tdt – televisão digital terrestre - feup - faculdade de
TRANSCRIPT
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Mestrado Integrado em Engenharia Eletrotécnica e de
Computadores
[TDT – TELEVISÃO DIGITAL
TERRESTRE ]
Problemas e Custos associados à implementação em
Portugal
Supervisor: Professor Abel Costa
Monitora: Patrícia Silva
Porto, outubro de 2012
2012
Diogo Teixeira (120503147) Eduardo Fonseca (120503049) João Silva (120503097) Rui Alves (120503185) Teresa Conceição (120503082) 1MIEEC01_01
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 2
RESUMO
A Unidade Curricular Projeto FEUP tem como objetivos o conhecimento dos
vários serviços prestados pela faculdade aos alunos e a ambientação à Faculdade
de Engenharia da Universidade do Porto, bem como a fomentação do trabalho de
equipa entre todos.
Assim e com base nisso, foi realizado, no âmbito do Projeto FEUP, este
relatório, cujo tema principal é a Televisão Digital Terrestre, tendo como grande
finalidade a resposta ao problema:
“Quais os problemas, custos e benefícios associados à TDT em Portugal?”
Inicialmente, foi feita uma breve referência à evolução da televisão ao longo
do tempo, passando-se depois ao sistema de TDT em si, bem como às várias
técnicas associadas a este sistema de transmissão, as suas vantagens e
desvantagens.
Posteriormente, desenvolveu-se uma análise aos principais fatores
envolvidos na adoção deste sistema em Portugal, incluindo os custos associados e
os vários problemas encontrados na implementação da TDT. A partir daí e com
recurso a dados de um estudo, organizou-se a informação e tiraram-se algumas
conclusões relativas à polémica que envolveu a transição analógico-digital em
Portugal.
Por fim, abordaram-se as perspetivas futuras deste sistema de difusão de
televisão, tendo sido apresentadas as conclusões finais encontradas com a
realização do relatório, que sinteticamente são que a TDT em Portugal não foi
implementada da forma mais correta e está claramente atrás em relação a outros
países europeus, apresentando, no entanto boas perspetivas futuras.
Palavras-Chave: Televisão Digital Terrestre; Apagão Analógico/”Switch-
Off”; Taxa Cobertura; Zonas Sombra; Descodificadores; SFN e MFN
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 3
AGRADECIMENTOS
Os elementos do grupo aproveitam para agradecer a todos, que direta ou
indiretamente colaboraram na realização deste projeto, nomeadamente e em
especial ao professor Abel Costa e à monitora Patrícia Silva, pelas orientações e
esclarecimentos prestados, bem como pelo tempo empregue para ajudar ao
sucesso do trabalho.
Por fim, deixa-se também uma nota de agradecimento à Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto pelos serviços disponibilizados, assim como
a todos os professores/orientadores envolvidos na organização das palestras do
Projeto FEUP, que se revelaram importantes na ambientação à Faculdade e aos
trabalhos técnicos.
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 4
ABREVIATURA/SIGLAS
ANACOM: Autoridade Nacional de Comunicações
ASI: Asynchronous Serial Interface
ATSC: Advanced Television Systems Committee
COFDM: Coded Orthogonal Frequency Division Multiplex
DTH: Direct To Home
DVB-T: Digital Video Broadcasting - Terrestrial
DVR: Digital Video Recorder
ELG: European Lauching Group
FCC: Federal Communications Commission
HDTV: High Definition Television
ISDB : Integrated Services Digital Broadcasting
MFN: Multi Frequency Network
MPEG: Moving Picture Experts Group
NBC: Nacional Boradcasting Company
NHK: Nippon Hōsō Kyōkai (Japan Broadcasting Corporation)
NTSC : National Television System Committee
PAL: Phase Alternate Line
PT: Portugal Telecom
RCA: Radio Corporation of America
RMA: Radio Manufactors Association
RTP: Rádio e Televisão de Portugal
SECAM: Séquentiel Couleur À Mémoire
SFN: Single Frequency Network
SPI : Synchronous Parallel Interface
SSI: Synchronous Serial Interface
TDT: Televisão Digital Terrestre
UHDT: Ultra High Definition Television
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 5
ÍNDICE DE FIGURAS
Nome Página
FIGURA 1: DISTRIBUIÇÃO GLOBAL DOS PADRÕES ANALÓGICOS ...................................................................... 10
FIGURA 2: DISTRIBUIÇÃO GLOBAL DOS PADRÕES DIGITAIS ............................................................................. 13
FIGURA 3: FUNCIONAMENTO DO SISTEMA TDT ................................................................................................ 14
FIGURA 4: 3 FASES DO APAGÃO ANALÓGICO: A VERDE A 1ª (12 DE JANEIRO DE 2012), A LARANJA A 2ª
(22 DE MARÇO DE 2012) E A AZUL A 3ª (26 DE ABRIL DE 2012) ....................................................... 16
FIGURA 5: COBERTURA FASEADA DA TDT NO TERRITÓRIO PORTUGUÊS ..................................................... 16
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Nome Página
GRÁFICO 1: INQUÉRITO DE SATISFAÇÃO À POPULAÇÃO QUE RECEBE TDT E NÃO POSSUI SERVIÇOS DE
TELEVISÃO PAGA ............................................................................................................................................ 16
GRÁFICO 2: INQUÉRITO À POPULAÇÃO DETENTORA DE TELEVISÃO GRATUITA SOBRE O TIPO DE ACESSO A
ELA .................................................................................................................................................................... 27
GRÁFICO 3: INQUÉRITO SOBRE O GRAU DE CONHECIMENTO E ENVOLVIMENTO RELATIVAMENTE À TDT
UNS MESES ANTES DO INÍCIO DO APAGÃO ANALÓGICO ............................................................................. 27
GRÁFICO 4: INQUÉRITO SOBRE A INTENÇÃO DOS CONSUMIDORES NA MUDANÇA ANALÓGICO-DIGITAL .. 28
ÍNDICE DE TABELAS
Nome Página
TABELA 1: CRONOLOGIA DOS PROGRESSOS CIENTÍFICOS DA TELEVISÃO ANALÓGICA .................................. 9
TABELA 2: PADRÕES DE TELEVISÃO ANALÓGICA ............................................................................................. 10
TABELA 3: CRONOLOGIA DOS PROGRESSOS CIENTÍFICOS DA TELEVISÃO DIGITAL ..................................... 11
TABELA 4: PADRÕES DE TELEVISÃO DIGITAL ................................................................................................... 12
TABELA 5: COMPARAÇÃO ENTRE TELEVISÃO ANALÓGICA E TELEVISÃO DIGITAL ..................................... 13
TABELA 6: COMPARAÇÃO DO SISTEMA TDT EM VÁRIOS PAÍSES .................................................................... 17
TABELA 7: CONSELHOS EM QUE A COBERTURA TELEVISIVA VIA TERRESTRE CHEGA A SER INFERIOR A
50% ................................................................................................................................................................ 23
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 6
ÍNDICE
Conteúdo Página
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 7
HISTÓRIA DA TELEVISÃO ...................................................................................................... 8
PADRÕES DA TV ANALÓGICA ........................................................................................................... 9 TV DIGITAL ................................................................................................................................. 11
PADRÕES DA TV DIGITAL .............................................................................................................. 12
TV ANALÓGICA VS TV DIGITAL........................................................................................................ 13
BREVE DESCRIÇÃO DO SISTEMA TDT .................................................................................. 14
VANTAGENS E DESVANTAGENS....................................................................................................... 15
IMPLEMENTAÇÃO EM PORTUGAL .................................................................................................... 15
TDT EM PORTUGAL E NO RESTO DA EUROPA: ................................................................................... 17
CUSTOS DA TDT ................................................................................................................. 19
PARA OS CONSUMIDORES .............................................................................................................. 19
As Zonas Sombras................................................................................................................ 20
PARA OS OPERADORES ................................................................................................................. 21
NÚMEROS .................................................................................................................................. 21
PROBLEMAS DE IMPLEMENTAÇÃO ..................................................................................... 23
TAXA DE COBERTURA ................................................................................................................... 23
INTERFERÊNCIAS TDT E RECEÇÃO DE SINAL ...................................................................................... 24
SFN VS MFN .............................................................................................................................. 25
A POLÉMICA ...................................................................................................................... 26
PERSPECTIVAS FUTURAS .................................................................................................... 29
UHDTV (ULTRA HIGH DIGITAL TV): ............................................................................................... 29
CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 32
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 7
INTRODUÇÃO
“The elaborateness of the equipment required by the very nature of the undertaking
precludes any
possibility of television being available in homes and offices generally.”1
(“A minuciosidade do equipamento requerido pela natureza do trabalho, exclui a
possibilidade da televisão estar disponível em casas e escritórios no geral”)
A Televisão é, indubitavelmente, uma das maiores invenções do Homem. De
facto, os meios de comunicação social assumem atualmente um papel fulcral na
sociedade. Será possível sequer imaginar um mundo sem esta pequena (ou não tão
pequena) “caixa mágica”? Ela é omnipresente: está em lojas e cafés. Está em
escolas e hospitais. Está na casa da favela e na moradia luxosa do condomínio
privado.
Mas nem sempre assim foi. A televisão surgiu “apenas” nos anos 20 do
século passado num formato bastante retrógrado quando comparado ao de hoje.
Depois foi evoluindo: primeiro o som, depois a imagem a cores, as transmissões em
direto, a TV por satélite, por cabo e por fim os canais pagos.
A procura da perfeição inerente ao ser humano provoca então um constante
desenvolvimento científico e tecnológico. Deste modo, a televisão passou também
ela por um processo inovativo exponencial, continuando ainda hoje em constante
evolução. Uma das últimas transformações foi precisamente a substituição por
completo das plataformas de TV analógicas para as digitais. Põe-se então a
questão: Será esta transformação vantajosa? Quais os custos e como é feita?
1 W.S. Gilford, Presidente da AT&T (Multinacional Americana das Telecomunicações), Abril 7, 1927.
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 8
HISTÓRIA DA TELEVISÃO
A descoberta do selénio em 1817 foi certamente o primeiro passo para a
criação da televisão, pois permitiu a conversão de luz em sinais elétricos, através
do efeito fotoelétrico.
Desde então verificaram-se inúmeros progressos, nomeadamente na
televisão analógica:
1842 Alexander Brain obtém a transmissão telegráfica de uma imagem (fac-símile), hoje
conhecido como fax.
1884 Alemão Paul Nipkow inventa um disco que dividia um objeto em pequenos
elementos para depois formar uma imagem
1892 Julius Elster e Hans Getiel inventam a célula fotoelétrica.
1906 Primeiras transmissões realizadas pelo inglês John Logie Baird através do sistema
mecânico baseado no invento de Nipkow.
1920 O Russo Wladimir Zworkin patenteia o iconoscópio, invento que utilizava tubos de
raios catódicos
1926 John Logie Baird transmite objetos na Royal Institution em Londres para a
comunidade científica. Resolução possui 30 linhas.
1929 A televisão é introduzida nos EUA. John Logie Baird transmite uma imagem de
Inglaterra para os EUA
1936 Transmissão televisiva dos jogos olímpicos de Berlim. É visto por cerca de 150.000
pessoas
1940 Peter Goldmark invente a televisão a cores de 343 linhas de resolução
1950 A FCC aprova o primeiro padrão de transmissão a cores
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 9
Tabela 1: Cronologia dos progressos científicos da Televisão analógica2
Padrões da TV analógica
Para regularizar a transmissão televisiva analógica foram criadas normas.
Estas normas eram dependentes da frequência da rede elétrica local, pelo que foi
necessário adaptar e criar outras normas para tornar a transmissão disponível no
mundo inteiro.
Por exemplo, como nos Estados Unidos da América a frequência da rede
elétrica era de 60 Hz, o processo para transmissão de televisão deveria gerar 60
campos de imagem por segundo para evitar o efeito de cintilação.
2 L.K Alchin."Television Invention Timeline" in History Timelines,julho 16, 2006, http://www.history-
timelines.org.uk/events-timelines/08-television-invention-timeline.htm.
1956 Testes de emissão RTP, que deteve o monopólio televisivo até 1992 (introdução de
estações privadas)
1969 Transmissão em direto da lua é vista por 600 milhões de pessoas
1979
As emissões a cores são autorizadas politicamente a partir de março de 1980. Por
obrigatoriedade europeia, os Jogos Sem Fronteiras são o primeiro programa que a
RTP transmite a cores, antecipando assim a "estreia oficial" que seria no
aniversário da RTP do ano seguinte.
1980 Transmissão a cores é introduzida em Portugal. É adotado o sistema alemão PAL
1981 NHK demonstra HDTV com 1125 linhas de resolução
1994 Foi introduzido em Portugal o sistema PALplus (trazendo consigo o ecrã
panorâmico), que apesar de alguma adesão acabou por não vingar.
2012 Com a introdução da TDT o sistema PAL é apenas utilizado por operadores de cabo
nos respetivos serviços analógicos
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 10
Assim surgiram as normas:
Tabela 2: Padrões de Televisão Analógica3
Figura 1: Distribuição global dos padrões analógicos4
3 iTVBr."Padrões De Tv Analógicos " in iTVBr Engenharia de Sistemas,novembro 10, 2011,
http://www.itvbr.com/index.php?option=com_content&view=article&id=80%3Apadroes-de-tv&catid=48%3Atv-a-evolucao&Itemid=94&lang=en.
Norma / Padrão
Abv País Ano Características
RADIO
MANUFACTORS
ASSOCIATION
RMA
EUA
1930’s 525 linhas p/ quadrado (2
campos) e 30 frames p/segundo
NATIONAL
TELEVISION
SYSTEM
COMMITTEE
NTSC
EUA
1941
625 linhas p/ quadrado e 25
frames p/ segundo
PHASE
ALTERNATE
LINE
PAL
ALEMANHA
1963 625 linhas p/ quadrado e 25
frames p/ segundo (corrige os
problemas de cor do NSTC)
SÉQUENTIEL
COULEUR À
MÉMOIRE
SECAM
FRANÇA
1967 625 linhas p/ quadrado e 25
frames p/ segundo (difere do PAL
na transmissão de cor)
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 11
TV Digital
A TV digital é uma tecnologia mais complexa que a anterior: ao invés da
imagem ser formada através de pontos, é convertida a partir de bits (0 e 1) , o que
proporcionará não apenas ganhos na qualidade de som e imagem, como também
uma grande variedade de serviços.
Nos anos 80, o Japão desenvolveu um sistema de alta definição (HDTV) e
conseguiu transmitir alguns conteúdos, mas em sinal analógico. Desde então a
tecnologia digital tem vindo a ganhar um lugar de destaque em todo o mundo:
Tabela 3: Cronologia dos progressos científicos da Televisão Digital5
4 "Pal, Ntsc and Secam". in Wikipedia.org. março 7, 2007.
http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:PAL-NTSC-SECAM.svg&page=1 5 Alchin, "Television Invention Timeline".
1987 A TV de alta definição é reconhecida por parte do governo dos EUA como uma
tecnologia de elevada importância tecnológica e estratégica do serviço.
1991
Na europa é formado um grupo para examinar a transmissão digital: ELG
(European Launching Group) que posteriormente irá criar o famoso conjunto de
regras DVB (Digital Video Broadcasting)
1995 O Japão apresenta o ADTV-LAB, cuja modulação é baseada no COFDM (europeu)
1996 Criação de normas para a tecnologia nos EUA, pela FCC: ATSC
1997 É formado o Digital Broadcasting Experts Group (DIBEG) pelas grandes empresas
do sector de forma a promover o intercâmbio de e a cooperação internacional
1999 O padrão japonês atual é criado: ISDB
2000 Lançado oficialmente o serviço Digital Hi-Vision Broadcasting no Japão.
2003
Japão lança comercialmente os serviços de televisão digital terrestre e faz
primeira demonstração do sistema UHDT com resolução de 7680x4320 pixels.
Alemanha é o primeiro país na Europa a realizar o "apagão analógico".
2008 Emissões experimentais de TDT em Portugal a partir do emissor de Palmela
2012 Apagão analógico em Portugal. 87,5% da população é abrangida pela TDT
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 12
Padrões da TV Digital
Como aconteceu com a rede analógica, houve necessidade de padronizar as
emissões digitais:
Tabela 4- Padrões de Televisão Digital6
6 iTVBr."Padrões De Tv Digital" in iTVBr Engenharia de Sistemas,novembro 10, 2011,
http://www.itvbr.com/index.php?option=com_content&view=article&id=81:padroes-de-tv-digital&catid=48:tv-a-evolucao&Itemid=95&lang=en.
NORMA / PADRÃO
ABV ZONA ANO CARACTERÍSTICAS
DIGITAL
VIDEO
BROADCAST
ING
DVB Europa 1993
Os sistemas DVB são distribuídos por cabo,
satélite e terrestre. Esses padrões definem a
camada física e a camada de link de dados do
sistema de distribuição. Dispositivos interagem
com a camada física via SPI, SSI ou ASI. Todos os
dados são transmitidos em streams de
transporte MPEG com algumas restrições
adicionais.
ADVANCED
TELEVISION
SYSTEM
COMMITTEE
ATSC EUA 1996
Foi pensado para operar com conteúdo
audiovisual em alta definição (HDTV). A opção
do consórcio ATSC garante a melhor resolução
de imagem possível. Ao mesmo tempo, restringe
a capacidade de transmissão a um só programa
por canal e inviabilidade de receção móvel.
INTEGRATE
D SERVICES
DIGITAL
BROADCAST
ING
ISDB Japão 1999
O ISDB é o sistema de TV Digital mais flexível de
todos pois responde melhor às necessidades de
portabilidade. O sistema de codificação MPEG-4
é superior aos padrões ATSC e DVB permitindo
várias transmissões num mesmo canal. Os sinais
ISDB podem ser transmitidos para vários tipos
de dispositivos.
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 13
Figura 2: Distribuição global dos padrões digitais7
TV analógica vs TV digital
Tabela 5: Comparação entre Televisão Analógica e Televisão Digital8
7"Digital Broadcast Standards". in Wikipedia.org fevereiro 6, 2012.
http://commons.wikimedia.org/w/index.php?title=File:Digital_broadcast_standards.svg&page=1
ANALÓGICO DIGITAL
Resolução
525 linhas (4:3) . 1080/720/420 linhas (16:9)
.1920x1080px (HDTV)
Qualidade imagem Degradada Não degradada
Novos recursos Nenhum Interatividade (datacasting)
Optmização do espectro
Limitado por interferências Possível uso de canais adjacentes
Interatividade Através de outros recursos
(internet-telefone-telemóvel)
Através do próprio aparelho –
canais de áudio, jogos e compras
Interferência Sim Nunca
Programação Única Múltipla – até 6 p/ canal
Formato de imagem
4:3 16:9
Som Mono ou estéreo (até 2 canais) Dolby Digital (até 6 canais)
Impressão em tela Canhão de eletrões Bits
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 14
BREVE DESCRIÇÃO DO SISTEMA
TDT
A televisão digital terrestre vem substituir a televisão “tradicional”
(teledifusão analógica terrestre).
Este novo sistema televisivo caracteriza-se por ser transmitido através do
ar e recebido por antenas geralmente exteriores.
Para a utilização do serviço, é necessário possuir um descodificador compatível
com a tecnologia DVB-T e com a norma MPEG-4/H.264, cuja modulação e
compressão serve essencialmente para enviar grandes quantidades de áudio, vídeo
e sinais de dados com boa qualidade.
O seu funcionamento consiste basicamente em 4 fases:
1. Digitalização, codificação e difusão dos dados através do ar pelos centros
emissores;
2. Uma vasta rede de torres emissoras envia o sinal para as antenas das casas;
3. O sinal é recebido pelas antenas localizadas nos edifícios;
4. Os descodificadores TDT instalados em cada edifício convertem novamente
este sinal na imagem e som pretendidos.
8 George Martins da Silva."Tv Analógica X Tv Digital" in Meu Artigo,abril 2008,
http://meuartigo.brasilescola.com/atualidades/tv-analogica-x-tv-digital.htm.
(1)
(2)
(3)
(4)
Figura 3: Funcionamento do sistema TDT
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 15
Vantagens e Desvantagens
A Televisão digital terrestre apresenta um conjunto de vantagens considerável,
nomeadamente9:
Maior qualidade de som e imagem relativamente ao sistema analógico
tradicional;
Acesso a um conjunto de funcionalidades avançadas da televisão, como um
guia de programação ou, caso o espectador possua um equipamento mais
complexo, possibilidade de fazer gravações e pausas nas emissões;
Capacidade de proporcionar melhores experiências a pessoas com
necessidades especiais. De entre outras potencialidades, os equipamentos
TDT mais desenvolvidos permitem adicionar legendas em português (para
deficientes auditivos) e têm serviço de áudio-descrição (para pessoas com
deficiências visuais e população iletrada);
Alargamento da oferta de canais incluindo um canal em HD (apesar de em
Portugal isto não se ter verificado exatamente);
Utilização mais eficiente do espectro radielétrico
Por outro lado, as principais desvantagens da TDT são a complexidade do
sistema e os custos de implementação em equipamento elevados.
Implementação em Portugal
Em Portugal, o sistema é baseado numa única frequência (SFN) e começou a
ser implementado em 2008, prolongando-se até finais de 2010. O objetivo inicial
era a completa transição analógico-digital, determinada pela Comissão Europeia,
tendo este objetivo sido finalizado no início de 2012 com as 3 fases do “switch-off”
(apagão analógico).
9 Portugal Telecom.""Zeinal Bava Apresenta Televisão Digital Para Todos"",abril 28, 2008,
http://www.telecom.pt/internetresource/ptsite/pt/canais/media/destaqueshp/destaques_2008/conteudospropostasptparatdt.htm.
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 16
0
10
20
30
40
50
60
70
Qualidade de Imagem Qualidade de Som Possibilidade de ter Guia TV
Grau de Satisfação dos Consumidores
Satisfeito/Melhorou
Igual
Não sabe/Não responde
Figura 4: 3 fases do apagão analógico: a verde a
1ª (12 de janeiro de 2012), a laranja a 2ª (22 de
março de 2012) e a azul a 3ª (26 de abril de
2012)11
Gráfico 1 Inquérito de satisfação à população que recebe TDT e não possui serviços de televisão
paga12
10
" Mapa Da Televisão Digital Terrestre Portugal". in Electrónica-pt. http://www.electronica-pt.com/imagens/mapa-cobertura-tdt.png 11
ANACOM. "Fases Do Switch-Off Em Portugal Continental E Ilhas ". 2012. http://portalconsumidor.staging.excentric.pt/assets_live/68/mapa.png
Figura 5: Cobertura faseada da TDT no território
português10
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 17
Estes dados de um estudo realizado após a implementação da TDT em
Portugal, demonstram que os consumidores consideraram que a maior diferença
da TDT para o sistema analógico anterior foi a melhoria da qualidade da imagem
(uma das vantagens anteriormente consideradas).
No que diz respeito à qualidade de som, alguns inquiridos entendem que
melhorou mas a maioria acha que está igual.
Por fim, quanto ao Guia TV, os consumidores demonstraram estar
satisfeitos, no entanto, a maior parte não tinha conhecimento/não usufruía desta
funcionalidade.
TDT em Portugal e no resto da europa:
A diferença entre a televisão digital terrestre em Portugal e nos restantes
países europeus é bastante significativa.
Apesar do território português ter sido um dos últimos a estar abrangido
na sua totalidade pelo sistema de televisão digital terrestre, a verdade é que o que
se oferece ao telespectador em Portugal tanto numa perspetiva tecnológica, como
numa perspetiva de qualidade de serviço acaba por ser bastante inferior.
12
l Inquérito realizado entre 5 e 19 de março de 2012 pela Marktest com uma população de 1603 indivíduos que não dispunham de serviço de TV por subscrição ou acesso gratuito via cabo: ."Qualidade Da Imagem Melhora Com a Passagem Do Sinal Analógico Para O Digital" in ANACOM.pt,abril 16, 2012, http://www.anacom.pt/render.jsp?contentId=1124251.
CANAIS TV
RÁDIO
COBERTURA
INTERATIVIDADE
NORMA UTILIZADA
CODEC
Alemanha
10 a 30
-
90%
-
DVB-T
MPEG-2 e
MPEG-4
AVC
Espanha
20 (+ 23
regionais)
14
98.5%
-
DVB-T
MPEG-2 e
MPEG-4
AVC
Grécia
25
-
75%
-
DVB-T MPEG-2 e
MPEG-4
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 18
Tabela 6 Comparação do sistema TDT em vários países13
A qualidade de serviço prestada é consideravelmente inferior, sendo que
em Portugal não existe serviço de rádio e a cobertura é apenas satisfatória.
Quanto à oferta de canais abertos e pagos (que ainda não existem em
Portugal), como se verifica pela análise da tabela, Portugal encontra-se na cauda da
europa juntamente com a Irlanda. Por outro lado, o países que mais se destaca
neste aspeto é o Reino Unido.
13
Henrique Fonseca; Barreira Dinamene; Carlos Simões."Comparação" in TDT em Portugal, http://web.ist.utl.pt/ist155557/?page_id=71.
AVC
Portugal
4 (+ 2
reg.)
-
87.5%
-
DVB-T MPEG-2 e
MPEG-4
AVC
Reino unido
90
30
98%
MHEG-5 DVB-T/DVB-
T2 MPEG-2 e
MPEG-4
AVC
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 19
CUSTOS DA TDT
Para os consumidores
Os custos da tecnologia TDT para cada habitação podem variar bastante.
Quem recebia as emissões televisivas dos 4 canais generalistas portugueses
de forma analógica fazia-o de forma gratuita. O serviço digital terrestre também é
gratuito, no entanto, a verdade é que na maioria das vezes, os consumidores
acabam por ter que arcar com alguns custos no que ao equipamento diz respeito.
Isto é:
Como já foi referido anteriormente, um televisor apenas está habilitado a
receber o sinal digital terrestre ser for compatível com a norma MPEG-4/H.264.
Para além disso, para que esta nova tecnologia de teledifusão terrestre seja
possível, é necessário que cada casa possua uma antena UHF. Assim sendo, os
consumidores que estiverem dentro destes requisitos têm efetivamente direito a
esta tecnologia sem qualquer custo.
Por outro lado, quem não tenha estas condições, é obrigado a suportar alguns
custos relacionados com a instalação dos dispositivos necessários à receção da TDT,
nomeadamente um descodificador compatível com a tecnologia DVB-T e a norma
MPEG-4/H.264, cujo preço médio é de 32 € (descodificadores mais básicos). Este preço
apenas é inferior para alguns grupos sociais, casos de portadores de deficiência de grau
igual ou superior a 60% com pensão inferior a 500 € por mês ou que recebam
rendimento social.
Para além disso, se, por acaso, o aparelho de TV não tiver uma ficha scart,
que faz a ligação com a maioria dos descodificadores, o mais provável é que seja
necessária a compra de uma nova televisão, aumentando significativamente os
custos.
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 20
Quanto à questão das antenas, estas precisam de ser externas e na maioria
das situações têm que ser reorientadas. Não sendo algo que toda a gente saiba
fazer, a estas despesas terá que ser adicionada a mão de obra de um técnico.
As Zonas Sombras
“Todos pagamos a taxa de audiovisual, mas nem todos vão ter acesso da mesma
forma e ao mesmo preço à televisão”14
No caso da população que habita nas chamadas “zonas sombra” (cerca de
13%), zonas com cobertura TDT Complementar via satélite/DTH, os valores
despendidos aumentam significativamente.
Uma vez que a televisão digital via terrestre não cobre estas zonas, para
continuar a usufruir dos 4 canais, os consumidores têm que adquirir uma antena
parabólica, cujos custos poderão ser superiores a 100 € e um kit disponibilizado
pela PT composto por um descodificador DTH, um telecomando, cabos de ligação e
um smartcard.
O custo deste kit é comparticipado e tem o valor de 77 € (30 após
comparticipação), mas apenas se o utilizador que o compra não tiver nenhum
serviço de subscrição de televisão paga. Vale realçar ainda que cada televisor
necessita de um kit e só os primeiros dois kits são comparticipados. Se for
necessário um terceiro o preço chega aos 96 €.
Tudo somado, do ponto de vista do consumidor, o preço da mudança do
serviço analógico para o digital acaba por ser bastante considerável, sendo que
muitas das vezes os consumidores optam por subscrever os pacotes de televisão
por cabo com direito a mais canais, deixando de lado a TDT.
14
Telmo Antunes, presidente da Câmara de Vouzela referindo-se à população residente nas “zonas sombra".
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 21
Para os Operadores
A transição para a TDT tem alguns custos para os operadores em geral,
essencialmente na instalação de antenas e dos equipamentos necessários para a
transmissão. Apesar disso, a televisão digital terrestre acaba por ser muito
vantajosa, uma vez que possuindo uma largura de banda mais reduzida e uma
maior eficiência energética, o custo de emissão digital é inferior ao de emissão
analógica.
A Portugal Telecom (detentora dos direitos de utilização da TDT), recebe
dos canais generalistas cerca de 2,95M € anuais pela transmissão digital15. Este
valor é bastante inferior ao que as estações televisivas tinham que pagar pela
transmissão analógica que se cifrava entre os 3,5 e os 4 M € anuais16
Pode dizer-se então, que os operadores, contrariamente aos consumidores,
poupam bastante com a passagem para a TDT, sendo que por exemplo, a RTP
reduziu os custos de emissão em 60% depois do switch-off (fecho do sinal
analógico)17.
Números
Receitas
De acordo com dados da ANACOM, foram vendidos em Portugal, entre
janeiro de 2011 e fevereiro de 2012 cerca de 823 mil descodificadores (397 mil em
janeiro e fevereiro de 2012 e 426 mil em 2011), o que equivale a uma receita de
aproximadamente 25,5 M €.
Acrescenta-se ainda à volta de 351,3 M € despendidos em 964 mil
televisores compatíveis com a TDT neste mesmo período.
Na totalidade, os portugueses gastaram entre janeiro de 2011 e fevereiro de
2012 um total de 377 M €. 18
15
Rebeca Venâncio, "Tdt Passa a Custar À Rtp E Sic 2,9 Milhões Por Ano," Diário Económico, abril 6 2012. 16
Hugo Real, "Canais Descem Fatura Com Tdt," Correio da Manhã fevereiro 5 2012. 17
FIlipe Feio, "Rtp Vai Reduzir Custos De Emissão Em 60% Com Tdt," Diário de Notícias, maio 18 2008. 18
Hugo Real, "Descodificadores Valem 25 Milhões," Correio da Manhã, abril 17 2012.
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 22
Evolução do Serviço de TV Paga
Entre agosto de 2011 e agosto de 2012, 275.840 novos clientes aderiram
aos serviços de Televisão paga, o que equivale a um aumento de cerca de 10% em
relação a igual período do ano anterior (2.761.620 clientes para 3.037.460). 19
Tudo isto reflete-se em mais de 118,2 M € anuais de receitas das operadores
privadas:
A PT foi quem mais lucrou, com mais 238 mil clientes;
A ZON vem a seguir com um aumento não tão grande, mas ainda assim
significativo: cerca de 34 mil novos clientes;
A Optimus angariou mais 4.010 clientes;
A Cabovisão foi a única a perder clientes, ainda que de forma não
substancial, menos 170 do que no ano anterior; 20
Esta evolução é analisada por muitos, incluindo a ANACOM, como sendo devida
ao apagão analógico, que beneficiou a subscrição deste tipo de televisão.
19
Frederido Pinheiro, "Privados Ganham Milhões Com Tdt," Semanário Sol, agosto 18 2012. 20
Ibid.
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 23
PROBLEMAS DE IMPLEMENTAÇÃO
O sistema TDT implementado em Portugal tem ainda várias limitações, e
apesar de se ter vindo a fazer progressivamente uma tentativa de as contornar,
elas continuam a existir em maior número do que o expectável.
Taxa de Cobertura
Como já foi referido anteriormente, o território português deveria ter uma
cobertura TDT completa já desde o final de 2010 (muito antes do apagão
analógico), no entanto ainda não é isto que se verifica.
Tabela 7: Conselhos em que a cobertura televisiva via terrestre chega a ser inferior a 50% 21
O número de pessoas que usufrui deste meio de teledifusão é agora maior
do que quando se realizou o apagão analógico, no entanto, a cobertura da TDT em
Portugal continua muito aquém das expectativas, estando aproximadamente em
cerca de 90% do território (embora segundo a lei a PT seja obrigada a cobrir
apenas 86% dos cidadãos portugueses). Este valor é inferior ao nível mínimo de
outros países europeus, cuja cobertura se aproxima da barreira dos 98/ 99%,
sendo também menor que cobertura anterior da rede analógica (95%).
21
Tabela com dados retirados do site da ANACOM relativos ao primeiro trimestre de 2012: ANACOM."Cobertura Tdt" in ANACOM.pt,maio 18, 2012, http://www.anacom.pt/render.jsp?categoryId=344891
CONSELHO NÍVEL
COBERTURA VIA TERRESTRE VIA SATÉLITE
Alcoutim 100% 43,5% 56,5%
Góis 100% 49,5% 50,5%
Marvão 100% 47,3% 52,7%
Mira 100% 23,1% 76.9%
Pampilhosa da
Serra 100% 47,8% 52,2%
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 24
Isto quer dizer que cerca de 1 milhão de portugueses se encontra nas ditas
zonas sombras, onde a cobertura TDT não chega. Uma vez que o sinal analógico foi
cortado totalmente em abril de 2012, muitas destas zonas, essencialmente situadas
no interior, ficaram sem acesso a TV gratuita, sendo que para continuar a ver
televisão tiveram que ou adquirir equipamento com valor bastante considerável ou
subscrever a um serviço de televisão pago.
Interferências TDT e Receção de sinal
Outro dos problemas detetados na TDT em Portugal são as constantes
falhas de receção (perda de sinal ou imagem instável) que alguns consumidores em
determinadas localidades sentiram.
Como já acontecia com a Televisão Analógica, a Televisão Digital também
tem ainda muitas interferências. Apesar de o sistema ser de maior qualidade, o
processo de funcionamento é bastante mais complexo e a mínima falha pode
causar interferências.
Estes problemas podem dever-se a deficiências nos equipamentos recetores
ou emissores, mas a grande maioria é essencialmente causada pelo mau
planeamento da rede. Uma das causas mais comuns é a receção de sinais múltiplos,
seja por fenómenos atmosféricos ou pela captação de sinais de dois transmissores
distintos. Visto emitirem todos na mesma frequência e aliado ao facto de estarem
localizados a distâncias diferentes, o sinal não chega exatamente ao mesmo tempo
à antena, daí haver uma interferência. Nestes casos, a situação pode resultar em
reforço de sinal ou destruição de sinal dependendo da seguinte condição:
Se o 2º emissor estiver a menos de 67.2 km, que corresponde à distância
que o sinal percorre dentro do intervalo de guarda (224 microssegundos), o
sinal é reforçado, tratando-se de uma interferência construtiva. Isto
verifica-se pois a antena recetora escolhe um dos sinais como referência e
os que se seguirem dentro do intervalo de guarda são identificados como
réplicas, reforçando o sinal.
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 25
Se o 2º emissor estiver localizado a mais de 62.7 km, o sinal sofre uma
interferência destrutiva, uma vez que o recetor vai identifica-lo como o sinal
seguinte (está fora do intervalo de guarda) 22
Para solucionar este problema, o recetor pode ser instalado e orientado de
forma a só captar um e só um sinal, ficando a antena sem campo direto para
emissores próximos. Outra solução pode ser colocar uma rede refletora para
bloquear outros sinais.
É então possível resolver a grande maioria destas questões, mas pode causar
algum embaraço ou custos adicionais para os consumidores. Como tal, depois de
várias queixas, a PT tem vindo a corrigir a rede, tendo também a ANACOM
atribuído uma frequência provisória fora do canal 56.
SFN vs MFN
Existem dois tipos de rede de transmissores: o SFN e o MFN.
O sistema Single Frequency Network liberta sinais no mesmo canal de
frequência, estando sujeito aos problemas já referidos anteriormente.
Por outro lado, no Multiple Frequency Network cada estação transmite sinais
com diferentes canais de frequências, sendo idêntico ao modelo analógico.
A grande vantagem da rede SFN assenta na economia do espectro. A
desvantagem é precisamente a necessidade de um perfeito sincronismo entre
emissores e ainda um maior número de estações transmissoras.
O MFN, apesar de não economizar tanto espectro, pode ser uma das
soluções para a maioria dos problemas verificados na receção do sinal, dividindo,
por exemplo, o país em diferentes regiões, cada uma delas com uma frequência
diferente. 23
22
Eliseu Macedo."Os Motivos Que Levam a Imagem Da Tdt a Falhar Em Portugal" in TV Digital em Portugal,maio 22, 2012, http://tvdigital.wordpress.com/2012/05/22/os-motivos-que-levam-a-imagem-da-tdt-a-falhar-em-portugal/. 23
Ibid.
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 26
A POLÉMICA
O custos associados a esta implementação:
Com recurso aos dados apresentados no capítulo referente aos custos da
TDT é fácil verificar que os portugueses tiveram que desembolsar bastante
dinheiro (e de forma desigual) para ter acesso a algumas vantagens que no final de
contas não usufruíram (ver “TDT em Portugal vs TDT na Europa”), sendo esta uma
das 3 principais causas da polémica
A questão Portugal Telecom:
A PT adquiriu os direitos de utilização da TDT em Portugal, no entanto, é
sabido que esta empresa é também proprietária de uma das maiores operadoras
de televisão paga, a MEO.
Ora, há quem sugira que a implementação da TDT não teve como fim a
defesa do bem público mas sim a do bem privado.
Se não veja-se: tendo os direitos de dois concorrentes (a MEO e a TDT) a PT
fica com a maioria do monopólio televisivo. Adicionalmente, e apesar de a
transmissão da TDT ser gratuita, muitos dos consumidores optaram, devido ao
apagão analógico e aos custos associados, por subscrever serviços de televisão
paga (em que um dos operadores principais é precisamente a MEO). Deste modo, a
PT sai sempre a ganhar, embora os consumidores nem sempre o saiam.
Falta de Informação
Atualmente o sistema de Televisão Digital Terrestre já se encontra quase
totalmente implementado, contudo, há uns tempos atrás esta implementação
ocorreu de forma conturbada.
Para além dos problemas mais técnicos já referidos, a população portuguesa
em geral teve pouco acesso à informação relativa a todo este processo.
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 27
3%
92,4%
2,6 % 2 %
Que tipo de Televisão TV gratuita possui?
TDT
Analógica via antenatradicional
Através de antenaparabólica
Não sabe/NãoResponde
0
10
20
30
40
50
60
Questões Práticas Sobre a TDT
O Seu televisor é compatível com a TDT? Sabe o que tem de fazer para ter a cesso à TDT?
Para quando está previsto o apagão analógico?
A campanha da TDT em Portugal não foi suficiente nem produtiva e só já
próximos da data do apagão analógico é que os portugueses se “deram conta” do
que se estava a passar, das implicações e dos benefícios que traria.
Gráfico 2: Inquérito à população detentora de televisão gratuita sobre o tipo de acesso a ela24
Gráfico 3: Inquérito sobre o grau de conhecimento e envolvimento relativamente à TDT uns meses antes do início do apagão analógico25
24 Estudo realizado pela Universidade Lusófona, de 16 a 27 de Setembro de 2011. O inquérito foi feito a
uma amostra de 460 portugueses com mais de 18 anos que não usufruíam de TV paga em casa (38,3% de uma população total de 1202 portugueses com Televisão em casa): Célia Quico; Manuel José Damásio; Sara Henriques; Iolanda Veríssimo, "Terceiro Inquérito Da Universidade Lusófona Sobre Tv Digital," in Adopt-dtv (Lisboa: Grupo Lusófona 2011).
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 28
Gráfico 4 Inquérito sobre a intenção dos consumidores na mudança analógico-digital26
Analisando estes dados, facilmente se percebe que os portugueses não
estavam preparados para a TDT a poucos meses do apagão analógico.
Poucos eram os consumidores que já tinham a TDT (gráfico 2) e o seu grau de
conhecimento era realmente reduzido daí se concluir que a campanha não foi, nem
de perto nem de longe feita corretamente, sendo que a informação distribuída não
foi suficiente para a maioria das pessoas.
Com o aproximar da data do apagão a percentagem de população informada
terá naturalmente subido, no entanto, isto não apaga a má implementação da TDT,
que podia ter tido mais sucesso não fosse a fraca campanha de sensibilização.
25
Questões práticas e grau de conhecimento avaliado aos inquiridos sem TV paga do estudo da paga do estudo da Universidade Lusófona (o mesmo de
11) ibid.
26 Intenção dos 425 inquiridos que recebiam TV analógica tradicional (92,4% dos 460 que tinham TV
gratuita) no estudo da Universidade Lusófona (o mesmo de 11
) ibid.
16,2 %
24,2%
6,8%
0,2% 0,5%
11,3 %
46,4 %
Intenção dos Consumidores antes do Switch-off
Comprar nova TV com TDTintegrada
Comprar caixadescodificadora de TDT
Subscrever serviço de TV porcabo
Subscrever serviço de TV porfibra-óptica
Subscrever serviço de TV porsatélite
Não tem intenção deaquisição de qualquerequipamento para TV digital
Não sabe/ Não responde
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 29
PERSPETIVAS FUTURAS
“When we designed HDTV 40 years ago our target was to make people feel like they
were watching the real object. Our target now is to make people feel that they are in
the scene”27
(“Quando projetámos a HDTV há 40 anos o nosso objetivo era fazer com que as
pessoas estivessem a ver o objeto real. O nosso objetivo atual é fazer com que as
pessoas se sintam dentro do próprio cenário”)
A Televisão Digital Terrestre tem ainda algumas etapas a percorrer para se
tornar num serviço de referência em Portugal. O facto de ser um sistema não muito
desenvolvido proporciona uma maior margem de progressão. Como tal, no futuro
os objetivos serão tentar alcançar o nível dos outros países europeus, com uma
maior taxa de cobertura, mais e melhores canais, entre outras funcionalidades.
Visto ter vindo a ser feito um esforço relativamente à progressão deste serviço,
pode dizer-se que as perspetivas futuras são positivas.
UHDTV (Ultra High Digital TV):
Quanto à televisão digital mais genericamente, a UHDTV (Televisão de Ultra
Alta Definição) é um novo formato que está a ser desenvolvido pela NHK (Japão).
A tecnologia é ainda experimental e só deverá estar disponível para o consumidor
daqui a 20 anos.
Possui uma resolução de 7680x4320 pixels (33 milhões de pixels) e 16
vezes mais (4 vezes mais largura e 4 vezes mais altura) do que HDTV atual, que
tem resolução de, no máximo, 1920 × 1080 pixels.
27
Masura Kanazawa, Engenheiro executivo da NHK,referindo-se à UHDTV.
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 30
Além disso, esta nova tecnologia traz aperfeiçoamentos no som com a
incorporação de um sistema avançado de surround sound que usa 24 altifalantes.
Apesar do sistema estar a ser desenvolvido para televisão, atualmente só
num ecrã de cinema e usando um projetor avançado é que se consegue reproduzi-
lo. Isto porque não existe nenhum ecrã LCD ou PLASMA com resolução suficiente,
nem nenhum sistema de transmissão televisiva com a capacidade necessária para
alojar a enorme quantidade de dados necessária para criar uma imagem Ultra HD.
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 31
CONCLUSÃO
Com a elaboração deste relatório, concluíram-se alguns pontos relativos ao
processo de implementação da TDT em Portugal.
A evolução tecnológica está intrínseca ao ser humano e é quase sempre
benéfica, uma vez que visa proporcionar melhores condições. A Televisão sofreu
um grande desenvolvimento especialmente no século XX: houve, por exemplo, um
processo de transformação dos televisores antigos para os plasmas e da televisão a
preto e branco para a televisão a cores. Da mesma forma, a passagem do analógico
para o digital faz parte deste processo e tem que ser encarada de forma positiva.
Apesar disso e com a realização deste trabalho, pode concluir-se que o
desenvolvimento tecnológico só é, na verdade, uma evolução se for feita de forma
profissional e correta.
Ora, analisando e comparando o processo de implementação da TDT em
Portugal com a TDT noutros países europeus, conclui-se que o fim para que esta foi
projetada, acabou por ser como que esquecido. Os interesses dos consumidores
foram ofuscados pelos interesses governamentais e empresariais. O bem público
foi esquecido e o bem privado privilegiado.
“PT + Governo + Anacom – população = TDT” 28
Apesar disso, e agora que a polémica acalmou um pouco, é possível pensar
num futuro melhor para a Televisão Digital Terrestre em Portugal, uma vez que as
entidades responsáveis têm vindo a fazer um esforço para melhor o serviço
prestado.
28
Sergio Denicoli, Autor do livro TV Digital: Sistemas, Conceitos e Tecnologias 2011.
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Alchin, L.K." Television Invention Timeline". History Timelines. julho 16, 2006. http://www.history-timelines.org.uk/events-timelines/08-television-invention-timeline.htm. (Acessado em: outubro 8, 2012)
Alegre, João. "Tdt Em Portugal." Jornal de Notícias, janeiro 9, 2012. http://www.jn.pt/multimedia/infografia.aspx?content_id=1186031. (Acessado em: outubro 3, 2012)
ANACOM." Cobertura Tdt". ANACOM.pt. maio 18, 2012. http://www.anacom.pt/render.jsp?categoryId=344891
(Acessado em: outubro 3, 2012)
———. "Fases Do Switch-Off Em Portugal Continental E Ilhas ", 2012.
———." Qualidade Da Imagem Melhora Com a Passagem Do Sinal Analógico Para O Digital". ANACOM.pt. abril 16, 2012. http://www.anacom.pt/render.jsp?contentId=1124251. (Acessado em: outubro 6, 2012)
Sergio Denicoli. "Tv Digital Em Portugal" setembro 18, 2012. http://tvdigital.wordpress.com/. (Acessado em: setembro 29, 2012)
Faber, Geert." What Is the Future of Smart Tv, Internet Tv, Connected Tv, Iptv and Social Tv". The End Of Television As We Know It. março 23, 2011. http://www.theendoftelevision.com/what-is-the-future-of-smart-tv-internet-tv-connected-tv-iptv-and-social-tv/. (Acessado em: outubro 8, 2012)
Feio, FIlipe. "Rtp Vai Reduzir Custos De Emissão Em 60% Com Tdt." Diário de Notícias, maio 18, 2008. http://www.dn.pt/inicio/interior.aspx?content_id=982749. (Acessado em: setembro 29, 2012)
iTVBr." Padrões De Tv Analógicos ". iTVBr Engenharia de Sistemas. novembro 10, 2011. http://www.itvbr.com/index.php?option=com_content&view=article&id=80%3Apadroes-de-tv&catid=48%3Atv-a-evolucao&Itemid=94&lang=en. (Acessado em: outubro 8, 2012)
———." Padrões De Tv Digital". iTVBr Engenharia de Sistemas. novembro 10, 2011. http://www.itvbr.com/index.php?option=com_content&view=article&id=81:padroes-de-tv-digital&catid=48:tv-a-evolucao&Itemid=95&lang=en. (Acessado em: outubro 8, 2012)
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 33
Leiria, Luís." Escândalo Nº1: A Televisão Digital Terrestre Portuguesa É a Pior Da Europa". Esquerda.Net. janeiro 22, 2012. http://www.esquerda.net/dossier/esc%C3%A2ndalo-n%C2%BA1-televis%C3%A3o-digital-terrestre-portuguesa-%C3%A9-pior-da-europa (Acessado em: setembro 29, 2012)
———. "Escândalo Nº 2: A Tdt Portuguesa Representa Um Novo Imposto Para Se Ver Televisão." janeiro 22. http://www.esquerda.net/dossier/esc%C3%A2ndalo-n%C2%BA-2-tdt-portuguesa-representa-um-novo-imposto-para-se-ver-televis%C3%A3o. (Acessado em: setembro 29, 2012)
Macedo, Eliseu." Os Motivos Que Levam a Imagem Da Tdt a Falhar Em Portugal". TV Digital em Portugal. maio 22, 2012. http://tvdigital.wordpress.com/2012/05/22/os-motivos-que-levam-a-imagem-da-tdt-a-falhar-em-portugal/. (Acessado em: outubro 3, 2012)
Mackenzie, Iain. "Europe Gets Glimpse of Hd Future." BBC News, setembro 11, 2006. http://news.bbc.co.uk/2/hi/technology/5335870.stm. (Acessado em: outubro 8, 2012)
Pinheiro, Frederido. "Privados Ganham Milhões Com Tdt." Semanário Sol, agosto 18, 2012. http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Interior.aspx?content_id=56912. (Acessado em: setembro 29, 2012)
Real, Hugo. "Canais Descem Fatura Com Tdt." Correio da Manhã fevereiro 5, 2012. http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/lazer/tv--media/canais-descem-factura-com-tdt. (Acessado em: setembro 30, 2012)
———. "Descodificadores Valem 25 Milhões." Correio da Manhã, abril 17, 2012. http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/lazer/tv--media/descodificadores-valem-25-milhoes. (Acessado em: setembro 30, 2012)
Silva, George Martins da." Tv Analógica X Tv Digital". Meu Artigo. abril 2008. http://meuartigo.brasilescola.com/atualidades/tv-analogica-x-tv-digital.htm. (Acessado em: outubro 7, 2012)
Simões, Henrique Fonseca; Barreira Dinamene; Carlos." Comparação". TDT em Portugal. http://web.ist.utl.pt/ist155557/?page_id=71. (Acessado em: setembro 30, 2012)
———. "Tdt Em Portugal." http://web.ist.utl.pt/ist155557/. (Acessado em: setembro 30, 2012)
Telecom, Portugal. "Tdt - Televisão Digital Terrestre." http://tdt.telecom.pt/noticias/?pagina=5. (Acessado em: setembro 29, 2012)
TDT | Problemas e Custos associados à implementação em Portugal 34
———." "Zeinal Bava Apresenta Televisão Digital Para Todos"". abril 28, 2008. http://www.telecom.pt/internetresource/ptsite/pt/canais/media/destaqueshp/destaques_2008/conteudospropostasptparatdt.htm. (Acessado em: setembro 29, 2012)
Televisão Digital". Wikipedia.org. outubro 18, 2012. http://pt.wikipedia.org/wiki/Televis%C3%A3o_digital. (Acessado em:
Venâncio, Rebeca. "Tdt Passa a Custar À Rtp E Sic 2,9 Milhões Por Ano." Diário Económico, abril 6, 2012. http://economico.sapo.pt/noticias/tdt-passa-a-custar-a-rtp-e-sic-29-milhoes-por-ano_145877.html. (Acessado em: outubro 1, 2012)
Veríssimo, Célia Quico; Manuel José Damásio; Sara Henriques; Iolanda. "Terceiro Inquérito Da Universidade Lusófona Sobre Tv Digital". Grupo Lusófona
Lisboa. outubro 12,2011. http://adoptdtv.ulusofona.pt/. (Acessado em: outubro 6, 2012)