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CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS – UNIFMU CURSO DE DIREITO TEMA: MEIO AMBIENTE: UMA ANÁLISE SISTEMATICA DA LEI AMBIENTAL BRASILEIRA ANTONIO JULIANO NETO R.A ...............................475.005/4 TURMA:.................... 003209R10 TELEFONE:........ (11)-9703-5412 E.MAIL: [email protected] São Paulo 2006

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS – UNIFMU

CURSO DE DIREITO

TEMA: MEIO AMBIENTE: UMA ANÁLISE SISTEMATICA DA LEI AMBIENTAL BRASILEIRA

ANTONIO JULIANO NETO R.A ...............................475.005/4 TURMA:.................... 003209R10 TELEFONE:........ (11)-9703-5412

E.MAIL: [email protected]

São Paulo 2006

ANTONIO JULIANO NETO

R.A 475.005/4

Monografia apresentada à Banca Examinadora do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito, sob orientação do Prof. Adriano Conceição Abílio.

São Paulo 2006

BANCA EXAMINADORA: Professor Orientador: ____________________________ Professor Argüidor: ______________________________ Professor Argüidor: ______________________________

Dedico à: Pelegrini Juliani e Jesumina Forte, Carmine Todaro e Silveta Maria, bisavós paternos; Luiz Ecole e Rosa Ecole e Quarini Graci e Uliana Graci, bisavós maternos; Pois estes geraram Antonio Juliani e Maria Rosa Todaro, avós paternos e Quarino Ecole e Rosa Graci, avós maternos; Pois estes geraram Meus pais: Pelegrino e Ângela. Nesta linha genealógica secular o minha eterna gratidão, pois, independente do compromisso constitucional de preservar o planeta para futuras gerações,contribuíram espontânea, ativa e coletivamente nesta ação. Recebi nesta transferência o ônus da participação espontânea na sua preservação, cujo propósito é a certeza de entrega-lo preservado e com sadia qualidade de vida a: Francis e Rafael, meus filhos.

Agradecimentos: À Professora Olinda, primeira mestre a pegar em minha mão, e com muito amor me ensinou a ler e escrever, habilitando-me a compreensão dessa interminável viagem fantástica do conhecimento; Ao Professor, Doutor, Mestre e amigo Adriano Conceição Abílio, orientador desse trabalho, que com muita paciência, espontaneidade e amor sempre estendeu suas mãos em minhas dúvidas proporcionando-me a compreender e aprender o tema proposto. Mas, foi do monitoramento e de suas aulas na Uni – Fmu com seu exemplo de vida e em seus valores éticos,que o fez tornar um ícone para a nossa comunidade acadêmica e em especial para mim.

SINOPSE

Falar de crimes ambientais, ou comentar uma lei ambiental específica, sem

antes compreender o meio ambiente, é como realizar uma tarefa coletiva

fragmentada ou como uma linha de produção industrial em série, ou seja, quem o

executa desconhece o resultado final.

Não é por menos que a sociedade em que vivemos organiza-se para muitos

doutrinadores em uma Democracia-Ecológico-Social cujo primeiro passo nessa

conscientização foi através da reunião do Clube de Roma em 1.968 que conclui

afirmando estar o limite de crescimento do planeta sendo alcançado nos próximos

100 anos e o resultado seria ou será um declínio súbito e incontrolável tanto da

produção quanto da capacidade industrial.

Nesse raciocínio há duas maneiras de combater esse evento: Político e

Jurídico, mas não como formas alternativas, pois elas se interagem. A política na

educação e conscientização da sociedade na preservação, uso racional e

reaproveitamento dos recursos. Na Jurídica a tutela do Estado, enquanto não atingir

a sociedade o grau de maturidade dessas necessidades; com essa compreensão

realizou-se o presente trabalho.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO..................................................................................................................3 1 - A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE 1.1 – NOS PRIMÓRDIOS DA CIVILIZAÇÃO....................................................... 5 1.2 – NO PÓS ILUMINISMO.....................................................................................7 1.3 – NA ÉPOCA CONTEMPORÂNEA................................................................... 11 2 - A TUTELA JURÍDICA – PRINCÍPIOS 2.1 - DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.................................................20 2.2 - DO POLUIDOR – PAGADOR...........................................................................21 2.3 – DA PREVENÇÃO...............................................................................................21 2.4 - DA PARTICIPAÇÃO..........................................................................................22 2.5 - DA UBIQÜIDADE...............................................................................................23 3 - A LEI Nº. 9605/98 3.1 – QUANTO À NORMA NA PARTE GERAL ...................................................24 3.1.1 – NORMA PENAL EM BRANCO..........................................................25 3.1.2 – BEM JURÍDICO PROTEGIDO...........................................................26 3.1.3 – TIPICIDADE..........................................................................................27 3.1.4 – ELEMENTO SUBJETIVO...................................................................28 3.1.5 – SUJEITO ATIVO..................................................................................28 3.1.6 – SUJEITO PASSIVO..............................................................................30 3.2 – QUANTO ÀS SANÇÕES PENAIS 3.2.1 - RESTRITIVAS DE DIREITO..................................................31

3.2.2 – SUSPENSÃO CONDICIONAL................................................32 3.2.3 – MULTA.......................................................................................32 3.2.4 – ATENUANTES E AGRAVANTES..........................................33 3.3 – DOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE 3.3.1 – CONTRA A FAUNA..................................................................34 3.3.2 – CONTRA A FLORA.................................................................36

3.3.3 – DA POLUIÇÃO E OUTROS CRIMES...................................38 3.3.4 – CONTRA O ORDENAMENTO URBANO E PATRIMÔNIO CULTURAL...................................................40

3.3.5 - CONTRA A ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL .................. 41 CONCLUSÃO.........................................................................................................42 APÊNDICE LEIS FEDERAIS AMBIENTAIS......................................................................... 45 TEXTO DA LEI nº. 9.605/ 98 ............................................................................... 47 BIBLIOGRAFIA......................................................... ........................................... 63

INTRODUÇÃO

Em nossa monografia buscamos atender uma angústia de ordem pessoal com

relação ao Meio Ambiente cuja indagação estava na forma quanto à sua proteção e

na preservação, e como participar nesta ação para reservar estes recursos aos

nossos descendentes, visto serem esgotáveis. Nesta linha, a obrigação acadêmica,

conciliou um desejo pessoal e com muita satisfação partimos à busca junto aos

doutrinadores e cientistas jurídicos, e como sempre com a paciência e sábia ajuda

do nosso Orientador para tal entendimento, engajamos assim, no primeiro princípio

constitucional ambiental, que é da Participação, pois tal ação nos faz entender que

estamos incluso na parceria e comprometidos em sua defesa, pois fazemos parte

desta coletividade, integrante deste planeta azul que chamamos de Terra.

Iniciamos nossas pesquisas com os estudos centrados na origem desta

proteção, pois em nosso entendimento a construção da valoração da estima, do

amor, tem sua origem sob qualquer ótica quer com um bem ou uma pessoa iniciado

no passado, na sua origem. Sem a intenção de sermos pretensiosos em tal

afirmação, mas se realizarmos uma análise introspectiva vamos ver que só

valoramos a nossa família por que esta nos acolhe e nos faz desenvolver provendo-

nos com todas as nossas necessidades afetivas ou materiais ao longo da nossa

formação, e em nossas coisas materiais, pois sabemos o quanto nos custou para

conquista-las, não diferente conosco foi, e é o nosso planeta, a nossa mãe natureza

que tão bem nos acolhe. Neste sentido, o leitor deste trabalho compreenderá na

primeira parte deste, em forma de sinopse, a origem do meio ambiente desde os

primórdios da civilização dominada pela religião judaico-cristã, que nos ensina a

valoração da natureza através de seu uso extrativista e necessário a sua

sobrevivência, da relação com a flora e fauna, passa depois por um relato desta

mesma relação com uma civilização tribal, caminha na pesquisa das organizações

das grandes civilizações ocidentais e atinge a contemporaneidade, na qual, a política

ambiental, deixa de ser um desafio localizado e passa a ser globalizado, ou se

preferirem, internacionalizado; esta pretensão, nos liga ao segundo princípio

constitucional que é o da Prevenção, sustentado pela grande pilastra que é a política

da educação ambiental, pois quanto mais amplo for o entendimento sobre o meio

ambiente, melhor faremos à sua preservação, já que aprendemos que tais recursos

esgotáveis, são em muitos casos irreparáveis e irrecuperáveis , cujo único remédio

então, deixa de ser jurídico para ser político, prevenir para não acontecer ou, cuidar

para não perder.

Na segunda parte desta monografia deixamos de pensar a política ambiental

globalizada, e procuramos apresentar a proteção ambiental localizada, assim ela

deixa de ser um desafio de todos, para ser um desafio nosso, do Brasil, e notamos a

consonância da nossa tutela jurídica constitucional com o pensamento da

comunidade global cujo texto Constitucional ao exteriorizar o pensamento do nosso

constituinte, derivou também, da Conferência de Estocolmo de 1972, associando

mais um princípio constitucional que é o do Desenvolvimento Sustentável,

harmonizando o desenvolvimento social reflexo do econômico, com o meio

ambiente protegido.

Concluímos a terceira parte, apresentando a moderna Lei nº. 9.605/98, de

natureza híbrida, pois além de tipificar os crimes ambientais, preocupa-se com as

infrações administrativas e com a cooperação internacional na preservação

ambiental, atendendo de forma eficaz o conteúdo da “Carta da Terra” que fora

aprovada na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento Urbano-Agenda 21 Global, realizada no Rio de Janeiro em 1992 e

conhecida como ECO-92, constatando ai, mais um princípio constitucional, o da

Ubiqüidade, que em nosso entendimento é a grandeza de tudo, pois impõe que tudo

que se pretender fazer, ou criar, deva antes passar pelo crivo da consulta ambiental,

e nela tomando conhecimento da inexistência ou da possibilidade de risco da sua

degradação, pois esta em jogo a vida e a qualidade de vida, inerente é lógico, e

muito bem ligado aos “Direitos Humanos”.

Espero que aprovem;

1 - A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE

1.1 – NOS PRIMÓRDIOS DA CIVILIZAÇÃO:

O meio ambiente é indispensável na vida humana, proporcionando ao

homem o seu desenvolvimento físico e elevando a sua dignidade. Não é por menos

que o texto constitucional atual em seu artigo 225 prevê esse direito difuso, do

meio ambiente ecologicamente equilibrado, de uso comum do povo, podendo ser

usado e desfrutado por qualquer pessoa dentro dos limites constitucionais, é

também, para essencial a sadia qualidade de vida, em uma visão mais ampla quer

significar toda forma de vida, até porque, o homem somente poderá alcançar a

efetiva qualidade de vida, através de um meio ambiente sadio e equilibrado,

buscando a harmonização entre todos os componentes do mundo natural, composto

pelo micro e macro organismo, cada um com papel essencial e fundamental para o

perfeito equilíbrio do Planeta.

A relação estabelecida entre o homem e a natureza, se dá desde os

primórdios da civilização, e a autoridade humana sobre o mundo animal e vegetal

era “ilimitada”, sempre se usou como quis: por prazer ou, para o seu prover.

Nos séculos iniciais, dominado pela religião judaico-cristã; os

pesquisadores e os teólogos embasam suas afirmativas nos filósofos e nos clássicos

da Bíblia, cuja visão é de um mundo criado para o bem do homem, tendo como

exemplo a afirmativa de Aristóteles de “que a natureza não fez nada em vão, e tudo

teve um propósito, as plantas para o bem dos animais e estes, para o bem do

homem, os quais domesticados servem para a labuta, os selvagens para a caça”.,

compartilhando também deste pensamento estóicos.

Os teólogos no início do período moderno chegam a uma conclusão

razoável afirmando que o Jardim do Éden ( Paraíso) foi preparado por Deus para o

homem, nele inserindo Adão e lhe conferindo o domínio de todas as coisas vivas; os

homens não eram carnívoros e os animais eram mansos; mas com o advento do

pecado (original) houve uma mudança radical, a terra se degenerou nascendo

espinhos e cardo 1 que substituíram flores e frutos, o solo se fez pedregoso e árido

necessitando então da força do homem para o seu cultivo, vários animais passaram

a ser ferozes e atacavam o homem, e até os animais domésticos agora, deviam ser

forçados a submissão. Renova Deus então a autoridade humana com o Dilúvio,

passando o homem a ser carnívoro e os animais podendo ser abatidos e comidos.

Nesta lei, do Antigo Testamento, o domínio do homem sobre a natureza se fundou,

para alguns comentadores, o advento de Cristo só reforçou esta lei, confirmando os

direitos humanos sobre o mundo natural, reservado é lógico aos cristãos

regenerados.

Outras religiões não cristãs, mas que tinham nos seus mitos a

autoridade que Deus atribuiu poderes ao homem para dominar o mundo natural é

comentada com fundamento na cultura indígena americana que, segundo suas

tradições, Deus ordenou que matassem os cervos, os animais e o que quisessem, a

seus bel prazer , existindo porém um acordo tácito entre os índios e os animais que

os impediam de explorar excessivamente a vida selvagem da área, mas com a

chegada dos europeus (trouxeram muitas doenças que os índios desconheciam e não

conseguiam cura-las), este pacto para os índios foi quebrado pelos animais,

convencidos que os mesmos faltaram- lhes com a palavra, e assim declararam

guerra contra os mesmos ( justifica-se assim a caça predatória).

Os vegetais e minerais eram considerados da mesma maneira, pois,

sem a madeira suas casas eram gravetos e palhas desprezíveis, e sem os metais não

tinham honra e nem pompas das batalhas; as ervas daninhas serviam para exercitar a

cabeça do homem, pois necessitaria criar mecanismos para a sua eliminação. Com

efeito, a civilização humana era sinônima de conquista da natureza. O mundo

vegetal sempre foi fonte de alimento e combustível para o homem.

As matas, eram lar dos animais e não dos homens, cujos habitantes

tendiam a ser posseiros sem lei, indigentes, rebeldes e duros, além de serem cena

de prolongados conflitos sociais e que não cultivadas eram vistas como obstáculos

1 Planta perene da família das compostas, cujo caule ereto é revestido de pelos.

ao progresso humano, seu processo de destruição não pode ser quantificado, mas

não há dúvida que entre 1500 a 1700 o número de árvores foi drasticamente

reduzido no planeta, cujos motivos predominantemente eram econômicos. A

derrubada ilegal sofria penalidades já no começo do século XVII, na observância de

antigos costumes e aplicação de regulamentos da aldeia, em que o acesso a lenha

muitas vezes eram cuidadosamente racionados, e muitos autores agrícolas, Keith

Thomas 2 defendem uma administração racional das matas; à medida que as

necessidades da industria naval tornaram-se mais prementes, citando Jaime I em

1610 ... “se consentirmos na derrubada das matas, como ocorre diariamente logo

não haverá mais nenhuma”, assim adotou-se uma política conservacionista ao

proibir cortes não autorizados e proteção as árvores novas.

A idéia atual do equilíbrio e da proteção da natureza teve, portanto,

base teológica antes de ganhar fundamento científico. Foi a crença na perfeição do

desígnio divino que precedeu e sustentou o conceito da cadeia ecológica, sendo

perigoso remover qualquer um dos seus elos. Sustenta esta tese em 1653 John

Bulwer, citado por Keith Thomas 3: “se seria legítimo o homem destruir (tendo

condições para tanto) qualquer tipo de criatura divina, ainda que, uma espécie de

sapo ou aranha, porque isso seria eliminar um dos elos da cadeia divina, ou seja,

uma nota de sua harmonia. A continuidade de todas as espécies seguramente fazia

parte do plano de Deus”.

1.2 – NO PÓS ILUMINISMO:

No início do período moderno o plantio para o ornamento e

amenidade ganhou maior impulso, particularmente nas cidades, retratadas por

ilustrações da época demonstrando cidades arborizadas; fileiras de árvores em

2 THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural: mudanças de atitude em relação às plantas e aos animais. p.237 3 Idem. idem p.329

alamedas; praças e parques públicos, dando assim, na teoria estética dominante a

importância das árvores como parte essencial do cenário arquitetônico; cuja

motivação para o cultivo aristocrático era uma mistura de afirmação social, senso

estético, patriotismo e lógico, lucro a longo prazo.

Deriva esta proteção as matas também pela necessidade de proteção

à caça, preservando-as para fins recreativos e para poucos privilegiados,

conservando assim alguns refúgios privilegiados para animais selvagens e aves

silvestres que encontravam descanso e abrigo sobre a proteção da lei que proibia

ainda, a invasão; o desperdício (danificar arvores) e a erradicação, mesmo sendo

proprietário das terras não poderia faze-lo sem a permissão de quem de direito.

Conclui o autor, pondo em dúvida se tal sistema era eficaz em tempo de pressão

demográfica notadamente nos séculos XVI e XVII, constatando que muitas dessas

reservas foram desativadas e entregues ao gado, cujo mercado em expansão

tornava-as mas lucrativas.

As árvores proporcionavam também, um vínculo com a eternidade

na medida em que ocorriam as transformações sociais, o desejo de preservação de

tal símbolo é notório, pois se constituía em monumento da família, simbolizando-a

de forma visível a continuidade das gerações; a atualidade nos leva a uma atitude

mais simpática para com elas e incontestável, pois, quando as mesmas encolheram-

se a menos da metade do espaço que fora conquistado pelo desenvolvimento

urbano, nossa atitude é outra: considera-se que é melhor plantar árvores, cuja

origem dessa atitude se dá no início do período moderno.

Não diferente, na zoologia a Royal Society estimula os estudos dos

animais para avaliar a sua real utilidade para o gênero humano; utilizando-se da

visão herdada de Aristóteles, cuja prática de classificação decorre conforme a

estrutura anatômica, habitat e reprodução; os primeiros zoólogos modernos (séc.

XIX) agregam ainda a utilidade, o valor alimentício, medicinal e símbolo moral

para o homem, surgindo então três categorias: comestíveis e não comestíveis,

ferozes e mansos e úteis e inúteis, cujo objetivo da sociedade zoológica seria o de

aclimatar e desenvolver novos animais domésticos.

Na Inglaterra do princípio da era moderna, o valor oficialmente

atribuído aos animais era negativo, ao traçar esta linha divisória entre homens e

animais o principal propósito dos pensadores era para justificar a caça, a

domesticação, o hábito de comer carne e o extermínio dos animais nocivos ou

predadores.

Assim no século XVIII, a tourada espanhola chocava os ingleses

que a assistiam e não retornariam a vê-la diante da festa de “rudeza e barbárie” que

se promovia com os touros, que a classificavam de um esporte execrável; não

diferente de repugnação eram os métodos de caça do javali, revestidas de carnificina

e assassínio ante a docilidade dos animais que atendiam a um simples assobio

inexistindo também o salvo-conduto para os animais domésticos ante as barbáries

que praticavam os normandos, infligindo aos pobres animais verdadeiras surras,

aplicadas com paus, pedras, chutes.

O que se discutia também era sua propriedade, provocando grande

discussão entre os que sustentavam que toda humanidade tinha o domínio sobre as

criaturas, e os que defendiam que os direitos aos mesmos deveriam ser confinados a

um grupo privilegiado; excetuando-se, no entanto os animais domésticos por serem

considerados inferiores, como diziam os gregos “ o boi era escravo do pobre” e

mesmo um mísero latoeiro tinha um cão para chutar, os pobres aceitavam a

propriedade privada dos animais domésticos, mas reivindicavam o direito de matar

veados e alvejar pássaros baseados no ditame da common-law segundo o qual,

não havia propriedades das feras e eram constantemente refutados por juristas

europeus como Grotius ou Pufendorf.

Contemporaneamente a criação de animais domésticos ou de

estimação alcança escala sem precedentes, cujos traços particulares distinguem

estes animais dos outros que são: a) eles tinham permissão para entrar na casa e

eram criados dentro do lar com sobras da tábua de carne e restos de comidas; b)

recebem um nome pessoal e individualizado, distinguindo-se assim de outras

criaturas e c) devido a sua estreita relação com a sociedade humana esses animais

não eram consumidos, ou seja, jamais serviam de alimento ao homem. Isto é o

reflexo de uma tendência de homens e mulheres que se refugiam em família para

maior satisfação emocional, decorrente da difusão e do aperfeiçoamento do espírito

democrático pelos quais os homens lutaram e que diante da sua emancipação,

estendem aos animais, embora tal amor não ameace os interesses humanos cujo

binômio de evidência são a caridade e o auto interesse nos mesmos, assim se pode

concluir que tais não amados por serem criaturas de Deus mas, por serem úteis e

aproveitáveis.

Portanto, os animais domésticos são considerados comparsas da

comunidade humana, ligados por interesses mútuos a seus proprietários, que

dependem de sua fecundidade e bem estar, citado por Keith Thomas 4, Kenelm

Digby em 1658 afirma “ nem mesmo o mais humilde dos aldeões deixa de ter uma

vaca para prover de leite a sua família; é esse o principal sustento dos mais pobres..”

.

As abelhas também são inseridas na comunidade humana e não se

deviam compra-las, mas sim, troca-las por alimentos ou alguma mercadoria útil,

não diferente eram os pássaros que eram mantidos devido ao seu canto ou por sua

imitação de voz humana, ocorrendo exceções com as aves silvestres que muitas

vezes se tornavam mascotes honorários sem serem capturadas (caso particular do

tordo de papo roxo). A partir do fim do século XVII a destruição as aves se

generaliza, tanto pela popularização das armas de fogo usadas para matar as

espécies em pleno vôo como pela proliferação de clubes suburbanos de tiros que se

competiam entre si no abate das aves, cujos registros em apenas 10 anos ( l764 a

l774) em Northill – Bedfordshire demonstram um abate de mais de 14000 aves

(pardais). Os ornitólogos passaram a conter o ímpeto de matar espécime raro assim

que avistassem e substituíram suas armas por binóculos e câmeras fotográficas no

séc. XIX e graças a este grupo de pessoas que surgiram a campanha pela

preservação e foram os naturalistas que pressionaram para obter a partir de 1869

atos legislativos a proteção às aves selvagens materializando ou melhor

4 THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural: mudanças de atitude em relação às plantas e aos animais. p.117

transformando em lei a sensibilidade destes movimentos que impuseram objeções

morais à subjugação dos bichos, questionando e pressionando o direito do homem

em eliminar criaturas selvagens e inofensivas, gerando sentimentos que se tornariam

cada vez mais difícil os homens manterem os métodos implacáveis que garantissem

a sua dominação sobre a natureza, retrocedendo assim no tempo ao Paraíso do

Éden no qual homens e animais viviam harmoniosamente.

1.3 – NA ÉPOCA CONTEMPORÂNEA

A ruptura do antropocentrismo no meio ambiente fica evidenciado

também, na aprovação pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas-

ONU, da resolução n. 37/7, de 28.10.82, que afirma: “ toda forma de vida é única

e merece ser respeitada, qualquer que seja a sua utilidade para o homem e, com a

finalidade de reconhecer aos outros organismos vivos este direito, o homem deve-

se guiar por um código moral de ação”

Decorridos mais de dois séculos de utilização descontrolada dos

recursos naturais, em nome da revolução industrial, expansão demográfica e

modelos econômicos organizados em torno do consumo imediatista, a temática

ambiental a partir do final da década de 60 e início da 70, começa a ganhar não só

expressão social (criação das Organizações Não Governamentais) , mas também

política (Partidos Verdes) substituindo assim a “ contradição entre o capital e o

trabalho” e desenvolvendo o espaço ideológico na “contradição entre a sociedade

industrial e o meio ambiente” transpondo o binômio “humano versus natureza” e

modernizando-o legitima como “fundamento de discurso científico”.

Surge então em 1968, o Clube de Roma, congregando cientistas,

economistas e altos funcionários de diversos Estados, cuja finalidade era a produção

de um estudo compreensivo sobre as tendências de longo prazo da sociedade

industrial, nascendo então cinco grandes mega-tendências:

*a industrialização acelerada;

*a rápida expansão demográfica;

*a desnutrição generalizada;

*o esgotamento dos recursos naturais não renováveis e;

*deterioração ambiental.

A conclusão principal deste modelo, era muito mais um alerta: “O

limite de crescimento do planeta seria alcançado em algum dia dentro dos próximos

100 anos” cujo resultado mais provável seria um declínio súbito e incontrolável

tanto da população, quanto da capacidade industrial.

Sua proposta era uma mudança de rumo global destinada a formar

uma condição de estabilidade ecológica e econômica, cuja reorientação inicial para

o meio ambiente exige-se dos participantes um sólido consenso político

internacional e um profundo gerenciamento global da demografia e também na

interferência de planejamento em escala global sobre as economias de cada Estado,

cujas medidas radicais passavam desde o controle de natalidade ao

desenvolvimento econômico estruturado na prestação de serviços; nascendo assim

a primeira versão do conceito de desenvolvimento sustentável.

A diplomacia ambiental nasce através da conferência das Nações

Unidas sobre o Meio Ambiente realizada em Estocolmo em 1972, cujo relatório de

preparação desta conferência elaborada por Bárbara Ward e René Dubos com o

tema “Uma só Terra” tendo como premissa maior “ que o fluxo das atividades

econômicas planetárias ocorrem no interior de uma economia fechada, recebendo

de fora apenas luz e calor solares e não dispõe de depósitos externos de rejeitos”.

Desta constatação, a proposta era a substituição da “economia de fronteira” baseada

na incorporação incessante de recursos pela “economia do astronauta” organizada

em torno da conservação e reciclagem dos recursos. Como fatores negativos

concorrentes a estas perspectivas se antepõe a Soberania Nacional de cada Estado;

o meio ambiente e o desenvolvimento econômico dissociado, cuja conseqüência

do resultado prático inicial limitou-se a reforçar as iniciativas internacionais de

financiamentos de programas de controle de natalidade, e impulsionar alguns

tratados regionais; e como fator positivo de maior sucesso desta conferência fica

ao crédito atribuído como de ‘Declaração de princípios Gerais sobre o Meio

Ambiente Humano”.

Deriva desta nova diplomacia ambiental, uma série de encontros com

o patrocínio da ONU:

1.975 - A Conferência de Recursos Hídricos;

1.976 – Estabelecimento Humano;

1.977 – Desertificação;

1.981 – Fontes Novas ou Renováveis de Energia.

Complementa esta nova concepção ambiental da ONU, convenções

temáticas específicas que estabeleceram um novo patamar de discussão:

1.973/1.974 – Prevenção da Poluição do Mar por navios e por fontes

terrestres;

1.973 – Espécies da Flora e Fauna ameaçadas de extinção;

1.979 – Poluição transfronteiriças e;

1.982 – Direito do Mar.

Firmados em bases científicas e políticas sólidas, surgem a

Convenção de Viena de 1.985 e o Protocolo de Montreal de 1.987 com a discussão

direcionada na rarefação da camada de Ozônio, cujos dados científicos foram

lastreados em pesquisas e estudos nos efeitos e nas suas conseqüências nas emissões

de clorofluorcarbonos ( C.F.C) foram decisivos para gerar um amplo consenso

político entre as potências econômicas mundiais.

Assim em 1.989 passa a vigorar o Protocolo de Montreal que regula a

produção e o consumo de substâncias destruidoras das camadas de ozônio, lógico

que concorreram também para esta aceitação, além da necessidade de proteção , a

identificação de vantagens econômicas na substituição dos C.F.Cs. em escala

mundial e a inexistência de interesses divergentes entre os Estados, tornando-se

assim, um exemplo de diplomacia ambiental, pois, elaborado por pequeno número

de Estados, recebeu a posterior, a adesão de mais de 150 Estados.

Neste caminho, a Organização das Nações Unidas (ONU), por

intermédio de sua comissão mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento,

disciplinou o conceito de “Desenvolvimento Sustentável”, que diz: “ tratar-se de um

modelo que satisfaça as necessidades presentes, sem comprometer no entanto, os

recursos necessários a satisfação das futuras gerações” , cujo objetivo é a busca de

atividades que funcionem em harmonia com a natureza, sem no entanto deixar de

promover a melhoria da qualidade de vida da geração presente.

Sua definição, no que pode ser sintetizado, nada mais é do que o

equilíbrio entre tecnologia e ambiente; e a proteção do ambiente tem que ser

entendida como parte integrante do processo de desenvolvimento sustentável, e não

pode em hipótese alguma, ser considerada isoladamente; e por sua vez, o

desenvolvimento sustentável preocupa com a geração de riquezas, distribuindo-a

com a finalidade de melhorar a qualidade de vida oferecendo em contrapartida a

qualidade ambiental do planeta.

Neste sentido podem-se definir alguns aspectos do desenvolvimento

sustentável:

*satisfação das necessidades básicas da população;

*solidariedade com as futuras gerações;

*envolvimento de toda população, que podemos chamar de

democracia pura;

*surgimento de um novo modelo social

*efetivos programas educativos, vital e indispensável ao

desenvolvimento;

*preservação, manutenção e ampliação dos recursos naturais.

Neste conceito cria-se o primeiro passo para uma longa caminhada e

com um norte traçado nas ações futuras, lançando então a ONU a “Agenda 21

Global” na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento Urbano, conhecida como a ECO-92, realizada no Rio de Janeiro

em 1992.

Marca esta conferência como o momento que coroa a transformação

da agenda ambiental. A ECO-92 no Rio de Janeiro, na qual sua preparação

possibilitou a plena incorporação dos Estados na diplomacia ambiental e serviu para

contrapor Estocolmo, quanto a transição demográfica que acompanha a

modernização das sociedades industriais e conectou a temática ambiental ao do

desenvolvimento econômico ao revelar as disparidades histórias e estruturais entre

Estados desenvolvidos e em desenvolvimento concernentes a utilização dos

recursos naturais, quanto ao consumo de energia e emissão de poluentes, cuja base

bem fundamentada serviu de principio das responsabilidades globais, mas

diferenciadas na preservação do patrimônio universal ambiental, reafirmou a

soberania de cada Estado sobre o Patrimônio Ambiental, associou o

desenvolvimento sustentável a erradicação da pobreza; explicitou as

responsabilidades de forma diferenciada a cada Estado; condenou a discriminação

comercial justificada em considerações ambientais. A ECO-92 gerou também três

Tratados globais:

I - A declaração de Princípios para a Administração Sustentável

das Florestas:

-busca o consenso para conservação, o manejo e o desenvolvimento

sustentável dos biomas de florestas de todos os tipos descrevendo as funções por

elas desempenhadas e sugerindo medidas para a defesa destas funções.

II - A convenção sobre Diversidade Biológica:

-firmada por 156 Estados, tem como principio básico o

reconhecimento do direito soberano de cada Estado a sobre os seus recursos

biológicos, prevê ainda, um intercambio baseado na troca de transferência

tecnológica pela concessão de ajuda financeira. O tratado é genérico e acaba

permitindo diversas interpretações nos direitos e deveres, não fazendo nenhuma

referência quanto as patentes que garante o monopólio da descoberta e não protege

os Estados que abrigam o material genético bruto pesquisado.

III - A convenção sobre Mudanças Climáticas Globais:

Na qual, os Estados desenvolvidos e em transição para a economia de

mercado, comprometeram-se a congelar até o ano 2.000 as emissões de gases de

estufas nos níveis registrados em 1.990. Não foram fixados limites e o compromisso

unilateral não foi revestido de valor jurídico. Assim, o aquecimento global tornou-se

núcleo principal da diplomacia ambiental. As negociações desta convenção foram

marcadas pela resistência americana e culminou como uma fonte de

constrangimento para os mesmos, pois, tiveram que abandonar a tradição de um

discurso idealista e apoiar sua posição na defesa franca de seus interesses

particulares, esvaziando assim este acordo, que não seria cumprido especialmente

pelos americanos e pela maior parte dos Estados desenvolvidos.

Poucos anos após a adoção da Convenção sobre Mudanças Climáticas

Globais, ficou evidenciado que os compromissos de congelamento das emissões

não seriam cumpridas (especialmente pela maior parte dos paises desenvolvidos) e

pelos aumento da emissão nos tigres asiáticos em decorrência do forte crescimento

econômico., os registros climáticos revelavam sinais alarmantes sobre o

aquecimento global, cujos dados coletados confirmavam a contribuição decisiva das

atividades humanas neste registro negativo.

Assim, em dezembro de 1997, um novo tratado sobre o clima foi

finalizado na Conferência de Kyoto, com uma participação de aproximadamente

dez mil pessoas, entre elas representantes dos Estados, observadores e o mundo

jornalístico em que se aprovou um documento que leva o nome de “ Protocolo de

Kyoto” que inovou em termos de políticas globais de meio ambiente, culminando

com um consenso de se adotar um Protocolo no qual ficou estabelecido de um

lado os paises industrializados reduziriam suas emissões combinadas de gases de

efeito estufa em pelo menos 5% em relação ao nível de emissão de 1990 até o

período entre 2.008 e 2.012 e de outro lado criou um sistema de comércio de

créditos de emissões entre os paises, cuja estratégia do referido acordo consiste em

forçar o avanço da inovação tecnológica nos paises desenvolvidos com ganho em

eficiência energética, ampliando assim estas inovações a novos padrões de produção

e de consumo. Criou-se então uma expectativa neste acordo de uma reversão

história de crescimento das emissões iniciadas nesses paises há cerca de 150 anos.

Desnecessário dizer, que tal Protocolo só passa a ser um instrumento legal quando

ratificado pelos parlamentos dos paises signatários.

Respeitadas a soberania de cada Estado, as propostas que deverão ser

implementadas pelo Protocolo, sempre em conformidade com suas circunstâncias

são:

*fomento de eficiência energética;

*proteção e melhora dos sumidouros e depósitos de gases;

*promoção de práticas sustentáveis de manejo florestal,

reflorestamento e florestamento;

*promoção de formas sustentáveis à agricultura;

*pesquisa, promoção, desenvolvimento de novas formas de energia

renováveis, com a utilização de tecnologia capaz de seqüestrar o dióxido de

carbono;

*medidas para limitar ou reduzir as emissões de gases de efeito estufa

no setor de transportes;

*redução progressiva ou eliminação gradual das deficiências de

mercado, contrários ao objetivo da convenção em todos os setores emissores destes

gases e,

*estímulo nas reformas com implementação de tecnologia capaz de

reduzir ou eliminar a emissão de gases nos setores emissores envolvidos.

Por fim, podemos constatar que a contradição entre a sociedade

industrial e o meio ambiente, se moderniza em um fundamento lastreado num

discurso científico que não só remete ao campo da física, da química ou biológico,

mas também no campo da sociologia, da filosofia e da antropologia.

Sob este foco, nos ensina Leonardo Boff 5 esta nascendo um novo

modelo de democracia, surgindo atualmente como uma forma integradora de

organizar uma sociedade universal: “a democracia ecológico-social” ao despertar

em todo ser humano do planeta, a consciência e a responsabilidade na preservação

do planeta Terra, e na sua qualidade de vida, levando-nos a quebra de um

paradigma herdado da cultura ocidental, o antropocentrismo , que nos fez o centro

de tudo, que todos os demais seres a nós se destinam, para serem usados, dominados

e explorados.

Leva-nos também a refletir Keith, ao citar John Stuart Mill ( 1.848)

...“ a solidão perante a beleza e grandiosidade da natureza é o berço dos

pensamentos e das aspirações que não são bons somente para o indivíduo, sem eles

a sociedade dificilmente sobreviveria - e essa necessidade recorrente que sentem

os moradores urbanos de voltar a terra selvagem em busca da regeneração

espiritual”.

5 Boff, Leonardo. Ecologia, Mundialização e Espiritualidade p. 85/6.

2 - A TUTELA JURÍDICA

Partindo da premissa que os recursos ambientais são esgotáveis, que a

sociedade é limitada e que a natureza não é e nem será a nossa eterna mantenedora,

vem surgindo nas últimas décadas a conscientização da sua proteção e manutenção,

produzindo de forma esparsa instrumentos legislativos avançados e necessários,

porém diante da forma desorganizada de sistematização, dificulta o seu amplo

conhecimento.

Nesta realidade, procuramos a seguir sintetizar os principais diplomas

legais, aplicados em nosso Pais; lembremos dos seguintes:

Na Constituição Federal:

O bem ambiental é um bem de uso comum do povo, podendo ser

desfrutado por toda e qualquer pessoa dentro dos limites estabelecidos na

Constituição, o artigo 225 da Carta Magna, configurou uma nova realidade jurídica

para esse bem: não é público, não é particular, mas de todos, logo a sua titularidade

é coletiva, constituída por pessoas indefinidas, transindividual, não se determinando

então, de forma rigorosa os titulares deste direito,logo ele é difuso, dissociando dos

poderes que a propriedade atribui ao seu titular e consagrados no artigo 1.228 do

Código Civil; insinua a doutrina italiana, como bem lembra o mestre Fiorillo 6,

não ser somente o traço da titularidade que diferencia um bem difuso de outro

coletivo, sustentando esta distinção através de um critério objetivo, que reside

também, na indivisibilidade do bem.

Esse bem, permite a coletividade apenas o uso comum, ou seja, todos

poderão usa-lo, mas ninguém poderá dispor ou realizar transações com ele.

6 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. V.5. p.52.

É um bem fundamental à garantia da dignidade da pessoa humana,

fundamento que norteia o Estado Democrático-Social de Direito.

O Direito Ambiental é uma ciência nova, autônoma e independente,

possuindo seus próprios princípios diretores e inseridos no texto Constitucional,

através do artigo 225:

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,

bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao

Poder Público e à coletividade o dever de defende-lo e preserva-lo para as

presentes e futuras gerações”.

Princípios estes, que constituem pedras basilares dos sistemas

Político-Jurídicos dos Estados civilizados, e segundo o notável mestre Fiorillo em

seu Curso de Direito Ambiental Brasileiro , iniciam-se com a expressão

“ecologicamente equilibrado” acolhida internacionalmente e indispensáveis a uma

ecologia equilibrada, traçando o norte seguro do meio ambiente equilibrado e sendo

a bússola indicadora na proteção ambiental sincronizada em seus rumos magnéticos

com a realidade social e os valores culturais de cada Estado, identifica-se assim o

Princípio Nacional do Meio Ambiente e princípios relativos a uma Política Global

do Meio Ambiente, cujo arcabouço jurídico , deriva da Conferência de Estocolmo

de 1972 e ampliada na ECO-92.

Inseridos no texto constitucional acima, identifica-se e expõe-se os

seguintes Princípios:

2.1 - PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:

Esta terminologia surge na Conferência de Estocolmo, mas foi na

ECO-92 que seu termo foi amplamente utilizado, pois, dos 27 princípios, onze a

utilizam e constando no texto constitucional: “ Art. 225 (....): o dever de defende-

lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações”. Busca a coexistência

harmônica entre a economia e o meio ambiente, ou seja, a sociedade tem

consciência dos limites dos recursos naturais e impõe a economia à condição deste

uso de forma planejada, mantendo assim a base vital de produção e a reprodução da

atividade do homem, garantindo uma relação satisfatória entre homem-natureza,

proporcionando assim, o uso também das futuras gerações. Com este entendimento

intervencionista do Estado numa sociedade capitalista e consumista, esta harmonia

se faz necessária, pois nem o desenvolvimento social e o meio ambiente, podem em

seus interesses anular um ao outro.

2.2 - PRINCÍPIO DO POLUIDOR – PAGADOR:

Previsto no artigo 225, § 3º. “(...) á sanções penais e administrativas,

independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. Aqui, não traz este

princípio a credencial “poluo mas pago”, mas o seu conteúdo é bastante distinto e

identifica o nosso autor citado, duas órbitas de alcance: a primeira preventiva,

evitando a ocorrência de danos ambientais e a segunda repressiva, pois, ocorrido o

dano, visa sua reparação. Lembra também, que a órbita repressiva há incidência da

responsabilidade civil, pois tal pagamento de reparação não é e nem possui caráter

de pena, e muito menos de infração administrativa, como conseqüência, não exclui

a comutatividade destas.

2.3 – PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO:

Este é sem sombra de dúvida, um dos princípios mais importantes do

direito ambiental, isto posto ser a prevenção fundamental ao considerarmos que na

maioria dos casos, os danos causados ao meio ambiente são irrecuperáveis e

irreversíveis, cuja reflexão simples para melhor entendimento do leitor, nos leva a

seguinte indagação: Como recuperar uma espécie extinta? (ex- dinossauros). Assim,

uma vez mais citamos o artigo 225, que nos trás este princípio: “(....) o dever do

Poder Público e da coletividade de proteger e preservar o meio ambiente...”.

Deve esta prevenção ser alicerçada e desenvolvida através de uma

política de educação ambiental, e atualmente ser nossa realidade social ineficaz para

tal consciência, o Estado cria mecanismos destra prevenção através de instrumentos

como o EIA/RIMA, o manejo ecológico, tombamento, liminares, etc.

Concluindo, não busca tais restrições inviabilizar o desenvolvimento

econômico e social, mas unicamente, inibir o infrator que ainda carece de

entendimento que os recursos ambientais, além de escassos, não lhe pertencem

individualmente, ou a um grupo de determinadas pessoas, mas sim, é um bem

coletivo, do povo de uso comum.

2.4 - PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO:

Participar é uma conduta de tomar parte, agir conjuntamente em

alguma ação, em alguma coisa e nesta ótica, consagrou o texto constitucional no

artigo 225 a parceria “estado e da Sociedade Civil” na defesa, e preservação do

meio ambiente, cuja figura presente desta parceria, como podemos observar na

prática ocorre através de organizações ambientais, sindicatos, indústrias, comercio e

agricultura comprometidos nesta defesa, devemos então fazer a nossa parte através

de uma ação pró ativa e reativa, não esperando que o Estado faça.

Mas alguns doutrinadores são pessimistas com relação a participação

diante da realidade sócio-cultural da sociedade brasileira, defendendo reforma no

setor educacional, aliás, pertinente aqui, incluir um brilhante comentário do

Professor Miguel Augusto Machado de Oliveira em aula ministrada no dia 15 de

agosto de 2.006 na Uni - Fmu: “o currículo escolar deve resgatar a disciplina

Filosofia, pois esta, desenvolve no aluno a sua capacidade de raciocinar, na

elaboração de seus conceitos e na análise crítica, ou seja, é a elaboração do

pensamento, construindo e reformulando valores, aprendendo a pensar e

questionar”; outros complementam a ausência na educação com a necessidade da

presença de mecanismos criados pelo Estados através dos controles, das licenças

ambientais e Órgãos fiscalizadores.

Para Fiorillo 7 o Princípio da Participação constitui um dos elementos

do Estado Social do Direito, considerando que todos os direitos sociais são a

estruturas essencial de uma saudável qualidade de vida, que é, um dos pontos

cardeais da tutela ambiental.

2.5 - PRINCÍPIO DA UBIQÜIDADE:

Evidencia esse princípio, que o objeto de proteção ao meio ambiente

deve ser levado em consideração toda vez que uma política, uma atuação, legislação

ou atividade; enfim, qualquer ato ou tema que se quer criar ou alterar, pois terá

como bem maior a preservação da vida, da qualidade de vida, totalmente inerente

aos Direitos Humanos. Dessa forma, não há como pensar em Direito Ambiental

somente de forma globalizada, pensando também no âmbito local, pois a sua

atuação estará sobre a causa e não somente sobre o efeito.

Nesse raciocínio a tutela Constitucional da “a vida e a qualidade de

vida” inserida no “caput” do artigo 225, impõe que tudo quer fazer, criar ou

desenvolver, deve antes, passar pelo crivo da consulta ambiental e nele tomando

conhecimento da inexistência ou das possibilidades dos riscos de degradação do

meio ambiente.

7 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. V.5. p.39.

3 - OS CRIMES AMBIENTAIS NA LEI Nº. 9605/98

Publicada em 13 de fevereiro de 1.998, com dez vetos, e após 45 dias

de vacância, entrou em vigor no dia 30 de março a referida lei, cujo instrumento

normativo de natureza hibrida, que além de prever os crimes ambientais, preocupa

também com as infrações administrativas e cooperação internacional para a

preservação do meio ambiente, cumprindo dois objetivos: o primeiro de apenar as

condutas ilícitas ao meio ambiente, e o segundo, legislou atendendo a “Carta da

Terra” , aprovada na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento Urbano - “Agenda 21 Global”, conhecida como a ECO-92,

realizada no Rio de Janeiro em 1992

Representa o normativo em questão um avanço político na proteção

do meio ambiente ao inaugurar um sistema de punição administrativa e severas

sanções, tipificando os crimes ecológicos criando novas figuras delitivas e

descriminalizando outras, atualizando dispositivos já contemplados em textos legais

esparsos, inclusive na modalidades culposa, transformando ainda, contravenções

em crimes, preferindo o novo texto pelas penas restritivas de direitos e pecuniárias,

não só porque mais apropriadas, mas em função também do perfil diferenciado do

delinqüente ambiental, pois no caso de prisão, imporia um duplo castigo a

sociedade: suportar o dano e pagar a conta do presídio, não se esquecendo como

assevera o ilustre mestre Milaré 8: “que a lei é um farol que ilumina e aponta os

horizontes, não é barreira para simplesmente impedir a caminhada”.

Faltava para a plena efetividade do artigo 225 da Constituição

Federal um tratamento adequado da responsabilidade penal e administrativa,

preenchida esta lacuna, com a ora legislação comentada que incorpora ao

ordenamento jurídico pátrio, e fecha o cerco contra o delinqüente ambiental, a qual

apresentamos a seguir, as suas principais inovações na sua parte geral:

8 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: doutrina, pratica, jurisprudência, glossário.p.368.

3.1 – QUANTO ÀS NORMAS NA PARTE GERAL:

3.1.1 – NORMAS PENAIS EM BRANCO:

Em matéria de proteção ao meio ambiente tem se utilizado com muita

freqüência a técnica legislativa denominada “normal penal em branco”, com uma

certa lacuna que será suprimida através de uma complementação, quer por outra lei,

quer por um ato administrativo, diante da complexidade técnica e multidisciplinar

da problemática do meio ambiente. Podemos citar os seguintes exemplos:

a) art. 38 – não define o que seja floresta de preservação permanente;

b) art. 50 – não esclarece o que se deve entender por “vegetação fixadora

de duna e protetora de mangue;

c) art. 34 – não há menção dos períodos de pesca proibida, muito menos

os lugares interditados;

d) art. 35, I e II – não estão definidos o que vem a ser explosivos, muito

menos substâncias tóxicas;

e) art.29, § 4º., I e VI – não discrimina as espécies raras ou mesmo as

consideradas em extinção.

Nestes casos, e em outros mais, o comportamento proibido vem enunciado

de forma vaga, requerendo então, uma complementação. Há de se compreender essa

característica levando-se em conta tratar-se de matéria regulada predominantemente

por normas e instituições do Direito Administrativo.

Um breve comentário controvertido a esse tipo penal em branco, é inserido

no livro de Rodrigo Jorge Moraes 9 afirmando que devem sofrer o mais firme

repúdio da doutrina e da jurisprudência, pois fere o principio da legalidade previsto

tanto no artigo 5º, XXXIX da Constituição Federal como no art. 1º do Código

9 MORAES, Rodrigo Jorge et al. As Leis Federais mais importantes de proteção ao Meio Ambiente comentadas. p. 302 /3.

Penal: “não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia

cominação legal”.

Contrapõe-se esse pensamento, acreditando que as normas

administrativas ou leis complementares estarão em sua plenitude de vigência

quando da tipificação do delito, assim como exemplo é fácil entender que quando

da restrição da pesca, o código de pesca prevê a proibição (lei geral), e a portaria do

Ibama expedida complementará o período da restrição, em que a pratica delito

estará “previstos nas leis (em branco e complementar) portanto, não se antecipou

o delito a lei, não fora a lei editada “a posteriori” não configurando portanto um

“tribunal de exceção”.

3.1.2 – BEM JURÍDICO PROTEGIDO:

Desnecessário reafirmar que o bem jurídico (público ou privado) é o

meio ambiente, pois elevado a categoria de bem jurídico essencial à vida, à saúde,

e à felicidade do homem e como primeiro passo no entendimento desta tutela, é

conceituar o meio ambiente,que encontramos em Rodrigo Jorge Moraes 10, o

sentido mais amplo deste conceito que se desmembra em três aspectos:

a) - Meio ambiente natural: ordinariamente conhecido (solo, água, ar

atmosférico, fauna e flora, enfim a biosfera), nos termos previsto no

art. 3º. Da Lei nº. 6.938/81;

b) – Meio ambiente artificial ou urbano: constituído pelo espaço urbano

construído e representado no conjunto de edificações (espaço urbano

fechado) e dos equipamentos públicos (ruas, praças, espaço urbano

aberto em geral) e seus reflexos urbanísticos;

c) – Meio ambiente cultural: integrado pelo patrimônio histórico,

artístico, arqueológico, espeleológico, paisagístico, turístico, etc.

10 MORAES, Rodrigo Jorge et al. As Leis Federais mais importantes de proteção ao Meio Ambiente comentadas. p. 301.

3.1.3 - TIPICIDADE:

Para a maioria dos doutrinadores a amplitude ou a indeterminação da

conduta incriminadora, dificulta em muito o desenho dos tipos penais destinados a

tutelar o meio ambiente.

Na maioria das infrações penais ambientais o fato ilícito é porque o

agente atuou sem a autorização legal, sem licença, ou em desacordo com as

determinações legais. Assim, o agente é punido não por ter praticado o fato ou

exercido a atividade considerada danosa ao meio ambiente, mas sim, “por não ter

obtido a autorização, ou a licença para tal”, ou mesmo ainda, mesmo as tendo, “não

observou” suas condições, ou o regulamento.

Cabe aqui um exemplo, para melhor elucidar a idéia acima: Um

pescador, pode praticar um ilícito penal ou um fato atípico; o que vai determinar é

se ele esta ou não autorizado para tal ( leia-se aqui licença) e de ter obedecido (se

autorizado) as disposições regulamentares, observando o período da desova na

piracema; peso mínimo da espécie apurada, e mesmo até a quantidade de quilos

permitida para cada licenciado. Desnecessário dizer, que se ele não possuir licença

o fato é ilícito.

Outra tendência moderna dos doutrinadores jurídicos é o de conceber

o crime ecológico, cada vez mais, como “ crime de perigo” e Milaré 11 para

avalizar esta afirmação cita o exímio penalista Paulo José da Costa Júnior que

ensina “sempre que a lei transfira o momento consumativo do crime da “lesão”

para aquele da “ameaça”, aperfeiçoando-se o crime no instante em que o bem

tutelado encontrar-se numa condição objetiva de possível ou provável lesão”.

O reflexo desta afirmação é a ampliação da fronteira protetora dos

bens e valores do meio ambiente; pois, no recurso aos crimes de perigo permite

realizarem-se conjuntamente medidas de repressão e de prevenção; nesta linha, o

legislador da lei nº. 9605/98 desenhou também os chamados tipos de perigo,

11 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: doutrina, pratica, jurisprudência, glossário.p.351.

especialmente do perigo abstrato para os quais, já é o suficiente a “mera

probabilidade de dano”

Chega-se também a conclusão que a conduta típica depende da

transgressão de normas a que a incriminação do fato a que se refere; devendo

necessariamente ser considerada pelo julgador no estabelecimento da tipicidade o

“comportamento do agente”.

3.1.4 – ELEMENTO SUBJETIVO:

A culpa do agente, é que vai dosar a sua responsabilidade, nos crimes

ambientes, ela vem encartada tanto no dolo, quanto na culpa.

Relembrando o crime doloso, é quando o agente quer o resultado ou

assume o risco de produção; e o crime culposo esta no agente provocar o resultado

por imprudência, negligência ou imperícia, se bem que a doutrina moderna, entende

também a conduta voluntária (ação ou omissão) que produz resultado não querido

mas previsível; e excepcionalmente previsto, que podia com a devida atenção ser

evitado.

No Direito Ambiental a regra da punição é a título de dolo, e a

exceção a título de culpa, e a lei nº. 9605/98 serviu de um marco divisor, pois

anterior a sua vigência, a punição de crimes ambientais eram basicamente no dolo e

fatos de maior gravidades permaneciam impunes ( ex: constantes derramamento de

óleo no mar por embarcações mal conservadas, pois não conseguia provar a

intenção do barqueiro de provocar prejuízo ao ambiente marinho), e nesse sentido o

legislador na edição da citada lei, avançou com a implementação da modalidade

culposa, inibindo e eliminando a impunidade que até então era uma regra.

3.1.5 – SUJEITO ATIVO:

Nos crimes ambientais, qualquer pessoa, física ou jurídica, cujo

infrator divergindo do delinqüente comum, não oferece nenhuma periculosidade ao

meio social, e que o leva à pratica do crime por circunstâncias do meio em que vive

e dos costumes.

Sobre a infração praticada pela pessoa física, pacífica é a doutrina

sobre a pratica delitiva, exigindo do seu autor no momento a plena capacidade de

entendimento e o caráter ilícito do fato, este conjunto de condições cria resistência a

uma corrente doutrinária em aceitar a responsabilidade da pessoa jurídica.

A responsabilidade da pessoa jurídica foi construída pelo legislador

em cumprimento irrestrito ao artigo 225, § 3º. da Constituição Federal e assim o fez,

dispondo no artigo 3º., e no § único da Lei nº. 9.605/98, cujo teor do citado

diploma condiciona que a infração tenha sido cometida em seu interesse ou

benefício e por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu

colegiado.

Avança o legislador na lei ora em comento, ao responsabilizar os

diretores e os responsáveis quanto a relevância da omissão, cujo dispositivo legal,

previsto no Código Penal em seu artigo 13, § 2º., foi estabelecido também no artigo

2º desta moderna lei; que ao contemplar tais responsáveis, elimina um campo fértil

de impunidade a estes, pois fatalmente tais personagens escudaria na pessoa jurídica

(muitas vezes sem patrimônio e de fachada) para a pratica delituosa, podemos citar

como exemplo as madeireiras extratoras que existem no norte do País, que com

raras exceções, operam na ilegalidade ( desde o caminhão que transporta o produto,

às máquinas e as motos-serra, sem registro no ativo empresarial, e muitas sem seus

livros contábeis atualizados e que refletem a realidade da empresa.

Concluindo o avanço da abrangência desta lei, o artigo 4º. cuida da

desconsideração da pessoa jurídica ( Disregard of Legal Entity), ou seja, as pessoas

jurídicas são distintas e separadas de seus membros, mas quando, revestida de

intenção de fraudar o Juiz deverá desconsiderar tal distinção e ou a separação não

permitindo expediente ardiloso que se traduzira na impunidade dos sócios.

Outros doutrinadores citados por Rodrigo Jorge Moraes, avalizam

a construção da responsabilidade das pessoas jurídica, continua o autor

citando Fausto Martin de Sanctis e Vladimir Passos de Freitas : “a responsabilidade

da pessoa jurídica não exclui das pessoas naturais, podendo a denúncia ser dirigida

apenas contra a pessoa jurídica, caso não se descubra a autoria ou a participação das

pessoas naturais, e poderá também ser direcionada contra todos, que concluem a

proteção penal é indispensável à proteção do meio ambiente, com passo

importante na responsabilidade da pessoa jurídica, cabendo a lei a sua efetividade”.

Isso posto, se conclui que não deveria existir controvérsias diante

destas determinações legais, previstas na norma constitucional e na

infraconstitucional.

Porém vale a pena conhecer outras construções intelectuais, e

contrapondo, cita ainda o autor acima, Miguel Reale Júnior que para este sábio

mestre a redação do artigo 225, § 3º “não autoriza a conclusão no sentido de que a

Lei Maior admite a responsabilidade penal da pessoa jurídica, tendo inclusive,

durante o processo constituinte, sido excluída a expressão criminal, do conteúdo do

art. 173 que trata de responsabilidade de atos praticados contra a Ordem Econômica

e Financeira”

Para o doutrinador José Cretella Junior em seu Comentário a

Constituição de 1988, páginas 4044/5, a responsabilidade individual do seu

dirigente será civil ou penal, responsabilizando a empresa patrimonialmente, única

sanção compatível com sua natureza, sendo “irresponsável penalmente”, pois a

Constituição não prevê o princípio da responsabilidade criminal da pessoa jurídica,

pois o art.225 em seu parágrafo 3º apenas coloca de um lado a pessoa física a quem

se aplica a conduta, e de outro lado a pessoa jurídica, à qual, se aplica o vocábulo

atividade, cominando com os atos lesivos, na primeira com sanções penais, e as

atividades da segunda, sanções administrativas e econômicas; desnecessário dizer,

com a devida reparação do dano se possível

3.1.6 – SUJEITO PASSIVO:

No Direito Ambiental, o sujeito passivo direito é a coletividade, não

bastando recordar ser o bem tutelado considerado de uso comum do povo; porém

poderá ocorrer situação em que o sujeito passivo poderá ser pessoa certa,

dependendo da particularidade do dano causado, cuja ocorrência em decorrência do

bem jurídico protegido ser público ou privado, se classificará como sujeito passivo

indireto.

3.2 – QUANTO ÀS SANÇÕES PENAIS:

3.2.1 – PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO:

Similar ao artigo 44 do Código Penal, o artigo 7º. desta lei prevê que

são autônomas e substituem as privativas de liberdade, exigindo os requisitos de

forma cumulativa, exigindo ser crime culposo, e no caso de crime doloso que a pena

aplicada seja inferior a 4 anos, e finalmente que as circunstâncias judiciais sejam

favoráveis.

A aplicação desta pena, na Lei Ambiental cabe ainda, mesmo que o

crime seja cometido com violência ou grave ameaça, e é indiferente com a

primariedade ou não do réu em crime doloso. Apresenta ainda, um rol próprio das

penas restritivas, excluindo a perda de bens e valores e a limitação de final de

semana prevista no artigo 44 do Código Penal, inovando, porém ao incluir a

suspensão parcial ou total de atividades e o recolhimento domiciliar; concluindo

embora não necessitasse, tratou a lei de errar pelo excesso ao prever em seu artigo

79 a aplicação subsidiaria a lei, das disposições do Código Penal e do Código de

Processo Penal.

Mas como sempre, ensina o brilhante doutrinador Milaré 12 que a

aplicação desta pena quer na suspensão parcial ou total das atividades ou na

interdição temporária do estabelecimento a pessoa jurídica que o violar terá na sua

liquidação forçada, verdadeira pena de morte, com perdas de bens e valores,

atingindo por via reflexa o empregado, que não teve nenhuma responsabilidade no

crime cometido pela empresa, complementa-se o entendimento, ferindo também o

artigo 5º., XLV da Constituição Federal 12 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: doutrina, pratica, jurisprudência, glossário.p.365.

3.2.2 – SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA:

A aplicação do sursis continua regida pelas regras do Código Penal,

com duas exceções na lei ora apresentada: a primeira, quando a condenação, pois

nesta prevê pena até 3 anos, enquanto no código, a pena máxima limita-se a 2 anos,

e a segunda inovação trata-se, quanto ao instituto da transação penal, que será

formulada diante da verificação da reparação do dano, comprovado mediante a

emissão de laudo de reparação de dano ambiental, evidente, se possível de

restauração, conforme o enunciado dos seus artigos 8º e 27º.

Nesse sentido, integrou o legislador através do art. 19 § único, em

defesa do direito ambiental, o subsistema normativo aplicando o instituto do

inquérito civil previsto no art.129, III da Constituição Federal; portanto, a perícia

produzida no inquérito civil poderá ser utilizada no processo penal, observando o

consistente princípio do contraditório (devido processo legal), eliminando o

caminho, ou melhor encurtando a trajetória do ortodoxo processo penal.

3.2.3 – MULTA DECORRENTE DO ILÍCITO PENAL:

Caminha o diploma legal ora comentado em consonância com o

Código Penal em seu artigo 60, quanto a aplicação da multa, facultando ao Juiz

triplica-la em caso de valor ineficaz conforme preceitua o § 1º. do referido artigo,

surgindo nesse momento, a inovação na lei ambiental, prevendo que em

decorrência da vantagem econômica expressiva, poderá ser aumentada novamente

em até três vezes sobre o valor maximo já alcançado pelo Código Penal,

respeitando e sendo aplicado, de forma proporcional a vantagem econômica obtida,

conforme seu artigo 18.

Concluindo, traz ainda como inovação, o valor mínimo de reparação

do dano, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido ou pelo meio ambiente,

agilizando assim, o processo de reparação civil, conforme estabelecido no artigo 20

“caput” da citada lei.

3.2.4 – CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES E AGRAVANTES:

Disciplinadas no artigo 14 da lei, o baixo grau de instrução ou

escolaridade do agente; o arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea

reparação do dano; a comunicação prévia do agente do perigo iminente e a

colaboração com os agentes encarregados, servem de atenuantes; já a reincidência

nos crimes de natureza ambiental; cometido a infração para dela obter vantagem

pecuniária, coagindo outrem a execução; afetando ou expondo a saúde pública;

concorrendo para dano à propriedade alheia; atingindo áreas de conservação ou

urbanas, ou ainda de qualquer assentamento humano; em período proibido à fauna;

em domingos e feriados; à noite; em épocas de secas ou inundações; aplicação de

métodos cruéis; mediante fraude ou abuso de confiança ou ainda do direito de

licença ou permissão ou autorização ambiental, atingindo espécies ameaçadas de

extinção, concorrem para as circunstâncias agravantes da infração, conforme o

artigo 15 desta lei. Importante lembrar o ensinamento de Mirabete 13 quanto as

circunstâncias que não constituem ou qualificam o crime: “que uma circunstância

elementar (elemento) ou qualificadora, que faz parte da estrutura do tipo penal, ou

qualificado, não pode, ao mesmo tempo, torna-lo mais grave que o reconhecimento

dessa circunstância como agravante genérica da pena, o que é vedado pelo princípio

“non bis in idem”.

13 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. P.293.

3.3 – DOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE:

3.3.1 – DOS CRIMES CONTRA A FAUNA:

Os animais são bens sobre os quais incide a ação do homem,

cumprindo função ecológica, estará sob o manto do art.225 da Constituição Federal

conjugado com o art. 81 do Código de Defesa do Consumidor, § único, I, que a

eleva a condição de um bem difuso, implicando em alterações profundas sob a ótica

dos então Código da Caça (Decreto-Lei nº. 5.894/43) e do Código de Pesca

(Decreto-Lei nº. 794/38) que classificavam as espécies componentes da fauna em

“res nullius”. Inteligentemente, o legislador revogou tal classificação com a edição

da Lei nº. 5.197/67 e do Decreto-Lei nº. 221/67 fundados na preocupação com a

extinção e diante da importância do equilíbrio no ecossistema, quer na função

ecológica, científica, recreativa, econômica e cultural, influindo assim, diretamente

na vida e na qualidade de vida dos seres humanos.

Elaborou a lei nº. 9.605/98 um regramento minucioso em seus

artigos 29 a 37, no sentido de dar a devida proteção com a aplicação da tutela

criminal neste bem ambiental, nos quais, deve o profissional do direito interpreta-

los sob foco, pois, qualquer visão equivocada levará prejuízo a dignidade da

pessoa humana.

Assim, são crimes contra a Fauna:

- Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna

silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou

autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida:

- Quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou

em desacordo com a obtida;

- Quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro

natural;

- Quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em

cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna

silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos,

provenientes de criadouros não autorizadas ou sem a devida permissão, licença ou

autorização da autoridade competente.

- Exportando peles e couros de anfíbios e répteis em bruto, sem a

autorização da autoridade ambiental competente:

- Introduzindo espécime animal no País, sem parecer técnico oficial

favorável e licença expedida por autoridade competente:

- Praticando ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais

silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos, incorrendo nas mesmas

penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para

fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.

- Provocando, pela emissão de efluentes ou carreamento de materiais,

o perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes,

lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras:

- Causando a degradação em viveiros, açudes ou estações de

aqüicultura de domínio público;

- Quem explora campos naturais de invertebrados aquáticos e algas,

sem licença, permissão ou autorização da autoridade competente;

- Quem fundeia embarcações ou lança detritos de qualquer natureza

sobre bancos de moluscos ou corais, devidamente demarcados em carta náutica.

- Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares

interditados por órgão competente, e pescando espécies que devam ser preservadas

ou espécimes com tamanhos inferiores aos permitidos, bem como, em quantidades

superiores às permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas

e métodos não permitidos;

- Transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes

provenientes da coleta, apanha e pesca proibidas.

- Pescar mediante a utilização de explosivos ou substâncias que, em

contato com a água, produzam efeito semelhante ou do uso de substâncias tóxicas,

ou outro meio proibido pela autoridade competente:

- Considera-se pesca todo ato tendente a retirar, extrair, coletar,

apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos,

moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento econômico,

ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais da

fauna e da flora.

- E como excludente de ilicitude, preceitua a lei, não ser crime o

abate de animal, quando realizado em estado de necessidade, para saciar a fome do

agente ou de sua família, na proteção das lavouras, pomares e rebanhos, e na ação

predatória ou destruidora de animais, por serem nocivos, desde que assim

caracterizado pelo órgão administrativo e autorizado pela autoridade competente.

3.3.2 – DOS CRIMES CONTRA A FLORA:

Antes da Constituição Federal de 88, era da União a competência de

legislar sobre a proteção da flora, cujo Código Florestal, e com o advento da carta

magna, modificou-se o critério, competindo a esta, tão somente, legislar sobre as

normas gerais. As florestas são bem ambientais, de natureza difusa, cuja titularidade

é o povo, e quando incrustadas na propriedade privada, sofrem limitações diante do

uso e do gozo comum. Classificação assentada na Lei nº. 4.771/65 determina

quanto a preservação, a sua variedade de espécie, ao tipo, ao primitivismo, e a

capacidade de exploração.

Tem essa tutela o cunho maior de proteger a maior riqueza nacional

da nossa flora: a biodiversidade, levando o legislador através da Lei nº. 9.605/98 o

enfrentamento das ações lesivas através de critérios preventivos e repressivos,

detalhando descrições das situações nos denominados crimes contra a flora, e

estabelecidos nos artigos 38 a 53 da lei, que ora se comenta:

Nesta visão, são crimes contra a flora:

- Destruir ou danificar floresta considerada de preservação

permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de

proteção;

- Cortar árvores em floresta considerada de preservação

permanente, sem permissão da autoridade competente;

- Causar dano direto ou indireto as Reservas Biológicas, Reservas

Ecológicas, Estações Ecológicas, Parques Nacionais, Estaduais e Municipais,

Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais, Áreas de Proteção Ambiental, Áreas

de Relevante Interesse Ecológico e Reservas Extrativistas ou outras a serem criadas

pelo Poder Público.

- Provocar incêndio em mata ou floresta;

- Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar

incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou

qualquer tipo de assentamento humano;

- Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação

permanente, sem a autorização legal, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de

minerais,

- Cortar ou transformar em carvão madeira de lei, assim classificada por

ato do Poder Público, para fins industriais, energéticos ou para qualquer outra

exploração, econômica ou não, em desacordo, com a lei;

- Recepcionar ou adquirir, madeira, lenha, carvão e outros produtos de

origem vegetal, sem a licença do vendedor, expedida pela autoridade competente, e

sem acompanhamento da via que deverá acompanhar o produto até final

beneficiamento;

- Vender, expor à venda, ter em depósito, transportar ou guardar madeira,

lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem licença válida para todo o

tempo do transporte ou do armazenamento, expedida pela autoridade competente;

- Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas

de vegetação;

- Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio,

plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia;

- Destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou vegetação

fixadora de dunas protetora de mangues, objeto de especial preservação;

- Comercializar motosserra ou utilizá-la em florestas e nas demais formas

de vegetação, sem licença ou registro da autoridade competente;

- Penetrar em Unidades de Conservação conduzindo substâncias ou

instrumentos próprios para caça ou para exploração de produtos ou subprodutos

florestais, sem licença da autoridade competente.

3.3.3 – DA POLUIÇÃO E OUTROS CRIMES AMBIENTAIS:

Na Seção III do ora instrumento legislativo analisado, o legislador,

elaborou com muito cuidado a proteção direta da incolumidade físico-psiquica da

pessoa humana em nosso país, valores fundamentais para a realização do ser

humano, abrangendo ainda, a proteção do meio ambiente do trabalho (arts. 196 a

200 da C.F/88). Assim a partir da Lei nº. 9.605/98 em seus artigos 54 a 61, e na lei

de Política Nacional do Meio Ambiente nº. 6.938/81, são considerados crimes, o ato

ou efeito, que “ causem poluição de qualquer natureza ou ainda, resultem ou possa

resultar em danos a saúde humana ou em detrimento de outros portadores de DNA,

abrangendo inclusive à proteção do lazer (art.54, IV), transportando a tutela

ambiental essencial para a proteção do direito criminal ambiental..

Poluição é a degradação da qualidade ambiental provocada pela

presença de elementos exógenos em um determinado meio, deteriorando a sua

qualidade.Como bem ensina a brilhante Maria Helena Diniz, em seu Dicionário

Jurídico – v.3, p. 635: poluição é o ato ou efeito de poluir, degradando o ar, as

águas, o solo e o ambiente em geral, prejudicando a saúde, a segurança, e o bem

estar do ser humano, ou causando dano à fauna e à flora, criando condições

adversas às atividades sociais e econômicas.

Nesse sentido, são tipos ou condutas de crimes de poluição e outros crimes ambientais: - Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou

possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de

animais ou a destruição significativa da flora;

- tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana;

- causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que

momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde

da população;

- causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do

abastecimento público de água de uma comunidade;

- dificultar ou impedir o uso público das praias;

- que ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos,

ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências

estabelecidas em leis ou regulamentos;

- quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade

competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou

irreversível.

- Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a

competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a

obtida.

- deixar de recuperar a área pesquisada ou explorada, nos termos da

autorização, permissão, licença, concessão ou determinação do órgão competente.

- Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar,

fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou

substância tóxica, nuclear ou radioativa perigosa ou nociva à saúde humana ou ao

meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus

regulamentos.

- abandonar os produtos ou substâncias acima referidas, ou os utiliza

em desacordo com as normas de segurança.

- Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em

qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços

potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais

competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes.

- Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à

agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas.

3.3.4 – DOS CRIMES CONTRA O ORDENAMENTO URBANO

E PATRIMÔNIO CULTURAL:

Merece também destaque no plano de direito criminal, com sanções

penais adequadas a proteção do meio ambiente cultural (prevista no arts. 215 e 216

da CF.) e do meio ambiente artificial ( prevista no arts. 182 e 183 da C.F.).

Do conflito de dois princípios constitucionais, o da política de

desenvolvimento urbano (art. 182 da C.F.) e o da ordem econômica ( art. 170 da

C.F.), trabalhou o legislador com outro princípio na solução deste embate que é o do

desenvolvimento sustentável, que tem seu apoio de sustentação e de manutenção

nas bases vitais de produção e de reprodução do homem, assegurando uma relação

satisfatória entre os homens e destes com o seu ambiente.

Por saber que a poluição visual tem o seu desenvolvimento gradativo

nos espaços urbanos e inconscientemente nos acostumamos com esse efeito, esta

deve na lei ser contida, através do estabelecimento técnico de índices de tolerância

única maneira de assegurarmos às futuras gerações o desfrute do meio ambiente

com qualidade.

Assim a preservação social da cidade passou a contar com esse

ordenamento jurídico criminal ambiental; e da mesma forma, aliou-se as sanções

penais criminais com o direito ambiental cultural com a edição desta lei objeto deste

estudo, em seus artigos 62 a 65, apresentando um elenco da grande maioria de

crimes previstos para a proteção da estética urbana e do patrimônio cultural:

- Destruir, inutilizar ou deteriorar, bem; arquivo, registro, museu,

biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato

administrativo ou decisão judicial;

- Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente

protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em razão de seu valor

paisagístico, ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso,

arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade

competente ou em desacordo com a concedida;

- Promover construção em solo não edificável, ou no seu entorno,

assim considerado em razão de seu valor paisagístico, ecológico, artístico, turístico,

histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem

autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida;

- Pichar, grafitar ou por outro meio conspurcar edificação ou

monumento urbano, ou em coisa tombada em virtude do seu valor artístico,

arqueológico ou histórico.

3.3.5 – DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO

AMBIENTAL:

Trata esse sub-ítem da Lei nº. 9.605/98, a valoração àqueles que

concretamente atuam em nome do Estado Democrático-Social de Direito, cujo

objetivo é de implementar utilidade ao comando constitucional que se impõe ao

Poder Público no dever de preservar e defender os bens ambientais (art.225 da

C.F.), com uma série de atividades disciplinadoras, através dos artigos 66 a 69 da

citada Lei, da atuação de seus funcionários:

- Fazer o funcionário público afirmação falsa ou enganosa, omitir a

verdade, sonegar informações ou dados técnico-científicos em procedimentos de

autorização ou de licenciamento ambiental;

- Conceder o funcionário público licença, autorização ou permissão

em desacordo com as normas ambientais, para as atividades, obras ou serviços cuja

realização depende de ato autorizativo do Poder Público;

- Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de

cumprir obrigação de relevante interesse ambiental:

- Obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público no trato

de questões ambientais:

CONCLUSÃO

Como já se sabe, o bem ambiental de uso comum do povo, podendo ser

desfrutado por toda e qualquer pessoa dentro dos limites da Constituição Federal

previstos em seu artigo 225, e, também por ser um bem fundamental à garantia da

Dignidade da pessoa humana, fundamento que norteia o Estado Democrático-Social

de Direito.

O Direito Ambiental é uma ciência nova, autônoma e independente, que

deverá ser estudado com base nos princípios constitucionais que se inserem no

artigo acima mencionado já comentado neste trabalho, porém, nunca demais para

serem relembrados: Princípio Nacional do Meio Ambiente traduzido na expressão

“ecologicamente equilibrado”, e, que recepciona uma política globalizada

derivando de conferências internacionais e acolhendo tratados ambientais com

outros Estados; o Princípio do Desenvolvimento Sustentável harmoniza o

desenvolvimento social que se traduz no desenvolvimento econômico com a

proteção do meio ambiente; já no Princípio do Poluidor-Pagador, a tradução esta na

obrigação de reparar os danos causados, mas sem caráter de pena do ilícito

praticado, pois este, continua sendo e será exigido por legislação própria; o

Princípio da Participação auto-explicativo, não deixa de ser um pedido de

conscientização e do engajamento da sociedade e o Principio da Ubiqüidade,

relaciona-se com o bem maior a ser protegido, a vida e a sua qualidade,

indispensável afirmar inerente aos Direitos Humanos.

Centrados nestes princípios é que o legislador diante dos anseios da nossa

sociedade caminha no sentido de proteger, prevenir, reprimir, conscientizar e

disciplinar, através da edição de Leis, a prevenção e a sua manutenção e outras com

caráter de repressão ou de regulamentação com a permissão do uso equilibrado e

correto, nesse sentido então forma–se um conjunto de normas infraconstitucional

esparsas que elencamos neste trabalho como anexo.

Mas por traduzir no melhor instrumento de defesa do meio ambiente,

foi analisada a Lei nº. 9.605 publicada em 13 de fevereiro de 1998, que representa

um avanço político na proteção do meio ambiente cumprindo dois objetivos: o

primeiro de apenar condutas ilícitas, através do alargamento da tipificação criminal,

atualizando dispositivos legais esparsos, inserindo a modalidade culposa,

transformando contravenções em crimes, modernizando o texto das penas e ao

preferir as penas restritivas de direito e pecuniárias considerou ser o perfil do

delinqüente ambiental quase que na sua maioria diferenciado, possibilitou também

a plena efetividade no artigo 225 da Constituição Federal; e, o segundo objetivo ao

implementar as infrações administrativas, dando a devida importância aos Órgãos

que operacionalizam a política ambiental, e também na cooperação internacional

para a preservação do meio ambiente.

Análise concluída deste ordenamento jurídico de proteção ao meio

ambiente, afirma-se que o Estado cumpre em parte o seu papel quanto a proteção e

prevenção ao meio ambiente, com a edição de leis, atos regulamentadores e órgãos

administrativos que atuam na busca da satisfação do artigo 225.

Porém, por ser uma obrigação também imposta a coletividade quanto

ao dever de defendê-lo e preserva-lo o dispositivo que todos devem se conscientizar

é o Principio da Participação em que devemos fazer a nossa parte, através de uma

ação pró ativa e reativa não esperar que o Estado o faça.

Nesse sentido alguns doutrinadores são pessimistas com relação a

participação diante da realidade sócio-cultural da sociedade brasileira, defendendo

reforma no setor educacional, complementam a ausência da educação com a

necessidade da presença de mecanismos criados pelo Estados através dos controles,

das licenças ambientais e Órgãos fiscalizadores.

Distante de um quadro ideal, creia-se parecer que nem tudo este tão

perdido na realidade prática, pois exemplos de preservação e uso racional dos

recursos naturais é demonstrado constantemente, e ao dividir o Brasil

hipoteticamente; em rural ou pequenos lugares ( características mais presente no

Pais vivendo sobre a influência rural) e Grandes centros Urbanos, podemos

observar no primeiro, uma harmonia perfeita, entre o homem do campo e a

natureza, predominando o Princípio da Ubiqüidade, no qual, o homem ao provocar

queimadas destrói a natureza, mas realiza o plantio, que é a esperança da fartura do

pão na mesa, ou seja, atende aos direitos humanos quanto à vida e a qualidade de

vida, além do que, da própria dignidade humana; e, no segundo, os grandes

centros urbanos não é difícil observar o Princípio do Desenvolvimento Sustentável

na ação dos catadores de lixo, que aliás, devia ser alterado a sua nomenclatura, para

catadores de recursos recicláveis, gesto de grandeza, quer por necessidade pois

cumpre a finalidade social do emprego, influindo na dignidade e na vida do

indivíduo; quer em sua ação como cidadão na coletividade, pois ao reciclar não só

esta incutido o reaproveitamento dos recursos já utilizados mas como, poupando os

recursos originais, dilatando assim, o esgotamento dos mesmos como concluiu o

Clube de Roma, em 1.968.

Transferindo também, um pouco desse otimismo para a tutela jurídica, ao

lembrar que a causa deve ser equacionada na sua origem, e ao vislumbrar no futuro

bem próximo à vigência das leis ambientais municipais, que aplicadas

individualmente, e, no respeito às diferenças regionais do nosso grande continente

chamado Brasil, refletirão conjuntamente nos efeitos globais da qualidade do meio

ambiente.

ANEXO 1

LEIS FEDERAIS AMBIENTAIS:

LEI Nº. 4.717 – de 29 de junho de 1.965 Ação Popular LEI Nº. 4.771 – de 15 de setembro de 1.965 Código Florestal Brasileiro LEI Nº. 5.197 – de 03 de janeiro de 1.967 Código de Proteção a Fauna LEI Nº. 6.453 – de 17 de outubro de l.977 e LEI Nº. 7.653 – de 12 de agosto de 1.988 (nova redação) Responsabilidade por Danos Nucleares LEI Nº. 6.766 – de 19 de dezembro de 1.979 O parcelamento do Solo para Fins Urbanos LEI Nº. 6.902 – de 27 de abril de 1.981 Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental LEI Nº. 6.938 – de 31 de agosto de 1.981 Política Nacional do Meio Ambiente LEI Nº. 7.347 – de 24 de julho de 1.985 Ação Civil Pública LEI Nº. 7.661 – de 16 de maio de 1.988 Direito do Mar e Gerenciamento da Costa Brasileira LEI Nº. 7.802 – de 11 de julho de 1.989 Agrotóxicos LEI Nº. 7.805 – de 18 de julho de 1.989 Exploração Mineral LEI Nº. 8.171 – de 17 de janeiro de 1.991 A lei Agrícola e o Meio Ambiente

LEI Nº. 9.433 – de 08 de janeiro de 1.997

Política Nacional de Recursos Hídricos LEI Nº. 9.984 – de 17 de julho de 2.000 Agência Nacional de Águas LEI Nº. 9.478 – de 06 de agosto de 1.997 Lei do Petróleo LEI Nº. 9.605 – de 12 de fevereiro de 1.998 Crimes Ambientais LEI Nº. 9.795 – de 27 de abril de 1.999 Educação Ambiental LEI Nº. 9.966 – de 28 de abril de 2.000 Controle e Fiscalização da Poluição Causada por Lançamento de Óleo LEI Nº. 9.985 – de 18 de julho de 2.000 Sistema Nacional de Unidade de Conservação LEI Nº. 10.165 – de 27 de dezembro de 2.000 Taxa de controle e Fiscalização Ambiental – TCFA LEI Nº. 11.105 – de 25 de março de 2.005 Política Nacional de Biossegurança – PNB.

ANEXO 2

LEI nº. 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998.

Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 1º (VETADO) Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstas nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la. Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato. Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente. Art. 5º (VETADO) CAPÍTULO II DA APLICAÇÃO DA PENA Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente observará: I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas conseqüências para a saúde pública e para o meio ambiente; II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental; III - a situação econômica do infrator, no caso de multa. Art. 7º As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade quando:

I - tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena privativa de liberdade inferior a quatro anos; Il - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime. Parágrafo único. As penas restritivas de direitos a que se refere este artigo terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída. Art. 8º As penas restritivas de direito são: I - prestação de serviços à comunidade; II - interdição temporária de direitos; III - suspensão parcial ou total de atividades; IV - prestação pecuniária; V - recolhimento domiciliar. Art. 9º A prestação de serviços à comunidade consiste na atribuição ao condenado de tarefas gratuitas junto a parques e jardins públicos e unidades de conservação, e, no caso de dano da coisa particular, pública ou tombada, na restauração desta, se possível. Art. 10. As penas de interdição temporária de direito são a proibição de o condenado contratar com o Poder Público, de receber incentivos fiscais quaisquer outros benefícios, bem como de participar de licitações, pelo prazo de cinco anos, no caso de crimes dolosos, e de três anos, no de crimes culposos. Art. 11. A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às prescrições legais. Art. 12. A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima ou à entidade pública ou privada com fim social, de importância, fixada pelo juiz, não inferior a um salário mínimo nem superior a trezentos e sessenta salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual reparação civil a que for condenado o infrator. Art. 13. O recolhimento domiciliar baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado, que deverá, sem vigilância, trabalhar, freqüentar curso ou exercer atividade autorizada, permanecendo recolhido nos dias e horários de folga em residência ou em qualquer local destinado a sua moradia habitual, conforme estabelecido na sentença condenatória. Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena: I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente; II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano, ou imitação significativa da degradação ambiental causada; Ill - comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental; IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle ambiental. Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: I - reincidência nos crimes de natureza ambiental; II - ter o agente cometido a infração:

a) para obter vantagem pecuniária; b) coagindo outrem para a execução material da infração; c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o meio ambiente; d) concorrendo para danos à propriedade alheia; e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a regime especial de uso; f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos; g) em período de defeso à fauna; h) em domingos ou feriados; i) à noite; j) em épocas de seca ou inundações; l) no interior do espaço territorial especialmente protegido; m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais; n) mediante fraude ou abuso de confiança; o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental; p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por verbas públicas ou beneficiada por incentivos fiscais; q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das autoridades competentes; r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções. Art. 16. Nos crimes previstos nesta Lei, a suspensão condicional da pena pode ser aplicada nos casos de condenação a pena privativa de liberdade não superior a três anos. Art. 17. A verificação da reparação a que se refere o § 2º do art. 78 do Código Penal será feita mediante laudo de reparação do dano ambiental, e as condições a serem impostas pelo juiz deverão relacionar-se com a proteção ao meio ambiente. Art. 18. A multa será calculada segundo os critérios do Código Penal; se revelar-se ineficaz, ainda que aplicada no valor máximo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômica auferida. Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o montante do prejuízo causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa. Parágrafo único. A perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá ser aproveitada no processo penal, instaurando-se o contraditório. Art. 20. A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor mínimo para reparação dos danos causados pela inflação, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido ou pelo meio ambiente. Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá efetuar-se pelo valor fixado nos termos do caput, sem prejuízo da liquidação para apuração do dano efetivamente sofrido. Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas, de acordo com o disposto no art. 3º, são:

I - multa; II - restritivas de direitos; III - prestação de serviços à comunidade. Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoas jurídica são: I - suspensão parcial ou total de atividades; II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade; Ill - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações. § 1º A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente. § 2º A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar. § 3º A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações não poderá exceder o prazo de dez anos. Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá em: I - custeio de programas e de projetos ambientais; Il - execução de obras de recuperação de áreas degradadas; III - manutenção de espaços públicos; IV - contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas. Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua liquidação forçada, seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional. CAPÍTULO III DA APREENSÃO DO PRODUTO E DO INSTRUMENTO DE INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA OU DE CRIME Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidas seus produtos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos. § 1º Os animais serão libertados em seu habitat ou entregues a jardins zoológicos, fundações ou entidades assemelhadas, desde que fiquem sob a responsabilidade de técnicos habilitados. § 2º Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão estes avaliados e doados a instituições científicas, hospitalares, penais e outras com fins beneficentes. § 3º Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis serão destruídos ou doados a instituições científicas, culturais ou educacionais. § 4º Os instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos, garantida a sua descaracterização por meio da reciclagem.

CAPÍTULO IV DA AÇÃO E DO PROCESSO PENAL Art. 26. Nas infrações penais previstas nesta Lei, a ação penal é pública incondicionada. Parágrafo único. (VETADO) Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade. Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº. 9.099, de 26 de setembro de 1995, aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações: I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5º do artigo referido no caput, dependerá de laudo de constatação de reparação do dano ambiental, ressalvada a impossibilidade prevista no inciso I do § 1º do mesmo artigo; II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação, o prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o período máximo previsto no artigo referido no caput, acrescido de mais um ano, com suspensão do prazo da prescrição; III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do § 1º do artigo mencionado no caput; IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo de constatação de reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu resultado, ser novamente prorrogado o período de suspensão, até o máximo previsto no inciso II deste artigo, observado o disposto no inciso III; V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de punibilidade dependerá de laudo de constatação que comprove ter o acusado tomado as providências necessárias à reparação integral do dano. CAPÍTULO V DOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE Seção I Dos Crimes contra a Fauna Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida: Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa.

§ 1º Incorre nas mesmas penas: I - quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em desacordo com a obtida; II - quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural; III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizadas ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente. § 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. § 3º São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas, migratória e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras. § 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado: I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente no local da infração; II - em período proibido à caça; III - durante a noite; IV - com abuso de licença; V - em unidade de conservação; VI - com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar destruição em massa. § 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça profissional; § 6º As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca. Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis em bruto, sem a autorização da autoridade ambiental competente: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico oficial favorável e licença expedida por autoridade competente: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.

Art. 33. Provocar, pela emissão de efluentes ou carreamento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras: Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas cumulativamente. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas: I - quem causa degradação em viveiros, açudes ou estações de aqüicultura de domínio público; II - quem explora campos naturais de invertebrados aquáticos e algas, sem licença, permissão ou autorização da autoridade competente; III - quem fundeia embarcações ou lança detritos de qualquer natureza sobre bancos de moluscos ou corais, devidamente demarcados em carta náutica. Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente: Pena - detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem: I - pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos inferiores aos permitidos; II - pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos; III - transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes da coleta, apanha e pesca proibida. Art. 35. Pescar mediante a utilização de: I - explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito semelhante; Il - substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade competente: Pena - reclusão de um ano a cinco anos. Art. 36. Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca todo ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais da fauna e da flora. Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado: I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família; II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade competente; III - (VETADO) IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente.

Seção II Dos Crimes contra a Flora Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção: Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade. Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão da autoridade competente: Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação e às áreas de que trata o art. 27 do Decreto nº. 99.274, de 6 de junho de 1990, independentemente de sua localização: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 1º Entende-se por Unidades de Conservação as Reservas Biológicas, Reservas Ecológicas, Estações Ecológicas, Parques Nacionais, Estaduais e Municipais, Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais, Áreas de Proteção Ambiental, Áreas de Relevante Interesse Ecológico e Reservas Extrativistas ou outras a serem criadas pelo Poder Público. § 2º A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das Unidades de Conservação será considerada circunstância agravante para a fixação da pena. § 3º Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade. Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta: Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa. Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses a um ano, e multa. Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano: Pena - detenção de um a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Art. 43. (VETADO) Art. 44. Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação permanente, sem prévia autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Art. 45. Cortar ou transformar em carvão madeira de lei, assim classificada por ato do Poder Público, para fins industriais, energéticos ou para qualquer outra exploração, econômicos ou não, em desacordo com as determinações legais: Pena - reclusão, de um a dois anos, e multa. Art. 46. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais, madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem exigir a exibição de licença do vendedor, outorgada pela autoridade competente, e sem munir-se da via que deverá acompanhar o produto até final beneficiamento: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, tem em depósito, transporta ou guarda madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem licença válida para todo o tempo da viagem ou do armazenamento, outorgada pela autoridade competente. Art. 47. (VETADO) Art. 48. Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação. Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. Art. 49. Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio, plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único. No crime culposo, a pena é de um a seis meses, ou multa. Art. 50. Destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou vegetação fixadora de dunas protetora de mangues, objeto de especial preservação: Pena - detenção, de três meses a um ano e multa. Art. 51. Comercializar motosserra ou utilizá-la em florestas e nas demais formas de vegetação, sem licença ou registro da autoridade competente: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Art. 52. Penetrar em Unidades de Conservação conduzindo substâncias ou instrumentos próprios para caça ou para exploração de produtos ou subprodutos florestais, sem licença da autoridade competente: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. Art. 53. Nos crimes previstos nesta Seção, a pena é aumentada de um sexto a um terço se: I - do fato resulta a diminuição de águas naturais, a erosão do solo ou a modificação do regime climático; II - o crime é cometido: a) no período de queda das sementes;

b) no período de formação de vegetações; c) contra espécies raras ou ameaçadas de extinção, ainda que a ameaça ocorra somente no local da infração; d) em época de seca ou inundação; e) durante a noite, em domingo ou feriado. Seção III Da Poluição e outros Crimes Ambientais Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. § 2º Se o crime: I - tomar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana; II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população; III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade; IV - dificultar ou impedir o uso público das praias; V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível. Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem deixa de recuperar a área pesquisada ou explorada, nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou determinação do órgão competente. Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º Nas mesmas penas incorre quem abandona os produtos ou substâncias referidas no caput, ou os utiliza em desacordo com as normas de segurança.

§ 2º Se o produto ou a substância for nuclear ou radioativa, a pena é aumentada de um sexto a um terço. § 3º Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. Art. 57. (VETADO) Art. 58. Nos crimes dolosos previstos nesta Seção, as penas serão aumentadas: I - de um sexto a um terço, se resulta dano irreversível à flora ou ao meio ambiente em geral; II - de um terço até a metade, se resulta lesão corporal de natureza grave em outrem; III - até o dobro, se resultar a morte de outrem. Parágrafo único. As penalidades previstas neste artigo somente serão aplicadas se do fato não resultar crime mais grave. Art. 59. (VETADO) Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes: Pena - detenção, de um a seis meses ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Art. 61. Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Seção IV Dos Crimes contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio Cultural Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar: I - bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial; II - arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena é de seis meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa. Art. 63. Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Art. 64. Promover construção em solo não edificável, ou no seu entorno, assim considerado em razão de seu valor paisagístico, ecológico, artístico, turístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. Art. 65. Pichar, grafitar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Parágrafo único. Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena é de seis meses a um ano de detenção, e multa. Seção V Dos Crimes contra a Administração Ambiental Art. 66. Fazer o funcionário público afirmação falsa ou enganosa, omitir a verdade, sonegar informações ou dados técnico-científicos em procedimentos de autorização ou de licenciamento ambiental: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Art. 67. Conceder o funcionário público licença, autorização ou permissão em desacordo com as normas ambientais, para as atividades, obras ou serviços cuja realização depende de ato autorizativo do Poder Público: Pena - detenção, de um a três anos, e multa. Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de três meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa. Art. 68. Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental: Pena - detenção, de um a três anos, e multa. Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de três meses a um ano, sem prejuízo da multa. Art. 69. Obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público no trato de questões ambientais: Pena - detenção, de um a três anos, e multa. CAPÍTULO VI DA INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.

§ 1º São autoridades competentes para lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo os funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, designados para as atividades de fiscalização, bem como os agentes das Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha. § 2º Qualquer pessoa, constatando infração ambiental, poderá dirigir representação às autoridades relacionadas no parágrafo anterior, para efeito do exercício do seu poder de polícia. § 3º A autoridade ambiental que tiver conhecimento de infração ambiental é obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante processo administrativo próprio, sob pena de co-responsabilidade. § 4º As infrações ambientais são apuradas em processo administrativo próprio, assegurado o direito de ampla defesa e o contraditório, observadas as disposições desta Lei. Art. 71. O processo administrativo para apuração de infração ambiental deve observar os seguintes prazos máximos: I - vinte dias para o infrator oferecer defesa ou impugnação contra o auto de infração, contados da data da ciência da autuação; II - trinta dias para a autoridade competente julgar o auto de infração, contados da data da sua lavratura, apresentada ou não a defesa ou impugnação; III - vinte dias para o infrator recorrer da decisão condenatória à instância superior do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, ou à Diretoria de Portos e Costas, do Ministério da Marinha, de acordo com o tipo de autuação; IV - cinco dias para o pagamento de multa, contados da data do recebimento da notificação. Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções, observado o disposto no art. 6º: I - advertência; II - multa simples; III - multa diária; IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração; V - destruição ou inutilização do produto; VI - suspensão de venda e fabricação do produto; VII - embargo de obra ou atividade; VIII - demolição de obra; IX - suspensão parcial ou total de atividades; X - (VETADO) XI - restritiva de direitos. § 1º Se o infrator cometer, simultaneamente, duas ou mais infrações, ser-lhe-ão aplicadas, cumulativamente, as sanções a elas cominadas.

§ 2º A advertência será aplicada pela inobservância das disposições desta Lei e da legislação em vigor, ou de preceitos regulamentares, sem prejuízo das demais sanções previstas neste artigo. § 3º A multa simples será aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo: I - advertido por irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná-las, no prazo assinalado por órgão competente do SISNAMA ou pela Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha; lI - opuser embaraço à fiscalização dos órgãos do SISNAMA ou da Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha. § 4º A multa simples pode ser convertida em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente. § 5º A multa diária será aplicada sempre que o cometimento da infração se prolongar no tempo. § 6º A apreensão e destruição referidas nos incisos IV e V do caput obedecerão ao disposto no art. 25 desta Lei. § 7º As sanções indicadas nos incisos VI a IX do caput serão aplicadas quando o produto, a obra, a atividade ou o estabelecimento não estiverem obedecendo às prescrições legais ou regulamentares. § 8º As sanções restritivas de direito são: I - suspensão de registro, licença ou autorização; Il - cancelamento de registro, licença ou autorização; III - perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais; IV - perda ou suspensão da participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; V - proibição de contratar com a Administração Pública, pelo período de até três anos. Art. 73. Os valores arrecadados em pagamento de multas por infração ambiental serão revertidos ao Fundo Nacional do Meio Ambiente, criado pela Lei nº 7.797, de 10 de julho de 1989, Fundo Naval, criado pelo Decreto nº. 20.923, de 8 de janeiro de 1932, fundos estaduais ou municipais de meio ambiente, ou correlatos, conforme dispuser o órgão arrecadador. Art. 74. A multa terá por base a unidade, hectare, metro cúbico, quilograma ou outra medida pertinente, de acordo com o objeto jurídico lesado. Art. 75. O valor da multa de que trata este Capítulo será fixado no regulamento desta Lei e corrigido periodicamente, com base nos índices estabelecidos na legislação pertinente, sendo o mínimo de R$50,00 (cinqüenta reais) e o máximo de R$50.000.000,00 (cinqüenta milhões de reais). Art. 76. O pagamento de multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a multa federal na mesma hipótese de incidência.

CAPÍTULO VII DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL PARA A PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE Art. 77. Resguardados a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes, o Governo brasileiro prestará no que concerne ao meio ambiente, a necessária cooperação a outro país, sem qualquer ônus, quando solicitado para: I - produção de prova; II - exame de objetos e lugares; III - informações sobre pessoas o coisas; IV - presença temporária da pessoa presa, cujas declarações tenham relevância para a decisão de uma causa; V - outras formas de assistência permitidas pela legislação em vigor ou pelos tratados de que o Brasil seja parte. § 1º A solicitação de que trata este artigo será dirigida ao Ministério da Justiça que a remeterá, quando necessário, ao órgão judiciário competente para decidir a seu respeito, ou a encaminhará à autoridade capaz de atendê-la. § 2º A solicitação deverá conter: I - o nome e a qualificação da autoridade solicitante; II - o objeto e o motivo de sua formulação; III - a descrição sumária do procedimento em curso no país solicitante; IV - a especificação da assistência solicitada; V - a documentação indispensável ao seu esclarecimento, quando for o caso. Art. 78. Para a consecução dos fins visados nesta Lei e especialmente para a reciprocidade da cooperação internacional, deve ser mantido sistema de comunicações apto a facilitar o intercâmbio rápido e seguro de informações com órgãos de outros países. CAPÍTULO VIII DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 79. Aplicam-se subsidiariamente a esta Lei as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal. Art. 80. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de noventa dias a contar de sua publicação. Art. 81. (VETADO) Art. 82. Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, 12 de fevereiro de 1998; 177º da Independência e 110º da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Gustavo Krause

RETIFICAÇÃO No D.O. nº. 31, de 13-2-98, Seção 1, pág. 1, ONDE SE LÊ: Lei Nº. 9.605, DE FEVEREIRO DE 1998, LEIA-SE: LEI Nº. 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998.

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