teatro do improviso em sala de aula

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  • 7/25/2019 Teatro do Improviso em Sala de Aula

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    O TEATRO DE IMPROVISO COMO PRTICA EDUCATIVANO ENSINO DE HISTRIA

    Assis Souza de MOURALicenciado em Letras UEPB

    Especialista em Literatura e Cultura Afro-Brasileira UEPBMestrando em Educao - UFPB

    [email protected]

    RESUMO

    Este trabalho, nascido no campo da experincia docente, resultado de uma teorizao possvel

    sobre a importncia didtico-pedaggica do Teatro de Improviso no cotidiano escolar, inovando a

    prtica de ensino pela perspectiva histrico-crtica. Pelos aspectos de anlise que assumimos

    neste trabalho, o Teatro de Improviso - dentro das novas linguagens - compreendido como

    metodologia de ensino adjetivada como simples, aplicvel e eficaz, adequando-se,

    facilmente, aos programas das diversas disciplinas escolares. Com a obrigatoriedade do ensino

    de Histria e Cultura Afro-brasileira e Africana no currculo da Educao Bsica (Lei n. 11.

    645/2008), o Teatro de Improviso, rompendo com a fragmentao disciplinar comum, indicado

    como promotor de uma transversalidade necessria e configura-se como estratgia experimental

    para a superao das desigualdades tnico-raciais na escola, cujo objetivo principal o de

    promover o reconhecimento e a valorizao da diversidade humana como elemento fundante de

    relaes inter-pessoais harmoniosas e de respeito incondicional ao outro, ao diferente.

    Palavras-Chave:Teatro de Improviso. Ensino de Histria. Diversidade tnico-racial.

    Consideraes Iniciais. Com este artigo, propomos uma reflexo terica sobre a utilizao do

    Teatro de Improviso como prtica educativa no combate s discriminaes raciais na escola de

    ensino fundamental, pois acreditamos que o teatro, independentemente de um estudo esttico ou

    filosfico, uma forma de convivncia com a diversidade e, assim, estratgia e recurso dinmico

    para a desconstruo de preconceitos e discriminaes negativas, sendo, tambm, aliado naconstruo de processos para a reeducao das relaes tnico-raciais.

    Articulamos o presente texto em tpicos seqenciais, traando caminhos alternativos para

    o entendimento do teatro como arte e do teatro de improviso como prtica educativa no combate

    s mltiplas formas de discriminaes raciais na escola.

    A arte, segundo os Parmetros Curriculares Nacionais, solicita a viso, a escuta e os

    demais sentidos como portas de entrada para uma compreenso mais significativa das questes

    sociais. (1).

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    O ser humano que no conhece arte tem uma experincia de aprendizagemlimitada, escapa-lhe a dimenso do sonho, da fora comunicativa dos objetos sua volta, da sonoridade instigante da poesia, das criaes musicais, das cores eformas, dos gestos e luzes que buscam o sentido da vida. (2)

    A Arte, como um universo de diversidades de expresses, ensina que possvel

    transformar a existncia e transformar-se, envolver-se continuamente, e que preciso - epossvel e necessrio - mudar referncias a cada momento, ser flexvel, e a arte que sempre

    prope a (re)significao.

    O teatro no ensino fundamental, enquanto arte, estimula o crescimento da criana, tanto

    no plano individual quanto no plano coletivo, onde a diversidade tem especificao e encontra os

    mais elevados nveis de indiferena.

    No plano individual haveria o desenvolvimento das capacidades expressivas e

    artsticas da criana. J o plano coletivo promoveria exerccio das relaes decooperao, dilogo, respeito mtuo, reflexo de como agir com os colegas,flexibilidade de aceitao das diferenas e aquisio de sua autonomia comoresultado do poder agir e pensar sem coero. (3)

    O teatro pode transformar (e transforma) a escola em um espao de trabalho e

    aprendizagem pelo vis do prazer e do encantamento. O espao escolar de hoje, diferente do

    que se preconizava na escola tradicional, um lugar social plural e contraditrio. (4). E esta

    uma dimenso essencial do aprender humano: a condio de estar imerso no contraditrio, o que

    possibilita um contato direto com a diferena.Por no questionar ou compreender o contraditrio, a escola entra em crise. E no de

    hoje que notamos as crises sucessivas de identidade, tornando-se uma escola que no entende

    o(a) aluno(a) nem se preocupa com a aprendizagem efetivamente significante. A escola j no se

    reconhece como espao de aprendizagem significativa e os(as) alunos(as), no poucos,

    reclamam, dizendo que a escola chata. Os(as) especialistas tambm criticam, afirmando que a

    escola no valoriza as relaes cotidianas e as experincias prvias dos(as) educandos(as).

    Alves (2007) critica:

    No de hoje que a escola chata. Ela sempre foi assim e isso acontece porqueas coisas so impostas s crianas. A prova de que uma criana gosta de ir escola se, na hora do recreio, ela est conversando com os amigos sobre ascoisas que a professora ensinou. E no se v isso. Ento fica evidente que elasgostam da escola por causa da sociabilidade, dos amiguinhos, por causa dorecreio. Mas elas no esto interessadas naquilo que se ensina na escola. (5)

    Encarar o que apresentado por Alves (2007) no fcil e, naturalmente, inquieta,

    provocando questionamentos de toda ordem, que nunca sero respondidos de forma satisfatria,

    com respostas definitivas ou conclusivas. Fonseca (2003), com idias que se concatenam com asde Alves (2007), enfatiza que no se pode deixar de lado o universo das inter-relaes humanas

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    com a diversidade (ou com o Outro), afirmando que justamente nos processos de

    aprender-ensinar ou ensinar-aprender, junto ao diferente e/ou contraditrio, que se educa para a

    cidadania, respeitando-se a pluralidade existencial dos(as) educandos(as).

    Os alunos (no plural) so pessoas que tm histrias de vida de diferentes,

    culturas e valores diversos. Seus conhecimentos prvios, seus interesses, suasmotivaes, seus comportamentos e suas habilidades so importantescontribuies no apenas como ponto de partida, mas como componentes de todoo processo educativo. (6)

    Defendemos uma escola feita de realidade e imaginao, em dosagens equilibradas, e

    apresentamos o teatro como elemento transformador das relaes intra e inter-pessoais no

    cotidiano escolar espao de diversidades.

    No fazer teatral, aprender com sentido e prazer est associado compreenso mais clara

    daquilo que ensino. (7). Educa-se (educare e educere), ensina-se e (re)descobre-se odinamismo e o encanto da diversidade pelo envolver-se com ela.

    O teatro, afirma Leal (8), rompe com as estruturas tradicionais da escola, No se trabalha

    sobre um aprender repetido sobre a descoberta, sobre o novo que indagamos, mesmo que

    repitamos um certo jogo.

    Precisamos compreender que o ensino fundamental configura-se como um momento

    escolar especial na vida dos(as) alunos(as). neste momento de seu desenvolvimento que

    eles/elas aproximam-se das questes do universo do(a) adulto(a), em busca de vivncias e

    aventuras. E trabalho com o teatro no interior da escola, permite uma reflexo profunda sobre

    ensinar e aprender, dialeticamente inseparveis: ensinar estabelecer relaes interativas que

    possibilitam ao educando elaborar representaes pessoais sobre os conhecimentos, objetos do

    ensino e da aprendizagem. (9). E mais: O ensino se articula em torno dos alunos e dos

    conhecimentos, e a aprendizagem depende desse conjunto de interaes. [...] ensino e

    aprendizagem fazem parte de um processo de construo compartilhada de diversos

    significados, orientado para a progressiva autonomia do aluno. (cf. 9).

    Aprender/ensinar posicionar-se em defesa de uma escola plural, imprimindo um novo

    ritmo ao viver/conviver, em percursos que vo e voltam, da sala de aula ao mundo. E o teatro

    que melhor possibilita que aconteam aulas dentro e fora de si mesmo. Dentro, na sensibilidade

    e, fora, no espao fsico da aula, onde o ritmo [...] o que impressiona mais vivamente: o tempo

    tem seu vagar, as coisas vo fluindo, sem obsesso de acabar agora, agora. As pessoas vo

    tendo tempo, cada uma dentro de seus limites, de embarcar nas palavras, nos desenhos, nas

    representaes. (10).

    O teatro o cultivo mais eficiente e eficaz da criatividade e esta deve ser nutrida e

    cuidada onde quer que aparea, justamente porque no pode ser ensinada ou encomendada.(11). Pelo ato de fazer teatro compreende-se que a criatividade consiste na ao individual e

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    coletiva de fazer e inovar. (12). E, segundo Leal (13), o teatro um pot-pourride linguagens. A

    importncia do teatro na escola implica, pois, numa experimentao mais livre com as

    linguagens. [...] A linguagem teatral perpassada pela msica, pelo som, pela palavra, pelas

    artes plsticas, pela dana etc. (14).

    O teatro amplia o horizonte, melhora a auto-estima e a auto-imagem, oportuniza aos(s)

    alunos(as) um conhecimento diversificado e a expressando livre de sentimentos, emoes,

    aflies e sensaes. atravs do teatro que os indivduos so preparados para serem capazes

    de desenvolver novos modos de vida em comum e definir novas direes. Essas capacidades

    no podem ser impostas ou ensinadas, precisam ser nutridas. (15).

    Hoje, mais do que nunca, necessrio cultivar a criatividade humana, pois, emum contexto de rpida mutao, os indivduos, as comunidades e as sociedadess podem adaptar-se ao que novo e transformar sua realidade por meio da

    iniciativa e da imaginao criadoras. (16).

    Pelo teatro A emoo movimento, a imaginao d formas e densidade experincia

    de perceber, sentir e pensar, criando imagens internas que se combinam para representar essa

    experincia. (17). E vale salientar que no s o teatro, mas todas as formas de arte devem ser

    reconhecidas como representativas do prprio conceito de criatividade, uma vez que nascem da

    imaginao e da percepo subjetiva e se incorporam ao universo das diversidades sociocultural,

    histrica, poltica e econmica.

    Fazer teatro aguar a percepo de si e do outro, rompendo com todas as formas oumanifestaes de preconceitos e discriminaes. No fazer teatral, aprendemos sem nos

    preocupar em aprender. uma aprendizagem diferente: [...] aprender a pensar no fluxo do

    aprender a sentir. (18). O teatro promove o reencontro consigo mesmo, favorecendo a dimenso

    esttica da vida pelo toque, pelo olhar, pelo abrao. O aprender teatral vai se sedimentando

    quando se traz at a conscincia algo evocado e vivido com a imaginao. (19). O ato cnico,

    sobretudo, o de carter espontneo, de improviso, um exemplar nico e original de carinho e

    cuidado, expressamente visvel no universo simblico das inter-relaes pessoais. O teatro nos

    convida, pois, a novos modos de aprender, onde existe um fluxo permanente de interesse,diferente do fluxo sincopado pela matria que caracteriza a turma da escola. (20).

    O teatro combate o vazio e a solido, reconhece o outro como ele/ela , respeitando-o(a)

    incondicionalmente; prope a partilha de si, ou seja, expresso livre e espontnea do Eu e do

    Meu, doao ao outro. E, como conseqncia natural, nasce uma nova conscincia: o diferente

    no o desigual. O PCN de arte enfatiza:

    A aprendizagem artstica envolve, portanto, um conjunto de diferentes tipos de

    conhecimentos, que visam criao de significaes, exercitandofundamentalmente a constante possibilidade de transformao do ser humano.(21)

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    Pelo fazer teatral possvel reinventar as relaes. Abre-se portas e rompe-se barreiras,

    destri-se os traos e marcas do preconceito na histria pessoal, sobretudo, o preconceito racial,

    fundado pela ignorncia e pela distncia em relao ao outro, devendo ser combatido com

    dilogo e aes afirmativas e sustentveis de respeito, reconhecimento e valorizao do

    diferente. E com o teatro possvel aproxima os diferentes, coloc-los frente a frente, e permitir

    que se toquem, se sintam, se tolerem por escolha e deciso livre. No teatro, as discriminaes

    so combatidas pelo toque, pelo sentir.

    Com as expresses teatrais possvel resgatar o desejo de ver-se, sentir-se, querer-se na

    representao dramtica, aguando o autoconhecimento. A diversidade e o diferente so

    naturais, inter-relacionam-se como manifestao ou expresso das impresses subjetivas

    facilmente percebidas e apresentadas sem bloqueio ou mascaramento.

    O teatro de improviso registra a memria da evoluo expressiva de cada ator ou atriz. Oregistro no feito em papel ou documento, arquivado em recursos udio-visuais, mas

    interiorizado no momento imediato de sua exteriorizao. Ao exteriorizar-se, o ator ou a atriz

    reencontra-se consigo mesmo, e suas idias so autocriticadas, revistas sob outros aspectos.

    Instala-se a dvida e o questionamento e conquistam-se maturidade e segurana, e esteretipos,

    paradigmas dogmticos e iluses so desfeitos.

    O Teatro de Improviso, tambm chamado de Teatro Espontneo, uma modalidade de

    teatro na qual o texto e a representao so criados no decorrer do espetculo, e, na maioria das

    vezes, sem ensaio prvio, excluindo-se os textos pr-definidos. Para compor histrias so

    utilizados temas e a platia solicitada a participar da representao e o enredo encenado na

    medida em que construdo, de forma envolvente e participativa. Os participantes atores e

    atrizes - contracenam entre si e a beleza do espetculo resulta da criatividade coletiva, cultivada

    pela imaginao livre e espontnea.

    Assim, os principais elementos que integram o teatro de improviso so, entre outros: a) a

    sensibilizao e a reflexo sobre problemas coletivos, apresentados de forma ldica, inventiva e

    participativa; b) a interveno crtica e criativa em temas especficos, propondo-se pesquisa e

    ao refletiva e dialgica; c) as atividades educativas; d) a expresso artstica natural e e) o

    entretenimento. No Teatro de Improviso, a espontaneidade uma ferramenta fundante do dilogo

    e assim se constri o espao cnico. A espontaneidade d origem criatividade, provocando-a e

    expandindo seu alcance. E as palavras viram gestos e gestos dizem mais do que palavras.

    Como recurso pedaggico, o Teatro de Improviso na sala de aula uma prtica de

    inquestionvel valor, reconhecida mundialmente. Contudo, embora existam educadores(as) que

    acreditam na fora que o teatro tem para promover a aprendizagem e o desenvolvimento do(a)

    aluno(a) ainda h um grande nmero de escolas que no aceitam, no acreditam e no do odevido valor ao exerccio teatral no processo educativo. Na ao cnica espontnea, o(a)

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    aluno(a) torna-se sujeito da aula e vive de maneira integral o vnculo social de seu grupo, uma

    vez que, na prtica cnica, o(a) aluno(a) tem um campo vasto e aberto para a expresso natural

    de suas emoes e sua intuio, essenciais para o desenvolvimento da criatividade. E aqui o

    conhecimento se torna ainda mais relacionado vida cotidiana, conectado imediatamente

    experincia.

    Na escola, a atividade teatral tem como objetivo desenvolver a expresso corporal e

    verbal, pois, compreendemos que o corpo e a voz so os principais instrumentos ou recursos do

    teatro. [...] um dos trabalhos notveis, central, absolutamente necessrio, o trabalho com o

    corpo. (22). E mais ainda:

    Se o teatro faz florescer a viva voz ou a escrita ao menos nesses canais que otenho experimentado ele no ter vez entre as crianas se o corpo no for seuepicentro. Repito: o trabalho com o corpo das crianas central para o teatro na

    escola. (cf. 22)

    A conscincia corporal deve ser um dos pontos ou aspectos fundamentais da

    aprendizagem, pois, A criana, pela brincadeira, ir construindo as suas afetividades. (23). O

    teatro, quando utilizado de forma adequada no ambiente escolar, impulsiona o desenvolvimento

    de crianas e adolescentes de maneira rpida, graas ao fazer ldico, que permite imaginao,

    fantasia, interao e convivncia com o diferente. s vezes, ele pode ser um caminho que se

    abre para os(as) tmidos(as). Outras vezes, um caminho fcil para a liberao dos(as)

    extrovertidos(as) no sentido de desenvolverem uma introspeco necessria. E, alm de tudoisso, o teatro prope a formao acelerada, o conhecimento de si e do outro, despertando o

    conhecimento e o sentimento de mundo. Descobre-se o pertencer. O teatro abre as perspectivas

    de um entendimento do mundo como um todo e das pessoas como iguais em direito e diferentes,

    diversos em expresso. O teatro caminha sempre contra os preconceitos e as discriminaes,

    pois tudo o que feito no teatro tem sempre um objetivo humano, de toque, de respeito, de

    convivncia e de aprendizagem mtua.

    Para organizar o teatro de improviso na escola preciso compreender alguns elementos

    importantes. O primeiro deles a constatao de que a arte teatral a que mais facilmente atrai ointeresse das pessoas, porque uma arte viva e dinmica, sem fronteiras. Assim, ela

    possuidora de um apelo muito forte, conseguindo, convencer e persuadir, facilmente. Portanto,

    essencial para combater o racismo e as discriminaes negativas.

    Atravs do teatro pode-se, tambm, transmitir mensagens de carter filosfico e/ou

    religioso que podero agir sobre as pessoas, fazendo-as modificar seu modo de ver as coisas ou

    at mesmo seu comportamento, pois, para tanto, o teatro estar convidando essas pessoas a

    uma reflexo mais profunda no que diz respeito ao assunto apresentado.

    De modo geral, podemos afirmar que o teatro tem por objetivo principal a representao

    com o carter de lazer, de diverso. Contudo, ele no fica s no aspecto ldico. Toda pessoa que

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    resolve escrever uma pea, por exemplo, est, obviamente, interessada em transmitir uma

    mensagem importante para algum, seja denunciar, despertar, sensibilizar ou, simplesmente,

    apresentar.

    O teatro, mesmo o de Improviso, espontaneamente realizado, usado como instrumento de

    educao e ao didtica, de efetiva validade para que sejam atingidos os objetivos no campo

    de afetividade, da cognio e da motricidade. Mesmo como teatro de improviso, sua execuo na

    escola no dispensa uma formao terica e prtica, muito pelo contrrio. Para o

    desenvolvimento de habilidades artsticas, os(as) alunos(as) precisam ler, escrever, observar,

    pensar e repensar a si mesmos e o outro,de forma integral. Cabendo ao professor ou

    professora realizar, democraticamente, um trabalho sistemtico de corpo e voz, enfatizando

    movimentao, equilbrio, expressividade dos gestos, inflexes vocais, disciplina, argumentao

    oral, introspeco e extrovero, ludicidade intencional, divertimento natural e dilogoespontneo.

    Quando se pensa em teatro na escola, objetivamos, especificamente, oferecer aos alunos

    e alunas a oportunidade de projetar seu mundo interior, livre de inibies que lhes so impostas

    pelo condicionamento do mundo exterior, de mltiplas formas, atravs de improvisaes, jogos

    dramticos e criao de personagens reais e fictcios, resultando no equilbrio psquico da criana

    e do(a) adolescente e seu desenvolvimento cultural e criativo. Assim, podemos sintetizar os

    objetivos especficos do Teatro de Improviso na escola nos seguintes enunciados: a)

    conscientizar e aprimorar a percepo sensorial da imaginao e da criatividade; b) desenvolver a

    expresso e a comunicao; c) equilibrar as emoes; d) desenvolver o pensamento reflexivo e

    crtico; e) integrar o conhecimento ao cotidiano; f) desenvolver a participao e um

    comportamento responsvel; g) conhecer os elementos da histria do teatro e principais idias; h)

    desenvolver a psicomotricidade; i) explorar e desenvolver aptides e habilidades dos(as)

    alunos(as). Contudo, o maior benefcio da utilizao do Teatro de Improviso na escola, como

    categoria de conhecimento ou simplesmente ferramenta ou recurso pedaggico, a possibilidade

    oferecida aos alunos e s alunas para que se coloquem no lugar do outro (empatia) e

    experimentem o mundo sem correr riscos, sem medo ou receios.

    O contato com a linguagem teatral na escola ajuda crianas e adolescentes a perderem,

    continuamente, a timidez; a desenvolver e priorizar a noo de trabalho em grupo, a se sair bem

    de situaes onde so exigidos o improviso e a sensibilidade, e a se interessar mais por textos e

    autores variados, desenvolvendo leitura e escrita, naturalmente. Fazendo um paralelo com os

    objetivos - geral e especficos - da educao brasileira, isto , o exerccio da cidadania

    participativa em um pas democrtico, possvel compreender e visualizar que este tambm o

    objetivo primordial do fazer teatral na escola de ensino fundamental. O teatro tambm um

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    exerccio de cidadania e, claro, um meio eficaz e rpido de ampliar o repertrio cultural dos(as)

    envolvidos(as).

    Em vista do processo metodolgico, faz-se teatro na escola em qualquer lugar: na sala de

    aula, no ptio, no corredor, na biblioteca. No precisamos de poltronas confortveis nem figurinos

    ricos para encenar o cotidiano percebido ou a imaginao. No Teatro de Improviso que acontece

    no ambiente escolar o nico elemento ou recurso indispensvel a criatividade diante da

    diversidade. E, pela improvisao, a linguagem ldica, multifacetada e pouco depende da

    escrita, embora esta seja conseqncia natural da leitura. As atividades desenvolvem a oralidade,

    os gestos, a linguagem musical e, principalmente, a linguagem do corpo, sendo ideal para colocar

    em cena temas e acontecimentos cotidianos.

    Grosso modo, o Teatro de Improviso possibilita o desenvolvimento de diversas habilidades

    e competncias j apresentadas de forma implcita nos objetivos. Aqui, podemos citar: a)

    habilidades bsicas: ler, escrever, calcular e falar e ouvir; b) habilidades de pensamento e c)habilidades de pessoais. Na perspectiva do ato cnico de improviso, configuram-se como

    habilidades de pensamento: a) pensar criativamente; b) tomar decises; c) resolver problemas; d)

    ver as coisas com os olhos da mente e e) saber aprender e raciocinar de forma autnoma. E,

    em meio s problemticas enfrentadas, cada um e cada uma, desenvolvem, individualmente e

    pela interao, habilidades pessoais, a saber: a) responsabilidade individual; b) auto-estima; c)

    sociabilidade; d) autogesto e e) integridade.

    Alm de todas estas habilidades, podemos destacar outras, a saber: a) habilidades de

    colaborao: construir consenso, ouvir, organizar, opinar... b) habilidades de pesquisa: expor

    questes, localizar informaes... c) habilidades de comunicao e transmisso: escrever, falar,

    usar representaes grficas da informao... d) habilidades de explorao e investigao:

    assumir riscos, conviver com ambigidades, promover o autoquestionamento... e) habilidades de

    trabalhar em grupos e equipes e assumir responsabilidades e esperar mudanas.

    Citamos, ainda, os resultados possveis do trabalho pedaggico com o Teatro de

    Improviso na escola: a) autoconhecimento; b) administrao de humores; c) automotivao; d)

    controle de impulsos; e) sociabilidade. Resultados estes obtidos graas a um processo gradativo

    de empoderamentodiante da construo da autonomia. O que s acontece pela interao com a

    diversidade.

    No Teatro de Improviso, a aprendizagem se d pela experincia com o fazer, o ser, o ter, o

    imaginar, o visualizar. Por si s, sem recorrer a definies, conceitos ou explicaes, toda e

    qualquer modalidade ou tcnica teatral trabalha com a diversidade, especificamente: reconhece

    na diversidade possibilidades para trabalhar o encanto, magia e os mistrios da vida, bem como

    traar horizontes de compreenso da realidade, tal como ela ou se mostra.

    A diversidade um princpio de coerncia pessoal e posicionamento social. Ela permiteuma significatividade possvel ao contato ou toque como uma forma constante de abertura ao

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    transcendente pela disponibilidade natural do ser humano sensibilidade. Assim, pelo fazer e o

    no-fazer adquirido no teatro, o aprender segue os princpios da convivncia com o diferente e

    requer aprendizagens bsicas, gerais e especficas. Portanto, pelo autoconhecimento e a

    autoconfiana, assumidos no palco da criatividade, possvel promover uma aprendizagem por

    sete vias, tornando o respeito incondicional, a saber: a) aprender a no agredir o outro; b)

    aprender a comunicar-se; c) aprender a interagir; d) aprender a decidir em grupo; e) aprender a

    se cuidar; f) aprender a cuidar do lugar em que se vive; g) aprender a valorizar os saberes sociais

    e as culturas.

    Por este prisma, compreendemos, a escola torna-se um verdadeiro espao para vivncias

    e experincias inovadoras, profundamente humanas e humanizadoras. Com esta viso de

    escola, possvel afirmar que a escola no prepara para a vida, pois ela mesma um espao

    fsico-social e poltico onde a vida humana se desenvolve. Ela no prepara para a vida, pois aprpria vida em movimento! Sim, a escola um microcosmo social de grande significatividade

    pedaggica, espao para um verdadeiro laboratrio de relaes humanas, ricas de sentidos,

    baseadas na diversidade.

    Notas

    1 BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria da Educao Fundamental. Parmetros Curriculares Nacionais: Arte. 3.

    ed. Braslia: A Secretaria, 2001. p. 20.

    2 ibidem, p 21.

    3 SILVA, Rovilson Jos da. A relao escola e teatro infantil: algumas consideraes. Disponvel em: Acesso em: 20 nov. 2007.

    4 FONSECA, Selva Guimares. Didtica e prtica de ensino de Ensino: Experincias, reflexes e aprendizados.Campinas (SP): Papirus, 2003. p. 102.

    5 ALVES, Rubem. Aprender para qu?Disponvel em: Acesso em: 5 dez. 2007.

    6 FONSECA, Selva Guimares. Didtica e prtica de ensino de Ensino: Experincias, reflexes e aprendizados.

    Campinas (SP): Papirus, 2003. p. 103.7 BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria da Educao Fundamental. Parmetros Curriculares Nacionais: Arte. 3.ed. Braslia: A Secretaria, 2001. p. 47.

    8 LEAL, Antnio. Teatro na Escola: da Clausura libertao. In: GARCIA, Regina Leite (org.). Mltiplas Linguagensna Escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. p. 93.

    9 FONSECA, Selva Guimares. Didtica e prtica de ensino de Ensino: Experincias, reflexes e aprendizados.Campinas (SP): Papirus, 2003. p. 103.

    10 LEAL, Antnio. Teatro na Escola: da Clausura libertao. In: GARCIA, Regina Leite (org.). Mltiplas Linguagensna Escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. p. 94.

    11 CULLAR, Javier Prez de (org.). Nossa diversidade criadora: Relatrio da Comisso Mundial de Cultura eDesenvolvimento. Campinas (SP): Papirus, Braslia: Unesco, 1997. p. 104.

    12 ibidem, p. 102.

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    13 LEAL, Antnio. Teatro na Escola: da Clausura libertao. In: GARCIA, Regina Leite (org.). Mltiplas Linguagensna Escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. p. 100.

    14 ibidem, p. 97.

    15 CULLAR, Javier Prez de (org.). Nossa diversidade criadora: Relatrio da Comisso Mundial de Cultura eDesenvolvimento. Campinas (SP): Papirus, Braslia: Unesco, 1997. p. 102.

    16 idem.

    17 BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria da Educao Fundamental. Parmetros Curriculares Nacionais: Arte. 3.ed. Braslia: A Secretaria, 2001. p. 41.

    18 LEAL, Antnio. Teatro na Escola: da Clausura libertao. In: GARCIA, Regina Leite (org.). Mltiplas Linguagensna Escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. p. 94.

    19 ibidem, p.93.

    20 ibidem, p. 94.

    21 BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria da Educao Fundamental. Parmetros Curriculares Nacionais: Arte. 3.ed. Braslia: A Secretaria, 2001. p. 54.

    22 LEAL, Antnio. Teatro na Escola: da Clausura libertao. In: GARCIA, Regina Leite (org.). Mltiplas Linguagensna Escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. p. 100.

    23 ibidem, p. 101.