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LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO COM MONTEIRO LOBATO.

Autora: Elizabete Benedita Augusto1

Orientador: Dr. Thiago Alves Valente2

RESUMO

O processo de ensino-aprendizagem é uma atividade conjunta de professor e aluno, organizado sob a direção do professor, com a finalidade de implementar estratégias de ensino fundamentadas na leitura literária e na produção textual, para que os alunos assimilem ativamente conhecimentos e desenvolvam habilidades críticas para organizar ideias de modo a fortalecer sua argumentação. Neste estudo propõe-se um trabalho de leitura com as obras de Monteiro Lobato (1882-1948) Caçadas de Pedrinho (1933)3 e O Saci (1918)4 sendo esta leitura oral pelo professor e aquela sugerida para os alunos como incentivo à produção de textos na disciplina de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental dos anos finais. Usou-se a literatura para o desenvolvimento de estratégias de leitura para o aperfeiçoamento das práticas sociais, possibilitando o aprimoramento da produção textual por atividades sistematizadas dos gêneros textuais narrativos: mapa, entrevista, causo, lenda, relato de experiência vivida, carta e debate. Utilizou-se da Sequência Básica de Cosson (2009): motivação, introdução, leitura e interpretação que propõe a organização das atividades de maneira precisa de trabalhar o gênero textual oral e escrito. Apresenta-se nesse artigo detalhadamente a fundamentação teórica, as estratégias de ação divididas em onze encontros, com a apresentação da metodologia e as experiências concretas da prática de ensino de leitura e de produção textual, realizadas com alunos do 7º ano do Ensino Fundamental, do período vespertino na Escola Estadual do Bairro Bela Vista - Ensino Fundamental, localizada em Bandeirantes - PR.

Palavras-chave: Leitura; Literatura-infantil; Ensino; Produção textual.

1 Pós-Graduação – Especialista em Língua Portuguesa e Literatura – Escola Estadual do Bairro Bela

Vista – Bandeirantes - PR. 2 Professor de Língua Portuguesa e Metodologias de Ensino de LP, Universidade Estadual do Norte do

Paraná, campus de Cornélio Procópio. Grupos de Pesquisa: Crítica e recepção literária (UENP-CP); Leitura e

Literatura na Escola (UNESP-Assis). 3 1ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional. Sendo a obra trabalhada da 52ª ed. São Paulo:

Brasiliense, 1991. 4 1ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional. Sendo a obra trabalhada da 51ª ed. São Paulo:

Brasiliense, 1991.

2

Introdução

Em 1990, iniciei como professora de Língua Portuguesa em séries do 1º

grau na rede pública, em 1995 a 2000 atuei como secretária no Colégio Estadual

Usina Bandeirantes – Ensino Fundamental e Médio e Profissional, atualmente

trabalho na Escola Estadual do Bairro Bela Vista com Ensino Fundamental, e no

Colégio Estadual do Campo Usina Bandeirantes com o Ensino Fundamental, Médio

e Profissional.

Com vários questionamentos sobre a metodologia de ensino que estava

desenvolvendo com a leitura, produção de texto em sala de aula e a necessidade de

aprimorar esse trabalho, aproveitei a oportunidade ofertada pela Secretaria de

Estado da Educação com o Programa de Desenvolvimento Educacional PDE para

desenvolver um estudo acerca da leitura e da produção de texto, visou-se

desenvolver atividades de leitura, e produção escrita para o aprimoramento no

potencial criativo ou de investigação científica com os alunos da Escola Estadual do

Bairro Bela Vista – Ensino Fundamental - Bandeirantes – Paraná, do 7º ano, do

período da tarde, com 22 alunos matriculados e 17 frequentes, compostos por 09

meninas e 08 meninos.

A escolha do 7º ano justifica-se por corresponder à fase em que os alunos

precisam de estímulos que orientem a leitura e a escrita, desenvolvendo

conhecimentos e capacidades diversas relativas não somente à natureza, mas

também com o funcionamento do sistema alfabético, a ortografia e o uso geral da

escrita, propondo observações sobre as convenções do sistema de escrita a partir

da leitura e da produção de texto dos gêneros propostos.

A opção pelo autor Monteiro Lobato deveu-se ao caráter criativo e

irreverente na maneira criativa de escrever para o público infantil e pelos seus

brilhantes personagens.

Para implementar estratégia de produção textual a partir da leitura

significativa de textos literários, apresenta-se uma metodologia, que vise trazer uma

contribuição teórica para o ensino-aprendizagem de leitura e de produção de texto

na perspectiva sócio-discursiva dos gêneros textuais.

3

Com o propósito de problematizar as atividades de produção de texto e a

literatura infantil em relação ao ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa entre

vários aspectos: a questão da literatura; dos gêneros; análise linguísticas e,

especialmente, das práticas pedagógicas em leitura e da produção escrita, é que se

buscou organizar este artigo sob o título de Leitura e produção de texto com

Monteiro Lobato.

Os procedimentos didáticos desenvolvidos seguiram as etapas: motivação,

introdução, leitura e interpretação, da Sequência Básica de Cosson (2009), que

propõe a organização das atividades explorando o gênero textual oral e escrito.

Foram escolhidas duas obras de Monteiro Lobato: Caçadas de Pedrinho e

O Saci, sendo esta leitura oral pelo professor e aquela sugerida para os alunos,

como subsídio teórico de estratégias cognitivas para a elaboração das produções

textuais dos gêneros narrativos: mapa, entrevista, causo, lenda, relatos de

experiências vividas, carta e debate.

A interpretação dos textos pelos alunos é o objetivo principal do ensino de

leitura, sendo assim, a cada leitura de uma narrativa houve questionamentos para

instigá-los a descobrirem e explicarem os porquês. Ser capaz de dizer o que,

quando, como, onde e porque, associando elementos diversos existentes no texto e

seu título; com isso compreender informações que não estão explicitadas no texto;

ressaltar a importância da entonação de voz, para evidenciar uma palavra, iluminar

uma pausa, introduzir um personagem, dando ênfase para a análise de quem narra

os fatos.

As diferentes práticas sociais de linguagem são possíveis verificar no uso

oral e escrito, como acontecem em diversas situações de comunicação. Por

exemplo, diz-se que a linguagem escrita costuma utilizar a variedade padrão da

língua, enquanto que a oral, não. Percebe-se essa diferença, na escola, nas

atividades de produção de texto realizadas pela maioria dos alunos que as fazem

desmotivados e sem comunicação nenhuma com o mundo literário.

O contexto de letramento representa uma abertura de possibilidades, um

exercício do direito de aprender na escola, as práticas de leitura e escrita tal como

acontecem na vida. É dessa forma que se pode favorecer a plena participação dos

alunos no mundo da cultura escrita, porquanto:

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Para aprender a ler o texto verbal escrito, não basta conhecer as letras que assinalam os fonemas, nem adianta saber que os fonemas só fazem sentido quando reunidos em palavras ou frases. Não é suficiente, também descobrir ou compreender as regras do código chamado gramática, que juntam fonemas em palavras ou palavras em frases. Essas habilidades são apenas operações de base para a leitura e, na vida prática, são dominadas por processos mentais de associação e memória a partir da motivação do indivíduo ágrafo quando ingressa na escola em busca do domínio da escrita. (AGUIAR, BORDINI, 1993, p.16.)

Sabe-se que a capacidade de compreensão da leitura e escrita não vem

automaticamente, precisa ser exercitada e ampliada em diversas atividades que

contribuam para a superação das dificuldades encontradas pelos alunos em

situações didáticas no ensino-aprendizagem, portanto:

No processo de aprendizagem, a compreensão das relações alfabéticas e ortográficas pode se beneficiar da exploração de relações semânticas e contextuais significativas para as crianças. Elementos do texto, de seu suporte e de sua esfera de circulação podem ser usados pelos alunos como pistas para inferir palavras que devem ser lidas ou grafias que devem ser escritas. Há dificuldades ortográficas que podem ser sistematizadas e tornadas mais fáceis para os alunos com a ajuda de conhecimento da morfologia da língua, por exemplo, as regularidades de sufixo e de desinências verbais. Mas há também, “irregularidades ortográficas” que só serão aprendidas por memorização, sobretudo em função da frequência das palavras nos textos escritos que os alunos vão ler e escrever. (COSTA VAL, 2006, p. 21).

As atividades foram planejadas e desenvolvidas de formas estratégicas,

explorando os diversos aspectos formais da leitura e da produção escrita do ensino-

aprendizagem da língua portuguesa.

1 Para ler Lobato: uma proposta

Pelas dificuldades encontradas em sala de aula para a realização de

atividades de leitura e produção de texto, verificou-se a necessidade de aprimorar as

5

metodologias de ensino e desenvolver uma sequência didática que vise trazer uma

contribuição teórica para o ensino-aprendizagem da leitura e da produção de texto

na perspectiva sócio-discursiva dos gêneros textuais.

Com a problematização de “Como realizar procedimentos de leitura e escrita

mais producentes em sala de aula a partir da literatura infantil e/ou juvenil?”

Percebeu-se a oportunidade de trabalhar a literatura infantil a fim de que a criança

perceba a importância da leitura e escrita envolvendo gêneros literários específicos

podendo utilizá-los em práticas letradas concretas e de circulação social, ao mesmo

tempo em que a torna mais crítica como dona de sua história e do momento em que

vive.

A literatura, como produção humana, está intrinsecamente ligada à vida social. O entendimento do que seja o produto literário está sujeito a modificações históricas, portanto, não pode ser apreensível somente em sua constituição, mas em suas relações dialógicas com outros textos, e sua articulação com outros campos: o contexto de produção, a crítica literária, a linguagem, a cultura, a história, a economia, entre outros (DCE, 2008, p. 57).

Os procedimentos de ensino de leitura e escrita realizados neste artigo

tiveram como objetivos de modo geral implementar uma estratégia de produção

textual a partir da leitura significativa de textos literários. Como objetivos específicos:

a) interpretar textos/discursos orais e escritos, reconhecendo as suas diferentes

finalidades e as situações de comunicação em que se produzem; b) analisar e

reconhecer elementos constitutivos do texto por meio da configuração discursiva dos

aspectos de coesão e coerência e registros de linguagem.

A literatura, como arte da palavra, apresenta possibilidades de repensar o

real, o cotidiano, de reinventar a própria vida ou até mesmo entender sua

multiplicidade. O professor precisa ter alguns cuidados ao selecionar os livros que

irá oferecer às crianças e aos jovens, pois não existe obra cultural inocente, todas

apresentam uma determinada visão de mundo, a do autor. Para não ficar preso na

concepção de mundo dos outros, e por ela não serem manipulados, é necessário

desenvolver uma leitura crítica.

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A ampliação do conhecimento que daí decorre permite-lhe compreender melhor o presente e seu papel como sujeito histórico. O acesso aos mais variados textos, informativos e literários, proporciona, assim, a tessitura de um universo de informações sobre a humanidade e o mundo que gera vínculos entre o leitor e os outros homens. A socialização do indivíduo se faz, para além dos contatos pessoais, também através da leitura, quando ele se defronta com produções significantes provenientes de outros indivíduos, por meio do código comum da linguagem escrita. No diálogo que então se estabelece o sujeito obriga-se a descobrir sentidos e tomar posições, o que o abre para o outro. (AGUIAR, BORDINI, 1993, p. 10).

Ao abordar o uso social da escrita, o professor possibilitará situações em

que atribuam sentido ao conhecimento do sistema da língua escrita com a utilização

de um método adequado ao que se proponha atingir, garantindo progressão no

conhecimento do que está escrito, com significado para a vida do aluno, dizer uma

palavra e formular hipóteses de interação com o que já sabe e com as outras áreas

do conhecimento.

Nas atividades de linguagem, além do conhecimento do mundo, é necessário também que conheçamos as muitas regras (ou regularidades) que especificam o que devemos fazer para organizar um texto, para lhe dar uma sequência, para lhe atribuir uma continuidade e uma progressão, para lhe conferir algum tipo de sentido e coerência [...]. Enfim, tudo o que é necessário para se entender ou para se fazer um relatório, um aviso, um convite, um artigo, um resumo, uma resenha, por exemplo, vai além da gramática e do léxico da língua. Ou seja, conhecimentos relativos à composição dos diferentes gêneros textuais são imprescindíveis para que possamos ser eficazes comunicativamente, até mesmo na hora da escolha dos padrões ou regras tipicamente gramaticais. (ANTUNES, 2007, p. 58-9).

Por meio deste estudo, propôs-se um trabalho de leitura e produção de texto

para o ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental,

utilizando a literatura para o desenvolvimento de estratégias de leitura e para o

aperfeiçoamento das práticas sociais, possibilitando o aprimoramento da produção

de textos por atividades sistematizadas de alguns gêneros textuais.

Além disso, teve-se em vista ajudar o aluno a compreender o funcionamento

da linguagem e a fazer o melhor uso possível da língua portuguesa, em suas

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múltiplas variedades, regionais e sociais, e nas diferentes situações sociais e de

interação verbal.

Neste sentido, o nosso corpo linguagem funciona de uma maneira especial. Todos nós exercitamos a linguagem de muitos e variados modos em toda a nossa vida, de tal modo que o nosso mundo é aquilo que ela nos permite dizer, isto é, a matéria constitutiva do mundo é, antes de mais nada, a linguagem que o expressa. E constituímos o mundo basicamente por meio das palavras. No princípio e sempre é o verbo que faz o mundo ser mundo para todos nós, até porque a palavra é a mais definitiva e definidora das criações do homem. Como bem diz o pensamento popular, se uma imagem vale por mil palavras, mesmo assim é preciso usar a língua para traduzir as imagens e afirmar esse valor. É por isso também que as usamos para dizer que não temos palavras para expressar um pensamento ou um sentimento. Em síntese, nosso corpo linguagem é feito das palavras com que o exercitamos, quando mais eu uso a língua, maior é o meu corpo linguagem e, por extensão, maior é o meu mundo. (COSSON, 2009, p.14-5).

Visando desenvolver atividades de leitura, escrita e oralidade para o

aprimoramento no potencial criativo ou de investigação científica com os alunos,

foram escolhidas duas obras de Monteiro Lobato para o desenvolvimento desse

artigo: Caçadas de Pedrinho, sendo esta a leitura sugerida para os alunos, e O

Saci, leitura oral pelo professor, como subsídio teórico das estratégias cognitivas

para a produção de texto.

A partir da leitura dos livros Caçadas de Pedrinho e O Saci de Monteiro

Lobato, desenvolveram-se atividades de leitura e produção de texto, utilizando-se

das etapas da sequência básica de Cosson (2009), motivação, introdução, leitura e

interpretação. Cosson apresenta uma sequência didática para o professor no intuito

de promover o letramento literário no que se refere ao processo de escolarização da

literatura, enfocando o ensino de literatura na escola básica – ensino médio.

A motivação consiste na preparação do aluno para o que ele irá ler, tem

como objetivo principal estimular a leitura proposta.

Na introdução é realizada a apresentação do autor e da obra.

A terceira etapa é a leitura do texto, que deve ter um acompanhamento do

professor.

A última etapa é a interpretação, o momento da interação leitor e o texto lido.

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Esta Sequência Básica foi adaptada para o Ensino Fundamental dos anos

finais, neste artigo, com o intuito de promover o letratamento literário no que se

refere ao processo de escolarização da literatura.

Cosson (2009), defende que o processo de letramento literário é diferente da

leitura literária por fruição. Assim, no letramento literário não se pode simplesmente

exigir que o aluno leia a obra e ao final faça uma prova ou ficha, pois a leitura é

construída a partir dos mecanismos que a escola desenvolve para o hábito da leitura

literária.

Não é possível aceitar que a simples atividade da leitura seja considerada a atividade escolar de leitura literária. Na verdade, apenas ler é a face mais visível da resistência ao processo de letramento literário na escola. Por trás dele encontram-se pressuposições sobre leitura e literatura que, por pertencerem ao senso comum, não são sequer verbalizadas. Daí a pergunta honesta e o estranhamento quando se deseja promover o letramento literário. (COSSON, 2009, p. 26).

Couberam aqui atividades de revisão, de recomposição, de análise individual

ou coletiva dos textos, dos gêneros, da organização sintático-semântica permitindo

explorar as categorias gramáticas, conforme cada texto em análise.

Foi montado um mural para a exposição das atividades realizadas pelos

alunos.

Este material didático-pedagógico é uma Unidade Didática parte integrante

de um Caderno Pedagógico.

Para a implementação desse artigo, foram previstas e realizadas as

seguintes atividades:

1º Encontro:

Foram trabalhadas as fases da sequência básica: a motivação que consiste

na preparação do aluno para o que ele irá ler; tem como objetivo principal estimular

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a leitura, também a introdução com a apresentação do autor e da obra da seguinte

forma:

a) apontamentos e questionamentos sobre as obras propostas para a leitura;

b) apresentação do autor Monteiro Lobato, das personagens e das obras O

Saci e Caçadas de Pedrinho;

c) leitura dos primeiros capítulos I e II, realizada pela professora da obra O

Saci, de Monteiro Lobato;

d) discussão sobre a leitura da obra O Saci;

e) vídeo Sítio do Pica-pau Amarelo - O Saci;

f) indicação da leitura da obra Caçadas de Pedrinho.

2º Encontro

Continuou-se com as etapas da sequência básica: motivação acerca da obra

O Saci, enfatizando a metodologia que Monteiro Lobato fez para escrevê-la, e o

acompanhamento da leitura da obra Caçadas de Pedrinho. Assim:

a) levantamento de histórias sobre o saci com os familiares, vizinhos (com

pessoas mais velhas);

b) discussões sobre a leitura da obra Caçadas de Pedrinho I e II capítulos;

c) produção de um mapa da floresta.

3º Encontro

Objetivou-se trabalhar a leitura que é a terceira etapa da sequência básica: a

leitura oral realizada pela professora e a leitura dramatizada pelos alunos, portanto:

a) leitura oral realizada pela professora da obra O saci dos capítulos III e IV;

b) vídeo do Sítio do Pica-pau Amarelo - O saci;

c) leitura dramatizada dos capítulos III e IV da obra Caçadas de Pedrinho

realizada pelos alunos.

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4º Encontro

Baseando-se na leitura já realizada pelos alunos, iniciou-se também a última

etapa da sequência básica: a interpretação com reflexões pertinentes sobre os

capítulos lidos da obra Caçadas de Pedrinho, desse modo:

a) leitura na fala da professora dos capítulos V ao VII, da obra O saci;

b) atividades de interpretação;

c) vídeos de causos contados no interior do País;

d) Produção textual: entrevista. Entrevistar uma pessoa mais velha que

saiba contar causo ou um relato de experiência.

5º Encontro

Ainda objetivando o trabalho de leitura e de interpretação foram realizadas

as leituras das obras O saci e Caçadas de Pedrinho, por meio de:

a) leitura oral realizada pela professora dos capítulos VIII ao XIV de O saci.

b) leitura silenciosa das histórias de Caçadas de Pedrinho dos capítulos V

ao VIII.

c) atividade de interpretação de texto.

6º Encontro

Nesse encontro houve alteração de programação porque foi convidada a

Senhora Srª M.S.R., 67 anos, da comunidade para participar do projeto, dando sua

contribuição e enriquecendo as atividades propostas: entrevista, lenda, causo e

relato de experiência vivida.

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7º Encontro

A tarefa nesse encontro foi a atitude educativa de participação e de diálogo

compartilhados com a leitura e a interpretação de experiências e conhecimentos dos

alunos, com:

a) vídeo do episódio do “Sítio do Pica-pau Amarelo 1981. Caçadas de

Pedrinho 5;

b) leitura oral feita pelo professor dos capítulos VIII ao XX de O saci;

c) leitura compartilhada dos capítulos IX ao XI de Caçadas de Pedrinho;

d) atividade de interpretação.

8º Encontro

Com o intuito de trabalhar a leitura e a interpretação foi oportunizado ao

aluno livre escolha para desenvolver sua produção textual. Assim:

a) leitura oral realizada pela professora capítulos XXI ao XXVI de O saci;

b) leitura oral coletiva do último capítulo da obra Caçadas de Pedrinho;

c) atividade de interpretação;

d) produção textual: gênero lenda.

9º Encontro

Foi dada, ao aluno, uma atitude dialógica no processo de escrever a sua

própria história, baseando-se nos fatos lidos e ouvidos, produzir conhecimentos e

redigir o seu texto, por meio de:

a) vídeo: “Uma das maiores histórias emocionantes sobre o relato de

experiência vivida”;

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b) produção textual: relato de uma experiência vivida.

10º Encontro

Oportunizou-se aos alunos a compreensão da decodificação do sistema da

escrita e contribuiu com as práticas sociais letradas que contribuem para o seu

letramento, pelas atividades:

a) leitura dos capítulos XXVII e XXVIII de O saci realizada pelo professor;

b) vídeo do Sítio do Pica-pau Amarelo - O saci;

c) leitura de cartas;

d) produção textual - a carta.

11º Encontro

Foram feitas reflexões sobre o poder da palavra que cria e destrói,

estabelecendo vínculos entre homem e sociedade, com:

a) produção textual oral debate;

b) exposição das atividades realizadas no projeto pelos alunos para a

comunidade escolar.

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2 Lendo Lobato

O projeto foi desenvolvido no período de 19/07/2011 a 30/11/2011, na

Escola Estadual do Bairro Bela Vista - Ensino Fundamental, localizada em

Bandeirantes - PR, do Núcleo Regional de Cornélio Procópio, com alunos do 7º ano

do Ensino Fundamental, do período vespertino.

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Pelos questionamentos realizados em sala de aula, pode-se concluir que a

maioria dos alunos morava com os pais, os que moraram com os avós ,os pais eram

falecidos; não possuíam livros em casa; a faixa etária dos pais era entre 24 a 34

anos e possuíam o poder aquisitivo baixo.

Partindo da realidade dos alunos de que a leitura realizada por eles era

apenas a que os professores indicavam e que os pais não tinham hábito de leitura,

sugeriu-se um levantamento para ampliar e aprofundar conteúdos em situações nas

quais os alunos precisassem conversar e ouvir informações sob o ponto de vista da

família.

As atividades de leitura desenvolvidas neste artigo tiveram o objetivo de

levar os alunos a partilhar sua emoção com os colegas, avaliando e comentando

efetivamente o texto, explicando-o, fazendo extrapolações, isto é, projetando o

sentido do texto para outras vivências e realidades, contribuindo para o aprendizado

afetivo e atitudinal de descobrir que as coisas que se leem nos textos, podem fazer

parte da nossa vida.

Por isso foi indicada, para os alunos, a leitura silenciosa, coletiva,

dramatizada, compartilhada e a leitura oral realizada pelo professor, instigando-os

sempre a dar opiniões sobre o texto lido.

No início do projeto os alunos reclamavam dizendo –“lê de novo” – não

havendo interação leitor/texto e principalmente a compreensão. Com a realização de

debates e discussões proporcionou-se a participação do aluno, a compartilhar sua

emoção e compreensão com os colegas, discutindo opiniões e dando explicações

sobre o texto lido e relatando situações reais comparadas com as histórias do texto.

Desse modo, observou-se que a leitura já não estava sendo uma atividade

cansativa, pelo contrário, não viam a hora de terminar os livros propostos para

começarem a leitura de outros livros. Nesse momento; foi indicada a biblioteca e

orientados a escolher o que queriam ler e se quisessem comentar sobre o livro em

sala, poderiam. A maioria dos alunos se interessou, mas só alguns comentavam

sobre o que estavam lendo.

Notou-se que os alunos que mais reclamavam da leitura no início do projeto

eram os que mais estavam levando a leitura extraclasse a sério.

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As atividades que envolveram a expressão oral proporcionaram aos

alunos o desenvolvimento da capacidade de produzir textos e descobrir que as

coisas que se leem nos textos fazem parte do seu cotidiano interagindo com suas

experiências, contribuindo para o aprendizado afetivo, interligando informações e

produzindo inferências, com a participação de todos os alunos.

Um aluno comentou que as histórias apresentadas são muito parecidas com

as histórias reais: __ “Monteiro Lobato era um homem muito sabido e observador,

escreveu tudo o que ele viveu na infância” (L.F.A.).

No processo de aprendizagem em relação à redação, as dificuldades

ortográficas e semânticas apresentadas pelos alunos, em suas produções escritas,

necessitaram de orientações que os levassem a compreender e a valorizar a norma

padrão. Por essas dificuldades, houve muita resistência por parte dos alunos em

revisar os textos produzidos.

Para que os alunos realizassem a tarefa de reler, avaliar e alterar os próprios

textos várias vezes, foi permitido que digitassem seus trabalhos após a correção

realizada pelo professor. A partir daí, realmente, houve um trabalho de releitura e

revisão dos textos escritos por eles.

Com a finalidade de desenvolver uma sequência didática para proporcionar

aos alunos oportunidades para ler e escrever textos significativos e que eles sejam

capazes de informar, convencer, persuadir e comover o que vão descobrir no mundo

literário, optou-se pela sequência básica de Cosson (2009), motivação, introdução,

leitura e interpretação já descrita anteriormente.

Iniciaram-se as atividades fazendo a motivação e perguntando aos alunos se

eles já tinham lido as obras de Monteiro Lobato: se conheciam suas personagens e

aproveitando a oportunidade, apresentou-se a coleção de suas obras para que

folheassem e conhecessem as obras. A partir disso foi realizada a introdução, a

apresentação da biografia do autor e de obra.

Os alunos disseram que conheciam as personagens e complementaram

dizendo que já tinham visto os livros na biblioteca, mas não tinham lido.

Com a indicação da leitura da obra Caçadas de Pedrinho os alunos ficaram

curiosos perguntando se as histórias eram parecidas com as do Sítio do Pica-pau

Amarelo e começaram a fazer a leitura. Apenas dois alunos demonstraram

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desinteresse pela leitura, folheando apenas o livro e fazendo comentários entre

eles sobre os desenhos apresentados na obra e não quiseram levar o livro para

terminar a leitura em casa.

Conversou-se com os alunos sobre o autor Monteiro Lobato, a época em

que ele escreveu as obras, o lugar onde nasceu, como foi sua vida. Todos já o

conheciam, principalmente seus personagens, por assistirem ao Sítio do Pica-pau -

Amarelo.

Com o intuito de trabalhar a oralidade e a compreensão sempre eram feitas

perguntas levando-os a refletir, fazendo-os ligarem as informações e produzissem

inferências, apontando para a realidade deles.

Foram levados, assim, a pensar na própria história. Questionados sobre

como era Bandeirantes no passado, alguns deram depoimentos, comentando sobre

o que ouviram:

__ “Um dia fui ao “show” da Banda “OZ” e meu pai mostrou onde era a

ferroviária e a rodoviária antiga”. (I.F.S)

__ “Meu pai me levou na Yara. Era um lugar turístico com piscina,

restaurante e tinha um cassino e hoje está abandonado e dizem que é mal

assombrado”. (M.A.)

Em seguida, foram lidos os primeiros capítulos de O Saci. Após a leitura

indagou-se sobre as histórias, perguntando se eles já tinham viajado ou passado as

férias em outros lugares.

Comentou-se sobre viajar, fazer uma excursão, conhecer ou morar em

outros lugares. Alguns disseram que queriam ir embora de Bandeirantes, sem saber

explicar o motivo. Pelos questionamentos observou-se que os pais dos alunos

tiveram os filhos muitos jovens e que os alunos repetiam as ideias dos pais:

__ “Bandeirantes não dá futuro”.

Os alunos eram muito carentes em relação a passeio, viagens, sempre

diziam:

__ ”Ah, meu pai não tem dinheiro”.

Apenas uma aluna disse que já tinha ido à praia, em Matinhos PR .

__ “Lá é muito bonito, mas dá um pouco de medo, as ondas são fortes e

derruba a gente” (V.M.F)

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Quando se comentou a ideia de fazer uma excursão com a turma e sobre

o que pensavam, todos ficaram eufóricos, não quiseram nem saber para onde iriam,

queriam simplesmente viajar.

Depois desses comentários foi sugerida uma atividade: produção textual

oral: “Em dupla, imagine como seria uma viagem emocionante da turma (7º ano da

Escola Bela Vista) e comente com o seu colega. Não é preciso escrevê-la. Escolha

quem irá contar a viagem para os demais colegas. Organizem as informações do

texto possibilitando saber como, onde, quando e em que sequência os fatos

ocorreram, para que os colegas de classe acompanhem a viagem, associando as

informações do texto oral ao local visitado”.

Todos comentaram sobre a viagem numa praia, uns com mais fluência e

fantasias outros simplesmente foram à praia.

__ “A turma foi à praia no Rio de Janeiro, levamos tudo o que podíamos:

comida, barracas, lonas para acampar, porque com certeza meu pai não daria

dinheiro para ficar no hotel. Foi à maior “curtição”, brincamos muito”. (T.R.D. e L.F.A)

__ “No final do ano fomos com a profª de Português para a Prainha em

Cândido Mota – SP, com o ônibus da Prefeitura. Chegamos lá às sete

horas, e já fomos entrando na água, brincamos de bola, nadamos, só

saímos da água para comer. Ficamos lá o dia inteiro”. (T.C.S e C.C.S)

No segundo encontro realizou-se a sondagem com questionamentos para

saber se todos tinham lido o livro: quatro alunos leram o livro inteiro, dois não leram

e os demais leram alguns capítulos.

Como isso já estava previsto, que não iriam ler a livro inteiro, os livros foram

deixados na escola para que os mesmos pudessem ler ou relê-los, conforme

realização das atividades de leitura em sala de aula, deixando à vontade para que

os alunos que quisessem terminar a leitura pudessem levá-lo. Apenas dois alunos

não leram o livro inteiro.

Questionou-se sobre as histórias apresentadas no livro Caçadas de

Pedrinho, e se já tinham lido ou ouvido histórias parecidas. Comentaram sobre a

caça e a pesca proibida, nesse momento percebeu-se que os alunos dominavam o

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assunto, pois, os pais de alguns alunos eram pescadores e os filhos participavam

das conversas e pescaria, alguns meninos já tinham participado de pescaria com os

pais e comentaram o seguinte:

__ “Um dia estava num barco com o meu pai e a polícia ambiental apareceu

e disse que era proibido pescar naquele período (final do ano) e que se encontrasse

com eles novamente, levariam os presos”. (L.F.A)

__ Num domingo, fui pescar com a minha família, tinha mais ou menos

umas vinte pessoas. Na verdade, quem foi pescar foram: meu pai e os

meus tios e os demais foram brincar no rio, mas não houve pescaria porque

a polícia tomou a tralha de pesca deles. E daí fomos embora rapidinhos.

(D.M.S.)

Para realizar a produção de texto sobre a lenda do saci comentou-se acerca

do inquérito lançado no jornal O Estado de São Paulo que Monteiro Lobato realizou

para escrever o livro O Saci.

Após os comentários, repassou-se aos alunos como atividade, fazer um

levantamento com os familiares, pessoas mais velhas, sobre a origem do Saci.

A maioria dos alunos fez o levantamento e discutiu sobre o que os pais, os

avós e os vizinhos tinham contado:

__ “Minha mãe falou que quando uma criança nasce tem que batizar logo,

porque se um rodamoinho passar perto da criança é carregada pelo saci”. (J.L.H.)

__ “A minha avó disse que o Saci-Pererê aparece na quaresma. O saci só

aparece para quem não é batizado. Ela disse também que o saci aparece para as

pessoas que brincam de bugalha à noite” (T.C.S.)

__ “Meu avô falou que criança pequena não pode entrar num rodamoinho

senão é levado pelo saci, e se você assoprar três vezes o rodamoinho para de

rodar”. (T.R.D.)

Com a linguagem verbal e linguagem não-verbal trabalhou-se com os alunos

sobre as imagens cotidianas que, muitas vezes, passam despercebidas em nossa

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rotina e sugeriu-se a confecção de um mapa da floresta que reproduzisse o

percurso que a turma do sítio do Pica-pau Amarelo fez do sítio até encontrar a onça.

(L.. F.A.)

Alguns capítulos da obra O Saci, narram várias histórias e apresentam a

importância da cultura popular e dos causos populares contados principalmente no

interior do país e que ajudam a preservar a nossa história e a memória do povo.

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Com isso, ocasinou-se aos alunos uma entrevista que indagassem aos

pais, aos avós, às pessoas mais velhas a respeito da cultura popular (festas,

histórias, crenças, superstições), deixando-os à vontade, caso quisessem contar

algumas histórias, causos, lendas ou fato acontecido na família ou com eles.

A princípio ficaram tímidos. O professor começou a contar fatos e as

crendices que sua família comentava como:

__ “Na quaresma, quando meus pais iam rezar terço na casa das pessoas

falecidas, no caminho de volta para casa não poderia olhar para trás, senão viam o

defunto”.

__ “Se o casal tivesse sete filhos homens, o primeiro tinha que batizar o

sétimo, senão o último viraria lobisomem”.

Uma aluna lembrou-se de uma vizinha, uma senhora de aproximadamente

60 anos, que contava muitas histórias. Ela dizia que as histórias eram verdadeiras e

que ela tinha visto ou conheciam as pessoas.

__ Um dia minha tia estava costurando um vestido para ir à Missa do Galo, e chegou uma amiga dela e ficou olhando muito para o vestido. Quando minha tia foi pegar o vestido para fazer a barra, tinha uma cobra enrolada no meio do tecido. (T.F.P.)

__ Minha avó morava numa fazenda e tinha um bebê e o amamentava no seio. Um dia apareceu uma cobra no quarto e meu tio a matou. Saiu um líquido branco da boca da cobra, disseram que era leite e que a cobra tinha mamado na sua avó. (T.S.)

Entrevista realizada pelos alunos:

1. Dados pessoais da pessoa entrevistada Nome: M.A.S. Idade: 36 2. Gosta de contar causos. Sim. 3. Na sua família tem alguém que gosta de contar causos, piadas ou histórias da família? __ Sim, meu pai e meu tio.

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4. O causo que vai contar aconteceu com a senhora? __ Não, aconteceu com a minha tia.

5. Agora a senhora conta para nós um causo bem interessante para ser apresentado para os alunos do 7º ano B, da Escola Estadual do Bairro Bela Vista? __ Quando a minha tia era criança, ela, a mãe dela e o meu irmão foram pescar, ficaram no rio o dia inteiro e não conseguiram pegar nenhum peixe. Sua mãe xingava muito. Estavam voltando para a casa, já era noite. Apareceu um homem dos olhos grandes e vermelhos, quanto mais se aproximavam, mais os olhos do homem aumentavam e quando chegou perto o homem desapareceu. (C.C.S.)

Para enriquecer esta atividade foi convidada a Srª M.S.R., 67 anos que

estudou até a 4ª série do Ensino Fundamental, moradora da Vila Bela Vista,

Presidente do projeto Futuro do Amanhã, da Associação dos Catadores de Materiais

Recicláveis de Bandeirantes.

1. Dados pessoais da pessoa entrevistada Nome: M.J.S.R. Idade: 67 2. Gosta de contar causos. __ Sim. 3. Na sua família tem alguém que gosta de contar causos, piadas ou histórias da família? __Quase a família inteira, se bem que os mais velhos já faleceram. 4. A Senhora poderia nos contar como começou o projeto?

- A necessidade de trabalhar era muito grande, precisava ajudar no orçamento da família, porque o que tinha para eu fazer era o trabalho na roça e esse eu não aguentava mais. Tinha que fazer algo diferente para mudar a minha vida e das outras pessoas que estavam na mesma situação que a minha, sem trabalho. Isso fez com que eu lutasse muito para a realização deste projeto, a luta foi difícil, precisando ir até Curitiba para conseguir trazer o projeto para Bandeirantes. Sofri muita discriminação pela falta de estudo, pois tive que conversar com as autoridades e não sei falar direito, mas o importante é que tive apoio de muitas pessoas boas e que me ajudaram a criar o projeto, porque sem estudo eu não tinha outra oportunidade de trabalho senão a reciclagem de lixo. 5. A Senhora poderia nos contar alguns causos ou lenda sobre a cidade de Bandeirantes? __ Sim, vou falar sobre a lenda de um hotel abandonado, aqui da cidade de Bandeirantes, há mais de 30 anos. Dizem que é mal assombrado, chamado Yara. O primeiro dono do hotel se chamava Regalmuto, as pessoas falavam que ele tinha feito o pacto com o demônio, vendendo sua alma ao diabo. Quando morreu estava sem os braços e sem as pernas, só tinha o tronco do corpo. Quando abriram o caixão, viram um tronco de bananeira, mas mesmo assim fizeram o velório e enterraram assim mesmo.

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Isso quem me contou foi o meu compadre. Dizem que é mal assombrado porque até hoje ninguém conseguiu reformá-lo, quando mexe de um lado, cai do outro ou pega fogo, sempre alguma coisa acontece e param a obra.

Sua apresentação foi muito relevante para a realização das atividades

propostas neste artigo, com os relatos de suas experiências de vida, de causos

acontecidos na cidade e com a participação dos alunos com perguntas, a dona

Mariinha como é chamada, conversou muito com os alunos chamando a atenção

para valorizar o estudo. Se ela tivesse um pouco mais de estudo seu trabalho seria

mais fácil.

Nas obras sugeridas aparecem brincadeiras como: perna de pau, montar em

animal, subir em árvores, indagou-se os alunos sobre essas brincadeiras e disseram

que já tinham brincado com pernas de latinha, que é mais fácil de confeccionar do

que com o pau, que ficava muito perigoso. Todos brincavam em subir nas árvores e

já tinham montado a cavalo.

Um aluno comentou:

_ Um dia subi numa árvore, no quintal de minha casa, para pegar uma pipa que estava enroscada, quando puxei a linha, tinha uma caixa de abelha e me atacou. Fiquei muito inchado. Minha mãe me levou ao hospital, o médico disse que eu sou alérgico ao ferrão da abelha. (M.A)

A obra O Saci apresenta muitas lendas e todas conhecidas pelos alunos.

Foram apresentadas também as lendas indígenas, em que o ser humano passa por

uma maldição e se transforma em animal. Notou-se que os alunos gostaram das

lendas nas quais as histórias narram acontecimentos que atribuem grande valor à

natureza com poderes que misturam fatos reais com fatos irreais, produtos da

imaginação.

Havia um homem muito mau. Ele não gostava de gatos, por isso chutava, judiava e alguns até matava. Não podia ver gatos que falava:

- Lá vêm os malditos! Sua vizinha ao contrário gostava de gato. Todos os gatos que apareciam no seu quintal, ela dava comida e água.

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E isso era motivo para ele ficar com raiva dos gatos e brigava muito com a vizinha. Depois disso começou a morrer os gatos, era aparecer um gato num dia no outro ele já estava morto. Num certo dia apareceu um gato preto, grande diferente dos outros gatos, chamando a atenção de todas as pessoas. O gato entrou na casa desse homem, era sexta feira 13, ele estava dormindo. Quando acordou, levou o maior susto e já foi chutando e batendo no gato, mas o gato era muito esperto, arranhou e mordeu muito o rosto do homem. A partir desse dia, dizem que todas as sextas-feiras, o homem vira gato.

(B.O.)

Baseando-se nos relatos das histórias vividas pelos personagens do sítio, foi

proposta a produção textual: relato de uma experiência vivida.

Nessa atividade a maioria dos alunos apresentou histórias de animais de

estimação, alguns relataram sobre festa de aniversário e outros passeios.

__ Uma vez foi eu e os meus primos pescar no sítio do tio Neno, Chegando perto do rio ouvimos um barulho no meio do mato e fomos ver o que era, quando olhamos na beira do rio, vimos uma cobra enorme e ela foi embora. À noite quando estávamos dormindo, ouvi um barulho esquisito, achei

que era a cobra. Acordei meu primo para ver o que era, ele acendeu a luz e viu que era um gato procurando comida na cozinha. (D.M.S.)

__ O ano passado minha família fez uma festa surpresa de aniversário para mim. O tema da festa era “As princesas”, minha mãe comprou um vestido lindo para eu usar na festa. Ganhei muitos presentes, vieram meus parentes de Andirá e de Cambará. O presente que eu mais gostei foi um cachorrinho que eu ganhei da minha mãe. Foi o dia mais feliz da minha vida. (C.C.S.)

No décimo encontro foi trabalhada a produção de texto do gênero carta, com

explicações sobre a organização do texto: vocativo, destinatário; remetente; assunto;

endereço - envelope; e realizou-se leitura de várias cartas. A atividade proposta foi:

__ Que tal você escrever uma carta a um escritor/autor pedindo que ele

escreva um livro com histórias interessantes e criativas para adolescentes?

Muitos escritores gostam e precisam de sugestões, idéias, dicas para

concluírem seus livros. Escolha um escritor e dê sua opinião sobre as histórias que

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você já conhece ou simplesmente peça a ele que inclua no seu livro o gênero de

história que você mais gosta. Fique tranquilo, esta carta só vai chegar, se você

quiser ao destinatário. Seja bem verdadeiro!

Os alunos sugeriram que os destinatários fossem os autores dos textos do

livro didático: Para viver juntos: português, e não quiseram enviar as cartas para os

destinatários, por isso os endereços são fictícios.

Bandeirantes, 14 de novembro de 2011. Á Sérgio Faraco Rua Joaquim Rodrigues, 425 90010-170 - Porto Alegre – RS

Gostaria muito de ler um livro de mistério, uma história que acontecesse dentro de uma escola. Por exemplo, alguém entra no banheiro e não sai. Ficaria muito feliz se você escrevesse um livro com essa história. Agradeço antecipadamente. (V.M.F)

Bandeirantes, 14 de novembro de 2011. Á Ivan Ângelo Rua Bento Gonçalves, 520 15055-140 -São Paulo – SP Eu queria ler uma história sobre aventuras na selva, eu curto muito ler sobre a sobrevivência humana em lugares desertos passando perigo e sem alimentação. Se você tiver um tempo disponível, gostaria que você escrevesse sobre esse assunto. Desde já agradeço. (M.S)

Nessa aula conduziu-se um debate, explicando o que é um debate e

determinando regras como: esperar a vez de falar; ouvir opiniões contrárias sem se

irritar; ter paciência para ouvir a fala do outro até o fim, de modo a não interrompê-lo,

etc.

A questão para o debate:

O rinoceronte deve ou não voltar para o circo?

A Equipe 1 levantará argumentos para fazer a defesa, apresentando

opiniões a favor que o rinoceronte fica nas matas do sítio.

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A Equipe 2 apresentará argumentos para fazer a defesa contra as

opiniões do grupo 1, dando sua opinião a favor que o rinoceronte volte para o circo.

Orientou-se a produção coletiva fazendo uma lista na lousa dos argumentos

mais fortes das equipes.

Equipe 1 - O rinoceronte deve

voltar para o circo? Por quê?

Equipe 2 - O rinoceronte não deve

voltar para o circo? Por quê?

1. Para fazer as pessoas rirem. 1. O lugar do rinoceronte viver é na

mata.

2. No circo ele vai ser bem

tratado, não precisa caçar.

2. No circo ele vai ser mal tratado,

ficará preso na jaula.

3. Ele vai ser adestrado, vai

aprender fazer coisas

engraçadas.

3. Para ser adestrado ele vai ter que

apanhar muito.

4. Ele pode até levar algumas

varadinhas para ser adestrado,

mas vai ganhar uma recompensa:

algo para ele comer.

4. A maioria dos animais de circo é

judiada, arrancam seus dentes e

quando ficam velhos são

abandonados.

Nessa atividade os alunos estavam mais participativos e atentos às

atividades sugeridas, entenderam que era uma simulação, pedindo permissão para

dar sua opinião, às vezes esquecendo que era da equipe contrária, dando opinião a

favor e a outra equipe acatava a opinião do colega para enriquecer a atividade.

Depois de corrigida as produções e reescritas pelos alunos foram colocadas

em um painel para a comunidade escolar.

Quando terminou a leitura das obras O saci e Caçadas de Pedrinho os

alunos perguntaram qual seria o título do próximo livro a ser lido. Foi interessante

porque no início do projeto, podia-se notar que ficavam irrequietos e foi preciso

conversar muito com eles para que prestassem atenção na leitura e participassem

das atividades.

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Para avaliar o projeto fez-se uma sondagem oral sobre o trabalho

realizado com as obras de Monteiro Lobato, observou-se pelos depoimentos que

gostaram da metodologia: leitura e discussão dos fatos. Com isso todos os alunos

participavam dando suas opiniões e discutindo sobre os fatos estudados

possibilitando a compreensão do texto.

3 Considerações finais

A relação entre a escola, a leitura e a vida pode ser muito significativa

quando criam espaços para conversas, manuseio e leitura de materiais escritos

variados e situações em que os alunos escrevam atendendo a múltiplas propostas,

para que possam se tornar íntimos de diversos tipos de texto que, na sociedade

letrada, cumprem funções específicas e diferenciadas.

No início os alunos não estavam habituados a consultar a família para

resolver as atividades escolares, encontrando muitas dificuldades para resolvê-las.

A falta de interação existente entre pais e alunos, na prática escolar, dificulta

o ensino-aprendizagem e prejudica a participação dos alunos em seus registros nas

atividades sugeridas como ampliação de situações comunicativas que permitam a

plena participação no mundo letrado.

No decorrer das atividades, a maioria dos alunos percebeu a importância do

diálogo com a família e faziam comentários que estava havendo interesse dos pais

na colaboração da execução das tarefas de casa.

Percebeu-se que os trabalhos envolvendo simultaneamente, a habilidade

motora, perspectiva e cognitiva na escrita, suscitam questões sobre a grafia das

palavras, ao mesmo tempo em que dão oportunidades aos alunos de vivenciarem

importantes funções da escrita.

Na realização das atividades com a produção escrita detectou-se nos textos

produzidos acentuadas limitações e dificuldades da apropriação do sistema

alfabético, ortográfico e sintático que envolve os aspectos linguísticos da escrita.

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É importante levar em consideração e valorizar as pessoas que os alunos

são, os conhecimentos que têm, pela sua história. É necessário fazê-los sentir que

podem e que devem ousar, que devem correr riscos para que se confirmem como

pessoas capazes escrevendo, falando, expondo seus saberes.

Por meio de esclarecimentos de ordem cultural e linguístico foram

apresentadas novas formas de organização e garantindo o caráter original da ideia,

foi fornecido suporte para a correção das atividades realizadas fazendo com que os

alunos corrigissem e analisassem suas dificuldades e as particularidades

apresentadas em seu texto. Assim, a interação do aluno com a correção de seu

texto, oportunizou observações e reflexões sobre as convenções do sistema da

escrita, fazendo uma análise de sua produção escrita. Com esse procedimento os

alunos tiveram a oportunidade de revisar e reelaborar a própria escrita, melhorando

e adequando suas escolhas ao vocabulário e à gramática, envolvendo dedicação e

atenção à escolha de palavras e de construções morfossintáticas, com sensibilidade

para as condições de escrita e de leitura do texto, utilizando de recursos expressivos

apropriados ao gênero e aos objetivos do texto.

Como se pode ver se faz necessário preparar o aluno para a leitura e a

produção de texto oral e escrito, através de um planejamento criterioso dos

ambientes de trabalho e das rotinas do cotidiano de professores e alunos e dessa

forma alargar o próprio conceito de método como um conjunto de procedimentos e

de várias decisões responsáveis pelas sistematizações do Ensino Fundamental, na

tarefa de ensinar a leitura e redação, adequando sempre o conteúdo à realidade do

aluno.

A partir da leitura em voz alta feita pela professora os alunos se

preocuparam com a entonação na leitura oral, observando as pausas, indicadas

pelos sinais de pontuação e, muitas vezes, com a interferência dos próprios alunos.

A leitura é uma atividade que se realiza individualmente, mas se insere num

contexto social, envolvendo disposições atitudinais e capacidades de compreensão

e a produção de sentido para o texto lido, portanto:

Alguns princípios básicos norteiam o ensino de literatura: o atendimento aos interesses do leitor, a provocação de novos interesses que lhe agucem o

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senso crítico e a preservação do caráter lúdico do jogo literário. Levando em conta esses aspectos, o professor está recuperando para o aluno as funções básicas de toda a arte: captar o real e repassá-lo criticamente, sintetizando-o de modo inovador, através das infinitas possibilidades de arranjo dos signos. (AGUIAR, BORDINI, 1993, p. 10)

Ao se chegar ao final da execução do projeto, ficou clara a necessidade de

se trabalhar a leitura em sala de aula. Os alunos, que inicialmente se colocaram

avessos à leitura e à escrita, mudaram completamente de atitude depois das

discussões pertinentes, do resgate das informações, das inferências entre a ficção

do texto e a realidade vivenciada por eles.

Todos perceberam a importância e valor dos diferentes gêneros, bem como,

a função da leitura. Assim, a produção do texto oral e escrito tornou-se uma

atividade mais prazerosa porque perceberam a interação entre o texto clássico,

reconhecido e valorizado pela sociedade e aquele produzido por eles. Ambos têm

em comum a mesma finalidade: inserir o homem no contexto da arte, do imaginário,

da comunicação pelo poder mágico da palavra.

4 Referências

ABREU, Márcia. Cultura letrada: leitura e literatura. São Paulo: Ed. UNESP, 2004.

AGUIAR, Vera Teixeira de. O verbal e o não-verbal. São Paulo: Ed. UNESP, 2004.

AGUIAR, Vera Teixeira de, BORDINI, Maria da Glória. Literatura: A formação do leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.

ANTUNES, Irandé. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras

no caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

CARVALHO, Maria Angélica Freire de, MENDONÇA, Rosa Helena. Práticas de leitura e escrita. Brasília: Ministério da Educação, 2006.

COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. 1. ed. São Paulo: Contexto,

2009.

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FARIA, Maria Alice. Como usar a literatura infantil na sala de aula. São Paulo:

Contexto, 2004.

FILIPOUSKI, Ana Mariza Ribeiro, MARCHI, Diana Maria. A formação do leitor jovem: temas e gêneros da literatura. Erechim, RS: Edelbra, 2009.

LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1998.

LOBATO, Monteiro. Caçadas de Pedrinho. 51. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.

________. O saci. 52. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa. Curitiba: SEED/PR, 2008.

ZILBERMAN, Regina; MAGALHÃES, Ligia Cademartori. Literatura infantil:

autoritarismo e emancipação. 2. ed. São Paulo: Ática, 1989.

5 Fonte videográfica

CAUSOS GAÚCHOS. Disponível em:

http:/www.youtube.com/watch?v=wtaZfIJr_rk&playnext= PLE DE3A432F96392EF. Acesso em: 23 jul. 2011.

CAUSOS. Disponível em: http:/www.youtube.com/watch?v=jNJJZXodjtU Acesso em: 23 jul. 2011.

NOVAS LENDAS URBANAS: A LOIRA DA INTERNET: PARTE 1. Disponível em:

http:/www.youtube.com/watch?v=vj3IDUOL61U. Acesso em: 23/07/2011.

SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO 1981. CAÇADAS DE PEDRINHO 4. Disponível

em: http:/www.youtube.com./warch?v=4mgAVCYhmGI. Acesso em: 23 jul. 2011.

30

SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO 1981. CAÇADAS DE PEDRINHO 5. Disponível em: http:/www.youtube.com/warch?v=orajdETafA&feature=related. Acesso em 24 de jul. 2011.

SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO: O SACI. Disponível em: http:/www.youtube.com/warch?v=GoRit59Nh9g&feature=fvwrel. Acesso em: 23 jul. 2011.

SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO: O SACI. Disponível em:

http:/www.youtube.com/watch?v=XIIOBKhMNwI. Acesso em: 23 jul. 2011.

SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO: O SACI. Disponível em: http:/www.youtube.com/watch?v=deP6BU8k_60&feature=related. Acesso em: 24/07/2011.

UMA DAS MAIORES HISTÓRIAS EMOCIONANTES. Disponível em:

http:/www.youtube.com/watch?v=MGdopMbjNv8. Acesso em: 22 de jul. 2011.