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  • 7/23/2019 TEOLOGIA BBLICA DO VELHO TESTAMENTOCRABTREE

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    NDICEINTRODUO 4Divises da teologia do Velho testamento 7AS CINCIAS BBLICAS E A TEOLOGIA DO VELHO TESTAMENTO 8

    A Origem Histrica da F de Israel 8O Conceito Bblico da Histria 9A Arqueologia e o Velho Testamento 10

    A Mudana de nfase no Estudo do Velho Testamento 13A Cincia da Teologia do Velho Testamento 15

    A DOUTRINA BBLICA DA REVELAO DE DEUS 19A Psicologia dos Hebreus 19A Revelao de Deus nas Obras da Criao 20Deus Se Revela Diretamente aos Escritores Bblicos 21A Revelao da Pessoa de Deus no Velho Testamento Incompleta 23A Distino entre a Revelao e a Inspirao 24A Autoridade do Velho Testamento 26

    A DOUTRINA DE DEUS 27O CONHECIMENTO DE DEUS SEGUNDO O VELHO TESTAMENTO 27

    O Nome de Deus 31O NOME DENOTA ESSNCIA 34

    A invocao do nome 34O significado e a importncia do nome do Deus de Israel 34A origem do nome 35O nome de Deus e sua presena 35O Esprito de Deus 38Atividades do Esprito 39

    A ESSNCIA E OS ATRIBUTOS NATURAIS DE DEUS 44O DEUS VIVO 44Deus Um 54

    A Personalidade de Deus 56OS ATRIBUTOS REDENTORES DE DEUS 59A Santidade de Deus 59Idias Primitivas de Santidade 60A Santidade de Iav, o Deus de Israel 60A Justia de Deus 62O Redentor (Goel) de Israel 65O Amor de Deus 66O Amor Eletivo de Deus 67O Amor Fiel do Senhor no Cumprimento do Seu Concerto com Israel 68O Concerto do Senhor com Israel 69

    A Significao do Hesed do Senhor 69O PARENTE REMIDOR - GOEL - O PARENTE VINGADOR 71QUEM O GOEL? 72

    O Redentor de Israel (Goel) 73A ORIGEM, A NATUREZA E O DESTINO DO HOMEM 77A Criao do Homem 77A Natureza do Homem do Velho Testamento 82A Natureza Religiosa do Homem 83Caractersticas do Pensamento do Homem do velho Testamento 84O Homem criado imagem e semelhana 86

    A DOUTRINA DO PECADO 90

    A Moralizao do Conceito do Pecado 90Palavras Hebraicas que Descrevem a Natureza do Pecado 92Pecado Social 95

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    A Origem do Pecado 96Conseqncias do Pecado 98Influncias do Pecado 99

    O PROBLEMA DO MAL 101O Pecado, a Culpa e a Punio 101O Ponto de Vista Sacerdotal do Sofrimento 102O Ensino dos Profetas 103O Problema do Sofrimento nos Salmos 107O Problema do Sofrimento na Literatura de Sabedoria 108

    A SALVAO NO VELHO TESTAMENTO 111O Sistema Sacrificial dos Israelitas 113A Pessoa e a Funo do Sacerdote 115A Fidelidade do Senhor no Perdo do Pecado 116O Motivo Divino em Perdoar 117A Operao da Santidade, da Justia e do Amor do Senhor na Salvao 118O Mistrio da Eleio de Israel 120Deus, como Pai, no Velho Testamento 121

    O REINO DE DEUS 123O Povo de Israel e o Reino de Deus 123A Natureza do Reino de Israel 126Caractersticas Polticas e Religiosas do Reino de Jud 130O Restante Fiel do Povo Escolhido 132O Dia do Senhor 134

    O DIA DO SENHOR (hhffwwhh::yy--{{OOyy) 135O Novo Concerto 138A ESPERANA MESSINICA 141O Juzo Divino - A Luta com o Pecado e a Esperana de Vitria 142A Redeno de Israel 144O Reino Messinico 147O Messias Vindouro 151O Filho do Homem 154O Servo Sofredor 154Salmos do Servo do Senhor 156A VIDA FUTURA 158A Morte Fsica 158Sheol - lO):$ 160Novas Revelaes sobre a Vida Futura 161A Doutrina da Ressurreio do Corpo 165I. SHEOL-HADES: O LUGAR DOS MORTOS 168

    II. SHEOL NO VELHO TESTAMENTO E A SUA LOCALIZAO 169III. DEPOIS DO SHEOL-HADES SEGUE-SE O GEENA 172CONCLUSO 175

    As doutrinas Essenciais do Velho Testamento 175A Doutrina de Deus 176A Doutrina do Homem 177A Doutrina do Pecado 178A Esperana Eterna 179

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    INTRODUO1

    DEFINIO

    Teologia a cincia que trata do nosso conhecimento de Deus, e das coisas divinas. A teologiaabrange vrios ramos, vejamos:

    Teologia exegtica Exegtica vem da palavra grega que significa extrair. Esta teologia procuradescobrir o verdadeiro significado das Escrituras.

    Teologia Histrica Envolve o Estudo da Histria da Igreja e o desenvolvimento dainterpretao doutrinria.

    Teologia Dogmtica o estudo das verdades fundamentais da f como se nos apresentam noscredos da igreja.

    Teologia Bblica Traa o progresso da verdade atravs dos diversos livros da Bblia e descrevea maneira de cada escritor em apresentar as doutrinas mais importantes.

    Teologia Sistemtica Neste ramo de estudo os ensinamentos concernentes a Deus e aoshomens so agrupados em tpicos.

    INTRODUO

    Devido a vastido de assuntos, e a profundidade dos mesmos, bem como o curto espao detempo para exposio, estaremos deparando com uma grande dificuldade. Outra dificuldade a faltade familiaridade com o Velho Testamento, a negligncia ao estudo do mesmo tem causado muitos

    embaraos aos leitores da Bblia.

    Para facilitar o estudo, estaremos dando nfase a introdues de apenas algumas doutrinas,visto que, sero abordados mais profundamente quando do estudo da referida doutrina.

    O Velho Testamento a parte preparatria de Deus para revelaes maiores e mais profundasao homem. Por isso especial. Deus providenciou uma revelao e mostrou seus diferentes mtodos:

    Sonhos -Joel 2.28 E h de ser que, depois derramarei o meu Esprito sobre toda a carne, evossos filhos e vossas filhas profetizaro, os vossos velhos tero sonhos, os vossos jovens tero

    vises.

    Jeremias 23.32 Eis que eu sou contra os que profetizam sonhos mentirosos, diz o SENHOR, e

    os contam, e fazem errar o meu povo com as suas mentiras e com as suas leviandades; pois eu no os

    enviei, nem lhes dei ordem; e no trouxeram proveito algum a este povo, diz o SENHOR.

    Vises -Atos 7.31Ento Moiss, quando viu isto, se maravilhou da viso; e, aproximando-separa observar, foi-lhe dirigida a voz do Senhor, (Uma Viso espiritual).

    Aparies -Isaas 6.1 No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi tambm ao Senhor assentadosobre um alto e sublime trono; e o seu squito enchia o templo.

    1FERRAZ, Jos. E-mail [email protected].

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    Histrico - A Melhor forma de revelao de Deus ao homem sem dvida atravs da histria.Atravs da convivncia com Deus, atravs das experincias adquiridas com Ele.

    Os Perodos Histricosda Teologia do Velho Testamento

    Assim como os apstolos do NT com suas epstolas eram, de muitas maneiras, os intrpretesdos Atos e dos Evangelhos, assim tambm a teologia do AT poderia semelhantemente comear comos profetas por um motivo bem semelhante. No entanto, mesmo para o fenmeno da profecia bblica,havia a realidade sempre presente da histria de Israel. Toda a atividade salvfica de Deus em temposanteriores tinha que ser reconhecida e confessada antes de algum poder ver mais firme a revelaoadicional de Deus. Devemos, portanto, comear onde comeou: na histria histria verdadeira ereal.

    A Era Pr-patriarcal

    Sem dvida, Abrao ocupou um lugar de destaque no auge da revelao. O texto avana daextenso desde a criao e descreve a trplice tragdia do homem como resultado da queda, do Dilvio

    e da fundao de Babel para a universalidade da nova proviso da salvao da parte de Deus paratodos os homens, atravs da descendncia de Abrao.

    A palavra principal Beno repetida da parte Deus que existia apenas no estadoembrionrio. No inicio, trata-se da Bno da ordem criada. Depois, a Bno da famlia e daNao, em Ado e No. O auge veio na quntupla Bno para Abrao em Gnesis 12.1-3, queinclua bnos materiais e espirituais.

    A Era Patriarcal

    Esta era foi to significativa que Deus Se anunciava como Deus dos patriarcas, ou Deus de

    Abrao, de Isaque e de Jac. Alm disto, os patriarcas eram considerados profetas (Gn 20.7; SI105.15). Aparentemente era porque pessoalmente recebiam a palavra de Deus. Freqentemente, apalavra do Senhor veio a eles de modo direto (Gn 12.1; 13.14; 21.12; 22.1) ou o Senhor apareceua eles numa viso (12.7; 15.1; 17.1; 18.1) ou na personagem do Anjo do Senhor (22.11,15).

    Os perodos de vida de Abrao, Isaque e Jac formam outro tempo distintivo no fluxo dahistria. Estes trs privilegiados da revelao viram, experimentaram e ouviram tanto, ou mais,durante o conjunto de dois sculos representado pelas vidas combinadas deles, do que todos aquelesque viveram durante os milnios anteriores! Como conseqncia, podemos, com toda a segurana,delinear Gnesis 12-50 como nosso segundo perodo histrico no desdobrar da teologia do AT,exatamentecomo foi feito por geraes posteriores que tinham o registro escrito das Escrituras.

    A Era Mosaica

    Israel foi ento chamado reino de sacerdotes e nao santa (xodo 19.6). Deus, com todo oamor, delineava os meios morais, cerimoniais e civis de se cumprir to alta vocao. Viria no atoprimrio do xodo, com a graciosa libertao de Israel do Egito, operada por Deus, a subseqenteobedincia de Israel, em f, aos Dez mandamentos, a teologia do tabernculo e dos sacrifcios, esemelhantes detalhes do cdigo da aliana (xodo 21-23) para o governo civil.

    Toda a discusso quanto a ser um novo povo de Deus se derivava de xodo 1-40; Levtico 1-27; e Nmeros 1-36. Durante esta era inteira, o profeta de Deus foi Moiss um profeta sem igualentre os homens (Nmeros 1-36). De fato, Moiss foi o padro para aquele grande Profeta que estavapara vir, o Messias. (Deuteronmio 16.15-18)

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    A Era Pr-Monrquica

    Uma das partes da promessa de Deus que recebeu uma descrio detalhada foi a conquista daterra de Cana.

    Esta histria se estende ao longo do perodo dos juizes para incluir a teologia das narrativas daarca da aliana em 1 Samuel 4-7 os tempos se tornaram to distorcidos e tudo parecia estar em tantasmudanas subseqentes devido ao declnio moral do homem e falta da revelao da parte de Deus.De fato, a palavra de Deus se tornara rara naqueles dias em que Deus falou a Samuel (1 Samuel3.1). Conseqentemente, as linhas de demarcao no se escrevem to nitidamente, embora os temascentrais da teologia e os eventos-chave sejam bem registrados historicamente.

    A histria de Josu, Juzes e at Samuel e Reis, so momentos significantes na histria darevelao deste perodo, so usualmente reconhecidos pela maioria dos telogos bblicos de hoje.

    O melhor que se pode dizer do perodo pr-monrquico que era um tempo de transio. Osurgimento de exigncia de um rei para reinar sobre uma nao que se cansou da sua experincia em

    teocracia conforme ela era praticada por uma nao rebelde.

    Depois da Lei at Davi no h avano teolgico. Neste perodo, deus revelado como Santo,como Esprito Santo, como Eterno. A vida de Cristo mais precisamente predita, nos sacrifcios, eofertas e no propiciatrio.

    A Era Monrquica

    O pedido do povo no sentido de lhe ser dado um rei, quando Samuel era juiz (1 Sm 8-10). E ato reinado de Saul nos preparam negativamente para o grandioso reinado de Davi (1 Sm 11 2 Sm24.1 Reis l-2.).

    A histria e a teologia se combinavam para enfatizar os temas de uma dinastia real continuada,e um reino perptuo com um domnio e alcance que se tornaria universal na sua extenso e influncia.Mesmo assim, cada um destes motivos rgios foi cuidadosamente vinculado com idias e palavras detempos anteriores: uma descendncia um nome que habitava num lugar de descanso, umabno para toda a humanidade, e um rei que agora reinava sobre um reino que duraria parasempre.

    Este perodo caracterizado historicamente pela prtica desenfreada do pecado e declnio deIsrael.

    Os quarenta anos de Salomo foram marcados pela edificao do templo e por outroderramamento de revelao divina. A Sabedoria. Assim, a lei mosaica pressupunha a promessapatriarcal e edificava sobre ela, assim tambm a sabedoria salomnica pressupunha a promessaabramico-davdica como a lei mosaica. O conceito-chave era o temor do Senhor uma idia que

    j comeou na era patriarcal (Gn 22.12; 42.18; J 1.1, 8-9; 2-2).

    Agora que a casa de Davi e o templo de Salomo tinham sido estabelecidos, sendo assim, osprofetas poderiam agora focalizar sua ateno sobre o plano e reino de Deus no seu alcance mundial.Infelizmente, porm, o pecado de Israel tambm exigiu boa parte da ateno dos profeta.

    Com essas revelaes o mundo deveria esperar at que chegasse a Plenitude dos Tempos,Glatas 4.4; Pedro 1.10-12.

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    Questes Importantes Sobre Revelao

    1) Distino entre revelao e apreenso: A compreenso vinha a medida que o homemponderava a revelao feita.

    2) Revelao Parcial: Algumas coisas foram reveladas, mas no foram explicadas. Aexplicao pode vir mais tarde, ou no vir jamais, Dt 29.29. Tambm no Novo Testamento h coisasreveladas, mas no explicadas: Nascimento virginal de Jesus, Trindade, Dupla Natureza de nossoSenhor.

    3) Revelao Universal: A revelao foi feita com o objetivo de se estender a humanidadetoda: Emti sero bendita todas as naes, Deus disse a Abrao. (Gnesis 12.3)

    Divises da teologia do Velho testamento

    As divises naturais incluem as grandes doutrinas a serem discutidas:

    1. A Doutrina da Criao;

    2. A Doutrina de Deus;

    3. A Doutrina do Homem;

    4. A Doutrina do Pecado;

    5. A Doutrina da Salvao.

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    CAPTULO 1

    AS CINCIAS BBLICAS E A TEOLOGIA DO VELHO TESTAMENTO

    Com o novo conhecimento das cincias bblicas, acumulado nos ltimos anos, torna-se maiscomplicado, mais difcil e mais importante o trabalho do telogo referente ao Velho Testamento.Investigaes histricas, arqueolgicas e literrias tm esclarecido a histria do Oriente Prximo e asua contribuio ao desenvolvimento da civilizao moderna.2 O Velho Testamento foi produzido noambiente histrico e cultural do Egito, da Mesopotmia e das naes historicamente relacionadas comestas terras.

    Vrias civilizaes se levantaram no Oriente Prximo, sculos antes da origem dos hebreus,deixando elementos permanentes da sua cultura na vida dos povos subseqentes. Os antigossumerianos, acadianos e egpcios desenvolveram as suas civilizaes, e as suas literaturas, queexerceram influncias culturais nos povos sucessivos destas terras. Os hebreus tiveram a sua origemno meio de sociedades desenvolvidas, e herdaram elementos da cultura dos povos contemporneos.Em todas as pocas da sua histria o povo de Israel participou da cultural dos vizinhos e at dosconquistadores.3 Com a exceo do perodo de Davi e Salomo, os israelitas eram relativamente

    fracos entre as naes poderosas nos perodos sucessivos da sua histria e, na maior parte dessetempo, ficaram sujeitos a outras naes. No perodo de mais de mil anos, Israel viu o levantamento e aqueda de naes poderosas, enquanto Israel mesmo permaneceu relativamente fraco.

    A Origem Histrica da F de Israel

    Assim Israel nasceu no ambiente histrico de trs mil anos da civilizao. Os templos de TepeGawra e Egidu, descobertos na Mesopotmia, pertencem ao perodo Obeide, cerca de 4000 a.C. Asnaes antigas haviam desenvolvido as suas culturas, com a produo de uma vasta literatura. Tinhamprogredido alm do animismo,4 e outras formas primitivas da religio, ufanando-se dos sistemaselaborados de seu culto politesta. Foi neste ambiente de politesmo, e no de animismo, que a religiode Israel teve a sua origem. Sob a orientao de Moiss, como o profeta de Yahweh ou Iav, 5 a f deIsrael representa um rompimento definitivo com o politesmo, e no um desenvolvimento que resultoufinalmente no monotesmo dos profetas.

    Depois de numerosas discusses e estudos crticos da narrativa bblica sobre a libertao dosisraelitas da escravido do Egito, os historiadores em geral no tm mais dvida quanto verdade dosfatos fundamentais da narrativa.6 Ningum pode entender o Velho Testamento, luz do novoconhecimento das cincias bblicas, sem reconhecer a mutao ou a revoluo radical dareligio que resultou das experincias dos israelitas com Iav na sua libertao do poder doEgito, e a histria da sua religio que resultou daquelas experincias.

    difcil acreditar que Moiss fosse enganado quanto ordem e orientao que tinha recebidodo Senhor, e que a libertao resultasse desse engano. Segundo a narrativa bblica, no foi pela

    atuao de Moiss, nem pela sua cooperao, mas pelas foras da natureza, o vento e a mar, fora do

    2 Cyrus H. Gordon, Old Testament Times, p. v: A Bblia, produto do Oriente Prximo, permanece como fora viva noOcidente Moderno. ... O estudo moderno do Velho Testamento se resolve no texto hebraico contra o fundo histrico dasdescobertas no Oriente Prximo.3 Millar Burrows, What Mean Thesc Stones? Em todos os captulos desta obra o autor discute o fundo, e o ambientehistrico do desenvolvimento do Velho Testamento. A rica herana da cultura que Israel recebeu de outros povos evidente na origem e desenvolvimento da lngua hebraica e outras influncias culturais que receberam dos vizinhos.4 Animismo. Doutrina segundo a qual uma s e mesma alma o princpio da vida e do pensamento; monodinamismo.5 Yahweh a transliterao do Tetragrmaton Hebraico, JHVH (ou JHWH, YHVH, YHWH), que representa o Nomeinefvel de Deus. Preferimos usar Jav, a simplificao do termo, de acordo com o portugus.6 H. H. Rowley, The Authority of the Bible, p. 12: No pode haver razo de duvidar que Moiss conduziu o povo de

    Israel para fora do Egito, e que os israelitas experimentaram a libertao de que eram meros espectadores. A memriadaquele livramento ficou profundamente estampada no povo para sempre. Nenhum povo podia ter inventado a histria! deque tinha sido escravizado. Nenhum povo podia ter fabricado a narrativa de ter sido apenas testemunha da sua libertao,

    f d d h di i d hi i d i h d d

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    seu controle, que eles venceram os egpcios. A f de Moiss e a confiana do seu povo tambm negamque a libertao fosse fortuita ou acidental.

    Desde o perodo patriarcal os hebreus tinham certeza das suas comunicaes com o Todo-Poderoso, EI Shaddai,7 que tomou a iniciativa na chamada de Abrao, prometendo engrandecer o seunome e abenoar, por intermdio dele, todas as famlias da terra (Gn 12.1-3; 17.1-27). Os escritoresbblicos reconheceram o significado da f de Abrao, mas deram mais importncia ao concerto8 deIav com o povo de Israel no Monte Sinai, pois nesta ocasio Israel foi escolhido como o povo do seuDeus, e foi na base desta eleio que se desenvolveu a sua religio. Foi esta relao de confiana edependncia de Iav, e no meramente as suas idias acerca de Deus, que constituiu o princpiointerno e permanente da sua f.

    Esta f, distintivamente bblica, nas promessas do amor eterno do Senhor do concerto, noresultou de opinies que os profetas formularam. Ao contrrio, os israelitas creram em Deus, comoresultado das experincias que os ligaram com o Senhor. Esta origem singular da f de Israel distinguea religio do Antigo Testamento de todas as outras, e apresenta os fatos fundamentais da sua teologia.

    Para os escritores bblicos a religio pertencia vida inteira, e relacionava-se com todas as suasexperincias. Deus no ficava isolado do homem e dos seus problemas. Era participante com ohomem no drama da vida. Os autores do Velho Testamento reconheceram a mo de Deus em toda a

    sua histria, e tentaram descobrir e entender o propsito divino nas atividades do Senhor. A libertaodos israelitas do poder do Egito, o xodo, e a formao da vida nacional ficaram firmementeestabelecidos nas suas tradies. Guardavam a Pscoa como memorial de sua libertao. As suasdoutrinas teolgicas nasceram das suas comunicaes com o Senhor, e nestas experincias religiosasera Deus quem tomava a iniciativa.

    Atrs da histria de Moiss, como guia do seu povo, havia a orientao e o poder do Senhor. Aescolha de Israel para ser o povo santo e sacerdotal do Senhor foi-lhe anunciada por Moiss, omensageiro de Deus e o profeta do seu povo. O povo creu na verdade da mensagem, aceitou aincumbncia divina, e as experincias subseqentes com o seu Senhor justificaram a sua f. A escolhade Israel no foi devida ao seu mrito, mas unicamente graa divina, ao amor imerecido de Iav.

    O Conceito Bblico da Histria

    no Velho Testamento que encontramos o primeiro conceito distintivo e coerente da histria.A origem histrica da religio de Israel forneceu aos escritores bblicos a chave para a interpretao dahistria. Os autores, os profetas, interpretaram a histria do ponto de vista das atividades divinas nasua vida nacional. Assim entenderam o propsito do Senhor, no somente na sua prpria histria,como tambm na criao do mundo para o servio e o desenvolvimento da humanidade inteira,debaixo da orientao de Deus, de acordo com a sua vontade soberana na direo da histria para oalvo predeterminado.

    H vrios mtodos de interpretar a histria da civilizao. Os sistemas filosficos e asinterpretaes da histria variam de uma civilizao para outra, e de um perodo para outro, de acordo

    com a mudana dos ideais e caractersticos de culturas sucessivas. por isso que poucos filsofos e

    7 Declara-se em xodo 6.23: Apareci a Abrao, a Isaque e a Jac, como o Deus Todo-Poderoso (El Shaddai); mas pelomeu nome, Jav, no me fiz conhecido (Nifal) a eles. O Senhor, ento, era desconhecido pelos israelitas at que se lhesrevelou por intermdio de Moiss. Assim se identifica Jav, o salvador dos israelitas, com El Shaddai, o Deus de Abrao.8 Preferimos usar em nossa discusso teolgica o termo concerto como a traduo mais adequada da: palavra hebraicaberith, em vez de pacto ou aliana. O termo pacto significa ajuste ou contrato entre pessoas, com vantagens mtuas para ospactuantes. A palavra: aliana usa-se mais freqentemente no sentido de um contrato entre povos, naes ou estados, comnfase na idia de reunir ou ajuntar as foras na proteo e no desenvolvimento de interesses mtuos. claro que nenhumdestes termos tem o sentido teolgico de berith, quando se usa de acordos solenes entre o Senhor e o seu povo. Oportugus ainda no desenvolveu um termo teolgico que traduza o sentido de berith. Mas a palavra concerto, no sentidoradical de ordem, arranjo, regularidade, transmite melhor o significado de berith. Indica a iniciativa e a condescendncia

    de Deus no seu propsito de abenoar e dirigir o seu povo peculiar para servir como nao sacerdotal entre Deus e todos ospovos do mundo. A palavra no consta neste sentido teolgico nos dicionrios de portugus, mas usada na VersoAlmeida, a palavra adquiriu bastante significao para tomar o seu lugar em nosso vocabulrio teolgico. Discutiremos em

    l i ifi d l i d b i h d lh i A i

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    historiadores em geral tm as qualificaes para pronunciar a ltima palavra sobre a verdade ou afalsidade das experincias religiosas de Israel e o valor histrico do Velho Testamento.

    No se pode negar a importncia do trabalho de historiadores, mas as suas obras sofreqentemente parciais e incompletas, com interpretaes erradas, porque no vem qualquerdesgnio inteligente no desenrolar da histria. Por isso, nesta poca cientfica, muitos estudantesmodernos esto perdendo o interesse no estudo da histria.

    Outros reconhecem que h algum desgnio na histria, mas quando se baseiam na teoria daevoluo atesta, ou confiam no ideal do progresso, a prpria histria oferece pouco, ou quase nada,para apoiar o seu ponto de vista.9 Se h desgnio de uma inteligncia suprema na histria dahumanidade, ele tem que ser descoberto pela f.10

    Interpretando a histria segundo o desgnio distinto e coerente que o seu Senhor lhes revelava,os israelitas apresentam os fatos e os eventos que lhes evidenciam a finalidade divina da sua histria.Assim se explica por que o Velho Testamento histria teolgica e ao mesmo tempo teleolgica.

    Disse Agostinho que o raciocnio humano capaz de discernir e entender o desgnio divino nahistria, mas s quando purificado e instrudo por f. Mas esta idia no se originou comAgostinho. Os profetas do Velho Testamento foram os primeiros a apresentar as evidncias dasatividades divinas na histria, e a interpretarem o desgnio de tais atividades. esta interpretao

    proftica das atividades de Deus na histria de Israel que produziu o Velho Testamento. Discutiremosem outro lugar o ensino bblico sobre a revelao divina. Mas do ponto de vista puramente histrico, areligio hebraico-crist se distingue de todas as outras pelo princpio interno da sua existncia. DesdeMoiss at o dia de hoje, o fator da religio bblica, atravs de todas as modificaes de formasexteriores, tem sido a sua f persistente na justia e na misericrdia de Deus.

    No estudo da religio de Israel, e dos princpios internos do seu desenvolvimento, nota-se queos mensageiros de Deus sempre Se firmaram nas circunstncias peculiares do seu livramento daescravido do Egito pelo poder do Senhor.11 A convico da sua escolha para ser o povo separadopara o servio do seu Deus era bastante forte para suportar a disciplina rigorosa das vicissitudes da sualonga histria e aprender, at nas aflies, cada vez mais da justia, bem como do amor imutvel doSenhor. Os profetas produziram as Escrituras Sagradas nos perodos crticos da vida nacional, e a sua

    f brilhava mais quando tinham que enfrentar aflies e sofrimentos. Mesmo na derrota nacional e nahumilhao do cativeiro, floresceram as esperanas ureas na vinda do reino eterno do Messias doSenhor. Os seus ensinos ticos e morais purificavam-se medida do crescimento do seu conhecimentoda santidade e justia de Deus. O seu conceito de um s Deus, justo e misericordioso, lutava contra asformas sedutoras de politesmo, e ganhou a vitria que vai influenciando e abenoando cada vez maisos povos do mundo.

    A Arqueologia e o Velho Testamento

    No se podem justificar todas as declaraes extravagantes de alguns arquelogos quanto aovalor desta cincia na verificao dos pormenores de todas as narrativas bblicas. H problemas

    crticos e histricos que a arqueologia no pode resolver. H enigmas histricos que ficam at maiscomplicados, luz de descobertas arqueolgicas. Mas todos os estudantes reconhecem agora o imensovalor desta cincia no esclarecimento do ambiente cultural da Bblia. A arqueologia nos explica a ricaherana que os hebreus receberam das civilizaes antigas e a influncia desta cultura na produo daliteratura do Velho Testamento no perodo de progresso notvel da humanidade.

    9 John Bailie, The Belief in Progress, 1951. a autor proclama com coragem e confiana que a histria nega a teoria deprogresso no sentido moral, que a evangelizao crist e o trabalho missionrio oferecem a nica esperana para overdadeiro progresso da humanidade. Ver discusso deste livro na Revista Teolgica de julho, 1951, p. 112.10 Alan Richardson, Christian Apologetics, p. 90: A verdade que o significado da histria tem que ser buscado fora dahistria, e que o princpio da interpretao da histria no ser achado dentro dela. O historiador que no tem f em coisa

    alguma no encontrar indicaes de qualquer desgnio na histria.11 H. H. Rowley, The Re-discovery of the Old Testament, p. 88. Um exame crtico da narrativa talvez possa mostrar que omilagre teria sido acentuado, e que o nmero dos israelitas envolvidos teria sido aumentado na tradio. Mas nenhum

    i d d di hi i d l lib b l di

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    Desde a primeira guerra mundial as descobertas arqueolgicas oferecem um acmulo crescentede material que ainda no foi devidamente estudado e assimilado. Os textos de lnguas antigas,descobertos e decifrados, oferecem uma vasta quantidade de material sobre os princpios deorganizaes sociais no Oriente Prximo. Estes grupos construram cidades e organizaram governos,com o desenvolvimento gradual da arte, da religio e de outras formas de cultura. Nas lutas queresultaram da rivalidade entre os Estados Municipais, levantaram-se imprios que prosperaram poralgum tempo, e ento caram perante outros, maiores. A religio, com os seus templos e deuses,exerceu uma influncia extraordinria na vida dos povos antigos.

    As escavaes em numerosas runas da Palestina e de outras terras em redor ajudam noesclarecimento da cronologia dos eventos da histria dos povos contemporneos dos judeus. Sabemosmais agora dos povos mencionados no Velho Testamento, como os horeus, das suas relaes com ospatriarcas, e das suas influncias na vida nacional de Israel. Sabemos mais das condies histricasquando este povo se levantou e tomou o seu lugar na, histria.12 Ficou esclarecido como conseguiutornar-se independente do Egito e se estabeleceu na Palestina como pequena teocracia, sob o governodo Senhor, que lhes dera a sua liberdade.

    No h nenhum perodo da histria de Israel, desde Abrao13 at o perodo interbblico, queno tenha ficado melhor conhecido como resultado das informaes acumuladas pelo grande nmero

    de descobertas arqueolgicas nas runas da Palestina. Sem discutir a contribuio dos arquelogos,como Albright e outros, no estudo dos perodos sucessivos da histria de Israel, podemos dizer que acincia confirma, esclarece ou suplementa a informao histrica, poltica e religiosa do VelhoTestamento em quase todas as suas partes.

    Alm desta contribuio que acentua e refora a importncia histrica do Velho Testamento, aarqueologia oferece tambm, s vezes indiretamente, informao relevante para o telogo bblico. Narevelao prpria de Iav, e na sua obra de libertao do povo de Israel, uma nova f foi introduzidano mundo, uma f que desde o princpio tinha que lutar para manter o seu conceito distintivo do seuDeus no meio das religies politestas de seus vizinhos.

    Alguns estudantes da histria das religies acentuam as semelhanas existentes entre a religiode Israel e a de seus vizinhos, deixando a impresso de que no havia nada de distintivo na f do povo

    do Antigo Testamento. No h dvida quanto s semelhanas entre as formas e cerimnias destasreligies. reconhecido tambm que muitos israelitas, em todas as pocas da sua histria at ocativeiro babilnico, foram seduzidos pela religio conveniente dos vizinhos e desprezaram asexigncias rigorosas do Santo de Israel.

    Mas a arqueologia tem-nos demonstrado muito mais do que as semelhanas existentes entre asformas e cerimnias religiosas do povo de Israel e as de seus contemporneos. Sabemos agora, luzdo novo conhecimento arqueolgico, que havia uma diferena abismal entre o Deus justo emisericordioso de Israel e os deuses da fertilidade dos cananeus. Por exemplo, a literatura ugartica,que mais semelhante da Bblia hebraica do que qualquer outra, fala da bestialidade de Baal e dahorrvel imoralidade de seus sacerdotes e outros seguidores em seus atos religiosos.14 A pena paraeste pecado entre os israelitas era a de morte (Lv 20.15). O padro de qualquer religio determinado

    pelas crenas e pela vida dos fiis, e no pela prtica dos infiis.Alguns telogos pensam que os israelitas no chegaram a crer na existncia de um s Deus at

    o sexto sculo a.C. Acreditam que os israelitas eram henotestas, que adoravam a Iav, mas criamtambm na existncia dos deuses de seus vizinhos. O Velho Testamento nos declara que muitos dosreis de Jud e Israel, desde Salomo, com muitos de seus sditos, eram at politestas e que algunsdestes abandonaram o Senhor. Mas isto no prova que a religio fundada por Moiss era politesta ouhenotesta. difcil aceitar que os Dez Mandamentos, quase universalmente atribudos a Moiss,reconheam a existncia de qualquer deus alm de Iav. Os arquelogos mais informados sobre as

    12 James Muilenburg, The History of the Religion of Israel, The Interpreters Bible, Vol. l, p. 295: Nosso conhecimento

    recente deste povo oferece provas quase certas de que as origens dos patriarcas hebreus ho de ser traadas entre este povo(os hurianos), que habitou a regio do Eufrates superior.13 Ver a discusso na Revista Teolgica, N.o 14, p. 8, sobre A Sociedade Patriarcal dos Hebreus Luz de Novas

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    religies contemporneas do Velho Testamento, como W. F. Albright e G. E. Wright, pensam que areligio de Israel, na sua norma, era monotesta desde o tempo de Moiss. Diz Albright:

    De vrias fontes fragmentrias podemos reconstruir em traos largos a teologia de Yahwismodo sculo dcimo primeiro a.C., depois que o processo de consolidao tinha chegado estabilidaderelativa. Perodos de choque violento de foras sociais e culturais geralmente produzem mudanasrpidas, seguidas por perodos mais longos quando mudanas so quase imperceptveis para oobservador cuidadoso. Comeamos com o conceito de Yahweh mesmo, pressupondo o ponto de vistamonotesta, que consiste essencialmente nos seguintes elementos: A crena na existncia de um sDeus, Criador do mundo e Doador de toda a vida; a crena de que Deus santo e justo, semsexualidade ou mitologia; a crena de que Deus invisvel ao homem, exceto sob condies especiais,e que nenhuma representao grfica ou plstica dele permissvel; a crena de que Deus no restrito a qualquer parte da sua criao, mas est igualmente presente na sua prpria habitao noscus, no deserto, ou na Palestina; a crena de que Deus to superior a todos os seres criados, quersejam corpos celestiais, quer sejam mensageiros anglicos, demnios ou deuses falsos, que elepermanece absolutamente nico; a crena de que Deus tinha escolhido Israel por um concerto formalpara ser o seu povo favorecido, guiado exclusivamente por leis impostas por ele. 15

    Com o acmulo de novos materiais e o novo conhecimento das diferenas entre a f de Israel e

    as religies politestas, esto-se mudando as primeiras concluses sobre a semelhana da f de Israelcom a das religies de seus vizinhos. geralmente reconhecido agora que as crenas religiosas deIsrael, at nas suas formas antigas e bsicas, so profundamente diferentes das de outras religiessemticas. Muitos telogos crem agora que no possvel explicar a religio do Velho Testamentocomo desenvolvimento do politesmo.16

    A crtica do texto hebraico do Velho Testamento importante para o telogo. Temos muitasprovas do cuidado carinhoso dos israelitas na transmisso dos textos dos seus livros sagrados, massabemos tambm que h diferenas entre o texto Massortico e o da Septuaginta. Estudantes da Bbliasabem do vasto trabalho feito nos numerosos manuscritos do Novo Testamento, e de vrias outrasfontes, para restaurar, tanto quanto possvel, o texto original do Novo Testamento. Devido falta demanuscritos antigos, as fontes para o estudo do texto hebraico do Velho Testamento ficaram limitadas

    quase exclusivamente aos manuscritos do nono e dcimo sculos cristos, e s verses antigas. Agora,felizmente, temos uma vasta quantidade de literatura semtica que ajuda no entendimento de termosdifceis, da gramtica e da sintaxe hebraica. A semelhana entre a poesia hebraica e a de outraslnguas semticas ajuda tambm no esclarecimento do paralelismo e de outros caractersticos da poesiado Antigo Testamento. Certos caractersticos literrios da poesia semtica, que podem ser datados,ajudam tambm a datar alguns dos salmos bblicos. Alguns destes so mais antigos do que a crtica,sem a nova luz, julgava.

    Mas a descoberta de manuscritos, e pedaos de manuscritos de quase todos os livros do VelhoTestamento nas cavernas em redor do Mar Morto, desde 1947, oferece uma vasta quantidade dematerial para ajudar na verificao do melhor texto da Bblia hebraica. Vai levar anos para seorganizar, examinar e utilizar este material, mas a Revised Standard Version aceitou treze das

    variaes do famoso manuscrito de Isaas, com o esclarecimento de alguns destes versculos. O estudode pedaos de manuscritos antigos de Samuel est ajudando na soluo de alguns enigmas desteslivros histricos e esclarecendo algumas diferenas entre o texto Massortico e o da Septuaginta.

    Ora, seria fcil exagerar o valor destes novos estudos para a cincia da Teologia Bblica,quando nos lembramos da fidelidade dos escribas que nos transmitiram as Escrituras. Por outro lado, difcil exagerar o valor do estudo do ambiente histrico em que a Bblia foi produzida, das lutas e dostriunfos dos seus ensinos na instruo do povo de Israel e da humanidade. Nenhum estudante sriopode escrever sobre a histria e a teologia da religio de Israel sem estud-las luz do fundo histrico

    15 W. F. Albright, Archaeology and the Religion of Israel, p. 116.16

    G. Ernest Wright, The Old Testament Against Its Environment, p. 11. O Deus vivo, diz a Bblia, entra precipitadamentena vida do povo. Por seus atos poderosos, ele faz as suas maravilhas em favor do povo que v, ouve, entende, obedece e searrepende. Neste modo de proceder, Israel descobre cada vez mais claramente o significado da sua eleio, e do propsitod d i bbli d i l d f d

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    e religioso do Oriente Prximo. Devemos estudar tudo que nos pode ajudar na interpretao dasEscrituras, se quisermos salvaguardar o valor dos seus ensinos para o povo da nossa poca.

    inadequado este exame rpido da importncia da arqueologia bblica para um esclarecimentodo ambiente cultural e religioso do Velho Testamento. Alm de explicar a cultura que os hebreusreceberam dos povos antigos, e de seus prprios contemporneos, com o aproveitamento daquelacultura na produo do Antigo Testamento, a arqueologia nos mostra tambm a luta constante eprolongada de Israel com os perigosos ideais e prticas religiosas que prevaleceram entre os seusvizinhos. Mostra tambm como muitos israelitas abandonaram os ensinos rigorosos da justia divinapara seguir aps os deuses dos vizinhos que praticavam a imoralidade nas suas cerimnias religiosas.

    Este estudo no diminui o apreo que temos pela Bblia, antes aumenta a profunda admiraodo estudante da providncia divina na direo do povo escolhido, desde o seu princpio humilde,atravs de tantas vicissitudes da histria, at as alturas sublimes dos grandes profetas. Oscaractersticos peculiares da religio do povo de Israel ficam mais esclarecidos pela rejeio final dasinfluncias mais perniciosas das religies dos povos contemporneos. Os ensinos vitais de valorimperecvel que Israel deu ao mundo no constavam da cultura que recebera de outros povos, mas dassuas prprias verdades recebidas diretamente nas suas experincias histricas com o Deus vivo esempiterno.

    A Mudana de nfase no Estudo do Velho Testamento

    Nenhum livro do mundo tem sido estudado com tanto carinho, em tantas lnguas e por tantotempo como a Bblia. Nenhum outro livro tem provocado a produo de tantas obras literrias. Vai semudando o centro de interesse na Bblia de acordo com as controvrsias teolgicas de poca empoca.

    O Conclio de Trento decretou dogmaticamente a Bblia Latina como o texto de autoridadepara a Igreja Catlica. Mas antes da Reforma alguns eruditos comearam o estudo dos textoshebraicos e gregos da Bblia. Surgiram controvrsias sobre o verdadeiro texto da Bblia e a suainterpretao, mas no havia discrdia quanto natureza essencial da inspirao divina das Escrituras.Devido concepo esttica da inspirao da Bblia antes da Reforma, todas as p.artes das Escrituraseram consideradas de igual valor, sem se tomar em considerao a data, o autor do livro ou as suascaractersticas literrias. Pouca ou nenhuma ateno se dava diferena entre a prosa e a poesia,alegoria e narrativa, drama e histria, cerimnias temporrias e verdades eternas, ou aos vrios outroscaractersticos literrios.

    Surgiram no dcimo oitavo sculo novos mtodos de se estudar a Bblia. Com a aplicao dasteorias do racionalismo, levantaram-se dvidas sobre as premissas fundamentais das doutrinasteolgicas da religio crist. Estes novos dogmas de racionalismo ameaaram minar os fundamentosvenerados dos telogos ortodoxos da poca. Os novos intrpretes deram nfase produo humanadas Escrituras. Levantaram dvidas sobre as datas e os autores tradicionais de vrios livros do VelhoTestamento. Os livros do Pentateuco, segundo a nova crtica, por exemplo, foram escritos muito

    tempo depois da poca de Moiss, e representaram apenas tradies histricas. Com esta nova nfaseno processo humano que produziu as Escrituras da Bblia, ficou quase perdida a convico de quehouvesse qualquer revelao de Deus no Velho Testamento. Para alguns a Bblia era apenas umdocumento puramente humano.

    Mas nem todos os seguidores da nova escola crtica eram inimigos da f, como afirmaramalguns de seus oponentes. Havia alguns que no tinham a mnima objeo em sujeitar a Bblia crticamais severa possvel, enquanto isto se fizesse com o desejo de descobrir e seguir a verdade. Masinfelizmente o novo mtodo tornou-se para alguns apenas uma investigao friamente cientfica, semo devido reconhecimento dos seus caractersticos peculiares e sem observarem devidamente anatureza da origem das suas verdades imperecveis.

    Com o desenvolvimento da cincia no dcimo nono sculo, e a promulgao da teoria

    Darwiniana da evoluo, a Bblia perdeu ainda mais da sua influncia e prestgio. Ficou desacreditada,especialmente como livro cientfico, e muitos rejeitaram, nesta base, a sua origem e a sua autoridadedivina Mas os estudantes cuidadosos descobriram sua resposta de fato evidente nas pginas da

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    se apresenta pelas comunicaes de homens com Deus, de acordo com a cultura da poca e acapacidade dos escritores de entend-la. O novo conhecimento do fundo cultural da Bblia, acumuladonos ltimos anos, pe em relevo os caractersticos distintivos da religio e das Escrituras do AntigoTestamento.

    Com o novo conhecimento das cincias bblicas, vai-se mudando a defesa da Bblia como amensagem de Deus. Entre os seus defensores criteriosos, perdeu-se o receio da crtica literria ehistrica das Escrituras. Se Moiss no escrevesse os cinco livros do Pentateuco, na forma que tm emnossa Bblia, por exemplo, e se fossem editados sculos depois do acontecimento dos eventos querecordam, sabe-se agora que isto no nega o valor histrico destas obras.17

    luz do novo conhecimento da histria dos povos contemporneos, verificaram-se os fatosmais importantes da histria dos hebreus. claramente verificado, e geralmente reconhecido, que asociedade patriarcal apresentada no livro de Gnesis semelhante dos hurianos, um povocontemporneo de Abrao, Isaque e Jac. At os costumes e as prticas dos dois povos eramsemelhantes. A literatura dos hurianos, como os seus contratos de casamento e vrias outrasqualidades de documentos que descrevem os seus negcios e as suas atividades de dia em dia poralguns anos, demonstra as semelhanas entre a vida social dos hurianos e a dos patriarcas bblicos.

    J notamos neste captulo a mudana das opinies de historiadores a respeito das narrativas

    bblicas da libertao dos israelitas da escravido no Egito e dos princpios da vida nacional destepovo. Enfim, a crtica literria e histrica no modifica essencialmente a interpretao dos eventoshistricos que deram origem ao culto de Iav pelo povo de Israel. A crtica no pode modificar asevidncias abundantes da certeza absoluta do povo de Israel de que Iav tomou a iniciativa noestabelecimento da sua f, e da sua vida como o povo escolhido do Senhor. A psicologia da religio eo estudo das religies comparadas ajudam no entendimento dos caractersticos dos ideais distintivosdo Antigo Testamento e o valor imperecvel das suas verdades divinas.

    De interesse so as obras publicadas desde 1904 sobre a Teologia do Velho Testamento. Atarefa do telogo do Antigo Testamento, segundo Davidson, a de apresentar as verdades da religiode Israel organicamente, mostrando como uma verdade surgiu de outra que a precedeu. Assim Deusimplantou as verdades de seu reino na vida religiosa de Israel, o seu povo. As verdades do reino de

    Deus se apresentam em termos da histria, das instituies e da vida do povo de Israel.H uma distino definitiva entre a teologia do Velho Testamento e a do Novo Testamento. Ateologia dos judeus baseia-se principalmente nos seus livros cannicos do Antigo Testamento. Osmuulmanos acrescentam ao Velho Testamento os ensinos de seu profeta. Ora, os cristosreconhecem a convenincia de tratar a teologia de cada uma das duas partes da nossa Bbliaseparadamente, cuidando de no ler no Antigo Testamento ensinos distintivos do Novo. Nem se deveobscurecer as diferenas entre os ensinos das duas partes. necessrio, todavia, do ponto de vistacristo, reconhecer que as doutrinas teolgicas do Novo Testamento ficam enraizadas na teologia doAntigo, e que a teologia do Velho Testamento chega plena fruio na teologia do NovoTestamento.18 Alguns telogos cristos preferem escrever sobre a teologia bblica. Assim comeamcom as doutrinas do Antigo Testamento e mostram como se desenvolveram no Novo.19 claro que

    este mtodo tem algumas vantagens, mas tem a tendncia de olvidar os caractersticos distintivos e asriquezas peculiares de cada uma das divises.

    No se deve ler o Velho Testamento como texto cientfico da histria, pois que trata dasexperincias religiosas do povo de Israel com o seu Deus. Escritores bblicos, de pocas diferentes,interpretaram os acontecimentos na sua vida nacional de pontos de vista diferentes. Um estudocuidadoso mostra que h trs fontes da teologia do Velho Testamento representadas no longo perodode desenvolvimento que culminou nas doutrinas teolgicas dos profetas cannicos. A correnteprincipal se originou da revelao de Iav ao povo de Israel por intermdio de Moiss, a redeno e aescolha de Israel para o servio de seu Deus. Depois Iav identifica-se com EI Shaddai, o Deus de

    17

    John Bright, Early Israel in Recent History Writing, 1956. O autor discute a importncia da histria preservada nastradies do povo de Israel.18 H. H. Rowley, The Relevance of the Bible, p. 17, trata da relao entre os dois Testamentos. Ver tambm A Esperana

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    Abrao, e assim a f patriarcal integrou-se com a teologia bblica. A terceira fonte, a influncia dosvizinhos na religio de Israel, mais difcil avaliar. Os mensageiros do Senhor lutavam heroicamentepara purificar a sua religio das influncias piores dos povos contemporneos, mas no h dvida deque os Israelitas incorporaram algumas das festas e cerimnias religiosas dos povos cananeus no seuculto ao Senhor. Mas na teologia dos profetas esta influncia foi reduzida ao mnimo, mais ou menoscomo o cristianismo livrou-se, em grande parte, das Influncias do paganismo.

    H sempre oposio aos novos mtodos de estudar a Bblia, e a mudana de nfase nainterpretao de seus ensinos. Escrito por muitos autores, atravs de um longo perodo, compsicologia e cultura peculiares, o Velho Testamento oferece dificuldades para o leitor moderno queno tem conhecimento do seu fundo cultural. Por isso a leitura da Bblia est sendo muitonegligenciada pelo povo em geral. Por outro lado, o estudo das cincias bblicas por especialistas esttirando do tesouro das Escrituras coisas novas e velhas.

    A Cincia da Teologia do Velho Testamento

    A Teologia a cincia que trata da natureza de Deus e da lua relao como universo. ATeologia do Velho Testamento o estudo dos atributos de Deus e o propsito das suas atividades nahistria e na vida do povo de Israel, de acordo com a doutrina da revelao divina nos livros sagrados

    deste povo.Esta definio distingue a Teologia do Velho Testamento da Histria da Religio do povo de

    Israel. Convm manter esta distino, reconhecendo que as duas ficam naturalmente entrelaadas. AHistria da Religio de Israel a matria que trata do desenvolvimento religioso do povo de acordocom a seqncia cronolgica dos seus perodos histricos e das influncias religiosas recebidas dosvizinhos. A Bblia no sistematiza os seus ensinos, mas a cincia teolgica trata das doutrinasdistintivas e persistentes das Escrituras na ordem lgica ou teolgica que se julga mais conveniente.Discute a revelao de Deus aos profetas e procura determinar a relevncia dela para a teologiacrist.20

    A definio limita a fonte do material desta primeira diviso da Teologia Bblica aos livroscannicos dos judeus e dos cristos evanglicos, ao passo que alguns destes so superiores a outros novalor dos seus ensinos teolgicos. As idias teolgicas dos Livros Apcrifos tm pouca importnciapara a cincia, e por outras razes, melhor deix-los fora, embora tenham valor no estudo de outrosassuntos bblicos.

    A cincia da Teologia do Velho Testamento propriamente se limita ao estudo dos ensinoscaractersticos, distintivos e persistentes dos veculos da revelao divina. Deixa de lado as aberraese os conceitos primitivos condenados pelos profetas e procura apresentar os ensinos teolgicos dosescritores mais esclarecidos do Velho Testamento. Reconhece os novos conhecimentos, confirmadospelas cincias bblicas, sem entrar na discusso formal destes estudos. Aproveita-se igualmente dosresultados estabelecidos pelo estudo da crtica literria, mas no procura fixar a data da origem decada uma das doutrinas bblicas. A cosmologia dos escritores tem pouca importncia para o telogo,

    mas a doutrina da criao do mundo e das atividades de Deus na direo da histria tem importnciaespecial, porque pe em relevo o poder e a autoridade do Senhor. A exegese das Escrituras essencialna exposio dos seus ensinos teolgicos, e deve acompanhar a discusso das doutrinas. Oconhecimento do hebraico indispensvel para o telogo que deseje aprofundar-se no estudo dateologia do Velho Testamento. preciso estudar os ensinos dos escritores segundo a sua prprianorma psicolgica e religiosa, reconhecendo e interpretando as experincias religiosas que sodistintivas e que se relacionam entranhadamente com as doutrinas bblicas.

    Deve o estudioso aproximar-se do estudo desta cincia com simpatia e discernimentointelectual, reconhecendo sempre que so os ensinos distintivos do povo de Israel que constituem ateologia do Antigo Testamento. O telogo segue o mtodo histrico e crtico nos seus estudos comoem qualquer cincia. fcil desviar-se desta norma, especialmente quando se vai ao estudo com

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    opinies obstinadamente formadas, segundo preconceitos religiosos, filosficos ou cientficos. O amorda verdade a qualificao imprescindvel para o estudo de qualquer cincia. A f tambm ajuda nodiscernimento intelectual nas investigaes teolgicas, como tem valor no estudo das cincias fsicas.Todavia, o telogo trata da religio, e tem que reconhecer alguns fatos e fenmenos que, em geral, soirrelevantes no estudo das cincias puramente fsicas.

    De que valor o estudo da teologia do Velho Testamento para o cristo? Sendo a primeiradiviso da teologia bblica, um preparo importante para o ministrio cristo. Os dois testamentosesto entrelaados de tal modo que no se pode entender a fundo um, sem conhecimento bsico dooutro. O Novo Testamento surgiu do Antigo. O Velho Testamento era a Bblia dos cristos primitivosantes da produo do Novo. O pregador, ou qualquer outro estudante do Evangelho, pode estudar oVelho Testamento, a Bblia do Mestre, no somente com proveito, mas com o corao enlevado (Lc24.29-49). Os ensinos teolgicos da primeira diviso da Bblia constituem as verdades religiosas ebsicas que produziram a segunda parte.

    O povo de Israel tinha a certeza inabalvel de que o Senhor Iav era o seu Salvador do podercruel do Egito. Tinha experimentado aquela maravilhosa libertao de acordo com a promessa deMoiss, o mensageiro de Iav, o Salvador. Aquele ato governou todo o pensamento subseqente dopovo sobre o seu Deus. Havendo-se revelado o seu carter na histria daquela libertao, os israelitas,

    desde ento, o reconheceram como o Deus da histria. Porque tinha usado as foras da naturezanaquela maravilhosa obra, Israel julgava que o seu Senhor era o controlador da natureza.O livramento poltico ou nacional podia ter produzido uma religio apenas de patriotismo e

    arrogncia, semelhante dos assrios e outros. Os israelitas perceberam, imperfeitamente no princpio,mas cada vez mais claramente, que o mrito do esprito melhor do que a glria poltica, que a justiaexalta a nao e o pecado o oprbrio dos povos, e que s os puros de corao podem entrar emcomunho com o Santo de Israel.

    Assim os ensinos dos guias espirituais produziram entre o povo de Israel uma comunhofrutfera com Deus e uma piedade genuna. Muitos judeus, incluindo sacerdotes, no perodoapostlico, reconheceram que podiam aceitar o Evangelho de Cristo sem renunciar s verdadesessenciais da sua prpria religio. O seu prprio Messias lhes dava novo entendimento das Escrituras,

    rebrilhava a f com novos motivos de gratido ao Senhor e novas esperanas no cumprimento damisso do povo escolhido. Ao mesmo tempo, todos os cristos, incluindo os gentios, podiam crescerno conhecimento da graa de Deus pela leitura do Velho Testamento, especialmente dos Salmos e dosProfetas. Todos os crentes podiam fortalecer a f, e receber conforto e socorro divino na leitura dasEscrituras para o desempenho da sua misso no mundo cruel de sofrimentos, perseguies e at demartrios da f.

    O esprito hebraico iluminou tudo que contemplou. Tendo a sua origem no ambiente semticocomo os babilnios, o hebreu transformou a lei babilnica no reconhecimento rico dos princpios daassociao humana. Saindo, como outros povos, do deserto para a terra frtil, recusou aceitar asdivindades da fertilidade. O Senhor Iav no somente no tinha outro deus alm dele, mas tambmno tinha qualquer deusa. No perodo do antropomorfismo cru, viu que a verdadeira semelhana de

    Deus com o homem est na sua natureza moral e no na sua aparncia fsica. 21

    Quando outros povos criavam os seus deuses sua prpria imagem e se prostravam perantedivindades inacessveis, o corajoso heri do Livro de J declara:

    Eis, ele me matar; no tenho esperana; contudo, defenderei os meus caminhos diante dele(J 13.15).

    Assim se nota um novo entendimento do valor do Velho Testamento, nos ltimos trinta anos,apesar da influncia crescente da crtica literria da Bblia. No seu estudo da filologia e da histria doOriente Prximo, W. F. Albright acentua a necessidade do avivamento da f no Deus do Monte Sinaie no Senhor da histria do povo de Israel.

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    R. H. Pfeiffer, depois de um estudo profundo da crtica literria, discute o interesse histrico,literrio e religioso do Velho Testamento, pondo nfase nele como a Escritura inspirada, a ltimafonte da doutrina bsica da Igreja e da Sinagoga, e a nica histria do progresso religioso.

    H. H. Rowley, numa srie de livros, discute o novo interesse na religio de Israel e a relevnciado Velho Testamento para os homens modernos. D nfase ao fato de que os escritores bblicos eramhomens falveis, com suas imperfeies humanas, que Deus podia se revelar perfeitamente somente napersonalidade perfeita, e que a encarnao era necessria para a plena revelao do Senhor. Rowleydiscute elaboradamente passagens no Antigo Testamento que interpretam incorretamente o propsitode Deus. Para ele qualquer interpretao das atividades de Deus, pelos escritores, que no concordacom o seu carter revelado na Pessoa e nas atividades e ensinos de Cristo devido ao entendimentoerrado de homens sinceros, mas limitados por fraquezas humanas e pelas circunstncias da poca.Todavia, o Velho Testamento representa no somente o esforo da parte do homem de encontrar-secom Deus, mas mostra tambm como Deus se revela ao povo de Israel nas atividades divinas em seufavor. Portanto, o Antigo Testamento a histria das experincias de comunho do povo de Israelcom Deus, e a resposta progressiva de Deus fome espiritual dos homens.

    Na sua preleo, The Authority of the Bible, 1946, Rowley apresenta argumentos queconsidera vlidos perante o tribunal da razo para estabelecer a autoridade da Bblia, reconhecendo

    fatos e fenmenos irrelevantes para os Cientistas fsicos. Segundo o seu argumento, o AntigoTestamento relevante medida em que concorde com a revelao de Deus em Cristo. Contudo, osdois Testamentos so complementos um do outro e o cristianismo no pode abandonar a primeiraparte da sua Bblia sem grande prejuzo da f crist.

    A experincia crist assegura-se adequadamente em Cristo Jesus somente quando se instruipelos profetas e sal mistas na inter-relao de eventos histricos e a intuio religiosa. Desligada doambiente hebraico, a experincia crist tem sido freqentemente pouco mais de um vago misticismo,que no histrico e que encontra afinidades igualmente com Yogi e Bhakti e o Cristo da f crist. 22

    Ora, a Teologia do Velho Testamento, propriamente entendida e interpretada, no ignora, mastranscende os problemas da crtica literria, com as suas doutrinas imperecveis. O desenvolvimento

    da religio de Israel atravs de um longo perodo de tempo e a luta contra influncias de religiescontemporneas complicam o problema.O famoso discurso de J. P. Gabler em 1787, sobre a distino entre a teologia bblica e a

    teologia dogmtica, marcou o princpio de uma nova poca nos mtodos de estudar o VelhoTestamento.

    Na sua obra The Theology of lhe Old Testament, publicada em 1904, A. B. Davidson fez umadistino clara entre a Teologia Sistemtica e a Teologia Bblica. Na Teologia do Velho Testamentoestudam-se as operaes de Deus na introduo do seu reino entre o povo escolhido, como seapresentam nas Escrituras deste povo.

    Em 1922 Eduard Knig, na sua obra Theologie des Alten Testaments, despertou novo interessena Teologia do Antigo Testamento. Ele introduziu a interpretao realstica do Velho Testamento

    baseada nos mtodos gramaticais e histricos. Depois de fazer um exame da histria da religio deIsrael, ele oferece o seu sistema de fatores e idias que determinaram a histria, mas o seu mtodo no muito satisfatrio.

    A obra de Otto Eissfeldt, 1926, trata do problema da tenso entre a histria e a revelao. Pode-se tratar da religio de Israel do ponto de vista puramente histrico ou pode-se discuti-la como arevelao de Deus. Os dois mtodos, diz ele, so legtimos, mas deve-se guardar claramente adistino ntida entre os dois sistemas de tratar a matria. Segundo Eissfeldt, impossvel provar arevelao divina dentro da esfera dos eventos histricos.

    Otto Procksch apresenta argumento de que h mistrios e paradoxos, nas Escrituras, queescapam interpretao histrica, e que o mundo espiritual apresenta-se f, mas fica escondido sfaculdades vulgares de cognio. Hermann Schultz concorda, pelo menos em parte, com a tese deProcksch. Diz ele que nenhum documento histrico divulga a sua significao, seno pessoa de

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    simpatia e de um gosto e afeio. tambm necessrio um entendimento interno para apreciarpropriamente a significao das Escrituras do Antigo Testamento. Eissfeldt identifica a revelao comas verdades eternas, mas no reconhece o fato de que o Velho Testamento se apresenta como arevelao, ou a comunicao direta de Deus com o seu povo escolhido.

    Em 1929 Walther Eichrodt publicou um artigo em defesa da realidade da revelao divina.Reconhecendo que a histria, como tal, no pode pronunciar a ltima palavra sobre a verdade ou afalsidade de qualquer tese. Eichrodt afirma que o historiador da religio do Velho Testamento devefazer um estudo cuidadoso do processo histrico para determinar as verdades constantes epermanentes da f dos escritores bblicos. Depois elaborou a doutrina da revelao na sua obra, aTeologia do Velho Testamento.23

    Telogos como Ernest Sellin, H. Wheeler Robinson, H. H. Rowley, W.J. Pythian-Adams, C.H.Dodd, A.G. Herbert, H. Cunliffe-Jones e outros tratam do problema da revelao de Deus nasEscrituras que discutiremos no captulo seguinte.

    Os telogos modernos reconhecem que no possvel fazer uma exposio adequada daTeologia do Velho Testamento, segundo as divises tradicionais de Teologia, Antropologia eSoteriologia. No apresentamos o nosso mtodo de tratar a matria como o nico, ou como o melhor,mas esperamos que as exposies, segundo as divises apresentadas, embora imperfeitas, abranjam os

    ensinos mais importantes e ponham em relevo as verdades eternas para os estudantes da primeira parteda Bblia crist.

    23 E il K li h Old S h f H H R l h Old d d

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    CAPTULO 2

    A DOUTRINA BBLICA DA REVELAO DE DEUS

    As cincias bblicas e os estudos histricos relacionados com a origem e a produo dos livrosdo Velho Testamento ajudam no esclarecimento e na interpretao da sua mensagem. Este esforo dedescobrir o ambiente cultural da origem do Antigo Testamento pe nfase no elemento humano da suaproduo, mas no nega a doutrina bblica da revelao divina.

    O Velho Testamento apresenta-se como obra de homens inspirados e orientados por Deus natransmisso da mensagem de Deus. No se pode defender mais a posio extremista segundo a qual oprprio Deus ditou, palavra por palavra, as Escrituras Sagradas aos seus agentes humanos, queficaram inteiramente passivos no ato de receb-las e escrev-las. Para o leitor cuidadoso da Bblia, bem claro que Deus usou os dons, a vontade, a disposio e a capacidade intelectual dos escritores natransmisso da sua mensagem.

    A palavra revelar significa tirar o vu ou remover a coberta que esconde um objeto para oexpor vista. No Antigo Testamento, o conceito limita-se exclusivamente revelao do prprioDeus e dos mistrios divinos que o homem incapaz de descobrir.

    A Psicologia dos Hebreus

    Todos os povos primitivos sentiam-se bem perto dos poderes sobre-humanos e os hebreus, noperodo da sua histria, freqentemente sentiram-se cnscios da comunho direta com Deus, comoaconteceu com Abrao, Isaque, Jac, os juzes, os salmistas e os profetas. caracterstico dosescritores bblicos, que raramente apresentam argumentos para provar a sua comunicao pessoal comDeus. No explicam como Deus pode ser conhecido. O israelita reconheceu-se a si mesmo comocriatura de Deus. Como no levantou dvidas sobre a sua prpria existncia, assim tambm no podiaduvidar da existncia e da realidade de Deus. O conceito de Deus era-lhe perfeitamente natural.

    Vinda de uma fonte transcendente, a revelao escapa nossa plena compreenso. Maspodemos estud-la no seu contato com a experincia humana. No estudo da revelao temos quereconhecer a sua contraparte, a inspirao. Podemos analisar e estudar as atividades divinas medidaque se revelam inteligncia dos agentes ou veculos da revelao. Ora, os profetas bblicos sempreestiveram plenamente certos de que o Senhor falava por intermdio deles.

    O hebreu pensava que o esprito do homem podia ser invadido facilmente por algum espritoexterno ou uma energia de fora. Portanto, a inspirao, do ponto de vista do profeta, era a invaso doseu esprito (ruah) pelo Esprito do Senhor. Os profetas freqentemente declaram que o Esprito doSenhor apoderou-se deles, e lhes deu entendimento e poder. O conceito que o profeta tinha dainspirao pelo Esprito do Senhor muito diferente do xtase do grego. O grego ficava extasiadoquando a psyche deixava o seu corpo e vagava longe dele. O Velho Testamento no apresentanenhum exemplo de um esprito desincorporado. Os que falam dos profetas extasiados perpetuam uma

    idia que o hebreu no podia ter entendido.Apesar da falta do conhecimento da psicologia dos povos antigos por parte do homemmoderno, sabemos que os elementos essenciais da revelao divina se expressaram segundo apsicologia hebraica. Toda revelao comea com Deus. A mo irresistvel de Deus descansava sobre oprofeta. Na sua comunicao com o homem, Deus no fica limitado pela psicologia do homemmoderno.

    Entendendo-se a psicologia dos profetas, pode-se compreender mais claramente a operao doEsprito do Senhor na vontade e na vida do profeta. O hebreu no fazia, como ns, distino ntidaentre os fenmenos fsicos e os fatos do mundo espiritual. Assim, compreendia, mais claramente doque o homem moderno, o significado das atividades de Deus na vida humana e na histria. Esta f narevelao direta de Deus ao homem idneo bsica e fundamental para os escritores bblicos. As

    teofanias, os antropomorfismos e as conversas entre Deus e homens nas narrativas bblicas constituemproblemas para intrpretes modernos que no entendem a mentalidade dos escritores. Em vez de prde lado os antropomorfismos bblicos devemos procurar entender os seus efeitos religiosos para os

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    Deus e da voz de Deus, sem que pensem estar cometendo algum erro. Nota-se tambm que nos seusantropomorfismos os hebreus nunca atriburam ao Deus de Israel as fraquezas humanas, as rivalidadese as injustias que os povos contemporneos viam nos seus deuses. Para o escritor do primeirocaptulo de Gnesis, Deus era transcendente e espiritual, o homem no era rplica fsica do seuCriador. O escritor expressa antes a sua profunda convico de que o homem, em virtude da criao,tem afinidade espiritual com Deus, e, como Dor espiritual, pode gozar comunho com o seu Criador.

    A intensidade da pregao do profeta, bem como a sua profunda sensibilidade espiritual, surgiado seu conceito de Deus. A sua mensagem era sempre teocntrica. Deus o assunto por excelncia daprofecia. a comunho pessoal do profeta com o Senhor que produz a f, a coragem e o entendimentoda vontade divina. O profeta se interessava principalmente nos problemas religiosos do seu povo, masa Palavra do Deus vivo representava para ele o passado, o presente e o futuro. Sendo prtico, o profetatratava de problemas existentes, interpretando e aplicando a palavra revelada do Senhor s condiespolticas e religiosas de seus contemporneos. Assim a mensagem da justia divina, interpretada pelosprofetas bblicos, tem valor eterno e aplicao universal na soluo dos problemas da injustia dascoraes sucessivas da humanidade.

    Quando Deus chama os homens justia, no porque seja mero capricho dele que os

    homens sejam justos. porque ele mesmo justo, e havendo criado o homem sua imagem, desejaque reflita a sua prpria justia. Quando pede que os homens manifestem o esprito compassivo paracom os fracos, porque ele mesmo revelou este esprito na libertao do povo de Israel da escravidodo Egito.24

    H um elemento de intuio na profecia, um caracterstico do todas as religies. O sentido deresponsabilidade (value-judgment), que surge desta instituio religiosa, pede uma resposta completada personalidade emocional, intelectual e volitiva. Assim os hebreus, com a sua psicologia, semqualquer embarao cientfico da sua mentalidade, no ficavam perturbados, como os homensmodernos, por dvidas sobre as suas experincias pessoais com Deus.

    A Revelao de Deus nas Obras da Criao

    O Velho Testamento no faz distino especial entre a revelao geral ou natural, e a revelaodireta aos escritores da Bblia. Os telogos tm vrias opinies sobre a revelao de Deus na natureza.Karl Barth afirma dogmaticamente que no h uma revelao geral. Emil Brunner25 cr firmemente narevelao divina nas obras da natureza, mas pensa que no veculo da graa salvadora. Na exposiodo Evangelho da graa de Deus em Cristo, o apstolo Paulo apela, em Atos 14.15-17, ao testemunhodas obras do cu e da terra revelao divina, e providncia divina em dar aos ouvintes estaesfrutferas, enchendo os seus coraes de mantimentos e alegria. Tambm em Romanos 1.18-23, oApstolo declara que os gentios, ignorando a revelao de Deus nas obras da criao, ficaminescusveis, por se entregarem idolatria.

    A revelao natural no necessariamente comunicada humanidade por intermdio de

    homens inspirados em situaes especiais da histria, ao passo que a revelao bblica histrica,relacionando-se com uma srie de pessoas e eventos histricos. O exrcito de Israel reconheceu oauxlio divino na trovoada sobre os filisteus (1 Sm 7.10).

    No h no hebraico a palavra natureza, mas as obras do mundo fsico, segundo os escritoresbblicos, dependem absolutamente de Deus, o seu Criador e Sustentador. Os hebreus no pensavam,como ns, nas leis da natureza. As operaes no mundo fsico, por exemplo, eram obras de Deus. O

    24 H. Rowley, The Re-Discovery of the OldTestament, p. 190.25John Bailie, Our Knowledge of God, pp. 17-34, explica a diferena entre os pontos de vistas destes telogos.Segundo Barth, a imagem divina no homem foi completamente obliterada pela queda do homem. Brunner

    mantm que a forma da imagem permanece, mas a substncia foi completamente perdida. Esta linguagemobscura quer dizer que o homem como criatura fica responsvel diante de Deus, e ao mesmo tempo incapaz de dar uma resposta justa a Deus. Estas opinies relacionam-se apenas indiretamente com aT l i d V lh T M i li i l f i f d

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    trovo era a voz de Deus. Algumas religies antigas personificaram o sol, a lua, as estrelas e o vento, eseus adeptos os adoraram. Alguns israelitas caram nesta forma de idolatria, mas foram condenados (2Reis 17.16).

    Como o controlador do mundo, Deus usa a natureza para revelar o seu poder, a sua sabedoria, asua glria e a sua benignidade.

    Aquele que faz as Pliades e Oriom, Que torna as densas trevas em manh, E escurece o diacomo a noite; que chama as guas do mar, e as derrama sobre a terra; o Senhor o seu nome (Am5.8).

    Tambm o captulo 38 de J, Isaas 40.12 e 26, e os captulos 8 e 9 de Provrbios apresentamem linguagem brilhante as maravilhas do poder e da sabedoria do Senhor da natureza. O Salmo 104 eoutros explicam a revelao da glria e da benignidade do Senhor nas obras da criao.

    Assim, estas passagens e outras nos declaram que Deus se revela pelas obras do mundo fsico.Outras religies reconheceram elementos e foras da natureza como deuses. Mas os israelitas fiissempre viram atrs do mundo fsico o Criador e Controlador dos cus e da terra. Ora, devemoslembrar que esta revelao de Deus nas Suas operaes atravs das foras naturais, bem como nassuas atividades nos eventos da histria, -nos interpretada nas Escrituras por homens vocacionados einspirados por Deus.

    Devido psicologia dos hebreus, difcil encontrar no Velho Testamento qualquer apoio doconceito moderno da revelao natural ou geral, no sentido de que o homem, sem qualquer orientaodivina, capaz de descobrir, nas obras da natureza, provas satisfatrias da existncia de Deus.

    Deus Se Revela Diretamente aos Escritores Bblicos

    Deus conhecido, segundo o Velho Testamento, no porque os homens, nos seus esforosintelectuais, o descobriram, mas somente porque o prprio Deus se revelou. Homens de outrasreligies falam das comunicaes diretas com os seus deuses e das mensagens que deles receberam etransmitiram ao seu povo, mas s na Bblia que se apresenta a revelao no sentido restrito,persistente e coerente que apela cada vez mais poderosamente razo e natureza espiritual dohomem.

    A f e a razo caracterizam as experincias humanas, incluindo a religio bblica, mas oconceito da revelao, no sentido restrito, pertence unicamente Bblia. Quanto ao problema deharmonizar a revelao bblica com o conhecimento racional, queremos explicar de vez a nossaposio. No temos dvida nenhuma de que o processo da revelao transcende os poderes racionaisdo homem. Essencialmente a revelao bblica a comunicao de conhecimento da Pessoa de Deus(ou melhor, tripessoal de Deus). Ora, estas verdades a respeito da Pessoa, da vontade e dos planos deDeus que o homem no tem a capacidade de descobrir, mas uma vez comunicadas por Deus, nointercurso com homens idneos, concordam perfeitamente com o conhecimento racional dahumanidade.

    [Em sentido bblico, o conhecimento de Deus no significa simplesmente o fato de possuir

    informaes a respeito de Deus, mas sim uma auto-revelao de Deus em Cristo Jesus, que capazde proporcionar vida e trazer salvao].26Este ponto de vista explica perfeitamente a necessidade da revelao bblica. Evita tambm o

    erro dos telogos que pem toda a revelao fora do alcance das categorias da razo humana.O problema surge por no se fazer distino entre os dois sentidos do termo revelao.

    Quando se refere revelao como a obra de Deus, o pleno sentido da palavra transcende oentendimento racional do homem. Quando, porm, a revelao se refere s verdades comunicadas,estas se tornam elementos do conhecimento que mais enriquecem a vida humana.

    Diz Reinhold Niebuhr:Este o enigma final da existncia humana, para o qual no h resposta, exceto pela f e

    esperana; pois todas as respostas transcendem s categorias da razo humana. Todavia, sem estas

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    respostas, a vida humana fica ameaada por ceticismo e niilismo de um lado, e por fanatismo eorgulho de outro. 27

    Pergunta-se ao Professor Niebuhr: Em que sentido a resposta bblica ao enigma da vidatranscende as categorias da razo humana?

    A posio de Brunner, quanto ao problema da revelao, mais extremista do que a deNiebuhr:

    Como a f crist entende a revelao, ela , de fato, pela sua prpria natureza, um assuntoalm de todos os argumentos racionais. O argumento que ela apresenta em sua defesa no se acha naesfera de conhecimento racional, mas na esfera daquela verdade divina que pode ser alcanadasomente pela prpria comunicao divina, e no por pesquisa de qualquer espcie.28

    Nota-se tambm aqui o fato de no ser feita distino entre a obra divina da comunicao e asverdades comunicadas.

    Segundo o conceito bblico, o homem no recebe, no processo da revelao, doutrinasteolgicas acerca de Deus, mas recebe conhecimento pessoal do Senhor, da sua majestade, santidade eglria. Recebe tambm conhecimento da justia do Senhor, do seu propsito e da sua vontade paracom o seu povo. A essncia da revelao bblica o intercurso de inteligncias. Para os escritoresbblicos, a revelao no era um ensaio filosfico ou uma experincia intelectual. Era uma experincia

    profundamente religiosa, plenamente confirmada pela inteligncia. Para os profetas, a matria darevelao no era o conhecimento sobrenatural ou alm do entendimento humano, nem mesmo adivulgao de eventos futuros, mas o conhecimento pessoal de Deus. Coisas secundriasacompanhavam, ou se deduziam da revelao, mas a Pessoa e o propsito do Senhor eram semprefundamentais.

    Deus se revela por suas atividades na vida e na histria do seu povo, escolhido para ser a suapossesso peculiar dentre todos os povos do mundo (x 19.4,5; 20.2). Um fato bsico para todos osescritores do Velho Testamento a libertao de Israel da escravido no Egito (x 19.4). Em toda ahistria subseqente, os escritores do Velho Testamento mantiveram a firme o inabalvel convicode que o Senhor Iav tinha concedido a salvao a Israel escravizado, e no seu amor eletivo o tinhaescolhido para ser o seu povo peculiar. Pelas atividades constantes do Senhor, em favor de Israel,

    atravs de todas as vicissitudes da histria, ele revelou o seu hesed (desex),29

    o seu amor firme, fiel,constante e imutvel. Na sua cegueira e obstinao, Israel nem sempre reconheceu o propsito divinonas atividades misericordiosas de Deus na sua vida nacional.

    A histria de Israel tinha muitos dos mesmos caractersticos da nossa histria contempornea,a mesma qualidade de nossas experincias pessoais, nos acontecimentos dirios da nossa vida. Masapresenta-se de tal modo que se v nela profunda significao. Segundo o nosso poder de entender, anossa vida e a nossa histria contempornea no tm tanto significado. A histria bblica de tantaimportncia porque em toda parte ela se relaciona com a realidade fundamental, que a base de toda ahistria e da toda a experincia humana, o Deus Vivo no seu reino. 30

    Na orientao persistente de Israel, Deus levantou os seus mensageiros para interpretar a suavontade e o seu propsito na escolha deste povo. Os profetas apresentavam ao povo as suas

    credenciais pela convico inabalvel de que eram portadores da palavra (dabar - rfbfDrfbfDrfbfDrfbfD)31 de Deus, epela qualidade da mensagem que lhe transmitiam. O fato essencial da revelao a verdadeiraatividade de Deus na vida do povo atravs de seus agentes, os profetas. O mais alto conceito da

    27Reinhold Niebuhr, The Nature and Destiny of Man, Vol. II, p. 149.28 Emil Brunner, Revelation and reason, p. 206.29Hesed. No se pode traduzir nitidamente a palavra hesed. A traduo comum das verses em portugus misericrdia,bondade, benignidade, mas estas palavras todas so inadequadas para dar o pleno sentido do termo. A palavra relaciona-seintimamente com o fator de Deus nas suas atividades providenciais na histria de Israel. A Palavra significa o amor firme,persistente, imutvel, no cumprimento das promessas do seu concerto com Israel, mesmo quando o povo falhava e semostrava indigno. A palavra sempre acentua a: fidelidade de Deus para com o seu concerto com Israel. Os hasidim so os

    piedosos, os fiis, os santos que responderam com confiana ao amor fiel do Senhor. O hesed divino sempre buscava acomunho espiritual com Israel para criar nele o amor fiel a Deus. Assim se v que quase o equivalente da graa divina.30 C. H. Dodd, The Bible To-day, p. 14.31 b i ifi i d S h d d O d

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    religio a fraternidade entre Deus e o homem, mas no pode haver fraternidade quando acomunicao se limita ao homem. Se Deus ficasse eternamente silencioso, a religio seria a mais tristede todas as decepes humanas, e esta experincia espiritual da personalidade humana seria a maiscruel iluso do universo irracional.

    O profeta confiava absolutamente na fidelidade do Senhor quanto ao cumprimento de suaspromessas, e a realizao de seus propsitos, no obstante a infidelidade do povo. Estes propsitos,segundo os escritores bblicos, sempre representaram a justia e a misericrdia de Deus, em contrastenotvel com os caprichos dos deuses dos povos contemporneos de Israel.

    O que d profecia do Velho Testamento a sua qualidade singular a riqueza da revelaodivina por intermdio dos seus maiores vultos. Os profetas no eram homens perfeitos, e noprecisamos idealiz-las para aumentar a sua glria. Eram homens que conheciam a sua ntimafraternidade com Deus, aos quais era transmitido algo do esprito do Senhor. Eram homens quecontemplavam o mundo luz do que tinham visto no corao de Deus, homens que falavam porqueeram constrangidos, e no porque queriam falar, aos quais Deus impusera a obrigao de transmitir asua mensagem. Entregavam a palavra relevante no somente s necessidades da hora, mas deimportncia permanente para os homens. 32

    Os escritores do Antigo Testamento no faziam uma distino formal entre a revelao geral e

    a revelao especial. Deus conhecido em parte por todas as suas operaes no mundo fsico e naconscincia do homem. Dotado para reconhecer a mo de Deus nas obras da criao, o homem notem a capacidade de adquirir, no seu estudo das maravilhas da natureza, o conhecimento de Deus queo seu corao pede. Na revelao especial, por intermdio de seus agentes vocacionados e inspirados,Deus confirma e aumenta o conhecimento que constantemente transmite na manuteno do mundofsico em condies de preservar a vida humana e satisfazer s suas necessidades. Deus a fonte davida, e o conhecimento dele introduz o homem a uma vida cada vez mais perfeita (Sl 19). Parareforar o que j notamos, no se encontra no Antigo Testamento a mnima justificao da idia deque o homem possa alcanar, por seus prprios esforos, sem o auxlio divino, qualquer conhecimentodo. Senhor.

    O Criador opera, a criatura contempla; o Senhor se apresenta, o homem percebe; o Senhor fala,

    o homem ouve; o Senhor se revela, e o homem entende algo da sua majestade, da sua santidade, dasua justia e da sua glria.Deus chega aos homens por meio das suas aes benignas o por intermdio dos seus

    mensageiros. No seu concerto Deus entra em relaes pessoais com Israel. Assim a revelao prpriade Deus reconhecida em todas as pginas do Velho Testamento. O Criador do homem no ficaescondido, nem to preocupado com a grandeza das suas obras que no possa reconhecer e atender snecessidades das ovelhas de seu pasto (Jr 23.1). O seu Esprito opera constantemente em favor dahumanidade. O seu cuidado se estende a todas as obras da criao (Sl 145).

    H cegos e obstinados que no reconhecem a autoridade de Deus. Os profetas e salmistasexplicam como as dvidas quanto no poder de Deus devem ser corrigidas pela observao das suasmaravilhosas obras (Is 40.25,26). No Salmo 94.3 e seg., o salmista corrige as idias falsas dos mpios

    de Israel. Senhor, at quando os mpios, at quando os perversos exultaro? Derramam as suas

    palavras arrogantes, todos os malfeitores se vangloriam. Esmigalham o teu povo, Senhor, e afligem atua herana. Matam a viva e o peregrino, e tiram a vida do rfo; Ento dizem: O Senhor no v; nopercebe o Deus de Jac. Entendei, insensatos dentre o povo! Nscios, quando sereis sbios? Quemplantou os ouvidos, no ouve? Quem formou os olhos, no v? Quem disciplina as gentes, nocastiga?.

    A Revelao da Pessoa de Deus no Velho Testamento Incompleta

    No h em qualquer parte do Antigo Testamento a mnima sugesto de que Deus tenha

    revelado aos profetas o conhecimento completo da sua Pessoa. A mensagem de cada um dos escritoresera limitada pela capacidade do autor, e pelas circunstncias religiosas do povo da poca. Mas todos

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    os mensageiros de Deus concordam na exposio das verdades eternas da revelao divina. evidenteque apresentaram alguns ensinos de valor temporrio para o seu povo contemporneo, e que tmImportncia apenas histrica tanto para judeus como para cristos. H, todavia, verdades teolgicas noVelho Testamento que Deus revelou progressivamente por intermdio de seus mensageiros. So estasdoutrinas que prendem especialmente o nosso interesse neste estudo. A revelao se fez em muitaspartes e de muitas maneiras. Um profeta, por exemplo, estava preparado, nas circunstncias em quese achava, para entender, receber e transmitir, embora imperfeitamente, a santidade do Senhor. Outroestava preparado para entender e receber, em parte, a revelao da justia divina. A outros foirevelado, em muitas partes e de muitas maneiras, o amor fiel de Deus. A todos os profetas foirevelada alguma coisa dos propsitos de Deus para com o povo escolhido, de acordo com ascondies polticas e religiosas da poca. Mas claro que nenhum profeta, nem todos juntos puderamdar uma revelao exaustiva da Pessoa de Deus e dos mistrios de todos os seus propsitos.

    Quanto ao modo de comunicar-se, Deus podia falar a Moiss Como qualquer um fala com oseu amigo, ou nos relmpagos e troves do Sinai , ou na voz mansa e delicada dirigida ao profetaElias, ou na nuvem de fumaa sobre a arca do tabernculo. Todos estes smbolos, e outros meiosusados, significam a presena de Deus, indicando ao mesmo tempo que, na plenitude da sua Pessoa.Deus no pode ser conhecido perfeitamente pelos poderes intelectuais do homem.

    Os meios tcnicos usados por outros povos primitivos, no esforo de descobrir a vontade deseus deuses, como a sorte, sonhos e augrios, usavam-se tambm pelos israelitas em certos perodos ecircunstncias da sua histria, mas so condenados ou abandonados mais tarde pelos profetas, comoincompatveis com a f espiritual da profecia (Am 3.7; Jr 23.27). Assim o contedo da revelao oDeus verdadeiro, o Deus vivo, o rei sempiterno (Jr 10.10). Deus se revela como o Senhor cujoscaminhos so mais altos do que os nossos caminhos, e cujos pensamentos so mais altos do que osnossos pensamentos (Is 55.8).

    Na linguagem bblica, o carter pessoal do Senhor revela-se em seu Nome. No AntigoTestamento, o nome significa o que ns designamos por personalidade. Assim, na revelao do seuNome a Moiss, Deus lhe comunicou conhecimento da sua Pessoa (x 3.11-15). Deus ento veio a sernotavelmente acessvel a Moiss. Falou com ele como qualquer fala com o seu amigo (x 33.11), e

    fez passar por diante dele toda a sua bondade (x 33.19). Na comunicao do seu Nome, Deusestabelece comunho pessoal com o seu povo (1 Reis 1.29; Sl 9.9 e seg.).Ao passo que o Antigo Testamento reconhece claramente a impossibilidade de uma revelao

    perfeita de Deus ao entendimento limitado do homem, no concorda com o conceito filosfico-teolgico de que Deus completamente outro. Estritamente falando, o Velho Testamento apresentaum modo de pensar sobre a relao de Deus com a humanidade, antes que uma doutrina formal deDeus. A afinidade espiritual entre Deus e o homem plenamente confirmada pelo descanso doesprito do homem na comunho com o Esprito do Senhor.

    Quanto a mim, como justia, verei a tua face; Satisfar-me-ei quando acordar na tuasemelhana (Sl 17.15).

    Embora no seja possvel a comunicao completa da natureza do Senhor ao homem, a

    revelao concedida aos escritores do Antigo Testamento de Deus mesmo. real, verdadeira, necessria, aproveitvel para o homem, embora seja incompleta. Os israelitas entenderam, talvezmelhor do que o homem moderno, a verdade da transcendncia de Deus, reconhecendo que no fsico, mas Esprito pessoal, justo e benigno, e sempre coerente em falar e atuar de acordo com a suanatureza santa.

    A Distino entre a Revelao e a Inspirao

    Como se faz distino entre a teologia do Velho Testamento e a histria da religio do povo deIsrael, assim se faz distino tambm entre a revelao e a inspirao. A revelao obra exclusiva deDeus. a comunicao do conhecimento da sua Pessoa, de seus propsitos e da sua vontade ao

    homem incapaz de descobrir, pelos poderes do seu prprio intelecto, estas verdades divinas. oprocesso pelo qual Deus se faz conhecido ao homem.

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    A inspirao o termo que descreve, no sentido bblico, a habilitao dos escritores queproduziram os livros da Bblia. A inspirao significa a atuao do Esprito de Deus no esprito dehomens idneos, escolhidos para receberem e transmitirem as mensagens da revelao divina.

    Ora, com o estudo cuidadoso do estilo literrio e do assunto dos livros do Velho Testamento,escritos atravs de um longo perodo da histria de Israel, torna-se bem claro que a inspirao foicondicionada ou limitada pela experincia, cultura e capacidade intelectual dos escritores, ou pelosseus dons. Deus no podia usar homens voluntariosos e rebeldes contra a vontade divina, mas podiaconstranger homens retos e bons, como Jeremias, contra a sua preferncia pessoal, para receber etransmitir, ao povo obstinado e rebelde, a mensagem do Senhor, mesmo quando tinham que enfrentaros perigos da perseguio e da morte. Os escritores ficaram habilitados para receber e transmitir tantoda verdade quanto o povo podia entender e aproveitar.

    Quando reconhecemos que a inspirao no anulou a personalidade dos escritores bblicos,mas que fatores humanos e divinos operam juntos na produo dos livros do Velho Testamento,atravs de longos perodos histricos, no podemos deixar de reconhecer mudanas no ponto de vistados escritores. Quando encontramos conceitos imperfeitos de Deus nos livros histricos, podemosreconhecer o desenvolvimento destes conceitos nos livros profticos, no porque Deus mudou, mas

    porque, com amor fiel, hesed,33

    amparou o povo atravs das crises da sua histria, e, com as suasprofundas experincias religiosas, os profetas ficaram habilitados para entender mais perfeitamente asantidade, a justia e a benignidade do Senhor.

    No devemos ficar perturbados com os dois pontos de vista quanto fundao da monarquia.H valores religiosos nos dois, como se v na leitura cuidadosa de Samuel.

    Quando notamos que a Babilnia no foi destruda pelos medos, segundo as predies de Is13.17 e Jr 51.11, mas pelos persas, sob a liderana de Ciro, no ficamos desconfiados da inspiraodestes mensageiros de Deus, porque na sua essncia a predio foi cumprida.

    Os problemas morais, bem como as discrepncias literrias do Velho Testamento, resolvem-se

    luz das limitaes humanas dos escritores, embora inspirados pelo Esprito do Senhor.

    luz destes fatos, entende-se claramente a unidade da revelao de Deus nas Escrituras. Adeclarao dogmtica de que a Bblia a palavra de Deus, e deve ser aceita pela f, suficiente paramuitas pessoas, mas pode ter o efeito de afastar outros que querem saber de provas razoveis em suadefesa. Deve-se notar, todavia, que a Bblia no foi escrita meramente para satisfazer curiosidadeintelectual do homem, mas para lhe revelar a vontade e o propsito do Senhor na salvao. Apregao da mensagem da Bblia uma poderosa defesa da sua verdade. Mas a f tem queacompanhar a convico intelectual da verdade da revelao divina.

    A finalidade ou o propsito de Deus na revelao mais do que o esclarecimento intelectual ou

    a instruo do povo em doutrinas teolgicas. Tem por fim o estabelecimento de uma relao pessoalentre Deus e os homens. Andarei no meio de vs, e eu vos serei por Deus, e vs me sereis por povo(Lv 26.12). Deus revelou o seu amor (ahabah - hfbAha)hfbAha)hfbAha)hfbAha))34 no concerto que fez com os patriarcas (Gn17.1-6), e mais tarde com Israel no Monte Sinai (x 19.4-6). Demonstrou o seu amor imutvel (hesed)nas atividades persistentes em favor de Israel atravs da sua histria, e especialmente em perodos decrise e calamidade.35 Alguns profetas interpretaram o significado do concerto pela figura do

    33Hesed significa o amor firme, persistente, imutvel, no cumprimento das promessas de seu concerto com Israel, mesmoquando o povo falhava.34ahabah. O