texto 05 - leitura e produção textual

57
1 VOTRE, S.J.; PEREIRA, V.C e GONÇALVES, J.C. (2009). DESENVOLVENDO A COMPETÊNCIA COMUNICATIVA EM GÊNEROS DA ESCRITA ACADÊMICA. Niterói, UFF. DESENVOLVENDO A COMPETÊNCIA COMUNICATIVA EM GÊNEROS DA ESCRITA ACADÊMICA Sebastião J. Votre Vinícius C. Pereira José C. Gonçalves

Upload: camila-azevedo

Post on 02-Jul-2015

807 views

Category:

Documents


47 download

TRANSCRIPT

Page 1: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

1

VOTRE, S.J.; PEREIRA, V.C e GONÇALVES, J.C. (2009). DESENVOLVENDO A COMPETÊNCIA COMUNICATIVA EM GÊNEROS DA ESCRITA ACADÊMICA. Niterói, UFF.

 DESENVOLVENDO A COMPETÊNCIA COMUNICATIVA

EM GÊNEROS DA ESCRITA ACADÊMICA

Sebastião J. Votre

Vinícius C. Pereira

José C. Gonçalves

Page 2: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

SUMÁRIO

Unidade 1 – Gêneros e tipos textuais – macro e microestruturas ...........02

Unidade 2 - Coesão textual .....................................................................22

Unidade 3 - Coerência textual .................................................................44

Unidade 4 – Argumentação .....................................................................61

Unidade 5 - Fichamento, resumo e resenha .............................................83

Unidade 6 – Relatório e projeto .............................................................. 99

Unidade 7 – Artigo científico e monografia de conclusão de curso ......119

Unidade 8 – O domínio da norma padrão ..............................................130

NITERÓI

UFF/PROAC/NEAMI - Junho de 2009

2

Page 3: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

Unidade 2 - Coesão textual

Apresentando a unidade

Nesta unidade, identificamos, ilustramos e comentamos os recursos mais eficazes para

aumentar a coesão entre as partes dos parágrafos e dos textos.

Antes de iniciarmos propriamente o tema desta unidade, observe a letra de música

abaixo, que muito se relaciona com o assunto desta unidade.

A linha e o linho

(Gilberto Gil)

É a sua vida que eu quero bordar na minha

Como se eu fosse o pano e você fosse a linha

E a agulha do real nas mãos da fantasia

Fosse bordando ponto a ponto nosso dia-a-dia

E fosse aparecendo aos poucos nosso amor

Os nossos sentimentos loucos, nosso amor

O ziguezague do tormento, as cores da alegria

A curva generosa da compreensão

Formando a pétala da rosa, da paixão

A sua vida, o meu caminho, nosso amor

Você a linha e eu o linho, nosso amor

Nossa colcha de cama, nossa toalha de mesa

Reproduzidos no bordado

A casa, a estrada, a correnteza

O sol, a ave, a árvore, o ninho da beleza

O texto acima revela a intimidade entre a linha e o linho, não só no plano da forma (por

causa da estrutura parecida das duas palavras do título), mas também no plano do significado

(devido a ambas as palavras pertencerem ao campo da costura). Observe que o conteúdo

dialoga diretamente com a noção de coesão textual, que estudaremos nesta unidade, afinal é o

fenômeno da coesão que “costura” as partes de um texto, garantindo-lhe coerência e clareza.

Nas próximas seções, você estudará os mecanismos que deve empregar em seus textos, para

que sejam sempre coesos e bem articulados.

Definindo os objetivos

3

Page 4: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:

1. compreender a noção de coesão textual e sua importância para uma boa

legibilidade dos textos;

2. identificar as estratégias textuais que asseguram coesão ao discurso;

3. reconhecer e corrigir falhas textuais que comprometam a coesão do discurso;

4. produzir textos mais coesos.

Conhecendo a coesão textual

Muitas vezes, ao escrevermos, temos boas ideias, mas sentimos

dificuldades para relacioná-las. Se não tomarmos cuidado, podemos

acabar por lançar no papel uma série de frases gramaticalmente corretas, mas que não se

relacionam de forma clara entre si. Para que um conjunto de frases se torne um texto, é

preciso que haja coesão: que as ideias se entrelacem, completando-se e retomando-se, de

modo que as frases sigam um fluxo lógico e contínuo, não parecendo blocos isolados. Quando

um texto está coeso, temos a sensação de que sua leitura “flui” com facilidade.

A origem do termo texto remete a tecido: um texto, como um tecido, deve entretecer

seus fios de ideias, de modo que, nos pontos em que essas ideias se tocam, se estabeleça a

coesão textual. Para entender isso melhor, observe o conto abaixo, escrito por Clarice

Lispector. Em sua composição, a autora, para encadear as partes do texto de forma clara e

criativa, utiliza-se de uma série de estratégias linguísticas, de modo a evitar a repetição

sistemática de palavras e a ligar de forma lógica as ideias. Para fins didáticos, destacamos

apenas alguns dos mecanismos de coesão que aparecem nesse texto, os quais serão explorados

mais aprofundadamente ao longo da unidade. Por enquanto, reflita sobre a importância das

palavras em destaque na composição do conto.

Uma esperança

Aqui em casa pousou uma esperança. Não a clássica, que tantas vezes verifica-se ser

ilusória, embora mesmo assim nos sustente sempre. Mas a outra, bem concreta e verde: o

inseto.

Houve um grito abafado de um de meus filhos:

- Uma esperança! e na parede, bem em cima de sua cadeira! Emoção dele também que

unia em uma só as duas esperanças, já tem idade para isso. Antes surpresa minha:

esperança é coisa secreta e costuma pousar diretamente em mim, sem ninguém saber, e não

4

Page 5: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

acima de minha cabeça numa parede. Pequeno rebuliço: mas era indubitável, lá estava ela, e

mais magra e verde não poderia ser.

- Ela quase não tem corpo, queixei-me.

- Ela só tem alma, explicou meu filho e, como filhos são uma surpresa para nós,

descobri com surpresa que ele falava das duas esperanças.

(...)

Foi então que farejando o mundo que é comível, saiu de trás de um quadro uma aranha.

Não uma aranha, mas me parecia "a" aranha. Andando pela sua teia invisível, parecia

transladar-se maciamente no ar. Ela queria a esperança. Mas nós também queríamos e, oh!

Deus, queríamos menos que comê-la. Meu filho foi buscar a vassoura. Eu disse fracamente,

confusa, sem saber se chegara infelizmente a hora certa de perder a esperança:

- É que não se mata aranha, me disseram que traz sorte...

- Mas ela vai esmigalhar a esperança! respondeu o menino com ferocidade.

(...)

Para encadear os acontecimentos da narrativa, mostrando que todos estão relacionados

ao animal chamado esperança, a autora utilizou uma série de palavras e expressões que

remetem à criatura que dá título ao conto: uma esperança, a clássica, que, a outra, o inseto,

ela, entre outras. Assim, o texto não peca pela repetição desnecessária de palavras.

O encadeamento dos fatos referentes a essa criatura também é garantido por outras

palavras, que estabelecem relações de sentido entre os acontecimentos da narrativa; entre elas,

destacam-se e, mas, e então. No trecho “Pequeno rebuliço: mas era indubitável”, a palavra

mas estabelece uma oposição entre as características atribuídas ao rebuliço: pequeno, porém

indubitável.

Exercitando

5

Page 6: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de

ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o

conteúdo deste capítulo.

Atividade 1

Observe o resumo abaixo, referente ao artigo “Pedagogia de projetos”, de Lúcia

Helena Alvarez Leite. Após uma primeira leitura para tomar ciência do sentido global do

texto, destaque, em uma segunda leitura, algumas das expressões que estabelecem coesão

entre as ideias apresentadas no resumo. Proceda de maneira semelhante à apresentada na

análise do conto de Clarice Lispector.

RESUMO: A discussão sobre Pedagogia de Projetos não é nova. Ela surge no início do

século, com John Dewey e outros pensadores da chamada “Pedagogia Ativa”. Já nessa época,

a discussão estava embasada numa concepção de que “educação é um processo de vida e não

uma preparação para a vida futura e a escola deve representar a vida presente – tão real e vital

para o aluno como o que ele vive em casa, no bairro ou no pátio” (DEWEY, 1897).

Os tempos mudaram, quase um século se passou e essa afirmação continua ainda atual.

A discussão da função social da escola, do significado das experiências escolares para os que

dela participam foi e continua a ser um dos assuntos mais polêmicos entre nós, educadores.

As recentes mudanças na conjuntura mundial, com a globalização da economia e a

informatização dos meios de comunicação, têm trazido uma série de reflexões sobre o papel

da escola dentro do novo modelo de sociedade, desenhado nesse final de século.

É nesse contexto e dentro dessa polêmica que a discussão sobre Pedagogia de Projetos,

hoje, se coloca. Isso significa que é uma discussão sobre uma postura pedagógica e não sobre

uma técnica de ensino mais atrativa para os alunos.

Conhecendo os recursos de coesão textual

Para conectar e relacionar as partes de um texto, vários mecanismos

podem ser adotados. A seguir, encontram-se os dois principais tipos de

recursos de que você pode se valer para garantir coesão e legibilidade àquilo que escreve:

1. Coesão referencial

A coesão referencial é estabelecida por meio de expressões que retomam ou antecipam

ideias. Esse tipo de coesão serve para evitar a repetição desnecessária de termos, além de

6

Page 7: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

garantir que uma informação nova esteja conectada a outra que já havia sido mencionada. Tal

articulação pode se dar basicamente de duas formas, como estudaremos a seguir:

1.1. Emprego dos pronomes na coesão referencial

Observe o trecho abaixo, retirado do artigo “Esporte e saúde”, de Selva Maria

Guimarães Barreto. Preste atenção ao papel dos pronomes (em negrito) na articulação do

texto.

Esporte e Saúde

Nos cursos de Educação Física está ocorrendo uma revolução, que vem provocando

questionamentos sobre alguns conceitos: o que se tenta expor criticamente hoje é a relação

entre “Esporte e Saúde”. Esta vinculação, infelizmente, não é a mais usual, pois geralmente é

substituída por “Esporte é Saúde” pelo conhecimento popular, uma relação que aparenta ser

uma verdade absoluta, quando não, obrigatoriamente, é. Os novos conceitos trabalhados

relacionam Esporte, Saúde e Qualidade de Vida, de maneira a levantar o debate para

refletirmos sobre os mesmos.

O Esporte, como conceito, é considerado uma atividade metódica e regular, que associa

resultados concretos referentes à anatomia dos gestos e à mobilidade dos indivíduos. Esta é a

conotação que podemos chamar de “Esporte de alto nível”, veiculada nas mídias em geral,

representada por pessoas executando gestos extremamente mecanizados, uniformes, com um

certo gasto de energia para produzir um determinado tipo de movimento repetidas vezes. São

gestos plásticos, muito organizados, moldados e com muitas regras, para que se possa obter

algum resultado prático. O Esporte pode ser encarado, dentro de outras ópticas, tanto como o

Esporte veiculado nas mídias, como uma atividade dentro de um grupo de amigos (na escola,

na rua ou qualquer local).

(...)

7

Page 8: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

Você já deve ter passado por problemas enquanto escrevia, porque não queria repetir

desnecessariamente uma palavra. Evitar a reutilização excessiva de determinada expressão

garante elegância ao seu texto, revelando uma elaboração cuidadosa. Os pronomes, como

você viu, são bastante úteis para esse fim, pois permitem o encadeamento de ideias e podem

substituir os termos a que remetem. Observe a seguir como tal recurso foi empregado no

artigo “Esporte e saúde”.

“Nos cursos de Educação Física está ocorrendo uma revolução, que vem provocando

questionamentos sobre alguns conceitos...”

No trecho acima, o pronome que evitou a repetição de revolução. Assim, a autora

ganhou em coesão, pois o trecho, sem o pronome, ficaria da seguinte forma:

Nos cursos de Educação Física está ocorrendo uma revolução. A revolução vem

provocando questionamentos sobre alguns conceitos.

De maneira semelhante, o texto apresenta o período abaixo:

“O Esporte, como conceito, é considerado uma atividade metódica e regular, que

associa resultados concretos referentes à anatomia dos gestos e à mobilidade dos indivíduos”.

Tal frase poderia ser desdobrada em duas outras, mas isso atrapalharia uma leitura

fluente do texto, tornando-o repetitivo. Observe:

8

Page 9: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

O Esporte, como conceito, é considerado uma atividade metódica e regular. A

atividade metódica e regular associa resultados concretos referentes à anatomia dos gestos e

à mobilidade dos indivíduos.

Há outros pronomes como esses (pronomes relativos), que ligam duas orações e evitam

a repetição de termos, como você verá a seguir:

ONDE – Esse pronome relativo, embora empregado com frequência nos textos

veiculados pela mídia, tem um uso bastante restrito: segundo a gramática tradicional, tal

pronome pode apenas indicar a noção de “lugar”.

Exemplos:

O Brasil é um país onde o incentivo à educação é primordial.

A frase está correta de acordo com a norma dita culta, pois o pronome onde retoma a

palavra país, que indica a noção de “lugar em que”.

CUJO – Tal pronome estabelece, geralmente, relação de posse entre dois

substantivos. Observe que ele deve concordar com o termo que o sucede, o qual não pode vir

acompanhado por um artigo.

Exemplos:

(a) Machado de Assis é um autor cujas obras são estudadas até hoje.

A frase (a) está de acordo com a norma culta, pois cujo está conectando dois substantivos

(autor e obras), estabelecendo entre eles uma relação de posse, pois as obras pertencem ao

autor. Veja agora:

(b) Animais cujos os filhos são amamentados são chamados de mamíferos.

A frase (b) estabelece uma relação de posse entre dois substantivos (animais e filhos),

mas erra ao pôr o artigo os entre cujos e filhos.

O QUE – Essa expressão não substitui, como os pronomes relativos

anteriormente mencionados, uma palavra, mas sim uma oração inteira. Observe:

Exemplo: A democracia eletrônica permite uma eficaz articulação entre cidadão e

governo, o que facilita processos de consulta pública, como referendos via Internet.

9

Page 10: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

Na frase acima, o que evita a repetição não de uma palavra, mas de toda a oração que o

antecede, funcionando como o sujeito do verbo facilitar.

Além dessas, há outras estratégias no uso do pronome que estabelecem coesão entre as

partes de um texto. Observe o exemplo retirado do texto de “Esporte e saúde”:

“Nos cursos de Educação Física está ocorrendo uma revolução, que vem provocando

questionamentos sobre alguns conceitos: o que se tenta expor criticamente hoje é a relação

entre “Esporte e Saúde”. Esta vinculação, infelizmente, não é a mais usual, pois geralmente

é substituída por “Esporte é Saúde” pelo conhecimento popular, uma relação que aparenta ser

uma verdade absoluta, quando não, obrigatoriamente, é”.

Veja que, dessa vez, o pronome não conectou duas orações em uma mesma frase, mas

duas frases diferentes. Geralmente, isso é feito por um pronome como “esse(a)”, “este(a)”,

“isso” ou “isto”. Tais palavras, chamadas pronomes demonstrativos, costumam apontar para

outra ideia no texto, que já tenha sido mencionada ou que ainda será expressa. No exemplo

analisado, o pronome “esta”, ligado a “vinculação”, refere-se à ideia vinculada em “Esporte e

Saúde”, expressão que já havia sido mencionada na frase anterior. No entanto, é preciso

observar que a maioria dos gramáticos tradicionais preferem o uso de “esse”, “essa” e “isso”,

quando o pronome se refere a algo que já foi dito. Assim, uma melhor redação do trecho seria:

Nos cursos de Educação Física está ocorrendo uma revolução, que vem provocando

questionamentos sobre alguns conceitos: o que se tenta expor criticamente hoje é a relação

entre “Esporte e Saúde”. Essa vinculação, infelizmente, não é a mais usual, pois geralmente

é substituída por “Esporte é Saúde” pelo conhecimento popular, uma relação que aparenta

ser uma verdade absoluta, quando não, obrigatoriamente, é.

Situação semelhante ocorre no trecho abaixo, extraído do mesmo artigo:

“O Esporte, como conceito, é considerado uma atividade metódica e regular, que associa

resultados concretos referentes à anatomia dos gestos e à mobilidade dos indivíduos. Esta é a

conotação que podemos chamar de “Esporte de alto nível”, veiculada nas mídias em geral,

representada por pessoas executando gestos extremamente mecanizados, uniformes, com um

certo gasto de energia para produzir um determinado tipo de movimento repetidas vezes”.

10

Page 11: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

O pronome “esta” retoma o conteúdo de toda a frase anterior, atribuindo-lhe os novos

sentidos da segunda frase. No entanto, como se trata de remissão a algo que já havia sido dito,

seria mais adequado o uso de “essa”.

Geralmente, os pronomes “este”, “esta” e “isto” referem-se a algo que ainda será

mencionado. Observe a frase abaixo como modelo, pois o pronome “isto” aponta não para

uma informação anterior, mas para algo que se apresenta depois dele: a palavra violência.

Exemplo: O que me assusta no Brasil é isto: a violência.

É importante atentar, além disso, para uma construção muito comum em textos

acadêmicos, em que há duas referências consecutivas a termos que foram mencionados.

Exemplo: O Brasil exporta cacau e soja. Esta é plantada na região Sul; aquele, no

Nordeste.

Embora ambos os pronomes em destaque refiram-se a palavras já mencionadas, não se

usam os pronomes “esse”, “essa” e “isso” nesse caso. Convencionou-se que, em situações

como essa, devem-se usar “este”/“esta”/”isto” para apontar para a palavra mais próxima

(“soja”) e “aquele”/“aquela”/“aquilo” para a palavra mais distante (“cacau”).

Exercitando

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de

ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o

conteúdo deste capítulo.

Atividade 2

Os trechos abaixo poderiam se tornar mais coesos, caso fosse empregado o recurso da

coesão referencial. Aplique tal estratégia coesiva, unindo as informações em uma única frase.

1. Este é o país. Moro no país.

2. Este é o país. O país se chama Brasil.

3. Não se sabe onde está o livro. Dependo do livro para fazer um trabalho.

4. Perguntei-lhe o nome. Baseou-se no nome para tomar sua decisão.

5. Os Estados Unidos conduziram uma incursão destruidora no Iraque. Os soldados dos

Estados Unidos alegavam defender sua pátria.

11

Page 12: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

6. O corpo humano é percorrido por um sistema circulatório. Pelo sistema circulatório são

conduzidos os nutrientes às células.

7. O verbo concorda com o sujeito. O núcleo do sujeito não pode ser uma preposição.

8. O Brasil foi descoberto pelos portugueses. Nos navios dos portugueses foi transportado

pau-brasil.

Exercitando

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de

ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o

conteúdo deste capítulo.

Atividade 3

Observe os parágrafos abaixo e identifique neles problemas decorrentes do mau uso

das estratégias de coesão referencial.

1 - Giddens descreve o surgimento da Teoria da estruturação a partir do encontro de

várias correntes teóricas com as quais foi se familiarizando nos anos 60, como o Marxismo.

Pontua o seu princípio na continuidade da vida social, em que as estruturas dependem das

ações dos indivíduos e só existem na medida em que as pessoas agem no contexto a partir de

seu referencial interno.

2 - “As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”. Essa citação do poeta

brasileiro Vinícius de Moraes mostra-se não só politicamente incorreta, mas também caduca

nos dias de hoje. A atualidade enxerga a mulher sob uma nova perspectiva, não mais atrelada

à sua constituição física, como um objeto, mas voltada para aspectos como força de trabalho,

produção intelectual e igualdade de direitos. Ela revela, assim, mudanças profundas em sua

constituição.

1.2. Emprego de itens do léxico na coesão referencial

Quando você escreve um texto, interrompe mais de uma vez o processo de composição,

em busca de expressão que substitua alguma palavra que você já utilizou. A coesão lexical

conecta as partes do texto e evita a repetição vocabular, por meio do uso de substantivos,

verbos e adjetivos, o que exige um vocabulário amplo, adquirido com a leitura constante e

frequentes consultas ao dicionário. Para entender melhor esse tipo de estratégia coesiva,

12

Page 13: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

observe o trecho abaixo, retirado do artigo “Análise da publicidade de medicamentos

veiculada em Goiás – Brasil”, de Johnathan S. de Freitas et alii.

A propaganda/publicidade é um conjunto de técnicas utilizadas com o objetivo de

divulgar conhecimentos e/ou promover adesão a princípios, ideias ou teorias, visando exercer

influência sobre o público através de ações que objetivem promover determinado

medicamento com fins comerciais (BRASIL, 2000). Quando tais técnicas são utilizadas

apenas com a finalidade de ampliar lucros em detrimento da qualidade da informação

veiculada, ocultando ou diminuindo os aspectos negativos e superestimando os benefícios do

produto medicamentoso, surgem questões de cunho ético, uma vez que, podem promover o

uso irracional de medicamentos e, consequentemente, danos à saúde e à economia. (...)

Existem diversos casos em que a propaganda e publicidade de medicamentos têm

apresentado estes produtos como soluções rápidas para diversos problemas de saúde que

acometem a população, sem levar em consideração o risco sanitário intrínseco que todo

produto medicamentoso possui.

Para evitar a repetição desnecessária de palavras, o autor usou expressões como

“produto medicamentoso” e simplesmente “produto” para se referir a medicamento,

garantindo a coesão textual. Veja a seguir algumas estratégias para o bom uso de itens do

léxico a fim de tornar seus textos mais coesos.

1.2.1. Uso de sinônimos

Essa é a estratégia a que mais recorremos enquanto escrevemos, embora nem sempre

seja fácil encontrar um sinônimo. Dificilmente um par de sinônimos pode ser considerado

perfeito, isto é, com um elemento podendo ser trocado pelo outro em qualquer contexto.

Quando você leu o texto acima, deve ter se perguntado por que o autor não usou a palavra

“remédio” para se referir a “medicamento”. Tal substituição não foi feita, pois, como

acabamos de ver, esse não é um par de sinônimos perfeitos. Segundo o Grande Dicionário

Português ou Tesouro da Língua Portuguesa, de Domingos Vieira, "Remédio tem um sentido

13

Page 14: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

mais amplo que medicamento. O remédio compreende tudo o que é empregado para a cura de

uma doença. (...) O exercício pode ser um remédio, porém nunca é um medicamento".

Assim, é preciso ter cuidado no uso de sinônimos, especialmente no texto acadêmico, do

qual se espera grande precisão. No texto que estamos analisando, o autor preferiu utilizar

“produtos medicamentosos” como sinônimo de “medicamentos”.

1.2.2. Uso de hiperônimos

Um hiperônimo é uma palavra com sentido mais genérico do que uma outra, chamada

de hipônimo. O significado de um hiperônimo contém o significado de vários hipônimos ao

mesmo tempo, como no caso de “produtos” (hiperônimo) e “medicamentos” (hipônimo),

palavras retiradas do artigo aqui analisado. Ao se referir a “produtos”, o autor nos remete

diretamente a “medicamentos”, único produto que já havia sido citado. No entanto, se o texto

também falasse de cosméticos, seria necessário buscar outra forma de estabelecer coesão, pois

“produtos” engloba tanto “medicamentos” quanto “cosméticos”. Tal relação pode ser definida

da seguinte forma:

Essa estratégia garante que o leitor recupere a relação entre as partes do texto sem que o

autor precise repetir desnecessariamente palavras. Você deve tomar cuidado, porém, para não

usar um hiperônimo vago demais, como “coisa”, por exemplo. Tal palavra poderia ser

interpretada como se referindo a praticamente qualquer item mencionado no texto, gerando

grave ambiguidade.

1.2.3. Uso de perífrases

A perífrase é uma construção complexa para designar algo para o qual há uma expressão

mais simples. No caso do texto analisado, o autor poderia ter empregado uma perífrase para

remeter a “medicamentos”, escrevendo, por exemplo, “substâncias empregadas no tratamento

medicamentos

cosméticos

produtos

14

Page 15: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

de uma afecção ou de uma manifestação mórbida”. Para isso, o uso de dicionários e de boas

fontes de consulta é imprescindível, de modo que você possa apresentar informações precisas.

A perífrase permite que você acrescente novos dados ao tópico sobre o qual você está

escrevendo, como propusemos ao criar a perífrase “substâncias empregadas no tratamento de

uma afecção ou de uma manifestação mórbida”. Nesse caso, tal construção acrescentaria ao

texto uma informação sobre a função do medicamento.

O uso das perífrases pode ser útil para você reforçar seu ponto de vista ao longo de um

texto dissertativo. Veja a seguir dois exemplos:

Exemplos:

(a) Deve ser permitido o porte de armas a civis, pois a sociedade está cada vez

mais violenta. É impensável a vida em uma grande sociedade sem esses instrumentos que

garantem a autodefesa do cidadão.

(b) Apesar da crescente onda de violência nas grandes capitais, deveria ser

proibido a civis o porte de armas. É absurdo haver cidadãos comuns portando esses

instrumentos de ameaça à vida e à integridade física do outro.

Em (a), sendo o autor favorável ao porte de armas, valeu-se de uma perífrase (em

negrito) que reforça essa ideia, valorizando as vantagens trazidas por esses instrumentos. Por

outro lado, como em (b) o autor é contrário ao porte de armas, utilizou uma perífrase que

reafirma tal ponto de vista, destacando as consequências negativas do uso desses objetos.

Exercitando

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de

ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o

conteúdo deste capítulo.

Atividade 4

Observe o trecho abaixo, retirado do artigo “Edifícios ecológicos”, de Francisco Maia

Neto. Identifique, no texto, os itens lexicais que retomam a palavra em destaque,

estabelecendo com ela coesão referencial.

Criticada mundialmente pela pouca preocupação com o meio ambiente, a China

anunciou recentemente que está investindo em construções ambientalmente responsáveis,

15

Page 16: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

tendo sido lançado seu primeiro edifício ecológico, com uma economia de até 70% de energia

e 60% de água, o que lhe valeu uma certificação internacional.

Concebida por profissionais americanos e chineses, esta construção destinada a

escritórios constitui-se no primeiro edifício no país a receber o “LEED”, sigla em inglês de

Liderança em Energia e Design Ambiental, que é um certificado criado por um grupo de

empresários da construção nos Estados Unidos, preocupados com a preservação do meio

ambiente.

Para imaginarmos a dimensão da iniciativa, foi feita uma projeção sobre o impacto que

resultaria se esta tecnologia fosse aplicada em todos os edifícios comerciais na China. A

economia energética obtida anualmente seria equivalente à Usina Hidrelétrica de Três

Gargantas, o megaprojeto chinês do Rio Yangtse, com capacidade de 18.200 megawatts, que

fará com que supere Itaipu, transformando-se na maior usina do mundo.

O projeto contempla iniciativas que começam pelo telhado, cujo terraço acumula 70%

da água da chuva e filtra os agentes poluentes, utilizando espécies naturais de Pequim, além

de painéis solares, que fornecem 10% de toda a energia consumida no edifício.

2. Coesão sequencial

Para que um texto seja coeso, não basta evitar a repetição desnecessária de palavras,

retomando, pelos mecanismos que vimos acima, termos que já haviam sido mencionados. É

preciso também estabelecer relações lógicas entre as ideias expressas, o que é especialmente

importante em gêneros de escrita acadêmica.

Para estabelecer relações lógicas entre as ideias, utilizamos conectivos, como

preposições e conjunções. Observe o trecho abaixo, retirado do artigo “Mensuração da

glicemia em cães mediante a utilização do glicosímetro portátil: comparação entre amostras

de sangue capilar e venoso”, de G. A. S. Aleixo. Atente para os conectivos em negrito e sua

função no encadeamento das ideias.

A glicose é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de energia,

por isso é necessário manter sua concentração no sangue em equilíbrio (BUSH, 2004). Níveis

glicêmicos alterados (elevação ou redução) trazem consequências negativas para o corpo e a

maneira mais adequada de reduzir essas complicações é tentando manter o equilíbrio. Para

isso se faz necessário realizar medições da glicemia (PICA et al., 2003).

16

Page 17: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

As diferentes técnicas de monitoramento da glicose no sangue podem ser classificadas

em laboratorial e portátil. A primeira opção é mais confiável, entretanto, por gerar maiores

custos, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais (PICA et al.,

2003). Outra desvantagem observada é a necessidade de maiores volumes de sangue (três

mililitros) para realizar o teste (GROSS et al., 2002).

Além disso, é preciso muito cuidado e agilidade ao manipular uma amostra que será

submetida à dosagem de glicose no laboratório, pois o consumo desse carboidrato pelos

eritrócitos no sangue ocorre na taxa de aproximadamente 10% por hora em temperatura

ambiente. Esse consumo pode ser ainda mais acelerado se a amostra estiver contaminada com

microrganismos ou em ambientes quentes (COLES, 1984; KANEKO,

1997).

Logo na primeira frase, as duas principais ideias (o aproveitamento da glicose e a

necessidade de manter sua concentração equilibrada) são ligadas pelo conectivo “por isso”. A

escolha de tal palavra estabelece entre essas ideias uma relação de conclusão, de modo que,

em consequência do constante aproveitamento da glicose, seja necessário manter sua

concentração no sangue em equilíbrio.

Observe agora o período: “A primeira opção é mais confiável, entretanto, por gerar

maiores custos, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais”. Nessa

frase, há mais de um conectivo estabelecendo relações lógicas entre as ideias. A palavra

“entretanto”, por exemplo, indica uma oposição, contrastando a confiabilidade (aspecto

positivo) e a restrição (aspecto negativo) das técnicas laboratoriais de monitoramento da

glicose. Já a palavra “por” indica um valor de causa, de modo que a geração de maiores custos

é o motivo de restringir tais técnicas. Por fim, o conectivo “e” tem valor de adição, somando

os locais a que se restringem as técnicas laboratoriais de monitoramento da glicose: clínicas e

hospitais.

A seguir apresentamos as principais ideias que os conectivos podem acrescentar ao

encadeamento da frase.

17

Page 18: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

2.1. Relação de causa-consequência

Essa é uma das relações mais comuns na construção de um texto. É possível estabelecê-

la por uma série de mecanismos diferentes. Como exemplo, vamos retomar uma frase do

texto.

“A glicose é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de energia,

por isso é necessário manter sua concentração no sangue em equilíbrio”.

Conforme você já viu, esse conectivo introduz uma ideia de consequência a algo que

havia sido dito antes. Essa frase poderia também ter sido dita de outras formas. Veja:

Exemplos:

(a) A glicose é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de

energia, logo é necessário manter sua concentração no sangue em equilíbrio.

(b) A glicose é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de

energia, portanto é necessário manter sua concentração no sangue em equilíbrio.

(c) A glicose é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de

energia; é necessário, pois, manter sua concentração no sangue em equilíbrio.

(d) A glicose é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de

energia, de modo que é necessário manter sua concentração no sangue em equilíbrio

Observe que em (c) há uma construção pouco comum na fala cotidiana. Geralmente, a

palavra “pois” é empregada para introduzir uma causa. Na frase que estamos analisando, no

entanto, esse conectivo está introduzindo uma consequência. Para isso, deve ser posicionado

após o verbo da oração em que se encontra.

Outros conectivos que expressam relações de consequência (ou conclusão) são assim,

então, por conseguinte, em vista disso.

Se você inverter a estrutura dessa frase, passando o conectivo para a outra oração, não

haverá mais ideia de consequência, mas sim de causa. Na verdade, essas ideias estão

intimamente relacionadas. Observe:

(a) É necessário manter a concentração de glicose no sangue em equilíbrio,

porque ela é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de energia.

(b) É necessário manter a concentração de glicose no sangue em equilíbrio, pois

ela é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de energia.

(c) É necessário manter a concentração de glicose no sangue em equilíbrio, visto

que ela é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de energia.

18

Page 19: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

(d) É necessário manter a concentração de glicose no sangue em equilíbrio, já que

ela é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de energia.

Observe que em (b) o emprego da palavra “pois” corresponde ao uso mais frequente na

língua. Nesse caso, para expressar ideia de causa, esse conectivo deve ser posicionado antes

do verbo da oração em que se encontra.

Outros conectivos que expressam relações de causa são dado que, como, uma vez que,

porquanto, por, por causa de, em vista de, em virtude de, devido a, por motivo de, por

razões de.

2.2. Relação de oposição

Observe a frase:

“A primeira opção é mais confiável, entretanto, por gerar maiores custos, seu uso fica

restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais”.

A palavra “entretanto” realça o contraste que há entre a confiabilidade e a restrição da

“primeira opção”. Tal frase poderia ser reescrita de várias outras formas, mantendo seu

sentido básico.

Exemplos:

(a) A primeira opção é mais confiável, mas, por gerar maiores custos, seu uso fica

restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(b) A primeira opção é mais confiável, porém, por gerar maiores custos, seu uso fica

restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(c) A primeira opção é mais confiável, no entanto, por gerar maiores custos, seu uso

fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(d) A primeira opção é mais confiável, todavia, por gerar maiores custos, seu uso fica

restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(e) A primeira opção é mais confiável, contudo, por gerar maiores custos, seu uso fica

restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

Veja que, embora todos esses conectivos expressem basicamente a mesma ideia, têm um

comportamento sintático diferente: à exceção de “mas”, todos os outros têm mobilidade na

oração, podendo ser posicionados em diferentes locais da frase.

Exemplos:

(b.1) A primeira opção é mais confiável; por gerar maiores custos , porém, seu uso fica

restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

19

Page 20: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

(b.2) A primeira opção é mais confiável; por gerar maiores custos, seu uso fica restrito

aos laboratórios de análises clínicas e hospitais, porém.

Da mesma maneira que na seção referente às relações de causa-consequência, você tem

a opção de mudar o conectivo de oração para expressar uma mesma oposição. No entanto,

embora a relação entre as ideias continue sendo de oposição, a ênfase muda. Veja:

Exemplos:

(a) A primeira opção é mais confiável, mas seu uso fica restrito aos laboratórios de

análises clínicas e hospitais.

(b) Embora a primeira opção seja mais confiável, seu uso fica restrito aos laboratórios

de análises clínicas e hospitais.

O conectivo “mas” e seus equivalentes, vistos acima, introduzem a oração a que se quer

dar ênfase. O conectivo “embora” e seus equivalentes, vistos a seguir, reduzem a importância

do fato expresso pela oração que introduzem.

Veja agora construções equivalentes às de (b).

Exemplos:

(b.1) Apesar de que a primeira opção seja mais confiável, seu uso fica restrito aos

laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(b.2) Mesmo que a primeira opção seja mais confiável, seu uso fica restrito aos

laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(b.3) Ainda que a primeira opção seja mais confiável, seu uso fica restrito aos

laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(b.4) Posto que a primeira opção seja mais confiável, seu uso fica restrito aos

laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(b.5) Não obstante a confiabilidade da primeira opção, seu uso fica restrito aos

laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(b.6) Malgrado a confiabilidade da primeira opção, seu uso fica restrito aos laboratórios

de análises clínicas e hospitais.

(b.7) A despeito da confiabilidade da primeira opção, seu uso fica restrito aos

laboratórios de análises clínicas e hospitais.

2.3. Relação de condição

Observe a frase a seguir, retirada do artigo que estamos analisando: “Esse consumo pode

ser ainda mais acelerado se a amostra estiver contaminada com microrganismos ou em

ambientes quentes”.

20

Page 21: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

Nesse caso, o conectivo “se” apresenta a contaminação da amostra como uma condição

para a aceleração do consumo. Veja que, com algumas modificações nos tempos verbais, essa

frase poderia ser escrita de outras maneiras.

Exemplos:

(a) Esse consumo pode ser ainda mais acelerado caso a amostra esteja contaminada com

microrganismos ou em ambientes quentes.

(b) Esse consumo pode ser ainda mais acelerado, desde que a amostra esteja

contaminada com microrganismos ou em ambientes quentes.

(c) Esse consumo pode ser ainda mais acelerado, contanto que a amostra esteja

contaminada com microrganismos ou em ambientes quentes.

2.5. Relação de finalidade

Observe agora o seguinte trecho retirado do texto: “Níveis glicêmicos alterados

(elevação ou redução) trazem consequências negativas para o corpo e a maneira mais

adequada de reduzir essas complicações é tentando manter o equilíbrio. Para isso se faz

necessário realizar medições da glicemia”.

Nesse contexto, o conectivo “para isso” estabelece que a manutenção do equilíbrio é a

finalidade (ou objetivo) das medições da glicemia. Veja, abaixo, como essas ideias poderiam

ser reunidas em apenas uma frase, por meio de diferentes conectivos.

Exemplos:

(a) Para que se mantenha o equilíbrio, faz-se necessário realizar medições da

glicemia.

(b) A fim de que se mantenha o equilíbrio, faz-se necessário realizar medições da

glicemia.

(c) Com o objetivo de manter o equilíbrio, faz-se necessário realizar medições da

glicemia.

(d) Com o intuito de manter o equilíbrio, faz-se necessário realizar medições de

glicemia.

Observe, por fim, que há outras relações lógicas que podem ser estabelecidas por

conectivos, como adição, tempo, conformidade, comparação, proporcionalidade etc.

Exercitando

21

Page 22: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de

ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o

conteúdo deste capítulo.

Atividade 5

Observe abaixo o trecho retirado do artigo “A dependência química”, de Júlio Cruz.

Identifique o valor semântico dos conectivos em destaque e sugira outros que possam

substituí-los, sem acarretar mudanças no significado básico.

A série de capítulos penosos protagonizada pelo ator global Fábio Assunção traz à baila

mais uma vez a discussão da temática que mais tem afligido nossa sociedade nos últimos

anos: a dependência química. Uma síndrome caracterizada pelo uso de substâncias psicoativas

nas quais se incluem o álcool, a maconha, a cocaína e o crack, em troca das sensações de

tranquilidade e de prazer.

Avaliando a intermitente ampliação deste panorama, pode-se perceber quão complexa é

a matéria e constatar que a dependência química já faz parte de nossas estatísticas mais

nefastas, quando grifam o expressivo número de acidentes de trânsito e crimes que têm

origem no uso das drogas.

Levar à sociedade um maior número de informações significará permitir compreender

que a dependência química é uma doença e não uma opção de vida, e que essa doença gera

consequências danosas ao indivíduo e às pessoas que dele estão próximas. Faz-se relevante

compreender que a doença não se inicia com a dependência química, pois, de antemão, o

usuário já se encontra doente existencialmente, indo procurar nas drogas a cura de suas feridas

mais íntimas, fato reconhecido pela Organização Mundial de Saúde.

Por outro lado, a falta de transmissão de notícias precisas acaba gerando conceitos

errados, tanto sobre o usuário da droga quanto sobre o mito que ela tem de solucionar

problemas. Nesse sentido, saliente-se que os familiares do usuário são de fundamental

importância para o aprendizado de quais atitudes se devem tomar perante tal problema,

mesmo porque muitos dos dependentes químicos iniciam seu relacionamento com drogas

exatamente no lugar onde se suporia que estariam mais seguros: dentro de seus próprios lares.

Glossário

Pronome – palavra que substitui ou acompanha nomes;

22

Page 23: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

Norma dita culta (ou norma padrão) – variedade linguística de prestígio em uma

comunidade, sendo a forma consagrada em textos acadêmicos e jornalísticos;

Léxico – conjunto aberto de palavras da língua, que abrange todos os substantivos,

verbos e adjetivos, bem como alguns advérbios.

Referências bibliográficas

ABREU, A. Curso de Redação. São Paulo: Ática, 2005.

ALEIXO, G. A. S. Mensuração da glicemia em cães mediante a

utilização do glicosímetro portátil: comparação entre amostras de

sangue capilar e venoso. Disponível em:

<http://www.revistavet.byethost13.com/modules/mastop_publish/files/

files_47d568db4dab7.pdf>. Acesso em 15 jun.2009.

BARRETO, S. M. G. Esporte e saúde. Disponível em:

<http://www.cdcc.usp.br/ciencia/artigos/art_22/esportesaude.html

>. Acesso em 15 jun.2009.

CRUZ, J. A dependência química. Disponível em:

<http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?

uf=1&local=1&source=a2306601.xml&template=3898.dwt&edition=11172&section=1012>.

Acesso em 15 jun. 2009.

CUNHA, C; CINTRA, L. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro:

Nova Fronteira, 2001.

FREITAS, J. S. Análise da publicidade de medicamentos veiculada em Goiás – Brasil.

Disponível em: <http://www.farmacia.ufg.br/revista/_pdf/vol2_2/artigos/ref_v2_2-2005_p80-

86.pdf>. Acesso em 15 jun. 2009.

GIL, G. Eletracústico: A linha e o linho. Warner Music, 2004.

KOCH, I. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 2008.

LEITE, L. H. A. Pedagogia de projetos. Disponível em:

<http://www.cipo.org.br/escolacomsabor/arq/TanaMesa_Artigo_pedagogiadeprojeto.doc>.

Acesso em 15 jun.2009.

LISPECTOR, C. Uma esperança. In:______. Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro: Rocco,

1998.

VIEIRA, D. Grande dicionário português ou Tesouro da língua portuguesa. Porto: Ernesto

Chardron e Bartholomeu H. de Moraes, 1871-1874.

Unidade 3 - Coerência textual

23

Page 24: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

Apresentando a unidade

Nesta unidade, você estudará mecanismos que garantem que um texto faça sentido, os

quais evitam ruídos na comunicação entre as pessoas. Para escrever bem, além de ter boas

ideias, é preciso apresentá-las de forma clara, de modo que não se contradigam e não

estabeleçam relações ilógicas entre si.

Definindo os objetivos

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:

1. compreender a noção de coerência textual e sua

importância para uma boa legibilidade dos textos;

2. identificar as principais estratégias textuais que

asseguram coerência ao discurso;

3. reconhecer e corrigir falhas textuais que comprometam a coerência do discurso;

4. identificar informações implícitas no discurso;

5. produzir parágrafos e textos mais coerentes.

Conhecendo a coerência textual

Talvez você já tenha se deparado com alguma leitura que não

compreendeu muito bem. Isso pode ter acontecido por falta de

familiaridade com o assunto do texto ou por desconhecimento de certas palavras e

construções gramaticais nele encontradas. No entanto, a dificuldade para compreender o texto

também pode ter sido causada por problemas na coerência das ideias que o constituem.

Coerência é uma palavra utilizada no cotidiano com o sentido de “condição para que

algo seja compreensível”. Quando lemos ou ouvimos informações confusas, dizemos que

aquilo não faz sentido, pois está incoerente. Em um contexto mais técnico, coerência significa

a condição para que um texto seja interpretado por um indivíduo em uma situação específica.

Assim, a coerência transforma uma sequência de palavras em texto e não em um

amontoado desconexo de vocábulos. Essa sequência é entendida como texto quando o leitor é

capaz de percebê-la como um todo com significado, que lhe comunica alguma ideia. Compare

os exemplos abaixo para entender mais claramente a noção de coerência.

Exemplos:

(a) Sapato. Água. Estudar. Todavia.

24

Page 25: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

(b) Vim. Vi. Venci.

Enquanto em (a) o conjunto de palavras não é capaz de veicular uma mensagem, não

constituindo um texto, em (b), a mensagem é clara e coerente, embora o texto seja

bastante curto e simples.

Um leitor só é capaz de conferir coerência a um texto, isto é, torná-lo coerente, quando

leva em conta os contextos de produção e recepção, pois algumas leituras apenas fazem

sentido se soubermos de antemão quando, onde, para quem e por quem o texto foi produzido.

Dizer, hoje em dia, que a Terra é achatada e plana é absolutamente incoerente, pois não

corresponde à realidade, segundo nosso atual conhecimento de mundo. No entanto, na Idade

Média, tal afirmativa era interpretada como coerente, já que estava de acordo com o discurso

científico da época.

De maneira semelhante, a frase “Navios brasileiros entravam portugueses na Baía da

Guanabara” parece incoerente a um primeiro olhar, se pensarmos que o verbo nessa oração é

“entrar”, referindo-se a uma ação passada. Porém, uma leitura mais atenta confere coerência a

esse texto, percebendo que se trata do verbo “entravar”, indicando uma ação presente.

Agora que você entendeu o que é coerência, precisa compreender quais são as

estratégias que garantirão a seu texto essa qualidade. Na próxima seção, você encontrará

algumas regras que devem ser obedecidas para se redigir um texto coerente.

Definindo as regras de coerência textual

1. Regra da repetição (ou regra da coerência sintática) – Ao longo da exposição das

ideias, é preciso que as partes do texto se conectem entre si, de modo que cada nova

informação remeta à antiga. Dessa forma, ao mesmo tempo em que avança em termos de

conteúdo, o texto deve sempre explicitar a relação de cada nova informação com as

anteriores, para que o leitor não se perca na leitura.

Observe como isso é feito no trecho abaixo, retirado do artigo “A convergência dos

aspectos de inclusão digital: experiência nos domínios de uma universidade”, de Barbara

Coelho Neves. Atente, principalmente, para as palavras em destaque.

“A Sociedade da Informação, formalizada nos inventos de uma série de máquinas

inteligentes criadas ao logo da Segunda Guerra Mundial,

origina novas responsabilidades para todos os atores sociais nela

25

Page 26: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

inseridos. Tais responsabilidades representam a necessidade da provisão do fluxo de

informações que permita desde a geração de novos conhecimentos até o efetivo exercício

da cidadania pela sociedade civil.

Várias iniciativas de instituições – mantidas com recursos de origem privada, pública

ou mista de mecanismos nacionais e internacionais – têm contribuído com a criação de

espaços que proporcionam tipos de acessos variados à informação eletrônica”.

No trecho acima, as frases estão bem relacionadas entre si, o que garante coerência ao

texto. A expressão “tais responsabilidades” remete diretamente a “novas responsabilidades”,

presente na frase anterior.

Além disso, a transição entre parágrafos também se dá de forma clara. Apesar de se

dizer geralmente que mudamos de parágrafo quando encerramos um assunto, é preciso

perceber que os parágrafos devem estar relacionados entre si, interligando esses tópicos

distintos. No texto aqui analisado, a expressão “criação de espaços que proporcionam tipos de

acessos variados à informação eletrônica” está intimamente ligada ao parágrafo anterior, pois

funciona como uma solução para a “necessidade da provisão do fluxo de informações que

permita desde a geração de novos conhecimentos até o efetivo exercício da cidadania pela

sociedade civil”.

2. Regra da progressão – ao mesmo tempo em que um texto precisa retomar, por meio

de mecanismos coesivos, termos que já haviam sido mencionados, é preciso que haja

renovação dos conteúdos, com progressão semântica. Assim, o texto avança na condução das

ideias, não se tornando repetitivo.

Observe o mesmo trecho de “A convergência dos aspectos de inclusão digital: experiência

nos domínios de uma universidade”, agora atentando para a aplicação da regra da progressão.

“A Sociedade da Informação, formalizada nos inventos de uma série de máquinas

inteligentes criadas ao logo da Segunda Guerra Mundial, origina novas responsabilidades para

todos os atores sociais nela inseridos. Tais responsabilidades representam a necessidade da

provisão do fluxo de informações que permita desde a geração de novos conhecimentos até o

efetivo exercício da cidadania pela sociedade civil.

26

Page 27: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

Várias iniciativas de instituições – mantidas com recursos de origem privada,

pública ou mista de mecanismos nacionais e internacionais – têm contribuído com a

criação de espaços que proporcionam tipos de acessos variados a informação eletrônica”.

O primeiro parágrafo do trecho falava sobre necessidades decorrentes do advento da

sociedade da informação. O segundo reafirma tais necessidades, mas adiciona uma nova

informação: a contribuição de instituições para suprir tal demanda. Assim, o desenvolvimento

do texto avança, ao mesmo tempo em que mantém ligações com ideias anteriores.

Você deve ter percebido que, na construção de um texto coerente, combinam-se as

regras da repetição e da progressão. Assim, deve haver um equilíbrio entre informações

“velhas” (já conhecidas pelo leitor) e novas, sendo os dois grupos expostos de forma

intercalada. Caso contrário, há problemas de comunicação: um texto com excesso de

informações velhas tem baixa informatividade, não agregando conhecimento ao leitor. Por

outro lado, o excesso de informações desconhecidas pelo leitor pode obstruir completamente a

compreensão do texto. Note, no entanto, que as informações serão “velhas” ou novas de

acordo com o leitor, de modo que, ao escrever, você precisa ter bem definido a quem se

destina seu texto, para poder selecionar e organizar bem as ideias.

Para que isso fique mais claro, atente para os exemplos abaixo, retirados de Koch e

Travaglia (2008, p. 86).

Exemplos:

(a) O oceano é água.

(b) O oceano é água. Mas ele se compõe, na verdade, de uma solução de gases e sais.

(c) O oceano não é água. Na verdade, ele é composto de uma solução de gases e sais.

A primeira frase deve ser evitada em um texto acadêmico, pois seu conteúdo é óbvio e

nada acrescenta ao leitor, que se perguntará qual a intenção do autor ao escrever algo formado

apenas por informações por ele já conhecidas. Por outro lado, mesmo que esteja correta, a

terceira construção causará dúvidas no leitor, visto que provavelmente não há nela nenhuma

informação por ele conhecida para situá-lo quanto ao enunciado. Ambas as frases em (c)

veiculam ideias absolutamente novas, o que prejudica a compreensão; se não conhecemos

boas referências do autor, podemos até achar que se enganou enquanto escrevia.

Para um texto acadêmico, a melhor opção seria (b), pois há um equilíbrio entre

informação “velha” (oceano formado por água) e nova (oceano formado por gases e sais).

27

Page 28: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

Sempre que tiver de escrever, tenha em mente a importância de balancear trechos com alta e

baixa informatividade, para que a leitura possa fluir com facilidade.

Exercitando

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de

ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o

conteúdo deste capítulo.

Atividade 1

Leia atentamente o artigo abaixo, escrito por Beto Albuquerque. Apesar de atender às

normas da gramática tradicional, o texto incorre em uma falha, pois desobedece às regras da

progressão e da repetição, segundo as quais uma parte do texto deve avançar em termos

temáticos, mas sempre relacionando as informações novas ao que já havia sido dito.

Identifique no artigo em questão o trecho em que o autor lança uma ideia inesperada ao leitor,

mas sem explicá-la em mais detalhes ou contextualizá-la em relação ao sentido global do

texto.

Incrível: tem gente torcendo por mortes no trânsito [25/09/2008]

Ao completar três meses de vigência, a lei do álcool zero no trânsito (Lei 11.705/08) já

poupou centenas de vidas no Brasil. Para continuar salvando vidas, a ação dos órgãos de

trânsito nas três esferas de governo federal, estadual e municipal e a conscientização e

mudança de atitude da população são imprescindíveis.

Desde sua entrada em vigor, a lei diminui a incidência de acidentes de trânsito, mesmo

sob muita discussão. A lei é popular, positiva e eficaz mesmo sem campanhas permanentes.

Imagine se o poder público fizer a sua parte! O que é lamentável é assistir a alguns incautos

torcendo pelas mortes no trânsito como forma de fazer valer o seu desejo de beber e dirigir.

O fato é que a perigosa mistura do álcool com a direção, que antes da lei era responsável

por 60% das mortes e após a lei, por 40%, continua muito presente. Um dos efeitos da nova

lei é provocar uma mudança de atitude de todos nós no volante, de forma semelhante à

aplicação das leis que tornaram obrigatório o uso do cinto de segurança e a obrigatoriedade do

uso do capacete pelos motociclistas.

Outro ponto a considerar é que, segundo a Organização Mundial da Saúde, cada país

terá o número de mortes no trânsito que estiver disposto a tolerar. A Lei nº 11.705/08

28

Page 29: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

demonstra que a sociedade não está mais disposta a tolerar tantas mortes evitáveis no trânsito.

Mesmo quando há um efeito considerável na redução de acidentes devido à entrada em vigor

de uma lei, esse efeito pode ser anulado após certo tempo, se houver percepção pública de

impunidade e/ou desconhecimento da lei vigente.

(...)

3. Regra da não-contradição (ou coerência semântica) – um texto coerente não pode

contradizer uma informação apresentada por ele anteriormente. Nesse aspecto, é importante

tomar cuidado quando você for apresentar visões opostas acerca de uma mesma questão,

procedimento comum em textos acadêmicos. Para que essa contraposição de perspectivas não

se torne paradoxal, é importante explicitar que se trata de diferentes visões sobre um mesmo

tema, defendidas por pessoas distintas, e não posicionamentos contraditórios daquele que

escreve.

Veja o parágrafo a seguir, retirado do artigo “Concepções de professores de enfermagem

sobre drogas”, de Gertrudes Teixeira Lopes e Halyne Limeira Pessanha. Nele, as visões do

senso comum e de Moutinho (2005) são contrapostas por meio da expressão “quando, na

realidade”, que explicita que esta visão é mais apropriada do que aquela, o que garante

coerência ao texto, não o tornando contraditório.

Exemplo:

“A forma como se aborda habitualmente o tema traz a impressão de que se trata de algo

novo, de um mal contemporâneo quando, na realidade, o uso de substâncias psicoativas é um

fenômeno que acompanha toda a história da Humanidade (Moutinho, 2005). O mesmo pode

ser dito sobre a busca do prazer e a necessidade da satisfação”.

Por outro lado, observe o parágrafo abaixo, retirado do texto de um aluno, o qual

infringiu a regra da não-contradição enquanto escrevia.

Exemplo:

O país tem uma política econômica controversa: enquanto vende para o exterior seu

melhor café, consumindo internamente um produto de baixa qualidade, exporta tecnologia de

mineração. Desse modo, enquanto fazendeiros do café enriquecem, a Vale do Rio Doce

endivida-se com a aquisição de maquinário estrangeiro.

29

Page 30: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

O trecho acima se contradiz ao afirmar primeiramente que o Brasil exporta tecnologia

mineradora e depois que a Vale do Rio Doce tem de importar maquinaria. Ambas as

afirmações podem até ser verdadeiras, caso a Vale constitua uma exceção no panorama das

empresas mineradoras brasileiras, mas tal fato precisaria ser claramente expresso no texto

para garantir-lhe coerência.

4. Regra da relação – um texto coerente deve apresentar o que se convencionou chamar

de coerência externa, a adequação à realidade de que fala. Não deve, pois, fazer afirmações

falsas sobre a realidade. Observe o exemplo abaixo de um texto que contraria o princípio da

relação.

Exemplo:

A utilização da tecnologia digital na educação como ferramenta para inclusão social é

um excelente meio para levar o conhecimento e a informação disponível necessários para a

formação da inteligência.

Tal trecho não condiz com a realidade, pois afirma que a aquisição de determinados

conhecimentos é imprescindível para a formação da inteligência. Tal argumento,

erroneamente, conduz à ideia de que sem acesso a um grupo específico de saberes não há

inteligência. Preconceituosa, essa afirmação acarreta a generalização de que pessoas sem

acesso a tais informações não têm inteligência.

Ainda no que diz respeito à regra da relação, um autor deve se preocupar para não

incorrer em um erro de acidente, incoerência que se origina de falsas generalizações, de modo

que um fato particular a um ou mais indivíduos é estendido para toda a classe. Tal

generalização, no entanto, não pode ser provada por argumentos lógicos. Observe os

exemplos abaixo:

(a) Todos os cães são mamíferos.

(b) Nenhum mamífero põe ovos.

A primeira frase apresenta uma generalização sobre a

classificação canina, que corresponde ao que diz a ciência. A

segunda, no entanto, baseada em um conhecimento parcial,

generaliza uma característica que pertence a quase todos os mamíferos, mas não a todos;

afinal, ornitorrincos são mamíferos que põem ovos.

30

Page 31: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

Para solucionar problemas como esse, é preciso lançar mão de certas expressões que

relativizem afirmações tão generalizantes. Assim, o uso de a maioria de, boa parte de, uma

parcela ínfima de e de outras locuções mostra que o autor não recorre a falsas afirmativas

universalizantes para defender seu ponto de vista.

Exercitando

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de

ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o

conteúdo deste capítulo.

Atividade 2

Os trechos a seguir foram retirados do livro Curso de redação, de Antônio Suárez

Abreu, constando de uma seção de exemplos de incoerência textual, que figuram como

estratégia de humor em O melhor do besteirol, de Petras (1995). Com base nos trechos

abaixo, identifique qual regra de coerência foi desrespeitada, justificando sua resposta.

a. “É realmente apropriado que nos reunamos aqui hoje, para homenagear Abraham

Lincoln, o homem que nasceu numa cabana de troncos que ele construiu com suas próprias

mãos”. (Político, em um discurso, homenageando Lincoln)

b. “Damos cem por cento na primeira parte do jogo e, se isso não for suficiente, na

segunda parte damos o resto”. (Yogi Berra, jogador norte-americano de beisebol, famoso por

suas declarações esdrúxulas)

c. “Substituição de bateria: substitua a bateria velha por uma nova”. (Instrução em um

manual elétrico)

d. “(...) este Conselho resolve: a) que uma nova cadeia seja construída; b) que a nova

cadeia seja construída com os materiais da velha cadeia; c) que a velha cadeia seja usada até

que a nova esteja pronta”. (Resolução da Junta dos Conselheiros, Canto, Mississipi, 1800)

e. “Por que deveriam os irlandeses ficar de braços cruzados e mãos nos bolsos

enquanto a Inglaterra pede ajuda?” (Sir Thomas Myles, falando em um comício em Dublin,

em 1902, sobre a guerra dos Boeres)

f. “Quando um grande número de pessoas não consegue encontrar trabalho, o

resultado é o desemprego”. (Calvin Coolidge, presidente americano em 1931)

31

Page 32: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

g. “Acho que os senhores pensam que, em nossa diretoria, metade dos diretores

trabalha e a outra metade nada faz. Na verdade, cavalheiros, acontece justamente o contrário”.

(Diretor de empresa, defendendo os membros de seu staff)

Identificando informações implícitas

Agora que você já conhece os princípios que tornam um texto coerente, precisa entender

a importância de reconhecer informações implícitas em um texto, pois a incapacidade de

percebê-las pode obstruir sua leitura.

Quando lemos, atentamos para uma série de informações que estão claramente expressas

em determinadas escolhas de palavras, certas construções gramaticais etc. Essas informações

ficam claras a uma primeira leitura, pois estão sendo explicitamente apresentadas ao leitor.

Por outro lado, um bom leitor não constrói sentidos a partir só das informações

explícitas, pois deve atentar também para uma segunda camada, mais profunda, de

significação. Essa segunda camada contém as informações implícitas, que não vêm

claramente expressas em um texto, mas são necessárias para sua compreensão. Quando

escreve, um autor deixa determinadas informações sugeridas nessa segunda camada, mas não

claramente ditas, seja por brevidade, ironia ou mesmo necessidade de camuflar certos

posicionamentos, como na época da ditadura militar.

Se um leitor é capaz de identificar e entender o que está implícito no texto, pode

reconstituir, em parte, a intenção do autor. Veja o exemplo abaixo, retirado do editorial

“Efeito prático”, da Gazeta do Povo.

Surge uma notícia capaz de devolver a fé aos que já tinham perdido as esperanças de ver

a ética prevalecer na vida pública: a Advocacia-Geral da União espera reaver aos cofres do

Estado R$ 110 milhões desviados, em todo o país, por meio de licitações irregulares e

superfaturamento na compra de unidades móveis de saúde. (...) Os processos também têm o

importante objetivo de afastar da vida pública aqueles que, comprovadamente, não seguem os

princípios básicos da impessoalidade e da moralidade – essenciais quando se trata de atuar em

nome de toda a sociedade. Felizmente, já não se pode dizer que o Brasil varre toda a sujeira

para debaixo do tapete. Investigações e processos correm às mancheias. Falta-nos agora

acabar com a pizza e extrair efeitos práticos da caça aos corruptos. A recuperação de R$ 110

milhões será um bom começo.

32

Page 33: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

Observe que em momento algum do texto o autor fala explicitamente da história

brasileira marcada pela corrupção impune. No entanto, tal ideia está implícita na frase

“Felizmente, já não se pode dizer que o Brasil varre toda a sujeira para debaixo do tapete”. O

emprego da palavra “já” sugere que não se pode mais falar dessa impunidade no Brasil, mas

que um dia isso já foi comum. Segundo o autor, hoje o Brasil não varre mais a sujeira para

baixo do tapete, embora no passado a corrupção passasse despercebida, o que está implícito

no texto. Assim, além de noticiar a recuperação dos R$ 110 milhões, o autor tem a intenção

de criticar o passado de impunidade na corrupção.

No caso acima, apesar de a informação sobre a antiga impunidade não estar

explicitamente apresentada no texto, há uma “pista” (também chamada de marca linguística)

deixada pelo autor, para que percebamos esse sentido. Trata-se, como vimos, da palavra “já”.

Quando o leitor pode se basear em uma marca linguística para entender o que está implícito,

chama-se essa informação implícita de pressuposto.

Por outro lado, há certas informações implícitas que não são sinalizadas por pistas no

texto. Logo, o leitor deve, com seu conhecimento prévio, preencher as lacunas deixadas pelo

autor, de modo a tornar clara a leitura. Nesse caso, chama-se a informação implícita de

subentendido.

É impossível, quando se escreve um texto, explicar absolutamente tudo o que envolve as

ideias expostas. Por motivos de concisão, selecionamos as informações principais e deixamos

a cargo do leitor inferir as outras. Por exemplo, ao relatar o que fizemos durante o dia, não

escrevemos: “Primeiro pus o pé esquerdo no chão; depois o direito; depois o esquerdo; depois

o direito. Depois calcei um pé de chinelo. Depois calcei o outro”. Seria impossível comunicar

qualquer coisa se os textos fossem tão detalhados.

Assim, é tarefa do leitor perceber e reconstruir mentalmente as informações auxiliares

subentendidas, sem que o autor tenha de explicitá-las. Todavia, quem escreve tem de se

preocupar se o leitor tem conhecimento suficiente para preencher sozinho os subentendidos.

Veja que um livro de matemática para a graduação não explica aos alunos como se

multiplicam números, mesmo que isso seja um conhecimento necessário para resolver

33

Page 34: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

determinada atividade proposta pelo livro, como, por exemplo, uma equação. Em vez disso, o

autor assume que os alunos sabem multiplicar sem ajuda e não esmiúça esse procedimento.

Todavia, se uma professora do Ensino Fundamental não relembra aos alunos como se

faz uma multiplicação, muitos não conseguem resolver uma equação. Perceba, assim, a

necessidade de avaliar se determinada informação deve estar implícita ou explícita no texto.

Na escrita acadêmica, geralmente escrevemos para pessoas conhecedoras – pelo menos em

termos gerais – do assunto de que trata nosso texto. Assim, por exemplo, em um artigo sobre

Literatura, um aluno universitário não precisa afirmar que Machado de Assis é um autor

brasileiro. Muito provavelmente, o leitor já sabe disso.

Observe agora o uso de subentendidos na construção do trecho abaixo, retirado do artigo

“Europa diverge sobre combate ao aquecimento global”.

Os líderes europeus se reúnem nesta quinta-feira em Bruxelas profundamente divididos

sobre como cumprir suas promessas de combate ao aquecimento global. Mesmo assim, eles

não admitem a hipótese de fracasso do acordo.

A União Europeia está dividida entre os países mais pobres do leste e os mais ricos da

parte ocidental do continente. Apesar das divergências, até o fim de semana os presidentes e

primeiros-ministros precisam tomar decisões-chave para a elaboração de um pacote de leis

sobre alterações climáticas que valerá para os 27 países-membros.

De um lado, estão Polônia, que ameaça vetar o pacote; Alemanha, que não quer que sua

indústria pague para poluir; e a Itália, que considera o plano ambicioso demais. De outro, a

Grã-Bretanha diz que o pacote acabará resultando em ganhos para as empresas.

Ao ler o texto, você provavelmente não se deu conta, mas, caso não soubesse

previamente que Polônia, Alemanha, Itália e Grã-Bretanha são países europeus, esse trecho

não teria feito qualquer sentido para você. Talvez tivesse até achado que os posicionamentos

desses países fossem reações da comunidade internacional (fora da Europa) à reunião da

União Europeia. Assim, perceba a importância de compreender bem o que está subentendido

para ser um leitor eficiente. Às vezes, o subentendido é facilmente recuperável. Caso

contrário, na hipótese de o leitor não ter conhecimento prévio suficiente para entender o que

está implícito, é melhor o autor explicitar suas ideias.

34

Page 35: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

Exercitando

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de

ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o

conteúdo deste capítulo.

Atividade 3

Os tempos verbais são uma espécie de marca linguística que funciona como “pista”

para o leitor, apontando para determinadas informações implícitas no texto. A partir dos

verbos destacados em negrito, identifique que pressupostos seus tempos verbais sugerem.

a.

Manutenção com foco no negócio

Joubert Flores

Não faz muito tempo, quando se falava de manutenção em indústrias, a ideia que se

formava na mente das pessoas era a do conserto de algo, de reparo de alguma falha e, não

raro, envolvia interrupção da produção e a utilização de prestadores de serviços. Era algo que

se fazia reativamente, ou seja, depois de os problemas terem surgido. Prevenção era uma

expressão pouco ouvida em fábricas e manufaturas em geral.

(...)

b.

Boa Sorte, Congresso Brasileiro de Medicamentos

Jávier Godinho

Um dia alguém escreverá, com honestidade e detalhes, a história da indústria de

medicamentos no Brasil. Sendo verdadeiro e criterioso, com certeza, nela incluirá o nome de

Benedito Vicente Ferreira, o Benedito Boa Sorte, o goiano que, durante todo seu mandato de

senador, com unhas e dentes, defendeu no Congresso, contra o apetite insaciável das

multinacionais, os então oprimidos, débeis, incipientes e desprotegidos laboratórios nacionais.

(...)

Referências bibliográficas

ABREU, A. Curso de redação. São Paulo: Ática, 2005.

35

Page 36: Texto 05 - Leitura e Produção Textual

ALBUQUERQUE, B. Incrível: tem gente torcendo por mortes no trânsito. Disponível em: <http://frentetransitoseguro.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=624&Itemid=56>. Acesso em 15 jun. 2009.

Efeito prático. Gazeta do Povo. Disponível em: <http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=836983&tit=Efeito-pratico>. Acesso em 15 jun. 2009.

Europa diverge sobre combate ao aquecimento global. Disponível em: <http://www.opiniaoenoticia.com.br/interna.php?id=20607>. Acesso em 15 jun. 2009.

FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto. 3 ed. São Paulo: Editora Ática, 1991.

FLORES, J. Manutenção com foco no negócio. A gazeta mercantil. Disponível em: <http://www.abraman.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=140:jornal-gazeta-mercantil-coluna-opiniao-31052&catid=86:jornal-gazeta-mercantil&Itemid=69>. Acesso em 15 jun. 2009.

GARCIA, O. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV, 1981.

GODINHO, J. Boa Sorte, Congresso Brasileiro de Medicamentos. Diário da manhã. Disponível em: <http://www2.camara.gov.br/carlosalbertolereia/site/kim/diario-da-manha-coluna-opiniao-25-10-2007/>. Acesso em 15 jun. 2009.

KOCH, I.; TRAVAGLIA, L. C. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 2008.

KOCH, I.; TRAVAGLIA, L. C.. Texto e coerência. São Paulo: Contexto, 1999.

KOCH, I.; ELIAS, V. M.. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.

LOPES, G. T.; PESSANHA, H. L. Concepções de professores de enfermagem sobre drogas. Disponível em: <http://www.eean.ufrj.br/revista_enf/20083/artigo%209.pdf>. Acesso em 15 jun. 2009.

NASCIMENTO, V. L. Cinema e ensino de História: em busca de um final feliz. Disponível em: <http://www.urutagua.uem.br/016/16nascimento.htm>. Acesso em 15 jun. 2009.

NEVES, B. C. A convergência dos aspectos de inclusão digital: experiência nos domínios de uma universidade. Disponível em: <http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/7191/6640>. Acesso em 15 jun. 2009.

PETRAS, R.; PETRAS, K. O melhor do besteirol: as 597 maiores asneiras jamais ditas. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995.

36