tempos de baleeiros

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7/17/2019 Tempos de Baleeiros http://slidepdf.com/reader/full/tempos-de-baleeiros 1/36 13 JULHO 2012 Este suplemento faz parte da Edição n.º 525 do Semanário Tribuna das Ilhas. Não pode ser vendido separadamente Tribuna das Ilhas

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Revista sobre a baleação

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13 JULHO 2012Este suplemento faz parte da Ediccedilatildeo nordm 525do Semanaacuterio Tribuna das Ilhas

Natildeo pode ser vendido separadamente

Tribuna das Ilhas

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JULHO 2012 Tribuna das Ilhas

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Tempo de Baleeiros

EDICcedilAtildeO ESPECIALNesta ediccedilatildeo do Tribuna

das Ilhas integramos um su-plemento dedicado agrave balea-ccedilatildeo na ilha do Faial o qualpretende ser um contributopara a informaccedilatildeo da socie-dade ao niacutevel da temaacuteticaque aborda mas tambeacuteme fundamentalmente umveiacuteculo para a preservaccedilatildeoda memoacuteria colectiva quea todo o momento necessita

ser alimentada e que por sisoacute e quando bem presentese traduz numa homena-gem agraves muitas geraccedilotildeesde intervenientes na activi-dade bem como agraves suasfamiacuteliasPara aleacutem da evocaccedilatildeo dahistoacuteria da baleaccedilatildeo e dosseus contornos o suple-

mento aborda um conjuntode mateacuterias associadasnomeadamente no que res-peita agrave inventariaccedilatildeo recu-peraccedilatildeo e conservaccedilatildeo dopatrimoacutenio moacutevel e imoacutevelligado ao que era localmen-te designado como ldquopesca agravebaleiardquo bem como a ldquonovainduacutestria baleeirardquo que des-de haacute alguns anos atrai aos Accedilores alguns milhares de

turistas-baleeiros que demaacutequina fotograacuteca em pu-nho caccedilam imagens dosbelos exemplares de cetaacute-ceos que podem ser obser-vados no mar dos AccediloresEste seraacute o primeiro de umaseacuterie de suplementos queo Tribuna das Ilhas preten-de editar nos tempos mais

proacuteximos com o objectivode contribuir para o conhe-cimento e divulgaccedilatildeo de umconjunto de temas que con-sideramos pertinentes paraos nossos leitores podendoconsubstanciar-se a meacutedioprazo quem sabe numa

revista com ediccedilatildeo perioacutedi-ca e que aborde de formaaprofundada assuntos quemerecem tratamento jorna-liacutestico e que nem sempresatildeo compatiacuteveis com ascaracteriacutesticas de um jornalsemanalz

Para aleacutem da evocaccedilatildeo da histoacuteriada baleaccedilatildeo e dos seus contornos osuplemento aborda um conjunto demateacuterias associadas nomeadamente

no que respeita agrave inventariaccedilatildeorecuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo do

patrimoacutenio moacutevel e imoacutevel ligado aoque era localmente designado comoldquopesca agrave baleiardquo bem como a ldquonova

industria baleeirardquo ()

NOTA DE ABERTURA

y

FONTE COLECCcedilAtildeO POSTAL RUSPOLIampSOULAIRE

VIGIA A PARTIR DO MASTRO DA LANCHA A MOTOR SEGUIAM983085SE OS SOPROS DO CACHALOTE

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Tempo de Baleeiros

y O tempo dos Baleeirostempo de gente rija de tecircm-pera homens e mulheresque pela forccedila do trabalhomanual venciam as barreirasda distacircncia das difculdades

impostas pela natureza quedia apoacutes dia foram construindoestas ilhas dandos-lhe forma euma histoacuteria Esta eacute a memoacute-ria que devemos recuperar econtar O tempo da baleaccedilatildeotem cheiros tem lendas tem

anguacutestias e juacutebilos tem um le-gado e tem naturalmente umpassado um presente e umfuturo

Os primeiros relatos de cap-turas de baleias no mar dos Accedilores remontam ao seacuteculoXVI apesar de soacute no inicio doseacuteculo XVIII com a chegadados navios baleeiros podemosafrmar que o tempo dos bale-

eiros accedilorianos teve o seu ini-cio Natildeo podemos pelo relatode Gaspar Frutoso assegurarque a baleaccedilatildeo nos Accediloresse tenha iniciado na nossa

ilha mas podemos com todaa certeza afrmar que o Faial

foi o berccedilo desta atividade noarquipeacutelago (aliaacutes em todo oterritoacuterio nacional) ateacute ao iniacuteciodo seacuteculo XX mantendo umaatividade intensa e regular ateacute1984 fm do 2ordm periacuteodo da

caccedila agrave baleiaEacute esta Histoacuteria que necessitaser relatada e colocada no seudevido lugar A ilha do Faialtem uma relaccedilatildeo muito proacutepria

no contexto accediloriano com oMar pelo que assume particu-lar pertinecircncia a recuperaccedilatildeode tatildeo relevante memoacuteria paraque a possamos entender eestender aos nossos flhos e

netos Eacute importante que as ge-raccedilotildees vindouras saibam o tra-balho que muitos tiveram paraconstruir cada pedaccedilo destaterra Nesta senda surge estarevista incluiacuteda numa ediccedilatildeo

do Jornal ldquoTribuna das Ilhasrdquoe que esperemos decirc o mote agravepublicaccedilatildeo da Histoacuteria da ba-leaccedilatildeo na ilha do Faial e nos Accedilores

BALEACcedilAtildeOPELAacuteGICADE 1740 A 1920

Em 1765 teratildeo comeccedilado aaportar ao Faial os primeirosnavios baleeiros provenientesdos Estados Unidos mais con-cretamente da cidade de NewBedford e da ilha de Nantucket(ilha atlacircntica que correspondea um dos catorze condados do

estado americano de Massa-chusetts) os quais praticavama designada baleaccedilatildeo pelaacutegi-ca ou em ldquomar abertordquo Estesnavios para aleacutem de transpor-tarem as pequenas canoas

utilizadas para a caccedila propria-mente dita possuiacuteam tambeacutema capacidade de desmancharos grandes cetaacuteceos derretera gordura e proceder ao seuarmazenamento Ao longo dos seacuteculos XIX e iniacute-cios de XX fundamentalmenteentre setembro e dezembroera frequente encontrar anco-rados na baiacutea da Horta entre10 e 15 navios dedicados agraveatividade baleeira os quais

permanecendo em meacutediacerca de 5 semanas descar-regavam o oacuteleo processadoreabasteciam de consumiacuteveise descansavam as tripulaccedilotildeesEste era tambeacutem o momento

BALEEIRAS ndash Entrou a barca baleeira portugueza Firmesa

trazendo 37 barris drsquoazeite egrave pouco mas sempre teve me-

lhor pesca do que o patacho Julia e a barca americana Col-

chis da casa do sr Dabney Infelizmente a fortuna natildeo que-

rido ajudar ultimamente as nossas emprezas da pesca dabalea que tatildeo grandes interesses podia dar a este districto

In O Fayalense de 3 de novembro de 1867

FONTE BIBLIOTECA PUacuteBLICA E ARQUIVO REGIONAL JOAtildeO JOSEacute DA GRACcedilA

BALEACcedilAtildeO PELAacuteGICA NAVIOS BALEEIROS NORTE AMERICANOS NO PORTO DA HORTA INIacuteCIOS DO SEacuteCULO XX

A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL

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Tempo de Baleeiros

para o recrutamento em re-gra clandestino de tripulanteslocais que granjearam a famade marinheiros e baleeiros dequalidade excecional Este pro-cesso de engajamento teraacute emboa verdade marcado o iniacuteciode uma primeira vaga de emi-graccedilatildeo para os Estado Unidos

da Ameacuterica criando-se umaforte ligaccedilatildeo entre a Horta e aNova Inglaterra que mais tardetraria frutos e a partir do Vulcatildeodos Capelinhos viria a permitiruma segunda vaga de emigra-ccedilatildeoDurante este periacuteodo destaca--se no apoio agrave frota norte ame-

ricana a famiacutelia Dabney quepara aleacutem do apoio logiacutesticoprocedia agrave aquisiccedilatildeo do oacuteleode baleia seu armazenamentoprovisoacuterio e posterior exporta-ccedilatildeo para os Estados Unidos da AmeacutericaImporta aqui referir que empleno seacuteculo XIX verica-se

tambeacutem o surgimento de umafrota baleeira pelaacutegica portu-guesa que operava fundamen-talmente ao largo de PortugalContinental e dos seus entatildeoterritoacuterios ultramarinos Em me-ados deste seacuteculo parte signi-cativa desta frota teria registo

no Porto da Horta o que bemevidencia o papel desta ilhano contexto da baleaccedilatildeo accedilo-riana portuguesa e ateacute globalNatildeo obstante e por razotildees deordem vaacuteria ainda antes doiniacutecio do seacuteculo XX esta frotatinha jaacute desaparecidoEm 1921 o Porto da Horta re-gista a uacuteltima escala de umnavio baleeiro americano pon-

do-se desta forma m a umaatividade que foi proacutespera du-rante mais de cem anos

BALEACcedilAtildeOCOSTEIRADE 18329830851984

Em 1832 teratildeo arreado pela

primeira vez nos Accedilores a par-tir da ilha do Faial os primeiros

FONTE FOTO JOVIAL

ANOS 50 O POSTO DE VIGIA DO COSTADO DA NAU NA COSTA OESTE DA ILHA DO FAIAL

AUTOR DESCONHECIDO FOTO DISPONIBILIZADA POR CARLOS LOBAtildeO

TENSAtildeO O MESTRE JOSEacute RUFINO DURANTE UM EPISOacuteDIO DE CACcedilA Agrave BALEIA

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Tempo de Baleeiros

botes baleeiros afetos ao queseria designado por baleaccedilatildeocosteira Esta baleaccedilatildeo melhoradaptada agraves caracteriacutesticas daRegiatildeo e dos seus mares teraacutesido numa primeira fase em-preendida pela famiacutelia Dabney

embora por falta de sucessoinicial por um curto periacuteodode tempo A baleaccedilatildeo costeiraviria a ser retomada com su-cesso entre 1850 e 1860 maisuma vez pelas matildeos da famiacuteliaDabney mas desta feita emparceria com a famiacutelia Bensauacute-de As embarcaccedilotildees utilizadas edesignadas por canoas cor-respondiam a adaptaccedilotildees dos

modelos utilizados nos naviosamericanos da baleaccedilatildeo pelaacute-gica embora melhor adapta-das agraves caracteriacutesticas do ocea-no contiacuteguo agraves ilhas e tipologiade caccedila pretendida Cada em-barcaccedilatildeo propulsionada agrave velae a remos tinha uma tripulaccedilatildeoque era composta em regrapor pelo menos 7 homenssendo um o ocial ou mestre

um arpoadortrancador sendoos restantes marinheirosrema-doresEsta forma de baleaccedilatildeo de-senvolvida ateacute 1987 ano emque foi arpoado o uacuteltimo exem-plar de cetaacuteceo teve um enor-me signicado econoacutemico e

social em praticamente todasas ilhas dos Accedilores com par-ticular destaque para as ilhasdo Faial e do Pico Rera-se

que a caccedila agrave baleia para amaioria dos baleeiros sendocomplementar agrave sua atividadeprossional era fundamental

agrave subsistecircncia dos respetivosagregados familiaresDiretamente associada agrave caccedilaestava a atividade de proces-samento das carcaccedilas Em

terra os cetaacuteceos eram des-manchados para a extraccedilatildeo dooacuteleo do acircmbar-gris das bar-batanas e da carne sendo osossos reduzidos a farinha Ateacuteagrave deacutecada de trinta do seculoXX a transformaccedilatildeo da gordu-ra animal em ldquoazeite de baleiardquoera realizada artesanalmentepelos proacuteprios baleeiros atra-veacutes de um processo conhecidocomo ldquoa fogo diretordquo em estru-turas designadas como ldquotrai-

oacuteisrdquo constituiacutedas no essencialpor duas caldeiras adossadasassentes numa fornalha A par-tir do primeiro quarto do seacuteculopassado este processamentopassou a ser progressivamen-te feito em unidades fabrispara o efeito construiacutedas sen-do o derretimento realizado porrecurso a enormes autoclavesalimentados a vaporEm 1984 com a proibiccedilatildeo dacaccedila agrave baleia em Portugal foidenitivamente abandonada a

atividade tendo surgido maistarde aquela que passaremosa chamar ndash ldquoA Nova Industriardquotambeacutem ela ligada aos grandescetaacuteceos mas agora numa oacuteti-

ca de estudo e de observaccedilatildeo

A NOVA INDUacuteSTRIACom o nal da caccedila agrave baleia

houve um interregno na utiliza-ccedilatildeo comercial destas espeacuteciesCuriosamente foi uma inter-rupccedilatildeo de pouca dura O en-genho do homem adapta-se agravesnovas situaccedilotildees e nos Accediloresinvariavelmente conseguem-

-se transformar adversidadesem oportunidades Apenas meia duacutezia de anosapoacutes o nal caccedila pela matildeo do

cidadatildeo francecircs Serge Viallelle

FONTE COLECCcedilAtildeO POSTAL RUSPOLI amp SOULAIRE

COSTADO DA NAU ESTA VIGIA FICAVA NA PONTA OESTE DA ILHA DO FAIAL

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REBOQUE AUXILIADOS PELA WALQUIacuteRIA OS BOTES PREPARAM983085SE PARA MAIS UMA REGATA

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Tempo de Baleeiros

ldquoA procissatildeo chegou-se ao bote silencio-

samente sem barulho de peacutes apenas um

murmuacuterio Na luz jaacute fraca a cruz natildeo era

mais que uma silhueta os veacuteus brancos

e diaacutefanos na cabeccedila das senhoras e das

meninas demarcavam-se com uma lumino-

sidade proacutepria Quando a imagem da santa

foi trazida e pousada no leito da popa ao

lado do logaieacutete os sussurros deram lugar

ao silecircncio total O mestre postou-se diante

dela por momentos muito direito de laacutebios

cerrados Com as matildeos abertas e juntas

pegou na linha da selha da popa deu-lhe

uma volta em torno do logaieacutete dobrou-a e

passou-a sobre os ombros da imagem si-

mulando um noacute ligeiro Depois vergou-se

riacutegido e beijou-lhe as vestes e falando su-

avemente como se a sua voz interior fosse

mais audiacutevel disse

ldquoNossa Senhora da Guia acompanha-nos Leva-nos em seguranccedila Ajuda-nos a encontrar baleias Protege-nos dos pe-

rigos da caccedilada Vela por noacutes no regresso agraves famiacutelias que nos esperamrdquo

Depois calou-se ainda de peacute frente agrave imagem As laacutegrimas corriam-lhe pela cara abaixo sobre a pele morena crestada

pelo marrdquo

Esta transcriccedilatildeo do livro ldquoBaleia ndash Os Baleeiros dos Accediloresrdquo de Bernard Venables sendo um relato de uma cena ob-

servada na segunda metade da deacutecada de sessenta do seacuteculo passado ilustra bem a intensidade da religiosidade dos

homens envolvidos na caccedila agrave baleia Na verdade era frequente as embarcaccedilotildees serem batizadas com o nome de uma

Santa ou de um Santo de particular devoccedilatildeo entre os mariacutetimos sendo denominador comum o apadrinhamento por um

conjunto alargado de Santas (os) cujas imagens eram axadas no interior da proa das canoas Em terra nos portos deorigem era tambeacutem comum a existecircncia de nichos onde eram expostas as imagens de Santos (as) de devoccedilatildeo de que

satildeo exemplo Nossa Senhora do Socorro na freguesia do Salatildeo Senhora de Santana no Capelo ou Satildeo Pedro

OS BALEEIROS E A RELIGIOSIDADE

e sua esposa a picarota Ale-xandra comeccedilou a preparar-seuma nova atividade a obser-vaccedilatildeo de cetaacuteceos Utilizandoos meacutetodos e teacutecnicas que an-tes serviam para perseguir oscachalotes nasceu na ilha do

Pico uma nova atividade querapidamente se estendeu agravesilhas em que o potencial eramais evidenteHoje haacute duas dezenas de pe-quenas embarcaccedilotildees quetodos os dias partem em dire-ccedilatildeo aos grupos de golnhos

baleias e cachalotes No totalao longo de todo o ano duasdezenas e meia de espeacuteciessatildeo observadas por 50 mil vi-

sitantes que pagam em meacute-dia 50 euros Portanto hojeos cetaacuteceos valem dezenasde milhares de viagens aeacute-reas estadias e alimentaccedilatildeonos Accedilores Hoje a atividade

de observaccedilatildeo de cetaacuteceos jaacuterende o equivalente aos anosaacuteureos da atividade de caccedila

Tambeacutem muito contribuiu parao sucesso o facto do Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores ter acompanhado odesenvolvimento da atividadeGraccedilas a isso e ao empenhodo Governo rapidamente sedesenvolveu um coacutedigo deconduta que em 1999 foi trans-formado na primeira legislaccedilatildeode observaccedilatildeo de cetaacuteceos daEuropa Hoje qualquer inter-ferecircncia com os cetaacuteceos dos Accedilores implica conhecimento

enquadramento e autorizaccedilatildeoexpressa das autoridades am-bientais marinhasPara aleacutem da simples observa-ccedilatildeo recorrem ao nosso arqui-peacutelago diversas das melhores

equipas de cinema documentaldo mundo para recolher ima-gens destes magniacutecos ani-mais oceacircnicos BBC NationalGeographic e NHK satildeo apenasalgumas das grandes empre-sas televisivas que anualmente

submetem pedidos para nosmares dos Accedilores lmar os

maiores animais jamais exis-tentesPara aleacutem do fasciacutenio dos proacute-prios animais e do mar hojesubsiste tambeacutem uma curio-sa induacutestria relacionada como patrimoacutenio baleeiro Depoisde um estiacutemulo dado pelo Go-verno hoje antigas faacutebricaslanchas e botes satildeo perma-

nentemente conservados etornados testemunhos bem vi-vos de outros tempos e outrasvivecircncias Essas faacutebricas satildeohoje nuacutecleos expositivos e aslanchas e botes satildeo envolvidos

em animadas competiccedilotildees en-tre os descendentes das anti-gas companhas Mais do que oresultado comercial que existeo importante eacute o impacto socialao niacutevel da memoacuteria culturalcoletiva e do divertimento luacutedi-

co contextualizadoHoje nos Accedilores as atividadesderivadas dos cetaacuteceos comespecial ecircnfase para a obser-vaccedilatildeo de cetaacuteceos tem umsignicado econoacutemico de mais

de duas dezenas de milhotildeesde euros Este eacute um exemplode como os accedilorianos se sou-beram adaptar aos temposmodernos e em que apesar donosso diminuto contributo para

o problema inicial optamospelo desenvolvimento susten-taacutevel e com enormes dividen-dos comerciaisz

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Tempo de Baleeiros

OS DABNEY E A BALEACcedilAtildeO

Oriunda dos Estados Unidosda Ameacuterica mais concretamentede Massachusetts a famiacutelia Da-bney instalou-se na no Faial em1804 (para alguns teraacute sido em1806) apoacutes a nomeaccedilatildeo de JohnBass Dabney pelo presidenteThomas Jefferson como CocircnsulGeral dos EUA no FaialDois descendentes de John BassDabney exerceram sucessiva-mente as funccedilotildees consularesapoacutes a sua morte seu lho Char -les William Dabney e posterior-mente o neto Samuel Willis Da-bney ateacute janeiro 1892 momento

em que a famiacutelia acaba por aban-donar o Faial A tiacutetulo de curiosi-dade importa referir que a des-pedida da famiacutelia em causa apoacutes

88 anos de marcante presenccedilaempresaria social e cultural em1891 eacute marcada pela realizaccedilatildeode uma regata de botes baleeirosEm boa medida favorecida pelafunccedilatildeo consular a atividade em-presarial da famiacutelia foi de supre-ma importacircncia no contexto locale regional marcando aquele queseraacute um dos mais proacutesperos ci-clos econoacutemicos do FaialOs Dabney incidiram a sua di-

nacircmica comercial em produtoscomo a laranja e o vinho mastambeacutem no negoacutecio associadoagrave baleaccedilatildeo e neste fundamen-talmente a trecircs niacuteveis no apoio

logiacutestico agrave frota de embarcaccedilotildeesnorte-americanas dedicadas agravebaleaccedilatildeo pelaacutegica no Atlacircnticoque aportava ao Porto da Hortana aquisiccedilatildeo dos oacuteleos de baleiaprocessados e subsequente ex-portaccedilatildeo Esta atividade era par-ticularmente importante agrave datana medida em que permitia aosnavios baleeiros americanos oescoamento do produto obtidocom lucro sem necessidade deregresso aos portos de origem Enalmente de forma perfeitamen-te inovadora a formaccedilatildeo de umaarmaccedilatildeo de pequenas embarca-ccedilotildees (botes baleeiros) dedicadasagrave baleaccedilatildeo costeira

A atividade empresarial desta fa-miacutelia acaba por entrar em decliacutenio

em nais do seacuteculo XIX com a

queda da produccedilatildeo de vinho e la-ranja pelo progressivo abandonoda baleaccedilatildeo pelaacutegica nos termosem que tinha ocorrido ateacute entatildeomas tambeacutem pelo aparecimentode outras proacutesperas empresas li-gadas aos mesmos ramos de ne-goacutecio de que satildeo exemplo a Ben-sauacutede Em paralelo o governoNorte Americano havia jaacute come-ccedilado a orientar o seu corpo con-

sular para a necessidade de natildeoserem acumuladas pelos respeti-vos membros funccedilotildees consularese funccedilotildees empresariais z

y

BALEAS ndash Na manhatilde do dia 22 do cor-

rente appareceram ao norte drsquoesta bahia

alguns spermacettis Duas canocircas da

casa Dabney foram em sua perseguiccedilatildeo

e tiveram a felicidade de matar um que

foi conduzido para o Porto Pim onde se

estagrave derretendo Muita gente tem con-

corrido agravequelle sitio para o ver Nos dias

seguintes mais alguns peixes appare-

ceram na bahia mas quando as canocircas

foram em sua caccedila jaacute os natildeo avistaram

In O Fayalense de 25 de junho de 1871

FONTE BIBLIOTECA PUacuteBLICA E ARQUIVO REGIONAL JOAtildeO JOSEacute DA GRACcedilA

PORTO DA HORTA ndash O Atlantico de quinta-feira publica o

movimento mariacutetimo drsquoeste porto no anno ndo de 1871

que com a devida venia transcrevemos

laquoNo anno ndo de 1871 deram entrada na bahia da Horta

253 embarcaccedilotildees com 93000 toneladas 94 navios eram

portuguezes 50 inglezes 79 americanos 15 francezes

4 italianos 3 allematildees 1 hespanhol 1 liberiano 1 norue-

guez 2 suecos 2 belgas e 2 brazileiros Entre estes in-

cluem-se 32 vapores mercantes e 13 de guerra e 42 bale-

eiras americanas as quaes descarregaram 363 818 litros

drsquoazeite de spermacetti e de balea egual a 381627 kilos

do mesmo Em 1870 so deram entrada 30 baleeiras asquaes apenas descarregaram 115523 litros drsquoazeite egual

a 157466 kilosraquo

In O Fayalense de 7 de Janeiro de 1872

FONTE BIBLIOTECA PUacuteBLICA E ARQUIVO REGIONAL JOAtildeO JOSEacute DA GRACcedilA

O TUFO ENCOSTADA AO MONTE DA GUIA FORMOU983085SE A PRIMEIRA ESTACcedilAtildeO DE APOIO Agrave BALEACcedilAtildeOCOSTEIRA NO FAIAL

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Tempo de Baleeiros

Na ponta Oeste da ilha do

Faial junto ao Vulcatildeo dos Ca-pelinhos encontramos umapequena Calheta formadahaacute centenas de anos por umaescoada laacutevica A Ponta Com-prida assim descrita na car-tograa do seacuteculo XVIII pro-porcionava um abrigo naturalnuma aacuterea de pesca costeirafrequentada desde as primei-ras deacutecadas do povoamentoda ilha Aberto na rocha entre

as faleacutesias e o mar o porto doComprido era um lugar isola-do ideal na partida do Homempara o combate com o Cacha-lote A curta distacircncia cavam

as aacuteguas profundas que limi-tam a ilha do Faial onde seacumulam as presas marinhasque atraem grandes preda-dores como eacute o caso dos ca-chalotes As altas faleacutesias doCostado da Nau de onde seperscrutavam os movimentosdas embarcaccedilotildees vindas deOeste permitiam um longo al-cance aos vigias da baleia euma comunicaccedilatildeo visual comas vigias instaladas na CostaNorte da Ilha nos Cedros e no

Salatildeo em conexatildeo com a vigiado Alto das Concheiras Laacute embaixo a menos de 100 metrosdo mar os baleeiros reuniam--se durante os meses de Ve-ratildeo como um exeacutercito sitiadoem habitaccedilotildees de pedra cober-tas com palha de trigo manten-do as suas canoas varadas narampa do porto O nuacutecleo habi-tacional do porto do Comprido

alojava baleeiros das ilhas doFaial do Pico e de Satildeo JorgeNeste aspecto aparentementesingular o porto do Compridopoderia ser comparado comoutros postos baleeiros espa-lhados por zonas inoacutespitas doglobo como a ilha de Spitsber-gen no seacuteculo XVII onde osbaleeiros ingleses e holande-ses conviviam durante o Veratildeo

ou as estaccedilotildees baleeiras daGeoacutergia do Sul no Antaacutertico

AS FASES DA

BALEACcedilAtildeOCOSTEIRA NA ILHADO FAIAL E O CASODO PORTO DOCOMPRIDO

A caccedila agrave baleia no porto doComprido ter-se-aacute desenvolvi-do entre 1884 e 1957 tornan-do-se um posto baleeiro cadavez mais importante no conjun-

to das ilhas do grupo centralEste periacuteodo pode ser divididoem trecircs fases sucessivas A partir da deacutecada de 1870com a crise do comeacutercio deexportaccedilatildeo do vinho e da laran- ja a afectar o uxo comercial

do porto da Horta o negoacutecioda baleaccedilatildeo costeira torna-seum foco de entusiasmo paraas empresas locais Nestecontexto a casa comercial

DabneyampSons experimenta-da na baldeaccedilatildeo do oacuteleo dosnavios baleeiros norteamerica-nos e em condiccedilotildees propiacuteciaspara importar canoas baleeiras

y

PORTO DO COMPRIDOUM POSTO BALEEIRO (1884-1957)

FONTE ACERVO DOCUMENTAL DAS OBRAS PUacuteBLICAS DO DISTRITO DA HORTA

VARADOURO PLANO DE REPARACcedilAtildeO DO PORTO DO COMPRIDO 1927

FONTE COLECCcedilAtildeO DO MUSEU DO PICO

ARREADA EM POUCOS MINUTOS DEPOIS DE DADO O SINAL TODOS OS BOTES BALEEIROS ESTAVAM NA AacuteGUA

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Tempo de Baleeiros

antecipa-se na criaccedilatildeo de infra-

estruturas de apoio agrave baleaccedilatildeocosteira Em 1884 Samuel Da-bney pede autorizaccedilatildeo para aconstruccedilatildeo de uns ldquo turcos demadeira junto agrave costa no localdenominado ndash o Comprido -[hellip] para poderem arrear asembarcaccedilotildees empregues napesca da baleardquo(1) As baleiascaccediladas a partir do porto doComprido seriam rebocadas aremos ou com o auxiacutelio de umvapor do porto da Horta ateacuteagrave estaccedilatildeo de traioacuteis de PortoPim o ldquoTufordquo onde se proce-dia ao desmancho do cachalo-te e se derretiam os toucinhosem grandes caldeiros de ferroEsta primeira fase de baleaccedilatildeocosteira estaacute contudo deter-minada pelos poucos meios eo insucesso na maioria de ten-tativas de captura dos cacha-lotes tal como nos indicam asnotiacutecias contemporacircneas Agraves

canoas de terra uniam-se eminteracccedilatildeo ou concorrecircncia ascanoas dos navios baleeirosnorteamericanos que perma-neciam ao largo das ilhas doTriacircngulo Apesar das incer-tezas a baleaccedilatildeo no porto doComprido prevaleceu duranteas deacutecadas seguintesUma segunda fase situadaentre os anos 20 e os anos 40

do seacuteculo XX caracteriza-se

pela concentraccedilatildeo de funccedilotildeesda baleaccedilatildeo costeira no portodo Comprido Por outras pala-vras era no porto do Compridoque arreavam os botes bale-

eiros - auxiliados por lanchas

a motor a partir dos anos 20 ndash e depois de capturados oscachalotes seriam encalhadose desmanchados na zona doporto Segundo uma inspecccedilatildeofeita pela Capitania do porto daHorta em 1928 era a Socieda-de Baleeira Aurora que possuiacuteano porto do Comprido ldquoumacasa com duas caldeiras e res-pectivas fornalhas e mais ape-trechos para o derretimento dooacuteleo achando-se tudo em bomestado e regularmente instala-dordquo(2) De resto esta fase estaacute

marcada pela proliferaccedilatildeo depequenas armaccedilotildees ou socie-dades baleeiras em vaacuterios por-tos da Ilha (Ribeirinha CedrosSalatildeo Castelo Branco) cadauma com os seus apetrechose instalaccedilotildees ou em sociedadecom outras armaccedilotildees Na ilhado Faial existiam em simultacirc-neo entre cinco a oito armado-

res da ldquopesca da baleiardquo entre1920 e 1930 Durante a eacutepoca

de caccedila o porto do Comprido jaacute seria frequentado por setecanoas baleeiras algumas dasquais permaneciam durantetodo o ano Com a complexi-caccedilatildeo da actividade baleeirasatildeo tambeacutem mais notaacuteveis asintervenccedilotildees das autoridadesmariacutetimas na vida do postobaleeiro e os requerimentos

das instituiccedilotildees de poder localcomo a Junta de Freguesia doCapelo para a realizaccedilatildeo deobras de construccedilatildeo e repara-ccedilatildeo do porto

FASE INDUSTRIAL

Mas se existe periacuteodo em queo porto do Comprido se con-verte num destacado postobaleeiro em toda a sua espe-cicidade eacute durante a fase in-

dustrial da baleaccedilatildeo na ilha doFaial entre 1940 e 1957 Nosanos convulsos da 2ordf Guerra

Mundial a forte subida do pre-ccedilo do oacuteleo de cachalote incen-tivou o crescimento da activi-dade baleeira nos Accedilores e dailha do Faial em particular Asobras para o desenvolvimentodo porto do Comprido estavamno centro do debate Com aconstruccedilatildeo das Faacutebricas da

Baleia de Porto Pim (1942) eSatildeo Roque (1944) e a expec-tativa de dobrar a produccedilatildeode oacuteleo atraveacutes do processa-mento industrial do cachaloteera necessaacuterio optimizar ascondiccedilotildees do varadouro ondeestacionavam os botes bale-eiros do Faial e do Norte doPico Os projectos de constru-ccedilatildeo de 1942 e 1944 previam

a construccedilatildeo de uma muralhade defesa do porto e um caisacostaacutevel aleacutem de um nivela-mento da rampa de varagemcom mais de 110 metros Noentanto estes projectos nun-ca viriam a ser concretizados

Durante este periacuteodo a rampade varagem chegou a ter 18botes baleeiros varados e 7lanchas a motor amarradas aolargo condiccedilotildees que exigiamo envolvimento de no miacutenimo200 indiviacuteduos na actividade

baleeira As armaccedilotildees bale-eiras em menor nuacutemero masmelhor organizadas recebiaminstruccedilotildees relativas agrave saiacuteda co-ordenada dos botes baleeiros

para o mar e o trabalho colec-tivo dos vigias pertencentes adiferentes armaccedilotildees baleeirasNa retaguarda da actividadeos armazeacutens da ReisampMartinsna Horta prestavam todo o tipode fornecimentos agraves embarca-ccedilotildees estacionadas no Capelolinha de baleia tintas oacuteleo delinhaccedila lanccedilas e arpotildees entreoutros eram enviados regular-

FONTE COLECCcedilAtildeO DO MUSEU DO PICO

PORTO DO COMPRIDO ANTES DA SAIacuteDA OS BOTES ERAM CUIDADOSAMENTEINSPECCIONADOS

BALEEIROS NO CAPELO

A tradiccedilatildeo oral recorda ldquoo Compridordquo como um lugar de alegriaonde os baleeiros celebravam a vida de Veratildeo em comunidadeEnquanto o foguete natildeo estalava danccedilava-se a Chamarritafestejava-se o Satildeo Pedro ou assistia-se agrave festa de Santana Ospicarotos protagonistas da migraccedilatildeo sazonal dispuseram demeios para transportar consigo as mobiacutelias os animais domeacutes-

ticos as famiacutelias inteiras Agrave noite tambeacutem se pescava de diasalgava-se o peixe Balear no Comprido transformava o quoti-diano dos homens que por norma nunca seriam baleeiros atempo inteiro

Fonte Foto Fotojovial

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Tempo de Baleeiros

CACcedilA Agrave BALEIA NO PORTO DO COMPRIDO

A partir de determinada eacutepoca do ano os botes baleeiros deixavam de ldquoarrearrdquo na cidade da Horta e concentravam-se nos postosbaleeiros do Salatildeo e do porto do Comprido A actividade no porto do Comprido era sobretudo inconstante podia haver 4 a 5 diasconsecutivos de caccedila mas tambeacutem uma semana inteira agrave espera que os vigias dessem o sinal de ldquoarreadardquo

mente para o posto baleeiro Aaldeia dos baleeiros era manti-da segundo uma organizaccedilatildeofamiliar e com o apoio de co-merciantes locais da freguesiado Capelo que asseguravamo seu aprovisionamento Sem

duacutevida foram nos derradeirosanos da baleaccedilatildeo no Compridoque mais se caccedilou agrave baleia ede forma mais ecaz com uma

forte concentraccedilatildeo nos mesesde Veratildeo (cfr Graacuteco)

Em Setembro de 1957 quan-do se iniciaram as erupccedilotildees noVulcatildeo dos Capelinhos o portodo Comprido foi imediatamenteabandonado Em poucos me-ses todos os anos de histoacuteria

deste posto baleeiro seriamabruptamente consumidos pe-las cinzas deixando-nos umapaisagem desolada escureci-da pelo Vulcatildeo z

Notas

(1) Fundo da Capitania do Porto da

Horta Arquivo Histoacuterico da Marinha

(2) Idem

OS HOMENS DA BALEIA

Fonte Foto Maacuterio Ruspoli Les Hommes de la Baleine (1956)

No Veratildeo de 1956 o italiano Maacuterio Ruspoli propocircs-se reali-zar um documentaacuterio sobre os uacuteltimos caccediladores de baleia dotempo de Moby Dick Depois de conseguir um empreacutestimo de

2 milhotildees de francos concedido pelo milionaacuterio grego AristoteOnassis M Ruspoli reuniu uma talentosa equipa composta porJacques Soulaire e Gilbert Rouget e instalou-se na casa dos fa-roleiros dos Capelinhos Durante dois meses a equipa recolheuas imagens e os sons uacutenicos da actividade baleeira no porto doComprido Les hommes de la Baleine eacute um precioso documentorealista e liacuterico sobre a baleaccedilatildeo na ilha do Faial

BALEEIROS NA AMEacuteRICACom a erupccedilatildeo do vulcatildeo dosCapelinhos e a abertura dasfronteiras norte americanasmuitos jovens baleeiros se-

guiram o rumo da emigraccedilatildeoconservando a memoacuteria dostempos aacuteureos e diceis da ba-leaccedilatildeo

Fonte foto Colecccedilatildeo Privada de Manuela Rosa

FRANCISCO HENRIQUESOMA

FONTE COLECCcedilAtildeO POSTAL RUSPOLI amp SOULAIRE

TRANCAR JOSEacute RAFAEL PREPARA983085SE PARA ARPOAR UM CACHALOTE

Fonte Colecccedilatildeo Documental ReisampMartins Lda ndash Faacutebrica da Baleia de Porto Pim

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Tempo de Baleeiros

Na deacutecada de trinta do seacute-culo XX durante o auge dainduacutestria baleeira nos Accediloresforam constituiacutedas vaacuterias em-presas nas diversas ilhas paraa exploraccedilatildeo e comercializaccedilatildeodos produtos obtidos a partir

dos cachalotes No Faial foramconstituiacutedas trecircs sociedadesa Reis amp Martins Lda arma-ccedilatildeo baleeira e exportadoresde oacuteleo a Companhia Bale-eira Faialense Lda armaccedilatildeobaleeira e a Sociedade Indus-trial Mariacutetima Accediloriana Lda(SIMAL) ligada agrave induacutestriatransformadora A Reis amp Mar-tins Lda constituiacuteda em 1945adquiriu um armazeacutem na RuaNova na cidade da Horta queservia como casa de botes eocina de carpintaria marce-naria tanoaria ferraria e mecacirc-nica ofiacutecios essenciais para aconstruccedilatildeo e manutenccedilatildeo dasembarcaccedilotildees baleeiras (lan-chas a motor e botes) e res-pectiva palamenta Depois dom da actividade baleeira nos

Accedilores no iniacutecio dos anos 80do seacuteculo XX o armazeacutem daRua Nova e grande parte do

seu espoacutelio foram parcialmen-te mantidos ateacute agrave actualidadeembora seja notoacuteria a degrada-ccedilatildeo tanto do imoacutevel como demuitos dos objectos e equipa-mentos aiacute armazenadosPerante o risco seacuterio de esteespoacutelio se perder e dada a im-portacircncia deste espoacutelio para oestudo da baleaccedilatildeo no Faial enos Accedilores considerou-se serurgente efectuar o seu resgate

levantamento e estudo destepatrimoacutenio garantindo assima sua preservaccedilatildeo Assim osactuais proprietaacuterios e herdei-ros da Reis amp Martins Lda

estabeleceram uma parceriacom o Observatoacuterio do Mar dos Accedilores (OMA) com o objectivode salvaguardar o patrimoacutenioexistente e integrar parte deleno museu da Faacutebrica da Baleiade Porto Pim

O projecto ldquoLevantamento dePatrimoacutenio Baleeiro e Dinami-zaccedilatildeo do Espaccedilo Expositivo

da Faacutebrica da Baleia de PortoPimrdquo iniciou-se em 2008 e em

2009 passou a ser co-nancia-do pela Direcccedilatildeo Regional daCultura (DRaC) que o consi-derou de ldquointeresse relevantepara a Regiatildeo e capaz de con-tribuir para o desenvolvimentoda poliacutetica cultural dos AccediloresrdquoEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinarias

equipamentos embarcaccedilotildeespalamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)

o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobrea induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiais

moacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Partedesse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo na

sua exposiccedilatildeo permanenteEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinariasequipamentos embarcaccedilotildees

palamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobre

a induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiaismoacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Parte

desse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo nasua exposiccedilatildeo permanente

y

PATRIMOacuteNIO BALEEIRO DA FASEINDUSTRIAL DA BALEACcedilAtildeO NO

FAIAL - RESGATE INVENTARIACcedilAtildeO ECONSERVACcedilAtildeO

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

RUA NOVA INTERIOR DO ESCRITOacuteRIO DOS ARMAZEacuteNS DA REIS amp MARTINS LDA

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Tempo de Baleeiros

INVENTAacuteRIO DOESPOacuteLIO REIS EMARTINS LDA

Os objectos encontrados foramanalisados e descritos quantoagraves caracteriacutesticas funcionaisde origem e agraves transforma-ccedilotildees eventuais que possamter sofrido ao longo do tempoSe alguns objectos tecircm umafunccedilatildeo oacutebvia (pe botes e suapalamenta arpotildees etc) outroshaacute cuja sua utilidade eacute difiacutecil dedescodicar A identicaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo funcional dos ob- jectos encontrados foi consubs-tanciada por fontes documen-tais quando existentes eoupor depoimentos orais fonte de

informaccedilatildeo uacutenica e insubstituiacute-vel para a compreensatildeo abran-gente da actividade industrialem estudo A identicaccedilatildeo de cada bem

foi registada em cha proacutepria

onde os elementos considera-dos adequados para o seu re-conhecimento foram descritosem detalhe A cha inclui uma fotograa do

objecto o seu nuacutemero de in-

ventaacuterio a sua funccedilatildeo originala categoria a que pertence oseu estado de conservaccedilatildeo adata do inventaacuterio e a referecircn-cia das fotograas existentes

desse objectoOs bens inventariados foramclassicados em categorias

consoante o tipo de colecccedilatildeo esuas caracteriacutesticas (tipologia) Assim optou-se por classicaacute--los em classes segundo asua funccedilatildeo original e em sub-classes que correspondemao local ou agrave infra-estrutura aque pertenciam (ex Selhandashde--linha Classe Palamenta Sub-classe Bote Baleeiro) A inventariaccedilatildeo individual de

cada peccedila permitiu a criaccedilatildeode um inventaacuterio fotograacuteco e

de uma lista geral de inventaacute-rio onde constam todas as 468peccedilas resgatadas ateacute ao mo-mento O passo seguinte con-sistiu na conservaccedilatildeo e restau-ro dos objectos classicados

As intervenccedilotildees foram criterio-samente efectuadas para natildeocomprometerem a constituiccedilatildeooriginal das peccedilas Aspiraccedilatildeo lavagem restaurocom oacuteleo e tratamento contra

pragas foram as operaccedilotildeesadoptadas para as peccedilas demadeira As peccedilas de metal a maioriacom niacuteveis de oxidaccedilatildeo con-sideraacuteveis foram objecto detratamentos especiacutecos adap-tados a cada casoz

FONTE OMA

SALVAGUARDA CLASSIFICACcedilAtildeO DAS 468 PECcedilAS INVENTARIADAS ATEacute AO MOMENTO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

OBJECTOS983085 EXEMPLARES DO ESPOacuteLIO RESGATADO DOS ARMAZEacuteNS REIS E MARTINS

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Tempo de Baleeiros

y Em 2010 o OMA estabe-leceu um contrato de coope-raccedilatildeo teacutecnica com a DirecccedilatildeoRegional da Cultura (DRaC)com o objectivo de inventariaro patrimoacutenio baleeiro imoacutevel detodo o arquipeacutelago A execuccedilatildeo

do projeto foi assegurada poruma equipa multidisciplinar naaacuterea da investigaccedilatildeo histoacuterica

arquitectura e fotograa pro-ssional A recolha preacutevia da

informaccedilatildeo foi o ponto de par-tida para um trabalho de cam-po que decorreu entre os me-ses de Junho e Dezembro de2011 Foram inventariados os

antigos complexos baleeirospostos baleeiros e varadourosbaleeiros rampas de varagemdas embarcaccedilotildees rampas dealagem de cachalotes casas

de botes traioacuteis faacutebricas deprocessamento de cachalotese plataformas de desmancho

vigias residecircncias sazonaiscarpintarias ocinas arma-zeacutens entre outrosNa ilha do Faial foram inven-tariados 17 imoacuteveis (ver Fig5) identicados no Complexo

Baleeiro das Anguacutestias (localonde as armaccedilotildees baleeirastinham a sua sede com ar-mazeacutens faacutebricas de proces-samento de cachalotescasade caldeiros e estacionavam

as embarcaccedilotildees prontas parauma raacutepida arriada agrave baleia)nos Postos Baleeiros do Porto

do Comprido do Salatildeo (estesdois como local de estaciona-mento sazonal das armaccedilotildeesbaleeiras do Faial e do Pico) edo Varadouro Identicaram-se

ainda apesar de menos repre-sentativos na actividade baleirada Ilha do Faial os Varadourosdo Cedros Castelo Branco eRibeirinha todos com rampade varagem para estaciona-mento de botes baleeiros z

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIRO IMOacuteVEL DO FAIAL

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIO BALEEIRO IMOacuteVEL DOS ACcedilORES A ILHA DO FAIAL

MAacuteRCIA DUTRAOMA

COMPLEXTO BALEEIRO DAS ANGUacuteSTIAS1 983085 FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

2983085 ARMAZEacuteM DA REIS amp MARTINS LDA3 983085 CASA DE CALDEIROS DE PORTO PIM983080FAacuteBRICA VELHA9830814 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTOPOSTO BALEEIRO DO PORTO DOCOMPRIDO5 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO DO

COMPRIDO6 983085 VIGIA DO CAPELO

7 983085 VIGIA DO COSTADO DA NAU8 983085 RESIDEcircNCIAS SAZONAIS DO PORTODO COMPRIDO9 983085 CASA DOS BOTES DO PORTO DOCOMPRIDOPOSTO BALEEIRO DO SALAtildeO10 983085 RAMPA DE VARAGEM DO SALAtildeO

11 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DA ARMA983085CcedilOtildeES DO FAIAL

12 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DAS ARMA983085CcedilOtildeES DO PICO13 983085 VIGIA DOS CEDROS14 983085 POSTO BALEEIRO DO VARADOURO15 983085 VIGIA DO ALTO DAS CONCHEIRASVARADOURO BALEEIRO DOS CEDROS16 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO

DA EIRAVARADOURO BALEEIRO DA RIBEIRINHA

17 983085 RAMPA DE VARAGEM DA RIBEIRINHAVARADOURO BALEEIRO DE CASTELOBRANCO18 983085 RAMPA DE VARAGEM DE CASTELOBRANCO

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Tempo de Baleeiros

y Em 1939 a Sociedade In-dustrial Mariacutetima Accediloriana Lda ndash a SIMAL foi fundada na Hor-ta Esta sociedade comercialpor quotas de responsabilidadelimitada tinha como objectivosa ldquoexploraccedilatildeo da induacutestria doaproveitamento integral da ba-

leia e outras espeacutecies marinhase comeacutercio dos respectivosprodutosrdquo A SIMAL era cons-tituiacuteda por 25 soacutecios sendo os

soacutecios maioritaacuterios o industriallisboeta Francisco Marcelinodos Reis e a empresa localCosta amp Martins Lda Desta-

cam-se ainda quatro compa-nhias baleeiras da Ribeira doMeio (Pico) que por razotildeesfamiliares e por ter sido nega-

da a construccedilatildeo de uma faacutebri-ca nas Lajes se associaram agraveSIMAL A faacutebrica comeccedilou a ser cons-truiacuteda em 1941 inicialmenteno areal da Praia de Porto Pimmas devido a um forte tem-poral ocorrido em Setembrodesse mesmo ano foi comple-tamente destruiacuteda e abandona-do o projecto Esta intempeacuterielevou a que os proprietaacuterios

decidissem construir a faacutebricano local onde hoje a conhe-cemos na encosta do Monteda Guia A faacutebrica comeccedilou alaborar em fase experimentalem Agosto de 1942 Durante

os seus 30 anos de laboraccedilatildeoprocessaram-se 1940 cachalo-tes que produziram 44 mil bi-dotildees de oacuteleoEm 1974 acompanhando odecliacutenio da induacutestria baleeira aniacutevel mundial a faacutebrica fechouas suas portas Em 1980 oGoverno Regional dos Accediloresadquiriu todo o complexo fabrilcom o objectivo de ali instalaro Departamento de Oceano-

graa e Pescas e uma Escola

de Pesca desiacutegnio esse quenunca se chegou a realizarEm 1984 a antiga faacutebrica foiclassicada como Imoacutevel de

Interesse Puacuteblico (IIP) Depoisde quase duas deacutecadas de de-gradaccedilatildeo do edifiacutecio e da suamaquinaria sem duacutevida atenu-ados pela acccedilatildeo persistente deManuel da Rosa Correia co-nhecido como Patratildeo Manuele de Manuel Medeiros conhe-cido com Sr Amaral (antigo en-carregado da faacutebrica) a faacutebricafoi nalmente alvo de obras

de restauro e de beneciaccedilatildeo Apelidada de Centro do Marfoi inaugurada em 2000 por

ocasiatildeo da 2ordf ediccedilatildeo da Expo-Pescas com o objectivo de setornar num espaccedilo de divulga-ccedilatildeo cultural e cientiacuteca Desde

2004 que a Faacutebrica eacute a sede

do OMA que desde entatildeo temvindo a dinamizar esse espaccediloEm 2010 a Faacutebrica da Baleia

de Porto Pim como hoje eacute co-nhecida foi inserida no Com-plexo do Monte da Guia da Ilhado Faial z

A FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

VISITA GUIADA FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM 983085 DESCRICcedilAtildeO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE OMA

INTERIOR A FAacuteBRICA Eacute UM MUSEU PERMANENTE

CASA DAS AUTOCLAVES COMSEIS AUTOCLAVES CADA UMACOM CAPACIDADE DE 11 M

CASA DAS FARINHAS COM TODAA MAQUINARIA ORIGINAL DA RE983085

CONHECIDA MARCA NORUGUESAMYRENS VERKSTED E OS MOTO983085

RES DA MARCA ALEMAtilde MOTORENFABRIK DEUTZ AG

EDIFICIO ANEXO ONDE FUNCIONAVA A ANTIGASERRALHARIA E OS ESCRITOacuteRIOS DESTACAM983085SEOS ALTOS TANQUES SUBTERRAcircNEOS PARA AR983085MAZENAMENTO DE OacuteLEO ACTUAL ldquoSALA DOS

OacuteLEOSrdquo 983080SALA DE EXPOSICcedilOtildeES E REUNIOtildeES983081

ANTIGAS CASAS DE BANHOACTUAL BAR DA PRAIA E WCS DE

APOIO Agrave FAacuteBRICA DA BALEIA

ANTIGO ARMAZEacuteM DAS FARI983085NHAS COM QUATRO TANQUESSUBTERRAcircNEOS PARA ARMAZE983085NAMENTO DO OacuteLEO ACTUALLOJA DA FAacuteBRICA E CIM

PLATAFORMA DE DESMANCHODESTAQCA983085SE A CHAMINEacute DAS CALDEI983085

RAS A VAPOR

CASA DAS CALDEIRAS A VAPOR IMPO983085NENTES CALDEIRAS FABRICADAS NA CI983085DADE DO PORTO EM PRIMEIRO PLANOVEMOS A CALDEIRA QUE FOI INSTALADAEM 1950

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y A inauguraccedilatildeo da Casados Botes no Capelo marcoumais um passo no percursoque comeccedilou a ser percorridohaacute mais de dez anos quandopor altura das comemoraccedilotildeesdos 400 anos daquela fregue-sia se decidiu iniciar um pro-cesso de recuperaccedilatildeo do patri-moacutenio baleeiro no Faial entatildeodenominado ldquorecuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeira da ilha doFaialrdquoHoje 25 anos depois de ter

sido caccedilado o uacuteltimo cachaloteem aacuteguas accedilorianas o patri-moacutenio da baleaccedilatildeo estaacute bemvivo sendo essa vivacidade noFaial espelhada pela recupe-

raccedilatildeo dos botes baleeiros dalancha Walquiacuteria da Faacutebricada Baleia e agora da Casados BotesRecuperar os botes baleeirosnatildeo eacute no entanto suciente

para garantir que a sua me-moacuteria continua viva Os botespertencem ao mar e por issofoi com naturalidade que estemovimento de revitalizaccedilatildeo dopatrimoacutenio acabou por passar

para a vertente desportiva coma criaccedilatildeo da secccedilatildeo de botesbaleeiros do Clube Naval daHorta que movimenta muitos

desportistasNa hora de lembrar todo estepercurso de recuperaccedilatildeo dopatrimoacutenio baleeiro bem comode reectir sobre o que haacute a

fazer numa altura em esseprocesso estaacute praticamenteconsolidado Tribuna das Ilhasconversou com Joatildeo Garciaque era em 2000 membro do

elenco da Junta de Freguesiado Capelo responsaacutevel pelodesencadear deste projectoe que em 2005 o levou para o

Clube Naval da Horta quandoassumiu a direcccedilatildeo da agre-miaccedilatildeo naacuteutica faialense Alertando para a importacircnciada manutenccedilatildeo deste patrimoacute-

nio agora que todo ele estaacuterestaurado Joatildeo Garcia apelaa um esforccedilo conjunto para aconsolidaccedilatildeo de um campeo-nato regional de botes baleei-ros e defende a alteraccedilatildeo dalegislaccedilatildeo para que os clubesnavais possam retirar rentabili-dade econoacutemica dos passeiosagrave vela em botes baleeiros demodo a que estes possam sus-tentar a sua proacutepria manuten-

ccedilatildeo

O PROCESSO DE RECUPE-RACcedilAtildeO DE BOTES EM VAacute-

RIAS FREGUESIAS COM HIS-TOacuteRIA BALEEIRA NO FAIALFOI DESENCADEADO QUAN-DO O JOAtildeO ERA PRESIDEN-TE DA JUNTA DE FREGUESIADO CAPELO E PREPARAVAAS COMEMORACcedilOtildeES DOSSEUS 400 ANOS O QUE EacuteQUE MOTIVOU A QUE O PA-TRIMOacuteNIO BALEEIRO FOSSEO MARCO DESTA EFEMEacuteRI-DE A importacircncia que tinha essaefemeacuteride levou a que se -zesse um levantamento his-toacuterico dos quatro seacuteculos dafreguesia A baleaccedilatildeo teve umpapel importante nessa histoacuteriae desde logo decidimos fazer

uma regata de botes que li-gasse o Porto do Comprido aodo Varadouro tendo em contaa ligaccedilatildeo histoacuterica que os doistiveram pela baleaccedilatildeo A partirdaqui somos despertados paraalgo que tem grande valor sen-timental e histoacuterico e nasce ummovimento de recuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeiraO Capelo teve uma forte im-plementaccedilatildeo da baleaccedilatildeo era

uma coisa que estava enraiza-da no povo e que era impor-tante salvaguardar Primeirohouve a preocupaccedilatildeo de re-

gistar as memoacuterias que haviadessa eacutepoca registos feitospor pessoas do Capelo nome-adamente pelo Joseacute Franciscoda Faialentejo que registou ostestemunhos de alguns baleei-ros Depois houve o movimen-to de recuperaccedilatildeo dos botesO Pico tinha jaacute uma seacuterie debotes recuperados e noacutes qui-semos ir um pouco mais lon-ge e abranger natildeo apenas asfreguesias com tradiccedilatildeo nabaleaccedilatildeo como Salatildeo Cas-telo Branco e Anguacutestias mastambeacutem outras onde havia re-crutamento de baleeiros comoeacute o caso da Feteira O projectocontemplava a recuperaccedilatildeo da

Casa do Bote Baleeiro que foirecentemente inaugurada evisa ainda publicar a histoacuteria dabaleaccedilatildeo na ilha do Faial

FOI FAacuteCIL PARA A JUNTA DEFREGUESIA DO CAPELO MO-TIVAR AS RESTANTES FRE-GUESIAS A EMBARCAREMNESTE PROJECTOPor acccedilatildeo do Clube Navalmais concretamente pelo entatildeo

presidente Joseacute Decq Motatemos conhecimento que naCalheta do Nesquim existe umbote disponiacutevel cheio de his-

ENTREVISTA A JOAtildeO PEDRO GARCIA

ldquoO DESAFIO MAIS IMPORTANTE Eacute

A PRESERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROrdquo

FONTE ROBERT CLARKE DISCOVERY REPORTS 1954

NO MAR O MOMENTO EM QUE SE INICIA A PERSEGUICcedilAtildeO AO CACHALOTE

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Tempo de Baleeiros

toacuteria e que eacute inclusive citadono Mau Tempo no Canal deVitorino Nemeacutesio o bote SatildeoJoseacute Sabendo que havia aquium interesse ele falou-nos daexistecircncia desse bote que es-tava sob a alccedilada da Comissatildeo

do Patrimoacutenio Baleeiro Inicia--se aiacute a sua recuperaccedilatildeo e umpasso importante para aquiloque queriacuteamos fazer A recu-peraccedilatildeo de um bote para a fre-guesia do Capelo fez despertaras outras freguesias para esteprojecto Nesta altura ele deixade ser apenas palavras e pe-quenos escritos para comeccedilara ter uma maior dimensatildeoEm 2000 temos a primeira re-

gata com botes do Pico e ape-nas com o Claudina do Faial43 anos depois do uacuteltimo botebaleeiro ter ldquoarriadordquo no Com-prido Em 2003 aparece o Satildeo

Joseacute outro bote recuperadopara o Faialhellip As pessoas co-meccedilam a perceber que este eacuteum projecto com vidaNesta altura comeccedila tambeacutema dinamizar-se a regata inter-nacional de botes baleeirosO movimento de geminaccedilatildeoentre a Horta e New Bedfordestava estagnado e a partirdaiacute essa ligaccedilatildeo fortalece-seFoi precisamente a baleaccedilatildeoque criou o elo entre as duascidades agora fortalecido com

a recuperaccedilatildeo do patrimoacuteniobaleeiro E curiosamente eacutena primeira viagem que sefaz aos Estados Unidos que opresidente da Cacircmara Munici-pal da Horta Joatildeo Castro ca

desperto para a importacircncia dese recuperar a Walquiacuteria outroprocesso que estava estagna-do e ganha nessa altura alentoHaacute assim uma bola de neveque vai crescendo uma pai-xatildeo que vai aumentando e um

despertar da consciecircncia paraa recuperaccedilatildeo da memoacuteria quefaz com que se torne tudo maisfaacutecilO Governo Regional atraveacutesda Comissatildeo do PatrimoacutenioBaleeiro dos Accedilores deu umapoio incondicional a este pro- jecto Este eacute um desiacutegnio natildeode um homem soacute mas de vaacute-rias pessoas e instituiccedilotildees

COMO Eacute QUE O OBJECTIVO

DA PRESERVACcedilAtildeO DOS BO-TES BALEEIROS Eacute TRANS-POSTO PARA O CLUBE NA-VAL DA HORTA (CNH) COMO INTUITO DE CRIAR UMANOVA VERTENTE DESPORTI-VA NA ILHAQuando me foi lanccedilado o de-sao de assumir a presidecircncia

do CNH os botes baleeirosassumem uma importacircncia nomeu projecto para o clube Natildeoera possiacutevel continuar a gerir

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

BAIacuteA DA FETEIRA DURANTE A EacutePOCA DO VERAtildeO A BAIA Eacute ENGALANADA PELAS VELAS DOS BOTES BALEEIROS

FONTE SUSANA GARCIA

PATRIMOacuteNIOJORGE FONTES JOAtildeO GARCIA E JOAtildeO TAVARES TREcircS IMPULSIONA DORES DA PRESERVACcedilAtildeO DO PATRI983085MOacuteNIO BALEEIRO DA ILHA DO FAIAL

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as tripulaccedilotildees e a actividadedesportiva dos botes atraveacutesdas juntas de freguesia porqueelas natildeo tecircm essa vocaccedilatildeoEra inevitaacutevel que houvesseuma instituiccedilatildeo como o CNH ndash soacutelida agregadora sem ri-

validades ndash que pudesse darcontinuidade ao processo Nes-se sentido fundaacutemos a secccedilatildeode Botes Baleeiros da ilha doFaial que agrega com igual au-tonomia e legitimidade todos osparticipantes nesta actividadeNeste ponto tenho de referiro Carlos Fontes que deu umimportante contributo a todo oprocesso pela sua dedicaccedilatildeoe organizaccedilatildeo Outro elemen-

to que emprestou um valiosocontributo foi o Nuno Limasobretudo na recuperaccedilatildeo dalancha Walkiria a rainha dosmares dos Accedilores Houve ummomento de explosatildeo com

mais de cem participantes tan-to masculinos como femininoscom miuacutedos a virem das fre-guesias para aprender velacom cursos para ociaishellip Esta

vitalidade dos botes manteve--se ateacute 2010 Mantenho alguma

preocupaccedilatildeo quanto a algumassituaccedilotildees pontuais com receiode que as coisas se desagre-guem e as pessoas natildeo perce-bam os anos de trabalho queestatildeo aqui em causa e os seacutecu-los de baleaccedilatildeo que estatildeo pordetraacutes deste patrimoacutenio Eacute im-portante que haja consciecircncianatildeo apenas de todo o trabalhoque foi feito mas tambeacutem docusto nanceiro deste projec-

to Grande parte desse nan-ciamento foi assegurado pelogoverno regional que contoucom o apoio do E-GRANT`S ADirecccedilatildeo Regional da Culturao CNH e os clubes navais do

Pico apresentaram uma candi-datura para a recuperaccedilatildeo dosbotes baleeiros que foi aceiteSe natildeo fosse esse apoio hojenatildeo poderiacuteamos dizer que pra-ticamente todo o patrimoacuteniodos Accedilores botes e lanchas

estaacute recuperado Estamos afalar de 40 botes Em 10 anosno Faial recuperaram-se setebotes e uma lancha Se virmosque cada bote tem um custo derecuperaccedilatildeo de cerca de 35 mileuros percebemos que esse foium esforccedilo muito signicativo

A associaccedilatildeo dos botes bale-eiros da ilha do Faial ao CNHveio tambeacutem dar uma dimen-satildeo de ilha ao Clube e criou-se

uma dinacircmica desportiva im-portante de que o Faial neces-sitavaEsta vitalidade em torno dacultura e patrimoacutenio baleeirofaz despertar para a necessi-

dade deste ser inventariadoe salvaguardado Em 2008 o

Observatoacuterio do Mar dos Accedilo-res (OMA) entidade gestorada Faacutebrica da Baleia de PortoPim avanccedila para a inventaria-ccedilatildeo do patrimoacutenio imoacutevel da

baleaccedilatildeo primeiro agrave escala dailha do Faial e depois agrave escalados Accedilores

WALKIacuteRIA ldquoA RAINHA DOS MARES DOS ACcedilORESrdquo

ldquoNasceu para reinar nunca foi destronada e viveraacute esperamos por muitos anos assim o desejamos Somos uma grande regiatildeomariacutetima que quer preservar a memoacuteria coletiva das nossas teacutecnicas e tradiccedilotildees da nossa vivecircncia multissecular com o mar quenos rodeia nos separa e nos unerdquo A lancha Walkiria foi mandada construir pelos proprietaacuterios da Armaccedilatildeo Baleeira Reis amp Mendonccedila o industrial continental Francis-co Marcelino dos Reis e o Professor Rui de Mendonccedila residente na Vila das Velas amante de muacutesica Wagneriano que por talrazatildeo deu aos seus lhos os nomes de Wagner Weber

Walkyria e Isolda A construccedilatildeo foi realizada na ilha de S Jorge em 1937pelas matildeos de Joseacute e Manuel Gambatildeo irmatildeos e carpin-teiros habilidosos a partir de projeto de Manuel InaacutecioNunes natural do Pico mas com gabinete de projetos eestaleiro em Sacramento Califoacuternia Estados Unidos da Ameacuterica - ldquoQuando o antigo paquete a vapor ldquoCarvalho Arauacutejordquo

largava do porto das Velas com rumo ao Cais do Picoonde escalava depois de ter atingido a velocidade ple-na de cruzeiro a Walkyria rodeava o navio em marchapassando pela proa e pela popa Nenhuma outra lanchaconseguiu tal proezardquoEfetivamente a lancha estava equipada com um motor agasolina de 143 HP que permitindo atingir uma velocida-de de ponta elevada 18 noacutes tambeacutem acarretava consu-mos de combustiacutevel signicativos facto que levou agrave sua

venda em 1938 por ser economicamente pouco interes-sante para o trabalho que desenvolvia nomeadamente no apoio agrave caccedila agrave baleia Assim a lancha eacute transferida para a ilha do Faial por aquisiccedilatildeo do Sr Francisco Reis cando afeta ao transporte local de passagei-

ro Mais tarde eacute adquirida pela rma ldquoReis amp Martinsrdquo cando afeta agrave atividade baleeira Em 1955 a quando da instalaccedilatildeo de umaparelho de radiotelefonia foi-lhe atribuiacuteda a matriacutecula nal H-21-B

Em 2005 no acircmbito do projeto de ldquorecuperaccedilatildeo da memoacuteria baleeira da ilha do Faialrdquo depois de anos de repouso nos armazeacutens

da Reis e Martins a emblemaacutetica embarcaccedilatildeo volta a ganhar vida pelas matildeos do mestre Manuel Monteiro da Piedade do Pico en-trando de novo no porto da Horta a 12 de agosto desse mesmo ano totalmente recuperada

EEA Grants Mecanismo Finan-

ceiro Norueguecircs para apoio agrave

coesatildeo social e econoacutemica den-

tro da Uniatildeo Europeia Islacircndia

Liechtenstein e Noruega que

complementou o esforccedilo nan-

ceiro do Governo Regional para

a reabilitaccedilatildeo do patrimoacutenio bale-

eiro dos Accedilores Neste contexto

foram recuperados 40 botes e 10

lanchas Anualmente eacute atribuiacutedo

pelo Governo Regional um sub-

siacutedio para manutenccedilatildeo destas

embarcaccedilotildees

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AINDA BEM QUE REFERE AINVENTARIACcedilAtildeO DO PATRI-MOacuteNIO IMOacuteVEL POIS DEFACTO O PATRIMOacuteNIO DABALEACcedilAtildeO NAtildeO SE RESU-ME AOS BOTEShellip DEPOIS DAREVITALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRI-CA DA BALEIA ESTE PRO-CESSO DE RECUPERACcedilAtildeODO PATRIMOacuteNIO FICOU AIN-DA MAIS COMPLETO COMA INAUGURACcedilAtildeO DA CASADOS BOTES NO CAPELO HAacuteMUITO AGUARDADA FALE--NOS DESSE PROJECTO

Em boa hora a Junta de Fre-guesia do Capelo acolheu estainiciativa incluiacuteda no projectoldquoA recuperaccedilatildeo da memoacuteriabaleeirardquo Esta era uma casadas armaccedilotildees baleeiras deSatildeo Roque do Pico A sua re-cuperaccedilatildeo natildeo eacute mais do quedevolver ao porto do Compri-do a sua histoacuteria A histoacuteria doCapelo natildeo comeccedila em 1957com o Vulcatildeo dos Capelinhos

Antes disso o porto do Com-prido jaacute tinha dois seacuteculos dehistoacuteria tendo sido uma dasprincipais estaccedilotildees baleeirasdos Accedilores Essa memoacuteria

tinha de ser preservada porrespeito aos nossos antepas-sados Essa preservaccedilatildeo tam-beacutem se faz atraveacutes do circuitopedestre do baleeiro que tam-beacutem foi inaugurado agora Esteleva-nos ao conjunto de vigiasque existe no Vulcatildeo dos Ca-pelinhos

Um museu natildeo eacute uma coisaque estaacute dentro de casa maseacute tudo o que nos rodeia Te-mos de contar de forma sim-ples a todos os que nos visi-tam que esta eacute uma ilha comhistoacuteria

HAacute TAMBEacuteM A PREOCUPA-CcedilAtildeO DE REUNIR EM LIVRO AINFORMACcedilAtildeO SOBRE A BA-LEACcedilAtildeO QUE TEM VINDO ASER RECOLHIDAhellipNos uacuteltimos anos o Obser-vatoacuterio do Mar dos Accedilores(OMA) tem feito um excelentetrabalho o que se traduz numgrande avanccedilo na pesquisaCom aquilo que jaacute tinha sido

feito lanccedilaacutemos um desao aoFilipe Porteiro presidente doOMA para que se documen-tasse por escrito a memoacuteriados baleeiros Haacute um registode memoacuterias de alguns bale-eiros do Capelo um espoacuteliofotograacuteco que foi e continua

a ser recolhido um conjuntode informaccedilotildees tanto daquicomo de New Bedford no queao tempo da baleaccedilatildeo diz res-peitohellip Portanto temos infor-maccedilatildeo suciente para fechar

nos proacuteximos dois anos estarecuperaccedilatildeo da memoacuteria comum livro que permita dar aconhecer a histoacuteria da balea-ccedilatildeo no Faial Haacute um conjunto

de pessoas disponiacuteveis paracolaborar neste processo Naminha opiniatildeo esta obra deveter ediccedilatildeo bilingue tendo emconta o interesse que tem paraos Estados Unidos

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE FICA A FALTAR FAZERPELA RECUPERACcedilAtildeO E PRE-SERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROTenho de deixar uma mensa-gem importante agraves pessoasque hoje gerem este proces-so procurem os consensosEacute muito importante termosum consenso regional relati-vamente aos botes baleeiros

Eacute importante que se volte aosmodelos adoptados em 2005

relativamente agraves regatas Natildeopodemos ter regatas em to-das as freguesias dos AccediloresTemos de ter as cinco regatastradicionalmente mais antigasnas quais se inclui a Semanado Mar e quatro regatas noPico e fazer as outras trecircs deforma rotativa para voltarmosa ter um campeonato regionalde botes baleeiros em condi-ccedilotildees Faial e Pico tecircm de en-tender-se nesta mateacuteria Estamensagem tem de ser passa-da para as instituiccedilotildees para osclubes para as juntas de fre-guesia para as pessoashellip

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA UM ASPECTO DE UMA REGATA DENTRO DA BAIA DA HORTA

FONTE OMA

EMBARCACcedilAtildeO OS ANTIGOS BOTES TORNARAM983085SE TAMBEacuteM NUMA PECcedilAMUSEOLOacuteGICA

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Eacute tambeacutem importante que asecccedilatildeo de botes baleeiros doFaial continue A rivalidade en-tre freguesias natildeo traz nada debom O CNH tem obrigaccedilatildeo deconsolidar a secccedilatildeo custe oque custar

Aleacutem disso temos de ver queo patrimoacutenio baleeiro que estaacuteentregue agraves Juntas de Fregue-sia natildeo eacute das autarquias Per-tence agrave Governo Regional dos Acores ou seja agrave Regiatildeo e asua preservaccedilatildeo eacute uma obri-gaccedilatildeo daqueles a quem foientregue Eacute preciso ter muitocuidado nessa preservaccedilatildeosenatildeo dentro de alguns anosestamos natildeo a fazer manuten-

ccedilatildeo mas praticamente a fazernovos botes Os responsaacuteveisde cada uma das instituiccedilotildeestecircm de ter consciecircncia do pa-trimoacutenio que tecircm nas matildeos ede toda esta histoacuteria Agora odesao mais importante eacute a

manutenccedilatildeo deste patrimoacutenio econtinuar a despertar nas pes-soas o interesse por andar agravevela e a remos O bote baleeiroeacute uma embarcaccedilatildeo iacutempar Natildeohaacute outra no mundo

E A PRESERVACcedilAtildeO SOacute SEFAZ COMPLETAMENTE SEOS BOTES ESTIVEREM NOMAR A NAVEGARExactamente Haacute uma partemuito importante do projec-to que ainda falta que passa

pela sede do CNH e por sa-ber o que vai acontecer aosarmazeacutens da Reis e MartinsEacute preciso encontrar um espa-ccedilo adequado para guardar osbotes fazer a sua manuten-ccedilatildeo e expocirc-los Os botes satildeopatrimoacutenio histoacuterico mas tam-beacutem turiacutestico As regatas satildeobonitas mas os passeios embotes baleeiros tambeacutem Se foralterada a portaria que regula

esses passeios em vigor haacutemuitos anos os clubes podemdeles tirar rendimentos

ACHA ENTAtildeO QUE FARIASENTIDO RENTABILIZAR OSPASSEIOS NOS BOTES BA-LEEIROS PARA FINANCIARA SUA PROacutePRIA PRESERVA-CcedilAtildeOFaz todo o sentido Na situ-accedilatildeo econoacutemica em que es-tamos natildeo podemos viver da

ldquosubsiacutedio-dependecircnciardquo A ma-nutenccedilatildeo dos botes as regatase toda essa dinacircmica podemsustentar-se com a criaccedilatildeo deuma vertente econoacutemica comos passeios de bote baleeiroporque temos mercado para

isso Eacute necessaacuterio alterar legis-laccedilatildeo nessa aacuterea

NOUTROS TEMPOS A BA-LEIA FOI UM PILAR DA NOS-SA ECONOMIA ACHA QUEHOJE COM O WHALE WA-TCHING A MOTIVAR A EXIS-TEcircNCIA DE BALEEIROS COMMAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICASEM VEZ DE ARPOtildeES CON-TRIBUINDO PARA A ECONO-

MIA DA ILHA E COM OS BO-TES BALEEIROS NA AacuteGUAPARA AS COMPETICcedilOtildeESDESPORTIVAS ESTAMOSPERANTE UMA ESPEacuteCIE DENOVA BALEACcedilAtildeO Acho que entraacutemos numa novafase da baleaccedilatildeo e soubemosperceber natildeo apenas a impor-tacircncia que a baleaccedilatildeo tevemas tambeacutem a importacircnciaque os cetaacuteceos tecircm hoje nos Accedilores Haacute um Departamento

de Oceanograa e Pescas da

Universidade dos Accedilores quesabe o que estaacute a fazer haacuteuma consciecircncia das empre-sas de whale watching para asua importacircnciahellip Natildeo eacute poracaso que algumas dessas

empresas utilizam as antigasvigias dos baleeiros e inclusi-ve as recuperaram contribuin-do assim para a preservaccedilatildeodo patrimoacutenio da baleaccedilatildeo Osegredo da observaccedilatildeo de ba-leias nos Accedilores tem a ver coma histoacuteria que haacute para contarHouve uma altura em que ca-ccedilaacutemos e haacute agora uma alturaem que sabemos preservarHaacute aqui um potencial turiacutestico

enorme Os accedilorianos adapta-ram-se muito bem a esta novarealidadez

MARLA PINHEIRO

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y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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Tempo de Baleeiros

da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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Tempo de Baleeiros

pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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Tempo de Baleeiros

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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Tempo de Baleeiros

EDICcedilAtildeO ESPECIALNesta ediccedilatildeo do Tribuna

das Ilhas integramos um su-plemento dedicado agrave balea-ccedilatildeo na ilha do Faial o qualpretende ser um contributopara a informaccedilatildeo da socie-dade ao niacutevel da temaacuteticaque aborda mas tambeacuteme fundamentalmente umveiacuteculo para a preservaccedilatildeoda memoacuteria colectiva quea todo o momento necessita

ser alimentada e que por sisoacute e quando bem presentese traduz numa homena-gem agraves muitas geraccedilotildeesde intervenientes na activi-dade bem como agraves suasfamiacuteliasPara aleacutem da evocaccedilatildeo dahistoacuteria da baleaccedilatildeo e dosseus contornos o suple-

mento aborda um conjuntode mateacuterias associadasnomeadamente no que res-peita agrave inventariaccedilatildeo recu-peraccedilatildeo e conservaccedilatildeo dopatrimoacutenio moacutevel e imoacutevelligado ao que era localmen-te designado como ldquopesca agravebaleiardquo bem como a ldquonovainduacutestria baleeirardquo que des-de haacute alguns anos atrai aos Accedilores alguns milhares de

turistas-baleeiros que demaacutequina fotograacuteca em pu-nho caccedilam imagens dosbelos exemplares de cetaacute-ceos que podem ser obser-vados no mar dos AccediloresEste seraacute o primeiro de umaseacuterie de suplementos queo Tribuna das Ilhas preten-de editar nos tempos mais

proacuteximos com o objectivode contribuir para o conhe-cimento e divulgaccedilatildeo de umconjunto de temas que con-sideramos pertinentes paraos nossos leitores podendoconsubstanciar-se a meacutedioprazo quem sabe numa

revista com ediccedilatildeo perioacutedi-ca e que aborde de formaaprofundada assuntos quemerecem tratamento jorna-liacutestico e que nem sempresatildeo compatiacuteveis com ascaracteriacutesticas de um jornalsemanalz

Para aleacutem da evocaccedilatildeo da histoacuteriada baleaccedilatildeo e dos seus contornos osuplemento aborda um conjunto demateacuterias associadas nomeadamente

no que respeita agrave inventariaccedilatildeorecuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo do

patrimoacutenio moacutevel e imoacutevel ligado aoque era localmente designado comoldquopesca agrave baleiardquo bem como a ldquonova

industria baleeirardquo ()

NOTA DE ABERTURA

y

FONTE COLECCcedilAtildeO POSTAL RUSPOLIampSOULAIRE

VIGIA A PARTIR DO MASTRO DA LANCHA A MOTOR SEGUIAM983085SE OS SOPROS DO CACHALOTE

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y O tempo dos Baleeirostempo de gente rija de tecircm-pera homens e mulheresque pela forccedila do trabalhomanual venciam as barreirasda distacircncia das difculdades

impostas pela natureza quedia apoacutes dia foram construindoestas ilhas dandos-lhe forma euma histoacuteria Esta eacute a memoacute-ria que devemos recuperar econtar O tempo da baleaccedilatildeotem cheiros tem lendas tem

anguacutestias e juacutebilos tem um le-gado e tem naturalmente umpassado um presente e umfuturo

Os primeiros relatos de cap-turas de baleias no mar dos Accedilores remontam ao seacuteculoXVI apesar de soacute no inicio doseacuteculo XVIII com a chegadados navios baleeiros podemosafrmar que o tempo dos bale-

eiros accedilorianos teve o seu ini-cio Natildeo podemos pelo relatode Gaspar Frutoso assegurarque a baleaccedilatildeo nos Accediloresse tenha iniciado na nossa

ilha mas podemos com todaa certeza afrmar que o Faial

foi o berccedilo desta atividade noarquipeacutelago (aliaacutes em todo oterritoacuterio nacional) ateacute ao iniacuteciodo seacuteculo XX mantendo umaatividade intensa e regular ateacute1984 fm do 2ordm periacuteodo da

caccedila agrave baleiaEacute esta Histoacuteria que necessitaser relatada e colocada no seudevido lugar A ilha do Faialtem uma relaccedilatildeo muito proacutepria

no contexto accediloriano com oMar pelo que assume particu-lar pertinecircncia a recuperaccedilatildeode tatildeo relevante memoacuteria paraque a possamos entender eestender aos nossos flhos e

netos Eacute importante que as ge-raccedilotildees vindouras saibam o tra-balho que muitos tiveram paraconstruir cada pedaccedilo destaterra Nesta senda surge estarevista incluiacuteda numa ediccedilatildeo

do Jornal ldquoTribuna das Ilhasrdquoe que esperemos decirc o mote agravepublicaccedilatildeo da Histoacuteria da ba-leaccedilatildeo na ilha do Faial e nos Accedilores

BALEACcedilAtildeOPELAacuteGICADE 1740 A 1920

Em 1765 teratildeo comeccedilado aaportar ao Faial os primeirosnavios baleeiros provenientesdos Estados Unidos mais con-cretamente da cidade de NewBedford e da ilha de Nantucket(ilha atlacircntica que correspondea um dos catorze condados do

estado americano de Massa-chusetts) os quais praticavama designada baleaccedilatildeo pelaacutegi-ca ou em ldquomar abertordquo Estesnavios para aleacutem de transpor-tarem as pequenas canoas

utilizadas para a caccedila propria-mente dita possuiacuteam tambeacutema capacidade de desmancharos grandes cetaacuteceos derretera gordura e proceder ao seuarmazenamento Ao longo dos seacuteculos XIX e iniacute-cios de XX fundamentalmenteentre setembro e dezembroera frequente encontrar anco-rados na baiacutea da Horta entre10 e 15 navios dedicados agraveatividade baleeira os quais

permanecendo em meacutediacerca de 5 semanas descar-regavam o oacuteleo processadoreabasteciam de consumiacuteveise descansavam as tripulaccedilotildeesEste era tambeacutem o momento

BALEEIRAS ndash Entrou a barca baleeira portugueza Firmesa

trazendo 37 barris drsquoazeite egrave pouco mas sempre teve me-

lhor pesca do que o patacho Julia e a barca americana Col-

chis da casa do sr Dabney Infelizmente a fortuna natildeo que-

rido ajudar ultimamente as nossas emprezas da pesca dabalea que tatildeo grandes interesses podia dar a este districto

In O Fayalense de 3 de novembro de 1867

FONTE BIBLIOTECA PUacuteBLICA E ARQUIVO REGIONAL JOAtildeO JOSEacute DA GRACcedilA

BALEACcedilAtildeO PELAacuteGICA NAVIOS BALEEIROS NORTE AMERICANOS NO PORTO DA HORTA INIacuteCIOS DO SEacuteCULO XX

A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL

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Tempo de Baleeiros

para o recrutamento em re-gra clandestino de tripulanteslocais que granjearam a famade marinheiros e baleeiros dequalidade excecional Este pro-cesso de engajamento teraacute emboa verdade marcado o iniacuteciode uma primeira vaga de emi-graccedilatildeo para os Estado Unidos

da Ameacuterica criando-se umaforte ligaccedilatildeo entre a Horta e aNova Inglaterra que mais tardetraria frutos e a partir do Vulcatildeodos Capelinhos viria a permitiruma segunda vaga de emigra-ccedilatildeoDurante este periacuteodo destaca--se no apoio agrave frota norte ame-

ricana a famiacutelia Dabney quepara aleacutem do apoio logiacutesticoprocedia agrave aquisiccedilatildeo do oacuteleode baleia seu armazenamentoprovisoacuterio e posterior exporta-ccedilatildeo para os Estados Unidos da AmeacutericaImporta aqui referir que empleno seacuteculo XIX verica-se

tambeacutem o surgimento de umafrota baleeira pelaacutegica portu-guesa que operava fundamen-talmente ao largo de PortugalContinental e dos seus entatildeoterritoacuterios ultramarinos Em me-ados deste seacuteculo parte signi-cativa desta frota teria registo

no Porto da Horta o que bemevidencia o papel desta ilhano contexto da baleaccedilatildeo accedilo-riana portuguesa e ateacute globalNatildeo obstante e por razotildees deordem vaacuteria ainda antes doiniacutecio do seacuteculo XX esta frotatinha jaacute desaparecidoEm 1921 o Porto da Horta re-gista a uacuteltima escala de umnavio baleeiro americano pon-

do-se desta forma m a umaatividade que foi proacutespera du-rante mais de cem anos

BALEACcedilAtildeOCOSTEIRADE 18329830851984

Em 1832 teratildeo arreado pela

primeira vez nos Accedilores a par-tir da ilha do Faial os primeiros

FONTE FOTO JOVIAL

ANOS 50 O POSTO DE VIGIA DO COSTADO DA NAU NA COSTA OESTE DA ILHA DO FAIAL

AUTOR DESCONHECIDO FOTO DISPONIBILIZADA POR CARLOS LOBAtildeO

TENSAtildeO O MESTRE JOSEacute RUFINO DURANTE UM EPISOacuteDIO DE CACcedilA Agrave BALEIA

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Tempo de Baleeiros

botes baleeiros afetos ao queseria designado por baleaccedilatildeocosteira Esta baleaccedilatildeo melhoradaptada agraves caracteriacutesticas daRegiatildeo e dos seus mares teraacutesido numa primeira fase em-preendida pela famiacutelia Dabney

embora por falta de sucessoinicial por um curto periacuteodode tempo A baleaccedilatildeo costeiraviria a ser retomada com su-cesso entre 1850 e 1860 maisuma vez pelas matildeos da famiacuteliaDabney mas desta feita emparceria com a famiacutelia Bensauacute-de As embarcaccedilotildees utilizadas edesignadas por canoas cor-respondiam a adaptaccedilotildees dos

modelos utilizados nos naviosamericanos da baleaccedilatildeo pelaacute-gica embora melhor adapta-das agraves caracteriacutesticas do ocea-no contiacuteguo agraves ilhas e tipologiade caccedila pretendida Cada em-barcaccedilatildeo propulsionada agrave velae a remos tinha uma tripulaccedilatildeoque era composta em regrapor pelo menos 7 homenssendo um o ocial ou mestre

um arpoadortrancador sendoos restantes marinheirosrema-doresEsta forma de baleaccedilatildeo de-senvolvida ateacute 1987 ano emque foi arpoado o uacuteltimo exem-plar de cetaacuteceo teve um enor-me signicado econoacutemico e

social em praticamente todasas ilhas dos Accedilores com par-ticular destaque para as ilhasdo Faial e do Pico Rera-se

que a caccedila agrave baleia para amaioria dos baleeiros sendocomplementar agrave sua atividadeprossional era fundamental

agrave subsistecircncia dos respetivosagregados familiaresDiretamente associada agrave caccedilaestava a atividade de proces-samento das carcaccedilas Em

terra os cetaacuteceos eram des-manchados para a extraccedilatildeo dooacuteleo do acircmbar-gris das bar-batanas e da carne sendo osossos reduzidos a farinha Ateacuteagrave deacutecada de trinta do seculoXX a transformaccedilatildeo da gordu-ra animal em ldquoazeite de baleiardquoera realizada artesanalmentepelos proacuteprios baleeiros atra-veacutes de um processo conhecidocomo ldquoa fogo diretordquo em estru-turas designadas como ldquotrai-

oacuteisrdquo constituiacutedas no essencialpor duas caldeiras adossadasassentes numa fornalha A par-tir do primeiro quarto do seacuteculopassado este processamentopassou a ser progressivamen-te feito em unidades fabrispara o efeito construiacutedas sen-do o derretimento realizado porrecurso a enormes autoclavesalimentados a vaporEm 1984 com a proibiccedilatildeo dacaccedila agrave baleia em Portugal foidenitivamente abandonada a

atividade tendo surgido maistarde aquela que passaremosa chamar ndash ldquoA Nova Industriardquotambeacutem ela ligada aos grandescetaacuteceos mas agora numa oacuteti-

ca de estudo e de observaccedilatildeo

A NOVA INDUacuteSTRIACom o nal da caccedila agrave baleia

houve um interregno na utiliza-ccedilatildeo comercial destas espeacuteciesCuriosamente foi uma inter-rupccedilatildeo de pouca dura O en-genho do homem adapta-se agravesnovas situaccedilotildees e nos Accediloresinvariavelmente conseguem-

-se transformar adversidadesem oportunidades Apenas meia duacutezia de anosapoacutes o nal caccedila pela matildeo do

cidadatildeo francecircs Serge Viallelle

FONTE COLECCcedilAtildeO POSTAL RUSPOLI amp SOULAIRE

COSTADO DA NAU ESTA VIGIA FICAVA NA PONTA OESTE DA ILHA DO FAIAL

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REBOQUE AUXILIADOS PELA WALQUIacuteRIA OS BOTES PREPARAM983085SE PARA MAIS UMA REGATA

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Tempo de Baleeiros

ldquoA procissatildeo chegou-se ao bote silencio-

samente sem barulho de peacutes apenas um

murmuacuterio Na luz jaacute fraca a cruz natildeo era

mais que uma silhueta os veacuteus brancos

e diaacutefanos na cabeccedila das senhoras e das

meninas demarcavam-se com uma lumino-

sidade proacutepria Quando a imagem da santa

foi trazida e pousada no leito da popa ao

lado do logaieacutete os sussurros deram lugar

ao silecircncio total O mestre postou-se diante

dela por momentos muito direito de laacutebios

cerrados Com as matildeos abertas e juntas

pegou na linha da selha da popa deu-lhe

uma volta em torno do logaieacutete dobrou-a e

passou-a sobre os ombros da imagem si-

mulando um noacute ligeiro Depois vergou-se

riacutegido e beijou-lhe as vestes e falando su-

avemente como se a sua voz interior fosse

mais audiacutevel disse

ldquoNossa Senhora da Guia acompanha-nos Leva-nos em seguranccedila Ajuda-nos a encontrar baleias Protege-nos dos pe-

rigos da caccedilada Vela por noacutes no regresso agraves famiacutelias que nos esperamrdquo

Depois calou-se ainda de peacute frente agrave imagem As laacutegrimas corriam-lhe pela cara abaixo sobre a pele morena crestada

pelo marrdquo

Esta transcriccedilatildeo do livro ldquoBaleia ndash Os Baleeiros dos Accediloresrdquo de Bernard Venables sendo um relato de uma cena ob-

servada na segunda metade da deacutecada de sessenta do seacuteculo passado ilustra bem a intensidade da religiosidade dos

homens envolvidos na caccedila agrave baleia Na verdade era frequente as embarcaccedilotildees serem batizadas com o nome de uma

Santa ou de um Santo de particular devoccedilatildeo entre os mariacutetimos sendo denominador comum o apadrinhamento por um

conjunto alargado de Santas (os) cujas imagens eram axadas no interior da proa das canoas Em terra nos portos deorigem era tambeacutem comum a existecircncia de nichos onde eram expostas as imagens de Santos (as) de devoccedilatildeo de que

satildeo exemplo Nossa Senhora do Socorro na freguesia do Salatildeo Senhora de Santana no Capelo ou Satildeo Pedro

OS BALEEIROS E A RELIGIOSIDADE

e sua esposa a picarota Ale-xandra comeccedilou a preparar-seuma nova atividade a obser-vaccedilatildeo de cetaacuteceos Utilizandoos meacutetodos e teacutecnicas que an-tes serviam para perseguir oscachalotes nasceu na ilha do

Pico uma nova atividade querapidamente se estendeu agravesilhas em que o potencial eramais evidenteHoje haacute duas dezenas de pe-quenas embarcaccedilotildees quetodos os dias partem em dire-ccedilatildeo aos grupos de golnhos

baleias e cachalotes No totalao longo de todo o ano duasdezenas e meia de espeacuteciessatildeo observadas por 50 mil vi-

sitantes que pagam em meacute-dia 50 euros Portanto hojeos cetaacuteceos valem dezenasde milhares de viagens aeacute-reas estadias e alimentaccedilatildeonos Accedilores Hoje a atividade

de observaccedilatildeo de cetaacuteceos jaacuterende o equivalente aos anosaacuteureos da atividade de caccedila

Tambeacutem muito contribuiu parao sucesso o facto do Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores ter acompanhado odesenvolvimento da atividadeGraccedilas a isso e ao empenhodo Governo rapidamente sedesenvolveu um coacutedigo deconduta que em 1999 foi trans-formado na primeira legislaccedilatildeode observaccedilatildeo de cetaacuteceos daEuropa Hoje qualquer inter-ferecircncia com os cetaacuteceos dos Accedilores implica conhecimento

enquadramento e autorizaccedilatildeoexpressa das autoridades am-bientais marinhasPara aleacutem da simples observa-ccedilatildeo recorrem ao nosso arqui-peacutelago diversas das melhores

equipas de cinema documentaldo mundo para recolher ima-gens destes magniacutecos ani-mais oceacircnicos BBC NationalGeographic e NHK satildeo apenasalgumas das grandes empre-sas televisivas que anualmente

submetem pedidos para nosmares dos Accedilores lmar os

maiores animais jamais exis-tentesPara aleacutem do fasciacutenio dos proacute-prios animais e do mar hojesubsiste tambeacutem uma curio-sa induacutestria relacionada como patrimoacutenio baleeiro Depoisde um estiacutemulo dado pelo Go-verno hoje antigas faacutebricaslanchas e botes satildeo perma-

nentemente conservados etornados testemunhos bem vi-vos de outros tempos e outrasvivecircncias Essas faacutebricas satildeohoje nuacutecleos expositivos e aslanchas e botes satildeo envolvidos

em animadas competiccedilotildees en-tre os descendentes das anti-gas companhas Mais do que oresultado comercial que existeo importante eacute o impacto socialao niacutevel da memoacuteria culturalcoletiva e do divertimento luacutedi-

co contextualizadoHoje nos Accedilores as atividadesderivadas dos cetaacuteceos comespecial ecircnfase para a obser-vaccedilatildeo de cetaacuteceos tem umsignicado econoacutemico de mais

de duas dezenas de milhotildeesde euros Este eacute um exemplode como os accedilorianos se sou-beram adaptar aos temposmodernos e em que apesar donosso diminuto contributo para

o problema inicial optamospelo desenvolvimento susten-taacutevel e com enormes dividen-dos comerciaisz

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Tempo de Baleeiros

OS DABNEY E A BALEACcedilAtildeO

Oriunda dos Estados Unidosda Ameacuterica mais concretamentede Massachusetts a famiacutelia Da-bney instalou-se na no Faial em1804 (para alguns teraacute sido em1806) apoacutes a nomeaccedilatildeo de JohnBass Dabney pelo presidenteThomas Jefferson como CocircnsulGeral dos EUA no FaialDois descendentes de John BassDabney exerceram sucessiva-mente as funccedilotildees consularesapoacutes a sua morte seu lho Char -les William Dabney e posterior-mente o neto Samuel Willis Da-bney ateacute janeiro 1892 momento

em que a famiacutelia acaba por aban-donar o Faial A tiacutetulo de curiosi-dade importa referir que a des-pedida da famiacutelia em causa apoacutes

88 anos de marcante presenccedilaempresaria social e cultural em1891 eacute marcada pela realizaccedilatildeode uma regata de botes baleeirosEm boa medida favorecida pelafunccedilatildeo consular a atividade em-presarial da famiacutelia foi de supre-ma importacircncia no contexto locale regional marcando aquele queseraacute um dos mais proacutesperos ci-clos econoacutemicos do FaialOs Dabney incidiram a sua di-

nacircmica comercial em produtoscomo a laranja e o vinho mastambeacutem no negoacutecio associadoagrave baleaccedilatildeo e neste fundamen-talmente a trecircs niacuteveis no apoio

logiacutestico agrave frota de embarcaccedilotildeesnorte-americanas dedicadas agravebaleaccedilatildeo pelaacutegica no Atlacircnticoque aportava ao Porto da Hortana aquisiccedilatildeo dos oacuteleos de baleiaprocessados e subsequente ex-portaccedilatildeo Esta atividade era par-ticularmente importante agrave datana medida em que permitia aosnavios baleeiros americanos oescoamento do produto obtidocom lucro sem necessidade deregresso aos portos de origem Enalmente de forma perfeitamen-te inovadora a formaccedilatildeo de umaarmaccedilatildeo de pequenas embarca-ccedilotildees (botes baleeiros) dedicadasagrave baleaccedilatildeo costeira

A atividade empresarial desta fa-miacutelia acaba por entrar em decliacutenio

em nais do seacuteculo XIX com a

queda da produccedilatildeo de vinho e la-ranja pelo progressivo abandonoda baleaccedilatildeo pelaacutegica nos termosem que tinha ocorrido ateacute entatildeomas tambeacutem pelo aparecimentode outras proacutesperas empresas li-gadas aos mesmos ramos de ne-goacutecio de que satildeo exemplo a Ben-sauacutede Em paralelo o governoNorte Americano havia jaacute come-ccedilado a orientar o seu corpo con-

sular para a necessidade de natildeoserem acumuladas pelos respeti-vos membros funccedilotildees consularese funccedilotildees empresariais z

y

BALEAS ndash Na manhatilde do dia 22 do cor-

rente appareceram ao norte drsquoesta bahia

alguns spermacettis Duas canocircas da

casa Dabney foram em sua perseguiccedilatildeo

e tiveram a felicidade de matar um que

foi conduzido para o Porto Pim onde se

estagrave derretendo Muita gente tem con-

corrido agravequelle sitio para o ver Nos dias

seguintes mais alguns peixes appare-

ceram na bahia mas quando as canocircas

foram em sua caccedila jaacute os natildeo avistaram

In O Fayalense de 25 de junho de 1871

FONTE BIBLIOTECA PUacuteBLICA E ARQUIVO REGIONAL JOAtildeO JOSEacute DA GRACcedilA

PORTO DA HORTA ndash O Atlantico de quinta-feira publica o

movimento mariacutetimo drsquoeste porto no anno ndo de 1871

que com a devida venia transcrevemos

laquoNo anno ndo de 1871 deram entrada na bahia da Horta

253 embarcaccedilotildees com 93000 toneladas 94 navios eram

portuguezes 50 inglezes 79 americanos 15 francezes

4 italianos 3 allematildees 1 hespanhol 1 liberiano 1 norue-

guez 2 suecos 2 belgas e 2 brazileiros Entre estes in-

cluem-se 32 vapores mercantes e 13 de guerra e 42 bale-

eiras americanas as quaes descarregaram 363 818 litros

drsquoazeite de spermacetti e de balea egual a 381627 kilos

do mesmo Em 1870 so deram entrada 30 baleeiras asquaes apenas descarregaram 115523 litros drsquoazeite egual

a 157466 kilosraquo

In O Fayalense de 7 de Janeiro de 1872

FONTE BIBLIOTECA PUacuteBLICA E ARQUIVO REGIONAL JOAtildeO JOSEacute DA GRACcedilA

O TUFO ENCOSTADA AO MONTE DA GUIA FORMOU983085SE A PRIMEIRA ESTACcedilAtildeO DE APOIO Agrave BALEACcedilAtildeOCOSTEIRA NO FAIAL

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Tempo de Baleeiros

Na ponta Oeste da ilha do

Faial junto ao Vulcatildeo dos Ca-pelinhos encontramos umapequena Calheta formadahaacute centenas de anos por umaescoada laacutevica A Ponta Com-prida assim descrita na car-tograa do seacuteculo XVIII pro-porcionava um abrigo naturalnuma aacuterea de pesca costeirafrequentada desde as primei-ras deacutecadas do povoamentoda ilha Aberto na rocha entre

as faleacutesias e o mar o porto doComprido era um lugar isola-do ideal na partida do Homempara o combate com o Cacha-lote A curta distacircncia cavam

as aacuteguas profundas que limi-tam a ilha do Faial onde seacumulam as presas marinhasque atraem grandes preda-dores como eacute o caso dos ca-chalotes As altas faleacutesias doCostado da Nau de onde seperscrutavam os movimentosdas embarcaccedilotildees vindas deOeste permitiam um longo al-cance aos vigias da baleia euma comunicaccedilatildeo visual comas vigias instaladas na CostaNorte da Ilha nos Cedros e no

Salatildeo em conexatildeo com a vigiado Alto das Concheiras Laacute embaixo a menos de 100 metrosdo mar os baleeiros reuniam--se durante os meses de Ve-ratildeo como um exeacutercito sitiadoem habitaccedilotildees de pedra cober-tas com palha de trigo manten-do as suas canoas varadas narampa do porto O nuacutecleo habi-tacional do porto do Comprido

alojava baleeiros das ilhas doFaial do Pico e de Satildeo JorgeNeste aspecto aparentementesingular o porto do Compridopoderia ser comparado comoutros postos baleeiros espa-lhados por zonas inoacutespitas doglobo como a ilha de Spitsber-gen no seacuteculo XVII onde osbaleeiros ingleses e holande-ses conviviam durante o Veratildeo

ou as estaccedilotildees baleeiras daGeoacutergia do Sul no Antaacutertico

AS FASES DA

BALEACcedilAtildeOCOSTEIRA NA ILHADO FAIAL E O CASODO PORTO DOCOMPRIDO

A caccedila agrave baleia no porto doComprido ter-se-aacute desenvolvi-do entre 1884 e 1957 tornan-do-se um posto baleeiro cadavez mais importante no conjun-

to das ilhas do grupo centralEste periacuteodo pode ser divididoem trecircs fases sucessivas A partir da deacutecada de 1870com a crise do comeacutercio deexportaccedilatildeo do vinho e da laran- ja a afectar o uxo comercial

do porto da Horta o negoacutecioda baleaccedilatildeo costeira torna-seum foco de entusiasmo paraas empresas locais Nestecontexto a casa comercial

DabneyampSons experimenta-da na baldeaccedilatildeo do oacuteleo dosnavios baleeiros norteamerica-nos e em condiccedilotildees propiacuteciaspara importar canoas baleeiras

y

PORTO DO COMPRIDOUM POSTO BALEEIRO (1884-1957)

FONTE ACERVO DOCUMENTAL DAS OBRAS PUacuteBLICAS DO DISTRITO DA HORTA

VARADOURO PLANO DE REPARACcedilAtildeO DO PORTO DO COMPRIDO 1927

FONTE COLECCcedilAtildeO DO MUSEU DO PICO

ARREADA EM POUCOS MINUTOS DEPOIS DE DADO O SINAL TODOS OS BOTES BALEEIROS ESTAVAM NA AacuteGUA

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Tempo de Baleeiros

antecipa-se na criaccedilatildeo de infra-

estruturas de apoio agrave baleaccedilatildeocosteira Em 1884 Samuel Da-bney pede autorizaccedilatildeo para aconstruccedilatildeo de uns ldquo turcos demadeira junto agrave costa no localdenominado ndash o Comprido -[hellip] para poderem arrear asembarcaccedilotildees empregues napesca da baleardquo(1) As baleiascaccediladas a partir do porto doComprido seriam rebocadas aremos ou com o auxiacutelio de umvapor do porto da Horta ateacuteagrave estaccedilatildeo de traioacuteis de PortoPim o ldquoTufordquo onde se proce-dia ao desmancho do cachalo-te e se derretiam os toucinhosem grandes caldeiros de ferroEsta primeira fase de baleaccedilatildeocosteira estaacute contudo deter-minada pelos poucos meios eo insucesso na maioria de ten-tativas de captura dos cacha-lotes tal como nos indicam asnotiacutecias contemporacircneas Agraves

canoas de terra uniam-se eminteracccedilatildeo ou concorrecircncia ascanoas dos navios baleeirosnorteamericanos que perma-neciam ao largo das ilhas doTriacircngulo Apesar das incer-tezas a baleaccedilatildeo no porto doComprido prevaleceu duranteas deacutecadas seguintesUma segunda fase situadaentre os anos 20 e os anos 40

do seacuteculo XX caracteriza-se

pela concentraccedilatildeo de funccedilotildeesda baleaccedilatildeo costeira no portodo Comprido Por outras pala-vras era no porto do Compridoque arreavam os botes bale-

eiros - auxiliados por lanchas

a motor a partir dos anos 20 ndash e depois de capturados oscachalotes seriam encalhadose desmanchados na zona doporto Segundo uma inspecccedilatildeofeita pela Capitania do porto daHorta em 1928 era a Socieda-de Baleeira Aurora que possuiacuteano porto do Comprido ldquoumacasa com duas caldeiras e res-pectivas fornalhas e mais ape-trechos para o derretimento dooacuteleo achando-se tudo em bomestado e regularmente instala-dordquo(2) De resto esta fase estaacute

marcada pela proliferaccedilatildeo depequenas armaccedilotildees ou socie-dades baleeiras em vaacuterios por-tos da Ilha (Ribeirinha CedrosSalatildeo Castelo Branco) cadauma com os seus apetrechose instalaccedilotildees ou em sociedadecom outras armaccedilotildees Na ilhado Faial existiam em simultacirc-neo entre cinco a oito armado-

res da ldquopesca da baleiardquo entre1920 e 1930 Durante a eacutepoca

de caccedila o porto do Comprido jaacute seria frequentado por setecanoas baleeiras algumas dasquais permaneciam durantetodo o ano Com a complexi-caccedilatildeo da actividade baleeirasatildeo tambeacutem mais notaacuteveis asintervenccedilotildees das autoridadesmariacutetimas na vida do postobaleeiro e os requerimentos

das instituiccedilotildees de poder localcomo a Junta de Freguesia doCapelo para a realizaccedilatildeo deobras de construccedilatildeo e repara-ccedilatildeo do porto

FASE INDUSTRIAL

Mas se existe periacuteodo em queo porto do Comprido se con-verte num destacado postobaleeiro em toda a sua espe-cicidade eacute durante a fase in-

dustrial da baleaccedilatildeo na ilha doFaial entre 1940 e 1957 Nosanos convulsos da 2ordf Guerra

Mundial a forte subida do pre-ccedilo do oacuteleo de cachalote incen-tivou o crescimento da activi-dade baleeira nos Accedilores e dailha do Faial em particular Asobras para o desenvolvimentodo porto do Comprido estavamno centro do debate Com aconstruccedilatildeo das Faacutebricas da

Baleia de Porto Pim (1942) eSatildeo Roque (1944) e a expec-tativa de dobrar a produccedilatildeode oacuteleo atraveacutes do processa-mento industrial do cachaloteera necessaacuterio optimizar ascondiccedilotildees do varadouro ondeestacionavam os botes bale-eiros do Faial e do Norte doPico Os projectos de constru-ccedilatildeo de 1942 e 1944 previam

a construccedilatildeo de uma muralhade defesa do porto e um caisacostaacutevel aleacutem de um nivela-mento da rampa de varagemcom mais de 110 metros Noentanto estes projectos nun-ca viriam a ser concretizados

Durante este periacuteodo a rampade varagem chegou a ter 18botes baleeiros varados e 7lanchas a motor amarradas aolargo condiccedilotildees que exigiamo envolvimento de no miacutenimo200 indiviacuteduos na actividade

baleeira As armaccedilotildees bale-eiras em menor nuacutemero masmelhor organizadas recebiaminstruccedilotildees relativas agrave saiacuteda co-ordenada dos botes baleeiros

para o mar e o trabalho colec-tivo dos vigias pertencentes adiferentes armaccedilotildees baleeirasNa retaguarda da actividadeos armazeacutens da ReisampMartinsna Horta prestavam todo o tipode fornecimentos agraves embarca-ccedilotildees estacionadas no Capelolinha de baleia tintas oacuteleo delinhaccedila lanccedilas e arpotildees entreoutros eram enviados regular-

FONTE COLECCcedilAtildeO DO MUSEU DO PICO

PORTO DO COMPRIDO ANTES DA SAIacuteDA OS BOTES ERAM CUIDADOSAMENTEINSPECCIONADOS

BALEEIROS NO CAPELO

A tradiccedilatildeo oral recorda ldquoo Compridordquo como um lugar de alegriaonde os baleeiros celebravam a vida de Veratildeo em comunidadeEnquanto o foguete natildeo estalava danccedilava-se a Chamarritafestejava-se o Satildeo Pedro ou assistia-se agrave festa de Santana Ospicarotos protagonistas da migraccedilatildeo sazonal dispuseram demeios para transportar consigo as mobiacutelias os animais domeacutes-

ticos as famiacutelias inteiras Agrave noite tambeacutem se pescava de diasalgava-se o peixe Balear no Comprido transformava o quoti-diano dos homens que por norma nunca seriam baleeiros atempo inteiro

Fonte Foto Fotojovial

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Tempo de Baleeiros

CACcedilA Agrave BALEIA NO PORTO DO COMPRIDO

A partir de determinada eacutepoca do ano os botes baleeiros deixavam de ldquoarrearrdquo na cidade da Horta e concentravam-se nos postosbaleeiros do Salatildeo e do porto do Comprido A actividade no porto do Comprido era sobretudo inconstante podia haver 4 a 5 diasconsecutivos de caccedila mas tambeacutem uma semana inteira agrave espera que os vigias dessem o sinal de ldquoarreadardquo

mente para o posto baleeiro Aaldeia dos baleeiros era manti-da segundo uma organizaccedilatildeofamiliar e com o apoio de co-merciantes locais da freguesiado Capelo que asseguravamo seu aprovisionamento Sem

duacutevida foram nos derradeirosanos da baleaccedilatildeo no Compridoque mais se caccedilou agrave baleia ede forma mais ecaz com uma

forte concentraccedilatildeo nos mesesde Veratildeo (cfr Graacuteco)

Em Setembro de 1957 quan-do se iniciaram as erupccedilotildees noVulcatildeo dos Capelinhos o portodo Comprido foi imediatamenteabandonado Em poucos me-ses todos os anos de histoacuteria

deste posto baleeiro seriamabruptamente consumidos pe-las cinzas deixando-nos umapaisagem desolada escureci-da pelo Vulcatildeo z

Notas

(1) Fundo da Capitania do Porto da

Horta Arquivo Histoacuterico da Marinha

(2) Idem

OS HOMENS DA BALEIA

Fonte Foto Maacuterio Ruspoli Les Hommes de la Baleine (1956)

No Veratildeo de 1956 o italiano Maacuterio Ruspoli propocircs-se reali-zar um documentaacuterio sobre os uacuteltimos caccediladores de baleia dotempo de Moby Dick Depois de conseguir um empreacutestimo de

2 milhotildees de francos concedido pelo milionaacuterio grego AristoteOnassis M Ruspoli reuniu uma talentosa equipa composta porJacques Soulaire e Gilbert Rouget e instalou-se na casa dos fa-roleiros dos Capelinhos Durante dois meses a equipa recolheuas imagens e os sons uacutenicos da actividade baleeira no porto doComprido Les hommes de la Baleine eacute um precioso documentorealista e liacuterico sobre a baleaccedilatildeo na ilha do Faial

BALEEIROS NA AMEacuteRICACom a erupccedilatildeo do vulcatildeo dosCapelinhos e a abertura dasfronteiras norte americanasmuitos jovens baleeiros se-

guiram o rumo da emigraccedilatildeoconservando a memoacuteria dostempos aacuteureos e diceis da ba-leaccedilatildeo

Fonte foto Colecccedilatildeo Privada de Manuela Rosa

FRANCISCO HENRIQUESOMA

FONTE COLECCcedilAtildeO POSTAL RUSPOLI amp SOULAIRE

TRANCAR JOSEacute RAFAEL PREPARA983085SE PARA ARPOAR UM CACHALOTE

Fonte Colecccedilatildeo Documental ReisampMartins Lda ndash Faacutebrica da Baleia de Porto Pim

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Tempo de Baleeiros

Na deacutecada de trinta do seacute-culo XX durante o auge dainduacutestria baleeira nos Accediloresforam constituiacutedas vaacuterias em-presas nas diversas ilhas paraa exploraccedilatildeo e comercializaccedilatildeodos produtos obtidos a partir

dos cachalotes No Faial foramconstituiacutedas trecircs sociedadesa Reis amp Martins Lda arma-ccedilatildeo baleeira e exportadoresde oacuteleo a Companhia Bale-eira Faialense Lda armaccedilatildeobaleeira e a Sociedade Indus-trial Mariacutetima Accediloriana Lda(SIMAL) ligada agrave induacutestriatransformadora A Reis amp Mar-tins Lda constituiacuteda em 1945adquiriu um armazeacutem na RuaNova na cidade da Horta queservia como casa de botes eocina de carpintaria marce-naria tanoaria ferraria e mecacirc-nica ofiacutecios essenciais para aconstruccedilatildeo e manutenccedilatildeo dasembarcaccedilotildees baleeiras (lan-chas a motor e botes) e res-pectiva palamenta Depois dom da actividade baleeira nos

Accedilores no iniacutecio dos anos 80do seacuteculo XX o armazeacutem daRua Nova e grande parte do

seu espoacutelio foram parcialmen-te mantidos ateacute agrave actualidadeembora seja notoacuteria a degrada-ccedilatildeo tanto do imoacutevel como demuitos dos objectos e equipa-mentos aiacute armazenadosPerante o risco seacuterio de esteespoacutelio se perder e dada a im-portacircncia deste espoacutelio para oestudo da baleaccedilatildeo no Faial enos Accedilores considerou-se serurgente efectuar o seu resgate

levantamento e estudo destepatrimoacutenio garantindo assima sua preservaccedilatildeo Assim osactuais proprietaacuterios e herdei-ros da Reis amp Martins Lda

estabeleceram uma parceriacom o Observatoacuterio do Mar dos Accedilores (OMA) com o objectivode salvaguardar o patrimoacutenioexistente e integrar parte deleno museu da Faacutebrica da Baleiade Porto Pim

O projecto ldquoLevantamento dePatrimoacutenio Baleeiro e Dinami-zaccedilatildeo do Espaccedilo Expositivo

da Faacutebrica da Baleia de PortoPimrdquo iniciou-se em 2008 e em

2009 passou a ser co-nancia-do pela Direcccedilatildeo Regional daCultura (DRaC) que o consi-derou de ldquointeresse relevantepara a Regiatildeo e capaz de con-tribuir para o desenvolvimentoda poliacutetica cultural dos AccediloresrdquoEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinarias

equipamentos embarcaccedilotildeespalamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)

o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobrea induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiais

moacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Partedesse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo na

sua exposiccedilatildeo permanenteEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinariasequipamentos embarcaccedilotildees

palamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobre

a induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiaismoacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Parte

desse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo nasua exposiccedilatildeo permanente

y

PATRIMOacuteNIO BALEEIRO DA FASEINDUSTRIAL DA BALEACcedilAtildeO NO

FAIAL - RESGATE INVENTARIACcedilAtildeO ECONSERVACcedilAtildeO

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

RUA NOVA INTERIOR DO ESCRITOacuteRIO DOS ARMAZEacuteNS DA REIS amp MARTINS LDA

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Tempo de Baleeiros

INVENTAacuteRIO DOESPOacuteLIO REIS EMARTINS LDA

Os objectos encontrados foramanalisados e descritos quantoagraves caracteriacutesticas funcionaisde origem e agraves transforma-ccedilotildees eventuais que possamter sofrido ao longo do tempoSe alguns objectos tecircm umafunccedilatildeo oacutebvia (pe botes e suapalamenta arpotildees etc) outroshaacute cuja sua utilidade eacute difiacutecil dedescodicar A identicaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo funcional dos ob- jectos encontrados foi consubs-tanciada por fontes documen-tais quando existentes eoupor depoimentos orais fonte de

informaccedilatildeo uacutenica e insubstituiacute-vel para a compreensatildeo abran-gente da actividade industrialem estudo A identicaccedilatildeo de cada bem

foi registada em cha proacutepria

onde os elementos considera-dos adequados para o seu re-conhecimento foram descritosem detalhe A cha inclui uma fotograa do

objecto o seu nuacutemero de in-

ventaacuterio a sua funccedilatildeo originala categoria a que pertence oseu estado de conservaccedilatildeo adata do inventaacuterio e a referecircn-cia das fotograas existentes

desse objectoOs bens inventariados foramclassicados em categorias

consoante o tipo de colecccedilatildeo esuas caracteriacutesticas (tipologia) Assim optou-se por classicaacute--los em classes segundo asua funccedilatildeo original e em sub-classes que correspondemao local ou agrave infra-estrutura aque pertenciam (ex Selhandashde--linha Classe Palamenta Sub-classe Bote Baleeiro) A inventariaccedilatildeo individual de

cada peccedila permitiu a criaccedilatildeode um inventaacuterio fotograacuteco e

de uma lista geral de inventaacute-rio onde constam todas as 468peccedilas resgatadas ateacute ao mo-mento O passo seguinte con-sistiu na conservaccedilatildeo e restau-ro dos objectos classicados

As intervenccedilotildees foram criterio-samente efectuadas para natildeocomprometerem a constituiccedilatildeooriginal das peccedilas Aspiraccedilatildeo lavagem restaurocom oacuteleo e tratamento contra

pragas foram as operaccedilotildeesadoptadas para as peccedilas demadeira As peccedilas de metal a maioriacom niacuteveis de oxidaccedilatildeo con-sideraacuteveis foram objecto detratamentos especiacutecos adap-tados a cada casoz

FONTE OMA

SALVAGUARDA CLASSIFICACcedilAtildeO DAS 468 PECcedilAS INVENTARIADAS ATEacute AO MOMENTO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

OBJECTOS983085 EXEMPLARES DO ESPOacuteLIO RESGATADO DOS ARMAZEacuteNS REIS E MARTINS

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Tempo de Baleeiros

y Em 2010 o OMA estabe-leceu um contrato de coope-raccedilatildeo teacutecnica com a DirecccedilatildeoRegional da Cultura (DRaC)com o objectivo de inventariaro patrimoacutenio baleeiro imoacutevel detodo o arquipeacutelago A execuccedilatildeo

do projeto foi assegurada poruma equipa multidisciplinar naaacuterea da investigaccedilatildeo histoacuterica

arquitectura e fotograa pro-ssional A recolha preacutevia da

informaccedilatildeo foi o ponto de par-tida para um trabalho de cam-po que decorreu entre os me-ses de Junho e Dezembro de2011 Foram inventariados os

antigos complexos baleeirospostos baleeiros e varadourosbaleeiros rampas de varagemdas embarcaccedilotildees rampas dealagem de cachalotes casas

de botes traioacuteis faacutebricas deprocessamento de cachalotese plataformas de desmancho

vigias residecircncias sazonaiscarpintarias ocinas arma-zeacutens entre outrosNa ilha do Faial foram inven-tariados 17 imoacuteveis (ver Fig5) identicados no Complexo

Baleeiro das Anguacutestias (localonde as armaccedilotildees baleeirastinham a sua sede com ar-mazeacutens faacutebricas de proces-samento de cachalotescasade caldeiros e estacionavam

as embarcaccedilotildees prontas parauma raacutepida arriada agrave baleia)nos Postos Baleeiros do Porto

do Comprido do Salatildeo (estesdois como local de estaciona-mento sazonal das armaccedilotildeesbaleeiras do Faial e do Pico) edo Varadouro Identicaram-se

ainda apesar de menos repre-sentativos na actividade baleirada Ilha do Faial os Varadourosdo Cedros Castelo Branco eRibeirinha todos com rampade varagem para estaciona-mento de botes baleeiros z

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIRO IMOacuteVEL DO FAIAL

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIO BALEEIRO IMOacuteVEL DOS ACcedilORES A ILHA DO FAIAL

MAacuteRCIA DUTRAOMA

COMPLEXTO BALEEIRO DAS ANGUacuteSTIAS1 983085 FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

2983085 ARMAZEacuteM DA REIS amp MARTINS LDA3 983085 CASA DE CALDEIROS DE PORTO PIM983080FAacuteBRICA VELHA9830814 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTOPOSTO BALEEIRO DO PORTO DOCOMPRIDO5 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO DO

COMPRIDO6 983085 VIGIA DO CAPELO

7 983085 VIGIA DO COSTADO DA NAU8 983085 RESIDEcircNCIAS SAZONAIS DO PORTODO COMPRIDO9 983085 CASA DOS BOTES DO PORTO DOCOMPRIDOPOSTO BALEEIRO DO SALAtildeO10 983085 RAMPA DE VARAGEM DO SALAtildeO

11 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DA ARMA983085CcedilOtildeES DO FAIAL

12 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DAS ARMA983085CcedilOtildeES DO PICO13 983085 VIGIA DOS CEDROS14 983085 POSTO BALEEIRO DO VARADOURO15 983085 VIGIA DO ALTO DAS CONCHEIRASVARADOURO BALEEIRO DOS CEDROS16 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO

DA EIRAVARADOURO BALEEIRO DA RIBEIRINHA

17 983085 RAMPA DE VARAGEM DA RIBEIRINHAVARADOURO BALEEIRO DE CASTELOBRANCO18 983085 RAMPA DE VARAGEM DE CASTELOBRANCO

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Tempo de Baleeiros

y Em 1939 a Sociedade In-dustrial Mariacutetima Accediloriana Lda ndash a SIMAL foi fundada na Hor-ta Esta sociedade comercialpor quotas de responsabilidadelimitada tinha como objectivosa ldquoexploraccedilatildeo da induacutestria doaproveitamento integral da ba-

leia e outras espeacutecies marinhase comeacutercio dos respectivosprodutosrdquo A SIMAL era cons-tituiacuteda por 25 soacutecios sendo os

soacutecios maioritaacuterios o industriallisboeta Francisco Marcelinodos Reis e a empresa localCosta amp Martins Lda Desta-

cam-se ainda quatro compa-nhias baleeiras da Ribeira doMeio (Pico) que por razotildeesfamiliares e por ter sido nega-

da a construccedilatildeo de uma faacutebri-ca nas Lajes se associaram agraveSIMAL A faacutebrica comeccedilou a ser cons-truiacuteda em 1941 inicialmenteno areal da Praia de Porto Pimmas devido a um forte tem-poral ocorrido em Setembrodesse mesmo ano foi comple-tamente destruiacuteda e abandona-do o projecto Esta intempeacuterielevou a que os proprietaacuterios

decidissem construir a faacutebricano local onde hoje a conhe-cemos na encosta do Monteda Guia A faacutebrica comeccedilou alaborar em fase experimentalem Agosto de 1942 Durante

os seus 30 anos de laboraccedilatildeoprocessaram-se 1940 cachalo-tes que produziram 44 mil bi-dotildees de oacuteleoEm 1974 acompanhando odecliacutenio da induacutestria baleeira aniacutevel mundial a faacutebrica fechouas suas portas Em 1980 oGoverno Regional dos Accediloresadquiriu todo o complexo fabrilcom o objectivo de ali instalaro Departamento de Oceano-

graa e Pescas e uma Escola

de Pesca desiacutegnio esse quenunca se chegou a realizarEm 1984 a antiga faacutebrica foiclassicada como Imoacutevel de

Interesse Puacuteblico (IIP) Depoisde quase duas deacutecadas de de-gradaccedilatildeo do edifiacutecio e da suamaquinaria sem duacutevida atenu-ados pela acccedilatildeo persistente deManuel da Rosa Correia co-nhecido como Patratildeo Manuele de Manuel Medeiros conhe-cido com Sr Amaral (antigo en-carregado da faacutebrica) a faacutebricafoi nalmente alvo de obras

de restauro e de beneciaccedilatildeo Apelidada de Centro do Marfoi inaugurada em 2000 por

ocasiatildeo da 2ordf ediccedilatildeo da Expo-Pescas com o objectivo de setornar num espaccedilo de divulga-ccedilatildeo cultural e cientiacuteca Desde

2004 que a Faacutebrica eacute a sede

do OMA que desde entatildeo temvindo a dinamizar esse espaccediloEm 2010 a Faacutebrica da Baleia

de Porto Pim como hoje eacute co-nhecida foi inserida no Com-plexo do Monte da Guia da Ilhado Faial z

A FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

VISITA GUIADA FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM 983085 DESCRICcedilAtildeO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE OMA

INTERIOR A FAacuteBRICA Eacute UM MUSEU PERMANENTE

CASA DAS AUTOCLAVES COMSEIS AUTOCLAVES CADA UMACOM CAPACIDADE DE 11 M

CASA DAS FARINHAS COM TODAA MAQUINARIA ORIGINAL DA RE983085

CONHECIDA MARCA NORUGUESAMYRENS VERKSTED E OS MOTO983085

RES DA MARCA ALEMAtilde MOTORENFABRIK DEUTZ AG

EDIFICIO ANEXO ONDE FUNCIONAVA A ANTIGASERRALHARIA E OS ESCRITOacuteRIOS DESTACAM983085SEOS ALTOS TANQUES SUBTERRAcircNEOS PARA AR983085MAZENAMENTO DE OacuteLEO ACTUAL ldquoSALA DOS

OacuteLEOSrdquo 983080SALA DE EXPOSICcedilOtildeES E REUNIOtildeES983081

ANTIGAS CASAS DE BANHOACTUAL BAR DA PRAIA E WCS DE

APOIO Agrave FAacuteBRICA DA BALEIA

ANTIGO ARMAZEacuteM DAS FARI983085NHAS COM QUATRO TANQUESSUBTERRAcircNEOS PARA ARMAZE983085NAMENTO DO OacuteLEO ACTUALLOJA DA FAacuteBRICA E CIM

PLATAFORMA DE DESMANCHODESTAQCA983085SE A CHAMINEacute DAS CALDEI983085

RAS A VAPOR

CASA DAS CALDEIRAS A VAPOR IMPO983085NENTES CALDEIRAS FABRICADAS NA CI983085DADE DO PORTO EM PRIMEIRO PLANOVEMOS A CALDEIRA QUE FOI INSTALADAEM 1950

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Tempo de Baleeiros

y A inauguraccedilatildeo da Casados Botes no Capelo marcoumais um passo no percursoque comeccedilou a ser percorridohaacute mais de dez anos quandopor altura das comemoraccedilotildeesdos 400 anos daquela fregue-sia se decidiu iniciar um pro-cesso de recuperaccedilatildeo do patri-moacutenio baleeiro no Faial entatildeodenominado ldquorecuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeira da ilha doFaialrdquoHoje 25 anos depois de ter

sido caccedilado o uacuteltimo cachaloteem aacuteguas accedilorianas o patri-moacutenio da baleaccedilatildeo estaacute bemvivo sendo essa vivacidade noFaial espelhada pela recupe-

raccedilatildeo dos botes baleeiros dalancha Walquiacuteria da Faacutebricada Baleia e agora da Casados BotesRecuperar os botes baleeirosnatildeo eacute no entanto suciente

para garantir que a sua me-moacuteria continua viva Os botespertencem ao mar e por issofoi com naturalidade que estemovimento de revitalizaccedilatildeo dopatrimoacutenio acabou por passar

para a vertente desportiva coma criaccedilatildeo da secccedilatildeo de botesbaleeiros do Clube Naval daHorta que movimenta muitos

desportistasNa hora de lembrar todo estepercurso de recuperaccedilatildeo dopatrimoacutenio baleeiro bem comode reectir sobre o que haacute a

fazer numa altura em esseprocesso estaacute praticamenteconsolidado Tribuna das Ilhasconversou com Joatildeo Garciaque era em 2000 membro do

elenco da Junta de Freguesiado Capelo responsaacutevel pelodesencadear deste projectoe que em 2005 o levou para o

Clube Naval da Horta quandoassumiu a direcccedilatildeo da agre-miaccedilatildeo naacuteutica faialense Alertando para a importacircnciada manutenccedilatildeo deste patrimoacute-

nio agora que todo ele estaacuterestaurado Joatildeo Garcia apelaa um esforccedilo conjunto para aconsolidaccedilatildeo de um campeo-nato regional de botes baleei-ros e defende a alteraccedilatildeo dalegislaccedilatildeo para que os clubesnavais possam retirar rentabili-dade econoacutemica dos passeiosagrave vela em botes baleeiros demodo a que estes possam sus-tentar a sua proacutepria manuten-

ccedilatildeo

O PROCESSO DE RECUPE-RACcedilAtildeO DE BOTES EM VAacute-

RIAS FREGUESIAS COM HIS-TOacuteRIA BALEEIRA NO FAIALFOI DESENCADEADO QUAN-DO O JOAtildeO ERA PRESIDEN-TE DA JUNTA DE FREGUESIADO CAPELO E PREPARAVAAS COMEMORACcedilOtildeES DOSSEUS 400 ANOS O QUE EacuteQUE MOTIVOU A QUE O PA-TRIMOacuteNIO BALEEIRO FOSSEO MARCO DESTA EFEMEacuteRI-DE A importacircncia que tinha essaefemeacuteride levou a que se -zesse um levantamento his-toacuterico dos quatro seacuteculos dafreguesia A baleaccedilatildeo teve umpapel importante nessa histoacuteriae desde logo decidimos fazer

uma regata de botes que li-gasse o Porto do Comprido aodo Varadouro tendo em contaa ligaccedilatildeo histoacuterica que os doistiveram pela baleaccedilatildeo A partirdaqui somos despertados paraalgo que tem grande valor sen-timental e histoacuterico e nasce ummovimento de recuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeiraO Capelo teve uma forte im-plementaccedilatildeo da baleaccedilatildeo era

uma coisa que estava enraiza-da no povo e que era impor-tante salvaguardar Primeirohouve a preocupaccedilatildeo de re-

gistar as memoacuterias que haviadessa eacutepoca registos feitospor pessoas do Capelo nome-adamente pelo Joseacute Franciscoda Faialentejo que registou ostestemunhos de alguns baleei-ros Depois houve o movimen-to de recuperaccedilatildeo dos botesO Pico tinha jaacute uma seacuterie debotes recuperados e noacutes qui-semos ir um pouco mais lon-ge e abranger natildeo apenas asfreguesias com tradiccedilatildeo nabaleaccedilatildeo como Salatildeo Cas-telo Branco e Anguacutestias mastambeacutem outras onde havia re-crutamento de baleeiros comoeacute o caso da Feteira O projectocontemplava a recuperaccedilatildeo da

Casa do Bote Baleeiro que foirecentemente inaugurada evisa ainda publicar a histoacuteria dabaleaccedilatildeo na ilha do Faial

FOI FAacuteCIL PARA A JUNTA DEFREGUESIA DO CAPELO MO-TIVAR AS RESTANTES FRE-GUESIAS A EMBARCAREMNESTE PROJECTOPor acccedilatildeo do Clube Navalmais concretamente pelo entatildeo

presidente Joseacute Decq Motatemos conhecimento que naCalheta do Nesquim existe umbote disponiacutevel cheio de his-

ENTREVISTA A JOAtildeO PEDRO GARCIA

ldquoO DESAFIO MAIS IMPORTANTE Eacute

A PRESERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROrdquo

FONTE ROBERT CLARKE DISCOVERY REPORTS 1954

NO MAR O MOMENTO EM QUE SE INICIA A PERSEGUICcedilAtildeO AO CACHALOTE

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Tempo de Baleeiros

toacuteria e que eacute inclusive citadono Mau Tempo no Canal deVitorino Nemeacutesio o bote SatildeoJoseacute Sabendo que havia aquium interesse ele falou-nos daexistecircncia desse bote que es-tava sob a alccedilada da Comissatildeo

do Patrimoacutenio Baleeiro Inicia--se aiacute a sua recuperaccedilatildeo e umpasso importante para aquiloque queriacuteamos fazer A recu-peraccedilatildeo de um bote para a fre-guesia do Capelo fez despertaras outras freguesias para esteprojecto Nesta altura ele deixade ser apenas palavras e pe-quenos escritos para comeccedilara ter uma maior dimensatildeoEm 2000 temos a primeira re-

gata com botes do Pico e ape-nas com o Claudina do Faial43 anos depois do uacuteltimo botebaleeiro ter ldquoarriadordquo no Com-prido Em 2003 aparece o Satildeo

Joseacute outro bote recuperadopara o Faialhellip As pessoas co-meccedilam a perceber que este eacuteum projecto com vidaNesta altura comeccedila tambeacutema dinamizar-se a regata inter-nacional de botes baleeirosO movimento de geminaccedilatildeoentre a Horta e New Bedfordestava estagnado e a partirdaiacute essa ligaccedilatildeo fortalece-seFoi precisamente a baleaccedilatildeoque criou o elo entre as duascidades agora fortalecido com

a recuperaccedilatildeo do patrimoacuteniobaleeiro E curiosamente eacutena primeira viagem que sefaz aos Estados Unidos que opresidente da Cacircmara Munici-pal da Horta Joatildeo Castro ca

desperto para a importacircncia dese recuperar a Walquiacuteria outroprocesso que estava estagna-do e ganha nessa altura alentoHaacute assim uma bola de neveque vai crescendo uma pai-xatildeo que vai aumentando e um

despertar da consciecircncia paraa recuperaccedilatildeo da memoacuteria quefaz com que se torne tudo maisfaacutecilO Governo Regional atraveacutesda Comissatildeo do PatrimoacutenioBaleeiro dos Accedilores deu umapoio incondicional a este pro- jecto Este eacute um desiacutegnio natildeode um homem soacute mas de vaacute-rias pessoas e instituiccedilotildees

COMO Eacute QUE O OBJECTIVO

DA PRESERVACcedilAtildeO DOS BO-TES BALEEIROS Eacute TRANS-POSTO PARA O CLUBE NA-VAL DA HORTA (CNH) COMO INTUITO DE CRIAR UMANOVA VERTENTE DESPORTI-VA NA ILHAQuando me foi lanccedilado o de-sao de assumir a presidecircncia

do CNH os botes baleeirosassumem uma importacircncia nomeu projecto para o clube Natildeoera possiacutevel continuar a gerir

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

BAIacuteA DA FETEIRA DURANTE A EacutePOCA DO VERAtildeO A BAIA Eacute ENGALANADA PELAS VELAS DOS BOTES BALEEIROS

FONTE SUSANA GARCIA

PATRIMOacuteNIOJORGE FONTES JOAtildeO GARCIA E JOAtildeO TAVARES TREcircS IMPULSIONA DORES DA PRESERVACcedilAtildeO DO PATRI983085MOacuteNIO BALEEIRO DA ILHA DO FAIAL

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Tempo de Baleeiros

as tripulaccedilotildees e a actividadedesportiva dos botes atraveacutesdas juntas de freguesia porqueelas natildeo tecircm essa vocaccedilatildeoEra inevitaacutevel que houvesseuma instituiccedilatildeo como o CNH ndash soacutelida agregadora sem ri-

validades ndash que pudesse darcontinuidade ao processo Nes-se sentido fundaacutemos a secccedilatildeode Botes Baleeiros da ilha doFaial que agrega com igual au-tonomia e legitimidade todos osparticipantes nesta actividadeNeste ponto tenho de referiro Carlos Fontes que deu umimportante contributo a todo oprocesso pela sua dedicaccedilatildeoe organizaccedilatildeo Outro elemen-

to que emprestou um valiosocontributo foi o Nuno Limasobretudo na recuperaccedilatildeo dalancha Walkiria a rainha dosmares dos Accedilores Houve ummomento de explosatildeo com

mais de cem participantes tan-to masculinos como femininoscom miuacutedos a virem das fre-guesias para aprender velacom cursos para ociaishellip Esta

vitalidade dos botes manteve--se ateacute 2010 Mantenho alguma

preocupaccedilatildeo quanto a algumassituaccedilotildees pontuais com receiode que as coisas se desagre-guem e as pessoas natildeo perce-bam os anos de trabalho queestatildeo aqui em causa e os seacutecu-los de baleaccedilatildeo que estatildeo pordetraacutes deste patrimoacutenio Eacute im-portante que haja consciecircncianatildeo apenas de todo o trabalhoque foi feito mas tambeacutem docusto nanceiro deste projec-

to Grande parte desse nan-ciamento foi assegurado pelogoverno regional que contoucom o apoio do E-GRANT`S ADirecccedilatildeo Regional da Culturao CNH e os clubes navais do

Pico apresentaram uma candi-datura para a recuperaccedilatildeo dosbotes baleeiros que foi aceiteSe natildeo fosse esse apoio hojenatildeo poderiacuteamos dizer que pra-ticamente todo o patrimoacuteniodos Accedilores botes e lanchas

estaacute recuperado Estamos afalar de 40 botes Em 10 anosno Faial recuperaram-se setebotes e uma lancha Se virmosque cada bote tem um custo derecuperaccedilatildeo de cerca de 35 mileuros percebemos que esse foium esforccedilo muito signicativo

A associaccedilatildeo dos botes bale-eiros da ilha do Faial ao CNHveio tambeacutem dar uma dimen-satildeo de ilha ao Clube e criou-se

uma dinacircmica desportiva im-portante de que o Faial neces-sitavaEsta vitalidade em torno dacultura e patrimoacutenio baleeirofaz despertar para a necessi-

dade deste ser inventariadoe salvaguardado Em 2008 o

Observatoacuterio do Mar dos Accedilo-res (OMA) entidade gestorada Faacutebrica da Baleia de PortoPim avanccedila para a inventaria-ccedilatildeo do patrimoacutenio imoacutevel da

baleaccedilatildeo primeiro agrave escala dailha do Faial e depois agrave escalados Accedilores

WALKIacuteRIA ldquoA RAINHA DOS MARES DOS ACcedilORESrdquo

ldquoNasceu para reinar nunca foi destronada e viveraacute esperamos por muitos anos assim o desejamos Somos uma grande regiatildeomariacutetima que quer preservar a memoacuteria coletiva das nossas teacutecnicas e tradiccedilotildees da nossa vivecircncia multissecular com o mar quenos rodeia nos separa e nos unerdquo A lancha Walkiria foi mandada construir pelos proprietaacuterios da Armaccedilatildeo Baleeira Reis amp Mendonccedila o industrial continental Francis-co Marcelino dos Reis e o Professor Rui de Mendonccedila residente na Vila das Velas amante de muacutesica Wagneriano que por talrazatildeo deu aos seus lhos os nomes de Wagner Weber

Walkyria e Isolda A construccedilatildeo foi realizada na ilha de S Jorge em 1937pelas matildeos de Joseacute e Manuel Gambatildeo irmatildeos e carpin-teiros habilidosos a partir de projeto de Manuel InaacutecioNunes natural do Pico mas com gabinete de projetos eestaleiro em Sacramento Califoacuternia Estados Unidos da Ameacuterica - ldquoQuando o antigo paquete a vapor ldquoCarvalho Arauacutejordquo

largava do porto das Velas com rumo ao Cais do Picoonde escalava depois de ter atingido a velocidade ple-na de cruzeiro a Walkyria rodeava o navio em marchapassando pela proa e pela popa Nenhuma outra lanchaconseguiu tal proezardquoEfetivamente a lancha estava equipada com um motor agasolina de 143 HP que permitindo atingir uma velocida-de de ponta elevada 18 noacutes tambeacutem acarretava consu-mos de combustiacutevel signicativos facto que levou agrave sua

venda em 1938 por ser economicamente pouco interes-sante para o trabalho que desenvolvia nomeadamente no apoio agrave caccedila agrave baleia Assim a lancha eacute transferida para a ilha do Faial por aquisiccedilatildeo do Sr Francisco Reis cando afeta ao transporte local de passagei-

ro Mais tarde eacute adquirida pela rma ldquoReis amp Martinsrdquo cando afeta agrave atividade baleeira Em 1955 a quando da instalaccedilatildeo de umaparelho de radiotelefonia foi-lhe atribuiacuteda a matriacutecula nal H-21-B

Em 2005 no acircmbito do projeto de ldquorecuperaccedilatildeo da memoacuteria baleeira da ilha do Faialrdquo depois de anos de repouso nos armazeacutens

da Reis e Martins a emblemaacutetica embarcaccedilatildeo volta a ganhar vida pelas matildeos do mestre Manuel Monteiro da Piedade do Pico en-trando de novo no porto da Horta a 12 de agosto desse mesmo ano totalmente recuperada

EEA Grants Mecanismo Finan-

ceiro Norueguecircs para apoio agrave

coesatildeo social e econoacutemica den-

tro da Uniatildeo Europeia Islacircndia

Liechtenstein e Noruega que

complementou o esforccedilo nan-

ceiro do Governo Regional para

a reabilitaccedilatildeo do patrimoacutenio bale-

eiro dos Accedilores Neste contexto

foram recuperados 40 botes e 10

lanchas Anualmente eacute atribuiacutedo

pelo Governo Regional um sub-

siacutedio para manutenccedilatildeo destas

embarcaccedilotildees

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Tempo de Baleeiros

AINDA BEM QUE REFERE AINVENTARIACcedilAtildeO DO PATRI-MOacuteNIO IMOacuteVEL POIS DEFACTO O PATRIMOacuteNIO DABALEACcedilAtildeO NAtildeO SE RESU-ME AOS BOTEShellip DEPOIS DAREVITALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRI-CA DA BALEIA ESTE PRO-CESSO DE RECUPERACcedilAtildeODO PATRIMOacuteNIO FICOU AIN-DA MAIS COMPLETO COMA INAUGURACcedilAtildeO DA CASADOS BOTES NO CAPELO HAacuteMUITO AGUARDADA FALE--NOS DESSE PROJECTO

Em boa hora a Junta de Fre-guesia do Capelo acolheu estainiciativa incluiacuteda no projectoldquoA recuperaccedilatildeo da memoacuteriabaleeirardquo Esta era uma casadas armaccedilotildees baleeiras deSatildeo Roque do Pico A sua re-cuperaccedilatildeo natildeo eacute mais do quedevolver ao porto do Compri-do a sua histoacuteria A histoacuteria doCapelo natildeo comeccedila em 1957com o Vulcatildeo dos Capelinhos

Antes disso o porto do Com-prido jaacute tinha dois seacuteculos dehistoacuteria tendo sido uma dasprincipais estaccedilotildees baleeirasdos Accedilores Essa memoacuteria

tinha de ser preservada porrespeito aos nossos antepas-sados Essa preservaccedilatildeo tam-beacutem se faz atraveacutes do circuitopedestre do baleeiro que tam-beacutem foi inaugurado agora Esteleva-nos ao conjunto de vigiasque existe no Vulcatildeo dos Ca-pelinhos

Um museu natildeo eacute uma coisaque estaacute dentro de casa maseacute tudo o que nos rodeia Te-mos de contar de forma sim-ples a todos os que nos visi-tam que esta eacute uma ilha comhistoacuteria

HAacute TAMBEacuteM A PREOCUPA-CcedilAtildeO DE REUNIR EM LIVRO AINFORMACcedilAtildeO SOBRE A BA-LEACcedilAtildeO QUE TEM VINDO ASER RECOLHIDAhellipNos uacuteltimos anos o Obser-vatoacuterio do Mar dos Accedilores(OMA) tem feito um excelentetrabalho o que se traduz numgrande avanccedilo na pesquisaCom aquilo que jaacute tinha sido

feito lanccedilaacutemos um desao aoFilipe Porteiro presidente doOMA para que se documen-tasse por escrito a memoacuteriados baleeiros Haacute um registode memoacuterias de alguns bale-eiros do Capelo um espoacuteliofotograacuteco que foi e continua

a ser recolhido um conjuntode informaccedilotildees tanto daquicomo de New Bedford no queao tempo da baleaccedilatildeo diz res-peitohellip Portanto temos infor-maccedilatildeo suciente para fechar

nos proacuteximos dois anos estarecuperaccedilatildeo da memoacuteria comum livro que permita dar aconhecer a histoacuteria da balea-ccedilatildeo no Faial Haacute um conjunto

de pessoas disponiacuteveis paracolaborar neste processo Naminha opiniatildeo esta obra deveter ediccedilatildeo bilingue tendo emconta o interesse que tem paraos Estados Unidos

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE FICA A FALTAR FAZERPELA RECUPERACcedilAtildeO E PRE-SERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROTenho de deixar uma mensa-gem importante agraves pessoasque hoje gerem este proces-so procurem os consensosEacute muito importante termosum consenso regional relati-vamente aos botes baleeiros

Eacute importante que se volte aosmodelos adoptados em 2005

relativamente agraves regatas Natildeopodemos ter regatas em to-das as freguesias dos AccediloresTemos de ter as cinco regatastradicionalmente mais antigasnas quais se inclui a Semanado Mar e quatro regatas noPico e fazer as outras trecircs deforma rotativa para voltarmosa ter um campeonato regionalde botes baleeiros em condi-ccedilotildees Faial e Pico tecircm de en-tender-se nesta mateacuteria Estamensagem tem de ser passa-da para as instituiccedilotildees para osclubes para as juntas de fre-guesia para as pessoashellip

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA UM ASPECTO DE UMA REGATA DENTRO DA BAIA DA HORTA

FONTE OMA

EMBARCACcedilAtildeO OS ANTIGOS BOTES TORNARAM983085SE TAMBEacuteM NUMA PECcedilAMUSEOLOacuteGICA

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Eacute tambeacutem importante que asecccedilatildeo de botes baleeiros doFaial continue A rivalidade en-tre freguesias natildeo traz nada debom O CNH tem obrigaccedilatildeo deconsolidar a secccedilatildeo custe oque custar

Aleacutem disso temos de ver queo patrimoacutenio baleeiro que estaacuteentregue agraves Juntas de Fregue-sia natildeo eacute das autarquias Per-tence agrave Governo Regional dos Acores ou seja agrave Regiatildeo e asua preservaccedilatildeo eacute uma obri-gaccedilatildeo daqueles a quem foientregue Eacute preciso ter muitocuidado nessa preservaccedilatildeosenatildeo dentro de alguns anosestamos natildeo a fazer manuten-

ccedilatildeo mas praticamente a fazernovos botes Os responsaacuteveisde cada uma das instituiccedilotildeestecircm de ter consciecircncia do pa-trimoacutenio que tecircm nas matildeos ede toda esta histoacuteria Agora odesao mais importante eacute a

manutenccedilatildeo deste patrimoacutenio econtinuar a despertar nas pes-soas o interesse por andar agravevela e a remos O bote baleeiroeacute uma embarcaccedilatildeo iacutempar Natildeohaacute outra no mundo

E A PRESERVACcedilAtildeO SOacute SEFAZ COMPLETAMENTE SEOS BOTES ESTIVEREM NOMAR A NAVEGARExactamente Haacute uma partemuito importante do projec-to que ainda falta que passa

pela sede do CNH e por sa-ber o que vai acontecer aosarmazeacutens da Reis e MartinsEacute preciso encontrar um espa-ccedilo adequado para guardar osbotes fazer a sua manuten-ccedilatildeo e expocirc-los Os botes satildeopatrimoacutenio histoacuterico mas tam-beacutem turiacutestico As regatas satildeobonitas mas os passeios embotes baleeiros tambeacutem Se foralterada a portaria que regula

esses passeios em vigor haacutemuitos anos os clubes podemdeles tirar rendimentos

ACHA ENTAtildeO QUE FARIASENTIDO RENTABILIZAR OSPASSEIOS NOS BOTES BA-LEEIROS PARA FINANCIARA SUA PROacutePRIA PRESERVA-CcedilAtildeOFaz todo o sentido Na situ-accedilatildeo econoacutemica em que es-tamos natildeo podemos viver da

ldquosubsiacutedio-dependecircnciardquo A ma-nutenccedilatildeo dos botes as regatase toda essa dinacircmica podemsustentar-se com a criaccedilatildeo deuma vertente econoacutemica comos passeios de bote baleeiroporque temos mercado para

isso Eacute necessaacuterio alterar legis-laccedilatildeo nessa aacuterea

NOUTROS TEMPOS A BA-LEIA FOI UM PILAR DA NOS-SA ECONOMIA ACHA QUEHOJE COM O WHALE WA-TCHING A MOTIVAR A EXIS-TEcircNCIA DE BALEEIROS COMMAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICASEM VEZ DE ARPOtildeES CON-TRIBUINDO PARA A ECONO-

MIA DA ILHA E COM OS BO-TES BALEEIROS NA AacuteGUAPARA AS COMPETICcedilOtildeESDESPORTIVAS ESTAMOSPERANTE UMA ESPEacuteCIE DENOVA BALEACcedilAtildeO Acho que entraacutemos numa novafase da baleaccedilatildeo e soubemosperceber natildeo apenas a impor-tacircncia que a baleaccedilatildeo tevemas tambeacutem a importacircnciaque os cetaacuteceos tecircm hoje nos Accedilores Haacute um Departamento

de Oceanograa e Pescas da

Universidade dos Accedilores quesabe o que estaacute a fazer haacuteuma consciecircncia das empre-sas de whale watching para asua importacircnciahellip Natildeo eacute poracaso que algumas dessas

empresas utilizam as antigasvigias dos baleeiros e inclusi-ve as recuperaram contribuin-do assim para a preservaccedilatildeodo patrimoacutenio da baleaccedilatildeo Osegredo da observaccedilatildeo de ba-leias nos Accedilores tem a ver coma histoacuteria que haacute para contarHouve uma altura em que ca-ccedilaacutemos e haacute agora uma alturaem que sabemos preservarHaacute aqui um potencial turiacutestico

enorme Os accedilorianos adapta-ram-se muito bem a esta novarealidadez

MARLA PINHEIRO

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y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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Tempo de Baleeiros

pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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Tempo de Baleeiros

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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Tempo de Baleeiros

y O tempo dos Baleeirostempo de gente rija de tecircm-pera homens e mulheresque pela forccedila do trabalhomanual venciam as barreirasda distacircncia das difculdades

impostas pela natureza quedia apoacutes dia foram construindoestas ilhas dandos-lhe forma euma histoacuteria Esta eacute a memoacute-ria que devemos recuperar econtar O tempo da baleaccedilatildeotem cheiros tem lendas tem

anguacutestias e juacutebilos tem um le-gado e tem naturalmente umpassado um presente e umfuturo

Os primeiros relatos de cap-turas de baleias no mar dos Accedilores remontam ao seacuteculoXVI apesar de soacute no inicio doseacuteculo XVIII com a chegadados navios baleeiros podemosafrmar que o tempo dos bale-

eiros accedilorianos teve o seu ini-cio Natildeo podemos pelo relatode Gaspar Frutoso assegurarque a baleaccedilatildeo nos Accediloresse tenha iniciado na nossa

ilha mas podemos com todaa certeza afrmar que o Faial

foi o berccedilo desta atividade noarquipeacutelago (aliaacutes em todo oterritoacuterio nacional) ateacute ao iniacuteciodo seacuteculo XX mantendo umaatividade intensa e regular ateacute1984 fm do 2ordm periacuteodo da

caccedila agrave baleiaEacute esta Histoacuteria que necessitaser relatada e colocada no seudevido lugar A ilha do Faialtem uma relaccedilatildeo muito proacutepria

no contexto accediloriano com oMar pelo que assume particu-lar pertinecircncia a recuperaccedilatildeode tatildeo relevante memoacuteria paraque a possamos entender eestender aos nossos flhos e

netos Eacute importante que as ge-raccedilotildees vindouras saibam o tra-balho que muitos tiveram paraconstruir cada pedaccedilo destaterra Nesta senda surge estarevista incluiacuteda numa ediccedilatildeo

do Jornal ldquoTribuna das Ilhasrdquoe que esperemos decirc o mote agravepublicaccedilatildeo da Histoacuteria da ba-leaccedilatildeo na ilha do Faial e nos Accedilores

BALEACcedilAtildeOPELAacuteGICADE 1740 A 1920

Em 1765 teratildeo comeccedilado aaportar ao Faial os primeirosnavios baleeiros provenientesdos Estados Unidos mais con-cretamente da cidade de NewBedford e da ilha de Nantucket(ilha atlacircntica que correspondea um dos catorze condados do

estado americano de Massa-chusetts) os quais praticavama designada baleaccedilatildeo pelaacutegi-ca ou em ldquomar abertordquo Estesnavios para aleacutem de transpor-tarem as pequenas canoas

utilizadas para a caccedila propria-mente dita possuiacuteam tambeacutema capacidade de desmancharos grandes cetaacuteceos derretera gordura e proceder ao seuarmazenamento Ao longo dos seacuteculos XIX e iniacute-cios de XX fundamentalmenteentre setembro e dezembroera frequente encontrar anco-rados na baiacutea da Horta entre10 e 15 navios dedicados agraveatividade baleeira os quais

permanecendo em meacutediacerca de 5 semanas descar-regavam o oacuteleo processadoreabasteciam de consumiacuteveise descansavam as tripulaccedilotildeesEste era tambeacutem o momento

BALEEIRAS ndash Entrou a barca baleeira portugueza Firmesa

trazendo 37 barris drsquoazeite egrave pouco mas sempre teve me-

lhor pesca do que o patacho Julia e a barca americana Col-

chis da casa do sr Dabney Infelizmente a fortuna natildeo que-

rido ajudar ultimamente as nossas emprezas da pesca dabalea que tatildeo grandes interesses podia dar a este districto

In O Fayalense de 3 de novembro de 1867

FONTE BIBLIOTECA PUacuteBLICA E ARQUIVO REGIONAL JOAtildeO JOSEacute DA GRACcedilA

BALEACcedilAtildeO PELAacuteGICA NAVIOS BALEEIROS NORTE AMERICANOS NO PORTO DA HORTA INIacuteCIOS DO SEacuteCULO XX

A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL

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Tempo de Baleeiros

para o recrutamento em re-gra clandestino de tripulanteslocais que granjearam a famade marinheiros e baleeiros dequalidade excecional Este pro-cesso de engajamento teraacute emboa verdade marcado o iniacuteciode uma primeira vaga de emi-graccedilatildeo para os Estado Unidos

da Ameacuterica criando-se umaforte ligaccedilatildeo entre a Horta e aNova Inglaterra que mais tardetraria frutos e a partir do Vulcatildeodos Capelinhos viria a permitiruma segunda vaga de emigra-ccedilatildeoDurante este periacuteodo destaca--se no apoio agrave frota norte ame-

ricana a famiacutelia Dabney quepara aleacutem do apoio logiacutesticoprocedia agrave aquisiccedilatildeo do oacuteleode baleia seu armazenamentoprovisoacuterio e posterior exporta-ccedilatildeo para os Estados Unidos da AmeacutericaImporta aqui referir que empleno seacuteculo XIX verica-se

tambeacutem o surgimento de umafrota baleeira pelaacutegica portu-guesa que operava fundamen-talmente ao largo de PortugalContinental e dos seus entatildeoterritoacuterios ultramarinos Em me-ados deste seacuteculo parte signi-cativa desta frota teria registo

no Porto da Horta o que bemevidencia o papel desta ilhano contexto da baleaccedilatildeo accedilo-riana portuguesa e ateacute globalNatildeo obstante e por razotildees deordem vaacuteria ainda antes doiniacutecio do seacuteculo XX esta frotatinha jaacute desaparecidoEm 1921 o Porto da Horta re-gista a uacuteltima escala de umnavio baleeiro americano pon-

do-se desta forma m a umaatividade que foi proacutespera du-rante mais de cem anos

BALEACcedilAtildeOCOSTEIRADE 18329830851984

Em 1832 teratildeo arreado pela

primeira vez nos Accedilores a par-tir da ilha do Faial os primeiros

FONTE FOTO JOVIAL

ANOS 50 O POSTO DE VIGIA DO COSTADO DA NAU NA COSTA OESTE DA ILHA DO FAIAL

AUTOR DESCONHECIDO FOTO DISPONIBILIZADA POR CARLOS LOBAtildeO

TENSAtildeO O MESTRE JOSEacute RUFINO DURANTE UM EPISOacuteDIO DE CACcedilA Agrave BALEIA

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Tempo de Baleeiros

botes baleeiros afetos ao queseria designado por baleaccedilatildeocosteira Esta baleaccedilatildeo melhoradaptada agraves caracteriacutesticas daRegiatildeo e dos seus mares teraacutesido numa primeira fase em-preendida pela famiacutelia Dabney

embora por falta de sucessoinicial por um curto periacuteodode tempo A baleaccedilatildeo costeiraviria a ser retomada com su-cesso entre 1850 e 1860 maisuma vez pelas matildeos da famiacuteliaDabney mas desta feita emparceria com a famiacutelia Bensauacute-de As embarcaccedilotildees utilizadas edesignadas por canoas cor-respondiam a adaptaccedilotildees dos

modelos utilizados nos naviosamericanos da baleaccedilatildeo pelaacute-gica embora melhor adapta-das agraves caracteriacutesticas do ocea-no contiacuteguo agraves ilhas e tipologiade caccedila pretendida Cada em-barcaccedilatildeo propulsionada agrave velae a remos tinha uma tripulaccedilatildeoque era composta em regrapor pelo menos 7 homenssendo um o ocial ou mestre

um arpoadortrancador sendoos restantes marinheirosrema-doresEsta forma de baleaccedilatildeo de-senvolvida ateacute 1987 ano emque foi arpoado o uacuteltimo exem-plar de cetaacuteceo teve um enor-me signicado econoacutemico e

social em praticamente todasas ilhas dos Accedilores com par-ticular destaque para as ilhasdo Faial e do Pico Rera-se

que a caccedila agrave baleia para amaioria dos baleeiros sendocomplementar agrave sua atividadeprossional era fundamental

agrave subsistecircncia dos respetivosagregados familiaresDiretamente associada agrave caccedilaestava a atividade de proces-samento das carcaccedilas Em

terra os cetaacuteceos eram des-manchados para a extraccedilatildeo dooacuteleo do acircmbar-gris das bar-batanas e da carne sendo osossos reduzidos a farinha Ateacuteagrave deacutecada de trinta do seculoXX a transformaccedilatildeo da gordu-ra animal em ldquoazeite de baleiardquoera realizada artesanalmentepelos proacuteprios baleeiros atra-veacutes de um processo conhecidocomo ldquoa fogo diretordquo em estru-turas designadas como ldquotrai-

oacuteisrdquo constituiacutedas no essencialpor duas caldeiras adossadasassentes numa fornalha A par-tir do primeiro quarto do seacuteculopassado este processamentopassou a ser progressivamen-te feito em unidades fabrispara o efeito construiacutedas sen-do o derretimento realizado porrecurso a enormes autoclavesalimentados a vaporEm 1984 com a proibiccedilatildeo dacaccedila agrave baleia em Portugal foidenitivamente abandonada a

atividade tendo surgido maistarde aquela que passaremosa chamar ndash ldquoA Nova Industriardquotambeacutem ela ligada aos grandescetaacuteceos mas agora numa oacuteti-

ca de estudo e de observaccedilatildeo

A NOVA INDUacuteSTRIACom o nal da caccedila agrave baleia

houve um interregno na utiliza-ccedilatildeo comercial destas espeacuteciesCuriosamente foi uma inter-rupccedilatildeo de pouca dura O en-genho do homem adapta-se agravesnovas situaccedilotildees e nos Accediloresinvariavelmente conseguem-

-se transformar adversidadesem oportunidades Apenas meia duacutezia de anosapoacutes o nal caccedila pela matildeo do

cidadatildeo francecircs Serge Viallelle

FONTE COLECCcedilAtildeO POSTAL RUSPOLI amp SOULAIRE

COSTADO DA NAU ESTA VIGIA FICAVA NA PONTA OESTE DA ILHA DO FAIAL

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REBOQUE AUXILIADOS PELA WALQUIacuteRIA OS BOTES PREPARAM983085SE PARA MAIS UMA REGATA

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Tempo de Baleeiros

ldquoA procissatildeo chegou-se ao bote silencio-

samente sem barulho de peacutes apenas um

murmuacuterio Na luz jaacute fraca a cruz natildeo era

mais que uma silhueta os veacuteus brancos

e diaacutefanos na cabeccedila das senhoras e das

meninas demarcavam-se com uma lumino-

sidade proacutepria Quando a imagem da santa

foi trazida e pousada no leito da popa ao

lado do logaieacutete os sussurros deram lugar

ao silecircncio total O mestre postou-se diante

dela por momentos muito direito de laacutebios

cerrados Com as matildeos abertas e juntas

pegou na linha da selha da popa deu-lhe

uma volta em torno do logaieacutete dobrou-a e

passou-a sobre os ombros da imagem si-

mulando um noacute ligeiro Depois vergou-se

riacutegido e beijou-lhe as vestes e falando su-

avemente como se a sua voz interior fosse

mais audiacutevel disse

ldquoNossa Senhora da Guia acompanha-nos Leva-nos em seguranccedila Ajuda-nos a encontrar baleias Protege-nos dos pe-

rigos da caccedilada Vela por noacutes no regresso agraves famiacutelias que nos esperamrdquo

Depois calou-se ainda de peacute frente agrave imagem As laacutegrimas corriam-lhe pela cara abaixo sobre a pele morena crestada

pelo marrdquo

Esta transcriccedilatildeo do livro ldquoBaleia ndash Os Baleeiros dos Accediloresrdquo de Bernard Venables sendo um relato de uma cena ob-

servada na segunda metade da deacutecada de sessenta do seacuteculo passado ilustra bem a intensidade da religiosidade dos

homens envolvidos na caccedila agrave baleia Na verdade era frequente as embarcaccedilotildees serem batizadas com o nome de uma

Santa ou de um Santo de particular devoccedilatildeo entre os mariacutetimos sendo denominador comum o apadrinhamento por um

conjunto alargado de Santas (os) cujas imagens eram axadas no interior da proa das canoas Em terra nos portos deorigem era tambeacutem comum a existecircncia de nichos onde eram expostas as imagens de Santos (as) de devoccedilatildeo de que

satildeo exemplo Nossa Senhora do Socorro na freguesia do Salatildeo Senhora de Santana no Capelo ou Satildeo Pedro

OS BALEEIROS E A RELIGIOSIDADE

e sua esposa a picarota Ale-xandra comeccedilou a preparar-seuma nova atividade a obser-vaccedilatildeo de cetaacuteceos Utilizandoos meacutetodos e teacutecnicas que an-tes serviam para perseguir oscachalotes nasceu na ilha do

Pico uma nova atividade querapidamente se estendeu agravesilhas em que o potencial eramais evidenteHoje haacute duas dezenas de pe-quenas embarcaccedilotildees quetodos os dias partem em dire-ccedilatildeo aos grupos de golnhos

baleias e cachalotes No totalao longo de todo o ano duasdezenas e meia de espeacuteciessatildeo observadas por 50 mil vi-

sitantes que pagam em meacute-dia 50 euros Portanto hojeos cetaacuteceos valem dezenasde milhares de viagens aeacute-reas estadias e alimentaccedilatildeonos Accedilores Hoje a atividade

de observaccedilatildeo de cetaacuteceos jaacuterende o equivalente aos anosaacuteureos da atividade de caccedila

Tambeacutem muito contribuiu parao sucesso o facto do Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores ter acompanhado odesenvolvimento da atividadeGraccedilas a isso e ao empenhodo Governo rapidamente sedesenvolveu um coacutedigo deconduta que em 1999 foi trans-formado na primeira legislaccedilatildeode observaccedilatildeo de cetaacuteceos daEuropa Hoje qualquer inter-ferecircncia com os cetaacuteceos dos Accedilores implica conhecimento

enquadramento e autorizaccedilatildeoexpressa das autoridades am-bientais marinhasPara aleacutem da simples observa-ccedilatildeo recorrem ao nosso arqui-peacutelago diversas das melhores

equipas de cinema documentaldo mundo para recolher ima-gens destes magniacutecos ani-mais oceacircnicos BBC NationalGeographic e NHK satildeo apenasalgumas das grandes empre-sas televisivas que anualmente

submetem pedidos para nosmares dos Accedilores lmar os

maiores animais jamais exis-tentesPara aleacutem do fasciacutenio dos proacute-prios animais e do mar hojesubsiste tambeacutem uma curio-sa induacutestria relacionada como patrimoacutenio baleeiro Depoisde um estiacutemulo dado pelo Go-verno hoje antigas faacutebricaslanchas e botes satildeo perma-

nentemente conservados etornados testemunhos bem vi-vos de outros tempos e outrasvivecircncias Essas faacutebricas satildeohoje nuacutecleos expositivos e aslanchas e botes satildeo envolvidos

em animadas competiccedilotildees en-tre os descendentes das anti-gas companhas Mais do que oresultado comercial que existeo importante eacute o impacto socialao niacutevel da memoacuteria culturalcoletiva e do divertimento luacutedi-

co contextualizadoHoje nos Accedilores as atividadesderivadas dos cetaacuteceos comespecial ecircnfase para a obser-vaccedilatildeo de cetaacuteceos tem umsignicado econoacutemico de mais

de duas dezenas de milhotildeesde euros Este eacute um exemplode como os accedilorianos se sou-beram adaptar aos temposmodernos e em que apesar donosso diminuto contributo para

o problema inicial optamospelo desenvolvimento susten-taacutevel e com enormes dividen-dos comerciaisz

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Tempo de Baleeiros

OS DABNEY E A BALEACcedilAtildeO

Oriunda dos Estados Unidosda Ameacuterica mais concretamentede Massachusetts a famiacutelia Da-bney instalou-se na no Faial em1804 (para alguns teraacute sido em1806) apoacutes a nomeaccedilatildeo de JohnBass Dabney pelo presidenteThomas Jefferson como CocircnsulGeral dos EUA no FaialDois descendentes de John BassDabney exerceram sucessiva-mente as funccedilotildees consularesapoacutes a sua morte seu lho Char -les William Dabney e posterior-mente o neto Samuel Willis Da-bney ateacute janeiro 1892 momento

em que a famiacutelia acaba por aban-donar o Faial A tiacutetulo de curiosi-dade importa referir que a des-pedida da famiacutelia em causa apoacutes

88 anos de marcante presenccedilaempresaria social e cultural em1891 eacute marcada pela realizaccedilatildeode uma regata de botes baleeirosEm boa medida favorecida pelafunccedilatildeo consular a atividade em-presarial da famiacutelia foi de supre-ma importacircncia no contexto locale regional marcando aquele queseraacute um dos mais proacutesperos ci-clos econoacutemicos do FaialOs Dabney incidiram a sua di-

nacircmica comercial em produtoscomo a laranja e o vinho mastambeacutem no negoacutecio associadoagrave baleaccedilatildeo e neste fundamen-talmente a trecircs niacuteveis no apoio

logiacutestico agrave frota de embarcaccedilotildeesnorte-americanas dedicadas agravebaleaccedilatildeo pelaacutegica no Atlacircnticoque aportava ao Porto da Hortana aquisiccedilatildeo dos oacuteleos de baleiaprocessados e subsequente ex-portaccedilatildeo Esta atividade era par-ticularmente importante agrave datana medida em que permitia aosnavios baleeiros americanos oescoamento do produto obtidocom lucro sem necessidade deregresso aos portos de origem Enalmente de forma perfeitamen-te inovadora a formaccedilatildeo de umaarmaccedilatildeo de pequenas embarca-ccedilotildees (botes baleeiros) dedicadasagrave baleaccedilatildeo costeira

A atividade empresarial desta fa-miacutelia acaba por entrar em decliacutenio

em nais do seacuteculo XIX com a

queda da produccedilatildeo de vinho e la-ranja pelo progressivo abandonoda baleaccedilatildeo pelaacutegica nos termosem que tinha ocorrido ateacute entatildeomas tambeacutem pelo aparecimentode outras proacutesperas empresas li-gadas aos mesmos ramos de ne-goacutecio de que satildeo exemplo a Ben-sauacutede Em paralelo o governoNorte Americano havia jaacute come-ccedilado a orientar o seu corpo con-

sular para a necessidade de natildeoserem acumuladas pelos respeti-vos membros funccedilotildees consularese funccedilotildees empresariais z

y

BALEAS ndash Na manhatilde do dia 22 do cor-

rente appareceram ao norte drsquoesta bahia

alguns spermacettis Duas canocircas da

casa Dabney foram em sua perseguiccedilatildeo

e tiveram a felicidade de matar um que

foi conduzido para o Porto Pim onde se

estagrave derretendo Muita gente tem con-

corrido agravequelle sitio para o ver Nos dias

seguintes mais alguns peixes appare-

ceram na bahia mas quando as canocircas

foram em sua caccedila jaacute os natildeo avistaram

In O Fayalense de 25 de junho de 1871

FONTE BIBLIOTECA PUacuteBLICA E ARQUIVO REGIONAL JOAtildeO JOSEacute DA GRACcedilA

PORTO DA HORTA ndash O Atlantico de quinta-feira publica o

movimento mariacutetimo drsquoeste porto no anno ndo de 1871

que com a devida venia transcrevemos

laquoNo anno ndo de 1871 deram entrada na bahia da Horta

253 embarcaccedilotildees com 93000 toneladas 94 navios eram

portuguezes 50 inglezes 79 americanos 15 francezes

4 italianos 3 allematildees 1 hespanhol 1 liberiano 1 norue-

guez 2 suecos 2 belgas e 2 brazileiros Entre estes in-

cluem-se 32 vapores mercantes e 13 de guerra e 42 bale-

eiras americanas as quaes descarregaram 363 818 litros

drsquoazeite de spermacetti e de balea egual a 381627 kilos

do mesmo Em 1870 so deram entrada 30 baleeiras asquaes apenas descarregaram 115523 litros drsquoazeite egual

a 157466 kilosraquo

In O Fayalense de 7 de Janeiro de 1872

FONTE BIBLIOTECA PUacuteBLICA E ARQUIVO REGIONAL JOAtildeO JOSEacute DA GRACcedilA

O TUFO ENCOSTADA AO MONTE DA GUIA FORMOU983085SE A PRIMEIRA ESTACcedilAtildeO DE APOIO Agrave BALEACcedilAtildeOCOSTEIRA NO FAIAL

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Tempo de Baleeiros

Na ponta Oeste da ilha do

Faial junto ao Vulcatildeo dos Ca-pelinhos encontramos umapequena Calheta formadahaacute centenas de anos por umaescoada laacutevica A Ponta Com-prida assim descrita na car-tograa do seacuteculo XVIII pro-porcionava um abrigo naturalnuma aacuterea de pesca costeirafrequentada desde as primei-ras deacutecadas do povoamentoda ilha Aberto na rocha entre

as faleacutesias e o mar o porto doComprido era um lugar isola-do ideal na partida do Homempara o combate com o Cacha-lote A curta distacircncia cavam

as aacuteguas profundas que limi-tam a ilha do Faial onde seacumulam as presas marinhasque atraem grandes preda-dores como eacute o caso dos ca-chalotes As altas faleacutesias doCostado da Nau de onde seperscrutavam os movimentosdas embarcaccedilotildees vindas deOeste permitiam um longo al-cance aos vigias da baleia euma comunicaccedilatildeo visual comas vigias instaladas na CostaNorte da Ilha nos Cedros e no

Salatildeo em conexatildeo com a vigiado Alto das Concheiras Laacute embaixo a menos de 100 metrosdo mar os baleeiros reuniam--se durante os meses de Ve-ratildeo como um exeacutercito sitiadoem habitaccedilotildees de pedra cober-tas com palha de trigo manten-do as suas canoas varadas narampa do porto O nuacutecleo habi-tacional do porto do Comprido

alojava baleeiros das ilhas doFaial do Pico e de Satildeo JorgeNeste aspecto aparentementesingular o porto do Compridopoderia ser comparado comoutros postos baleeiros espa-lhados por zonas inoacutespitas doglobo como a ilha de Spitsber-gen no seacuteculo XVII onde osbaleeiros ingleses e holande-ses conviviam durante o Veratildeo

ou as estaccedilotildees baleeiras daGeoacutergia do Sul no Antaacutertico

AS FASES DA

BALEACcedilAtildeOCOSTEIRA NA ILHADO FAIAL E O CASODO PORTO DOCOMPRIDO

A caccedila agrave baleia no porto doComprido ter-se-aacute desenvolvi-do entre 1884 e 1957 tornan-do-se um posto baleeiro cadavez mais importante no conjun-

to das ilhas do grupo centralEste periacuteodo pode ser divididoem trecircs fases sucessivas A partir da deacutecada de 1870com a crise do comeacutercio deexportaccedilatildeo do vinho e da laran- ja a afectar o uxo comercial

do porto da Horta o negoacutecioda baleaccedilatildeo costeira torna-seum foco de entusiasmo paraas empresas locais Nestecontexto a casa comercial

DabneyampSons experimenta-da na baldeaccedilatildeo do oacuteleo dosnavios baleeiros norteamerica-nos e em condiccedilotildees propiacuteciaspara importar canoas baleeiras

y

PORTO DO COMPRIDOUM POSTO BALEEIRO (1884-1957)

FONTE ACERVO DOCUMENTAL DAS OBRAS PUacuteBLICAS DO DISTRITO DA HORTA

VARADOURO PLANO DE REPARACcedilAtildeO DO PORTO DO COMPRIDO 1927

FONTE COLECCcedilAtildeO DO MUSEU DO PICO

ARREADA EM POUCOS MINUTOS DEPOIS DE DADO O SINAL TODOS OS BOTES BALEEIROS ESTAVAM NA AacuteGUA

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Tempo de Baleeiros

antecipa-se na criaccedilatildeo de infra-

estruturas de apoio agrave baleaccedilatildeocosteira Em 1884 Samuel Da-bney pede autorizaccedilatildeo para aconstruccedilatildeo de uns ldquo turcos demadeira junto agrave costa no localdenominado ndash o Comprido -[hellip] para poderem arrear asembarcaccedilotildees empregues napesca da baleardquo(1) As baleiascaccediladas a partir do porto doComprido seriam rebocadas aremos ou com o auxiacutelio de umvapor do porto da Horta ateacuteagrave estaccedilatildeo de traioacuteis de PortoPim o ldquoTufordquo onde se proce-dia ao desmancho do cachalo-te e se derretiam os toucinhosem grandes caldeiros de ferroEsta primeira fase de baleaccedilatildeocosteira estaacute contudo deter-minada pelos poucos meios eo insucesso na maioria de ten-tativas de captura dos cacha-lotes tal como nos indicam asnotiacutecias contemporacircneas Agraves

canoas de terra uniam-se eminteracccedilatildeo ou concorrecircncia ascanoas dos navios baleeirosnorteamericanos que perma-neciam ao largo das ilhas doTriacircngulo Apesar das incer-tezas a baleaccedilatildeo no porto doComprido prevaleceu duranteas deacutecadas seguintesUma segunda fase situadaentre os anos 20 e os anos 40

do seacuteculo XX caracteriza-se

pela concentraccedilatildeo de funccedilotildeesda baleaccedilatildeo costeira no portodo Comprido Por outras pala-vras era no porto do Compridoque arreavam os botes bale-

eiros - auxiliados por lanchas

a motor a partir dos anos 20 ndash e depois de capturados oscachalotes seriam encalhadose desmanchados na zona doporto Segundo uma inspecccedilatildeofeita pela Capitania do porto daHorta em 1928 era a Socieda-de Baleeira Aurora que possuiacuteano porto do Comprido ldquoumacasa com duas caldeiras e res-pectivas fornalhas e mais ape-trechos para o derretimento dooacuteleo achando-se tudo em bomestado e regularmente instala-dordquo(2) De resto esta fase estaacute

marcada pela proliferaccedilatildeo depequenas armaccedilotildees ou socie-dades baleeiras em vaacuterios por-tos da Ilha (Ribeirinha CedrosSalatildeo Castelo Branco) cadauma com os seus apetrechose instalaccedilotildees ou em sociedadecom outras armaccedilotildees Na ilhado Faial existiam em simultacirc-neo entre cinco a oito armado-

res da ldquopesca da baleiardquo entre1920 e 1930 Durante a eacutepoca

de caccedila o porto do Comprido jaacute seria frequentado por setecanoas baleeiras algumas dasquais permaneciam durantetodo o ano Com a complexi-caccedilatildeo da actividade baleeirasatildeo tambeacutem mais notaacuteveis asintervenccedilotildees das autoridadesmariacutetimas na vida do postobaleeiro e os requerimentos

das instituiccedilotildees de poder localcomo a Junta de Freguesia doCapelo para a realizaccedilatildeo deobras de construccedilatildeo e repara-ccedilatildeo do porto

FASE INDUSTRIAL

Mas se existe periacuteodo em queo porto do Comprido se con-verte num destacado postobaleeiro em toda a sua espe-cicidade eacute durante a fase in-

dustrial da baleaccedilatildeo na ilha doFaial entre 1940 e 1957 Nosanos convulsos da 2ordf Guerra

Mundial a forte subida do pre-ccedilo do oacuteleo de cachalote incen-tivou o crescimento da activi-dade baleeira nos Accedilores e dailha do Faial em particular Asobras para o desenvolvimentodo porto do Comprido estavamno centro do debate Com aconstruccedilatildeo das Faacutebricas da

Baleia de Porto Pim (1942) eSatildeo Roque (1944) e a expec-tativa de dobrar a produccedilatildeode oacuteleo atraveacutes do processa-mento industrial do cachaloteera necessaacuterio optimizar ascondiccedilotildees do varadouro ondeestacionavam os botes bale-eiros do Faial e do Norte doPico Os projectos de constru-ccedilatildeo de 1942 e 1944 previam

a construccedilatildeo de uma muralhade defesa do porto e um caisacostaacutevel aleacutem de um nivela-mento da rampa de varagemcom mais de 110 metros Noentanto estes projectos nun-ca viriam a ser concretizados

Durante este periacuteodo a rampade varagem chegou a ter 18botes baleeiros varados e 7lanchas a motor amarradas aolargo condiccedilotildees que exigiamo envolvimento de no miacutenimo200 indiviacuteduos na actividade

baleeira As armaccedilotildees bale-eiras em menor nuacutemero masmelhor organizadas recebiaminstruccedilotildees relativas agrave saiacuteda co-ordenada dos botes baleeiros

para o mar e o trabalho colec-tivo dos vigias pertencentes adiferentes armaccedilotildees baleeirasNa retaguarda da actividadeos armazeacutens da ReisampMartinsna Horta prestavam todo o tipode fornecimentos agraves embarca-ccedilotildees estacionadas no Capelolinha de baleia tintas oacuteleo delinhaccedila lanccedilas e arpotildees entreoutros eram enviados regular-

FONTE COLECCcedilAtildeO DO MUSEU DO PICO

PORTO DO COMPRIDO ANTES DA SAIacuteDA OS BOTES ERAM CUIDADOSAMENTEINSPECCIONADOS

BALEEIROS NO CAPELO

A tradiccedilatildeo oral recorda ldquoo Compridordquo como um lugar de alegriaonde os baleeiros celebravam a vida de Veratildeo em comunidadeEnquanto o foguete natildeo estalava danccedilava-se a Chamarritafestejava-se o Satildeo Pedro ou assistia-se agrave festa de Santana Ospicarotos protagonistas da migraccedilatildeo sazonal dispuseram demeios para transportar consigo as mobiacutelias os animais domeacutes-

ticos as famiacutelias inteiras Agrave noite tambeacutem se pescava de diasalgava-se o peixe Balear no Comprido transformava o quoti-diano dos homens que por norma nunca seriam baleeiros atempo inteiro

Fonte Foto Fotojovial

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Tempo de Baleeiros

CACcedilA Agrave BALEIA NO PORTO DO COMPRIDO

A partir de determinada eacutepoca do ano os botes baleeiros deixavam de ldquoarrearrdquo na cidade da Horta e concentravam-se nos postosbaleeiros do Salatildeo e do porto do Comprido A actividade no porto do Comprido era sobretudo inconstante podia haver 4 a 5 diasconsecutivos de caccedila mas tambeacutem uma semana inteira agrave espera que os vigias dessem o sinal de ldquoarreadardquo

mente para o posto baleeiro Aaldeia dos baleeiros era manti-da segundo uma organizaccedilatildeofamiliar e com o apoio de co-merciantes locais da freguesiado Capelo que asseguravamo seu aprovisionamento Sem

duacutevida foram nos derradeirosanos da baleaccedilatildeo no Compridoque mais se caccedilou agrave baleia ede forma mais ecaz com uma

forte concentraccedilatildeo nos mesesde Veratildeo (cfr Graacuteco)

Em Setembro de 1957 quan-do se iniciaram as erupccedilotildees noVulcatildeo dos Capelinhos o portodo Comprido foi imediatamenteabandonado Em poucos me-ses todos os anos de histoacuteria

deste posto baleeiro seriamabruptamente consumidos pe-las cinzas deixando-nos umapaisagem desolada escureci-da pelo Vulcatildeo z

Notas

(1) Fundo da Capitania do Porto da

Horta Arquivo Histoacuterico da Marinha

(2) Idem

OS HOMENS DA BALEIA

Fonte Foto Maacuterio Ruspoli Les Hommes de la Baleine (1956)

No Veratildeo de 1956 o italiano Maacuterio Ruspoli propocircs-se reali-zar um documentaacuterio sobre os uacuteltimos caccediladores de baleia dotempo de Moby Dick Depois de conseguir um empreacutestimo de

2 milhotildees de francos concedido pelo milionaacuterio grego AristoteOnassis M Ruspoli reuniu uma talentosa equipa composta porJacques Soulaire e Gilbert Rouget e instalou-se na casa dos fa-roleiros dos Capelinhos Durante dois meses a equipa recolheuas imagens e os sons uacutenicos da actividade baleeira no porto doComprido Les hommes de la Baleine eacute um precioso documentorealista e liacuterico sobre a baleaccedilatildeo na ilha do Faial

BALEEIROS NA AMEacuteRICACom a erupccedilatildeo do vulcatildeo dosCapelinhos e a abertura dasfronteiras norte americanasmuitos jovens baleeiros se-

guiram o rumo da emigraccedilatildeoconservando a memoacuteria dostempos aacuteureos e diceis da ba-leaccedilatildeo

Fonte foto Colecccedilatildeo Privada de Manuela Rosa

FRANCISCO HENRIQUESOMA

FONTE COLECCcedilAtildeO POSTAL RUSPOLI amp SOULAIRE

TRANCAR JOSEacute RAFAEL PREPARA983085SE PARA ARPOAR UM CACHALOTE

Fonte Colecccedilatildeo Documental ReisampMartins Lda ndash Faacutebrica da Baleia de Porto Pim

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Tempo de Baleeiros

Na deacutecada de trinta do seacute-culo XX durante o auge dainduacutestria baleeira nos Accediloresforam constituiacutedas vaacuterias em-presas nas diversas ilhas paraa exploraccedilatildeo e comercializaccedilatildeodos produtos obtidos a partir

dos cachalotes No Faial foramconstituiacutedas trecircs sociedadesa Reis amp Martins Lda arma-ccedilatildeo baleeira e exportadoresde oacuteleo a Companhia Bale-eira Faialense Lda armaccedilatildeobaleeira e a Sociedade Indus-trial Mariacutetima Accediloriana Lda(SIMAL) ligada agrave induacutestriatransformadora A Reis amp Mar-tins Lda constituiacuteda em 1945adquiriu um armazeacutem na RuaNova na cidade da Horta queservia como casa de botes eocina de carpintaria marce-naria tanoaria ferraria e mecacirc-nica ofiacutecios essenciais para aconstruccedilatildeo e manutenccedilatildeo dasembarcaccedilotildees baleeiras (lan-chas a motor e botes) e res-pectiva palamenta Depois dom da actividade baleeira nos

Accedilores no iniacutecio dos anos 80do seacuteculo XX o armazeacutem daRua Nova e grande parte do

seu espoacutelio foram parcialmen-te mantidos ateacute agrave actualidadeembora seja notoacuteria a degrada-ccedilatildeo tanto do imoacutevel como demuitos dos objectos e equipa-mentos aiacute armazenadosPerante o risco seacuterio de esteespoacutelio se perder e dada a im-portacircncia deste espoacutelio para oestudo da baleaccedilatildeo no Faial enos Accedilores considerou-se serurgente efectuar o seu resgate

levantamento e estudo destepatrimoacutenio garantindo assima sua preservaccedilatildeo Assim osactuais proprietaacuterios e herdei-ros da Reis amp Martins Lda

estabeleceram uma parceriacom o Observatoacuterio do Mar dos Accedilores (OMA) com o objectivode salvaguardar o patrimoacutenioexistente e integrar parte deleno museu da Faacutebrica da Baleiade Porto Pim

O projecto ldquoLevantamento dePatrimoacutenio Baleeiro e Dinami-zaccedilatildeo do Espaccedilo Expositivo

da Faacutebrica da Baleia de PortoPimrdquo iniciou-se em 2008 e em

2009 passou a ser co-nancia-do pela Direcccedilatildeo Regional daCultura (DRaC) que o consi-derou de ldquointeresse relevantepara a Regiatildeo e capaz de con-tribuir para o desenvolvimentoda poliacutetica cultural dos AccediloresrdquoEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinarias

equipamentos embarcaccedilotildeespalamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)

o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobrea induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiais

moacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Partedesse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo na

sua exposiccedilatildeo permanenteEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinariasequipamentos embarcaccedilotildees

palamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobre

a induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiaismoacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Parte

desse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo nasua exposiccedilatildeo permanente

y

PATRIMOacuteNIO BALEEIRO DA FASEINDUSTRIAL DA BALEACcedilAtildeO NO

FAIAL - RESGATE INVENTARIACcedilAtildeO ECONSERVACcedilAtildeO

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

RUA NOVA INTERIOR DO ESCRITOacuteRIO DOS ARMAZEacuteNS DA REIS amp MARTINS LDA

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Tempo de Baleeiros

INVENTAacuteRIO DOESPOacuteLIO REIS EMARTINS LDA

Os objectos encontrados foramanalisados e descritos quantoagraves caracteriacutesticas funcionaisde origem e agraves transforma-ccedilotildees eventuais que possamter sofrido ao longo do tempoSe alguns objectos tecircm umafunccedilatildeo oacutebvia (pe botes e suapalamenta arpotildees etc) outroshaacute cuja sua utilidade eacute difiacutecil dedescodicar A identicaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo funcional dos ob- jectos encontrados foi consubs-tanciada por fontes documen-tais quando existentes eoupor depoimentos orais fonte de

informaccedilatildeo uacutenica e insubstituiacute-vel para a compreensatildeo abran-gente da actividade industrialem estudo A identicaccedilatildeo de cada bem

foi registada em cha proacutepria

onde os elementos considera-dos adequados para o seu re-conhecimento foram descritosem detalhe A cha inclui uma fotograa do

objecto o seu nuacutemero de in-

ventaacuterio a sua funccedilatildeo originala categoria a que pertence oseu estado de conservaccedilatildeo adata do inventaacuterio e a referecircn-cia das fotograas existentes

desse objectoOs bens inventariados foramclassicados em categorias

consoante o tipo de colecccedilatildeo esuas caracteriacutesticas (tipologia) Assim optou-se por classicaacute--los em classes segundo asua funccedilatildeo original e em sub-classes que correspondemao local ou agrave infra-estrutura aque pertenciam (ex Selhandashde--linha Classe Palamenta Sub-classe Bote Baleeiro) A inventariaccedilatildeo individual de

cada peccedila permitiu a criaccedilatildeode um inventaacuterio fotograacuteco e

de uma lista geral de inventaacute-rio onde constam todas as 468peccedilas resgatadas ateacute ao mo-mento O passo seguinte con-sistiu na conservaccedilatildeo e restau-ro dos objectos classicados

As intervenccedilotildees foram criterio-samente efectuadas para natildeocomprometerem a constituiccedilatildeooriginal das peccedilas Aspiraccedilatildeo lavagem restaurocom oacuteleo e tratamento contra

pragas foram as operaccedilotildeesadoptadas para as peccedilas demadeira As peccedilas de metal a maioriacom niacuteveis de oxidaccedilatildeo con-sideraacuteveis foram objecto detratamentos especiacutecos adap-tados a cada casoz

FONTE OMA

SALVAGUARDA CLASSIFICACcedilAtildeO DAS 468 PECcedilAS INVENTARIADAS ATEacute AO MOMENTO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

OBJECTOS983085 EXEMPLARES DO ESPOacuteLIO RESGATADO DOS ARMAZEacuteNS REIS E MARTINS

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Tempo de Baleeiros

y Em 2010 o OMA estabe-leceu um contrato de coope-raccedilatildeo teacutecnica com a DirecccedilatildeoRegional da Cultura (DRaC)com o objectivo de inventariaro patrimoacutenio baleeiro imoacutevel detodo o arquipeacutelago A execuccedilatildeo

do projeto foi assegurada poruma equipa multidisciplinar naaacuterea da investigaccedilatildeo histoacuterica

arquitectura e fotograa pro-ssional A recolha preacutevia da

informaccedilatildeo foi o ponto de par-tida para um trabalho de cam-po que decorreu entre os me-ses de Junho e Dezembro de2011 Foram inventariados os

antigos complexos baleeirospostos baleeiros e varadourosbaleeiros rampas de varagemdas embarcaccedilotildees rampas dealagem de cachalotes casas

de botes traioacuteis faacutebricas deprocessamento de cachalotese plataformas de desmancho

vigias residecircncias sazonaiscarpintarias ocinas arma-zeacutens entre outrosNa ilha do Faial foram inven-tariados 17 imoacuteveis (ver Fig5) identicados no Complexo

Baleeiro das Anguacutestias (localonde as armaccedilotildees baleeirastinham a sua sede com ar-mazeacutens faacutebricas de proces-samento de cachalotescasade caldeiros e estacionavam

as embarcaccedilotildees prontas parauma raacutepida arriada agrave baleia)nos Postos Baleeiros do Porto

do Comprido do Salatildeo (estesdois como local de estaciona-mento sazonal das armaccedilotildeesbaleeiras do Faial e do Pico) edo Varadouro Identicaram-se

ainda apesar de menos repre-sentativos na actividade baleirada Ilha do Faial os Varadourosdo Cedros Castelo Branco eRibeirinha todos com rampade varagem para estaciona-mento de botes baleeiros z

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIRO IMOacuteVEL DO FAIAL

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIO BALEEIRO IMOacuteVEL DOS ACcedilORES A ILHA DO FAIAL

MAacuteRCIA DUTRAOMA

COMPLEXTO BALEEIRO DAS ANGUacuteSTIAS1 983085 FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

2983085 ARMAZEacuteM DA REIS amp MARTINS LDA3 983085 CASA DE CALDEIROS DE PORTO PIM983080FAacuteBRICA VELHA9830814 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTOPOSTO BALEEIRO DO PORTO DOCOMPRIDO5 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO DO

COMPRIDO6 983085 VIGIA DO CAPELO

7 983085 VIGIA DO COSTADO DA NAU8 983085 RESIDEcircNCIAS SAZONAIS DO PORTODO COMPRIDO9 983085 CASA DOS BOTES DO PORTO DOCOMPRIDOPOSTO BALEEIRO DO SALAtildeO10 983085 RAMPA DE VARAGEM DO SALAtildeO

11 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DA ARMA983085CcedilOtildeES DO FAIAL

12 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DAS ARMA983085CcedilOtildeES DO PICO13 983085 VIGIA DOS CEDROS14 983085 POSTO BALEEIRO DO VARADOURO15 983085 VIGIA DO ALTO DAS CONCHEIRASVARADOURO BALEEIRO DOS CEDROS16 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO

DA EIRAVARADOURO BALEEIRO DA RIBEIRINHA

17 983085 RAMPA DE VARAGEM DA RIBEIRINHAVARADOURO BALEEIRO DE CASTELOBRANCO18 983085 RAMPA DE VARAGEM DE CASTELOBRANCO

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Tempo de Baleeiros

y Em 1939 a Sociedade In-dustrial Mariacutetima Accediloriana Lda ndash a SIMAL foi fundada na Hor-ta Esta sociedade comercialpor quotas de responsabilidadelimitada tinha como objectivosa ldquoexploraccedilatildeo da induacutestria doaproveitamento integral da ba-

leia e outras espeacutecies marinhase comeacutercio dos respectivosprodutosrdquo A SIMAL era cons-tituiacuteda por 25 soacutecios sendo os

soacutecios maioritaacuterios o industriallisboeta Francisco Marcelinodos Reis e a empresa localCosta amp Martins Lda Desta-

cam-se ainda quatro compa-nhias baleeiras da Ribeira doMeio (Pico) que por razotildeesfamiliares e por ter sido nega-

da a construccedilatildeo de uma faacutebri-ca nas Lajes se associaram agraveSIMAL A faacutebrica comeccedilou a ser cons-truiacuteda em 1941 inicialmenteno areal da Praia de Porto Pimmas devido a um forte tem-poral ocorrido em Setembrodesse mesmo ano foi comple-tamente destruiacuteda e abandona-do o projecto Esta intempeacuterielevou a que os proprietaacuterios

decidissem construir a faacutebricano local onde hoje a conhe-cemos na encosta do Monteda Guia A faacutebrica comeccedilou alaborar em fase experimentalem Agosto de 1942 Durante

os seus 30 anos de laboraccedilatildeoprocessaram-se 1940 cachalo-tes que produziram 44 mil bi-dotildees de oacuteleoEm 1974 acompanhando odecliacutenio da induacutestria baleeira aniacutevel mundial a faacutebrica fechouas suas portas Em 1980 oGoverno Regional dos Accediloresadquiriu todo o complexo fabrilcom o objectivo de ali instalaro Departamento de Oceano-

graa e Pescas e uma Escola

de Pesca desiacutegnio esse quenunca se chegou a realizarEm 1984 a antiga faacutebrica foiclassicada como Imoacutevel de

Interesse Puacuteblico (IIP) Depoisde quase duas deacutecadas de de-gradaccedilatildeo do edifiacutecio e da suamaquinaria sem duacutevida atenu-ados pela acccedilatildeo persistente deManuel da Rosa Correia co-nhecido como Patratildeo Manuele de Manuel Medeiros conhe-cido com Sr Amaral (antigo en-carregado da faacutebrica) a faacutebricafoi nalmente alvo de obras

de restauro e de beneciaccedilatildeo Apelidada de Centro do Marfoi inaugurada em 2000 por

ocasiatildeo da 2ordf ediccedilatildeo da Expo-Pescas com o objectivo de setornar num espaccedilo de divulga-ccedilatildeo cultural e cientiacuteca Desde

2004 que a Faacutebrica eacute a sede

do OMA que desde entatildeo temvindo a dinamizar esse espaccediloEm 2010 a Faacutebrica da Baleia

de Porto Pim como hoje eacute co-nhecida foi inserida no Com-plexo do Monte da Guia da Ilhado Faial z

A FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

VISITA GUIADA FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM 983085 DESCRICcedilAtildeO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE OMA

INTERIOR A FAacuteBRICA Eacute UM MUSEU PERMANENTE

CASA DAS AUTOCLAVES COMSEIS AUTOCLAVES CADA UMACOM CAPACIDADE DE 11 M

CASA DAS FARINHAS COM TODAA MAQUINARIA ORIGINAL DA RE983085

CONHECIDA MARCA NORUGUESAMYRENS VERKSTED E OS MOTO983085

RES DA MARCA ALEMAtilde MOTORENFABRIK DEUTZ AG

EDIFICIO ANEXO ONDE FUNCIONAVA A ANTIGASERRALHARIA E OS ESCRITOacuteRIOS DESTACAM983085SEOS ALTOS TANQUES SUBTERRAcircNEOS PARA AR983085MAZENAMENTO DE OacuteLEO ACTUAL ldquoSALA DOS

OacuteLEOSrdquo 983080SALA DE EXPOSICcedilOtildeES E REUNIOtildeES983081

ANTIGAS CASAS DE BANHOACTUAL BAR DA PRAIA E WCS DE

APOIO Agrave FAacuteBRICA DA BALEIA

ANTIGO ARMAZEacuteM DAS FARI983085NHAS COM QUATRO TANQUESSUBTERRAcircNEOS PARA ARMAZE983085NAMENTO DO OacuteLEO ACTUALLOJA DA FAacuteBRICA E CIM

PLATAFORMA DE DESMANCHODESTAQCA983085SE A CHAMINEacute DAS CALDEI983085

RAS A VAPOR

CASA DAS CALDEIRAS A VAPOR IMPO983085NENTES CALDEIRAS FABRICADAS NA CI983085DADE DO PORTO EM PRIMEIRO PLANOVEMOS A CALDEIRA QUE FOI INSTALADAEM 1950

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Tempo de Baleeiros

y A inauguraccedilatildeo da Casados Botes no Capelo marcoumais um passo no percursoque comeccedilou a ser percorridohaacute mais de dez anos quandopor altura das comemoraccedilotildeesdos 400 anos daquela fregue-sia se decidiu iniciar um pro-cesso de recuperaccedilatildeo do patri-moacutenio baleeiro no Faial entatildeodenominado ldquorecuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeira da ilha doFaialrdquoHoje 25 anos depois de ter

sido caccedilado o uacuteltimo cachaloteem aacuteguas accedilorianas o patri-moacutenio da baleaccedilatildeo estaacute bemvivo sendo essa vivacidade noFaial espelhada pela recupe-

raccedilatildeo dos botes baleeiros dalancha Walquiacuteria da Faacutebricada Baleia e agora da Casados BotesRecuperar os botes baleeirosnatildeo eacute no entanto suciente

para garantir que a sua me-moacuteria continua viva Os botespertencem ao mar e por issofoi com naturalidade que estemovimento de revitalizaccedilatildeo dopatrimoacutenio acabou por passar

para a vertente desportiva coma criaccedilatildeo da secccedilatildeo de botesbaleeiros do Clube Naval daHorta que movimenta muitos

desportistasNa hora de lembrar todo estepercurso de recuperaccedilatildeo dopatrimoacutenio baleeiro bem comode reectir sobre o que haacute a

fazer numa altura em esseprocesso estaacute praticamenteconsolidado Tribuna das Ilhasconversou com Joatildeo Garciaque era em 2000 membro do

elenco da Junta de Freguesiado Capelo responsaacutevel pelodesencadear deste projectoe que em 2005 o levou para o

Clube Naval da Horta quandoassumiu a direcccedilatildeo da agre-miaccedilatildeo naacuteutica faialense Alertando para a importacircnciada manutenccedilatildeo deste patrimoacute-

nio agora que todo ele estaacuterestaurado Joatildeo Garcia apelaa um esforccedilo conjunto para aconsolidaccedilatildeo de um campeo-nato regional de botes baleei-ros e defende a alteraccedilatildeo dalegislaccedilatildeo para que os clubesnavais possam retirar rentabili-dade econoacutemica dos passeiosagrave vela em botes baleeiros demodo a que estes possam sus-tentar a sua proacutepria manuten-

ccedilatildeo

O PROCESSO DE RECUPE-RACcedilAtildeO DE BOTES EM VAacute-

RIAS FREGUESIAS COM HIS-TOacuteRIA BALEEIRA NO FAIALFOI DESENCADEADO QUAN-DO O JOAtildeO ERA PRESIDEN-TE DA JUNTA DE FREGUESIADO CAPELO E PREPARAVAAS COMEMORACcedilOtildeES DOSSEUS 400 ANOS O QUE EacuteQUE MOTIVOU A QUE O PA-TRIMOacuteNIO BALEEIRO FOSSEO MARCO DESTA EFEMEacuteRI-DE A importacircncia que tinha essaefemeacuteride levou a que se -zesse um levantamento his-toacuterico dos quatro seacuteculos dafreguesia A baleaccedilatildeo teve umpapel importante nessa histoacuteriae desde logo decidimos fazer

uma regata de botes que li-gasse o Porto do Comprido aodo Varadouro tendo em contaa ligaccedilatildeo histoacuterica que os doistiveram pela baleaccedilatildeo A partirdaqui somos despertados paraalgo que tem grande valor sen-timental e histoacuterico e nasce ummovimento de recuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeiraO Capelo teve uma forte im-plementaccedilatildeo da baleaccedilatildeo era

uma coisa que estava enraiza-da no povo e que era impor-tante salvaguardar Primeirohouve a preocupaccedilatildeo de re-

gistar as memoacuterias que haviadessa eacutepoca registos feitospor pessoas do Capelo nome-adamente pelo Joseacute Franciscoda Faialentejo que registou ostestemunhos de alguns baleei-ros Depois houve o movimen-to de recuperaccedilatildeo dos botesO Pico tinha jaacute uma seacuterie debotes recuperados e noacutes qui-semos ir um pouco mais lon-ge e abranger natildeo apenas asfreguesias com tradiccedilatildeo nabaleaccedilatildeo como Salatildeo Cas-telo Branco e Anguacutestias mastambeacutem outras onde havia re-crutamento de baleeiros comoeacute o caso da Feteira O projectocontemplava a recuperaccedilatildeo da

Casa do Bote Baleeiro que foirecentemente inaugurada evisa ainda publicar a histoacuteria dabaleaccedilatildeo na ilha do Faial

FOI FAacuteCIL PARA A JUNTA DEFREGUESIA DO CAPELO MO-TIVAR AS RESTANTES FRE-GUESIAS A EMBARCAREMNESTE PROJECTOPor acccedilatildeo do Clube Navalmais concretamente pelo entatildeo

presidente Joseacute Decq Motatemos conhecimento que naCalheta do Nesquim existe umbote disponiacutevel cheio de his-

ENTREVISTA A JOAtildeO PEDRO GARCIA

ldquoO DESAFIO MAIS IMPORTANTE Eacute

A PRESERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROrdquo

FONTE ROBERT CLARKE DISCOVERY REPORTS 1954

NO MAR O MOMENTO EM QUE SE INICIA A PERSEGUICcedilAtildeO AO CACHALOTE

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Tempo de Baleeiros

toacuteria e que eacute inclusive citadono Mau Tempo no Canal deVitorino Nemeacutesio o bote SatildeoJoseacute Sabendo que havia aquium interesse ele falou-nos daexistecircncia desse bote que es-tava sob a alccedilada da Comissatildeo

do Patrimoacutenio Baleeiro Inicia--se aiacute a sua recuperaccedilatildeo e umpasso importante para aquiloque queriacuteamos fazer A recu-peraccedilatildeo de um bote para a fre-guesia do Capelo fez despertaras outras freguesias para esteprojecto Nesta altura ele deixade ser apenas palavras e pe-quenos escritos para comeccedilara ter uma maior dimensatildeoEm 2000 temos a primeira re-

gata com botes do Pico e ape-nas com o Claudina do Faial43 anos depois do uacuteltimo botebaleeiro ter ldquoarriadordquo no Com-prido Em 2003 aparece o Satildeo

Joseacute outro bote recuperadopara o Faialhellip As pessoas co-meccedilam a perceber que este eacuteum projecto com vidaNesta altura comeccedila tambeacutema dinamizar-se a regata inter-nacional de botes baleeirosO movimento de geminaccedilatildeoentre a Horta e New Bedfordestava estagnado e a partirdaiacute essa ligaccedilatildeo fortalece-seFoi precisamente a baleaccedilatildeoque criou o elo entre as duascidades agora fortalecido com

a recuperaccedilatildeo do patrimoacuteniobaleeiro E curiosamente eacutena primeira viagem que sefaz aos Estados Unidos que opresidente da Cacircmara Munici-pal da Horta Joatildeo Castro ca

desperto para a importacircncia dese recuperar a Walquiacuteria outroprocesso que estava estagna-do e ganha nessa altura alentoHaacute assim uma bola de neveque vai crescendo uma pai-xatildeo que vai aumentando e um

despertar da consciecircncia paraa recuperaccedilatildeo da memoacuteria quefaz com que se torne tudo maisfaacutecilO Governo Regional atraveacutesda Comissatildeo do PatrimoacutenioBaleeiro dos Accedilores deu umapoio incondicional a este pro- jecto Este eacute um desiacutegnio natildeode um homem soacute mas de vaacute-rias pessoas e instituiccedilotildees

COMO Eacute QUE O OBJECTIVO

DA PRESERVACcedilAtildeO DOS BO-TES BALEEIROS Eacute TRANS-POSTO PARA O CLUBE NA-VAL DA HORTA (CNH) COMO INTUITO DE CRIAR UMANOVA VERTENTE DESPORTI-VA NA ILHAQuando me foi lanccedilado o de-sao de assumir a presidecircncia

do CNH os botes baleeirosassumem uma importacircncia nomeu projecto para o clube Natildeoera possiacutevel continuar a gerir

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

BAIacuteA DA FETEIRA DURANTE A EacutePOCA DO VERAtildeO A BAIA Eacute ENGALANADA PELAS VELAS DOS BOTES BALEEIROS

FONTE SUSANA GARCIA

PATRIMOacuteNIOJORGE FONTES JOAtildeO GARCIA E JOAtildeO TAVARES TREcircS IMPULSIONA DORES DA PRESERVACcedilAtildeO DO PATRI983085MOacuteNIO BALEEIRO DA ILHA DO FAIAL

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Tempo de Baleeiros

as tripulaccedilotildees e a actividadedesportiva dos botes atraveacutesdas juntas de freguesia porqueelas natildeo tecircm essa vocaccedilatildeoEra inevitaacutevel que houvesseuma instituiccedilatildeo como o CNH ndash soacutelida agregadora sem ri-

validades ndash que pudesse darcontinuidade ao processo Nes-se sentido fundaacutemos a secccedilatildeode Botes Baleeiros da ilha doFaial que agrega com igual au-tonomia e legitimidade todos osparticipantes nesta actividadeNeste ponto tenho de referiro Carlos Fontes que deu umimportante contributo a todo oprocesso pela sua dedicaccedilatildeoe organizaccedilatildeo Outro elemen-

to que emprestou um valiosocontributo foi o Nuno Limasobretudo na recuperaccedilatildeo dalancha Walkiria a rainha dosmares dos Accedilores Houve ummomento de explosatildeo com

mais de cem participantes tan-to masculinos como femininoscom miuacutedos a virem das fre-guesias para aprender velacom cursos para ociaishellip Esta

vitalidade dos botes manteve--se ateacute 2010 Mantenho alguma

preocupaccedilatildeo quanto a algumassituaccedilotildees pontuais com receiode que as coisas se desagre-guem e as pessoas natildeo perce-bam os anos de trabalho queestatildeo aqui em causa e os seacutecu-los de baleaccedilatildeo que estatildeo pordetraacutes deste patrimoacutenio Eacute im-portante que haja consciecircncianatildeo apenas de todo o trabalhoque foi feito mas tambeacutem docusto nanceiro deste projec-

to Grande parte desse nan-ciamento foi assegurado pelogoverno regional que contoucom o apoio do E-GRANT`S ADirecccedilatildeo Regional da Culturao CNH e os clubes navais do

Pico apresentaram uma candi-datura para a recuperaccedilatildeo dosbotes baleeiros que foi aceiteSe natildeo fosse esse apoio hojenatildeo poderiacuteamos dizer que pra-ticamente todo o patrimoacuteniodos Accedilores botes e lanchas

estaacute recuperado Estamos afalar de 40 botes Em 10 anosno Faial recuperaram-se setebotes e uma lancha Se virmosque cada bote tem um custo derecuperaccedilatildeo de cerca de 35 mileuros percebemos que esse foium esforccedilo muito signicativo

A associaccedilatildeo dos botes bale-eiros da ilha do Faial ao CNHveio tambeacutem dar uma dimen-satildeo de ilha ao Clube e criou-se

uma dinacircmica desportiva im-portante de que o Faial neces-sitavaEsta vitalidade em torno dacultura e patrimoacutenio baleeirofaz despertar para a necessi-

dade deste ser inventariadoe salvaguardado Em 2008 o

Observatoacuterio do Mar dos Accedilo-res (OMA) entidade gestorada Faacutebrica da Baleia de PortoPim avanccedila para a inventaria-ccedilatildeo do patrimoacutenio imoacutevel da

baleaccedilatildeo primeiro agrave escala dailha do Faial e depois agrave escalados Accedilores

WALKIacuteRIA ldquoA RAINHA DOS MARES DOS ACcedilORESrdquo

ldquoNasceu para reinar nunca foi destronada e viveraacute esperamos por muitos anos assim o desejamos Somos uma grande regiatildeomariacutetima que quer preservar a memoacuteria coletiva das nossas teacutecnicas e tradiccedilotildees da nossa vivecircncia multissecular com o mar quenos rodeia nos separa e nos unerdquo A lancha Walkiria foi mandada construir pelos proprietaacuterios da Armaccedilatildeo Baleeira Reis amp Mendonccedila o industrial continental Francis-co Marcelino dos Reis e o Professor Rui de Mendonccedila residente na Vila das Velas amante de muacutesica Wagneriano que por talrazatildeo deu aos seus lhos os nomes de Wagner Weber

Walkyria e Isolda A construccedilatildeo foi realizada na ilha de S Jorge em 1937pelas matildeos de Joseacute e Manuel Gambatildeo irmatildeos e carpin-teiros habilidosos a partir de projeto de Manuel InaacutecioNunes natural do Pico mas com gabinete de projetos eestaleiro em Sacramento Califoacuternia Estados Unidos da Ameacuterica - ldquoQuando o antigo paquete a vapor ldquoCarvalho Arauacutejordquo

largava do porto das Velas com rumo ao Cais do Picoonde escalava depois de ter atingido a velocidade ple-na de cruzeiro a Walkyria rodeava o navio em marchapassando pela proa e pela popa Nenhuma outra lanchaconseguiu tal proezardquoEfetivamente a lancha estava equipada com um motor agasolina de 143 HP que permitindo atingir uma velocida-de de ponta elevada 18 noacutes tambeacutem acarretava consu-mos de combustiacutevel signicativos facto que levou agrave sua

venda em 1938 por ser economicamente pouco interes-sante para o trabalho que desenvolvia nomeadamente no apoio agrave caccedila agrave baleia Assim a lancha eacute transferida para a ilha do Faial por aquisiccedilatildeo do Sr Francisco Reis cando afeta ao transporte local de passagei-

ro Mais tarde eacute adquirida pela rma ldquoReis amp Martinsrdquo cando afeta agrave atividade baleeira Em 1955 a quando da instalaccedilatildeo de umaparelho de radiotelefonia foi-lhe atribuiacuteda a matriacutecula nal H-21-B

Em 2005 no acircmbito do projeto de ldquorecuperaccedilatildeo da memoacuteria baleeira da ilha do Faialrdquo depois de anos de repouso nos armazeacutens

da Reis e Martins a emblemaacutetica embarcaccedilatildeo volta a ganhar vida pelas matildeos do mestre Manuel Monteiro da Piedade do Pico en-trando de novo no porto da Horta a 12 de agosto desse mesmo ano totalmente recuperada

EEA Grants Mecanismo Finan-

ceiro Norueguecircs para apoio agrave

coesatildeo social e econoacutemica den-

tro da Uniatildeo Europeia Islacircndia

Liechtenstein e Noruega que

complementou o esforccedilo nan-

ceiro do Governo Regional para

a reabilitaccedilatildeo do patrimoacutenio bale-

eiro dos Accedilores Neste contexto

foram recuperados 40 botes e 10

lanchas Anualmente eacute atribuiacutedo

pelo Governo Regional um sub-

siacutedio para manutenccedilatildeo destas

embarcaccedilotildees

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Tempo de Baleeiros

AINDA BEM QUE REFERE AINVENTARIACcedilAtildeO DO PATRI-MOacuteNIO IMOacuteVEL POIS DEFACTO O PATRIMOacuteNIO DABALEACcedilAtildeO NAtildeO SE RESU-ME AOS BOTEShellip DEPOIS DAREVITALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRI-CA DA BALEIA ESTE PRO-CESSO DE RECUPERACcedilAtildeODO PATRIMOacuteNIO FICOU AIN-DA MAIS COMPLETO COMA INAUGURACcedilAtildeO DA CASADOS BOTES NO CAPELO HAacuteMUITO AGUARDADA FALE--NOS DESSE PROJECTO

Em boa hora a Junta de Fre-guesia do Capelo acolheu estainiciativa incluiacuteda no projectoldquoA recuperaccedilatildeo da memoacuteriabaleeirardquo Esta era uma casadas armaccedilotildees baleeiras deSatildeo Roque do Pico A sua re-cuperaccedilatildeo natildeo eacute mais do quedevolver ao porto do Compri-do a sua histoacuteria A histoacuteria doCapelo natildeo comeccedila em 1957com o Vulcatildeo dos Capelinhos

Antes disso o porto do Com-prido jaacute tinha dois seacuteculos dehistoacuteria tendo sido uma dasprincipais estaccedilotildees baleeirasdos Accedilores Essa memoacuteria

tinha de ser preservada porrespeito aos nossos antepas-sados Essa preservaccedilatildeo tam-beacutem se faz atraveacutes do circuitopedestre do baleeiro que tam-beacutem foi inaugurado agora Esteleva-nos ao conjunto de vigiasque existe no Vulcatildeo dos Ca-pelinhos

Um museu natildeo eacute uma coisaque estaacute dentro de casa maseacute tudo o que nos rodeia Te-mos de contar de forma sim-ples a todos os que nos visi-tam que esta eacute uma ilha comhistoacuteria

HAacute TAMBEacuteM A PREOCUPA-CcedilAtildeO DE REUNIR EM LIVRO AINFORMACcedilAtildeO SOBRE A BA-LEACcedilAtildeO QUE TEM VINDO ASER RECOLHIDAhellipNos uacuteltimos anos o Obser-vatoacuterio do Mar dos Accedilores(OMA) tem feito um excelentetrabalho o que se traduz numgrande avanccedilo na pesquisaCom aquilo que jaacute tinha sido

feito lanccedilaacutemos um desao aoFilipe Porteiro presidente doOMA para que se documen-tasse por escrito a memoacuteriados baleeiros Haacute um registode memoacuterias de alguns bale-eiros do Capelo um espoacuteliofotograacuteco que foi e continua

a ser recolhido um conjuntode informaccedilotildees tanto daquicomo de New Bedford no queao tempo da baleaccedilatildeo diz res-peitohellip Portanto temos infor-maccedilatildeo suciente para fechar

nos proacuteximos dois anos estarecuperaccedilatildeo da memoacuteria comum livro que permita dar aconhecer a histoacuteria da balea-ccedilatildeo no Faial Haacute um conjunto

de pessoas disponiacuteveis paracolaborar neste processo Naminha opiniatildeo esta obra deveter ediccedilatildeo bilingue tendo emconta o interesse que tem paraos Estados Unidos

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE FICA A FALTAR FAZERPELA RECUPERACcedilAtildeO E PRE-SERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROTenho de deixar uma mensa-gem importante agraves pessoasque hoje gerem este proces-so procurem os consensosEacute muito importante termosum consenso regional relati-vamente aos botes baleeiros

Eacute importante que se volte aosmodelos adoptados em 2005

relativamente agraves regatas Natildeopodemos ter regatas em to-das as freguesias dos AccediloresTemos de ter as cinco regatastradicionalmente mais antigasnas quais se inclui a Semanado Mar e quatro regatas noPico e fazer as outras trecircs deforma rotativa para voltarmosa ter um campeonato regionalde botes baleeiros em condi-ccedilotildees Faial e Pico tecircm de en-tender-se nesta mateacuteria Estamensagem tem de ser passa-da para as instituiccedilotildees para osclubes para as juntas de fre-guesia para as pessoashellip

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA UM ASPECTO DE UMA REGATA DENTRO DA BAIA DA HORTA

FONTE OMA

EMBARCACcedilAtildeO OS ANTIGOS BOTES TORNARAM983085SE TAMBEacuteM NUMA PECcedilAMUSEOLOacuteGICA

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Tempo de Baleeiros

Eacute tambeacutem importante que asecccedilatildeo de botes baleeiros doFaial continue A rivalidade en-tre freguesias natildeo traz nada debom O CNH tem obrigaccedilatildeo deconsolidar a secccedilatildeo custe oque custar

Aleacutem disso temos de ver queo patrimoacutenio baleeiro que estaacuteentregue agraves Juntas de Fregue-sia natildeo eacute das autarquias Per-tence agrave Governo Regional dos Acores ou seja agrave Regiatildeo e asua preservaccedilatildeo eacute uma obri-gaccedilatildeo daqueles a quem foientregue Eacute preciso ter muitocuidado nessa preservaccedilatildeosenatildeo dentro de alguns anosestamos natildeo a fazer manuten-

ccedilatildeo mas praticamente a fazernovos botes Os responsaacuteveisde cada uma das instituiccedilotildeestecircm de ter consciecircncia do pa-trimoacutenio que tecircm nas matildeos ede toda esta histoacuteria Agora odesao mais importante eacute a

manutenccedilatildeo deste patrimoacutenio econtinuar a despertar nas pes-soas o interesse por andar agravevela e a remos O bote baleeiroeacute uma embarcaccedilatildeo iacutempar Natildeohaacute outra no mundo

E A PRESERVACcedilAtildeO SOacute SEFAZ COMPLETAMENTE SEOS BOTES ESTIVEREM NOMAR A NAVEGARExactamente Haacute uma partemuito importante do projec-to que ainda falta que passa

pela sede do CNH e por sa-ber o que vai acontecer aosarmazeacutens da Reis e MartinsEacute preciso encontrar um espa-ccedilo adequado para guardar osbotes fazer a sua manuten-ccedilatildeo e expocirc-los Os botes satildeopatrimoacutenio histoacuterico mas tam-beacutem turiacutestico As regatas satildeobonitas mas os passeios embotes baleeiros tambeacutem Se foralterada a portaria que regula

esses passeios em vigor haacutemuitos anos os clubes podemdeles tirar rendimentos

ACHA ENTAtildeO QUE FARIASENTIDO RENTABILIZAR OSPASSEIOS NOS BOTES BA-LEEIROS PARA FINANCIARA SUA PROacutePRIA PRESERVA-CcedilAtildeOFaz todo o sentido Na situ-accedilatildeo econoacutemica em que es-tamos natildeo podemos viver da

ldquosubsiacutedio-dependecircnciardquo A ma-nutenccedilatildeo dos botes as regatase toda essa dinacircmica podemsustentar-se com a criaccedilatildeo deuma vertente econoacutemica comos passeios de bote baleeiroporque temos mercado para

isso Eacute necessaacuterio alterar legis-laccedilatildeo nessa aacuterea

NOUTROS TEMPOS A BA-LEIA FOI UM PILAR DA NOS-SA ECONOMIA ACHA QUEHOJE COM O WHALE WA-TCHING A MOTIVAR A EXIS-TEcircNCIA DE BALEEIROS COMMAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICASEM VEZ DE ARPOtildeES CON-TRIBUINDO PARA A ECONO-

MIA DA ILHA E COM OS BO-TES BALEEIROS NA AacuteGUAPARA AS COMPETICcedilOtildeESDESPORTIVAS ESTAMOSPERANTE UMA ESPEacuteCIE DENOVA BALEACcedilAtildeO Acho que entraacutemos numa novafase da baleaccedilatildeo e soubemosperceber natildeo apenas a impor-tacircncia que a baleaccedilatildeo tevemas tambeacutem a importacircnciaque os cetaacuteceos tecircm hoje nos Accedilores Haacute um Departamento

de Oceanograa e Pescas da

Universidade dos Accedilores quesabe o que estaacute a fazer haacuteuma consciecircncia das empre-sas de whale watching para asua importacircnciahellip Natildeo eacute poracaso que algumas dessas

empresas utilizam as antigasvigias dos baleeiros e inclusi-ve as recuperaram contribuin-do assim para a preservaccedilatildeodo patrimoacutenio da baleaccedilatildeo Osegredo da observaccedilatildeo de ba-leias nos Accedilores tem a ver coma histoacuteria que haacute para contarHouve uma altura em que ca-ccedilaacutemos e haacute agora uma alturaem que sabemos preservarHaacute aqui um potencial turiacutestico

enorme Os accedilorianos adapta-ram-se muito bem a esta novarealidadez

MARLA PINHEIRO

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y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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Tempo de Baleeiros

da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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Tempo de Baleeiros

pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

Page 4: Tempos de Baleeiros

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Tempo de Baleeiros

para o recrutamento em re-gra clandestino de tripulanteslocais que granjearam a famade marinheiros e baleeiros dequalidade excecional Este pro-cesso de engajamento teraacute emboa verdade marcado o iniacuteciode uma primeira vaga de emi-graccedilatildeo para os Estado Unidos

da Ameacuterica criando-se umaforte ligaccedilatildeo entre a Horta e aNova Inglaterra que mais tardetraria frutos e a partir do Vulcatildeodos Capelinhos viria a permitiruma segunda vaga de emigra-ccedilatildeoDurante este periacuteodo destaca--se no apoio agrave frota norte ame-

ricana a famiacutelia Dabney quepara aleacutem do apoio logiacutesticoprocedia agrave aquisiccedilatildeo do oacuteleode baleia seu armazenamentoprovisoacuterio e posterior exporta-ccedilatildeo para os Estados Unidos da AmeacutericaImporta aqui referir que empleno seacuteculo XIX verica-se

tambeacutem o surgimento de umafrota baleeira pelaacutegica portu-guesa que operava fundamen-talmente ao largo de PortugalContinental e dos seus entatildeoterritoacuterios ultramarinos Em me-ados deste seacuteculo parte signi-cativa desta frota teria registo

no Porto da Horta o que bemevidencia o papel desta ilhano contexto da baleaccedilatildeo accedilo-riana portuguesa e ateacute globalNatildeo obstante e por razotildees deordem vaacuteria ainda antes doiniacutecio do seacuteculo XX esta frotatinha jaacute desaparecidoEm 1921 o Porto da Horta re-gista a uacuteltima escala de umnavio baleeiro americano pon-

do-se desta forma m a umaatividade que foi proacutespera du-rante mais de cem anos

BALEACcedilAtildeOCOSTEIRADE 18329830851984

Em 1832 teratildeo arreado pela

primeira vez nos Accedilores a par-tir da ilha do Faial os primeiros

FONTE FOTO JOVIAL

ANOS 50 O POSTO DE VIGIA DO COSTADO DA NAU NA COSTA OESTE DA ILHA DO FAIAL

AUTOR DESCONHECIDO FOTO DISPONIBILIZADA POR CARLOS LOBAtildeO

TENSAtildeO O MESTRE JOSEacute RUFINO DURANTE UM EPISOacuteDIO DE CACcedilA Agrave BALEIA

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Tempo de Baleeiros

botes baleeiros afetos ao queseria designado por baleaccedilatildeocosteira Esta baleaccedilatildeo melhoradaptada agraves caracteriacutesticas daRegiatildeo e dos seus mares teraacutesido numa primeira fase em-preendida pela famiacutelia Dabney

embora por falta de sucessoinicial por um curto periacuteodode tempo A baleaccedilatildeo costeiraviria a ser retomada com su-cesso entre 1850 e 1860 maisuma vez pelas matildeos da famiacuteliaDabney mas desta feita emparceria com a famiacutelia Bensauacute-de As embarcaccedilotildees utilizadas edesignadas por canoas cor-respondiam a adaptaccedilotildees dos

modelos utilizados nos naviosamericanos da baleaccedilatildeo pelaacute-gica embora melhor adapta-das agraves caracteriacutesticas do ocea-no contiacuteguo agraves ilhas e tipologiade caccedila pretendida Cada em-barcaccedilatildeo propulsionada agrave velae a remos tinha uma tripulaccedilatildeoque era composta em regrapor pelo menos 7 homenssendo um o ocial ou mestre

um arpoadortrancador sendoos restantes marinheirosrema-doresEsta forma de baleaccedilatildeo de-senvolvida ateacute 1987 ano emque foi arpoado o uacuteltimo exem-plar de cetaacuteceo teve um enor-me signicado econoacutemico e

social em praticamente todasas ilhas dos Accedilores com par-ticular destaque para as ilhasdo Faial e do Pico Rera-se

que a caccedila agrave baleia para amaioria dos baleeiros sendocomplementar agrave sua atividadeprossional era fundamental

agrave subsistecircncia dos respetivosagregados familiaresDiretamente associada agrave caccedilaestava a atividade de proces-samento das carcaccedilas Em

terra os cetaacuteceos eram des-manchados para a extraccedilatildeo dooacuteleo do acircmbar-gris das bar-batanas e da carne sendo osossos reduzidos a farinha Ateacuteagrave deacutecada de trinta do seculoXX a transformaccedilatildeo da gordu-ra animal em ldquoazeite de baleiardquoera realizada artesanalmentepelos proacuteprios baleeiros atra-veacutes de um processo conhecidocomo ldquoa fogo diretordquo em estru-turas designadas como ldquotrai-

oacuteisrdquo constituiacutedas no essencialpor duas caldeiras adossadasassentes numa fornalha A par-tir do primeiro quarto do seacuteculopassado este processamentopassou a ser progressivamen-te feito em unidades fabrispara o efeito construiacutedas sen-do o derretimento realizado porrecurso a enormes autoclavesalimentados a vaporEm 1984 com a proibiccedilatildeo dacaccedila agrave baleia em Portugal foidenitivamente abandonada a

atividade tendo surgido maistarde aquela que passaremosa chamar ndash ldquoA Nova Industriardquotambeacutem ela ligada aos grandescetaacuteceos mas agora numa oacuteti-

ca de estudo e de observaccedilatildeo

A NOVA INDUacuteSTRIACom o nal da caccedila agrave baleia

houve um interregno na utiliza-ccedilatildeo comercial destas espeacuteciesCuriosamente foi uma inter-rupccedilatildeo de pouca dura O en-genho do homem adapta-se agravesnovas situaccedilotildees e nos Accediloresinvariavelmente conseguem-

-se transformar adversidadesem oportunidades Apenas meia duacutezia de anosapoacutes o nal caccedila pela matildeo do

cidadatildeo francecircs Serge Viallelle

FONTE COLECCcedilAtildeO POSTAL RUSPOLI amp SOULAIRE

COSTADO DA NAU ESTA VIGIA FICAVA NA PONTA OESTE DA ILHA DO FAIAL

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REBOQUE AUXILIADOS PELA WALQUIacuteRIA OS BOTES PREPARAM983085SE PARA MAIS UMA REGATA

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Tempo de Baleeiros

ldquoA procissatildeo chegou-se ao bote silencio-

samente sem barulho de peacutes apenas um

murmuacuterio Na luz jaacute fraca a cruz natildeo era

mais que uma silhueta os veacuteus brancos

e diaacutefanos na cabeccedila das senhoras e das

meninas demarcavam-se com uma lumino-

sidade proacutepria Quando a imagem da santa

foi trazida e pousada no leito da popa ao

lado do logaieacutete os sussurros deram lugar

ao silecircncio total O mestre postou-se diante

dela por momentos muito direito de laacutebios

cerrados Com as matildeos abertas e juntas

pegou na linha da selha da popa deu-lhe

uma volta em torno do logaieacutete dobrou-a e

passou-a sobre os ombros da imagem si-

mulando um noacute ligeiro Depois vergou-se

riacutegido e beijou-lhe as vestes e falando su-

avemente como se a sua voz interior fosse

mais audiacutevel disse

ldquoNossa Senhora da Guia acompanha-nos Leva-nos em seguranccedila Ajuda-nos a encontrar baleias Protege-nos dos pe-

rigos da caccedilada Vela por noacutes no regresso agraves famiacutelias que nos esperamrdquo

Depois calou-se ainda de peacute frente agrave imagem As laacutegrimas corriam-lhe pela cara abaixo sobre a pele morena crestada

pelo marrdquo

Esta transcriccedilatildeo do livro ldquoBaleia ndash Os Baleeiros dos Accediloresrdquo de Bernard Venables sendo um relato de uma cena ob-

servada na segunda metade da deacutecada de sessenta do seacuteculo passado ilustra bem a intensidade da religiosidade dos

homens envolvidos na caccedila agrave baleia Na verdade era frequente as embarcaccedilotildees serem batizadas com o nome de uma

Santa ou de um Santo de particular devoccedilatildeo entre os mariacutetimos sendo denominador comum o apadrinhamento por um

conjunto alargado de Santas (os) cujas imagens eram axadas no interior da proa das canoas Em terra nos portos deorigem era tambeacutem comum a existecircncia de nichos onde eram expostas as imagens de Santos (as) de devoccedilatildeo de que

satildeo exemplo Nossa Senhora do Socorro na freguesia do Salatildeo Senhora de Santana no Capelo ou Satildeo Pedro

OS BALEEIROS E A RELIGIOSIDADE

e sua esposa a picarota Ale-xandra comeccedilou a preparar-seuma nova atividade a obser-vaccedilatildeo de cetaacuteceos Utilizandoos meacutetodos e teacutecnicas que an-tes serviam para perseguir oscachalotes nasceu na ilha do

Pico uma nova atividade querapidamente se estendeu agravesilhas em que o potencial eramais evidenteHoje haacute duas dezenas de pe-quenas embarcaccedilotildees quetodos os dias partem em dire-ccedilatildeo aos grupos de golnhos

baleias e cachalotes No totalao longo de todo o ano duasdezenas e meia de espeacuteciessatildeo observadas por 50 mil vi-

sitantes que pagam em meacute-dia 50 euros Portanto hojeos cetaacuteceos valem dezenasde milhares de viagens aeacute-reas estadias e alimentaccedilatildeonos Accedilores Hoje a atividade

de observaccedilatildeo de cetaacuteceos jaacuterende o equivalente aos anosaacuteureos da atividade de caccedila

Tambeacutem muito contribuiu parao sucesso o facto do Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores ter acompanhado odesenvolvimento da atividadeGraccedilas a isso e ao empenhodo Governo rapidamente sedesenvolveu um coacutedigo deconduta que em 1999 foi trans-formado na primeira legislaccedilatildeode observaccedilatildeo de cetaacuteceos daEuropa Hoje qualquer inter-ferecircncia com os cetaacuteceos dos Accedilores implica conhecimento

enquadramento e autorizaccedilatildeoexpressa das autoridades am-bientais marinhasPara aleacutem da simples observa-ccedilatildeo recorrem ao nosso arqui-peacutelago diversas das melhores

equipas de cinema documentaldo mundo para recolher ima-gens destes magniacutecos ani-mais oceacircnicos BBC NationalGeographic e NHK satildeo apenasalgumas das grandes empre-sas televisivas que anualmente

submetem pedidos para nosmares dos Accedilores lmar os

maiores animais jamais exis-tentesPara aleacutem do fasciacutenio dos proacute-prios animais e do mar hojesubsiste tambeacutem uma curio-sa induacutestria relacionada como patrimoacutenio baleeiro Depoisde um estiacutemulo dado pelo Go-verno hoje antigas faacutebricaslanchas e botes satildeo perma-

nentemente conservados etornados testemunhos bem vi-vos de outros tempos e outrasvivecircncias Essas faacutebricas satildeohoje nuacutecleos expositivos e aslanchas e botes satildeo envolvidos

em animadas competiccedilotildees en-tre os descendentes das anti-gas companhas Mais do que oresultado comercial que existeo importante eacute o impacto socialao niacutevel da memoacuteria culturalcoletiva e do divertimento luacutedi-

co contextualizadoHoje nos Accedilores as atividadesderivadas dos cetaacuteceos comespecial ecircnfase para a obser-vaccedilatildeo de cetaacuteceos tem umsignicado econoacutemico de mais

de duas dezenas de milhotildeesde euros Este eacute um exemplode como os accedilorianos se sou-beram adaptar aos temposmodernos e em que apesar donosso diminuto contributo para

o problema inicial optamospelo desenvolvimento susten-taacutevel e com enormes dividen-dos comerciaisz

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OS DABNEY E A BALEACcedilAtildeO

Oriunda dos Estados Unidosda Ameacuterica mais concretamentede Massachusetts a famiacutelia Da-bney instalou-se na no Faial em1804 (para alguns teraacute sido em1806) apoacutes a nomeaccedilatildeo de JohnBass Dabney pelo presidenteThomas Jefferson como CocircnsulGeral dos EUA no FaialDois descendentes de John BassDabney exerceram sucessiva-mente as funccedilotildees consularesapoacutes a sua morte seu lho Char -les William Dabney e posterior-mente o neto Samuel Willis Da-bney ateacute janeiro 1892 momento

em que a famiacutelia acaba por aban-donar o Faial A tiacutetulo de curiosi-dade importa referir que a des-pedida da famiacutelia em causa apoacutes

88 anos de marcante presenccedilaempresaria social e cultural em1891 eacute marcada pela realizaccedilatildeode uma regata de botes baleeirosEm boa medida favorecida pelafunccedilatildeo consular a atividade em-presarial da famiacutelia foi de supre-ma importacircncia no contexto locale regional marcando aquele queseraacute um dos mais proacutesperos ci-clos econoacutemicos do FaialOs Dabney incidiram a sua di-

nacircmica comercial em produtoscomo a laranja e o vinho mastambeacutem no negoacutecio associadoagrave baleaccedilatildeo e neste fundamen-talmente a trecircs niacuteveis no apoio

logiacutestico agrave frota de embarcaccedilotildeesnorte-americanas dedicadas agravebaleaccedilatildeo pelaacutegica no Atlacircnticoque aportava ao Porto da Hortana aquisiccedilatildeo dos oacuteleos de baleiaprocessados e subsequente ex-portaccedilatildeo Esta atividade era par-ticularmente importante agrave datana medida em que permitia aosnavios baleeiros americanos oescoamento do produto obtidocom lucro sem necessidade deregresso aos portos de origem Enalmente de forma perfeitamen-te inovadora a formaccedilatildeo de umaarmaccedilatildeo de pequenas embarca-ccedilotildees (botes baleeiros) dedicadasagrave baleaccedilatildeo costeira

A atividade empresarial desta fa-miacutelia acaba por entrar em decliacutenio

em nais do seacuteculo XIX com a

queda da produccedilatildeo de vinho e la-ranja pelo progressivo abandonoda baleaccedilatildeo pelaacutegica nos termosem que tinha ocorrido ateacute entatildeomas tambeacutem pelo aparecimentode outras proacutesperas empresas li-gadas aos mesmos ramos de ne-goacutecio de que satildeo exemplo a Ben-sauacutede Em paralelo o governoNorte Americano havia jaacute come-ccedilado a orientar o seu corpo con-

sular para a necessidade de natildeoserem acumuladas pelos respeti-vos membros funccedilotildees consularese funccedilotildees empresariais z

y

BALEAS ndash Na manhatilde do dia 22 do cor-

rente appareceram ao norte drsquoesta bahia

alguns spermacettis Duas canocircas da

casa Dabney foram em sua perseguiccedilatildeo

e tiveram a felicidade de matar um que

foi conduzido para o Porto Pim onde se

estagrave derretendo Muita gente tem con-

corrido agravequelle sitio para o ver Nos dias

seguintes mais alguns peixes appare-

ceram na bahia mas quando as canocircas

foram em sua caccedila jaacute os natildeo avistaram

In O Fayalense de 25 de junho de 1871

FONTE BIBLIOTECA PUacuteBLICA E ARQUIVO REGIONAL JOAtildeO JOSEacute DA GRACcedilA

PORTO DA HORTA ndash O Atlantico de quinta-feira publica o

movimento mariacutetimo drsquoeste porto no anno ndo de 1871

que com a devida venia transcrevemos

laquoNo anno ndo de 1871 deram entrada na bahia da Horta

253 embarcaccedilotildees com 93000 toneladas 94 navios eram

portuguezes 50 inglezes 79 americanos 15 francezes

4 italianos 3 allematildees 1 hespanhol 1 liberiano 1 norue-

guez 2 suecos 2 belgas e 2 brazileiros Entre estes in-

cluem-se 32 vapores mercantes e 13 de guerra e 42 bale-

eiras americanas as quaes descarregaram 363 818 litros

drsquoazeite de spermacetti e de balea egual a 381627 kilos

do mesmo Em 1870 so deram entrada 30 baleeiras asquaes apenas descarregaram 115523 litros drsquoazeite egual

a 157466 kilosraquo

In O Fayalense de 7 de Janeiro de 1872

FONTE BIBLIOTECA PUacuteBLICA E ARQUIVO REGIONAL JOAtildeO JOSEacute DA GRACcedilA

O TUFO ENCOSTADA AO MONTE DA GUIA FORMOU983085SE A PRIMEIRA ESTACcedilAtildeO DE APOIO Agrave BALEACcedilAtildeOCOSTEIRA NO FAIAL

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Na ponta Oeste da ilha do

Faial junto ao Vulcatildeo dos Ca-pelinhos encontramos umapequena Calheta formadahaacute centenas de anos por umaescoada laacutevica A Ponta Com-prida assim descrita na car-tograa do seacuteculo XVIII pro-porcionava um abrigo naturalnuma aacuterea de pesca costeirafrequentada desde as primei-ras deacutecadas do povoamentoda ilha Aberto na rocha entre

as faleacutesias e o mar o porto doComprido era um lugar isola-do ideal na partida do Homempara o combate com o Cacha-lote A curta distacircncia cavam

as aacuteguas profundas que limi-tam a ilha do Faial onde seacumulam as presas marinhasque atraem grandes preda-dores como eacute o caso dos ca-chalotes As altas faleacutesias doCostado da Nau de onde seperscrutavam os movimentosdas embarcaccedilotildees vindas deOeste permitiam um longo al-cance aos vigias da baleia euma comunicaccedilatildeo visual comas vigias instaladas na CostaNorte da Ilha nos Cedros e no

Salatildeo em conexatildeo com a vigiado Alto das Concheiras Laacute embaixo a menos de 100 metrosdo mar os baleeiros reuniam--se durante os meses de Ve-ratildeo como um exeacutercito sitiadoem habitaccedilotildees de pedra cober-tas com palha de trigo manten-do as suas canoas varadas narampa do porto O nuacutecleo habi-tacional do porto do Comprido

alojava baleeiros das ilhas doFaial do Pico e de Satildeo JorgeNeste aspecto aparentementesingular o porto do Compridopoderia ser comparado comoutros postos baleeiros espa-lhados por zonas inoacutespitas doglobo como a ilha de Spitsber-gen no seacuteculo XVII onde osbaleeiros ingleses e holande-ses conviviam durante o Veratildeo

ou as estaccedilotildees baleeiras daGeoacutergia do Sul no Antaacutertico

AS FASES DA

BALEACcedilAtildeOCOSTEIRA NA ILHADO FAIAL E O CASODO PORTO DOCOMPRIDO

A caccedila agrave baleia no porto doComprido ter-se-aacute desenvolvi-do entre 1884 e 1957 tornan-do-se um posto baleeiro cadavez mais importante no conjun-

to das ilhas do grupo centralEste periacuteodo pode ser divididoem trecircs fases sucessivas A partir da deacutecada de 1870com a crise do comeacutercio deexportaccedilatildeo do vinho e da laran- ja a afectar o uxo comercial

do porto da Horta o negoacutecioda baleaccedilatildeo costeira torna-seum foco de entusiasmo paraas empresas locais Nestecontexto a casa comercial

DabneyampSons experimenta-da na baldeaccedilatildeo do oacuteleo dosnavios baleeiros norteamerica-nos e em condiccedilotildees propiacuteciaspara importar canoas baleeiras

y

PORTO DO COMPRIDOUM POSTO BALEEIRO (1884-1957)

FONTE ACERVO DOCUMENTAL DAS OBRAS PUacuteBLICAS DO DISTRITO DA HORTA

VARADOURO PLANO DE REPARACcedilAtildeO DO PORTO DO COMPRIDO 1927

FONTE COLECCcedilAtildeO DO MUSEU DO PICO

ARREADA EM POUCOS MINUTOS DEPOIS DE DADO O SINAL TODOS OS BOTES BALEEIROS ESTAVAM NA AacuteGUA

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Tempo de Baleeiros

antecipa-se na criaccedilatildeo de infra-

estruturas de apoio agrave baleaccedilatildeocosteira Em 1884 Samuel Da-bney pede autorizaccedilatildeo para aconstruccedilatildeo de uns ldquo turcos demadeira junto agrave costa no localdenominado ndash o Comprido -[hellip] para poderem arrear asembarcaccedilotildees empregues napesca da baleardquo(1) As baleiascaccediladas a partir do porto doComprido seriam rebocadas aremos ou com o auxiacutelio de umvapor do porto da Horta ateacuteagrave estaccedilatildeo de traioacuteis de PortoPim o ldquoTufordquo onde se proce-dia ao desmancho do cachalo-te e se derretiam os toucinhosem grandes caldeiros de ferroEsta primeira fase de baleaccedilatildeocosteira estaacute contudo deter-minada pelos poucos meios eo insucesso na maioria de ten-tativas de captura dos cacha-lotes tal como nos indicam asnotiacutecias contemporacircneas Agraves

canoas de terra uniam-se eminteracccedilatildeo ou concorrecircncia ascanoas dos navios baleeirosnorteamericanos que perma-neciam ao largo das ilhas doTriacircngulo Apesar das incer-tezas a baleaccedilatildeo no porto doComprido prevaleceu duranteas deacutecadas seguintesUma segunda fase situadaentre os anos 20 e os anos 40

do seacuteculo XX caracteriza-se

pela concentraccedilatildeo de funccedilotildeesda baleaccedilatildeo costeira no portodo Comprido Por outras pala-vras era no porto do Compridoque arreavam os botes bale-

eiros - auxiliados por lanchas

a motor a partir dos anos 20 ndash e depois de capturados oscachalotes seriam encalhadose desmanchados na zona doporto Segundo uma inspecccedilatildeofeita pela Capitania do porto daHorta em 1928 era a Socieda-de Baleeira Aurora que possuiacuteano porto do Comprido ldquoumacasa com duas caldeiras e res-pectivas fornalhas e mais ape-trechos para o derretimento dooacuteleo achando-se tudo em bomestado e regularmente instala-dordquo(2) De resto esta fase estaacute

marcada pela proliferaccedilatildeo depequenas armaccedilotildees ou socie-dades baleeiras em vaacuterios por-tos da Ilha (Ribeirinha CedrosSalatildeo Castelo Branco) cadauma com os seus apetrechose instalaccedilotildees ou em sociedadecom outras armaccedilotildees Na ilhado Faial existiam em simultacirc-neo entre cinco a oito armado-

res da ldquopesca da baleiardquo entre1920 e 1930 Durante a eacutepoca

de caccedila o porto do Comprido jaacute seria frequentado por setecanoas baleeiras algumas dasquais permaneciam durantetodo o ano Com a complexi-caccedilatildeo da actividade baleeirasatildeo tambeacutem mais notaacuteveis asintervenccedilotildees das autoridadesmariacutetimas na vida do postobaleeiro e os requerimentos

das instituiccedilotildees de poder localcomo a Junta de Freguesia doCapelo para a realizaccedilatildeo deobras de construccedilatildeo e repara-ccedilatildeo do porto

FASE INDUSTRIAL

Mas se existe periacuteodo em queo porto do Comprido se con-verte num destacado postobaleeiro em toda a sua espe-cicidade eacute durante a fase in-

dustrial da baleaccedilatildeo na ilha doFaial entre 1940 e 1957 Nosanos convulsos da 2ordf Guerra

Mundial a forte subida do pre-ccedilo do oacuteleo de cachalote incen-tivou o crescimento da activi-dade baleeira nos Accedilores e dailha do Faial em particular Asobras para o desenvolvimentodo porto do Comprido estavamno centro do debate Com aconstruccedilatildeo das Faacutebricas da

Baleia de Porto Pim (1942) eSatildeo Roque (1944) e a expec-tativa de dobrar a produccedilatildeode oacuteleo atraveacutes do processa-mento industrial do cachaloteera necessaacuterio optimizar ascondiccedilotildees do varadouro ondeestacionavam os botes bale-eiros do Faial e do Norte doPico Os projectos de constru-ccedilatildeo de 1942 e 1944 previam

a construccedilatildeo de uma muralhade defesa do porto e um caisacostaacutevel aleacutem de um nivela-mento da rampa de varagemcom mais de 110 metros Noentanto estes projectos nun-ca viriam a ser concretizados

Durante este periacuteodo a rampade varagem chegou a ter 18botes baleeiros varados e 7lanchas a motor amarradas aolargo condiccedilotildees que exigiamo envolvimento de no miacutenimo200 indiviacuteduos na actividade

baleeira As armaccedilotildees bale-eiras em menor nuacutemero masmelhor organizadas recebiaminstruccedilotildees relativas agrave saiacuteda co-ordenada dos botes baleeiros

para o mar e o trabalho colec-tivo dos vigias pertencentes adiferentes armaccedilotildees baleeirasNa retaguarda da actividadeos armazeacutens da ReisampMartinsna Horta prestavam todo o tipode fornecimentos agraves embarca-ccedilotildees estacionadas no Capelolinha de baleia tintas oacuteleo delinhaccedila lanccedilas e arpotildees entreoutros eram enviados regular-

FONTE COLECCcedilAtildeO DO MUSEU DO PICO

PORTO DO COMPRIDO ANTES DA SAIacuteDA OS BOTES ERAM CUIDADOSAMENTEINSPECCIONADOS

BALEEIROS NO CAPELO

A tradiccedilatildeo oral recorda ldquoo Compridordquo como um lugar de alegriaonde os baleeiros celebravam a vida de Veratildeo em comunidadeEnquanto o foguete natildeo estalava danccedilava-se a Chamarritafestejava-se o Satildeo Pedro ou assistia-se agrave festa de Santana Ospicarotos protagonistas da migraccedilatildeo sazonal dispuseram demeios para transportar consigo as mobiacutelias os animais domeacutes-

ticos as famiacutelias inteiras Agrave noite tambeacutem se pescava de diasalgava-se o peixe Balear no Comprido transformava o quoti-diano dos homens que por norma nunca seriam baleeiros atempo inteiro

Fonte Foto Fotojovial

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Tempo de Baleeiros

CACcedilA Agrave BALEIA NO PORTO DO COMPRIDO

A partir de determinada eacutepoca do ano os botes baleeiros deixavam de ldquoarrearrdquo na cidade da Horta e concentravam-se nos postosbaleeiros do Salatildeo e do porto do Comprido A actividade no porto do Comprido era sobretudo inconstante podia haver 4 a 5 diasconsecutivos de caccedila mas tambeacutem uma semana inteira agrave espera que os vigias dessem o sinal de ldquoarreadardquo

mente para o posto baleeiro Aaldeia dos baleeiros era manti-da segundo uma organizaccedilatildeofamiliar e com o apoio de co-merciantes locais da freguesiado Capelo que asseguravamo seu aprovisionamento Sem

duacutevida foram nos derradeirosanos da baleaccedilatildeo no Compridoque mais se caccedilou agrave baleia ede forma mais ecaz com uma

forte concentraccedilatildeo nos mesesde Veratildeo (cfr Graacuteco)

Em Setembro de 1957 quan-do se iniciaram as erupccedilotildees noVulcatildeo dos Capelinhos o portodo Comprido foi imediatamenteabandonado Em poucos me-ses todos os anos de histoacuteria

deste posto baleeiro seriamabruptamente consumidos pe-las cinzas deixando-nos umapaisagem desolada escureci-da pelo Vulcatildeo z

Notas

(1) Fundo da Capitania do Porto da

Horta Arquivo Histoacuterico da Marinha

(2) Idem

OS HOMENS DA BALEIA

Fonte Foto Maacuterio Ruspoli Les Hommes de la Baleine (1956)

No Veratildeo de 1956 o italiano Maacuterio Ruspoli propocircs-se reali-zar um documentaacuterio sobre os uacuteltimos caccediladores de baleia dotempo de Moby Dick Depois de conseguir um empreacutestimo de

2 milhotildees de francos concedido pelo milionaacuterio grego AristoteOnassis M Ruspoli reuniu uma talentosa equipa composta porJacques Soulaire e Gilbert Rouget e instalou-se na casa dos fa-roleiros dos Capelinhos Durante dois meses a equipa recolheuas imagens e os sons uacutenicos da actividade baleeira no porto doComprido Les hommes de la Baleine eacute um precioso documentorealista e liacuterico sobre a baleaccedilatildeo na ilha do Faial

BALEEIROS NA AMEacuteRICACom a erupccedilatildeo do vulcatildeo dosCapelinhos e a abertura dasfronteiras norte americanasmuitos jovens baleeiros se-

guiram o rumo da emigraccedilatildeoconservando a memoacuteria dostempos aacuteureos e diceis da ba-leaccedilatildeo

Fonte foto Colecccedilatildeo Privada de Manuela Rosa

FRANCISCO HENRIQUESOMA

FONTE COLECCcedilAtildeO POSTAL RUSPOLI amp SOULAIRE

TRANCAR JOSEacute RAFAEL PREPARA983085SE PARA ARPOAR UM CACHALOTE

Fonte Colecccedilatildeo Documental ReisampMartins Lda ndash Faacutebrica da Baleia de Porto Pim

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Tempo de Baleeiros

Na deacutecada de trinta do seacute-culo XX durante o auge dainduacutestria baleeira nos Accediloresforam constituiacutedas vaacuterias em-presas nas diversas ilhas paraa exploraccedilatildeo e comercializaccedilatildeodos produtos obtidos a partir

dos cachalotes No Faial foramconstituiacutedas trecircs sociedadesa Reis amp Martins Lda arma-ccedilatildeo baleeira e exportadoresde oacuteleo a Companhia Bale-eira Faialense Lda armaccedilatildeobaleeira e a Sociedade Indus-trial Mariacutetima Accediloriana Lda(SIMAL) ligada agrave induacutestriatransformadora A Reis amp Mar-tins Lda constituiacuteda em 1945adquiriu um armazeacutem na RuaNova na cidade da Horta queservia como casa de botes eocina de carpintaria marce-naria tanoaria ferraria e mecacirc-nica ofiacutecios essenciais para aconstruccedilatildeo e manutenccedilatildeo dasembarcaccedilotildees baleeiras (lan-chas a motor e botes) e res-pectiva palamenta Depois dom da actividade baleeira nos

Accedilores no iniacutecio dos anos 80do seacuteculo XX o armazeacutem daRua Nova e grande parte do

seu espoacutelio foram parcialmen-te mantidos ateacute agrave actualidadeembora seja notoacuteria a degrada-ccedilatildeo tanto do imoacutevel como demuitos dos objectos e equipa-mentos aiacute armazenadosPerante o risco seacuterio de esteespoacutelio se perder e dada a im-portacircncia deste espoacutelio para oestudo da baleaccedilatildeo no Faial enos Accedilores considerou-se serurgente efectuar o seu resgate

levantamento e estudo destepatrimoacutenio garantindo assima sua preservaccedilatildeo Assim osactuais proprietaacuterios e herdei-ros da Reis amp Martins Lda

estabeleceram uma parceriacom o Observatoacuterio do Mar dos Accedilores (OMA) com o objectivode salvaguardar o patrimoacutenioexistente e integrar parte deleno museu da Faacutebrica da Baleiade Porto Pim

O projecto ldquoLevantamento dePatrimoacutenio Baleeiro e Dinami-zaccedilatildeo do Espaccedilo Expositivo

da Faacutebrica da Baleia de PortoPimrdquo iniciou-se em 2008 e em

2009 passou a ser co-nancia-do pela Direcccedilatildeo Regional daCultura (DRaC) que o consi-derou de ldquointeresse relevantepara a Regiatildeo e capaz de con-tribuir para o desenvolvimentoda poliacutetica cultural dos AccediloresrdquoEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinarias

equipamentos embarcaccedilotildeespalamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)

o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobrea induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiais

moacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Partedesse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo na

sua exposiccedilatildeo permanenteEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinariasequipamentos embarcaccedilotildees

palamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobre

a induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiaismoacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Parte

desse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo nasua exposiccedilatildeo permanente

y

PATRIMOacuteNIO BALEEIRO DA FASEINDUSTRIAL DA BALEACcedilAtildeO NO

FAIAL - RESGATE INVENTARIACcedilAtildeO ECONSERVACcedilAtildeO

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

RUA NOVA INTERIOR DO ESCRITOacuteRIO DOS ARMAZEacuteNS DA REIS amp MARTINS LDA

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Tempo de Baleeiros

INVENTAacuteRIO DOESPOacuteLIO REIS EMARTINS LDA

Os objectos encontrados foramanalisados e descritos quantoagraves caracteriacutesticas funcionaisde origem e agraves transforma-ccedilotildees eventuais que possamter sofrido ao longo do tempoSe alguns objectos tecircm umafunccedilatildeo oacutebvia (pe botes e suapalamenta arpotildees etc) outroshaacute cuja sua utilidade eacute difiacutecil dedescodicar A identicaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo funcional dos ob- jectos encontrados foi consubs-tanciada por fontes documen-tais quando existentes eoupor depoimentos orais fonte de

informaccedilatildeo uacutenica e insubstituiacute-vel para a compreensatildeo abran-gente da actividade industrialem estudo A identicaccedilatildeo de cada bem

foi registada em cha proacutepria

onde os elementos considera-dos adequados para o seu re-conhecimento foram descritosem detalhe A cha inclui uma fotograa do

objecto o seu nuacutemero de in-

ventaacuterio a sua funccedilatildeo originala categoria a que pertence oseu estado de conservaccedilatildeo adata do inventaacuterio e a referecircn-cia das fotograas existentes

desse objectoOs bens inventariados foramclassicados em categorias

consoante o tipo de colecccedilatildeo esuas caracteriacutesticas (tipologia) Assim optou-se por classicaacute--los em classes segundo asua funccedilatildeo original e em sub-classes que correspondemao local ou agrave infra-estrutura aque pertenciam (ex Selhandashde--linha Classe Palamenta Sub-classe Bote Baleeiro) A inventariaccedilatildeo individual de

cada peccedila permitiu a criaccedilatildeode um inventaacuterio fotograacuteco e

de uma lista geral de inventaacute-rio onde constam todas as 468peccedilas resgatadas ateacute ao mo-mento O passo seguinte con-sistiu na conservaccedilatildeo e restau-ro dos objectos classicados

As intervenccedilotildees foram criterio-samente efectuadas para natildeocomprometerem a constituiccedilatildeooriginal das peccedilas Aspiraccedilatildeo lavagem restaurocom oacuteleo e tratamento contra

pragas foram as operaccedilotildeesadoptadas para as peccedilas demadeira As peccedilas de metal a maioriacom niacuteveis de oxidaccedilatildeo con-sideraacuteveis foram objecto detratamentos especiacutecos adap-tados a cada casoz

FONTE OMA

SALVAGUARDA CLASSIFICACcedilAtildeO DAS 468 PECcedilAS INVENTARIADAS ATEacute AO MOMENTO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

OBJECTOS983085 EXEMPLARES DO ESPOacuteLIO RESGATADO DOS ARMAZEacuteNS REIS E MARTINS

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Tempo de Baleeiros

y Em 2010 o OMA estabe-leceu um contrato de coope-raccedilatildeo teacutecnica com a DirecccedilatildeoRegional da Cultura (DRaC)com o objectivo de inventariaro patrimoacutenio baleeiro imoacutevel detodo o arquipeacutelago A execuccedilatildeo

do projeto foi assegurada poruma equipa multidisciplinar naaacuterea da investigaccedilatildeo histoacuterica

arquitectura e fotograa pro-ssional A recolha preacutevia da

informaccedilatildeo foi o ponto de par-tida para um trabalho de cam-po que decorreu entre os me-ses de Junho e Dezembro de2011 Foram inventariados os

antigos complexos baleeirospostos baleeiros e varadourosbaleeiros rampas de varagemdas embarcaccedilotildees rampas dealagem de cachalotes casas

de botes traioacuteis faacutebricas deprocessamento de cachalotese plataformas de desmancho

vigias residecircncias sazonaiscarpintarias ocinas arma-zeacutens entre outrosNa ilha do Faial foram inven-tariados 17 imoacuteveis (ver Fig5) identicados no Complexo

Baleeiro das Anguacutestias (localonde as armaccedilotildees baleeirastinham a sua sede com ar-mazeacutens faacutebricas de proces-samento de cachalotescasade caldeiros e estacionavam

as embarcaccedilotildees prontas parauma raacutepida arriada agrave baleia)nos Postos Baleeiros do Porto

do Comprido do Salatildeo (estesdois como local de estaciona-mento sazonal das armaccedilotildeesbaleeiras do Faial e do Pico) edo Varadouro Identicaram-se

ainda apesar de menos repre-sentativos na actividade baleirada Ilha do Faial os Varadourosdo Cedros Castelo Branco eRibeirinha todos com rampade varagem para estaciona-mento de botes baleeiros z

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIRO IMOacuteVEL DO FAIAL

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIO BALEEIRO IMOacuteVEL DOS ACcedilORES A ILHA DO FAIAL

MAacuteRCIA DUTRAOMA

COMPLEXTO BALEEIRO DAS ANGUacuteSTIAS1 983085 FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

2983085 ARMAZEacuteM DA REIS amp MARTINS LDA3 983085 CASA DE CALDEIROS DE PORTO PIM983080FAacuteBRICA VELHA9830814 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTOPOSTO BALEEIRO DO PORTO DOCOMPRIDO5 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO DO

COMPRIDO6 983085 VIGIA DO CAPELO

7 983085 VIGIA DO COSTADO DA NAU8 983085 RESIDEcircNCIAS SAZONAIS DO PORTODO COMPRIDO9 983085 CASA DOS BOTES DO PORTO DOCOMPRIDOPOSTO BALEEIRO DO SALAtildeO10 983085 RAMPA DE VARAGEM DO SALAtildeO

11 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DA ARMA983085CcedilOtildeES DO FAIAL

12 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DAS ARMA983085CcedilOtildeES DO PICO13 983085 VIGIA DOS CEDROS14 983085 POSTO BALEEIRO DO VARADOURO15 983085 VIGIA DO ALTO DAS CONCHEIRASVARADOURO BALEEIRO DOS CEDROS16 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO

DA EIRAVARADOURO BALEEIRO DA RIBEIRINHA

17 983085 RAMPA DE VARAGEM DA RIBEIRINHAVARADOURO BALEEIRO DE CASTELOBRANCO18 983085 RAMPA DE VARAGEM DE CASTELOBRANCO

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Tempo de Baleeiros

y Em 1939 a Sociedade In-dustrial Mariacutetima Accediloriana Lda ndash a SIMAL foi fundada na Hor-ta Esta sociedade comercialpor quotas de responsabilidadelimitada tinha como objectivosa ldquoexploraccedilatildeo da induacutestria doaproveitamento integral da ba-

leia e outras espeacutecies marinhase comeacutercio dos respectivosprodutosrdquo A SIMAL era cons-tituiacuteda por 25 soacutecios sendo os

soacutecios maioritaacuterios o industriallisboeta Francisco Marcelinodos Reis e a empresa localCosta amp Martins Lda Desta-

cam-se ainda quatro compa-nhias baleeiras da Ribeira doMeio (Pico) que por razotildeesfamiliares e por ter sido nega-

da a construccedilatildeo de uma faacutebri-ca nas Lajes se associaram agraveSIMAL A faacutebrica comeccedilou a ser cons-truiacuteda em 1941 inicialmenteno areal da Praia de Porto Pimmas devido a um forte tem-poral ocorrido em Setembrodesse mesmo ano foi comple-tamente destruiacuteda e abandona-do o projecto Esta intempeacuterielevou a que os proprietaacuterios

decidissem construir a faacutebricano local onde hoje a conhe-cemos na encosta do Monteda Guia A faacutebrica comeccedilou alaborar em fase experimentalem Agosto de 1942 Durante

os seus 30 anos de laboraccedilatildeoprocessaram-se 1940 cachalo-tes que produziram 44 mil bi-dotildees de oacuteleoEm 1974 acompanhando odecliacutenio da induacutestria baleeira aniacutevel mundial a faacutebrica fechouas suas portas Em 1980 oGoverno Regional dos Accediloresadquiriu todo o complexo fabrilcom o objectivo de ali instalaro Departamento de Oceano-

graa e Pescas e uma Escola

de Pesca desiacutegnio esse quenunca se chegou a realizarEm 1984 a antiga faacutebrica foiclassicada como Imoacutevel de

Interesse Puacuteblico (IIP) Depoisde quase duas deacutecadas de de-gradaccedilatildeo do edifiacutecio e da suamaquinaria sem duacutevida atenu-ados pela acccedilatildeo persistente deManuel da Rosa Correia co-nhecido como Patratildeo Manuele de Manuel Medeiros conhe-cido com Sr Amaral (antigo en-carregado da faacutebrica) a faacutebricafoi nalmente alvo de obras

de restauro e de beneciaccedilatildeo Apelidada de Centro do Marfoi inaugurada em 2000 por

ocasiatildeo da 2ordf ediccedilatildeo da Expo-Pescas com o objectivo de setornar num espaccedilo de divulga-ccedilatildeo cultural e cientiacuteca Desde

2004 que a Faacutebrica eacute a sede

do OMA que desde entatildeo temvindo a dinamizar esse espaccediloEm 2010 a Faacutebrica da Baleia

de Porto Pim como hoje eacute co-nhecida foi inserida no Com-plexo do Monte da Guia da Ilhado Faial z

A FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

VISITA GUIADA FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM 983085 DESCRICcedilAtildeO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE OMA

INTERIOR A FAacuteBRICA Eacute UM MUSEU PERMANENTE

CASA DAS AUTOCLAVES COMSEIS AUTOCLAVES CADA UMACOM CAPACIDADE DE 11 M

CASA DAS FARINHAS COM TODAA MAQUINARIA ORIGINAL DA RE983085

CONHECIDA MARCA NORUGUESAMYRENS VERKSTED E OS MOTO983085

RES DA MARCA ALEMAtilde MOTORENFABRIK DEUTZ AG

EDIFICIO ANEXO ONDE FUNCIONAVA A ANTIGASERRALHARIA E OS ESCRITOacuteRIOS DESTACAM983085SEOS ALTOS TANQUES SUBTERRAcircNEOS PARA AR983085MAZENAMENTO DE OacuteLEO ACTUAL ldquoSALA DOS

OacuteLEOSrdquo 983080SALA DE EXPOSICcedilOtildeES E REUNIOtildeES983081

ANTIGAS CASAS DE BANHOACTUAL BAR DA PRAIA E WCS DE

APOIO Agrave FAacuteBRICA DA BALEIA

ANTIGO ARMAZEacuteM DAS FARI983085NHAS COM QUATRO TANQUESSUBTERRAcircNEOS PARA ARMAZE983085NAMENTO DO OacuteLEO ACTUALLOJA DA FAacuteBRICA E CIM

PLATAFORMA DE DESMANCHODESTAQCA983085SE A CHAMINEacute DAS CALDEI983085

RAS A VAPOR

CASA DAS CALDEIRAS A VAPOR IMPO983085NENTES CALDEIRAS FABRICADAS NA CI983085DADE DO PORTO EM PRIMEIRO PLANOVEMOS A CALDEIRA QUE FOI INSTALADAEM 1950

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y A inauguraccedilatildeo da Casados Botes no Capelo marcoumais um passo no percursoque comeccedilou a ser percorridohaacute mais de dez anos quandopor altura das comemoraccedilotildeesdos 400 anos daquela fregue-sia se decidiu iniciar um pro-cesso de recuperaccedilatildeo do patri-moacutenio baleeiro no Faial entatildeodenominado ldquorecuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeira da ilha doFaialrdquoHoje 25 anos depois de ter

sido caccedilado o uacuteltimo cachaloteem aacuteguas accedilorianas o patri-moacutenio da baleaccedilatildeo estaacute bemvivo sendo essa vivacidade noFaial espelhada pela recupe-

raccedilatildeo dos botes baleeiros dalancha Walquiacuteria da Faacutebricada Baleia e agora da Casados BotesRecuperar os botes baleeirosnatildeo eacute no entanto suciente

para garantir que a sua me-moacuteria continua viva Os botespertencem ao mar e por issofoi com naturalidade que estemovimento de revitalizaccedilatildeo dopatrimoacutenio acabou por passar

para a vertente desportiva coma criaccedilatildeo da secccedilatildeo de botesbaleeiros do Clube Naval daHorta que movimenta muitos

desportistasNa hora de lembrar todo estepercurso de recuperaccedilatildeo dopatrimoacutenio baleeiro bem comode reectir sobre o que haacute a

fazer numa altura em esseprocesso estaacute praticamenteconsolidado Tribuna das Ilhasconversou com Joatildeo Garciaque era em 2000 membro do

elenco da Junta de Freguesiado Capelo responsaacutevel pelodesencadear deste projectoe que em 2005 o levou para o

Clube Naval da Horta quandoassumiu a direcccedilatildeo da agre-miaccedilatildeo naacuteutica faialense Alertando para a importacircnciada manutenccedilatildeo deste patrimoacute-

nio agora que todo ele estaacuterestaurado Joatildeo Garcia apelaa um esforccedilo conjunto para aconsolidaccedilatildeo de um campeo-nato regional de botes baleei-ros e defende a alteraccedilatildeo dalegislaccedilatildeo para que os clubesnavais possam retirar rentabili-dade econoacutemica dos passeiosagrave vela em botes baleeiros demodo a que estes possam sus-tentar a sua proacutepria manuten-

ccedilatildeo

O PROCESSO DE RECUPE-RACcedilAtildeO DE BOTES EM VAacute-

RIAS FREGUESIAS COM HIS-TOacuteRIA BALEEIRA NO FAIALFOI DESENCADEADO QUAN-DO O JOAtildeO ERA PRESIDEN-TE DA JUNTA DE FREGUESIADO CAPELO E PREPARAVAAS COMEMORACcedilOtildeES DOSSEUS 400 ANOS O QUE EacuteQUE MOTIVOU A QUE O PA-TRIMOacuteNIO BALEEIRO FOSSEO MARCO DESTA EFEMEacuteRI-DE A importacircncia que tinha essaefemeacuteride levou a que se -zesse um levantamento his-toacuterico dos quatro seacuteculos dafreguesia A baleaccedilatildeo teve umpapel importante nessa histoacuteriae desde logo decidimos fazer

uma regata de botes que li-gasse o Porto do Comprido aodo Varadouro tendo em contaa ligaccedilatildeo histoacuterica que os doistiveram pela baleaccedilatildeo A partirdaqui somos despertados paraalgo que tem grande valor sen-timental e histoacuterico e nasce ummovimento de recuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeiraO Capelo teve uma forte im-plementaccedilatildeo da baleaccedilatildeo era

uma coisa que estava enraiza-da no povo e que era impor-tante salvaguardar Primeirohouve a preocupaccedilatildeo de re-

gistar as memoacuterias que haviadessa eacutepoca registos feitospor pessoas do Capelo nome-adamente pelo Joseacute Franciscoda Faialentejo que registou ostestemunhos de alguns baleei-ros Depois houve o movimen-to de recuperaccedilatildeo dos botesO Pico tinha jaacute uma seacuterie debotes recuperados e noacutes qui-semos ir um pouco mais lon-ge e abranger natildeo apenas asfreguesias com tradiccedilatildeo nabaleaccedilatildeo como Salatildeo Cas-telo Branco e Anguacutestias mastambeacutem outras onde havia re-crutamento de baleeiros comoeacute o caso da Feteira O projectocontemplava a recuperaccedilatildeo da

Casa do Bote Baleeiro que foirecentemente inaugurada evisa ainda publicar a histoacuteria dabaleaccedilatildeo na ilha do Faial

FOI FAacuteCIL PARA A JUNTA DEFREGUESIA DO CAPELO MO-TIVAR AS RESTANTES FRE-GUESIAS A EMBARCAREMNESTE PROJECTOPor acccedilatildeo do Clube Navalmais concretamente pelo entatildeo

presidente Joseacute Decq Motatemos conhecimento que naCalheta do Nesquim existe umbote disponiacutevel cheio de his-

ENTREVISTA A JOAtildeO PEDRO GARCIA

ldquoO DESAFIO MAIS IMPORTANTE Eacute

A PRESERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROrdquo

FONTE ROBERT CLARKE DISCOVERY REPORTS 1954

NO MAR O MOMENTO EM QUE SE INICIA A PERSEGUICcedilAtildeO AO CACHALOTE

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toacuteria e que eacute inclusive citadono Mau Tempo no Canal deVitorino Nemeacutesio o bote SatildeoJoseacute Sabendo que havia aquium interesse ele falou-nos daexistecircncia desse bote que es-tava sob a alccedilada da Comissatildeo

do Patrimoacutenio Baleeiro Inicia--se aiacute a sua recuperaccedilatildeo e umpasso importante para aquiloque queriacuteamos fazer A recu-peraccedilatildeo de um bote para a fre-guesia do Capelo fez despertaras outras freguesias para esteprojecto Nesta altura ele deixade ser apenas palavras e pe-quenos escritos para comeccedilara ter uma maior dimensatildeoEm 2000 temos a primeira re-

gata com botes do Pico e ape-nas com o Claudina do Faial43 anos depois do uacuteltimo botebaleeiro ter ldquoarriadordquo no Com-prido Em 2003 aparece o Satildeo

Joseacute outro bote recuperadopara o Faialhellip As pessoas co-meccedilam a perceber que este eacuteum projecto com vidaNesta altura comeccedila tambeacutema dinamizar-se a regata inter-nacional de botes baleeirosO movimento de geminaccedilatildeoentre a Horta e New Bedfordestava estagnado e a partirdaiacute essa ligaccedilatildeo fortalece-seFoi precisamente a baleaccedilatildeoque criou o elo entre as duascidades agora fortalecido com

a recuperaccedilatildeo do patrimoacuteniobaleeiro E curiosamente eacutena primeira viagem que sefaz aos Estados Unidos que opresidente da Cacircmara Munici-pal da Horta Joatildeo Castro ca

desperto para a importacircncia dese recuperar a Walquiacuteria outroprocesso que estava estagna-do e ganha nessa altura alentoHaacute assim uma bola de neveque vai crescendo uma pai-xatildeo que vai aumentando e um

despertar da consciecircncia paraa recuperaccedilatildeo da memoacuteria quefaz com que se torne tudo maisfaacutecilO Governo Regional atraveacutesda Comissatildeo do PatrimoacutenioBaleeiro dos Accedilores deu umapoio incondicional a este pro- jecto Este eacute um desiacutegnio natildeode um homem soacute mas de vaacute-rias pessoas e instituiccedilotildees

COMO Eacute QUE O OBJECTIVO

DA PRESERVACcedilAtildeO DOS BO-TES BALEEIROS Eacute TRANS-POSTO PARA O CLUBE NA-VAL DA HORTA (CNH) COMO INTUITO DE CRIAR UMANOVA VERTENTE DESPORTI-VA NA ILHAQuando me foi lanccedilado o de-sao de assumir a presidecircncia

do CNH os botes baleeirosassumem uma importacircncia nomeu projecto para o clube Natildeoera possiacutevel continuar a gerir

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

BAIacuteA DA FETEIRA DURANTE A EacutePOCA DO VERAtildeO A BAIA Eacute ENGALANADA PELAS VELAS DOS BOTES BALEEIROS

FONTE SUSANA GARCIA

PATRIMOacuteNIOJORGE FONTES JOAtildeO GARCIA E JOAtildeO TAVARES TREcircS IMPULSIONA DORES DA PRESERVACcedilAtildeO DO PATRI983085MOacuteNIO BALEEIRO DA ILHA DO FAIAL

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Tempo de Baleeiros

as tripulaccedilotildees e a actividadedesportiva dos botes atraveacutesdas juntas de freguesia porqueelas natildeo tecircm essa vocaccedilatildeoEra inevitaacutevel que houvesseuma instituiccedilatildeo como o CNH ndash soacutelida agregadora sem ri-

validades ndash que pudesse darcontinuidade ao processo Nes-se sentido fundaacutemos a secccedilatildeode Botes Baleeiros da ilha doFaial que agrega com igual au-tonomia e legitimidade todos osparticipantes nesta actividadeNeste ponto tenho de referiro Carlos Fontes que deu umimportante contributo a todo oprocesso pela sua dedicaccedilatildeoe organizaccedilatildeo Outro elemen-

to que emprestou um valiosocontributo foi o Nuno Limasobretudo na recuperaccedilatildeo dalancha Walkiria a rainha dosmares dos Accedilores Houve ummomento de explosatildeo com

mais de cem participantes tan-to masculinos como femininoscom miuacutedos a virem das fre-guesias para aprender velacom cursos para ociaishellip Esta

vitalidade dos botes manteve--se ateacute 2010 Mantenho alguma

preocupaccedilatildeo quanto a algumassituaccedilotildees pontuais com receiode que as coisas se desagre-guem e as pessoas natildeo perce-bam os anos de trabalho queestatildeo aqui em causa e os seacutecu-los de baleaccedilatildeo que estatildeo pordetraacutes deste patrimoacutenio Eacute im-portante que haja consciecircncianatildeo apenas de todo o trabalhoque foi feito mas tambeacutem docusto nanceiro deste projec-

to Grande parte desse nan-ciamento foi assegurado pelogoverno regional que contoucom o apoio do E-GRANT`S ADirecccedilatildeo Regional da Culturao CNH e os clubes navais do

Pico apresentaram uma candi-datura para a recuperaccedilatildeo dosbotes baleeiros que foi aceiteSe natildeo fosse esse apoio hojenatildeo poderiacuteamos dizer que pra-ticamente todo o patrimoacuteniodos Accedilores botes e lanchas

estaacute recuperado Estamos afalar de 40 botes Em 10 anosno Faial recuperaram-se setebotes e uma lancha Se virmosque cada bote tem um custo derecuperaccedilatildeo de cerca de 35 mileuros percebemos que esse foium esforccedilo muito signicativo

A associaccedilatildeo dos botes bale-eiros da ilha do Faial ao CNHveio tambeacutem dar uma dimen-satildeo de ilha ao Clube e criou-se

uma dinacircmica desportiva im-portante de que o Faial neces-sitavaEsta vitalidade em torno dacultura e patrimoacutenio baleeirofaz despertar para a necessi-

dade deste ser inventariadoe salvaguardado Em 2008 o

Observatoacuterio do Mar dos Accedilo-res (OMA) entidade gestorada Faacutebrica da Baleia de PortoPim avanccedila para a inventaria-ccedilatildeo do patrimoacutenio imoacutevel da

baleaccedilatildeo primeiro agrave escala dailha do Faial e depois agrave escalados Accedilores

WALKIacuteRIA ldquoA RAINHA DOS MARES DOS ACcedilORESrdquo

ldquoNasceu para reinar nunca foi destronada e viveraacute esperamos por muitos anos assim o desejamos Somos uma grande regiatildeomariacutetima que quer preservar a memoacuteria coletiva das nossas teacutecnicas e tradiccedilotildees da nossa vivecircncia multissecular com o mar quenos rodeia nos separa e nos unerdquo A lancha Walkiria foi mandada construir pelos proprietaacuterios da Armaccedilatildeo Baleeira Reis amp Mendonccedila o industrial continental Francis-co Marcelino dos Reis e o Professor Rui de Mendonccedila residente na Vila das Velas amante de muacutesica Wagneriano que por talrazatildeo deu aos seus lhos os nomes de Wagner Weber

Walkyria e Isolda A construccedilatildeo foi realizada na ilha de S Jorge em 1937pelas matildeos de Joseacute e Manuel Gambatildeo irmatildeos e carpin-teiros habilidosos a partir de projeto de Manuel InaacutecioNunes natural do Pico mas com gabinete de projetos eestaleiro em Sacramento Califoacuternia Estados Unidos da Ameacuterica - ldquoQuando o antigo paquete a vapor ldquoCarvalho Arauacutejordquo

largava do porto das Velas com rumo ao Cais do Picoonde escalava depois de ter atingido a velocidade ple-na de cruzeiro a Walkyria rodeava o navio em marchapassando pela proa e pela popa Nenhuma outra lanchaconseguiu tal proezardquoEfetivamente a lancha estava equipada com um motor agasolina de 143 HP que permitindo atingir uma velocida-de de ponta elevada 18 noacutes tambeacutem acarretava consu-mos de combustiacutevel signicativos facto que levou agrave sua

venda em 1938 por ser economicamente pouco interes-sante para o trabalho que desenvolvia nomeadamente no apoio agrave caccedila agrave baleia Assim a lancha eacute transferida para a ilha do Faial por aquisiccedilatildeo do Sr Francisco Reis cando afeta ao transporte local de passagei-

ro Mais tarde eacute adquirida pela rma ldquoReis amp Martinsrdquo cando afeta agrave atividade baleeira Em 1955 a quando da instalaccedilatildeo de umaparelho de radiotelefonia foi-lhe atribuiacuteda a matriacutecula nal H-21-B

Em 2005 no acircmbito do projeto de ldquorecuperaccedilatildeo da memoacuteria baleeira da ilha do Faialrdquo depois de anos de repouso nos armazeacutens

da Reis e Martins a emblemaacutetica embarcaccedilatildeo volta a ganhar vida pelas matildeos do mestre Manuel Monteiro da Piedade do Pico en-trando de novo no porto da Horta a 12 de agosto desse mesmo ano totalmente recuperada

EEA Grants Mecanismo Finan-

ceiro Norueguecircs para apoio agrave

coesatildeo social e econoacutemica den-

tro da Uniatildeo Europeia Islacircndia

Liechtenstein e Noruega que

complementou o esforccedilo nan-

ceiro do Governo Regional para

a reabilitaccedilatildeo do patrimoacutenio bale-

eiro dos Accedilores Neste contexto

foram recuperados 40 botes e 10

lanchas Anualmente eacute atribuiacutedo

pelo Governo Regional um sub-

siacutedio para manutenccedilatildeo destas

embarcaccedilotildees

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Tempo de Baleeiros

AINDA BEM QUE REFERE AINVENTARIACcedilAtildeO DO PATRI-MOacuteNIO IMOacuteVEL POIS DEFACTO O PATRIMOacuteNIO DABALEACcedilAtildeO NAtildeO SE RESU-ME AOS BOTEShellip DEPOIS DAREVITALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRI-CA DA BALEIA ESTE PRO-CESSO DE RECUPERACcedilAtildeODO PATRIMOacuteNIO FICOU AIN-DA MAIS COMPLETO COMA INAUGURACcedilAtildeO DA CASADOS BOTES NO CAPELO HAacuteMUITO AGUARDADA FALE--NOS DESSE PROJECTO

Em boa hora a Junta de Fre-guesia do Capelo acolheu estainiciativa incluiacuteda no projectoldquoA recuperaccedilatildeo da memoacuteriabaleeirardquo Esta era uma casadas armaccedilotildees baleeiras deSatildeo Roque do Pico A sua re-cuperaccedilatildeo natildeo eacute mais do quedevolver ao porto do Compri-do a sua histoacuteria A histoacuteria doCapelo natildeo comeccedila em 1957com o Vulcatildeo dos Capelinhos

Antes disso o porto do Com-prido jaacute tinha dois seacuteculos dehistoacuteria tendo sido uma dasprincipais estaccedilotildees baleeirasdos Accedilores Essa memoacuteria

tinha de ser preservada porrespeito aos nossos antepas-sados Essa preservaccedilatildeo tam-beacutem se faz atraveacutes do circuitopedestre do baleeiro que tam-beacutem foi inaugurado agora Esteleva-nos ao conjunto de vigiasque existe no Vulcatildeo dos Ca-pelinhos

Um museu natildeo eacute uma coisaque estaacute dentro de casa maseacute tudo o que nos rodeia Te-mos de contar de forma sim-ples a todos os que nos visi-tam que esta eacute uma ilha comhistoacuteria

HAacute TAMBEacuteM A PREOCUPA-CcedilAtildeO DE REUNIR EM LIVRO AINFORMACcedilAtildeO SOBRE A BA-LEACcedilAtildeO QUE TEM VINDO ASER RECOLHIDAhellipNos uacuteltimos anos o Obser-vatoacuterio do Mar dos Accedilores(OMA) tem feito um excelentetrabalho o que se traduz numgrande avanccedilo na pesquisaCom aquilo que jaacute tinha sido

feito lanccedilaacutemos um desao aoFilipe Porteiro presidente doOMA para que se documen-tasse por escrito a memoacuteriados baleeiros Haacute um registode memoacuterias de alguns bale-eiros do Capelo um espoacuteliofotograacuteco que foi e continua

a ser recolhido um conjuntode informaccedilotildees tanto daquicomo de New Bedford no queao tempo da baleaccedilatildeo diz res-peitohellip Portanto temos infor-maccedilatildeo suciente para fechar

nos proacuteximos dois anos estarecuperaccedilatildeo da memoacuteria comum livro que permita dar aconhecer a histoacuteria da balea-ccedilatildeo no Faial Haacute um conjunto

de pessoas disponiacuteveis paracolaborar neste processo Naminha opiniatildeo esta obra deveter ediccedilatildeo bilingue tendo emconta o interesse que tem paraos Estados Unidos

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE FICA A FALTAR FAZERPELA RECUPERACcedilAtildeO E PRE-SERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROTenho de deixar uma mensa-gem importante agraves pessoasque hoje gerem este proces-so procurem os consensosEacute muito importante termosum consenso regional relati-vamente aos botes baleeiros

Eacute importante que se volte aosmodelos adoptados em 2005

relativamente agraves regatas Natildeopodemos ter regatas em to-das as freguesias dos AccediloresTemos de ter as cinco regatastradicionalmente mais antigasnas quais se inclui a Semanado Mar e quatro regatas noPico e fazer as outras trecircs deforma rotativa para voltarmosa ter um campeonato regionalde botes baleeiros em condi-ccedilotildees Faial e Pico tecircm de en-tender-se nesta mateacuteria Estamensagem tem de ser passa-da para as instituiccedilotildees para osclubes para as juntas de fre-guesia para as pessoashellip

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA UM ASPECTO DE UMA REGATA DENTRO DA BAIA DA HORTA

FONTE OMA

EMBARCACcedilAtildeO OS ANTIGOS BOTES TORNARAM983085SE TAMBEacuteM NUMA PECcedilAMUSEOLOacuteGICA

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Tempo de Baleeiros

Eacute tambeacutem importante que asecccedilatildeo de botes baleeiros doFaial continue A rivalidade en-tre freguesias natildeo traz nada debom O CNH tem obrigaccedilatildeo deconsolidar a secccedilatildeo custe oque custar

Aleacutem disso temos de ver queo patrimoacutenio baleeiro que estaacuteentregue agraves Juntas de Fregue-sia natildeo eacute das autarquias Per-tence agrave Governo Regional dos Acores ou seja agrave Regiatildeo e asua preservaccedilatildeo eacute uma obri-gaccedilatildeo daqueles a quem foientregue Eacute preciso ter muitocuidado nessa preservaccedilatildeosenatildeo dentro de alguns anosestamos natildeo a fazer manuten-

ccedilatildeo mas praticamente a fazernovos botes Os responsaacuteveisde cada uma das instituiccedilotildeestecircm de ter consciecircncia do pa-trimoacutenio que tecircm nas matildeos ede toda esta histoacuteria Agora odesao mais importante eacute a

manutenccedilatildeo deste patrimoacutenio econtinuar a despertar nas pes-soas o interesse por andar agravevela e a remos O bote baleeiroeacute uma embarcaccedilatildeo iacutempar Natildeohaacute outra no mundo

E A PRESERVACcedilAtildeO SOacute SEFAZ COMPLETAMENTE SEOS BOTES ESTIVEREM NOMAR A NAVEGARExactamente Haacute uma partemuito importante do projec-to que ainda falta que passa

pela sede do CNH e por sa-ber o que vai acontecer aosarmazeacutens da Reis e MartinsEacute preciso encontrar um espa-ccedilo adequado para guardar osbotes fazer a sua manuten-ccedilatildeo e expocirc-los Os botes satildeopatrimoacutenio histoacuterico mas tam-beacutem turiacutestico As regatas satildeobonitas mas os passeios embotes baleeiros tambeacutem Se foralterada a portaria que regula

esses passeios em vigor haacutemuitos anos os clubes podemdeles tirar rendimentos

ACHA ENTAtildeO QUE FARIASENTIDO RENTABILIZAR OSPASSEIOS NOS BOTES BA-LEEIROS PARA FINANCIARA SUA PROacutePRIA PRESERVA-CcedilAtildeOFaz todo o sentido Na situ-accedilatildeo econoacutemica em que es-tamos natildeo podemos viver da

ldquosubsiacutedio-dependecircnciardquo A ma-nutenccedilatildeo dos botes as regatase toda essa dinacircmica podemsustentar-se com a criaccedilatildeo deuma vertente econoacutemica comos passeios de bote baleeiroporque temos mercado para

isso Eacute necessaacuterio alterar legis-laccedilatildeo nessa aacuterea

NOUTROS TEMPOS A BA-LEIA FOI UM PILAR DA NOS-SA ECONOMIA ACHA QUEHOJE COM O WHALE WA-TCHING A MOTIVAR A EXIS-TEcircNCIA DE BALEEIROS COMMAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICASEM VEZ DE ARPOtildeES CON-TRIBUINDO PARA A ECONO-

MIA DA ILHA E COM OS BO-TES BALEEIROS NA AacuteGUAPARA AS COMPETICcedilOtildeESDESPORTIVAS ESTAMOSPERANTE UMA ESPEacuteCIE DENOVA BALEACcedilAtildeO Acho que entraacutemos numa novafase da baleaccedilatildeo e soubemosperceber natildeo apenas a impor-tacircncia que a baleaccedilatildeo tevemas tambeacutem a importacircnciaque os cetaacuteceos tecircm hoje nos Accedilores Haacute um Departamento

de Oceanograa e Pescas da

Universidade dos Accedilores quesabe o que estaacute a fazer haacuteuma consciecircncia das empre-sas de whale watching para asua importacircnciahellip Natildeo eacute poracaso que algumas dessas

empresas utilizam as antigasvigias dos baleeiros e inclusi-ve as recuperaram contribuin-do assim para a preservaccedilatildeodo patrimoacutenio da baleaccedilatildeo Osegredo da observaccedilatildeo de ba-leias nos Accedilores tem a ver coma histoacuteria que haacute para contarHouve uma altura em que ca-ccedilaacutemos e haacute agora uma alturaem que sabemos preservarHaacute aqui um potencial turiacutestico

enorme Os accedilorianos adapta-ram-se muito bem a esta novarealidadez

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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Tempo de Baleeiros

da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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Tempo de Baleeiros

pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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Tempo de Baleeiros

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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botes baleeiros afetos ao queseria designado por baleaccedilatildeocosteira Esta baleaccedilatildeo melhoradaptada agraves caracteriacutesticas daRegiatildeo e dos seus mares teraacutesido numa primeira fase em-preendida pela famiacutelia Dabney

embora por falta de sucessoinicial por um curto periacuteodode tempo A baleaccedilatildeo costeiraviria a ser retomada com su-cesso entre 1850 e 1860 maisuma vez pelas matildeos da famiacuteliaDabney mas desta feita emparceria com a famiacutelia Bensauacute-de As embarcaccedilotildees utilizadas edesignadas por canoas cor-respondiam a adaptaccedilotildees dos

modelos utilizados nos naviosamericanos da baleaccedilatildeo pelaacute-gica embora melhor adapta-das agraves caracteriacutesticas do ocea-no contiacuteguo agraves ilhas e tipologiade caccedila pretendida Cada em-barcaccedilatildeo propulsionada agrave velae a remos tinha uma tripulaccedilatildeoque era composta em regrapor pelo menos 7 homenssendo um o ocial ou mestre

um arpoadortrancador sendoos restantes marinheirosrema-doresEsta forma de baleaccedilatildeo de-senvolvida ateacute 1987 ano emque foi arpoado o uacuteltimo exem-plar de cetaacuteceo teve um enor-me signicado econoacutemico e

social em praticamente todasas ilhas dos Accedilores com par-ticular destaque para as ilhasdo Faial e do Pico Rera-se

que a caccedila agrave baleia para amaioria dos baleeiros sendocomplementar agrave sua atividadeprossional era fundamental

agrave subsistecircncia dos respetivosagregados familiaresDiretamente associada agrave caccedilaestava a atividade de proces-samento das carcaccedilas Em

terra os cetaacuteceos eram des-manchados para a extraccedilatildeo dooacuteleo do acircmbar-gris das bar-batanas e da carne sendo osossos reduzidos a farinha Ateacuteagrave deacutecada de trinta do seculoXX a transformaccedilatildeo da gordu-ra animal em ldquoazeite de baleiardquoera realizada artesanalmentepelos proacuteprios baleeiros atra-veacutes de um processo conhecidocomo ldquoa fogo diretordquo em estru-turas designadas como ldquotrai-

oacuteisrdquo constituiacutedas no essencialpor duas caldeiras adossadasassentes numa fornalha A par-tir do primeiro quarto do seacuteculopassado este processamentopassou a ser progressivamen-te feito em unidades fabrispara o efeito construiacutedas sen-do o derretimento realizado porrecurso a enormes autoclavesalimentados a vaporEm 1984 com a proibiccedilatildeo dacaccedila agrave baleia em Portugal foidenitivamente abandonada a

atividade tendo surgido maistarde aquela que passaremosa chamar ndash ldquoA Nova Industriardquotambeacutem ela ligada aos grandescetaacuteceos mas agora numa oacuteti-

ca de estudo e de observaccedilatildeo

A NOVA INDUacuteSTRIACom o nal da caccedila agrave baleia

houve um interregno na utiliza-ccedilatildeo comercial destas espeacuteciesCuriosamente foi uma inter-rupccedilatildeo de pouca dura O en-genho do homem adapta-se agravesnovas situaccedilotildees e nos Accediloresinvariavelmente conseguem-

-se transformar adversidadesem oportunidades Apenas meia duacutezia de anosapoacutes o nal caccedila pela matildeo do

cidadatildeo francecircs Serge Viallelle

FONTE COLECCcedilAtildeO POSTAL RUSPOLI amp SOULAIRE

COSTADO DA NAU ESTA VIGIA FICAVA NA PONTA OESTE DA ILHA DO FAIAL

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REBOQUE AUXILIADOS PELA WALQUIacuteRIA OS BOTES PREPARAM983085SE PARA MAIS UMA REGATA

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ldquoA procissatildeo chegou-se ao bote silencio-

samente sem barulho de peacutes apenas um

murmuacuterio Na luz jaacute fraca a cruz natildeo era

mais que uma silhueta os veacuteus brancos

e diaacutefanos na cabeccedila das senhoras e das

meninas demarcavam-se com uma lumino-

sidade proacutepria Quando a imagem da santa

foi trazida e pousada no leito da popa ao

lado do logaieacutete os sussurros deram lugar

ao silecircncio total O mestre postou-se diante

dela por momentos muito direito de laacutebios

cerrados Com as matildeos abertas e juntas

pegou na linha da selha da popa deu-lhe

uma volta em torno do logaieacutete dobrou-a e

passou-a sobre os ombros da imagem si-

mulando um noacute ligeiro Depois vergou-se

riacutegido e beijou-lhe as vestes e falando su-

avemente como se a sua voz interior fosse

mais audiacutevel disse

ldquoNossa Senhora da Guia acompanha-nos Leva-nos em seguranccedila Ajuda-nos a encontrar baleias Protege-nos dos pe-

rigos da caccedilada Vela por noacutes no regresso agraves famiacutelias que nos esperamrdquo

Depois calou-se ainda de peacute frente agrave imagem As laacutegrimas corriam-lhe pela cara abaixo sobre a pele morena crestada

pelo marrdquo

Esta transcriccedilatildeo do livro ldquoBaleia ndash Os Baleeiros dos Accediloresrdquo de Bernard Venables sendo um relato de uma cena ob-

servada na segunda metade da deacutecada de sessenta do seacuteculo passado ilustra bem a intensidade da religiosidade dos

homens envolvidos na caccedila agrave baleia Na verdade era frequente as embarcaccedilotildees serem batizadas com o nome de uma

Santa ou de um Santo de particular devoccedilatildeo entre os mariacutetimos sendo denominador comum o apadrinhamento por um

conjunto alargado de Santas (os) cujas imagens eram axadas no interior da proa das canoas Em terra nos portos deorigem era tambeacutem comum a existecircncia de nichos onde eram expostas as imagens de Santos (as) de devoccedilatildeo de que

satildeo exemplo Nossa Senhora do Socorro na freguesia do Salatildeo Senhora de Santana no Capelo ou Satildeo Pedro

OS BALEEIROS E A RELIGIOSIDADE

e sua esposa a picarota Ale-xandra comeccedilou a preparar-seuma nova atividade a obser-vaccedilatildeo de cetaacuteceos Utilizandoos meacutetodos e teacutecnicas que an-tes serviam para perseguir oscachalotes nasceu na ilha do

Pico uma nova atividade querapidamente se estendeu agravesilhas em que o potencial eramais evidenteHoje haacute duas dezenas de pe-quenas embarcaccedilotildees quetodos os dias partem em dire-ccedilatildeo aos grupos de golnhos

baleias e cachalotes No totalao longo de todo o ano duasdezenas e meia de espeacuteciessatildeo observadas por 50 mil vi-

sitantes que pagam em meacute-dia 50 euros Portanto hojeos cetaacuteceos valem dezenasde milhares de viagens aeacute-reas estadias e alimentaccedilatildeonos Accedilores Hoje a atividade

de observaccedilatildeo de cetaacuteceos jaacuterende o equivalente aos anosaacuteureos da atividade de caccedila

Tambeacutem muito contribuiu parao sucesso o facto do Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores ter acompanhado odesenvolvimento da atividadeGraccedilas a isso e ao empenhodo Governo rapidamente sedesenvolveu um coacutedigo deconduta que em 1999 foi trans-formado na primeira legislaccedilatildeode observaccedilatildeo de cetaacuteceos daEuropa Hoje qualquer inter-ferecircncia com os cetaacuteceos dos Accedilores implica conhecimento

enquadramento e autorizaccedilatildeoexpressa das autoridades am-bientais marinhasPara aleacutem da simples observa-ccedilatildeo recorrem ao nosso arqui-peacutelago diversas das melhores

equipas de cinema documentaldo mundo para recolher ima-gens destes magniacutecos ani-mais oceacircnicos BBC NationalGeographic e NHK satildeo apenasalgumas das grandes empre-sas televisivas que anualmente

submetem pedidos para nosmares dos Accedilores lmar os

maiores animais jamais exis-tentesPara aleacutem do fasciacutenio dos proacute-prios animais e do mar hojesubsiste tambeacutem uma curio-sa induacutestria relacionada como patrimoacutenio baleeiro Depoisde um estiacutemulo dado pelo Go-verno hoje antigas faacutebricaslanchas e botes satildeo perma-

nentemente conservados etornados testemunhos bem vi-vos de outros tempos e outrasvivecircncias Essas faacutebricas satildeohoje nuacutecleos expositivos e aslanchas e botes satildeo envolvidos

em animadas competiccedilotildees en-tre os descendentes das anti-gas companhas Mais do que oresultado comercial que existeo importante eacute o impacto socialao niacutevel da memoacuteria culturalcoletiva e do divertimento luacutedi-

co contextualizadoHoje nos Accedilores as atividadesderivadas dos cetaacuteceos comespecial ecircnfase para a obser-vaccedilatildeo de cetaacuteceos tem umsignicado econoacutemico de mais

de duas dezenas de milhotildeesde euros Este eacute um exemplode como os accedilorianos se sou-beram adaptar aos temposmodernos e em que apesar donosso diminuto contributo para

o problema inicial optamospelo desenvolvimento susten-taacutevel e com enormes dividen-dos comerciaisz

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Tempo de Baleeiros

OS DABNEY E A BALEACcedilAtildeO

Oriunda dos Estados Unidosda Ameacuterica mais concretamentede Massachusetts a famiacutelia Da-bney instalou-se na no Faial em1804 (para alguns teraacute sido em1806) apoacutes a nomeaccedilatildeo de JohnBass Dabney pelo presidenteThomas Jefferson como CocircnsulGeral dos EUA no FaialDois descendentes de John BassDabney exerceram sucessiva-mente as funccedilotildees consularesapoacutes a sua morte seu lho Char -les William Dabney e posterior-mente o neto Samuel Willis Da-bney ateacute janeiro 1892 momento

em que a famiacutelia acaba por aban-donar o Faial A tiacutetulo de curiosi-dade importa referir que a des-pedida da famiacutelia em causa apoacutes

88 anos de marcante presenccedilaempresaria social e cultural em1891 eacute marcada pela realizaccedilatildeode uma regata de botes baleeirosEm boa medida favorecida pelafunccedilatildeo consular a atividade em-presarial da famiacutelia foi de supre-ma importacircncia no contexto locale regional marcando aquele queseraacute um dos mais proacutesperos ci-clos econoacutemicos do FaialOs Dabney incidiram a sua di-

nacircmica comercial em produtoscomo a laranja e o vinho mastambeacutem no negoacutecio associadoagrave baleaccedilatildeo e neste fundamen-talmente a trecircs niacuteveis no apoio

logiacutestico agrave frota de embarcaccedilotildeesnorte-americanas dedicadas agravebaleaccedilatildeo pelaacutegica no Atlacircnticoque aportava ao Porto da Hortana aquisiccedilatildeo dos oacuteleos de baleiaprocessados e subsequente ex-portaccedilatildeo Esta atividade era par-ticularmente importante agrave datana medida em que permitia aosnavios baleeiros americanos oescoamento do produto obtidocom lucro sem necessidade deregresso aos portos de origem Enalmente de forma perfeitamen-te inovadora a formaccedilatildeo de umaarmaccedilatildeo de pequenas embarca-ccedilotildees (botes baleeiros) dedicadasagrave baleaccedilatildeo costeira

A atividade empresarial desta fa-miacutelia acaba por entrar em decliacutenio

em nais do seacuteculo XIX com a

queda da produccedilatildeo de vinho e la-ranja pelo progressivo abandonoda baleaccedilatildeo pelaacutegica nos termosem que tinha ocorrido ateacute entatildeomas tambeacutem pelo aparecimentode outras proacutesperas empresas li-gadas aos mesmos ramos de ne-goacutecio de que satildeo exemplo a Ben-sauacutede Em paralelo o governoNorte Americano havia jaacute come-ccedilado a orientar o seu corpo con-

sular para a necessidade de natildeoserem acumuladas pelos respeti-vos membros funccedilotildees consularese funccedilotildees empresariais z

y

BALEAS ndash Na manhatilde do dia 22 do cor-

rente appareceram ao norte drsquoesta bahia

alguns spermacettis Duas canocircas da

casa Dabney foram em sua perseguiccedilatildeo

e tiveram a felicidade de matar um que

foi conduzido para o Porto Pim onde se

estagrave derretendo Muita gente tem con-

corrido agravequelle sitio para o ver Nos dias

seguintes mais alguns peixes appare-

ceram na bahia mas quando as canocircas

foram em sua caccedila jaacute os natildeo avistaram

In O Fayalense de 25 de junho de 1871

FONTE BIBLIOTECA PUacuteBLICA E ARQUIVO REGIONAL JOAtildeO JOSEacute DA GRACcedilA

PORTO DA HORTA ndash O Atlantico de quinta-feira publica o

movimento mariacutetimo drsquoeste porto no anno ndo de 1871

que com a devida venia transcrevemos

laquoNo anno ndo de 1871 deram entrada na bahia da Horta

253 embarcaccedilotildees com 93000 toneladas 94 navios eram

portuguezes 50 inglezes 79 americanos 15 francezes

4 italianos 3 allematildees 1 hespanhol 1 liberiano 1 norue-

guez 2 suecos 2 belgas e 2 brazileiros Entre estes in-

cluem-se 32 vapores mercantes e 13 de guerra e 42 bale-

eiras americanas as quaes descarregaram 363 818 litros

drsquoazeite de spermacetti e de balea egual a 381627 kilos

do mesmo Em 1870 so deram entrada 30 baleeiras asquaes apenas descarregaram 115523 litros drsquoazeite egual

a 157466 kilosraquo

In O Fayalense de 7 de Janeiro de 1872

FONTE BIBLIOTECA PUacuteBLICA E ARQUIVO REGIONAL JOAtildeO JOSEacute DA GRACcedilA

O TUFO ENCOSTADA AO MONTE DA GUIA FORMOU983085SE A PRIMEIRA ESTACcedilAtildeO DE APOIO Agrave BALEACcedilAtildeOCOSTEIRA NO FAIAL

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Tempo de Baleeiros

Na ponta Oeste da ilha do

Faial junto ao Vulcatildeo dos Ca-pelinhos encontramos umapequena Calheta formadahaacute centenas de anos por umaescoada laacutevica A Ponta Com-prida assim descrita na car-tograa do seacuteculo XVIII pro-porcionava um abrigo naturalnuma aacuterea de pesca costeirafrequentada desde as primei-ras deacutecadas do povoamentoda ilha Aberto na rocha entre

as faleacutesias e o mar o porto doComprido era um lugar isola-do ideal na partida do Homempara o combate com o Cacha-lote A curta distacircncia cavam

as aacuteguas profundas que limi-tam a ilha do Faial onde seacumulam as presas marinhasque atraem grandes preda-dores como eacute o caso dos ca-chalotes As altas faleacutesias doCostado da Nau de onde seperscrutavam os movimentosdas embarcaccedilotildees vindas deOeste permitiam um longo al-cance aos vigias da baleia euma comunicaccedilatildeo visual comas vigias instaladas na CostaNorte da Ilha nos Cedros e no

Salatildeo em conexatildeo com a vigiado Alto das Concheiras Laacute embaixo a menos de 100 metrosdo mar os baleeiros reuniam--se durante os meses de Ve-ratildeo como um exeacutercito sitiadoem habitaccedilotildees de pedra cober-tas com palha de trigo manten-do as suas canoas varadas narampa do porto O nuacutecleo habi-tacional do porto do Comprido

alojava baleeiros das ilhas doFaial do Pico e de Satildeo JorgeNeste aspecto aparentementesingular o porto do Compridopoderia ser comparado comoutros postos baleeiros espa-lhados por zonas inoacutespitas doglobo como a ilha de Spitsber-gen no seacuteculo XVII onde osbaleeiros ingleses e holande-ses conviviam durante o Veratildeo

ou as estaccedilotildees baleeiras daGeoacutergia do Sul no Antaacutertico

AS FASES DA

BALEACcedilAtildeOCOSTEIRA NA ILHADO FAIAL E O CASODO PORTO DOCOMPRIDO

A caccedila agrave baleia no porto doComprido ter-se-aacute desenvolvi-do entre 1884 e 1957 tornan-do-se um posto baleeiro cadavez mais importante no conjun-

to das ilhas do grupo centralEste periacuteodo pode ser divididoem trecircs fases sucessivas A partir da deacutecada de 1870com a crise do comeacutercio deexportaccedilatildeo do vinho e da laran- ja a afectar o uxo comercial

do porto da Horta o negoacutecioda baleaccedilatildeo costeira torna-seum foco de entusiasmo paraas empresas locais Nestecontexto a casa comercial

DabneyampSons experimenta-da na baldeaccedilatildeo do oacuteleo dosnavios baleeiros norteamerica-nos e em condiccedilotildees propiacuteciaspara importar canoas baleeiras

y

PORTO DO COMPRIDOUM POSTO BALEEIRO (1884-1957)

FONTE ACERVO DOCUMENTAL DAS OBRAS PUacuteBLICAS DO DISTRITO DA HORTA

VARADOURO PLANO DE REPARACcedilAtildeO DO PORTO DO COMPRIDO 1927

FONTE COLECCcedilAtildeO DO MUSEU DO PICO

ARREADA EM POUCOS MINUTOS DEPOIS DE DADO O SINAL TODOS OS BOTES BALEEIROS ESTAVAM NA AacuteGUA

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Tempo de Baleeiros

antecipa-se na criaccedilatildeo de infra-

estruturas de apoio agrave baleaccedilatildeocosteira Em 1884 Samuel Da-bney pede autorizaccedilatildeo para aconstruccedilatildeo de uns ldquo turcos demadeira junto agrave costa no localdenominado ndash o Comprido -[hellip] para poderem arrear asembarcaccedilotildees empregues napesca da baleardquo(1) As baleiascaccediladas a partir do porto doComprido seriam rebocadas aremos ou com o auxiacutelio de umvapor do porto da Horta ateacuteagrave estaccedilatildeo de traioacuteis de PortoPim o ldquoTufordquo onde se proce-dia ao desmancho do cachalo-te e se derretiam os toucinhosem grandes caldeiros de ferroEsta primeira fase de baleaccedilatildeocosteira estaacute contudo deter-minada pelos poucos meios eo insucesso na maioria de ten-tativas de captura dos cacha-lotes tal como nos indicam asnotiacutecias contemporacircneas Agraves

canoas de terra uniam-se eminteracccedilatildeo ou concorrecircncia ascanoas dos navios baleeirosnorteamericanos que perma-neciam ao largo das ilhas doTriacircngulo Apesar das incer-tezas a baleaccedilatildeo no porto doComprido prevaleceu duranteas deacutecadas seguintesUma segunda fase situadaentre os anos 20 e os anos 40

do seacuteculo XX caracteriza-se

pela concentraccedilatildeo de funccedilotildeesda baleaccedilatildeo costeira no portodo Comprido Por outras pala-vras era no porto do Compridoque arreavam os botes bale-

eiros - auxiliados por lanchas

a motor a partir dos anos 20 ndash e depois de capturados oscachalotes seriam encalhadose desmanchados na zona doporto Segundo uma inspecccedilatildeofeita pela Capitania do porto daHorta em 1928 era a Socieda-de Baleeira Aurora que possuiacuteano porto do Comprido ldquoumacasa com duas caldeiras e res-pectivas fornalhas e mais ape-trechos para o derretimento dooacuteleo achando-se tudo em bomestado e regularmente instala-dordquo(2) De resto esta fase estaacute

marcada pela proliferaccedilatildeo depequenas armaccedilotildees ou socie-dades baleeiras em vaacuterios por-tos da Ilha (Ribeirinha CedrosSalatildeo Castelo Branco) cadauma com os seus apetrechose instalaccedilotildees ou em sociedadecom outras armaccedilotildees Na ilhado Faial existiam em simultacirc-neo entre cinco a oito armado-

res da ldquopesca da baleiardquo entre1920 e 1930 Durante a eacutepoca

de caccedila o porto do Comprido jaacute seria frequentado por setecanoas baleeiras algumas dasquais permaneciam durantetodo o ano Com a complexi-caccedilatildeo da actividade baleeirasatildeo tambeacutem mais notaacuteveis asintervenccedilotildees das autoridadesmariacutetimas na vida do postobaleeiro e os requerimentos

das instituiccedilotildees de poder localcomo a Junta de Freguesia doCapelo para a realizaccedilatildeo deobras de construccedilatildeo e repara-ccedilatildeo do porto

FASE INDUSTRIAL

Mas se existe periacuteodo em queo porto do Comprido se con-verte num destacado postobaleeiro em toda a sua espe-cicidade eacute durante a fase in-

dustrial da baleaccedilatildeo na ilha doFaial entre 1940 e 1957 Nosanos convulsos da 2ordf Guerra

Mundial a forte subida do pre-ccedilo do oacuteleo de cachalote incen-tivou o crescimento da activi-dade baleeira nos Accedilores e dailha do Faial em particular Asobras para o desenvolvimentodo porto do Comprido estavamno centro do debate Com aconstruccedilatildeo das Faacutebricas da

Baleia de Porto Pim (1942) eSatildeo Roque (1944) e a expec-tativa de dobrar a produccedilatildeode oacuteleo atraveacutes do processa-mento industrial do cachaloteera necessaacuterio optimizar ascondiccedilotildees do varadouro ondeestacionavam os botes bale-eiros do Faial e do Norte doPico Os projectos de constru-ccedilatildeo de 1942 e 1944 previam

a construccedilatildeo de uma muralhade defesa do porto e um caisacostaacutevel aleacutem de um nivela-mento da rampa de varagemcom mais de 110 metros Noentanto estes projectos nun-ca viriam a ser concretizados

Durante este periacuteodo a rampade varagem chegou a ter 18botes baleeiros varados e 7lanchas a motor amarradas aolargo condiccedilotildees que exigiamo envolvimento de no miacutenimo200 indiviacuteduos na actividade

baleeira As armaccedilotildees bale-eiras em menor nuacutemero masmelhor organizadas recebiaminstruccedilotildees relativas agrave saiacuteda co-ordenada dos botes baleeiros

para o mar e o trabalho colec-tivo dos vigias pertencentes adiferentes armaccedilotildees baleeirasNa retaguarda da actividadeos armazeacutens da ReisampMartinsna Horta prestavam todo o tipode fornecimentos agraves embarca-ccedilotildees estacionadas no Capelolinha de baleia tintas oacuteleo delinhaccedila lanccedilas e arpotildees entreoutros eram enviados regular-

FONTE COLECCcedilAtildeO DO MUSEU DO PICO

PORTO DO COMPRIDO ANTES DA SAIacuteDA OS BOTES ERAM CUIDADOSAMENTEINSPECCIONADOS

BALEEIROS NO CAPELO

A tradiccedilatildeo oral recorda ldquoo Compridordquo como um lugar de alegriaonde os baleeiros celebravam a vida de Veratildeo em comunidadeEnquanto o foguete natildeo estalava danccedilava-se a Chamarritafestejava-se o Satildeo Pedro ou assistia-se agrave festa de Santana Ospicarotos protagonistas da migraccedilatildeo sazonal dispuseram demeios para transportar consigo as mobiacutelias os animais domeacutes-

ticos as famiacutelias inteiras Agrave noite tambeacutem se pescava de diasalgava-se o peixe Balear no Comprido transformava o quoti-diano dos homens que por norma nunca seriam baleeiros atempo inteiro

Fonte Foto Fotojovial

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Tempo de Baleeiros

CACcedilA Agrave BALEIA NO PORTO DO COMPRIDO

A partir de determinada eacutepoca do ano os botes baleeiros deixavam de ldquoarrearrdquo na cidade da Horta e concentravam-se nos postosbaleeiros do Salatildeo e do porto do Comprido A actividade no porto do Comprido era sobretudo inconstante podia haver 4 a 5 diasconsecutivos de caccedila mas tambeacutem uma semana inteira agrave espera que os vigias dessem o sinal de ldquoarreadardquo

mente para o posto baleeiro Aaldeia dos baleeiros era manti-da segundo uma organizaccedilatildeofamiliar e com o apoio de co-merciantes locais da freguesiado Capelo que asseguravamo seu aprovisionamento Sem

duacutevida foram nos derradeirosanos da baleaccedilatildeo no Compridoque mais se caccedilou agrave baleia ede forma mais ecaz com uma

forte concentraccedilatildeo nos mesesde Veratildeo (cfr Graacuteco)

Em Setembro de 1957 quan-do se iniciaram as erupccedilotildees noVulcatildeo dos Capelinhos o portodo Comprido foi imediatamenteabandonado Em poucos me-ses todos os anos de histoacuteria

deste posto baleeiro seriamabruptamente consumidos pe-las cinzas deixando-nos umapaisagem desolada escureci-da pelo Vulcatildeo z

Notas

(1) Fundo da Capitania do Porto da

Horta Arquivo Histoacuterico da Marinha

(2) Idem

OS HOMENS DA BALEIA

Fonte Foto Maacuterio Ruspoli Les Hommes de la Baleine (1956)

No Veratildeo de 1956 o italiano Maacuterio Ruspoli propocircs-se reali-zar um documentaacuterio sobre os uacuteltimos caccediladores de baleia dotempo de Moby Dick Depois de conseguir um empreacutestimo de

2 milhotildees de francos concedido pelo milionaacuterio grego AristoteOnassis M Ruspoli reuniu uma talentosa equipa composta porJacques Soulaire e Gilbert Rouget e instalou-se na casa dos fa-roleiros dos Capelinhos Durante dois meses a equipa recolheuas imagens e os sons uacutenicos da actividade baleeira no porto doComprido Les hommes de la Baleine eacute um precioso documentorealista e liacuterico sobre a baleaccedilatildeo na ilha do Faial

BALEEIROS NA AMEacuteRICACom a erupccedilatildeo do vulcatildeo dosCapelinhos e a abertura dasfronteiras norte americanasmuitos jovens baleeiros se-

guiram o rumo da emigraccedilatildeoconservando a memoacuteria dostempos aacuteureos e diceis da ba-leaccedilatildeo

Fonte foto Colecccedilatildeo Privada de Manuela Rosa

FRANCISCO HENRIQUESOMA

FONTE COLECCcedilAtildeO POSTAL RUSPOLI amp SOULAIRE

TRANCAR JOSEacute RAFAEL PREPARA983085SE PARA ARPOAR UM CACHALOTE

Fonte Colecccedilatildeo Documental ReisampMartins Lda ndash Faacutebrica da Baleia de Porto Pim

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Tempo de Baleeiros

Na deacutecada de trinta do seacute-culo XX durante o auge dainduacutestria baleeira nos Accediloresforam constituiacutedas vaacuterias em-presas nas diversas ilhas paraa exploraccedilatildeo e comercializaccedilatildeodos produtos obtidos a partir

dos cachalotes No Faial foramconstituiacutedas trecircs sociedadesa Reis amp Martins Lda arma-ccedilatildeo baleeira e exportadoresde oacuteleo a Companhia Bale-eira Faialense Lda armaccedilatildeobaleeira e a Sociedade Indus-trial Mariacutetima Accediloriana Lda(SIMAL) ligada agrave induacutestriatransformadora A Reis amp Mar-tins Lda constituiacuteda em 1945adquiriu um armazeacutem na RuaNova na cidade da Horta queservia como casa de botes eocina de carpintaria marce-naria tanoaria ferraria e mecacirc-nica ofiacutecios essenciais para aconstruccedilatildeo e manutenccedilatildeo dasembarcaccedilotildees baleeiras (lan-chas a motor e botes) e res-pectiva palamenta Depois dom da actividade baleeira nos

Accedilores no iniacutecio dos anos 80do seacuteculo XX o armazeacutem daRua Nova e grande parte do

seu espoacutelio foram parcialmen-te mantidos ateacute agrave actualidadeembora seja notoacuteria a degrada-ccedilatildeo tanto do imoacutevel como demuitos dos objectos e equipa-mentos aiacute armazenadosPerante o risco seacuterio de esteespoacutelio se perder e dada a im-portacircncia deste espoacutelio para oestudo da baleaccedilatildeo no Faial enos Accedilores considerou-se serurgente efectuar o seu resgate

levantamento e estudo destepatrimoacutenio garantindo assima sua preservaccedilatildeo Assim osactuais proprietaacuterios e herdei-ros da Reis amp Martins Lda

estabeleceram uma parceriacom o Observatoacuterio do Mar dos Accedilores (OMA) com o objectivode salvaguardar o patrimoacutenioexistente e integrar parte deleno museu da Faacutebrica da Baleiade Porto Pim

O projecto ldquoLevantamento dePatrimoacutenio Baleeiro e Dinami-zaccedilatildeo do Espaccedilo Expositivo

da Faacutebrica da Baleia de PortoPimrdquo iniciou-se em 2008 e em

2009 passou a ser co-nancia-do pela Direcccedilatildeo Regional daCultura (DRaC) que o consi-derou de ldquointeresse relevantepara a Regiatildeo e capaz de con-tribuir para o desenvolvimentoda poliacutetica cultural dos AccediloresrdquoEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinarias

equipamentos embarcaccedilotildeespalamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)

o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobrea induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiais

moacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Partedesse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo na

sua exposiccedilatildeo permanenteEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinariasequipamentos embarcaccedilotildees

palamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobre

a induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiaismoacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Parte

desse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo nasua exposiccedilatildeo permanente

y

PATRIMOacuteNIO BALEEIRO DA FASEINDUSTRIAL DA BALEACcedilAtildeO NO

FAIAL - RESGATE INVENTARIACcedilAtildeO ECONSERVACcedilAtildeO

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

RUA NOVA INTERIOR DO ESCRITOacuteRIO DOS ARMAZEacuteNS DA REIS amp MARTINS LDA

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Tempo de Baleeiros

INVENTAacuteRIO DOESPOacuteLIO REIS EMARTINS LDA

Os objectos encontrados foramanalisados e descritos quantoagraves caracteriacutesticas funcionaisde origem e agraves transforma-ccedilotildees eventuais que possamter sofrido ao longo do tempoSe alguns objectos tecircm umafunccedilatildeo oacutebvia (pe botes e suapalamenta arpotildees etc) outroshaacute cuja sua utilidade eacute difiacutecil dedescodicar A identicaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo funcional dos ob- jectos encontrados foi consubs-tanciada por fontes documen-tais quando existentes eoupor depoimentos orais fonte de

informaccedilatildeo uacutenica e insubstituiacute-vel para a compreensatildeo abran-gente da actividade industrialem estudo A identicaccedilatildeo de cada bem

foi registada em cha proacutepria

onde os elementos considera-dos adequados para o seu re-conhecimento foram descritosem detalhe A cha inclui uma fotograa do

objecto o seu nuacutemero de in-

ventaacuterio a sua funccedilatildeo originala categoria a que pertence oseu estado de conservaccedilatildeo adata do inventaacuterio e a referecircn-cia das fotograas existentes

desse objectoOs bens inventariados foramclassicados em categorias

consoante o tipo de colecccedilatildeo esuas caracteriacutesticas (tipologia) Assim optou-se por classicaacute--los em classes segundo asua funccedilatildeo original e em sub-classes que correspondemao local ou agrave infra-estrutura aque pertenciam (ex Selhandashde--linha Classe Palamenta Sub-classe Bote Baleeiro) A inventariaccedilatildeo individual de

cada peccedila permitiu a criaccedilatildeode um inventaacuterio fotograacuteco e

de uma lista geral de inventaacute-rio onde constam todas as 468peccedilas resgatadas ateacute ao mo-mento O passo seguinte con-sistiu na conservaccedilatildeo e restau-ro dos objectos classicados

As intervenccedilotildees foram criterio-samente efectuadas para natildeocomprometerem a constituiccedilatildeooriginal das peccedilas Aspiraccedilatildeo lavagem restaurocom oacuteleo e tratamento contra

pragas foram as operaccedilotildeesadoptadas para as peccedilas demadeira As peccedilas de metal a maioriacom niacuteveis de oxidaccedilatildeo con-sideraacuteveis foram objecto detratamentos especiacutecos adap-tados a cada casoz

FONTE OMA

SALVAGUARDA CLASSIFICACcedilAtildeO DAS 468 PECcedilAS INVENTARIADAS ATEacute AO MOMENTO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

OBJECTOS983085 EXEMPLARES DO ESPOacuteLIO RESGATADO DOS ARMAZEacuteNS REIS E MARTINS

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Tempo de Baleeiros

y Em 2010 o OMA estabe-leceu um contrato de coope-raccedilatildeo teacutecnica com a DirecccedilatildeoRegional da Cultura (DRaC)com o objectivo de inventariaro patrimoacutenio baleeiro imoacutevel detodo o arquipeacutelago A execuccedilatildeo

do projeto foi assegurada poruma equipa multidisciplinar naaacuterea da investigaccedilatildeo histoacuterica

arquitectura e fotograa pro-ssional A recolha preacutevia da

informaccedilatildeo foi o ponto de par-tida para um trabalho de cam-po que decorreu entre os me-ses de Junho e Dezembro de2011 Foram inventariados os

antigos complexos baleeirospostos baleeiros e varadourosbaleeiros rampas de varagemdas embarcaccedilotildees rampas dealagem de cachalotes casas

de botes traioacuteis faacutebricas deprocessamento de cachalotese plataformas de desmancho

vigias residecircncias sazonaiscarpintarias ocinas arma-zeacutens entre outrosNa ilha do Faial foram inven-tariados 17 imoacuteveis (ver Fig5) identicados no Complexo

Baleeiro das Anguacutestias (localonde as armaccedilotildees baleeirastinham a sua sede com ar-mazeacutens faacutebricas de proces-samento de cachalotescasade caldeiros e estacionavam

as embarcaccedilotildees prontas parauma raacutepida arriada agrave baleia)nos Postos Baleeiros do Porto

do Comprido do Salatildeo (estesdois como local de estaciona-mento sazonal das armaccedilotildeesbaleeiras do Faial e do Pico) edo Varadouro Identicaram-se

ainda apesar de menos repre-sentativos na actividade baleirada Ilha do Faial os Varadourosdo Cedros Castelo Branco eRibeirinha todos com rampade varagem para estaciona-mento de botes baleeiros z

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIRO IMOacuteVEL DO FAIAL

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIO BALEEIRO IMOacuteVEL DOS ACcedilORES A ILHA DO FAIAL

MAacuteRCIA DUTRAOMA

COMPLEXTO BALEEIRO DAS ANGUacuteSTIAS1 983085 FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

2983085 ARMAZEacuteM DA REIS amp MARTINS LDA3 983085 CASA DE CALDEIROS DE PORTO PIM983080FAacuteBRICA VELHA9830814 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTOPOSTO BALEEIRO DO PORTO DOCOMPRIDO5 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO DO

COMPRIDO6 983085 VIGIA DO CAPELO

7 983085 VIGIA DO COSTADO DA NAU8 983085 RESIDEcircNCIAS SAZONAIS DO PORTODO COMPRIDO9 983085 CASA DOS BOTES DO PORTO DOCOMPRIDOPOSTO BALEEIRO DO SALAtildeO10 983085 RAMPA DE VARAGEM DO SALAtildeO

11 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DA ARMA983085CcedilOtildeES DO FAIAL

12 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DAS ARMA983085CcedilOtildeES DO PICO13 983085 VIGIA DOS CEDROS14 983085 POSTO BALEEIRO DO VARADOURO15 983085 VIGIA DO ALTO DAS CONCHEIRASVARADOURO BALEEIRO DOS CEDROS16 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO

DA EIRAVARADOURO BALEEIRO DA RIBEIRINHA

17 983085 RAMPA DE VARAGEM DA RIBEIRINHAVARADOURO BALEEIRO DE CASTELOBRANCO18 983085 RAMPA DE VARAGEM DE CASTELOBRANCO

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Tempo de Baleeiros

y Em 1939 a Sociedade In-dustrial Mariacutetima Accediloriana Lda ndash a SIMAL foi fundada na Hor-ta Esta sociedade comercialpor quotas de responsabilidadelimitada tinha como objectivosa ldquoexploraccedilatildeo da induacutestria doaproveitamento integral da ba-

leia e outras espeacutecies marinhase comeacutercio dos respectivosprodutosrdquo A SIMAL era cons-tituiacuteda por 25 soacutecios sendo os

soacutecios maioritaacuterios o industriallisboeta Francisco Marcelinodos Reis e a empresa localCosta amp Martins Lda Desta-

cam-se ainda quatro compa-nhias baleeiras da Ribeira doMeio (Pico) que por razotildeesfamiliares e por ter sido nega-

da a construccedilatildeo de uma faacutebri-ca nas Lajes se associaram agraveSIMAL A faacutebrica comeccedilou a ser cons-truiacuteda em 1941 inicialmenteno areal da Praia de Porto Pimmas devido a um forte tem-poral ocorrido em Setembrodesse mesmo ano foi comple-tamente destruiacuteda e abandona-do o projecto Esta intempeacuterielevou a que os proprietaacuterios

decidissem construir a faacutebricano local onde hoje a conhe-cemos na encosta do Monteda Guia A faacutebrica comeccedilou alaborar em fase experimentalem Agosto de 1942 Durante

os seus 30 anos de laboraccedilatildeoprocessaram-se 1940 cachalo-tes que produziram 44 mil bi-dotildees de oacuteleoEm 1974 acompanhando odecliacutenio da induacutestria baleeira aniacutevel mundial a faacutebrica fechouas suas portas Em 1980 oGoverno Regional dos Accediloresadquiriu todo o complexo fabrilcom o objectivo de ali instalaro Departamento de Oceano-

graa e Pescas e uma Escola

de Pesca desiacutegnio esse quenunca se chegou a realizarEm 1984 a antiga faacutebrica foiclassicada como Imoacutevel de

Interesse Puacuteblico (IIP) Depoisde quase duas deacutecadas de de-gradaccedilatildeo do edifiacutecio e da suamaquinaria sem duacutevida atenu-ados pela acccedilatildeo persistente deManuel da Rosa Correia co-nhecido como Patratildeo Manuele de Manuel Medeiros conhe-cido com Sr Amaral (antigo en-carregado da faacutebrica) a faacutebricafoi nalmente alvo de obras

de restauro e de beneciaccedilatildeo Apelidada de Centro do Marfoi inaugurada em 2000 por

ocasiatildeo da 2ordf ediccedilatildeo da Expo-Pescas com o objectivo de setornar num espaccedilo de divulga-ccedilatildeo cultural e cientiacuteca Desde

2004 que a Faacutebrica eacute a sede

do OMA que desde entatildeo temvindo a dinamizar esse espaccediloEm 2010 a Faacutebrica da Baleia

de Porto Pim como hoje eacute co-nhecida foi inserida no Com-plexo do Monte da Guia da Ilhado Faial z

A FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

VISITA GUIADA FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM 983085 DESCRICcedilAtildeO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE OMA

INTERIOR A FAacuteBRICA Eacute UM MUSEU PERMANENTE

CASA DAS AUTOCLAVES COMSEIS AUTOCLAVES CADA UMACOM CAPACIDADE DE 11 M

CASA DAS FARINHAS COM TODAA MAQUINARIA ORIGINAL DA RE983085

CONHECIDA MARCA NORUGUESAMYRENS VERKSTED E OS MOTO983085

RES DA MARCA ALEMAtilde MOTORENFABRIK DEUTZ AG

EDIFICIO ANEXO ONDE FUNCIONAVA A ANTIGASERRALHARIA E OS ESCRITOacuteRIOS DESTACAM983085SEOS ALTOS TANQUES SUBTERRAcircNEOS PARA AR983085MAZENAMENTO DE OacuteLEO ACTUAL ldquoSALA DOS

OacuteLEOSrdquo 983080SALA DE EXPOSICcedilOtildeES E REUNIOtildeES983081

ANTIGAS CASAS DE BANHOACTUAL BAR DA PRAIA E WCS DE

APOIO Agrave FAacuteBRICA DA BALEIA

ANTIGO ARMAZEacuteM DAS FARI983085NHAS COM QUATRO TANQUESSUBTERRAcircNEOS PARA ARMAZE983085NAMENTO DO OacuteLEO ACTUALLOJA DA FAacuteBRICA E CIM

PLATAFORMA DE DESMANCHODESTAQCA983085SE A CHAMINEacute DAS CALDEI983085

RAS A VAPOR

CASA DAS CALDEIRAS A VAPOR IMPO983085NENTES CALDEIRAS FABRICADAS NA CI983085DADE DO PORTO EM PRIMEIRO PLANOVEMOS A CALDEIRA QUE FOI INSTALADAEM 1950

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Tempo de Baleeiros

y A inauguraccedilatildeo da Casados Botes no Capelo marcoumais um passo no percursoque comeccedilou a ser percorridohaacute mais de dez anos quandopor altura das comemoraccedilotildeesdos 400 anos daquela fregue-sia se decidiu iniciar um pro-cesso de recuperaccedilatildeo do patri-moacutenio baleeiro no Faial entatildeodenominado ldquorecuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeira da ilha doFaialrdquoHoje 25 anos depois de ter

sido caccedilado o uacuteltimo cachaloteem aacuteguas accedilorianas o patri-moacutenio da baleaccedilatildeo estaacute bemvivo sendo essa vivacidade noFaial espelhada pela recupe-

raccedilatildeo dos botes baleeiros dalancha Walquiacuteria da Faacutebricada Baleia e agora da Casados BotesRecuperar os botes baleeirosnatildeo eacute no entanto suciente

para garantir que a sua me-moacuteria continua viva Os botespertencem ao mar e por issofoi com naturalidade que estemovimento de revitalizaccedilatildeo dopatrimoacutenio acabou por passar

para a vertente desportiva coma criaccedilatildeo da secccedilatildeo de botesbaleeiros do Clube Naval daHorta que movimenta muitos

desportistasNa hora de lembrar todo estepercurso de recuperaccedilatildeo dopatrimoacutenio baleeiro bem comode reectir sobre o que haacute a

fazer numa altura em esseprocesso estaacute praticamenteconsolidado Tribuna das Ilhasconversou com Joatildeo Garciaque era em 2000 membro do

elenco da Junta de Freguesiado Capelo responsaacutevel pelodesencadear deste projectoe que em 2005 o levou para o

Clube Naval da Horta quandoassumiu a direcccedilatildeo da agre-miaccedilatildeo naacuteutica faialense Alertando para a importacircnciada manutenccedilatildeo deste patrimoacute-

nio agora que todo ele estaacuterestaurado Joatildeo Garcia apelaa um esforccedilo conjunto para aconsolidaccedilatildeo de um campeo-nato regional de botes baleei-ros e defende a alteraccedilatildeo dalegislaccedilatildeo para que os clubesnavais possam retirar rentabili-dade econoacutemica dos passeiosagrave vela em botes baleeiros demodo a que estes possam sus-tentar a sua proacutepria manuten-

ccedilatildeo

O PROCESSO DE RECUPE-RACcedilAtildeO DE BOTES EM VAacute-

RIAS FREGUESIAS COM HIS-TOacuteRIA BALEEIRA NO FAIALFOI DESENCADEADO QUAN-DO O JOAtildeO ERA PRESIDEN-TE DA JUNTA DE FREGUESIADO CAPELO E PREPARAVAAS COMEMORACcedilOtildeES DOSSEUS 400 ANOS O QUE EacuteQUE MOTIVOU A QUE O PA-TRIMOacuteNIO BALEEIRO FOSSEO MARCO DESTA EFEMEacuteRI-DE A importacircncia que tinha essaefemeacuteride levou a que se -zesse um levantamento his-toacuterico dos quatro seacuteculos dafreguesia A baleaccedilatildeo teve umpapel importante nessa histoacuteriae desde logo decidimos fazer

uma regata de botes que li-gasse o Porto do Comprido aodo Varadouro tendo em contaa ligaccedilatildeo histoacuterica que os doistiveram pela baleaccedilatildeo A partirdaqui somos despertados paraalgo que tem grande valor sen-timental e histoacuterico e nasce ummovimento de recuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeiraO Capelo teve uma forte im-plementaccedilatildeo da baleaccedilatildeo era

uma coisa que estava enraiza-da no povo e que era impor-tante salvaguardar Primeirohouve a preocupaccedilatildeo de re-

gistar as memoacuterias que haviadessa eacutepoca registos feitospor pessoas do Capelo nome-adamente pelo Joseacute Franciscoda Faialentejo que registou ostestemunhos de alguns baleei-ros Depois houve o movimen-to de recuperaccedilatildeo dos botesO Pico tinha jaacute uma seacuterie debotes recuperados e noacutes qui-semos ir um pouco mais lon-ge e abranger natildeo apenas asfreguesias com tradiccedilatildeo nabaleaccedilatildeo como Salatildeo Cas-telo Branco e Anguacutestias mastambeacutem outras onde havia re-crutamento de baleeiros comoeacute o caso da Feteira O projectocontemplava a recuperaccedilatildeo da

Casa do Bote Baleeiro que foirecentemente inaugurada evisa ainda publicar a histoacuteria dabaleaccedilatildeo na ilha do Faial

FOI FAacuteCIL PARA A JUNTA DEFREGUESIA DO CAPELO MO-TIVAR AS RESTANTES FRE-GUESIAS A EMBARCAREMNESTE PROJECTOPor acccedilatildeo do Clube Navalmais concretamente pelo entatildeo

presidente Joseacute Decq Motatemos conhecimento que naCalheta do Nesquim existe umbote disponiacutevel cheio de his-

ENTREVISTA A JOAtildeO PEDRO GARCIA

ldquoO DESAFIO MAIS IMPORTANTE Eacute

A PRESERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROrdquo

FONTE ROBERT CLARKE DISCOVERY REPORTS 1954

NO MAR O MOMENTO EM QUE SE INICIA A PERSEGUICcedilAtildeO AO CACHALOTE

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Tempo de Baleeiros

toacuteria e que eacute inclusive citadono Mau Tempo no Canal deVitorino Nemeacutesio o bote SatildeoJoseacute Sabendo que havia aquium interesse ele falou-nos daexistecircncia desse bote que es-tava sob a alccedilada da Comissatildeo

do Patrimoacutenio Baleeiro Inicia--se aiacute a sua recuperaccedilatildeo e umpasso importante para aquiloque queriacuteamos fazer A recu-peraccedilatildeo de um bote para a fre-guesia do Capelo fez despertaras outras freguesias para esteprojecto Nesta altura ele deixade ser apenas palavras e pe-quenos escritos para comeccedilara ter uma maior dimensatildeoEm 2000 temos a primeira re-

gata com botes do Pico e ape-nas com o Claudina do Faial43 anos depois do uacuteltimo botebaleeiro ter ldquoarriadordquo no Com-prido Em 2003 aparece o Satildeo

Joseacute outro bote recuperadopara o Faialhellip As pessoas co-meccedilam a perceber que este eacuteum projecto com vidaNesta altura comeccedila tambeacutema dinamizar-se a regata inter-nacional de botes baleeirosO movimento de geminaccedilatildeoentre a Horta e New Bedfordestava estagnado e a partirdaiacute essa ligaccedilatildeo fortalece-seFoi precisamente a baleaccedilatildeoque criou o elo entre as duascidades agora fortalecido com

a recuperaccedilatildeo do patrimoacuteniobaleeiro E curiosamente eacutena primeira viagem que sefaz aos Estados Unidos que opresidente da Cacircmara Munici-pal da Horta Joatildeo Castro ca

desperto para a importacircncia dese recuperar a Walquiacuteria outroprocesso que estava estagna-do e ganha nessa altura alentoHaacute assim uma bola de neveque vai crescendo uma pai-xatildeo que vai aumentando e um

despertar da consciecircncia paraa recuperaccedilatildeo da memoacuteria quefaz com que se torne tudo maisfaacutecilO Governo Regional atraveacutesda Comissatildeo do PatrimoacutenioBaleeiro dos Accedilores deu umapoio incondicional a este pro- jecto Este eacute um desiacutegnio natildeode um homem soacute mas de vaacute-rias pessoas e instituiccedilotildees

COMO Eacute QUE O OBJECTIVO

DA PRESERVACcedilAtildeO DOS BO-TES BALEEIROS Eacute TRANS-POSTO PARA O CLUBE NA-VAL DA HORTA (CNH) COMO INTUITO DE CRIAR UMANOVA VERTENTE DESPORTI-VA NA ILHAQuando me foi lanccedilado o de-sao de assumir a presidecircncia

do CNH os botes baleeirosassumem uma importacircncia nomeu projecto para o clube Natildeoera possiacutevel continuar a gerir

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

BAIacuteA DA FETEIRA DURANTE A EacutePOCA DO VERAtildeO A BAIA Eacute ENGALANADA PELAS VELAS DOS BOTES BALEEIROS

FONTE SUSANA GARCIA

PATRIMOacuteNIOJORGE FONTES JOAtildeO GARCIA E JOAtildeO TAVARES TREcircS IMPULSIONA DORES DA PRESERVACcedilAtildeO DO PATRI983085MOacuteNIO BALEEIRO DA ILHA DO FAIAL

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Tempo de Baleeiros

as tripulaccedilotildees e a actividadedesportiva dos botes atraveacutesdas juntas de freguesia porqueelas natildeo tecircm essa vocaccedilatildeoEra inevitaacutevel que houvesseuma instituiccedilatildeo como o CNH ndash soacutelida agregadora sem ri-

validades ndash que pudesse darcontinuidade ao processo Nes-se sentido fundaacutemos a secccedilatildeode Botes Baleeiros da ilha doFaial que agrega com igual au-tonomia e legitimidade todos osparticipantes nesta actividadeNeste ponto tenho de referiro Carlos Fontes que deu umimportante contributo a todo oprocesso pela sua dedicaccedilatildeoe organizaccedilatildeo Outro elemen-

to que emprestou um valiosocontributo foi o Nuno Limasobretudo na recuperaccedilatildeo dalancha Walkiria a rainha dosmares dos Accedilores Houve ummomento de explosatildeo com

mais de cem participantes tan-to masculinos como femininoscom miuacutedos a virem das fre-guesias para aprender velacom cursos para ociaishellip Esta

vitalidade dos botes manteve--se ateacute 2010 Mantenho alguma

preocupaccedilatildeo quanto a algumassituaccedilotildees pontuais com receiode que as coisas se desagre-guem e as pessoas natildeo perce-bam os anos de trabalho queestatildeo aqui em causa e os seacutecu-los de baleaccedilatildeo que estatildeo pordetraacutes deste patrimoacutenio Eacute im-portante que haja consciecircncianatildeo apenas de todo o trabalhoque foi feito mas tambeacutem docusto nanceiro deste projec-

to Grande parte desse nan-ciamento foi assegurado pelogoverno regional que contoucom o apoio do E-GRANT`S ADirecccedilatildeo Regional da Culturao CNH e os clubes navais do

Pico apresentaram uma candi-datura para a recuperaccedilatildeo dosbotes baleeiros que foi aceiteSe natildeo fosse esse apoio hojenatildeo poderiacuteamos dizer que pra-ticamente todo o patrimoacuteniodos Accedilores botes e lanchas

estaacute recuperado Estamos afalar de 40 botes Em 10 anosno Faial recuperaram-se setebotes e uma lancha Se virmosque cada bote tem um custo derecuperaccedilatildeo de cerca de 35 mileuros percebemos que esse foium esforccedilo muito signicativo

A associaccedilatildeo dos botes bale-eiros da ilha do Faial ao CNHveio tambeacutem dar uma dimen-satildeo de ilha ao Clube e criou-se

uma dinacircmica desportiva im-portante de que o Faial neces-sitavaEsta vitalidade em torno dacultura e patrimoacutenio baleeirofaz despertar para a necessi-

dade deste ser inventariadoe salvaguardado Em 2008 o

Observatoacuterio do Mar dos Accedilo-res (OMA) entidade gestorada Faacutebrica da Baleia de PortoPim avanccedila para a inventaria-ccedilatildeo do patrimoacutenio imoacutevel da

baleaccedilatildeo primeiro agrave escala dailha do Faial e depois agrave escalados Accedilores

WALKIacuteRIA ldquoA RAINHA DOS MARES DOS ACcedilORESrdquo

ldquoNasceu para reinar nunca foi destronada e viveraacute esperamos por muitos anos assim o desejamos Somos uma grande regiatildeomariacutetima que quer preservar a memoacuteria coletiva das nossas teacutecnicas e tradiccedilotildees da nossa vivecircncia multissecular com o mar quenos rodeia nos separa e nos unerdquo A lancha Walkiria foi mandada construir pelos proprietaacuterios da Armaccedilatildeo Baleeira Reis amp Mendonccedila o industrial continental Francis-co Marcelino dos Reis e o Professor Rui de Mendonccedila residente na Vila das Velas amante de muacutesica Wagneriano que por talrazatildeo deu aos seus lhos os nomes de Wagner Weber

Walkyria e Isolda A construccedilatildeo foi realizada na ilha de S Jorge em 1937pelas matildeos de Joseacute e Manuel Gambatildeo irmatildeos e carpin-teiros habilidosos a partir de projeto de Manuel InaacutecioNunes natural do Pico mas com gabinete de projetos eestaleiro em Sacramento Califoacuternia Estados Unidos da Ameacuterica - ldquoQuando o antigo paquete a vapor ldquoCarvalho Arauacutejordquo

largava do porto das Velas com rumo ao Cais do Picoonde escalava depois de ter atingido a velocidade ple-na de cruzeiro a Walkyria rodeava o navio em marchapassando pela proa e pela popa Nenhuma outra lanchaconseguiu tal proezardquoEfetivamente a lancha estava equipada com um motor agasolina de 143 HP que permitindo atingir uma velocida-de de ponta elevada 18 noacutes tambeacutem acarretava consu-mos de combustiacutevel signicativos facto que levou agrave sua

venda em 1938 por ser economicamente pouco interes-sante para o trabalho que desenvolvia nomeadamente no apoio agrave caccedila agrave baleia Assim a lancha eacute transferida para a ilha do Faial por aquisiccedilatildeo do Sr Francisco Reis cando afeta ao transporte local de passagei-

ro Mais tarde eacute adquirida pela rma ldquoReis amp Martinsrdquo cando afeta agrave atividade baleeira Em 1955 a quando da instalaccedilatildeo de umaparelho de radiotelefonia foi-lhe atribuiacuteda a matriacutecula nal H-21-B

Em 2005 no acircmbito do projeto de ldquorecuperaccedilatildeo da memoacuteria baleeira da ilha do Faialrdquo depois de anos de repouso nos armazeacutens

da Reis e Martins a emblemaacutetica embarcaccedilatildeo volta a ganhar vida pelas matildeos do mestre Manuel Monteiro da Piedade do Pico en-trando de novo no porto da Horta a 12 de agosto desse mesmo ano totalmente recuperada

EEA Grants Mecanismo Finan-

ceiro Norueguecircs para apoio agrave

coesatildeo social e econoacutemica den-

tro da Uniatildeo Europeia Islacircndia

Liechtenstein e Noruega que

complementou o esforccedilo nan-

ceiro do Governo Regional para

a reabilitaccedilatildeo do patrimoacutenio bale-

eiro dos Accedilores Neste contexto

foram recuperados 40 botes e 10

lanchas Anualmente eacute atribuiacutedo

pelo Governo Regional um sub-

siacutedio para manutenccedilatildeo destas

embarcaccedilotildees

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Tempo de Baleeiros

AINDA BEM QUE REFERE AINVENTARIACcedilAtildeO DO PATRI-MOacuteNIO IMOacuteVEL POIS DEFACTO O PATRIMOacuteNIO DABALEACcedilAtildeO NAtildeO SE RESU-ME AOS BOTEShellip DEPOIS DAREVITALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRI-CA DA BALEIA ESTE PRO-CESSO DE RECUPERACcedilAtildeODO PATRIMOacuteNIO FICOU AIN-DA MAIS COMPLETO COMA INAUGURACcedilAtildeO DA CASADOS BOTES NO CAPELO HAacuteMUITO AGUARDADA FALE--NOS DESSE PROJECTO

Em boa hora a Junta de Fre-guesia do Capelo acolheu estainiciativa incluiacuteda no projectoldquoA recuperaccedilatildeo da memoacuteriabaleeirardquo Esta era uma casadas armaccedilotildees baleeiras deSatildeo Roque do Pico A sua re-cuperaccedilatildeo natildeo eacute mais do quedevolver ao porto do Compri-do a sua histoacuteria A histoacuteria doCapelo natildeo comeccedila em 1957com o Vulcatildeo dos Capelinhos

Antes disso o porto do Com-prido jaacute tinha dois seacuteculos dehistoacuteria tendo sido uma dasprincipais estaccedilotildees baleeirasdos Accedilores Essa memoacuteria

tinha de ser preservada porrespeito aos nossos antepas-sados Essa preservaccedilatildeo tam-beacutem se faz atraveacutes do circuitopedestre do baleeiro que tam-beacutem foi inaugurado agora Esteleva-nos ao conjunto de vigiasque existe no Vulcatildeo dos Ca-pelinhos

Um museu natildeo eacute uma coisaque estaacute dentro de casa maseacute tudo o que nos rodeia Te-mos de contar de forma sim-ples a todos os que nos visi-tam que esta eacute uma ilha comhistoacuteria

HAacute TAMBEacuteM A PREOCUPA-CcedilAtildeO DE REUNIR EM LIVRO AINFORMACcedilAtildeO SOBRE A BA-LEACcedilAtildeO QUE TEM VINDO ASER RECOLHIDAhellipNos uacuteltimos anos o Obser-vatoacuterio do Mar dos Accedilores(OMA) tem feito um excelentetrabalho o que se traduz numgrande avanccedilo na pesquisaCom aquilo que jaacute tinha sido

feito lanccedilaacutemos um desao aoFilipe Porteiro presidente doOMA para que se documen-tasse por escrito a memoacuteriados baleeiros Haacute um registode memoacuterias de alguns bale-eiros do Capelo um espoacuteliofotograacuteco que foi e continua

a ser recolhido um conjuntode informaccedilotildees tanto daquicomo de New Bedford no queao tempo da baleaccedilatildeo diz res-peitohellip Portanto temos infor-maccedilatildeo suciente para fechar

nos proacuteximos dois anos estarecuperaccedilatildeo da memoacuteria comum livro que permita dar aconhecer a histoacuteria da balea-ccedilatildeo no Faial Haacute um conjunto

de pessoas disponiacuteveis paracolaborar neste processo Naminha opiniatildeo esta obra deveter ediccedilatildeo bilingue tendo emconta o interesse que tem paraos Estados Unidos

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE FICA A FALTAR FAZERPELA RECUPERACcedilAtildeO E PRE-SERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROTenho de deixar uma mensa-gem importante agraves pessoasque hoje gerem este proces-so procurem os consensosEacute muito importante termosum consenso regional relati-vamente aos botes baleeiros

Eacute importante que se volte aosmodelos adoptados em 2005

relativamente agraves regatas Natildeopodemos ter regatas em to-das as freguesias dos AccediloresTemos de ter as cinco regatastradicionalmente mais antigasnas quais se inclui a Semanado Mar e quatro regatas noPico e fazer as outras trecircs deforma rotativa para voltarmosa ter um campeonato regionalde botes baleeiros em condi-ccedilotildees Faial e Pico tecircm de en-tender-se nesta mateacuteria Estamensagem tem de ser passa-da para as instituiccedilotildees para osclubes para as juntas de fre-guesia para as pessoashellip

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA UM ASPECTO DE UMA REGATA DENTRO DA BAIA DA HORTA

FONTE OMA

EMBARCACcedilAtildeO OS ANTIGOS BOTES TORNARAM983085SE TAMBEacuteM NUMA PECcedilAMUSEOLOacuteGICA

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Tempo de Baleeiros

Eacute tambeacutem importante que asecccedilatildeo de botes baleeiros doFaial continue A rivalidade en-tre freguesias natildeo traz nada debom O CNH tem obrigaccedilatildeo deconsolidar a secccedilatildeo custe oque custar

Aleacutem disso temos de ver queo patrimoacutenio baleeiro que estaacuteentregue agraves Juntas de Fregue-sia natildeo eacute das autarquias Per-tence agrave Governo Regional dos Acores ou seja agrave Regiatildeo e asua preservaccedilatildeo eacute uma obri-gaccedilatildeo daqueles a quem foientregue Eacute preciso ter muitocuidado nessa preservaccedilatildeosenatildeo dentro de alguns anosestamos natildeo a fazer manuten-

ccedilatildeo mas praticamente a fazernovos botes Os responsaacuteveisde cada uma das instituiccedilotildeestecircm de ter consciecircncia do pa-trimoacutenio que tecircm nas matildeos ede toda esta histoacuteria Agora odesao mais importante eacute a

manutenccedilatildeo deste patrimoacutenio econtinuar a despertar nas pes-soas o interesse por andar agravevela e a remos O bote baleeiroeacute uma embarcaccedilatildeo iacutempar Natildeohaacute outra no mundo

E A PRESERVACcedilAtildeO SOacute SEFAZ COMPLETAMENTE SEOS BOTES ESTIVEREM NOMAR A NAVEGARExactamente Haacute uma partemuito importante do projec-to que ainda falta que passa

pela sede do CNH e por sa-ber o que vai acontecer aosarmazeacutens da Reis e MartinsEacute preciso encontrar um espa-ccedilo adequado para guardar osbotes fazer a sua manuten-ccedilatildeo e expocirc-los Os botes satildeopatrimoacutenio histoacuterico mas tam-beacutem turiacutestico As regatas satildeobonitas mas os passeios embotes baleeiros tambeacutem Se foralterada a portaria que regula

esses passeios em vigor haacutemuitos anos os clubes podemdeles tirar rendimentos

ACHA ENTAtildeO QUE FARIASENTIDO RENTABILIZAR OSPASSEIOS NOS BOTES BA-LEEIROS PARA FINANCIARA SUA PROacutePRIA PRESERVA-CcedilAtildeOFaz todo o sentido Na situ-accedilatildeo econoacutemica em que es-tamos natildeo podemos viver da

ldquosubsiacutedio-dependecircnciardquo A ma-nutenccedilatildeo dos botes as regatase toda essa dinacircmica podemsustentar-se com a criaccedilatildeo deuma vertente econoacutemica comos passeios de bote baleeiroporque temos mercado para

isso Eacute necessaacuterio alterar legis-laccedilatildeo nessa aacuterea

NOUTROS TEMPOS A BA-LEIA FOI UM PILAR DA NOS-SA ECONOMIA ACHA QUEHOJE COM O WHALE WA-TCHING A MOTIVAR A EXIS-TEcircNCIA DE BALEEIROS COMMAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICASEM VEZ DE ARPOtildeES CON-TRIBUINDO PARA A ECONO-

MIA DA ILHA E COM OS BO-TES BALEEIROS NA AacuteGUAPARA AS COMPETICcedilOtildeESDESPORTIVAS ESTAMOSPERANTE UMA ESPEacuteCIE DENOVA BALEACcedilAtildeO Acho que entraacutemos numa novafase da baleaccedilatildeo e soubemosperceber natildeo apenas a impor-tacircncia que a baleaccedilatildeo tevemas tambeacutem a importacircnciaque os cetaacuteceos tecircm hoje nos Accedilores Haacute um Departamento

de Oceanograa e Pescas da

Universidade dos Accedilores quesabe o que estaacute a fazer haacuteuma consciecircncia das empre-sas de whale watching para asua importacircnciahellip Natildeo eacute poracaso que algumas dessas

empresas utilizam as antigasvigias dos baleeiros e inclusi-ve as recuperaram contribuin-do assim para a preservaccedilatildeodo patrimoacutenio da baleaccedilatildeo Osegredo da observaccedilatildeo de ba-leias nos Accedilores tem a ver coma histoacuteria que haacute para contarHouve uma altura em que ca-ccedilaacutemos e haacute agora uma alturaem que sabemos preservarHaacute aqui um potencial turiacutestico

enorme Os accedilorianos adapta-ram-se muito bem a esta novarealidadez

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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Tempo de Baleeiros

da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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Tempo de Baleeiros

pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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Tempo de Baleeiros

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

Page 6: Tempos de Baleeiros

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Tempo de Baleeiros

ldquoA procissatildeo chegou-se ao bote silencio-

samente sem barulho de peacutes apenas um

murmuacuterio Na luz jaacute fraca a cruz natildeo era

mais que uma silhueta os veacuteus brancos

e diaacutefanos na cabeccedila das senhoras e das

meninas demarcavam-se com uma lumino-

sidade proacutepria Quando a imagem da santa

foi trazida e pousada no leito da popa ao

lado do logaieacutete os sussurros deram lugar

ao silecircncio total O mestre postou-se diante

dela por momentos muito direito de laacutebios

cerrados Com as matildeos abertas e juntas

pegou na linha da selha da popa deu-lhe

uma volta em torno do logaieacutete dobrou-a e

passou-a sobre os ombros da imagem si-

mulando um noacute ligeiro Depois vergou-se

riacutegido e beijou-lhe as vestes e falando su-

avemente como se a sua voz interior fosse

mais audiacutevel disse

ldquoNossa Senhora da Guia acompanha-nos Leva-nos em seguranccedila Ajuda-nos a encontrar baleias Protege-nos dos pe-

rigos da caccedilada Vela por noacutes no regresso agraves famiacutelias que nos esperamrdquo

Depois calou-se ainda de peacute frente agrave imagem As laacutegrimas corriam-lhe pela cara abaixo sobre a pele morena crestada

pelo marrdquo

Esta transcriccedilatildeo do livro ldquoBaleia ndash Os Baleeiros dos Accediloresrdquo de Bernard Venables sendo um relato de uma cena ob-

servada na segunda metade da deacutecada de sessenta do seacuteculo passado ilustra bem a intensidade da religiosidade dos

homens envolvidos na caccedila agrave baleia Na verdade era frequente as embarcaccedilotildees serem batizadas com o nome de uma

Santa ou de um Santo de particular devoccedilatildeo entre os mariacutetimos sendo denominador comum o apadrinhamento por um

conjunto alargado de Santas (os) cujas imagens eram axadas no interior da proa das canoas Em terra nos portos deorigem era tambeacutem comum a existecircncia de nichos onde eram expostas as imagens de Santos (as) de devoccedilatildeo de que

satildeo exemplo Nossa Senhora do Socorro na freguesia do Salatildeo Senhora de Santana no Capelo ou Satildeo Pedro

OS BALEEIROS E A RELIGIOSIDADE

e sua esposa a picarota Ale-xandra comeccedilou a preparar-seuma nova atividade a obser-vaccedilatildeo de cetaacuteceos Utilizandoos meacutetodos e teacutecnicas que an-tes serviam para perseguir oscachalotes nasceu na ilha do

Pico uma nova atividade querapidamente se estendeu agravesilhas em que o potencial eramais evidenteHoje haacute duas dezenas de pe-quenas embarcaccedilotildees quetodos os dias partem em dire-ccedilatildeo aos grupos de golnhos

baleias e cachalotes No totalao longo de todo o ano duasdezenas e meia de espeacuteciessatildeo observadas por 50 mil vi-

sitantes que pagam em meacute-dia 50 euros Portanto hojeos cetaacuteceos valem dezenasde milhares de viagens aeacute-reas estadias e alimentaccedilatildeonos Accedilores Hoje a atividade

de observaccedilatildeo de cetaacuteceos jaacuterende o equivalente aos anosaacuteureos da atividade de caccedila

Tambeacutem muito contribuiu parao sucesso o facto do Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores ter acompanhado odesenvolvimento da atividadeGraccedilas a isso e ao empenhodo Governo rapidamente sedesenvolveu um coacutedigo deconduta que em 1999 foi trans-formado na primeira legislaccedilatildeode observaccedilatildeo de cetaacuteceos daEuropa Hoje qualquer inter-ferecircncia com os cetaacuteceos dos Accedilores implica conhecimento

enquadramento e autorizaccedilatildeoexpressa das autoridades am-bientais marinhasPara aleacutem da simples observa-ccedilatildeo recorrem ao nosso arqui-peacutelago diversas das melhores

equipas de cinema documentaldo mundo para recolher ima-gens destes magniacutecos ani-mais oceacircnicos BBC NationalGeographic e NHK satildeo apenasalgumas das grandes empre-sas televisivas que anualmente

submetem pedidos para nosmares dos Accedilores lmar os

maiores animais jamais exis-tentesPara aleacutem do fasciacutenio dos proacute-prios animais e do mar hojesubsiste tambeacutem uma curio-sa induacutestria relacionada como patrimoacutenio baleeiro Depoisde um estiacutemulo dado pelo Go-verno hoje antigas faacutebricaslanchas e botes satildeo perma-

nentemente conservados etornados testemunhos bem vi-vos de outros tempos e outrasvivecircncias Essas faacutebricas satildeohoje nuacutecleos expositivos e aslanchas e botes satildeo envolvidos

em animadas competiccedilotildees en-tre os descendentes das anti-gas companhas Mais do que oresultado comercial que existeo importante eacute o impacto socialao niacutevel da memoacuteria culturalcoletiva e do divertimento luacutedi-

co contextualizadoHoje nos Accedilores as atividadesderivadas dos cetaacuteceos comespecial ecircnfase para a obser-vaccedilatildeo de cetaacuteceos tem umsignicado econoacutemico de mais

de duas dezenas de milhotildeesde euros Este eacute um exemplode como os accedilorianos se sou-beram adaptar aos temposmodernos e em que apesar donosso diminuto contributo para

o problema inicial optamospelo desenvolvimento susten-taacutevel e com enormes dividen-dos comerciaisz

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Tempo de Baleeiros

OS DABNEY E A BALEACcedilAtildeO

Oriunda dos Estados Unidosda Ameacuterica mais concretamentede Massachusetts a famiacutelia Da-bney instalou-se na no Faial em1804 (para alguns teraacute sido em1806) apoacutes a nomeaccedilatildeo de JohnBass Dabney pelo presidenteThomas Jefferson como CocircnsulGeral dos EUA no FaialDois descendentes de John BassDabney exerceram sucessiva-mente as funccedilotildees consularesapoacutes a sua morte seu lho Char -les William Dabney e posterior-mente o neto Samuel Willis Da-bney ateacute janeiro 1892 momento

em que a famiacutelia acaba por aban-donar o Faial A tiacutetulo de curiosi-dade importa referir que a des-pedida da famiacutelia em causa apoacutes

88 anos de marcante presenccedilaempresaria social e cultural em1891 eacute marcada pela realizaccedilatildeode uma regata de botes baleeirosEm boa medida favorecida pelafunccedilatildeo consular a atividade em-presarial da famiacutelia foi de supre-ma importacircncia no contexto locale regional marcando aquele queseraacute um dos mais proacutesperos ci-clos econoacutemicos do FaialOs Dabney incidiram a sua di-

nacircmica comercial em produtoscomo a laranja e o vinho mastambeacutem no negoacutecio associadoagrave baleaccedilatildeo e neste fundamen-talmente a trecircs niacuteveis no apoio

logiacutestico agrave frota de embarcaccedilotildeesnorte-americanas dedicadas agravebaleaccedilatildeo pelaacutegica no Atlacircnticoque aportava ao Porto da Hortana aquisiccedilatildeo dos oacuteleos de baleiaprocessados e subsequente ex-portaccedilatildeo Esta atividade era par-ticularmente importante agrave datana medida em que permitia aosnavios baleeiros americanos oescoamento do produto obtidocom lucro sem necessidade deregresso aos portos de origem Enalmente de forma perfeitamen-te inovadora a formaccedilatildeo de umaarmaccedilatildeo de pequenas embarca-ccedilotildees (botes baleeiros) dedicadasagrave baleaccedilatildeo costeira

A atividade empresarial desta fa-miacutelia acaba por entrar em decliacutenio

em nais do seacuteculo XIX com a

queda da produccedilatildeo de vinho e la-ranja pelo progressivo abandonoda baleaccedilatildeo pelaacutegica nos termosem que tinha ocorrido ateacute entatildeomas tambeacutem pelo aparecimentode outras proacutesperas empresas li-gadas aos mesmos ramos de ne-goacutecio de que satildeo exemplo a Ben-sauacutede Em paralelo o governoNorte Americano havia jaacute come-ccedilado a orientar o seu corpo con-

sular para a necessidade de natildeoserem acumuladas pelos respeti-vos membros funccedilotildees consularese funccedilotildees empresariais z

y

BALEAS ndash Na manhatilde do dia 22 do cor-

rente appareceram ao norte drsquoesta bahia

alguns spermacettis Duas canocircas da

casa Dabney foram em sua perseguiccedilatildeo

e tiveram a felicidade de matar um que

foi conduzido para o Porto Pim onde se

estagrave derretendo Muita gente tem con-

corrido agravequelle sitio para o ver Nos dias

seguintes mais alguns peixes appare-

ceram na bahia mas quando as canocircas

foram em sua caccedila jaacute os natildeo avistaram

In O Fayalense de 25 de junho de 1871

FONTE BIBLIOTECA PUacuteBLICA E ARQUIVO REGIONAL JOAtildeO JOSEacute DA GRACcedilA

PORTO DA HORTA ndash O Atlantico de quinta-feira publica o

movimento mariacutetimo drsquoeste porto no anno ndo de 1871

que com a devida venia transcrevemos

laquoNo anno ndo de 1871 deram entrada na bahia da Horta

253 embarcaccedilotildees com 93000 toneladas 94 navios eram

portuguezes 50 inglezes 79 americanos 15 francezes

4 italianos 3 allematildees 1 hespanhol 1 liberiano 1 norue-

guez 2 suecos 2 belgas e 2 brazileiros Entre estes in-

cluem-se 32 vapores mercantes e 13 de guerra e 42 bale-

eiras americanas as quaes descarregaram 363 818 litros

drsquoazeite de spermacetti e de balea egual a 381627 kilos

do mesmo Em 1870 so deram entrada 30 baleeiras asquaes apenas descarregaram 115523 litros drsquoazeite egual

a 157466 kilosraquo

In O Fayalense de 7 de Janeiro de 1872

FONTE BIBLIOTECA PUacuteBLICA E ARQUIVO REGIONAL JOAtildeO JOSEacute DA GRACcedilA

O TUFO ENCOSTADA AO MONTE DA GUIA FORMOU983085SE A PRIMEIRA ESTACcedilAtildeO DE APOIO Agrave BALEACcedilAtildeOCOSTEIRA NO FAIAL

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Tempo de Baleeiros

Na ponta Oeste da ilha do

Faial junto ao Vulcatildeo dos Ca-pelinhos encontramos umapequena Calheta formadahaacute centenas de anos por umaescoada laacutevica A Ponta Com-prida assim descrita na car-tograa do seacuteculo XVIII pro-porcionava um abrigo naturalnuma aacuterea de pesca costeirafrequentada desde as primei-ras deacutecadas do povoamentoda ilha Aberto na rocha entre

as faleacutesias e o mar o porto doComprido era um lugar isola-do ideal na partida do Homempara o combate com o Cacha-lote A curta distacircncia cavam

as aacuteguas profundas que limi-tam a ilha do Faial onde seacumulam as presas marinhasque atraem grandes preda-dores como eacute o caso dos ca-chalotes As altas faleacutesias doCostado da Nau de onde seperscrutavam os movimentosdas embarcaccedilotildees vindas deOeste permitiam um longo al-cance aos vigias da baleia euma comunicaccedilatildeo visual comas vigias instaladas na CostaNorte da Ilha nos Cedros e no

Salatildeo em conexatildeo com a vigiado Alto das Concheiras Laacute embaixo a menos de 100 metrosdo mar os baleeiros reuniam--se durante os meses de Ve-ratildeo como um exeacutercito sitiadoem habitaccedilotildees de pedra cober-tas com palha de trigo manten-do as suas canoas varadas narampa do porto O nuacutecleo habi-tacional do porto do Comprido

alojava baleeiros das ilhas doFaial do Pico e de Satildeo JorgeNeste aspecto aparentementesingular o porto do Compridopoderia ser comparado comoutros postos baleeiros espa-lhados por zonas inoacutespitas doglobo como a ilha de Spitsber-gen no seacuteculo XVII onde osbaleeiros ingleses e holande-ses conviviam durante o Veratildeo

ou as estaccedilotildees baleeiras daGeoacutergia do Sul no Antaacutertico

AS FASES DA

BALEACcedilAtildeOCOSTEIRA NA ILHADO FAIAL E O CASODO PORTO DOCOMPRIDO

A caccedila agrave baleia no porto doComprido ter-se-aacute desenvolvi-do entre 1884 e 1957 tornan-do-se um posto baleeiro cadavez mais importante no conjun-

to das ilhas do grupo centralEste periacuteodo pode ser divididoem trecircs fases sucessivas A partir da deacutecada de 1870com a crise do comeacutercio deexportaccedilatildeo do vinho e da laran- ja a afectar o uxo comercial

do porto da Horta o negoacutecioda baleaccedilatildeo costeira torna-seum foco de entusiasmo paraas empresas locais Nestecontexto a casa comercial

DabneyampSons experimenta-da na baldeaccedilatildeo do oacuteleo dosnavios baleeiros norteamerica-nos e em condiccedilotildees propiacuteciaspara importar canoas baleeiras

y

PORTO DO COMPRIDOUM POSTO BALEEIRO (1884-1957)

FONTE ACERVO DOCUMENTAL DAS OBRAS PUacuteBLICAS DO DISTRITO DA HORTA

VARADOURO PLANO DE REPARACcedilAtildeO DO PORTO DO COMPRIDO 1927

FONTE COLECCcedilAtildeO DO MUSEU DO PICO

ARREADA EM POUCOS MINUTOS DEPOIS DE DADO O SINAL TODOS OS BOTES BALEEIROS ESTAVAM NA AacuteGUA

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Tempo de Baleeiros

antecipa-se na criaccedilatildeo de infra-

estruturas de apoio agrave baleaccedilatildeocosteira Em 1884 Samuel Da-bney pede autorizaccedilatildeo para aconstruccedilatildeo de uns ldquo turcos demadeira junto agrave costa no localdenominado ndash o Comprido -[hellip] para poderem arrear asembarcaccedilotildees empregues napesca da baleardquo(1) As baleiascaccediladas a partir do porto doComprido seriam rebocadas aremos ou com o auxiacutelio de umvapor do porto da Horta ateacuteagrave estaccedilatildeo de traioacuteis de PortoPim o ldquoTufordquo onde se proce-dia ao desmancho do cachalo-te e se derretiam os toucinhosem grandes caldeiros de ferroEsta primeira fase de baleaccedilatildeocosteira estaacute contudo deter-minada pelos poucos meios eo insucesso na maioria de ten-tativas de captura dos cacha-lotes tal como nos indicam asnotiacutecias contemporacircneas Agraves

canoas de terra uniam-se eminteracccedilatildeo ou concorrecircncia ascanoas dos navios baleeirosnorteamericanos que perma-neciam ao largo das ilhas doTriacircngulo Apesar das incer-tezas a baleaccedilatildeo no porto doComprido prevaleceu duranteas deacutecadas seguintesUma segunda fase situadaentre os anos 20 e os anos 40

do seacuteculo XX caracteriza-se

pela concentraccedilatildeo de funccedilotildeesda baleaccedilatildeo costeira no portodo Comprido Por outras pala-vras era no porto do Compridoque arreavam os botes bale-

eiros - auxiliados por lanchas

a motor a partir dos anos 20 ndash e depois de capturados oscachalotes seriam encalhadose desmanchados na zona doporto Segundo uma inspecccedilatildeofeita pela Capitania do porto daHorta em 1928 era a Socieda-de Baleeira Aurora que possuiacuteano porto do Comprido ldquoumacasa com duas caldeiras e res-pectivas fornalhas e mais ape-trechos para o derretimento dooacuteleo achando-se tudo em bomestado e regularmente instala-dordquo(2) De resto esta fase estaacute

marcada pela proliferaccedilatildeo depequenas armaccedilotildees ou socie-dades baleeiras em vaacuterios por-tos da Ilha (Ribeirinha CedrosSalatildeo Castelo Branco) cadauma com os seus apetrechose instalaccedilotildees ou em sociedadecom outras armaccedilotildees Na ilhado Faial existiam em simultacirc-neo entre cinco a oito armado-

res da ldquopesca da baleiardquo entre1920 e 1930 Durante a eacutepoca

de caccedila o porto do Comprido jaacute seria frequentado por setecanoas baleeiras algumas dasquais permaneciam durantetodo o ano Com a complexi-caccedilatildeo da actividade baleeirasatildeo tambeacutem mais notaacuteveis asintervenccedilotildees das autoridadesmariacutetimas na vida do postobaleeiro e os requerimentos

das instituiccedilotildees de poder localcomo a Junta de Freguesia doCapelo para a realizaccedilatildeo deobras de construccedilatildeo e repara-ccedilatildeo do porto

FASE INDUSTRIAL

Mas se existe periacuteodo em queo porto do Comprido se con-verte num destacado postobaleeiro em toda a sua espe-cicidade eacute durante a fase in-

dustrial da baleaccedilatildeo na ilha doFaial entre 1940 e 1957 Nosanos convulsos da 2ordf Guerra

Mundial a forte subida do pre-ccedilo do oacuteleo de cachalote incen-tivou o crescimento da activi-dade baleeira nos Accedilores e dailha do Faial em particular Asobras para o desenvolvimentodo porto do Comprido estavamno centro do debate Com aconstruccedilatildeo das Faacutebricas da

Baleia de Porto Pim (1942) eSatildeo Roque (1944) e a expec-tativa de dobrar a produccedilatildeode oacuteleo atraveacutes do processa-mento industrial do cachaloteera necessaacuterio optimizar ascondiccedilotildees do varadouro ondeestacionavam os botes bale-eiros do Faial e do Norte doPico Os projectos de constru-ccedilatildeo de 1942 e 1944 previam

a construccedilatildeo de uma muralhade defesa do porto e um caisacostaacutevel aleacutem de um nivela-mento da rampa de varagemcom mais de 110 metros Noentanto estes projectos nun-ca viriam a ser concretizados

Durante este periacuteodo a rampade varagem chegou a ter 18botes baleeiros varados e 7lanchas a motor amarradas aolargo condiccedilotildees que exigiamo envolvimento de no miacutenimo200 indiviacuteduos na actividade

baleeira As armaccedilotildees bale-eiras em menor nuacutemero masmelhor organizadas recebiaminstruccedilotildees relativas agrave saiacuteda co-ordenada dos botes baleeiros

para o mar e o trabalho colec-tivo dos vigias pertencentes adiferentes armaccedilotildees baleeirasNa retaguarda da actividadeos armazeacutens da ReisampMartinsna Horta prestavam todo o tipode fornecimentos agraves embarca-ccedilotildees estacionadas no Capelolinha de baleia tintas oacuteleo delinhaccedila lanccedilas e arpotildees entreoutros eram enviados regular-

FONTE COLECCcedilAtildeO DO MUSEU DO PICO

PORTO DO COMPRIDO ANTES DA SAIacuteDA OS BOTES ERAM CUIDADOSAMENTEINSPECCIONADOS

BALEEIROS NO CAPELO

A tradiccedilatildeo oral recorda ldquoo Compridordquo como um lugar de alegriaonde os baleeiros celebravam a vida de Veratildeo em comunidadeEnquanto o foguete natildeo estalava danccedilava-se a Chamarritafestejava-se o Satildeo Pedro ou assistia-se agrave festa de Santana Ospicarotos protagonistas da migraccedilatildeo sazonal dispuseram demeios para transportar consigo as mobiacutelias os animais domeacutes-

ticos as famiacutelias inteiras Agrave noite tambeacutem se pescava de diasalgava-se o peixe Balear no Comprido transformava o quoti-diano dos homens que por norma nunca seriam baleeiros atempo inteiro

Fonte Foto Fotojovial

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Tempo de Baleeiros

CACcedilA Agrave BALEIA NO PORTO DO COMPRIDO

A partir de determinada eacutepoca do ano os botes baleeiros deixavam de ldquoarrearrdquo na cidade da Horta e concentravam-se nos postosbaleeiros do Salatildeo e do porto do Comprido A actividade no porto do Comprido era sobretudo inconstante podia haver 4 a 5 diasconsecutivos de caccedila mas tambeacutem uma semana inteira agrave espera que os vigias dessem o sinal de ldquoarreadardquo

mente para o posto baleeiro Aaldeia dos baleeiros era manti-da segundo uma organizaccedilatildeofamiliar e com o apoio de co-merciantes locais da freguesiado Capelo que asseguravamo seu aprovisionamento Sem

duacutevida foram nos derradeirosanos da baleaccedilatildeo no Compridoque mais se caccedilou agrave baleia ede forma mais ecaz com uma

forte concentraccedilatildeo nos mesesde Veratildeo (cfr Graacuteco)

Em Setembro de 1957 quan-do se iniciaram as erupccedilotildees noVulcatildeo dos Capelinhos o portodo Comprido foi imediatamenteabandonado Em poucos me-ses todos os anos de histoacuteria

deste posto baleeiro seriamabruptamente consumidos pe-las cinzas deixando-nos umapaisagem desolada escureci-da pelo Vulcatildeo z

Notas

(1) Fundo da Capitania do Porto da

Horta Arquivo Histoacuterico da Marinha

(2) Idem

OS HOMENS DA BALEIA

Fonte Foto Maacuterio Ruspoli Les Hommes de la Baleine (1956)

No Veratildeo de 1956 o italiano Maacuterio Ruspoli propocircs-se reali-zar um documentaacuterio sobre os uacuteltimos caccediladores de baleia dotempo de Moby Dick Depois de conseguir um empreacutestimo de

2 milhotildees de francos concedido pelo milionaacuterio grego AristoteOnassis M Ruspoli reuniu uma talentosa equipa composta porJacques Soulaire e Gilbert Rouget e instalou-se na casa dos fa-roleiros dos Capelinhos Durante dois meses a equipa recolheuas imagens e os sons uacutenicos da actividade baleeira no porto doComprido Les hommes de la Baleine eacute um precioso documentorealista e liacuterico sobre a baleaccedilatildeo na ilha do Faial

BALEEIROS NA AMEacuteRICACom a erupccedilatildeo do vulcatildeo dosCapelinhos e a abertura dasfronteiras norte americanasmuitos jovens baleeiros se-

guiram o rumo da emigraccedilatildeoconservando a memoacuteria dostempos aacuteureos e diceis da ba-leaccedilatildeo

Fonte foto Colecccedilatildeo Privada de Manuela Rosa

FRANCISCO HENRIQUESOMA

FONTE COLECCcedilAtildeO POSTAL RUSPOLI amp SOULAIRE

TRANCAR JOSEacute RAFAEL PREPARA983085SE PARA ARPOAR UM CACHALOTE

Fonte Colecccedilatildeo Documental ReisampMartins Lda ndash Faacutebrica da Baleia de Porto Pim

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Tempo de Baleeiros

Na deacutecada de trinta do seacute-culo XX durante o auge dainduacutestria baleeira nos Accediloresforam constituiacutedas vaacuterias em-presas nas diversas ilhas paraa exploraccedilatildeo e comercializaccedilatildeodos produtos obtidos a partir

dos cachalotes No Faial foramconstituiacutedas trecircs sociedadesa Reis amp Martins Lda arma-ccedilatildeo baleeira e exportadoresde oacuteleo a Companhia Bale-eira Faialense Lda armaccedilatildeobaleeira e a Sociedade Indus-trial Mariacutetima Accediloriana Lda(SIMAL) ligada agrave induacutestriatransformadora A Reis amp Mar-tins Lda constituiacuteda em 1945adquiriu um armazeacutem na RuaNova na cidade da Horta queservia como casa de botes eocina de carpintaria marce-naria tanoaria ferraria e mecacirc-nica ofiacutecios essenciais para aconstruccedilatildeo e manutenccedilatildeo dasembarcaccedilotildees baleeiras (lan-chas a motor e botes) e res-pectiva palamenta Depois dom da actividade baleeira nos

Accedilores no iniacutecio dos anos 80do seacuteculo XX o armazeacutem daRua Nova e grande parte do

seu espoacutelio foram parcialmen-te mantidos ateacute agrave actualidadeembora seja notoacuteria a degrada-ccedilatildeo tanto do imoacutevel como demuitos dos objectos e equipa-mentos aiacute armazenadosPerante o risco seacuterio de esteespoacutelio se perder e dada a im-portacircncia deste espoacutelio para oestudo da baleaccedilatildeo no Faial enos Accedilores considerou-se serurgente efectuar o seu resgate

levantamento e estudo destepatrimoacutenio garantindo assima sua preservaccedilatildeo Assim osactuais proprietaacuterios e herdei-ros da Reis amp Martins Lda

estabeleceram uma parceriacom o Observatoacuterio do Mar dos Accedilores (OMA) com o objectivode salvaguardar o patrimoacutenioexistente e integrar parte deleno museu da Faacutebrica da Baleiade Porto Pim

O projecto ldquoLevantamento dePatrimoacutenio Baleeiro e Dinami-zaccedilatildeo do Espaccedilo Expositivo

da Faacutebrica da Baleia de PortoPimrdquo iniciou-se em 2008 e em

2009 passou a ser co-nancia-do pela Direcccedilatildeo Regional daCultura (DRaC) que o consi-derou de ldquointeresse relevantepara a Regiatildeo e capaz de con-tribuir para o desenvolvimentoda poliacutetica cultural dos AccediloresrdquoEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinarias

equipamentos embarcaccedilotildeespalamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)

o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobrea induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiais

moacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Partedesse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo na

sua exposiccedilatildeo permanenteEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinariasequipamentos embarcaccedilotildees

palamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobre

a induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiaismoacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Parte

desse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo nasua exposiccedilatildeo permanente

y

PATRIMOacuteNIO BALEEIRO DA FASEINDUSTRIAL DA BALEACcedilAtildeO NO

FAIAL - RESGATE INVENTARIACcedilAtildeO ECONSERVACcedilAtildeO

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

RUA NOVA INTERIOR DO ESCRITOacuteRIO DOS ARMAZEacuteNS DA REIS amp MARTINS LDA

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Tempo de Baleeiros

INVENTAacuteRIO DOESPOacuteLIO REIS EMARTINS LDA

Os objectos encontrados foramanalisados e descritos quantoagraves caracteriacutesticas funcionaisde origem e agraves transforma-ccedilotildees eventuais que possamter sofrido ao longo do tempoSe alguns objectos tecircm umafunccedilatildeo oacutebvia (pe botes e suapalamenta arpotildees etc) outroshaacute cuja sua utilidade eacute difiacutecil dedescodicar A identicaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo funcional dos ob- jectos encontrados foi consubs-tanciada por fontes documen-tais quando existentes eoupor depoimentos orais fonte de

informaccedilatildeo uacutenica e insubstituiacute-vel para a compreensatildeo abran-gente da actividade industrialem estudo A identicaccedilatildeo de cada bem

foi registada em cha proacutepria

onde os elementos considera-dos adequados para o seu re-conhecimento foram descritosem detalhe A cha inclui uma fotograa do

objecto o seu nuacutemero de in-

ventaacuterio a sua funccedilatildeo originala categoria a que pertence oseu estado de conservaccedilatildeo adata do inventaacuterio e a referecircn-cia das fotograas existentes

desse objectoOs bens inventariados foramclassicados em categorias

consoante o tipo de colecccedilatildeo esuas caracteriacutesticas (tipologia) Assim optou-se por classicaacute--los em classes segundo asua funccedilatildeo original e em sub-classes que correspondemao local ou agrave infra-estrutura aque pertenciam (ex Selhandashde--linha Classe Palamenta Sub-classe Bote Baleeiro) A inventariaccedilatildeo individual de

cada peccedila permitiu a criaccedilatildeode um inventaacuterio fotograacuteco e

de uma lista geral de inventaacute-rio onde constam todas as 468peccedilas resgatadas ateacute ao mo-mento O passo seguinte con-sistiu na conservaccedilatildeo e restau-ro dos objectos classicados

As intervenccedilotildees foram criterio-samente efectuadas para natildeocomprometerem a constituiccedilatildeooriginal das peccedilas Aspiraccedilatildeo lavagem restaurocom oacuteleo e tratamento contra

pragas foram as operaccedilotildeesadoptadas para as peccedilas demadeira As peccedilas de metal a maioriacom niacuteveis de oxidaccedilatildeo con-sideraacuteveis foram objecto detratamentos especiacutecos adap-tados a cada casoz

FONTE OMA

SALVAGUARDA CLASSIFICACcedilAtildeO DAS 468 PECcedilAS INVENTARIADAS ATEacute AO MOMENTO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

OBJECTOS983085 EXEMPLARES DO ESPOacuteLIO RESGATADO DOS ARMAZEacuteNS REIS E MARTINS

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Tempo de Baleeiros

y Em 2010 o OMA estabe-leceu um contrato de coope-raccedilatildeo teacutecnica com a DirecccedilatildeoRegional da Cultura (DRaC)com o objectivo de inventariaro patrimoacutenio baleeiro imoacutevel detodo o arquipeacutelago A execuccedilatildeo

do projeto foi assegurada poruma equipa multidisciplinar naaacuterea da investigaccedilatildeo histoacuterica

arquitectura e fotograa pro-ssional A recolha preacutevia da

informaccedilatildeo foi o ponto de par-tida para um trabalho de cam-po que decorreu entre os me-ses de Junho e Dezembro de2011 Foram inventariados os

antigos complexos baleeirospostos baleeiros e varadourosbaleeiros rampas de varagemdas embarcaccedilotildees rampas dealagem de cachalotes casas

de botes traioacuteis faacutebricas deprocessamento de cachalotese plataformas de desmancho

vigias residecircncias sazonaiscarpintarias ocinas arma-zeacutens entre outrosNa ilha do Faial foram inven-tariados 17 imoacuteveis (ver Fig5) identicados no Complexo

Baleeiro das Anguacutestias (localonde as armaccedilotildees baleeirastinham a sua sede com ar-mazeacutens faacutebricas de proces-samento de cachalotescasade caldeiros e estacionavam

as embarcaccedilotildees prontas parauma raacutepida arriada agrave baleia)nos Postos Baleeiros do Porto

do Comprido do Salatildeo (estesdois como local de estaciona-mento sazonal das armaccedilotildeesbaleeiras do Faial e do Pico) edo Varadouro Identicaram-se

ainda apesar de menos repre-sentativos na actividade baleirada Ilha do Faial os Varadourosdo Cedros Castelo Branco eRibeirinha todos com rampade varagem para estaciona-mento de botes baleeiros z

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIRO IMOacuteVEL DO FAIAL

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIO BALEEIRO IMOacuteVEL DOS ACcedilORES A ILHA DO FAIAL

MAacuteRCIA DUTRAOMA

COMPLEXTO BALEEIRO DAS ANGUacuteSTIAS1 983085 FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

2983085 ARMAZEacuteM DA REIS amp MARTINS LDA3 983085 CASA DE CALDEIROS DE PORTO PIM983080FAacuteBRICA VELHA9830814 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTOPOSTO BALEEIRO DO PORTO DOCOMPRIDO5 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO DO

COMPRIDO6 983085 VIGIA DO CAPELO

7 983085 VIGIA DO COSTADO DA NAU8 983085 RESIDEcircNCIAS SAZONAIS DO PORTODO COMPRIDO9 983085 CASA DOS BOTES DO PORTO DOCOMPRIDOPOSTO BALEEIRO DO SALAtildeO10 983085 RAMPA DE VARAGEM DO SALAtildeO

11 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DA ARMA983085CcedilOtildeES DO FAIAL

12 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DAS ARMA983085CcedilOtildeES DO PICO13 983085 VIGIA DOS CEDROS14 983085 POSTO BALEEIRO DO VARADOURO15 983085 VIGIA DO ALTO DAS CONCHEIRASVARADOURO BALEEIRO DOS CEDROS16 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO

DA EIRAVARADOURO BALEEIRO DA RIBEIRINHA

17 983085 RAMPA DE VARAGEM DA RIBEIRINHAVARADOURO BALEEIRO DE CASTELOBRANCO18 983085 RAMPA DE VARAGEM DE CASTELOBRANCO

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Tempo de Baleeiros

y Em 1939 a Sociedade In-dustrial Mariacutetima Accediloriana Lda ndash a SIMAL foi fundada na Hor-ta Esta sociedade comercialpor quotas de responsabilidadelimitada tinha como objectivosa ldquoexploraccedilatildeo da induacutestria doaproveitamento integral da ba-

leia e outras espeacutecies marinhase comeacutercio dos respectivosprodutosrdquo A SIMAL era cons-tituiacuteda por 25 soacutecios sendo os

soacutecios maioritaacuterios o industriallisboeta Francisco Marcelinodos Reis e a empresa localCosta amp Martins Lda Desta-

cam-se ainda quatro compa-nhias baleeiras da Ribeira doMeio (Pico) que por razotildeesfamiliares e por ter sido nega-

da a construccedilatildeo de uma faacutebri-ca nas Lajes se associaram agraveSIMAL A faacutebrica comeccedilou a ser cons-truiacuteda em 1941 inicialmenteno areal da Praia de Porto Pimmas devido a um forte tem-poral ocorrido em Setembrodesse mesmo ano foi comple-tamente destruiacuteda e abandona-do o projecto Esta intempeacuterielevou a que os proprietaacuterios

decidissem construir a faacutebricano local onde hoje a conhe-cemos na encosta do Monteda Guia A faacutebrica comeccedilou alaborar em fase experimentalem Agosto de 1942 Durante

os seus 30 anos de laboraccedilatildeoprocessaram-se 1940 cachalo-tes que produziram 44 mil bi-dotildees de oacuteleoEm 1974 acompanhando odecliacutenio da induacutestria baleeira aniacutevel mundial a faacutebrica fechouas suas portas Em 1980 oGoverno Regional dos Accediloresadquiriu todo o complexo fabrilcom o objectivo de ali instalaro Departamento de Oceano-

graa e Pescas e uma Escola

de Pesca desiacutegnio esse quenunca se chegou a realizarEm 1984 a antiga faacutebrica foiclassicada como Imoacutevel de

Interesse Puacuteblico (IIP) Depoisde quase duas deacutecadas de de-gradaccedilatildeo do edifiacutecio e da suamaquinaria sem duacutevida atenu-ados pela acccedilatildeo persistente deManuel da Rosa Correia co-nhecido como Patratildeo Manuele de Manuel Medeiros conhe-cido com Sr Amaral (antigo en-carregado da faacutebrica) a faacutebricafoi nalmente alvo de obras

de restauro e de beneciaccedilatildeo Apelidada de Centro do Marfoi inaugurada em 2000 por

ocasiatildeo da 2ordf ediccedilatildeo da Expo-Pescas com o objectivo de setornar num espaccedilo de divulga-ccedilatildeo cultural e cientiacuteca Desde

2004 que a Faacutebrica eacute a sede

do OMA que desde entatildeo temvindo a dinamizar esse espaccediloEm 2010 a Faacutebrica da Baleia

de Porto Pim como hoje eacute co-nhecida foi inserida no Com-plexo do Monte da Guia da Ilhado Faial z

A FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

VISITA GUIADA FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM 983085 DESCRICcedilAtildeO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE OMA

INTERIOR A FAacuteBRICA Eacute UM MUSEU PERMANENTE

CASA DAS AUTOCLAVES COMSEIS AUTOCLAVES CADA UMACOM CAPACIDADE DE 11 M

CASA DAS FARINHAS COM TODAA MAQUINARIA ORIGINAL DA RE983085

CONHECIDA MARCA NORUGUESAMYRENS VERKSTED E OS MOTO983085

RES DA MARCA ALEMAtilde MOTORENFABRIK DEUTZ AG

EDIFICIO ANEXO ONDE FUNCIONAVA A ANTIGASERRALHARIA E OS ESCRITOacuteRIOS DESTACAM983085SEOS ALTOS TANQUES SUBTERRAcircNEOS PARA AR983085MAZENAMENTO DE OacuteLEO ACTUAL ldquoSALA DOS

OacuteLEOSrdquo 983080SALA DE EXPOSICcedilOtildeES E REUNIOtildeES983081

ANTIGAS CASAS DE BANHOACTUAL BAR DA PRAIA E WCS DE

APOIO Agrave FAacuteBRICA DA BALEIA

ANTIGO ARMAZEacuteM DAS FARI983085NHAS COM QUATRO TANQUESSUBTERRAcircNEOS PARA ARMAZE983085NAMENTO DO OacuteLEO ACTUALLOJA DA FAacuteBRICA E CIM

PLATAFORMA DE DESMANCHODESTAQCA983085SE A CHAMINEacute DAS CALDEI983085

RAS A VAPOR

CASA DAS CALDEIRAS A VAPOR IMPO983085NENTES CALDEIRAS FABRICADAS NA CI983085DADE DO PORTO EM PRIMEIRO PLANOVEMOS A CALDEIRA QUE FOI INSTALADAEM 1950

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Tempo de Baleeiros

y A inauguraccedilatildeo da Casados Botes no Capelo marcoumais um passo no percursoque comeccedilou a ser percorridohaacute mais de dez anos quandopor altura das comemoraccedilotildeesdos 400 anos daquela fregue-sia se decidiu iniciar um pro-cesso de recuperaccedilatildeo do patri-moacutenio baleeiro no Faial entatildeodenominado ldquorecuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeira da ilha doFaialrdquoHoje 25 anos depois de ter

sido caccedilado o uacuteltimo cachaloteem aacuteguas accedilorianas o patri-moacutenio da baleaccedilatildeo estaacute bemvivo sendo essa vivacidade noFaial espelhada pela recupe-

raccedilatildeo dos botes baleeiros dalancha Walquiacuteria da Faacutebricada Baleia e agora da Casados BotesRecuperar os botes baleeirosnatildeo eacute no entanto suciente

para garantir que a sua me-moacuteria continua viva Os botespertencem ao mar e por issofoi com naturalidade que estemovimento de revitalizaccedilatildeo dopatrimoacutenio acabou por passar

para a vertente desportiva coma criaccedilatildeo da secccedilatildeo de botesbaleeiros do Clube Naval daHorta que movimenta muitos

desportistasNa hora de lembrar todo estepercurso de recuperaccedilatildeo dopatrimoacutenio baleeiro bem comode reectir sobre o que haacute a

fazer numa altura em esseprocesso estaacute praticamenteconsolidado Tribuna das Ilhasconversou com Joatildeo Garciaque era em 2000 membro do

elenco da Junta de Freguesiado Capelo responsaacutevel pelodesencadear deste projectoe que em 2005 o levou para o

Clube Naval da Horta quandoassumiu a direcccedilatildeo da agre-miaccedilatildeo naacuteutica faialense Alertando para a importacircnciada manutenccedilatildeo deste patrimoacute-

nio agora que todo ele estaacuterestaurado Joatildeo Garcia apelaa um esforccedilo conjunto para aconsolidaccedilatildeo de um campeo-nato regional de botes baleei-ros e defende a alteraccedilatildeo dalegislaccedilatildeo para que os clubesnavais possam retirar rentabili-dade econoacutemica dos passeiosagrave vela em botes baleeiros demodo a que estes possam sus-tentar a sua proacutepria manuten-

ccedilatildeo

O PROCESSO DE RECUPE-RACcedilAtildeO DE BOTES EM VAacute-

RIAS FREGUESIAS COM HIS-TOacuteRIA BALEEIRA NO FAIALFOI DESENCADEADO QUAN-DO O JOAtildeO ERA PRESIDEN-TE DA JUNTA DE FREGUESIADO CAPELO E PREPARAVAAS COMEMORACcedilOtildeES DOSSEUS 400 ANOS O QUE EacuteQUE MOTIVOU A QUE O PA-TRIMOacuteNIO BALEEIRO FOSSEO MARCO DESTA EFEMEacuteRI-DE A importacircncia que tinha essaefemeacuteride levou a que se -zesse um levantamento his-toacuterico dos quatro seacuteculos dafreguesia A baleaccedilatildeo teve umpapel importante nessa histoacuteriae desde logo decidimos fazer

uma regata de botes que li-gasse o Porto do Comprido aodo Varadouro tendo em contaa ligaccedilatildeo histoacuterica que os doistiveram pela baleaccedilatildeo A partirdaqui somos despertados paraalgo que tem grande valor sen-timental e histoacuterico e nasce ummovimento de recuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeiraO Capelo teve uma forte im-plementaccedilatildeo da baleaccedilatildeo era

uma coisa que estava enraiza-da no povo e que era impor-tante salvaguardar Primeirohouve a preocupaccedilatildeo de re-

gistar as memoacuterias que haviadessa eacutepoca registos feitospor pessoas do Capelo nome-adamente pelo Joseacute Franciscoda Faialentejo que registou ostestemunhos de alguns baleei-ros Depois houve o movimen-to de recuperaccedilatildeo dos botesO Pico tinha jaacute uma seacuterie debotes recuperados e noacutes qui-semos ir um pouco mais lon-ge e abranger natildeo apenas asfreguesias com tradiccedilatildeo nabaleaccedilatildeo como Salatildeo Cas-telo Branco e Anguacutestias mastambeacutem outras onde havia re-crutamento de baleeiros comoeacute o caso da Feteira O projectocontemplava a recuperaccedilatildeo da

Casa do Bote Baleeiro que foirecentemente inaugurada evisa ainda publicar a histoacuteria dabaleaccedilatildeo na ilha do Faial

FOI FAacuteCIL PARA A JUNTA DEFREGUESIA DO CAPELO MO-TIVAR AS RESTANTES FRE-GUESIAS A EMBARCAREMNESTE PROJECTOPor acccedilatildeo do Clube Navalmais concretamente pelo entatildeo

presidente Joseacute Decq Motatemos conhecimento que naCalheta do Nesquim existe umbote disponiacutevel cheio de his-

ENTREVISTA A JOAtildeO PEDRO GARCIA

ldquoO DESAFIO MAIS IMPORTANTE Eacute

A PRESERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROrdquo

FONTE ROBERT CLARKE DISCOVERY REPORTS 1954

NO MAR O MOMENTO EM QUE SE INICIA A PERSEGUICcedilAtildeO AO CACHALOTE

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Tempo de Baleeiros

toacuteria e que eacute inclusive citadono Mau Tempo no Canal deVitorino Nemeacutesio o bote SatildeoJoseacute Sabendo que havia aquium interesse ele falou-nos daexistecircncia desse bote que es-tava sob a alccedilada da Comissatildeo

do Patrimoacutenio Baleeiro Inicia--se aiacute a sua recuperaccedilatildeo e umpasso importante para aquiloque queriacuteamos fazer A recu-peraccedilatildeo de um bote para a fre-guesia do Capelo fez despertaras outras freguesias para esteprojecto Nesta altura ele deixade ser apenas palavras e pe-quenos escritos para comeccedilara ter uma maior dimensatildeoEm 2000 temos a primeira re-

gata com botes do Pico e ape-nas com o Claudina do Faial43 anos depois do uacuteltimo botebaleeiro ter ldquoarriadordquo no Com-prido Em 2003 aparece o Satildeo

Joseacute outro bote recuperadopara o Faialhellip As pessoas co-meccedilam a perceber que este eacuteum projecto com vidaNesta altura comeccedila tambeacutema dinamizar-se a regata inter-nacional de botes baleeirosO movimento de geminaccedilatildeoentre a Horta e New Bedfordestava estagnado e a partirdaiacute essa ligaccedilatildeo fortalece-seFoi precisamente a baleaccedilatildeoque criou o elo entre as duascidades agora fortalecido com

a recuperaccedilatildeo do patrimoacuteniobaleeiro E curiosamente eacutena primeira viagem que sefaz aos Estados Unidos que opresidente da Cacircmara Munici-pal da Horta Joatildeo Castro ca

desperto para a importacircncia dese recuperar a Walquiacuteria outroprocesso que estava estagna-do e ganha nessa altura alentoHaacute assim uma bola de neveque vai crescendo uma pai-xatildeo que vai aumentando e um

despertar da consciecircncia paraa recuperaccedilatildeo da memoacuteria quefaz com que se torne tudo maisfaacutecilO Governo Regional atraveacutesda Comissatildeo do PatrimoacutenioBaleeiro dos Accedilores deu umapoio incondicional a este pro- jecto Este eacute um desiacutegnio natildeode um homem soacute mas de vaacute-rias pessoas e instituiccedilotildees

COMO Eacute QUE O OBJECTIVO

DA PRESERVACcedilAtildeO DOS BO-TES BALEEIROS Eacute TRANS-POSTO PARA O CLUBE NA-VAL DA HORTA (CNH) COMO INTUITO DE CRIAR UMANOVA VERTENTE DESPORTI-VA NA ILHAQuando me foi lanccedilado o de-sao de assumir a presidecircncia

do CNH os botes baleeirosassumem uma importacircncia nomeu projecto para o clube Natildeoera possiacutevel continuar a gerir

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

BAIacuteA DA FETEIRA DURANTE A EacutePOCA DO VERAtildeO A BAIA Eacute ENGALANADA PELAS VELAS DOS BOTES BALEEIROS

FONTE SUSANA GARCIA

PATRIMOacuteNIOJORGE FONTES JOAtildeO GARCIA E JOAtildeO TAVARES TREcircS IMPULSIONA DORES DA PRESERVACcedilAtildeO DO PATRI983085MOacuteNIO BALEEIRO DA ILHA DO FAIAL

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Tempo de Baleeiros

as tripulaccedilotildees e a actividadedesportiva dos botes atraveacutesdas juntas de freguesia porqueelas natildeo tecircm essa vocaccedilatildeoEra inevitaacutevel que houvesseuma instituiccedilatildeo como o CNH ndash soacutelida agregadora sem ri-

validades ndash que pudesse darcontinuidade ao processo Nes-se sentido fundaacutemos a secccedilatildeode Botes Baleeiros da ilha doFaial que agrega com igual au-tonomia e legitimidade todos osparticipantes nesta actividadeNeste ponto tenho de referiro Carlos Fontes que deu umimportante contributo a todo oprocesso pela sua dedicaccedilatildeoe organizaccedilatildeo Outro elemen-

to que emprestou um valiosocontributo foi o Nuno Limasobretudo na recuperaccedilatildeo dalancha Walkiria a rainha dosmares dos Accedilores Houve ummomento de explosatildeo com

mais de cem participantes tan-to masculinos como femininoscom miuacutedos a virem das fre-guesias para aprender velacom cursos para ociaishellip Esta

vitalidade dos botes manteve--se ateacute 2010 Mantenho alguma

preocupaccedilatildeo quanto a algumassituaccedilotildees pontuais com receiode que as coisas se desagre-guem e as pessoas natildeo perce-bam os anos de trabalho queestatildeo aqui em causa e os seacutecu-los de baleaccedilatildeo que estatildeo pordetraacutes deste patrimoacutenio Eacute im-portante que haja consciecircncianatildeo apenas de todo o trabalhoque foi feito mas tambeacutem docusto nanceiro deste projec-

to Grande parte desse nan-ciamento foi assegurado pelogoverno regional que contoucom o apoio do E-GRANT`S ADirecccedilatildeo Regional da Culturao CNH e os clubes navais do

Pico apresentaram uma candi-datura para a recuperaccedilatildeo dosbotes baleeiros que foi aceiteSe natildeo fosse esse apoio hojenatildeo poderiacuteamos dizer que pra-ticamente todo o patrimoacuteniodos Accedilores botes e lanchas

estaacute recuperado Estamos afalar de 40 botes Em 10 anosno Faial recuperaram-se setebotes e uma lancha Se virmosque cada bote tem um custo derecuperaccedilatildeo de cerca de 35 mileuros percebemos que esse foium esforccedilo muito signicativo

A associaccedilatildeo dos botes bale-eiros da ilha do Faial ao CNHveio tambeacutem dar uma dimen-satildeo de ilha ao Clube e criou-se

uma dinacircmica desportiva im-portante de que o Faial neces-sitavaEsta vitalidade em torno dacultura e patrimoacutenio baleeirofaz despertar para a necessi-

dade deste ser inventariadoe salvaguardado Em 2008 o

Observatoacuterio do Mar dos Accedilo-res (OMA) entidade gestorada Faacutebrica da Baleia de PortoPim avanccedila para a inventaria-ccedilatildeo do patrimoacutenio imoacutevel da

baleaccedilatildeo primeiro agrave escala dailha do Faial e depois agrave escalados Accedilores

WALKIacuteRIA ldquoA RAINHA DOS MARES DOS ACcedilORESrdquo

ldquoNasceu para reinar nunca foi destronada e viveraacute esperamos por muitos anos assim o desejamos Somos uma grande regiatildeomariacutetima que quer preservar a memoacuteria coletiva das nossas teacutecnicas e tradiccedilotildees da nossa vivecircncia multissecular com o mar quenos rodeia nos separa e nos unerdquo A lancha Walkiria foi mandada construir pelos proprietaacuterios da Armaccedilatildeo Baleeira Reis amp Mendonccedila o industrial continental Francis-co Marcelino dos Reis e o Professor Rui de Mendonccedila residente na Vila das Velas amante de muacutesica Wagneriano que por talrazatildeo deu aos seus lhos os nomes de Wagner Weber

Walkyria e Isolda A construccedilatildeo foi realizada na ilha de S Jorge em 1937pelas matildeos de Joseacute e Manuel Gambatildeo irmatildeos e carpin-teiros habilidosos a partir de projeto de Manuel InaacutecioNunes natural do Pico mas com gabinete de projetos eestaleiro em Sacramento Califoacuternia Estados Unidos da Ameacuterica - ldquoQuando o antigo paquete a vapor ldquoCarvalho Arauacutejordquo

largava do porto das Velas com rumo ao Cais do Picoonde escalava depois de ter atingido a velocidade ple-na de cruzeiro a Walkyria rodeava o navio em marchapassando pela proa e pela popa Nenhuma outra lanchaconseguiu tal proezardquoEfetivamente a lancha estava equipada com um motor agasolina de 143 HP que permitindo atingir uma velocida-de de ponta elevada 18 noacutes tambeacutem acarretava consu-mos de combustiacutevel signicativos facto que levou agrave sua

venda em 1938 por ser economicamente pouco interes-sante para o trabalho que desenvolvia nomeadamente no apoio agrave caccedila agrave baleia Assim a lancha eacute transferida para a ilha do Faial por aquisiccedilatildeo do Sr Francisco Reis cando afeta ao transporte local de passagei-

ro Mais tarde eacute adquirida pela rma ldquoReis amp Martinsrdquo cando afeta agrave atividade baleeira Em 1955 a quando da instalaccedilatildeo de umaparelho de radiotelefonia foi-lhe atribuiacuteda a matriacutecula nal H-21-B

Em 2005 no acircmbito do projeto de ldquorecuperaccedilatildeo da memoacuteria baleeira da ilha do Faialrdquo depois de anos de repouso nos armazeacutens

da Reis e Martins a emblemaacutetica embarcaccedilatildeo volta a ganhar vida pelas matildeos do mestre Manuel Monteiro da Piedade do Pico en-trando de novo no porto da Horta a 12 de agosto desse mesmo ano totalmente recuperada

EEA Grants Mecanismo Finan-

ceiro Norueguecircs para apoio agrave

coesatildeo social e econoacutemica den-

tro da Uniatildeo Europeia Islacircndia

Liechtenstein e Noruega que

complementou o esforccedilo nan-

ceiro do Governo Regional para

a reabilitaccedilatildeo do patrimoacutenio bale-

eiro dos Accedilores Neste contexto

foram recuperados 40 botes e 10

lanchas Anualmente eacute atribuiacutedo

pelo Governo Regional um sub-

siacutedio para manutenccedilatildeo destas

embarcaccedilotildees

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Tempo de Baleeiros

AINDA BEM QUE REFERE AINVENTARIACcedilAtildeO DO PATRI-MOacuteNIO IMOacuteVEL POIS DEFACTO O PATRIMOacuteNIO DABALEACcedilAtildeO NAtildeO SE RESU-ME AOS BOTEShellip DEPOIS DAREVITALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRI-CA DA BALEIA ESTE PRO-CESSO DE RECUPERACcedilAtildeODO PATRIMOacuteNIO FICOU AIN-DA MAIS COMPLETO COMA INAUGURACcedilAtildeO DA CASADOS BOTES NO CAPELO HAacuteMUITO AGUARDADA FALE--NOS DESSE PROJECTO

Em boa hora a Junta de Fre-guesia do Capelo acolheu estainiciativa incluiacuteda no projectoldquoA recuperaccedilatildeo da memoacuteriabaleeirardquo Esta era uma casadas armaccedilotildees baleeiras deSatildeo Roque do Pico A sua re-cuperaccedilatildeo natildeo eacute mais do quedevolver ao porto do Compri-do a sua histoacuteria A histoacuteria doCapelo natildeo comeccedila em 1957com o Vulcatildeo dos Capelinhos

Antes disso o porto do Com-prido jaacute tinha dois seacuteculos dehistoacuteria tendo sido uma dasprincipais estaccedilotildees baleeirasdos Accedilores Essa memoacuteria

tinha de ser preservada porrespeito aos nossos antepas-sados Essa preservaccedilatildeo tam-beacutem se faz atraveacutes do circuitopedestre do baleeiro que tam-beacutem foi inaugurado agora Esteleva-nos ao conjunto de vigiasque existe no Vulcatildeo dos Ca-pelinhos

Um museu natildeo eacute uma coisaque estaacute dentro de casa maseacute tudo o que nos rodeia Te-mos de contar de forma sim-ples a todos os que nos visi-tam que esta eacute uma ilha comhistoacuteria

HAacute TAMBEacuteM A PREOCUPA-CcedilAtildeO DE REUNIR EM LIVRO AINFORMACcedilAtildeO SOBRE A BA-LEACcedilAtildeO QUE TEM VINDO ASER RECOLHIDAhellipNos uacuteltimos anos o Obser-vatoacuterio do Mar dos Accedilores(OMA) tem feito um excelentetrabalho o que se traduz numgrande avanccedilo na pesquisaCom aquilo que jaacute tinha sido

feito lanccedilaacutemos um desao aoFilipe Porteiro presidente doOMA para que se documen-tasse por escrito a memoacuteriados baleeiros Haacute um registode memoacuterias de alguns bale-eiros do Capelo um espoacuteliofotograacuteco que foi e continua

a ser recolhido um conjuntode informaccedilotildees tanto daquicomo de New Bedford no queao tempo da baleaccedilatildeo diz res-peitohellip Portanto temos infor-maccedilatildeo suciente para fechar

nos proacuteximos dois anos estarecuperaccedilatildeo da memoacuteria comum livro que permita dar aconhecer a histoacuteria da balea-ccedilatildeo no Faial Haacute um conjunto

de pessoas disponiacuteveis paracolaborar neste processo Naminha opiniatildeo esta obra deveter ediccedilatildeo bilingue tendo emconta o interesse que tem paraos Estados Unidos

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE FICA A FALTAR FAZERPELA RECUPERACcedilAtildeO E PRE-SERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROTenho de deixar uma mensa-gem importante agraves pessoasque hoje gerem este proces-so procurem os consensosEacute muito importante termosum consenso regional relati-vamente aos botes baleeiros

Eacute importante que se volte aosmodelos adoptados em 2005

relativamente agraves regatas Natildeopodemos ter regatas em to-das as freguesias dos AccediloresTemos de ter as cinco regatastradicionalmente mais antigasnas quais se inclui a Semanado Mar e quatro regatas noPico e fazer as outras trecircs deforma rotativa para voltarmosa ter um campeonato regionalde botes baleeiros em condi-ccedilotildees Faial e Pico tecircm de en-tender-se nesta mateacuteria Estamensagem tem de ser passa-da para as instituiccedilotildees para osclubes para as juntas de fre-guesia para as pessoashellip

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA UM ASPECTO DE UMA REGATA DENTRO DA BAIA DA HORTA

FONTE OMA

EMBARCACcedilAtildeO OS ANTIGOS BOTES TORNARAM983085SE TAMBEacuteM NUMA PECcedilAMUSEOLOacuteGICA

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Tempo de Baleeiros

Eacute tambeacutem importante que asecccedilatildeo de botes baleeiros doFaial continue A rivalidade en-tre freguesias natildeo traz nada debom O CNH tem obrigaccedilatildeo deconsolidar a secccedilatildeo custe oque custar

Aleacutem disso temos de ver queo patrimoacutenio baleeiro que estaacuteentregue agraves Juntas de Fregue-sia natildeo eacute das autarquias Per-tence agrave Governo Regional dos Acores ou seja agrave Regiatildeo e asua preservaccedilatildeo eacute uma obri-gaccedilatildeo daqueles a quem foientregue Eacute preciso ter muitocuidado nessa preservaccedilatildeosenatildeo dentro de alguns anosestamos natildeo a fazer manuten-

ccedilatildeo mas praticamente a fazernovos botes Os responsaacuteveisde cada uma das instituiccedilotildeestecircm de ter consciecircncia do pa-trimoacutenio que tecircm nas matildeos ede toda esta histoacuteria Agora odesao mais importante eacute a

manutenccedilatildeo deste patrimoacutenio econtinuar a despertar nas pes-soas o interesse por andar agravevela e a remos O bote baleeiroeacute uma embarcaccedilatildeo iacutempar Natildeohaacute outra no mundo

E A PRESERVACcedilAtildeO SOacute SEFAZ COMPLETAMENTE SEOS BOTES ESTIVEREM NOMAR A NAVEGARExactamente Haacute uma partemuito importante do projec-to que ainda falta que passa

pela sede do CNH e por sa-ber o que vai acontecer aosarmazeacutens da Reis e MartinsEacute preciso encontrar um espa-ccedilo adequado para guardar osbotes fazer a sua manuten-ccedilatildeo e expocirc-los Os botes satildeopatrimoacutenio histoacuterico mas tam-beacutem turiacutestico As regatas satildeobonitas mas os passeios embotes baleeiros tambeacutem Se foralterada a portaria que regula

esses passeios em vigor haacutemuitos anos os clubes podemdeles tirar rendimentos

ACHA ENTAtildeO QUE FARIASENTIDO RENTABILIZAR OSPASSEIOS NOS BOTES BA-LEEIROS PARA FINANCIARA SUA PROacutePRIA PRESERVA-CcedilAtildeOFaz todo o sentido Na situ-accedilatildeo econoacutemica em que es-tamos natildeo podemos viver da

ldquosubsiacutedio-dependecircnciardquo A ma-nutenccedilatildeo dos botes as regatase toda essa dinacircmica podemsustentar-se com a criaccedilatildeo deuma vertente econoacutemica comos passeios de bote baleeiroporque temos mercado para

isso Eacute necessaacuterio alterar legis-laccedilatildeo nessa aacuterea

NOUTROS TEMPOS A BA-LEIA FOI UM PILAR DA NOS-SA ECONOMIA ACHA QUEHOJE COM O WHALE WA-TCHING A MOTIVAR A EXIS-TEcircNCIA DE BALEEIROS COMMAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICASEM VEZ DE ARPOtildeES CON-TRIBUINDO PARA A ECONO-

MIA DA ILHA E COM OS BO-TES BALEEIROS NA AacuteGUAPARA AS COMPETICcedilOtildeESDESPORTIVAS ESTAMOSPERANTE UMA ESPEacuteCIE DENOVA BALEACcedilAtildeO Acho que entraacutemos numa novafase da baleaccedilatildeo e soubemosperceber natildeo apenas a impor-tacircncia que a baleaccedilatildeo tevemas tambeacutem a importacircnciaque os cetaacuteceos tecircm hoje nos Accedilores Haacute um Departamento

de Oceanograa e Pescas da

Universidade dos Accedilores quesabe o que estaacute a fazer haacuteuma consciecircncia das empre-sas de whale watching para asua importacircnciahellip Natildeo eacute poracaso que algumas dessas

empresas utilizam as antigasvigias dos baleeiros e inclusi-ve as recuperaram contribuin-do assim para a preservaccedilatildeodo patrimoacutenio da baleaccedilatildeo Osegredo da observaccedilatildeo de ba-leias nos Accedilores tem a ver coma histoacuteria que haacute para contarHouve uma altura em que ca-ccedilaacutemos e haacute agora uma alturaem que sabemos preservarHaacute aqui um potencial turiacutestico

enorme Os accedilorianos adapta-ram-se muito bem a esta novarealidadez

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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Tempo de Baleeiros

da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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Tempo de Baleeiros

pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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Tempo de Baleeiros

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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Tempo de Baleeiros

OS DABNEY E A BALEACcedilAtildeO

Oriunda dos Estados Unidosda Ameacuterica mais concretamentede Massachusetts a famiacutelia Da-bney instalou-se na no Faial em1804 (para alguns teraacute sido em1806) apoacutes a nomeaccedilatildeo de JohnBass Dabney pelo presidenteThomas Jefferson como CocircnsulGeral dos EUA no FaialDois descendentes de John BassDabney exerceram sucessiva-mente as funccedilotildees consularesapoacutes a sua morte seu lho Char -les William Dabney e posterior-mente o neto Samuel Willis Da-bney ateacute janeiro 1892 momento

em que a famiacutelia acaba por aban-donar o Faial A tiacutetulo de curiosi-dade importa referir que a des-pedida da famiacutelia em causa apoacutes

88 anos de marcante presenccedilaempresaria social e cultural em1891 eacute marcada pela realizaccedilatildeode uma regata de botes baleeirosEm boa medida favorecida pelafunccedilatildeo consular a atividade em-presarial da famiacutelia foi de supre-ma importacircncia no contexto locale regional marcando aquele queseraacute um dos mais proacutesperos ci-clos econoacutemicos do FaialOs Dabney incidiram a sua di-

nacircmica comercial em produtoscomo a laranja e o vinho mastambeacutem no negoacutecio associadoagrave baleaccedilatildeo e neste fundamen-talmente a trecircs niacuteveis no apoio

logiacutestico agrave frota de embarcaccedilotildeesnorte-americanas dedicadas agravebaleaccedilatildeo pelaacutegica no Atlacircnticoque aportava ao Porto da Hortana aquisiccedilatildeo dos oacuteleos de baleiaprocessados e subsequente ex-portaccedilatildeo Esta atividade era par-ticularmente importante agrave datana medida em que permitia aosnavios baleeiros americanos oescoamento do produto obtidocom lucro sem necessidade deregresso aos portos de origem Enalmente de forma perfeitamen-te inovadora a formaccedilatildeo de umaarmaccedilatildeo de pequenas embarca-ccedilotildees (botes baleeiros) dedicadasagrave baleaccedilatildeo costeira

A atividade empresarial desta fa-miacutelia acaba por entrar em decliacutenio

em nais do seacuteculo XIX com a

queda da produccedilatildeo de vinho e la-ranja pelo progressivo abandonoda baleaccedilatildeo pelaacutegica nos termosem que tinha ocorrido ateacute entatildeomas tambeacutem pelo aparecimentode outras proacutesperas empresas li-gadas aos mesmos ramos de ne-goacutecio de que satildeo exemplo a Ben-sauacutede Em paralelo o governoNorte Americano havia jaacute come-ccedilado a orientar o seu corpo con-

sular para a necessidade de natildeoserem acumuladas pelos respeti-vos membros funccedilotildees consularese funccedilotildees empresariais z

y

BALEAS ndash Na manhatilde do dia 22 do cor-

rente appareceram ao norte drsquoesta bahia

alguns spermacettis Duas canocircas da

casa Dabney foram em sua perseguiccedilatildeo

e tiveram a felicidade de matar um que

foi conduzido para o Porto Pim onde se

estagrave derretendo Muita gente tem con-

corrido agravequelle sitio para o ver Nos dias

seguintes mais alguns peixes appare-

ceram na bahia mas quando as canocircas

foram em sua caccedila jaacute os natildeo avistaram

In O Fayalense de 25 de junho de 1871

FONTE BIBLIOTECA PUacuteBLICA E ARQUIVO REGIONAL JOAtildeO JOSEacute DA GRACcedilA

PORTO DA HORTA ndash O Atlantico de quinta-feira publica o

movimento mariacutetimo drsquoeste porto no anno ndo de 1871

que com a devida venia transcrevemos

laquoNo anno ndo de 1871 deram entrada na bahia da Horta

253 embarcaccedilotildees com 93000 toneladas 94 navios eram

portuguezes 50 inglezes 79 americanos 15 francezes

4 italianos 3 allematildees 1 hespanhol 1 liberiano 1 norue-

guez 2 suecos 2 belgas e 2 brazileiros Entre estes in-

cluem-se 32 vapores mercantes e 13 de guerra e 42 bale-

eiras americanas as quaes descarregaram 363 818 litros

drsquoazeite de spermacetti e de balea egual a 381627 kilos

do mesmo Em 1870 so deram entrada 30 baleeiras asquaes apenas descarregaram 115523 litros drsquoazeite egual

a 157466 kilosraquo

In O Fayalense de 7 de Janeiro de 1872

FONTE BIBLIOTECA PUacuteBLICA E ARQUIVO REGIONAL JOAtildeO JOSEacute DA GRACcedilA

O TUFO ENCOSTADA AO MONTE DA GUIA FORMOU983085SE A PRIMEIRA ESTACcedilAtildeO DE APOIO Agrave BALEACcedilAtildeOCOSTEIRA NO FAIAL

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Na ponta Oeste da ilha do

Faial junto ao Vulcatildeo dos Ca-pelinhos encontramos umapequena Calheta formadahaacute centenas de anos por umaescoada laacutevica A Ponta Com-prida assim descrita na car-tograa do seacuteculo XVIII pro-porcionava um abrigo naturalnuma aacuterea de pesca costeirafrequentada desde as primei-ras deacutecadas do povoamentoda ilha Aberto na rocha entre

as faleacutesias e o mar o porto doComprido era um lugar isola-do ideal na partida do Homempara o combate com o Cacha-lote A curta distacircncia cavam

as aacuteguas profundas que limi-tam a ilha do Faial onde seacumulam as presas marinhasque atraem grandes preda-dores como eacute o caso dos ca-chalotes As altas faleacutesias doCostado da Nau de onde seperscrutavam os movimentosdas embarcaccedilotildees vindas deOeste permitiam um longo al-cance aos vigias da baleia euma comunicaccedilatildeo visual comas vigias instaladas na CostaNorte da Ilha nos Cedros e no

Salatildeo em conexatildeo com a vigiado Alto das Concheiras Laacute embaixo a menos de 100 metrosdo mar os baleeiros reuniam--se durante os meses de Ve-ratildeo como um exeacutercito sitiadoem habitaccedilotildees de pedra cober-tas com palha de trigo manten-do as suas canoas varadas narampa do porto O nuacutecleo habi-tacional do porto do Comprido

alojava baleeiros das ilhas doFaial do Pico e de Satildeo JorgeNeste aspecto aparentementesingular o porto do Compridopoderia ser comparado comoutros postos baleeiros espa-lhados por zonas inoacutespitas doglobo como a ilha de Spitsber-gen no seacuteculo XVII onde osbaleeiros ingleses e holande-ses conviviam durante o Veratildeo

ou as estaccedilotildees baleeiras daGeoacutergia do Sul no Antaacutertico

AS FASES DA

BALEACcedilAtildeOCOSTEIRA NA ILHADO FAIAL E O CASODO PORTO DOCOMPRIDO

A caccedila agrave baleia no porto doComprido ter-se-aacute desenvolvi-do entre 1884 e 1957 tornan-do-se um posto baleeiro cadavez mais importante no conjun-

to das ilhas do grupo centralEste periacuteodo pode ser divididoem trecircs fases sucessivas A partir da deacutecada de 1870com a crise do comeacutercio deexportaccedilatildeo do vinho e da laran- ja a afectar o uxo comercial

do porto da Horta o negoacutecioda baleaccedilatildeo costeira torna-seum foco de entusiasmo paraas empresas locais Nestecontexto a casa comercial

DabneyampSons experimenta-da na baldeaccedilatildeo do oacuteleo dosnavios baleeiros norteamerica-nos e em condiccedilotildees propiacuteciaspara importar canoas baleeiras

y

PORTO DO COMPRIDOUM POSTO BALEEIRO (1884-1957)

FONTE ACERVO DOCUMENTAL DAS OBRAS PUacuteBLICAS DO DISTRITO DA HORTA

VARADOURO PLANO DE REPARACcedilAtildeO DO PORTO DO COMPRIDO 1927

FONTE COLECCcedilAtildeO DO MUSEU DO PICO

ARREADA EM POUCOS MINUTOS DEPOIS DE DADO O SINAL TODOS OS BOTES BALEEIROS ESTAVAM NA AacuteGUA

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antecipa-se na criaccedilatildeo de infra-

estruturas de apoio agrave baleaccedilatildeocosteira Em 1884 Samuel Da-bney pede autorizaccedilatildeo para aconstruccedilatildeo de uns ldquo turcos demadeira junto agrave costa no localdenominado ndash o Comprido -[hellip] para poderem arrear asembarcaccedilotildees empregues napesca da baleardquo(1) As baleiascaccediladas a partir do porto doComprido seriam rebocadas aremos ou com o auxiacutelio de umvapor do porto da Horta ateacuteagrave estaccedilatildeo de traioacuteis de PortoPim o ldquoTufordquo onde se proce-dia ao desmancho do cachalo-te e se derretiam os toucinhosem grandes caldeiros de ferroEsta primeira fase de baleaccedilatildeocosteira estaacute contudo deter-minada pelos poucos meios eo insucesso na maioria de ten-tativas de captura dos cacha-lotes tal como nos indicam asnotiacutecias contemporacircneas Agraves

canoas de terra uniam-se eminteracccedilatildeo ou concorrecircncia ascanoas dos navios baleeirosnorteamericanos que perma-neciam ao largo das ilhas doTriacircngulo Apesar das incer-tezas a baleaccedilatildeo no porto doComprido prevaleceu duranteas deacutecadas seguintesUma segunda fase situadaentre os anos 20 e os anos 40

do seacuteculo XX caracteriza-se

pela concentraccedilatildeo de funccedilotildeesda baleaccedilatildeo costeira no portodo Comprido Por outras pala-vras era no porto do Compridoque arreavam os botes bale-

eiros - auxiliados por lanchas

a motor a partir dos anos 20 ndash e depois de capturados oscachalotes seriam encalhadose desmanchados na zona doporto Segundo uma inspecccedilatildeofeita pela Capitania do porto daHorta em 1928 era a Socieda-de Baleeira Aurora que possuiacuteano porto do Comprido ldquoumacasa com duas caldeiras e res-pectivas fornalhas e mais ape-trechos para o derretimento dooacuteleo achando-se tudo em bomestado e regularmente instala-dordquo(2) De resto esta fase estaacute

marcada pela proliferaccedilatildeo depequenas armaccedilotildees ou socie-dades baleeiras em vaacuterios por-tos da Ilha (Ribeirinha CedrosSalatildeo Castelo Branco) cadauma com os seus apetrechose instalaccedilotildees ou em sociedadecom outras armaccedilotildees Na ilhado Faial existiam em simultacirc-neo entre cinco a oito armado-

res da ldquopesca da baleiardquo entre1920 e 1930 Durante a eacutepoca

de caccedila o porto do Comprido jaacute seria frequentado por setecanoas baleeiras algumas dasquais permaneciam durantetodo o ano Com a complexi-caccedilatildeo da actividade baleeirasatildeo tambeacutem mais notaacuteveis asintervenccedilotildees das autoridadesmariacutetimas na vida do postobaleeiro e os requerimentos

das instituiccedilotildees de poder localcomo a Junta de Freguesia doCapelo para a realizaccedilatildeo deobras de construccedilatildeo e repara-ccedilatildeo do porto

FASE INDUSTRIAL

Mas se existe periacuteodo em queo porto do Comprido se con-verte num destacado postobaleeiro em toda a sua espe-cicidade eacute durante a fase in-

dustrial da baleaccedilatildeo na ilha doFaial entre 1940 e 1957 Nosanos convulsos da 2ordf Guerra

Mundial a forte subida do pre-ccedilo do oacuteleo de cachalote incen-tivou o crescimento da activi-dade baleeira nos Accedilores e dailha do Faial em particular Asobras para o desenvolvimentodo porto do Comprido estavamno centro do debate Com aconstruccedilatildeo das Faacutebricas da

Baleia de Porto Pim (1942) eSatildeo Roque (1944) e a expec-tativa de dobrar a produccedilatildeode oacuteleo atraveacutes do processa-mento industrial do cachaloteera necessaacuterio optimizar ascondiccedilotildees do varadouro ondeestacionavam os botes bale-eiros do Faial e do Norte doPico Os projectos de constru-ccedilatildeo de 1942 e 1944 previam

a construccedilatildeo de uma muralhade defesa do porto e um caisacostaacutevel aleacutem de um nivela-mento da rampa de varagemcom mais de 110 metros Noentanto estes projectos nun-ca viriam a ser concretizados

Durante este periacuteodo a rampade varagem chegou a ter 18botes baleeiros varados e 7lanchas a motor amarradas aolargo condiccedilotildees que exigiamo envolvimento de no miacutenimo200 indiviacuteduos na actividade

baleeira As armaccedilotildees bale-eiras em menor nuacutemero masmelhor organizadas recebiaminstruccedilotildees relativas agrave saiacuteda co-ordenada dos botes baleeiros

para o mar e o trabalho colec-tivo dos vigias pertencentes adiferentes armaccedilotildees baleeirasNa retaguarda da actividadeos armazeacutens da ReisampMartinsna Horta prestavam todo o tipode fornecimentos agraves embarca-ccedilotildees estacionadas no Capelolinha de baleia tintas oacuteleo delinhaccedila lanccedilas e arpotildees entreoutros eram enviados regular-

FONTE COLECCcedilAtildeO DO MUSEU DO PICO

PORTO DO COMPRIDO ANTES DA SAIacuteDA OS BOTES ERAM CUIDADOSAMENTEINSPECCIONADOS

BALEEIROS NO CAPELO

A tradiccedilatildeo oral recorda ldquoo Compridordquo como um lugar de alegriaonde os baleeiros celebravam a vida de Veratildeo em comunidadeEnquanto o foguete natildeo estalava danccedilava-se a Chamarritafestejava-se o Satildeo Pedro ou assistia-se agrave festa de Santana Ospicarotos protagonistas da migraccedilatildeo sazonal dispuseram demeios para transportar consigo as mobiacutelias os animais domeacutes-

ticos as famiacutelias inteiras Agrave noite tambeacutem se pescava de diasalgava-se o peixe Balear no Comprido transformava o quoti-diano dos homens que por norma nunca seriam baleeiros atempo inteiro

Fonte Foto Fotojovial

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Tempo de Baleeiros

CACcedilA Agrave BALEIA NO PORTO DO COMPRIDO

A partir de determinada eacutepoca do ano os botes baleeiros deixavam de ldquoarrearrdquo na cidade da Horta e concentravam-se nos postosbaleeiros do Salatildeo e do porto do Comprido A actividade no porto do Comprido era sobretudo inconstante podia haver 4 a 5 diasconsecutivos de caccedila mas tambeacutem uma semana inteira agrave espera que os vigias dessem o sinal de ldquoarreadardquo

mente para o posto baleeiro Aaldeia dos baleeiros era manti-da segundo uma organizaccedilatildeofamiliar e com o apoio de co-merciantes locais da freguesiado Capelo que asseguravamo seu aprovisionamento Sem

duacutevida foram nos derradeirosanos da baleaccedilatildeo no Compridoque mais se caccedilou agrave baleia ede forma mais ecaz com uma

forte concentraccedilatildeo nos mesesde Veratildeo (cfr Graacuteco)

Em Setembro de 1957 quan-do se iniciaram as erupccedilotildees noVulcatildeo dos Capelinhos o portodo Comprido foi imediatamenteabandonado Em poucos me-ses todos os anos de histoacuteria

deste posto baleeiro seriamabruptamente consumidos pe-las cinzas deixando-nos umapaisagem desolada escureci-da pelo Vulcatildeo z

Notas

(1) Fundo da Capitania do Porto da

Horta Arquivo Histoacuterico da Marinha

(2) Idem

OS HOMENS DA BALEIA

Fonte Foto Maacuterio Ruspoli Les Hommes de la Baleine (1956)

No Veratildeo de 1956 o italiano Maacuterio Ruspoli propocircs-se reali-zar um documentaacuterio sobre os uacuteltimos caccediladores de baleia dotempo de Moby Dick Depois de conseguir um empreacutestimo de

2 milhotildees de francos concedido pelo milionaacuterio grego AristoteOnassis M Ruspoli reuniu uma talentosa equipa composta porJacques Soulaire e Gilbert Rouget e instalou-se na casa dos fa-roleiros dos Capelinhos Durante dois meses a equipa recolheuas imagens e os sons uacutenicos da actividade baleeira no porto doComprido Les hommes de la Baleine eacute um precioso documentorealista e liacuterico sobre a baleaccedilatildeo na ilha do Faial

BALEEIROS NA AMEacuteRICACom a erupccedilatildeo do vulcatildeo dosCapelinhos e a abertura dasfronteiras norte americanasmuitos jovens baleeiros se-

guiram o rumo da emigraccedilatildeoconservando a memoacuteria dostempos aacuteureos e diceis da ba-leaccedilatildeo

Fonte foto Colecccedilatildeo Privada de Manuela Rosa

FRANCISCO HENRIQUESOMA

FONTE COLECCcedilAtildeO POSTAL RUSPOLI amp SOULAIRE

TRANCAR JOSEacute RAFAEL PREPARA983085SE PARA ARPOAR UM CACHALOTE

Fonte Colecccedilatildeo Documental ReisampMartins Lda ndash Faacutebrica da Baleia de Porto Pim

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Tempo de Baleeiros

Na deacutecada de trinta do seacute-culo XX durante o auge dainduacutestria baleeira nos Accediloresforam constituiacutedas vaacuterias em-presas nas diversas ilhas paraa exploraccedilatildeo e comercializaccedilatildeodos produtos obtidos a partir

dos cachalotes No Faial foramconstituiacutedas trecircs sociedadesa Reis amp Martins Lda arma-ccedilatildeo baleeira e exportadoresde oacuteleo a Companhia Bale-eira Faialense Lda armaccedilatildeobaleeira e a Sociedade Indus-trial Mariacutetima Accediloriana Lda(SIMAL) ligada agrave induacutestriatransformadora A Reis amp Mar-tins Lda constituiacuteda em 1945adquiriu um armazeacutem na RuaNova na cidade da Horta queservia como casa de botes eocina de carpintaria marce-naria tanoaria ferraria e mecacirc-nica ofiacutecios essenciais para aconstruccedilatildeo e manutenccedilatildeo dasembarcaccedilotildees baleeiras (lan-chas a motor e botes) e res-pectiva palamenta Depois dom da actividade baleeira nos

Accedilores no iniacutecio dos anos 80do seacuteculo XX o armazeacutem daRua Nova e grande parte do

seu espoacutelio foram parcialmen-te mantidos ateacute agrave actualidadeembora seja notoacuteria a degrada-ccedilatildeo tanto do imoacutevel como demuitos dos objectos e equipa-mentos aiacute armazenadosPerante o risco seacuterio de esteespoacutelio se perder e dada a im-portacircncia deste espoacutelio para oestudo da baleaccedilatildeo no Faial enos Accedilores considerou-se serurgente efectuar o seu resgate

levantamento e estudo destepatrimoacutenio garantindo assima sua preservaccedilatildeo Assim osactuais proprietaacuterios e herdei-ros da Reis amp Martins Lda

estabeleceram uma parceriacom o Observatoacuterio do Mar dos Accedilores (OMA) com o objectivode salvaguardar o patrimoacutenioexistente e integrar parte deleno museu da Faacutebrica da Baleiade Porto Pim

O projecto ldquoLevantamento dePatrimoacutenio Baleeiro e Dinami-zaccedilatildeo do Espaccedilo Expositivo

da Faacutebrica da Baleia de PortoPimrdquo iniciou-se em 2008 e em

2009 passou a ser co-nancia-do pela Direcccedilatildeo Regional daCultura (DRaC) que o consi-derou de ldquointeresse relevantepara a Regiatildeo e capaz de con-tribuir para o desenvolvimentoda poliacutetica cultural dos AccediloresrdquoEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinarias

equipamentos embarcaccedilotildeespalamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)

o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobrea induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiais

moacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Partedesse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo na

sua exposiccedilatildeo permanenteEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinariasequipamentos embarcaccedilotildees

palamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobre

a induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiaismoacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Parte

desse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo nasua exposiccedilatildeo permanente

y

PATRIMOacuteNIO BALEEIRO DA FASEINDUSTRIAL DA BALEACcedilAtildeO NO

FAIAL - RESGATE INVENTARIACcedilAtildeO ECONSERVACcedilAtildeO

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

RUA NOVA INTERIOR DO ESCRITOacuteRIO DOS ARMAZEacuteNS DA REIS amp MARTINS LDA

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Tempo de Baleeiros

INVENTAacuteRIO DOESPOacuteLIO REIS EMARTINS LDA

Os objectos encontrados foramanalisados e descritos quantoagraves caracteriacutesticas funcionaisde origem e agraves transforma-ccedilotildees eventuais que possamter sofrido ao longo do tempoSe alguns objectos tecircm umafunccedilatildeo oacutebvia (pe botes e suapalamenta arpotildees etc) outroshaacute cuja sua utilidade eacute difiacutecil dedescodicar A identicaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo funcional dos ob- jectos encontrados foi consubs-tanciada por fontes documen-tais quando existentes eoupor depoimentos orais fonte de

informaccedilatildeo uacutenica e insubstituiacute-vel para a compreensatildeo abran-gente da actividade industrialem estudo A identicaccedilatildeo de cada bem

foi registada em cha proacutepria

onde os elementos considera-dos adequados para o seu re-conhecimento foram descritosem detalhe A cha inclui uma fotograa do

objecto o seu nuacutemero de in-

ventaacuterio a sua funccedilatildeo originala categoria a que pertence oseu estado de conservaccedilatildeo adata do inventaacuterio e a referecircn-cia das fotograas existentes

desse objectoOs bens inventariados foramclassicados em categorias

consoante o tipo de colecccedilatildeo esuas caracteriacutesticas (tipologia) Assim optou-se por classicaacute--los em classes segundo asua funccedilatildeo original e em sub-classes que correspondemao local ou agrave infra-estrutura aque pertenciam (ex Selhandashde--linha Classe Palamenta Sub-classe Bote Baleeiro) A inventariaccedilatildeo individual de

cada peccedila permitiu a criaccedilatildeode um inventaacuterio fotograacuteco e

de uma lista geral de inventaacute-rio onde constam todas as 468peccedilas resgatadas ateacute ao mo-mento O passo seguinte con-sistiu na conservaccedilatildeo e restau-ro dos objectos classicados

As intervenccedilotildees foram criterio-samente efectuadas para natildeocomprometerem a constituiccedilatildeooriginal das peccedilas Aspiraccedilatildeo lavagem restaurocom oacuteleo e tratamento contra

pragas foram as operaccedilotildeesadoptadas para as peccedilas demadeira As peccedilas de metal a maioriacom niacuteveis de oxidaccedilatildeo con-sideraacuteveis foram objecto detratamentos especiacutecos adap-tados a cada casoz

FONTE OMA

SALVAGUARDA CLASSIFICACcedilAtildeO DAS 468 PECcedilAS INVENTARIADAS ATEacute AO MOMENTO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

OBJECTOS983085 EXEMPLARES DO ESPOacuteLIO RESGATADO DOS ARMAZEacuteNS REIS E MARTINS

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Tempo de Baleeiros

y Em 2010 o OMA estabe-leceu um contrato de coope-raccedilatildeo teacutecnica com a DirecccedilatildeoRegional da Cultura (DRaC)com o objectivo de inventariaro patrimoacutenio baleeiro imoacutevel detodo o arquipeacutelago A execuccedilatildeo

do projeto foi assegurada poruma equipa multidisciplinar naaacuterea da investigaccedilatildeo histoacuterica

arquitectura e fotograa pro-ssional A recolha preacutevia da

informaccedilatildeo foi o ponto de par-tida para um trabalho de cam-po que decorreu entre os me-ses de Junho e Dezembro de2011 Foram inventariados os

antigos complexos baleeirospostos baleeiros e varadourosbaleeiros rampas de varagemdas embarcaccedilotildees rampas dealagem de cachalotes casas

de botes traioacuteis faacutebricas deprocessamento de cachalotese plataformas de desmancho

vigias residecircncias sazonaiscarpintarias ocinas arma-zeacutens entre outrosNa ilha do Faial foram inven-tariados 17 imoacuteveis (ver Fig5) identicados no Complexo

Baleeiro das Anguacutestias (localonde as armaccedilotildees baleeirastinham a sua sede com ar-mazeacutens faacutebricas de proces-samento de cachalotescasade caldeiros e estacionavam

as embarcaccedilotildees prontas parauma raacutepida arriada agrave baleia)nos Postos Baleeiros do Porto

do Comprido do Salatildeo (estesdois como local de estaciona-mento sazonal das armaccedilotildeesbaleeiras do Faial e do Pico) edo Varadouro Identicaram-se

ainda apesar de menos repre-sentativos na actividade baleirada Ilha do Faial os Varadourosdo Cedros Castelo Branco eRibeirinha todos com rampade varagem para estaciona-mento de botes baleeiros z

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIRO IMOacuteVEL DO FAIAL

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIO BALEEIRO IMOacuteVEL DOS ACcedilORES A ILHA DO FAIAL

MAacuteRCIA DUTRAOMA

COMPLEXTO BALEEIRO DAS ANGUacuteSTIAS1 983085 FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

2983085 ARMAZEacuteM DA REIS amp MARTINS LDA3 983085 CASA DE CALDEIROS DE PORTO PIM983080FAacuteBRICA VELHA9830814 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTOPOSTO BALEEIRO DO PORTO DOCOMPRIDO5 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO DO

COMPRIDO6 983085 VIGIA DO CAPELO

7 983085 VIGIA DO COSTADO DA NAU8 983085 RESIDEcircNCIAS SAZONAIS DO PORTODO COMPRIDO9 983085 CASA DOS BOTES DO PORTO DOCOMPRIDOPOSTO BALEEIRO DO SALAtildeO10 983085 RAMPA DE VARAGEM DO SALAtildeO

11 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DA ARMA983085CcedilOtildeES DO FAIAL

12 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DAS ARMA983085CcedilOtildeES DO PICO13 983085 VIGIA DOS CEDROS14 983085 POSTO BALEEIRO DO VARADOURO15 983085 VIGIA DO ALTO DAS CONCHEIRASVARADOURO BALEEIRO DOS CEDROS16 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO

DA EIRAVARADOURO BALEEIRO DA RIBEIRINHA

17 983085 RAMPA DE VARAGEM DA RIBEIRINHAVARADOURO BALEEIRO DE CASTELOBRANCO18 983085 RAMPA DE VARAGEM DE CASTELOBRANCO

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y Em 1939 a Sociedade In-dustrial Mariacutetima Accediloriana Lda ndash a SIMAL foi fundada na Hor-ta Esta sociedade comercialpor quotas de responsabilidadelimitada tinha como objectivosa ldquoexploraccedilatildeo da induacutestria doaproveitamento integral da ba-

leia e outras espeacutecies marinhase comeacutercio dos respectivosprodutosrdquo A SIMAL era cons-tituiacuteda por 25 soacutecios sendo os

soacutecios maioritaacuterios o industriallisboeta Francisco Marcelinodos Reis e a empresa localCosta amp Martins Lda Desta-

cam-se ainda quatro compa-nhias baleeiras da Ribeira doMeio (Pico) que por razotildeesfamiliares e por ter sido nega-

da a construccedilatildeo de uma faacutebri-ca nas Lajes se associaram agraveSIMAL A faacutebrica comeccedilou a ser cons-truiacuteda em 1941 inicialmenteno areal da Praia de Porto Pimmas devido a um forte tem-poral ocorrido em Setembrodesse mesmo ano foi comple-tamente destruiacuteda e abandona-do o projecto Esta intempeacuterielevou a que os proprietaacuterios

decidissem construir a faacutebricano local onde hoje a conhe-cemos na encosta do Monteda Guia A faacutebrica comeccedilou alaborar em fase experimentalem Agosto de 1942 Durante

os seus 30 anos de laboraccedilatildeoprocessaram-se 1940 cachalo-tes que produziram 44 mil bi-dotildees de oacuteleoEm 1974 acompanhando odecliacutenio da induacutestria baleeira aniacutevel mundial a faacutebrica fechouas suas portas Em 1980 oGoverno Regional dos Accediloresadquiriu todo o complexo fabrilcom o objectivo de ali instalaro Departamento de Oceano-

graa e Pescas e uma Escola

de Pesca desiacutegnio esse quenunca se chegou a realizarEm 1984 a antiga faacutebrica foiclassicada como Imoacutevel de

Interesse Puacuteblico (IIP) Depoisde quase duas deacutecadas de de-gradaccedilatildeo do edifiacutecio e da suamaquinaria sem duacutevida atenu-ados pela acccedilatildeo persistente deManuel da Rosa Correia co-nhecido como Patratildeo Manuele de Manuel Medeiros conhe-cido com Sr Amaral (antigo en-carregado da faacutebrica) a faacutebricafoi nalmente alvo de obras

de restauro e de beneciaccedilatildeo Apelidada de Centro do Marfoi inaugurada em 2000 por

ocasiatildeo da 2ordf ediccedilatildeo da Expo-Pescas com o objectivo de setornar num espaccedilo de divulga-ccedilatildeo cultural e cientiacuteca Desde

2004 que a Faacutebrica eacute a sede

do OMA que desde entatildeo temvindo a dinamizar esse espaccediloEm 2010 a Faacutebrica da Baleia

de Porto Pim como hoje eacute co-nhecida foi inserida no Com-plexo do Monte da Guia da Ilhado Faial z

A FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

VISITA GUIADA FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM 983085 DESCRICcedilAtildeO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE OMA

INTERIOR A FAacuteBRICA Eacute UM MUSEU PERMANENTE

CASA DAS AUTOCLAVES COMSEIS AUTOCLAVES CADA UMACOM CAPACIDADE DE 11 M

CASA DAS FARINHAS COM TODAA MAQUINARIA ORIGINAL DA RE983085

CONHECIDA MARCA NORUGUESAMYRENS VERKSTED E OS MOTO983085

RES DA MARCA ALEMAtilde MOTORENFABRIK DEUTZ AG

EDIFICIO ANEXO ONDE FUNCIONAVA A ANTIGASERRALHARIA E OS ESCRITOacuteRIOS DESTACAM983085SEOS ALTOS TANQUES SUBTERRAcircNEOS PARA AR983085MAZENAMENTO DE OacuteLEO ACTUAL ldquoSALA DOS

OacuteLEOSrdquo 983080SALA DE EXPOSICcedilOtildeES E REUNIOtildeES983081

ANTIGAS CASAS DE BANHOACTUAL BAR DA PRAIA E WCS DE

APOIO Agrave FAacuteBRICA DA BALEIA

ANTIGO ARMAZEacuteM DAS FARI983085NHAS COM QUATRO TANQUESSUBTERRAcircNEOS PARA ARMAZE983085NAMENTO DO OacuteLEO ACTUALLOJA DA FAacuteBRICA E CIM

PLATAFORMA DE DESMANCHODESTAQCA983085SE A CHAMINEacute DAS CALDEI983085

RAS A VAPOR

CASA DAS CALDEIRAS A VAPOR IMPO983085NENTES CALDEIRAS FABRICADAS NA CI983085DADE DO PORTO EM PRIMEIRO PLANOVEMOS A CALDEIRA QUE FOI INSTALADAEM 1950

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y A inauguraccedilatildeo da Casados Botes no Capelo marcoumais um passo no percursoque comeccedilou a ser percorridohaacute mais de dez anos quandopor altura das comemoraccedilotildeesdos 400 anos daquela fregue-sia se decidiu iniciar um pro-cesso de recuperaccedilatildeo do patri-moacutenio baleeiro no Faial entatildeodenominado ldquorecuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeira da ilha doFaialrdquoHoje 25 anos depois de ter

sido caccedilado o uacuteltimo cachaloteem aacuteguas accedilorianas o patri-moacutenio da baleaccedilatildeo estaacute bemvivo sendo essa vivacidade noFaial espelhada pela recupe-

raccedilatildeo dos botes baleeiros dalancha Walquiacuteria da Faacutebricada Baleia e agora da Casados BotesRecuperar os botes baleeirosnatildeo eacute no entanto suciente

para garantir que a sua me-moacuteria continua viva Os botespertencem ao mar e por issofoi com naturalidade que estemovimento de revitalizaccedilatildeo dopatrimoacutenio acabou por passar

para a vertente desportiva coma criaccedilatildeo da secccedilatildeo de botesbaleeiros do Clube Naval daHorta que movimenta muitos

desportistasNa hora de lembrar todo estepercurso de recuperaccedilatildeo dopatrimoacutenio baleeiro bem comode reectir sobre o que haacute a

fazer numa altura em esseprocesso estaacute praticamenteconsolidado Tribuna das Ilhasconversou com Joatildeo Garciaque era em 2000 membro do

elenco da Junta de Freguesiado Capelo responsaacutevel pelodesencadear deste projectoe que em 2005 o levou para o

Clube Naval da Horta quandoassumiu a direcccedilatildeo da agre-miaccedilatildeo naacuteutica faialense Alertando para a importacircnciada manutenccedilatildeo deste patrimoacute-

nio agora que todo ele estaacuterestaurado Joatildeo Garcia apelaa um esforccedilo conjunto para aconsolidaccedilatildeo de um campeo-nato regional de botes baleei-ros e defende a alteraccedilatildeo dalegislaccedilatildeo para que os clubesnavais possam retirar rentabili-dade econoacutemica dos passeiosagrave vela em botes baleeiros demodo a que estes possam sus-tentar a sua proacutepria manuten-

ccedilatildeo

O PROCESSO DE RECUPE-RACcedilAtildeO DE BOTES EM VAacute-

RIAS FREGUESIAS COM HIS-TOacuteRIA BALEEIRA NO FAIALFOI DESENCADEADO QUAN-DO O JOAtildeO ERA PRESIDEN-TE DA JUNTA DE FREGUESIADO CAPELO E PREPARAVAAS COMEMORACcedilOtildeES DOSSEUS 400 ANOS O QUE EacuteQUE MOTIVOU A QUE O PA-TRIMOacuteNIO BALEEIRO FOSSEO MARCO DESTA EFEMEacuteRI-DE A importacircncia que tinha essaefemeacuteride levou a que se -zesse um levantamento his-toacuterico dos quatro seacuteculos dafreguesia A baleaccedilatildeo teve umpapel importante nessa histoacuteriae desde logo decidimos fazer

uma regata de botes que li-gasse o Porto do Comprido aodo Varadouro tendo em contaa ligaccedilatildeo histoacuterica que os doistiveram pela baleaccedilatildeo A partirdaqui somos despertados paraalgo que tem grande valor sen-timental e histoacuterico e nasce ummovimento de recuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeiraO Capelo teve uma forte im-plementaccedilatildeo da baleaccedilatildeo era

uma coisa que estava enraiza-da no povo e que era impor-tante salvaguardar Primeirohouve a preocupaccedilatildeo de re-

gistar as memoacuterias que haviadessa eacutepoca registos feitospor pessoas do Capelo nome-adamente pelo Joseacute Franciscoda Faialentejo que registou ostestemunhos de alguns baleei-ros Depois houve o movimen-to de recuperaccedilatildeo dos botesO Pico tinha jaacute uma seacuterie debotes recuperados e noacutes qui-semos ir um pouco mais lon-ge e abranger natildeo apenas asfreguesias com tradiccedilatildeo nabaleaccedilatildeo como Salatildeo Cas-telo Branco e Anguacutestias mastambeacutem outras onde havia re-crutamento de baleeiros comoeacute o caso da Feteira O projectocontemplava a recuperaccedilatildeo da

Casa do Bote Baleeiro que foirecentemente inaugurada evisa ainda publicar a histoacuteria dabaleaccedilatildeo na ilha do Faial

FOI FAacuteCIL PARA A JUNTA DEFREGUESIA DO CAPELO MO-TIVAR AS RESTANTES FRE-GUESIAS A EMBARCAREMNESTE PROJECTOPor acccedilatildeo do Clube Navalmais concretamente pelo entatildeo

presidente Joseacute Decq Motatemos conhecimento que naCalheta do Nesquim existe umbote disponiacutevel cheio de his-

ENTREVISTA A JOAtildeO PEDRO GARCIA

ldquoO DESAFIO MAIS IMPORTANTE Eacute

A PRESERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROrdquo

FONTE ROBERT CLARKE DISCOVERY REPORTS 1954

NO MAR O MOMENTO EM QUE SE INICIA A PERSEGUICcedilAtildeO AO CACHALOTE

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toacuteria e que eacute inclusive citadono Mau Tempo no Canal deVitorino Nemeacutesio o bote SatildeoJoseacute Sabendo que havia aquium interesse ele falou-nos daexistecircncia desse bote que es-tava sob a alccedilada da Comissatildeo

do Patrimoacutenio Baleeiro Inicia--se aiacute a sua recuperaccedilatildeo e umpasso importante para aquiloque queriacuteamos fazer A recu-peraccedilatildeo de um bote para a fre-guesia do Capelo fez despertaras outras freguesias para esteprojecto Nesta altura ele deixade ser apenas palavras e pe-quenos escritos para comeccedilara ter uma maior dimensatildeoEm 2000 temos a primeira re-

gata com botes do Pico e ape-nas com o Claudina do Faial43 anos depois do uacuteltimo botebaleeiro ter ldquoarriadordquo no Com-prido Em 2003 aparece o Satildeo

Joseacute outro bote recuperadopara o Faialhellip As pessoas co-meccedilam a perceber que este eacuteum projecto com vidaNesta altura comeccedila tambeacutema dinamizar-se a regata inter-nacional de botes baleeirosO movimento de geminaccedilatildeoentre a Horta e New Bedfordestava estagnado e a partirdaiacute essa ligaccedilatildeo fortalece-seFoi precisamente a baleaccedilatildeoque criou o elo entre as duascidades agora fortalecido com

a recuperaccedilatildeo do patrimoacuteniobaleeiro E curiosamente eacutena primeira viagem que sefaz aos Estados Unidos que opresidente da Cacircmara Munici-pal da Horta Joatildeo Castro ca

desperto para a importacircncia dese recuperar a Walquiacuteria outroprocesso que estava estagna-do e ganha nessa altura alentoHaacute assim uma bola de neveque vai crescendo uma pai-xatildeo que vai aumentando e um

despertar da consciecircncia paraa recuperaccedilatildeo da memoacuteria quefaz com que se torne tudo maisfaacutecilO Governo Regional atraveacutesda Comissatildeo do PatrimoacutenioBaleeiro dos Accedilores deu umapoio incondicional a este pro- jecto Este eacute um desiacutegnio natildeode um homem soacute mas de vaacute-rias pessoas e instituiccedilotildees

COMO Eacute QUE O OBJECTIVO

DA PRESERVACcedilAtildeO DOS BO-TES BALEEIROS Eacute TRANS-POSTO PARA O CLUBE NA-VAL DA HORTA (CNH) COMO INTUITO DE CRIAR UMANOVA VERTENTE DESPORTI-VA NA ILHAQuando me foi lanccedilado o de-sao de assumir a presidecircncia

do CNH os botes baleeirosassumem uma importacircncia nomeu projecto para o clube Natildeoera possiacutevel continuar a gerir

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

BAIacuteA DA FETEIRA DURANTE A EacutePOCA DO VERAtildeO A BAIA Eacute ENGALANADA PELAS VELAS DOS BOTES BALEEIROS

FONTE SUSANA GARCIA

PATRIMOacuteNIOJORGE FONTES JOAtildeO GARCIA E JOAtildeO TAVARES TREcircS IMPULSIONA DORES DA PRESERVACcedilAtildeO DO PATRI983085MOacuteNIO BALEEIRO DA ILHA DO FAIAL

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as tripulaccedilotildees e a actividadedesportiva dos botes atraveacutesdas juntas de freguesia porqueelas natildeo tecircm essa vocaccedilatildeoEra inevitaacutevel que houvesseuma instituiccedilatildeo como o CNH ndash soacutelida agregadora sem ri-

validades ndash que pudesse darcontinuidade ao processo Nes-se sentido fundaacutemos a secccedilatildeode Botes Baleeiros da ilha doFaial que agrega com igual au-tonomia e legitimidade todos osparticipantes nesta actividadeNeste ponto tenho de referiro Carlos Fontes que deu umimportante contributo a todo oprocesso pela sua dedicaccedilatildeoe organizaccedilatildeo Outro elemen-

to que emprestou um valiosocontributo foi o Nuno Limasobretudo na recuperaccedilatildeo dalancha Walkiria a rainha dosmares dos Accedilores Houve ummomento de explosatildeo com

mais de cem participantes tan-to masculinos como femininoscom miuacutedos a virem das fre-guesias para aprender velacom cursos para ociaishellip Esta

vitalidade dos botes manteve--se ateacute 2010 Mantenho alguma

preocupaccedilatildeo quanto a algumassituaccedilotildees pontuais com receiode que as coisas se desagre-guem e as pessoas natildeo perce-bam os anos de trabalho queestatildeo aqui em causa e os seacutecu-los de baleaccedilatildeo que estatildeo pordetraacutes deste patrimoacutenio Eacute im-portante que haja consciecircncianatildeo apenas de todo o trabalhoque foi feito mas tambeacutem docusto nanceiro deste projec-

to Grande parte desse nan-ciamento foi assegurado pelogoverno regional que contoucom o apoio do E-GRANT`S ADirecccedilatildeo Regional da Culturao CNH e os clubes navais do

Pico apresentaram uma candi-datura para a recuperaccedilatildeo dosbotes baleeiros que foi aceiteSe natildeo fosse esse apoio hojenatildeo poderiacuteamos dizer que pra-ticamente todo o patrimoacuteniodos Accedilores botes e lanchas

estaacute recuperado Estamos afalar de 40 botes Em 10 anosno Faial recuperaram-se setebotes e uma lancha Se virmosque cada bote tem um custo derecuperaccedilatildeo de cerca de 35 mileuros percebemos que esse foium esforccedilo muito signicativo

A associaccedilatildeo dos botes bale-eiros da ilha do Faial ao CNHveio tambeacutem dar uma dimen-satildeo de ilha ao Clube e criou-se

uma dinacircmica desportiva im-portante de que o Faial neces-sitavaEsta vitalidade em torno dacultura e patrimoacutenio baleeirofaz despertar para a necessi-

dade deste ser inventariadoe salvaguardado Em 2008 o

Observatoacuterio do Mar dos Accedilo-res (OMA) entidade gestorada Faacutebrica da Baleia de PortoPim avanccedila para a inventaria-ccedilatildeo do patrimoacutenio imoacutevel da

baleaccedilatildeo primeiro agrave escala dailha do Faial e depois agrave escalados Accedilores

WALKIacuteRIA ldquoA RAINHA DOS MARES DOS ACcedilORESrdquo

ldquoNasceu para reinar nunca foi destronada e viveraacute esperamos por muitos anos assim o desejamos Somos uma grande regiatildeomariacutetima que quer preservar a memoacuteria coletiva das nossas teacutecnicas e tradiccedilotildees da nossa vivecircncia multissecular com o mar quenos rodeia nos separa e nos unerdquo A lancha Walkiria foi mandada construir pelos proprietaacuterios da Armaccedilatildeo Baleeira Reis amp Mendonccedila o industrial continental Francis-co Marcelino dos Reis e o Professor Rui de Mendonccedila residente na Vila das Velas amante de muacutesica Wagneriano que por talrazatildeo deu aos seus lhos os nomes de Wagner Weber

Walkyria e Isolda A construccedilatildeo foi realizada na ilha de S Jorge em 1937pelas matildeos de Joseacute e Manuel Gambatildeo irmatildeos e carpin-teiros habilidosos a partir de projeto de Manuel InaacutecioNunes natural do Pico mas com gabinete de projetos eestaleiro em Sacramento Califoacuternia Estados Unidos da Ameacuterica - ldquoQuando o antigo paquete a vapor ldquoCarvalho Arauacutejordquo

largava do porto das Velas com rumo ao Cais do Picoonde escalava depois de ter atingido a velocidade ple-na de cruzeiro a Walkyria rodeava o navio em marchapassando pela proa e pela popa Nenhuma outra lanchaconseguiu tal proezardquoEfetivamente a lancha estava equipada com um motor agasolina de 143 HP que permitindo atingir uma velocida-de de ponta elevada 18 noacutes tambeacutem acarretava consu-mos de combustiacutevel signicativos facto que levou agrave sua

venda em 1938 por ser economicamente pouco interes-sante para o trabalho que desenvolvia nomeadamente no apoio agrave caccedila agrave baleia Assim a lancha eacute transferida para a ilha do Faial por aquisiccedilatildeo do Sr Francisco Reis cando afeta ao transporte local de passagei-

ro Mais tarde eacute adquirida pela rma ldquoReis amp Martinsrdquo cando afeta agrave atividade baleeira Em 1955 a quando da instalaccedilatildeo de umaparelho de radiotelefonia foi-lhe atribuiacuteda a matriacutecula nal H-21-B

Em 2005 no acircmbito do projeto de ldquorecuperaccedilatildeo da memoacuteria baleeira da ilha do Faialrdquo depois de anos de repouso nos armazeacutens

da Reis e Martins a emblemaacutetica embarcaccedilatildeo volta a ganhar vida pelas matildeos do mestre Manuel Monteiro da Piedade do Pico en-trando de novo no porto da Horta a 12 de agosto desse mesmo ano totalmente recuperada

EEA Grants Mecanismo Finan-

ceiro Norueguecircs para apoio agrave

coesatildeo social e econoacutemica den-

tro da Uniatildeo Europeia Islacircndia

Liechtenstein e Noruega que

complementou o esforccedilo nan-

ceiro do Governo Regional para

a reabilitaccedilatildeo do patrimoacutenio bale-

eiro dos Accedilores Neste contexto

foram recuperados 40 botes e 10

lanchas Anualmente eacute atribuiacutedo

pelo Governo Regional um sub-

siacutedio para manutenccedilatildeo destas

embarcaccedilotildees

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Tempo de Baleeiros

AINDA BEM QUE REFERE AINVENTARIACcedilAtildeO DO PATRI-MOacuteNIO IMOacuteVEL POIS DEFACTO O PATRIMOacuteNIO DABALEACcedilAtildeO NAtildeO SE RESU-ME AOS BOTEShellip DEPOIS DAREVITALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRI-CA DA BALEIA ESTE PRO-CESSO DE RECUPERACcedilAtildeODO PATRIMOacuteNIO FICOU AIN-DA MAIS COMPLETO COMA INAUGURACcedilAtildeO DA CASADOS BOTES NO CAPELO HAacuteMUITO AGUARDADA FALE--NOS DESSE PROJECTO

Em boa hora a Junta de Fre-guesia do Capelo acolheu estainiciativa incluiacuteda no projectoldquoA recuperaccedilatildeo da memoacuteriabaleeirardquo Esta era uma casadas armaccedilotildees baleeiras deSatildeo Roque do Pico A sua re-cuperaccedilatildeo natildeo eacute mais do quedevolver ao porto do Compri-do a sua histoacuteria A histoacuteria doCapelo natildeo comeccedila em 1957com o Vulcatildeo dos Capelinhos

Antes disso o porto do Com-prido jaacute tinha dois seacuteculos dehistoacuteria tendo sido uma dasprincipais estaccedilotildees baleeirasdos Accedilores Essa memoacuteria

tinha de ser preservada porrespeito aos nossos antepas-sados Essa preservaccedilatildeo tam-beacutem se faz atraveacutes do circuitopedestre do baleeiro que tam-beacutem foi inaugurado agora Esteleva-nos ao conjunto de vigiasque existe no Vulcatildeo dos Ca-pelinhos

Um museu natildeo eacute uma coisaque estaacute dentro de casa maseacute tudo o que nos rodeia Te-mos de contar de forma sim-ples a todos os que nos visi-tam que esta eacute uma ilha comhistoacuteria

HAacute TAMBEacuteM A PREOCUPA-CcedilAtildeO DE REUNIR EM LIVRO AINFORMACcedilAtildeO SOBRE A BA-LEACcedilAtildeO QUE TEM VINDO ASER RECOLHIDAhellipNos uacuteltimos anos o Obser-vatoacuterio do Mar dos Accedilores(OMA) tem feito um excelentetrabalho o que se traduz numgrande avanccedilo na pesquisaCom aquilo que jaacute tinha sido

feito lanccedilaacutemos um desao aoFilipe Porteiro presidente doOMA para que se documen-tasse por escrito a memoacuteriados baleeiros Haacute um registode memoacuterias de alguns bale-eiros do Capelo um espoacuteliofotograacuteco que foi e continua

a ser recolhido um conjuntode informaccedilotildees tanto daquicomo de New Bedford no queao tempo da baleaccedilatildeo diz res-peitohellip Portanto temos infor-maccedilatildeo suciente para fechar

nos proacuteximos dois anos estarecuperaccedilatildeo da memoacuteria comum livro que permita dar aconhecer a histoacuteria da balea-ccedilatildeo no Faial Haacute um conjunto

de pessoas disponiacuteveis paracolaborar neste processo Naminha opiniatildeo esta obra deveter ediccedilatildeo bilingue tendo emconta o interesse que tem paraos Estados Unidos

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE FICA A FALTAR FAZERPELA RECUPERACcedilAtildeO E PRE-SERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROTenho de deixar uma mensa-gem importante agraves pessoasque hoje gerem este proces-so procurem os consensosEacute muito importante termosum consenso regional relati-vamente aos botes baleeiros

Eacute importante que se volte aosmodelos adoptados em 2005

relativamente agraves regatas Natildeopodemos ter regatas em to-das as freguesias dos AccediloresTemos de ter as cinco regatastradicionalmente mais antigasnas quais se inclui a Semanado Mar e quatro regatas noPico e fazer as outras trecircs deforma rotativa para voltarmosa ter um campeonato regionalde botes baleeiros em condi-ccedilotildees Faial e Pico tecircm de en-tender-se nesta mateacuteria Estamensagem tem de ser passa-da para as instituiccedilotildees para osclubes para as juntas de fre-guesia para as pessoashellip

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA UM ASPECTO DE UMA REGATA DENTRO DA BAIA DA HORTA

FONTE OMA

EMBARCACcedilAtildeO OS ANTIGOS BOTES TORNARAM983085SE TAMBEacuteM NUMA PECcedilAMUSEOLOacuteGICA

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Tempo de Baleeiros

Eacute tambeacutem importante que asecccedilatildeo de botes baleeiros doFaial continue A rivalidade en-tre freguesias natildeo traz nada debom O CNH tem obrigaccedilatildeo deconsolidar a secccedilatildeo custe oque custar

Aleacutem disso temos de ver queo patrimoacutenio baleeiro que estaacuteentregue agraves Juntas de Fregue-sia natildeo eacute das autarquias Per-tence agrave Governo Regional dos Acores ou seja agrave Regiatildeo e asua preservaccedilatildeo eacute uma obri-gaccedilatildeo daqueles a quem foientregue Eacute preciso ter muitocuidado nessa preservaccedilatildeosenatildeo dentro de alguns anosestamos natildeo a fazer manuten-

ccedilatildeo mas praticamente a fazernovos botes Os responsaacuteveisde cada uma das instituiccedilotildeestecircm de ter consciecircncia do pa-trimoacutenio que tecircm nas matildeos ede toda esta histoacuteria Agora odesao mais importante eacute a

manutenccedilatildeo deste patrimoacutenio econtinuar a despertar nas pes-soas o interesse por andar agravevela e a remos O bote baleeiroeacute uma embarcaccedilatildeo iacutempar Natildeohaacute outra no mundo

E A PRESERVACcedilAtildeO SOacute SEFAZ COMPLETAMENTE SEOS BOTES ESTIVEREM NOMAR A NAVEGARExactamente Haacute uma partemuito importante do projec-to que ainda falta que passa

pela sede do CNH e por sa-ber o que vai acontecer aosarmazeacutens da Reis e MartinsEacute preciso encontrar um espa-ccedilo adequado para guardar osbotes fazer a sua manuten-ccedilatildeo e expocirc-los Os botes satildeopatrimoacutenio histoacuterico mas tam-beacutem turiacutestico As regatas satildeobonitas mas os passeios embotes baleeiros tambeacutem Se foralterada a portaria que regula

esses passeios em vigor haacutemuitos anos os clubes podemdeles tirar rendimentos

ACHA ENTAtildeO QUE FARIASENTIDO RENTABILIZAR OSPASSEIOS NOS BOTES BA-LEEIROS PARA FINANCIARA SUA PROacutePRIA PRESERVA-CcedilAtildeOFaz todo o sentido Na situ-accedilatildeo econoacutemica em que es-tamos natildeo podemos viver da

ldquosubsiacutedio-dependecircnciardquo A ma-nutenccedilatildeo dos botes as regatase toda essa dinacircmica podemsustentar-se com a criaccedilatildeo deuma vertente econoacutemica comos passeios de bote baleeiroporque temos mercado para

isso Eacute necessaacuterio alterar legis-laccedilatildeo nessa aacuterea

NOUTROS TEMPOS A BA-LEIA FOI UM PILAR DA NOS-SA ECONOMIA ACHA QUEHOJE COM O WHALE WA-TCHING A MOTIVAR A EXIS-TEcircNCIA DE BALEEIROS COMMAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICASEM VEZ DE ARPOtildeES CON-TRIBUINDO PARA A ECONO-

MIA DA ILHA E COM OS BO-TES BALEEIROS NA AacuteGUAPARA AS COMPETICcedilOtildeESDESPORTIVAS ESTAMOSPERANTE UMA ESPEacuteCIE DENOVA BALEACcedilAtildeO Acho que entraacutemos numa novafase da baleaccedilatildeo e soubemosperceber natildeo apenas a impor-tacircncia que a baleaccedilatildeo tevemas tambeacutem a importacircnciaque os cetaacuteceos tecircm hoje nos Accedilores Haacute um Departamento

de Oceanograa e Pescas da

Universidade dos Accedilores quesabe o que estaacute a fazer haacuteuma consciecircncia das empre-sas de whale watching para asua importacircnciahellip Natildeo eacute poracaso que algumas dessas

empresas utilizam as antigasvigias dos baleeiros e inclusi-ve as recuperaram contribuin-do assim para a preservaccedilatildeodo patrimoacutenio da baleaccedilatildeo Osegredo da observaccedilatildeo de ba-leias nos Accedilores tem a ver coma histoacuteria que haacute para contarHouve uma altura em que ca-ccedilaacutemos e haacute agora uma alturaem que sabemos preservarHaacute aqui um potencial turiacutestico

enorme Os accedilorianos adapta-ram-se muito bem a esta novarealidadez

MARLA PINHEIRO

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y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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Tempo de Baleeiros

da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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Tempo de Baleeiros

pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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Tempo de Baleeiros

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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Na ponta Oeste da ilha do

Faial junto ao Vulcatildeo dos Ca-pelinhos encontramos umapequena Calheta formadahaacute centenas de anos por umaescoada laacutevica A Ponta Com-prida assim descrita na car-tograa do seacuteculo XVIII pro-porcionava um abrigo naturalnuma aacuterea de pesca costeirafrequentada desde as primei-ras deacutecadas do povoamentoda ilha Aberto na rocha entre

as faleacutesias e o mar o porto doComprido era um lugar isola-do ideal na partida do Homempara o combate com o Cacha-lote A curta distacircncia cavam

as aacuteguas profundas que limi-tam a ilha do Faial onde seacumulam as presas marinhasque atraem grandes preda-dores como eacute o caso dos ca-chalotes As altas faleacutesias doCostado da Nau de onde seperscrutavam os movimentosdas embarcaccedilotildees vindas deOeste permitiam um longo al-cance aos vigias da baleia euma comunicaccedilatildeo visual comas vigias instaladas na CostaNorte da Ilha nos Cedros e no

Salatildeo em conexatildeo com a vigiado Alto das Concheiras Laacute embaixo a menos de 100 metrosdo mar os baleeiros reuniam--se durante os meses de Ve-ratildeo como um exeacutercito sitiadoem habitaccedilotildees de pedra cober-tas com palha de trigo manten-do as suas canoas varadas narampa do porto O nuacutecleo habi-tacional do porto do Comprido

alojava baleeiros das ilhas doFaial do Pico e de Satildeo JorgeNeste aspecto aparentementesingular o porto do Compridopoderia ser comparado comoutros postos baleeiros espa-lhados por zonas inoacutespitas doglobo como a ilha de Spitsber-gen no seacuteculo XVII onde osbaleeiros ingleses e holande-ses conviviam durante o Veratildeo

ou as estaccedilotildees baleeiras daGeoacutergia do Sul no Antaacutertico

AS FASES DA

BALEACcedilAtildeOCOSTEIRA NA ILHADO FAIAL E O CASODO PORTO DOCOMPRIDO

A caccedila agrave baleia no porto doComprido ter-se-aacute desenvolvi-do entre 1884 e 1957 tornan-do-se um posto baleeiro cadavez mais importante no conjun-

to das ilhas do grupo centralEste periacuteodo pode ser divididoem trecircs fases sucessivas A partir da deacutecada de 1870com a crise do comeacutercio deexportaccedilatildeo do vinho e da laran- ja a afectar o uxo comercial

do porto da Horta o negoacutecioda baleaccedilatildeo costeira torna-seum foco de entusiasmo paraas empresas locais Nestecontexto a casa comercial

DabneyampSons experimenta-da na baldeaccedilatildeo do oacuteleo dosnavios baleeiros norteamerica-nos e em condiccedilotildees propiacuteciaspara importar canoas baleeiras

y

PORTO DO COMPRIDOUM POSTO BALEEIRO (1884-1957)

FONTE ACERVO DOCUMENTAL DAS OBRAS PUacuteBLICAS DO DISTRITO DA HORTA

VARADOURO PLANO DE REPARACcedilAtildeO DO PORTO DO COMPRIDO 1927

FONTE COLECCcedilAtildeO DO MUSEU DO PICO

ARREADA EM POUCOS MINUTOS DEPOIS DE DADO O SINAL TODOS OS BOTES BALEEIROS ESTAVAM NA AacuteGUA

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Tempo de Baleeiros

antecipa-se na criaccedilatildeo de infra-

estruturas de apoio agrave baleaccedilatildeocosteira Em 1884 Samuel Da-bney pede autorizaccedilatildeo para aconstruccedilatildeo de uns ldquo turcos demadeira junto agrave costa no localdenominado ndash o Comprido -[hellip] para poderem arrear asembarcaccedilotildees empregues napesca da baleardquo(1) As baleiascaccediladas a partir do porto doComprido seriam rebocadas aremos ou com o auxiacutelio de umvapor do porto da Horta ateacuteagrave estaccedilatildeo de traioacuteis de PortoPim o ldquoTufordquo onde se proce-dia ao desmancho do cachalo-te e se derretiam os toucinhosem grandes caldeiros de ferroEsta primeira fase de baleaccedilatildeocosteira estaacute contudo deter-minada pelos poucos meios eo insucesso na maioria de ten-tativas de captura dos cacha-lotes tal como nos indicam asnotiacutecias contemporacircneas Agraves

canoas de terra uniam-se eminteracccedilatildeo ou concorrecircncia ascanoas dos navios baleeirosnorteamericanos que perma-neciam ao largo das ilhas doTriacircngulo Apesar das incer-tezas a baleaccedilatildeo no porto doComprido prevaleceu duranteas deacutecadas seguintesUma segunda fase situadaentre os anos 20 e os anos 40

do seacuteculo XX caracteriza-se

pela concentraccedilatildeo de funccedilotildeesda baleaccedilatildeo costeira no portodo Comprido Por outras pala-vras era no porto do Compridoque arreavam os botes bale-

eiros - auxiliados por lanchas

a motor a partir dos anos 20 ndash e depois de capturados oscachalotes seriam encalhadose desmanchados na zona doporto Segundo uma inspecccedilatildeofeita pela Capitania do porto daHorta em 1928 era a Socieda-de Baleeira Aurora que possuiacuteano porto do Comprido ldquoumacasa com duas caldeiras e res-pectivas fornalhas e mais ape-trechos para o derretimento dooacuteleo achando-se tudo em bomestado e regularmente instala-dordquo(2) De resto esta fase estaacute

marcada pela proliferaccedilatildeo depequenas armaccedilotildees ou socie-dades baleeiras em vaacuterios por-tos da Ilha (Ribeirinha CedrosSalatildeo Castelo Branco) cadauma com os seus apetrechose instalaccedilotildees ou em sociedadecom outras armaccedilotildees Na ilhado Faial existiam em simultacirc-neo entre cinco a oito armado-

res da ldquopesca da baleiardquo entre1920 e 1930 Durante a eacutepoca

de caccedila o porto do Comprido jaacute seria frequentado por setecanoas baleeiras algumas dasquais permaneciam durantetodo o ano Com a complexi-caccedilatildeo da actividade baleeirasatildeo tambeacutem mais notaacuteveis asintervenccedilotildees das autoridadesmariacutetimas na vida do postobaleeiro e os requerimentos

das instituiccedilotildees de poder localcomo a Junta de Freguesia doCapelo para a realizaccedilatildeo deobras de construccedilatildeo e repara-ccedilatildeo do porto

FASE INDUSTRIAL

Mas se existe periacuteodo em queo porto do Comprido se con-verte num destacado postobaleeiro em toda a sua espe-cicidade eacute durante a fase in-

dustrial da baleaccedilatildeo na ilha doFaial entre 1940 e 1957 Nosanos convulsos da 2ordf Guerra

Mundial a forte subida do pre-ccedilo do oacuteleo de cachalote incen-tivou o crescimento da activi-dade baleeira nos Accedilores e dailha do Faial em particular Asobras para o desenvolvimentodo porto do Comprido estavamno centro do debate Com aconstruccedilatildeo das Faacutebricas da

Baleia de Porto Pim (1942) eSatildeo Roque (1944) e a expec-tativa de dobrar a produccedilatildeode oacuteleo atraveacutes do processa-mento industrial do cachaloteera necessaacuterio optimizar ascondiccedilotildees do varadouro ondeestacionavam os botes bale-eiros do Faial e do Norte doPico Os projectos de constru-ccedilatildeo de 1942 e 1944 previam

a construccedilatildeo de uma muralhade defesa do porto e um caisacostaacutevel aleacutem de um nivela-mento da rampa de varagemcom mais de 110 metros Noentanto estes projectos nun-ca viriam a ser concretizados

Durante este periacuteodo a rampade varagem chegou a ter 18botes baleeiros varados e 7lanchas a motor amarradas aolargo condiccedilotildees que exigiamo envolvimento de no miacutenimo200 indiviacuteduos na actividade

baleeira As armaccedilotildees bale-eiras em menor nuacutemero masmelhor organizadas recebiaminstruccedilotildees relativas agrave saiacuteda co-ordenada dos botes baleeiros

para o mar e o trabalho colec-tivo dos vigias pertencentes adiferentes armaccedilotildees baleeirasNa retaguarda da actividadeos armazeacutens da ReisampMartinsna Horta prestavam todo o tipode fornecimentos agraves embarca-ccedilotildees estacionadas no Capelolinha de baleia tintas oacuteleo delinhaccedila lanccedilas e arpotildees entreoutros eram enviados regular-

FONTE COLECCcedilAtildeO DO MUSEU DO PICO

PORTO DO COMPRIDO ANTES DA SAIacuteDA OS BOTES ERAM CUIDADOSAMENTEINSPECCIONADOS

BALEEIROS NO CAPELO

A tradiccedilatildeo oral recorda ldquoo Compridordquo como um lugar de alegriaonde os baleeiros celebravam a vida de Veratildeo em comunidadeEnquanto o foguete natildeo estalava danccedilava-se a Chamarritafestejava-se o Satildeo Pedro ou assistia-se agrave festa de Santana Ospicarotos protagonistas da migraccedilatildeo sazonal dispuseram demeios para transportar consigo as mobiacutelias os animais domeacutes-

ticos as famiacutelias inteiras Agrave noite tambeacutem se pescava de diasalgava-se o peixe Balear no Comprido transformava o quoti-diano dos homens que por norma nunca seriam baleeiros atempo inteiro

Fonte Foto Fotojovial

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Tempo de Baleeiros

CACcedilA Agrave BALEIA NO PORTO DO COMPRIDO

A partir de determinada eacutepoca do ano os botes baleeiros deixavam de ldquoarrearrdquo na cidade da Horta e concentravam-se nos postosbaleeiros do Salatildeo e do porto do Comprido A actividade no porto do Comprido era sobretudo inconstante podia haver 4 a 5 diasconsecutivos de caccedila mas tambeacutem uma semana inteira agrave espera que os vigias dessem o sinal de ldquoarreadardquo

mente para o posto baleeiro Aaldeia dos baleeiros era manti-da segundo uma organizaccedilatildeofamiliar e com o apoio de co-merciantes locais da freguesiado Capelo que asseguravamo seu aprovisionamento Sem

duacutevida foram nos derradeirosanos da baleaccedilatildeo no Compridoque mais se caccedilou agrave baleia ede forma mais ecaz com uma

forte concentraccedilatildeo nos mesesde Veratildeo (cfr Graacuteco)

Em Setembro de 1957 quan-do se iniciaram as erupccedilotildees noVulcatildeo dos Capelinhos o portodo Comprido foi imediatamenteabandonado Em poucos me-ses todos os anos de histoacuteria

deste posto baleeiro seriamabruptamente consumidos pe-las cinzas deixando-nos umapaisagem desolada escureci-da pelo Vulcatildeo z

Notas

(1) Fundo da Capitania do Porto da

Horta Arquivo Histoacuterico da Marinha

(2) Idem

OS HOMENS DA BALEIA

Fonte Foto Maacuterio Ruspoli Les Hommes de la Baleine (1956)

No Veratildeo de 1956 o italiano Maacuterio Ruspoli propocircs-se reali-zar um documentaacuterio sobre os uacuteltimos caccediladores de baleia dotempo de Moby Dick Depois de conseguir um empreacutestimo de

2 milhotildees de francos concedido pelo milionaacuterio grego AristoteOnassis M Ruspoli reuniu uma talentosa equipa composta porJacques Soulaire e Gilbert Rouget e instalou-se na casa dos fa-roleiros dos Capelinhos Durante dois meses a equipa recolheuas imagens e os sons uacutenicos da actividade baleeira no porto doComprido Les hommes de la Baleine eacute um precioso documentorealista e liacuterico sobre a baleaccedilatildeo na ilha do Faial

BALEEIROS NA AMEacuteRICACom a erupccedilatildeo do vulcatildeo dosCapelinhos e a abertura dasfronteiras norte americanasmuitos jovens baleeiros se-

guiram o rumo da emigraccedilatildeoconservando a memoacuteria dostempos aacuteureos e diceis da ba-leaccedilatildeo

Fonte foto Colecccedilatildeo Privada de Manuela Rosa

FRANCISCO HENRIQUESOMA

FONTE COLECCcedilAtildeO POSTAL RUSPOLI amp SOULAIRE

TRANCAR JOSEacute RAFAEL PREPARA983085SE PARA ARPOAR UM CACHALOTE

Fonte Colecccedilatildeo Documental ReisampMartins Lda ndash Faacutebrica da Baleia de Porto Pim

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Tempo de Baleeiros

Na deacutecada de trinta do seacute-culo XX durante o auge dainduacutestria baleeira nos Accediloresforam constituiacutedas vaacuterias em-presas nas diversas ilhas paraa exploraccedilatildeo e comercializaccedilatildeodos produtos obtidos a partir

dos cachalotes No Faial foramconstituiacutedas trecircs sociedadesa Reis amp Martins Lda arma-ccedilatildeo baleeira e exportadoresde oacuteleo a Companhia Bale-eira Faialense Lda armaccedilatildeobaleeira e a Sociedade Indus-trial Mariacutetima Accediloriana Lda(SIMAL) ligada agrave induacutestriatransformadora A Reis amp Mar-tins Lda constituiacuteda em 1945adquiriu um armazeacutem na RuaNova na cidade da Horta queservia como casa de botes eocina de carpintaria marce-naria tanoaria ferraria e mecacirc-nica ofiacutecios essenciais para aconstruccedilatildeo e manutenccedilatildeo dasembarcaccedilotildees baleeiras (lan-chas a motor e botes) e res-pectiva palamenta Depois dom da actividade baleeira nos

Accedilores no iniacutecio dos anos 80do seacuteculo XX o armazeacutem daRua Nova e grande parte do

seu espoacutelio foram parcialmen-te mantidos ateacute agrave actualidadeembora seja notoacuteria a degrada-ccedilatildeo tanto do imoacutevel como demuitos dos objectos e equipa-mentos aiacute armazenadosPerante o risco seacuterio de esteespoacutelio se perder e dada a im-portacircncia deste espoacutelio para oestudo da baleaccedilatildeo no Faial enos Accedilores considerou-se serurgente efectuar o seu resgate

levantamento e estudo destepatrimoacutenio garantindo assima sua preservaccedilatildeo Assim osactuais proprietaacuterios e herdei-ros da Reis amp Martins Lda

estabeleceram uma parceriacom o Observatoacuterio do Mar dos Accedilores (OMA) com o objectivode salvaguardar o patrimoacutenioexistente e integrar parte deleno museu da Faacutebrica da Baleiade Porto Pim

O projecto ldquoLevantamento dePatrimoacutenio Baleeiro e Dinami-zaccedilatildeo do Espaccedilo Expositivo

da Faacutebrica da Baleia de PortoPimrdquo iniciou-se em 2008 e em

2009 passou a ser co-nancia-do pela Direcccedilatildeo Regional daCultura (DRaC) que o consi-derou de ldquointeresse relevantepara a Regiatildeo e capaz de con-tribuir para o desenvolvimentoda poliacutetica cultural dos AccediloresrdquoEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinarias

equipamentos embarcaccedilotildeespalamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)

o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobrea induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiais

moacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Partedesse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo na

sua exposiccedilatildeo permanenteEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinariasequipamentos embarcaccedilotildees

palamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobre

a induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiaismoacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Parte

desse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo nasua exposiccedilatildeo permanente

y

PATRIMOacuteNIO BALEEIRO DA FASEINDUSTRIAL DA BALEACcedilAtildeO NO

FAIAL - RESGATE INVENTARIACcedilAtildeO ECONSERVACcedilAtildeO

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

RUA NOVA INTERIOR DO ESCRITOacuteRIO DOS ARMAZEacuteNS DA REIS amp MARTINS LDA

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Tempo de Baleeiros

INVENTAacuteRIO DOESPOacuteLIO REIS EMARTINS LDA

Os objectos encontrados foramanalisados e descritos quantoagraves caracteriacutesticas funcionaisde origem e agraves transforma-ccedilotildees eventuais que possamter sofrido ao longo do tempoSe alguns objectos tecircm umafunccedilatildeo oacutebvia (pe botes e suapalamenta arpotildees etc) outroshaacute cuja sua utilidade eacute difiacutecil dedescodicar A identicaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo funcional dos ob- jectos encontrados foi consubs-tanciada por fontes documen-tais quando existentes eoupor depoimentos orais fonte de

informaccedilatildeo uacutenica e insubstituiacute-vel para a compreensatildeo abran-gente da actividade industrialem estudo A identicaccedilatildeo de cada bem

foi registada em cha proacutepria

onde os elementos considera-dos adequados para o seu re-conhecimento foram descritosem detalhe A cha inclui uma fotograa do

objecto o seu nuacutemero de in-

ventaacuterio a sua funccedilatildeo originala categoria a que pertence oseu estado de conservaccedilatildeo adata do inventaacuterio e a referecircn-cia das fotograas existentes

desse objectoOs bens inventariados foramclassicados em categorias

consoante o tipo de colecccedilatildeo esuas caracteriacutesticas (tipologia) Assim optou-se por classicaacute--los em classes segundo asua funccedilatildeo original e em sub-classes que correspondemao local ou agrave infra-estrutura aque pertenciam (ex Selhandashde--linha Classe Palamenta Sub-classe Bote Baleeiro) A inventariaccedilatildeo individual de

cada peccedila permitiu a criaccedilatildeode um inventaacuterio fotograacuteco e

de uma lista geral de inventaacute-rio onde constam todas as 468peccedilas resgatadas ateacute ao mo-mento O passo seguinte con-sistiu na conservaccedilatildeo e restau-ro dos objectos classicados

As intervenccedilotildees foram criterio-samente efectuadas para natildeocomprometerem a constituiccedilatildeooriginal das peccedilas Aspiraccedilatildeo lavagem restaurocom oacuteleo e tratamento contra

pragas foram as operaccedilotildeesadoptadas para as peccedilas demadeira As peccedilas de metal a maioriacom niacuteveis de oxidaccedilatildeo con-sideraacuteveis foram objecto detratamentos especiacutecos adap-tados a cada casoz

FONTE OMA

SALVAGUARDA CLASSIFICACcedilAtildeO DAS 468 PECcedilAS INVENTARIADAS ATEacute AO MOMENTO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

OBJECTOS983085 EXEMPLARES DO ESPOacuteLIO RESGATADO DOS ARMAZEacuteNS REIS E MARTINS

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Tempo de Baleeiros

y Em 2010 o OMA estabe-leceu um contrato de coope-raccedilatildeo teacutecnica com a DirecccedilatildeoRegional da Cultura (DRaC)com o objectivo de inventariaro patrimoacutenio baleeiro imoacutevel detodo o arquipeacutelago A execuccedilatildeo

do projeto foi assegurada poruma equipa multidisciplinar naaacuterea da investigaccedilatildeo histoacuterica

arquitectura e fotograa pro-ssional A recolha preacutevia da

informaccedilatildeo foi o ponto de par-tida para um trabalho de cam-po que decorreu entre os me-ses de Junho e Dezembro de2011 Foram inventariados os

antigos complexos baleeirospostos baleeiros e varadourosbaleeiros rampas de varagemdas embarcaccedilotildees rampas dealagem de cachalotes casas

de botes traioacuteis faacutebricas deprocessamento de cachalotese plataformas de desmancho

vigias residecircncias sazonaiscarpintarias ocinas arma-zeacutens entre outrosNa ilha do Faial foram inven-tariados 17 imoacuteveis (ver Fig5) identicados no Complexo

Baleeiro das Anguacutestias (localonde as armaccedilotildees baleeirastinham a sua sede com ar-mazeacutens faacutebricas de proces-samento de cachalotescasade caldeiros e estacionavam

as embarcaccedilotildees prontas parauma raacutepida arriada agrave baleia)nos Postos Baleeiros do Porto

do Comprido do Salatildeo (estesdois como local de estaciona-mento sazonal das armaccedilotildeesbaleeiras do Faial e do Pico) edo Varadouro Identicaram-se

ainda apesar de menos repre-sentativos na actividade baleirada Ilha do Faial os Varadourosdo Cedros Castelo Branco eRibeirinha todos com rampade varagem para estaciona-mento de botes baleeiros z

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIRO IMOacuteVEL DO FAIAL

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIO BALEEIRO IMOacuteVEL DOS ACcedilORES A ILHA DO FAIAL

MAacuteRCIA DUTRAOMA

COMPLEXTO BALEEIRO DAS ANGUacuteSTIAS1 983085 FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

2983085 ARMAZEacuteM DA REIS amp MARTINS LDA3 983085 CASA DE CALDEIROS DE PORTO PIM983080FAacuteBRICA VELHA9830814 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTOPOSTO BALEEIRO DO PORTO DOCOMPRIDO5 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO DO

COMPRIDO6 983085 VIGIA DO CAPELO

7 983085 VIGIA DO COSTADO DA NAU8 983085 RESIDEcircNCIAS SAZONAIS DO PORTODO COMPRIDO9 983085 CASA DOS BOTES DO PORTO DOCOMPRIDOPOSTO BALEEIRO DO SALAtildeO10 983085 RAMPA DE VARAGEM DO SALAtildeO

11 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DA ARMA983085CcedilOtildeES DO FAIAL

12 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DAS ARMA983085CcedilOtildeES DO PICO13 983085 VIGIA DOS CEDROS14 983085 POSTO BALEEIRO DO VARADOURO15 983085 VIGIA DO ALTO DAS CONCHEIRASVARADOURO BALEEIRO DOS CEDROS16 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO

DA EIRAVARADOURO BALEEIRO DA RIBEIRINHA

17 983085 RAMPA DE VARAGEM DA RIBEIRINHAVARADOURO BALEEIRO DE CASTELOBRANCO18 983085 RAMPA DE VARAGEM DE CASTELOBRANCO

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Tempo de Baleeiros

y Em 1939 a Sociedade In-dustrial Mariacutetima Accediloriana Lda ndash a SIMAL foi fundada na Hor-ta Esta sociedade comercialpor quotas de responsabilidadelimitada tinha como objectivosa ldquoexploraccedilatildeo da induacutestria doaproveitamento integral da ba-

leia e outras espeacutecies marinhase comeacutercio dos respectivosprodutosrdquo A SIMAL era cons-tituiacuteda por 25 soacutecios sendo os

soacutecios maioritaacuterios o industriallisboeta Francisco Marcelinodos Reis e a empresa localCosta amp Martins Lda Desta-

cam-se ainda quatro compa-nhias baleeiras da Ribeira doMeio (Pico) que por razotildeesfamiliares e por ter sido nega-

da a construccedilatildeo de uma faacutebri-ca nas Lajes se associaram agraveSIMAL A faacutebrica comeccedilou a ser cons-truiacuteda em 1941 inicialmenteno areal da Praia de Porto Pimmas devido a um forte tem-poral ocorrido em Setembrodesse mesmo ano foi comple-tamente destruiacuteda e abandona-do o projecto Esta intempeacuterielevou a que os proprietaacuterios

decidissem construir a faacutebricano local onde hoje a conhe-cemos na encosta do Monteda Guia A faacutebrica comeccedilou alaborar em fase experimentalem Agosto de 1942 Durante

os seus 30 anos de laboraccedilatildeoprocessaram-se 1940 cachalo-tes que produziram 44 mil bi-dotildees de oacuteleoEm 1974 acompanhando odecliacutenio da induacutestria baleeira aniacutevel mundial a faacutebrica fechouas suas portas Em 1980 oGoverno Regional dos Accediloresadquiriu todo o complexo fabrilcom o objectivo de ali instalaro Departamento de Oceano-

graa e Pescas e uma Escola

de Pesca desiacutegnio esse quenunca se chegou a realizarEm 1984 a antiga faacutebrica foiclassicada como Imoacutevel de

Interesse Puacuteblico (IIP) Depoisde quase duas deacutecadas de de-gradaccedilatildeo do edifiacutecio e da suamaquinaria sem duacutevida atenu-ados pela acccedilatildeo persistente deManuel da Rosa Correia co-nhecido como Patratildeo Manuele de Manuel Medeiros conhe-cido com Sr Amaral (antigo en-carregado da faacutebrica) a faacutebricafoi nalmente alvo de obras

de restauro e de beneciaccedilatildeo Apelidada de Centro do Marfoi inaugurada em 2000 por

ocasiatildeo da 2ordf ediccedilatildeo da Expo-Pescas com o objectivo de setornar num espaccedilo de divulga-ccedilatildeo cultural e cientiacuteca Desde

2004 que a Faacutebrica eacute a sede

do OMA que desde entatildeo temvindo a dinamizar esse espaccediloEm 2010 a Faacutebrica da Baleia

de Porto Pim como hoje eacute co-nhecida foi inserida no Com-plexo do Monte da Guia da Ilhado Faial z

A FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

VISITA GUIADA FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM 983085 DESCRICcedilAtildeO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE OMA

INTERIOR A FAacuteBRICA Eacute UM MUSEU PERMANENTE

CASA DAS AUTOCLAVES COMSEIS AUTOCLAVES CADA UMACOM CAPACIDADE DE 11 M

CASA DAS FARINHAS COM TODAA MAQUINARIA ORIGINAL DA RE983085

CONHECIDA MARCA NORUGUESAMYRENS VERKSTED E OS MOTO983085

RES DA MARCA ALEMAtilde MOTORENFABRIK DEUTZ AG

EDIFICIO ANEXO ONDE FUNCIONAVA A ANTIGASERRALHARIA E OS ESCRITOacuteRIOS DESTACAM983085SEOS ALTOS TANQUES SUBTERRAcircNEOS PARA AR983085MAZENAMENTO DE OacuteLEO ACTUAL ldquoSALA DOS

OacuteLEOSrdquo 983080SALA DE EXPOSICcedilOtildeES E REUNIOtildeES983081

ANTIGAS CASAS DE BANHOACTUAL BAR DA PRAIA E WCS DE

APOIO Agrave FAacuteBRICA DA BALEIA

ANTIGO ARMAZEacuteM DAS FARI983085NHAS COM QUATRO TANQUESSUBTERRAcircNEOS PARA ARMAZE983085NAMENTO DO OacuteLEO ACTUALLOJA DA FAacuteBRICA E CIM

PLATAFORMA DE DESMANCHODESTAQCA983085SE A CHAMINEacute DAS CALDEI983085

RAS A VAPOR

CASA DAS CALDEIRAS A VAPOR IMPO983085NENTES CALDEIRAS FABRICADAS NA CI983085DADE DO PORTO EM PRIMEIRO PLANOVEMOS A CALDEIRA QUE FOI INSTALADAEM 1950

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y A inauguraccedilatildeo da Casados Botes no Capelo marcoumais um passo no percursoque comeccedilou a ser percorridohaacute mais de dez anos quandopor altura das comemoraccedilotildeesdos 400 anos daquela fregue-sia se decidiu iniciar um pro-cesso de recuperaccedilatildeo do patri-moacutenio baleeiro no Faial entatildeodenominado ldquorecuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeira da ilha doFaialrdquoHoje 25 anos depois de ter

sido caccedilado o uacuteltimo cachaloteem aacuteguas accedilorianas o patri-moacutenio da baleaccedilatildeo estaacute bemvivo sendo essa vivacidade noFaial espelhada pela recupe-

raccedilatildeo dos botes baleeiros dalancha Walquiacuteria da Faacutebricada Baleia e agora da Casados BotesRecuperar os botes baleeirosnatildeo eacute no entanto suciente

para garantir que a sua me-moacuteria continua viva Os botespertencem ao mar e por issofoi com naturalidade que estemovimento de revitalizaccedilatildeo dopatrimoacutenio acabou por passar

para a vertente desportiva coma criaccedilatildeo da secccedilatildeo de botesbaleeiros do Clube Naval daHorta que movimenta muitos

desportistasNa hora de lembrar todo estepercurso de recuperaccedilatildeo dopatrimoacutenio baleeiro bem comode reectir sobre o que haacute a

fazer numa altura em esseprocesso estaacute praticamenteconsolidado Tribuna das Ilhasconversou com Joatildeo Garciaque era em 2000 membro do

elenco da Junta de Freguesiado Capelo responsaacutevel pelodesencadear deste projectoe que em 2005 o levou para o

Clube Naval da Horta quandoassumiu a direcccedilatildeo da agre-miaccedilatildeo naacuteutica faialense Alertando para a importacircnciada manutenccedilatildeo deste patrimoacute-

nio agora que todo ele estaacuterestaurado Joatildeo Garcia apelaa um esforccedilo conjunto para aconsolidaccedilatildeo de um campeo-nato regional de botes baleei-ros e defende a alteraccedilatildeo dalegislaccedilatildeo para que os clubesnavais possam retirar rentabili-dade econoacutemica dos passeiosagrave vela em botes baleeiros demodo a que estes possam sus-tentar a sua proacutepria manuten-

ccedilatildeo

O PROCESSO DE RECUPE-RACcedilAtildeO DE BOTES EM VAacute-

RIAS FREGUESIAS COM HIS-TOacuteRIA BALEEIRA NO FAIALFOI DESENCADEADO QUAN-DO O JOAtildeO ERA PRESIDEN-TE DA JUNTA DE FREGUESIADO CAPELO E PREPARAVAAS COMEMORACcedilOtildeES DOSSEUS 400 ANOS O QUE EacuteQUE MOTIVOU A QUE O PA-TRIMOacuteNIO BALEEIRO FOSSEO MARCO DESTA EFEMEacuteRI-DE A importacircncia que tinha essaefemeacuteride levou a que se -zesse um levantamento his-toacuterico dos quatro seacuteculos dafreguesia A baleaccedilatildeo teve umpapel importante nessa histoacuteriae desde logo decidimos fazer

uma regata de botes que li-gasse o Porto do Comprido aodo Varadouro tendo em contaa ligaccedilatildeo histoacuterica que os doistiveram pela baleaccedilatildeo A partirdaqui somos despertados paraalgo que tem grande valor sen-timental e histoacuterico e nasce ummovimento de recuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeiraO Capelo teve uma forte im-plementaccedilatildeo da baleaccedilatildeo era

uma coisa que estava enraiza-da no povo e que era impor-tante salvaguardar Primeirohouve a preocupaccedilatildeo de re-

gistar as memoacuterias que haviadessa eacutepoca registos feitospor pessoas do Capelo nome-adamente pelo Joseacute Franciscoda Faialentejo que registou ostestemunhos de alguns baleei-ros Depois houve o movimen-to de recuperaccedilatildeo dos botesO Pico tinha jaacute uma seacuterie debotes recuperados e noacutes qui-semos ir um pouco mais lon-ge e abranger natildeo apenas asfreguesias com tradiccedilatildeo nabaleaccedilatildeo como Salatildeo Cas-telo Branco e Anguacutestias mastambeacutem outras onde havia re-crutamento de baleeiros comoeacute o caso da Feteira O projectocontemplava a recuperaccedilatildeo da

Casa do Bote Baleeiro que foirecentemente inaugurada evisa ainda publicar a histoacuteria dabaleaccedilatildeo na ilha do Faial

FOI FAacuteCIL PARA A JUNTA DEFREGUESIA DO CAPELO MO-TIVAR AS RESTANTES FRE-GUESIAS A EMBARCAREMNESTE PROJECTOPor acccedilatildeo do Clube Navalmais concretamente pelo entatildeo

presidente Joseacute Decq Motatemos conhecimento que naCalheta do Nesquim existe umbote disponiacutevel cheio de his-

ENTREVISTA A JOAtildeO PEDRO GARCIA

ldquoO DESAFIO MAIS IMPORTANTE Eacute

A PRESERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROrdquo

FONTE ROBERT CLARKE DISCOVERY REPORTS 1954

NO MAR O MOMENTO EM QUE SE INICIA A PERSEGUICcedilAtildeO AO CACHALOTE

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toacuteria e que eacute inclusive citadono Mau Tempo no Canal deVitorino Nemeacutesio o bote SatildeoJoseacute Sabendo que havia aquium interesse ele falou-nos daexistecircncia desse bote que es-tava sob a alccedilada da Comissatildeo

do Patrimoacutenio Baleeiro Inicia--se aiacute a sua recuperaccedilatildeo e umpasso importante para aquiloque queriacuteamos fazer A recu-peraccedilatildeo de um bote para a fre-guesia do Capelo fez despertaras outras freguesias para esteprojecto Nesta altura ele deixade ser apenas palavras e pe-quenos escritos para comeccedilara ter uma maior dimensatildeoEm 2000 temos a primeira re-

gata com botes do Pico e ape-nas com o Claudina do Faial43 anos depois do uacuteltimo botebaleeiro ter ldquoarriadordquo no Com-prido Em 2003 aparece o Satildeo

Joseacute outro bote recuperadopara o Faialhellip As pessoas co-meccedilam a perceber que este eacuteum projecto com vidaNesta altura comeccedila tambeacutema dinamizar-se a regata inter-nacional de botes baleeirosO movimento de geminaccedilatildeoentre a Horta e New Bedfordestava estagnado e a partirdaiacute essa ligaccedilatildeo fortalece-seFoi precisamente a baleaccedilatildeoque criou o elo entre as duascidades agora fortalecido com

a recuperaccedilatildeo do patrimoacuteniobaleeiro E curiosamente eacutena primeira viagem que sefaz aos Estados Unidos que opresidente da Cacircmara Munici-pal da Horta Joatildeo Castro ca

desperto para a importacircncia dese recuperar a Walquiacuteria outroprocesso que estava estagna-do e ganha nessa altura alentoHaacute assim uma bola de neveque vai crescendo uma pai-xatildeo que vai aumentando e um

despertar da consciecircncia paraa recuperaccedilatildeo da memoacuteria quefaz com que se torne tudo maisfaacutecilO Governo Regional atraveacutesda Comissatildeo do PatrimoacutenioBaleeiro dos Accedilores deu umapoio incondicional a este pro- jecto Este eacute um desiacutegnio natildeode um homem soacute mas de vaacute-rias pessoas e instituiccedilotildees

COMO Eacute QUE O OBJECTIVO

DA PRESERVACcedilAtildeO DOS BO-TES BALEEIROS Eacute TRANS-POSTO PARA O CLUBE NA-VAL DA HORTA (CNH) COMO INTUITO DE CRIAR UMANOVA VERTENTE DESPORTI-VA NA ILHAQuando me foi lanccedilado o de-sao de assumir a presidecircncia

do CNH os botes baleeirosassumem uma importacircncia nomeu projecto para o clube Natildeoera possiacutevel continuar a gerir

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

BAIacuteA DA FETEIRA DURANTE A EacutePOCA DO VERAtildeO A BAIA Eacute ENGALANADA PELAS VELAS DOS BOTES BALEEIROS

FONTE SUSANA GARCIA

PATRIMOacuteNIOJORGE FONTES JOAtildeO GARCIA E JOAtildeO TAVARES TREcircS IMPULSIONA DORES DA PRESERVACcedilAtildeO DO PATRI983085MOacuteNIO BALEEIRO DA ILHA DO FAIAL

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as tripulaccedilotildees e a actividadedesportiva dos botes atraveacutesdas juntas de freguesia porqueelas natildeo tecircm essa vocaccedilatildeoEra inevitaacutevel que houvesseuma instituiccedilatildeo como o CNH ndash soacutelida agregadora sem ri-

validades ndash que pudesse darcontinuidade ao processo Nes-se sentido fundaacutemos a secccedilatildeode Botes Baleeiros da ilha doFaial que agrega com igual au-tonomia e legitimidade todos osparticipantes nesta actividadeNeste ponto tenho de referiro Carlos Fontes que deu umimportante contributo a todo oprocesso pela sua dedicaccedilatildeoe organizaccedilatildeo Outro elemen-

to que emprestou um valiosocontributo foi o Nuno Limasobretudo na recuperaccedilatildeo dalancha Walkiria a rainha dosmares dos Accedilores Houve ummomento de explosatildeo com

mais de cem participantes tan-to masculinos como femininoscom miuacutedos a virem das fre-guesias para aprender velacom cursos para ociaishellip Esta

vitalidade dos botes manteve--se ateacute 2010 Mantenho alguma

preocupaccedilatildeo quanto a algumassituaccedilotildees pontuais com receiode que as coisas se desagre-guem e as pessoas natildeo perce-bam os anos de trabalho queestatildeo aqui em causa e os seacutecu-los de baleaccedilatildeo que estatildeo pordetraacutes deste patrimoacutenio Eacute im-portante que haja consciecircncianatildeo apenas de todo o trabalhoque foi feito mas tambeacutem docusto nanceiro deste projec-

to Grande parte desse nan-ciamento foi assegurado pelogoverno regional que contoucom o apoio do E-GRANT`S ADirecccedilatildeo Regional da Culturao CNH e os clubes navais do

Pico apresentaram uma candi-datura para a recuperaccedilatildeo dosbotes baleeiros que foi aceiteSe natildeo fosse esse apoio hojenatildeo poderiacuteamos dizer que pra-ticamente todo o patrimoacuteniodos Accedilores botes e lanchas

estaacute recuperado Estamos afalar de 40 botes Em 10 anosno Faial recuperaram-se setebotes e uma lancha Se virmosque cada bote tem um custo derecuperaccedilatildeo de cerca de 35 mileuros percebemos que esse foium esforccedilo muito signicativo

A associaccedilatildeo dos botes bale-eiros da ilha do Faial ao CNHveio tambeacutem dar uma dimen-satildeo de ilha ao Clube e criou-se

uma dinacircmica desportiva im-portante de que o Faial neces-sitavaEsta vitalidade em torno dacultura e patrimoacutenio baleeirofaz despertar para a necessi-

dade deste ser inventariadoe salvaguardado Em 2008 o

Observatoacuterio do Mar dos Accedilo-res (OMA) entidade gestorada Faacutebrica da Baleia de PortoPim avanccedila para a inventaria-ccedilatildeo do patrimoacutenio imoacutevel da

baleaccedilatildeo primeiro agrave escala dailha do Faial e depois agrave escalados Accedilores

WALKIacuteRIA ldquoA RAINHA DOS MARES DOS ACcedilORESrdquo

ldquoNasceu para reinar nunca foi destronada e viveraacute esperamos por muitos anos assim o desejamos Somos uma grande regiatildeomariacutetima que quer preservar a memoacuteria coletiva das nossas teacutecnicas e tradiccedilotildees da nossa vivecircncia multissecular com o mar quenos rodeia nos separa e nos unerdquo A lancha Walkiria foi mandada construir pelos proprietaacuterios da Armaccedilatildeo Baleeira Reis amp Mendonccedila o industrial continental Francis-co Marcelino dos Reis e o Professor Rui de Mendonccedila residente na Vila das Velas amante de muacutesica Wagneriano que por talrazatildeo deu aos seus lhos os nomes de Wagner Weber

Walkyria e Isolda A construccedilatildeo foi realizada na ilha de S Jorge em 1937pelas matildeos de Joseacute e Manuel Gambatildeo irmatildeos e carpin-teiros habilidosos a partir de projeto de Manuel InaacutecioNunes natural do Pico mas com gabinete de projetos eestaleiro em Sacramento Califoacuternia Estados Unidos da Ameacuterica - ldquoQuando o antigo paquete a vapor ldquoCarvalho Arauacutejordquo

largava do porto das Velas com rumo ao Cais do Picoonde escalava depois de ter atingido a velocidade ple-na de cruzeiro a Walkyria rodeava o navio em marchapassando pela proa e pela popa Nenhuma outra lanchaconseguiu tal proezardquoEfetivamente a lancha estava equipada com um motor agasolina de 143 HP que permitindo atingir uma velocida-de de ponta elevada 18 noacutes tambeacutem acarretava consu-mos de combustiacutevel signicativos facto que levou agrave sua

venda em 1938 por ser economicamente pouco interes-sante para o trabalho que desenvolvia nomeadamente no apoio agrave caccedila agrave baleia Assim a lancha eacute transferida para a ilha do Faial por aquisiccedilatildeo do Sr Francisco Reis cando afeta ao transporte local de passagei-

ro Mais tarde eacute adquirida pela rma ldquoReis amp Martinsrdquo cando afeta agrave atividade baleeira Em 1955 a quando da instalaccedilatildeo de umaparelho de radiotelefonia foi-lhe atribuiacuteda a matriacutecula nal H-21-B

Em 2005 no acircmbito do projeto de ldquorecuperaccedilatildeo da memoacuteria baleeira da ilha do Faialrdquo depois de anos de repouso nos armazeacutens

da Reis e Martins a emblemaacutetica embarcaccedilatildeo volta a ganhar vida pelas matildeos do mestre Manuel Monteiro da Piedade do Pico en-trando de novo no porto da Horta a 12 de agosto desse mesmo ano totalmente recuperada

EEA Grants Mecanismo Finan-

ceiro Norueguecircs para apoio agrave

coesatildeo social e econoacutemica den-

tro da Uniatildeo Europeia Islacircndia

Liechtenstein e Noruega que

complementou o esforccedilo nan-

ceiro do Governo Regional para

a reabilitaccedilatildeo do patrimoacutenio bale-

eiro dos Accedilores Neste contexto

foram recuperados 40 botes e 10

lanchas Anualmente eacute atribuiacutedo

pelo Governo Regional um sub-

siacutedio para manutenccedilatildeo destas

embarcaccedilotildees

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Tempo de Baleeiros

AINDA BEM QUE REFERE AINVENTARIACcedilAtildeO DO PATRI-MOacuteNIO IMOacuteVEL POIS DEFACTO O PATRIMOacuteNIO DABALEACcedilAtildeO NAtildeO SE RESU-ME AOS BOTEShellip DEPOIS DAREVITALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRI-CA DA BALEIA ESTE PRO-CESSO DE RECUPERACcedilAtildeODO PATRIMOacuteNIO FICOU AIN-DA MAIS COMPLETO COMA INAUGURACcedilAtildeO DA CASADOS BOTES NO CAPELO HAacuteMUITO AGUARDADA FALE--NOS DESSE PROJECTO

Em boa hora a Junta de Fre-guesia do Capelo acolheu estainiciativa incluiacuteda no projectoldquoA recuperaccedilatildeo da memoacuteriabaleeirardquo Esta era uma casadas armaccedilotildees baleeiras deSatildeo Roque do Pico A sua re-cuperaccedilatildeo natildeo eacute mais do quedevolver ao porto do Compri-do a sua histoacuteria A histoacuteria doCapelo natildeo comeccedila em 1957com o Vulcatildeo dos Capelinhos

Antes disso o porto do Com-prido jaacute tinha dois seacuteculos dehistoacuteria tendo sido uma dasprincipais estaccedilotildees baleeirasdos Accedilores Essa memoacuteria

tinha de ser preservada porrespeito aos nossos antepas-sados Essa preservaccedilatildeo tam-beacutem se faz atraveacutes do circuitopedestre do baleeiro que tam-beacutem foi inaugurado agora Esteleva-nos ao conjunto de vigiasque existe no Vulcatildeo dos Ca-pelinhos

Um museu natildeo eacute uma coisaque estaacute dentro de casa maseacute tudo o que nos rodeia Te-mos de contar de forma sim-ples a todos os que nos visi-tam que esta eacute uma ilha comhistoacuteria

HAacute TAMBEacuteM A PREOCUPA-CcedilAtildeO DE REUNIR EM LIVRO AINFORMACcedilAtildeO SOBRE A BA-LEACcedilAtildeO QUE TEM VINDO ASER RECOLHIDAhellipNos uacuteltimos anos o Obser-vatoacuterio do Mar dos Accedilores(OMA) tem feito um excelentetrabalho o que se traduz numgrande avanccedilo na pesquisaCom aquilo que jaacute tinha sido

feito lanccedilaacutemos um desao aoFilipe Porteiro presidente doOMA para que se documen-tasse por escrito a memoacuteriados baleeiros Haacute um registode memoacuterias de alguns bale-eiros do Capelo um espoacuteliofotograacuteco que foi e continua

a ser recolhido um conjuntode informaccedilotildees tanto daquicomo de New Bedford no queao tempo da baleaccedilatildeo diz res-peitohellip Portanto temos infor-maccedilatildeo suciente para fechar

nos proacuteximos dois anos estarecuperaccedilatildeo da memoacuteria comum livro que permita dar aconhecer a histoacuteria da balea-ccedilatildeo no Faial Haacute um conjunto

de pessoas disponiacuteveis paracolaborar neste processo Naminha opiniatildeo esta obra deveter ediccedilatildeo bilingue tendo emconta o interesse que tem paraos Estados Unidos

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE FICA A FALTAR FAZERPELA RECUPERACcedilAtildeO E PRE-SERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROTenho de deixar uma mensa-gem importante agraves pessoasque hoje gerem este proces-so procurem os consensosEacute muito importante termosum consenso regional relati-vamente aos botes baleeiros

Eacute importante que se volte aosmodelos adoptados em 2005

relativamente agraves regatas Natildeopodemos ter regatas em to-das as freguesias dos AccediloresTemos de ter as cinco regatastradicionalmente mais antigasnas quais se inclui a Semanado Mar e quatro regatas noPico e fazer as outras trecircs deforma rotativa para voltarmosa ter um campeonato regionalde botes baleeiros em condi-ccedilotildees Faial e Pico tecircm de en-tender-se nesta mateacuteria Estamensagem tem de ser passa-da para as instituiccedilotildees para osclubes para as juntas de fre-guesia para as pessoashellip

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA UM ASPECTO DE UMA REGATA DENTRO DA BAIA DA HORTA

FONTE OMA

EMBARCACcedilAtildeO OS ANTIGOS BOTES TORNARAM983085SE TAMBEacuteM NUMA PECcedilAMUSEOLOacuteGICA

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Eacute tambeacutem importante que asecccedilatildeo de botes baleeiros doFaial continue A rivalidade en-tre freguesias natildeo traz nada debom O CNH tem obrigaccedilatildeo deconsolidar a secccedilatildeo custe oque custar

Aleacutem disso temos de ver queo patrimoacutenio baleeiro que estaacuteentregue agraves Juntas de Fregue-sia natildeo eacute das autarquias Per-tence agrave Governo Regional dos Acores ou seja agrave Regiatildeo e asua preservaccedilatildeo eacute uma obri-gaccedilatildeo daqueles a quem foientregue Eacute preciso ter muitocuidado nessa preservaccedilatildeosenatildeo dentro de alguns anosestamos natildeo a fazer manuten-

ccedilatildeo mas praticamente a fazernovos botes Os responsaacuteveisde cada uma das instituiccedilotildeestecircm de ter consciecircncia do pa-trimoacutenio que tecircm nas matildeos ede toda esta histoacuteria Agora odesao mais importante eacute a

manutenccedilatildeo deste patrimoacutenio econtinuar a despertar nas pes-soas o interesse por andar agravevela e a remos O bote baleeiroeacute uma embarcaccedilatildeo iacutempar Natildeohaacute outra no mundo

E A PRESERVACcedilAtildeO SOacute SEFAZ COMPLETAMENTE SEOS BOTES ESTIVEREM NOMAR A NAVEGARExactamente Haacute uma partemuito importante do projec-to que ainda falta que passa

pela sede do CNH e por sa-ber o que vai acontecer aosarmazeacutens da Reis e MartinsEacute preciso encontrar um espa-ccedilo adequado para guardar osbotes fazer a sua manuten-ccedilatildeo e expocirc-los Os botes satildeopatrimoacutenio histoacuterico mas tam-beacutem turiacutestico As regatas satildeobonitas mas os passeios embotes baleeiros tambeacutem Se foralterada a portaria que regula

esses passeios em vigor haacutemuitos anos os clubes podemdeles tirar rendimentos

ACHA ENTAtildeO QUE FARIASENTIDO RENTABILIZAR OSPASSEIOS NOS BOTES BA-LEEIROS PARA FINANCIARA SUA PROacutePRIA PRESERVA-CcedilAtildeOFaz todo o sentido Na situ-accedilatildeo econoacutemica em que es-tamos natildeo podemos viver da

ldquosubsiacutedio-dependecircnciardquo A ma-nutenccedilatildeo dos botes as regatase toda essa dinacircmica podemsustentar-se com a criaccedilatildeo deuma vertente econoacutemica comos passeios de bote baleeiroporque temos mercado para

isso Eacute necessaacuterio alterar legis-laccedilatildeo nessa aacuterea

NOUTROS TEMPOS A BA-LEIA FOI UM PILAR DA NOS-SA ECONOMIA ACHA QUEHOJE COM O WHALE WA-TCHING A MOTIVAR A EXIS-TEcircNCIA DE BALEEIROS COMMAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICASEM VEZ DE ARPOtildeES CON-TRIBUINDO PARA A ECONO-

MIA DA ILHA E COM OS BO-TES BALEEIROS NA AacuteGUAPARA AS COMPETICcedilOtildeESDESPORTIVAS ESTAMOSPERANTE UMA ESPEacuteCIE DENOVA BALEACcedilAtildeO Acho que entraacutemos numa novafase da baleaccedilatildeo e soubemosperceber natildeo apenas a impor-tacircncia que a baleaccedilatildeo tevemas tambeacutem a importacircnciaque os cetaacuteceos tecircm hoje nos Accedilores Haacute um Departamento

de Oceanograa e Pescas da

Universidade dos Accedilores quesabe o que estaacute a fazer haacuteuma consciecircncia das empre-sas de whale watching para asua importacircnciahellip Natildeo eacute poracaso que algumas dessas

empresas utilizam as antigasvigias dos baleeiros e inclusi-ve as recuperaram contribuin-do assim para a preservaccedilatildeodo patrimoacutenio da baleaccedilatildeo Osegredo da observaccedilatildeo de ba-leias nos Accedilores tem a ver coma histoacuteria que haacute para contarHouve uma altura em que ca-ccedilaacutemos e haacute agora uma alturaem que sabemos preservarHaacute aqui um potencial turiacutestico

enorme Os accedilorianos adapta-ram-se muito bem a esta novarealidadez

MARLA PINHEIRO

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y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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Tempo de Baleeiros

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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Tempo de Baleeiros

antecipa-se na criaccedilatildeo de infra-

estruturas de apoio agrave baleaccedilatildeocosteira Em 1884 Samuel Da-bney pede autorizaccedilatildeo para aconstruccedilatildeo de uns ldquo turcos demadeira junto agrave costa no localdenominado ndash o Comprido -[hellip] para poderem arrear asembarcaccedilotildees empregues napesca da baleardquo(1) As baleiascaccediladas a partir do porto doComprido seriam rebocadas aremos ou com o auxiacutelio de umvapor do porto da Horta ateacuteagrave estaccedilatildeo de traioacuteis de PortoPim o ldquoTufordquo onde se proce-dia ao desmancho do cachalo-te e se derretiam os toucinhosem grandes caldeiros de ferroEsta primeira fase de baleaccedilatildeocosteira estaacute contudo deter-minada pelos poucos meios eo insucesso na maioria de ten-tativas de captura dos cacha-lotes tal como nos indicam asnotiacutecias contemporacircneas Agraves

canoas de terra uniam-se eminteracccedilatildeo ou concorrecircncia ascanoas dos navios baleeirosnorteamericanos que perma-neciam ao largo das ilhas doTriacircngulo Apesar das incer-tezas a baleaccedilatildeo no porto doComprido prevaleceu duranteas deacutecadas seguintesUma segunda fase situadaentre os anos 20 e os anos 40

do seacuteculo XX caracteriza-se

pela concentraccedilatildeo de funccedilotildeesda baleaccedilatildeo costeira no portodo Comprido Por outras pala-vras era no porto do Compridoque arreavam os botes bale-

eiros - auxiliados por lanchas

a motor a partir dos anos 20 ndash e depois de capturados oscachalotes seriam encalhadose desmanchados na zona doporto Segundo uma inspecccedilatildeofeita pela Capitania do porto daHorta em 1928 era a Socieda-de Baleeira Aurora que possuiacuteano porto do Comprido ldquoumacasa com duas caldeiras e res-pectivas fornalhas e mais ape-trechos para o derretimento dooacuteleo achando-se tudo em bomestado e regularmente instala-dordquo(2) De resto esta fase estaacute

marcada pela proliferaccedilatildeo depequenas armaccedilotildees ou socie-dades baleeiras em vaacuterios por-tos da Ilha (Ribeirinha CedrosSalatildeo Castelo Branco) cadauma com os seus apetrechose instalaccedilotildees ou em sociedadecom outras armaccedilotildees Na ilhado Faial existiam em simultacirc-neo entre cinco a oito armado-

res da ldquopesca da baleiardquo entre1920 e 1930 Durante a eacutepoca

de caccedila o porto do Comprido jaacute seria frequentado por setecanoas baleeiras algumas dasquais permaneciam durantetodo o ano Com a complexi-caccedilatildeo da actividade baleeirasatildeo tambeacutem mais notaacuteveis asintervenccedilotildees das autoridadesmariacutetimas na vida do postobaleeiro e os requerimentos

das instituiccedilotildees de poder localcomo a Junta de Freguesia doCapelo para a realizaccedilatildeo deobras de construccedilatildeo e repara-ccedilatildeo do porto

FASE INDUSTRIAL

Mas se existe periacuteodo em queo porto do Comprido se con-verte num destacado postobaleeiro em toda a sua espe-cicidade eacute durante a fase in-

dustrial da baleaccedilatildeo na ilha doFaial entre 1940 e 1957 Nosanos convulsos da 2ordf Guerra

Mundial a forte subida do pre-ccedilo do oacuteleo de cachalote incen-tivou o crescimento da activi-dade baleeira nos Accedilores e dailha do Faial em particular Asobras para o desenvolvimentodo porto do Comprido estavamno centro do debate Com aconstruccedilatildeo das Faacutebricas da

Baleia de Porto Pim (1942) eSatildeo Roque (1944) e a expec-tativa de dobrar a produccedilatildeode oacuteleo atraveacutes do processa-mento industrial do cachaloteera necessaacuterio optimizar ascondiccedilotildees do varadouro ondeestacionavam os botes bale-eiros do Faial e do Norte doPico Os projectos de constru-ccedilatildeo de 1942 e 1944 previam

a construccedilatildeo de uma muralhade defesa do porto e um caisacostaacutevel aleacutem de um nivela-mento da rampa de varagemcom mais de 110 metros Noentanto estes projectos nun-ca viriam a ser concretizados

Durante este periacuteodo a rampade varagem chegou a ter 18botes baleeiros varados e 7lanchas a motor amarradas aolargo condiccedilotildees que exigiamo envolvimento de no miacutenimo200 indiviacuteduos na actividade

baleeira As armaccedilotildees bale-eiras em menor nuacutemero masmelhor organizadas recebiaminstruccedilotildees relativas agrave saiacuteda co-ordenada dos botes baleeiros

para o mar e o trabalho colec-tivo dos vigias pertencentes adiferentes armaccedilotildees baleeirasNa retaguarda da actividadeos armazeacutens da ReisampMartinsna Horta prestavam todo o tipode fornecimentos agraves embarca-ccedilotildees estacionadas no Capelolinha de baleia tintas oacuteleo delinhaccedila lanccedilas e arpotildees entreoutros eram enviados regular-

FONTE COLECCcedilAtildeO DO MUSEU DO PICO

PORTO DO COMPRIDO ANTES DA SAIacuteDA OS BOTES ERAM CUIDADOSAMENTEINSPECCIONADOS

BALEEIROS NO CAPELO

A tradiccedilatildeo oral recorda ldquoo Compridordquo como um lugar de alegriaonde os baleeiros celebravam a vida de Veratildeo em comunidadeEnquanto o foguete natildeo estalava danccedilava-se a Chamarritafestejava-se o Satildeo Pedro ou assistia-se agrave festa de Santana Ospicarotos protagonistas da migraccedilatildeo sazonal dispuseram demeios para transportar consigo as mobiacutelias os animais domeacutes-

ticos as famiacutelias inteiras Agrave noite tambeacutem se pescava de diasalgava-se o peixe Balear no Comprido transformava o quoti-diano dos homens que por norma nunca seriam baleeiros atempo inteiro

Fonte Foto Fotojovial

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Tempo de Baleeiros

CACcedilA Agrave BALEIA NO PORTO DO COMPRIDO

A partir de determinada eacutepoca do ano os botes baleeiros deixavam de ldquoarrearrdquo na cidade da Horta e concentravam-se nos postosbaleeiros do Salatildeo e do porto do Comprido A actividade no porto do Comprido era sobretudo inconstante podia haver 4 a 5 diasconsecutivos de caccedila mas tambeacutem uma semana inteira agrave espera que os vigias dessem o sinal de ldquoarreadardquo

mente para o posto baleeiro Aaldeia dos baleeiros era manti-da segundo uma organizaccedilatildeofamiliar e com o apoio de co-merciantes locais da freguesiado Capelo que asseguravamo seu aprovisionamento Sem

duacutevida foram nos derradeirosanos da baleaccedilatildeo no Compridoque mais se caccedilou agrave baleia ede forma mais ecaz com uma

forte concentraccedilatildeo nos mesesde Veratildeo (cfr Graacuteco)

Em Setembro de 1957 quan-do se iniciaram as erupccedilotildees noVulcatildeo dos Capelinhos o portodo Comprido foi imediatamenteabandonado Em poucos me-ses todos os anos de histoacuteria

deste posto baleeiro seriamabruptamente consumidos pe-las cinzas deixando-nos umapaisagem desolada escureci-da pelo Vulcatildeo z

Notas

(1) Fundo da Capitania do Porto da

Horta Arquivo Histoacuterico da Marinha

(2) Idem

OS HOMENS DA BALEIA

Fonte Foto Maacuterio Ruspoli Les Hommes de la Baleine (1956)

No Veratildeo de 1956 o italiano Maacuterio Ruspoli propocircs-se reali-zar um documentaacuterio sobre os uacuteltimos caccediladores de baleia dotempo de Moby Dick Depois de conseguir um empreacutestimo de

2 milhotildees de francos concedido pelo milionaacuterio grego AristoteOnassis M Ruspoli reuniu uma talentosa equipa composta porJacques Soulaire e Gilbert Rouget e instalou-se na casa dos fa-roleiros dos Capelinhos Durante dois meses a equipa recolheuas imagens e os sons uacutenicos da actividade baleeira no porto doComprido Les hommes de la Baleine eacute um precioso documentorealista e liacuterico sobre a baleaccedilatildeo na ilha do Faial

BALEEIROS NA AMEacuteRICACom a erupccedilatildeo do vulcatildeo dosCapelinhos e a abertura dasfronteiras norte americanasmuitos jovens baleeiros se-

guiram o rumo da emigraccedilatildeoconservando a memoacuteria dostempos aacuteureos e diceis da ba-leaccedilatildeo

Fonte foto Colecccedilatildeo Privada de Manuela Rosa

FRANCISCO HENRIQUESOMA

FONTE COLECCcedilAtildeO POSTAL RUSPOLI amp SOULAIRE

TRANCAR JOSEacute RAFAEL PREPARA983085SE PARA ARPOAR UM CACHALOTE

Fonte Colecccedilatildeo Documental ReisampMartins Lda ndash Faacutebrica da Baleia de Porto Pim

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Tempo de Baleeiros

Na deacutecada de trinta do seacute-culo XX durante o auge dainduacutestria baleeira nos Accediloresforam constituiacutedas vaacuterias em-presas nas diversas ilhas paraa exploraccedilatildeo e comercializaccedilatildeodos produtos obtidos a partir

dos cachalotes No Faial foramconstituiacutedas trecircs sociedadesa Reis amp Martins Lda arma-ccedilatildeo baleeira e exportadoresde oacuteleo a Companhia Bale-eira Faialense Lda armaccedilatildeobaleeira e a Sociedade Indus-trial Mariacutetima Accediloriana Lda(SIMAL) ligada agrave induacutestriatransformadora A Reis amp Mar-tins Lda constituiacuteda em 1945adquiriu um armazeacutem na RuaNova na cidade da Horta queservia como casa de botes eocina de carpintaria marce-naria tanoaria ferraria e mecacirc-nica ofiacutecios essenciais para aconstruccedilatildeo e manutenccedilatildeo dasembarcaccedilotildees baleeiras (lan-chas a motor e botes) e res-pectiva palamenta Depois dom da actividade baleeira nos

Accedilores no iniacutecio dos anos 80do seacuteculo XX o armazeacutem daRua Nova e grande parte do

seu espoacutelio foram parcialmen-te mantidos ateacute agrave actualidadeembora seja notoacuteria a degrada-ccedilatildeo tanto do imoacutevel como demuitos dos objectos e equipa-mentos aiacute armazenadosPerante o risco seacuterio de esteespoacutelio se perder e dada a im-portacircncia deste espoacutelio para oestudo da baleaccedilatildeo no Faial enos Accedilores considerou-se serurgente efectuar o seu resgate

levantamento e estudo destepatrimoacutenio garantindo assima sua preservaccedilatildeo Assim osactuais proprietaacuterios e herdei-ros da Reis amp Martins Lda

estabeleceram uma parceriacom o Observatoacuterio do Mar dos Accedilores (OMA) com o objectivode salvaguardar o patrimoacutenioexistente e integrar parte deleno museu da Faacutebrica da Baleiade Porto Pim

O projecto ldquoLevantamento dePatrimoacutenio Baleeiro e Dinami-zaccedilatildeo do Espaccedilo Expositivo

da Faacutebrica da Baleia de PortoPimrdquo iniciou-se em 2008 e em

2009 passou a ser co-nancia-do pela Direcccedilatildeo Regional daCultura (DRaC) que o consi-derou de ldquointeresse relevantepara a Regiatildeo e capaz de con-tribuir para o desenvolvimentoda poliacutetica cultural dos AccediloresrdquoEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinarias

equipamentos embarcaccedilotildeespalamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)

o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobrea induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiais

moacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Partedesse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo na

sua exposiccedilatildeo permanenteEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinariasequipamentos embarcaccedilotildees

palamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobre

a induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiaismoacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Parte

desse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo nasua exposiccedilatildeo permanente

y

PATRIMOacuteNIO BALEEIRO DA FASEINDUSTRIAL DA BALEACcedilAtildeO NO

FAIAL - RESGATE INVENTARIACcedilAtildeO ECONSERVACcedilAtildeO

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

RUA NOVA INTERIOR DO ESCRITOacuteRIO DOS ARMAZEacuteNS DA REIS amp MARTINS LDA

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Tempo de Baleeiros

INVENTAacuteRIO DOESPOacuteLIO REIS EMARTINS LDA

Os objectos encontrados foramanalisados e descritos quantoagraves caracteriacutesticas funcionaisde origem e agraves transforma-ccedilotildees eventuais que possamter sofrido ao longo do tempoSe alguns objectos tecircm umafunccedilatildeo oacutebvia (pe botes e suapalamenta arpotildees etc) outroshaacute cuja sua utilidade eacute difiacutecil dedescodicar A identicaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo funcional dos ob- jectos encontrados foi consubs-tanciada por fontes documen-tais quando existentes eoupor depoimentos orais fonte de

informaccedilatildeo uacutenica e insubstituiacute-vel para a compreensatildeo abran-gente da actividade industrialem estudo A identicaccedilatildeo de cada bem

foi registada em cha proacutepria

onde os elementos considera-dos adequados para o seu re-conhecimento foram descritosem detalhe A cha inclui uma fotograa do

objecto o seu nuacutemero de in-

ventaacuterio a sua funccedilatildeo originala categoria a que pertence oseu estado de conservaccedilatildeo adata do inventaacuterio e a referecircn-cia das fotograas existentes

desse objectoOs bens inventariados foramclassicados em categorias

consoante o tipo de colecccedilatildeo esuas caracteriacutesticas (tipologia) Assim optou-se por classicaacute--los em classes segundo asua funccedilatildeo original e em sub-classes que correspondemao local ou agrave infra-estrutura aque pertenciam (ex Selhandashde--linha Classe Palamenta Sub-classe Bote Baleeiro) A inventariaccedilatildeo individual de

cada peccedila permitiu a criaccedilatildeode um inventaacuterio fotograacuteco e

de uma lista geral de inventaacute-rio onde constam todas as 468peccedilas resgatadas ateacute ao mo-mento O passo seguinte con-sistiu na conservaccedilatildeo e restau-ro dos objectos classicados

As intervenccedilotildees foram criterio-samente efectuadas para natildeocomprometerem a constituiccedilatildeooriginal das peccedilas Aspiraccedilatildeo lavagem restaurocom oacuteleo e tratamento contra

pragas foram as operaccedilotildeesadoptadas para as peccedilas demadeira As peccedilas de metal a maioriacom niacuteveis de oxidaccedilatildeo con-sideraacuteveis foram objecto detratamentos especiacutecos adap-tados a cada casoz

FONTE OMA

SALVAGUARDA CLASSIFICACcedilAtildeO DAS 468 PECcedilAS INVENTARIADAS ATEacute AO MOMENTO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

OBJECTOS983085 EXEMPLARES DO ESPOacuteLIO RESGATADO DOS ARMAZEacuteNS REIS E MARTINS

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Tempo de Baleeiros

y Em 2010 o OMA estabe-leceu um contrato de coope-raccedilatildeo teacutecnica com a DirecccedilatildeoRegional da Cultura (DRaC)com o objectivo de inventariaro patrimoacutenio baleeiro imoacutevel detodo o arquipeacutelago A execuccedilatildeo

do projeto foi assegurada poruma equipa multidisciplinar naaacuterea da investigaccedilatildeo histoacuterica

arquitectura e fotograa pro-ssional A recolha preacutevia da

informaccedilatildeo foi o ponto de par-tida para um trabalho de cam-po que decorreu entre os me-ses de Junho e Dezembro de2011 Foram inventariados os

antigos complexos baleeirospostos baleeiros e varadourosbaleeiros rampas de varagemdas embarcaccedilotildees rampas dealagem de cachalotes casas

de botes traioacuteis faacutebricas deprocessamento de cachalotese plataformas de desmancho

vigias residecircncias sazonaiscarpintarias ocinas arma-zeacutens entre outrosNa ilha do Faial foram inven-tariados 17 imoacuteveis (ver Fig5) identicados no Complexo

Baleeiro das Anguacutestias (localonde as armaccedilotildees baleeirastinham a sua sede com ar-mazeacutens faacutebricas de proces-samento de cachalotescasade caldeiros e estacionavam

as embarcaccedilotildees prontas parauma raacutepida arriada agrave baleia)nos Postos Baleeiros do Porto

do Comprido do Salatildeo (estesdois como local de estaciona-mento sazonal das armaccedilotildeesbaleeiras do Faial e do Pico) edo Varadouro Identicaram-se

ainda apesar de menos repre-sentativos na actividade baleirada Ilha do Faial os Varadourosdo Cedros Castelo Branco eRibeirinha todos com rampade varagem para estaciona-mento de botes baleeiros z

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIRO IMOacuteVEL DO FAIAL

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIO BALEEIRO IMOacuteVEL DOS ACcedilORES A ILHA DO FAIAL

MAacuteRCIA DUTRAOMA

COMPLEXTO BALEEIRO DAS ANGUacuteSTIAS1 983085 FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

2983085 ARMAZEacuteM DA REIS amp MARTINS LDA3 983085 CASA DE CALDEIROS DE PORTO PIM983080FAacuteBRICA VELHA9830814 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTOPOSTO BALEEIRO DO PORTO DOCOMPRIDO5 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO DO

COMPRIDO6 983085 VIGIA DO CAPELO

7 983085 VIGIA DO COSTADO DA NAU8 983085 RESIDEcircNCIAS SAZONAIS DO PORTODO COMPRIDO9 983085 CASA DOS BOTES DO PORTO DOCOMPRIDOPOSTO BALEEIRO DO SALAtildeO10 983085 RAMPA DE VARAGEM DO SALAtildeO

11 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DA ARMA983085CcedilOtildeES DO FAIAL

12 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DAS ARMA983085CcedilOtildeES DO PICO13 983085 VIGIA DOS CEDROS14 983085 POSTO BALEEIRO DO VARADOURO15 983085 VIGIA DO ALTO DAS CONCHEIRASVARADOURO BALEEIRO DOS CEDROS16 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO

DA EIRAVARADOURO BALEEIRO DA RIBEIRINHA

17 983085 RAMPA DE VARAGEM DA RIBEIRINHAVARADOURO BALEEIRO DE CASTELOBRANCO18 983085 RAMPA DE VARAGEM DE CASTELOBRANCO

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Tempo de Baleeiros

y Em 1939 a Sociedade In-dustrial Mariacutetima Accediloriana Lda ndash a SIMAL foi fundada na Hor-ta Esta sociedade comercialpor quotas de responsabilidadelimitada tinha como objectivosa ldquoexploraccedilatildeo da induacutestria doaproveitamento integral da ba-

leia e outras espeacutecies marinhase comeacutercio dos respectivosprodutosrdquo A SIMAL era cons-tituiacuteda por 25 soacutecios sendo os

soacutecios maioritaacuterios o industriallisboeta Francisco Marcelinodos Reis e a empresa localCosta amp Martins Lda Desta-

cam-se ainda quatro compa-nhias baleeiras da Ribeira doMeio (Pico) que por razotildeesfamiliares e por ter sido nega-

da a construccedilatildeo de uma faacutebri-ca nas Lajes se associaram agraveSIMAL A faacutebrica comeccedilou a ser cons-truiacuteda em 1941 inicialmenteno areal da Praia de Porto Pimmas devido a um forte tem-poral ocorrido em Setembrodesse mesmo ano foi comple-tamente destruiacuteda e abandona-do o projecto Esta intempeacuterielevou a que os proprietaacuterios

decidissem construir a faacutebricano local onde hoje a conhe-cemos na encosta do Monteda Guia A faacutebrica comeccedilou alaborar em fase experimentalem Agosto de 1942 Durante

os seus 30 anos de laboraccedilatildeoprocessaram-se 1940 cachalo-tes que produziram 44 mil bi-dotildees de oacuteleoEm 1974 acompanhando odecliacutenio da induacutestria baleeira aniacutevel mundial a faacutebrica fechouas suas portas Em 1980 oGoverno Regional dos Accediloresadquiriu todo o complexo fabrilcom o objectivo de ali instalaro Departamento de Oceano-

graa e Pescas e uma Escola

de Pesca desiacutegnio esse quenunca se chegou a realizarEm 1984 a antiga faacutebrica foiclassicada como Imoacutevel de

Interesse Puacuteblico (IIP) Depoisde quase duas deacutecadas de de-gradaccedilatildeo do edifiacutecio e da suamaquinaria sem duacutevida atenu-ados pela acccedilatildeo persistente deManuel da Rosa Correia co-nhecido como Patratildeo Manuele de Manuel Medeiros conhe-cido com Sr Amaral (antigo en-carregado da faacutebrica) a faacutebricafoi nalmente alvo de obras

de restauro e de beneciaccedilatildeo Apelidada de Centro do Marfoi inaugurada em 2000 por

ocasiatildeo da 2ordf ediccedilatildeo da Expo-Pescas com o objectivo de setornar num espaccedilo de divulga-ccedilatildeo cultural e cientiacuteca Desde

2004 que a Faacutebrica eacute a sede

do OMA que desde entatildeo temvindo a dinamizar esse espaccediloEm 2010 a Faacutebrica da Baleia

de Porto Pim como hoje eacute co-nhecida foi inserida no Com-plexo do Monte da Guia da Ilhado Faial z

A FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

VISITA GUIADA FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM 983085 DESCRICcedilAtildeO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE OMA

INTERIOR A FAacuteBRICA Eacute UM MUSEU PERMANENTE

CASA DAS AUTOCLAVES COMSEIS AUTOCLAVES CADA UMACOM CAPACIDADE DE 11 M

CASA DAS FARINHAS COM TODAA MAQUINARIA ORIGINAL DA RE983085

CONHECIDA MARCA NORUGUESAMYRENS VERKSTED E OS MOTO983085

RES DA MARCA ALEMAtilde MOTORENFABRIK DEUTZ AG

EDIFICIO ANEXO ONDE FUNCIONAVA A ANTIGASERRALHARIA E OS ESCRITOacuteRIOS DESTACAM983085SEOS ALTOS TANQUES SUBTERRAcircNEOS PARA AR983085MAZENAMENTO DE OacuteLEO ACTUAL ldquoSALA DOS

OacuteLEOSrdquo 983080SALA DE EXPOSICcedilOtildeES E REUNIOtildeES983081

ANTIGAS CASAS DE BANHOACTUAL BAR DA PRAIA E WCS DE

APOIO Agrave FAacuteBRICA DA BALEIA

ANTIGO ARMAZEacuteM DAS FARI983085NHAS COM QUATRO TANQUESSUBTERRAcircNEOS PARA ARMAZE983085NAMENTO DO OacuteLEO ACTUALLOJA DA FAacuteBRICA E CIM

PLATAFORMA DE DESMANCHODESTAQCA983085SE A CHAMINEacute DAS CALDEI983085

RAS A VAPOR

CASA DAS CALDEIRAS A VAPOR IMPO983085NENTES CALDEIRAS FABRICADAS NA CI983085DADE DO PORTO EM PRIMEIRO PLANOVEMOS A CALDEIRA QUE FOI INSTALADAEM 1950

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y A inauguraccedilatildeo da Casados Botes no Capelo marcoumais um passo no percursoque comeccedilou a ser percorridohaacute mais de dez anos quandopor altura das comemoraccedilotildeesdos 400 anos daquela fregue-sia se decidiu iniciar um pro-cesso de recuperaccedilatildeo do patri-moacutenio baleeiro no Faial entatildeodenominado ldquorecuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeira da ilha doFaialrdquoHoje 25 anos depois de ter

sido caccedilado o uacuteltimo cachaloteem aacuteguas accedilorianas o patri-moacutenio da baleaccedilatildeo estaacute bemvivo sendo essa vivacidade noFaial espelhada pela recupe-

raccedilatildeo dos botes baleeiros dalancha Walquiacuteria da Faacutebricada Baleia e agora da Casados BotesRecuperar os botes baleeirosnatildeo eacute no entanto suciente

para garantir que a sua me-moacuteria continua viva Os botespertencem ao mar e por issofoi com naturalidade que estemovimento de revitalizaccedilatildeo dopatrimoacutenio acabou por passar

para a vertente desportiva coma criaccedilatildeo da secccedilatildeo de botesbaleeiros do Clube Naval daHorta que movimenta muitos

desportistasNa hora de lembrar todo estepercurso de recuperaccedilatildeo dopatrimoacutenio baleeiro bem comode reectir sobre o que haacute a

fazer numa altura em esseprocesso estaacute praticamenteconsolidado Tribuna das Ilhasconversou com Joatildeo Garciaque era em 2000 membro do

elenco da Junta de Freguesiado Capelo responsaacutevel pelodesencadear deste projectoe que em 2005 o levou para o

Clube Naval da Horta quandoassumiu a direcccedilatildeo da agre-miaccedilatildeo naacuteutica faialense Alertando para a importacircnciada manutenccedilatildeo deste patrimoacute-

nio agora que todo ele estaacuterestaurado Joatildeo Garcia apelaa um esforccedilo conjunto para aconsolidaccedilatildeo de um campeo-nato regional de botes baleei-ros e defende a alteraccedilatildeo dalegislaccedilatildeo para que os clubesnavais possam retirar rentabili-dade econoacutemica dos passeiosagrave vela em botes baleeiros demodo a que estes possam sus-tentar a sua proacutepria manuten-

ccedilatildeo

O PROCESSO DE RECUPE-RACcedilAtildeO DE BOTES EM VAacute-

RIAS FREGUESIAS COM HIS-TOacuteRIA BALEEIRA NO FAIALFOI DESENCADEADO QUAN-DO O JOAtildeO ERA PRESIDEN-TE DA JUNTA DE FREGUESIADO CAPELO E PREPARAVAAS COMEMORACcedilOtildeES DOSSEUS 400 ANOS O QUE EacuteQUE MOTIVOU A QUE O PA-TRIMOacuteNIO BALEEIRO FOSSEO MARCO DESTA EFEMEacuteRI-DE A importacircncia que tinha essaefemeacuteride levou a que se -zesse um levantamento his-toacuterico dos quatro seacuteculos dafreguesia A baleaccedilatildeo teve umpapel importante nessa histoacuteriae desde logo decidimos fazer

uma regata de botes que li-gasse o Porto do Comprido aodo Varadouro tendo em contaa ligaccedilatildeo histoacuterica que os doistiveram pela baleaccedilatildeo A partirdaqui somos despertados paraalgo que tem grande valor sen-timental e histoacuterico e nasce ummovimento de recuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeiraO Capelo teve uma forte im-plementaccedilatildeo da baleaccedilatildeo era

uma coisa que estava enraiza-da no povo e que era impor-tante salvaguardar Primeirohouve a preocupaccedilatildeo de re-

gistar as memoacuterias que haviadessa eacutepoca registos feitospor pessoas do Capelo nome-adamente pelo Joseacute Franciscoda Faialentejo que registou ostestemunhos de alguns baleei-ros Depois houve o movimen-to de recuperaccedilatildeo dos botesO Pico tinha jaacute uma seacuterie debotes recuperados e noacutes qui-semos ir um pouco mais lon-ge e abranger natildeo apenas asfreguesias com tradiccedilatildeo nabaleaccedilatildeo como Salatildeo Cas-telo Branco e Anguacutestias mastambeacutem outras onde havia re-crutamento de baleeiros comoeacute o caso da Feteira O projectocontemplava a recuperaccedilatildeo da

Casa do Bote Baleeiro que foirecentemente inaugurada evisa ainda publicar a histoacuteria dabaleaccedilatildeo na ilha do Faial

FOI FAacuteCIL PARA A JUNTA DEFREGUESIA DO CAPELO MO-TIVAR AS RESTANTES FRE-GUESIAS A EMBARCAREMNESTE PROJECTOPor acccedilatildeo do Clube Navalmais concretamente pelo entatildeo

presidente Joseacute Decq Motatemos conhecimento que naCalheta do Nesquim existe umbote disponiacutevel cheio de his-

ENTREVISTA A JOAtildeO PEDRO GARCIA

ldquoO DESAFIO MAIS IMPORTANTE Eacute

A PRESERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROrdquo

FONTE ROBERT CLARKE DISCOVERY REPORTS 1954

NO MAR O MOMENTO EM QUE SE INICIA A PERSEGUICcedilAtildeO AO CACHALOTE

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Tempo de Baleeiros

toacuteria e que eacute inclusive citadono Mau Tempo no Canal deVitorino Nemeacutesio o bote SatildeoJoseacute Sabendo que havia aquium interesse ele falou-nos daexistecircncia desse bote que es-tava sob a alccedilada da Comissatildeo

do Patrimoacutenio Baleeiro Inicia--se aiacute a sua recuperaccedilatildeo e umpasso importante para aquiloque queriacuteamos fazer A recu-peraccedilatildeo de um bote para a fre-guesia do Capelo fez despertaras outras freguesias para esteprojecto Nesta altura ele deixade ser apenas palavras e pe-quenos escritos para comeccedilara ter uma maior dimensatildeoEm 2000 temos a primeira re-

gata com botes do Pico e ape-nas com o Claudina do Faial43 anos depois do uacuteltimo botebaleeiro ter ldquoarriadordquo no Com-prido Em 2003 aparece o Satildeo

Joseacute outro bote recuperadopara o Faialhellip As pessoas co-meccedilam a perceber que este eacuteum projecto com vidaNesta altura comeccedila tambeacutema dinamizar-se a regata inter-nacional de botes baleeirosO movimento de geminaccedilatildeoentre a Horta e New Bedfordestava estagnado e a partirdaiacute essa ligaccedilatildeo fortalece-seFoi precisamente a baleaccedilatildeoque criou o elo entre as duascidades agora fortalecido com

a recuperaccedilatildeo do patrimoacuteniobaleeiro E curiosamente eacutena primeira viagem que sefaz aos Estados Unidos que opresidente da Cacircmara Munici-pal da Horta Joatildeo Castro ca

desperto para a importacircncia dese recuperar a Walquiacuteria outroprocesso que estava estagna-do e ganha nessa altura alentoHaacute assim uma bola de neveque vai crescendo uma pai-xatildeo que vai aumentando e um

despertar da consciecircncia paraa recuperaccedilatildeo da memoacuteria quefaz com que se torne tudo maisfaacutecilO Governo Regional atraveacutesda Comissatildeo do PatrimoacutenioBaleeiro dos Accedilores deu umapoio incondicional a este pro- jecto Este eacute um desiacutegnio natildeode um homem soacute mas de vaacute-rias pessoas e instituiccedilotildees

COMO Eacute QUE O OBJECTIVO

DA PRESERVACcedilAtildeO DOS BO-TES BALEEIROS Eacute TRANS-POSTO PARA O CLUBE NA-VAL DA HORTA (CNH) COMO INTUITO DE CRIAR UMANOVA VERTENTE DESPORTI-VA NA ILHAQuando me foi lanccedilado o de-sao de assumir a presidecircncia

do CNH os botes baleeirosassumem uma importacircncia nomeu projecto para o clube Natildeoera possiacutevel continuar a gerir

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

BAIacuteA DA FETEIRA DURANTE A EacutePOCA DO VERAtildeO A BAIA Eacute ENGALANADA PELAS VELAS DOS BOTES BALEEIROS

FONTE SUSANA GARCIA

PATRIMOacuteNIOJORGE FONTES JOAtildeO GARCIA E JOAtildeO TAVARES TREcircS IMPULSIONA DORES DA PRESERVACcedilAtildeO DO PATRI983085MOacuteNIO BALEEIRO DA ILHA DO FAIAL

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Tempo de Baleeiros

as tripulaccedilotildees e a actividadedesportiva dos botes atraveacutesdas juntas de freguesia porqueelas natildeo tecircm essa vocaccedilatildeoEra inevitaacutevel que houvesseuma instituiccedilatildeo como o CNH ndash soacutelida agregadora sem ri-

validades ndash que pudesse darcontinuidade ao processo Nes-se sentido fundaacutemos a secccedilatildeode Botes Baleeiros da ilha doFaial que agrega com igual au-tonomia e legitimidade todos osparticipantes nesta actividadeNeste ponto tenho de referiro Carlos Fontes que deu umimportante contributo a todo oprocesso pela sua dedicaccedilatildeoe organizaccedilatildeo Outro elemen-

to que emprestou um valiosocontributo foi o Nuno Limasobretudo na recuperaccedilatildeo dalancha Walkiria a rainha dosmares dos Accedilores Houve ummomento de explosatildeo com

mais de cem participantes tan-to masculinos como femininoscom miuacutedos a virem das fre-guesias para aprender velacom cursos para ociaishellip Esta

vitalidade dos botes manteve--se ateacute 2010 Mantenho alguma

preocupaccedilatildeo quanto a algumassituaccedilotildees pontuais com receiode que as coisas se desagre-guem e as pessoas natildeo perce-bam os anos de trabalho queestatildeo aqui em causa e os seacutecu-los de baleaccedilatildeo que estatildeo pordetraacutes deste patrimoacutenio Eacute im-portante que haja consciecircncianatildeo apenas de todo o trabalhoque foi feito mas tambeacutem docusto nanceiro deste projec-

to Grande parte desse nan-ciamento foi assegurado pelogoverno regional que contoucom o apoio do E-GRANT`S ADirecccedilatildeo Regional da Culturao CNH e os clubes navais do

Pico apresentaram uma candi-datura para a recuperaccedilatildeo dosbotes baleeiros que foi aceiteSe natildeo fosse esse apoio hojenatildeo poderiacuteamos dizer que pra-ticamente todo o patrimoacuteniodos Accedilores botes e lanchas

estaacute recuperado Estamos afalar de 40 botes Em 10 anosno Faial recuperaram-se setebotes e uma lancha Se virmosque cada bote tem um custo derecuperaccedilatildeo de cerca de 35 mileuros percebemos que esse foium esforccedilo muito signicativo

A associaccedilatildeo dos botes bale-eiros da ilha do Faial ao CNHveio tambeacutem dar uma dimen-satildeo de ilha ao Clube e criou-se

uma dinacircmica desportiva im-portante de que o Faial neces-sitavaEsta vitalidade em torno dacultura e patrimoacutenio baleeirofaz despertar para a necessi-

dade deste ser inventariadoe salvaguardado Em 2008 o

Observatoacuterio do Mar dos Accedilo-res (OMA) entidade gestorada Faacutebrica da Baleia de PortoPim avanccedila para a inventaria-ccedilatildeo do patrimoacutenio imoacutevel da

baleaccedilatildeo primeiro agrave escala dailha do Faial e depois agrave escalados Accedilores

WALKIacuteRIA ldquoA RAINHA DOS MARES DOS ACcedilORESrdquo

ldquoNasceu para reinar nunca foi destronada e viveraacute esperamos por muitos anos assim o desejamos Somos uma grande regiatildeomariacutetima que quer preservar a memoacuteria coletiva das nossas teacutecnicas e tradiccedilotildees da nossa vivecircncia multissecular com o mar quenos rodeia nos separa e nos unerdquo A lancha Walkiria foi mandada construir pelos proprietaacuterios da Armaccedilatildeo Baleeira Reis amp Mendonccedila o industrial continental Francis-co Marcelino dos Reis e o Professor Rui de Mendonccedila residente na Vila das Velas amante de muacutesica Wagneriano que por talrazatildeo deu aos seus lhos os nomes de Wagner Weber

Walkyria e Isolda A construccedilatildeo foi realizada na ilha de S Jorge em 1937pelas matildeos de Joseacute e Manuel Gambatildeo irmatildeos e carpin-teiros habilidosos a partir de projeto de Manuel InaacutecioNunes natural do Pico mas com gabinete de projetos eestaleiro em Sacramento Califoacuternia Estados Unidos da Ameacuterica - ldquoQuando o antigo paquete a vapor ldquoCarvalho Arauacutejordquo

largava do porto das Velas com rumo ao Cais do Picoonde escalava depois de ter atingido a velocidade ple-na de cruzeiro a Walkyria rodeava o navio em marchapassando pela proa e pela popa Nenhuma outra lanchaconseguiu tal proezardquoEfetivamente a lancha estava equipada com um motor agasolina de 143 HP que permitindo atingir uma velocida-de de ponta elevada 18 noacutes tambeacutem acarretava consu-mos de combustiacutevel signicativos facto que levou agrave sua

venda em 1938 por ser economicamente pouco interes-sante para o trabalho que desenvolvia nomeadamente no apoio agrave caccedila agrave baleia Assim a lancha eacute transferida para a ilha do Faial por aquisiccedilatildeo do Sr Francisco Reis cando afeta ao transporte local de passagei-

ro Mais tarde eacute adquirida pela rma ldquoReis amp Martinsrdquo cando afeta agrave atividade baleeira Em 1955 a quando da instalaccedilatildeo de umaparelho de radiotelefonia foi-lhe atribuiacuteda a matriacutecula nal H-21-B

Em 2005 no acircmbito do projeto de ldquorecuperaccedilatildeo da memoacuteria baleeira da ilha do Faialrdquo depois de anos de repouso nos armazeacutens

da Reis e Martins a emblemaacutetica embarcaccedilatildeo volta a ganhar vida pelas matildeos do mestre Manuel Monteiro da Piedade do Pico en-trando de novo no porto da Horta a 12 de agosto desse mesmo ano totalmente recuperada

EEA Grants Mecanismo Finan-

ceiro Norueguecircs para apoio agrave

coesatildeo social e econoacutemica den-

tro da Uniatildeo Europeia Islacircndia

Liechtenstein e Noruega que

complementou o esforccedilo nan-

ceiro do Governo Regional para

a reabilitaccedilatildeo do patrimoacutenio bale-

eiro dos Accedilores Neste contexto

foram recuperados 40 botes e 10

lanchas Anualmente eacute atribuiacutedo

pelo Governo Regional um sub-

siacutedio para manutenccedilatildeo destas

embarcaccedilotildees

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Tempo de Baleeiros

AINDA BEM QUE REFERE AINVENTARIACcedilAtildeO DO PATRI-MOacuteNIO IMOacuteVEL POIS DEFACTO O PATRIMOacuteNIO DABALEACcedilAtildeO NAtildeO SE RESU-ME AOS BOTEShellip DEPOIS DAREVITALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRI-CA DA BALEIA ESTE PRO-CESSO DE RECUPERACcedilAtildeODO PATRIMOacuteNIO FICOU AIN-DA MAIS COMPLETO COMA INAUGURACcedilAtildeO DA CASADOS BOTES NO CAPELO HAacuteMUITO AGUARDADA FALE--NOS DESSE PROJECTO

Em boa hora a Junta de Fre-guesia do Capelo acolheu estainiciativa incluiacuteda no projectoldquoA recuperaccedilatildeo da memoacuteriabaleeirardquo Esta era uma casadas armaccedilotildees baleeiras deSatildeo Roque do Pico A sua re-cuperaccedilatildeo natildeo eacute mais do quedevolver ao porto do Compri-do a sua histoacuteria A histoacuteria doCapelo natildeo comeccedila em 1957com o Vulcatildeo dos Capelinhos

Antes disso o porto do Com-prido jaacute tinha dois seacuteculos dehistoacuteria tendo sido uma dasprincipais estaccedilotildees baleeirasdos Accedilores Essa memoacuteria

tinha de ser preservada porrespeito aos nossos antepas-sados Essa preservaccedilatildeo tam-beacutem se faz atraveacutes do circuitopedestre do baleeiro que tam-beacutem foi inaugurado agora Esteleva-nos ao conjunto de vigiasque existe no Vulcatildeo dos Ca-pelinhos

Um museu natildeo eacute uma coisaque estaacute dentro de casa maseacute tudo o que nos rodeia Te-mos de contar de forma sim-ples a todos os que nos visi-tam que esta eacute uma ilha comhistoacuteria

HAacute TAMBEacuteM A PREOCUPA-CcedilAtildeO DE REUNIR EM LIVRO AINFORMACcedilAtildeO SOBRE A BA-LEACcedilAtildeO QUE TEM VINDO ASER RECOLHIDAhellipNos uacuteltimos anos o Obser-vatoacuterio do Mar dos Accedilores(OMA) tem feito um excelentetrabalho o que se traduz numgrande avanccedilo na pesquisaCom aquilo que jaacute tinha sido

feito lanccedilaacutemos um desao aoFilipe Porteiro presidente doOMA para que se documen-tasse por escrito a memoacuteriados baleeiros Haacute um registode memoacuterias de alguns bale-eiros do Capelo um espoacuteliofotograacuteco que foi e continua

a ser recolhido um conjuntode informaccedilotildees tanto daquicomo de New Bedford no queao tempo da baleaccedilatildeo diz res-peitohellip Portanto temos infor-maccedilatildeo suciente para fechar

nos proacuteximos dois anos estarecuperaccedilatildeo da memoacuteria comum livro que permita dar aconhecer a histoacuteria da balea-ccedilatildeo no Faial Haacute um conjunto

de pessoas disponiacuteveis paracolaborar neste processo Naminha opiniatildeo esta obra deveter ediccedilatildeo bilingue tendo emconta o interesse que tem paraos Estados Unidos

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE FICA A FALTAR FAZERPELA RECUPERACcedilAtildeO E PRE-SERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROTenho de deixar uma mensa-gem importante agraves pessoasque hoje gerem este proces-so procurem os consensosEacute muito importante termosum consenso regional relati-vamente aos botes baleeiros

Eacute importante que se volte aosmodelos adoptados em 2005

relativamente agraves regatas Natildeopodemos ter regatas em to-das as freguesias dos AccediloresTemos de ter as cinco regatastradicionalmente mais antigasnas quais se inclui a Semanado Mar e quatro regatas noPico e fazer as outras trecircs deforma rotativa para voltarmosa ter um campeonato regionalde botes baleeiros em condi-ccedilotildees Faial e Pico tecircm de en-tender-se nesta mateacuteria Estamensagem tem de ser passa-da para as instituiccedilotildees para osclubes para as juntas de fre-guesia para as pessoashellip

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA UM ASPECTO DE UMA REGATA DENTRO DA BAIA DA HORTA

FONTE OMA

EMBARCACcedilAtildeO OS ANTIGOS BOTES TORNARAM983085SE TAMBEacuteM NUMA PECcedilAMUSEOLOacuteGICA

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Tempo de Baleeiros

Eacute tambeacutem importante que asecccedilatildeo de botes baleeiros doFaial continue A rivalidade en-tre freguesias natildeo traz nada debom O CNH tem obrigaccedilatildeo deconsolidar a secccedilatildeo custe oque custar

Aleacutem disso temos de ver queo patrimoacutenio baleeiro que estaacuteentregue agraves Juntas de Fregue-sia natildeo eacute das autarquias Per-tence agrave Governo Regional dos Acores ou seja agrave Regiatildeo e asua preservaccedilatildeo eacute uma obri-gaccedilatildeo daqueles a quem foientregue Eacute preciso ter muitocuidado nessa preservaccedilatildeosenatildeo dentro de alguns anosestamos natildeo a fazer manuten-

ccedilatildeo mas praticamente a fazernovos botes Os responsaacuteveisde cada uma das instituiccedilotildeestecircm de ter consciecircncia do pa-trimoacutenio que tecircm nas matildeos ede toda esta histoacuteria Agora odesao mais importante eacute a

manutenccedilatildeo deste patrimoacutenio econtinuar a despertar nas pes-soas o interesse por andar agravevela e a remos O bote baleeiroeacute uma embarcaccedilatildeo iacutempar Natildeohaacute outra no mundo

E A PRESERVACcedilAtildeO SOacute SEFAZ COMPLETAMENTE SEOS BOTES ESTIVEREM NOMAR A NAVEGARExactamente Haacute uma partemuito importante do projec-to que ainda falta que passa

pela sede do CNH e por sa-ber o que vai acontecer aosarmazeacutens da Reis e MartinsEacute preciso encontrar um espa-ccedilo adequado para guardar osbotes fazer a sua manuten-ccedilatildeo e expocirc-los Os botes satildeopatrimoacutenio histoacuterico mas tam-beacutem turiacutestico As regatas satildeobonitas mas os passeios embotes baleeiros tambeacutem Se foralterada a portaria que regula

esses passeios em vigor haacutemuitos anos os clubes podemdeles tirar rendimentos

ACHA ENTAtildeO QUE FARIASENTIDO RENTABILIZAR OSPASSEIOS NOS BOTES BA-LEEIROS PARA FINANCIARA SUA PROacutePRIA PRESERVA-CcedilAtildeOFaz todo o sentido Na situ-accedilatildeo econoacutemica em que es-tamos natildeo podemos viver da

ldquosubsiacutedio-dependecircnciardquo A ma-nutenccedilatildeo dos botes as regatase toda essa dinacircmica podemsustentar-se com a criaccedilatildeo deuma vertente econoacutemica comos passeios de bote baleeiroporque temos mercado para

isso Eacute necessaacuterio alterar legis-laccedilatildeo nessa aacuterea

NOUTROS TEMPOS A BA-LEIA FOI UM PILAR DA NOS-SA ECONOMIA ACHA QUEHOJE COM O WHALE WA-TCHING A MOTIVAR A EXIS-TEcircNCIA DE BALEEIROS COMMAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICASEM VEZ DE ARPOtildeES CON-TRIBUINDO PARA A ECONO-

MIA DA ILHA E COM OS BO-TES BALEEIROS NA AacuteGUAPARA AS COMPETICcedilOtildeESDESPORTIVAS ESTAMOSPERANTE UMA ESPEacuteCIE DENOVA BALEACcedilAtildeO Acho que entraacutemos numa novafase da baleaccedilatildeo e soubemosperceber natildeo apenas a impor-tacircncia que a baleaccedilatildeo tevemas tambeacutem a importacircnciaque os cetaacuteceos tecircm hoje nos Accedilores Haacute um Departamento

de Oceanograa e Pescas da

Universidade dos Accedilores quesabe o que estaacute a fazer haacuteuma consciecircncia das empre-sas de whale watching para asua importacircnciahellip Natildeo eacute poracaso que algumas dessas

empresas utilizam as antigasvigias dos baleeiros e inclusi-ve as recuperaram contribuin-do assim para a preservaccedilatildeodo patrimoacutenio da baleaccedilatildeo Osegredo da observaccedilatildeo de ba-leias nos Accedilores tem a ver coma histoacuteria que haacute para contarHouve uma altura em que ca-ccedilaacutemos e haacute agora uma alturaem que sabemos preservarHaacute aqui um potencial turiacutestico

enorme Os accedilorianos adapta-ram-se muito bem a esta novarealidadez

MARLA PINHEIRO

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y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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Tempo de Baleeiros

da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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Tempo de Baleeiros

pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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Tempo de Baleeiros

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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Tempo de Baleeiros

CACcedilA Agrave BALEIA NO PORTO DO COMPRIDO

A partir de determinada eacutepoca do ano os botes baleeiros deixavam de ldquoarrearrdquo na cidade da Horta e concentravam-se nos postosbaleeiros do Salatildeo e do porto do Comprido A actividade no porto do Comprido era sobretudo inconstante podia haver 4 a 5 diasconsecutivos de caccedila mas tambeacutem uma semana inteira agrave espera que os vigias dessem o sinal de ldquoarreadardquo

mente para o posto baleeiro Aaldeia dos baleeiros era manti-da segundo uma organizaccedilatildeofamiliar e com o apoio de co-merciantes locais da freguesiado Capelo que asseguravamo seu aprovisionamento Sem

duacutevida foram nos derradeirosanos da baleaccedilatildeo no Compridoque mais se caccedilou agrave baleia ede forma mais ecaz com uma

forte concentraccedilatildeo nos mesesde Veratildeo (cfr Graacuteco)

Em Setembro de 1957 quan-do se iniciaram as erupccedilotildees noVulcatildeo dos Capelinhos o portodo Comprido foi imediatamenteabandonado Em poucos me-ses todos os anos de histoacuteria

deste posto baleeiro seriamabruptamente consumidos pe-las cinzas deixando-nos umapaisagem desolada escureci-da pelo Vulcatildeo z

Notas

(1) Fundo da Capitania do Porto da

Horta Arquivo Histoacuterico da Marinha

(2) Idem

OS HOMENS DA BALEIA

Fonte Foto Maacuterio Ruspoli Les Hommes de la Baleine (1956)

No Veratildeo de 1956 o italiano Maacuterio Ruspoli propocircs-se reali-zar um documentaacuterio sobre os uacuteltimos caccediladores de baleia dotempo de Moby Dick Depois de conseguir um empreacutestimo de

2 milhotildees de francos concedido pelo milionaacuterio grego AristoteOnassis M Ruspoli reuniu uma talentosa equipa composta porJacques Soulaire e Gilbert Rouget e instalou-se na casa dos fa-roleiros dos Capelinhos Durante dois meses a equipa recolheuas imagens e os sons uacutenicos da actividade baleeira no porto doComprido Les hommes de la Baleine eacute um precioso documentorealista e liacuterico sobre a baleaccedilatildeo na ilha do Faial

BALEEIROS NA AMEacuteRICACom a erupccedilatildeo do vulcatildeo dosCapelinhos e a abertura dasfronteiras norte americanasmuitos jovens baleeiros se-

guiram o rumo da emigraccedilatildeoconservando a memoacuteria dostempos aacuteureos e diceis da ba-leaccedilatildeo

Fonte foto Colecccedilatildeo Privada de Manuela Rosa

FRANCISCO HENRIQUESOMA

FONTE COLECCcedilAtildeO POSTAL RUSPOLI amp SOULAIRE

TRANCAR JOSEacute RAFAEL PREPARA983085SE PARA ARPOAR UM CACHALOTE

Fonte Colecccedilatildeo Documental ReisampMartins Lda ndash Faacutebrica da Baleia de Porto Pim

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Tempo de Baleeiros

Na deacutecada de trinta do seacute-culo XX durante o auge dainduacutestria baleeira nos Accediloresforam constituiacutedas vaacuterias em-presas nas diversas ilhas paraa exploraccedilatildeo e comercializaccedilatildeodos produtos obtidos a partir

dos cachalotes No Faial foramconstituiacutedas trecircs sociedadesa Reis amp Martins Lda arma-ccedilatildeo baleeira e exportadoresde oacuteleo a Companhia Bale-eira Faialense Lda armaccedilatildeobaleeira e a Sociedade Indus-trial Mariacutetima Accediloriana Lda(SIMAL) ligada agrave induacutestriatransformadora A Reis amp Mar-tins Lda constituiacuteda em 1945adquiriu um armazeacutem na RuaNova na cidade da Horta queservia como casa de botes eocina de carpintaria marce-naria tanoaria ferraria e mecacirc-nica ofiacutecios essenciais para aconstruccedilatildeo e manutenccedilatildeo dasembarcaccedilotildees baleeiras (lan-chas a motor e botes) e res-pectiva palamenta Depois dom da actividade baleeira nos

Accedilores no iniacutecio dos anos 80do seacuteculo XX o armazeacutem daRua Nova e grande parte do

seu espoacutelio foram parcialmen-te mantidos ateacute agrave actualidadeembora seja notoacuteria a degrada-ccedilatildeo tanto do imoacutevel como demuitos dos objectos e equipa-mentos aiacute armazenadosPerante o risco seacuterio de esteespoacutelio se perder e dada a im-portacircncia deste espoacutelio para oestudo da baleaccedilatildeo no Faial enos Accedilores considerou-se serurgente efectuar o seu resgate

levantamento e estudo destepatrimoacutenio garantindo assima sua preservaccedilatildeo Assim osactuais proprietaacuterios e herdei-ros da Reis amp Martins Lda

estabeleceram uma parceriacom o Observatoacuterio do Mar dos Accedilores (OMA) com o objectivode salvaguardar o patrimoacutenioexistente e integrar parte deleno museu da Faacutebrica da Baleiade Porto Pim

O projecto ldquoLevantamento dePatrimoacutenio Baleeiro e Dinami-zaccedilatildeo do Espaccedilo Expositivo

da Faacutebrica da Baleia de PortoPimrdquo iniciou-se em 2008 e em

2009 passou a ser co-nancia-do pela Direcccedilatildeo Regional daCultura (DRaC) que o consi-derou de ldquointeresse relevantepara a Regiatildeo e capaz de con-tribuir para o desenvolvimentoda poliacutetica cultural dos AccediloresrdquoEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinarias

equipamentos embarcaccedilotildeespalamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)

o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobrea induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiais

moacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Partedesse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo na

sua exposiccedilatildeo permanenteEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinariasequipamentos embarcaccedilotildees

palamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobre

a induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiaismoacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Parte

desse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo nasua exposiccedilatildeo permanente

y

PATRIMOacuteNIO BALEEIRO DA FASEINDUSTRIAL DA BALEACcedilAtildeO NO

FAIAL - RESGATE INVENTARIACcedilAtildeO ECONSERVACcedilAtildeO

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

RUA NOVA INTERIOR DO ESCRITOacuteRIO DOS ARMAZEacuteNS DA REIS amp MARTINS LDA

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Tempo de Baleeiros

INVENTAacuteRIO DOESPOacuteLIO REIS EMARTINS LDA

Os objectos encontrados foramanalisados e descritos quantoagraves caracteriacutesticas funcionaisde origem e agraves transforma-ccedilotildees eventuais que possamter sofrido ao longo do tempoSe alguns objectos tecircm umafunccedilatildeo oacutebvia (pe botes e suapalamenta arpotildees etc) outroshaacute cuja sua utilidade eacute difiacutecil dedescodicar A identicaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo funcional dos ob- jectos encontrados foi consubs-tanciada por fontes documen-tais quando existentes eoupor depoimentos orais fonte de

informaccedilatildeo uacutenica e insubstituiacute-vel para a compreensatildeo abran-gente da actividade industrialem estudo A identicaccedilatildeo de cada bem

foi registada em cha proacutepria

onde os elementos considera-dos adequados para o seu re-conhecimento foram descritosem detalhe A cha inclui uma fotograa do

objecto o seu nuacutemero de in-

ventaacuterio a sua funccedilatildeo originala categoria a que pertence oseu estado de conservaccedilatildeo adata do inventaacuterio e a referecircn-cia das fotograas existentes

desse objectoOs bens inventariados foramclassicados em categorias

consoante o tipo de colecccedilatildeo esuas caracteriacutesticas (tipologia) Assim optou-se por classicaacute--los em classes segundo asua funccedilatildeo original e em sub-classes que correspondemao local ou agrave infra-estrutura aque pertenciam (ex Selhandashde--linha Classe Palamenta Sub-classe Bote Baleeiro) A inventariaccedilatildeo individual de

cada peccedila permitiu a criaccedilatildeode um inventaacuterio fotograacuteco e

de uma lista geral de inventaacute-rio onde constam todas as 468peccedilas resgatadas ateacute ao mo-mento O passo seguinte con-sistiu na conservaccedilatildeo e restau-ro dos objectos classicados

As intervenccedilotildees foram criterio-samente efectuadas para natildeocomprometerem a constituiccedilatildeooriginal das peccedilas Aspiraccedilatildeo lavagem restaurocom oacuteleo e tratamento contra

pragas foram as operaccedilotildeesadoptadas para as peccedilas demadeira As peccedilas de metal a maioriacom niacuteveis de oxidaccedilatildeo con-sideraacuteveis foram objecto detratamentos especiacutecos adap-tados a cada casoz

FONTE OMA

SALVAGUARDA CLASSIFICACcedilAtildeO DAS 468 PECcedilAS INVENTARIADAS ATEacute AO MOMENTO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

OBJECTOS983085 EXEMPLARES DO ESPOacuteLIO RESGATADO DOS ARMAZEacuteNS REIS E MARTINS

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Tempo de Baleeiros

y Em 2010 o OMA estabe-leceu um contrato de coope-raccedilatildeo teacutecnica com a DirecccedilatildeoRegional da Cultura (DRaC)com o objectivo de inventariaro patrimoacutenio baleeiro imoacutevel detodo o arquipeacutelago A execuccedilatildeo

do projeto foi assegurada poruma equipa multidisciplinar naaacuterea da investigaccedilatildeo histoacuterica

arquitectura e fotograa pro-ssional A recolha preacutevia da

informaccedilatildeo foi o ponto de par-tida para um trabalho de cam-po que decorreu entre os me-ses de Junho e Dezembro de2011 Foram inventariados os

antigos complexos baleeirospostos baleeiros e varadourosbaleeiros rampas de varagemdas embarcaccedilotildees rampas dealagem de cachalotes casas

de botes traioacuteis faacutebricas deprocessamento de cachalotese plataformas de desmancho

vigias residecircncias sazonaiscarpintarias ocinas arma-zeacutens entre outrosNa ilha do Faial foram inven-tariados 17 imoacuteveis (ver Fig5) identicados no Complexo

Baleeiro das Anguacutestias (localonde as armaccedilotildees baleeirastinham a sua sede com ar-mazeacutens faacutebricas de proces-samento de cachalotescasade caldeiros e estacionavam

as embarcaccedilotildees prontas parauma raacutepida arriada agrave baleia)nos Postos Baleeiros do Porto

do Comprido do Salatildeo (estesdois como local de estaciona-mento sazonal das armaccedilotildeesbaleeiras do Faial e do Pico) edo Varadouro Identicaram-se

ainda apesar de menos repre-sentativos na actividade baleirada Ilha do Faial os Varadourosdo Cedros Castelo Branco eRibeirinha todos com rampade varagem para estaciona-mento de botes baleeiros z

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIRO IMOacuteVEL DO FAIAL

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIO BALEEIRO IMOacuteVEL DOS ACcedilORES A ILHA DO FAIAL

MAacuteRCIA DUTRAOMA

COMPLEXTO BALEEIRO DAS ANGUacuteSTIAS1 983085 FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

2983085 ARMAZEacuteM DA REIS amp MARTINS LDA3 983085 CASA DE CALDEIROS DE PORTO PIM983080FAacuteBRICA VELHA9830814 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTOPOSTO BALEEIRO DO PORTO DOCOMPRIDO5 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO DO

COMPRIDO6 983085 VIGIA DO CAPELO

7 983085 VIGIA DO COSTADO DA NAU8 983085 RESIDEcircNCIAS SAZONAIS DO PORTODO COMPRIDO9 983085 CASA DOS BOTES DO PORTO DOCOMPRIDOPOSTO BALEEIRO DO SALAtildeO10 983085 RAMPA DE VARAGEM DO SALAtildeO

11 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DA ARMA983085CcedilOtildeES DO FAIAL

12 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DAS ARMA983085CcedilOtildeES DO PICO13 983085 VIGIA DOS CEDROS14 983085 POSTO BALEEIRO DO VARADOURO15 983085 VIGIA DO ALTO DAS CONCHEIRASVARADOURO BALEEIRO DOS CEDROS16 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO

DA EIRAVARADOURO BALEEIRO DA RIBEIRINHA

17 983085 RAMPA DE VARAGEM DA RIBEIRINHAVARADOURO BALEEIRO DE CASTELOBRANCO18 983085 RAMPA DE VARAGEM DE CASTELOBRANCO

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Tempo de Baleeiros

y Em 1939 a Sociedade In-dustrial Mariacutetima Accediloriana Lda ndash a SIMAL foi fundada na Hor-ta Esta sociedade comercialpor quotas de responsabilidadelimitada tinha como objectivosa ldquoexploraccedilatildeo da induacutestria doaproveitamento integral da ba-

leia e outras espeacutecies marinhase comeacutercio dos respectivosprodutosrdquo A SIMAL era cons-tituiacuteda por 25 soacutecios sendo os

soacutecios maioritaacuterios o industriallisboeta Francisco Marcelinodos Reis e a empresa localCosta amp Martins Lda Desta-

cam-se ainda quatro compa-nhias baleeiras da Ribeira doMeio (Pico) que por razotildeesfamiliares e por ter sido nega-

da a construccedilatildeo de uma faacutebri-ca nas Lajes se associaram agraveSIMAL A faacutebrica comeccedilou a ser cons-truiacuteda em 1941 inicialmenteno areal da Praia de Porto Pimmas devido a um forte tem-poral ocorrido em Setembrodesse mesmo ano foi comple-tamente destruiacuteda e abandona-do o projecto Esta intempeacuterielevou a que os proprietaacuterios

decidissem construir a faacutebricano local onde hoje a conhe-cemos na encosta do Monteda Guia A faacutebrica comeccedilou alaborar em fase experimentalem Agosto de 1942 Durante

os seus 30 anos de laboraccedilatildeoprocessaram-se 1940 cachalo-tes que produziram 44 mil bi-dotildees de oacuteleoEm 1974 acompanhando odecliacutenio da induacutestria baleeira aniacutevel mundial a faacutebrica fechouas suas portas Em 1980 oGoverno Regional dos Accediloresadquiriu todo o complexo fabrilcom o objectivo de ali instalaro Departamento de Oceano-

graa e Pescas e uma Escola

de Pesca desiacutegnio esse quenunca se chegou a realizarEm 1984 a antiga faacutebrica foiclassicada como Imoacutevel de

Interesse Puacuteblico (IIP) Depoisde quase duas deacutecadas de de-gradaccedilatildeo do edifiacutecio e da suamaquinaria sem duacutevida atenu-ados pela acccedilatildeo persistente deManuel da Rosa Correia co-nhecido como Patratildeo Manuele de Manuel Medeiros conhe-cido com Sr Amaral (antigo en-carregado da faacutebrica) a faacutebricafoi nalmente alvo de obras

de restauro e de beneciaccedilatildeo Apelidada de Centro do Marfoi inaugurada em 2000 por

ocasiatildeo da 2ordf ediccedilatildeo da Expo-Pescas com o objectivo de setornar num espaccedilo de divulga-ccedilatildeo cultural e cientiacuteca Desde

2004 que a Faacutebrica eacute a sede

do OMA que desde entatildeo temvindo a dinamizar esse espaccediloEm 2010 a Faacutebrica da Baleia

de Porto Pim como hoje eacute co-nhecida foi inserida no Com-plexo do Monte da Guia da Ilhado Faial z

A FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

VISITA GUIADA FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM 983085 DESCRICcedilAtildeO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE OMA

INTERIOR A FAacuteBRICA Eacute UM MUSEU PERMANENTE

CASA DAS AUTOCLAVES COMSEIS AUTOCLAVES CADA UMACOM CAPACIDADE DE 11 M

CASA DAS FARINHAS COM TODAA MAQUINARIA ORIGINAL DA RE983085

CONHECIDA MARCA NORUGUESAMYRENS VERKSTED E OS MOTO983085

RES DA MARCA ALEMAtilde MOTORENFABRIK DEUTZ AG

EDIFICIO ANEXO ONDE FUNCIONAVA A ANTIGASERRALHARIA E OS ESCRITOacuteRIOS DESTACAM983085SEOS ALTOS TANQUES SUBTERRAcircNEOS PARA AR983085MAZENAMENTO DE OacuteLEO ACTUAL ldquoSALA DOS

OacuteLEOSrdquo 983080SALA DE EXPOSICcedilOtildeES E REUNIOtildeES983081

ANTIGAS CASAS DE BANHOACTUAL BAR DA PRAIA E WCS DE

APOIO Agrave FAacuteBRICA DA BALEIA

ANTIGO ARMAZEacuteM DAS FARI983085NHAS COM QUATRO TANQUESSUBTERRAcircNEOS PARA ARMAZE983085NAMENTO DO OacuteLEO ACTUALLOJA DA FAacuteBRICA E CIM

PLATAFORMA DE DESMANCHODESTAQCA983085SE A CHAMINEacute DAS CALDEI983085

RAS A VAPOR

CASA DAS CALDEIRAS A VAPOR IMPO983085NENTES CALDEIRAS FABRICADAS NA CI983085DADE DO PORTO EM PRIMEIRO PLANOVEMOS A CALDEIRA QUE FOI INSTALADAEM 1950

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y A inauguraccedilatildeo da Casados Botes no Capelo marcoumais um passo no percursoque comeccedilou a ser percorridohaacute mais de dez anos quandopor altura das comemoraccedilotildeesdos 400 anos daquela fregue-sia se decidiu iniciar um pro-cesso de recuperaccedilatildeo do patri-moacutenio baleeiro no Faial entatildeodenominado ldquorecuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeira da ilha doFaialrdquoHoje 25 anos depois de ter

sido caccedilado o uacuteltimo cachaloteem aacuteguas accedilorianas o patri-moacutenio da baleaccedilatildeo estaacute bemvivo sendo essa vivacidade noFaial espelhada pela recupe-

raccedilatildeo dos botes baleeiros dalancha Walquiacuteria da Faacutebricada Baleia e agora da Casados BotesRecuperar os botes baleeirosnatildeo eacute no entanto suciente

para garantir que a sua me-moacuteria continua viva Os botespertencem ao mar e por issofoi com naturalidade que estemovimento de revitalizaccedilatildeo dopatrimoacutenio acabou por passar

para a vertente desportiva coma criaccedilatildeo da secccedilatildeo de botesbaleeiros do Clube Naval daHorta que movimenta muitos

desportistasNa hora de lembrar todo estepercurso de recuperaccedilatildeo dopatrimoacutenio baleeiro bem comode reectir sobre o que haacute a

fazer numa altura em esseprocesso estaacute praticamenteconsolidado Tribuna das Ilhasconversou com Joatildeo Garciaque era em 2000 membro do

elenco da Junta de Freguesiado Capelo responsaacutevel pelodesencadear deste projectoe que em 2005 o levou para o

Clube Naval da Horta quandoassumiu a direcccedilatildeo da agre-miaccedilatildeo naacuteutica faialense Alertando para a importacircnciada manutenccedilatildeo deste patrimoacute-

nio agora que todo ele estaacuterestaurado Joatildeo Garcia apelaa um esforccedilo conjunto para aconsolidaccedilatildeo de um campeo-nato regional de botes baleei-ros e defende a alteraccedilatildeo dalegislaccedilatildeo para que os clubesnavais possam retirar rentabili-dade econoacutemica dos passeiosagrave vela em botes baleeiros demodo a que estes possam sus-tentar a sua proacutepria manuten-

ccedilatildeo

O PROCESSO DE RECUPE-RACcedilAtildeO DE BOTES EM VAacute-

RIAS FREGUESIAS COM HIS-TOacuteRIA BALEEIRA NO FAIALFOI DESENCADEADO QUAN-DO O JOAtildeO ERA PRESIDEN-TE DA JUNTA DE FREGUESIADO CAPELO E PREPARAVAAS COMEMORACcedilOtildeES DOSSEUS 400 ANOS O QUE EacuteQUE MOTIVOU A QUE O PA-TRIMOacuteNIO BALEEIRO FOSSEO MARCO DESTA EFEMEacuteRI-DE A importacircncia que tinha essaefemeacuteride levou a que se -zesse um levantamento his-toacuterico dos quatro seacuteculos dafreguesia A baleaccedilatildeo teve umpapel importante nessa histoacuteriae desde logo decidimos fazer

uma regata de botes que li-gasse o Porto do Comprido aodo Varadouro tendo em contaa ligaccedilatildeo histoacuterica que os doistiveram pela baleaccedilatildeo A partirdaqui somos despertados paraalgo que tem grande valor sen-timental e histoacuterico e nasce ummovimento de recuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeiraO Capelo teve uma forte im-plementaccedilatildeo da baleaccedilatildeo era

uma coisa que estava enraiza-da no povo e que era impor-tante salvaguardar Primeirohouve a preocupaccedilatildeo de re-

gistar as memoacuterias que haviadessa eacutepoca registos feitospor pessoas do Capelo nome-adamente pelo Joseacute Franciscoda Faialentejo que registou ostestemunhos de alguns baleei-ros Depois houve o movimen-to de recuperaccedilatildeo dos botesO Pico tinha jaacute uma seacuterie debotes recuperados e noacutes qui-semos ir um pouco mais lon-ge e abranger natildeo apenas asfreguesias com tradiccedilatildeo nabaleaccedilatildeo como Salatildeo Cas-telo Branco e Anguacutestias mastambeacutem outras onde havia re-crutamento de baleeiros comoeacute o caso da Feteira O projectocontemplava a recuperaccedilatildeo da

Casa do Bote Baleeiro que foirecentemente inaugurada evisa ainda publicar a histoacuteria dabaleaccedilatildeo na ilha do Faial

FOI FAacuteCIL PARA A JUNTA DEFREGUESIA DO CAPELO MO-TIVAR AS RESTANTES FRE-GUESIAS A EMBARCAREMNESTE PROJECTOPor acccedilatildeo do Clube Navalmais concretamente pelo entatildeo

presidente Joseacute Decq Motatemos conhecimento que naCalheta do Nesquim existe umbote disponiacutevel cheio de his-

ENTREVISTA A JOAtildeO PEDRO GARCIA

ldquoO DESAFIO MAIS IMPORTANTE Eacute

A PRESERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROrdquo

FONTE ROBERT CLARKE DISCOVERY REPORTS 1954

NO MAR O MOMENTO EM QUE SE INICIA A PERSEGUICcedilAtildeO AO CACHALOTE

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Tempo de Baleeiros

toacuteria e que eacute inclusive citadono Mau Tempo no Canal deVitorino Nemeacutesio o bote SatildeoJoseacute Sabendo que havia aquium interesse ele falou-nos daexistecircncia desse bote que es-tava sob a alccedilada da Comissatildeo

do Patrimoacutenio Baleeiro Inicia--se aiacute a sua recuperaccedilatildeo e umpasso importante para aquiloque queriacuteamos fazer A recu-peraccedilatildeo de um bote para a fre-guesia do Capelo fez despertaras outras freguesias para esteprojecto Nesta altura ele deixade ser apenas palavras e pe-quenos escritos para comeccedilara ter uma maior dimensatildeoEm 2000 temos a primeira re-

gata com botes do Pico e ape-nas com o Claudina do Faial43 anos depois do uacuteltimo botebaleeiro ter ldquoarriadordquo no Com-prido Em 2003 aparece o Satildeo

Joseacute outro bote recuperadopara o Faialhellip As pessoas co-meccedilam a perceber que este eacuteum projecto com vidaNesta altura comeccedila tambeacutema dinamizar-se a regata inter-nacional de botes baleeirosO movimento de geminaccedilatildeoentre a Horta e New Bedfordestava estagnado e a partirdaiacute essa ligaccedilatildeo fortalece-seFoi precisamente a baleaccedilatildeoque criou o elo entre as duascidades agora fortalecido com

a recuperaccedilatildeo do patrimoacuteniobaleeiro E curiosamente eacutena primeira viagem que sefaz aos Estados Unidos que opresidente da Cacircmara Munici-pal da Horta Joatildeo Castro ca

desperto para a importacircncia dese recuperar a Walquiacuteria outroprocesso que estava estagna-do e ganha nessa altura alentoHaacute assim uma bola de neveque vai crescendo uma pai-xatildeo que vai aumentando e um

despertar da consciecircncia paraa recuperaccedilatildeo da memoacuteria quefaz com que se torne tudo maisfaacutecilO Governo Regional atraveacutesda Comissatildeo do PatrimoacutenioBaleeiro dos Accedilores deu umapoio incondicional a este pro- jecto Este eacute um desiacutegnio natildeode um homem soacute mas de vaacute-rias pessoas e instituiccedilotildees

COMO Eacute QUE O OBJECTIVO

DA PRESERVACcedilAtildeO DOS BO-TES BALEEIROS Eacute TRANS-POSTO PARA O CLUBE NA-VAL DA HORTA (CNH) COMO INTUITO DE CRIAR UMANOVA VERTENTE DESPORTI-VA NA ILHAQuando me foi lanccedilado o de-sao de assumir a presidecircncia

do CNH os botes baleeirosassumem uma importacircncia nomeu projecto para o clube Natildeoera possiacutevel continuar a gerir

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

BAIacuteA DA FETEIRA DURANTE A EacutePOCA DO VERAtildeO A BAIA Eacute ENGALANADA PELAS VELAS DOS BOTES BALEEIROS

FONTE SUSANA GARCIA

PATRIMOacuteNIOJORGE FONTES JOAtildeO GARCIA E JOAtildeO TAVARES TREcircS IMPULSIONA DORES DA PRESERVACcedilAtildeO DO PATRI983085MOacuteNIO BALEEIRO DA ILHA DO FAIAL

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as tripulaccedilotildees e a actividadedesportiva dos botes atraveacutesdas juntas de freguesia porqueelas natildeo tecircm essa vocaccedilatildeoEra inevitaacutevel que houvesseuma instituiccedilatildeo como o CNH ndash soacutelida agregadora sem ri-

validades ndash que pudesse darcontinuidade ao processo Nes-se sentido fundaacutemos a secccedilatildeode Botes Baleeiros da ilha doFaial que agrega com igual au-tonomia e legitimidade todos osparticipantes nesta actividadeNeste ponto tenho de referiro Carlos Fontes que deu umimportante contributo a todo oprocesso pela sua dedicaccedilatildeoe organizaccedilatildeo Outro elemen-

to que emprestou um valiosocontributo foi o Nuno Limasobretudo na recuperaccedilatildeo dalancha Walkiria a rainha dosmares dos Accedilores Houve ummomento de explosatildeo com

mais de cem participantes tan-to masculinos como femininoscom miuacutedos a virem das fre-guesias para aprender velacom cursos para ociaishellip Esta

vitalidade dos botes manteve--se ateacute 2010 Mantenho alguma

preocupaccedilatildeo quanto a algumassituaccedilotildees pontuais com receiode que as coisas se desagre-guem e as pessoas natildeo perce-bam os anos de trabalho queestatildeo aqui em causa e os seacutecu-los de baleaccedilatildeo que estatildeo pordetraacutes deste patrimoacutenio Eacute im-portante que haja consciecircncianatildeo apenas de todo o trabalhoque foi feito mas tambeacutem docusto nanceiro deste projec-

to Grande parte desse nan-ciamento foi assegurado pelogoverno regional que contoucom o apoio do E-GRANT`S ADirecccedilatildeo Regional da Culturao CNH e os clubes navais do

Pico apresentaram uma candi-datura para a recuperaccedilatildeo dosbotes baleeiros que foi aceiteSe natildeo fosse esse apoio hojenatildeo poderiacuteamos dizer que pra-ticamente todo o patrimoacuteniodos Accedilores botes e lanchas

estaacute recuperado Estamos afalar de 40 botes Em 10 anosno Faial recuperaram-se setebotes e uma lancha Se virmosque cada bote tem um custo derecuperaccedilatildeo de cerca de 35 mileuros percebemos que esse foium esforccedilo muito signicativo

A associaccedilatildeo dos botes bale-eiros da ilha do Faial ao CNHveio tambeacutem dar uma dimen-satildeo de ilha ao Clube e criou-se

uma dinacircmica desportiva im-portante de que o Faial neces-sitavaEsta vitalidade em torno dacultura e patrimoacutenio baleeirofaz despertar para a necessi-

dade deste ser inventariadoe salvaguardado Em 2008 o

Observatoacuterio do Mar dos Accedilo-res (OMA) entidade gestorada Faacutebrica da Baleia de PortoPim avanccedila para a inventaria-ccedilatildeo do patrimoacutenio imoacutevel da

baleaccedilatildeo primeiro agrave escala dailha do Faial e depois agrave escalados Accedilores

WALKIacuteRIA ldquoA RAINHA DOS MARES DOS ACcedilORESrdquo

ldquoNasceu para reinar nunca foi destronada e viveraacute esperamos por muitos anos assim o desejamos Somos uma grande regiatildeomariacutetima que quer preservar a memoacuteria coletiva das nossas teacutecnicas e tradiccedilotildees da nossa vivecircncia multissecular com o mar quenos rodeia nos separa e nos unerdquo A lancha Walkiria foi mandada construir pelos proprietaacuterios da Armaccedilatildeo Baleeira Reis amp Mendonccedila o industrial continental Francis-co Marcelino dos Reis e o Professor Rui de Mendonccedila residente na Vila das Velas amante de muacutesica Wagneriano que por talrazatildeo deu aos seus lhos os nomes de Wagner Weber

Walkyria e Isolda A construccedilatildeo foi realizada na ilha de S Jorge em 1937pelas matildeos de Joseacute e Manuel Gambatildeo irmatildeos e carpin-teiros habilidosos a partir de projeto de Manuel InaacutecioNunes natural do Pico mas com gabinete de projetos eestaleiro em Sacramento Califoacuternia Estados Unidos da Ameacuterica - ldquoQuando o antigo paquete a vapor ldquoCarvalho Arauacutejordquo

largava do porto das Velas com rumo ao Cais do Picoonde escalava depois de ter atingido a velocidade ple-na de cruzeiro a Walkyria rodeava o navio em marchapassando pela proa e pela popa Nenhuma outra lanchaconseguiu tal proezardquoEfetivamente a lancha estava equipada com um motor agasolina de 143 HP que permitindo atingir uma velocida-de de ponta elevada 18 noacutes tambeacutem acarretava consu-mos de combustiacutevel signicativos facto que levou agrave sua

venda em 1938 por ser economicamente pouco interes-sante para o trabalho que desenvolvia nomeadamente no apoio agrave caccedila agrave baleia Assim a lancha eacute transferida para a ilha do Faial por aquisiccedilatildeo do Sr Francisco Reis cando afeta ao transporte local de passagei-

ro Mais tarde eacute adquirida pela rma ldquoReis amp Martinsrdquo cando afeta agrave atividade baleeira Em 1955 a quando da instalaccedilatildeo de umaparelho de radiotelefonia foi-lhe atribuiacuteda a matriacutecula nal H-21-B

Em 2005 no acircmbito do projeto de ldquorecuperaccedilatildeo da memoacuteria baleeira da ilha do Faialrdquo depois de anos de repouso nos armazeacutens

da Reis e Martins a emblemaacutetica embarcaccedilatildeo volta a ganhar vida pelas matildeos do mestre Manuel Monteiro da Piedade do Pico en-trando de novo no porto da Horta a 12 de agosto desse mesmo ano totalmente recuperada

EEA Grants Mecanismo Finan-

ceiro Norueguecircs para apoio agrave

coesatildeo social e econoacutemica den-

tro da Uniatildeo Europeia Islacircndia

Liechtenstein e Noruega que

complementou o esforccedilo nan-

ceiro do Governo Regional para

a reabilitaccedilatildeo do patrimoacutenio bale-

eiro dos Accedilores Neste contexto

foram recuperados 40 botes e 10

lanchas Anualmente eacute atribuiacutedo

pelo Governo Regional um sub-

siacutedio para manutenccedilatildeo destas

embarcaccedilotildees

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AINDA BEM QUE REFERE AINVENTARIACcedilAtildeO DO PATRI-MOacuteNIO IMOacuteVEL POIS DEFACTO O PATRIMOacuteNIO DABALEACcedilAtildeO NAtildeO SE RESU-ME AOS BOTEShellip DEPOIS DAREVITALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRI-CA DA BALEIA ESTE PRO-CESSO DE RECUPERACcedilAtildeODO PATRIMOacuteNIO FICOU AIN-DA MAIS COMPLETO COMA INAUGURACcedilAtildeO DA CASADOS BOTES NO CAPELO HAacuteMUITO AGUARDADA FALE--NOS DESSE PROJECTO

Em boa hora a Junta de Fre-guesia do Capelo acolheu estainiciativa incluiacuteda no projectoldquoA recuperaccedilatildeo da memoacuteriabaleeirardquo Esta era uma casadas armaccedilotildees baleeiras deSatildeo Roque do Pico A sua re-cuperaccedilatildeo natildeo eacute mais do quedevolver ao porto do Compri-do a sua histoacuteria A histoacuteria doCapelo natildeo comeccedila em 1957com o Vulcatildeo dos Capelinhos

Antes disso o porto do Com-prido jaacute tinha dois seacuteculos dehistoacuteria tendo sido uma dasprincipais estaccedilotildees baleeirasdos Accedilores Essa memoacuteria

tinha de ser preservada porrespeito aos nossos antepas-sados Essa preservaccedilatildeo tam-beacutem se faz atraveacutes do circuitopedestre do baleeiro que tam-beacutem foi inaugurado agora Esteleva-nos ao conjunto de vigiasque existe no Vulcatildeo dos Ca-pelinhos

Um museu natildeo eacute uma coisaque estaacute dentro de casa maseacute tudo o que nos rodeia Te-mos de contar de forma sim-ples a todos os que nos visi-tam que esta eacute uma ilha comhistoacuteria

HAacute TAMBEacuteM A PREOCUPA-CcedilAtildeO DE REUNIR EM LIVRO AINFORMACcedilAtildeO SOBRE A BA-LEACcedilAtildeO QUE TEM VINDO ASER RECOLHIDAhellipNos uacuteltimos anos o Obser-vatoacuterio do Mar dos Accedilores(OMA) tem feito um excelentetrabalho o que se traduz numgrande avanccedilo na pesquisaCom aquilo que jaacute tinha sido

feito lanccedilaacutemos um desao aoFilipe Porteiro presidente doOMA para que se documen-tasse por escrito a memoacuteriados baleeiros Haacute um registode memoacuterias de alguns bale-eiros do Capelo um espoacuteliofotograacuteco que foi e continua

a ser recolhido um conjuntode informaccedilotildees tanto daquicomo de New Bedford no queao tempo da baleaccedilatildeo diz res-peitohellip Portanto temos infor-maccedilatildeo suciente para fechar

nos proacuteximos dois anos estarecuperaccedilatildeo da memoacuteria comum livro que permita dar aconhecer a histoacuteria da balea-ccedilatildeo no Faial Haacute um conjunto

de pessoas disponiacuteveis paracolaborar neste processo Naminha opiniatildeo esta obra deveter ediccedilatildeo bilingue tendo emconta o interesse que tem paraos Estados Unidos

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE FICA A FALTAR FAZERPELA RECUPERACcedilAtildeO E PRE-SERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROTenho de deixar uma mensa-gem importante agraves pessoasque hoje gerem este proces-so procurem os consensosEacute muito importante termosum consenso regional relati-vamente aos botes baleeiros

Eacute importante que se volte aosmodelos adoptados em 2005

relativamente agraves regatas Natildeopodemos ter regatas em to-das as freguesias dos AccediloresTemos de ter as cinco regatastradicionalmente mais antigasnas quais se inclui a Semanado Mar e quatro regatas noPico e fazer as outras trecircs deforma rotativa para voltarmosa ter um campeonato regionalde botes baleeiros em condi-ccedilotildees Faial e Pico tecircm de en-tender-se nesta mateacuteria Estamensagem tem de ser passa-da para as instituiccedilotildees para osclubes para as juntas de fre-guesia para as pessoashellip

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA UM ASPECTO DE UMA REGATA DENTRO DA BAIA DA HORTA

FONTE OMA

EMBARCACcedilAtildeO OS ANTIGOS BOTES TORNARAM983085SE TAMBEacuteM NUMA PECcedilAMUSEOLOacuteGICA

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Eacute tambeacutem importante que asecccedilatildeo de botes baleeiros doFaial continue A rivalidade en-tre freguesias natildeo traz nada debom O CNH tem obrigaccedilatildeo deconsolidar a secccedilatildeo custe oque custar

Aleacutem disso temos de ver queo patrimoacutenio baleeiro que estaacuteentregue agraves Juntas de Fregue-sia natildeo eacute das autarquias Per-tence agrave Governo Regional dos Acores ou seja agrave Regiatildeo e asua preservaccedilatildeo eacute uma obri-gaccedilatildeo daqueles a quem foientregue Eacute preciso ter muitocuidado nessa preservaccedilatildeosenatildeo dentro de alguns anosestamos natildeo a fazer manuten-

ccedilatildeo mas praticamente a fazernovos botes Os responsaacuteveisde cada uma das instituiccedilotildeestecircm de ter consciecircncia do pa-trimoacutenio que tecircm nas matildeos ede toda esta histoacuteria Agora odesao mais importante eacute a

manutenccedilatildeo deste patrimoacutenio econtinuar a despertar nas pes-soas o interesse por andar agravevela e a remos O bote baleeiroeacute uma embarcaccedilatildeo iacutempar Natildeohaacute outra no mundo

E A PRESERVACcedilAtildeO SOacute SEFAZ COMPLETAMENTE SEOS BOTES ESTIVEREM NOMAR A NAVEGARExactamente Haacute uma partemuito importante do projec-to que ainda falta que passa

pela sede do CNH e por sa-ber o que vai acontecer aosarmazeacutens da Reis e MartinsEacute preciso encontrar um espa-ccedilo adequado para guardar osbotes fazer a sua manuten-ccedilatildeo e expocirc-los Os botes satildeopatrimoacutenio histoacuterico mas tam-beacutem turiacutestico As regatas satildeobonitas mas os passeios embotes baleeiros tambeacutem Se foralterada a portaria que regula

esses passeios em vigor haacutemuitos anos os clubes podemdeles tirar rendimentos

ACHA ENTAtildeO QUE FARIASENTIDO RENTABILIZAR OSPASSEIOS NOS BOTES BA-LEEIROS PARA FINANCIARA SUA PROacutePRIA PRESERVA-CcedilAtildeOFaz todo o sentido Na situ-accedilatildeo econoacutemica em que es-tamos natildeo podemos viver da

ldquosubsiacutedio-dependecircnciardquo A ma-nutenccedilatildeo dos botes as regatase toda essa dinacircmica podemsustentar-se com a criaccedilatildeo deuma vertente econoacutemica comos passeios de bote baleeiroporque temos mercado para

isso Eacute necessaacuterio alterar legis-laccedilatildeo nessa aacuterea

NOUTROS TEMPOS A BA-LEIA FOI UM PILAR DA NOS-SA ECONOMIA ACHA QUEHOJE COM O WHALE WA-TCHING A MOTIVAR A EXIS-TEcircNCIA DE BALEEIROS COMMAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICASEM VEZ DE ARPOtildeES CON-TRIBUINDO PARA A ECONO-

MIA DA ILHA E COM OS BO-TES BALEEIROS NA AacuteGUAPARA AS COMPETICcedilOtildeESDESPORTIVAS ESTAMOSPERANTE UMA ESPEacuteCIE DENOVA BALEACcedilAtildeO Acho que entraacutemos numa novafase da baleaccedilatildeo e soubemosperceber natildeo apenas a impor-tacircncia que a baleaccedilatildeo tevemas tambeacutem a importacircnciaque os cetaacuteceos tecircm hoje nos Accedilores Haacute um Departamento

de Oceanograa e Pescas da

Universidade dos Accedilores quesabe o que estaacute a fazer haacuteuma consciecircncia das empre-sas de whale watching para asua importacircnciahellip Natildeo eacute poracaso que algumas dessas

empresas utilizam as antigasvigias dos baleeiros e inclusi-ve as recuperaram contribuin-do assim para a preservaccedilatildeodo patrimoacutenio da baleaccedilatildeo Osegredo da observaccedilatildeo de ba-leias nos Accedilores tem a ver coma histoacuteria que haacute para contarHouve uma altura em que ca-ccedilaacutemos e haacute agora uma alturaem que sabemos preservarHaacute aqui um potencial turiacutestico

enorme Os accedilorianos adapta-ram-se muito bem a esta novarealidadez

MARLA PINHEIRO

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y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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Tempo de Baleeiros

pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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Tempo de Baleeiros

Na deacutecada de trinta do seacute-culo XX durante o auge dainduacutestria baleeira nos Accediloresforam constituiacutedas vaacuterias em-presas nas diversas ilhas paraa exploraccedilatildeo e comercializaccedilatildeodos produtos obtidos a partir

dos cachalotes No Faial foramconstituiacutedas trecircs sociedadesa Reis amp Martins Lda arma-ccedilatildeo baleeira e exportadoresde oacuteleo a Companhia Bale-eira Faialense Lda armaccedilatildeobaleeira e a Sociedade Indus-trial Mariacutetima Accediloriana Lda(SIMAL) ligada agrave induacutestriatransformadora A Reis amp Mar-tins Lda constituiacuteda em 1945adquiriu um armazeacutem na RuaNova na cidade da Horta queservia como casa de botes eocina de carpintaria marce-naria tanoaria ferraria e mecacirc-nica ofiacutecios essenciais para aconstruccedilatildeo e manutenccedilatildeo dasembarcaccedilotildees baleeiras (lan-chas a motor e botes) e res-pectiva palamenta Depois dom da actividade baleeira nos

Accedilores no iniacutecio dos anos 80do seacuteculo XX o armazeacutem daRua Nova e grande parte do

seu espoacutelio foram parcialmen-te mantidos ateacute agrave actualidadeembora seja notoacuteria a degrada-ccedilatildeo tanto do imoacutevel como demuitos dos objectos e equipa-mentos aiacute armazenadosPerante o risco seacuterio de esteespoacutelio se perder e dada a im-portacircncia deste espoacutelio para oestudo da baleaccedilatildeo no Faial enos Accedilores considerou-se serurgente efectuar o seu resgate

levantamento e estudo destepatrimoacutenio garantindo assima sua preservaccedilatildeo Assim osactuais proprietaacuterios e herdei-ros da Reis amp Martins Lda

estabeleceram uma parceriacom o Observatoacuterio do Mar dos Accedilores (OMA) com o objectivode salvaguardar o patrimoacutenioexistente e integrar parte deleno museu da Faacutebrica da Baleiade Porto Pim

O projecto ldquoLevantamento dePatrimoacutenio Baleeiro e Dinami-zaccedilatildeo do Espaccedilo Expositivo

da Faacutebrica da Baleia de PortoPimrdquo iniciou-se em 2008 e em

2009 passou a ser co-nancia-do pela Direcccedilatildeo Regional daCultura (DRaC) que o consi-derou de ldquointeresse relevantepara a Regiatildeo e capaz de con-tribuir para o desenvolvimentoda poliacutetica cultural dos AccediloresrdquoEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinarias

equipamentos embarcaccedilotildeespalamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)

o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobrea induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiais

moacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Partedesse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo na

sua exposiccedilatildeo permanenteEste estudo integra a) a inven-tariaccedilatildeo preliminar do patrimoacute-nio moacutevel (eg maquinariasequipamentos embarcaccedilotildees

palamenta e demais aces-soacuterios) b) a inventariaccedilatildeo doacervo documental do arquivoda Reis amp Marti ns Lda e c)o levantamento e descriccedilatildeo ar-quitectoacutenica dos Armazeacutens daRua Nova Entendeu-se queesse trabalho deveria inserir-senuma investigaccedilatildeo antropoloacutegi-ca que permitisse aprofundar oconhecimento existente sobre

a induacutestria baleeira no Faiale nos Accedilores A metodologiaadoptada consiste no levanta-mento dos vestiacutegios materiaismoacuteveis imoacuteveis e imateriaisligados agrave actividade baleeiraIniciaram-se os trabalhos como levantamento identicaccedilatildeo

e inventariaccedilatildeo preliminar deum variado conjunto de ob- jectos que se encontrava nos Armazeacutens da Rua Nova Parte

desse patrimoacutenio foi transferi-do para a Faacutebrica da Baleia dePorto Pim tendo sido classi-cado recuperado e incluiacutedo nasua exposiccedilatildeo permanente

y

PATRIMOacuteNIO BALEEIRO DA FASEINDUSTRIAL DA BALEACcedilAtildeO NO

FAIAL - RESGATE INVENTARIACcedilAtildeO ECONSERVACcedilAtildeO

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

RUA NOVA INTERIOR DO ESCRITOacuteRIO DOS ARMAZEacuteNS DA REIS amp MARTINS LDA

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Tempo de Baleeiros

INVENTAacuteRIO DOESPOacuteLIO REIS EMARTINS LDA

Os objectos encontrados foramanalisados e descritos quantoagraves caracteriacutesticas funcionaisde origem e agraves transforma-ccedilotildees eventuais que possamter sofrido ao longo do tempoSe alguns objectos tecircm umafunccedilatildeo oacutebvia (pe botes e suapalamenta arpotildees etc) outroshaacute cuja sua utilidade eacute difiacutecil dedescodicar A identicaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo funcional dos ob- jectos encontrados foi consubs-tanciada por fontes documen-tais quando existentes eoupor depoimentos orais fonte de

informaccedilatildeo uacutenica e insubstituiacute-vel para a compreensatildeo abran-gente da actividade industrialem estudo A identicaccedilatildeo de cada bem

foi registada em cha proacutepria

onde os elementos considera-dos adequados para o seu re-conhecimento foram descritosem detalhe A cha inclui uma fotograa do

objecto o seu nuacutemero de in-

ventaacuterio a sua funccedilatildeo originala categoria a que pertence oseu estado de conservaccedilatildeo adata do inventaacuterio e a referecircn-cia das fotograas existentes

desse objectoOs bens inventariados foramclassicados em categorias

consoante o tipo de colecccedilatildeo esuas caracteriacutesticas (tipologia) Assim optou-se por classicaacute--los em classes segundo asua funccedilatildeo original e em sub-classes que correspondemao local ou agrave infra-estrutura aque pertenciam (ex Selhandashde--linha Classe Palamenta Sub-classe Bote Baleeiro) A inventariaccedilatildeo individual de

cada peccedila permitiu a criaccedilatildeode um inventaacuterio fotograacuteco e

de uma lista geral de inventaacute-rio onde constam todas as 468peccedilas resgatadas ateacute ao mo-mento O passo seguinte con-sistiu na conservaccedilatildeo e restau-ro dos objectos classicados

As intervenccedilotildees foram criterio-samente efectuadas para natildeocomprometerem a constituiccedilatildeooriginal das peccedilas Aspiraccedilatildeo lavagem restaurocom oacuteleo e tratamento contra

pragas foram as operaccedilotildeesadoptadas para as peccedilas demadeira As peccedilas de metal a maioriacom niacuteveis de oxidaccedilatildeo con-sideraacuteveis foram objecto detratamentos especiacutecos adap-tados a cada casoz

FONTE OMA

SALVAGUARDA CLASSIFICACcedilAtildeO DAS 468 PECcedilAS INVENTARIADAS ATEacute AO MOMENTO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

OBJECTOS983085 EXEMPLARES DO ESPOacuteLIO RESGATADO DOS ARMAZEacuteNS REIS E MARTINS

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Tempo de Baleeiros

y Em 2010 o OMA estabe-leceu um contrato de coope-raccedilatildeo teacutecnica com a DirecccedilatildeoRegional da Cultura (DRaC)com o objectivo de inventariaro patrimoacutenio baleeiro imoacutevel detodo o arquipeacutelago A execuccedilatildeo

do projeto foi assegurada poruma equipa multidisciplinar naaacuterea da investigaccedilatildeo histoacuterica

arquitectura e fotograa pro-ssional A recolha preacutevia da

informaccedilatildeo foi o ponto de par-tida para um trabalho de cam-po que decorreu entre os me-ses de Junho e Dezembro de2011 Foram inventariados os

antigos complexos baleeirospostos baleeiros e varadourosbaleeiros rampas de varagemdas embarcaccedilotildees rampas dealagem de cachalotes casas

de botes traioacuteis faacutebricas deprocessamento de cachalotese plataformas de desmancho

vigias residecircncias sazonaiscarpintarias ocinas arma-zeacutens entre outrosNa ilha do Faial foram inven-tariados 17 imoacuteveis (ver Fig5) identicados no Complexo

Baleeiro das Anguacutestias (localonde as armaccedilotildees baleeirastinham a sua sede com ar-mazeacutens faacutebricas de proces-samento de cachalotescasade caldeiros e estacionavam

as embarcaccedilotildees prontas parauma raacutepida arriada agrave baleia)nos Postos Baleeiros do Porto

do Comprido do Salatildeo (estesdois como local de estaciona-mento sazonal das armaccedilotildeesbaleeiras do Faial e do Pico) edo Varadouro Identicaram-se

ainda apesar de menos repre-sentativos na actividade baleirada Ilha do Faial os Varadourosdo Cedros Castelo Branco eRibeirinha todos com rampade varagem para estaciona-mento de botes baleeiros z

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIRO IMOacuteVEL DO FAIAL

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIO BALEEIRO IMOacuteVEL DOS ACcedilORES A ILHA DO FAIAL

MAacuteRCIA DUTRAOMA

COMPLEXTO BALEEIRO DAS ANGUacuteSTIAS1 983085 FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

2983085 ARMAZEacuteM DA REIS amp MARTINS LDA3 983085 CASA DE CALDEIROS DE PORTO PIM983080FAacuteBRICA VELHA9830814 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTOPOSTO BALEEIRO DO PORTO DOCOMPRIDO5 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO DO

COMPRIDO6 983085 VIGIA DO CAPELO

7 983085 VIGIA DO COSTADO DA NAU8 983085 RESIDEcircNCIAS SAZONAIS DO PORTODO COMPRIDO9 983085 CASA DOS BOTES DO PORTO DOCOMPRIDOPOSTO BALEEIRO DO SALAtildeO10 983085 RAMPA DE VARAGEM DO SALAtildeO

11 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DA ARMA983085CcedilOtildeES DO FAIAL

12 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DAS ARMA983085CcedilOtildeES DO PICO13 983085 VIGIA DOS CEDROS14 983085 POSTO BALEEIRO DO VARADOURO15 983085 VIGIA DO ALTO DAS CONCHEIRASVARADOURO BALEEIRO DOS CEDROS16 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO

DA EIRAVARADOURO BALEEIRO DA RIBEIRINHA

17 983085 RAMPA DE VARAGEM DA RIBEIRINHAVARADOURO BALEEIRO DE CASTELOBRANCO18 983085 RAMPA DE VARAGEM DE CASTELOBRANCO

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Tempo de Baleeiros

y Em 1939 a Sociedade In-dustrial Mariacutetima Accediloriana Lda ndash a SIMAL foi fundada na Hor-ta Esta sociedade comercialpor quotas de responsabilidadelimitada tinha como objectivosa ldquoexploraccedilatildeo da induacutestria doaproveitamento integral da ba-

leia e outras espeacutecies marinhase comeacutercio dos respectivosprodutosrdquo A SIMAL era cons-tituiacuteda por 25 soacutecios sendo os

soacutecios maioritaacuterios o industriallisboeta Francisco Marcelinodos Reis e a empresa localCosta amp Martins Lda Desta-

cam-se ainda quatro compa-nhias baleeiras da Ribeira doMeio (Pico) que por razotildeesfamiliares e por ter sido nega-

da a construccedilatildeo de uma faacutebri-ca nas Lajes se associaram agraveSIMAL A faacutebrica comeccedilou a ser cons-truiacuteda em 1941 inicialmenteno areal da Praia de Porto Pimmas devido a um forte tem-poral ocorrido em Setembrodesse mesmo ano foi comple-tamente destruiacuteda e abandona-do o projecto Esta intempeacuterielevou a que os proprietaacuterios

decidissem construir a faacutebricano local onde hoje a conhe-cemos na encosta do Monteda Guia A faacutebrica comeccedilou alaborar em fase experimentalem Agosto de 1942 Durante

os seus 30 anos de laboraccedilatildeoprocessaram-se 1940 cachalo-tes que produziram 44 mil bi-dotildees de oacuteleoEm 1974 acompanhando odecliacutenio da induacutestria baleeira aniacutevel mundial a faacutebrica fechouas suas portas Em 1980 oGoverno Regional dos Accediloresadquiriu todo o complexo fabrilcom o objectivo de ali instalaro Departamento de Oceano-

graa e Pescas e uma Escola

de Pesca desiacutegnio esse quenunca se chegou a realizarEm 1984 a antiga faacutebrica foiclassicada como Imoacutevel de

Interesse Puacuteblico (IIP) Depoisde quase duas deacutecadas de de-gradaccedilatildeo do edifiacutecio e da suamaquinaria sem duacutevida atenu-ados pela acccedilatildeo persistente deManuel da Rosa Correia co-nhecido como Patratildeo Manuele de Manuel Medeiros conhe-cido com Sr Amaral (antigo en-carregado da faacutebrica) a faacutebricafoi nalmente alvo de obras

de restauro e de beneciaccedilatildeo Apelidada de Centro do Marfoi inaugurada em 2000 por

ocasiatildeo da 2ordf ediccedilatildeo da Expo-Pescas com o objectivo de setornar num espaccedilo de divulga-ccedilatildeo cultural e cientiacuteca Desde

2004 que a Faacutebrica eacute a sede

do OMA que desde entatildeo temvindo a dinamizar esse espaccediloEm 2010 a Faacutebrica da Baleia

de Porto Pim como hoje eacute co-nhecida foi inserida no Com-plexo do Monte da Guia da Ilhado Faial z

A FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

VISITA GUIADA FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM 983085 DESCRICcedilAtildeO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE OMA

INTERIOR A FAacuteBRICA Eacute UM MUSEU PERMANENTE

CASA DAS AUTOCLAVES COMSEIS AUTOCLAVES CADA UMACOM CAPACIDADE DE 11 M

CASA DAS FARINHAS COM TODAA MAQUINARIA ORIGINAL DA RE983085

CONHECIDA MARCA NORUGUESAMYRENS VERKSTED E OS MOTO983085

RES DA MARCA ALEMAtilde MOTORENFABRIK DEUTZ AG

EDIFICIO ANEXO ONDE FUNCIONAVA A ANTIGASERRALHARIA E OS ESCRITOacuteRIOS DESTACAM983085SEOS ALTOS TANQUES SUBTERRAcircNEOS PARA AR983085MAZENAMENTO DE OacuteLEO ACTUAL ldquoSALA DOS

OacuteLEOSrdquo 983080SALA DE EXPOSICcedilOtildeES E REUNIOtildeES983081

ANTIGAS CASAS DE BANHOACTUAL BAR DA PRAIA E WCS DE

APOIO Agrave FAacuteBRICA DA BALEIA

ANTIGO ARMAZEacuteM DAS FARI983085NHAS COM QUATRO TANQUESSUBTERRAcircNEOS PARA ARMAZE983085NAMENTO DO OacuteLEO ACTUALLOJA DA FAacuteBRICA E CIM

PLATAFORMA DE DESMANCHODESTAQCA983085SE A CHAMINEacute DAS CALDEI983085

RAS A VAPOR

CASA DAS CALDEIRAS A VAPOR IMPO983085NENTES CALDEIRAS FABRICADAS NA CI983085DADE DO PORTO EM PRIMEIRO PLANOVEMOS A CALDEIRA QUE FOI INSTALADAEM 1950

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y A inauguraccedilatildeo da Casados Botes no Capelo marcoumais um passo no percursoque comeccedilou a ser percorridohaacute mais de dez anos quandopor altura das comemoraccedilotildeesdos 400 anos daquela fregue-sia se decidiu iniciar um pro-cesso de recuperaccedilatildeo do patri-moacutenio baleeiro no Faial entatildeodenominado ldquorecuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeira da ilha doFaialrdquoHoje 25 anos depois de ter

sido caccedilado o uacuteltimo cachaloteem aacuteguas accedilorianas o patri-moacutenio da baleaccedilatildeo estaacute bemvivo sendo essa vivacidade noFaial espelhada pela recupe-

raccedilatildeo dos botes baleeiros dalancha Walquiacuteria da Faacutebricada Baleia e agora da Casados BotesRecuperar os botes baleeirosnatildeo eacute no entanto suciente

para garantir que a sua me-moacuteria continua viva Os botespertencem ao mar e por issofoi com naturalidade que estemovimento de revitalizaccedilatildeo dopatrimoacutenio acabou por passar

para a vertente desportiva coma criaccedilatildeo da secccedilatildeo de botesbaleeiros do Clube Naval daHorta que movimenta muitos

desportistasNa hora de lembrar todo estepercurso de recuperaccedilatildeo dopatrimoacutenio baleeiro bem comode reectir sobre o que haacute a

fazer numa altura em esseprocesso estaacute praticamenteconsolidado Tribuna das Ilhasconversou com Joatildeo Garciaque era em 2000 membro do

elenco da Junta de Freguesiado Capelo responsaacutevel pelodesencadear deste projectoe que em 2005 o levou para o

Clube Naval da Horta quandoassumiu a direcccedilatildeo da agre-miaccedilatildeo naacuteutica faialense Alertando para a importacircnciada manutenccedilatildeo deste patrimoacute-

nio agora que todo ele estaacuterestaurado Joatildeo Garcia apelaa um esforccedilo conjunto para aconsolidaccedilatildeo de um campeo-nato regional de botes baleei-ros e defende a alteraccedilatildeo dalegislaccedilatildeo para que os clubesnavais possam retirar rentabili-dade econoacutemica dos passeiosagrave vela em botes baleeiros demodo a que estes possam sus-tentar a sua proacutepria manuten-

ccedilatildeo

O PROCESSO DE RECUPE-RACcedilAtildeO DE BOTES EM VAacute-

RIAS FREGUESIAS COM HIS-TOacuteRIA BALEEIRA NO FAIALFOI DESENCADEADO QUAN-DO O JOAtildeO ERA PRESIDEN-TE DA JUNTA DE FREGUESIADO CAPELO E PREPARAVAAS COMEMORACcedilOtildeES DOSSEUS 400 ANOS O QUE EacuteQUE MOTIVOU A QUE O PA-TRIMOacuteNIO BALEEIRO FOSSEO MARCO DESTA EFEMEacuteRI-DE A importacircncia que tinha essaefemeacuteride levou a que se -zesse um levantamento his-toacuterico dos quatro seacuteculos dafreguesia A baleaccedilatildeo teve umpapel importante nessa histoacuteriae desde logo decidimos fazer

uma regata de botes que li-gasse o Porto do Comprido aodo Varadouro tendo em contaa ligaccedilatildeo histoacuterica que os doistiveram pela baleaccedilatildeo A partirdaqui somos despertados paraalgo que tem grande valor sen-timental e histoacuterico e nasce ummovimento de recuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeiraO Capelo teve uma forte im-plementaccedilatildeo da baleaccedilatildeo era

uma coisa que estava enraiza-da no povo e que era impor-tante salvaguardar Primeirohouve a preocupaccedilatildeo de re-

gistar as memoacuterias que haviadessa eacutepoca registos feitospor pessoas do Capelo nome-adamente pelo Joseacute Franciscoda Faialentejo que registou ostestemunhos de alguns baleei-ros Depois houve o movimen-to de recuperaccedilatildeo dos botesO Pico tinha jaacute uma seacuterie debotes recuperados e noacutes qui-semos ir um pouco mais lon-ge e abranger natildeo apenas asfreguesias com tradiccedilatildeo nabaleaccedilatildeo como Salatildeo Cas-telo Branco e Anguacutestias mastambeacutem outras onde havia re-crutamento de baleeiros comoeacute o caso da Feteira O projectocontemplava a recuperaccedilatildeo da

Casa do Bote Baleeiro que foirecentemente inaugurada evisa ainda publicar a histoacuteria dabaleaccedilatildeo na ilha do Faial

FOI FAacuteCIL PARA A JUNTA DEFREGUESIA DO CAPELO MO-TIVAR AS RESTANTES FRE-GUESIAS A EMBARCAREMNESTE PROJECTOPor acccedilatildeo do Clube Navalmais concretamente pelo entatildeo

presidente Joseacute Decq Motatemos conhecimento que naCalheta do Nesquim existe umbote disponiacutevel cheio de his-

ENTREVISTA A JOAtildeO PEDRO GARCIA

ldquoO DESAFIO MAIS IMPORTANTE Eacute

A PRESERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROrdquo

FONTE ROBERT CLARKE DISCOVERY REPORTS 1954

NO MAR O MOMENTO EM QUE SE INICIA A PERSEGUICcedilAtildeO AO CACHALOTE

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toacuteria e que eacute inclusive citadono Mau Tempo no Canal deVitorino Nemeacutesio o bote SatildeoJoseacute Sabendo que havia aquium interesse ele falou-nos daexistecircncia desse bote que es-tava sob a alccedilada da Comissatildeo

do Patrimoacutenio Baleeiro Inicia--se aiacute a sua recuperaccedilatildeo e umpasso importante para aquiloque queriacuteamos fazer A recu-peraccedilatildeo de um bote para a fre-guesia do Capelo fez despertaras outras freguesias para esteprojecto Nesta altura ele deixade ser apenas palavras e pe-quenos escritos para comeccedilara ter uma maior dimensatildeoEm 2000 temos a primeira re-

gata com botes do Pico e ape-nas com o Claudina do Faial43 anos depois do uacuteltimo botebaleeiro ter ldquoarriadordquo no Com-prido Em 2003 aparece o Satildeo

Joseacute outro bote recuperadopara o Faialhellip As pessoas co-meccedilam a perceber que este eacuteum projecto com vidaNesta altura comeccedila tambeacutema dinamizar-se a regata inter-nacional de botes baleeirosO movimento de geminaccedilatildeoentre a Horta e New Bedfordestava estagnado e a partirdaiacute essa ligaccedilatildeo fortalece-seFoi precisamente a baleaccedilatildeoque criou o elo entre as duascidades agora fortalecido com

a recuperaccedilatildeo do patrimoacuteniobaleeiro E curiosamente eacutena primeira viagem que sefaz aos Estados Unidos que opresidente da Cacircmara Munici-pal da Horta Joatildeo Castro ca

desperto para a importacircncia dese recuperar a Walquiacuteria outroprocesso que estava estagna-do e ganha nessa altura alentoHaacute assim uma bola de neveque vai crescendo uma pai-xatildeo que vai aumentando e um

despertar da consciecircncia paraa recuperaccedilatildeo da memoacuteria quefaz com que se torne tudo maisfaacutecilO Governo Regional atraveacutesda Comissatildeo do PatrimoacutenioBaleeiro dos Accedilores deu umapoio incondicional a este pro- jecto Este eacute um desiacutegnio natildeode um homem soacute mas de vaacute-rias pessoas e instituiccedilotildees

COMO Eacute QUE O OBJECTIVO

DA PRESERVACcedilAtildeO DOS BO-TES BALEEIROS Eacute TRANS-POSTO PARA O CLUBE NA-VAL DA HORTA (CNH) COMO INTUITO DE CRIAR UMANOVA VERTENTE DESPORTI-VA NA ILHAQuando me foi lanccedilado o de-sao de assumir a presidecircncia

do CNH os botes baleeirosassumem uma importacircncia nomeu projecto para o clube Natildeoera possiacutevel continuar a gerir

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

BAIacuteA DA FETEIRA DURANTE A EacutePOCA DO VERAtildeO A BAIA Eacute ENGALANADA PELAS VELAS DOS BOTES BALEEIROS

FONTE SUSANA GARCIA

PATRIMOacuteNIOJORGE FONTES JOAtildeO GARCIA E JOAtildeO TAVARES TREcircS IMPULSIONA DORES DA PRESERVACcedilAtildeO DO PATRI983085MOacuteNIO BALEEIRO DA ILHA DO FAIAL

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as tripulaccedilotildees e a actividadedesportiva dos botes atraveacutesdas juntas de freguesia porqueelas natildeo tecircm essa vocaccedilatildeoEra inevitaacutevel que houvesseuma instituiccedilatildeo como o CNH ndash soacutelida agregadora sem ri-

validades ndash que pudesse darcontinuidade ao processo Nes-se sentido fundaacutemos a secccedilatildeode Botes Baleeiros da ilha doFaial que agrega com igual au-tonomia e legitimidade todos osparticipantes nesta actividadeNeste ponto tenho de referiro Carlos Fontes que deu umimportante contributo a todo oprocesso pela sua dedicaccedilatildeoe organizaccedilatildeo Outro elemen-

to que emprestou um valiosocontributo foi o Nuno Limasobretudo na recuperaccedilatildeo dalancha Walkiria a rainha dosmares dos Accedilores Houve ummomento de explosatildeo com

mais de cem participantes tan-to masculinos como femininoscom miuacutedos a virem das fre-guesias para aprender velacom cursos para ociaishellip Esta

vitalidade dos botes manteve--se ateacute 2010 Mantenho alguma

preocupaccedilatildeo quanto a algumassituaccedilotildees pontuais com receiode que as coisas se desagre-guem e as pessoas natildeo perce-bam os anos de trabalho queestatildeo aqui em causa e os seacutecu-los de baleaccedilatildeo que estatildeo pordetraacutes deste patrimoacutenio Eacute im-portante que haja consciecircncianatildeo apenas de todo o trabalhoque foi feito mas tambeacutem docusto nanceiro deste projec-

to Grande parte desse nan-ciamento foi assegurado pelogoverno regional que contoucom o apoio do E-GRANT`S ADirecccedilatildeo Regional da Culturao CNH e os clubes navais do

Pico apresentaram uma candi-datura para a recuperaccedilatildeo dosbotes baleeiros que foi aceiteSe natildeo fosse esse apoio hojenatildeo poderiacuteamos dizer que pra-ticamente todo o patrimoacuteniodos Accedilores botes e lanchas

estaacute recuperado Estamos afalar de 40 botes Em 10 anosno Faial recuperaram-se setebotes e uma lancha Se virmosque cada bote tem um custo derecuperaccedilatildeo de cerca de 35 mileuros percebemos que esse foium esforccedilo muito signicativo

A associaccedilatildeo dos botes bale-eiros da ilha do Faial ao CNHveio tambeacutem dar uma dimen-satildeo de ilha ao Clube e criou-se

uma dinacircmica desportiva im-portante de que o Faial neces-sitavaEsta vitalidade em torno dacultura e patrimoacutenio baleeirofaz despertar para a necessi-

dade deste ser inventariadoe salvaguardado Em 2008 o

Observatoacuterio do Mar dos Accedilo-res (OMA) entidade gestorada Faacutebrica da Baleia de PortoPim avanccedila para a inventaria-ccedilatildeo do patrimoacutenio imoacutevel da

baleaccedilatildeo primeiro agrave escala dailha do Faial e depois agrave escalados Accedilores

WALKIacuteRIA ldquoA RAINHA DOS MARES DOS ACcedilORESrdquo

ldquoNasceu para reinar nunca foi destronada e viveraacute esperamos por muitos anos assim o desejamos Somos uma grande regiatildeomariacutetima que quer preservar a memoacuteria coletiva das nossas teacutecnicas e tradiccedilotildees da nossa vivecircncia multissecular com o mar quenos rodeia nos separa e nos unerdquo A lancha Walkiria foi mandada construir pelos proprietaacuterios da Armaccedilatildeo Baleeira Reis amp Mendonccedila o industrial continental Francis-co Marcelino dos Reis e o Professor Rui de Mendonccedila residente na Vila das Velas amante de muacutesica Wagneriano que por talrazatildeo deu aos seus lhos os nomes de Wagner Weber

Walkyria e Isolda A construccedilatildeo foi realizada na ilha de S Jorge em 1937pelas matildeos de Joseacute e Manuel Gambatildeo irmatildeos e carpin-teiros habilidosos a partir de projeto de Manuel InaacutecioNunes natural do Pico mas com gabinete de projetos eestaleiro em Sacramento Califoacuternia Estados Unidos da Ameacuterica - ldquoQuando o antigo paquete a vapor ldquoCarvalho Arauacutejordquo

largava do porto das Velas com rumo ao Cais do Picoonde escalava depois de ter atingido a velocidade ple-na de cruzeiro a Walkyria rodeava o navio em marchapassando pela proa e pela popa Nenhuma outra lanchaconseguiu tal proezardquoEfetivamente a lancha estava equipada com um motor agasolina de 143 HP que permitindo atingir uma velocida-de de ponta elevada 18 noacutes tambeacutem acarretava consu-mos de combustiacutevel signicativos facto que levou agrave sua

venda em 1938 por ser economicamente pouco interes-sante para o trabalho que desenvolvia nomeadamente no apoio agrave caccedila agrave baleia Assim a lancha eacute transferida para a ilha do Faial por aquisiccedilatildeo do Sr Francisco Reis cando afeta ao transporte local de passagei-

ro Mais tarde eacute adquirida pela rma ldquoReis amp Martinsrdquo cando afeta agrave atividade baleeira Em 1955 a quando da instalaccedilatildeo de umaparelho de radiotelefonia foi-lhe atribuiacuteda a matriacutecula nal H-21-B

Em 2005 no acircmbito do projeto de ldquorecuperaccedilatildeo da memoacuteria baleeira da ilha do Faialrdquo depois de anos de repouso nos armazeacutens

da Reis e Martins a emblemaacutetica embarcaccedilatildeo volta a ganhar vida pelas matildeos do mestre Manuel Monteiro da Piedade do Pico en-trando de novo no porto da Horta a 12 de agosto desse mesmo ano totalmente recuperada

EEA Grants Mecanismo Finan-

ceiro Norueguecircs para apoio agrave

coesatildeo social e econoacutemica den-

tro da Uniatildeo Europeia Islacircndia

Liechtenstein e Noruega que

complementou o esforccedilo nan-

ceiro do Governo Regional para

a reabilitaccedilatildeo do patrimoacutenio bale-

eiro dos Accedilores Neste contexto

foram recuperados 40 botes e 10

lanchas Anualmente eacute atribuiacutedo

pelo Governo Regional um sub-

siacutedio para manutenccedilatildeo destas

embarcaccedilotildees

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Tempo de Baleeiros

AINDA BEM QUE REFERE AINVENTARIACcedilAtildeO DO PATRI-MOacuteNIO IMOacuteVEL POIS DEFACTO O PATRIMOacuteNIO DABALEACcedilAtildeO NAtildeO SE RESU-ME AOS BOTEShellip DEPOIS DAREVITALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRI-CA DA BALEIA ESTE PRO-CESSO DE RECUPERACcedilAtildeODO PATRIMOacuteNIO FICOU AIN-DA MAIS COMPLETO COMA INAUGURACcedilAtildeO DA CASADOS BOTES NO CAPELO HAacuteMUITO AGUARDADA FALE--NOS DESSE PROJECTO

Em boa hora a Junta de Fre-guesia do Capelo acolheu estainiciativa incluiacuteda no projectoldquoA recuperaccedilatildeo da memoacuteriabaleeirardquo Esta era uma casadas armaccedilotildees baleeiras deSatildeo Roque do Pico A sua re-cuperaccedilatildeo natildeo eacute mais do quedevolver ao porto do Compri-do a sua histoacuteria A histoacuteria doCapelo natildeo comeccedila em 1957com o Vulcatildeo dos Capelinhos

Antes disso o porto do Com-prido jaacute tinha dois seacuteculos dehistoacuteria tendo sido uma dasprincipais estaccedilotildees baleeirasdos Accedilores Essa memoacuteria

tinha de ser preservada porrespeito aos nossos antepas-sados Essa preservaccedilatildeo tam-beacutem se faz atraveacutes do circuitopedestre do baleeiro que tam-beacutem foi inaugurado agora Esteleva-nos ao conjunto de vigiasque existe no Vulcatildeo dos Ca-pelinhos

Um museu natildeo eacute uma coisaque estaacute dentro de casa maseacute tudo o que nos rodeia Te-mos de contar de forma sim-ples a todos os que nos visi-tam que esta eacute uma ilha comhistoacuteria

HAacute TAMBEacuteM A PREOCUPA-CcedilAtildeO DE REUNIR EM LIVRO AINFORMACcedilAtildeO SOBRE A BA-LEACcedilAtildeO QUE TEM VINDO ASER RECOLHIDAhellipNos uacuteltimos anos o Obser-vatoacuterio do Mar dos Accedilores(OMA) tem feito um excelentetrabalho o que se traduz numgrande avanccedilo na pesquisaCom aquilo que jaacute tinha sido

feito lanccedilaacutemos um desao aoFilipe Porteiro presidente doOMA para que se documen-tasse por escrito a memoacuteriados baleeiros Haacute um registode memoacuterias de alguns bale-eiros do Capelo um espoacuteliofotograacuteco que foi e continua

a ser recolhido um conjuntode informaccedilotildees tanto daquicomo de New Bedford no queao tempo da baleaccedilatildeo diz res-peitohellip Portanto temos infor-maccedilatildeo suciente para fechar

nos proacuteximos dois anos estarecuperaccedilatildeo da memoacuteria comum livro que permita dar aconhecer a histoacuteria da balea-ccedilatildeo no Faial Haacute um conjunto

de pessoas disponiacuteveis paracolaborar neste processo Naminha opiniatildeo esta obra deveter ediccedilatildeo bilingue tendo emconta o interesse que tem paraos Estados Unidos

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE FICA A FALTAR FAZERPELA RECUPERACcedilAtildeO E PRE-SERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROTenho de deixar uma mensa-gem importante agraves pessoasque hoje gerem este proces-so procurem os consensosEacute muito importante termosum consenso regional relati-vamente aos botes baleeiros

Eacute importante que se volte aosmodelos adoptados em 2005

relativamente agraves regatas Natildeopodemos ter regatas em to-das as freguesias dos AccediloresTemos de ter as cinco regatastradicionalmente mais antigasnas quais se inclui a Semanado Mar e quatro regatas noPico e fazer as outras trecircs deforma rotativa para voltarmosa ter um campeonato regionalde botes baleeiros em condi-ccedilotildees Faial e Pico tecircm de en-tender-se nesta mateacuteria Estamensagem tem de ser passa-da para as instituiccedilotildees para osclubes para as juntas de fre-guesia para as pessoashellip

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA UM ASPECTO DE UMA REGATA DENTRO DA BAIA DA HORTA

FONTE OMA

EMBARCACcedilAtildeO OS ANTIGOS BOTES TORNARAM983085SE TAMBEacuteM NUMA PECcedilAMUSEOLOacuteGICA

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Tempo de Baleeiros

Eacute tambeacutem importante que asecccedilatildeo de botes baleeiros doFaial continue A rivalidade en-tre freguesias natildeo traz nada debom O CNH tem obrigaccedilatildeo deconsolidar a secccedilatildeo custe oque custar

Aleacutem disso temos de ver queo patrimoacutenio baleeiro que estaacuteentregue agraves Juntas de Fregue-sia natildeo eacute das autarquias Per-tence agrave Governo Regional dos Acores ou seja agrave Regiatildeo e asua preservaccedilatildeo eacute uma obri-gaccedilatildeo daqueles a quem foientregue Eacute preciso ter muitocuidado nessa preservaccedilatildeosenatildeo dentro de alguns anosestamos natildeo a fazer manuten-

ccedilatildeo mas praticamente a fazernovos botes Os responsaacuteveisde cada uma das instituiccedilotildeestecircm de ter consciecircncia do pa-trimoacutenio que tecircm nas matildeos ede toda esta histoacuteria Agora odesao mais importante eacute a

manutenccedilatildeo deste patrimoacutenio econtinuar a despertar nas pes-soas o interesse por andar agravevela e a remos O bote baleeiroeacute uma embarcaccedilatildeo iacutempar Natildeohaacute outra no mundo

E A PRESERVACcedilAtildeO SOacute SEFAZ COMPLETAMENTE SEOS BOTES ESTIVEREM NOMAR A NAVEGARExactamente Haacute uma partemuito importante do projec-to que ainda falta que passa

pela sede do CNH e por sa-ber o que vai acontecer aosarmazeacutens da Reis e MartinsEacute preciso encontrar um espa-ccedilo adequado para guardar osbotes fazer a sua manuten-ccedilatildeo e expocirc-los Os botes satildeopatrimoacutenio histoacuterico mas tam-beacutem turiacutestico As regatas satildeobonitas mas os passeios embotes baleeiros tambeacutem Se foralterada a portaria que regula

esses passeios em vigor haacutemuitos anos os clubes podemdeles tirar rendimentos

ACHA ENTAtildeO QUE FARIASENTIDO RENTABILIZAR OSPASSEIOS NOS BOTES BA-LEEIROS PARA FINANCIARA SUA PROacutePRIA PRESERVA-CcedilAtildeOFaz todo o sentido Na situ-accedilatildeo econoacutemica em que es-tamos natildeo podemos viver da

ldquosubsiacutedio-dependecircnciardquo A ma-nutenccedilatildeo dos botes as regatase toda essa dinacircmica podemsustentar-se com a criaccedilatildeo deuma vertente econoacutemica comos passeios de bote baleeiroporque temos mercado para

isso Eacute necessaacuterio alterar legis-laccedilatildeo nessa aacuterea

NOUTROS TEMPOS A BA-LEIA FOI UM PILAR DA NOS-SA ECONOMIA ACHA QUEHOJE COM O WHALE WA-TCHING A MOTIVAR A EXIS-TEcircNCIA DE BALEEIROS COMMAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICASEM VEZ DE ARPOtildeES CON-TRIBUINDO PARA A ECONO-

MIA DA ILHA E COM OS BO-TES BALEEIROS NA AacuteGUAPARA AS COMPETICcedilOtildeESDESPORTIVAS ESTAMOSPERANTE UMA ESPEacuteCIE DENOVA BALEACcedilAtildeO Acho que entraacutemos numa novafase da baleaccedilatildeo e soubemosperceber natildeo apenas a impor-tacircncia que a baleaccedilatildeo tevemas tambeacutem a importacircnciaque os cetaacuteceos tecircm hoje nos Accedilores Haacute um Departamento

de Oceanograa e Pescas da

Universidade dos Accedilores quesabe o que estaacute a fazer haacuteuma consciecircncia das empre-sas de whale watching para asua importacircnciahellip Natildeo eacute poracaso que algumas dessas

empresas utilizam as antigasvigias dos baleeiros e inclusi-ve as recuperaram contribuin-do assim para a preservaccedilatildeodo patrimoacutenio da baleaccedilatildeo Osegredo da observaccedilatildeo de ba-leias nos Accedilores tem a ver coma histoacuteria que haacute para contarHouve uma altura em que ca-ccedilaacutemos e haacute agora uma alturaem que sabemos preservarHaacute aqui um potencial turiacutestico

enorme Os accedilorianos adapta-ram-se muito bem a esta novarealidadez

MARLA PINHEIRO

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y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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Tempo de Baleeiros

da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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Tempo de Baleeiros

pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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Tempo de Baleeiros

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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Tempo de Baleeiros

INVENTAacuteRIO DOESPOacuteLIO REIS EMARTINS LDA

Os objectos encontrados foramanalisados e descritos quantoagraves caracteriacutesticas funcionaisde origem e agraves transforma-ccedilotildees eventuais que possamter sofrido ao longo do tempoSe alguns objectos tecircm umafunccedilatildeo oacutebvia (pe botes e suapalamenta arpotildees etc) outroshaacute cuja sua utilidade eacute difiacutecil dedescodicar A identicaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo funcional dos ob- jectos encontrados foi consubs-tanciada por fontes documen-tais quando existentes eoupor depoimentos orais fonte de

informaccedilatildeo uacutenica e insubstituiacute-vel para a compreensatildeo abran-gente da actividade industrialem estudo A identicaccedilatildeo de cada bem

foi registada em cha proacutepria

onde os elementos considera-dos adequados para o seu re-conhecimento foram descritosem detalhe A cha inclui uma fotograa do

objecto o seu nuacutemero de in-

ventaacuterio a sua funccedilatildeo originala categoria a que pertence oseu estado de conservaccedilatildeo adata do inventaacuterio e a referecircn-cia das fotograas existentes

desse objectoOs bens inventariados foramclassicados em categorias

consoante o tipo de colecccedilatildeo esuas caracteriacutesticas (tipologia) Assim optou-se por classicaacute--los em classes segundo asua funccedilatildeo original e em sub-classes que correspondemao local ou agrave infra-estrutura aque pertenciam (ex Selhandashde--linha Classe Palamenta Sub-classe Bote Baleeiro) A inventariaccedilatildeo individual de

cada peccedila permitiu a criaccedilatildeode um inventaacuterio fotograacuteco e

de uma lista geral de inventaacute-rio onde constam todas as 468peccedilas resgatadas ateacute ao mo-mento O passo seguinte con-sistiu na conservaccedilatildeo e restau-ro dos objectos classicados

As intervenccedilotildees foram criterio-samente efectuadas para natildeocomprometerem a constituiccedilatildeooriginal das peccedilas Aspiraccedilatildeo lavagem restaurocom oacuteleo e tratamento contra

pragas foram as operaccedilotildeesadoptadas para as peccedilas demadeira As peccedilas de metal a maioriacom niacuteveis de oxidaccedilatildeo con-sideraacuteveis foram objecto detratamentos especiacutecos adap-tados a cada casoz

FONTE OMA

SALVAGUARDA CLASSIFICACcedilAtildeO DAS 468 PECcedilAS INVENTARIADAS ATEacute AO MOMENTO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE RODRIGO SAacute DA BANDEIRA

OBJECTOS983085 EXEMPLARES DO ESPOacuteLIO RESGATADO DOS ARMAZEacuteNS REIS E MARTINS

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y Em 2010 o OMA estabe-leceu um contrato de coope-raccedilatildeo teacutecnica com a DirecccedilatildeoRegional da Cultura (DRaC)com o objectivo de inventariaro patrimoacutenio baleeiro imoacutevel detodo o arquipeacutelago A execuccedilatildeo

do projeto foi assegurada poruma equipa multidisciplinar naaacuterea da investigaccedilatildeo histoacuterica

arquitectura e fotograa pro-ssional A recolha preacutevia da

informaccedilatildeo foi o ponto de par-tida para um trabalho de cam-po que decorreu entre os me-ses de Junho e Dezembro de2011 Foram inventariados os

antigos complexos baleeirospostos baleeiros e varadourosbaleeiros rampas de varagemdas embarcaccedilotildees rampas dealagem de cachalotes casas

de botes traioacuteis faacutebricas deprocessamento de cachalotese plataformas de desmancho

vigias residecircncias sazonaiscarpintarias ocinas arma-zeacutens entre outrosNa ilha do Faial foram inven-tariados 17 imoacuteveis (ver Fig5) identicados no Complexo

Baleeiro das Anguacutestias (localonde as armaccedilotildees baleeirastinham a sua sede com ar-mazeacutens faacutebricas de proces-samento de cachalotescasade caldeiros e estacionavam

as embarcaccedilotildees prontas parauma raacutepida arriada agrave baleia)nos Postos Baleeiros do Porto

do Comprido do Salatildeo (estesdois como local de estaciona-mento sazonal das armaccedilotildeesbaleeiras do Faial e do Pico) edo Varadouro Identicaram-se

ainda apesar de menos repre-sentativos na actividade baleirada Ilha do Faial os Varadourosdo Cedros Castelo Branco eRibeirinha todos com rampade varagem para estaciona-mento de botes baleeiros z

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIRO IMOacuteVEL DO FAIAL

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIO BALEEIRO IMOacuteVEL DOS ACcedilORES A ILHA DO FAIAL

MAacuteRCIA DUTRAOMA

COMPLEXTO BALEEIRO DAS ANGUacuteSTIAS1 983085 FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

2983085 ARMAZEacuteM DA REIS amp MARTINS LDA3 983085 CASA DE CALDEIROS DE PORTO PIM983080FAacuteBRICA VELHA9830814 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTOPOSTO BALEEIRO DO PORTO DOCOMPRIDO5 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO DO

COMPRIDO6 983085 VIGIA DO CAPELO

7 983085 VIGIA DO COSTADO DA NAU8 983085 RESIDEcircNCIAS SAZONAIS DO PORTODO COMPRIDO9 983085 CASA DOS BOTES DO PORTO DOCOMPRIDOPOSTO BALEEIRO DO SALAtildeO10 983085 RAMPA DE VARAGEM DO SALAtildeO

11 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DA ARMA983085CcedilOtildeES DO FAIAL

12 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DAS ARMA983085CcedilOtildeES DO PICO13 983085 VIGIA DOS CEDROS14 983085 POSTO BALEEIRO DO VARADOURO15 983085 VIGIA DO ALTO DAS CONCHEIRASVARADOURO BALEEIRO DOS CEDROS16 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO

DA EIRAVARADOURO BALEEIRO DA RIBEIRINHA

17 983085 RAMPA DE VARAGEM DA RIBEIRINHAVARADOURO BALEEIRO DE CASTELOBRANCO18 983085 RAMPA DE VARAGEM DE CASTELOBRANCO

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y Em 1939 a Sociedade In-dustrial Mariacutetima Accediloriana Lda ndash a SIMAL foi fundada na Hor-ta Esta sociedade comercialpor quotas de responsabilidadelimitada tinha como objectivosa ldquoexploraccedilatildeo da induacutestria doaproveitamento integral da ba-

leia e outras espeacutecies marinhase comeacutercio dos respectivosprodutosrdquo A SIMAL era cons-tituiacuteda por 25 soacutecios sendo os

soacutecios maioritaacuterios o industriallisboeta Francisco Marcelinodos Reis e a empresa localCosta amp Martins Lda Desta-

cam-se ainda quatro compa-nhias baleeiras da Ribeira doMeio (Pico) que por razotildeesfamiliares e por ter sido nega-

da a construccedilatildeo de uma faacutebri-ca nas Lajes se associaram agraveSIMAL A faacutebrica comeccedilou a ser cons-truiacuteda em 1941 inicialmenteno areal da Praia de Porto Pimmas devido a um forte tem-poral ocorrido em Setembrodesse mesmo ano foi comple-tamente destruiacuteda e abandona-do o projecto Esta intempeacuterielevou a que os proprietaacuterios

decidissem construir a faacutebricano local onde hoje a conhe-cemos na encosta do Monteda Guia A faacutebrica comeccedilou alaborar em fase experimentalem Agosto de 1942 Durante

os seus 30 anos de laboraccedilatildeoprocessaram-se 1940 cachalo-tes que produziram 44 mil bi-dotildees de oacuteleoEm 1974 acompanhando odecliacutenio da induacutestria baleeira aniacutevel mundial a faacutebrica fechouas suas portas Em 1980 oGoverno Regional dos Accediloresadquiriu todo o complexo fabrilcom o objectivo de ali instalaro Departamento de Oceano-

graa e Pescas e uma Escola

de Pesca desiacutegnio esse quenunca se chegou a realizarEm 1984 a antiga faacutebrica foiclassicada como Imoacutevel de

Interesse Puacuteblico (IIP) Depoisde quase duas deacutecadas de de-gradaccedilatildeo do edifiacutecio e da suamaquinaria sem duacutevida atenu-ados pela acccedilatildeo persistente deManuel da Rosa Correia co-nhecido como Patratildeo Manuele de Manuel Medeiros conhe-cido com Sr Amaral (antigo en-carregado da faacutebrica) a faacutebricafoi nalmente alvo de obras

de restauro e de beneciaccedilatildeo Apelidada de Centro do Marfoi inaugurada em 2000 por

ocasiatildeo da 2ordf ediccedilatildeo da Expo-Pescas com o objectivo de setornar num espaccedilo de divulga-ccedilatildeo cultural e cientiacuteca Desde

2004 que a Faacutebrica eacute a sede

do OMA que desde entatildeo temvindo a dinamizar esse espaccediloEm 2010 a Faacutebrica da Baleia

de Porto Pim como hoje eacute co-nhecida foi inserida no Com-plexo do Monte da Guia da Ilhado Faial z

A FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

VISITA GUIADA FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM 983085 DESCRICcedilAtildeO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE OMA

INTERIOR A FAacuteBRICA Eacute UM MUSEU PERMANENTE

CASA DAS AUTOCLAVES COMSEIS AUTOCLAVES CADA UMACOM CAPACIDADE DE 11 M

CASA DAS FARINHAS COM TODAA MAQUINARIA ORIGINAL DA RE983085

CONHECIDA MARCA NORUGUESAMYRENS VERKSTED E OS MOTO983085

RES DA MARCA ALEMAtilde MOTORENFABRIK DEUTZ AG

EDIFICIO ANEXO ONDE FUNCIONAVA A ANTIGASERRALHARIA E OS ESCRITOacuteRIOS DESTACAM983085SEOS ALTOS TANQUES SUBTERRAcircNEOS PARA AR983085MAZENAMENTO DE OacuteLEO ACTUAL ldquoSALA DOS

OacuteLEOSrdquo 983080SALA DE EXPOSICcedilOtildeES E REUNIOtildeES983081

ANTIGAS CASAS DE BANHOACTUAL BAR DA PRAIA E WCS DE

APOIO Agrave FAacuteBRICA DA BALEIA

ANTIGO ARMAZEacuteM DAS FARI983085NHAS COM QUATRO TANQUESSUBTERRAcircNEOS PARA ARMAZE983085NAMENTO DO OacuteLEO ACTUALLOJA DA FAacuteBRICA E CIM

PLATAFORMA DE DESMANCHODESTAQCA983085SE A CHAMINEacute DAS CALDEI983085

RAS A VAPOR

CASA DAS CALDEIRAS A VAPOR IMPO983085NENTES CALDEIRAS FABRICADAS NA CI983085DADE DO PORTO EM PRIMEIRO PLANOVEMOS A CALDEIRA QUE FOI INSTALADAEM 1950

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y A inauguraccedilatildeo da Casados Botes no Capelo marcoumais um passo no percursoque comeccedilou a ser percorridohaacute mais de dez anos quandopor altura das comemoraccedilotildeesdos 400 anos daquela fregue-sia se decidiu iniciar um pro-cesso de recuperaccedilatildeo do patri-moacutenio baleeiro no Faial entatildeodenominado ldquorecuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeira da ilha doFaialrdquoHoje 25 anos depois de ter

sido caccedilado o uacuteltimo cachaloteem aacuteguas accedilorianas o patri-moacutenio da baleaccedilatildeo estaacute bemvivo sendo essa vivacidade noFaial espelhada pela recupe-

raccedilatildeo dos botes baleeiros dalancha Walquiacuteria da Faacutebricada Baleia e agora da Casados BotesRecuperar os botes baleeirosnatildeo eacute no entanto suciente

para garantir que a sua me-moacuteria continua viva Os botespertencem ao mar e por issofoi com naturalidade que estemovimento de revitalizaccedilatildeo dopatrimoacutenio acabou por passar

para a vertente desportiva coma criaccedilatildeo da secccedilatildeo de botesbaleeiros do Clube Naval daHorta que movimenta muitos

desportistasNa hora de lembrar todo estepercurso de recuperaccedilatildeo dopatrimoacutenio baleeiro bem comode reectir sobre o que haacute a

fazer numa altura em esseprocesso estaacute praticamenteconsolidado Tribuna das Ilhasconversou com Joatildeo Garciaque era em 2000 membro do

elenco da Junta de Freguesiado Capelo responsaacutevel pelodesencadear deste projectoe que em 2005 o levou para o

Clube Naval da Horta quandoassumiu a direcccedilatildeo da agre-miaccedilatildeo naacuteutica faialense Alertando para a importacircnciada manutenccedilatildeo deste patrimoacute-

nio agora que todo ele estaacuterestaurado Joatildeo Garcia apelaa um esforccedilo conjunto para aconsolidaccedilatildeo de um campeo-nato regional de botes baleei-ros e defende a alteraccedilatildeo dalegislaccedilatildeo para que os clubesnavais possam retirar rentabili-dade econoacutemica dos passeiosagrave vela em botes baleeiros demodo a que estes possam sus-tentar a sua proacutepria manuten-

ccedilatildeo

O PROCESSO DE RECUPE-RACcedilAtildeO DE BOTES EM VAacute-

RIAS FREGUESIAS COM HIS-TOacuteRIA BALEEIRA NO FAIALFOI DESENCADEADO QUAN-DO O JOAtildeO ERA PRESIDEN-TE DA JUNTA DE FREGUESIADO CAPELO E PREPARAVAAS COMEMORACcedilOtildeES DOSSEUS 400 ANOS O QUE EacuteQUE MOTIVOU A QUE O PA-TRIMOacuteNIO BALEEIRO FOSSEO MARCO DESTA EFEMEacuteRI-DE A importacircncia que tinha essaefemeacuteride levou a que se -zesse um levantamento his-toacuterico dos quatro seacuteculos dafreguesia A baleaccedilatildeo teve umpapel importante nessa histoacuteriae desde logo decidimos fazer

uma regata de botes que li-gasse o Porto do Comprido aodo Varadouro tendo em contaa ligaccedilatildeo histoacuterica que os doistiveram pela baleaccedilatildeo A partirdaqui somos despertados paraalgo que tem grande valor sen-timental e histoacuterico e nasce ummovimento de recuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeiraO Capelo teve uma forte im-plementaccedilatildeo da baleaccedilatildeo era

uma coisa que estava enraiza-da no povo e que era impor-tante salvaguardar Primeirohouve a preocupaccedilatildeo de re-

gistar as memoacuterias que haviadessa eacutepoca registos feitospor pessoas do Capelo nome-adamente pelo Joseacute Franciscoda Faialentejo que registou ostestemunhos de alguns baleei-ros Depois houve o movimen-to de recuperaccedilatildeo dos botesO Pico tinha jaacute uma seacuterie debotes recuperados e noacutes qui-semos ir um pouco mais lon-ge e abranger natildeo apenas asfreguesias com tradiccedilatildeo nabaleaccedilatildeo como Salatildeo Cas-telo Branco e Anguacutestias mastambeacutem outras onde havia re-crutamento de baleeiros comoeacute o caso da Feteira O projectocontemplava a recuperaccedilatildeo da

Casa do Bote Baleeiro que foirecentemente inaugurada evisa ainda publicar a histoacuteria dabaleaccedilatildeo na ilha do Faial

FOI FAacuteCIL PARA A JUNTA DEFREGUESIA DO CAPELO MO-TIVAR AS RESTANTES FRE-GUESIAS A EMBARCAREMNESTE PROJECTOPor acccedilatildeo do Clube Navalmais concretamente pelo entatildeo

presidente Joseacute Decq Motatemos conhecimento que naCalheta do Nesquim existe umbote disponiacutevel cheio de his-

ENTREVISTA A JOAtildeO PEDRO GARCIA

ldquoO DESAFIO MAIS IMPORTANTE Eacute

A PRESERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROrdquo

FONTE ROBERT CLARKE DISCOVERY REPORTS 1954

NO MAR O MOMENTO EM QUE SE INICIA A PERSEGUICcedilAtildeO AO CACHALOTE

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Tempo de Baleeiros

toacuteria e que eacute inclusive citadono Mau Tempo no Canal deVitorino Nemeacutesio o bote SatildeoJoseacute Sabendo que havia aquium interesse ele falou-nos daexistecircncia desse bote que es-tava sob a alccedilada da Comissatildeo

do Patrimoacutenio Baleeiro Inicia--se aiacute a sua recuperaccedilatildeo e umpasso importante para aquiloque queriacuteamos fazer A recu-peraccedilatildeo de um bote para a fre-guesia do Capelo fez despertaras outras freguesias para esteprojecto Nesta altura ele deixade ser apenas palavras e pe-quenos escritos para comeccedilara ter uma maior dimensatildeoEm 2000 temos a primeira re-

gata com botes do Pico e ape-nas com o Claudina do Faial43 anos depois do uacuteltimo botebaleeiro ter ldquoarriadordquo no Com-prido Em 2003 aparece o Satildeo

Joseacute outro bote recuperadopara o Faialhellip As pessoas co-meccedilam a perceber que este eacuteum projecto com vidaNesta altura comeccedila tambeacutema dinamizar-se a regata inter-nacional de botes baleeirosO movimento de geminaccedilatildeoentre a Horta e New Bedfordestava estagnado e a partirdaiacute essa ligaccedilatildeo fortalece-seFoi precisamente a baleaccedilatildeoque criou o elo entre as duascidades agora fortalecido com

a recuperaccedilatildeo do patrimoacuteniobaleeiro E curiosamente eacutena primeira viagem que sefaz aos Estados Unidos que opresidente da Cacircmara Munici-pal da Horta Joatildeo Castro ca

desperto para a importacircncia dese recuperar a Walquiacuteria outroprocesso que estava estagna-do e ganha nessa altura alentoHaacute assim uma bola de neveque vai crescendo uma pai-xatildeo que vai aumentando e um

despertar da consciecircncia paraa recuperaccedilatildeo da memoacuteria quefaz com que se torne tudo maisfaacutecilO Governo Regional atraveacutesda Comissatildeo do PatrimoacutenioBaleeiro dos Accedilores deu umapoio incondicional a este pro- jecto Este eacute um desiacutegnio natildeode um homem soacute mas de vaacute-rias pessoas e instituiccedilotildees

COMO Eacute QUE O OBJECTIVO

DA PRESERVACcedilAtildeO DOS BO-TES BALEEIROS Eacute TRANS-POSTO PARA O CLUBE NA-VAL DA HORTA (CNH) COMO INTUITO DE CRIAR UMANOVA VERTENTE DESPORTI-VA NA ILHAQuando me foi lanccedilado o de-sao de assumir a presidecircncia

do CNH os botes baleeirosassumem uma importacircncia nomeu projecto para o clube Natildeoera possiacutevel continuar a gerir

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

BAIacuteA DA FETEIRA DURANTE A EacutePOCA DO VERAtildeO A BAIA Eacute ENGALANADA PELAS VELAS DOS BOTES BALEEIROS

FONTE SUSANA GARCIA

PATRIMOacuteNIOJORGE FONTES JOAtildeO GARCIA E JOAtildeO TAVARES TREcircS IMPULSIONA DORES DA PRESERVACcedilAtildeO DO PATRI983085MOacuteNIO BALEEIRO DA ILHA DO FAIAL

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as tripulaccedilotildees e a actividadedesportiva dos botes atraveacutesdas juntas de freguesia porqueelas natildeo tecircm essa vocaccedilatildeoEra inevitaacutevel que houvesseuma instituiccedilatildeo como o CNH ndash soacutelida agregadora sem ri-

validades ndash que pudesse darcontinuidade ao processo Nes-se sentido fundaacutemos a secccedilatildeode Botes Baleeiros da ilha doFaial que agrega com igual au-tonomia e legitimidade todos osparticipantes nesta actividadeNeste ponto tenho de referiro Carlos Fontes que deu umimportante contributo a todo oprocesso pela sua dedicaccedilatildeoe organizaccedilatildeo Outro elemen-

to que emprestou um valiosocontributo foi o Nuno Limasobretudo na recuperaccedilatildeo dalancha Walkiria a rainha dosmares dos Accedilores Houve ummomento de explosatildeo com

mais de cem participantes tan-to masculinos como femininoscom miuacutedos a virem das fre-guesias para aprender velacom cursos para ociaishellip Esta

vitalidade dos botes manteve--se ateacute 2010 Mantenho alguma

preocupaccedilatildeo quanto a algumassituaccedilotildees pontuais com receiode que as coisas se desagre-guem e as pessoas natildeo perce-bam os anos de trabalho queestatildeo aqui em causa e os seacutecu-los de baleaccedilatildeo que estatildeo pordetraacutes deste patrimoacutenio Eacute im-portante que haja consciecircncianatildeo apenas de todo o trabalhoque foi feito mas tambeacutem docusto nanceiro deste projec-

to Grande parte desse nan-ciamento foi assegurado pelogoverno regional que contoucom o apoio do E-GRANT`S ADirecccedilatildeo Regional da Culturao CNH e os clubes navais do

Pico apresentaram uma candi-datura para a recuperaccedilatildeo dosbotes baleeiros que foi aceiteSe natildeo fosse esse apoio hojenatildeo poderiacuteamos dizer que pra-ticamente todo o patrimoacuteniodos Accedilores botes e lanchas

estaacute recuperado Estamos afalar de 40 botes Em 10 anosno Faial recuperaram-se setebotes e uma lancha Se virmosque cada bote tem um custo derecuperaccedilatildeo de cerca de 35 mileuros percebemos que esse foium esforccedilo muito signicativo

A associaccedilatildeo dos botes bale-eiros da ilha do Faial ao CNHveio tambeacutem dar uma dimen-satildeo de ilha ao Clube e criou-se

uma dinacircmica desportiva im-portante de que o Faial neces-sitavaEsta vitalidade em torno dacultura e patrimoacutenio baleeirofaz despertar para a necessi-

dade deste ser inventariadoe salvaguardado Em 2008 o

Observatoacuterio do Mar dos Accedilo-res (OMA) entidade gestorada Faacutebrica da Baleia de PortoPim avanccedila para a inventaria-ccedilatildeo do patrimoacutenio imoacutevel da

baleaccedilatildeo primeiro agrave escala dailha do Faial e depois agrave escalados Accedilores

WALKIacuteRIA ldquoA RAINHA DOS MARES DOS ACcedilORESrdquo

ldquoNasceu para reinar nunca foi destronada e viveraacute esperamos por muitos anos assim o desejamos Somos uma grande regiatildeomariacutetima que quer preservar a memoacuteria coletiva das nossas teacutecnicas e tradiccedilotildees da nossa vivecircncia multissecular com o mar quenos rodeia nos separa e nos unerdquo A lancha Walkiria foi mandada construir pelos proprietaacuterios da Armaccedilatildeo Baleeira Reis amp Mendonccedila o industrial continental Francis-co Marcelino dos Reis e o Professor Rui de Mendonccedila residente na Vila das Velas amante de muacutesica Wagneriano que por talrazatildeo deu aos seus lhos os nomes de Wagner Weber

Walkyria e Isolda A construccedilatildeo foi realizada na ilha de S Jorge em 1937pelas matildeos de Joseacute e Manuel Gambatildeo irmatildeos e carpin-teiros habilidosos a partir de projeto de Manuel InaacutecioNunes natural do Pico mas com gabinete de projetos eestaleiro em Sacramento Califoacuternia Estados Unidos da Ameacuterica - ldquoQuando o antigo paquete a vapor ldquoCarvalho Arauacutejordquo

largava do porto das Velas com rumo ao Cais do Picoonde escalava depois de ter atingido a velocidade ple-na de cruzeiro a Walkyria rodeava o navio em marchapassando pela proa e pela popa Nenhuma outra lanchaconseguiu tal proezardquoEfetivamente a lancha estava equipada com um motor agasolina de 143 HP que permitindo atingir uma velocida-de de ponta elevada 18 noacutes tambeacutem acarretava consu-mos de combustiacutevel signicativos facto que levou agrave sua

venda em 1938 por ser economicamente pouco interes-sante para o trabalho que desenvolvia nomeadamente no apoio agrave caccedila agrave baleia Assim a lancha eacute transferida para a ilha do Faial por aquisiccedilatildeo do Sr Francisco Reis cando afeta ao transporte local de passagei-

ro Mais tarde eacute adquirida pela rma ldquoReis amp Martinsrdquo cando afeta agrave atividade baleeira Em 1955 a quando da instalaccedilatildeo de umaparelho de radiotelefonia foi-lhe atribuiacuteda a matriacutecula nal H-21-B

Em 2005 no acircmbito do projeto de ldquorecuperaccedilatildeo da memoacuteria baleeira da ilha do Faialrdquo depois de anos de repouso nos armazeacutens

da Reis e Martins a emblemaacutetica embarcaccedilatildeo volta a ganhar vida pelas matildeos do mestre Manuel Monteiro da Piedade do Pico en-trando de novo no porto da Horta a 12 de agosto desse mesmo ano totalmente recuperada

EEA Grants Mecanismo Finan-

ceiro Norueguecircs para apoio agrave

coesatildeo social e econoacutemica den-

tro da Uniatildeo Europeia Islacircndia

Liechtenstein e Noruega que

complementou o esforccedilo nan-

ceiro do Governo Regional para

a reabilitaccedilatildeo do patrimoacutenio bale-

eiro dos Accedilores Neste contexto

foram recuperados 40 botes e 10

lanchas Anualmente eacute atribuiacutedo

pelo Governo Regional um sub-

siacutedio para manutenccedilatildeo destas

embarcaccedilotildees

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AINDA BEM QUE REFERE AINVENTARIACcedilAtildeO DO PATRI-MOacuteNIO IMOacuteVEL POIS DEFACTO O PATRIMOacuteNIO DABALEACcedilAtildeO NAtildeO SE RESU-ME AOS BOTEShellip DEPOIS DAREVITALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRI-CA DA BALEIA ESTE PRO-CESSO DE RECUPERACcedilAtildeODO PATRIMOacuteNIO FICOU AIN-DA MAIS COMPLETO COMA INAUGURACcedilAtildeO DA CASADOS BOTES NO CAPELO HAacuteMUITO AGUARDADA FALE--NOS DESSE PROJECTO

Em boa hora a Junta de Fre-guesia do Capelo acolheu estainiciativa incluiacuteda no projectoldquoA recuperaccedilatildeo da memoacuteriabaleeirardquo Esta era uma casadas armaccedilotildees baleeiras deSatildeo Roque do Pico A sua re-cuperaccedilatildeo natildeo eacute mais do quedevolver ao porto do Compri-do a sua histoacuteria A histoacuteria doCapelo natildeo comeccedila em 1957com o Vulcatildeo dos Capelinhos

Antes disso o porto do Com-prido jaacute tinha dois seacuteculos dehistoacuteria tendo sido uma dasprincipais estaccedilotildees baleeirasdos Accedilores Essa memoacuteria

tinha de ser preservada porrespeito aos nossos antepas-sados Essa preservaccedilatildeo tam-beacutem se faz atraveacutes do circuitopedestre do baleeiro que tam-beacutem foi inaugurado agora Esteleva-nos ao conjunto de vigiasque existe no Vulcatildeo dos Ca-pelinhos

Um museu natildeo eacute uma coisaque estaacute dentro de casa maseacute tudo o que nos rodeia Te-mos de contar de forma sim-ples a todos os que nos visi-tam que esta eacute uma ilha comhistoacuteria

HAacute TAMBEacuteM A PREOCUPA-CcedilAtildeO DE REUNIR EM LIVRO AINFORMACcedilAtildeO SOBRE A BA-LEACcedilAtildeO QUE TEM VINDO ASER RECOLHIDAhellipNos uacuteltimos anos o Obser-vatoacuterio do Mar dos Accedilores(OMA) tem feito um excelentetrabalho o que se traduz numgrande avanccedilo na pesquisaCom aquilo que jaacute tinha sido

feito lanccedilaacutemos um desao aoFilipe Porteiro presidente doOMA para que se documen-tasse por escrito a memoacuteriados baleeiros Haacute um registode memoacuterias de alguns bale-eiros do Capelo um espoacuteliofotograacuteco que foi e continua

a ser recolhido um conjuntode informaccedilotildees tanto daquicomo de New Bedford no queao tempo da baleaccedilatildeo diz res-peitohellip Portanto temos infor-maccedilatildeo suciente para fechar

nos proacuteximos dois anos estarecuperaccedilatildeo da memoacuteria comum livro que permita dar aconhecer a histoacuteria da balea-ccedilatildeo no Faial Haacute um conjunto

de pessoas disponiacuteveis paracolaborar neste processo Naminha opiniatildeo esta obra deveter ediccedilatildeo bilingue tendo emconta o interesse que tem paraos Estados Unidos

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE FICA A FALTAR FAZERPELA RECUPERACcedilAtildeO E PRE-SERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROTenho de deixar uma mensa-gem importante agraves pessoasque hoje gerem este proces-so procurem os consensosEacute muito importante termosum consenso regional relati-vamente aos botes baleeiros

Eacute importante que se volte aosmodelos adoptados em 2005

relativamente agraves regatas Natildeopodemos ter regatas em to-das as freguesias dos AccediloresTemos de ter as cinco regatastradicionalmente mais antigasnas quais se inclui a Semanado Mar e quatro regatas noPico e fazer as outras trecircs deforma rotativa para voltarmosa ter um campeonato regionalde botes baleeiros em condi-ccedilotildees Faial e Pico tecircm de en-tender-se nesta mateacuteria Estamensagem tem de ser passa-da para as instituiccedilotildees para osclubes para as juntas de fre-guesia para as pessoashellip

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA UM ASPECTO DE UMA REGATA DENTRO DA BAIA DA HORTA

FONTE OMA

EMBARCACcedilAtildeO OS ANTIGOS BOTES TORNARAM983085SE TAMBEacuteM NUMA PECcedilAMUSEOLOacuteGICA

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Eacute tambeacutem importante que asecccedilatildeo de botes baleeiros doFaial continue A rivalidade en-tre freguesias natildeo traz nada debom O CNH tem obrigaccedilatildeo deconsolidar a secccedilatildeo custe oque custar

Aleacutem disso temos de ver queo patrimoacutenio baleeiro que estaacuteentregue agraves Juntas de Fregue-sia natildeo eacute das autarquias Per-tence agrave Governo Regional dos Acores ou seja agrave Regiatildeo e asua preservaccedilatildeo eacute uma obri-gaccedilatildeo daqueles a quem foientregue Eacute preciso ter muitocuidado nessa preservaccedilatildeosenatildeo dentro de alguns anosestamos natildeo a fazer manuten-

ccedilatildeo mas praticamente a fazernovos botes Os responsaacuteveisde cada uma das instituiccedilotildeestecircm de ter consciecircncia do pa-trimoacutenio que tecircm nas matildeos ede toda esta histoacuteria Agora odesao mais importante eacute a

manutenccedilatildeo deste patrimoacutenio econtinuar a despertar nas pes-soas o interesse por andar agravevela e a remos O bote baleeiroeacute uma embarcaccedilatildeo iacutempar Natildeohaacute outra no mundo

E A PRESERVACcedilAtildeO SOacute SEFAZ COMPLETAMENTE SEOS BOTES ESTIVEREM NOMAR A NAVEGARExactamente Haacute uma partemuito importante do projec-to que ainda falta que passa

pela sede do CNH e por sa-ber o que vai acontecer aosarmazeacutens da Reis e MartinsEacute preciso encontrar um espa-ccedilo adequado para guardar osbotes fazer a sua manuten-ccedilatildeo e expocirc-los Os botes satildeopatrimoacutenio histoacuterico mas tam-beacutem turiacutestico As regatas satildeobonitas mas os passeios embotes baleeiros tambeacutem Se foralterada a portaria que regula

esses passeios em vigor haacutemuitos anos os clubes podemdeles tirar rendimentos

ACHA ENTAtildeO QUE FARIASENTIDO RENTABILIZAR OSPASSEIOS NOS BOTES BA-LEEIROS PARA FINANCIARA SUA PROacutePRIA PRESERVA-CcedilAtildeOFaz todo o sentido Na situ-accedilatildeo econoacutemica em que es-tamos natildeo podemos viver da

ldquosubsiacutedio-dependecircnciardquo A ma-nutenccedilatildeo dos botes as regatase toda essa dinacircmica podemsustentar-se com a criaccedilatildeo deuma vertente econoacutemica comos passeios de bote baleeiroporque temos mercado para

isso Eacute necessaacuterio alterar legis-laccedilatildeo nessa aacuterea

NOUTROS TEMPOS A BA-LEIA FOI UM PILAR DA NOS-SA ECONOMIA ACHA QUEHOJE COM O WHALE WA-TCHING A MOTIVAR A EXIS-TEcircNCIA DE BALEEIROS COMMAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICASEM VEZ DE ARPOtildeES CON-TRIBUINDO PARA A ECONO-

MIA DA ILHA E COM OS BO-TES BALEEIROS NA AacuteGUAPARA AS COMPETICcedilOtildeESDESPORTIVAS ESTAMOSPERANTE UMA ESPEacuteCIE DENOVA BALEACcedilAtildeO Acho que entraacutemos numa novafase da baleaccedilatildeo e soubemosperceber natildeo apenas a impor-tacircncia que a baleaccedilatildeo tevemas tambeacutem a importacircnciaque os cetaacuteceos tecircm hoje nos Accedilores Haacute um Departamento

de Oceanograa e Pescas da

Universidade dos Accedilores quesabe o que estaacute a fazer haacuteuma consciecircncia das empre-sas de whale watching para asua importacircnciahellip Natildeo eacute poracaso que algumas dessas

empresas utilizam as antigasvigias dos baleeiros e inclusi-ve as recuperaram contribuin-do assim para a preservaccedilatildeodo patrimoacutenio da baleaccedilatildeo Osegredo da observaccedilatildeo de ba-leias nos Accedilores tem a ver coma histoacuteria que haacute para contarHouve uma altura em que ca-ccedilaacutemos e haacute agora uma alturaem que sabemos preservarHaacute aqui um potencial turiacutestico

enorme Os accedilorianos adapta-ram-se muito bem a esta novarealidadez

MARLA PINHEIRO

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y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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Tempo de Baleeiros

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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Tempo de Baleeiros

y Em 2010 o OMA estabe-leceu um contrato de coope-raccedilatildeo teacutecnica com a DirecccedilatildeoRegional da Cultura (DRaC)com o objectivo de inventariaro patrimoacutenio baleeiro imoacutevel detodo o arquipeacutelago A execuccedilatildeo

do projeto foi assegurada poruma equipa multidisciplinar naaacuterea da investigaccedilatildeo histoacuterica

arquitectura e fotograa pro-ssional A recolha preacutevia da

informaccedilatildeo foi o ponto de par-tida para um trabalho de cam-po que decorreu entre os me-ses de Junho e Dezembro de2011 Foram inventariados os

antigos complexos baleeirospostos baleeiros e varadourosbaleeiros rampas de varagemdas embarcaccedilotildees rampas dealagem de cachalotes casas

de botes traioacuteis faacutebricas deprocessamento de cachalotese plataformas de desmancho

vigias residecircncias sazonaiscarpintarias ocinas arma-zeacutens entre outrosNa ilha do Faial foram inven-tariados 17 imoacuteveis (ver Fig5) identicados no Complexo

Baleeiro das Anguacutestias (localonde as armaccedilotildees baleeirastinham a sua sede com ar-mazeacutens faacutebricas de proces-samento de cachalotescasade caldeiros e estacionavam

as embarcaccedilotildees prontas parauma raacutepida arriada agrave baleia)nos Postos Baleeiros do Porto

do Comprido do Salatildeo (estesdois como local de estaciona-mento sazonal das armaccedilotildeesbaleeiras do Faial e do Pico) edo Varadouro Identicaram-se

ainda apesar de menos repre-sentativos na actividade baleirada Ilha do Faial os Varadourosdo Cedros Castelo Branco eRibeirinha todos com rampade varagem para estaciona-mento de botes baleeiros z

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIRO IMOacuteVEL DO FAIAL

INVENTAacuteRIO DO PATRIMOacuteNIO BALEEIRO IMOacuteVEL DOS ACcedilORES A ILHA DO FAIAL

MAacuteRCIA DUTRAOMA

COMPLEXTO BALEEIRO DAS ANGUacuteSTIAS1 983085 FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

2983085 ARMAZEacuteM DA REIS amp MARTINS LDA3 983085 CASA DE CALDEIROS DE PORTO PIM983080FAacuteBRICA VELHA9830814 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTOPOSTO BALEEIRO DO PORTO DOCOMPRIDO5 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO DO

COMPRIDO6 983085 VIGIA DO CAPELO

7 983085 VIGIA DO COSTADO DA NAU8 983085 RESIDEcircNCIAS SAZONAIS DO PORTODO COMPRIDO9 983085 CASA DOS BOTES DO PORTO DOCOMPRIDOPOSTO BALEEIRO DO SALAtildeO10 983085 RAMPA DE VARAGEM DO SALAtildeO

11 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DA ARMA983085CcedilOtildeES DO FAIAL

12 983085 RESIDEcircNCIA SAZONAL DAS ARMA983085CcedilOtildeES DO PICO13 983085 VIGIA DOS CEDROS14 983085 POSTO BALEEIRO DO VARADOURO15 983085 VIGIA DO ALTO DAS CONCHEIRASVARADOURO BALEEIRO DOS CEDROS16 983085 RAMPA DE VARAGEM DO PORTO

DA EIRAVARADOURO BALEEIRO DA RIBEIRINHA

17 983085 RAMPA DE VARAGEM DA RIBEIRINHAVARADOURO BALEEIRO DE CASTELOBRANCO18 983085 RAMPA DE VARAGEM DE CASTELOBRANCO

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Tempo de Baleeiros

y Em 1939 a Sociedade In-dustrial Mariacutetima Accediloriana Lda ndash a SIMAL foi fundada na Hor-ta Esta sociedade comercialpor quotas de responsabilidadelimitada tinha como objectivosa ldquoexploraccedilatildeo da induacutestria doaproveitamento integral da ba-

leia e outras espeacutecies marinhase comeacutercio dos respectivosprodutosrdquo A SIMAL era cons-tituiacuteda por 25 soacutecios sendo os

soacutecios maioritaacuterios o industriallisboeta Francisco Marcelinodos Reis e a empresa localCosta amp Martins Lda Desta-

cam-se ainda quatro compa-nhias baleeiras da Ribeira doMeio (Pico) que por razotildeesfamiliares e por ter sido nega-

da a construccedilatildeo de uma faacutebri-ca nas Lajes se associaram agraveSIMAL A faacutebrica comeccedilou a ser cons-truiacuteda em 1941 inicialmenteno areal da Praia de Porto Pimmas devido a um forte tem-poral ocorrido em Setembrodesse mesmo ano foi comple-tamente destruiacuteda e abandona-do o projecto Esta intempeacuterielevou a que os proprietaacuterios

decidissem construir a faacutebricano local onde hoje a conhe-cemos na encosta do Monteda Guia A faacutebrica comeccedilou alaborar em fase experimentalem Agosto de 1942 Durante

os seus 30 anos de laboraccedilatildeoprocessaram-se 1940 cachalo-tes que produziram 44 mil bi-dotildees de oacuteleoEm 1974 acompanhando odecliacutenio da induacutestria baleeira aniacutevel mundial a faacutebrica fechouas suas portas Em 1980 oGoverno Regional dos Accediloresadquiriu todo o complexo fabrilcom o objectivo de ali instalaro Departamento de Oceano-

graa e Pescas e uma Escola

de Pesca desiacutegnio esse quenunca se chegou a realizarEm 1984 a antiga faacutebrica foiclassicada como Imoacutevel de

Interesse Puacuteblico (IIP) Depoisde quase duas deacutecadas de de-gradaccedilatildeo do edifiacutecio e da suamaquinaria sem duacutevida atenu-ados pela acccedilatildeo persistente deManuel da Rosa Correia co-nhecido como Patratildeo Manuele de Manuel Medeiros conhe-cido com Sr Amaral (antigo en-carregado da faacutebrica) a faacutebricafoi nalmente alvo de obras

de restauro e de beneciaccedilatildeo Apelidada de Centro do Marfoi inaugurada em 2000 por

ocasiatildeo da 2ordf ediccedilatildeo da Expo-Pescas com o objectivo de setornar num espaccedilo de divulga-ccedilatildeo cultural e cientiacuteca Desde

2004 que a Faacutebrica eacute a sede

do OMA que desde entatildeo temvindo a dinamizar esse espaccediloEm 2010 a Faacutebrica da Baleia

de Porto Pim como hoje eacute co-nhecida foi inserida no Com-plexo do Monte da Guia da Ilhado Faial z

A FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

VISITA GUIADA FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM 983085 DESCRICcedilAtildeO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE OMA

INTERIOR A FAacuteBRICA Eacute UM MUSEU PERMANENTE

CASA DAS AUTOCLAVES COMSEIS AUTOCLAVES CADA UMACOM CAPACIDADE DE 11 M

CASA DAS FARINHAS COM TODAA MAQUINARIA ORIGINAL DA RE983085

CONHECIDA MARCA NORUGUESAMYRENS VERKSTED E OS MOTO983085

RES DA MARCA ALEMAtilde MOTORENFABRIK DEUTZ AG

EDIFICIO ANEXO ONDE FUNCIONAVA A ANTIGASERRALHARIA E OS ESCRITOacuteRIOS DESTACAM983085SEOS ALTOS TANQUES SUBTERRAcircNEOS PARA AR983085MAZENAMENTO DE OacuteLEO ACTUAL ldquoSALA DOS

OacuteLEOSrdquo 983080SALA DE EXPOSICcedilOtildeES E REUNIOtildeES983081

ANTIGAS CASAS DE BANHOACTUAL BAR DA PRAIA E WCS DE

APOIO Agrave FAacuteBRICA DA BALEIA

ANTIGO ARMAZEacuteM DAS FARI983085NHAS COM QUATRO TANQUESSUBTERRAcircNEOS PARA ARMAZE983085NAMENTO DO OacuteLEO ACTUALLOJA DA FAacuteBRICA E CIM

PLATAFORMA DE DESMANCHODESTAQCA983085SE A CHAMINEacute DAS CALDEI983085

RAS A VAPOR

CASA DAS CALDEIRAS A VAPOR IMPO983085NENTES CALDEIRAS FABRICADAS NA CI983085DADE DO PORTO EM PRIMEIRO PLANOVEMOS A CALDEIRA QUE FOI INSTALADAEM 1950

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Tempo de Baleeiros

y A inauguraccedilatildeo da Casados Botes no Capelo marcoumais um passo no percursoque comeccedilou a ser percorridohaacute mais de dez anos quandopor altura das comemoraccedilotildeesdos 400 anos daquela fregue-sia se decidiu iniciar um pro-cesso de recuperaccedilatildeo do patri-moacutenio baleeiro no Faial entatildeodenominado ldquorecuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeira da ilha doFaialrdquoHoje 25 anos depois de ter

sido caccedilado o uacuteltimo cachaloteem aacuteguas accedilorianas o patri-moacutenio da baleaccedilatildeo estaacute bemvivo sendo essa vivacidade noFaial espelhada pela recupe-

raccedilatildeo dos botes baleeiros dalancha Walquiacuteria da Faacutebricada Baleia e agora da Casados BotesRecuperar os botes baleeirosnatildeo eacute no entanto suciente

para garantir que a sua me-moacuteria continua viva Os botespertencem ao mar e por issofoi com naturalidade que estemovimento de revitalizaccedilatildeo dopatrimoacutenio acabou por passar

para a vertente desportiva coma criaccedilatildeo da secccedilatildeo de botesbaleeiros do Clube Naval daHorta que movimenta muitos

desportistasNa hora de lembrar todo estepercurso de recuperaccedilatildeo dopatrimoacutenio baleeiro bem comode reectir sobre o que haacute a

fazer numa altura em esseprocesso estaacute praticamenteconsolidado Tribuna das Ilhasconversou com Joatildeo Garciaque era em 2000 membro do

elenco da Junta de Freguesiado Capelo responsaacutevel pelodesencadear deste projectoe que em 2005 o levou para o

Clube Naval da Horta quandoassumiu a direcccedilatildeo da agre-miaccedilatildeo naacuteutica faialense Alertando para a importacircnciada manutenccedilatildeo deste patrimoacute-

nio agora que todo ele estaacuterestaurado Joatildeo Garcia apelaa um esforccedilo conjunto para aconsolidaccedilatildeo de um campeo-nato regional de botes baleei-ros e defende a alteraccedilatildeo dalegislaccedilatildeo para que os clubesnavais possam retirar rentabili-dade econoacutemica dos passeiosagrave vela em botes baleeiros demodo a que estes possam sus-tentar a sua proacutepria manuten-

ccedilatildeo

O PROCESSO DE RECUPE-RACcedilAtildeO DE BOTES EM VAacute-

RIAS FREGUESIAS COM HIS-TOacuteRIA BALEEIRA NO FAIALFOI DESENCADEADO QUAN-DO O JOAtildeO ERA PRESIDEN-TE DA JUNTA DE FREGUESIADO CAPELO E PREPARAVAAS COMEMORACcedilOtildeES DOSSEUS 400 ANOS O QUE EacuteQUE MOTIVOU A QUE O PA-TRIMOacuteNIO BALEEIRO FOSSEO MARCO DESTA EFEMEacuteRI-DE A importacircncia que tinha essaefemeacuteride levou a que se -zesse um levantamento his-toacuterico dos quatro seacuteculos dafreguesia A baleaccedilatildeo teve umpapel importante nessa histoacuteriae desde logo decidimos fazer

uma regata de botes que li-gasse o Porto do Comprido aodo Varadouro tendo em contaa ligaccedilatildeo histoacuterica que os doistiveram pela baleaccedilatildeo A partirdaqui somos despertados paraalgo que tem grande valor sen-timental e histoacuterico e nasce ummovimento de recuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeiraO Capelo teve uma forte im-plementaccedilatildeo da baleaccedilatildeo era

uma coisa que estava enraiza-da no povo e que era impor-tante salvaguardar Primeirohouve a preocupaccedilatildeo de re-

gistar as memoacuterias que haviadessa eacutepoca registos feitospor pessoas do Capelo nome-adamente pelo Joseacute Franciscoda Faialentejo que registou ostestemunhos de alguns baleei-ros Depois houve o movimen-to de recuperaccedilatildeo dos botesO Pico tinha jaacute uma seacuterie debotes recuperados e noacutes qui-semos ir um pouco mais lon-ge e abranger natildeo apenas asfreguesias com tradiccedilatildeo nabaleaccedilatildeo como Salatildeo Cas-telo Branco e Anguacutestias mastambeacutem outras onde havia re-crutamento de baleeiros comoeacute o caso da Feteira O projectocontemplava a recuperaccedilatildeo da

Casa do Bote Baleeiro que foirecentemente inaugurada evisa ainda publicar a histoacuteria dabaleaccedilatildeo na ilha do Faial

FOI FAacuteCIL PARA A JUNTA DEFREGUESIA DO CAPELO MO-TIVAR AS RESTANTES FRE-GUESIAS A EMBARCAREMNESTE PROJECTOPor acccedilatildeo do Clube Navalmais concretamente pelo entatildeo

presidente Joseacute Decq Motatemos conhecimento que naCalheta do Nesquim existe umbote disponiacutevel cheio de his-

ENTREVISTA A JOAtildeO PEDRO GARCIA

ldquoO DESAFIO MAIS IMPORTANTE Eacute

A PRESERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROrdquo

FONTE ROBERT CLARKE DISCOVERY REPORTS 1954

NO MAR O MOMENTO EM QUE SE INICIA A PERSEGUICcedilAtildeO AO CACHALOTE

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Tempo de Baleeiros

toacuteria e que eacute inclusive citadono Mau Tempo no Canal deVitorino Nemeacutesio o bote SatildeoJoseacute Sabendo que havia aquium interesse ele falou-nos daexistecircncia desse bote que es-tava sob a alccedilada da Comissatildeo

do Patrimoacutenio Baleeiro Inicia--se aiacute a sua recuperaccedilatildeo e umpasso importante para aquiloque queriacuteamos fazer A recu-peraccedilatildeo de um bote para a fre-guesia do Capelo fez despertaras outras freguesias para esteprojecto Nesta altura ele deixade ser apenas palavras e pe-quenos escritos para comeccedilara ter uma maior dimensatildeoEm 2000 temos a primeira re-

gata com botes do Pico e ape-nas com o Claudina do Faial43 anos depois do uacuteltimo botebaleeiro ter ldquoarriadordquo no Com-prido Em 2003 aparece o Satildeo

Joseacute outro bote recuperadopara o Faialhellip As pessoas co-meccedilam a perceber que este eacuteum projecto com vidaNesta altura comeccedila tambeacutema dinamizar-se a regata inter-nacional de botes baleeirosO movimento de geminaccedilatildeoentre a Horta e New Bedfordestava estagnado e a partirdaiacute essa ligaccedilatildeo fortalece-seFoi precisamente a baleaccedilatildeoque criou o elo entre as duascidades agora fortalecido com

a recuperaccedilatildeo do patrimoacuteniobaleeiro E curiosamente eacutena primeira viagem que sefaz aos Estados Unidos que opresidente da Cacircmara Munici-pal da Horta Joatildeo Castro ca

desperto para a importacircncia dese recuperar a Walquiacuteria outroprocesso que estava estagna-do e ganha nessa altura alentoHaacute assim uma bola de neveque vai crescendo uma pai-xatildeo que vai aumentando e um

despertar da consciecircncia paraa recuperaccedilatildeo da memoacuteria quefaz com que se torne tudo maisfaacutecilO Governo Regional atraveacutesda Comissatildeo do PatrimoacutenioBaleeiro dos Accedilores deu umapoio incondicional a este pro- jecto Este eacute um desiacutegnio natildeode um homem soacute mas de vaacute-rias pessoas e instituiccedilotildees

COMO Eacute QUE O OBJECTIVO

DA PRESERVACcedilAtildeO DOS BO-TES BALEEIROS Eacute TRANS-POSTO PARA O CLUBE NA-VAL DA HORTA (CNH) COMO INTUITO DE CRIAR UMANOVA VERTENTE DESPORTI-VA NA ILHAQuando me foi lanccedilado o de-sao de assumir a presidecircncia

do CNH os botes baleeirosassumem uma importacircncia nomeu projecto para o clube Natildeoera possiacutevel continuar a gerir

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

BAIacuteA DA FETEIRA DURANTE A EacutePOCA DO VERAtildeO A BAIA Eacute ENGALANADA PELAS VELAS DOS BOTES BALEEIROS

FONTE SUSANA GARCIA

PATRIMOacuteNIOJORGE FONTES JOAtildeO GARCIA E JOAtildeO TAVARES TREcircS IMPULSIONA DORES DA PRESERVACcedilAtildeO DO PATRI983085MOacuteNIO BALEEIRO DA ILHA DO FAIAL

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Tempo de Baleeiros

as tripulaccedilotildees e a actividadedesportiva dos botes atraveacutesdas juntas de freguesia porqueelas natildeo tecircm essa vocaccedilatildeoEra inevitaacutevel que houvesseuma instituiccedilatildeo como o CNH ndash soacutelida agregadora sem ri-

validades ndash que pudesse darcontinuidade ao processo Nes-se sentido fundaacutemos a secccedilatildeode Botes Baleeiros da ilha doFaial que agrega com igual au-tonomia e legitimidade todos osparticipantes nesta actividadeNeste ponto tenho de referiro Carlos Fontes que deu umimportante contributo a todo oprocesso pela sua dedicaccedilatildeoe organizaccedilatildeo Outro elemen-

to que emprestou um valiosocontributo foi o Nuno Limasobretudo na recuperaccedilatildeo dalancha Walkiria a rainha dosmares dos Accedilores Houve ummomento de explosatildeo com

mais de cem participantes tan-to masculinos como femininoscom miuacutedos a virem das fre-guesias para aprender velacom cursos para ociaishellip Esta

vitalidade dos botes manteve--se ateacute 2010 Mantenho alguma

preocupaccedilatildeo quanto a algumassituaccedilotildees pontuais com receiode que as coisas se desagre-guem e as pessoas natildeo perce-bam os anos de trabalho queestatildeo aqui em causa e os seacutecu-los de baleaccedilatildeo que estatildeo pordetraacutes deste patrimoacutenio Eacute im-portante que haja consciecircncianatildeo apenas de todo o trabalhoque foi feito mas tambeacutem docusto nanceiro deste projec-

to Grande parte desse nan-ciamento foi assegurado pelogoverno regional que contoucom o apoio do E-GRANT`S ADirecccedilatildeo Regional da Culturao CNH e os clubes navais do

Pico apresentaram uma candi-datura para a recuperaccedilatildeo dosbotes baleeiros que foi aceiteSe natildeo fosse esse apoio hojenatildeo poderiacuteamos dizer que pra-ticamente todo o patrimoacuteniodos Accedilores botes e lanchas

estaacute recuperado Estamos afalar de 40 botes Em 10 anosno Faial recuperaram-se setebotes e uma lancha Se virmosque cada bote tem um custo derecuperaccedilatildeo de cerca de 35 mileuros percebemos que esse foium esforccedilo muito signicativo

A associaccedilatildeo dos botes bale-eiros da ilha do Faial ao CNHveio tambeacutem dar uma dimen-satildeo de ilha ao Clube e criou-se

uma dinacircmica desportiva im-portante de que o Faial neces-sitavaEsta vitalidade em torno dacultura e patrimoacutenio baleeirofaz despertar para a necessi-

dade deste ser inventariadoe salvaguardado Em 2008 o

Observatoacuterio do Mar dos Accedilo-res (OMA) entidade gestorada Faacutebrica da Baleia de PortoPim avanccedila para a inventaria-ccedilatildeo do patrimoacutenio imoacutevel da

baleaccedilatildeo primeiro agrave escala dailha do Faial e depois agrave escalados Accedilores

WALKIacuteRIA ldquoA RAINHA DOS MARES DOS ACcedilORESrdquo

ldquoNasceu para reinar nunca foi destronada e viveraacute esperamos por muitos anos assim o desejamos Somos uma grande regiatildeomariacutetima que quer preservar a memoacuteria coletiva das nossas teacutecnicas e tradiccedilotildees da nossa vivecircncia multissecular com o mar quenos rodeia nos separa e nos unerdquo A lancha Walkiria foi mandada construir pelos proprietaacuterios da Armaccedilatildeo Baleeira Reis amp Mendonccedila o industrial continental Francis-co Marcelino dos Reis e o Professor Rui de Mendonccedila residente na Vila das Velas amante de muacutesica Wagneriano que por talrazatildeo deu aos seus lhos os nomes de Wagner Weber

Walkyria e Isolda A construccedilatildeo foi realizada na ilha de S Jorge em 1937pelas matildeos de Joseacute e Manuel Gambatildeo irmatildeos e carpin-teiros habilidosos a partir de projeto de Manuel InaacutecioNunes natural do Pico mas com gabinete de projetos eestaleiro em Sacramento Califoacuternia Estados Unidos da Ameacuterica - ldquoQuando o antigo paquete a vapor ldquoCarvalho Arauacutejordquo

largava do porto das Velas com rumo ao Cais do Picoonde escalava depois de ter atingido a velocidade ple-na de cruzeiro a Walkyria rodeava o navio em marchapassando pela proa e pela popa Nenhuma outra lanchaconseguiu tal proezardquoEfetivamente a lancha estava equipada com um motor agasolina de 143 HP que permitindo atingir uma velocida-de de ponta elevada 18 noacutes tambeacutem acarretava consu-mos de combustiacutevel signicativos facto que levou agrave sua

venda em 1938 por ser economicamente pouco interes-sante para o trabalho que desenvolvia nomeadamente no apoio agrave caccedila agrave baleia Assim a lancha eacute transferida para a ilha do Faial por aquisiccedilatildeo do Sr Francisco Reis cando afeta ao transporte local de passagei-

ro Mais tarde eacute adquirida pela rma ldquoReis amp Martinsrdquo cando afeta agrave atividade baleeira Em 1955 a quando da instalaccedilatildeo de umaparelho de radiotelefonia foi-lhe atribuiacuteda a matriacutecula nal H-21-B

Em 2005 no acircmbito do projeto de ldquorecuperaccedilatildeo da memoacuteria baleeira da ilha do Faialrdquo depois de anos de repouso nos armazeacutens

da Reis e Martins a emblemaacutetica embarcaccedilatildeo volta a ganhar vida pelas matildeos do mestre Manuel Monteiro da Piedade do Pico en-trando de novo no porto da Horta a 12 de agosto desse mesmo ano totalmente recuperada

EEA Grants Mecanismo Finan-

ceiro Norueguecircs para apoio agrave

coesatildeo social e econoacutemica den-

tro da Uniatildeo Europeia Islacircndia

Liechtenstein e Noruega que

complementou o esforccedilo nan-

ceiro do Governo Regional para

a reabilitaccedilatildeo do patrimoacutenio bale-

eiro dos Accedilores Neste contexto

foram recuperados 40 botes e 10

lanchas Anualmente eacute atribuiacutedo

pelo Governo Regional um sub-

siacutedio para manutenccedilatildeo destas

embarcaccedilotildees

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Tempo de Baleeiros

AINDA BEM QUE REFERE AINVENTARIACcedilAtildeO DO PATRI-MOacuteNIO IMOacuteVEL POIS DEFACTO O PATRIMOacuteNIO DABALEACcedilAtildeO NAtildeO SE RESU-ME AOS BOTEShellip DEPOIS DAREVITALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRI-CA DA BALEIA ESTE PRO-CESSO DE RECUPERACcedilAtildeODO PATRIMOacuteNIO FICOU AIN-DA MAIS COMPLETO COMA INAUGURACcedilAtildeO DA CASADOS BOTES NO CAPELO HAacuteMUITO AGUARDADA FALE--NOS DESSE PROJECTO

Em boa hora a Junta de Fre-guesia do Capelo acolheu estainiciativa incluiacuteda no projectoldquoA recuperaccedilatildeo da memoacuteriabaleeirardquo Esta era uma casadas armaccedilotildees baleeiras deSatildeo Roque do Pico A sua re-cuperaccedilatildeo natildeo eacute mais do quedevolver ao porto do Compri-do a sua histoacuteria A histoacuteria doCapelo natildeo comeccedila em 1957com o Vulcatildeo dos Capelinhos

Antes disso o porto do Com-prido jaacute tinha dois seacuteculos dehistoacuteria tendo sido uma dasprincipais estaccedilotildees baleeirasdos Accedilores Essa memoacuteria

tinha de ser preservada porrespeito aos nossos antepas-sados Essa preservaccedilatildeo tam-beacutem se faz atraveacutes do circuitopedestre do baleeiro que tam-beacutem foi inaugurado agora Esteleva-nos ao conjunto de vigiasque existe no Vulcatildeo dos Ca-pelinhos

Um museu natildeo eacute uma coisaque estaacute dentro de casa maseacute tudo o que nos rodeia Te-mos de contar de forma sim-ples a todos os que nos visi-tam que esta eacute uma ilha comhistoacuteria

HAacute TAMBEacuteM A PREOCUPA-CcedilAtildeO DE REUNIR EM LIVRO AINFORMACcedilAtildeO SOBRE A BA-LEACcedilAtildeO QUE TEM VINDO ASER RECOLHIDAhellipNos uacuteltimos anos o Obser-vatoacuterio do Mar dos Accedilores(OMA) tem feito um excelentetrabalho o que se traduz numgrande avanccedilo na pesquisaCom aquilo que jaacute tinha sido

feito lanccedilaacutemos um desao aoFilipe Porteiro presidente doOMA para que se documen-tasse por escrito a memoacuteriados baleeiros Haacute um registode memoacuterias de alguns bale-eiros do Capelo um espoacuteliofotograacuteco que foi e continua

a ser recolhido um conjuntode informaccedilotildees tanto daquicomo de New Bedford no queao tempo da baleaccedilatildeo diz res-peitohellip Portanto temos infor-maccedilatildeo suciente para fechar

nos proacuteximos dois anos estarecuperaccedilatildeo da memoacuteria comum livro que permita dar aconhecer a histoacuteria da balea-ccedilatildeo no Faial Haacute um conjunto

de pessoas disponiacuteveis paracolaborar neste processo Naminha opiniatildeo esta obra deveter ediccedilatildeo bilingue tendo emconta o interesse que tem paraos Estados Unidos

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE FICA A FALTAR FAZERPELA RECUPERACcedilAtildeO E PRE-SERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROTenho de deixar uma mensa-gem importante agraves pessoasque hoje gerem este proces-so procurem os consensosEacute muito importante termosum consenso regional relati-vamente aos botes baleeiros

Eacute importante que se volte aosmodelos adoptados em 2005

relativamente agraves regatas Natildeopodemos ter regatas em to-das as freguesias dos AccediloresTemos de ter as cinco regatastradicionalmente mais antigasnas quais se inclui a Semanado Mar e quatro regatas noPico e fazer as outras trecircs deforma rotativa para voltarmosa ter um campeonato regionalde botes baleeiros em condi-ccedilotildees Faial e Pico tecircm de en-tender-se nesta mateacuteria Estamensagem tem de ser passa-da para as instituiccedilotildees para osclubes para as juntas de fre-guesia para as pessoashellip

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA UM ASPECTO DE UMA REGATA DENTRO DA BAIA DA HORTA

FONTE OMA

EMBARCACcedilAtildeO OS ANTIGOS BOTES TORNARAM983085SE TAMBEacuteM NUMA PECcedilAMUSEOLOacuteGICA

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Tempo de Baleeiros

Eacute tambeacutem importante que asecccedilatildeo de botes baleeiros doFaial continue A rivalidade en-tre freguesias natildeo traz nada debom O CNH tem obrigaccedilatildeo deconsolidar a secccedilatildeo custe oque custar

Aleacutem disso temos de ver queo patrimoacutenio baleeiro que estaacuteentregue agraves Juntas de Fregue-sia natildeo eacute das autarquias Per-tence agrave Governo Regional dos Acores ou seja agrave Regiatildeo e asua preservaccedilatildeo eacute uma obri-gaccedilatildeo daqueles a quem foientregue Eacute preciso ter muitocuidado nessa preservaccedilatildeosenatildeo dentro de alguns anosestamos natildeo a fazer manuten-

ccedilatildeo mas praticamente a fazernovos botes Os responsaacuteveisde cada uma das instituiccedilotildeestecircm de ter consciecircncia do pa-trimoacutenio que tecircm nas matildeos ede toda esta histoacuteria Agora odesao mais importante eacute a

manutenccedilatildeo deste patrimoacutenio econtinuar a despertar nas pes-soas o interesse por andar agravevela e a remos O bote baleeiroeacute uma embarcaccedilatildeo iacutempar Natildeohaacute outra no mundo

E A PRESERVACcedilAtildeO SOacute SEFAZ COMPLETAMENTE SEOS BOTES ESTIVEREM NOMAR A NAVEGARExactamente Haacute uma partemuito importante do projec-to que ainda falta que passa

pela sede do CNH e por sa-ber o que vai acontecer aosarmazeacutens da Reis e MartinsEacute preciso encontrar um espa-ccedilo adequado para guardar osbotes fazer a sua manuten-ccedilatildeo e expocirc-los Os botes satildeopatrimoacutenio histoacuterico mas tam-beacutem turiacutestico As regatas satildeobonitas mas os passeios embotes baleeiros tambeacutem Se foralterada a portaria que regula

esses passeios em vigor haacutemuitos anos os clubes podemdeles tirar rendimentos

ACHA ENTAtildeO QUE FARIASENTIDO RENTABILIZAR OSPASSEIOS NOS BOTES BA-LEEIROS PARA FINANCIARA SUA PROacutePRIA PRESERVA-CcedilAtildeOFaz todo o sentido Na situ-accedilatildeo econoacutemica em que es-tamos natildeo podemos viver da

ldquosubsiacutedio-dependecircnciardquo A ma-nutenccedilatildeo dos botes as regatase toda essa dinacircmica podemsustentar-se com a criaccedilatildeo deuma vertente econoacutemica comos passeios de bote baleeiroporque temos mercado para

isso Eacute necessaacuterio alterar legis-laccedilatildeo nessa aacuterea

NOUTROS TEMPOS A BA-LEIA FOI UM PILAR DA NOS-SA ECONOMIA ACHA QUEHOJE COM O WHALE WA-TCHING A MOTIVAR A EXIS-TEcircNCIA DE BALEEIROS COMMAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICASEM VEZ DE ARPOtildeES CON-TRIBUINDO PARA A ECONO-

MIA DA ILHA E COM OS BO-TES BALEEIROS NA AacuteGUAPARA AS COMPETICcedilOtildeESDESPORTIVAS ESTAMOSPERANTE UMA ESPEacuteCIE DENOVA BALEACcedilAtildeO Acho que entraacutemos numa novafase da baleaccedilatildeo e soubemosperceber natildeo apenas a impor-tacircncia que a baleaccedilatildeo tevemas tambeacutem a importacircnciaque os cetaacuteceos tecircm hoje nos Accedilores Haacute um Departamento

de Oceanograa e Pescas da

Universidade dos Accedilores quesabe o que estaacute a fazer haacuteuma consciecircncia das empre-sas de whale watching para asua importacircnciahellip Natildeo eacute poracaso que algumas dessas

empresas utilizam as antigasvigias dos baleeiros e inclusi-ve as recuperaram contribuin-do assim para a preservaccedilatildeodo patrimoacutenio da baleaccedilatildeo Osegredo da observaccedilatildeo de ba-leias nos Accedilores tem a ver coma histoacuteria que haacute para contarHouve uma altura em que ca-ccedilaacutemos e haacute agora uma alturaem que sabemos preservarHaacute aqui um potencial turiacutestico

enorme Os accedilorianos adapta-ram-se muito bem a esta novarealidadez

MARLA PINHEIRO

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y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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Tempo de Baleeiros

da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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Tempo de Baleeiros

pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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y Em 1939 a Sociedade In-dustrial Mariacutetima Accediloriana Lda ndash a SIMAL foi fundada na Hor-ta Esta sociedade comercialpor quotas de responsabilidadelimitada tinha como objectivosa ldquoexploraccedilatildeo da induacutestria doaproveitamento integral da ba-

leia e outras espeacutecies marinhase comeacutercio dos respectivosprodutosrdquo A SIMAL era cons-tituiacuteda por 25 soacutecios sendo os

soacutecios maioritaacuterios o industriallisboeta Francisco Marcelinodos Reis e a empresa localCosta amp Martins Lda Desta-

cam-se ainda quatro compa-nhias baleeiras da Ribeira doMeio (Pico) que por razotildeesfamiliares e por ter sido nega-

da a construccedilatildeo de uma faacutebri-ca nas Lajes se associaram agraveSIMAL A faacutebrica comeccedilou a ser cons-truiacuteda em 1941 inicialmenteno areal da Praia de Porto Pimmas devido a um forte tem-poral ocorrido em Setembrodesse mesmo ano foi comple-tamente destruiacuteda e abandona-do o projecto Esta intempeacuterielevou a que os proprietaacuterios

decidissem construir a faacutebricano local onde hoje a conhe-cemos na encosta do Monteda Guia A faacutebrica comeccedilou alaborar em fase experimentalem Agosto de 1942 Durante

os seus 30 anos de laboraccedilatildeoprocessaram-se 1940 cachalo-tes que produziram 44 mil bi-dotildees de oacuteleoEm 1974 acompanhando odecliacutenio da induacutestria baleeira aniacutevel mundial a faacutebrica fechouas suas portas Em 1980 oGoverno Regional dos Accediloresadquiriu todo o complexo fabrilcom o objectivo de ali instalaro Departamento de Oceano-

graa e Pescas e uma Escola

de Pesca desiacutegnio esse quenunca se chegou a realizarEm 1984 a antiga faacutebrica foiclassicada como Imoacutevel de

Interesse Puacuteblico (IIP) Depoisde quase duas deacutecadas de de-gradaccedilatildeo do edifiacutecio e da suamaquinaria sem duacutevida atenu-ados pela acccedilatildeo persistente deManuel da Rosa Correia co-nhecido como Patratildeo Manuele de Manuel Medeiros conhe-cido com Sr Amaral (antigo en-carregado da faacutebrica) a faacutebricafoi nalmente alvo de obras

de restauro e de beneciaccedilatildeo Apelidada de Centro do Marfoi inaugurada em 2000 por

ocasiatildeo da 2ordf ediccedilatildeo da Expo-Pescas com o objectivo de setornar num espaccedilo de divulga-ccedilatildeo cultural e cientiacuteca Desde

2004 que a Faacutebrica eacute a sede

do OMA que desde entatildeo temvindo a dinamizar esse espaccediloEm 2010 a Faacutebrica da Baleia

de Porto Pim como hoje eacute co-nhecida foi inserida no Com-plexo do Monte da Guia da Ilhado Faial z

A FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM

VISITA GUIADA FAacuteBRICA DA BALEIA DE PORTO PIM 983085 DESCRICcedilAtildeO

MAacuteRCIA DUTRAOMA

FONTE OMA

INTERIOR A FAacuteBRICA Eacute UM MUSEU PERMANENTE

CASA DAS AUTOCLAVES COMSEIS AUTOCLAVES CADA UMACOM CAPACIDADE DE 11 M

CASA DAS FARINHAS COM TODAA MAQUINARIA ORIGINAL DA RE983085

CONHECIDA MARCA NORUGUESAMYRENS VERKSTED E OS MOTO983085

RES DA MARCA ALEMAtilde MOTORENFABRIK DEUTZ AG

EDIFICIO ANEXO ONDE FUNCIONAVA A ANTIGASERRALHARIA E OS ESCRITOacuteRIOS DESTACAM983085SEOS ALTOS TANQUES SUBTERRAcircNEOS PARA AR983085MAZENAMENTO DE OacuteLEO ACTUAL ldquoSALA DOS

OacuteLEOSrdquo 983080SALA DE EXPOSICcedilOtildeES E REUNIOtildeES983081

ANTIGAS CASAS DE BANHOACTUAL BAR DA PRAIA E WCS DE

APOIO Agrave FAacuteBRICA DA BALEIA

ANTIGO ARMAZEacuteM DAS FARI983085NHAS COM QUATRO TANQUESSUBTERRAcircNEOS PARA ARMAZE983085NAMENTO DO OacuteLEO ACTUALLOJA DA FAacuteBRICA E CIM

PLATAFORMA DE DESMANCHODESTAQCA983085SE A CHAMINEacute DAS CALDEI983085

RAS A VAPOR

CASA DAS CALDEIRAS A VAPOR IMPO983085NENTES CALDEIRAS FABRICADAS NA CI983085DADE DO PORTO EM PRIMEIRO PLANOVEMOS A CALDEIRA QUE FOI INSTALADAEM 1950

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y A inauguraccedilatildeo da Casados Botes no Capelo marcoumais um passo no percursoque comeccedilou a ser percorridohaacute mais de dez anos quandopor altura das comemoraccedilotildeesdos 400 anos daquela fregue-sia se decidiu iniciar um pro-cesso de recuperaccedilatildeo do patri-moacutenio baleeiro no Faial entatildeodenominado ldquorecuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeira da ilha doFaialrdquoHoje 25 anos depois de ter

sido caccedilado o uacuteltimo cachaloteem aacuteguas accedilorianas o patri-moacutenio da baleaccedilatildeo estaacute bemvivo sendo essa vivacidade noFaial espelhada pela recupe-

raccedilatildeo dos botes baleeiros dalancha Walquiacuteria da Faacutebricada Baleia e agora da Casados BotesRecuperar os botes baleeirosnatildeo eacute no entanto suciente

para garantir que a sua me-moacuteria continua viva Os botespertencem ao mar e por issofoi com naturalidade que estemovimento de revitalizaccedilatildeo dopatrimoacutenio acabou por passar

para a vertente desportiva coma criaccedilatildeo da secccedilatildeo de botesbaleeiros do Clube Naval daHorta que movimenta muitos

desportistasNa hora de lembrar todo estepercurso de recuperaccedilatildeo dopatrimoacutenio baleeiro bem comode reectir sobre o que haacute a

fazer numa altura em esseprocesso estaacute praticamenteconsolidado Tribuna das Ilhasconversou com Joatildeo Garciaque era em 2000 membro do

elenco da Junta de Freguesiado Capelo responsaacutevel pelodesencadear deste projectoe que em 2005 o levou para o

Clube Naval da Horta quandoassumiu a direcccedilatildeo da agre-miaccedilatildeo naacuteutica faialense Alertando para a importacircnciada manutenccedilatildeo deste patrimoacute-

nio agora que todo ele estaacuterestaurado Joatildeo Garcia apelaa um esforccedilo conjunto para aconsolidaccedilatildeo de um campeo-nato regional de botes baleei-ros e defende a alteraccedilatildeo dalegislaccedilatildeo para que os clubesnavais possam retirar rentabili-dade econoacutemica dos passeiosagrave vela em botes baleeiros demodo a que estes possam sus-tentar a sua proacutepria manuten-

ccedilatildeo

O PROCESSO DE RECUPE-RACcedilAtildeO DE BOTES EM VAacute-

RIAS FREGUESIAS COM HIS-TOacuteRIA BALEEIRA NO FAIALFOI DESENCADEADO QUAN-DO O JOAtildeO ERA PRESIDEN-TE DA JUNTA DE FREGUESIADO CAPELO E PREPARAVAAS COMEMORACcedilOtildeES DOSSEUS 400 ANOS O QUE EacuteQUE MOTIVOU A QUE O PA-TRIMOacuteNIO BALEEIRO FOSSEO MARCO DESTA EFEMEacuteRI-DE A importacircncia que tinha essaefemeacuteride levou a que se -zesse um levantamento his-toacuterico dos quatro seacuteculos dafreguesia A baleaccedilatildeo teve umpapel importante nessa histoacuteriae desde logo decidimos fazer

uma regata de botes que li-gasse o Porto do Comprido aodo Varadouro tendo em contaa ligaccedilatildeo histoacuterica que os doistiveram pela baleaccedilatildeo A partirdaqui somos despertados paraalgo que tem grande valor sen-timental e histoacuterico e nasce ummovimento de recuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeiraO Capelo teve uma forte im-plementaccedilatildeo da baleaccedilatildeo era

uma coisa que estava enraiza-da no povo e que era impor-tante salvaguardar Primeirohouve a preocupaccedilatildeo de re-

gistar as memoacuterias que haviadessa eacutepoca registos feitospor pessoas do Capelo nome-adamente pelo Joseacute Franciscoda Faialentejo que registou ostestemunhos de alguns baleei-ros Depois houve o movimen-to de recuperaccedilatildeo dos botesO Pico tinha jaacute uma seacuterie debotes recuperados e noacutes qui-semos ir um pouco mais lon-ge e abranger natildeo apenas asfreguesias com tradiccedilatildeo nabaleaccedilatildeo como Salatildeo Cas-telo Branco e Anguacutestias mastambeacutem outras onde havia re-crutamento de baleeiros comoeacute o caso da Feteira O projectocontemplava a recuperaccedilatildeo da

Casa do Bote Baleeiro que foirecentemente inaugurada evisa ainda publicar a histoacuteria dabaleaccedilatildeo na ilha do Faial

FOI FAacuteCIL PARA A JUNTA DEFREGUESIA DO CAPELO MO-TIVAR AS RESTANTES FRE-GUESIAS A EMBARCAREMNESTE PROJECTOPor acccedilatildeo do Clube Navalmais concretamente pelo entatildeo

presidente Joseacute Decq Motatemos conhecimento que naCalheta do Nesquim existe umbote disponiacutevel cheio de his-

ENTREVISTA A JOAtildeO PEDRO GARCIA

ldquoO DESAFIO MAIS IMPORTANTE Eacute

A PRESERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROrdquo

FONTE ROBERT CLARKE DISCOVERY REPORTS 1954

NO MAR O MOMENTO EM QUE SE INICIA A PERSEGUICcedilAtildeO AO CACHALOTE

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toacuteria e que eacute inclusive citadono Mau Tempo no Canal deVitorino Nemeacutesio o bote SatildeoJoseacute Sabendo que havia aquium interesse ele falou-nos daexistecircncia desse bote que es-tava sob a alccedilada da Comissatildeo

do Patrimoacutenio Baleeiro Inicia--se aiacute a sua recuperaccedilatildeo e umpasso importante para aquiloque queriacuteamos fazer A recu-peraccedilatildeo de um bote para a fre-guesia do Capelo fez despertaras outras freguesias para esteprojecto Nesta altura ele deixade ser apenas palavras e pe-quenos escritos para comeccedilara ter uma maior dimensatildeoEm 2000 temos a primeira re-

gata com botes do Pico e ape-nas com o Claudina do Faial43 anos depois do uacuteltimo botebaleeiro ter ldquoarriadordquo no Com-prido Em 2003 aparece o Satildeo

Joseacute outro bote recuperadopara o Faialhellip As pessoas co-meccedilam a perceber que este eacuteum projecto com vidaNesta altura comeccedila tambeacutema dinamizar-se a regata inter-nacional de botes baleeirosO movimento de geminaccedilatildeoentre a Horta e New Bedfordestava estagnado e a partirdaiacute essa ligaccedilatildeo fortalece-seFoi precisamente a baleaccedilatildeoque criou o elo entre as duascidades agora fortalecido com

a recuperaccedilatildeo do patrimoacuteniobaleeiro E curiosamente eacutena primeira viagem que sefaz aos Estados Unidos que opresidente da Cacircmara Munici-pal da Horta Joatildeo Castro ca

desperto para a importacircncia dese recuperar a Walquiacuteria outroprocesso que estava estagna-do e ganha nessa altura alentoHaacute assim uma bola de neveque vai crescendo uma pai-xatildeo que vai aumentando e um

despertar da consciecircncia paraa recuperaccedilatildeo da memoacuteria quefaz com que se torne tudo maisfaacutecilO Governo Regional atraveacutesda Comissatildeo do PatrimoacutenioBaleeiro dos Accedilores deu umapoio incondicional a este pro- jecto Este eacute um desiacutegnio natildeode um homem soacute mas de vaacute-rias pessoas e instituiccedilotildees

COMO Eacute QUE O OBJECTIVO

DA PRESERVACcedilAtildeO DOS BO-TES BALEEIROS Eacute TRANS-POSTO PARA O CLUBE NA-VAL DA HORTA (CNH) COMO INTUITO DE CRIAR UMANOVA VERTENTE DESPORTI-VA NA ILHAQuando me foi lanccedilado o de-sao de assumir a presidecircncia

do CNH os botes baleeirosassumem uma importacircncia nomeu projecto para o clube Natildeoera possiacutevel continuar a gerir

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

BAIacuteA DA FETEIRA DURANTE A EacutePOCA DO VERAtildeO A BAIA Eacute ENGALANADA PELAS VELAS DOS BOTES BALEEIROS

FONTE SUSANA GARCIA

PATRIMOacuteNIOJORGE FONTES JOAtildeO GARCIA E JOAtildeO TAVARES TREcircS IMPULSIONA DORES DA PRESERVACcedilAtildeO DO PATRI983085MOacuteNIO BALEEIRO DA ILHA DO FAIAL

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as tripulaccedilotildees e a actividadedesportiva dos botes atraveacutesdas juntas de freguesia porqueelas natildeo tecircm essa vocaccedilatildeoEra inevitaacutevel que houvesseuma instituiccedilatildeo como o CNH ndash soacutelida agregadora sem ri-

validades ndash que pudesse darcontinuidade ao processo Nes-se sentido fundaacutemos a secccedilatildeode Botes Baleeiros da ilha doFaial que agrega com igual au-tonomia e legitimidade todos osparticipantes nesta actividadeNeste ponto tenho de referiro Carlos Fontes que deu umimportante contributo a todo oprocesso pela sua dedicaccedilatildeoe organizaccedilatildeo Outro elemen-

to que emprestou um valiosocontributo foi o Nuno Limasobretudo na recuperaccedilatildeo dalancha Walkiria a rainha dosmares dos Accedilores Houve ummomento de explosatildeo com

mais de cem participantes tan-to masculinos como femininoscom miuacutedos a virem das fre-guesias para aprender velacom cursos para ociaishellip Esta

vitalidade dos botes manteve--se ateacute 2010 Mantenho alguma

preocupaccedilatildeo quanto a algumassituaccedilotildees pontuais com receiode que as coisas se desagre-guem e as pessoas natildeo perce-bam os anos de trabalho queestatildeo aqui em causa e os seacutecu-los de baleaccedilatildeo que estatildeo pordetraacutes deste patrimoacutenio Eacute im-portante que haja consciecircncianatildeo apenas de todo o trabalhoque foi feito mas tambeacutem docusto nanceiro deste projec-

to Grande parte desse nan-ciamento foi assegurado pelogoverno regional que contoucom o apoio do E-GRANT`S ADirecccedilatildeo Regional da Culturao CNH e os clubes navais do

Pico apresentaram uma candi-datura para a recuperaccedilatildeo dosbotes baleeiros que foi aceiteSe natildeo fosse esse apoio hojenatildeo poderiacuteamos dizer que pra-ticamente todo o patrimoacuteniodos Accedilores botes e lanchas

estaacute recuperado Estamos afalar de 40 botes Em 10 anosno Faial recuperaram-se setebotes e uma lancha Se virmosque cada bote tem um custo derecuperaccedilatildeo de cerca de 35 mileuros percebemos que esse foium esforccedilo muito signicativo

A associaccedilatildeo dos botes bale-eiros da ilha do Faial ao CNHveio tambeacutem dar uma dimen-satildeo de ilha ao Clube e criou-se

uma dinacircmica desportiva im-portante de que o Faial neces-sitavaEsta vitalidade em torno dacultura e patrimoacutenio baleeirofaz despertar para a necessi-

dade deste ser inventariadoe salvaguardado Em 2008 o

Observatoacuterio do Mar dos Accedilo-res (OMA) entidade gestorada Faacutebrica da Baleia de PortoPim avanccedila para a inventaria-ccedilatildeo do patrimoacutenio imoacutevel da

baleaccedilatildeo primeiro agrave escala dailha do Faial e depois agrave escalados Accedilores

WALKIacuteRIA ldquoA RAINHA DOS MARES DOS ACcedilORESrdquo

ldquoNasceu para reinar nunca foi destronada e viveraacute esperamos por muitos anos assim o desejamos Somos uma grande regiatildeomariacutetima que quer preservar a memoacuteria coletiva das nossas teacutecnicas e tradiccedilotildees da nossa vivecircncia multissecular com o mar quenos rodeia nos separa e nos unerdquo A lancha Walkiria foi mandada construir pelos proprietaacuterios da Armaccedilatildeo Baleeira Reis amp Mendonccedila o industrial continental Francis-co Marcelino dos Reis e o Professor Rui de Mendonccedila residente na Vila das Velas amante de muacutesica Wagneriano que por talrazatildeo deu aos seus lhos os nomes de Wagner Weber

Walkyria e Isolda A construccedilatildeo foi realizada na ilha de S Jorge em 1937pelas matildeos de Joseacute e Manuel Gambatildeo irmatildeos e carpin-teiros habilidosos a partir de projeto de Manuel InaacutecioNunes natural do Pico mas com gabinete de projetos eestaleiro em Sacramento Califoacuternia Estados Unidos da Ameacuterica - ldquoQuando o antigo paquete a vapor ldquoCarvalho Arauacutejordquo

largava do porto das Velas com rumo ao Cais do Picoonde escalava depois de ter atingido a velocidade ple-na de cruzeiro a Walkyria rodeava o navio em marchapassando pela proa e pela popa Nenhuma outra lanchaconseguiu tal proezardquoEfetivamente a lancha estava equipada com um motor agasolina de 143 HP que permitindo atingir uma velocida-de de ponta elevada 18 noacutes tambeacutem acarretava consu-mos de combustiacutevel signicativos facto que levou agrave sua

venda em 1938 por ser economicamente pouco interes-sante para o trabalho que desenvolvia nomeadamente no apoio agrave caccedila agrave baleia Assim a lancha eacute transferida para a ilha do Faial por aquisiccedilatildeo do Sr Francisco Reis cando afeta ao transporte local de passagei-

ro Mais tarde eacute adquirida pela rma ldquoReis amp Martinsrdquo cando afeta agrave atividade baleeira Em 1955 a quando da instalaccedilatildeo de umaparelho de radiotelefonia foi-lhe atribuiacuteda a matriacutecula nal H-21-B

Em 2005 no acircmbito do projeto de ldquorecuperaccedilatildeo da memoacuteria baleeira da ilha do Faialrdquo depois de anos de repouso nos armazeacutens

da Reis e Martins a emblemaacutetica embarcaccedilatildeo volta a ganhar vida pelas matildeos do mestre Manuel Monteiro da Piedade do Pico en-trando de novo no porto da Horta a 12 de agosto desse mesmo ano totalmente recuperada

EEA Grants Mecanismo Finan-

ceiro Norueguecircs para apoio agrave

coesatildeo social e econoacutemica den-

tro da Uniatildeo Europeia Islacircndia

Liechtenstein e Noruega que

complementou o esforccedilo nan-

ceiro do Governo Regional para

a reabilitaccedilatildeo do patrimoacutenio bale-

eiro dos Accedilores Neste contexto

foram recuperados 40 botes e 10

lanchas Anualmente eacute atribuiacutedo

pelo Governo Regional um sub-

siacutedio para manutenccedilatildeo destas

embarcaccedilotildees

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AINDA BEM QUE REFERE AINVENTARIACcedilAtildeO DO PATRI-MOacuteNIO IMOacuteVEL POIS DEFACTO O PATRIMOacuteNIO DABALEACcedilAtildeO NAtildeO SE RESU-ME AOS BOTEShellip DEPOIS DAREVITALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRI-CA DA BALEIA ESTE PRO-CESSO DE RECUPERACcedilAtildeODO PATRIMOacuteNIO FICOU AIN-DA MAIS COMPLETO COMA INAUGURACcedilAtildeO DA CASADOS BOTES NO CAPELO HAacuteMUITO AGUARDADA FALE--NOS DESSE PROJECTO

Em boa hora a Junta de Fre-guesia do Capelo acolheu estainiciativa incluiacuteda no projectoldquoA recuperaccedilatildeo da memoacuteriabaleeirardquo Esta era uma casadas armaccedilotildees baleeiras deSatildeo Roque do Pico A sua re-cuperaccedilatildeo natildeo eacute mais do quedevolver ao porto do Compri-do a sua histoacuteria A histoacuteria doCapelo natildeo comeccedila em 1957com o Vulcatildeo dos Capelinhos

Antes disso o porto do Com-prido jaacute tinha dois seacuteculos dehistoacuteria tendo sido uma dasprincipais estaccedilotildees baleeirasdos Accedilores Essa memoacuteria

tinha de ser preservada porrespeito aos nossos antepas-sados Essa preservaccedilatildeo tam-beacutem se faz atraveacutes do circuitopedestre do baleeiro que tam-beacutem foi inaugurado agora Esteleva-nos ao conjunto de vigiasque existe no Vulcatildeo dos Ca-pelinhos

Um museu natildeo eacute uma coisaque estaacute dentro de casa maseacute tudo o que nos rodeia Te-mos de contar de forma sim-ples a todos os que nos visi-tam que esta eacute uma ilha comhistoacuteria

HAacute TAMBEacuteM A PREOCUPA-CcedilAtildeO DE REUNIR EM LIVRO AINFORMACcedilAtildeO SOBRE A BA-LEACcedilAtildeO QUE TEM VINDO ASER RECOLHIDAhellipNos uacuteltimos anos o Obser-vatoacuterio do Mar dos Accedilores(OMA) tem feito um excelentetrabalho o que se traduz numgrande avanccedilo na pesquisaCom aquilo que jaacute tinha sido

feito lanccedilaacutemos um desao aoFilipe Porteiro presidente doOMA para que se documen-tasse por escrito a memoacuteriados baleeiros Haacute um registode memoacuterias de alguns bale-eiros do Capelo um espoacuteliofotograacuteco que foi e continua

a ser recolhido um conjuntode informaccedilotildees tanto daquicomo de New Bedford no queao tempo da baleaccedilatildeo diz res-peitohellip Portanto temos infor-maccedilatildeo suciente para fechar

nos proacuteximos dois anos estarecuperaccedilatildeo da memoacuteria comum livro que permita dar aconhecer a histoacuteria da balea-ccedilatildeo no Faial Haacute um conjunto

de pessoas disponiacuteveis paracolaborar neste processo Naminha opiniatildeo esta obra deveter ediccedilatildeo bilingue tendo emconta o interesse que tem paraos Estados Unidos

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE FICA A FALTAR FAZERPELA RECUPERACcedilAtildeO E PRE-SERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROTenho de deixar uma mensa-gem importante agraves pessoasque hoje gerem este proces-so procurem os consensosEacute muito importante termosum consenso regional relati-vamente aos botes baleeiros

Eacute importante que se volte aosmodelos adoptados em 2005

relativamente agraves regatas Natildeopodemos ter regatas em to-das as freguesias dos AccediloresTemos de ter as cinco regatastradicionalmente mais antigasnas quais se inclui a Semanado Mar e quatro regatas noPico e fazer as outras trecircs deforma rotativa para voltarmosa ter um campeonato regionalde botes baleeiros em condi-ccedilotildees Faial e Pico tecircm de en-tender-se nesta mateacuteria Estamensagem tem de ser passa-da para as instituiccedilotildees para osclubes para as juntas de fre-guesia para as pessoashellip

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA UM ASPECTO DE UMA REGATA DENTRO DA BAIA DA HORTA

FONTE OMA

EMBARCACcedilAtildeO OS ANTIGOS BOTES TORNARAM983085SE TAMBEacuteM NUMA PECcedilAMUSEOLOacuteGICA

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Eacute tambeacutem importante que asecccedilatildeo de botes baleeiros doFaial continue A rivalidade en-tre freguesias natildeo traz nada debom O CNH tem obrigaccedilatildeo deconsolidar a secccedilatildeo custe oque custar

Aleacutem disso temos de ver queo patrimoacutenio baleeiro que estaacuteentregue agraves Juntas de Fregue-sia natildeo eacute das autarquias Per-tence agrave Governo Regional dos Acores ou seja agrave Regiatildeo e asua preservaccedilatildeo eacute uma obri-gaccedilatildeo daqueles a quem foientregue Eacute preciso ter muitocuidado nessa preservaccedilatildeosenatildeo dentro de alguns anosestamos natildeo a fazer manuten-

ccedilatildeo mas praticamente a fazernovos botes Os responsaacuteveisde cada uma das instituiccedilotildeestecircm de ter consciecircncia do pa-trimoacutenio que tecircm nas matildeos ede toda esta histoacuteria Agora odesao mais importante eacute a

manutenccedilatildeo deste patrimoacutenio econtinuar a despertar nas pes-soas o interesse por andar agravevela e a remos O bote baleeiroeacute uma embarcaccedilatildeo iacutempar Natildeohaacute outra no mundo

E A PRESERVACcedilAtildeO SOacute SEFAZ COMPLETAMENTE SEOS BOTES ESTIVEREM NOMAR A NAVEGARExactamente Haacute uma partemuito importante do projec-to que ainda falta que passa

pela sede do CNH e por sa-ber o que vai acontecer aosarmazeacutens da Reis e MartinsEacute preciso encontrar um espa-ccedilo adequado para guardar osbotes fazer a sua manuten-ccedilatildeo e expocirc-los Os botes satildeopatrimoacutenio histoacuterico mas tam-beacutem turiacutestico As regatas satildeobonitas mas os passeios embotes baleeiros tambeacutem Se foralterada a portaria que regula

esses passeios em vigor haacutemuitos anos os clubes podemdeles tirar rendimentos

ACHA ENTAtildeO QUE FARIASENTIDO RENTABILIZAR OSPASSEIOS NOS BOTES BA-LEEIROS PARA FINANCIARA SUA PROacutePRIA PRESERVA-CcedilAtildeOFaz todo o sentido Na situ-accedilatildeo econoacutemica em que es-tamos natildeo podemos viver da

ldquosubsiacutedio-dependecircnciardquo A ma-nutenccedilatildeo dos botes as regatase toda essa dinacircmica podemsustentar-se com a criaccedilatildeo deuma vertente econoacutemica comos passeios de bote baleeiroporque temos mercado para

isso Eacute necessaacuterio alterar legis-laccedilatildeo nessa aacuterea

NOUTROS TEMPOS A BA-LEIA FOI UM PILAR DA NOS-SA ECONOMIA ACHA QUEHOJE COM O WHALE WA-TCHING A MOTIVAR A EXIS-TEcircNCIA DE BALEEIROS COMMAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICASEM VEZ DE ARPOtildeES CON-TRIBUINDO PARA A ECONO-

MIA DA ILHA E COM OS BO-TES BALEEIROS NA AacuteGUAPARA AS COMPETICcedilOtildeESDESPORTIVAS ESTAMOSPERANTE UMA ESPEacuteCIE DENOVA BALEACcedilAtildeO Acho que entraacutemos numa novafase da baleaccedilatildeo e soubemosperceber natildeo apenas a impor-tacircncia que a baleaccedilatildeo tevemas tambeacutem a importacircnciaque os cetaacuteceos tecircm hoje nos Accedilores Haacute um Departamento

de Oceanograa e Pescas da

Universidade dos Accedilores quesabe o que estaacute a fazer haacuteuma consciecircncia das empre-sas de whale watching para asua importacircnciahellip Natildeo eacute poracaso que algumas dessas

empresas utilizam as antigasvigias dos baleeiros e inclusi-ve as recuperaram contribuin-do assim para a preservaccedilatildeodo patrimoacutenio da baleaccedilatildeo Osegredo da observaccedilatildeo de ba-leias nos Accedilores tem a ver coma histoacuteria que haacute para contarHouve uma altura em que ca-ccedilaacutemos e haacute agora uma alturaem que sabemos preservarHaacute aqui um potencial turiacutestico

enorme Os accedilorianos adapta-ram-se muito bem a esta novarealidadez

MARLA PINHEIRO

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y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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Tempo de Baleeiros

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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y A inauguraccedilatildeo da Casados Botes no Capelo marcoumais um passo no percursoque comeccedilou a ser percorridohaacute mais de dez anos quandopor altura das comemoraccedilotildeesdos 400 anos daquela fregue-sia se decidiu iniciar um pro-cesso de recuperaccedilatildeo do patri-moacutenio baleeiro no Faial entatildeodenominado ldquorecuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeira da ilha doFaialrdquoHoje 25 anos depois de ter

sido caccedilado o uacuteltimo cachaloteem aacuteguas accedilorianas o patri-moacutenio da baleaccedilatildeo estaacute bemvivo sendo essa vivacidade noFaial espelhada pela recupe-

raccedilatildeo dos botes baleeiros dalancha Walquiacuteria da Faacutebricada Baleia e agora da Casados BotesRecuperar os botes baleeirosnatildeo eacute no entanto suciente

para garantir que a sua me-moacuteria continua viva Os botespertencem ao mar e por issofoi com naturalidade que estemovimento de revitalizaccedilatildeo dopatrimoacutenio acabou por passar

para a vertente desportiva coma criaccedilatildeo da secccedilatildeo de botesbaleeiros do Clube Naval daHorta que movimenta muitos

desportistasNa hora de lembrar todo estepercurso de recuperaccedilatildeo dopatrimoacutenio baleeiro bem comode reectir sobre o que haacute a

fazer numa altura em esseprocesso estaacute praticamenteconsolidado Tribuna das Ilhasconversou com Joatildeo Garciaque era em 2000 membro do

elenco da Junta de Freguesiado Capelo responsaacutevel pelodesencadear deste projectoe que em 2005 o levou para o

Clube Naval da Horta quandoassumiu a direcccedilatildeo da agre-miaccedilatildeo naacuteutica faialense Alertando para a importacircnciada manutenccedilatildeo deste patrimoacute-

nio agora que todo ele estaacuterestaurado Joatildeo Garcia apelaa um esforccedilo conjunto para aconsolidaccedilatildeo de um campeo-nato regional de botes baleei-ros e defende a alteraccedilatildeo dalegislaccedilatildeo para que os clubesnavais possam retirar rentabili-dade econoacutemica dos passeiosagrave vela em botes baleeiros demodo a que estes possam sus-tentar a sua proacutepria manuten-

ccedilatildeo

O PROCESSO DE RECUPE-RACcedilAtildeO DE BOTES EM VAacute-

RIAS FREGUESIAS COM HIS-TOacuteRIA BALEEIRA NO FAIALFOI DESENCADEADO QUAN-DO O JOAtildeO ERA PRESIDEN-TE DA JUNTA DE FREGUESIADO CAPELO E PREPARAVAAS COMEMORACcedilOtildeES DOSSEUS 400 ANOS O QUE EacuteQUE MOTIVOU A QUE O PA-TRIMOacuteNIO BALEEIRO FOSSEO MARCO DESTA EFEMEacuteRI-DE A importacircncia que tinha essaefemeacuteride levou a que se -zesse um levantamento his-toacuterico dos quatro seacuteculos dafreguesia A baleaccedilatildeo teve umpapel importante nessa histoacuteriae desde logo decidimos fazer

uma regata de botes que li-gasse o Porto do Comprido aodo Varadouro tendo em contaa ligaccedilatildeo histoacuterica que os doistiveram pela baleaccedilatildeo A partirdaqui somos despertados paraalgo que tem grande valor sen-timental e histoacuterico e nasce ummovimento de recuperaccedilatildeo damemoacuteria baleeiraO Capelo teve uma forte im-plementaccedilatildeo da baleaccedilatildeo era

uma coisa que estava enraiza-da no povo e que era impor-tante salvaguardar Primeirohouve a preocupaccedilatildeo de re-

gistar as memoacuterias que haviadessa eacutepoca registos feitospor pessoas do Capelo nome-adamente pelo Joseacute Franciscoda Faialentejo que registou ostestemunhos de alguns baleei-ros Depois houve o movimen-to de recuperaccedilatildeo dos botesO Pico tinha jaacute uma seacuterie debotes recuperados e noacutes qui-semos ir um pouco mais lon-ge e abranger natildeo apenas asfreguesias com tradiccedilatildeo nabaleaccedilatildeo como Salatildeo Cas-telo Branco e Anguacutestias mastambeacutem outras onde havia re-crutamento de baleeiros comoeacute o caso da Feteira O projectocontemplava a recuperaccedilatildeo da

Casa do Bote Baleeiro que foirecentemente inaugurada evisa ainda publicar a histoacuteria dabaleaccedilatildeo na ilha do Faial

FOI FAacuteCIL PARA A JUNTA DEFREGUESIA DO CAPELO MO-TIVAR AS RESTANTES FRE-GUESIAS A EMBARCAREMNESTE PROJECTOPor acccedilatildeo do Clube Navalmais concretamente pelo entatildeo

presidente Joseacute Decq Motatemos conhecimento que naCalheta do Nesquim existe umbote disponiacutevel cheio de his-

ENTREVISTA A JOAtildeO PEDRO GARCIA

ldquoO DESAFIO MAIS IMPORTANTE Eacute

A PRESERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROrdquo

FONTE ROBERT CLARKE DISCOVERY REPORTS 1954

NO MAR O MOMENTO EM QUE SE INICIA A PERSEGUICcedilAtildeO AO CACHALOTE

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toacuteria e que eacute inclusive citadono Mau Tempo no Canal deVitorino Nemeacutesio o bote SatildeoJoseacute Sabendo que havia aquium interesse ele falou-nos daexistecircncia desse bote que es-tava sob a alccedilada da Comissatildeo

do Patrimoacutenio Baleeiro Inicia--se aiacute a sua recuperaccedilatildeo e umpasso importante para aquiloque queriacuteamos fazer A recu-peraccedilatildeo de um bote para a fre-guesia do Capelo fez despertaras outras freguesias para esteprojecto Nesta altura ele deixade ser apenas palavras e pe-quenos escritos para comeccedilara ter uma maior dimensatildeoEm 2000 temos a primeira re-

gata com botes do Pico e ape-nas com o Claudina do Faial43 anos depois do uacuteltimo botebaleeiro ter ldquoarriadordquo no Com-prido Em 2003 aparece o Satildeo

Joseacute outro bote recuperadopara o Faialhellip As pessoas co-meccedilam a perceber que este eacuteum projecto com vidaNesta altura comeccedila tambeacutema dinamizar-se a regata inter-nacional de botes baleeirosO movimento de geminaccedilatildeoentre a Horta e New Bedfordestava estagnado e a partirdaiacute essa ligaccedilatildeo fortalece-seFoi precisamente a baleaccedilatildeoque criou o elo entre as duascidades agora fortalecido com

a recuperaccedilatildeo do patrimoacuteniobaleeiro E curiosamente eacutena primeira viagem que sefaz aos Estados Unidos que opresidente da Cacircmara Munici-pal da Horta Joatildeo Castro ca

desperto para a importacircncia dese recuperar a Walquiacuteria outroprocesso que estava estagna-do e ganha nessa altura alentoHaacute assim uma bola de neveque vai crescendo uma pai-xatildeo que vai aumentando e um

despertar da consciecircncia paraa recuperaccedilatildeo da memoacuteria quefaz com que se torne tudo maisfaacutecilO Governo Regional atraveacutesda Comissatildeo do PatrimoacutenioBaleeiro dos Accedilores deu umapoio incondicional a este pro- jecto Este eacute um desiacutegnio natildeode um homem soacute mas de vaacute-rias pessoas e instituiccedilotildees

COMO Eacute QUE O OBJECTIVO

DA PRESERVACcedilAtildeO DOS BO-TES BALEEIROS Eacute TRANS-POSTO PARA O CLUBE NA-VAL DA HORTA (CNH) COMO INTUITO DE CRIAR UMANOVA VERTENTE DESPORTI-VA NA ILHAQuando me foi lanccedilado o de-sao de assumir a presidecircncia

do CNH os botes baleeirosassumem uma importacircncia nomeu projecto para o clube Natildeoera possiacutevel continuar a gerir

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

BAIacuteA DA FETEIRA DURANTE A EacutePOCA DO VERAtildeO A BAIA Eacute ENGALANADA PELAS VELAS DOS BOTES BALEEIROS

FONTE SUSANA GARCIA

PATRIMOacuteNIOJORGE FONTES JOAtildeO GARCIA E JOAtildeO TAVARES TREcircS IMPULSIONA DORES DA PRESERVACcedilAtildeO DO PATRI983085MOacuteNIO BALEEIRO DA ILHA DO FAIAL

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as tripulaccedilotildees e a actividadedesportiva dos botes atraveacutesdas juntas de freguesia porqueelas natildeo tecircm essa vocaccedilatildeoEra inevitaacutevel que houvesseuma instituiccedilatildeo como o CNH ndash soacutelida agregadora sem ri-

validades ndash que pudesse darcontinuidade ao processo Nes-se sentido fundaacutemos a secccedilatildeode Botes Baleeiros da ilha doFaial que agrega com igual au-tonomia e legitimidade todos osparticipantes nesta actividadeNeste ponto tenho de referiro Carlos Fontes que deu umimportante contributo a todo oprocesso pela sua dedicaccedilatildeoe organizaccedilatildeo Outro elemen-

to que emprestou um valiosocontributo foi o Nuno Limasobretudo na recuperaccedilatildeo dalancha Walkiria a rainha dosmares dos Accedilores Houve ummomento de explosatildeo com

mais de cem participantes tan-to masculinos como femininoscom miuacutedos a virem das fre-guesias para aprender velacom cursos para ociaishellip Esta

vitalidade dos botes manteve--se ateacute 2010 Mantenho alguma

preocupaccedilatildeo quanto a algumassituaccedilotildees pontuais com receiode que as coisas se desagre-guem e as pessoas natildeo perce-bam os anos de trabalho queestatildeo aqui em causa e os seacutecu-los de baleaccedilatildeo que estatildeo pordetraacutes deste patrimoacutenio Eacute im-portante que haja consciecircncianatildeo apenas de todo o trabalhoque foi feito mas tambeacutem docusto nanceiro deste projec-

to Grande parte desse nan-ciamento foi assegurado pelogoverno regional que contoucom o apoio do E-GRANT`S ADirecccedilatildeo Regional da Culturao CNH e os clubes navais do

Pico apresentaram uma candi-datura para a recuperaccedilatildeo dosbotes baleeiros que foi aceiteSe natildeo fosse esse apoio hojenatildeo poderiacuteamos dizer que pra-ticamente todo o patrimoacuteniodos Accedilores botes e lanchas

estaacute recuperado Estamos afalar de 40 botes Em 10 anosno Faial recuperaram-se setebotes e uma lancha Se virmosque cada bote tem um custo derecuperaccedilatildeo de cerca de 35 mileuros percebemos que esse foium esforccedilo muito signicativo

A associaccedilatildeo dos botes bale-eiros da ilha do Faial ao CNHveio tambeacutem dar uma dimen-satildeo de ilha ao Clube e criou-se

uma dinacircmica desportiva im-portante de que o Faial neces-sitavaEsta vitalidade em torno dacultura e patrimoacutenio baleeirofaz despertar para a necessi-

dade deste ser inventariadoe salvaguardado Em 2008 o

Observatoacuterio do Mar dos Accedilo-res (OMA) entidade gestorada Faacutebrica da Baleia de PortoPim avanccedila para a inventaria-ccedilatildeo do patrimoacutenio imoacutevel da

baleaccedilatildeo primeiro agrave escala dailha do Faial e depois agrave escalados Accedilores

WALKIacuteRIA ldquoA RAINHA DOS MARES DOS ACcedilORESrdquo

ldquoNasceu para reinar nunca foi destronada e viveraacute esperamos por muitos anos assim o desejamos Somos uma grande regiatildeomariacutetima que quer preservar a memoacuteria coletiva das nossas teacutecnicas e tradiccedilotildees da nossa vivecircncia multissecular com o mar quenos rodeia nos separa e nos unerdquo A lancha Walkiria foi mandada construir pelos proprietaacuterios da Armaccedilatildeo Baleeira Reis amp Mendonccedila o industrial continental Francis-co Marcelino dos Reis e o Professor Rui de Mendonccedila residente na Vila das Velas amante de muacutesica Wagneriano que por talrazatildeo deu aos seus lhos os nomes de Wagner Weber

Walkyria e Isolda A construccedilatildeo foi realizada na ilha de S Jorge em 1937pelas matildeos de Joseacute e Manuel Gambatildeo irmatildeos e carpin-teiros habilidosos a partir de projeto de Manuel InaacutecioNunes natural do Pico mas com gabinete de projetos eestaleiro em Sacramento Califoacuternia Estados Unidos da Ameacuterica - ldquoQuando o antigo paquete a vapor ldquoCarvalho Arauacutejordquo

largava do porto das Velas com rumo ao Cais do Picoonde escalava depois de ter atingido a velocidade ple-na de cruzeiro a Walkyria rodeava o navio em marchapassando pela proa e pela popa Nenhuma outra lanchaconseguiu tal proezardquoEfetivamente a lancha estava equipada com um motor agasolina de 143 HP que permitindo atingir uma velocida-de de ponta elevada 18 noacutes tambeacutem acarretava consu-mos de combustiacutevel signicativos facto que levou agrave sua

venda em 1938 por ser economicamente pouco interes-sante para o trabalho que desenvolvia nomeadamente no apoio agrave caccedila agrave baleia Assim a lancha eacute transferida para a ilha do Faial por aquisiccedilatildeo do Sr Francisco Reis cando afeta ao transporte local de passagei-

ro Mais tarde eacute adquirida pela rma ldquoReis amp Martinsrdquo cando afeta agrave atividade baleeira Em 1955 a quando da instalaccedilatildeo de umaparelho de radiotelefonia foi-lhe atribuiacuteda a matriacutecula nal H-21-B

Em 2005 no acircmbito do projeto de ldquorecuperaccedilatildeo da memoacuteria baleeira da ilha do Faialrdquo depois de anos de repouso nos armazeacutens

da Reis e Martins a emblemaacutetica embarcaccedilatildeo volta a ganhar vida pelas matildeos do mestre Manuel Monteiro da Piedade do Pico en-trando de novo no porto da Horta a 12 de agosto desse mesmo ano totalmente recuperada

EEA Grants Mecanismo Finan-

ceiro Norueguecircs para apoio agrave

coesatildeo social e econoacutemica den-

tro da Uniatildeo Europeia Islacircndia

Liechtenstein e Noruega que

complementou o esforccedilo nan-

ceiro do Governo Regional para

a reabilitaccedilatildeo do patrimoacutenio bale-

eiro dos Accedilores Neste contexto

foram recuperados 40 botes e 10

lanchas Anualmente eacute atribuiacutedo

pelo Governo Regional um sub-

siacutedio para manutenccedilatildeo destas

embarcaccedilotildees

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AINDA BEM QUE REFERE AINVENTARIACcedilAtildeO DO PATRI-MOacuteNIO IMOacuteVEL POIS DEFACTO O PATRIMOacuteNIO DABALEACcedilAtildeO NAtildeO SE RESU-ME AOS BOTEShellip DEPOIS DAREVITALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRI-CA DA BALEIA ESTE PRO-CESSO DE RECUPERACcedilAtildeODO PATRIMOacuteNIO FICOU AIN-DA MAIS COMPLETO COMA INAUGURACcedilAtildeO DA CASADOS BOTES NO CAPELO HAacuteMUITO AGUARDADA FALE--NOS DESSE PROJECTO

Em boa hora a Junta de Fre-guesia do Capelo acolheu estainiciativa incluiacuteda no projectoldquoA recuperaccedilatildeo da memoacuteriabaleeirardquo Esta era uma casadas armaccedilotildees baleeiras deSatildeo Roque do Pico A sua re-cuperaccedilatildeo natildeo eacute mais do quedevolver ao porto do Compri-do a sua histoacuteria A histoacuteria doCapelo natildeo comeccedila em 1957com o Vulcatildeo dos Capelinhos

Antes disso o porto do Com-prido jaacute tinha dois seacuteculos dehistoacuteria tendo sido uma dasprincipais estaccedilotildees baleeirasdos Accedilores Essa memoacuteria

tinha de ser preservada porrespeito aos nossos antepas-sados Essa preservaccedilatildeo tam-beacutem se faz atraveacutes do circuitopedestre do baleeiro que tam-beacutem foi inaugurado agora Esteleva-nos ao conjunto de vigiasque existe no Vulcatildeo dos Ca-pelinhos

Um museu natildeo eacute uma coisaque estaacute dentro de casa maseacute tudo o que nos rodeia Te-mos de contar de forma sim-ples a todos os que nos visi-tam que esta eacute uma ilha comhistoacuteria

HAacute TAMBEacuteM A PREOCUPA-CcedilAtildeO DE REUNIR EM LIVRO AINFORMACcedilAtildeO SOBRE A BA-LEACcedilAtildeO QUE TEM VINDO ASER RECOLHIDAhellipNos uacuteltimos anos o Obser-vatoacuterio do Mar dos Accedilores(OMA) tem feito um excelentetrabalho o que se traduz numgrande avanccedilo na pesquisaCom aquilo que jaacute tinha sido

feito lanccedilaacutemos um desao aoFilipe Porteiro presidente doOMA para que se documen-tasse por escrito a memoacuteriados baleeiros Haacute um registode memoacuterias de alguns bale-eiros do Capelo um espoacuteliofotograacuteco que foi e continua

a ser recolhido um conjuntode informaccedilotildees tanto daquicomo de New Bedford no queao tempo da baleaccedilatildeo diz res-peitohellip Portanto temos infor-maccedilatildeo suciente para fechar

nos proacuteximos dois anos estarecuperaccedilatildeo da memoacuteria comum livro que permita dar aconhecer a histoacuteria da balea-ccedilatildeo no Faial Haacute um conjunto

de pessoas disponiacuteveis paracolaborar neste processo Naminha opiniatildeo esta obra deveter ediccedilatildeo bilingue tendo emconta o interesse que tem paraos Estados Unidos

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE FICA A FALTAR FAZERPELA RECUPERACcedilAtildeO E PRE-SERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROTenho de deixar uma mensa-gem importante agraves pessoasque hoje gerem este proces-so procurem os consensosEacute muito importante termosum consenso regional relati-vamente aos botes baleeiros

Eacute importante que se volte aosmodelos adoptados em 2005

relativamente agraves regatas Natildeopodemos ter regatas em to-das as freguesias dos AccediloresTemos de ter as cinco regatastradicionalmente mais antigasnas quais se inclui a Semanado Mar e quatro regatas noPico e fazer as outras trecircs deforma rotativa para voltarmosa ter um campeonato regionalde botes baleeiros em condi-ccedilotildees Faial e Pico tecircm de en-tender-se nesta mateacuteria Estamensagem tem de ser passa-da para as instituiccedilotildees para osclubes para as juntas de fre-guesia para as pessoashellip

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA UM ASPECTO DE UMA REGATA DENTRO DA BAIA DA HORTA

FONTE OMA

EMBARCACcedilAtildeO OS ANTIGOS BOTES TORNARAM983085SE TAMBEacuteM NUMA PECcedilAMUSEOLOacuteGICA

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Tempo de Baleeiros

Eacute tambeacutem importante que asecccedilatildeo de botes baleeiros doFaial continue A rivalidade en-tre freguesias natildeo traz nada debom O CNH tem obrigaccedilatildeo deconsolidar a secccedilatildeo custe oque custar

Aleacutem disso temos de ver queo patrimoacutenio baleeiro que estaacuteentregue agraves Juntas de Fregue-sia natildeo eacute das autarquias Per-tence agrave Governo Regional dos Acores ou seja agrave Regiatildeo e asua preservaccedilatildeo eacute uma obri-gaccedilatildeo daqueles a quem foientregue Eacute preciso ter muitocuidado nessa preservaccedilatildeosenatildeo dentro de alguns anosestamos natildeo a fazer manuten-

ccedilatildeo mas praticamente a fazernovos botes Os responsaacuteveisde cada uma das instituiccedilotildeestecircm de ter consciecircncia do pa-trimoacutenio que tecircm nas matildeos ede toda esta histoacuteria Agora odesao mais importante eacute a

manutenccedilatildeo deste patrimoacutenio econtinuar a despertar nas pes-soas o interesse por andar agravevela e a remos O bote baleeiroeacute uma embarcaccedilatildeo iacutempar Natildeohaacute outra no mundo

E A PRESERVACcedilAtildeO SOacute SEFAZ COMPLETAMENTE SEOS BOTES ESTIVEREM NOMAR A NAVEGARExactamente Haacute uma partemuito importante do projec-to que ainda falta que passa

pela sede do CNH e por sa-ber o que vai acontecer aosarmazeacutens da Reis e MartinsEacute preciso encontrar um espa-ccedilo adequado para guardar osbotes fazer a sua manuten-ccedilatildeo e expocirc-los Os botes satildeopatrimoacutenio histoacuterico mas tam-beacutem turiacutestico As regatas satildeobonitas mas os passeios embotes baleeiros tambeacutem Se foralterada a portaria que regula

esses passeios em vigor haacutemuitos anos os clubes podemdeles tirar rendimentos

ACHA ENTAtildeO QUE FARIASENTIDO RENTABILIZAR OSPASSEIOS NOS BOTES BA-LEEIROS PARA FINANCIARA SUA PROacutePRIA PRESERVA-CcedilAtildeOFaz todo o sentido Na situ-accedilatildeo econoacutemica em que es-tamos natildeo podemos viver da

ldquosubsiacutedio-dependecircnciardquo A ma-nutenccedilatildeo dos botes as regatase toda essa dinacircmica podemsustentar-se com a criaccedilatildeo deuma vertente econoacutemica comos passeios de bote baleeiroporque temos mercado para

isso Eacute necessaacuterio alterar legis-laccedilatildeo nessa aacuterea

NOUTROS TEMPOS A BA-LEIA FOI UM PILAR DA NOS-SA ECONOMIA ACHA QUEHOJE COM O WHALE WA-TCHING A MOTIVAR A EXIS-TEcircNCIA DE BALEEIROS COMMAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICASEM VEZ DE ARPOtildeES CON-TRIBUINDO PARA A ECONO-

MIA DA ILHA E COM OS BO-TES BALEEIROS NA AacuteGUAPARA AS COMPETICcedilOtildeESDESPORTIVAS ESTAMOSPERANTE UMA ESPEacuteCIE DENOVA BALEACcedilAtildeO Acho que entraacutemos numa novafase da baleaccedilatildeo e soubemosperceber natildeo apenas a impor-tacircncia que a baleaccedilatildeo tevemas tambeacutem a importacircnciaque os cetaacuteceos tecircm hoje nos Accedilores Haacute um Departamento

de Oceanograa e Pescas da

Universidade dos Accedilores quesabe o que estaacute a fazer haacuteuma consciecircncia das empre-sas de whale watching para asua importacircnciahellip Natildeo eacute poracaso que algumas dessas

empresas utilizam as antigasvigias dos baleeiros e inclusi-ve as recuperaram contribuin-do assim para a preservaccedilatildeodo patrimoacutenio da baleaccedilatildeo Osegredo da observaccedilatildeo de ba-leias nos Accedilores tem a ver coma histoacuteria que haacute para contarHouve uma altura em que ca-ccedilaacutemos e haacute agora uma alturaem que sabemos preservarHaacute aqui um potencial turiacutestico

enorme Os accedilorianos adapta-ram-se muito bem a esta novarealidadez

MARLA PINHEIRO

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y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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Tempo de Baleeiros

da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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Tempo de Baleeiros

pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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Tempo de Baleeiros

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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toacuteria e que eacute inclusive citadono Mau Tempo no Canal deVitorino Nemeacutesio o bote SatildeoJoseacute Sabendo que havia aquium interesse ele falou-nos daexistecircncia desse bote que es-tava sob a alccedilada da Comissatildeo

do Patrimoacutenio Baleeiro Inicia--se aiacute a sua recuperaccedilatildeo e umpasso importante para aquiloque queriacuteamos fazer A recu-peraccedilatildeo de um bote para a fre-guesia do Capelo fez despertaras outras freguesias para esteprojecto Nesta altura ele deixade ser apenas palavras e pe-quenos escritos para comeccedilara ter uma maior dimensatildeoEm 2000 temos a primeira re-

gata com botes do Pico e ape-nas com o Claudina do Faial43 anos depois do uacuteltimo botebaleeiro ter ldquoarriadordquo no Com-prido Em 2003 aparece o Satildeo

Joseacute outro bote recuperadopara o Faialhellip As pessoas co-meccedilam a perceber que este eacuteum projecto com vidaNesta altura comeccedila tambeacutema dinamizar-se a regata inter-nacional de botes baleeirosO movimento de geminaccedilatildeoentre a Horta e New Bedfordestava estagnado e a partirdaiacute essa ligaccedilatildeo fortalece-seFoi precisamente a baleaccedilatildeoque criou o elo entre as duascidades agora fortalecido com

a recuperaccedilatildeo do patrimoacuteniobaleeiro E curiosamente eacutena primeira viagem que sefaz aos Estados Unidos que opresidente da Cacircmara Munici-pal da Horta Joatildeo Castro ca

desperto para a importacircncia dese recuperar a Walquiacuteria outroprocesso que estava estagna-do e ganha nessa altura alentoHaacute assim uma bola de neveque vai crescendo uma pai-xatildeo que vai aumentando e um

despertar da consciecircncia paraa recuperaccedilatildeo da memoacuteria quefaz com que se torne tudo maisfaacutecilO Governo Regional atraveacutesda Comissatildeo do PatrimoacutenioBaleeiro dos Accedilores deu umapoio incondicional a este pro- jecto Este eacute um desiacutegnio natildeode um homem soacute mas de vaacute-rias pessoas e instituiccedilotildees

COMO Eacute QUE O OBJECTIVO

DA PRESERVACcedilAtildeO DOS BO-TES BALEEIROS Eacute TRANS-POSTO PARA O CLUBE NA-VAL DA HORTA (CNH) COMO INTUITO DE CRIAR UMANOVA VERTENTE DESPORTI-VA NA ILHAQuando me foi lanccedilado o de-sao de assumir a presidecircncia

do CNH os botes baleeirosassumem uma importacircncia nomeu projecto para o clube Natildeoera possiacutevel continuar a gerir

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

BAIacuteA DA FETEIRA DURANTE A EacutePOCA DO VERAtildeO A BAIA Eacute ENGALANADA PELAS VELAS DOS BOTES BALEEIROS

FONTE SUSANA GARCIA

PATRIMOacuteNIOJORGE FONTES JOAtildeO GARCIA E JOAtildeO TAVARES TREcircS IMPULSIONA DORES DA PRESERVACcedilAtildeO DO PATRI983085MOacuteNIO BALEEIRO DA ILHA DO FAIAL

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as tripulaccedilotildees e a actividadedesportiva dos botes atraveacutesdas juntas de freguesia porqueelas natildeo tecircm essa vocaccedilatildeoEra inevitaacutevel que houvesseuma instituiccedilatildeo como o CNH ndash soacutelida agregadora sem ri-

validades ndash que pudesse darcontinuidade ao processo Nes-se sentido fundaacutemos a secccedilatildeode Botes Baleeiros da ilha doFaial que agrega com igual au-tonomia e legitimidade todos osparticipantes nesta actividadeNeste ponto tenho de referiro Carlos Fontes que deu umimportante contributo a todo oprocesso pela sua dedicaccedilatildeoe organizaccedilatildeo Outro elemen-

to que emprestou um valiosocontributo foi o Nuno Limasobretudo na recuperaccedilatildeo dalancha Walkiria a rainha dosmares dos Accedilores Houve ummomento de explosatildeo com

mais de cem participantes tan-to masculinos como femininoscom miuacutedos a virem das fre-guesias para aprender velacom cursos para ociaishellip Esta

vitalidade dos botes manteve--se ateacute 2010 Mantenho alguma

preocupaccedilatildeo quanto a algumassituaccedilotildees pontuais com receiode que as coisas se desagre-guem e as pessoas natildeo perce-bam os anos de trabalho queestatildeo aqui em causa e os seacutecu-los de baleaccedilatildeo que estatildeo pordetraacutes deste patrimoacutenio Eacute im-portante que haja consciecircncianatildeo apenas de todo o trabalhoque foi feito mas tambeacutem docusto nanceiro deste projec-

to Grande parte desse nan-ciamento foi assegurado pelogoverno regional que contoucom o apoio do E-GRANT`S ADirecccedilatildeo Regional da Culturao CNH e os clubes navais do

Pico apresentaram uma candi-datura para a recuperaccedilatildeo dosbotes baleeiros que foi aceiteSe natildeo fosse esse apoio hojenatildeo poderiacuteamos dizer que pra-ticamente todo o patrimoacuteniodos Accedilores botes e lanchas

estaacute recuperado Estamos afalar de 40 botes Em 10 anosno Faial recuperaram-se setebotes e uma lancha Se virmosque cada bote tem um custo derecuperaccedilatildeo de cerca de 35 mileuros percebemos que esse foium esforccedilo muito signicativo

A associaccedilatildeo dos botes bale-eiros da ilha do Faial ao CNHveio tambeacutem dar uma dimen-satildeo de ilha ao Clube e criou-se

uma dinacircmica desportiva im-portante de que o Faial neces-sitavaEsta vitalidade em torno dacultura e patrimoacutenio baleeirofaz despertar para a necessi-

dade deste ser inventariadoe salvaguardado Em 2008 o

Observatoacuterio do Mar dos Accedilo-res (OMA) entidade gestorada Faacutebrica da Baleia de PortoPim avanccedila para a inventaria-ccedilatildeo do patrimoacutenio imoacutevel da

baleaccedilatildeo primeiro agrave escala dailha do Faial e depois agrave escalados Accedilores

WALKIacuteRIA ldquoA RAINHA DOS MARES DOS ACcedilORESrdquo

ldquoNasceu para reinar nunca foi destronada e viveraacute esperamos por muitos anos assim o desejamos Somos uma grande regiatildeomariacutetima que quer preservar a memoacuteria coletiva das nossas teacutecnicas e tradiccedilotildees da nossa vivecircncia multissecular com o mar quenos rodeia nos separa e nos unerdquo A lancha Walkiria foi mandada construir pelos proprietaacuterios da Armaccedilatildeo Baleeira Reis amp Mendonccedila o industrial continental Francis-co Marcelino dos Reis e o Professor Rui de Mendonccedila residente na Vila das Velas amante de muacutesica Wagneriano que por talrazatildeo deu aos seus lhos os nomes de Wagner Weber

Walkyria e Isolda A construccedilatildeo foi realizada na ilha de S Jorge em 1937pelas matildeos de Joseacute e Manuel Gambatildeo irmatildeos e carpin-teiros habilidosos a partir de projeto de Manuel InaacutecioNunes natural do Pico mas com gabinete de projetos eestaleiro em Sacramento Califoacuternia Estados Unidos da Ameacuterica - ldquoQuando o antigo paquete a vapor ldquoCarvalho Arauacutejordquo

largava do porto das Velas com rumo ao Cais do Picoonde escalava depois de ter atingido a velocidade ple-na de cruzeiro a Walkyria rodeava o navio em marchapassando pela proa e pela popa Nenhuma outra lanchaconseguiu tal proezardquoEfetivamente a lancha estava equipada com um motor agasolina de 143 HP que permitindo atingir uma velocida-de de ponta elevada 18 noacutes tambeacutem acarretava consu-mos de combustiacutevel signicativos facto que levou agrave sua

venda em 1938 por ser economicamente pouco interes-sante para o trabalho que desenvolvia nomeadamente no apoio agrave caccedila agrave baleia Assim a lancha eacute transferida para a ilha do Faial por aquisiccedilatildeo do Sr Francisco Reis cando afeta ao transporte local de passagei-

ro Mais tarde eacute adquirida pela rma ldquoReis amp Martinsrdquo cando afeta agrave atividade baleeira Em 1955 a quando da instalaccedilatildeo de umaparelho de radiotelefonia foi-lhe atribuiacuteda a matriacutecula nal H-21-B

Em 2005 no acircmbito do projeto de ldquorecuperaccedilatildeo da memoacuteria baleeira da ilha do Faialrdquo depois de anos de repouso nos armazeacutens

da Reis e Martins a emblemaacutetica embarcaccedilatildeo volta a ganhar vida pelas matildeos do mestre Manuel Monteiro da Piedade do Pico en-trando de novo no porto da Horta a 12 de agosto desse mesmo ano totalmente recuperada

EEA Grants Mecanismo Finan-

ceiro Norueguecircs para apoio agrave

coesatildeo social e econoacutemica den-

tro da Uniatildeo Europeia Islacircndia

Liechtenstein e Noruega que

complementou o esforccedilo nan-

ceiro do Governo Regional para

a reabilitaccedilatildeo do patrimoacutenio bale-

eiro dos Accedilores Neste contexto

foram recuperados 40 botes e 10

lanchas Anualmente eacute atribuiacutedo

pelo Governo Regional um sub-

siacutedio para manutenccedilatildeo destas

embarcaccedilotildees

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AINDA BEM QUE REFERE AINVENTARIACcedilAtildeO DO PATRI-MOacuteNIO IMOacuteVEL POIS DEFACTO O PATRIMOacuteNIO DABALEACcedilAtildeO NAtildeO SE RESU-ME AOS BOTEShellip DEPOIS DAREVITALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRI-CA DA BALEIA ESTE PRO-CESSO DE RECUPERACcedilAtildeODO PATRIMOacuteNIO FICOU AIN-DA MAIS COMPLETO COMA INAUGURACcedilAtildeO DA CASADOS BOTES NO CAPELO HAacuteMUITO AGUARDADA FALE--NOS DESSE PROJECTO

Em boa hora a Junta de Fre-guesia do Capelo acolheu estainiciativa incluiacuteda no projectoldquoA recuperaccedilatildeo da memoacuteriabaleeirardquo Esta era uma casadas armaccedilotildees baleeiras deSatildeo Roque do Pico A sua re-cuperaccedilatildeo natildeo eacute mais do quedevolver ao porto do Compri-do a sua histoacuteria A histoacuteria doCapelo natildeo comeccedila em 1957com o Vulcatildeo dos Capelinhos

Antes disso o porto do Com-prido jaacute tinha dois seacuteculos dehistoacuteria tendo sido uma dasprincipais estaccedilotildees baleeirasdos Accedilores Essa memoacuteria

tinha de ser preservada porrespeito aos nossos antepas-sados Essa preservaccedilatildeo tam-beacutem se faz atraveacutes do circuitopedestre do baleeiro que tam-beacutem foi inaugurado agora Esteleva-nos ao conjunto de vigiasque existe no Vulcatildeo dos Ca-pelinhos

Um museu natildeo eacute uma coisaque estaacute dentro de casa maseacute tudo o que nos rodeia Te-mos de contar de forma sim-ples a todos os que nos visi-tam que esta eacute uma ilha comhistoacuteria

HAacute TAMBEacuteM A PREOCUPA-CcedilAtildeO DE REUNIR EM LIVRO AINFORMACcedilAtildeO SOBRE A BA-LEACcedilAtildeO QUE TEM VINDO ASER RECOLHIDAhellipNos uacuteltimos anos o Obser-vatoacuterio do Mar dos Accedilores(OMA) tem feito um excelentetrabalho o que se traduz numgrande avanccedilo na pesquisaCom aquilo que jaacute tinha sido

feito lanccedilaacutemos um desao aoFilipe Porteiro presidente doOMA para que se documen-tasse por escrito a memoacuteriados baleeiros Haacute um registode memoacuterias de alguns bale-eiros do Capelo um espoacuteliofotograacuteco que foi e continua

a ser recolhido um conjuntode informaccedilotildees tanto daquicomo de New Bedford no queao tempo da baleaccedilatildeo diz res-peitohellip Portanto temos infor-maccedilatildeo suciente para fechar

nos proacuteximos dois anos estarecuperaccedilatildeo da memoacuteria comum livro que permita dar aconhecer a histoacuteria da balea-ccedilatildeo no Faial Haacute um conjunto

de pessoas disponiacuteveis paracolaborar neste processo Naminha opiniatildeo esta obra deveter ediccedilatildeo bilingue tendo emconta o interesse que tem paraos Estados Unidos

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE FICA A FALTAR FAZERPELA RECUPERACcedilAtildeO E PRE-SERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROTenho de deixar uma mensa-gem importante agraves pessoasque hoje gerem este proces-so procurem os consensosEacute muito importante termosum consenso regional relati-vamente aos botes baleeiros

Eacute importante que se volte aosmodelos adoptados em 2005

relativamente agraves regatas Natildeopodemos ter regatas em to-das as freguesias dos AccediloresTemos de ter as cinco regatastradicionalmente mais antigasnas quais se inclui a Semanado Mar e quatro regatas noPico e fazer as outras trecircs deforma rotativa para voltarmosa ter um campeonato regionalde botes baleeiros em condi-ccedilotildees Faial e Pico tecircm de en-tender-se nesta mateacuteria Estamensagem tem de ser passa-da para as instituiccedilotildees para osclubes para as juntas de fre-guesia para as pessoashellip

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA UM ASPECTO DE UMA REGATA DENTRO DA BAIA DA HORTA

FONTE OMA

EMBARCACcedilAtildeO OS ANTIGOS BOTES TORNARAM983085SE TAMBEacuteM NUMA PECcedilAMUSEOLOacuteGICA

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Eacute tambeacutem importante que asecccedilatildeo de botes baleeiros doFaial continue A rivalidade en-tre freguesias natildeo traz nada debom O CNH tem obrigaccedilatildeo deconsolidar a secccedilatildeo custe oque custar

Aleacutem disso temos de ver queo patrimoacutenio baleeiro que estaacuteentregue agraves Juntas de Fregue-sia natildeo eacute das autarquias Per-tence agrave Governo Regional dos Acores ou seja agrave Regiatildeo e asua preservaccedilatildeo eacute uma obri-gaccedilatildeo daqueles a quem foientregue Eacute preciso ter muitocuidado nessa preservaccedilatildeosenatildeo dentro de alguns anosestamos natildeo a fazer manuten-

ccedilatildeo mas praticamente a fazernovos botes Os responsaacuteveisde cada uma das instituiccedilotildeestecircm de ter consciecircncia do pa-trimoacutenio que tecircm nas matildeos ede toda esta histoacuteria Agora odesao mais importante eacute a

manutenccedilatildeo deste patrimoacutenio econtinuar a despertar nas pes-soas o interesse por andar agravevela e a remos O bote baleeiroeacute uma embarcaccedilatildeo iacutempar Natildeohaacute outra no mundo

E A PRESERVACcedilAtildeO SOacute SEFAZ COMPLETAMENTE SEOS BOTES ESTIVEREM NOMAR A NAVEGARExactamente Haacute uma partemuito importante do projec-to que ainda falta que passa

pela sede do CNH e por sa-ber o que vai acontecer aosarmazeacutens da Reis e MartinsEacute preciso encontrar um espa-ccedilo adequado para guardar osbotes fazer a sua manuten-ccedilatildeo e expocirc-los Os botes satildeopatrimoacutenio histoacuterico mas tam-beacutem turiacutestico As regatas satildeobonitas mas os passeios embotes baleeiros tambeacutem Se foralterada a portaria que regula

esses passeios em vigor haacutemuitos anos os clubes podemdeles tirar rendimentos

ACHA ENTAtildeO QUE FARIASENTIDO RENTABILIZAR OSPASSEIOS NOS BOTES BA-LEEIROS PARA FINANCIARA SUA PROacutePRIA PRESERVA-CcedilAtildeOFaz todo o sentido Na situ-accedilatildeo econoacutemica em que es-tamos natildeo podemos viver da

ldquosubsiacutedio-dependecircnciardquo A ma-nutenccedilatildeo dos botes as regatase toda essa dinacircmica podemsustentar-se com a criaccedilatildeo deuma vertente econoacutemica comos passeios de bote baleeiroporque temos mercado para

isso Eacute necessaacuterio alterar legis-laccedilatildeo nessa aacuterea

NOUTROS TEMPOS A BA-LEIA FOI UM PILAR DA NOS-SA ECONOMIA ACHA QUEHOJE COM O WHALE WA-TCHING A MOTIVAR A EXIS-TEcircNCIA DE BALEEIROS COMMAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICASEM VEZ DE ARPOtildeES CON-TRIBUINDO PARA A ECONO-

MIA DA ILHA E COM OS BO-TES BALEEIROS NA AacuteGUAPARA AS COMPETICcedilOtildeESDESPORTIVAS ESTAMOSPERANTE UMA ESPEacuteCIE DENOVA BALEACcedilAtildeO Acho que entraacutemos numa novafase da baleaccedilatildeo e soubemosperceber natildeo apenas a impor-tacircncia que a baleaccedilatildeo tevemas tambeacutem a importacircnciaque os cetaacuteceos tecircm hoje nos Accedilores Haacute um Departamento

de Oceanograa e Pescas da

Universidade dos Accedilores quesabe o que estaacute a fazer haacuteuma consciecircncia das empre-sas de whale watching para asua importacircnciahellip Natildeo eacute poracaso que algumas dessas

empresas utilizam as antigasvigias dos baleeiros e inclusi-ve as recuperaram contribuin-do assim para a preservaccedilatildeodo patrimoacutenio da baleaccedilatildeo Osegredo da observaccedilatildeo de ba-leias nos Accedilores tem a ver coma histoacuteria que haacute para contarHouve uma altura em que ca-ccedilaacutemos e haacute agora uma alturaem que sabemos preservarHaacute aqui um potencial turiacutestico

enorme Os accedilorianos adapta-ram-se muito bem a esta novarealidadez

MARLA PINHEIRO

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y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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Tempo de Baleeiros

da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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Tempo de Baleeiros

pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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as tripulaccedilotildees e a actividadedesportiva dos botes atraveacutesdas juntas de freguesia porqueelas natildeo tecircm essa vocaccedilatildeoEra inevitaacutevel que houvesseuma instituiccedilatildeo como o CNH ndash soacutelida agregadora sem ri-

validades ndash que pudesse darcontinuidade ao processo Nes-se sentido fundaacutemos a secccedilatildeode Botes Baleeiros da ilha doFaial que agrega com igual au-tonomia e legitimidade todos osparticipantes nesta actividadeNeste ponto tenho de referiro Carlos Fontes que deu umimportante contributo a todo oprocesso pela sua dedicaccedilatildeoe organizaccedilatildeo Outro elemen-

to que emprestou um valiosocontributo foi o Nuno Limasobretudo na recuperaccedilatildeo dalancha Walkiria a rainha dosmares dos Accedilores Houve ummomento de explosatildeo com

mais de cem participantes tan-to masculinos como femininoscom miuacutedos a virem das fre-guesias para aprender velacom cursos para ociaishellip Esta

vitalidade dos botes manteve--se ateacute 2010 Mantenho alguma

preocupaccedilatildeo quanto a algumassituaccedilotildees pontuais com receiode que as coisas se desagre-guem e as pessoas natildeo perce-bam os anos de trabalho queestatildeo aqui em causa e os seacutecu-los de baleaccedilatildeo que estatildeo pordetraacutes deste patrimoacutenio Eacute im-portante que haja consciecircncianatildeo apenas de todo o trabalhoque foi feito mas tambeacutem docusto nanceiro deste projec-

to Grande parte desse nan-ciamento foi assegurado pelogoverno regional que contoucom o apoio do E-GRANT`S ADirecccedilatildeo Regional da Culturao CNH e os clubes navais do

Pico apresentaram uma candi-datura para a recuperaccedilatildeo dosbotes baleeiros que foi aceiteSe natildeo fosse esse apoio hojenatildeo poderiacuteamos dizer que pra-ticamente todo o patrimoacuteniodos Accedilores botes e lanchas

estaacute recuperado Estamos afalar de 40 botes Em 10 anosno Faial recuperaram-se setebotes e uma lancha Se virmosque cada bote tem um custo derecuperaccedilatildeo de cerca de 35 mileuros percebemos que esse foium esforccedilo muito signicativo

A associaccedilatildeo dos botes bale-eiros da ilha do Faial ao CNHveio tambeacutem dar uma dimen-satildeo de ilha ao Clube e criou-se

uma dinacircmica desportiva im-portante de que o Faial neces-sitavaEsta vitalidade em torno dacultura e patrimoacutenio baleeirofaz despertar para a necessi-

dade deste ser inventariadoe salvaguardado Em 2008 o

Observatoacuterio do Mar dos Accedilo-res (OMA) entidade gestorada Faacutebrica da Baleia de PortoPim avanccedila para a inventaria-ccedilatildeo do patrimoacutenio imoacutevel da

baleaccedilatildeo primeiro agrave escala dailha do Faial e depois agrave escalados Accedilores

WALKIacuteRIA ldquoA RAINHA DOS MARES DOS ACcedilORESrdquo

ldquoNasceu para reinar nunca foi destronada e viveraacute esperamos por muitos anos assim o desejamos Somos uma grande regiatildeomariacutetima que quer preservar a memoacuteria coletiva das nossas teacutecnicas e tradiccedilotildees da nossa vivecircncia multissecular com o mar quenos rodeia nos separa e nos unerdquo A lancha Walkiria foi mandada construir pelos proprietaacuterios da Armaccedilatildeo Baleeira Reis amp Mendonccedila o industrial continental Francis-co Marcelino dos Reis e o Professor Rui de Mendonccedila residente na Vila das Velas amante de muacutesica Wagneriano que por talrazatildeo deu aos seus lhos os nomes de Wagner Weber

Walkyria e Isolda A construccedilatildeo foi realizada na ilha de S Jorge em 1937pelas matildeos de Joseacute e Manuel Gambatildeo irmatildeos e carpin-teiros habilidosos a partir de projeto de Manuel InaacutecioNunes natural do Pico mas com gabinete de projetos eestaleiro em Sacramento Califoacuternia Estados Unidos da Ameacuterica - ldquoQuando o antigo paquete a vapor ldquoCarvalho Arauacutejordquo

largava do porto das Velas com rumo ao Cais do Picoonde escalava depois de ter atingido a velocidade ple-na de cruzeiro a Walkyria rodeava o navio em marchapassando pela proa e pela popa Nenhuma outra lanchaconseguiu tal proezardquoEfetivamente a lancha estava equipada com um motor agasolina de 143 HP que permitindo atingir uma velocida-de de ponta elevada 18 noacutes tambeacutem acarretava consu-mos de combustiacutevel signicativos facto que levou agrave sua

venda em 1938 por ser economicamente pouco interes-sante para o trabalho que desenvolvia nomeadamente no apoio agrave caccedila agrave baleia Assim a lancha eacute transferida para a ilha do Faial por aquisiccedilatildeo do Sr Francisco Reis cando afeta ao transporte local de passagei-

ro Mais tarde eacute adquirida pela rma ldquoReis amp Martinsrdquo cando afeta agrave atividade baleeira Em 1955 a quando da instalaccedilatildeo de umaparelho de radiotelefonia foi-lhe atribuiacuteda a matriacutecula nal H-21-B

Em 2005 no acircmbito do projeto de ldquorecuperaccedilatildeo da memoacuteria baleeira da ilha do Faialrdquo depois de anos de repouso nos armazeacutens

da Reis e Martins a emblemaacutetica embarcaccedilatildeo volta a ganhar vida pelas matildeos do mestre Manuel Monteiro da Piedade do Pico en-trando de novo no porto da Horta a 12 de agosto desse mesmo ano totalmente recuperada

EEA Grants Mecanismo Finan-

ceiro Norueguecircs para apoio agrave

coesatildeo social e econoacutemica den-

tro da Uniatildeo Europeia Islacircndia

Liechtenstein e Noruega que

complementou o esforccedilo nan-

ceiro do Governo Regional para

a reabilitaccedilatildeo do patrimoacutenio bale-

eiro dos Accedilores Neste contexto

foram recuperados 40 botes e 10

lanchas Anualmente eacute atribuiacutedo

pelo Governo Regional um sub-

siacutedio para manutenccedilatildeo destas

embarcaccedilotildees

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AINDA BEM QUE REFERE AINVENTARIACcedilAtildeO DO PATRI-MOacuteNIO IMOacuteVEL POIS DEFACTO O PATRIMOacuteNIO DABALEACcedilAtildeO NAtildeO SE RESU-ME AOS BOTEShellip DEPOIS DAREVITALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRI-CA DA BALEIA ESTE PRO-CESSO DE RECUPERACcedilAtildeODO PATRIMOacuteNIO FICOU AIN-DA MAIS COMPLETO COMA INAUGURACcedilAtildeO DA CASADOS BOTES NO CAPELO HAacuteMUITO AGUARDADA FALE--NOS DESSE PROJECTO

Em boa hora a Junta de Fre-guesia do Capelo acolheu estainiciativa incluiacuteda no projectoldquoA recuperaccedilatildeo da memoacuteriabaleeirardquo Esta era uma casadas armaccedilotildees baleeiras deSatildeo Roque do Pico A sua re-cuperaccedilatildeo natildeo eacute mais do quedevolver ao porto do Compri-do a sua histoacuteria A histoacuteria doCapelo natildeo comeccedila em 1957com o Vulcatildeo dos Capelinhos

Antes disso o porto do Com-prido jaacute tinha dois seacuteculos dehistoacuteria tendo sido uma dasprincipais estaccedilotildees baleeirasdos Accedilores Essa memoacuteria

tinha de ser preservada porrespeito aos nossos antepas-sados Essa preservaccedilatildeo tam-beacutem se faz atraveacutes do circuitopedestre do baleeiro que tam-beacutem foi inaugurado agora Esteleva-nos ao conjunto de vigiasque existe no Vulcatildeo dos Ca-pelinhos

Um museu natildeo eacute uma coisaque estaacute dentro de casa maseacute tudo o que nos rodeia Te-mos de contar de forma sim-ples a todos os que nos visi-tam que esta eacute uma ilha comhistoacuteria

HAacute TAMBEacuteM A PREOCUPA-CcedilAtildeO DE REUNIR EM LIVRO AINFORMACcedilAtildeO SOBRE A BA-LEACcedilAtildeO QUE TEM VINDO ASER RECOLHIDAhellipNos uacuteltimos anos o Obser-vatoacuterio do Mar dos Accedilores(OMA) tem feito um excelentetrabalho o que se traduz numgrande avanccedilo na pesquisaCom aquilo que jaacute tinha sido

feito lanccedilaacutemos um desao aoFilipe Porteiro presidente doOMA para que se documen-tasse por escrito a memoacuteriados baleeiros Haacute um registode memoacuterias de alguns bale-eiros do Capelo um espoacuteliofotograacuteco que foi e continua

a ser recolhido um conjuntode informaccedilotildees tanto daquicomo de New Bedford no queao tempo da baleaccedilatildeo diz res-peitohellip Portanto temos infor-maccedilatildeo suciente para fechar

nos proacuteximos dois anos estarecuperaccedilatildeo da memoacuteria comum livro que permita dar aconhecer a histoacuteria da balea-ccedilatildeo no Faial Haacute um conjunto

de pessoas disponiacuteveis paracolaborar neste processo Naminha opiniatildeo esta obra deveter ediccedilatildeo bilingue tendo emconta o interesse que tem paraos Estados Unidos

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE FICA A FALTAR FAZERPELA RECUPERACcedilAtildeO E PRE-SERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROTenho de deixar uma mensa-gem importante agraves pessoasque hoje gerem este proces-so procurem os consensosEacute muito importante termosum consenso regional relati-vamente aos botes baleeiros

Eacute importante que se volte aosmodelos adoptados em 2005

relativamente agraves regatas Natildeopodemos ter regatas em to-das as freguesias dos AccediloresTemos de ter as cinco regatastradicionalmente mais antigasnas quais se inclui a Semanado Mar e quatro regatas noPico e fazer as outras trecircs deforma rotativa para voltarmosa ter um campeonato regionalde botes baleeiros em condi-ccedilotildees Faial e Pico tecircm de en-tender-se nesta mateacuteria Estamensagem tem de ser passa-da para as instituiccedilotildees para osclubes para as juntas de fre-guesia para as pessoashellip

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA UM ASPECTO DE UMA REGATA DENTRO DA BAIA DA HORTA

FONTE OMA

EMBARCACcedilAtildeO OS ANTIGOS BOTES TORNARAM983085SE TAMBEacuteM NUMA PECcedilAMUSEOLOacuteGICA

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Eacute tambeacutem importante que asecccedilatildeo de botes baleeiros doFaial continue A rivalidade en-tre freguesias natildeo traz nada debom O CNH tem obrigaccedilatildeo deconsolidar a secccedilatildeo custe oque custar

Aleacutem disso temos de ver queo patrimoacutenio baleeiro que estaacuteentregue agraves Juntas de Fregue-sia natildeo eacute das autarquias Per-tence agrave Governo Regional dos Acores ou seja agrave Regiatildeo e asua preservaccedilatildeo eacute uma obri-gaccedilatildeo daqueles a quem foientregue Eacute preciso ter muitocuidado nessa preservaccedilatildeosenatildeo dentro de alguns anosestamos natildeo a fazer manuten-

ccedilatildeo mas praticamente a fazernovos botes Os responsaacuteveisde cada uma das instituiccedilotildeestecircm de ter consciecircncia do pa-trimoacutenio que tecircm nas matildeos ede toda esta histoacuteria Agora odesao mais importante eacute a

manutenccedilatildeo deste patrimoacutenio econtinuar a despertar nas pes-soas o interesse por andar agravevela e a remos O bote baleeiroeacute uma embarcaccedilatildeo iacutempar Natildeohaacute outra no mundo

E A PRESERVACcedilAtildeO SOacute SEFAZ COMPLETAMENTE SEOS BOTES ESTIVEREM NOMAR A NAVEGARExactamente Haacute uma partemuito importante do projec-to que ainda falta que passa

pela sede do CNH e por sa-ber o que vai acontecer aosarmazeacutens da Reis e MartinsEacute preciso encontrar um espa-ccedilo adequado para guardar osbotes fazer a sua manuten-ccedilatildeo e expocirc-los Os botes satildeopatrimoacutenio histoacuterico mas tam-beacutem turiacutestico As regatas satildeobonitas mas os passeios embotes baleeiros tambeacutem Se foralterada a portaria que regula

esses passeios em vigor haacutemuitos anos os clubes podemdeles tirar rendimentos

ACHA ENTAtildeO QUE FARIASENTIDO RENTABILIZAR OSPASSEIOS NOS BOTES BA-LEEIROS PARA FINANCIARA SUA PROacutePRIA PRESERVA-CcedilAtildeOFaz todo o sentido Na situ-accedilatildeo econoacutemica em que es-tamos natildeo podemos viver da

ldquosubsiacutedio-dependecircnciardquo A ma-nutenccedilatildeo dos botes as regatase toda essa dinacircmica podemsustentar-se com a criaccedilatildeo deuma vertente econoacutemica comos passeios de bote baleeiroporque temos mercado para

isso Eacute necessaacuterio alterar legis-laccedilatildeo nessa aacuterea

NOUTROS TEMPOS A BA-LEIA FOI UM PILAR DA NOS-SA ECONOMIA ACHA QUEHOJE COM O WHALE WA-TCHING A MOTIVAR A EXIS-TEcircNCIA DE BALEEIROS COMMAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICASEM VEZ DE ARPOtildeES CON-TRIBUINDO PARA A ECONO-

MIA DA ILHA E COM OS BO-TES BALEEIROS NA AacuteGUAPARA AS COMPETICcedilOtildeESDESPORTIVAS ESTAMOSPERANTE UMA ESPEacuteCIE DENOVA BALEACcedilAtildeO Acho que entraacutemos numa novafase da baleaccedilatildeo e soubemosperceber natildeo apenas a impor-tacircncia que a baleaccedilatildeo tevemas tambeacutem a importacircnciaque os cetaacuteceos tecircm hoje nos Accedilores Haacute um Departamento

de Oceanograa e Pescas da

Universidade dos Accedilores quesabe o que estaacute a fazer haacuteuma consciecircncia das empre-sas de whale watching para asua importacircnciahellip Natildeo eacute poracaso que algumas dessas

empresas utilizam as antigasvigias dos baleeiros e inclusi-ve as recuperaram contribuin-do assim para a preservaccedilatildeodo patrimoacutenio da baleaccedilatildeo Osegredo da observaccedilatildeo de ba-leias nos Accedilores tem a ver coma histoacuteria que haacute para contarHouve uma altura em que ca-ccedilaacutemos e haacute agora uma alturaem que sabemos preservarHaacute aqui um potencial turiacutestico

enorme Os accedilorianos adapta-ram-se muito bem a esta novarealidadez

MARLA PINHEIRO

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y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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AINDA BEM QUE REFERE AINVENTARIACcedilAtildeO DO PATRI-MOacuteNIO IMOacuteVEL POIS DEFACTO O PATRIMOacuteNIO DABALEACcedilAtildeO NAtildeO SE RESU-ME AOS BOTEShellip DEPOIS DAREVITALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRI-CA DA BALEIA ESTE PRO-CESSO DE RECUPERACcedilAtildeODO PATRIMOacuteNIO FICOU AIN-DA MAIS COMPLETO COMA INAUGURACcedilAtildeO DA CASADOS BOTES NO CAPELO HAacuteMUITO AGUARDADA FALE--NOS DESSE PROJECTO

Em boa hora a Junta de Fre-guesia do Capelo acolheu estainiciativa incluiacuteda no projectoldquoA recuperaccedilatildeo da memoacuteriabaleeirardquo Esta era uma casadas armaccedilotildees baleeiras deSatildeo Roque do Pico A sua re-cuperaccedilatildeo natildeo eacute mais do quedevolver ao porto do Compri-do a sua histoacuteria A histoacuteria doCapelo natildeo comeccedila em 1957com o Vulcatildeo dos Capelinhos

Antes disso o porto do Com-prido jaacute tinha dois seacuteculos dehistoacuteria tendo sido uma dasprincipais estaccedilotildees baleeirasdos Accedilores Essa memoacuteria

tinha de ser preservada porrespeito aos nossos antepas-sados Essa preservaccedilatildeo tam-beacutem se faz atraveacutes do circuitopedestre do baleeiro que tam-beacutem foi inaugurado agora Esteleva-nos ao conjunto de vigiasque existe no Vulcatildeo dos Ca-pelinhos

Um museu natildeo eacute uma coisaque estaacute dentro de casa maseacute tudo o que nos rodeia Te-mos de contar de forma sim-ples a todos os que nos visi-tam que esta eacute uma ilha comhistoacuteria

HAacute TAMBEacuteM A PREOCUPA-CcedilAtildeO DE REUNIR EM LIVRO AINFORMACcedilAtildeO SOBRE A BA-LEACcedilAtildeO QUE TEM VINDO ASER RECOLHIDAhellipNos uacuteltimos anos o Obser-vatoacuterio do Mar dos Accedilores(OMA) tem feito um excelentetrabalho o que se traduz numgrande avanccedilo na pesquisaCom aquilo que jaacute tinha sido

feito lanccedilaacutemos um desao aoFilipe Porteiro presidente doOMA para que se documen-tasse por escrito a memoacuteriados baleeiros Haacute um registode memoacuterias de alguns bale-eiros do Capelo um espoacuteliofotograacuteco que foi e continua

a ser recolhido um conjuntode informaccedilotildees tanto daquicomo de New Bedford no queao tempo da baleaccedilatildeo diz res-peitohellip Portanto temos infor-maccedilatildeo suciente para fechar

nos proacuteximos dois anos estarecuperaccedilatildeo da memoacuteria comum livro que permita dar aconhecer a histoacuteria da balea-ccedilatildeo no Faial Haacute um conjunto

de pessoas disponiacuteveis paracolaborar neste processo Naminha opiniatildeo esta obra deveter ediccedilatildeo bilingue tendo emconta o interesse que tem paraos Estados Unidos

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE FICA A FALTAR FAZERPELA RECUPERACcedilAtildeO E PRE-SERVACcedilAtildeO DO PATRIMOacuteNIOBALEEIROTenho de deixar uma mensa-gem importante agraves pessoasque hoje gerem este proces-so procurem os consensosEacute muito importante termosum consenso regional relati-vamente aos botes baleeiros

Eacute importante que se volte aosmodelos adoptados em 2005

relativamente agraves regatas Natildeopodemos ter regatas em to-das as freguesias dos AccediloresTemos de ter as cinco regatastradicionalmente mais antigasnas quais se inclui a Semanado Mar e quatro regatas noPico e fazer as outras trecircs deforma rotativa para voltarmosa ter um campeonato regionalde botes baleeiros em condi-ccedilotildees Faial e Pico tecircm de en-tender-se nesta mateacuteria Estamensagem tem de ser passa-da para as instituiccedilotildees para osclubes para as juntas de fre-guesia para as pessoashellip

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA UM ASPECTO DE UMA REGATA DENTRO DA BAIA DA HORTA

FONTE OMA

EMBARCACcedilAtildeO OS ANTIGOS BOTES TORNARAM983085SE TAMBEacuteM NUMA PECcedilAMUSEOLOacuteGICA

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Tempo de Baleeiros

Eacute tambeacutem importante que asecccedilatildeo de botes baleeiros doFaial continue A rivalidade en-tre freguesias natildeo traz nada debom O CNH tem obrigaccedilatildeo deconsolidar a secccedilatildeo custe oque custar

Aleacutem disso temos de ver queo patrimoacutenio baleeiro que estaacuteentregue agraves Juntas de Fregue-sia natildeo eacute das autarquias Per-tence agrave Governo Regional dos Acores ou seja agrave Regiatildeo e asua preservaccedilatildeo eacute uma obri-gaccedilatildeo daqueles a quem foientregue Eacute preciso ter muitocuidado nessa preservaccedilatildeosenatildeo dentro de alguns anosestamos natildeo a fazer manuten-

ccedilatildeo mas praticamente a fazernovos botes Os responsaacuteveisde cada uma das instituiccedilotildeestecircm de ter consciecircncia do pa-trimoacutenio que tecircm nas matildeos ede toda esta histoacuteria Agora odesao mais importante eacute a

manutenccedilatildeo deste patrimoacutenio econtinuar a despertar nas pes-soas o interesse por andar agravevela e a remos O bote baleeiroeacute uma embarcaccedilatildeo iacutempar Natildeohaacute outra no mundo

E A PRESERVACcedilAtildeO SOacute SEFAZ COMPLETAMENTE SEOS BOTES ESTIVEREM NOMAR A NAVEGARExactamente Haacute uma partemuito importante do projec-to que ainda falta que passa

pela sede do CNH e por sa-ber o que vai acontecer aosarmazeacutens da Reis e MartinsEacute preciso encontrar um espa-ccedilo adequado para guardar osbotes fazer a sua manuten-ccedilatildeo e expocirc-los Os botes satildeopatrimoacutenio histoacuterico mas tam-beacutem turiacutestico As regatas satildeobonitas mas os passeios embotes baleeiros tambeacutem Se foralterada a portaria que regula

esses passeios em vigor haacutemuitos anos os clubes podemdeles tirar rendimentos

ACHA ENTAtildeO QUE FARIASENTIDO RENTABILIZAR OSPASSEIOS NOS BOTES BA-LEEIROS PARA FINANCIARA SUA PROacutePRIA PRESERVA-CcedilAtildeOFaz todo o sentido Na situ-accedilatildeo econoacutemica em que es-tamos natildeo podemos viver da

ldquosubsiacutedio-dependecircnciardquo A ma-nutenccedilatildeo dos botes as regatase toda essa dinacircmica podemsustentar-se com a criaccedilatildeo deuma vertente econoacutemica comos passeios de bote baleeiroporque temos mercado para

isso Eacute necessaacuterio alterar legis-laccedilatildeo nessa aacuterea

NOUTROS TEMPOS A BA-LEIA FOI UM PILAR DA NOS-SA ECONOMIA ACHA QUEHOJE COM O WHALE WA-TCHING A MOTIVAR A EXIS-TEcircNCIA DE BALEEIROS COMMAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICASEM VEZ DE ARPOtildeES CON-TRIBUINDO PARA A ECONO-

MIA DA ILHA E COM OS BO-TES BALEEIROS NA AacuteGUAPARA AS COMPETICcedilOtildeESDESPORTIVAS ESTAMOSPERANTE UMA ESPEacuteCIE DENOVA BALEACcedilAtildeO Acho que entraacutemos numa novafase da baleaccedilatildeo e soubemosperceber natildeo apenas a impor-tacircncia que a baleaccedilatildeo tevemas tambeacutem a importacircnciaque os cetaacuteceos tecircm hoje nos Accedilores Haacute um Departamento

de Oceanograa e Pescas da

Universidade dos Accedilores quesabe o que estaacute a fazer haacuteuma consciecircncia das empre-sas de whale watching para asua importacircnciahellip Natildeo eacute poracaso que algumas dessas

empresas utilizam as antigasvigias dos baleeiros e inclusi-ve as recuperaram contribuin-do assim para a preservaccedilatildeodo patrimoacutenio da baleaccedilatildeo Osegredo da observaccedilatildeo de ba-leias nos Accedilores tem a ver coma histoacuteria que haacute para contarHouve uma altura em que ca-ccedilaacutemos e haacute agora uma alturaem que sabemos preservarHaacute aqui um potencial turiacutestico

enorme Os accedilorianos adapta-ram-se muito bem a esta novarealidadez

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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Tempo de Baleeiros

da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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Tempo de Baleeiros

pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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Eacute tambeacutem importante que asecccedilatildeo de botes baleeiros doFaial continue A rivalidade en-tre freguesias natildeo traz nada debom O CNH tem obrigaccedilatildeo deconsolidar a secccedilatildeo custe oque custar

Aleacutem disso temos de ver queo patrimoacutenio baleeiro que estaacuteentregue agraves Juntas de Fregue-sia natildeo eacute das autarquias Per-tence agrave Governo Regional dos Acores ou seja agrave Regiatildeo e asua preservaccedilatildeo eacute uma obri-gaccedilatildeo daqueles a quem foientregue Eacute preciso ter muitocuidado nessa preservaccedilatildeosenatildeo dentro de alguns anosestamos natildeo a fazer manuten-

ccedilatildeo mas praticamente a fazernovos botes Os responsaacuteveisde cada uma das instituiccedilotildeestecircm de ter consciecircncia do pa-trimoacutenio que tecircm nas matildeos ede toda esta histoacuteria Agora odesao mais importante eacute a

manutenccedilatildeo deste patrimoacutenio econtinuar a despertar nas pes-soas o interesse por andar agravevela e a remos O bote baleeiroeacute uma embarcaccedilatildeo iacutempar Natildeohaacute outra no mundo

E A PRESERVACcedilAtildeO SOacute SEFAZ COMPLETAMENTE SEOS BOTES ESTIVEREM NOMAR A NAVEGARExactamente Haacute uma partemuito importante do projec-to que ainda falta que passa

pela sede do CNH e por sa-ber o que vai acontecer aosarmazeacutens da Reis e MartinsEacute preciso encontrar um espa-ccedilo adequado para guardar osbotes fazer a sua manuten-ccedilatildeo e expocirc-los Os botes satildeopatrimoacutenio histoacuterico mas tam-beacutem turiacutestico As regatas satildeobonitas mas os passeios embotes baleeiros tambeacutem Se foralterada a portaria que regula

esses passeios em vigor haacutemuitos anos os clubes podemdeles tirar rendimentos

ACHA ENTAtildeO QUE FARIASENTIDO RENTABILIZAR OSPASSEIOS NOS BOTES BA-LEEIROS PARA FINANCIARA SUA PROacutePRIA PRESERVA-CcedilAtildeOFaz todo o sentido Na situ-accedilatildeo econoacutemica em que es-tamos natildeo podemos viver da

ldquosubsiacutedio-dependecircnciardquo A ma-nutenccedilatildeo dos botes as regatase toda essa dinacircmica podemsustentar-se com a criaccedilatildeo deuma vertente econoacutemica comos passeios de bote baleeiroporque temos mercado para

isso Eacute necessaacuterio alterar legis-laccedilatildeo nessa aacuterea

NOUTROS TEMPOS A BA-LEIA FOI UM PILAR DA NOS-SA ECONOMIA ACHA QUEHOJE COM O WHALE WA-TCHING A MOTIVAR A EXIS-TEcircNCIA DE BALEEIROS COMMAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICASEM VEZ DE ARPOtildeES CON-TRIBUINDO PARA A ECONO-

MIA DA ILHA E COM OS BO-TES BALEEIROS NA AacuteGUAPARA AS COMPETICcedilOtildeESDESPORTIVAS ESTAMOSPERANTE UMA ESPEacuteCIE DENOVA BALEACcedilAtildeO Acho que entraacutemos numa novafase da baleaccedilatildeo e soubemosperceber natildeo apenas a impor-tacircncia que a baleaccedilatildeo tevemas tambeacutem a importacircnciaque os cetaacuteceos tecircm hoje nos Accedilores Haacute um Departamento

de Oceanograa e Pescas da

Universidade dos Accedilores quesabe o que estaacute a fazer haacuteuma consciecircncia das empre-sas de whale watching para asua importacircnciahellip Natildeo eacute poracaso que algumas dessas

empresas utilizam as antigasvigias dos baleeiros e inclusi-ve as recuperaram contribuin-do assim para a preservaccedilatildeodo patrimoacutenio da baleaccedilatildeo Osegredo da observaccedilatildeo de ba-leias nos Accedilores tem a ver coma histoacuteria que haacute para contarHouve uma altura em que ca-ccedilaacutemos e haacute agora uma alturaem que sabemos preservarHaacute aqui um potencial turiacutestico

enorme Os accedilorianos adapta-ram-se muito bem a esta novarealidadez

MARLA PINHEIRO

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y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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y Foi inaugurada saacutebado7 de Julho a Casa dos Botesrecentemente recuperada dascinzas do Vulcatildeo dos Capeli-nhosEste espaccedilo recria a partir deagora um dos espaccedilos funcio-nais da actividade baleeira nailha do FaialEste projecto foi da responsa-bilidade da Junta de Freguesiado Capelo e teve como parcei-

ros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar o ParqueNatural da Ilha do Faial o Ob-servatoacuterio do Mar dos Accedilores ea rma Reis amp Martins Lda

A inauguraccedilatildeo da obra de rea-bilitaccedilatildeo daquela Casa dos Bo-tes onde as armaccedilotildees armaze-navam as suas embarcaccedilotildees etodos os instrumentos neces-saacuterios para a caccedila agrave baleia apartir do porto do Comprido foiainda o momento de inaugu-raccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo comproduccedilatildeo do Observatoacuterio doMar dos Accedilores e que recu-pera a histoacuteria de um dos maisimportantes postos baleeiros

dos Accedilores que funcionou de1884 ateacute 1957 quando se ini-ciaram as erupccedilotildees do Vulcatildeodos CapelinhosDistribuida por vaacuterios paineacuteisa exposiccedilao permanente eacute oresultado de uma investigaccedilatildeoexaustiva sobre a histoacuteria do

posto baleeiro proporcionandouma viagem sobre o periododa caccedila agrave baleia no Capelo Ao centro da casa encontra-seum antigo bote baleeiro apare-lhado com toda a palamentacomo se estivesse pronto paramais uma arreada

Eacute indubitavelmente uma ho-menagem a todos os baleeirose respectivas famiacutelias que noseacuteculo passado se mudavamde armas e bagagens para oComprido para ir agrave baleiaConforme foi referido por JoanaRosa da Junta de Freguesiado Capelo ldquoo maior tributo quelhes podemos fazer reside narecuperaccedilatildeo do patrimoacutenio naevocaccedilatildeo da memoacuteria e na suaassimilaccedilatildeo pelas geraccedilotildees vin-dourasrdquoImporta salientar que a receacutem-

-recuperada Casa dos Botesintegrava o nuacutecleo habitacionaldo Capelo e era propriedadedas armaccedilotildees baleeiras de SatildeoRoque do Pico apoacutes a erupccedilatildeodo vulcatildeo em 1957 cou sub-mersa e sob as cinzas repou-sou durante mais de cinquentaanos Anteriormente jaacute tinhasido levada a cabo uma tenta-tiva de recuperaccedilatildeo do edicio

desta feita por um privado mas

sem sucessoO consequente abandono daCasa com signicativo impac-to visual numa zona que eacute deforte interesse turiacutestico integra-

CASA DOS BOTES DO CAPELOO RECUPERAR DA MEMOacuteRIA

FONTE SUSANA GARCIA

DE CARA LAVADA A CASA DOS BOTES ESTAacute AGORA ABERTA AO PUacuteBLICO E TEM PATENTE UMA EXPOSICcedilAtildeO SOBRE ABALEACcedilAtildeO E BALEEIROS DO FAIAL

FONTESUSANA GARCIA

PAINEL A ARTI STA FAacuteTIMA MADRUGA RETRATOU NESTE PAINEL TRADICcedilOtildeES LIGADAS AO PORTO DO COMPRIDO NOS TEMPOSIDOS DA BALEACcedilAtildeO DESDE O VULCAtildeO DOS CAPELINHOS AO CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO AgraveS RODAS DE CHAMARRITA

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da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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Tempo de Baleeiros

pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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Tempo de Baleeiros

da no Parque Natural do Faialmotivou agrave aquisiccedilatildeo do imoacutevele anexos pela Secretaria Re-gional do Ambiente e do Mar(SRAM)Importa registar ainda que aCasa dos Botes jaacute esta regista-

da no Inventaacuterio do PatrimoacutenioBaleeiro do Faial (ver repor-tagem na paacutegina 11) e estavaindicada como um dos imoacuteveisde prioritaacuteria recuperaccedilatildeo noprojecto ldquoRecuperaccedilatildeo da Me-moacuteria BaleeirardquoEntretanto a recuperaccedilatildeo soacuteavanccedila quando a Junta de Fre-guesia propotildee agrave SRAM a ce-decircncia da mesma agrave autarquiae apresenta um projecto no acircm-

bito do Prorural coordenado noFaial pela AdeliaccedilorEsses tempos idos estatildeo tam-beacutem agora imortalizados numpainel de azulejos pintado porFaacutetima Madruga onde elemen-tos tatildeo nossos como o Vulcatildeodos Capelinhos o EspiacuteritoSanto a chamarrita o baleeiropreocupado ou a esposa emaiccedilatildeo marcam presenccedila

Foi com as palavras do Padre Antoacutenio Vieira ldquopara o ventobastam palavras para falar aocoraccedilatildeo satildeo necessaacuterias obrasrdquoque Paula Rodas presidenteda Junta de Freguesia do Ca-pelo comeccedilou a sua interven-ccedilatildeoPara a presidente da junta ldquoACasa dos Botes do Capelo eacutefruto da acccedilatildeo de todos os quenela trabalharam e com muitagarra elevaram o nome destelocal e dos homens que no pas-

sado por aqui zeram histoacuteriaeacute desta forma que homena-gemos todos os antigos bale-eiros que por aqui passaramrdquoe rematou dizendo que ldquoHojenalmente o Porto do Comprido

tem a sua merecida homena-gemrdquo A cerimoacutenia cou igualmente

marcada por uma singela ho-menagem que a Junta de Fre-guesia prestou a Joatildeo Pedro

da Terra Garcia ldquoum homemque natildeo eacute baleeiro mas queage como ele e capaz de co-nhecer uma boa oportunidadepara o desenvolvimento da sua

terra muito antes dos outros aperceberemrdquo

DEFENDER AHISTOacuteRIA E A

CULTURAJoseacute Leonardo Silva vice--presidente da Cacircmara Muni-cipal da Horta e presidente da Adeliaccedilor frisou na ocasiatildeo queldquono Faial estatildeo a dar-se passospara promover a nossa ilhaEstamos com esta cerimoacuteniaa defender a nossa histoacuteria e anossa cultura requalicando o

patrimoacutenio que temos e poten-ciando o turismo Eacute nestas ver-

tentes de desenvolvimento quetemos que apostar no futurordquoPresente nesta cerimoacutenia este-ve ainda Aacutelamo Meneses Se-cretaacuterio Regional do Ambientee do Mar que considera quecom esta obra se criaram ldquodoisnovos pontos de interesse aCasa dos Botes com a sua ex-posiccedilatildeo permanente e o Circui-to dos BaleirosEsta intervenccedilatildeo tambeacutem pro-

porcionou uma melhoria ldquomuitosubstancial da situaccedilatildeo paisa-giacutesticardquo daquele local jaacute queaquilo que ali estava anterior-mente era algo que ldquoretiravadignidade agravequele conjunto econtribuiacutea para criar uma situa-ccedilatildeo menos adequadardquo

Em declaraccedilotildees agrave margem dacerimoacutenia Aacutelamo Menesesexplicou que esta recuperaccedilatildeoestaacute inserida no acircmbito da in-fraestruturaccedilatildeo dos Parques

Naturais de IlhaO governante destacou ainda otrabalho que foi feito pela juntade freguesia acrescentandoque ldquoo trabalho que eacute efectuado

FONTE OMAMUSEU A CASA DO BOTE Eacute UM ESPACcedilO MUSEOLOacuteGICO E TEM UM BOTECEDIDO PELA REIS amp MARTINS

FONTE SUSANA GARCIA

CURIOSOS NO DIA DA INAUGURACcedilAtildeO AS LAacuteGRIMAS RAIARAM OS OLHOS DE TODOS AQUELES QUE TEcircM A BALEACcedilAtildeONO CORACcedilAtildeO

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Tempo de Baleeiros

pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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Tempo de Baleeiros

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

Page 22: Tempos de Baleeiros

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Tempo de Baleeiros

pelas autarquias eacute um trabalhoque agraves vezes passa desper-cebido mas apesar de natildeo setratarem de obras de milhotildeessatildeo obras que respondem anecessidades e vontades daspessoas e que criam lugares

que satildeo quer postos de atrac-ccedilatildeo a quem vive nestas ilhasquer para quem nos visitardquoMeneses defende que ldquoeacute pre-ciso natildeo esquecer que o tu-rismo cada vez mais se fazno contacto com as pessoasvivecircncias e natureza pelo quetemos que criar lugares paraque possamos usufruir do quede melhor temosrdquoReferindo-se agrave obra de recu-

peraccedilatildeo da Casa do Bote Aacutela-mo Menezes disse que ldquoforamcriadas mais condiccedilotildees e maisatracccedilotildees para que se visiteesta zona da ilha Eacute mais umespaccedilo que ca agrave disposiccedilatildeo

dos faialensesrdquo A anteceder a cerimoacutenia desaacutebado o OMA no acircmbito doprojecto ldquoCiecircncia do Barrdquo exibiuo lme ldquoOs homens da Baleiardquo

de maacuterio Ruspolirdquo que des-creve a actividade baleeira noPorto do Comprido durante overatildeo de 1956 Este lme foi

visionado por uma centena de

pessoas que foram ao Centrode Interpretaccedilatildeo dos Capeli-nhos prestar a sua homena-gem aos baleeiros

CIRCUITO DOSBALEEIROS

No mesmo dia em que foi inau-gurada a Casa dos Botes oParque Natural do Faial inau-gurou um novo circuito pedes-

tre que integra o Trilho dos DezVulcotildeesEste circuito retrata um passa-do cheio de signicado e impor -

tacircncia para as gentes destasilhasldquoUma homenagem aos des-temidos pescadores da baleiaque na altura desaavam as

perspecticas numa atitude queia para aleacutem da puramente co-mercial De cada vez que par-tiam para a faina a populaccedilatildeoe famiacutelias amontoavam-se emcima do cais para um adeusque poderia muito bem ser o uacutel-

timo As verdadeiras lutas pelasobrevivecircncia que se seguiamentre estes gigantes e os fraacute-geis baleeiros nos seus barcos

de boca aberta deram origema lendas perpetuadas ateacute aosnossos dias fruto da bravuradestes homensrdquo - pode ler-sena brochura que apresenta ocircuito que tem 39km de ex-tensatildeo eacute de baixa diculdade

e pode durar aproximadamenteduas horas a percorrer Ao longo deste percurso sente--se o signicado da alma bale-eira e da forte ligaccedilatildeo que exis-tia entre estes homens o mar eos seus ldquoleviathansrdquoDe acordo com Joatildeo Meloldquoeste circuito vem colmatar umalacuna que sentiamos existir eque dizia respeito agrave valorizaccedilatildeodas pessoas da sua histoacuteriae do seu patrimoacutenio Eacute um cir-cuito que promove uma apro-ximaccedilatildeo agrave histoacuteria das nossasgentesrdquoO circuito contempla pontoschave da freguesia do Capelo

sendo que o seu iniacutecio eacute mes-mo ao peacute do Centro de Inter-pretaccedilatildeo passando pela vigiadas Concheiras e do Costadoda NauEste circuito pode ser feito comguia que ajudaraacute na interpre-taccedilatildeo do mesmo bem comodaraacute informaccedilatildeo sobre a faunae ora que os visitantes podem

encontrar ao longo dos quase 4quiloacutemetros

Todas as informaccedilotildees ao longodo circuito estatildeo em braille A tiacutetulo de curiosidade quemfaz este circuito passa por umaeira que foi recuperada peloFONTEJOSEacute MANUEL GARCIA

REGATA O BOTE DO SALAtildeO COM O OFICIAL PEDRO GARCIA FOI O VENCEDOR DESTA REGATA COMEMORATIVA

FONTE JOSEacute MANUEL GARCIA

ARREADA A QUANTIDADE DE GENTE EM CIMA DO CAIS FAZIA LEMBRAR UMA VERDADEIRA ARREADA EM DIA DE CACcedilA

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

Page 24: Tempos de Baleeiros

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Tempo de Baleeiros

DO SKIFF AOS BOTES BALEEIROSANA MARISA GOULART

Ana Marisa Goulart eacute atleta do

Clube Naval da Horta e desde

haacute uns anos a esta parte abraccedilou

a modalidade de remo em botes

baleeiros

Jaacute pertenceu agrave Direcccedilatildeo do uacutenico

Clube Naacuteutico da Ilha e viveu por

dentro a logiacutestica da modalidade

Foi um dos elementos que compocircs

a companha que do Faial rumou

a New Bedford para participar na

V Regata Internacional de Botes

Baleeiros Participou ainda nas 3

uacuteltimas regatas internacionais na

IV V e VI Regatas Internacionais de

Botes Baleeiros duas nos Accedilores e

uma nos EUA

SENDO ESSENCIALMENTEUMA BASQUETEBOLISTAPORQUE RESOLVEU PRATI-CAR REMOParalelamente agrave praacutetica dobasquetebol eu iniciei a mi-nha actividade como remadoraem Skiff no CNH por volta de1990 Na altura havia um gru-po muito unido que praticavaa modalidade tendo propor-cionado o desenvolvimento doremo no Faial O CNH chegoua ter bastantes praticantes deremo federados e fazia-se re-presentar em provas nacionaisRepresentei o clube em provasnacionais durante cerca de 4

anos tendo participado em es-taacutegios da selecccedilatildeo nacionalMais tarde com o desenvolvi-mento da tradiccedilatildeo dos botesbaleeiros zemos uma equipa

feminina de botes que remavano bote Claudina o uacutenico quehavia no Faial Nessa alturaparticipaacutevamos nas provas daSemana do Mar e da Sema-na dos Baleeiros nas Lajes doPico Ao longo de todos estes

anos temos mantido a equipacom gosto pela praacutetica da mo-dalidade e pelo conviacutevio que seproporciona

O QUE A FASCINA QUANDOESTAacute DENTRO DO BOTE BA-LEEIROO remo em bote baleeiro eacutebastante exigente eacute necessaacute-rio muita forccedila e coordenaccedilatildeo A ligaccedilatildeo ao mar o gosto peloremo e o conviacutevio que se pro-porciona satildeo muito gratican-tes O bote baleeiro eacute um barcomuito bonito QUAL A IMPORTAcircNCIA DE SERECUPERAR ESTA TRADI-CcedilAtildeOFelizmente tem havido a pre-ocupaccedilatildeo da recuperaccedilatildeo dainformaccedilatildeo sobre a cultura ba-leeira na Regiatildeo Faz parte do

nosso passado da nossa liga-ccedilatildeo aos EUA e do nosso de-senvolvimentoEacute importante a niacutevel cultural de-senvolver esforccedilos para que seconheccedila os pormenores e sepossa transmitir esta tradiccedilatildeoaproveitando o conhecimento ea experiecircncia dos baleeiros A parte desportiva eacute uma formade manter os botes baleeirosactivos e de promover a liga-

ccedilatildeo a esta tradiccedilatildeo COMO FOI A PARTICIPACcedilAtildeOEM NEW BEDFORD A participaccedilatildeo da comitiva da

Ilha do Faial a New Bedford naV Regata Internacional de Bo-tes Baleeiros que se realizoude 6 a 15 de Setembro foi umaexperiecircncia fantaacutestica quer aoniacutevel pessoal quer desportivo A organizaccedilatildeo da V Regata In-ternacional de Botes Baleeirospela responsabilidade da Azo-rean Maritime Heritage Societyfoi um enorme sucesso A realizaccedilatildeo da regata de velafeminina modicada foi uma

mais valia para a Regata Inter-nacional de Botes Baleeiros eestou certa que seraacute um motorde desenvolvimento da vela fe-minina em Botes Baleeiros A V Regata Internacional de

Botes Baleeiros foi mais do queuma competiccedilatildeo desportivafoi cultura e convivo Os vaacute-rios eventos sociais que foramorganizados no acircmbito destaregata permitiram a uniatildeo e oconviacutevio entre os participan-tes do Faial Pico e EUA bemcomo o conviacutevio entre a co-munidade de emigrantes accedilo-rianos e portugueses em geralque vivem na zona de New

Bedford e arredores que pro-curam contactar com os seusconterracircneos A induacutestria da baleia nos Accedilo-res estaacute directamente relacio-

nada com a induacutestria baleeiraem New Bedford tendo sidotrazida para a Regiatildeo pelosamericanos Esta regata temo objectivo de reforccedilar estasduas ligaccedilotildees e permite desen-volver o conhecimento da cul-tura baleeira

SENTE QUE NESTE MOMEN-TO OS BOTES BALEEIROSTEcircM CONDICcedilOtildeES PARA SEFIXAREM NO PANORAMADESPORTIVO E CULTURALLOCAL E REGIONALSim sem duacutevida A niacutevel cultu-ral eacute muito importante propor-ciona o interesse pela culturabaleeira e tambeacutem eacute uma for-

ma de promover esta tradiccedilatildeo junto da populaccedilatildeo local e dosturistas Ainda permite uma forte li-gaccedilatildeo aos EUA agrave regiatildeo deNew Bedford promovendo ointercacircmbio entre as duas regi-otildees A niacutevel desportivo apesarde serem barcos especiaisexistem condiccedilotildees para semanter a competiccedilatildeo local e re-gional de vela e remo ateacute mes-

mo internacional sendo umforte elo de ligaccedilatildeo agrave tradiccedilatildeobaleeiraz

FONTE ANA MARISA GOULART

COMPANHA FEMININA ANA MARISA GOULART ASSUMINDO O PAPEL DE PROA NO CLAUDINA

MARIA JOSEacute SILVA

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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Tempo de Baleeiros

Victor Mota nasceu haacute 51 anos na

freguesia do Capelo Pescador deprofssatildeo dedica muito do seu tempoagrave reparaccedilatildeo dos botes baleeiros A paixatildeo que Victor nutre por estaarte nasceu haacute 12 anos quandointegrou a Secccedilatildeo de Botes Baleeirosdo Clube Naval da Horta altura emque aconteceu o primeiro restaurodestes botes na ilha Foi nessaaltura tambeacutem que percebeu a suapaixatildeo por esta arte paixatildeo essa quemanteacutem ateacute hoje e que muitas vezeslhe rouba tempo da sua proacutepria vidae do seu ganha-patildeo Auto-didacta noque agraves reparaccedilotildees de botes baleeirosdiz respeito afrma com orgulho queldquonatildeo recebe qualquer remuneraccedilatildeordquo

Os Accedilores continuam a serum dos locais do mundo ondea tradiccedilatildeo e cultura baleeira eacutepreservada Embora jaacute natildeo sepratique a caccedila agrave baleia gran-de parte do patrimoacutenio baleeirotem sido mantido e recuperadonatildeo soacute para ns culturais mas

tambeacutem desportivos pois as re-gatas de botes baleeiros satildeo jaacuteuma forte tradiccedilatildeoFoi precisamente para falar dosbotes baleeiros usados nascompeticcedilotildees desportivas que fo-mos ao encontro de Victor Motaque desde 2005 faz a repara-ccedilatildeo das embarcaccedilotildees utilizadaspelo Clube Naval da HortaVictor Mota disse que aprendeuldquoa reparar os botes sozinhordquoapenas recorrendo agrave ajuda deJoatildeo Tavares das Ribeiras do

Pico - construtor destas embar-caccedilotildees - quando precisa de ldquofa-zer alguma peccedila de raiz ou dealgum materialrdquoFomos encontraacute-lo precisamen-te a fazer uma pequena repa-raccedilatildeo no bote baleeiro Senhorada Guia da Feteira Debruccediladosobre ele diz ter estado a ldquoama-nhar o olhal do mastro que setinha desprendidordquoPescador de prossatildeo arma

que gosta de fazer ldquoum poucode tudordquo e foi desta forma quepercebeu que podia reparar osbotes baleeiros A sua relaccedilatildeocom os botes baleeiros que

considera ldquocomo uma pessoade famiacuteliardquo comeccedila por voltado ano 2001 mas foi em 2005

quando veio para o Clube Navalda Horta (CNH) que fez os pri-meiros restauros de botes bale-eirosldquoO meu gosto comeccedilou quan-do o CNH possuiacutea dois botes ecriou a secccedilatildeo de botes baleei-ros Depois a freguesia do Ca-pelo de onde sou natural poriniciativa do entatildeo presidente daJunta Joatildeo Garcia recuperouum bote o Satildeo Joseacute Eu come-cei a trabalhar nesse bote Aju-dei a ir buscaacute-lo agraves Ribeiras doPico e a trazecirc-lo para caacute e tomeigosto por isto Vi que andar nos

botes me fazia sentir uma coisafora do normal Andar no mara bordo de um bote baleeiro eacutealgo diferente Eacute um passeiobonito numa embarcaccedilatildeo bo-nita em toda a sua estruturahellipTomei gosto por isso e agora eacutedifiacutecil sairrdquo diz com emoccedilatildeoMota natildeo soacute faz as reparaccedilotildeesnecessaacuterias como tambeacutem in-tegra a tripulaccedilatildeo de um botebaleeiro como ocial Apesar de

ser descendente de baleeirosnavegar nestas embarcaccedilotildeesfoi uma novidade para Victorldquoeu natildeo tinha conhecimento doque era um bote baleeiro Em-

bora os meus pais e os meusavoacutes fossem baleeiros naquelaaltura era crianccedila natildeo tinha mui-ta comunicaccedilatildeo com eles Soacutequando vim para o CNH come-cei a perceber que tinha gostopor andar nos botes e a partir domomento que comecei a andarhouve certas necessidades derestauros que apareciam e eu iafazendordquo arma

ldquoA minha vida eacute pescar Natildeo soucarpinteiro nem pedreiro masgosto de fazer de tudo um pou-co E comecei a perceber queconseguia fazer a recuperaccedilatildeodos botes Comecei por repararpequenas peccedilasrdquo refere entu-siasmado

Em termos de material o mes-tre arma que ldquoeacute um bocado

complicado arranjar a madeiraporque estes botes satildeo feitos deforros de casquinho muito ni-nhos e a sua pregaccedilatildeo eacute todafeita a cobre com anilhasrdquo ldquoNomercado local natildeo haacute nada dis-so tem de vir tudo de forardquo dizNeste momento Victor eacute res-ponsaacutevel pela manutenccedilatildeo detodos os botes baleeiros afectos

ao CNH ldquoneste momento temosoito botes na secccedilatildeo do FaialEu sempre z parte desta sec-ccedilatildeo e tomei sempre conta dosbotes com o Sr Carlos Fontes

que depois saiu e eu queirdquo re-fereldquoA manutenccedilatildeo e reparaccedilatildeo dosbotes estiveram sempre agrave mi-nha responsabilidade Mastrose qualquer peccedila que seja preci-so substituir sou eu que o faccediloFaccedilo pequenas reparaccedilotildeesquando eacute preciso Agraves vezesnuma navegaccedilatildeo parte-se ummastro um bombo ou um picoou alguma taacutebua ca largahellip Eu

eacute que reparordquo arma com um

brilho de orgulho nos olhosPara Victor eacute preciso muito gos-to e paciecircncia no que agraves repara-ccedilotildees diz respeito Estas podemser mais ou menos demoradasconsoante o trabalho que haacute a

fazer ldquose for por exemplo ummastro natildeo tem de tirar um diade trabalho Fazer um bombotambeacutem leva o seu tempo Satildeopeccedilas planadas e eu eacute que pla-no agrave matildeo natildeo pode ser complainas eleacutectricas Satildeo peccedilasque demoram um bocadinho afazer para serem perfeitasrdquo ex-plicaOs botes baleeiros satildeo a ldquomeni-na dos olhosrdquo de Victor por isso

eacute com muito carinho e gostoque trata deles ldquoEu eacute que faccedilotudo numa embarcaccedilatildeo desdea pintura agrave mais pequena coisaJaacute cheguei a reparar velas ca-

VICTOR MOTA TRATA OS BOTES ldquoCOMO UMA PESSOA DE FAMIacuteLIArdquo

FONTE SUSANA GARCIA

VITOR MOTA ESTE PESCADOR TEM OS BOTES COMO SEUS FILHOS SAtildeO A SUA MENINA DE OUROrdquo

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Tempo de Baleeiros

boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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Tempo de Baleeiros

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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boshellip Faccedilo de tudo um poucordquodiz orgulhando-se de pela suamatildeo jaacute terem passado os oitobotes do CNHCom o seu jeito simples fala--nos do bote que tem agora emmatildeos ldquoeacute um bote que estava na

Reis amp Martins e que vai paraum museu nos Capelinhosrdquo ex-plica referindo-se agrave Casa dosBotes inaugurada na passadasemana ldquoPediram-me apoiopara a sua recuperaccedilatildeo e ma-nutenccedilatildeo e laacute fui eu ajudar atirar o bote Tenho estado a re-parar nele embora seja soacute umapequena reparaccedilatildeo e limpezaajustar umas peccedilas que esta-vam descomandadas por dentro

do bote e armaacute-lo no armazeacutemrdquoexplicaPara o mestre da reparaccedilatildeo dosbotes a iniciativa de restaurarestas embarcaccedilotildees e recuperar

a tradiccedilatildeo baleeira para a ver-tente competitiva foi de louvarldquoa frota baleeira acabou porvolta de 1980 e morreu um bo-cadinho Mais tarde comeccedila-sea recuperaccedilatildeo dos botes queeu acho que foi uma coisa muito

boa para a nossa ilha uma vezque havia actividade baleeira caacutee tiacutenhamos muitos botesrdquo refe-re lamentando que o armazeacutemda Reis e Martins nas Anguacutes-tias natildeo tenha sido recuperadopara guardar este espoacutelioldquoA recuperaccedilatildeo dos botes foiuma coisa linda que se fez nailha para toda a populaccedilatildeo Ha-via malta nova que natildeo sabia oque era a baleia e mesmo para

o turismo isto eacute uma atracccedilatildeono Veratildeo principalmente na Se-mana do Mar Temos os dias dasemana ocupados com pessoalpara andar nos botes o tempo

agraves vezes eacute que natildeo nos deixasairrdquo conta

A sua paixatildeo pelo restauro dosbotes eacute algo a que se dedicanos tempos livres como nosexplica ldquosou pescador tenhoo meu barco e eacute soacute nas horas

extras que me dedico a estaarte mas mesmo assim agraves ve-zes perco dias do meu trabalhopara me dedicar a isto devidoao gosto que tenho Natildeo ganhonenhuma remuneraccedilatildeo por istofaccedilo por gostordquo refere

Apesar do seu entusiasmo emtorno dos botes Victor natildeo es-conde alguma tristeza em rela-ccedilatildeo ao futuro ldquovejo pouca genteinteressada nesta arte Ainda

este ano andei um bocadinhofora disto mas mesmo assim eacuteque tinha de vir fazer algumascoisas porque eles natildeo tinhamningueacutem Natildeo eacute coisa de muita

especialidade mas natildeo haacute nin-gueacutem para pegar nistordquo lamen-taNo seu entender ldquoeacute uma penadaqui para laacute deixar isto morrerrdquoldquoEstes botes estatildeo um bocadi-nho cansados jaacute andam no marhaacute dez anos a bater e estatildeo a -car um bocadinho degradadosrdquoalertaldquoTemos um campeonato localde ilha e antes tiacutenhamos umcampeonato regional por issosatildeo botes que de Maio ateacute Se-tembro andam quase todos osns-de-semana em provas com

treinos duas e trecircs vezes por se-mana Portanto satildeo botes commuito desgaste tem de haver

muita manutenccedilatildeordquo explicaz

SUSANA GARCIA

z Ceacutesar Matos eacute neto de bale-eiro e desde 2005 que faz parte

da companha dos botes da suafreguesia o Capelo Esteveenvolvido no processo de recu-peraccedilatildeo do bote Capelinhos e ecompetiu vezes sem conta nobote Satildeo Joseacute

Antes dos botes a sua experi-ecircncia em vela e remo era nulaa verdade eacute que Ceacutesar Matosnunca tinha tido a oportunidadede andar agrave vela ldquoFoi nos botesque tive a primeira experiecircnciaNatildeo acho que seja difiacutecil maseacute preciso adquirir algumas no-

ccedilotildees e praticar Depois de al-guma experiencia ateacute se tornafaacutecil Jaacute ganhar regatas eacute maisdifiacutecil tendo em conta no meucaso e de alguns colegas quenatildeo tivemos escola de vela eque existe ociais com forma-ccedilatildeo experiecircncia de velardquoSobre o papel de ocial de bote

diz que tem ldquoa particularidadede termos em matildeos e agrave nossaresponsabilidade algo que faz

parte da nossa tradiccedilatildeo e pa-trimoacutenio Temos que ter noccedilatildeoda importacircncia e do valor queo Bote Baleeiro representa nanossa culturardquo

Instado a pronunciar-se sobreo que mais o fascina na modali-dade diz que ldquofascina-me o fac-to de estarmos a velejar numaembarcaccedilatildeo que agrave alguns anos

atraacutes andava na caccedila agrave baleiaEacute muito bom que os botes pos-sam continuar a ser utilizadosembora que agora na praacutetica devela e remo Agrada-me tam-

beacutem o conviacutevio que se gera emtorno das regatasrdquoSobre a importancia que estasregatas assumem Ceacutesar Ma-tos diz que ldquoeacute muito importan-

te porque os botes baleeiroscomo jaacute disse fazem parte danossa tradiccedilatildeo e patrimoacutenio Eacute amaneira que temos de mostraacute--lo tanto a niacutevel turiacutestico como

local Devemos tambeacutem ter emconta a quantidade de pessoasenvolvidas nestas regatas Porexemplo numa regata com 8botes participam 56 tripulantes

mais o pessoal das lanchas eorganizaccedilatildeo Isto movimentaum nuacutemero bastante elevadode pessoasrdquo z

MARIA JOSEacute SILVA

MANTER A TRADICcedilAtildeO DOS

NOSSOS ANTEPASSADOS

FONTE SUSANA GARCIA

OFICIAL AINDA NA UacuteLTIMA REGATA CEacuteSAR MATOS FOI O OFICIAL DE SERV ICcedilO NO CAPELINHOS

CEacuteSAR MATOS

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REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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Tempo de Baleeiros

REGATA INTERNACIONALDE BOTES BALEEIROSz A Regata Internacional deBotes Baleeiros eacute uma provaque ultrapassa os meandros dacompeticcedilatildeo e que permite estrei-

tar laccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragem Joatildeo Carlos Pinheiro eacute repre-sentante da Azorean MaritimeHeritage Society e fundador daRegata Internacional de BotesBaleeiros que se realiza em NewBedford e nos AccediloresPossui esta regata a capacidade

de juntar nas mesmas aacuteguasgentes com antepassados nabaleaccedilatildeo accediloriana

A Regata Internacional de BotesBaleeiros eacute uma prova que ul-

trapassa os meandros da com-peticcedilatildeo e que permite estreitarlaccedilos de amizade entra duascidades irmatildes (Horta e New Be-

dford) bem como da sua comu-nidade emigrante radicada na-quela paragemEacute actualmente um dos marcosmais signicativos da gemina-ccedilatildeo existente entre as cidadesda Horta e New Bedford e naqual a autarquia faialense temliderado o processo desde a suacriaccedilatildeoTribuna das Ilhas conversou comJoatildeo Carlos Pinheiro que nos

contou tudo sobre esta regataque promove a geminaccedilatildeo des-tas cidades irmanadasNuma viagem ao passado JoatildeoCarlos Pinheiro revelou-nos que

esta eacute uma ideia que surgiu haacuteimensos anos enquanto membroda Azorean Maritime HeritageSociety ldquoPensei se vatildeo aos Es-

tados Unidos da Ameacuterica ban-das larmoacutenicas grupos folcloacuteri-cos equipas de futebol porquenatildeo irem companhas de botesbaleeiros numa tentativa de di-namizar e mostrar a cultura dabaleaccedilatildeordquo

A regata eacute uma competiccedilatildeo mashaacute toda uma histoacuteria e uma pe-dagogia associada a este fenoacute-menoSatildeo vaacuterias as instituiccedilotildees quer

americanas quer accedilorianas queestatildeo envolvidas nesta Regata eque tornam este sonho possiacutevelNesta ediccedilatildeo estaacute prevista aparticipaccedilatildeo de uma tripulaccedilatildeo

masculina e feminina do Faial euma congeacutenere da ilha do Picosendo a regata disputada nasmodalidades de vela e remo

Cerca de 40 pessoas vatildeo ateacuteaos EUA competir em remo evelaNo proacuteximo mecircs de Junho estesbotes vatildeo participar numa regatano Charles River alusiva ao Diade PortugalEsta regata realiza-se um anoem New Bedford outro na Hortae tem um de interregno e assimsucessivamentePara aleacutem dos apoios das Cacirc-

maras Municipais envolvidasesta regata soacute eacute possiacutevel comalgumas iniciativas da AzoreanMaritime Heritage Society que vi-sam a obtenccedilatildeo de fundos

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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Tempo de Baleeiros

Joatildeo Carlos Pinheiro explicou--nos que organizam provas devinhos torneios de golfe e exis-tem muitas doaccedilotildees particularesUma regata deste geacutenero quepromove a cultura accediloriana eamericana que traacutes ao de cima

tradiccedilotildees milenares deveria serolhada com outros olhos e teruma maior envolvecircncia das enti-dades governamentaisNa regata seratildeo utilizados trecircsbotes com os nomes ldquoFaialrdquoldquoPicordquo e ldquoBela Vistardquo possuindoestes a mesma estrutura dosbotes utilizados nos Accedilores con-tendo a particularidade de teremsido construiacutedos pelo reconheci-do construtor accediloriano Joatildeo Ta-

vares numa iniciativa conjuntada Cacircmara Municipal da Horta edas cacircmaras municipais da ilhado PicoldquoApenas temos 3 botes em NewBedford e organizamos a rega-ta de acordo com as regras dasregatas de botes baleeiros masem sistema de torneio Cada tri-pulaccedilatildeo anda em cada um dosbotesrdquo ndash explica Joatildeo Pinheiroque prossegue dizendo queldquoqueremos promover a culturamariacutetima e baleeira accediloriananatildeo soacute no mar mas tambeacutem nassuas outras vertentes e quandodigo isto rero-me por exemplo

agrave construccedilatildeo dos botes Estesbotes foram construiacutedos dentrode um armazeacutem mas sempreaberto ao puacuteblico em que aspessoas viam como as coisaseram feitasrdquoSobre todo este processo JoatildeoPinheiro diz-nos que ldquoas pes-

soas mostraram-se muito re-ceptivas a todo este fenoacutemenomas curiosamente foram osamericanos que mais nos pro-curaram para ver o que se esta-va a passar muito relacionadoclaro estaacute com o facto de NewBedford ser considerada a ca-pital da baleaccedilatildeo no mundo Osemigrantes jaacute comeccedilam a aderirmas atendendo a que naquelazona a maioria satildeo emigrantes

micaelenses a tradiccedilatildeo baleeiranatildeo lhes eacute tatildeo intriacutensecardquoO ldquoBela Vistardquo tem uma particu-laridade que importa reforccedilar Foium bote construiacutedo no Faial nos

antigos armazeacutens da FaialcolEste bote foi mandado construirpor Daniel Ton e teve a curiosi-dade de trazer ao Faial alunosde escolas americanas paraacompanhar a sua construccedilatildeodurante um ano Isto no inicio dadeacutecada de 90 ldquoQuando o ldquoBelaVistardquo chegou aos EUA a nossavontade de trazer esta tradiccedilatildeoao de cima falou mais alto e de-cidimos avanccedilarrdquo ndash remata

QUE IMPACTO TEM ABALEACcedilAtildeO AINDA HOJE EMNEW BEDFORDO impacto da Baleaccedilatildeo em NewBedford eacute muito grande A ci-

dade eacute chamada ldquowhaling cityrdquoe tem o maior museu do mun-do alusivo agrave baleaccedilatildeo O NewBedford Whaling Museum eacute amaior atracccedilatildeo turiacutestica da cida-de regularmente laacute realizam-seseminaacuterios lmes schrimsaw

simpoacutesios e muito mais Eacute nestemuseu que ca a ala dedicada

aos accedilorianos a ldquoThe AzoreanWhaleman Galeriardquo em memoacuteriados bravos baleeiros accedilorianos

No mesmo edicio encontra-sea ldquoCasa dos Botesrdquo onde estatildeotrecircs autecircnticos botes Baleeiros

Accedilorianos e que participam nasregatas

O QUE MUDOU DESDEQUE SE FAZ A REGATA IN-TERNACIONAL

A regata internacional veio dara conhecer agrave comunidade ame-ricana o valor da nossa histoacuteriamariacutetima e ao mesmo tempo

fazer uma divulgaccedilatildeo turiacutesticagratuita dos Acores Muitas satildeoas pessoas que tecircm visitado oFaial devido agrave Regata Interna-cionalPor caacute desde que existe a re-gata as pessoas normente osportugueses radicados caacute pro-

A REGATAPor tudo o que aqui foi relatado satildeo evidentes os laccedilos queunem as cidades irmatildes da Horta e New Bedford Esta relaccedilatildeofoi reforccedilada em pleno seacuteculo XXI com o nascimento da Re-gata Internacional de Botes Baleeiros evento que ultrapassaclaramente a dimensatildeo desportiva assumindo um cariz so-

cial cultural e ateacute turiacutesticoDe facto esta regata ganhou forma no Porto do Compridofreguesia do Capelo da ilha do Faial por altura das come-moraccedilotildees dos 400 anos da freguesia A primeira ediccedilatildeo doevento realizou-se em 2004 nos Estados Unidos da Ameacuterica

numa organizaccedilatildeo do Azorean Maritime Heritage que reuniutripulaccedilotildees Norte Americanas do Pico e do FaialImporta relevar que em torno desta ediccedilatildeo e das seguintesvericou-se o signicativo envolvimento dos municiacutepios do

Pico e do FaialEsta regata disputada na modalidade de vela e remo prestatambeacutem uma homenagem a dois antigos baleeiros do Faial

e do Pico nomeadamente a Joseacute Soares (Pico) - Taccedila JoseacuteSoares - e a Joseacute Cardoso Pinheiro (Faial) - Taccedila Joseacute Car-doso Pinheiro

A VIII ediccedilatildeo da Regata Internacional de Botes Baleeiros rea-lizar-se-aacute em 2013 nos Estados Unidos da Ameacuterica

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

NEW BEDFORD A REGATA DISPUTA983085SE NAS MODALIDADES DE VELA E REMO

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Tempo de Baleeiros

EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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Tempo de Baleeiros

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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EXPOSICcedilAtildeO PERMANENTE

Em 2010 coincidindo com a V Regata Internacional de Botes

Baleeiros realizada em New Bedford o New Bedford WhalingMuseum (NBWM) inaugurou a Galeria do Baleeiro Accedilorianouacutenica exposiccedilatildeo permanente nos EUA dedicada ao patrimoacuteniomariacutetimo portuguecircs e neste caso agrave baleaccedilatildeo Esta iniciativafoi possiacutevel graccedilas a um nanciamento concedido por Jaime

Gaima enquando Ministro dos Negoacutecios Estrangeiros A ex-posiccedilatildeo apresenta os aspectos mais importantes da culturaaccediloriana focando-se essencialmente na presenccedila dos accedilo-rianos na baleaccedilatildeo americana e na comunidade portuguesaem New Bedford no entanto o museu prepara-se para exibiruma nova ala dedicada exclusivamente agrave baleaccedilatildeo accediloriana etodos os elementos que a distinguem

FONTE TOMAacuteS DUARTE

PRIMEIRA EXPOSICcedilAtildeO TEMPORAacuteRIA DA GALERIA DO BALEEIRO ACcedilORIA983085NOrdquo A BALEACcedilAtildeO NO FAIAL FASE INDUSTRIAL 19409830851984rdquo REALIZADAPELO OMA E REIS amp MARTINS LDA E QUE ESTEVE PATENTE AO PUacuteBLICOENTRE SETEMBRO DE 2010 E MAIO DE 2011

curam visitar o Museu Tornou--se um ex-libris de New Bedford

O QUE GOSTAVA DE VERACONTECERGostava que esta regata con-tinuasse por muitos anos poiseacute beneacuteca para os dois lados

do Atlacircntico Julgo que se devealargar e trazer tambeacutem muacutesicados Accedilores a New Bedford oque jaacute aconteceu um ano com aparticipaccedilatildeo do quarteto de so-pros da Praia do AlmoxarifeGostava ainda como fundadordesta regata que ela continu-asse por muitos anos Eacute precisonatildeo deixar morrer esta tradiccedilatildeoOutro dos objectivos eacute que con-

sigamos aumentar o nuacutemero debotes e jaacute estatildeo a ser ultimadosos contactos nesse sentido

NOTASNew Bedford estaacute localizada naregiatildeo sueste da Nova Inglater-ra na costa da beliacutessima ldquoBu-zzards BayrdquoNew Bedford eacute um antigo portobaleeiro que continua a subsistira partir dos produtos provenien-tes do mar As tripulaccedilotildees dosfamosos navios baleeiros deNew Bedford gritavam estriden-temente a seguinte expressatildeo ldquoAgraveVolta do Mundordquo sempre e quan-do embarcavam em viagens queos levavam a todos os cantos domundo agrave procura de oacuteleo de ba-leiaHoje em dia New Bedford eacuteuma cidade autenticamenteidenticada com o seu porto de

mar possuidora de uma grandefrota piscatoacuteria e uma zona cos-teira muito activa As tradiccedilotildeesmariacutetimas dos seus antigos habi-tantes ainda se encontram bempresentesO Museu da Baleia de New Be-dford tem em exposiccedilatildeo a maiorcolecccedilatildeo de artefactos baleeirosexistentes no mundo incluindoum modelo de um navio com umporte tatildeo grande que permite

aos visitantes subirem a bordodo mesmoO Parque preserva e ilustrao papel desta cidade como aldquoCapital Baleeira do Mundordquo da

Ameacuterica do seacuteculo dezanove A aacuterea histoacuterica da ldquoCounty Stre-etrdquo eacute caracterizada pelas suasmansotildees construiacutedas na eacutepocabaleeira que o escritor ldquoMelvillerdquoimaginou terem sido ldquoarpoadas earrastadas do fundo do marrdquo

Aleacutem de toda a riqueza culturalanteriormente descrita New Be-dford tambeacutem possui pequenaslojas e galerias de arte Muitosrestaurantes locais oferecempratos de mariscos caracteriacutesti-cos de New Bedford bem comotodo o tipo de culinaacuteria tipica-mente portuguesaDurante a temporada de veratildeoacontecem em New Bedfordmuitas festas ao ar livre desta-

cando-se o festival ldquoSummerfestrdquoe a ldquoFesta do Santiacutessimo Sacra-mentordquo que eacute a maior celebraccedilatildeoreligiosa e cultural portuguesaque se realiza nos Estados Uni-dosz

MARIA JOSEacute SILVA

FONTE MUSEU DE NEW BEDFORD

ALEacuteM983085MAR A ALA DO BALEEIRO ACcedilORIANO EM NEW BEDORD

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y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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Tempo de Baleeiros

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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Tempo de Baleeiros

y Esta descriccedilatildeo de umfuneral interrompido peloaparecimento de uma baleiamostra bem como a partir dofnal do seacuteculo XIX e durante

vaacuterias deacutecadas a economiaaccediloriana tinha como um dosseus principais pilares a in-duacutestria baleeira Eram muitosos accedilorianos que viviam dacaccedila agrave baleia e diariamentearriscavam a vida para caccedilarcachalotes gigantes dos ma-res que por vezes podiam ter18 metros de comprimento

A caccedila agrave baleia pode ser vis-ta agrave luz dos nossos temposcomo uma praacutetica baacuterbaradesumana ateacute No entantoera o garante da subsistecircnciade muitos accedilorianos que aosinal do vigia largavam tudoe corriam em busca do patildeopara a boca dos flhos

Tribuna das Ilhas conversoucom Norberto Serpa que haacute17 anos fundou a empresa

de whale watching NorbertoDiver ndash a primeira a surgir noFaial - sobre as vantagens eos desafos desta nova bale-accedilatildeo

COMO Eacute QUE DECIDIUDEDICAR-SE AO WHALE WA-TCHING Antes de comeccedilar esta activi-dade jaacute trabalhava no Depar-tamento de Oceanograa e

Pescas da Universidade dos Accedilores onde estou haacute mais de30 anos Quando se deixou acaccedila agrave baleia houve um periacuteo-do em que natildeo havia nem caccedilanem whale watching Nessaaltura o IFAO e a Universidadedos Accedilores comeccedilaram a fazerum levantamento de todas as

espeacutecies de cetaacuteceos que exis-tiam na Regiatildeo em que quan-tidades e quais os siacutetios ondemais provavelmente podiamser encontradas Chegaacutemos amuitas conclusotildees uma delasa de que tendo em conta aocorrecircncia destes animais nosnossos mares poderia ser ren-taacutevel partir para a observaccedilatildeode baleias e golnhos Natildeo fo-mos pioneiros porque jaacute havia

outros paiacuteses no mundo ondeisso se fazia Aqui nos Accedilorescomeccedilou-se nas Lajes do Picoque eacute realmente um dos me-lhores siacutetios da Regiatildeo para a

actividade e posteriormentecomecei a minha empresa

QUANTAS ESPEacuteCIES PODE-MOS AVISTAR NA PROXIMI-DADE DO FAIAL E EM QUEALTURAS DO ANOQuando zemos o levanta-mento de que haacute pouco faleichegaacutemos agrave conclusatildeo de queexistiam mais espeacutecies do queaquelas que os cientistas e ospescadores julgavam Aleacutemdisso enquanto que na caccedilaagrave baleia apenas eram apanha-

dos cachalotes e um ou outrogolnho no whale watching o

interesse passa a ser visualizartodas as espeacutecies de cetaacuteceospossiacuteveis Esta ldquocaccedila visual eacutemais abrangenterdquo portanto Assim sendo nas nossasaacuteguas podemos encontrar mui-tas espeacutecies Haacute cerca de 10espeacutecies que vemos muito fre-quentemente como o golnho

comum o roaz a toninha bra-

va os moleiros os cachalotese algumas baleias de barbascomo a comum e a sardinheira As baleias piloto e as falsas or-cas tambeacutem aparecem de vez

em quando e depois temosalgumas que aparecem espo-radicamente como as baleiasde bossas ou as orcasOs cachalotes por exemplopodem viver todo o ano caacuteMas haacute registos de um mesmoanimal ter sido fotografado emCabo Verde nos Accedilores e naNoruegaOs Accedilores satildeo o melhor siacutetiodo mundo para observaccedilatildeo decetaacuteceos Existem alguns quevivem sempre caacute e outros quepassam aqui nas suas migra-

ccedilotildees uma vez que estamosno meio do Oceano AtlacircnticoTemos aacuteguas baixas junto aosbancos que alguns animaisfrequentam e temos as aacuteguasaltas junto agrave costa onde ani-mais como os cachalotes eas baleias de bico se alimen-tam Agraves vezes conseguimosver mais de cinco espeacutecies debaleias e golnhos no mesmo

dia A prova de que estamos no

melhor siacutetio do mundo para ob-servaccedilatildeo de cetaacuteceos eacute o factode podermos dizer aos nossosclientes que lhes devolvemoso dinheiro caso natildeo avistemos

ldquo(hellip) Nas Lajes(hellip) saiacutea o enterro dum baleeiro morto no mar quando

do Alto da Forca anunciaram o bicho Ia tudo compungido ndash ia a mulher

compungida e os pescadores compungidos o padre o sacrista a

cruz e a caldeira ndash iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de

caso grave e fatos de ver a Deus ndash e logo a marcha compassada parou

instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude cou soacute o

padre com o latim engasgado e o caixatildeo no meio da rua e os outros

enrodilhados levaram o sacristatildeo de abalada ateacute agrave praia Baleia

Baleiahellip Deixam um casamento ou um enterro em meio um contrato

ou uma penhora as testemunhas e a justiccedila e correm desesperados aarriar a baleia No Cais do Pico e nas Lajes ningueacutem se afasta da praia

Estatildeo sempre agrave espera do sinal e com o ouvido agrave escuta os homens

nos campos as mulheres nos casebres E enquanto falam comem ou

trabalham laacute no fundo remoacutei sempre a mesma preocupaccedilatildeo Satildeo tatildeo

apaixonados que ateacute este cheiro horriacutevel que faz naacuteuseas e que se

entranha na comida e no fato lhes cheira sempre bemrdquo

Raul Brandatildeo As Ilhas Desconhecidas

OBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCEOS 991251 A NOVA BALEACcedilAtildeO

BALEEIROS COM MAacuteQUINAS

FOTOGRAacuteFICAS EM VEZ DE ARPOtildeES

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SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

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NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

Page 31: Tempos de Baleeiros

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Tempo de Baleeiros

SKIPPER HAacute QUASE DUAS DEacuteCADAS QUE NORBERTO SE DEDICA AgraveS ACTIVIDADES MARITIMO983085TURISTICAS

baleias nem golnhos Se di-zemos isso eacute porque temos acerteza de que vamos ver al-guma coisaNo ano passado em cerca96 das viagens que fze-mos vimos baleias natildeo falan-do nos golfnhos que vemos

sempre

AS EMPRESAS DE WHALEWATCHING TRABALHAMCOM AS TEacuteCNICAS USA-DAS ANTIGAMENTE PELOSVIGIAS DA BALEIA POR-QUEcircEssa eacute a forma mais confor-taacutevel de trabalhar e eacute funda-mental Investir num vigia a

seacuterio eacute uma mais-valia paraqualquer empresa de whalewatching Eu tenho um haacute 14anos que vigia para mim deSatildeo Mateus do PicoNa altura da baleia o vigianem era um baleeiro eramesmo vigia ou seja desdepequeno que estava destina-do a ser vigia e levava a suavida toda a vigiar Sabia ocomportamento dos animaiso tempo que estavam agrave super-fiacutecie quando mergulhavamhellipEacute bom ter uma pessoa comessa sensibilidade Este meuvigia era pescador ldquotinha umbom olhordquo para o atum

QUAL TEM SIDO A EVOLU-CcedilAtildeO DA PROCURA PELAOBSERVACcedilAtildeO DE CETAacuteCE-OSHaacute muita procura principal-mente nos meses de Julho Agosto e Setembro No Faialainda estive alguns anos sozi-

nho mas quando comeccedilarama surgir outras empresas foinecessaacuterio fazer coisas dife-rentes Eu tenho o meu estiloproacuteprio e nunca me preocupeiem ser forte comercialmen-te Natildeo levo muitas pessoaspara o mar quando compara-do com outras pessoas mas

levo o tipo de clientes com quegosto de trabalhar Aparecem--me frequentemente famiacuteliasou organizaccedilotildees que queremalgo diferente e requisitam umbarco soacute para si durante umdia inteiroHaacute quatro anos por exemplolevei mais de quatro mil pes-soas Os grupos grandes tecircmdiminuiacutedo mas em contrapar-tida aparecem clientes interes-sados noutro tipo de produtocomo requisitar um barco paraestar um dia todo no mar porexemplo

Eacute POSSIacuteVEL ESTABELECERPERFIS DE UM CLIENTES--TIPOTemos clientes que procuramfazer um programa de vidaselvagem pedem um barcosoacute para si e passam todo o diano mar Tenho tambeacutem muitosuniversitaacuterios da aacuterea da biolo-gia marinha e das ciecircncias domar que fazem vaacuterias viagens

durante alguns dias E depoishaacute os clientes que vecircm fazeruma viagem no acircmbito da suavisita agrave ilhaCACHALOTE A CAUDA DOS CACHALOTES Eacute UM DOS PRINCIPAIS ALVOS DAS MAacuteQUINAS FOTOGRAacuteFICAS DOS TURISTAS

QUE NOS VISITAM

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NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

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UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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Tempo de Baleeiros

FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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Tempo de Baleeiros

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

NO MAR A APROXIMACcedilAtildeO AOS GRANDES MAMIacuteFEROS MARINHOS DEVE SER FEITA EM SINTONIA COM A NATURAZAISTO Eacute SEM GRANDES RUIacuteDOS OU ALARIDOS

EXISTE COOPERACcedilAtildeO EN-TRE OS EMPRESAacuteRIOS DOWHALE WATCHING E OSCIENTISTAS QUE ESTUDAMOS CETAacuteCEOS DOS ACcedilO-RESExiste uma grande coopera-

ccedilatildeo Os cientistas tecircm os nos-sos vigias agrave sua disposiccedilatildeo Aleacutem disso noacutes colaboramosnos seus trabalhos Por exem-plo se um cientista pretendecolocar transmissores em algu-mas baleias de barbas avisaas empresas Estas ao avista-rem um animal dessa espeacuteciechamam os cientistas e depoisde fazerem a sua observaccedilatildeocom os clientes vatildeo embora

deixando os cientistas agrave vonta-de para trabalhar

QUE CUIDADOS SAtildeO TIDOSCOM A SALVAGUARDA DOBEM-ESTAR DOS ANIMAIS As distacircncias estatildeo estabele-cidas na lei Mas mesmo quenatildeo estivessem os animais eacuteque decidem ateacute que distacircn-cia nos podemos aproximarExistem alguns mais manho-

sos ou mais tiacutemidos que camsempre mais longe e existemoutros que jaacute estatildeo habituadosa ver barcos e cam proacuteximos

de noacutes Aleacutem disso haacute muitaconanccedila entre os operadores

que trabalham nestas ilhas equando estamos proacuteximos domesmo animal acabamos porcar juntos vamos conversan-

do uns com os outros e nin-

gueacutem tenta passar agrave frente deningueacutem

CONSIDERA QUE NO QUERESPEITA Agrave ECONOMIAREGIONAL O WHALE WA-TCHING Eacute DE ALGUMAFORMA O SUBSTITUTO NA-TURAL DA INDUacuteSTRIA DABALEIA E VOCEcircS OS NOVOSBALEEIROS COM MAacuteQUI-NAS FOTOGRAacuteFICAS EM VEZDE ARPOtildeESPenso que teremos mais anos dewhale watching do que houve debaleaccedilatildeo Nos aos 30 40 e 50 abaleia era um pilar da economiada Regiatildeo e envolvia muitaspessoas nas faacutebricas e no marMas no whale watching tambeacutemtemos grande actividade agrave volta

A pessoa que vem caacute uma sema-

na para ver baleias tambeacutem estaacute

nos hoteacuteis nos restauranteshellipSe cada empresa levar umameacutedia de 3 mil pessoas por anopara o mar veja a dimensatildeo des-te negoacuteciohellip

NA SUA OPINIAtildeO O QUE EacuteQUE SE DEVE FAZER PARAGARANTIR QUE A SUSTEN-TABILIDADE ECONOacuteMICADESTA ACTIVIDADE ESTAacute EMPONTO DE EQUILIacuteBRIO COMA PROTECCcedilAtildeO DOS ANI-MAIS

A protecccedilatildeo dos animais natildeo temnada a ver com a sustentabilida-de econoacutemica Quando comeccedilaacute-mos a fazer isto havia poucos es-tudos de como eacute que os animaisse comportavam face agrave proximi-dade dos barcos Diziam que ia

ser uma desgraccedila que iam reagir

mal e fugir mas natildeo aconteceunada disso Estamos a falar demamiacuteferos que satildeo como os ga-tos os catildees ou outros animaisOs meus gatos da adega satildeoariscos porque quase nunca mevecircem mas a minha gata queanda agrave volta de casa natildeo eacute nadaarisca porque estaacute sempre a vergente Um animal que estaacute numsiacutetio onde vecirc um barco duas ve-zes por ano eacute diferente dos ani-mais que cam por aqui agrave nossa

volta algumas semanas Noacutessentimos que aquele animal sabeo que estamos a fazer Quandocomecei esta actividade era difiacutecilaproximar-me dos animais Agoraeacute muito faacutecil Eles natildeo se impor-tam com a nossa presenccedilaQuanto agrave sustentabilidade econoacute-mica eacute importante natildeo estragara actividade para que ela natildeoperca a sua rentabilidade Natildeo eacutesaudaacutevel as empresas regatea-

rem demasiado os preccedilos ten-tando levar o mais barato possiacute-vel para cativar mais pessoas Adada altura as empresas natildeo po-dem pagar o suciente para ga-rantir funcionaacuterios de qualidade ea modernizaccedilatildeo da sua frotaO whale watching pode crescermas eacute importante que se mante-nha a melhor qualidade possiacutevelmesmo que isso signique me-nos quantidade de turistasz

MARLA PINHEIRO

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Tempo de Baleeiros

UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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UM SEacuteCULO (E MAIS UNS ANOS)DE INVESTIGACcedilAtildeO EM CETAacuteCEOS

NOS ACcedilORES

y As primeiras menccedilotildees amamiacuteferos marinhos nos Accedilo-res chegam-nos natildeo pelasmatildeos de naturalistas mas sim

pelas de um historiador Na suaobra ldquoSaudades da Terrardquo osacerdote e historiador accediloria-no Gaspar Frutuoso (1522 ndash c

1591) daacute-nos conta da ocorrecircn-cia nos Accedilores de focas-monge(Monachus monachus) nosseacuteculos XV e XVI e tambeacutemnos fala do aproveitamento dagordura de ldquobaleiasrdquo encontra-das mortas para a produccedilatildeo decombustiacutevel e dos seus ossoscomo material de construccedilatildeo

Embora extremamente relevan-tes estas notas de Frutuosonatildeo satildeo mais do que um exiacute-guo vislumbre do passado Satildeocomparaacuteveis a uma surpresadentro de um ovo de Paacutescoaque cou escondida numa

obra muito mais vasta e foioferecida por aquele excelentecronista aos investigadores vin-douros Apoacutes Frutuoso a janelasobre o passado dos mamiacutefe-

ros marinhos nos Accedilores fecha--se e soacute volta a ser aberta nasegunda metade do seacutec XIXCom o advento do Iluminismono seacutec XVIII a ciecircncia tornou-

-se mais sistematizada e a ca-talogaccedilatildeo de todos os elemen-tos naturais (incluindo os seresvivos minerais elementos quiacute-micos fenoacutemenos naturais to-pograa etc) passou a estar

na ordem do dia Foram criadasas sociedades cientiacutecas que

fomentaram a realizaccedilatildeo degrandes expediccedilotildees de desco-berta algumas das quais toca-ram os AccediloresEacute nesse clima e como resulta-do de uma destas expediccedilotildeesque em 1861 Henri Droueumltpublica a obra Eleacutements de laFaune Accediloreacuteene que inclui a

primeira listagem de cetaacuteceosdos Accedilores Nesta e em obrassubsequentes aleacutem da pre-senccedila dos cetaacuteceos tambeacutemeacute gritante a ausecircncia da foca--monge que havia entretantodesaparecido do arquipeacutelagoMas talvez sejam as expedi-ccedilotildees oceanograacutecas nancia-das pelo Priacutencipe Alberto I doMoacutenaco entre 1886 e 1913que marquem o iniacutecio do que

realmente se pode chamar deinvestigaccedilatildeo em cetaacuteceos noarquipeacutelago Durante estas ex-pediccedilotildees o Priacutencipe e os seusnaturalistas foram para aleacutem do

registo e listagem das espeacuteciesobservadas recolhendo dadose espeacutecimes que permitiramrealizar estudos sobre anato-mia parasitologia e siologia de

cachalotes e de alguns delniacute-deos aleacutem de registar algunsaspectos da baleaccedilatildeo costeirados AccediloresEste burburinho na viragem doseacuteculo parecia augurar umacrescente actividade cientiacuteca agrave

volta dos cetaacuteceos na Regiatildeomas tal natildeo aconteceu Comose pode constatar na Figura 1a actividade de investigaccedilatildeoem cetaacuteceos nos Accedilores foi

muito reduzida ateacute quase o mdo seacuteculo Uma parte dessestrabalhos natildeo passava de no-vos registos de espeacutecies e lista-gens actualizadas recorrendoa depoimentos avistamentos eregistos de arrojamentos Outraparte estava intimamente ligadaagrave baleaccedilatildeo versando particu-larmente sobre a biologia doscachalotes e os aspectos ope-racionais da actividade

Eacute tambeacutem interessante cons-tatar que a teacutenue investigaccedilatildeodesenvolvida foi em grandeparte liderada por instituiccedilotildeesestrangeiras (embora nalguns

casos com participaccedilatildeo de in-vestigadores portugueses) Ateacuteo nal da deacutecada de 1990 a

maioria trabalhos ateacute entatildeo pu-blicados em revistas cientiacutecas

era liderada por investigadoresestrangeirosMas com o dealbar do seacutec XXIhouve uma alteraccedilatildeo radical aeste paradigma sendo niacutetidoum crescimento saudaacutevel da in-vestigaccedilatildeo liderada sobretudopor investigadores nacionaisDe facto o nuacutemero de publi-caccedilotildees cientiacutecas nesta aacuterea

de investigaccedilatildeo nos uacuteltimos 12

anos ultrapassa o dos 100 anos

anterioresEste crescimento suacutebito daproduccedilatildeo cientiacuteca tem a sua

geacutenese numa alteraccedilatildeo ao pa-radigma da gestatildeo ambiental eagrave entrada de Portugal na UniatildeoEuropeia (UE) Nas uacuteltimasduas deacutecadas reconheceu-seque a gestatildeo do meio marinhodeve ser conduzida de uma for-ma integrada e ter uma aborda-gem focada nos ecossistemas

em detrimento da abordagemclaacutessica (e mais simplista) fo-cada em espeacutecies ou ameaccedilasEsta abordagem ecossisteacutemicaestaacute reectida na Directiva-

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Tempo de Baleeiros

-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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FIGURA 1 PUBLICACcedilOtildeES COM INFORMACcedilAtildeO SOBRE MAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES EM REVISTAS CIENTIacuteFICAS983080NAtildeO INCLUI RELATOacuteRIOS TEacuteCNICOS LIVROS TESES E ARTIGOS GENERALISTAS983081

FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

RUI PRIETOBIOacuteLOGO

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FICHA TEacuteCNICAC l b t di atilde

Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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-Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquoe nas Directivas ldquoAvesrdquo e ldquoHa-bitatsrdquo da UE Um dos pilaresdesta estrateacutegia assenta nacriaccedilatildeo de uma rede de AacutereasMarinhas Protegidas represen-tativa da diversidade bioloacutegicae ecoloacutegica dos ecossistemasmarinhosNo entanto a aplicaccedilatildeo desta

nova abordagem relativamenteaos cetaacuteceos nos Accedilores coli-diu com mais de 100 anos deestagnaccedilatildeo tornando-se pre-mente adquirir conhecimentocientiacuteco sobre estes animais e

a sua relaccedilatildeo com os ecossis-temas marinhos regionaisFoi assim que uma nova gera-ccedilatildeo de investigadores arrega-ccedilou as mangas e deu iniacutecio auma revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeode cetaacuteceos na Regiatildeo com o

apoio de colegas mais expe-rientes e colaborando com par-ceiros internacionais Lanccedilou--se matildeo a diversas teacutecnicas deinvestigaccedilatildeo desde as maissimples que soacute dependem deum gravador laacutepis e papel ateacutea teacutecnicas inovadoras que re-correm agraves mais recentes tec-nologias aero-espaciais e com-putacionais Testou-se novasteacutecnicas e novos equipamen-

tos alguns com mais sucessodo que outros A niacutevel nacionalos investigadores dos Accediloresforam os primeiros e ainda satildeouacutenicos a utilizar telemetria por

sateacutelite no estudo de cetaacuteceosCometeram-se erros e soma-ram-se sucessos Desesperou--se e exultou-se Em sumaagarrou-se o destino da inves-tigaccedilatildeo de cetaacuteceos na Regiatildeosem medo de errar para poderevoluirGrande parte deste trabalho soacutefoi possiacutevel atraveacutes de nan-ciamentos directo ou indirectoda UE mas natildeo menos impor-tante foi (e eacute) uma grande dosede dedicaccedilatildeo e ldquocarolicerdquo deestudantes e eternos bolseirosde investigaccedilatildeo que hipotecama sua estabilidade nanceira

futura em prol de uma paixatildeoquase cega pela investigaccedilatildeo A produccedilatildeo cientiacuteca crescen-te demonstra que este esforccedilonatildeo tem sido em vatildeo e atestaa competecircncia dos investiga-dores nacionais Agrave volta destaproduccedilatildeo cientiacuteca vai sendo

construiacutedo um corpo de conhe-cimento indispensaacutevel agrave criaccedilatildeode poliacuteticas de gestatildeo que eacutea face menos visiacutevel mas natildeomenos relevante do trabalhoSe eacute importante olhar para oconhecimento conquistado nosuacuteltimos anos ainda o mais eacutereconhecer a nossa muito mais

vasta ignoracircncia Natildeo se com-pensam deacutecadas de ineacuterciaem poucos anos de actividademesmo que intensa Por outrolado as alteraccedilotildees ambientaiscada vez mais aceleradas edramaacuteticas acentuam a nossa

necessidade compreender emprofundidade o funcionamentodos ecossistemas Sem manterum programa consistente deinvestigaccedilatildeo e criar mais e me-lhor conhecimento seraacute impos-siacutevel mantermo-nos a par dasmudanccedilas e dar respostas uacuteteisagrave gestatildeo dos recursosPara uma regiatildeo como os Accedilo-res que tem no seu patrimoacutenionatural terrestre e marinho um

dos principais pilares de desen-volvimento soacutecio-econoacutemicodescurar este aspecto seria ca-tastroacuteco

Mas a investigaccedilatildeo em cetaacutece-os que se faz nos Accedilores actu-almente jaacute natildeo tem relevacircnciasoacute a niacutevel regional ou mesmonacional A Regiatildeo possui umadiversidade de cetaacuteceos eacesso aos animais igualaacuteveisem poucos lugares do MundoO mesmo trabalho que nou-tros locais implica deslocaccedilotildeesde centenas de quiloacutemetrose utilizaccedilatildeo de dispendiosasembarcaccedilotildees de investigaccedilatildeopode ser feito nos Accedilores mui-to mais facilmente e com uma

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FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

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Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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FIGURA 2 ORIGEM DA INSTITUICcedilAtildeO DO AUTOR PRINCIPAL DAS PUBLICACcedilOtildeES CIENTIacuteFICAS COM INFORMACcedilAtildeO SOBREMAMIacuteFEROS MARINHOS DOS ACcedilORES

reduccedilatildeo substancial dos cus-tos Portanto no que se refereagrave investigaccedilatildeo em cetaacuteceosos Accedilores constituem um labo-ratoacuterio uacutenico e invejado Aquipodem ser recolhidos dadoscriados modelos e testadas te-

orias como em poucos outrossiacutetios do mundo Com a recenteexplosatildeo de produccedilatildeo cientiacuteca

sobre a investigaccedilatildeo feita nos Accedilores este facto natildeo estaacute apassar despercebido no restodo Mundo Podemos utilizareste interesse a nosso favor evir a dar cartas na investigaccedilatildeoem cetaacuteceos a niacutevel mundialou podemos ser colonizadosOs investigadores que iniciaram

a revoluccedilatildeo na investigaccedilatildeo emcetaacuteceos nos Accedilores estatildeo hojeum pouco mais velhos e muitomais cansados Ganharam ex-periecircncia e querem passaacute-laUrge criar condiccedilotildees para en-gajar novos investigadores quepossam aproveitar o momen-tum criado e construir sobre eleInfelizmente parece que a mareacutecorre para outro lado As actuais condiccedilotildees econoacutemi-cas que o paiacutes atravessa estatildeoa ter impactos visiacuteveis na es-trateacutegia de investigaccedilatildeo cientiacute-ca nacional Antevecirc-se cortes

draacutesticos ao nanciamento

como os jaacute anunciados cortesagraves bolsas de investigaccedilatildeo quediminuiratildeo as oportunidades deformaccedilatildeo no estrangeiro aosinvestigadores nacionais Seseguirmos este caminho queaposta na mediocridade ao in-veacutes da excelecircncia estaremos

a hipotecar o desenvolvimentocientiacuteco e tecnoloacutegico e isso

teraacute efeitos deleteacuterios na tatildeoapregoada competitividade na-cionalTal poderaacute vir a acontecer coma investigaccedilatildeo de cetaacuteceos nos Accedilores Se natildeo for reconhecidaa mais-valia econoacutemica e estra-teacutegica que os Accedilores apresen-tam nesta aacuterea corremos o pe-rigo de que a investigaccedilatildeo em

cetaacuteceos na Regiatildeo volte a serliderada por instituiccedilotildees estran-geiras respondendo aos inte-resses dos seus paiacuteses de ori-gem e natildeo aos da Regiatildeo e de

Portugal Se natildeo dermos condi-ccedilotildees aos nossos jovens inves-tigadores para obter formaccedilatildeo

adequada e natildeo os incentivar-mos a car por caacute para liderar

os futuros projectos de investi-gaccedilatildeo natildeo faltaratildeo investiga-dores de outras nacionalidades

ansiosos por tomar o seu lugar A investigaccedilatildeo em cetaacuteceoscontinuaraacute a se desenvolver

nos Accedilores natildeo haja duacutevidas A palavra jaacute se espalhou e jaacutese sabe que vale a pena inves-tir nessa aacuterea de investigaccedilatildeoaqui A uacutenica diferenccedila seraacute que

em vez de estarmos no campoa jogar estaremos fora das li-nhas talvez a dar palpites mas

sem pisar o relvadoz

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Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados

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Esta compilaccedilatildeo de textos natildeo reunindo aspremissas de um estudo aprofundado espera-mos sirva de mote para a consciencializaccedilatildeo danecessidade de ser no futuro produzido e publi-cado um verdadeiro grande estudo da baleaccedilatildeo nailha do Faial e nos Accedilores em geralPor outro lado e tambeacutem pelo epicentro destahistoacuteria estar localizado no Porto da Horta espera-mos possa tambeacutem esta compilaccedilatildeo alertar para apertinecircncia de ser dada forma agrave instalaccedilatildeo de ummuseu que permita dar conhecer o papel destainfraestrutura no contexto da histoacuteria mundial

A memoacuteria estrutura as sociedades Perpetuemos anossa memoacuteria reabilitemos o nosso patrimoacutenio e ofuturo evidenciaraacute os resultados