tcc jones thiago finalizado 25 10 2012

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Jones Hudson Martins de Souza Thiago Afonso Godinho Azevedo CINEMA EM PARINTINS: UM DOCUMENTÁRIO SOBRE AS PRODUÇÕES DE CURTA- METRAGEM DE UM E QUATRO MINUTOS BANCA EXAMINADORA: Professora Msc. Graciene Siqueira (Presidente) Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia (ICSEZ) – Curso Comunicação Social Professora Msc. Karliane Macedo Nunes (Membro) Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia (ICSEZ) – Curso Comunicação Social Professora Msc.Iury Carlos Bueno (Membro) Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia (ICSEZ) – Curso Comunicação Social

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Produção de cinema da APINCINE

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Jones Hudson Martins de Souza

Thiago Afonso Godinho Azevedo

CINEMA EM PARINTINS:UM DOCUMENTÁRIO SOBRE AS PRODUÇÕES DE CURTA-

METRAGEM DE UM E QUATRO MINUTOS

BANCA EXAMINADORA:

Professora Msc. Graciene Siqueira (Presidente)Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia (ICSEZ) – Curso Comunicação Social

Professora Msc. Karliane Macedo Nunes (Membro)Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia (ICSEZ) – Curso Comunicação Social

Professora Msc.Iury Carlos Bueno (Membro)Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia (ICSEZ) – Curso Comunicação Social

PARINTINS - AM 2012

1

DEDICATÓRIA

Dedico esta conquista a minha mãe Ivaldete Martins, mulher de fibra que me concedeu a vida

e sempre me conduziu no caminho do amor e da justiça.

À meus irmãos Joelvis Martins e Ilçara Martins , pelo apoio e força em todos os momentos de

minha vida.

À meu pai João Júlio, por ter sempre me mostrado os dois lados da vida e ter me dado

discernimento para saber o caminho certo a trilhar meus sonhos.

E à meu grande irmão de trabalho Clemilton Santarém, por compreender minhas ausências no

trabalho por conta dos meus estudos.

Jones Hudson

2

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha genitora Maria do Carmo Ferreira Godinho, mulher que me

guiou pelo caminho da hombridade e do respeito.

À minha filha Maria Laura dos Santos Godinho, ainda pequena peça deste mundo, mas que

preencheu o meu coração com alegria e esperança.

À meus avós paternos Luis Coelho e Dulcira, e maternos Joel e Guiomar Godinho.

E à minha família, irmãos e amigos que foram presença constante nas horas de alegria e

tristeza.

Thiago Godinho

3

AGRADECIMENTOS

Antes de qualquer coisa, agradeço a Deus todo poderoso que sem Ele nada disso seria

possível. Aos colegas de curso que nos acompanharam ao longo dessa viagem pelo mundo

das noticias nesses últimos quatro anos de muito estudo e descobertas. Aos professores que

dedicaram seus esforços para nos repassar conhecimento não só acadêmico, mas também de

vida. Em especial aos professores Profº. Msc Audirene Cordeiro, Profº. Dr Heriberto Catalão,

Profº. Msc Karliane Nunes, Profº. Msc Iury Bueno, Profº. Msc Lucas Milhomens pela atenção

dispensada a minha formação acadêmica. Em particular a Profº. Msc Graciene Siqueira pelas

horas de orientação e por estar sempre solidaria com nossas dificuldades e progressos ao

longo deste projeto. Ao meu amigo de TCC Thiago Godinho pela paciência e atenção ao

longo desse trabalho e durante o período que passamos na universidade. Aos amigos da

Parintins Vídeo na pessoa do companheiro Emanoel Cardoso pelo empenho de nos ajudar a

concretizar este produto. E principalmente a meus familiares que sempre estiveram juntos de

mim nessa caminhada, em particular a minha genitora Ivaldete Martins pelos seus conselhos e

palavras de incentivo nos momentos difíceis dessa caminhada.

Jones Hudson

4

AGRADECIMENTOS

A Deus pela presença em todas os momentos. A meu pai Oris Batista de Azevedo, minha mãe

Maria do Carmo e meus seis irmãos Joelson Godinho, Regiane Godinho, Bernadeth Godinho,

Dulcimara Godinho, Oris Azevedo Jr. e Jhonathan Godinho por acreditarem que este sonho se

tornaria realidade. A Noelma Cidade dos Santos por me dar a felicidade chamada Maria

Laura, nossa filha. Aos meus colegas de faculdade que foram fieis guerreiros nessa batalha

dentro da universidade, em especial ao meu grande amigo e colega de TCC Jones Hudson,

Gai Amorin, Helen Bruce, Renata Larañaga, Evelyn Pessoa, Adana Lopes, Bryza Freire,

Rayanne Rocha, Sinei Leal, Suzan Monteverde, Ádria Barbosa, Regina Célia, Elenilson

Ramos e Mailson Costa pelas horas de diversão e estudo. Ao amigo Emanoel Cardoso, pelo

esforço em nos ajudar a concluir este produto. A todos que se dispuseram a nos ajudar na

construção desse documentário, agradeço de coração. E a todos os professores que me

agraciaram em compartilhar seus conhecimentos, da primeira professora que me ensinou a ler

e escrever até a orientadora deste trabalho Graciene Siqueira, que não mediu esforços em nos

oferecer orientação neste trabalho. Sem esquecer de todos os professores que deram início a

essa vitória, em especial: Profª. Msc. Audirene Cordeiro, Profº. Msc. Geraldo Magela, Profº.

Msc. Iury Bueno, Profª. Msc. Karliane Nunes, Profº. Msc. Alberto, Profª. Msc. Mônica Secco,

Profº. Msc. Adelson Fernando, Profª. Deise Rocha, Profº. Msc. Renan Albuquerque, Profª.

Msc. Soriany Neves, Profº. Dr. Rafael Bellan, Profº. Msc. Lucas Milhomens e ao atual diretor

do ICSEZ, Profº. Dr. Antonio Heriberto Catalão Jr.

Thiago Godinho

5

EPÍGRAFE

"Só os loucos sobrevivem. Somos vítimas de nossas próprias escolhas"

Arthur Schopenhauer

6

RESUMO

O estudo proposto teve como objetivo a produção de um vídeo-documentário sobre a

produção de filmes de um e quatro minutos em Parintins. Trata-se de um recorte do cinema

produzido em Parintins e busca contribuir para a preservação e registro dessa arte, sem a

pretensão de esgotar o assunto. Na realização do trabalho construiu-se primeiramente um

referencial teórico sobre a produção cinematográfica em Manaus e Parintins e sobre o filme

documentário. Em seguida, apresentamos a metodologia utilizada na realização do

documentário, como seleção de entrevistados, a construção do discurso narrativo do vídeo,

filmagens e edição. A seguir, procedemos à descrição do produto, refletindo sobre o processo

de construção do mesmo.

Palavras-chave: Cinema. Cinema em Parintins. Documentário.

7

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: Realizadores e produções.....................................................................12

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................................12

CAPÍTULO I

REFERENCIAL TEORICO

1.1 Cinema em Manaus............................................................................................141.2 Cinema em Parintins...........................................................................................221.3 Documentário: conceitos....................................................................................281.4 O surgimento do Cinema Documental...............................................................321.5 Os Tipos de Documentários...............................................................................331.6 Os documentários Clássicos e Contemporâneos................................................33

CAPÍTULO II

PERCURSO METODOLÓGICO

2.1 1 O Formato........................................................................................................382.2 Pesquisa Bibliográfica........................................................................................402.3 Procedimento de Coleta......................................................................................41

CAPÍTULO III

ETAPAS DA PRODUÇÃO

3.1 Pré-produção.......................................................................................................573.2 Produção.............................................................................................................583.3 Pós-produção......................................................................................................613.4 Estrutura do documentário..................................................................................633.5 Resultados Obtidos.............................................................................................65

APÊNDICE................................................................................................................71

CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................71

REFERÊNCIAS........................................................................................................74

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INTRODUÇÃO

Nos últimos anos Parintins tem se destacado no cenário regional com a produção de

filmes de um e quatro minutos, impulsionado principalmente pelas novas tecnologias, no caso

o vídeo digital, que permitiu o barateamento na produção de filmes. Soma-se a isso,

iniciativas pontuais como a realização de oficinas em Parintins com objetivo de capacitar

tecnicamente aqueles que queriam fazer filmes e a criação de festivais de um e quatro minutos

em Manaus, que reúne até hoje filmes de várias cidades do interior do Estado.

Porém, até então, o registro dessa produção cinematográfica no município se

encontrava disperso, ainda que exista uma entidade representativa dos realizadores, no caso a

Associação Parintinense de Cinema (Apincine) e pessoas que produzam com frequência há

pelo menos oito anos. Esse cenário foi o que impulsionou a proposta do vídeo-documentário

“Cinema em Parintins: um documentário sobre as produções de curta- metragem de um

e quatro minutos”, que tem como objetivo resgatar e registrar em vídeo a história da

produção em cinema em Parintins. Pretende-se ainda com o documentário refletir sobre as

dificuldades dos cineastas locais na produção de curtas e discutir sobre as perspectivas para o

cinema parintinense.

Ressaltamos que este documentário é apenas um recorte do que é o cinema

produzido no município, mas que se constitui como o primeiro trabalho no campo audiovisual

a abordar a história das produções de filmes de curta metragem em Parintins.

Para melhor compreensão do processo de criação do documentário, o relatório se

apresenta dividido em três capítulos: o primeiro consiste numa reflexão teórica sobre o

cinema em Parintins, resgatando um pouco da história do cinema em Manaus e como a capital

foi importante em impulsionar a produção na ilha Tupinambarana e a conceituação sobre o

que é documentário e sua tipificação.

No segundo capítulo, apresentamos a metodologia utilizada na construção do

documentário, justificando a escolha do formato e os procedimentos para a realização do

mesmo.

Por fim, no terceiro capítulo, fazemos uma descrição do produto, identificando cada

uma das etapas que foram importantes para a concretização da ideia.

Esperamos, assim, que este trabalho, fruto de uma pesquisa acadêmica, sirva como

objeto de consulta, tanto na universidade quanto na sociedade em geral, para os que desejam

conhecer sobre a produção de filmes de um e quatro minutos em Parintins.

10

CAPÍTULO I

REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 Cinema em Manaus

Os primeiros filmes realizados no Amazonas são de 1907 e consistiam no registro de

eventos religiosos, sociais, de pontos turísticos, entre outros. Depois, ainda na década de 1910

e início de 1920, a produção de filmes terá como objetivo apresentar o Amazonas e suas

potencialidades, servindo como cartão postal do Estado. É nesse cenário que surge o cineasta

Silvino Santos, fotógrafo português que se apaixona pelo rio Amazonas, e será contratado

para realizar documentários sobre o Amazonas pela primeira produtora de cinema no

Amazonas, a Amazônia Cine-Film.

Posteriormente, com o fechamento da produtora, Silvino será contratado por um dos

mais importantes empresários da borracha no Amazonas, Joaquim Gonçalves de Araújo,

conhecido como J.G. Araújo. Sua primeira tarefa para o empresário será a realização do filme

“Paiz das Amazonas”, especialmente para ser exibido durante as comemorações do

Centenário da Independência no Rio de Janeiro, em 1922. No total, Silvino produziu “nove

longa-metragens, 57 documentários e uma série de 26 filmes cujo tema é o cotidiano da

família Araújo” (LOBO; SELDA, 1987 apud SIQUEIRA, 2011).

Ao deixar de realizar filmes, Silvino tornou-se o cinegrafista da família de J.G.

Araújo e o cinema amazonense viveu um período sem produções. É na década de 1960, com a

criação do Grupo de Estudos Cinematográficos (GEC) que Manaus retoma suas produções.

Do GEC surgem os primeiros pesquisadores sobre o cinema amazonense, Narciso Lobo e

Selda da Costa, e uma nova safra de realizadores. Mas os altos custos de produção (os filmes

eram feitos em sua maioria em película) limitou a produção, com alguns cineastas

experimentando suportes como o Super8 e o vídeo analógico.

É a partir do ano de 2000 que o Amazonas vivencia sua melhor fase na produção de

filmes, impulsionado pelo surgimento de câmeras digitais, o que barateou todo o processo de

realização cinematográfica. Uma figura importante nesse cenário será o cineasta Junior

Rodrigues que cria projeto com intuito de oportunizar a produção cinematográfica a jovens.

Ele vai realizar oficinas durante as quais os participantes têm a experiência de produzir um

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filme, desde a escrita do roteiro, passando pela filmagem e edição, com equipamentos cedidos

pelo próprio Júnior.

A partir de 2001, Júnior Rodrigues expande as oficinas, até então realizadas em

Manaus, para o interior. O primeiro município a receber a oficina é o município de Barcelos,

no alto Amazonas, seguido de cidades como Coari, no médio Amazonas, e Maués, no baixo

Amazonas, até chegar, em 2004, a Parintins, distante 365 quilômetros de Manaus.

1.2 Cinema em Parintins

A breve história do cinema em Parintins a seguir foi construída a partir da narrativa

dos entrevistados para este documentário uma vez que, como destacamos anteriormente, não

havia até então um registro formal da produção cinematográfica em Parintins.

No município, Júnior Rodrigues se depara com um grupo de artistas que na época

trabalhava nos bois Garantido e Caprichoso, além de pessoas ligadas ao Centro de Estudos

Superiores de Parintins (Cesp/UEA) com os quais planeja o andamento do projeto de difusão

do cinema no interior.

A partir das oficinas realizadas, algumas dessas pessoas, como Ray Santos, Concy

Rodrigues, Armando Queiroz, Kelly Sobral, Doug Henrique, entre outros, vão iniciar um

ciclo de produção de filmes de um e quatro minutos que se estende até hoje. Durante pesquisa

para este trabalho, foi consenso entre os realizadores que o primeiro curta produzido em

Parintins é “O lamento” de Ray Santos, em 2004, de apenas um minuto. Em 1992, Ray

Santos, em parceria do amigo Reginaldo Santos, havia tentando produzir um filme, “Boto, a

lenda”, mas por dificuldades financeiras e o desgaste nas gravações o filme acabou não sendo

concluído.

A criação dos festivais de Um e Quatro minutos – a partir de 2002 para abarcar as

produções surgidas nas oficinas de cinema – também vai impulsionar o cinema nas cidades do

interior, entre elas Parintins, com produções dessas localidades concorrendo e, em alguns

anos, ganhando prêmios de melhor filme nos festivais Um Minuto e Curta 4 (para filmes de

quatro minutos).

Júnior Rodrigues retorna a Parintins para realizar novas oficinas em 2006, ano que

vai marcar um aumento de produções de filmes em Parintins, como “Vítimas carentes”, de

Doug Henrique, “Moeda nacional”, de Armando Queiroz, “A doutora”, de Harald Dinelli, e

“Pânico no vilarejo”, de Concy Rodrigues (sendo que ela não participou da oficina).

Outro fator importante para a solidificação do cinema no município é a criação da

Associação Parintinense de Cinema (Apincine) em 23 de novembro de 2007, com cerca de 60

12

associados. Dentre os objetivos da entidade está à promoção e execução de atividades e

eventos cinematográficos audiovisuais e teatrais e o aperfeiçoamento dos associados, através

de intercâmbios, cursos, debates, mostras e festivais de cinema.

O primeiro festival de cinema em Parintins ocorreu ano passado, em 23 de julho de

2011, o I Parintins Cine Fest. O evento reuniu, pela primeira vez, realizadores de cinema do

município. Antes, porém, seguindo modelo estabelecido por Júnior Rodrigues, foram

promovidas oficinas de produção de roteiro e atuação, com o empréstimo de equipamentos,

para incentivar e possibilitar que a comunidade em geral pudesse produzir seus filmes.

Além dos cineastas oriundos das oficinas realizadas por Júnior Rodrigues e de outros

ligados a movimentos artísticos no município, o Parintins Cine Fest agregou ainda filmes

produzidos na Ufam, em 2011, na disciplina Produção Cinematográfica: “Rai Vai”, “Sonhos

de Curumim” e “Alegoria da Preguiça”, que foi o primeiro filme do interior do estado a ser

selecionado para o Amazonas Film Festival, evento cinematográfico internacional realizado

anualmente em Manaus. Na edição de 2012, são dois filmes de alunos do curso de

Comunicação Social da Ufam, que representam Parintins no festival.

Percebe-se assim uma diversidade na produção em cinema em Parintins, agora

também incentivada pela Ufam, e que está ligada às atividades de ensino, pesquisa e extensão.

Porém, lembrando que o objetivo deste trabalho é resgatar a história da produção de filmes de

um e quatro minutos a partir dos primeiros realizadores, optamos por registrar a contribuição

da Ufam apenas no relatório.

1.3 Documentário: conceitos

Da-Rin (2006) explica que o documentário é um campo aberto e amarrá-lo a um

determinado conjunto de palavras ou ações não é oportuno. Haverá sempre novos filmes, com

novas ferramentas e ideias que fugirão dessas amarras. Ainda assim, “[...] Para alguns, é o

filme que aborda a realidade. Para outros, é o que lida com a verdade [...]” (p. 15), dentre

outras tentativas de definição.

Para Ramos (2008), “[...] documentário é uma narrativa com imagens-câmera que

estabelece asserções sobre o mundo, na medida em que haja um espectador que receba essa

narrativa como asserção sobre o mundo” (RAMOS, 2008, p.22). Ou seja, o documentário é

uma afirmação (asserção) da realidade do mundo e atua como “espelho” da realidade que se

propõe a representar, dando voz a personagens do mundo real, e se assim for entendido pelos

que compõe essa sociedade, essa forma de narrativa (documental) passa a existir como

representação da realidade.

13

Nichols (2005) diz que uma definição para o que é documentário é sempre relativa

ou comparativa, já que “[...] os documentários não adotam um conjunto fixo de técnicas, não

tratam de apenas um conjunto de questões, não apresentam um conjunto de formas ou estilos”

(NICHOLS, 2005, p.48). Para o autor, o documentário define-se pelo contraste com filme de

ficção ou filme experimental e de vanguarda.

1.4 O surgimento do Cinema Documental

O cinema surgiu no século XIX com a invenção dos irmãos Lumière, o

cinematógrafo1. À época, eles não imaginavam que a exibição de imagens em movimento,

designado como impressão de realidade, poderia se tornar o que entendemos na atualidade por

cinema. O cinema nesta época era visto como um mundo de fantasias que surgia na tela, já

que as imagens pareciam sair e vir em direção aos espectadores.

A representação da realidade através da narrativa ficcional aos poucos “[...] foi se

construindo e é provavelmente aos cineastas americanos que se deve a maior contribuição

para a formação desta linguagem cujas bases foram lançadas até mais ou menos 1915”

(BERNADET, 1985, p. 32).

O cinema documental, como argumenta Nichols (2005), não surgiu com um

inventor, nem como uma invenção, algo que tenha sido pensado para suprir uma necessidade.

A história do documentário não tem um começo propriamente especificado como o cinema de

ficção. É a partir de filmes já produzidos que se buscou obter um tracejado histórico dessa

narrativa a qual se denomina como documentário. Nichols coloca alguns pontos na história do

cinema que ele considera como fundamentais para o princípio dessa construção da história do

documentário, mas não os coloca como únicos ou irrefutáveis.

Os primeiros seriam os filmes produzidos por Louis Lumière: “A sensação

subjacente de fidelidade nos filmes de Louis Lumière, feitos no fim do século XIX (...),

parece estar a apenas um pequeno passo do documentário propriamente dito” (NICHOLS,

2005, p. 117). Nichols, ao dizer isto, referia-se ao estilo de como Lumière posicionava a

câmera e utilizava de cenários existentes no real, de maneira tão fidedigna que pareciam

espelhar a vida cotidiana. Características que seriam primordiais para a formatação de um dos

primeiros estilos de documentário que teve como principal influente o pesquisador inglês

John Grierson.

1 ? Equipamento do fim do séc. XIX, que constava de fotografia e de projeção, capaz de colher em rápida sequência uma

quantidade de imagens produzindo a sensação de movimento das cenas.

14

A Grierson, Nichols destina outra fundamental parcela para a construção de uma

história sobre o cinema documental. No final da década de 1920, John Grierson construiu uma

base institucional sólida, apoiado por outros cineastas que compartilhavam de suas idéias, e

“[...] impulsionou o patrocínio governamental da produção de documentários na Inglaterra

dos anos 30” (NICHOLS, 2005, p. 119). A partir de então, afirma Nichols, é que essa forma

de representação da realidade que é o documentário passou a trilhar um caminho solo, e,

juntamente com as vanguardas da época, se iniciava um período de experimentação poética,

além de outras características como o desenvolvimento da voz narrativa e uma oratória que

falava do mundo histórico, e que são atributos do documentário clássico que discutiremos

mais à frente.

Para Nichols, essas experiências permitiram que a história do documentário pudesse

ter um caminho. Visto que “[...] a continuação dessa tradição de experimentação foi o que

permitiu que o documentário permanecesse como um gênero ativo e vigoroso” (NICHOLS,

2005, p. 117).

1.5 Os tipos de documentário

Alguns autores se debruçaram na tarefa de tipificar documentário. Vamos abordar

aqui como Nichols (2005) os classificou, por estabelecer uma abordagem mais sistemática e

compreensiva. Ramos (2008) também fez esse trabalho de tipificar o documentário e utiliza

uma linguagem técnica voltada ao posicionamento do sujeito-da-câmera na tomada. Todavia,

a escolha por Nichols se dá pela abordagem histórica aplicada de uma forma mais

esclarecedora que Ramos.

Nichols (2005) elencou os tipos de documentário baseado na observação de

características recorrentes em documentários já produzidos e, na forma que todo

documentário tem uma “voz” distinta. Assim “no vídeo e no filme documentário, podemos

identificar seis modos de representação que funcionam como subgêneros do gênero

documentário propriamente dito: poético, expositivo, participativo, observativo, reflexivo e

performático” (NICHOLS, p. 135). Ele os apresenta numa ordem cronológica na forma de

uma imperfeita historia do documentário: “Até certo ponto, cada modo de representação

documental surge, em parte, da crescente insatisfação dos cineastas com um modo prévio.

Assim, os modos realmente transmitem uma certa sensação de história do documentário”

(Ibid., p. 136).

O modo poético (anos 1920) é o qual se utiliza o mundo histórico como matéria

prima para dar “[...] integridade formal e estética peculiar ao filme”. (NICHOLS: 2005, 141).

15

Em volta do modernismo da época, era uma forma de mostrar o mundo da maneira como é

visto pelo cineasta, numa configuração onde todos os objetos em cena fazem parte do filme

em igualdade de valores, assim o essencial do filme era mais a estética da linguagem do que

propriamente algum (ns) personagem (ns), por conseguinte possui o elemento retórico pouco

desenvolvido.

No modo expositivo (anos 1920), a perspectiva do filme é dada pelo comentário

feito em voz ‘off’ e as imagens limitam-se a confirmar a argumentação narrada. Neste modo o

cineasta expunha o conteúdo do filme praticamente sem deixar o espectador tirar suas

próprias conclusões, já que o uso da “voz de Deus” e as imagens como comprovação do que

se enuncia praticamente traziam as conclusões do propositor.

O modo participativo (anos 60) é onde o cineasta ‘se coloca’ dentro do

documentário, e seu ponto de vista fica mais evidente. O tema a ser tratado pelo filme é

pesquisado profundamente e o cineasta interage diretamente com as personagens e com o

ambiente do documentário. Nichols explicita: “O documentário participativo dá-nos a idéia do

que é, para o cineasta, estar numa determinada situação e como aquela situação

consequentemente se altera” (Ibid.,p. 153). A entrevista proporciona “(...) uma das formas

mais comuns de encontro entre cineasta e tema” (Ibid., p. 159), e é um dos principais pontos

desse modo.

No modo observativo (anos 1960), o cineasta busca captar os acontecimentos sem

interferir no seu processo, possibilitando que o público tire as sua próprias conclusões,

limando algumas das principais características dos modos anteriores: “Todas as formas de

controle que um cineasta poético ou expositivo poderia exercer na encenação, no arranjo ou

na composição de uma cena foram sacrificadas à observação espontânea da experiência

vivida” (Ibid., p. 146). Essa naturalidade nas filmagens e na montagem do filme rendeu traços

marcantes como ausência de “(...) comentário com voz-over, sem música ou efeitos sonoros

complementares, sem legendas, sem reconstituições históricas, sem situações repetidas para a

câmera e até sem entrevistas” (Ibid., p. 147).

O modo reflexivo (anos 1980) propõe um questionamento acerca das

responsabilidades e consequências da produção do documentário para cineastas, atores sociais

e o público. De forma diferente do modo participativo, este tipo de documentário busca

aproximar cineasta e espectador “(...) falando não só do mundo histórico como também dos

problemas e questões da representação” (Ibid, p. 162). É onde o elemento retórico encontra-se

mais desenvolvido permitindo ao espectador refletir a cerca da construção da estética do filme

e do tema em questão: “(...) o documentário reflexivo estimula no espectador uma forma mais

16

elevada de consciência a respeito de sua relação com o documentário e aquilo que ele

representa” (Ibid., p. 166).

O modo performático (anos 1980) argumenta Nichols, “(...) sublinha a

complexidade de nosso conhecimento do mundo ao enfatizar suas dimensões subjetivas e

afetivas” (Ibid, p. 169). Esse tipo de documentário estimula a sensibilidade do espectador

“(...) por intermédio da carga afetiva aplicada ao filme e que o cineasta procura tornar nossa”

(Ibid., p. 171).

Cada tipo de documentário apontado por Nichols possui suas especificidades, “elas

dão estrutura ao todo do filme, mas não ditam ou determinam todos os aspectos de sua

organização. Resta uma considerável margem de liberdade” (Ibid., p. 136).

1.6 O documentário clássico e o contemporâneo

Dois momentos foram importantes para o surgimento do filme documentário como

representação social: primeiro o documentário clássico proposto por John Grierson, na década

de 1930 e 1940; e o segundo por ocasião do surgimento de novos equipamentos de filmagens,

a partir de 1950, com o documentário novo.

Principal difusor do documentário clássico, Grierson acreditava que se não houvesse

atores nativos ou cenários naturais não se tinha um documentário: “nós acreditamos que o ator

original (ou nativo), e a cena original (ou natural) são os melhores guias para uma

interpretação cinematográfica do mundo moderno” (Da-Rin apud Grierson [first principles of

documentary, em Hardy, 1946:79]). Esses traços citados por Grierson, Nichols classificou

como documentário expositivo. E dentre os principais aspectos do modo expositivo está o uso

de voz over e imagens que ilustram ou contrapõem o que é enunciado.

No começo da década de 1950, de acordo com Ramos (2008), Grierson e suas ideias

de documentário clássico perderam espaço para um novo tipo de documentário qualificado

como documentário direto/verdade. “No primeiro momento do cinema direto, acredita-se

numa posição ética centrada no recuo do cineasta em seu corpo-a-corpo com o mundo” (p.

269). O principio do documentário novo se encaixa no conceito que Nichols chamou de modo

observativo. Ou seja, tratava-se de não interferir e evitar o uso de comentários, músicas ou

entrevistas.

Mais tarde, na década de 1960, o francês Jean Rouch traz para o primeiro plano a

entrevista e o depoimento no documentário “crônica de um verão” (1960/61). A partir deste

momento, afirma Ramos (2008), cria-se um novo estilo de abordagem para os documentários:

“Ao documentário com estilo participativo no embate com o mundo na tomada, utilizando

17

entrevistas e com ação direta do cineasta, deu-se o nome de “cinema verdade” (p. 270). O

modo participativo, como já explicitado por Nichols, abarca um estilo mais ativo do cineasta

dentro do filme, onde este participa mais profundamente do contexto histórico da produção,

colocando-se em contato direto com as personagens e o ambiente.

Estes pontos na história do documentário foram fundamentais para a concepção do

entender que o documentário é um campo que não se esgota em um conceito qualitativo

(RAMOS, 2008), e que dessa forma, os novos cineastas poderiam agregar novas concepções

como o cinema direto/verdade. Assim, coloca Ramos, “(...) o documentário contemporâneo

possui uma linha evolutiva que permite enxergar a totalidade de uma tradição” (p. 21), mas

que sofreu desvios durante esse percurso.

Percebemos assim uma diversidade de modelos documentais propostos

especialmente quanto à reflexão que se pretende com o objeto de estudo. Por outro lado,

compreendemos que os elementos básicos do documentário, como a narração em off,

entrevistas, uso de imagens de arquivo (fotos e vídeos) vão estar presentes em sua maioria no

filme documental, sendo que a ausência de um ou mais elementos não compromete o

documentário como registro.

Quanto às definições de documentários clássico e moderno percebe-se que elementos

de um está presente no outro o que nos leva à conclusão que não é possível criar um modelo

único de documentário, mas sim estarmos cientes de que há uma variedade de componentes

que devem ser usados de acordo com a proposta do documentário.

A seguir, apresentamos o percurso na elaboração do documentário e que levou em

consideração as reflexões sobre cinema em Parintins e sobre o que é documentário feitas

anteriormente.

18

CAPÍTULO II

PERCURSO METODOLÓGICO

2.1 O Formato

Optamos pelo formato documentário por entendermos que o mesmo proporciona

uma abordagem diferenciada do tema e agrega diversos elementos que possibilitam uma

construção mais detalhada do mundo que queremos mostrar através do audiovisual (RAMOS,

2008), em comparação à reportagem, por exemplo.

A reportagem é uma narrativa que enuncia asserções sobre o mundo, mas que,

diferentemente do documentário, é veiculada dentro de um programa televisivo que

chamamos telejornal, como explicita Ramos (2008). Assim, o documentário nos possibilita

um espaço mais denso para a expressão da composição autoral e a utilização de recursos que

consideramos importantes, como a liberdade de expor nosso ponto de vista

independentemente de visões ideológicas ou normas de um veículo de comunicação.

Destacamos ainda que não nos preocupamos em classificar o documentário como

sendo para TV ou cinema, pois entendemos que o formato proposto atende aos dois meios,

podendo o produto ser veiculado em uma TV aberta, cabendo a essa a divisão por blocos para

inserção de comercial, como também em festivais de cinema, na categoria documentário.

2.2 Pesquisa bibliográfica

Na primeira etapa de construção do documentário fizemos a pesquisa bibliográfica

sobre o tema, onde foi necessário realizar um levantamento de conteúdo sobre cinema em

Manaus e cinema documentário. Lakatos e Marconi (2008) afirmam que a pesquisa

bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública em

relação ao tema de estudo, e tem por finalidade possibilitar que o pesquisador possa estar em

contato com tudo que já foi falado, escrito ou filmado sobre o que esta sendo pesquisado.

Para tratarmos da produção de filmes de um e quatro minutos em Parintins

utilizamos de pesquisa de campo, de entrevistas e de leitura de pesquisas sobre a produção de

filmes em Manaus, pois assim como Parintins, Manaus ainda está construindo o registro de

sua produção cinematográfica contemporânea. No aprofundamento do que é documentário,

dois autores foram centrais: Fernão Pessoa Ramos (2008) e Bill Nichols ( 2005).

19

2.3 Procedimento de coleta

O passo seguinte foi realizar a pesquisa de campo a fim de identificarmos o cenário

cinematográfico de Parintins, com informações sobre quando iniciaram as produções de

curtas no município e como se encontram atualmente. Neste ponto, coletamos os dados

especialmente junto aos realizadores de cinema na cidade e junto à Associação Parintinense

de Cinema (Apincine). Na pré-entrevista foram ouvidas 10 pessoas, mas ao final, foram

selecionados seis pessoas.

Utilizamos como critério para a escolha dos entrevistados para o documentário a

regularidade na produção, participação no início das produções em 2004, participação direta

junto à Associação Parintinense de Cinema (Apincine), e que foram destaques nos festivais de

um e quatro minutos em Manaus. Portanto, trabalhamos com estes seis realizadores por

entender que representam a parte do universo de cineasta que melhor correspondeu ao nosso

objetivo.

QUADRO 1: Realizadores e produçõesCineasta Total de filmes produzidos Filmes citados por eles no documentário

Ray Santos 3 (três) “O Lamento” (2004) 1’

Concy Rodrigues 7 (sete) “Pânico no vilarejo” (2006) 4’

Doug Henrique 6 (seis) “O Ultimo sem terra” (2007) 4’, “Pesadelo

da Paixão” (2009) 4’ e “O capitalista

preguiçoso” (2009) 1’

Armando Queiroz 5 (cinco) “Moeda nacional” (2006) 4’ e “Coração de

anjo” (2008) 4’

Harald Dinelli 2 (dois) “A doutora” (2006) 1’ e “Ciclo mortal”

(2007)

*Kelly Sobral 6 (seis) “Não tem como escapar” (2007) 1’

Fonte: Pesquisa feita para o TCC *Não cita nenhum de seus filmes no documentário, mas vale o registro de sua primeira produção.

Feita a pré-entrevista, o próximo passo foi elaborar um questionário com perguntas

que evidenciassem o ponto de vista de cada um dos personagens sobre a produção de curtas

em Parintins.

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CAPÍTULO III

DESCRIÇÃO DO PRODUTO

3.1 Pré-produção

A etapa consistiu na pesquisa de campo para seleção dos entrevistados, coleta de

imagens de apoio de filmes dos realizadores selecionados e até mesmo para reconstituição da

história do cinema em Parintins, uma vez que os dados, como destacado anteriormente,

encontravam-se dispersos. Nessa fase, buscamos a Associação Parintinense de Cinema

(Apincine) que serviu como guia na identificação dos realizadores e o contato com os

mesmos. Antes, porém, da gravação final, tivemos uma conversa informal com dez cineastas,

fechando o grupo com seis pessoas. Essa conversa inicial serviu ainda para elaboração das

perguntas que norteariam o discurso narrativo do documentário.

Ainda nessa fase iniciamos a elaboração do relatório na construção do referencial

teórico e metodologia. No entanto, os tópicos sobre cinema em Parintins e a descrição do

produto só foram possíveis com o término das entrevistas, pois, precisamos recolher as

informações sobre cinema em Parintins da fala dos cineastas.

3.2 Produção

Nessa etapa foram feitas as entrevistas com os seis realizadores já selecionados com

o objetivo de saber como iniciaram sua trajetória na produção de filmes em Parintins, bem

como as vantagens e as dificuldades enfrentadas na realização dos mesmos e o que pensam

sobre o futuro dessa arte no município.

Logo após, preparamos a abordagem estrutural do produto. Sendo assim, escolhemos

estruturá-lo em forma de narrativas que se alternam com as vozes das personagens sem a

interferência de narrador ou voz em off e, não obedecemos a uma linearidade nas aparições

dos personagens, elas foram inseridas de acordo com o discurso estruturado para a condução

do documentário.

Com o conteúdo de pesquisa em mãos, o passo seguinte foi à captação do material

audiovisual de cada personagem. Procuramos fazer as entrevistas em um local onde o

entrevistado ficasse em perfeita harmonia com o ambiente. Assim, a residência, o local de

trabalho ou locação do filme dos cineastas serviram de cenário para a entrevista.

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A captação de áudio e imagens do documentário foi feito com uma câmera CANON

T3I, que filma em Full-HD. Cada entrevista durou entre 40 e 50 minutos, aproximadamente,

totalizando um material bruto de imagens entorno de cinco horas.

3.3 Pós-Produção

A terceira etapa do processo de produção consistiu no levantamento e organização de

todo material gravado e selecionado na produção para serem decupados na linha de montagem

do projeto e no processo de finalização (videografismo e inserção de trilha de fundo). Esse

processo durou um mês e resultou em um documentário de 26 minutos, ultrapassando o tempo

que havíamos proposto que seria entre 15 e 20 minutos.

Utilizamos como material de apoio, trechos de filmes produzidos pelos entrevistados,

imagens do primeiro festival de cinema de Parintins (Cine Fest), das oficinas de produção de

roteiro e atuação realizadas pela Apincine e dos filmes produzidos no evento e imagens do

making of do filme Uayná (2009) do cineasta Junior Rodrigues, para ilustrarmos as falas a

respeito destes eventos inseridos no documentário. Lembrando que como se trata de um

documentário de resgate histórico, mas de formato audiovisual, priorizamos imagens de

arquivo em vídeo.

Em se tratando de imagens de apoio, um problema enfrentado foi à ausência de um

filme produzido por Harald Dinelli, que o mesmo cita na entrevista. Durante a fala dos

cineastas inserimos imagens de apoio de seus filmes, mas no caso dele percebeu-se que não

há uma cópia do curta “Ciclo Mortal” (2007) e acabamos por utilizar de fotografia da peça

teatral de Concy Rodrigues que inspirou a produção.

3.4 Estrutura do documentário

Optamos por uma divisão do documentário em tópicos, da mesma forma como

ocorreu durante as entrevistas quando foram feitas perguntas relacionadas a esses temas.

Abaixo destacamos cada um dos tópicos e as informações que buscamos abordar:

- Cena de abertura e apresentação do tema

O documentário Cinema em Parintins inicia com a apresentação de um making of de

uma cena idealizada pelos cineastas entrevistados nesse trabalho. Na cena são apresentados

alguns elementos que fazem parte do mundo cinematográfico. A gravação da cena foi

realizada na Praça da Catedral de Parintins, um dos símbolos da cidade.

Em seguida há uma transição que será utilizada em todas as passagens de um tópico

para outro no decorrer do documentário, a exceção do tópico sobre o cineasta Junior

22

Rodrigues, onde é apresentado por imagens de apoio. Trata-se de um trabalho de

videografismo na forma de película onde passam trechos de algumas produções dos cineastas

entrevistados, além de conter as informações sobre o tema do documentário e o tópico a ser

abordado em cada passagem de tema.

- Os cineastas

Nesse bloco os entrevistados são apresentados, contam como foi o seu primeiro

contato com o cinema, o interesse na arte de produção cinematográfica, o que eles faziam

antes de produzirem filmes.

- Júnior Rodrigues

O segundo bloco apresenta o cineasta Júnior Rodrigues, principal incentivador da

produção de filmes de um e quatro minutos no interior do estado do Amazonas. As imagens

foram extraídas do making of do filme “Uayná” (2009), de Júnior Rodrigues. Na seqüência

alguns dos entrevistados falam da importância do cineasta no desenvolvimento do cinema de

curtas metragens em Parintins.

- Produções

Nessa etapa os entrevistados falam de algumas de suas produções. Enquanto cada um

comenta um pouco o filme, trechos de sua obra aparecem na tela. Ao final de cada

depoimento um recorte do filme é exibido na integra. Ressaltamos que as imagens dos filmes

foram gravadas em fitas mini-dv e as entrevistas do documentário estão em Full-HD (alta

qualidade), portanto não foi possível dispor os filmes em toda a extensão da tela, pois

teríamos uma perda de qualidade já que as imagens de mini-dv são inferiores das capitadas

no formato Full-HD.

- Dificuldades

No quarto tópico são abordados pelos cineastas os empecilhos na produção de

cinema local. Eles comentam que a falta de apoio tanto de iniciativas públicas como privadas

influenciam na pouca quantidade e qualidade das produções de filmes no município.

-Vantagens

Nesse ponto, os cineastas parintinenses falam das vantagens de se produzir numa

região que dispõe de diversas locações naturais reunidas em um só lugar, destacando as

23

especificidades da Amazônia. Eles comentam ainda a importância do reconhecimento artístico

de seus filmes pelos parintinenses.

- Apincine

A ex-presidente da Apincine Concy Rodrigues e o atual presidente Harald Dinelly

falam de quando a entidade foi fundada e dos seus objetivos para o desenvolvimento do

cinema no município. O presidente comenta ainda de como a Apincine vem trabalhando para

conseguir recursos para realizar projetos para trabalhar com seus associados e sobre a

importância da associação.

- Cine Fest

Este tópico é sobre o primeiro festival de cinema de Parintins, o Cine Fest, que

ocorreu no dia 23 de julho de 2011. As imagens de apoio utilizadas são das oficinas de

atuação e produção de roteiros, realizadas nas semanas anteriores ao festival, bem como da

abertura da festa, das premiações e alguns dos filmes produzidos pelas oficinas.

- Perspectivas

Nesse ponto, os cineastas falam de seus projetos e aspirações para o futuro do

cinema em Parintins e manifestam o desejo de transformar as produções locais em referência

de cultura fílmica no cenário estadual e até mesmo em âmbito nacional. Enfatizam que o

mundo não conhece a Amazônia pela ótica de quem é da Amazônia e que isso precisa ser

apresentado pelo cinema produzido aqui em Parintins, por pessoas genuinamente da terra.

- Cena final e créditos

O documentário encerra com a sequência das cenas exibidas no início do vídeo, o ato

de produção de uma cena de um curta em frente à igreja da Catedral.

3.5 Resultados obtidos

No projeto de pesquisa traçamos como objetivo mostrar o cinema produzido em

Parintins, o que acreditamos ter alcançado. Algumas das propostas pensadas para o trabalho

se consolidaram e outras foram se modificando ao longo da realização do documentário,

como é comum nesse processo de construção.

Como primeiro objetivo específico, propomos fazer um levantamento das produções

de curta metragem até 2011 dos filmes produzidos em Parintins, o que, durante a pré-

24

produção optamos por rever uma vez que demandaria um trabalho mais extenso do que

previsto inicialmente. Concentramos assim a fala dos entrevistados sobre o processo de

produção de cinema e não nas produções em si.

O segundo objetivo específico foi discutir as dificuldades na realização de filmes de

curta metragem em Parintins, e este foi obtido através das entrevistas tanto dos personagem

utilizados no documentário, como daqueles que contribuíram para a realização dos filmes,

como Júnior Rodrigues. Neste ponto percebemos que a ausência de cursos que aconteçam

regularmente voltados ao ensino da produção cinematográfica foi uma das principais citações

dos realizadores a respeito da qualidade técnica das produções, assim como a falta de

equipamentos de captação e edição de imagens e de recursos financeiros para produção. Por

outro lado, também identificamos as vantagens de se produzir em Parintins. O que os

cineastas mais destacaram foi o cenário natural da cidade.

No terceiro objetivo específico, o de identificar o papel da Apincine no incentivo à

produção cinematográfica, concluímos que a associação vem conseguindo cumprir alguns dos

principais objetivos que são promover e executar atividades e eventos cinematográficos

audiovisuais, como foi o I Parintins Cine Fest, e organizar oficinas e palestras com o tema

produção audiovisual. No entanto, a associação necessita de recursos financeiros e incentivos

por parte do governo municipal, que, na opinião dos próprios cineastas, pouco ajudou nesses

oito anos de produção de curtas na cidade.

Uma meta para o documentário era a entrevista com o cineasta Júnior Rodrigues, que

mora em Manaus. Mantivemos contato com ele e nos deslocamos para a capital para a

entrevista, porém, por problemas técnicos com a câmera, as imagens não puderam ser

utilizadas. Ao final, a saída que encontramos para ressaltar o papel de Júnior Rodrigues no

cinema parintinense foi satisfatória, uma vez que os personagens principais do documentário

são os próprios cineastas locais.

Por fim, apesar das dificuldades apontadas pelos realizadores, a maioria acredita que

este quadro de “abandono” da produção, especialmente por falta de incentivo do segmento

cultural, possa mudar. Um exemplo é o próprio contexto da produção atual, onde surgem

novos centros de produção como a própria universidade, a exemplo deste documentário e de

outros mais realizados no âmbito acadêmico.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o processo de realização do documentário, passando pela elaboração do

projeto de pesquisa, finalização do produto e redação do relatório final, compreendemos e nos

envolvemos com a realidade enfrentada pelos produtores de cinema em Parintins. As

dificuldades por eles apontadas provocaram uma reflexão sobre o fato de que, com incentivos

financeiros e estímulos por meio de projetos e cursos, o cinema parintinense poderia ter

alcançado maior expressividade na produção de filmes nestes oito anos.

Muito é falado da Amazônia, de suas riquezas e de suas belezas naturais e Parintins

está inserida neste contexto, principalmente, pela maior manifestação de cultura a céu aberto

que ocorre uma vez por ano, o Festival Folclórico. No entanto, outras manifestações culturais

ficam à margem, como as quadrilhas juninas, as Pastorinhas, as Festas de Santos, entre outras.

Assim como aprendemos mais sobre o universo cinematográfico que nos rodeia, ao mesmo

tempo compreendemos que a cultura de um município não se fecha em círculo, onde apenas

uma manifestação representa a cultura de uma cidade.

Esperamos com este trabalho, que a sociedade parintinense e especialmente os

órgãos responsáveis pela difusão cultural no município percebam o cinema como expressão

cultural e criem políticas para que isso se concretize. Enquanto para alguns entrevistados o

cinema em Parintins é algo distante, outros acreditam e mostram por meio da produção de

filmes, mesmo em condições desfavoráveis, que é possível fazer cinema no interior.

Percebemos isso pelo alcance dos filmes produzidos em Parintins, que nos últimos anos têm

encontrado espaço em festivais na capital.

É nosso objetivo ainda, que os produtos resultantes deste trabalho (relatório e

documentário), sejam os primeiros passos de uma grande jornada de registro da história do

cinema no município de Parintins e possam servir de fonte para novas pesquisas sobre o tema.

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APÊNDICE

Questionário de perguntas aplicado aos entrevistados.

Começo

1. O que fazia antes da sua primeira produção de curta metragem?

2. Como foi a transição do teatro para o cinema? (Pra quem fez essa transição)

3. O que o motivou a migrar para o cinema?

4. Qual o seu primeiro produto curta-metragem?

5. Quantas e quais as suas produções?

6. Você já foi premiado (a) em festivais ou afins pelo reconhecimento do seu trabalho?

7. Fale sobre a influência e a importância do cineasta Junior Rodrigues.

Dificuldades e vantagens

8. Na sua opinião, o que falta para que o município tenha uma produção regular?

9. Quais as dificuldades de se produzir em Parintins?

10. E as vantagens?

11. Quais os temas mais recorrentes em seus filmes?

12. Você tem formação na área cinematográfica ou fez algum curso na área de

audiovisual?

13. Já recebeu apoio financeiro de alguma entidade (pública ou privada) na realização de

seus filmes? Se não, como bancou as produções?

14. Qual o custo de cada uma das suas produções (se ele disser que não recebeu apoio)?

15. Com que equipamentos realiza seus filmes? (próprios, emprestados, alugados etc...).

Apincine

16. Quando foi fundada e com que objetivos?

17. A Apincine tem cumprido os seus objetivos ?

18. O que você acha que a Apincine poderia fazer para estimular a produção

cinematográfica em Parintins?

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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COSTA, Selda do Vale da; LOBO, Narciso Júlio Freire. No rastro de Silvino Santos. Manaus: SCA/Edições Governo do Estado, 1987.

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GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1994.

JULLIER, Laurent; MARIE, Michel. Lendo as imagens do cinema. São Paulo: Editora Senac, 2009.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia cientifica. 6. Ed. São Paulo: Atlas, 2008.

NICHOLS, Bill. Introdução ao Documentário. Trad. Mônica Saddy Martins. Campinas, SP:Papirus, 2005.

PUCCINI, Sergio. Roteiro de documentário: Da pré - produção à pós-produção. Campinas, SP: Papirus, 2009 (Coleção Campo Imagético)

RAMOS, Fernão Pessoa. Mas afinal... o que é mesmo documentário? São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2008.

SIQUEIRA, Graciene Silva de. Vídeo digital: uma alternativa à produção cinematográfica em Manaus (AM) / Dissertação de mestrado, UFAM, 2011.

DA-RIN, Silvio. Espelho Partido. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2006.