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i UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA COORDENADORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO INVESTIGAÇÃO DOS EFEITOS DOS PROCEDIMENTOS DE IMOBILIZAÇÃO EM MONOCAMADAS AUTO-ORGANIZADAS DA ENZIMA PEROXIDASE NO DESENVOLVIMENTO DE UM BIOSSENSOR” TESE DE DOUTORADO Aluna: Renata Kelly Mendes Orientador: Prof. Dr. Lauro Tatsuo Kubota Campinas, dezembro de 2006

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i

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE QUÍMICA

COORDENADORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

“INVESTIGAÇÃO DOS EFEITOS DOS PROCEDIMENTOS DE

IMOBILIZAÇÃO EM MONOCAMADAS AUTO-ORGANIZADAS DA

ENZIMA PEROXIDASE NO DESENVOLVIMENTO DE UM

BIOSSENSOR”

TESE DE DOUTORADO

Aluna: Renata Kelly Mendes

Orientador: Prof. Dr. Lauro Tatsuo Kubota

Campinas, dezembro de 2006

ii

iii

Dedico este trabalho a toda a minha família,

especialmente a meus pais Antonio e Luci pelo

amor, apoio e carinho que sempre tiveram por

mim.

iv

Ao Marcelo, pelo amor, compreensão e por

estar sempre ao meu lado e ao meu filho

Thiago por tornar meus dias mais especiais e

por me fazer acreditar que valeu a pena.

v

AGRADECIMENTOS

- Ao Prof. Lauro Tatsuo Kubota, pela orientação, apoio, competência e incentivo que

contribuíram para a realização deste trabalho.

- Aos meus irmãos César e Rita, meus cunhados Carlos e Alexandra e meus cinco

sobrinhos: Marcela, Gustavo, Guilherme, Caio e Arthur, minha sogra Vera e meu sogro

Fábio, pelo grande apoio e por estarem sempre ao meu lado.

- A Rafaela Fernanda Carvalhal, pela parceria, amizade, paciência e pelos bons dias de

diversão.

- Aos colegas de laboratório: Alexandre, Arnaldo, Diogo, Jailson, Lucilene, Reinaldo,

Maurício, Alaécio, Phabyanno, Wilney e Samanta pela boa convivência e contribuições

neste trabalho.

- Aos que já passaram pelo laboratório, mas se tornaram bons amigos: Pilar, Rosângela,

Bárbara e Jequié.

- Aos colegas do LAQQA: Alessandra, Danilo, Gilmare, Jez, Renato, Marcelo, Patrícia e

Paulo pelos momentos de alegria e diversão.

- Aos meus grandes amigos de Campinas, pela paciência, apoio e ausência algumas vezes.

- Ao Instituto de Química da UNICAMP por possibilitar a realização deste trabalho.

- Á Capes pela bolsa concedida.

- Principalmente a Deus, pela proteção, paz e saúde.

vi

Dados Curriculares Renata Kelly Mendes

1. Formação Acadêmica Graduação

Licenciatura em Química. Universidade Federal de São Carlos, UFSCAR. Início: Março de 2000 / Conclusão: Dezembro de 2002 Bacharelado em Química. Universidade Federal de São Carlos, UFSCAR. Início: Março de 1995 / Conclusão: Dezembro de 1999. Pós Graduação

Mestrado em Química Universidade Federal de São Carlos, UFSCAR. Título: Desenvolvimento e aplicação de eletrodos compósitos grafite/poliuretana. Início: Março de 2000/ Obtenção: Junho de 2002. Orientador: Éder Tadeu Gomes Cavalheiro. Bolsista da: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, FAPESP. 2. Produção Científica 2.1 Participação e Trabalhos Apresentados em Congressos 1. Efeitos da forma de imobilização da enzima peroxidase em um biossensor para determinação de peróxido de hidrogênio usando eletrodos de ouro modificados com monocamadas auto-organizadas. Mendes, R.K.; Carvalhal, R.F.; Kubota, L. T. In: XVII Congresso da Sociedade Iberoamericana de Eletroquímica, 2006, La Plata. Livro dos Anais, 2006. p. 219-219. 2. Biossensor para álcool a base de nanotubos de carbono com azul de meldola e álcool desidrogenase. Santos, A.S.; Pereira, A.C., Mendes, R.K.; Duran, N.; Kubota, L.T. XVII Congresso da Sociedade Iberoamericana de Eletroquímica, SIBAE, 2006, La Plata. Livro dos Anais, 2006. p. 218-218. 3. Determinação de hidroquinona usando um sensor a base de um catalisador biomimético à tirosinase. Carvalhal, R.F.; Sotomayor, M.P.T.; Mendes, R.K.; Freire, R.S.; Kubota, L.T. In: XVII Congresso da Sociedade Iberoamericana de Eletroquímica, SIBAE, 2006, La Plata. Livro dos Anais, 2006. p. 217-217. 4. Adsorption/Reorganization studies of self-assembled monolayers on polycrystalline gold by electrochemical reductive desorption. Carvalhal, R.F.; Mendes, R.K.; Possari, R.; Kubota, L.T., Simpósio Brasileiro de Eletroquímica e Eletroanalítica, SIBEE, 2005, Londrina. Livro de Resumos, 2005. 5. Electrochemical detection of cysteine in a flow system based on reductive desorption of thiols from gold. Carvalhal, R.F.; Mendes, R.K.; Possari, R.; Kubota, L.T., Simpósio

vii

Brasileiro de Eletroquímica e Eletroanalítica, SIBEE, 2005, Londrina. Livro de Resumos, 2005 6. A comparative electrochemical and SPR studies of different thiols self-assembled monolayers on gold. Mendes, R.K.; Carvalhal, R.F.; Kubota, L.T., Simpósio Brasileiro de Eletroquímica e Eletroanalítica, SIBEE, 2005, Londrina. Livro de Resumos, 2005. 7. Influência do pH nas Propriedades de Monocamadas Auto-Organizadas de Diferentes Ácidos Mercapto-Carboxílicos Sobre Eletrodos de Ouro. Mendes, R.K.; Reis, A.P.; Kubota, L.T., 13º Encontro Nacional de Química Analítica / 1º Congresso Ibero-Americano de Química Analítica, ENQA, 2005, Niteroi-RJ. Anais. v. 1. p. 94. 8. Comportamento eletroquímico da ftalocianina de cobre (II) tetrasulfonada imobilizada em um eletrodo de ouro modificado com monocamada auto-organizada. Mendes, R.K.; Tanaka, A.A, Gushikem, Y.; Kubota, L.T. 27 Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, SBQ, 2004, Salvador, 2004. 9. Estudo de diferentes monocamadas de ácidos mercapto-carboxílicos auto-organizadas sobre eletrodos de ouro. Mendes, R.K.; Fonseca, C.P.; Neves, S.; Freire, R.S.; Kubota, L. T 26 Sociedade Brasileira de Química, SBQ, 2003, Poços de Caldas. Livro de Resumos, 2003. 10. Estudo cinético in situ de formação de monocamadas auto-organizadas de ácidos mercapto-carboxílicos por ressonância de plasma de superfície. Mendes, R.K.; Damos, F.S.; Kubota, L.T.12a. Encontro Nacional de Química Analítica, ENQA, 2003, São Luís.Livro de Resumos. v. 1. p. EQ050. 11. Desenvolvimento de eletrodos compósitos a base de polímeros e grafite: Oliveira, A.C.; Cervini, P.; Mendes, R.K.; Cavalheiro, E.T.G. XIV Encontro Regional da Sociedade Brasileira de Química, 2003, São Carlos. Livro de Resumos, 2003. p. 17. 12. A new graphite-castor oil polyurethane composite as an electrode material and its use in Cd (II) determination in water. In: Mendes, R.K.; Claro Neto, S.; Cavalheiro, E.T.G. 12. Euroanalysis, 2002, Dortmund. 12. Euroanalysis, 2002. v. 1. p. 479 13. Avaliação do eletrodo compósito grafite/poliuretana em técnica voltamétrica de redissolução. Mendes, R.K.; Cavalheiro, E.T.G., 11 Encontro Nacional de Química Analítica, ENQA, 2001, Campinas, 2001. 14. Desenvolvimento de um novo compósito à base de grafite e resina poliuretana, para aplicações eletroanalíticas. Mendes, R.K.; Cavalheiro, E.T.G, Simpósio Brasileiro de Eletroquímica e Eletroanalíticas, 2001, Gramado. XII SIBEE, 2001. 15. Avaliação da potencialidade do uso de eletrodo compósito à base de grafite/poliuretana na determinação de cátions metálicos. Mendes, R.K.; Cavalheiro, E.T.G., XII Encontro Regional de Química da Sociedade Brasileira de Química, 2001, Araraquara. Livro de Resumos, 2001. p. 95.

viii

2.2 Trabalhos Científicos Publicados ou Submetidos 2.2.1 Trabalhos Publicados

1. MENDES, R.K.; CERVINI, P.; CAVALHEIRO, E.T.G. The use of a graphite-castor oil polyurethane composite electrode for the determination of hydroquinone in photographic. Talanta, v. 68, n. 3, p. 708-712, 2006. 2. POSSARI, R.; CARVALHAL, R.F.; MENDES, R.K.; KUBOTA, L.T. Electrochemical detection of cysteine in a flow system based on reductive desorption of thiols from gold. Analytica Chimica Acta, v. 575, p. 172-179, 2006. 3. MENDES, R.K.; FONSECA, C.P.; NEVES, S.; FREIRE, R.S.; KUBOTA, L.T. Characterization of self-assembled thiols monolayers on gold surface by electrochemical impedance spectroscopy. Journal of Brazilian Chemical Society, v. 15, n. 6, p. 849-855, 2004. 4. DAMOS, F.S.; MENDES, R.K. ; KUBOTA, L.T. Aplicações da MCQ, RPS e EIS em investigações de superfícies e interfaces para o desenvolvimento de (bio)sensores. Química Nova, v. 27, n. 6, p. 970-979, 2003. 5. MENDES, R.K.; CLARO NETO, S.; CAVALHEIRO, E.T.G. Evaluation of a new rigid carbon-castor oil polyurethane composite as an electrode material. Talanta, v. 57, n. 5, p. 909-917, 2001. 2.2.2 Artigos Aceitos para Publicação

1. DUTRA, R.F.; MENDES, R.K.; SILVA, V.L.; KUBOTA, L.T. Surface plasmon resonance immunosensor for human cardiac troponin T based on self-assembled monolayer. Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis, 2006.

ix

RESUMO

Título: “Investigação dos efeitos dos procedimentos de imobilização em monocamadas

auto-organizadas da enzima peroxidase no desenvolvimento de um biossensor”.

Autora: Renata Kelly Mendes

Orientador: Prof. Dr. Lauro Tatsuo Kubota

Palavras-chave: biossensor, monocamadas auto-organizadas, peroxidase, imobilização

enzimática e peróxido de hidrogênio

Neste trabalho foram investigados diferentes métodos de imobilização da enzima

HRP empregando como matrizes as monocamadas auto-organizadas formadas sobre

eletrodos de ouro, bem como a avaliação da influência do processo de imobilização do

elemento biológico no desempenho analítico do biossensor. Para isso, as monocamadas

utilizadas foram formadas por meio de tióis com diferentes estruturas, tamanho de suas

cadeias carbônicas e grupos terminais. Foi possível constatar que o tamanho da cadeia

carbônica de um tiol influencia especialmente no empacotamento da monocamada e,

conseqüentemente, na eficácia da imobilização das biomoléculas. Pelos estudos realizados

visando a caracterização das SAM sobre a superfície eletródica foi possível verificar que os

tióis que possuem em sua cadeia um número menor de carbonos (< 9) tendem a formar

monocamadas com uma quantidade considerável de defeitos na superfície do ouro, o que

leva a um recobrimento mais baixo. No entanto, os tióis que contém um número mais

elevado de carbonos na cadeia apresentam um grau de recobrimento mais elevado e, no

entanto, não são boas matrizes para biossensores eletroquímicos, pois podem passivar a

superfície, diminuindo a transferência de elétrons e, como conseqüência, a sensibilidade do

eletrodo. Quanto a imobilização da enzima nos eletrodos de ouro, verificou-se, por

diferentes técnicas, que as monocamadas que possuem grupo terminal –NH2 foram aquelas

que proporcionaram os melhores resultados, provavelmente devido ao uso do glutaraldeído

como ligante no processo de imobilização. Ao analisar adicionalmente o desempenho do

biossensor para a determinação de peróxido de hidrogênio, verificou-se que a SAM

formada pela cisteamina é a mais adequada para a imobilização da HRP, por propiciar tanto

uma melhor eficácia na adsorção enzima quanto uma sensibilidade mais elevada para H2O2.

x

ABSTRACT

Title: "Investigations of the effect of the immobilization procedures on self-assembled

monolayers of the peroxidase in the biosensor development ".

Author: Renata Kelly Mendes

Adviser: Prof. Dr. Lauro Tatsuo Kubota

Keywords: biosensor, self-assembled monolayers, peroxidase, enzyme immobilization and

hydrogen peroxide.

In this work different immobilization procedures of HRP were investigated using as

support m1atrices the self-assembled monolayers formed on gold electrodes, as well as the

evaluation of the influence of these immobilization processes in the biosensor performance.

For this, the used monolayers were prepared by thiols with different structures, carbon

chains size and terminal groups. It was possible to have evidence that the thiol carbon chain

size influences especially in the coverage monolayer and, consequently, in the efficiency of

the biomolecule immobilization. From the studies carried out for the SAM characterization

on the electrode surface it was possible to verify that thiols with smaller chain (n<9) trends

to form monolayers with a considerable amount of defects on gold surface, that it leads to a

lower coverage. However, the thiols with a higher carbon chain present a higher coverage

degree, are not being good matrices for electrochemical biosensors, because it can passive

the surface, making difficult the electron transfer and, consequently, the electrode

sensitivity. In relation to the enzyme immobilization on gold electrodes it was verified, for

different techniques, that monolayers that possess -NH2 terminal group provided the best

results, probably due to the use of glutharaldeyde as ligant at the immobilization process.

Analyzing the biosensor performance for the hydrogen peroxide determination was verified

that SAM formed by cysteamine is more adequate for HRP immobilization, because

provide the better efficiency in the enzyme immobilization associated to high sensitivity for

H2O2.

xi

ÍNDICE RESUMO xv

ABSTRACT xvii

ÍNDICE DE FIGURAS xxii

ÍNDICE DE TABELAS xvi

GLOSSÁRIO xxix

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO 01

1.1 Monocamadas Auto-Organizadas e Biossensores 08

1.2 Preparação das Monocamadas Auto-Organizadas 11

1.3 Adsorção de Tióis de Solução 15

1.4 Caracterização das SAM 17

1.4.1 Caracterização de Defeitos nas SAM 20

1.4.2 Métodos para a Caracterização de SAM 22

1.4.3 Aspectos Teóricos de Ressonância de Plásmon de Superfície 23

1.5 Removendo as SAM da Superfície 26

1.6 A Funcionalização de SAM 28

1.7 SAM e o Desenvolvimento de Biossensores para a Determinação de

Peróxido de Hidrogênio 32

CAPÍTULO 2 – OBJETIVOS 36

CAPÍTULO 3 – PARTE EXPERIMENTAL 37

3.1 Reagentes Utilizados 37

3.2 Materiais e Equipamentos 37

3.2.1 Medidas Voltamétricas 37

3.2.2 Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIS) 38

3.2.3 Ressonância de Plásmon de Superfície (SPR) 38

3.3 Procedimentos Experimentais 38

3.3.1 Limpeza dos Eletrodos de Ouro 38

3.3.2 Preparação das Monocamadas Auto-Organizadas 39

3.3.3 Estudo do Tempo de Imobilização da HRP em Monocamada

Auto-Organizada 40

3.3.4 Imobilização da HRP na Superfície Eletródica 41

xii

3.3.5 Estudos Voltamétricos 42

3.3.6 Estudos da Espectroscopia de Impedância Eletroquímica 43

3.3.7 Estudos de Ressonância de Plásmon de Superfície 44

3.4 Avaliação do Desempenho Analítico do Biossensor 45

3.4.1 Influência da Concentração Enzimática 45

3.4.2 Efeito do Potencial Aplicado 45

3.4.3 Influência do Tipo de Solução Tampão e pH 46

3.4.4 Estudo da Concentração do Mediador 46

3.4.5 Avaliação do Biossensor 47

3.4.6 Estudo da Repetibilidade de Medida e de Preparação dos

Biossensores 47

3.4.7 Avaliação do Efeito de Memória 47

3.4.8 Estuda Estabilidade do Biossensor 48

3.4.9 Aplicação do Biossensor em Amostras para Clareamento Dental 48

CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO 49

4.1 Caracterização das Monocamadas Auto-Organizadas 49

4.1.1 Voltametria Cíclica 50

4.1.2 Dessorção Eletroquímica 51

4.1.3 Estudos Hidrodinâmicos 57

4.2 Estudo do Tempo de Imobilização da HRP na Monocamada

Auto-Organizada 64

4.3 Avaliação da Imobilização Enzimática em SAM – Medidas

Voltamétricas 65

4.4 Avaliação da Imobilização Enzimática em SAM – Medidas de

Espectroscopia de Impedância Eletroquímica 71

4.5 Avaliação da Imobilização Enzimática em SAM – Medidas de

Ressonância de Plásmon de Superfície 73

4.6 Estudos Voltamétricos do Biossensor Au-CISTE-GLU-HRP:

Otimização e Determinação de Parâmetros 79

4.7 Determinação de Peróxido de Hidrogênio em Amostras

Odontológicas usando o biossensor Au-CISTE-GLU-HRP 90

CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES 94

xiii

CAPÍTULO 6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 97

xiv

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 Esquema de um biossensor........................................................................ 02

Figura 2 Produção científica relacionada aos diferentes transdutores usados em

biossensores de 1980 a 2006, pesquisada na base de dados do ISI®5

(Institute for Scientific Information), acessado em

13/09/2006.........................................................

03

Figura 3 Esquema dos principais métodos de imobilização do elemento biológico

em biossensores.........................................................................................

05

Figura 4 Esquema de monocamadas auto-organizadas formadas a partir de

alcanotióis adsorvidos sobre superfície de ouro........................................

10

Figura 5 Representação esquemática da disposição de uma molécula de tiol, na

qual se observa a inclinação das cadeias carbônicas perpendiculares à

superfície de ouro.......................................................................................

19

Figura 6 Ilustração esquemática de alguns dos defeitos intrínsecos ou extrínsecos

encontrados em SAM formadas em substrato de ouro policristalino. A

linha preta contínua na interface metal-enxofre indica as variações

topográficas do substrato...........................................................................

21

Figura 7 Esquema da configuração de Kretschmann baseada na reflexão total

atenuada, onde E é o campo evanescente, Kx o vetor da luz incidente e

Ksp o vetor de plasma de superfície...........................................................

24

Figura 8 Representação esquemática de um instrumento típico de SPR. Em

destaque uma curva mostrando a diferença no ângulo de incidência

quando há interação de um ligante com a camada imobilizada na

superfície, sendo (I) sem interação e (II) após interação, e uma curva de

associação, na qual há um aumento do ângulo de incidência com o

tempo..........................................................................................................

26

Figura 9 (a) Inserção de um adsorbato com um grupo funcional em regiões de

defeitos de uma SAM pré-formada e (b) transformação de uma SAM

com um grupo funcional (círculos) ou por reação química ou adsorção

de um outro material..................................................................................

29

Figura 10 Tióis utilizados na imobilização da enzima HRP...................................... 40

xv

Figura 11 Representação esquemática de um processo de associação e dissociação

de biomoléculas na superfície do sensor usando SPR. A mudança no

valor do ângulo SPR é usada para monitorar a extensão da adsorção na

superficial...................................................................................................

45

Figura 12 Voltamogramas cíclicos obtidos para os eletrodos de ouro recobertos

com diferentes SAM em solução 5 mmol L –1 de Fe(CN)63- em tampão

fosfato 0,1 mol L –1 pH 6,5, a 100 mV s-1.................................................

50

Figura 13 Voltamogramas de pulso diferencial obtidos para as diferentes SAM em

solução de KOH 0,1 mol L-1, sendo A – MPA, B – ALP, C – MBA, D –

MUA, E – CYS e F – CISTE. Potencial: 0,1 a –1,3 V. Velocidade de

varredura: 20 mV s-1 e 25 mV de amplitude de pulso...............................

53

Figura 14 Curvas de potencial-corrente obtidas com eletrodo de ouro modificado

com cisteamina, em uma solução 350 µmol L-1 de ferro/ferricianeto de

potássio em tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5, em diferentes

velocidades de rotação do eletrodo............................................................

59

Figura 15 Gráfico de Levich para várias concentrações de ferro/ferricianto de

potássio em tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5 usando o eletrodo de

ouro modificado com cisteamina...............................................................

60

Figura 16 Gráfico de Koutecky-Levich da redução do par ferro/ferricianeto de

potássio em tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5, para o eletrodo de ouro

modificado com cisteamina para várias concentrações da espécie

eletroativa..................................................................................................

61

Figura 17 IK em função da concentração do par redox em tampão fosfato 0,1 mol

L-1 pH 6,5, usando o eletrodo de ouro modificado com cisteamina para

obtenção da constante de transferência de elétrons (k).............................

62

Figura 18 Voltamogramas cíclicos obtidos para o eletrodo de ouro modificado

com a SAM após imobilização enzimática pelos métodos A, B, C e D,

apenas em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5 e após adição de

850 µmol L-1 de peróxido de hidrogênio e 25 µmol L-1 de hidroquinona.

Velocidade de varredura: 50 mV s-1..........................................................

65

xvi

Figura 19 Voltamogramas cíclicos obtidos a 50 mV s-1 para o eletrodo de ouro

modificado com CISTE SAM em solução contendo 850 µmol L-1 de

H2O2 e 25 µmol L-1 de hidroquinona em tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH

6,5. Linha preta: biossensor Au-CISTE-HRP apenas na solução tampão.

67

Figura 20 Diagramas de Nyquist obtidos para o eletrodo de ouro modificado com

a SAM antes e após imobilização enzimática. Faixa de freqüência de 10-

2 a 105 Hz, 10mV de amplitude de pulso. Potencial: 0,2 V..................

72

Figura 21 Sensorgrama obtido para o disco de ouro modificado com cisteamina e

a imobilização da enzima usando glutaraldeído........................................

74

Figura 22 Efeito da quantidade de enzima na resposta voltamétrica do biossensor

Au-CISTE-GLU-HRP em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5

contendo 85 µmol L-1 de H2O2 e 25 µmol L-1 do mediador

hidroquinona. Velocidade de varredura: 50 mV s-1..................................

79

Figura 23 Efeito do potencial aplicado na resposta amperométrica obtido para o

biossensor Au-CISTE-GLU-HRP em 85 µmol L-1 de peróxido de

hidrogênio e 25 µmol L-1 de hidroquinona em tampão fosfato 0,1 mol L-

1 pH 6,5..................................................................................................

80

Figura 24 Dependência do pH na resposta amperométrica do biossensor Au-

CISTE-GLU-HRP em solução contendo 85 µmol L-1 de peróxido de

hidrogênio e 25 µmol L-1 de hidroquinona em tampão fosfato 0,1 mol L-

1 pH 6,5. E aplicado: -50 mV (vs. ECS)................................................

82

Figura 25 Influência da concentração do mediador hidroquinona na resposta do

biossensor Au-CISTE-GLU-HRP em 85 µmol L-1 de peróxido de

hidrogênio em tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5 e potencial aplicado

de -50 mV.................................................................................................

83

Figura 26 Curva analítica típica obtida para o biossensor Au-CISTE-GLU-HRP

em diferentes concentrações de peróxido de hidrogênio e quantidade

constante de 25 µmol L-1 de hidroquinona em tampão fosfato 0,1 mol L-

1 pH 6,5. E aplicado: -50 mV (vs. ECS)....................................................

84

xvii

Figura 27 Estudo da estabilidade operacional do biossensor em solução tampão

fosfato 0,1 mol L-1 contendo 25 µmol L-1 de hidroquinona e 85 µmol L-1

de peróxido de hidrogênio. Potencial aplicado: -50 mV (vs. ECS)........

85

Figura 28 Curva referente ao tempo de vida do biossensor Au-CISTE-GLU-HRP

para análise diária em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5

contendo 25 µmol L-1 de hidroquinona e 85 µmol L-1 de peróxido de

hidrogênio. Potencial aplicado: -50 mV (vs. ECS)...................................

86

Figura 29 Resposta amperométrica do biossensor Au-CISTE-GLU-HRP.

Experimento realizado em baixa e em alta concentração de peróxido de

hidrogênio: 0,85 µmol L-1 e 85 µmol L-1, respectivamente. Potencial

aplicado de -50 mV (vs. ECS) em 0,1 mol L-1 de tampão fosfato pH 6,5

e 25 µmol L-1 de hidroquinona..................................................................

89

Figura 30 Amperograma obtido para a adição de padrão usada na determinação de

peróxido de hidrogênio em amostras odontológicas. Solução tampão 0,1

mol L-1 pH 6,5 contendo 25 µmol L-1 de hidroquinona. Potencial

aplicado: - 50 mV (vs. ECS), (n=4)...........................................................

91

xviii

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 Características relevantes dos materiais utilizados como elemento de

reconhecimento na construção de biossensores......................................

04

Tabela 2 Procedimentos de imobilização de biomoléculas na superfície de

sensores....................................................................................................

07

Tabela 3 Valores dos graus de recobrimentos do eletrodo de Au recoberto com

diferentes SAM e os respectivos potenciais de pico de dessorção..........

55

Tabela 4 Cálculo teórico da quantidade de moléculas de tiol por eletrodo............ 56

Tabela 5 Valores das constantes de transferência de elétrons obtidas para o

eletrodo limpo e após modificação com os diferentes tióis.....................

62

Tabela 6 Características do biossensor obtidas com diferentes métodos de

imobilização da peroxidase em tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5.

Potencial: 300 a -200 mV. Velocidade de varredura 50 mV s-1 (n=6)....

68

Tabela 7 Porcentagens de perda de resposta voltamétrica após 100 ciclos de

varredura para os eletrodos de ouro modificados com SAM e HRP.......

70

Tabela 8 Valores das Rct obtidas para os eletrodos modificados com diferentes

tióis e após imobilização enzimática, usando EIS. Faixa de freqüência:

10-2 a 105 Hz, 10mV de amplitude de pulso. Potencial: 0,2 V................

71

Tabela 9 Variação dos ângulos SPR para o disco de ouro modificados com

diferentes tipos de SAM para avaliação do método de imobilização da

peroxidase................................................................................................

75

Tabela 10 Quantidade de enzima imobilizada na superfície determinada usando a

técnica de SPR.........................................................................................

76

Tabela 11 Quantidade de enzima imobilizada na superfície determinada usando a

técnica de SPR......................................................................................

77

Tabela 12 Estudo da influência da natureza do eletrólito suporte na resposta

amperométrica do biossensor pH = 7,0. (n=3)........................................

81

Tabela 13 Comparação do desempenho amperométrico de biossensores a base da

enzima HRP para a determinação de peróxido de hidrogênio................

87

Tabela 14 Determinação da concentração de peróxido de hidrogênio em amostras

odontológicas, usando o biossensor proposto.........................................

92

xix

Tabela 15 Porcentagem de recuperação em diferentes amostras da solução usada

em clareamento dental obtida com o biossensor Au-CISTE-GLU-HRP

93

xx

GLOSSÁRIO

Γ Grau de recobrimento

∆j Variação da densidade de corrente

ALP Ácido lipóico

CISTE Cisteamina

CYS Cistamina

E Potencial

ECS Eletrodo de calomelano saturado

EDC Cloreto de N-(3-Dimetilaminopropil)-N'-etilcarbodiimida

EIS Espectroscopia de Impedância Eletroquímica

F Constante de Faraday

GLU Glutaraldeído

HRP Peroxidase de raiz forte

I Corrente

k Constante de transferência de elétrons

LB Langmuir-Blodgett

MBA Ácido mercaptobenzóico

MPA Ácido mercaptopropiônico

MUA Ácido mercaptoundecanóico

NHS N-Hidroxisuccinimida

QCM Microbalança de cristal de quartzo

RDE Eletrodo de disco rotatório

SAM Monocamadas auto-organizadas

SPR Ressonância de Plásmon de Superfície

VC Voltamograma cíclicos

1

CAPÍTULO 1

1. INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas as ciências analíticas têm experimentado um avanço

relacionado à capacidade de obtenção de informações químicas em diversos

sistemas, proporcionando um elevado desenvolvimento analítico, resultando na

automação, miniaturização e simplificação destes objetos em estudo (MURPHY,

2006). Neste contexto, os biossensores têm adquirido primordial importância

devido à possibilidade de avaliação de processos sintéticos ou biológicos, além do

entendimento destes processos (ZHANG et al., 2000). Desta forma, estes

dispositivos têm sido usados em diferentes áreas de aplicação, destacando-se os

vários setores da indústria, como as de alimentos, farmacêuticas e clínicas e na

agricultura, devido ao fato destes ramos de atividade necessitarem de métodos

analíticos rápidos, exatos e confiáveis na determinação das espécies de interesse.

Além disso, os biossensores possibilitam análises com monitoramento contínuo e

in vivo em tempo real, apresentando-se como substituintes potenciais das técnicas

analíticas destrutivas ou que exijam elevadas quantidades de amostras,

aumentando sua potencialidade para o uso comercial.

Segundo a IUPAC (THÉVENOT et al., 2001), os biossensores são um

subgrupo de sensores químicos que são capazes de proporcionar informação

analítica quantitativa ou semi-quantitativa, usando um elemento de

reconhecimento biológico (como enzimas, anticorpos, proteínas ou

microorganismos) em contato a transdutores (como os eletroquímicos, ópticos,

térmicos, etc), conforme apresentado na Figura 1. A descrição sistemática de um

biossensor inclui cinco características principais: (i) a espécie de interesse

analítico ou o parâmetro medido, (ii) o princípio de leitura do transdutor, (iii) o

modelo físico ou (bio)químico do sistema, (iv) a aplicação e (v) a tecnologia e

materiais para a fabricação do sensor.

2

Figura 1. Esquema de um biossensor

Dentre as partes que constituem os biossensores, o processador de sinal

eletrônico é provavelmente a parte menos dependente do tipo de sensor e é

somente uma conseqüência do rápido desenvolvimento no campo da eletrônica.

O sinal físico químico proveniente do sistema de reconhecimento biológico

é convertido em um sinal mensurável pelo transdutor. As características do

transdutor de sinal determinam o custo do instrumento, do sensor e as limitações

físicas (ROGERS, 2000). Diferentes transdutores têm sido empregados, tal como

observado na Figura 2, na qual pode ser verificado que os eletroquímicos são os

mais utilizados, seguidos pelos transdutores ópticos, cujo uso têm crescido

bastante atualmente.

3

Figura 2. Produção científica relacionada aos diferentes transdutores

usados em biossensores de 1980 a 2006, pesquisada na base de dados do ISI®

(Institute for Scientific Information), acessado em 13/09/2006.

O sistema de reconhecimento biológico transforma as informações do

domínio bioquímico, gerando sinais químicos ou físicos com sensibilidade definida.

O principal propósito deste sistema é proporcionar ao sensor um elevado grau de

seletividade para uma determinada espécie de interesse analítico. Os elementos

biológicos mais regularmente empregados são as enzimas, que podem ser

utilizadas na sua forma purificada, estarem presentes em microorganismos ou em

porções de tecido animal ou vegetal. As enzimas são catalisadores biológicos

usados em reações com um substrato específico, porém com maior reversibilidade

do complexo enzima-substrato formado. Os anticorpos são a segunda classe de

elementos biológicos mais utilizados no desenvolvimento de biossensores. Porém,

seu modo de ação é diferente daquele encontrado nas enzimas, pois eles se ligam

especificamente com o antígeno correspondente, mas, na maioria das vezes, sem

nenhum efeito catalítico. Devido a alta força da ligação que ocorre entre os

anticorpos e os antígenos, os imunossensores são capazes de proporcionar alta

sensibilidade para seus biossensores. Os ácidos nucléicos também são utilizados

como elementos de reconhecimento, mas em menor freqüência, por serem difíceis

de isolar. Eles podem operar seletivamente devido às características dos pares de

0

10

20

30

40

50

60

eletroquímico óptico piezoelétrico térmico

% de artigos

4

bases nitrogenadas. E, bem menos utilizados, existem os chamados receptores,

que são proteínas que se situam na membrana plasmática de bicamadas lipídicas

e possuem propriedades específicas de reconhecimento. Alguns materiais

abióticos são atualmente classificados como elementos de reconhecimento, pois

possuem a capacidade de mimetizar os sistemas biológicos (CUNNINGHAM,

1998). Dentre estes materiais podemos destacar os éteres de coroa e os

polímeros molecularmente impressos. As vantagens e desvantagens de cada

elemento de reconhecimento estão melhores descritas na Tabela 1.

Tabela 1. Características relevantes dos materiais utilizados como elemento de

reconhecimento na construção de biossensores (EGGINS, 1996).

Elemento de

Reconhecimento

Vantagens Desvantagens

Enzimas -formam complexos

estáveis com a espécie de

interesse

- são bastante seletivas

- possuem resposta rápida

- podem perder a atividade após

imobilização

- são estáveis por um período

relativamente curto de tempo

Anticorpos - são altamente seletivas

- são bastante sensíveis

- a ligação com o

anticorpo é muito estável

- não possuem efeito catalítico

- o imunocomplexo antígeno-

anticorpo formado é irreversível

na maioria das vezes

Ácidos Nucléicos - são bastante específicos - por gerarem baixa resposta, na

maioria das vezes, há

necessidade do uso de

marcadores

Receptores - muito utilizados em

análises específicas

- biossensores difíceis de

construir

- possuem custo muito elevado

- são difíceis de isolar

5

Para permitir o uso contínuo dos biossensores, é essencial uma

incorporação estável dos elementos de reconhecimento e esta tem sido uma

etapa crítica no desenvolvimento destes dispositivos analíticos. Isso porque os

biocomponentes, quando imobilizados, precisam reter a maior parte de sua

atividade biológica, para que o biossensor possa apresentar sensibilidade

significativa para o composto alvo. Existem várias técnicas para a imobilização das

biomoléculas, porém as mais comuns são a ligação covalente, a ligação covalente

cruzada, a oclusão em gel e a adsorção física (Figura 3). Todos esses métodos

possuem numerosas variantes e se faz necessário selecionar o método mais

apropriado para cada caso em particular, considerando-se o tipo de aplicação que

será realizada e o transdutor utilizado.

Figura 3. Esquema dos principais métodos de imobilização do elemento

biológico em biossensores.

Na adsorção, o material biológico é fixado fisicamente na superfície do

sensor por meio de forças de Van der Waals, pontes de hidrogênio ou interações

6

hidrofóbicas, apresentando a vantagem de ser extremamente simples. Entretanto,

as biomoléculas podem ser facilmente lixiviadas para a solução por fatores como

variação da força iônica, solvente e pH do meio. Em geral, este tipo de

procedimento de imobilização é raramente utilizado na construção de

biossensores, devido ao fato de proporcionar aparatos pouco sensíveis e/ou

pouco estáveis.

O método de ligação covalente proporciona uma maior estabilidade aos

biossensores e é mais amplamente utilizado. A ligação é realizada quimicamente

por meio de grupos funcionais do material biológico que não sejam essenciais a

sua atividade catalítica, sendo necessário certo conhecimento de sua estrutura,

com os grupamentos ativos do suporte, tais como –OH, -NH2, -COOH, -SH. O

ataque covalente geralmente envolve três etapas: (i) a ativação da superfície do

sensor, (ii) o acoplamento do elemento de reconhecimento e (iii) remoção das

moléculas fracamente ligadas. As condições experimentais ótimas para cada

etapa devem ser determinadas. É importante que os sítios ativos nas biomoléculas

não sejam afetados pelo processo de imobilização, para que não se perca a sua

atividade (LOJOU & BIANCO, 2006).

O procedimento de ligação covalente cruzada baseia-se na ligação cruzada

entre os grupos amino do suporte com os grupos amino das biomoléculas,

empregando-se reagente bi ou multifuncionais. Porém, apesar de ser um método

bastante simples, nem sempre é fácil controlar as condições experimentais e a

integridade do elemento biológico pode não ser totalmente conservada.

Na oclusão, o material biológico é confinado na grade de uma matriz

polimérica ou em membranas semipermeáveis, usando condições moderadas.

Neste processo uma ampla variedade de materiais pode ser avaliada e altas

concentrações de biomoléculas ativas são imobilizadas. As matrizes mais

comumente empregadas são as gelatinas, poliacrilamida, colágeno, triacetato de

celulose, alginato e outros. Teoricamente, este tipo de imobilização pode ser

aplicado a qualquer biocomposto, porém podem ocorrer problemas relacionados à

lixiviação dos elementos de reconhecimento para a solução devido aos diferentes

tamanhos dos poros dos polímeros ou membranas, além de impedimentos

7

estéricos para o substrato interagir com a biomolécula, quando os poros das

matrizes são menores que as moléculas.

Na Tabela 2 é mostrado um resumo de todos os tipos de imobilização

tratados anteriormente, apresentando-se as vantagens e desvantagens dos

métodos.

Tabela 2. Procedimentos de imobilização de biomoléculas na superfície de

sensores.

Tipo de Imobilização Vantagens Desvantagens

Adsorção

- simples

- realizados em condições

brandas

- menos destrutiva para o

material biológico

- ligações das

biomoléculas são

dependentes do pH,

solvente e temperatura

- alta taxa de lixiviação

para a solução,

comprometendo a

estabilidade do sistema

Ligação Covalente

- complexo estável

biomolécula-substrato

- lixiviação das moléculas

é minimizada

- maior sensibilidade

- procedimentos mais

laboriosos com consumo

de tempo

- possibilidade de perda

da atividade biológica do

material

Ligação Covalente

Cruzada

- procedimento simples

- forte ligação química das

biomoléculas

- dificuldade de controle

da reação

- pode ocorrer falta de

rigidez da superfície

Oclusão

- podem ser utilizados

diversos materiais

- preservação da atividade

biológica

- o efeito do tamanho dos

poros dos materiais pode

comprometer a adsorção

- perda da biomolécula por

lixiviação

8

Os procedimentos citados na Tabela 2, apesar de serem os métodos de

imobilização do elemento de reconhecimento mais amplamente empregados, são

artifícios que normalmente produzem uma superfície altamente desorganizada,

com as biomoléculas orientadas randomicamente, provocando mudanças

conformacionais que afetam a atividade funcional do componente bioativo. Assim,

somente uma pequena porcentagem das biomoléculas na superfície sensora

permanece ativa e mantém a capacidade de interagir seletivamente com as

espécies de interesse analítico (CHAKI & VIJAYAMOHANAN, 2002).

O uso de monocamadas auto-organizadas (SAM, do inglês “self-assembled

monolayer”) tem se tornado um procedimento de derivação de superfície bastante

empregado para a imobilização do material biológico (DONG & LI, 1997),

principalmente devido a sua simplicidade, versatilidade e possibilidade de produzir

estruturas altamente ordenadas.

1.1 Monocamadas Auto-Organizadas e Biossensores

O uso de monocamadas auto-organizadas tem crescido intensamente nos

últimos 20 anos, e sua aplicação mais freqüente pode ser constatada dentro da

eletroanalítica, principalmente na modificação de superfícies eletródicas para a

construção de (bio)sensores (GOODING et al., 2003). Este tipo de modificação

emprega camadas monomoleculares que exibem alta organização e que são

formadas espontaneamente como conseqüência da imersão de uma superfície

sólida em uma solução constituída de moléculas anfóteras. Enquanto que a

adsorção deste tipo de molécula é o resultado da afinidade de um grupo funcional

do adsorvente, que interage fortemente com o substrato, a força motriz para a

organização origina-se a partir de interações hidrofóbicas (do tipo Van der Waals,

por exemplo) das cadeias carbônicas ligadas ao grupo cabeça (SELLERS et al.,

1993).

Existem basicamente três abordagens por meio das quais as SAMs têm

sido desenvolvidas e aplicadas em eletroanalítica. Elas podem ser classificadas de

acordo com o mecanismo de fixação da monocamada sobre superfícies sólidas. A

mais remota delas tem sido as SAMs formadas a partir de alquilclorosilanos,

9

alquilalquoxisilanos e alquilaminosilanos que requerem superfícies hidroxiladas

como substratos para sua formação. A força que dirige para a auto organização é

a formação de polisilanos, o qual está conectado a grupos silanóis na superfície (-

SiOH) via ligação Si-O-Si (ULMAN, 1996).

A segunda técnica para a confecção de monocamadas está relacionada a

técnica de Langmuir-Blodgett (LB) na qual um filme monomolecular, em geral, é

formado sobre uma superfície de uma subfase aquosa, denominado filme de

Langmuir, e depois transferido para um substrato sólido, através da imersão e

retirada do substrato, verticalmente, da subfase. A repetição dos processos de

imersão e retirada permite deposição de camadas, que podem ser altamente

organizadas. Os materiais tradicionais empregados com a técnica LB são os

anfifílicos, com partes polares e apolares bem definidas, tais como os ácidos

graxos, álcoois, ésteres e fosfolipídios de cadeias longas (FERREIRA et al., 2005).

A produção de filmes LB de boa qualidade requer a obtenção de filmes de

Langmuir estáveis sobre a subfase aquosa, o que nem sempre é trivial,

principalmente para as macromoléculas.

A terceira categoria de monocamadas auto-organizadas tem crescido

constantemente no decorrer dos últimos anos (MENDLER & TURYAN, 1996;

GOODING & VIJAYAMOHANAN, 1999; CHAKI & VIJAYAMOHANAN, 2002) e foi

a SAM usada neste trabalho e que será melhor comentada. Este tipo de formação

de SAM envolve uma adsorção irreversível de alcanos funcionalizados sobre

superfícies metálicas, sendo que os sistemas mais comumente usados têm sido

os tióis sobre superfícies de ouro (ULMAN,1996; O´DWYER et al., 2004), devido à

estabilidade da ligação RS-Au, resultando na obtenção de uma estrutura

molecular ordenada, especificamente orientada (Figura 4). Além disso, a

capacidade do uso de tióis com diferentes grupos funcionais torna possível o

desenvolvimento de superfícies com propriedades e funções distintas, viabilizando

interações quase específicas entre a superfície eletródica e o material biológico,

com alto grau de controle sobre sua arquitetura molecular (FREIRE et al., 2003).

Essas características têm levado a um uso extensivo de eletrodos modificados

com esta última abordagem de formação de SAMs, incluindo estudos

fundamentais da interação de proteínas com superfícies metálicas, no contato

10

elétrico direto entre proteínas redox e eletrodos, bem como na fabricação de

imunossensores e biossensores enzimáticos (FERRETTI et al., 2000).

Adicionalmente, o uso de monocamadas auto-organizadas está associado a

outras vantagens, particularmente no desenvolvimento de biossensores

eletroquímicos, devido a redução observada na corrente relacionada à dupla

camada elétrica e o subsequente aumento na sensibilidade, aumentando a

reprodutibilidade e robustez destes sistemas (CHAKI & VIJAYAMOHANAN, 2002).

Figura 4. Esquema de monocamadas auto-organizadas formadas a partir

de alcanotióis adsorvidos sobre superfície de ouro.

Dentre as vantagens mais importantes do uso das SAMs para a fabricação

de (bio)sensores, podemos destacar (ALLARA, 1995):

1. As monocamadas são fáceis de serem formadas, são estáveis e formam

estruturas ordenadas;

2. As SAMs podem formar membranas que lembram ambientes celulares,

tornando-se adequadas para a imobilização de biomoléculas;

3. A versatilidade na variação do grupo terminal, através de grupos

funcionais diferentes, permite que se obtenham superfícies com características

hidrofóbicas ou hidrofílicas e ainda permitindo reações de imobilização;

4. É necessária uma quantidade mínima de biomolécula para a imobilização

na monocamada, diminuindo custos com reagentes;

5. As monocamadas apresentam razoável estabilidade por um período

longo de tempo, permitindo que sejam utilizadas para a realização de um grande

número de medidas.

Ouro

Enxofre

Cadeia carbônica

11

Porém, SAMs com características hidrofóbicas podem acumular vários

contaminantes e adsorver impurezas, bloqueando o reconhecimento dos sítios da

espécie de interesse analítico.

1.2 Preparação das Monocamadas Auto-Organizadas

A maioria dos estudos que envolvem a formação de monocamadas, desde

os primeiros relatos, está focada na adsorção de tiocompostos em substratos

planares metálicos (NUZZO & ALLARA, 1983; PORTER et al., 1987; BAIN et al.,

1989; BOUBOUR & LENNOX, 2000), devido ao fato de serem mais fáceis de

preparar e por serem compatíveis com um número grande de técnicas de análise

superficial. Estes trabalhos empregam três tipos principais de compostos para a

formação das SAM: alcanotióis (SH(CH2)nX), dialquil dissulfetos (X(CH2)mS-

S(CH2)nX) e dialquil sulfetos (X(CH2)mS(CH2)nX), onde n e m são os números de

unidades de grupos metil e X representa o grupo terminal da cadeia alquílica (-

CH3, -OH, -COOH). O processo adsortivo pode ocorrer via imersão do substrato

sólido em uma solução com as moléculas de interesse e também por meio dos

constituintes tiolados em fase gasosa em superfícies sólidas ou líquidas (no caso

do mercúrio). Porém, o processo de construção da SAM que utiliza o adsorvente

sob forma de gás pode desenvolver monocamadas nas quais o controle estrutural

é dificultado. Adicionalmente, o uso de tióis em solução é uma metodologia mais

simples e conveniente de se preparar em laboratórios sendo, portanto, a mais

amplamente empregada.

Os tióis adsorvem espontaneamente em diversos metais, porém o ouro é o

mais utilizado. Isso ocorre, pois o ouro forma monocamadas bastante estáveis e é

fácil de ser obtido (tanto na forma de filmes finos como colóides), é um metal

razoavelmente inerte (não reage com o oxigênio atmosférico), os filmes de ouro

são substratos usados em um número razoável de técnicas espectroscópicas e

analíticas e é compatível com estruturas celulares sem toxicidade (YANG et al.,

1995).

Outros materiais podem oferecer propriedades similares, mas as SAM

formadas com esses materiais têm sido menos estudadas que o ouro. A prata é o

12

metal mais encontrado na literatura em trabalhos envolvendo a formação de

monocamadas depois do ouro, porém o mesmo se oxida facilmente quando

exposto ao ar e também é tóxico para células (DOWLING et al., 2001). O cobre

possui também propriedades interessantes para a construção de SAM, mas é

mais susceptível a oxidação que a prata (LAIBINIS et al., 1991).

O paládio tem se tornado uma alternativa prática para algumas aplicações

envolvendo SAM, embora seja bem menos estudado que os metais citados

anteriormente. Seu uso é atribuído a formação de monocamadas com menores

irregularidades, devido ao fato de ser 2 ou 3 vezes menos rugoso que superfícies

de ouro, (CARVALHO et al., 2002; LOVE et al., 2002) e por sua

biocompatibilidade, podendo ser utilizado em estudos de aderência celular.

Porém, a ligação com moléculas tioladas é menos estável que com os suportes de

ouro, prejudicando a estabilidade do sistema.

Há, entretanto, um número de fatores experimentais que podem afetar a

estrutura da monocamada resultante, a reprodutibiidade e a sua taxa de formação.

Algumas aplicações das SAM exigem o aparecimento de irregularidades na

monocamada construída, porém outras requerem a otimização das condições a

fim de minimizar a formação de defeitos estruturais, principalmente em estudos de

corrosão. Os fatores principais que influenciam no desenvolvimento das SAM são:

• Solventes: etanol é o solvente mais utilizado, por dissolver uma variedade de

tiocompostos, com diferentes polaridades e tamanho das cadeias carbônicas, ser

pouco tóxico, ser de baixo custo e de pureza elevada.

Os efeitos da escolha do solvente na cinética de formação e mecanismo de

organização são complexos e pouco estudados. O parâmetro mais importante

que governa a adsorção do tiol está relacionado a interações solvente-substrato e

solvente-adsorbato. Se as moléculas tioladas possuem mais afinidade pelo

solvente que pela superfície metálica, a taxa de formação da SAM será altamente

afetada. E se o solvente possuir grande afinidade pelo substrato, pode ocorrer um

impedimento da troca das moléculas do solvente pelas do adorbato, dificultando a

adsorção do tiol.

13

Estudos sugerem que a taxa de formação de SAM a partir de alcanotióis é

mais rápida em certos solventes apolares de cadeias carbônicas curtas (heptano,

hexano) que em etanol (PETERLINZ & GEORGIADIS, 1996; DANNENERGER et

al., 1998). Os solventes com longos hidrocarbonetos apresentam forte interação

com o adsorbato em solução, dificultando o processo adsortivo do tiol. Medidas

eletroquímicas e de ângulos de contato de SAM formadas de tióis em solventes

orgânicos não polares mostram que estas monocamadas são menos organizadas

que aquelas formadas em etanol (BAIN et al., 1989; YAMADA et al., 1999).

Neste contexto, estudos dos efeitos do solvente no empacotamento das

monocamadas indicam que a escolha do solvente influencia claramente na

qualidade da SAM depositada por meio de soluções, mas permanece uma falta de

entendimento mais efetivo da relação solvente, superfície e adsorbatos durante o

processo de formação.

• Temperatura: O preparo de SAM em temperaturas superiores a 25 °C pode

melhorar a cinética de formação e reduzir o número de defeitos produzidos.

YAMADA et al. (2000) sugerem que a quantidade de vacâncias diminui

linearmente com o aumento da temperatura, mas em relação ao arranjo estrutural

as monocamadas não variaram significativamente. Porém, as SAM em altas

temperaturas (acima de 80 °C) podem dessorver da superfície metálica

(NAKAMURA et al., 2002).

• Concentração e Tempo de Imersão: Estes dois parâmetros são inversamente

proporcionais, ou seja, baixas concentrações de tióis em solução requerem

tempos maiores de imersão (BENSEBAA et al., 1997). Experimentalmente, as

SAM formadas em soluções bem diluídas, menores que 1 µmol L-1, mesmo em

tempos longos de imersão, como os de uma semana, não exibem as mesmas

propriedades físicas que aquelas formadas em soluções mais concentradas (BAIN

et al., 1989). Isto ocorre, pois a quantidade de impurezas ou outros os compostos

produzidos pela oxidação dos tióis, podem complicar o uso de soluções

extremamente diluídas para formar as monocamadas.

14

Muitos estudos empregando espectroscopia e eletroquímica sugerem que

as SAM formadas em soluções contendo 10 µmol L-1do respectivo tiol, não

mudam significativamente com o aumento do tempo de imersão acima de 18

horas. Porém outros estudos indicam que a estrutura das SAM pode continuar a

se desenvolver acima de 7 dias e implicam que a cobertura da superfície aumenta

com tempos de imersão extensos, diminuindo o número de defeitos (LI &

CROOKS, 1991).

A maioria dos trabalhos típicos encontrados na literatura para a formação

de monocamadas não utiliza tempos superiores a 12 horas, pois fornece SAM

com propriedades convenientes para várias aplicações. Entretanto, tempos de

imersão maiores podem melhorar a reprodutibilidade das SAM e aumentar a

confiabilidade, principalmente em estudos de transferência de elétrons.

• Limpeza do Substrato: este provavelmente seja o fator mais crítico para a

obtenção de SAM reprodutíveis e com minimização dos defeitos. Superfícies

contendo impurezas diminuem a adsorção dos tióis que ocorre por meio de um

processo de troca. As impurezas presentes na superfície são dessorvidas e

trocadas pelas moléculas de tiol e, conseqüentemente, esta taxa de dessorção

dos contaminantes afeta a cinética de formação das SAM. Na literatura, são

encontradas metodologias diferentes para a realização da limpeza superficial, que

variam de acordo com o tipo de substrato utilizado para a preparação das

monocamadas. CREAGER & OLSEN (1995) limparam eletrodos de ouro

policristalino com polimento em alumina e imersão por 1-2 minutos em água régia

diluída. GIZ et al. (1999) usaram a metodologia de aquecimento em chama de H2

para os eletrodos de ouro monocristalino (111) antes dos experimentos. WANG et

al. (2000) empregaram uma solução sulfocrômica para limpeza de eletrodos de

ouro, seguida de polimento em alumina e ainda uma limpeza eletroquímica

realizada em solução 0,5 mol L-1 de H2SO4 entre –1,5 e 1,8 V (vs. Eletrodo de

calomelano saturado-ECS) durante 25 ciclos. O método mais empregado para a

limpeza de superfícies eletródicas para a preparação de SAM envolve a imersão

dos eletrodos, após polimento, por alguns minutos em solução “piranha” recém

15

preparada, consistindo de 1:3 H2O2 30% - H2SO4 concentrado (CARVALHAL et

al., 2005).

A exposição prolongada das superfícies limpas às condições ambientes

pode permitir novamente a adsorção de impurezas nos eletrodos e, desta forma, a

formação das SAM deve ocorrer imediatamente após a etapa de limpeza

superficial.

1.3 Adsorção de Tióis de Solução

Estudos envolvendo a adsorção de tióis (RSH) ou seus dissulfetos análogos

(RSSR) em superfícies de ouro sugerem que as monocamadas formadas por

estas duas substâncias apresentam estruturas similares (BAIN et al, 1989;

BIEBUYCH et al., 1994). Um dos fatores que tem levado ao uso predominante dos

tióis na escolha dos reagentes para a construção de SAM é que os tióis

apresentam solubilidade mais elevada que seus respectivos dissulfetos.

Os dialquilsulfetos (RSR’) formam SAM que são similares àquelas formadas

por tióis e dissulfetos, porém com uma diminuição na estabilidade (JUNG et al.,

1998). Isto ocorre pois os sulfetos não adsorvem da mesma maneira que os outros

tiocompostos, pois existe a necessidade da quebra da lição C-S durante o

processo de formação de SAM e, adicionalmente, alguns trabalhos indicam que as

monocamadas são menos organizadas quando se utiliza sulfeto (NOH et al., 2000;

NOH et al., 2002). Entre as vantagens de se utilizar os sulfetos podemos citar que

estes são menos susceptíveis a oxidação que tióis e ainda, se possuírem estrutura

RSR’, serão convenientes para formar SAM com grupamentos R diferentes na

superfície, denominadas, neste caso, de SAM mistas.

A coadsorção de uma mistura de tióis com grupamentos R distintos (RSH +

R’SH) e a adsorção de dissulfetos assimétricos (RSSR’) são outras maneiras de

preparação de SAM mistas, que permitem uma ampla variedade de composições

estruturais. Teoricamente a fração molar de um adsorbato específico na SAM

reflete a fração molar deste adsorbato em solução, desde que as afinidades dos

compostos pela superfície sejam similares. Entretanto, o processo de organização

é um equilíbrio dinâmico que favorece a formação da SAM mais energicamente

16

estável e, neste contexto, a composição da SAM pode ser desviada da taxa inicial

de componentes estabelecido pela estequiometria dos precursores, no sentido de

favorecer um composto em relação a outro. Esta taxa de constituintes moleculares

das SAM pode ser também alterada por meio da modificação das condições

experimentais, por exemplo, pela escolha do solvente, se compostos com

polaridades distintas forem utilizados (KANG et al., 1998).

O mecanismo pelo qual as SAM são adsorvidas na superfície metálica

ainda é muito divergente, principalmente em relação a estudos cinéticos, como os

da taxa de formação. Em um dos recentes trabalhos, BAIN et al. (1989) estudaram

a cinética de adsorção de alcanotióis de cadeias longas com concentrações

variando entre 10-4 a 1 mmol L-1 em etanol, usando elipsometria e medidas de

ângulo de contato. Os autores reportaram um processo adsortivo constituído de

dois estágios. Durante os primeiros dois minutos a espessura do filme alcança de

80-90% do valor final. O processo é seguido por uma etapa mais lenta, 10-20h, na

qual ocorre a organização dos filmes com a finalidade de se obter monocamadas

mais perfeitas. SHIMAZU et al. (1992) empregaram microbalança de cristal de

quartzo (QCM) para avaliar a cinética de adsorção de ferrocenil undecanotiol 0,5

mmol L-1 em hexano e também reportaram um processo de duas etapas, sendo o

primeiro deles mais rápido, em torno de 10s, seguido por um passo mais lento que

é duas ordens de magnitude maior que o tempo inicial, no qual as moléculas

adsorvidas sofrem uma melhora no empacotamento e/ou organização. Uma

cinética de duas etapas também foi verificada por KIM et al. (1998) mas somente

para tióis de cadeia curta (menores que 10 carbonos). KARPOVICH &

BLANCHARD (1994) estudaram que a adsorção de 0,3 mmol L-1 de

octanodecanotiol em hexano em eletrodos de ouro policristalino e verificaram que

esta ocorre rapidamente, dentro de 3 a 4 s. Os autores também mostraram que a

adsorção segue uma isoterma simples de Langmuir. HU & BARD (1998)

examinaram o processo adsortivo do ácido mercaptoundecanóico em solução

alcalina e observaram duas etapas de adsorção, sendo que no primeiro passo é

alcançada uma cobertura superficial de aproximadamente 60% em um tempo de

15 min, seguido por um processo de organização mais lento que se estende a 3h.

Os autores também acreditam que o processo seja descrito segundo uma

17

isoterma de Langmuir. Entretanto, BENSEBAA et al. (1997) encontraram que o

processo adsortivo de um tiol de cadeia longa em ouro policristalino leva menos

de um minuto, até mesmo em concentrações abaixo de 5 µmol L-1. DE BONO et

al. (1996) encontraram que para uma solução 10 µmol L-1 de dodecanotiol o

processo de adsorção ocorre por 1000 s formando 50-80% da monocamada e

uma segunda etapa de organização com duração de 8 h.

Embora as discussões acima indiquem divergências quanto ao tempo de

adsorção dos tióis e organização das monocamadas, há um consenso geral de

que a formação de SAM de tióis ocorre em duas etapas, segundo um processo

adsortivo descrito pelo modelo de Langmuir: inicialmente uma quimissorção

caótica, seguida de uma etapa organizacional que é dependente do tempo.

Porém, é evidente que a duração destas etapas varia bastante entre os trabalhos,

mesmo quando a mesma técnica é utilizada, como no caso da microbalança de

quartzo.

1.4 Caracterização das SAM

As estruturas das monocamadas auto-organizadas e o mecanismo pelo

qual as mesmas se organizam ainda são objetos de estudo e a quantidade de

técnicas usadas nestas caracterizações aumentou consideravelmente desde o

primeiro relato de formação das SAM.

A extensa literatura sobre as monocamadas tem estabelecido uma idéia

consensual, embora simples, de que as SAM exibem naturalmente um alto grau

de ordem estrutural após a organização lateral sobre substratos limpos. Mas

deve-se considerar, entretanto, que as SAM são materiais dinâmicos que

possuem formas estruturais complexas, especialmente quando formadas a partir

de soluções (BADIA et al., 2000; POIRIER, 1997, YANG & LIU, 2003). As

monocamadas apresentam uma diversidade de defeitos na superfície, intrínsecos

ou extrínsecos, que a natureza termodinâmica do processo de organização muitas

vezes não consegue remover.

As monocamadas de interesse prático são formadas em uma superfície

reativa e o mecanismo envolvido na adsorção de tióis em ouro é, em princípio, o

18

mais empregado mas permanece ainda o mais enigmático. Isso porque o ouro não

forma óxido facilmente na superfície (como a prata) e a formação de SAM de tióis

é quimicamente menos complicada se a adsorção ocorrer por meio de troca ou

redução dos óxidos metálicos na superfície. Porém, o detalhamento da natureza

da ligação enxofre-metal e o arranjo espacial dos átomos de enxofre no substrato

de ouro permanecem controversos. E ainda menos conhecida é a ligação de

tiocompostos com outros metais, como paládio, cobre e mercúrio, que possuem

reatividades distintas com os adsorbatos. Sabe-se, porém, que a organização

ocorre espontaneamente e epitaxialmente, ou seja, segundo o arranjo cristalino do

metal (LOVE et al., 2005) e origina-se a partir de interações hidrofóbicas (por

exemplo, do tipo van der Waals) das cadeias carbônicas ligadas ao grupo

funcional. Os grupamentos alquílicos se encontram inclinados a um ângulo α entre

26 a 28° em relação à superfície de ouro (SCHREIBER, 2000), conforme se

observa na Figura 5. Porém, estes valores de ângulos são mais freqüentes

quando se utilizam tióis com grupo terminal –CH3 com cadeia linear (alcanos).

Estudos indicam que a variação na estrutura da cadeia e mesmo no grupo

terminal pode alterar o ângulo de inclinação para valores maiores ou menores. O

mesmo ocorre quando se modifica o metal usado para substrato, como no caso da

prata em que o α possui valor de aproximadamente 10 ° ou do mercúrio, no qual

este valor é de 0 ° (LOVE et al., 2005). Estes dados sugerem que a organização

química é uma das etapas mais influenciada pela contribuição da ligação Enxofre-

Metal e pelas interações laterais dos grupos orgânicos.

19

Figura 5. Representação esquemática da disposição de uma molécula do tiol, na

qual se observa a inclinação das cadeias carbônicas perpendiculares à superfície

de ouro.

Com relação à estabilidade termodinâmica dos tiocompostos ligados a

superfície de ouro, estudos revelam que tióis de cadeia longa são mais robustos

em suas aplicações que os adsorbatos de cadeia curta (n < 10) devido,

provavelmente, a diferença na força das interações não covalentes entre as

cadeias orgânicas (CAMPUZANO et al., 2006). A organização da camada

orgânica resulta na interação lateral máxima (van der Waals, pontes de

hidrogênio) dentro da limitação geométrica imposta pela estrutura dos tióis. A

interação cadeia-cadeia contribui~1,0 kcal mol-1 com a estabilidade da SAM para

cada grupamento metil presente na camada orgânica (FINKLEA et al., 1987). E,

dessa forma, os grupos orgânicos também restringem a densidade de cobertura:

efeitos estéricos das cadeias carbônicas podem limitar o arranjo dos átomos de

enxofre na superfície metálica.

20

1.4.1 Caracterização de Defeitos nas SAM

Devido as SAM serem formadas por uma auto-organização e por adotarem

uma estrutura termodinamicamente direcionada por meio de um processo

quimissortivo complexo, as monocamadas proporcionam, na teoria, um acesso

conveniente a uma interface altamente organizada, nas quais estruturas

moleculares podem ser variadas com a finalidade de alteração de suas

propriedades. Apesar desta elevada ordem no sistema, muitas vezes torna-se

inevitável que irregularidades sejam produzidas nas monocamadas e a

caracterização dos defeitos é de extrema importância, uma vez que os mesmos

podem prejudicar algumas aplicações que envolvam as SAM, tais como processos

de corrosão e de tunelamento de elétrons, bem como tornar possível outras

avaliações, como os estudos de transferência de elétrons e formação de

microeletrodos.

As causas para a formação de defeitos nas monocamadas podem ser

explicadas por fatores intrínsecos ou extrínsecos: fatores externos, tais como os

métodos de preparação e de limpeza do substrato, a pureza das soluções dos

adsorbatos, e por fatores resultantes do simples fato das SAM se apresentarem

como sistemas dinâmicos com comportamento complexo, neste caso com

influência principal da estrutura e tamanho das cadeias orgânicas dos

tiocompostos.

Podem ser caracterizados nas SAM basicamente os defeitos de ordem

estrutural e os sítios em colapso. A diferença entre eles é que nos defeitos

estruturais os íons do eletrólito podem alcançar a superfície eletródica, enquanto

que os íons somente se aproximam da superfície a uma distância pequena nos

sítios em colapso (DIAO et al., 2001). SUN & CROOK (1991) estudaram a

distribuição das irregularidades na SAM usando microscopia de varredura por

tunelamento (STM) e observaram que os defeitos possuíam diâmetro de cerca de

1-5 nm. Também com o emprego da STM, KIM & BARD (1992) encontraram

defeitos com diâmetros de alguns nanômetros e com profundidade de 8 Å. BECKA

& MILLER (1992) estudaram a influência dos sítios em colapso em medidas

cinéticas. Os autores avaliaram uma SAM formada pelo octanecanotiol, preparada

21

em etanol por 24 ou 48 h, e encontraram que essas monocamadas possuíam

sítios em colapso, embora resultados voltamétricos indicaram uma passivação da

superfície eletródica, concluindo que a SAM não apresentou defeitos estruturais.

Utilizando-se de octadecanotiol e espectroscopia de impedância eletroquímica,

DIAO et al. (2001) mostraram que os defeitos estruturais da SAM formada a partir

deste tiol vão diminuindo conforme se aumenta o tempo de adsorção. Em tempos

maiores que 24 h, estes defeitos praticamente desaparecem. Porém, como os

autores observaram um aumento do raio de defeitos com o passar do tempo, eles

atribuíram estes raios aos sítios em colapso, que podem ser vistos mesmo com a

monocamada com alto grau de empacotamento. A Figura 6 ilustra alguns dos

defeitos produzidos em uma superfície recoberta com monocamadas.

Figura 6. Ilustração esquemática de alguns dos defeitos intrínsecos ou extrínsecos

encontrados em SAM formadas em substrato de ouro policristalino. A linha preta

contínua na interface metal-enxofre indica as variações topográficas do substrato.

Um dos tipos de defeitos inerentes à construção da SAM em superfície de

ouro é a vacância monoatômica, ou seja, algumas regiões da SAM que possuem

um desnível das regiões vizinhas, ocasionado pela diminuição de átomos de ouro

presentes na superfície em determinados locais. A provável origem das vacâncias

é facilmente entendida se considerarmos uma superfície de ouro monocristalino

(111). A adsorção de tióis na superfície limpa induz a uma mudança na densidade

de átomos superficiais. Na relaxação da superfície, pode ocorrer um desnível ou

22

até mesmo espaços vagos dos átomos de ouro, prejudicando o desenvolvimento

da monocamada nestes pontos (LOVE et al., 2005).

1.4.2 Métodos para a Caracterização de SAM

Uma variedade de métodos experimentais tem sido usada para constatar a

qualidade e a natureza química de monocamadas, desde as técnicas

macroscópicas até técnicas mais pontuais, como a microscopia de tunelamento

com varredura (STM) e a microscopia de força atômica (AFM). Embora as

técnicas microscópicas proporcionem uma informação mais detalhada a respeito

da estrutura e ordem das monocamadas, elas não são capazes de avaliar as

propriedades dos filmes. Para estas características são mais empregadas as

medidas de Ângulo de Contato que são freqüentemente utilizadas para examinar a

hidrofilicidade ou hidrofobicidade da superfície (CASSIE, 1948); a espessura dos

filmes são comumente verificados com Elipsometria (PORTER et al., 1987); as

medidas de Espectroscopia de Fotoelétrons Excitados por Raio-X (XPS) mostram

a natureza química das SAM, como o tipo de ligação entre o enxofre e o metal e

os estados de oxidação dos átomos constituintes das SAM (NUZZO et al., 1990);

para medir as freqüências vibracionais das ligações entre as moléculas são

utilizados resultados obtidos com o auxílio da Espectroscopia de Infravermelho

com Transformada de Fourier (FTIR) (PORTER et al., 1987); para o

acompanhamento de processos cinéticos, como constantes de associação,

dissociação e taxas de adsorção dos tiocompostos, podem ser empregadas as

medidas de Ressonância de Plásmons de Superfície (SPR) (PETERLINZ &

GEORGIADIS, 1996) ou de Microbalança de Cristal de Quartzo (QCM) (PAN et

al., 1996); a combinação de SAM e eletroquímica proporcionam análises

sofisticadas dos filmes e o controle da reatividade da SAM com as espécies

presentes no eletrólito, que podem propiciar informações relativas ao grau de

cobertura, as taxas de transferência de elétrons, a capacitância e resistência do

sistema, sendo que para a medida destes últimos parâmetros, normalmente se

emprega a Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIS).

23

Para a caracterização das monocamadas auto-organizadas estudadas

neste trabalho foram utilizadas as técnicas eletroquímicas (voltametria cíclica,

amperometria, impedância) e a SPR. Como as técnicas eletroquímicas já estão

bem consolidadas na literatura, optou-se por fornecer uma explicação mais

detalhada a respeito da Ressonância de Plásmons de Superfície, devido a sua

relativa novidade na avaliação das SAM.

1.4.3 Aspectos Teóricos da Ressonância de Plásmon de Superfície

O plásmon de superfície (SP) é uma onda eletromagnética longitudinal que

se propaga na interface entre dois meios contendo constantes dielétricas distintas,

como um metal e um dielétrico. Os plásmons de superfície são criados quando a

energia da luz p-polarizada provoca uma oscilação na densidade de elétrons livres

presentes no filme metálico e, desta forma, a escolha do metal é um fator crítico,

pois o mesmo deve exibir um comportamento de elétrons livres. O metal mais

utilizado é o ouro, porém outros metais também podem ser usados como a prata,

o cobre e o alumínio. Os SPs possuem intensidade máxima na interface e decaem

exponencialmente conforme se distanciam da interface (LIEDBERG et al., 1993)).

Para excitação do plásmon de superfície, diferentes sistemas foram

desenvolvidos como as configurações por grades de difração e de Kretschmann. A

configuração baseada na reflectância total atenuada, desenvolvida por

Kretschmann, é a mais utilizada na maior parte dos instrumentos de SPR, pois

geralmente apresentam maior sensibilidade e resolução em relação à outra

configuração (SAMBLES et al., 1991).

Nos sistemas que operam na configuração Kretschmann, quando um feixe

de luz monocromático se propaga em um meio óptico denso, como o prisma, e

alcança uma interface entre este meio e um meio de densidade óptica menor, por

exemplo o ar, a luz é totalmente refletida na interface e propaga de volta ao meio

contendo uma densidade óptica maior. Embora o feixe de luz seja completamente

refletido, uma fração da onda incidente penetra no meio menos denso e se

estende até o ambiente gerando uma onda evanescente. Se o prisma é recoberto

com uma camada de um condutor adequado, como um metal, com uma

24

espessura adequada, o componente p-polarizado do campo evanescente pode

penetrar na camada metálica e excitar as ondas eletromagnéticas de plasma de

superfície (HOMOLA et al., 1999), como apresentado na Figura 7.

Figura 7. Esquema da configuração de Kretschmann baseada na reflexão

total atenuada, onde E é o campo evanescente, Kx o vetor da luz incidente e Ksp o

vetor de plasma de superfície.

Em um determinado ângulo de incidência do feixe de luz, quando a

constante de propagação da onda de SP é igual ao vetor da luz incidente (Ksp=Kx),

ocorre o acoplamento dos elétrons oscilantes do filme metálico promovendo a

excitação ressonante do plasma de superfície. Como conseqüência, ocorre uma

perda da energia da luz incidente para o filme metálico, resultando na diminuição

da intensidade da luz refletida.

Sabendo-se que o vetor da luz incidente é dado por:

Kx= θsengon

c

W (1)

onde Wo é a frequência da luz incidente, c é a velocidade da luz no vácuo, ng é o

índice de refração do meio denso (prisma) e θ é o ângulo de incidência de luz, e

25

que o vetor de onda de plasma de superfície está relacionado com a equação a

seguir:

Ksp=

2/1

2sm

2smo

n

n

c

W

ε (2)

onde, εm é a constante dielétrica do filme metálico e ns é o índice de refração do

meio dielétrico, então, quando Ksp=Kx, tem-se:

senθ=g

2/1

2sm

2sm

n

1

n

n

ε (3)

O vetor de onda de SP está diretamente relacionado ao índice de refração

do meio sobre o filme metálico. Se este meio sofre alguma alteração, pela

adsorção de uma camada, por exemplo protéica, uma mudança no ângulo de

incidência é requerida para que a excitação ressonante do plasma de superfície

ocorra (CARVALHO et al., 2003). Desta forma, é possível aplicar o fenômeno da

ressonância de plasma de superfície ao monitoramento de alterações na

superfície, mediante um acompanhamento da reflectividade da luz incidente ou do

ângulo de ressonância pelo tempo. Neste contexto, é possível obter informações

sobre a velocidade e extensão da adsorção possibilitando determinação de

propriedades dielétricas, constantes cinéticas, como as de associação e

dissociação, bem como as constantes de afinidade em interações específicas

(JUNG et al., 1996).

Uma configuração esquemática de um instrumento típico de SPR é

apresentada na Figura 8. A superfície, neste caso, foi modificada para monitorar

os processos de adsorção/interação.

26

Figura 8. Representação esquemática de um instrumento típico de SPR.

Em destaque uma curva mostrando a diferença no ângulo de incidência quando

há interação de um ligante com a camada imobilizada na superfície, sendo (I) sem

interação e (II) após interação, e uma curva de associação, na qual há um

aumento do ângulo de incidência com o tempo.

1.5 Removendo as SAM da Superfície

Há diferentes técnicas para remover monocamadas da superfície de ouro,

prata e outros substratos. A dessorção térmica (LOVE et al., 2005) é a mais

conveniente para a remoção de SAM de monocristais usando UHV (ultra vácuo).

O polimento, visto que as monocamadas são mecanicamente frágeis, e o

tratamento com oxidantes ou redutores químicos, tais como ácido ou bases

concentrados e solução “piranha”, são procedimentos efetivos na limpeza

superficial (CARVALHAL et al., 2005) bem como de suspensão de nanopartículas,

como os colóides (LOVE et al., 2005). Porém, existem três metodologias que têm

sido amplamente utilizadas para a remoção das monocamadas e, dessa forma,

usadas também em estudos de caracterização de SAM. São elas:

• Dessorção Eletroquímica: os tióis sofrem dessorção redutiva quando

potenciais mais negativos são aplicados em eletrodos metálicos (WIDRIG et al.,

1991; FINKLEA, 1996; IMABAYASHI et al., 1997). Para que ocorra a dessorção

27

eletroquímica, as superfícies recobertas são imersas em solução aquosa ou

etanólica (pH neutro ou básico) (MUNAKATA et al., 2004). O processo dessortivo

de tióis dos substratos pode ser explicado pela seguinte reação:

RS-M + é RS- + M0

Tanto o tiolato como a superfície metálica se tornam solvatados, o que faz

com que o tiolato de difunda para longe da superfície. O processo é reversível, ou

seja, pode ocorrer a readsorção dos tióis nos metais em potenciais mais positivos.

Os estudos do mecanismo deste processo sugerem que a dessorção ocorre

primeiramente nas regiões de defeitos das SAM para prosseguir para regiões

melhores organizadas e mais empacotadas (MULDER et al., 2001). O potencial no

qual ocorre a dessorção dos tióis depende de vários fatores, incluindo o tamanho

da cadeia, o grau de organização da SAM, a força das interações intermoleculares

no filme orgânico e a cristalinidade dos substratos (KAWAGUCHI et al., 2000).

Um potencial típico de dessorção para alcanotióis encontrado na literatura

é de –1,0 V (vs. Eletrodo de Calomelano Saturado - ECS), mas este valor pode

variar em torno de ± 0,25 V conforme se altera a estrutura da cadeia carbônica.

Com esta variação dos potenciais de dessorção com a mudança do tiol, se torna

possível dessorver um componente de uma SAM mista seletivamente pelo

controle do potencial aplicado (IMABAYASHI et al., 1997).

• Deslocamento de SAM por Troca: as moléculas que constituem uma SAM,

quando expostas a soluções contendo outros tióis ou dissulfetos, trocam de

posições gradualmente, num período que pode levar de minutos a horas. Esta

reação de troca geralmente não produz uma monocamada homogênea ou

uniforme e também não retorna a superfície ao seu estado de limpeza inicial.

Porém, a metodologia pode proporcionar uma rota alternativa para gerar uma

nova superfície orgânica em um substrato já recoberto com uma SAM.

Estas trocas ocorrem mais rapidamente em regiões de defeitos ou

desordens nas SAM, similarmente à metodologia de dessorção eletroquímica. A

troca de moléculas presentes em regiões de maior empacotamento é mais lenta,

28

podendo levar até alguns dias (CHIDSEY et al., 1990; COLLARD & FOX, 1991;

YANG et al., 2004).

Para alcanotióis é via de regra afirmar que os de cadeias menores realizam

este processo de troca mais rapidamente que os tióis de cadeias mais longa

(LOVE et al., 2002). Esta característica torna possível a troca de um dos

componentes de uma SAM mista de forma seletiva.

• Fotooxidação de SAM: As monocamadas de tióis formadas em superfícies de

ouro sofrem oxidação quando expostas a irradiação ultravioleta (UV) (HUANG &

HEMMINGER, 1993). Os grupos tióis são convertidos a sulfatos e a SAM

oxidada é facilmente “lavada” da superfície usando solventes polares como água

ou etanol. O mecanismo deste processo ainda não é completamente entendido.

Alguns autores sugerem que a espécie responsável pelo processo de oxidação é

o ozônio produzido pela fotólise de O2 pelo UV (NORROD & ROWLEN, 1998;

ZHANG et al., 1999). Porém, sabe-se que a taxa de oxidação diminui conforme o

aumento do número de carbonos no alcanotiol que forma a SAM (LAIBINIS &

WHITESIDES, 1992).

1.6 A Funcionalização de SAM

As monocamadas formadas por alcanotióis possibilitam gerar superfícies

orgânicas que apresentam uma ampla variedade de grupos funcionais (polares,

apolares, eletroativos, biologicamente ativos). Existem três estratégias para a

composição de superfícies a partir de SAM: (1) por meio da síntese de tióis

funcionalizados e posterior adsorção em superfícies metálicas (BAIN &

WHITESIDES, 1988; BAIN & WHITESIDES, 1989); (2) inserção de tióis

funcionalizados nas regiões de defeitos de uma SAM pré-formada (LEWIS et al.,

2001) (Figura 9a) e (3) modificação da composição da superfície (Figura 9b).

Tanto as reações covalentes como as interações não covalentes (forças de Van

der Waals, pontes de hidrogênio) podem gerar interfaces novas para as SAM.

29

Figura 9. (a) Inserção de um adsorbato com um grupo funcional em regiões

de defeitos de uma SAM pré-formada e (b) transformação de uma SAM com um

grupo funcional (círculos) ou por reação química ou adsorção de um outro

material.

Os grupos funcionais mais comumente estudados são –CH3, –COOH, -OH

e –NH2, devido as suas propriedades relevantes para a ciência de materiais como

a resistência à corrosão (JENNINGS et al., 2003), adesão (HOUSTON & KIM,

2002), fricção (LEGGET, 2003). O método para a modificação de SAM utilizando-

se a síntese de tióis funcionalizados é usualmente laborioso, mesmo para

moléculas simples, como alcanotióis de cadeia normal. No entanto, a modificação

de SAM após a sua formação oferece algumas vantagens, tais como: (1) emprega

procedimentos sintéticos comuns e, dessa forma, simplifica a preparação das

superfícies funcionalizadas; (2) podem gerar SAM com diferentes grupos terminais

em um curto período de tempo; (3) preserva a organização estrutural da

monocamada e (4) requer uma menor quantidade de ligante para a modificação

(<1014 moléculas), fato que minimiza os custos para uma possível aplicação deste

tipo de monocamada, principalmente se for de ordem biológica.

30

Há uma grande variedade de classes diferentes de reações orgânicas que

têm sido empregadas para a modificação do grupo terminal das SAM, incluindo as

substituições nucleofílicas, esterificação, acilação e adição nucleofílica.

Uma maneira bastante simples de se modificar os grupos terminais

presentes nas monocamadas é realizando a sua imersão em uma solução

contendo os ligantes apropriados, sob condições reacionais adequadas, que

podem, dessa forma, reagir diretamente com as moléculas presentes em solução.

Muitas técnicas de imobilização de biomoléculas (DNA, polipeptídeos, proteínas)

têm se utilizado das ligações diretas nas monocamadas para a modificação de

superfícies (SONG et al., 2006)

Um outro procedimento empregado na funcionalização de superfícies à

base de SAM é formar um intermediário reativo, o qual é posteriormente acoplado

ao ligante. A principal vantagem desta estratégia é que o intermediário formado

pode reagir com uma variedade maior de ligantes e, por isso, tem sido uma das

mais utilizadas para a construção de sensores.

As reações que envolvem os grupos terminais funcionais das

monocamadas são fortemente influenciadas pela estrutura da SAM e outros

fatores como distância entre os grupos funcionais da interface entre a SAM e a

solução que contém os ligantes, os efeitos estéricos laterais, a organização das

cadeias (empacotamento, grau de desordem), a densidade e a orientação dos

grupos funcionalizados na superfície. Dordi et al. (2003) verificaram que a hidrólise

alcalina de grupos terminais éster hidroxisuccimida em SAM ocorre mais

rapidamente em monocamadas com cadeia carbônica menor (C10) que em

cadeias maiores (C16), e que ambas as reações são mais lentas que a hidrólise

dos tíóis precursores em solução.

A reação dos grupos funcionais terminais é uma estratégia muito

conveniente para a preparação das monocamadas para posteriores aplicações.

Muitas vezes, ao invés de se sintetizar novos tióis, é possível simplesmente a

modificação da sua estrutura final de tióis já imobilizados, o que pode diminuir

custos e aumentar o potencial de uso das SAM (SULLIVAN & HUCK, 2003).

As aplicações das monocamadas formadas a partir de tióis estão

intimamente ligadas às suas características hidrofóbicas ou hidrofílicas, ou até à

31

sua facilidade de carregar positiva ou negativamente a superfície, características

estas que são atingidas, principalmente, por meio de seus grupos terminais.

As monocamadas formadas por alcanotióis são mais utilizadas em

aplicações envolvendo estudos de molhabilidade (WHITESIDES & LAIBINIS,

1990; COLORADO & LEE, 2003), corrosão (JENNINGS et al., 2003), fenômenos

de interface (SUBRAMANIAN & LAKSHMINARAYANAN, 2000), adesão celular.

As monocamadas contendo grupos terminais –NH2, –COOH e –OH são mais

utilizadas em estudos de transferência de elétrons (MENDES et al., 2004), catálise

(FREIRE & KUBOTA, 2004), interações biológicas (MANSUY-SCHLICK et al.,

2006), imobilização/adsorção de proteínas (SMITH et al., 2004) e, principalmente,

no desenvolvimento de (bio)sensores (FREIRE et al., 2003), sendo esta última a

aplicação mais utilizada com as monocamadas auto-organizadas atualmente. No

caso dos biossensores, como discutido anteriormente, as SAM são usadas como

matrizes para a imobilização das biomolécula.

Vários métodos de imobilização para acoplar biomoléculas a superfícies de

eletrodos modificados com SAMs são empregados , dentre elas:

1. Ligação covalente entre os elementos biológicos e a superfície contendo

monocamadas com grupos terminais livres tais como aminas, através da formação

de uma ligação direta da biomolécula com a amina ou ligação cruzada da enzima

com a superfície da monocamada usando um reagente bifuncional. Se o grupo

funcional da SAM tiver um grupo ácido livre (-COOH), normalmente utiliza-se

carbodiimida para tornar possível a ligação;

2. Ligação não covalente entre a monocamada e os biocomponentes via

interação hidrofóbica, hidrofílica ou eletrostática, sendo que neste último caso

sofre influência do pH do meio;

3. Através da afinidade da interação entre o receptor e o reconhecedor,

como o que ocorre quando se utiliza o par antígeno-anticorpo, sendo o sistema

mais utilizado o do biotina-avidina neste tipo de imobilização, sendo que as

enzimas as mais utilizadas.

32

1.7 SAM e o Desenvolvimento de Biossensores para a

Determinação de Peróxido de Hidrogênio

O peróxido de hidrogênio é uma substância importante nas áreas

envolvidas com alimentos (SCHRECK et al., 1996), medicamentos (WANG et al.,

1993; CORVELEYN et al., 1997; CAMPANELLA et al., 1998), monitoramento de

processos (WESTBROEK et al., 1996), dentre outras. Está presente em inúmeras

reações biológicas como principal produto de várias oxidases (GORTON et al.,

1991), e é um parâmetro relevante na quantificação destes bio-processos

(GORTON et al., 1991).

O H2O2 pode ser determinado por volumetria (DIDENKO & PUGACH, 1994;

KLASSEN et al., 1994), espectrofotometria (MATSUBARA et al., 1992; VIEIRA &

FATIBELLO-FILHO, 1998), fluorimetria (HOLM et al., 1987; SAKURAGAWA et al.,

1998), quimiluminescência (QIN et al., 1998; NAVAS), cromatografia

(PINKERNELL et al., 1997; HONG et al., 1998) e por métodos eletroquímicos (LIU

et al., 1995; ZHANG et al., 1999). Com exceção dos métodos eletroquímicos, os

outros métodos citados são vulneráveis a espécies interferentes, apresentando

morosidade no tocante ao preparo de amostra e geralmente requerem o uso de

reagentes de preços elevados. As propostas que utilizam as técnicas

eletroquímicas demonstram, por outro lado, boas seletividade e sensibilidade

(limite de detecção da ordem de 1 µmol L-1), amplo intervalo de determinação e

rápida resposta do eletrodo. Normalmente, o princípio da detecção de H2O2 é pela

oxidação direta em eletrodos de platina ou carbono (MOODY et al., 1986),

entretanto devido a elevados valores de potencial (em torno de 300 a 600 mV vs.

Ag/AgCl) aplicados nos eletrodos de trabalho, estes sensores também se tornam

susceptíveis a outras espécies eletroativas. Para solucionar este problema,

diversos procedimentos de modificações químicas nas superfícies dos eletrodos

têm sido pesquisados (PEREIRA et al., 2002), principalmente aqueles

relacionados à construção de biossensores.

A peroxidase de raiz forte (HRP, do inglês horseradish peroxidase) é o

material biológico mais amplamente utilizado no desenvolvimento de sensores

eletroquímicos enzimáticos para a detecção de peróxido de hidrogênio, devido

33

principalmente a sua alta estabilidade e resistência a um intervalo grande de pH

(RUZGAS et al., 1996). Suas propriedades catalíticas, estruturais e eletroquímicas

foram recentemente revisadas, demonstrando a sua importância e adequação

para as mais diversas matrizes (DEQUAIRE et al., 2002; LIMOGES et al., 2003).

Alguns trabalhos interessantes foram publicados na literatura recentemente,

envolvendo o desenvolvimento de novos biossensores para a determinação de

H2O2 via reação catalítica com a HRP, como o de Santos et al. (2005) que

utilizaram um eletrodo de pasta de carbono contendo sílica gel modificada, a

enzima e diferentes tipos de mediadores . Os autores verificaram que a melhor

resposta foi encontrada usando o azul de metileno como mediador, obtendo-se

uma faixa linear de 1 a 700 µmol L-1 e um limite de detecção em torno de 0,5 µmol

L-1. Com o uso de eletrodos de carbono vítreo, YAO et al. (2005) construíram um

biossensor usando HRP imobilizada em uma matriz de gelatina e azul de metileno

como mediador. Os autores conseguiram uma imobilização enzimática eficiente,

pois o eletrodo apresentou estabilidade por 3 meses, em uma faixa de trabalho de

10 a 1200 µmol L-1 e um limite de detecção de 4 µmol L-1. Um outro tipo de

modificação da superfície de eletrodos de carbono vítreo para a determinação de

H2O2 foi realizado por TANG et al. (2003) utilizando camadas lipídicas para a

imobilização da enzima HRP. Os autores atingiram uma transferência de elétrons

direta entre a enzima e a superfície eletródica, porém foi verificada uma baixa

estabilidade do biossensor, com perda de resposta pela lixiviação do elemento de

reconhecimento em apenas uma semana.

Com a finalidade de preparar eletrodos com maiores estabilidade e

sensibilidade, até mesmo para análises em fluxo, tem sido freqüentemente

utilizada a modificação da superfície de ouro por monocamadas auto-organizadas.

CAMPUZANO et al. (2005) desenvolveram um biossensor amperométrico para a

determinação de peróxido de hidrogênio em amostras de leite e tintura de cabelo

sob fluxo contínuo. O dispositivo baseou-se na imobilização da enzima HRP e do

mediador tetratiofulvaleno em SAM formada pelo ácido mercaptopropiônico por

meio de ligação cruzada com glutaraldeído. A faixa linear encontrada com o

biossensor foi de 20 a 100 µmol L-1, com um limite de detecção de 0,7 µmol L-1 e

uma perda de 20% de sua resposta original após 17 dias de uso. Para preparar

34

biossensores de terceira geração para a determinação de H2O2, SONG et al.

(2006) utilizaram um eletrodo de ouro modificado com SAM para a imobilização,

por interações eletrostáticas, de DNA que, posteriormente, serviu como matriz

para a adsorção da enzima HRP. Embora o efeito positivo do DNA não tenha sido

esclarecido, o eletrodo apresentou faixa linear de 10 a 9700 µmol L-1, com um

limite de detecção de 0,5 µmol L-1.

Atualmente, com relação a construção de biossensores para a

determinação de H2O2, a maior aplicação das monocamadas auto-organizadas

têm sido a sua utilização como matrizes para a adsorção de nanopartículas de

metais. Liu et al. (2005) modificaram eletrodos de ouro com monocamadas de

cistamina que, após reação com glutaraldéido, serviram como matrizes para a

imobilização de dendrímeros com grupos funcionais -NH2. Com a ajuda dos

grupos terminais básicos, as nanopartículas de ouro foram adsorvidas e, sobre

estes, as enzimas HRP. O biossensor apresentou uma faixa linear entre 10 a 2500

µmol L-1 e um limite de detecção de 2 µmol L-1. Além disso, a análise em amostras

reais indicou uma boa exatidão com o método clássico de titulação.

Utilizando-se eletrodos de ouro modificados com SAM de cisteamina, Li et

al. (2004) adsorveram nanopartículas de ouro, nas quais a enzima HRP foi

imobilizada. A faixa de trabalho obtida para o biossensor em solução de peróxido

de hidrogênio foi de 0,3 a 2000 µmol L-1, com limite de detecção de 0,1 µmol L-1.

Um sensor para peróxido de hidrogênio baseado na adsorção eletrostática

de nanopartículas de prata sobre superfícies de ouro modificadas com cisteamina

foi desenvolvido por REN et al. (2005) para a imobilização da enzima HRP. O

eletrodo apresentou resposta linear de 3,3 a 9400 µmol L-1, com limite de detecção

de 0,8 µmol L-1. Apesar da boa sensibilidade do dispositivo, os autores não

relatam experimentos quanto a estabilidade, que seria bastante importante uma

vez que a adsorção das nanopartículas e da HRP foram realizadas fisicamente.

Apesar do elevado número de trabalhos envolvendo a formação de

monocamadas auto-organizadas como matrizes para a imobilização da enzima

HRP, nenhum deles estudou a dependência da estrutura do tiol utilizado na

resposta analítica do biossensor obtido. E, como já foi discutido anteriormente,

quando se varia o tiol empregado no desenvolvimento das SAM, modificam-se

35

também as propriedades da superfície que, certamente, causará influência na taxa

de imobilização enzimática, que é uma etapa crítica na avaliação da sensibilidade

do eletrodo para determinada espécie.

36

CAPÍTULO 2

2. OBJETIVOS

Este trabalho teve como objetivo investigar diferentes métodos de

imobilização da enzima HRP, empregando como suportes as monocamadas auto-

organizadas formadas sobre superfícies de ouro policristalino e verificar a

influência da imobilização no desempenho do biossensor. Para esta finalidade,

foram utilizados diferentes tipos de SAM que variaram na estrutura do tiol, no

tamanho de sua cadeia carbônica e no grupo terminal que se ligará a enzima.

Como objetivos específicos deste projeto, podemos destacar:

A caracterização das monocamadas auto-organizadas formadas,

principalmente quanto ao seu grau de recobrimento sobre a superfície

eletródica e a formação de defeitos;.

A otimização do processo de imobilização enzimática por meio da avaliação

da sensibilidade dos biossensores e da quantidade de elemento de

reconhecimento adsorvido à superfície;

A investigação das melhores condições de pH, concentrações da enzima e

mediador, potencial aplicado e tipo de solução tampão empregada, visando

o aumento do desempenho analítico do biossensor;

A utilização do biossensor proposto na determinação de peróxido de

hidrogênio em amostras comerciais.

37

CAPÍTULO 3

3. PARTE EXPERIMENTAL

3.1 Reagentes Utilizados

O Glutaraldeído 25% (m/v), Horseradish Peroxidase (HRP) (EC 1.11.1.7)

148 U/mg liofilizada, Cloreto de N-(3-Dimetilaminopropil)-N'-etilcarbodiimida

(EDC), Ácido mercaptoundecanóico, Ácido mercaptobenzóico e Cloreto de 2-

Aminoetanotiol (Cisteamina) foram obtidos da Aldrich (EUA). Ácido Lipóico,

Cistamina e 3-Ácido mercaptopropiônico foram adquiridos pela Sigma (EUA). A

Hidroquinona utilizada é da marca Merck-Schuchardt (Alemanha). Peróxido de

hidrogênio 30% (m/v), KOH e Etanol (99.5%) são da Synth (Brasil). K3[Fe(CN)6] foi

adquirido pela J.T. Baker (EUA) . N-Hidroxisuccinimida (NHS) é da marca Fluka

(Suíca). Todos os outros reagentes químicos utilizados foram de grau analítico. A

solução tampão fosfato que foi utilizada como eletrólito suporte foi obtida pela

mistura das soluções de 0,1 mol L-1 de Na2HPO4 e 0,1 mol L-1 de NaH2PO4. Todas

as soluções foram preparadas com água deionizada (> 18 MΩ cm, Milli-Q).

3.2 Materiais e Equipamentos

3.2.1 Medidas Voltamétricas

Os experimentos voltamétricos foram realizados em um Potenciostato

GPSTAT 10 da AUTOLAB (Eco Chemie), acoplado a um microcomputador e

controlado pelo software GPES 4.9. Para as medidas hidrodinâmicas, foram

acoplados ao potenciostato um controlador de rotações e um eletrodo de disco

rotatório (RDE), ambos da Methrom. Para tais experimentos, utilizou-se uma

célula eletroquímica de três eletrodos, contendo um eletrodo de ouro da Methrom,

com 0,07 cm2 de área geométrica, como o de trabalho, um contra-eletrodo de

38

platina e o eletrodo de calomelano saturado (ECS) como referência. As medidas

foram realizadas na temperatura ambiente e sem deaeração.

3.2.2 Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIS)

Os experimentos envolvendo a técnica de EIS foram realizados em um

Potenciostato GPSTAT 30 da AUTOLAB (Eco Chemie), acoplado a um

microcomputador e controlado pelo software FRA. Para tais experimentos, utilizou-

se também uma célula eletroquímica de três eletrodos, contendo um eletrodo de

ouro da Methrom, com 0,07 cm2 de área geométrica, como o de trabalho, um

contra-eletrodo de platina e o eletrodo de calomelano saturado (ECS) como

referência. As medidas foram realizadas na temperatura ambiente e sem

deaeração.

3.2.3 Ressonância de Plásmon de Superfície (SPR)

As medidas ópticas do ângulo de ressonância de plásmon de superfície

foram realizadas em um equipamento ESPRIT da AUTOLAB (Eco Chemie) de

duplo canal e monitoramento contínuo do sinal. O equipamento possui como fonte

de luz um laser com comprimento de onda de 670 nm. Os discos de ouro

utilizados foram obtidos pela Xantec e possuem 50 nm de espessura de ouro.

3.3 Procedimentos Experimentais

3.3.1 Limpeza dos Eletrodos de Ouro

A limpeza da superfície de ouro é uma etapa de grande influência na

formação das monocamadas auto-organizadas e deve ser realizada de forma

sistemática. O pré-tratamento dos eletrodos consistiu de um polimento em politriz,

usando alumina 0,5 µm, até que suas superfícies apresentassem um aspecto

espelhado e, então, foram sonicados em etanol por 5 min. Após a limpeza

39

mecânica, as superfícies metálicas sofreram tratamento químico, com a imersão

dos eletrodos em uma solução piranha (1:3 H2O2 – H2SO4 conc.) a quente por

mais 10 min. Finalmente, após lavagem com água, os eletrodos de ouro foram

limpos eletroquimicamente em solução de H2SO4 0,5 mol L-1, variando o potencial

entre 0,1 a 1,4 V (vs. Eletrodo de Calomelano Saturado – ECS) durante 25 ciclos.

O voltamograma cíclico final foi comparado com aquele reportado por

CARVALHAL et al. (2005), para a confirmação da eficiência da limpeza superficial.

Após intensa lavagem dos eletrodos com água deionizada, foram submetidos a

formação das SAM.

3.3.2 Preparação das Monocamadas Auto-Organizadas

A adsorção dos tióis na superfície eletródica previamente limpa foi

alcançada por meio da imersão dos eletrodos de ouro na solução de etanol do

respectivo tiol, na concentração de 10 mmol L-1, durante 3 horas. Após este

período, foram novamente lavados com etanol, para retirar as moléculas

fisicamente adsorvidas, com água deionizada e secos na temperatura ambiente,

antes de serem utilizados nos experimentos. Os seguintes tióis foram utilizados

neste estudo: ácido mercaptopropiônico (MPA), ácido mercaptobenzóico (MBA),

ácido lipóico (ALP), ácido mercaptoundecanóico (MUA), cistamina (CYS) e a

cisteamina (CISTE) e estão mostrados na Figura 10.

40

Figura 10. Tióis utilizados na imobilização da enzima HRP.

3.3.3 Estudo do Tempo de Imobilização da HRP na Monocamada

Auto-Organizada

Como foram utilizadas diferentes monocamadas, cada uma delas com um

tempo de formação e organização, houve a necessidade de se estudar tanto o

tempo de reação destes tióis com a superfície metálica, quanto o tempo de reação

das SAM com os ligantes EDC/NHS ou glutaraldeído. Para isso, foi selecionado o

tiol mais empregado na literatura para estudos envolvendo as monocamadas auto-

organizadas, no caso, o ácido mercaptopropiônico – MPA.

Primeiramente, foi selecionado um tempo de formação de SAM de 2 horas.

Após lavagem deste eletrodo com etanol e água, foi realizada a reação dos grupos

terminais –COOH da SAM com os ligantes EDC e NHS por 3 horas, por meio da

imersão dos eletrodos em solução aquosa contendo 2 mmol L-1 de EDC e 5mmol

L-1 de NHS. Após uma nova lavagem do eletrodo, foi então colocado em solução

tampão fosfato pH 7,0 contendo 2 mg de enzima em 1 mL de solução. Após este

processo, o eletrodo foi testado em solução contendo 850 µmol L-1 de peróxido de

C

OHO

CH2

CH2

CH2

CH2

CH2

CH2

CH2

CH2

CH2

CH2

SH

Ácido Mercaptoundecanóico

(MUA)

C

OHO

SH

Ácido Mercaptobenzóico

(MBA)

HS CH2 C

O

OH

CH2

Ácido Mercaptopropiônico

(MPA)

S

SCH

CH2

CH2

CH2

CH2

CH2

CH2

C O

OH

Ácido Lipóico(ALP)

HS CH2CH2 NH2

CH2CH2 NH2

CH2CH2 NH2

S

S

Cisteamina(CISTE)

Cistamina(CYS)

TIÓIS

41

hidrogênio e 25 µmol L-1 de hidroquinona em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1,

pH 6,5, usando a técnica de voltametria cíclica, variando o potencial de 300 a –

200 mV, a 50 mV s-1. Como os resultados não foram satisfatórios, uma nova

metodologia foi utilizada com a finalidade de se elevar a quantidade de enzima

imobilizada e, conseqüentemente, a obtenção de uma melhora da resposta

voltamétrica.

Para o segundo procedimento o tempo de formação da SAM foi aumentado

para 3 horas, na tentativa de diminuir os defeitos no eletrodo de ouro e um

aumento dos grupos terminais funcionais na superfície, o que poderia também

aumentar os sítios para reação com a enzima. As outras condições do

procedimento anterior foram mantidas.

No intuito de se conseguir um aumento do sinal, um terceiro procedimento

foi testado. Neste caso, a SAM foi formada na superfície de ouro por 3 horas,

seguida pela reação com os ligantes EDC e NHS por 3 horas, porém com um

tempo de reação para imobilização enzimática de 18 horas.

Após nova avaliação do biossensor, optou-se por um quarto e último

procedimento para verificar se o sinal voltamétrico aumentava. Neste

procedimento, foi mantido o tempo de formação da monocamada por 3 horas,

porém agora o eletrodo modificado foi imerso em uma solução tampão fosfato pH

7,0 contendo EDC e NHS, além de 2 mg da enzima HRP em 1 mL de solução. O

eletrodo permaneceu nesta solução por 18 h, sob refrigeração. Após lavagem do

eletrodo, este foi então testado na solução contendo peróxido de hidrogênio.

3.3.4 Imobilização da HRP na Superfície Eletródica

Após o ajuste do tempo de reação da enzima com o eletrodo recoberto com

a SAM, foram realizados estudos utilizando-se diferentes formas de imobilização

da enzima na superfície eletródica. A enzima peroxidase utilizada neste trabalho

foi a HRP, devido a ampla informação existente na literatura sobre esta

biomolécula. Para sua adsorção na superfície do eletrodo, foram testadas

monocamadas contendo tióis com diferentes estruturas, tamanhos da cadeia

carbônica e grupos terminais. Foram estudadas diversas formas de imobilização

42

para avaliação do método mais eficiente, ou seja, aquele que proporcionaria uma

interação mais estável entre a enzima e a SAM. As metodologias utilizadas na

imobilização do material biológico foram realizadas da seguinte forma:

1. Adsorção física: foram colocados em um béquer 2 mg da enzima, juntamente

com 1 mL de uma solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0. O eletrodo

modificado com a SAM foi imerso nessa solução e permaneceu em geladeira por

18 horas.

2. Carbodiimida (EDC) e N-Hidroxisuccinimida (NHS): foram colocados em um

béquer 2 mg da enzima, 200 µL de solução de N-(3-Dimetilaminopropil)-N’-

etilcarbodiimida 2 mmol L-1, 200 µL de solução de NHS 5 mmol L-1e 600 µL da

solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0. O eletrodo foi imerso nessa solução e

permaneceu em geladeira por 18 horas.

3. Glutaraldeído: foram colocados em um béquer 2 mg da enzima, 200 µL de

solução de glutaraldéido a 25% (m/v) e 800 µL de tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH

7,0. O eletrodo foi imerso nessa solução e permaneceu em geladeira por 18 horas.

O método 1 foi empregado para todas as monocamadas estudadas. O

método 2 foi desenvolvido apenas para SAM com grupo final –COOH e o método

3, apenas para SAM com grupo terminal -NH2.

3.3.5 Estudos Voltamétricos

Para a caracterização das monocamadas auto-organizadas foram

registrados voltamogramas de pulso diferencial para dessorção eletroquímica em

solução de KOH 0,1 mol L-1, variando o potencial de 0,1 a –1,3 V a 20 mV s-1 de

velocidade de varredura e 25 mV de amplitude de pulso, conforme estudo prévio

realizado por IMABAYASHI et al (1997).

43

Como estudos de caracterização dos eletrodos com as diferentes SAM,

foram realizados voltamogramas cíclicos do eletrodo de ouro limpo e dos

modificados com os diferentes tióis. O potencial foi variado entre –100 e 400 mV

em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5 contendo 5 mmol L-1 de ferricianeto

de potássio.

Estudos hidrodinâmicos foram realizados com voltametria linear, variando a

concentração de ferro/ferricianeto de potássio de 50 a 350 µmol L-1 em tampão

fosfato pH 7,0. Foram registrados voltamogramas num intervalo de potencial de -

250 a 600 mV (vs. ECS) a uma velocidade de varredura de 10 mV s-1, usando

velocidades de rotação do eletrodo de 0 a 2500 rpm, para cada concentração da

espécie redox.

Para os estudos da sensibilidade dos eletrodos modificados com os

diferentes tipos de tióis e a enzima HRP foram registrados voltamogramas cíclicos

dos eletrodos de 300 a –200 e mV em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5

contendo 25 µmol L-1 de hidroquinona e variando a concentração de peróxido de

hidrogênio de 170 a 1000 µmol L-1 (n=6) a 50 mV s-1.

O estudo da estabilidade dos eletrodos modificados com SAM e HRP foi

avaliado em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5 contendo 25 µmol L-1 de

hidroquinona e 85 µmol L-1 de peróxido de hidrogênio usando voltametria cíclica. A

perda de resposta dos biossensores foi analisada após 100 ciclos de varredura

entre –200 a 300 mV, a uma velocidade de 50 mV s-1.

3.3.6 Estudos de Espectroscopia de Impedância Eletroquímica

Para os estudos de impedância foi aplicado ao eletrodo de trabalho uma

onda senoidal com 10 mV de amplitude a um potencial de 0,2 V (vs. SCE) em uma

faixa de freqüência de 10-2 a 105 Hz em solução de ferricianeto de potássio 5

mmol L-1 em KCl 0,1 mol L-1. O circuito modelo utilizado neste estudo foi o circuito

44

de Randles: Rs(C[RctW]) onde Rs é a resistência da solução, Rct é a resistência de

transferência de carga, W é a impedância de Warburg e C é a capacitância da

dupla camada. Os espectros de impedância foram ajustados pelo programa FRA.

3.3.7 Estudos de Ressonância de Plásmon de Superfície

Uma representação esquemática das curvas obtidas pela ressonância de

plásmon de superfície é apresentada na Figura 11. Para os estudos de SPR

realizado neste trabalho, primeiramente foi feita uma linha de base com tampão

fosfato pH 7,0 do disco de ouro modificado com a SAM, durante 300 s (curva 1 da

Figura 11). Então, a solução enzimática foi injetada na célula óptica e a interação

da HRP com a superfície foi acompanhada por mais 1200 s (curva 2 da Figura

11). Conforme a biomolécula adsorve na monocamada, ocorre uma alteração do

ângulo para que ocorra a ressonância de plásmons de superfície, que é

acompanhada pelo equipamento até que todas as biomoléculas estejam

adsorvidas na superfície do disco (curva 3 da Figura 11). Após este tempo, o disco

de ouro modificado foi lavado novamente com a solução tampão, para a retirada

das moléculas fracamente adsorvidas à superfície e essa lavagem foi

acompanhada por mais 300 s (curva 4). A diferença entre os ângulos obtidos nas

curvas 4 e 1, nos fornece a extensão da adsorção enzimática.

45

Figura 11. Representação esquemática de um processo de associação e

dissociação de biomoléculas na superfície do sensor usando SPR. A mudança no

valor do ângulo SPR é usada para monitorar a extensão da adsorção superficial.

3.4 Avaliação do Desempenho Analítico do Biossensor

3.4.1 Influência da Concentração Enzimática

A avaliação da influência da concentração da enzima HRP no processo de

imobilização foi verificada em função da resposta voltamétrica dos biossensores.

Para isso, foram registrados voltamogramas cíclicos dos eletrodos variando o

potencial de 300 a –200 mV a 50 mV s-1, em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1

pH 6,5, contendo 85 µmol L-1 de peróxido de hidrogênio e 25 µmol L-1 de

hidroquinona. As concentrações avaliadas da enzima foram de 1,0; 2,0; 3,0 e 4,0

mg mL-1.

3.4.2 Efeito do Potencial Aplicado

Cada experimento foi iniciado com o registro da corrente em função do

tempo, em um dado potencial aplicado, na presença apenas da solução tampão e

46

do mediador, até que a corrente alcançasse um valor constante. Esta corrente é

denominada corrente de fundo ou corrente residual. Neste ponto, o peróxido de

hidrogênio, que é o substrato da enzima, foi adicionado e, com o auxílio de um

agitador magnético, fez-se a homogeneização da solução por 10 s e, após este

tempo, registrou-se a variação de corrente obtida com o passar do tempo. As

respostas foram calculadas comparando-se cada corrente obtida após a injeção

do H2O2, com a corrente de fundo gerada na ausência do substrato.

Por meio destas avaliações, foi verificado o efeito do potencial aplicado na

resposta amperométrica do biossensor em uma solução tampão fosfato 0,1 mol L-1

pH 6,5 contendo 85 µmol L-1 de peróxido de hidrogênio e 25 µmol L-1 de

hidroquinona. Os potenciais aplicados estudados variaram entre –200 a 50 mV

(vs. ECS).

3.4.3 Influência do Tipo de Solução Tampão e pH

A dependência da resposta amperométrica com o tipo de solução tampão

(FOSFATO, HEPES, PIPES, TRIS e BRITTON-ROBINSON) utilizada como

eletrólito suporte foi avaliada usando o biossensor com melhor desempenho na

imobilização enzimática. Todas as soluções tampão foram testadas em pH 7,0 e

na concentração de 0,1 mol L-1. Selecionada a melhor solução tampão, foi

verificada a dependência do pH na resposta eletródica, variando o pH desta

solução de 5,0 a 8,0.

3.4.4 Estudo da Concentração do Mediador

A influência da concentração do mediador na resposta amperométrica do

biossensor a base de HRP foi investigada em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1,

pH 6,5, na presença de 85 µmol L-1 de peróxido de hidrogênio. A concentração de

hidroquinona foi variada de 5 a 25 µmol L-1 em um potencial aplicado de –50 mV

(vs. ECS).

47

3.4.5 Avaliação do Biossensor

Alguns parâmetros como sensibilidade, limite de detecção e região linear do

biossensor a base de HRP, foram obtidos por meio da investigação da

característica do sinal amperométrico com o aumento da concentração de

peróxido de hidrogênio em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 em pH 6,5 e com

quantidade constante de hidroquinona.

3.4.6 Estudo da Repetibilidade de Medida e de Preparação dos

Biossensores

A repetibilidade de medida dos biossensores foi obtida por meio da

avaliação da resposta amperométrica do biossensor a base de HRP em solução

tampão fosfato 0,1 mol L-1, pH 6,5, na presença de 85 µmol L-1 de peróxido de

hidrogênio e 25 µmol L-1 de hidroquinona (Eaplicado: -50 mV vs. ECS), para n=6. A

repetibilidade de preparação do biossensor também foi avaliada, nas mesmas

condições descritas acima, usando a resposta de 5 eletrodos diferentes,

construídos com o mesmo procedimento.

3.4.7 Avaliação do Efeito de Memória

O efeito de memória do biossensor foi avaliado empregando soluções com

concentrações diferentes de peróxido de hidrogênio. A concentração mais baixa

continha 8,5 µmol L-1 do substrato e a concentração mais elevada 85 µmol L-1, em

solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5. Para cada concentração de H2O2,

foram realizadas 4 medidas de amperometria seguidas e, estas duas soluções

foram alternadas por 6 vezes para a obtenção dos resultados.

48

3.4.8 Estudo da Estabilidade do Biossensor

Para a determinação do tempo de vida útil do biossensor, realizou-se o

monitoramento da resposta do dispositivo para peróxido de hidrogênio, dia após

dia, usando o mesmo eletrodo de trabalho.

Durante a avaliação do tempo de vida do biossensor, a estocagem foi feita

em geladeira, a 4°C, em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0.

3.4.9 Aplicação do Biossensor em Amostras de Clareamento

Dental

A determinação amperométrica de peróxido de hidrogênio em amostras

odontológicas foi realizada por meio do método de adição de padrão, ou seja,

além da amostra ainda foram adicionados mais quatro volumes de solução

conhecida de padrão de H2O2. A amostra foi diluída em tampão fosfato 0,1 mol L-1

pH 6,5. Para cada adição, tanto da amostra quanto dos padrões, foi realizada uma

medida amperométrica. Destas medidas foram descontadas os valores de

corrente obtidos para o eletrodo de trabalho apenas na solução tampão contendo

25 µmol L-1 do mediador.

Com a finalidade de se verificar a exatidão de determinações

amperométricas de peróxido de hidrogênio, os resultados foram comparados com

o método de referência, ou seja, titulação com tiossulfato de sódio descrita pela

farmacopéia (USP). Para este fim, foi preparada uma solução de tiossulfato 0,1

mol L-1 que foi padronizada com o dicromato de potássio, usado como padrão

primário. Após esta etapa, uma alíquota de H2O2 foi titulada com a solução

padrão. Foi utilizada uma solução de amido como indicador visual do ponto de

viragem (solução passa de azul a incolor).

49

CAPÍTULO 4

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Caracterização das Monocamadas Auto-Organizadas

As monocamadas auto-organizadas, como já se discutiu na introdução,

possuem uma metodologia bastante simples de preparação. Porém, alguns

parâmetros foram previamente estudados com a finalidade de se obter as SAM de

forma reprodutível. Foram selecionados para este trabalho, os tióis mais

freqüentemente citados na literatura, tanto os com grupos terminais carboxílicos

como os com grupos amina. A seleção ocorreu, principalmente, considerando-se

os tamanhos distintos das cadeias carbônicas bem como suas diferenças

estruturais.

O solvente utilizado na formação da SAM foi o etanol, devido ao fato de

dissolver com eficiência os tióis utilizados neste trabalho e por não ser tóxico. O

tempo de formação das monocamadas exigiu um estudo mais elaborado. Na

literatura, o tempo de 2 horas de formação é o mais citado. No entanto, estudos

realizados previamente utilizando-se a espectroscopia de impedância

eletroquímica, mostraram que há uma diferença considerável no empacotamento

das SAM se este tempo for aumentado por mais uma hora. Dessa forma, optou-se

por utilizar um tempo de formação de 3 horas, que além de aumentar o

empacotamento das monocamadas, evita que haja passivação da superfície, o

que poderia ocorrer em tempos maiores que este.

Após a formação das monocamadas auto-organizadas, foram realizados

estudos para a caracterização das SAM, com a finalidade de se verificar a

eficiência do processo de formação das mesmas sobre a superfície de ouro.

50

4.1.1 Voltametria Cíclica

A caracterização das monocamadas auto-organizadas é uma etapa muito

importante dentro deste trabalho, pois por meio dela, é possível obter algumas

informações com relação ao grau de recobrimento das SAM bem como as

irregularidades superficiais após a sua formação.

A primeira análise foi realizada observando o comportamento das diferentes

monocamadas frente a uma espécie eletroativa. Para isso, foram registrados

voltamogramas cíclicos do eletrodo de ouro limpo e após ser recoberto pelas SAM

em solução tampão fosfato pH 7,0 contendo 5 mmol L-1 de [Fe(CN)6]3-, a 100 mV

s-1. Os resultados estão apresentados na Figura 12.

Figura 12. Voltamogramas cíclicos obtidos para os eletrodos de ouro

recobertos com diferentes SAM em solução 5 mmol L –1 de Fe(CN)63- em tampão

fosfato 0,1 mol L –1 pH 6,5, a 100 mV s-1.

Observando a Figura 12, verificamos que a monocamada formada pela

CYS apresenta um baixo recobrimento superficial, pois a sua formação bloqueia

-100 0 100 200 300 400

-80

-60

-40

-20

0

20

40

60

80

I / µ

A

E / mV (vs. ECS)

Au Au-CYS Au-CISTE Au-MPA Au-MBA Au-ALP Au-MUA

51

muito pouco os processos de oxidação e redução quando comparados ao eletrodo

de ouro limpo. Com a CISTE, verifica-se uma redução um pouco maior dos

processos eletroquímicos da espécie Fe(CN)63- , porém estes ainda são elevados,

um indicativo de que esta monocamada também apresenta pouca barreira e,

provavelmente, um número elevado de defeitos na superfície eletródica. O MPA e

o MBA diminuem ainda mais as correntes de oxidação e redução e o ALP, diminui

consideravelmente os valores de corrente, além de distorcer o voltamograma,

indicando que o seu grau de recobrimento é maior. Porém, quando se verifica o

voltamograma obtido pelo MUA, constata-se que há uma passivação da superfície

eletródica, pois não é possível observar as correntes de oxidação e redução da

espécie. Isto ocorre, pois o seu grau de recobrimento é bastante elevado e

apresenta poucas irregularidades superficiais, o que dificulta a transferência de

elétrons. A fim de confirmar estes resultados obtidos pelos voltamogramas

cíclicos, foram realizados estudos de dessorção eletroquímica e uma possível

explicação para esta diferença de recobrimento obtida para as diferentes SAM

será detalhada a seguir.

4.1.2 Dessorção Eletroquímica

Com a finalidade de dar continuidade à caracterização das diferentes

monocamadas auto-organizadas formadas sobre eletrodos de ouro, foram

registrados voltamogramas de pulso diferencial para dessorção eletroquímica em

solução de KOH 0,1 mol L-1, variando o potencial de 0,1 a -1,3 V, a 20 mV s-1 de

velocidade de varredura e 25 mV de amplitude de pulso. Os voltamogramas

obtidos estão apresentados na Figura 13.

Já é bastante conhecido na literatura que os tióis dessorvem da superfície

metálica quando sobre esta superfície são aplicados potenciais suficientemente

negativos. Após a dessorção, tanto o tiolato, quanto a superfície exposta de ouro

se solvatam. Parte do tiolato solvatado se difunde da superfície, enquanto parte

pode ser readsorvido se o potencial aplicado retornar para valores positivos. O

potencial de dessorção depende do tamanho da cadeia carbônica da mercaptana,

52

da cristalinidade da superfície e dos grupos funcionais terminais do tiol. A

reprodutibilidade dos resultados é influenciada também pela cristalinidade da

superfície metálica e pelas condições de pré-tratamento superficial.

Quando se observa a Figura 13, percebe-se que todas as monocamadas de

tióis estudadas apresentam mais de um pico de redução. A presença desses picos

de dessorção é motivo de especulações e controvérsia na literatura, porque

segundo a teoria da redução dessortiva (WIDRIG et al., 1991), este fenômeno é

realizado via um processo monoeletrônico, o que não explica o aparecimento de

mais de um pico de redução.

53

- 1 , 4 - 1 , 2 - 1 , 0 - 0 , 8 - 0 , 6 - 0 , 4

I / µµ µµA

E / V

5 µ A

F

E

D

C

B

A

Figura 13. Voltamogramas de pulso diferencial obtidos para as diferentes SAM em

solução de KOH 0,1 mol L-1, sendo A – MPA, B – ALP, C – MBA, D – MUA, E –

CYS e F – CISTE. Potencial: 0,1 a –1,3 V. Velocidade de varredura: 20 mV s-1 e

25 mV de amplitude de pulso.

O surgimento de outros picos pode ser atribuído tanto aos diferentes

domínios cristalinos na superfície do ouro (WEISSHAAR et al., 1992) quanto a um

54

rearranjo de aglomerados de tióis formados devido a uma orientação de campo

elétrico durante a dessorção destas espécies (YANG et al., 2001). IMABAYASHI et

al. (1997) sugerem que picos de dessorção que aparecem em potenciais menos

negativos existam devido à presença de moléculas de tióis fracamente ligadas à

superfície eletródica, formando um grupo de tióis que se instalam em regiões de

defeitos da SAM ou sobre regiões com irregularidades sobre a superfície de ouro.

Este comportamento é uma forte evidência de que o pico localizado em potenciais

mais negativos seria devido à clivagem da ligação S-Au, e pode ser utilizado para

o cálculo do recobrimento da superfície de ouro pela mercaptana, por ser o pico

mais estável.

A diferença entre a quantidade e a magnitude dos picos para as superfícies

modificadas com os distintos tióis pode ser atribuída a diferenças na estrutura da

cadeia carbônica dos monômeros. E estas diferenças podem acarretar em

distinções no empacotamento das SAM formadas por estes tióis. Baseado nisso, a

localização e a intensidade (área) dos picos de dessorção podem ser utilizados na

caracterização das monocamadas, com relação ao seu grau de recobrimento e

estabilidade, a partir dos voltamogramas da Figura 13 e seguindo a equação (4)

descrita abaixo:

nFA

Q=Γ (4)

Sendo Γ o grau de recobrimento da superfície, Q a carga (obtida pela

integração da área do pico de dessorção), n o número de elétrons, F a constante

de Faraday e A é a área do eletrodo. Os resultados obtidos são apresentados na

Tabela 3.

55

Tabela 3. Valores dos graus de recobrimentos do eletrodo de Au recoberto com

diferentes SAM e os respectivos potenciais de pico de dessorção

Método ΓΓΓΓ / mol cm-2 Ep/ mV

Au-MPA

Au-ALP

Au-MUA

Au-MBA

Au-CISTE

Au-CYS

7,4 ± 0,5 10-9

1,1 ± 0,8 10-8

2,3 ± 0,2 10-8

8,6 ± 0,3 10-9

7,0 ± 0,4 10-9

4,2 ± 0,5 10-9

-1058

-1008

-1049

-1048

-1159

-1088

Observando os dados apresentados na Tabela 3, nota-se que o MPA e a

CISTE, que são tióis de cadeias menores, possuem um recobrimento

relativamente baixo, sugerindo que as SAM por eles formadas apresentem um

número elevado de defeitos. Verifica-se, entretanto, que a monocamada formada

pela CISTE é mais estável, pois dessorve em um potencial mais negativo,

indicativo de que necessita de maior energia para se despreender do metal. É

possível constatar na Tabela que o CYS é o tiol cuja SAM possui o menor grau de

recobrimento na superfície. Isto pode ocorrer pois a cistamina é um dissulfeto. E é

conhecido na literatura que para formação da SAM usando dissulfetos, necessita-

se que haja quebra da ligação S-S (SMITH et al., 2004), fato que costuma

ocasionar irregularidades nas monocamadas formadas desta maneira. Já o ALP,

apesar de ser também dissulfeto, possui uma cadeia alquílica longa e assimétrica,

diferentemente da CYS. Este fato poderia justificar o grau de recobrimento com

um valor elevado. Contudo, estudos específicos deste tiol mostram que ele forma

uma SAM instável e com dificuldades de reprodutibilidade (DIJKSMA et al., 2000).

O MBA apresentou um recobrimento satisfatório para o tamanho de sua cadeia e

o MUA, que possui a cadeia mais longa destes tióis, apresentou um valor alto de

recobrimento superficial. Este fato era esperado, uma vez que tióis de cadeia

longa produzem SAM com poucos defeitos e, consequentemente, alto grau de

empacotamento da monocamada (IMABAYASHI et al., 1997).

Com a finalidade de confirmação dos dados obtidos a partir do estudo

envolvendo a dessorção eletroquímica, foram calculados os valores teóricos da

56

quantidade de tiol necessária para ocupar a área de um eletrodo de ouro,

supondo-se 100% de recobrimento superficial.

Para isso, foram feitas estimativas dos diâmetros de cada uma das

moléculas dos diferentes tióis utilizados, por meio dos comprimentos das ligações

das respectivas moléculas (COSTA et al., 2003), considerando também os

diferentes ângulos das moléculas. A partir do diâmetro do tiol (mostrado na Tabela

4), foi possível calcular a área ocupada por uma molécula. Desta forma, se a área

geométrica do eletrodo é conhecida (0,07 cm2), calcula-se a quantidade de

moléculas capaz de ocupar a superfície do eletrodo de ouro. Os dados obtidos são

apresentados na Tabela 4.

A partir dos dados de recobrimento obtidos pela dessorção eletroquímica,

também foi possível calcular a quantidade de moléculas de tiol que ocupa a

superfície do eletrodo. Desta forma, os dados obtidos experimentalmente e os

dados teóricos podem ser comparados.

Tabela 4. Cálculo teórico da quantidade de moléculas de tiol por eletrodo.

Tiol Diâmetro / Å Quantidade

teórica de tiol /

moléculas cm-2

Quantidade de tiol pela

dessorção eletroquímica/

moléculas cm-2

ALP

MPA

MUA

MBA

CISTE

CYS

9,1

3,3

3,3

4,7

2,0

2,0

1,8 1013

8,2 1013

8,2 1013

4,1 1013

2,2 1014

2,2 1014

4,6 1014

3,1 1014

9,7 1014

3,6 1014

3,0 1014

1,8 1014

Observando os resultados da Tabela 4 verifica-se que as quantidades de

moléculas de tiol por eletrodo obtidas por meio da dessorção eletroquímica é

maior que aquelas obtidas por cálculos teóricos (assumindo-se 100% de

recobrimento da superfície pela SAM), principalmente nos casos dos tióis com

grupos terminais –COOH. Isso ocorre porque pode estar havendo contribuição da

corrente capacitiva na obtenção do pico de dessorção, o que influencia nos

57

cálculos realizados a partir destes resultados. A capacitância do eletrodo de ouro

limpo (sem a SAM) é elevada e, após adsorção do tiol, diminui drasticamente e

este efeito pode levar a um valor maior de recobrimento da superfície do que o

real. Uma outra hipótese para a quantidade de tiol por eletrodo calculado

experimentalmente ser maior que a teórica, seria o fato do eletrodo de ouro, por

ser policristalino, poder apresentar certa rugosidade, que estaria influenciando no

valor da área do dispositivo e afetando os valores obtidos nos cálculos teóricos.

Desta forma, podemos verificar que o cálculo do recobrimento superficial

usando dessorção eletroquímica, apesar de ser bastante simples, pode não ser

muito confiável, por não mostrar a realidade da situação superficial. Cabe ressaltar

que a dessorção de monocamadas é um processo amplamente utilizado na

literatura no cálculo do recobrimento superficial pelas SAM e, no entanto, os

resultados obtidos a partir desta metodologia exigem avaliações severas ou até

mesmo complementares.

4.1.3 Estudos Hidrodinâmicos

Experimentos de voltametria de varredura linear foram realizados

empregando-se o eletrodo de disco rotatório de ouro limpo e modificado com as

SAM, com o objetivo de se determinar a constante cinética (k) para a obtenção de

maiores informações sobre o processo no eletrodo modificado frente a uma

substância redox. Neste estudo, provoca-se a convecção do sistema e as

varreduras de potencial são registradas a baixa velocidade, para que as leituras

sejam reflexo da interação da espécie eletroativa com o eletrodo.

A corrente de redução e/ou oxidação de ferro/ferricianeto de potássio em

eletrodo de disco rotatório pode ser limitada pelo transporte de massa (Id) de

ferro/ferricianeto de potássio para a superfície do eletrodo e/ou pela cinética da

reação de transferência (IK). As correntes de redução/oxidação (I) são

combinações das correntes de difusão e cinética de transferência de elétrons (Id e

IK):

1/I = 1/ Id + 1/ Ik (5)

58

A corrente limitada pelo transporte de massa para um sistema reversível

depende da velocidade de rotação do eletrodo e da concentração de

ferro/ferricianeto de potássio, e é determinada pela equação (6) de Levich (BARD

& FAULKER, 1990):

Id= 0,620nFAC0*D0

2/3ν-1/6ω1/2 (6)

onde n é o número de elétrons transferidos durante a reação, C0* é a concentração

da espécie eletroativa, F é a constante de Faraday, A é a área geométrica do

eletrodo, D0 é o coeficiente de difusão, ν é a viscosidade cinemática e ω é a

velocidade de rotação do eletrodo.

Os voltamogramas de varredura linear foram obtidos em soluções de

ferro/ferricianeto (1:1) de concentrações de 50 a 350 µmol L-1 e em diferentes

velocidades de rotação do eletrodo, para todas as SAM. A Figura 14 mostra os

voltamogramas registrados em solução de ferro/ferricianeto 350 10-6 mol L-1 em

tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5 para o eletrodo de ouro recoberto com

cisteamina (Au-CISTE), na qual é possível se observar um aumento da corrente

limite (Id) em função da velocidade de rotação do eletrodo, demonstrando a

dependência do transporte de massa no processo de redox. Cabe ressaltar que

serão apresentados somente os gráficos referentes ao eletrodo de ouro

modificado com cisteamina, porém este estudo foi realizado da mesma maneira

para as outras monocamadas, bem como para o eletrodo de ouro limpo.

59

-400 -200 0 200 400 600 800-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

200 rpm 400 rpm 600 rpm 800 rpm 1000 rpm 1200 rpm 1500 rpm 1800 rpm 2000 rpm 2200 rpm 2500 rpm

Au-CISTE350 µM

I / µ

A

E / mV

Figura 14. Curvas de potencial-corrente obtidas com eletrodo de ouro

modificado com cisteamina, em uma solução 350 µmol L-1 de ferro/ferricianeto de

potássio em tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5, em diferentes velocidades de

rotação do eletrodo.

Um gráfico de Id vs. ω1/2, Figura 15, foi construído para cada concentração

de ferro/ferricianeto de potássio, obtendo-se uma relação linear para velocidades

de rotação entre 200 e 1500 rpm, sendo que para velocidades maiores observa-se

um desvio da linearidade. Este comportamento e o fato da reta não passar pela

origem sugere uma contribuição da etapa cinética envolvida na reação de

transferência de elétrons.

60

4 6 8 10 12 14 16 180

1

2

3

4

5

6

7

I / µ

A

ω1/2 / rad1/2s-1

50 µM 150 µM 250 µM 350 µM

Figura 15. Gráfico de Levich para várias concentrações de ferro/ferricianeto

de potássio em tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5 usando o eletrodo de ouro

modificado com cisteamina.

Para avaliar as etapas limitantes do desempenho do eletrodo de disco

rotatório, as correntes medidas em diferentes velocidades de rotação são

usualmente plotadas em coordenadas de Koutecky-Levich (I-1 vs. ω-1/2) dada pela

equação:

1/I = 1/IK + 1/(0,620 nFAC0* D0

2/3 ν-1/6 ω-1/2) (7)

As correntes de redução de ferricianeto de potássio obtidas com eletrodo de

ouro em diferentes concentrações das espécies eletroativas e velocidades de

rotação são apresentadas como o gráfico de Koutecky-Levich na Figura 16. Nota-

se que a corrente do eletrodo depende da velocidade de rotação no intervalo

inteiro de concentrações da espécie eletroativa.

61

0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14 0,16 0,18 0,20 0,22 0,240

1000000

2000000

3000000

4000000

5000000

6000000

7000000

8000000

9000000

50 µM 150 µM 250 µM 350 µM

I-1 /

A-1

ω-1/2 / rad-1/2 s1/2

Figura 16. Gráfico de Koutecky-Levich da redução do ferricianeto de

potássio em tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5, para o eletrodo de ouro modificado

com cisteamina para várias concentrações da espécie eletroativa.

A partir do intercepto do gráfico de Koutecky-Levich foram obtidos os

valores de 1/IK e IK para cada concentração do par redox. Obtendo-se o valor de IK

para cada concentração do par redox, foi construído o gráfico da Figura 17, a

partir do qual é determinado o valor da constante de transferência de elétrons (k)

usando o valor da inclinação da reta na equação (8).

IK = nFAkC0* (8)

onde n = 1 elétron, F = 96500 A s-1, A = 0,07 cm2.

62

0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35

0,000

0,005

0,010

0,015

0,020

0,025

0,030

k = 1,30 10-2 cm s-1

I k / m

A

[Fe(CN)6

3-/4-] / mmol L-1

Au-CISTE

Figura 17. IK em função da concentração do par redox em tampão fosfato

0,1 mol L-1 pH 6,5, usando o eletrodo de ouro modificado com cisteamina para

obtenção da constante de transferência de elétrons (k).

Foram obtidas, a partir da metodologia descrita, o valor da constante de

transferência de elétrons para o eletrodo de ouro modificado com cada um dos

tióis. Os dados são apresentados na Tabela 5.

Tabela 5. Valores das constantes de transferência de elétrons obtidas para

o eletrodo limpo e após modificação com os diferentes tióis.

SAM k / cm s-1

Au

Au-MPA

Au-ALP

Au-MUA

Au-MBA

Au-CISTE

Au-CYS

2,9 10-1

9,9 10-3

7,4 10-3

-

9,2 10-3

1,3 10-2

5,9 10-2

63

O valor de k não pode ser obtido para o eletrodo de ouro modificado com o

MUA pois como este tiol passiva a superfície eletródica, o mesmo acaba

impedindo que ocorra a transferência de elétrons, tornando-se impossível o

cálculo da constante. A Tabela 5 mostra que os valores de k estão bastante

condizentes com os dados obtidos por voltametria cíclica, apresentados

anteriormente. Novamente, é possível verificar um valor elevado de k para o

eletrodo de ouro modificado com a CYS, o que era esperado uma vez que o seu

grau de recobrimento possui um valor pequeno, indicando que esta SAM

apresentada muitos defeitos superficiais, o que facilita a transferência de elétrons.

Comparado com o valor de k para o eletrodo de ouro limpo, que possui uma

constante elevada, verifica-se que a CYS é formada na superfície metálica, visto

que o valor de k diminui com a modificação eletródica. Mas, mesmo assim, o valor

de k para esta SAM permanece alto, comparado aos outros tióis. A CISTE e o

MPA apresentaram os valores de k bem próximos, confirmando os resultados

obtidos com as outras metodologias. Isto pode ser explicado pela grande

semelhança existente entre estes dois tióis, que se distinguem apenas pelo grupo

terminal. Mas, de certa maneira, a constante é ligeiramente maior para a CISTE, o

que indica que o grupo terminal –NH2 facilite um pouco a transferência de

elétrons, nestas condições. Isto pode ter ocorrido pela solução apresentar um pH

levemente ácido (6,5), o que causa a protonação do grupo –NH2, favorecendo a

atração pelas espécies redox, que possuem cargas negativas. Da mesma

maneira, as monocamadas com grupos terminais –COOH sofrem um processo de

desprotonação do grupo, ocasionando certa repulsão da espécie eletroativa em

questão. O MBA, como possui um grau de recobrimento intermediário, causa uma

maior resistência ao processo de transferência de elétrons que o MPA. E o ALP,

que possui um grau de recobrimento elevado, apresenta o menor valor de

constante de transferência de elétrons, o que também é confirmado pelas outras

metodologias usadas na caracterização das SAM.

Após a conclusão da etapa de caracterização das monocamadas auto-

organizadas, foi possível verificar a influência destas características distintas na

imobilização do material biológico.

64

4.2 Estudo do Tempo de Imobilização da HRP na Monocamada

Auto-Organizada

Um estudo do tempo de formação das monocamadas auto-organizadas e

dos tempos de interação dos ligantes e da enzima da HRP foram realizados com a

finalidade de se otimizar os procedimentos de imobilização enzimática, utilizando-

se apenas uma SAM (aquela mais amplamente citada na literatura) e variando-se

as condições experimentais.

Conforme anteriormente relatado na parte experimental, o tiol empregado

neste estudo foi o ácido mercaptopropiônico e a primeira metodologia (A) baseou-

se na imersão do eletrodo de ouro limpo na solução do tiol por 2 horas, seguida da

interação com os ligantes EDC e NHS por 3 horas e, finalmente, imersão na

solução enzimática por 6 horas. Após lavagem e secagem do biossensor, foi então

registrados voltamogramas cíclicos em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5,

contendo 850 µmol L-1 de peróxido de hidrogênio e 25 µmol L-1 de hidroquinona,

para a verificação da eficácia da imobilização do elemento biológico. Como pode

ser verificado na Figura 18, o aumento de corrente de redução não foi significativo.

Desta forma, foi testada uma nova metodologia (B), na qual foram mantidas as

mesmas condições da metodologia (A), porém o tempo de formação da SAM foi

aumentado para 3 h. É possível constatar também na Figura 18, que houve um

pequeno aumento da corrente de redução nestas condições. Baseado nisso, uma

nova metodologia (C) foi testada, mantendo-se as mesmas condições na

metodologia B, mas aumentando-se o tempo de imobilização enzimática para 18

h. Observa-se, agora, um aumento de corrente de redução mais significativo.

Como última alternativa, uma nova metodologia foi proposta (Método D), que

consistia em formar a SAM no eletrodo de ouro por 3 horas, seguida da imersão

deste eletrodo em uma solução contendo os ligantes EDC e NHS e também a

enzima HRP por 18 horas. Verifica-se, pela Figura 18, que houve um ganho de

corrente considerável com esta metodologia, que foi selecionada para realizar a

imobilização enzimática nas monocamadas com grupos terminais carboxílicos.

65

Para as SAM com terminais –NH2 utilizou-se o método D, porém o ligante

empregado foi o glutaraldeído.

-200 -100 0 100 200 300-2,5

-2,0

-1,5

-1,0

-0,5

0,0

0,5

tampão Método A Método B Método C Método D

I / µ

A

E / mV

Figura 18. Voltamogramas cíclicos obtidos para o eletrodo de ouro

modificado com a SAM após imobilização enzimática pelos métodos A, B, C e D,

apenas em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5 e após adição de 850 µmol

L-1 de peróxido de hidrogênio e 25 µmol L-1 de hidroquinona. Velocidade de

varredura: 50 mV s-1.

4.3 Avaliação da Imobilização Enzimática em SAM – Medidas

Voltamétricas

Embora possam ser encontrados na literatura muitos biossensores

eletroquímicos construídos a partir de eletrodos de ouro modificados com

diferentes tipos de SAM, nenhum destes trabalhos exibe a influência da SAM na

imobilização enzimática e sua consequência na resposta eletródica, apesar de

existirem diversos estudos envolvendo a caracterização destas monocamadas

usando técnicas eletroquímicas. Além disso, o método escolhido para a

imobilização do elemento de reconhecimento também interfere em parâmetros de

desempenho do biossensor, tais como sensibilidade, seletividade e,

66

principalmente estabilidade, que nos biossensores em geral, pode ser um

problema. Ao mesmo tempo em que manter a enzima ativa depois de imobilizada

no eletrodo é crucial e método de imobilização também influencia neste aspecto.

Neste contexto, as propriedades diferentes das SAM e sua relação com a

adsorção do material biológico foram avaliadas por diversas técnicas, com a

finalidade de se obter um biossensor com o melhor comportamento dentro destas

condições. Para uma prévia constatação da imobilização da HRP na superfície

eletródica, foram registrados voltamogramas cíclicos (VC) do eletrodo de ouro

modificado com as monocamadas, antes e após a imobilização enzimática usando

as metodologias distintas.

A Figura 19 apresenta os VC obtidos neste estudo para uma das SAM

formadas, no caso a cisteamina, usando glutaraldeído para a ligação covalente da

biomolécula (método 3). É possível verificar que ocorre um aumento considerável

da corrente catódica, relacionada à decomposição do H2O2 após a adsorção da

HRP na monocamada. Neste contexto, a SAM, além de servir como matriz de

imobilização enzimática, também fornece respostas voltamétricas com pequena

corrente capacitiva. Quando este mesmo estudo é realizado com o eletrodo

metálico sem qualquer modificação, a corrente capacitiva é elevada e não varia

muito com a concentração de peróxido de hidrogênio. Este fato é muito importante

para se certificar que a SAM ainda está sobre a superfície metálica, uma vez que

concentrações altas de H2O2 poderiam afetar a monocamada.

67

-200 -100 0 100 200 300-25

-20

-15

-10

-5

0

5

tampão Au-SAM Au-SAM-HRP

I / µ

A

E / mV

Figura 19. Voltamogramas cíclicos obtidos a 50 mV s-1 para o eletrodo de ouro

modificado com CISTE em solução contendo 850 µmol L-1 de H2O2 e 25 µmol L-1

de hidroquinona em tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5. Linha preta: biossensor Au-

CISTE-HRP apenas na solução tampão.

Após a verificação do aumento do sinal voltamétrico quando a HRP está

presente no eletrodo, foram então realizados estudos para a verificação da

influência da SAM e do método de imobilização na sensibilidade dos

biossensores. A Tabela 6 apresenta os resultados obtidos.

Observando esta tabela é possível verificar que a modificação física (HRP

ligada eletrostaticamente à SAM) fornece as sensibilidades mais baixas, em todos

os casos. Isto ocorre, pois a enzima, neste caso, pode entrar em contato com a

superfície metálica, que é um ambiente agressivo para biocompostos,

aumentando a probabilidade de desnaturação da HRP (GOODING et al., 2001) ou

a quantidade de enzima que adsorveu na superfície é pequena, o que ocasiona

valores de sensibilidade menores. Resultados mais interessantes são obtidos

quando se realiza a ligação covalente da enzima com a SAM. Isto já era esperado,

uma vez que imobilizações através de ligações covalentes formam eletrodos

modificados com SAM mais estáveis (CHAKI & VIJAYAMOHANAN, 2002). Além

68

disso, a reação da SAM com outros compostos aumenta a proteção da enzima se

ligar diretamente à superfície metálica.

Tabela 6. Características do biossensor obtidas com diferentes métodos de

imobilização da peroxidase em tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5. Potencial: 300 a

-200 mV. Velocidade de varredura 50 mV s-1 (n=6).

Método de imobilização

[H2O2]: 170-1000 µµµµmol L-1

Sensibilidade /

nA mmol L-1 Coeficiente de

Correlação

C.V. / %

Au-ALP-HRP 47 ± 5 0,98 9,8

Au-ALP-EDC/NHS-HRP 75 ±±±± 5 0,96 6,6

Au-MPA-HRP 36 ± 1 0,98 4,0

Au-MPA-EDC/NHS-HRP 62 ±±±± 3 0,99 4,4

Au-MBA-HRP 305 ± 3 0,99 7,7

Au-MBA-EDC/NHS-HRP 555 ±±±± 2 0,99 0,3

Au-MUA-HRP 97± 4 0,98 4,8

Au-MUA-EDC/NHS-HRP 273 ±±±± 2 0,99 0,6

Au-CYS-HRP 30± 6 0,98 6,5

Au-CYS-GLU-HRP 1161 ±±±± 2 0,99 0,1

Au-CISTE-HRP 38 ± 5 0,98 1,8

Au-CISTE-GLU-HRP 6354 ±±±± 13 0,99 0,2

Au-SAM-HRP: método 1; Au-SAM-EDC/NHS-HRP: método 2 e Au-SAM-GLU-HRP: método 3; C.V. =-

coeficiente de variação.

Quando apenas as SAM com grupos terminais –COOH são avaliadas,

observa-se que melhores resultados foram encontrados quando se utiliza uma

monocamada formada pelo MBA. Isto ocorre devido ao MBA recobrir

satisfatoriamente a superfície do ouro, permitindo que a ligação com a enzima seja

mais efetiva. Já o MPA, apesar de também conter uma cadeia alquílica pequena,

recobre menos a superfície que o MBA e, portanto, diminui os sítios para ligação

da enzima. Baseado nos procedimentos obtidos para a caracterização das SAM

usando dessorção redutiva, era esperado que o ALP fornecesse uma resposta

69

mais desejável quanto ao desempenho do biossensor. No entanto, por ser um

dissulfeto assimétrico, quando ocorre a quebra da ligação S-S, apenas um dos

“fragmentos” possui o grupo funcional terminal –COOH, o que ocasiona uma

diminuição da imobilização enzimática, pela quantidade de sítios disponíveis para

a ligação com a HRP, exibindo valores baixos de sensibilidade para este sensor,

apesar de um alto grau de recobrimento superficial. No entanto o MUA, por ser um

tiol de cadeia carbônica grande, se organiza mais lentamente e, como neste

estudo as SAM foram formadas por um período de 3 horas, não foi suficiente para

sua completa orientação, o que prejudicou sua ligação covalente com a HRP.

Relata-se na literatura que tióis de cadeia longa necessitam de, pelo menos, 12

horas para gerar monocamadas bem orientadas (DIJKSMA et al., 2000). Além

disso, tióis de cadeia com um número maior de carbono podem passivar a

superfície e diminuir a transferência eletrônica e, portanto, a sensibilidade do

eletrodo.

Ao se analisar os valores de sensibilidade obtidos para as SAM com grupos

terminais –NH2 verifica-se que estes são bem maiores que aqueles obtidos

usando a imobilização da enzima em SAM com terminais ácidos. E entre estes

valores, contata-se que o eletrodo modificado com cisteamina é aquele mais

sensível, provavelmente devido ao fato de possuir um maior recobrimento que a

cistamina. No entanto, as monocamadas de grupos terminais -NH2 foram as que

apresentaram os valores menores de recobrimento e, desta forma, acredita-se que

o glutaraldeído esteja contribuindo mais na eficiência da imobilização da

peroxidase que o par EDC/NHS, provavelmente devido a esta molécula formar

uma camada reticulada na superfície do eletrodo, o que torna o ambiente mais

propício para a atividade enzimática.

O estudo da estabilidade destes biossensores também foi avaliado a fim de

se verificar a SAM que proporcionou uma adsorção enzimática mais eficiente na

superfície do eletrodo, sem prejudicar a sua atividade. Este experimento foi

analisado em tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5 contendo 85 µmol L-1 de peróxido

de hidrogênio e 25 µmol L-1 de hidroquinona, usando voltametria cíclica, apenas

para os biossensores construídos através de ligação covalente entre a SAM e a

HRP, pois foram os que apresentaram os melhores desempenhos. A Tabela 7

70

apresenta os valores de perda de resposta obtidos após 100 ciclos de varredura, a

uma velocidade de 50 mV s-1.

Tabela 7. Porcentagens de perda de resposta voltamétrica após 100 ciclos de

varredura para os eletrodos de ouro modificados com SAM e HRP.

Biossensores Perda de resposta voltamétrica / %

Au-CISTE-GLU-HRP 5,0

Au-CYS-GLU-HRP 5,6

Au-MUA-EDC/NHS-HRP 10,4

Au-MBA-EDC/NHS-HRP 10,2

Au-MPA-EDC/NHS-HRP 17,4

Au-ALP-EDC/NHS-HRP 29,9

Observando a Tabela 7 é possível verificar que a SAM formada pela

cisteamina, além de apresentar melhor sensibilidade, também forma uma ligação

bastante estável com a enzima e, portanto, a sua perda na resposta após 100

ciclos é a menor. Os resultados obtidos usando dessorção eletroquímica

mostraram que a CISTE forma uma SAM estável, devido ao fato de possuir um

pico catódico em potencial mais negativo. Valores satisfatórios foram obtidos para

o MUA e o MBA. Apesar do biossensor desenvolvido a partir da SAM de MUA não

mostrar boa sensibilidade com o biossensor, a sua ligação com a enzima é eficaz,

pois este tiol forma uma monocamada estável. Já o ALP, como a SAM por ele

formada é bastante instável, assim também é a sua ligação com a HRP, sendo

sua perda de resposta voltamétrica bem elevada. Estes resultados sugerem que a

estabilidade dos biossensores a base de monocamadas auto-organizadas está

mais associada à estabilidade na SAM na superfície eletródica do que a ligação da

HRP com a respectiva SAM.

Foram realizados estudos com outras técnicas, além das voltamétricas, a

fim de se avaliar melhor a eficácia da imobilização enzimática em diferentes

monocamadas, conforme será discutido a seguir.

71

4.4 Avaliação da Imobilização Enzimática em SAM – Medidas de

Espectroscopia de Impedância Eletroquímica

Adicionalmente, foram realizados estudos envolvendo a técnica de

espectroscopia de impedância eletroquímica (EIS) para a análise do método de

imobilização mais eficiente.

Para isso, foram obtidos os valores de resistência de transferência de carga

(Rct) para uma espécie eletroativa, no caso o Fe(CN)63- 5 mmol L-1 em tampão

fosfato pH 7,0, usando os eletrodos modificados apenas com a SAM e após a

imobilização da enzima. Utilizou-se o Circuito de Randles para a análise dos

resultados, por ser o mais citado na literatura para estudos com formação de SAM

e adsorção dos elementos de reconhecimento sobre estas (GOODING et al.,

2001). Os resultados obtidos estão apresentados na Figura 20.

Valores mais altos de Rct após a imobilização de biomoléculas são

esperados, uma vez que aumentam a impedância do sistema (DING et al., 2005).

No caso deste estudo, devido aos valores bastante discrepantes de Rct entre as

SAM, não foi possível compará-los separadamente. Desta forma, encontrou-se

uma razão entre as Rct obtidas para os eletrodos de ouro com as monocamadas e

após imobilização da HRP. Os dados estão apresentados na Tabela 8.

Tabela 8. Valores das Rct obtidas para os eletrodos modificados com diferentes

tióis e após imobilização enzimática, usando EIS. Faixa de freqüência: 10-2 a 105

Hz, 10mV de amplitude de pulso. Potencial: 0,2 V.

SAM Rct / ΩΩΩΩ Método Rct / ΩΩΩΩ Razão*

Au-CISTE

Au-CYS

Au-MUA

Au-MPA

Au-MBA

Au-ALP

11,3

13,6

12930,1

68,6

127,4

28090,2

Au-CISTE-GLU-HRP

Au-CYS –GLU-HRP

Au-MUA-EDC-NHS-HRP

Au-MPA-EDC-NHS-HRP

Au-MBA-EDC-NHS-HRP

Au-ALP-EDC-NHS-HRP

278,4

295,5

145600,3

274,4

1445,5

98400,7

24,6

21,7

11,2

4,0

11,3

3,5

*Razão = Rct Au-SAM-HRP / Rct Au-SAM

72

Figura 20. Diagramas de Nyquist obtidos para o eletrodo de ouro

modificado com a SAM antes e após imobilização enzimática. Solução KCl 0,1 mol

L-1 contendo 5 mmol L-1 de Fe(CN)63-. Faixa de freqüência de 10-2 a 105 Hz, 10mV

de amplitude de pulso. Potencial: 0,2 V.

0 50000 100000 150000 200000

0

50000

100000

150000

200000

-Z"

/ kΩ

Z' / kΩ

Au-ALP Au-ALP-EDC-NHS-HRP

0 2000 4000 6000 8000 10000

0

2000

4000

6000

8000

10000

0 100 200 300 400 500 600 7000

100

200

300

400

500

600

700

-Z''

/ kΩ

Z' / kΩ

Au-CISTE Au-CISTE-GLU-HRP

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

0 100 200 300 400 500

0

100

200

300

400

500

-Z"

/ kΩ

Z' / kΩ

Au-CYS Au-CYS-GLU-HRP

0 100000 200000 300000 400000

0

100000

200000

300000

400000

-Z"

/ kΩ

Z' / kΩ

Au-MUA Au-MUA-EDC-NHS-HRP

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

-Z"

/ kΩ

Z' / kΩ

Au-MPA Au-MPA-EDC-NHS-HRP

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

-Z"

/ kΩ

Z' / kΩ

Au-MBA Au-MBA-EDC-NHS-HRP

73

Observando Tabela 8 verifica-se que os menores valores de razão foram

encontrados para o eletrodo de ouro modificado com o ALP e com MPA, uma vez

que estas SAM possuem menos sítios para a ligação com a enzima. No entanto, o

MUA e o MBA apresentaram valores de razão também próximos, apesar da

sensibilidade do MBA ser maior. A sensibilidade maior para o MBA pode ser

explicada pela sua Rct apresentar um valor bem mais baixo quando comparada a

Rct do MUA. Já as SAM com terminais básicos, novamente mostram valores de

razão mais elevados, indicando que uma maior quantidade de enzima

permaneceu imobilizada nestas condições, sendo que a cisteamina foi a que

apresentou a maior razão, confirmando os resultados obtidos usando a voltametria

cíclica. Mesmo após a imobilização da HRP na superfície do eletrodo, a Rct das

monocamadas com grupos terminais amina ainda permanece com um valor baixo,

o que poderia justificar seus valores de sensibilidade maiores.

4.5 Avaliação da Imobilização Enzimática em SAM – Medidas de

Ressonância de Plásmon de Superfície

A técnica de SPR é uma ferramenta valiosa para investigar um número

grande de eventos dinâmicos. Sua diversidade permite análises interfaciais, de

interações e/ou afinidade (bio)moleculares em diferentes camadas orgânicas

formadas sobre superfícies metálicas (CARVALHO et al., 2003) . Além disso, a

SPR permite a determinação de propriedades dielétricas (índice de refração),

espessura do filme, além de ser hábil para monitoramento de processos

interfaciais in situ como adsorção/dessorção, hidratação e desidratação (DAMOS

et al., 2004). O uso da técnica em fluxo admite o estudo destes processos sob

condições relevantes, como temperatura, velocidade de fluxo, pH e força iônica

(CARVALHO et al., 2003).

No caso específico deste trabalho, foram realizados experimentos

empregando a técnica de SPR com a finalidade de se avaliar a extensão da

adsorção da HRP na superfície de ouro modificado com um filme formado pela

SAM. As medidas foram realizadas para os métodos 2 e 3 citados na Parte

Experimental. A Figura 21 mostra um dos resultados obtidos com o disco de ouro,

74

no caso, modificado com cisteamina que foi o que proporcionou a resposta mais

eficiente.

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600

0

100

200

300

400

500

600

700

800

Au-CISTE-GLU-HRP

∆θ

C

B

A

θ /

mg

rau

tempo / s

Figura 21. Sensorgrama obtido para o disco de ouro modificado com

cisteamina e a imobilização da enzima usando glutaraldeído.

A curva A se refere a linha base, obtida com o disco de ouro modificado

com a SAM em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5 por 300 s. Então, foram

injetados 100 µL da solução da enzima com glutaraldeído e a adsorção foi

acompanhada por 1200 s (curva B). É possível verificar um aumento do ângulo de

ressonância, conforme a HRP se adsorve sobre a SAM. A curva C foi obtida após

lavagem do sistema com a solução tampão fosfato, para a eliminação das

moléculas fracamente ligadas, e a dissociação foi acompanhada por mais 300 s.

Nesta etapa, permanece na SAM apenas as biomoléculas cujas ligações são mais

estáveis. A diferença entre os ângulos obtidos nas curvas A e C, nos fornece a

extensão da imobilização enzimática. Para todos os métodos usando as SAM o

perfil do sensorgrama foi o mesmo, com distinção da magnitude das diferenças

entre os ângulos SRP entre as curvas A e C. Os resultados da variação do ângulo

SPR com a adsorção enzimática no disco de ouro modificados com vários tipos de

SAM e diferentes métodos de imobilização são apresentados na Tabela 9.

75

Tabela 9. Variação dos ângulos SPR para o disco de ouro modificados com

diferentes tipos de SAM para avaliação do método de imobilização da peroxidase

Método de imobilização Variação do ângulo SPR / mgrau

Au-ALP-EDC/NHS-HRP 200± 11

Au-MPA-EDC/NHS-HRP 205 ± 7

Au-MBA-EDC/NHS-HRP 239 ± 3

Au-MUA-EDC/NHS-HRP 361 ± 4

Au-CYS-GLU-HRP 382 ± 5

Au-CISTE-GLU-HRP 392 ± 3

Au-SAM-EDC/NHS-HRP: método 2 e Au-SAM-GLU-HRP: método 3

Analisando a Tabela acima é possível verificar que não é regra afirmar que

maiores adsorções significam melhores respostas voltamétricas. Isto pode ser

bem caracterizado observando os dados obtidos para o MUA. De acordo com a

técnica de SPR, o MUA apresentou um alto deslocamento do ângulo de SPR

indicando uma considerável imobilização enzimática. Porém, quando é avaliada a

resposta voltamétrica do biossensor formado através deste tiol, constata-se que a

sua sensibilidade é relativamente baixa, menor que a obtida para o MBA. Isto

mostra que a imobilização pode ser eficiente, mas é necessária a análise do

comportamento do eletrodo no método proposto, que no caso do MUA, por possuir

uma cadeia carbônica longa, impede a transferência de elétrons entre as espécies

e a superfície metálica.

Os outros resultados estão em concordância com aqueles obtidos usando a

voltametria cíclica, verificando-se que a cisteamina apresentou um alto

deslocamento do ângulo SPR, o que indica uma elevada imobilização da HRP na

superfície do disco e coerente com os resultados da sensibilidade e de

impedância, concluindo que esta imobilização enzimática ocorreu de forma

adequada sobre o disco de ouro.

Com a técnica de SPR é possível obter várias informações úteis com

respeito a adsorção de biomoléculas na superfície do disco. Com este trabalho foi

possível, pioneiramente, obter a quantidade de enzima que permaneceu ligada à

superfície, que é um parâmetro muito importante no desenvolvimento de

76

biossensores e no entendimento do desempenho do dispositivo. Segundo o

manual do equipamento, cada 120 mθ de deslocamento do ângulo de SPR

correspondem a 1 ng mm-2 de enzima adsorvida na SAM. A partir destes dados,

portanto, foi possível calcular a quantidade da HRP que permaneceu imobilizada

na SAM, conforme se observa na Tabela 10.

Tabela 10. Quantidade de enzima imobilizada na superfície determinada usando a

técnica de SPR.

Método de

imobilização

Quantidade de

HRP / mol cm-2

Au-ALP-EDC/NHS-HRP 3,8 10-12

Au-MPA-EDC/NHS-HRP 3,9 10-12

Au-MBA-EDC/NHS-HRP 4,6 10-12

Au-MUA-EDC/NHS-HRP 6,8 10-12

Au-CYS-GLU-HRP 7,3 10-12

Au-CISTE-GLU-HRP 7,5 10-12

Os resultados obtidos na Tabela 10 foram utilizados para o cálculo da

quantidade de moléculas de enzima que permaneceu imobilizada na superfície do

disco e a relação do número de tiol por enzima imobilizada. Além disso, estes

dados obtidos com a técnica de SPR foram comparados com dados obtidos pela

estimativa teórica da quantidade máxima de enzima que poderia permanecer

imobilizada na superfície. Para os cálculos teóricos foi considerado como diâmetro

da molécula de HRP o valor de 30 Å (HERREN et al., 1997). Como o diâmetro da

enzima é o mesmo em todas as SAM, a quantidade máxima de HRP que pode se

imobilizar na superfície do disco é de 1,4 1013 moléculas cm-2. Os resultados estão

apresentados na Tabela 11

77

Tabela 11. Quantidade de enzima imobilizada na superfície determinada usando a

técnica de SPR.

Quantidade de Tiol1 /

mol cm-2

Quantidade experimental de HRP

imobilizada / moléculas cm-2

Relação Tiol /

Enzima2

ALP = 9,4 10-10 2,3 1012 247

MPA = 6,3 10-10 2,2 1012 162

MBA = 7,3 10-10 2,8 1012 159

MUA = 2,0 10-9 4,1 1012 294

CYS = 3,4 10-10 4,4 1012 47

CISTE = 6,0 10-10 4,5 1012 80

1Dados obtidos pela realização da dessorção eletroquímica e corrigidos por um fator 2Relação Tiol/Enzima: Quantidade de Tiol / Quantidade de HRP imobilizada

Na Tabela 11, para os dados relacionados a quantidade de tiol adsorvida na

superfície de ouro, utilizou-se os resultados obtidos por meio da dessorção

eletroquímica. Como os cálculos teóricos demonstraram que poderia haver uma

contribuição da corrente capacitiva ou mesmo da rugosidade do eletrodo na

obtenção dos picos de dessorção, foi calculado um fator de correção na tentativa

de suprir estas interferências no cálculo. O fator de correção foi obtido com os

dados da monocamada mais bem formada na superfície, no caso, o ácido

mercaptoundecanóico (MUA). Para isso, dividiu-se a quantidade de moléculas de

tiol obtida pelos cálculos teóricos pelos dados obtidos experimentalmente

(dessorção eletroquímica). Desta forma, os resultados obtidos experimentalmente

foram corrigidos, de modo que puderam ser utilizados para os cálculos da relação

tiol/enzima.

Observando a Tabela 11, ao analisarmos as SAM apenas com grupos

terminais –COOH, é possível verificar que certas monocamadas necessitam de

mais moléculas de tiol para imobilizar uma única molécula de HRP, fato que pode

gerar alguns sítios livres na SAM, pois nem todos irão reagir com os grupamentos

aminos da biomolécula, como pode ser verificado no caso do MUA e do ALP. Isto

78

ocorre principalmente porque, apesar de algumas monocamadas recobrirem

satisfatoriamente a superfície metálica, o processo de imobilização pode não ser

eficiente, gerando muitos sítios livres que não reagiram com a enzima, até mesmo

devido ao seu elevado peso molecular. Quando analisamos o MBA e o MPA,

verifica-se que como estas SAM possuem um recobrimento intermediário, utilizam

menos moléculas de tiol para a imobilização eficiente de uma única biomolécula,

diminuindo a ociosidade dos grupos que não reagiram com a HRP.

Ao avaliarmos as SAM com grupos terminais –NH2, verifica-se que as

mesmas utilizam menores quantidades de moléculas de tiol para a imobilização da

mesma quantidade de enzima que as SAM com grupamentos ácidos,

demonstrando que estas SAM não proporcionam muitos sítios reativos ociosos e,

neste caso, a imobilização é mais eficiente. No entanto, como esta relação está

diretamente ligada ao recobrimento das monocamadas sobre a superfície, pode-

se concluir um fato importante ao observarmos estes dois últimos tióis. Primeiro, o

grau de recobrimento da CYS é cerca de 40% menor que o da CISTE. Se

normalizarmos os recobrimentos destas monocamadas, necessitaríamos de mais

moléculas de CISTE por HRP. No entanto, constata-se novamente que a

cisteamina é a monocamada mais adequada, nestas condições, para a

imobilização eficiente na enzima HRP na superfície do eletrodo de ouro.

Se compararmos os dados da imobilização da HRP obtidos com o SPR

com os dados teóricos (1,4 1013 moléculas cm-2), verifica-se que não foi

imobilizada a quantidade máxima de enzima permitida pelo disco, provavelmente

pela influência das SAM, que não recobrem totalmente a superfície de ouro.

Assim, devido aos resultados obtidos usando as técnicas propostas para a

caracterização da imobilização da HRP em superfície metálica, apontarem os

eletrodos de ouro modificados com cisteamina como os mais promissores, este foi

selecionado para a otimização dos parâmetros analíticos do biossensor e,

posteriormente, determinação da espécie de interesse, o peróxido de hidrogênio.

79

4.6 Estudos Voltamétricos do Biossensor Au-CISTE-GLU-HRP:

Otimização e Determinação de Parâmetros

Depois de selecionado o melhor método para imobilização da enzima

peroxidase, iniciou-se a avaliação do desempenho analítico do biossensor. A

resposta voltamétrica foi examinada em função da concentração de enzima no

processo de imobilização, enquanto que os volumes dos outros componentes da

solução permaneceram constantes. A Figura 22 mostra o efeito da quantidade da

HRP nos valores de corrente, em solução contendo 85 µmol L-1 de H2O2 e 25 µmol

L-1 do mediador hidroquinona. É possível constatar que não houve aumento

significativo na resposta, com a concentração da HRP maior que 2 mg mL-1 e,

portanto, esta foi a concentração selecionada para os outros experimentos.

1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

5,0

5,5

6,0

I / µ

A

concentração de HRP / mg mL-1

Figura 22. Efeito da quantidade de enzima na resposta voltamétrica do

biossensor Au-CISTE-GLU-HRP em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5

contendo 85 µmol L-1 de H2O2 e 25 µmol L-1 do mediador hidroquinona.

Velocidade de varredura: 50 mV s-1.

80

Como um dos objetivos deste trabalho era a determinação amperométrica

de peróxido de hidrogênio, foram também otimizados alguns parâmetros para esta

técnica. O principal deles é a escolha do potencial aplicado, pois este tem um forte

efeito na resposta do biossensor. Assim, fez-se um estudo da dependência do

potencial aplicado na corrente de redução do biossensor em solução tampão

fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5 contendo 85 µmol L-1 de peróxido de hidrogênio e 25

µmol L-1 de hidroquinona. Os resultados obtidos são apresentados na Figura 23 e,

como pode ser observado, a resposta aumenta conforme o potencial é alterado

para valores mais positivos, e alcança um máximo de intensidade de corrente em -

50 mV (vs. ECS). Isto ocorre, pois em potenciais mais negativos pode ocorrer a

formação de uma forma inativa da HRP, pela redução do estado de (III) para (II)

de ferro presente no sítio ativo da enzima (SANTOS et al., 2006). Acima do

potencial de -50 mV, a corrente diminui consideravelmente. Isto porque em

potenciais positivos pode ocorrer certa dificuldade de redução das espécies de

benzoquinona. Desta forma, o potencial de -50 mV foi selecionado para ser

utilizado nos outros experimentos.

-200 -150 -100 -50 0 500

10

20

30

40

∆j /

µA

cm

-2

Potencial / mV vs. ECS

Figura 23. Efeito do potencial aplicado na resposta amperométrica obtido

para o biossensor Au-CISTE-GLU-HRP em 85 µmol L-1 de peróxido de hidrogênio

e 25 µmol L-1 de hidroquinona em tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5.

81

Foi verificado também o efeito do eletrólito na resposta amperométrica do

biossensor Au-CISTE-GLU-HRP em solução contendo 85 µmol L-1 de peróxido de

hidrogênio e 25 µmol L-1 de hidroquinona. Todas as soluções, antes do uso,

tiveram o seu pH ajustado para 7,0. Os resultados são observados na Tabela 12.

Tabela 12. Estudo da influência da natureza do eletrólito suporte na resposta

amperométrica do biossensor pH = 7,0. (n=3).

Soluções Tampão 0,1

mol L-1

Corrente / µµµµA

Fosfato 3,1 ± 0,3

Hepes 2,2 ± 0,8

Pipes 2,3 ± 0,6

Tris 2,3 ± 0,9

Britton-Robinson 3,0 ± 0,4

Observando a Tabela 12, é possível verificar que os maiores valores de

corrente foram obtidos para o biossensor em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 e,

desta forma, este foi selecionado para os experimentos posteriores.

A influência do pH na resposta voltamétrica do biossensor para peróxido de

hidrogênio foi examinada na faixa de pH entre 5,0 e 8,0. Os resultados estão

apresentados na Figura 24, e observa-se o aumento da corrente de redução com

o aumento do pH até adquirir um valor máximo em pH igual a 6,5. A partir desta

condição, a corrente diminui novamente. Por conseguinte, um pH de 6,5 foi

adotado para os estudos posteriores e está condizente com os valores ótimos de

pH para outros biossensores a base de HRP encontrados na literatura.

82

5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0

2,5

2,6

2,7

2,8

2,9

3,0

I / µ

A

pH

Figura 24. Dependência do pH na resposta amperométrica do biossensor

Au-CISTE-GLU-HRP em solução contendo 85 µmol L-1 de peróxido de hidrogênio

e 25 µmol L-1 de hidroquinona em tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5. E aplicado: -

50 mV (vs. ECS).

A influência da concentração do mediador na resposta do biossensor a

base de HRP foi investigado na presença de em 85 µmol L-1 de peróxido de

hidrogênio (tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5 e -50 mV vs. ECS) e é mostrada na

Figura 25. O sinal do biossensor aumenta com a concentração de hidroquinona de

5 a 25 µmol L-1 e acima deste valor, torna-se praticamente constante. Isto ocorre,

porque em baixas concentrações de hidroquinona, a resposta do biossensor é

mediador-dependente. Somente quando a concentração de hidroquinona é alta o

suficiente, a resposta do eletrodo se torna substrato-dependente. Portanto, o valor

de 25 µmol L-1 foi empregado nos experimentos subsequentes.

83

0 10 20 30 40 50

20

25

30

35

40

45

∆j /

µA

cm

-2

concentração hidroquinona / µmol L-1

Figura 25. Influência da concentração do mediador hidroquinona na

resposta do biossensor Au-CISTE-GLU-HRP em 85 µmol L-1 de peróxido de

hidrogênio em tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5 e potencial aplicado de -50 mV.

Adicionalmente investigou-se a característica do sinal amperométrico do

biossensor com o aumento contínuo da concentração de peróxido de hidrogênio

em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5 e quantidade constante de

mediador. A Figura 26 apresenta a curva que mostra a dependência da corrente

de reduçã,0com a adição de H2O2.

84

0 20 40 60 80 100 120 140 160

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

∆I

/ µA

concentração peróxido / µmol L-1

Figura 26. Curva analítica típica obtida para o biossensor Au-CISTE-GLU-

HRP em diferentes concentrações de peróxido de hidrogênio e quantidade

constante de 25 µmol L-1 de hidroquinona em tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5. E

aplicado: -50 mV (vs. ECS).

A corrente possui uma boa linearidade relacionada com a concentração de

H2O2 na faixa de 3,0 a 100 µmol L-1. A sensibilidade encontrada para o biossensor

nestas condições foi de 8,4 mA µmol L-1 e o limite de detecção de 0,6 µmol L-1

estimado através do desvio padrão dos ensaios no tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH

6,5 (n=10) multiplicado por 3. A repetibilidade também foi avaliada usando o

desvio padrão relativo (DPR) e foi de 2,3%, para n=6 e em 85 µmol L-1 da espécie

de interesse. Além disso, a repetibilidade de preparação dos biossensores foi

estimada usando a resposta de 5 eletrodos diferentes e foi de 4,3%.

A estabilidade operacional do biossensor foi verificada utilizando-se o

eletrodo em análises repetidas com intervalo de 5 minutos sobre um longo período

de utilização. A Figura 27 mostra os resultados obtidos e é possível verificar que

95% da resposta inicial foi mantida após 200 determinações em solução tampão

fosfato 0,1 mol L-1 contendo 25 µmol L-1 do mediador e 85 µmol L-1 de H2O2.

85

0 50 100 150 200

20

40

60

80

100

120

Re

spo

sta

Re

lativ

a /

%

número de determinações

Figura 27. Estudo da estabilidade operacional do biossensor em solução

tampão fosfato 0,1 mol L-1 contendo 25 µmol L-1 de hidroquinona e 85 µmol L-1 de

peróxido de hidrogênio. Potencial aplicado: -50 mV (vs. ECS).

Para verificar o tempo de vida do biossensor procedeu-se por meio de

medidas diárias usando sempre o mesmo biossensor. Os resultados estão

apresentados na Figura 28, na qual é possível notar uma considerável

estabilidade até o trigésimo dia e, após este período, a resposta do biossensor

começa a apresentar uma redução diária. Cabe ressaltar que mesmo com esta

diminuição na resposta, o biossensor ainda apresenta sensibilidade suficiente para

ser utilizado em análises de rotina.

86

0 10 20 30 40 50 60 70 8020

40

60

80

100

120

Re

spo

sta

re

lativ

a /

%

tempo / dias

tempo de vida

Figura 28. Curva referente ao tempo de vida do biossensor Au-CISTE-GLU-

HRP para análise diária em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5 contendo

25 µmol L-1 de hidroquinona e 85 µmol L-1 de peróxido de hidrogênio. Potencial

aplicado: -50 mV (vs. ECS).

Os dados analíticos obtidos com este biossensor foi comparado com outros

dados da literatura, que também utilizaram a enzima HRP na forma imobilizada

para a determinação de peróxido de hidrogênio. Os resultados estão apresentados

na Tabela 13.

87

Tabela 13. Tabela 13. Comparação das respostas amperométricas de

biossensores a base da enzima HRP para a determinação de peróxido de

hidrogênio.

Eletrodo Mediador

Redox

E (V) Procedimento

de Imobilização

Características

Analíticas

Tempo

de Vida

Útil

Referência

Carbono vítreo Azul de

Metileno

-0,2 20 mg de HRp é

encapsulada com

uma proteína da

fibra da seda e

adsorvida no

eletrodo

0,1 µmol L-1 30 dias LIU et al.,

1995

Carbono vítreo Ferroceno -0,2 HRP foi

imobilizada com

ferroceno via

polimerização de

poliestireno e poli-

L-Lisina no

eletrodo

0,5 µmol L-1 YABUKI et

al., 2000

Pasta de

Carbono

Ferroceno 0,05 HRP foi

imobilizada com o

ferroceno em pasta

de carbono via

eletropolimerizaçã

o de poli-o-

aminofenol

8,5 µmol L-1 7 dias GARCÍA et

al., 1998

Biocompósito -0,05 HRP foi trapeada

em uma mistura de

grafite e resina

epóxi e platina

MORALES et

al., 1996

Ouro Tetratiofulvale

no

0,0 Coimobilização da

HRP e mediador

com glutaraldeído

em SAM de MPA

0,7 µmol L-1 15 dias CAMPUZAN

O et al., 2005

88

Ouro -0,2 Imobilização da

HRP em DNA

previamente

adsorvida em SAM

de cisteamina

0,5 µmol L-1 30 dias SONG et al.,

2006

Ouro

eletropolimeriz

a-do com

PPDA

Hidroquinona -0,1 Imobilização da

HRP em Au

coloidal adsorvido

em SAM de

cisteamina formada

sobre eletrodo

modificado

0,1 µmol L-1 21 dias LI et al., 2004

Ouro recoberto

com SAM de

cisteamina

Hidroquinona -0,2 Imobilização da

HRP em ouro

coloidal adsorvido

em um dendrímero

adsorvido sobre a

SAM

2 µmol L-1 30 dias LIU et al.,

2005

Nanotubos de

Ouro

Hidroquinona Nanotubos de ouro

foram modificados

com SAM MPA na

qual a HRP foi

covalentemente

imobilizada

DELVAUX et

al., 2004

Ouro Hidroquinona -0,05 Imobilização da

HRP com

glutaraldeído sobre

SAM de cisteamina

0,6 µmol L-1 30 dias Este trabalho6

Ouro -0,2 Imobilização da

HRP em DNA

previamente

adsorvida em SAM

de cisteamina

0,5 µmol L-1 30 dias SONG et al.,

2006

89

Observando a Tabela 13, é possível verificar que o biossensor Au-CISTE-

GLU-HRP apresentou bons resultados analíticos, quando comparado a outros

biossensores para peróxido de hidrogênio encontrados na literatura, até mesmo

para aqueles que se utilizam de nanomateriais para o seu desenvolvimento.

Principalmente, a robustez e tempo de vida do eletrodo proposto apresentaram

valores bastante promissores, ressaltando-se que o biossensor construído neste

trabalho possui um procedimento de preparação bem simples.

Em adição, avaliou-se o efeito de memória do biossensor empregando

soluções com diferentes quantidades de H2O2, tanto em baixas concentrações de

H2O2 (0,85 µmol L-1), como em concentrações mais altas (85 µmol L-1) em tampão

fosfato 0,1 mol L-1 pH 6,5. Os resultados estão apresentados na Figura 29 e pode

ser observado que o biossensor responde rapidamente a mudanças na

concentração do analito, não havendo alteração na resposta amperométrica. Este

tipo de análise é importante, pois indica que o biossensor proposto pode ser

acoplado a um sistema de injeção em fluxo ou usado para monitoramento em

tempo real.

0 8 17 25 33 42

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

∆I /

µA

tempo / min

Figura 29. Resposta amperométrica do biossensor Au-CISTE-GLU-HRP.

Experimento realizado em baixa e em alta concentração de peróxido de

90

hidrogênio: 0,85 µmol L-1 e 85 µmol L-1, respectivamente. Potencial aplicado de -

50 mV (vs. ECS) em 0,1 mol L-1 de tampão fosfato pH 6,5 e 25 µmol L-1 de

hidroquinona.

Os resultados obtidos com relação à resposta linear, limite de detecção,

sensibilidade e estabilidade do biossensor proposto indicam que este pode ser

usado na determinação quantitativa de peróxido de hidrogênio.

4.7 Determinação de Peróxido de Hidrogênio em Amostras

Odontológicas usando o Biossensor Au-CISTE-GLU-HRP

No mundo moderno e civilizado, dentes brancos, bem contornados e bem

alinhados estabelecem o padrão de beleza. O sorriso é o traço mais marcante de

nossa fisionomia. Através dele nos apresentamos e marcamos presença na

sociedade Os dentes brancos são, não apenas considerados atraentes, mas

indicam saúde nutricional, amor próprio e até status econômico.

Neste contexto, o clareamento dental tem se tornado um dos

procedimentos estéticos mais procurados pelas pessoas, devido a sua relativa

simplicidade de realização e rapidez na obtenção dos resultados.

O peróxido de hidrogênio ainda hoje é o produto mais efetivo e mais

utilizado nos procedimentos de clareamentos dentários. Mais comumente usado

nas concentrações de 30 a 35%, para aumentar ainda mais o poder de ação do

H2O2, tem sido recomendado o emprego de calor, como o laser. Porém, apesar de

muito eficaz, o peróxido de hidrogênio é muito cáustico, o que pode requer

cuidados e uma técnica muito apurada.

Embora a FDA (Food and Drug Administration) não tenha constatado que o

clareamento dental possa causar algum efeito maléfico à saúde, alguns órgãos

europeus como a SCCP (European Union’s Scientific Committee on Consumer

Products) tem verificado que a exposição a altas concentrações de H2O2 pode

aumentar o risco de desenvolver um câncer oral (MUNRO et al., 2006).

91

Os géis, a base de peróxido de hidrogênio, utilizados para clarear os dentes

nos consultórios odontológicos normalmente não possuem controle de qualidade e

a quantidade de princípio ativo presente nestes materiais pode variar muito.

Desta forma, a determinação de H2O2 é um procedimento importante, visto

que concentrações maiores que as indicadas podem causar riscos à saúde.

O teor de peróxido de hidrogênio presente em amostras odontológicas foi

determinado utilizando-se o biossensor proposto Au-CISTE-GLU-HRP. Estes

resultados foram comparados com o método oficial recomendado na Farmacopeia

(2000) que é baseado na titulação iodométrica. Porém, este método consome

tempo e gera uma grande quantidade de resíduos, tornando-se inadequada para

análises de rotina.

Para a análise usando o biossensor, foram realizados estudos de adição de

padrão empregando a técnica amperométrica, em solução tampão fosfato pH 6,5

contendo 25 µmol L-1 de hidroquinona. Foram realizadas quatro adições

sucessivas do padrão na amostra e a Figura 30 mostra o amperograma obtido

para uma das análises.

150 200 250 300 350 400 450

-0,40

-0,35

-0,30

-0,25

-0,20

-0,15

-0,10

-0,05

0,00

-20 -10 0 10 20 30 40 50 60

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

I / µ

A

concentração H2O

2 / µmol L-1

I / µ

A

tempo / s

Figura 30. Amperograma obtido para a adição de padrão usada na

determinação de peróxido de hidrogênio em amostras odontológicas. Solução

92

tampão 0,1 mol L-1 pH 6,5 contendo 25 µmol L-1 de hidroquinona. Potencial

aplicado: - 50 mV (vs. ECS), (n=4).

A Tabela 14 apresenta os resultados obtidos na determinação de peróxido

de hidrogênio com o biossensor e a comparação com o método oficial de titulação

iodométrica.

Tabela 14. Determinação da concentração de peróxido de hidrogênio em amostras

odontológicas, usando o biossensor proposto.

Amostra Valor

Rotulado

Biossensor

Proposto

Método

Oficial

Desvio

Relativo*

1 35% 36,4 ± 1,2% 36,1 ± 1,3% 0,8%

2 35% 37,1 ± 1,0% 36,9 ± 1,1% 0,6 %

3 35% 35,9 ± 0,8% 35,6 ± 1,2% 0,8 %

A estimativa do desvio padrão para n=3 foi realizada em todas as análises. * Estimativa do desvio

relativo obtido entre os métodos titulométrico e o biossensor proposto.

É possível verificar que os resultados obtidos com o biossensor Au-CISTE-

GLU-HRP estão muito próximos daqueles encontrados utilizando-se o método

oficial sugerido pela Farmacopéia. É interessante observar também que a

quantidade encontrada pelos dois métodos está cerca de 5% acima daquela

indicada no rótulo da amostra. Isso é muito comum de ocorrer, uma vez que

amostras farmacêuticas, na maioria das vezes, podem conter um excesso do

princípio ativo, especialmente em casos nos quais a substância pode sofrer

alguma degradação. Desta forma, uma vez que concentrações maiores que 35%

de peróxido de hidrogênio podem causar algum malefício à saúde, é muito

importante que haja um método fácil, robusto e sensível para o controle de

qualidade destas amostras, fato que torna o biossensor proposto uma ótima

alternativa para estas análises.

Na Tabela 15 encontram-se os valores de recuperação para o biossensor

aplicado nas amostras de clareamento dental. Por estes testes, pode-se concluir

93

que a matriz não interfere significativamente na resposta do biossensor, o que

evidencia alta seletividade para com a espécie de interesse analítico.

Tabela 15. Porcentagem de recuperação em diferentes amostras da solução

usada em clareamento dental obtida com o biossensor Au-CISTE-GLU-HRP.

Amostra Adicionado /

µµµµ mol L-1

Encontrado /

µµµµ mol L-1

Recuperação

/ %

1 0,0 14,7 ± 0,8 -

1 15,0 29,4 ± 0,5 99,0

1 30,0 45,0 ± 0,6 100,7

2 0,0 15,3 ± 0,3 -

2 15,0 30,8 ± 0,3 101,7

2 30,0 46,0 ± 0,7 100,4

3 0,0 14,6 ± 0,4 -

3 15,0 29,1 ± 0,4 98,3

3 30,0 44,8 ± 0,3 101,5

Com estas características o biossensor desenvolvido evidencia-se como

uma boa alternativa para a determinação de peróxido de hidrogênio em amostras

odontológicas usadas para clareamento dental, levando-se em conta que não há

necessidade da adição de nenhum reagente durante as análises e nem há

geração de resíduos tóxicos, ao contrário do que se verifica com o método de

referência. Além disso, o sensor apresentou uma boa faixa de resposta, boa

repetibilidade e estabilidade suficiente à realização de análises confiáveis.

Ressalta-se ainda que o sensor é construído de forma simples e com baixo

custo e seu tempo de vida pode se estender por alguns meses, se mantido em

ambiente limpo.

94

CAPÍTULO 5 5. Conclusões Gerais

i) Conclusões Relacionadas à Imobilização da Enzima HRP sobre

Monocamadas Auto-Organizadas

Na primeira etapa deste trabalho verificou-se que há influência do tipo de

SAM utilizada no processo de imobilização da enzima HRP. Uma das

influências mais notáveis é que nem sempre altos graus de recobrimento da

monocamada na superfície metálica significam uma maior imobilização

enzimática, como mostrou o ácido mercaptoundecanóico (MUA). Seu

recobrimento na superfície do eletrodo de ouro é a maior que dos outros tióis e,

no entanto, a sua sensibilidade frente ao peróxido de hidrogênio, substrato da

HRP, é baixa, devido a passivação da superfície, dificultando o processo de

transferência de elétrons.

Dentre as monocamadas com grupos terminais carboxílicos a monocamada

formada pelo ácido mercaptobenzóico (MBA) foi aquela que apresentou

resultados mais satisfatórios obedecendo a relação imobilização enzimática /

sensibilidade. Este resultado foi bastante surpreendente, pois o MBA não é

muito utilizado em outros trabalhos citados na literatura.

Porém, foi possível verificar que as monocamadas com grupos terminais –

NH2 foram aquelas que proporcionaram melhores resultados, tanto para a

imobilização da enzima HRP como na resposta eletroquímica para H2O2. Como

estas SAM foram as que apresentaram o menor grau de recobrimento e,

conseqüentemente, uma grande quantidade de defeitos na superfície do

eletrodo, acredita-se que o glutaraldeído esteja contribuindo de forma positiva

na imobilização enzimática. Estes resultados foram comprovados pelas

diferentes técnicas utilizadas neste trabalho. A técnica de SPR foi muito

importante na obtenção das informações relacionadas ao processo de

imobilização da HRP pois, foi possível, pela primeira vez, calcular a quantidade

de enzima que permaneceu imobilizada na superfície do disco.

95

Além disso, um outro fato importante de se observar é que nem sempre é

possível obter uma informação confiável com a utilização de apenas uma

técnica de caracterização do sistema. Por isso, na maioria das vezes, faz-se

necessário um estudo maior, envolvendo técnicas distintas, que possam

avaliar de forma diferente e/ou complementar o sistema de estudo.

ii) Conclusões sobre a Avaliação do Biossensor Proposto Au-CISTE-GLU-

HRP

O dispositivo proposto neste projeto demonstrou que é possível o

desenvolvimento de biossensores a base de monocamadas auto-organizadas

com excelente sensibilidade e estabilidade.

Embora muitos estudos ainda necessitem ser realizados a fim de se

aprimorar os parâmetros analíticos obtidos com este biossensor, o objetivo

mais importante do trabalho foi cumprido, uma vez que a verificação da

variação da resposta eletroquímica com o tipo de tiol utilizado na formação da

SAM foi avaliado.

E, neste sentido, a possibilidade de se vislumbrar as propriedades da

superfície previamente utilizada na imobilização enzimática é muito importante,

pois torna-se possível prever ou até mesmo estimar qual processo de

imobilização de biomoléculas pode se tornar mais eficiente para determinada

SAM.

Dentre os resultados obtidos com o biossensor proposto, verifica-se que o

limite de detecção encontrado possui um valor satisfatório, uma vez que é até

menor que alguns outros limites de detecção para H2O2 encontrados na

literatura, inclusive em casos nos quais de utilizam nanomateriais para o

desenvolvimento do biossensor. Os estudos de repetibilidade mostraram

resultados bastante interessantes com cisteamina e a reprodutibilidade entre

biossensores também foi boa, mostrando mais uma vez que a SAM é fácil de

construir. Adicionalmente, com o mesmo biossensor é possível realizar mais de

200 determinações mantendo-se ainda 95% da resposta inicial.

96

Merece destaque o alto tempo de vida útil encontrado para o sensor Au-

CISTE-GLU-HRP, que apresentou valores maiores que aqueles encontrados

na literatura, também utilizando-se o mesmo material biológico.

O dispositivo proposto neste trabalho possibilitou a realização da

determinação da concentração de peróxido de hidrogênio em amostras reais,

no caso amostras para clareamento dental, demonstrando excelente

desempenho. Em todas as amostras os resultados ficaram bem próximos dos

valores encontrados pelo método oficial.

O biossensor também foi avaliado frente aos testes de recuperação,

apresentando também bons resultados, indicando que a matriz não interfere

significativamente na resposta do biossensor. Este comportamento evidencia a

alta seletividade do dispositivo.

Como visto, o biossensor Au-CISTE-GLU-HRP além de comprovar que a

estratégia elaborada para a sua construção é bastante simples e reprodutível,

resultou em um excelente dispositivo para a determinação na concentração de

peróxido de hidrogênio em amostras reais, com boa estabilidade e exatidão.

97

CAPÍTULO 6 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLARA, D.L. (1995). Critical issues in applications of self-assembled monolayers. Biosens. Bioelectron. 10, 771-783. BADIA, A.; LENNOX, R.B.; REVEN, L. (2000). A dynamic view of self-assembled monolayers. Acc. Chem. Res. 33 (7), 475-481. BAIN, C.D.; WHITESIDES, G.M. (1988). Formation of 2-component surfaces by the spontaneous assembly of monolayers on gold from solutions containing mixtures of organic thiols. J. Am. Chem. Soc. 110 (19), 6560-6561. BAIN, C.D.; BIEBUYCK, H.A.; WHITESIDES, G.M. (1989). Comparison of self-assembled monolayers on gold - coadsorption of thiols and disulfides. Langmuir 5 (3), 723-727. BAIN, C.D.; TROUGHTON, E.B.; TAO, Y.T.; EVALL, J.; WHITESIDES, G.M.; NUZZO, R.G. (1989). Formation of monolayer film by the spontaneous assembly of organic thiols from solution onto gold. J. Am. Chem. Soc. 111, 321-335. BAIN, C.D.; WHITESIDES, G.M. (1989). Formation of monolayers by the coadsorption of thiols on gold - variation in the length of the alkyl chain. J. Am. Chem. Soc. 111 (18), 7164-7175. BARD, A.J.; FAULKER, L.R. (1990). Electrochemical Methods, Fundamental and Apllications. Wiley, New York. BECKA, A.M.; MILLER, C.J. (1992). Electrochemistry at omega-hydroxy thiol coated electrodes .3. Voltage independence of the electron-tunneling barrier and measurements of redox kinetics at large overpotentials. J. Phys. Chem. 96 (6), 2657-2668. BENSEBAA, F.; VOICU, R.; HURON, L.; ELLIS, T.H.; KRUUS, E. (1997). Kinetics of formation of long-chain n-alkanethiolate monolayers on polycrystalline gold. Langmuir 13 (20), 5335-5340. BIEBUYCK, H.A.; BIAN, C.D.; WHITESIDES, G.M. (1994). Comparison of organic monolayers on polycrystalline gold spontaneously assembled from solutions containing dialkyl disulfides or alkenethiols. Langmuir 10 (6), 1825-1831. BOUBOUR, E.; LENNOX, R.B. (2000). Insulating properties of self-assembled monolayers monitored by impedance spectroscopy. Langmuir 16, 4222-4228.

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