teoria dos stakeholder

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  • 7/23/2019 TEORIA DOS STAKEHOLDER

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    ESCOLA DE ADMINISTRAO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ADMINISTRAO

    Lucas Hoerlle Torres

    TEORIA DO STAKEHOLDER:UM ESTUDO DA APLICAO DO

    PRINCPIO DE EQUIDADE DO STAKEHOLDER

    Porto Alegre

    2013

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    Lucas Hoerlle Torres

    TEORIA DO STAKEHOLDER:UM ESTUDO DA APLICAO DOPRINCPIO DE EQUIDADE DO STAKEHOLDER

    Dissertao de Mestradoapresentada ao Programa de Ps-Graduao em Administrao daUniversidade Federal do Rio

    Grande do Sul, como requisitoparcial para a obteno do ttulo deMestre em Administrao.

    Orientador: Prof. Ariston Azevedo

    Porto Alegre

    2013

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    Lucas Hoerlle Torres

    TEORIA DO STAKEHOLDER: UM ESTUDO DA APLICAO DO PRINCPIO DE

    EQUIDADE DO STAKEHOLDER

    Dissertao de Mestrado apresentada ao

    Programa de Ps-Graduao em

    Administrao da Universidade Federal

    do Rio Grande do Sul, como requisito

    parcial para a obteno do ttulo deMestre em Administrao.

    Orientador: Prof. Ariston Azevedo

    Conceito Final:

    Aprovado em: de de .. .

    BANCA EXAMINADORA

    __________________________________

    Prof. Dr. Fernando Dias LopesUniversidade Federal do Rio Grande do Sul

    __________________________________Prof. Dr. Mariana BaldiUniversidade Federal do Rio Grande do Sul

    __________________________________

    Prof. Dr. Joo Marcelo CrubellateUniversidade Estadual de Maring

    __________________________________

    OrientadorProf. Dr. Ariston AzevedoUniversidade Federal do Rio Grande do Sul

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    Aos meus amados pais, Sergio e Anelise, por

    sempre me apoiarem e me ajudarem alcanar

    meus sonhos.

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    Agradecimentos

    Ao CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e TecnolgicoBrasil queapoiou a realizao deste trabalho;

    Aos meus pais, Sergio e Anelise, por sempre me incentivarem e me apoiarem sem mediremesforos e com muito amor e carinho;

    tia Olizete (in memoriam), por ter cuidado de mim com muito amor;

    Aos meus irmos, Julio e Juliana, pelos conselhos acadmicos;

    minha v Lucy, por sempre rezar pelo meu sucesso;

    Fernanda, pelo amor e todo apoio quando precisei;

    Layka, pelo companheirismo e exemplo de superao;

    Ao meu orientador, Ariston Azevedo, pelo aprendizado e por me mostrar a teoria dostakeholder;

    Organizao X e aos entrevistados, por disponibilizarem seu tempo e contriburem comeste trabalho;

    Robert Phillips e Edward Freeman, por responderem s minhas dvidas sobrestakeholders.

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    "(1) No faz sentido falar sobre negcios semfalar sobre tica. (2) No faz sentido falarsobre tica sem falar sobre negcios. (3) Nofaz sentido falar sobre negcios ou tica semfalar sobre seres humanos" (FREEMAN ETAL, 2010, p. 7).

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    Resumo

    Para aqueles que acreditam que tica e negcios so instncias separadas (tese da

    separao), Freeman e outros (2010) argumentam que eles podem estar juntos (tese da

    integrao). Os autores defendem que a teoria do stakeholder uma forma atravs da qual

    isso pode ocorrer. Nos certames da teoria do stakeholder, Phillips (2003) props o princpio

    de equidade do stakeholder, que resumidamente consiste em uma proposta que visa garantir

    um relacionamento tico entre organizao e seus stakeholders. No presente estudo, se

    considera como stakeholder aqueles grupos que possuem obrigaes mtuas com uma

    organizao que vo alm daquelas determinadas pelo que a moralidade da sociedade

    estabelece. Assim, com o objetivo de compreender como o princpio de equidade do

    stakeholder est presente, ou ausente, em uma organizao especfica, foi realizada uma

    pesquisa exploratria qualitativa, atravs de entrevistas em profundidade. As entrevistas

    transcritas foram analisadas atravs da anlise de contedo, com tcnica categorial, se tendo,

    as seguintes categorias: (A) moral, tica e justia; (B) esquema cooperativo; (C)stakeholders:

    meios ou fins? Durante a anlise, se compreendeu que o princpio de equidade do stakeholder

    est presente no relacionamento da Organizao em questo com seusstakeholdersconforme

    props Phillips (2003). Como achados, o trabalho levanta reflexes sobre o modelo genrico

    de esquema cooperativo, mostrando que os stakeholders derivativos podem ser menos

    frequentes do que aparentam ser. Tambm foi percebido pelo autor do estudo que tica, moral

    e justia so conceitos que causam confuso aos entrevistados, o que leva a crer que

    possvel que outros membros da sociedade no tenham esses conceitos assimilados,

    merecendo mais ateno ao ensino de tais disciplinas. Por fim, o autor da presente dissertao

    destaca que o uso do bom senso, assim como agir honestamente e criar laos com outrosindivduos so caminhos para se manter uma boa relao com stakeholders. De forma a

    concluir o estudo, feito um apelo para maior conscientizao moral, no s dos

    administradores, mas tambm da sociedade, visando um mundo melhor para todos.

    Palavras-chave: 1. Stakeholder. 2. Teoria do Stakeholder. 3. Princpio de Equidade do

    Stakeholder. 4. tica Empresarial. 5. tica. 6. Moral.

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    Abstract

    For those who believe that ethics and business are separated instances (separation

    thesis), Freeman et al (2010) argue that it can be together (integration thesis). The authors

    defend that thestakeholdertheory is a way by which it can happen. In the field of stakeholder

    theory Phillips (2003) proposed the principle of stakeholder fairness which consists in a

    proposal that aims to guarantee an ethical relationship between organization and its

    stakeholders. In the present study stakeholder is considered as those groups which have

    mutual obligations with an organization. This obligations goes beyond those determined by

    what the society's morality has established. This study aims to comprehend how the principle

    of stakeholder fairness is, or is not, present in the management of an organization's

    stakeholders. For this purpose a qualitative explanatory research was done using deep

    interviews that were also transcript and analyzed by the categorical content analyses

    technique. It was proposed the following categories: (A) moral, ethics and justice; (B)

    cooperative scheme; (C) stakeholders: ways or endings? It was comprehended that the

    principle of stakeholder fairness is present in the relationship between the studied

    organization and its stakeholders as it was proposed by Phillips (2003). As findings the work

    brings thoughts about the generic model of the cooperative scheme showing that derivatives

    stakeholders can be less frequent as they seem to be. It was also realized by the author of the

    study that ethics, moral and justice are concepts that made confusion on the interviewers. It

    leads to believe that it's possible that other members of the society also do not have

    understood this concepts. This way the teaching of this disciplines deserves more attention. At

    the end, the author of the present dissertation detaches that the use of good sense, honest

    behavior and also the creation of ties with other individuals are good ways to keep a goodrelationship with stakeholders. In a way of concluding the study it was made an appeal for

    more moral consciousness not only for managers but also for the society, aiming a better

    world for everybody.

    Key-words: 1. Stakeholder. 2. Stakeholder Theory. 3. Principle of Stakeholder Fairness. 4.

    Business Ethics. 5. Ethics. 6. Moral.

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1Mapa de Stakeholders. ........................................................................................ 46

    Figura 2Mapa de StakeholdersLegtimo, Derivativo e No Stakeholder. ....................... 61

    Figura 3Organograma da Organizao X .......................................................................... 69

    Figura 4Esquema Cooperativo da Organizao X. ............................................................ 95

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1Perfil dos Entrevistados: Organizao X. ........................................................... 70

    Quadro 2Perfil dos Entrevistados: Demais Stakeholders01. ............................................. 71

    Quadro 3Perfil dos Entrevistados: Demais Stakeholders02. ............................................. 71

    Quadro 4Obrigaes Morais Adicionais Presentes no Esquema Cooperativo da

    Organizao X. .................................................................................................. 96

    Quadro 5Caractersticas do Princpio de Equidade do Stakeholderno Esquema Cooperativo

    da Organizao X. ................................................................................................................ 97

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1EnANPAD e Teoria do Stakeholder. ................................................................... 40

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    SUMRIO

    1. INTRODUO ............................................................................................... 13

    2. PROBLEMA, OBJETIVOS E JUSTIFICATIVA DA PESQUISA ............... 18

    3. REFERENCIAL TERICO ........................................................................... 21

    3.1. TEORIA DO STAKEHOLDER .......................................................................... 21

    3.1.1. O termo e sua origem ....................................................................................... 21

    3.1.2. Moral e tica ..................................................................................................... 25

    3.1.3. A(s) teoria(s) ..................................................................................................... 28

    3.1.4. Interpretaes Equivocadas ............................................................................ 34

    3.1.5. Possibilidades futuras ...................................................................................... 36

    3.1.6. No Brasil ........................................................................................................... 38

    3.1.7. Teoria do stakeholder em outras propostas ..................................................... 42

    3.1.8. Diversas definies ........................................................................................... 44

    3.2. PRINCPIO DE EQUIDADE DO STAKEHOLDER.......................................................... 47

    3.2.1. Justia como equidade ..................................................................................... 47

    3.2.2. Proposta de Phillips ......................................................................................... 53

    4. ESTRATGIA METODOLGICA ............................................................... 64

    4.1. TIPO E VERTENTE DA PESQUISA ................................................................ 64

    4.2. TCNICA DE COLETA DE DADOS ............................................................... 65

    4.3. UNIDADE DE ESTUDO .................................................................................. 66

    4.3.1. Organizao X ................................................................................................... 684.3.2. Perfil dos Entrevistados ..................................................................................... 70

    4.4. TCNICA DE ANLISE DE DADOS .............................................................. 72

    4.5. LIMITAES DO ESTUDO ............................................................................ 74

    5. ANLISE ......................................................................................................... 75

    5.1. A Presena do princpio de equidade dostakeholder na organizao x ............... 75

    5.3.1. Justia, tica e moral: fazer o que certo ....................................................... 75

    5.3.2. O esquema cooperativo da Organizao X ..................................................... 795.3.2.1. Stakeholders normativos .................................................................................... 80

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    5.3.2.1.1. Clientes.............................................................................................................. 81

    5.3.2.1.2. Funcionrios ..................................................................................................... 83

    5.3.2.1.3. Fornecedores ..................................................................................................... 85

    5.3.2.1.4. Scios ................................................................................................................ 87

    5.3.2.2. Stakeholders derivativos .................................................................................... 89

    5.3.2.2.1. Mdia ................................................................................................................. 90

    5.3.2.2.2. Mercado ............................................................................................................ 90

    5.3.2.3. No stakeholders................................................................................................ 91

    5.3.2.3.1. Governo ............................................................................................................. 91

    5.3.2.3.2. Sindicato ............................................................................................................ 92

    5.3.2.3.3. Sociedade .......................................................................................................... 935.3.2.4. Sntese ............................................................................................................... 94

    5.3.3. Stakeholders so fins........................................................................................ 97

    6. CONSIDERAES FINAIS ......................................................................... 103

    REFERNCIAS ............................................................................................. 109

    APNDICE A ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA OS

    ADMINISTRADORES DA ORGANIZAO X ......................................... 115APNDICE B ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA OS STAKEHOLDERS

    ........................................................................................................................ 116

    APNDICE C EMAIL DE EDWARD FREEMAN .................................. 117

    APNDICE D EMAIL DE ROBERT PHILLIPS 01 ................................ 118

    APNDICE E EMAIL DE ROBERT PHILLIPS 02 ................................ 119

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    1. INTRODUO

    Ao longo da histria possvel se observar escndalos empresariais. Como exemplo,

    se tem o caso da empresa norteamericana Enron, que ao falir em 2001, devido fraude de

    seus gestores, deixou mais de $31 bilhes em dvidas. Alm desse caso, Hartley e Shally-

    Jensen (2011) citam outras fraudes, como a empresa Xerox ter declarado um lucro $1,4 bilho

    acima do que realmente obtivera. Tambm citam o exemplo da WorldCom que, semelhante

    Xerox, formalizou um resultado de $3,8 bilhes acima do que realmente obteve. Os autores

    tambm explicam que os escndalos empresariais no se resumem somente aos resultados das

    organizaes. Eles mostram que os principais executivos de algumas das grandes corporaespegaram para si os lucros oriundos da vendas de aes, citando como exemplo o Scott

    Sullivan, da WorldCom, que ganhou $35 milhes dessa forma. O caso do Gary Winnik, da

    Global Crossing, que retirou $500 milhes da companhia, dois anos antes de decretar falncia

    da mesma, tambm foi citado pelos autores. Fora as empresas e seus gestores, Hartley e

    Shally-Jensen (2011) lembram que empresas de auditoria fiscal, como a KPMG e Ernst and

    Young, foram acusadas de violaes, sendo que a Arthur Anderson LLP teve que abandonar

    os negcios por causa disso.

    Devido essas fraudes, leis mais rigorosas foram estabelecidas. Hartley e Shally-

    Jensen (2011) explicam que, em 2002, nos Estados Unidos, foi criado o ato Sarbanes-Oxley.

    Essa nova legislao ampliou as penalidades queles condenados por fraudes, alm de

    determinar mais especificaes para o controle contbil e patrimonial das empresas. Alm

    dessas aes, o ato tambm criou uma companhia pblica para regulamentar, inspecionar e

    disciplinar empresas de contabilidade. Os autores citam as maiores modificaes presentes no

    Sarbanes-Oxley:

    1. Obrigao, para companhias pblicas, de avaliar e dar detalhes da eficincia deseus relatrios fiscais; 2. Necessidade de que os CEOs e CFOs atestem seusrelatrios fiscais; 3. Aumentar penalidades, tanto civis como criminais, por infringira segurana da lei; 4. Estipular que emprstimos pessoais no podem ser dados nenhum diretor executivo; 5. Necessidade de comits de auditoria independente paracompanhias registradas no mercado de aes; 6. Garantias de devoluo, danoscompensatrios e proteo de empregados que agem como delatores (HARTLEY;SHALLY-JENSEN, 2011, p. 407)1.

    1Traduo do autor: 1. Obligation for public companies to asses and give details of the efficiency of their fiscalreporting; 2. Requirement that CEOs and CFOs certify their fiscal reports; 3. Increased penalties, both civil andcriminal, for security law infringement; 4. Stipulation that no personal loans can be given to any executive

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    Conforme explica Meira (2010), a sociedade, ao perceber essas diversas fraudes, se

    encontra em um conflito moral. Por um lado, se tem os valores morais de no roubar e de no

    mentir e, do outro lado, se tem a busca por maior lucratividade, aparentemente, qualquer

    custo. Desse modo, todas essas mudanas legislativas, com a inteno de no permitir que

    novas fraudes ocorram, so respostas esse desejo, por parte da sociedade, de se moralizar os

    negcios. Segundo o autor, essa necessidade antiga fez surgir o tema da tica empresarial nos

    anos 1970, momento no qual o assunto passou a ser estudado no mbito acadmico,

    principalmente nos Estados Unidos. Meira (2010), que fez um resgate histrico sobre o tema,

    lembra que mesmo pensando que os negcios no possuem preocupaes morais, os

    indivduos neles envolvidos no esto isentos de suas capacidades morais.

    Uma vez que se toca no assunto, preciso esclarecer esses conceitos. A tica, segundo

    Vazquez (2007) a cincia que estuda a moral. Essa, por sua vez, consiste no conjunto de

    normas, informais, criadas pela sociedade. Essas normas so desenvolvidas conforme o tempo

    e a histria da sociedade, podendo variar ao longo dos anos. Os indivduos que compe a

    sociedade acabam por internalizar essas normas, por livre vontade, seguindo-as. Tambm se

    deve falar dos atos morais que os indivduos da sociedade realizam. Esses atos so aqueles

    passveis de julgamento, positivo ou negativo, a partir da moral estabelecida na sociedade.

    Apesar dessa distino entre os conceitos de tica e moral, visando manter uma coerncia

    epistemolgica com Freeman e outros (2010) (autores mais utilizados nesse estudo), no

    presente trabalho a tica entendida como sinnimo de moral, da mesma forma que

    utilizada no senso comum.

    Ao se debruar sobre a temtica dos escndalos empresariais, no somente

    relacionados s grandes corporaes, Freeman e outros (2010) formulam algumas questes.

    Entre outras, negcios e tica no se misturam? Uma "deciso profissional" pode excluirvalores morais? Aparentemente, essas questes tem a resposta "sim" dada como certa. Ou

    seja, h um estranhamento natural entre negcios e valores morais. Essa, chamada tese da

    separao, por Freeman e outros (2010), tambm questionada por Phillips (2003) e os

    autores chegaram a concluso de que no precisa ser assim. Freeman e outros (2010)

    explicam que a tese da separao, tambm conhecida como falcia da separao, consiste na

    idia predominante de que as empresas so voltadas exclusivamente para a maximizao de

    seus lucros, o que torna tica e negcios duas instncias separadas. Os autores defendem que

    officer; 5. Requirements of independent auditing committees for companies registered on stock exchanges; 6.Guarantee of back pay and compensatory damages, and protection of employees who act whistleblowers.

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    essa uma viso dogmtica, a qual as pessoas no questionam a razo, simplesmente seguem

    o fluxo. Em contraposio, eles prope a tese da integrao, que defende uma viso na qual

    tica e negcios esto juntos, sugerindo que possvel ter lucro e agir de forma tica,

    simultaneamente. Em acordo com esses autores est DeGeorge (apudMEIRA, 2010, p.126)

    que afirma que, "[] se de fato os negcios fossem vistos como amorais, se deles no se

    esperasse um comportamento ajustado as regras morais, mas simplesmente agir de maneira a

    elevar os lucros, ento no haveria surpresa, choque ou tumulto quando se agisse

    imoralmente".

    interessante observar que uma ideia que caminha na mesma linha foi defendida por

    Simon (1970). O autor explica que uma tomada de deciso formada por contedo fatual e

    contedo tico. O contedo fatual vem da ideia de juzo de fato, onde o fato trata de algo que

    existe, que "", e que pode ser comprovado como, por exemplo, anunciar que a chuva molha.

    Agora, declarar que a chuva boa porque, ao molhar as pessoas, ela lhes traz felicidade,

    considerado um juzo de valor, pois uma opinio est sendo dada, no quer dizer que seja

    verdade, mas quem o diz pensa que assim deveria ser. Portanto, o juzo de valor leva, na

    tomada de deciso, ao contedo tico, que diz respeito normatividade, ao que "deve ser".

    Ento, Simon (1970), prope que, na tomada de deciso, um administrador deve levar em

    conta o que est acontecendo (contedo fatual) e os valores atravs do qual deve entender a

    situao (contedo tico). Simon (1970, p. 61) alerta que o administrador "[] pode ter (e

    habitualmente tem) sua prpria escala de valores pessoais que gostaria de ver realizados pela

    sua organizao []", fazendo com que ao invs do contedo tico da tomada de deciso,

    opte por fazer o que lhe agrada. Isso provavelmente levar alguma deciso que fere

    normatividade tica e, assim, acaba deixando esta separada do negcio, conforme relatam

    Freeman e outros (2010) na tese da separao.

    Tomando por base a tese da integrao, Freeman e outros (2010) veem na teoria do

    stakeholder uma possibilidade de mostrar como negcios e tica esto conectados. De forma

    semelhante, Phillips (2003) prope que a teoria dostakeholder deve ser vista como uma teoria

    de tica organizacional. Conforme explicam Freeman e outros (2010), a teoria dostakeholder

    tem sido desenvolvida desde a dcada de 1960. Ela diz respeito levar em considerao os

    stakeholders quando tomando uma deciso na organizao, buscando agregar-lhes valor2.

    2 Freeman e outros (2010) se referem valor como algo que os stakeholders valorizam, alm do interessefinanceiro, porm no especificam do que se trata. Como questes abertas, no final de seu livro, os autores

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    Tambm importante salientar que, durante a busca do autor sobre referencial terico para

    compreender a teoria do stakeholder, um aspecto importante merece ser explicitado. Na

    literatura corrente muito frequente, conforme tambm observado por Campos (2002), o uso

    da idia dostakeholder como um meio para um fim, como a maximizao de lucro, que difere

    da proposta de Freeman e outros (2010) de se ter osstakeholders como fins3.

    Existem diferentes definies do conceito de stakeholder, como as verses mostradas

    por Freeman e outros (2010), Slinger (1999) e Phillips (2003).Neste estudo, optou-se por

    considerar stakeholder conforme prope Phillips (2003). Para o autor, stakeholders so

    aqueles que, por estarem em um esquema cooperativo com a organizao, possuem

    obrigaes morais adicionais com a organizao, assim como essa tambm tem com eles. Um

    esquema cooperativo pode ser pensado como uma relao de troca, onde existe benefcio

    mtuo (oriundos da cooperao), cooperao que requer certo sacrifcio das partes envolvidas,

    livre conduta, aceitao voluntria dos benefcios e tambm onde existe proporcionalidade

    entre a obrigao que se tem e o benefcio que se ganha 4. Phillips (2003) cita as relaes

    comerciais como exemplo de esquema cooperativo. Assim, para se caracterizar como um

    stakeholder normativo preciso que essas caractersticas estejam presente na relao entre

    stakeholder e organizao. Considera-se como obrigaes morais adicionais aquelas que vo

    alm das obrigaes morais que uma organizao possui com um indivduo. Nessa definio,

    Stakeholders so divididos em dois grupos: normativos e derivativos. Os primeiros so

    aqueles que esto no esquema cooperativo conforme citado a pouco como, por exemplo,

    clientes, empregados, fornecedores e financiadores. Os segundos so grupos que no esto no

    esquema cooperativo5, e assim no possuem obrigaes morais adicionais, porm podem

    afetar algum stakeholder normativo como, por exemplo, concorrentes, mdia e ativistas. Os

    que no se encaixam em nenhum dos grupos so considerados nostakeholders.

    Conforme prope Phillips (2003), em uma organizao, o administrador o indivduo

    responsvel pelo gerenciamento dos stakeholders. Para ele, esse gerenciamento deveria ser

    baseado no princpio de equidade do stakeholder. Desse modo, a tica estar relacionada ao

    comentam que ainda precisa ser investigado o que valor significa para tipos particulares de stakeholderse, entreoutros, como esse valor pode ser mensurado.3Essa questo abordada com mais detalhes no captulo de referencial terico referente teoria dostakeholder.4As caractersticas do esquema cooperativo so detalhadas no subcaptulo sobre o princpio de equidade do

    stakeholder.5 Os stakeholders derivativos no esto presentes no esquema cooperativo pois no tem obrigaes moraisadicionais com a organizao em questo. Porm, esto presentes na representao grfica do esquemacooperativo para mostrar que osstakeholders normativos so influenciados por eles, quando cabvel.

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    negcio passa pelo modo como o administrador lida com os stakeholders de sua organizao.

    Assim, pode-se entender que negcios e tica estarem juntos, pelo menos em parte, depende

    do administrador, o que est de acordo com o que pensa Meira (2010, p. 133), que tambm d

    importncia ao papel do administrador, concluindo, "[] enfim, que se a tica empresarial se

    afirma pela moralizao dos negcios, a moral da gerncia seu lugar de destino".

    A partir disso, o presente estudo tem interesse em compreender como uma dada

    organizao lida com seusstakeholders,mais especificamente se nessa relao est presente o

    princpio de equidade do stakeholder. Para desenvolver tal proposta de estudo, o presente

    trabalho organizado da seguinte forma: Aps esta introduo, se tem o captulo Problema,

    Objetivos e Justificativa da Pesquisa, onde a questo problema do estudo melhor

    desenvolvida, os objetivos geral e especficos so propostos e justifica-se razes para a

    realizao da pesquisa. Na sequncia, se tem o captulo de referencial terico, dividido em

    dois subcaptulos: Teoria do Stakeholder, e Princpio de Equidade do Stakeholder.

    Posteriormente, fala-se acerca da estratgia metodolgica da pesquisa, se explicando como

    composto o objeto de estudo, como foi feita a coleta de dados, como foi realizada a anlise

    dos mesmos e tambm as limitaes do estudo. Adiante, se tem um captulo com a anlise das

    entrevistas realizadas e, por fim, se tem as consideraes finais oriundas deste estudo, as

    referncias bibliogrficas e apndices utilizados.

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    2. PROBLEMA, OBJETIVOS E JUSTIFICATIVA DA PESQUISA

    O escopo deste captulo abrange o problema de pesquisa e os objetivos geral e

    especficos da mesma. Alm disso, tambm so apresentados argumentos que justificam a

    realizao desta.

    Conforme comentado na introduo, se percebeu, principalmente atravs dos estudos

    de Freeman e outros (2010) e Phillips (2003), que, por um lado, alguns acreditam que

    negcios e tica no andam juntos tese da separao e que, por outro, negcios e tica

    caminham juntostese de integrao. De forma a mostrar esse ltimo lado, os autores prope

    a teoria dostakeholder como resposta. Com isso em mente e, focando-se com maior interesse

    no princpio de equidade dostakeholder como possvel resposta para tal, se chega ao seguinte

    problema de pesquisa: Como se apresenta o princpio de equidade do stakeholder na

    Organizao X?

    Para responder o problema de pesquisa, a pouco proposto, preciso estabelecer o

    objetivo geral deste trabalho. Dessa forma, esse consiste em: Compreender como est

    presente, ou ausente, o princpio de equidade do stakeholder na Organizao X.

    De modo alcanar o objetivo geral estabelecido para a pesquisa, tem-se a

    necessidade, tambm, de responder os seguintes objetivos especficos:

    a) entender o que a gesto da Organizao X e seus stakeholders compreendem por

    moral, tica e justia;

    b) identificar o esquema cooperativo da organizao X;

    a) analisar se a gesto da Organizao X tem seusstakeholders como meios ou comofins.

    O primeiro objetivo, referente ao que os entrevistados compreendem por moral, tica e

    justia tem importncia para alcanar o objetivo geral pois esses conceitos esto presentes no

    princpio de equidade dostakeholder, principalmente no que diz respeito obrigaes morais

    e obrigaes morais adicionais. Dessa forma, este objetivo tambm importante para se

    chegar ao objetivo (b), onde esses pontos so abordados para a identificao do esquema

    cooperativo.

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    O objetivo (b), sobre a identificao do esquema cooperativo da Organizao X, pode

    ser considerado como o principal objetivo especfico, uma vez que nele compreendido o

    esquema cooperativo no qual a Organizao X est inserida, assim como tambm so

    discutidas que obrigaes morais adicionais esto presentes no esquema e como essas so

    realizadas. Alm dessas, as caractersticas que qualificam o princpio de equidade do

    stakeholdertambm so abordadas.

    O ltimo objetivo especfico tambm se justifica por ser importante para se chegar ao

    objetivo geral de compreender a presena, ou ausncia, do princpio de equidade do

    stakeholder. Se ter osstakeholders como fins, como sugere Slinger (1999), um critrio que

    sinaliza na direo de se ter a teoria do stakeholder como proposta de tica organizacional.

    Desse modo, estando tambm alinhado com as obrigaes morais adicionais presentes no

    esquema cooperativo da organizao.

    Entre os motivos que justificam a realizao desse estudo, possvel citar o acrscimo

    ao mbito cientfico, principalmente, no que diz respeito ao estudo da tica organizacional

    atravs da teoria dostakeholder. Conforme observado, a literatura sobre teoria dostakeholder

    tem espao nos estudos nacionais, pois no existe nenhum autor como autoridade quando se

    diz respeito stakeholders.No pas no existe traduo das principais obras da teoria, assimcomo foram encontrados somente trs livros que abordam o tema como seu foco. Situao

    semelhante foi encontrada nos anais do Encontro da Associao Nacional de Ps Graduao

    em Administrao (EnANPAD). Entre os anos 1997 e 2011, o tema stakeholder tem sido

    abordado, porm predominantemente por um vis que possui foco no stakeholder como um

    meio, como a maximizao de lucro. Nos anais do EnANPAD, nesse perodo, dos 9866

    artigos, foram encontrados somente 44 (0,45%) tendo stakeholders como parte do tema

    principal. Dentre os assuntos encontrados, possvel citar: a participao do stakeholdernodesempenho de governo local; estratgias de influncias de stakeholders; e, entre outros,

    elaborao de estratgia genrica atravs dos stakeholders. Alm disso, somente foi

    encontrado um artigo que pontue a questo moral, ou tica, de como o administrador,

    responsvel pelo gerenciamento dos stakeholders, lida com essas questes. Trata-se do

    trabalho de Campos (2002), no qual a autora mostra que alm da predominante vertente que

    visa osstakeholders como meios para fins, tambm existe o lado menos estudado que trata os

    stakeholders como fins. Alm disso, tambm se espera que a realizao do presente estudo

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    permita que novas possibilidades de pesquisa sejam abertas. Essas so mostradas nas

    consideraes finais deste estudo.

    Ademais, o estudo tambm possui valor no contexto empresarial. Isso pois, uma vezque se compreende o modo como funciona o esquema cooperativo onde determinada

    organizao est inserida, possvel que ela se atente mais para a sua relao com seus

    stakeholders, buscando melhor-la. Assim, o estudo permite que se tenha uma reflexo mais

    cuidadosa sobre como se orienta a relao com osstakeholders, em um primeiro momento da

    organizao X, mas que pode servir tambm para outras organizaes.

    Por fim, o estudo tambm serve para se observar como parte da sociedade os

    entrevistadosesto par de conceitos como o de tica e de moral. Isso pode servir para quese pense em explorar esse assunto com o objetivo de aperfeioar ou modificar o ensino dessas

    disciplinas, se necessrio.

    Dando continuidade ao estudo, preciso compreender no que consiste os assuntos

    abordados na pesquisa, como a teoria do stakeholder e o princpio de equidade do

    stakeholder. Para tal, segue o captulo de referencial terico.

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    3. REFERENCIAL TERICO

    Este captulo contempla o referencial terico que serve de suporte para o

    desenvolvimento do estudo. Dessa forma, dividido em dois subcaptulos, para melhor

    compreenso dos temos abordados no trabalho: Teoria do Stakeholder e Princpio de

    Equidade do Stakeholder.

    3.1.TEORIA DO STAKEHOLDER

    O presente subcaptulo diz respeito Teoria do Stakeholder. Assim, tem-se como

    embasamento principal a obra Teoria do Stakeholder: O Estado da Arte6, de Freeman e outros

    (2010), na qual os autores fazem um balano do estado da arte da teoria. De incio, preciso

    dizer que Freeman e outros (2010) mostram que a teoria do stakeholder no um conjunto

    nico de idias que segue na mesma direo. Eles apontam que existem diversos caminhos,

    nos quais cada um apresenta uma definio de stakeholder e uma proposta do que a teoriaconsiste. Do seu ponto de vista pragmatista, os autores defendem que no h necessidade de

    estabelecer qual vertente a definitiva. Para eles, para cada situao, interesse de estudo ou

    aplicabilidade, uma vertente poder ser a mais adequada a ser usada. Dessa forma, no decorrer

    desse subcaptulo, explora-se a origem da palavra stakeholder, definies da palavra e, entre

    outros, o que os autores trabalhados entendem por tica e moral, como o temastakeholdertem

    sido estudado no Brasil e questes consideradas ainda em aberto.

    3.1.1. O termo e sua origem

    De incio, importante salientar que a origem do termo stakeholder no clara,

    mesmo para aqueles que sobre seus problemas se dedicam. Conforme Freeman (2011)

    explicou por email ao autor deste trabalho, o que se sabe sobre a origem do termo

    6Traduo do autor: Stakeholder Theory: The State of The Art.

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    stakeholder, antes do uso no vocabulrio administrativo, que vem do escocs antigo.

    Freeman e outros (2010) explicam seu surgimento apenas no contexto empresarial, onde o

    termo usado com frequncia. Ainda assim, conforme os autores, a origem precisa do termo

    difcil de se rastrear, pois no h um consenso de como se originou. Segundo a pesquisa de

    Edward Freeman, o surgimento do termo ocorreu no Instituto de Pesquisa de Stanford(SRI)7,

    onde a palavrastakeholder foi usada em um memorando interno, em 1963. Conforme Slinger

    (1999), esse memorando foi escrito por Marion Doscher, em discusses do Servio de

    Planejamento de Longo Prazo do Instituto de Pesquisa Stanford8, e tratava de idias de

    julgamento criativo, raciocnio intuitivo e envolvimento com pessoas em todos

    relacionamentos da empresa.

    Conforme narram Freeman e outros (2010), o Dr. William Royce, do SRI, ao receberEdward Freeman, em sua instituio, em 1980, lhe contou sobre a histria do surgimento do

    termo stakeholder no vocabulrio administrativo. Alm da pesquisa realizada por Freeman e

    outros (2010), tambm destacada a investigao feita por Slinger (1999), que trilhou

    caminhos semelhantes, conseguindo adquirir mais detalhes. Eles tambm citam que outros

    autores possuem verses diferentes como, por exemplo, a de Juha Nsim, que conta sobre o

    uso da idia de stakeholderna Scandinvia. Dessa forma, Freeman e outros (2010) abordam

    um pouco de cada uma das verses.Os autores explicam que Giles Slinger, na busca pela origem do termo stakeholder,

    conseguiu documentos de difcil acesso, como o trecho de um artigo no publicado de

    William Royce, no qual ele faz um relato sobre o surgimento do termo no SRI:

    Eu perguntei para Bob Stewart. Sua verso de que no final de 1962, a equipe queestava escrevendo o plano estratgico estava discutindo a questo de quem deveriater influncia ou determinao no 'propsito corporativo' (ou misso) consideradopor muitas pessoas a pea-chave atravs da qual qualquer estratgia ou plano

    estratgico deve ser construdo. Eles listaram vrias pessoas ou grupos quecontribuem para o sucesso de um negcio e os quais as necessidades ou demandasdevem ser atendidas, ou pelo menos at certo ponto, por gerentes. [] Outrosautores com Stewart eram J. Knight Allem, J. Morse Cavender, ambos economistasindustriais seniorsna equipe do SRI. Marion Doscher era uma escritora da equipejunto com o grupo TAPP. [] Eu lembro dela como bem-educada, uma excelenteeditora e escritora. Ela s estava no SRI pouco tempo. [] Conforme Stewart, foidurante essa discusso que Marion Doscher a interrompeu com a afirmao de que:'Voc quer dizer que so todos 'stakeholders', porque todos possuem umaparticipao no negcio!' [] Doscher seguiu descrevendo o termo como sendo

    7Traduo do autor: Stanford Research Institute. Fundado em 1946 por um grupo de industriais da costa oeste

    dos Estados Unidos da Amrica e pela Universidade Stanford,o SRI um instituto de pesquisa voltado paraagncias governamentais, empresas, fundaes e tambm outras organizaes. Desde 1970, quando se separouda Universidade Stanfordpassou a se chamar SRIInternational (SRI, 2011).8Traduo do autor: Stanford Research Institute's Long Range Planning Service.

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    antigo escocs, o qual se refere aqueles que possuem uma pretenso legtima sobalgo de valor. [] Outros no grupo TAPP (Teoria e Prtica de Planejamento)imediatamente aceitaram a definio do termo e rapidamente ele se tornouevangelho no SRI. A descrio foi includa no relatrio do Plano Estratgico, comuma ilustrao de um mtodo de anlise simples das expectativas dos stakeholders

    (ROYCE apudFREEMAN ET AL, 2010, p. 46).9

    De forma mais sucinta, na discusso dentro do SRI, se percebeu que pessoas, ou

    grupos de pessoas, de certa forma, possuem uma participao no negcio da empresa. Assim,

    se chegou palavrastakeholder, sendo definida como grupos, sem os quais a organizao no

    existiria. Ela formada das palavras inglesas stake (pedao, fatia) e holder (aquele que

    segura, possui), definindo que um stakeholder um indivduo que, metaforicamente (em

    alguns casos tambm literalmente), possui uma parte do negcio. De modo genrico, dentre

    os stakeholders se pode citar os fornecedores, clientes, funcionrios, investidores e, entre

    outros, a sociedade e o governo. Na dcada de 1970 a palavra comeou a ser usada tambm

    no processo de planejamento das organizaes, devido influencia dos stakeholders no

    ambiente onde a empresa est inserida.

    Assim, possvel observar que no seu surgimento no ambiente empresarial a palavra

    estava associada com o alcance do sucesso por parte das empresas. Na avaliao de Freeman

    e outros (2010), a idia original do termo stakeholderno era uma questo de sobrevivncia

    da empresa e sim em ver como ela poderia ir ao encontro das expectativas dos grupos no seu

    ambiente. Ao invs de modificar o negcio, deix-lo mais responsvel no que diz respeito s

    demandas externas. Slinger (1999) mostra que existe uma conexo causal convincente entre

    as polticas de stakeholder e a performance de negcios. Como o autor define, de forma

    simples, "Osstakeholdersde uma companhia so aqueles aos quais a companhia no possui

    efeitos contratuais para os quais, em princpio, a sociedade preferiria que fossem feitos

    contratos"10 (SLINGER, 1998, p. 2). Ele defende que existe uma distino11 entre essa

    9Traduo do autor: I asked Bob Stewart. His version was that in late 1962, the team that was writing The

    Strategic Plan were discussing the question of who should have an influence on the determination of 'corporatepurpose' (or mission)considered by most people the keystone on which any strategy or strategic plan must bebuilt. They listed the various persons or groups who contributed to the success of a business and whose needs ordemands must be heeded, at least to some extent, by management. [] Other authors with Stewart were J.

    Knight Allen, J. Morse Cavender, both senior industrial economists on the SRI staff. Marion Doscher was a staffwriter with the TAPP group [] I recall her as well-educated, an excellent editor and writer. She was only atSRI a few years. [] According to Stewart, it was during this discussion that Marion Doscher broke in with theassertion that: 'You mean they are all 'stakeholders', because they all have a stake in the business!' [] Doscherwent on to describe the term as being old Scottish, referring to those who have a legitimate claim on somethingof value. [] Others in the TAPP (Theory and Practice of Planning) group immediately accepted the term

    definition and it quickly became gospel around SRI. The description was included in the Strategic Plan report,with an illustration of a simple method of analyzing stakeholder expectations.10Traduo do autor:A company's stakeholders are those on whom it has non-contractual effects for which, inprinciple, society would prefer that contracts were drawn.

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    definio do que stakeholder, expressa em termos contratuais, e a definio de stakeholder

    como uma abordagem, expressa em termos de princpios que governam comportamentos.

    Nesse ltimo caso, se temstakeholderda seguinte forma: "Stakeholdercomo uma abordagem,

    nos negcios, significa considerar osstakeholderscomo pessoas, com seus prprios valores e

    objetivos, com as quais a companhia tenta interagir para benefcio mtuo"12 (SLINGER,

    1998, p. 2).

    A verso de Juha Nsi, por sua vez, consiste em uma interpretao um pouco

    diferente, a qual foi disseminada na Escandinvia, mais especificamente Finlndia e Sucia.

    Nessa linha interpretativa existe uma nfase na contribuio do stakeholder empresa e

    tambm as recompensas que eles recebem por isso, como dinheiro, bens, status, poder,

    informao e, entre outros, prestgio. O conceito pode ser observado a partir da seguintedefinio de Eric Rhenman: "Stakeholders,em uma organizao, so os indivduos e grupos

    que so dependentes da empresa para que alcancem seus objetivos pessoais e aqueles dos

    quais a empresa dependente para sua existncia"13(NSI, 1995 apudFREEMAN ET AL,

    2011, p. 48).

    Na busca de mais informaes sobre a origem do termostakeholder,alm do trabalho

    de Slinger (1999)14, Freeman e outros (2010) comentam que um uso anterior da palavra

    stakeholderpode ser observado em um artigo de Silbert (1952). Theodore H. Silbert, quandoescreveu seu artigo Financiamento e Factoringde Contas Receber15, se encontrava como

    presidente da Organizao Financeira de Factoring 16, o que justifica seu interesse em

    defender e explicar os processos de financiamentoefactoring. Em seu texto, o autor disserta

    acerca de como surgiu essa modalidade de crdito, seus prs e contras e sua comparao com

    emprstimos bancrios. De forma sucinta, a proposta de crdito apresentada por Silbert

    (1952) consiste na empresa contratante do servio pegar dinheiro emprestado de uma empresa

    11Essa diferena explorada no tem3.1.3 A(s) Teoria(s)12Traduo do autor: A stakeholder approach in business means regarding stakeholders as people with theirown values and aims, with whom the company tries to interact for mutual benefit.13Traduo do autor: Stakeholders in an organization are the individuals and groups who are depending on thefirm in order to achieve their personal goals and on whom the firm is depending for its existence.14Um ponto curioso que quando Freeman e outros (2010, p.31) citam o trabalho de Slinger (1999), em sua notade rodap, comentam que esse autor localiza o termo stakeholdercomo uma idia do sculo XVIII, na qual umindivduo "[] possui participao nas apostas de um jogo de apostas []" (Traduo do autor: idea of theperson who holds stakes of betters in a gamble). Apesar disso, ao ler o artigo de Slinger (1999) no se encontrareferncia stakeholderconforme comentaram os outros autores. O autor deste estudo acredita que isso pode terocorrido pois Freeman e outros (2010) tiveram acesso dissertao no publicada de Slinger (1999), enquanto o

    autor deste teve somente acesso ao seu artigo de 1998.15Traduo do autor:Financing and Factoring Accounts Receivable.16Traduo do autor: Standard Factors Corporation. Organizao financeira de factoringcriada por TheodoreH. Silbert em 1934 (PAPAVASSOLIOU, 2008).

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    financeira no mesmo valor que tem a receber de clientes oriundos de venda crdito. A

    palavrastakeholders citada uma nica vez em todo o texto. O termo observado quando o

    autor apresenta variaes do factoring, uma delas denominada de Plano de Factoring de

    Carregamento17, conforme explica Silbert (1952, p. 47):

    As vezes um vendedor habilidoso reconhecido como um grande vendedor de umbom produto mas, devido aos seus limites financeiros, o manufatureiro noentregar os produtos da fbrica ao comprador final sem um pagamento prvio dovendedor. A factor18 concorda em pagar o manufatureiro aps o recebimento dorecibo de embarque do produto, sujeito aceitao dos produtos pelo cliente, e emremeter o valor do saldo das vendas ao seu vendedor-cliente. A factor age comostakeholdere assume o risco do crdito e responsabilidade pela coleo.19

    Aparentemente, Silbert (1952) usa o termostakeholdercomo sinnimo de acionista ouinvestidor. Isso, pois quando afactorassume o risco de disponibilizar o crdito ao vendedor-

    cliente, ela est investindo dinheiro no negcio, acreditando em seu potencial, conforme faz o

    acionista ou investidor de uma empresa. importante comentar que este artigo de Silbert

    (1952) tem a forma de um ensaio-terico, sem apresentar referncias, portanto sem a

    possibilidade de rastrear uma possvel origem da palavrastakeholderem seu texto, de forma

    que pode ter sido adaptada por ele prprio. possvel que por esse motivo, Freeman e outros

    (2010) somente citaram Silbert (1952) em uma nota de rodap, sem entrar em detalhes sobre ouso do termo.

    3.1.2. Moral e tica

    Como as principais referencias do presente estudo enxergam a teoria do stakeholder

    como uma proposta de se trazer tica aos negcios, antes de se explicar tal teoria importante

    que se compreenda o que Freeman e outros (2010) entendem por tica. A presena do tema

    pode ser observada, por exemplo, nas j citadas tese da separao e tese da integrao. Alm

    17Traduo do autor:Drop Shipment Factoring Plan.18Instituio financeira que faz ofactoring.19Traduo do autor: Sometimes a skillful salesman is able to obtain recognition as a wholesaler of a goodproduct, but because of his limited financial standing the manufacturer Will not entrust the goods from the

    factory to the ultimate buyer without prepayment from the salesman. The factor agrees to pay the manufacturerupon receipt of the bill of lading, subject to acceptance of the goods by the customer, and remit the balance ofthe sales price to his clientsalesman. The factor acts as the stakeholder and assumes the credit risk andcollection responsibility.

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    disso, o conceito de moral tambm precisa ser entendido, uma vez que Phillips (2003) fala

    sobre isso no princpio de equidade dostakeholder20.

    Vazquez (2007), de modo resumido, coloca a moral como um conjunto de valores enormas, criados informalmente pela sociedade, que servem para orientar as aes de seus

    indivduos. Para o autor, a tica consiste na cincia que estuda a moral, permitindo reflexes

    crticas sobre o tema. Apesar dessa diferenciao, entre moral e tica apontada por Vazquez

    (2007), Srour (2005), que concorda com essa proposta, explica que esse entendimento no

    universal, mostrando que existem divergncias, em sua voz: mal-entendidos. O maior deles

    sobre a mistura entre a cincia e seu objeto de estudo. Assim, muitos tem a ideia de que aquilo

    que foi explicado anteriormente como moral tica. O autor mostra, como principal

    justificativa para esse pensamento, a etimologia das duas palavras. Ele explica que tica tem

    origem da palavra grega ethos, que significa [...] carter distintivo, disposio, modo de ser

    adquirido [...] (SROUR, 2005, p. 307), ao passo que moral tem origem no latim, na palavra

    mos ou mores. Por sua vez, significando maneiras de agir, costumes e normas contradas por

    hbito. Ambas as categorias referem-se ao conjunto de costumes tradicionais de uma

    sociedade, obrigaes sociais e por conseguinte, fenmenos de natureza histrica; no ao

    resultado de reflexes sistemticas (SROUR, 2005, p. 307).

    Apesar de o conceito de tica no estar explcito na obra de Freeman e outros (2010),

    possvel identificar o pensamento de tica como moral, sendo nesse caso sinnimos, o que

    ser mantido neste trabalho com o intuito de manter coerncia epistemolgica com as

    referncias usadas. Assim, de forma mais especfica, a moral pode ser definida como

    [] um sistema de normas, princpios e valores, segundo o qual so regulamentadasas relaes mtuas entre os indivduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneiraque estas normas, dotadas de um carter histrico e social, sejam acatadas livre e

    conscientemente, por uma convico ntima, e no de uma maneira mecnica,externa ou impessoal (VZQUEZ, 2007, p. 84).

    Assim, devido um carter histrico e social da sociedade, os indivduos que dela

    fazem parte incorporam as regras de convivncia que nela so aceitas, tendo-as como

    norteadores para suas aes. Vzquez (2007) aponta para as questes normativas e fatuais

    dessa definio de moral. Quando se fala em normas que regulam as relaes entre indivduos

    est se dando um carter normativo, de como essas relaes devem ser. Enquanto no

    momento em que se fala do comportamento, nas relaes entre indivduos se encontra o

    20O assunto desenvolvido no subcaptulo sobre o princpio de equidade dostakeholder.

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    carter fatual (ou plano dos fatos morais), que so referentes aos atos humanos realizados, que

    podem ser independentes de como se pensa que devem ser (das normas). Vzquez (2007, p.

    65) destaca que os dois planos, normativo e fatual, caminham juntos, pois "[] o normativo

    exige ser realizado e, por isso, orienta-se no sentido do fatual; o realizado (o fatual) s ganha

    significado moral na medida em que pode ser referido (positiva ou negativamente) a uma

    norma".

    Sobre o ato moral, Vzquez (2007) explica que este caracterizado por ser passvel de

    aprovao, ou reprovao, conforme as normas aceitas pela sociedade. Ele composto por

    cinco elementos: motivo, fim, meios, resultados e consequncias objetivas. O motivo diz

    respeito ao que faz, impulsiona, o indivduo alcanar o fim. Este, consiste no indivduo ter

    conscincia do fim visado, do que ele quer com o ato. preciso comentar que, em alguns

    casos onde existe mais de um fim possvel, o indivduo opta pelo fim que busca, havendo

    assim a possibilidade de escolha. Alm do fim escolhido, necessrio que o indivduo, para

    realizar o ato moral, alcance o resultado, no bastando apenas tomar a deciso, preciso agir

    conforme ela. Para o alcance do resultado preciso usar de meios e, para se caracterizar o ato

    moral, necessrio que os meios usados estejam adequados ao fim que se almeja. Por fim, se

    tem as consequncias objetivas, o que significa que, apesar dos seus aspectos subjetivos como

    os motivos, conscincia do fim, conscincia dos meios e dos resultados, o ato moral tambm

    tem uma esfera objetiva que a realizao do que foi decidido pelo indivduo.

    Apesar de os autores trabalhados nesse estudo, como Freeman e outros (2010) e

    Phillips (2003), no trabalharem explicitamente com a idia, tambm pragmtica, de tica

    convencionada, ela est em sintonia com a proposta desses autores. Nash (1993) explica que a

    tica convencionada combina de forma coerente motivaes de lucro e valores altrustas, que

    tambm permitem maior confiana e cooperao entre as pessoas. A autora aponta trsaspectos essenciais:

    [...] 1) percebe, como objetivo primrio, a criao de valor em suas muitas formas;2) percebe o lucro e outros retornos sociais no como objetivos dominantes, mascomo resultado de outras metas; 3) aborda os problemas empresariais mais emtermos de relacionamentos do que de produtos tangveis (NASH, 1993, p. 20-1).

    Alm disso, Nash (1993) aponta que, assim como difere de outras propostas no que diz

    respeito sua abordagem, a tica convencionada usa diferentes instrumentos, tendo a conduta

    moral como parte ativa na administrao. Ela critica que a conduta moral tem sido usadasomente como obrigao legal, sempre se pensando na questo custo-benefcio e que nessa

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    proposta de tica convencionada no se deve excluir a questo custo-benefcio mas que se

    deve tambm pensar com o corao. Ademais, no centro da idia, a autora defende que

    [...] todosos indivduos merecem respeito e servio em vez de serem merecedoresapenas daquilo que possam custar ou trazer de benefcios [...] uma afirmao dehumanismo pois [...] toda vida tem valor, mesmo dentro do contexto econmico deservir a uma entidade corporativa (NASH, 1993, p. 21).

    Por fim, Nash (1993) resume a proposta de tica convencionada como o bom senso

    nos negcios. Para ela, deve haver o uso do bom senso por parte dos administradores em suas

    atividades. A autora defende que os administradores devem sair do campo das boas intenes

    (pensamentos) e transform-las em algo prtico, realiz-las.

    3.1.3. A(s) teoria(s)

    Aps j se ter conhecimento de como se desenvolveu o termostakeholder no ambiente

    empresarial, e tambm o que Freeman e outros (2010) entendem por tica, o estudo aborda a

    teoria do stakeholder. Quando comeou a ser utilizada, a ideia predominante dizia respeito

    influncia que os stakeholders exerciam nas organizaes. Conforme Freeman e outros(2010), a abordagem da teoria foi modificada ao longo dos anos de forma que, no uso mais

    recente, ao invs da influncia, se pensa na participao que os stakeholders tem/podem ter

    nas empresas.

    Ademais, preciso esclarecer que existe mais de uma verso sobre o que a teoria do

    stakeholder, porm, conforme sugerem Freeman e outros (2010), no possvel afirmar que

    uma mais correta que a outra, alm de possurem vrias caractersticas semelhantes. Nesse

    aspecto, cabe trazer que se pode dividir a teoria em trs reas: descritiva, que descreve como, mostrando fatos sobre como administradores e empresas so; prescritiva, que explica como

    deveria ser, mostrando o que administradores e empresas deveriam fazer; e instrumental, que

    mostra possveis formas de ao para alcanar determinada resposta, observando respostas de

    aes especficas. Apesar disso, Freeman e outros (2010) preferem tratar a teoria como algo

    geral, sem esse tipo de classificao, pois para cada situao uma vertente pode se mostrar

    mais adequada.

    De forma mais especfica, a teoria do stakeholder est relacionada ao problema dacriao de valor e da troca, no que diz respeito criar valor ao stakeholder. Como essas

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    questes esto ligadas ao capitalismo, a teoria tambm se depara, conforme comentado

    anteriormente, com o problema da tica no capitalismo21, acreditando que, de forma

    predominante, o capitalismo tem dado muita ateno somente ao aspecto econmico. E, ao

    pensar de forma "estreita", apenas pelo lado econmico, fcil perceber que se criam

    problemas ticos. Como exemplo dessa separao entre tica e negcios, Freeman e outros

    (2010, p. 69) comentam sobre respostas abrangentes perguntas referentes decises. Entre

    essas respostas se encontram "[] 'isso negcio' ou 'essa uma deciso de negcio' ou 'tive

    que fazer isso para o bem do negcio' "22. Toma-se esses pontos como se no houvessem

    consequncias morais sobre as decises tomadas nas empresas. Em acordo com esse

    pensamento esto autores como Friedman (apudFREMAN ET AL, 2010), que defende que o

    dever do administrador est somente em atender ao acionista, que aquele que investedinheiro na organizao, visando as necessidades de outros somente no caso de agregar valor

    para o dono do negcio. Devido esse ponto de vista, viso do acionista, e do ponto de vista

    do stakeholder, Goodpaster (apud FREEMAN ET AL, 2010), denomina essa tenso de

    paradoxo dostakeholder, que pode ser resumida da seguinte forma:

    No corao da tenso est a idia de que a considerao sobre os interesses dosstakeholders o que requerido pela tica, mas simultaneamente proibida pela lei

    (ela determina que deveres fiducirios so devidos aos acionistas). Para Goodpaster,esse conflito eclode na escolha entre negcios sem tica (a viso do acionista) outicas sem negcios (a viso dostakeholder) (FREEMAN ET AL, 2010, p. 204)23.

    Pensando nesse aspecto, Freeman e outros (2010) levantam algumas questes

    pertinentes executivos e tambm pensadores da administrao: "Podemos continuar a

    dividir o mundo na 'esfera empresarial' e na 'esfera tica'?" 24; " possvel para executivos

    empresariais 'fazerem a coisa certa', considerando o todo, no importando o quo complicado

    o mundo "?25; e "como podemos entender 'negcio' e 'tica' de maneira que podemos coloc-

    los juntos conceitual e praticamente?"26(FREEMAN ET AL, 2010, p. 5).

    21Freeman e outros (2010) tambm se referem essa idia como tese da separao ou falcia da separao.

    22Traduo do autor: "[] 'this is business' or 'this is a business decision', or 'I've got to do this for the good ofthe business' ".23Traduo do autor: "At the heart of the tension lies the idea that consideration of stakeholder interests seemsto be what is required by ethics, but it is simultaneously forbidden by the lay (i.e. it undermines the fiduciaryduty owed to shareholders). For Goodpaster, this conflict boiled down to a choice between business withoutethics (the shareholder view) or ethics without business (the stakeholder view)".24Traduo do autor: Can we continue to divide the world into the "business realm" and the "ethical realm"?25

    Traduo do autor: Is it possible for business executives to "do the right thing," all things considered, nomatter how complicated the world is?26Traduo do autor: How can we understand both "business" and "ethics" so that we can put them togetherconceptually and practically?

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    Assim, os autores prope que na teoria do stakeholder, ao se usar como unidade de

    analise o relacionamento entre o negcio e o grupo de indivduos que so, ou podem ser,

    afetados por ele, se torna mais simples pensar essas questes. Dessa forma, a teoria tenta

    resolver os seguintes problemas: "(1) Se essa deciso tomada, para quem o valor ser criado

    e para quem ser destrudo? (2) Quem ferido e/ou beneficiado por essa deciso? (3) Os

    direitos de quem sero validados e os valores de quem sero aceitos por essa deciso (e os de

    quem no sero)?"27 (FREEMAN ET AL, 2010, p. 7). Tendo essas questes em vista, os

    autores prope a tese de integrao28, porque segundo eles: "A maioria das decises de

    negcios ou das proposies sobre negcios tem algum contedo tico ou uma viso tica

    implcita. A maioria das decises ticas ou preposies sobre tica tem algum contedo de

    negcios ou uma viso implcita sobre negcios"29(FREEMAN ET AL, 2010, p. 7).Nessa mesma linha, se explora a j mencionada diferena existente entre se ter

    stakeholder como uma abordagem ou como uma definio. Slinger (1999) indaga se

    stakeholder uma escolha, optativa, devido ao benefcio mtuo que pode trazer ou se um

    compromisso moral, no qual no h nenhum tipo de discriminao com as pessoas.

    Respondendo o prprio questionamento, o autor explica que, atravs de uma viso racional, a

    orientao de que as relaes sejam calculadas, que uma empresa deve pensar a respeito de

    seusstakeholdersvisando ampliar o retorno de seus acionistas. Porm, para ele, stakeholdercomo abordagem tem a situao como um compromisso moral, tratando as pessoas como os

    prprios fins. Conforme a proposta de mostrar que existe algo a mais na idia de stakeholder

    do que a viso calculada econmica prope, Slinger (1999), buscando a legitimao de suas

    idias, inicia o desenvolvimento de seus argumentos atravs de uma lgica econmica

    tradicional. Assim, de incio, ele apresenta as crticas comumente feitas teoria do

    stakeholder e posteriormente faz oposio elas. Um dos pontos questionados o de que

    dirigir uma companhia pensando nos interesses de seus stakeholders leva confuso, j queso diferentes interesses. Alm disso, no se sabe qual dar prioridade, pensando que

    mltiplos objetivos complicam o direcionamento da empresa para algum lugar. Tambm se

    levanta que responsabilidades diferem de objetivos e que a teoria do stakeholder confunde as

    duas coisas. Por fim, o autor tambm traz que muitos dirigentes de empresas tem stakeholder

    27Traduo do autor: (1) If this decision is made, for whom is value created and destroyed? (2) Who is harmed

    and/or benefited by this decision? (3) Whose rights are enabled and whose values are realized by this decision(and whose are not)?28

    Traduo do autor:Integration thesis.29Traduo do autor: "Most business decisions or statements about business have some ethical content or animplicit ethical view. Most ethical decisions or statements about ethics have some business content or an implicitview about business".

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    como a palavra mais ridcula citada nas salas de reunies. Nesse pensamento, qualquer um

    pode ser considerado um stakeholder e que incabvel a idia de que um dirigente de uma

    empresa deva levar todos em considerao na sua tomada de deciso enquanto, ao contrrio

    dos acionistas, esses no investem um centavo na empresa.

    Para responder esses questionamentos, Slinger (1999) prope como argumento

    principal que se deve ter um uso inovador/cooperativo do stakeholder. A idia consiste em se

    obter mais benefcios, porque a abordagem do stakeholder melhora a cooperao entre as

    pessoas no trabalho, principalmente no que requer inovao. Com esse propsito, se tem

    como elementos chave: "1. Uma nfase na inovao e seu potencial para encoraj-la; 2.

    Incalculabilidade; 3. Informaes ricas"30(SLINGER, 1998, P. 7). Sobre a inovao, o autor

    comenta que no ambiente de mercados globalizados, onde necessrio inovar, empresas desucesso possuem seus empregados como fonte de produo e tambm de inovao. Dessa

    forma, o desenvolvimento de um relacionamento de longo prazo importante pois gera

    comprometimento e um relacionamento de respeito e confiana mtuos, entre empresa e

    funcionrios, o que serve de base para a competitividade da companhia. A "incalculabilidade"

    diz respeito aos relacionamentos, que so incalculveis, no sentido de que seu

    comprometimento no pode ser mensurado. Nisso est a idia de que no se deve pensar

    somente nos lucros, que estes sero consequncia de uma atitude moral. Dentro dosrelacionamentos tambm esto as informaes ricas, que podem ser definidas como

    informaes percebidas em pequenos detalhes como uso de metforas, tom de voz e

    linguagem corporal. Assim, as pessoas do informaes sem perceber. Essa melhor

    compreenso das pessoas faz com que possa existir melhor cooperao entre elas, uma vez

    que tende-se a cooperar com aqueles que possuem mais afinidades. O autor tambm destaca

    que o comprometimento sincero melhor que o comprometimento "calculado", pois o

    segundo pode acabar destruindo o relacionamento ao se calcular os riscos de se comprometer.Ento, respondendo s crticas apresentadas anteriormente, Slinger (1999) mostra que

    a teoria dostakeholderno se trata somente de um nome pomposo que acarreta no tratamento

    dosstakeholdersde forma calculada visando somente lucro. Se trata de uma abordagem que

    leva uma relao verdadeira com os stakeholders, que conduz um maior

    comprometimento de todos e, assim, tambm leva um melhor desempenho da empresa e,

    finalmente, ao lucro, como uma consequncia mas no como um fim. Freeman e outros

    (2010) esto de acordo com esse pensamento de que se deve ter os stakeholders satisfeitos

    30Traduo do autor: 1. An emphasis on innovation, and the potential for encouraging it. 2. Uncalculativeness.

    3. Rich information.

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    como um fim, que levar um melhor desempenho, ao invs de t-los como meios para se

    alcanar um fim de maximizao de resultados. Os autores acrescentam, citando os trabalhos

    de Collins e Porras (1997 apud FREEMANET AL, 2010) e de Graves e Waddock (1990 apud

    FREEMAN ET AL, 2010), que existem considerveis pesquisas nas quais firmas lucrativas

    possuem valores e propsitos, alm da busca pela maximizao do lucro.

    Freeman e outros (2010) tambm explicam que o papel de gerenciar e formar as

    relaes entre organizao e stakeholder do executivo, ou empreendedor. A idia melhor

    especificada por Keeley (apudFREEMAN ET AL, 2010, p. 35-6):

    a funo do administrador organizacional traduzir as demandas dos grupos destakeholders em objetivos organizacionais e procedimentos, os quais resultam em

    consequncias (sadas) requeridas para sustentar as contribuies deles. Obviamente,se as demandas desses grupos so bem definidas, relativamente modestas, estveissobre o tempo, e compatveis umas com as outras, a tarefa do administrador menoscomplicada. Sobre tais condies, o ambiente de tarefa , no ambguo ou, "certo".Mas se os stakeholders da organizao pressionam demandas vagas que soinconsistentes sobre o tempo e incompatveis com o agregado, o administradororganizacional talvez tenha grande dificuldade em traduzir essas demandas emobjetivos e procedimentos para subordinados. Antes, ele ou ela talvez medie essasdemandas mantendo unidades organizacionais responsveis diretamente pelosstakeholders (ou por outras unidades internas as quais, por vez, so toresponsveis)31.

    Ainda sobre o administrador, interessante observar que Barnard (apudFREEMAN

    ET AL, 2010, p. 49) tambm propunha, em 1938, que o administrador tinha no seu papel a

    questo moral, criando terreno para o desenvolvimento posterior da teoria dostakeholder:

    Posies executivas (a) implicam em uma moralidade complexa, e (b) requeremuma alta capacidade de responsabilidade, (c) sobre condies de atividade, exigindo(d) compatibilidade geral e habilidades tcnicas especficas como um fator moral[] Alm disso, requisitado a faculdade de criao de moral por outros [] Para amoralidade que subjaz continuamente, cooperao multidimensional. Ela vem, edeve se expandir, para todo o mundo; est enraizada profundamente no passado, estencarando o futuro sem fim. Conforme ela se expande, ela deve se tornar maiscomplexa, seus conflitos devem ser mais numerosos e profundos, ela requer

    habilidades que sejam maiores, suas falhas de realizao devem ser talvez maistrgicas; mas a qualidade da liderana, a persistncia de sua influncia, adurabilidade das organizaes relacionadas ela, o poder da coordenao que ela

    31 Traduo do autor: "It is the function of the organizacional administrator to translate the demands of

    stakeholder groups into organizational objectives and procedures which result in consequences (output)required to sustain their contributions. Obviously, if the demands of these groups are well-defined, relativelymodest, stable over time, and compatible with one another, the administrator's task is rather uncomplicated.Under such conditions, the task environment is non-ambiguous or 'certain'. But if organizational stakeholders

    press vague demands which are inconsistent over time and incompatible in the aggregate, the organizationaladministrator may have great difficulty intranslating these demands into objectives and procedures forsubordinates. Rather, he or she may mediate these demands by holding organizational units directly accountableto stakeholders (or to other internal units which, in turn, are so accountable)".

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    incita, tudo expressa a altura das aspiraes morais, a extenso das fundaesmorais.32

    Essa opinio de que o administrador o responsvel pelo gerenciamento da relao

    entre organizao estakeholders tambm defendida por Phillips (2003, p. 157):

    Administradores so os indivduos responsveis pela administrao dos assuntos daorganizao, incluindo o respeito pelas obrigaes morais implicadas no princpiode equidade dostakeholder. Esse o porque dos administradores deverem apoiar obem estar dosstakeholders,como representantes da organizao.

    Alm de entender a teoria, suas vertentes e o papel do administrador, interessante

    trazer a breve observao de que a teoria do stakeholderfoi levada mais para o lado da tica

    do que do planejamento estratgico devido, em grande parte, trilha percorrida por um de

    seus autores mais conhecidos, R. Edward Freeman, que se direcionou por esse caminho. Eleestudou filosofia e matemtica na Duke Universitye, posteriormente, fez sua ps graduao

    em filosofia na Washington University. Depois disso, foi trabalhar na Wharton School, na

    Pennsylvania. L, trabalhou em um grupo chamado Bush Center, onde tomou contato com o

    conceito de stakeholder. Trabalhando em uma espcie de projeto de consultoria para uma

    empresa, observou que seus colegas mais experientes falavam dos stakeholders porm no

    entravam muito no assunto no que dizia respeito a justia e tica. Assim comeou, em

    parceria com colegas, a desenvolver idias em torno do gerenciamento de stakeholders,usando do seu lado filsofo (FREEMAN ET AL, 2010).

    Dessa forma, de 1978 1983, ensinou e trabalhou com executivos, desenvolvendo

    formas mais prticas de entender o relacionamento com stakeholders, o que o levou ao seu

    primeiro livro: Strategic Management: A Stakeholder Approach. O livro acabou por ter um

    carter mais prtico do que acadmico e, conforme o prprio Freeman reconhece, na poca

    ele no possua muito conhecimento sobre pesquisa qualitativa, por exemplo. Neste ano de

    1983, Freeman se mudou para a University of Minnesota para ficar mais prximo de sua

    esposa que trabalhava naquela cidade. Assim, pode estudar mais sobre tica e lecionar mais

    alunos de doutorado. Por causa dessa mudana, motivada pelo aspecto pessoal, acabou por

    incluir mais tica na teoria do stakeholder. O mesmo aconteceu em 1986, quando foi para a

    32Traduo do autor: "Executive positions (a) imply a complex morality, and (b) require a high capacity of

    responsibility, (c) under conditions of activity, necessitating (d) commensurate general and specific technicalabilities as a moral factor [] In addition there is required (e) the faculty of creating morals for others [] Forthe morality that underlies enduring cooperation is multi-dimensional. It comes from and may expand to all theworld; it is rooted deeply in the past, it faces toward the endless future. As it expands, it must become more

    complex, its conflicts must be more numerous and deeper, its call for abilities must be higher, its failures of idealattainment must be perhaps more tragic; but the quality of leadership, the persistence of its influence, thedurability of its related organizations, the power of the coordination it incites, all express the height of moralaspirations, the breadth of moral foundations".

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    Darden School, na Virgna, onde estava no centro aplicado de tica, que tambm contribuiu

    para o desenvolvimento da teoria dostakeholder (FREEMAN ET AL, 2010).

    3.1.4. Interpretaes Equivocadas

    Pela teoria do stakeholder se tratar de um conjunto de idias amplo, na qual suas

    vertentes possuem propostas e crenas diferentes, preciso esmiuar alguns equvocos que

    ocorrem com frequncia. Um dos mal entendidos a idia de que a preocupao com os

    stakeholders trata-se somente da distribuio financeira, que isso o que a teoria prope,conforme visualiza Marcoux (apud FREEMAN ET AL, 2010). Porm, Freeman e outros

    (2010) e Phillips, Freeman e Wicks (2003) retificam a idia, mostrando que pesquisas

    encontraram que os stakeholders aceitam melhor os resultados quando eles percebem o

    processo como justo, mesmo sendo o resultado pobre. Isso explica a defesa desses autores por

    mostrar que a proposta est em permitir stakeholderstenham a possibilidade de se envolver

    mais com a organizao, criando mais valor, ao invs de uma simples distribuio financeira.

    Um outro equvoco frequnte, presente em Donaldson e Preston (apudFREEMAN ET

    AL, 2010), diz respeito a aplicao da teoria dostakeholder somente em corporaes, grandes

    empresas. Freeman e outros (2010), citando tambm Phillips, Freeman e Wicks (apud

    FREEMAN ET AL, 2010), comentam que criar fronteiras da teoria do stakeholder somente

    para grandes corporaes um erro que pode fazer com que a riqueza da teoria seja perdida.

    Eles defendem que, independente do tamanho da empresa ou do tipo de constituio, familiar

    ou no, o contedo da teoria do stakeholder potencialmente relevante para qualquer

    organizao.

    Outro mal entendido comum da teoria o de que todosstakeholders devem ser sempre

    tratados igualmente, independente de uns contriburem mais que outros com a organizao.

    Marcoux (apudPHILLIPS; FREEMAN; WICKS, 2003) critica a teoria do stakeholder dessa

    forma, apresentando trs propostas de tratamento igualitrio: equitativismo 33, baseado no

    princpio da diferena de John Rawls, de forma que os menos providos sejam mais

    33Traduo do autor:Egalitarianism.

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    favorecidos para todos terem o mesmo; igualitarismo34, onde todos stakeholders recebem a

    mesma fatia e; pareto-consequencialismo35, onde se busca favorecer, pelo menos um, sem

    desfavorecer os demais. Alm disso, tambm existem crticas infundadas, como o caso de

    Sternberg (apudPHILLIPS; FREEMAN; WICKS, 2003, p. 488) que sem citar fonte diz que

    "[] na manuteno de que todosstakeholders so iguais em importncia para um negcio, e

    que esse negcio deve responder de forma igualitria para todos eles, a teoria do stakeholder

    confunde negcio com governo"36. Freeman e outros (2010) explicam que, apesar disso e de

    autores fazerem esse tipo de crtica a teoria, eles se esquecem da existncia de outras

    possibilidades, propostas por outros autores, como a meritocracia na viso de equidade de

    Phillips37 (apud FREEMAN ET AL, 2010), na qual benefcios para os stakeholders so

    distribudos baseado na relativa contribuio organizao, conforme tambm sugerido noColquio Sloan de Stakeholder38 (apud PHILLIPS; FREEMAN; WICKS, 2003, p. 488):

    "Corporaes deveriam distribuir benefcios de suas atividades, to equitativamente quanto

    possvel, entre seusstakeholders, a luz de suas respectivas contribuies, custos e riscos"39.

    Os autores defendem que esse ponto depende da vertente da teoria do stakeholder que se

    pensa e tambm no caso particular de cada empresa.

    Algumas dessas diferentes interpretaes, como, por exemplo, se pensar o stakeholder

    somente como um meio para um fim, so compreensveis. Isso, pois a teoria do stakeholderficou amplamente conhecida atravs do livro de Edward Freeman, Gerenciamento

    Estratgico: Uma abordagem do Stakeholder40, de 1984. Este livro, como explica Walsh

    (apudFREEMAN ET AL, 2010), foi mais citado do que lido, tendo como indcio um nmero

    de vendas aproximadamente de 2500 unidades, enquanto no Google Scholar se tem

    aproximadamente 4000 citaes. Alm das "leituras equivocadas", Walsh (apudFREEMAN

    ET AL, 2010), tambm destaca que a proposta apresentada no livro no exatamente aquilo

    que Edward Freeman prope a respeito dos stakeholders, possivelmente deixando entenderque a proposta est na busca da maximizao do lucro, sem ponderaes ticas: "Esse []

    texto de planejamento estratgico deixou, de alguma forma, uma gerao de acadmicos com

    34Traduo do autor:Equalitarianism.

    35Traduo do autor:Pareto-Consequentialism.

    36Traduo do autor: "in maintaining that all stakeholders are equal of importance for a business, and that

    business ought to be answerable equally to them all, stakeholder theory confounds business with government"37A idia do princpio de equidade dostakeholder, de Phillips (2003) abordada no prximo subcaptulo.

    38Sloan Stakeholder Colloquy: Esforo amplo e abrangente para organizar e promover pesquisa sobre assuntos

    em torno da teoria dostakeholder, em 1999 (PHILLIPS; FREEMAN; WICKS, 2003).39Traduo do autor: "Corporations should attempt to distribute the benefits of their activities as equitably aspossible among stakeholders, in light of their respective contributions, costs, and risks".40Traduo do autor: Strategic Management: A Stakeholder Approach.

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    a idia de que Freeman ofereceu uma teoria de stakeholderpara competir com o que pode ser

    chamado de teoria do acionista"41(WALSH apudFREEMAN ET AL, 2010, p. 58).

    Freeman e outros (2010) concordam com as observaes do autor, comentando que ele

    foi influenciado pois, na poca em que o livro sobre planejamento estratgico foi escrito,

    Freeman estava h alguns anos trabalhando diretamente com executivos:

    A 'evidncia' para essa abordagem foram as conversas que Freeman teve comliteralmente milhares de executivos nos sete anos anteriores, alm das incontveishistrias nas editoras de negcios sobre o bom e o mal gerenciamento destakeholder, experincias clnicas na Wharton com um nmero de clientes ecompanhias, e uma pequena literatura da idia de stakeholder. E isso erafundamentalmente sobre negciossobre o que ns chamamos aqui de problema decriao de valor e troca42(FREEMAN ET AL, 2010, p. 59).

    Freeman e outros (2010) tambm destacam que o livro possui uma linguagem muito

    empresarial (estilo "planejamento estratgico") e de consultor e, que tambm, muito

    analtico, fazendo com que exista dificuldade para entender o que ele queria dizer. Ao

    perceber essas inadequaes do livro, em seguida, juntamente com Dan Gilbert, Edward

    Freeman escreveu Estratgia Corporativa e a Busca por tica43, em 1988. Da mesma forma, o

    livro Teoria do Stakeholder: O Estado da Arte, de 2010, tambm um modo de corrigir

    algumas das citadas inadequaes e erros de interpretao da teoria do stakeholder, da forma

    como ela tem sido aplicada.

    3.1.5. Possibilidades futuras

    Como possibilidades futuras do estudo da teoria do stakeholder, Freeman e outros

    (2010, p. 287-90) apresentam 36 questes que ainda no foram respondidas pelos estudiosos

    da teoria. Essas questes se dividem em trs grupos: um diz respeito aos tpicos aos quais os

    autores acreditam ser necessrio saber mais informao, outro sobre questes que precisam

    ser repensadas, e, por fim, pontos que podem surgir como inovaes na rea. Dentre as

    questes, o autor deste trabalho acredita ser interessante destacar:

    41Traduo do autor: "This [] strategic management text hassomehow left a generation of scholars with the

    idea that Freeman offered a stakeholder theory to compete with what might be called stockholder theory".42 Traduo do autor: "The 'evidence' for this approach was the conversations that Freeman had had with

    literally thousands of executives over the previous seven years, plus the countless stories in the business press

    about good and bad stakeholder management, clinical experiences at Wharton with a number of clients andcompanies, and a small literature on the stakeholder idea. And, it was fundamentally about business aboutsolving what we have called here the problem of value creation and trade".43Traduo do autor: Corporate Strategy and the Search for Ethics.

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    Quais so algumas das melhores prticas que ilustram o gerenciamento dos

    stakeholders? Podemos construir teoria a partir dessas prticas para mostrar como e

    porque eles criam valor, especificamente conectando razes e valores para prticas

    especficas?44

    Podemos contar algumas histrias interessantes a partir dos pontos de vista da

    companhia e dosstakeholders?45

    Quais so os principais mecanismos do modo atravs do qual os interesses dos

    stakeholdersso coordenados?46

    O que valor significa para um grupo particular de stakeholders e como as firmas

    criam esses diferentes tipos de valor para osstakeholders?47

    Como administradores pensam sobre indicadores apropriados para os

    relacionamentos comstakeholders?48

    Como administradores pensam sobre redistribuir o valor criado pela empresa?

    quais teorias de justia eles esto endossados?49

    Como podemos mensurar os diferentes valores que a firma cria para os

    stakeholders, alm da medidas contbeis e financeiras?50

    Como executivos determinam de quem ou nostakeholder?51

    Podemos substituir opes de aes por opes de participao?52 (interesse do

    acionista ser substitudo pelo dostakeholder)

    Podemos pensar sobre teorias dostakeholder a partir das seguintes linhas: teoria do

    stakeholder de (i) grande corporao multinacional; (ii) empresas familiares

    grandes e pequenas, por gerao, por envolvimento do gnero, por cultura; (iii)

    pequenas e mdias empresas; (iv) pequenos negcios; (v) parcerias e outras formas

    44

    Traduo do autor:What are some industry best practices that illustrate stakeholder management? Can webuild theory around these practices to show hoe and why they create value, specifically connecting purposes andvalues to specific practices?45Traduo do autor:Can we tell some interesting stories from the companys and the stakeholders points of

    view?46 Traduo do autor: What are the underlying mechanisms of the way in which stakeholder interests are

    coordinated?47Traduo do autor: What does value mean for a particular group of stakeholders and how do firms c reate

    these diferent types of value for stakeholders?48Traduo do autor:How do managers think about appropriate metrics for stakeholder relationships?

    49Traduo do autor:How do managerns think about redistributing value created by the firm? To what implicittheories of justice do they subscribe?50 Traduo do autor: How can we mesure the diferent value that a firm creates for stakeholders, beyond

    accounting and financial measures?51Traduao do autor:How do executives make sense of who is or is not a stakeholder?

    52Traduo do autor:Can we replace stock options with stake options?

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    legais? Poderemos dizer, ento, quais as similaridades e diferenas entre esses tipos

    de teorias dostakeholder?53

    Ao relacionar a lista de questionamentos que podem ser respondidos futuramente,

    Freeman e outros (2010) comentam que a teoria do stakeholder est em constante mudana,

    uma vez que autores descrevem, redescrevem e relacionam seus conceitos. Reforam que,

    como pragmatistas, acreditam no encorajamento diversidade de ideias, mesmo sabendo que

    alguns caminhos no encontraro respostas.

    3.1.6.

    No Brasil

    Pensando a teoria do stakeholder no Brasil, o autor deste estudo buscou por autores

    que trabalharam com tradues das principais obras internacionais, assim como por aqueles

    que escreveram livros sobre o assunto no pas. Das obras internacionais recentes, Stakeholder

    Theory: The State of The Art de Freeman e outros (2010) e Stakeholder Theory and

    Organizational Ethicsde Phillips (2003) no foram encontradas tradues. O mesmo ocorreucom a obra que tornou a teoria do stakeholder mais conhecida: Strategic Management: A

    Stakeholder Approach, tambm de Edward Freeman, publicado pela primeira vez em 1984.

    Quanto livros de autores brasileiros, se encontrou somente livros recentes. So trs obras

    tendostakeholders como parte do tema central: Gesto dos Stakeholders: Como Gerenciar o

    Relacionamento e a Comunicao entre a Empresa e Seus Pblicos de Interesse, organizado

    por Thelma Rocha e Andrea Goldschmidt, de 2010; Gesto do Fator Humano Uma Viso

    Baseada em Stakeholders, organizado por Darcy Mitiko Mori Hanashiro, de 2008; e, por fim,O Valor da Empresa e A Influncia dos Stakeholders, de Almir Ferreira de Souza e Ricardo

    Jos de Almeida, de 2006. Importante comentar que dos trs livros, sendo somente um escrito

    inteiro por seus autores, nenhum pensa nos stakeholders como um caminho para tica

    organizacional.

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    Traduo do autor:Can we think about stakeholder theories along the following lines: a stakeholder theory of(i) large corporate MNEs; (ii) Family enterprises large and small, by generation, by gender involvement, byculture; (iii) SMEs; (iv) micro business; (v) partnerships and other legal forms? Could we then say what are thesimilarities and diferences between these kinds of stakeholder theory?

  • 7/23/2019 T