terra e Água conquistada transformam sonhos em realidade

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A vontade de ser dono de suas próprias terras sempre acompanhou Seu Francisco das Chagas Silva de 66 anos. O lavrador que passou boa parte de sua vida trabalhando de vaqueiro para os outros, alimentava o sonho de ter seu próprio pedaço de chão para plantar e cultivar. Seu Francisco conta que se criou na região onde está localizada a comunidade Queimadas, ficava sempre naquelas proximidades, trabalhava alguns anos em uma fazenda, um ano em outra, sempre que saia sentia saudades daquele pedaçinho de chão que tinha que deixar, mas hoje, com o dinheiro juntado ao longo dos anos de trabalho, ele realizou seu sonho, comprou seu próprio pedaço de terra e agora pode plantar, colher e cuidar do que é seu sem medo de um futuro incerto. A comunidade Queimadas que fica distante cerca de 30 km de Piracuruca foi o local onde Seu Francisco das Chagas escolheu para morar. Casado com Dona Maria Deuzuita Rodrigues de 57 anos, eles tiveram sete filhos, cinco mulheres e dois homens, mas o casal mora apenas com dois netos pequenos. Dona Deuzuita veio do município de Batalha e foi morara na região com 20 anos, ela conta que o casal se conheceu em uma roça, apanhando arroz, apaixonada por plantar ela também alimentava a vontade de ter seus canteiros de verduras, um pomar onde pudesse ter uma variedade de plantas frutíferas, mas mesmo depois de conquistado a terra outro problema dificultava a vida da família de Seu Francisco e Dona Deuzuita, a escassez de água da região. O casal diz que devido essas dificuldades até tentaram morar na cidade de Piracuruca, onde hoje também possui uma casa, mas o agricultor conta que não se acostumou, “devido o problema que tenho no braço eu fui obrigado a ir vez ou outra ver o médico e precisava pernoitar por lá, mas não conseguia dormir direito, era zoada de motor, um barulho grande, não me acostumei lá não”. Seu Francisco conta que a água para o consumo, para lavar roupa, para o banho e tudo mais vinha de um rio que fica duas léguas da comunidade Queimadas, eles utilizavam um jumento que ajudava no transporte do líquido preciso. Com a construção de um poço em uma Piauí Ano 4 | nº 71 | Julho | 2010 Piracuruca - PIauí Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Terra e Água conquistada transformam sonhos em realidade 1 Seu Francisco e Dona Deuzuita em seu quintal produtivo. Produção de arroz no quintal de casa.

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Page 1: Terra e Água conquistada transformam sonhos em realidade

A vontade de ser dono de suas próprias terras sempre acompanhou Seu Francisco das Chagas Silva de 66 anos. O lavrador que passou boa parte de sua vida trabalhando de vaqueiro para os outros, alimentava o sonho de ter seu próprio pedaço de chão para plantar e cultivar. Seu Francisco conta que se criou na região onde está localizada a comunidade Queimadas, ficava sempre naquelas proximidades, trabalhava alguns anos em uma fazenda, um ano em outra, sempre que saia sentia saudades daquele pedaçinho de chão que tinha que deixar, mas hoje, com o dinheiro juntado ao longo dos anos de trabalho, ele realizou seu sonho, comprou seu próprio pedaço de terra e agora pode plantar, colher e cuidar do que é seu sem medo de um futuro incerto.

A comunidade Queimadas que fica distante cerca de 30 km de Piracuruca foi o local onde Seu Francisco das Chagas escolheu para morar. Casado com Dona Maria Deuzuita Rodrigues de 57 anos, eles tiveram sete filhos, cinco mulheres e dois homens, mas o casal mora apenas com dois netos pequenos. Dona Deuzuita veio do município de Batalha e foi morara na região com 20 anos, ela conta que o casal se conheceu em uma roça, apanhando arroz, apaixonada por plantar ela também alimentava a vontade de ter seus canteiros de

verduras, um pomar onde pudesse ter uma variedade de plantas frutíferas, mas mesmo depois de conquistado a terra outro problema dificultava a vida da família de Seu Francisco e Dona Deuzuita, a escassez de água da região.

O casal diz que devido essas dificuldades até tentaram morar na cidade de Piracuruca, onde hoje também possui uma casa, mas o agricultor conta que não se acostumou, “devido o problema que tenho no braço eu fui obrigado a ir vez ou outra ver o médico e precisava pernoitar por lá, mas não conseguia dormir direito, era zoada de motor, um barulho grande, não me acostumei lá não”.

Seu Francisco conta que a água para o consumo, para lavar roupa, para o banho e tudo mais vinha de um rio que fica duas léguas da comunidade Queimadas, eles utilizavam um jumento que ajudava no transporte do líquido preciso. Com a construção de um poço em uma

Piauí

Ano 4 | nº 71 | Julho | 2010Piracuruca - PIauí

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Terra e Água conquistada transformam sonhos em realidade

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Seu Francisco e Dona Deuzuita em seu quintal produtivo.

Produção de arroz no quintal de casa.

Este é o espaço reservado para foto (largura 9cm)

Para inserir uma foto tecle , localize a imagem e selecione ok.

Selecione a foto, vá ao menu efeitos, na opção power clip / colocar em recipiente e clique no retângulo. A foto é inserida na área. Para editá-la (enquadramento), clique com o botão direito do mouse sobre a foto e clique sobre a opção editar conteúdo, nesta área é possível mover, aumentar ou diminuir a foto (clicando e arrastando as extremidades) para que se enquadre no retângulo-base. Para voltar à página, clique com o botão direito do mouse e selecione a opção concluir a edição deste nível.

Fonte Casablanca Antique corpo 37

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comunidade mais próxima, as famílias passaram a ser auxiliadas pelo carro do horário, um carro que passava todos os dias no mesmo horário, por isso o nome, levando e trazendo pessoas para a cidade de Piracuruca, “o carro levava as pessoas para a cidade e levavam nossos tambores juntos para encherem de água no poço e traziam todos os dias e a gente pagava dois a três reais para eles”, explica Dona Deuzuita.

Seu Francisco conta que teve um tempo em que apareceram uns carros pipas, passavam nas portas das casas e enchiam as bacias, mas para ele as coisas só melhoraram mesmo com a chegada das cisternas de 16 mil litros do Programa Um milhão de Cisternas Rurais da Articulação no Semiárido Brasileiro, Asa Brasil, essas cisternas armazenam a água da chuva através de calhas que são colocadas nos telhados das casas, Seu Francisco diz que a partir daí foi resolvido o problema da falta de água para beber, em 2009, a família também foi beneficiada com o Programa Uma Terra e Duas (P1+2) que visa a construção de cisternas com capacidade de armazenar 52 mil litros através de um calçadão, a água é utilizada para que a família possa produzir alimentos, tanto de origem vegetal como animal.

Seu Francisco então começou a acreditar que seu antigo sonho pudesse se transformar em realidade, um quintal produtivo em que pudesse chamar de seu. O inverno de 2010 foi fraco, mas o agricultor afirma que as cisternas encheram com apenas as chuvas de janeiro, animado a família cercou o terreno em volta dos implementos e começou a plantar. No quintal produtivo do casal a gente já encontra pimentão, pimenta de cheiro, pepino, maxixe, milho, mamão, feijão, gergelim, abobora, mastruz, melão e uma bonita plantação de arroz.

Outra lição que Seu Francisco e os demais moradores da comunidade que são beneficiadas com o P1+2 aprenderam foi o respeito à natureza. A comunidade Queimadas, se dependesse da força de vontade de Seu Francisco, já não possuiria esse nome, o agricultor afirma que está colocando em prática todos os ensinamentos que aprendeu nos cursos de capacitação promovidos pelo P1+2 e que incentivam a agricultura orgânica, queimadas já não é mais praticada em sua área e agora remédio para pragas somente defensivos naturais, nada de agrotóxico.

Seu Francisco agora quer aumentar seu quintal e pretende também mandar cavar um poço para ter água suficiente para aumentar suas criações de bode e ovelha. Agora que realizou seu sonho ele só quer é produzir “Depois que parei de trabalhar para os outros, que eu sentei foi que as coisas melhoraram pra gente, agora tenho um pedaço de terra e quando meus filhos

quiserem vir embora eles já tem um lugar onde ficar”, diz.

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Apoio:

www.asabrasil.org.br

Água da cisterna garante produção no quintal produtivo da família.

O neto mais novo do casal, colhendo no quintal de casa verduras para o almoço.