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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geociências e Ciências Exatas Campus de Rio Claro. TEORIA DOS REFÚGIOS FLORESTAIS APLICADA AO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL. Prof. Dr. Adler Guilherme Viadana Depto. de Geografia. - PowerPoint PPT Presentation

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  • TEORIA DOS REFGIOS FLORESTAIS APLICADA AO ESTADO DE SO PAULO, BRASILProf. Dr. Adler Guilherme Viadana Depto. de GeografiaUNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geocincias e Cincias Exatas Campus de Rio Claro

    TEORIA DOS REFGIOS FLORESTAIS APLICADA AO ESTADO DE SO PAULO, BRASILest licenciada sob Licena Creative Commons

  • TEORIA DOS REFGIOS FLORESTAIS APLICADA AO ESTADO DE SO PAULO, BRASIL

    A CAATINGA J OCUPOU O ESTADO DE SO PAULO EM OUTRAS POCAS?

    O CERRADO MARCOU EXTENSOS SETORES TERRITORIAIS PAULISTAS?

    A MATA ATLNTICA EM TEMPOS PASSADOS SE REDUZIU EM FRAGMENTOS PARA DEPOIS SE EXPANDIR?

    ESTE TRABALHO PRETENDE RESPONDER A ESTAS QUESTES E SERVE DE SUBSDIO PARA OS QUE SE INTERESSAM COM A DINMICA DA NATUREZA

  • INTRODUOO presente estudo responde aos esforos para a divulgao da Teoria dos Refgios Florestais, de sua importncia para a compreenso da fisiologia da paisagem e sua correspondente aplicao ao estado de So Paulo.

    Como objetivo secundrio, tm-se a aplicao de um mtodo interpretativo que visa buscar um embasamento epistemolgico para a Biogeografia.

    Pretende-se ainda buscar explicaes sobre os processos que atuaram no Pleistoceno terminal (13.000 a 18.000 anos A.P.) e que foram responsveis pela instalao do revestimento florstico do territrio paulista, quando da retomada da umidificao ambiental.

    Os diferentes padres da vegetao antes da investida portuguesa, exibiam formaes florestais densas ao lado de manchas de cerrados (campos limpos e sujos), alm das araucrias pontuais e fitofisionomias litorneas (pioneiras, vegetao de dunas, jundus e mangues).

    Este quadro botnico estabelecido a 13.000 A.P. foi conseqente retomada da tropicalidade, com acentuao lenta e gradual da umidade acompanhada do aumento relativo da temperatura, favorecendo a expanso das formaes florestais em detrimento do recuo dos cerrados e caatingas para as suas respectivas reas core.

  • MTODOS E TCNICAS DE ESTUDOEste estudo se assenta em documentao bibliogrfica relacionada ao paleoclima quaternrio, s litologias conseqentes aos imperativos climticos pleistocnicos superiores e informaes cartogrficas.

    Aplicou-se um conjunto de tcnicas, permitindo a constatao das evidncias sobre a retrao das matas tropicais e expanso das formaes vegetais abertas atravs:

    Constatao direta, em trabalho de campo, de linhas de pedras dispostas nos barrancos, indicadoras de um paleoclima tendendo semi-aridez, com regime torrencial, cujos depsitos dos lenis ou alinhamentos de seixos se acomodaram numa faixa horizontal.

    2) Reconhecimento em campo de que as linhas de pedras inumadas ou expostas na forma de calhaus, apresentam seixos de configuraes angulosas e sem polimento, com litologias heterogneas, atestando uma fonte prxima e arrastados por regime torrencial em curta distncia pela superfcie do solo.

  • 3) Notificao de pedregais e calhaus que pontilham as vertentes das morrarias.

    4) Aferio de bancadas de areias brancas e finas com emergncia na parte superior do solo.

    5) Observao direta das diferentes espcies vegetais (cactceas e bromlias de cho) tidas como exemplares remanescentes da caatinga, cujas relquias aparecem na atualidade como bioindicadoras de um paleoclima caracterizado pela semi-aridez.

  • TEORIA DOS REFGIOS FLORESTAIS (PRECURSORES)Darwin (1859): j havia dissertado a respeito da disperso e surgimento de novas espcies em funo das mudanas climticas, da variao do nvel do solo e na disperso e retrao com evoluo da biota durante os perodos glacirios.

    Moreau (1933), Reinig (1935) e Gentilli (1949): forneceram explicaes evolutivas de novas espcies vegetais e animais, tendo por base anlises de processos associados s investigaes paleoclimticas.

    Ab Sber (1966): junto com Tricart, em excurses por municpios paulistas, constataram linhas de pedras inumadas por solos mais recentes. As idias foram expostas, mas no publicadas, na AGB (1962) em Penedo (AL), sendo divulgadas somente em 1965 e 1968.

    Outros autores que contriburam para enriquecer a Teoria dos Refgios Florestais foram: Bigarella (1964); Vanzolini (1970); Vuilleumier (1971); Mayr e Phelps (1971); Winge (1973); Prance (1973); Mller (1973,1976); Turner (1977); Simpson e Haffer (1978); Prance e Mori (1980); Turner (1982); Nelson e Rosen (1981); Vanzolini e Williams (1981); Brown (1982) e Vanzolini (1986).

    Estes pesquisadores desenvolveram investigaes enfatizando a distribuio espacial de espcies, em regies de baixas latitudes, postulando a existncia de antigos redutos florestais, em diferentes ambientes tropicais, diretamente relacionados a flutuaes climticas do Pleistoceno terminal, com o ressecamento e resfriamento das condies atmosfricas.

  • TEORIA DOS REFGIOS FLORESTAIS (FLUTUAES CLIMTICAS E COBERTURA FLORSTICA) Trabalhos cientficos que incidiram para o conhecimento das flutuaes climticas no Quaternrio e seus respectivos implementos cobertura florstica em territrio brasileiro:

    Maack (1947): considerou os blocos e seixos depositados na Serra do Mar como resultantes da semi-aridez existente no perodo geolgico em questo.

    Erhart (1966): autor da Teoria Bio-resistsica com influncia na evoluo dos estudos da Geomorfologia brasileira. Cailleux e Tricart (1962): descobriram lenis de seixos que se alternam com delgadas lentes de areia em Eldorado (SP).

    Bjrnberg e Landim (1966): estabeleceram a gnese provvel em ambiente de semi-aridez com escoamento planar, na forma de lenis de gua carregados de detritos, com variaes para fases climticas mais midas na Formao Rio Claro (Neocenozico).

    Bigarella (1971): investigou a variao climtica de caractersticas cclicas, reunindo desde climas glaciais at fases de climas mais quentes no Quaternrio.

  • Meggers e Evans (1974): atestaram que as dataes recentes do conta que as terras amaznicas experimentaram perodos alternadamente secos e midos.

    Troppmair (1969); Hueck (1972) e Ab Sber (1977): admitiram que antes da instalao dos climas secos na Amrica do Sul no Pleistoceno terminal e com recorrncia para o Quaternrio superior, o territrio brasileiro exibia domnios vegetacionais semelhana dos encontrados pelos colonizadores portugueses.

    Tricart (1974): registrou que em funo da regresso pr-flandreana, reas de argilas, areias e cascalhos silicosos atualmente recobertas pela Floresta Amaznica foram submetidas dissecao.

  • Figura 1 Cobertura vegetal primitiva/Estado de So Paulo, Brasil. (Troppmair,1969)

  • TEORIA DOS REFGIOS FLORESTAIS (FATOS PALEOGEOGRFICOS E PALEOECOLGICOS) AbSaber (1979): postulou que a desintegrao das fitofisionomias no Brasil foi desencadeada pelos efeitos paleoclimticos, no perodo Wrm-Wisconsin , com maior incidncia entre 13.000 18.000 anos A.P., com os possveis fatos paleogeogrficos e paleoecolgicos:

    (i) Predomnio de condies ecolgicas em faixa tropical estreita, favorveis aos avanos dos cerrados e caatingas. (ii) Alongamento das correntes frias ocenicas do Atlntico at a altura das latitudes dos territrios capixaba e baiano (atuais). (iii) A atuao destas correntes frias fez diminuir e umidade procedente do Atlntico para o interior do continente, desde o Uruguai at a poro centro-meridional do litoral da Bahia. (iv) A perda de continuidade das florestas tropicais ao longo da Serra do Mar, no sentido da base para o topo, a constituir refgios nas reas melhores servidas pela umidade. (v) Diminuio das temperaturas nas terras baixas amaznicas e da pluviosidade, com formao de refgios por retrao das massas florestais tropicais em setores sul-ocidentais dos Andes. (vi) Com o nvel do oceano dezenas de metros mais baixo e a linha litornea afastada de quilmetros, a exposio de salincias cristalinas decompostas tornou-se a fonte de areias para a formao de restingas e dunas a partir da transgresso flandreana. (vii) Formao de linhas de pedras indicadoras de ressecamento climtico.(viii) Presena na Amaznia de climas localmente quentes e midos ou submidos, de pequena expresso espacial (nas reas de refgios). (ix) Compreenso dos diferentes tipos vegetacionais na Amaznia, atravs de modelos de convivncia local e regional das biotas florsticas de formao aberta (cerrados e caatingas), tais como se estruturam atualmente.(x) Convivncia entre caatingas ou vegetao semelhante, com manchas de florestas tropicais que se relacionam s chuvas orogrficas. (xi) No Holoceno, as expanses das florestas tropicais ao longo do litoral, no alto e mdio Paran e da periferia para o centro da Amaznia promoveram transformaes radicais dos tecidos ecolgicos pela retomada da umidade.

  • Figura 2 reas nucleares/Brasil (AbSaber,1965)

  • RESSECAMENTO CLIMTICO NOS PERODOS GLACIAIS DO QUATERNRIO

    Damuth e Fairbridge (1970): primeira tentativa integrada de explicar o processamento desencadeador do ressecamento climtico durante os perodos glaciais quaternrios, com nveis martimos mais baixos que os atuais, para o continente sul-americano.

    Como conseqncia destes eventos, as caatingas e os cerrados teriam se expandido por setores mais amplos do territrio brasileiro, se comparados por aqueles que na atualidade se acham ocupados por estas mesmas formaes vegetacionais.

    Confeco do mapa das situaes contemporneas e as referentes ao Pleistoceno teriminal, situando a dinmica das correntes martimas frias e quentes com suas correspondentes atuaes (Figura 3).

  • FIGURA 3 - Mapa das situaes contemporneas e as referentes ao Pleistoceno terminal, situando a dinmica das correntes martimas frias e quentes com suas correspondentes atuaes (Damuth; Fairbridge,1970)

  • REAS DE PENETRAO DAS FORMAES ABERTAS DE CLIMAS SECOS SOBRE REAS ATUALMENTE TRANSFORMADAS EM DOMNIOS FLORESTAISAbSaber (1977): fundamentado em pesquisas geomorfolgicas, sedimentolgicas e fitogeogrficas de anos precedentes, estabeleceu quadros distributivos da flora, em momentos relativamente curtos no tempo geolgico, pelas rpidas mudanas nas condies dos mosaicos climticos e ecolgicos. Acrescente-se a isto que, aos perodos de bioestasia, conforme a proposta de Erhart (1966) sucedeu-se durante o Quaternrio perodo de resistasia, onde os sistemas paisagsticos estabilizados de longo tempo foram substitudos por eventos de rpida degradao, bastante ativos, embora de durao mais curta, porm o suficiente para impor transformaes radicais nos domnios naturais.

    A sntese de exposio sobre a Teoria dos Refgios Florestais pode ser encontrada em trs importantes trabalhos de Ab Sber: Em 1988 postulou sobre o significado do Pantanal mato-grossense para a Teoria dos Refgios. Em 1992, relatou sobre o valor das retraes e re-expanses das floras e faunas do espao inter e subtropical sul-americano durante o Pleistoceno terminal. Em 1996 repete que o antigo conceito sobre fases pluviais e interpluviais no decurso do Quaternrio, em grau absoluto de generalizaes, no correspondem aos eventos ocorridos em terras amaznicas brasileiras, em relao ao Pleistoceno terminal, que assistiram durante a ltima grande glaciao perodos de ressecamento climtico.

  • Figura 4 - Domnios naturais da Amrica do Sul, em 1 aproximao, mostrando reas preferenciais de penetrao das formaes abertas de climas secos sobre reas atualmente transformadas em domnios florestais. Fonte: Ab Sber (1977).

  • TEORIA DOS REFGIOS FLORESTAIS (CRTICAS NEGATIVAS) Sternberg (1990): considerou as linhas de pedras como prova duvidosa a respeito de sua fundamentao sobre a teoria dos refgios.

    Sioli (1991): afirmou que durante a glaciao pleistocnica terminal o cinturo de aridez tropical/subtropical teria se deslocado na direo do Equador. Isto traria como conseqncia a retrao da floresta para as pores perifricas meridionais e setentrionais da Amaznia com amplo avano de cerrados pela bacia amaznica central. Tal fato seria insustentvel cientificamente.

    Nenhuma crtica negativa Teoria dos Refgios Florestais traz em seu bojo uma sustentao terica e cientfica que permita aceitao coletiva.

  • TEORIA DOS REFGIOS FLORESTAIS APLICADA AO ESTADO DE SO PAULOAplicao da Teoria dos Refgios para o territrio paulista e tentativa de buscar explicaes, na perspectiva cientfica, sobre o quadro vegetacional encontrado pelos portugueses a partir das primeiras dcadas do sculo XVI.

    Para se atingir este objetivo buscou-se um imbricamento dos dados obtidos das observaes imediatas no campo; das evidncias paleoclimticas a tender para aridez atmosfrica, sobretudo nos documentos litolgicos, pedolgicos e biolgicos.

    Trabalho de campo com 7.400 km (SP, PR e RJ) percorridos.

    Registros fotogrficos, levantamento bibliogrfico e cartogrfico e dilogos constantes no meio acadmico.

    Elaborao de documento cartogrfico, da situao paleofitogeogrfica da vegetao no Pleistoceno terminal em territrio paulista. (Figura 5)

  • Figura 5 Evidncias litolgicas e biolgicas no estado de So Paulo, atravs da aferio em campo das linhas de pedras expostas nos barrancos; dos exemplares de vegetao rlicta (cactos e bromlias de cho) e das bancadas de areias brancas. Fonte: Viadana (2001)

  • FUNDAMENTAO TERICA E PRTICAAbSaber (1980); Fernandes (1990) e Andrade (1998): emprego do modelo real e descritivo sobre o domnio morfobioclimtico das caatingas do Nordeste brasileiro.

    Erhart (1966) e Tricart (1977): anlise das informaes consignadas pelas observaes das ocorrncias de condies ambientais resultantes da semi-aridez instalada em territrio paulista durante o Pleistoceno terminal.

    Wilson (1997) e Fonseca (1981): interpretaes dos ambientes insulares martimos.

  • EVIDNCIAS Baixada litornea desde o Paran at Santos (SP) com o afastamento do edifcio orogrfico da Serra do Mar, em relao ao Oceano Atlntico, sugere pelas evidncias, extremada fragmentao da mata tropical para restritos setores de brejo de cimeira e de meias-vertentes.

    Regime climtico neste trecho marcado pela aridez com chuvas torrenciais, promoveu a escarificao dos escarpamentos da borda do Planalto Atlntico, contribuindo com material detrtico para a sedimentao da plancie, que acolheu a expanso da formao xerfita (caatingas). Andrade e Lamberti (1965): informaram que nas faldas e pores mdias das vertentes da Serra do Mar, aparecem xerfitos na plancie costeira santista de permeio s dunas, restingas e manguezais.

    Cactceas e bromlias de cho presentes no alto e mdio Ribeira de Iguape e na sua respectiva baixada quente e mida no litoral sul paulista e nas dunas e restingas do litoral norte so registros importantes de paleoclimas tendendo para ressecamento atmosfrico.

    Cruz (1998): revelou a presena de cactceas e palmeiras em reas dunrias do litoral catarinense, admitidas como vestgios e heranas de condies paleoclimticas mais secas.

  • Foto 1 Pedregais no alto vale do Ribeira, So Paulo, Brasil.

  • EVIDNCIASEvidncias litolgicas encontradas na franja litornea paulista centro-meridional, com linhas de pedras em barrancos do Ribeira do Iguape, no seu mdio e alto curso e, pedregais nas vertentes, nos limites de So Paulo e Paran.reas perifricas de Iporanga (SP), com espessas cascalheiras inumadas por manto aluvial, expostas nos barrancos na direo de Barra do Turvo (SP), sustentam coberturas arbreas com bromlias terrestres.Ab Sber (1965) assegura que os falsos terraos de abraso, na zona pr Serra do Mar (em Santos SP), evidenciam pedimentos embutidos e em processo de dissecao. Significado paleoclimtico da espessa deposio do material detrtico no contato da Serra do Mar com a plancie costeira, com disposio dos cones de dejeo, comumente identificadas em reas de ambientes dotados de semi-aridez.Rodrigues (1965) em So Vicente (SP) investigou as manchas de areia branca, recobertas por areias misturadas matria orgnica, com a base do pacote constituda por material escuro, interpretado como deposio de compostos lixiviados da poro superficial. Cruz (1974) no litoral norte de So Paulo, no constatou depsitos de material grosseiro e espesso; mas taludes de detritos piemnticos, podendo estar subpostos nos depsitos litorneos ou submersos pela transgresso marinha que se efetuou na fase ps-pleistocnica, com a retornada da umidade atmosfrica. Tricart (1977): considerou que a penetrao da caatinga pode ser entendida como moderadamente instvel, inferindo-se que a baixada e a poro centro-sul do rebordo do Planalto Atlntico paulista acolheram caatingas com o recuo da mata tropical densa para os setores do planalto que preservaram a umidade em locais de maior estabilidade morfodinmica.

  • Foto 2 Cactceas em Itupeva, So Paulo.

  • EVIDNCIASAndrade (1998) na regio de Garanhuns (PE), alada a mais de 750 m, informa que dispersam-se inmeros rios e em funo da umidade constante, em passado recente dominava no local a mata tropical.

    Fernandes (1990) relata sobre a existncia de matas no interior da caatinga cearense, em reas serranas que confinam cabeceiras da drenagem local, que correspondem a encraves florestais, circundados pela formao xerfita e aberta.

    Com base nestas concepes, supe-se que as matas sofreram descontinuidade da base da Serra do Mar para a direo do topo, isto na seo centro-meridional em territrio paulista, refugiando-se em setores melhor servidos pela umidade, cedendo lugar para as caatingas em ampla expanso pela provncia costeira, porm, destacando-se a presena de matas ciliares que acompanhavam as margens fluviais dos cursos que desaguavam no oceano.

    Neste avano das formaes xerfitas, a propagao se realizou ocupando a baixada do Ribeira de Iguape, atingindo as sees do alto curso nos limites de SP e PR.

    Evidncias em campo, com a constatao da vegetao rlicta de cactos, bromlias terrestres, das cascalheiras inumadas e das exposies de pedregais nas vertentes, pressupe-se que a invaso da caatinga alcanou o divisor de guas do Ribeira de Iguape com o rio Iap e o Tibagi em terras paranaenses.

  • Foto 3 Cascalheiras em Iporanga, So Paulo.

  • EVIDNCIASO domnio paisagstico de mata se retraiu para as margens do Paranapanema e Paran, porm com caudal reduzido se comparado ao que ostenta nos dias de hoje. Em contrapartida, o rio Santo Anastcio e tributrios do Paranapanema e Paran, em razo da continentalidade e da condio geomorfolgica fluvial subseqente, organizaram uma drenagem intermitente, enquanto o rio do Peixe na mesma poca deve ter sido semi-perene.

    A caatinga deve ter atravessado os interflvios do Santo Anastcio e do rio do Peixe at a altura de Varpa (SP), com o espigo impondo-se como fator limitante para a expanso desta vegetao xerfita nas terras desmedidas ao norte, que demanda para o vale do Tiet e, em seguida, na direo do rio Grande. Esta ltima seo do interior paulista deu aporte para o cerrado que transgrediu do Tringulo Mineiro at a regio de Paraguau Paulista (SP).

    A expanso da caatinga para o interior do estado de So Paulo possivelmente atingiu as faldas e meias-vertentes na Serra do Mirante e a Serra dos Agudos e, na seqncia, a Serra da Fartura e a Serra da Neblina. Os seus flancos contriburam, em algum momento, com material intemperizado e fragmentado para a constituio de mares-de-pedras, que posteriormente com a retomada da tropicalidade mida inumaram-se, formando as atuais linhas-de-pedras regionais.

    A Serra do Paranapiacaba deve ter acolhido as caatingas litorneas que invadiram a calha e vertentes do Ribeira de Iguape e do rio Juqui, penetrando em amplos setores da Depresso Perifrica Paulista, estendendo seus domnios para as escarpas arentico-baslticas, atingindo o mdio Tiet no Planalto Ocidental Paulista. O limite setentrional desta expanso pode ser fixado no divisor do rio Moji-Guau com as cabeceiras formadoras da bacia hidrogrfica do rio Corumbata.

  • Testemunhos indicadores de paleoaridez foram observados na Serra de So Francisco em Sorocaba (SP), na Serra de Valinhos na regio de Campinas (SP), na Serra de Botujuru em setores do municpio de Itatiba (SP) e em Itupeva (SP).

    A presena de linhas de pedras, cactceas e bromlias terrestres confirma a condio de aridez antiga nesta rea cristalina de contato com a Depresso Perifrica Paulista, como nas sees da Serrania de So Roque, na Serra do Japi e na Reserva de Santa Genebra em rea urbana do municpio de Campinas (SP) dando aporte para os mesmos bioindicadores climticos de ambientes secos no Pleistoceno terminal.

    Na Depresso Perifrica Paulista, nos altos cursos fluviais do rio Paranapanema e setores mdios da provncia geomorfolgica citada, sob o comando do Tiet-Piracicaba at os limites setentrionais, as condies fisiogrficas do quadro paleogeogrfico, aproximam-se do atual serto nordestino. No caso paulista, o quadro se completava junto ao rebordo do Planalto Ocidental Paulista, como a Serra de Botucatu, a Serra de So Pedro, a Serra de Santana e a Serra de Itaqueri.

    A drenagem desta unidade morfolgica pode ter exibido condies perenes com a presena da mata ciliar a ocupar os fundos de vales na forma de refgios florestais, cujos cursos fluviais tinham seus formadores adstritos aos altos topogrficos das serranias do Mar, Mantiqueira e Paranapiacaba, contemplando os brejos-de-encostas e os de piemonte ou p-de-serra.

    Seqncias de linhas-de-pedras aparecem na Serra de Franca e na Serra do Indai, que constituem o divisor de guas da bacia hidrogrfica do Sapuca-Mirim com o rio Grande.

  • A bacia sedimentar de Rio Claro (SP), apresenta-se constituda em seo interplanltica e instalada por entre as escarpas arentico-baslticas, cuja gnese flvio - lacustre aponta para um ambiente de antigas baixadas semi-ridas.

    Consoante aos resultados colhidos em campo, o domnio dos cerrados, em pocas pleistocnicas terminais, atravessou o rio Grande e se estendeu para alm da franja meridional deste eixo hidrogeogrfico formador do rio Paran em setores da terra bandeirante, a ocupar no seu limite austral parte da Depresso Perifrica Paulista.

    Para o leste do extenso planalto sedimentar, as formaes vegetacionais abertas chegaram a se estabelecer, prximas s cuestas, que, nas suas testadas, foram ocupadas pelas caatingas com registros das linhas-de-pedras, fazendo-se expandir coalescendo para as reas drenadas pelo rio Moji-Guau, povoando setor da depresso interplanltica.

    O avano do cerrado atingiu o divisor deste rio com os formadores do Piracicaba em territrio paulista, cujos limites sul-orientais se expandiram at a altura da regio de So Jos dos Campos (SP), no vale do rio Paraba do Sul. Por ltimo, deve-se fazer referncias aos rios que mantiveram as condies perenes, que mesmo menos volumosos e com tributrios mais modestos puderam sustentar ao longo de suas margens as matas ciliares. Dentre estes, podem ser citados o Ribeira de Iguape, o Paraba do Sul, os formadores do Paranapanema e seu eixo principal, o rio Paran, o rio Grande e o Tiet, alm do Piracicaba, Moji-Guau, Aguape, Sapuca-Mirim e outros de menor expresso linear.

  • Figura 6 Domnios naturais do estado de So Paulo, em primeira aproximao, mostrando as reas de penetrao e expanso das formaes abertas de climas mais secos. Fonte: Viadana (2001)

  • CONCLUSES1) O quadro vegetacional encontrado pelos colonizadores portugueses foi conseqente retomada da umidificao holocnica que possibilitou a expanso das matas tropicais pelo estado de So Paulo, a ter como centros dispersores os brejos que conseguiram manter a umidade durante o Pleistoceno terminal.

    2) O setor de maior coerncia fisiogrfica, biolgica e ecolgica da Mata Atlntica se encontra na Serra do Mar, de So Sebastio (SP) at os limites com o estado do Rio de Janeiro, e nas sees dos formadores dos rios Tiet e Paraba do Sul.

    3) Os refgios pleistocnicos terminais, com retrao da formao florestal e sua fragmentao nos brejos e ao longo dos rios que mantiveram a condio perene, pela promoo do isolamento das mesmas e diferentes espcies da biota; pode ser evocado como novas formas biticas, considerado o tempo geolgico e pontual.

    4) A expanso das formaes vegetacionais (cerrados e caatingas) no estado de So Paulo, entre 13.000-18.000 anos A.P., e suas posteriores retraes aos limites atuais de seus respectivos domnios morfobioclimticos explicam as manchas de cerrados prevalecentes em sees territoriais paulistas.

  • 5) As ilhas da costa paulista constituem uma das chaves para o entendimento da resistasia e da instabilidade geoecolgica durante o Pleistoceno terminal. Com a retomada da umidade holocnica e a subida do nvel ocenico, as ilhas passaram a ser colonizada pela mata tropical em competio com a caatinga.

    6) A tcnica pela qual este estudo foi conduzido, baseada na observao direta de fatos fisiogrficos e biolgicos e no cruzamento destas informaes em trabalho de gabinete, mostrou-se vlida para o estudo distributivo e retrospectivo dos mosaicos fitofisionmicos do estado de So Paulo.

    7) Outras formaes vegetais abertas (campos) e a ocorrncia de araucrias podem ser explicadas como decorrentes dos avanos destas formaes florsticas do sul do pas, ocorridos quando da passagem lenta e gradual da tropicalizao mida no incio do Holoceno.

    A Teoria dos Refgios Florestais j assimilou maturidade suficiente para se impor como um dos modelos aplicveis em reas especficas de constituio das reservas naturais, a garantir para o futuro a preservao do patrimnio gentico do domnio neotropical.