tempos distÓpicos - puc minas

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Primeiro semestre de 2021 nº 23 ISSN 2525-4731 REVISTA MAIS: O padre Júlio Lancellotti fala sobre a luta concreta pelos direitos da população marginalizada TEMPOS DISTÓPICOS Uma reflexão sobre o radicalismo ideológico, que ataca a democracia, as instituições e nega a ciência

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Page 1: TEMPOS DISTÓPICOS - PUC Minas

Primeiro semestre de 2021nº 23

ISSN 2525-4731REVISTA

MAIS: O padre Júlio Lancellotti fala sobre a luta concreta pelos direitos da população marginalizada

TEMPOS DISTÓPICOS

Uma reflexão sobre o radicalismo ideológico, que ataca a democracia, as

instituições e nega a ciência

Page 2: TEMPOS DISTÓPICOS - PUC Minas

Ana Paula Guedes

Arquitetura hostil ou defensiva? A questão é proposta no artigo da arquiteta e urbanista, professora do IEC PUC Minas, nas páginas 8 e 9. De acordo com ela,

a arquitetura hostil cria divisões sociais e é também conhecida como

arquitetura defensiva ou design urbano defensivo e estas terminologias são associadas a “pontas de ferro anti-sem-teto”, peças pontiagudas instaladas em superfícies planas para torná-las espaços difíceis ou desconfortáveis de dormir. O termo, segundo ela, aparece em “estudos representando aspectos arquitetônicos que edificam um espaço descontínuo e que limitam a experiência do espaço urbano, do caminhar, do viver e reforçam a ideia da fragmentação”. A professora questiona: as pessoas estão sendo projetadas para fora de espaços públicos ou o projeto defensivo é crucial para a segurança pública?

Teresa Cristina Alvisi

Mestre em Gerontologia Social pela PUC-SP, a professora do Curso de Fisioterapia do Campus Poços de Caldas discorre, em artigo nas páginas 82 e 83, sobre

a importância de se combater o ageísmo ou etarismo, que é o

preconceito, a intolerância contra a idade avançada, agravada pela pandemia. Pela primeira vez, o mundo tem mais avós do que netos. São 705 milhões de pessoas acima de 65 anos contra 680 milhões entre zero e quatro anos e até 2050 a proporção será de dois idosos para cada criança. “Somos os novos velhos: com direito à produção, ao respeito, às diversidades. O maior combate contra o preconceito quanto à velhice será a representatividade do idoso como um ser humano capaz de produzir e desempenhar funções comuns na sociedade”, defende a professora.

Revista PUC Minas nº 21 3

Grão-chanceler: Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Reitor: Prof. Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães

Chefe de Gabinete do Reitor: Prof. Paulo Roberto de Sousa

Pró-reitores: Profª Maria Inês Martins (Graduação) Prof. Sérgio de Morais Hanriot (Pesquisa e de Pós-graduação) Prof. Wanderley Chieppe Felippe (Extensão) Prof. Paulo Sérgio Gontijo do Carmo (Gestão Financeira) Prof. Rômulo Albertini Rigueira (Logística e Infraestrutura) Prof. Sérgio Silveira Martins (Recursos Humanos) Secretário de Comunicação: Prof. Mozahir Salomão Bruck

Secretária de Cultura e Assuntos Comunitários: Profª Maria Beatriz Rocha Cardoso

Secretário Geral: Prof. Ronaldo Rajão Santiago

Secretário de Planejamentoe Desenvolvimento Institucional: Prof. Carlos Barreto Ribas

Expediente Secretário de Comunicação: Prof. Mozahir Salomão Bruck

Edição: Marisa Cardoso

Reportagem: Ana Paula Pimenta (Betim) Bruna Santos (São Gabriel) Bruno Batiston (Poços de Caldas) Carolina Marques (PUC Minas Virtual) Felipe Caixeta (Diretoria de Educação Continuada) Fernando Ávila (Proex) Júlia Mascarenhas (Praça da Liberdade) Leandro Felicíssimo (Coração Eucarístico) Lívia Arcanjo (Coração Eucarístico) Luiza Rocha (Praça da Liberdade) Michelle Stammet (Coração Eucarístico) Valéria Prochnow (Diretoria de Educação Continuada)

Fotografia: Bruno Timóteo e Raphael Calixto Capa: Quinho Projeto gráfico e direção de arte: Brava Design Diagramação: Brava Design

Tendo como missão o desenvolvimento humano e social de alunos, professores, funcionários e comunidades, a PUC Minas, fundada em 1958, tem buscado contribuir para a formação ética e solidária de profissionais competentes, humana e cientificamente, mediante a produção e disseminação de conhecimento, arte e cultura. Oferece 118 cursos, incluindo os de graduação presencial, a distância e superior de tecnologia; 598 de pós-graduação lato sensu; e 29 de pós-graduação stricto sensu. Endereço: Av. Dom José Gaspar, 500 | Coração Eucarístico | Belo Horizonte | MG CEP 30.535-901 - [email protected] | pucminas.br

revista

ISSN 2525-4731

Colaboraram nesta edição*

* A Revista PUC Minas não se responsabiliza pelas opiniões expressas pelos autores nos artigos assinados.

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Arquivo pessoal

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Page 3: TEMPOS DISTÓPICOS - PUC Minas

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4 pucminas.br/revista Revista PUC Minas nº 22 5

Ameaças à democracia e resistência

Esta Edição 23 da Revista PUC Minas põe em tela um assunto mais do que controverso, profundamente preocupante: o radicalismo ideológico que pode colocar em risco a democracia e se nutre da intolerância e do negacionismo. Nossa reportagem de capa busca refletir sobre essa era de extremos que tem sido marcada, em vários países do mundo, destacadamente no Brasil, pela polarização política e contínuo desrespeito e impossibilidade de quaisquer debates. Fake news, agressões morais e físicas, desqualificações, silenciamentos têm sido as armas postas em jogo.

Se sombras e trevas ameaçam a democracia, por outro lado a resistência do padre Julio Lancelotti lança luz sobre o mundo. Nesta edição, trazemos a transcrição na íntegra da Aula Magna proferida pelo padre Lancelotti na PUC Minas para alunos e professores da Faculdade de Comunicação e Artes, Instituto de Ciências Humanas e Instituto de Ciências Sociais da Universidade. Aula de humildade, de resistência, de cidadania e de amor aos excluídos.

Na PUC Minas, podemos assim dizer, vários projetos se somam a essa lógica da busca de um mundo mais esclarecido e justo. Os projetos Qualidade de vida para Todos, Mãos que comunicam, o PUC Ensina, a presença extensionista da Universidade junto aos atingidos em Brumadinho são testemunhos efetivos de que o diálogo e a solidariedade são os caminhos possíveis para a transformação social. Destaque também nesta edição para os 50 anos da Faculdade de Comunicação e Artes, da PUC Minas. Muito a celebrar, agradecer e, de imediato, perscrutar e inventar os novos caminhos. Parabéns, FCA.

Prof. Mozahir Salomão BruckSecretário de Comunicação

10PÁG.

6 e 7 – Diálogos

8 e 9 – Artigo | Arquitetura hostil ou defensiva? Elementos arquitetônicos nesse tipo de ação reforçam divisões sociais

10 a 15 – Humanismo | padre Júlio Lancellotti fala da luta para tornar as cidades espaços inclusivos

16 e 17 – Sustentabilidade | Poços de Caldas investe em mobilidade elétrica com iniciativa pioneira que conta com a participação da PUC Minas

18 e 19 – Comportamento | Livro descreve como a gratidão pode ser um sentimento benéfico

20 a 22 – Educação Física | Projeto de extensão proporciona qualidade de vida de forma online

23 a 25 – Inclusão | Alunos do Curso de Medicina do Campus Betim desenvolvem projeto que ensina Libras para atendimento médico

26 a 28 – Saúde | Por que mesmo com o Programa de Imunização Nacional sendo referência a vacinação contra a Covid-19 não se mostra igualmente eficiente?

29 e 30 – Micronotícias

31 – Ciências Contábeis | NAF alcança primeiro lugar em ranking de atendimentos da Receita Federal

32 a 41 – Especial | Professores refletem sobre o radicalismo ideológico e o risco desse comportamento à democracia

42 a 44 – Cidadania | Nesp investe em escola de formação política e assessoria de acompanhamento dos poderes públicos

Comunicação

45 a 49 – FCA comemora 50 anos

50 e 51 – Estudantes do Curso de Relações Públicas desenvolvem plano para o terceiro setor

52 a 54 – Educação | Projeto PUC Ensina oferece reforço escolar para educação básica e média pela internet

55 – Centenário | Caderno temático aborda contribuições de Paulo Freire

56 a 58 – Graduação Tecnológica | Cursos firmam parcerias com empresas para atender demandas reais do mercado de trabalho

Tecnologia

59 a 61 – Curso de Engenharia de Software desenvolve projeto para introdução ao pensamento computacional para crianças

62 e 63 – Área de Jogos Digitais conquista o mercado

64 e 65 – Engenharias | Ipuc investe em pesquisa e desenvolvimento de protótipo de mão robótica

66 e 67 – Engenharia Civil | Projeto do Curso analisa a gestão de resíduos sólidos em obra da Arena MRV

68 a 70 – Cultura Religiosa | Disciplina obrigatória em todos os cursos de graduação reflete sobre os sentidos da vida

Extensão

71 a 73 – Práticas curriculares de extensão tornam-se um dos diferenciais da PUC Minas

74 a 77 – Programa em parceria com a Arquidiocese de BH completa dois anos de apoio às vítimas da tragédia ambiental em Brumadinho

78 e 79 – Projeto garante direitos de pessoas em situação de violência e vulnerabilidade social

80 e 81 – Projeto Atitude assiste comunidade no entorno da Unidade São Gabriel

82 e 83 – Artigo | A importância de se combater o ageísmo, a intolerância contra a idade avançada

84 e 85 – Espaço do Jornal Marco| Redes sociais tornam-se celeiro para pequenos negócios

86 – Memória Viva | 25 anos da PUC Minas Betim

97 a 90 – PUC em Números

Reprodução/Instagram

Page 4: TEMPOS DISTÓPICOS - PUC Minas

Revista PUC Minas nº 22 7

DIÁLOGOS

uitas ciências têm se dedicado a explicações para a ascensão, mundo afora, de extremismos e totalita-rismos, sustentados pela propagação de mentiras, de ataques fratricidas e por diferentes líderes a serviço da banalização do mal. Afinal, por que a humanidade, diante de tantas possibilidades para promover a vida, com mais inclusão e dignidade, desperdiça oportuni-dades? Na perspectiva da fé, há ainda os que pergun-tam sobre a razão de Deus permitir sucessivos equívo-cos dos seres humanos – erros que provocam a morte de muitos inocentes. Santo Agostinho, na sua singular inteligência, explica: o mal não é obra de Deus, mas resultado de inadequado emprego do livre-arbítrio pela humanidade. O mal surge e se fortalece quando o ser humano se distancia de Deus. Desse afastamento emergem dois pilares que sustentam o mal: a indife-rença e a desesperança. Pode-se dizer, assim, que ex-tremismos e totalitarismos são frutos destes pilares, a serem permanentemente combatidos.

O Papa Francisco, por diversas vezes, dirigiu-se à humanidade para denunciar as graves consequên-cias da falta de esperança e de compaixão. São suas as expressões “globalização da indiferença” e “câncer da desesperança”, adequadas para denunciar o efeito devastador desses dois fenômenos na existência de cada pessoa e em toda a humanidade. Infelizmente, sem apropriada contrarreação, a desesperança e a in-diferença abrirão caminho para o desprezo pela vida, com a projeção de totalitarismos, de extremismos, o desapreço à fé professada com autenticidade, à ciência e à verdade. Um vórtice que tudo devasta.

A ruptura do complexo ciclo que atenta contra a humanidade, multiplicando males, exige superar a desesperança e a indiferença, para reconquistar a força e a coragem sem as quais não se pode avançar, encontrando novos modos de viver e, consequente-

mente, transformar o mundo. Uma forma de agir “ao sabor do Evangelho”, conforme define São Francisco de Assis, citado pelo Papa Francisco na abertura de sua Carta Encíclica Fratelli Tutti. E sempre é oportuno lembrar: a vida que supera a morte é a que se torna oferta. Trata-se da lição de Jesus Cristo, amado Filho de Deus, que morreu na Cruz e ressuscitou, indicando o caminho para a humanidade.

Neste tempo em que tantos semeiam o ódio, dedi-cam-se a palavrórios, especialmente nas redes sociais, muitos pensam que o melhor caminho é retribuir na “mesma moeda”. Disseminar fake news para atacar quem propaga mentiras. Ridicularizar, com exposi-ções na internet e em outras plataformas de comu-nicação, as pessoas que buscam ferir reputações dis-seminando calúnias. Definitivamente, não são essas reações que irão vencer extremismos, totalitarismos e tantas outras manifestações do mal. “Cada um de nós é chamado a ser um artífice da paz, unindo e não dividindo, extinguindo o ódio em vez de conservá-lo, abrindo caminhos de diálogo em vez de erguer novos muros”, orienta o Papa Francisco.

O amor, a ternura e a compaixão desconcertam ce-nários configurados pelo ódio, têm força para transfor-mar intolerantes, vencendo as barreiras que impedem muitos de enxergarem o mundo com mais lucidez. Há uma espiral de violência que precisa ser vencida, resgatando seus agentes das trevas que os aprisionam nas irracionalidades. Homens e mulheres que pro-pagam o ódio por não terem algo diferente a oferecer - precisam ser curados do “câncer da desesperança”, instruídos sobre as consequências da “globalização da indiferença”. “Não à cultura do confronto”: eis o pedido do Papa Francisco. Seja, cada pessoa, agente da espe-rança, para uma efetiva reação aos extremismos que ferem de morte a humanidade.

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AGENTES DA ESPERANÇA“Infelizmente, sem apropriada contrarreação, a desesperança e a indiferença abrirãocaminho para o desprezo pela vida, com a projeção de totalitarismos, de extremismos, o desapreço à fé professada com autenticidade, à ciência e à verdade” Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Grão-chanceler da PUC Minas, Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

ma universidade resulta de um vasto conjunto de contextos, circunstâncias e condições: projetos, desejos, projeções, planejamentos, visão de futuro, mas tam-bém missão, responsabilidades, limites e memórias. E se materializa, cotidiana-mente, no exercício de seu papel social, que também é seu carisma, de buscar avançar na produção de conhecimento e na formação e qualificação da comunida-de acadêmica que a institui.

Especialmente o último ano parece ter acelerado e antecipado mudanças que o ensino superior, se não antevia, pelo me-nos imaginava. Difícil acreditar que toda a educação retornará àquelas mesmas si-tuação e configuração de março de 2020, quando adotou-se o regime letivo remoto em função da lamentável intensificação da pandemia. Têm sido meses dramáticos em termos da saúde pública; trágicos em termos das centenas de milhares de vidas que se perderam, e de intensos e graves desafios para toda a sociedade.

Se o momento requer prudência, nos pede também entrega, coragem e arrojo. Se somos convocados a perscrutar com brevidade o futuro da educação, o pre-sente nos impõe, por sua vez, desafios para nossa sustentabilidade e imple-mentação de processos inteligentes e ágeis que forneçam respostas eficientes aos novos contextos e demandas, que exigem soluções imediatas.

O ensino superior que queremos e que podemos ser deve erguer-se deste

momento decisivo. Nossas decisões de hoje – os rumos e arranjos que consti-tuiremos - definirão a universidade de amanhã. Não há dúvida de que vivemos uma hora vital e em que temos que ter o discernimento ponderado pela coragem de nos reinventarmos, pelo cuidado com nossas responsabilidades mais imedia-tas e o respeito à história da educação superior no País.

Na PUC Minas, a convocação a toda a comunidade acadêmica é para que este-jamos abertos ao novo, às mudanças que se desenham e que já vão se implemen-tando. Que sejamos todos protagonistas da Universidade que, no futuro, terá or-gulho de ter tomado, no momento que dela se exigiu, as decisões corretas. Que compreende que, em sua natureza e papel de servidora, esta Instituição não pode, por teimosia e mesmo por arro-gância, entender que é ela quem ditará os tempos, os modos, necessidades e de-sejos dos estudantes, que são o sentido de seu trabalho.

Não me parece exagero afirmar que a tradição da PUC Minas em ser uma univer-sidade contemporânea nunca chegou a um momento tão determinante. Orgulhosos de nosso passado coerente com valores que lhe são muito próprios – de defesa da vida, da justiça e de uma cultura de paz –, a PUC Minas já constrói os caminhos que a leva-rão para um futuro que se avizinha com brevidade. E todos estamos convidados a esta construção e a esta caminhada.

REINVENTAR-NOS SEMPRE

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“Na PUC Minas, a convocação a toda a comunidade acadêmica é para que estejamos abertos ao novo, às mudanças que se desenham e que já vão se implementando. ”Professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães Reitor da PUC MinasBispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte

6 pucminas.br/revista

Page 5: TEMPOS DISTÓPICOS - PUC Minas

A imagem amplamente divulgada, no início deste ano, do padre Júlio Lancellotti quebrando, a marretadas, pedras pontiagudas instaladas de-baixo de um viaduto na Zona Leste de São Paulo repercutiu: a ação da Prefeitura que, sob o pretex-to de coibir o descarte de lixo no local, suprimiu um espaço usado por pessoas em situação de rua, trouxe à tona a discussão sobre a cidade e seus usos e reacendeu o debate sobre a arquitetura hostil. O termo, cunhado pelo repórter Ben Quinn no jornal britânico The Guardian, apareceu pela primeira vez em 2014.

A matéria, intitulada Anti-homeless spikes are part of a wider phenomenon of “hostile architectu-re” (As pontas de ferro anti-sem-teto são parte de um fenômeno mais amplo conhecido como “ar-quitetura hostil”), surpreendeu cidadãos de todo o mundo que passaram a notar as práticas listadas por Quinn. No texto, ele discorre sobre como o de-senho urbano influencia o comportamento e o convívio, criticando a exclusão de moradores em situação de rua dos grandes centros.

Importante observar que a arquitetura hostil não afeta apenas os humanos – as paisagens que projetamos também podem ser manipuladas para impedir todos os tipos de atos. É uma pena que também se aplique à natureza: há o registro de uma foto em um rico subúrbio residencial de Bristol, na Inglaterra, onde a solução encontrada para manter os carros dos moradores limpos foi inserir pontas de metal na extensão dos galhos das árvores, evitando, assim, que os pássaros pou-sem e defequem nos veículos.

A arquitetura hostil é também conhecida

como arquitetura defensiva ou design urbano defensivo e estas terminologias são associadas a “pontas de ferro anti-sem-teto”, peças pon-tiagudas instaladas em superfícies planas para torná-las espaços difíceis ou desconfortáveis de dormir. Outras medidas incluem parapeitos de janelas inclinados para as pessoas não se senta-rem; bancos com braços posicionados para im-possibilitar que deitem e aspersores que “não estariam regando nada”.

Utilizada também para conter skatistas e uri-nação nos espaços públicos, a arquitetura hostil, de acordo com seus críticos, reforça divisões so-ciais e cria problemas para todos, principalmente para crianças, idosos e pessoas com deficiências. Atualmente, o termo aparece em estudos repre-sentando aspectos arquitetônicos que edificam um espaço descontínuo e que limitam a experi-ência do espaço urbano, do caminhar, do viver e reforçam a ideia da fragmentação.

Rowland Atkinson, codiretor do Centro de Pes-quisa Urbana da Universidade de York, sugere que trata-se de uma arquitetura que parte de um pa-drão mais amplo de hostilidade e indiferença em relação à diferença social e à pobreza produzida nas cidades, chegando a afirmar que “seria uma espécie de agressão aos pobres”.

Todas essas são maneiras de dizer “não se sin-ta em casa” em público. Embora Nova York tenha adicionado mais espaços públicos na última déca-da - incluindo novas praças e parques, áreas para pedestres antes usadas para carros e áreas indus-triais recuperadas - a arquitetura hostil naquela cidade e em outras localidades tem atraído cada

vez mais uma reação dos críticos, que dizem que tais medidas são desnecessárias e visam despro-porcionalmente às populações vulneráveis.

A arquitetura hostil pode ser tão sutil quanto simplesmente não fornecer um lugar para sen-tar, tão óbvia quanto uma parede ou cerca para manter as pessoas ou animais do lado de fora ou tão agressiva quanto pregos de metal embutidos em uma superfície. Esses designs muitas vezes passam despercebidos na movimentada paisa-gem urbana. “Estamos construindo barreiras e paredes ao redor de prédios de apartamentos e espaços públicos para impedir a entrada da di-versidade de pessoas e usos que compõem a vida urbana”, já disse Jon Ritter, historiador da arqui-tetura e professor da Universidade de Nova York em artigo intitulado “Hostile architecture”: how public spaces keep the public out (“Arquitetura hostil”: como os espaços públicos mantêm o pú-blico afastado).

As cidades há muito constroem muros e ou-tras fortificações defensivas para proteção. Ainda hoje, barreiras de metal e concreto são colocadas ao redor de prédios públicos e praças e em outros lugares para deter veículos e prevenir possíveis ataques terroristas. “O que é hostil para alguns é defensivo para outros”, aponta Ritter.

Para bem ilustrar o quão polêmico é esse tema, compartilho aqui trecho de um interessante de-bate sobre essa questão, que aconteceu em 2017 entre o arquiteto James Furzer, cujos projetos ten-tam combater a arquitetura hostil, e Dean Harvey, cofundador da Factory Furniture, empresa que produz muitos dos ofensivos bancos “hostis”.

Para Furzer, estamos projetando as pessoas para fora dos espaços: “Existem projetos e teorias que encorajam o autopoliciamento e a autosse-gurança. Isso em si é uma forma de arquitetura hostil. Eu entendo seus requisitos até certo pon-to, mas sinto que mais recentemente tornou-se agressivo.”

Por outro lado, Harvey acredita que está cum-prindo uma demanda: “Quando projetamos o banco de Camden, (...) o cliente exigia que as pes-soas não pudessem usá-lo para dormir, esconder drogas ou patinar. Quando você nivela todas essas coisas, sai como uma peça bastante defensiva, mas

tudo o que fizemos foi habilitá-la para ser usada como uma mobília.”

Em seguida, Harvey aponta que “um banco não é lugar para ninguém passar a noite” e Furzer concorda, mas faz uma ressalva ao dizer que “(...) se estamos excluindo (os sem-teto) de dormir em bancos, precisamos incluí-los em outro lugar. Pre-cisamos começar a projetar nossas paisagens ur-banas com algum tipo de área segura e inclusiva”.

Dito isso, é possível projetar um espaço público para desencorajar o comportamento antissocial e encorajar o bom comportamento? Em Londres, arquitetos trabalharam com uma comunidade lo-cal em Brixton, no sul da cidade, para desenvolver um espaço público para eles nos pontos de ôni-bus. Devido à história obscura do local, a comuni-dade ficou bastante cética.

The Edible Bus Stop (O ponto de ônibus para se comer) foi capaz de superar isso com o poder do bom design e da vegetação. Ao criar o espaço com voluntários da comunidade, eles foram capazes de desenvolver um sentimento de orgulho em torno do ambiente, e um senso de pertencimen-to os fazia cuidar dele, além de torná-lo inclusivo desde o início. A The Edible Bus Stop inclui uma horta para a comunidade cuidar, cultivar e comer, é claro! Após período inicial de teste, os bancos permaneceram, o local manteve-se limpo e sem vandalismo, ou seja, conseguiu-se criar um com-portamento social.

No entanto, há quem argumente que acusar um mobiliário ou uma área da cidade de arquite-tura hostil é ir longe demais para as motivações de conselhos profissionais, arquitetos e designers. As alças e os assentos inclinados são apenas caracte-rísticas de design e não excluem ninguém.

O que você acha? As pessoas estão sendo pro-jetadas para fora de espaços públicos ou o proje-to defensivo é crucial para a segurança pública? Numa sugestão mais abrangente, John Ruskin - escritor, crítico de arte, sociólogo (1819-1900) - propôs que busquemos em nossas edificações duas coisas: queremos que elas nos abriguem; e queremos que elas falem conosco.

* Arquiteta e urbanista, professora em Neurociência Aplicada à Arquitetura no IEC PUC Minas

ARQUITETURA HOSTILOU DEFENSIVA?De acordo com seus críticos, elementos arquitetônicos nesse tipo de ação reforçam divisões sociais, criando problema para todos

ARTIGO | *ANA PAULA GUEDES

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Page 6: TEMPOS DISTÓPICOS - PUC Minas

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“ A especulação imobiliária governa

as cidades”

É uma grande responsabilidade estar com vocês, mas, com toda a simplicidade, partilhar um pou-co da vida e dessa luta constante e dessa confusão contínua. Logo, quando foi falado da confusão, eu lembrei o que dizia o grande e querido teólogo José Comblin, que foi meu professor e grande amigo, que dizia que o amor é a desordem. E amar nesse siste-ma que nós vivemos é desordenar o nosso mundo.

Uma das questões que me chamam muita aten-ção é o livro As Lógicas da Cidade, que é de uma pes-

“ O amor é a desordem”

soa muito querida em Belo Horizonte, no Brasil e no mundo, o padre Libânio [João Batista Libânio]. As cidades são, e isso lembrava muito Dom Celso Queiroz, que foi secretário geral da CNBB e bispo auxiliar de Catanduva, São Paulo, a vitrine da mo-dernidade. A cidade hoje é o lugar do contraste, do conflito, é onde se explicita a desigualdade, onde estão os grandes conflitos do modelo neoliberal, desse capitalismo que intrinsecamente é desuma-no e causa a desumanização da vida. A cidade é esse local do conflito, do grande desafio. A primeira coi-sa que nós temos que ter presente é que a luta pela humanização da cidade, para que a cidade seja uma casa comum, é uma luta histórica. Essa dimensão que nós perdemos: a dimensão da historicidade da luta. Muitas vezes nós lutamos achando que nossa intencionalidade basta. A luta não é feita de inten-cionalidades, ela é feita de historicidade. Nós conhe-cemos muito a história da teologia e conhecemos muito pouco a teologia da história. É preciso nos debruçarmos mais sobre essa reflexão da teologia da história, isto é, como Deus se faz presente na história e como a presença de Deus na história vai fazendo a busca da transformação. E essa transfor-mação vai acontecendo no meio de desafios, con-flitos, confusão, desordem, enfrentamento e, até, desobediência civil. Não podemos pensar que as mudanças e, principalmente, a mudança amorosa, que é feita por amor, vai acontecer em um passe de mágica. É uma luta difícil, ferrenha, uma luta que vai se dar na história. Cabe a nós, nesse momento escuro e difícil da história, carregar a luz para que ela não se apague.

Aos 72 anos e mais de três décadas de sacerdó-cio, o padre Júlio Lancellotti é uma referência nacio-nal na defesa dos direitos humanos e das minorias marginalizadas. Nos últimos anos, no entanto, o coordenador da Pastoral de Rua da Arquidiocese de São Paulo vem se destacando com sua presença forte e atuante junto à população que vive nas ruas da capital paulista. A partir do seu trabalho, o peda-gogo, descendente de imigrantes italianos, vive esse cotidiano da cidade, esse espaço que ele mesmo de-fine “como o lugar do contraste, do conflito, onde se explicita a desigualdade”.

Para falar dessa vivência, o padre Lancellotti foi o convidado de aula conjunta promovida, em abril, pela Faculdade de Comunicação e Artes (FCA), Instituto de Ciências Humanas (ICH) e Ins-tituto de Ciências Sociais (ICS), por meio do canal PUC Minas Lives, no You Tube. Com o tema Como fazer da cidade uma casa comum: alternativas e caminhos para enfrentar a pobreza, o religioso deu uma verdadeira lição sobre como viver na prática o amor e a compaixão e compartilhou o seu traba-lho e a sua luta pelos necessitados.

Reproduzimos, abaixo, os trechos mais repre-sentativos da sua reflexão. A aula pode ser tam-bém acessada, na íntegra, pelo canal PUC Minas Lives no YouTube, neste link.

LIÇÃO DEHUMANISMOEm aula magna, o padre Júlio Lancellotti fala da luta para tornar as cidades espaços inclusivos

“Temos que ter gestos concretos. A nossa fé, a nossa esperança e a nossa caridade têm que ter concretude. Uma cidade que seja para todos tem que ter concretude. Temos que garantir às pessoas mais pobres acesso ao essencial: alimentação, higiene, acolhimento e a uma luta que seja feita com eles, e não para eles”

Marcou-me muito nesse tempo da pandemia a vida e a morte de Dom Pedro Casaldáliga. A vida e a morte dele são paradigmáticas dessa luta na histó-ria. Ele morreu durante a pandemia. Foi carregado e sepultado pelos indígenas, ele no caixão descalço, carregando os sinais dos pobres da América Latina e Central. Sepultado no cemitério dos esquecidos, junto dos pobres abandonados, na beira do rio Ara-guaia. E no momento em que se negou tudo aquilo pelo qual ele lutou, profetizou e poetizou, foi colo-cado em xeque.

Então, que mistério é esse de uma luta que não acaba, não se vence, não termina? De uma luta que é contínua e de resistência a cada momento, cada pas-so, de às vezes um alimento que temos que buscar de uma maneira ferrenha, de uma luta que é terrí-vel. Porque na cidade o jogo de interesses está muito presente. A especulação imobiliária é o que governa os interesses econômicos. É o poder político, como o poderio econômico que determina o rumo que a sociedade toma. Veja agora, no caso das vacinas, a questão das patentes, da sobrevivência do nosso povo, do auxilio emergencial.

Nós temos que ter alguns sinais bem claros de como humanizar as cidades, buscando as luzes de esperança que não se apagaram. Para que essa es-perança permaneça, temos que manter sempre o apoio e a luta constante na defesa dos direitos hu-manos. Isso é fundamental.

Temos que entender melhor, compreender melhor e perceber que lugar têm na nossa cida-de os moradores de rua, os que estão nas prisões, os jovens privados de liberdade, as mulheres que estão prostituídas, as pessoas que estão nas peri-ferias, nas comunidades, nas habitações coletivas, nos cortiços, nas grandes periferias da cidade. Os que são vítimas da violência policial, o genocídio da juventude negra, o racismo, o machismo, a xe-nofobia, a questão dos imigrantes e refugiados. Os descartados, como diz o Papa Francisco. A lógica do sistema neoliberal é o descarte. Então, que lugar eles têm na nossa Igreja? Que lugar eles têm na nossa Universidade? [...] Os mais pobres têm que ter um lugar importante nas nossas universidades. Como a produção do conhecimento de todas as áreas do saber contemplam os mais pobres, os esquecidos?

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Revista PUC Minas nº 23 1312 pucminas.br/revista

Eu acredito que nós temos que fazer um des-censo. Descer para conviver. [...] E tentar olhar a cidade e o mundo a partir dos olhos dos pobres. Saber que a cidade é o lugar da diversidade. Temos que lutar contra todo tipo de discriminação e de preconceito. Uma universidade tem que pensar, e todos nós em nossas comunidades, se a homofo-bia tem lugar nos nossos espaços. Nós temos que varrer a homofobia, a transfobia. Nós temos que acolher a vida de maneira incondicional. Nós não devemos buscar uma religião feita de moralismos e de condenações, mas uma religião e uma fé que sejam de acolhimento, de transformação e de hu-manização.

Há coisas na cidade que podemos mudar. Es-sas mudanças serão históricas, mas têm que ter critério. No momento é lutar pela vacinação em massa. Temos que pressionar e lutar pela proteção social, por uma renda básica. Por uma proteção social verdadeira, para que as pessoas possam ter um verdadeiro isolamento social. Como dizer para o morador de rua ‘fique em casa’. Que casa? Como

“ Temos que ter gestos concretos”

“ Feliz de estar do lado dos que não venceram”

Não podemos esquecer e nem excomungar o grupo LGBTQIA+. Eles são uma benção para mim porque eles me ensinam a ouvi-los, entendê-los, compreender as suas dores e sofrimentos. A dor que eles carregam no corpo e na vida. A dor da rejeição.

Hoje eu estava no café da manhã com os mora-dores de rua e eu sempre digo que eu não trabalho com moradores de rua, eu convivo com eles. Eles não são objeto do meu trabalho. Uma jornalista de um jornal norte-americano que me acompanhou pela manhã me disse que achava interessante eu ficar entre eles, com a troca de olhares, de palavras, de gestos. Porque eu estava dizendo a ela: quem pergunta para o morador de rua o que ele sente? Onde ele dormiu essa noite? Como ele está? O que se passa com ele? Ninguém quer saber. Todos se in-comodam porque eles são mais numerosos na cida-de, porque eles causam problemas. As políticas das prefeituras na maior parte das vezes são higienistas. Os condomínios também são higienistas. Muitas vezes quando me dizem que os moradores de rua são muito agitados eu digo: vai em reunião de con-domínio, quando tem sorteio da vaga de garagem. Eu conheço muitos condôminos que vão parar na delegacia no final da reunião. Não é que o morador de rua é mais agitado, é que a vida dele é exposta.

Temos que ter metas e sinais. Garantimos em São Paulo que toda a população de rua e dos abrigos seja vacinada. Temos que lutar muito para garantir a vida, a sobrevivência, o espaço de encontro, a personalização dessas pessoas. Elas não podem virar um número. Que em nossas universidades tenha um espaço de reflexão, a partir do lugar social em que eles estão. Temos que garantir o acesso à água potável e sabermos que nós não lutamos para vencer, lutamos para sermos fiéis. E seremos muitas vezes derrota-dos. Gosto muito daquilo que diz o Darci Ribeiro: “Lutei tantas vezes e fracassei, mas estou muito feliz em não estar do lado dos que venceram”. Eu também estou muito feliz de estar do lado dos que não venceram. E acho que nós temos que ter uma opção muito clara na cidade: estar do lado dos pequenos e não dos grandes, dos fracos e não dos poderosos, dos que são pisados e não dos que pisam. Estar junto dos que são vítimas, como os nossos irmãos de Brumadinho, como todos os que são vítimas das barragens, todos os sem-terra, os quilombolas, as comunidades ancestrais, todos os grupos indígenas

Eu sugiro a todos os nossos estudantes: há uma pedagogia libertadora em entender o opri-

dizer para eles lavarem as mãos? Com que água potável? [...] Uma coisa simples que faz a cidade ser mais humana: garantir o acesso à água potável entre os moradores de rua, para os catadores, para aqueles que trabalham na rua, mesmo no momen-to emergencial como o que estamos vivendo.

Temos que ter gestos concretos. A nossa fé, a nossa esperança e a nossa caridade têm que ter concretude. Uma cidade que seja para todos tem que ter concretude. Temos que garantir às pesso-as mais pobres acesso ao essencial: alimentação, higiene, acolhimento e a uma luta que seja fei-ta com eles, e não para eles. Em Belo Horizonte, acredito que vocês conhecem a Pastoral de Rua e a irmã Cristina Bove. Ela tem um lastro de experi-ência no Brasil inteiro, em toda a luta da Pastoral Nacional de Rua, que tem como ponto fundamen-tal a convivência. Formarmos comunidade com os pobres, os fracos e com os pequenos. Lutarmos com eles pelos direitos da vida, os direitos huma-nos. E construir com eles, e com todas as pessoas que são descartadas, um caminho. Pode parecer muito distante como vamos construir essa cidade para todos. Nós não vamos construir e acabar a construção, vamos continuar a construção que vieram de outros. A luta não é nossa, não come-çou conosco. Essa luta tem uma história. Gosto de lembrar os nossos heróis populares, como o Zum-bi, Dandara, Antônio Conselheiro, como tantos mártires do nosso povo que lutam e que lutaram. Nós temos muitos exemplos de homens e de mu-lheres lutadores pela humanização da vida.

“ A meritocracia entrou na nossa maneira de pensar e de ver o mundo. Nós vivemos uma epistemologia neoliberal. Isso é muito difícil de superar se não for a partir de baixo para cima, a partir de tirar de dentro de nós a impressão que interiorizamos, e o opressor que interiorizamos”

Bruno Timóteo

Raphael Calixto

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Revista PUC Minas nº 23 1514 pucminas.br/revista

A nossa luta é histórica, tem que ter indicado-res claros. E nós temos que estar unidos na plura-lidade, na luta em conjunto com todos os grupos, religiosos, ateus ou de diversas denominações. Na comunhão fraterna e solidária, sem ter medo de lutar, sem ter medo do conflito, sem ter medo de enfrentar os desafios e as dificuldades. E sem ter medo de perder. Eu não tenho medo do fracasso. Numa sociedade como a nossa, o nosso lugar é do fracasso. Porque se nós não fracassarmos é porque nós aderimos a esse sistema injusto, idolátrico e genocida. Nós fracassaremos, mas lutaremos até o fim. Porque a nossa luta é a luta do crucificado ressuscitado, daquele que na cruz se entrega para viver para sempre uma vida indestrutível. Nós que estamos na Pastoral temos a visão religiosa com-prometida, mas sem perder a importância da laici-dade, do pluralismo e da diversidade. Eu insisto na defesa de todos os grupos minoritários, mesmo que muitas vezes eles sejam numericamente maioria, mas socialmente eles são minoritários. Defender, proteger e estar ao lado desses grupos e sermos alia-dos nessa luta incansável. Nós carregamos no corpo as marcas do nosso amor. Amemos até o fim, como diz o Evangelho de João: Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.”

Unidos na pluralidade

É muito importante que tenhamos uma visão teológica clara. Eu tenho repetido, e a alguns cau-sa surpresa, que a misericórdia e a compaixão não são dimensões religiosas, são dimensões humanas. Porque os ateus e os agnósticos também são mise-ricordiosos e compassivos. E muitas vezes aqueles que se dizem religiosos não são, e usam da religião para dominar e instrumentalizar o povo.

[...] Muitas vezes o pensamento cristão é defor-mado e utilizado para dizer que Deus está acima de tudo. Deus não está acima de tudo, Deus está no meio de nós. Nós, cristãos católicos, repetimos muitas vezes na liturgia: Ele está no meio de nós. No meio, não acima de nós.

Temos que ter uma reflexão teológica muito grande, uma abertura ao diálogo religioso e uma convivência com um grupo que cresce muito e que está comprometido também na humanização da cidade, que são os sem religião, que são os ateus. No café da manhã, com os moradores de rua, estamos

mido, tão bem formulada pelo Paulo Freire. O neoliberalismo não é só um modelo econômico, ele é uma epistemologia. A meritocracia entrou na nossa maneira de pensar e de ver o mundo. Nós vivemos uma epistemologia neoliberal. Isso é muito difícil de superar se não for a partir de baixo para cima, a partir de tirar de dentro de nós a impressão que interiorizamos, e o opressor que interiorizamos. Gosto muito de uma citação de Simone de Beauvoir que diz que os opressores não teriam tanto poder se não tivessem tantos cúmplices entre os oprimidos. Ou, como diz o Paulo Freire, a cabeça do oprimido muitas vezes é a hospedaria do opressor.

Um dos livros que estão sendo lidos muito nesse momento é o Guerra Cultural e a Retórica do Ódio, do professor João Cesár de Castro Rocha. A retórica do ódio que tomou conta do Brasil. É interessante que ele faz um estudo etnográfico desse pensamento fundamentalista. É surpre-endente que até mesmo dentro dos ambientes universitários nós tenhamos a presença da re-tórica do ódio, das fake news, da desqualificação do interlocutor.[...] Que são os ataques que nós sofremos, as fake news e as tantas outras formas que tentam desqualificar a luta pelos direitos hu-manos e a luta em defesa dos mais pobres.

“ Compaixão é dimensão humana”

sempre reunidos com pessoas de várias religiões. Hoje estava comigo um budista, ontem um sheik muçulmano e, algumas vezes, mãe de santo, baba-lorixá. Amanhã vou estar com o pastor Rica da Igreja Bola de Neve, que está sendo muito perseguido na área da Cracolândia. Nós temos que ter um diálogo religioso muito aberto e diálogo com os ateus, por-que eles não estão privados da dimensão humana. Muitas vezes quem está privado da dimensão hu-mana são aqueles que fazem do discurso religioso um dogmatismo para dominar as pessoas.

Como é um ambiente universitário, gostaria de indicar dois livros para todos os estudantes que estão nos acompanhando. Um deles nenhu-ma editora quis traduzir para o português: La Re-volución de Jesús: el proyecto del Reino de Dios, de um teólogo jovem espanhol, Bernardo Pérez Andreo. Quando a gente fala da confusão eu pro-curo inspirar minha confusão na leitura desse jo-vem teólogo leigo espanhol. E o outro se chama A Loucura de Deus, de Alberto Maggi. Ele tem uma vasta obra e poucos livros dele estão traduzidos para português.

Temos que ter disciplina de luta, disciplina revolucionária, capacidade intelectiva, estudar, buscar fundamentação da nossa luta e da nossa fé. Nós não somos ingênuos, não estamos fazen-do uma luta maluca, estamos fazendo uma luta histórica. Uma luta que vem da presença de Deus na história. Por isso que o Comblin marcou tanto a minha vida. Temos que ter muito presente a Trindade na mudança da sociedade, temos que

ter uma espiritualidade, uma mística dessa trans-formação, um amor incondicional aos pobres e aos pequenos, com todas as dificuldades, com todos os conflitos e desafios.

Escolhi na minha ordenação o versículo de Paulo na primeira carta aos Coríntios: Deus es-colheu o que é fraco para confundir o que é forte. Isso marca muito a minha vida. Eu quero sempre estar do lado dos fracos. Estar do lado dos fracos é se fazer fraco. Nós vamos lutar sempre desar-mados. A nossa defesa sempre será testemunhar o amor e a vida. Por isso, muitos santos me são tão caros, como São Oscar Romero e a queridíssi-ma Santa Irmã Dulce dos Pobres. Temos que tirar todo o misticismo que cobre a vida de Santa Irmã Dulce. Eu digo sempre que ela é a santa protetora das ocupações, porque ela ocupava todas as ca-sas vazias em Salvador para colocar os doentes e as pessoas que não tinham onde ficar. Quan-do o prefeito chamou a atenção dela, ela disse: “Enquanto tiver casa vazia e pobre na rua eu vou colocar dentro da casa”. Assim, ela foi ocupando muitas casas até ir para o galinheiro.

Disciplina de luta

“Eu insisto na defesa de todos os grupos minoritários, mesmo que muitas vezes eles sejam numericamente maioria, mas socialmente eles são minoritários. Defender, proteger e estar ao lado desses grupos e sermos aliados nessa luta incansável”Raphael Calixto

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Transitar pelos espaços urbanos pode parecer, ao indivíduo, uma ação trivial, que compõe o dia a dia de modo quase despercebido. Porém, quan-do pensamos na mobilidade sob uma ótica co-letiva, o simples ato de circular pela cidade pode ser revolucionário. A forma como as sociedades resolvem a equação dos deslocamentos revela os mundos que anseiam construir, articulando trajetos, meios de transporte e fontes de energia.

A energia é, justamente, o xis da questão para as instituições envolvidas em um projeto pioneiro na região de Poços de Caldas, no Sul de Minas Gerais. Por meio de seu Campus na cidade, a PUC Minas figura entre os realizadores do Poços + Inteligente, que busca desenvolver e oferecer à população soluções inovadoras de mobilidade elétrica. Algumas se concretizam agora com a

instalação de eletropostos, bicicletários com tec-nologia específica para bikes elétricas e aquisição de um carro elétrico utilizado em pesquisas, entre outras ações.

O Poços + Inteligente é fruto de uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Poços de Caldas, Departamento Municipal de Energia (DME), Ins-tituto Federal do Sul de Minas Gerais (IFSuldeMi-nas) e PUC Minas. Em sua participação, a Univer-sidade mobiliza diretamente nove professores, seis alunos bolsistas de iniciação científica e funcionários de diversos setores do Campus. Um dos seus representantes mais notáveis é Fabiano Costa Teixeira, professor do Curso de Ciência da Computação e coordenador de Projeto e Desen-volvimento na iniciativa.

Fabiano conta que, após ser selecionado em

SUSTENTABILIDADE

TANQUE CHEIO DE ELÉTRONSPoços de Caldas desponta na corrida da mobilidade elétrica com iniciativa pioneira da PUC Minas |Bruno Batiston

Holanda é um dos países com boas práticas na área

A poços-caldense Claudia Fregni, que mora em Amsterdã, se dispôs a contribuir com informações para o projeto

A mobilidade elétrica já está fortemente pre-sente em alguns países, como a Holanda. É o que nota a poços-caldense Claudia Maria Migot Fregni, que mora há quatro anos em Amsterdã e atualmente cursa, pelo regime remoto, Psicologia na PUC Minas Poços de Caldas. Ao tomar conheci-mento do Poços + Inteligente pela internet, ela fez contato com o professor Fabiano e se prontificou a contribuir com informações sobre as práticas e políticas que observa onde vive hoje.

O relato de Claudia permite ver, refletidas no dia a dia, as ações do governo holandês que visam à sustentabilidade. Amsterdã se destaca ao adotar um modelo de economia circular, que prioriza necessidades básicas alinhadas aos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU), cuja ambição é concretizá-los até 2030. Tais esforços se evidenciam inclusive no setor de mobilidade, dada a ampla difusão do uso de bicicletas na cida-de e os robustos incentivos fiscais oferecidos para compra de carros elétricos, por exemplo.

Na paisagem cotidiana de Claudia na Holanda, já são frequentes pessoas carregando automóveis em eletropostos. O Brasil ainda inicia seu percur-so na mobilidade elétrica, mas Poços de Caldas assume a dianteira. “O nosso projeto é, de certo modo, um laboratório para a realização de outros estudos na área”, enfatiza o professor Fabiano ao comentar a relevância da iniciativa que entende como transversal, pois transita entre ensino, pes-

quisa e extensão. Ao passo que integra os pilares da Universidade, o projeto conecta também um presente desafiador ao futuro desejado, ao qual se dirige com o tanque vazio de combustíveis fós-seis, mas baterias cheias de energia elétrica.

uma chamada pública do DME, o projeto foi sub-metido à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e tornou-se uma das 30 propostas apro-vadas para obtenção de recursos do órgão federal no fim de 2019. Todas elas têm foco no desen-volvimento de soluções em mobilidade elétrica eficiente, premissa desta seleção da Aneel. As ati-vidades do Poços + Inteligente vêm sendo realiza-das desde então, superando inclusive os desafios impostos pela pandemia. Os principais avanços, entre eles a instalação de pontos de recarga na cidade, têm repercutido nos últimos meses.

“O projeto tem uma missão importante no que diz respeito às possibilidades de locomoção. Poços de Caldas tem potencial para integrar a rota da mobilidade elétrica no país, propondo formas mais sustentáveis e menos poluentes de deslo-camento aos cidadãos, além de atrair viajantes

e contribuir com a atividade turística na cidade”, ressalta Fabiano. Ele explica ainda que boa parte da tecnologia aplicada é autossustentável, pois associa energia solar a baterias e eletricidade.

A ampliação da rede de eletropostos e bici-cletas possibilitaria uma série de ganhos. O pro-fessor aponta que a baixa demanda por veículos elétricos atualmente se deve justamente à falta de soluções eficientes neste campo, sendo a es-cassez de pontos de recarga um agravante. Por meio do projeto, será possível testar e aprimorar ferramentas tecnológicas a partir da coleta de da-dos sobre sua utilização e desempenho. Por isso, é fundamental disponibilizá-las à população. Uma delas é o aplicativo que está sendo desenvolvido para organizar as reservas das bicicletas e preve-nir furtos – uma ameaça frequente, dado o valor elevado dos equipamentos.

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Carro e bicicletas do projeto Poços + Inteligente passam a compor a paisagem do Campus, onde estão sendo instalados equipamentos de recarga de veículos elétricos

Revista PUC Minas nº 23 17

Maressa BassoArquivo pessoal

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Revista PUC Minas nº 23 1918 pucminas.br/revista

COMPORTAMENTO

O PODER DA GRATIDÃOTema de livro, sentimento pode gerar benefícios para o cotidiano | Ana Paula Pimenta

Já parou para refletir quantas vezes por dia nós reclamamos de algo? Seja por con-ta de uma simples chateação em nossa ro-tina até grandes complicações no trabalho ou meio familiar, uma coisa é certa: basta o menor problema para começarmos a reclamar. Foi refletindo acerca deste co-nhecido comportamento humano que o professor Marcelo Galuppo, da Faculdade Mineira de Direito, decidiu, junto a seu ex-orientando Davi Lago, escrever o livro #umdiasemreclamar, publicado pela Ci-tadel Editora. “Percebemos que o mundo está se tornando cada vez menos grato, e, para mim, a gratidão é um valor muito importante”, diz Galuppo.

Com prefácio do arcebispo de Belo Horizonte e grão-chanceler da PUC Minas, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, a obra traz reflexões acerca do poder e da impor-tância da gratidão em nossa rotina. Por meio de alguns desafios, o livro se propõe a instigar o leitor a praticar a gratidão no dia a dia, e perceber, com a mudança de com-portamento, os benefícios que ela angaria.

“Eu vejo a gratidão quase tão impor-tante quanto a tolerância. Nós somos na-turalmente ingratos e precisamos mudar esse comportamento, porque a ingratidão não prejudica apenas a pessoa ingrata: ela prejudica também as pessoas que estão à nossa volta, que são da nossa convivência”, relata o professor e autor do livro.

Tendo origem no latim gratia e que pode ser traduzida como graça, a grati-dão representa o estado de espírito de quem é grato por determinado aconteci-mento ou situação. Pelo senso comum, a gratidão pode parecer simplória ou roti-neira, mas o que você talvez não saiba é que este aparentemente simples exercí-

cio de agradecer pode gerar resultados significativos em sua saúde.

É o que demonstram os pesquisadores da Harvard Medical School, que reuniram diversos experimentos que sugerem a re-lação direta entre gratidão e bem-estar. O mesmo é também defendido pela profes-sora do Curso de Psicologia da PUC Minas Betim, Karina Fideles, que explica o porquê dessa sensação. Segundo a professora, a gratidão, nesse caso, está relacionada à re-siliência, que é a capacidade humana de su-perar obstáculos e olhar para os problemas e situações adversas sob uma nova ótica.

“Quando enfrentamos um problema e somos capazes, por meio da resiliência, de dar a volta por cima e enxergá-lo com outros olhos, nos tornamos gratos por essa experiência, e é esse estado que nos faz mais felizes”, explica.

Para a professora, a gratidão surge pela possibilidade de introspecção e avaliação permitida pela situação problema. “Eu me torno grata porque consigo transformar essa situação não muito boa em algo me-lhor. Sou grata por ter a oportunidade de transformar esse cenário”, complementa a professora do Curso de Psicologia.

Seguir em frente: um exercício de gratidão

Embora comumente atrelada a mo-mentos felizes e que nos trazem boas lembranças, a gratidão também pode ajudar em períodos difíceis de nossa trajetória. É o caso, por exemplo, do advogado e mestrando em Ciências So-ciais, Vitor Maia, de 29 anos.

Diagnosticado ainda criança com uma imunodeficiência primária, Vitor já precisou ficar internado por diver-sas vezes, o que acabou lhe trazendo obstáculos ao longo da vida, como a conclusão tardia no ensino médio e a necessidade de trancar o mestrado por um semestre.

“Eu já entendi que sempre irei pre-cisar lidar com essa doença e, por isso, vou tentando mediar todas as minhas relações a partir dela. Se dependesse de mim, eu escolheria não ter passado por isso, mas a partir do momento em que elas aconteceram, eu tento lidar com essa situação da melhor forma”, conta o estudante. Em 2019, Vitor perdeu a mãe de maneira súbita, situação que ele descreve como “o momento mais triste da minha vida”.

Para o advogado, a gratidão se fez presente na relação que ele vem crian-do com as pessoas que estão do seu lado e, de alguma forma, o ajudaram a ser quem ele é hoje. “Nesses momentos difíceis o que me faz seguir em frente

Tente passar um dia inteiro sem reclamar. Inicialmente, a proposta soa como algo simples, mas não se deixe enganar: é mais difícil do que parece. “Eu mesmo não consegui completar o desafio”, conta o professor Marcelo. “Tentei por várias vezes e sempre aca-bava surgindo algum problema justa-mente naquele dia. Com certeza não é um desafio fácil”, pondera o professor.

Usando a explicação psicológica, a professora e psicóloga Karina Fide-les explica que o desafio proposto por Marcelo Galuppo e Davi Lago busca, na verdade, trazer para a consciência os momentos positivos de nossa vida. Segundo a professora, o ser humano costuma focar no negativo, e por isso, somos propensos a reclamar com uma maior frequência do que agradecemos.

“Às vezes, em nossa vida, presencia-mos mais coisas boas do que momen-tos ruins. O que acontece é que o ruim se destaca, acaba nos gerando emoções muito fortes, como o medo, a raiva e a tristeza, e isso toma grandes propor-ções”, explica a professora.

Para ela, o segredo para sermos mais gratos estaria na tentativa de vermos o

mundo por outros olhos: ver o copo meio cheio, ao invés de meio vazio. “Se começássemos a fazer um exercício de inverter e pensar que determinada situ-ação foi ruim, mas todas as outras horas do dia foram boas, nós conseguiríamos ter outra perspectiva, olhar para a vida com outra lente”, diz.

Para o professor e autor do livro, Marcelo Galuppo, o primeiro passo para sermos gratos é reconhecer a in-gratidão que existe em nós mesmos: “Precisamos despertar para o fato de que somos naturalmente tendentes à ingratidão. Somos ingratos com o que as pessoas nos ofereceram, com o que Deus nos oferece, e também com o que a natureza nos oferece. É natural, então a gratidão reside um pouco neste pro-cesso de conversão pessoal”, explica.

“Hoje eu sou capaz de perceber a in-gratidão que existe mesmo em mim, e tento melhorar, todos os dias. Esse foi o maior ensinamento que escrever este livro me proporcionou”, revela o pro-fessor.

E você? Que tal começar hoje mes-mo o exercício da gratidão? Olhe em volta. Agradeça.

são as pessoas que eu amo e que me amam. Quando eu estou em algum momento de crise e não consigo seguir por conta própria, entram essas pessoas ao meu redor: eu me lembro do esforço da minha mãe, do meu pai, do meu ir-mão e minha namorada, e é por essas pessoas que eu resolvo seguir. Eu me lembro dos meus amigos e professores, do quanto cada um me ajudou a chegar aonde quero chegar. E por elas, eu sou grato”.

Mais do que apenas sentir-se agra-decido, Vitor conta que também deseja passar para frente, por meio de ações, a ajuda e reconhecimento que vem recebendo: “O meu objetivo é poder fazer por outras pessoas o que muitas fizeram por mim: eu tive pessoas que me ajudaram e sei que existem outras passando pelas mesmas dificuldades que eu. Então, tento sempre ser apoio, conversar, estar presente, porque eu sei que essas ações foram decisivas para mim. Isso eu vejo como um exercício de gratidão”, diz.

“O meu objetivo époder fazer por outraspessoas o que muitas fizeram por mim!”Vitor Maia

Ver o copo meio cheio

“Percebemos que o mundo está se tornando cada vez menos grato, e, para mim, a gratidão é um valor muito importante” Professor Marcelo Galuppo

O advogado Vitor Maia, mestrando em Ciências Sociais, é grato às pessoas que o ajudaram a ser quem é hoje

Professor Marcelo Galuppo

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EDUCAÇÃO FÍSICA

QUALIDADE DEVIDA EM AMBIENTEVIRTUAL

O projeto de extensão Qualidade de Vida Para Todos (PQVT), do Curso de Educação Física, que tem como objetivo promover a qualidade de vida para Pessoas com Deficiência (PCD) por meio da atividade aquática, continua a oferecer seus servi-ços aos beneficiários mesmo durante a pandemia do coronavírus. As ações do projeto eram realiza-das na piscina do Complexo Esportivo da PUC Mi-nas, mas, durante esse período de isolamento so-cial, foram feitas adaptações para que pudessem dar continuidade ao trabalho de forma virtual.

O projeto foi fundado em 2014, pelo Depar-

tamento de Educação Física da Universidade, e financiado pelo Pró-Reitoria de Extensão (Proex). A iniciativa conta com uma equipe multidiscipli-nar composta por alunos dos cursos de Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Psicologia. Atualmente são atendidos 48 alunos benefici-ários regulares, sendo pessoas com deficiência intelectual, física, múltipla, auditiva, visual e com Transtorno do Espectro do Autismo. Existe uma lista de espera com mais de 100 pessoas interessa-das em ingressar no projeto como beneficiários.

De acordo com a professora do Curso de Edu-

Desde que começou a pandemia do corona-vírus, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou, dentre outras medidas de prevenção, o cancelamento de atividades em uni-versidades, o projeto passou por algumas adap-tações. Os encontros com os beneficiários passa-ram a acontecer por videoconferência, buscando aproximar os alunos de seus professores. Além disso, o projeto buscou atualizar as redes sociais com conteúdos acadêmicos de forma lúdica e simples para facilitar o entendimento do público.

Também como parte desse novo modelo, os alunos extensionistas realizaram pesquisas buscando compreender os processos de reorga-nização das famílias beneficiadas e como elas estavam passando por esse momento. Os tra-balhos auxiliaram o projeto a entender quais seriam os pontos positivos do regime remoto e quais seriam as principais dificuldades que eles enfrentariam.

Por se tratar de uma nova abordagem, surgi-ram algumas dificuldades enfrentadas por pais e acompanhantes dos beneficiários, como foi o caso de Sônia Albino Vieira, de 62 anos, mãe de

Danilo Marcos Vieira, de 33 anos, diagnosticado com autismo não verbal e comprometimento cognitivo. Sônia revela que no começo foi difícil a adaptação tecnológica em casa, principalmente porque o projeto presencial fazia parte da rotina de seu filho. Por essa razão, os extensionistas bus-caram capacitar os familiares por meio de orien-tações específicas e tutoriais de como utilizar as ferramentas que são usadas nos atendimentos online.

De acordo com Sônia, hoje em dia a família já está adaptada às novas tecnologias. Os atendi-mentos virtuais para Danilo acontecem duas ve-zes na semana. “Nos dias de atendimento eu subo com ele para um espaço em casa que dá para fazer exercícios físicos e os professores passam alguns movimentos, alguns exercícios de alongamento e outros tipos de exercício para ele fazer”, conta. Sônia relata que os extensionistas, por saberem que Danilo gosta de música, utilizam esse recurso nas aulas para interagir com ele. “Foi um atendi-mento muito bom, porque ele participava e re-conhecia o pessoal que trabalhava com ele. Isso o ajudou a passar pela pandemia”, conclui Sônia.

Projeto passou por adaptações

SAIBA MAISPara se inscrever no projeto deve-se entrar em contato com a Secretaria do Complexo Esportivo, com os documentos solicitados.Para as atividades presenciais é necessária a apresentação de um atestado médico, comprovando que o indivíduo não possui doença infectocontagiosa e está apto a realizar atividades aquáticas.

cação Física e coordenadora do projeto, Cláudia Barsand, o objetivo principal desse trabalho é promover qualidade de vida para todos, princi-palmente para os deficientes e seus familiares. “Nós temos tido um retorno significativo não só do ponto de vista da atividade física em si, que é um benefício constatado, mas também do ponto de vista social”, afirma a professora.

Ela aponta outro benefício do projeto que é o de aproximar famílias e indivíduos que con-vivem com essas deficiências. “Buscamos apro-ximar os pares, aproximar pessoas que estão na mesma condição”, relata. Dessa forma, o projeto permite que os beneficiários e seus acompa-nhantes obtenham as informações necessárias sobre suas condições, além de poderem dialogar sobre suas realidades com outros beneficiários, pais ou familiares.

Fabiana Mendes e o filho Igor: apesar dos desafios, a atividade é prazerosa

“Foi um atendimento muito bom, porque ele participavae reconhecia o pessoal que trabalhava com ele. Isso o ajudou a passar pela pandemia”Sônia Albino Vieira mãe de Danilo Marcos Vieira

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Fotos: Bruno Timóteo

Projeto de extensão dá continuidade às atividades de forma online |Carolina Marques

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Durante o período de isolamento social, a professora Cláudia explica que o objetivo princi-pal do projeto é o processo de aproximação com as famílias dos beneficiários. De acordo com ela, é necessário, principalmente nesse período, criar um fortalecimento do vínculo com os cuidado-res, por isso também são realizadas muitas ati-vidades voltadas para as famílias. “Estamos cui-dando de quem cuida. Essas pessoas precisam estar bem para poder nos ajudar a desenvolver nosso trabalho com nosso beneficiário direto”, analisa.

De acordo com a professora Cláudia, neste primeiro semestre de 2021 o objetivo é intensifi-car essa aproximação com a família por meio de encontros individuais com os familiares. Outra meta do projeto para este ano é a realização de reuniões para que essas famílias possam con-versar entre si e trocar experiências por meio de rodas de conversa e atividades coletivas.

Cuidado para o beneficiário e para a família

A coordenadora Cláudia Barsand explica que, assim como Sônia, outros familiares tam-bém têm dado retornos positivos sobre o pro-jeto no novo formato. “A gente tem tido um re-torno muito importante das famílias, de poder dar esse conforto no atendimento, de manter o contato, principalmente nas famílias que têm pessoas com autismo, que têm muita dificul-dade de se reorganizar com novas rotinas”, diz Cláudia. Segundo a coordenadora, os alunos passaram de uma situação em que tinham di-versos atendimentos, como fonoaudiólogo, médico, escola e o projeto, para ter que ficar em casa, por serem considerados um grupo de risco para a Covid-19.

Entretanto, para alguns beneficiários a adap-tação ao novo regime ainda se mostra desafiado-ra, como é o caso de Fabiana Márcia da Silva Men-des, de 43 anos, e seu filho Igor Silva Mendes, de 8 anos. De acordo com Fabiana, Igor possui uma síndrome rara, que ainda não tem nome, e que se caracteriza pela adição de um cromossomo

a mais em sua formação celular. Essa síndrome provoca atraso no desenvolvimento psicomotor, comportamento autista e epilepsia. Igor partici-pa do projeto há quatro anos, com o objetivo de alcançar o desenvolvimento de forma prazerosa, por meio dos diversos benefícios oferecidos pela iniciativa, como os atendimentos de fonoaudio-logia, fisioterapia e educação física.

Fabiana conta que o progresso de Igor, desde que ingressou no projeto, se tornou visível, não só fisicamente, mas também em seu desenvolvi-mento social. “Ele avançou muito na socialização dele, claro que tem os estímulos que ele recebia na escola e na terapia ocupacional, mas acho que o projeto é uma grande contribuição”, rela-ta. Porém, ela acredita que o aproveitamento de Igor é inferior ao que ele tinha na piscina. “Tem dias que ele faz uma participação melhor, inte-rage. Tem dias que não. Mas faz parte, ele precisa também se adaptar”, avalia. Apesar disso, Fabia-na diz que pretende continua no projeto, pois é a atividade mais prazerosa para Igor.

Retornos positivos das atividades

“Estamos cuidando de quem cuida. Essaspessoas precisam estar bem para podernos ajudar a desenvolver nosso trabalhocom nosso beneficiário direto”Professora Cláudia Barsand, coordenadora do projeto

Bruno Timóteo

MEDICINA

MÃOS QUE COMUNICAMAlunos da PUC Minas Betim desenvolvem projeto que ensina Libras para atendimento médico |Ana Paula Pimenta

E se você precisasse se comunicar hoje com uma pessoa surda que utiliza a Libras como pri-meira língua? Você seria capaz de compreendê-la e manter um diálogo? Foi pensando na inclusão da comunidade surda nos atendimentos mé-dicos que os alunos Gustavo Valeriano e Noele Queiróz, dos 4º e 9º períodos, respectivamente, do Curso de Medicina da PUC Minas Betim cria-ram o Mãos que Comunicam.

Inspirado no projeto Um Sinal Basta, do Di-retório Acadêmico Alfredo Balena, do Curso de Medicina da UFMG, o Mãos que Comunicam foi criado em setembro de 2020, e visa instigar a im-

portância do conhecimento e prática da Libras – Língua Brasileira de Sinais, pelos futuros médi-cos. O projeto consiste na gravação e divulgação de vídeos curtos que são publicados no perfil do Instagram do DAHMP - Diretório Acadêmico Horizontal Medicina - PUC Minas, e buscam, de forma simples e direta, ensinar alguns sinais da Libras que podem ajudar o profissional da saúde em uma consulta médica.

“O nosso objetivo com o projeto é levar a discussão da inclusão do deficiente auditivo na área da saúde, especialmente na medicina”Gustavo Valeriano

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Conhecimento que reverberaA iniciativa chegou até a funcionária Maria Fer-

nanda de Oliveira, bibliotecária da PUC Minas Be-tim. Ao descobrir o projeto, ela, que desde 2018 vem praticando o estudo da Libras, contribuiu gravando seus próprios vídeos ensinando alguns sinais, além de se disponibilizar para praticar com os alunos.

“Achei a ideia fantástica, que deveria ser segui-da pelos outros cursos. Todo profissional, uma hora ou outra, vai ter contato com uma pessoa surda. E se você conhece pelo menos os termos básicos de comunicação geral e alguns termos técnicos da sua área para tratar com a pessoa sur-da, você já tem um diferencial muito grande na sua área de formação, além de promover a inclu-são, que é tão importante”, avalia.

A PUC Minas, por meio do NAI, o Núcleo de

Apoio à Inclusão do Aluno com Necessidades Edu-cacionais Especiais, oferece o auxílio necessário aos estudantes com todo e qualquer tipo de deficiência. No segundo semestre de 2020, foram registrados 466 atendimentos, sendo 37 destes direcionados a alunos com deficiência auditiva.

Dentre os auxílios oferecidos pelo NAI, existe a disponibilidade do intérprete e tradutor em todas as atividades acadêmicas para alunos que utilizem a Libras como primeira língua e a disponibilização do intérprete repetidor para alunos cuja principal forma de compreensão da fala é a leitura orofacial. Esse profissional faz a repetição, por meio da articu-lação labial sem a emissão de sons, de todas as falas, com o objetivo de minimizar as perdas inerentes ao processo de leitura labial.

Os principais sinais para representar sin-tomas, sinais importantes à saúde da mulher, sinais que traduzem termos da saúde mental e orientações básicas durante uma consulta mé-dica. Esses são apenas alguns dos temas que já foram abordados nos vídeos do Mãos que Co-municam. O projeto tem lançamentos de novos vídeos toda semana, sempre às quartas-feiras. Os alunos se organizam e decidem qual o tema da semana, assim como quem será o responsável pela pesquisa e gravação. Finalizado esse proces-so, o vídeo é publicado nos stories do perfil do DAHMP no Instagram, e permanece salvo nos destaques. Hoje, o projeto conta com oito volun-tários, todos estudantes do Curso de Medicina da PUC Betim.

Hoje, no Brasil, existem mais de 10 milhões de pessoas surdas, de acordo com o último censo promovido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2020. Destas, cerca de 2,7 milhões possuem perda auditiva to-tal, de modo que não escutam nem mesmo com o uso de aparelhos auditivos.

Desde 2002, por meio da Lei 10.436, a Libras foi reconhecida como meio legal de comunica-ção e expressão no país. A lei prevê ainda que instituições e empresas públicas sejam capazes de garantir à pessoa com deficiência auditiva o

Como funciona o projeto

atendimento adequado, o que inclui a disponi-bilidade de intérpretes em locais como escolas e postos médicos, por exemplo.

Na prática, entretanto, a situação, infelizmen-te, é outra. É o que vivencia o professor univer-sitário Tuender Durães de Lima, 43, que é surdo e tem a Libras como primeira língua. Ele conta que quando precisa de qualquer atendimento médico, bancário ou judiciário, providencia, ele mesmo, um intérprete, pois não confia que a ins-tituição terá um já disponível.

“Eu preciso ir atrás. Faço isso porque tenho experiência, já fui varias vezes e não tinha intér-prete, então eu mesmo me organizo antes”, rela-ta Tuender. O professor conta que para situações rotineiras, como fazer compras, ele consegue se comunicar por meio de gestos e com o auxílio da escrita e de aplicativos para smartphone. “Mas quando são atendimentos um pouco mais sé-rios e burocráticos, eu preciso do intérprete, pois preciso das informações certinhas e entender corretamente as orientações”.

Segundo o professor, a comunicação por meio da escrita nem sempre é suficiente: “Mui-tos surdos não entendem o português escrito, ou, quando entendem, é apenas parcialmente, porque essa não é nossa língua natural. Com a Libras é diferente: a comunicação é natural. Eu me sinto mais seguro quando posso utilizar a Libras durante um atendimento”.

O professor e sua filha, Bárbara Rodrigues, que é tradutora e intérprete de Libras, também auxiliaram no Mãos que Comunicam, fornecen-do orientações para alguns dos vídeos produzi-dos pelos alunos. Para Tuender, o projeto é um

modo de promover a inclusão das pessoas sur-das na sociedade. “Precisamos ampliar o conhe-cimento da Libras para outras áreas. Só assim iremos derrubar estas barreiras e permitir a inte-ração entre pessoas surdas e ouvintes”, conclui.

A estudante de Medicina na PUC Minas e vo-luntária no projeto, Raquel Moret, de 25 anos, compartilha desse mesmo sentimento em rela-ção à importância da iniciativa. “O projeto salva vidas porque permite que o médico se comuni-que com seu paciente e, então, essa pessoa vai ter a chance de se curar. Só isso já é maravilhoso de se pensar”.

“O nosso objetivo com o projeto é levar a dis-cussão da inclusão do deficiente auditivo na área da saúde, especialmente na medicina. Nós bus-camos mostrar o que o médico pode fazer diante de um paciente que tem a deficiência auditiva e utiliza Libras como primeira língua”, conta o estudante Gustavo Valeriano, um dos alunos fundadores do projeto.

A demanda para a criação do Mãos que Co-municam surgiu de percepção dos alunos acer-ca das dificuldades enfrentadas pelas pessoas surdas durante um atendimento médico. “Nós percebíamos que no meio médico não existiam muitos profissionais que sabiam a Libras. Eu te-nho alguns amigos surdos, e eles também per-cebiam isso”, comenta Gustavo. Impulsionados pelo desejo de promover a representatividade da comunidade surda, os alunos buscaram mé-todos para instigar o interesse no aprendizado da Libras nos futuros médicos. “Em setembro do ano passado nós tivemos um workshop so-bre Libras promovido pelo Diretório Acadêmico. Logo depois, descobri que o Curso de Medicina da UFMG estava fazendo um projeto de vídeos dedicados ao ensino da Libras no meio médico. Então, criamos uma parceria com eles e assim surgiu o Mãos que Comunicam. A nossa ideia é trazer esse projeto online de vídeos em Libras de comunicação médica, principalmente, para incentivar essa discussão e também trazer um conhecimento, mesmo que básico, dessa área”, conta uma das fundadoras do projeto e integran-te do Movimento Estudantil, Noele Queiróz.

Fotos: Bruno Timóteo

Revista PUC Minas nº 23 25

O professor Tuender Durães de Lima, com a filha Bárbara Rodrigues, tradutora e intérprete de Libras

Gustavo e Noele, alunos do Curso de Medicina, criaram o projeto Mãos que Comunicam

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Page 14: TEMPOS DISTÓPICOS - PUC Minas

“Mais uma vacina anotada no meu cartão!”, comemora José Costa Leal, aos 86 anos. O padei-ro aposentado é mais um imunizado contra o coronavírus, na maior crise de saúde pública da história brasileira, segundo dados do Observató-rio Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz. “Espe-rei ansioso o dia da vacinação. Sempre tomo as vacinas do SUS e sou muito agradecido”, afirma. O senhor José, com dificuldades de locomoção, recebeu o imunizante em casa. No entanto, a alegria de ser vacinado ainda está restrita a uma pequena parcela da população e isso tem dado lugar à ansiedade pela chegada do imunizante para muitos brasileiros. Reconhecido interna-cionalmente, o Programa Nacional de Imuniza-

ção (PNI) tem uma trajetória respeitável na área, oferecendo os mais diversos tipos de vacinas à população brasileira na rede pública. Diante des-se histórico, por que não conseguimos a mesma eficiência na vacinação contra a Covid-19?

Reconhecendo a importância e eficiência do PNI, o coordenador do Curso de Medicina, pro-fessor Henrique Leonardo Guerra, que é epide-miologista, diz que a experiência do Brasil com

O calendário vacinal brasileiro é bastante abrangente e possui imunobiológicos de qualida-de para crianças, jovens, adultos e idosos. São 28 vacinas e 13 soros gratuitos. O objetivo é alcançar altas coberturas vacinais de forma homogênea, em todos os municípios brasileiros, evitando do-enças como Sarampo, Poliomielite, Tétano, Febre Amarela, Meningite, Hepatite B, entre outras. A professora Simone Campos Maia de Andrade re-força que estar em dia com a vacina é um dever social. “Vacina não é uma decisão individual. É um ato de humanidade e solidariedade”. Para ela, as vacinas estão entre as maiores conquistas da saúde na luta contra doenças capazes de acome-ter e matar a população, sendo a forma mais se-gura e eficaz de prevenção e proteção.

João Batista Pereira é um usuário constan-te do SUS. Morador do bairro Paraíso, região Leste de Belo Horizonte, sempre participa das campanhas de vacinação. “Para chegar aos 96 anos, um dos segredos é cuidar bem da saúde”, orgulha-se. A certeza compartilhada por João Pereira também move o trabalho da agente de saúde Rosângela Andrade. “A cada vacina, vejo os olhos da população brilharem de agradeci-mento e confiança. A população bem-informada quer vacinar”, constata. Rosângela busca aproxi-mar as comunidades das equipes de saúde atra-vés da troca de informações. Ela realiza visitas domiciliares que obedecem a uma frequência e demanda das famílias e do serviço de saúde.

“Muitas vezes preciso trabalhar na busca ati-va do público das vacinas. Um dos meios para garantirmos essa adesão são as campanhas de conscientização e até a cobrança em emprego e viagens. Isso faz a população procurar a imuni-zação”, conclui. Marlete Pinheiro de Aguilar é outra profissional do SUS que trabalha no contexto da imunização. No centro de saúde Paraíso, é uma das técnicas

imunizações poderia ter evitado o crescimento alarmante da pandemia no país e poupado mui-tas vidas. “Somos um país com forte tradição em programas de vacinação. São várias campanhas bem-sucedidas, mas isso não foi capaz de conter o efeito negativo provocado pela má gestão de muitos políticos que, capitaneados pelo governo central, abraçaram o negacionismo como forma de enfrentar a pandemia”, afirma. O professor Henrique elogia a grande penetração e capila-ridade do programa de vacinação. Atualmente, o Brasil tem mais de 42 mil unidades básicas de saúde. “Mais do que fortalecido, o PNI deveria ser respeitado. Trata-se de um patrimônio da saúde pública brasileira”, completa.

Na atual pandemia, o PNI não teve oportu-nidade de mostrar sua eficiência e a escassez de vacinas preocupa, concorda a professora Simone Campos Maia de Andrade, especialista em saúde

coletiva. “Não tivemos a compra precoce das va-cinas dos laboratórios produtores. Além disso, temos capacidade para a produção e distribuição de vacinas, mas faltaram investimento e vontade do governo federal no sentido de empenhar seus esforços. Assistimos a um descompasso entre as orientações da OMS e as ações do governo fede-ral”, considera. O desencontro de informações pode ainda confundir a população. A professora lamenta a demora política na resposta ao vírus e diz que essa será uma marca negativa na história do maior sistema público de saúde do mundo, o SUS. “O governo é controverso e, desta maneira, ajuda o vírus a cumprir sua meta de infectar o maior número de pessoas. A vacinação já pode-ria estar bem mais avançada. Não estaríamos vendo um alto número de mortes e cidades ten-do que paralisar as atividades. Perdemos a opor-tunidade de salvar vidas”, alerta.

Planejamento e responsabilidade

“A cada vacina, vejo os olhos da população brilharem de agradecimento e confiança. A população bem-informada quer vacinar” Rosângela Andrade, agente de saúde

João Pereira: “Para chegar aos 96 anos, um dos segredos é cuidar bem da saúde”

SAIBA MAISO Programa Nacional de Imunização (PNI) foi criado em 1973; Atualmente, são disponibilizadas pela rede pública 28 vacinas;

O Calendário Nacional de Vacinação contempla crianças, adolescentes, adultos, idosos, gestantes e indígenas;

Entre as principais doenças: Sarampo, Poliomielite, Tetano, Febre Amarela, Meningite, Hepatite B, Rubéola e Gripe.

Revista PUC Minas nº 23 2726 pucminas.br/revista

SAÚDE

VACINA É DIREITO EDEVER DE TODOSCom um Programa Nacional de Imunização respeitado, por que o Brasil não consegue a mesma eficiência na vacinação contra a Covid-19? |Felipe Caixeta

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Revista PUC Minas nº 23 2928 pucminas.br/revista

Confiança na ciência Como reflexo da atual pandemia da Covid-19

e da necessidade de salvar vidas, as vacinas con-tra o novo coronavírus foram desenvolvidas em tempo recorde. E essa é uma situação que deve ser vista com tranquilidade, segundo o professor Henrique Guerra. O epidemiologista ressalta a importância das agências reguladoras como a Anvisa e defende o acesso da população à infor-mação correta. “Crises sanitárias são solo fértil para disseminação de teorias conspiratórias e negação da realidade. A missão fundamental da Anvisa e das agências similares em outros países é garantir a segurança e a eficácia das vacinas”, afirma. Ele observa que laboratórios e cientistas seguem regras rígidas de segurança e ética nos estudos clínicos. “O processo de desenvolvimen-to de uma vacina segue protocolos de segurança e é dividido em fases. Todas as fases foram cum-pridas para os imunizantes que estão sendo uti-lizados hoje no Brasil”, completa.

E foi esclarecendo a população por meio da realização de grandes campanhas nacionais e apostando em imunizantes seguros que o Bra-sil conseguiu eliminar doenças perigosas e que marcaram gerações como a Poliomielite. “O PNI é hoje um programa indispensável, consolida-do, com grande respaldo perante a comunidade científica brasileira e internacional, mas neces-sita ser fortalecido, pois precisamos a todo mo-mento nos lembrar que as doenças não estão to-talmente erradicadas e a vigilância não pode ser esquecida ou relegada a segundo plano. É neces-sário cuidarmos para que as coberturas vacinais

se mantenham em patamares elevados”, afirma o epidemiologista.

No entanto, mesmo com resultados tão evi-dentes, os movimentos negacionistas ocasio-nam a desconstrução progressiva do conheci-mento que é transmitido por profissionais da saúde, levando a população a um sentimento de medo, negação e descrédito de práticas efetivas de prevenção das doenças. “O desaparecimen-to das doenças é resultado de muitos anos com campanhas de vacinação e conscientização da sociedade. Será assim também com a Covid-19. Não sabemos quando a epidemia será contro-lada, mas sem o Sistema Único de Saúde nossa situação durante a pandemia seria ainda pior”, conclui Henrique Guerra.

“Crises sanitárias são solo fértil para disseminação de teorias conspiratórias e negação da realidade. A missão fundamental da Anvisa e das agências similares em outros países é garantir a segurança e a eficácia das vacinas”Professor Henrique Guerra

de enfermagem que atuam na sala de vacinação. “Costumo chamar o espaço das vacinas de ‘sala saudável’. É lá que chegam os cidadãos em bus-ca de prevenção. A prioridade da saúde pública sempre foi prevenir e é assim que tem que ser”. A profissional avalia que o apoio da população ajuda a fortalecer o SUS. Segundo ela, a adesão dos pais é alta porque está difundida a ideia do direito da criança à saúde e responsabilidade pa-rental. Já o público adulto é mais trabalhoso e menos aderente aos calendários de vacina. “Com a pandemia e principalmente após o início da va-cinação contra a Covid, sinto que a população se interessou mais pela imunização. Vejo com âni-mo esta mudança de comportamento e espero um futuro com pessoas ainda mais comprome-tidas com a saúde e confiantes na imunização”, afirma.

Imunizado contra a Covid-19 aos 86 anos, José Costa Leal diz que sempre toma “as vacinas do SUS” e é grato por isso

Entender o efeito da redução do volume de chuvas no período seco e de outras variáveis na geração de energia elétrica pode auxiliar na to-mada de decisões quanto à operação de usinas hidrelétricas e permitir uma futura articulação entre esses estudos e medidas de modernização ou diversificação desse processo. Estabelecer essa correspondência é o objetivo do artigo Correla-tion Between Precipitation Index and Energy Ge-neration in Hydroelectric Plants (Correlação entre o Índice de Precipitação e a Geração de Energia em Usinas Hidrelétricas), publicado na revista interdisciplinar IEEE Latin America Transactions, voltada para a divulgação de artigos de pesquisa originais e de qualidade em espanhol e português sobre temas emergentes em três áreas principais: Computação, Energia Elétrica e Eletrônica.

O artigo é resultado do trabalho de conclusão de curso do egresso Gabriel Luiz Lisboa de Sousa, do Curso de Engenharia Elétrica do Campus Con-tagem. A ideia para realização do estudo surgiu a partir da experiência de Gabriel como bolsista de iniciação científica pelo Fundo de Incentivo à

Pesquisa (FIP) da PUC Minas. “Durante esse pro-jeto, desenvolvemos uma pesquisa a respeito do comportamento do clima e das bacias hidrográ-ficas da região metropolitana de Belo Horizonte. Concluído esse estudo, o professor Márcio Cam-pos me sugeriu dar continuidade, correlacio-nando os fenômenos de chuva que estudamos com a produção de energia elétrica nas usinas instaladas na bacia hidrográfica do Rio São Fran-cisco. Eu também fiz a adição da correlação des-sa produção de energia com o nível e vazão dos reservatórios”, relata Gabriel. A partir do levan-tamento e análise de informações foi possível determinar e explicar o efeito das chuvas sobre a geração de energia elétrica “para cada uma das usinas, de Cajuru, Gafanhoto, Queimado, Rio de Pedras e Três Marias, dadas a suas peculiarida-des. Isso pode ajudar nas tomadas de decisão de operação das referidas usinas e, também, em usi-nas com características semelhantes”, comentou o professor Márcio Campos, orientador do TCC e coautor do artigo, que pode ser acessado clican-do neste link.

Publicação internacional

Usina Hidrelética do Gafanhoto, em Divinópolis (MG)

Raphael Calixto

Christyam de Lima/ShutterStock

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Revista PUC Minas nº 23 3130 pucminas.br/revista

O Núcleo de Apoio Contábil Fiscal (NAF) do Campus Coração Eucarístico, do Curso de Ciên-cias Contábeis, vem se destacando no número de atendimentos. De acordo com dados de 2020 da Receita Federal, o NAF ficou em primeiro lu-gar em Belo Horizonte, sexto em Minas Gerais e nono no Brasil, em um total de 2.821 atendi-mentos, incluindo presenciais e a distância. Desenvolvido pela Receita Federal em parceria com instituições de ensino superior, tem como objetivo oferecer serviços contábeis e fiscais gra-tuitos para pessoas físicas e jurídicas de menor poder aquisitivo.

“Esse resultado significa que temos uma prá-tica extensionista exitosa, integrada ao ensino e pesquisa, e demonstra que o NAF tem um pa-pel importante no processo de educação fiscal e cidadania, e que atua na perspectiva dialógica entre aluno, professor, governo e sociedade”, comemora a coordenadora, professora Fátima Maria Penido Drumond Coelho.

Com a chegada da pandemia e a adoção do re-gime remoto pela Universidade, o núcleo precisou se adequar e, em abril de 2020, começou a prestar atendimentos por telefone e plataformas digitais. Em setembro, inaugurou mais uma modalidade de atendimento: o NAF Virtual. “Percebemos que muita gente acostumada a fazer o imposto de ren-da com o NAF estava à deriva, sem poder procurar nossa Universidade”, conta Drumond.

Além do destaque nos atendimentos, o NAF também foi bem-sucedido em um evento online promovido pela Receita Federal, em março deste ano, no qual os estudantes foram convidados a apresentar trabalhos sobre cidadania fiscal. O artigo Núcleo de Apoio Contábil e Fiscal: uma ex-periência transformadora para os alunos, para os contribuintes atendidos e para a cidadania, da aluna Poliana Kelly Maria da Silva, foi um dos cinco selecionados de todo o Brasil para apresen-tação. “Foi um privilégio para mim, como estu-dante e principalmente como integrante desse

projeto tão especial que é o NAF. A minha per-cepção quanto à transformação dos estudantes que entravam no NAF e também dos contribuin-tes fez com que eu desejasse compartilhar com mais pessoas o que eu sentia”, conta.

Para o gestor público Sérgio Mascarenhas Santos, da Receita Federal de Belo Horizonte, o de-sempenho da PUC Minas é fruto de um trabalho “consistente e de excelente qualidade”. “O resul-tado vai aparecendo agora também em aspectos quantitativos, com a meteórica ascensão do NAF Campus Coração Eucarístico. Acredito que a de-dicação dos brilhantes estudantes envolvidos, a liderança da professora Fátima e o modelo estru-turado de atendimento foram alguns fatores que elevaram os números do NAF”, elogia.

De acordo com ele, essa atuação relevante também se reflete no cenário nacional. Os 80 NAFs de Minas Gerais, sobretudo oito deles, in-cluindo o da PUC Minas, foram responsáveis por mais de 62% de todos os atendimentos feitos pe-los NAFs do Brasil, seja na modalidade presencial ou remota. Ainda segundo ele, em 2020, os 431 núcleos formalizados realizaram 92.446 aten-dimentos. “Em 2021 o sucesso nos números de atendimentos parece repetir-se. Tenho certeza que ampliaremos, e muito, o atendimento aos cidadãos mineiros”, aposta Santos.

CIÊNCIAS CONTÁBEIS

DESTAQUE EM SERVIÇOSCONTÁBEIS E FISCAISNAF alcança primeiro lugar em ranking de atendimentos da Receita Federal |Fernando Ávila

SAIBA MAISNa PUC Minas, além do Coração Eucarístico, o NAF também está presente nas unidades Barreiro, Contagem e São Gabriel.

“Em 2021 o sucesso nos números de atendimentos parece repetir-se. Tenho certeza que ampliaremos, e muito, o atendimento aos cidadãos mineiros” Sérgio Mascarenhas Santos, da Receita Federal de Belo Horizonte

PUC Play: conexão com o conhecimento

Democratizar o conhecimento e contribuir para a for-mação crítica e humanista da sociedade, debatendo temas atuais de uma forma dinâmica e leve. Essa é a proposta do PUC Play PUC Minas, podcast da Universidade lançado nes-te semestre. Disponível quinzenalmente, sempre às quin-tas-feiras, nas principais plataformas de streaming, o PUC Play tem a proposta de entrevistar professores para levar ao ouvinte análises sobre temas como inovação, tecnologia, carreira, empreendedorismo, políticas ambientais e a pro-dução científica da Universidade. “É importantíssimo que as universidades estejam presentes na sociedade incenti-vando o debate embasado na ciência e combatendo as fake news, que são um desserviço à informação de qualidade. O podcast tem o objetivo de contribuir com este desafio”, explica o professor Mozahir Salomão Bruck, secretário de Comunicação e diretor da Faculdade de Comunicação e Ar-tes da PUC Minas.

O PUC Play é uma produção da Secretaria de Comunica-ção da PUC Minas, por meio da Assessoria de Imprensa, res-ponsável pela criação dos roteiros, produção e locução, em parceria com o Laboratório de Áudio da Faculdade de Co-municação e Artes, que faz a gravação, sonorização e edição.

O risco das facetas e lentes de contato dentárias

A busca pela beleza perfeita passa também por um sor-riso tido como perfeito. As postagens de imagens na inter-net, com todos esses atributos, revela a importância que os jovens, de maneira geral, estão dando ao tema. A própria busca na internet pelas palavras facetas e lentes de contato, que são aplicadas aos dentes para obter esse resultado, tem chamado a atenção dos especialistas. Só que as facetas e lentes de contato levam à intervenção invasiva, precoce e até desnecessária na juventude. A colocação de facetas de cerâmica é um tratamento invasivo com desgastes irrever-síveis e que, a longo prazo, pode ter consequências como infiltração marginal, fraturas, alterações gengivais, cárie e, em casos mais extremos, a perda do dente. O resultado da pesquisa, orientada pela professora Andréia Salvador Castro, é um alerta para os jovens.

Queda na criminalidade durante a pandemia

Crimes contra o patrimônio sofreram queda em Belo Ho-rizonte em razão do distanciamento social em decorrência da pandemia. Esse foi o resultado de uma pesquisa desenvol-vida por Antônio Hot Pereira de Faria, aluno do Programa de Pós-graduação em Geografia da PUC Minas, e orientada pelo professor Alexandre Magno Alves Diniz. A análise comparou dados oficiais de ocorrências policiais oriundas do sistema de Registro de Eventos de Defesa Social (Reds) no município, considerando o período de 18 de março (início das medidas de isolamento) até 24 de setembro (um mês após a flexibili-zação), dos anos de 2018, 2019 e 2020. O período pandêmico (2020) apresentou queda de 45% em relação a 2019 e de 51% em relação a 2018. Foram considerados crimes contra o pa-trimônio as modalidades criminais furto, extorsão e roubo.

Outra conclusão apresentada na pesquisa foi a manutenção da concentração dessas ocorrências no hipercentro da capital e ao longo dos principais corredores de mobilidade urbana. “Esse comportamento é compatível com a teoria do padrão do crime, pois o hipercentro representa uma importante concentração de nós, ou seja, destinos de deslocamentos diários das pessoas, e as vias de acesso são caminhos”, afirma o autor.

Raggedstone/ShutterStock

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Revista PUC Minas nº 23 3332 pucminas.br/revista

ESPECIAL

ERA DEEXTREMOSProfessores refletem sobre o radicalismo ideológico, que ataca a democracia, as instituições e nega a ciência|Edson Cruz

No dia 7 de janeiro de 2021, uma multidão cercou e invadiu o Capitólio, o prédio em que se instala o centro legislativo federal do estado nor-te-americano. Os radicais tentaram impedir a con-firmação da eleição do candidato Joe Biden, vence-dor do pleito. O grupo havia se insuflado por meio de discursos do candidato derrotado e na época presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump. Antes disso, outro ato de manifes-tação de extremismo de direita ocorreu em solo brasileiro, no sábado, 13 de junho de 2020, quando a ativista Sara Fernanda Giromini, mais conhecida como Sara Winter, líder do movimento armado de extrema direita 300 do Brasil, lançou fogos de artifício contra o prédio do Supremo Tribunal Fe-deral (STF) em Brasília. Os manifestantes pediam a intervenção militar, a volta do AI-5 (Ato Institucio-nal número 5), um marco da ditadura brasileira, e o fechamento do STF. Esses são apenas alguns dos

exemplos em meio a uma onda de extremismo político e ideológico existente nos EUA, no Brasil e em outros cantos do mundo, que vêm à tona nos últimos tempos. Para entender o que há por trás dessa radicalização política e ideológica, como se instituiu essa cultura difusa do autoritarismo e como a política se torna agregadora de visões racis-tas, antidemocráticas, entre outras, ouvimos espe-cialistas da PUC Minas e de outras universidades.

Na opinião do professor Robson Sávio Reis Sou-za, coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíti-cos (Nesp), órgão da PUC Minas e da Arquidiocese de Belo Horizonte, e membro do grupo de análi-se de conjuntura política da Conferência Nacio-nal dos Bispos do Brasil (CNBB), o País e o mundo passam por uma mudança epocal neste começo de milênio. “Isso desinstala o que está instituído, principalmente as instituições de poder”, observa.

Para explicar o momento atual, o professor

“Essa mudança epocal reverbera de forma mais intensa e dolorida em uma sociedade desigual, injusta, autoritária, violenta, patriarcal, cujas elites e classes médias, historicamente impediram o avanço dos processos civilizatórios”Professor Robson Sávio

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Revista PUC Minas nº 23 3534 pucminas.br/revista

Robson faz uma referência ao filósofo italiano An-tonio Gramsci, que diz que a crise consiste preci-samente no fato de que o velho está morrendo, e o novo não pode nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece.

Esses sintomas mórbidos e perversos, segundo o professor Robson, se multiplicam na atualidade. “Essa mudança epocal reverbera de forma mais intensa e dolorida em uma sociedade desigual, injusta, autoritária, violenta, patriarcal, cujas eli-tes e classes médias, historicamente impediram o avanço dos processos civilizatórios”, assinala o professor Robson Sávio.

A manifestação desses sintomas mórbidos res-soa na grande onda de extremismo de direita exis-tente em muitos países atualmente. Nos EUA, de acordo com o professor de Estudos Internacionais da Universidade de Oklahoma, onde também co--dirige o Centro de Estudos Brasileiros, Fábio de Sá e Silva, a extrema direita contribuiu decisivamente para a eleição do presidente Donald Trump, que se apoia em grupos ressentidos de trabalhadores brancos e pobres. “Para os quais ‘o sonho america-no’ se tornou inalcançável, já que não conseguem mais mandar os filhos para a universidade e po-dem ir à falência por qualquer problema de saúde”, explica o professor.

Grupos extremistas também ajudaram a ele-ger o presidente Jair Bolsonaro, como constata o professor David Nemer, especializado em antro-pologia de Informática, do Departamento de Es-

tudos de Mídia, da Universidade da Virgínia. Ele monitora grupos de WhatsApp da extrema direita brasileira desde março de 2018, ano da última elei-ção presidencial brasileira.

A estimativa dele é que atualmente 120 mi-lhões de pessoas, metade da população do Brasil, faça uso frequente do WhatsApp para quase tudo, como bate-papos em grupos maciços e divulgação e recebimento de notícias comunitárias, nacionais e até globais. “O WhatsApp permite que os usuários participem de grupos massivos, às vezes, com cen-tenas de membros fortes, o que lhe dá um poder especial no Brasil. E, em um país com mídia alta-mente concentrada, tornou-se uma ferramenta organizadora e uma maneira fácil de manobrar em torno das estruturas tradicionais de notícias”, explica o professor.

A pesquisa do professor David Nemer indicou que os extremistas brasileiros se dividiram em pelo menos três subgrupos: os propagandistas, os supremacistas sociais e os insurgentes. “Dois deles apoiam em grande parte Jair Bolsonaro, um empurrando propaganda do governo e grupos de fake news para convencer o Brasil de que o que está acontecendo no governo brasileiro não está realmente acontecendo. Outro ampliando suas visões socialmente conservadoras de extrema di-reita, incluindo homofobia desenfreada, racismo e sexismo. Os membros da terceira coalizão tor-naram-se uma espécie de insurgência na extrema direita, um grupo de brasileiros que sentem que

Bolsonaro traiu sua causa e se tornou um dos seus adversários mais ferozes e radicais”, explica o pro-fessor Nemer, autor do livro Favela Digital, o outro lado da tecnologia, sobre o uso da tecnologia em bairros informais no Brasil.

Ele lembra que esses grupos migraram tam-bém para redes sociais, como youtube, e passaram a compartilhar links com o objetivo de monetiza-ção. Outra constatação é que apenas uma pequena fração de brasileiros pertence a esses grupos e que eles não são representativos de todos os eleitores do presidente Jair Bolsonaro, mas que todos reve-lam maneiras pelas quais as pessoas estão se ra-dicalizando em aplicativos de mensagens como o WhatsApp.

A partir das jornadas de julho de 2013, durante o governo da presidente Dilma Rousseff, a radica-lização e o extremismo ganharam um novo rumo, na avaliação do professor Guilherme Ignacio Fran-co de Andrade, doutor em História, da Universi-dade Federal de Mato Grosso do Sul e do Instituto Federal do Mato Grosso do Sul (IFMS). “Houve uma radicalização do pensamento político. O descon-tentamento de parte considerável da população brasileira com a corrupção da grande maioria dos partidos brasileiros, com a sensação de frustração e pouca representatividade política, com o desen-volvimento do antipetismo e do lavajatismo, fez com que essa onda conservadora influenciasse milhões a elegerem um presidente de extrema di-reita”, explica o professor Guilherme.

“Essas manifestações de 2013 e o impeachment da presidente Dilma Roussseff permitiram aflorar sentimentos que andavam um pouco reclusos”, diz a professora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, professora da USP e da Princeton University e cura-

dora adjunta para Histórias do Masp, o Museu de Arte de São Paulo. De acordo com ela, até então o brasileiro zelava por uma imagem de muito re-ceptivo, muito aberto, que servia de verniz para uma intolerância e um autoritarismo que ficavam escondidos e que estavam enraizados na própria história do País. Ela se remete a um certo “homem cordial”, que foi descrito em 1936 pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda, em seu livro Raízes do Brasil.

O que ocorre, no entanto, é que o conceito de “homem cordial”, que dá nome ao capítulo mais célebre desse livro, foi muitas vezes mal interpre-tado como elogio, observa a antropóloga. “Na ver-dade, ele queria expor uma representação do que queríamos ser”, explica Lilia Schwarcz, que lançou em 2019, o livro Sobre o autoritarismo brasileiro, pela Companhia das Letras.

Um Brasil pouco cordial pôde ser visto ainda em manifestações da esquerda brasileira. Ele-na Landau, Fernando Schüller, Leandro Piquet Carneiro e Samuel Pessôa, autores do artigo De-safios de uma Sociedade Aberta, publicado em 3 de agosto de 2020, no Jornal Folha de S. Paulo, relatam que o processo de polarização política da sociedade brasileira remonta também à re-tórica violenta da esquerda à época imediata-mente anterior de sua chegada ao poder, com o “Fora, FHC” e seu esforço para estigmatizar e des-legitimar um governo de clara orientação social democrática. O ponto culminante foi a marcha dos 100 mil, em 1999, que reuniu mais de 100 mil simpatizantes da esquerda na Esplanada dos Mi-nistérios em Brasília, oito meses depois do início do segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso.

“O WhatsApp permite que os usuários participem de grupos massivos, às vezes, com centenas de membros fortes, o que lhe dá um poderespecial no Brasil. E, em umpaís com mídia altamente concentrada, tornou-se uma ferramenta organizadora e uma maneira fácil de manobrar em torno das estruturas tradicionais de notícias”Professor David Nemer

A nova extrema direita brasileiraAo se buscar as raízes dessa nova extrema di-

reita brasileira, percebe-se que esse segmento não é tão novo assim e tem diferentes matizes. O pro-fessor Guilherme Andrade observa que, na década de 1980, após a ditadura militar, ela já se mani-festava com a presença dos skinheads, de grupos de neonazistas, de neofascistas, assim como de neointegralistas.

Apesar de fazerem parte de grupos extremis-tas, os neointegralistas não são representativos da atual extrema direita, na avaliação de Andra-de. O movimento integralista teve seu auge na década de 1930, sob a liderança de Plínio Salgado, quando o fascismo estava avançando em vários países da Europa, principalmente na Itália, Ale-

manha, Espanha, França, Portugal e Inglaterra. Sendo a Alemanha e a Itália os principais mo-delos de inspiração para os integrantes da Ação Integralista Brasileira (AIB), que, durante as dé-cadas de 1930 e 1940, tiveram certo sucesso no Brasil. “Não existe um grande projeto político integralista, não vejo influência dos militantes integralistas em altos cargos do governo ou que eles consigam dirigir qualquer pauta da sua ide-ologia no atual governo. Os integralistas podem até ter crescido em número nos últimos anos, principalmente nas redes sociais, mas isso não garante que eles sejam uma grande força po-lítica, portanto não existe evidência de um re-nascimento do integralismo hoje no País, como

Arquivo Pessoal

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Revista PUC Minas nº 23 3736 pucminas.br/revista

mover uma palha para ajudar o próximo, e faz ques-tão de tratar a si mesmo como completamente ir-responsável em relação ao que pode acontecer com os demais”. Como exemplo desse comportamento, ele cita que o uso de máscara, ou o fato de lavar as mãos, ou fazer o para-casa com o filho, que está em homeschooling por causa da pandemia, ou dar uma folga para a sua faxineira, é visto como socialismo. “O sujeito quer uma licença para ser irresponsável, não ter de fazer qualquer sacrifício em nome do bem comum”, diz o professor Thomas Bustamante.

O coordenador do Programa de pós-graduação em Direito da UFMG não crê que haja um único apoiador do atual governo brasileiro que não esteja, em alguma medida, comprometido com o projeto antiliberal. O professor lembra que talvez a questão da vacinação contra a Covid-19 seja o maior teste para essa ideologia. “No caso da vacina, o negacionis-ta, para ser negacionista até o fim, vai acabar impon-do a si mesmo os ônus de sua decisão. Ou seja, ele vai se colocar como vulnerável, sofrer as consequências de sua decisão. Eu duvido que na hora de tomar a vacina essas pessoas vão ser coerentes. Acho que vai ter muita gente fazendo campanha contra a vacina na internet, mas tomando a vacina quando chegar a vez dele”, opina Bustamante.

Ele lembra, ainda, que o iliberalismo tem conse-guido manter-se forte no Brasil em parte por uma expansão de um fundamentalismo cristão evangé-lico, que tem crescido exponencialmente. “Muitas vezes são religiões descentralizadas, que, diferen-temente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB, e da posição oficial da Igreja Católica no Brasil, pretendem repetir erros que em algum

momento da história todas as religiões acabaram cometendo, que é contrapor religiosidade com a ciência. O enfraquecimento da separação entre Es-tado e Religião é um dos responsáveis pelo poder e influência dessa ideologia nefasta. Esse tema, por mais sensível que seja, não pode ser jogado para de-baixo do tapete”, conclui.

O cientista político Eduardo Grin, professor do Departamento de Gestão Pública da Fundação Ge-tulio Vargas/São Paulo, explica que a extrema direita encontra um terreno fértil para crescer quando se depara com problemas como o desemprego, perda de perspectiva pessoal e profissional derivadas das mudanças estruturais na economia e da globaliza-ção, com a internet gerando um mundo de poucos incluídos pela tecnologia e muitos excluídos, com o aumento da pobreza e da concentração de riqueza, a mudança climática e com a questão ambiental. “O desafio é que o discurso simplificador do mundo promovido pela extrema direita se opõe ao projeto da política democrática, que depende de as pessoas aceitarem regras, serem responsáveis como cida-dãos em seus deveres e direitos e que democracias requerem aceitar as diferenças e o debate, o que não é nem simples de entender e de pôr em prática”, diz o professor Eduardo Grin.

Em sua concepção, uma política democrática pre-cisa se afirmar de forma positiva e não como antagô-nica da política do autoritarismo, do cultivo ao racis-mo, ao xenofobismo. “A política democrática pode ser agregadora se for baseada em valores e princípios que sejam debatidos com a sociedade como uma for-ma de gerar uma vida coletiva melhor para todos. A política democrática precisa construir uma narra-tiva capaz de convencer as pessoas que seu projeto societário é construtivo e não destrutivo (do meio ambiente, dos direitos fundamentais, da liberdade de expressão, da tolerância com as diferenças), como o da extrema direita”, explica o professor da FGV.

Outra característica da atual extrema direita bra-sileira é o iliberalismo, na opinião de Thomas Bus-tamante, professor de Filosofia do Direito e coorde-nador do Programa de Pós-graduação em Direito da UFMG. Trata-se de uma ideologia que se vale de propaganda populista e de um discurso rancoroso em relação às instituições políticas de democra-cias liberais, reivindicando um fracasso do consti-tucionalismo e da democracia representativa. “Há múltiplas variáveis, mas um traço comum é uma ideologia antiestablishment, uma desconfiança no sistema político que visa eliminar as instituições do jogo democrático. Sustenta-se uma relação direta entre um líder carismático e o povo, sem interme-diações, e também que a democracia parlamentar seja um sistema inerentemente corrupto”, enfatiza Thomas Bustamante.

De acordo com o professor, há um ingredien-te que lhe parece genuinamente novo. “Há um

anti-intelectualismo marcante, uma desconfian-ça em relação à racionalidade e aos princípios ilu-ministas”, diz. Ele lembra que, na literatura mais recente sobre o tema, se costuma dizer que esse anti-liberalismo é, antes de mais nada, uma ideo-logia que desconfia da noção rawlsiana de ‘razão pública’, que pressupõe que a política se orienta por princípios racionais com os quais a delibe-ração pública está ou deve estar comprometida. “Para isso, ele tem que retirar a credibilidade de todas as instituições onde a razão pública possa florescer. Há um ataque desde os partidos políti-cos até às universidades, à imprensa, etc”, define.

Outro ponto do iliberalismo mencionado pelo professor Thomas Bustamente é o individualismo exacerbado. Com isso, o sujeito sente-se completa-mente desonerado de qualquer responsabilidade em relação a outros. “Qualquer coisa passa a ser ou socialismo ou ‘mimimi’. O sujeito faz questão de não

Iliberalismo e visão simplista do mundo

terceira força política, como na década de 1930”, afirma o professor Guilherme Andrade.

Mesmo sem a força do movimento integralista e de seus princípios, a nova extrema direita brasi-leira tem uma gramática própria, na avaliação do professor Fábio de Sá e Silva. Essa gramática é re-presentada por quatro elementos: a identificação da corrupção como uma ameaça à existência da nação (câncer); a ideia de que a lei é um limitador no enfrentamento desse câncer e por isso é preci-so reformá-la, em especial por concentrar poder

nas mãos de agentes estatais (juízes e procurado-res); a ideia de que quem discorda da avaliação ou dos demais meios de operação é um inimigo da nação; e a compreensão de que, afinal, pode-se violar a lei para combater a corrupção. “Essa é uma estrutura discursiva que também é mobili-zada pela extrema direita, apenas com adaptações quanto a quem é a ‘ameaça da vez’, que podem ser os ‘corruptos’, mas podem ser ‘comunistas’, ho-mossexuais, negros, cientistas, jornalistas e ou-tros”, esclarece o professor Fábio de Sá e Silva.

“Essa é uma estrutura discursiva que também é mobilizada pela extrema direita, apenas com adaptações quanto a quem é a ‘ameaça da vez’, que podem ser os ‘corruptos’, mas podem ser ‘comunistas’, homossexuais, negros, cientistas, jornalistas e outros”Professor Fábio de Sá e Silva

“A política democrática precisa construir uma narrativa capaz de convencer as pessoas que seu projeto societário é construtivo e não destrutivo (do meio ambiente, dos direitos fundamentais, da liberdade de expressão, da tolerância com as diferenças), como o da extrema direita”Professor Eduardo Grin

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M. Pisani/El País

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Revista PUC Minas nº 23 3938 pucminas.br/revista

Sobre os rumos da extrema direita no mundo, o professor Danny Zahreddine, diretor do Institu-to de Ciências Sociais da PUC Minas e professor do Departamento de Relações internacionais diz que a derrota do presidente Donald Trump nas eleições norte-americanas pode causar um gran-de abalo. “Da mesma forma que sua ascensão ao poder potencializou o surgimento de vários regi-mes de extrema direita pelo globo, inclusive no Brasil, sua derrota nos Estados Unidos gera uma tendência igual, de diminuição da disseminação deste tipo de ideologia”, explica o professor Dan-ny Zahreddine.

No entanto, ele não acredita que a derrota de Trump tenha significado o fim do trumpismo, mas sim o seu enfraquecimento. Para sustentar essa opinião, ele lembra que mais de 70 milhões de americanos votaram em Donald Trump, mas que, com o episódio da invasão do Capitólio, cita-do nesta reportagem, sua popularidade diminuiu

e perdeu o apoio de muitos conservadores ameri-canos adeptos de sua causa. “Nesse sentido, pode-mos dizer que ainda existe um forte espaço para o trumpismo, tanto nos Estados Unidos como em outros países, mas com suas últimas ações no go-verno, seu poder de convencer a direita em con-tinuar o apoiando diminui consideravelmente”, reforça o diretor do Instituto de Ciências Sociais da PUC Minas.

O professor Danny Zahreddine ainda verifica duas tendências para o governo brasileiro atual com a derrota de Donald Trump. O fim do apoio estadunidense às ações do governo brasileiro fará com que o Brasil se torne um centro de resistên-cia e defesa do trumpismo e das ideologias de ex-trema direita por meio do bolsonarismo, o que pode trazer certo protagonismo a essa vertente política. Por sua vez, as ações do governo brasi-leiro calcadas na negação da ciência, na suposta disseminação de fake news e de teorias conspira-

Rumos da extrema direita

“Da mesma forma que sua ascensão ao poder potencializou o surgimento de vários regimes de extrema direita pelo globo, inclusive no Brasil, sua derrota nos Estados Unidos gera uma tendência igual, de diminuição da disseminação deste tipo de ideologia”Professor Danny Zahreddine

A política de polarizaçãoEste processo, novamente aqui entendido como uma atuação antissistema político, se caracteriza por:

D Tratamento dos adversários políticos como inimigos que devem ser eliminados, já que a lógica da competição política não se insere nessa visão de mundo.

E Desprezo pelo processo eleitoral, pois se o líder sabe o que o “povo” deseja, por que correr-se o risco de eleger um “inimigo” do povo.

A Eleição de líderes populistas que conseguem criar uma narrativa que representam o povo contra as “elites”.

B No poder, estes líderes dão início a um processo sistemático de enfrentamento e deslegitimação das instituições políticas usuais nas democracias (partidos, parlamento, poder judiciário, imprensa, etc.).

C Negação dos valores democráticos, como o respeito à tolerância, diversidade, liberdade de expressão, entre outros.

G Uma visão de mundo caracterizada pela “arquitetura da destruição”, para tomar emprestado o título do filme que analisa o que foi o nazismo. O projeto político consiste em desmontar o legado de construção institucional, democrática e de políticas públicas, pois o foco é criar “um novo mundo” que negue aquele gerado pelas “elites” contrárias ao povo.

K Nacionalismo extremado e desprezo pelo multilateralismo nas relações internacionais.

L Uso de canais diretos de contato do líder político com o “povo” como forma de mostrar a irrelevância das instituições políticas como mediadoras de diferentes visões de mundo típicas das sociedades democráticas. Aqui entram as redes sociais.

N Um rebaixamento da cidadania política, pois nessa distopia não há espaço para o contraditório e o diálogo, dada a lógica imperial e hierárquica com a qual o líder político se relaciona com a sociedade.

M Deslegitimação da liberdade de imprensa e do seu papel de informar e fiscalizar, pois só se aceita a “verdade” produzida pelo líder político e sua rede de produção de informação que, via de regra, são redes de fake news.

I Um modelo político baseado na relação direta entre o líder providencial e salvador e o “povo” (aqui uma característica comum com o fascismo e o nazismo), além de uma visão narcisista do líder político.

H Uma lógica política de facção que defende a parcela da sociedade que o apoia e ignora o restante da sociedade.

J Desprezo pela cultura e a defesa e propagação de valores conservadores e regressistas (por exemplo, contrário à diversidade sexual e casamentos que não sejam entre homem e mulher). Dado que se despreza a diversidade, que caracteriza a realidade cultural, o corolário é defender uma visão de mundo como se fosse universal.

O Sendo uma visão distópica do mundo, a negação dos avanços não só democráticos, mas também na racionalidade científica e no conhecimento acumulado. Nessa linha, irracionalidade e propagação de “fatos alternativos” visam desinformar a população de forma irresponsável para gerar confiança apenas no que diz o “líder do povo”. O negacionismo científico aqui se encaixa.

Fonte: Professor Eduardo Grin

tórias, o forçará a rever algumas políticas domés-ticas e internacionais, relativas principalmente ao meio ambiente, saúde pública e política externa em geral. Pelo menos é o que significativa parte da população brasileira espera.

F Uma visão niilista do mundo na qual o poder não é um meio de gerar políticas públicas para a sociedade, mas um fim para se perpetuar no poder.

Bruno Timóteo

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Revista PUC Minas nº 23 4140 pucminas.br/revista

FILIPINAS O presidente Rodrigo Duterte foi eleito com a promessa de acabar com o tráfico de drogas internacional e já travou batalhas que deixaram milhares de mortos em operações antidrogas. Grupos de direitos humanos o acusam de executar usuários de drogas, além dos traficantes. Na pandemia, impôs uma dura quarentena no país com ameaças de prisão e até de morte para quem fosse flagrado desrespeitando o isolamento social. O Partido Democrático Filipino (PDP), de Dutente, adota uma política anti-imigratória, principalmente contra muçulmanos.

SUÍÇA O Partido Popular Suíço (SVP), de extrema-direita, que tem a maior força no parlamento suíço, adota uma política de anti-imigração, endurecendo regras para a imigração de refugiados.

ARGENTINA Com tendências de esquerda, em 2019, o peronismo (movimento fundado por Juan Domingo Perón), ganhou as eleições argentinas. O presidente Alberto Fernandez tem como vice a ex-presidente Cristina Kirchner, que é sua mentora política. A eleição se deu após um mandato de quatro anos do conservador Maurício Macri.

BOLÍVIA A eleição do presidente Luis Arce, do Movimento ao Socialismo (MAS) em outubro de 2020, evidencia uma derrota das forças conservadoras bolivianas , que assumiram o poder no país e forçaram a renúncia do presidente Evo Morales, em 2019, durante um ano de convulsões durante o governo interino de Jeanine Áñez.

O governo francês anunciou em fevereiro de 2021, o início do processo de dissolução do Movimento de extrema direita Geração Identitária. A decisão foi informada pelo ministro francês do Interior, Gérald Darmanin. O grupo supremacista branco, ultranacionalista e anti-imigração, composto por mil integrantes, ganhou visibilidade promovendo ações midiáticas extremas.

MÉXICO Em 2018, Andrés Manuel López chegou à presidência, e Claudia Scheibaum foi eleita prefeita da capital mexicana. Considerado líder moral da esquerda mexicana por décadas, Andrés tem o apoio da prefeita que vai comandar a maior cidade de língua espanhola do mundo até 2024.

ITÁLIA A Liga, partido italiano de extrema-direita, foi apenas a terceira agremiação mais votada na eleição de março de 2018, na Itália, mas conseguiu vencer uma coalização de governo com o partido Movimento Cinco Estrelas (M5S) para governar a Itália. O líder da Liga, Matteo Savani, já se referiu aos refugiados como “carne humana” e proibiu navios de refugiados de atracar em portos italianos, com uma declarada política de xenofobia.

EXTREMISMO NO MUNDO

EQUADOR O primeiro turno das eleições do Equador, em 7 de fevereiro, de 2021, decretou a vitória do candidato Andrés Arauz, de orientação esquerdista.

POLÔNIA O presidente Andrzej Duda venceu as eleições com 51,21 % dos votos em julho de 2020. Ele apoia ações xenofóbicas contra imigrantes e contra o reassentamento de refugiados na Polônia.

HUNGRIA O líder populista e ultraconservador Viktor Orban, em sua terceira eleição, estipulou a lei da escravidão, que deu aos patrões o direito de exigir dos empregadores 400 horas extras por ano (hoje, são permitidas 250 horas). Ele iniciou a “limpeza étnica” contra ciganos e refugiados sírios, aprovou a bandeira antissemita da Lei Stop Soros, com a expulsão de estrangeiros, aposentou juízes da corte suprema e criou um sistema judicial paralelo ao Poder Executivo.

GRÉCIA A corte grega declarou, em 7 de outubro de 2020, que o partido de extrema direita Aurora Dourada é um grupo criminoso. Baniu a organização radical que já foi a terceira maior liderança do país grego. Seu fundador, Michalokiakos, foi condenado a 13 anos de prisão. O partido praticou uma série de ações criminosas no decorrer de sua existência.

TURQUIA O líder islâmico Recep Tayyip Erdogan, que ocupa o poder desde 2002, foi reeleito com 53% dos votos, em junho de 2019. Ficou 11 anos como Primeiro Ministro da Turquia e foi o primeiro presidente eleito por voto direto do país em agosto de 2014. Ele é considerado ultraconservador, responsável pela promoção e demissão em cargos do primeiro escalão. Demitiu 107 juízes, mais de 18 mil funcionários públicos, 33 mil professores e cinco mil acadêmicos. Ainda alterou a constituição do país, visando às eleições de 2023 e ampliar o seu mandato por mais uma década.

MOVIMENTOS ANTIEXTREMA DIREITAFONTES: JusBrasil, El País, Uol, BBC, CNN e Opera Mundi.

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Revista PUC Minas nº 23 4342 pucminas.br/revista

CIDADANIA

FORMAÇÃO POLÍTICAPERMANENTENesp cria escola na área e assessoria de acompanhamento dos poderes públicos |Leandro Felicíssimo

e um lado, o desconhecimento da atividade po-lítica pela maioria dos cidadãos. Do outro, a falta de acompanhamento da atuação dos poderes, es-pecialmente do Legislativo e do Judiciário. Com o objetivo de contribuir para melhorar a forma-ção política, o Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp), órgão do Anima PUC Minas – Sistema Avançado de Formação e da Arquidiocese de Belo Horizonte, está criando a Escola de Formação Po-lítica para Cristãos Católicos e uma nova assesso-ria para acompanhamento dos poderes públicos. A criação da escola e da assessoria faz parte do

projeto de reestruturação do setor político do Vicariato Episcopal para a Ação Social, Política e Ambiental (Veaspam) da Arquidiocese de Belo Horizonte. Com isso, o Nesp assume mais essas duas tarefas.

“É uma possibilidade de a PUC Minas e Arqui-diocese oferecerem para os cidadãos uma série de produtos de formação, que qualifica melhor a po-lítica enquanto espaço de poder e de organização de políticas públicas, contrapondo a criminaliza-ção da política que faz mal à democracia, afasta o cidadão dos espaços de disputa política e que leva

para cargos pessoas muito despreparadas”, diz o coordenador do Nesp, professor Robson Sávio Reis Souza.

Maria Zelia Castilho de Souza Rogedo, assis-tente episcopal para o Setor Político da Arquidio-cese de Belo Horizonte, explica que a formação política tem como proposta o acesso à capacita-ção teórica e prática sobre o tema Política, tanto aquela institucional (Legislativo, Executivo, Judi-ciário), quanto a desenvolvida por movimentos e organizações sociais. “Conhecer para melhor atu-ar. Na Escola de Formação para Políticos Cristãos Católicos, assessores, candidatos, gestores terão acesso, através de seminários, palestras, cursos presenciais e virtuais, a um rico referencial teóri-co-metodológico. Parcerias serão feitas com ins-tituições tais como Faculdade Jesuíta (Faje), Insti-tuto Santo Tomás de Aquino (Ista), Justiça, Paz e Integridade da Criação (Jpic), Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Caritas, Comissão Pastoral da Terra (CPT), dentre outras”.

Já a Assessoria para Acompanhamento dos Agentes Públicos, continua Zelia, é outra impor-tante linha de atuação. A partir de análises de conjuntura, que abranjam as cidades da Arqui-diocese, o objetivo é desenvolver um processo de acompanhamento das políticas públicas que estejam sendo efetivadas, e presença junto aos católicos eleitos (Legislativo e Executivo).

Integrante do site Comunidade em Movimen-to BH, Luzia do Carmo Barcelos, que já foi coor-denadora de grupo de fé e política, participou de ações desenvolvidas pelo Nesp. “É imprescindível uma escola de fé e política. Para transformar em mudança tem que ter uma ação mais prolongada e mais organizada”, diz ela sobre a importância da formação política permanente.

O coordenador do Nesp diz que há uma neces-sidade de acompanhamento dos poderes públi-cos, a fim de os cidadãos se posicionarem frente às decisões e não decisões dos governantes. “Não há quase nenhum acompanhamento no Brasil dos poderes Legislativo e Judiciário. Os órgãos de controle desses poderes são muito corporativos”, analisa. O Nesp já teve um grupo de acompanha-mento do Legislativo, cuja atividade terminou há três anos. A ideia agora é, gradualmente, acom-panhar as 28 câmaras de vereadores nas cidades da Arquidiocese de BH e também algum tipo de acompanhamento da Assembleia Legislativa. O monitoramento se estenderia gradualmente ao Poder Judiciário que, de acordo com o professor Robson Sávio, é “um poder afastado do povo, elitista”. “Em quais áreas o Judiciário se destaca?

Como toma suas decisões? Temos um Judiciário mais preocupado com a área privada ou com a pública”, questiona. “Precisamos de uma Justiça célere, equânime, que atenda mais aos interesses públicos do que aos privados”.

Funcionária pública, Luzia deseja que essa for-mação política chegue a mais igrejas. Por exem-plo, no acompanhamento do Legislativo tem que ter pessoas especializadas, a contabilidade pública é bastante pesada, considera ela, que já teve a experiência de pesquisar como foram gas-tos os recursos, pelo poder público, em uma obra no bairro Jardim Montanhês, região Noroeste da Capital.

Ela também diz considerar muito importante a análise de conjuntura que já é desenvolvida há anos pelo Nesp. Uma das ações de conscientiza-ção produzidas pelo Nesp e elogiada por Luzia é a Rede Nesp, na qual são postados notícias e do-cumentos em mídias sociais com informações e análise dos fatos por especialistas.

Foi a partir da experiência como coordenado-ra de grupo de fé e política, até 2018, que nasceu o site Comunidade Movimento BH. Foi no grupo de fé e política que Luzia frequentou a formação política oferecida pelo Nesp, que acompanhou todo o processo de construção da escola do bair-ro Jardim Montanhês, durante oito anos para ser concluída. Nesse processo ela viu como faz falta uma comunicação com a comunidade local. Atu-almente, ela assumiu a Pastoral da Comunicação da Paróquia Santa Margarida, do bairro. Nos dias atuais, ela convida jovens a escreverem no site, em questões ligadas ao aeroporto Carlos Prates, ações de solidariedade e outros movimentos.

“A formação política tem como proposta o acesso à capacitação teórica e prática sobre o tema Política, tanto aquela institucional (Legislativo, Executivo, Judiciário), quanto a desenvolvida por movimentos e organizações sociais”Maria Zelia Castilho de Souza Rogedo, assistente episcopal para o Setor Político da Arquidiocese de Belo Horizonte,

Integrante do site Comunidade em Movimento BH, Luzia do Carmo Barcelos, que já foi coordenadora de grupo de fé e política, participou de ações desenvolvidas pelo Nesp

Raphael Calixto

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Outra ação do Nesp, a Escola de Formação Política tem perspectiva de amplo portfólio de ações, com estrutura de formação social e políti-ca, relacionado ao ensino social da Igreja. O Nesp já oferecia, em parceria com o Veaspam, cursos li-vres e de extensão. Agora a ideia é mais sistêmica com a Escola de Formação Política, com estrutura mais ampla voltada para isso, diz o coordenador, professor Robson Sávio. A ideia, prossegue ele, é continuar oferecendo cursos livres, de formação, especialização, cursos voltados para pessoas com atuação em partidos políticos, cursos de forma-ção de agentes públicos.

“Essas ações de formação sociopolítica são um contraponto à criminalização da política no debate público”, diz o professor Robson. Zelia co-menta que “não passa despercebido a ninguém o processo, que já vem de longe, de desqualificar,

criminalizar, demonizar a Política. Isto tem a ver com algo muito concreto: desconhecimento do que seja fazer política; a exposição cotidiana (na mídia) de ações escusas no âmbito do poder; ex-clusão de uma maioria de cidadãos do acesso à informação e a um debate mais qualificado; a im-posição de uma ideologia que atesta que “a vida é assim mesmo”, “não há o que fazer” (muitas vezes apoiada na crença de que esta situação de exclu-são e pobreza “é vontade de Deus”).

São várias as ações planejadas, gradualmente, a partir de 2021, como cursos para políticos com mandatos, assessores parlamentares, candida-tos, gestores; cursos sobre Ensino Social da Igre-ja (extensão, aperfeiçoamento, pós-graduação lato sensu), cursos populares Igreja e Sociedade, cursos sobre conjuntura social e política, entre outras.

Ensino social da Igreja

Há vários anos o Nesp desenvolve atividades de formação política. E elas continuam sendo desenvolvidas:n Nos anos eleitorais, o Nesp produz e divulga

vídeos sobre a importância do voto e do voto consciente, um conjunto de informações sobre o processo eleitoral e o papel dos eleitores nas eleições. Nas últimas eleições, a parceria do Nesp foi com o Conselho Nacional de Leigas e Leigos do Brasil (CNLB), Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP) e o Centro Nacional de Fé e Política Dom Hélder Câmara (vinculado à Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato da CNBB)

n O boletim de análise conjuntural Contextus é uma produção sistemática do Nesp. Já foram objeto de análise pela publicação, entre outros, o acordo entre a mineradora Vale e o governo do Estado no rompimento da mina do Córrego do Fundão; os desafios enfrentados nos três primeiros meses de 2020 no cenário social e econômico; e o primeiro turno das eleições presidenciais.

n Livros, como os Cadernos Temáticos, compilam discussões feitas em seminários e outros eventos do Nesp ou mesmo de temas importantes, como o próprio Acompanhamento do Legislativo – o que é e como fazer;

n Produção e divulgação em redes sociais de vídeos educativos de formação política

n Articulações com várias instituições da Igreja e da sociedade, como o Conselho Nacional do Laicato do Brasil, Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara, Comissão Brasileira Justiça e Paz – CBJP, Movimento Nacional de Fé e Política.

n Produção e divulgação de clipping diário com notícias e análises políticas nas redes sociai

“Essas ações de formaçãosociopolítica são um contraponto à criminalizaçãoda política no debate público”Professor Robson Sávio

ATIVIDADES DO NESP

Cinquenta anos de muitas histórias. Os cor-redores e salas do prédio 13 da Faculdade de Co-municação e Artes (FCA) guardam memórias das quais todos os que participaram da construção dessa trajetória devem se orgulhar. Afinal, ali for-maram-se expoentes da área de Comunicação que ganharam o Brasil e o mundo. Ali também foi constituída uma Faculdade que se originou do sonho de ser um espaço de liberdade, de forma-ção do pensamento crítico e que é hoje referência na formação humanista de profissionais tecnica-mente competentes. Esse espírito de estar sem-pre à frente de seu tempo constituiu e continua desenhando os caminhos da FCA. “A Faculdade surge para ser um espaço de formação de comu-nicadores, como uma dimensão importante da sociedade para a defesa da liberdade de expres-são, construção da cidadania e da democracia. E eu acho que isso marca, que isto está no DNA da FCA”, destaca o diretor da Faculdade de Comu-nicação e Artes e secretário de Comunicação da PUC Minas, professor Mozahir Salomão Bruck.

Criada em 1971, durante o apogeu do regime militar brasileiro, a Faculdade de Comunicação desafiava os limites da repressão política e do for-te controle e censura das informações. Em março daquele ano, nascia na Universidade Católica de Minas Gerais (UCMG) a Faculdade que tinha por concepção ser um espaço de formação critica e de resistência ao regime militar. O cardeal Dom Se-rafim Fernandes de Araújo, que à época era reitor da Universidade, depositou no jovem Lélio Fa-biano dos Santos a responsabilidade pela criação da proposta e instalação da Faculdade. Advogado e jornalista por formação antes que a profissão fosse regulamentada, Lélio era recém-chegado da França, havia vivido de perto a efervescência social e cultural do movimento de maio de 1968 e estava disposto a propor um curso que tivesse o ensino horizontaliza-do centrado no aluno. “Era uma

proposta muito ousada para a época, centrada na teoria do psicólogo estadunidense Carl Rogers. A maioria dos assuntos era resolvida em assem-bleia geral na famosa sala 13, com a participação de professores e alunos”, explica o professor Lélio. Assim nascia a Faculdade de Comunicação.

Mais que uma escola, a FCA se tornou um mar-co para várias gerações e para a própria Comuni-cação Social. “É um signo muito vivo na memória de muitos de nós e das referências que gerou na nossa formação, a continuidade dos nossos an-dares, enfim, da nossa caminhada. É um signo importantíssimo da cultura e particularmente da Comunicação Social”, define o professor da Unisinos Antônio Fausto Neto, que dirigiu a Fa-culdade de 1976 a 1978 e participou da criação e consolidação dos projetos dos cursos juntamen-te com o professor Lélio Fabiano dos Santos e de outros docentes que ousaram sonhar. “O capital da escola foi o da crença de que era possível sair de um terreno inóspito, de um cenário onde a Co-municação Social simplesmente não existia, para formar uma Faculdade”, relembra Lélio.

Espaço de liberdade e pensamento crítico, a FCA completa 50 anos conectada com o futuro | Michelle Stammet

COMUNICAÇÃO

OUSADA ECONTEMPORÂNEA

Raphael Calixto

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Revista PUC Minas nº 23 4746 pucminas.br/revista

Seguindo os passos das práticas inovadoras, ao longo da sua história a FCA contou com gestores que apostaram em iniciativas ousadas. A participa-ção no Programa de Avaliação e Melhoria do Ensino, que era um movimento da Universidade que estava começando a se repensar, a se avaliar, é uma delas. Foi uma das primeiras iniciativas da professora San-dra Freitas ao assumir a gestão da Faculdade. “Al-guns dos motivos pelos quais eu me apaixonei pela FCA são a ousadia e esse atrevimento de uma escola que não tem medo de inventar. E que ao mesmo tempo tem uma seriedade enorme em tudo o que faz. O Programa de Avaliação e Melhoria do Ensino foi o primeiro Programa de Avaliação Institucional das universidades brasileiras”, explica Sandra Frei-tas. O programa trouxe também a oportunidade de reestruturar o desenho do departamento, e retomar a estrutura de Faculdade. “A Comunicação sempre teve uma atuação em caráter de Faculdade. As ativi-dades de extensão que começaram com o Campus avançado no Vale do Jequitinhonha mostram esta atuação”, ressalta Sandra.

A atuação em comunidade sempre foi um ponto forte da faculdade. Exemplo disso é a experiência com o jornal Marco, que nasceu com a proposta de ser um mecanismo de ensino e extensão inserido na realidade comunitária. Outra iniciativa nessa linha foi expressa pelo convênio de cooperação com a Secretaria de Estado da Agricultura de Minas Gerais para o desenvolvimento de trabalhos para o meio rural nos anos 80. Entre as experiências mais recentes, aponta-se o desenvolvimento de projeto de extensão em Brumadinho, que busca contribuir para o enfrentamento de problemas sociais, eco-nômicos, culturais e ambientais ocorridos na bacia do Rio Paraopeba, decorrentes do rompimento da barragem de rejeitos da Mineradora Vale.

Os anos 2000 foram o período de expansão

da Faculdade, quando foram criados os cursos de Comunicação Integrada na Unidade São Gabriel e Jornalismo no Campus de Arcos. “Foi um período de ampliação das fronteiras. e também de um trabalho muito intenso com a sociedade e com o mundo pro-fissional”, ressalta a professora Ivone Lourdes Oli-veira, diretora da FCA à época. Ela destaca também a construção do prédio 42, no espaço antes ocupa-do pelo chamado carinhosamente pelos alunos de “barracão”. Na nova construção, passaram a funcio-nar os modernos laboratórios de áudio, fotografia e vídeo, os espaços de pesquisa e experimentação e o Programa de Pós-graduação em Comunicação.

Em 2013, é criado o Curso de Cinema e Audiovi-sual, pensado dentro da FCA principalmente porque os alunos das três habilitações de Comunicação têm uma inserção muito forte no audiovisual no Brasil. “Historicamente temos uma tradição, uma força nessa área da audiovisual. Isto deve aumentar com a implantação do 5G no Brasil. Há estimativas de que 95% do tráfego de internet venha a ser de vídeo. O que abre um mercado para a produção audiovisual”, explica o professor Robertson Mayrink, coordena-dor do curso.

A partir do sonho e empenho de professores e gestores, constituiu-se o que é hoje a Faculdade de Comunicação e Artes em toda a sua dimensão. “A FCA aprende com o que ela experimentou. Atua no presente muito conectada com os caminhos que vão se desenhando para o futuro. Isso não é retóri-co, isso é efetivo. Neste momento mesmo estamos discutindo profundamente o que está acontecendo, as mudanças que vão ocorrendo com as profissões. Não temos um apego aos modelos tradicionais, a modelos engessados. Pelo contrário, entendemos que o nosso profissional, cada vez mais, tem que estar um passo à frente do que está acontecendo na sociedade”, destaca o professor Mozahir Salomão.

Os desafios contemporâneos não são pou-cos. Desde o início da popularização da internet na década de 1990, a área de Comunicação foi impactada pelas constantes, dinâmicas e pro-fundas mudanças tecnológicas, assim como toda a sociedade. “Após a chegada da internet comercial, surgiram os smartphones, marcan-do um momento de virada em que passamos a ficar online todo o tempo. Todo mundo com o telefone no bolso, conectado o tempo todo. Isso acelera, sobremaneira, a digitalização até chegar ao momento atual, em que é inevitável que to-das as empresas comecem a caminhar para se-rem empresas de tecnologia”, explica o professor Caio César Giannini, coordenador da graduação em Publicidade e Propaganda na Unidade São Gabriel e da especialização em Comunicação Di-gital do IEC PUC Minas.

Essas mudanças tiveram um impacto eviden-te nas atividades e habilidades do profissional de Comunicação. Não é possível mais conceber atividades, mesmo de profissionais de diferen-tes habilitações, de forma isolada ou focadas em uma única atividade. “A comunicação que expe-rimentamos hoje é essencialmente transmidiá-tica, multimidiática e convergente. É impossível, e esse é um desafio que é Universal, formar um profissional que não esteja nessa perspectiva da transdisciplinaridade, do transmidiático. Todo profissional hoje atua em rede. É uma questão cultural. Todos nós, cidadãos, sujeitos contempo-râneos, vivemos em rede, o tempo todo conecta-dos”, analisa o professor Mozahir.

A digitalização da sociedade proporcionou uma transformação nas ações de comunicação, que passam a ser também voltadas para dados, exigindo o desenvolvimento de novas expertises. Para a professora Lorena Viegas, coordenadora de estágio dos cursos da FCA, os comunicadores precisam dar respostas cada vez mais complexas para um mundo também complexo. “A leitura que faço a partir do relacionamento com o mer-cado é que o uso da tecnologia tem que estar associado à inteligência e ao planejamento. O nosso cenário atual é tão complexo que deman-da um olhar cuidadoso sobre o contexto em que vivemos. Nossos alunos são de uma geração que chega à Universidade dominando as ferramentas de produção porque nasceram fazendo uso da tecnologia. O papel dos nossos cursos é auxili-á-los no uso dessas ferramentas de uma forma mais estratégica, mais orientada para objetivos,

mais voltada para a linguagem específica de cada público com o qual aquela organização tem que lidar”, acredita Lorena.

E é nessa direção que seguem os projetos pe-dagógicos dos cursos da faculdade, refletindo a dinâmica da sociedade. Durante o período de consolidação da internet, os currículos se man-tinham os mesmos por até uma década. Hoje es-sas alterações e adaptações vão se tornando cada vez mais dinâmicas. “Nosso currículo aponta para o futuro. Para a formação de um profissio-nal que vai estar no mercado daqui a cinco anos, com disciplinas vinculadas ao mundo digital, mas sem esquecer a formação crítica, humanista e ética que faz parte da missão da Universidade”, ressalta a professora Viviane Maia, chefe de de-partamento da FCA.

Há também as disciplinas de outros institu-tos da Universidade que são tratadas como op-tativas e que podem ser escolhidas pelo aluno de forma a direcionar a sua formação de acor-do com os seus interesses, como a disciplinas de Inteligência Artificial e Comportamento do Consumidor. Assim como as disciplinas optati-vas que são nativas da Comunicação e ofertadas para toda a Universidade, que são Comunicação e Cultura Digital, Gestão de Redes e Mídias So-ciais e Produção para Dispositivos Móveis. É a Faculdade de Comunicação e Artes, fruto da me-mória e da força que a constituíram, alinhada às demandas da contemporaneidade e à constante e dinâmica construção do futuro.

Práticas inovadoras e ousadas

Desafios da área são muitos

A professora Viviane Maia, chefe de departamento da FCA: “Nosso currículo aponta para o futuro”

O professor Mozahir Salomão Bruck,

diretor da FCA: “A Faculdade aprende

com o que ela experimentou. Atua

no presente muito conectada com os caminhos que vão

se desenhando para o futuro”

Rap

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Cal

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Raphael Calixto

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Revista PUC Minas nº 23 4948 pucminas.br/revista

“A criação da Faculdade de Comunicação da Universidade Católica de fato é um momento importante para a história da educação, a história dos processos educacionais, para a pesquisa em comunicação, pelos passos pioneiros que foram dados na esteira do ensino e da pesquisa de comunicação. Porque muitas coisas preliminares passaram por esse Campus, pela escola de Comunicação. Primeiro, pela sensibilidade dos gestores. Segundo, porque a escola se destacava por um certo tipo de proposta reflexiva e analítica e que era absolutamente também apoiada por muitas fontes internacionais, pesquisadores que nos visitavam. Então, ainda foi um laboratório importantíssimo.”Professor Fausto Neto, ex-diretor da FCA

“Alguns dos motivos pelos quais eu me apaixonei pela FCA são a ousadia e esse atrevimento de uma escola que não tem medo de inventar. E que ao mesmo tempo tem uma seriedade enorme em tudo o que faz. O Programa de Avaliação e Melhoria do Ensino foi o primeiro Programa de Avaliação Institucional das universidades brasileiras.”Sandra Freitas, professora e ex-diretora da FCA

“Quando entrei na Universidade Católica, em junho de 1975, eu comecei trabalhando na Prefeitura [como era conhecida a Proinfra]. Pouco tempo depois o professor Lélio Fabiano me convidou para trabalhar no prédio 13. Foi na FCA que me tornei um apaixonado pelo rádio. E isso aconteceu no departamento também, porque tudo que eu tenho hoje de conhecimento, de estrutura na minha vida, eu devo à PUC e à FCA. Elas são a minha trajetória de vida, minhas amizades. E aprendi muita coisa com aluno, com professor, tanto é que eles falavam que eu estava ensinando. E eu dizia não, estou sempre aprendendo com vocês.”Ex-funcionário Sebastião Rodrigues de Oliveira (Tião)

“Em 1971, o ambiente da Comunicação simplesmente não existia em Belo Horizonte. Eu tinha vindo da França, feito mestrado em Comunicação. Os estudos da Comunicação já vinham desde a década de quarenta na Europa, estudos sobre Comunicação de Massa da indústria cultural. E aqui, o movimento era de libertação, por direitos humanos, direitos individuais, direitos de expressão. E a igreja católica, as correntes mais progressistas já estavam se abrindo muito para o assunto. Dom Serafim, que era bispo auxiliar de Belo Horizonte e reitor da Universidade, tinha posicionamentos muito firmes em relação à ditadura e daí veio o convite para a criação do curso”Professor Lélio Fabiano, primeiro diretor da Faculdade de Comunicação

“Participei da criação do Jornal Marco, que tinha como objetivo ser o porta-voz da comunidade. Fizemos uma pesquisa para identificar o perfil do leitor e, para nosso espanto, quem mais se interessou pelo nosso jornal foram as crianças. Elas recebiam o jornal e já abriam e liam imediatamente. A partir do segundo número criamos uma página infantil. O professor Ércio Sena à época tinha 7 ou 8 anos e escrevia para o jornal”Professor José Milton Santos, aluno da primeira turma do Curso de Jornalismo e ex-coordenador do curso

“Eu tenho um grande orgulho de fazer parte da construção da FCA. São quase 50 anos como aluna, como professora, como pesquisadora. É um marco muito forte no meu processo de vida. A partir da faculdade, eu modifiquei, eu abri os meus olhos para o mundo que eu não conhecia. Eu construí todo o meu mundo afetivo ali dentro, nos corredores, nas salas de aula, com os professores, com os colegas, mas especialmente com os meus alunos, tanto na graduação quanto na pós-graduação. E ela tem uma marca muito forte que é dessa formação crítica, de mostrar para os alunos outras formas de ver os fenômenos da sociedade, sejam eles sociais, políticos, culturais, históricos.” Professora Ivone Lourdes de Oliveira, professora e ex-diretora da FCA

Memória afetiva

Vuru

Bruno Timóteo

Bruna Lara

Arquivo Pessoal

Arquivo Pessoal

Raphael Calixto

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Revista PUC Minas nº 23 5150 pucminas.br/revista

Quando Dani Drumond, empreendedora so-cial, bacharel em Direito e Administração, rece-beu o diagnóstico da síndrome de Down de seu filho Théo Morélix, ela teve certeza que deixaria um legado nesse mundo. “Durante o parto, o Théo entrou em sofrimento e a única coisa que eu queria era a vida do meu filho. O diagnóstico da Trissomia do 21 veio em seguida. Falei para o meu marido: por que não sermos os melhores pais que ele precisa e merece? Vamos fazer desse diagnós-tico um propósito, uma missão de vida”, conta. Aí começa a história da 21 Conecta. Dani iniciou um trabalho voluntário e percebeu as maiores difi-culdades das famílias que recebem o diagnóstico da síndrome de Down e a carência de informação é uma delas. “Nosso objetivo na 21 Conecta é ser-mos uma rede, uma ponte que conecta famílias a profissionais, é conectar outras famílias. Nessa rede, profissionais e famílias se cadastram e faze-

mos essa ponte entre elas”. E é com instituições como essa, de perfil social, que se envolvem os alunos do sexto período de Relações Públicas da PUC Minas Coração Eucarístico na disciplina ex-tensionista Relações Púbicas e Organização Social, ministrada pela professora Lorena Costa Viegas há mais de dez anos.

Pensar a comunicação de forma estratégica, muitas vezes, é um desafio para organizações do terceiro setor ou empresas de impacto social de-vido a diversos fatores, tais como verba reduzida, equipe pequena, falta de preparo das equipes. A proposta da disciplina surgiu a partir do pensa-mento em desenvolver habilidades nos alunos com um atendimento de uma demanda real a es-sas organizações sociais. “Essa atividade impacta a formação técnica do aluno, já que ele coloca em prática tudo o que aprendeu até o sexto período, e também, assim como toda atividade extensio-

COMUNICAÇÃO

ESTRATÉGIA PARA TRANSFORMAÇÃO SOCIALAlunos do Curso de Relações Públicas desenvolvem plano de comunicação para terceiro setor | Bruna Santos

No segundo semestre de 2020, a turma do sexto período de Relações Públicas atendeu a 21 Conecta, mencionada no início desta matéria. Trata-se de uma rede de pais, profissionais, famí-lias e pessoas com síndrome de Down ou alguma deficiência com o objetivo de acolher, informar, orientar as famílias que recebem o diagnóstico e encaminhar aos profissionais de diversos seg-mentos, favorecendo a inclusão da pessoa com deficiência como membro ativo da sociedade.

Os alunos se envolvem com o projeto duran-te todo o semestre de desenvolvimento do pla-no. São cerca de dois meses e meio da reunião inicial dos alunos com a organização social até a apresentação final do plano de comunicação. “Após a primeira análise e apresentação da orga-nização, mapeamos as dores dos colaboradores e dirigentes, pesquisando mais a fundo suas re-lações institucionais, comunicação e de cultura interna, apresentando, assim, as possibilidades de atuação e impacto das novas propostas co-municacionais dentro da instituição. E por fim, a apresentação de briefing, onde os grupos apre-sentaram as propostas para melhoria comunica-cional da organização, através do mapeamento de oportunidades e desafios de comunicação, propondo ações de natureza informacional e relacional”, detalha Lívia Guimarães, aluna do

sétimo período de Relações Públicas da PUC Co-ração Eucarístico e que participou da atividade no semestre passado. Para ela, o maior apren-dizado ao realizar o trabalho de comunicação junto à 21 Conecta foi o de poder entender que o trabalho realizado por eles é de grande impacto dentro da sociedade.

Dani Drumond conta que a experiência foi maravilhosa. “Como somos um negócio social, em um modelo de startup, nossa equipe é en-xuta e não temos uma pessoa específica focada em comunicação. O tempo todo volto para ver e rever as sugestões dos alunos. Ter a visão deles foi excelente. Foram apresentadas novas ideias que poderíamos construir. Eles apresentaram vários materiais e subprojetos que conseguimos desenvolver. Já estamos colocando em prática alguns”, explica.

CONEXÃO COM O PÚBLICODividido em subcategorias, as atividades propostas para a Conecta 21 foram as seguintes:

INSTITUCIONALHistórias que ConectamMeet DayNewsletterCampanha de Conscientização sobre Síndrome de Down

DIGITAL Redes Sociais Vídeo Convite para Adesão ao Pacote Plataforma Rede de Incentivo de Indicação - Gamificação

RELACIONALMailing Escolas e Instituições Sociais Kit Atração para Novos Apoiadores Script de Primeiro contato E-mail Marketing E-mail de Retorno

nista, dá mais cor para olhar o outro. É um traba-lho no qual se aplica a técnica, mas pensando no e com o outro. Ela é aplicada verdadeiramente em prol da mudança social”, explica. “Não é uma situação ideal, mas real. Normalmente, marcada por poucos recursos financeiros, pouca gente ou ninguém da área de comunicação, mas com uma vontade de transformação social. Os alunos pas-sam a entender que, por meio da comunicação, podem atuar para a transformação social”.

Na disciplina, após uma reunião com os alu-nos, a professora Lorena identifica um tema comum e, a partir disso, é definida a instituição que será o cliente real da turma para o desenvol-vimento do plano de comunicação. Os alunos da disciplina pesquisam sobre o tema escolhido, aprofundam conceitos específicos para fazer uma primeira reunião de diagnóstico com o cliente. Neste encontro, virtual devido à pandemia, a or-ganização apresenta sua história, sua missão. A partir disso, os alunos começam a preparar o pla-no de comunicação.

Propostas de atuação

SAIBA MAIS

A professora Lorena Costa Viegas, que ministra a disciplina Relações Públicas e Organização Social: alunos passam a entender que, por meio da comunicação, podem atuar para a transformação social

A empreendedora social Dani Drumond se sentiu grata pelo projeto desenvolvido pelos alunos de RP: “Ter a visão deles foi excelente”

“Nosso objetivo na 21 Conecta é sermos uma rede, uma ponte que conecta famílias a profissionais, é conectar outras famílias”Dani Drumond

Leidiane Oliveira

Fernando Lutterbach

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Revista PUC Minas nº 23 5352 pucminas.br/revista

COMPARTILHANDOCONHECIMENTO

PUC Ensina oferece reforço escolar para a educação básica e média por meio das redes | Lívia Arcanjo

Qual a diferença entre o DNA e o RNA? E entre os três tipos de triângulos? O que é o Efeito Estufa? E por que a Lua muda de fase? Todas estas dúvidas poderiam ser elucidadas em uma aula de Biologia, Matemática ou Física. Mas, em um ano pandêmi-co, as aulas convencionais às quais os estudantes estavam acostumados, com dezenas de alunos e um professor compartilhando o mesmo espaço físico, não são uma opção. A pandemia de Covid-19 alterou o funcionamento de diversos segmentos da sociedade no mundo todo. Com a educação não foi diferente. Do ensino fundamental ao superior, instituições de ensino públicas e privadas suspen-deram suas aulas presenciais como uma tentativa de conter a disseminação do vírus. Entretanto, os calendários letivos não foram interrompidos. Com atividades online, os cronogramas seguiram. As-sim como exames de rendimento e vestibulares.

Buscando contribuir com o aprendizado des-ses milhares de estudantes, a PUC Minas criou o PUC Ensina, parceria entre os nove cursos de Li-cenciatura da Universidade com o intuito de com-partilhar na web conteúdos em vídeo para que sirvam de material auxiliar de estudos para estu-dantes dos ensinos básico e médio. Semanalmen-te, as videoaulas com temas de Português, Inglês,

Matemática, História, Geografia, Ciências Bioló-gicas, Ciências Sociais, Física e Educação Física, além de vídeos com dicas de estudos e orientação profissional produzidos pelos alunos do Curso de Psicologia, chegam a milhares de estudantes, e servem de apoio e incentivo a quem precisa su-perar as adversidades impostas pela pandemia para continuar os estudos. Toda a produção é de autoria de alunos da graduação sob supervisão e orientação de professores.

O conteúdo é disponibilizado na plataforma do projeto, desenvolvida pelo Instituto de Ciências Exatas e Informática (Icei), e em canal no YouTube. O projeto também possui perfil no Instagram, que é utilizado principalmente para divulgar os con-teúdos e estabelecer diálogo com os estudantes. Até o início do mês de abril o canal, que foi criado em agosto de 2020, possuía 376 inscritos e 14.132 visualizações nos 140 vídeos publicados. Já o Ins-tagram contava com 470 inscritos. “Todos esses ambientes possibilitam interatividade. O usuário pode colocar suas dúvidas, fazer comentários, su-gerir conteúdos”, explica a professora Carla Fer-retti Santiago, diretora do Instituto de Ciências Humanas (ICH) vice-presidente da Comissão de Licenciaturas da Universidade.

Não são só os estudantes do ensino básico que se beneficiam nessa experiência. Com o fe-chamento das escolas, essa foi a alternativa en-contrada para os mais de 300 alunos dos cursos de Licenciatura da Universidade cumprirem a disciplina de Estágio Obrigatório. “Nós tínhamos a necessidade de criar estratégias para a forma-ção prática dos nossos alunos da Licenciatura. As nossas práticas são os estágios”, explica Carla, que acredita que o setor educacional não será o mes-mo após a pandemia e que essa é uma oportuni-dade para esses universitários, que são futuros professores, de se prepararem para o contexto de fusão entre educação e tecnologia. “Quantos professores não têm canal no YouTube, podcasts, produzem ou trabalham com jogos? Este ambien-te da cultura digital tem sido ocupado também pela educação. Esse projeto também é uma opor-tunidade para que ele possa atuar como profissio-nal nesses ambientes da cultura digital”, afirma.

Além da participação de todos os alunos ma-triculados em disciplinas de estágio obrigatório, o projeto conta com quatro bolsistas financiados pelo programa Santander Licenciaturas, respon-sáveis em auxiliar o professor representante de cada instituto da Comissão na execução das tare-fas organizacionais do projeto.

Izabely Fernandes Souza, estudante do 5º pe-ríodo do Curso de Geografia é uma das bolsistas. Ela é responsável pela análise dos vídeos que são postados na plataforma e no canal, auxilia os de-

mais colegas na produção dos materiais, organiza o cronograma de postagens, participa de um pro-jeto de pesquisa diagnóstica sobre a Educação Bá-sica e também está envolvida com o PUC Ensina Criança, uma nova demanda para o PUC Ensina.

Com tantas atividades distintas, a sensação é de construção de repertório e acúmulo de ba-gagem. “O PUC Ensina me permitiu uma troca de experiências e conhecimento com diversos cursos de licenciatura da Universidade, como também me permitiu conhecer e dialogar com professores e alunos de diversas áreas. Creio que todo esse diálogo me fez crescer e evoluir como ser humano, além de me auxiliar na minha for-mação como futura professora”, conta a estudan-te, que acredita que a tecnologia não veio para substituir o modelo tradicional de ensino, mas para complementar.

“Creio que depois desta fase o ensino e as es-colas precisarão se renovar e se adequar às novas tecnologias, mas não deixando de lado o contato de professores e alunos, que é essencial para o aprendizado. A educação e a tecnologia podem conversar de diversas maneiras, como no auxílio para explicar melhor alguma matéria e na maior participação e interação dos alunos nas aulas. Ve-nho de um curso que utilizamos muito da tecno-logia e vejo o quanto isso pode ajudar no ensino de diversas disciplinas, principalmente na edu-cação básica, tornando as aulas mais interativas e atrativas para os alunos”, opina.

Aprendizado também para os futuros professores

“Todos esses ambientes possibilitam interatividade. O usuário pode colocar suas dúvidas, fazer comentários, sugerir conteúdos” Professora Carla Ferretti Santiago

EDUCAÇÃO

Izabely Fernandes Souza, bolsista e aluna do Curso de Geografia: “O PUC Ensina me permitiu uma troca de experiências e conhecimento com diversos cursos de licenciatura da Universidade”

Marcos Figueiredo

Arquivo Pessoal

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Revista PUC Minas nº 23 5554 pucminas.br/revista

Além de ser um espaço para os futu-ros professores exercerem suas expe-riências de estágio, o projeto também cumpre a função social de colaborar para que o ensino seja mais acessível e democrático. “Temos quase cem anos de experiência na área da educação e aí nós começamos a nos perguntar o que os cursos de Licenciatura poderiam ofe-recer neste contexto da pandemia para tentar diminuir estas desigualdades e estas dificuldades para os alunos da educação básica”, explica Carla.

A desigualdade a qual se refere é a discrepância de acesso a bons conteú-dos entre estudantes nas redes pública e privada, por fatores socioeconômicos. “Talvez essa seja a principal razão. Nós

começamos a observar um agravamen-to das nossas desigualdades no campo da educação. Muitos alunos, principal-mente das escolas públicas, não têm acesso a uma tecnologia que permita acessar uma plataforma de materiais mais robustos para ensino”, argumenta.

O projeto se preocupou em assis-tir especialmente os alunos que vão prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em um momento tão conturbado como a pandemia e as con-sequências que ela acarreta. No caso da educação, o afastamento desses estu-dantes da escola. “É uma oportunidade para que muitos alunos que estão em condição socioeconômica mais vulne-rável rompam esse ciclo da pobreza,

esse ciclo da vulnerabilidade”, afirma.A intenção é expandir o projeto

para além das redes. O projeto, que foi aprovado na Pró-Reitoria de Extensão para desenvolvimento este ano, segue com o objetivo de estreitar o relacio-namento com as escolas e, para isso, desenvolve uma metodologia de pes-quisa. “Nós estamos em colaboração com a Secretaria do Estado de Educa-ção, que aderiu à nossa proposta como uma parceira. Vamos aplicar um ques-tionário aos alunos do Ensino Médio da Rede Pública de Educação de Minas Gerais para ouvir qual é o interesse dos alunos, o que eles gostariam de ver publicado, quais são as suas maiores dificuldades”, conta Carla.

Colaboração para ensino mais acessível

Parceria com Jogos DigitaisA plataforma do PUC Ensina foi con-

cebida e desenvolvida pelo professor Marcos Arrais, coordenador do Curso de Jogos Digitais da Unidade Praça da Liberdade, e foi pensada para integrar todas as funcionalidades, como o canal, a rede social e um espaço para enviar dúvidas e sugestões. “Pensando que o público que vai consumir os conteúdos do PUC Ensina é um público essencial-mente de mídia móvel, o site foi todo construído para ser responsivo. Do mesmo jeito que ele funciona no com-putador ele funciona no celular. Então, o jovem não precisa ter um notebook ou ter um computador de torre. Pelo próprio celular ele consegue estudar”, explica Marcos Arrais, que levou cerca de um mês para desenvolver o projeto, e conta que uma das melhorias previstas

para a plataforma é a incorporação de grupos de estudos via WhatsApp.

“Atualmente as pessoas consomem tecnologia até mesmo sem perceber. Uma criança hoje não consegue enten-der como é que as pessoas se desloca-vam anteriormente à existência do GPS. E era quase que irreversível que esse movimento também chegasse à edu-cação”, opina o professor, que acredita que a pandemia potencializou a possi-bilidade de entregar bons conteúdos in-dependentemente da barreira geográ-fica. Para um cenário pós-pandêmico, ele corrobora com a opinião de Izabely de que presencial e virtual caminharão juntos em prol de uma educação cada vez mais acessível. “Eu acredito que o futuro tem essa hibridização entre o re-moto e o presencial”, opina.

CENTENÁRIO

SEMPRE ATUALCaderno Temático aborda contribuições do educador Paulo Freire para temas contemporâneos|Bruna Santos

aulo Freire, um dos mais importantes e conhecidos educadores do Brasil e reconhecido em grande par-te do mundo por sua contribuição no campo da pedagogia, completaria 100 anos em 2021. Para

marcar essa data, o Núcleo de Estudos Sociopolíti-cos (Nesp) da PUC Minas e o Curso de Psicologia da

Unidade São Gabriel lançaram o Caderno Temático Cem Anos com Paulo Freire: Diálogos, em uma dupla come-moração. “Pelo centenário de Paulo Freire, sem dúvida, o educador brasileiro que é maior referência mundial, nas sociedades democráticas, e que trabalha numa perspec-tiva de uma educação transformadora, ou seja, uma edu-cação que ajuda a cada um ter mais autonomia para suas escolhas éticas no mundo em que vivemos. Portanto, ela tem uma dimensão ética da prática. Não é simplesmente o campo da teoria, mas a teoria que se conjuga com uma prática com vistas a um educando que possa agir etica-mente no mundo do qual participa. Por ele ter essa pos-tura, é tão atacado e criticado pela extrema direita e por aqueles que são contra uma educação pública de quali-dade e emancipadora”, explica o professor Robson Sávio Reis Souza, coordenador do Nesp. “E também pelos 20 anos do Curso de Psicologia da PUC Minas São Gabriel. Um curso que se caracteriza pelo seu trabalho na perspectiva do social, uma psicologia transformadora, uma psicologia que está preocupada em formar alunos também para tra-balhar políticas públicas”, completa.

O caderno traz, além da apresentação, oito capítulos que abordam as contribuições do educador e filósofo para temas contemporâneos. “Iluminados pelo pensamento de Paulo Freire, os autores discutem a relevância das re-flexões desse pensador para a leitura crítica da proposta da Escola ‘Sem Partido’, compreensão do valor pedagó-gico e político do trabalho e debate das questões raciais, bem como assinalam a importância da escuta e tomada de consciência crítica dos condicionantes psicossociais, políticos e econômicos como caminho para a construção de novos caminhos pautados em valores democráticos”, conta o professor Carlos Eduardo Carrusca Vieira, coor-denador do Curso de Psicologia na Unidade São Gabriel.

O Caderno Temático – número 10, Cem Anos com Paulo Freire: Diálogos, foi organizado pelos professores Carlos Eduardo Carrusca Vieira, Mara Marçal Sales, Robson Sávio Reis Souza, Claudemir Alves Francisco e Adriana Maria Brandão Penzim. A versão impressa será distribuída gra-tuitamente aos parceiros do Nesp, líderes de movimen-tos sociais, eclesiais, formadores de opinião, para todas as bibliotecas das universidades católicas do Brasil, para a Faculdade de Psicologia da PUC Minas e para o Curso de Psicologia da PUC São Gabriel. Também está no catálogo de obras vendidas pela Editora PUC Minas (editora.puc-minas.br). A partir do segundo semestre, o Nesp disponi-bilizará, gratuitamente, a versão eletrônica do Caderno em seu site (nesp.pucminas.br), assim como as demais publicações do núcleo.

“Atualmente as pessoas consomem tecnologia até mesmo sem perceber. Uma criança hoje não consegue entender como é que as pessoas se deslocavam anteriormente à existência do GPS”Professor Marcos Arrais, coordenador do Curso de Jogos Digitais

Raphael Calixto

Instituto Paulo Freire

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Revista PUC Minas nº 23 5756 pucminas.br/revista

GRADUAÇÃO TECNOLÓGICA

TECNOLOGIA EINOVAÇÃO NOENSINO A DISTÂNCIANovos cursos dispõem de projetos junto com empresas para atender demandas reais do mercado de trabalho |Carolina Marques

As tecnologias e o mercado de trabalho não param e trazem novidades a todo instante. Aten-ta a isso e com base na excelente relação da uni-versidade com o mercado, a PUC Minas Virtual lançou 16 novos cursos de graduação tecnológica, isto é, cursos superiores de tecnologia. Esse for-mato de curso superior vem crescendo de forma exponencial nos últimos anos. Trata-se de uma graduação com uma duração mais curta e um projeto pedagógico mais específico, atendendo a demandas pontuais do mercado, sendo conside-rada uma excelente opção para alunos que têm esse perfil profissional.

De acordo com o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira), em 10 anos (de 2008 a 2018) o número de estudantes que op-taram pela graduação tecnológica cresceu 103%. E continua avançando. O professor Carlos Longo, vice-presidente da Associação Brasileira de Edu-cação a Distância (Abed), explica que os cursos su-periores de tecnologia tiveram um crescimento no início do século XXI, primeiro na modalidade presencial. Nesse mesmo período a modalidade do ensino a distância (EAD) começou a ganhar re-conhecimento e aceitação no mercado de traba-lho. “Essa forma de educação permitiu aos alunos uma maior flexibilidade de horário e baixo custo de mensalidade. Os cursos superiores tecnoló-gicos na modalidade EAD começaram a ter uma procura intensa e superaram os mesmos cursos na modalidade presencial já no começo da déca-da do século XXI”, ilustra o professor.

A professora Jucimara Roesler, doutora em Co-municação e executiva e consultora há mais de 20 anos em Educação Superior a Distância, acredita que uma das vantagens desse tipo de formação é a capacidade de atender aos anseios para crescer

ou ingressar no ambiente de trabalho de forma mais rápida. “Para o aluno, os preços são atrativos e com flexibilidade de horários intrínseca à mo-dalidade EAD”, acrescenta Jucimara. Dessa forma, a professora acredita que há um perfil específico de alunos para essa modalidade, que podem já estar no mercado de trabalho e desejam evoluir profissionalmente ou que desejam ingressar em uma carreira específica. “A graduação a distância permite que o aluno aprenda novas competên-cias de forma rápida, e com a aprendizagem prá-tica é a fórmula perfeita para atender ao anseio de ter um diploma e preparar-se para as demandas

A PUC Minas Virtual trouxe, então, os 16 no-vos cursos tecnólogos, com uma proposta peda-gógica diferenciada e completamente capaz de atender às necessidades e expectativas do mer-cado nas mais diversas áreas. “Os novos cursos da PUC Minas se fundamentam na aprendizagem baseada em projetos. Assim, ao invés de a apren-dizagem ser realizada por meio de conteúdos pre-vistos em diversas disciplinas, ela é conduzida por meio de projetos integradores, isto é, traba-lhos que articulam diversas habilidades e conhe-cimentos”, especifica o professor Kutova.

Os projetos realizados pelos alunos serão semestrais e são planejados de acordo com as competências que são esperadas do profissional na sua área. O objetivo é que ao final do curso o aluno tenha participado de atividades suficientes para garantir uma formação completa. “Os pro-blemas trabalhados nos projetos são problemas reais, de tal forma que, ao se formar, o aluno já terá experimentado diversas situações que um profissional da sua área enfrenta - mas com o apoio de uma equipe de docentes para orientá-lo e auxiliá-lo a cada etapa”, ilustra o professor Kuto-va. Sendo assim, o aluno continuará tendo acesso a todos os conteúdos do curso regular, mas eles não serão mais os principais condutores da sua aprendizagem.

Esse formato educacional permite que em-presas e entidades participem da formação do

aluno, enriquecendo-a. “O aluno estará sempre em contato com alguma organização externa à Universidade, que apresentará desafios a serem resolvidos por meio dos projetos integradores”, acrescenta Kutova. De acordo com o professor, o principal benefício desse tipo de aprendizagem é a experiência que o aluno terá em desafios reais que essas organizações enfrentam. Dessa forma, o aluno estará mais capacitado aos desafios exis-tentes no mercado de trabalho.

SAIBA MAISAcesse o portal da PUC Minas Virtual para conhecer todos os cursos ofertados e a documentação necessária para o ingresso.

Proposta pedagógica diferenciada

“A transformação da educação tradicional é uma realidade e o desafio está em proporcionar práticas combinadas de aprendizagem online e presencial, com a revisão dos modelos de ensino com novas metodologias e tecnologias para atender ao novo cenário de ensino e de aprendizagem”Jucimara Roesler, membro do Comitê Científico Abed

profissionais do mundo do trabalho”, relata a pro-fessora Jucimara.

Além disso, o ensino nesse formato também apresenta vantagens para a Universidade que o adota. “Para a Instituição de Ensino Superior, há a possibilidade de aumentar rapidamente seu portfólio de acordo com as vocações regionais de demandas profissionais”, explica a professora Jucimara. O professor Marcos André Silveira Ku-tova, diretor da PUC Minas Virtual, alerta para o fato de que a educação superior está mudando e se tornando cada vez mais digital, o que pode ser percebido por meio do aumento a cada ano no número de matrículas na educação a distância comparada à educação presencial. “A criação des-ses novos cursos significa trazer toda a expertise da Universidade, nas suas mais diversas áreas do conhecimento, para essa modalidade que cresceu tanto”, destaca.

Angélica reside em uma cidade do interior, onde não há ensino presencial, mas, por meio do EAD, realizou sua graduação e pós-graduação

O diretor da PUC Minas Virtual, professor Marcos Kutova

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Raphael Calixto

Page 30: TEMPOS DISTÓPICOS - PUC Minas

Revista PUC Minas nº 23 5958 pucminas.br/revista

Alex Costa escolheu o curso tecnólogo

em Análise e Desenvolvimento

de Sistemas por gostar de tecnologia

e perceber o amplo mercado de

trabalho na área

Vantagens do modelo de ensinoEsse modelo de educação apresenta diversas

vantagens, como, por exemplo, o fato de permitir aos alunos uma maior liberdade para concilia-rem suas atividades pessoais e profissionais com a vida acadêmica. Dessa forma, diferentes perfis profissionais de alunos são atraídos para a educa-ção tecnológica, como é o caso de Angélica Borba Guedes, de 28 anos, que se matriculou no Curso de Gestão Financeira. Ela acredita que o principal motivo para que os alunos queiram se inscrever nesse tipo de curso é a maior facilidade de adapta-ção à rotina diária. “A graduação tecnológica EAD é um meio de conseguir conciliar a vontade pela busca de conhecimentos à necessidade de um horário flexível para realização de seus sonhos”, relata a aluna.

Angélica possui formação superior em Admi-nistração de Empresa e pós-graduação MBA em Gestão Comercial, ambas realizadas a distância. “Foi graças ao ensino a distância que hoje sou for-mada e pós-graduada! Resido em uma cidade do interior, na qual não há ensino presencial, e hoje vejo o quão importante é ter esse formato de edu-cação para as pessoas que sonham em conquistar a graduação”, conta Angélica. Com o curso tecno-lógico, ela pretende aprimorar suas habilidades e promover um crescimento sustentável no super-mercado dos seus pais, onde trabalha.

O ensino a distância também atrai pessoas que já estão no mercado de trabalho, mas não

possuem uma formação. Um exemplo é o de Pollyanne Rodrigues Nunes, de 35 anos, que se inscreveu para o curso de Gestão de Marketing. Ela é empresária desde 2013 e decidiu fazer o cur-so para se aperfeiçoar e profissionalizar. Ela optou pela formação em EAD por causa das vantagens financeiras e de horários. “Acho o EAD excelente, pois proporciona a mesma qualidade do ensino presencial, mas com mensalidades acessíveis e flexibilidade de horários. Já realizei cursos online antes e tive melhores resultados do que em cur-sos presenciais. Fiquei mais à vontade fazendo em minha casa e pude me concentrar mais do que na sala de aula”, relata a empresária. Pollyana espera que o curso possibilite a ela o acesso às fer-ramentas adequadas para auxiliar no desenvolvi-mento de sua empresa.

Os cursos tecnológicos também são uma ótima oportunidade para quem deseja ingressar pela pri-meira vez no mercado de trabalho, como é o caso de Alex Costa Pereira, de 21 anos, que escolheu o curso Análise e Desenvolvimento de Sistemas como sua primeira graduação. “Depois que me formei no ensino médio, eu fiz o Enem duas vezes, mas em ambas consegui somente 50% de bolsa. Comecei então a pesquisar sobre cursos a distância e, por gostar muito dessa área de TI, resolvi esco-lher o tecnólogo em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, por ser um curso mais rápido e para conseguir um estágio também”, conta Alex.

ENGENHARIA DE SOFTWARE

EDUCAÇÃO PARA A TECNOLOGIACurso realiza oficinas de introdução à programação e ao pensamento computacional para crianças de 6 a 9 anosJúlia Mascarenhas

Nos dias atuais, o avanço tecnológico permeia todos os aspectos da sociedade. Celulares, tablets e computadores fazem parte do cotidiano de qualquer pessoa, principalmente das crianças. Dados da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2019, di-vulgada em junho de 2020, constatam que 89% da população de 9 a 17 anos é usuária de Internet no Brasil, o que equivale a 24,3 milhões de crian-ças e adolescentes conectados, e tudo indica que esse contato com recursos tecnológicos está co-meçando cada vez mais cedo.

O processo de ensino-aprendizagem muda conforme a evolução da sociedade e não se pode ignorar o avanço em que se encontra a tecnologia digital. Com o intuito de capacitar tecnicamente a próxima geração, o projeto de extensão Prepa-ração de alunos para o ambiente de programação educacional, do Curso de Engenharia de Software na PUC Minas Praça da Liberdade, está minis-

trando, desde 2019, oficinas de introdução à pro-gramação e ao pensamento computacional para crianças de 6 a 9 anos da Escola Estadual Bueno Brandão, localizada na região da Savassi, em Belo Horizonte.

De acordo com a coordenadora do projeto, professora Soraia Lúcia da Silva, a iniciativa na escola começou com a empresa Avenue Code e o projeto da Unidade Praça da Liberdade entrou para ajudar a suprir a demanda que surgia na es-cola. “A empresa atuava na parte da manhã, e os alunos do turno da tarde ficavam à deriva. Diante disso, a coordenadora do Curso de Engenharia de Software, professora Maria Augusta Vieira Nelson, queria ajudar de alguma forma, então pensou em fazer essa parceria e entramos para somar”, conta Soraia.

A iniciativa, que, desde então, é desenvolvida tanto nos turnos da manhã quanto da tarde, re-

A coordenadora do projeto, professora Soraia Lúcia da Silva, e o aluno do Curso de Engenharia de Software Vinicius George dos Santos defendem que a programação seja ensinada para as crianças desde cedo

Raphael Calixto

Raphael Calixto

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Revista PUC Minas nº 23 6160 pucminas.br/revista

aliza atividades no laboratório de informática da escola, adequadas para cada idade. Soraia explica que o projeto usa um ambiente de programação educacional chamado Code.org, organização sem fins lucrativos que tem o objetivo de incentivar o ensino de ciência da computação, para que alunos possam ter a oportunidade de aprender progra-mação de computadores. “Utilizamos a progra-mação pareada, técnica de desenvolvimento de software em que dois programadores trabalham juntos em uma estação de trabalho, mas os alunos não mexem literalmente com códigos, e, sim, uti-lizam a linguagem de programação visual de fácil compreensão e assimilação”, explica a professora.

Desta forma, os alunos aprendem a progra-mação de forma lúdica, desenvolvendo ativida-des de programação por meio da manipulação

de elementos do programa em forma gráfica e estimulando a criatividade, algo bem semelhante a um quebra-cabeça, formando conexões entre as peças. “A complexidade do desafio aumenta ao longo das fases, em que serão necessários não so-mente comandos básicos, como também estru-turas de repetição e condicionais para alcançar o objetivo. Trabalhamos essa questão lógica de ma-neira mais divertida, porque se atuarmos com o ensino mais árduo da linguagem, não atingimos o nosso objetivo”, diz a coordenadora do projeto.

As atividades, além de ensinar a programação, desenvolvem diversas habilidades nas crianças, como a atenção, coordenação motora, memória visual e espacial, organização, cooperação, desen-volvimento do raciocínio lógico, leitura e escrita. De acordo com Soraia, todos esses desenvolvi-mentos são avaliados pela plataforma, que, ao final de cada atividade, emite um relatório com os resultados do aluno. “Com o feedback da pla-taforma nós podemos ter noção do que o aluno realmente aprendeu e do que ele precisa traba-lhar mais. Podemos voltar em alguma atividade que não foi bem desenvolvida e assimilada pelos alunos ou continuar avançando”, explica.

Stefany Mozeli Biaginis Alves, oito anos, estu-da na Escola Estadual Bueno Brandão e participou das aulas de programação. “Eu gostava bastante dos professores e das aulas, gostava muito dos joguinhos e aprendi muitas coisas novas, como soma e subtração”, diz a aluna.

Interdisciplinaridade trouxe ganhos

Motivado por sua participação no projeto e no ensino da programação para crianças, Vinicius Ge-orge dos Santos, aluno do Curso de Engenharia de Software, em conjunto com a professora Soraia, desenvolveu o artigo Educação Tecnológica: O ensino da programação para crianças do ensino fundamental através do ambiente Code.org, que relata a sua experiência ao lecionar as oficinas de introdução à programação na Escola Estadual Bue-no Brandão. “A principal ideia para fazer o artigo é que ele pudesse ser um documento para orien-tar professores, pesquisadores e estudantes que desejam aprimorar a programação educacional”, explica Vinicius.

Um dos principais pontos que o artigo aborda é o ensino da programação na educação básica, reco-mendando para que escolas tenham uma estrutura curricular que contemple o ensino dessa disciplina. Vinicius explica que defender a programação nas escolas não tem a intenção de formar programado-res profissionais, mas fazer com que o aluno tenha domínio da tecnologia para utilizá-la ao seu favor. “Programar é criar, é ensinar um dispositivo eletrô-nico, computador, celular a fazer algo novo. Para atuar neste mundo tecnológico e mais conectado, é imprescindível desenvolver fluência em tecno-logia. Tornar-se capaz de usufruir dos recursos tecnológicos disponíveis para ampliar nossas pos-sibilidades de produção, criação e comunicação”, diz o aluno.

Professora Soraia também defende que a pro-gramação seja ensinada para as crianças desde cedo e acrescenta que capacitá-las agora é uma vantagem para o seu futuro. “Quantas coisas in-teressantes a gente vê surgindo nessa pandemia? Temos que ter esse novo olhar, o aluno que está fora dessa, está fora do mundo, pois entender a programação será uma habilidade tão importante quanto aprender a ler e escrever”, comenta a pro-fessora.

Por estar dentro de uma escola pública, a pro-fessora Keila diz que a tecnologia e a informática está longe de ser a realidade para alguns alunos, entretanto, o ensino da programação na escola está abrindo novos horizontes. “Ensinar informá-tica na escola, agora, é uma necessidade latente. A tecnologia digital veio para ficar, nós vamos ter que nos adaptar e tirar disso o melhor proveito possível. A escola tem que estar aberta a novas tec-nologias, a novas ferramentas e isso é um diferen-cial dentro do nosso ensino. Com a experiência das oficinas de programação, vejo que os pais estão va-lorizando mais, veem que o filho está se desenvol-vendo e isso foi um benefício muito grande para a Bueno Brandão. A nossa parceria com a PUC Minas veio só para agregar valores”, diz a vice-diretora.

A vice-diretora da Escola Estadual Bueno Brandão, professora Keila Magali Clementino Mozeli, conta que todas as atividades na aula de programação são realizadas em parceria com os professores da escola e que a grade curricular é montada para que todas as disciplinas sejam contempladas. “Alguns professores traziam para a aula de informática algumas atividades para se-rem desenvolvidas dentro da plataforma. Como, por exemplo, quando os alunos da PUC Minas tra-balharam com as crianças fatos fundamentais. O professor conseguiu perceber que ao invés de ficar pedindo para os alunos decorarem os fatos, os jogos que eram trabalhados dentro da aula de informática ajudaram os alunos no processo de memorização dos fatos fundamentais. Isso foi um ganho muito grande para os professores e maior ainda para as crianças”, conta Keila.

A vice-diretora ainda comenta que as aulas no

laboratório conseguiram mobilizar vários pro-fessores que eram resistentes à tecnologia, fazen-do com que eles descobrissem outros recursos para poder ensinar o conteúdo. “Os professores, estando junto com os alunos no laboratório, per-ceberam que, hoje em dia, eles não podem ficar desatualizados. Só quadro e giz não irão mais re-solver, há outros recursos dentro da informática que podem ajudar na sala de aula”, diz Keila.

Em 2020, por causa da pandemia do coro-navírus, as aulas no laboratório tiveram que ser suspensas, mas o projeto de extensão continuou com a parceria com a escola e hoje disponibiliza oficinas virtuais, através do YouTube, juntamente com a disciplina extensionista do Curso de Enge-nharia de Software, Introdução à Computação. As oficinas ensinam a trabalhar em ferramentas da Google, como o Google Classroom, plataforma usada pelo governo de Minas Gerais para as aulas

Programação nas escolas

remotas. “Os professores gostaram muito das ofi-cinas das plataformas. Decidimos passar para eles primeiro, pois precisamos estimulá-los, até para depois poder trabalhar com os alunos”, explica a vice-diretora.

Helen Camila de Oliveira Andrade, aluna do Curso de Engenharia de Software da Unidade, fez parte da disciplina de Introdução à Computação e conta que, para fazer as oficinas, a professora Soraia dividiu a turma em grupos de cinco pes-soas, em que cada integrante poderia escolher uma plataforma sobre a qual falar. “Realizar essas oficinas foi uma experiência única, em que pude-mos passar um pouco do nosso conhecimento de ferramentas, que usamos no dia a dia, para outras pessoas. Estamos cada vez mais dependentes da tecnologia, e tais ferramentas facilitam muito na organização e aprendizado dentro e fora de sala de aula”, diz a aluna.

“Com o feedback da plataforma nós podemos ter noção do que o aluno realmente aprendeu e do que ele precisa trabalhar mais. Podemos voltar em alguma atividade que não foi bem desenvolvida e assimilada pelos alunos ou continuar avançando” Professora Soraia Lúcia da Silva, coordenadora do projeto

“Realizar essas oficinas foi uma experiência única, em que pudemos passar um pouco do nosso conhecimento de ferramentas, que usamos no dia a dia, para outras pessoas” Helen Camila de Oliveira Andrade

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Page 32: TEMPOS DISTÓPICOS - PUC Minas

Revista PUC Minas nº 23 6362 pucminas.br/revista

PRINCIPAIS PREMIAÇÕES

gerente de Graphics Engineering na Wildlife Studios, se orgulha por ter sido aluno, professor e coordena-dor do curso na PUC Minas. A Wildlife é apontada pelo Game Education como a empresa que mais recrutou graduados na América Latina na área des-de 2015. “Quando eu cheguei na Wildlife os colegas me perguntavam o que a gente faz na PUC para os nossos alunos serem tão bons. E o que eu digo é que o Curso de Jogos Digitais na PUC é praticamen-te uma imersão. Além do aprendizado técnico, há uma paixão dos alunos por aprender e um ambiente saudável proporcionado pela proximidade com os professores, que são muito engajados. Sem contar a possibilidade de contribuição para a sociedade atra-vés dos projetos de Extensão que são superlegais. Isto é um estímulo e um diferencial”, explica Fantini.

A participação no projeto é também um dos diferenciais apontados pelo ex-aluno Marcelo Chaves. Atualmente ele é programador na Aquiles, empresa sediada em Porto Alegre. Ele conta que quando criança foi um dos atendidos pelo projeto Providência, mantido pela Providens, organização sem fins econômicos vinculada à Arquidiocese de Belo Horizonte. “Eu sou da Vila Fazendinha, que faz parte do Aglomerado da Serra. Estudava à tarde e na parte da manhã ficava no projeto. Na graduação tive a oportunidade de participar do projeto como extensionista. Eu estava ali para devolver o conhe-cimento que recebi. Lembro de conhecidos meus espantados por me verem na Universidade. Isto serve de estímulo, como espelho, para que possam ver que é possível alcançar a formação universitá-ria”, relata Marcelo.

m mercado de trabalho em franca expansão e uma universidade que investe em inovação e formação humanista. Junte a isso um corpo docente que acredita e incentiva a formação de profissionais de ponta, sempre alinhado às demandas do mercado e focando na empregabilidade dos alunos no Brasil e no exterior. Essa é a fórmula que garante a excelên-cia da área de Jogos Digitais da PUC Minas. Ao longo de 15 anos, o curso coleciona premiações e avalia-ções positivas. Atualmente é avaliado com conceito máximo pelo Ministério da Educação, atingindo nota 5 nas unidades da Praça da Liberdade e São Ga-briel. Recentemente a PUC Minas foi apontada pelo ranking Latin America Top 5 Video Game Schools, como a terceira escola da América Latina com os melhores resultados de colocação profissional na indústria de videogames desde 2010. “Temos qua-tro pilares de formação no Curso de Jogos Digitais. Ensino, Pesquisa, Extensão e a empregabilidade, inclusive para o mercado internacional, que é um dos grandes focos dos nossos alunos”, explica o co-ordenador do curso da Unidade Praça da Liberdade, Marcos Arrais. “E a construção deste pilar é através da formação por meio de projetos. Nossos alunos desenvolvem a experiência em todas as etapas de construção de um jogo. Esta experiência se dá atra-vés de três grandes áreas de formação: programação de jogos, artes e fundamentos de jogos”, afirma.

Para Elias Issa, graduado pelo curso em 2018, foi o percurso que ele fez durante a graduação que ga-

rantiu bons resultados no Canadá. “Eu acredito que se eu não tivesse a experiência que eu tive na PUC Minas, meu desenvolvimento no curso na Vancou-ver Film School (VFX) no curso de 3D Animation and VFX não teria sido tão bom. Eu tive um resultado muito bom aqui graças a todo o aprendizado com os professores da PUC”, afirma Elias, que hoje é rig-ging na Scanline VFX. Assim como outros ex-alunos, Elias exibe em seu portifólio projetos premiados durante a graduação. “O Grimoire, que foi um pro-jeto de TCC, foi premiado como menção honrosa de melhor jogo feito por estudantes no SBGames 2017. Também recebeu duas premiações de Melhor Game Design e de Melhor Animação da Semana de Entretenimento, Jogos e Animação de 2017. Ele con-tribuiu bastante para minha formação profissional pois tínhamos algumas exigências que simulavam muito bem o que é o funcionamento da indústria”, destaca Elias.

Para o coordenador do curso na Unidade São Gabriel, Artur Martins Mol, esta aproximação da realidade do mercado é um diferencial marcante na formação dos futuros profissionais. “Temos um time de professores formado por profissionais que atuam ou que vieram do mercado. Isso faz com que nós consigamos fazer uma atualização constante do curso sempre atentos às demandas da área. Por isso nossos alunos chegam ao mercado cada vez mais prontos”, aponta Mol. Os empregadores têm a mes-ma percepção. Eduardo Fantini, que atualmente é

TECNOLOGIA

RECONHECIMENTODO MERCADOÁrea de Jogos Digitais se destaca pela excelência e preferência na contratação pelas empresas |Michelle Stammet

Game EducationGame Education é a Associação Global para

Educação para a Mídia, que oferece uma classifi-cação internacional detalhada das escolas de vide-ogame, bem como uma classificação dos estúdios que recrutam novos graduados. O ranking, em que a Universidade ocupa o terceiro lugar, considerou os egressos da PUC Minas dos cursos de gradua-ção em Jogos Digitais ofertados nas unidades São Gabriel e Praça da Liberdade, dos cursos de espe-cialização ofertados pelo IEC e PUC Minas Virtual e do Mestrado em Informática, com a linha de pes-quisa em Jogos Sérios. “Recebemos a indicação de Jogos Digitais da PUC Minas no Top 3 da América Latina com muita alegria e muito orgulho. Ela bem traduz a obsessão pela qualidade possível que ca-racteriza toda a comunidade de Jogos Digitais da Universidade: coordenações, professores, alunos e funcionários”, comemora o diretor do Instituto de Ciências Exatas e Informática, Lúcio Mauro Pereira.

Elias Issa exibe em seu currículo projetos premiados durante a graduação

Marcelo Chaves aponta a

possibilidade de participação em projetos de

extensão como um dos diferenciais da

Universidade

Recentemente os cursos de Jogos Digitais oferta-dos nas unidades Praça da Liberdade e São Gabriel, que formavam profissionais tecnólogos, tornaram-se ba-charelados. Com isso, houve um acréscimo no número de horas e o curso passa a ser ofertado em 8 semestres. “Essa mudança para o bacharelado vem para atender ao interesse pela colocação dos alunos no mercado inter-nacional, já que a formação em licenciatura, tecnólogo e bacharelado é uma realidade brasileira mas não há uma classificação de tecnólogo equivalente na forma-ção norte-americana ou europeia. Então o bacharelado é destinado àqueles que querem fazer um grande inves-timento na carreira, em um processo um pouco mais longo de formação”, explica o professor Artur Mol.

Já o curso ofertado pela PUC Minas Virtual, que for-ma tecnólogos, visa a rápida formação e colocação no mercado de trabalho. “Além da formação mais rápida, em seis semestres, a acessibilidade também é um dife-rencial. O curso se encaixa na rotina de quem não tem tempo para se deslocar e estudar nos horários conven-cionais e pode ser feito de qualquer local do país, já que é totalmente a distância”, enfatiza o professor Luis Felipe Garrocho, coordenador do curso tecnólogo EAD.

Formação

3º melhor jogo técnico e 2º melhor jogo no voto popular (2010) - SBGames 4º melhor curso de jogos do mundo (2011) - Unity Engine - Global Mobile Game Development Contest 3º melhor jogo no voto popular (2013) - SBGames Melhor jogo no voto popular (2014) – SBGames Bion (Tower Up Studios) – Melhor Jogo Educativo (2015) - Congresso Internacional de Ambientes Virtuais e Aprendizagem Adaptativos e Acessivos Jogos Nilub e Wells – Finalistas Microsoft Imagine Cup 2015 Sonho de Jequi – Campeão Microsoft Imagine Cup 2016 Melhor jogo na categoria de estudantes (2016) – SBGames Requiem Slash (GO! Interactive) – Melhor Jogo de Estudante (2016) – SBGames Jogos Grimoire e Equilibrium – Menção Honrosa SBGames 2017 Finalista na categoria melhor jogo de tabuleiro (2017) – SBGames Festival de Jogos – SBGames Bed Time - Melhor jogo na categoria de estudantes (2018) – SBGames Finalista na categoria melhor jogo de tabuleiro (2018) - SBGames

Arquivo Pessoal

Arquivo Pessoal

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Revista PUC Minas nº 23 6564 pucminas.br/revista

É surpreendente a complexidade que há por trás dos mais triviais gestos do corpo. Pegar um objeto, apertar um botão e fazer um sinal com a mão são exemplos de ações aparentemente simples, mas que dependem de uma infinidade de aspectos biológicos desenvolvidos ao longo de toda a trajetória humana. O emaranhado fica evidente, por exemplo, para pesquisadores que se dedicam a criar máquinas com formas e funções similares às de determinados órgãos e membros.

É o que tem ocorrido com estudantes de En-genharia de Controle e Automação no Campus Coração Eucarístico da PUC Minas, em Belo Ho-rizonte. Em um trabalho de conclusão de curso (TCC) realizado em 2020, os alunos Lucas Mina-telli Rezende e Guilherme Oliveira Laender cria-ram um protótipo de mão robótica capaz de re-plicar movimentos básicos, como abrir e fechar os dedos para levantar objetos. Agora, um grupo de pesquisa se dedica a aprimorar a máquina, tor-nando-a mais forte e precisa.

Lucas conta que a possibilidade de elaborar um produto mais acessível pesou na definição do TCC. Ele e o colega Guilherme haviam consi-derado outras ideias, ligadas a temas como eco-nomia doméstica e infraestrutura do Campus, mas optaram pela mão robótica por entenderem que as tecnologias utilizadas em projetos seme-lhantes ao redor do mundo costumam ter alto custo. Seria de grande valia criar um artefato com insumos menos onerosos, como a impressão 3D e uma tecnologia chamada NodeMCU, que pos-sibilita a interação entre máquinas por meio de comunicação Wi-Fi, sem uso de fios.

A difusão de um produto como este traria contribuições a diversos setores. A mão robóti-ca poderia ser utilizada no cotidiano de pessoas com deficiência física, na realização de cirurgias a distância, no manuseio de cargas pesadas ou materiais químicos do setor industrial e até mesmo na área militar para desarmamento de bombas.

ENGENHARIAS

ACENANDO AO FUTUROProtótipo de mão robótica mobiliza alunos e professores em pesquisa inovadora do IpucBruno Batiston

Um dos envolvidos no grupo de pes-quisa é Pedro Marco de Campos Vieira, aluno do Curso de Engenharia de Con-trole e Automação. Ele conta que o in-teresse por robótica, aguçado desde a infância, direcionou sua busca por uma formação que integrasse engenharias distintas. A descoberta da especialidade ocorreu durante uma palestra da pro-fessora Renata no colégio, atividade que ela desempenha com frequência. “Os estudantes ficam encantados ao saber mais da área, que está muito presente no cotidiano deles por conta das tecno-logias que consomem”, ela ressalta.

Para Pedro, a Engenharia de Con-trole e Automação dá vazão ao que ele chama, em tom de brincadeira, de “sín-drome de Minecraft”. É uma referência a um dos jogos mais populares da atu-alidade, em que se pode construir ver-dadeiros universos digitais a partir de blocos. O aluno entende que o fascínio desta engenharia é similar ao do jogo: partir do menor recurso possível para elaborar os mais complexos sistemas. Por isso, a impressão 3D lhe parece uma

aliada tão poderosa, uma vez que per-mite criar peças muitas vezes inacessí-veis. A técnica desperta seu interesse há quase uma década e o inspirou a criar sua própria máquina de impressão 3D em 2016.

Para os alunos, iniciativas como a do protótipo de mão robótica impulsio-nam a formação acadêmica e profissio-nal. “Foi um ganho muito grande, algo muito diferente, com conhecimentos que utilizo hoje no meu dia a dia na área de redes e no entendimento de proto-colos de operações a distância”, avalia Lucas, que já atua no mercado de tra-balho. Ele diz conseguir ver no seu TCC conceitos relacionados a várias discipli-nas do curso e destaca o apoio da PUC na realização do projeto final.

As atividades do grupo de pesquisa seguem em andamento, integrando os corpos docente e discente. Segundo a professora Renata, o projeto tem atraí-do novos alunos, inclusive concluintes, e conta com o apoio de professores de outras áreas. Pedro, que está no tercei-ro período, ressalta a importância de

investir em divulgação científica e dar continuidade às pesquisas: “Não po-demos deixar os estudos engavetados, precisamos sair do laboratório”. De fato, já se vê sair pela porta do laboratório uma mão, robótica, que acena ao futuro.

Com a mão na massa

Pedro Campos Vieira, um dos envolvidos no grupo de pesquisa, se interessa pela robótica desde a infância

A ampla gama de aplicações das so-luções desenvolvidas em Engenharia de Controle e Automação, curso que integra o Instituto Politécnico da PUC Minas (Ipuc), corrobora com a percep-ção de que esta é uma “engenharia integradora”. A expressão é utilizada pela professora Renata Umbelino Rêgo, egressa de uma das primeiras turmas do curso que hoje coordena na PUC Mi-nas. Ela explica que o profissional com esta formação é capaz de conectar co-nhecimentos das diversas engenharias e aplicá-los em projetos funcionais.

O trabalho do engenheiro de controle e automação vai das soluções mais sim-ples até as ultracomplexas. Um exemplo comum é o de acendimento automático de lâmpadas quando se entra em deter-minado cômodo. Já entre os projetos mais intricados, destacam-se iniciativas como estas que Renata tem observado

em trabalhos recentes: sistemas de irri-gação para agricultura, ferramentas de prevenção de incêndios em hospitais e até mesmo aplicativos que simulam a dinâmica dos apps de relacionamento para promover matches no mercado de trabalho, conectando empresas a can-didatos.

A professora tem acompanhado de perto os estudos relacionados à mão robótica em todas as suas fases, desde o TCC de Lucas e Guilherme até a for-mação do grupo de pesquisa que busca aprimorar o protótipo. Renata destaca um dos mais fascinantes aspectos ex-plorados recentemente: a virtualização. Com a criação de digital twins, expres-são em inglês comumente usada para denominar réplicas digitais de máqui-nas, será mais fácil realizar testes, mo-delagem e coleta de dados, com a van-tagem de ter custos reduzidos.

Engenharia integradora

“Os estudantes ficam encantados ao saber mais da área, que está muito presente no cotidiano deles por conta das tecnologias que consomem” Professora Renata Umbelino Rêgo

Lucas Rezende e Guilherme Oliveira criaram um protótipo de mão robótica para o trabalho de conclusão de curso

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Revista PUC Minas nº 23 6766 pucminas.br/revista

além do cruzamento dos dados e reforça a im-portância do trabalho para a formação do grupo. “Estar próximo a questões ambientais ligadas à construção civil é de extrema importância para a formação de qualquer engenheiro, independen-temente da área de atuação a ser seguida”.

A atividade extensionista é uma prática dos conteúdos da disciplina Gerenciamento de Re-síduos Urbanos, principalmente em relação ao diagnóstico, separação e destino final de resí-duos de construção civil em empreendimentos. “O objetivo é o aluno compreender e ser capaz de analisar criticamente o desenvolvimento e aplicação de um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Construção Civil (PGRCC), confor-me a legislação para a sua formação como enge-nheiro civil, que será responsável pela gestão da execução desses planos nos empreendimentos que estiverem à frente”, explica professor Paulo Henrique Maciel Barbosa, colaborador e orien-tador da prática. Priscila destaca também a im-portância de entender a produção de resíduos gerados em cada fase da obra e a necessidade de “refletir e estudar suas consequências, financei-ra, social e ambientalmente. Com o plano de ge-renciamento é possível traçar estratégias para o correto tratamento e disposição desses resíduos, garantindo que o empreendimento não provo-cará quaisquer tipos de problemas para o meio no qual está inserido”.

A Arena MRV disponibilizou as informações e relatórios aos alunos para que fizessem as ava-liações e proposições. “O Plano já estava protoco-lado na Prefeitura, mas eles sugeriram algumas melhorias interessantes em alguns pontos do relatório. Tenho certeza que foi muito enriquece-dor para eles e para nós também”, relata Manuel Gontijo, biólogo da Golder, empresa de consul-toria responsável pela coordenação dos progra-mas ambientais da Arena MRV. Para Manuel, a aproximação entre academia e o setor privado é muito relevante. “Com certeza, a academia pre-cisa estar mais próxima do setor privado, das in-dústrias, dos empreendimentos em geral. O fato de os alunos se prontificarem a tentar entender e ver, na prática, como essas coisas funcionam é bem positivo para todos”.

O professor Paulo Henrique destaca também que, como extensão universitária, a prática tem como “objetivo a participação dos alunos em uma atividade extensionista compartilhando o conhecimento para a resolução e adequação de uma necessidade ou demanda social, nesse caso, no trato e gestão de resíduos da construção civil”. A prática extensionista da disciplina é realizada

desde o ano passado e foi adaptada para o forma-to remoto desde o primeiro semestre de 2020, devido à necessidade de distanciamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus. Para o professor Paulo Henrique, a atividade foi bastante exitosa. “Através do formato onli-ne conseguimos manter a atuação dos alunos no desenvolvimento prático de melhor gestão de uma necessidade para um empreendimento construtivo, que é a gestão dos seus resíduos, da maneira correta, eficaz, econômica e de acordo com a legislação. Também destaco a possibilida-de, através dessa atividade, do desenvolvimen-to dos alunos em uma ação extensionista, que sempre é louvável tratando-se da sua formação humanística compartilhada com a atuação pro-fissional”, conclui. A prática extensionista tam-bém será aplicada na Unidade São Gabriel, no Curso de Engenharia Civil, atrelada ao projeto de extensão Engenharia Sustentável, do Curso de Engenharia Civil da Unidade Barreiro.

Solo, rocha, tijolo, cerâmica, concreto, madeira, tinta, argamassa, gesso, vidro, plástico. Esses são alguns resíduos gerados na construção de um em-preendimento. Para mitigar seus impactos, toda construção precisa apresentar um Plano de Geren-ciamento de Resíduos de Construção Civil (PGRCC), de acordo com a Resolução Conama 307 (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e legislações munici-pais. O PGRCC é um documento técnico que avalia a quantidade de resíduos sólidos gerados em uma obra de construção civil e qual a destinação e trata-mento correto para cada um deles.

Priscila Linhares Ramos, aluna do oitavo perí-odo do Curso de Engenharia Civil da PUC Minas Barreiro, conta que a prática extensionista reali-zada na disciplina de Gerenciamento de Resídu-os Urbanos foi importante para todos os alunos que realizaram o trabalho. O grupo de Priscila,

que elegeu a obra da Arena MRV, em Belo Hori-zonte, como campo de estudo, avaliou todas as informações disponibilizadas pelo empreendi-mento com base nos estudos feitos em aula re-lacionados à correta gestão dos resíduos sólidos. A partir da análise dos dados, concluíram que as resoluções foram cumpridas e, a partir do relató-rio de monitoramento avaliado por eles, propu-serem melhorias para que a obra seja executada de maneira a se aproximar ao que apresenta o PGRCC, tais como inclusão no relatório sobre a forma de estocagem dos materiais futuramente adquiridos para etapas diferentes da obra e mon-tagem de tendas do tipo gazebo sobre as caçam-bas ou a cobertura com lonas plásticas. Priscila cita como principal desafio a interpretação das informações fornecidas pelos documentos ana-lisados, PGRCC e relatório de monitoramento,

ENGENHARIA CIVIL

CONSTRUÇÃO EMEIO AMBIENTEA importância da gestão dos resíduos sólidos em um empreendimento |Bruna Santos

“O objetivo é o aluno compreender e ser capaz de analisar criticamente o desenvolvimento e aplicação de um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Construção Civil (PGRCC)”Professor Paulo Henrique Maciel Barbosa

Priscila Ramos, aluna do Curso de Engenharia Civil, integra o grupo que analisou a correta gestão dos resíduos sólidos em obra da Arena MR, prática orientada pelo professor Paulo Henrique Barbosa

A obra da Arena MRV foi escolhida como campo de estudo para se verificar a correta gestão dos resíduos sólidos em prática de extensão do Curso de Engenharia Civil

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“Se a Universidade foca na formação qualificada de futuros profissionais, a Cultura Religiosa possibilita momento de refletir sobre a questão do sentido da vida, que não se reduz ao consumo, aos interesses individuais, possibilitando o humanismo integral” Professor Rodrigo Coppe Caldeira, chefe do Departamento de Ciências da Religião

A melhor definição para o conteúdo da discipli-na Cultura Religiosa, estando numa universidade católica, talvez seja somente o estudo das tradições católicas, correto? Errado. Apesar de muitos estu-dantes, antes de conhecerem a disciplina, pensa-rem desse modo, logo descobrem que a melhor definição para ela são os sentidos para a vida. “Se a Universidade foca na formação qualificada de fu-turos profissionais, a Cultura Religiosa possibilita momento de refletir sobre a questão do sentido da vida, que não se reduz ao consumo, aos interesses

individuais, possibilitando o humanismo integral”, diz o chefe do Departamento de Ciências da Reli-gião, professor Rodrigo Coppe Caldeira.

Disciplina esta que integra e reflete a missão da Universidade, que tem como proposta promover o desenvolvimento humano e social, propiciando uma formação humanística comprometida com o bem comum, observa o professor. A disciplina, que consta da grade curricular de todos os cursos de graduação da Universidade, é aberta a tudo o que é ligado ao humano, ao diálogo, à escuta, às várias

A professora Giseli do Prado Siqueira, que já coordenou a Cultura Religiosa e a Pastoral no Campus de Poços de Caldas, observa que a dis-ciplina está alocada no Departamento de Ciên-cias da Religião com a proposição de colaborar na formação plena do cidadão, numa sociedade plural na qual a diversidade cultural religiosa deve ser respeitada. E que o plano de ensino aspi-ra “analisar a dimensão religiosa do ser humano, reconhecendo a sua importância em favorecer experiências fundamentais nos âmbitos pessoal e social, em vista da construção de sentido exis-tencial, e da promoção de valores morais e éticos do humanismo cristão”.

Para isso, a Cultura Religiosa se apresenta em duas etapas distintas.

No início, a Cultura Religiosa – fenômeno re-ligioso aborda os limites e possibilidades da ex-periência com Deus; as categorias fundamentais de interpretação e de linguagem do fenômeno religioso; a Bíblia: livro de formação cultural do Ocidente; A Bíblia em sua formação histórica, cultural e literária; Os critérios de interpretação, os temas e as perspectivas de estudo da Bíblia e a experiência mística e de abertura que o li-vro sagrado propicia; O cristianismo e os desa-fios do diálogo ecumênico e inter-religioso no contexto de um mundo globalizado; História e fundamentos da cultura e tradições religiosas afro-brasileira e Indígenas.

E a outra etapa da disciplina, Cultura Religio-sa - Pessoa e Sociedade, trata da fundamentação da práxis cristã; da categoria Pessoa em diálogo com categorias antropológicas contemporâne-as; temas atuais à luz do Humanismo Cristão: a família e a dimensão afetivo-sexual; do mundo do trabalho; da ordem social e política, e da cida-dania; o compromisso com o cuidado e a defesa da vida humana e ecológica, e das perspectivas

Formação plena do cidadão

CULTURA RELIGIOSA

COMPREENSÃO DAESPIRITUALIDADEDisciplina, que é ofertada em todos os cursos de graduação, reflete sobre os sentidos da vida |Leandro Felicíssimo

tradições religiosas, aos valores espirituais presen-tes nas diversas religiões, e também às experiências não religiosas, aos desafios e ao que une todos. “A disciplina visa à compreensão da espiritualidade, busca compreender as tradições religiosas, diálogo entre Igreja Católica e outras religiões, desafios so-ciais, políticos e culturais”, destaca Rodrigo Coppe.

O professor lembra que se for do interesse do estudante de graduação aprofundar-se nas ques-tões religiosas, a Universidade oferece também a Pastoral Universitária, que tem estreitos laços com a disciplina Cultura Religiosa. “A disciplina tem um

diálogo muito forte com a Pastoral, atuação dos professores da Pastoral e também na extensão, em grupos de pesquisa, iniciação à pesquisa. Há uma colaboração constante dos professores de Cultura Religiosa nos diferentes departamentos da Univer-sidade, um diálogo pulsante e constante”. O profes-sor ressalta ainda que a disciplina é interdiscipli-nar, encontra as Ciências da Religião, a Sociologia, a Filosofia. “As formações variadas dos professores deixam a disciplina bastante rica. Em cada curso, o professor precisa conhecer o projeto pedagógico do curso para adaptar a disciplina”.

Revista PUC Minas nº 23 69

de construção de uma nova ordem mundial, centrada na sustentabilidade, na justiça, no amor e na paz.

Duas etapas, que, de acordo com o profes-sor Rodrigo Coppe, estão intimamente ligadas com a missão da Universidade, respondendo a demandas mais amplas, não se reduzem ao téc-nico, colaboram na formação de um profissional técnico e têm abertura para níveis éticos, sociais e espirituais que atravessam todos os cursos. “Enfim, Cultura Religiosa é vida que se aplica à vida, que faz e se refaz no ensino, na pesquisa e na extensão”, diz a professora Giseli.

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Estudos sobre o ofício de benzer

Trata-se de trajetória vivida por mui-tos estudantes. “Essa disciplina mudou minha vida, me despertou, trouxe sen-tido para questões importantes, como a benzeção feita pela minha avó. De que eu poderia seguir carreira acadêmica e dar sentido para o legado dela”, diz a estu-dante do mestrado em Ciências da Reli-gião da PUC Minas Giulia Maria Teixeira Pamplona Quinteiro, de 25 anos. Ela diz que muitos alunos não veem relevância na disciplina Cultura Religiosa, ficam ce-gos por causa da intolerância religiosa e acham que vão ter um ensino catedrático, o que não tem nada a ver com a discipli-na, mesmo estando em uma Universida-de Católica. Mas, depois de a cursarem, muitos dizem que se tornaram pessoas melhores”, alegra-se a estudante.

Giulia credita à disciplina Cultura Re-ligiosa o fato de atualmente cursar mes-trado, tendo sido determinante para ela seguir a carreira acadêmica. O projeto de pesquisa Identificação e estudo sobre o oficio de benzer no planalto poçoscalden-se: religiosidade e saberes de cura surgiu nas aulas de Cultura Religiosa - fenômeno religioso após a professora Giseli solicitar aos alunos exemplos concretos de ma-nifestações religiosas e perceber a recor-rência da menção, por parte dos univer-sitários, da passagem por benzimentos. Muitos chegam a indicar benzedores e benzedeiras como solução para questões básicas da vida. E assim despertou na pro-fessora Giseli o desejo de compreender quais são as doenças, os males tratados pela benzeção. Quem é esse agente de benzeção? Qual a trajetória religiosa de benzedores/benzedeiras que dedicam grande parte do seu tempo ao atendi-mento público? Qual espaço social que esses benzedores/benzedeiras ocupam na sociedade contemporânea? A mes-tranda Giulia se refere a trabalho inicia-do ainda na graduação, no 3º período de Direito, na disciplina Cultura Religiosa e financiado pelo Fundo de Incentivo à Pes-

quisa (FIP), no qual os graduandos foram a campo e mapearam 48 benzedeiras mu-lheres da cidade de Poços de Caldas, no Sul de Minas, tendo havido também par-ceria com Laboratório de Comunicação Midiática para a produção de pequenos vídeos sobre os Saberes da Cura, com a participação de 25 alunos.

Partindo desses questionamentos, o estudo visou compreender, de acordocom a professora Giseli, como se cons-tituíram, a partir da experiência religio-sa, as práticas de benzeção na cidade de Poços de Caldas, tendo como contexto a própria expressão oral dos agentes desse oficio. Mapeando essa prática no muni-cípio, houve a preocupação de olhar a re-alidade desses benzedores/benzedeiras com atitude crítica e reverente e, ao mes-mo tempo, buscar o viés científico para analisar essas práticas de recuperação da saúde e da experiência religiosa.

A participação nessa pesquisa iniciada na graduação proporcionou mais frutos acadêmicos na vida de Giulia. Ela conti-nuou o estudo sobre as benzedeiras no

Trabalho de Conclusão do Curso de Di-reito e também no mestrado pesquisa o assunto, sobre Salvaguardas de Saberes da Cura em Poços de Caldas, com orienta-ção do professor Antonio Geraldo Canta-rella e coorientado pela professora Giseli. Quatro pesquisas sobre benzedeiras in-tegram o grupo de pesquisa Filosofia, Re-ligiosidade e Interfaces, coordenado pela professora Giseli e com a participação de professores de outras áreas do conhe-cimento. Produções acadêmicas foram apresentadas em congressos, seminários e publicadas em livros, como na edição de 2020: Religião, Educação e Direitos Hu-manos: diálogos possíveis.

Outra estudante, de Psicologia, tam-bém rende elogios à disciplina. Amanda Tardamone Alves, do 9º período, conta que se interessou pela temática e está pes-quisando a Espiritualidade e Abordagem centrada na Pessoa, processo psicotera-pêutico como jornada interior. Pergunta que a moveu durante a disciplina foi a espiritualidade intrínseca ao homem. “O Brasil é um país muito religioso, temos que entender essa diversidade, estudar qual a influência no processo psicotera-pêutico”, diz a aluna sobre a importância da disciplina e de se entender psicossocial e espiritualmente todas as culturas den-tro do país.

“Eu adorava a disciplina Cultura Reli-giosa. Sempre tive curiosidade por outras religiões. Muitos estudantes a viam com preconceito, mas depois de conhecer a disciplina, isso se rompia”, diz a advogada e mestranda Giulia.

“Essa disciplina mudou minha vida, me despertou, trouxe sentido para questões importantes” Giulia Maria T. Pamplona Quinteiro, estudante do mestrado em Ciências da Religião da PUC Minas

EXTENSÃO

CURRICULARIZAÇÃODA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIAPUC Minas se destaca entre as instituições de ensino pelo pioneirismo na implantação das práticas curriculares de extensão |Fernando Ávila

A resolução número sete do Conselho Na-cional de Educação (CNE), de 2018, estabelece as diretrizes para a extensão na educação superior. Com isso, a partir de 2022, as atividades de exten-são devem compor, no mínimo, 10% do total da carga horária curricular estudantil dos cursos de graduação, as quais deverão fazer parte da matriz curricular dos cursos. Em 2015, três anos antes da homologação da resolução, a PUC Minas já ini-ciava seu processo formal de curricularização da extensão universitária, o que a coloca em uma posição de vanguarda e de referência para ou-tras instituições. Atualmente, todos os cursos da Universidade possuem disciplinas com práticas curriculares de extensão. De acordo com dados

de 2020, são ao todo 394 disciplinas, envolvendo 13.430 alunos e 483 professores.

“As atividades curriculares de extensão já fa-zem parte do cotidiano de alguns professores há vários anos na PUC Minas. Muito antes de se falar sobre a curricularização, vários professores já re-alizavam atividades com características exten-sionistas em suas disciplinas”, conta a professora Márcia Colamarco Ferreira Resende, que atua na Coordenação de Acompanhamento de Projetos Pedagógicos de Cursos da Pró-Reitoria de Exten-são (Proex), juntamente com a professora Luci-mar Magalhães de Albuquerque e a funcionária Tatiane dos Reis Moreira.

De acordo com a professora Lucimar, o alcance

“ Eventos como esses são extremamente importantes, pois oportunizam espaços de diálogo. Poder conversar com professores de diversas outras instituições e de diversas regiões do país” Professora Márcia Colamarco

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da meta estabelecida pelo CNE tem duas perspec-tivas. “A primeira diz respeito ao aspecto quantita-tivo, que possibilita que 100% dos discentes terão oportunidades de vivenciar atividades de exten-são, o que também implicará em uma mudança na cultura dos cursos. E a segunda perspectiva amplia a compreensão que a PUC Minas tem de que a ex-tensão universitária cumpre uma função educativa integrada com seu papel de transformação social“.

Nos últimos anos, em decorrência do reconhe-cimento pelo trabalho realizado, o pró-reitor de Extensão, professor Wanderley Chieppe Felippe, vem sendo convidado a compartilhar com outras instituições de ensino superior a experiência da PUC Minas na curricularização da extensão uni-versitária.

Além disso, como forma de socializar o conheci-mento e contribuir com o fortalecimento da exten-são no país, a Universidade promoveu, em 2019, o Simpósio de Curricularização da Extensão Univer-

sitária e, neste ano, em parceria com a PUC Minas Virtual, ofereceu um curso online, com aulas sín-cronas (aquela em que é necessária a participação do aluno e professor no mesmo instante e no mes-mo ambiente virtual) e assíncronas (gravadas), que contou com a participação de quase 100 pessoas.

“Eventos como esses são extremamente im-portantes, pois oportunizam espaços de diálogo. Poder conversar com professores de diversas ou-tras instituições e de diversas regiões do país sobre as experiências que eles estão tendo na curricula-rização da extensão universitária possibilita que a gente também reflita sobre o nosso próprio pro-cesso. Isso mostra que estamos no caminho certo ao promover tais atividades”, explica a professora Márcia Colamarco.

A professora Lucimar conta que, durante o cur-so, surgiram diversas dúvidas sobre como realizar os registros e garantir a contabilização na carga horária para atender a resolução. “Percebemos que o processo da curricularização está se ini-ciando nas IES (Instituições de Ensino Superior), porém, ainda não está totalmente definido”, diz.

De acordo com a resolução, a “Extensão na Educação Superior Brasileira é a atividade que se integra à matriz curricular e à organização da pesquisa, constituindo-se em processo interdis-ciplinar, político, educacional, cultural, científico e tecnológico, que promove a interação transfor-madora entre as instituições de ensino superior e os outros setores da sociedade, por meio da pro-dução e da aplicação do conhecimento, em arti-culação permanente com o ensino e a pesquisa”.

A professora Márcia Colamarco conta que, quando a PUC Minas iniciou o seu processo de currícularização da extensão, em 2015, o “gran-de desafio” foi identificar as experiências de ex-tensão nos cursos para que elas pudessem ser reconhecidas e registradas como práticas curri-culares em todos os projetos pedagógicos. Para tanto, ela explica, foi necessário firmar parceria com a Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) e de-senvolver, junto com a Gerência de Tecnologia da Informação (GTI) da Universidade, um siste-ma de disciplinas de extensão, para registro e avaliação das atividades.

“Aqueles que já realizavam atividades com as mesmas características das práticas curricu-lares de extensão rapidamente se adaptaram. Mas para aqueles em que tudo isso era novo o processo foi mais desafiador. Várias capacita-

ções, reuniões e tutoriais foram realizados pela nossa coordenação, ao longo desses anos, para apoiar os professores e os cursos. Olhando para trás e vendo todo o caminho percorrido até aqui, percebo que ele foi todo recheado de desafios e inovação”, afirma.

Para a professora Lucimar, é necessária uma preparação continuada para a consolidação e en-raizamento da cultura extensionista nos cursos. “Já avançamos em muitos aspectos para garantir a implementação da curricularização da exten-são, entretanto, todo processo de mudança de-manda uma compreensão de sua necessidade para a adesão e a criação de caminhos institucio-nais orientadores das ações. Percebemos que a Universidade abriga uma grande diversidade de áreas, algumas mais familiarizadas com a exten-são e outras nem tanto”.

Caminho de desafios e inovação

Disciplina promove Sarau da Saúde A professora Jacqueline do Carmo Reis minis-

tra na disciplina Fisioterapia em Saúde Coletiva, do 5º período do Curso de Fisioterapia do Cam-pus Betim, uma prática curricular de extensão chamada Sarau da Saúde. No início do semestre, os alunos são divididos em grupos, cada um com uma temática referente às linhas de cuidado na Atenção Primária (saúde do homem, da mulher, da criança, adolescente e idoso). Depois de discus-sões e alinhamento com o referencial teórico, os alunos são orientados a produzir um cordel com informações relevantes de educação em saúde e apresentar o trabalho para a comunidade, utili-zando artes cênicas, músicas, danças, entre outras.

“Nesse sarau a comunidade é convidada a fazer apresentações culturais e/ou outras atividades no dia do evento, realizando uma participação ativa, com trocas de saberes e em busca da redução do fosso cultural existente entre academia e popula-res”, explica a professora Jacqueline .

Com a pandemia, as atividades foram manti-das e os alunos passaram a produzir vídeos, para divulgação em redes sociais. “Essa foi a maneira que encontramos para manter vivo o nosso sarau”.

Para a docente, que leciona há 17 anos, a exten-são deve ser vista como um processo acadêmico de geração de conhecimento e deve permear toda a formação dos alunos, como prática transver-sal nas disciplinas da graduação. “Isso coloca o aluno como protagonista na busca pelo conhe-cimento”, afirma. Ela observa ainda que a prática extensionista amplia o universo de formação do aluno e reafirma o compromisso ético com a co-munidade.

A aluna Dayane Jhenifer Ribeiro Silva, do 10º período do Curso de Fisioterapia, conta que par-ticipou de dois projetos de extensão antes de cur-sar a referida disciplina. Depois da prática curri-cular, ela continuou por mais um ano no projeto

PUC Mais Idade e ingressou em outros dois. “Esta experiência [na disciplina] me estimulou a conti-nuar na extensão universitária por mais longos anos, pois, quando experimentamos algo tão ma-ravilhoso e transformador, queremos mais”, diz.

Na opinião dela, é “extremamente essencial” a presença de práticas curriculares de extensão nas disciplinas dos cursos. “É inegável e nítido os benefícios da extensão para formação acadêmica humanística, profissional e pessoal dos discen-tes”. Sobre a sua experiência na disciplina, ela des-taca que o mais significativo foi aprender a falar “com a comunidade” e não “para a comunidade”. “Aprendemos sobre como transformar o saber científico em algo mais compreensível a fim de dialogar com a comunidade, de acordo com seu contexto de vida. Essa interação entre as partes possibilitou transformações para todos os en-volvidos e uma ressignificação da minha prática acadêmica e creio que para as dos meus colegas de disciplina também”.

Depois da prática curricular, Dayane Jhenifer Ribeiro Silva, aluna do Curso de Fisioterapia, ingressou em outros projetos de extensão

As professoras Márcia Colamarco Ferreira Resende e Lucimar Magalhães de Albuquerque, que atuam na Coordenação de Acompanhamento de Projetos Pedagógicos de Cursos da Proex

Para a professora Jacqueline do Carmo Reis, a extensão deve permear toda a formação dos alunos

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COMUNIDADE

UNINDOFORÇASPrograma de extensão em Brumadinho, em parceria com a Arquidiocese de BH, completa dois anos | Fernando Ávila

O programa de extensão PUC Minas e Brumadinho – Unindo Forças, que tem como um de seus parceiros a Arquidiocese de Belo Horizonte, completa, neste 1º semestre de 2021, dois anos de atuação junto às comuni-dades atingidas pelo rompimento da barra-gem da Mina Córrego do Feijão, em Bruma-dinho. A iniciativa busca contribuir para o enfrentamento de problemas sociais, econô-micos, culturais e ambientais decorrentes da tragédia, tendo como base as diretrizes que norteiam a extensão universitária.

Revista PUC Minas nº 23 75

Ao longo desses dois anos, cada um dos pro-jetos estruturou e desenvolveu diversas ações, com objetivos bem definidos e resultados a serem alcançados. Mesmo com a pandemia do novo coronavírus, os projetos tiveram continui-dade e migraram do regime presencial para o remoto. “Conseguimos muito sucesso, mesmo que nessas condições de atuação”, avalia a pro-fessora Ana Teresa.

Os projetos Oficinas Psicossociais, coorde-nado pela professora Márcia Mansur, e Conti-nuidade das Ações de Comunicação da FCA em Brumadinho são exemplos de iniciativas que tiveram resultados positivos em suas ações.

No caso do primeiro, foi realizado um traba-lho de socialização, desenvolvimento psicosso-cial e fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Com alunos dos cursos de Psico-logia, Comunicação Social e da área da Saúde, o projeto elaborou, além de produções editoriais e audiovisuais, uma rádio chamada Vozes de Bru-madinho, veiculada por meio de plataformas digitais e carro de som nas comunidades. Esse trabalho foi realizado em parceria com os proje-tos da FCA e pelo Projeto Integrado de Educação e Saúde, coordenado pela professora Jaqueline do Carmo Reis. O e-book Vozes de Brumadinho foi produzido por extenisionistas, com o apoio do professor Valério Souza, do Curso de Publici-dade e Propaganda da Praça da Liberdade.

Já o projeto da Comunicação realizou ações estratégicas em três escolas de Brumadinho,

cujas temáticas compreenderam o Dia da Cons-ciência Negra, o Enem (Exame Nacional do En-sino Médio) e as redes sociais, este último com uma capacitação voltada para estudantes e pro-fessores. A iniciativa contou com a participação de extensionistas e das professoras Lívia Alves Brandão e Tânia Cristina Teixeira, do Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais (Iceg).

A estudante Beatriz Cordeiro Xavier, 21, do 7º período do Curso de Cinema e Audiovisual, conta que, devido à pandemia, várias atividades tiveram que ser repensadas e, depois de uma “longa reflexão”, o programa de rádio ganhou vida. “Para mim foi uma atividade enriquece-dora, isso porque foi reinventando um meio

Atividades migraram para o regime remoto

Beatriz Xavier, aluna do Curso de Cinema e Audiovisual, participou de várias atividades, entre elas uma rádio comunitária veiculada em carro de som e plataformas digitais

Desde que teve início, em abril de 2019, cerca de mil pessoas – entre alunos, professores, mora-dores das comunidades, alunos de escolas públi-cas, integrantes de movimentos sociais e outros públicos – já se envolveram nas atividades do pro-grama, que reúne 10 projetos, em diversas áreas do conhecimento.

“O resultado foi super positivo e culminou em um seminário final com a apresentação dos pró-prios alunos, em que eles falaram muito não só sobre o trabalho desenvolvido, mas também sobre o impacto na formação deles”, conta a professora Ana Teresa Brandão de Oliveira e Britto, que coor-denou o programa até 2020. O referido seminário foi realizado em dezembro, sob o título Protago-

nismo Discente nas Intervenções Socioambien-tais: aprendizagens, vivências e perspectivas.

O programa, a partir deste ano, está sob coor-denação da professora Sandra Freitas, responsável pela Extensão da Faculdade de Comunicação e Ar-tes (FCA). “Para Brumadinho e suas comunidades, cada um de nós, em cada um dos projetos, precisa dar suas melhores energias, investir o conheci-mento que a gente tem e colocá-lo disponível para essas comunidades. Penso que todos nós, minei-ros, temos uma dívida enorme com os moradores de Brumadinho, porque por muitos e muitos anos não abrimos os olhos para os perigos iminentes da minério-dependência e também para a atuação das mineradoras”, diz.

Lucas Hallel/FUNAI

Arquivo Pessoal

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de comunicação como uma rádio comunitária em carro de som que conseguimos aproximar de certa forma comunidades que muitas vezes não dialogavam entre si, um processo que tal-vez nunca aconteceria se fosse presencial”, diz. Como extensionista, ela participou de diversas atividades, entre elas oficinas de fotografia e ci-nema. De acordo com Beatriz, produzir o pro-grama de rádio possibilitou a ela novos apren-dizados, como trabalhar com edição de áudio. Atualmente, ela permanece como extensionista dos projetos Providência na Comunidade e PUC Minas e Brumadinho – Unindo Forças.

Um dos participantes da comunidade é o senhor Antônio Alves da Silva, de 73 anos, co-nhecido como “Seu Cambão”. Líder comunitá-rio da Comunidade Quilombola de Marinhos, ele conta que participou da rádio e contribuiu com uma das publicações do projeto. “A rádio, quando passava por Marinhos, eu podia ouvir a minha voz, eu cantando, ouvir a voz de amigos meus do Parque da Cachoeira, do Ribeirão, isso foi muito bom, o trabalho da PUC aqui na nossa comunidade“, conta. Sobre a sua participação no livro, ele diz: “É um sonho meu, mas com certeza é um sonho de Deus. É um sonho de eu escrever o meu livro e, quando eu falo meu livro, é o livro da comunidade”. Além de líder comu-nitário, ele também é presidente da Associação Água Cristalina 2000 e ministro extraordinário da Sagrada Comunhão. Vendedor de verduras, ele se viu impossibilitado de escoar a sua produ-ção depois do rompimento da barragem.

Uma outra iniciativa da Pró-Reitoria de Ex-tensão (Proex) que também tem tido uma atu-ação consistente é o Projeto Paraopeba, desen-volvido pela Coordenação e Acompanhamento Metodológico e Finalístico da PUC Minas, cujas atividades tiveram início em meados de 2020, com atuação ao longo da calha do Rio Paraopeba.

“Trata-se de um projeto de extensão que rea-liza intervenções na comunidade por meio das assessorias técnicas aos atingidos, ocupando-se também da formação acadêmica e humanística dos alunos participantes, em consonância com a missão institucional da PUC Minas”, explica a coordenadora, professora Fernanda Simplício.

De acordo ela, a atuação da equipe do proje-to, composta por professores, extensionistas e funcionários, se dá na perspectiva da reparação integral dos danos sofridos pelas pessoas que ti-veram suas vidas “devastadas pela tragédia”.

O projeto é fruto de acordo de cooperação com Assessorias Técnicas Independentes, com a anuência do Ministério Público de Minas Gerais, Ministério Público Federal, Defensoria Pública de Minas Gerais e Defensoria Pública da União.

Projeto Paraopeba

A professora Fernanda Simplício coordena projeto que realiza intervenções na comunidade por meio das assessorias técnicas aos atingidos

Líder da comunidade quilombola, Antônio Alves da Silva, conhecido como “Seu Cambão”, participou da rádio e contribuiu com uma das publicações do projeto

PROJETOS QUE INTEGRAM O PROGRAMA PUC MINAS E BRUMADINHO – UNINDO FORÇAS

Romaria pela Ecologia Integral

Para marcar os dois anos do rompi-mento da Mina Córrego do Feijão, a Ar-quidiocese de Belo Horizonte, com a par-ticipação do programa de extensão PUC Minas e Brumadinho – Unindo Forças e do Projeto Paraopeba, realizou em janeiro deste ano a II Romaria Regional pela Eco-logia Integral a Brumadinho. A progra-mação contou com vídeo-cartas, roteiros celebrativos e saraus pastorais, além do lançamento do Pacto dos Atingidos, do-cumento construído coletivamente por

atingidos pelo rompimento da barragem de toda a bacia do Rio Paraopeba.

“Queremos fazer da nossa voz um grito por justiça, não pode acontecer isso mais e a vida não pode continuar assim. Queremos que aconteça a reparação in-tegral para todos os atingidos e atingidas e que a gente construa uma ecologia in-tegral”, disse Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizon-te, durante celebração pela memória das vítimas da tragédia.

“Queremos fazer da nossa voz um grito por justiça, não pode acontecer isso mais e a vida não pode continuar assim. Queremos que aconteça a reparação integral para todos os atingidos e atingidas e que a gente construa uma ecologia integral”Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte

Fortalecendo a comunidade

Gestão e Comunicação do Programa PUC Minas e Brumadinho – Unindo Forças; Continuidade das Ações de Comunicação da FCA em Brumadinho; Oficinas Psicossociais – fortalecendo vínculos familiares e comunitários em Brumadinho; Educação Financeira e Geração de Trabalho e Renda; Reciclagem Solidária e Inclusiva na Pós-tragédia-crime de Brumadinho/MG: fortalecimento das cooperativas de catadores na gestão de resíduos sólidos urbanos; Universidade Aberta: fortalecimento da construção compartilhada de conhecimento para a superação da minério-dependência em Brumadinho/MG; Brumas Colabora: discussões colaborativas de planejamento e gestão ambiental urbanos para promoção do constante acompanhamento do Plano Diretor do Município de Brumadinho; Diagnóstico Situacional, Educação para Saúde, Vigilância, Controle Vetorial e Zoonoses; Projeto Integrado de Educação e Saúde; Ecologismo dos Pobres: o cuidado/proteção dos bens da natureza a partir das perspectivas de vida não capitalistas.

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e pessoas em situação e em trajetória de rua, um diálogo e troca de saberes e, a partir disso, construir possíveis encaminhamentos. Dignidade em direi-tos é para todos”, explica o professor.

O projeto, que começou em 2020, tem como principais atividades colaborar para uma educação em Direitos Humanos, formar multiplicadores de um ideal de justiça social e produzir ações de in-tervenção que sejam contributivas para a defesa, luta por direitos e a conscientização de pessoas em situação de vulnerabilidade social. “Um dos prin-cipais objetivos é transformar essas pessoas em situação de rua em multiplicadores conscientes. Fazemos isso por meio do repasse de informações, que muitas vezes são simples, mas que envolvem os direitos, por meio de folders, lambe-lambes e cartazes explicativos. São dados como telefones úteis, acesso à saúde, o que fazer em determinada situação, como se portar na delegacia, o que uma autoridade pode ou não fazer”, pontua o professor.

Além da parceria com o Curso de Psicologia,

com participação do professor Bruno Vasconce-los de Almeida, o projeto tem colaborado com a Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte, coordenada por Claudenice Rodrigues Lopes, e com o Centro Estadual de Defesa dos Di-reitos Humanos de Pessoas em Situação de Rua (CEDD). Diante do cenário de pandemia, o projeto voltou as suas atividades para os agentes e volun-tários do Canto da Rua, projeto emergencial que atua na Serraria Souza Pinto, acolhendo pessoas em abandono, oferecendo serviços de saúde, alimen-tação e cidadania. Atualmente, a (K)linica realiza, no formato online, novas capacitações, rodas de conversa e mesas de discussão.

Uma das iniciativas realizadas pelo projeto foi um evento, no mês de novembro de 2020, que visou à capacitação de pessoas defensoras dos Di-reitos Humanos. A coordenadora do CEDD, Elke Oliveira Houghton, conta que um dos pontos im-portantes abordados no evento foi sobre a Reso-lução nº 40, publicada no Diário Oficial da União em outubro de 2020, que dispõe sobre as diretrizes para promoção, proteção e defesa dos direitos hu-manos das pessoas em situação de rua. “Foi um tra-balho de coparticipação no sentido de nos ajudar a formar pessoas que trabalham com a população em situação de rua e aprofundar alguns conteúdos que são importantes. Essa qualificação nos ajudou a pensar em um curso para formação de defenso-res populares. Além do curso, vamos fazer algumas atividades complementares, como podcast, que os alunos do projeto nos ajudaram a desenvolver”, ressalta Elke.

No Brasil, existem hoje mais de 150 mil pessoas em situação de rua, de acordo com os dados levan-tados pelo Cadastro Único (Cadúnico), do governo federal, divulgado pelo Programa Transdisciplinar Polos de Cidadania, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em maio de 2020. Ainda de acordo com os dados, em Minas Gerais, são cerca de 18 mil pessoas vivendo na rua, 70% dessa popu-lação concentrada em 12 dos 853 municípios minei-ros. Apenas em Belo Horizonte, são 9.114 pessoas, sendo mais da metade do total do estado.

O projeto de extensão do Curso de Direito da PUC Minas Praça da Liberdade, em parceria com o Curso de Psicologia do Campus Coração Eucarístico, chamado (K)línica: Direitos Humanos e Cidadania,

tem o objetivo de produzir ações interventivas, pela via do método clínico, para ajudar pessoas em situação de violência e vulnerabilidade sociais, principalmente aqueles que não têm moradia. A iniciativa envolve também o movimento Centro de Referência da População de Rua (POP Rua), alunos e professores em ações que propiciam educação, promoção e efetivação de direitos.

O coordenador do projeto, professor Ricardo Guerra Vasconcelos, conta que sempre quis trazer uma iniciativa com esse viés para a Universidade, pois um projeto de extensão universitária com ca-racterísticas clínicas, realizando diagnósticos, con-tribui para uma educação em direitos. “O intuito é promover, em conjunto, com agentes, voluntários

EXTENSÃO

DIREITOS HUMANOS NAS RUAS Projeto produz ações interventivas para

ajudar pessoas em situação de violência e vulnerabilidade social | Júlia Mascarenhas

Além da capacitação em Direitos Humanos, o projeto, como explica o professor Ricardo, visa trabalhar também, de forma estratégica, marcan-do presença em audiências públicas, participan-do de capacitação e preparando seminários, com o intuito de fortalecer as instituições e trabalhar em termos de direito e não de assistencialismo. Nesse sentido, o professor conta que já participou, por exemplo, de reuniões com a Prefeitura de Belo Horizonte sobre o Canto da Rua. “O objetivo é for-talecer a rede e empoderar pessoas em direitos. É necessário pensar e construir respostas a questões que, de fato, nos afligem no espaço comum. É im-portante envolver-se e, desta forma, somar forças e otimizar soluções”, argumenta Ricardo.

De acordo com Elke, a importância da parceria do centro com o projeto vem para justamente pen-sar em soluções e organizar ideias. “O projeto veio

para nos ajudar a divulgar as nossas ações e nossas defesas, e o principal, nos ajuda a pensar em nossa prática”, diz Elke.

A aluna Carolina Assis Martins, do Curso de Direito da Praça da Liberdade, extensionista do projeto, acredita que a (K)linica é uma importante oportunidade para fortalecer as lutas sociais, pos-sibilitando uma atitude cidadã através do diálogo e da participação junto à sociedade. “Apesar dos Direitos Humanos serem entendidos como direi-to para todos, sabemos que na realidade somos diariamente privados destes direitos. Para a po-pulação em situação de vulnerabilidade social, a necessidade do combate à violação destes direitos é ainda mais urgente. Os Direitos Humanos preci-sam ser construídos e defendidos cotidianamente, e principalmente, com a participação da parcela mais vulnerável da sociedade”, afirma Carolina.

Atuação de forma estratégicaPESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA

Brasil 151.462 milMulheres 12%

Homens 88%

Minas Gerais 18.011 mil12 dos 853 municípios mineiros concentram

70% dessa população.

Belo Horizonte 9.114 mil pessoas em situação de rua

78 pucminas.br/revista

“O objetivo é fortalecer a rede e empoderar pessoas em direitos. É necessário pensar e construir respostas a questões que, de fato, nos afligem no espaço comum”Professor Ricardo Guerra Vasconcelos SAIBA

MAIS Pastoral da Rua: facebook.com/Pastoral-de-Rua-BH

Canto da Rua: instagram.com/cantodaruaemergencial/

CEDD: https://www.instagram.com/ceddhmg/

Revista PUC Minas nº 23 79

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Revista PUC Minas nº 23 81

projeto. A partir de um diagnóstico inicial, identi-ficou-se a necessidade de produção de conteúdo que favorecesse a formação dos jovens atendi-dos pelos parceiros e que são encaminhados ao mercado de trabalho. De acordo com a professo-ra Luciana, todo o processo foi conduzido coleti-vamente, inclusive no que concerne à forma de divulgação do material. Foram produzidos 27 ví-deos, para nove oficinas e oito e-books. Os temas abordados foram Marketing Pessoal, Linkedin, Excel, Power BI, Empreendedorismo, Facebook, Instagram e WhatsApp para Negócios e sobre a plataforma de design gráfico Canva. Todo o ma-terial pode ser acessado pelo canal do Projeto Ati-tude no YouTube.

Protagonismo. Essa palavra norteia o Projeto Atitude, do Curso de Administração da PUC Mi-nas São Gabriel, que tem como objetivo incenti-var os alunos a proporem ações extensionistas para diversos públicos. Os professores percebiam em seus alunos habilidades que iam muito além das que aprendiam em sala de aula e percebiam muitas possibilidades de contribuição para as co-munidades do entorno da Unidade. Foi assim que o projeto foi criado.

“O curso sempre recebe demandas da comu-nidade para intervenções pontuais, assim como demandas para a formação de jovens do entorno. Com o propósito de promover uma cultura de extensão junto aos discentes, o curso criou, em 2015, o Projeto Atitude que se configura como um convite permanente e aberto aos graduandos”, explica a professora Luciana Fagundes Silveira, coordenadora do projeto. “A ideia é estimular o protagonismo dos alunos, orientando-os a pro-por ações de extensão. Palestras, oficinas, rodas de conversa, entre outras”. A coordenação de exten-são do curso e do projeto recebem as propostas da comunidade e tentam ajustar com as proposições dos alunos.

Janice Fernandes Luna Oliveira, coordenadora da educação profissional do Ceduc Virgílio Resi,

conta que foi nessa combinação entre demanda e proposta que surgiu a parceria com o Projeto Ati-tude. “A professora Luciana buscando espaço para atuação voluntária de seus alunos e o Ceduc bus-cando expertises que somassem a seus esforços de levar um ensino de qualidade aos jovens e que impactasse positivamente em suas vidas que sur-giu a parceria entre as instituições”, relata Janice. O Ceduc Virgílio Resi é uma organização referência em educação para o trabalho, com foco no desen-volvimento humano, com público principal de jovens periféricos, adolescentes em acolhimento institucional e/ou em medidas socioeducativas. Para atender à complexidade e diversidade das demandas de seus públicos, o Ceduc busca esta-belecer parcerias com instituições, voluntários corporativos ou autônomos, a fim de promover um ensino de fato inclusivo, além de formar para a vida. “Educação para a vida é um módulo que acontece paralelo à capacitação técnica dos jo-vens, dura até o final do contrato, e se direciona a ampliar o horizonte sociopolítico e cultural dos aprendizes, munindo-os de experiências novas, ampliando interesses e perspectivas de identifi-cação de seu lugar no mundo. A PUC São Gabriel, por sua proximidade com o Ceduc Virgilio Resi, tornou possível a atuação neste módulo”, conta.

Em 2020, as equipes encararam outros desa-fios além de adequar as demandas da comunida-de às propostas dos alunos. Todos os envolvidos precisaram se adaptar devido à pandemia de Co-vid-19 e à necessidade de distanciamento social. Vânia de Sousa Pinho, aluna do terceiro período do curso de Administração da PUC São Gabriel e extensionista voluntária do projeto Atitude, já tinha experiência com o voluntariado, mas con-ta que precisou desenvolver outras habilidades e que participar do projeto foi uma experiência desafiadora. “No projeto, tivemos que gravar ví-deos, desenvolver todo o conteúdo e o material de forma remota. Estar presencial teria sido ótimo, mas isso não estava ao nosso alcance. Com isso, teve o outro lado: desenvolvi a habilidade de criar videoaulas, o que acrescentou para minha forma-ção”, explica. “Todos os nossos encontros foram via Google Meet e a solução para a gravação dos vídeos foi encontrada ao longo do semestre. Usa-mos a plataforma OBS. Foi um super processo de aprendizagem para todos”, detalha a professora Luciana.

Mas o esforço valeu a pena. Guilherme Fran-cisco, de 18 anos, foi um dos jovens que participa-ram das oficinas. A que chamou mais sua atenção foi a oficina sobre o Canva, uma plataforma que permite aos usuários criar layouts diversos. “As oficinas foram muito legais pelo fato de inovarem a cada atividade e não ficar aquela coisa monóto-na”, explica Guilherme. Janice conta que a quali-dade do material produzido favoreceu o interesse dos jovens e contribuiu para o enriquecimento das atividades propostas aos aprendizes. “As ofici-nas foram muito bem elaboradas, apresentando qualidade técnica e zelo na produção de todo o material. Quando iniciamos a parceria tínhamos a expectativa de que o material produzido seria de qualidade, por ser proveniente de uma uni-versidade renomada e pelas reuniões e ajustes anteriores à produção através da articulação com a professora Luciana. É importante ressaltar que nossas expectativas foram superadas”, completa Janice.

O projeto, além da parceria com o Ceduc Virgí-lio Resi, também teve como parceira a ONG Astla e contou com 17 extensionistas da PUC Minas, duas voluntárias externas e a coordenadora do

EXTENSÃO

PROTAGONISMOE JUVENTUDEProjeto Atitude incentiva alunos a proporem ações para a comunidade do entorno da PUC Minas São Gabriel | Bruna Santos

SAIBA MAISPara conhecer mais o Projeto Atitude, acesse a página no Instagram @projeto.atitude.

Pandemia exigiu adaptações no projeto

Guilherme Francisco, de 18 anos, um dos jovens que participaram das oficinas, elogiou o fato de serem criativas e inovadoras

Vânia de Sousa Pinho, aluna de Administração, precisou desenvolver habilidades para ministrar oficinas e diz que participar do projeto foi uma experiência desafiadora

80 pucminas.br/revista

“A ideia é estimular o protagonismo dos alunos, orientando-os a propor ações como palestras, oficinas, rodas de conversa, entre outras” Professora Luciana Fagundes Silveira, coordenadora do Projeto Atitude

Fotos: Raphael Calixto

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Revista PUC Minas nº 23 8382 pucminas.br/revista

minante sempre tiveram características etaristas. A valorização do ser humano por sua produção econômica e força de trabalho em que os inabili-tados são reduzidos socialmente, reforçam com-portamentos discriminatórios e segregacionistas. A imagem pré-concebida de improdutividade, fragilidade e de dificuldade faz com que a socie-dade trate os idosos como um fardo a mais para o coletivo. A realidade agravou-se quando, em meio a uma pandemia, a faixa etária mais atingida foi a acima de 60 anos. Recursos e atenção foram dire-cionados a um grupo visto muitas vezes como des-necessário. A proteção da população idosa deixou de ser um valor moral básico e passou a ser uma obrigação “penosa” da sociedade.

Mas porque os idosos estão mais suscetíveis ao vírus?. Na realidade, não estão: todos têm a mesma chance de contrair o vírus, mas os velhos apresentam reações mais drásticas devido ao de-clínio do sistema imunológico que está propicio a desenvolver sintomas severos da doença. Além disso, a prevalência de doenças crônicas no enve-lhecimento exige monitoramento e uso contínuo de medicamentos e podem exacerbar as compli-cações da Covid 19. Contudo, para além da susce-tibilidade a agravamentos biológicos, a pandemia trouxe consigo, para aqueles em processo de enve-lhecimento, sentimento de impotência, culpa ante aos impactos econômicos e segregação social. Ou-tra triste consequência são os problemas de saúde mental, como o estresse e a depressão resultantes do isolamento social. Admitir a morte entre os mais velhos como “natural e esperada” é, sem dú-vida, o mais triste e terrível exemplo de ageísmo que o momento pandêmico aflorou.

A moderna sociedade ressalta a valorização da velocidade, abstração, relatividade e leveza como valores fundamentais nos tempos atuais, em que a produção industrial e sua capacidade de gerar bens economicamente mensuráveis são sinôni-mos de sucesso e poder. Em contrapartida, os con-ceitos de lentidão, peso e imobilidade são sinais de deficiências e inadaptação ao universo contem-porâneo culturalmente determinado. Reforça-se dessa maneira a falácia que o antigo seja obsoleto e inadequado e as disputas entre juventude e ve-lhice tornam-se evidentes.

O músico Arnaldo Antunes bem ressaltou “A coisa mais moderna que existe nessa vida é enve-lhecer”. Vivenciamos um fenômeno recente, ace-lerado, mundial e único. Ainda não assimilado e compreendido onde quatro gerações têm a pos-sibilidade de conviver. As projeções da ONU indi-cam que a população mundial passa dos atuais 7,8 bilhões de habitantes em 2021 para 8,2 bilhões em

2025, com 1,22 bilhão de idosos, representando 15% do total nesse ano. Pela primeira vez, o mundo tem mais avós do que netos. São 705 milhões de pesso-as acima de 65 anos contra 680 milhões entre zero e quatro anos e até 2050 a proporção será de dois idosos para cada criança. Estamos vivendo mais e tendo cada vez menos filhos. No Brasil, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 13% da população têm mais de 60 anos, sendo que a partir de 2031 haverá mais idosos do que crianças e adolescentes, e em 2042 essa população alcançará o número de 57 milhões de brasileiros.

A velhice nos dias atuais estabelece dualidade entre o processo externo e o interno do envelhe-cer. O externo classifica os indivíduos de maneira cronológica, como categoria de indivíduos, mol-dada muitas vezes pelas alterações físicas ineren-tes ao envelhecimento biológico. A discrepância entre o processo interno e o externo acentua as ideias preconcebidas do envelhecer: os aspectos externos por serem mais visíveis e, portanto, mais evidentes, tendem a ordenar os aspectos internos, reforçando o estigma negativo do “ser” velho.

Analisar um indivíduo que envelhece partindo--se apenas do tempo vivido cronologicamente inibe a compreensão ampla de que o ser humano está continuamente em transformação. Passado, pre-sente e futuro interagem-se na construção da ima-gem interna de cada um e do mundo que o cerca.

O que fazer com os anos restantes? O aumen-to da expectativa de vida é uma conquista ou um problema? O mundo contemporâneo grita por uma reorganização de valores: repensar formas de ensino estendendo-as a idades mais avançadas, investir em todas as formas de atenção à saúde da prevenção à paliação, disponibilizar meios de co-municação de massa acessíveis a todos, reformu-lar a previdência social e estruturar novas perspec-tivas de lazer intergeracionais.

O envelhecimento é inerente ao processo de vida. Não se trata, portanto, de um acidente de percurso. Várias são as velhices e os envelheceres. Mesmo levando-se em consideração a sua univer-salidade, cada um envelhece de um modo. Estamos envelhecendo e queremos envelhecer. “Somos os novos velhos”: com direito a produção, ao respeito, às diversidades. O maior combate contra o precon-ceito quanto à velhice será a representatividade do idoso como um ser humano capaz de produzir e desempenhar funções comuns na sociedade.

* Professora do Curso de Fisioterapia do Campus Poços de Caldas Fisioterapeuta Mestre em Gerontologia Social

O século XXI tem se caracterizado como um momento em que diversidades foram colocadas em pauta, especialmente como lidar de forma crí-tica com o assunto. Preconceitos e discriminações quanto à etnia, ao gênero, à religião, à orientação sexual, às classes sociais, à ideologia e à aparência são amplamente debatidos no mundo todo. Ain-da que a discussão aconteça, o grande desafio a ser alcançado será a equidade entre todos os seres humanos.

O surto pandêmico da Covid-19 intensificou na sociedade contemporânea um antigo e impor-tante comportamento: o ageísmo ou etarismo, ou

seja, o preconceito, a intolerância contra pessoas com idade avançada. A discriminação em questão pode ser sentida de diversas formas: tanto por ati-tudes e práticas cotidianas quanto por condutas e políticas institucionais que excluem ou limitam a participação dos idosos. O termo pode até pare-cer recente, mas o problema tem raízes históricas profundas e complexas. Desde a Grécia Antiga, adultos que não eram mais “úteis” para a socie-dade eram marginalizados e esquecidos, dando privilégio para a parte mais ativa da população. Em um mundo altamente capitalista, em especial no mundo ocidental, a educação e a cultura predo-

ARTIGO | *TERESA CRISTINA ALVISI

VELHO É OPRECONCEITOA importância de se combater o ageísmo, ou seja, a intolerância contra a idade avançada, intensificada pela pandemia

Page 43: TEMPOS DISTÓPICOS - PUC Minas

Revista PUC Minas nº 23 8584 pucminas.br/revista

ESPAÇO DO JORNAL MARCO

PEQUENOS NEGÓCIOSNAS REDES SOCIAISJovens buscam alternativas de renda e migram para o ambiente virtual *Letícia Anacleto e Thalita Pascoal

Desde o início da pandemia de Covid-19, em março do ano passado, o mundo sofreu mudanças drásticas, e, com a necessidade do distanciamento social, intensificou-se o uso da tecnologia, das redes sociais, da internet. A situação não foi diferente no mundo dos empreendedores, em que as medidas de isolamento impuseram a migração de muitos negócios presenciais para o ambiente virtual. Na busca por alternativas de renda financeira, muitos jovens viram também nesse ambiente uma boa oportunidade para pequenos empreendimentos.

A pesquisa O impacto da pandemia do corona-vírus nos pequenos negócios, realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas (Sebrae-MG) e divulgada em novembro de 2020, aponta que 71% dos empreendedores mineiros usam as redes sociais, aplicativos ou a internet para comércio. Dentre essas plataformas, 64% das ven-das são feitas pelo Instagram e 86% pelo WhatsApp.

O Instagram é, hoje, uma das redes sociais com maior número de pessoas, tornando-se um espa-ço propício ao empreendedorismo. Percebendo a tendência das vendas online, a plataforma criou a aba “loja” para facilitar o comércio entre usuários. Utilizando essa ferramenta, a estudante Laura Oli-veira, 19, criou o perfil Hibiscus Art, voltado para a venda de produtos de artesanato. “O Instagram é, sem dúvida, nosso maior aliado como e-com-merce (comércio eletrônico), então, eu invisto bastante no marketing de conteúdo”, comenta a empreendedora.

Por ser um ambiente aberto, a rede social per-mite que as pessoas se conectem com o tipo de conteúdo com o qual se identificam. Laura busca mostrar, da forma mais real possível, os bastidores e etapas de processo do seu trabalho, aprimorando a identidade visual de sua marca: “Isso faz com que eu me aproxime do meu público-alvo, que, muitas vezes, se identifica com esse posicionamento”.

Seguindo essa mesma trilha, a estudante de Jor-nalismo Natália Teixeira, de 21 anos, desenvolveu, em dezembro de 2020, a Feira de Garagem, um

Laura Oliveira criou, também no Instagram, o perfil Hibiscus Art, voltado para a venda de produtos de artesanato

Natália, estudante de Jornalismo,

montou a Feira de Garagem, bazar

online divulgado por meio do

Instagram

bazar online divulgado por meio de fotos no Insta-gram. O projeto começou com o intuito de vender peças de roupa e sapatos, mas se tornou algo maior. Incentivando o desapego entre seus amigos e fami-liares, Natália arrecadou objetos além do esperado, como itens de casa, móveis e eletrônicos.

“Esse incentivo partiu da nossa percepção da quantidade de coisas que não usamos, mas mantemos guardadas”, relata a estudante. A nova empreendedora também viu, na feira, uma opor-tunidade de obter renda extra ao final do ano e desenvolver uma boa relação com os clientes. “Criamos vários contatos para futuras vendas e arrecadação de novos itens”, diz Natália, que pre-tende continuar com a feira nos próximos anos.

Em um projeto como esse, as redes sociais são fundamentais para atrair pessoas. Visando incentivar o projeto da amiga, a estudante de de-sign gráfico, Amanda Nunes, comprou na Feira de Garagem. Ela conta que o Instagram foi como uma vitrine: “A forma como os itens já vêm, com o tamanho e valor na foto, faz com que eu consiga ir direto a algo que me agrada”.

O WhatsApp também pode ser utilizado no compartilhamento de mensagens para divulga-ção comercial. Natália criou várias chamadas da Feira de Garagem por meio de posts, stories e gru-pos de WhatsApp. “Eu esperava um alcance ape-nas local, entre bairros próximos, mas, através da divulgação feita, foi possível alcançar pessoas de várias outras cidades”, conta a jovem.

Um dos maiores desafios para se empreender, atualmente, é a restrição na circulação de pessoas. Segundo o Sebrae, 66% das pequenas empresas de Minas Gerais estão funcionando com mudan-ças causadas pela pandemia. Para Natália, o prin-cipal desafio foi transformar sua feira, original-mente presencial, em virtual. “Tivemos que tirar fotos de todos os itens, editar e precificar. Demo-ramos cerca de uma semana para organizar tudo, pois eram muitas peças a serem vendidas”, relata.

Já no caso de Laura Oliveira, o desafio foi ven-cer a falta de matéria-prima causada pelo agra-vamento das ondas de contágio do coronavírus. A artesã explica que “muitos fornecedores estão trabalhando com materiais limitados, preços ele-vados e atrasos no transporte de mercadorias”. Isso afeta a sua oferta de produtos.

Apesar das dificuldades, o empreendedorismo traz muitos benefícios. Gera renda e empregos,

movimenta a economia do país, produz inovação para o mercado e proporciona, aos empreendedo-res, flexibilidade e autonomia para se organizar. Esse é o caso da estudante de direito Izabelly San-tiago, de 21 anos, que, apesar de ter começado sua comercialização de doces logo no início da pan-demia, já emprega uma assistente de carteira as-sinada e um motoboy para prestação de serviços.

A jovem começou vendendo ovos de Páscoa e, hoje, já tem uma loja localizada no bairro Liber-dade, em Ribeirão das Neves. Para auxiliar nesse crescimento, Izabelly aponta o Instagram como aliado para impulsionar seu negócio. Segundo a empreendedora, sorteios por meio do aplicati-vo ajudam a atrair mais pessoas e, além disso, a interação diária com os clientes é indispensável. “Gosto de postar fotos, stories, gravar vídeos do doce, partir um pedaço do bolo para o pessoal ver e chamar mais atenção”, conta a doceira.

O empreendedorismo é desafiador

Arquivo Pessoal

Arquivo Pessoal

*Texto redigido por monitores do Jornal Marco, sob a supervisão da professora Ana Maria Rodrigues de Oliveira

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Revista PUC Minas nº 23 8786 pucminas.br/revista

Página sob a responsabilidade do professor Caio Boschi, diretor do Centro de Memória e de Pesquisa Histórica da PUC Minas. Além de viabilizar o aprofundamento da pesquisa histórica, entre outras atividades, o Centro acumula um significativo acervo sobre a memória da Universidade.

PUC em Números

17/95, de 20 de abril de 1995, o reitor professor padre Geraldo Magela Teixeira criou, ad referen-dum do Conselho Universitário, o Campus da PUC Minas em Betim, integrada, inicialmente, pelos cursos de Letras (Licenciatura Plena em Língua Portuguesa), Matemática (Licenciatura Plena), Administração e Direito. Destaca-se que o novo empreendimento surgia desenvolvendo meto-dologia de ensino própria e com a perspectiva de implantação de projetos pedagógicos singulares, concretizados nos anos seguintes, como, por exemplo, nos cursos Medicina Veterinária e de Ciências Biológicas, com ênfase no Meio Ambien-te. Ao comemorar seus 25 Anos, o Campus Betim está constituído por 10 cursos de graduação e por 15 de pós-graduação (sendo três de residência e 12 na modalidade lato sensu), congregando quase quatro mil alunos. Às atividades de ensino, acres-cente-se, de um lado, importante implementação de projetos de pesquisa, entre os quais 31 deles inseridos no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, o Probic. De outro, projetos de extensão universitária que beneficiam direta-mente seis mil pessoas e 26 mil de forma indireta.

MemóriaViva

25 ANOS DA PUC MINAS BETIM

O ponto de partida é o convênio firmado em 12 de dezembro de 1994, entre a Prefeitura de Be-tim e a Sociedade Mineira de Cultura /PUC Minas, com a finalidade de instalação de uma Unidade Metropolitana universitária naquela cidade.

Com base no convênio, pela Portaria/R/Nº

Dom Serafim Fernandes de Araújo, a ex-prefeita de Betim Maria do Carmo Lara e o padre Geraldo Magela, então reitor da PUC Minas, durante solenidade de assinatura de convênio para a implantação do Campus Betim

Fachada do Campus Betim, que hoje oferece 10 cursos de graduação

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Page 45: TEMPOS DISTÓPICOS - PUC Minas

GraduaçãoCampus / Unidade Educacional

Nº de cursos por formação(1) Nº de alunos matriculados, por sexo Nº de

concluintesNº de matrículas em disciplinas a distânciaBA LC TC Feminino Masculino Total

Campus de Belo HorizonteCampus Coração Eucarístico 38 11 — 8.895 8.642 17.537 1.673 5.413 Unidade Educacional Barreiro 7 — — 1.432 1.117 2.549 277 984 Unidade Educacional Praça da Liberdade 12 — 1 2.826 2.447 5.273 320 2.117 Unidade Educacional São Gabriel 11 — 1 1.932 1.920 3.852 387 1.425

Campus de Betim 10 — — 2.216 1.178 3.394 412 1.073 Campus de Contagem 7 — — 888 1.104 1.992 201 675 Campus de Arcos 2 — — 220 162 382 61 164 Campus de Poços de Caldas 14 — — 2.308 1.683 3.991 447 1.184 Campus de Serro 1 — — 230 129 359 51 177 Campus de Uberlândia 3 — — 64 126 190 20 14

Total 105 11 2 21.011 18.508 39.519 3.849 13.226 Fonte: DW – Data Warehouse – dados do 2º semestre/2020.BA – Bacharelado, LC – Licenciatura, TC – Tecnólogo. (1) Inclui os cursos de graduação nas modalidades presencial e a distância.

PesquisaProjetos de pesquisa, em andamento, com participação do corpo docente, por entidade de fomento

Entidade de fomento Projetos de PesquisaRemunerados Voluntários Total

Fapemig Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais 55 — 55 PROBIC – Programa de Bolsas de Iniciação Científica — 126 126

PUC Minas FIP – Fundo de Incentivo à Pesquisa 89 1 90 Total 144 127 271 Iniciação científica, em andamento, para o corpo discente, por entidade de fomento

Entidade de fomento Iniciação CientíficaBolsistas Voluntários Total

Fapemig PROBIC – Programa de Bolsas de Iniciação Científica — 175 175

CNPq PIBIC – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica 50 3 53 PIBITI – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação 5 — 5

PUC Minas FIP – Fundo de Incentivo à Pesquisa 86 33 119 Total 141 211 352 Fonte: PROPPG – dados do 2º semestre de 2020.Obs.: Fapemig – Os projetos apresentados, estão em fase de revisão Bibliográfica, sem bolsistas envolvidos neste semestre.

Bolsas de estudos de graduação e pós-graduação

Campus / Núcleo de Educação / Unidade Educacional

Nº de alunos beneficiadosGraduação Pós-graduação Lato Sensu Pós-gra-

duação Stricto Sensu(4)

Total geralBolsas p/ Alunos

carentes(1)

Bolsas ProUni

Outras bolsas(2)

Bolsas Projeto de Extensão

Total Bolsas concedidas(3) Descontos

Campus de Belo HorizontePUC Minas Virtual 5 118 460 — 583 913 1.826 — 3.322 IEC PUC Minas — — — — — 987 2.452 — 3.439 Campus Coração Eucarístico 513 4.494 3.438 82 8.527 42 255 703 9.527 UE Barreiro 12 972 940 12 1.936 18 77 — 2.031 UE Praça da Liberdade 28 1.109 1.088 25 2.250 — — — 2.250 UE São Gabriel 32 1.362 1.240 42 2.676 4 36 62 2.778

Campus de Betim 23 1.096 950 25 2.094 11 42 — 2.147 Campus de Contagem 26 735 635 2 1.398 23 68 — 1.489 Campus de Arcos 5 120 143 2 270 2 8 — 280 Campus de Poços de Caldas 39 1.337 753 15 2.144 25 242 — 2.411 Campus de Serro 11 84 86 4 185 — — — 185 Campus de Uberlândia — 48 140 — 188 21 31 — 240

Total 694 11.475 9.873 209 22.251 2.046 5.037 765 30.099 Fonte: DW – Data Warehouse – dados do 2º semestre de 2020.(1) Bolsas: SECAC/DAC, Institucional e Reitoria Assistencial. (2) Bolsas: PUC Minas (Convênio Cultural, Destaque Acadêmico, Grupo Familiar, Transferência, Obtenção de novo Título), Sindicatos e Acordo Coletivo, Convênios, Parceiros na Educação e Bolsa Social. (3) Bolsas concedidas por: PUC Minas, Convênios, Parceiros na Educação, Sindicatos e Acordo coletivo. (4) Bolsas concedidas por: PUC Minas, CAPES, CNPq, Convênio Cultural, Convênios, Empresas, Sindicatos e Acordo Coletivo e Bolsa Parceiros na Pesquisa. Não estão inclusas bolsas da FAPEMIG que são pagas diretamente ao aluno. Obs.: O aluno com mais de um tipo de bolsa é considerado mais de uma vez.

Comunidade AcadêmicaCursos Nº de cursos(1) Alunos matriculados

Feminino Masculino Total

GraduaçãoBacharelado 105

21.011 18.508 39.519 Licenciatura 11 Tecnólogo 2

Programa de Pós-graduação Stricto Sensu 29 659 686 1.345 Pós-graduação Lato Sensu 598 15.576 17.873 33.449 Aperfeiçoamento, Atualização e Capacitação 50 2.169 1.658 3.827

Total geral de alunos 39.415 38.725 78.140 Fonte: DW – Data Warehouse – dados do 2º semestre/2020.(1) Para a Pós-graduação Lato Sensu, Aperfeiçoamento, Atualização e Capacitação, considerou-se o número de ofertas.

Page 46: TEMPOS DISTÓPICOS - PUC Minas

Pós-graduação Stricto SensuInstituto / Faculdade Programas Nº de

cursos Tipo de curso Conceito Capes(1)

Nº de matrículas, por sexo

Nº de matrículas em disciplinas

isoladasFem. Masc. TotalFAPSI – Faculdade de Psicologia Psicologia 2 Mestrado 5 22 13 35 18

Doutorado 5 28 19 47 10 FCA – Faculdade de Comunicação e Artes Comunicação Social: Interações Midiatizadas 1 Mestrado 3 16 8 24 4 FMD – Faculdade Mineira de Direito Direito 2 Mestrado 5 87 74 161 76

Doutorado 5 65 101 166 24

ICBS – Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde

Odontologia 3 Mestrado Profissional 5 9 11 20 — Mestrado 4 39 18 57 2 Doutorado 4 14 6 20 —

Biologia dos Vertebrados 1 Mestrado 4 14 10 24 1 ICEG – Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais Administração 2 Mestrado 5 20 22 42 14

Doutorado 5 27 31 58 5 ICEI – Instituto de Ciências Exatas e Informática Informática 2 Mestrado 4 8 29 37 3

Doutorado 4 7 15 22 1

ICH – Instituto de Ciências Humanas

Educação 2 Mestrado 4 20 9 29 4 Doutorado 4 33 33 66 7

Ensino: Ciências e Matemática 1 Mestrado Profissional 5 20 30 50 —Geografia: Tratamento da Informação Espacial 2 Mestrado 5 16 11 27 —

Doutorado 5 10 21 31 2 Letras 2 Mestrado 5 30 12 42 3

Doutorado 5 48 22 70 5

ICS – Instituto de Ciências SociaisCiências Sociais 2 Mestrado 5 29 15 44 8

Doutorado 5 19 18 37 2 Relações Internacionais: Política Internacional 2 Mestrado 5 19 10 29 3

Doutorado 5 8 21 29 7 IFTDJ – Instituto de Filosofia e Teologia Dom João Resende Costa Ciências da Religião 2 Mestrado 4 15 23 38 6

Doutorado 4 12 30 42 3

IPUC – Instituto PolitécnicoEngenharia Elétrica 1 Mestrado 3 8 23 31 —Engenharia Mecânica 2 Mestrado 4 9 28 37 7

Doutorado 4 7 23 30 7 Total 29 659 686 1.345 222

Número de Programas de Pós-graduação 16Fonte: DW – Data Warehouse – dados de outubro/2020.(1) Capes – Avaliação Quadrienal 2017 (Período de referência: 2013-2016). Obs.: O PPG em Direito desenvolve Projeto DINTER (Doutorado Interistitucional) com a Faculda-de Metropolitana de Manaus – FAMETRO. O PPG em Letras desenvolve Projeto DINTER (Doutorado Interinstitucional) com o Centro Universitário CESMAC, em Maceió.

Programas de Pós-graduação, por tipo de curso

Número de cursos

Número de alunos

Mestrado Profissional 2 70Mestrado 15 657Doutorado 12 618

Total 29 1.345Fonte: DW – Data Warehouse – dados de outubro/2020.

Programa de Pós-graduação - Bolsas de estudo para o corpo discente

Entidade de fomento Número de Bolsas de EstudoDoutorado Mestrado

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior(1) 195 190 Fapemig – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais 28 37 CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 2 19 PUC Minas – Bolsa Institucional 41 146 Empresas e sindicatos 112 57

Total 378 449 Fonte: PROPPG – dados do 2º semestre de 2020.(1) CAPES/PROSUP – Programa de Suporte à Pós-graduação de Instituições de Ensino Particular (Concessão de Bolsas de estudo e de taxa escolar).

Pós-graduação Lato SensuInstituto / Faculdade Nº de

cursosNº de

ofertasNº de matrículas, por modalidade de curso Total geral de matrículas

A distância Presencial Fem. Masc. TotalFAPSI – Faculdade de Psicologia 16 29 — 477 413 64 477 FCA – Faculdade de Comunicação e Artes 10 13 660 114 494 280 774 FMD – Faculdade Mineira de Direito 55 105 10.409 972 6.317 5.064 11.381 ICBS – Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde 50 81 445 711 934 222 1.156 ICEG – Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais 123 183 3.814 2.584 3.355 3.043 6.398 ICEI – Instituto de Ciências Exatas e Informática 33 47 5.744 455 1.168 5.031 6.199 ICH – Instituto de Ciências Humanas 15 19 1.198 173 878 493 1.371 ICS – Instituto de Ciências Sociais 6 8 — 115 83 32 115 IFTDJ – Instituto de Filosofia e Teologia Dom João Resende Costa 4 5 — 95 65 30 95 IPUC – Instituto Politécnico 70 108 3.560 1.923 1.869 3.614 5.483

Total 382 598 25.830 7.619 15.576 17.873 33.449 Fonte: DW – Data Warehouse – dados do 2º semestre de 2020.Obs.: Devido à pandemia, os cursos da modalidade presencial tiveram aula remota durante o 2º semestre de 2020.

Cursos de Aperfeiçoamento, Atualização e CapacitaçãoInstituto / Faculdade Nº de

cursosNº de

ofertasNº de matrículas por modalidade Total geral de matrículasA distância Presencial Feminino Masculino Total

FAPSI – Faculdade de Psicologia 1 1 256 — 183 73 256 FCA – Faculdade de Comunicação e Artes 3 4 282 27 177 132 309 FMD – Faculdade Mineira de Direito 5 5 326 13 225 114 339 ICBS – Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde 6 7 25 53 58 20 78 ICEG – Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais 9 9 1.674 18 873 819 1.692 ICEI – Instituto de Ciências Exatas e Informática 5 5 647 — 322 325 647 ICH – Instituto de Ciências Humanas 6 6 223 — 172 51 223 IFTDJ – Instituto de Filosofia e Teologia Dom João Resende Costa 9 12 96 178 155 119 274 IPUC – Instituto Politécnico 1 1 9 — 4 5 9

Total 45 50 3.538 289 2.169 1.658 3.827 Fonte: DW – Data Warehouse – dados do 2º semestre de 2020.Obs.: Devido à pandemia, os cursos da modalidade presencial tiveram aula remota durante o 2º semestre de 2020.

Page 47: TEMPOS DISTÓPICOS - PUC Minas

Ações Extensionistas

Campus / Unidade Educacional

Projetos de Extensão Práticas Curriculares de Extensão(1)

EventosNº de cursos

ofertadosNº de

Projetos

Equipe envolvida BeneficiadosProfessores, Técnicos e Voluntários

externos

Alunos extensionistas

(bolsistas e não bolsistas)Diretos Indiretos Total Professores Alunos

Campus de Belo HorizonteCampus Coração Eucarístico(2) 23 59 231 14.811 136.987 151.798 90 3.226 67 33 UE Barreiro 2 7 16 600 8.380 8.980 11 408 10 —UE Praça da Liberdade 6 15 34 704 707 1.411 37 1.047 55 5 UE São Gabriel 8 18 54 1.991 4.771 6.762 21 738 17 —

Campus de Betim 7 16 68 610 40.985 41.595 16 576 8 —Campus de Contagem 2 2 18 1.058 1.354 2.412 8 318 28 1 Campus de Arcos 1 2 2 30 90 120 3 75 — —Campus de Poços de Caldas 3 13 34 236 6.200 6.436 51 773 25 8 Campus de Serro 3 3 17 10.270 504 10.774 2 56 2 —Campus de Uberlândia — — — — — — — — 2 —Multicampi 19 69 295 2.867 1.104 3.971 — — 13 1

Total 74 204 769 33.177 201.082 234.259 239 7.217 227 48 Fonte: PROEX – dados do 2º semestre de 2020.(1) Práticas Curriculares de Extensão são atividades acadêmicas desenvolvidas em vinculação com os componentes curriculares do curso, prevendo a articulação da comunidade acadêmica com setores externos. (2) No Campus Coração Eucarístico estão incluídas as Práticas Curriculares na modalidade Virtual, estando envolvidos 5 professores e 660 alunos; e 11 cursos de extensão realizados na modalidade EAD.Obs.: a) Estão registradas aqui as ações de extensão, realizadas no semestre letivo remoto, de acordo com as adaptações para funcionarem remotamente / a distância; b) O número de beneficiados foi calculado por estimativa, tomando como base os recursos disponíveis nas plataformas digitais, tais como: YouTube, Zoom, Instagram, Facebook, Teams, Google Meet, Canvas, programas de rádio entre outros; c) O número de professores e alunos aqui registrado foi apurado tomando-se por base os projetos ou práticas curriculares de extensão em que atuam. Assim sendo, um mesmo professor e/ou aluno, que atua em mais de um projeto, ou está vinculado a mais de uma disciplina com prática curricular de extensão, foi computado mais de uma vez.

Serviços à comunidadeCampus / Unidade Educacional

SAJ – Serviço de Assistência JudiciáriaAções novas ajuizadas

no 2º sem/2020Ações ativas no 2º sem/2020

Em andamento Concluídas TotalCampus de Belo Horizonte

Campus Coração Eucarístico(1) 81 1.376 137 1.513 Unidade Educacional Barreiro 45 1.026 68 1.094 Unidade Educacional Praça da Liberdade 91 833 110 943 Unidade Educacional São Gabriel 49 971 90 1.061

Campus de Betim 42 1.026 64 1.090 Campus de Contagem 14 799 65 864 Campus de Arcos 11 357 31 388 Campus de Poços de Caldas 141 1.938 50 1.988 Campus de Serro 21 411 17 428

Total 495 8.737 632 9.369 Fonte: DW – Data Warehouse – dados do 2º semestre de 2020.(1) Inclui atendimentos do Núcleo de Extensão/PROEX.

Campus / Unidade Educacional Clínicas de Graduação e de Pós-graduação – Número de atendimentos realizadosFisioterapia Fonoaudiologia Nutrição Odontologia Psicologia Centro Veterinário(1)

Campus de Belo HorizonteCampus Coração Eucarístico 520 279 — 528 1.469 —Unidade Educacional Barreiro — — 321 — — —Unidade Educacional Praça da Liberdade — — — — — 826 Unidade Educacional São Gabriel — — — — 332 —

Campus de Betim 466 — — — 769 1.598 Campus de Poços de Caldas 1.260 — — — 57 117

Total 2.246 279 321 528 2.627 2.541 Fonte: DW – Data Warehouse – dados do 2º semestre de 2020.(1) O atendimento veterinário inclui Ambulatório Clínico, Bloco Cirúrgico, Patologia Clínica, Diagnóstico de Imagem e Laboratório de Nutrição.

Campus / Unidade Educacional NAI (Núcleo de Apoio à Inclusão do Aluno com Necessidades Educacionais Especiais)

Número de alunos assistidos, por tipo de deficiênciaAuditiva Física TEAC(1) Visual Total

Campus de Belo HorizonteCampus Coração Eucarístico 20 42 133 19 214

PUC Minas Virtual – Graduação — 3 2 4 9 Programa de Pós-graduação Stricto Sensu — 1 — — 1

Unidade Educacional Barreiro 1 5 5 1 12 Unidade Educacional Praça da Liberdade 5 9 58 4 76

Pós-graduação Lato Sensu — — — 5 5 Unidade Educacional São Gabriel 1 11 13 10 35

Campus de Betim 4 10 26 6 46 Campus de Contagem 2 5 5 3 15 Campus de Arcos — 1 — — 1 Campus de Poços de Caldas 2 11 30 6 49 Campus de Serro — 1 — — 1 Campus de Uberlândia 2 — — — 2

Total 37 99 272 58 466 Fonte: SECAC – Secretaria de Cultura e Assuntos Comunitários/NAI – dados do 2º semestre de 2020.(1) TEAC – Transtornos Específicos da Aprendizagem e Comunicação.

Page 48: TEMPOS DISTÓPICOS - PUC Minas

Corpo docenteTitulação Corpo Docente do Quadro Permanente

Feminino Masculino TotalEspecialista 20 47 67 Mestre 281 422 703 Doutor 329 400 729 Total 630 869 1.499

Fonte: DW – Data Warehouse – dados de outubro/2020.

Corpo técnico-administrativoCampus / Unidade Educacional Corpo técnico-administrativo, por sexo

Feminino Masculino TotalCampus de Belo Horizonte

Campus Coração Eucarístico 812 724 1.536 UE Barreiro 73 60 133 UE Praça da Liberdade 69 49 118 UE São Gabriel 102 95 197

Campus de Betim (1) 186 133 319 Campus de Contagem 87 96 183 Campus de Arcos 14 11 25 Campus de Poços de Caldas (1) 108 123 231 Campus de Serro 9 10 19 Campus de Uberlândia 18 12 30

Total 1.478 1.313 2.791 Fonte: DW – Data Warehouse – dados de outubro/2020.(1) Inclui o Centro Veterinário e a Fazenda Universitária.

Museu de Ciências NaturaisAcervo / Coleções Condições do Acervo

Tombados Em preparaçãoFósseis

Paleontologia 62.000 7.200Neontológicas

Zoologia – VertebradosHerpetologia – Anfíbios 21.131 100Herpetologia – Répteis 6.413 100Ornitologia 6.141 250Ictiologia (lotes)(1) 4.834 1.400Mastozoologia 4.972 700

Zoologia – InvertebradosInvertebrados 26.668 7.869Moluscos (lotes) 480 17

Botânicas(2)

Briófitas 786 400Pteridófitas 288 60Fanerógramas 5.708 1.000Coleção Carpológica 447 400Líquens 365 20Xiloteca 44 20

Fonte: SECAC – Museu de Ciências Naturais PUC Minas – dados do 2º semestre de 2020.(1) Foi levado em conta o número de espécimes, com exceção de peixes, onde se consideram os lotes. (2) Em reorganização.Obs.: Não houve visitação no Museu durante o 2º semestre/2020.

BibliotecaCampus / Unidade Educacional Área física (m2)

Acervo (exemplares)Livros Materiais

especiais(1)Periódicos TotalNacionais Estrangeiros

Campus de Belo HorizonteCampus Coração Eucarístico 9.578 414.387 14.760 3.987 1.461 434.595 Unidade Educacional Barreiro 850 45.921 724 470 12 47.127 Unidade Educacional Praça da Liberdade 1.295 38.124 906 178 13 39.221 Unidade Educacional São Gabriel 2.050 77.490 2.004 833 42 80.369

Campus de Betim 1.596 79.239 1.825 797 70 81.931 Campus de Contagem 1.080 58.819 1.440 530 31 60.820 Campus de Arcos 455 32.115 965 777 59 33.916 Campus de Poços de Caldas 1.850 88.779 2.299 1.458 204 92.740 Campus de Serro 343 16.818 236 441 14 17.509 Campus de Uberlândia 133 9.638 8 56 13 9.715

Total 19.230 861.330 25.167 9.527 1.919 897.943 Fonte: DW – Data Warehouse – dados do 2º semestre de 2020.(1) Fitas cassetes, disquetes, mapas, slides, vídeos, CD-Rom, normas técnicas, audiolivros, plantas arquitetônicas, globos, filmes de rolo, discos, jogos, fotografias, DVDs, transparên-cias, programas de rádio e TV e partituras.

Espaço físico

Campus / Unidade Educacional

Área em m2

Edificações TerrenoNº de

prédiosÁrea

construídaÁrea

ocupada(1)Jardinagem, e área verde(2)

Centro esportivo(3)

Outras áreas(4) Total

Campus de Belo HorizonteCampus Coração Eucarístico 93 93.741 44.191 133.590 48.060 95.152 320.993 Campus Coração Eucarístico – outras áreas(5) 9 4.612 4.061 3.242 — 9.910 17.213 Unidade Educacional Barreiro 9 22.084 4.298 9.980 — 21.709 35.987 Unidade Educacional Praça da Liberdade(6) 8 46.196 5.419 92 — 1.434 6.945 Unidade Educacional São Gabriel 24 30.566 19.406 13.318 — 42.015 74.739

Campus de Betim 14 22.643 11.479 8.510 1.918 41.538 63.445 Fazenda Experimental (Campus de Betim) 25 17.604 17.604 — — 3.112.396 3.130.000 Centro Veterinário (Campus de Betim) 15 2.857 2.857 1.846 — 297 5.000 Campus de Contagem 28 19.316 13.424 28.345 4.409 28.700 74.878 Campus de Arcos 4 8.801 4.628 22.596 — 8.060 35.284 Campus de Poços de Caldas 13 23.938 17.291 172.499 531 67.069 257.390 Fazenda Experimental (Campus de Poços de Caldas) 3 389 389 — — 643.331 643.720 Centro Veterinário (Campus de Poços de Caldas) 5 2.766 2.766 11.853 — 3.504 18.123 Campus de Serro(7) 3 4.851 2.593 4.117 1.137 3.190 11.037 Campus de Uberlândia(8) 1 2.993 748 3.103 — 2.179 6.030

Total 254 303.356 151.155 413.090 56.055 4.080.483 4.700.783 Fonte: PROINFRA – dados do 2º semestre de 2020.(1) Área ocupada com edificações (área de projeção). (2) Área com cuidados de jardinagem e manutenção ( jardins, gramados e bosques), área de mata nativa, reflorestada ou taludes. (3) Área ocupada com quadra, campo, ginásio e piscina, incluindo áreas adjacentes. (4) Estacionamento, vias de acesso, áreas a construir. (5) Considerou-se também como áreas do Campus Coração Eucarístico: Ed. Redentoristas, Seminário Av. 31 de Março (Núcleo de Educação a Distância), Seminário Emaús (prédio 54), Ed. na Avenida Francisco Sales (Gerência de Tecnologia da Informação), parte do terreno da Inspetoria São João Bosco, situado na Av. 31 de Março e Ed. situados à Rua Dom José Pereira Lara, 399 (SAJ - Serviço de Assistência Judiciária), Rua Dom Pedro Evangelista, 377 (CPA - Comissão Permanente de Avaliação), Rua Dom Lúcio Antunes, 256 (Editora PUC Minas); e a área situada em Sete Lagoas. (6) Considerou-se também como áreas da Unidade Educacional Praça da Liberdade: Edifício Dom Cabral (Av. Brasil, 2023); Edifício Liberdade (Rua Cláudio Manuel,1149), Edifício Fernanda (Rua Cláudio Manoel,1162), Edifício PIC (Rua Cláudio Manoel, 1185), Edifício Cláudio Manoel (Rua Cláudio Manoel,1205), Edifício Soinco (Rua Inconfidentes, 920), Edifício José Resende (Rua Santa Rita Durão, 1150), e Edifício (Rua Sergipe, 837). (7) Área utilizada em parceria com o Colégio Nossa Senhora da Conceição; (8) Situado à Rua Varginha, 149, Bairro Daniel Fonseca.

Elaboração: Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Institucional da PUC Minas

Page 49: TEMPOS DISTÓPICOS - PUC Minas

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