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A RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO NA EJA: UM NOVO SIGNIFICADO PARA UMA PERMANENTE TROCA Gisele Maria Viana Martins* Edinalda Maria Almeida da Silva** Este artigo apresenta a Educação de Jovens e Adultos (EJA) como espaço de reconstrução de saberes, situado no âmbito da educação, como lugar privilegiado de retomada da escolaridade, tendo como principal objetivo mostrar que a construção do conhecimento se dá com a permanente troca entre professor-aluno, ponto de partida e de chegada do processo de elaboração do conhecimento. O presente estudo buscou focalizar a sala de aula da EJA, como lugar de relações, onde os atores que circulam no espaço institucional escolar constroem laços, saberes, entre movimentos que vão dos conflitos, à busca de saídas socializadoras e geradoras de aprendizagem. PALAVRAS-CHAVE: relação professor-aluno – sala de aula – prática docente – aprendizagem

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Page 1: TCC

A RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO NA EJA: UM NOVO SIGNIFICADO PARA UMA PERMANENTE TROCA 

  

Gisele Maria Viana Martins*

Edinalda Maria Almeida da Silva**      

Este artigo apresenta a Educação de Jovens e Adultos (EJA) como espaço de reconstrução

de saberes, situado no âmbito da educação, como lugar privilegiado de retomada da

escolaridade, tendo como principal objetivo mostrar que a construção do conhecimento se

dá com a  permanente troca entre  professor-aluno, ponto de partida e de chegada do

processo de elaboração do conhecimento. O presente estudo buscou focalizar a sala de aula

da EJA, como lugar de relações, onde os atores que circulam no espaço institucional

escolar constroem laços, saberes, entre movimentos que vão dos conflitos, à busca de

saídas socializadoras e geradoras de aprendizagem.   

 PALAVRAS-CHAVE: relação professor-aluno – sala de aula – prática docente – aprendizagem  

   *Aluna do Curso de Educação Profissional na Modalidade de Jovens e Adultos

**Mestre em Comunicação e Cultura/UFRJ. Professora IFF campus Campos – Centro  

Page 2: TCC

Ser mestre não é apenas lecionar. Ensinar não é  só transmitir conhecimentos. É caminhar com o discípulo, passo a passo. É transmitir a este o segredo da caminhada. Ser mestre é ser exemplo de dedicação, doação, dignidade pessoal e, sobretudo, amor. (Lenner)  

1-INTRODUÇÃO

       A Educação de Jovens e Adultos - EJA representa, hoje, uma nova

possibilidade de acesso ao direito à educação sob uma nova alternativa legal, acompanhada

de garantias legais. Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9.394/96,

consta no Título V, Capítulo II, Seção V, dois Artigos relacionados, especificamente, à

Educação de Jovens e Adultos:

Art. 37 - A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria.

§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e trabalho, mediante cursos e exames.

  § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si. 

Art. 38 - Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular.

§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:  I. no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos.   II. no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos.  § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames. 

 No Plano Nacional de Educação, temos como um dos objetivos e prioridades:

Page 3: TCC

Garantia de ensino fundamental a todos os que não tiveram acesso na idade própria ou que não o concluíram. A erradicação do analfabetismo faz parte dessa prioridade, considerando-se a alfabetização de jovens e adultos como ponto de partida e intrínseca desse nível de ensino. A alfabetização dessa população é entendida no sentido amplo de domínio dos instrumentos básico da cultura letrada, das operações matemáticas elementares, da evolução histórica da sociedade humana, da diversidade do espaço físico e político mundial da constituição brasileira. Envolve, ainda, a formação do cidadão responsável e consciente de seus direitos. (Plano Nacional de Educação - introdução: objetivos e prioridades dois) 

Nota-se que o cidadão está diante de um direito claramente protegido e

assegurado.

Ano/Censo Total Total de

Analfabetos

%

1920

1960

1980

1991

2006

17.557.282

40.278.602

73.541.943

95.837.043

138.584.000

11.401.715

15.964.852

18.716.847

19.233.758

14.391.000

64,90

39,60

25,50

20,07

10,38

Fonte: IBGE. Censos Demográficos e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

2006.

            Porém, as estatísticas oficiais apresentam o Brasil como um país, cujas taxas

de escolarização ainda são muito insignificantes, se comparadas aos demais países

emergentes com economias em pleno desenvolvimento. Em conformidade com a posição

de Jamil Cury (2006), “o analfabetismo incomoda, mas muito além dele estão as taxas de

abandono, repetência e defasagem idade/abandono, repetência e defasagem idade/série das

crianças e jovens brasileiros.”

Page 4: TCC

            Estas questões refletem uma sala de aula incompatível com os desejos e

necessidades da clientela atendida e, são reveladoras de uma escola pública, cuja qualidade

do ensino ministrado nas séries da Escola Fundamental vem sendo questionada, em razão

do não cumprimento da função central da escola: levar os alunos à sistematização dos

conhecimentos essenciais ao processo de escolarização.

      Algumas questões levantadas no início desse estudo nortearam as

investigações sobre a sala de aula da EJA, inicialmente de forma genérica e posteriormente

de forma específica, com foco nos segmentos atendidos pela Educação de Jovens e

Adultos. Como estão ocorrendo as relações professor-aluno nas escolas da EJA? A

transposição didática leva em conta a diversidade cultural, social, histórica? Quais as

estratégias pedagógicas facilitadoras da aprendizagem? O exercício democrático encontra-

se presente nas vozes de todos os envolvidos no processo escolar? A partir desses

questionamentos definiu-se o tema, o levantamento bibliográfico e as questões a serem

discutidas no corpo do trabalho.

          Com base na concepção da EJA como espaço de relações entre sujeitos

sócio-históricos que se constroem e produzem conhecimentos no interior da cultura, dos

saberes, das práticas sociais e educativas, nas quais se encontram inseridos, o foco das

análises concentra-se na relação professor-aluno, ponto de partida e fim último do processo

de construção da aprendizagem.

     Para falar deste tema destacou-se a sala de aula da EJA, como um espaço

contraditório e aberto às múltiplas possibilidades, momento em que se discutem as

contradições, os contextos educacionais, a EJA como espaço de aprendizagem e as

possibilidades que se abrem aos jovens e adultos, a relação professor-aluno, vista como um

indicador sócio/cultural/didático/pedagógico da EJA, enfatizando o papel do diálogo

nessas relações, levando a um novo significado da sala de aula da EJA, como modalidade

de ensino que cumpre uma função social. 

Page 5: TCC

2-- O MODELO TRADICIONAL DO “LUGAR DO ENSINO” 

 Historicamente, as salas de aulas das escolas brasileiras se construíram como

espaços de poder, haja vista o autoritarismo e a hierarquização como característicos do

modelo de ensino que atravessou a República, no último século.

Essa escola que preparou os pequenos e os jovens para o futuro, que hoje

já é passado, teve como modelo tradicional a catequese, processo de imposição de idéias

que, de certa forma, viu sua cultura original subjugada aos interesses do poder da

metrópole no início do processo de colonização, como afirma Gadotti.

Uma escola que foi tecida por relações de autoritarismo, divisão de classes e

desrespeito à cultura do educando, facilmente banalizou o preconceito e a exclusão como

mecanismos homogeneizadores. Rios (2001) comenta ao falar das relações entre escola e

sociedade:

“Se a escola é transmissora do saber sistematizado acumulado historicamente, ela deve ser fonte de apropriação da herança social dos que estão em seu interior. Entretanto, o que constatamos na escola brasileira é, de um lado, que grande parte da população está excluída do processo educativo formal, e, de outro que a maioria que freqüenta a escola, não tem se apropriado das informações, por total ausência de condições mínimas de aprendizagem” (p.36). 

Estas considerações demonstram que a sala de aula da escola regular, ao longo da

breve história da educação brasileira, tornou-se um espaço de reprodução das contradições

sociais e das lutas pelo poder político, por parte de grupos políticos e ideológicos, que

“brigam” por estes espaços.

Atualmente, muitos dos problemas enfrentados pelas escolas, como analisa

Vasconcellos (2004) são frutos destas relações patrimonialistas e clientelistas que marcam

a história do Brasil e de sua gente. Os ranços deste passado de opressão e conservadorismo

escolar estão presentes nas escolas atuais, sobretudo no descaso dos detentores de poder

com as escolas públicas, com os professores e até mesmo os alunos, que não recebem um

ensino de qualidade, crítico e reflexivo, como bem defendia Paulo Freire.

Page 6: TCC

Nesta perspectiva, a sala de aula como “lugar do ensino” historicamente foi alvo de

múltiplas metáforas, que vão da “prisão” a “casa de loucos”, numa demonstração de que a

escola, que deveria ser o centro de referência do saber, em muitos sistemas é um

“depósito” de crianças e adolescentes, que vão, pouco a pouco, perdendo o desejo de

aprender.

 O que fica claro nessas discussões é um fato alarmante, ou seja, a escola

reprodutora de modelo tradicional, que classifica seus alunos e os coloca para receberem

passivamente os conteúdos, é a escola do fracasso escolar que, ao expulsar seus alunos, fez

e faz com que eles, já adultos, tenham que buscar complementar a sua escolaridade, como

caminho de inclusão social (INEP, 2008).

Esse modelo de sala de aula, que Paulo Freire chamava de “educação bancária”,

porque só buscava acumular conteúdos, sem qualquer preocupação com a aprendizagem,

acabou por impregnar o ensino brasileiro, não deixando a escola ampliar suas ações em

busca de uma proposta inclusiva de qualidade e capaz de respeitar as diferenças culturais e

históricas dos sujeitos que estão em processo de conhecimento e que são cidadãos a serem

respeitados em suas singularidades. 

3 - A SALA DE AULA DA EJA: ESPAÇO CONTRADITÓRIO E ABERTO ÀS MÚLTIPLAS POSSIBILIDADES

 A sala de aula da EJA é um espaço multicultural. Neste, há a presença de

professores e alunos em busca do conhecimento. Logo, é ali que se estreitam os laços de

amizades entre docentes e discentes. Portanto esse espaço deve ser um ambiente acolhedor

e prazeroso para ambos.

 Observa-se com isso que a sala de aula para a Educação de Jovens e Adultos, será

a geradora de aprendizagem. Como comenta Paulo Freire “as relações que acontecem no

ambiente escolar são por sua natureza, relações humanas”, portanto, relações complexas,

contraditórias, abertas às mudanças e reproduções.

 O capítulo que abre este estudo realiza uma abordagem da sala de aula da EJA,

espaço das relações que envolvem professores e alunos, como atores de uma história que

Page 7: TCC

deveria ser de inclusão, diálogo, possibilidades, aprendizagem significativa, cidadania,

autonomia de pensar, falar, agir; mas que nem sempre o é.

Muitos docentes entram na sala de aula da EJA muitas vezes sem saber com que

público irá lidar o que leva a um choque cultural, já que, esse professor na maioria das

vezes não foi preparado para atender esse tipo de clientela.

 Por isso é que nesse artigo enfoca-se a importância da capacitação desse professor,

uma vez que ele irá encontrar diversidades culturais, étnicas e diversos grupos de pessoas

de idades diferentes (adultos/jovens).

 Segundo Paulo Freire, a sala de aula na EJA é o espaço de encontro entre alunos,

professores e o conhecimento. Nela, vínculos de amizade, cooperação e confiança se

constroem e se consolidam, animando o processo de interação social entre as trocas

comunicativas. E, que vista dessa forma, a sala de aula é pulsante, viva e dinâmica. Daí, a

importância do professor da EJA valorizar o saber cotidiano e, afirmar as histórias que os

alunos contam, histórias baseadas em suas próprias experiências. 

   A participação livre e crítica dos educadores é um dos princípios que é proposto

por FREIRE para a EJA, onde reúne um trabalho pela conquista da linguagem e que o

diálogo é condição essencial de uma tarefa de coordenar e, jamais influir ou impor. Posto

diante do mundo, o alfabetizando estabelece uma relação sujeito-objeto da qual nasce o eu

conhecimento e que lhe é expressa por uma linguagem. 

  Esses alunos são marcados por "carências" socioeconômicas, culturais, materiais,

afetivas e por falta de participação nos processos de decisão dos rumos que serão dados ao

seu destino profissional e societário. Mas, são também indivíduos que voltam à escola para

aprender, visando, talvez, uma melhor qualidade de vida.

 

              Na EJA, precisa-se levar em conta que o adulto tem uma inserção social diferente

da criança. Por essa razão, o papel do educador nesta modalidade de ensino é

extremamente importante, pois esses jovens e adultos possuem um histórico escolar

permeado por problemas, não apenas no campo cognitivo, mas também no campo social,

econômico e emocional. Por isso, os processos pedagógicos que estão, diretamente, ligados

Page 8: TCC

ao sistema educacional nessa modalidade de ensino devem ter uma maior preocupação

com a capacitação desses profissionais para trabalhar na EJA, para que o

ensino/aprendizagem desses alunos esteja comprometido com a transformação das reais

condições de vida. Para que essa transformação ocorra, e haja adequado atendimento aos

alunos, principalmente, considerando as novas condições sociais e econômicas exigidas

pela sociedade, necessita-se de pessoas com versatilidade, capazes de compreender o

processo de trabalho na EJA.

4- AS CONTRADIÇÕES EXISTENTES NA SALA DE AULA DA EJA

A Educação de Jovens e Adultos como modalidade de ensino que nasce da

valorização da função social da Escola apresenta, em sua natureza, características que lhe

oferece uma especificidade no tocante à clientela atendida, ao perfil professor e, sobretudo,

às expectativas que confere aos segmentos por ela atendidos. Diante desta realidade, as

escolas que atuam com a EJA, além do Ensino Regular, convivem com um conjunto de

contradições e impasses.

O primeiro deles talvez seja o despreparo da instituição para atender a este aluno,

que muitas vezes esteve fora da escola durante anos, apresentando defasagem de conteúdos

que não podem ser revistos em curto prazo. Compreender que este aluno precisa ser

acolhido em sua condição concreta é o requisito básico para um trabalho sério e

comprometido com o avanço da escolarização desse sujeito que retorna à escola.

Paulo Freire (1989), em sua obra “Pedagogia do Oprimido” diz que a situação do

trabalhador que lê e não escreve é humilhante, na medida em que ele é excluído do

processo de inclusão social porque vive em uma sociedade letrada, na qual é cobrado a

todo momento pela falta de um saber social que não detém. Muitos alunos adultos que

chegam à sala de aula da EJA se sentem intimidados em falar, opinar, dizer sua palavra,

pois ao longo de sua existência permaneceram calados, por força da opressão sobre os

analfabetos, os pobres, os negros, os homossexuais, enfim, os oprimidos, um dia,

abandonaram a escola não completando sua escolaridade básica.

É neste sentido que a sala de aula da EJA, conforme parecer de Jane Paiva (2002),

Doutora em Educação de Jovens e Adultos, apresenta-se como um espaço de diversidade,

marcado por gêneros, etnias, visões de mundo, religiosidade, experiências múltiplas e

Page 9: TCC

diferenciadas. Trabalhar com esta clientela, cujas histórias de vida são ricas e cheias de

vivências singulares, exige professores humanizados, que saibam lidar com gente, sem

preconceitos e conhecedores da cultura dos alunos, que devem se respeitadas naquilo que

possuem de essencial. As contradições se tornam visíveis, a partir do instante em que a

escola impõe ao aluno as EJA, um modelo de ensino que não foi elaborado para quem

esteve fora da escola por algum tempo. Segundo Leonardo Boff (2000) “muitas vezes

conteúdos infantilizados retiram do adulto trabalhador o desejo de aprender” (p.37). Esta

realidade ainda se repete em muitas escolas, onde os planejamentos e currículos unificados

não deixam que a EJA seja visualizada a partir da sua especificidade de modalidade que

supre e complementa saberes, ressignificando vivências.

Logo, é fundamental que gestores, professores coordenadores, supervisores,

funcionários das unidades de ensino, estejam preparados para lidar com os jovens e

adultos, tendo em vista que, como sujeitos sócio-históricos, eles levam para o interior das

escolas, suas histórias e modos próprios de ver o mundo e se auto construírem. Quando

aborda a questão ontológica da construção do ser social nas relações com o mundo, Rios

(2002) citando Corbisier diz:

             

  “A implicação recíproca homem-mundo e mundo-homem não significa uma relação exterior, fortuita e acidental, mas, ao contrário, com a compenetração ontológica, constituída dos dois termos entre os quais a relação se estabelece. Não estamos no mundo como objetos físicos estão dentro uns dos outros, como o livro está na estante, a estante na sala, a sala na casa, etc. O nosso estar e o nosso ser no mundo tem um alcance muito mais profundo, pois não se trata de justaposição no espaço, nem de uma inclusão meramente física, mas de uma relação de inerência que afeta, na própria estrutura ontológica, os dois termos constitutivos da relação” (p.30).

5-A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO: SIGNIFICADO FUNDAMENTAL NA EJA 

Nota-se que a educação tem como finalidade enriquecer o processo de criatividade,

e tem o papel de construir o conhecimento de forma abrangente, pois ela possui elementos

que ajudam na formação intelectual do aluno e também em práticas que irão levar para o

seu cotidiano. O educador de jovens e adultos deve ter como qualidade a capacidade de

solidarizar-se com os educandos, a disposição de enfrentar dificuldades como desafios, a

confiança de que todos são capazes de aprender, a ensinar e aprender numa troca mútua.

Page 10: TCC

Devem ser coerentes com essas posturas para que possam identificar os fatores que

contribuem para o desenvolvimento da aprendizagem no processo de aquisição da leitura e

da escrita para, em seguida, reverter essa realidade.

Segundo Freire, a relação professor-aluno é fundamental para a organização e

assimilação dos conteúdos. Tudo que o professor faz em sala de aula influencia no

desenvolvimento dos alunos. Pois a maioria vem de um longo e cansativo dia de trabalho,

e de anos sem irem à escola. E o professor precisa ter muita responsabilidade, dedicação e

criatividade para que esses educandos sejam incentivados a permanecer na escola.

"O adulto está inserido no mundo do trabalho e das relações interpessoais de um mundo diferente daquele da criança e do adolescente. Trás consigo uma história mais longa (e provavelmente mais complexa) de experiência sobre o mundo externo, sobre se mesmo e sobre as outras pessoas. Com relação à interação em situações de aprendizagens, essas peculiaridades da etapa de vida em que se encontra o fazem com que ele traga consigo diferentes habilidades e dificuldades (em comparação com a criança) e, provavelmente, maior capacidade de reflexão sobre o conhecimento e sobre seus próprios processos de aprendizagem". (Oliveira, 2004, p. 60 e 61)

O professor é o mediador e incentivador de cada aluno, e o bom relacionamento,

preocupação e carinho com os alunos, ajudam no seu desenvolvimento intelectual

incentivando-os a continuarem frequentando as aulas. Criando sempre métodos criativos

que chame a atenção e faça com que os alunos participem das aulas, e relacionado com o

que já trazem de suas experiências e vivência em seu cotidiano os deixado a vontade para

participarem das aulas trazendo suas contribuições. Sendo assim:

"Algumas qualidades são essenciais ao educador de jovens e adultos são a capacidade de solidarizar-se com os educandos, a disposição de encarar dificuldades como desafios estimulantes, a confiança na capacidade de todos de aprender e ensinar. Coerentemente com esta postura é fundamental que o educador procure conhecer os educandos, suas expectativas, sua cultura, as características e problemas de seu entorno próximo, suas necessidades de aprendizagem... deverá também refletir permanentemente sobre sua prática, buscando os meios de aperfeiçoá-la". (Programa re-aprender 1995).

Page 11: TCC

Nota-se que o educador da EJA deve oportunizar uma exploração específica dos

conteúdos para essa clientela, reforçando a capacidade crítica, estimulando a inquietação,

investigação e curiosidade de seus alunos.

Outro ponto de destaque é a necessidade de estimular a capacidade crítica dos

alunos será estimulada a partir do momento em que vê relevância nesses conteúdos, não os

vendo como algo aleatório a ele, à medida que o professor faz relações dos conteúdos com

suas experiências de vida.

A prática do professor tem que ser condizente com o que diz, o professor tem que

possuir “uma prática testemunhal que o rediz em lugar de desdizê-lo” (FREIRE,1987

p.38). Dessa forma, seu pensar certo (aquilo que diz) deve, portanto, estar aliado ao seu

fazer certo (sua prática pedagógica), para que possa testemunhar o que realmente se

vivencia. Este pensar certo é aquele que não é preconceituoso, autoritário, arrogante,

insensato, esnobe, devendo ser ensinado nas escolas concomitantemente com o ensino dos

conteúdos, “produzido pelo próprio aprendiz em comunhão com o professor formador”

(FREIRE, p.43).

Logo, observa-se que o professor da EJA tem que ter a clareza de que foi o

processo histórico e social do aprender que influenciou a descoberta do ensinar, dessa

forma, não se pode desconsiderar a significação presente nas experiências de vida fora do

ambiente escolar, para este processo ensino-aprendizagem.  

6-CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A relação professor-aluno dá-se pela interação social entre ambos. É no contexto da

sala de aula, e, no convívio diário entre si, que o aluno vai aprendendo hábitos, assimilando

valores, desenvolvendo habilidades. A educação seja ela escolar ou “do mundo” é o

fenômeno que só ocorre em razão de um processo básico de interação entre pessoas. Que a

Educação é um processo eminentemente social, julgamos desnecessários investir, tal a

evidência com que isto se manifesta. Aliás, poderíamos ir mais além, ao dizer que a

Educação existe exatamente porque o homem é um ser gregário e que só se realiza como

tal a partir do momento em que entra em relação com o seu semelhante. O ato de ensinar e

aprender são processos essencialmente sociais, porque “as relações entre quem ensina e

que aprende repercutem sempre na aprendizagem. De certa forma o professor sempre

Page 12: TCC

aprende algo com o seu aluno, na medida em que reconhece que esse aluno traz consigo

um mundo particular, cheio de conhecimentos singulares, que adquiriu no seu ambiente

familiar, no seu grupo social. O educando é uma pessoa que se desenvolve que atualiza

suas possibilidades, que se ajusta e se reajusta, mediante processos dinâmicos, orientados

por valores que lhe conferem individualidade e prospectividade.

Deste modo ao professor cabe a responsabilidade de valorizar cada vez mais a

interação que deve haver entre ele e o seu aluno, pois se vê nessa interação um processo de

intercâmbio entre conhecimentos, idéias, ideais e valores, que atuam diretamente na

formação da sua personalidade enquanto ser humano. E para que isso aconteça, para que

haja a construção coletiva do conhecimento, é preciso que a relação professor-aluno seja

baseada no diálogo livre, espontâneo e verdadeiro. Por interação social entende-se que seja

o processo da influência mútua que as pessoas exercem entre si. Assim, numa sala de aula,

deve haver essa troca de influência, do professor em relação ao aluno e vice-versa, pois

destacamos pelo nosso contexto escolar atual, que a influência que o professor exerce

sobre o aluno é ainda muito grande, e esta pode ser positiva ou o que é pior, negativa. Por

isso se diz que o comportamento e as atitudes de um professor são de fundamental

importância para que contribuam para a aprendizagem do seu aluno e para a sua formação.

O professor como facilitador da aprendizagem deve ser aberto a novas experiências,

procurar compreender numa relação empática, também os sentimentos e os problemas de

seus alunos e procurar conduzi-los à auto-realização. A responsabilidade da aprendizagem

e dos objetivos a serem alcançados é missão de ambos, o professor deve identificar no

aluno o que é mais significativo para ele e conduzi-lo a alcançar essa meta. Portanto, o

processo de ensino-aprendizagem depende também de como se dá a relação entre eles.

Em um estudo sobre “o bom professor”, foi investigado por Cunha (1994, p. 70-

71), o dia-a-dia deste como indivíduo e como educador. Analisa também sua prática

metodológica, e a partir de uma caracterização deste profissional, foram propostos novos

direcionamentos para a formação dos mesmos e também para os cursos de magistério. No

entanto, sua análise a respeito da relação professor-aluno passa pela forma com que o

professor trabalha os conteúdos, como se relaciona em sua área de conhecimentos e por

sua satisfação em ensinar.

Page 13: TCC

A importância da relação entre o educador e o educando é tão fundamental, de

forma que a predileção do aluno por algumas disciplinas, muitas vezes passa pelo gostar,

ou não, de um determinado professor. O primeiro professor da uma criança tem uma

importância muito grande na atitude futura desse educando, não só durante sua fase de

aprendizagem, mas na sua relação com os sucessivos professores é o que nos disse Hilal

(1985, p. 19).

A relação professor-aluno deve acontecer num clima que facilite ao aluno sua

aprendizagem, o professor por sua vez deverá valorizar o aluno permitindo que o mesmo

avance em sua jornada de construir seu conhecimento e que seja, assim, cada vez mais

sujeito da sua história. A motivação dos alunos para a aprendizagem, através de conteúdos

significativos e compreensíveis para eles, assim como os métodos adequados, é fator

preponderante na atitude de concentração e atenção dos alunos. Se estes estiverem

envolvidos nas tarefas, diminuirão as oportunidades de distração e de indisciplina. Por

outro lado, a aprendizagem não é uma atividade que nasce espontaneamente dos alunos.

Por mais que o professor consiga a motivação e o empenho dos alunos e os estimule com

elogios e incentivos, deverá sempre cobrar o cumprimento das tarefas. Mesmo que eles não

queiram, devem estar cientes de que o não-cumprimento dessas atividades terá

consequências desagradáveis.

Ao nosso entender, as relações estabelecidas entre o professor e o aluno constituem

a cerne do processo pedagógico. É impossível desvincular a realidade escolar da realidade

do mundo vivenciada pelos discentes uma vez que essa relação segue na mesma direção.

Sendo assim, ambos podem aprender e ensinar através de suas experiências.

Assim, foi possível rever alguns aspectos da educação de jovens e adultos, a

formação do professor e suas práticas de ensino na EJA, além de constatar que a EJA é

uma educação possível. Ao longo dos anos, os avanços da tecnologia e da economia têm

feito com que as pessoas sintam necessidade de retornar à sala de aula para aprimorar seus

conhecimentos ou conseguir um diploma atestando uma escolarização mais elevada.

Page 14: TCC

7-CONCLUSÃO

Observa-se que este artigo pretende identificar as características que deve possuir o

professor que atua com jovens e adultos e a importância do respeito ao conhecimento que o

aluno traz de seu dia-a-dia. Fazer com que o aluno seja um ser pensante, crítico e produtor

do seu conhecimento, é requisito básico ao docente. O professor é um suporte na sala de

aula e muitos alunos têm seu professor como o “espelho”. Enfim, foi evidenciado que o

professor que atua com jovens e adultos deve ter uma capacitação específica para lidar com

esses alunos. Tal medida favorecerá o processo de aprendizagem e aumentará a satisfação

dos alunos e, consequentemente, diminuirá a evasão escolar.

Percebe-se, também, que a EJA é indiscutivelmente uma educação possível. Ou

melhor, imprescindível. E que o atraso para o ingresso na educação formal não é motivo

para o não ingresso mesmo que tardiamente, uma vez que a educação é um processo

continuado e atemporal.

Dessa forma, a educação na EJA deve basear-se no diálogo, que propiciará  a ação

e a reflexão sobre sua situação de opressão, utilizada pela classe dominante para manipular

a consciência dos oprimidos, através da interiorização de seus valores, por meio da classe

oprimida, que vem repleta de um sentimento de inferioridade e impotência, favorecendo o

isolamento e as posições artificiais entre cada grupo de oprimidos. É esse diálogo que

possibilitará a busca pela unidade na diversidade.

Contudo, é importante lembrar que todos podem e devem contribuir para o

desenvolvimento da EJA: os governantes devem implantar políticas integradas para a EJA,

as escolas devem elaborar um projeto adequado para seus próprios alunos e não seguir

modelos prontos, os professores devem estar sempre atualizando seus conhecimentos e

métodos de ensino, os alunos devem sentir orgulho da EJA e valorizar a oportunidade que

estão tendo de estudar e ampliar seus conhecimentos. À sociedade cabe contribuir com a

EJA não discriminando essa modalidade de ensino nem seus alunos, e por fim, as pessoas

em geral que conhecerem um adulto analfabeto deve falar da importância da educação e

incentivá-los a procurar uma escola de EJA.

Page 15: TCC

*** 

The teacher – student relationships in classroom: the new mean

Gisele Maria Viana Martins

Edinalda Maria Almeida da Silva  

This article presents The Youth and Adults (EJA) discussing reconstruction of knowledge,

lies in education, a privileged place for the resumption of schooling. This space is

permanent construction trade, is one of the indicators that the teacher / student point of

departure and arrival of the process of developing knowledge. This study aimed to focus

on classroom EJA, as a place of exchange, where the actors moving in the institutional

school building bonds, knowledge of movements ranging from conflict to search for

socializing and generating output of learning.  

Keywords: teacher- student relationship- the contradictions – the classroom- teaching

practice

Page 16: TCC

REFERÊNCIAS

ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. 28 ed. São Paulo. Cortez, 1993.

ARBACHE, Ana Paula Bastos. A formação do educador de pessoas jovens e adultas numa perspectiva multicultural crítica. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro. Papel Virtual Editora, 2001.

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BRASIL. MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>. Acesso em: 10 maio 2002.

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