mapeamentos participativos e gestÃo territorial em terras indÍgenas no estado do acre

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1 MAPEAMENTOS PARTICIPATIVOS E GESTÃO TERRITORIAL EM TERRAS INDÍGENAS NO ESTADO DO ACRE 1 Cloude Correia 2 Introdução Na nossa sociedade, os mapas fazem parte da vida cotidiana e acabam sendo banalizados pelo senso comum. Deparamos-nos com eles, sem dar-lhes muita atenção, em bancas de revistas, centros de informações turísticas, shopping centers, catálogos telefônicos, guias de ruas, cartas rodoviárias, bibliotecas, livrarias, escolas, quartéis militares, instituições governamentais e não governamentais, etc. Em geral, nós os utilizamos para nos orientarmos espacialmente de forma complementar a ações educacionais, como elemento central em estratégias militares, em discursos e ações políticas, em vários tipos de pesquisas – biológicas, geológicas, geográficas, antropológicas, sociológicas, históricas -, entre outros usos. A produção deles dificilmente costuma ser refletida; nos passa despercebida. Ela apenas se destaca caso um erro se torne visível e comprometa as atividades de quem consulta o mapa. Nesse momento, pode-se questionar como ele foi elaborado, ou quem cometeu o equívoco de inserir uma informação errada, ou um símbolo que não transmite com clareza a informação. Ao contrário do que se passa no senso comum, os mapas estão cultural e historicamente vinculados a várias sociedades e a contextos de produção e uso bastante complexos e distintos (Harley, 1988; Black, 2005; Orlove, 1991, Herlihy e Knapp, 2003; Chapin et alli, 2005, entre outros). Dentre os diversos mapas que são constantemente produzidos e utilizados, há os associados de alguma forma aos povos indígenas. Mapas de localização desses povos, da delimitação e demarcação de suas terras, de migrações, de filiações lingüísticas. Mais recentemente, mapas sobre os usos dos recursos naturais feitos pelos povos indígenas passaram a ser produzidos em diversos países, cada vez em maior número. No Brasil, diversas ações de mapeamento dos usos dos recursos naturais têm sido realizadas com o intuito de contribuir com a gestão territorial em terras indígenas (TIs), mas reflexões provenientes das Ciências Sociais sobre tais ações ainda são poucas. Essas ações podem ser 1 Artigo publicado em: CORREIA, Cloude de Souza. 2010. Mapeamentos Participativos e Gestão Territorial em Terras Indígenas no Estado do Acre. In: Amaral, José Januário de Oliveira & Leandro, Ederson Lauri (orgs.). Amazônia e Cenários Indígenas . Porto Velho/RO: Pedro e João Editores 2 Cloude Correia é doutor em Antropologia Social pelo PPGAS/UnB e atualmente trabalha como especialista em assuntos indígenas no Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB).

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Artigo publicado em: CORREIA, Cloude de Souza. 2010. Mapeamentos Participativos e Gestão Territorial emTerras Indígenas no Estado do Acre. In: Amaral, José Januário de Oliveira & Leandro, Ederson Lauri (orgs.).Amazônia e Cenários Indígenas. Porto Velho/RO: Pedro e João Editores.

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    MAPEAMENTOS PARTICIPATIVOS E GESTO TERRITORIAL EM TERRAS INDGENAS NO ESTADO DO ACRE1

    Cloude Correia2

    Introduo Na nossa sociedade, os mapas fazem parte da vida cotidiana e acabam sendo banalizados pelo senso comum. Deparamos-nos com eles, sem dar-lhes muita ateno, em bancas de revistas,

    centros de informaes tursticas, shopping centers, catlogos telefnicos, guias de ruas, cartas rodovirias, bibliotecas, livrarias, escolas, quartis militares, instituies governamentais e no governamentais, etc. Em geral, ns os utilizamos para nos orientarmos

    espacialmente de forma complementar a aes educacionais, como elemento central em

    estratgias militares, em discursos e aes polticas, em vrios tipos de pesquisas biolgicas, geolgicas, geogrficas, antropolgicas, sociolgicas, histricas -, entre outros usos. A

    produo deles dificilmente costuma ser refletida; nos passa despercebida. Ela apenas se destaca caso um erro se torne visvel e comprometa as atividades de quem consulta o mapa. Nesse momento, pode-se questionar como ele foi elaborado, ou quem cometeu o equvoco de inserir uma informao errada, ou um smbolo que no transmite com clareza a informao.

    Ao contrrio do que se passa no senso comum, os mapas esto cultural e historicamente vinculados a vrias sociedades e a contextos de produo e uso bastante complexos e distintos (Harley, 1988; Black, 2005; Orlove, 1991, Herlihy e Knapp, 2003; Chapin et alli, 2005, entre outros). Dentre os diversos mapas que so constantemente produzidos e utilizados, h os associados de alguma forma aos povos indgenas. Mapas de localizao desses povos, da

    delimitao e demarcao de suas terras, de migraes, de filiaes lingsticas. Mais recentemente, mapas sobre os usos dos recursos naturais feitos pelos povos indgenas passaram a ser produzidos em diversos pases, cada vez em maior nmero.

    No Brasil, diversas aes de mapeamento dos usos dos recursos naturais tm sido realizadas com o intuito de contribuir com a gesto territorial em terras indgenas (TIs), mas reflexes provenientes das Cincias Sociais sobre tais aes ainda so poucas. Essas aes podem ser

    1 Artigo publicado em: CORREIA, Cloude de Souza. 2010. Mapeamentos Participativos e Gesto Territorial em

    Terras Indgenas no Estado do Acre. In: Amaral, Jos Janurio de Oliveira & Leandro, Ederson Lauri (orgs.). Amaznia e Cenrios Indgenas. Porto Velho/RO: Pedro e Joo Editores 2 Cloude Correia doutor em Antropologia Social pelo PPGAS/UnB e atualmente trabalha como especialista em

    assuntos indgenas no Instituto Internacional de Educao do Brasil (IEB).

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    pensadas por meio de uma abordagem antropolgica que contemple a produo e os usos dos mapas como instrumentos que objetivam subsidiar a gesto territorial em TIs. Combinando a dimenso poltica do controle territorial das TIs com a dimenso ambiental voltada para sua sustentabilidade, a gesto territorial pode ser entendida como: o controle poltico e o manejo ambiental do espao geogrfico que o territrio de um grupo social ou entidade poltica (Little, 2006: 21).

    Casos exemplares de mapeamentos dos usos dos recursos naturais em TIs que articulam organizaes e instituies de vrios setores (governo, ONGs, organizaes indgenas, organismos multilaterais e da cooperao internacional e fundaes privadas) visando a gesto territorial, podem ser observados em vrios estados brasileiros: Amazonas, Amap,

    Roraima, Par, Mato Grosso, Rondnia, Maranho, Tocantins e Acre. Neste ltimo, tais esforos podem ser percebidos em vrias circunstncias, entre as quais nos processos de

    etnozoneamento da TI Mamoadate, ocupada pelos povos indgenas Manchineri, Jaminawa e isolados3; e de etnomapeamento da TI Kampa do Rio Amnia, de ocupao Ashaninka4.

    Etnozoneamento e etnomapeamento tm sido considerados de distintas formas por lideranas indgenas, consultores e representantes de instituies governamentais e no-governamentais. H uma considervel confuso conceitual, sendo algumas vezes concebidos como instrumentos de planejamento, instrumentos de diagnstico, instrumentos de mapeamento, instrumentos de gesto ambiental, instrumentos de gesto territorial e instrumentos tcnicos e polticos. Mais recentemente, por meio de um esforo analtico e classificatrio, todos estes termos foram unificados como etnoinstrumentos que podem ser

    utilizados dentro do que seria um amplo processo de gesto territorial em TI, composto por quatro etapas: de articulao, de diagnstico, normativa e de execuo (Little, 2006).

    De acordo com essa classificao, o etnozoneamento faria parte da etapa normativa e seria um instrumento tcnico e poltico. O etnomapeamento, inserido na etapa de diagnstico, seria um instrumento de mapeamento (Little, 2006). Assim entendidos, a classificao proposta por Little objetiva minimizar as discrepncias conceituais em termos ideacionais, propondo

    3 O termo isolados tem sido utilizado pelo rgo indigenista oficial para classificar aqueles povos indgenas

    que mantm um contato muito espordico, ou inexistente, com a sociedade envolvente. Com base em vestgios, contudo, os indigenistas do estado suspeitam que aqueles que transitam pela Terra Indgena Mamoadate sejam integrantes do povo indgena Masko, enquanto a populao regional do Estado do Acre apenas denomina esses povos de brabos, um modo de dizerem que eles no mantm contato amistoso com a populao local. 4 Mapeamentos desta natureza tambm so observados no Acre por meio do diagnstico etnoambiental da TI

    Nawa, situada no Municpio de Mncio Lima. Para maiores informaes sobre esse caso especfico de mapeamento ver Correia, 2007.

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    uma padronizao no uso dos conceitos dentro do processo global daquilo que se denomina gesto territorial em TIs.

    Essa classificao, entretanto, no suficiente para englobar todas as distintas aes de mapeamento junto a povos indgenas, voltadas para a gesto territorial em suas terras. Por mais profcuo que seja o esforo classificatrio empreendido, como toda tipologia ele no reflete as caractersticas e filigranas do etnozoneamento e do etnomapeamento. Todos podem

    ser tidos como instrumentos tcnicos e polticos, instrumentos de mapeamento, instrumentos de diagnstico e, ainda, instrumentos de planejamento, dependendo de como estes termos so entendidos e empregados tanto por seus formuladores, quanto pelos supostos beneficirios dessas iniciativas: os povos indgenas que habitam em TIs

    determinadas.

    Mesmo os dois instrumentos utilizados no Estado do Acre possuindo considerveis diferenas

    metodolgicas, conceituais e de objetivos tomo-os como instrumentos de planejamento. Isto no implica dizer que eles proporcionam um planejamento acabado - um plano de gesto territorial, por exemplo -, mas que so instrumentos tcnicos, polticos, de mapeamento e de diagnstico que oferecem subsdios aos povos indgenas e s instituies governamentais e no-governamentais com as quais se relacionam para planejar aes voltadas gesto territorial em TIs.

    Sociognese dos Mapeamentos Participativos no Acre

    As aes viabilizadas por meio desses instrumentos de planejamento - etnozoneamento da TI Mamoadate e etnomapeamento da TI Kampa do Rio Amnia centram-se na produo e uso

    dos mapas. Estes contm informaes sobre o interior e o entorno das TIs, em geral situadas prximas a unidades de conservao (UCs). A TI Mamoadate, localizada no vale do rio Purus, em seu afluente da margem direita denominado rio Yaco, tem seus limites contguos Estao Ecolgica do Rio Acre, ao Parque Estadual do Chandless, Fazenda Petrpolis/Brasil e TI Cabeceira do Rio Acre, estando bastante prxima da Reserva Extrativista Chico Mendes. A TI Kampa do Rio Amnia situa-se no vale do Juru, na regio do seu afluente da

    margem esquerda, o rio Amnia, contgua Reserva Extrativista do Alto Juru e no entorno do limite sul do Parque Nacional da Serra do Divisor (PNSD)5.

    O etnozoneamento da TI Mamoadate parte do Programa Integrado de Desenvolvimento Sustentvel do Acre, que contm trs componentes: Gesto Sustentvel e Conservao dos

    5 Este , atualmente, o quarto maior parque nacional do pas.

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    Recursos Naturais; Apoio e Promoo do Desenvolvimento Produtivo e Emprego; e Infra-Estrutura Pblica de Desenvolvimento. O primeiro componente tem um subcomponente, Fortalecimento do Sistema de Gesto Ambiental, que promove a realizao do Zoneamento EcolgicoEconmico do Estado do Acre (ZEE/AC 2 Fase). Dentro do ZEE/AC 2 Fase, iniciado em 2003, realizou-se o etnozoneamento da TI Mamoadate a partir de 2004. O ZEE/AC foi institudo no Estado pelo Decreto n 503, de 06 de abril de 1999, e recebeu apoio do Programa Piloto para a Conservao das Florestas Tropicais no Brasil (PPG7). O ZEE/AC constitui um dos instrumentos do Projeto de Gesto Ambiental Integrada (PGAI) implementado por meio do Subprograma de Poltica de Recursos Naturais (SPRN) do PPG7, coordenado pela Secretaria de Coordenao da Amaznia (SCA) do Ministrio de Meio Ambiente, dos Recursos Hdricos e da Amaznia Legal (MMA). No Estado do Acre, o ZEE e o PGAI receberam apoio financeiro e assistncia tcnica da Cooperao Alem - KfW e GTZ

    (ZEE, 2000: 03 V. I). Nesse cenrio institucional, a realizao do etnozoneamento da TI Mamoadate viabilizou-se com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do PGAI/Acre. Mais recentemente, em 2005, o Governo do Estado com recursos do BID ampliou o etnozoneamento para outras cinco TIs: Rio Gregrio, Katukina/Kaxinaw de Feij, Colnia 27, Igarap do Caucho e Caet. Antes dos etnozoneamentos, o governo, com apoio financeiro do BNDES, promoveu em 2002 uma ao bastante similar denominada etno-levantamento dos recursos naturais, nas TIs Cabeceira do Rio Acre e Campinas/Katukina.

    O etnomapeamento da TI Kampa do Rio Amnia, por sua vez, integra as aes do Setor de Agricultura e Meio Ambiente da Comisso Pr-ndio do Acre (CPI-Acre) e foi iniciado em 2004. Neste Setor, foi estruturado o subprojeto Etnomapeamento em Oito Terras Indgenas na Faixa de Fronteira do Estado do Acre, Brasil/Peru, a partir do projeto Conservao Transfronteiria do Alto Juru e Serra do Divisor (Brasil-Peru), para desenvolver aes de etnomapeamento em TIs situadas no entorno do PNSD e ao longo da fronteira Brasil-Peru, que se beneficia de recursos da Gordon and Betty Moore Foundation, canalizados pela organizao no-governamental The Nature Conservancy (TNC). Essa ONG tem atuado na regio do PNSD h vrios anos, tendo repassado recursos a SOS Amaznia6 para, em parceria com o IBAMA, elaborar o Plano de Manejo do PNSD. Alm da TI Kampa do Rio Amnia, as demais contempladas pelo projeto, so as TIs: Kaxinaw/Ashaninka do Rio Breu, Kaxinaw

    6 Organizao no-governamental ambientalista fundada em 1988 e qualificada pelo Ministrio da Justia como

    Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico (OSCIP) desde 2001.

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    do Rio Humait, Kaxinaw Seringal Independncia, Baixo Rio Jordo, Alto Rio Jordo, Poyanawa e Nukini.

    Como se pode notar, o etnozoneamento tem sido executado por meio de articulaes capitaneadas pelo governo estadual e o etnomapeamento pela organizao no-governamental

    CPI-Acre. Todos se configuram como instrumentos de planejamento que procuram de forma pretensamente participativa mapear os usos dos recursos naturais pelos povos indgenas, com

    a inteno manifesta de proporcionar a gesto territorial em TIs. Estes instrumentos de planejamento, contudo, tambm possuem os propsitos latentes de subsidiar a resoluo de conflitos socioambientais, modificar o comportamento dos povos indgenas com base nas noes de preservao e conservao ambiental, proporcionar o manejo dos recursos naturais pelos povos indgenas em suas terras, fortalecer a identidade e a autonomia indgenas, e estimular o dilogo entre lideranas indgenas e representantes de instituies governamentais

    e no-governamentais, entre outros. Isto fica visvel por meio de uma anlise das diversas vises sobre os mapeamentos participativos realizados nas TIs Mamoadate e Kampa do Rio Amnia, como mostro a seguir.

    Os diversos olhares sobre os mapeamentos participativos e seus usos Os mapeamentos participativos realizados em TIs no Acre, prximo daqueles realizados em

    outros estados brasileiros e em outros pases, centram-se na aproximao entre conhecimentos ocidentais e indgenas e tm o potencial de contribuir para o fortalecimento dos povos indgenas, a ampliao do conhecimento deles sobre o territrio, o registro da histria do

    povo, o uso dos recursos naturais e o combate degradao ambiental. Os mapeamentos participativos no Acre podem ser considerados como parte de um processo poltico que

    contribui para o atendimento de algumas demandas indgenas, especialmente as territoriais e de uso dos recursos.

    Para muitos dos formuladores do etnozoneamento e do etnomapeamento, esses instrumentos de planejamento auxiliam os povos indgenas a resistirem a formas de dominao. Para autores como Chapin (2005), Herlihy e Knapp (2003) e muitos outros, os mapeamentos participativos estariam at mesmo rompendo com a apropriao da cartografia por grupos

    dominantes que a utiliza para demarcar e controlar territrios indgenas.

    Analisando os diferentes olhares sobre os mapeamentos participativos em TIs no Acre e o uso

    que se est fazendo deles, como fao aqui, percebe-se, contudo, que eles continuam sendo apropriados por grupos dominantes. Mantm, portanto, um dos aspectos histricos da

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    cartografia ocidental, mostrada por Harley (1988), de serem utilizados para a dominao, mas, agora, com novas terminologias (mapeamento participativo, etnozoneamento, etnomapeamento, diagnstico etnoambiental, levantamento etnoecolgico, levantamento etnoambiental, etc.) e associados ideologia do desenvolvimento sustentvel (Ribeiro, 1992 e Pareschi, 1997 e 2002). Delineiam, assim, novas formas de dominao sobre os povos indgenas. Trata-se de uma forma de dominao bastante sutil, fundada na interao entre os

    discursos e as aes desenvolvimentistas e ambientalistas e na atuao dos indgenas enquanto sujeitos. Algo similar discutido por Moreton-Robinson & Ruciman sobre os direitos fundirios no Parque Nacional de Kakadu. Os autores mostram como polticas governamentais

    proclamavam a autodeterminao e o auto-manejo como um objetivo fundamental para os povos aborgines residentes no Parque Nacional de Kakadu, na Austrlia. As legislaes

    criadas, no entanto, estabeleceram novas relaes de dominao ao invs do auto-manejo; os povos aborgines foram engajados nos processos burocrticos da sociedade dominante (Moreton & Runciman, 1990).

    Para melhor compreender a nova forma de dominao por trs dos mapeamentos participativos, realizo uma anlise da prtica, nos termos de Orlove (1991). Levo em conta, ento, os diversos olhares no apenas sobre os mapas, como feito por ele, mas sobre os processos de mapeamentos participativos, mostrando como as pessoas voltam-se para eles com propsitos especficos e distintos. Assim, amplio a perspectiva analtica de Orlove para alm da produo dos mapas, estendendo-a para os processos associados aos instrumentos de

    planejamento que tm os mapas como um de seus produtos, entre outros, como planos de gesto, relatrios, documentos oficiais e publicaes.

    A partir da abordagem de Orlove sobre o o estudo da produo de mapas e o estudo da troca e do consumo de mapas, mas ampliando-a, procuro compreender aqui como o etnozoneamento e o etnomapeamento esto consolidando parcerias interinstitucionais e intertnicas calcadas na noo de desenvolvimento sustentvel e de conservao da natureza.

    Busco entender, ainda, como os instrumentos de planejamento vm sendo trocados e consumidos por instituies e povos indgenas.

    Interpretando a fala de lideranas indgenas, de consultores e de representantes do governo e de ONGs, no somente fica evidente os diversos olhares sobre os mapeamentos participativos e os usos deles, mas, igualmente, a apropriao crescente pelos povos indgenas da ideologia

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    do desenvolvimento sustentvel, seja por meio de aes educativas - como no etnomapeamento da TI Kampa do Rio Amnia -, ou de projetos desenvolvimentistas - como no etnozoneamento da TI Mamoadate.

    As vrias vises sobre o etnomapeamento da TI Kampa do Rio Amnia As diversas vises sobre o etnomapeamento da TI Kampa do Rio Amnia podem ser

    apreendidas por meio de uma etnografia dos olhares (Orlove, 1991). A concepo dos formuladores do etnomapeamento dessa TI, do ponto de vista metodolgico e ideolgico,

    aproxima-se daquela dos formuladores do Mapeamento Etno-Ambiental dos Povos Indgenas do Oiapoque, promovido entre os anos de 2001 e 2002, pela TNC-Brasil, Associao dos Povos Indgenas do Oiapoque (APIO) e FUNAI nas TIs Uaa, Jumin e Galibi, localizadas no Estado do Amap. Mais recentemente, a TNC alterou o termo

    Mapeamento Etno-Ambiental para etnomapeamento, passando a entend-lo como um passo culturalmente apropriado para que os povos indgenas possam determinar o seu prprio

    futuro e, conseqentemente, o da Amaznia tambm (TNC Amaznia, 2006).

    A preocupao com o futuro da Amaznia associado com o dos povos indgenas, presente na noo de etnomapeamento dos seus formuladores, resulta de uma preocupao crescente entre os ambientalistas com a conservao da natureza em TIs. Este fato permitiu uma aproximao

    do movimento indgena com o movimento ambientalista, mesmo tendo havido uma resistncia inicial por parte deste ltimo (Chapin, 2004). Essa aproximao gerou a noo de ndio ecolgico (Ulloa, 2001), muito presente no etnomapeamento da TI Kampa do Rio Amnia, especialmente no discurso dos Ashaninka sobre o futuro deles na rea. Para eles, o fato de viverem em uma terra delimitada exige cada vez mais um planejamento sobre o uso dos recursos naturais de forma sustentvel: voc tem que contar e comear a trabalhar para que voc viva dentro daquele espao, contando com aquele espao, aquele que voc tem que planejar para garantir o seu futuro (Francisco Pinhanta)7. Como fica visvel no discurso de Francisco Pinhanta, uma liderana Ashaninka que atualmente ocupa o cargo de Assessor de Assuntos Indgenas do governo estadual, a preocupao futura diz respeito mais ao povo Ashaninka que Amaznia como um todo,

    diferentemente da viso dos formuladores. Para estes, o etnomapeamento em TIs favorece o futuro dos povos indgenas e, conseqentemente, a preservao da Amaznia - preocupao

    7As falas das lideranas Ashaninka e de representantes da CPI-Acre e da TNC utilizadas neste captulo foram gravadas por assessores da CPI-Acre durante as oficinas de etnomapeamento da TI Kampa do Rio Amnia e gentilmente cedidas para serem utilizadas por mim.

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    primeira dos ambientalistas. Para os Ashaninka, a preocupao principal com o uso dos recursos naturais est atrelada ao futuro do povo, mesmo tendo conscincia do contexto amplo de preservao da Amaznia em que esto inseridos. Neste, o planejamento do uso dos recursos fundamental.

    Por isso, para os formuladores vinculados TNC e CPI-Acre, o etnomapeamento e, mais especificamente, os etnomapas termo usado pelas duas ONGs - uma ferramenta

    central no planejamento e gesto dos recursos naturais (TNC Amaznia, 2006). Produzidos de forma participativa, os etnomapas seriam ferramentas poderosas na execuo de polticas pblicas, de fiscalizao e proteo do territrio, uma vez que facilitam a comunicao dos povos indgenas junto aos tomadores de deciso e autoridades locais (TNC Amaznia, 2006). Resultante das preocupaes ambientalistas sobre a conservao da natureza, o etnomapeamento como um todo, e no apenas os etnomapas, entendido por seus

    formuladores como uma ferramenta de planejamento: uma coisa que muito importante refletir, pensar, que o etnomapeamento mais uma ferramenta de planejamento do uso dos diferentes recursos naturais da terra indgena (Renato Gavazzi8).

    A princpio concebido pelos seus formuladores como uma ferramenta - um instrumento - de planejamento indgena para qualquer ao presente e futura de uso dos recursos naturais, ele tambm concomitantemente um instrumento de planejamento institucional para as aes de gesto territorial em TIs. Nesse sentido, desde 2001 a TNC tem utilizado a ferramenta do etnomapeamento como um processo importante nos seus trabalhos com povos indgenas. Trata-se de um mapeamento participativo realizado em ntima colaborao com membros de

    comunidades indgenas e que compe uma etapa fundamental no desenvolvimento de planos de gesto dos recursos naturais de suas reservas (TNC Amaznia, 2006).

    Como percebido pelos formuladores do etnomapeamento do Oiapoque e do Acre, o mapeamento participativo uma etapa para a elaborao de planos de gesto dos recursos naturais. Essa concepo tambm se encontra presente entre os Ashaninka, que entendem as limitaes do etnomapeamento para a resoluo das demandas do povo indgena. Para eles,

    esse instrumento de planejamento compe um processo, sendo apenas um estgio para a resoluo dos problemas ambientais por eles enfrentados. Segundo Francisco Pinhanta, est

    comeando um processo que s vai dar um retrato e alguns indicativos. A partir dessas informaes pode se planejar para ter muitos resultados positivos. Muito deles se a

    8 Renato Gavazzi foi Coordenador do Setor de Agricultura e Meio Ambiente (SAMA) da CPI-Acre e um dos

    idealizadores dos etnomapeamento no Acre.

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    comunidade no estiver preparada, esse material pode ficar l encostado num canto e se perder (Francisco Pinhanta).

    Uma das preocupaes das lideranas Ashaninka com a apropriao indgena do etnomapeamento, que se no ocorrer, se ficar l encostado num canto, no cumprir seu

    papel de instrumento de planejamento indgena. Sendo apropriado, o etnomapeamento poderia estar contribuindo para os povos indgenas planejarem o uso dos recursos naturais no sentido de preserv-los. Apropriando-se do etnomapeamento um instrumento oriundo da sociedade ocidental e no Ashaninka a condio indgena no seria abalada, mas beneficiada com a adequao de algumas tcnicas e conhecimentos capazes de garantir o futuro do povo: no devemos deixar de ser ndio, acho que a gente tem que preservar, mas

    acho que a gente tem que entender que ns vivemos um momento que temos que adequar algumas tcnicas e conhecimentos para garantir a nossa continuidade (Francisco Pinhanta).

    A importncia do planejamento para os Ashaninka est ligada ao fato de viverem em uma terra indgena delimitada, distintamente do passado, quando a grande mobilidade para alm desses limites permitia-lhes manterem suas prticas de uso dos recursos naturais sem uma grande preocupao com o futuro, com a escassez. Quando os recursos naturais comeavam a diminuir em uma determinada localidade, era possvel deslocar-se para outra at a anterior se regenerar. Hoje, vivendo em um territrio demarcado pelo governo federal, os Ashaninka e outros povos indgenas precisam contar com apoios institucionais para utilizarem novas tcnicas e conhecimentos voltados para o uso dos recursos naturais.

    O apoio institucional, na viso dos Ashaninka, muito bem recebido por ajudar a despertar uma viso ambiental, ligada ideologia do desenvolvimento sustentvel. O apoio externo no significaria para eles o domnio ou a apropriao do espao pelas instituies,

    mas apenas uma nova linha de pensamento que precisa ser discutida pelo povo para incorpor-la ou no.

    Aqui, o interesse de quem est ajudando com essas oficinas e com outros apoios que vm no sentido de ajudar a fazer a comunidade se despertar, assumir e trabalhar cada vez mais dentro dessa linha, porque eles no esto interessados em vir a ser dono do espao. Mas porque isso feito para a prpria comunidade. Ento, o apoio que vem de fora deve ser discutido, considerado. Mas um apoio desse, de ajudar a planejar, uma coisa assim que muito importante, fundamental para o que a gente vem discutindo hoje (Francisco Pinhanta).

    Como entre os Ashaninka a discusso sobre desenvolvimento sustentvel, conservao da

    natureza, uso dos recursos naturais e mapeamento participativo no novidade - ocorre h anos, por meio de outros projetos , eles visualizam a importncia de colocar as informaes

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    no papel, por meio da elaborao dos mapas e documentos correlatos, como pode-se notar na fala de uma das lideranas Ashaninka: um trabalho j conhecido, a gente j tinha uma experincia dos rios, das matas, dos igaraps, da fronteira, mas no tinha isso colocado no papel, no tinha essa idia. Por meio das oficinas, contudo, eles concluram que realmente

    uma coisa que tem que acontecer (Bebito Pinhanta).

    Por no serem novidades trabalhos da natureza do etnomapeamento, voltados para o futuro do

    povo que reside em uma rea demarcada, de onde surge a necessidade do uso sustentvel dos recursos naturais, as lideranas Ashaninka entendem que o apoio institucional fortalece a TI e o povo, ressaltando aspectos da identidade deles. Tambm tm clareza de que o apoio das ONGs possui estreito vnculo com as preocupaes mundiais de conservao da natureza, de

    desenvolvimento sustentvel, como mencionado pelo professor Ashaninka: esse apoio que a gente est tendo das organizaes, das ongs, eu acho que muito importante no sentido de

    estar fortalecendo mesmo as terras indgenas. Isto ocorre porque as terras indgenas so as maiores reas de proteo e de segurana na permanncia dos recursos e da mata. Por esse motivo, esperam que o etnomapeamento proporcione, tambm, um fortalecimento da identidade: porque voc ter o nome de um rio na lngua indgena [inserido no mapa] uma identidade prpria, uma marca do seu universo (Isaac Pinhanta).

    Conscientes de que o apoio externo significa apenas uma ajuda, pois a incorporao de novas prticas e linhas de pensamento depende de uma deciso do povo, buscam estabelecer parcerias principalmente com ONGs, abandonando o paternalismo muitas vezes presente na atuao do rgo indigenista oficial. Ainda assim, entendem que os novos parceiros tambm

    so temporrios, apiam algumas aes e depois se retiram do cenrio. Apenas eles poderiam de fato garantir uma melhor qualidade de vida, apropriando-se de elementos externos de

    interesse do povo: a comunidade que vai ter que se organizar cada vez mais, assumindo cada vez mais o seu papel de comear a resolver o seu problema (Francisco Pinhanta).

    Os novos parceiros, mais que apenas produzir mapas e capacitar os Ashaninka para lidarem com a cartografia ocidental, objetivam com o etnomapeamento contribuir com um processo educacional voltado para a gesto dos recursos naturais e do territrio de diferentes povos, como fica explcito nos propsitos de se ter um plano de uso das TIs. Como dito por Renato

    Gavazzi, o etnomapeamento pode ser um instrumento muito importante na gesto territorial e ambiental das terras indgenas. Com base nos trabalhos desenvolvidos pelos agentes agroflorestais formados pelo CPI-Acre, tem se discutido diversas questes relacionadas com a

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    escassez e o uso sustentvel dos recursos naturais em terras indgenas. A partir destas discusses esto sendo elaboradas normas de uso dos recursos, os indgenas esto comeando a pensar em diferentes estratgias de utilizar de uma maneira que os recursos naturais no se acabem num futuro prximo. Reflexes dessa natureza no se limitam ao

    Estado do Acre, porque em vrias partes do Brasil, ou mesmo em vrias partes do planeta, muitas coisas comeam a se acabar: at a gua comea a faltar em vrios lugares do planeta.

    Isso e uma questo muito sria, muito preocupante (Renato Gavazzi).

    Uma questo sria e preocupante no apenas local, mas pertinente a contextos mais amplos -

    regionais, nacionais e internacionais - dos quais o etnomapeamento faz parte. O carter multilocalizado das preocupaes com o uso dos recursos naturais visvel na ideologia do

    desenvolvimento sustentvel, adotada em programas e projetos governamentais e no governamentais, no Acre, no Brasil e em outros pases. O prprio projeto transfronteirio que deu origem ao etnomapeamento - configura-se como parte das preocupaes locais, regionais, nacionais e internacionais com o uso dos recursos naturais na fronteira entre o Brasil e o Peru. As instituies envolvidas nele atuam em mltiplos espaos geogrficos e recebem financiamentos de fontes externas ao local. Procuram estabelecer uma rede entre instituies governamentais e no-governamentais, composta tambm pelos grupos sociais diversos que residem em TIs, UCs e assentamentos do governo, seja no Brasil ou no Peru. Como dito durante uma das oficinas de mapeamento por um tcnico da TNC: um lado que eu acho que muito forte nesse projeto justamente essa rede. Uma rede de parcerias entre comunidades indgenas, parque nacional, reserva extrativista, assentamento do INCRA,

    rgos governamentais e no-governamentais, no s do Brasil como tambm do vizinho Peru (Mrcio Sztutman).

    Essa rede institucional e social, alm de canalizar seus esforos para a gesto territorial da TI Kampa do Rio Amnia, possui o objetivo mais amplo de contribuir para a resoluo de conflitos sociais e tambm ambientais na regio da fronteira entre o Brasil e o Peru. Com uma metodologia prxima daquela utilizada pela TNC no Amap e em Roraima, o

    etnomapeamento no Acre, com suas especificidades, agregou aos trabalhos anteriores a elaborao de um plano de uso, sendo este um grande diferencial em relao aos

    mapeamentos participativos anteriores realizados no Brasil.

    Fazendo parte dessa rede institucional, os formuladores do etnomapeamento percebem a importncia dele para o desenvolvimento sustentvel e para a conservao da natureza por

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    meio de vrios aspectos. No Mapeamento Etno-Ambiental realizado nas TIs do Oiaoque - apoiado pela TNC e do qual decorre parte da metodologia do etnomapeamento do Acre - a importncia de se produzir os etnomapas deve-se necessidade: 1) de preencher o vazio geogrfico existente nos mapas oficiais; 2) de melhorar o material didtico das escolas indgenas para o estudo da regio; e 3) de planejamento ambiental da TI frente ao crescimento populacional, ao uso de novas tecnologias pelos povos indgenas e ao asfaltamento da BR 156 - que corta parte da TI Uaa. Alm dessas relevncias atribudas ao Mapeamento Etno-ambiental, ele tem sido apropriado pelos Agentes Ambientais Indgenas (AAIs) do Oiapoque para suas atividades de planejamento ambiental, discutindo e delimitando reas para manejo ou recuperao de espcies. As lideranas indgenas tambm esto utilizando os mapas em

    suas discusses sobre as medidas compensatrias e mitigatrias do impacto da BR 156 (Sztutman, 2006). Em ltima instncia, o Mapeamento Etno-ambiental objetiva contribuir para a gesto territorial, para a resoluo dos conflitos socioambientais e para a vigilncia e a fiscalizao das TIs do Oiapoque.

    A importncia do etnomapeamento da TI Kampa do Rio Amnia para seus formuladores aproxima-se parcialmente daqueles do Oiapoque, com foco na gesto territorial da rea, mas agrega fatores novos. Nesse sentido, o etnomapeamento tambm tem sido pensado como um instrumento capaz de preencher o vazio geogrfico presente nos mapas oficiais, de produzir material didtico, de contribuir para o planejamento ambiental, de facilitar o dilogo intertnico, de garantir a vigilncia e fiscalizao da TI, de proporcionar a resoluo dos conflitos socioambientais que envolvem os Ashaninka e de promover a gesto territorial. Mas

    diferentemente do mapeamento etno-ambiental, o etnomapeamento tambm tem os objetivos de levar elaborao do plano de uso e de proporcionar o monitoramento ambiental.

    Atuando na regio fronteiria entre Brasil e Peru, o etnomapeamento da TI Kampa do Rio Amnia, nas palavras do representante da TNC durante a primeira oficina, marca o comeo de um grande projeto que abrange tanto terras indgenas quanto parques nacionais, e no s no Brasil como tambm no Peru (Mrcio Sztutman). Esse grande projeto pode ser ainda maior, se consideramos as trocas de conhecimento com aquelas experincias do Amap, apoiadas pela TNC. Por essa tica, o projeto possui estreito vnculo com outros, no se limitando regio transfronteiria, mas se estendendo a outras TIs do pas, fora do Acre. Tomando as trocas de experincias metodolgicas com o Mapeamento Etno-ambiental do Oiapoque, fica visvel que o etnomapeamento insere-se em um amplo horizonte voltado para a gesto territorial em TIs. As informaes, idias e experincias advindas do

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    etnomapeamento na TI Kampa do Rio Amnia, especialmente com sua inovao a partir do plano de uso, provavelmente no ficaro limitadas regio transfronteiria, pois: todas essas discusses que esto sendo feitas aqui, no vo estar limitadas a Apiwtxa; vo estar sendo levadas para outras terras do Acre e tambm para o Amap; essas idias de plano de uso e

    todas essas discusses vo estar sendo levadas para l (Mrcio Sztutman).

    Pensado aqui como uma ao que extrapola a regio transfronteiria, por possuir vnculos no

    apenas com o Mapeamento Etno-ambiental do Oiapoque, mas tambm com o etnozoneamento desenvolvido pelo governo do estado do Acre em outras reas do estado, o etnomapeamento da TI Kampa do Rio Amnia insere-se em um contexto amplo de preocupaes com a gesto territorial em TIs, estabelecendo vnculos institucionais por meio

    de parcerias e trocas de experincias.

    Dessa forma, o etnomapeamento da TI Kampa do Rio Amnia tambm concebido pelos

    Ashaninka e pelos seus formuladores como uma ferramenta poltica, assim como aquele realizado no Amap com apoio da TNC. Nessa regio, encontra-se a TI Uaa, que pode ter uma estrada pavimentada em seu interior. A comunidade tem se organizado para dialogar com as instncias responsveis pela pavimentao e os mapas esto sendo uma ferramenta poltica para as comunidades quando vo Braslia. Com o mapa, esto mostrando exatamente as aldeias que vo sofrer o impacto (Mrcio Sztutman).

    Os Ashaninka, do mesmo modo que os povos indgenas que residem na TI Uaa, utilizaram os mapas produzidos pelo etnomapeamento para um maior dilogo com o governo federal. Durante a Semana Ashaninka, realizada em Braslia, entre os dias 21 e 24 de setembro de

    2004, os mapas foram apresentados em diversos rgos governamentais, facilitando a comunicao e servindo para os Ashaninka reforarem com mais clareza suas demandas por

    vigilncia e fiscalizao da TI. Como mencionado pelos antroplogos Marcelo Iglesias e Terri Aquino: Os mapas produzidos pelos Ashaninka do rio Amnia tm subsidiado iniciativas mobilizadas na defesa de sua terra". Como durante a Semana Ashaninka, quando as lideranas mostraram o "mapa das invases" ao Presidente da Funai, a tcnicos do Ibama e a

    representantes de outros rgos de governo, ilustrando as invases de madeireiros peruanos em seu territrio (Aquino e Iglesias, 2005: 101).

    O uso dos mapas como ferramenta poltica deixa visvel que o etnomapeamento, alm de um instrumento de planejamento do uso dos recursos naturais um instrumento de poder, de poltica e de comunicao, como muitos outros processos de produo de mapas (Orlove,

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    1991). Esse carter mais amplo do etnomapeamento fica explcito ao se considerar, tambm, seu uso no processo educacional, na vigilncia e fiscalizao, no dilogo com autoridades governamentais, no preenchimento do vazio geogrfico deixado pelos mapas oficiais e na resoluo dos conflitos sociambientais (Correia, 2007).

    O etnozoneamento da TI Mamoadate e muitos olhares Assim como os etnomapeamentos, o etnozoneamento da TI Mamoadate tem sido concebido por seus formuladores e pelos povos indgenas a partir da ideologia do desenvolvimento

    sustentvel e da conservao da natureza. Esta percepo acerca do etnozoneamento fica evidente devido ao fato dele fazer parte do Programa de Desenvolvimento Sustentvel do Estado do Acre, iniciado em 1999 e executado a partir de 2002. Entre os propsitos do Programa, encontram-se diversas aes voltadas para a preservao do patrimnio natural no

    estado e para a melhoria da qualidade de vida atual e futura dos povos indgena e dos no indgenas. Procurando proporcionar o crescimento econmico de forma sustentvel, o

    Programa busca combater a explorao predatria da floresta por meio da diversificao da produo e da preservao dos recursos naturais. Desse modo, est em sintonia com a noo de desenvolvimento sustentvel utilizada pelo governo, que contempla pelo menos trs aspectos: economia, conservao ambiental e diversidade cultural (Acre, 2006).

    Com uma preocupao com as geraes atuais e futuras, caracterstica das polticas ambientais, o governo passou a desenvolver, a partir do Programa de Desenvolvimento Sustentvel, no que diz respeito s culturas indgenas, diversas polticas pblicas por meio do

    Plano de Mitigao dos Impactos das BRs 364 e 317 e do ZEE/Ac (1 e 2 fase). Entendido por seus formuladores como mais uma das polticas pblicas voltadas para os povos

    indgenas, o etnozoneamento foi inicialmente estabelecido enquanto parte do Plano de Mitigao dos Impactos das BRs 364 e 317, de 2001, mais especificamente por meio do Projeto de Apoio s Populaes Indgenas, iniciado em 2002. Dentro desse projeto, o etnozoneamento, primeiramente denominado etno-levantamento dos recursos naturais, passou a ser contemplado como parte do Plano de Sustentao em Terras Indgenas. O principal objetivo desse plano foi realizar atividades sustentveis em 37 aldeias que esto sob o impacto das rodovias BR-364 e BR-317. Do plano decorreram trs aes: capacitao dos povos indgenas, implementao de sistemas agroflorestais e etnozoneamentos.

    Desde o primeiro momento, portanto, quando o etnozoneamento ainda era designado como etno-levantamento dos recursos naturais, ele foi concebido pelos formuladores como parte das polticas pblicas do governo junto aos povos indgenas, voltadas para a realizao de aes

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    sustentveis nas TIs sob impacto das BRs. Nesse momento, os etno-levantamentos eram entendidos apenas como diagnsticos de algumas aldeias, tendo sido realizados em duas TIs: Cabeceira do Rio Acre e Campinas/Katukina. Entretanto, aps a concluso do ZEE/Ac 1 fase, desenvolvido de 1999 a 2002, o governo procurou contemplar, alm do diagnstico, um prognstico, resultando na mudana do termo para etnozoneamento (Acre. ZEE, 2004: 9).

    Para os formuladores dos etno-levantamentos, um diagnstico no atenderia s demandas

    indgenas discutidas junto ao governo, sendo o planejamento de aes futuras essencial para tanto. Com o intuito de ir alm de apenas identificar as demandas indgenas, mas de planejar aes futuras, os etno-levantamentos foram adequados noo de desenvolvimento sustentvel do governo - que leva em considerao as geraes futuras - dando origem aos

    etnozoneamentos. Como mencionado por um dos tcnicos da SEMA/IMAC: talvez essa seja a principal caracterstica que diferencie o Etnolevantamento do Etnozoneamento em Terras

    Indgenas (Arajo, 2004). Se j era uma pretenso de alguns tcnicos realizar diagnsticos, esta foi ampliada ainda mais com os etnozoneamentos, que alm de diagnsticos deveriam contemplar indicativos e visualizao de cenrios futuros. De forma pretensiosa, com a inteno de planejar o futuro dos povos indgenas e do uso dos recursos naturais feito por eles, assim como nos etnomapeamentos, foram incorporados no ZEE/Ac 2 fase, a partir de 2003, os etnozoneamento em TIs impactadas pelas BRs 364 e 317. Resultante dos indicativos da 1 fase do ZEE/Ac, os etnozoneamentos foram considerados a princpio como zoneamentos scio-ambientais participativos, que deveriam resultar em diagnsticos das formas de uso

    dos recursos naturais, com a identificao do potencial de aproveitamento das riquezas (ZEE, 2000: 49-50 vol. III).

    Como parte de uma empreitada do governo estadual, deveriam ser oferecidas assessorias de diversos profissionais para, de forma participativa, subsidiar os povos indgenas nas discusses de planejamento e implementao de aes. Pensado nesse momento de forma multidisciplinar, o etnozoneamento da TI Mamoadate acabou contando apenas com a

    participao de dois antroplogos, uma cientista social e dois agrnomos. Os demais etnozoneamentos, das TIs Rio Gregrio, Igarap do Caucho, Colnia 27, Caet e

    Katukina/Kaxinaw de Feij, tiveram a participao de antroplogos e em algumas ocasies de um indigenista, de um tcnico agrcola e de uma agrnoma.

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    Mesmo sem a multidisciplinariedade sugerida nos indicativos do ZEE/Ac 1 fase, os etnozoneamentos procuraram contribuir para a elaborao de planos de gesto territorial e aes de vigilncia por meio dos Indicativos de Plano de Gesto Ambiental e Territorial elaborados de forma participativa com os Mancheineri e Jaminawa da TI Mamoadate, e com

    os Kaxinaw, Shanenawa, Jaminawa e Yawanawa das demais TIs.

    Abarcando regulamentaes comunitrias, assuntos ambientais e localidades

    governamentalizadas, os etnozoneamentos de certa forma podem ser pensados a partir da abordagem denominada por Agrawal de environmentality unio entre a noo de meio ambiente e de governamentalidade de Foucault, que carrega uma preocupao com poder/conhecimento, instituies e subjetividades (Agrawal, 2005). Incorporado ao ZEE/Ac 2 fase com o nome de etnozoneamento, em grande medida, ele incorporou preocupaes sobre o poder/conhecimento, as relaes institucionais com os povos indgenas e as

    subjetividades destes. Muito do entendimento dos formuladores sobre os zoneamentos scio-ambientais participativos foram direcionados pela compreenso governamental acerca do desenvolvimento sustentvel. Na concepo dos formuladores, o Zoneamento Ecolgico-Econmico (ZEE) do Acre pode ser definido como um instrumento estratgico de planejamento regional e gesto territorial (ZEE, 2000: 49-50 vol. III). Compreendido como um instrumento de planejamento e gesto territorial, o ZEE/Ac almeja que o governo, o setor privado e a sociedade como um todo incorporem os princpios de Desenvolvimento Sustentvel, sendo estes, no programa governamental: sustentabilidade econmica, social, ambiental e cultural (Acre, 2006). Com base em estudos sobre as relaes entre sociedade e natureza, o ZEE/Ac visa fornecer subsdios para a negociao de polticas pblicas entre o governo e os demais setores da sociedade. Esta percepo sobre o ZEE/Ac,

    em grande medida, foi estendida para o etnozoneamento da TI Mamoadate, que por meio de estudos sobre a relao dos Manchineri e Jaminawa com a natureza, em uma perspectiva da etnoecologia (Vivan, 2006), procurou fornecer subsdios para as polticas pblicas junto aos povos indgenas. A incorporao dos princpios de desenvolvimento sustentvel, externos

    cultura desses povos, tambm fez parte dos propsitos do etnozoneamento, que passou a ser tido como um instrumento de planejamento e gesto territorial (Arajo, 2004). Assim como o ZEE/AC, mas agora direcionado para os povos indgenas, o etnozoneamento pensado como um instrumento de planejamento e de gesto do territrio. Se distanciando em parte do ZEE/Ac, o etnozoneamento mais que apenas subsidiar as negociaes entre

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    governo e povos indgenas em relao s polticas pblicas, objetiva ser tambm um instrumento para a tomada de decises comunitrias. Exgeno s formas costumeiras de tomada de decises dos povos indgenas, para alguns representantes Manchineri da TI Mamoadate o etnozoneamento um plano que est sendo criado pelo governo na terra

    indgena impactada pela BR 317, para diagnosticar os recursos que tm dentro da terra indgena e pensar no futuro melhor (Representante da Aldeia Lago Novo).

    Cumprindo com um dos objetivos do ZEE/AC, de contribuir para a incorporao dos princpios de desenvolvimento sustentvel, o etnozoneamento acaba estimulando os Manchineri e Jaminawa a entend-lo como um plano criado pelo governo, e no por eles, para pensar no futuro melhor. Para poder pensar o futuro, primeiramente preciso um

    diagnstico do uso dos recursos, considerado uma prioridade do governo e da sociedade acreana: diagnsticos acerca de Populaes e Terras Indgenas e Gesto Ambiental em

    Terras Indgenas sero elaborados porque so temas considerados prioritrios para o Governo do Estado do Acre, assim como para segmentos da sociedade acreana (ACRE. IMAC, 2005: 26).

    Para os Manchineri e Jaminawa, diagnsticos no faziam parte de suas prioridades, inclusive porque j haviam sido feitos com os Planos de Mitigao. A eles interessavam muito mais aes concretas que atendessem suas demandas nos diversos setores presentes nos princpios de desenvolvimento sustentvel do governo - econmico, social, ambiental e cultural. Em ltima instncia, o etnozoneamento para eles deveria propiciar o etnodesenvolvimento, entendido aqui nos termos de Barretto F (2006), oferecendo oportunidades de desenvolvimento e uso dos recursos naturais, o que parte do entendimento dos formuladores do ZEE/Ac (Acre. ZEE, 2004: 5).

    Sem proporcionar o etnodesenvolvimento esperado por muitos Manchineri e Jaminawa, mas apenas indicando aes futuras nesse sentido, o etnozoneamento manteve-se fiel concepo dos formuladores, de ser apenas um instrumento de planejamento e gesto, e no de aes concretas de desenvolvimento sustentvel. Estas fariam parte de outras etapas da atuao do

    governo estadual. Por esse motivo, o etnozoneamento tem sido pensado como parte de um processo em que as informaes precisam estar sendo atualizadas. Os prprios povos

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    indgenas precisam estar cada vez mais fazendo uso desses etnozoneamentos (Cloude Correia)9.

    O carter processual do etnozoneamento tem sido concebido por vrios de seus formuladores e lideranas indgenas, mas o mesmo no pode ser dito em relao sua definio. Desde as

    primeiras reunies, entre representantes do governo, lideranas indgenas e consultores, discutia-se o que seria o etnozoneamento e qual sua contribuio para os povos indgenas.

    Como observado pela cientista social que participou como consultora do etnozoneamento da TI Mamoadate, para os representantes do governo, o etnozoneamento iria conferir um carter participativo ao ZEE/Ac 2 fase, produzindo informaes ligadas gerao de renda que no prejudiquem o meio ambiente, ou alterem a cultura indgena. Deste modo, estaria contribuindo para minimizar os impactos advindos com o asfaltamento da BRs 364 e 317 (Lozano Costa, 2005a: 3).

    Nem todos os representantes do governo, entretanto, entendiam o etnozoneamento desse modo. Para alguns ele ajudaria os povos indgenas a gerir suas terras. Ainda de acordo com a consultora, o ento Secretrio de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais e Presidente do Instituto de Meio Ambiente do Estado do Acre, Carlos Edegard de Deus, entendia que o etnozoneamento deveria mostrar como realmente se poderia ajudar as populaes indgenas a gerirem suas terras, como ajud-las a construir o que eles querem para seu futuro (Lozano Costa, 2005a: 3).

    O Secretrio estaria muito mais preocupado com o futuro dos povos indgenas que residem nas TIs sob influncia das BRs. A coordenao do ZEE/Ac, por sua vez, estaria pensando o

    etnozoneamento enquanto um instrumento de planejamento: para a coordenao, o etnozoneamento seria um instrumento de planejamento, que deveria ser usado por aqueles que iro trabalhar junto aos moradores das aldeias da TI (Lozano Costa, 2005a: 3). Para o sertanista da FUNAI, Antonio B. de Macedo, que tambm acompanhou as reunies iniciais do etnozoneamento e posteriormente participou das oficinas na TI Katukina/Kaxinaw de Feij, o futuro tambm seria a grande preocupao (Lozano Costa, 2005a: 3).

    Para Macedo, o etnozoneamento no poderia ser exgeno aos povos indgenas; deveria ter correspondncia com aspectos da cultura deles e as solues para os problemas de diversas

    9 Esta fala foi por mim proferida durante o Seminrio Troca de Experincia em Levantamentos Participativos em

    Terras Indgenas, realizado em novembro de 2005, em Rio Branco. Na ocasio, eu me encontrava na condio de consultor do governo do estado responsvel pela realizao do etnozoneamento da TI Mamoadate, juntamente com outros consultores e tcnicos governamentais.

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    ordens deveriam ser por eles propostas, e no pelos tcnicos do governo ou pelos consultores. Em relao ao ponto de vista dos antroplogos que sugeriram a realizao dos etnozoneamentos nos indicativos do ZEE 1 fase, a consultora afirma que para Terri V. de Aquino, o etnozoneamento deveria ter uma abrangncia capaz de contemplar problemas de

    diversas ordens levantados pelos povos indgenas, inclusive da permanncia de indgenas nos centros urbanos. Para o outro antroplogo, Marcelo Iglesias, a base do etnozoneamento estaria

    no aspecto produtivo, na insero no mercado e na garantia do territrio.

    As vrias concepes sobre o etnozoneamento resultantes dos diversos olhares dos formuladores, contudo, encontrava pouca ressonncia na expectativa dos povos indgenas sobre ele. Do ponto de vista das lideranas indgenas da TI Mamoadate, as expectativas eram

    outras, mais prticas. Como percebido pela consultora:

    As lideranas Jaminawa, os professores e agentes florestais Manchineri com os quais conversamos em Rio Branco, no mostraram muito interesse na atividade, nem viram o etnozoneamento com grandes expectativas. Contraditoriamente, em alguns momentos aguardam que as atividades os ajudem a trazer solues para seus problemas imediatos ou, pelo menos, aproveitam as reunies para mostrar suas necessidades (Lozano Costa, 2005a: 4).

    Mesmo com expectativas distintas dos formuladores em relao ao etnozoneamento, os Manchineri e Jaminawa se dispuseram a participar das atividades, definindo quais representantes do povo acompanhariam os trabalhos. Em meio s diferentes concepes sobre

    o etnozoneamento, ele acabou se consolidando como um conceito novo, muito prximo da viso dos membros da SEMA. Procurando defini-lo, a consultora menciona:

    Etnozoneamento um conceito novo que procura unir as necessidades colocadas pela elaborao do zoneamento dos estados com as especificidades dos povos indgenas. E acrescentou que para os membros da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Acre, o etnozoneamento teria a pretenso de ser um instrumento de planejamento, tanto para os povos da TI como para as instncias governamentais e no governamentais (Lozano Costa, 2005b: 6).

    Ainda que pensado como um instrumento de planejamento pelos membros da SEMA, sua indefinio permaneceu. Para a consultora, ele deveria ser uma via para estreitar o dilogo entre o governo e os povos indgenas. Como dito por ela, o etnozoneamento deveria ser

    apenas o incio de um dilogo, um dilogo que deveria ser aberto para que se pudessem conhecer as diferenas e acompanhar como as pessoas procuram, a cada dia, maneiras

    diferentes de construir o seu futuro melhor (Lozano Costa, 2005b: 8 nfase minha).

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    Entre os diferentes entendimentos sobre o que seria o etnozoneamento, possvel notar que a idia de futuro melhor, presente na noo de desenvolvimento sustentvel do governo, permeia todas elas. No obstante, a falta de uma definio mais precisa permaneceu at o final dos trabalhos na TI Mamoadate, em 2006. Um pouco antes, nos dias 17 e 18 de novembro de 2005, o governo estadual organizou o Seminrio Troca de Experincia em Levantamentos Participativos em Terras Indgenas, em Rio Branco. Participaram do evento representantes

    de ONGs com experincias em mapeamentos participativos com povos indgenas, representantes de diversas instituies do governo estadual e federal, e representantes indgenas, entre muitos outros. O objetivo do evento era, por meio da troca de experincias entre algumas ONGs que realizam mapeamentos participativos com povos indgenas,

    aperfeioar a metodologia utilizada pelo governo estadual, mas tambm reunir informaes para posteriormente ir construindo um conceito em torno do termo etnozoneamento.

    Em meio indefinio, aps o encerramento dos trabalhos de etnozoneamento na TI Mamoadate, ele foi entendido nos documentos finais a partir da expectativa governamental e indgena acerca do futuro, mantendo a idia de um instrumento de planejamento capaz de contribuir em diversos aspectos ligados gesto territorial.

    O etnozoneamento da Terra Indgena (TI) Mamoadate, localizada nos Municpios de Assis Brasil e Sena Madureira, um instrumento de planejamento dos povos indgenas para a gesto dos seus territrios. Ele foi realizado de forma participativa com os Manchineri e Jaminawa, considerando a presena de ndios isolados. Seu propsito tem sido contribuir com o processo de autonomia dos povos indgenas Manchineri e Jaminawa, respeitando a diversidade cultural. O etnozoneamento procurou ater-se s especificidades de cada povo indgena, produzindo e sistematizando informaes documentais, bibliogrficas e empricas consideradas relevantes por eles no processo de gesto dos seus territrios. Os dados produzidos foram de natureza cultural, social, poltica, econmica e ecolgica. Com todas as informaes resultantes deste etnozoneamento pretende-se subsidiar esses povos e o governo do estado para a tomada de decises (Correia et alli, 2005: 6).

    Essa concepo sobre o etnozoneamento aproxima-se consideravelmente do entendimento que os formuladores tm sobre o ZEE/Ac, mas a necessidade de elaborar um conceito e difundi-lo entre os povos indgenas, do mesmo modo que foi feito com o conceito de ZEE, permanece. Em grande medida, o entendimento sobre o conceito de etnozoneamento est

    associado ao planejamento e vem sendo absorvido pelas lideranas indgenas. Como dito por uma das lideranas Manchineri durante a ltima oficina do etnozoneamento na TI

    Mamoadate: eu estou muito feliz porque vrias lideranas de outras aldeias esto aqui trocando experincias. E ns estamos planejando como que vamos trabalhar nas nossas aldeias, cada um de ns (Noberto Bezerra da Silva Manchineri).

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    Pensando em planejar o futuro, os Manchineri e Jaminawa comeam a introjetar a ideologia do desenvolvimento sustentvel. Antes, utilizavam os recursos naturais sem uma preocupao com a degradao, com a escassez. Hoje, vivendo em um territrio delimitado e com poucas possibilidades de ampliao, alm de estarem inseridos em um contexto estadual de

    desenvolvimento sustentvel, procuram ver o etnozoneamento como um instrumento capaz de orient-los no uso sustentvel dos recursos naturais. Como mencionou uma outra liderana

    Manchineri: acho que se ns no tivssemos orientaes no saberamos como que amos viver. Mas agora ns estamos felizes porque temos algumas pessoas do governo que esto nos orientando (Jos Sebastio Manchineri - Z Barro).

    Essa noo de ser o etnozoneamento um instrumento capaz de orientar suas relaes com os

    recursos naturais, tambm foi aos poucos se consolidando entre os Jaminawa. Mais resistentes que os Manchineri ao etnozoneamento, comearam percebendo ele como mais uma forma de

    se especular sobre o modo de vida deles e o potencial econmico do seu territrio. Aps vrias reunies com representantes do governo e ao trmino do etnozoneamento da TI Mamoadate, muitos Jaminawa haviam absorvido a idia de que ele poderia ser um instrumento orientador. Como dito por um dos representantes Jaminawa, Z Correia, durante o Seminrio de Validao10, cuja fala foi registrada no relatrio do evento:

    No incio houve muita desconfiana por parte do seu povo em relao s verdadeiras intenes dos tcnicos, quando perguntavam sobre a terra e o que tinha ali dentro, como aconteceu muito no passado das pessoas chegarem dizendo que queriam ajudar, mas na verdade eram lees em pele de cordeiro. Mas hoje reconhecem a pacincia dos tcnicos em orientar naquilo que seu povo tem dificuldade e auxiliar nesse diagnstico, juntamente com as secretarias que esto nessa jornada, mas que no estavam presentes naquele momento (ACRE. SEMA, 2006: 7).

    O etnozoneamento foi em parte entendido pelos Manchineri e Jaminawa como uma orientao externa para o planejamento do uso dos recursos naturais, em grande medida de interesse deles, apesar da maior demanda que possuem ser por aes concretas que aumentem a renda das vrias famlias. Para conseguirem o que de fato almejam, o aumento da renda, os Jaminawa e Manchineri sabem que precisam se apropriar do etnozoneamento. Como registrado no relatrio sobre o Seminrio de Validao, em relao fala da liderana

    Jaminawa: ele diz que os mapas so instrumentos feitos com ajuda dos tcnicos, mas no para ser utilizado por eles e sim pelo povo, a quem eles pertencem, ressalta ainda que

    10 O Seminrio de Validao do Etnozoneamento da TI Mamoadate foi realizado no dia 3 de julho de 2006, na

    cidade de Assis Brasil. Contou com presena de vrias lideranas Jaminawa e Manchineri, de consultores e de representantes de vrias instituies do governo.

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    preciso amadurecimento para tomar posse desses conhecimentos e gerar autonomia e no dependncia dos parceiros (ACRE. SEMA, 2006: 29).

    Conscientes da importncia de se apropriarem dos produtos gerados pelo etnozoneamento, os Jaminawa e os Manchineri tambm reconhecem que o trabalho realizado contribuiu para

    ampliar o conhecimento deles sobre o territrio e o seu uso, principalmente por meio do mapeamento. Como disseram os representantes da organizao Manchineri, durante a

    primeira oficina de mapeamento, com o etnozoneamento possvel ver tudo que existe na terra. Identificar o potencial hdrico, da fauna, da flora, a cultura material e imaterial. E conhecer melhor nosso territrio para melhor utiliz-lo (Representantes da MAPKAHA).

    Conhecer o territrio para poder utiliz-lo de uma forma melhor, sustentvel, em muito diz

    respeito aos desdobramentos do etnozoneamento, s aes que decorreram dele e forma como ser apropriado pelo governo e pelos povos indgenas. Enquanto um instrumento de

    planejamento e gesto, ele ainda uma ferramenta de poder, que pode gerar polticas pblicas voltadas para os povos indgenas, elaboradas a partir de um maior dilogo entre governo e povos indgenas. Assim, o uso do etnozoneamento, do mesmo modo que o do etnomapeamento, est associado a poder, poltica e comunicao.

    Consideraes finais

    O etnozoneamento da TI Mamoadate e o etnomapeamento da TI Kampa do Rio Amnia, considerados como instrumentos de planejamento, foram compreendidos aqui como expresso dos mapeamentos participativos com povos indgenas que passaram a ser realizados

    em diversos pases, principalmente a partir da ltima dcada do sculo XX. Assim como os demais mapeamentos participativos, esses instrumentos de planejamento fornecem subsdios principalmente cartogrficos, mas tambm descritivos para as aes voltadas gesto territorial em TIs.

    Os dois instrumentos de planejamento esto calcados na participao indgena e na produo de informaes e dados para a elaborao dos mapas. Como sugerido por Little (2006), a participao no implica que os povos indgenas fizeram parte do processo como um todo. Em geral, eles so convidados para participar na elaborao de instrumentos previamente

    definidos. Eles tomam parte no processo, mas no so os seus idealizadores. A noo de agncia tnica, que no est presente nos instrumentos de planejamento, seria muito mais

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    significativa. Por meio dela, entende-se que os povos indgenas estiveram presentes desde o momento da concepo dos instrumentos (Little, 2006: 38).

    A ausncia de uma agncia tnica, no entanto, no deslegitima os instrumentos de planejamento, mas deixa claro que eles so muito mais produtos da nossa sociedade, que em um dado momento, so introduzidos entre os povos indgenas, passando a fazer parte da sociedade deles tambm. Como mencionado por Little, que os concebe como

    etnoinstrumentos:

    a agenda poltica que prope o uso desses etnoinstrumentos est ligada ao movimento ambientalista, entendido aqui no seu sentido mais amplo: todas as organizaes da sociedade civil, do setor privado e do Estado que se preocupam explicitamente pela qualidade do meio ambiente. Podemos afirmar que os etnoinstrumentos, mesmo que estejam internalizados na atuao cotidiana dos povos indgenas, so instrumentos hbridos que contm elementos da sociedade ocidental e elementos das sociedades indgenas (Litlle,2006: 22).

    No estando apenas ligados ao movimento ambientalista, mas ao indigenismo, entendido este do mesmo modo que Ramos (1998)11, percebe-se a amplitude da agenda poltica a que se propem os instrumentos de planejamento analisados. A noo de hbrido, se considerarmos o etnozoneamento e o etnomapeamento como vinculados ao indigenismo acreano contemporneo, torna-se ainda mais complexa.

    Se admitirmos o carter hbrido desses instrumentos de planejamento, fica claro que o prefixo etno empregado neles no se aproxima daquele utilizado, por exemplo, na etnoecologia. Nesta, o prefixo sugere um esforo por entender os olhares indgenas sobre os seus meios ambientes; nos instrumentos de planejamento, sugere apenas uma ao que est sendo realizado junto a povos indgenas, mas que de certo modo almeja refletir a percepo indgena. Nesse sentido, os mapas produzidos pelos instrumentos de planejamento, em alguns casos denominados etnomapas, no so propriamente mapas dos conhecimentos indgenas, mas dos conhecimentos dos diversos atores envolvidos na sua elaborao.

    Como forma de compensar a no participao dos representantes indgenas na fase de digitalizao dos mapas, eles costumam ser submetidos reviso e validao pelas lideranas indgenas por mais de uma vez. Durante a reviso, vrias informaes so corrigidas ou complementadas, aumentando o grau de confiabilidade do contedo dos mapas.

    Como essa reviso feita por indgenas que detm um conhecimento especfico sobre determinados temas considerados nos mapas e nem sempre s os que participaram desde a

    11 Isto , como um amplo campo poltico e semntico, construdo pelo Estado, pelos ndios, pelas ONGs, por

    antroplogos, por ambientalistas, missionrios, etc., que possuem cada um suas prprias prticas e idias sobre como devem se dar as relaes e as polticas face aos povos indgenas (Ramos, 1998: 5-7).

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    fase inicial de elaborao fazem revises - as alteraes costumam ser significativas. Caso os mapas passassem a ser digitalizados pelos prprios indgenas, estaria sendo dado mais um passo em direo agncia indgena, conseqentemente ao processo de autonomia deles em relao aos conhecimentos cartogrficos.

    Quanto ao carter pedaggico da produo e uso dos mapas, nota-se que as experincias mais direcionadas para a formao educacional indgena esto sendo realizadas pela CPI-Acre. Os

    mapas foram inseridos nos projetos educacionais que h anos vinham sendo desenvolvidos por essa ONG, tornando-se mais um material pedaggico no mbito das aes educativas. Os mapeamentos participativos realizados pela SEMA/SEPI, mesmo sendo materiais com grande carter pedaggico, no esto totalmente direcionados para a rea educacional, por no

    atuarem essas instituies diretamente com educao escolar indgenas.

    A apropriao poltica do processo de produo e uso dos mapas, outra questo presente nas

    experincias realizadas no pas, ainda incipiente. Em parte, isto se deve ao fato dos povos indgenas no estarem envolvidos em todas as etapas dos mapeamentos participativos. Desse modo, eles esto parcialmente excludos do contexto poltico associado produo e ao uso dos mapas. Ainda h uma dependncia por parte dos povos indgenas das instituies que participam do processo, pois estas tm mais condies de acessar e produzir novos mapas a partir da base de dados digitais. Os poucos mapas impressos que circulam entre os povos indgenas acabam no sendo apropriados mais intensamente. Quando sentam em uma mesa de negociao, por exemplo, dificilmente podem distribuir os mapas impressos s autoridades. Isso no significa que os povos indgenas no estejam fazendo uso poltico crescente dos mapas o que pode ser visto no uso deles pelos Ashaninka durante a Semana Ashaninka realizada em 2004, em Braslia -, mas que alguns fatores tm limitado a apropriao com esse

    vis.

    Mesmo com tais limitaes, os mapeamentos participativos esto contribuindo para uma ampliao do dilogo entre representantes indgenas e representantes de instituies diversas. Nem todos os integrantes de um povo indgena participam desse dilogo e os mapas no

    proporcionam uma ampliao do dilogo em sentido numrico necessariamente. O uso dos mapas continua restrito, principalmente, aos representantes indgenas, mas estes cada vez

    mais entram em contato com um nmero maior de instituies durante o processo de elaborao e mesmo de uso dos mapas. Os mapas mais que ampliar o dilogo, tm dado subsdios para negociaes em andamento. Com eles possvel sensibilizar as autoridades

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    que cada vez mais operam com informaes visuais, como no caso dos Ashaninka que apresentam o mapa de invases para conseguir apoio sua luta contra as madeireiras peruanas.

    Outro aspecto comum entre os mapeamentos participativos do Acre que eles esto

    subsidiando discusses e aes voltadas para a gesto territorial em TIs. Por meio dos mapas e das informaes a eles associadas, representantes indgenas e de instituies governamentais

    e no-governamentais esto aprofundando seus conhecimentos sobre os territrios indgenas e seus usos. Com base nesses conhecimentos, as discusses e aes relacionadas a vigilncia e fiscalizao, manejo sustentvel, reas de refgio, conservao ambiental, reflorestamento, gerao de renda a partir de atividades sustentveis, etc., esto se delineando.

    Em muitas aes voltadas para a gesto territorial, em maior ou menor intensidade, os mapas e materiais descritivos tm sido supervalorizados por seus formuladores. Mesmo que as aes

    de gesto territorial no venham a ser realizadas exclusivamente por povos indgenas, por demandar inputs dos conhecimentos cientficos, em especial da biologia, agronomia, engenharia florestal, geografia, antropologia e outras, os povos indgenas continuam sendo os principais sujeitos desse processo e os mapas apenas um complemento perifrico para suas discusses e aes.

    Como fica evidente, a gesto territorial e - pelo menos - uma das aes vinculadas a ela, o mapeamento participativo, so temas de grande relevncia para pesquisadores, povos indgenas e tcnicos governamentais e no-governamentais. Abordagens distintas da realizada aqui, fundamentadas em outros estudos de caso, dados e referncias bibliogrficas, podem

    abrir novos horizontes de compreenso desses fenmenos sociais. Um estudo comparativo de mapeamentos participativos realizados junto a povos indgenas e outros grupos sociais no pas - camponeses, ribeirinhos, quilombolas, seringueiros, quebradeiras de coco e outros -, alguns j analisados por Almeida (1994 e 2006), Almeida et alli (2005) e Anjos (1999), ampliariam ainda mais o entendimento desses fenmenos. Por esses motivos, este artigo no esgota o tema, oferece apenas mais uma contribuio ao debate em andamento sobre mapeamentos

    participativos e gesto territorial em TIs.

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