tema: fome e pobreza no brasil e no mundo

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  • Critas Brasileira-Secretariado Nacional | SGAN Quadra 601 Mdulo F Asa Norte CEP: 70830-010 - Brasl ia/DF | Tel : +55 (61) 3521-0350

    Expediente

  • Critas Brasileira-Secretariado Nacional | SGAN Quadra 601 Mdulo F Asa Norte CEP: 70830-010 - Brasl ia/DF | Tel : +55 (61) 3521-0350

    Sumrio

  • Apresentao

    Carssimas irms,

    Carssimos irmos da rede Critas,

    Nossa Assembleia est chegando!

    E com ela esto chegando:

    possibi l idades de encontro;

    ocasies de parti lha;

    iniciativas em favor dos mais pobres;

    cl ima de orao e espiri tual idade;

    definies de novos rumos;

    entusiasmo;

    garra;

    doao;

    e tudo o que vocs e o que ns trouxermos na bagagem e no

    corao!

    Para que a Assembleia seja bem-sucedida, precisamos prepar-la bem em

    nossas bases, por meio do estudo do documento, da reflexo e da orao.

    Motivados e estimulados pelo Papa Francisco, queremos continuar a ser a

    carcia da Igreja ao seu povo; a ternura, a proximidade (. . . ) , a insti tuio do amor

    da Igreja que se aproxima, acaricia e ama.

    Uma tima Assembleia para todas e todos!

    Dom Flvio Giovenale

    Presidente da Critas

    4

  • 5

    Objetivo Geral

    Aval iar os anos iniciais de implementao das prioridades insti tucionais na Rede

    Critas, a partir da misso, identidade e prioridades do quadrinio (2012-2015),

    definindo se necessrio, readequaes de aes e estratgias, bem como

    apresentar a Campanha Mundial .

    Objetivos Especficos:

    Lanar a Campanha Mundial contra a Fome e a Pobreza, bem

    como refletir sobre a misria e a desigualdade no Brasi l e a

    atuao da Igreja/Critas frente mesma;

    Promover o intercmbio de saberes e a mstica de valorizao

    das diferenas culturais e rel ig iosas entre os congressistas,

    fortalecendo o espri to cidado, rel ig ioso e missionrio dos

    agentes Critas;

    Real izar o balano das iniciativas, com base no PMAS, do perodo

    2011 e 2012.

    Acolher e animar as novas Entidades Membro da Critas

    Brasi leira;

    Apreciar e aprovar a prestao de contas e relatrios da Critas

    no Brasi l ;

    Real izar a 4 Edio do Prmio Odair Firmino.

  • 6

    Reunio Bispos ReferenciaisParticipam: Bispos referenciais da Critas e Conselho Nacional . Na sede da Critas.

    Reunio representantes das equipes de trabalho da AssembleiaCoordenaao GT de Formao. Na sede Critas

    Acolhida das delegaesCoordenao: Equipe de Infraestrutura

    Acolhida das delegaesCoordenao: Equipe de Infra-estrutura

    Organizao dos espaos e feiraCoordenao: Equipe de Infra-estrutura com agentes critas dos regionais

    Reunio com equipe de sistematizaoCoordenao: GT de Formao. Na sede da Caritas.

    Celebrao de AberturaCoordenao: Equipe de Mstica e Animao.

    Cerimnia de Abertura da AssembliaEspao ldico: Coordenao: Equipe de Mstica e Animao

    D. Flvio Geovenale Presidente da Critas Brasi leira

    Representante da CNBB;

    Francisco Hernandez Secretrio Executivo SELACC

    D. Mauro Morel l i Presidente do Consea MG Palestrante

    Sr. Alan BoJanic Helbingen Representante da FAO no Brasi l - Palestrante

    Anadete Reis - Vice- presidente da Critas Brasi leira. Coordenadora da Mesa

    Partilha de sabores

    Licores e Petiscos. Responsveis: Rede Critas.

    Almoo

    Lanche

    Jantar

  • 7

    Celebrao Eucarstica

    Intercmbio de saberes: Pobreza e desenvolvimento no Brasil

    1 Momento: Depoimento de pessoas de diferentes biomas e real idades sobre

    suas vivncias em relao temtica (10 para cada representante das cinco

    regies brasi leiras) .

    Animao (15')

    Coordenao: Equipe de Mstica e Animao

    Cenrios da Pobreza Mulher Mediadoras: Catia e Loiva.

    Criana, adolescente e juventude Mediadora/o Alessandra e Leon

    Povos tradicionais Mediadores - Mandela e Dicono Afonso

    Populao de rua Mediadora/o - Ana Maria e Cludio.

    Real idade de pobreza no Haiti Mediadores/a - Pe. Chadic; Isabel , Erivan

    Populao de rua Mediadora/o - Ana Maria e Cludio.

    Real idade de pobreza no Haiti Mediadores/a - Pe. Chadic; Isabel , Erivan

    Caf da Manh (nos Locais de Hospedagem)

    Lanche

    2 Momento: Exposio dos palestrantes (30) .

    Maria Eml ia Pres. do Conselho Nacional de Segurana Al imentar (CONSEA)

    Aldaza Sposati PUC SP

    MDS Programas Governamentais de Combate Fome.

    3 Momento: Plenria e consideraes finais

    Orientaes para os trabalhos na parte da tarde coordenao do dia

    Almoo

  • 8

    Critas Brasileira: Desafios e HorizontesCoordenao da Tarde: Catia Cardoso e Joo de Jesus

    Painel Sntese das discusses ocorridas na Assemblia

    Mstica e Animao

    Painel: Olhar da Igreja sobre a realidade que gera pobreza e

    miseria e sobre as praticas que buscam superaoMostra de experincias concretas de combate e superao da pobreza: Vdeo (10)

    Palestrantes: (30 para cada palestrante)

    Dom Leonardo Steiner Secretrio Geral da CNBB

    Pastora Romi Mrcia Benck Secretaria Geral do CONIC

    Ademar Bertucci - Assessor Caritas Brasi leira

    Mediadora - Cleusa Alves da Si lva

    Plenria

    Preparao do material para apresentao

    Lanche nos Cenrios

    Mstica: Revelando o Esprito Presente na Vida em Movimento

    Jantar

    Prmio Odair Firmino e Feira de Saberes

    Caf da Manh

    Almoo

    Lanche

  • 9

    Aval iao dos dois do Plano Quadrienal e elaborao de propostas

    Celebrao Eucarstica

    Elaborao de Sntese

    Sntese para ser apresentada na manh seguinte. Equipe de Sistematizao

    Jantar de Confraternizao

    Animao

    Assembleia Estatutria Apresentao da Sntese dos trabalhos do dia anterior;

    Apresentao para apreciao dos relatrios de atividades e balano do

    perodo 2011 e 2012

    Informes

    Trabalho por Grandes Regies

    Aval iao da Assemblia e sugesto de local para o V Congresso

    Assembleia Estatutria Parti lha/encaminhamentos

    Mstica de envio, pela equipe de Mstica e Animao

    Lanche

    1. Perfi l da CB - Luiz Cludio Mandela

    2. Campanha Mundial - Cristina dos Anjos

    3. Rede Permanente de Sol idariedade Renata e Thays

    Caf da Manh

    Almoo

  • 1 0

    Metodologia da XIX AssembleiaNacional da Critas Brasileira

    A XIX Assembleia Nacional da Critas Brasi leira uma etapa intermediria na

    caminhada do nosso Plano Quadrienal 2012-2015, elaborado logo aps o IV

    Congresso Nacional , real izado em novembro de 2011, em Passo Fundo/RS. Assim,

    ela parte do processo de PMAS que desenvolvido na rede Critas.

    Continuamos, portanto, com o mote das sementes e, nesta Assembleia,

    queremos perceber os frutos do que semeamos nos dois anos de caminhada

    aps Passo Fundo.

    Mas, em que condies encontra-se o terreno no qual lanamos nossas

    sementes? Nossa reflexo sobre a real idade social estar centrada no tema da

    Fome e da Pobreza que continuam presentes na vida de milhes de brasi leiros e

    brasi leiras.

    Primeiro momento

    A ABERTURA da Assembleia ser o ponto de partida para nosso debate.

    Ouviremos as palavras de motivao do Presidente da Critas Brasi leira e do

    representante da CNBB e, logo em seguida, teremos uma viso panormica da

    temtica da Fome e da Pobreza no Brasi l e no Mundo, a partir das falas de D.

    Mauro Morel l i e de Alan Bojanic, representante da FAO.

    Ainda que no ocorra um debate nesse primeiro momento, as ideias

    expostas sero registradas para que a Assembleia as discuta no momento de

    construir propostas de ao diante desse contexto.

    Segundo momento

    A mesa INTERCMBIO DE SABERES: POBREZA E DESENVOLVIMENTO NO

    BRASIL buscar o aprofundamento da temtica luz de vivncias e de

    experincias. Ela ser real izada em duas partes.

    Na primeira, pessoas oriundas de cada uma das regies brasi leiras

    oferecero Assembleia um depoimento sobre suas vivncias em relao

    temtica nos diferentes biomas e real idades que compem nosso imenso pas.

    Cada depoimento ser feito em 10 minutos.

    Na segunda, teremos trs exposies para resgatar os fatores geradores da

    condio de fome e pobreza e as intervenes das insti tuies frente a essa

  • 11

    problemtica. Contaremos com a contribuio de Maria Eml ia Lisboa Pacheco,

    representante do Frum Brasi leiro de Soberania, Segurana Al imentar e

    Nutricional e presidente do CONSEA, de Aldaza Sposati , professora da PUC/SP e

    de um representante do MDS, que apresentar os Programas Governamentais de

    Combate Fome. Cada exposio ser feita em 30 minutos.

    A partir dos depoimentos e das exposies, a plenria poder apresentar

    comentrios e levantar questionamentos. Cada pessoa interessada poder usar 2

    minutos e, ao final dos comentrios, as expositoras faro suas consideraes

    finais.

    Terceiro momento

    Sabemos que o fenmeno da Fome e da Pobreza expresso de desigualdades

    sociais e de discriminaes culturais. A Assembleia ser dividida nesse momento

    em quatro miniplenrias para tratar dos CENRIOS ESPECFICOS DA POBREZA

    (Mulher; Criana, adolescente e juventude; Povos tradicionais e Populao de

    rua).

    Esse momento ser muito especial , pois buscar recolher as percepes

    dos agentes Critas acerca das formas como a Fome e a Pobreza material izam-se

    no cotidiano de nosso povo. Em cada miniplenria teremos a contribuio de um

    coordenador(a) , um mediador(a) e um sistematizador(a) .

    No incio da miniplenria, o coordenador(a) far uma breve introduo para

    construir a l igao com o painel da manh e introduzir algumas questes

    especficas, orientando e animando as pessoas para refletir a partir de sua

    real idade local e regional . O mediador(a) buscar, ento, de forma interativa,

    aprofundar a reflexo sobre o cenrio especfico, com dados e ideias que

    motivem e provoquem o debate e reflexo no grupo.

    O debate da miniplenria dever conduzir elaborao de pistas para a

    atuao da rede Critas sobre o contexto do cenrio. Essa fase poder ser

    real izada em pequenos grupos, com apresentao das ideias miniplenria.

    A miniplenria deve considerar o conjunto das reflexes e das propostas de

    atuao para organizar uma APRESENTAO CRIATIVA Assembleia, que ser

    real izada ainda nesse dia, como social izao dos Saberes da Rua / Altar Social .

    Tambm ser real izada uma miniplenria sobre a real idade de pobreza no

    Haiti . Esse espao resgatar as contribuies da rede Critas Brasi leira e os

    esforos da Critas do Haiti para a reconstruo do pas. Buscar tambm refletir

  • 1 2

    sobre o contexto dos haitianos que buscaram abrigo no Brasi l , em especial na

    regio Norte. Dessa forma, essa miniplenria ter uma dinmica diferenciada.

    Inicialmente, um representante da Critas do Haiti dar um informe sobre o

    contexto atual do Haiti e as entidades da Critas Brasi leira que esto mais

    diretamente envolvidas faro um informe das articulaes recentes. Em seguida, o

    grupo far um debate sobre esse contexto e buscar elaborar propostas de

    continuidade do apoio da rede Critas populao do Haiti . E organizar tambm

    a APRESENTAO CRIATIVA Assembleia.

    Quarto momento

    O OLHAR CRTICO DA IGREJA , a partir de seus valores, sobre a real idade que

    gera pobreza e misria e sobre as prticas que buscam sua superao ser

    abordado na manh do terceiro dia da Assembleia, por meio de uma Mesa

    Redonda.

    O incio dessa mesa contar com a apresentao de um vdeo com uma

    mostra de experincias concretas de combate e superao da pobreza (10

    minutos) .

    Em seguida, um conjunto de trs palestras buscar apresentar os

    elementos centrais da perspectiva da Igreja frente a essa situao. A primeira

    reflexo ser conduzida por Dom Leonardo Steiner, a partir de viso teolgica. Em

    seguida, a Pastora Roni Mrcia Benck, representando o CONIC, abordar os

    olhares e prticas das Igrejas Crists, e Ademar Bertucci abordar as prticas da

    Critas Brasi leira na luta pela superao da pobreza, na perspectiva do DSST.

    Cada palestra ser feita em 30 minutos.

    A partir do vdeo e das palestras, a plenria poder apresentar comentrios

    e levantar questionamentos. Cada pessoa interessada poder usar 2 minutos e, ao

    final dos comentrios, as expositoras faro suas consideraes finais. Se o tempo

    permitir, podero ser real izados dois blocos de comentrios e consideraes.

    Quinto momento

    As instncias locais, regionais e nacional da rede Critas construram um

    percurso na preparao da Assembleia, em que real izaram um balano das

    iniciativas que esto sendo real izadas em cada terri trio e discutiram como

    avanar na construo do DSST a partir de suas real idades.

    O quinto momento da Assembleia real izar uma discusso sobre os

    DESAFIOS E HORIZONTES PARA A ATUAO DA CRITAS BRASILEIRA e ser feito

  • 1 3

    por inter-regional . Ainda na plenria, sero dados informes sobre quatro temas

    transversais: O novo perfi l da CB; a Campanha Mundial , a Rede Permanente de

    Sol idariedade e a sistematizao das questes levantadas nos debates real izados

    na Assembleia. Todo esse material servir como apoio conversa dos inter-

    regionais.

    O passo inicial no grupo ser a apresentao da sistematizao do

    processo e das ideias surgidas em cada Encontro Inter-regional . Aps o

    esclarecimento de dvidas, o grupo ser subdividido por Prioridade Estratgica e

    buscar elaborar propostas de ao/ajustes a partir do resultado do inter-regional .

    O subgrupo decidir se necessrio aprimorar os objetivos especficos ou

    elaborar novos objetivos. E tambm indicar as novas aes que devem ser

    real izadas nos prximos anos.

    Os subgrupos apresentaro o resultado do seu trabalho ao Inter-regional

    para aprovao. Aps esse momento, a equipe de sistematizao organizar

    todas as definies de todos os inter-regionais, para apresentao Assembleia

    Estatutria.

    ltimo momento

    A final izao ocorrer com a Assembleia Estatutria, na manh do ltimo dia.

    Nesse momento, ser apresentado o resultado das discusses real izadas nos

    inter regionais; relatrios financeiros e de atividades dos dois ltimos anos para

    apreciao; momento para informes e definio do local em que ser real izado o

    V Congresso. A Assemblia final izar com uma mstica de envio.

  • 1 4

    Marco referencial da Critas Brasileira

    Misso

    Testemunhar e anunciar o evangelho de Jesus Cristo, defendendo e

    promovendo a vida e participando da construo sol idria de uma sociedade

    justa, igual i tria e plural , junto com as pessoas em situao de excluso social .

    Diretriz geral de ao

    A Critas Brasi leira se compromete com a construo do Desenvolvimento

    Sol idrio Sustentvel e Terri torial , na perspectiva de um projeto popular de

    sociedade democrtica.

    Prioridades estratgicas

    1. Promoo e fortalecimento de iniciativas locais e terri toriais de

    desenvolvimento sol idrio e sustentvel .

    2. Defesa e promoo de direitos, mobi l izaes e controle social

    das polticas pbl icas.

    3. Organizao e fortalecimento da Rede Critas.

    Objetivos especficos, indicadores e metas

  • 1 5

  • 1 6

  • 1 7

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  • 1 9

  • 20

    REFLEXO SOBRE O TEMA CENTRAL

    A profecia dos pobres por um mundosem fome e sem pobreza

    O profeta interpelava o povo de Israel sobre o escndalo

    de haver pobres entre eles. E se colocava ao lado do

    pobre. (J. B. Libnio)

    O mundo tem o suficiente para satisfazer as necessidades

    de todos, mas no o bastante para satisfazer a cobia de

    todos. (Mahatma Gandhi)

    INTRODUO

    Ser parte de uma Campanha Mundial

    A Rede Critas Internacional assumiu promover uma campanha mundial

    contra a fome e a pobreza no mundo. O tema Por uma Faml ia Humana sem

    Fome e sem Pobreza indica dois grandes desafios: unir a humanidade como uma

    faml ia, e fazer que esta faml ia assuma a causa do combate fome e pobreza

    at que sejam extintas. A aposta e a esperana que vena na humanidade a

    compreenso de que ela nasceu e existe para a cooperao e o amor, e no para

    o individual ismo e indiferena.

    Como parte desta Rede, a Critas Brasi leira assume, em sua XVI I I

    Assembleia, a mesma temtica, desejando fundamentar e inspirar com a reflexo

    e a orao esta campanha mundial no Brasi l . Aqui tambm se busca, a partir da

    real idade sociopoltica, Um Mundo sem Fome e sem Pobreza, provocados pela

    memria da qual idade das comunidades crists originrias que encantava e

    atraa mais pessoas para elas: e no havia pessoas necessitadas entre eles.

    O objetivo desse texto ser instrumento de preparao para a Assembleia

    e para o desenvolvimento da Campanha. Sendo parte da metodologia seguida

    pela Critas, importante que seja um texto que provoque a busca comum e

    mobi l ize a participao. Por isso, no se busque nele algo pronto. A prpria

    elaborao deve ser experimentada como retomada da prtica e fomento de

    novas prticas que nasam da reflexo crtica e criativa.

  • 21

    Passos a serem dados

    Nossa busca iniciar com uma invocao esperana, assentada numa

    releitura da histria. Em seguida, procuraremos definir o que entendemos por

    fome e pobreza. Com essa referncia comum, encararemos a real idade da fome e

    da pobreza no mundo e no Brasi l . O passo seguinte examinar o significado e a

    insuficincia das polticas de combate pobreza no Brasi l . As iniciativas

    alternativas ao capital ismo sero a base para, em seguida, desenhar possveis

    polticas estruturantes de superao da pobreza. Por fim, buscaremos energias

    espiri tuais capazes de manter-nos firmes na construo de um mundo sem fome

    e sem pobreza.

    1. Invocao esperana

    A reflexo crtica sobre a fome e a pobreza gera em muitas pessoas sentimentos

    de impotncia e pode levar inao. Nosso caminho, ao contrrio, quer gerar

    sentimentos de misericrdia e de esperana. Como?

    Em primeiro lugar, invertendo a leitura da histria. Como sabido, as

    leituras ideolgicas das sociedades capital istas apresentam os capital istas e o

    prprio mercado capital ista como os atores inovadores da histria; os povos pr

    ou no-capital istas, como povos resistentes ao progresso e, por isso, sinais e

    agentes do atraso; e os trabalhadores, como foras que reagem e impedem o

    progresso em maior velocidade com suas exigncias de direitos e de participao

    nos lucros.

    Em nossa leitura, vemos o processo de afirmao capital ista como um

    esforo contrrio ao movimento da Terra como me da vida, e contrrio,

    igualmente, a todas as iniciativas humanas que colocavam e colocam a vida, a

    qual idade da vida, a real izao e fel icidade das pessoas como centro motor de

    sua existncia e de seu trabalho. Mais ainda, contra os povos que h milhares de

    anos unem sua luta pela fel icidade humana com o bem-estar da Terra; ao

    contrrio da cultura e da civi l izao movida e moldada pelo capital , que tem como

    fundamento e condio a separao entre o ser humano e natureza, e como

    dinmica de crescimento econmico a apropriao privada de conhecimentos e

    tecnologias para subordinar e explorar a natureza, os trabalhadores e os prprios

    consumidores, estes povos cuidam da Terra como cuidam a si prprios,

    reconhecendo-se parte dela, gerados por ela, seus fi lhos e fi lhas.

    Em vez de medir a qual idade da convivncia humana por nmeros, pela

    quantidade de produtos e mercadorias, medida em quantidades de uma moeda

  • 22

    dominante, estes povos buscam, passo a passo, cotidianamente, o Bem Viver.

    Est bem e melhor o povo que consegue avanar em prticas de convivncia

    comunitria entres os seres humanos e em prticas de convivncia cooperativa e

    harmoniosa com as foras que consti tuem a vital idade e a capacidade de gerao

    de biodiversidade da Terra.

    Os verdadeiros protagonistas da histria so os povos de longa histria: no

    se deixaram dominar pela tentao de cada indivduo ser lobo para os outros

    indivduos da espcie humana, e continuam, por isso, levantando a bandeira do

    Bem Viver: cada povo em seu terri trio, vivendo com simpl icidade, usando a

    capacidade criativa e criadora do trabalho para gerar cooperativamente o

    necessrio, sempre em boas relaes com a natureza, zelando por seus direitos,

    mantendo relaes de cuidado e venerao.

    Os capital istas, que fundamentam suas iniciativas na prtica do egosmo

    como virtude geradora de progresso, por ser motor de concorrncia geradora de

    iniciativas ainda mais egostas, por mais que se tenham tornado hegemnicos

    com seu sistema de vida centrado na economia de mercado, so agentes de seu

    crescimento econmico submetendo povos, pessoas e natureza aos seus

    interesses e colocando em risco a vida da Terra e na Terra.

    Nessa perspectiva, o tempo do capital ismo, gerador de crises de todo tipo,

    um tempo da histria humana que sempre encarou a Terra como sua inimiga,

    como um depsito infini to de coisas, recursos a serem dominados, apropriados e

    colocados a servio dos interesses privados dos que tm poder de l ivre iniciativa

    capital ista. To contraditria tem sido essa relao que, agora, e de modo especial

    nas ltimas dcadas, a prpria Terra est dando sinais de revolta e de aes

    corretivas: as mudanas cl imticas. Sem motivos de festa, por causa de seus

    efeitos sobre a vida dos empobrecidos, as mudanas cl imticas so poderosas

    parceiras dos povos, das comunidades e pessoas que teimam em construir

    formas humanas de convivncia social e ecolgica.

    por isso que podemos invocar a esperana no incio desta reflexo.

    Queremos que ela nos acompanhe e cresa em ns em todo o seu percurso e

    seus efeitos. Por mais que os dados da real idade nos revoltem at as entranhas,

    lembramos que h muitos povos, organizaes e pessoas que esto mantendo-se

    em prticas inovadoras, geradoras de outro mundo, sem fome e misria. Por mais

    profunda que seja a explorao, lembramos que justa a exigncia da

    humanidade de que todos os conhecimentos sejam do conjunto dos seres

    humanos e s possam ser usados em seu favor. Por maior que seja a sensao

    de impotncia, lembramos que outros imprios foram derrotados e superados, e

    lembramos o poder das pequenas sementes.

  • 23

    Buscaremos, ao mesmo tempo, as causas da existncia da fome e da

    pobreza em nosso pas e no mundo e novas luzes e energias para melhorarmos

    nossas prticas de misericrdia, evitando sua maior inimiga: a indiferena.

    Continuaremos vivenciando a cano de Mercedes Sosa1 :

    "Somente peo a Deus

    Que a dor no me seja indiferente,

    Que a seca morte no me encontre

    Vazia e sol i tria,

    Sem ter feito o suficiente."

    PARA APROFUNDAR E VIVER

    1. Em que est enraizada a sua esperana?

    2. Em nossa viso da histria, h futuro para os seres humanos e

    para a Terra?

    3. Em que mais pode ser fundamentada a inverso da leitura da

    histria?

    2. Fome? Pobreza?

    Para avanarmos juntos nessa reflexo crtica, precisamos definir o que as

    palavras fome e pobreza significam.

    Os estudiosos dessa real idade humana que mantiveram seu sentimento de

    humanidade reconheceram que a fome uma experincia to terrvel que

    impossvel express-la com palavras; s mesmo quem a sofre pode tentar dizer o

    que ela significa; por isso que sua mais adequada expresso se d no grito, no

    rosto crispado de dor e desespero, no rosto desfigurado e em processo de

    destruio por causa da "mona"2, no olhar cada vez mais distante de criana

    famintas que se despedem da vida.

    No Brasi l , a fome foi expressa com traos e cores fortes do pintor maior

    Cndido Portinari , e as pesquisas e anl ises de Josu de Castro abriram o

    caminho da busca das causas da fome e da misria na geografia e na geopoltica

    da fome, ultrapassando as vises que as consideravam fenmenos naturais3.

    Jean Ziegler, no l ivro citado, aprofunda a busca de compreenso crtica da

    1. A letra e msica desta cano de Len Gieco

    2. Ver Jean Ziegler, Destruio em massa Geopoltica da fome. Rio de Janeiro: Cortez Editora, 2013, p. 91-100.Mona uma doena causada pela subal imentao das mes e das prprias crianas, caracterizada pela destruiodos tecidos humanos pelas bactrias bocais, necessrias para a digesto, quando a pessoa se al imenta.

    3. Seu primeiro l ivro, Geografia da Fome. Rio de Janeiro: Editora O Cruzeiro, 1946. ltima Edio - Gryphus, RJ ,1992. Prmio Jos Verssimo da Academia Brasileira de Letras. Menos de vinte anos depois, ele avanou para aGeopoltica da Fome. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil , 1951.

  • 24

    pobreza e da fome nos dias atuais no caminho sociolgico aberto por Josu de

    Castro.

    Pobreza e fome so experincias humanas reais, vividas, sofridas. Podem e

    devem ser descritas, examinadas, expressas atravs de fotos, vdeos e mediaes

    artsticas. Revelam at ao mais superficial observador serem real idade de

    carncia, de falta de al imentao e de nutrio, de falta de espao saudvel e

    adequado vida, de falta de moradia que agasalhe do sol e das intempries, da

    falta de apoio e socorro sade4.

    So experincias de carncia, de sofrimento e de morte que no podem ser

    compreendidos apenas com a mediao de nmeros. Definir a pobreza como

    sendo a vida dos que dispem, em qualquer parte do planeta Terra, menos de 2

    dlares por dia para viver no Brasi l , 70 reais por ms no passa de uma

    tentativa de desfigurar a real idade vivida pelas pessoas que se encontram nessa

    situao. O ponto de referncia para essa definio o mercado capital ista, a

    capacidade de consumo das mercadorias oferecidas nele. Os atingidos pela fome

    seriam todas as pessoas que tm menos capacidade de consumo do que dois

    dlares por dia. Por isso, o desafio de quem decide enfrentar a fome seria garantir

    que cada pessoa disponha de dois dlares por dia para ir ao mercado e comprar

    comida.

    Mesmo se admitssemos, sem cair no cinismo, que cada pessoa pode

    al imentar-se de forma adequada com dois dlares, como garantiria todas as

    demais necessidades bsicas para uma vida humana digna? Por acaso, pode

    uma pessoa viver apenas com al imentos, e com certeza al imentos de baixa

    qual idade, comprados com dois dlares dirios?

    Pobreza e fome so mais do que falta de comida. So situaes em que

    pessoas humanas vivem em relaes de marginal izao e excluso social , e no

    tm oportunidades de viver em condies de dignidade humana na sociedade de

    consumo capital ista. Por isso, pobreza e fome no so nada fenmenos naturais;

    so, como veremos, produto de formas de organizao sociopolticas em que

    poucos concentram cada vez mais propriedades, renda e riqueza e impedem que

    muitos tenham acesso aos bens essenciais para a vida.

    4. Cfr. Jean Ziegler, ob. cit., p. 32-33 descrio do que a agonia provocada pela fome.

  • 25

    3. H fome e pobreza o mundo e no Brasil?

    No mundo

    Segundo o critrio do Banco Mundial ter renda diria de menos de 1,2 dlar

    (2,60 reais) h na atual idade 1 bi lho e duzentos milhes de pessoas na

    extrema pobreza no mundo. Como a populao mundial praticamente de 7

    bi lhes, mais do que 1 pessoa a cada 7 est em situao de misria.

    Segundo a FAO, este nmero indica as pessoas subal imentadas: as que

    no alcanam o mnimo de calorias necessrias para sobreviver. Seu nmero

    cresceria se fosse considerada a falta de nutrio, isto , a falta de vitaminas, sais

    minerais e ol igoelementos. A ausncia, na al imentao, de iodo, ferro, vi taminas A

    e C, entre outros elementos indispensveis sade, causa a cada ano cegueira,

    muti laes e morte de milhes de pessoas5.

    Mesmo com uma diminuio percentual dos que passam fome: de 20 para

    16%, entre 1990 e 2010, esse dado pode esconder o crescimento numrico,

    porque houve expressivo crescimento demogrfico. Os pases em

    desenvolvimento, por exemplo, viram aumentar a quantidade de esfaimados de

    827 milhes, em 1990-1992, para 906 milhes, em 20106.

    I sso indica que este objetivo do milnio da ONU no s no foi alcanado,

    mas que, ao contrrio, praticamente certo que a fome no mundo no ser

    reduzida metade do que havia em 1990 at a data de 20157 .

    Por outro lado, bom termos presente o que a ONU diferencia como fome

    estrutural e fome conjuntural para ter uma viso mais concreta da geografia e

    da geopoltica da fome no planeta. Estrutural a fome invisvel , prpria das

    estruturas de produo insuficientemente desenvolvidas dos pases do Sul , pois

    com isso a cada ano, mi lhes de mes subal imentadas do luz a milhes de

    crianas deficientes. A fome estrutural significa destruio psquica e fsica,

    aniqui lao da dignidade, sofrimento sem fim8.

    Por outro lado, mais visvel a fome conjuntural , por ser produzida por

    desastres socioambientais ou por guerras, e as pessoas so empurradas s

    centenas de milhares aos acampamentos no interior do pas ou aos campos de

    refugiados no exterior. No podem semear nem colher. Dependem totalmente de

    5. Jean Zigl ier, ob. cit, p. 36.

    6. Dados da FAO, em seu Reporto n Food insecurity em the world (Roma, 2010)

    7. Essa reduo da fome um dos 8 Objetivos do Milnio estabelecidos pela ONU no ano 2.000.

    8. Jean Ziegler, ob. cit., p. 37.

  • 26

    aes de sol idariedade e de polticas pbl icas, quando o Estado ainda tem

    alguma condio de atuar, ou do Programa Mundial de Al imentos, da ONU.

    H pobres rurais e urbanos. Para perceber o que acontece no campo,

    vejamos esses dados fornecidos por uma dirigente da Via Campesina da

    Nicargua: o governo define a cesta bsica com 24 al imentos essenciais para a

    sobrevivncia de uma faml ia durante um ms; o custo desta cesta, em maro de

    2011, era de 6.250 crdobas, isto , 500 dlares; o salrio mnimo legal para o

    trabalhador agrcola, quase nunca pago integralmente, de 1.800 crdobas, isto ,

    144 dlares9. E nas cidades, o que pode fazer uma me com 1,2 dlares por dia,

    ou menos, segundo o critrio do Banco Mundial para estar na pobreza extrema?

    A distribuio geogrfica da fome desigual : do total de 925 milhes em

    2010, 19 milhes estavam nos pases desenvolvidos, 37 milhes no Oriente

    Prximo e frica do Norte, 53 milhes na Amrica Latina e Caribe, 239 milhes na

    frica Subsaariana e 578 milhes na sia e Pacfico1 0.

    No Brasil

    No incio do Programa Fome Zero, anunciado pelo recm-empossado

    presidente Lula como o carro-chefe da sua administrao, em 2003, os dados

    indicavam a existncia de 44 milhes de pessoas mais de 9 milhes de faml ias

    vivendo em insegurana al imentar. De fato, este Programa iniciou com 3,6

    mi lhes de faml ias em 2003, e em 2010 atingiu 12,9 mi lhes de faml ias. Mesmo

    se cada faml ia tivesse, em mdia, apenas 4,5 membros, ultrapassaramos o

    nmero de 58 milhes de pessoas mais do que 1 em cada quatro brasi leiros.

    O critrio para inscrio no Programa Bolsa Faml ia, criado no segundo ano

    de governo, foi esse: renda mensal de at 70 reais para cada pessoa da faml ia

    aproximadamente dois dlares por dia. A transferncia de renda pbl ica sempre

    seria definida a partir da renda famil iar real e do nmero de fi lhos. O objetivo do

    programa foi retirar as pessoas da extrema pobreza.

    Dez anos depois, quase no final do primeiro mandato da presidente Di lma

    Rousseff, o Bolsa Faml ia continua socorrendo 13,8 mi lhes de faml ias, e o

    governo anuncia que est em busca de mais 800 faml ias empobrecidas ainda

    no identi ficadas e includas no Programa. A cada ano, novos empobrecidos so

    descobertos e apoiados, ao contrrio do que o Programa se propunha em seu

    incio, pois ento o objetivo era diminuir este nmero atravs de um processo de

    9. Cf. Jean Ziegler, ob. cit., p. 46.

    10. Dados do Relatrio da FAO citado acima

  • 27

    educao popular e de criao de novas oportunidades de trabalho e gerao de

    renda.

    ainda muito alto o nmero de pessoas em situao de pobreza e misria

    no Brasi l . Mesmo se vivem um pouco melhor do que antes, quando se

    encontravam no total abandono, seria demais dizer que as faml ias que

    ultrapassaram o patamar de 70 reais per capita estariam automaticamente

    includos na mal denominada nova classe mdia11 . Podem at participar mais

    do mercado de produtos de primeira necessidade, mas tem aumentado seu

    endividamento. isso que revelou a busca at mesmo violenta do pagamento

    mensal quando correu um boato de que o Programa seria fechado.

    H uma informao, publ icada no jornal Folha de So Paulo, que d conta

    da precariedade da melhoria das condies de vida dos beneficirios do Bolsa

    Faml ia e outros programas oficiais. Desde pelo menos junho de 2011, o governo,

    apoiado pelo Banco Mundial , afirma que muitos deixaram a pobreza extrema

    porque j dispem de algo mais do que 70 reais per capita famil iar. A FSP sugeriu

    aumentar base de clculo a inflao medida entre junho de 2011 at maro de

    2013, isto , 10,8%; a correo elevou a base para 77,56 reais. Apl icada esta nova

    base ao Cadastro nico, o resultado surpreendeu: se com 70 reais o ndice de

    pobreza extrema fosse zero, com 77,56 reais a quantidade de pessoas em

    situao de misria subiria a 22,3 mi lhes1 2.

    Em outras palavras, alm das 800 mil faml ias algo prximo a 4 milhes

    de pessoas ainda no favorecidas com o Programa governamental e que

    supostamente estariam na pobreza extrema, mais de 22 milhes de pessoas

    continuariam nela se a base de clculo for acrescida de apenas 7,56 reais. Na

    verdade, esta pesquisa demonstra como a melhora nas condies de vida tem

    sido quase insignificante, e como a identi ficao da pobreza e da fome apenas

    pela renda algo muito l imitado e perigoso. Em que condies de vida se

    encontram os milhes de brasi leiros/as supostamente l ibertados da pobreza

    extrema por disporem de 70 ou 77 reais mensais para sobreviver?

    O Programa Fome Zero inicial se propunha o estabelecimento de contato

    direto com as faml ias e pessoas que se encontravam sem reconhecimento e

    garantia de seu direito al imentao e nutrio. Mais ainda, esse contato e o

    dilogo sobre seus direitos deveriam servir como ponto de partida para um

    11. Esse conceito est no texto de Marcelo Neri. A nova classe mdia: o lado brilhante dos pobres. Rio de Janeiro,setembro de 2011, mmeo. Ver Mrcio Pochmann. Nova Classe Mdia?O trabalho na base da pirmide socialbrasi leira. Rio de Janeiro: Boitempo, 2012. E h textos importantes de debate sobre isso disponibl izados pelaPlataforma Poltica Social , em www.pol iticasocial .net.br

    12. Cf. FSP, 19/05/2013, in IHU da mesma data

  • 28

    processo participativo de resgate das pessoas at ento marginal izadas. O auxl io

    imediato com transferncia de recursos pbl icos se destinava a sinal izar o

    comeo desse processo de reconhecimento de direitos, indicando o desejo de um

    reforo para superar as fragi l idades e desestmulos provocados pela situao de

    misria, de tal forma que, mais fortes e animadas, as pessoas entrassem em

    iniciativas que tornariam possvel seu resgate da dignidade e da cidadania, bem

    como sua participao em atividades de gerao de renda, aumentando sua

    autonomia na relao com as insti tuies pbl icas e com as entidades de

    sol idariedade.

    Agora, 10 anos depois, ficam no ar muitas perguntas, evitadas e ocultadas

    pela propaganda governamental e mesmo por organismos internacionais:

    realmente aceitvel definir a pobreza a partir de uma quantidade de dlares ou

    reais por dia? A que tipo de necessidades se refere esse clculo financeiro? Trata-

    se de superao efetiva destas necessidades bsicas ou apenas de evitar a morte

    pela fome? No seria indispensvel incluir, entre essas necessidades, tudo que

    necessrio para garantir os direitos sociais bsicos para uma sobrevivncia

    digna? Sendo que se trata de direitos, so aceitveis programas de transferncia

    de renda pbl ica sem a mnima participao dos portadores destes direitos?

    Para muitos estudiosos, programas que se l imitam a um resgate financeiro

    podem estar mais a servio do mercado do que propriamente dos direitos dos

    marginal izados. Em outras palavras, se os empobrecidos, sendo muitos, compram

    um pouco mais, sua presena dinamiza mercados eventualmente em crise. Com

    disponibi l izao de crditos faci l i tados, cresce o aparente bem-estar junto com

    um endividamento altamente comprometedor. a isso que se denomina

    superao da pobreza extrema? No seria mais adequado definir como uma

    abertura de um novo nicho de mercado, o mercado dos empobrecidos?

    PARA APROFUNDAR E VIVER

    1. Como eu me relaciono com os pobres? E com a fome?

    2. Os apoiados pelas polticas oficiais no Brasi l esto l ivres da

    pobreza e da fome?

    3. So corretos os argumentos de quem afirma ou de quem

    questiona o conceito nova classe mdia?

  • 29

    4. Causas estruturais da fome e da pobreza

    Escasso o alimento do pobre, quem dele o priva

    homems sanguinrio. Mata o prximo o que lhe tira o

    sustento, derrama sangue o que o priva do salrio o

    jornaleiro. (Eclo 34,25-27)

    J sabemos que h pobreza e fome estrutural e conjuntural . Se os desastres

    socioambientais fossem seguramente naturais, poderamos afirmar que ningum

    pode ser responsabi l izado pela pobreza e fome causadas por eles. Mas nem isso

    corresponde real idade, como veremos. Na verdade, tanto a pobreza estrutural

    como a conjuntural tem a ver com causas que devem ser identi ficadas e

    compreendidas criticamente, e seus causadores responsabi l izados.

    Para iniciar de forma claramente desafiadora, acolhemos a anl ise

    elaborada por Jean Ziegler, publ icada no l ivro Destruio em massa, j citado.

    Como concluso de sua reflexo, ele afirma claramente: o imprio planetrio dos

    trustes agroindustriais cria a penria, a fome de centenas de milhes de seres

    humanos cria a morte1 3.

    A primeira construo ideolgica do l iberal ismo e do neol iberal ismo a ser

    derrubada a de que a fome e a pobreza seriam fenmenos naturais. Nada disso.

    Elas so real idades criadas. E h os que so seus criadores: os trustes

    agroindustriais. So eles que determinam o funcionamento dos mercados de

    al imentos. Nada de mo invisvel do mercado. H mos e insti tuies criadas para

    isso, entre elas as bolsas de futuros.

    Na raiz deste novo tipo de imprio esto as estruturas jurdicas e

    insti tucionais criadas para garantir a reproduo ampl iada do capital das pessoas

    e empresas que tm poder de l ivre e concorrencial in iciativa nas sociedades

    hegemonizadas pelo capital ismo. O estabelecimento consti tucional de que os

    detentores de poder financeiro podem legalmente apropriar-se de tudo que ou

    pode transformar-se em mercadoria significa o reconhecimento de que no h

    l imites de apropriao. A partir da, as insti tuies do Estado, que se anunciam

    pbl icas, s cuidaro dos direitos de todos depois de garantir os direitos dos

    proprietrios capital istas.

    o que acontece de forma ampl iada e terrivelmente veloz na fase atual

    das sociedades capital istas: a global izao neol iberal . E seu fruto o avano da

    13. Jean Ziegler, ob. cit., p. 326.

  • 30

    concentrao da riqueza e da renda em mos ou bolsas de uma minoria, como

    se percebe em todos os tipos de pases, desde os mal denominados

    desenvolvidos at aos em desenvolvimento e perifricos. Foram criados

    mecanismos que favorecem a concentrao financeira em todo o planeta.

    Fel iz ou infel izmente, no h apenas capital istas no planeta Terra. Da que

    as mesmas bases jurdicas sustentam como natural que haja indivduos que no

    sabem ou no querem investir; que, por isso, vivam disposio das iniciativas

    capital istas, vendendo sua capacidade de trabalho em troca da sobrevivncia.

    Isso j expl ica o que causa a desigualdade econmica e social .

    Mas no tudo. Como o que se necessita para sobreviver deve ser

    comprado no mercado, a estratgia do capital financeiro de transformar

    al imentos em commodities fez com que muito mais pessoas e faml ias no

    tivessem como evitar a fome. De fato, desde o momento em que al imentos

    viraram mercadorias internacionais dos grandes grupos econmicos, seu preo

    no parou de aumentar. E isso se deu quando aconteceu a imploso dos

    mercados financeiros, provocada por eles prprios; a partir disso, afirma Ziegler,

    os tubares tigres mais perigosos acima de todos, os hedge funds

    estadunidenses migraram para os mercados de matrias-primas, especialmente

    os mercados agroal imentares1 4.

    O mesmo autor lembra que os campos de ao dos especuladores so

    quase i l imitados, pois todos os bens do planeta podem ser objeto de apostas

    especulativas sobre o preo futuro. O problema que essa aposta em relao ao

    futuro fora necessariamente o aumento permanente dos preos, gerando lucros

    para os especuladores e misria e morte por fome dos que no conseguem

    comprar al imentos suficientes.

    Os maiores aumentos dos cereais de al imentao bsica no mundo

    arroz, mi lho e trigo - aconteceram em 2008 e 2011, sempre l igados exploso de

    crises do capital especulativo. Em 2008 o ndice de preos da FAO indicava um

    aumento superior em mdia a 24% em relao ao de 2007, e 57% superior ao de

    20061 5. Em 2011, o prprio Banco Mundial reconhece, em relatrio, que houve

    aumentos significativos nos preos do milho e outros cereais, e isso fez que pelo

    menos 44 milhes de pessoas que viviam em situaes de vulnerabi l idade

    juntaram-se aos subal imentados atingidos pela fome e pela angstia em relao

    ao amanh.

    14. Jean Ziegler, ob. cit., p. 281.

    15. Id. Ib. p. 283.

  • 31

    Entre 2003 e 2008, as especulaes sobre matrias-primas por meio de

    fundos indexados aumentaram 2.300%. Segundo a FAO (relatrio de 2011),

    apenas 2% dos contratos de futuros referentes a matrias-primas se concluram

    efetivamente com a entrega de mercadorias os demais 98% foram revendidos

    pelos especuladores antes da data de sua concluso. Frederick Kaufmann resume

    a situao: mais aumentam os preos do mercado de al imentos, mais ele atrai

    dinheiro e mais os preos al imentares, j elevados, disparam1 6.

    Junto com a especulao, as grandes corporaes, sempre com

    submisso e apoio dos Estados, desencadearam outras frentes que agravaram a

    situao social mundial . Os que Ziegler chama de abutres do ouro verde

    difundiram, em primeiro lugar, uma mentira: a de que a substi tuio da energia

    fssi l pela vegetal seria a arma absoluta na luta contra a rpida degradao do

    cl ima e os danos irreversveis que aquela provoca no ambiente da vida e nos

    seres humanos. Para isso, em 2011 foram produzidos mais de cem bi lhes de

    etanol e biodiesel , e cem milhes de hectares de culturas agrcolas passaram

    para a produo de agrocarburantes1 7.

    Simples clculo: menos al imentos, preos mais altos para os que podem

    comprar e mais fome e morte para os que no podem. E tudo assentado sobre

    uma mentira: como so necessrios 4.000 l i tros de gua para produzir 1 l i tro de

    biodiesel , o presidente do maior truste mundial de al imentos, a Nestl, disse: Com

    os agrocarburantes, jogamos na pobreza mais extrema centenas de milhes de

    seres humanos1 8. Alm disso, estudo da OCDE, a organizao dos estados

    industriais, conclui sua pesquisa sobre a quantidade de energia fssi l para

    produzir um l i tro de biodiesel declarando ser uma quantidade enorme, levando o

    New York Times a comentar, em 8 de maro de 2008: os agrocarburantes

    aumentam a quantidade de dixido de carbono na atmosfera, em vez de

    contribuir para a sua reduo1 9.

    No bastasse desviar mi lho e espalhar pelo mundo a maldio da cana-

    de-acar, a estratgia da substi tuio da dependncia do petrleo pelos USA

    tem a ver com a possibi l idade de o governo contar com recursos para polticas

    sociais, e isso aumenta a crise al imentar mundial . E aumenta a compra e roubo de

    terras pelas corporaes multinacionais, encarecendo o seu preo em todo o

    mundo e direcionando seu uso para a produo de agrocarburantes.

    16. Id. Ib. p. 291. O texto citado de Kaufmann est em Der Spiegel (Hamburgo, 29 ago. 2011).

    17. Id. Ib., p. 243-244.

    18. La Tribune de Genve, 22 de ago. 2011. In J . Ziegler, ob. cit, p. 247.

    19. Id. Ib., p. 247.

  • 32

    Esses dados e afirmaes nos ajudam a ter presente que mesmo a

    pobreza e a fome conjunturais so provocadas por aes humanas, e mais uma

    vez, de modo especial pelas aes das corporaes mundiais que teimam em

    manter seus lucros e poder l igados extrao e queima de bens fsseis, junto

    com a produo agropecuria de commodities e a gerao de energia eltrica

    com a construo de grandes hidreltricas. So elas que aumentam

    constantemente a quantidade de dixido de carbono, metano e xido nitroso na

    atmosfera, provocando aquecimento e mudanas cl imticas. Por isso, o

    empobrecimento e a fome dos afetados por desastres socioambientais tm

    causas humanas identi ficadas, e sua superao tambm exige mudanas

    profundas no modo de produzir, de intercambiar, de consumir, e com a

    responsabi l izao judicial dos responsveis.

    No Brasil

    Assim como no mundo, a persistncia da pobreza se deve a estruturas que

    mantm e agravam a concentrao da riqueza e da renda. Para comear, o mais

    bvio: trata-se de um pas que teima em fazer reforma agrria ao inverso: aumenta

    a quantidade de terra sob controle de uma minoria e diminui a destinada aos

    pequenos proprietrios, que so os produtores de mais de 70% dos al imentos da

    populao. At mesmo os terri trios j demarcados e reconhecidos dos povos

    indgenas e qui lombolas continuam sendo ameaados. E de duas formas: por

    aes diretas de interessados, em geral gri leiros a servio de grupos econmicos

    nacionais e estrangeiros, e por projetos parlamentares e prticas do Executivo que

    visam mudar a Consti tuio e leis para favorecer a destinao de parte dos

    terri trios a grupos econmicos executores das grandes obras do Programa de

    Acelerao do Crescimento20.

    Os recentes programas governamentais de recuperao do salrio mnimo

    e de transferncia de renda geraram alguma melhora nas precrias condies de

    milhes de brasi leiros, mas no garantem uma mudana profunda e estvel na

    distribuio da riqueza.

    A noo de investir nos pobres parece adequada, mas estes apenas

    adquirem maior mobi l idade e possibi l idade de insero social se o combate s

    vrias formas de desigualdade propiciar a abertura de novas posies

    ocupacionais nos vrios pontos do terri trio brasi leiro, ressalvadas as suas

    especificidades. Esta a agenda dos movimentos sociais brasi leiros, os quais

    20. Vale acompanhar as constantes denncia e anl ises crticas publ icadas pelo CIMI no PORANTIM Em defesada causa indgena www.cimi.org.br

  • 33

    vivem os di lemas concretos das desigualdades de oportunidades no acesso ao

    emprego, s polticas sociais e aos direitos bsicos da cidadania21 .

    bom ter presente que o Brasi l est na 84 posio em relao ao ndice

    de Desenvolvimento Humano - IDH, do PNUD (2011). E quando se ajusta este

    ndice pela desigualdade, o pas perde 13 posies. E h outro dado mais

    alarmante: dos 129 pases da amostra do PNUD para os quais existe clculo do

    ndice de Gini , poucos se encontram em situao pior que a brasi leira, sendo eles

    a frica do Sul , Angola, Bolvia, Colmbia, Haiti e Honduras22. Esse ndice revela

    exatamente a concentrao da riqueza e, por isso, o grau de desigualdade

    socioeconmica. Uma das consequncias que, em termos de percentual de

    pobres na populao total , o indicador brasi leiro pelo menos duas vezes

    superior ao de Argentina, Chi le e Uruguai .

    Sem uma efetiva reforma agrria e agrcola, que democratize o acesso s

    terras agrcolas e reconhea e apoie com recursos pbl icos s a produo de

    al imentos saudveis; sem uma reforma urbana, que democratize o acesso aos

    terrenos e a tudo que a cidade oferece s pessoas; sem uma reforma tributria,

    que a torne progressiva, cobrando mais dos que ganham mais e so detentores

    de riquezas sob diversas formas; sem uma reforma da educao, que garanta

    acesso e qual idade a todas as pessoas em insti tuies pbl icas; sem uma

    reforma na sade, que garanta qual idade de servios de preveno e de

    recuperao poltica de universal idade existente; enfim, sem uma transformao

    estrutural da sociedade e do Estado e sem inverso de prioridades das polticas

    pbl icas, a melhora relativa, mas importante, das condies de sobrevivncia dos

    empobrecidos no avanar na direo de verdadeira justia e igualdade social , e

    menos ainda na direo da promoo da dignidade e da cidadania de todas as

    pessoas.

    PARAAPROFUNDAR E VIVER

    1. A pobreza e a fome tm realmente causas estruturais? Quais?

    2. Como a transformao de al imentos em commodities agrava a

    fome?

    3. Como se interl igam a civi l izao do petrleo, as mudanas

    cl imticas e a pobreza e a fome?

    21. Alexandre de Freitas Barbosa (org.) . O Brasil real : a desigualdade para alm dos indicadores. So Paulo: OutrasExpresses, 2012, p.45.

    22. Id. Ib., p.47.

  • 34

    5. Para erradicar a fome e a pobreza preciso aboli-las

    Vs quereis os pobres assistidos. Eu quero abolir a

    pobreza. (Victor Hugo)

    A longa prtica de Relator Especial da ONU sobre o direito al imentao de

    2000 a 2008 fez de Jean Ziegler um apaixonado, sofrido e competente

    especial ista, e, mais do que isso, fez dele um indignado profeta e lutador ao lado

    dos condenados morte pela fome. por isso que em suas recentes entrevistas,

    por ocasio do lanamento de seu novo l ivro, ele assumiu uma proposta

    anteriormente elaborada por outros especial istas da ONU: a pobreza s acabar

    quando for reconhecida como uma violao dos direitos humanos e, como tal ,

    abol ida23.

    A pobreza, hoje, no em nada natural . Ela produzida pela imposio das

    regras do mercado capital ista, que se tornou neol iberal e global izado nas ltimas

    dcadas. A produo agropecuria pode garantir al imentao para 12 bi lhes de

    seres humanos. Como somos pouco menos de 7 bi lhes, h evidente desperdcio

    e impedimento que muitos no tenham acesso aos al imentos. O planeta est

    saturado de riquezas. Portanto no h nenhuma fatal idade. E se um bi lho de

    indivduos padecem de fome, no por causa de uma produo al imentar

    deficiente, mas do aambarcamento, pelos mais poderosos, dos frutos da terra.

    Num mundo finito que o nosso, em que no se produzem mais

    descobrimentos nem conquistas de novas terras possveis, o aambarcamento

    dos bens da Terra toma um novo nome. Torna-se um imenso escndalo24.

    Por isso, conclui Ziegler, os que fazem parte da ol igarquia financeira

    global izada e os governantes e insti tuies multi laterais que os apiam - devem

    ser responsabi l izados pela pobreza e pelo sofrimento e morte por causa da fome

    em todo o planeta. Devem ser presos, ju lgados e condenados.

    Pierre San vai ainda mais longe. A pobreza, que provoca sofrimento e

    morte, no ter fim apenas com o julgamento dos que hoje provocam sua

    existncia e agravamento; outros os substi tuiro, e a pobreza se aprofundar.

    23. Pierre San. Pobreza, a prxima fronteira na luta pelos direitos humanos, In Jorge Werthein e MarlovaJovchelovitch Noleto. Pobreza e Desigualdade no Brasil Traando caminhos para a incluso social . Brasl ia:UNESCO Zahar Ed., 2003, p. 27. O autor era, em 2003, Diretor-Geral Adjunto para Cincias Humanas e Sociais daUNESCO.

    24. Jean Ziegler, ob. cit., p. 321.

  • 35

    indispensvel , para ele, que a pobreza seja definida, em Consti tuies e leis, como

    um efetivo crime contra os direitos humanos, e que, por isso, seja abol ida. Isto ,

    que acontea com a pobreza o que se deu com a moderna escravido: s passou

    a ser efetivamente considerada um crime contra a dignidade das pessoas quando

    foi abol ida; a partir da, toda pessoa ou insti tuio que a praticar, ser julgada e

    condenada. A efetiva prtica de responsabi l izao judicial das pessoas, grupos

    econmicos e governos e governantes pelo crime de gerao, manuteno e

    agravamento da pobreza s acontecer quando ela for abol ida por ser um crime

    contra os direitos humanos dos submetidos pobreza.

    Em outras palavras, para todas as pessoas, movimentos sociais, partidos

    polticos, rel ig ies e governantes que se l ibertarem da viso ideolgica de que a

    fome e a pobreza so uma fatal idade, algo natural , estratgia de seleo natural ,

    ou, muito pior, vontade ou castigo de Deus, esto sendo desafiadas coerncia:

    se fome e pobreza so causadas por relaes econmicas e polticas conhecidas,

    a luta pela superao delas exige que se lute contra os responsveis pela sua

    existncia e agravamento, bem como contra e pela superao do sistema e da

    civi l izao capital ista.

    A prtica de estar com os empobrecidos e de fazer campanhas em favor

    de suas necessidades urgentes para evitar a morte por fome deve continuar,

    porque as pessoas que esto nesta situao no podem esperar. Mas fazer s

    isso, por mais mrito que tenha, insuficiente. Na perspectiva da democratizao

    que a humanidade assumiu nos ltimos sculos, a luta contra a fome e a pobreza

    deve fazer parte da luta pelos direitos humanos; mais ainda, esta luta s alcanar

    vitrias se os empobrecidos se tornarem protagonistas junto com todos que

    assumem suas causas. E a superao da pobreza e da fome que mata s se dar

    de forma efetiva com a transformao das sociedades em que os empobrecidos

    e famintos so mantidos na pobreza; um processo de transformao que deve

    passar pela identi ficao dos causadores da pobreza, pelo julgamento de seus

    crimes contra os direitos humanos dos empobrecidos e famintos, agravados

    sobremaneira pela morte de milhes de pessoas por causa da fome.

    PARA APROFUNDAR E VIVER

    1. Corresponde real idade a afirmao de que h causadores da

    fome e pobreza?

    2. Ser correta e necessria a prtica de lutar pela abol io da

    pobreza? Em que consiste?

    3. Como esta viso se l iga com a prtica da Critas? Como l igar as

    aes concretas, no terri trio, com a transformao do sistema

    dominante?

  • 36

    6. Caminhos e propostas de vida sem fome e sem pobreza

    Vi ento um novo cu e uma nova terra. (Apocalipse, 21 )

    Abrimos esta reflexo crtica invocando a esperana. Buscaremos, agora, sinais de

    que h prticas e caminhos alternativos ao sistema dominante, que condena

    inocentes morte por fome e promove os que provocam sua morte.

    Estaremos vivendo um tempo de transio civi l izacional25? H muitos

    sinais de que o sistema est provocando crises em srie. As primeiras atingiram

    os pases emergentes, na dcada de 1990 e incio do terceiro mi lnio, e agora, em

    2008 e 2011, os pases centrais industrial izados. So crises do capital financeiro,

    mas que afetam, de forma contraditria, todas as pessoas. J destacamos como

    atingem os empobrecidos ao falar do aumento dos preos dos al imentos.

    Escandaloso, contudo, no s este efeito; ainda mais inaceitvel que os que

    causaram as crises tenham concentrado ainda mais renda e riqueza no decorrer

    delas, e talvez seja este o motivo que os leva a no mostrar interesse de sair desse

    tempo de crise.

    Para os no-capital istas, mas dependentes dos detentores de capital , o

    fruto das crises se expressa no que vai sendo denominado precariado. De modo

    especial em relao ao trabalho e renda, experimentam perda de empregos,

    trabalhos por tempo, queda de salrios, instabi l idade, desemprego e entram no

    precariado. Como a onda e o pol i ticamente correto antes da crise era adquirir

    bens imveis e mveis e consumir cada vez mais usando crditos faci l i tados e

    quase empurrados goela abaixo pelos bancos e financeiras, a crise levou

    inadimplncia, exigindo novas dvidas ou perdendo os bens financiados.

    Como o endividamento atingiu tambm os Estados, a soluo exigida

    pelo capital financeiro foi a diminuio dos gastos em polticas sociais e em

    investimentos pbl icos, bem como a privatizao de servios sociais. Isso levou a

    um aumento quantitativo dos empobrecidos, agora tambm nos pases antes

    considerados desenvolvidos e com polticas sociais aparentemente seguras.

    A resposta a essa nova situao resultante da crise gerada pelo capital ismo

    se assemelha em todas as regies do planeta: revoltas e mobi l izaes sociais

    contra a explorao econmica e contra as insti tuies polticas e exigncias de

    aes que respondam s necessidades populares e democratizem de fato todas

    as relaes sociopolticas. Revelam clara decepo e revolta contra os

    25. Para Boaventura de Sousa Santos isso que caracteriza a histria humana na virada do milnio: ela est emtrnsito de uma civil izao para outra ou outras. Cfr. A Crtica da Razo Indolente Contra o desperdcio daexperincia. So Paulo: Cortez, 2001

  • 37

    denominados polticos: que se vaian todos! , comeou a gritar com fora o povo,

    isto , o novo poder poltico formado por desempregados e empobrecidos a partir

    das ruas da Argentina; foraram renncias de vrios presidentes eleitos e s

    diminuram seu mpeto quando um dos eleitos para a presidncia da repbl ica

    comeou a dar resposta s exigncias, anunciando a suspenso de pagamento

    dos juros e parcelas da dvida externa para contar com recursos para recuperar

    as condies de vida do povo.

    Esse que se vayan todos! espalhou-se: em outros pases sul-americanos,

    como Venezuela, Bolvia e Equador; em pases rabes, enfrentando ditadores; em

    pases europeus, nos autodenominados indignados; no Estados Unidos da

    Amrica, nos movimentos de occupy wal l street, exatamente o corao do capital

    financeiro mundial izado; mais recentemente, e surpreendendo a quase todos, no

    Brasi l , nas mobi l izaes real izados em mais de 350 municpios.

    No h como no perguntar-se: teriam percebido realmente algo novo no

    tempo histrico do capital ismo neol iberal global izado os autores do l ivro

    Imprio26? Segundo eles, a resposta ao novo tipo de imprio se daria na forma de

    multido: o poder imperial j no pode resolver o confl i to de foras sociais pelo

    esquema mediador que substi tui os termos do confl i to. Os confl i tos sociais que

    consti tuem o poltico confrontam-se diretamente, sem qualquer espcie de

    mediao. Esta a principal novidade da situao imperial . O Imprio cria um

    potencial maior de revoluo do que os regimes modernos de poder, porque nos

    apresenta, juntamente com a mquina de comando, uma alternativa: o conjunto

    de todos os explorados e subjugados, uma multido que se ope diretamente ao

    Imprio, sem mediadores. . . 27.

    Sem espao para aprofundar a reflexo provocativa dos autores,

    importante manter o questionamento: ser necessria a revolta indignada da

    multido de empobrecidos faml icos para que se avance na definio de que

    esto sendo vtimas de aes criminosas insti tucional izadas nas relaes

    polticas do Imprio das corporaes financeiras global izadas? E para que,

    consequentemente, sejam elaboradas novas Consti tuies, em que a pobreza

    seja declarada crime contra os direitos humanos, e seja, por isso, abol ida,

    possibi l i tando e exigindo que os criadores de pobreza sejam presos, ju lgados e

    condenados por seus crimes?

    Na verdade, esta multido j est nas ruas e praas, como parte do

    conjunto de explorados e subjugados e deveramos acrescentar, por sermos

    26. Trata-se dos l ivros de Michael Hardt e Antonio Negri. Imperio. Rio de Janeiro: Record, 2001, e Multido,publ icado em 2005 pela mesma editora.

    27. Id Ib, p. 418.

  • 38

    do Sul : dos excludos e condenados morte por fome misria que est

    enfrentando diferentes configuraes de mediaes e mediadores que sustentam

    o Imprio.

    Nessa direo, nada mais expressivo do que a ressurreio dos povos

    indgenas da Amrica do Sul : eles comearam com revoltas revolucionrias em

    1910, no Mxico, e em 1950, na Bolvia -, e agora usaram a estreita porta do voto

    individual para assumir poder consti tucional para refundar o Estado, isto : para

    gerar nova consti tucional idade, em que se reconhecem os direitos coletivos de

    cada nao existente no terri trio, redefinindo o carter do Estado, tornando-o

    plurinacional . verdade que permanece o confl i to com os que tm a cultura da

    propriedade privada, pois a forma primeira de relao com a terra o terri trio de

    cada povo, mas est aberta a porta para a existncia de Estados consti tudos por

    poderes descentral izados e diferentes, cabendo ao poder central do Estado levar

    prtica o princpio de poder dos povos indgenas: governar obedecendo,

    reconhecendo as autonomias, dialogando com seus governos, construindo a

    unidade com plural idade.

    Seria demais cobrar que tudo isso j estivesse presente na real idade

    concreta de pases como a Bolvia e o Equador. Quem faz esta cobrana ainda

    pensa os processos na perspectiva clssica das revolues, que tiveram

    comando central izado e estratgias homogeinizadoras. Os processos atuais so

    mais participativos e, por isso, relativamente mais lentos. E quando governantes

    cedem tentao de continuidade do progresso comandado pelo Imprio, as

    novas Consti tuies do fora e legitimidade multido que confiou a eles um

    tempo para governar obedecendo, e colocam em questo as pretenses das

    corporaes. E para ter presente o peso poltico dessa inverso, basta lembrar

    que nessas novas Consti tuies esto reconhecidos os direitos da natureza,

    fazendo que agresses Me Terra sejam definidas e julgadas como crimes28.

    A existncia deste novo sujeito coletivo, a multido, no anula a

    importncia das aes e movimentos especficos organizados. Superando a

    tradicional pretenso de mediao, sero presena potenciadora das

    mobi l izaes da multido, reforando o questionamento de tudo que mantm o

    Imprio nos diferentes espaos do planeta.

    o caso, por exemplo, dos migrantes. Contestando a l iberdade absoluta de

    mobi l idade para o capital , a migrao dos empobrecidos exige l iberdade de

    mobi l idade para todas as pessoas. Trata-se de um direito, e no uma concesso.

    Esse no o caso do capital financeiro, por mais que haja leis que lhe concedem

    28. Sugerimos, em especial , a leitura do captulo VII da Constituio da Repbl ica do Equador.

  • 39

    o privi lgio. Por isso, tanto os migrantes por opo, como os que migram por

    necessidade financeira ou os que so migrantes ou exi lados cl imticos so parte

    importante da multido que contesta o Imprio.

    Mas essa ao al imentada tambm pelas muitas entidades dos prprios

    migrantes nos diferentes pases, pelas pastorais e entidades que os apoiam e pelo

    Frum Social Mundial das Migraes, que j real izou cinco eventos internacionais.

    Elas so elos de uma rede mundial , sem que ningum seja mediao de toda a

    multido que se mobi l iza, pressiona, prope, exige em rede.

    Na mesma direo, entram no processo os diferentes movimentos,

    entidades e at brechas em polticas pbl icas que lutam por diferentes formas de

    economia popular sol idria e pela produo agroecolgica. A diversidade existe

    porque as prticas se do em biomas e ecossistemas e em sociedades com

    culturas e estruturas sociopolticas diferenciadas. O que as une a contestao

    da forma capital ista de relacionar com a terra, com os al imentos, com o trabalho,

    com a distribuio da renda, com o direito al imentao e nutrio. Nada impede

    que seja ponto de partida de novas mobi l izaes e podem e devem ser fora mais

    do que explosiva de contestao nas mobi l izaes com outros setores e pessoas

    jogadas na total insegurana e instabi l idade dos trabalhos temporrios e do

    desemprego estrutural .

    H muitas iniciativas e sinais de que um mundo sem fome e sem pobreza

    possvel ; na verdade, ele j existe na forma de sementes. O fundamental , por um

    lado, impedir que estas sementes sejam mortas pelo monopl io financeiro que

    comanda o Imprio atual . Por outro, preciso que o cuidado recproco e o

    trabalho de semeadura se multipl iquem para que o fruto da revoluo dos

    indignados de cada local idade e de todo o mundo seja, de fato, a construo de

    sociedades de vida simples, consti tudas por pessoas l ivres da tentao da

    propriedade e da concentrao de riqueza que ela engendra; sociedades em que

    as pessoas e comunidades melhoram sua forma de vida pela convivncia com a

    riqueza de diferentes culturas; sociedades assentadas sobre relaes de

    cooperao entre as pessoas e comunidades e sobre relaes harmnicas com a

    Me Terra. Em suma, diferentes formas de Bem Viver.

    PARA APROFUNDAR E VIVER

    1. Quais as relaes entre o Imprio atual e as mobi l izaes e

    revoltas no mundo?

    2. Em que sentido o novo sujeito poltico do mundo atual a

    multido? Faz sentido?

    3. Como relacionar as prticas da Critas com as mobi l izaes de

    tipo multido?

  • 40

    7. Em busca do Esprito do Bem Viver e da Vida em

    Abundncia

    A multido dos fiis era um s corao e uma s alma. . .

    Entre eles ningum passava necessidade. . . pois tudo era

    distribudo segundo a necessidade de cada um.

    (Atos, 4,32 e 34)

    Tendo presente a deseducao que a dominao ideolgica, cultural , pol tica e

    espiri tual que o capital ismo introduziu em quase toda a humanidade, temos

    necessidade, ao mesmo tempo, de firmar a convico terica de que um mundo

    novo, sem pobreza e sem fome, possvel e dramaticamente necessrio, e de

    buscar e cultivar em ns o espri to do Bem Viver e da Vida em Abundncia. Este

    o espri to que nos manter firmes nas lutas que esto e que sero travadas contra

    o sistema e a civi l izao que levaram e levam a considerar normal que um nfimo

    nmero de ol igarcas do capital financeiro mundial concentre cada dia mais

    riqueza e gere, com isso, si tuaes de pobreza extrema, incluindo mortes por falta

    de al imento.

    Junto com a indignao, de modo especial pela conscincia de que

    morre uma criana com menos de dez anos a cada cinco segundos pela fome

    provocada pelos que se apoderam e tornam impossvel o acesso aos bens

    necessrios vida de todas as pessoas29, cresce a alegria e a esperana de

    reconhecer as prticas que so sinais de transformao e de construo de um

    mundo sem fome e sem pobreza.

    Convivem, em nossas prticas, em nossa espiri tual idade e mstica de

    seguidores de Jesus de Nazar, o anncio e celebrao do que motivo de

    alegria e a advertncia proftica em relao s i luses da riqueza concentrada e

    egosta:

    Fel izes vs os pobres, porque vosso o Reino de Deus!

    Fel izes vs que agora passais fome, porque sereis saciados!

    Fel izes vs que agora estais chorando, porque haveis de rir!

    Fel izes sereis quando os homens vos odiarem, expulsarem,

    insultarem e amaldioarem o vosso nome por causa do Fi lho do

    Homem. Alegrai-vos, nesse dia, e exultai , porque ser grande vossa

    29. Jean Ziegler, ob. cit., p. 21.

  • 41

    recompensa no cu, pois era assim que os seus antepassados

    tratavam os profetas.

    Mas ai de vs, ricos, porque j tendes vossa consolao!

    Ai de vs que agora estais fartos, porque passareis fome!

    Ai de vs que agora estais rindo, porque ficareis de luto e chorareis!

    Ai de vs quando todos falarem bem de vs, pois era assim que seus

    antepassados tratavam os falsos profetas30.

    Ao falar dessa forma, Jesus no ofende os pobres nem os i lude com

    palavras bonitas. Por qu? Porque ele prprio era pobre e vivia com eles, comia

    com eles, era sol idrio e gerava sinais de que Deus quer que os pobres participem

    da construo do mundo sonhado e desejados por Deus para a humanidade: um

    mundo desde a mais simples relao pessoal e local , at as relaes sociais

    mais amplas em que Deus se sente bem de estar com seu povo porque este

    povo vive como ele deseja, com relaes fraternas, amorosas, sol idrias. Havendo

    desigualdades, in justias, explorao, misria, fome, Deus est com os

    injustiados animando-os a lutarem pelo Jubi leu31 : por prticas, - hoje certamente

    polticas, de radical izao da democracia -, que l ibertam quem foi levado

    situao de escravo, de servo, de sem-terra, de migrante, de mulher explorada

    sexualmente etc. , reconstruindo relaes de al iana entre fi lhos e fi lhas de Deus

    que se querem bem, que desejam vida e alegria para todos e entre todos; e

    reconstruindo relaes, ao mesmo tempo, de fi lhos e fi lhas da Terra, me

    generosa de todas as formas de vida que conhecemos e do ambiente favorvel

    vida.

    Jesus de Nazar assume, em sua misso, as duas dimenses: anunciar a

    Boa Nova aos pobres, proclamar a l ibertao aos presos, a recuperao da vista

    aos cegos, dar l iberdade aos oprimidos e proclamar um ano aceito da parte do

    Senhor isto , o ano com Jubi leu, com os compromissos da Al iana retomados

    na prtica. E isso que, na boa tradio, era celebrado a cada sete dias, a cada sete

    anos e a cada sete vezes sete anos, no quinquagsimo ano, agora real izado

    hoje, em cada dia: Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabais de

    ouvir32.

    Com Jesus, oramos, exultando no Espri to Santo, que nos leva a perceber

    algo novo na vida do povo e dos seus seguidores: Eu te louvo, Pai , Senhor do cu

    e da terra, porque escondeste essas coisas aos sbios e entendidos e as revelaste

    30. Lc. 6,20-26.

    31. Retomar x. 23, vendo o que Deus prope como qual idade de vida para haver Al iana, e Lev. 25, para retomaro processo de resgate das qual idades da vida da Al iana.

    32. Ver Lc 4,18-21

  • 42

    aos pequeninos. Sim, Pai , assim foi de teu agrado33. E o segredo mais subl ime e

    desafiador dessa revelao este: tudo que fizerdes ou deixardes de fazer a um

    desses pequeninos, que so meus irmos, foi a mim que o fizestes ou deixastes

    de fazer34.

    Todo o empenho pela superao da fome e da pobreza tem a ver com

    Deus, porque Ele que passa fome e est submetido a uma pobreza nada natural

    na pessoa dos empobrecidos e dos que morrem por causa da fome. Por mais

    difci l que seja a luta, nunca podemos esquecer que Jesus revela que o ladro

    vem para roubar, matar, destruir. Eu vim para que tenham vida, e a tenham em

    abundncia35.

    Quem assim acolhe a misso de seguir a Jesus de Nazar e continuar

    sua obra de l ibertao, tem o corao aberto para acolher os sinais do Reino j

    presentes nas prticas que fundamentam a proposta de sociedades de Bem

    Viver36. Trata-se de acolher o que foi preservado como pedra preciosa pelos povos

    indgenas da Amrica Latina, que sobreviveram aos decretos de extermnio e no

    se submeteram dominao colonial e capital ista durante os ltimos cinco

    sculos. Para quem l a histria teologicamente, com o olhar de Deus, h aqui

    sinais de ressurreio, que, pela fora da ressurreio de Jesus, devero produzir

    frutos de transformao do Imprio dos dias de hoje.

    O Papa Francisco est enviando ao mundo, e de modo especial aos

    cristos, muitos sinais de que a misso da Igreja estar com os empobrecidos,

    assumindo suas dores e anunciando que Deus est com eles em suas lutas por

    seus direitos. Sua primeira viagem, i lha Lampedusa, no Mediterrneo, teve como

    motivao a necessria sol idariedade com as faml ias dos migrantes que

    morreram no mar tentando chegar Europa para melhorar suas condies de

    vida. A partir das notcias de novas mortes, disse ele, o caso volta-me

    continuamente ao pensamento como um espinho no corao que faz doer. E

    ento senti o dever de vir aqui hoje para rezar, para cumprir um gesto de

    sol idariedade, mas tambm para despertar as nossas conscincias a fim de que

    no se repita o que aconteceu. Que no se repita, por favor.

    Depois de agradecer aos que se dedicam a acolher os migrantes e

    reforar seus trabalhos, e depois de saudar os queridos imigrantes muulmanos,

    33. Lc 10,21.

    34. Mt. 25,40 e 45.

    35. Er Jo. 10,10.

    36. J est presente no captulo II da Constituio da Repbl ica do Equador. Ver artigos no l ivro de AntnioCanuto (org.) . Bem Viver O confl ito entre dois modos de ser e saber. Goinia: Curso de Vero, 2013.

  • 43

    desejando que seu Ramad produza abundantes frutos espiri tuais, ao presidir a

    celebrao eucarstica, celebrada sobre altar construdo com restos de madeira

    de barcos que destroaram nas ondas do mar e com cl ice de madeira, fez uma

    homil ia exemplarmente proftica:

    Onde est o teu irmo? A voz do seu sangue clama at

    Mim", diz o Senhor Deus. Esta no uma pergunta posta a

    outrem; uma pergunta posta a mim, a ti, a cada um de

    ns. Estes nossos irmos e irms procuravam sair de

    situaes difceis, para encontrarem um pouco de

    serenidade e de paz; procuravam um lugar melhor para si

    e suas famlias, mas encontraram a morte. Quantas vezes

    outros que procuram o mesmo no encontram

    compreenso, no encontram acolhimento, no

    encontram solidariedade! E as suas vozes sobem at Deus!

    Hoje ningum no mundo se sente responsvel por isso;

    perdemos o sentido da responsabilidade fraterna; camos

    na atitude hipcrita do sacerdote e do levita de que falava

    Jesus na parbola do Bom Samaritano: ao vermos o irmo

    quase morto na beira da estrada, talvez pensemos

    "coitado" e prosseguimos o nosso caminho, no dever

    nosso; e isto basta para nos tranquilizarmos, para

    sentirmos a conscincia em ordem.

    A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em ns

    mesmos, torna-nos insensveis aos gritos dos outros, faz-

    nos viver como se fssemos bolas de sabo: estas so

    bonitas, mas no so nada, so pura iluso do ftil, do

    provisrio. Esta cultura do bem-estar leva indiferena a

    respeito dos outros; antes, leva globalizao da

    indiferena. Neste mundo da globalizao, camos na

    globalizao da indiferena. Habituamo-nos ao sofrimento

    do outro, no nos diz respeito, no nos interessa, no

    responsabilidade nossa!

    Mas eu queria que nos pusssemos uma terceira pergunta:

    "Quem de ns chorou por este fato e por fatos como este?

  • 44

    Quem chorou pela morte destes irmos e irms? Quem

    chorou por estas pessoas que vinham no barco? Pelas

    mes jovens que traziam os seus filhos? Por estes homens

    cujo desejo era conseguir qualquer coisa para sustentar as

    prprias famlias? Somos uma sociedade que esqueceu a

    experincia de chorar, de "padecer com": a globalizao

    da indiferena tirou-nos a capacidade de chorar!

    Peamos ao Senhor que apague tambm o que resta de

    Herodes no nosso corao; peamos ao Senhor a graa de

    chorar pela nossa indiferena, de chorar pela crueldade

    que h no mundo, em ns, incluindo aqueles que, no

    anonimato, tomam decises socioeconmicas que abrem a

    estrada aos dramas como este. "Quem chorou?" Quem

    chorou hoje no mundo? 37

    PARA APROFUNDAR E VIVER

    1. Que outras fontes e razes podem e devem enriquecer nosso

    espri to?

    2. Quais as relaes entre Al iana, Jubi leu, Jesus e o Bem Viver?

    3. Em que j est e como pode enriquecer ainda mais a Critas a

    busca do Bem Viver?

    37. As citaes fazem parte da homil ia publ icada em www.ihu.unisinos.br em 9 de julho de 2013.

  • 45

    A CAMPANHA MUNDIAL CRITAS

    Uma Famlia Humana sem Fome esem Pobreza

    Como parte do nosso trabalho com e para os pobres, a Critas vai colocar em

    prtica anos de experincia para lanar uma campanha mundial que pretende

    sensibi l izar a igreja e a sociedade sobre a fome, a pobreza e a desigualdade no

    mundo e no Brasi l , mobi l izando todas as pessoas para um dilogo sobre o tema e

    promovendo um gesto concreto a favor dos pobres do Brasi l .

    A al imentao uma necessidade terrena citada constantemente nas

    escrituras. Na criao (Gnesis 1,27-28) , durante a viagem do povo judeu no

    deserto do Sinai (xodo), a al imentao uma tentao para Jesus no deserto. A

    multipl icao dos pes (Joo 6s) indica o mistrio de suficincia e integridade

    do al imento terreno, da responsabi l idade humana para garantir al imentos para

    todas as pessoas (Vs mesmos dai-lhes de comer, Mateus 14:16) .

    Na orao do Pai Nosso, pedimos o po nosso de cada dia como uma

    necessidade terrena e como al imento que conduz vida eterna, para ser

    comparti lhado na unidade e na sol idariedade.

    O fundamento teolgico do direto al imentao a dignidade humana a

    dignidade que um dom de Deus para todos os seres humanos. A fome, desta

    forma, uma violao desta dignidade. Mas, se existem recursos suficientes na

    Terra para al imentar a todos, surpreendente constatar que mais de um bi lho de

    pessoas no mundo ainda vivam sem al imentos e nutrio adequados. Um tero

    das mortes entre crianas menores de cinco anos de idade nos pases em

    desenvolvimento est l igado desnutrio. E a contradio: a cada oito pessoas,

    uma obesa. (OMS, 2012)

    O Brasi l tem mais de setecentas faml ias na extrema pobreza e dezesseis

    mi lhes de pessoas vivendo em condies de pobreza (IBGE 2011) A

    desigualdade se faz presente nas pequenas, mdias e grandes cidades, e

    tambm no campo, independentemente da regio ou estado brasi leiro.

    Este cenrio retrata a absurda desigualdade social que o mundo enfrenta

    hoje e a Critas quer colaborar para uma mudana.

    Um esforo coletivo em nvel mundial pode dar a visibi l idade necessria ao

    trabalho da Critas como instrumento de sol idariedade da Igreja em apoio aos

    empobrecidos e marginal izados, como um corao que percebe e atua.

  • 46

    O tema mundial Uma faml ia humana sem fome e sem pobreza ir

    nortear as aes Critas em todo o mundo, adequadas real idade de cada um

    dos 164 pases em que atua. Ao mesmo tempo, une todos os pases no objetivo de

    respeitar e promover a dignidade humana, reduzindo a fome, a desigualdade, a

    desnutrio e a pobreza em todos os continentes.

    Esta ao visa dar foco, tambm, s mulheres, particularmente afetadas

    pela pobreza e discriminao.

    Nesta l inha, a campanha busca alcanar polticas claras e atingir

    mudanas de comportamento em torno de questes de insegurana al imentar e

    reduzir o nmero de pessoas que sofrem de fome e desnutrio. Mobi l izao e

    sensibi l izao sero as palavras chaves que seguiro motivando a Critas em

    todos os nveis.

    com o objetivo de comparti lharmos o compromisso de espalhar a voz da

    campanha contra a fome que, aqui , nesta oportunidade, comea uma luta que

    depende de cada corao Critas, para que as pessoas excludas percebam a

    fora de quem quer, efetivamente, formar protagonistas da verdadeira mudana.

    Juntos, em uma s voz, transformaremos essa real idade!

  • 47

    Anexos

  • 48

    CRITRIOS PARA PARTICIPAO DA XIX ASSEMBLEIA

    Orientaes Estatutrias

    De acordo com o com o Art. 8 do Regimento Interno da Critas Brasi leira, a

    Assembleia Geral da Critas Brasi leira a expresso mxima de representao e

    del iberao.

    O Art. 11, por sua vez, estabelece que so participantes da Assembleia

    Geral :

    a) A Diretoria;

    b) Um/a representante de cada entidade Membro, devidamente

    credenciado/a;

    c) Os efetivos do Conselho Fiscal ;

    d) O Conselho Consultivo;

    e) O Secretariado Nacional ;

    f) As Delegaes Regionais;

    g) O bispo presidente da Comisso Episcopal para o Servio da

    Caridade, Justia e Paz.

    Quanto ao direito de voz e voto, o 1 desse artigo define que somente os

    membros da Diretoria, os/as representantes das Entidades Membros devidamente

    credenciados/as e o presidente da Comisso da Caridade Justia e Paz, tero voz

    e voto para as questes expressamente estatutrias, conforme o artigo 7 do

    Estatuto.

    E o art. 12 indica que a critrio da Diretoria, podero participar das

    Assembleias, convidados/as e assessores/as, tanto do Brasi l como do exterior,

    com direito a voz, mas sem direito a voto em questes expressamente

    estatutrias.

  • 49

    ORIENTAES GERAIS

    LOCAL DA XIX ASSEMBLIA ORDINRIA DA CRITAS BRASILEIRA

    CCB- Centro Cultural de Brasl ia: SGAN 601 MDULO B

    Telefone: (61) 3426-0400

    Pessoa de referncia no local : Socorro (61) 8124-5688

    ENDEREO DOS LOCAIS DE HOSPEDAGEM

    Instituto So Boa Ventura:

    SGAN 915 MDULOS ABC

    Telefone: (61) 3349-0230

    Pessoa de referncia no local : Carla (61) 8550-4646

    CCB- Centro Cultural de Brasl ia:

    SGAN 601 MDULO B

    Telefone: (61) 3426-0400

    Pessoa de referncia no local : Socorro (61) 8124-5688

    Casa de Retiro Felipe Smaldone:

    SGAN 911 MDULO CD

    Telefone: (61) 3274-4329/ 3273-5197

    Pessoa de referncia no local : Normel iana (61) 8334-9709

    Secretariado Nacional:

    SGAN 601 MDULO F

    Telefone: (61) 3521-0350

    Pessoa de referncia Geral : Cristina (61) 9217-9740 / Jaime (61)

    8165-0807 / andela (61) 8189-0734 e Magalhes (61) 8270-8544/8131-

    9639

    OUTROS TELEFONES DE EMERGNCIAS EXTERNOS:

    TXI- (61) 3225-3030

    SAMU- 192

    POLCIA -190

    BOMBEIRO- 193

    IMPORTANTE:

    A voltagem em Brasl ia de 220 watts.

    Beba bastante l quido devido baixa humidade.

  • 50

    GRUPOS DE TRABALHO E

    COMISSES DA XIX

    ASSEMBLEIA

    Coordenao GeralCristina dos Anjos

    CoordenaoDiretoria

    SecNAc

    Gt de Formao

    Animao e ConfraternizaoLucineide Pinheiro(PI )

    Jos Magalhes(SecNac)

    Auri lene(MA)

    Isabel Forte(C.Fortaleza)

    Solange Vi lhena(N2)

    Ademair Bastos(SecNac)

    Adelmo (SecNac)

    AmbienteAlan Alves (NE3)

    Maria Glria(CE)

    Patrcia Antunes

    Geisiane Lima (MG)

    Jeicy Santana(SecNac)

    Kssia Sirlene (SecNac)

    ComunicaoThays Puzzi(SecNac)

    Renata Cabral (SecNac)

    Elkin (SecNac)

    Fernando Zamban(SecNac)

    Ki lma (NE2)

    FinanasAguinaldo Lima (Diretoria)

    Fernando Santos ( SecNac)

    Oti l ia Bal io (Cons. Fiscal)

    Cladio Schaab(RS)

    Jaime Canrado (SecNac)

    Rosngela Alves(secNac)

    Infra-estruturaMarines Besson( RS)

    Sidney Cavalcante (SecNac)

    Socorro Bezerra (SecNac)

    Rogrio Boaretto (SecNac)

    Ivone Braga (SecNac)

    Normel iana Santos (secNac)

    Prisci la Duarte(SecNac)

    Carla Dal iane(SecNac)

    Mercival Gomes(SecNac)

    El iane Araujoi(secNac)

    Henrique Si lva(secNac)

    MsticaVitl io Pasa

    Ana Maria(CE)

    Alessandra Miranda (SecNac)

    Joo Paulo(MG)

    Joo Srgio (SP)

    Amauri Mossmann(PR)

    SadeBegair do Carmo(RS)

    Luciene Martins(NE2)

    Hortncia Mendes (PI )

    El isabeth Regina (ES)

    Paulo Morais (SecNac)

    Blendaleia Marques(SecNac)

    Metodologia e SistematizaoValquria Lima (GT formao)

    Loiva Mara (RS)

    Neuza Mafra (GT formao)

    Joo de Jesus (Assessor)

    Ricarte Almeida (GT formao)

    Roque Ademir(SC)

    Diac Afonso Brito . (GT formao);

    Ctia Cardoso (GT formao)

    Lanamento da

    Campanha/Premio OdairRenata Cabral (SecNac)

    Jos Magalhes de Sousa(secNac)

    Mandela(SecNac)

    Deborah Lago (secNac)

    Cleusa Alves (NE3)

    Leon Patrick (MG)

  • 51

  • 52

  • 53

    01. Canto das 3 Raas

    02. Anunciao

    03. Espinheira

  • 54

    04. Eu quero ver

    05. Corao Civi l

  • 55

    06. O que vale o amor

    07. Liberdade vem e canta

  • 56

    08. Flori

    09. Vida de viajante

  • 57

    10. Riacho do Navio

    11. Ordem e Progresso

  • 58

    12. Asa Branca

    13. Negro Nag

  • 59

    14. Abre a janela, meu bem

  • 60

    15. O que , o que ?

    16. Tocando em frente

  • 61

    17. O Seu Olhar

  • 62

    18. Eu s peo a Deus

    19. O Xote das meninas

  • 63

    20. Guaranis

    21. Nas horas de Deus amm

  • 64

    22. Oi, que prazer que alegria

    23. Nossa alegria saber que um dia

  • 65

    24. Pelos Caminhos da Amrica

  • 66

    25. Cano da chegada

    26. Somos gente nova

  • 67

    27. bonita demais

    28. Cntico das Criaturas

  • 68

    29. Olha a glria de Deus

  • 69

    30. Ofertrio do Povo

  • 70

    31. Ddivas

    32. Quando o dia da paz renascer

  • 71

    33. Po em todas as mesas

  • 72

    34. Bastariam dois pes e dois peixes

    35. Povo Novo

  • 73

    36. Pai nosso dos mrtires

    37. Orao Francisco

  • 74

    38. Romaria

    39. O Povo de Deus

  • 75

    40. O Profeta Jeremias

  • 76

    41. Bendito dos Romeiros da Terra

  • 77

    42. Vem, caminheiro

    43. Vir o dia em que todos

  • 78

    44. Negra Mariama

    45. Me do Cu Morena

  • 79

    46. Deixa-me ser jovem

    47. Clix Bento

  • 80

    48. O Deus que me criou

    49. misso de todos ns,

    50. Canta Francisco

  • 81

    51. Acorda, Amrica!

  • 82

    52. Canto dos Mrtires da Terra

    53. Mulher latino-americana

  • 83

    54. Peregrinos nas estradas

  • 84

    MANTRAS E REFRES MEDITATIVOS:

    55. O Sol nasceu

    56. Deus amor

    57. Teu sol

    58. Desa como a chuva

    59. Mesmo as trevas

    60. Confiemos-nos ao Senhor

    61. bom confiar

  • 85

    62. Louvarei a Deus

    63. Onde reina o Amor

    64. Vigiai

    65. Seja bendito

    66. Deus vos salve

    67. De noite iremos

  • 86

    68. Misericordioso Deus

    69. Recordaes

    70. Banhados em Cristo

    71. No te perturbes

    72. Deus bom

    73. A nossa companhia

    74. Nossos olhos

    75. Suave luz