temporada 2014 | julho

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1 JULHO 2014 FESTIVAL RICHARD STRAUSS Sempre nossa, onde for. FORTISSIMO julho Nº 6 / 2014

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Notas de programa sobre: R. STRAUSS | Sinfonia nº 2 em fá menor, op. 12 R. STRAUSS | Burleske em ré menor, op. 11 R. STRAUSS | Don Juan, op. 20 R. STRAUSS | O Burguês Fidalgo, op. 60: Suíte R. STRAUSS | Capriccio, op. 85: Cena final R. STRAUSS | Serenata em Mi bemol maior, op. 7 R. STRAUSS | Quatro Últimas Canções R. STRAUSS | Da Itália, op. 16 R. STRAUSS | Concerto para trompa nº 1 em Mi bemol maior, op. 11 R. STRAUSS | Salomé, op. 54: Dança dos Sete Véus

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Fabio Mechetti, regenteArnaldo Cohen, piano

R. STRAUSS Sinfonia nº 2 em fá menor, op. 12

R. STRAUSS Burleske em ré menor, op. 11

R. STRAUSS Don Juan, op. 20

Fabio Mechetti, regenteAdriane Queiroz, soprano

R. STRAUSS O Burguês Fidalgo, op. 60: Suíte

R. STRAUSS Capriccio, op. 85: Cena final R. STRAUSS Serenata em Mi bemol maior, op. 7 R. STRAUSS Quatro Últimas Canções

Fabio Mechetti, regenteSzabolc Zempléni, trompa

R. STRAUSS Da Itália, op. 16

R. STRAUSS Concerto para trompa nº 1 em Mi bemol maior, op. 11

R. STRAUSS Salomé, op. 54: Dança dos Sete Véus

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SUMÁRIO

Ministério da Cultura apresenta

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FEST IVAL R I C H A R D S T R AU S S 150 ANOS

ALEMANHA,

186 4 - 1949Compositor singular de uma obra plural

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Um dos aniversários mais importantes deste ano, celebrado em todo o meio musical internacional, é o de 150 anos de Richard Strauss. O compositor alemão representou, com um fôlego extraordinário, o ocaso do Romantismo, contribuindo para todos os gêneros musicais estabelecidos com uma obra vasta e de altíssima qualidade.

A orquestra foi sua paleta preferida, e, para ela, Strauss escreveu inúmeros poemas sinfônicos, sinfonias, concertos instrumentais e canções. Através da ópera, herdou as propostas de Wagner e enriqueceu o repertório lírico com alguns dos mais fortes e impressionantes dramas musicais. Escreveu para a voz humana como poucos e explorou ao máximo o virtuosismo crescente das orquestras na passagem do século XIX ao século XX.

Strauss foi um desavergonhado romântico, resistindo, de forma serena e ao mesmo tempo heroica, às investidas estéticas do expressionismo, dodecafonismo e serialismo, movimentos importantes da primeira metade do século XX.

Para celebrar essa efeméride, a Filarmônica dedicará todo o mês de julho a obras do grande compositor. Em cada apresentação, levaremos ao palco uma amostragem da imensa variedade de conceitos em que Strauss transitou: de concertos, como o de trompa e sua Burleske para piano e orquestra, a peças quase camerísticas, como sua Serenata para sopros e seu Burguês Fidalgo, passando por importantes obras sinfônicas como Don Juan e a Sinfonia em fá menor, além de exemplos de sua especial habilidade no campo operístico, como a cena final de Capriccio e sua extraordinária Dança dos Sete Véus da ópera Salomé.

Convido todos a desfrutarem deste momento único em que nossa Orquestra explora esta rica e significativa obra de Richard Strauss, compartilhando momentos de grande beleza e realização artística.

Bons concertos.

CAROS AMIGOS E AMIGAS,

D I R E T O R A R T Í S T I C O E R E G E N T E T I T U L A R

Fabio Mechetti

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FABIO MECHETTIDiretor Art íst ico e Regente Titular

Natural de São Paulo, Fabio Mechetti é Diretor Artístico e Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais desde sua criação, em 2008. Por esse trabalho, recebeu o XII Prêmio Carlos Gomes/2009 na categoria Melhor Regente brasileiro. Muito recentemente, foi convidado a levar ao Oriente o seu talento e capacidade de solidificar orquestras, sendo nomeado Regente Principal da Orquestra Filarmônica da Malásia. Foi Regente Titular da Orquestra Sinfônica de Syracuse, Orquestra Sinfônica de Spokane e da Orquestra Sinfônica de Jacksonville, sendo, agora, Regente Emérito destas últimas duas.

Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Da Orquestra Sinfônica de San Diego foi Regente Residente.

Fez sua estreia no Carnegie Hall de Nova York conduzindo a Orquestra Sinfônica de Nova Jersey e tem dirigido inúmeras orquestras norte-americanas, como as de Seattle, Buffalo, Utah, Rochester, Phoenix, Columbus, entre outras. É convidado frequente dos festivais de verão nos Estados Unidos, entre eles os de Grant Park em Chicago e Chautauqua em Nova York.

Realizou diversos concertos no México, Espanha e Venezuela. No Japão dirigiu as Orquestras Sinfônicas de Tóquio, Sapporo e Hiroshima. Regeu também a Orquestra Sinfônica da BBC da Escócia, a Filarmônica de Auckland, Nova Zelândia, a Orquestra Sinfônica de Quebec, Canadá, e a Filarmônica de Tampere, na Finlândia.

Vencedor do Concurso Internacional de Regência Nicolai Malko, na Dinamarca, Mechetti dirige regularmente na Escandinávia,

particularmente a Orquestra da Rádio Dinamarquesa e a de Helsingborg, Suécia. Recentemente, estreou na Itália conduzindo a Orquestra Sinfônica de Roma. Em 2014 voltará ao Peru, desta vez regendo a Orquestra Nacional do Peru, e à Espanha, onde se apresenta pela primeira vez com a Orquestra da RTV Espanhola.

No Brasil foi convidado a dirigir a Sinfônica Brasileira, a Estadual de São Paulo, as orquestras de Porto Alegre, Brasília e Paraná e as municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Trabalhou com artistas como Alicia de Larrocha, Thomas Hampson,

Frederica von Stade, Arnaldo Cohen, Nelson Freire, Emanuel Ax, Gil Shaham, Midori, Evelyn Glennie, Kathleen Battle, entre outros.

Igualmente aclamado como regente de ópera, estreou nos Estados Unidos dirigindo a Ópera de Washington. No seu repertório destacam-se produções de Tosca, Turandot, Carmen, Don Giovanni, Cosi fan Tutte, Bohème, Butterfly, Barbeiro de Sevilha, La Traviata e As Alegres Comadres de Windsor.

Fabio Mechetti recebeu títulos de Mestrado em Regência e em Composição pela prestigiosa Juilliard School de Nova York.

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Richard STRAUSS Sinfonia nº 2 em fá menor, op. 12 [45 min] Allegro ma non troppo, un poco maestoso

Scherzo – Presto

Andante cantabile

Finale – Allegro assai, molto appassionato

— i n t erva lo —

Richard STRAUSS Burleske em ré menor, op. 11 [19 min]arnaldo cohen, piano

Richard STRAUSS Don Juan, op. 20 [17 min]

Fabio Mechetti, regenteArnaldo Cohen, piano

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Grande Teatro do Palácio das Artes

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quinta, 20h30

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ARNALDOCOHEN

A crítica internacional não tem economizado elogios a Arnaldo Cohen. Após uma apresentação em Nova York, Shirley Fleming, crítica do The New York Post, assinalou: “A avalanche de notas escrita por Liszt não chegou, em momento algum, a ameaçar Cohen. Duvido mesmo que algo consiga ameaçá-lo”. Sobre a gravação das Variações sobre um Tema de Haendel, de Brahms (Vox), Harold Schonberg, do The New York Times, escreveu: “não conheço nenhuma gravação moderna que se aproxime desta”. Para a Fanfare Magazine, a interpretação de Cohen se encontrava “no mesmo nível de Rudolf Serkin”. Seu CD com obras de Liszt (Naxos) esteve por quatro meses entre os mais vendidos na Inglaterra. O jornal inglês The Times disse sobre o CD Brasiliana – Três Séculos de Música do Brasil (Bis): “Cohen é possuidor de uma técnica extraordinária e

capaz de chamuscar as teclas do piano ou derreter nossos corações”. A Gramophone incluiu a gravação de obras de Liszt (Bis) na seleta lista do Editor’s Choice e justificou: “Sua interpretação não fica nada a dever à famosa gravação feita por Horowitz. Sua maturidade musical e virtuosidade estonteante o colocam na mesma categoria de Richter”. A mesma Gramophone não poupou elogios ao CD de Cohen com a Osesp e John Neschling – “difícil de superar”.

Arnaldo Cohen foi o único aluno na história da universidade brasileira a graduar-se, com grau máximo, em piano e violino, pela UFRJ. No Brasil estudou com Jacques Klein. Em Viena, com Bruno Seidlhofer e Dieter Weber. Conquistou, por unanimidade, o Primeiro Prêmio do Concurso Internacional de Piano Busoni.

Em 1981 radicou-se em Londres e vem cumprindo uma carreira

internacional em teatros como o Scala de Milão, o Concertgebouw, Symphony Hall de Chicago, Théâtre des Champs-Elysées, o Gewandhaus, o Teatro La Fenice, Royal Festival Hall, Barbican Center e o Royal Albert Hall. Apresentou-se em mais de três mil concertos como solista de orquestras como a Royal Philharmonic Orchestra, Philharmonia Orchestra, orquestras de Cleveland e da Filadélfia, Filarmônica de Los Angeles, Sinfônica de Berlim, Sinfônica da Rádio da Bavária, Orquestra da Accademia di Santa Cecilia,

Orchestre de la Suisse Romande e a Tonhalle de Zurique, colaborando com os regentes Yehudi Menuhin, Kurt Masur, Wolgang Sawallish, Kurt Sanderling e Klaus Tennstedt, dentre outros. Arnaldo Cohen transita com igual desenvoltura pela música de câmara.

Em 2004 transferiu-se para os Estados Unidos e tornou-se o primeiro músico brasileiro a assumir uma cátedra vitalícia na Escola de Música da Universidade de Indiana. É Diretor Artístico da Série Internacional de Piano de Portland.

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Nunca é demais reforçar a importância que tiveram, na linguagem musical, as conquistas do movimento Romântico, no século XIX. É de se mencionar, por um lado, o campo da Harmonia, que, já mesmo com Chopin, abre o caminho para possibilidades até então insuspeitas, e que, com Wagner, prenuncia grandes tendências musicais do século XX, relativizando a tonalidade. Por outro lado, também o campo dos gêneros e formas musicais deve ao Romantismo pesquisas e experiências que, mais tarde, foram fundamentais para os novos caminhos da música no Ocidente. Para a mentalidade romântica, as experimentações nesse campo representaram uma vigorosa reação ao racionalismo iluminista do século XVIII, que impusera à expressão musical

limites formais muito estreitos. O Classicismo do século XVIII encontrou na forma sonata seu máximo veículo de expressão. O Romantismo, por sua vez, reage vigorosamente à imposição formal que a sonata clássica delimita e, com isso, busca outros caminhos possíveis de expressão musical. Todo esse processo pode ser mais claramente notado à primeira vista na produção pianística romântica. Na música sinfônica, esse movimento de renovação formal parece se mostrar um pouco menos evidente, posto que presente: o sinfonismo romântico somente a muito custo conseguiu afrouxar os nós da Sinfonia, gênero cujo modelo fundamental é a própria forma sonata.

A despeito disso, é fato que surgem novos gêneros sinfônicos,

que simbolizam essa ideologia de liberdade formal tão cara ao Romantismo: o poema sinfônico, por exemplo, aparece como nova alternativa para as expressões individuais. É de se especular o porquê de o universo sinfônico ter sido tão refratário às grandes inovações formais românticas. Grande parte disso se deve, provavelmente, ao paradigma maior da música sinfônica que o próprio Romantismo estabeleceu: as sinfonias de Beethoven. Tendo instituído Beethoven como modelo a ser explorado, expandido e transcendido, o Romantismo se vê acanhado em questioná-lo ou subvertê-lo. Assim é que, na mentalidade do compositor romântico, criar uma obra sinfônica significa aproximar-se, ainda que de forma pessoal, do grande paradigma beethoveniano: empresa ao mesmo tempo de grande empenho e de grande responsabilidade.

Antes de se consagrar internacionalmente como compositor, com seus poemas sinfônicos, Richard Strauss já havia empreendido pelo menos duas experiências criativas no universo da música orquestral: são desse

período, em que o compositor ainda era bastante jovem, a Sinfonia nº 1, em ré menor (1880), e a Sinfonia nº 2, em fá menor. Somente bem mais tarde ele voltou a se dedicar ao gênero: a Sinfonia Doméstica é de 1904 e a Sinfonia Alpina, de 1915. Estas duas últimas obras, bastante mais originais em concepção e estruturação formal, aproximam-se, nesses aspectos e em sua linguagem, de seus poemas sinfônicos e revelam um artista maduro, agora não mais preocupado em reverenciar o modelo beethoveniano que se revela nas duas primeiras.

A Sinfonia nº 2 em fá menor, op. 12, foi composta entre 1883 e 1884, quando o compositor ainda não contava com vinte anos! É de se esperar, portanto, que seus modelos ali transpareçam de alguma forma. Assim, não é de se estranhar que Strauss

Para ouvir CD Richard Strauss – Symphony in F minor – Royal Scottish National Orchestra – Neeme Järvi, regente – Chandos – 2004

Para ler Bryan Gilliam (org.) – Richard Strauss: New perspectives on the composer and his works – Duke University Press – 1997Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes,

4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, cordas.

Sinfonia nº 2 em fá menor, op. 12 (1883/1884)

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tenha invertido de lugar o Scherzo e o movimento lento, tal como Beethoven o faz na Nona Sinfonia. A própria orquestração não se afasta muito da orquestra e sonoridade beethovenianas, a despeito de já bem antes compositores como Berlioz (para dar um exemplo extremo) ou Wagner terem experimentado ampliações e novas combinações dos recursos timbrísticos da orquestra sinfônica. O trabalho de desenvolvimento temático, sobretudo no primeiro movimento, também denuncia Beethoven, principalmente o da segunda fase, como grande paradigma. No último movimento, porém, Strauss faz uso de um recurso interessante, em certo sentido mais alinhado com seus contemporâneos: ele recupera, como fator de unidade, elementos temáticos dos movimentos anteriores e, curiosamente, o tema recuperado do terceiro movimento aparece antes do tema que ele recupera do segundo. Não obstante tudo isso, do ponto de vista melódico, é um

Strauss bem consciente de sua capacidade criadora que se revela nessa obra, principalmente no Scherzo e no Andante Cantabile.

A Sinfonia nº 2 em fá menor foi estreada no ano de sua conclusão, em Nova York, pela Orquestra Filarmônica de Nova York, sob a regência de Theodore Thomas. Um ano mais tarde ela foi estreada na Europa, regida pelo próprio compositor, em um concerto cuja primeira parte constava do Concerto para piano em dó menor de Mozart (K. 491). Strauss foi ele mesmo o solista e a cadência do primeiro movimento também era de sua lavra.

Talvez a Sinfonia em fá menor de Strauss não seja uma obra definitiva do ponto de vista histórico, nem tampouco definidora da sua linguagem, mas trata-se de uma peça bem construída e prenunciadora do grande artista que se revelaria mais tarde em Till Eulenspiegel ou em O Cavaleiro da Rosa.

moacyr laterza filho | Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.

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A Burleske corresponde ao período em que o jovem Richard Strauss estudava com o pianista e regente de orquestra Hans von Bülow, ao qual a partitura foi originalmente dedicada com o título de Scherzo em ré menor. Refletindo a severa orientação musical de Bülow, pode-se notar no Scherzo forte inspiração brahmsiana. Strauss logo julgou a obra ultrapassada e não lhe atribuiu número de opus. Entretanto, em 1890, o compositor a submeteria a ampla revisão. Renomeada Burleske, foi dedicada ao célebre pianista Eugen d’Albert e apresentada em Eisenach sob a direção do próprio compositor, tendo como solista o novo destinatário. Desde então a peça tem atraído o interesse de grandes pianistas, apesar do ostracismo que as grandes salas reservam

a esse tipo de composição que, apesar do caráter concertante, não se baseia na estrutura nem ostenta o nobre título de um verdadeiro concerto solista.

A Burleske, obra sem dúvida mais bem realizada do que o scherzo anterior, significou uma etapa importante para o jovem compositor, em busca de seu próprio estilo. Em certa medida, a obra resume as técnicas musicais de seu tempo – há ainda nítida influência de Brahms, de Liszt –, mas Strauss também já indica os caminhos que o libertarão de seus modelos. Apesar do título, não se deve pensar em uma obra cômica. A partitura concilia a forma de um primeiro movimento de sonata (exposição, desenvolvimento e reexposição temática no final)

com a liberdade estilística das rapsódias de Liszt e o espírito das fantasias barrocas. O humor aqui se restringe ao caráter de scherzo, reminiscente do propósito inicial.

Uma ironia muito pessoal e característica se instala desde os primeiros compassos do Allegro vivace, com a importância dada ao motivo tocado pelos quatro tímpanos. Seus golpes precisos fornecem o tema principal, de ritmo dançante e um pouco sincopado. Nuances de humor marcam também a entrada do solista: o piano se apresenta solene e grave, lembrando Brahms, mas após quatro compassos introduz uma linha cromática descendente em combinações

dissonantes, como se zombasse da própria seriedade.

O segundo tema é desenvolvido pelo solista sob a aparência de uma valsa um pouco langorosa e contrasta vivamente com o terceiro motivo, de uma poesia mais evidente, quase épica. O contraste dos temas torna-se um recurso compositivo eficiente, contribuindo para a dinâmica que sempre os impulsiona para frente com aguçado sentimento formal. No decorrer de toda a peça, golpes de percussão e tutti orquestrais intervêm para acelerar ou afrouxar o discurso. Após a reexposição completa dos diferentes temas, os tímpanos anunciam com leveza a elegante conclusão confiada ao solista.

Para ouvir CD Richard Strauss – Burleske – Detroit Symphony Orchestra – Karl Krueger, regente – Claudio Arrau, piano – Naxos Historical, Alemanha – 2007

Para assistir Orquestra Filarmônica de Berlim – Claudio Abbado, regente – Martha Argerich, pianoAcesse: fil.mg/sburleske

Para ler François-René Tranchefort – Guia da Música Sinfônica – Nova Fronteira – 1990

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

Burleske em ré menor, op. 11 (1885/1886)

paulo sérgio malheiros dos santos | Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado.

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Os poemas sinfônicos de Richard Strauss, definidos pelo próprio compositor como ilustrações sonoras de enredos poéticos, inserem-se de maneira muito pessoal na tradição da música programática desenvolvida por Berlioz e Liszt. Essa opção estética do jovem compositor alemão associa-se diretamente ao início de sua espetacular carreira de regente. Até então, a formação de Strauss fora marcada pela orientação conservadora do pai, Franz Strauss, trompista famoso que só apreciava os compositores clássicos e o período inicial do Romantismo. Nascido em Munique, Richard, quando transferiu-se para Meininger, entrou em contato com as duas principais vertentes que então norteavam a música germânica – no final do século

XIX, os adeptos da “música pura” (o violinista Joachim, o teórico Hanslick) elogiavam a música de Brahms e se opunham aos arautos da “música do futuro” (Berlioz, Liszt e Wagner). Tornando-se aluno e auxiliar do renomado maestro Hans von Bülow, Strauss aprofundou seus estudos sobre a música de Brahms, além de adquirir sólida técnica de direção orquestral. Entretanto, foi ainda mais decisiva para sua formação a influência do primeiro violino da orquestra de Meininger, o wagneriano Alexander Ritter, que lhe abriu as portas da “música do futuro”.

Completada em setembro de 1888, a partitura de Don Juan demonstrava a maturidade atingida por Strauss (que tinha apenas 24 anos), dando-lhe lugar de destaque

entre os compositores alemães da geração pós-wagneriana. Dentre as diferentes concepções do mito de Don Juan, a fonte literária escolhida por Strauss foi o poema dramático do escritor austríaco Nikolaus Lenau, cuja leitura inspirou-lhe os temas musicais anotados pela primeira vez em maio de 1888, por ocasião de uma visita a Pádua, na Itália. Nessa versão, o personagem não tem a arrogância e o orgulho do seu célebre homônimo mozartiano. Não se trata de um Don Giovanni ardoroso e insaciável que morre desafiadoramente, incapaz de sentir remorsos ou pedir perdão. Na verdade, o Don Juan de Lenau/Strauss é um homem fragilizado pela busca incessante de um ideal inacessível – o da encarnação perfeita do eterno feminino. Não o encontrando em tantas mulheres conquistadas, o herói deixa-se tomar por um grande tédio e, desiludido, procura a morte em um duelo. Como citação poética, Strauss incluiu na partitura trinta versos do texto de Lenau, agrupando-os em três blocos correspondentes às ideias que

ele procurou evocar nos temas musicais – o Desejo, a Posse, o Desespero. A obra possui inspiração melódica arrebatadora, com destaque para o enérgico e majestoso motivo das trompas que representam o protagonista. O violino solo sugere a imagem ingênua de Zerlina. O oboé, sobre o fundo grave das cordas, celebra as virtudes de Dona Ana. Strauss explora com sabedoria os contrastes dinâmicos e as ousadas acentuações rítmicas. Impressionam, sobretudo, os fulgurantes e inusitados efeitos extraídos de uma orquestra relativamente pequena do final do século XIX.

Para ouvir CD Richard Strauss – Don Juan / Till Eulenspiegel / Death and Transfiguration – London Symphony Orchestra – Claudio Abbado, regente – Deutsches Grammophon

Para assistir Orquestra Filarmônica de Viena – Karl Bohm, regente | Acesse: fil.mg/sdonjuan

Para ler François-René Tranchefort – Guia da Música Sinfônica – Nova Fronteira – 1990

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.

Don Juan,op. 20 (1888)

paulo sérgio malheiros dos santos | Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado.

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S É R I E V I V A C E

Richard STRAUSS O Burguês Fidalgo, op. 60: Suíte [36 min] 1. Abertura do Ato I 2. Minueto 3. O Mestre da Esgrima

4. Entrada e Dança dos Alfaiates 5. O Minueto de Lully

6. Corrente 7. Entrada de Cleonte

8. Prelúdio do Ato II (Intermezzo) 9. O Jantar

Richard STRAUSS Capriccio, op. 85: Cena final [17 min]adriane queiroz, soprano

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Richard STRAUSS Serenata em Mi bemol maior, op. 7 [10 min]

Richard STRAUSS Quatro Últimas Canções [22 min] Frühling – Primavera

September – Setembro

Beim Schlafengehen – Na hora de dormir

Im Abendrot – No crepúsculo

adriane queiroz, soprano

Fabio Mechetti, regenteAdriane Queiroz, soprano

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Grande Teatro do Palácio das Artes

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P R O G R A M Aterça, 20h30

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S É R I E V I V A C E

ADRIANEQUEIROZ

A soprano Adriane Queiroz realiza seu trabalho musical na Europa, principalmente na Alemanha, onde é solista da Ópera de Berlim, Staatsoper.

Iniciou seus estudos com Marina Monarcha e Malina Mineva, em Belém do Pará.

Após esse período entrou na Universidade Vienense de Artes, onde se diplomou nos gêneros de Opéra e Lied, consecutivamente. Nesse período cantou na Volksoper de Viena e no Musikverein.

Em 2002 entrou para o ensemble solista da ópera berlinense, o Staatsoper, dando assim progressão ao seu trabalho e cantando com regentes importantes como Barenboim, Nagano, Rene Jacobs e outros. Cantou a Oitava Sinfonia de Mahler com a Filarmônica de Berlim e Pierre Boulez, apresentação gravada para a Gramophone alemã.

Em seu repertório operístico encontramos Mozart (As Bodas de Fígaro, A Flauta Mágica, Cosi fan tutte, Don Giovanni) e

os românticos Puccini e Bizet (Turandot e Carmen, entre outros). Como convidada, cantou durante três anos consecutivos Rosalinde, na operetta O Morcego, de J. Strauss Jr., na Semperoper Dresden. Em 2012 estreou no Teatro Municipal de São Paulo com La Traviata; no Festival de Concertos de verão em São Petersburgo, cantando Strauss; e em Baden Baden, cantando a Nona de Beethoven.

Paralelamente, realiza um trabalho de divulgação da música brasileira, gravando em 2011 um

CD com Canções de Camargo Guarnieri e Franciso Mignone, chamado Sons do Mundo (Klang der Welt).

Em 2013 fez sua estreia na Operetta de Millörk, Der Bettelstudent, no grande festival austríaco, em Mörbisch, apresentação também gravada em CD pela Oehms Classics.

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O Burguês Fidalgo é, originalmente, uma comédia teatral de Molière, entremeada com música e dança. Foi apresentada, pela primeira vez, com música de Jean-Baptiste Lully, em 1670, para a corte de Luís XIV. A peça conta a história de Monsieur Jourdan, burguês rico que deseja tornar-se aristocrata. Para tal, empenha-se, arduamente, em aprender as maneiras dos nobres. Com sonhos cada vez maiores de ascensão social, deseja casar sua filha com um nobre, ignorando sua paixão por Cléonte, rapaz da classe média. Cléonte, disfarçado, apresenta-se como filho do sultão da Turquia e ganha o consentimento de Jourdan. A peça termina com uma cerimônia burlesca à moda turca.

Em 1911 o poeta Hugo von Hofmannsthal, que havia escrito o libreto para a ópera Der Rosenkavalier, de Richard Strauss, sugeriu ao compositor a criação de um novo tipo de espetáculo: a adaptação de O Burguês Fidalgo, com música incidental em caráter barroco, à moda de Lully, seguida da ópera Ariadne auf Naxos, do próprio Strauss, que entraria no lugar da cerimônia turca do texto de Molière. A estreia se deu no Hoftheater, em Stuttgart, em 25 de outubro de 1912, e foi um fiasco. A combinação de teatro e ópera mostrou ser problemática, o que levou poeta e compositor a decidirem separar as duas, adaptando-as para que pudessem ter vidas próprias. Para

O Burguês Fidalgo, Hofmannsthal escreveu um final parecido com o de Molière e Strauss criou mais alguns números de música incidental. Em 1917, o compositor transformaria a maior parte da música em uma suíte de concerto, que foi estreada com sucesso em Viena, janeiro de 1920, sob sua batuta.

Capriccio é a última ópera de Richard Strauss. Após a morte de Hofmannsthal, em 1929, Strauss procurou Stefan Zweig para escrever o libreto de suas próximas óperas. O austríaco Zweig era um dos escritores mais aclamados da época. Em 1933 iniciou o libreto de Capriccio, mas, com a ascensão dos nazistas, foi obrigado a fugir do país e abandonar o projeto. Acabaria suicidando-se, anos mais tarde, em Petrópolis. Joseph Gregor assumiu seu lugar no final dos anos 1930. Strauss, insatisfeito com o resultado, fez algumas correções no libreto e acabou por pedir ao regente Clemens Krauss que o ajudasse a terminá-lo. A ópera teve sua estreia em 28 de outubro de 1942, no Nationaltheater de Munique, sob a regência de Krauss.

Escrita em um ato, Capriccio foi chamada, pelo próprio compositor, de “uma peça de conversa para música”, graças à ênfase no tom coloquial dos recitativos. A ação se passa no século XVIII, em um castelo perto de Paris. Indecisa entre o amor do compositor Flamand e o do poeta Olivier, a bela condessa Madeleine decide resolver o dilema pedindo-lhes que componham, juntos, uma ópera sobre a inseparabilidade da música e das palavras. Na cena final, frequentemente apresentada nas salas de concerto, a condessa encontra-se sozinha para jantar, refletindo sobre qual dos dois amantes escolherá.

Para ouvir CD O Burguês Fidalgo – Richard Strauss – Ein Heldenleben – Berliner Philharmoniker – Simon Rattle, regente – EMI Classics – 2006

CD Renée Fleming – Strauss heroines – Wiener Philharmoniker – Christoph Eschenbach, regente – Decca – 1999 (Capriccio – Cena final)

Para assistirOrquestra de Câmara da Europa – Vladimir Jurowski, regente | Acesse: fil.mg/sburguesfidalgo

Metropolitan Ópera –Patrick Summers, regente –Renée Fleming, soprano | Acesse: fil.mg/scapriccio1 (parte 1) e fil.mg/scapriccio2 (parte 2)

Instrumentação: 2 piccolos, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, contrafagote, 2 trompas, trompete, trombone, tímpanos, percussão, harpa, piano, cordas.

Instrumentação: piccolo, 3 flautas, 2 oboés, corne inglês, 3 clarinetes, basset horn, clarone, 3 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, 2 harpas, cordas.

O Burguês Fidalgo, op. 60: Suíte (1920)

Capriccio, op. 85: Cena f inal (1940/1941)

guilherme nascimento | Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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Poucos compositores têm seus nomes tão intimamente ligados ao universo sinfônico como Richard Strauss. Desde Beethoven, que se tornou, para o século XIX (e mesmo depois), o grande modelo – e, com isso, a grande meta a ser considerada, explorada, expandida e transcendida –, a música sinfônica assume a importância de um grande feito entre os músicos criadores. Não obstante isso, ela continua dividindo seu lugar, nos processos criativos, com a música de câmara, com as obras para piano, com as canções e com outros gêneros de menor envergadura. Assim, há alguns compositores cuja obra sinfônica, posto que importante, ocupa um lugar relativamente

secundário se colocada ao lado de outros gêneros a que esses compositores também se dedicaram: é o caso, por exemplo, de Schubert, para não citar o caso extremo de Chopin. Outros compositores têm, no universo sinfônico, apenas um grande instrumental para a ópera. Seus trechos instrumentais, ainda que por vezes possam ser relativamente autônomos, sempre estão ligados a contextos maiores: é o caso de Verdi, por exemplo, e de Wagner.

Caso inverso é o de Richard Strauss. Embora tenha se dedicado à música vocal, a obras para piano e à música de câmara, é no universo orquestral – música

sinfônica e óperas – que Strauss encontra seu meio mais eficaz de criação e expressão. Dessa forma, mesmo algumas obras que têm claramente certa concepção camerística, ainda assim sabem à sonoridade sinfônica. Veja-se, por exemplo, a Serenata em mi bemol para treze instrumentos de sopro. Composta quando Strauss contava com somente dezessete anos, essa obra prenuncia, por um lado, o grande melodista que mais tarde se revelaria em O Cavaleiro da Rosa. Por outro lado, mostra um trabalho de releitura de obras similares, já ensaiadas antes por Mozart, Beethoven e mesmo Brahms, agora extraídas de seu ambiente camerístico e realocadas em um novo contexto, bem mais próximo do modelo sinfônico.

É bem provável que a escolha da formação instrumental dessa obra (duas flautas, dois oboés, dois clarinetes, dois fagotes, contrafagote e quatro trompas) tenha tido certa influência do pai de Richard Strauss, que era primeiro trompista da Orquestra da Corte de Munique. Também é provável que seus modelos formais revelem certa ascendência do pai sobre o jovem compositor. Mas

o resultado que ela mostra já é o de uma personalidade criadora original e autêntica que mais tarde se revelaria em toda plenitude com seus poemas sinfônicos. A Serenata em mi bemol foi estreada em 1882, sob a direção de Franz Wüllner, regente responsável por nada menos do que as estreias em Munique de O Ouro do Reno e A Valquíria, de Richard Wagner.

Observa-se também esse processo de “realocação” nas canções de Richard Strauss. São quase cento e cinquenta Lieder com acompanhamento de piano e cerca de quinze com orquestra. Embora Beethoven e mesmo Mozart já

Para ouvir CD Richard Strauss – Complete music for winds – London Winds – Hyperion – 1993

CD Richard Strauss – Four Last Songs – The London Philharmonia Orchestra – Wilhelm Furtwängler, regente – Kirsten Flagstad, soprano – Testament UK – 2007

Para assistirOrquestra Filarmônica Tcheca – Ondřej Vrabec, regente | Acesse: fil.mg/sserenata

Orquestra Sinfônica de Roma da Rádio e Televisão Italiana – Wolfgang Sawallisch, regente – Margaret Price, soprano | Acesse: fil.mg/squatro

Para ler Bryan Gilliam (org.) – Richard Strauss: New perspectives on the composer and his works – Duke University Press – 1997

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas.

Instrumentação: 2 piccolos, 3 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 3 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, harpa, celesta, cordas.

Serenata em Mi bemol maior, op. 7 (1881)

Quatro Últimas Canções (1948)

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tivessem se dedicado ao gênero, o grande paradigma da canção na tradição musical germânica foi indubitavelmente Franz Schubert. É de se mencionar, com isso, que o piano, nas suas canções, tem uma função expressiva bem mais significativa do que a de mero acompanhamento e estabelece uma relação dialógica seja com o texto poético, seja com o “texto” melódico. Nessa esteira também estão as canções de Hugo Wolf, apenas quatro anos mais velho que Richard Strauss. No entanto, Wolf, Strauss e, com eles, Gustav Mahler, todos nascidos na mesma década de 1860, viram, nesse trabalho expressivo do piano, uma possibilidade até então insuspeita de deslocar, para o universo sinfônico, o gênero das canções. Não se trata em absoluto, porém, de uma adaptação do Lied “genuíno”, por assim dizer, mascarando-o em feições operísticas, como seria de se imaginar. Trata-se, mais uma vez, de uma espécie de movimento de “realocação”, que renova o gênero da canção e ao mesmo tempo amplia as possibilidades formais do repertório sinfônico.

As Quatro Últimas Canções de Richard Strauss foram compostas em 1948, um ano antes de sua morte, sobre textos de Hermann Hesse e Joseph von Eichendorff (cujos poemas Wolf também utilizou em suas canções). Elas foram estreadas postumamente, em 1950, no Royal Albert Hall, em Londres, cantadas pela soprano norueguesa Kirsten Flagstad, acompanhada da orquestra Philharmonia, regida por Furtwängler.

Não é certo que Strauss as tenha concebido como um pequeno ciclo – ele sequer determinou a sequência de sua execução: a primeira delas a ser composta (Im Abendrot) foi a última a ser executada na première –, mas todas as canções abordam metaforicamente, de uma forma ou de outra, o tema da morte, e são tradicionalmente executadas como um conjunto. É de se notar que, em Im Abendrot, Strauss cita a si próprio, retomando um motivo já exposto em Morte e Transfiguração, poema sinfônico composto cerca de sessenta anos antes. Mas as Quatro Últimas Canções de Strauss falam por si só: são a assinatura final que legou à História esse grande bávaro.

moacyr laterza filho | Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.

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Grande Teatro do Palácio das Artes

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quinta, 20h30

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Fabio Mechetti, regenteSzabolcs Zempléni, trompa

Richard STRAUSS Da Itália, op. 16 [43 min] No campo – Andante

Nas ruínas de Roma – Allegro molto con brio

Na praia de Sorrento – Andantino

A vida do povo napolitano – Allegro molto

— i n t erva lo —

Richard STRAUSS Concerto para trompa nº 1 em Mi bemol maior, op. 11 [15 min] Allegro

Andante

Rondo: Allegro

szabolcs zempléni, trompa

Richard STRAUSS Salomé, op. 54: Dança dos Sete Véus [9 min]

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SZABOLCSZEMPLÉNI

Szabolcs Zempléni, nascido em 1981, em Budapeste, Hungria, foi detentor do 1º Prêmio e do Prêmio Especial no concurso Concertino Praga com a idade de dezessete anos. A esse sucesso seguiram-se o 1 º lugar no Concurso Internacional de Trompa em Békés, o 2º lugar no Concurso Internacional de Trompa em Markneukirchen, em 2000, e o 1º lugar no Concurso Internacional de Trompa em Brno, em 2001. Szabolcs Zempléni foi também

laureado com o 1º Prêmio na competição internacional ARD de Munique em 2005.

Desde então, ele já se apresentou como solista em países como a República Tcheca, Japão, China, Tailândia, Itália, Alemanha, Áustria, Suíça e Estados Unidos. Conduzido por Ivan Fischer, Yakov Kreizberg, Jonathan Nott, Daniel Raiskin e Michael Sanderling. Zempléni já se apresentou em algumas das

maiores salas de concerto, como o Auditorium de Roma, o Carnegie Hall de Nova York, a Philharmonic no Gasteig de Munique e no Bartók Hall de Budapeste. Ele também se apresentou com a Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara, a Orquestra de Câmara de Munique, a Camerata Salzburg, a Orquestra do Festival de Budapeste, a Orquestra Sinfônica de Bamberg e a Filarmônica de Württemberg em Reutlingen. Seus parceiros de

música de câmara incluem András Keller, Péter Nagy, Dénes Várjon, Christoph Eschenbach, Elena Bashkirova, Christian Zacharias e Frank Peter Zimmermann.

Szabolcs Zempléni é professor visitante no Trinity Music College de Londres e no Tokyo Music College, no Japão. Em 2010, passou a integrar a Universidade de Música de Trossingen como professor de trompa. Seu primeiro CD, Colours of the French Horn, foi lançado em 2011.

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Em 1884, Hans von Bülow percebeu o incrível talento do jovem Strauss, de vinte anos, que lutava para tornar-se regente. Decidiu não apenas ajudá-lo em sua estreia frente a uma orquestra profissional como, em novembro de 1885, convidou-o a substituí-lo no posto de Diretor Musical da Orquestra de Meiningen. Richard Strauss havia recebido, até aquele momento, um ensinamento musical estritamente clássico. Em Meiningen ele conheceu o violinista e compositor Alexander Ritter, que lhe apresentou as óperas de Wagner e os poemas sinfônicos de Liszt. O poema sinfônico é um gênero orquestral no qual um poema, ou um programa, fornecem a base para a narrativa musical. Strauss percebeu, então, que uma peça instrumental poderia ser inspirada por ideias extramusicais, ao contrário da expressão puramente

abstrata da música clássica tradicional. Ele logo abandonaria o estilo musical conservador que herdara do pai e começaria a escrever seus poemas sinfônicos.

Ficou em Meiningen por apenas cinco meses e, em abril de 1886, aceitou o posto de assistente da Ópera de Munique, sua cidade natal. Como suas obrigações no novo emprego só começariam em agosto, ele decidiu seguir os passos de Goethe, Mendelssohn, Brahms e tantos alemães que, antes dele, fizeram o mesmo: viajou para a Itália. Passou cinco semanas, entre abril e maio de 1886, visitando Verona, Bolonha, Florença, Roma, Nápoles e Sorrento. A viagem seria uma das melhores de sua vida e o inspiraria a escrever seu primeiro poema sinfônico: Da Itália. A obra começou a ser esboçada na viagem e seria finalizada em

12 de setembro do mesmo ano. A estreia aconteceu no dia 2 de março de 1887, em Munique, sob a batuta do compositor. O concerto causou escândalo, o que ajudou a aumentar a popularidade de Strauss. Em pouco tempo seu nome correu o mundo e ele passou a ser convidado a reger suas obras nos maiores teatros da Europa.

Da Itália foi dedicada a Hans von Bülow. O primeiro movimento (No campo – Andante), de caráter pastoral, busca reproduzir a experiência de se estar na Villa d’Este, em Tivoli, e poder ver o campo, nos arredores de Roma. O segundo movimento (Nas ruínas de Roma – Allegro molto con brio), ao mesmo tempo majestoso e meditativo, alterna visões

fantásticas de um passado de glória com momentos de profunda melancolia. O terceiro movimento (Na praia de Sorrento – Andantino), repleto de efeitos musicais extremamente originais, evoca o canto dos pássaros, o murmúrio do mar e as delicadas vozes da natureza. O Finale (A vida do povo napolitano – Allegro molto) é uma louca fantasia orquestral, que tenta retratar a agitação colorida de Nápoles. Neste movimento, ouvimos trechos de Funiculì, Funiculà, canção escrita em 1880, por Luigi Denza, para comemorar a abertura do primeiro bondinho do Monte Vesúvio. Strauss, desavisado, achou que citava uma canção folclórica napolitana. Da Itália foi, nas palavras do compositor: “meu primeiro passo em direção à independência”.

Para ouvir CD Richard Strauss – Orchestral works – Staatskapelle Dresden – Rudolf Kempe, regente – EMI Classics – 1999

Para assistirOrquestra da Filadélfia – Riccardo Muti, regente Acesse: fil.mg/sdaitalia

Para ler Charles Youmans – The Cambridge companion to Richard Strauss – Cambridge University Press – 2010

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, percussão, harpa, cordas.

Da Itália, op. 16 (1886)

guilherme nascimento | Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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De seu pai, Franz Joseph, considerado o melhor trompista alemão de sua época, Richard Strauss herdou o amor pelo instrumento e o conhecimento de suas possibilidades técnico-expressivas. No conjunto de sua obra, a trompa sempre participa com intervenções destacadas e para ela o compositor escreveu dois concertos que, apesar de separados por um intervalo de sessenta anos, formam uma curiosa sucessão. O primeiro é uma peça de juventude, importante para a continuidade evolutiva de um músico que procurava definir seu estilo pessoal. O segundo concerto, composto na mesma tonalidade do primeiro, aos setenta e oito anos, realiza uma espécie de regresso às origens, depois da audaciosa criatividade correspondente ao período central da produção do compositor.

Strauss passou a infância rodeado de música, pois muitos parentes próximos eram notáveis instrumentistas, enquanto uma tia tornou-se célebre cantora lírica. O pequeno Richard demonstrou muito cedo gosto pela criação musical, compondo peças para piano e canções. Antes de completar dezessete anos, estreou uma sinfonia em ré menor, sob a regência do célebre Hermann Levi, com enorme sucesso. Mas o compositor logo renegou essa obra, considerando-a imatura.

O Concerto para trompa foi o primeiro trabalho para orquestra com o qual Strauss se mostrou satisfeito. Quando o compôs, aos dezenove anos, estava ainda sob a tutela musical do pai, obstinado cultor dos clássicos e dos primeiros românticos. O célebre

trompista odiava as inovações, sobretudo a música de Wagner, e mantinha o filho cuidadosamente afastado do “modernismo” reinante no ambiente musical da época. No Concerto para trompa o jovem Strauss, embora ainda submisso aos ensinamentos paternos, revela alguns lampejos de originalidade. Quanto à forma, o compositor afasta-se do modelo consagrado por Mozart, caracterizado pelo imaginativo e ágil diálogo do instrumento solista com a orquestra. Strauss adota o chamado “estilo brilhante” dos concertos de Hummel, em que a orquestra limita-se ao papel secundário de acompanhamento. A parte solista, ao contrário, é ressaltada pela riqueza dos ornamentos e pelos exibicionismos virtuosísticos. Dentro dessas características, o Concerto possui impecável construção formal. Strauss apresenta algumas ideias inéditas interessantes, como o artifício de ligar os três movimentos por uma engenhosa associação temática: no primeiro andamento (Allegro), as tercinas iniciais formam um tema cheio

de vigor. No segundo (Andante) reaparecem como base do acompanhamento para a melodia do solista. No Rondo/Allegro final transfiguram-se em elemento de virtuosismo, com toques de humor e muita fantasia. A invenção melódica é sempre bela e o estilo de “bravura” exige muito do solista, expondo-o constantemente.

Curiosamente, o Concerto não foi estreado pelo pai do compositor, mas pelo trompista Gustav Leinhos, em 4 de março de 1885, em Meiningen, sob a direção de Hans von Bülow.

Para ouvir CD Richard Strauss – Horn Concertos nos. 1 & 2 – Wiener Philharmoniker – André Previn, regente – Lars-Michael Stransky, trompa – Deutsche Grammophon, Alemanha – 1997

Para assistirConcerto dos laureados da Competição Internacional Concertino Praga – Szabolcs Zempléni, trompa | Acesse: fil.mg/strompa1parte1 (parte 1)fil.mgstrompa1parte2 (parte 2)fil.mg/strompa1parte3 (parte 3)

Para ler François-René Tranchefort: Guia da Música Sinfônica – Nova Fronteira – 1990

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

Concerto para trompa nº 1 em Mi bemol maior, op. 11 (1882/1883)

paulo sérgio malheiros dos santos | Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado.

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“Sucessivamente Salomé (Dresden, 1905) e Elektra (Dresden, 1909) atingem um paroxismo musical e dramático: violência delirante, erotismo ardente, explosões tonitruantes de uma orquestra de fogo e sangue. Nunca se vira ou ouvira nada semelhante na ópera. A escrita musical escapa a todos os sistemas, resiste a qualquer qualificação categorial, não tem modelo em nenhum outro lugar. Mas a concepção dramática da harmonia e o expressionismo dilacerante que trata a voz de maneira sobre-humana exerceram influência sobre uma parte do teatro musical de nosso tempo. Todavia, sonoridades inauditas em sua simplicidade, como as que cercam o último canto sublime de Salomé, nunca mais serão imitadas” (Roland de Candé, História Universal da Música).

Dessa forma, em nada isenta de juízos de valor, Roland de Candé justifica, em certo sentido, inserir-se o nome de Richard Strauss entre os inauguradores do século XX, ao invés de entre os herdeiros do Romantismo. No entanto, há que se considerar uma coisa sem detrimento de outra. Strauss nunca abandonou de fato o sistema tonal, mas soube transcendê-lo. Entre suas fontes estão Brahms, Wagner e Liszt, mas ele nunca é subserviente a seus modelos. Em sua pródiga e longa carreira produtiva, Strauss toma o rumo de um expressionismo sinfônico bastante diferenciado daquele que a Segunda Escola de Viena adota e posiciona-se à margem de quaisquer correntes musicais declaradamente escolásticas ou

revolucionárias. Foi com o Poema Sinfônico – proposta inovadora, formal e expressivamente, que a mentalidade musical romântica lança como alternativa para escapar, no universo sinfônico, aos modelos clássicos – que Strauss se desenvolveu e se consagrou internacionalmente como compositor.

Somente a partir dos quarenta anos Strauss dirige sua atividade ao teatro musical. Já maduro como artista criador e com domínio pleno da escrita sinfônica, ele se dá o direito de não observar estritamente as diretrizes fundamentais da tradição musical em que se insere e, assim, posiciona-se junto às grandes vanguardas da música de seu tempo.

Salomé foi um escândalo! Por isso (ou apesar disso), após sua estreia em Dresden, em menos de dois anos esteve em cartaz em pelo menos cinquenta teatros. Gustav Mahler não conseguiu a permissão necessária para realizá-la em Viena (somente a partir de 1918 essa cidade pôde ver em seus palcos a ópera montada). A despeito disso, a ópera da cidade austríaca de Graz a montou em 1906, sob a batuta do compositor, tendo na plateia nomes como Giacomo Puccini, Arnold Schoenberg, Alban Berg e Gustav Mahler. Na Inglaterra, a ópera esteve proibida até 1910.

Baseada em uma tradução alemã, por Hedwig Lachmann, da peça homônima de Oscar Wilde, que a escreveu originalmente em francês

Para ouvir CD Richard Strauss – Scenes from Salome and Elektra – Orquestra Sinfônica de Chicago – Fritz Reiner, regente – RCA Victor/Living Stereo – 1990

Para assistirOrquestra Sinfônica da Cidade de Birmingham –Andris Nelsons, regente | Acesse: fil.mg/ssalome (excerto)

Para ler Roland de Candé – História Universal da Música – Vol. 2 – Eduardo Brandão, tradutor – Martins Fontes – 1994

Instrumentação: piccolo, 3 flautas, 2 oboés, corne inglês, 4 clarinetes, requinta, clarone, 3 fagotes, contrafagote, 6 trompas, 4 trompetes, 4 trombones, tuba, tímpanos, percussão, 2 harpas, celesta e cordas.

Salomé, op. 54: Dança dos Sete Véus (1903/1905)

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(o próprio Strauss elaborou, em 1930, uma versão alternativa da obra com texto em francês, baseado no original de Wilde), Salomé explicita, do argumento bíblico, um erotismo que, ali, se encontra apenas velado. Na Dança dos Sete Véus, por exemplo, a personagem-título da ópera realiza uma dança em que se despe lentamente em frente a Herodes até quedar-se nua. Marie Wittich, a cantora que estava a cargo do papel principal da estreia em 1905, recusou-se a realizá-la, tendo que ser substituída por uma dançarina.

Strauss explora em Salomé artifícios então muito modernos para a estruturação musical: o uso da bitonalidade, por exemplo. Ademais, o emprego, aqui, da dissonância, revela uma despreocupação com a causalidade e, com isso, um afastamento da tonalidade e uma aproximação das experiências mais arrojadas de seus contemporâneos, o que causou, em suas primeiras plateias,

assombro e choque. A Dança dos Sete Véus, que recupera o episódio bíblico em que Salomé dança para Herodes e cujo desfecho é a decapitação de João Batista, é “pintada” musicalmente por Strauss com certos orientalismos que não fazem senão ambientar a cena em seu respectivo cenário.

É curioso e relevante o fato de que esse trecho orquestral da ópera somente foi concluído depois de o corpus da ópera ter sido elaborado: a Dança dos Sete Véus parece ter sido composta em agosto de 1905, ao passo que o restante da obra data aparentemente de junho do mesmo ano. Isso revela não apenas o impacto dramático que a cena tem no contexto da ópera, mas, sobretudo, a importância que Strauss lhe confere. Esse trecho orquestral se mostra, portanto, relativamente autônomo do ponto de vista musical e, assim, sua desvinculação do espetáculo cênico mostra-se não apenas legítima, mas importante, por si só.

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moacyr laterza filho | Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.

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JULHO

Dia 6 Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordãodomingo, 17h, Auditório Claudio Santoro Fabio Mechetti, regenteArnaldo Cohen, pianoR. STRAUSS

Dia 15 Série Vivaceterça, 20h30, Palácio das Artes Fabio Mechetti, regenteAdriane Queiroz, sopranoFESTIVAL RICHARD STRAUSS

Dia 18 Turnê Estadual Itabiritosexta, 20h, Praça dos InconfidentesMarcos Arakaki, regenteTCHAIKOVSKY / RIMSKY-KORSAKOV / GNATTALI / GRIEG / SAINT-SAËNS

Dia 19 Turnê Estadual Marianasábado, 20h30, Praça Minas GeraisMarcos Arakaki, regenteTCHAIKOVSKY / RIMSKY-KORSAKOV / GNATTALI / GRIEG / SAINT-SAËNS

Dia 24 Série Allegroquinta, 20h30, Palácio das Artes Fabio Mechetti, regenteSzabolcs Zempléni, trompaFESTIVAL RICHARD STRAUSS

Dia 27 Turnê Estadual Juiz de ForaFestival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antigadomingo, 20h30, Cine-Theatro Central Fabio Mechetti, regenteSzabolcs Zempléni, trompaMOZART / R. STRAUSS

PRÓXIMOS CONCERTOSACOMPANHE A FILARMÔNICA EM

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Concertos para a Juventude Realizados em manhãs de domingo, são concertos dedicados aos jovens e às famílias, buscando ampliar e formar público para a música clássica. As apresentações têm ingressos a preços populares e contam com a participação de jovens solistas.

Clássicos na Praça Realizados em praças da Região Metropolitana de Belo Horizonte, os concertos proporcionam momentos de descontração e entretenimento, buscando democratizar o acesso da população em geral à música clássica.

Concertos Didáticos Concertos destinados exclusivamente a grupos de crianças e jovens da rede escolar, bem como a instituições sociais, mediante inscrição prévia. Seu formato busca apoiar o público em seus primeiros passos na música clássica.

Festival Tinta Fresca Com o objetivo de fomentar a criação musical entre compositores brasileiros e gerar oportunidade para que suas obras sejam programadas e executadas em concerto, este Festival é sempre uma aventura musical inédita. Como prêmio, o vencedor recebe a encomenda de outra obra sinfônica a ser estreada pela Filarmônica no ano seguinte, realimentando o ciclo da produção musical nos dias de hoje.

Laboratório de Regência Atividade inédita no Brasil, este laboratório é uma oportunidade para que jovens regentes brasileiros possam praticar com uma orquestra profissional. A cada ano, quinze maestros, quatro efetivos e onze ouvintes, têm aulas técnicas, teóricas e ensaios com o regente Fabio Mechetti. O concerto final é aberto ao público.

Concertos de Câmara Realizados para estimular músicos e público na apreciação da música erudita para pequenos grupos. A Filarmônica conta com grupos de Metais, Cordas, Sopros e Percussão.

Turnês Estaduais As turnês estaduais levam a música de concerto a diferentes cidades e regiões de Minas Gerais, possibilitando que o público do interior do Estado tenha contato direto com música sinfônica de excelência.

Turnês Nacionais e Internacionais Com essas turnês, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais busca colocar o Estado de Minas dentro do circuito nacional e internacional da música clássica. Em 2014, a Orquestra volta a se apresentar no Festival de Campos do Jordão.

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Conselho Administrativopresidente emérito Jacques Schwartzmanpresidente Roberto Mário Soares conselheiros Berenice MenegaleBruno VolpiniCelina SzrvinskFernando de Almeida Ítalo GaetaniMarco Antônio Drumond Marco Antônio PepinoMarcus Vinícius Salum Mauricio FreireOctávio ElísioPaulo PaivaPaulo BrantSérgio Pena

Diretoria Executivadiretor presidente Diomar Silveira diretor administrativo-financeiro Estevão Fiuzadiretora de comunicaçãoJacqueline Guimarães Ferreiradiretora de marketing e projetos Zilka Caribédiretor de operações Ivar Siewers diretor de produção musical Marcos Souza

Equipe Técnicagerente de comunicação Merrina Godinho Delgadogerente de produção musicalClaudia da Silva Guimarãesassessora de programação musical Carolina Debrot produtores Geisa AndradeLuis Otávio RezendeNarren Felipe analistas de comunicação Andréa Mendes –ImprensaMarciana Toledo –PublicidadeMariana Garcia –MultimídiaRenata Romeiro – Design gráficoanalista de marketing de relacionamento Mônica Moreiraanalista de marketing e projetos Mariana Theodoricaassistente de comunicação Renata Gibsonassistente de marketing de relacionamento André Rozenbaum

Equipe Administrativa analista administrativo Paulo Baraldianalista contábil Graziela Coelhoanalista financeiro Thais Boaventura analista de recursos humanos Quézia Macedo Silvasecretária executiva Flaviana Mendesassistentes administrativos Cristiane ReisJoão Paulo de Oliveiraauxiliar administrativoVivian Figueiredorecepcionista Lizonete Prates Siqueiraauxiliares de serviços gerais Ailda ConceiçãoClaudia Reginamensageiros Jeferson SilvaPablo Faria menor aprendiz Pedro Almeida

INSTITUTO CULTURAL FILARMÔNICA / JULHO 2014

FORTISSIMOjulhoNº 6 / 2014

ISSN 2357-7258

editoraMerrina Godinho Delgado

edição de textoBerenice Menegale

ORQUESTRA FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS / JULHO 2014

Primeiros Violinos Anthony Flint – SpallaRommel Fernandes – Spalla AssociadoAra Harutyunyan – Spalla AssistenteAna ZivkovicArthur Vieira TertoBaptiste RodriguesBojana PantovicDante BertolinoEliseu Martins de BarrosLuka MilanovicMarcio CecconelloMegumi TokosumiRodrigo de OliveiraRodrigo Monteiro Braga

Segundos ViolinosFrank Haemmer *Leonidas Cáceres **Hyu-Kyung JungJovana TrifunovicLeonardo OttoniMarija MihajlovicMartha de Moura PacíficoMateus Freire Radmila BocevRodolfo ToffoloRodrigo BustamanteTiago EllwangerValentina GostilovitchElias Barros **** ViolasJoão Carlos Ferreira *Roberto Papi **

Flávia MottaGerry VaronaGilberto Paganini Juan CastilloKatarzyna Druzd Marcelo NébiasNathan MedinaKamila Druzd ****

VioloncelosElise Pittenger ***Camila PacíficoCamilla RibeiroEduardo SwertsEneko Aizpurua PabloLina Radovanovic Robson Fonseca Emilia Neves ****

ContrabaixosColin Chatfield *Nilson Bellotto ** Brian Fountain Hector Manuel EspinosaMarcelo CunhaPablo Guiñez William Brichetto

FlautasCássia Lima *Renata Xavier **Alexandre BragaElena Suchkova OboésAlexandre Barros *Ravi Shankar **

Israel MunizMoisés Pena ClarinetesMarcus Julius Lander *Jonatas Bueno ** Ney Campos FrancoAlexandre SilvaDaniel Rosas ****Leirson Maciel ****

FagotesCatherine Carignan * Andrew HuntrissCláudio de FreitasJamil Bark ****

TrompasAlma Maria Liebrecht *Evgueni Gerassimov **Gustavo Garcia Trindade José Francisco dos SantosLucas Filho Fabio Ogata

TrompetesMarlon Humphreys *Érico Fonseca **Daniel LealWellington Moura ****

TrombonesMark John Mulley *Wagner Mayer **Renato Lisboa

TubaEleilton Cruz *

TímpanosPatricio Hernández Pradenas *

PercussãoRafael Alberto *Daniel Lemos **Werner SilveiraSérgio Aluotto

HarpasGiselle Boeters *Angélica Vianna ****Jennifer Campbell ****

TecladosAyumi Shigeta *

gerente Jussan FernandesinspetoraKarolina Limaassistente administrativo Débora VieiraarquivistaSergio AlmeidaassistentesAna Lúcia KobayashiClaudio StarlinoJônatas Reissupervisor de montagemRodrigo CastromontadoresJussan MeirelesRisbleiz Aguiar

* principal ** principal assistente *** principal / assistente substituto **** músico convidado

Diretor Artístico e Regente Titular

Fabio Mechetti

Regente Associado

Marcos Arakaki

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J U L H O 2 0 1 4 F E S T I V A L R I C H A R D S T R A U S S

PontualidadeUma vez iniciado um concerto, qualquer movimentação perturba a execução da obra. Seja pontual e respeite o fechamento das portas após o terceiro sinal. Se tiver que trocar de lugar ou sair antes do final da apresentação, aguarde o término de uma peça.

Aparelhos celularesConfira e não se esqueça, por favor, de desligar o seu celular ou qualquer outro aparelho sonoro. E também evite usar o celular durante o concerto, pois a luz atrapalha quem está perto de você.

Fotos e gravações em áudio e vídeoNão são permitidas na sala de concertos.

ConversaA experiência do concerto inclui o encontro com outras pessoas. Aproveite essa troca antes da apresentação e no seu intervalo, mas nunca converse ou faça comentários durante a execução das obras. Lembre-se de que o silêncio é o espaço da música.

CUIDE DO SEU PROGRAMA DE CONCERTOSO programa mensal é elaborado com a participação de diversos especialistas e oferece uma oportunidade a mais para se conhecer música, compositores e intérpretes. Desfrute da leitura e estudo. Em 2014, ele ganha o nome Fortissimo e o registro do ISSN, um código que o identifica, permite a citação de seus textos como referência intelectual e acadêmica e sua indexação nos sistemas nacional e internacional de pesquisa. Para evitar o desperdício, traga sempre o seu programa. Caso o esqueça, use o exemplar entregue pelas recepcionistas e, ao final, deposite-o em uma das caixas colocadas à saída do Grande Teatro. Programa disponível no site: www.filarmonica.art.br//index.php/blog/programas

PARA APRECIAR UM CONCERTO

AplausosAplauda apenas no final das obras, que, muitas vezes, se compõem de dois ou mais movimentos. Veja no programa o número de movimentos e fique de olho na atitude e gestos

do regente.

TossePerturba a concentração dos músicos e da plateia. Tente controlá-la com a ajuda de um lenço ou pastilha.

CriançasCaso esteja acompanhado por criança, escolha assentos próximos aos corredores. Assim, você consegue sair rapidamente se ela se sentir desconfortável.

Comidas e bebidasSeu consumo não é permitido no interior da

sala de concerto.

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J U L H O 2 0 1 4 F E S T I V A L R I C H A R D S T R A U S S— em ag o s t o vo c ê t em u m en co n t r o es p ec i a l —

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27 de agosto, 20h30

Fabio Mechetti, regentePalácio das Artes

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@filarmonicamg

www.filarmonica.art.br/musicatransforma

youtube.com/filarmonicamg

Rua Paraíba, 330 / 12º andar | Funcionários | CEP 30.130-917 | Belo Horizonte MG

TEL (31) 3219.9000 | FAX (31) 3219.9030 | www.filarmonica.art.br

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