teatraria do sul · interno obterá uma ação corporal de tristeza, e o externo de felicidade....
TRANSCRIPT
Teatraria do Sul
MANUAL PRÁTICO PARA A CONSTRUÇÃO DE PERSONAGENS ATRAVÉS DE DANÇAS TRADICIONALISTAS
GAÚCHAS.
Nicole
Aguzzoli
Teatraria do Sul
MANUAL PRÁTICO PARA A CONSTRUÇÃO DE PERSONAGENS ATRAVÉS DE DANÇAS
TRADICIONALISTAS GAÚCHAS.
Nicole Aguzzoli
Santa Maria
2016
Introdução página 5
Jogos página 7
Músicas página 13
Dramaturgias página 15
Dicas página 19
Referências página 21
INTRODUÇÃO
5
A proposta deste livreto é para condutores que entendam um pouco da cultura gaúcha e suas danças, tanto de salão, quanto folclóricas.
Este material didático é voltado para ofertar oficinas para crianças de 8 a 12 anos.
Ele apresenta alguns jogos, juntamente com dramaturgias gaúchas, e referências de danças de salão gaúcha e folclóricas.
Um CD com algumas músicas gaúchas e folclóricas acompanha este manual.
Objetivo:Desenvolver atenção, concentração e construção do personagem.
Caranguejo
Espaço Amplo
6 a 20 pessoas
30 minutos
fechou
7
Como fazer:Primeiramente o condutor deverá ensinar os passos da dança tradicionalista de salão “O Xote”(Alguns nomes de músicas disponibilizadas na página 13/ e disponíveis no CD nas faixas 1 a 4). Ele deverá dispor os alunos em um círculo e os ensinar os passos.
1º Passo:A dança começa sempre pela direita, abrindo com o pé direito e fechando com o pé esquerdo, repetindo este passo duas vezes.
Pé direitoPé esquerdo
abriu
2º Passo:A dança dará continuidade, só que desta vez abrindo com o pé esquerdo e fechando com o pé direito.
juntou
abriu
Pé esquerdo
fechou
Pé direito
juntou
Como fazer:Após os alunos ter aprendido como se dança o xote, o condutor irá ensinar os passos da Dança Tradicionalista Gaúcha folclórica “Caranguejo” (Música disponível na faixa 5 do CD).
Caranguejo
8
1º Passo:Esta dança é disposta em dois círculos: um interno e outro externo. A pessoa que está no círculo de fora deverá formar par com a que está dentro.
2º Passo:O Círculo externo irá bater toda a sola do pé no chão, e o interno apenas as pontas dos pés ( 3 vezes consecutivas).
3º Passo:Após, será a vez de bater palmas (3 vezes consecutivas).
4º Passo:Após bater os pés e as mãos, cada dupla unirá as mãos direitas e dará 3 voltas, e parará no mesmo lugar.
OBS: Estes 4 passos devem ser repetidos 2 vezes consecutivas.
Como fazer:
5º Passo:Após fazer os passos anteriores e parar no seu lugar de origem, os integrantes de cada círculo irão sair para o seu lado direito dançando o “xote”, com as mãos para cima estralando os dedos.
Caranguejo
9
6º Passo:Quando cada integrante sair para a sua direita, irá passar pela frente da próxima pessoa do círculo oposto.
Direito
Direito
7º Passo:Após passar pela frente do integrante do círculo oposto, irá passar pelas costas do próximo integrante, também do círculo oposto, ocupando assim o seu lugar.
8º Passo:Ao aproximar-se do integrante que cruzou pelas costas, parará ao seu lado, unirá as mãos e darão novamente três voltas, e prosseguirá todo os 8 passos novamente.
frentefrente
costas costas
Proposta:A Proposta é que esta dança forneça meios para a criação do personagem. Então cada círculo deverá obter uma ação corporal. Por exemplo, o círculo interno obterá uma ação corporal de tristeza, e o externo de felicidade. Então, dentro de cada círculo (interno e externo) os participantes realizarão a ação designada (no caso do exemplo, ação corporal de tristeza ou felicidade).
Caranguejo
triste
10
A concentração se dará através da troca de parceiro e dos giros, pois quando saindo do seu círculo habitual o integrante deverá obter a ação corporal do outro círculo.
. .
feliz
. .
feliz
triste
. .
feliz
triste
Proposta:A proposta é que os jogadores se apropriem da linguagem corporal formada durante este jogo, estimulando sua criatividade e atenção.
O Mestre Mandou
11
Espaço Amplo
4 a 20 pessoas
30 minutos
Objetivo:Desenvolver a Concentração, a imaginação, a coordenação motora, a agilidade, a atenção e a linguagem corporal.
Como Fazer:Um dos participantes é encarregado de ser o mestre e ficará a frente dos outros jogadores. Ele dará as ordens e todos os seguidores deverão cumpri-las desde que sejam precedidas da palavra de ordem de comando:“O mestre mandou”.As ordens que não começarem com essas palavras não devem ser obedecidas. O jogador que não cumprir com as ordens, ou as fizer sem a ordem de comando, será eliminado.
Ex: “O mestre mandou... pular de um pé só mostrando a língua, girando e batendo palma!”
OBS: O condutor deverá disponibilizar objetos para facilitar a criatividade dos jogadores.
Estimulo Imaginário
12
Espaço Amplo
6 a 20 pessoas
60 minutos
Objetivo:Criação do personagem e estimular a imaginação.
Como fazer:O condutor deverá separar em potes alguns estímulos imaginários: ação, lugar e personagem. Cada jogador deverá sortear um papel de cada pote para que possa dar início ao jogo.
Proposta:A proposta é que este estimulo imaginário dê subsídios para fomentar a criação do personagem juntamente com as ações corpóreas obtidas nos jogos anteriores.
AÇÃO
Rezar um terçoCorcovear
LaçarDançar
LUGAR
LeilãoCampoBaile
Velório
PERSONAGEM
PotroBêbado
Mal domadoAssustado
Agora que cada participante já sabe seu lugar, ação e personagem, deverá dar inicio a sua criação imaginária, utilizando as ações corporais obtidas nos jogos anteriores.O tempo de criação será de 30 minutos, e os outros 30 serão para o condutor observe as criações e defina possíveis ajustes.
Obs 1: Antes do jogo começar o condutor poderá ler a música que está na pág.14, e o Conto Gauchesco disponibilizado nas pág. 16-18, para ajudar no estimulo imaginário de seus alunos.
OBS 2: Se o grupo de alunos for maior de dez, esses deverão ser divididos em grupos pares (se possível), para melhor organização do espaço, e do professor.
Mala de Garupa – Pirisca Grecco Xote Laranjeira – Os Bertussi De Fogões e Invernias – Joca Martins Estrada Longa – Roberto Luçardo
Xotes
13
Chamamé
Tordilho Negro – Teixeirinha Gaúchos de Fato – Grupo Rodeio Rastro da Gadaria – Jairo Lambari Fernandes Quando o verso vem pras casa – Luiz Marenco
14
Correu notícias de um gaúcho
Lá da estância do paredão
Tinha um cavalo tordilho negro
Foi mal domado ficou redomão
Este gaúcho dono do pingo
Desafiava qualquer peão
Dava o tordilho negro de presente
Prá quem montasse sem cair no chão
Eu fui criado na lida de campo
Não acredito em assombração
Fui na estância topar o desafio
Correu boato na população
Era um domingo clareava o dia
Puxei o pingo e o povo reuniu
Joguei os trastes no lombo do taura
Murchou a orelha teve um arrepio
Botei a ponta da bota no estribo
Algum gaiato por perto sorriu
Ainda disseram comigo eram oito
Que boleou a perna montou e caiu
Saltei do lombo e gritei pro povo
Este será o último desafio
Tordilho negro berrava na espora
Por vinte horas ninguém mais nos viu
Mais de uma légua o pingo corcoveou
Manchou de sangue a espora prateada
Anoiteceu o povo pelo campo
Procurando um morto pela invernada
Compraram vela fizeram um caixão
A minha alma estava encomendada
A meia noite mais de mil pessoas
Deixaram da busca desacorçoadas
Daqui a pouco ouviram um tropel
Olharam o campo noite enluarada
Eu vinha vindo no tordilho negro
Feliz saboreando uma marcha troteada
Boleei a perna na frente do povo
Deixei as rédeas arrastar no capim
Banhado em suor o tordilho negro
Ficou pastando ao redor de mim
Tinha uma prenda no meio do povo
Muito gaúcha eu falei assim
Venha provar a marcha do tordilho
Faça o favor monte no selim
Andou no pingo mais de meia hora
Deu-me uma rosa lá do seu jardim
Levei prá casa o meu tordilho negro
Mais uma história que chega no fim.
Tordilho Negro
15
Contos Gauchescos
Trezentas Onças Negro Bonifácio No Manantial O Mate do João Cardoso Deve um Queijo!... O Boi Velho Correr Eguada Chasque do Imperador Os Cabelos da China Melancia – Coco verde O Anjo da Vitória Contrabandista Jogo do Osso Duelo de Farrapos Penar de Velhos Juca Guerra Artigos de Fé do Gaúcho Batendo Orelha O “Menininho” do Presépio
16
BATENDO ORELHA!…
Nasceu o potrilho, lindo e gordo, filho de égua boa leiteira, crioula de campo de lei.
O guri era mimoso, dormindo em cama limpa e comendo em mesa farta.
Já de sobreano fizeram uma recolhida grande, sentaram-lhe uns pealos, apertaram-no pelas
orelhas e pela cola e a marca em brasa chiou-lhe na picanha.
Andaria nos oito anos quando meteram-lhe nas mãos a cartilha das letras e o mestre-régio
começou a indicar-lhe as unhas, de palmatoadas.
O potrilho couceou, na marca. O menino meteu fios de cabelo nos olhos da santa-luzia...
Em potranco acompanhava a manada e retouçava com as potrancas, sem mal nenhum.
O rapazinho rezava o terço e brincava de esconder com as meninas… o que custou-lhe uma
sapeca de vara de marmeleiro.
Quando o potrilho foi-se enfeitando para repontar, o pastor velho meteu-lhe os cascos e
mais, a dente, botou-o campo fora: fosse rufiar lá longe!...
O gurizote, já taludo, quis passar-se de mais com uma prima...; o tio deu-lhe um chá-de-
cascade-vaca, que saiu cinza e fedeu a rato!...
O potro andava corrido, farejando... Mas nem uma petiça arrastadeira d’água e poronguda,
achou, para consolo da vida. Té que o caparam.
O mocito, que era pimpão, foi mandado incorporar. Sentaram-lhe a farda no lombo.
Mal sarou da ferida o potro foi pegado: corcoveou, berrou; quebraram-lhe a boca a tirões,
dividiram-lhe a barriga com a cincha; quis planchar-se, e lanharam-lhe as virilhas a rebenque e
as paletas a roseta de espora. Tiraram-lhe as cócegas... Ficou redomão.
17
O recruta marcou passo, horas, pra aprender; entrou na forma; agüentou descomposturas;
deu umas bofetadas num cabo e gruniu solitária e guarda dobrada, por quinze dias. Cortaram-
lhe os cabelos à escovinha e ficou apontado. Era o faxineiro do esquadrão.
Houve uns apuros de precisão… O rocim foi vendido em lote, para o regimento.
Tocou a reunir: era uma ordem de marcha, urgente. O faxineiro recebeu lança, espadão e
tercerola.
Quando a cavalhada chegou o primeiro serviço dos sargentos foi assinalar os novos; era
simples e ligeiro: um talho de faca na orelha, rachando-a. Bagual assim, virava reiúno.
Quando tocou o bota-sela, o faxineiro estava na porteira, de buçal na mão, esperando a vez.
O laçador laçava, chamava a praça e esta enfrenava... e cada um roia o osso que lhe tocava.
— Chê! Enfrena!... Foi o reiúno que caiu pro recruta.
Aí se juntaram os dois parecidos, o bicho e o homem. E a sorte levou os dois, de parceria,
pelo tempo adiante. Curtiram fome, juntos, cada um, do seu comer, E sede. E frio. E cansaço,
mataduras e manqueiras; cheiros de pólvora e respingos de sangue, barulho de músicas,
tronar grosso e pipoquear, nas guerrilhas.
E de saúde, assim, assim... Um teve sarnagem, o outro apanhou muquiranas; se um batia a
mutuca, o outro caçava as pulgas.
Quando, no verão, o reiúno pelechava, também o faxineiro deixava de sofrer dores de
dentes.
Passados anos o mancarrão já nem engordava mais, e todo ovado estava. O fiscal do
regimento, sem uma palavra de — Deus te pague — mandou vendê-lo em leilão, como um
cisco da estrebaria. Um carroceiro comprou-o, por patacão e meio, com as ferraduras.
18
Passados anos o praça aquele teve baixa, por incapaz, com o bofe em petição de miséria; e
saiu da fileira sem mais família e sem saber oficio. Saiu com cinco patacas, de resto do soldo,
e sem o capote. Foi então ser carregador de esquina.
O reiúno apanhava do carroceiro, como boi ladrão!
O carregador levava dos fregueses descompostura, de criar bicho!
O reiúno deu em empacar.
O carregador pegou a traguear.
O carroceiro um dia, furioso, meteu o cabo do relho entre as orelhas do empacador e...
matou-o.
A policia uma noite prendeu o borrachão, que resistiu, entonado; apanhou estouros… e foi
para o hospital, golfando sangue; e esticou o molambo.
O engraçado é que há gente que se julga muito superior aos reiúnos; e sabe lá quanto reiúno
inveja a sorte da gente...
Contos Gaúchescos – Simões Lopes Neto
As sugestões de ação, lugar e personagem apresentadas
no jogo de “Estímulo Imaginário” (pág.12) podem
ser substituídos por outra proposta de preferência do
instrutor.
Os nomes de músicas disponíveis na pág. 13
além de ajudar no processo de
aprendizagem, servem como dramaturgia para o processo criativo do jogo
da pág.12
As dramaturgias disponíveis na pág.15 também servem como
ajuda no processo criativo, e até mesmo para encenar.
Todas elas se encontram acessíveis na internet.
19
21
CÔRTES, Paixão. MANUAL DE DANÇAS GAÚCHAS/Paixão Côrtes, Barbosa Lessa. 7ed. – São
Paulo: Irmãos Vitale, 1997.
LOPES NETO, João Simões. CONTOS GAUCHESCOS. 9ª ed., Porto Alegre: Globo, 1976. (Col.
Província)
Disponível em:
< http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000121.pdf>.
Acesso em: 25 de novembro de 2016.
Teatraria do Sul
Este Material Didático foi desenvolvido junto ao
Curso de Teatro – Licenciatura (UFSM), na disciplina
Elaboração de Material Didático para o Ensino de
Teatro I.
Para maiores informações ou para ter acesso a
outras atividades que complementam as propostas
deste Manual, escreva para
Nicole
Aguzzoli