tecnologia de informaÇÃo outsourcing: uma estratégia de...

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A fórmula tem mostrado sucesso. Terceirizar atividades administrativas pode trazer uma série de benefícios às empresas brasileiras. Redução de cus- tos, melhoria da performance opera- cional, aumento da produtividade e maiores retornos financeiros são algu- mas vantagens da prática, conhecida como outsourcing, que vem ganhando importância no país principalmente no que diz respeito à área de Tecnologia da Informação (TI). Ou seja, tarefas como segurança corporativa, suporte tecnológico e administração de redes estão sendo passadas pelas grandes companhias para outras empresas, especializadas nessas áreas. O setor de TI é o mais maduro quando se fala em outsourcing, e calcula-se que as empre- sas brasileiras invistam cerca de 5,3% do faturamento líquido nesse tipo de tecnologia. Mas o que vem chamando a atenção dos especialistas, no entanto, são os desafios a serem enfrentados para incluir o Brasil na rota de outsourcing das empresas globais, tornando o país um potencial exportador de serviços de T E C N O L O G I A D E I N F O R M A Ç Ã O por Thiago Romero Outsourcing: uma estratégia de vantagem competitiva em TI ESPECIALISTAS APRESENTAM OS PRINCIPAIS DESAFIOS PARA QUE O BRASIL PASSE A SER RECONHECIDO COMO UM DOS CENTROS MUNDIAIS DE DESENVOLVIMENTO E EXPORTAÇÃO DE SOFTWARES E SERVIÇOS DE TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO PARA AS EMPRESAS GLOBAIS A empresa Dextra Sistemas, de Campinas, focou sua atividade em serviços de TI e está preparada para participar do mercado internacional Fernando Petermann

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A fórmula tem mostrado sucesso.Terceirizar atividades administrativaspode trazer uma série de benefícios àsempresas brasileiras. Redução de cus-tos, melhoria da performance opera-cional, aumento da produtividade emaiores retornos financeiros são algu-mas vantagens da prática, conhecidacomo outsourcing, que vem ganhandoimportância no país principalmenteno que diz respeito à área de Tecnologiada Informação (TI). Ou seja, tarefascomo segurança corporativa, suportetecnológico e administração de redes

estão sendo passadas pelas grandescompanhias para outras empresas,especializadas nessas áreas. O setor deTI é o mais maduro quando se fala emoutsourcing, e calcula-se que as empre-sas brasileiras invistam cerca de 5,3%do faturamento líquido nesse tipo detecnologia.

Mas o que vem chamando a atençãodos especialistas, no entanto, são osdesafios a serem enfrentados paraincluir o Brasil na rota de outsourcing

das empresas globais, tornando o paísum potencial exportador de serviços de

T E C N O L O G I A D E I N F O R M A Ç Ã O

por Thiago Romero

Outsourcing: uma estratégia de vantagem competitiva em TI

ESPECIALISTAS APRESENTAM OS PRINCIPAIS DESAFIOS

PARA QUE O BRASIL PASSE A SER RECONHECIDOCOMO UM DOS CENTROS

MUNDIAIS DE DESENVOLVIMENTO E

EXPORTAÇÃO DE SOFTWARES E SERVIÇOS DE TECNOLOGIA

DE INFORMAÇÃO PARA AS EMPRESAS GLOBAIS

A empresa Dextra Sistemas, de Campinas, focou sua

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que o país possa ser reconhecido inter-nacionalmente pela excelência em ser-viços de TI. "Se soubermos aproveitar acapacidade instalada nas subsidiáriasbrasileiras das empresas globais, pode-remos criar bons canais de comerciali-zação dos softwares desenvolvidos pelasempresas nacionais. O segredo é nosapoiarmos nas companhias estrangei-ras que já são bem sucedidas no merca-do nacional como fabricantes", ressaltaGrynszpan.

Outro fator a ser considerado é oaumento da visibilidade do Brasil nascorporações globais, o que poderiainfluenciar a alta direção dessas empre-sas na hora de escolher o país para ainstalação de seus centros de compe-tência. Para isso, o auxílio daAssociação Brasileira das Empresasde Software e Serviços para Exportação(Brasscom) seria algo decisivo. A asso-ciação integra as principais empresasnacionais e tem capacidade de promo-ver o software brasileiro no mercadointernacional.

Os principais concorrentes doBrasil nesse cenário são Índia, China,Rússia, México, Argentina e Chile, alémde alguns países da Europa Oriental easiáticos, como Filipinas, Malásia,Tailândia e Vietnã. A Índia e a China sãodois casos à parte. O primeiro país jáestá tão na frente dos outros que nãoprecisa mais se preocupar com a con-corrência e serve de referência para osdemais países, que procuram ocupar osespaços que restam. A China também

corre em raia própria, ocupando nichosde mercado cada vez mais amplos ediversificados.

MARCA BRASILNa opinião de Fernando Birman,

diretor de TI do Grupo Rhodia para aAmérica Latina, o principal obstáculoque impede o Brasil de se tornar um cen-tro de referência mundial é o desconhe-cimento do país como produtor de TI."A nossa marca é muito fraca.Precisamos investir na marca Brasil ena divulgação de competências combase em nossos casos de sucesso. Asempresas brasileiras precisam ocuparrapidamente o espaço que resta, antesque outras nações o façam de formadefinitiva", acredita.

Para ele, o Brasil tem capacidadesuficiente para competir com os cen-tros de competência internacionais."Temos que mostrar nossas princi-pais qualidades e tentar fornecer umasolução de TI completa. As empresasnacionais têm um enorme potencialpara desenhar e conceber soluçõespor inteiro, e não apenas executá-las",garante Birman. "E isso que nos dife-rencia da dura concorrência interna-cional."

Birman, que integra o comitê mun-dial de informática do Grupo Rhodia,afirma ainda que participar desse tipode negócio não é apenas interessantepara os trabalhadores brasileiros, masé algo vital. "Não se trata só de ganharespaço lá fora, mas de evitar a exporta-ção de empregos. Nesse caso, uma maioragressividade das empresas nacionaise o ataque ao mercado externo é a melhortática de defesa", conta.

O mais importante, segundo ele, éque a classe empreendedora brasileiranão está esperando de braços cruzados.Para ilustrar com um caso de sucesso,pode-se citar a Tempest. A empresa ins-talada no Porto Digital, arranjo produ-

TI. O tema tem despertado interesse deempresas e organizações que têm-sereunido em eventos para debater estra-tégias para tornar as subsidiárias bra-sileiras das empresas globais as prin-cipais responsáveis por uma política deacesso ao mercado mundial de softwa-re e serviços de TI.

Flavio Grynszpan, diretor doDepartamento de Tecnologia do Centrodas Indústrias do Estado de São Paulo(Ciesp) e diretor da Associação Nacionalde Pesquisa, Desenvolvimento eEngenharia das Empresas Inovadoras(Anpei), listou à reportagem daInovação

Uniemp inúmeras barreiras que impe-dem o Brasil de ser reconhecido comoum dos centros mundiais de desenvol-vimento de software para as empresasglobais. "Além de termos pouca expe-riência internacional no setor, temosque concorrer com outros países queestão atuando no mercado mundial e jácriaram tradição como bons desenvol-vedores para as principais companhias",explica. Para piorar a situação, as empre-sas nacionais ainda não conseguiramcriar uma vantagem competitiva real-çada. "Nossos custos são maiores queos de muitos países e ainda não temosespecialização em nenhum nicho demercado que nos diferencie de nossosconcorrentes", lamenta.

Grynszpan aconselha que as com-panhias brasileiras priorizem o merca-do interno "que é grande e diversifica-do", dando mais atenção às empresasglobais aqui estabelecidas e que sãobem sucedidas no fornecimento de pro-dutos e serviços ao mercado nacional."Temos que trabalhar com as subsidiá-rias locais das empresas globais e criarcondições para competir internamen-te nas respectivas corporações com assubsidiárias de outros países", afirma.

Além disso, criar competência e mas-sa crítica em setores de mercado espe-cíficos são fatores fundamentais para

CUSTOS MAIORES E FALTA DEESPECIALIZAÇÃO EM ALGUM

NICHO DE MERCADO DIFICULTAM A PERFORMANCE

DO SOFTWARE BRASILEIRO NO EXTERIOR

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tivo local de software, em Recife (PE),fechou no final do ano passado uma par-ceria com a francesa Net2S para expor-tar serviços no setor de outsourcing deproteção da informação. O acordo pre-vê que todos os clientes mundiais daNet2S relacionados a serviços de segu-rança passem a ser gerenciados pelasbases de operação da Tempest em SãoPaulo e no Recife.

O Seminário Internacional sobreEstabelecimento de Centros de Com-petência de Empresas Globais no Brasil,realizado no mês de fevereiro em SãoPaulo, apresentou propostas para queo país consiga atingir a meta estabele-cida pelo governo federal de exportarUS$ 2 bilhões em serviços de TI até2007. "Nesse prazo, poderíamos ala-vancar nossas exportações de serviços

de TI aproveitando multinacionais quejá têm mercado definido e garantido,como por exemplo a Accenture, a IBMe a Eletronic Data Systems (EDS). Essasempresas darão bons saltos até 2007",aposta Grynszpan, que foi o organiza-dor do evento.

Segundo ele, apesar da área de soft-ware e serviços de TI ser uma das prio-ridades da Política Industrial,Tecnológica e de Comércio Exterior(PITCE), os mecanismos de apoio ain-da não estão claros e o governo federalnão conseguiu elaborar uma legisla-ção atrativa que ofereça bons incenti-vos. "No caso das multinacionais, a ofer-ta de financiamento da Financiadorade Estudos e Projetos (Finep) e do BancoNacional de Desenvolvimento Econô-mico e Social (BNDES) não ajuda mui-

to, pois essas empresas têm acesso arecursos no mercado internacional ataxas bem menores do que as pratica-das no Brasil", compara.

Grynszpan finaliza com uma boanotícia, divulgada como uma das prin-cipais conclusões do seminário: o mer-cado brasileiro está disposto a oferecerboas oportunidades de emprego amilhares de pessoas, de modo a aten-der às demandas já identificadas emempresas como IBM e EDS. "Atual-mente, o maior gargalo é formar 30 milpessoas em um prazo curto e a cus-tos compatíveis. Essa é uma grandeoportunidade para os brasileiros con-seguirem novos empregos. Caso con-trário, os projetos e seus respectivosempregos migrarão para outros paí-ses", alerta Grynszpan.

Porto Digital, em Recife:onde está localizada

a Tempest que fechou parceria com

a francesa Net2S

Assessoria de C

omunicação/

Porto Digital

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