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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS ESCOLA DE DIREITO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS CURSO DE DIREITO TEORIA GERAL DO PROCESSO TURMA B03 Profa. Ms. Carolina Chaves Soares Email: [email protected]

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

ESCOLA DE DIREITO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

CURSO DE DIREITO

TEORIA GERAL DO PROCESSO

TURMA B03

Profa. Ms. Carolina Chaves Soares

Email: [email protected]

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PLANO DE ENSINO 2018-1

UNIDADE ESCOLA DE DIREITO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

COORDENAÇÃO DIREITO

DISCIPLINA TEORIA GERAL DO PROCESSO

CÓDIGO JUR 1140 CRÉDITOS 04

TURMA B03 3ª e 6ª, 13:30 – 15:00

PROFESSORA CAROLINA CHAVES SOARES

[email protected]

EMENTA

Estudo da propedêutica processual. Institutos comuns ao Direito Processual. Direito

processual: evolução histórica, princípios gerais e fontes. Formas de solução de conflitos:

autodefesa, autocomposição e processo. Natureza jurídica, finalidade e objeto do

processo. Jurisdição e equivalentes jurisdicionais. Organização, funcionamento e

competência dos órgãos judiciais. Ação e exceção. Relação jurídico-processual. Outros

institutos processuais.

OBJETIVO GERAL

Fornecer ao aluno, por meio de método dinâmico e interativo, noções dos institutos

fundamentais do direito processual.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Introduzir o aluno no estudo do direito processual como instrumento da jurisdição para

composição de conflitos.

Estudar os fundamentos históricos, conceituais e hermenêuticos do direito processual

brasileiro.

Possibilitar a compreensão da trilogia processual formada pela ação, jurisdição e

processo, capacitando o aluno a absorver os demais ensinamentos posteriores e saber

como utilizá-los na prática.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

UNIDADE I. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

UNIDADE II. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL

UNIDADE III. PRINCÍPIOS GERAIS DO PROCESSO

UNIDADE IV. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PROCESSUAL

UNIDADE V. JURISDIÇÃO E EQUIVALENTES JURISDICIONAIS.

UNIDADE VI. ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS TRIBUNAIS

UNIDADE VII. DA COMPETÊNCIA DOS ÓRGÃOS JUDICIAIS

UNIDADE VIII. DA AÇÃO E EXCEÇÃO

UNIDADE IX. NATUREZA JURÍDICA DO PROCESSO

UNIDADE X. RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL

UNIDADE XI. OUTROS INSTITUTOS PROCESSUAIS

ATIVIDADE EXTERNA DA DISCIPLINA (AED)

Objetivo da AED: compreender a importância da atuação do profissional do Direito nas

atividades em prol da cidadania.

Descrição da AED: participação na V Jornada da Cidadania da PUC Goiás ou em evento

que tenha o direito processual como conteúdo.

Cronograma:

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A V Jornada da Cidadania acontecerá nos dias 24 a 26 de maio de 2018, no Campus II

da PUC Goiás. A forma de inscrição ainda será divulgada pela instituição.

Em relação a eventos que tenham o direito processual como conteúdo, é dever do aluno

deles se inteirar.

A comprovação de participação no evento deve ser feita até o dia 12 de junho de 2018,

mediante a apresentação do certificado.

Forma de Registro: apresentação do certificado de participação.

Critério de Avaliação:

Serão atribuídas oito frequências ao aluno que apresentar a cópia do certificado de

participação no evento.

Na impressão do certificado, deve-se ter o cuidado para que apareça o código de

validação.

O aluno que não apresentar o certificado terá 8 faltas acrescentadas.

MATERIAL DE APOIO

Roteiro de aulas da disciplina, elaborado pela professora.

Facebook: Direito em Cartaz.

ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. Novo Código de Processo Civil anotado. Porto

Alegre: OAB RS, 2015.

METODOLOGIA

As atividades serão desenvolvidas mediante os seguintes procedimentos de ensino: aula

expositiva e dialogada; perguntas/ problematizações; estudos escritos; atendimento a

alunos; estudo de caso e pesquisa bibliográfica com resposta a questionário.

AVALIAÇÃO

N1:

- A 1ª N1 será aplicada em 13/03/18.

- A 2ª N1 será aplicada em 06/04/18.

- A N1 vale 10 pontos e tem peso 4.

N2:

- A 1ª N2 será aplicada em 04/05/18.

- A 2ª N2 será aplicada em 15/06/18.

- A N2 vale 10 pontos e tem peso 6.

- 1 ponto da 2ª N2 refere-se à atividade de estudos interdisciplinares; 1 ponto da média

de N2 refere-se à nota da avaliação interdisciplinar. Consequentemente, a prova da 1ª

N2 valerá 9,0 e a da 2ª N2 valerá 8,0.

Regras comuns às avaliações:

- A média para aprovação é 6,0 (seis).

- As avaliações serão feitas por múltiplos instrumentos, podendo conter questões

objetivas, discursivas e estudos de caso.

- Eventual reclamação quanto à correção da prova deverá ser feita no dia da devolução

da atividade, que é sempre o 1º dia de aula após a sua realização.

- As datas acima previstas poderão ser alteradas em caso de imprevistos no calendário

acadêmico.

- O profissional do Direito precisa entender a sociedade na qual está inserido, devendo

estar informado sobre o que acontece em âmbito nacional e internacional. Assim, em

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todas as avaliações haverá uma questão extra sobre atualidades/ conhecimentos

gerais.

- Essa professora somente aplica as avaliações descritas nesse plano de ensino (não há

trabalhos extras, prova de repescagem, etc.), devendo o aluno alcançar a média mínima

de 6,0 com essas atividades (a média não é 5,9 ou 5,95).

Prova substitutiva:

- Nos casos de deferimento de avaliação substitutiva, via processo administrativo, será

aplicada uma única avaliação para a N1, no dia 10/04/18, e outra para a N2, no dia

19/06/18. A prova conterá apenas questões discursivas e abordará todo o conteúdo dado

até o dia de sua realização.

Informes sobre a avaliação interdisciplinar:

- A prova será aplicada pela PUC-GO, em 10 de maio de 2018.

- A avaliação conterá 40 questões, sendo 10 de formação geral e 30 de formação

específica.

- A avaliação interdisciplinar vale 1 ponto na média da N2.

Estudos interdisciplinares:

- O tema dos estudos interdisciplinares em 2018-1 é “O Direito, a fraternidade e

a superação da violência”.

- As palestras acontecerão nos dias 08/03/18, 05/04/18, 04/05/18 e 08/06/18.

- Os horários dos eventos e o modo de inscrição ainda serão divulgados pela

Coordenação do Curso.

- O aluno deve participar de um dos debates e apresentar cópia do respectivo certificado,

sendo a atividade valorada em 1 ponto na 2ª N2.

- Na impressão do certificado, deve-se ter o cuidado para que apareça o código de

validação.

- A professora não é responsável pelo evento nem pela emissão dos certificados de

participação.

- O prazo máximo para apresentação do certificado é 15 de junho 2018.

Frequência:

- O aluno é reprovado se não obtiver 75% de presença na disciplina.

- Como já explicitado no tópico próprio, deverão ser desenvolvidas 8 horas-aula a título

de AED. O aluno que não fizer a AED terá acrescidas 8 faltas.

- é dever do discente se inteirar do Regimento Geral da PUC Goiás. Abaixo, seguem

normas importantes quanto à frequência.

Art. 130. Em conformidade com a legislação vigente, o estudante deve obter para aprovação, a frequência mínima de 75% (setenta e cinco por cento) das aulas e demais atividades escolares da disciplina. § 1º. Ao estudante ausente à aula ou atividade acadêmica será consignada falta, inexistindo o respectivo abono, por quaisquer motivos. § 2º. Nos casos previstos em Lei e na forma estabelecida nos art. 225 e 226 deste Regimento Geral, mediante prévia autorização da coordenação do curso, as faltas poderão ser compensadas mediante a realização de exercícios domiciliares. Art. 225. É concedido ao estudante regularmente matriculado o benefício do regime de exercícios domiciliares para compensar a ausência às aulas, nos termos do Decreto-Lei nº 1044, de 21/10/1969, em decorrência de doença adquirida ou incapacidade física relativa, de natureza isolada ou esporádica, que inviabilizou ou inviabilize a frequência às aulas ou às atividades, devidamente comprovada por atestado médico e com determinação expressa de repouso domiciliar ou internação em unidade hospitalar, desde que estejam preservadas as condições intelectuais e emocionais para o prosseguimento dos estudos.

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Art. 226. É concedido o benefício dos exercícios domiciliares, de acordo com a Lei nº 6.202, de 17/4/1975, à estudante regularmente matriculada, a partir do oitavo mês de gestação e durante o prazo de até 3 (três) meses, nas condições descritas neste Regimento Geral. Parágrafo único. Em casos excepcionais, devidamente comprovados mediante atestado médico, pode ser aumentado o período de concessão do benefício de exercícios domiciliares, antes e depois do parto, desde que não extrapole o fim do semestre letivo. Art. 227. No regime de exercícios domiciliares o estudante não é dispensado das avaliações que são realizadas nas datas definidas pelo docente, preferencialmente, com a turma regular. Parágrafo único. No caso de incapacidade, atestada por médico, de comparecer para realizar avaliação presencial no semestre vigente, o docente aplica outra modalidade de avaliação para ser realizada em domicílio. Art. 228. O pedido do estudante deve ser protocolado na Secretaria da Escola, contendo o atestado médico original, no prazo impreterível de 15 (quinze) dias letivos, contados da data inicial da determinação do repouso domiciliar ou internação em unidade de saúde. Parágrafo único. Os processos protocolados fora do prazo são indeferidos e arquivados. Art. 231. O benefício dos exercícios domiciliares não é concedido nos seguintes casos: I. afastamento das atividades acadêmicas em período menor ou igual a 10 (dez) dias corridos, ainda que determinado em atestado médico; II. para cursar componente curricular que seja indispensável a presença do estudante, tais como nas atividades práticas, laboratórios, campos de estágio e orientação de trabalho de conclusão de curso; III. descumprimento de quaisquer das exigências contidas nesta Subseção ou na legislação vigente. Art. 232. A concessão do benefício dos exercícios domiciliares para realização das atividades acadêmicas, incluindo as avaliações, cessa na data do encerramento do semestre letivo estabelecido no calendário acadêmico, ainda que o atestado médico determine repouso ou afastamento das atividades em prazo maior.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

ALVIM, José Eduardo Carreira. Teoria geral do processo. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense,

2016.

LIMA, Fernando Antônio Negreiros Lima. Teoria geral do processo judicial. 2. ed. São

Paulo: Atlas, 2015.

RODRIGUES, Horácio Wanderley; LAMY, Eduardo. A teoria geral do processo. 4. ed. São

Paulo: Atlas, 2016.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil. 19. ed. Salvador: Juspodivm,

2017. vol. 1.

THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 58. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2017, vol.1.

OBSERVAÇÕES

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1) Todas as informações relativas às aulas e às avaliações são dadas em sala de aula. É

responsabilidade do aluno se manter informado, principalmente se ele tiver faltado à

aula.

2) Em hipótese alguma essa professora aceita atividades fora do prazo.

3) Atividades plagiadas (da internet ou entre alunos) não serão valoradas.

4) O aluno deve obter sua nota no decorrer do semestre, realizando as avaliações acima

descritas. Não há outras atividades nem concessão de pontuação fora do estabelecido

nesse plano de ensino.

5) Os únicos critérios de aprovação são presença e nota. O aluno que é bolsista, que

depende de ajuda familiar para pagar o curso, que trabalha o dia todo, etc., deve ter

plena consciência de sua situação do início ao fim do semestre.

6) Conforme previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o aluno pode faltar a

25% das aulas. Os acontecimentos da vida estão abrangidos nesses 25% de falta, ou

seja, não há abono em caso de aniversário, compromisso profissional, comparecimento a

eventos, consultas médicas e odontológicas, mal estar, etc.

7) A chamada pode ser feita em qualquer momento da aula, sendo obrigação do aluno

estar presente do início ao fim. A professora não atribuirá presença ao aluno que não

estiver em sala no momento da chamada.

8) A professora não atribui falta ao aluno que responde à chamada. Assim, alegações do

tipo “mas eu não tive essas faltas” são inúteis, porque não haverá alteração do que foi

registrado.

9) É obrigatório levar o Vademecum em todas as aulas.

10) O estudo do direito processual exige a compreensão de uma sequência: cada aula

que o aluno falta ou chega atrasado interfere negativamente em sua aprendizagem.

11) Se o aluno tem compromissos no período de aula, deve se matricular em outro

horário.

12) Os livros constantes da bibliografia são uma indicação, mas o bom livro é aquele que

o aluno gosta de ler. Entretanto, resumos, sinopses e apostilas são obras destinadas a

recordação, não constituindo em fonte de estudo para o aluno de graduação.

13) Não se esqueça de desligar o celular ao entrar em sala de aula.

14) O processo de ensino aprendizagem exige um ambiente próprio: evite conversas

paralelas, elas atrapalham os colegas e a professora. Da mesma forma, os aparelhos

eletrônicos devem ser utilizados apenas para fins acadêmicos.

15) O atendimento ao aluno é feito em sala de aula ou por email

([email protected]).

16) Não há como aprender Direito sem ler! O aluno deve estudar o conteúdo da

disciplina através de livro doutrinário.

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APONTAMENTOS DE AULA1

1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS Direito, sociedade e conflito: - ubi societas, ibi jus, - direito: conjunto de normas jurídicas que regula as relações de um povo em determinado momento histórico, - necessidades ilimitadas x bens limitados: conflitos de interesses. Carnellutti: - pretensão: é “a exigência de subordinação do interesse de outrem ao interesse próprio”, - lide: “conflito de interesses, qualificado por uma pretensão resistida ou insatisfeita”. Estado: - poder uno, com funções separadas, - a divisão do Estado em poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), independentes entre si, funciona como mecanismo contra o despotismo, pois desconcentra os poderes de uma só pessoa, - um mesmo poder exerce mais de uma função, ainda que algumas delas atípicas. A distinção de um poder em relação ao outro é feita através de sua função típica, - Poder Legislativo: atividade legislativa, ou seja, formação da ordem jurídica, - Poder Executivo: atividade de aplicar o direito em nome do bem comum, sem ser provocado para tanto, - Poder Judiciário: atividade de pacificar as lides, quando provocado para tanto. **EXERCÍCIO**: Pesquise exemplos de funções atípicas dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. 2. FORMAS DE SOLUÇÃO DOS CONFLITOS Primórdios da história humana: os litígios eram solucionados por seus titulares e, normalmente, o mais forte vencia o mais fraco. Posteriormente, o Estado assume para si, em caráter exclusivo, a responsabilidade de solucionar os conflitos e proíbe que os envolvidos o façam. Autotutela/ autodefesa: - é a solução do litígio por um dos litigantes, pela força (“justiça privada”), - em regra, é proibida (crime de exercício arbitrário das próprias razões – art. 345 CP), - exemplos em que é permitida: desforço incontinenti (reação do possuidor quando alguém vai esbulhar – art. 1210, § 1º, CC), direito de retenção, legítima defesa (art. 25 CP), estado de necessidade, direito de greve. Autocomposição: - solução dada pelos próprios litigantes, com ou sem a interferência de terceiros, - espécies: conciliação, mediação, renúncia ao direito e reconhecimento do pedido.

• O CPC diferencia a conciliação e a mediação em seu art. 165, § 2º e 3º.

• A conciliação e a mediação produzem um acordo/ uma transação entre as partes.

1 Atenção: essa não é uma apostila para estudo. O estudo do Direito Processual deve ser feito

por meio de livros. Esses apontamentos servem apenas para que o aluno acompanhe as aulas.

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Arbitragem: - a solução do conflito é dada por um terceiro escolhido pelas partes (árbitro), - é regida pela Lei n. 9.307/96, - as partes envolvidas no conflito devem ser capazes (art. 1º), - o litígio deve referir-se a direito patrimonial disponível (art. 1º), - a arbitragem pode se fundamentar no Direito ou em equidade (art. 2º), - convenção de arbitragem (arts. 3º):

• cláusula compromissória: cláusula contratual (art. 4º),

• compromisso arbitral: não há acordo prévio, a parte interessada manifestará à outra parte sua intenção de firmar o compromisso (art. 6º e 9º),

- o árbitro precisa ser capaz e ter a confiança das partes (art. 13), - o árbitro profere uma sentença, que vale como um título executivo judicial (arts. 31 e 515, VII, NCPC), - não cabe recurso da sentença arbitral e ela não pode ser revista pelo Poder Judiciário (art. 18), - se houver vício na sentença arbitral, ela pode ser objeto de uma ação anulatória, perante o Poder Judiciário (arts. 32 e 33), - o árbitro tem poder de solucionar o conflito, mas não de executar suas decisões (art. 29). A execução da sentença arbitral se dá perante o Poder Judiciário (art. 516, III, NCPC).

EXEMPLO DE CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA: As partes elegem como foro para processamento e resolução de qualquer questão decorrente da interpretação, da execução ou da inexecução das obrigações estabelecidas no presente contrato, a instituição arbitral denominada Oitava Câmara de Conciliação e Arbitragem de Goiânia – 8ª CCA DE GOIÂNIA, a quem competirá decidir a questão instituindo a arbitragem conforme os procedimentos previstos em suas próprias regras - as quais as partes declaram conhecer, a Lei n.º 9.307/96 e a legislação brasileira. Como forma de concordância expressa, nos termos do § 2º do art. 4º da Lei n.º 9.307/96, as partes assinam a presente cláusula compromissória cheia.

Processo: - instrumento de que se serve o Estado para, no exercício da função jurisdicional, resolver os conflitos de interesses, - o conflito é solucionado pelo juiz, - o objeto imediato do processo é a aplicação da lei ao caso concreto; o objeto imediato é reestabelecer a paz entre os particulares e, com isso, manter a da sociedade. Os meios de solução dos conflitos classificam-se como: - parciais: solução pelos próprios litigantes (autodefesa e autocomposição), - imparciais: solução mediante decisão de um terceiro, alheio ao litígio (arbitragem e processo). **EXERCÍCIO**: - No direito processual civil, conceitue: conciliação, mediação, renúncia a direito e reconhecimento do pedido. - O que é um direito patrimonial? - Diferencie os direitos disponíveis e os indisponíveis. - Pesquise um exemplo de direito patrimonial indisponível. 3. DIREITO PROCESSUAL Direito material e processual: - direito material: conjunto de normas que buscam o regramento da vida em sociedade, regulando as diversas relações jurídicas (entre pessoas e pessoas e bens), - direito processual: conjunto de normas que regem o exercício da jurisdição.

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Fonte do direito processual: - fonte: de onde provém a norma jurídica, - fonte material: União (art. 22, I, CF), - fonte formal:

• imediata: lei,

• mediatas: costumes, doutrina e jurisprudência. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou por unanimidade a utilização do aplicativo WhatsApp como ferramenta para intimações em todo o Judiciário. A decisão foi tomada durante o julgamento virtual do Procedimento de Controle Administrativo (PCA) 0003251-94.2016.2.00.0000, ao contestar a decisão da Corregedoria do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), que proibira a utilização do aplicativo no âmbito do Juizado Civil e Criminal da Comarca de Piracanjuba/GO. O uso da ferramenta de comunicação de atos processuais pelo WhatsApp foi iniciado em 2015 e rendeu ao magistrado requerente do PCA, Gabriel Consigliero Lessa, juiz da comarca de Piracanjuba, destaque no Prêmio Innovare, daquele ano. O uso do aplicativo de mensagens como forma de agilizar e desburocratizar procedimentos judiciais se baseou na Portaria n. 01/2015, elaborada pelo Juizado Especial Cível e Criminal de Piracanjuba em conjunto com a Ordem dos Advogados do Brasil daquela cidade. Não obrigatório O texto da portaria dispõe sobre o uso facultativo do aplicativo, somente às partes que voluntariamente aderirem aos seus termos. A norma também prevê a utilização da ferramenta apenas para a realização de intimações. Além de facultativa, a portaria exige a confirmação do recebimento da mensagem no mesmo dia do envio; caso contrário, a intimação da parte deve ocorrer pela via convencional. Para o magistrado, autor da prática de uso do WhatsApp para expedição de mandados de intimação, o recurso tecnológico se caracterizou como um aliado do Poder Judiciário, evitando a morosidade no processo judicial. “Com a aplicação da Portaria observou-se, de imediato, redução dos custos e do período de trâmite processual”, disse Gabriel Consigliero Lessa. Em seu relatório, a conselheira Daldice Santana, relatora do processo, apontou que a prática reforça o microssistema dos Juizados Especiais, orientados pelos critérios da oralidade, simplicidade e informalidade. “O projeto inovador apresentado pelo magistrado requerente encontra-se absolutamente alinhado com os princípios que regem a atuação no âmbito dos juizados especiais, de modo que, sob qualquer ótica que se perquira, ele não apresenta vícios”, afirmou a conselheira Daldice, em seu voto. Para proibir a utilização do WhatsApp, a Corregedoria-geral de Justiça de Goiás justificou a falta de regulamentação legal para permitir que um aplicativo controlado por empresa estrangeira (Facebook) seja utilizado como meio de atos judiciais; redução da força de trabalho do tribunal e ausência de sanções processuais nos casos em que a intimação não for atendida. Segundo a conselheira relatora, diferentemente do alegado pelo Tribunal, a portaria preocupou-se em detalhar toda a dinâmica para o uso do aplicativo, estabelecendo regras e também penalidades para o caso de descumprimento “e não extrapolou os limites regulamentares, pois apenas previu o uso de uma ferramenta de comunicação de atos processuais, entre tantas outras possíveis”. (Notícias do CNJ, 27/06/2017)

Natureza jurídica do direito processual: - direito público (há predomínio do interesse público e de normas cogentes).

• No direito privado, há predomínio da autonomia da vontade e de normas dispositivas.

Eficácia da lei processual no tempo: - a lei que se aplica em questões processuais é a que vigora no momento da prática do ato processual,

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- art. 14 CPC e 2º CPP, - processos findos: não se aplica a lei processual nova, - processos a serem iniciados: aplica-se a lei processual que está em vigor, - processos em andamento por ocasião da vigência da lei nova: a lei nova não atinge os atos processuais já praticados, nem seus efeitos, mas se aplica aos atos processuais a praticar (sistema do isolamento dos atos processuais). Eficácia da lei processual no espaço: - princípio da territorialidade (lex fori): o exercício da jurisdição em território nacional rege-se pelas normas processuais brasileiras, ressalvados tratados internacionais, - art. 16 CPC e 1º CPP. 4) PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PROCESSUAL a) devido processo legal (due process of law) - art. 5º, LIV, CF, - direito ao processo justo, ao processo em conformidade com o Direito.

O SÚDITO ESTRANGEIRO, MESMO AQUELE SEM DOMICÍLIO NO BRASIL, TEM DIREITO A TODAS AS PRERROGATIVAS BÁSICAS QUE LHE ASSEGUREM A PRESERVAÇÃO DO "STATUS LIBERTATIS" E A OBSERVÂNCIA, PELO PODER PÚBLICO, DA CLÁUSULA CONSTITUCIONAL DO "DUE PROCESS". - O súdito estrangeiro, mesmo o não domiciliado no Brasil, tem plena legitimidade para impetrar o remédio constitucional do "habeas corpus", em ordem a tornar efetivo, nas hipóteses de persecução penal, o direito subjetivo, de que também é titular, à observância e ao integral respeito, por parte do Estado, das prerrogativas que compõem e dão significado à cláusula do devido processo legal. - A condição jurídica de não-nacional do Brasil e a circunstância de o réu estrangeiro não possuir domicílio em nosso país não legitimam a adoção, contra tal acusado, de qualquer tratamento arbitrário ou discriminatório. Precedentes. - Impõe-se, ao Judiciário, o dever de assegurar, mesmo ao réu estrangeiro sem domicílio no Brasil, os direitos básicos que resultam do postulado do devido processo legal, notadamente as prerrogativas inerentes à garantia da ampla defesa, à garantia do contraditório, à igualdade entre as partes perante o juiz natural e à garantia de imparcialidade do magistrado processante. A ESSENCIALIDADE DO POSTULADO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL, QUE SE QUALIFICA COMO REQUISITO LEGITIMADOR DA PRÓPRIA "PERSECUTIO CRIMINIS". - O exame da cláusula referente ao "due process of law" permite nela identificar alguns elementos essenciais à sua configuração como expressiva garantia de ordem constitucional, destacando-se, dentre eles, por sua inquestionável importância, as seguintes prerrogativas: (a) direito ao processo (garantia de acesso ao Poder Judiciário); (b) direito à citação e ao conhecimento prévio do teor da acusação; (c) direito a um julgamento público e célere, sem dilações indevidas; (d) direito ao contraditório e à plenitude de defesa (direito à autodefesa e à defesa técnica); (e) direito de não ser processado e julgado com base em leis "ex post facto"; (f) direito à igualdade entre as partes; (g) direito de não ser processado com fundamento em provas revestidas de ilicitude; (h) direito ao benefício da gratuidade; (i) direito à observância do princípio do juiz natural; (j) direito ao silêncio (privilégio contra a auto-incriminação); (l) direito à prova; e (m) direito de presença e de "participação ativa" nos atos de interrogatório judicial dos demais litisconsortes penais passivos, quando existentes. - O direito do réu à observância, pelo Estado, da garantia pertinente ao "due process of law", além de traduzir expressão concreta do direito de defesa, também encontra suporte legitimador em convenções internacionais que proclamam a essencialidade dessa franquia processual, que compõe o próprio estatuto constitucional do direito de defesa, enquanto complexo de princípios e de normas que amparam qualquer acusado em sede de persecução criminal, mesmo que se trate de réu estrangeiro, sem domicílio em território brasileiro, aqui processado por suposta prática de delitos a ele atribuídos.

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(HC 94016, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 16/09/2008, DJe-038 DIVULG 26-02-2009 PUBLIC 27-02-2009 EMENT VOL-02350-02 PP-00266 RTJ VOL-00209-02 PP-00702)

b) contraditório e ampla defesa - art. 5º, LV, CF, - contraditório = participação + poder de influência, - direito à prova: sem produção de prova não há como influenciar no convencimento do juiz, - contraditório diferido ou postergado: decisões provisórias.

Direito processual civil. Embargos à execução. Ausência de contraditório reconhecida. Anulação do processo após a juntada do documento não contraditado. Afastamento da multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC. - Se à parte não é conferida oportunidade de se pronunciar a respeito de documento relevante para o julgamento da demanda, é nulo o processo, por desrespeito ao indeclinável contraditório. - Não se pode impedir o acesso às vias recursais legalmente previstas, notadamente quando a parte tem a obrigação de esgotá-las para ter facultado o ingresso de sua pretensão junto à Corte Superior, sob pena de ter cerceado o seu direito de defesa. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido, apenas para afastar a multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC. (REsp 785.360/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/10/2008, DJe 28/10/2008) PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO MORAL E MATERIAL. CONTA-POUPANÇA. TRANSFERÊNCIA INDEVIDA. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. AUSÊNCIA DA NECESSÁRIA INSTRUÇÃO PROBATÓRIA. CERCEAMENTO AO DIREITO DE DEFESA. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. ANULAÇÃO DE OFICIO DA SENTENÇA PELO ACÓRDÃO RECORRIDO. POSSIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. Evidenciada a necessidade da produção de provas requeridas pela autora, a tempo oportuno, constitui cerceamento de defesa o julgamento antecipado da lide, com infração aos princípios constitucionais do contraditório, ampla defesa e devido processo legal. 2. A violação a tais princípios constitui matéria de ordem pública e pode ser conhecida de ofício pelo órgão julgador. 3. Recurso especial não-provido. (REsp 714.467/PB, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 02/09/2010, DJe 09/09/2010)

c) inafastabilidade da jurisdição e acesso à justiça - art. 5º, XXXV, e LXXIV, CF, - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito, - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos, - assistência jurídica integral e gratuita: fornecimento pelo Estado de orientação e defesa jurídica, de forma integral e gratuita, a ser prestada pela Defensoria Pública, em todos os graus, aos necessitados (art. 134 da CF), - gratuidade da justiça: isenção das despesas que forem necessárias para que a pessoa necessitada possa defender seus interesses em um processo judicial.

Inafastabilidade da jurisdição e arbitragem: “Não creio que a equiparação das sentenças arbitrais brasileiras às sentenças judiciais possa se opor a garantia constitucional da universalidade da jurisdição do Poder Judiciário. O que a Constituição não permite à lei é vedar o acesso ao Judiciário da lide que uma das partes lhe quisesse submeter, forçando-a a trilhar a via alternativa da arbitragem...

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O compromisso arbitral, contudo, funda-se no consentimento dos interessados e só pode ter por objeto a solução de conflitos sobre direitos disponíveis, ou seja, de direitos a respeito dos quais podem as partes transigir. Ora, acentuou o saudoso J. Frederico Marques “assim como o Estado, por estar em foco direito disponível, deixa que os interessados solucionem, através da transação, suas desinteligências recíprocas, nada há de estranhável que, também, autorize esses mesmos interessados a submeterem a resolução de conflitos a outras pessoas, em lugar de o levarem, através da propositura da ação, a juízes e tribunais”. (SE 5206 AgR, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em 12/12/2001, DJ 30-04-2004 PP-00029 EMENT VOL-02149-06 PP-00958)

d) juiz natural - art. 5º, LIII, CF, - juiz investido de jurisdição e com competência para análise do caso, - impede a criação de tribunais de exceção – art. 5º, XXXVII, CF, - imparcialidade do juiz.

EMENTA Habeas corpus. Princípio do juiz natural. Relator substituído por Juiz Convocado sem observância de nova distribuição. Precedentes da Corte. 1. O princípio do juiz natural não apenas veda a instituição de tribunais e juízos de exceção, como também impõe que as causas sejam processadas e julgadas pelo órgão jurisdicional previamente determinado a partir de critérios constitucionais de repartição taxativa de competência, excluída qualquer alternativa à discricionariedade. 2. A convocação de Juízes de 1º grau de jurisdição para substituir Desembargadores não malfere o princípio constitucional do juiz natural, autorizado no âmbito da Justiça Federal pela Lei nº 9.788/99. 3. O fato de o processo ter sido relatado por um Juiz Convocado para auxiliar o Tribunal no julgamento dos feitos e não pelo Desembargador Federal a quem originariamente distribuído tampouco afronta o princípio do juiz natural. 4. Nos órgãos colegiados, a distribuição dos feitos entre relatores constitui, em favor do jurisdicionado, imperativo de impessoalidade que, na hipótese vertente, foi alcançada com o primeiro sorteio. Demais disso, não se vislumbra, no ato de designação do Juiz Convocado, nenhum traço de discricionariedade capaz de comprometer a imparcialidade da decisão que veio a ser exarada pelo órgão colegiado competente. 5. Habeas corpus denegado. (HC 86889, Relator(a): Min. MENEZES DIREITO, Primeira Turma, julgado em 20/11/2007, DJe-026 DIVULG 14-02-2008 PUBLIC 15-02-2008 DJ 15-02-2008 EMENT VOL-02307-03 PP-00525 RTJ VOL-00209-03 PP-01135) STF julga constitucional especialização de varas do Poder Judiciário Dez dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) afirmaram hoje (15) que a criação de varas especializadas pelo Poder Judiciário não fere a Constituição Federal, tampouco a transferência de processos já em curso em varas não-especializadas. A questão foi analisada no julgamento de um Habeas Corpus (HC 88660) impetrado em defesa de um acusado de crimes contra o sistema financeiro nacional. Ele teve seu processo transferido para uma vara especializada em crimes financeiros e de lavagem de dinheiro, no estado do Ceará, criada por meio da Resolução 10-A do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5), sediado em Recife (PE). (...) “O Poder Judiciário tem competência para dispor sobre especialização de varas”, afirmou a relatora do caso, ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha. Na Primeira Turma, ela havia votado pela concessão do habeas corpus, contra a transferência do processo para a vara especializada. O ministro Cezar Peluso ressaltou que a resolução do TRF-5 nada mais fez que redistribuir competências entre órgãos já criados por lei. “É matéria de reorganização judiciária interna, prática extremamente usual nos tribunais”, disse, ao exemplificar que o próprio STF altera a competência de suas turmas por meio de resoluções.

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Celso de Mello ressaltou que o princípio constitucional do juiz natural impede “designações casuísticas” de magistrados para julgar determinada causa ou do promotor competente para acusar. Na linha do que os outros ministros já haviam afirmado, para ele, “a mera especialização” de vara federal para julgamento de crimes contra o sistema financeiro, por meio de resolução, não ofende o princípio do juiz natural e não transgride o postulado da reserva de lei. “Ainda mais se se considerar que não se criou nova vara federal, ao contrário, especializou-se vara já existente. Não houve qualquer designação casuística em função de determinado réu, mas apenas adotou-se uma medida com o objetivo de permitir-se uma prestação mais célere da própria jurisdição”, concluiu. (STF, HC 88660) A designação de juiz para atuar, de forma genérica, em uma determinada vara, não ofende o princípio do juiz natural. Configura nulidade processual apenas a designação específica, casuística, de magistrado para atuar em determinado feito. Diante do pedido de afastamento do juiz titular, por motivo de foro íntimo, o processo deve ser encaminhado para o outro juiz, designado pelo Tribunal de Justiça, ante o acúmulo de processos, para ter exercício naquela vara. (RHC 89.890, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 5-12-2006, 1ª T, DJ de 2-3-2007).

e) duplo grau de jurisdição - princípio implícito, - possibilidade de a decisão ser revista por órgão jurisdicional, normalmente de hierarquia superior àquele que proferiu a decisão, - não há previsão de que para todas as decisões é possível a interposição de recurso. f) igualdade processual - art. 5º, caput, CF, - garantia de tratamento igualitário, - paridade de armas, - ex.: tramitação prioritária, prazos maiores para o MP e a defensoria pública, benefício da assistência, etc.

Ementa: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. RITO DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS. PRERROGATIVA DE INTIMAÇÃO PESSOAL DOS OCUPANTES DE CARGO DE PROCURADOR FEDERAL (ART. 17 DA LEI Nº 10.910/2004). INAPLICABILIDADE. PRINCÍPIO DA PARIDADE DE ARMAS. CONTRADITÓRIO (ART. 5º, LV, DA CRFB). ACESSO À JUSTIÇA (ART. 5º, XXXV, DA CRFB). SIMPLICIDADE DO PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO (ART. 98, I, DA CRFB). ART. 9º DA LEI Nº 10.259/01. AGRAVO CONHECIDO E RECURSO EXTRAORDINÁRIO DESPROVIDO. 1. A isonomia é um elemento ínsito ao princípio constitucional do contraditório (art. 5º, LV, da CRFB), do qual se extrai a necessidade de assegurar que as partes gozem das mesmas oportunidades e faculdades processuais, atuando sempre com paridade de armas, a fim de garantir que o resultado final jurisdicional espelhe a justiça do processo em que prolatado. Doutrina (FERNANDES, Antonio Scarance. Processo penal constitucional. 4. ed. – São Paulo: RT, 2005. p. 66; DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentos do Processo Civil Moderno. São Paulo: RT, 1986. p. 92; CINTRA, Antonio Carlos de Araújo. O princípio da igualdade processual. Revista da Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo, São Paulo, v. 19; MOREIRA, José Carlos Barbosa. A garantia do contraditório na atividade de instrução. RePro 35/231). 2. As exceções ao princípio da paridade de armas apenas têm lugar quando houver fundamento razoável baseado na necessidade de remediar um desequilíbrio entre as partes, e devem ser interpretadas de modo restritivo, conforme a parêmia exceptiones sunt strictissimae interpretationis. 3. O rito dos Juizados Especiais é talhado para ampliar o acesso à justiça (art. 5º, XXXV, da CRFB) mediante redução das formalidades e aceleração da marcha processual, não sendo outra a exegese do art. 98, I, da Carta Magna, que determina sejam adotados nos aludidos Juizados “os procedimentos oral e sumariíssimo”, devendo, portanto, ser apreciadas cum grano salis as interpretações que pugnem pela aplicação “subsidiária”

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de normas alheias ao microssistema dos Juizados Especiais que importem delongas ou incremento de solenidades. 4. O espírito da Lei nº 10.259/01, que rege o procedimento dos Juizados Especiais Federais, é inequivocamente o de afastar a incidência de normas que alberguem prerrogativas processuais para a Fazenda Pública, máxime em razão do que dispõe o seu art. 9º, verbis: “Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição de recursos”. 5. Não se aplica aos Juizados Especiais Federais a prerrogativa de intimação pessoal dos ocupantes de cargo de Procurador Federal, prevista no art. 17 da Lei n.º 10.910/2004, na medida em que neste rito especial, ante a simplicidade das causas nele julgadas, particular e Fazenda Pública apresentam semelhante, se não idêntica, dificuldade para o adequado exercício do direito de informação dos atos do processo, de modo que não se revela razoável a incidência de norma que restringe a paridade de armas, além de comprometer a informalidade e a celeridade do procedimento. 6. Agravo conhecido para negar provimento ao Recurso Extraordinário. (ARE 648629, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 24/04/2013, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-069 DIVULG 07-04-2014 PUBLIC 08-04-2014)

g) publicidade - art. 93, IX, e 5º, LX, CF, - protege as partes de julgamentos secretos ou arbitrários, - permite o controle público das decisões, - é possível restringir a publicidade processual, para preservação da intimidade ou por interesse público, - restrição à publicidade externa (para terceiros) e não interna (partes e advogados). h) motivação - art. 93, IX, CF, - importância do art. 489, § 1º, CPC.

EMENTA: Habeas Corpus. 1. "Operação Navalha". Inquérito no 544/BA, do Superior Tribunal de Justiça. 2. Alegações de falta de fundamentação do decreto de prisão preventiva e de ofensa ao direito constitucional do paciente permanecer em silêncio (CF, art. 5º, inciso LXIII e CPP, art. 186). 3. Decreto prisional fundamentado em supostas conveniência da instrução criminal e garantia da ordem pública e econômica. 4. Segundo a jurisprudência do STF, não basta a mera explicitação textual dos requisitos previstos pelo art. 312 do CPP, mas é indispensável a indicação de elementos concretos que demonstrem a necessidade da segregação preventiva. Precedentes. 5. A prisão preventiva é medida excepcional que demanda a explicitação de fundamentos consistentes e individualizados com relação a cada um dos cidadãos investigados (CF, arts. 93, IX e 5º, XLVI). 6. A existência de indícios de autoria e materialidade, por si só, não justifica a decretação de prisão preventiva. 7. A boa aplicação dos direitos fundamentais de caráter processual, principalmente a proteção judicial efetiva, permite distinguir o Estado de Direito do Estado Policial. 8. Na medida em que o silêncio corresponde a garantia fundamental intrínseca do direito constitucional de defesa, a mera recusa de manifestação por parte do paciente não pode ser interpretada em seu desfavor para fins de decretação de prisão preventiva. 9. Não se justifica a prisão para a mera finalidade de obtenção de depoimento. 10. Ausência de correlação entre os elementos apontados pela prisão preventiva no que concerne ao risco de continuidade da prática de delitos em razão da iminência de liberação de recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). 11. Motivação insuficiente. 12. Ordem deferida para revogar a prisão preventiva decretada em face do paciente. (HC 91514, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 11/03/2008, DJe-088 DIVULG 15-05-2008 PUBLIC 16-05-2008 EMENT VOL-02319-04 PP-00741)

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i) proibição de provas ilícitas - art. 5º, LVI, CF.

INTERCEPTAÇÃO telefônica ESCUTA telefônica GRAVAÇÃO telefônica

Ocorre quando um terceiro capta o diálogo telefônico travado entre duas pessoas, sem que nenhum dos interlocutores saiba.

Ocorre quando um terceiro capta o diálogo telefônico travado entre duas pessoas, sendo que um dos interlocutores sabe que está sendo realizada a escuta.

Ocorre quando o diálogo telefônico travado entre duas pessoas é gravado por um dos próprios interlocutores, sem o consentimento ou a ciência do outro. Também é chamada de gravação clandestina (obs: a palavra “clandestina” está empregada não na acepção de “ilícito”, mas sim no sentido de “feito às ocultas”).

Ex: polícia, com autorização judicial, grampeia os telefones dos membros de uma quadrilha e grava os diálogos mantidos entre eles.

Ex: polícia grava a conversa telefônica que o pai mantém com o sequestrador de seu filho.

Ex: mulher grava a conversa telefônica no qual o ex-marido ameaça matá-la.

Para que a interceptação seja válida é indispensável a autorização judicial (entendimento pacífico).

Para que seja realizada é indispensável a autorização judicial (posição majoritária).

A gravação telefônica é válida mesmo que tenha sido realizada SEM autorização judicial. A única exceção em que haveria ilicitude se dá no caso em que a conversa era amparada por sigilo (ex: advogados e clientes, padres e fiéis).

E M E N T A: FISCALIZAÇÃO TRIBUTÁRIA - APREENSÃO DE LIVROS CONTÁBEIS E DOCUMENTOS FISCAIS REALIZADA, EM ESCRITÓRIO DE CONTABILIDADE, POR AGENTES FAZENDÁRIOS E POLICIAIS FEDERAIS, SEM MANDADO JUDICIAL - INADMISSIBILIDADE - ESPAÇO PRIVADO, NÃO ABERTO AO PÚBLICO, SUJEITO À PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DA INVIOLABILIDADE DOMICILIAR (CF, ART. 5º, XI) - SUBSUNÇÃO AO CONCEITO NORMATIVO DE "CASA" - NECESSIDADE DE ORDEM JUDICIAL - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E FISCALIZAÇÃO TRIBUTÁRIA - DEVER DE OBSERVÂNCIA, POR PARTE DE SEUS ÓRGÃOS E AGENTES, DOS LIMITES JURÍDICOS IMPOSTOS PELA CONSTITUIÇÃO E PELAS LEIS DA REPÚBLICA - IMPOSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO, PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, DE PROVA OBTIDA COM TRANSGRESSÃO À GARANTIA DA INVIOLABILIDADE DOMICILIAR - PROVA ILÍCITA - INIDONEIDADE JURÍDICA - "HABEAS CORPUS" DEFERIDO. ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA - FISCALIZAÇÃO - PODERES - NECESSÁRIO RESPEITO AOS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS DOS CONTRIBUINTES E DE TERCEIROS. - Não são absolutos os poderes de que se acham investidos os órgãos e agentes da administração tributária, pois o Estado, em tema de tributação, inclusive em matéria de fiscalização tributária, está sujeito à observância de um complexo de direitos e prerrogativas que assistem, constitucionalmente, aos contribuintes e aos cidadãos em geral. Na realidade, os poderes do Estado encontram, nos direitos e garantias individuais, limites intransponíveis, cujo desrespeito pode caracterizar ilícito constitucional. - A administração tributária, por isso mesmo, embora podendo muito, não pode tudo. É que, ao Estado, é somente lícito atuar, "respeitados os direitos individuais e nos termos da lei" (CF, art. 145, § 1º), consideradas, sobretudo, e para esse específico efeito, as limitações jurídicas decorrentes do próprio sistema instituído pela Lei Fundamental, cuja eficácia - que prepondera sobre todos os órgãos e agentes fazendários - restringe-lhes o alcance do poder de que se acham investidos, especialmente quando exercido em face do contribuinte e dos cidadãos da República, que são titulares de garantias impregnadas de estatura constitucional e que, por tal razão, não podem ser transgredidas por aqueles que exercem a autoridade em nome do

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Estado. A GARANTIA DA INVIOLABILIDADE DOMICILIAR COMO LIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL AO PODER DO ESTADO EM TEMA DE FISCALIZAÇÃO TRIBUTÁRIA - CONCEITO DE "CASA" PARA EFEITO DE PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL - AMPLITUDE DESSA NOÇÃO CONCEITUAL, QUE TAMBÉM COMPREENDE OS ESPAÇOS PRIVADOS NÃO ABERTOS AO PÚBLICO, ONDE ALGUÉM EXERCE ATIVIDADE PROFISSIONAL: NECESSIDADE, EM TAL HIPÓTESE, DE MANDADO JUDICIAL (CF, ART. 5º, XI). - Para os fins da proteção jurídica a que se refere o art. 5º, XI, da Constituição da República, o conceito normativo de "casa" revela-se abrangente e, por estender-se a qualquer compartimento privado não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade (CP, art. 150, § 4º, III), compreende, observada essa específica limitação espacial (área interna não acessível ao público), os escritórios profissionais, inclusive os de contabilidade, "embora sem conexão com a casa de moradia propriamente dita" (NELSON HUNGRIA). Doutrina. Precedentes. - Sem que ocorra qualquer das situações excepcionais taxativamente previstas no texto constitucional (art. 5º, XI), nenhum agente público, ainda que vinculado à administração tributária do Estado, poderá, contra a vontade de quem de direito ("invito domino"), ingressar, durante o dia, sem mandado judicial, em espaço privado não aberto ao público, onde alguém exerce sua atividade profissional, sob pena de a prova resultante da diligência de busca e apreensão assim executada reputar-se inadmissível, porque impregnada de ilicitude material. Doutrina. Precedentes específicos, em tema de fiscalização tributária, a propósito de escritórios de contabilidade (STF). - O atributo da auto-executoriedade dos atos administrativos, que traduz expressão concretizadora do "privilège du preálable", não prevalece sobre a garantia constitucional da inviolabilidade domiciliar, ainda que se cuide de atividade exercida pelo Poder Público em sede de fiscalização tributária. Doutrina. Precedentes. ILICITUDE DA PROVA - INADMISSIBILIDADE DE SUA PRODUÇÃO EM JUÍZO (OU PERANTE QUALQUER INSTÂNCIA DE PODER) - INIDONEIDADE JURÍDICA DA PROVA RESULTANTE DE TRANSGRESSÃO ESTATAL AO REGIME CONSTITUCIONAL DOS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS. - A ação persecutória do Estado, qualquer que seja a instância de poder perante a qual se instaure, para revestir-se de legitimidade, não pode apoiar-se em elementos probatórios ilicitamente obtidos, sob pena de ofensa à garantia constitucional do "due process of law", que tem, no dogma da inadmissibilidade das provas ilícitas, uma de suas mais expressivas projeções concretizadoras no plano do nosso sistema de direito positivo. A "Exclusionary Rule" consagrada pela jurisprudência da Suprema Corte dos Estados Unidos da América como limitação ao poder do Estado de produzir prova em sede processual penal. - A Constituição da República, em norma revestida de conteúdo vedatório (CF, art. 5º, LVI), desautoriza, por incompatível com os postulados que regem uma sociedade fundada em bases democráticas (CF, art. 1º), qualquer prova cuja obtenção, pelo Poder Público, derive de transgressão a cláusulas de ordem constitucional, repelindo, por isso mesmo, quaisquer elementos probatórios que resultem de violação do direito material (ou, até mesmo, do direito processual), não prevalecendo, em conseqüência, no ordenamento normativo brasileiro, em matéria de atividade probatória, a fórmula autoritária do "male captum, bene retentum". Doutrina. Precedentes. - A circunstância de a administração estatal achar-se investida de poderes excepcionais que lhe permitem exercer a fiscalização em sede tributária não a exonera do dever de observar, para efeito do legítimo desempenho de tais prerrogativas, os limites impostos pela Constituição e pelas leis da República, sob pena de os órgãos governamentais incidirem em frontal desrespeito às garantias constitucionalmente asseguradas aos cidadãos em geral e aos contribuintes em particular. - Os procedimentos dos agentes da administração tributária que contrariem os postulados consagrados pela Constituição da República revelam-se inaceitáveis e não podem ser corroborados pelo Supremo Tribunal Federal, sob pena de inadmissível subversão dos postulados constitucionais que definem, de modo estrito, os limites - inultrapassáveis - que restringem os poderes do Estado em suas relações com os contribuintes e com terceiros. A QUESTÃO DA DOUTRINA DOS FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA ("FRUITS OF THE POISONOUS TREE"): A QUESTÃO DA ILICITUDE POR DERIVAÇÃO. - Ninguém pode ser investigado, denunciado ou condenado com base, unicamente, em provas ilícitas, quer se trate de ilicitude originária, quer se cuide de ilicitude por derivação.

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Qualquer novo dado probatório, ainda que produzido, de modo válido, em momento subseqüente, não pode apoiar-se, não pode ter fundamento causal nem derivar de prova comprometida pela mácula da ilicitude originária. - A exclusão da prova originariamente ilícita - ou daquela afetada pelo vício da ilicitude por derivação - representa um dos meios mais expressivos destinados a conferir efetividade à garantia do "due process of law" e a tornar mais intensa, pelo banimento da prova ilicitamente obtida, a tutela constitucional que preserva os direitos e prerrogativas que assistem a qualquer acusado em sede processual penal. Doutrina. Precedentes. - A doutrina da ilicitude por derivação (teoria dos "frutos da árvore envenenada") repudia, por constitucionalmente inadmissíveis, os meios probatórios, que, não obstante produzidos, validamente, em momento ulterior, acham-se afetados, no entanto, pelo vício (gravíssimo) da ilicitude originária, que a eles se transmite, contaminando-os, por efeito de repercussão causal. Hipótese em que os novos dados probatórios somente foram conhecidos, pelo Poder Público, em razão de anterior transgressão praticada, originariamente, pelos agentes estatais, que desrespeitaram a garantia constitucional da inviolabilidade domiciliar. - Revelam-se inadmissíveis, desse modo, em decorrência da ilicitude por derivação, os elementos probatórios a que os órgãos estatais somente tiveram acesso em razão da prova originariamente ilícita, obtida como resultado da transgressão, por agentes públicos, de direitos e garantias constitucionais e legais, cuja eficácia condicionante, no plano do ordenamento positivo brasileiro, traduz significativa limitação de ordem jurídica ao poder do Estado em face dos cidadãos. - Se, no entanto, o órgão da persecução penal demonstrar que obteve, legitimamente, novos elementos de informação a partir de uma fonte autônoma de prova - que não guarde qualquer relação de dependência nem decorra da prova originariamente ilícita, com esta não mantendo vinculação causal -, tais dados probatórios revelar-se-ão plenamente admissíveis, porque não contaminados pela mácula da ilicitude originária. - A QUESTÃO DA FONTE AUTÔNOMA DE PROVA ("AN INDEPENDENT SOURCE") E A SUA DESVINCULAÇÃO CAUSAL DA PROVA ILICITAMENTE OBTIDA - DOUTRINA - PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (RHC 90.376/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.) - JURISPRUDÊNCIA COMPARADA (A EXPERIÊNCIA DA SUPREMA CORTE AMERICANA): CASOS "SILVERTHORNE LUMBER CO. V. UNITED STATES (1920); SEGURA V. UNITED STATES (1984); NIX V. WILLIAMS (1984); MURRAY V. UNITED STATES (1988)", v.g.. (HC 93050, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 10/06/2008, DJe-142 DIVULG 31-07-2008 PUBLIC 01-08-2008 EMENT VOL-02326-04 PP-00700) E M E N T A: "HABEAS CORPUS" - FILMAGEM REALIZADA, PELA VÍTIMA, EM SUA PRÓPRIA VAGA DE GARAGEM, SITUADA NO EDIFÍCIO EM QUE RESIDE - GRAVAÇÃO DE IMAGENS FEITA COM O OBJETIVO DE IDENTIFICAR O AUTOR DE DANOS PRATICADOS CONTRA O PATRIMÔNIO DA VÍTIMA - LEGITIMIDADE JURÍDICA DESSE COMPORTAMENTO DO OFENDIDO - DESNECESSIDADE, EM TAL HIPÓTESE, DE PRÉVIA AUTORIZAÇÃO JUDICIAL - ALEGADA ILICITUDE DA PROVA PENAL - INOCORRÊNCIA - VALIDADE DOS ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO PRODUZIDOS, EM SEU PRÓPRIO ESPAÇO PRIVADO, PELA VÍTIMA DE ATOS DELITUOSOS - CONSIDERAÇÕES EM TORNO DA QUESTÃO CONSTITUCIONAL DA ILICITUDE DA PROVA - ALEGAÇÃO DE INÉPCIA DA DENÚNCIA - EXISTÊNCIA, NO CASO, DE DADOS PROBATÓRIOS MÍNIMOS, FUNDADOS EM BASE EMPÍRICA IDÔNEA - PEÇA ACUSATÓRIA QUE SATISFAZ, PLENAMENTE, AS EXIGÊNCIAS LEGAIS - PEDIDO INDEFERIDO. (HC 84203, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 19/10/2004, DJe-181 DIVULG 24-09-2009 PUBLIC 25-09-2009 EMENT VOL-02375-02 PP-00871 RTJ VOL-00211-01 PP-00303 RMP n. 43, 2012, p. 197-209) PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO DE DROGAS. PROVA OBTIDA DE CONVERSA TRAVADA POR FUNÇÃO VIVA-VOZ DO APARELHO CELULAR DO SUSPEITO. DÚVIDAS QUANTO AO CONSENTIMENTO. INEXISTÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. ILICITUDE CONSTATADA.

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AUTOINCRIMINAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. DESCOBERTA INEVITÁVEL. INOCORRÊNCIA. PLEITO ABSOLUTÓRIO MANTIDO. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. 1. O Tribunal de origem considerou que, embora nada de ilícito houvesse sido encontrado em poder do acusado, a prova da traficância foi obtida em flagrante violação ao direito constitucional à não autoincriminação, uma vez que aquele foi compelido a reproduzir, contra si, conversa travada com terceira pessoa pelo sistema viva-voz do celular, que conduziu os policiais à sua residência e culminou com a arrecadação de todo material estupefaciente em questão. 2. Não se cogita estar diante de descoberta inevitável, porquanto este fenômeno ocorre quando a prova derivada seria descoberta de qualquer forma, com ou sem a prova ilícita, o que não se coaduna com o caso aqui tratado em que a prova do crime dependeu da informação obtida pela autoridade policial quando da conversa telefônica travada entre o suspeito e terceira pessoa. 3. O relato dos autos demonstra que a abordagem feita pelos milicianos foi obtida de forma involuntária e coercitiva, por má conduta policial, gerando uma verdadeira autoincriminação. Não se pode perder de vista que qualquer tipo de prova contra o réu que dependa dele mesmo só vale se o ato for feito de forma voluntária e consciente. 4. Está-se diante de situação onde a prova está contaminada, diante do disposto na essência da teoria dos frutos da árvore envenenada (fruits of the poisonous tree), consagrada no art. 5º, inciso LVI, da Constituição Federal, que proclama a nódoa de provas, supostamente consideradas lícitas e admissíveis, mas obtidas a partir de outras declaradas nulas pela forma ilícita de sua colheita. 5. Recurso especial desprovido. (REsp 1630097/RJ, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 18/04/2017, DJe 28/04/2017)

j) razoável duração do processo - art. 5º, LXXVIII, CF, - todo processo demora: contraditório, prova e recurso exigem um tempo mínimo, - o processo deve durar o tempo necessário, não pode ser demora excessiva.

E M E N T A: PROCESSO PENAL - PRISÃO CAUTELAR - EXCESSO DE PRAZO - INADMISSIBILIDADE - OFENSA AO POSTULADO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (CF, ART. 1º, III) - TRANSGRESSÃO À GARANTIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL (CF, ART. 5º, LIV) - "HABEAS CORPUS" CONHECIDO EM PARTE E, NESSA PARTE, DEFERIDO. O EXCESSO DE PRAZO, MESMO TRATANDO-SE DE DELITO HEDIONDO (OU A ESTE EQUIPARADO), NÃO PODE SER TOLERADO, IMPONDO-SE, AO PODER JUDICIÁRIO, EM OBSÉQUIO AOS PRINCÍPIOS CONSAGRADOS NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA, O IMEDIATO RELAXAMENTO DA PRISÃO CAUTELAR DO INDICIADO OU DO RÉU. - Nada pode justificar a permanência de uma pessoa na prisão, sem culpa formada, quando configurado excesso irrazoável no tempo de sua segregação cautelar (RTJ 137/287 - RTJ 157/633 - RTJ 180/262-264 - RTJ 187/933-934), considerada a excepcionalidade de que se reveste, em nosso sistema jurídico, a prisão meramente processual do indiciado ou do réu, mesmo que se trate de crime hediondo ou de delito a este equiparado. - O excesso de prazo, quando exclusivamente imputável ao aparelho judiciário - não derivando, portanto, de qualquer fato procrastinatório causalmente atribuível ao réu - traduz situação anômala que compromete a efetividade do processo, pois, além de tornar evidente o desprezo estatal pela liberdade do cidadão, frustra um direito básico que assiste a qualquer pessoa: o direito à resolução do litígio, sem dilações indevidas (CF, art. 5º, LXXVIII) e com todas as garantias reconhecidas pelo ordenamento constitucional, inclusive a de não sofrer o arbítrio da coerção estatal representado pela privação cautelar da liberdade por tempo irrazoável ou superior àquele estabelecido em lei. - A duração prolongada, abusiva e irrazoável da prisão cautelar de alguém ofende, de modo frontal, o postulado da dignidade da pessoa humana, que representa - considerada a centralidade desse princípio essencial (CF, art. 1º, III) - significativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-

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fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso País e que traduz, de modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre nós, a ordem republicana e democrática consagrada pelo sistema de direito constitucional positivo. Constituição Federal (Art. 5º, incisos LIV e LXXVIII). EC 45/2004. Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Art. 7º, ns. 5 e 6). Doutrina. Jurisprudência. - O indiciado ou o réu, quando configurado excesso irrazoável na duração de sua prisão cautelar, não podem permanecer expostos a tal situação de evidente abusividade, ainda que se cuide de pessoas acusadas da suposta prática de crime hediondo (Súmula 697/STF), sob pena de o instrumento processual da tutela cautelar penal transmudar-se, mediante subversão dos fins que o legitimam, em inaceitável (e inconstitucional) meio de antecipação executória da própria sanção penal. Precedentes. (HC 85237, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 17/03/2005, DJ 29-04-2005 PP-00008 EMENT VOL-02189-03 PP-00425 LEXSTF v. 27, n. 319, 2005, p. 486-508 RTJ VOL-00195-01 PP-00212) Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. DECISÃO MONOCRÁTICA. INEXISTÊNCIA DE ARGUMENTAÇÃO APTA A MODIFICÁ-LA. MANUTENÇÃO DA NEGATIVA DE SEGUIMENTO. EXCESSO DE PRAZO. COMPLEXIDADE DO FEITO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. INOCORRÊNCIA. CONEXÃO E DESMEMBRAMENTO. ANÁLISE DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIO. INADEQUAÇÃO DA VIA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. A inexistência de argumentação apta a infirmar o julgamento monocrático conduz à manutenção da decisão recorrida. 2. O reconhecimento da inobservância da duração razoável do processo não se traduz mediante análise aritmética dos prazos, mas deve ser compreendida à luz da complexidade da marcha processual. Hipótese de ação penal originária em que dezenas de delitos são imputados a 44 (quarenta e quatro) acusados, a revelar especial intrincamento que justifica minimamente o elastecimento, mormente se considerado o encerramento da instrução processual e as informações prestadas pelo Tribunal local que dão conta da contribuição da defesa para a produção desse resultado. 3. A teor da Súmula 704/STF, “atração por continência ou conexão do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados” não viola o devido processo legal. Em tais casos, a unicidade de processamento e julgamento decorre das particularidades do caso concreto, notadamente da especial correlação entre as supostas infrações penais, razão pela qual esse juízo não é sindicável pela estreita e célere via do habes corpus, avessa ao reexame do acervo fático-probatório. 4. Agravo regimental desprovido. (HC 130441 AgR, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Primeira Turma, julgado em 31/05/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-134 DIVULG 27-06-2016 PUBLIC 28-06-2016)

l) inércia da jurisdição/ dispositivo/ demanda e impulso oficial - o Poder Judiciário age mediante provocação, ou seja, o processo começa por iniciativa da parte; - todavia, após a parte provocar a jurisdição, o processo se desenvolverá por impulso do juiz. **EXERCÍCIO** - As normas jurídicas podem ser classificadas em princípios e regras. Diferencie essas espécies normativas. - Em quais situações o Código de Processo Civil determina que um processo deve tramitar em segredo de justiça? - Na esfera criminal, quais processos tramitam em segredo de justiça? 5) JURISDIÇÃO 5.1) Conceito Breve noção da trilogia estrutural:

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- ação: direito ao exercício da atividade jurisdicional, - jurisdição: função do Estado de solucionar os conflitos que lhe são apresentados, - processo: instrumento através do qual a jurisdição opera. Jus dicere: dizer o direito. Função estatal, exercida pelo Poder Judiciário, que tem como finalidade resolver os conflitos a ela apresentados.

• Fredie Didier Jr.: função atribuída a um terceiro imparcial de realizar o Direito. 5.2) Princípios fundamentais a) Investidura: - a jurisdição só pode ser exercida por quem o Estado investiu de poder para tanto, - o cargo inicial para ingresso na carreira da magistratura é o de juiz substituto → aprovação em concurso público de provas e títulos, exigindo-se do bacharel em direito no mínimo 3 anos de atividade jurídica (art. 93, I, CF). b) Territorialidade ou aderência ao território: - o juiz deve exercer a função jurisdicional dentro de certo território definido pela lei (competência). c) Indelegabilidade: - as atribuições jurisdicionais só podem ser exercidas pelos órgãos judiciais, não podendo ser delegadas a outrem, - atos de mero expediente, sem caráter decisório: art. 93, XIV, CF. d) Inevitabilidade: - a jurisdição é manifestação de um poder estatal e impõe-se imperativamente, - as partes hão de submeter-se ao decidido pelo órgão jurisdicional (partes em situação de sujeição). e) Indeclinabilidade: - monopólio estatal da jurisdição: os órgãos judiciais têm a obrigação de prestar a tutela jurisdicional quando invocada, não lhe sendo mera faculdade, - proibição de non liquet: o juiz não pode deixar de julgar alegando omissão na lei. f) Inafastabilidade: - art. 5º, inc. XXXV, da CF, - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. g) Juiz natural: - art. 5º, LIII, CF, - juiz investido de jurisdição, com competência para análise do caso e imparcial, - impede a criação de tribunais de exceção – art. 5º, XXXVII, CF. 5.3) Características a) Unidade - a jurisdição é uma só: manifestação de poder estatal, - solução de conflitos de qualquer natureza, - a divisão de trabalho entre os julgadores (competência) apenas facilita a atuação da jurisdição.

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b) Substitutividade: - monopólio da atividade jurisdicional, - o Estado substitui a vontade das partes, para solucionar o conflito ou efetivar um direito. c) Definitividade ou imutabilidade: - segurança jurídica: as decisões judiciais tendem a se tornar imutáveis (coisa julgada), - ação rescisória e revisão criminal. d) Inércia: - a atividade jurisdicional deve ser provocada pela parte. 5.4) Jurisdição contenciosa e voluntária Por meio da jurisdição contenciosa, solucionam-se conflitos entre as partes. Jurisdição voluntária: - o Judiciário realiza atividade de integração da vontade dos interessados, buscando a produção de um efeito jurídico jurisdição, - ex.: retificação de registro civil, interdição, divórcio consensual com filho incapaz. 6) ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS TRIBUNAIS 6.1) Órgãos do Poder Judiciário brasileiro – art. 92 CF

a) Supremo Tribunal Federal (STF): - é o guardião da Constituição Federal, - composto por 11 ministros, escolhidos entre cidadãos que preenchem os requisitos do art. 101 CF, - tem sede na Capital Federal e jurisdição em todo o território nacional (art. 92, § 1º e 2º, CF), - competência: originária (art. 102, I, CF) e recursal (art. 102, incs. II e III, CF).

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

(STF)

Ministros

TRIBUNAL SUPERIOR

ELEITORAL (TSE)

Ministros

TRIBUNAIS REGIONAIS ELEITORAIS

Desembargadores

JUÍZES ELEITORAIS

SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR

(STM)

Ministros

TRIBUNAIS MILITARES

Desembargadores

JUÍZES MILITARES

TRIBUNAL SUPERIOR DO

TRABALHO (TST)

Ministros

TRIBUNAIS REGIONAIS DO

TRABALHO

Desembargadores

JUÍZES DO TRABALHO

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ)

Ministros

TRIBUNAIS DE JUSTIÇA (TJ)

Desembargadores

JUÍZES ESTADUAIS

TRIBUNAIS REGIONAIS

FEDERAIS (TRF)

Desembargadores

JUÍZES FEDERAIS

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b) Superior Tribunal de Justiça (STJ): - uniformiza a interpretação da legislação federal, - composto por 33 ministros, escolhidos entre cidadãos que preenchem os requisitos do art. 104 CF, - tem sede na Capital Federal e jurisdição em todo o território nacional (art. 92, § 1º e 2º, CF), - competência: originária (art. 105, I, CF) e recursal (art. 105, incs. II e III, CF). c) Justiça eleitoral - integra a justiça especializada, - disciplinada nos arts. 118 a 121 CF, - exerce função administrativa, jurisdicional, normativa e consultiva, - registra e cassa o registro de partidos políticos, diretórios de partidos e candidatos; cria novas zonas eleitorais; julga os crimes eleitorais; expede títulos eleitorais, etc. d) Justiça militar - integra a justiça especializada, - disciplinada nos arts. 122 a 124 CF, - tem competência para julgar os crimes militares. e) Justiça do trabalho - integra a justiça especializada, - disciplinada nos arts. 111 a 116 CF, - julga controvérsias decorrentes da relação de trabalho, ações que envolvem o exercício do direito de greve, ações sobre representação sindical, etc. f) Justiça Federal: - integra a justiça comum, - disciplinada nos arts. 106 a 110 CF, - julga os conflitos que envolvem, como autoras ou rés, a União Federal, suas autarquias, fundações e empresas públicas federais, além de questões de interesse da Federação (exemplo: disputa sobre direitos indígenas, crimes cometidos a bordo de aeronave ou navio e crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro), - organização: tribunais regionais federais x seção judiciária x subseção judiciária x varas federais.

• TRF 1ª Região: Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rondônia, Roraima e Tocantins.

• TRF 2ª Região: Espírito Santo e Rio de Janeiro.

• TRF 3ª Região: Mato Grosso do Sul e São Paulo.

• TRF 4ª Região: Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

• TRF 5ª Região: Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe.

g) Justiça Estadual: - integra a justiça comum, - disciplinada nos arts. 125 e 126 CF e nas Constituições Estaduais, - a competência dos TJ´s e dos juízes estaduais é residual, - organização: tribunal de justiça x comarcas x varas (cíveis, criminais, de família e sucessões, da fazenda pública, etc) x juizados. h) Conselho Nacional de Justiça (CNJ): - disciplinado no art. 103-B CF, - é um órgão administrativo do Poder Judiciário, - exerce controle interno da magistratura, nos âmbitos administrativo, financeiro e disciplinar,

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- é composto por 15 membros, com mandato de 2 anos, admitida 1 recondução, - atos praticados pelo CNJ: expede atos normativos e recomendações; define o planejamento estratégico e a avaliação institucional do Poder Judiciário; recebe reclamações contra membros ou órgãos do Judiciário; julga processos disciplinares, etc. CUIDADO: Tribunais de Contas (da União, do Estado ou dos Municípios), Tribunal de Justiça Desportiva e Tribunal Marítimo são órgãos administrativos. 7) COMPETÊNCIA a) Noções introdutórias Jurisdição una → diversos órgãos jurisdicionais. Competência: - é o critério pelo qual se estabelece qual o órgão jurisdicional idôneo para julgar uma causa, - todo juiz competente possui jurisdição, mas nem todo juiz que possui jurisdição possui competência. b) Critérios determinantes da competência b.1) Em razão da pessoa: - determinada pela qualidade da parte, - ex.: causas contra a União tramitam na Justiça Federal. b.2) Em razão da matéria (material): - determinada pela relação jurídica material, ou seja, pela matéria objeto do conflito, - ex.: ação de divórcio é julgada na vara de família; ação penal é julgada na vara criminal. b.3) Em razão da função (funcional ou hierárquica): - determinada segundo a função desempenhada pelo órgão jurisdicional, - ex.: competência do Tribunal de Justiça para julgar apelação de sentença proferida pelo juiz estadual. b.4) Em razão do valor da causa: - determinada pelo valor que se atribui à causa no momento da propositura da ação, - ex.: juizados especiais. b.5) Em razão do lugar (territorial): - determinada pelo local onde a demanda deve ser ajuizada, - ex.: a ação de reparação de dano sofrido em razão de acidente de veículos pode ser proposta no foro do domicílio do autor ou do local do fato. c) Qualidade da competência

COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA

1. Determinada pelo interesse público 1. Determinada para atender interesse particular

2. Inderrogável pela vontade das partes 2. Derrogável pela vontade das partes

3. A incompetência absoluta pode ser conhecida de ofício

3. A incompetência relativa não pode ser conhecida de ofício

4. A incompetência absoluta pode ser alegada por qualquer forma e em qualquer tempo e grau de jurisdição

4. A incompetência relativa só pode ser alegada pelo réu na 1ª oportunidade que lhe couber falar nos autos, sob pena da

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prorrogação de competência

5. Em regra, as competências em razão da matéria, da pessoa e da função são absolutas

5. Em regra, as competências em razão do lugar e do valor da causa são relativas

O reconhecimento da incompetência acarreta a remessa dos autos ao juízo competente. Os atos já praticados pelo juízo incompetente serão mantidos, até que o juízo competente os reanalise.

d) Perpetuatio jurisdicionis: regra da perpetuação da competência Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta (registro ou distribuição da petição inicial), sendo irrelevantes as modificações de fato ou de direito ocorridas posteriormente. Há duas exceções à regra da perpetuação da competência: - se o órgão judiciário for suprimido, - se houver alteração de competência absoluta. e) Modificações da competência Ocorre quando se amplia a esfera da competência de um órgão judiciário para conhecer de certas causas que, ordinariamente, não estariam enquadradas em sua esfera de atribuição.

• Somente a competência relativa pode ser modificada. A modificação pode ser: a) voluntária:

• as partes estabelecem foro de eleição em contrato,

• ou o réu não alega a incompetência relativa no prazo legal, b) legal ou necessária:

• a lei prevê a reunião de ações que tramitam em juízos diferentes, para julgamento em conjunto, evitando, com isso, decisões contraditórias. Decorre de conexão ou continência.

Conexão: - duas ou mais ações são conexas quando a causa de pedir ou o pedido delas é comum, - as ações somente são reunidas se ainda não tiver sido proferida sentença, - é possível reunir-se ações sem conexão, para se evitar decisões conflitantes. Continência: - há continência entre duas ou mais ações quando há identidade quanto às partes e a causa de pedir, mas o pedido de uma abrange o das demais, - se a ação continente (mais ampla) foi proposta anteriormente: a ação contida (menos ampla) é extinta sem resolução do mérito, - se a ação contida foi proposta primeiramente, as ações devem ser reunidas. Prevenção: é o critério pelo qual fixa-se a competências de juízes igualmente competentes para decidir as causas conexas ou continentes. f) Conflito de competência Há conflito de competência quando mais de um órgão judicial se considera competente ou incompetente para julgar a mesma causa. Será: - positivo: quando 2 ou mais juízes se declaram competentes para a mesma causa, - negativo: quando 2 ou mais juízes de declaram incompetentes para a mesma causa.

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O conflito pode ser suscitado pelas partes, pelos juízes conflitantes ou pelo Ministério Público. O conflito é julgado pelo tribunal hierarquicamente superior aos juízes/ tribunais onde se deu o conflito. Exemplos: - juiz estadual de Goiânia x juiz estadual de Anápolis: TJGO, - juiz federal de Brasília x juiz federal de Goiânia: TRF 1ª Região, - juiz federal de Goiânia x juiz federal de São Paulo: STJ, - juiz estadual de Goiânia x juiz federal de Goiânia: STJ, - TRF x TJ: STJ, - TJGO e STJ: STF. ** EXERCÍCIO** - Qual o critério para se identificar o juízo prevento no CPC? E no CPP? 8) AÇÃO a) Noções introdutórias A jurisdição é inerte: o cidadão precisa provocar sua atuação diante de um caso concreto. Ação é o direito de exigir o exercício da atividade jurisdicional.

É preciso esclarecer, ainda, a acepção utilizada para alguns termos doutrinários, que costumam ser utilizados com variada significação. Direito de ação é o direito fundamental (situação jurídica, portanto) composto por um conjunto de situações jurídicas, que garantem ao seu titular o poder de acessar os tribunais e exigir deles uma tutela jurisdicional adequada, tempestiva e efetiva. É direito fundamental que resulta da incidência de diversas normas constitucionais, como os princípios da inafastabilidade da jurisdição e do devido processo legal. Ação é um ato jurídico. Trata-se do exercício do direito de ação. Também é conhecida como demanda. Trata-se de ato jurídico importantíssimo, pois, além de ser o fato gerador do processo, define o objeto litigioso, fixando os limites da atividade jurisdicional. Pode-se afirmar que o processo irá adequar-se às peculiaridades daquilo que foi demandado. O estudo do direito de ação não se confunde com o estudo da ação, embora com ele, obviamente, se relacione. O simples fato de um ser um direito (situação jurídica) e o outro ser um ato jurídico já impede qualquer confusão. Não se pode confundir o direito de ação com o direito que se afirma ter quando se exercita o direito de ação. O direito afirmado compõem a res in iudicium deducta e pode ser designado como o direito material deduzido em juízo ou a ação material processualizada. Direito de ação e direito afirmado são autônomos: o direito de ação não pressupõe a titularidade do direito afirmado. Além disso, o direito de ação não se vincula a qualquer direito material afirmado: o direito de ação permite a afirmação de qualquer direito material em juízo. Por isso, diz-se que o direito de ação é abstrato, pois independe do conteúdo do que se afirma quando se provoca a jurisdição. Finalmente, procedimento é o um conjunto de atos organizados tendentes a produção de um ato final. Além de uma organização de atos, o procedimento define também as diversas posições jurídicas de que os diversos sujeitos do procedimento serão titulares. O procedimento é a espinha dorsal do formalismo processual, de acordo com a conhecida metáfora de Carlos Alberto Alvaro de Oliveira. A ação é o primeiro ato do procedimento; a ação instaura o procedimento. O direito de ação confere ao seu titular o direito a um procedimento adequado, para bem tutelar o direito afirmado na demanda. As noções se relacionam, mas não se confundem. (DIDIER Jr., Fredie. O direito de ação como complexo de situações jurídicas. Disponível em <http://www.frediedidier.com.br/artigos/o-direito-de-acao-como-complexo-de-situacoes-juridicas%C2%B9/>. Acesso em 02 fev. 2017).

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EXEMPLO DE UMA PETIÇÃO INICIAL

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CÍVEL DA COMARCA DE GOIÂNIA-GO. IVETE..., divorciada, do lar, inscrita no RG nº ... SSP/GO e no CPF nº ..., residente e domiciliada nessa Capital, na Rua ..., por intermédio de sua procuradora, inscrita na OAB-GO sob o nº 17.789, com escritório profissional no ..., vem à digna presença de Vossa Excelência propor AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS em face de JOÃO..., casado, advogado, inscrito na OAB sob o nº ..., email ..., com domicílio profissional nessa Capital, à Rua ..., pelos fatos e fundamentos a seguir expostos. I – DOS FATOS No início de 2014, a requerente contratou os serviços do advogado requerido para atuar em duas demandas judiciais, sendo celebrados dois contratos de prestação de serviços advocatícios – um para cada processo.

Um dos contratos firmados entre as partes refere-se ao ajuizamento de ação de indenização decorrente do falecimento do filho da autora por erro médico, cujo pedido é de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais). Conforme cláusula 5ª do referido pacto, foram convencionados honorários advocatícios equivalentes a 37% (trinta e sete por cento) do valor que for apurado no final da ação. Referida ação tramita perante a ... Vara Cível da Comarca de Goiânia, sob o protocolo n....

O outro contrato firmado entre as partes diz respeito à defesa da autora em ação de exoneração de alimentos ajuizada por seu ex-marido, Sr. Pedro..., em face do espólio de Rodrigo..., seu filho. Conforme cláusula contratual n. 5, foram convencionados honorários advocatícios equivalentes a 5% (cinco por cento) do valor que for apurado na ação de indenização mais 20% (vinte por cento) do que for apurado na ação de exoneração de alimentos. A ação de exoneração se encerrou no dia 24/04/2015, mediante acordo realizado em audiência de conciliação, com o pagamento de R$ 5.000,00 à autora. À oportunidade, o requerido não cobrou os 20% de honorários que haviam sido pactuados.

Como se pode observar, no contrato referente à ação de exoneração de alimentos, o requerido fixou os honorários advocatícios em percentual sobre o valor apurado na própria demanda e também sobre o valor apurado na ação de indenização. Assim, os contratos firmados preveem, na realidade, que o requerido irá receber 42% do valor auferido pela autora ao final do processo de indenização por erro médico.

No momento da celebração dos contratos, a autora estava passando por um momento muito difícil em sua vida, uma vez que havia acabado de perder um filho, e não estava em condições psicológicas para analisar suas cláusulas contratuais. Assim que se deu conta de sua abusividade, ela informou ao requerido, via whatsapp, que não queria mais ser representada por ele, mas ele se recusou a receber a carta comunicando a revogação do mandato. Ainda, o profissional “ameaçou” a autora, afirmando que, caso ela rescinda o contrato, irá penhorar sua casa, seu carro e seu benefício previdenciário.

II – DO DIREITO A respeito da fixação dos honorários contratuais, o Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil (Resolução 02/2015 do CFOAB) assim estabelece:

Art. 49. Os honorários profissionais devem ser fixados com moderação, atendidos os elementos seguintes: I - a relevância, o vulto, a complexidade e a dificuldade das questões

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versadas; II - o trabalho e o tempo a ser empregados; III - a possibilidade de ficar o advogado impedido de intervir em outros casos, ou de se desavir com outros clientes ou terceiros; IV - o valor da causa, a condição econômica do cliente e o proveito para este resultante do serviço profissional; V - o caráter da intervenção, conforme se trate de serviço a cliente eventual, frequente ou constante; VI - o lugar da prestação dos serviços, conforme se trate do domicílio do advogado ou de outro; VII - a competência do profissional; VIII - a praxe do foro sobre trabalhos análogos.

Art. 50. Na hipótese da adoção de cláusula quota litis, os honorários devem ser necessariamente representados por pecúnia e, quando acrescidos dos honorários da sucumbência, não podem ser superiores às vantagens advindas a favor do cliente.

O requerido não cumpriu as normas éticas de sua profissão ao celebrar os contratos de prestação de serviços advocatícios com a autora, pois, aproveitando-se do fato que a cliente precisava ser representada em duas demandas, acabou por destinar a si 42% do que ela vier a receber na ação de indenização (37% pactuado no contrato da própria ação de indenização e 5% no contrato referente à ação de exoneração de alimentos). Obviamente, não há qualquer justificativa para o requerido, ao tratar dos honorários referentes à defesa na ação de exoneração de alimentos, cobrar percentual sobre o valor a ser recebido na ação de indenização, uma vez que são demandas totalmente distintas, inclusive entre partes diversas.

Considerando que o mínimo de honorários de sucumbência previsto pelo CPC é de 10% e que o requerido cobrou 42% de honorários contratuais, caso as cláusulas contratuais sejam mantidas, ao final da ação de indenização ele receberá 52% da condenação, em expressa violação ao art. 50 do Código de Ética.

Por outro lado, conforme já narrado, a autora, ciente da deslealdade na fixação dos honorários, não deseja mais ser representada pelo requerido, razão pela qual os honorários devem ser estabelecidos conforme o serviço prestado até o momento, nos termos do art. 22, § 3º, do Estatuto da Advocacia e da OAB e do art. 17 do Código de Ética da Advocacia:

Art. 22. A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na OAB o direito aos honorários convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos de sucumbência. (...) § 3º Salvo estipulação em contrário, um terço dos honorários é devido no início do serviço, outro terço até a decisão de primeira instância e o restante no final. Art. 17. A revogação do mandato judicial por vontade do cliente não o desobriga do pagamento das verbas honorárias contratadas, assim como não retira o direito do advogado de receber o quanto lhe seja devido em eventual verba honorária de sucumbência, calculada proporcionalmente em face do serviço efetivamente prestado.

Conforme já narrado, em relação à ação de exoneração de alimentos, ela se encerrou mediante acordo realizado em audiência de conciliação, com o pagamento de R$ 5.000,00 à autora. Nesse caso, data venia, a previsão contratual de “20% do que for apurado na ação de exoneração de alimentos” é suficiente para a remuneração do serviço prestado pelo requerido. Logo, não é possível manter qualquer percentual sobre o que ela receber na ação de indenização, pois se tratam de demandas totalmente distintas.

Já quanto aos honorários devidos na ação de indenização, o percentual de 42% - ou mesmo 37% - é abusivo e totalmente fora do valor de mercado. Assim, eles deveriam ser revisados para 20% do que a autora recebesse ao final da referida demanda, caso o requerido fosse representa-la até esse momento.

Todavia, a autora perdeu a confiança nos serviços prestados pelo advogado demandado e não quer continuar sendo representada por ele. Considerando que a ação de indenização ainda está em fase de formação da relação processual, pois nem todos os réus foram citados, os honorários devem ser

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fixados, nos termos do § 3º do art. 22 do EAOAB, em 1/3 de 20%, ou seja, em 6,6% do valor que for apurado ao final da ação de indenização. FACE AO EXPOSTO, requer se digne Vossa Excelência:

1) designar audiência de conciliação, nos termos do art. 319, VII, do CPC;

2) ao final: 2.1) revisar os honorários advocatícios devidos na ação de exoneração de alimentos para 20% do valor que foi recebido pela autora; 2.2) revisar os honorários advocatícios devidos na ação de indenização para 6,6% do valor que for apurado ao final da ação de indenização; 2.3) condenar o requerido no ônus da sucumbência.

Requer provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos.

Dá-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

ESPERA DEFERIMENTO.

Goiânia, 31 de julho de 2017.

CAROLINA CHAVES SOARES

OAB/GO nº 17.789

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b) Elementos da ação Uma ação se identifica ou se difere de outra pela existência e configuração de três elementos: partes, causa de pedir e pedido.

• Litispendência: duas ações idênticas tramitam ao mesmo tempo.

• Coisa julgada: foi proposta uma nova ação, idêntica a uma primeira que já foi julgada.

Partes: - são as pessoas envolvidas no litígio (autor e requerido, exeqüente e executado, etc.). Causa de pedir: - são os fundamentos de fato e de direito que justificam o pedido formulado, - fundamentos de fato: fatos que caracterizam a ameaça ou a violação do direito, - fundamentos jurídicos:

• são as consequências jurídicas que são extraídas dos fatos,

• fundamento jurídico não é fundamento legal: o juiz conhece o direito (“dê-me os fatos que lhe darei o direito”).

Pedido: - a parte vai a juízo para requerer uma providência (ou um provimento) do Poder Judiciário, - o provimento solicitado visa tutelar um bem da vida. c) Classificação Ação de conhecimento: o juiz analisa as alegações das partes para dizer quem tem o direito. Nessas ações, pode-se fazer pedido:

• condenatório: quando a parte visa o reconhecimento de uma obrigação de pagar, fazer, não fazer ou entregar coisa,

• declaratório: a parte busca a declaração de existência, inexistência ou modo de ser de uma relação jurídica,

• constitutivo: quando se pede a criação, modificação ou extinção de uma relação jurídica.

Ação de execução: - o direito está reconhecida num título executivo (documento que representa uma obrigação), que pode ser judicial ou extrajudicial, - o juiz adotará as medidas necessárias para a efetivação/ satisfação do direito representado no título executivo. 9) PROCESSO O processo completa a trilogia processual, pois, provocada a jurisdição pela ação, o juiz solucionará o conflito mediante o processo. a) Natureza jurídica e conceito Natureza jurídica: - o processo surge como instrumento de que dispõe o Estado-juiz para realizar o direito subjetivo material violado no caso concreto, - como a jurisdição é inerte, cumpre ao pretenso detentor do direito provocá-la, mediante a ação, - a ação se manifesta através de uma relação jurídica, de natureza processual, que se denomina processo.

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A relação jurídica processual é triangular: ao mesmo tempo em que há vínculo entre as partes e o juiz, há também pontos de contato direto entre as partes. Conceito: processo é a relação jurídica processual que une autor, juiz e réu, e que se exterioriza e se desenvolve por uma sequência ordenada de atos.

b) Processo, procedimento e autos Procedimento é o aspecto formal do processo, a coordenação de atos que se sucedem, conforme determinação legal. Autos: são a materialidade dos documentos em que se corporificam os atos do procedimento. c) Sujeitos do processo São sujeitos do processo: - autor: ocupa o polo ativo, ou seja, acionou a jurisdição pelo exercício da ação, - réu: ocupa o polo passivo e vai responder a demanda, - juiz: responsável pela solução do conflito. d) Pressupostos processuais Para que o processo exista e seja válido, alguns requisitos devem ser preenchidos. Pressupostos processuais de existência: - subjetivos:

• órgão investido de jurisdição,

• capacidade de ser parte (quem tem personalidade civil, tem capacidade de ser parte),

- objetivo:

• existência de demanda (ato de provocação da atividade jurisdicional, que se materializada através da petição inicial/ denúncia/ queixa-crime).

Pressupostos processuais de validade: - subjetivos:

• competência do juízo e imparcialidade do juiz (o juiz não pode ser impedido ou suspeito),

• capacidade processual ou capacidade de estar em juízo (apenas aqueles que são habilitados à prática de todos os atos da vida civil têm essa capacidade. Os incapazes precisam estar representados ou assistidos),

• capacidade postulatória (em regra, para postular em juízo, a parte deve estar representada por um advogado),

- objetivos:

• respeito ao formalismo processual (ex.: petição inicial apta, citação válida, escolha correta do procedimento, etc.),

• inexistência de: ✓ litispendência (repetição de uma ação que está em curso), ✓ coisa julgada (repetição de uma ação que já foi decidida, em que houve

trânsito em julgado), ✓ perempção (perda da faculdade de demandar contra o réu, pelo mesmo

objeto, quando o autor já deu causa, em outras três oportunidades, à extinção do processo por abandono da causa),

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✓ convenção de arbitragem (acordo entre as partes no sentido de que o conflito

será decidido por arbitragem). e) Legitimidade e interesse Legitimidade de partes: - é o atributo jurídico conferido a alguém para discutir determinada situação jurídica litigiosa, - haverá legitimidade se houver vínculo entre os sujeitos da demanda e a situação jurídica discutida, - legitimidade ordinária: a parte pede, em nome próprio, direito próprio (é a regra), - legitimidade extraordinária: a lei autoriza que alguém esteja em juízo em nome próprio defendendo interesse de outrem. Interesse processual: - a prestação jurisdicional solicitada no caso concreto deve ser necessária e adequada, - necessidade: impossibilidade de satisfação do direito alegado sem a intervenção estatal, - adequação ou utilidade: relação entre a situação lamentada pelo autor ao vir a juízo e o provimento jurisdicional concretamente solicitado.

Será o fim da categoria condições da ação? Uma intromissão no debate travado entre Fredie Didier Jr. e Alexandre Freitas Câmara Leonardo Carneiro da Cunha em 30 de abril de 2013. 1. Introdução

Por meio de mensagem eletrônica, o Professor Fredie Didier Jr. enviou-me texto de sua autoria, intitulado “Será o fim da categoria ‘condições da ação’? Um elogio ao projeto do novo CPC”, em que trata de nova ideia que se poderia, no seu entender, extrair de dispositivos contidos no projeto do novo Código de Processo Civil que versam sobre as condições da ação.

Depois de uma semana, o Professor Alexandre Freitas Câmara, que também fora destinatário da referida mensagem eletrônica, encaminhou-me eletronicamente – e, igualmente, ao Professor Didier Jr. – texto de sua autoria, intitulado “Será o fim da categoria ‘condição da ação’? Uma resposta a Fredie Didier Júnior”, em que se posiciona sobre o tema, oferecendo algumas discordâncias às opiniões manifestadas naquele primeiro texto, de autoria do Professor Fredie.

Interessei-me bastante pelo tema, que está compreendido no objeto de minha dissertação de mestrado, defendida há mais de dez anos. A dissertação foi publicada posteriormente. Há alguns pontos do trabalho que foram por mim revisitados ao longo desses anos, tendo modificado minha opinião quanto a uns e mantido relativamente a outros.

Os detalhes da polêmica amistosamente travada entre os Professores Didier Jr. e Freitas Câmara repercutem em opiniões que manifestei naquele meu trabalho e que não foram modificadas ao longo desses anos.

Tomei, então, a iniciativa de me intrometer na discussão, com o objetivo de contribuir para o debate. 2. Breve síntese da opinião de Fredie Didier Jr.

Na Introdução de seu texto, Fredie Didier Jr. lembra que as condições da ação, consagradas expressamente no inciso VI do art. 267 do atual Código de Processo Civil, consistem numa espécie de questão submetida à cognição judicial, que diz respeito à ação e se posiciona numa zona intermediária entre as questões de admissibilidade e as de mérito.

Ao examinar o texto do projeto do novo Código de Processo Civil, em tramitação no Congresso Nacional, Fredie constata a existência de duas omissões, das quais se podem extrair conclusões positivas, a merecerem elogio de sua parte.

Em primeiro lugar, não há mais a menção à “possibilidade jurídica do pedido”. A ausência de referência a essa condição da ação reforçaria um entendimento unânime,

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segundo o qual a impossibilidade jurídica do pedido não seria decisão de inadmissibilidade, mas sim de mérito. Realmente, o inciso VI do art. 472 do projeto do novo CPC, ao aludir à extinção do processo sem resolução do mérito, refere-se à ausência de legitimidade e de interesse processual, não mencionando mais a falta de possibilidade jurídica do pedido. De igual modo, o art. 305 do projeto do novo CPC, ao relacionar as hipóteses de indeferimento da petição inicial, não mais indica a impossibilidade jurídica do pedido, tal como o faz o inciso III do parágrafo único do art. 295 do atual CPC.

Diante disso, a possibilidade jurídica do pedido não seria mais uma condição da ação. Se o pedido for juridicamente impossível, deverá o juiz proferir sentença de improcedência, e não de carência de ação.

Já a segunda omissão contida no projeto do novo CPC diz respeito à falta, ao longo de todo o texto normativo, da expressão “condição da ação”, deixando de haver menção expressa à categoria “condição da ação”, o que autorizaria a conclusão de que a legitimidade de parte e o interesse de agir haveria de ser inseridos na categoria “pressupostos processuais”. O interesse passaria a ser um pressuposto de validade objetivo intrínseco, enquanto a legitimidade, um pressuposto de validade subjetivo relativo às partes.

De tal omissão poder-se-ia, ainda, extrair a interpretação, segundo Didier Jr., de que o reconhecimento da falta de legitimidade ordinária implicaria improcedência do pedido. O juízo de admissibilidade do procedimento somente ocorreria se houvesse falta de interesse ou de legitimidade extraordinária. 3. Breve síntese da opinião de Alexandre Freitas Câmara

O Professor Alexandre Freitas Câmara concorda com o Professor Fredie Didier Jr. quanto ao elogio feito a respeito da eliminação da possibilidade jurídica do pedido como categoria autônoma. Discorda, entretanto, da conclusão segundo a qual o reconhecimento da impossibilidade jurídica do pedido deveria passar a ser tratada como sentença de improcedência. Isso porque, na sua opinião, a falta de possibilidade jurídica do pedido configura, na verdade, ausência de interesse de agir. Os exemplos de impossibilidade jurídica do pedido são, no entender do Professor Câmara, casos típicos de falta de interesse de agir.

Em favor da sua opinião, o Professor Freitas Câmara invoca a teoria da asserção, defendendo que a falta de possibilidade jurídica do pedido (ou de interesse de agir) seria examinada in statu assertionis. Se, todavia, for necessário examinar o acervo probatório para concluir pela impossibilidade jurídica do pedido, aí a questão seria, então, de mérito. Significa, então, que não haveria, segundo o Professor Freitas Câmara, a completa abolição da possibilidade jurídica do pedido. Esta, se o projeto do novo CPC for aprovado da forma como está redigido, passaria a ser englobada pelo interesse de agir.

Em seguida, o Professor Alexandre passa a discordar do Professor Fredie quanto à absorção das condições da ação pelos pressupostos processuais. Embora o projeto do novo CPC não faça uso da expressão “condições da ação”, nem do termo “carência de ação”, não se poderia entender, na sua opinião, que a categoria “condições da ação” seria eliminada ou abolida. Isso porque esta diz respeito à ação, enquanto os pressupostos processuais concernem ao processo. Sendo a ação e o processo institutos distintos, cada um tem seus próprios requisitos, não sendo possível confundir as condições da ação com os pressupostos processuais. Tanto aquelas como estes persistiriam com o advento do novo CPC. 4. Posicionando-me sobre o tema: a eliminação da possibilidade jurídica do pedido como uma das condições da ação

Parece-me boa a eliminação da possibilidade jurídica como condição da ação. Aliás, defendo, há algum tempo, que tanto a possibilidade jurídica do pedido como a legitimidade de parte constituem questões de mérito. Assim já disse: “A bem da verdade, a prática tem revelado não haver qualquer distinção entre a impossibilidade jurídica e a rejeição do pedido, de tal sorte que uma sentença que extinga o processo sem julgamento do mérito por impossibilidade jurídica do pedido

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contém, indiscutivelmente, o mesmo sentido da que rejeita a pretensão formulada pelo autor, à mingua de amparo legal. Quanto à ilegitimidade de parte, argumenta-se que, reconhecendo-se que o sujeito do processo efetivamente não é sujeito da relação de direito material, na verdade a decisão judicial cuidou de negar sua pretensão frente à outra parte, restando por rejeitar o pedido formulado na petição inicial”.

O Código de Processo Civil de 1973 optou, entretanto, por exigir as condições da ação para que se pudesse examinar o mérito, estabelecendo, em seu art. 267, VI, que seriam três: a possibilidade jurídica do pedido, a legitimidade de parte e o interesse de agir. Costuma-se dizer que a possibilidade jurídica do pedido consiste na admissibilidade em abstrato do pronunciamento postulado, segundo as normas vigentes no ordenamento jurídico. Em outras palavras, o pedido seria juridicamente possível se ele encontrasse respaldo no sistema jurídico perante cujo juiz é formulado.

Na verdade, se o ordenamento jurídico proíbe determinado pedido, é porque a parte não tem direito ao que pede. Essa é uma questão de mérito, apta a acarretar, inclusive, uma sentença que produz coisa julgada material. Ao proclamar a impossibilidade jurídica do pedido, o juiz está, rigorosamente, a denegar ao autor o “bem da vida” perseguido.

De igual modo, quando o juiz reconhece a ilegitimidade de parte, está a denegar-lhe a pretensão processual formulada. Se alguém propõe determinada demanda, mas não dispõe de legitimidade para tanto, não é, na verdade, titular do direito afirmado em juízo. A questão da legitimidade é igualmente de mérito, apta a produzir coisa julgada material.

Toda a doutrina, ao interpretar o disposto no art. 268 do atual CPC, afirma que o autor, uma vez proferida sentença de carência, pode propor novamente a demanda, desde que adquira a legitimidade ou caso o pedido passe a ser juridicamente possível. Não se aceita a repropositura automática, sem a correção do vício. Ora, como defendo há algum tempo, “se somente será possível a repropositura da demanda, caso haja a implementação do requisito cuja ausência rendeu ensejo à carência de ação, é curial que apenas se admite o ajuizamento de outra demanda, com a modificação de um dos seus elementos, quais sejam, as partes, o objeto ou a causa petendi”[3].

O projeto do novo CPC, ao que parece, encampa essa orientação, eliminando a possibilidade jurídica do pedido como condição da ação. Se o pedido for juridicamente impossível, haverá sentença de improcedência, com coisa julgada material. Sendo juridicamente impossível o pedido, a parte que propõe sua demanda poderá, independentemente disso, ter interesse de agir, a depender dos elementos extraídos da análise de sua causa petendi. Ainda que impossível juridicamente o pedido, pode haver necessidade ou utilidade na prestação jurisdicional postulada, de sorte que não se confunde a possibilidade jurídica do pedido com o interesse de agir. A parte pode ter interesse de agir, apesar de ser impossível juridicamente seu pedido. Como, entretanto, o pedido é vetado pelo sistema normativo, a solução será a improcedência.

Com isso, eliminam-se as dificuldades trazidas pelo CPC de 1973 quanto à distinção entre condições da ação e mérito.

As dificuldades de separar a possibilidade jurídica do pedido e a legitimidade de parte das questões de mérito fizeram com que se concebesse a teoria da asserção, com a adoção de um método de distinção: se a questão se examina in statu assertionis, ou seja, considerando-se apenas as alegações contidas nas petições apresentadas em juízo, trata-se de uma condição da ação, mas se se exige a análise das provas, então a questão passa a ser de mérito. A teoria da asserção ou prospettazione foi concebida para que se pudesse distinguir as condições da ação do mérito, minimizando as críticas desferidas contra a teoria eclética de Liebman.

Se não há mais impossibilidade jurídica do pedido como condição da ação, o veto normativo a determinada pretensão processual configura juízo de improcedência, e não de inadmissibilidade. E, muitas vezes, essa improcedência é proclamada somente com o exame do ordenamento jurídico, sem ser necessário investigar o acervo probatório. Deixa de ter relevância, no ponto, a teoria da asserção, eis que desaparece a dificuldade de se distinguir a impossibilidade jurídica do pedido da improcedência, já que abolida aquela pelo projeto do novo CPC.

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Penso, enfim, que, com o projeto do novo CPC, não haverá mais a possibilidade

jurídica do pedido como condição da ação. Os casos de impossibilidade jurídica do pedido passarão a ser hipóteses de improcedência do pedido. A iniciativa é louvável e merece, realmente, elogio. 5. Ainda me posicionando sobre o tema: as condições da ação como elementos integrantes do juízo de admissibilidade do processo

Na Teoria Geral do Processo, há três importantes institutos, que são autônomos: a ação, o processo e a jurisdição. Embora autônomos, estão interligados. A ação provoca o exercício da jurisdição pelo processo. O processo forma-se pela ação, culminando com a efetiva prestação da jurisdição.

A categoria das condições da ação sempre se relacionou com a ação, enquanto os pressupostos processuais dizem respeito ao processo. Ausente alguma condição da ação, a parte seria carecedora de ação, não existindo os requisitos constitutivos do direito de ação. Não preenchidas tais condições, a ação não existiria e, consequentemente, também não estaria o juiz a exercer atividade jurisdicional, na medida em que, para Liebman, só há jurisdição se houver ação e vice-versa.

Atualmente, tem prevalecido o entendimento de que tanto as condições da ação como os pressupostos processuais inserem-se no juízo de admissibilidade do processo, devendo estar presentes para que se possa proferir uma sentença de mérito. Como esclarece Cândido Rangel Dinamarco,

“É muito cara à doutrina brasileira a indicação de três ordens de pressupostos de admissibilidade do provimento jurisdicional, a saber: as condições da ação, os pressupostos processuais e os pressupostos de regularidade do procedimento e dos atos que o compõem. Não é tão importante fazer essa separação, todavia. Da perspectiva de quem examina o processo para verificar se o provimento deve ser emitido ou não pode sê-lo, basta enunciar linearmente todos os requisitos dos quais tal emissão depende, sem a preocupação de agrupá-los em categorias. Todos eles situam-se em um só patamar operacional, sendo objeto de um dos dois juízos a serem feitos pelo juiz no processo: antes de se decidir sobre o teor do provimento de mérito a ser emitido, ele decide sobre se o proferirá ou não. Todos os pressupostos de admissibilidade do mérito situam-se no patamar das preliminares, que antecede e condiciona o do julgamento do mérito”.

Como bem observa Rodrigo da Cunha Lima Freire, as condições da ação e os pressupostos processuais integram os requisitos de admissibilidade para o exame do mérito. Sua reunião numa só categoria não foi, entretanto, a opção adotada pelo Código de Processo Civil de 1973. Não seria, então, possível agrupá-los numa só categoria em razão da opção legislativa atualmente em vigor.

O projeto do novo CPC não faz uso das expressões “condições da ação” e “carência de ação”, podendo desse silêncio extrair-se a conclusão de que não há mais essa categoria autônoma, de sorte que não se poderia mais afirmar que a falta de uma “condição da ação” acarretaria “carência de ação” ou inexistência da ação e do processo.

Não havendo mais a categoria “condições da ação”, a legitimidade e o interesse passam a integrar o juízo de admissibilidade do processo, havendo apenas pressupostos processuais e mérito.

A circunstância de a ação e o processo serem institutos autônomos não impõe que haja necessariamente, como categorias autônomas, as condições da ação e os pressupostos processuais. O processo surge com a propositura da demanda. Esta constitui um ato jurídico que acarreta a formação do processo. Para que o processo tenha desenvolvimento válido, é preciso já que a própria demanda seja validamente exercida, de sorte que os requisitos de validade da demanda podem ser requisitos de validade dos demais atos processuais, pois viciado o ato jurídico de demandar, haverá contaminação aos demais atos, salvo se não resultar prejuízo ou se o resultado de mérito puder ser favorável ao réu.

Sempre me pareceu que a possibilidade jurídica do pedido e a legitimidade de parte seriam questões de mérito. Essa conclusão não poderia ser obtida diante do texto do atual CPC, que prevê, expressamente, em seu art. 267, VI, do CPC, a possibilidade jurídica do pedido, a legitimidade de parte e o interesse de agir como condições da ação,

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estabelecendo que sua ausência implica a extinção do processo sem resolução do mérito.

O texto dos dispositivos do projeto do novo CPC, diversamente, não se refere mais às expressões “condições da ação” ou “carência de ação”, sendo possível extrair daí a intepretação segundo a qual não há mais condições da ação como categoria autônoma do direito processual.

A possibilidade jurídica do pedido passaria, então, a ser questão de mérito. De igual modo, a legitimidade passaria a ser questão de mérito. É relevante lembrar, a essa altura, a distinção entre a legitimidade ordinária e a extraordinária. Só se caracteriza como matéria de mérito a legitimidade ordinária, sendo a extraordinária integrante do juízo de admissibilidade do processo.

A legitimidade ordinária é reflexo do direito material, sendo questão de mérito. Se o juiz conclui pela falta de legitimidade ordinária, o que está a decidir, em verdade, é pela ausência de titularidade do direito invocado, denegando a postulação formulada: declara não ter razão o autor, por não ser titular do direito; profere, enfim, sentença de improcedência.

Embora a legitimidade extraordinária esteja relacionada com a relação material, sendo estabelecida em razão do nexo existente entre as relações jurídicas de titularidade do legitimado ordinário e do extraordinário, não constitui uma questão de mérito. Se o substituto processual não dispõe de legitimidade, a sentença que assim o reconhece não denega o direito do substituído. Com efeito, quando o juiz reconhece a ilegitimidade ad causam do substituto processual, não está a rejeitar o reconhecimento do direito do substituído; está, apenas, a observar que, naquele caso, o sujeito não está autorizado a, em nome próprio, postular direito alheio. Significa, então, que a legitimidade extraordinária é uma questão de admissibilidade do processo, e não de mérito.

Pelo texto do projeto do novo CPC, a possibilidade jurídica do pedido e a legitimidade ordinária da parte passariam, então, a ser questões de mérito. Ao lado das questões de mérito, haveria os pressupostos processuais em cujo âmbito estariam inseridos o interesse de agir e a legitimidade extraordinária. 6. Conclusão

Por essas razões, e reafirmando um entendimento que defendo há mais de dez anos, acosto-me à opinião do Professor Fredie Didier Jr., com a devida venia do Professor Alexandre Freitas Câmara, para concluir que, se o projeto do novo CPC for aprovado desse jeito, não haverá mais a possibilidade jurídica do pedido como condição da ação, sendo a impossibilidade jurídica do pedido uma improcedência, juntamente com a legitimidade ordinária da parte. Ademais, aprovado que seja o projeto desse modo, não haverá mais as condições da ação como categoria autônoma, passando o interesse de agir e a legitimidade extraordinária da parte a constituir pressupostos processuais. (Texto disponível em: https://www.leonardocarneirodacunha.com.br/artigos/sera-o-fim-da-categoria-condicoes-da-acao-uma-intromissao-no-debate-travado-entre-fredie-didier-jr-e-alexandre-freitas-camara/)

10) FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA a) Ministério Público É uma instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127 CF). É considerada uma instituição sui generis, pois não está subordinada aos Poderes Judiciário, Executivo ou Legislativo. O MP pode atuar como:

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- parte: em regra, como autor de demandas (ex.: ação penal, ação civil pública, ação de improbidade administrativa, etc.), - fiscal da ordem jurídica (custus legis): quando o processo envolve interesse publico ou social, interesse de incapaz e litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana. O Ministério Público se divide em: - MP da União:

• MP Federal (Procuradores da República),

• MP do Trabalho (Procuradores do Trabalho),

• MP Militar (Procurador Militar)

• MP do Distrito Federal e Territórios (seus membros em 1º grau são chamados de Promotores de Justiça e, nos tribunais, de Procuradores de Justiça),

- MP dos Estados

• membros em 1º grau: Promotores de Justiça,

• membros nos tribunais: Procuradores de Justiça. b) Advocacia O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei (art. 133 CF). O advogado pode atuar nas esferas privada e pública. Os advogados públicos defendem os interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (administração direta e indireta). Advocacia Geral da União: - a carreira de divide em:

• Advogado da União,

• Procurador Federal,

• Procurador da Fazenda Nacional. Procuradoria Geral do Estado: - os advogados dos Estados e do Distrito Federal são denominados de Procuradores do Estado. Procuradoria do Município: - os advogados dos municípios são denominados de Procuradores do Município. c) Defensoria Pública É uma instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados (art. 134 CF). Há Defensoria Pública: - da União, - dos Estados. 11) AUXILIARES DA JUSTIÇA Consideram-se auxiliares da justiça as pessoas que auxiliam o juiz na realização dos atos processuais.

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Escrivão: - é responsável por documentar e executar atos processuais, bem como fazer o registro das audiências e emitir certidões, - incumbe a ele a formação dos autos do processo, bem como sua guarda e responsabilidade em cartório, - é auxiliado pelos escreventes. Oficial de justiça: - é responsável por realizar atos de comunicação processual (ex.: citação e intimação) e de constrição judicial (ex.: penhora e busca e apreensão). Perito: - assiste o juiz quando a prova de um fato depende de conhecimento técnico ou científico, - é profissional de confiança do juiz, devendo, preferencialmente, ter nível universitário, estar inscrito no órgão de classe e ser especialista na matéria sobre que deverá opinar.