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TELETRABALHO: da gestão às vantagens e desvantagens na era Pós-Industrial Lisiane de Oliveira Costa Castro 1 RESUMO: Propõe-se uma reflexão sobre o Teletrabalho, a partir de uma abordagem teórica, mas não distante dos elementos da prática, sobre a forma de organização do trabalho na era Pós- Industrial. Ressalta-se a gestão do teletrabalho e o problema da legislação e da terceirização do trabalho. Abordam-se, neste contexto, as vantagens e desvantagens para a empresa e para os trabalhadores. Palavras-chave: Teletrabalho. Era pós-industrial. Gestão. Vantagens. Desvantagens.

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TELETRABALHO: da gestão às vantagens e desvantagens na era Pós-Industrial

Lisiane de Oliveira Costa Castro1

RESUMO:

Propõe-se uma reflexão sobre o Teletrabalho, a partir de uma abordagem teórica,

mas não distante dos elementos da prática, sobre a forma de organização do

trabalho na era Pós-Industrial. Ressalta-se a gestão do teletrabalho e o problema da

legislação e da terceirização do trabalho. Abordam-se, neste contexto, as vantagens

e desvantagens para a empresa e para os trabalhadores.

Palavras-chave: Teletrabalho. Era pós-industrial. Gestão. Vantagens. Desvantagens.

______________1 Professora da Faculdade Atenas Maranhense, especialista em Magistério Superior e Agente de Inovação e Difusão Tecnológica. [email protected]

1 INTRODUÇÃO

Desde o seu o aparecimento até os dias de hoje, é fato inegável que o

trabalho, como atividade remunerada, tem acumulado, ao longo de sua trajetória

histórica, uma importância vital na vida dos indivíduos, em vários modos de

produção, principalmente no modo de produção capitalista.

Esse fenômeno deve-se, inclusive, ao fato de que o trabalho se constitui

no modo de produção capitalista, em uma atividade pela qual o ser humano pode se

realizar, tendo a oportunidade de constituir-se no Ser criativo. Outro fator, também, é

que o trabalho sempre foi uma atividade em que a classe que detém os meios de

produção necessita da força de trabalho, geralmente mal remunerada, para se

reproduzir.

Todavia, tanto M. de Fátima de L. Pinel (2004) quanto De Masi

(2000) apontam que refletir sobre o trabalho, começa e passa necessariamente por

refleti-lo como trabalho criativo, contrapondo-se ao trabalho na Era Industrial,

ressaltando o modo como às novas tecnologias, principalmente a proporcionada

pelo uso da Internet, podem influir nas formas de organização do trabalho, como

acontece na Era Pós-Industrial. Hoje, por exemplo, não é mais necessário sair de

casa para fazer compras, pedir alimentos prontos, assistir a uma conferência, coisa

impossível de se pensar a algum tempo atrás.

De fato, a Internet, representa um mundo de informações, conhecimentos,

oportunidades, negócios, emprego, enfim, oferece aos seus usuários infinitas

possibilidades que facilitam a vida pessoal, acadêmica, profissional, entre outras.

Por isso mesmo, modificou as relações interpessoais e as relações de trabalho.

Ligado à Internet, o trabalhador pode se comunicar com todos, dentro e fora da

empresa.

Fala-se, portanto, de uma transformação do modo de pensar e organizar o

trabalho, não mais em um espaço físico fixo, mas através do ciberespaço, utilizando

a Tecnologia da Informação e Comunicação, na forma de Teletrabalho.

No Brasil, o Teletrabalho, em comparação aos países da Europa e

Estados Unidos, ainda é pouco conhecido e suas formas de Teletrabalhar não são

bem compreendidas pelas Empresas e nem pelos trabalhadores. Daí a necessidade

de se discutir mais sobre o tema.

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Nesse contexto, este estudo desenvolveu-se sob a pretensão de refletir

sobre o Teletrabalho, apontando, a partir de uma análise do modo atual de

organização e gestão do trabalho, na era Pós-Industrial, as vantagens e

desvantagens para a empresa e para os trabalhadores.

Nesse sentido e entendendo que não se pode falar do Teletrabalho sem

inseri-lo em uma sociedade, reflete-se o Teletrabalho na era Pós-Industrial, a partir

da reorganização global do modo de produção capitalista, sem que aí esteja incluída

a noção de terceirização, mas de trabalho direto com a empresa, sem estar na

empresa. Neste ínterim são colocados, também, o gerenciamento dessa forma de

trabalho e as vantagens e desvantagens que o Teletrabalho pode proporcionar para

os trabalhadores e para as Empresas.

Nesta linha de análise, utiliza-se como procedimento metodológico, a

Pesquisa Bibliográfica. Recorre-se, basicamente, à revisão de literaturas,

fundamentadas principalmente: nas reflexões de Domenico de Masi; nas análises de

M. de Fátima de L. Pinel; e nas contribuições de Peter Drucker .

Enfim, o presente trabalho pretende, com as reflexões acerca do

Teletrabalho, no mínimo suscitar o debate, além de difundi-lo, é claro. Por isso

mesmo, tal estudo não tem a pretensão de esgotar o tema, mas no máximo, deixar

visualizar elementos que dêem subsídios para a compreensão e crítica, na forma de

como se organiza o trabalho na Era Pós-Industrial.

2 O TELETRABALHO NA ERA PÓS-INDUSTRIAL

O trabalho, na era Pós-Industrial2, na forma de Teletrabalho, ganhou outro

significado, graças ao uso de tecnologias da informação e comunicação: trabalhar é

estar fora da empresa. A jornada de trabalho é indefinida.

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______________2Alguns autores preferem chamar essa era de Sociedade da Informação ou do Conhecimento. Na verdade, não se trata da Sociedade como um todo, mas a parte desenvolvida dessa Sociedade em termos materiais e econômicos. Isso nos leva a uma compreensão de período histórico que não é bem definido. Na mesma Sociedade de determinados períodos históricos, encontram-se vários modos de produção, tendo a prevalência de um deles, que, no caso do século XXI, seria a era da Informação e da produção imaterial.

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT),

Teletrabalho pode ser entendido como “a forma de trabalho efetuada em lugar

distante do escritório central e/ou do centro de produção, que permita a separação

física e que implique o uso de uma nova tecnologia facilitadora da comunicação”

(OIT apud PINEL, 2004).

Todavia, fez-se opção pela definição de De Masi (2000, p. 204), que diz:

Teletrabalho é um trabalho realizado longe dos escritórios empresariais e dos colegas de trabalho, com comunicação independente com a sede central de trabalho e com outras sedes, através de um uso intensivo das tecnologias da comunicação e da informação, mas que não, necessariamente, sempre de natureza informática. (grifo nosso)

Muitos autores só reconhecem que é Teletrabalho quando o trabalho

utiliza-se de tecnologias de informação e comunicação. No entanto, nem sempre,

uma empresa que fornece ao seu empregado, computador, fax, modem, telefone

celular, está habilitada para o Teletrabalho. Por outro lado, com a crescente

democratização da informática, através do computador, nota-se que o uso mais

freqüente do meio de comunicação e informação é por meio da internet, seja no

celular, seja no computador.

É claro que a internet é importante, mas a caracterização fundamental do

Teletrabalho é que ele é baseado numa nova atividade intelectual-criativa que, ao

contrário do trabalho manual, não poderá ser substituído por máquinas ou

equipamentos; é caracterizado pela desestruturação do trabalho físico. As máquinas

fazem o trabalho repetitivo e os seres humanos devem se preocupar com as

“atividades flexíveis, intuitivas e estéticas”. (DE MASI, 2000, p. 147). A ênfase dada

ao Teletrabalho, neste estudo, é a capacidade que o homem tem de ser criativo.

Por outro lado, há trabalhos que têm que ser prestados diretamente pela

pessoa em um local de trabalho definido pela empresa, ressalvando-se aqui, os

casos de terceirização.

Teletrabalho Trabalho a Distância, Trabalho Autônomo parecem significar

a mesma coisa, mas necessitam de melhor explicitação: O Tele trabalho está muito

bem definido acima, na citação de Domenico de Masi; o Trabalho a Distância, nem

sempre, é caracterizado como um Teletrabalho, na medida em que os Autônomos

podem prestar serviço, sem vínculo empregatício; e os Autônomos são aqueles

trabalhadores, sem vínculo empregatício, que prestam serviços à pessoa ou

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empresas e às instituições públicas ou privadas e que, para este estudo, não podem

configurar-se como Teletrabalhadores.

2.1A Organização do Teletrabalho

Segundo pesquisas feitas, o Teletrabalho pode ser organizado em

diversas formas, dependendo da atividade específica de cada empresa; por

exemplo: em Domicílio e/ou Residencial ou, ainda, Home-Office; Móvel; Escritórios

Satélites ou Centros de Teleserviços, etc.

O Trabalho em Domicílio ou Residencial ou Home-Office é o trabalho que

é feito na própria casa do empregado através de computador ou fax interligado a um

escritório central.

O arquiteto Silvio Heilbut (apud, BATISTA, p. 24), analisando a tendência

do futuro, afirma que, sem dúvida nenhuma, o empregado pode perfeitamente

trabalhar em casa, pois as novas tecnologias permitem isso.

No estudo de Schweitzwer (2003, p. 28) sobre Teletrabalho, ele cita que o

Home-Office possui quatro categorias:

(1) teletrabalhadores empregados - são funcionários de uma organização cujo contrato de trabalho inclui também o domicílio como local de trabalho; (2) teletrabalhadores informais – ocorre quando o funcionário adota a prática do teletrabalho sem aprovação oficial, somente com o consentimento verbal de sua chefia imediata; (3) teletrabalhadores autônomos ou free lancers - são profissionais que desenvolvem suas atividades para pessoas físicas e/ou jurídicas, que tanto podem trabalhar determinada tarefa; (4) teletrabalhadores empreendedores – são empreendedores que não possuem um escritório tradicional, e desenvolvem sua empresa em forma de rede, com os funcionários trabalhando da forma mais adequada às suas necessidades pessoais.

Apesar de o autor citar o trabalho free lancers como uma forma de

Teletrabalho em domicílio, este estudo só reconhece como Teletrabalhador aquele

que tem vínculo empregatício com a Empresa.

Ainda sobre trabalho em domicílio, Ivan Rocha (2003, p. 50) diz que esses

trabalhadores são “uma nova geração de trabalhadores, que produzem basicamente

em casa, que se transformam em escritórios ou, mais apropriadamente, em ateliês

domésticos – home offices de criação”.

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O Móvel ou Escritório Virtual (Virtual Office), como o próprio nome diz, é o

trabalho realizado em qualquer lugar, utilizando recurso da tecnologia da

Comunicação móvel como laptops, computadores de mão, celulares, interligados a

internet, etc. Não tem lugar e tempo fixos. Os trabalhadores são itinerantes, mas

sempre em contato com a Organização empregadora.

O Escritório Satélite ou Centro de Teleserviços, segundo Pinel (2004, p.2),

“é um centro de trabalho remoto que abriga pessoas trabalhando para um só

empregador. [...] são uma aplicação nova para uma velha tendência à

descentralização.”. Esses Centros são muito utilizados para transmissão de dados.

Ou, ainda, na interpretação de Schweitzer (2003, p. 26):

é um edifício de escritórios, ou parte de um edifício inteiramente de propriedade de uma organização (ou cedido mediante leasing ou locação normal), ao qual os funcionários comparecem regularmente para trabalhar. Os centros satélites localizam-se longe da sede da organização e perto do domicílio dos funcionários.

Realmente, pensar no Teletrabalho não é uma coisa simples, requer

refletir, também, sobre processo de gestão desse tipo de trabalho, bem como as

vantagens e desvantagens que ele oferece.

2.2 A Gestão do Teletrabalho

É claro que, se a forma de organização do trabalho foi modificada pela Era

Pós-Industrial, certamente a forma de gerenciar o Teletrabalho terá que ser

igualmente diferente do estilo usado até então.

O novo estilo de gestão deve adotar procedimentos condizentes com a

flexibilidade de locais e horários que tal trabalho exige, favorecendo a criatividade.

Como afirma De Masi (2000, p. 149), “com o fax, o celular, o correio eletrônico, a

internet, a secretária eletrônica, nós podemos fazer tudo em todo e qualquer lugar”.

(grifo nosso)

Portanto, a empresa do futuro é descentralizada, flexível, criativa,

organizada, em geral, em forma de rede, uma rede com pequenas unidades,

pequenas empresas, pequenos escritórios, que conversam entre si, em tempo real,

apesar de estarem a quilômetros de distância.

A Empresa flexível, criativa deve favorecer a criatividade de seus

funcionários, com uma liderança carismática e com um clima organizacional de

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entusiasmo a fim de criar idéias. E, isso vai depender muito de quanto o Gestor pode

ser também criativo e inovador, pois, dificilmente, a criatividade vai fluir, se a

empresa for administrada nos antigos modelos onde os trabalhadores apenas

executavam tarefas manuais, sem criatividade.

A empresa pós-industrial, onde a maioria é composta de trabalhadores intelectuais, a ênfase se desloca do processo executivo ao ideativo, da substância à forma, do duradouro ao efêmero, da prática à estética. [...] Significa a necessária substituição de uma cultura (moderna) do sacrifício e especialização, cuja finalidade era a sobrevivência, por uma outra (pós-moderna) do bem-estar e da interdisciplinaridade, cuja finalidade é o crescimento da subjetividade, da afetividade e da qualidade de vida. (DE MASI, 2000, p. 291)

Segundo Drucker (1998, p. 204), constitui um desafio para os gestores

dirigir um trabalhador intelectual: “vai exigir imaginação excepcional, coragem

excepcional e liderança de alta qualidade”.

Nilles (apud PINEL 2004, p.1 ), diz que

uma das questões centrais do gerenciamento do Teletrabalho é a mudança de prioridades. Ao invés de pôr em foco o número de horas trabalhadas, dá-se mais atenção a questões ligadas ao desempenho. O verdadeiro segredo do Teletrabalho bem sucedido está na confiança mútua estabelecida entre o gerente o seu subordinado. (grifo nosso)

Então, no Teletrabalhador, deve ser desenvolvida a capacidade da

autogestão para que ele mesmo possa gerenciar o processo de seu trabalho, sem

perder de vista os objetivos da empresa.

O que fica claro é que, com essa nova modalidade de trabalho,

desaparece o velho cartão de ponto, mesmo aqueles que são digitais e aparece uma

nova preocupação: a segurança das informações disponibilizadas.

Com tantos invasores de sistemas, as empresas devem proteger suas

informações. Devem implementar uma Política de Segurança para que as

informações sigilosas não acabem nas mãos de outrem. Pinel cita algumas

ferramentas como; antivírus, criptografia, etc. Mas Nilles (apud PINEL, 200 p. 2)

sugere as seguintes alternativas:

a) manter as informações fora do alcance das pessoas não-autorizadas ou torná-las inúteis quando acessadas; b) as informações sigilosas poderão ser mantidas no mainframe ou em uma rede local da empresa, de modo que os trabalhadores a acessem via modem. Neste caso, não se deve conectar o servidor de telecomunicações diretamente ao mainframe ou rede local; e, c)

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se as informações sigilosas são armazenadas no computador do funcionário, há duas formas de impedir o acesso não-autorizado: uma delas é que os dados confidenciais poderão ser codificados e a outra é a utilização de discos rígidos removíveis, possibilitando que as informações fiquem separadas do computador.

Gerenciar o Teletrabalho nem sempre é fácil. Por isso, os administradores,

mesmo que reconheçam que o Teletrabalho é um diferencial competitivo, levantam

como questão primordial: o problema de não haver uma legislação específica para

essa nova forma de atividade. Apesar de haver um Projeto de Lei específico para

amparar, juridicamente, a relação de trabalho fora da Empresa, quando há

subordinação e não terceirização, observa-se que ainda há muitas dúvidas a esse

respeito. Sobre esse assunto, analisa-se no item abaixo.

2.1.1 A Gestão da Produção no Teletrabalho

O acompanhamento do processo de trabalho dos empregados sempre foi

preocupação dos gestores. Com o Teletrabalho não é diferente, é necessário que

esse controle seja feito, todavia não da forma industrial e, sim, de maneira mais

flexível, própria da Era Pós-Industrial.

Acontece que, no Teletrabalho, o trabalhador não está à disposição do

empregador, mesmo que esteja disponível, em determinado horário estabelecido. A

ele é estipulada uma atividade, seja de ordem puramente intelectual, criativa, seja de

ordem executiva. Um exemplo, no caso da atividade intelectual, que poderia

esclarecer esta afirmação, é a elaboração de um Projeto para a diversificação de um

produto da Empresa.

Com a fixação da atividade, o controle do empresário dá-se através da

finalização do prazo que foi estabelecido para a consecução do Teletrabalho, não

ficando o trabalhador integralmente à disposição de seu empregador em

determinado período. Esse Teletrabalhador executará sua atividade em qualquer

hora do dia ou da noite, a seu bel-prazer, no período em que lhe for conveniente.

De acordo com Pinel (2004, p.2), cada atividade também requer um ou

outro tipo de tecnologia.

a necessidade de utilização de recursos de informática com uma configuração básica ou mais sofisticada, quem vai ditar são os tipos de atividades em que o Teletrabalhador vai realizar, o nível de confiabilidade das informações que serão processadas e

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transmitidas, a freqüência e volume dos dados utilizados, a freqüência em que os mesmos serão disponibilizados, a forma em que as reuniões de teletrabalhadores ocorrerão, o tipo de negócio, clientes e mercado.

Dependendo da atividade, o Teletrabalhador nem precisa entrar em

contato com o empregador durante o tempo em que executa seu trabalho. É claro

que dados da empresa estarão a sua disposição, virtualmente, para que ele possa

bem desempenhar a sua função. Portanto, não há perigo de haver exploração.

Ao fim do prazo estabelecido para a execução da atividade, terá o

Teletrabalhador a obrigação legal de entregá-la a seu empregador, podendo mesmo

ser estabelecida uma hierarquia de funções na empresa, visualizada através de

organograma, para a entrega do trabalho de forma virtual a um responsável.

Com essa construção teórica sobre a gestão do controle do trabalho,

muitas concepções administrativas são jogadas por terra, como por exemplo, fazer

da empresa uma família, de vez que o trabalhador já tem a sua família, com a qual

ele passa a conviver mais freqüentemente. Outra concepção é a da qualidade total,

que passará a ser exigida do Teletrabalhador e não mais do setor onde ele trabalha.

Esse fato vem contrariar interesses e conveniências das classes intelectual e

empresarial conservadora, daí não ser muito bem recebida a idéia do Teletrabalho, a

não ser como coisa de futuro bem distante. Contudo, pode-se observar, na prática, a

implantação dessa idéia, em diversas partes do mundo.

Mas, ainda há uma enorme confusão por parte dos empresários

conservadores, sobre como estipular e acompanhar o trabalho fora da Empresa,

chegando-se mesmo a confundi-lo com terceirização.

2.1.2 O Problema da Legislação do TeleTrabalho

2.1.2.1 O Vínculo Empregatício no Teletrabalho

Quando alguns autores falam sobre a necessidade de uma legislação

específica para o Teletrabalho, na verdade estão defendendo que o Teletrabalho

pode ser realizado sem o vínculo empregatício. Comparando-o com o trabalho in

loco, exige-se do Teletrabalhador os mesmos requisitos para aquele que dá seu

expediente na empresa. Em síntese, permanece o vínculo, não importa onde esse

trabalho se realize.

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Isto se dá em virtude de um fenômeno jurídico muito comum nos tempos

atuais, em que o surgimento de modalidades diversas de vida e novos fatos jurídicos

dão à impressão, de imediato, da necessidade de uma legislação específica, o que

nem sempre é o caso, como no Teletrabalho.

Em função disso, tanto o trabalho in loco quanto o Teletrabalho são

evidentemente relações de trabalho idênticas, mudando apenas o local de exercício

desse trabalho.

A legislação de 1943, a antiga Consolidação das Leis do Trabalho (CLT

Art. 3º) e o Projeto que corre na Câmara Federal, no Brasil, sobre o Código do

Trabalho trataram-no sob o ponto de vista de 3 aspectos: a) como relação

remunerada; b) como relação de subordinação; e c) prestação de serviço de

natureza não eventual. Isso significa que, se o Teletrabalhador estiver dentro de

uma dessas condições de trabalho, ele tem o seu vínculo empregatício garantido em

Lei.

O exemplo de vínculo empregatício, o portal da Revista Melhor Gestão de

Pessoas publicou uma reportagem sobre “Vínculo Empregatício”. Diz o artigo: em

decisão recente, a 4ª Turma do tribunal Regional do Trabalho de São Paulo “definiu

como relação de emprego a situação de um trabalhador que distribuía panfletos,

porque a prestação de serviço era remunerada, subordinada, e habitual”. (grifo

nosso)

Na mesma reportagem, a advogada Crislaine Simões enumera os

requisitos que caracterizam o vínculo empregatício, que também serviram de base

para a decisão do TRT. São eles: “ser pessoa física; trabalhar com habitualidade;

trabalhar para uma pessoa jurídica; receber salário e depender economicamente do

empregador; receber ordens; não poder se fazer substituir”.

Verifica-se, portanto, que não há distinção da concepção na era Pós-

Industrial de Teletrabalho para aquele tipo de trabalho que é realizado, ainda hoje,

no conceito da Era Industrial, ou seja, executado no próprio local da empresa.

Desta forma, não fica órfão de legislação o direito do trabalhador na

garantia dos seus direitos humano e como trabalhador. Assim, não haverá, salvo

abuso de direito questionável na justiça, redução das conquistas trabalhistas

adquiridas ao longo dos anos.

A exploração do Teletrabalhador, a qualquer hora e a qualquer dia, está

descartada pelo próprio funcionamento do cérebro do Teletrabalhador ao executar

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uma atividade criativa, uma vez que as idéias não são autocomandáveis nem pelo

indivíduo e muito menos pelas Empresas. Portanto, torna-se impossível que a

Empresa faça com que o Teletabalhador tenha idéias quando ela assim o desejar.

Essa flexibilidade da Era criativa desobriga, na relação de trabalho, o

Teletrabalhador a “estar presente”, a todo o momento, inventando idéias para

alavancar o desenvolvimento da Organização.

A pré-disponibilidade cerebral do trabalhador, ao mesmo tempo em que o

desobriga de um horário fechado, estipulado, imposto pela Empresa, o obriga a

cumprir tarefas de criação onde quer que esteja.

Muitos trabalhadores, mesmo fora da empresa e sem ser remunerados

por isso, sentem-se na obrigação de mostrar eficiência, de pensar no seu trabalho.

Além de tudo isso, cumprem, ainda, um horário rígido na Organização, às vezes

ultrapassando o seu horário de trabalho, para obter um resultado mais competitivo.

Estes, por vezes, sentem-se sobrecarregados por não conseguirem se desligar do

seu trabalho.

Isso não aconteceria com o Teletrabalhador pago para pensar e criar a

qualquer tempo e hora, mas obedecendo ao seu ritmo de criação e não a um horário

pré-estabelecido, como se discute no item a seguir.

2.1.2.2 Terceirização e Teletrabalho

Para alguns autores, a terceirização se apresenta como a possibilidade de

contratar para realizar atividades que não constituem o objeto principal da Empresa;

para outros, como Carelli (2002, p.35), “não há norma proibindo a terceirização, seja

em atividade-fim seja em atividade-meio. E nem seria razoável haver, pois a forma

de gerenciar seu negócio e em quais setores vai atuar, deve ser decisão da própria

empresa”.

Em outras palavras, a terceirização é a prestação de serviços entre o

prestador, que é empregado da empresa prestadora contratada e o contratante, que

se beneficia dos serviços prestados. Existe, assim, uma relação de emprego, em

que há ausência de personalidade e de subordinação jurídica direta entre o

empregado e a instituição tomadora de serviços, apesar da responsabilidade

trabalhista subsidiária, seja ela pessoa jurídica de direito público ou privado. Por isso

mesmo não se defende Teletrabalho terceirizado, pois o empregado, por definição

do que é o serviço terceirizado, já está fora da sua empresa empregadora,

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prestando serviços para outra. E o Teletrabalho é desenvolvido fora da Empresa

empregadora, em qualquer parte do mundo e não dentro de outra empresa

prestando serviços.

Segundo Oliveira (1994, p. 69), terceirização não pode ser confundida

com a idéia de alguém que trabalhe na sua própria casa, como no caso do

Teletrabalho. Ele comenta que o fato de a pessoa estar fora da empresa onde

trabalha não caracteriza relação de terceirização. “Na realidade, pode-se

perfeitamente ser empregado regular de uma empresa e trabalhar em casa,

desobrigado do comparecimento regular ao escritório, ou mesmo à fábrica”.

A Revista Corporação (2005, p.44), na sua edição especial sobre

tecnologia, destacou, em dos seus artigos, que a terceirização é o terceiro grupo de

serviços profissionais na área da tecnologia, perdendo apenas para os serviços de

consultoria de sistemas e de redes e para o grupo de integração, que inclui todos os

projetos nos quais mais de um serviço profissional puro (consultoria, treinamento,

desenvolvimento de aplicativo e suporte técnico) é incorporado.

Segundo o artigo, a terceirização vem sendo muito usada na área de

tecnologia e compreende duas vertentes: a primeira inclui somente a área de

sistemas (redes, servidores, sistemas de armazenamento e aplicativos); a segunda

abrange processos de negócios inteiros (por exemplo, área de recursos humanos),

incluindo a infra-estrutura de tecnologia para suportá-los, que é entregue para um

provedor de serviços tomar conta.

Porém o artigo ressalta que existe a terceirização de fachada, isto é,

gerentes e profissionais de maior nível salarial abrem empresas que são contratadas para trabalhar como prestadores de serviço, Mas é apenas um estratagema para os dois lados pagarem menos impostos, já que tudo fica como estava.

Por isso mesmo, o artigo destaca que, na área da tecnologia, todo o

cuidado é pouco; é preciso estabelecer parâmetros bem definidos para reconhecer

processos de terceirização. Destacam-se duas condições interessantes: a primeira é

ter continuidade: se o contrato tiver data pré-definida para terminar, não é

terceirização; a segunda é que o prestador de serviços deve ter envolvimento

razoável com o gerenciamento da operação, dando ao cliente mais tempo para se

preocupar com assuntos estratégicos para o seu negócio.

Isso demonstra que as empresas devem tomar muito cuidado quando

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optarem por terceirizar seus serviços, principalmente na área de tecnologia. Se as

empresas optarem pelo Teletrabalho não terão os problemas acima mencionados.

Como se observa, a terceirização está sendo usada, em todas as áreas,

de maneira irresponsável, como alternativa apenas para burlar o recolhimento dos

impostos, na medida em que a empresa contratante não está interessada em saber

se a prestadora de serviços possui ou não funcionários legalmente contratados.

Convém observar que o conceito de terceirização, em nenhum momento,

implica repasse de trabalhadores ou de fornecimento de mão-de-obra, sem o

respeito aos direitos trabalhistas. A característica básica da terceirização é o

repasse dos serviços ou atividades especializadas para Empresas que disponham

de melhores condições técnicas para fazê-lo.

Na administração pública, dada a obrigatoriedade constitucional de

concurso público, seria um absurdo pensar em terceirização. Pode haver, no

máximo, a contratação temporária, conforme previsto em Lei. No entanto, é

perfeitamente legal Teletrabalhar, desde que o Teletrabalhador tenha vínculo

empregatício com o serviço público.

Na administração privada, o Teletrabalho pode ser organizado de várias

formas como aborda o item a seguir.

2.3 As Vantagens e Desvantagens do Teletrabalho

2.3.1 Para o Teletrabalhador

Na Sociedade Pós-Industrial, as idéias criativas são geradas em

conversas informais, ou em qualquer lugar fora do ambiente tradicional de trabalho.

Portanto, o trabalhador pode Teletrabalhar ao mesmo tempo em que desfruta do seu

ambiente domiciliar.

Outra vantagem é que, se o Teletrabalhador não precisa sair de casa, ele

não terá o estresse de sair correndo para não perder a hora de entrar no escritório,

nem enfrentará o trânsito no seu horário mais difícil, além de economizar “o tempo

que era gasto para os deslocamentos cotidianos entre o lar e o escritório”. (DE

MASI, 2000, p. 155)

O fato de as pessoas morarem longe da Empresa não será mais

impedimento para não ser contratado. As pessoas poderão morar em qualquer lugar

do mundo, até na zona rural. Todas as informações que precisam para trabalharem

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poderão ser deslocadas até onde os Teletrabalhadores estão. Afinal de contas, no

mundo globalizado, na era da informação, todos podem ter acesso a todo e qualquer

tipo de informação que desejarem, em qualquer lugar do globo.

Segundo De Masi (2000, p. 163), “pesquisas sobre Teletrabalho [...]

evidenciam que as tarefas que, na empresa, requerem de oito a dez horas para

serem realizadas, em casa se realizam, comodamente, na metade do tempo”. O que

sugere que, no Teletrabalho, há um considerável aumento da produtividade, além da

possibilidade de redução das horas de trabalho.

O vice-presidente de recursos humanos da American Express, o Sr.

Salvador Evangelista, afirma que consegue se “concentrar melhor para produzir

análises e relatórios estratégicos”; o Sr. Edson Shiwa, vice-presidente da área de

imagem da HP, diz que agora “não precisa ficar no escritório até de madrugada para

participar de conferências internacionais”; o gerente de vendas da General Eletric, o

Sr. Edilson Azeituno, diz que “não perde tempo com conversas e reuniões

desnecessárias e que passou a visitar 40% mais clientes”. (WEINBERG 2006, p. 98

e 99).

Isso é possível porque cada pessoa possui seu ritmo de trabalho. No

Teletrabalho, o próprio trabalhador pode estabelecer os seus próprios horários,

contanto que produza. Isso contribui para a melhoria da qualidade de vida, já que o

estresse e o esgotamento físico, causados pela pressão dos gestores viciados em

overtime3, constituem, hoje, um mal da modernidade.

Por outro lado, estando em casa e com ajuda da tecnologia (alimentos

pré-cozidos, controle da natalidade, etc.) e de uma infinidade de eletrodomésticos,

que facilitaram o trabalho doméstico, o Teletrabalhador pode dispensar os serviços

de empregados domésticos e economizar o seu salário.

E, apesar do controle fazer parte da administração do negócio, o

Teletrabalhador se sentirá menos pressionado, por estar desenvolvendo uma

atividade fora da empresa.

Como desvantagem, o Teletrabalho tende a modificar as relações

interpessoais e transformá-las em relações virtuais. Dentro da Empresa, as pessoas

passam a se comunicar mais pelo telefone celular, E-mail, etc. Isso pode contribuir

para o isolamento social e perda do calor humano no trabalho.

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______________3 Overtime é um fenômeno no qual o empregado se habitua a trabalhar, assume todas as tarefas; o tempo que passa na empresa já não é mais suficiente, ele faz horas extras, mesmo que não sejam remuneradas. Sacrifica todos a sua volta pela empresa.

Pinel (2004, p.6) cita um exemplo de uma empresa, em Cambridge,

Inglaterra, que, para aliviar o trauma psicológico causado pela comunicação

eletrônica e que acompanha o rompimento espacial,

está fazendo experiência com computadores que permitem que até cinco pessoas conversem e trabalhem juntas, numa visão eletrônica da comunicação pessoal. Cada tela do monitor é equipada com cinco janelas separadas, para que os participantes possam ver-se uns aos outros, enquanto compartilham informações e trabalham em conjunto.

Hoje, isso é perfeitamente possível, graças à telecâmeras, que

combinadas à Internet, permitem ver a pessoa com quem se está conversando

através do computador, podendo, assim, transmitir e receber emoções, minimizando

a diminuição do contato físico.

É claro que, se a empresa não arcar com os custos relacionados ao

trabalho em casa, o Teletrabalhador terá que arcar com ônus, talvez mudando toda

a rotina da casa, dos hábitos pessoais e das relações familiares.

Outro problema que os Teletrabalhadores enfrentam é a falta de uma lei

específica para tratar a complexa relação entre gestores e Teletrabalhadores.

2.3.2 Para a Empresa

A maior vantagem do Teletrabalho para as empresas é, sem dúvida, a

redução dos custos e o conseqüente aumento da produtividade.

A empresa terá seus custos sensivelmente reduzidos com as estruturas

físicas, que não precisarão ser grandes e com mobiliário.

Pinel (2004, p. 28) afirma que

estudos americanos comprovam que a redução de custos da empresa, quando o funcionário passa a trabalhar na sua residência, pode chegar a 30% do gasto médio mensal por trabalhador, caindo de US$ 20,000 para US$ 14,000 anuais.

Já Letícia Sorg (2005, p.58 ) afirma que “45 milhões de pessoas, cerca de

um terço da população com emprego, trabalham parte do tempo em casa” (grifo

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nosso). E acrescenta que um estudo feito na Empresa AT&T concluiu que

os Teletrabalhadores têm produtividade mais alta que a dos demais. A vantagem econômica para AT&T não pára por aí. A Empresa calcula economizar 34 milhões de dólares por ano em aluguel e espaço para esses funcionários.

Geralmente, esses funcionários usam um computador de mão com acesso

à internet sem fio para teletrabalharem. Sempre em contato com a Organização,

essa ferramenta possibilita ao funcionário ler e enviar e-mails, consultar planilhas e

textos de trabalho de qualquer lugar do mundo. Como no Teletrabalho pode ser

usada a tecnologia de voz pela internet (VoIP), além de dar maior mobilidade ao

funcionário, permite que a empresa economize uma soma considerável nas

ligações internacionais.

Do mesmo modo, Werneck (2005, p. 84) afirma: “admite-se o Teletrabalho

como um processo viável e mais econômico para as empresas, atingindo-se o

mesmo objetivo de produção”.

O Diretor de Recursos Humanos da IBM, o Sr. Alessandro Bonorino,

(apud, WEINBERG 2006, p.99), fala das vantagens que a empresa consegue, com a

implantação do Sistema, em 2001, de trabalho em casa. Uma das vantagens é que

ajuda atrair os bons profissionais para a Empresa; outra vantagem é que leva ao

aumento da produtividade, 30%, estimadamente; e, por fim, a Empresa reduz custos

fixos ao manter um escritório com poucos funcionários. Ele conta que cerca de 70%

dos funcionários, independente de posição hierárquica, podem trabalhar sob esse

regime, com exceção dos profissionais imprescindíveis na Empresa. Geralmente os

funcionários negociam com os respectivos chefes as condições de trabalho, que

pode ser de um a cinco dias por semana, trabalhando em casa.

O arquiteto Silvio Heilbut (apud, BATISTA, p. 24) destaca que a empresa

pode reduzir gastos com o trabalho em casa, pois o funcionário, trabalhando na

empresa, além de ocupar espaço físico, ocupa vaga na garagem, aumenta a carga

térmica no sistema de ar condicionado, consumo de telefone, energia elétrica e até

mesmo café.

Outra vantagem competitiva para as empresas é a flexibilidade

organizacional e econômica. Falando dessa última, a empresa poderá contratar uma

pessoa que está na mesma cidade, além de outra, se o piso salarial for menor, em

16

qualquer parte do mundo.

O absenteísmo é outro aspecto com que a empresa não terá mais tantos

problemas, pois, por mais que o trabalhador esteja doente e não possa ir ao

escritório, ainda assim ele poderá Teletrabalhar. Também a pessoa, que por

qualquer motivo, está incapacitada temporariamente poderá voltar mais rápido ao

trabalho.

Por outro lado, se a empresa assim preferir, poderá combinar o trabalho

no escritório com o Teletrabalho. Dependendo da necessidade, o empregado

poderá ir ao escritório central para trabalhar.

Outras vantagens selecionadas por Pinel (2004, p. 28) são:

Oportunidade de a empresa operar 24 horas globalmente; [...]. Em casos de catástrofe, que não implique bloqueio de telecomunicações, as atividades desenvolvidas pelos Teletrabalhadores não são descontinuadas;Maior agilidade do funcionamento da Empresa, em relação ao mercado; Menor rotatividade de pessoal, diminuição de problemas pessoais; [...].

E, mesmo em situações de desastre natural, terremotos, enchentes, etc.,

as empresas não serão prejudicadas por falta de funcionários para trabalhar.

Com a Lei 8.213/91, regulamentada pelo Decreto n°3.298/99, as

empresas com mais de 100 funcionários são obrigadas a contratar pessoas com

qualquer tipo de deficiência. No entanto, pesquisas demonstram que essa Lei ainda

está longe de ser cumprida, por vários motivos, exemplificando: primeiro, a empresa

precisa adequar toda sua estrutura física (rampas, banheiros adaptados,

equipamentos especiais, elevadores com sinalizador de voz, etc.) e mobiliária

(cadeiras e mesas especiais, computadores com software de voz, impressora que

imprime em Braille, etc.), além de contratação de, pelo menos, um intérprete da

língua de sinais (para grandes eventos empresariais), para que o portador de

deficiência possa trabalhar; segundo, na preocupação de cumprir a Lei, as

empresas contratam essas pessoas, mas não aproveitam seu potencial criativo, já

que muitos portadores de necessidades especiais, hoje, estão nas Universidades e

são extremamente inteligentes. A empresa acaba quase sempre limitando o

potencial dessas pessoas a tarefas operacionais, como por exemplo, deficientes

auditivos, segregados em seções de contagem de materiais e deficientes visuais,

confinados em câmaras escuras.

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Segundo Carvalho (2005, p. 34), “o mercado é míope e, em vez de focar

nas potencialidades do candidato com deficiência, foca na sua limitação”. No

Teletrabalho, a empresa terá sempre que focar nas potencialidades criativas dos

seus empregados, oportunidade em que poderá demonstrar o quanto é responsável

socialmente.

O arquiteto Silvio Heilbut (apud, BATISTA, p. 24) alerta para o fato de que

a Empresa deve ter especial cuidado com a escolha de um local apropriado dentro

da casa do funcionário para que ele possa trabalhar. Como num escritório, a

iluminação adequada e mobiliário com design, que permita que o Teletrabalhador

exerça suas atividades, é de fundamental importância para que ele possa

teletrabalhar com conforto e segurança. Também deve assegurar que os problemas

do lar não se misturem com os da Empresa.

Todavia, há desvantagens e uma delas é a “falta de lealdade para com a

empresa”. Outra são os “contratos diversificados de trabalho” que as empresas têm

que administrar, além de que o desenvolvimento do trabalho depende quase que

exclusivamente da tecnologia. (PINEL, 2004, P.7).

Outra desvantagem é a dificuldade que os gestores têm de controlar seus

Teletrabalhadores, “seja em termos da relação pessoal, seja do ponto de vista do

processo de trabalho. O controle só pode ser feito com o produto acabado”, ou os

resultados (DE MASI, 2000, p. 208).

2.3.3 Para o Governo e a Sociedade

Todo Governo tem a preocupação com a geração de empregos. E muitos

são os projetos que prometem diminuir o desemprego e aumentar o número de

oferta de empregos. Com o Teletrabalho, abrem-se oportunidades infinitas, tanto em

relação à criatividade, quanto à oportunidade de gerar emprego para atender a

mercados globais. No entanto, De Masi alerta que poderá haver a necessidade de

conter as tarifas das comunicações e serviços.

Vale ressaltar, ainda, que, estando o homem ou a mulher trabalhando em

casa, restabelece-se os vínculos familiares, base da criação saudável de crianças e

adolescentes e, por isso, tão importantes na vida dos indivíduos em sociedade.

Com o Teletrabalho, a poluição e caos do tráfego urbano tende a diminuir,

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o que proporcionará melhor qualidade de vida para todos.

Os portadores de necessidades especiais poderão ter sua “mão-de-obra”

mais bem utilizada. Muitos são extremamente inteligentes, mas são rejeitados, por

preconceito das empresas.

Hoje, com a Lei de Assistência Social n° 8.742/93 (LOAS-V do Art.2),

todos os portadores de necessidades especiais e idosos, que não tiverem condições

de se sustentar ou de serem sustentados por sua família, deverão receber (um)

salário mínimo para seu sustento.

De acordo com Carvalho (2005, p. 31),

há aproximadamente 6 milhões de pessoas deficientes em idade economicamente ativa, no Brasil, das quais 1 milhão deve estar no mercado de trabalho informal e apenas 158 mil legalmente empregados.

Se os portadores de necessidades especiais forem incluídos no mercado

de trabalho e adquirirem sua independência financeira, o governo economizará

milhões. Por exemplo, deficientes físicos que, talvez, tenham dificuldade muito

grande de locomoção poderão desempenhar suas atividades em casa, ou em outros

locais. Até mesmo aqueles que tiverem múltiplas deficiências poderão trabalhar, se

o cérebro não estiver comprometido, pois o trabalho imaterial não necessita de

esforço físico.

Segundo Pinel (2004, p.4), “o ciberespaço possibilita a pessoas portadora

de deficiência uma perspectiva totalmente nova, uma vez que não existem mais

obstáculos em sua deficiência”.

Ela mesma afirma que não há desvantagens para o Governo e nem para

a sociedade. No entanto, para os Sindicatos, alguns autores sustentam que pode

haver uma desmobilização provocada pelo distanciamento entre empregados e

empresa.

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3 CONCLUSÃO

As reflexões feitas, ao longo deste estudo, permitiram compreender que o

real significado do trabalho e do Teletrabalho não se revelam imediatamente, mas

adquire sentido e descobrem suas possibilidades, na história da sociedade em que

se inserem.

Ficou claro, também, que o trabalho a distância pode ser caracterizado

como Teletrabalho, isto é, o Teletrabalho é uma modalidade do trabalho a distância,

mas não se confunde com ele, na medida em que o trabalho a distância pode ser

desenvolvido pelo trabalhador autônomo.

Neste contexto, o Teletrabalho, também, pode ser desenvolvido em

domicílio, mas não se limita ao domicílio; é, acima de tudo, uma atividade criativa,

desenvolvida com o auxílio das modernas tecnologias da informação e da

comunicação, que pode ser desenvolvida em qualquer lugar do planeta.

Neste sentido, é obvio que o Teletrabalho, defendido neste estudo, não se

confunde com a terceirização, pois, nela, o trabalhador já está fora do seu local de

trabalho, prestando serviço na empresa contratante ou para ela, sem, contudo

possuir vínculo.

Sendo assim, diante da nova forma de reorganização global do modo de

produção capitalista, na Era Pós-Industrial, do avanço tecnológico e do

desenvolvimento de tecnologias de informação e telecomunicação, concluiu-se que

o Teletrabalho é um modo novo de organizar o trabalho e que responde muito bem

às novas exigências do mercado globalizado. Esse trabalho é muito mais do que

um trabalho fora da empresa, mas, acima de tudo, representa a predominância do

trabalho intelectual sobre o manual, característica da Era da Informação e dos

serviços.

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RESUMÉE:

C’est une réflexion sur le travail a la distance d’après un abordage téorique, mais

non éloigné des élements pratiques, sur la forme de l’organization du travail à

l’époque post-industriel. Il faut rehausser l’administration du travail a la distance et le

problème de la legislation et de la délégation du travail. C’est un abordage des

vantages et désavantages pour l’entreprise et pour les travailleurs.

Les mots principaux: Le travail a la distance. L’époque post-industriel.

L’administration. Les vantages. Les désavantages.

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