tecendo redes nº 1

4
tecendo REDES Você está recebendo o Tecendo Redes, boletim informativo do projeto Floresta- ção. O projeto Florestação, uma realização do CETRA com patrocínio Petrobras através do Programa Petrobras Socioambiental, quer alçar grandes voos. Mas para criar asas sabemos que é preciso ter raízes. E as nossas raízes foram consoli- dadas na experiência de agricultores e agricultoras do Território Vales do Curu e Aracatiaçu. O trabalho com agricultores familiares proporcionou o fortalecimen- to das raízes no Território e agora é hora de sonhar mais alto. Nosso sonho tem como semente os princípios agroecológicos e, para tornar o sonho realidade, agricultores e agricultoras, juntamente com a equipe técnica do Florestação, estão trabalhando no intuito de ampliar a sustentabilidade em agroecossistemas familiares a partir de práticas de conservação ambiental, de quintais agroecoló- gicos e sistemas agroflorestais. No Tecendo Redes você irá acompanhar ativida- des como intercâmbios de experiência, campanhas de educação ambiental, even- tos, feiras agroecológicas e receitas. Boa leitura! Confira a troca de experiência entre os agricultores/as do Cariri e do Território Vales do Curu e Aracatiaçu. Aprenda a fazer extrato de tomate em casa a partir da receita do agricultor experimentador Vilmar Lermer. Entenda o que é um Sistema Agroflorestal (SAF) na seção Práticas Agroecológicas. Intercâmbio Receita SAF www.cetra.org.br/florestacao Troca de conhecimento agroecológico na área do agricultor Zé Arthur Patrocínio Realização Boletim informativo do projeto Florestação - nº 1

Upload: cetra

Post on 06-Apr-2016

232 views

Category:

Documents


4 download

DESCRIPTION

Boletim Informativo do Projeto Florestação, uma realização do Cetra, com patrocínio da Petrobras através do Programa Petrobras Socioambiental e Governo Federal.

TRANSCRIPT

Page 1: Tecendo Redes nº 1

tecendoREDES

Você está recebendo o Tecendo Redes, boletim informativo do projeto Floresta-ção. O projeto Florestação, uma realização do CETRA com patrocínio Petrobras através do Programa Petrobras Socioambiental, quer alçar grandes voos. Mas para criar asas sabemos que é preciso ter raízes. E as nossas raízes foram consoli-dadas na experiência de agricultores e agricultoras do Território Vales do Curu e Aracatiaçu. O trabalho com agricultores familiares proporcionou o fortalecimen-to das raízes no Território e agora é hora de sonhar mais alto. Nosso sonho tem como semente os princípios agroecológicos e, para tornar o sonho realidade, agricultores e agricultoras, juntamente com a equipe técnica do Florestação, estão trabalhando no intuito de ampliar a sustentabilidade em agroecossistemas familiares a partir de práticas de conservação ambiental, de quintais agroecoló-gicos e sistemas agroflorestais. No Tecendo Redes você irá acompanhar ativida-des como intercâmbios de experiência, campanhas de educação ambiental, even-tos, feiras agroecológicas e receitas. Boa leitura!

Confira a troca de experiência entre os agricultores/as do Cariri e do Território Vales do Curu e Aracatiaçu.

Aprenda a fazer extrato de tomate em casa a partir da receita do agricultor experimentador Vilmar Lermer.

Entenda o que é um Sistema Agroflorestal (SAF) na seção Práticas Agroecológicas.

Intercâmbio Receita SAF

www.cetra.org.br/florestacao

Troca de conhecimento agroecológico na área do agricultor Zé Arthur

PatrocínioRealização

Boletim informativo do projeto Florestação - nº 1

Page 2: Tecendo Redes nº 1

Experiência e saberagroecológico no CaririO intercâmbio de experiência é parte fundamental do processo de formação realizado pelo Florestação: a intenção é que a partir da troca de experiência os agricultores e agricultoras possam tirar dúvidas sobre os princípios e práticas da agrofloresta, além de buscar entender sobre a dinâmica das famílias em relação ao manejo sustentável e produtivo dos seus agroecossistemas e acerca da diversidade dos subsistemas visitados. Os intercâmbios de experiência são momentos fundamentais para que os agricultores e agriculto-ras possam aprofundar seus conhecimentos agroe-cológicos diante de uma experiência prática que é liderada e compartilhada de agricultor/a para agricultor/a.Em fevereiro de 2014 aconteceu o intercâmbio inter-municipal do projeto Florestação, que saiu de Itapipoca e cortou o sertão cearense para aportar na cidade do Crato, no Cariri. A viagem, que partiu no meio da manhã de Itapipoca, passou por vários municípios; Apuiarés, Canindé, Madalena, Quixera-mobim, Acopiara, Várzea Alegre, Iguatu e finalmen-te; Crato, que recebeu os/as agricultores/as dos Vales do Curu e Aracatiaçu com muita chuva e frio, no pé da Chapada do Araripe, onde todos foram presenteados com uma bela paisagem onde se via acima a Chapada e embaixo a cidade do Crato.

“Minha vida é andar por esse país, pra ver se um dia descanso feliz”

Apesar da jornada cansativa, o grupo de 25 agriculto-res acordou cedo e estava empolgado com a viagem até a agrofloresta de Vilmar e Silvanete, experiência acompanhada pela Associação Cristã de Base - ACB, através de sua coordenadora executiva Socorro Silva. Fomos guiados até a comunidade Paus Dóia, que fica em Exu, Pernambuco, terra do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, que fez acender a luz da memória afetiva de vários agricultores que, aos poucos, foram lembrando do homem que "cantou a vida do sertane-jo" como bem lembrava, saudosista, o Pessoa, da comunidade Caldeirão dos Neto, em Itapipoca. Enquanto cantavam alguns versos de "Seu Luiz" a bela vista da reserva florestal do Araripe ia conduzin-do os viajantes até o segundo Mandacaru que marca-va a entrada para o sítio de Vilmar.Chegando na agrofloresta foram todos recepciona-dos por Silvanete e Vilmar. Depois das apresentações foram todos seguindo o pulsante Vilmar, que é uma espécie de enciclopédia botânica do Araripe: conhe-ce, cientificamente, todas as plantas que cultiva, diz o nome popular e científico e enquanto numera as utilidades e possibilidades de cada fruta, hortaliça ou leguminosa, arranca perguntas dos agricultores que se mostram surpresos com a quantidade de informações que acumula sobre o solo e a agroflo-resta que mantém em sua propriedade.Os agricultores e agricultoras puderam levar várias mudas, de macaxeira à ingá, de pimenta à frutíferas, conheceram novas espécies, como o cambuí, que Vilmar transforma em licor da melhor qualidade. O

anfitrião trouxe aos visitantes a importância do manejo em consórcio e de como é preciso entender a natureza das plantas, o desenvolvi-mento delas, a forma como lidam com a falta e o excesso de água. Vilmar ressalta que é preciso observar e expe-rimentar sempre, saber conviver com os animais que criamos e, sobretu-do, os selvagens, que transitam por ali atrás de alimento. Após o almoço, Vilmar e Silvanete falaram da impor-tância do armazenamento de sementes e a criativida-de na confecção de produtos. Ele lembrou que a agroe-cologia lhe garantiu uma produção mais diversificada e com isso pode criar geleias, licores, cachaças, doces e demais produtos que lhes garantiam renda durante a estiagem. Saindo da comunidade Paus Dóia e da experiência de Vilmar, o grupo tomou a estrada novamente, voltando para o Ceará, rumo a Nova Olinda, onde reside seu Zé Arthur, outro agricultor agroflorestal. Dessa vez ao som de “Juazeiro, Juazeiro, me ‘arresponda’ por favor, Juazeiro velho amigo, onde anda meu amor...”.

Zé Arthur

Depois da visita em Paus Dóia, Socorro levou o grupo até a experiência de Seu "Zé Arthur" e Dona Bastinha, que fica na comunidade de Sítios Patos, em Nova Olinda, outra experiência de sucesso acompanhada pela ACB. Além de unidade agroecológica, a proprie-dade de Zé Arthur e Bastinha é uma pousada de turismo rural, onde o hóspede pode conhecer um pouco mais da agrofloresta e do cotidiano da família, além do contato direto com a natureza e as tradições da cultura local.Zé Arthur é um senhor de idade, mas como ele mesmo diz "não se troca por nenhum menino mais novo". Zé guia o grupo por sua propriedade, mostrando o cultivo do feijão e demais produtos, fala do manejo específico de algumas espécies frutíferas e conversa bastante sobre o processo de transição agroecológica: "Quem não tem experiência para plantar no 'mato' é compli-cado, mas basta trabalhar", e completa dizendo "tá no produtor querer fazer, o 'cabra' tem que acreditar, na hora que ele vê que dá certo e fica melhor do que queimando, aí sim, ele muda e nunca mais volta".Enquanto Zé Arthur conversa com os agricultores, Dona Bastinha mostra a grande quantidade de polpa de frutas que armazenam em sua propriedade. São cerca de 2 freezers grandes, cheios de polpas de manga e acerola, um dos produtos que lhes garantem renda mensal equilibrada e ameniza consideravelmen-te os impactos da estiagem. No fim, Zé Arthur mostrou a transformação que sua propriedade passou a partir do momento em que decidiu largar as formas tradicio-

O agricultor experimentador Vilmar Lermer mostra uma variação de palma existente no seu SAF

nais de cultivo, evitando, por exemplo a queimada e o uso de agrotóxicos.

Experiência da Feira Agroecológica do Crato e Quintal de Seu Juvenal

No último dia do intercâmbio o grupo de agricultores e agricultoras acordou cedo. Nem o sol tinha apontado no alto da Chapada do Araripe e todos estavam no ônibus, rumo a rua Cariris, no bairro Independência, para conhecer a Feira Agroecológica do Crato, tradição na comercialização solidária com mais de 11 anos na praça. A visita serviu para comprar alguns produtos, mel, hortaliças, sementes, defensivos naturais. Depois da visita, e do bate-papo que se estendia de barraca em barraca, a ACB abriu suas portas pra receber os participantes do intercâmbio e poder contar um pouco sobre a história da feira, como surgiu, as dificuldades iniciais, os feirantes e a comercialização.Quem conduziu a conversa foi Socorro Silva, da ACB. Alguns dos agricultores que estavam no intercâmbio também são feirantes agroecológicos e participam ativamente da Rede de Agricultores/as Agroecológicos e Solidários dos Vales do Curu e Aracatiaçu. Foi possível avaliar as dificuldades com a produção, devido a estiagem, os produtos que conseguem vender bem em cada região e os obstáculos em relação a comercializa-ção e organização em rede ou associação. O feirante Zé Valdo vai além e diz: “Além da diversidade de produtos, tem essa coisa do valor sentimental, contribui muito na qualidade do produto”. Após a visita na ACB o grupo se dirigiu até o bairro de Batateiras, zona urbana do Crato, umas das regiões mais periféricas. Nessa parte da cidade encontramos seu Juvenal, que também estava na Feira e nos convidou para conhecer a casa de sementes que mantém em sua casa. O grupo foi recebido na casa de sementes, onde seu Juvenal contou a história de persistência que foi criar e manter esse espaço, mas reitera que todas essas adversi-dades foram importantes para sua conscientização ambiental e política.

Para saber mais sobre o intercâmbio, acesse:www.cetra.org.br/florestacao

Page 3: Tecendo Redes nº 1

Compartilhando Sementes

Sistema agroflorestal (SAF) é um nome relativamente recente dado para experiências antigas de comunida-des tradicionais em várias partes do mundo que tinham a intenção de produzir alimentos e recursos visando à própria sobrevivência.Os Sistemas Agroflorestais estão em uma categoria de produção que aliam culturas agrícolas com espécies arbóreas nativas e florestais, visando sua interação ao ponto de beneficiá-las. O seu desenvol-vimento permite um equilíbrio de diversos aspectos que dispensa o uso de insumos externos a esse subsistema. Dentre esses benefícios podemos citar a alta renovação de nutrientes e, por consequência, a manutenção da fertilidade, manutenção da cobertura do solo, da umidade do solo, do controle natural de insetos e doenças, e o provimento de uma série de recursos para as famílias que possuem um SAF dentro de seu agroecossistema. Os princípios básicos para a implementação de um SAF é reconhecer a “lógica da mata”, ou seja, enten-der a estrutura da vegetação nativa, suas espécies, o solo, o clima e seu funcionamento, as interações entre as espécies, sua dinâmica e seu fluxo de energia e matéria. Essa lógica muda muito a forma de se ver a agricultura, que não é a da competição entre as espécies, mas sim a complementaridade que cada uma pode fornecer para outra, considerando assim a função que cada ser tem no sistema. A exemplo disso

passamos a perceber a importância de uma aranha, que é predadora de insetos e ácaros, ao invés de procurar formas de combatê-la. O papel do ser humano é entender essa complexidade e saber onde ele vai fazer a intervenção para se bene-ficiar de uma diversidade de recursos. É facilitar para que a natureza trabalhe melhor cada ambiente, gerando ainda mais vida e riqueza. O conhecimento associado às populações locais que tem uma relação de interdependência mais direta com a natureza é essencial para intervir em cada região.

O Sistema Agroflorestal é de grande relevância na área da família, pois aumenta a sustentabilidade do agroecossistema garantindo uma reserva de recursos para a família, sejam alimentares, forrageiros, medici-nais ou artesanais. O SAF contribui também para a melhoria do clima, para abrigo de animais nativos e recuperação de espécies nativas que antes não eram consideradas.

Práticas Agroecológicas

Ingredientes: - 1 kg de tomate (também pode ser feito com tomate-cereja, tomate-seriguela, tomate-cajá)

Modo de fazer:

Selecione os tomates que for utilizar, lave e coloque para escorrer.Abra um por um e retire as sementes.Triture no liquidificador e, em seguida, coloque para cozinhar em fogo baixo (se ao triturar os tomates no liquidificador não fizer muito liquido, coloque um pouco de água ao cozinhar só para não grudar). Sempre mexendo, deixe ferver em fogo baixo.Adicione sal e açúcar (a gosto) e volte a mexer.Quando estiver “enxugando” desligue o fogo e continue mexendo até esfriar.Armazene em pacotes no congelador ou freezer caso não vá utilizar todo o extrato de uma só vez.

Receita de Extrato de Tomate Vilmar Luiz Lemer | Agricultor experimentador de Exu - PE

_

Sistema Agroflorestal (SAF)

Page 4: Tecendo Redes nº 1

Itapipoca - Praça Perilo Teixeira

Setembro: dias 03 e 17 | Outubro: dias 01, 15 e 29 | Novembro: dias 12 e 26 Dezembro: dias 10 e 24

Trairi - Praça José Granja Ribeiro

Setembro: dias 10 e 24 | Outubro: dias 08 e 22 | Novembro: dias 05 e 19 Dezembro: dias 03, 17 e 31

Apuiarés - Praça Joaquim ParaíbaTodas as quartas-feiras

Tururu - Praça da MatrizÚltima sexta-feira do mês

Feiras Agroecológicas

Plante essa ideiaConhecer não é só saber o nome. É descobrir os benefícios que a mata nativa traz - que vão desde a regulação do clima até a produção de alimentos e medicamentos. Conhecer é saber que a mata e a agricultura familiar andam juntas e possuem as mesmas raízes.Pensando nisso, o projeto Florestação vem trabalhando com a campanha de educa-ção ambiental “Ter raízes” que tem como tema principal a preservação das espécies nativas. Conservar as plantas nativas da nossa região é compreender que as nossas raízes são essenciais para construir nosso espaço de bem viver onde seja possível plantar, colher, preservar e ser feliz. Tudo sem uso de veneno e trabalhando de forma agroecológica! Sabemos que algumas espécies nativas não foram conservadas, por isso também reflorestar é uma tarefa muito importante. Por meio das agroflorestas, é possível produzir alimentos de maneira sustentável e ainda melhorar as condições da área com relação ao solo, à água e à própria vida. Outro ponto da campanha “Ter raízes” é a valorização do conhecimento popular e de sua partilha. A sabedoria popular é uma terra fértil onde são semeados ensinamen-tos sobre a nossa mata nativa, seus usos medicinais, entre outros.

Exemplos de espécies nativas:Pau D’arco, Sabiá, Carnaúba, Oiticica, Murici, Batiputá, Jenipapo, Aroeira, Mororó, Pajeú, Mulungu, Pau Ferro, Marmeleiro, Cedro, Gonçalo Alves, Xixá, Sapoti, Cumaru, Pau Branco, Mufumbo.

Ter Raízes é conhecer. Ter raízes é preservar. Ter raízes é partilhar.Vamos nos unir para preservar nossas espécies nativas!

Expediente

Fotografia: Arquivo CETRAProjeto Gráfico: Abracadabra DesignDiagramação: Giulianne Cidade

Texto: Amanda Sampaio Alexandre Greco Luis Eduardo Sobral

PatrocínioRealização

Frutos do Murici e do Batiputá - São José e Buriti (CE)