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Cel Inf CARLOS ELCIO SILVEIRA FRANCO TEMA: As Forças Armadas e sua importância para o desenvolvimento do Estado. TÍTULO: A Participação das Forças Armadas no Desenvolvimento da Amazônia: Reflexos no Poder Nacional. Rio de Janeiro Marinha do Brasil Escola de Guerra Naval 2006

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Cel Inf CARLOS ELCIO SILVEIRA FRANCO

TEMA: As Forças Armadas e sua importância para o desenvolvimento do Estado.

TÍTULO: A Participação das Forças Armadas no Desenvolvimento da Amazônia: Reflexos noPoder Nacional.

Rio de Janeiro

Marinha do BrasilEscola de Guerra Naval

2006

Cel Inf EB CARLOS ELCIO SILVEIRA FRANCO

A PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS NO

DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA:

Reflexos no Poder Nacional

Monografia apresentada à Escola de Guerra

Naval para a obtenção do título de concludente

do Curso de Política e Estratégia Marítimas

Área de Concentração: Política e Estratégia

Orientador: CMG (RM1-CA) CLÁUDIO

MARIN RODRIGUES

Escola de Guerra Naval

Rio de Janeiro

Escola de Guerra Naval

2006

RESUMO

A Amazônia Brasileira se constitui num patrimônio de inexcedível valor e atrai a

atenção de todo o mundo pela sua vastidão e potencial de riquezas. O Governo Brasileiro deve

manter a sua presença naquela área, integrando-a e desenvolvendo-a. Para cumprir este

desiderato, as Forças Armadas Brasileiras – constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela

Força Aérea – são vetores de atuação do Governo na segurança, na integração, na manutenção

do patrimônio e no desenvolvimento da Amazônia. Mais do que uma ação subsidiária

executada pelo componente militar da Sociedade Brasileira, é uma ação de Estado.

O objetivo deste trabalho é analisar a importância da participação das Forças Armadas no

desenvolvimento da Amazônia e seus efeitos sobre a projeção do Poder Nacional no atual

modelo de Estado Contemporâneo. O Poder Nacional é a competência do Governo em

cumprir e manter os Objetivos Nacionais, dentre eles: a integração nacional, a integridade do

patrimônio nacional, o progresso e a soberania. Projetar o Poder é a capacidade de manter a

soberania do Estado interna e externamente. Atualmente, a soberania de um Estado está sendo

transformada de um modelo do tradicional Estado para um outro modelo que sofre

conseqüências decorrentes da abertura e flexibilização dos mercados mundiais e do fenômeno

da globalização tecnológica e jurídica. Adaptar-se ao novo modelo de soberania, mantendo a

presença do Estado na Amazônia, contornando a frugalidade de recursos financeiros do

Governo e contrapondo-se ao interesse internacional por aquela área é um desafio a ser

defrontado e vencido. Estudando sinteticamente o Poder no Estado Contemporâneo – que vem

sendo paulatinamente modificado em sua essência pelo mercado e pela globalização – e a sua

realidade no Brasil, a caracterização e o estágio atual de desenvolvimento da Amazônia e a

participação das Forças Armadas e seus reflexos no desenvolvimento da área, procurou-se

chegar à conclusão da imponderável necessidade das Forças Armadas participarem daquele

processo por necessidade estratégica de Estado, a fim de contribuir com a Sociedade

Brasileira, impedir qualquer espécie de ingerência internacional na Amazônia e obter maior

valorização e confiança perante a classe política nacional, resultando na obtenção de mais

recursos financeiros do orçamento para cumprir suas missões constitucionais e subsidiárias.

ABSTRACT

The Brazilian Amazonian is constituted in a patrimony of unexceedable value and

it attracts the attention of everyone for its vastness and potential of wealth. The Brazilian

Government should maintain its presence in that area, integrating her and developing her. To

accomplish this desideratum, the Brazilian Armed Forces - constituted by the Navy, for the

Army and for the Air Force - they are vectors of performance of the Government in the safety,

in the integration, in the maintenance of the patrimony and in the development of the

Amazonia. Plus than a subsidiary action executed by the military component of the Brazilian

Society is an action of State.

The objective of this work is to analyze the importance of the participation of the

Armed Forces in the development of the Amazonia and their effects on the projection of the

National Power in the current model of Contemporary State. The National Power is the

Government's competence in to accomplish and to maintain the National Objectives, among

them: the national integration, the integrity of the national patrimony, the progress and the

sovereignty. To project the Power is the capacity to maintain the sovereignty of the State

interns and externally. Nowadays, the sovereignty of a State is being transformed of a model

of the traditional State to another model that suffers current consequences of the opening and

flexibility of the world markets and of the phenomenon of the technological and juridical

globalization. To adapt to this new sovereignty model, maintaining the presence of the State in

the Amazonian, outlining the frugality of financial resources of the Government and opposing

to the international interest for that area is a challenge to be confronted and due. Studying the

Power synthetically in the Contemporary State - that is being gradually modified in its essence

by the market and for the globalização - and its reality in Brazil, the characterization and the

current apprenticeship of development of the Amazonian and the participation of the Armed

Forces and their reflexes in the development of the area, tried to reach the conclusion of the

imponderable need of the Armed Forces participate in that process from necessity strategic of

State, in order to contribute with the Brazilian Society, to avoid any species of international

interference in the Amazonian and to obtain larger valorization and trust before the national

political class, resulting in the obtaining of more financial resources of the budget to

accomplish their constitutional and subsidiary missions.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 5

2

2.1

2.2

2.3

2.4

2.5

O PODER NO ESTADO CONTEMPORÂNEO: A REALIDADE BRASILEIRA.

A Origem do Estado..........................................................................................................

O Poder e a Soberania.......................................................................................................

As Relações entre os Estados............................................................................................

A Globalização..................................................................................................................

Reflexos da Globalização no Estado.................................................................................

8

8

10

13

14

16

3

3.1

3.2

3.3

3.4

3.5

3.6

A AMAZÔNIA BRASILEIRA.......................................................................................

Caracterização...................................................................................................................

A Conquista.......................................................................................................................

História do Desenvolvimento............................................................................................

Estágio Atual de Desenvolvimento...................................................................................

Reflexão Geopolítica: por que desenvolver a Amazônia?................................................

Ingerência na Amazônia: realidade ou ficção?..................................................................

22

22

24

25

27

28

31

4

4.1

4.2

4.3

A PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS NO DESENVOLVIMENTO DA

AMAZÔNIA....................................................................................................................

Definição de Desenvolvimento.........................................................................................

Diplomas Legais................................................................................................................

Ações em Prol do Desenvolvimento.................................................................................

37

37

38

44

5 REFLEXOS DA PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS NO

DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA................................................................... 46

6 CONCLUSÃO.................................................................................................................. 50

REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 54

ANEXO A ........................................................................................................................ 60

1. INTRODUÇÃO

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:...II – garantir o desenvolvimento nacional;III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988)

A Amazônia Brasileira é um assunto sempre atual e instigante para as mais

variadas reflexões. Estando localizada no noroeste do Brasil, ela é um dos mais importantes

patrimônios da humanidade por toda a pletora de recursos naturais existentes. Constitui-se,

ainda, na extensa fronteira global a ser plenamente explorada, o que não ocorre eficazmente

em virtude da insuficiência de meios capazes de exercer o necessário e completo controle

daquela área pelo Estado Brasileiro.

A sua importância geopolítica, a magnitude dos seus recursos naturais, a posição

geográfica lindeira com outros Estados sul-americanos e o interesse que a área desperta nos

diferentes campos do conhecimento, da política e da economia, suscita as mais variadas e

ecléticas participações de atores internos e externos nos destinos da Amazônia.

Existem evidências sobre o desejo de interferência internacional na Amazônia.

Há a frase atribuída ao presidente francês François Mitterrand, em 1989: “O Brasil tem que

aceitar a soberania parcial sobre a Amazônia.” 1 Também há uma citação atribuída ao ex-

vice-presidente americano Albert Arnold Gore Jr., em 1992: “Ao contrário do que os

brasileiros pensam, a Amazônia pertence a todos.” 2

É aceitável e crível que existe interesse internacional pela Amazônia. Deriva

disso uma necessária e especial atenção na condução de políticas públicas de Estado,

objetivando marcar e estabelecer a presença do Estado e a manutenção da soberania naquela

área.

Quando se fala em soberania, que é definida pelo Prof. Dr. Luiz Paulo Rouanet 3

como a autonomia econômica e política frente a potências hegemônicas ou não e, ainda,

com uma consistente influência dos direitos humanos nas relações entre os Estados,

consoante a estatura político-estratégica dos mesmos, deve-se remeter este conceito para a1

CONSULTOR JURÍDICO, 2002.2 CONSULTOR JURÍDICO, 2002.3 ROUANET, 2005, p. 10.

5

atual concepção do Estado, regida por novos vetores que redimensionam a visão do

tradicional Estado Soberano – que é “definido no direito internacional como aquele que

exerce a supremacia do poder do Estado sobre seu território e população, e a independência

desse com relação a qualquer autoridade exterior”4, que até tornam relativa essa soberania.

Esse Estado Contemporâneo, inserido numa sociedade globalizada com um forte

viés econômico e uma ação jurídica além fronteiras regida por organismos internacionais,

não pode prescindir da capacidade a ele atribuída de projetar Poder Nacional5 interna e

externamente, condição sine qua non para a sua sobrevivência, aceitação, desenvolvimento e

projeção no atual cenário mundial.

O Brasil possui assimetrias estruturais históricas expressivas em sua conjuntura,

dentre as quais, destacam-se a densidade demográfica elevada no litoral e reduzida no

interior da Amazônia e o desenvolvimento econômico concentrado nas regiões Sul e Sudeste

e em escala reduzida nas regiões Norte e Nordeste. Existe a necessidade ingente de

contemplar áreas menos favorecidas social e economicamente, em particular as regiões

Norte e Nordeste, com políticas públicas abrangentes, a fim de ampliar significativamente a

presença do Estado e o desenvolvimento a elas. Cabe destacar que a área amazônica

brasileira, situada em sua quase totalidade na região Norte, merece uma prioridade especial

em virtude de sua importância geopolítica.

As Forças Armadas brasileiras, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela

Aeronáutica, disseminadas ao longo da Amazônia, com respaldo em diplomas legais, têm e

podem ampliar, de forma marcante, a sua participação no desenvolvimento da Amazônia,

constituindo-se num vetor do Estado Brasileiro para garantir a sua ocorrência.

A Escola Superior de Guerra define desenvolvimento como “o processo global

de aperfeiçoamento do Homem, e o aprimoramento dos sistemas sociais” 6. É importante

estender este fundamento a todos os setores, e não especificamente ao econômico. Por isso,

deve-se interpretar como sendo o desenvolvimento em todas as áreas do Poder Nacional: o

econômico, o político, o militar, o psicossocial e o científico tecnológico. O resultado do

desenvolvimento deve ser, sobretudo, a obtenção da paz social e do progresso, dois

objetivos fundamentais do Estado Brasileiro.7

4

MATIAS, 2005, p. 74.5 Segundo a Escola Superior de Guerra, o Poder Nacional é a capacidade que tem o conjunto de Homens eMeios que constituem a Nação para alcançar e manter os Objetivos Nacionais, em conformidade com aVontade Nacional.6 ESG. Manual Básico da Escola Superior de Guerra. Volume I, 2006, pág 45.7 ESG. Manual Básico da Escola Superior de Guerra.Volume I, 2006, pág 16.

6

Com fulcro nas idéias supracitadas, este trabalho descreverá a participação das

Forças Armadas no desenvolvimento da Amazônia, os conseqüentes reflexos para o Poder

Nacional e os efeitos internos e externos com relação ao Estado Brasileiro, numa visão

atualizada do presente conceito de Estado.

No capítulo dois, será estudada a situação do poder e da soberania no Estado

Brasileiro e as suas atuais realidades frente à abertura dos mercados e à globalização. O

capítulo três versará sobre a Amazônia brasileira com a sua caracterização, conquista,

história e situação atual do desenvolvimento, uma reflexão geopolítica sobre a necessidade

de desenvolvê-la e um questionamento se há ou não ingerência internacional na área. Em

seguida, no capítulo quatro, será descrita a participação das Forças Armadas no

desenvolvimento da Amazônia, citando os diplomas legais 8 que a regulam e quais as

atividades executadas. No capítulo cinco, serão apresentados os reflexos da participação das

Forças Armadas no desenvolvimento da Amazônia. O trabalho será encerrado com uma

conclusão.

Deste trabalho, em função da importância geopolítica da Amazônia Brasileira,

poder-se-á concluir sobre realidade ou ficção da possibilidade ou ocorrência de ingerência

ou interferência internacional na Amazônia, sobre a necessidade de se ampliar o espectro de

atuação das Forças Armadas no desenvolvimento daquela área e quais os benefícios

resultantes para todos os atores envolvidos: a Amazônia, as Forças Armadas e o Estado

Brasileiro.

8 Segundo o dicionário Aurélio, significa lei, decreto, legislação etc.; documento oficial pelo qual se conferecargo, dignidade, mercê ou privilégio; carta.

7

8

2. O PODER NO ESTADO CONTEMPORÂNEO: A REALIDADE BRASILEIRA

“Para que um Estado seja forte, precisa que sua extensão seja tal que hajaproporção entre a rapidez com que possa contra ele executar uma empresa e apresteza com que ele possa neutralizá-la.”

Montesquieu 1

O Estado, esta entidade concreta que rege a vida e os interesses dos cidadãos que

nele habitam, além de possuir, segundo Max Weber, o monopólio do emprego da ação

coerciva e violenta, necessita, para a sua existência, além do território, do povo, e do

reconhecimento internacional de sua existência, dentre outros, de soberania – que pressupõe

Poder – e de legitimidade. Em sua evolução na virada do século XXI, o Estado está sofrendo

alterações no seu poder 2 e na sua soberania, em virtude da abertura dos mercados

econômicos, da globalização tecnológica e jurídica e da ampliação da esfera de atuação das

organizações internacionais. Neste capítulo, serão estudadas a origem do Estado, o Poder e a

importância da soberania para o reconhecimento deste Estado interna e externamente. Neste

contexto, será abordada a evolução da soberania e do poder do Estado à luz da abertura da

economia e da globalização e as suas repercussões, efeitos e conseqüências nas relações

entre os Estados e os diversos organismos nacionais, internacionais e transnacionais.

2.1. A ORIGEM DO ESTADO

As crises econômica, política e religiosa dos séculos XIV e XV resultaram no

esgotamento do sistema feudal. Em conseqüência, houve a transição do enfraquecimento da

nobreza e da autoridade feudal para o fortalecimento das monarquias absolutistas. Da

derrocada do Feudalismo da Idade Média, originaram-se os Estados monárquicos da Idade

Moderna. E os Estados, definidos classicamente como “nações politicamente organizadas”,

se organizaram e proliferaram na Europa Ocidental, e esse modelo proliferou por toda a

Terra.

1 MONTESQUIEU, 2000, pg. 159.2 Capacidade de obter os resultados desejados e, se necessário, mudar o comportamento dos outros para obtê-los (NYE, 2002. Pg. 30).

9

A origem do Estado moderno, com seus elementos básicos clássicos: povo,

território e soberania, remonta ao período da paz de Westfália em 1648, quando se

estabeleceu a aceitação da igualdade jurídica entre os Estados.

Segundo Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rosseau, filósofos

contratualistas, o Estado surgiu a partir do momento em que o homem em comunidade

aceitou deixar o seu estado de natureza, para aceitar um estado civil, um ente – o Estado –

mediante um pacto, um contrato social – “instrumento pelo qual cada um se sujeita à

vontade geral” 3 – que estabelecesse as regras de convívio social e subordinação política.

Thomas Hobbes4 (citado por MATIAS, 2005) definiu o “estado de natureza” como “a

liberdade que cada homem possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a

preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua vida; e, consequentemente, de fazer

tudo aquilo que seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados para

esse fim.”

Conforme já citado, é importante destacar dois aspectos. Primeiro, a soberania

estatal, elemento fundamental para a sobrevivência do Estado, adveio com os tratados de

Westfália, tendo sido materializada pelo absolutismo praticado pelos reis e o poder que eles

possuíam. E segundo, o Estado, segundo Weber, é definido por dois elementos constitutivos

principais: dispor do monopólio da violência física legítima dentro dos seus domínios

territoriais, e de um aparelho administrativo tendo como função a prestação de serviços

públicos. 5

Isto posto, tem-se que o Estado, com a evolução e a promoção plena da

cidadania, dá origem ao Estado de Direito, que segundo Hayek é aquele que assegura aos

seus cidadãos três valores fundamentais considerados os frutos mais importantes das regras

de civilização: a paz, a liberdade e a justiça.

Após a I Guerra Mundial (1914-1918), o Estado ampliou gradualmente as suas

funções, passando, também, a ser o Estado Social, onde passou a atuar na recomposição do

tecido social, esgarçado pelos horrores conseqüentes da guerra. Trabalhou-se na redução das

desigualdades sociais, reforçando as leis trabalhistas e a seguridade social, proteção ao

desemprego e a aposentadoria. Em suma, o Estado passou a ter um papel essencial na busca

do desenvolvimento econômico e da justiça social. 6

3 MATIAS, 2005. Pg. 44.4 HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Nova Cultural, 1997.5 MATIAS, 2005. Pg. 62.6 Ibidem. Pg. 68.

10

Esta evolução do Estado chega ao seu apogeu, quando, nos dias de hoje, ele

assume um papel menos soberano e, em função da abertura das economias e da evolução

tecnológica, como será explicado no prosseguimento deste capítulo, assume a função de

Estado-Mercado.

2.2. O PODER E A SOBERANIA

“A soberania, nos tempos atuais, é uma construção diária.”Antônio Celso Alves Pereira 7

“A soberania muda à medida que mudam as regras do direito internacional a queos Estados estão submetidos ... A soberania depende, portanto, da ordem jurídicainternacional”.8

Eduardo Felipe P. Matias

Para se falar do poder no Estado Contemporâneo, é necessária uma breve

regressão ao passado, a fim de explicar o que é o poder no contexto do Estado.

Por ocasião da origem do Estado, o poder para governar sob a égide do contrato

social se concentrava nas mãos da monarquia absolutista, até surgirem as primeiras idéias

liberais na Inglaterra.

O poder, segundo Joseph S. Nye, é a “capacidade de obter os resultados

desejados e, se necessário, mudar o comportamento dos outros para obtê-los.” 9 Daí deriva

que o Estado ao “legitimar seu poder aos olhos dos demais encontra menor resistência para

obter o que deseja.” 10 Acrescente-se ainda que “um País que sofre declínio econômico e

militar está sujeito a perder tanto a capacidade de moldar a agenda internacional como a

força de atração” 11, além de perder gradativamente o seu poder.

Existem duas formas básicas de poder: o poder bruto (hard power) e o poder

brando (soft power). O poder bruto é traduzido como o “poder de comando – a capacidade

de mudar o que os outros fazem – e tende a arrimar-se na coerção ou na indução” 12 com o

emprego da diplomacia, da ingerência ou interferência em assuntos internos ou da força

armada. Já o poder brando é o “poder de cooptação – a capacidade de moldar o que os

7

Pereira, 2003, p. 68.8 MATIAS, 2005. Pg. 52.9 NYE, 2002, p. 30.10 Ibidem, p. 39.11 Ibidem, p. 38.12 Ibidem, p. 38.

11

demais querem, e apóia-se na atração exercida pela cultura e pela ideologia, ou na

capacidade de manipular a agenda das escolhas políticas de modo a fazer com que os

agentes deixem de expressar determinadas preferências porque elas não parecem realistas.”13

O poder é intrínseco ao Estado. O Estado sem poder não existe. E, se existe, está

fadado a desaparecer ou orbitar eternamente na esfera de influência de outro Estado mais

forte política, econômica ou militarmente.

O poder e soberania caminham juntos desde que Thomas Hobbes (1588-1679)

concebeu o Leviatã, em 1651, e afirmou que o Estado exerceria soberania absoluta. Com o

nascimento do liberalismo, John Locke (1632-1704) dessacralizou o Estado ao definir que

este deixava de possuir um poder livre de qualquer obrigação, abrindo caminho para uma

soberania mais limitada do que absoluta. Prosseguindo na contramão, o filósofo alemão

Friedrich Hegel (1770-1831) afirmou que a soberania teria caráter absoluto e ilimitado,

dando início a uma corrente alemã de cunho nacionalista, no qual o Estado possuía uma

liberdade de ação irrestrita no campo internacional. Esta visão foi abandonada depois da

derrota do nazismo e dos horrores resultantes da II Guerra Mundial (1939-1945), mas está

sendo ressuscitada pelos Estados Unidos da América (EUA), a atual potência hegemônica

militar, apesar dos Estados, ou a grande maioria deles concordarem que, pelo Bem

Comum14, devem aceitar voluntariamente uma limitação à sua soberania pela subordinação

ao direito internacional como regra obrigatória de conduta. Por sua vez, Kelsen se contrapôs

à idéia de Hegel, em favor da soberania relativa, afirmando que a soberania, no sentido do

direito internacional, significa a autoridade legal ou competência de um Estado limitada e

limitável somente pelo direito internacional, e não pelo direito nacional de qualquer outro

Estado. 15

A riqueza de um Estado e o seu poder formam um binômio poderoso. Denis A.

Goulet, citado por Meira Mattos, afirmou que: “o poder se torna cada vez mais acessório da

riqueza. O rico é quase sempre poderoso. Os Estados fortes são, via de regra, os países ricos

e prósperos.” 16 Daí poder-se chegar à conclusão de que a expressão econômica do poder é

13 Ibidem, p. 38.14 Segundo a ESG, bem comum é o ideal de convivência que, transcendendo à busca do bem estar, permiteconstruir uma sociedade no qual todos, e cada um, tenham condições de plena realização de suaspotencialidades como pessoa, e de conscientização e prática de valores éticos, morais e espirituais.15 Síntese extraída de MATIAS, pg. 37–53.16 MEIRA MATTOS, 1980. Pg. 102. Entretanto, há exceções distintas a serem consideradas: a Suíça possui riqueza, mas o poder é bem limitado; por outro lado, o Paquistão e a Coréia do Norte não possuem riqueza, mas dispõem de poder nuclear.

12

fundamental no campo da ação governamental. Meira Mattos, com relação ao Brasil,

complementou ao associar desenvolvimento e segurança, afirmando que:

o desenvolvimento de uma nação da nossa grandeza geográfica provoca,inevitavelmente, interesses contrariados, gera antagonismos e tensões. Teremos,portanto, que escudar o desenvolvimento nacional em um sistema de segurançamilitar baseado na estratégia da dissuasão. Nossa estratégia de segurança, sequisermos nos desenvolver tranquilamente, deverá se apoiar em uma força dedissuasão capaz de desencorajar qualquer pretensão de conter nosso ritmo, querpela pressão externa, quer pela desagregação interna a serviço claro ou velado deinteresses forâneos. (MEIRA MATTOS, 1980, pg 104).

No campo do Direito Internacional, a soberania, segundo Matias, é definida

como a supremacia do poder do Estado sobre seu território e população, e a independência

desse com relação a qualquer autoridade exterior.17 Para o nosso estudo, destacaremos o

conceito de soberania internacional, num parâmetro em que ela se relaciona menos com o

poder do Estado e mais com a maneira como este é tratado pelos demais Estados.18 Portanto,

temos uma conclusão simples: sem desenvolvimento, não há poder, sem poder não há

soberania, e esta encontra limitações e resistência para ser aceita e respeitada pelos outros

Estados.

Francis Fukuyama, geopolítico e cientista político norte-americano, citado pelo

ex-ministro Bresser Pereira, distingue duas formas de medir a capacidade de um Estado,

fruto de seu poder e de sua soberania: a “força” ou capacidade de fazer valer suas leis e

políticas, e o “escopo” ou amplitude de intervenção na economia, defendendo a tese legítima

de que a força do Estado deve ser grande, enquanto o escopo deve ser moderado, limitado. 19

Dois aspectos são fundamentais para a soberania: a efetividade e a autonomia.

Efetividade diz respeito à capacidade do Estado exercer suas funções de forma adequada e

de fazer valer as regras que ele se propõe a implementar. Já a autonomia diz respeito à não-

imposição de limites à liberdade de ação e ao poder de legislar do Estado. 20

As idéias acima apresentadas permitem inferir que o desenvolvimento de um

Estado, associado ao seu poder militar, são fundamentais para possibilitar a ampliação do

Poder, da representatividade e da respeitabilidade em escala mundial, traduzidos por

soberania interna e externa.

2.3. AS RELAÇÕES ENTRE OS ESTADOS17 MATIAS, 2005. Pg. 74.18 Ibidem. Pg. 76.19 PEREIRA, 2005.20 Ibidem. Pg. 24.

13

As relações entre os Estados atravessaram séculos adaptando-se e amoldando-se

às necessidades, às circunstâncias e à conjuntura mundial. No apogeu das monarquias

absolutistas, eram, via de regra, unilaterais e de conveniência, quando se articulavam

alianças militares entre blocos beligerantes, principalmente Inglaterra e França. Vigorava o

sistema do balanço do poder. O mundo se equilibrava nas demonstrações de força dos

Estados mais fortes e poderosos econômica e militarmente. Este sistema perdurou até o fim

da Grande Guerra, em 1918, quando foi criada a Liga das Nações. Entretanto, a Liga

fracassou e fatores políticos, militares e econômicos resultaram na II Guerra Mundial, de

1939 a 1945.

A partir do fim da II Guerra, com a criação da Organização da Nações Unidas

(ONU), houve um grande esforço da diplomacia mundial em trabalhar-se o multilateralismo

nas relações entre os Estados, a fim de promover relações cordiais e negar ao mundo a

eclosão de uma terceira guerra ou conflitos localizados. A Guerra Fria (1947-1991) esfriou

este sistema e bipolarizou o mundo nas esferas de influência norte-americana e soviética.

O fim da Guerra Fria e a dissolução do bloco soviético provocaram profundas

alterações no relacionamento entre os Estados. A princípio, adotou-se o multilateralismo

como elemento fundamental das relações entre os Estados. Ampliaram-se os blocos

econômicos e as relações comerciais e políticas entre os Estados.

Mas o fim da Guerra Fria trouxe como resultante a elevação dos EUA à categoria

de potência hegemônica militar mundial. Aproveitando-se desta vantagem estratégica, os

EUA, de acordo com a sua conveniência política e econômica, exerceu e exerce o

unilateralismo a despeito de convenções e tratados de âmbito mundial acordados. Hoje,

críticos da política externa norte-americana condenam este sistema, pregando a adoção do

multilateralismo e do poder brando de Joseph Nye, e não o poder bruto que caracterizou as

recentes ações em Kosovo em 1999, no Afeganistão em 2002 e na segunda guerra no Iraque

em 2003. Percebe-se, pois, que os Estados que possuem maior relevância econômica, militar

e política – ou seja, mais poder e soberania – podem escolher o sistema de relacionamento

que mais lhe convém: o unilateralismo ou o multilateralismo.

De acordo com o art. 4º da Constituição Federal, o Brasil adota uma postura de

relacionamento multilateral com os países com quem mantém relações diplomáticas, mesmo

em casos de crise, como a ocorrida recentemente com a Bolívia, por conta da nacionalização

14

da produção do gás natural por aquele país. Em complemento, o Ministério das Relações

Exteriores, seguindo orientação da Presidência da República, adotou o seguinte lema para

balizar a política externa brasileira: “Brasil, a potência da paz.” 21

2.4. A GLOBALIZAÇÃO

A globalização é um termo tão comum que é complexo defini-la. Fazendo uma

apropriação sintética das definições de diversos autores, pode-se dizer que a globalização é

um processo econômico, político, jurídico e social que estabelece uma correlação entre os

Estados e as pessoas de todo o mundo. Através deste processo, os governos, as pessoas e as

empresas trocam conhecimentos, realizam negociações políticas, financeiras e comerciais,

além de disseminar culturas e idéias por todo o mundo. “O conceito de Aldeia Global se

encaixa neste contexto, pois está relacionado com a criação de uma rede de conexões, que

deixam as distâncias cada vez mais curtas, facilitando as relações culturais, econômicas,

políticas e jurídicas de forma rápida e eficiente.” 22

Há controvérsias quanto as origens da globalização. Para o propósito deste

trabalho, entende-se que a globalização teve início a partir das grandes guerras de conquista

com a presença dos vencedores nas terras dos vencidos. Os macedônios com Alexandre, o

Grande, que, no século III AC, chegaram até a Índia, disseminando a cultura helênica; os

romanos com Júlio César, conquistando toda a Europa até o Oceano Atlântico no século I

AC; passando pelos grandes navegadores nos séculos XV e XVI; prosseguindo pela

Revolução Industrial no século XVIII, até chegarmos ao fenômeno atual da rede mundial de

computadores, a Internet, que teve suas origens no ano de 1962 no MIT 23 e hoje é, sem

dúvida nenhuma, a maior rede de arquitetura aberta do mundo 24, possibilitando trocas

culturais e comerciais em larga escala. Tudo isso fruto de uma revolução tecnológica ora em

curso, numa moldura temporal extremamente veloz e que está tornando popular o acesso aos

computadores e às tecnologias decorrentes.

21

Slogam apresentado por integrantes do Ministério das Relações Exteriores em Brasília, por ocasião da visitade estudos do Curso de Política e Estratégia Marítimas a Brasília – DF, em 26 abr. 2006.22 GLOBALIZAÇÃO, disponível em <http://www.suapesquisa.com/globalizacao/> . Acesso em 07 jun. 2006.23 Massachussets Institute of Technology.24 PEREIRA, disponível em <http://www.aisa.com.br/historia.html>. Acesso em 07 Jun. 2006.

15

Por meio da revolução tecnológica, a globalização elevou a dinâmica da

economia no cenário mundial. A rapidez dos fluxos financeiros e comerciais e a

diversificação da produção industrial geraram a “globalização econômica”. Empresas

transnacionais foram criadas e hoje dominam o mundo dos negócios e da produção, gerando

a divisão do trabalho no nível global. Também perpetraram a necessária evolução dos

Estados frente a esta nova situação: a abertura das economias e a crescente redução do

controle sobre os fluxos e as atividades econômicas, que antes eram prerrogativa soberana

do Estado, resultando na necessária e previsível interdependência entre Estados,

organizações internacionais e transnacionais.

À evolução da globalização corresponde uma intensificação da interdependência

entre os Estados, de forma que fatos ocorridos a milhares de quilômetros de distância sejam

sentidos e possam repercutir na vida de outro Estado no extremo oposto. Um exemplo

marcante e atual: a crise econômica na Tailândia em 1997 gerou a histórica crise asiática

que repercutiu e influenciou todo o mundo.

Concomitantes a esta interdependência entre os Estados, evoluem as

necessidades do aprimoramento e do fortalecimento das organizações internacionais

necessárias para permitir aos Estados resolverem suas pendências por meio da arbitragem,

da cooperação e da aceitação das regras do direito internacional público. Daí surgiram ou se

ampliaram idéias, inclusive já difundidas e propaladas pela ONU, tais como patrimônio

comum da humanidade, direitos humanitários, direito de ingerência e outras, com a

finalidade de regulamentar a vida internacional.

O arcabouço da globalização é a resultante das duas vertentes, a globalização

tecnológica e a jurídica e a conseqüente aceitabilidade e respeito desta pelos Estados. O

corolário de tudo, em suma, é a alteração do conceito da soberania nos mecanismos políticos

e econômicos dos Estados para atender às necessidades impostas pelo novo cenário

financeiro e comercial mundial.

2.5. REFLEXOS DA GLOBALIZAÇÃO NO ESTADO

16

O propósito deste subitem é abordar dois aspectos irrefutáveis sobre os reflexos

da globalização no Estado: a efetiva perda de poder e de soberania e a possibilidade de

interferência internacional.

A globalização, segundo Susan Strange em sua obra “The Retreat of the State”

(1996), está promovendo uma profunda alteração nas relações entre política e economia. É a

afirmação da sutil transformação do Estado em Estado-Mercado. O Estado, cada vez mais

manietado no exercício do seu efetivo controle da atividade econômica devido à evolução

tecnológica e à abertura das economias, está vendo o seu poder ser dividido com os

mercados internacionalizados e as empresas transnacionais. Como resultado dessa evolução,

pode-se deduzir que existe um novo modelo de Estado com menos poder, menos atribuições

e menos autoridade sobre o campo econômico, podendo resvalar também para a perda de

soberania, quando se tratar de assuntos da área política e ambiental que interessem a uma

potência mais poderosa, a organizações internacionais ou a grupos de Estados, podendo-se

chegar a admitir que empresas transnacionais que representam o capital privado, com o

apoio ou não de seus Estados, podem interferir em outros Estados.

O controle do Estado sobre o tempo e o espaço vem sendo sobrepujado pelos

fluxos globais de capital, produtos, serviços, tecnologia, comunicação e informação. É a

confirmação da existência do Estado-Mercado por outro eminente pensador, o professor

Manuel Castells, quando diz ainda que a capacidade instrumental do Estado está

comprometida de forma decisiva pela globalização das principais atividades econômicas,

pela globalização da mídia e da comunicação eletrônica e pela globalização do crime,

gerando uma dificuldade ainda maior do controle exercido pelos governos sobre a

economia, em virtude da crescente transnacionalização da produção. 25

Outro importante fato contribuiu para este novo quadro. O fim da Guerra Fria,

em 1991, e da bipolaridade do poder mundial desencadeou uma nova situação: a ampliação

significativa e progressiva da interdependência multilateral entre os Estados-Nação. Isto por

conta de três fatores: a dissolução e afrouxamento dos blocos militares alinhados às duas

superpotências; o enorme impacto das novas tecnologias sobre a indústria bélica; e a

percepção social do caráter global de grandes desafios que se impõem à humanidade em

decorrência do aumento dos conhecimentos, do volume de informações e do acesso a todas

essas informações – a inclusão digital mundial – como é o caso da segurança ambiental. 26

25 CASTELLS, 1999. Pg. 287-289.26

17

Castells conclui com a visão de uma política externa internacional com

geometria variável num quadro difuso, com a conseqüente incapacidade dos Estados de

agirem por conta própria na arena internacional, enaltecendo a multilateralidade como

elemento fundamental para o futuro das relações internacionais. Este quadro resulta num

irreversível processo de soberania compartilhada na abordagem das principais questões de

ordem econômica, ambiental e de segurança e a conseqüente erosão sistêmica do poder do

Estado em troca de sua durabilidade. 27 Seria como prenunciar a transmutação do Estado de

sujeito soberano para ator estratégico, dividindo o palco com outros atores. 28

Complementando, as políticas internas de um Estado são atingidas por essa política ou

agenda internacional manipulada pelos Estados mais fortes política, econômica e

militarmente.

O historiador Martin Van Creveld adota a mesma linha de raciocínio quando

afirma que “globalmente falando, o sistema internacional está se afastando da configuração

de Estados distintos, territoriais, soberanos, legalmente iguais, rumo a estruturas diferentes,

mais hierárquicas e, em muitos aspectos, mais complicadas.”29 É a reafirmação da redução

do poder estatal na qual “ há bons motivos para achar que muitos deles, em breve, não

estarão mais dispostos ou não serão mais capazes de controlar e proteger a vida política,

militar, econômica, social e cultural de seus cidadãos tanto quanto o faziam antes.” 30 Esta

mudança de papel do Estado pode ensejar, segundo interesses e conveniências, alterações

pacíficas ou violentas na ordem institucional. Pode ainda conduzir à interferência em outros

Estados sob aquela mesma alegação. Trata-se, pois, de mais um pensador e formador de

opinião a enaltecer a mudança e o enfraquecimento do Estado e uma possibilidade, mesmo

que remota, sob pretexto ambientalista ou de preservação e respeito dos direitos humanos

das minorias raciais, de ingerência em outros Estados soberanos, de forma pacífica ou

mesmo violenta.

A permeabilização das fronteiras físicas e jurídicas dos Estados-Nação, como

resultante da globalização tecnológica, econômica e jurídica, concede aos Estados mais

fortes ou instituições e organizações com interesses específicos a fática possibilidade de

promover qualquer espécie de intervenção transnacional na soberania de um ou mais

Estados, a fim de obter alguma vantagem ou atender a um interesse estratégico.

Ibidem. Pg. 306.27 Ibidem. Pg. 307-313.28 Ibidem. Pg. 357.29 VAN CREVELD, 2004, Pg. VII.30 Ibidem.

18

Mas, enfim, o que é uma intervenção? “A intervenção ocorre quando um Estado,

ou grupo de Estados, interfere, para impor a sua vontade, nos assuntos internos e externos de

outro Estado soberano ou independente com o qual existem relações pacíficas e sem o seu

consentimento, com a finalidade de manter ou alterar o estado de coisas.” 31 Ela pode ocorrer

das seguintes formas 32:

- quanto ao número de autores: individual ou coletiva;

- quanto ao modo: armada, diplomática ou econômica;

- quanto à forma como se apresenta: aberta e oculta; e

- pode ser ainda: positiva ou negativa (contra-intervenção).

Quanto à questão da intervenção ser ilegal ou não, trata-se de uma acirrada

disputa entre os Estados fortes e os fracos. 33 Normalmente, os grandes Estados defendem a

legalidade da intervenção em determinados casos. Já os pequenos Estados – pequenos não

só nas dimensões como também na sua estatura político-estratégica frente a outros Estados

no concerto internacional – lutam para fazer da não-intervenção um princípio absoluto.

Mello ainda afirma que:

o princípio de não-intervenção é um corolário dos direitos fundamentais dosEstados, especialmente do direito à soberania e do direito à igualdade jurídica.Deste modo, de maneira indireta, o princípio da não-intervenção foi consagrado nacarta da ONU ao se afirmar a igualdade jurídica entre os Estados, bem como quenos assuntos de jurisdição doméstica dos Estados nem a própria ONU poderáintervir. 34

O preâmbulo da Carta da ONU estipula o cumprimento de regras fundamentais

para o respeito das igualdades entre os seres humanos e do direito internacional que regem a

convivência harmônica entre os Estados. Por outro lado, “a intervenção da ONU de forma

coletiva não é ilícita, sendo encarada como ação de polícia internacional visando à

manutenção da paz e da segurança internacionais”. 35

Por outro lado, Estados mais fortes, à revelia do que foi estatuído pela ONU,

podem empregar outros mecanismos para intervir em Estados, como foi o caso dos Estados

Unidos em março de 1999 em Kosovo, por meio da Organização do Tratado do Atlântico

Norte (OTAN). Logo após a guerra em Kosovo, o presidente dos Estados Unidos, Bill

31 MELLO, 1992. p. 391.32 Ibidem, p. 391.33 Estado forte é aquele com expressiva projeção de Poder Nacional e capacidade de moldar a agendainternacional segundo seus interesses. Estado fraco é o oposto.34 Ibidem, p. 392.35 Ibidem, p. 393.

19

Clinton, declarou que a operação da OTAN deveria servir de exemplo e precedente:

"Qualquer pessoa, viva ela na África, na Europa Central ou em qualquer outro lugar, que

pretenda cometer crimes em massa contra uma população civil inocente deve saber que a

impediremos, na medida de nossas possibilidades", declarou o presidente norte-americano.36

No Iraque, a partir de 19 de março de 2003, não foi diferente. Os Estados

Unidos, sem o aval da ONU, e com o apoio de outros Estados aliados, destacando o Reino

Unido, desencadearam a segunda guerra contra aquele Estado.

Como decorrência da globalização, mais um efeito se sente: o da

internacionalização dos direitos do homem. Para manter a integridade desses direitos, pode

ser realizada, por meio da ONU, uma “intervenção de humanidade” 37, com a finalidade de

defender os direitos do homem e, por extensão, o das minorias discriminadas.

Os atuais inimigos da potência hegemônica e seus aliados são o terrorismo

internacional e os países do “Eixo do Mal” (Iraque, Afeganistão e, atualmente, a Síria – a

Síria foi adicionada ao grupo logo que a guerra ao terrorismo teve início, sob a acusação de

que o país dava abrigo a terroristas38) que o fomentam ou abrigam seus elementos

operacionais, e também os que, possuindo tecnologia nuclear, não aderiram ou não

respeitam o “Tratado de Não-Proliferação” (TNP) de armas nucleares como a Coréia do

Norte e o Irã. O questionamento que se pode fazer é: quem será o próximo inimigo da

potência hegemônica, quando os países do Eixo do Mal forem derrotados e não mais

incomodarem? Os inimigos do meio ambiente seria uma das respostas plausíveis. Nesse

aspecto, com a possibilidade de interferência oferecida pela globalização, o Brasil, se

responsabilizado por má administração nas questões ambientais, poderia ser a próxima

vítima, caso não possua poder suficiente para rejeitar qualquer espécie de intromissão em

seus assuntos internos.

Segundo Paul Kennedy, inserindo suas idéias na globalização, a revolução

financeira internacional encerra seus próprios desafios à suposta soberania do Estado

Nacional e a simples consciência de que o mercado desaprova certas medidas (como

aumento de impostos) pode impedir que governos supostamente soberanos as coloquem em

36

FRACHON, 1999.37 MELLO, 1992. Pg. 394.38 O EIXO DO MAL VENCEU?, disponível em <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG75575-6013-440,00.html>. Acesso em 14 nov. 2006. PRESIDENTE DA SÍRIA DIZ QUE ACEITA NEGOCIAR COM ISRAEL, disponível em <http://noticias.uol.com.br/bbc/2006/10/09/ult2363u8251.jhtm>. Acesso em 14 nov. 2006.

20

prática39. Ainda, com relação à evolução do Estado Moderno para o Estado Contemporâneo

– Estado para o Estado-Mercado (vide pg. 16) – ele diz que a sociedade mundial de hoje,

mais ainda do que a sua predecessora há 60 anos, enfrenta como dilema a tarefa de conciliar

a mudança tecnológica e a integração econômica com as estruturas políticas tradicionais, a

consciência nacional, as necessidades sociais, os dispositivos institucionais e as maneiras

habituais de fazer as coisas. Para completar, os efeitos da explosão demográfica nos países

mais pobres e que repercutem nos outros; o distanciamento maior entre os Estados pobres e

ricos, provocando inquietações sociais naqueles desenvolvidos; o aumento das tensões entre

o Norte e o Sul; as migrações em massa e os danos ambientais, que não pouparão os ricos;

são as sombrias previsões para o século XXI 40. Por fim, ele ainda alerta que as sociedades

devem levar a sério o desafio de se prepararem para o século XXI por três razões: a

competitividade, a necessidade de reagir aos desafios demográfico e ambiental e a redução

das possibilidades de instabilidade política. 41

Seguindo uma linha de raciocínio coerente com Kennedy, Manuel Castells

afirma que a globalização e a informacionalização, determinados pelas redes de riqueza,

tecnologia e poder, estão transformando nosso mundo. Ao mesmo tempo, estão privando as

sociedades de direitos políticos e privilégios. Percebe-se, pois que, com a globalização, à

medida que as instituições do Estado e as organizações da sociedade civil se fundamentam

na cultura, história e geografia, a repentina aceleração do tempo histórico, aliada à abstração

do poder em uma rede de computadores, vem desintegrando os mecanismos atuais de

controle social e de representação política. 42

Completando este ideário, o Prof. Antonio Celso, em um ensaio sobre a

soberania e pós-modernidade, afirmou que:

A globalização veio acentuar a evidência de que o Estado, como ator internacional,perdera parte da antiga importância que lhe fora historicamente conferida a partir da Pazde Vestfália e que, hoje, se vê ameaçado em seu poder e limitado em sua ação – interna eexterna – pelas forças econômicas e pelas condições resultantes da redução de seu papelpelo consenso neoliberal e pelas doutrinas minimalistas, que subordinam os EstadosNacionais, principalmente as nações periféricas, a organismos multilaterais interventores– hoje amplamente controlados pelos Estados Unidos – dotados de poder regulatório,como o Fundo Monetário Internacional, a Organização Mundial do Comércio, o BancoMundial, etc. 43

39 KENNEDY, 1993. Pg 156.40 Ibidem. Pg 390-394.41 Ibidem. Pg 408 e 409.42 CASTELLS, 1999. Pg. 93.43 PEREIRA, 2004. Pg 632-633.

21

Assim, se tem uma tríade composta pela globalização, pelas organizações

internacionais, pelo mercado e instituições do Estado fracas como vetores resultantes na

redução do poder do Estado, principalmente os Estados em fase de desenvolvimento e os

pobres.

O Estado Brasileiro segue inexoravelmente no caminho desta transformação de

Estado para Estado-Mercado, ampliando as relações multilaterais com seus parceiros

econômicos e políticos, sujeitando-se e aplicando as regras do direito público internacional

e, finalmente, compartilhando a sua soberania com os demais atores estratégicos, desde os

mais modestos – basta lembrar o recente imbróglio Brasil-Bolívia por conta do fornecimento

de gás natural – aos mais poderosos. Isto é a afirmação de que estamos vivendo num mundo

sem fronteiras, e o Estado como unidade econômica está próximo do seu fim. 44

Contudo, a capacidade de projeção do poder brasileiro externamente está

limitada em decorrência de várias vulnerabilidades: as assimetrias estruturais do Estado (má

distribuição de renda e desigualdades sociais, instituições fracas, dentre outras), forças

armadas modestas e dependência de tecnologia externa.

Como fecho desta afirmação, pode-se pressupor que o Estado Brasileiro esteja

potencialmente sujeito à ingerência internacional ou mesmo intervenções, caso não aceite

determinadas regras do cenário mundial dos mais diversos matizes, desde os políticos, os

econômicos, passando pelos direitos humanos e chegando às questões ambientais, mesmo

em detrimento de sua soberania. Para o Brasil contrapor-se a esta situação e ser alçado à

posição de global player, deve procurar transformar-se em grande potência e obter liberdade

de ação em suas proposições e intenções, tal como afirmou o Prof. Geraldo Lesbat

Cavagnari Filho:

Um país é reconhecido como grande potência se tiver a determinação de afirmarsua autonomia estratégica no contexto das relações de força – que lhe permitaarticular e comandar alianças militares, criar e manter área de influência própria,repelir alinhamentos indesejáveis e, sobretudo, defender seus interesses com aforça militar, se necessário, além de suas fronteiras. A autonomia estratégica visaà ampliação da liberdade de ação, indispensável a uma decisão em todo momentoestratégico, em todo momento de possibilidade de conflito.Aliás, a autonomiaestratégica é basicamente a luta constante pela liberdade de ação. 45

44 MATIAS, 2005. Pg. 101.45 CAVAGNARI FILHO, disponível em <http://www.unicamp.br/nee/art1.htm>. Acesso em 11 abr. 2006.

22

3. A AMAZÔNIA BRASILEIRA

“É a última página ainda a escrever-se, do Gênesis.”Euclides da Cunha 1

É importante ser incisivo ao afirmar que a Amazônia, nos dias atuais, é um dos

mais significativos patrimônios da humanidade. Por todos os recursos que possui e pela sua

representatividade nos cenários nacional e internacional, ela exerce fascínio por sua grandeza,

pela pujança de sua cobertura vegetal, pelo expressivo manancial de água doce e pela pletora

de recursos naturais e minerais, atraindo sobre si o interesse inaudito de todos aqueles

engajados em desenvolvê-la, preservá-la ou, de forma indireta ou direta, tentar exercer

ingerência sobre ela.

Neste capítulo, será efetuado um briefing sobre a Amazônia, destacando a sua

caracterização, a sua conquista, uma breve história sobre o seu desenvolvimento, o seu estágio

atual de desenvolvimento, uma reflexão geopolítica sobre as razões pelas quais se deve

priorizar o desenvolvimento da Amazônia, destacando, ao final do mesmo, uma indagação

sobre a realidade ou não da ocorrência de ingerências naquela área.

3.1. CARACTERIZAÇÃO

A Amazônia continental está localizada no norte da América do Sul, ocupando

uma área de mais de 6,5 milhões de quilômetros quadrados e abrangendo parte do território

dos seguintes países: Brasil, Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia, Peru, Guiana, Suriname

e Guiana Francesa. 85% da Amazônia se encontra em território brasileiro, onde ocupa mais de

5 milhões de quilômetros quadrados dos cerca de 8,5 milhões de quilômetros quadrados de

área total do Brasil, representando mais de 60% de sua área física.2 A denominação de toda a

área abrangida pela Amazônia no Brasil é chamada de Amazônia Legal, uma construção

geopolítica estabelecida no ano de 1953, a fim de possibilitar o planejamento regional

específico para desenvolver aquela área, englobando os territórios dos seguintes Estados da1

MATOS, 1980, p. 24.2 Dados obtidos no sítio <http://www.sivam.gov.br/amazonia/apres1.htm>. Acesso 19 mar. 2006.

23

federação: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e

parte do Maranhão. Para fins de estudo neste trabalho e simplificação, a Amazônia Legal será

denominada apenas de Amazônia.

A população 3 da Amazônia é de cerca de 21 milhões de habitantes, corresponden-

do a aproximadamente 12,4% da população total do Brasil, com uma densidade demográfica

de menos de 4 hab/Km² e a maior parte da população se concentra nas capitais estaduais.

Entre alguns de seus Estados, a densidade demográfica apresenta os seguintes números:

Amazonas 1,8 hab/Km², Pará 5,0 hab/Km², Tocantins 4,2 hab/Km², Acre 3,7 hab/Km² e

Roraima 1,5 hab/Km². Comparando-se a densidade demográfica da Amazônia com a do

Brasil, que é de 21,69 hab/Km² e a de alguns dos Estados mais populosos do Brasil tais como

o Distrito Federal 393,3 hab/Km², o Rio de Janeiro 328,0 hab/Km² e São Paulo 149 hab/Km²,

verifica-se que aquela vastidão territorial constitui-se, pois, num grande anecúmeno, causando

dificuldades na manutenção da presença do Estado para fomentar o desenvolvimento e manter

a soberania.

A Amazônia dispõe de 1/5 das reservas mundiais de água doce, sendo que a Bacia

Amazônica possui 15 dos trinta maiores rios do mundo e cerca de 25 mil quilômetros de vias

navegáveis 4 , constituindo-se na maior bacia de água doce do planeta e seus rios navegáveis

em um excelente modal de transporte utilizado para a movimentação do homem e da

economia.

A cobertura vegetal da Amazônia corresponde à maior floresta tropical contínua

do mundo, equivalente a 1/3 do total existente. 5 Nela se encontra a maior biodiversidade –

diversidade ecológica decorrente da numerosa variedade de espécies vivas encontradas

próximas umas das outras 6 – correspondendo a cerca de 30% da existente na terra, além de

jazidas minerais de metais nobres dos mais variados tipos, acumulando recursos da ordem de

US$ 1,6 trilhão. 7

Em suma, a Amazônia é um expressivo manancial de riquezas minerais, vegetais e

naturais, possuindo, em larga escala, áreas propícias à ocupação humana, à produção

agropecuária, à extração de recursos minerais e vegetais, à implantação de infra-estrutura

necessária ao desenvolvimento – transportes, energia, comunicações – e à exploração de sua

3

Todos os dados referem-se ao Censo do IBGE de 2000, exceto a densidade demográfica do Brasil, cujo dado é de 2005.4 Dados obtidos no sítio <http://amazoniabrasil.org.br/pt/amazonasnoplaneta.htm>. Acesso em 10 abr. 2006.5 Dados obtidos no sítio <http://www.sivam.gov.br/amazonia/numeros1.htm>. Acesso 19 mar. 2006.6 BRANCO, 1997, pg. 31.7 Dados obtidos no sítio <http://www.sivam.gov.br/amazonia/numeros1.htm>. Acesso 19 mar. 2006.

24

biodiversidade. Entretanto, as distâncias geográficas, a dificuldade das ligações físicas entre

os núcleos populacionais e a baixa densidade demográfica proporcionam dificuldades para a

implantação de um programa de desenvolvimento econômico e social necessário para

beneficiar toda a área amazônica.

3.2. A CONQUISTA

O primeiro explorador da Amazônia foi o espanhol Vicente Yañez Pinzón, seguido

de Diego de Lepe, ambos no século XVI.

O início da presença militar portuguesa se deu em 1616, quando o Capitão-mor

Francisco Caldeira Castelo Branco construiu o Forte do Presépio, que deu origem à cidade de

Belém, a fim de possibilitar à coroa portuguesa a conquista, a ocupação, a exploração e

proteção da foz do rio Amazonas contra os corsários estrangeiros.

Entretanto, o início da incursão para o interior da Amazônia ocorreu apenas em

1637, com o Capitão Pedro Teixeira. Em seguida, no ano de 1648, foi a vez do bandeirante

paulista Antônio Raposo Tavares. Outros exploradores os sucederam nessa empreitada e

foram instalando os marcos da colonização portuguesa, construindo fortes e definindo os

atuais contornos da fronteira ocidental do Brasil, consolidados pelo Tratado de Madri de

1750.

A primeira estratégia de ocupação da área ocorreu durante o governo do Marquês

de Pombal como Primeiro Ministro de Portugal, na segunda metade do século XVII, quando

ela foi dividida em dez circunscrições político-territoriais entre capitanias gerais e

secundárias.

A grande preocupação do Governo com o extenso anecúmeno amazônico ocorreu

nos primeiros cinqüenta anos da República, quando o Exército recebeu a incumbência de

marcar os limites da soberania brasileira na área fronteiriça.

A criação da Amazônia Legal, pela Lei nr 1.806 de seis de janeiro de 1953,

seguindo critérios políticos, geográficos e fisiográficos, foi o primeiro grande projeto nacional

de efetiva planificação governamental da conquista e do desenvolvimento daquela área.

A transferência da capital federal para Brasília, em 1960, possibilitou um grande

avanço na integração da Amazônia ao resto do País.

25

Nos tempos atuais, o Projeto Calha Norte, criado em 1985 no Governo do

Presidente José Sarney, é o principal programa do Governo Federal responsável pela

promoção da ampliação da presença militar e do desenvolvimento sustentável.

A realidade é que a conquista da Amazônia se constrói diariamente por meio,

quase que exclusivo, das ações do Governo Federal em prol daquela área.

3.3. HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO

O grande desafio pela promoção do desenvolvimento da Amazônia tem suas

origens no século XVIII com o Marquês de Pombal. Em 1755, foi criada a Companhia de

Comércio Grão-Pará e Maranhão, com o propósito de estabelecer o monopólio da navegação,

do comércio exterior e de escravos. Houve uma tentativa de valorização da execução das

atividades econômicas primárias com o cultivo de arroz no vale do rio Tocantins, café no

Pará, cacau no baixo Amazonas, piscicultura no Solimões e criação de gado no vale do rio

Branco. Entretanto, predominou a atividade coletora de recursos naturais.

O segundo grande esforço pelo desenvolvimento ocorreu no período

compreendido entre os anos de 1850 a 1912, com a extração do látex da seringueira, árvore

nativa da região Amazônica, para atender à crescente demanda da Segunda Revolução

Industrial (1860). Isso promoveu o desenvolvimento, o movimento migratório, o progresso da

navegação e a interiorização do homem. Naquele contexto, destacou-se o empreendedorismo

do Visconde de Mauá com a Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas e a criação

de doze colônias de estrangeiros para estimular o povoamento e desenvolver a agricultura e a

pecuária. O boom da borracha foi tamanho que chegou a representar cerca de 40% da pauta de

exportações do Brasil junto com o café, no ano de 1910.

Em 1894, ocorreu uma inexpressiva extração de ouro no Amapá, que não

prosperou.

Ao longo do século XX, houve várias tentativas de promoção do desenvolvimento

na Amazônia:

- durante o governo de Hermes da Fonseca, em 1912;

- tentativa fracassada de plantação da seringueira na região do rio Tapajós pela

empresa Ford;

26

- no governo de Getúlio Vargas, no ano de 1940, com o “Discurso do

Amazonas”: reorganização do espaço político e econômico amazônico e tentativa de

reativação da produção da borracha para atender as necessidades da II Guerra Mundial.

Houve a migração de cerca de cem mil nordestinos no período de 1942 a 1945;

- em 1953, com a Lei nr 1806, a Amazônia Legal foi definida, estabeleceu-se o

Plano de Valorização para a Amazônia e criou-se a Superintendência de Valorização

Econômica da Amazônia (SPVEA). O grande destaque nesse período foi a construção da

rodovia Belém-Brasília;

- durante os governos militares (1964-1985), o Presidente Castelo Branco

(1964-1967) criou a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) em 1966,

e a Zona Franca de Manaus em 1967, com o objetivo de industrializar e conduzir o

desenvolvimento e o povoamento para o interior da área. Também construiu rodovias, portos

e aeródromos e estabeleceu colônias militares; o Presidente Médici (1969-1974) instituiu o

Programa de Integração Nacional; já no governo do Presidente Geisel (1974-1979), foi criado

o Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia (Pólo Amazônia) com um

grande fomento da infra-estrutura na área de telecomunicações, rodovias, hidrovias e energia.

Desde o início da República Brasileira (1889), os planos econômicos do Governo

Federal, incluindo o atual “Plano Plurianual”, contemplam a Amazônia com ações integradas,

focalizando o desenvolvimento – na atualidade, aplica-se o termo desenvolvimento

sustentável –, a fixação do homem e o aumento da presença militar na fronteira. Isto se deve

pelo fato de que “a posição mista de maritimidade e continentalidade proporcionou o maior

desenvolvimento da maritimidade, quando se observou expressivo desenvolvimento do Brasil

na faixa próxima ao mar. A continentalidade foi praticada efetivamente após a transferência

da capital para Brasília, quando se promoveu a efetiva integração com a Amazônia e o

Centro-Oeste”. 8 Por essa razão, deve-se estender a fronteira econômica aos limites da

fronteira física ocidental, a fim de prosseguir na expansão da continentalidade do território,

voltando a atenção para a área amazônica.

A planificação do desenvolvimento da Amazônia pelo Governo Federal é uma

ação de Estado e uma necessidade político-estratégica que deve ser aplicada para permitir

investimentos públicos em infra-estrutura, saúde e educação e criar condições para que os

empreendedores disponham das condições para se estabelecerem e gerar renda, impostos e

emprego.

3.4. ESTÁGIO ATUAL DE DESENVOLVIMENTO

8 MEIRA MATTOS, 1980. Pg. 22.

27

Uma das formas de verificar se uma área é desenvolvida ou não é pela sua

participação no PIB, que na Amazônia, no ano de 2003, foi de cerca de cento e cinco milhões

de reais 9, correspondendo a 6,8% do total nacional. Em 1993 e 1999, os índices foram de

6,1% e 6,5% respectivamente, apresentando um crescimento médio de 0,07% por ano num

período de dez anos. 10 Pela dimensão e potencial da área, observa-se que é um índice muito

inexpressivo.

A economia da Amazônia é predominantemente extrativa e com baixo valor

agregado. A exceção é o pólo industrial de Manaus.

O longo período entre a crise da borracha, que estagnou a economia da Amazônia,

até os dias atuais, foi permeado de tentativas de fomento do desenvolvimento que chegaram a

lograr êxito de forma setorizada e nucleada nos principais centros urbanos: Manaus, Belém,

Porto Velho e Cuiabá. Contribuiu para isso a construção das grandes rodovias que atravessam

a Amazônia e que necessitam de constante manutenção.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da área é de cerca de 0,70011. Em

comparação com o resto do País, é uma situação mais favorável do que o Nordeste brasileiro.

Entretanto, o Nordeste não possui as vulnerabilidades da Amazônia, em termos de

importância geopolítica e estratégica, e não se constitui em um anecúmeno.

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,

no período de janeiro a abril de 2006, a participação dos Estados da Amazônia nas

exportações brasileiras totalizou apenas 11,3%, sendo o índice mais elevado o do Pará, com

4,56% – por conta das extrações de minerais – e o mais baixo o do Acre, com 0,02%. O

Estado do Amazonas, apesar de contar com a Zona Franca de Manaus, participou com apenas

1,39%. 12

A atividade mineral se destaca nos Estados do Pará e do Amapá. A agropecuária é

o destaque do Mato Grosso e de Rondônia. O Estado do Amazonas possui expressivo parque

industrial por conta de incentivos fiscais do Governo Federal por meio da Superintendência da

Zona Franca de Manaus. Os demais Estados ancoram suas economias em atividades extrativas

e prestação de serviços.

9

Conforme Almanaque ABRIL 2006. Pg. 288 e 289.10 Dados obtidos no sítio <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em 31 jul. 2006.11 Dados do ano 2000, conforme consta no sítio <http://wikipedia.org/wiki/IDH>. Acesso em 11 abr. 2006. 12 Fonte: SECEX - MDIC, 2006.

28

O desenvolvimento da Amazônia está concentrado nos maiores centros urbanos,

devendo ser interiorizado e estendido até o arco fronteiriço ocidental, a fim de possibilitar a

presença do Estado Brasileiro em toda a área e, especificamente, nas áreas mais carentes.

Aqueles centros urbanos materializam os necessários “pólos de irradiação, que são

distanciados uns dos outros, mas são atuantes e capazes de representar a lei e a dinamização

do progresso econômico e social, à semelhança do que os Estados Unidos fizeram para

vitalizar suas áreas de hinterlândia (Michigan, Wisconsin, Ohio, Utah, Nevada e Kansas,

dentre outros), que são prósperos, apesar de possuírem baixa densidade demográfica”. 13 Daí a

necessidade de ampliar-se o número de pólos de irradiação, aproximando-os e aumentando a

circulação humana e comercial. É fato que são áreas com condições geográficas

completamente diferentes. Entretanto, condicionando essa estratégia ao espaço e

peculiaridades do território brasileiro, poderia lograr êxito.

Na realidade, “o grande desafio do governo brasileiro na Amazônia é conseguir a

harmonia entre o processo de desenvolvimento sócio-econômico e as necessidades ambientais

e humanas”. 14

Por tudo que foi apresentado neste subitem e sintetizando de forma abrangente, se

considerarmos toda a área, segundo a classificação do economista norte-americano Walt

Whitman Rostow, pode-se afirmar que, atualmente, a Amazônia se encontra no limiar do

primeiro para o segundo estágio de desenvolvimento, se considerarmos os cinco estágios

apresentados pelo economista: sociedade tradicional, pré-requisitos para a arrancada,

arrancada (take off), crescimento auto-sustentável (maturidade) e idade do consumo de

massa.15

3.5. REFLEXÃO GEOPOLÍTICA: POR QUE DESENVOLVER A AMAZÔNIA?

A noção exata da dimensão da grandeza e da importância geopolítica da Amazônia

será mais bem compreendida ao apresentarem-se os conceitos e as idéias de diversos

pensadores e estudiosos geopolíticos.

13 MEIRA MATTOS, 1980. Pg 175.14 Projeto SIVAM, disponível em <www.sivam.gov.br/amazonia/apres3.htm>. Acesso em 19 mar. 2006. 15 VASCONCELLOS, 2004. Pg. 215.

29

Primeiro, o que é Geopolítica? Meira Mattos a define como “a política aplicada

aos espaços geográficos”. 16 No caso da Amazônia, refere-se ao planejamento político de

âmbito federal e estadual aplicado ao desenvolvimento econômico e social.

O precursor da Geopolítica, o alemão Friedrich Ratzel, afirmou que “o êxito na

conquista e dominação do espaço depende da visão do domínio de espaço por parte dos

estadistas e da mobilidade e adaptabilidade do povo.” 17 Esse processo se iniciou com a visão

do Marquês de Pombal, já no século XVIII e vem sendo praticado pelos estadistas brasileiros

com o aproveitamento da mobilidade e da adaptabilidade do povo brasileiro, como pode ser

explicado pelos planos de estabelecimento de colonos naquela área ao longo do século XX.

É necessário, pois, que a vocação para a conquista e domínio dos espaços deve ser

evidenciada na mentalidade e no ideário dos líderes políticos, conforme afirmou Tosta, a fim

de que a Amazônia seja efetivamente conquistada e dominada. Pode-se afirmar que a

Amazônia já foi conquistada em tese. Mas precisa ser dominada plenamente por meio do

desenvolvimento e da presença do Estado, a fim de evitar qualquer espécie de tentativa de

ingerência exógena naquela área.

O jurista sueco Rudolf Kjellen, criador do termo Geopolítica, afirmou em uma de

suas conclusões: “o Estado é cada vez mais um realizador de obras públicas (estradas, portos

e usinas), de educação, de serviços públicos (correio, viação), etc.” 18 Esta observação foi feita

em referência aos Estados desenvolvidos na virada do século XIX para o XX. É de supor-se

que tal processo é fundamental para o desenvolvimento da Amazônia no século XXI. Ele

ainda afirmou que “um Estado só pode ser reconhecido como possuidor de um grande poder

real quando satisfizer as três condições: grande espaço, liberdade de movimentos e coesão

interna.” 19 Inserindo o Brasil neste contexto, o País possui grande espaço. A liberdade de

movimentos ou de ação pode ser interpretada, externamente, como a política externa praticada

pelo Governo Federal e, internamente, pela integração do território. E a coesão interna plena

depende da integração da Amazônia ao resto do País e à correção das desigualdades sociais

das diversas regiões brasileiras, o que só vai ser obtido por meio do desenvolvimento daquela

área. Aplicando-se a idéia de continentalidade de Meira Mattos, pode-se inferir pela

necessidade de alcançar-se a plena integração política e econômica de seu território,

16 MEIRA MATTOS, 1980. Pg 160.17 TOSTA, 1984. Pg. 9.18 TOSTA, 1984. Pg. 13-15.19 TOSTA, 1984. Pg. 18. Quanto a coesão, ela deve ser entendida como harmonia, união e solidariedade entre os integrantes de um grupo, no caso os habitantes de um Estado.

30

explorando racionalmente todos os recursos do solo e do subsolo, a fim de multiplicar o Poder

Nacional Brasileiro. 20

Já o professor norte-americano Nicholas Spykman definiu a geopolítica como “o

planejamento da segurança de um país em termos de seus fatores geográficos.” 21 Em se

tratando da Amazônia, com todas as suas peculiaridades, a segurança significa a soma de

desenvolvimento com a presença e a vigilância. A resultante esperada é a efetiva manutenção

da soberania brasileira naquela área.

O geógrafo e diplomata inglês Halford Mackinder estabeleceu a teoria do poder

terrestre, o “heartland”. Baseado nesta teoria, Meira Mattos afirmou que o Brasil é o pivô da

América do Sul, o “heartland” de Mackinder na América do Sul, com propensão e potencial,

pois, para ser o líder e exercer influência nesta área continental22. Para ser o líder e exercer

influência e ser capaz de repelir ingerências indevidas na soberania brasileira, é necessário

ampliar o Poder Nacional, promovendo o desenvolvimento e ampliando a presença do Estado

na Amazônia.

Darc Costa afirmou que “a dimensão continental da Amazônia representa um

enorme potencial econômico, ecológico e político de importância estratégica internacional.

Ao contrário das outras florestas tropicais úmidas do planeta, dispersas em conjuntos

menores, isoladas entre si, a floresta amazônica é um grande maciço concentrado.”23

Em complemento à idéia acima, segundo Meira Mattos 24, o Brasil possui território

de forma compacta, o que facilita a coesão do Estado, favorece a evolução do povo em

condições mais uniformes, a expansão do desenvolvimento de forma mais equilibrada e

favorece, ainda, a integração nacional. A forma compacta ainda influencia geopoliticamente,

pois é conveniente ao centripetismo político administrativo, ao intercâmbio comercial e à

estratégia militar defensiva, em particular, na Amazônia.

Todos os conceitos acima citados são basilares e justificam por si só a necessidade

do estabelecimento de políticas de Estado e planejamentos estratégicos, a fim de promover o

desenvolvimento em áreas estratégicas e geopoliticamente importantes como a Amazônia. Ao

se promover o desenvolvimento na Amazônia, estará se promovendo, também, a defesa da

área. E complementando, a Amazônia é rica e seus recursos despertam interesse internacional.

Portanto, deve ser protegida e desenvolvida.

3.6. INGERÊNCIA NA AMAZÔNIA: REALIDADE OU FICÇÃO?20 MEIRA MATTOS, 1980. Pg. 167.21 TOSTA, 1984. Pg 30.22 TOSTA, 1984. Pg 52. 23 COSTA, 2001. Pg 5.24 MEIRA MATTOS, 1980. Pg 13-18.

31

Muito se tem propalado sobre a cobiça internacional pela Amazônia, sobre o

interesse que ela desperta por suas potencialidades e outros fatos e circunstâncias pelos quais

ela provoca paixões e veleidades por parte de personalidades, organizações e instituições

internacionais. Vamos discorrer sobre isto a seguir.

Tosta, citando o livro “A Amazônia e a Integridade do Brasil”, do falecido

professor Arthur César Ferreira Reis, apontou uma interessante possibilidade que poderia

ocorrer a partir da segunda metade do século XX: a escassez de alimentos e a necessidade de

espaço para abrigar contingentes populacionais na metade do século XX seria um mote para

ingerência na Amazônia, na medida em que “acima das fronteiras políticas nacionais, pairam

os interesses da humanidade”. 25 O problema da escassez de alimentos foi superado pelo

avanço tecnológico na produção dos mesmos. A Amazônia realmente possui espaço para

abrigar contingentes populacionais. Entretanto, os supostos “interesses da humanidade”

podem ser o pretexto para potências desenvolvidas interferirem na soberania nacional, ainda

mais com a atualidade dos problemas ambientais, nos quais o Brasil, costumeiramente, é

responsabilizado por mazelas ambientais, principalmente na Amazônia.

A questão ambiental encontra ressonância em outros pensadores. O historiador

Paul Kennedy faz várias menções sobre a degradação ambiental na Amazônia e suas

conseqüências: derrubada de florestas sob o ataque humano representado pela construção de

estradas, pistas de pouso, abertura de pastos e uso da madeira, tudo isso ameaçando inclusive

o meio ambiente do próprio Estados Unidos pela redução das florestas tropicais do

Amazonas. Ele vai mais longe, quando declara haver uma grande preocupação dos

ambientalistas em relação ao desaparecimento das florestas tropicais – afirmou de forma

exagerada que, até o ano 2000, ¾ das florestas tropicais da América Latina seriam derrubadas

– e seus conseqüentes prejuízos para as nações indígenas e a destruição da biodiversidade. A

interferência explícita foi exaltada quando divulgaram, em 1988, fotos de satélite mostrando a

extensão das queimadas e a morte do organizador sindical Chico Mendes. Por conta disso, os

deputados norte-americanos apoiaram a idéia de pressionar o Brasil, colocando-se contra

financiamentos internacionais para a construção de uma rodovia através da floresta. 26

Kennedy fez uma previsão controvertida:

Além de aumentar o risco de guerras de recursos pelos estoques de água emdiminuição, pela terra de pastagens, pelas florestas madeireiras e recursos

25 TOSTA, 1984. Pg. 65.26 KENNEDY, 1993. Pg. 113-245.

32

semelhantes, o dano ambiente ameaça a prosperidade econômica e a saúde pública.Além disso, esse dano reduz a produção mundial de alimentos ...o que poderiaprovocar uma fome global maciça para agravar as instabilidades sociais e políticas,as guerras de recursos e a deterioração das relações entre os povos ricos e os pobresda terra. 27

Ele ainda fez menção sobre o lobby ambientalista, materializado pelas ações

protagonizadas pelo terceiro setor – as organizações não governamentais (ONGs) –

destacando a “Worldwatch Institute. Dentre as ações, as ONGs “recomendaram várias

reformas para deter os crescentes danos ao meio ambiente, dentre elas a negociação entre

países ricos e pobres, ou aqueles, como o Brasil, que dependem de investimentos estrangeiros,

pelo qual os segundos protegeriam suas florestas em troca de maior ajuda, assistência na

criação de empregos alternativos e garantia de acesso aos mercados.” 28

Já o sociólogo Manuel Castells declarou que o movimento ambientalista do último

quarto deste século (século XX) conquistou posição de destaque no cenário da aventura

humana. É como se o mundo repentinamente “verdejasse”. 80% dos norte-americanos 29 e 2/3

dos europeus consideram-se ambientalistas. Como conseqüência óbvia, os políticos, para se

elegerem, também “verdejam”. Assim, “políticos, governos e instituições internacionais

incumbem-se de multiplicar programas, órgãos especiais e legislação destinados a proteger a

natureza, melhorar a qualidade de vida e, em última análise, salvar o planeta a longo prazo, e

nós próprios a curto prazo”.30

Castells comenta sobre a ameaça do aquecimento global, enquanto as florestas

tropicais ardem em chamas. Neste contexto, o movimento ambientalista, por meio das ONG,

empregando a mídia e a rede mundial de computadores – a internet – se encarrega de “criar

eventos que mobilizem a opinião pública em torno de questões específicas no intuito de

exercer pressão sobre o poder instituído, seja ele quem for.” Este movimento está sempre

procurando exercer influência na legislação e nas atitudes tomadas pelos governos. 31 O

objetivo sempre perseguido pelo movimento ambientalista é o de despertar a consciência

ecológica de sociedades em todo o mundo e exercer grandes pressões sobre a

responsabilidade dos governos de conter o avanço em direção à catástrofe. 32

O movimento ambientalista encontra campo fértil no direito internacional público,

na medida em que se promove o surgimento da justiça ambiental, que é a nova fronteira dos

27 Ibidem. Pg 149.28 Ibidem. Pg. 398.29 Apesar disto, os EUA não assinaram o Protocolo de Kyoto, com relação à emissão de poluentes na atmosferra.30 CASTELLS, 1999. Pg. 141.31 Ibidem. Pg. 143-163.32 Ibidem. Pg. 310.

33

ecologistas, segundo Castells. Ele conclui que este movimento não é apenas de

conscientização, mas sim do exercício de influência na legislação e nas atitudes tomadas pelos

governos. Em suma, é a “reafirmação do valor à vida em todas as suas manifestações, contra

os interesses da riqueza, poder e tecnologia, que vêm conquistando gradativamente as mentes

e os políticos, à medida que o movimento ambientalista ingressa em um novo estágio de

desenvolvimento.” 33

As idéias de Castells podem ser sintetizadas em uma conclusão simples de sua

lavra: “os Estados-Nação também enfrentam os limites de sua legitimidade e, em última

análise, de seu próprio poder, quando se discute a administração global do meio ambiente do

planeta.” 34 Joseph Nye, citando Smith e Nain, complementa ao afirmar que “jamais tantos

agentes não estatais disputaram a autoridade e a influência que outrora pertenciam

exclusivamente aos Estados.” 35

A rapidez na divulgação de informações por conta da Internet é um poderoso

instrumento de poder nas mãos das organizações internacionais, capaz de sensibilizar todo o

mundo, provocar as mais diversas reações, repercutir diretamente na soberania de um Estado

e testar a sua capacidade de reagir e se contrapor em tempo a uma denúncia ambiental de

forma que não permita arranhões à sua reputação internacional e traga prejuízos aos seus

interesses. É como afirmou Nye: “uma ONG consegue detectar um fato na floresta tropical

brasileira e, em questão de minutos, divulgá-la no mundo pela internet.” 36

Existem, atualmente, cerca de 320 ONGs 37 na Amazônia, muitas patrocinadas por

capital estrangeiro. Algumas representam problemas para a área, pois há questionamentos

quanto à validade de suas ações, já que elas não são fiscalizadas ou controladas por nenhum

agente do Estado, não havendo, pois, nenhuma garantia de que suas atividades sejam

realmente filantrópicas. Isso resultou na abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito

no Senado Federal em 2001 que, lamentavelmente, não chegou a um relatório conclusivo.

Essa proliferação de ONGs na Amazônia é uma conseqüência marcante da globalização, da

redução do poder do Estado, ou mesmo de sua omissão no controle delas, além de ser um

indício evidente da internacionalização da Amazônia e da necessidade de efetuar-se algum

controle sobre estas organizações. As ONGs não atuam somente na Amazônia. “Em 1993, a

"The Nature Conservancy", uma ONG norte-americana, desenvolveu uma ampla campanha,

33 Ibidem.Pg. 163-166.34 Ibidem. Pg. 310.35 NYE, 2002. Pg. 13136 NYE, 2002. Pg. 151.37 NETO, 2002.

34

de âmbito internacional, com o objetivo de angariar fundos para a compra de terras na

Amazônia e Pantanal brasileiros.” 38

Os povos indígenas residentes na Amazônia foram contempladas com inúmeras

reservas, conforme pode ser observado na figura 1 do anexo A. Várias reservas indígenas se

encontram na faixa de fronteira do Brasil com a Bolívia até a Guiana Francesa. A reserva

Ianomâmi, por exemplo, foi criada sob forte pressão internacional pelo governo Collor em

1991. Ela faz fronteira com a Venezuela, que também possui ianomâmis em seu território.

Com a atual ênfase dada às minorias étnicas, trata-se de uma situação que poderá permitir a

criação de uma nação indígena com força de postular, em fórum internacional, a sua

autonomia, desafiando a soberania nacional e que poderá se estender a outras nações. Essa

situação poderá ir ao encontro de interesses exógenos nessas reservas, por conta das riquezas

minerais existentes.

Outro aspecto relevante: a OTAN, em 23 e 24 de abril de 1999, aprovou o seu

novo conceito estratégico39, ampliando o seu mandato original e seu raio de atuação, cobrindo

operações humanitárias e anti-terroristas, lutando contra o narcotráfico, assim como contra

ameaças indefinidas ao meio ambiente, à paz e à democracia, num espaço geograficamente

igualmente difuso quanto aos seus limites externos, assim como o direito de intervir no espaço

europeu em local onde possa ocorrer qualquer violação dos direitos humanos40. O mesmo

pode ocorrer com a Organização dos Estados Americanos (OEA). Os EUA invadiram Kosovo

em 1999 à revelia de deliberações da ONU. Tal evento se verificou também no Iraque em

2003, conforme já citado neste trabalho.

Ao se realizar uma projeção prospectiva decorrente da redução gradativa dos

recursos do Planeta, deve-se imaginar um mundo com carência de recursos energéticos

fósseis, fontes de água potável e outros recursos minerais. Todos eles existem na Amazônia, e

não seria de todo pueril afirmar que ela pode tornar-se, no futuro, o próximo alvo de potências

mais poderosas ou influentes no cenário mundial, sob os pretextos de proteção ambiental e

dos direitos das nações indígenas, mas com o evidente propósito de, efetivamente, suprir as

necessidades daquelas potências.

Em contraposição às reservas indígenas demarcadas e situadas na faixa de

fronteira no arco norte (FIGURA 1 do ANEXO A), pode-se observar uma expressiva

participação militar norte-americana (FIGURA 2 do ANEXO A) nos países que fazem

38 NETO, 2002.39 NATO SUMMIT. The Alliance’s Strategic Concept. Disponível em <http://www.nato.int/docu/pr/1999/p99-065e.htm>. Acesso em 23 nov. 2006. 40 ALMEIDA, 2002. Pg. 2.

35

fronteira com a Amazônia, suscitando inúmeras reflexões, sendo as mais importantes as da

necessidade de pensar-se na defesa e no desenvolvimento da área. Com este fato, pode-se

fazer uma alusão de que a presença de tropas e equipamentos norte-americanos naquela área é

uma possível materialização da teoria geopolítica do poder aéreo de Alexander Seversky – a

“geoestratégia aérea global” – combinada com a teoria do “espaço vital” de Haushofer

aplicados de forma dissimulada pelos Estados Unidos no continente sul-americano.

O Prof. de história contemporânea Francisco Carlos, em aula sobre a nova ordem

mundial 41 no curso de MBA do Curso de Política e Estratégia Marítimas da Escola de Guerra

Naval em 2006, apresentou os novos parâmetros das relações internacionais após 1991, sendo

eles: maior imprevisibilidade, maior insegurança, emergência do novo terrorismo de massa,

retorno da liberdade estratégica para os EUA, doutrina da guerra preemptiva, pressão

econômica em alta escala e novas temáticas, dentre elas ecologia, direitos humanos e

pandemias. Destes, todos, exceto a insegurança e pandemias, podem ser enquadrados na

Amazônia dos dias atuais. A imprevisibilidade foi destacada pelo Gen. Colin Powell da

reserva do Exército norte-americano na seguinte afirmação: “A ameaça real que hoje

enfrentamos é a do desconhecido, da incerteza. A ameaça presente é a instabilidade e o

despreparo para manejar uma crise ou uma guerra que ninguém previu e para a qual ninguém

se preparou.” Se de um lado as ações da potência hegemônica podem ser imprevisíveis, do

lado brasileiro nunca podem ser alvo de surpresas e falta de planejamento e ação para reagir a

elas. Já a guerra preemptiva é mais complexa e traz no bojo de sua concepção não a reação

frente a uma ameaça latente e visível, mas a uma ameaça difusa no qual o suposto e futuro

alvo da agressão ou aliado a ela se antecipam e agridem inicialmente a despeito de qualquer

convenção internacional, para depois reavaliarem a sua ação e negociá-la em fórum bilateral

ou internacional. Pressões sobre desrespeito às questões ambientais e indígenas podem

encetar ações belicosas preemptivas de potências superiores contra a Amazônia, obviamente

encobrindo outras intenções já expostas neste trabalho.

É notório o destaque dado pelos pensadores e formadores de opinião

contemporâneos sobre a redução do poder do Estado, o compartilhamento da soberania e as

questões ambientais e de direitos humanos, todas convergindo naturalmente a uma

possibilidade fática de ingerência explícita ou velada de um Estado ou organização em outro

Estado no qual haja interesses em jogo. A Amazônia é foco potencial de atenções e de

41 Nova relação de forças entre os Estados após o fim da Guerra Fria, quando os EUA ascendeu ao posto depotência hegemônica militar mundial.

36

interesses. O interesse sobre ela é real, e não fruto de ilações absurdas ou infundadas,

conforme o que já foi exposto neste subitem.

O cenário mundial contemporâneo encerra novas ameaças tais como o terrorismo,

os danos ambientais, a pirataria e a biopirataria, os crimes transnacionais e o narcotráfico.

Essas ameaças encontram campo fértil na Amazônia, pela sua vastidão e dificuldade de

controle total por parte do Estado.

Não se trata aqui de formar uma idéia obsessiva e catastrófica ou a teoria da

conspiração 42 sobre a invasão ou internacionalização da Amazônia, mas de precaver-se ante a

esta possibilidade, mediante o reforço da presença do Estado num espaço de tempo que não

alimente ingerências exógenas. Como afirmou o Vice-presidente e Ministro da Defesa José de

Alencar em palestra na Escola de Guerra Naval em 10 de março de 2006: “a prontidão tem

um custo.” A Amazônia deve receber atenção especial para que não se transforme em palco

de litígio ambiental ou humanitário num futuro não muito distante.

42 Teoria da conspiração é uma teoria de que um grupo de pessoas ou organizações tenha manipulado um eventoou uma série de eventos para obter um determinado resultado. As teorias de conspiração também chamadas de“encobrimento”, são secretas e escondidas do domínio público (definição disponível em<http://www.discoveryportugues.com/guia_conspiracao/teoria/index.shtml>. Acesso em 22 jul. 2006).

37

4. A PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS NO DESENVOLVIMENTO

DA AMAZÔNIA

6. ORIENTAÇÕES ESTRATÉGICAS6.13 Para contrapor-se às ameaças à Amazônia, é imprescindível executar umasérie de ações estratégicas voltadas para o fortalecimento da presença militar,efetiva ação do Estado no desenvolvimento sócio-econômico e ampliação dacooperação com os países vizinhos, visando à defesa das riquezas minerais e domeio ambiente. 1

Desde o início do avanço dos portugueses no interior da Amazônia no século

XVII, as organizações militares se fazem presentes naquela área. Primeiro para conquistá-la

e mantê-la, depois para integrá-la e finalmente para, de forma indireta e direta, desenvolvê-

la. Neste capítulo, o conceito de desenvolvimento será aprofundado, e serão apontados os

diplomas legais que determinam e possibilitam às Forças Armadas participarem do processo

de desenvolvimento daquela área. Em seguida, serão descritas algumas das ações executadas

pelas Forças Armadas em prol do desenvolvimento da Amazônia.

Destarte, é importante ressaltar que a participação no desenvolvimento da

Amazônia deve ser entendida à luz da definição de desenvolvimento com foco na paz social

e no progresso, e não apenas individualizada ou setorizada em um setor da economia.

4.1. DEFINIÇÃO DE DESENVOLVIMENTO

A definição de desenvolvimento já foi apresentada no Capítulo 1 deste

trabalho. Entretanto, para ter-se uma melhor percepção sobre a necessidade de participação

de todos os órgãos da administração direta e indireta, em todos os níveis, nos destinos da

Amazônia, deve-se aprofundar este entendimento. Segundo a Escola Superior de Guerra

(ESG), “a Nação Brasileira tem como objetivos fundamentais 2: a democracia, a Integração

Nacional, a Integridade do Patrimônio Nacional, a Paz Social, o Progresso e a soberania.” 3

De maneira geral é possível admitir-se que o desenvolvimento é o caminho natural para que

1 Política de Defesa Nacional, Dec. n° 5.484, de 30 de junho de 2005. 2 Objetivos fundamentais, segundo a ESG, são Objetivos Nacionais que, voltados para o atingimento dos maiselevados interesses da Nação e preservação de sua identidade, subsistem por longo tempo (ESG, 2006, pg. 14).3 ESG, 2006. Pg. 15.

38

esses objetivos sejam plenamente alcançados, devendo, pois, ser perenemente estimulado,

planejado, executado e fiscalizado, seja de forma direta pelo Estado, criando condições,

infra-estrutura e financiando-o, seja pela iniciativa privada.

A rigor, não há sentido em falar-se sobre desenvolvimento apenas político,

econômico, social ou tecnológico, mas sim entendê-lo como um processo social global, em

que todas as estruturas passem por contínuas e profundas transformações e também em que

as instituições sejam fortalecidas.

Um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil é garantir o

desenvolvimento nacional, conforme o inciso II do art. 3º da Constituição Federal. O

desenvolvimento também é fundamental para o fortalecimento e aperfeiçoamento do Poder

Nacional. A ESG define o Poder Nacional como “a capacidade que tem o conjunto de

Homens e Meios que constituem a Nação para alcançar a manter os Objetivos Nacionais, em

conformidade com a Vontade Nacional.” 4

Em suma, estas idéias podem ser sintetizadas da seguinte forma:

“Desenvolvimento Nacional é o processo global de fortalecimento e aperfeiçoamento do

Poder Nacional, particularmente de seus fundamentos (Homem, Terra e Instituições),

visando à conquista dos Objetivos Nacionais e à consecução do Bem Comum.” 5

Trabalhando mais este conceito, Vasconcellos afirma que “o desenvolvimento econômico é

um conceito mais qualitativo, incluindo as alterações da composição do produto e a alocação

de recursos pelos diferentes setores da economia, de forma a melhorar os indicadores de

bem-estar econômico e social (pobreza, desemprego, desigualdade, condições de saúde,

alimentação, moradia e saúde).” 6

E é com o foco nestas definições sobre desenvolvimento, que se pretende

apresentar neste trabalho a participação das Forças Armadas neste contexto.

4.2. DIPLOMAS LEGAIS

Serão abordados todos os diplomas legais disponíveis que regulam as atribuições

do Estado Brasileiro com a utilização dos seus meios disponíveis, dentre eles as Forças

Armadas, para promover e executar o desenvolvimento da Amazônia.

4 Ibidem. Pg. 23.5 Ibidem. Pg. 46.6 VASCONCELLOS, 2004. Pg. 210.

39

A Constituição da República Federativa do Brasil estabelece, em seu Art. 3º, que

constituem objetivos fundamentais do Estado Brasileiro construir uma sociedade livre, justa

e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e

reduzir as desigualdades sociais e regionais e promover o bem de todos, sem preconceitos de

origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Já o Art. 21 esclarece que compete à União, dentre outras atribuições: assegurar a

defesa nacional; elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e

de desenvolvimento econômico e social; manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;

a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura aeroportuária; os serviços de transporte

ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham

os limites de Estado ou Território; os serviços de transporte rodoviário interestadual e

internacional de passageiros; os portos marítimos, fluviais e lacustres; organizar e manter os

serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional; planejar

e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as

inundações e executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras.

Quanto à competência do Poder Legislativo, o Art. 48. da Constituição afirma

que cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, dispor sobre

todas as matérias de competência da União, especialmente sobre a elaboração de planos e

programas nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento.

A Política de Defesa Nacional (PDN) atualizou o conceito de segurança,

esclarecendo que ele, gradualmente, foi ampliado, “abrangendo os campos político, militar,

econômico, social, ambiental e outros. Entretanto, a defesa externa permanece como papel

primordial das Forças Armadas no âmbito interestatal” 7. Diz ainda que, “as medidas que

visam à segurança são de largo espectro, envolvendo, além da defesa externa: defesa civil;

segurança pública; políticas econômicas, de saúde, educacionais, ambientais e outras áreas,

muitas das quais não são tratadas por meio dos instrumentos político-militares.” 8 Com

relação ao ambiente internacional, a PDN diz que, com relação ao fenômeno da

globalização, “a crescente exclusão de parcela significativa da população mundial dos

processos de produção, consumo e acesso à informação constitui fonte potencial de

conflitos.” 9 Neste quesito, as Forças Armadas podem ser empregadas subsidiariamente 10

para minimizar estes conflitos.7 BRASIL, PDN, item 1.3.8 Ibidem. Item 1.3.9 Ibidem. Item 2.2.10 Deve ser compreendido como a execução de Ações subsidiárias inerentes às Forças Armadas.

40

O item 3. da PDN trata do ambiente regional e o entorno estratégico, afirmando

que a “ampliação e a modernização da infra-estrutura da América do Sul podem concretizar

a ligação entre seus centros produtivos e os dois oceanos, facilitando o desenvolvimento e a

integração.” 11 Para cumprir este desiderato, os países vizinhos devem trabalhar em conjunto

“na busca de melhores condições para o desenvolvimento econômico e social que tornarão a

região mais coesa e mais forte.” 12

Deve ser notada importante inserção da Amazônia na PDN no item 4.

4.4 A Amazônia brasileira, com seu grande potencial de riquezas minerais e debiodiversidade, é foco da atenção internacional. A garantia da presença do Estado ea vivificação da faixa de fronteira são dificultadas pela baixa densidadedemográfica e pelas longas distâncias, associadas à precariedade do sistema detransportes terrestre, o que condiciona o uso das hidrovias e do transporte aéreocomo principais alternativas de acesso. Estas características facilitam a prática deilícitos transnacionais e crimes conexos, além de possibilitar a presença de gruposcom objetivos contrários aos interesses nacionais. A vivificação, política indigenista adequada, a exploração sustentável dosrecursos naturais e a proteção ao meio-ambiente são aspectos essenciais para odesenvolvimento e a integração da região. O adensamento da presença do Estado, eem particular das Forças Armadas, ao longo das nossas fronteiras, é condiçãonecessária para conquista dos objetivos de estabilização e desenvolvimentointegrado da Amazônia (BRASIL, PDN, 2005).

Os objetivos da Defesa Nacional são explicitados no item 5. da PDN. Os que se

enquadram na participação das Forças Armadas no desenvolvimento da Amazônia são os

seguintes: a contribuição para a preservação da coesão e unidade nacionais e a promoção da

estabilidade regional.

No nr. 6., versando sobre as Orientações Estratégicas, o item 6.13. é bem

explícito ao afirmar a necessidade do trabalho integrado entre o Governo e as Forças

Armadas para haver a contraposição com relação às ameaças à Amazônia. É imprescindível

a execução de uma série de ações estratégicas voltadas para o fortalecimento da presença

militar, a efetiva ação do Estado no desenvolvimento sócio-econômico e a ampliação da

cooperação com os países vizinhos, visando à defesa das riquezas naturais e do meio

ambiente.

Por fim, a PDN estabelece as suas Diretrizes Estratégicas para a consecução dos

objetivos da Defesa Nacional, destacando-se aquelas em que as Forças Armadas possuem

capacidade de participar de forma proativa por iniciativa própria, e com os seus próprios

meios ou mediante convênios:

11 BRASIL, PDN, item 3.3.12 Ibidem. Item 3.4.

41

- XIII - fortalecer a infra-estrutura de valor estratégico para a Defesa Nacional,

prioritariamente a de transporte, energia e comunicações;

- XV - implementar ações para desenvolver e integrar a região amazônica, com

apoio da sociedade, visando, em especial, ao desenvolvimento e à vivificação da faixa de

fronteira; e

- XIX - atuar para a manutenção de clima de paz e cooperação nas áreas de

fronteira.

Outro importante documento que dispõe sobre as normas gerais para a

organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas e que estabelece, em linhas gerais,

as suas atribuições subsidiárias é a Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, que foi

alterada com dispositivos estabelecidos na Lei Complementar nº 117, de 2 de setembro de

2004. No seu art. 16, ficou estabelecido que cabe às Forças Armadas, como atribuição

subsidiária geral, cooperar com o desenvolvimento nacional e a defesa civil, na forma

determinada pelo Presidente da República, acrescido do seu parágrafo único, no qual, para

os efeitos daquele artigo, integram as referidas ações de caráter geral a participação em

campanhas institucionais de utilidade pública ou de interesse social.

A Lei Complementar nr 97 contempla os diversos comandos das Forças Armadas

com as seguintes ações subsidiárias particulares, que são perfeitamente aplicáveis na região

amazônica:

- Marinha: art. 17, inciso II, prover a segurança da navegação aquaviária;

- Exército: art. 17A, inciso II, cooperar com órgãos públicos federais,

estaduais e municipais e, excepcionalmente, com empresas privadas, na execução de obras e

serviços de engenharia, sendo os recursos advindos do órgão solicitante;

- Aeronáutica: art. 18, inciso I, orientar, coordenar e controlar as atividades

de Aviação Civil; inciso IV, estabelecer, equipar e operar, diretamente ou mediante

concessão, a infra-estrutura aeroespacial, aeronáutica e aeroportuária; e inciso V, operar o

Correio Aéreo Nacional.

Prosseguindo na apresentação dos diplomas legais, temos o Plano Plurianual

(PPA) do Governo Federal, chamado de “Plano Brasil de Todos”, em vigor no período de

2004 a 2007. O PPA é um instrumento de planejamento macro, de âmbito federal, que

abrange todas as áreas do Governo Federal e estabelece as diretrizes, os objetivos e as metas

da administração pública federal por um prazo de pelo menos quatro anos. “A estratégia de

Governo para os programas do Plano Plurianual 2004-2007 se baseia fundamentalmente no

42

Programa de Governo apresentado na campanha e pelo qual o Presidente Luis Inácio Lula

da Silva foi eleito em 2002. Ela estabelece o horizonte para onde vão se dirigir tanto o

orçamento anual quanto o próprio Plano Plurianual. Ela rege a definição dos programas

prioritários na área social, dos programas de investimento em infra-estrutura e em setores

geradores das divisas necessárias à sustentação do crescimento com estabilidade

macroeconômica e de todos os demais programas do Governo.” 13 Dos megaobjetivos e

desafios do PPA, podem ser selecionados alguns que se identificam com ações que podem

ser executadas pelas Forças Armadas na Amazônia:

- megaobjetivo I: inclusão social e redução das desigualdades sociais: auxiliar

no combate à fome;

- megaobjetivo II: crescimento com geração de trabalho, emprego e renda,

ambientalmente sustentável e redutor das desigualdades sociais: ampliar a oferta de postos

de trabalho, promover a informação e a formação profissional, impulsionar os investimentos

em infra-estrutura, reduzir as desigualdades regionais e intra-regionais, melhorar a gestão e a

qualidade ambiental;

- megaobjetivo III: promoção e expansão da cidadania e fortalecimento de

democracia: valorizar a identidade e preservar a integridade e a soberania nacionais.

O PPA ainda contempla o Ministério da Defesa e os Comandos da Marinha, do

Exército e da Aeronáutica, com os seguintes programas e objetivos:

- Programa 0623 – Proteção ao Vôo e Segurança do Tráfego Aéreo

- objetivo: prover a proteção ao vôo e a segurança do tráfego no espaço

aéreo brasileiro sob jurisdição do Brasil;

- Programa 0630 – Desenvolvimento da Aviação Civil

- objetivo: melhorar a qualidade da prestação dos serviços oferecidos pelo

sistema de aviação civil;

- Programa 0631 – Desenvolvimento da Infra-Estrutura Aeroportuária

- objetivo: aumentar a capacidade e melhorar a eficiência do sistema de

infra-estrutura aeroportuária brasileira;

- Programa 0636 – Assistência e Cooperação do Exército à Sociedade Civil

- objetivo: contribuir com os órgãos responsáveis em ações de defesa

civil, assistência social e construção da infra-estrutura;

-Programa 0639 – Segurança da Navegação Aquaviária

13 BRASIL, Plano Plurianual 2004-2007. 2003. Pg. 13.

43

- objetivo: prover a segurança da navegação em águas sob jurisdição

brasileira;

- Programa 0643 – Calha Norte

- objetivo: aumentar a presença do Poder Público na região ao norte do

rio Solimões/Amazonas, contribuindo para a defesa nacional, proporcionando assistência às

suas populações e fixando o homem à região.

O Ministério da Defesa, que abarca os comandos da Marinha, do Exército e da

Aeronáutica, tem suas atribuições e competências estipuladas pelo Decreto nr 5.201, de 02

de maio de 2004. É um órgão da administração direta que tem a seu cargo a direção superior

das Forças Armadas com vistas ao cumprimento de suas missões constitucionais e de suas

atribuições subsidiárias. Dentre as suas competências com relação à participação das Forças

Armadas no desenvolvimento, podem ser destacadas as seguintes: 14

- atuação das Forças Armadas, quando couber, na garantia da lei e da ordem,

visando a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,

bem como a sua cooperação com o desenvolvimento nacional e a defesa civil e ao apoio ao

combate aos delitos transfronteiriços ou ambientais;

- segurança da navegação aérea e do tráfego aquaviário e salvaguarda da vida

humana no mar e

- infra-estrutura aeroespacial, aeronáutica e aeroportuária.

A Marinha do Brasil possui como missão fundamental “Preparar e aplicar o

Poder Naval, a fim de contribuir para a Defesa da Pátria.” 15 Como atribuição subsidiária, de

caráter geral, ela pode cooperar com o desenvolvimento nacional e a defesa civil, na forma

determinada pelo Presidente da República.

Quanto ao Exército, dentre as suas missões específicas, destacam-se duas

voltadas para o desenvolvimento: cooperar com o desenvolvimento nacional e cooperar com

a Defesa Civil. Possui, ainda, os seguintes objetivos no mesmo sentido: colaborar com o

desenvolvimento nacional e a Defesa Civil, manter-se permanentemente integrado à Nação,

preservar a imagem junto à opinião pública e sensibilizar a sociedade quanto à importância

da instituição para o País. 16

14 BRASIL, Decreto nr 5.201, de 02 de setembro de 2004. Disponível em <http://www.senado.gov.br/sf>. Acesso em 10 abr. 2006.15 MARINHA DO BRASIL, SRPM. Disponível em <https://www.mar.mil.br/menu_v/ccsm/perguntas/perguntas_mais_frequentes.htm>. Acesso em 12 abr. 2006.16

EXÉRCITO. Missão e Objetivos do Exército. Disponível em <http://www.exercito.gov.br/01Instit/Conheca/missao.htm>. Acesso em 11 abr. 2006.

44

E, ao Comando da Aeronáutica, compete operar o Correio Aéreo Nacional;

orientar, coordenar e controlar as atividades de aviação civil; estabelecer, equipar e operar,

diretamente ou mediante concessão, a infra-estrutura aeroespacial, aeronáutica e

aeroportuária e executar ações subsidiárias voltadas para o desenvolvimento social – ações

sociais.

4.3. AÇÕES EM PROL DO DESENVOLVIMENTO

Na atual conjuntura, podem ser enumeradas diversas atividades executadas pelas

Forças Armadas voltadas para o desenvolvimento ou para potencializá-lo. Serão destacadas

as seguintes:

- o projeto SIPAM-SIVAM, de grande importância para a integração e o

desenvolvimento sustentável da Amazônia, que está possibilitando o efetivo controle sobre a

área, seu espaço aéreo, o uso dos recursos hídricos, da biodiversidade, da ocorrência de

desmatamentos e queimadas, do assentamento e movimentação dos povos indígenas, das

fronteiras terrestres e no suporte à repressão ao contrabando, ao narcotráfico e à garimpagem

ilegal;

- a construção e recuperação de portos e estradas, destacando a ação do 8º

Batalhão de Engenharia de Construção do Exército Brasileiro, sediado em Santarém, no

estado do Pará, que construiu o porto de Parintins no Amazonas, inaugurado em 01 de abril

deste ano. Os cinco batalhões e uma companhia de engenharia de construção do Exército

localizados na área da Amazônia Legal, até o segundo semestre de 2005, construíram e

conservaram cerca de 4.823 quilômetros de rodovias e pavimentaram outros 7.812

quilômetros, construíram 230 quilômetros de ferrovias, 22 quilômetros de pontes de

madeira, quatro aeroportos, quinze pistas de pouso e recuperam outros oito aeroportos 17;

- o projeto Calha Norte, criado em 1985 para atender à necessidade de

promover a ocupação e o desenvolvimento ordenado da Amazônia Setentrional, atualmente

sendo executado pelo Ministério da Defesa e desenvolvendo ações voltadas para a

manutenção da soberania nacional e da integridade territorial da região da Calha Norte, e

para a promoção do desenvolvimento regional, executando as seguintes atividades: apoio

aéreo na região Calha Norte, manutenção de aeródromos, conservação de rodovias na região

17 Dados obtidos no sítio da Diretoria de Obras de Cooperação, disponíveis em <http://www.doc.eb.mil.br>.

45

da Calha Norte, manutenção de pequenas centrais elétricas, apoio às comunidades,

manutenção de embarcações e manutenção da infra-estrutura instalada nos pelotões

especiais de fronteira da região da Calha Norte;

- auxílio no combate a incêndios na floresta amazônica;

- o Correio Aéreo Nacional que, desde 1930, por meio da FAB, assegura a

presença do Estado Brasileiro em toda a Amazônia, transportando informações, remédios,

livros, alimentos e atendimento médico;

- vivificação da área com o aumento da presença militar na fronteira e no

interior, por meio da construção de organizações militares;

- ações cívico sociais, com atendimento médico e odontológico e transporte

de alimentos para áreas carentes;

- as Missões de Misericórdia da FAB, efetuando o transporte humanitário de

enfermos;

- integração e manutenção do patrimônio nacional por meio da presença

militar na área;

- participação expressiva no Projeto Rondon, relançado no ano de 2005,

estando a coordenação do referido projeto sob os auspícios do Ministério da Defesa;

- participação no Programa Fome Zero;

- fiscalização do território; e

- vigilância fluvial, terrestre e aérea.

Com o advento da questão ambiental, outras atividades podem ser executadas

mediante convênio com órgãos da administração direta, tais como: a cooperação na

fiscalização do desmatamento, da fiscalização da atividade produtiva extrativa e fiscalização

do transporte fluvial de cargas.

Na área de saúde, pode haver a intensificação da distribuição de

medicamentos e vacinas empregando os meios orgânicos das Forças Armadas.

Enfim, podem ser levantadas outras ações. O que se observa é que, em se

tratando da Amazônia, sempre há uma atividade desenvolvimentista que pode ser executada

pelo Governo Federal com o apoio das Forças Armadas.

46

5. REFLEXOS DA PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS NO DESENVOLVI-

MENTO DA AMAZÔNIA

“O grande desafio amazônico, nos dias de hoje, resume-se na solução de doisproblemas – desenvolvimento e ocupação”. (MENDES, citado por MEIRAMATTOS, 1980). 1

O sociólogo Gilberto Freyre afirmou, em 1965, num opúsculo sobre a

participação das Forças Armadas no destino da nação, que:

Uma das singularidades da gente brasileira, através da sua história nacional, é aque vem regulando as relações das chamadas Forças Armadas com as demaisforças nacionais sem que tenha surgido, entre nós, em qualquer época, qualquermilitarismo violentamente opressor da gente civil ou organizado em castaautocrática ou oligarquia caudilhesca. O que não tem havido é omissão ouausência das mesmas Forças, no desenvolvimento do país ou na sua segurança eresguardo contra elementos antinacionais. Essa singularidade é preciso que asaibamos estimar e, quando necessário, pôr em relevo. Principalmente, em diascomo os que atravessamos. Seria excesso de lirismo ignorar-se, atualmente, anecessidade de países como o Brasil unirem todas as sua forças nacionais contraquaisquer tentativas, quer de dentro para fora, quer de fora para dentro, dedesagregação ou de degradação do que nele é, de fato, valiosamente nacional.Nacional e não "nacionalista". Daí a importância de uma justa compreensão dasrelações que devem, entre nós, continuar a haver - no momento, mais do quenunca - entre Forças Armadas e as demais forças construtivamente nacionais. 2

Essa afirmação é oportuna e atual, merecendo uma atenção especial das

autoridades do Estado Brasileiro. As Forças Armadas são potencialmente agregadoras e,

dispondo de meios para serem empregadas na promoção do desenvolvimento na Amazônia,

podem trabalhar para evitar a erosão do tecido social naquela área devido à ausência do

Estado diante de necessidades potenciais do seu povo: saúde, educação, saneamento e

cidadania, dentre outros.

Ainda citando Gilberto Freyre, “não tem faltado às Forças Armadas, no Brasil, a

consciência de lhes caber um papel superiormente político, acima dos partidos e das

ideologias, em dias extremamente críticos para as relações intranacionais. Esse papel elas o

têm desempenhado de um modo de fato honroso não só para elas, Forças Armadas, como

para a cultura brasileira.”3 Daí reside um dos aspectos que torna importante para as Forças

1 MEIRA MATTOS, 1980. Pg. 81.2 FREYRE, 1965.3 FREYRE, 1965.

47

Armadas participarem de ações desenvolvimentistas. Não que elas venham avocar a si

atribuições específicas de outros elementos do Estado, mas a presença delas na região

amazônica amplia o seu potencial para cumprir esta tarefa, possibilitando melhores

condições de, mediante ações coordenadas entre os ministérios, promover a presença do

Estado, a integração regional, a manutenção da soberania e o necessário e conseqüente

desenvolvimento econômico e social.

Outros aspectos que podem ser considerados sobre a participação das Forças

Armadas no desenvolvimento da Amazônia seriam a possibilidade de:

- execução da estratégia da presença nacional, principalmente no arco

fronteiriço norte, materializando a presença efetiva do Estado Brasileiro nas áreas mais

carentes e inóspitas;

- manutenção e ampliação da execução da ação dissuasória na área;

- execução de patrulhamento terrestre, fluvial e aéreo visando ao combate aos

ilícitos transnacionais, ao narcotráfico e à biopirataria;

- obtenção de liderança estratégica perante a sociedade, como instituições que

se aplicam para cumprir as suas missões constitucionais e também missões de caráter social;

- obtenção de um maior grau de prestígio, credibilidade, confiabilidade e de

aceitação perante a sociedade, especificamente sobre os formadores de opinião;

- despertar na sociedade e no Poder Público a consciência da necessidade da

existência, permanência e apoio às ações das Forças Armadas, principalmente naquela

região;

- obtenção de mais recursos financeiros do orçamento para as atividades fim

e meio;

- execução de treinamento e adestramento da tropa concomitantemente com

ações voltadas para o desenvolvimento;

- integração com outros órgãos da administração direta;

- desenvolver laços de confiança com a sociedade e

- cooptar a classe política em prol do atendimento das necessidades das

Forças Armadas para auxiliarem no desenvolvimento da Amazônia, dentre muitos outros

que podem ser aqui citados.

O professor Luiz Felipe de Alencastro, em recente artigo sobre a América

Latina expôs, de forma bem clara, uma situação que pode evidenciar a necessidade do

48

emprego das Forças Armadas no desenvolvimento econômico e social da Amazônia, para

compensar a ausência do Estado Brasileiro naquela área conforme o texto abaixo:

Dois relatórios internacionais apresentaram uma previsão mais sombria para aAmérica Latina: um foi elaborado pela CIA, a agência de inteligência americana;outro veio da comissão da União Européia (UE) para assuntos sul-americanos.Divulgados pelo jornal norte-americano Miami Herald em novembro de 2005, osrelatórios concordam no diagnóstico de que a América Latina teria se tornadoirrelevante na nova ordem mundial e, o que é pior, seria ainda mais irrelevante nofuturo. O motivo: comparado ao esforço das potências asiáticas e das novasdemocracias na Europa, o investimento latino-americano em pesquisa e educaçãoseria muito baixo. É apontada ainda a dimensão política do problema: combalidapela ausência de progresso social, a região ficaria mais exposta a alternativaspolíticas “populistas, demagógicas e autoritárias. 4

Perante o cenário atual, a América Latina não tem papel estratégico. Apenas vale

como mercado, excetuando-se a região do Caribe que é notoriamente área de grande

influência dos EUA.

Portanto, o emprego das Forças Armadas seria uma forma de atenuar esta

vulnerabilidade da irrelevância perante o cenário mundial e alavancar o progresso social, a

fim de evitar a exposição às alternativas populistas, demagógicas e autoritárias que viessem

a ocorrer e auxiliando no fortalecimento das instituições do Estado.

Manuel Castells afirmou que “Exércitos equipados com armas de poucos

recursos tecnológicos não são verdadeiramente exércitos, mas sim forças policiais

disfarçadas.” 5 Ainda há uma expressiva dependência externa brasileira em tecnologia

militar de defesa, por conta do pouco incentivo dado à indústria de material de defesa

nacional. Em complemento, o reduzido orçamento destinado às Forças Armadas 6 dificulta o

investimento em pesquisa, desenvolvimento e tecnologia. Sobre isso, é oportuno citar o

alerta do estadista norte-americano Thomas Jefferson: “aqueles que transformam suas armas

em arados, passarão a vida arando para aqueles que têm armas.” 7 Essa dependência deve ser

contraposta por meio de ação dissuasória. E o emprego das Forças Armadas no

desenvolvimento social do arco fronteiriço norte e no interior da Amazônia seria tal qual um

equalizador de poder, para evitar ou afastar qualquer espécie de ingerência, além de

contribuir para a obtenção do progresso social naquela área.

4 ALENCASTRO, 2006.5 CASTELLS, 1999. Pg. 310.6 Segundo o Almanaque Abril de 2006, os gastos com defesa no Brasil, em 2003, foram da ordem de US$ 9,3bilhões, incluindo o gasto como pessoal ativo, inativo e pensionistas, o que correspondeu a cerca de 1,8% doPIB de US$ 492,3 bilhões.7 CUNHA, 2005. Pg. 10.

49

O Prof. Antonio Celso chamou a atenção para a importância do Brasil no cenário

mundial enaltecendo que o Brasil,

por seu peso específico no sistema internacional, pela liderança que exerce naAmérica Latina, em razão das realidades e potencialidades de seu poder nacional,precisa superar, com urgência, seus problemas econômicos e financeiros, resgatarseu enorme passivo social, reequipar e fortalecer seu poder militar, enfim, dotar-se das condições essenciais à defesa de seus interesses e de sua participação ativae soberana na vida internacional.8

A Amazônia se enquadra nesta afirmação. Renegá-la significa ampliar as

vulnerabilidades do Estado Brasileiro numa área estrategicamente importante, tornando o

emprego das Forças Armadas naquela área extremamente importante.

Tradicionalmente, as Forças Armadas são agregadoras sociais, por possuírem

representatividade em todos os segmentos sociais, étnicos e religiosos. Isto é fator de

sucesso e de eficácia em sua ação social desenvolvimentista na Amazônia, de forma a

angariar mais popularidade, mais simpatia e maior integração com a sociedade, além de

obter de forma natural uma necessária liderança estratégica que as colocam em posição de

relevância perante a sociedade, principalmente na ocasião de sensibilizar os poderes

executivo e legislativo para ampliação dos recursos orçamentários destinados às Forças

Armadas.

Portanto, pode-se afirmar que o corolário das idéias acima mencionadas é a

necessidade de obtenção da paz social, do progresso e do desenvolvimento sustentável da

Amazônia brasileira. E as Forças Armadas são ferramentas nas mãos do Estado para atingir

aquelas metas, resultando na ampliação do Poder Militar que traria reflexos positivos no

Poder Nacional interna e externamente.

8 PEREIRA, 2004. Pg. 647.

6. CONCLUSÃO

O Estado atual assiste à progressiva perda de poder e à redução e

compartilhamento da soberania, em função da dinâmica mundial dos fluxos financeiros e

econômicos e da globalização tecnológica e jurídica. Não há como insurgir a este

movimento desenvolvimentista. Deve-se sim proceder às necessárias adaptações e combater

as vulnerabilidades do Estado, a fim de fazer face à limitação do poder e da soberania,

principalmente quando o Estado não possui expressiva projeção de poder.

Este novo modelo de Estado, o Estado Mercado, em substituição ao Estado-

Nação, está a caminho de permitir intromissões e ingerências diretas ou indiretas da potência

hegemônica ou dos Estados mais fortes nos Estados em fase de desenvolvimento, nos mais

fracos ou mais vulneráveis, para atender aos interesses de potências com maior projeção de

poder ou mesmo empresas transnacionais ou organizações internacionais pelos mais

diversos motivos.

Outros temas entram em cena para permeabilizar a soberania e a

autodeterminação dos povos, tais como as questões ambientais, os direitos humanitários e,

em especial, a proteção das minorias raciais, dentre elas os povos indígenas, e a futura

necessidade de fontes alternativas de energia e água potável.

A Amazônia se enquadra no rol de áreas que exercem um grande interesse por

conta de toda a sua potencialidade econômica e geopolítica. Potências econômica e

militarmente superiores podem se aproveitar das fragilidades e das vulnerabilidades

existentes na área para tentarem exercer ingerência ou mesmo interferirem de forma velada

ou explícita, a fim de conquistarem novas fontes de recursos minerais e naturais e

ampliarem a sua área de influência. Os grandes pensadores da atualidade e os formadores de

opinião apresentados e destacados neste trabalho têm sido muito explícitos sobre essas

possibilidades, que mais do que factóides sensacionalistas, são previsíveis e se enquadram

numa moldura temporal de médio prazo no futuro de forma tangível, crível e real.

As fragilidades e as vulnerabilidades da Amazônia podem e devem ser

enfrentadas e minimizadas pelo Estado Brasileiro, não só para corrigir as desigualdades

sociais – que são atribuições do Estado – como também para repelir qualquer ação

intervencionista de órgãos e instituições exógenas. As três soluções básicas fundamentais

são: a vivificação, a integração plena da Amazônia e o fomento ao desenvolvimento social e

50

econômico. A resultante esperada é o estabelecimento pleno da presença do Estado

Brasileiro na área, além da manutenção da soberania.

Já é sobejamente conhecido que a iniciativa privada não vai por si mesma

promover o desenvolvimento da Amazônia, em virtude da limitação e da qualidade da infra-

estrutura existente e da falta de investimentos sociais na área. As peculiaridades da área

pressupõem o planejamento e a execução do desenvolvimento por meio do Estado. É mister

incrementar e melhorar a infra-estrutura para atrair o investimento privado. Também se faz

necessária a vivificação da área, a proteção da biodiversidade, o estabelecimento do efetivo

controle e assistência das comunidades indígenas, o controle das atividades das “ONGs” e

das atividades que possam prejudicar o meio ambiente, criando condições para que se

observe, principalmente no cenário internacional, a execução do desenvolvimento

sustentável da Amazônia, respeitando todos os requisitos ambientais e jurídicos, a fim de

repelir quaisquer tipos de pressões contra o fomento ao desenvolvimento.

Em complemento, a presença de unidades e equipamentos militares norte-

americanos, localizados nos países vizinhos do Brasil no arco fronteiriço norte, são indícios

da possibilidade de expansão dessa presença e mesmo a projeção de poder militar exógeno

sobre a Amazônia Brasileira. Para contrapor-se a isso, é necessário aumentar a presença do

Poder Militar e do Estado Brasileiro na área, a fim de ampliar o necessário efeito dissuasório

perante potenciais antagonistas.

No campo da política externa, foi mencionada a adoção do unilateralismo em

contraposição ao multilateralismo por parte da potência hegemônica, podendo resultar na

predisposição para a adoção de ações preemptivas, preventivas e ao descumprimento das

regras estatuídas nos fóruns internacionais, bem como de regras básicas do Direito

Internacional Público, aproveitando-se das fragilidades e vulnerabilidades de áreas ou

Estados objetos dos interesses forâneos.

Para cumprir este desiderato de reduzir as vulnerabilidades brasileiras na

Amazônia, as Forças Armadas podem ser empregadas com todos os seus meios em pessoal e

material, sem prejuízo de suas funções constitucionais, nas inúmeras atividades já listadas

neste trabalho. Aliás, este emprego enseja planejamentos militares que contribuirão para o

adestramento das tropas sediadas na Amazônia, tanto nas atividades meio – obras de

cooperação, ACISO, projetos sociais, fiscalização ambiental, assistência aos povos

indígenas, dentre outras – como nas atividades fim – patrulhamento das fronteiras, combate

aos ilícitos transnacionais, ao narcotráfico e à biopirataria, execução de treinamento de

51

operações militares com fins dissuasórios, dentre outras. O que não se pode é permitir a

inação, a falta de previsibilidade e de visão estratégica e prospectiva para os problemas da

Amazônia. Para completar, o Poder Militar brasileiro deve ter sempre a Amazônia como

prioridade, por conta de toda a sua importância geopolítica. A Amazônia não pode ser

dispensada nos planejamentos militares em todas as áreas, ainda mais se considerarmos que

muitas ameaças transnacionais podem encontrar campo fértil de proliferação na área.

Como resultado, as Forças Armadas, reconhecidas também como instituições

com forte apelo social, adotando uma estratégia de comunicação social atuante e

determinada, poderão se beneficiar da execução de atividades em prol do desenvolvimento

da Amazônia, por meio da divulgação expressiva e maciça dessas ações, estabelecendo uma

maior sinergia com a sociedade e a necessária sensibilização da classe política para o

necessário aumento do aporte de recursos financeiros do orçamento da União às Forças

Armadas, passando a imagem de que elas são investidoras sociais. Essa divulgação deve,

por extensão, ser estendida a todo o mundo nos diversos fóruns, a fim de tornar pública a

ação proativa do Estado Brasileiro com relação à Amazônia – principalmente nas questões

ambientais e com respeito às nações indígenas – e, desta forma, reduzir a possibilidade de

ingerência ou intervenção naquela área.

Uma forma de minimizar a limitação tecnológica atual do material de defesa das

Forças Armadas, em face da reduzida parcela do orçamento federal destinado à defesa do

Brasil, seria por meio da ampliação da atuação militar em áreas geopoliticamente

importantes como a Amazônia, empregando a estratégia da presença nacional. Isto

contribuiria para a necessária projeção do Poder sobre aquela área, estendendo-a à América

Latina e ao mundo, expandindo a ação dissuasória, reduzindo as vulnerabilidades e as

desigualdades sociais e, finalmente, ampliando a presença do Estado.

A ampliação da presença militar na Amazônia expõe ao mundo a preocupação do

Governo e da sociedade com uma área visada e alvo de interesses de todas as origens e

formas.

Numa moldura temporal de médio prazo, há a tendência do acréscimo da pressão

de potências e de organizações internacionais sobre os destinos da Amazônia. Os motivos

para isso foram sobejamente expostos ao longo deste trabalho e podem aumentar de acordo

com as demandas mundiais por energia, e recursos naturais minerais e vegetais.

A ingerência internacional sobre a Amazônia é fato e vem ocorrendo de forma

gradual, paulatina e envolvente. Deixar de monitorá-la com o competente acompanhamento

52

de inteligência ou tratá-la com desdém é negligenciar a soberania e a projeção de Poder

Nacional na área. O parâmetro atual da política externa brasileira “Brasil, potência da paz”,

não torna aconselhável tratar a Amazônia com descaso ou deixá-la por conta de políticas

públicas de resultados inócuos ou ações isoladas das Forças Armadas que não contemplam a

área efetivamente com o desenvolvimento sustentável. Ainda com relação à temática atual

da política Externa Brasileira, à guisa de reflexão, é oportuno repetir a interessante citação

do estadista norte-americano Thomas Jefferson: “aqueles que transformam suas armas em

arados, passarão a vida arando para aqueles que têm armas.”

O legado dos dias de hoje, a ser transmitido às futuras gerações, prescinde de

ações voltadas para a manutenção e o fortalecimento da soberania, em especial na

Amazônia, e com ações das Forças Armadas integradas com os órgãos públicos para o

fortalecimento da presença militar, a fim de promover a vivificação, o desenvolvimento

sustentável, ampliar e projetar poder militar e poder nacional interna e externamente e se

contrapor à atual realidade fática de qualquer espécie de ação exógena na área, por conta do

atual modelo de Estado-Mercado sujeito à redução de sua soberania e de liberdade de ação,

não por conta de ufanismo pueril desprovido de argumentação, mas para atender à afirmação

do Prof. Geraldo Lesbat Cavagnari Filho, já apresentada neste trabalho – capítulo 2 –, e que

deve ser projetada como a visão de futuro do Estado Brasileiro:

Um país é reconhecido como grande potência se tiver a determinação de afirmarsua autonomia estratégica no contexto das relações de força – que lhe permitaarticular e comandar alianças militares, criar e manter área de influência própria,repelir alinhamentos indesejáveis e, sobretudo, defender seus interesses com aforça militar, se necessário, além de suas fronteiras. A autonomia estratégica visaà ampliação da liberdade de ação, indispensável a uma decisão em todo momentoestratégico, em todo momento de possibilidade de conflito.Aliás, a autonomiaestratégica é basicamente a luta constante pela liberdade de ação.

Por fim, o maior beneficiário direto das ações das Forças Armadas em prol do

desenvolvimento da Amazônia será o cidadão da área. E o maior beneficiário indireto será o

próprio Estado Brasileiro. É o que se espera de uma nação que quer se projetar para o

mundo como a potência emergente do século XXI, com a estatura político-estratégica que

permita torná-la um “global player” no concerto internacional das nações.

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ESTÁGIOS COMBATE DROGAS

ESTÁGIOS COMBATE DROGAS

EXERCÍCIOS CONJUNTOS OPERAÇÃO

“TRADE`WINDS”

EXERCÍCIOS CONJUNTOS OPERAÇÃO

“TRADE`WINDS”

AEROPORTO CURACAO

AEROPORTO CURACAO

AEROPORTO ARUBA

AEROPORTO ARUBAPLANO COLÔMBIA

7,1 BILHÕES DE DÓLARES

250 ASSESSORES

PLANO COLÔMBIA

7,1 BILHÕES DE DÓLARES

250 ASSESSORES

ASSESSORIA MILITAR (100 MILITARES)

ASSESSORIA MILITAR (100 MILITARES)

3 RADARES3 RADARES

BASE AÉREA DE MANTA

E-2 AWCSP-3C ORION

BASE AÉREA DE MANTA

E-2 AWCSP-3C ORION

7 RADARES NA

COLÔMBIA

7 RADARES NA

COLÔMBIA

RADARES NA BOLÍVIARADARES NA BOLÍVIA

800 ASSESSORESNA BOLÍVIA

800 ASSESSORESNA BOLÍVIA

RADARES NO PERURADARES NO PERU

EPCCARIQUITOS

EPCCARIQUITOS

EPCCARIQUITOS

FIGURA 1 – Arco Norte: Áreas Indígenas 2000 Fonte: Grupo RETIS. Disponível em <http://www.igeo.ufrj.br/gruporetis/mapas/map026.htm>

ANEXO A – ARCO NORTE: RESERVAS INDÍGENAS DEMARCADAS EPRESENÇA MILITAR DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

FIGURA 2 - Presença dos EUA: Bases de Operações Avançadas (Forward Operations Locations)Fonte: SILVA, 2006. Slide nr 64

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