tcc violencia entre professores e alunos
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ALESSANDRA SOARES
FABIANA FARIAS
A VIOLÊNCIA ENTRE PROFESSORES E ALUNOS NAS
ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE TOBIAS
BARRETO ANO DE 2008
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao
Curso de Graduação em Pedagogia como
requisito parcial à obtenção do grau de
Licenciado em Pedagogia.
Universidade Vale do Acaraú – UVA/ORE
Orientador: Prof. Darlei Possamai
TOBIAS BARRETO, 2009
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ALESSANDRA SOARES
FABIANA FARIAS
A VIOLÊNCIA ENTRE PROFESSORES E ALUNOS NAS
ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE TOBIAS
BARRETO ANO DE 2008
Este trabalho de conclusão de curso foi julgado adequado à obtenção do grau de
Licenciado em Pedagogia e aprovada em sua forma final pelo Curso de Graduação em
Pedagogia da Universidade Vale do Acaraú – UVA/ORES
Tobias Barreto – SE, 23 de maio de 2009.
______________________________________________________
Prof. Darlei Possamai
Universidade Estadual do Vale do Acaraú - UVA
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Dedico este trabalho à minha querida
mãe, companheira de todos os
momentos, bons e ruins; muito obrigado
mãe querida, você é a pessoa que mais
amo neste mundo.
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AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, à minha família que tanto amo. Agradeço também aos
amigos queridos, que a todo o momento me incentivam e orientam na jornada da
busca – por intermédio do conhecimento e sabedoria – por uma vida melhor; amigos
que me proporcionam momentos sublimes de alegria e companheirismo verdadeiro.
Agradeço por fim à sabedoria, o homem que busca incessantemente a
sabedoria e procura caminhar ao seu lado é detentor da maior riqueza encontrada
no mundo, pois é por meio desta que o homem consegue alcançar todos os seus
sonhos e objetivos, é como o toque de Midas, tudo que a sabedoria toca, torna-se
ouro.
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“(...) ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”. (Freire, 1997.)
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RESUMO
O presente artigo discute a relação entre os conceitos de violência e autoridade no
contexto escolar e, particularmente, na relação professor-aluno nas escolas públicas da cidade
de Tobias Barreto no estado de Sergipe. Para tanto, contrapõe uma leitura de cunho
institucional da violência escolar às abordagens clássicas da temática, demonstrando a tese de
que há um quantum de violência "produtiva" embutido na ação pedagógica.
Palavras-chave: violência escolar, relação professor-aluno, autoridade docente
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SUMÁRIO
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO II: INDISCIPLINA ESCOLAR E A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO
SOB A PERSPECTIVA MORAL 11
2.1 A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO 12
2.2 VIOLÊNCIA CONTRA OS PROFESSORES 14
2.3 AMBIENTE ESCOLAR NA CIDADE DE TOBIAS BARRETO 15
CAPÍTULO III: CONCLUSÃO 18
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 21
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INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a sociedade brasileira entrou no grupo das sociedades mais
violentas do mundo. No Brasil, a principal “ação errada”, que antecede a violência é o
desrespeito conseqüente das injustiças sociais ou não.
Considerando que esse o âmbito em que os professores estão educando e formando
crianças, adolescentes e jovens, questionamos-nos sobre valores morais transmitidos a eles e
que são incorporados ou que formam a identidade desses indivíduos. Posições apresentadas
por Piaget e Aquino, expõe que os pais têm muita responsabilidade sobre as dificuldades e/ou
problemas apresentados pelos filhos e que, em investigações ou tratamentos, é quase sempre
presente, em crianças ou adultos em situações problemáticas, a presença de lembranças
familiares negativas.
Mesmo defendendo que a escola deva lidar com o indivíduo como um todo, não
defendemos que ocupe o lugar integral da família na formação do indivíduo. Porém, temos
ciência de que essa determinação sobre limites da ação e papel da família e da escola não
esteja bem definida e, além disso, que mesmo que a família não esteja cumprindo seu papel, a
escola deve cumprir o seu.
No dicionário o conceito de indisciplina, é "todo ato ou dito contrário à disciplina que
leva à desordem, à rebelião". A disciplina enquanto "regime de ordem imposta ou livremente
consentida que convém ao funcionamento regular de uma organização", ou normas
estabelecidas. A violência, por sua vez, seria caracterizada por qualquer "ato violento que, no
sentido jurídico, provocaria, pelo uso da força, um constrangimento físico ou moral".
Menin e Escola Zandonato expõem que a violência na escola encontra-se em relações
conflituosas e danosas entre professores e alunos e dos alunos entre si. Essa violência,
segundo as autoras, seria resultado do reflexo e da reprodução de outras violências que nos
cercam.
A discussão entre a relação de violência e poder, não pode ser uma regra na
compreensão da origem da violência, pois nem toda ação violenta é advinda da falta de poder.
A falta do poder gera a necessidade de controle pela coação, com o que concordamos;
não podemos, entretanto, ser condizentes em dizer que todos que têm o poder, portanto, não
usam de violência.
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CANDAU, LUCINDA e NASCIMENTO (1999) expõem a visão de outros autores
que relacionam a violência a fatores como a organização social, pela existência das
desigualdades sociais e, principalmente, pela forma como são estabelecidas as relações de
poder que intensificam as diferenças.
Segundo GUIMARÃES, há três perspectivas de violência institucional no caso da
escola: a dos poderes instituídos ou utilitários que neutraliza as diferenças individuais e
objetiva a homoneigização; a violência anônima, observada nas reações brutais como
depredação e agressividade entre alunos; a violência banal, caracterizada pela resistência
passiva através de comportamentos de ironias, chacotas, etc.
A escola, enquanto espaço de violência e de indisciplina, é percorrida por um
movimento ambíguo: de um lado, pelas ações que visam ao cumprimento das leis e das
normas determinadas pelos órgãos centrais, e, de outro, pela dinâmica dos seus grupos
internos que estabelecem interações, rupturas e permitem a troca de idéias, palavras e
sentimentos numa fusão provisória e conflitual.
A indisciplina como resposta a uma prática institucional conflituosa é ressaltada sob
outro aspecto que, também, aponta para um enfoque institucional, definindo a indisciplina
como elemento ambíguo por demonstrar ódio, raiva e, como “forma de interromper o controle
homogeneizador da escola”.
Seguindo uma perspectiva piagetiana, defende que se disciplina for entendida como
“comportamentos regidos por um conjunto de normas, a indisciplina poderá ser traduzir de
duas formas: 1) a revolta contra estas normas; 2)o desconhecimento delas”. Enquanto revolta
contra as normas, a indisciplina traduz-se como forma de desobediência insolente; e, no caso
de desconhecimento das normas, traduz-se pela desorganização das relações.
LEPRE situa a indisciplina no desrespeito às regras necessárias à boa convivência
social. Das respostas apresentadas pelas professoras, emergem cinco categorias:
1. Indisciplina como problema pessoal do aluno
2. Indisciplina como insubordinação às regras impostas
3. Indisciplina como resultado da falta de afeto
4. Indisciplina como falta de limites das crianças
5. Indisciplina como uma dificuldade para se relacionar com as regras.
As professoras, no momento da entrevista, negavam ter alunos indisciplinados em sua
classe e conclui que há uma resistência em reconhecer e assumir esta situação por
relacionarem o fato de haver indisciplina na classe com incompetência do professor.
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O objetivo desse artigo é de eliminar a violência e a indisciplina, ou de colocá-las para
fora do campo escolar, fazendo com que se perca a compreensão da ambigüidade desses
fenômenos que restauram a unicidade grupal e instalam uma tensão permanente.
O confronto da escola com essas leis obriga à negociação, à adaptação. Quanto maior
a sua capacidade em assumir e controlar a violência, mais a escola dará ao conjunto uma
mobilidade que permitirá driblar e agir com tolerância.
Entretanto, entendemos a relação professor-aluno como um dos focos que contribuem
para a existência de comportamentos indisciplinados e optamos por investiga -lá, seja como
um dos pólos, seja como fator mediador.
A escola, como espaço institucional responsável pela educação, ao deparar-se com a
indisciplina interferindo em seu objetivo maior - promover a educação - deve manifestar a
preocupação em encontrar caminhos que apontem para a solução ou amenização deste
problema.
Porém, os professores geralmente situam a origem da indisciplina no aluno, na falta de
limites dada pelos pais, na dificuldade em respeitar regras, na falta de afeto ou em problemas
pessoais não definidos.
Defendemos que se a escola estabelece o fator moral como preponderante no
fenômeno da indisciplina, é preciso que se tenha claro que o ideal é a construção da disciplina
– como respeito ás normas e ás pessoas - como conseqüência do desenvolvimento de uma
moral autônoma, construída com base na cooperação.
O conceito de indisciplina, portanto, é o de apresentação de comportamentos de
desrespeito ao outro e ás regras construídas em princípios de justiça que acreditamos estar
incluído nas perspectivas moral e institucional.
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CAPÍTULO II: INDISCIPLINA ESCOLAR E A RELAÇÃO
PROFESSOR-ALUNO SOB A PERSPECTIVA MORAL
É através da educação que o homem aperfeiçoa-se e evolui. Se a educação é permeada
por relações entre diferentes gerações e, na escola, entre professor e aluno é estreito o vínculo
entre indisciplina e essa relação.
Quando a escola primária passou a ser defendida como pública, obrigatória e gratuita,
passa a expor a necessidade de criar o homem disciplinado, com respeito ás regras
socialmente estabelecidas e representadas pelo professor.
O impor limites agirá como obtenção de um respeito mudo aos adultos, necessário na
educação de crianças. Limites esses, que devem ser impostos por pais e professores.
A moral que fundamenta a disciplina, portanto, é fundada no respeito sem restrições
ao adulto e às regras sociais; permitindo e até exigindo o controle e a imposição de limites
através de condutas coercitivas e punitivas.
Piaget e Durkheim, enfocam na necessidade da formação de um ser autônomo, mas,
diferentemente deste, condena a imposição de regras para a construção da autonomia.
A educação familiar pode ser corrompida devido aos problemas encontrados
socialmente e, dessa forma, a educação escolar é a que tem mais possibilidades sobre educar
moralmente, pois “reúne duas coisas: a instrução e a cultura moral”. O papel da educação
escolar, portanto, é o de instruir e disciplinar.
Educar, do ponto de vista kantiano, não é tão simples; especialmente, educar
moralmente, pois a educação deve ser aquela que leva o homem a agir corretamente.
Em relação à construção da autonomia em ambiente escolar, para Piaget, é essencial
que o objetivo seja o de desenvolver seres moralmente autônomos e indica que se o objetivo
for a formação de indivíduos à ordens impostas, à opressão e à arbitrariedade, basta um
ambiente de obediência onde impere as sanções punitivas; mas, se o objetivo for a formação
de indivíduos autônomos, as relações humanas devem ser fundamentadas em princípios de
cooperação e reciprocidade.
A escola é um espaço onde a educação é legitimada. É neste espaço que a educação
pode se dar com vista à cooperação, posto que é na escola onde os relacionamentos
interpessoais são uma constante, a educação é como “um processo de emancipação do
homem”, ou seja, de “aperfeiçoamento”.
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Discutindo a disciplina como respeito à normas ou regras, é inegável a importância e a
necessidade da existência das regras para garantir a eficácia da prática educativa e a harmonia
nas relações; mas, nem toda regra tem relação com a moralidade.
Desta forma, considerar o princípio de justiça e estabelecer as regras de forma
coletiva, construídas em um ambiente cooperativo, é a base para o desenvolvimento de
propostas pautadas na educação moral, objetivando o pleno desenvolvimento do educando.
Na ânsia de resolver situações de conflitos, muitas vezes professores impõem regras,
agem de forma repressora, coercitiva e não propiciam o desenvolvimento da autonomia
moral. Como palco da relação entre indisciplina e desenvolvimento moral, a escola também é
o ambiente que pode possibilitar a resolução dos conflitos que se apresentam, justamente na
forma de lidar com conflitos nas situações cotidianas. A forma como a escola e o professor
vão gerir o trabalho sobre as relações pessoais, seja em momentos conflituosos ou não,
interfere no resultado advindo dessas situações, tendo como conseqüência a possibilidade de
mediar e minimizar os conflitos nas relações inter - pessoais ou de não provocar mudanças e,
até mesmo, de agravar as situações.
A função da educação é a formação da humanidade, desde que se cumpra alguns
princípios visando ao responsável pela educação, ao lugar onde ela acontece e à “verificação
empírica de seus êxitos e fracassos”.
2.1 A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO
A escola não é tão-somente reprodutora de características externas a ela, mas também
gera formas de relações que lhe são intrínsecas. Certamente, a rede de relações que se
constitui não é somente definida pela escola, mas pelas diferentes instituições nas quais o ser
social está envolvido.
A forma com que a escola está organizada contribui e, até, é responsável pela
indisciplina escolar. Indicam que as causas da indisciplina escolar residem tanto na
organização da própria escola enquanto instituição, quanto nas relações interpessoais frutos
dessa organização.
Outro aspecto ressaltado por AQUINO (1998) é o da abordagem psicologizante, que
aponta os casos de indisciplina como conseqüência de “falhas” do indivíduo em sua
personalidade ou até de identidade.
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Neste aspecto, portanto, a escola é disciplinarizadora e tem o poder de dominar,
levando à submissão. Porém, os fatos que estão presentes na escola nos apontam para um
outro aspecto, a resistência.
Podemos entender que o poder que é usado para controlar e reprimir é,desta forma,
legitimado pelo seu uso e, conseqüentemente, cria forças de resistência. O poder apresenta,
assim, uma dimensão negativa, em que a tensão entre as forças envolvidas é constante.
Por sua vez, AQUINO (2001) aponta a fragilidade do professor em lidar com essa
realidade, pois parece haver perdido sua teia de proteção considerando-se abandonado,
sozinho e sendo responsabilizado por diversos problemas encontrados na escola hoje.
O confronto do professor como autoridade frente à não obediência tem se tornado
motivo de sérias preocupações e deixado o professor sem ação. Não é raro nos depararmos
com professores saudosos do tempo em que se tinha respeito na escola e em que os alunos
eram educados, pois a família era severa, rigorosa na educação.
A crítica de AQUINO (2001) está se referindo às posturas dos professores e das
escolas que não demonstram preocupação com o desenvolvimento moral, mas se restringem
às orientações dogmáticas em que o poder de decisão e de julgamento sobre as regras, sobre o
que é certo ou errado, o que pode ou não ser realizado, o que é bom ou ruim, o que é justo ou
não, é dos professores e da direção escolar.
A solução pode estar na forma como se dá a relação professor – aluno, ou seja, nos
vínculos que se estabelecem nas relações cotidianas para que a tarefa central de reposição e
recriação do legado cultural aconteça. Aponta, como solução, o desenvolvimento de um
trabalho fundado no resgate da moralidade discente, através da relação com o conhecimento,
uma vez que todo trabalho a ser desenvolvido “pressupõe a observância de regras, de
semelhanças e diferenças, de regularidades e exceções”.
O professor e a escola têm por objetivo central a transmissão e recriação do
conhecimento construído socialmente. O grande problema, segundo AQUINO (2001), é que o
professor mantém-se rígido em seu lugar de autoridade.
Desta forma, GUIMARÃES (1996) defende a necessidade do espaço para que o aluno
se manifeste; de oportunidade para que ele estabeleça trocas; de situações em que, através da
convivência em grupo, ele possa construir e estabelecer relações. O professor deveria ser
somente mediador e não único orientador e direcionador de comportamentos, atitudes,
“ditador” de padrões.
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Assim, também, a relação professor-aluno como resultado da importação de efeitos de
violência que lhe são externos institui-os e dá certo olhar mais “produtivo” sobre o cotidiano
escolar contemporâneo (AQUINO, 1998). Em suma, do ponto de vista institucional, todo
exercício de autoridade é violento e essa violência é pré-determinada pela relação assimétrica;
porém, essa violência é considerada produtiva na medida em que toda intervenção
institucional objetiva a transformação de determinada matéria apropriada pelo objeto. No caso
da escola, pelo conhecimento gerado na ação pedagógica.
Fica claro que a idéia a ser defendida neste caso é a de que há necessidade, também,
de um trabalho pautado na reciprocidade e, conseqüentemente, na cooperação, na colaboração
porque o professor, além de um educador, é um aprendiz.
No entanto, mesmo que o aluno e o professor sejam parceiros no fazer pedagógico, é
necessário preservarmos a distinção de papéis entre aluno e professor; ou seja, embora o
professor possa aprender com seus alunos, o dever de ensinar continua sendo o do professor
como, o do aluno, de aprender, pois este é o objetivo da procura à educação escolar.
AQUINO (1998) defende a idéia de que o professor é o responsável em apresentar o
mundo ao seu aluno, contribuindo para preservar o patrimônio cultural, instruindo seus alunos
quanto aos conhecimentos acumulados e, contribuindo para a transformação das novas
gerações.
2.2 VIOLÊNCIA CONTRA OS PROFESSORES
As manchetes de jornais denunciam sistematicamente a ocorrência de inúmeros
acontecimentos que podem ser traduzidos pelo aumento da violência praticada contra a
população em geral. Muitos desses atos protagonizados por adolescentes ou mesmo jovens
adultos que deveriam estar na Escola, lugar privilegiado de trabalho sobre valores que
apontem para o bem da sociedade, para a paz e a vida fraterna. No entanto sabemos que existe
uma grande dívida social dos governos que, apesar de discursos inflamados e de tentativas
inócuas, pouco têm se empenhado na busca de ações concretas que apontem soluções, mesmo
a médio e longo prazo, para tornar efetiva a inclusão social e a redução da marginalidade e da
pobreza.
O fenômeno da violência, tendo como pano de fundo a escola, apresenta situação
muito semelhante ainda que com causas distintas. Se na escola pública faltam professores
para o atendimento pleno dos alunos, faltam investimentos em recursos pedagógicos, faltam
propostas de formação continuada para os professores, o que não acontece na escola privada.
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Mas a violência, embora motivada muitas vezes por forma diversa, também é um grave
problema nas escolas particulares. Mais do que nunca, as instituições de ensino privadas, na
atualidade, estão entregues à lógica liberal; logo, só se pode temer o pior de uma livre
concorrência escolar. Diretores autodenominam-se "gestores escolares", gabam-se de ter
sucesso no projeto de suas instituições porque seus alunos "são vistos e respeitados como
clientes". Ora, cliente é quem contrata um serviço ou adquire, mediante um valor, um bem ou
produto; a educação, portanto, passou a ter – equivocadamente, por certo – essa definição.
Desse modo, temos o seguinte quadro: o contratante ou comprador desse produto ou serviço é
o aluno ou, em outra hipótese, seus pais; de qualquer modo, segundo a lei do comércio,
"cliente sempre tem razão". Será possível estabelecer, nesses parâmetros, uma relação
pedagógica saudável entre professor e aluno? Não será justamente por isso que encontramos,
cada vez mais, professores insatisfeitos com seu trabalho, infelizes, mas resignados porque
"na escola particular é assim mesmo..."? A familiarização com a agressividade e a violência
as tornam, como analisam psicólogos e sociólogos, matéria do cotidiano, corriqueiras a ponto
de serem consideradas "normais".
Entretanto, a proliferação indiscriminada desses comportamentos mostra que a escola
perdeu - ou vem perdendo - o poder normativo e ignora ou negligencia os recursos
pedagógicos para o estabelecimento de limites entre o que é aceitável e o que ultrapassa essa
condição.
O professor, nesse contexto, é destituído de autoridade e autonomia, e essa lacuna dá
margem para que o aluno mesmo ou sua família, em sala de aula, no espaço da escola ou fora
dela, arbitre sobre o que é justo ou injusto, certo ou errado, segundo sua visão pessoal. A
violência é, assim, relativizada em seu valor de transgressão, e seus autores não se sentem
transgressores: pelo contrário, agem com tranqüilidade, não se julgando fora dos princípios da
boa educação ou da ética, pois se conduzem de acordo com o que estipulam ser o preceito
correto e legítimo.
2.3 AMBIENTE ESCOLAR NA CIDADE DE TOBIAS BARRETO
Os estabelecimentos de ensino, por suas direções, dentro das suas prerrogativas legais,
deverão atuar no sentido de prevenir e reprimir condutas discentes e/ou de pais e demais
tomadores de serviços educacionais configuradoras de violência física, psicológica ou moral
contra seus professores. Estes, por sua vez, deverão colaborar com as ações necessárias para a
eficácia da atuação preconizada pelas direções.
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Vimos que através desse parágrafo que os alunos tem que ter limites, coisas que não
anda acontecendo nas escolas públicas da cidade de Tobias Barreto, pois os alunos querem
mandar nos professores e na própria instituição. Fazendo dela não um ambiente saudável mais
sim um ambiente muito violento.
É dessa forma que as escolas públicas não têm professores suficientes para poder
ensinar, pois os mesmos ficam estressados e até mesmo depressivo, e muitos até desistem
dessa profissão, pois eles não tem autonomia dentro da própria sala de aula. Dessa forma
surgindo vários conflitos entre eles e os alunos. Mas talvez a violência maior que sofre o
professor seja não autorizar as iniciativas necessárias para o encaminhamento adequado do
problema. Preferem os professores suportar essas situações que muitas vezes geram
transtornos emocionais e somatizações, pois temem a demissão motivada por uma avaliação
equivocada das direções de que os problemas são superados com o afastamento do professor.
Isto denota uma postura de escolas que ainda acreditam que a educação se dá de
maneira linear, sem conflitos e que, portanto, não investem na diversidade de interesses de
alunos, professores, coordenações, enfim de todos os segmentos da comunidade escolar.
Diversidade saudável, sim, possível geradora de conflitos que possibilitam o crescimento
pessoal na autoria da resolução de problemas e busca de soluções.
Para os educadores, a violência é concebida como o desrespeito ao outro e consigo
mesmo. O desrespeito ao outro, se traduz na transposição dos direitos individuais. Já o
desrespeito dirigido a si mesmo, seria o primeiro passo para poder praticar o descaso e a
afronta ao outro:
Professora – o que é violência? De uma forma geral começa com o desrespeito né.
Agora no caso do aluno, ou mesmo do ser humano em si, eu acho que ele começa
desrespeitando. [...] Ele não conhece o que é a palavra respeito, e isso vai gerando,
vai aumentado esse desrespeito e ele vai se tornando uma pessoa até agressiva. Eu
acho que são níveis da violência, eu penso na violência assim, eu acho que ela vai
tendo níveis.
Em conformidade com o discurso dos alunos, outro fator desencadeador de constantes
conflitos entre os alunos, está relacionado às relações amorosas estabelecidas entre os
estudantes, no discurso abaixo às meninas foram apresentadas como principais atuantes destes
confrontos:
Professora - É, dentro dessa escola! Hoje em dia está muito comum isso. Cada caso
que você vê, são meninas que brigam por causa de namorado, isso é um tipo
também de violência, elas se agridem de puxar o cabelo, de xingar, de se ofender e
de bater mesmo umas nas outras por causa desse um menino que em comum elas
estão já apaixonadas por ele né. Elas se dizem apaixonadas, e o menino às vezes sai
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com uma, ou às vezes nem saiu, mas conversou com aquela menina e a outra já se
sentiu ofendida e vai tirar satisfações.
No que tange os conflitos entre alunos e professores há uma relação entre violência e
indisciplina, para ele o aluno indisciplinado é aquele que não confere sentido à escola, assim a
violência seria uma espécie de resposta à angústia experimentada no ambiente escolar. Deste
modo, o aluno indisciplinado pratica a violência por desrespeitar o direito daqueles que vêem
significado na escola, ao mesmo tempo em que age com violência contra si mesmo, por não
perceber a importância dos conteúdos escolares:
Professor - o que eu vejo é que o aluno, hoje, e não sei com a gente poderia datar
esse hoje, mas ele não ta vendo mais um sentido na escola, ele não vê nada nisso
aqui que vai servir para ele no mundo lá fora. Então a gente tem que trabalhar com
ele isso daí né, a importância de vir pra uma escola, que nem na 8° série eu falei
assim “é importante vocês aprenderem geografia porque isso vai cooperar, do ponto
de vista do conteúdo, para que vocês possam ter uma visão mais crítica das coisas,
porém, nosso objetivo não é só ensinar vocês pra passar de ano e sim pra aprender,
como se pesquisa, como se trabalha. Se eles não entendem isso começa a
indisciplina, a violência. Então a violência seria também uma falta de respeito
consigo e com outro.
Ao que parece, não há um consenso que diferencie atos considerados violentos dos
comportamentos tidos como indisciplinados. De tal modo, que esta dificuldade tem trazido
conseqüências para as formas de atuação destes profissionais. Os pais são constantemente
convocados à escola para responder pelas condutas inadequadas de seus filhos no interior da
instituição. A policia também é acionada para resolver conflitos entre os jovens e seus pares, e
entre eles e a equipe escolar.
Professor- o diretor conversa com ele, as vezes a conversa não adianta, a gente
convoca os pais pra ficarem ciente do que os filhos fazem na escola, como é que eles
agem aqui dentro e se for o caso os pais são convidados a assistirem aulas com o
filho. E dependendo da situação a polícia é convocada chegando a acontecer até um
boletim de ocorrência
Os depoimentos acima indicam que os educadores encontram dificuldades de ação
frente ao problema da indisciplina e da violência. Na ausência de recursos pedagógicos para
lidar com as situações de conflitos e confrontos, a equipe escolar recorre constantemente à
família, à polícia e ao afastamento do aluno da instituição escolar.
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CAPÍTULO III: CONCLUSÃO
No decorrer desta pesquisa, procuramos estabelecer as possíveis implicações entre
indisciplina escolar e a relação professor-aluno. Acreditamos que esta concepção está incluída
nas perspectivas moral e institucional.
Consideramos o desenvolvimento moral do ser humano a partir de situações
harmoniosas ou na mediação dos conflitos.
Ao considerarmos a perspectiva institucional como vertente explicativa, analisamos
papéis institucionais do aluno e do professor, responsáveis por desenvolver papéis de acordo
com o lugar institucional que ocupam. Assim, antes de atitudes individuais serem
consideradas pessoais, são institucionais.
As implicações entre indisciplina escolar e relação professor-aluno puderam ser
constatadas em diferentes situações observadas nas escolas.
Das instituições observadas na cidade de Tobias Barreto podemos fazer a seguinte
análise. Nas escolas as regras são impostas pela professor(a) ou pela direção escolar, ou seja,
os alunos não têm participação na construção das mesmas. Desta forma, elimina-se qualquer
possibilidade de interação em um ambiente democrático.
A necessidade de exercer a autoridade e o perigo da total ausência de disciplina são
discutidas por diferentes autores como De LA TAILLE (1996), MACEDO (1996), VINHA
(2003), LEPRE (1999), PIAGET (1923/1994), entre outros. Segundo os autores, as regras nas
escolas são necessárias para que se possa desenvolver uma proposta pedagógica eficaz.
A perspectiva institucional nos indicará que na constituição de toda instituição é
concreta a existência de práticas que se repetem e se legitimam sendo, segundo AQUINO
(1996), “um continente de relações sociais específicas, sempre em confronto pela apropriação
de um objeto”, que é no caso da educação escolar, o conhecimento.
A autonomia só aparece com a reciprocidade, quando o respeito mútuo é bastante
forte, para que o indivíduo experimente interiormente a necessidade de tratar os outros como
gostaria de ser tratado.
Apesar da construção de um sentimento de “nós” nos alunos, este não é fruto de
relação de cooperação ou de respeito mútuo e, portanto, não atinge os objetivos de uma
educação moral, na perspectiva piagetiana.
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Não é somente a educação escolar, porém, responsável pela educação e, portanto, estes
sujeitos poderá ter oportunidades de sentir a necessidade de manifestarem-se de forma mais
ativa, expressando descontentamento.
Essa postura do professor parte da concepção de que para ser considerado “bonzinho”
é necessário permitir quaisquer ações, não controlar a sala, mas que também “não ensinam”.
A escola pode não atender às expectativas criadas pelos alunos ou por seus pais quanto
ao seu poder transformador da realidade social e, ao mesmo tempo, não demonstra através das
ações da professora, acreditar neste poder.
O desafio lançado às escolas parece ser o de descobrir formas de relacionamento com
os alunos que criem novas significações no universo destes, através de uma (re) construção da
identidade escolar que atenda às expectativas dos alunos e de seus pais e, ao mesmo tempo,
cumpra seu papel social de disseminadora de conhecimentos científicos construídos pela
humanidade.
A perspectiva moral compreende os indivíduos envolvidos na relação professor-aluno
como seres em desenvolvimento, como pessoas que se interagem numa relação humana,
social. A perspectiva institucional compreende os indivíduos envolvidos na relação professor-
aluno como atores institucionais em que não se desvinculam os papéis de professor e de
aluno.
De acordo com o enfoque dado pela perspectiva moral, o distanciamento profundo
entre professor e aluno não é benéfico, pois a interação entre pares e entre adulto e criança
deve privilegiar a solidariedade, a cooperação, a troca. A professora coloca-se como detentora
do saber científico através da manipulação dos conteúdos, da transmissão pacífica de
conteúdos e da moral, através da determinação do que é correto, do que é justo. Quando a
igualdade do grupo é resultado de respeito unilateral da criança para com o adulto, cria-se
uma dependência maior do que se possa parecer, segundo PIAGET (1998), em que “à
estrutura do grupo é, na verdade, mais dependente da autoridade do que pareceria”.
A construção desse ambiente pressupõe uma parceria entre professores e alunos na
gestão do ambiente escolar, respeitando aspectos que não podem ser decididos por estes dois
sujeitos, como os que fazem alusão a outras classes e outros professores e às questões
burocráticas, entre outras que não dependem somente da resolução que eles tomarem. O
professor como o profissional da relação deve respeitar determinações e cumprir tarefas que
são inerentes à sua profissão, que determina o papel que ele desempenhar na relação ensino
aprendizagem.
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Sob a perspectiva institucional percebemos que está criada a incompetência dos papéis
da escola como instituição e, conseqüentemente, do professor como sujeito desta e, da
incompetência dos alunos. Ambos, professor e alunos não parecem responder aos anseios e
expectativas quanto a seus papéis.
Concluindo, do ponto de vista moral, a indisciplina e a relação professor-aluno são
indissociáveis posto que é na relação pessoal que nos desenvolvemos moralmente.
Dependendo da forma como se desenvolve essa relação, podemos obter
comportamentos desejados através de ações de cooperação, solidariedade, reflexões sobre
situações conflitantes para a formação do conceito de justiça. Portanto, está clara a existência
de ligações entre a indisciplina e as relações interpessoais, conseqüentemente, da relação
professor-aluno.
A escola tem um papel fundamental na indisciplina de seus alunos, com a relação
professor e aluno, mas hoje a escola exclui, marginaliza, não acredita no potencial do seu
aluno e não cumpre o seu papel. Fica claro para nós que a escola não pode ser
responsabilizada por tudo, mas que tem sim um papel importante neste fenômeno.
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REFERÊNCIAS
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práticas. São Paulo: Summus, 1998.
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piagetiano. In: AQUINO, J. R. G., (Org.) Indisciplina na escola: alternativas teóricas e
práticas. São Paulo: Summus, 1998.
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violência. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.
DE LA TAILLE, Escola Yves. A educação moral: Kant e Piaget. In: MACEDO, Lino de.
Cinco estudos de Educação Moral. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.
GUIMARÃES, M. Indisciplina e violência: ambigüidade dos conflitos na escola. In:
AQUINO, Julio R. G. (Org.). Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. São
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PIAGET, Jean. O juízo moral na criança. Trad. Elzon Lenardon. 2 ed. São Paulo: Summus,
1998.