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Teste genético evita quimioterapia desnecessária em hospital de SP www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/04/teste-genetico-evita-quimioterapia-desnecessaria-em-hospital-de- sp.shtml O uso de um teste genético em um hospital público de São Paulo evitou que 69,7% mulheres com câncer de mama em estágio inicial de um grupo de 111 pacientes recebessem quimioterapia sem necessidade. Os resultados são de um estudo inédito no país feito pelo grupo Fleury e o Hospital Pérola Byington, do governo paulista, que será divulgado neste sábado (13) no congresso da Sociedade Brasileira de Mastologia. Hoje, a recomendação médica padrão é prescrever quimioterapia para todas as mulheres diagnosticadas com tumores de 1 cm ou mais por causa da dificuldade de prever se o câncer vai evoluir ou não de forma agressiva. No entanto, há uma década a literatura médica vem apontando que, com a ajuda de testes genéticos, é seguro e efetivo evitar a químio na maioria dos tumores iniciais de mama. Isso tem levado países como Reino Unido, França e Canadá a adotar esses exames em seus sistemas públicos de saúde. No ano passado, um estudo do Instituto Nacional do Câncer dos EUA com 10 mil mulheres de seis países (EUA, Austrália, Canadá, Irlanda, Zona Zelândia e Peru) chegou às mesmas conclusões do grupo brasileiro: 70% das pacientes submetidas ao teste não precisaram de químio. No Brasil, as pacientes do SUS foram submetidas ao exame genético Oncotype DX, que detalha o risco de agressividade do tumor de mama, possibilitando uma previsão sobre a resposta do câncer aos tratamentos disponíveis e uma decisão terapêutica mais adequada para cada caso. Antes do teste, 109 de 111 mulheres estudadas no Pérola Byington, com idades entre 34 e 78 anos, tinham critérios clínicos para a quimioterapia. Após o exame, apenas 33 permaneceram com a indicação. O restante recebeu hormonioterapia, um tratamento menos agressivo, e radioterapia, caso necessário. 1/4

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Page 1: Teste genético evita quimioterapia desnecessária em ......Foi o caso da dona de casa Avelina Gomes, 58, que recebeu o diagnóstico de câncer de mama em outubro de 2018. Na época,

Teste genético evita quimioterapia desnecessária em hospital deSP

www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/04/teste-genetico-evita-quimioterapia-desnecessaria-em-hospital-de-sp.shtml

O uso de um teste genético em um hospital público de São Paulo evitou que 69,7% mulherescom câncer de mama em estágio inicial de um grupo de 111 pacientes recebessemquimioterapia sem necessidade.

Os resultados são de um estudo inédito no país feito pelo grupo Fleury e o Hospital PérolaByington, do governo paulista, que será divulgado neste sábado (13) no congresso daSociedade Brasileira de Mastologia.

Hoje, a recomendação médica padrão é prescrever quimioterapia para todas as mulheresdiagnosticadas com tumores de 1 cm ou mais por causa da dificuldade de prever se o câncervai evoluir ou não de forma agressiva.

No entanto, há uma década a literatura médica vem apontando que, com a ajuda de testesgenéticos, é seguro e efetivo evitar a químio na maioria dos tumores iniciais de mama. Issotem levado países como Reino Unido, França e Canadá a adotar esses exames em seussistemas públicos de saúde.

No ano passado, um estudo do Instituto Nacional do Câncer dos EUA com 10 mil mulheresde seis países (EUA, Austrália, Canadá, Irlanda, Zona Zelândia e Peru) chegou às mesmasconclusões do grupo brasileiro: 70% das pacientes submetidas ao teste não precisaram dequímio.

No Brasil, as pacientes do SUS foram submetidas ao exame genético Oncotype DX, quedetalha o risco de agressividade do tumor de mama, possibilitando uma previsão sobre aresposta do câncer aos tratamentos disponíveis e uma decisão terapêutica mais adequadapara cada caso.

Antes do teste, 109 de 111 mulheres estudadas no Pérola Byington, com idades entre 34 e78 anos, tinham critérios clínicos para a quimioterapia. Após o exame, apenas 33permaneceram com a indicação. O restante recebeu hormonioterapia, um tratamentomenos agressivo, e radioterapia, caso necessário.

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Foi o caso da dona de casa Avelina Gomes, 58, que recebeu o diagnóstico de câncer demama em outubro de 2018. Na época, ela ouviu que, além da cirurgia, deveria passar porquímio e radioterapia.

Mas, em janeiro, após retirar parte da mama, soube que faria o teste e, dependendo doresultado, talvez não precisasse da quimioterapia.

“Tinha fé que não ia precisar. O problema nem é perder cabelo, mas ficar sem imunidadedurante o tratamento. Foi uma alegria saber que estava livre dele”, conta.

Além da hormonioterapia, ela faria a primeira das 15 sessões de radioterapia na manhãdesta sexta (12). “Depois disso, estarei zerada, se Deus quiser.”

Segundo Luiz Henrique Gebrim, diretor do hospital, a tendência é fazer com que otratamento oncológico seja específico e não generalizado, como no caso de infecções emque se oferece antibiótico para todo mundo.

“Sabemos que 30% dos casos de câncer de mama iniciais podem se agravar em dez anos.Então não dá para confiar só no exame que o patologista faz. O estudo molecular dá pistasse o câncer vai voltar ou não mesmo estando no início e sinaliza o que é melhor para opaciente usar como prevenção.”

Além de poupar pacientes de efeitos colaterais, como fadiga, náuseas e perda de cabelo,evitar a químio gera uma economia para o sistema. Se Avelina e as outras pacientes doestudo tivessem feito quimioterapia, por um período de quatro a seis meses, o custo só commedicamentos teria sido cerca de R$ 400 mil.

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“Há outros custos indiretos para essas mulheres e para o governo, como o tempo dedeslocamento até o hospital para as sessões de químio, internações, falta ao trabalho epossíveis sequelas do tratamento. Isso tem um valor muito maior do que só o remédio emsi”, diz o médico.

O grande entrave é o custo elevado do exame genético: R$ 13 mil cada um. Ele não estáaprovado no SUS e apenas algumas operadoras de saúde pagam por ele.

“A gente precisa de mais estudos econômicos para mostrar a relação de custo e efetividadepara o sistema e ver o quanto seria possível pagar por ele. Ele precisa trazer beneficio não sópara o paciente mas para o sistema financeiro do SUS.”

O Pérola Byington atende cerca de mil novos de câncer de mama por ano. A indicação para oteste seria para mulheres com tumores iniciais, de até 3 cm, o que corresponderia a umuniverso de 40% das mulheres, ou seja, 400 mulheres por ano.

Segundo Edgar Rizzatti, diretor-executivo médico e técnico do Grupo Fleury, neste primeiromomento a prioridade é a continuidade dos estudos clínicos para atestar o benefício doteste na população brasileira.

Ainda neste ano, o Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo) e a Santa Casa de SãoPaulo farão pesquisas semelhantes.

Ele afirma que questões como negociação para a redução de preços e uma adoção do testepelo SUS poderão ser discutidas futuramente.

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“Falar nisso agora seria atravessar o processo”, diz ele. O teste é desenvolvido pela norte-americana Genomic Health e distribuído pelo Grupo Fleury no Brasil.

Há outros testes genéticos com a mesma função sendo comercializados no mercado, mas,segundo Rizatti, nenhum deles foi tão bem sucedido na validação analítica e clínica em largaescala e em estudos de economia da saúde, como ocorreu no Oncotype.

“São mais de 50 mil pacientes incluídas nos mais diferentes estudos clínicos feitos em váriospaíses. Não é só um teste de diagnóstico. Ele permite a definição do melhor tratamento. Éisso que levado os sistemas de saúde a adotá-lo.”

Por uma questão estratégica de mercado, a empresa não divulga o número de testes feitosno setor privado.

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