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ANO LECTIVO 2011-2012 Português 12º ano Turma A 1ª Ficha 1º Período (outubro de 2011) Grupo I A Lê atentamente o seguinte poema: Por trás da torre o luar Faz a torre uma outra torre. A voz alegre a cantar É-me triste de a escutar, Pois sei que quem canta morre. Tenho pena de sentir Porque sentir é pensar. A torre é negra e esplendente. A lua oculta por ela É um halo de luz ausente Meu coração é dormente: Cisma sentado à janela. Tenho pena de pensar Porque quem pensa não sente. Fernando Pessoa Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas ao questionário que se segue. 1. Identifica os acontecimentos que motivam a reflexão poética. Na origem da reflexão do poeta estão dois acontecimentos: a projeção da sombra da torre, feita pelo luar, e um canto alegre que o poeta ouve “Por trás da torre o luar/ Faz a torre uma outra torre./ A voz alegre a cantar/ É -me triste de a escutar”. 2. Aponta o estado de espírito do poeta ao longo do poema. O poeta apresenta um estado de espírito marcado pela tristeza –“é-me triste de a escutar” , “Tenho pena de sentir”. O poeta apresenta-se numa atitude introspetiva e reflete sobre as suas emoções “dormentes” (“Meu coração é dormente”). 3. Comenta, tendo em conta as características da poesia pessoana, os dois últimos versos de cada estrofe. Os dois últimos versos da primeira estrofe “Tenho pena de sentir/ porque sentir é pensar” apresentam uma das tendências marcantes da poesia de Fernando Pessoa ortónimo: a transformação, pelo intelecto, das suas emoções sinceramente experimentadas e a dor associada à incapacidade de viver apenas os sentimentos. Os dois últimos versos do poema confirmam esta ideia “Tenho pena de pensar/porque quem pensa não sente”. O poeta assume, assim, a sua incapacidade de sentir apenas, sendo dominado pelo pensamento. Assim, os dois últimos versos de FORMATIVA

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ANO LECTIVO 2011-2012

Português – 12º ano – Turma A

1ª Ficha – 1º Período (outubro de 2011)

Grupo I

A

Lê atentamente o seguinte poema:

Por trás da torre o luar Faz a torre uma outra torre. A voz alegre a cantar É-me triste de a escutar, Pois sei que quem canta morre. Tenho pena de sentir Porque sentir é pensar. A torre é negra e esplendente. A lua oculta por ela É um halo de luz ausente Meu coração é dormente: Cisma sentado à janela. Tenho pena de pensar Porque quem pensa não sente. Fernando Pessoa

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas ao questionário que se segue.

1. Identifica os acontecimentos que motivam a reflexão poética. Na origem da reflexão do poeta estão dois acontecimentos: a projeção da sombra da torre, feita pelo luar, e um

canto alegre que o poeta ouve – “Por trás da torre o luar/ Faz a torre uma outra torre./ A voz alegre a cantar/ É-me

triste de a escutar”.

2. Aponta o estado de espírito do poeta ao longo do poema.

O poeta apresenta um estado de espírito marcado pela tristeza –“é-me triste de a escutar” , “Tenho pena de sentir”.

O poeta apresenta-se numa atitude introspetiva e reflete sobre as suas emoções “dormentes” (“Meu coração é

dormente”).

3. Comenta, tendo em conta as características da poesia pessoana, os dois últimos versos de cada estrofe.

Os dois últimos versos da primeira estrofe – “Tenho pena de sentir/ porque sentir é pensar” apresentam uma das

tendências marcantes da poesia de Fernando Pessoa ortónimo: a transformação, pelo intelecto, das suas emoções

sinceramente experimentadas e a dor associada à incapacidade de viver apenas os sentimentos. Os dois últimos

versos do poema confirmam esta ideia – “Tenho pena de pensar/porque quem pensa não sente”. O poeta assume,

assim, a sua incapacidade de sentir apenas, sendo dominado pelo pensamento. Assim, os dois últimos versos de

FORMATIVA

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cada estrofe funcionam quase como um refrão, reiterando a ideia da dor (“Tenho pena de sentir”, “Tenho pena de

pensar”) associada à incapacidade de experimentar as emoções sem as intelectualizar.

4. Clarifica a relação que se estabelece entre o luar e a torre, e o problema existencial do poeta. O problema existencial do poeta radica na sua constante intelectualização dos sentimentos, sentindo-se, por

conseguinte, incapaz de experimentar emoções genuínas, na medida em que processa constantemente aquilo que

sente (Cf. dois últimos versos de cada estrofe). Do mesmo modo, o luar projeta a sombra da torre, que, embora seja

próxima da torre real que lhe deu origem, não é a mesma, tal como o sentimento intelectualizado é uma sombra do

realmente experimentado que o originou. (“Por trás da torre o luar/ faz a torre uma outra torre”).

5. Analisa formalmente o poema e refere um recurso expressivo que te pareça significativo, justificando a tua opção.

O poema “Por trás da torre o luar” é constituído por duas sétimas, com o esquema rimático abaabca, havendo, por

conseguinte, rima cruzada em a, interpolada em b, emparelhada em a e verifica-se a existência de um verso solto,

assim como na 2ª estrofe (deddead). Os versos são heptassílabos, sendo esta uma marca comum da produção

poética de Fernando Pessoa ortónimo. A personificação do coração é, possivelmente, um dos recursos expressivos

mais relevantes neste poema – “Meu coração é dormente/ Cisma sentado à janela” – uma vez que traduz a

ausência de sentimentos que caracteriza o poeta.

B

Num texto de oitenta a cento e vinte palavras, expõe a tua opinião, fundamentada nas leituras efetuadas, sobre a dicotomia “sentir/ pensar” na poesia de Pessoa ortónimo.

A tensão sinceridade fingimento é possivelmente o aspeto mais marcante da poesia de Pessoa ortónimo, uma

vez que é a base de toda a sua arte poética.

É o próprio que, em “Autopsicografia”, se assume como um fingidor e introduz o conceito de poesia marcada

pelo fingimento poético. Este consiste no tratamento, processamento poético, por via do intelecto, de emoções

sinceras; assim o poeta “chega a fingir que é dor a dor que deveras sente”, afirmando também que os seus

sentimentos, não deixando de ser sinceros, são experimentados pela razão - “Eu simplesmente sinto com a

imaginação, não uso o coração”.

Assim, se confirma que a tensão sinceridade fingimento será o aspeto que melhor caracteriza a lírica de Pessoa

ortónimo.

Grupo II

1. Explica o valor do tempo verbal em “cisma sentado à janela” (V. 11) e “quem pensa não sente” (V.

14).

Em “Cisma sentado à janela” o Presente do Indicativo é utilizado para apresentar a eventualidade em curso, com

uma duração prolongada, num intervalo de tempo alargado que engloba o presente da enunciação. Em “Quem

pensa não sente” a utilização do Presente do Indicativo traduz uma generalização, i. e., todas as entidades do

mundo real que pensam não sentem, sendo, portanto, utilizado como suporte de uma asserção.

2. Identifica as cadeias de referência presentes na segunda estrofe.

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Existem duas cadeias de referência na segunda estrofe. A primeira estabelece-se entre a expressão referencial “a

torre” que funciona como antecedente anafórico para o pronome “ela”. (“A torre é negra e esplendente/ A lua oculta

por ela”). A segunda cadeia referencial estabelece-se entre a expressão referencial com valor de deíctico pessoal

“meu coração” e o Sujeito Nulo subentendido da oração “cisma sentado à janela”.

3. Clarifica a relação lexical existente entre os lexemas alegre e triste e modifica-os aplicando-lhes

um processo de derivação.

Entre os lexemas “alegre” e “triste” existe uma relação de antonímia. Sendo-lhes aplicado um processo de derivação

as palavras ficariam, por exemplo, “alegrar”, “entristecer”, “alegremente”, “tristemente”, “tristonho”, …

4. Faz corresponder aos cinco elementos da coluna A cinco elementos da coluna B, de modo a

obteres afirmações verdadeiras.

A B

a. partilham traços de significado.

b. introduz um nexo lógico de causalidade. F 1. Na oração “a torre é negra e

esplendente” (V. 8) c. é subordinada relativa restritiva.

B 2. Em “pois sei que quem canta morre” (V 5) a conjunção pois

d. é efetuada uma afirmação assertiva.

D 3. Ao enunciar-se “quem canta morre” (V. 5)

e. é efetuada uma operação de modalização do discurso pela utilização do Modo Conjuntivo.

G 4. Na oração “cisma sentado à janela” (V. 11)

f. está presente o Predicativo de Sujeito.

A 5. Os lexemas luar e luz g. encontramos um Sujeito Nulo Subentendido e um verbo intransitivo.

h. são claramente polissémicos. Grupo III

Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de duzentas e cinquenta palavras, apresente uma reflexão sobre aquilo que é afirmado no excerto a seguir transcrito, relativamente à influência da arte nas pessoas. Para fundamentar o seu ponto de vista, recorra, no mínimo, a dois argumentos, ilustrando cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo. Nós também somos «feitos» pelos livros que nos marcaram, pelos filmes que vimos e pelas músicas de que gostamos.

Manuel Gusmão, «As Palavras Fazem o Mundo», in Ler, n.º 54, 2002

Observações: 1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen. Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituem. 2. Um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial do texto produzido. Bom Trabalho!

A Professora: Adriana São Marcos