monografia final lisiane

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UIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRADE DO SUL ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MOTRICIDADE IFATIL COTRIBUIÇÕES DA PRÁTICA DA GIÁSTICA OLÍMPICA COMO ESPORTE DE BASE PARA A AQUISIÇÃO DE HABILIDADES MOTORAS FUDAMETAIS Lisiane Lewis Xerxenevsky Bergue Professora Orientadora: ádia Valentini Porto Alegre, dezembro de 2005

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Acho que finalmente consegui fazer o upload da monografia. Espero que de certo!

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Page 1: Monografia Final Lisiane

U�IVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRA�DE DO SUL

ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MOTRICIDADE I�FA�TIL

CO�TRIBUIÇÕES DA PRÁTICA DA GI�ÁSTICA OLÍMPICA COMO ESPORTE

DE BASE PARA A AQUISIÇÃO DE HABILIDADES MOTORAS

FU�DAME�TAIS

Lisiane Lewis Xerxenevsky Bergue

Professora Orientadora: �ádia Valentini

Porto Alegre, dezembro de 2005

Page 2: Monografia Final Lisiane

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SUMÁRIO

Pág.

1) INTRODUÇÃO.................................................................................................. 7

1.1) Justificativa............................................................................................... 9

1.2) Por que avaliar?........................................................................................ 10

1.3) Objetivos................................................................................................... 11

1.4) Hipóteses................................................................................................... 11

2) REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................... 12

2.1) Breve histórico da Ginástica Olímpica...................................................... 12

2.2) Considerações sobre a Ginástica Olímpica ............................................... 13

2.3) A Ginástica Olímpica como esporte de base para outras habilidades....... 16

2.4) Habilidades Motoras Fundamentais ......................................................... 17

2.5) Dificuldades das crianças nas habilidades motoras fundamentais ............ 21

2.6) Habilidades motoras fundamentais como base para o desporto

especializado. ............................................................................................

22

3) MATERIAL E MÉTODOS................................................................................ 24

3.1) Amostra...................................................................................................... 24

3.2) Instrumento Avaliativo.............................................................................. 24

3.2.1) Movimentos Locomotores............................................................. 25

3.2.2) Movimentos Manipulativos........................................................... 32

3.2.3) Movimentos Estabilizadores.......................................................... 36

3.3) Procedimentos............................................................................................ 40

4) RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................ 42

5) CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 46

Page 3: Monografia Final Lisiane

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6) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 49

ANEXO 1- Proposta de atividade

ANEXO 2 – Tabela mestre

ANEXO 3 - Tabela de avaliação para a habilidade de locomoção

ANEXO 4 - Tabela de avaliação para habilidades manipulativas

ANEXO 5 – Tabela de avaliação para habilidades de estabilização

Page 4: Monografia Final Lisiane

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AGRADECIME�TOS

O resultado deste trabalho é a soma dos esforços de muitos que contribuíram de

forma efetiva na sua realização, sem os quais jamais seria possível.

Em primeiro lugar a minha professora orientadora Nádia Valentini, que foi uma

nova esperança na minha volta aos estudos, diria que a grande surpresa do curso de

especialização da UFRGS. Uma pessoa nem sempre disponível por seus inúmeros

compromissos e alunos enlouquecidos em busca de suas orientações, mas sempre disposta e

acessível em saciar a nossa sede de conhecimento. Seus ensinamentos estarão para sempre

guardados no meu coração.

À todos os professores e colegas do curso de especialização em motricidade infantil

que contribuíram na construção do meu conhecimento.

Ao casal Sérgio e Luisa Stringhini. Ele por “segurar as pontas” enquanto eu

frequentava as aulas e ela por me incentivar e auxiliar decisivamente para que eu pudesse

concluir o curso.

Ao Coordenador do curso de especialização e Diretor da Escola de Educação Física

da UFRGS Ricardo Pertersen, por estar sempre disponível durante o curso e conceder parte

de uma bolsa sem o qual ficaria difícil, se não impossível iniciar o curso.

À minha família, pais, irmãos, avós, sobrinhos, cunhados e meus sogros pela minha

formação e aprendizado diário que permitiu-me chegar até aqui.

Às minha queridas atletas que suportaram as minhas faltas nos treinamentos de

sextas e sábados para que eu pudesse crescer profissionalmente e assim engrandecer o

Page 5: Monografia Final Lisiane

5

nosso trabalho. Além do mais foram elas as minha “cobaias” que permitiram a realização

deste estudo. À seus pais pela permissão de poder realizar as avaliações.

Em especial ao meu marido Cristianini, amigo e companheiro que incontáveis vezes

leu meus trabalhos com muita paciência, sempre com uma sugestão. Pelas ausências nas

noites de sexta e por tão tarde ir me buscar na ESEF sem reclamar.

À outras pessoas, não citadas aqui nominalmente, mas que contribuíram de alguma

forma para a construção deste.

Muito obrigado!

Page 6: Monografia Final Lisiane

6

RESUMO

Este trabalho de conclusão do Curso de Especialização em Motricidade Infantil tem

por objetivo principal apresentar a modalidade de ginástica olímpica como esporte de base

para a aquisição de diversas habilidades motoras fundamentais. Além do referencial teórico

sobre a ginástica olímpica e habilidades motoras fundamentais, o trabalho se concentrou em

avaliar ginastas da ESEF/UFRGS em relação a estas habilidades. Foram avaliadas dez

atletas do sexo feminino, todas praticantes de ginástica olímpica há mais de um ano e com

uma carga de treinamento de no mínimo dez horas semanais. Para esta avaliação foi

utilizada, como instrumento, a análise desenvolvimentista de Gallahue & Ozmun (2001) em

14 habilidades classificados por eles em três categorias de movimento: locomotores,

estabilizadores e manipulativos.

Das ginastas avaliadas, 100% encontraram-se no padrão maduro de

desenvolvimento nas habilidades de locomoção e estabilização e 70% nas habilidades

manipulativas, sendo o chute o pior desempenho com apenas 10% das ginastas no estágio

maduro. Foi enfatizada a importância das habilidades motoras fundamentais no

desenvolvimento das crianças e sugere-se que a ginástica olímpica pode auxiliar na

aquisição do padrão maduro destas, inclusive nas manipulativas desde que sejam oferecidas

oportunidades de uma prática variada dentro da modalidade.

O trabalho apresenta ainda uma proposta de atividade de ginástica para crianças que

desenvolva as habilidades motoras fundamentais utilizando materiais acessíveis e

adaptáveis adequada, portanto, as necessidades infantis.

Page 7: Monografia Final Lisiane

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1) I�TRODUÇÃO

No mundo civilizado em que vivemos onde há cada vez menos espaços para nos

movimentarmos, limitados muitas vezes por apartamentos, grades e violência nas ruas, as

crianças estão se tornando carentes de movimentos. Além da falta de espaço, outro fator

que contribui com a inatividade das crianças são as facilidades que a tecnologia nos

proporciona com computadores, elevadores e controles remotos.

Alguns autores, como Marcelino (1990, apud DARIDO & FARINHA, 1995),

salientam que a infância deve ser marcada pela falta de compromisso e obrigações. Porém,

no mesmo trabalho, Bento (1991) afirma que o problema de uma sobrecarga em uma

atividade física é menos perigoso do que a falta de exigências e preocupação excessiva em

querer proteger a criança. Vargas Neto (1999) aponta que a falta de estímulos aos jogos

infantis, bem como menor esforço físico e espaço diminuído, contribui para a “degeneração

hipocinética”. Esta doença é caracterizada pela diminuição da capacidade funcional de

vários órgãos e sistemas. O mesmo autor salienta ainda que estímulos inadequados tornam

as crianças preguiçosas e acomodadas ocasionando deformações da coluna vertebral.

A prática esportiva sistemática pode contribuir positivamente para o

desenvolvimento do ser humano. Fisicamente observam-se benefícios como a melhoria da

aptidão física relacionada à saúde e o desenvolvimento das capacidades físicas,

fundamentais para a formação de futuros atletas. Nos aspectos psicológicos e sociais podem

ser observados benefícios como a cooperação, a socialização, a melhoria da auto-estima e a

disciplina. No entanto esta prática sistemática apresenta-se ineficiente dentro da escola.

Page 8: Monografia Final Lisiane

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No trabalho de Guedes & Guedes (1997) os autores analisaram, entre outros

propósitos, o nível de intensidade dos esforços oferecidos durante as aulas de educação

física para relacionar com objetivos direcionados à promoção da saúde. O estudo foi

realizado em Londrina, Paraná, em 15 diferentes escolas utilizando-se como instrumento a

observação direta. A conclusão foi de que se perde tempo excessivo na organização e

transição das atividades, o que ocasiona poucas oportunidades para a participação efetiva

em atividades que resultem em ganhos no desenvolvimento e aprimoramento da aptidão

física. Neste sentido Valentini (2002) afirma que se crianças e jovens não participarem de

atividades físicas vigorosas durante esta fase, que produzam ganhos efetivos na aptidão

física ou otimização das habilidades motoras esportivas, não irão incorporar a prática

esportiva na vida adulta.

Somam-se ainda outros estudos que corroboram o de Guedes & Guedes (1997)

concluindo que estudantes de diversas faixas etárias, inclusive adultos, na sua maioria não

atingem níveis maduros de desenvolvimento nas habilidades motoras fundamentais

(PELLEGRINI & CATUZZO, 1991; MANOEL, 1994; ISAYAMA E GALLARDO, 1998;

SURDI & KREBS, 1999; COPETTI, 2000; ZANON & ROCHA, 2000).

A não aquisição de habilidades motoras fundamentais pode acarretar sérios

problemas na aquisição de habilidades mais específicas e importantes para o dia-a-dia

(MANOEL, 1994). A educação física escolar tem grande relevância no desenvolvimento

destas habilidades podendo ser auxiliada por uma modalidade que desenvolve uma gama de

habilidades e capacidades motoras, como por exemplo, a ginástica olímpica (GO).

A GO é considerada como esporte de base em muitos países como por exemplo a

Alemanha, berço deste esporte. Para Leguet (1987) seus fundamentos são ações motoras

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básicas para o desenvolvimento humano podendo ser praticada por crianças a partir de dois

anos de idade em escolas, academias, clubes e universidades (SCHELEGEL & DUNN,

2001). Esta modalidade traz benefícios no desenvolvimento motor de diversas habilidades e

proporciona aos seus praticantes situações diferenciadas do seu cotidiano como rolar, saltar,

girar no ar com diferentes eixos de rotação, equilibrar-se, pendurar-se e balançar-se.

Somando-se a uma prática variada dentro da GO, pode-se obter ganhos significativos no

desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais sendo um “trampolim” para o

aprimoramento de habilidades específicas relacionadas ao esporte.

1.1) Justificativa

A GO pode ser implementada como um meio facilitador de desenvolvimento de

diversas capacidades e melhoria da aptidão física. Um programa de GO diversificado pode

igualmente auxiliar no desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais.

Diversos treinadores de GO ressaltam a facilidade com que as atletas desta

modalidade esportiva se movimentam. Dentro de um ginásio de ginástica é fácil verificar

que se locomovem e se equilibram com adequação, o que também é observado nas

brincadeiras de roda, com e sem bola, onde se pode admirar a noção viso-motora e espaço-

temporal das ginastas.

Quando se misturam atletas e não-atletas nas aulas de educação física fica mais

visível a diferença entre um grupo e outro. Os ginastas conseguem se expressar acima dos

padrões esperados para qualquer atividade. Eles tornam-se “...os goleadores em jogos de

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futebol, os cestinhas no basquete, os medalistas no atletismo e em muitas outras

modalidades esportivas...” (NISTA-PICCOLO, 2005, p. 30).

Foi com base na literatura e em anos de observação que surgiu a motivação para

investigar as habilidades motoras fundamentais de atletas de GO. Assim, o tema central

deste trabalho pode ser sintetizado na questão: será que as ginastas possuem níveis de

desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais similares aos dos estudantes

brasileiros?

1.2) Por que avaliar?

Avaliar é imprescindível em qualquer nível de atividade seja em escolares,

praticantes de qualquer modalidade esportiva, iniciação à competição ou alto rendimento. É

através dela que observa-se e analisa-se aspectos como o nível de desenvolvimento em que

se encontram os alunos. Além disso, é uma maneira de motivá-los e ainda uma forma de

verificar a consistência do trabalho de técnicos e professores. Com base nos resultados

obtidos em diferentes avaliações pode-se fazer ajustes pertinentes para um melhor

desenvolvimento, sendo os instrumentos utilizados bem como os critérios que serão

adotados diferentes em cada contexto.

O processo avaliativo, dentro da ginástica olímpica se dá basicamente em duas

direções: a avaliação física e a avaliação técnica. O aspecto motor, referente às habilidades

motoras fundamentais, não é em geral avaliado.

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1.3) Objetivos

• Investigar as habilidades motoras fundamentais locomotoras, estabilizadoras e

manipulativas de atletas de GO da ESEF/UFRGS;

• Comparar os dados obtidos nesta avaliação com estudos publicados por outros

autores;

• Propor um programa de ginástica como base para a aquisição de diversas

habilidades motoras, principalmente as locomotoras, estabilizadoras, manipulativas

e as relacionadas com o esporte.

1.4) Hipóteses

- Ginastas, entre sete e 13 anos, demonstrarão desempenho correspondente ao

estágio maduro de desenvolvimento na maioria das habilidades motoras de

locomoção, manipulação e estabilização;

- Comparativamente com outros estudos com escolares, as atletas de GO

demonstrarão níveis de desenvolvimento superiores em todas as habilidades

avaliadas.

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2) REFERE�CIAL TEÓRICO

2.1) Breve histórico da Ginástica Olímpica

O termo ginástica origina-se do grego gymnádzein que significa “treinar” e, em

sentido literal, “exercitar-se nu”, a forma como os gregos praticavam os exercícios. Johann

Friedrich Ludwig Christoph Jahn é considerado o “pai da ginástica”. Ele foi o inventor do

termo “turner” que significa praticar ginástica.

O objetivo moral dos que praticavam ginástica era alcançar autoconfiança,

autodisciplina, independência, lealdade e obediência. Porém o seu objetivo imediato era

preparar fisicamente os homens da Prússia para expulsar o exército invasor do seu território

(por volta de 1807). A partir de então Jahn inaugurou os campos onde se praticava ginástica

ao ar livre. Mais tarde se passou a praticar ginástica em locais fechados.

Caminhar, correr, saltar, lançar, sustentar-

se são exercícios que nada custam, que podem ser

praticados em toda parte, gratuitos como o ar. Isso o

Estado pode oferecer a todos: para os pobres, para a

classe média e para os ricos, tendo cada um a sua

necessidade.

(JAHN, 1816, apud PÚBLIO, 2005, p. 16)

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Nicolas J. Cupérus, grande propagador desses exercícios físicos, tinha uma extrema

preocupação com os objetivos da prática da ginástica. Na citação a seguir pode-se perceber

alguns dos benefícios da prática da GO já observados no século XIX, por aquele autor.

Meu ideal será sempre o mesmo, e eu sonho

com o momento no qual as competições serão

supérfluas e que os ginastas se contentarão em ganhar

como prêmio pelos seus esforços o equivalente exato

em saúde, força, agilidade e tenacidade...

(CUPÉRUS, 1881, apud PÚBLIO, 2005, p. 22)

A propagação da ginástica no Brasil teve seu início no Rio Grande do Sul, através

da colonização alemã. A partir de então, diversas sociedades de ginástica foram fundadas,

culminando, em 1978, com a aprovação e homologação do estatuto da Confederação

Brasileira de Ginástica (CBG) pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC) sendo

publicado em 1979 no Diário Oficial (PÚBLIO, 1998).

2.2) Considerações sobre a ginástica olímpica

Segundo a CBG a GO é o conjunto de exercícios corporais sistematizados em que

conjugam a força, a agilidade e a elasticidade. É uma das modalidades desportivas mais

populares do programa olímpico constituindo uma atividade de ação complexa. A

performance dos atletas é avaliada por um quadro de juizes, que consideram as exigências

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do programa, a qualidade de execução dos movimentos, a composição e a apresentação

olímpica da série.

A modalidade em questão é classificada, segundo Moreno (1994 apud CAFRUNI,

2002), como desporto psicomotriz onde o indivíduo atua sozinho. Smolevskiy &

Gaverdovskiy (1995) concordam com esta classificação ressaltando o fato de ser uma

atividade com ações individuais de coordenação complexa, na qual a técnica tem um papel

fundamental.

Para desenvolver todas as ações motoras necessárias na GO, o ginasta deve possuir

um aparelho locomotor bastante desenvolvido, bem como qualidades motoras, técnicas e

físicas específicas. Ele deve ter força para fazer a repulsão dos braços e pernas, rotações em

todos os eixos do corpo e combinações, posições de equilíbrio e exercícios de força

propriamente ditos.

Além de constituir um esporte por si próprio, a GO é, igualmente, um meio

facilitador de desenvolvimento de diversas capacidades físicas e da melhoria da aptidão

física. Entre elas podem ser destacadas a flexibilidade, a força, a resistência, a velocidade, a

agilidade e a coordenação motora.

Porém, Silva et al. (2003) apontam que atletas de GO têm alta incidência de lesões.

As lesões vão depender muito mais do tipo de treinamento, tipo de equipamento e de que

forma o técnico conduz o treinamento do que propriamente da modalidade. Os autores

revelam ainda que atletas de GO apresentam atrasos na menarca. Este atraso pode estar

relacionado com o comprometimento do crescimento potencial, embora este

comprometimento não esteja bem esclarecido ainda. Por outro lado, Malina (1994, apud

KARAM & MEYER, 1997) demonstra que o treinamento para esportes não influi na

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estatura final, inclusive na GO. Esta questão está muito mais relacionada com fatores

genéticos do que com o nível e tipo de atividade física.

Em seu trabalho, Vargas Neto (1999) cita um estudo de Personne (1987) o qual

“...comprovou que um praticante de GO pode realizar ao longo de uma temporada mais de

8.000 saltos (impacto altamente traumatizante para as articulações)...” (p.73). O que os

autores não citam é que a GO é praticada em piso elástico, com colchões e meios que

diminuam ou atenuem a quantidade de impacto, como treinamento em fosso de espuma ou

tumble track. Neste sentido, o crescimento ósseo é beneficiado por esta prática, pois sabe-se

que este processo é favorecido por esportes que promovam impacto sobre as articulações.

Desta forma, a mineralização é facilitada resultando em ganhos na massa óssea (Navot,

1981 apud KARAN & MEYER, 1997). Obviamente, para que isto ocorra, os equipamentos

devem ser adequados e o treinamento deve ser conduzido sem exageros.

Os ginastas masculinos participam de seis provas: solo, cavalo com alças, argolas,

salto sobre a mesa, paralelas simétricas e barra fixa. Já as atletas femininas devem

participar de quatro provas: salto sobre a mesa, paralelas assimétricas, trave de equilíbrio e

solo.

No solo e no salto sobre a mesa, tanto para meninos como para meninas, os

movimentos de locomoção são fundamentais porque é através deles que os ginastas

conseguem executar as acrobacias e saltos de dança. Na barra, no cavalo com alças, nas

argolas, nas paralelas simétricas e assimétricas são feitos balanços seguros somente pelas

mãos, o que não deixa de ser um tipo de movimento manipulativo mesmo que seja

empregada a contração de grandes grupos musculares para impulsionar o corpo todo

(TEIXEIRA, 2005). Como o próprio nome sugere, na trave de equilíbrio a estabilidade é

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primordial: sem esta não se realizam movimentos simples e acrobacias mais complexas.

Schiavon (2003) aponta que o processo de iniciação e vivência da GO trabalha com

movimentações básicas da criança: movimentos fundamentais locomotores, estabilizadores

e manipulativos.

2.3) A ginástica olímpica como esporte de base para outras habilidades

A prática da GO tem uma importância significativa para o desenvolvimento motor

da criança. Com ela o vocabulário motor é aumentado quando as crianças são estimuladas

para a aprendizagem dos seus exercícios, ampliando as habilidades motoras. Os praticantes

de GO são sempre “...os mais ágeis, os mais habilidosos, os mais rápidos...” (NISTA-

PICCOLO, 2005, p. 30). Eles dominam seus corpos e se destacam em outros contextos

esportivos.

Ainda segundo esta autora, o trabalho de base de ginástica amplia a capacidade

física das crianças permitindo que elas se expressem acima dos padrões esperados em

qualquer atividade. Quanto mais estímulos a criança tiver, maior será o seu vocabulário

motor. A GO trabalha principalmente na fase de iniciação com exercícios de locomoção e

de equilíbrio, fundamentais para o seu desenvolvimento. Ela ainda proporciona exercícios

diferentes do cotidiano da criança. Saltar, rolar, girar no ar com diferentes eixos e rotações,

equilibrar-se sobre uma trave, balanços em suspensão, entre outras ações, permitirão que a

criança desenvolva sua “...capacidade de criar e agir corporalmente em determinadas

situações” (NISTA-PICCOLO,2005, p. 32).

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Leguet (1987) traduz os fundamentos da GO como ações motoras básicas para o

desenvolvimento humano podendo a modalidade ser considerada como esporte de base. Ele

ainda destaca que com estas ações motoras é possível oferecer ampla oportunidade de

aquisição de habilidades, aperfeiçoando suas capacidades físicas.

Cafruni (2002) sustenta que a GO possui uma grande variabilidade de movimentos

e combinações, podendo ser desenvolvida tanto em séries iniciais escolares como por

atletas de outras modalidades, pois trabalha elementos acrobáticos, ginásticos, e elementos

nos aparelhos fixos. A GO pode preparar seus praticantes para diversas situações adversas

em outras modalidades esportivas, como por exemplo, uma queda em um lance do

handebol, bem como contribuir para a aquisição de habilidades, como o giro de pivô do

basquetebol e o salto com vara (TSUKAMOTO & NUNOMURA, 2005).

2.4) Habilidades motoras fundamentais

Habilidades motoras fundamentais são padrões observáveis básicos de

comportamento (GALLAHUE & OZMUN, 2001). Quando as crianças estão neste período

de desenvolvimento, reagem com controle e competência motora a vários estímulos. Para

Isayama & Gallardo (1998) é uma fase crítica e sensível a mudanças que determinará o

futuro do indivíduo. Segundo Manoel (1994) nesta fase ocorre a aquisição de novas formas

de controle postural e o refinamento dos movimentos rudimentares.

Page 18: Monografia Final Lisiane

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O domínio das habilidades motoras fundamentais é

básico para o desenvolvimento motor de crianças. As

experiências motoras, em geral, fornecem múltiplas

informações sobre a percepção que as crianças têm de si

mesmas e do mundo que as cerca.

(GALLAHUE & OZMUN, 2001, p. 258)

Logo após as crianças dominarem as habilidades motoras rudimentares elas passam

a desenvolver as habilidades motoras fundamentais visto que já se tornam mais

competentes na movimentação espacial e dispõe de ambas as mãos para explorar os objetos

à sua volta. Esta fase de mudança compreende o intervalo entre o segundo ano e o sexto ou

sétimo ano de vida. Sendo assim, é durante a fase pré-escolar que as crianças desenvolvem

as habilidades motoras fundamentais as quais, segundo Gallahue & Ozmun (2001), são

básicas para o desenvolvimento motor. Esta fase se caracteriza por um aumento da

eficiência biomecânica e incorporação de novos elementos à estrutura do movimento

(SEEFELDT, 1980 apud MANOEL, 1994). As habilidades motoras fundamentais são

normalmente divididas em três grupos: locomotores, estabilizadores e manipulativos.

Para a caracterização destas categorias de movimento serão utilizadas duas obras, as

quais constituem referências consagradas na literatura e amplamente citada nos trabalhos

consultados para a realização deste estudo. Além disto, são autores de fácil entendimento,

que consideram a aquisição de habilidades motoras um processo seqüencial partindo de

movimentos simples, desorganizados e sem habilidade para a execução de movimentos

cada vez mais complexos.

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Gallahue & Ozmun (2001) definem movimentos locomotores como sendo projeções

do corpo no espaço externo, alternando sua localização em relação a pontos fixos da

superfície. Nesta categoria de movimentos se encontram a caminhada, a corrida, os saltos,

entre outros.

Os movimentos estabilizadores compreendem a manutenção do equilíbrio na

relação indivíduo/força da gravidade. Controle postural e ajustes compensatórios estão

diretamente ligados a manutenção do equilíbrio. A estabilidade é o aspecto mais importante

de todos os movimentos visto que sempre encontra-se envolvido. Movimentos axiais, bem

como movimentos que favoreçam a manutenção do equilíbrio estático e dinâmico entre eles

rolar, equilibrar-se em um só pé ou “plantar bananeira”, são exemplos de habilidades

motoras estabilizadoras.

Movimentos manipulativos envolvem o relacionamento de um indivíduo com o

controle de objetos e a aplicação de força e recepção sobre eles. São combinações de dois

ou mais movimentos, estabelecidos na sua forma madura após padrões eficientes de

locomoção e estabilização. Entre estes movimentos encontram-se o arremesso, o chute, a

rebatida e a recepção.

Haywood & Getchell (2003), seguindo esta mesma linha, definem a locomoção

como o ato de mover-se de um lado para o outro envolvendo muitos sistemas e restrições

que interagem entre si. Nesta categoria destacam-se também a caminhada, a corrida e os

saltos.

Os movimentos estabilizadores estão relacionados com a capacidade de uma pessoa

em manter certa posição ou postura sobre uma base, vinculados portanto ao ponto onde está

centrada a atração gravitacional da Terra sobre um indivíduo: o centro de gravidade.

Page 20: Monografia Final Lisiane

20

Aquelas autoras não apontam movimentos que possam ser testados para definir o estágio de

maturação das crianças. Porém, destacam que este componente está presente em diversas

habilidades esportivas como o levantamento de peso, o judô e a ginástica.

A grande diferença entre as obras consultadas refere-se à classificação dos

movimentos manipulativos, sendo uma categoria única para Gallahue & Ozmun (2001) e

subdivididas para Haywood & Getchell (2003). Nesta subdivisão, pegar, receber e alcançar

são os manipulativos. Já os movimentos onde aplica-se uma força para projetar objetos,

como o arremesso, o chute e a rebatida, são classificados como balísticos.

A análise das habilidades motoras fundamentais pode ser de corpo total ou

segmentada e os estágios de desenvolvimento podem variar de três até oito níveis. Gallahue

& Ozmun (2001) utilizam a primeira análise por ser um método prático, confiável e fácil de

usar, mas recomendam que se a criança não estiver no estágio maduro se faça uma análise

segmentada já que esta é mais minuciosa. Aqueles autores classificam as habilidades

motoras fundamentais em três níveis de desenvolvimento: inicial, elementar e maduro.

O estágio inicial representa as primeiras tentativas de realização do movimento e é

caracterizado por partes mal seqüenciadas, uso restrito ou exagerado do corpo e pouca

coordenação. A integração espacial e temporal é muito pobre. No estágio elementar há uma

melhora da coordenação dos movimentos, porém ainda podem ser restritos ou exagerados.

Muitos indivíduos permanecem neste estágio através da vida em muitos padrões de

movimento devido, principalmente, à falta de oportunidades para a prática. O estágio

maduro é caracterizado por desempenhos eficientes, coordenados, controlados e com

organização espaço-temporal adequada. É importante ressaltar que, segundo Gallahue &

Page 21: Monografia Final Lisiane

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Ozmun (2001), as crianças por volta de seis ou sete anos de idade já estariam aptas para

atingir este estágio em diversos padrões de movimento.

Neste sentido parte-se do pressuposto de que os movimentos iniciam-se de maneira

desorganizada e com muito dispêndio de energia até chegar a níveis de organização e

controle da força utilizada.

2.5) Dificuldades das crianças nas habilidades motoras fundamentais

Anterior ao processo de dominar uma habilidade esportiva se faz necessário

dominar as habilidades motoras fundamentais. Acreditava-se que a escola poderia suprir

esta necessidade, porém diversos estudos, dentre eles o de Pellegrini & Catuzzo (1991) e o

de Surdi & Krebs (1999), além de vários outros apontados por Isayama & Gallardo (1998),

revelam que a maioria dos escolares não está atingindo níveis maduros em diversas

habilidades motoras fundamentais, mesmo parecendo ser este um processo natural

(MANOEL, 1994), pois o desenvolvimento destas habilidades é influenciado fortemente

pelo ambiente e pela tarefa realizada (GALLAHUE & OZMUN, 2001).

Destaca-se que o estudo de Pellegrini & Catuzzo (1991), onde os autores avaliaram

pré-escolares de seis anos de idade em seis movimentos fundamentais: andar sobre a trave,

correr, saltar na horizontal, arremessar, chutar e quicar. A conclusão do estudo foi que as

crianças se encontravam predominantemente no estágio elementar de desenvolvimento. No

estudo de Surdi & Krebs (1999) os autores avaliaram o padrão motor correr em crianças de

sete a 14 anos e a conclusão foi que o padrão maduro na corrida não estava desenvolvido na

maioria das crianças brasileiras.

Page 22: Monografia Final Lisiane

22

Estas constatações seguem nos demais estudos feitos no Brasil, apontados por

Isayama & Gallardo (1998). Segundo eles, Perroti Júnior (1991) verificou o arremessar,

saltar e rolar e constatou que a maioria das crianças não se encontrava no estágio maduro de

desenvolvimento. Em outro estudo, Sanches (1992), conclui que entre 70 indivíduos

avaliados uma minoria atingiu o estágio maduro na habilidade de receber. Estes dados

baseados em estudantes brasileiros são extremamente preocupantes, pois demonstram a

limitação de oportunidades de prática na educação física escolar, como sugere Guedes &

Guedes (1997) anteriormente citados. De acordo com Manoel (1984 apud MANOEL,

1994) a aquisição destas habilidades deveria ser um pressuposto básico para caracterizar a

educação física escolar.

A ausência de estágios maduros nas habilidades pode acometer sérios problemas na

aquisição de habilidades mais específicas e importantes para o dia-a-dia (MANOEL, 1994).

Valentini (2002) aponta que a prática intensa de atividade física durante a infância “...só é

observável quando existe o domínio de habilidades motoras fundamentais.”(p. 54). A

prática de atividade física durante a idade adulta, que contribua para uma melhor qualidade

de vida, será dependente dessas atividades vigorosas na infância. Padrões maduros

diminuem a dificuldade frente às habilidades motoras mais complexas e específicas, como

as relacionadas ao esporte.

2.6 ) Habilidades motoras fundamentais como base para o desporto especializado

É uma fase de enriquecimento da etapa fundamental do movimento. As habilidades

locomotoras, estabilizadoras e manipulativas são progressivamente refinadas, combinadas e

Page 23: Monografia Final Lisiane

23

elaboradas em uma ordem que possam ser utilizadas em uma crescente demanda de

atividades.

Aproximadamente entre os seis e sete anos se inicia a fase de transição das

habilidades motoras fundamentais para as habilidades especializadas condicionadas,

logicamente, a existência de oportunidades de prática adequadas e regulares, ensino

eficiente, encorajamento e motivação. Segundo Gallahue & Ozmun (2001) o estágio do

movimento da habilidade especializada representa o ponto mais alto do processo de

desenvolvimento.

A importância desta fase é exemplificada pelo fato de que uma progressão de

sucesso depende do nível de amadurecimento de desempenho durante a fase motora

fundamental. O desenvolvimento de um padrão motor relaciona-se com níveis aceitáveis de

habilidade e uma eficiente mecânica corporal nas diferentes situações motoras exigidas

(GALLAHUE & OZMUN, 200.).

Zanon & Rocha (2000) analisaram 79 crianças no município de Santa Maria, RS,

que praticavam atletismo e concluíram que o tipo de atividade não está “...compatível com

as necessidades para que os mesmos atinjam o estágio maduro nos padrões de

movimento.”(p. 57). As atividades que as crianças realizam devem propiciar o

desenvolvimento dos padrões maduros nas diversas habilidades motoras fundamentais. Isto

não significa que as crianças não possam praticar atividades especializadas desde cedo. O

importante é que estas atividades sejam condizentes com as necessidades de cada criança

em termos de aquisição de habilidades motoras fundamentais.

Page 24: Monografia Final Lisiane

24

3) MATERIAL E MÉTODOS

3.1) Amostra

Participaram deste estudo 10 meninas integrantes da equipe de ginástica olímpica da

ESEF/UFRGS na faixa etária de sete a 13 anos de idade. Todas praticam a modalidade há

pelo menos um ano e atualmente a carga horária de treinamento é de no mínimo 10 horas

semanais.

Dentro deste grupo sete são brancas e três da raça negra. Para todas elas a GO é a

única prática de atividade física sistemática e todas participam normalmente das aulas de

educação física nas suas escolas dois períodos por semana. O consentimento informado

para a realização deste estudo foi obtido para cada criança junto aos seus respectivos

responsáveis, tanto para a participação no trabalho, como para a utilização da imagem.

3.2) Instrumento avaliativo

O instrumento avaliativo utilizado foi adaptado do proposto por Gallahue & Ozmun

(2001). A escolha baseou-se no fato de que a metodologia é de fácil acesso e se tratar de

uma avaliação de corpo total. Nesta perspectiva observa-se a mecânica do corpo no

desempenho de habilidades motoras fundamentais de manipulação, locomoção e

estabilidade (GALLAHUE & DONNELLY, 2003 apud VALENTINI & TOIGO, 2004).

Para facilitar o processo de coleta de dados, quatro planilhas foram confeccionadas.

A planilha mestre (assim denominada por dar origem à outras três) encontra-se em anexo

Page 25: Monografia Final Lisiane

25

com os resultados obtidos e foi sugerida por Valentini & Toigo (2004) que a adaptaram de

uma planilha proposta por Gallahue & Donnelly (2003). As adaptações realizadas no

presente estudo justificam-se pelas peculiaridades do contexto em que foram aplicadas. As

demais planilhas, igualmente em anexo, foram utilizadas para a coleta imediata dos dados.

A seguir serão apresentados os movimentos avaliados, bem como os requisitos

necessários para se atingir um padrão maduro proposto pelos autores.

3.2.1) Movimentos Locomotores

Corrida

Difere da caminhada por existir uma fase de vôo sem contato com a superfície de

apoio sendo o seu padrão maduro fundamental para uma efetiva participação nas atividades

relacionadas aos esportes (Quadro 1, Figura 1).

Page 26: Monografia Final Lisiane

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Quadro 1 – Seqüência de desenvolvimento para a corrida

Padrão maduro para a corrida

1 Máxima extensão da passada e de sua velocidade

2 Fase de vôo definida

3 Extensão completa da perna de apoio

4 Coxa de trás paralela ao solo

5 Oscilação vertical dos braços em oposição às pernas

6 Braços dobrados em ângulos aproximadamente retos

7 Mínima ação de rotação do pé e da perna de trás

Adaptado de Gallahue & Ozmun, 2001

Figura 1

Padrão maduro para a corrida, adaptado de Gallahue & Ozmun (2001).

Salto Horizontal

É um movimento explosivo onde todas as partes do corpo agem de maneira

coordenada. É um padrão motor complexo que exige o pouso sobre os dois pés (Quadro 2,

e Figura 2).

Page 27: Monografia Final Lisiane

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Quadro 2 – Seqüência de desenvolvimento para o salto horizontal

Padrão maduro do salto em distância horizontal

1 Braços se movem para o alto e para trás durante o agachamento

preparatório

2 Durante o impulso, braços se inclinam para frente com força e

alcançam altura

3 Braços mantêm-se altos durante toda a ação do salto

4 Tronco inclinado em ângulo aproximado de 45 graus

5 Ênfase maior na distância horizontal

6 Agachamento preparatório profundo e consistente

7 Extensão completa de tornozelos, joelhos e quadris ao impulsionar

8 Coxas mantêm-se paralelas ao solo durante o vôo; pernas pendem

verticalmente

9 Peso corporal inclina-se para a frente ao pousar

Adaptado de Gallahue & Ozmun, 2001

Figura 2

Padrão maduro para o salto horizontal, adaptado de Gallahue & Ozmun (2001).

Page 28: Monografia Final Lisiane

28

Salto Vertical

Projeção verticalmente do corpo no ar e requer a aterrissagem sobre os dois pés

(Quadro 3, Figura 3).

Quadro 3 - Seqüência de desenvolvimento para o salto vertical

Padrão maduro para o salto vertical

1 Agachamento preparatório com flexão de joelhos entre 60 e 90

graus

2 Extensão firme dos quadris, joelhos e tornozelos

3 Elevação dos braços coordenada e simultânea

4 Inclinação da cabeça para cima com olhos focalizados no alvo

5 Extensão total do corpo

6 Elevação do braço de alcance com inclinação do ombro combinada

com abaixamento do outro no auge do vôo

7 Pouso controlado bastante próximo ao ponto de partida

Adaptado de Gallahue & Ozmun, 2001

Figura 3

Padrão maduro para salto vertical, adaptado de Gallahue & Ozmun (2001).

Page 29: Monografia Final Lisiane

29

Salto de uma altura

Movimento similar aos encontrados nos saltos horizontal e vertical envolvendo o

impulso de uma base pequena, elevação no ar e pouso sobre os dois pés (Quadro 4, Foto 4,

Figura 4).

Quadro 4 - Seqüência de desenvolvimento para o salto de uma altura

Padrão maduro para o salto de uma altura

1 Impulso com os dois pés

2 Fase de vôo controlada

3 Uso eficiente de ambos os braços para as laterais, conforme

necessário, para controlar equilíbrio

4 Os pés pisam a superfície mais baixa ao mesmo tempo, com os

dedos primeiro

5 Flexão de joelhos e do quadril proporcional à altura do salto

6 Flexão de joelhos e quadril congruente com a altura do salto

Adaptado de Gallahue & Ozmun, 2001

Figura 4

Padrão maduro para o salto de uma altura, adaptado de Gallahue &Ozmun (2001).

Page 30: Monografia Final Lisiane

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Saltito

Impulso e pouso feitos com o mesmo pé (Quadro 5, Figura 5).

Quadro 5 - Seqüência de desenvolvimento para o saltito com um pé só

Padrão maduro para o saltito em um pé só

1 Perna oposta a de sustentação flexionada a 90 graus ou menos

2 Coxa oposta a de sustentação se eleva com movimento vertical

firme do pé de sustentação

3 Maior inclinação do corpo

4 Ação rítmica da poerna oposta à de sustentação (balanço pendular

auxiliando a produção de força)

5 Braços se movem juntos em elevação rítmica enquanto o pé de

sustentação deixa a superfície de contato

6 Braços não são necessários para o equilíbrio, mas são usados para

aumentar a produção de força

Adaptado de Gallahue & Ozmun, 2001

Figura 5

Padrão maduro para o saltito em um pé só, adaptado de Gallahue & Ozmun (2001).

Page 31: Monografia Final Lisiane

31

Galope e deslizamento

Envolve a combinação de dois movimentos: a passada e o salto, com o mesmo pé sempre

na frente. Quando é realizado para frente é denominado de galope e para a lateral de

deslizamento (Quadro 6, Figura 6).

Quadro 6 - Seqüência de desenvolvimento para galope e deslizamento

Padrão maduro para o galope e deslizamento

1 Ritmo moderado

2 Ação rítmica e suave

3 Perna de trás pousa ao lado ou atrás da perna de condução

4 Ambas as pernas flexionadas em ângulos de 45 graus durante o vôo

5 Padrão de vôo baixo

6 Combinação de contato calcanhar-dedo

7 Braços não são necessários para o equilíbrio; mas podem ser

usados para outros propósitos

Adaptado de Gallahue & Ozmun, 2001

Figura 6

Padrão maduro para o deslizamento, adaptado de Gallahue & Ozmun (2001).

Page 32: Monografia Final Lisiane

32

3.2.2) Movimentos Manipulativos

Chute

É uma forma de bater em que o pé é utilizado para fornecer força ao objeto. Alguns

fatores influenciam o tipo de chute como a trajetória e a altura da bola quando esta é

contatada (Quadro 7, Figura 7).

Quadro 7 - Seqüência de desenvolvimento para o chute

Padrão maduro para o chute

1 Braços oscilam em oposição um ao outro durante a ação do chute

2 Tronco se inclina na cintura durante o acompanhamento

3 Movimento da perna que chuta se inicia no quadril

4 Perna de sustentação se inclina levemente ao contato

5 Aumenta a extensão da oscilação da perna

6 Acompanhamento é alto; pé de sustentação se eleva sobre os dedos

ou deixa a superfície totalmente

7 Alcance da bola pode ser feito por uma corrida ou por um grande

salto

Adaptado de Gallahue & Ozmun, 2001

Figura 7

Padrão maduro para o chute, adaptado de Gallahue & Ozmun (2001).

Page 33: Monografia Final Lisiane

33

Ato de apanhar – recepção

Envolve a ação das mãos com o objetivo de parar objetos arremessados (Quadro 8,

Figura 8).

Quadro 8 - Seqüência de desenvolvimento para a recepção

Padrão maduro para a recepção

1 Não há reação de desvio

2 Olhos seguem bola até as mãos

3 Braços se mantêm relaxados nas laterais, e antebraços se mantêm

na frente do corpo

4 Braços se movem diretemente para a bola ao contato para absorver

força da bola

5 Braços se ajustam à trajetória da bola

6 Polegares se mantêm em oposição um oa outro

7 Mãos agarram a bola em movimento simultâneo e de bom ritmo

8 Dedos agarram mais efetivamente

Adaptado de Gallahue & Ozmun, 2001

Figura 8

Padrão maduro para a recepção, adaptado de Gallahue & Ozmun (2001).

Page 34: Monografia Final Lisiane

34

Arremesso por cima do ombro

Os componentes variam conforme a forma, a precisão ou a distância que se pretente

empregar, além da posição inicial assumida (Quadro 9, Figura 9).

Quadro 9 - Seqüência de desenvolvimento para o arremesso por cima

Padrão maduro do arremesso por cima

1 Braço é inclinado para trás na preparação

2

Cotovelo oposto é elevado para equilíbrio como ação preparatória

no braço de arremesso

3 Cotovelo de arremesso se move para frente horizontalmente

enquanto se estende

4 Antebraço gira e polegar aponta para baixo

5 Tronco gira claramente para o lado do arremesso durante ação

preparatória

6 Ombro de arremesso cai levemente

7 Rotação definida através dos quadris, pernas, espinha (sic) e

ombros durante o arremesso

8 Peso no pé de trás durante movimento preparatório

9 Conforme o peso se move, um passo é dado com pé oposto

Adaptado de Gallahue & Ozmun, 2001

Figura 9

Padrão maduro para o arremesso, adaptado de Gallahue & Ozmun (2001).

Page 35: Monografia Final Lisiane

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Drible – quicar

É uma tarefa complicada que requer o julgamento preciso da distância e trajetória

do objeto e a força empregada. A percepção de profundidade é fundamental para um drible

eficiente (Quadro 10, Figura 10).

Quadro 10 - Seqüência de desenvolvimento para o drible

Padrão maduro para o drible

1 Pés colocados em posição de pequena abertura, com pé oposto para

a frente

2 Leve inclinação do tronco para a frente

3 Bola é segura na altura da cintura

4 Bola empurrada em direção ao chão com acompanhamento de

braços, pulso e dedos

5 Força de movimento para baixo controlada

6 Ação repetida de toque e empurrão iniciada pela ponta dos dedos

7 Acompanhamento visual desnecessário

8 Controle direcional do drible

Adaptado de Gallahue & Ozmun, 2001

Figura 10

Padrão maduro para o drible, adaptado da Gallahue & Ozmun (2001).

Page 36: Monografia Final Lisiane

36

3.2.3) Movimentos Estabilizadores

Equilíbrio estático – equilíbrio em um pé

O equilíbrio em um só pé é a mensuração mais comum de habilidade de equilíbrio

estático. Para esta habilidade será utilizada a trave de equilíbrio (Quadro 11, Figura

11).

Quadro 11 - Seqüência de desenvolvimento para equilíbrio em um pé

Padrão maduro para equilíbrio em um pé

1 Pode equilibrar-se de olhos fechados

2 Usa braços e tronco conforme necessidade para manter equilíbrio

3 Eleva a perna que não está suportando o peso

4 Focaliza objeto externo enquanto se equilibra

5 Muda para perna não dominante sem perder equilíbrio

Adaptado de Gallahue & Ozmun, 2001

Figura 11

Padrão maduro para o equilíbrio em um pé, adaptado de Gallahue & Ozmun (2001).

Page 37: Monografia Final Lisiane

37

Equilíbrio dinâmico – caminhar direcionada sobre a trave de equilíbrio

Normalmente para a mensuração desta habilidade a caminhada é feita sobre barra

que variam em comprimento, largura e altura. Como a amostra em questão pratica GO, a

trave de equilíbrio será utilizada, com 5 metros de comprimento, 1,20 metros de altura e 10

centímetros de largura. A caminhada deve ainda ser realizada na meia ponta, ou seja, sem o

apoio dos calcanhares e com os braços horizontalmente em relação ao corpo. O Quadro 12

apresenta o padrão maduro para a caminhada direcionada (Quadro 12, Figura 12).

Quadro 12 - Seqüência de desenvolvimento para a caminhada direcionada

Padrão maduro para a caminhada direcionada

1 Pode caminhar em uma largura de 1 polegada (2,5 cm)

2 Usa ação de passos alternados

3 Olhos focalizados acima da superfície

4 Ambos os braços são usados com consciência para auxiliar o

equilíbrio

5 Pode mover-se para a frente, para trás e para as laterais com

segurança e facilidade

6 Movimentos são fluentes, relaxados e sob controle

7 Pode perder equilíbrio ocasionalmente

Adaptado de Gallahue & Ozmun, 2001

Page 38: Monografia Final Lisiane

38

Figura 12

Padrão maduro para a caminhada direcionada, adaptado de Gallahue & Ozmun (2001).

Apoios invertidos – parada de mãos

Envolvem posturas nas quais o corpo assume a posição invertida, ou seja, de cabeça

para baixo por alguns segundos (Quadro 13, Figura 13).

Quadro 13 - Seqüência de desenvolvimento para a inversão de apoios

Padrão maduro para a inversão de apoios

1 Boa posição de contato com a superfície

2 Bom controle da cabeça e do pescoço

3 Boa sensação cinestésica de localização de partes do corpo

4 Parece estar em bom controle do corpo

5 Mantém equilíbrio de dois ou três pontos alternando baixo e alto

nível por três segundo ou mais

6 Sai da postura estática sob controle

Adaptado de Gallahue & Ozmun, 2001

Page 39: Monografia Final Lisiane

39

Figura 13

Padrão maduro para a inversão de apoios, adaptado de Gallahue & Ozmun (2001).

Rotação corporal – rolamento

Os rolamentos requerem uma quantidade excessiva de controle de equilíbrio e

envolvem a rotação para frente, para trás e para os lados (Quadro 14, Figura 14).

Quadro 14 - Seqüência de desenvolvimento para a rolagem do corpo

Padrão maduro para a rolagem do corpo

1 Cabeça conduz a ação

2 Parte de trás da cabeça toca a superfície bem levemente

3 Corpo permanece em “C” apertado durante todo o movimento

4 Braços auxiliam na produção de força

5 Ritmo do movimento retorna a criança à posição inicial

6 Pode executar rolagens consecutivas controladas

Adaptado de Gallahue & Ozmun, 2001

Page 40: Monografia Final Lisiane

40

Figura 14

Padrão maduro para o rolamento, adaptado de Gallahue (2001).

3.3) Procedimentos

As avaliações foram realizadas no local de treinamento, ginásio 2 da ESEF/UFRGS,

durante o horário de treino. O local foi isolado por biombos impedindo que fatores externos

interferissem no desempenho das ginastas e evitando assim comparações ou imitações e

constrangimento das mesmas. Uma breve explicação sobre a importância de se fazer as

avaliações foi dada, o que as motivaram a participar.

Após o aquecimento corporal, cada atleta foi avaliada individualmente por um

avaliador durante 20 a 25 minutos. Enquanto uma era avaliada, as outras continuavam o seu

treinamento normalmente. Elas fizeram os testes descalças, da mesma maneira como

praticam a GO, em piso elástico. Antes de cada habilidade elas recebiam as instruções

sobre o movimento a ser realizado e experimentavam uma ou duas vezes para verificar se

tinham obtido o entendimento apropriado. Em nenhum momento houve demonstração por

Page 41: Monografia Final Lisiane

41

parte do avaliador para evitar possíveis imitações dos movimentos. A ordem das

habilidades seguiu a mesma apresentada anteriormente.

Ao comando de “valendo!” as atletas iniciavam o exercício e os resultados foram

imediatamente repassados para as planilhas. Para cada habilidade avaliada, três tentativas

foram dadas para a execução. Após os resultados foram agrupados na tabela mestre, com os

respectivos resultados. Estes foram anotados conforme a seguinte simbologia:

I – Inicial

E – Elementar

M – Maduro

HE – Habilidade Esportiva

Os materiais utilizados para a realização das avaliações foram:

- bola de borracha média – para o chute e drible;

- bola de borracha pequena – para o arremesso por cima do ombro;

- banqueta – para o salto de uma altura;

- piso macio – para os deslocamentos, saltos, rolamentos e apoio invertido;

- trave de equilíbrio com 1,25 metros de altura, forrada com colchões – para os

equilíbrio estático e dinâmico;

- cones – para demarcar as áreas de avaliações;

- biombos – para isolar o local das avaliações;

- máquina fotográfica digital Sony.

Page 42: Monografia Final Lisiane

42

4) RESULTADOS E DISCUSSÃO

A estatística descritiva foi utilizada em todos os testes. Os resultados das avaliações

serão apresentados em percentuais, para melhor comparar com outros estudos, já que os

trabalhos consultados se apresentam desta maneira.

Habilidades Locomotoras

Das ginastas investigadas, 100% (n = 10) encontraram-se no estágio maduro de

desenvolvimento nas habilidades de corrida, saltito em um pé só, saltos horizontal e

vertical, salto de uma altura, galope e deslizamento.

Habilidades Estabilizadoras

Das ginastas investigadas, 100% (n = 10) encontraram-se no estágio maduro de

desenvolvimento nas habilidades de equilíbrio estático e dinâmico, rolamento e suporte

invertido.

Habilidades Manipulativas

Das ginastas investigadas, 70% encontraram-se no estágio maduro de

desenvolvimento nas habilidades chute, arremesso, recepção e drible. O resultado destas

habilidades será desmembrado para uma melhor análise.

- 100% (n = 10) das ginastas encontraram-se no estágio maduro de

desenvolvimento para o drible;

Page 43: Monografia Final Lisiane

43

- 10% (n = 1) das ginastas encontraram-se no estágio maduro e 90% (n = 9) no

estágio elementar de desenvolvimento para o chute;

- 90% (n = 9) das ginastas encontraram-se no estágio maduro e 10% (n = 1) no

estágio elementar para a recepção;

- 80% (n = 8) das ginastas encontraram-se no estágio maduro e 20% (n = 2) no

elementar para o arremesso.

Os resultados obtidos confirmam a primeira hipótese deste estudo onde, na maioria

das habilidades motoras fundamentais de locomoção, de estabilização e de manipulação, as

ginastas demonstraram desempenho maduro de desenvolvimento. A exceção é para o chute

e pode estar relacionada com a falta de oportunidade para a prática, bem como uma questão

cultural em que, ainda nos dias atuais, meninas jogam pouco ou não jogam futebol no nosso

país.

Não foram encontrados estudos que abrangessem a totalidade das habilidades

motoras fundamentais avaliadas nas atletas de GO. Dentro do panorama apresentado será

feito um comparativo entre os estudos que utilizaram, além da análise de movimentos

proposta por Gallahue & Ozmun (2001), também Gallahue (1982, 1994 e 1995), Gallahue

& Ozmun (1997) e Roberton & Halverson (1984).

Independentemente do número de estágios que cada autor classifica o

desenvolvimento de uma habilidade, existe para todos eles um nível inicial, um nível

amadurecido e um ou mais níveis intermediários. Como já comentado anteriormente,

segundo Gallahue & Ozmun (2001) aos seis anos de idade “...as crianças já possuem

potencial desenvolvimentista para estar no estágio amadurecido na maior parte das

Page 44: Monografia Final Lisiane

44

habilidades motoras fundamentais...” (p. 258). Em vista disto, o padrão amadurecido será o

foco deste trabalho podendo assim os resultados deste trabalho ser comparados com outras

matrizes de análise.

Sanches (1990) avaliou 70 universitários, sendo a metade de cada gênero, todos eles

com idades entre 18 e 24 anos, na habilidade de arremessar. Ele utilizou o autor Gallahue

(1982) para a análise e o resultado encontrado foi que um número reduzido de sujeitos

atingiu o estagio maduro e mais de 50% apresentou o estágio inicial de desenvolvimento.

Para a mesma habilidade, Zanon & Rocha (2000), analisaram 79 crianças entre 10 e 12

anos com a Matriz de Análise de Padrões Fundamentais de Movimento de Gallahue &

Ozmun (1997) e o percentual para o estágio maduro foi de 34,18%, sendo 62,29% para o

estágio elementar e 2,53% para o inicial. Comparando os resultados de Sanches (1990.) e

Zanon & Rocha (2000) com os obtidos no presente estudo observa-se que para a habilidade

de arremessar por cima do ombro as atletas de GO, embora mais jovens, evidenciam

desempenho superior.

O padrão correr foi investigado por Pellegrini & Catuzzo (1991), em seu segundo

experimento, utilizando como referência Roberton & Halverson (1984) em 80 escolares de

sete a 14 anos de idade, sendo encontrado apenas 5% dos avaliados no estágio maduro para

o componente pernas e nenhum sujeito neste estágio para o componente braços. Nesta

mesma habilidade, Zanon & Rocha (2000) encontraram um desempenho bem superior com

91,14% dos avaliados no estágio maduro. Este último se assemelha com os dados obtidos

junto às ginastas em que todas apresentaram desenvolvimentos no nível maduro para esta

habilidade.

Page 45: Monografia Final Lisiane

45

Zanon & Rocha (2000) analisaram ainda o salto horizontal e o percentual de

crianças encontradas no estágio maduro foi de 41,78%. No estágio elementar a maioria, ou

seja, 53,16% encontraram-se no estágio elementar e 5,06% no estágio inicial de

desenvolvimento. As atletas de GO demonstraram melhores resultados para esta habilidade,

onde novamente todas, ou seja, 100% se encontraram no estágio maduro de

desenvolvimento.

Estes resultados apontam para a confirmação da segunda hipótese deste estudo em

que as atletas de GO demonstraram níveis de desenvolvimento superiores nas habilidades

avaliadas. Entretanto é importante destacar que esta comparação só foi possível para as

habilidades de arremessar, correr e saltar.

Page 46: Monografia Final Lisiane

46

5) CO�SIDERAÇÕES FI�AIS

Para finalizar, torna-se necessário relatar algumas constatações pertinentes às idéias

apresentados. A primeira delas refere-se ao fato de que são poucos os estudos disponíveis

com relação às habilidades motoras fundamentais em estudantes brasileiros. Quando

existem, as idades dos avaliados nos trabalhos são desencontradas, o que dificulta a

comparação entre eles. Logo, vê-se a importância de realizar mais pesquisas acerca dos

temas aqui discutidos.

Ficou evidenciado que nas habilidades de correr, saltar e arremessar, ou seja,

habilidades locomotoras e manipulativas, as ginastas apresentaram desempenho superior

aos dados obtidos junto à outros estudos consultados. Nas habilidades de estabilização a

comparação não foi possível, mas a totalidade das atletas demonstrou o nível máximo em

todas as habilidades.

Pode-se dizer que a GO facilita o aprendizado de habilidades motoras fundamentais

locomotoras e estabilizadoras. Porém, para que as manipulativas sejam plenamente

desenvolvidas, necessitam de atenção especial principalmente nas crianças que já se

encontram em uma fase especializada do esporte. Isto devido ao resultado obtido na

habilidade chutar, com apenas uma menina no estágio maduro. Este fraco desempenho

pode estar relacionado, além da falta de oportunidade de prática dentro da GO, a uma

questão puramente cultural, como já mencionado anteriormente.

Weineck (1999) enfatiza que, quando a GO é praticada em especificidade, é

importante que se incluam atividades que promovam manipulação e interação entre os

indivíduos, objetos e espaço. A formação variada deve ocorrer na iniciação esportiva

Page 47: Monografia Final Lisiane

47

mesmo que em uma única modalidade esportiva, onde a especificidade cederia lugar à

variedade. É importante lembrar que a GO é um esporte multivariado e pode servir como

base para outros esportes ou simplesmente para a aquisição das habilidades motoras

fundamentais e hábitos saudáveis da prática de atividade física regular.

“ A ginástica não mais sugere apenas resultados,

invente gestos, recompõe exercícios e encadeamentos. Ela

cria, em particular, novas hierarquias de movimento: do

mais simples ao mais complexo, do mais mecânico ao mais

elaborado, reinventando, parte por parte, progressões e

seqüências.”

(VIGARELLO, 2003, p. 12)

Malberg (2003, apud TSUKAMOTO & NUNOMURA, 2005) destaca que não é

preciso equipamento sofisticado para desenvolver um programa de ginástica centrado na

aquisição de habilidades básicas. Materiais alternativos, adaptados e suas combinações são

suficientes para a iniciação e plenamente capaz de suprir as necessidades infantis em

termos de aquisição de habilidades motoras fundamentais que são básicas e importantes

para o dia-a-dia.

Não se pode deixar de registrar que alguns movimentos de locomoção e

estabilização apresentados pelas ginastas são estilizados, ou seja, trabalhados dentro das

técnicas exigidas pelo esporte não sendo prejudicial ao seu desenvolvimento, mas sim

benéfico para a performance dentro da modalidade. Como exemplo tem-se o

Page 48: Monografia Final Lisiane

48

posicionamento dos braços e a meia ponta no deslizamento, no galope e na caminhada na

trave de equilíbrio, as pernas estendidas no rolamento e as pernas unidas no apoio invertido.

O presente estudo não se encerra simplesmente nele mesmo, mas deve servir de

estímulo para novos estudos mais aprofundados, que possuam grupos controles e

metodologia validada, bem como uso de filmagem evitando possíveis erros de avaliação.

Page 49: Monografia Final Lisiane

49

6) REFERÊ�CIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, C. O treino dos jovens ginastas. Revista Horizonte, 15(85):1-12, 1998. BENTO, J. Desporto na escola – Desporto no clube, Revista Horizonte, 42:183-190, 1991.

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Page 52: Monografia Final Lisiane

52

A�EXO 1

Proposta de atividade

Oficina de Ginástica Básica

A idade pré-escolar compreende o período entre 3 – 7 anos e é chamado de “idade

de ouro na infância” (WEINECK, 2005). Nela há uma melhor organização e absorção das

informações e as crianças necessitam de atividades que desenvolvam a assimilação das

aprendizagens escolares (OLIVEIRA, 1997), uma gama de capacidades e a melhoria da

aptidão física.

Segundo Nista-Piccolo (2001, apud TSUKAMOTO & NUNOMURA, 2005), o

movimento gímnico é capaz de propiciar valiosa experiência para o domínio corporal.

Dentro dele podemos incluir as formas mais básicas de ginástica como a olímpica, a

rítmica, a de trampolim e a geral, por exemplo.

Diante do apresentado ao longo deste trabalho, surgiu o projeto intitulado “Oficina

de Ginástica Básica” que pode dar um novo rumo para a educação física escolar. Nele, a

ginástica olímpica (GO) seria o “carro chefe” seguida por outras modalidades gímnicas em

que, além de capacidades e melhoria da aptidão física, outros aspectos seriam

contemplados, como principalmente as habilidades motoras fundamentais.

Com a finalidade de desenvolver estas habilidades, o projeto destina-se a crianças

de dois a seis anos de idade. Também devem ser abordados o desenvolvimento da

lateralidade, estruturação espacial e temporal, esquema corporal, força, flexibilidade,

resistência, velocidade, coordenação motora, agilidade, equilíbrio e manipulação de

Page 53: Monografia Final Lisiane

53

objetos, tendo sempre a GO como foco principal em uma prática variada, com

oportunidades para todos e cheia de desafios.

O material necessário para o desenvolvimento da atividade é simples, podendo ser

mais ou menos sofisticado. Os materiais básicos para o desenvolvimento do projeto são:

colchonete, arco, bola de borracha, corda, caixa tipo banqueta, espaldar, cama-elástica,

colchão gordo e materiais confeccionados pelo professor e alunos como bola de meia,

garrafa PET, fita, entre outras possibilidades, o que estimularia a criatividade dos alunos.

Com baixo custo o projeto pode ser implementado dentro da escola ou em

escolinhas especializadas enfatizando todos os aspectos aqui apresentados. Isto tornaria as

crianças aos sete anos de idade aptas para desenvolver habilidades mais específicas, como

as relacionadas ao esporte, além de incorporar hábitos saudáveis da prática de atividade

física regular.

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Equilíbrio estático

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