer ao poder governante escolhido pela maioria. Depois de eleito achar conveniente conceder. Mesmo sendo um governo mau e desptico, os cidados no tm direito rebelio, pois o acordo foi feito apenas entre eles, no entre eles e o governante. Ainda de acordo com Hobbes, o homem troca sua liberdade pela proteo que o soberano

Assim, interessante registrar que o contrato social proposto por Hobbes feito entre os

o poder governante, os cidados perdem seu poder poltico, exceto aqueles que o governo possa

pode lhe dar. Esta condio poltica implicar novos direitos para a sociedade como o de autoconservao (nenhum governante pode lutar contra a sociedade que o escolheu) e o de no se submeter a um soberano que no tem fora para proteg-lo. Para assegurar a paz social e est acima dele), ou seja, uma monarquia absolutista.

impedir a volta guerra permanente, Hobbes entende que o governante tem poder forte (nada Ao contrrio de Hobbes, outra ideia de Estado Territorial surge na mesma poca. O ingls Aps a difcil passagem do perodo da Repblica da Inglaterra66. Commonwealth da Inglaterra o Protetorado da Inglaterra foi um perodo republicano de 1653 1659.

Locke apresenta o que se pode chamar de um Estado liberal.

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por Oliver Cromwell, muitos pensadores refletiam sobre os aspectos positivos e negativos que acabaram de vivenciar. Locke, em seu livro Segundo Tratado sobre o Governo Civil, de 1690, buscava

apontar e aprimorar os acertos encontrados no perodo em que a Inglaterra era governada por

apenas seu parlamento. O contexto de seu livro estava na experincia de uma ex-monarquia

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tema7. Representando a transio poltica de uma Monarquia Absolutista para uma Monarquia Parlamentar, a Revoluo Gloriosa inaugurava a atual poltica inglesa onde o poder do rei est submetido ao ParlamenUnesp/Redefor Mdulo V Disciplina 07 Tema 1

na qual a sociedade civil elegia seus representantes e estes

tinham o poder soberano do Estado. Todavia, logo a ideia de repblica foi abandonada e o pas se transformou em uma ditadura, o que mais tarde permitiu a restaurao da mo(monarquia parlamentarista7). narquia, porm com a diviso do poder com o parlamento

to o que vemos at nos dias de hoje.

sociedade civil, pois o estado da natureza (como j havia apontado Hobbes) o estado dos direitos naturais como do direito vida, liberdade e aos bens necessrios para a conservao de ambas, porm, conseguido atravs do trabalho. Nesta con- 8. Para John Locke, a partir da livre cepo, a propriedade privada8 tambm um direito natural, iniciativa do homem e da realizao pois a partir do trabalho desenvolvido na natureza que o de seu esforo que possvel garanhomem vai ter condies de subsistir. Com essa caracterstica,tir a apropriao de um bem natural disposto na natureza. Assim, a pro-

Diante deste contexto, Locke argumentava que o Estado tinha um compromisso com a

a propriedade o meio de sua subsistncia, o homem tem o priedade pode ser compreendida direito de proteg-la, e para isso se une com outros propriet- como tudo aquilo que transforrios que tambm querem exercer o direito de defesa das terras mado pelo esforo do homem. que trabalharam.

daquele preconizado por Hobbes. Enquanto para Hobbes, o contrato feito entre os homens

Essa justificativa gera, na concepo de Locke, um contrato social totalmente diferente

para decidirem que soberano ir proteg-los nos limites territoriais do Estado e a este entregar as partes contratantes, ou seja, entre os cidados e o soberano, porm, diante de regras e limites do uso do poder soberano do Estado Territorial.

sua liberdade e suas propriedades em troca de segurana, para Locke o contrato feito entre

com a garantia da segurana e da vida. Para Locke, o soberano nada mais do que uma instncia superior que tem como misso defender a propriedade privada, castigar os ladres e tratar mbito do territrio. das questes comuns a todos os proprietrios, entre outras regras definidas coletivamente no Dessa forma, na viso de Locke, existe uma nova participao da sociedade no Estado,

Para Hobbes, o poder soberano absoluto e o seu compromisso com os sditos relaciona-se

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principalmente, com a ascenso dos burgueses, cansados do monoplio poltico e econmico

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temaUnesp/Redefor Mdulo V Disciplina 07 Tema 1

do relacionamento desptico dos monarcas e da experincia 9. Ressalta-se que no caso da Indos ditadores. Alm do soberano ter um poder limitado9, glaterra, o poder j era determinado observa-se tambm um outro ponto importante: o acesso a propriedade (no caso a terra), a partir da livre iniciativa.a certos limites a partir do tratado chamado de Magma Carta de 1215, porem em 1689 peloBill of Rights, que o poder do monarca fica divido

Nos argumentos de Locke, o domnio da terra fruto com o parlamento e a sociedade civil do trabalho do homem (apropriao da natureza) e no da daquela poca ganha suas garantias concesso do soberano. Desta forma, para o Estado de Lo- mnimas com o Estado nacional. cke, o poder econmico e poltico no estariam mais ligados

ao monoplio poltico dos nobres e reis. Os burgueses poderiam desfrutar de tal status, desde que estivessem em dia com os impostos e os deveres estabelecidos pelas leis do Estado. Nesta concepo, a funo do Estado outra. No se restringe a dar segurana sociedade

civil (nobres, servos e vassalos), que at ento era restrita aos sditos. Ela amplia sua obrigao e procura garantir e defender o direito natural de propriedade de qualquer burgus ou mesmo arbitrar os conflitos polticos desta nova viso de sociedade civil, a nao.

der e cidadania. Os revolucionrios franceses tinham um duplo desafio, pois no se tratava de forma de agir em relao aos limites do Estado e dos interesses pblicos.

Coube Revoluo Francesa (1789) a ampliao ainda maior da relao entre espao, po-

uma simples troca de personalidades no exerccio do poder, mas de uma verdadeira ruptura na A viso revolucionria entendia que o novo Estado no seria mais definido pela vontade

das oligarquias, mas pela composio dos interesses populares. Desta forma, somente a repdessas ideias atravs do pensamento do iluminista Jean Jacblica10 poderia atender as exigncias polticas da nova forma de Estado. Vejamos o significado10. Entende-se a partir da Revolu-

ques Rousseau (1712-78). Em O Contrato Social, de 1762, o o Francesa que a Repblica para filsofo francs desenvolve sua prpria posio sobre a legi- atender ao interesse pblico, sem timao do contrato social entre a sociedade civil e o Estado, distino de que vive nela (Igualdaprincipalmente na forma de repblica.de, Liberdade e Fraternidade).

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es polticas que at ento o pensamento liberal e burgus vinha difundindo. Assim como ra o estado de guerra hobbesiano ainda presente na sociedade civil.

Na concepo rousseauniana a evoluo social da repblica no pode reproduzir as condi-

Hobbes, Rousseau constri uma hiptese de estado de natureza e estado civil, porm, conside-

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temaUnesp/Redefor Mdulo V Disciplina 07 Tema 1

sua Teoria Poltica. A repblica idealizada s teria sentido se a sua instituio fosse pblica e criada atravs do pacto social.

na sociedade das instituies civis que reside crtica rousseauniana e o fundamento de

tades particulares e no o conjunto das prprias vontades privadas como se argumenta na perspectiva de Hobbes e Locke. Assim, percebe-se que a existncia de interesses particulares uma condio de arte construtora do interesse comum (Rousseau, 1980). conflituosos entre si a essncia da vontade geral no corpo poltico, o que confere poltica Ao difundir a importncia do debate poltico na construo do Estado do interesse co-

A fundamentao do Estado republicano rousseauniano a soma das diferenas das von-

mum, a soberania emanada pelo povo ganha outra interpretao. Esta assume a forma de Es constitudo de cidados participantes da atividade soberana, formando assim a repblica democrtica direta. A sociedade civil composta de cidados e , ao mesmo tempo, o corpo poltico do Estado, por ocasio do ato legislativo11. A soberania o exerccio da vontade geral

tado, fazendo com que o povo cumpra o que ele mesmo estabeleceu. Assim, o corpo poltico

e inalienvel. Ela no pode ser definida por uma outra pessoa, pois se (...) o ser humano j no ter como assegurar sua sobrevivncia, j que nada haver submisso, o que, no entanto, nunca estar garantido. (Rousseau, 1980, p.12).

entrega a outro a possibilidade de decidir no soberano, estar se submetendo de tal forma que mais ir proteg-lo, a no ser ficar na esperana de que no 11. A lei deveria ser escrita e publicadapara que todos pudessem ler e discutir.

volucionria. Apesar de reconhecer a origem do poder soberano e apontar que o legislativo e cidado de um governo que facilmente se corrompe.

Todavia, a instituio estatal defendida por Rousseau no seguiu em frente na Frana re-

executivo esto nas mesmas mos, este pensador pondera que a democracia no exercida pelo Neste sentido, Rousseau se opunha que na repblica democrtica houvesse representaes

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(como a figura do deputado) pois, na sua viso, a representao era uma herana medieval e a intermedirios entre o Estado e a sociedade.

repblica moderna tinha que se inspirar na experincia das repblicas antigas que no tinham

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temaUnesp/Redefor Mdulo V Disciplina 07 Tema 1

diam a participao poltica da mesma maneira. Para Robespierre (Maximilien de Robesreunido, organiza por si mesmo todos os assuntos pblicos. A democracia um Estado onde o povo soberano, guiado por leis que so obra sua, faz por si mesmo tudo o que pode fazer bem e por delegados tudo o que ele prprio no pode fazer. Foi esta interpretao que fortaleceu oupromovendo a paz dentro da Frana, alm de servir de exemplo para outras sociedades, como o recm formado Estados Unidos da Amrica.

Este pensamento foi controverso na sua poca, pois nem todos os revolucionrios enten-

pierre, 1758/1794), por exemplo, a democracia no um Estado onde o povo continuamente

tra concepo de repblica, a repblica democrtica representativa (FLORENZANO, 2004),

adoo do regime republicano, mas como a primeira nao a identificar no sistema representativo republicano o sinnimo de democracia.

A independncia das colnias inglesas da Amrica do Norte foi marcante no apenas pela

1831) inaugura um novo modelo de pensamento sobre a relao entre Estado e sociedade, o que foi fundamental para o desenvolvimento da geografia poltica e sobre o pensamento europeu em geral. Para ele, o Estado, na medida em que se identifica com a vida de um povo, um momento da histria universal, ou seja, um evento histrico. Nesta perspectiva, o Estado

no comeo do sculo XIX, na Alemanha, que Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-

ideal seria aquele que assegurasse a sociedade civil uma vida tica, baseada nos valores da nova

condio moderna. Representado principalmente pela Prssia do seu tempo, o Estado para (Bobbio, 2001).

Hegel seria a etapa final do desenvolvimento social e da liberdade poltica da Humanidade

1.2. A geografia poltica clssica alemA partir do inicio do sculo XVIII, muitos filsofos dos novos Estados soberanos buscaram

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desenvolver ideias que ajudaram a compreender e fundamentar a luta poltica entre as naes. Um debate que dominou as discusses daquela poca era a relao entre os termos nao, nacionalidade e nacionalismo.

a busca das argumentaes tericas para a definio das futuras regras de relaes entre os

Para historiador Eric Hobsbawm (2002) este debate teve como pano de fundo, desde 1870,

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temaUnesp/Redefor Mdulo V Disciplina 07 Tema 1

Estado modernos (o que o autor chama de nao moderna), no contexto do desenvolvimento do capitalismo e do imperialismo. Assim, a constituio de um Estado implicaria a interao entre diversos grupos tnicos, convivendo em um mesmo territrio, unificados ou no por as tenses e conflitos decorrentes dessas interaes sociais foram sendo superadas por meio da maior entre Estado, Estado-nao, Nao e Nacionalismo.

uma lngua comum e pela vivncia de valores coletivos. Na viso deste historiador britnico, estratgia discursiva da identidade nacional, estabelecendo-se uma cadeia sinonmica cada vez Por meio de um interessante estudo da evoluo do termo, o mesmo autor adverte, por

exemplo, que no francs e no alemo medieval a palavra nao significava nascimento ou grupo de descendncia, referindo-se ento a um local e/ou uma etnia, longe, portanto, de uma associao com um Estado, sem qualquer conotao poltica.

ticas que fundamentam a legitimidade de um Estado-nao, poderiam ser assim entendidas. Assim,particularmente no h conexo lgica entre corpo de cidados de um Estado tnicas ou em outras com caractersticas que permitam o reconhecimento coletivo do pertencimento de grupo. De fato, por causa disso j foi mostrado que a Revoluo era inclusive hostil a ele. (HOBSBAWM, 2002, p. 32).

Nem mesmo a identidade lingstica, comumente apresentada como uma das caracters-

territorial, por uma parte, e a identificao de uma nao em bases lingsticas,

Francesa foi completamente estranha ao princpio e ao sentimento de nacionalidade;

para cima, mas de um pacto entre os prncipes, isto , de cima para baixo e com a supremacia esmagadora da Prssia, dirigida por Otto von Bismarck. Na poltica nacional, Bismarck, buscando corrigir o atraso industrial e blico em relao

interessante ressaltar que a unificao alem no resultou da vontade do povo de baixo

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s grandes potncias, sobretudo Inglaterra, cooptou os Junkers (grandes proprietrios de

terra) e a burguesia (que abdicou do direito de governar em troca do direito de lucrar ainda

mais) para efetivar sua modernizao conservadora. Ao mesmo tempo, a poltica de bem-estar prussiano envolvia o fortalecimento dos aspectos econmico e social por meio da interveno estatal. Para isto tambm era necessrio a construo de valores de nao.

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temaUnesp/Redefor Mdulo V Disciplina 07 Tema 1

de ideais de nao, de nacionalidade, de nacionalismo como valores a serem constitudos e

Nesta poltica de difuso de valores, caberia escola o papel fundamental de construo

difundidos por toda a sociedade alem recm unificada, neste ponto que destacamos a importncia de Friedrich Ratzel (1844-1904), no ltimo quartel do sculo XIX, por sistematizar este conjunto de ideias atravs da Geografia. Enquanto os tambm estudiosos Humboldt e Ritter vivenciaram o aparecimento do ideal

da unificao alem, Ratzel vivenciou a constituio real do Estado nacional alemo e suas nistas do Estado alemo recm construdo (MORAES, 1990, p. 52).

primeiras dcadas, servindo de instrumento poderoso de legitimao dos desgnios expansioO principal livro de Ratzel, publicado em 1882, denomina-se Antropogeografia: funda-

mentos da aplicao da Geografia Histria. Nesta obra, o autor define o objeto geogrfico como o estudo da influncia que as condies naturais exercem sobre a humanidade. Estas influncias atuariam primeiro na fisiologia (somatismo) e na psicologia (carter) dos indivduos e, atravs destes, na sociedade. Em segundo lugar, a natureza influenciaria a prpria constituio social, pela riqueza que propicia atravs dos recursos do meio em que est localizada a sociedade; atuando tambm na possibilidade de expanso de um povo, obstaculizando-a ou mento e a mestiagem.

acelerando-a e ainda nas possibilidades de contato com outros povos, gerando assim o isolaPara desenvolver estas ideias, Ratzel realizou extensa reviso bibliogrfica sobre o tema das

influncias da natureza sobre o homem e concluiu criticando duas posies: a que nega tal

influncia e a que visa estabelec-la de imediato. Diz ele que essas influncias vo se exercer

atravs das condies econmicas e sociais, sendo para ele tambm a sociedade um organismo que mantm relaes durveis com o solo manifestas, por exemplo, nas necessidades de moradia e alimentao. O homem precisaria ento utilizar os recursos da natureza para conquistar sua liberdade que, nas palavras de Ratzel (1990), um dom conquistado a duras penas. O natureza.

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progresso significaria o maior uso dos recursos do meio, logo, uma relao mais ntima com a Quanto maior o vnculo com o solo, tanto maior seria para a sociedade a necessidade de

manter sua posse. por essa razo que a sociedade cria o Estado. Segundo Ratzel (1990): quando a sociedade se organiza para defender o territrio, transforma-se em Estado.

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temaUnesp/Redefor Mdulo V Disciplina 07 Tema 1

de e a perda de territrio seria a maior prova de sua decadncia. Por outro lado, o progresso

Para Ratzel, o territrio representa as condies de trabalho e a existncia de uma socieda-

implicaria a necessidade de aumentar o territrio, de conquistar novas reas. Justificando essas

colocaes, Ratzel se utiliza do conceito de Espao Vital, que representaria uma proporo de

equilbrio entre a populao de uma dada sociedade e os recursos disponveis para suprir suas Segundo Maltez (2006), Ratzel o introdutor de um nacionalismo geopoltico e de uma

necessidades definindo, assim, suas potencialidades de progredir e suas premncias territoriais. concepo fsico-natural de nao, onde existem trs elementos fundamentais: o espao (Raum extenso territorial e caractersticas), a posio (Lage posio relativa, continentalidade ou insularidade) e a fronteira (Grenze rgo perifrico e dinmico). Desta forma, no fica difcil observar a ntima vinculao entre essas formulaes da Geografia de Ratzel e a ideia de nao moderna.

corrente da desintegrao ou da ausncia de redes de relaes ou de comunidades humanas

A Alemanha seria uma comunidade imaginria que preencheria um vazio emocional de-

reais, pois a sua formao decorrente dos prncipes e no do povo. O significado moderno de ser una e indivisa.

nao comporta em si a ideia de centralidade e unidade difundida pelo Estado: a nao deveria Assim, o ensino da Geografia fundamentaria a constituio de uma conscincia nacional

entre as camadas populares, o que seria fundamental para a hegemonia das classes dominantes. Acreditava-se que tal tarefa seria realizvel, sobretudo, por meio da escola, onde os professores e com comportamentos considerados patriticos. estariam responsveis pela articulao da identificao da populao com os smbolos da nao

Referncia bibliogrfica: ARISTTELES. Poltica. Traduo de Roberto Leal Ferreira. 3ed., So Paulo: Martins Fontes, 2001. BOBBIO, Norberto. Estado, Governo, Sociedade: para uma teoria geral da poltica. 9 ed., So Paulo: Paz e Terra, 2001.

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ficha

sumrio

temaUnesp/Redefor Mdulo V Disciplina 07 Tema 1

CLAVAL, P. A geografia cultural: o estado da arte. In: CORRA, R.L. et al. (org.). Manifestaes da Cultura no Espao. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999 FLORENZANO, M. Repblica (na segunda metade do sculo XVIII Histria) e Republicanismo (na segunda metada do sculo XX - Historiografia), outubro de 2004. (acesso toFlorenzano/Republica%20e%20republicanismo.pdf 2002. em 12 de abril de 2011) http://www.fflch.usp.br/dh/pos/hs/images/stories/docentes/Modes HOBSBAWM, Eric J. Naes e Nacionalismo desde 1780. Rio de Janeiro: Paz e Terra, MALTEZ, Jos Adelino. Princpios de Cincia Poltica Introduo Teoria Poltica, ISCSP, 2 Edio, 1996. tec, 1990. MORAES, A. C. R. GEOGRAFIA: Pequena Histria Crtica. So Paulo: Editora Huci RATZEL, Friedrich. O povo e seu territrio In: MORAES, Antnio Carlos R. (org.). So Paulo, Editora tica, 1990. pp. 73-82. ROUSSEAU, Jean-Jacques Rousseau. O Contrato Social. So Paulo, Formar, 1980.

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Pr-Reitora de Ps-graduao Marilza Vieira Cunha Rudge Equipe Coordenadora Ana Maria Martins da Costa SantosCoordenadora Pedaggica

Cludio Jos de Frana e Silva Rogrio Luiz Buccelli Coordenadores dos Cursos Arte: Rejane Galvo Coutinho (IA/Unesp) Filosofia: Lcio Loureno Prado (FFC/Marlia) Geografia: Raul Borges Guimares (FCT/Presidente Prudente) Antnio Cezar Leal (FCT/Presidente Prudente) - sub-coordenador Ingls: Mariangela Braga Norte (FFC/Marlia) Qumica: Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara) Equipe Tcnica - Sistema de Controle Acadmico Ari Araldo Xavier de Camargo Valentim Aparecido Paris Rosemar Rosa de Carvalho Brena Secretaria/Administrao Mrcio Antnio Teixeira de Carvalho

NEaD Ncleo de Educao a Distncia(equipe Redefor)Coordenador Geral

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