tema: fome e pobreza no brasil e no mundo
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Critas Brasileira-Secretariado Nacional | SGAN Quadra 601 Mdulo F Asa Norte CEP: 70830-010 - Brasl ia/DF | Tel : +55 (61) 3521-0350
Expediente
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Critas Brasileira-Secretariado Nacional | SGAN Quadra 601 Mdulo F Asa Norte CEP: 70830-010 - Brasl ia/DF | Tel : +55 (61) 3521-0350
Sumrio
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Apresentao
Carssimas irms,
Carssimos irmos da rede Critas,
Nossa Assembleia est chegando!
E com ela esto chegando:
possibi l idades de encontro;
ocasies de parti lha;
iniciativas em favor dos mais pobres;
cl ima de orao e espiri tual idade;
definies de novos rumos;
entusiasmo;
garra;
doao;
e tudo o que vocs e o que ns trouxermos na bagagem e no
corao!
Para que a Assembleia seja bem-sucedida, precisamos prepar-la bem em
nossas bases, por meio do estudo do documento, da reflexo e da orao.
Motivados e estimulados pelo Papa Francisco, queremos continuar a ser a
carcia da Igreja ao seu povo; a ternura, a proximidade (. . . ) , a insti tuio do amor
da Igreja que se aproxima, acaricia e ama.
Uma tima Assembleia para todas e todos!
Dom Flvio Giovenale
Presidente da Critas
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Objetivo Geral
Aval iar os anos iniciais de implementao das prioridades insti tucionais na Rede
Critas, a partir da misso, identidade e prioridades do quadrinio (2012-2015),
definindo se necessrio, readequaes de aes e estratgias, bem como
apresentar a Campanha Mundial .
Objetivos Especficos:
Lanar a Campanha Mundial contra a Fome e a Pobreza, bem
como refletir sobre a misria e a desigualdade no Brasi l e a
atuao da Igreja/Critas frente mesma;
Promover o intercmbio de saberes e a mstica de valorizao
das diferenas culturais e rel ig iosas entre os congressistas,
fortalecendo o espri to cidado, rel ig ioso e missionrio dos
agentes Critas;
Real izar o balano das iniciativas, com base no PMAS, do perodo
2011 e 2012.
Acolher e animar as novas Entidades Membro da Critas
Brasi leira;
Apreciar e aprovar a prestao de contas e relatrios da Critas
no Brasi l ;
Real izar a 4 Edio do Prmio Odair Firmino.
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Reunio Bispos ReferenciaisParticipam: Bispos referenciais da Critas e Conselho Nacional . Na sede da Critas.
Reunio representantes das equipes de trabalho da AssembleiaCoordenaao GT de Formao. Na sede Critas
Acolhida das delegaesCoordenao: Equipe de Infraestrutura
Acolhida das delegaesCoordenao: Equipe de Infra-estrutura
Organizao dos espaos e feiraCoordenao: Equipe de Infra-estrutura com agentes critas dos regionais
Reunio com equipe de sistematizaoCoordenao: GT de Formao. Na sede da Caritas.
Celebrao de AberturaCoordenao: Equipe de Mstica e Animao.
Cerimnia de Abertura da AssembliaEspao ldico: Coordenao: Equipe de Mstica e Animao
D. Flvio Geovenale Presidente da Critas Brasi leira
Representante da CNBB;
Francisco Hernandez Secretrio Executivo SELACC
D. Mauro Morel l i Presidente do Consea MG Palestrante
Sr. Alan BoJanic Helbingen Representante da FAO no Brasi l - Palestrante
Anadete Reis - Vice- presidente da Critas Brasi leira. Coordenadora da Mesa
Partilha de sabores
Licores e Petiscos. Responsveis: Rede Critas.
Almoo
Lanche
Jantar
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Celebrao Eucarstica
Intercmbio de saberes: Pobreza e desenvolvimento no Brasil
1 Momento: Depoimento de pessoas de diferentes biomas e real idades sobre
suas vivncias em relao temtica (10 para cada representante das cinco
regies brasi leiras) .
Animao (15')
Coordenao: Equipe de Mstica e Animao
Cenrios da Pobreza Mulher Mediadoras: Catia e Loiva.
Criana, adolescente e juventude Mediadora/o Alessandra e Leon
Povos tradicionais Mediadores - Mandela e Dicono Afonso
Populao de rua Mediadora/o - Ana Maria e Cludio.
Real idade de pobreza no Haiti Mediadores/a - Pe. Chadic; Isabel , Erivan
Populao de rua Mediadora/o - Ana Maria e Cludio.
Real idade de pobreza no Haiti Mediadores/a - Pe. Chadic; Isabel , Erivan
Caf da Manh (nos Locais de Hospedagem)
Lanche
2 Momento: Exposio dos palestrantes (30) .
Maria Eml ia Pres. do Conselho Nacional de Segurana Al imentar (CONSEA)
Aldaza Sposati PUC SP
MDS Programas Governamentais de Combate Fome.
3 Momento: Plenria e consideraes finais
Orientaes para os trabalhos na parte da tarde coordenao do dia
Almoo
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Critas Brasileira: Desafios e HorizontesCoordenao da Tarde: Catia Cardoso e Joo de Jesus
Painel Sntese das discusses ocorridas na Assemblia
Mstica e Animao
Painel: Olhar da Igreja sobre a realidade que gera pobreza e
miseria e sobre as praticas que buscam superaoMostra de experincias concretas de combate e superao da pobreza: Vdeo (10)
Palestrantes: (30 para cada palestrante)
Dom Leonardo Steiner Secretrio Geral da CNBB
Pastora Romi Mrcia Benck Secretaria Geral do CONIC
Ademar Bertucci - Assessor Caritas Brasi leira
Mediadora - Cleusa Alves da Si lva
Plenria
Preparao do material para apresentao
Lanche nos Cenrios
Mstica: Revelando o Esprito Presente na Vida em Movimento
Jantar
Prmio Odair Firmino e Feira de Saberes
Caf da Manh
Almoo
Lanche
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Aval iao dos dois do Plano Quadrienal e elaborao de propostas
Celebrao Eucarstica
Elaborao de Sntese
Sntese para ser apresentada na manh seguinte. Equipe de Sistematizao
Jantar de Confraternizao
Animao
Assembleia Estatutria Apresentao da Sntese dos trabalhos do dia anterior;
Apresentao para apreciao dos relatrios de atividades e balano do
perodo 2011 e 2012
Informes
Trabalho por Grandes Regies
Aval iao da Assemblia e sugesto de local para o V Congresso
Assembleia Estatutria Parti lha/encaminhamentos
Mstica de envio, pela equipe de Mstica e Animao
Lanche
1. Perfi l da CB - Luiz Cludio Mandela
2. Campanha Mundial - Cristina dos Anjos
3. Rede Permanente de Sol idariedade Renata e Thays
Caf da Manh
Almoo
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Metodologia da XIX AssembleiaNacional da Critas Brasileira
A XIX Assembleia Nacional da Critas Brasi leira uma etapa intermediria na
caminhada do nosso Plano Quadrienal 2012-2015, elaborado logo aps o IV
Congresso Nacional , real izado em novembro de 2011, em Passo Fundo/RS. Assim,
ela parte do processo de PMAS que desenvolvido na rede Critas.
Continuamos, portanto, com o mote das sementes e, nesta Assembleia,
queremos perceber os frutos do que semeamos nos dois anos de caminhada
aps Passo Fundo.
Mas, em que condies encontra-se o terreno no qual lanamos nossas
sementes? Nossa reflexo sobre a real idade social estar centrada no tema da
Fome e da Pobreza que continuam presentes na vida de milhes de brasi leiros e
brasi leiras.
Primeiro momento
A ABERTURA da Assembleia ser o ponto de partida para nosso debate.
Ouviremos as palavras de motivao do Presidente da Critas Brasi leira e do
representante da CNBB e, logo em seguida, teremos uma viso panormica da
temtica da Fome e da Pobreza no Brasi l e no Mundo, a partir das falas de D.
Mauro Morel l i e de Alan Bojanic, representante da FAO.
Ainda que no ocorra um debate nesse primeiro momento, as ideias
expostas sero registradas para que a Assembleia as discuta no momento de
construir propostas de ao diante desse contexto.
Segundo momento
A mesa INTERCMBIO DE SABERES: POBREZA E DESENVOLVIMENTO NO
BRASIL buscar o aprofundamento da temtica luz de vivncias e de
experincias. Ela ser real izada em duas partes.
Na primeira, pessoas oriundas de cada uma das regies brasi leiras
oferecero Assembleia um depoimento sobre suas vivncias em relao
temtica nos diferentes biomas e real idades que compem nosso imenso pas.
Cada depoimento ser feito em 10 minutos.
Na segunda, teremos trs exposies para resgatar os fatores geradores da
condio de fome e pobreza e as intervenes das insti tuies frente a essa
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problemtica. Contaremos com a contribuio de Maria Eml ia Lisboa Pacheco,
representante do Frum Brasi leiro de Soberania, Segurana Al imentar e
Nutricional e presidente do CONSEA, de Aldaza Sposati , professora da PUC/SP e
de um representante do MDS, que apresentar os Programas Governamentais de
Combate Fome. Cada exposio ser feita em 30 minutos.
A partir dos depoimentos e das exposies, a plenria poder apresentar
comentrios e levantar questionamentos. Cada pessoa interessada poder usar 2
minutos e, ao final dos comentrios, as expositoras faro suas consideraes
finais.
Terceiro momento
Sabemos que o fenmeno da Fome e da Pobreza expresso de desigualdades
sociais e de discriminaes culturais. A Assembleia ser dividida nesse momento
em quatro miniplenrias para tratar dos CENRIOS ESPECFICOS DA POBREZA
(Mulher; Criana, adolescente e juventude; Povos tradicionais e Populao de
rua).
Esse momento ser muito especial , pois buscar recolher as percepes
dos agentes Critas acerca das formas como a Fome e a Pobreza material izam-se
no cotidiano de nosso povo. Em cada miniplenria teremos a contribuio de um
coordenador(a) , um mediador(a) e um sistematizador(a) .
No incio da miniplenria, o coordenador(a) far uma breve introduo para
construir a l igao com o painel da manh e introduzir algumas questes
especficas, orientando e animando as pessoas para refletir a partir de sua
real idade local e regional . O mediador(a) buscar, ento, de forma interativa,
aprofundar a reflexo sobre o cenrio especfico, com dados e ideias que
motivem e provoquem o debate e reflexo no grupo.
O debate da miniplenria dever conduzir elaborao de pistas para a
atuao da rede Critas sobre o contexto do cenrio. Essa fase poder ser
real izada em pequenos grupos, com apresentao das ideias miniplenria.
A miniplenria deve considerar o conjunto das reflexes e das propostas de
atuao para organizar uma APRESENTAO CRIATIVA Assembleia, que ser
real izada ainda nesse dia, como social izao dos Saberes da Rua / Altar Social .
Tambm ser real izada uma miniplenria sobre a real idade de pobreza no
Haiti . Esse espao resgatar as contribuies da rede Critas Brasi leira e os
esforos da Critas do Haiti para a reconstruo do pas. Buscar tambm refletir
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sobre o contexto dos haitianos que buscaram abrigo no Brasi l , em especial na
regio Norte. Dessa forma, essa miniplenria ter uma dinmica diferenciada.
Inicialmente, um representante da Critas do Haiti dar um informe sobre o
contexto atual do Haiti e as entidades da Critas Brasi leira que esto mais
diretamente envolvidas faro um informe das articulaes recentes. Em seguida, o
grupo far um debate sobre esse contexto e buscar elaborar propostas de
continuidade do apoio da rede Critas populao do Haiti . E organizar tambm
a APRESENTAO CRIATIVA Assembleia.
Quarto momento
O OLHAR CRTICO DA IGREJA , a partir de seus valores, sobre a real idade que
gera pobreza e misria e sobre as prticas que buscam sua superao ser
abordado na manh do terceiro dia da Assembleia, por meio de uma Mesa
Redonda.
O incio dessa mesa contar com a apresentao de um vdeo com uma
mostra de experincias concretas de combate e superao da pobreza (10
minutos) .
Em seguida, um conjunto de trs palestras buscar apresentar os
elementos centrais da perspectiva da Igreja frente a essa situao. A primeira
reflexo ser conduzida por Dom Leonardo Steiner, a partir de viso teolgica. Em
seguida, a Pastora Roni Mrcia Benck, representando o CONIC, abordar os
olhares e prticas das Igrejas Crists, e Ademar Bertucci abordar as prticas da
Critas Brasi leira na luta pela superao da pobreza, na perspectiva do DSST.
Cada palestra ser feita em 30 minutos.
A partir do vdeo e das palestras, a plenria poder apresentar comentrios
e levantar questionamentos. Cada pessoa interessada poder usar 2 minutos e, ao
final dos comentrios, as expositoras faro suas consideraes finais. Se o tempo
permitir, podero ser real izados dois blocos de comentrios e consideraes.
Quinto momento
As instncias locais, regionais e nacional da rede Critas construram um
percurso na preparao da Assembleia, em que real izaram um balano das
iniciativas que esto sendo real izadas em cada terri trio e discutiram como
avanar na construo do DSST a partir de suas real idades.
O quinto momento da Assembleia real izar uma discusso sobre os
DESAFIOS E HORIZONTES PARA A ATUAO DA CRITAS BRASILEIRA e ser feito
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por inter-regional . Ainda na plenria, sero dados informes sobre quatro temas
transversais: O novo perfi l da CB; a Campanha Mundial , a Rede Permanente de
Sol idariedade e a sistematizao das questes levantadas nos debates real izados
na Assembleia. Todo esse material servir como apoio conversa dos inter-
regionais.
O passo inicial no grupo ser a apresentao da sistematizao do
processo e das ideias surgidas em cada Encontro Inter-regional . Aps o
esclarecimento de dvidas, o grupo ser subdividido por Prioridade Estratgica e
buscar elaborar propostas de ao/ajustes a partir do resultado do inter-regional .
O subgrupo decidir se necessrio aprimorar os objetivos especficos ou
elaborar novos objetivos. E tambm indicar as novas aes que devem ser
real izadas nos prximos anos.
Os subgrupos apresentaro o resultado do seu trabalho ao Inter-regional
para aprovao. Aps esse momento, a equipe de sistematizao organizar
todas as definies de todos os inter-regionais, para apresentao Assembleia
Estatutria.
ltimo momento
A final izao ocorrer com a Assembleia Estatutria, na manh do ltimo dia.
Nesse momento, ser apresentado o resultado das discusses real izadas nos
inter regionais; relatrios financeiros e de atividades dos dois ltimos anos para
apreciao; momento para informes e definio do local em que ser real izado o
V Congresso. A Assemblia final izar com uma mstica de envio.
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Marco referencial da Critas Brasileira
Misso
Testemunhar e anunciar o evangelho de Jesus Cristo, defendendo e
promovendo a vida e participando da construo sol idria de uma sociedade
justa, igual i tria e plural , junto com as pessoas em situao de excluso social .
Diretriz geral de ao
A Critas Brasi leira se compromete com a construo do Desenvolvimento
Sol idrio Sustentvel e Terri torial , na perspectiva de um projeto popular de
sociedade democrtica.
Prioridades estratgicas
1. Promoo e fortalecimento de iniciativas locais e terri toriais de
desenvolvimento sol idrio e sustentvel .
2. Defesa e promoo de direitos, mobi l izaes e controle social
das polticas pbl icas.
3. Organizao e fortalecimento da Rede Critas.
Objetivos especficos, indicadores e metas
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REFLEXO SOBRE O TEMA CENTRAL
A profecia dos pobres por um mundosem fome e sem pobreza
O profeta interpelava o povo de Israel sobre o escndalo
de haver pobres entre eles. E se colocava ao lado do
pobre. (J. B. Libnio)
O mundo tem o suficiente para satisfazer as necessidades
de todos, mas no o bastante para satisfazer a cobia de
todos. (Mahatma Gandhi)
INTRODUO
Ser parte de uma Campanha Mundial
A Rede Critas Internacional assumiu promover uma campanha mundial
contra a fome e a pobreza no mundo. O tema Por uma Faml ia Humana sem
Fome e sem Pobreza indica dois grandes desafios: unir a humanidade como uma
faml ia, e fazer que esta faml ia assuma a causa do combate fome e pobreza
at que sejam extintas. A aposta e a esperana que vena na humanidade a
compreenso de que ela nasceu e existe para a cooperao e o amor, e no para
o individual ismo e indiferena.
Como parte desta Rede, a Critas Brasi leira assume, em sua XVI I I
Assembleia, a mesma temtica, desejando fundamentar e inspirar com a reflexo
e a orao esta campanha mundial no Brasi l . Aqui tambm se busca, a partir da
real idade sociopoltica, Um Mundo sem Fome e sem Pobreza, provocados pela
memria da qual idade das comunidades crists originrias que encantava e
atraa mais pessoas para elas: e no havia pessoas necessitadas entre eles.
O objetivo desse texto ser instrumento de preparao para a Assembleia
e para o desenvolvimento da Campanha. Sendo parte da metodologia seguida
pela Critas, importante que seja um texto que provoque a busca comum e
mobi l ize a participao. Por isso, no se busque nele algo pronto. A prpria
elaborao deve ser experimentada como retomada da prtica e fomento de
novas prticas que nasam da reflexo crtica e criativa.
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Passos a serem dados
Nossa busca iniciar com uma invocao esperana, assentada numa
releitura da histria. Em seguida, procuraremos definir o que entendemos por
fome e pobreza. Com essa referncia comum, encararemos a real idade da fome e
da pobreza no mundo e no Brasi l . O passo seguinte examinar o significado e a
insuficincia das polticas de combate pobreza no Brasi l . As iniciativas
alternativas ao capital ismo sero a base para, em seguida, desenhar possveis
polticas estruturantes de superao da pobreza. Por fim, buscaremos energias
espiri tuais capazes de manter-nos firmes na construo de um mundo sem fome
e sem pobreza.
1. Invocao esperana
A reflexo crtica sobre a fome e a pobreza gera em muitas pessoas sentimentos
de impotncia e pode levar inao. Nosso caminho, ao contrrio, quer gerar
sentimentos de misericrdia e de esperana. Como?
Em primeiro lugar, invertendo a leitura da histria. Como sabido, as
leituras ideolgicas das sociedades capital istas apresentam os capital istas e o
prprio mercado capital ista como os atores inovadores da histria; os povos pr
ou no-capital istas, como povos resistentes ao progresso e, por isso, sinais e
agentes do atraso; e os trabalhadores, como foras que reagem e impedem o
progresso em maior velocidade com suas exigncias de direitos e de participao
nos lucros.
Em nossa leitura, vemos o processo de afirmao capital ista como um
esforo contrrio ao movimento da Terra como me da vida, e contrrio,
igualmente, a todas as iniciativas humanas que colocavam e colocam a vida, a
qual idade da vida, a real izao e fel icidade das pessoas como centro motor de
sua existncia e de seu trabalho. Mais ainda, contra os povos que h milhares de
anos unem sua luta pela fel icidade humana com o bem-estar da Terra; ao
contrrio da cultura e da civi l izao movida e moldada pelo capital , que tem como
fundamento e condio a separao entre o ser humano e natureza, e como
dinmica de crescimento econmico a apropriao privada de conhecimentos e
tecnologias para subordinar e explorar a natureza, os trabalhadores e os prprios
consumidores, estes povos cuidam da Terra como cuidam a si prprios,
reconhecendo-se parte dela, gerados por ela, seus fi lhos e fi lhas.
Em vez de medir a qual idade da convivncia humana por nmeros, pela
quantidade de produtos e mercadorias, medida em quantidades de uma moeda
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dominante, estes povos buscam, passo a passo, cotidianamente, o Bem Viver.
Est bem e melhor o povo que consegue avanar em prticas de convivncia
comunitria entres os seres humanos e em prticas de convivncia cooperativa e
harmoniosa com as foras que consti tuem a vital idade e a capacidade de gerao
de biodiversidade da Terra.
Os verdadeiros protagonistas da histria so os povos de longa histria: no
se deixaram dominar pela tentao de cada indivduo ser lobo para os outros
indivduos da espcie humana, e continuam, por isso, levantando a bandeira do
Bem Viver: cada povo em seu terri trio, vivendo com simpl icidade, usando a
capacidade criativa e criadora do trabalho para gerar cooperativamente o
necessrio, sempre em boas relaes com a natureza, zelando por seus direitos,
mantendo relaes de cuidado e venerao.
Os capital istas, que fundamentam suas iniciativas na prtica do egosmo
como virtude geradora de progresso, por ser motor de concorrncia geradora de
iniciativas ainda mais egostas, por mais que se tenham tornado hegemnicos
com seu sistema de vida centrado na economia de mercado, so agentes de seu
crescimento econmico submetendo povos, pessoas e natureza aos seus
interesses e colocando em risco a vida da Terra e na Terra.
Nessa perspectiva, o tempo do capital ismo, gerador de crises de todo tipo,
um tempo da histria humana que sempre encarou a Terra como sua inimiga,
como um depsito infini to de coisas, recursos a serem dominados, apropriados e
colocados a servio dos interesses privados dos que tm poder de l ivre iniciativa
capital ista. To contraditria tem sido essa relao que, agora, e de modo especial
nas ltimas dcadas, a prpria Terra est dando sinais de revolta e de aes
corretivas: as mudanas cl imticas. Sem motivos de festa, por causa de seus
efeitos sobre a vida dos empobrecidos, as mudanas cl imticas so poderosas
parceiras dos povos, das comunidades e pessoas que teimam em construir
formas humanas de convivncia social e ecolgica.
por isso que podemos invocar a esperana no incio desta reflexo.
Queremos que ela nos acompanhe e cresa em ns em todo o seu percurso e
seus efeitos. Por mais que os dados da real idade nos revoltem at as entranhas,
lembramos que h muitos povos, organizaes e pessoas que esto mantendo-se
em prticas inovadoras, geradoras de outro mundo, sem fome e misria. Por mais
profunda que seja a explorao, lembramos que justa a exigncia da
humanidade de que todos os conhecimentos sejam do conjunto dos seres
humanos e s possam ser usados em seu favor. Por maior que seja a sensao
de impotncia, lembramos que outros imprios foram derrotados e superados, e
lembramos o poder das pequenas sementes.
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Buscaremos, ao mesmo tempo, as causas da existncia da fome e da
pobreza em nosso pas e no mundo e novas luzes e energias para melhorarmos
nossas prticas de misericrdia, evitando sua maior inimiga: a indiferena.
Continuaremos vivenciando a cano de Mercedes Sosa1 :
"Somente peo a Deus
Que a dor no me seja indiferente,
Que a seca morte no me encontre
Vazia e sol i tria,
Sem ter feito o suficiente."
PARA APROFUNDAR E VIVER
1. Em que est enraizada a sua esperana?
2. Em nossa viso da histria, h futuro para os seres humanos e
para a Terra?
3. Em que mais pode ser fundamentada a inverso da leitura da
histria?
2. Fome? Pobreza?
Para avanarmos juntos nessa reflexo crtica, precisamos definir o que as
palavras fome e pobreza significam.
Os estudiosos dessa real idade humana que mantiveram seu sentimento de
humanidade reconheceram que a fome uma experincia to terrvel que
impossvel express-la com palavras; s mesmo quem a sofre pode tentar dizer o
que ela significa; por isso que sua mais adequada expresso se d no grito, no
rosto crispado de dor e desespero, no rosto desfigurado e em processo de
destruio por causa da "mona"2, no olhar cada vez mais distante de criana
famintas que se despedem da vida.
No Brasi l , a fome foi expressa com traos e cores fortes do pintor maior
Cndido Portinari , e as pesquisas e anl ises de Josu de Castro abriram o
caminho da busca das causas da fome e da misria na geografia e na geopoltica
da fome, ultrapassando as vises que as consideravam fenmenos naturais3.
Jean Ziegler, no l ivro citado, aprofunda a busca de compreenso crtica da
1. A letra e msica desta cano de Len Gieco
2. Ver Jean Ziegler, Destruio em massa Geopoltica da fome. Rio de Janeiro: Cortez Editora, 2013, p. 91-100.Mona uma doena causada pela subal imentao das mes e das prprias crianas, caracterizada pela destruiodos tecidos humanos pelas bactrias bocais, necessrias para a digesto, quando a pessoa se al imenta.
3. Seu primeiro l ivro, Geografia da Fome. Rio de Janeiro: Editora O Cruzeiro, 1946. ltima Edio - Gryphus, RJ ,1992. Prmio Jos Verssimo da Academia Brasileira de Letras. Menos de vinte anos depois, ele avanou para aGeopoltica da Fome. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil , 1951.
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pobreza e da fome nos dias atuais no caminho sociolgico aberto por Josu de
Castro.
Pobreza e fome so experincias humanas reais, vividas, sofridas. Podem e
devem ser descritas, examinadas, expressas atravs de fotos, vdeos e mediaes
artsticas. Revelam at ao mais superficial observador serem real idade de
carncia, de falta de al imentao e de nutrio, de falta de espao saudvel e
adequado vida, de falta de moradia que agasalhe do sol e das intempries, da
falta de apoio e socorro sade4.
So experincias de carncia, de sofrimento e de morte que no podem ser
compreendidos apenas com a mediao de nmeros. Definir a pobreza como
sendo a vida dos que dispem, em qualquer parte do planeta Terra, menos de 2
dlares por dia para viver no Brasi l , 70 reais por ms no passa de uma
tentativa de desfigurar a real idade vivida pelas pessoas que se encontram nessa
situao. O ponto de referncia para essa definio o mercado capital ista, a
capacidade de consumo das mercadorias oferecidas nele. Os atingidos pela fome
seriam todas as pessoas que tm menos capacidade de consumo do que dois
dlares por dia. Por isso, o desafio de quem decide enfrentar a fome seria garantir
que cada pessoa disponha de dois dlares por dia para ir ao mercado e comprar
comida.
Mesmo se admitssemos, sem cair no cinismo, que cada pessoa pode
al imentar-se de forma adequada com dois dlares, como garantiria todas as
demais necessidades bsicas para uma vida humana digna? Por acaso, pode
uma pessoa viver apenas com al imentos, e com certeza al imentos de baixa
qual idade, comprados com dois dlares dirios?
Pobreza e fome so mais do que falta de comida. So situaes em que
pessoas humanas vivem em relaes de marginal izao e excluso social , e no
tm oportunidades de viver em condies de dignidade humana na sociedade de
consumo capital ista. Por isso, pobreza e fome no so nada fenmenos naturais;
so, como veremos, produto de formas de organizao sociopolticas em que
poucos concentram cada vez mais propriedades, renda e riqueza e impedem que
muitos tenham acesso aos bens essenciais para a vida.
4. Cfr. Jean Ziegler, ob. cit., p. 32-33 descrio do que a agonia provocada pela fome.
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3. H fome e pobreza o mundo e no Brasil?
No mundo
Segundo o critrio do Banco Mundial ter renda diria de menos de 1,2 dlar
(2,60 reais) h na atual idade 1 bi lho e duzentos milhes de pessoas na
extrema pobreza no mundo. Como a populao mundial praticamente de 7
bi lhes, mais do que 1 pessoa a cada 7 est em situao de misria.
Segundo a FAO, este nmero indica as pessoas subal imentadas: as que
no alcanam o mnimo de calorias necessrias para sobreviver. Seu nmero
cresceria se fosse considerada a falta de nutrio, isto , a falta de vitaminas, sais
minerais e ol igoelementos. A ausncia, na al imentao, de iodo, ferro, vi taminas A
e C, entre outros elementos indispensveis sade, causa a cada ano cegueira,
muti laes e morte de milhes de pessoas5.
Mesmo com uma diminuio percentual dos que passam fome: de 20 para
16%, entre 1990 e 2010, esse dado pode esconder o crescimento numrico,
porque houve expressivo crescimento demogrfico. Os pases em
desenvolvimento, por exemplo, viram aumentar a quantidade de esfaimados de
827 milhes, em 1990-1992, para 906 milhes, em 20106.
I sso indica que este objetivo do milnio da ONU no s no foi alcanado,
mas que, ao contrrio, praticamente certo que a fome no mundo no ser
reduzida metade do que havia em 1990 at a data de 20157 .
Por outro lado, bom termos presente o que a ONU diferencia como fome
estrutural e fome conjuntural para ter uma viso mais concreta da geografia e
da geopoltica da fome no planeta. Estrutural a fome invisvel , prpria das
estruturas de produo insuficientemente desenvolvidas dos pases do Sul , pois
com isso a cada ano, mi lhes de mes subal imentadas do luz a milhes de
crianas deficientes. A fome estrutural significa destruio psquica e fsica,
aniqui lao da dignidade, sofrimento sem fim8.
Por outro lado, mais visvel a fome conjuntural , por ser produzida por
desastres socioambientais ou por guerras, e as pessoas so empurradas s
centenas de milhares aos acampamentos no interior do pas ou aos campos de
refugiados no exterior. No podem semear nem colher. Dependem totalmente de
5. Jean Zigl ier, ob. cit, p. 36.
6. Dados da FAO, em seu Reporto n Food insecurity em the world (Roma, 2010)
7. Essa reduo da fome um dos 8 Objetivos do Milnio estabelecidos pela ONU no ano 2.000.
8. Jean Ziegler, ob. cit., p. 37.
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aes de sol idariedade e de polticas pbl icas, quando o Estado ainda tem
alguma condio de atuar, ou do Programa Mundial de Al imentos, da ONU.
H pobres rurais e urbanos. Para perceber o que acontece no campo,
vejamos esses dados fornecidos por uma dirigente da Via Campesina da
Nicargua: o governo define a cesta bsica com 24 al imentos essenciais para a
sobrevivncia de uma faml ia durante um ms; o custo desta cesta, em maro de
2011, era de 6.250 crdobas, isto , 500 dlares; o salrio mnimo legal para o
trabalhador agrcola, quase nunca pago integralmente, de 1.800 crdobas, isto ,
144 dlares9. E nas cidades, o que pode fazer uma me com 1,2 dlares por dia,
ou menos, segundo o critrio do Banco Mundial para estar na pobreza extrema?
A distribuio geogrfica da fome desigual : do total de 925 milhes em
2010, 19 milhes estavam nos pases desenvolvidos, 37 milhes no Oriente
Prximo e frica do Norte, 53 milhes na Amrica Latina e Caribe, 239 milhes na
frica Subsaariana e 578 milhes na sia e Pacfico1 0.
No Brasil
No incio do Programa Fome Zero, anunciado pelo recm-empossado
presidente Lula como o carro-chefe da sua administrao, em 2003, os dados
indicavam a existncia de 44 milhes de pessoas mais de 9 milhes de faml ias
vivendo em insegurana al imentar. De fato, este Programa iniciou com 3,6
mi lhes de faml ias em 2003, e em 2010 atingiu 12,9 mi lhes de faml ias. Mesmo
se cada faml ia tivesse, em mdia, apenas 4,5 membros, ultrapassaramos o
nmero de 58 milhes de pessoas mais do que 1 em cada quatro brasi leiros.
O critrio para inscrio no Programa Bolsa Faml ia, criado no segundo ano
de governo, foi esse: renda mensal de at 70 reais para cada pessoa da faml ia
aproximadamente dois dlares por dia. A transferncia de renda pbl ica sempre
seria definida a partir da renda famil iar real e do nmero de fi lhos. O objetivo do
programa foi retirar as pessoas da extrema pobreza.
Dez anos depois, quase no final do primeiro mandato da presidente Di lma
Rousseff, o Bolsa Faml ia continua socorrendo 13,8 mi lhes de faml ias, e o
governo anuncia que est em busca de mais 800 faml ias empobrecidas ainda
no identi ficadas e includas no Programa. A cada ano, novos empobrecidos so
descobertos e apoiados, ao contrrio do que o Programa se propunha em seu
incio, pois ento o objetivo era diminuir este nmero atravs de um processo de
9. Cf. Jean Ziegler, ob. cit., p. 46.
10. Dados do Relatrio da FAO citado acima
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educao popular e de criao de novas oportunidades de trabalho e gerao de
renda.
ainda muito alto o nmero de pessoas em situao de pobreza e misria
no Brasi l . Mesmo se vivem um pouco melhor do que antes, quando se
encontravam no total abandono, seria demais dizer que as faml ias que
ultrapassaram o patamar de 70 reais per capita estariam automaticamente
includos na mal denominada nova classe mdia11 . Podem at participar mais
do mercado de produtos de primeira necessidade, mas tem aumentado seu
endividamento. isso que revelou a busca at mesmo violenta do pagamento
mensal quando correu um boato de que o Programa seria fechado.
H uma informao, publ icada no jornal Folha de So Paulo, que d conta
da precariedade da melhoria das condies de vida dos beneficirios do Bolsa
Faml ia e outros programas oficiais. Desde pelo menos junho de 2011, o governo,
apoiado pelo Banco Mundial , afirma que muitos deixaram a pobreza extrema
porque j dispem de algo mais do que 70 reais per capita famil iar. A FSP sugeriu
aumentar base de clculo a inflao medida entre junho de 2011 at maro de
2013, isto , 10,8%; a correo elevou a base para 77,56 reais. Apl icada esta nova
base ao Cadastro nico, o resultado surpreendeu: se com 70 reais o ndice de
pobreza extrema fosse zero, com 77,56 reais a quantidade de pessoas em
situao de misria subiria a 22,3 mi lhes1 2.
Em outras palavras, alm das 800 mil faml ias algo prximo a 4 milhes
de pessoas ainda no favorecidas com o Programa governamental e que
supostamente estariam na pobreza extrema, mais de 22 milhes de pessoas
continuariam nela se a base de clculo for acrescida de apenas 7,56 reais. Na
verdade, esta pesquisa demonstra como a melhora nas condies de vida tem
sido quase insignificante, e como a identi ficao da pobreza e da fome apenas
pela renda algo muito l imitado e perigoso. Em que condies de vida se
encontram os milhes de brasi leiros/as supostamente l ibertados da pobreza
extrema por disporem de 70 ou 77 reais mensais para sobreviver?
O Programa Fome Zero inicial se propunha o estabelecimento de contato
direto com as faml ias e pessoas que se encontravam sem reconhecimento e
garantia de seu direito al imentao e nutrio. Mais ainda, esse contato e o
dilogo sobre seus direitos deveriam servir como ponto de partida para um
11. Esse conceito est no texto de Marcelo Neri. A nova classe mdia: o lado brilhante dos pobres. Rio de Janeiro,setembro de 2011, mmeo. Ver Mrcio Pochmann. Nova Classe Mdia?O trabalho na base da pirmide socialbrasi leira. Rio de Janeiro: Boitempo, 2012. E h textos importantes de debate sobre isso disponibl izados pelaPlataforma Poltica Social , em www.pol iticasocial .net.br
12. Cf. FSP, 19/05/2013, in IHU da mesma data
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processo participativo de resgate das pessoas at ento marginal izadas. O auxl io
imediato com transferncia de recursos pbl icos se destinava a sinal izar o
comeo desse processo de reconhecimento de direitos, indicando o desejo de um
reforo para superar as fragi l idades e desestmulos provocados pela situao de
misria, de tal forma que, mais fortes e animadas, as pessoas entrassem em
iniciativas que tornariam possvel seu resgate da dignidade e da cidadania, bem
como sua participao em atividades de gerao de renda, aumentando sua
autonomia na relao com as insti tuies pbl icas e com as entidades de
sol idariedade.
Agora, 10 anos depois, ficam no ar muitas perguntas, evitadas e ocultadas
pela propaganda governamental e mesmo por organismos internacionais:
realmente aceitvel definir a pobreza a partir de uma quantidade de dlares ou
reais por dia? A que tipo de necessidades se refere esse clculo financeiro? Trata-
se de superao efetiva destas necessidades bsicas ou apenas de evitar a morte
pela fome? No seria indispensvel incluir, entre essas necessidades, tudo que
necessrio para garantir os direitos sociais bsicos para uma sobrevivncia
digna? Sendo que se trata de direitos, so aceitveis programas de transferncia
de renda pbl ica sem a mnima participao dos portadores destes direitos?
Para muitos estudiosos, programas que se l imitam a um resgate financeiro
podem estar mais a servio do mercado do que propriamente dos direitos dos
marginal izados. Em outras palavras, se os empobrecidos, sendo muitos, compram
um pouco mais, sua presena dinamiza mercados eventualmente em crise. Com
disponibi l izao de crditos faci l i tados, cresce o aparente bem-estar junto com
um endividamento altamente comprometedor. a isso que se denomina
superao da pobreza extrema? No seria mais adequado definir como uma
abertura de um novo nicho de mercado, o mercado dos empobrecidos?
PARA APROFUNDAR E VIVER
1. Como eu me relaciono com os pobres? E com a fome?
2. Os apoiados pelas polticas oficiais no Brasi l esto l ivres da
pobreza e da fome?
3. So corretos os argumentos de quem afirma ou de quem
questiona o conceito nova classe mdia?
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4. Causas estruturais da fome e da pobreza
Escasso o alimento do pobre, quem dele o priva
homems sanguinrio. Mata o prximo o que lhe tira o
sustento, derrama sangue o que o priva do salrio o
jornaleiro. (Eclo 34,25-27)
J sabemos que h pobreza e fome estrutural e conjuntural . Se os desastres
socioambientais fossem seguramente naturais, poderamos afirmar que ningum
pode ser responsabi l izado pela pobreza e fome causadas por eles. Mas nem isso
corresponde real idade, como veremos. Na verdade, tanto a pobreza estrutural
como a conjuntural tem a ver com causas que devem ser identi ficadas e
compreendidas criticamente, e seus causadores responsabi l izados.
Para iniciar de forma claramente desafiadora, acolhemos a anl ise
elaborada por Jean Ziegler, publ icada no l ivro Destruio em massa, j citado.
Como concluso de sua reflexo, ele afirma claramente: o imprio planetrio dos
trustes agroindustriais cria a penria, a fome de centenas de milhes de seres
humanos cria a morte1 3.
A primeira construo ideolgica do l iberal ismo e do neol iberal ismo a ser
derrubada a de que a fome e a pobreza seriam fenmenos naturais. Nada disso.
Elas so real idades criadas. E h os que so seus criadores: os trustes
agroindustriais. So eles que determinam o funcionamento dos mercados de
al imentos. Nada de mo invisvel do mercado. H mos e insti tuies criadas para
isso, entre elas as bolsas de futuros.
Na raiz deste novo tipo de imprio esto as estruturas jurdicas e
insti tucionais criadas para garantir a reproduo ampl iada do capital das pessoas
e empresas que tm poder de l ivre e concorrencial in iciativa nas sociedades
hegemonizadas pelo capital ismo. O estabelecimento consti tucional de que os
detentores de poder financeiro podem legalmente apropriar-se de tudo que ou
pode transformar-se em mercadoria significa o reconhecimento de que no h
l imites de apropriao. A partir da, as insti tuies do Estado, que se anunciam
pbl icas, s cuidaro dos direitos de todos depois de garantir os direitos dos
proprietrios capital istas.
o que acontece de forma ampl iada e terrivelmente veloz na fase atual
das sociedades capital istas: a global izao neol iberal . E seu fruto o avano da
13. Jean Ziegler, ob. cit., p. 326.
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concentrao da riqueza e da renda em mos ou bolsas de uma minoria, como
se percebe em todos os tipos de pases, desde os mal denominados
desenvolvidos at aos em desenvolvimento e perifricos. Foram criados
mecanismos que favorecem a concentrao financeira em todo o planeta.
Fel iz ou infel izmente, no h apenas capital istas no planeta Terra. Da que
as mesmas bases jurdicas sustentam como natural que haja indivduos que no
sabem ou no querem investir; que, por isso, vivam disposio das iniciativas
capital istas, vendendo sua capacidade de trabalho em troca da sobrevivncia.
Isso j expl ica o que causa a desigualdade econmica e social .
Mas no tudo. Como o que se necessita para sobreviver deve ser
comprado no mercado, a estratgia do capital financeiro de transformar
al imentos em commodities fez com que muito mais pessoas e faml ias no
tivessem como evitar a fome. De fato, desde o momento em que al imentos
viraram mercadorias internacionais dos grandes grupos econmicos, seu preo
no parou de aumentar. E isso se deu quando aconteceu a imploso dos
mercados financeiros, provocada por eles prprios; a partir disso, afirma Ziegler,
os tubares tigres mais perigosos acima de todos, os hedge funds
estadunidenses migraram para os mercados de matrias-primas, especialmente
os mercados agroal imentares1 4.
O mesmo autor lembra que os campos de ao dos especuladores so
quase i l imitados, pois todos os bens do planeta podem ser objeto de apostas
especulativas sobre o preo futuro. O problema que essa aposta em relao ao
futuro fora necessariamente o aumento permanente dos preos, gerando lucros
para os especuladores e misria e morte por fome dos que no conseguem
comprar al imentos suficientes.
Os maiores aumentos dos cereais de al imentao bsica no mundo
arroz, mi lho e trigo - aconteceram em 2008 e 2011, sempre l igados exploso de
crises do capital especulativo. Em 2008 o ndice de preos da FAO indicava um
aumento superior em mdia a 24% em relao ao de 2007, e 57% superior ao de
20061 5. Em 2011, o prprio Banco Mundial reconhece, em relatrio, que houve
aumentos significativos nos preos do milho e outros cereais, e isso fez que pelo
menos 44 milhes de pessoas que viviam em situaes de vulnerabi l idade
juntaram-se aos subal imentados atingidos pela fome e pela angstia em relao
ao amanh.
14. Jean Ziegler, ob. cit., p. 281.
15. Id. Ib. p. 283.
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Entre 2003 e 2008, as especulaes sobre matrias-primas por meio de
fundos indexados aumentaram 2.300%. Segundo a FAO (relatrio de 2011),
apenas 2% dos contratos de futuros referentes a matrias-primas se concluram
efetivamente com a entrega de mercadorias os demais 98% foram revendidos
pelos especuladores antes da data de sua concluso. Frederick Kaufmann resume
a situao: mais aumentam os preos do mercado de al imentos, mais ele atrai
dinheiro e mais os preos al imentares, j elevados, disparam1 6.
Junto com a especulao, as grandes corporaes, sempre com
submisso e apoio dos Estados, desencadearam outras frentes que agravaram a
situao social mundial . Os que Ziegler chama de abutres do ouro verde
difundiram, em primeiro lugar, uma mentira: a de que a substi tuio da energia
fssi l pela vegetal seria a arma absoluta na luta contra a rpida degradao do
cl ima e os danos irreversveis que aquela provoca no ambiente da vida e nos
seres humanos. Para isso, em 2011 foram produzidos mais de cem bi lhes de
etanol e biodiesel , e cem milhes de hectares de culturas agrcolas passaram
para a produo de agrocarburantes1 7.
Simples clculo: menos al imentos, preos mais altos para os que podem
comprar e mais fome e morte para os que no podem. E tudo assentado sobre
uma mentira: como so necessrios 4.000 l i tros de gua para produzir 1 l i tro de
biodiesel , o presidente do maior truste mundial de al imentos, a Nestl, disse: Com
os agrocarburantes, jogamos na pobreza mais extrema centenas de milhes de
seres humanos1 8. Alm disso, estudo da OCDE, a organizao dos estados
industriais, conclui sua pesquisa sobre a quantidade de energia fssi l para
produzir um l i tro de biodiesel declarando ser uma quantidade enorme, levando o
New York Times a comentar, em 8 de maro de 2008: os agrocarburantes
aumentam a quantidade de dixido de carbono na atmosfera, em vez de
contribuir para a sua reduo1 9.
No bastasse desviar mi lho e espalhar pelo mundo a maldio da cana-
de-acar, a estratgia da substi tuio da dependncia do petrleo pelos USA
tem a ver com a possibi l idade de o governo contar com recursos para polticas
sociais, e isso aumenta a crise al imentar mundial . E aumenta a compra e roubo de
terras pelas corporaes multinacionais, encarecendo o seu preo em todo o
mundo e direcionando seu uso para a produo de agrocarburantes.
16. Id. Ib. p. 291. O texto citado de Kaufmann est em Der Spiegel (Hamburgo, 29 ago. 2011).
17. Id. Ib., p. 243-244.
18. La Tribune de Genve, 22 de ago. 2011. In J . Ziegler, ob. cit, p. 247.
19. Id. Ib., p. 247.
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Esses dados e afirmaes nos ajudam a ter presente que mesmo a
pobreza e a fome conjunturais so provocadas por aes humanas, e mais uma
vez, de modo especial pelas aes das corporaes mundiais que teimam em
manter seus lucros e poder l igados extrao e queima de bens fsseis, junto
com a produo agropecuria de commodities e a gerao de energia eltrica
com a construo de grandes hidreltricas. So elas que aumentam
constantemente a quantidade de dixido de carbono, metano e xido nitroso na
atmosfera, provocando aquecimento e mudanas cl imticas. Por isso, o
empobrecimento e a fome dos afetados por desastres socioambientais tm
causas humanas identi ficadas, e sua superao tambm exige mudanas
profundas no modo de produzir, de intercambiar, de consumir, e com a
responsabi l izao judicial dos responsveis.
No Brasil
Assim como no mundo, a persistncia da pobreza se deve a estruturas que
mantm e agravam a concentrao da riqueza e da renda. Para comear, o mais
bvio: trata-se de um pas que teima em fazer reforma agrria ao inverso: aumenta
a quantidade de terra sob controle de uma minoria e diminui a destinada aos
pequenos proprietrios, que so os produtores de mais de 70% dos al imentos da
populao. At mesmo os terri trios j demarcados e reconhecidos dos povos
indgenas e qui lombolas continuam sendo ameaados. E de duas formas: por
aes diretas de interessados, em geral gri leiros a servio de grupos econmicos
nacionais e estrangeiros, e por projetos parlamentares e prticas do Executivo que
visam mudar a Consti tuio e leis para favorecer a destinao de parte dos
terri trios a grupos econmicos executores das grandes obras do Programa de
Acelerao do Crescimento20.
Os recentes programas governamentais de recuperao do salrio mnimo
e de transferncia de renda geraram alguma melhora nas precrias condies de
milhes de brasi leiros, mas no garantem uma mudana profunda e estvel na
distribuio da riqueza.
A noo de investir nos pobres parece adequada, mas estes apenas
adquirem maior mobi l idade e possibi l idade de insero social se o combate s
vrias formas de desigualdade propiciar a abertura de novas posies
ocupacionais nos vrios pontos do terri trio brasi leiro, ressalvadas as suas
especificidades. Esta a agenda dos movimentos sociais brasi leiros, os quais
20. Vale acompanhar as constantes denncia e anl ises crticas publ icadas pelo CIMI no PORANTIM Em defesada causa indgena www.cimi.org.br
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vivem os di lemas concretos das desigualdades de oportunidades no acesso ao
emprego, s polticas sociais e aos direitos bsicos da cidadania21 .
bom ter presente que o Brasi l est na 84 posio em relao ao ndice
de Desenvolvimento Humano - IDH, do PNUD (2011). E quando se ajusta este
ndice pela desigualdade, o pas perde 13 posies. E h outro dado mais
alarmante: dos 129 pases da amostra do PNUD para os quais existe clculo do
ndice de Gini , poucos se encontram em situao pior que a brasi leira, sendo eles
a frica do Sul , Angola, Bolvia, Colmbia, Haiti e Honduras22. Esse ndice revela
exatamente a concentrao da riqueza e, por isso, o grau de desigualdade
socioeconmica. Uma das consequncias que, em termos de percentual de
pobres na populao total , o indicador brasi leiro pelo menos duas vezes
superior ao de Argentina, Chi le e Uruguai .
Sem uma efetiva reforma agrria e agrcola, que democratize o acesso s
terras agrcolas e reconhea e apoie com recursos pbl icos s a produo de
al imentos saudveis; sem uma reforma urbana, que democratize o acesso aos
terrenos e a tudo que a cidade oferece s pessoas; sem uma reforma tributria,
que a torne progressiva, cobrando mais dos que ganham mais e so detentores
de riquezas sob diversas formas; sem uma reforma da educao, que garanta
acesso e qual idade a todas as pessoas em insti tuies pbl icas; sem uma
reforma na sade, que garanta qual idade de servios de preveno e de
recuperao poltica de universal idade existente; enfim, sem uma transformao
estrutural da sociedade e do Estado e sem inverso de prioridades das polticas
pbl icas, a melhora relativa, mas importante, das condies de sobrevivncia dos
empobrecidos no avanar na direo de verdadeira justia e igualdade social , e
menos ainda na direo da promoo da dignidade e da cidadania de todas as
pessoas.
PARAAPROFUNDAR E VIVER
1. A pobreza e a fome tm realmente causas estruturais? Quais?
2. Como a transformao de al imentos em commodities agrava a
fome?
3. Como se interl igam a civi l izao do petrleo, as mudanas
cl imticas e a pobreza e a fome?
21. Alexandre de Freitas Barbosa (org.) . O Brasil real : a desigualdade para alm dos indicadores. So Paulo: OutrasExpresses, 2012, p.45.
22. Id. Ib., p.47.
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5. Para erradicar a fome e a pobreza preciso aboli-las
Vs quereis os pobres assistidos. Eu quero abolir a
pobreza. (Victor Hugo)
A longa prtica de Relator Especial da ONU sobre o direito al imentao de
2000 a 2008 fez de Jean Ziegler um apaixonado, sofrido e competente
especial ista, e, mais do que isso, fez dele um indignado profeta e lutador ao lado
dos condenados morte pela fome. por isso que em suas recentes entrevistas,
por ocasio do lanamento de seu novo l ivro, ele assumiu uma proposta
anteriormente elaborada por outros especial istas da ONU: a pobreza s acabar
quando for reconhecida como uma violao dos direitos humanos e, como tal ,
abol ida23.
A pobreza, hoje, no em nada natural . Ela produzida pela imposio das
regras do mercado capital ista, que se tornou neol iberal e global izado nas ltimas
dcadas. A produo agropecuria pode garantir al imentao para 12 bi lhes de
seres humanos. Como somos pouco menos de 7 bi lhes, h evidente desperdcio
e impedimento que muitos no tenham acesso aos al imentos. O planeta est
saturado de riquezas. Portanto no h nenhuma fatal idade. E se um bi lho de
indivduos padecem de fome, no por causa de uma produo al imentar
deficiente, mas do aambarcamento, pelos mais poderosos, dos frutos da terra.
Num mundo finito que o nosso, em que no se produzem mais
descobrimentos nem conquistas de novas terras possveis, o aambarcamento
dos bens da Terra toma um novo nome. Torna-se um imenso escndalo24.
Por isso, conclui Ziegler, os que fazem parte da ol igarquia financeira
global izada e os governantes e insti tuies multi laterais que os apiam - devem
ser responsabi l izados pela pobreza e pelo sofrimento e morte por causa da fome
em todo o planeta. Devem ser presos, ju lgados e condenados.
Pierre San vai ainda mais longe. A pobreza, que provoca sofrimento e
morte, no ter fim apenas com o julgamento dos que hoje provocam sua
existncia e agravamento; outros os substi tuiro, e a pobreza se aprofundar.
23. Pierre San. Pobreza, a prxima fronteira na luta pelos direitos humanos, In Jorge Werthein e MarlovaJovchelovitch Noleto. Pobreza e Desigualdade no Brasil Traando caminhos para a incluso social . Brasl ia:UNESCO Zahar Ed., 2003, p. 27. O autor era, em 2003, Diretor-Geral Adjunto para Cincias Humanas e Sociais daUNESCO.
24. Jean Ziegler, ob. cit., p. 321.
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indispensvel , para ele, que a pobreza seja definida, em Consti tuies e leis, como
um efetivo crime contra os direitos humanos, e que, por isso, seja abol ida. Isto ,
que acontea com a pobreza o que se deu com a moderna escravido: s passou
a ser efetivamente considerada um crime contra a dignidade das pessoas quando
foi abol ida; a partir da, toda pessoa ou insti tuio que a praticar, ser julgada e
condenada. A efetiva prtica de responsabi l izao judicial das pessoas, grupos
econmicos e governos e governantes pelo crime de gerao, manuteno e
agravamento da pobreza s acontecer quando ela for abol ida por ser um crime
contra os direitos humanos dos submetidos pobreza.
Em outras palavras, para todas as pessoas, movimentos sociais, partidos
polticos, rel ig ies e governantes que se l ibertarem da viso ideolgica de que a
fome e a pobreza so uma fatal idade, algo natural , estratgia de seleo natural ,
ou, muito pior, vontade ou castigo de Deus, esto sendo desafiadas coerncia:
se fome e pobreza so causadas por relaes econmicas e polticas conhecidas,
a luta pela superao delas exige que se lute contra os responsveis pela sua
existncia e agravamento, bem como contra e pela superao do sistema e da
civi l izao capital ista.
A prtica de estar com os empobrecidos e de fazer campanhas em favor
de suas necessidades urgentes para evitar a morte por fome deve continuar,
porque as pessoas que esto nesta situao no podem esperar. Mas fazer s
isso, por mais mrito que tenha, insuficiente. Na perspectiva da democratizao
que a humanidade assumiu nos ltimos sculos, a luta contra a fome e a pobreza
deve fazer parte da luta pelos direitos humanos; mais ainda, esta luta s alcanar
vitrias se os empobrecidos se tornarem protagonistas junto com todos que
assumem suas causas. E a superao da pobreza e da fome que mata s se dar
de forma efetiva com a transformao das sociedades em que os empobrecidos
e famintos so mantidos na pobreza; um processo de transformao que deve
passar pela identi ficao dos causadores da pobreza, pelo julgamento de seus
crimes contra os direitos humanos dos empobrecidos e famintos, agravados
sobremaneira pela morte de milhes de pessoas por causa da fome.
PARA APROFUNDAR E VIVER
1. Corresponde real idade a afirmao de que h causadores da
fome e pobreza?
2. Ser correta e necessria a prtica de lutar pela abol io da
pobreza? Em que consiste?
3. Como esta viso se l iga com a prtica da Critas? Como l igar as
aes concretas, no terri trio, com a transformao do sistema
dominante?
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6. Caminhos e propostas de vida sem fome e sem pobreza
Vi ento um novo cu e uma nova terra. (Apocalipse, 21 )
Abrimos esta reflexo crtica invocando a esperana. Buscaremos, agora, sinais de
que h prticas e caminhos alternativos ao sistema dominante, que condena
inocentes morte por fome e promove os que provocam sua morte.
Estaremos vivendo um tempo de transio civi l izacional25? H muitos
sinais de que o sistema est provocando crises em srie. As primeiras atingiram
os pases emergentes, na dcada de 1990 e incio do terceiro mi lnio, e agora, em
2008 e 2011, os pases centrais industrial izados. So crises do capital financeiro,
mas que afetam, de forma contraditria, todas as pessoas. J destacamos como
atingem os empobrecidos ao falar do aumento dos preos dos al imentos.
Escandaloso, contudo, no s este efeito; ainda mais inaceitvel que os que
causaram as crises tenham concentrado ainda mais renda e riqueza no decorrer
delas, e talvez seja este o motivo que os leva a no mostrar interesse de sair desse
tempo de crise.
Para os no-capital istas, mas dependentes dos detentores de capital , o
fruto das crises se expressa no que vai sendo denominado precariado. De modo
especial em relao ao trabalho e renda, experimentam perda de empregos,
trabalhos por tempo, queda de salrios, instabi l idade, desemprego e entram no
precariado. Como a onda e o pol i ticamente correto antes da crise era adquirir
bens imveis e mveis e consumir cada vez mais usando crditos faci l i tados e
quase empurrados goela abaixo pelos bancos e financeiras, a crise levou
inadimplncia, exigindo novas dvidas ou perdendo os bens financiados.
Como o endividamento atingiu tambm os Estados, a soluo exigida
pelo capital financeiro foi a diminuio dos gastos em polticas sociais e em
investimentos pbl icos, bem como a privatizao de servios sociais. Isso levou a
um aumento quantitativo dos empobrecidos, agora tambm nos pases antes
considerados desenvolvidos e com polticas sociais aparentemente seguras.
A resposta a essa nova situao resultante da crise gerada pelo capital ismo
se assemelha em todas as regies do planeta: revoltas e mobi l izaes sociais
contra a explorao econmica e contra as insti tuies polticas e exigncias de
aes que respondam s necessidades populares e democratizem de fato todas
as relaes sociopolticas. Revelam clara decepo e revolta contra os
25. Para Boaventura de Sousa Santos isso que caracteriza a histria humana na virada do milnio: ela est emtrnsito de uma civil izao para outra ou outras. Cfr. A Crtica da Razo Indolente Contra o desperdcio daexperincia. So Paulo: Cortez, 2001
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denominados polticos: que se vaian todos! , comeou a gritar com fora o povo,
isto , o novo poder poltico formado por desempregados e empobrecidos a partir
das ruas da Argentina; foraram renncias de vrios presidentes eleitos e s
diminuram seu mpeto quando um dos eleitos para a presidncia da repbl ica
comeou a dar resposta s exigncias, anunciando a suspenso de pagamento
dos juros e parcelas da dvida externa para contar com recursos para recuperar
as condies de vida do povo.
Esse que se vayan todos! espalhou-se: em outros pases sul-americanos,
como Venezuela, Bolvia e Equador; em pases rabes, enfrentando ditadores; em
pases europeus, nos autodenominados indignados; no Estados Unidos da
Amrica, nos movimentos de occupy wal l street, exatamente o corao do capital
financeiro mundial izado; mais recentemente, e surpreendendo a quase todos, no
Brasi l , nas mobi l izaes real izados em mais de 350 municpios.
No h como no perguntar-se: teriam percebido realmente algo novo no
tempo histrico do capital ismo neol iberal global izado os autores do l ivro
Imprio26? Segundo eles, a resposta ao novo tipo de imprio se daria na forma de
multido: o poder imperial j no pode resolver o confl i to de foras sociais pelo
esquema mediador que substi tui os termos do confl i to. Os confl i tos sociais que
consti tuem o poltico confrontam-se diretamente, sem qualquer espcie de
mediao. Esta a principal novidade da situao imperial . O Imprio cria um
potencial maior de revoluo do que os regimes modernos de poder, porque nos
apresenta, juntamente com a mquina de comando, uma alternativa: o conjunto
de todos os explorados e subjugados, uma multido que se ope diretamente ao
Imprio, sem mediadores. . . 27.
Sem espao para aprofundar a reflexo provocativa dos autores,
importante manter o questionamento: ser necessria a revolta indignada da
multido de empobrecidos faml icos para que se avance na definio de que
esto sendo vtimas de aes criminosas insti tucional izadas nas relaes
polticas do Imprio das corporaes financeiras global izadas? E para que,
consequentemente, sejam elaboradas novas Consti tuies, em que a pobreza
seja declarada crime contra os direitos humanos, e seja, por isso, abol ida,
possibi l i tando e exigindo que os criadores de pobreza sejam presos, ju lgados e
condenados por seus crimes?
Na verdade, esta multido j est nas ruas e praas, como parte do
conjunto de explorados e subjugados e deveramos acrescentar, por sermos
26. Trata-se dos l ivros de Michael Hardt e Antonio Negri. Imperio. Rio de Janeiro: Record, 2001, e Multido,publ icado em 2005 pela mesma editora.
27. Id Ib, p. 418.
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do Sul : dos excludos e condenados morte por fome misria que est
enfrentando diferentes configuraes de mediaes e mediadores que sustentam
o Imprio.
Nessa direo, nada mais expressivo do que a ressurreio dos povos
indgenas da Amrica do Sul : eles comearam com revoltas revolucionrias em
1910, no Mxico, e em 1950, na Bolvia -, e agora usaram a estreita porta do voto
individual para assumir poder consti tucional para refundar o Estado, isto : para
gerar nova consti tucional idade, em que se reconhecem os direitos coletivos de
cada nao existente no terri trio, redefinindo o carter do Estado, tornando-o
plurinacional . verdade que permanece o confl i to com os que tm a cultura da
propriedade privada, pois a forma primeira de relao com a terra o terri trio de
cada povo, mas est aberta a porta para a existncia de Estados consti tudos por
poderes descentral izados e diferentes, cabendo ao poder central do Estado levar
prtica o princpio de poder dos povos indgenas: governar obedecendo,
reconhecendo as autonomias, dialogando com seus governos, construindo a
unidade com plural idade.
Seria demais cobrar que tudo isso j estivesse presente na real idade
concreta de pases como a Bolvia e o Equador. Quem faz esta cobrana ainda
pensa os processos na perspectiva clssica das revolues, que tiveram
comando central izado e estratgias homogeinizadoras. Os processos atuais so
mais participativos e, por isso, relativamente mais lentos. E quando governantes
cedem tentao de continuidade do progresso comandado pelo Imprio, as
novas Consti tuies do fora e legitimidade multido que confiou a eles um
tempo para governar obedecendo, e colocam em questo as pretenses das
corporaes. E para ter presente o peso poltico dessa inverso, basta lembrar
que nessas novas Consti tuies esto reconhecidos os direitos da natureza,
fazendo que agresses Me Terra sejam definidas e julgadas como crimes28.
A existncia deste novo sujeito coletivo, a multido, no anula a
importncia das aes e movimentos especficos organizados. Superando a
tradicional pretenso de mediao, sero presena potenciadora das
mobi l izaes da multido, reforando o questionamento de tudo que mantm o
Imprio nos diferentes espaos do planeta.
o caso, por exemplo, dos migrantes. Contestando a l iberdade absoluta de
mobi l idade para o capital , a migrao dos empobrecidos exige l iberdade de
mobi l idade para todas as pessoas. Trata-se de um direito, e no uma concesso.
Esse no o caso do capital financeiro, por mais que haja leis que lhe concedem
28. Sugerimos, em especial , a leitura do captulo VII da Constituio da Repbl ica do Equador.
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39
o privi lgio. Por isso, tanto os migrantes por opo, como os que migram por
necessidade financeira ou os que so migrantes ou exi lados cl imticos so parte
importante da multido que contesta o Imprio.
Mas essa ao al imentada tambm pelas muitas entidades dos prprios
migrantes nos diferentes pases, pelas pastorais e entidades que os apoiam e pelo
Frum Social Mundial das Migraes, que j real izou cinco eventos internacionais.
Elas so elos de uma rede mundial , sem que ningum seja mediao de toda a
multido que se mobi l iza, pressiona, prope, exige em rede.
Na mesma direo, entram no processo os diferentes movimentos,
entidades e at brechas em polticas pbl icas que lutam por diferentes formas de
economia popular sol idria e pela produo agroecolgica. A diversidade existe
porque as prticas se do em biomas e ecossistemas e em sociedades com
culturas e estruturas sociopolticas diferenciadas. O que as une a contestao
da forma capital ista de relacionar com a terra, com os al imentos, com o trabalho,
com a distribuio da renda, com o direito al imentao e nutrio. Nada impede
que seja ponto de partida de novas mobi l izaes e podem e devem ser fora mais
do que explosiva de contestao nas mobi l izaes com outros setores e pessoas
jogadas na total insegurana e instabi l idade dos trabalhos temporrios e do
desemprego estrutural .
H muitas iniciativas e sinais de que um mundo sem fome e sem pobreza
possvel ; na verdade, ele j existe na forma de sementes. O fundamental , por um
lado, impedir que estas sementes sejam mortas pelo monopl io financeiro que
comanda o Imprio atual . Por outro, preciso que o cuidado recproco e o
trabalho de semeadura se multipl iquem para que o fruto da revoluo dos
indignados de cada local idade e de todo o mundo seja, de fato, a construo de
sociedades de vida simples, consti tudas por pessoas l ivres da tentao da
propriedade e da concentrao de riqueza que ela engendra; sociedades em que
as pessoas e comunidades melhoram sua forma de vida pela convivncia com a
riqueza de diferentes culturas; sociedades assentadas sobre relaes de
cooperao entre as pessoas e comunidades e sobre relaes harmnicas com a
Me Terra. Em suma, diferentes formas de Bem Viver.
PARA APROFUNDAR E VIVER
1. Quais as relaes entre o Imprio atual e as mobi l izaes e
revoltas no mundo?
2. Em que sentido o novo sujeito poltico do mundo atual a
multido? Faz sentido?
3. Como relacionar as prticas da Critas com as mobi l izaes de
tipo multido?
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7. Em busca do Esprito do Bem Viver e da Vida em
Abundncia
A multido dos fiis era um s corao e uma s alma. . .
Entre eles ningum passava necessidade. . . pois tudo era
distribudo segundo a necessidade de cada um.
(Atos, 4,32 e 34)
Tendo presente a deseducao que a dominao ideolgica, cultural , pol tica e
espiri tual que o capital ismo introduziu em quase toda a humanidade, temos
necessidade, ao mesmo tempo, de firmar a convico terica de que um mundo
novo, sem pobreza e sem fome, possvel e dramaticamente necessrio, e de
buscar e cultivar em ns o espri to do Bem Viver e da Vida em Abundncia. Este
o espri to que nos manter firmes nas lutas que esto e que sero travadas contra
o sistema e a civi l izao que levaram e levam a considerar normal que um nfimo
nmero de ol igarcas do capital financeiro mundial concentre cada dia mais
riqueza e gere, com isso, si tuaes de pobreza extrema, incluindo mortes por falta
de al imento.
Junto com a indignao, de modo especial pela conscincia de que
morre uma criana com menos de dez anos a cada cinco segundos pela fome
provocada pelos que se apoderam e tornam impossvel o acesso aos bens
necessrios vida de todas as pessoas29, cresce a alegria e a esperana de
reconhecer as prticas que so sinais de transformao e de construo de um
mundo sem fome e sem pobreza.
Convivem, em nossas prticas, em nossa espiri tual idade e mstica de
seguidores de Jesus de Nazar, o anncio e celebrao do que motivo de
alegria e a advertncia proftica em relao s i luses da riqueza concentrada e
egosta:
Fel izes vs os pobres, porque vosso o Reino de Deus!
Fel izes vs que agora passais fome, porque sereis saciados!
Fel izes vs que agora estais chorando, porque haveis de rir!
Fel izes sereis quando os homens vos odiarem, expulsarem,
insultarem e amaldioarem o vosso nome por causa do Fi lho do
Homem. Alegrai-vos, nesse dia, e exultai , porque ser grande vossa
29. Jean Ziegler, ob. cit., p. 21.
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41
recompensa no cu, pois era assim que os seus antepassados
tratavam os profetas.
Mas ai de vs, ricos, porque j tendes vossa consolao!
Ai de vs que agora estais fartos, porque passareis fome!
Ai de vs que agora estais rindo, porque ficareis de luto e chorareis!
Ai de vs quando todos falarem bem de vs, pois era assim que seus
antepassados tratavam os falsos profetas30.
Ao falar dessa forma, Jesus no ofende os pobres nem os i lude com
palavras bonitas. Por qu? Porque ele prprio era pobre e vivia com eles, comia
com eles, era sol idrio e gerava sinais de que Deus quer que os pobres participem
da construo do mundo sonhado e desejados por Deus para a humanidade: um
mundo desde a mais simples relao pessoal e local , at as relaes sociais
mais amplas em que Deus se sente bem de estar com seu povo porque este
povo vive como ele deseja, com relaes fraternas, amorosas, sol idrias. Havendo
desigualdades, in justias, explorao, misria, fome, Deus est com os
injustiados animando-os a lutarem pelo Jubi leu31 : por prticas, - hoje certamente
polticas, de radical izao da democracia -, que l ibertam quem foi levado
situao de escravo, de servo, de sem-terra, de migrante, de mulher explorada
sexualmente etc. , reconstruindo relaes de al iana entre fi lhos e fi lhas de Deus
que se querem bem, que desejam vida e alegria para todos e entre todos; e
reconstruindo relaes, ao mesmo tempo, de fi lhos e fi lhas da Terra, me
generosa de todas as formas de vida que conhecemos e do ambiente favorvel
vida.
Jesus de Nazar assume, em sua misso, as duas dimenses: anunciar a
Boa Nova aos pobres, proclamar a l ibertao aos presos, a recuperao da vista
aos cegos, dar l iberdade aos oprimidos e proclamar um ano aceito da parte do
Senhor isto , o ano com Jubi leu, com os compromissos da Al iana retomados
na prtica. E isso que, na boa tradio, era celebrado a cada sete dias, a cada sete
anos e a cada sete vezes sete anos, no quinquagsimo ano, agora real izado
hoje, em cada dia: Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabais de
ouvir32.
Com Jesus, oramos, exultando no Espri to Santo, que nos leva a perceber
algo novo na vida do povo e dos seus seguidores: Eu te louvo, Pai , Senhor do cu
e da terra, porque escondeste essas coisas aos sbios e entendidos e as revelaste
30. Lc. 6,20-26.
31. Retomar x. 23, vendo o que Deus prope como qual idade de vida para haver Al iana, e Lev. 25, para retomaro processo de resgate das qual idades da vida da Al iana.
32. Ver Lc 4,18-21
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aos pequeninos. Sim, Pai , assim foi de teu agrado33. E o segredo mais subl ime e
desafiador dessa revelao este: tudo que fizerdes ou deixardes de fazer a um
desses pequeninos, que so meus irmos, foi a mim que o fizestes ou deixastes
de fazer34.
Todo o empenho pela superao da fome e da pobreza tem a ver com
Deus, porque Ele que passa fome e est submetido a uma pobreza nada natural
na pessoa dos empobrecidos e dos que morrem por causa da fome. Por mais
difci l que seja a luta, nunca podemos esquecer que Jesus revela que o ladro
vem para roubar, matar, destruir. Eu vim para que tenham vida, e a tenham em
abundncia35.
Quem assim acolhe a misso de seguir a Jesus de Nazar e continuar
sua obra de l ibertao, tem o corao aberto para acolher os sinais do Reino j
presentes nas prticas que fundamentam a proposta de sociedades de Bem
Viver36. Trata-se de acolher o que foi preservado como pedra preciosa pelos povos
indgenas da Amrica Latina, que sobreviveram aos decretos de extermnio e no
se submeteram dominao colonial e capital ista durante os ltimos cinco
sculos. Para quem l a histria teologicamente, com o olhar de Deus, h aqui
sinais de ressurreio, que, pela fora da ressurreio de Jesus, devero produzir
frutos de transformao do Imprio dos dias de hoje.
O Papa Francisco est enviando ao mundo, e de modo especial aos
cristos, muitos sinais de que a misso da Igreja estar com os empobrecidos,
assumindo suas dores e anunciando que Deus est com eles em suas lutas por
seus direitos. Sua primeira viagem, i lha Lampedusa, no Mediterrneo, teve como
motivao a necessria sol idariedade com as faml ias dos migrantes que
morreram no mar tentando chegar Europa para melhorar suas condies de
vida. A partir das notcias de novas mortes, disse ele, o caso volta-me
continuamente ao pensamento como um espinho no corao que faz doer. E
ento senti o dever de vir aqui hoje para rezar, para cumprir um gesto de
sol idariedade, mas tambm para despertar as nossas conscincias a fim de que
no se repita o que aconteceu. Que no se repita, por favor.
Depois de agradecer aos que se dedicam a acolher os migrantes e
reforar seus trabalhos, e depois de saudar os queridos imigrantes muulmanos,
33. Lc 10,21.
34. Mt. 25,40 e 45.
35. Er Jo. 10,10.
36. J est presente no captulo II da Constituio da Repbl ica do Equador. Ver artigos no l ivro de AntnioCanuto (org.) . Bem Viver O confl ito entre dois modos de ser e saber. Goinia: Curso de Vero, 2013.
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43
desejando que seu Ramad produza abundantes frutos espiri tuais, ao presidir a
celebrao eucarstica, celebrada sobre altar construdo com restos de madeira
de barcos que destroaram nas ondas do mar e com cl ice de madeira, fez uma
homil ia exemplarmente proftica:
Onde est o teu irmo? A voz do seu sangue clama at
Mim", diz o Senhor Deus. Esta no uma pergunta posta a
outrem; uma pergunta posta a mim, a ti, a cada um de
ns. Estes nossos irmos e irms procuravam sair de
situaes difceis, para encontrarem um pouco de
serenidade e de paz; procuravam um lugar melhor para si
e suas famlias, mas encontraram a morte. Quantas vezes
outros que procuram o mesmo no encontram
compreenso, no encontram acolhimento, no
encontram solidariedade! E as suas vozes sobem at Deus!
Hoje ningum no mundo se sente responsvel por isso;
perdemos o sentido da responsabilidade fraterna; camos
na atitude hipcrita do sacerdote e do levita de que falava
Jesus na parbola do Bom Samaritano: ao vermos o irmo
quase morto na beira da estrada, talvez pensemos
"coitado" e prosseguimos o nosso caminho, no dever
nosso; e isto basta para nos tranquilizarmos, para
sentirmos a conscincia em ordem.
A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em ns
mesmos, torna-nos insensveis aos gritos dos outros, faz-
nos viver como se fssemos bolas de sabo: estas so
bonitas, mas no so nada, so pura iluso do ftil, do
provisrio. Esta cultura do bem-estar leva indiferena a
respeito dos outros; antes, leva globalizao da
indiferena. Neste mundo da globalizao, camos na
globalizao da indiferena. Habituamo-nos ao sofrimento
do outro, no nos diz respeito, no nos interessa, no
responsabilidade nossa!
Mas eu queria que nos pusssemos uma terceira pergunta:
"Quem de ns chorou por este fato e por fatos como este?
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44
Quem chorou pela morte destes irmos e irms? Quem
chorou por estas pessoas que vinham no barco? Pelas
mes jovens que traziam os seus filhos? Por estes homens
cujo desejo era conseguir qualquer coisa para sustentar as
prprias famlias? Somos uma sociedade que esqueceu a
experincia de chorar, de "padecer com": a globalizao
da indiferena tirou-nos a capacidade de chorar!
Peamos ao Senhor que apague tambm o que resta de
Herodes no nosso corao; peamos ao Senhor a graa de
chorar pela nossa indiferena, de chorar pela crueldade
que h no mundo, em ns, incluindo aqueles que, no
anonimato, tomam decises socioeconmicas que abrem a
estrada aos dramas como este. "Quem chorou?" Quem
chorou hoje no mundo? 37
PARA APROFUNDAR E VIVER
1. Que outras fontes e razes podem e devem enriquecer nosso
espri to?
2. Quais as relaes entre Al iana, Jubi leu, Jesus e o Bem Viver?
3. Em que j est e como pode enriquecer ainda mais a Critas a
busca do Bem Viver?
37. As citaes fazem parte da homil ia publ icada em www.ihu.unisinos.br em 9 de julho de 2013.
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45
A CAMPANHA MUNDIAL CRITAS
Uma Famlia Humana sem Fome esem Pobreza
Como parte do nosso trabalho com e para os pobres, a Critas vai colocar em
prtica anos de experincia para lanar uma campanha mundial que pretende
sensibi l izar a igreja e a sociedade sobre a fome, a pobreza e a desigualdade no
mundo e no Brasi l , mobi l izando todas as pessoas para um dilogo sobre o tema e
promovendo um gesto concreto a favor dos pobres do Brasi l .
A al imentao uma necessidade terrena citada constantemente nas
escrituras. Na criao (Gnesis 1,27-28) , durante a viagem do povo judeu no
deserto do Sinai (xodo), a al imentao uma tentao para Jesus no deserto. A
multipl icao dos pes (Joo 6s) indica o mistrio de suficincia e integridade
do al imento terreno, da responsabi l idade humana para garantir al imentos para
todas as pessoas (Vs mesmos dai-lhes de comer, Mateus 14:16) .
Na orao do Pai Nosso, pedimos o po nosso de cada dia como uma
necessidade terrena e como al imento que conduz vida eterna, para ser
comparti lhado na unidade e na sol idariedade.
O fundamento teolgico do direto al imentao a dignidade humana a
dignidade que um dom de Deus para todos os seres humanos. A fome, desta
forma, uma violao desta dignidade. Mas, se existem recursos suficientes na
Terra para al imentar a todos, surpreendente constatar que mais de um bi lho de
pessoas no mundo ainda vivam sem al imentos e nutrio adequados. Um tero
das mortes entre crianas menores de cinco anos de idade nos pases em
desenvolvimento est l igado desnutrio. E a contradio: a cada oito pessoas,
uma obesa. (OMS, 2012)
O Brasi l tem mais de setecentas faml ias na extrema pobreza e dezesseis
mi lhes de pessoas vivendo em condies de pobreza (IBGE 2011) A
desigualdade se faz presente nas pequenas, mdias e grandes cidades, e
tambm no campo, independentemente da regio ou estado brasi leiro.
Este cenrio retrata a absurda desigualdade social que o mundo enfrenta
hoje e a Critas quer colaborar para uma mudana.
Um esforo coletivo em nvel mundial pode dar a visibi l idade necessria ao
trabalho da Critas como instrumento de sol idariedade da Igreja em apoio aos
empobrecidos e marginal izados, como um corao que percebe e atua.
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46
O tema mundial Uma faml ia humana sem fome e sem pobreza ir
nortear as aes Critas em todo o mundo, adequadas real idade de cada um
dos 164 pases em que atua. Ao mesmo tempo, une todos os pases no objetivo de
respeitar e promover a dignidade humana, reduzindo a fome, a desigualdade, a
desnutrio e a pobreza em todos os continentes.
Esta ao visa dar foco, tambm, s mulheres, particularmente afetadas
pela pobreza e discriminao.
Nesta l inha, a campanha busca alcanar polticas claras e atingir
mudanas de comportamento em torno de questes de insegurana al imentar e
reduzir o nmero de pessoas que sofrem de fome e desnutrio. Mobi l izao e
sensibi l izao sero as palavras chaves que seguiro motivando a Critas em
todos os nveis.
com o objetivo de comparti lharmos o compromisso de espalhar a voz da
campanha contra a fome que, aqui , nesta oportunidade, comea uma luta que
depende de cada corao Critas, para que as pessoas excludas percebam a
fora de quem quer, efetivamente, formar protagonistas da verdadeira mudana.
Juntos, em uma s voz, transformaremos essa real idade!
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47
Anexos
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48
CRITRIOS PARA PARTICIPAO DA XIX ASSEMBLEIA
Orientaes Estatutrias
De acordo com o com o Art. 8 do Regimento Interno da Critas Brasi leira, a
Assembleia Geral da Critas Brasi leira a expresso mxima de representao e
del iberao.
O Art. 11, por sua vez, estabelece que so participantes da Assembleia
Geral :
a) A Diretoria;
b) Um/a representante de cada entidade Membro, devidamente
credenciado/a;
c) Os efetivos do Conselho Fiscal ;
d) O Conselho Consultivo;
e) O Secretariado Nacional ;
f) As Delegaes Regionais;
g) O bispo presidente da Comisso Episcopal para o Servio da
Caridade, Justia e Paz.
Quanto ao direito de voz e voto, o 1 desse artigo define que somente os
membros da Diretoria, os/as representantes das Entidades Membros devidamente
credenciados/as e o presidente da Comisso da Caridade Justia e Paz, tero voz
e voto para as questes expressamente estatutrias, conforme o artigo 7 do
Estatuto.
E o art. 12 indica que a critrio da Diretoria, podero participar das
Assembleias, convidados/as e assessores/as, tanto do Brasi l como do exterior,
com direito a voz, mas sem direito a voto em questes expressamente
estatutrias.
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ORIENTAES GERAIS
LOCAL DA XIX ASSEMBLIA ORDINRIA DA CRITAS BRASILEIRA
CCB- Centro Cultural de Brasl ia: SGAN 601 MDULO B
Telefone: (61) 3426-0400
Pessoa de referncia no local : Socorro (61) 8124-5688
ENDEREO DOS LOCAIS DE HOSPEDAGEM
Instituto So Boa Ventura:
SGAN 915 MDULOS ABC
Telefone: (61) 3349-0230
Pessoa de referncia no local : Carla (61) 8550-4646
CCB- Centro Cultural de Brasl ia:
SGAN 601 MDULO B
Telefone: (61) 3426-0400
Pessoa de referncia no local : Socorro (61) 8124-5688
Casa de Retiro Felipe Smaldone:
SGAN 911 MDULO CD
Telefone: (61) 3274-4329/ 3273-5197
Pessoa de referncia no local : Normel iana (61) 8334-9709
Secretariado Nacional:
SGAN 601 MDULO F
Telefone: (61) 3521-0350
Pessoa de referncia Geral : Cristina (61) 9217-9740 / Jaime (61)
8165-0807 / andela (61) 8189-0734 e Magalhes (61) 8270-8544/8131-
9639
OUTROS TELEFONES DE EMERGNCIAS EXTERNOS:
TXI- (61) 3225-3030
SAMU- 192
POLCIA -190
BOMBEIRO- 193
IMPORTANTE:
A voltagem em Brasl ia de 220 watts.
Beba bastante l quido devido baixa humidade.
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50
GRUPOS DE TRABALHO E
COMISSES DA XIX
ASSEMBLEIA
Coordenao GeralCristina dos Anjos
CoordenaoDiretoria
SecNAc
Gt de Formao
Animao e ConfraternizaoLucineide Pinheiro(PI )
Jos Magalhes(SecNac)
Auri lene(MA)
Isabel Forte(C.Fortaleza)
Solange Vi lhena(N2)
Ademair Bastos(SecNac)
Adelmo (SecNac)
AmbienteAlan Alves (NE3)
Maria Glria(CE)
Patrcia Antunes
Geisiane Lima (MG)
Jeicy Santana(SecNac)
Kssia Sirlene (SecNac)
ComunicaoThays Puzzi(SecNac)
Renata Cabral (SecNac)
Elkin (SecNac)
Fernando Zamban(SecNac)
Ki lma (NE2)
FinanasAguinaldo Lima (Diretoria)
Fernando Santos ( SecNac)
Oti l ia Bal io (Cons. Fiscal)
Cladio Schaab(RS)
Jaime Canrado (SecNac)
Rosngela Alves(secNac)
Infra-estruturaMarines Besson( RS)
Sidney Cavalcante (SecNac)
Socorro Bezerra (SecNac)
Rogrio Boaretto (SecNac)
Ivone Braga (SecNac)
Normel iana Santos (secNac)
Prisci la Duarte(SecNac)
Carla Dal iane(SecNac)
Mercival Gomes(SecNac)
El iane Araujoi(secNac)
Henrique Si lva(secNac)
MsticaVitl io Pasa
Ana Maria(CE)
Alessandra Miranda (SecNac)
Joo Paulo(MG)
Joo Srgio (SP)
Amauri Mossmann(PR)
SadeBegair do Carmo(RS)
Luciene Martins(NE2)
Hortncia Mendes (PI )
El isabeth Regina (ES)
Paulo Morais (SecNac)
Blendaleia Marques(SecNac)
Metodologia e SistematizaoValquria Lima (GT formao)
Loiva Mara (RS)
Neuza Mafra (GT formao)
Joo de Jesus (Assessor)
Ricarte Almeida (GT formao)
Roque Ademir(SC)
Diac Afonso Brito . (GT formao);
Ctia Cardoso (GT formao)
Lanamento da
Campanha/Premio OdairRenata Cabral (SecNac)
Jos Magalhes de Sousa(secNac)
Mandela(SecNac)
Deborah Lago (secNac)
Cleusa Alves (NE3)
Leon Patrick (MG)
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53
01. Canto das 3 Raas
02. Anunciao
03. Espinheira
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04. Eu quero ver
05. Corao Civi l
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06. O que vale o amor
07. Liberdade vem e canta
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08. Flori
09. Vida de viajante
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57
10. Riacho do Navio
11. Ordem e Progresso
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12. Asa Branca
13. Negro Nag
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14. Abre a janela, meu bem
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60
15. O que , o que ?
16. Tocando em frente
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61
17. O Seu Olhar
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62
18. Eu s peo a Deus
19. O Xote das meninas
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63
20. Guaranis
21. Nas horas de Deus amm
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64
22. Oi, que prazer que alegria
23. Nossa alegria saber que um dia
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65
24. Pelos Caminhos da Amrica
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25. Cano da chegada
26. Somos gente nova
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67
27. bonita demais
28. Cntico das Criaturas
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29. Olha a glria de Deus
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69
30. Ofertrio do Povo
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31. Ddivas
32. Quando o dia da paz renascer
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71
33. Po em todas as mesas
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72
34. Bastariam dois pes e dois peixes
35. Povo Novo
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36. Pai nosso dos mrtires
37. Orao Francisco
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38. Romaria
39. O Povo de Deus
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40. O Profeta Jeremias
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76
41. Bendito dos Romeiros da Terra
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77
42. Vem, caminheiro
43. Vir o dia em que todos
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44. Negra Mariama
45. Me do Cu Morena
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79
46. Deixa-me ser jovem
47. Clix Bento
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48. O Deus que me criou
49. misso de todos ns,
50. Canta Francisco
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51. Acorda, Amrica!
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52. Canto dos Mrtires da Terra
53. Mulher latino-americana
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54. Peregrinos nas estradas
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MANTRAS E REFRES MEDITATIVOS:
55. O Sol nasceu
56. Deus amor
57. Teu sol
58. Desa como a chuva
59. Mesmo as trevas
60. Confiemos-nos ao Senhor
61. bom confiar
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62. Louvarei a Deus
63. Onde reina o Amor
64. Vigiai
65. Seja bendito
66. Deus vos salve
67. De noite iremos
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68. Misericordioso Deus
69. Recordaes
70. Banhados em Cristo
71. No te perturbes
72. Deus bom
73. A nossa companhia
74. Nossos olhos
75. Suave luz