televisão digital terrestre em portugal

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UNIVERSITAT AUTÒNOMA DE BARCELONA Facultad de Comunicación A Televisão Digital Terrestre em Portugal: consequências e perspectivas da digitalização. Edgar Félix Vítor Vilas Boas Trabalho no ámbito da unidade curricular de Estructura de la Comunicación (Erasmus) Professora: Isabel Fernández Barcelona, Maio de 2014

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Televisão Digital Terrestre Em Portugal

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Page 1: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

UNIVERSITAT AUTÒNOMA DE BARCELONAFacultad de Comunicación

A Televisão Digital Terrestre em Portugal:consequências e perspectivas da digitalização.

Edgar Félix Vítor Vilas Boas

Trabalho no ámbito da unidade curricular de

Estructura de la Comunicación(Erasmus)

Professora: Isabel Fernández

Barcelona, Maio de 2014

Page 2: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

Índice

1. Televisão analógica em Portugal: contexto histórico.

1.1 A Televisão durante o Estado Novo (1956-1974).

1.2 Televisão Pública no Pós-25 de Abril (1974-1992).

1.3.1 A SIC como líder sob a influência da Globo.

1.3.2 A Televisão Independente (TVI): do surgimento à liderança.

1.3.3 Audiência televisiva: no surgimento das televisões privadas.

2. O processo de transição digital em Portugal

2.1 A televisão digital: contexto Europeu.

2.2 A migração digital em Portugal: atores políticos e económicos.

2.2.1 Emissoras de TV aberta.

2.2.2 Grupos interessados em canais na TDT.

2.2.3 Grupos de comunicação internacionais.

2.2.3 Atores políticos e entidades reguladoras.

3 - Panorama atual da televisão em Portugal: operadores e resultados dos

canais generalistas.

3.1 A televisão por subscrição de serviço: atores económicos

3.2 Os canais generalistas: audiências pós-implantação do TDT

Referencias Bibliográficas.

1

Page 3: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

Introdução

Em Portugal, desde o surgimento da televisão até aos dias de hoje existiram pontos

muito relevantes nos processos de desenvolvimento deste meio que é para os portugueses

uma das principais formas de entretinimento dos seus dias. Desde os tempos da ditadura

portuguesa, à criação de estações de televisão privada, ao processo de implantação da TDT

até à forma de ver televisão que hoje está em vigor são os temas que motivaram o

sentimento de necessidade de investigar, estudar e compreender melhor tudo o que é a

televisão portuguesa.

O nosso objecto de estudo é a Televisão Terrestre em Portugal, pois considera-se um

assunto que, de tempos a tempos, é significativo para os diferentes meios de comunicação. A

digitalização foi uma mudança instituída pelas estâncias governamentais superiores o que,

aparentemente, pouca diferença provocou na televisão portuguesa, já que não são claros os

efeitos práticos da transição da TV analógica para a TV digital, gerando uma discussão

sobre qual o futuro da televisão terrestre em Portugal.

A discussão sobre a migração de uma tecnologia para a outra são tema de discussão

viva em Portugal e assim, este estudo pretende fazer, em primeiro lugar uma perspectiva da

televisão portuguesa nestes últimos dois anos seguintes à conclusão da implantação da TDT.

Desta forma, perceber se existiram e/ou quais os fracassos y proveitos de este serviço.

Por outro lado, procuramos com este estudo tentar compreender como o processo da

TDT poderá mudar o futuro da televisão em Portugal, isto é, se há possibilidades de

surgirem novos canais e se os consumidores trocaram ou não os seus hábitos de consumo.

Podendo assim, sistematizar os nossos objectivos deste estudo em dois pontos: conhecer as

implicações da digitalização para a TV terrestre; e registar as perspectivas de futuro deste

sector.

A metodologia desenvolvida será totalmente qualitativa, utilizando como técnica de

investigação análises documentais fundamentadas com leitura de livros e artigos

relacionados com o tema, assim, como uma análise da abordagem realizada pela cobertura

mediática sobre este mesmo tema. Tento em conta os objectivos apresentados, também, ter

em atenção os desafios da televisão atual e sobre o seu funcionamento no futuro.

Para o desenvolvimento e melhor compreensão os objectivos estabelecidos, também

elaborámos uma entrevista em profundidade a três professores universitários portugueses,

sendo dos investigadores mais interessados no tema que neste estudo é desenvolvido. Os

2

Page 4: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

professores para os quais dirigimos a nossa entrevista são também autores citados em vários

momentos ao longo deste trabalho.

As fontes utilizadas são maioritariamente destes professores e de outros

investigadores portugueses interessados explicar e perceber estes temas bem como as

preferências dos consumidores de televisão portugueses.

A estrutura adotada para a leitura e compreensão deste estudo está baseada na

ordem cronológica dos acontecimentos que marcaram a televisão em Portugal.

Apresentamos uma perspectiva da televisão antes e após o surgimento das estações privadas,

bem como uma ideia da televisão pública antes e depois da ditadura. No tema central deste

estudo, a implantação do TDT, apresentamos o processo e os principais traços do seu

desenvolvimento.

Por fim, procuramos aclarar o atual estado televisivo quer ao nível dos operadores

de serviços desta natureza, bem como das preferências dos telespectadores, contando,

também, compreender as consequências do desenlace (positivo, negativo ou neutro) que

tomou a implantação da TDT, nos dias de hoje.

3

Page 5: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

1. Televisão analógica em Portugal: contexto histórico.

A televisão, inventada na década de 1920, começou a ser comercializada a partir da

década de 1930, com vários países a aderir rapidamente a este avanço tecnológico

(destacando-se os Estados Unidos da América e o Reino Unido), no entanto, a TV deu os

seus primeiros passos em Portugal apenas 20 anos mais tarde, no início da década de 1950,

sendo que as primeiras emissões experimentais se iniciaram em 1956, passando a existir

uma emissão regular a partir do ano seguinte.

1.1 A Televisão durante o Estado Novo (1956-1974).

A implementação da televisão em Portugal ocorreu numa época em que o país se

encontrava ainda governado pelo Estado Novo, também conhecido por Salazarismo (sob o

governo de António de Oliveira Salazar) , uma ditadura militar que se estendeu desde 1933

até 1974, sendo esta uma das principais responsáveis pelo atraso no desenvolvimento

tecnológico do país e do meio audiovisual, não sendo no entanto de descurar a importância

deste durante o período ditatorial que afectou Portugal , sendo que, nas palavras do

investigador Francisco Rui Cádima (1993) :

”Ao longo dos cerca de dezassete anos de estreitas relações entre o salazarismo, o

caetanismo1 e a RTP, a televisão revelou-se inquestionavelmente um aparelho – técnico e discursivo,

determinante para a legitimação e a longevidade da ditadura”

Por isso, tal como os restantes meios de comunicação, a televisão encontrava-se

fortemente vigiada e afectada por uma censura que impedia toda a programação que fosse

considerada imprópria, destacando-se uma forte transmissão de valores católicos, e

funcionando como uma forma de propagar os ideais do Estado, como afirma Cádima

(1993) :

“(a televisão) foi estruturada e orientada segundo um modelo jurídico-administrativo que

tinha como estratégia fundamental a subordinação do mundo da vida aos imperativos do sistema

político monopartidário e, enfim, a subordinação e repressão da virtude civil e da experiência social

ao sistema político-televisivo autocrático -como meio para a sua perpetuação e para a sua auto-

celebração”.

1 Período referente ao governo de Marcelo Caetano (1968-1974) que substituiu Salazar no cargo de Presidente do Conselho de Ministros.

4

Page 6: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

Estas primeiras emissões de televisão em Portugal tiveram origem num serviço

público : a RTP - RádioTelevisão Portuguesa ,SARL ,que surgiu como uma sociedade

anónima fundada por capital do Estado e de vários outros acionistas, como emissoras de

radiodifusão e capitais particulares de algumas instituições bancárias (Sobral, 2012). A

RTP1 foi primeiro canal de televisão português e o único até 1968, ano em que surgiu a

RTP2, também este um canal de serviço público que funcionava como alternativa ao nível

da cultura e do desporto. Ainda durante o regime ditatorial , no ano de 1972, surgiu a RTP

Madeira2, um canal de características regionais que assume a responsabilidade da prestação

do serviço público de televisão na Região Autónoma da Madeira2 .

Além do intervencionismo estatal a RTP destacou-se, desde o seu surgimento , pela

inclusão de publicidade 3, aspecto este que tem marcado o canal até à atualidade , devido ao

choque com seu carácter de serviço público, que significa que é um canal que deve procurar

manter um maior grau de independência da sua programação, uma vez que esta não se

encontra puramente ligada a critérios comerciais e orientada por índices de audiência (Lima,

2005).

Quanto à grelha de programação destacam-se neuma fase inicial as emissões de

peças teatrais, o teleteatro, e mais tarde o aparecimento de talk-shows , como o Zip-Zip

(1969) , que se diferenciavam pelo seu tom humorístico e maior abertura do conteúdo

(relativo a assuntos da atualidade). Por volta do inicio da década de 1970, o país encontrava-

se cada vez mais fragilizado, sobretudo devido à Guerra Colonial, no entanto a influência

dos valores governamentais era ainda muita, sendo a televisão cada vez mais utilizada para

os tentar manter vivos , sobressaindo o programa “Conversas de Família” , no qual Marcelo

Caetano tentava comunicar diretamente com o povo via televisão a sua visão sobre vários

assuntos (Sobral,2012) .

1.2 Televisão Pública no Pós-25 de Abril (1974-1992).

2 A partir de 9 de outubro de 2011 a RTP Madeira Passou a emitir apenas 5 horas diárias, sendo que no restante tempo emite em simultâneo com o canal da televisão por cabo RTP Informação.3 A integração de publicidade encontra-se clara nos estatutos que constituíram a RTP (alínea b do artigo 3º do Decreto-Lei nº 40 341 de 15 de Setembro de 1955) (Sobral, 2012).

5

Page 7: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

No dia 25 de Abril de 1974 ocorre a chamada “Revolução dos Cravos”, que resulta

na queda do regime totalitário que dominou Portugal durante 18 anos. Após este golpe de

estado que restaurou a democracia em Portugal e consequente restauração das liberdades dos

cidadãos, verificou-se um grande crescimento do numero de telespectadores ,sendo que o

estatuto da RTP foi alterado, sendo esta nacionalizada e transformada em empresa pública4.

Nos anos seguintes à mudança de regime político são várias as alterações que ocorrer

na televisão portuguesa. Em 1975 inicia-se um segundo canal de serviço público de âmbito

regional, a RTP Açores5 . Em 1976 iniciam-se as primeiras emissões a cores, embora estas

se tenham tornado regulares apenas em 1980 (a ter em conta que nos Estados Unidos da

América tal já ocorre desde 1953, época em que em Portugal apenas se discutia a hipótese

de criar o primeiro canal, o que demonstra o atraso que o país sofreu durante o Estado

Novo).

Ao nível da programação, existe um claro aumento dos programas de

entretenimento, entre os quais se destacam Gabriela (1977), a primeira telenovela brasileira

a ser emitida (algo que se foi tornando um hábito, influenciando, ja nos anos 80, as

primeiras telenovelas portuguesas6, marcando ainda mais o gosto do público português por

este formato), assim como A Visita da Cornélia(1977), o primeiro concurso televisivo

totalmente nacional (Sobral,2012). Estes dois programas são bastante importantes na medida

em que marcam uma mudança na TV portuguesa, originando uma sociedade mais centrada

em consumo mediático, nomeadamente de televisão, tal como ocorre até aos dias de hoje

(Cunha,2003).

A partir da segunda metade da década de 80, na qual Portugal era dos poucos países

a possuir apenas canais de serviço público, começam a surgir pressões de mudança, “ecos

europeus de necessidade de diversificação da oferta televisiva, vindos de países onde

predominavam as televisões estatais e onde os gostos se tornavam mais variados ”

(Sobral,2012). Esta necessidade de reorganização leva a uma revisão constitucional em

1989, que abre por fim as portas da televisão portuguesa ao sector privado.

1.3 - O início da televisão privada em Portugal: os canais e os seus resultados.

4 O Decreto-Lei nº 674/75 de 2 de Dezembro de 1975 nacionaliza as posições sociais da RTP que não pertenciam ao Estado, surgindo assim a empresa pública RTP-Radiotelevisão Portuguesa, Ep (Sobral,2012). (Cádima, 1993).5 A partir de 4 de junho de 2012 o canal passou a concentrar a produção regional em seis horas de emissão, emitindo no restante tempo em simultâneo com a RTP Informação (à semelhança do que já ocorria com a RTP Madeira).6 Vila Faia (1982) foi a primeira telenovela portuguesa.

6

Page 8: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

Em Portugal, em média, cada português “passa três horas e quarenta e quatro

minutos por dia diante de um televisor” (Rebelo, 1993), sendo um dos países da Europa

onde mais de consume televisão. A estes valores segue-se a Irlanda e a Grã-Bretanha com

três horas e vinte minutos. Revela José Rebelo sobre o consumo de televisão em Portugal.

Neste ano, ainda existia apenas a televisão estatal. Dois anos mais tarde, deu-se inicio à

televisão privada portuguesa.

A 6 de Outubro de 1992, surge a Sociedade Independente de Comunicação (SIC)

como a primeira estação televisiva independente em Portugal. A televisão estatal

permaneceu sozinha durante 35 anos, até que Francisco Pinto Balsemão, responsável pela

Impresa - grupo de comunicação social português - funda a primeira estação privada de

televisão.

A SIC passados três anos da sua criação ultrapassa a televisão pública nas

audiências, exatamente, em Maio de 1995. Seguindo-se o ano de 1997 como determinante

para esta estação de televisão: cria em 1997 a SIC Internacional com o objectivo de alcançar

os países de Língua Oficial Portuguesa. Como refere José Rebelo, nesta altura, o hábito de

ver televisão era insubstituível para a maioria da população portuguesa, pois “a televisão

constitui o meio, por excelência, de divertimento e de informação. Preenche, quase

integralmente, os seus espaços de lazer” (Rebelo, 1993).

1.3.1 A SIC como líder sob a influência da Globo.

A Rede Globo é um caso de sucesso no Brasil e logo procurou a sua expansão no

resto do mundo. Esta rede é considerada a quarta maior rede de televisão do mundo em

termos de audiência e é, também, uma das principais influências no início da televisão

privada em Portugal, através do canal de televisão SIC. Em Portugal não existiam

problemas como concorrência ou obstáculos linguísticos o que permitia uma fácil

implementação dos seus produtos neste país – sendo o primeiro país com mercado externo

da rede Globo7.

Quando surgiu a SIC, a rede Globo já continha o máximo de cota que poderia obter desta

estação privada - tendo 15 por cento estabelecidos por lei. Com o decorrer dos anos o

“modelo Globo” influenciou os primórdios SIC fazendo com que esta estação televisiva

alcançasse o sucesso e, também, influenciasse “todo o sistema televisivo português. (Sousa,

7 Iniciado com a venda da telenovela Gabriela à RTP em 1976

7

Page 9: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

1999). As medidas estabelecidas pela SIC davam resultados e, consequentemente, elevadas

receitas publicitárias que “as outras estações adoptaram frequentemente lógicas de imitação

ao nível de produtos e de programação.” (Sousa, 1999)

1.3.2 A Televisão Independente (TVI): do surgimento à liderança.

No ano seguinte da criação da SIC, em 1993, surge a TVI como a segunda estação de

televisão portuguesa com proprietários privados. Esta estação de televisão surge associada a

entidades católicas. Como refere o caso de estudo TVI: O turnaround até à liderança de

audiências (Ferreira, 2011) “A associação da TVI à Igreja Católica parecia ser garantia de

sucesso, pela influência da instituição no país. Contudo, a programação feita com inspiração

cristã oferecida não colheu as audiências desejadas.” Contudo, em 1997 o grupo Media

Capital, atualmente detida pelo Grupo Prisa, com 94,4 por cento do seu capital passou a

liderar a TVI. O momento da aquisição realizada por parte da Media Capital sobre a TVI

marca a história do canal, pois até ao momento, o canal registava fracas audiências, não

alcançando os consumidores de televisão.

Em 1998, a TVI levou a cabo uma mudança de programação que permitiu que

ganhasse relevância e, assim, obter maiores receitas publicitárias. Antes de este ano, esta

estação de televisão investiu em concurso, séries e novelas estrangeiras sem conseguir

alcançar uma meta aceitável, no entanto, depois de 1998, começou a conter nas suas grelhas

de programação ficção nacional, talk shows e reality shows. Sendo que, estes últimos foram

importantes para o seu destaque e para que os consumidores lhe atribuíssem maior atenção.

Em 1999, a Media Capital alcança a totalidade da TVI e em 2000 a sua audiência aumenta

com a emissão do reality show “Big Brother”. No ano de 2005 é líder de share all day o que

acontece até aos dias de hoje. Ficando a SIC e a RTP atrás desta estação privada. A TVI

conseguiu gloriar neste anos através da sua aposta na ficção nacional e, nunca,

desvalorizando os reality shows que sempre fizeram com que se destaca-se.

1.3.3 Audiência televisiva: no surgimento das televisões privadas.

O conceito de audiência televisiva adquire duas formas distintas quando se associa à

estação de televisão pública e quando se associa à estação de televisão privada. Pois a

primeira encara a audiência televisiva como “público” e a segunda como “mercadoria”. Isto

acontece devido as missões que cada estação de televisão assume. A RTP como estação

8

Page 10: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

pública tem “uma responsabilidade social e cultural para com o publico” (Fernandes, 2000),

enquanto as estações privadas assumem “uma vertente comercial dirigida para o índice de

audiências mais elevado que cative os anunciantes” (Fernandes, 2000), como afirma Ana

Fernandes.

Com a chegada do ano 2000, as estações de televisão procuram traçar melhor o perfil

do seu público e quais os programas a que oferece maior atenção. Esta preocupação aparece

com o objectivo “que a publicidade emitida seja dirigida ao público a que se destina,

fazendo coincidir a oferta televisiva aos interesses dos anunciantes e do público. Isto torna a

economia da televisão inseparável do mercado publicitário” (Fernandes, 2000).

Quando se fala do objectivo das estações de televisão adquirirem maiores receitas

publicitarias, Ana Fernandes refere Francisco Cádima quando este diz que “as soluções

encontradas geram um fenómeno publicitário mais agressivo, que se pauta por excessivos

blocos publicitários, patrocínios, programas com sorteios, produtos dentro dos programas, o

“teleshopping”8, entre outras” (Cádima, 1997).

Antes de apresentar de compreender-mos como o processo da TDT foi distinto da

restante Europa, é importante compreender como os canais generalista em Portugal

evoluíram o seus resultados de share:

2. O processo de transição digital em Portugal.

8 Em português: Televendas.

9

Imagem 1 – Evolução do share de TV generalista (1999-2010)

Page 11: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

A TDT, Televisão Digital Terrestre, surgiu em 1998 em Inglaterra, e logo nesse

mesmo ano Portugal realizou alguns dos primeiros testes nesta plataforma por ocasião da

Expo 98 em Lisboa9, com o intuito de ser um dos percussores deste novo sistema, o que ,no

entanto, não se veio a verificar.

Efetivamente , a TDT chega a terras lusas apenas em Outubro de 2008, quando se

iniciam as emissões experimentais que se estendem até 29 de Abril do ano seguinte, data em

que se iniciaram as emissões regulares, tudo isto depois de já terem ocorridas 2 tentativas

falhadas de introdução da TDT , em 2002 e 2003. O inicio destas emissões deu início a um

período de 3 anos em que coexistiram as emissões analógica e digital (simulticast), que

terminou em 2012 , prazo final definido pela União Europeia para que os países membros

desligassem de forma definitiva os sinais de emissão da televisão analógica terrestre

(Denicoli e Sousa, 2008).

2.1 A televisão digital: Contexto Europeu.

Em 1991 foi formado o ELG , European Launch Group, uma organização de

emissores e fabricantes de equipamento electrónico que procuram formar a estrutura de uma

televisão digital relativa a todos os países europeus e de procurar o desenvolvimento da

televisão digital (Denicoli e Sousa, 2007). Em 1993, este grupo tornou-se o DVB Group,

dedicando-se à “produção de standards para a transmissão de televisão digital (...) que têm

como base o chamado Digital Video Broadcasting (DVB)” ( Denicoli e Sousa, 2007).

Revendo a implantação da TDT em território Europeu destacam-se três países

enquanto pioneiros na adesão a esta: o Reino Unido, que foi o primeiro país do mundo a

disponibilizar a televisão digital terrestre , iniciando a sua implantação em 1995 e emissões

efetivas em 1998, sendo estabelecido que o serviço de TDT iria comportar canais livres e

outros pagos (Denicoli , 2012);a Suécia, que foi o segundo país europeu a disponibilizar o

serviço TDT e um dos primeiros no mundo, iniciando emissões em 1999 , e por fim Espanha

que iniciou a emissão de televisão digital terrestre em 2000,no entanto, a primeira tentativa

espanhola não foi bem sucedida , o que levou à extinção do serviço em 2002, embora este

ressurgisse de forma remodelada em 2005 (Denicoli , 2012). Estes países realizaram o

apagão da emissão e televisão analógica terrestre em 2001, 2007 e 2010 (Denicoli , 2012),

9 TDT: TeleExpo e a Televisão Digital Terrestre, reportagem em vídeo realizada pela RTP2, disponível em http://videos.sapo.cv/AcqJc2hCHlA0sqJwLZIE .

10

Page 12: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

anos antes do prazo estipulado pela União Europeia, no entanto , nem todos os restantes

países demonstraram tal preparação, alguns iniciando as suas emissões de televisão digital

na mesma época em que os pioneiros deste serviço já se encontravam sem televisão

analógica ou a preparem-se para tal, como é o caso de Portugal, que apenas dá início efetivo

da TDT no ano de 2009.

Assim, um ano antes do inicio das transmissões de TV digital em Portugal (2008), o

panorama dos 27 países da União Europeia era o seguinte: cinco já haviam desligado o seu

sinal analógico terrestre(Alemanha, Luxemburgo, Holanda e Suécia)e sete, para além de

Portugal, ainda não haviam iniciado a transmissão da TDT (Eslováquia, Bulgária, Letónia,

Roménia, Polónia, Irlanda e Chipre) e os restantes já tinham iniciado o processo transição e

procuravam adaptá-lo as exigências da UE (Denicoli e Sousa, 2007). Esta conjuntura,

mostra que “Portugal é um dos países mais atrasados da União Europeia no lançamento da

TV digital terrestre” (Denicoli e Sousa ,2008), depois de uma primeira tentativa falhada em

2001, a retoma da implantação da TV digital apenas quatro anos antes do “switch-off

analógico” programado, o país encontra-se então “numa situação de urgência para não

deixar de cumprir o calendário” (Denicoli e Sousa, 2008).

2.2 A Migração Digital em Portugal: atores políticos e económicos.

A realização de alterações em grande escala que afectam a grande maioria da

população de um país, como é o caso da transição do serviço analógico de televisão para um

serviço de televisão terrestre, implica a interveniência e interação de vários atores ao longo

de todo o processo , existindo assim uma variedade de interesses que se acoplam a criação

da TDT em Portugal.

Em 2008, os investigadores Sergio Denicoli e Helena Sousa expuseram no artigo Os

bastidores da TV digital terrestre em Portugal: actores políticos e económicos uma análise

do conflito das diferentes partes que intervieram na implementação da TDT em Portugal,

identificando 13 atores principais neste processo, divididos entre : emissoras de TV aberta,

grupos interessados em canais na televisão digital terrestre , grupos de comunicação

internacionais e atores políticos e entidades reguladoras.

2.2.1 Emissoras de TV aberta.

11

Page 13: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

As emissoras que possuíam canais generalistas na televisão aberta analógica tiveram

automaticamente direito a um multiplex (conjunto de quatro canais) na TDT, emissoras

essas que são a SIC, do grupo Impresa, a TVI, da Media Capital10; e a RTP (que emite os

canis RTP1 e RTP2), que é uma entidade pública. Todas elas já se encontravam preparadas a

nível técnico para a mudança para a televisão digital, sendo que as emissoras privadas se

mostravam na época interessadas na adoção de televisão de alta definição (TVHD)

(Denicoli,2012) assim como numa possível ampliação dos canais que tinham disponíveis

para emitir na TDT: a SIC mostrou-se receptiva à possibilidade de emitir em sinal aberto um

ou mais canais que já disponibiliza através da TV Cabo, embora descartasse a possibilidade

de apostar em canais pagos na TDT, enquanto que a TVI ponderasse qualquer uma das duas

possibilidades, sendo que a RTP sairia prejudicada uma vez que seria incapaz de competir

diretamente com os emissoras comerciais uma vez que o mercado publicitário português não

seria grande o suficiente para “alimentar” tantos canais televisivos (Denicoli e Sousa,2008).

2.2.2 Grupos interessados em canais na TDT.

Uma vez que o governo anunciou a possibilidade de serem criados novos canais

abertos na TDT , de imediato algumas empresas se mostraram interessadas no projeto e

possível obtenção de um canal, e entre elas Denicoli e Sousa (2008) destacam : a PT, a

Cofina, a Controlinveste, a AR Telecom e a Sonae.

A Portugal Telecom(PT) é o principal grupo português do sector das comunicações,

que acaba irremediavelmente por ter elevada importância na TDT “não apenas como grupo

que pretende obter um canal de televisão , mas também como distribuidora do sinal

(juntamente com a RETI, distribuidora da TVI), embora o Governo tivesse anunciado que a

PT não poderia concorrer para a obtenção de um canal TDT , uma vez que , que detinha

mais de 50% da TV Cabo, o que que se opunha as leis da concorrência.

A Cofina é uma holding11 que exerce as suas acções na área dos media e conteúdos

destacando-se sobretudo na imprensa com os diários “Correio da Manhã”(o mais vendido

em Portugal), “Record”(desportivo) e Destak (gratuito). Em 2002 tentou adquirir o canal

público RTP2 , mas este acabou por não ser privatizado, com o surgimento da TDT a Cofina 10 Na época 73,76% da Media Capital pertencia ao grupo de comunicação espanhol Prisa (percentagem que atualmente já se encontra nos 94,69%).11 “Uma holding corresponde a uma empresa que serve de elo fundamental de uma rede de outras empresas (que eventualmente podem formar um grupo) e cuja atividade se limita normalmente à gestão (aquisição, detenção, alienação, etc.) de participações no capital de outras empresas.” In Infopédia [Em linha]

12

Page 14: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

anunciou estar interessada em obter uma concessão para um canal generalista, procurando

inclusive lança-lo antes de ser realizado o concurso de atribuição do possível canal (por

meio de uma autorização que poderia ser dada pelo Governo), mas tal acabou por não

ocorrer.

A Controlinveste é também ela uma holding que se encontra presente em várias

empresas relacionadas com comunicação, desde rádio, imprensa e televisão a publicidade,

comunicação multimédia, produção de conteúdos e design, destacando-se o seu domínio no

sector desportivo, não apenas com o diário “o Jogo” mas sobretudo com o canal “SportTV”

que lidera as audiências dos canais por subscrição.

Por sua vez a AR Telecom é um operador de telecomunicações pertencente ao grupo

SGC Telecom, que opera não apenas no ramo das comunicações como também nos sectores

financeiro, automóvel, energia, agrícola e imobiliário, estando presente em vários países:

Portugal, Brasil, Argentina, EUA e Espanha. A SGC teve um papel importante nas primeiras

atribuições de licenças para TDT em Portugal, no projeto de implantação falhado de 2001,

uma vez que era o grupo líder do consorcio que estava destinado a implantar a televisão

digital terrestre no país.

Por fim, a Sonae é um grupo que opera em vários países e em variados sectores,

desde derivados de madeira, áreas de centros comerciais, supermercados , imobiliário ,

transporte, entre outros. Ao nível das telecomunicações, media e software a gestão é

realizada pela Sonaecom, com presença nos mercados de telefonia móvel (com a operadora

“Optimus”) , internet (“Clix”), e imprensa (jornal “O Público”).

2.2.3 Grupos de comunicação internacionais.

No que diz respeito à ação de grupos estrangeiros relativamente à implantação da

televisão digital terrestre o grande foco de interesse provêm de Espanha, país que conta com

grande participação no mercado das comunicações em Portugal, tome-se o já referido

exemplo da detenção do grupo Media Capital por parte da espanhola Prisa. A esta somam-se

a Telefónica, que possuí ações na Portugal Telecom, e também o grupo Abertis Telecom,

que constituem o conjunto de grupos espanhóis que tomaram em consideração a

participação num possível concurso para a TDT, comunicando a ANACOM a intenção de

entrar no mercado português. Comunicado este que também foi efectuado pela francesa

TDF, que já se encontrava na altura presente em vários países (França, Finlândia, Espanha,

Polónia, Mónaco, Países Baixos e Hungria). No entanto, várias outras empresas

13

Page 15: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

equacionarão o possível investimento numa presença no espectro da TDT portuguesa, como

por exemplo a alemã Bertelsmann, detentora da RTL, a maior empresa televisiva da Europa.

Denicoli e Sousa destacam ainda as empresas “ inseridas no consórcio DVB Group,

do qual fazem parte radiodifusores, fabricantes de equipamentos para o sector audiovisual,

empresas de softwares, entidades reguladoras, entre outros, da Europa ou não”, e que

tiveram também elas uma palavra a dizer no processo português de transição para a TV

digital (entre estas empresas encontram-se “gigantes” como a Microsoft, Nokya, Samsung,

Motorola, entre outras).

2.2.3 Atores políticos e entidades reguladoras.

No panorama político nacional, Denicoli e Sousa destacam o PS e o PSD, os dois

partidos “que, desde o período revolucionário de 1974-75, conduzem as mais expressivas

mudanças dos media portugueses”. O PS, que já em 2001 tinha procurado lançar TDT

portuguesa, voltou a ser a figura central com a alteração da Lei da Televisão em 2007, que

passa a prever/preparar o inicio da televisão digital terrestre no país. Num cenário mais

alargado, internacional, sobressai a ação da União Europeia, que procura estabelecer normas

semelhantes em todos países que a ela pertencem, sendo que ao que ,TDT diz respeito, foi o

órgão que definiu o ano de 2012 como o prazo final para o fim da transmissão analógica.

Por fim, as principais entidades reguladoras são: a Autoridade da Concorrência, o

GMCS e a ANACOM.

A Autoridade da Concorrência tem como “tem por missão garantir a aplicação da

política de concorrência em Portugal” e “a responsabilidade de assessorar o Governo, a

pedido deste ou por iniciativa própria, na definição das linhas estratégicas e das políticas

gerais, tendo em vista o funcionamento eficiente dos mercados, a repartição eficaz dos

recursos e os interesses dos consumidores, sugerindo ou propondo medidas de natureza

política ou legislativa”12

O GMCS, Gabinete para os Meios de Comunicação Social, é um órgão de apoio ao

Governo nas politicas relacionadas com a comunicação social, e tem por missão “apoiar o

Governo na concepção, execução e avaliação das políticas públicas para a comunicação

social, procurando a qualificação do sector e dos novos serviços de comunicação social,

tendo em vista a salvaguarda da liberdade de expressão e dos demais direitos fundamentais,

12 Autoridade da Concorrência: Missão e Atribuições [Em Linha] Disponível em : http://www.concorrencia.pt/vPT/A_AdC/Missao_e_atribuicoes/Paginas/missao-e-atribuicoes.aspx

14

Page 16: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

bem como do pluralismo e da diversidade.”13

A ANACOM é a Autoridade Nacional das Comunicações, pelo que é o órgão que

“regula e supervisiona o sector das comunicações electrónicas e postais em Portugal,

assegurando a representação nacional nos diversos fora internacionais

relevantes” ,“promove a concorrência e defende os interesses dos cidadãos, garantindo a

prestação de informações claras e a transparência nas tarifas e nas condições de utilização

dos serviços. Visa também o desenvolvimento dos mercados e das redes de comunicações” 14

2.3 Descrição do serviço de TDT em Portugal.

Em 2008 a ANACOM emitiu à Portugal Telecom um titulo habilitante 15 referente à

utilização de frequências relativas ao multiplex de televisão digital terrestre português, que

determina as várias responsabilidades da PT relativamente ao serviço de TDT, entre as quais

as seguintes: garantia de uma cobertura de 90.12% da população em território continental,

87,36% na Região Autónoma dos Açores e 85,97% na Região Autónoma da Madeira ;

cobertura complementar via satélite das “zonas de sombra” onde o sinal da TDT não fosse

disponibilizado; implementação de um plano de informação e promoção da TDT, assim

como medidas de apoio ao consumidor; realização e divulgação de inquéritos e estudos

sobre a transição pra a televisão digital terrestre; salvaguarda de capacidade para a

transmissão em alta definição, de acesso livre até ao fim das transmissões analógicas dos

canais RTP1, RTP2,SIC,TVI (bem como RTP Açores e RTP Madeira nas respectivas

Regiões Autónomas) e mais um quinto canal generalista, com transmissãoo de serviços e

programas em formato 16:9; e disponibilização de guia de programação electrónico,

teletexto, e funcionalidades que permitam o acesso a indivíduos com limitações visuais e

auditivas

Contudo, nem todas as cláusulas foram compridas, o que fez com que o modelo final

não correspondesse exatamente ao esperado. Assim, Denicoli (2012) ressalva algumas

características da TDT portuguesa que ficaram aquém do que seria pretendido: a qualidade

de imagem concretizou-se com definição standard (sem HD);ausência de um serviço

opcional de TDT paga; interatividade resumida ao guia electrónico de

13 GMCS: Quem somos e o que fazemos [Em linha] Disponível em : http://www.gmcs.pt/pt/gmcs14 ANACOM: Quem somos [Em linha] Disponível em : http://www.anacom.pt/render.jsp?categoryId=168015 Deliberação nº6/2008 de 9 de Dezembro, disponível em: http://www.agefe.pt/downloads/file26_pt.pdf

15

Page 17: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

programação; ,inexistência de planos para TV móvel e ausência da criação de um quinto

canal generalista .

No que ao número de canais diz respeito ,e apesar do número de interessados

mencionados num ponto anterior, a implementação da TDT contemplou apenas os quatro

canais já existentes na TV analógica ,sendo “o país com menor oferta de TDT entre 34

países europeus” (Público,2013), o que foi contra as expectativas da população portuguesa ,

que de imediato mostrou o seu desagrado sobretudo através da internet através de blogs,

páginas em redes sociais e fóruns (Denicoli,2012)

3 - Panorama atual da televisão em Portugal: operadores e resultados dos canais generalistas.

3.1 A televisão por subscrição de serviço: atores económicos

A implantação da TDT não condicionou, em qualquer instante, a oferta de

programação que sempre foi praticada pelas estações de televisão, nos anos anteriores a esta

implantação. Ao nível das audiências, algo começa a mudar com a televisão por cabo

adquirindo terreno e conseguindo maior destaque do que as estações de televisão

generalistas. Com todo o processo da implementação da TDT – e devido ao conturbado

desenvolvimento do mesmo – muitos interesses dos privados foram satisfeitos, atribuindo

mais importância aos contratos com operadores de TV paga, principalmente, a MEO da PT

(Portugal Telecom). Desta forma, neste capítulo sintetizamos as principais alterações desde

o fim do processo da implantação da TDT, quer ao nível da programação, quer ao nível das

audiências.

Em 2011, o mercado televisivo português contava com 2,98 milhões de assinantes

com TV por subscrição (dados Zon Multimédia, 2011). A ANACOM16, em 2012, apresenta

dados que garantem que, das tecnologias utilizadas para transmissão dos sinais televisivos

da TV paga, 48% dessas transmissões pertencem ao cabo. A tecnologia por satélite fica-se

pelos 22,9% (Anacom, 2012).

Nestes dois anos seguintes à implantação da TDT, é notório o crescimento dos

assinantes das subscrições da TV paga. O jornal Correio da Manhã apresenta dados que

confirmam 3,13 milhões de clientes que subscrevem serviços de televisão paga. Apesar de o

grupo ZON continuar a liderar com o número de clientes (49,7%) a MEO é a que mais 16 Autoridade Nacional de Comunicações.

16

Page 18: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

cresce, no primeiro trimestre de 2013 teve “um crescimento de 0,7% em comparação com os

últimos três meses de 2012, para uma quota de mercado de 39,9%” (Correio da manhã,

2013).

Para combater a concorrência (MEO), a ZON anunciou, em 2012 a fusão com o

serviço de telecomunicações Optimus, para conseguir oferecer os mesmos serviços que o

MEO (voz, televisão e Internet). No final do mês de janeiro de 2014, a PT anuncia a

absorção completa do serviço da TMN pela marca MEO ditando, assim, o fim primeira

marca de telecomunicações portuguesa. Para o especialista em publicidade, Carlos Coelho,

faz sentido que esta decisão seja tomada, pois “já não é o móvel que toma a dianteira da

modernidade, mas sim o acesso aos conteúdos” (Brands News, 2014) e, assim, a MEO

poderá apresentar-se mais forte neste ramo.

3.2 Os canais generalistas: audiências pós-implantação do TDT

A possibilidade de poder ter acesso aos canais por cabo, que permitem uma melhor

adequação às preferências dos consumidores de TV e, também, através das tecnologias que

permitem a gravação de programas para que cada telespectador possa assistir ao que mais

quer, quando bem quer, fez com que as audiências nos canais generalistas diminuíssem e

perdessem algum poder para os canais, unicamente, na televisão por cabo.

Na seguinte tabela, temos os dados relativamente às audiências mensais do ano de

2013. Um ano que foi marcado pela única e exclusiva forma de transmitir o sinal televisivo

– a digital.

A TVI mantem a liderança, mas no início do ano tem a SIC está muito próxima dos

seus resultados, pois a estação de televisão de Francisco Pinto Balsemão apostou na ficção

17

Imagem 2 - Audiências mensais de 2013 (Casanova, 2014)

Page 19: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

nacional e colheu resultados disso mesmo, apesar de não conseguir vencer a concorrência

que continua a apostar em reality shows (Casa dos Segredos 4), alcançando a preferência

dos telespectadores. No final do ano, a SIC apresentou uma grande queda face aos

resultados conseguidos no início do ano.

A RTP1 manteve-se com uma média próxima dos 15% o que permite constatar que

no final do ano de 2013 existe uma diferença que ronda os 5% entre os generalistas.

No final

do ano de 2013 podemos assim percebe que a TVI leva a melhor com uma média de

“24,6%, destacada da SIC que alcançou uma média de 21,2% e ficando na segunda posição

das generalistas.” (Casanova, 2014) A RTP1, a estação pública, apenas alcança uma média

anual de 13,2% neste ano ficando longe dos resultados obtidos pelas estações privadas.

É de destacar que o Cabo é o que mais sucesso alcança, criando um grande fosso

entre os canais generalistas e os que apenas estão existem por cabo terminando, assim, o ano

de 2013 com uma média de 38,6% dos telespectadores.

Desta forma, o início do ano 2014 não apresentou mudanças consideradas em relação

aos resultados obtidos pelas estações de televisão generalistas.

A SIC continua a liderar no horário em que apresenta a sua ficção nacional, apesar de não

conseguir resultados

que a permitam ultrapassar a concorrência nos restantes períodos de tempo. A TVI mantém-

18

Imagem 3 - Audiências globais do ano de 2013 (Casanova, 2014)

Imagem 4 – Audiências de Janeiro de 2014

Page 20: Televisão Digital Terrestre Em Portugal

se próxima dos 25% de média global, enquanto a SIC se encontra, mais ou menos, cinco

pontos percentuais abaixo desta. A Estação pública continua obtendo maus valores, que já se

tornam habituais para esta estação generalista. O Cabo mantem a sua liderança com 38,2%

dos telespectadores do mês de Janeiro do ano atual.

Assim, percebemos que, atualmente, a as estações de televisão generalistas procuram

não perder os telespectadores adaptando-se “aos novos hábitos de consumo de um público

espectador que dispersa a atenção para outro tipo de ecrãs, como o computador e o

telemóvel” (Sobral, 2012), como afirma Filomena Sobral. Apesar das dificuldades

económicas e da crise financeira, as estações de televisão privadas procuram se promover

nas redes sociais e, também, apresentar uma maior variedade de conteúdos disponibilizados

online.

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