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PORTUGAL: O ESTADO NOVO O TRIUNFO DAS FORÇAS CONSERVADORAS Durante os primeiros anos do regime de ditadura, a crise política acentuou-se. Perante as dificuldades, em 1928, os militares fazem um segundo convite a um distinto professor, António Oliveira Salazar, para superintender à pasta das Finanças. Pela primeira vez, num período de 15 anos, Salazar conseguiu tornar o saldo do orçamento positivo, progredindo a chefe de governo. Salazar, com o propósito de instaurar uma nova ordem política, lançou ainda em 1930 as bases orgânicas da União Nacional e se promulgou o Acto Colonial. Em 1933 foi a vez da publicação do Estatuto do Trabalho Nacional e da Constituição de 1933, submetida a plebiscito nacional. Ficou, então, consagrado um sistema governativo conhecido por Estado Novo. Com Salazar no Governo, inicia-se a edificação do Estado Novo, isto é, a imagem do Estado totalitário português inspirado na ideologia fascista – o Salazarismo. Salazar concebeu um regime: Autoritário - Salazar rejeitou os princípios liberais que constituíam os fundamentos do regime democrático e repudiou o sistema parlamentar pluripartidário. - O poder executivo era detido pelo Presidente da Republica, mas a verdadeira autoridade era exercida pelo Governo, nomeadamente pelo Presidente do Conselho de Ministros. Com amplos poderes de legislar, apenas tinha o dever de submeter as propostas de lei a uma Assembleia Nacional que era constituída por deputados identificados com o Governo, provenientes de um único partido – a União Nacional. De uma forma geral, o poder executivo era detido pelo Presidente do Governo que se sobrepunha ao Presidente da Republica. Personalizado no chefe – o culto da personalidade/chefe 1

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PORTUGAL: O ESTADO NOVO

O TRIUNFO DAS FORÇAS CONSERVADORAS

Durante os primeiros anos do regime de ditadura, a crise política acentuou-se. Perante as

dificuldades, em 1928, os militares fazem um segundo convite a um distinto professor,

António Oliveira Salazar, para superintender à pasta das Finanças.

Pela primeira vez, num período de 15 anos, Salazar conseguiu tornar o saldo do orçamento

positivo, progredindo a chefe de governo. Salazar, com o propósito de instaurar uma nova

ordem política, lançou ainda em 1930 as bases orgânicas da União Nacional e se

promulgou o Acto Colonial. Em 1933 foi a vez da publicação do Estatuto do Trabalho

Nacional e da Constituição de 1933, submetida a plebiscito nacional. Ficou, então,

consagrado um sistema governativo conhecido por Estado Novo.

Com Salazar no Governo, inicia-se a edificação do Estado Novo, isto é, a imagem do

Estado totalitário português inspirado na ideologia fascista – o Salazarismo.

Salazar concebeu um regime:

Autoritário

- Salazar rejeitou os princípios liberais que constituíam os fundamentos do regime

democrático e repudiou o sistema parlamentar pluripartidário.

- O poder executivo era detido pelo Presidente da Republica, mas a verdadeira

autoridade era exercida pelo Governo, nomeadamente pelo Presidente do

Conselho de Ministros. Com amplos poderes de legislar, apenas tinha o dever

de submeter as propostas de lei a uma Assembleia Nacional que era constituída

por deputados identificados com o Governo, provenientes de um único partido – a

União Nacional. De uma forma geral, o poder executivo era detido pelo

Presidente do Governo que se sobrepunha ao Presidente da Republica.

Personalizado no chefe – o culto da personalidade/chefe

- A consolidação do Estado Novo passou pelo culto do chefe, onde o chefe era o

intérprete do supremo interesse nacional.

- Salazar era apresentado pela propaganda do regime como o “Salvador da

Pátria”, a sua imagem estava presente em todos os lugares públicos, era venerado

pelas multidões e só não era aclamado porque era avesso às multidões.

Conservador – a consagração da tradição e da ruralidade

Salazar empenhou-se na recuperação dos valores que considerava

fundamentais, como Deus, Pátria, Família, Paz Social, Moralidade, Autoridade, que

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não podiam ser postos em causa. A base da nação era a família, o homem era o

trabalhador e o papel da mulher foi reduzido. Empenhou-se também na defesa de

tudo o que fosse tradicional e genuinamente português, revestindo de importância a

ruralidade e rebaixando a sociedade industrializada. Deu protecção especial à

Igreja, baseado no lema "Deus, Pátria, Família".

Nacionalista – a exaltação dos valores nacionais

O carácter nacionalista destacou-se, pois louvou e comemorou os heróis e o passado glorioso

da Pátria, valorizou as produções culturais portuguesas e incutiu os valores nacionalistas

através das milícias de enquadramento das massas. Além disso, o regime salazarista utilizava as

colónias em proveito dos interesses da nação, seguindo os parâmetros definidos pelo Acto

Colonial de 1930.

Corporativo

O Estado Novo mostrou-se empenhado na unidade da nação e no fortalecimento da

Nação. Defendia, assim, que os indivíduos apenas tinham existência para o Estado se

integrados em organismos ou corporações pelas funções que desempenham e os seus

interesses harmonizam-se para a execução do bem comum.

Repressivo – a liberdade amordaçada

- O exercício da autoridade implicou que o regime se rodeasse de um poderoso

aparelho repressivo através do qual se subordinavam aos interesses do Estado

os direitos e liberdades dos cidadãos.

- Através da instituição da Censura Prévia, era exercida uma rigorosa vigilância sobre

todas as produções intelectuais que passava pela eliminação de tudo o que fosse

considerado contra a ideologia do regime.

- A polícia política, a PVDE (Policia de Vigilância e Defesa do Estado, mais tarde a

tenebrosa PIDE), perseguia, prendia, torturava e matava quem manifestasse

o mínimo sinal de oposição ao poder instituído.

CARÁCTER INTERVENCIONISTA

A estabilidade financeira tornou-se numa prioridade. O Estado Novo apostou num modelo

económico fortemente intervencionista e autárquico, que se fez sentir nos vários sectores

da economia:

Agricultura

Indústria

Obras Públicas (tinha como principal objectivo o combate ao desemprego e a

modernização das infra-estruturas do país.

A intervenção activa do Estado fez-se sentir através da edificação de pontes, expansão das

redes telegráfica e telefónica, construção de barragens, construção de edifícios públicos. A

política de construção de obras públicas foi aproveitada para incutir no povo português a ideia

de que Salazar era imprescindível à modernização material do País.

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Assente em estruturas de enquadramento das massas – a inculcação de

valores

- (1933) Secretário da Propaganda Nacional, dirigido por António Ferro,

desempenhou um papel muito activo na divulgação do ideário do regime e na

padronização da cultura e das artes.

- Foi criada uma milícia armada para defesa do regime e combate ao comunismo – a

Legião Portuguesa.

- Também foi criada a Mocidade Portuguesa, de inscrição obrigatória para os estudantes

onde lhes era incutidos os valores nacionalistas e patrióticos do Estado Novo.

- Em 1935 fundou-se a FNAT (Federação Nacional para a Alegria no Trabalho) que

tinha como intenção, controlar os tempos livres dos trabalhadores, providenciando

actividades recreativas e “educativas”

- Em 1936 surgiu a Obra das Mães para a Educação Nacional, destinada à formação das

“futuras mulheres e mães”

UMA ECONOMIA SUBMETIDA AOS IMPERATIVOS POLÍTICOS

O carácter totalitário do Estado também se fez sentir na actividade económica e financeira.

Sujeitar toda a produção e gestão da riqueza nacional aos interesses do Estado era um

objecto constitucionalmente definido. Para o efeito, Salazar adoptou um modelo fortemente

dirigista. Proteccionismo e intervencionismo, tendo em vista a auto-suficiência do país

e consequentemente afirmação do nacionalismo económico, foram as principais

características da economia do Estado Novo.

A PRIORIDADE À ESTABILIDADE FINANCEIRA

Salazar foi convidado com o objectivo de resolver as dificuldades financeiras e a sua

afirmação política se ficou a dever ao sucesso das suas politicas na consecução do muito

ambicionado equilíbrio orçamental.

Salazar impunha aos diversos ministérios uma rigorosa política de limitação de despesas, ao

mesmo tempo que lançava sobre a população um conjunto de impostos tendo em vista o

aumento da receita.

O “milagre” financeiro também se ficou a dever em muito à rejeição de Portugal entrar

na Segunda Guerra Mundial, que conseguiu assim evitar as inúmeras consequências

negativas da participação na Guerra, assim como aproveitar as necessidades

económicas dos países envolvidos para dinamizar alguns sectores ligados à exportação.

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A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA

Salazar via nas actividades agrícolas, um dos meios mais poderosos para atingir a

pretendida auto-suficiência económica. Empreendeu um conjunto de medidas de

fomento das actividades agrícolas:

construção de numerosas infra-estruturas adopção de políticas de fixação

de populações no interior rural;

amplas campanhas de florestação;

dinamização da produção dos bens mais tradicionais na alimentação

portuguesa como a batata, o arroz, o vinho, o azeite e as frutas.

De todas as medidas agrícolas, a que mais impacto teve foi a dinamização da produção

de trigo

O CONDICIONAMENTO INDUSTRIAL

No âmbito da indústria, os primeiros anos do regime foram marcados pela persistência dos

constrangimentos tradicionais do desenvolvimento do país:

deficiente rede de comunicações;

processos tecnológicos arcaicos;

baixos níveis de produtividade;

dependência das importações;

falta de iniciativa por parte dos investigadores portugueses;

manutenção de baixos salários.

A partir da década de 50 assistiu-se a algum desenvolvimento dos sectores tradicionais e ao

arranque de sectores tecnologicamente mais avançados como a indústria cimenteira,

refinação de petróleos, construção naval, adubos químicos e energia eléctrica.

Não podemos, todavia, falar de um forte arranque da indústria portuguesa. Efectivamente, o

incipiente desenvolvimento industrial do país explica-se pelo carácter ruralista do regime

e pela excessiva presença do Estado no controlo da indústria nacional e na regulação da

actividade produtiva em prejuízo da liberdade dos agentes económicos.

AS GRANDES OBRAS PÚBLICAS

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A implementação de programas de obras públicas foi a manifestação mais visível do

desenvolvimento do país. Pretendia-se também dar uma imagem nacional e

internacional de modernização de Portugal, e ao mesmo tempo, resolver o problema do

desemprego.

Em consequência, melhorou-se a rede de estradas, os portos marítimos, a rede telefónica

nacional; edificaram-se grandes complexos desportivos, complexos hidroeléctricos, edifícios

de serviço público; deu-se particular atenção aos monumentos históricos.

A POLÍTICA COLONIAL

As colónias desempenharam uma dupla função no Estado Novo. Foram um elemento

fundamental na política de nacionalismo económico e um meio de fomento do

orgulho nacionalista.

No primeiro caso, porque realizavam a tradicional vocação colonial de mercado para o

escoamento de produtos agrícolas e industriais metropolitanos e de abastecimento de

matérias-primas a baixo custo.

No segundo caso, porque constituíam um dos principais temas da propaganda nacionalista,

ao integrar os espaços ultramarinos na missão histórica civilizadora de Portugal e no espaço

geopolítico nacional.

A vocação colonial do Estado Novo motivou, logo em 1930, a publicação do Acto Colonial,

onde eram clarificadas as relações de dependência das colónias e se limitava a

intervenção que nelas podiam ter as potências estrangeiras.

Para a consecução do segundo objectivo, o regime levou a cabo diversas campanhas

tendentes a propagandear, interna e externamente, a mística imperial.

O PROJECTO CULTURAL DO REGIME

No contexto de um regime de tipo totalitário, a cultura portuguesa encontrava-se subordinada ao

Estado e servia de instrumento de propaganda política. O Estado Novo compreendeu a necessidade de

uma produção cultural submetida ao regime, por isso, pela via da persuasão, o Estado Novo concebeu

um projecto que vai instrumentalizar os artistas para a propaganda do seu ideal. A este projecto cultural

chamou-se de “Política de Espírito”. Foi o meio encontrado para mediatizar o regime, em que era

proporcionado uma “atmosfera saudável” à imposição dos valores nacionalistas e patrióticos. Tudo

servia para divulgar as tradições nacionais e engrandecer a civilização portuguesa (restauro de

monumentos, festas populares, peças de teatro, cinema, etc.) Salazar defendia que as artes e as letras

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deveriam inculcar no povo, o amor da pátria, o culto dos heróis, as virtudes familiares, a confiança no

progresso, ou seja, o ideário do Estado Novo.

PORTUGAL DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA

IMOBILISMO POLÍTICO E CRESCIMENTO

ECONÓMICO DO PÓS-GUERRA

A posição de neutralidade que Portugal assumiu na Segunda Guerra Mundial permitiu a

sobrevivência do regime salazarista. Apesar de uma dura guerra nas colónias, a vida política

do país manteve uma feição autoritária.

Este nosso país não soube também acompanhar o ritmo económico das nações mais

desenvolvidas. Mesmo com algumas realizações, o atraso português persistiu e, em certos

sectores, como a agricultura, agravou-se.

O Estado Novo estava, no inicio dos anos 70, à beira do fim.

A ESTAGNAÇÃO DO MUNDO RURAL E SURTO INDUSTRIAL

Apesar da agricultura ser o sector dominante, era pouco desenvolvida, caracterizada por baixos índices de produtividade, que fazia de Portugal dos países mais atrasados da Europa. O principal problema consistia na dimensão das estruturas fundiárias, no Norte predominava o minifúndio, que não possibilitava mecanização; no Sul estendiam-se propriedades imensas (latifúndios), que se encontravam subaproveitadas. O défice agrícola foi aumentando, e ao longo dos anos 60 e 70 e assistiu-se a um elevado êxodo rural e emigração, pois as populações procuravam melhores condições de vida, condenando a agricultura a um quase desaparecimento.

Face a esta situação, a partir de 1953, foram elaborados Planos de Fomento para o desenvolvimento

industrial. O I Plano (1953-1958) e o II Plano (1959-1964) davam continuidade ao modelo de autarcia e

à substituição de importações, mas não contavam com o apoio dos proprietários. O I Plano de

Fomento (1953-58) Reconheceu a industrialização para um melhor nível de vida. O plano

baseou-se ainda num conjunto de investimentos públicos que se distribuía por vários

sectores, com prioridade para a criação de infra-estruturas.

No II Plano de Fomento (1959-64) alarga-se o montante investido e elege-se a

indústria transformadora de base como sector a privilegiar.

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É só a partir de meados dos anos 60, com o Plano Intercalar de Fomento (1965-1967) e o III Plano

(1968-1973), que o Estado Novo delineia uma nova política económica: - Defende-se a produção

industrial orientada para a exportação; - Dá-se prioridade à industrialização em relação à agricultura; -

Estimula-se a concentração industrial; - Admite-se a necessidade de rever a lei do condicionamento

industrial (que colocava entraves à livre concorrência. O grande ciclo salazarista aproximava-se do fim).

No decurso do II Plano, o nosso país viria a integrar-se na economia europeia e mundial, integrando a

EFTA, a BIRD e a GATT. A adesão a estas organizações marca a inversão na política da autarcia do Estado

Novo. Esta política confirmou a consolidação de grandes grupos económicos e financeiros em Portugal

e o acelerar do processo industrial.

A EMIGRAÇÃO

Enquanto que nas décadas de 30 e 40 a emigração foi bastante reduzida, a década de 60 tornou-se no

período de emigração mais intenso da nossa história, pelos seguintes motivos: - a política industrial

provocou o esquecimento do mundo rural, logo, sair da aldeia era uma forma de fugir à miséria; - os

países europeus que necessitavam de mão-de-obra, pagavam com salários superiores; - a partir de 61, a

emigração foi, para muitos jovens, a única maneira de não participar na guerra entre Portugal e as

colónias africanas. Por essa razão, a maior parte da emigração fez-se clandestinamente. O Estado

procurou salvaguardar os interesses dos nossos emigrantes, celebrando acordos com os principais

países de acolhimento. O País passou, por esta via, a receber um montante muito considerável de

divisas: as remessas dos emigrantes. Tal facto, que muito contribuiu para o equilíbrio da nossa balança

de pagamentos e para o aumento do consumo interno, induziu o Governo a despenalizar a emigração

clandestina e a suprimir alguns entraves.

A URBANIZAÇÃO

O surto industrial traduziu-se no crescimento do sector terciário e na progressiva urbanização do país. Dá-se o crescimento das cidades e a concentração populacional. Em Lisboa e Porto, as maiores cidades portuguesas, propagam-se subúrbios. No entanto, esta expansão urbana não foi acompanhada da construção das infra-estruturas necessárias, aumentando as construções clandestinas, proliferam os bairros de lata, degradam-se as condições de vida (incremento da criminalidade, da prostituição…). Mesmo assim, o crescimento urbano teve também efeitos positivos, contribuindo para a expansão do sector dos serviços e para um maior acesso ao ensino e aos meios de comunicação.

O FOMENTO ECONÓMICO NAS COLÓNIAS

Após a guerra mundial, o fomento económico das colónias também passou a constituir uma

preocupação ao governo. Angola e Moçambique receberam uma atenção privilegiada. Os investimentos

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do Estado nas colónias, a partir de 1953, foram incluídos nos Planos de Fomento. O objectivo desta

preocupação reforçada, era mostrar à comunidade internacional que a presença portuguesa era

essencial ao desenvolvimento desses territórios, através de medidas como a criação de infra-estruturas,

incentivos ao investimento nacional, estrangeiro e privado, criação do EPP (Espaço Económico

Português, com vista à abolição de entraves comerciais entre Portugal e as suas colónias), reforço da

colonização branca e desenvolvimento dos sectores agrícola, extractivo e industrial.

A RADICALIZAÇÃO DAS OPOSIÇOES E O SBRESSALTO POLÍTICO DE 1958

Em 1945, a grande maioria dos países europeus festejavam a vitória da democracia sobre os fascismos.

Parecia, assim, que estavam reunidas todas as condições para Salazar também optar pela

democratização do país. Salazar encenou, então, uma viragem política, aparentando uma maior

abertura, a fim de preservar o poder:

antecipou a revisão constitucional, dissolveu a Assembleia Nacional e convocou eleições

antecipadas, que Salazar anunciou “tão livres como na livre Inglaterra”. Em 1945, os portugueses foram

convidados a apresentar listas de candidatura às eleições legislativas (para eleger os deputados da

Assembleia Nacional). A oposição democrática (conjunto dos opositores ao regime no segundo pós-

guerra) concentrou-se em torno do MUD (Movimento de Unidade Democrática), criado no mesmo ano.

O impacto deste movimento, que dá início à chamada oposição democrática, ultrapassou todas as

previsões.

Para garantir a legitimidade no acto eleitoral, o MUD formula algumas exigências, que considera

fundamentais, como o adiamento das eleições por 6 meses (a fim de se instituírem partidos políticos), a

reformulação dos cadernos eleitorais e a liberdade de opinião, reunião e de informação. As

esperanças fracassaram. Nenhuma das reivindicações do Movimento foi satisfeita e este desistiu por

considerar que o acto eleitoral não passaria de uma farsa. A apreensão das listas pela PIDE permitiu

perseguir a oposição democrática.

Em 1949, aquando das eleições presidenciais, a oposição democrática apoiou o candidato Norton de

Matos, que concorria contra o candidato do regime, Óscar Carmona. Era a primeira vez que um

candidato da oposição concorria à Presidência da República e a campanha voltou a entusiasmar o País

mas, no entanto, face a uma severa repressão, Norton de Matos apresentou também a sua desistência

pouco antes das eleições.

1958 – Ano de novas eleições presidenciais. O Governo pensou ter controlado a situação até que, em

1958, a candidatura de Humberto Delgado a novas eleições presidenciais desencadeou um terramoto

político. A sua coragem em criticar a ditadura, apelidou-o de “general sem medo”. O anúncio do seu

propósito de não desistir das eleições e a forma destemida como anunciou a sua intenção de demitir

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Page 9: teste historia

Salazar caso viesse a ser eleito, fizeram da sua campanha um acontecimento único no que respeita à

mobilização popular. De tal forma que o governo procurou limitar-lhe os movimentos, acusando-o de

provocar “agitação social, desordem e intranquilidade pública”. O resultado revelou mais uma vitória

esmagadora do candidato do regime (Américo Tomás), mas desta vez, a credibilidade do Governo ficou

profundamente abalada. Salazar começou a tomar consciência de que se estava a tornar difícil

continuar a enganar a opinião pública. A campanha de Humberto Delgado desfez qualquer ilusão sobre

a pretensa abertura do regime salazarista. Humberto Delgado foi assassinado pela PIDE em 1965.

A QUESTÃO COLONIAL

A Partir de 1945, a questão colonial passa a constituir mais um serio problema para Portugal.

A nova ordem internacional instituída pela Carta das Nações e a primeira vaga de

descolonizações tiveram importantes repercussões na política colonial do Estado

Novo.

Com efeito, a partir do momento em que a ONU reconhece o direito à

autodeterminação dos povos e em que as grandes potências coloniais começam a

negociar a independência das suas possessões ultramarinas, torna-se difícil para o

Governo português manter a politica colonial instituída com a publicação do Acto Colonial,

em 1930.

A simples mística imperial começava a revelar-se ultrapassada para explicar as posições

coloniais do Estado Novo. Salazar teve de procurar soluções para afirmar a vocação colonial

de Portugal e para recusar qualquer cedência às crescentes pressões internacionais.

SOLUÇÕES PRECONIZADAS

A adaptação aos novos tempos processou-se, numa primeira fase, em duas

vertentes complementares: uma ideológica e outra jurídica.

Tornava-se necessário, por conseguinte, clarificar juridicamente as relações da

metrópole com os seus espaços ultramarinos.

Neste sentido, na revisão constitucional de 1951, Salazar revoga o Acto Colonial e

insere o estatuto de colónias por ele abrangido na Constituição. Todo o território

português ficava abrangido pela mesma lei fundamental.

Para melhor concretizar esta integração, desaparece o conceito de colónia que é

substituído pelo de província, desaparecendo o conceito de Império Português,

que é substituído pelo conceito de Ultramar Português.

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Embora externamente a manutenção do colonialismo português cedo fosse posta em causa,

a nível interno, a presença portuguesa em África não sofreu praticamente

contestação até ao inicio da guerra colonial. Excepção feita ao Partido Comunista

Português, que reconheceu o direito à independência dos povos colonizados. No entanto, as

forças da oposição mantiveram-se concordantes com o Governo, como por exemplo, Norton

de Matos e Humberto Delgado, que foram empenhados defensores da integridade do

território português.

Esta quase unanimidade de opiniões veio a quebrar-se com o inicio da luta armada em

Angola, em 1961. Confrontam-se, então, duas teses divergentes: a integracionista e a

federalista.

A aposta no federalismo, que será partilhada por muitos elementos da oposição, deu lugar,

em Abril de 1961, na sequência dos primeiros distúrbios em Angola, ao chamado «golpe de

Botelho Moniz». Caso insólito em que altas patentes das Forças Armadas, com o apoio do

ex-presidente da Republica (Craveiro Lopes) resolveram actuar pela via legal, exigindo a

Américo Tomás a destituição de Salazar. Porém, destituídos acabaram por ser eles,

e anulada a oposição governamental, Salazar agiu com determinação que lhe era

peculiar, enviando para Angola, os primeiros contingentes militares. Começava,

assim, a mais longa das guerras coloniais que se travaram a sul do Sara.

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Integracionista

Defendia a política até aí seguida,

pugnando por um Ultramar plenamente

integrado no Estado português.

Federalista

Considerava não ser possível, face à

pressão internacional e aos custos de

uma guerra em África, persistir na

mesma via. Advogava, por isso, a

progressiva autonomia das colónias e a

constituição de uma federação de

Estados que salvaguardasse os

interesses dos portugueses.

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A LUTA ARMADA

O negar da possibilidade de autonomia das colónias africanas, fez extremar as posições dos movimentos de libertação que, nos anos 50 e 60, se foram formando na África portuguesa. Em Angola, em 1955, surge a UPA (União das Populações de Angola) que, 7 anos mais tarde, se transforma na FNLA (Frente de Libertação de Angola); o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) forma-se em 1956; e a UNITA (União para a Independência Total de Angola) surge em 1966. A guerra inicia-se em Angola a 1961. Em Moçambique, a luta é dirigida pela FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) fundada em 1962. A guerra estende-se a Moçambique em 1964. Na Guiné, distingue-se o PAIGC (Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde) em 1956 e a guerra alastrou-se à Guiné em 1963.

Portugal viu-se envolvido em duras frentes de batalha que, à custa de elevadíssimos custos materiais e

humanos, chegou a surpreender a comunidade internacional.

O ISOLAMENTO INTERNACIONAL

O Governo não democrático de Oliveira Salazar continuava a defender uma politica

de reforço da autoridade portuguesa sobre os espaços ultramarinos e de

indiscutível recusa de qualquer negociação que pudesse pôr em causa essa

autoridade. Estava fora de causa qualquer cedência às crescentes pressões internacionais.

Tal postura conduziu, inevitavelmente, ao desprestígio do nosso país, que foi excluído de vários

organismos das Nações Unidas e alvo de sanções económicas por parte de diversas nações africanas. A

recusa de todas as ofertas e planos (como a ajuda americana por exemplo), remeteu Portugal para um

isolamento, evidenciado na expressão de Salazar, “orgulhosamente sós”.

Mesmo tendo tentado quebrar esse isolamento, Salazar não conseguiu impedir,

internamente as duvidas sobre a legitimidade do conflito e o descontentamento

crescente na sociedade portuguesa.

A PRIMAVERA MARCELISTA:

REFORMISMO POLÍTICO NÃO SUSTENTADO

Em, 1968, perante a intensificação da oposição interna e das denuncias internacionais do

colonialismo português, o afastamento de Salazar por doença, parecia finalmente abrir as

portas do regime à liberalização democrática.

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Em 1968, Salazar foi substituído Marcelo Caetano, no cargo de presidente do Conselho de Ministros, que fez reformas mais

liberais para a democratização do regime. Nos primeiros meses o novo governo até deu sinais de abertura, período este

conhecido por “Primavera Marcelista” (alargou o sufrágio feminino, permitiu regresso de alguns exilados, abrandou a repressão

policial e a censura, reforma democrática do ensino por ex.). Contudo, o oscilar entre indícios de renovação e seguir as linhas do

salazarismo, resultou no fracasso da tentativa reformista. A PIDE mudou o seu nome para DGS e diminuiu, ao início, a virulência

das suas perseguições. No entanto, face ao movimento estudantil e operário, prendeu, sem hesitações, os opositores ao regime; A

Censura passou a chamar-se Exame Prévio; se este, inicialmente, tolerou algumas criticas ao regime, cedo se verificou que

actuava nos mesmos moldes da Censura; A oposição não tinha liberdade de concorrer às eleições e a política Marcelista era

criticada como sendo incapaz de evoluir para um sistema mais democrático. Tudo isto levou á revolução de 25 de Abril de 1974.

O IMPACTO DA GUERRA COLONIAL

A política de renovação tentada por Marcelo Caetano também teve reflexos na questão

colonial:

- a presença colonial nos territórios africanos passa a ser reconhecida como defesa

dos interesses das populações brancas que há muito aí residiam;

- no seguimento deste novo carácter da colonização portuguesa, já se admite o

principio da “autonomia progressiva” e concede-se o titulo honorifico de Estado,

às províncias de Angola e Moçambique

A guerra prosseguia à medida que se acentua o isolamento internacional de

Portugal evidenciado:

- pela recepção dos principais dirigentes dos movimentos de libertação pelo Papa

Paulo VI traduzida numa humilhação sem paralelo da administração colonial

portuguesa;

- pelas manifestações de protesto que envolveram a visita de Marcelo Caetano a

Londres, em consequência dos massacres cometidos pelo exercito português em

Moçambique;

- pela declaração unilateral da independência da Guiné-Bissau, e seu reconhecimento

pela Assembleia Geral da ONU.

Entretanto, também internamente, são conhecidas as denúncias da injustiça da Guerra

Colonial e os apelos à solução do conflito:

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- os deputados liberais começam, em sinal de protesto, a abandonar a

Assembleia Nacional, proliferando os grupos oposicionistas de extrema-esquerda

- o general António de Spínola publica a obra Portugal e o Futuro, onde

relata, Marcelo Caetano proclamou que a guerra estava perdida

DA REVOLUÇÃO À ESTABILIZAÇÃO DA

DEMOCRACIA

O MOVIMENTO DAS FORÇAS ARMADAS E A ECLOSÃO DA REVOLUÇÃO

O problema da guerra colonial continuava por resolver. Perante a recusa de uma solução política pelo

Governo Marcelista, os militares entenderam que se tornava urgente pôr fim à ditadura e abrir o

caminho para a democratização do país. A Revolução de 25 de Abril de 1974 partiu da iniciativa de um

grupo de oficiais do exército português – O Movimento dos Capitães (1973), liderado por Costa Gomes

e Spínola, que tinha em vista o derrube do regime ditatorial e a criação de condições favoráveis à

resolução política da questão colonial. Estes acontecimentos deram força àqueles que, dentro do

Movimento (agora passava-se a designar por MFA – Movimento das Forças Armadas), acreditavam na

urgência de um golpe militar que, restaurando as liberdades cívicas, permitisse a tão desejada solução

para o problema colonial. Depois de uma tentativa precipitada, em Março, o MFA preparou

minuciosamente a operação militar que, na madrugada do dia 25 de Abril de 1974 pôs fim ao Estado

Novo.

DO “MOVIMENTO DOS CAPITÃES” AO “MOVIMENTO DAS FORÇAS ARMADAS”

A partir de 1973, começa a organizar-se um movimento clandestino de militares, onde

predominavam oficiais de baixa patente, a maioria capitães, que arranca com a

preparação de um golpe de Estado tendo em vista o derrube do regime ditatorial e a

criação de condições favoráveis à resolução política da questão colonial.

O Movimento dos Capitães depositou a sua confiança nos generais Costa Gomes e

Spínola, respectivamente chefe e vice-versa do Estado-Maior General das Forças

Armadas.

Face à obstinação do regime em persistir na manutenção da guerra, o alto-comando do

Estado-Maior das Forças Armadas (Costa Gomes, chefe, e António Spínola, vice-

chefe) recusou-se a participar numa manifestação de apoio ao Governo e à sua

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política. Foram exonerados dos cargos, ficando disponíveis para congregar a confiança do

movimento de contestação que crescia no meio militar.

Liderado então pelos generais Spínola e Costa Gomes, o original movimento corporativo

dos capitães cresce. O Movimento dos Capitães evoluiu para um movimento das Forças

Armadas. Nascia o Movimento das Forças Armadas – MFA.

O “25 DE ABRIL”

São as Forças Armadas, assim organizadas, que vêm para a rua na madrugada de 25 de Abril

de 1974 e conseguem levar a cabo uma acção revolucionária que pôs fim ao regime de

ditadura que vigorava desde 1926.

A operação militar teve início com a transmissão, pela rádio, que permitia às unidades militares saírem dos quartéis para

cumprirem as missões que lhes estavam destinadas. A resistência terminou cerca das 18h, quando Marcelo Caetano se rendeu

pacificamente ao general Spínola. Entretanto, já o golpe militar era aclamado nas ruas pela população portuguesa, cansada da

guerra e da ditadura, transformando os acontecimentos de Lisboa numa explosão social por todo o país, uma autêntica revolução

nacional que, pelo seu carácter pacífico, ficou conhecido como a “Revolução dos Cravos”. A PIDE foi a última a render-se na

manhã seguinte.

DESMANTELAMENTO DAS ESTRUTURAS DE SUPORTE DO ESTADO NOVO

O acto revolucionário permitiu que se desse início ao processo de desmantelamento do Estado Novo.

No próprio dia da revolução, Portugal viu-se sob a autoridade de uma Junta de Salvação Nacional, que

tomou de imediato medidas:

O presidente da República e o presidente do Conselho foram destituídos, bem como todos os

governadores civis e outros quadros administrativos; A PIDE-DGS, a Legião Portuguesa e as Organizações

da Juventude foram extintas, bem como a Censura (Exame Prévio) e a Acção Nacional Popular; Os

presos políticos foram perdoados e libertados e as personalidades no exílio puderam regressar a

Portugal; Iniciou-se o processo da independência das colónias e organização de eleições para formar a

assembleia constituinte que iria aprovar a nova constituição da República. A Junta de Salvação Nacional

nomeou para Presidente da República o António de Spínola, que escolheu Adelino para chefiar o

governo provisório.

TENSÕES POLÍTICO-IDEOLÓGICAS NA SOCIEDADE E NO INTERIOR DO MOVIMENTO

REVOLUCIONÁRIO

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Os tempos não foram fáceis para as novas instituições democráticas. Passados os

primeiros momentos de entusiasmo popular na aclamação da liberdade conseguida,

seguiram-se dois anos politicamente muito conturbados. Com efeito, vieram ao de

cima profundas divergências ideológicas que conduziram a graves confrontações

sociais e politicas e chegaram a provocar situações de iminente conflito militar.

O «PERÍODO SPÍNOLA»

Os tempos não foram fáceis para as novas instituições democráticas. Passados os primeiros momentos de entusiasmo, seguiram-se dois anos politicamente muito conturbados, originando graves confrontações sociais e políticas. Rapidamente começaram as reivindicações, as greves e as manifestações influenciadas pelos partidos da esquerda. O governo provisório mostrou-se incapaz de governar o país e demitiu-se, o que fez com que o poder político se dividisse em dois pólos opostos. De um lado o grupo apoiante do general Spínola (procurava controlar o movimento popular que podia originar outra ditadura, desta vez de extrema-esquerda) Do outro lado a comissão coordenadora do MFA e os seus apoiantes (defendia a orientação do regime para um socialismo revolucionário.

O desfecho destas tensões culminou com a demissão do próprio general Spínola, após o falhanço da

convocação de uma manifestação nacional em seu apoio, e a nomeação de outro militar, o general

Costa Gomes, como Presidente da República.

A RADICALIZAÇÃO DO PROCESSO REVOLUCIONÁRIO

A partir deste momento a Revolução tende a radicalizar-se.

No período entre a demissão de Spínola (Setembro 1974) e a aprovação da nova Constituição da

República (1976), Portugal viveu uma situação política revolucionária repleta de antagonismos sociais.

Durante estes dois anos, o poder esteve entregue ao MFA, a Vasco Gonçalves, que assumiu uma

posição de extrema-esquerda e uma forte ligação ao Partido Comunista. A data-chave é 11 de Março de

1975: tentando contrariar a orientação esquerdista da revolução, António de Spínola tentou um golpe

militar (fracassado). Em resposta, a MFA cria o Conselho da Revolução, ligado ao PCP, que passa a

funcionar como órgão executivo do MFA e tornou-se o verdadeiro centro do poder (concentra os

poderes da Junta de Salvação Nacional e do Conselho de Estado), e propõe-se orientar o Processo

Revolucionário em Curso - PREC que conduziria o País rumo ao socialismo.

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Este ambiente anárquico gerou um clima de opressão e medo nas classes

média e alta que impediu milhares de Portugueses a abandonarem o País.

Tudo parecia, nesta altura, encaminhar Portugal para a adopção de um modelo

colectivista, sob a égide das Forças Armadas.

AS ELEIÇÕES DE 1975 E A INVERSÃO DO PROCESSO REVOLUCIONÁRIO

A inversão do processo deveu-se, em grande parte, ao forte impulso dado pelo

Presidente Socialista à efectiva realização, no prazo marcado, das eleições

constituintes prometidas pelo programa do MFA.

Das eleições de 1975, sai vitorioso o Partido Socialista, que passa a reclamar maior intervenção na

actividade governativa. Vivem-se os tempos do Verão Quente de 1975, em que esteve iminente o

confronto entre os partidos conservadores e os partidos de esquerda. É em pleno “Verão Quente” que

um grupo de 9 oficiais do próprio Conselho da Revolução, encabeçados pelo major Melo Antunes, crítica

abertamente os sectores mais radicais do MFA: contestava o clima de anarquia instalado, a

desagregação económica e social e a decomposição das estruturas do Estado. Em consequência, Vasco

Gonçalves foi demitido. Era o fim da fase extremista do processo revolucionário. A revolução regressava

aos princípios democráticos e pluralistas de 25 de Abril, que serão confirmados com a Constituição de

1976.

Estas alterações são o rastilho para um último golpe militar, desferido em 25 de

Novembro em defesa de Otelo e do processo revolucionário. Este golpe que por

pouco não colocou o País numa guerra civil, acabou por se malograr e, com

ele, as tentativas da esquerda revolucionária para tomar o poder. Ficava

aberto o caminho para a implantação de uma democracia liberal.

Politica Económica anti-monopolista e intervenção do Estado a nível económico-financeiro

Os tempos da PREC tinham em vista a conquista do poder e o reforço da transição ao socialismo.

Assim, nessa altura, tomaram-se um conjunto de medidas que assinalaram a viragem ideológica no

sentido do marxismo-leninismo:

o intervencionismo estatal (em todos os sectores da economia), as nacionalizações (o Estado

apropriou-se dos bancos, dos seguros, das empresas, etc., passando a ter mais controlo da economia), a

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reforma agrária (procedeu-se à colectivização dos latifúndios do Sul e à expropriação e nacionalização

pelo Estado e a constituição de Unidades Colectivas de Produção (UCP). Graças ao partido comunista foi

aprovada a legislação para a reforma agrária com protecção dos trabalhadores e dos grupos económicos

mais desfavorecidos através das novas leis laborais, salário mínimo nacional, aumento de pensões e

reformas.)

A OPÇÃO CONSTITUCIONAL DE 1976

A 2 de Junho de 1975 abriu, a Assembleia Constituinte. Era a primeira que se reunia desde a

elaboração da Constituição de 1911 e os seus trabalhos decorreram num ambiente pós-

revolucionário.

Depois de um ano de trabalho, a Assembleia Constituinte terminou a Constituição, aprovada em 25 de Abril de 1976. A

constituição consagrou um regime democrático e pluralista, garantindo as liberdades individuais e a participação dos cidadãos na

vida política através da votação em eleições para os diferentes órgãos. Além disso, confirmou a transição para o socialismo como

opção da sociedade portuguesa. Mantém, igualmente, como órgão de soberania, o Conselho da Revolução considerado o garante

do processo revolucionário. Este órgão continuará a funcionar em estreita ligação com o presidente da República, que o encabeça.

A nova constituição entrou em vigor no dia 25 de Abril de 1976, exactamente dois anos após a “Revolta dos Cravos”.

A nova constituição entrou em vigor no dia 25 de Abril de 1976 . O seu texto resultou

do compromisso das diferentes concepções ideológicas defendidas pelos partidos da

Assembleia e congregou ainda medidas de excepção revolucionária. No entanto a

Constituição de 1976 foi, sem dúvida, o documento fundador da democracia

portuguesa.

O reconhecimento dos movimentos nacionalistas e o processo da descolonização O processo descolonizador

A nível interno, a “independência pura e simples” das colónias colhia o apoio da maioria dos partidos

que se legalizaram depois do 25 de Abril e também nesse sentido se orientavam os apelos das

manifestações que enchiam as ruas do país. É nesta conjuntura que o Conselho de Estado reconhece às

colónias o direito à independência. Intensificam-se, então, as negociações com os movimentos aos

quais Portugal reconhece legitimidade para representarem o povo dos respectivos territórios. No

entanto, Portugal encontrava-se num a posição muito frágil, quer para impor condições quer para fazer

respeitar os acordos. Desta forma, não foi possível assegurar, como previsto, os interesses dos

Portugueses residentes no Ultramar. Fruto de uma descolonização tardia e apressada e vítimas dos

interesses de potências estrangeiras, os territórios africanos não tiveram um destino feliz.

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