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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE CINCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE SERVIO SOCIAL
ALINE CRISTINA CARDOSO FRAGA
A INTERSETORIALIDADE NA POLTICA NACIONAL
DE ASSISTNCIA SOCIAL:
Uma problematizao a partir da realidade do municpio de
Cristinpolis/SE
SO CRISTVO - SE 2009
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ALINE CRISTINA CARDOSO FRAGA
A INTERSETORIALIDADE NA POLTICA NACIONAL
DE ASSISTNCIA SOCIAL:
Uma problematizao a partir da realidade do municpio de
Cristinpolis/SE
Monografia de concluso de curso apresentada ao Departamento de Servio Social da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial para obteno do grau de bacharel em Servio Social, sob a orientao da Prof. Dr. Josiane Soares Santos.
SO CRISTVO - SE 2009
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FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
F811i
Fraga, Aline Cristina Cardoso A intersetorialidade na poltica nacional de assistncia social: uma problematizao a partir da realidade do municpio de Cristinpolis/SE. / Aline Cristina Cardoso Fraga. So Cristvo, 2009.
Monografia (Bacharelado em Servio Social) Departamento de Servio Social, Centro de Cincias Sociais e Aplicadas, Universidade Federal de Sergipe, 2009.
Orientador: Prof Dr Josiane Soares Santos.
1. Assistncia social. 2. Polticas sociais. 3. Polticas setoriais. 4. Cristinpolis-SE. I. Ttulo.
CDU 364.3
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE CINCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE SERVIO SOCIAL
A INTERSETORIALIDADE NA POLTICA NACIONAL
DE ASSISTNCIA SOCIAL:
Uma problematizao a partir da realidade do municpio de
Cristinpolis/SE
Monografia apresentada ao Departamento de Servio Social da Universidade Federal de por Aline Cristina Cardoso Fraga como um dos pr-requisitos obteno do grau de bacharel em Servio Social.
Aprovada em 04 de Fevereiro de 2009
Banca Examinadora
SO CRISTVO - SE 2009
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Vejo a intersetorialidade no s como um campo de aprendizagem dos agentes institucionais, mas tambm como um caminho ou processo estruturador da construo de novas respostas, novas demandas para cada uma das polticas pblicas
(SPOSATI, 2006, p. 140)
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Dedico este trabalho a minha
me Argentina e minha irm Amanda, que sempre estiveram do meu lado em todas as horas. Amo muito vocs!
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AGRADECIMENTOS
Quero agradecer a todas as pessoas que fizeram parte da minha vida durante esses anos. Primeiramente agradeo a meu bom Deus, por tudo o que tenho e que sou, por ter me iluminado e guiado durante esses anos de luta. Logo em seguida, a toda minha famlia que sempre esteve do meu lado, apoiando, rezando, me fortalecendo! E meu namorado pelo incentivo e dedicao. Amo muito vocs todos!
Obrigada tambm aos meus amigos de hoje e de sempre pela companhia, carinho!
No poderia deixar de falar dos estgios por onde passei que contriburam muito para minha formao profissional e pessoal. Em especial a Secretaria de Estado de Incluso, Assistncia e Desenvolvimento Social de Sergipe (SEIDES), pelo apoio em todas as horas. Agradeo muito a todos os colegas do departamento de Assistncia Social DAS/SEIDES.
Por fim, agradeo a toda comunidade acadmica, professores, colegas de sala e de universidade!
Obrigada a todos!!!!
Quero, tudo quero, sem medo entregar meus projetos Deixar-me guiar nos caminhos que Deus desejou pra mim e ali estar
Vou perseguir tudo aquilo que Deus j escolheu pra mim...
Trecho da cano Tudo posso Pe. Fbio de Mello
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RESUMO
Historicamente, a interveno pblica na rea social brasileira tem se caracterizado por forte fragmentao e segmentao, com paralelismo e sobreposies de aes, desperdcio de recursos e baixa efetividade das polticas sociais. Recentemente, diversas iniciativas governamentais tm enfatizado a necessidade de articulao intersetorial como estratgia de superao desse legado histrico. A assistncia social deve fundamentalmente inserir-se na articulao intersetorial com outras polticas sociais, na busca de sua materializao. Este trabalho tem por objetivo central investigar os impasses que impossibilitam o trabalho intersetorial na poltica de Assistncia Social no municpio de Cristinpolis/SE. Para tanto essa pesquisa fundamentou-se no mtodo dialtico e caracterizou-se como estudo exploratrio, mais precisamente um estudo de caso com abordagem qualitativa. Como instrumento de coleta de dados, utilizamos o formulrio e a entrevista semi-estruturada. A populao desta pesquisa foi constituda por 03 gestores das polticas setoriais (assistncia social, sade, educao) e 600 tcnicos das mesmas, do municpio. Utilizamos uma amostra probabilstica no intencional de 5% do universo (10 tcnicos de cada poltica). PALAVRAS-CHAVE: Assistncia Social, polticas sociais, fragmentao, trabalho intersetorial.
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ABSTRACT
Historically, the public intervention in the Brazilian social area has been characterizing for strong fragmentation and segmentation, with parallelism and overlaps of actions waste of resources and it lowers effectiveness of the social politics. Recently, several government initiatives have been emphasizing the need of intersectorial articulation as strategy of overcoming of that historical legacy. The social attendance owes fundamentally to interfere in the intersectorial articulation with other social politics, in the search of your materialization. This work has for central objective to investigate the impasses that disable the intersectorial work in the politics of Social Attendance in the municipal district of Cristinpolis/SE. For this, research was based in the method dialectic and it was characterized as exploratory study, more precisely a case study with qualitative approach. As instrument of collection of data, we used the form and the semi-structured interview. The population of this research was constituted by 03 managers of the sectorial politics (social attendance, health, education) and 600 technicians of the same ones, of the municipal district. We used a sample probabilistic non intentional of 5% of the universe (10 technicians of each politics). WORD-KEY: Social assistance, social politics, fragmentation, intersectorial work.
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LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Conhecimento dos tcnicos das 3 reas sobre os programas da assistncia social ...................................................................................................................... 46
Grfico 2 Conhecimento dos tcnicos das 3 reas sobre os programas da sade...... 47
Grfico 3 Conhecimento dos tcnicos das 3 reas sobre os programas da educao 48
Grfico 4 Conhecimento dos tcnicos da assistncia social sobre seus programas ... 49
Grfico 5 Tempo de trabalho .................................................................................. 50
Grfico 6 Escolha da rea de trabalho ..................................................................... 50
Grfico 7 Afinidade com a rea de trabalho ............................................................ 51
Grfico 8 Condicionalidades dos programas da assistncia social ........................... 51
Grfico 9 Conhecimento sobre o CRAS ................................................................. 52
Grfico 10 Encaminhamentos................................................................................. 53
Grfico 11 Freqncia dos encaminhamentos ......................................................... 53
Grfico 12 Contatos ps encaminhamentos ............................................................ 54
Grfico 13 Finalidade dos contatos ......................................................................... 55
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BAJ Bolsa Agente Jovem
BPC Benefcio de Prestao Continuada
CF Constituio Federal
CNAS Conselho Nacional de Assistncia Social
CRAS Centro de Referncia de Assistncia Social
EJA Educao de Jovens e Adultos
LOAS Lei Orgnica da Assistncia Social
MDS Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome
NOB Norma Operacional Bsica
PAIF Programa de Ateno Integral a Famlia
PBF Piso Bsico Fixo
PBT Piso Bsico de Transio
PBV Piso Bsico Varivel
PSF Programa Sade da Famlia
PNAS Poltica Nacional de Assistncia Social
PETI Programa de Erradicao do Trabalho Infantil
SUAS Sistema nico de Assistncia Social
SUS Sistema nico de Sade
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SUMRIO
INTRODUO ..................................................................................................... 13 CAPTULO I ASSISTNCIA SOCIAL NO BRASIL E A POLTICA NACIONAL DE ASSISTNCIA SOCIAL ........................................................................................ 19 1.1 - A nova Assistncia Social ............................................................................... 20 1.2 - A Poltica de Assistncia Social no municpio de Cristinpolis/SE: breve contextualizao ..................................................................................................... 29 CAPTULO II A INTERSETORIALIDADE E SUA INFLUNCIA NA MATERIALIZAO DA PNAS EM CRISTINPOLIS/SE ............................................................................ 32 2.1 A PNAS e a Intersetorialidade ........................................................................ 33 2.2 Descentralizao e Intersetorialidade .............................................................. 36 2.3 A noo de Intersetorialidade ......................................................................... 38 2.4 O grau de conhecimento mtuo entre as polticas ........................................... 44 CAPTULO III OS IMPASSES PARA A EXISTNCIA DA INTERSETORIALIDADE EM CRISTINPOLIS/SE ............................................................................................. 56 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................ 62 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................. 64 APNDICE ........................................................................................................... 68
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1. INTRODUO
A anlise e a discusso sobre a intersetorialidade dentro da Poltica de
Assistncia Social, frente aos desafios da sociedade contempornea, advm da
preocupao em saber o que vem sendo feito para que o trabalho articulado seja
efetivado, na busca da materializao dessa poltica.
Este trabalho foi motivado por uma experincia de estgio vivida no Alto Serto
Sergipano1, com os tcnicos das reas de assistncia social, agrria e com a populao
local. A escolha do tema est intrinsecamente ligada experincia do estgio curricular
obrigatrio do qual participei. A partir dele, pude perceber o quanto grande a
desinformao no que diz respeito aos direitos sociais, por parte da populao e at
mesmo dos gestores e tcnicos das diversas polticas. Isso dificulta a organizao e
implementao do Sistema nico de Assistncia Social (SUAS) neste territrio, fato
que pode ser pensado tambm a partir de outras regies/municpios brasileiros a
exemplo de Cristinpolis/SE.
A Assistncia Social passa por profundas mudanas no Brasil
Est em marcha implantao do SUAS, planejado e executado pelos governos
federal, estaduais, municipais e do Distrito Federal, em estreita parceria com a
sociedade civil. Ele fruto de quase duas dcadas de debates e coloca em prtica os
preceitos da Constituio de 1988. O SUAS integra uma poltica pactuada
nacionalmente, que prev uma organizao participativa e descentralizada da assistncia
social, com aes voltadas para o fortalecimento da famlia.
No Brasil a Seguridade Social, instituda com a Constituio Federal de 1988
formada pelo trip da previdncia, sade e assistncia social. Polticas de grande
centralidade nos sistemas de proteo social contemporneos (YAZBEK, 2001, p.42).
Atrelada compreenso de seguridade social est universalidade da cobertura de
riscos e vulnerabilidade sociais e a garantia a todos os cidados de um conjunto de
condies de vida dignas (YAZBEK, 2001). 1 De acordo com o Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria - INCRA, os municpios que compem o Alto Serto Sergipano so: Canind do So Francisco, Gararu, Monte Alegre de Sergipe, Poo Redondo, Porto da Folha, Nossa Senhora da Glria, Nossa Senhora de Lourdes.
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Includa no mbito da Seguridade Social e regulamentada pela Lei Orgnica de
Assistncia Social (LOAS) em dezembro de 1993, como poltica social pblica, a
assistncia social tem por objetivo defender os interesses e necessidades dos segmentos
mais empobrecidos da sociedade se expressando como instrumento de combate a
pobreza, a discriminao e defesa do respeito dignidade do cidado.
Tem como centralidade a famlia e como usurios crianas, adolescentes, jovens,
idosos, portadores de deficincia em situao de vulnerabilidade, bem como populao
de rua, desempregados, trabalhadores em atividades informais ou precrias.
Assim, assume uma marca que a diferencia das prticas de filantropia e
beneficncia pautadas pelo dever moral e da ajuda que historicamente marcaram sua
trajetria na sociedade brasileira iniciando seu trnsito para o campo dos direitos, da
universalizao dos acessos e da responsabilidade estatal (YAZBEK, 2004).
O status de direito social atribudo assistncia lhe confere, assim a obrigatoriedade governamental na implementao, amparo legal para sua reclamao pelo cidado, responsabilidade poltica dos representantes pblicos na sua consolidao e ampliao, e possibilidade do usurio reconhecer-se como cidado portador de direitos (BOSCHETTI, 2000, p.140).
A assistncia social no Brasil e no estado de Sergipe, enfrenta um quadro de
pobreza e de excluso social como resultantes da questo social que assola a vida de um
nmero cada vez maior de brasileiros.
O modelo de concentrao de renda e desigualdade social no Brasil vem sendo
reproduzido na realidade social de Sergipe. Como parte do Nordeste, regio afetada
pelo processo desigual de desenvolvimento do pas, apresenta indicadores de pobreza e
excluso social mais grave que os do contexto nacional, refletindo as disparidades
socioeconmicas regionais (GONALVES, 2003).
O reconhecimento dessas caractersticas e a necessidade de sua superao tm
ocupado lugar de destaque na agenda governamental nos ltimos anos. Associado a um
conjunto de princpios e diretrizes que vem marcando o processo recente de reformas
das polticas sociais dentre as quais merecem meno a descentralizao, a
participao social e a implantao de novas modalidades de gesto. O tema da
intersetorialidade tem marcado o discurso governamental recente.
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A intersetorialidade uma exigncia fundamental, legitimada na LOAS/1993,
nos princpios do SUAS e no artigo 204, inciso I, da Constituio Federal que
particulariza a articulao e integrao com as demais polticas sociais e econmicas,
resguardando o seu campo de especificidade como poltica pblica de seguridade social.
O artigo 2, pargrafo nico da LOAS diz que a assistncia social realiza-se de
forma integrada s polticas setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, garantia
dos mnimos sociais, ao provimento de condies para atender contingncias sociais e a
universalizao dos direitos, viabilizando os servios e otimizando os recursos. A Assistncia Social, enquanto poltica pblica que compe o trip da Seguridade Social, e considerando as caractersticas da populao atendida por ela, deve fundamentalmente inserir-se na articulao intersetorial com outras polticas sociais, particularmente, as pblicas de Sade, Educao, Cultura, Esporte, Emprego, Habitao, entre outras, para que as aes no sejam fragmentadas e se mantenha o acesso e a qualidade dos servios para todas as famlias e indivduos (PNAS, 2004, p. 42).
Diante das consideraes acima, levantaram-se os seguintes questionamentos: na
operacionalizao da poltica de assistncia social, existe de fato essa articulao com as
diversas polticas setoriais? Quais as aes dos gestores e tcnicos na rea, no sentido de
buscar a Intersetorialidade? Que tipo de conseqncias ou impactos a ausncia da
intersetorialidade provoca na materializao da PNAS? A tais questes, o presente
estudo pretendeu responder.
Tomando como base o quadro supracitado tivemos como hipteses que a falta de
aes articuladas entre as vrias polticas, dificulta a efetivao da poltica de
assistncia social; que a desinformao por parte dos agentes das diversas polticas
setoriais, sobre os projetos e programas da PNAS um dos motivos que tende a
dificultar a materializao da mesma na perspectiva da intersetorialidade, como tambm
o desconhecimento dos agentes da poltica de assistncia social sobre os programas das
demais polticas.
A insero da Assistncia Social na Seguridade Social aponta para seu carter de
poltica de proteo social2 articulada a outras polticas do campo social, voltadas
2 Proteo Social Conjunto de aes, cuidados, atenes, benefcios e auxlios ofertados pelo SUAS, para reduo e preveno do impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ciclo de vida, dignidade humana e famlia como ncleo bsico de sustentao efetiva, biologia e relacional (BRASIL, NOB, 2005, p. 16).
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garantia de direitos e de condies dignas de vida. Assim, a importncia de se estudar
essa temtica se expressa pela busca da efetivao da poltica de Assistncia Social.
A produo de conhecimentos sobre esse tema pretendeu explicitar a
necessidade de uma maior articulao entre as polticas setoriais, podendo assim,
qualificar e viabilizar a prestao de servios socioassistenciais aos usurios,
contribuindo com a organizao e implementao do Sistema nico de Assistncia
Social (SUAS).
Um outro ponto que justifica a temtica aqui estudada, diz respeito a busca da
universalizao dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatrio da ao assistencial
alcanvel pelas demais polticas pblicas, otimizando os recursos e o tempo necessrio
para a efetivao da poltica.
Assim, para um melhor esclarecimento dos objetivos planejados fez-se
necessrio definir um objetivo geral, que uma meta mais ampla: Investigar os
impasses que impossibilitam o trabalho intersetorial na poltica de Assistncia Social no
municpio de Cristinpolis/SE.
J nos especficos, buscamos avaliar em que medida a falta de articulao entre
as polticas setoriais dificulta a materializao da PNAS; identificar o grau de
conhecimento sobre os programas de assistncia social por parte dos agentes das
polticas de sade e educao; identificar o grau de conhecimento dos agentes da
poltica de assistncia social sobre os diversos programas e projetos das polticas de
educao e sade; pesquisar o quadro de impasses poltico-intitucionais que determinam
a natureza do problema investigado.
Para tanto, esta pesquisa fundamentou-se no mtodo dialtico, visto que parte
dos fenmenos aparentes e, atravs de um processo de abstrao, apreende as mediaes
dos complexos que compem a realidade, em sua dinmica, tendo em vista desvendar o
real a partir de suas contradies e determinaes, chegando-se a sua essncia, com o
qu tem-se o real pensado (GIL, 1999).
Este mtodo no se confunde com tcnicas ou regras intelectuais como
costumam ser definidas em algumas correntes. Ele estabelece uma relao entre sujeito
e objeto que permite e exige a captura do objeto enquanto totalidade (TONET, 1995,
p.51). O conhecimento no absoluto, mas possvel apreender as mltiplas
determinaes dos processos sociais historicamente situados, atravs dos quais o ser
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social se objetiva. Para Behring a investigao marxista caracteriza-se, por no se
deixar enganar por aspectos e semelhanas superficiais presentes nos fatos procurando
chegar essncia do fenmeno (2007, p.39).
A categorizao foi feita a posteriori, visto que categorias so formas de ser
(MARX apud LUKCS, 1979) e s puderam ser identificadas a partir da realidade
vivida.
Essa pesquisa caracteriza-se como um estudo exploratrio: [...] tipo realizado
especialmente quando o tema escolhido pouco explorado e torna-se difcil sobre ele
formular hipteses precisas e operacionalizveis (GIL, 1999, p. 43), por isso busca-se
uma aproximao maior com o objeto de investigao.
Tratou-se mais precisamente, de um estudo de caso com abordagem qualitativa.
Para o mesmo autor, O estudo de caso um estudo emprico que investiga um fenmeno atual dentro do seu contexto de realidade, quando as fronteiras entre o fenmeno e o contexto no so claramente definidas e no qual so utilizadas vrias fontes de evidncia (2006, p. 54).
A populao desta pesquisa foi constituda por 03 gestores das polticas setoriais
(assistncia social, sade, educao) e 600 tcnicos das mesmas, do municpio de
Cristinpolis/SE. Utilizamos uma amostra probabilstica no intencional de 5% do
universo (10 tcnicos de cada poltica), o que justificado pelo pouco tempo disponvel
para a pesquisa de campo. Para os gestores no utilizamos amostra por se tratar de um
universo pequeno.
Como instrumento de pesquisa para a coleta de dados utilizamos o formulrio,
[...] que uma das mais prticas e eficientes tcnicas de coleta de dados. Por ser
aplicvel aos mais diversos segmentos da populao e por possibilitar a obteno de
dados facilmente tabulveis e quantificveis (GIL, 2006, p. 115). Estes foram
aplicados junto aos tcnicos das polticas envolvidas no estudo. Com os gestores foram
realizadas entrevistas semi-estruturadas, guiadas por um roteiro elaborado a partir do
objetivo da pesquisa.
Outro instrumento utilizado para obteno de dados foi a pesquisa documental
por meio da qual acessamos leis, decretos, resolues sobre a Poltica Nacional de
Assistncia Social, bem como a pesquisa bibliogrfica sobre o tema. De acordo com
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Gil, tais tipos de pesquisa so semelhantes no obstante suas diferenas. Para o autor, A pesquisa bibliogrfica se utiliza fundamentalmente das contribuies dos diversos autores sobre determinado assunto e [...] a pesquisa documental vale-se de materiais que no receberam ainda tratamento analtico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa (2006, p. 45).
Com o intuito de uma melhor sistematizao do contedo a ser apresentado e,
conseqentemente, para entendimento e clareza necessrios do trabalho cientfico, o
mesmo foi estruturado em trs captulos, alm da introduo e consideraes finais.
O captulo I Assistncia Social no Brasil e a Poltica Nacional de Assistncia
Social (PNAS) - traz um panorama da Assistncia Social na contemporaneidade, sua
trajetria e avanos com a Constituio Federal de 1988, o seu reconhecimento
enquanto direito e poltica social pblica. Em seguida, trata da aprovao do Sistema
nico da Assistncia Social (SUAS).
O captulo II A intersetorialidade e sua influncia na materializao da PNAS
em Cristinpolis/SE - trabalha especificamente a questo da intersetorialidade e a
necessidade do trabalho intersetorial dentro da poltica de assistncia social, para a
concretizao de seus objetivos. A complexidade da realidade social exige a articulao
e produo de saberes e experincias, buscando superar a histrica fragmentao das
polticas sociais para alcanar a concretizao de direitos.
O captulo III Os impasses para a existncia da intersetorialidade em
Cristinpolis/SE traz o quadro de impasses identificados atravs da pesquisa de
campo com os gestores e tcnicos das polticas de assistncia social, sade e educao
do referido municpio.
Por fim, nas consideraes finais, foram enfatizados os principais resultados da
pesquisa a partir de uma retomada a respeito da validao ou no das hipteses
levantadas no projeto.
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CAPTULO I
ASSISTNCIA SOCIAL NO BRASIL E A POLTICA NACIONAL DE ASSISTNCIA SOCIAL PNAS
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1.1 A nova Assistncia Social
As polticas sociais brasileiras vm passando por uma nova adequao desde o
momento em que foi promulgada a Constituio Federal em 1988. Este marco trouxe
transformaes significativas para a nossa sociedade, e, principalmente para a
Assistncia Social foi inserida no elenco dos direitos sociais constitutivos da cidadania,
sendo considerada uma das polticas sociais pblicas que integram o Sistema de
Proteo Social do Brasil.
Essa poltica vem ocupando a agenda de preocupaes de profissionais, agentes
governamentais, parlamentares, pesquisadores, instituies e pessoas que esto de
alguma forma, envolvidos com as mais diversas expresses da questo social, e com os
possveis caminhos para o seu enfrentamento.
A nova compreenso da assistncia social como direito social no se deu
automaticamente. Herdamos um sistema de proteo social caracterizado por uma
enorme centralizao, na definio de prioridades e diretrizes; superposio de
programas, clientelas e servios; acentuadamente privatizado, lucrativo e ou
filantrpico; discriminatrio e injusto, por definir renda e insero no mercado de
trabalho como forma de acesso aos benefcios e servios prestados; com fontes instveis
de financiamento. Segundo Pereira (1996, p. 10): Tais distores e interpretaes no aconteceram por acaso e nem de forma gratuita. So fruto da reiterada presena de formas degeneradas de realizao de processos sociais, que passam a ser legitimadas e alimentadas por quem delas capiciosamente tira proveito.
Segundo Yazbek (2004), depois da Constituio Federal de 1988 a assistncia
social ganhou um novo formato. Ela foi inserida no campo da seguridade social e em
1993, a Lei Orgnica da Assistncia Social a regulamenta como poltica social pblica e
direito dos que dela necessitam. Esta poltica, que h muito tempo alvo de
preconceitos, constitui-se num campo em transformao, com diversas conquistas,
desafios e limites. Como aponta a mesma autora, um campo novo dos direitos, da
universalizao dos acessos e da responsabilidade estatal (2004, p. 13). A Assistncia Social, direito do cidado e dever do Estado, Poltica no contributiva, que prov os mnimos sociais, realizada atravs de um conjunto
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integrado de aes de iniciativa pblica e da sociedade, para garantir o atendimento s necessidades bsicas (LOAS, 1993, p. 7).
A partir da, uma nova concepo foi posta, a da universalidade no acesso aos
direitos. Mas essa nova concepo cheia de contradies, visto que preconiza
universalidade para os necessitados. Ou seja, como ela pode ser universal, se para os
que dela necessitam? A lgica da universalidade que prevalece como um dos eixos centrais do sistema de seguridade social brasileiro, presente na Constituio de 1988, tem sofrido retraes, no que concerne conjuntura da ltima dcada, tais como privatizao do aparelho pblico estatal, isenes fiscais e tributrias para grandes empresas privadas, flexibilizao nas relaes de trabalho, subemprego, busca desenfreada por uma acumulao cada vez maior de capital, viso individualista e o consumismo como nica forma de satisfao das necessidades (YAAKOUB, 2005, p. 73).
Para Sposati (2006, p. 136) o desejo da universalidade leva, no mais das vezes,
concepo de polticas duras, isto , concebidas sob um padro genrico inflexvel,
homogneo, centrado na igualdade para sustentar uma cobertura macia. Esse modelo
homogneo determina um padro bsico e igualitrio de ateno e evita a flexibilidade
das diferenas.
Um exemplo disso, que na rea da assistncia social, as verbas pblicas tm
destino certo para determinados programas como o Programa de Erradicao do
Trabalho Infantil (PETI). Mas essa uma questo complexa, pois muitos municpios
podem no ter demanda e, ao invs de formular polticas municipais de acordo com a
realidade local, acabam por implementar polticas nacionais que podem no atender a
estas necessidades. Num pas de frgil classe mdia, e alta desigualdade socioeconmica e cultural e poltica, o modelo de normalidade tende a ser um mecanismo seletivo de excluso. Os meios e procedimentos pensados e planejados a partir da normalidade no alcanam as situaes reais de vida (SPOSATI, 2006, p. 136).
Dessa forma, o princpio da heterogeneidade dentro das polticas sociais, pode
jogar as diferenas e os diferentes para as emergncias das benesses e do
assistencialismo.
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O modelo atual de Assistncia Social coloca em prtica o artigo 194 da Carta
Magna, que prev, atravs do Sistema de Seguridade Social, um conjunto integrado de
aes de iniciativa dos Poderes Pblicos e da sociedade, destinados a assegurar os
direitos relativos Sade, Previdncia e Assistncia Social.
Segundo Boschetti (2001, p. 36) O conceito de seguridade social traz em si a
noo heurstica de segurana social (no Brasil, o mais apropriado seria o termo
proteo social) que, para se efetivar deve assegurar direitos que no se restrinjam
lgica do seguro previdencirio.
A seguridade social tem sua origem na Europa (sculo XIX), decorrente das
transformaes sociais, polticas e econmicas em virtude da Revoluo Industrial. Est
estritamente ligada com a emergncia da questo social. Isto significa que, com o
surgimento do pauperismo e das lutas dos trabalhadores pela melhoria de suas
condies de trabalho, torna-se necessria a instituio de algum tipo de proteo social
para melhorar a situao de misria que vai surgindo com a formao do proletariado
urbano-industrial (MOTA 1995). Dessa forma, os sistemas de seguridade social esto
estritamente relacionados com a acumulao capitalista.
O conceito de seguridade, no Brasil, utilizado de uma forma mais restrita do
que aquele de Welfare State, que incorpora outras polticas sociais. A adoo daquele
conceito, entretanto, representou um grande avano, porque alm de instituir um direito,
imprimiu-lhe um estatuto de poltica social pblica, definindo fontes de financiamento e
modalidades de gesto. Note-se, por exemplo, que a sade ultrapassou os limites de um
servio, a previdncia foi ampliada para todos os trabalhadores e a assistncia mereceu
uma legislao prpria (MOTA, 1995).
V-se claramente que aqui no Brasil no existiu de fato um estado de bem-estar
social. Pois a nossa seguridade social apenas composta por trs polticas, deixando de
fora uma gama de outras polticas que deveriam estar presentes neste conjunto,
contribuindo para ampliao de medidas de proteo social. E para piorar a situao,
nos anos 1980, com a emergncia da ideologia neoliberal em nvel mundial ocorrem
inmeras transformaes no mundo do trabalho, caracterizando claramente uma grande
ofensiva do capital no sentido de restringir direitos sociais.
O sistema neoliberal prope a privatizao das polticas pblicas, permitindo a
expanso do mercado privado de seguros e servios sociais.
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Apesar de a seguridade social possuir uma perspectiva integradora das trs
polticas, cada uma delas seguiu caminhos diferentes, com suas prprias legislaes,
[...] institucionalizadas em ministrios diferentes, bem como tiveram suas receitas
estipuladas separadamente (VIANNA, 2002, p. 174). A permanncia de ministrios
setorializados e sem articulao entre si na definio de uma poltica de seguridade
social refora a fragmentao e independncia de cada poltica.
Segundo a autora supracitada, as conseqncias do projeto neoliberal como a
despolitizao do debate acerca da poltica social e a burocratizao da seguridade
social, como forma de criar empecilhos para o controle democrtico, afetaram
sistematicamente a seguridade social, dificultando a sua materializao.
como se as conquistas sociais advindas com a Constituio Federal de 1988,
no tivessem sado do papel. Como podemos ver na citao a seguir: As conquistas sociais de 1988 tornaram-se, acima de tudo, expectativas de direitos: a prpria Constituio colocada na berlinda, responsabilizada pelos excessos que estariam a turvar a racionalidade do Estado e a prolongar injustias inadmissveis. O sistema de Seguridade Social mergulha em grave crise, trs ou quatro anos depois de ter sido consagrado constitucionalmente (YAAKOUB apud NOGUEIRA 2001, p. 18).
O padro de crescimento prevalecente nos ltimos anos deixou-nos com
importantes segmentos excludos dos seus resultados, embora tenha construdo uma
sociedade urbano-industrial, moderna e complexa. Desenvolvimento econmico no
sinnimo de desenvolvimento social. No atual contexto de globalizao das economias
e dos mercados, e no decorrente processo de ajuste estrutural que vem experimentando
o Brasil, a tendncia presente o crescimento econmico vir acompanhado de um
decrscimo da capacidade de criao de novos empregos, e deteriorizao de sua
qualidade. Esse processo traz consigo uma crescente seletividade, seja da fora de
trabalho empregada, seja dos setores econmicos com capacidade de competitividade
no mercado externo.
A partir dessa conjuntura o Estado procura reduzir os direitos. Como podemos
observar no pensamento de Behring (2007, p. 156 & 162): As polticas sociais foram transformadas em aes pontuais e compensatrias direcionadas para os efeitos mais perversos da crise. [Dessa forma] Ao invs de poltica pblica, responsabilidade do Estado e direito universal do cidado
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assegurado no mbito da seguridade social, a assistncia social colocada no rol de polticas a serem desenvolvidas pelo setor pblico no-estatal.
Esse perfil tradicional de interveno estatal caracteriza-se pela descontinuidade
dos programas e polticas sociais, de cunho compensatrio das desigualdades sociais,
pela sua diversidade e superposio, pela instabilidade de suas fontes de receita, mas,
sobretudo, pelo fato de fazer com que os servios no alcancem a populao de forma
geral, dificultando a materializao da poltica. Para Netto: A funcionalidade essencial da poltica social do Estado burgus no capitalismo monopolista se expressa nos processos referentes preservao e ao controle da fora de trabalho [...] o peso destas polticas evidente, no sentido de assegurar as condies adequadas ao desenvolvimento monopolista. E no nvel estritamente poltico elas operam como um vigoroso suporte da ordem scio-poltica (2005, p. 31).
As polticas sociais foram fragmentadas e tambm segmentadas, perdendo de
vista sua potencialidade como sistema integrado de proteo social. A assistncia social
passa a ser seletiva e distributiva, a previdncia contributiva, ficando somente para a
sade o papel da universalidade. Dessa forma, o processo de universalizao tornou-se
contraditrio, na medida em que no atende a todas as pessoas que necessitam.
O principal desafio presente para que a assistncia social seja garantida a todas
as pessoas que dela necessitarem materializ-la enquanto poltica pblica,
compatibilizando desenvolvimento e crescimento econmico com democracia social.
Todavia, temos que reconhecer que, pela primeira vez na histria brasileira, o
Estado adota o direito de proteo social no s aos trabalhadores, mas tambm s
pessoas que no contriburam para a Previdncia Social; reconhece como portadores de
direitos os excludos do mercado de trabalho. Com isso, abriu-se a possibilidade, de
discutir a assistncia social como dever do Estado e direito de todos, tendo como
perspectiva torn-la visvel como poltica pblica.
Vale ressaltar que a proteo social entendida na Assistncia Social como as
formas institucionalizadas que as sociedades constituem para proteger parte ou
conjunto de seus membros. Tais sistemas decorrem de certas vicissitudes da vida natural
ou social, tais como velhice, a doena, o infortnio, as privaes (DI GIOVANI, 1998,
p.10).
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A Assistncia Social no campo da Seguridade Social significou uma conquista
histrica para esta rea. Para Boschetti (2001, p. 31) a poltica de assistncia social
enfrentou muitas resistncias para ser legalmente reconhecida como direito e continua
sofrendo enormes resistncias na sua implementao.
Passa de um perodo em que o foco de compreenso da assistncia social era
dado pela arte da manipulao e do engodo, para obteno de vantagens ou efeitos
desejados (PEREIRA, 1996), atravs da benemerncia, filantropia e assistencialismo;
para a condio de um direito social inscrito no mbito da seguridade social. Apresenta-
se, desse modo, uma ocasio privilegiada para superar a compreenso corrente de dever
moral de ajuda, e entend-la como dever legal de garantia de benefcios e servios
assistenciais.
Para o ministro do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, Patrus Ananias: Nossa dvida social muito grande e pesada e apenas comeamos a resgat-la enquanto os pases europeus esto com pelo menos um sculo de dianteira nessa misso. Para ter uma dimenso, entre 2003 e 2006, conseguimos fazer com que, no Brasil, cerca de 14 milhes de pessoas deixassem de viver na extrema pobreza. No passado, no investimos o suficiente para garantir uma poltica de incluso no Brasil. Isso nos levou a uma dvida elevada e por isso nossos primeiros resultados, ainda que significativos, parecem menores em comparaes com outros pases (2008, p. 02).
O nosso sistema de proteo social configura-se como um sistema amplo, mas
imperfeito, composto por inmeros programas e polticas setoriais opostos uns aos
outros, de baixa eficincia e eficcia, que acabam por reproduzir as desigualdades
sociais ao invs de ameniz-las. Dessa forma, o trabalho articulado s outras polticas
torna-se ainda mais difcil, o que faz com que, os projetos sejam desenvolvidos
isoladamente, de forma pontual, sem a perspectiva de emancipao do usurio. Como
aponta Carvalho (1999, p. 71), A cultura da tutela e do apadrinhamento, to enraizado no cenrio brasileiro, nada mais do que a ratificao da excluso ou da subordinao dos chamados beneficirios das polticas pblicas. Por mais que discursemos o direito, na prtica os servios das diversas polticas pblicas ainda se apresentam aos excludos e subordinados como favor das elites dominantes.
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Para Sposati (1999), a noo de proteo tem sido entendida, sob a influncia
liberal, como enfrentamento pessoal do risco e no como enfrentamento coletivo e
social. Essa noo exige que a sociedade d um salto de civilidade e entenda que,
quando estamos discutindo a questo da proteo social, estamos assumindo
coletivamente um conjunto de obrigaes que permitem assegurar que um dado padro
de qualidade de vida seja aferido em nossa sociedade a todos os cidados. Idia esta que
pode ser ratificada a seguir: A Assistncia como campo de efetivao de direitos (ou deveria ser) poltica estratgica, no contributiva, voltada para construo e provimento de mnimos sociais de incluso e para universalizao de direitos, rompendo com a tradio clientelista e assistencialista que historicamente permeia a rea onde sempre foi vista como secundria (YAZBEK, 2004, p. 15).
A dcada de 1990 considerada o marco da deflagrao do neoliberalismo no
pas. Desse modo o que se observou foram barreiras para a real objetivao da poltica
social visualizada a partir da reduo da interveno estatal na rea social,
responsabilizao do indivduo pela sua trajetria, exaltao da solidariedade,
crescimento acelerado de organismos no governamentais e do voluntariado.
Tivemos distintas experincias de descentralizao das polticas sociais, com
distintos graus de xito e ritmos setoriais. Dessa forma, embora continue prevalecendo a
restrio de recursos, para o financiamento das polticas sociais assiste-se a uma
multiplicidade de experincias na tentativa de resoluo dos impasses que marcaram a
atuao nessa rea. Uma das principais evidncias dessas experincias est nas
necessidades e demandas dos distintos setores sociais que exigem uma articulao entre
as polticas setoriais.
A Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS) foi aprovada pelo Conselho
Nacional de Assistncia Social (CNAS), em setembro de 2004 , e fruto de uma
construo coletiva resultante da extensa pauta de discusses nacionais nas reunies
descentralizadas e ampliadas do CNAS a cerca da referida poltica pblica. Foi
aprovada atravs da Resoluo n 145 (15/10/04 DOU de 28/10/04). A elaborao do
documento da PNAS teve a colaborao e participao da sociedade com contribuies
na construo do texto. O que a torna peculiar, pois antes disso, nunca tivemos essa
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participao social na rea. Com isso, a PNAS se constitui um importante instrumento
que d materialidade assistncia social enquanto poltica pblica inclusiva.
A aprovao da PNAS trouxe consigo a criao do Sistema nico de Assistncia
Social (SUAS). O marco oficial para a sua implantao foi em 14 julho 2005, quando o
Conselho Nacional de Assistncia Social (CNAS) aprovou a Norma Operacional Bsica
do SUAS (NOB/SUAS), estabelecendo um conjunto de regras que disciplinam a
operacionalizao dos servios e aes da Assistncia Social.
De acordo com a Norma Operacional Bsica (2005) o SUAS, cujo modelo de
gesto descentralizado e participativo, constitui-se na regulao e organizao em todo
o territrio nacional das aes socioassistenciais. Os servios, programas, projetos e
benefcios tm como foco prioritrio a ateno s famlias, seus membros e indivduos e
o territrio como base de organizao. Os territrios passam a ser definidos pelas
funes que desempenham pelo nmero de pessoas que dele necessitam e pala sua
complexidade. Pressupe ainda gesto compartilhada, co-financiamento da poltica
pelas trs esferas de governo e definio clara das competncias tcnico-polticas da
Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios, com a participao e mobilizao da
sociedade civil, e estes tm o papel efetivo na sua implantao.
O Sistema nico de Assistncia Social (SUAS) se apresenta como o novo marco
regulatrio da Poltica de Assistncia Social (PNAS), na busca de maior efetividade de
suas aes e aumento de sua cobertura. Para tanto, a Poltica de Assistncia Social se
organiza por nveis de gesto e tipo de proteo - bsica e especial - conforme a
natureza da proteo social e por nveis de complexidade do atendimento.
A Proteo Social Bsica voltada preveno de situaes de risco,
promovendo o desenvolvimento de potencialidades e o fortalecimento de vnculos
familiares e comunitrios. Atua diretamente na vulnerabilidade social decorrida de
estado de pobreza, baixo ou at mesmo nulo poder aquisitivo, dificuldade de acesso aos
servios pblicos, dificuldades de relacionamento, discriminao social, dentre outros.
Trabalha na garantia de acessibilidade aos deficientes, e com as discriminaes etria,
tnicas ou de gnero.
Paralelo a estes servios, as aes de Proteo Social Especial esto voltadas
proteo de famlias e indivduos em situao de risco pessoal e social ou com direitos
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violados para possibilitar a reconstruo de vnculos sociais e conquistar maior grau de
independncia individual e social.
O SUAS tem ainda como pressupostos a organizao dos elementos essenciais e
imprescindveis execuo da poltica de Assistncia Social definindo a normalizao
dos padres nos servios, qualidade no atendimento, indicadores de avaliao e
resultado, nomenclatura dos servios e da rede socioassistenciais.
Enquanto poltica pblica de seguridade social, a assistncia social se constitui
como poltica especfica, com particularidades e caractersticas prprias, mas tambm
inegvel sua capilaridade e sua elevada capacidade de interface com as demais polticas
econmicas e sociais (PEREIRA, 2003).
Essa caracterstica est contemplada no artigo 2, pargrafo nico da LOAS,
quando afirma que, a assistncia social realiza-se de forma integrada s polticas
setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, garantia dos mnimos sociais, ao
provimento de condies para atender contingncias sociais e a universalizao dos
direitos sociais.
Neste sentido sua articulao com as outras polticas sociais fundamental na
adequao entre especificidade e intersetorialidade, na perspectiva de no diluir e
fragilizar a assistncia social como poltica pblica. Assegurar mecanismos para o
cumprimento dessa premissa fundamental para viabilizar os servios, otimizando os
recursos. A Assistncia Social, enquanto poltica pblica que compe o trip da Seguridade Social, e considerando as caractersticas da populao atendida por ela, deve fundamentalmente inserir-se na articulao intersetorial com outras polticas sociais, particularmente, as pblicas de Sade, Educao, Cultura, Esporte, Emprego, Habitao, entre outras, para que as aes no sejam fragmentadas e se mantenha o acesso e a qualidade dos servios para todas as famlias e indivduos (PNAS, 2004, p. 42).
A Assistncia Social como poltica de proteo social deve estar articulada a
outras polticas do campo social voltada para a garantia de direitos. Para que seus
objetivos sejam alcanados, necessrio que os sujeitos sejam inseridos nas polticas
pblicas e, para isso, torna-se importante realizar articulao e formao de redes
protetivas, tendo uma perspectiva intersetorial. Assim, essa perspectiva de analise,
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refora a importncia da poltica de Assistncia Social no conjunto protetivo da
Seguridade Social, como direito de cidadania, articulada lgica da universalidade.
Esse assunto do trabalho articulado entre a poltica de assistncia social com as
diversas polticas compreende o ncleo central do objeto de nosso estudo, que
abordaremos mais a fundo no prximo captulo.
1.2 A Poltica de Assistncia Social no Municpio de Cristinpolis: breve
contextualizao
O ltimo quadrinio (2005-2008) representou um marco na trajetria da
Assistncia Social brasileira. O SUAS comeou a ser implantado em todo o pas,
norteando o funcionamento da poltica de Assistncia Social.
Os municpios brasileiros passaram a ser divididos por 03 diferentes nveis de
gesto (inicial, bsica e plena) e 02 tipos de proteo (Bsica e Espacial),
desenvolvendo aes condizentes s suas capacidades.
De acordo com a Poltica Nacional de Assistncia Social, o municpio de
Cristinpolis est no grupo dos municpios de pequeno porte I, j que tem populao
inferior a 20.000 habitantes e situa-se no nvel de proteo social bsica. Portanto, no
municpio, so desenvolvidos os programas, projetos e servios socioassistenciais de
promoo aos beneficirios do Benefcio de Prestao Continuada (BPC) e do Programa
Bolsa Famlia.
A gesto 2005/2008 iniciou-se com o desafio de implantar o SUAS em
Cristinpolis. Para isso fez-se necessria a habilitao do municpio na esfera da
proteo social bsica, a estruturao do Conselho Municipal de Assistncia Social, o
conhecimento acerca do funcionamento do Fundo Municipal de Assistncia Social e a
confeco dos Planos de Assistncia Social, rompendo com o paradigma assistencialista
construdo ao longo dos tempos e ainda presente no municpio em questo.
O municpio implantou o Centro de Referncia de Assistncia Social (CRAS),
com o objetivo de torn-lo equipamento estatal de referncia na rea de assistncia
social para as famlias e/ou para os indivduos que dela necessitarem, assim como as
unidades de sade so referncias primrias para os que necessitam da poltica de sade.
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Hoje o CRAS um conceito presente na cidade, a populao sabe, ao menos, onde se
localiza e que questes relacionadas ao Programa Bolsa Famlia so resolvidas neste
espao. O CRAS uma unidade pblica estatal de base territorial, localizado em reas de vulnerabilidade social, que abrange um total de 1.000 famlias/ano. Executa servios de proteo social bsica, organiza e coordena a rede de servios socioassistenciais locais da poltica de assistncia social (PNAS, 2004, p. 35)
No que se refere a co-financiamento, a partir do ano de 2005, o municpio
comeou a receber financiamento Federal para subsidiar a proteo social bsica, ou
seja, o conhecido repasse de recursos fundo a fundo: do fundo Federal para o fundo
municipal. O financiamento da seguridade social est previsto no art. 195 da CF/1988.
Este determina que, atravs de oramento prprio, as fontes de custeio das polticas de
seguridade social (sade, previdncia e assistncia social), devem ser financiadas por
toda a sociedade, mediante recursos provenientes dos oramentos da Unio, dos
Estados, do Distrito Federal, dos Municpios e atravs de contribuies sociais.
Como forma de operar a transferncia dos recursos fundo a fundo do co-
financiamento federal, passam a ser adotados os Pisos de Proteo Social: Piso Bsico
Fixo (PBF), custeando as aes desenvolvidas no CRAS; o Piso Bsico de Transio
(PBT), destinando recursos anteriormente para o funcionamento das creches,
atualmente, com a transio das creches para a Educao, tal recurso dever ser
utilizado no trabalho com as famlias destas crianas; Piso Bsico Varivel (PBV),
possibilitando ao longo desta gesto o funcionamento de trs turmas do Programa
Agente Jovem, alm do Bolsa Agente Jovem (BAJ); PROJOVEM e Programa de
Erradicao do Trabalho Infantil (PETI).
Ao espao fsico do CRAS foi integrado Central do Programa Bolsa Famlia,
uma das exigncias para a implementao do SUAS, facilitando o atendimento as
famlias beneficirias e ofertando informaes valorosas para o desenvolvimento dos
programas, projetos, aes e servios, atravs do Cadastro nico.
Outro importante acontecimento foi a mudana do Agente Jovem para o
PROJOVEM Adolescente, ampliando o nmero de beneficirios: hoje so atendidos
75 adolescentes divididos em trs coletivos. O CRAS tem o desafio de trabalhar em
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rede com outras polticas sociais e de promover o desenvolvimento social, atravs de
programas de gerao de trabalho e renda, incluso produtiva e capacitao profissional.
Trata-se da busca s to desejadas "portas de sada" do CRAS.
Por fim, destacamos a crescente realizao de conferncias municipais de
assistncia social, sinnimo de participao popular, tendo sido realizadas duas durante
a gesto.
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CAPTULO II
A INTERSETORIALIDADE E SUA INFLUNCIA NA MATERIALIZAO DA
PNAS EM CRISTINPOLIS/SE
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2.1 A Poltica de Assistncia Social e a Intersetorialidade
A poltica de assistncia social como citamos no captulo anterior, pressupe o
trabalho intersetorial, para a concretizao de seus objetivos. A efetividade da poltica
de assistncia social na perspectiva intersetorial no se esgota no mbito de suas
prprias aes. A complexidade da realidade social exige a articulao e produo de
saberes e experincias, buscando superar a histrica fragmentao das polticas sociais
para alcanar a concretizao de direitos.
Segundo Pereira (1996) a poltica de assistncia social mantm interfaces com
todas as polticas sociais setoriais e com as polticas econmicas, conforme atestam a
prpria CF de 1988, os planos governamentais passados e presentes e experincias de
ao social. A autora diz ainda: A assistncia no ao incompatvel com as demais polticas sociais, muito menos com o trabalho. Ela condio necessria para que elas se efetivem como direito de todos. Sem a assistncia social, as polticas sociais setoriais tendem a se elitizar, a se fechar na sua especializao e se pautar por critrios que privilegiam mais a excluso do que a incluso social de sujeitos que, no obstante pobres, so portadores de direitos (p. 52).
Ento podemos perceber que a poltica de assistncia social tem uma relao
orgnica com as polticas sociais e econmicas. A assistncia social uma poltica capilar, isto , ela penetra com seus servios, benefcios e trabalho social, concretizando os direitos sociais no cotidiano. Seu repertrio muito ligado ao formato de vida das pessoas, o que prprio a uma poltica de proteo. uma poltica que se desloca para o territrio, e como a sade desloca-se da unidade fsica do servio at o local de permanncia das pessoas ou de sua morada e convvio. A assistncia social desterritorializa, sua ao para onde esto as pessoas. Ela pr-ativa e no s prontido para atendimento a quem chega ao servio (SPOSATI, 2004, p. 52).
No combate fome, pobreza e s desigualdades, o trabalho articulado e o
acompanhamento dirio das polticas sociais so imprescindveis. As aes em uma rea
tm impacto sobre as outras: mais saneamento resulta em mais sade. Para Perreira
(1996) essas aes s sero de fato um direito se extrapolarem os convencionais limites
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de sua ao isolada e pontual e forem integrar-se s demais polticas socioeconmicas
setoriais.
Dessa forma, um dos desafios da poltica de assistncia social promover a
integrao entre vrios segmentos, considerando no s polticas de um ministrio
especfico, mas tambm de todos os setores, tendo em vista no s a eficcia das aes
assistenciais, mas tambm a extenso dessas polticas pblicas setoriais a todos os
cidados e, conseqentemente, a sua efetiva universalizao. Com isso, a poltica de
assistncia social deixar de ser pontual, isolada e restrita, e cumprir um papel
universalizante essencial (IDEM, p. 106).
Esta necessidade de ao articulada perpassa toda a LOAS e se explicita na
meno feita integrao intersetorial no pargrafo nico do artigo 2 da mesma,
aproveitando as interfaces que a assistncia social mantm com as outras polticas
setoriais no prprio corpo da constituio federal ( art. 194 integrao com as demais
polticas). Ainda como parte da LOAS, e tambm digno de nota, chamamos ateno
para o contedo do artigo 19, inciso XII: Articular-se com os demais rgos responsveis pelas polticas de sade e previdncia social, bem como os demais responsveis pelas polticas socioeconmicas setoriais, visando a elevao do patamar mnimo de atendimento s necessidades bsicas.
A intersetorialidade est tambm explicitada dento dos princpios do SUAS, Articulao intersetorial de competncias e aes entre o SUAS e o Sistema nico de Sade SUS, por intermdio da rede de servios complementares para desenvolver aes de acolhida, cuidados e proteo como parte da poltica de proteo s vtimas de danos, drogadio, violncia familiar e sexual, deficincia, fragilidades pessoais e problemas de sade mental, abandono em qualquer momento do ciclo de vida, associados a vulnerabilidades pessoais, familiares e por ausncia temporal ou permanente de autonomia principalmente nas situaes de drogadio; Articulao intersetorial de competncias e aes entre o SUAS e o Sistema Nacional de Previdncia Social, gerando vnculos entre sistemas contributivos e no-contributivos; Articulao intersetorial de competncias e aes entre o SUAS e o Sistema Educacional por intermdio de servios complementares e aes integradas para o desenvolvimento da autonomia do sujeito, por meio de garantia e ampliao de escolaridade e formao para o trabalho (BRASIL, NOB, 2005, p. 88).
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De acordo com o SUAS (2005), o princpio de integrao s polticas sociais e
econmicas refere-se dinmica e gesto da Assistncia Social, na medida em que
grande parte das vulnerabilidades e dos riscos se encontra no mbito social e no
econmico, o que exige aes intersetoriais e de integrao territorial. No basta a
constituio e a operacionalizao de redes especficas por polticas sociais: preciso
articular estas redes, ou seja, edificar de fato uma rede interpolticas sociais.
Essa preocupao tem sido sentida nos espaos de participao e controle social,
como nas conferncias municipais, estaduais e nacional de assistncia social. As
conferncias tm o papel de avaliar a situao da assistncia social, definir diretrizes
para a poltica, verificar os avanos ocorridos num espao de tempo determinado (artigo
18, inciso VI, da LOAS). Nesta ltima conferncia (2007), uma das principais
dificuldades em todos os nveis de gesto foi a falta ou dificuldade do trabalho
intersetorial, assim como a falta de conhecimento sobre os diversos servios das
polticas sociais, como poderemos ver no condensado de demandas a seguir (MDS,
2007): Falta de Fruns Setoriais de debates para garantia do controle social e da intersetorialidade das polticas pblicas no enfrentamento de problemas comuns para efetivao da rede de proteo social e para a implantao de banco de dados geral, que atenda situao de vulnerabilidade e risco, com co-financiamento dos diferentes nveis de governos (Unio, Estados e Municpios); Dificuldades para articulao da rede socioassistencial e garantir a intersetorialidade entre as polticas pblicas; Falta de trabalho articulado que viabilize ao usurio acesso aos programas da rede, sua permanncia e acompanhamento; Falta de investimento no sentido do fortalecimento das parcerias existentes e da articulao entre polticas pblicas; Falta de esclarecimento e divulgao para a populao quanto aos seus direitos socioassistenciais; Pouco conhecimento, por parte dos agentes polticos, sobre a Assistncia Social e a necessidade de implantao do SUAS; Falta de diagnstico dos Municpios dificultando as aes intersetoriais; Dificuldades na articulao entre as Secretarias Municipais para a execuo da Poltica de Assistncia Social, com ntido reflexo na dinmica e parcialidade do atendimento aos usurios.
Enquanto poltica de seguridade social, a assistncia social, no pode estar
isolada, devendo necessariamente estar integrada s outras polticas sociais, para que
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no haja sobreposies das aes. Mas, como j comentamos no captulo anterior, cada
uma dessas reas seguiu caminhos diferentes, e como trabalhar articuladamente se
herdamos esse padro de gesto fragmentado?
Segundo o Plano decenal da Assistncia Social (BRASIL, 2007, p.39), para
alcanar a ensejada intersetorialidade, faz-se fundamental o dilogo institucional e entre
os atores envolvidos para compatibilizar aes e conjugar esforos e recursos. Alm da
cooperao governamental, esse trabalho exige a integrao de outros parceiros como
movimentos sociais, representantes da sociedade civil, as instncias de pactuao e de
controle social, entidades prestadoras de servios socioassistenciais entre outras.
Podemos perceber que o desafio posto muito grande. Requer dos entes
federativos a construo de mecanismos estratgicos de gesto intersetorial, articulados
com o Sistema nico de Assistncia Social (SUAS), configurando-se em uma nova
lgica de gesto. Assim, a atuao precisaria estar fundamentada no princpio do
compartilhamento de decises e da diviso de responsabilidades, afirmando as
competncias de cada ente.
A partir desta explanao sobre a intersetorialidade, sabemos que esta
pressuposto bsico para a materializao da Poltica de Assistncia Social, mas como
falamos anteriormente, o trabalho intersetorial no suficiente para concretizao dessa
poltica.
2.2 Descentralizao e Intersetorialidade
O modelo de gesto intersetorial tem se mostrado mais factvel quando
combinado descentralizao territorial. Descentralizar significa dotar de competncias e recursos organismos intermedirios para que possam desenvolver suas administraes com mais eficincia de uma maneira mais prxima dos cidados e dos seus grupos sociais (Belo Horizonte, 2007, p. 31).
O tema da descentralizao no Brasil surge na dcada de 1990, tendo sua
expresso maior nos princpios da Constituio Federal de 1988, como um dos
pressupostos das diversas mudanas que ocorreram na gesto das polticas sociais. A
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associao entre descentralizao e democratizao assumiu um significado especial na
Amrica Latina, ganhando relevncia na crtica aos governos autoritrios e,
particularmente, gesto de polticas sociais (JUNQUEIRA, INOJOSA &
KOMATSU, 1988, p. 68).
A descentralizao surge, numa perspectiva progressista, como uma
possibilidade de democratizao do poder, apesar de vir adquirindo historicamente
sentidos diversos. Porm, h um consenso geral quanto ao significado da
descentralizao enquanto transferncia de poder central para outras instncias de poder
e de reordenamento do aparato estatal. Esta estratgia fundamental frente escassez de recursos pblicos, a diferenciada capacidade gerencial e fiscal dos entes federados, as profundas desigualdades econmicas e regionais e a natureza cada vez mais complexa dos problemas urbanos, ambientais, de desenvolvimento econmico e territorial que exigem solues intersetoriais e intergovernamentais (BRASLIA, 2007, p 38).
De um modo geral, as diversas polticas sociais setoriais foram descentralizadas,
mas cada uma delas, com suas especificidades, vivenciou processos diferenciados,
dependendo dos locais (estados e municpios) e das condies nas quais ocorreram.
Algumas conseguiram avanos, outras no, de modo que podemos perceber a existncia
de uma tendncia majoritria desarticulao entre as diversas reas das polticas
pblicas no mbito dos municpios, o que acaba acarretando em dificuldades para sua
efetivao, consideradas isoladamente.
Para promover a cooperao entre a Unio, Estados, Municpios e DF uma das
estratgias a regionalizao: uma estratgia de descentralizao poltico-
administrativa para garantir e ampliar o acesso com qualidade aos que necessitam.
O art. 6 da LOAS dispe que as aes assistenciais so organizadas em um
sistema descentralizado e participativo, constitudo por entidades e organizaes de
assistncia social, articulando meios, esforos e recursos. O art. 8 estabelece que a
Unio, os Estados, o Distrito Federal e os municpios, observados os princpios e
diretrizes dessa lei, fixaro suas respectivas polticas de assistncia social. A descentralizao prestigia os servios municipais, por estarem mais prximos dos assistidos; e os servios de referncia regional, prestados por um conjunto de municpios (se cada um deles no dispe de condies
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materiais adequadas ou se suas demandas so pequenas), desde que assegurado o vnculo familiar (domiclio) e comunitrio (SIMES, 2008, p. 323).
Os estados e municpios, dotados de autonomia poltica e fiscal, assumiram
funes de gesto de polticas pblicas. Alguns por iniciativa prpria, outros por adeso
a algum programa proposto por outro nvel de governo, ou ainda por expressa
imposio constitucional, o que vem a desvirtuar o real sentido do termo
descentralizao.
O processo de descentralizao vem ocorrendo em um contexto onde o Estado
se desresponsabiliza da gesto das polticas pblicas, estabelecendo a concepo de
Estado mnimo, onde a descentralizao utilizada como mecanismo para aprovar
medidas de conteno de gastos, bem como de restrio e fragmentao das polticas
pblicas (SILVA, 2001, p. 129).
2.3 A noo de intersetorialidade
A abordagem intersetorial em polticas pblicas algo recente. Porm, no
algo absoluto ou por si s positivo, mas j considerada como uma alternativa de
resoluo de problemas com os quais a administrao pblica tem que lidar na busca da
qualidade de vida da populao. Sobre isso Junqueira diz que:
A qualidade de vida demanda uma viso integrada dos problemas sociais. A gesto intersetorial surge como uma nova possibilidade para resolver esses problemas que incidem sobre uma populao que ocupa determinado territrio. Essa uma perspectiva importante porque aponta uma viso integradora dos problemas sociais e de suas solues. Com isso busca-se otimizar os recursos escassos procurando solues integradas, pois a complexidade da realidade exige um olhar que no se esgote no mbito de uma nica poltica social (1999, p. 27).
A intersetorialidade visa integrar diversas polticas setoriais, mas, por outro lado,
a lgica geral do processo de formulao, implementao e avaliao das polticas
pblicas (educao, sade, assistncia social, habitao, cultura...) tende a setorializ-la.
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Elas foram fatiadas por conhecimentos, saberes e corporaes diferentes. Cada
poltica conta com instituies, servios e legislao prprios, o que acaba gerando a
fragmentao no tratamento das demandas sociais, paralelismo de aes, centralizao
de decises, recursos e informaes, divergncias de objetivos e funes de cada rea,
alm do fortalecimento de poderes polticos e hierarquias, em detrimento do cidado
(CKAGNAZAROFF, 2005, p. 2). Intensa fragmentao institucional, paralelismo e
sobreposio de aes so algumas das caractersticas marcantes do padro histrico de
interveno do Estado brasileiro, contribuindo para a baixa eficcia das polticas sociais
e para o desperdcio de recursos pblicos.
Netto (2005) traz importantes esclarecimentos a respeito de todo esse processo
de implementao das polticas sociais e sua real funcionalidade. Para ele, a poltica
social foi fragmentada em vrias polticas sociais, as seqelas da questo social so
recortadas como problemticas particulares (o desemprego, a fome, a carncia
habitacional, o acidente de trabalho, a falta de escolas, a incapacidade fsica etc) e assim
enfrentadas (p. 32). Afirma ainda o autor que esse processo no poderia ser de outro
modo, pois: tomar a questo social como problemtica configuradora de uma
totalidade processual especfica remet-la concretamente relao capital/trabalho
(p. 28). Ou seja, essa fragmentao da questo social serve para acobertar um
problema que tem uma amplitude bem maior e que causado pelo capitalismo.
O peso destas polticas sociais evidente, visto que asseguram as condies
adequadas ao desenvolvimento capitalista, ou seja, elas asseguram a preservao e o
controle da fora de trabalho. Atravs da poltica social, o Estado burgus no capitalismo monopolista procura administrar as expresses da questo social de forma a atender s demandas da ordem monoplica conformando, pela adeso que recebe de categorias e setores cujas demandas incorpora, sistemas de consenso variveis, mas operantes (p. 30).
Esse padro supracitado de gesto das polticas sociais acaba dificultando a
prtica de direitos e o controle social, j que polticas pblicas, isoladamente, no so
capazes de captar a totalidade das demandas. Para Inojosa (2001) o aparato
governamental , a todo momento, sujeito a loteamento poltico-partidrio e de grupos
de interesses, em todos os nveis de governo e a cada governo.
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Dessa forma, o tratamento tradicional da questo social, considerada cada vez
mais complexa, vem sofrendo crticas. Segundo Inojosa (2001, p 103) as necessidades
e expectativas das pessoas e dos grupos sociais referentes qualidade de vida so
integradas, [...] coisas separadas ou itens isolados no do conta de prover qualidade de
vida, de fomentar o desenvolvimento, de superar a excluso. A questo social tem
que ser trabalhada como um todo, obedecendo as suas particularidades.
A abordagem setorial tem sido insuficiente na resoluo destes problemas.
Como diz Sposati (2004, p. 39) as polticas sociais se complementam: o aluno assiste
melhor a aula se estiver alimentado, se sua casa tiver luz e gua, se usar meio de
transporte para chegar escola, se sua sade estiver cuidada e se tomar remdios
necessrios.
Diante desse quadro, o desenvolvimento de aes intersetoriais tem sido
destacado como diretriz operacional de diversas polticas pblicas de corte social,
notadamente no mbito da sade e da assistncia social. Consideramos esse um esforo
fundamental, mesmo sabendo que ele no atinge o fundamento da questo social. Os
argumentos em defesa da intersetorialidade passam tanto pela necessidade de
racionalizar e maximizar o uso dos recursos quanto pela busca de maior efetividade s
aes desenvolvidas.
Com base nos argumentos citados anteriormente e orientados por nossa hiptese
de que a falta de aes articuladas entre as vrias polticas, dificulta a efetivao da
poltica de assistncia social, pretendemos investigar se o trabalho intersetorial j vem
sendo desenvolvido do municpio de Cristinpolis. Pretendemos ainda saber se esse
trabalho articulado pode ajudar na concretizao de suas polticas, e quais as formas que
vem sendo adotadas para realiz-lo.
Para os gestores da assistncia e da sade o trabalho intersetorial uma
articulao operacional entre as secretarias envolvendo recursos materiais (distribuio
de kits) e humanos, como podemos perceber nas respostas a seguir: Fazer essa pulverizao entre as secretarias [...] ns temos um programa que a secretaria desenvolve que uma parceria com o Ministrio da Sade, onde a gente recebe escova, na verdade um kitzinho, onde uma tcnica da educao est desenvolvendo esse trabalho com a dentista na escola, ensinando a escovao. Eu colocaria isso como um trabalho intersetorial, no sei se isso. [...] Com a secretaria de assistncia social, ns temos um trabalho, temos uma menina que trabalha l que funcionaria do estado. Ela
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estudante de fisioterapia, e a gente faz um trabalho l com os idosos. Trabalha com a questo da auto-estima, ela faz tambm preveno com a juventude, o trabalho principalmente com os idosos (GS). ter uma ligao de uma secretaria a outra, estar sempre ligado rede, com a sade, com a educao (GA).
J para o gestor da educao o trabalho intersetorial uma articulao com
discusso conjunta de temticas entre as secretarias, uma ajudando a outra.
Para os trs gestores a intersetorialidade pode ajudar nos seus trabalhos. o que
podemos ver na fala do gestor da assistncia social: O trabalho intersetorial pode
ajudar sim. Porque s atravs de parcerias junto s secretarias poderemos fazer um
trabalho mais amplo.
Quando perguntamos se esse trabalho j vem sendo desenvolvido no municpio e
de que forma, tivemos novamente respostas similares dos gestores da assistncia e da
sade: Sim, conversamos sempre, [...] trabalhamos atravs de parcerias como o Programa Bolsa Famlia. Ns temos 4 funcionrios da educao trabalhando conosco na secretaria. Eles foram requisitados pra trabalhar com as condicionalidades das famlias do PBF; com os agentes de sade; troca de experincias entre os conselhos de sade, da educao, atravs de reunies pra discutir os problemas, de 3 em 3 meses (GA). Na verdade a gente se encontra periodicamente em reunies para discutir questes da educao, da assistncia, dos conselhos, e praticamente a gente tem envolvimento com outros conselhos, e a gente d a nossa viso da educao, alguma coisa que eles querem trabalhar l e precisa da nossa secretaria, da nossa ajuda (GS).
Segundo os mesmos, essa ao vem sendo desenvolvida atravs de trabalhos
educativos, distribuio de kits preventivos, funcionrios cedidos de uma secretaria
outra para realizao de algumas atividades, reunies com os diversos conselhos e
acompanhamento das condicionalidades do Programa Bolsa Famlia.
Para Inojosa (2001) uma perspectiva de trabalho intersetorial implica mais do
que justapor ou compor projetos que continuem sendo formulados e realizados
setorialmente. comum as pessoas usarem a expresso intersetorialidade para se referir
a conjuntos de projetos que eventualmente estabelecem algum dilogo na hora da
formulao ou da avaliao. Porm, esse conceito possui uma perspectiva muito maior
do que essa e tem um conjunto de implicaes para a ao do Estado.
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A mesma resposta no encontramos na fala da gestora da educao. Para ela o
trabalho intersetorial ainda no vem sendo desenvolvido no municpio. As secretarias
mantm algum contato entre si, acompanhando as freqncias da educao e da sade,
devido a exigncias de alguns programas federais, a exemplo do Programa Bolsa
Famlia, mas, na sua avaliao, isso no se constitui como intersetorialidade conforme
podemos ver na resposta da gestora a seguir: Eu acho que no existe realmente uma articulao entre as secretarias. A gente s tem essa articulao em relao a alguns trabalhos desenvolvidos, porque alguns programas ditam isso. [...] Na verdade existe uma articulao forada devido ao cumprimento das condicionalidades do PBF e contato informal com as outras secretarias (GE).
Para a mesma, a ao intersetorial no est no simples fato das secretarias se
reunirem e participarem de uma campanha educativa, como podemos ver nesse outro
trecho da sua entrevista: No fazendo uma passeata contra a dengue que eu vou estar envolvida com a secretaria de sade. Eu vou fazer um trabalho educativo, mas, dentro do mbito da secretaria de educao, mas no porque tenha sido articulado entre as secretarias de educao, sade e ao social. No foi por isso! Foi porque as pessoas daqui sentiram a necessidade de se envolver na campanha.
A partir das respostas dos gestores, pudemos notar que no existe uma
concepo muito clara sobre o assunto e o papel a ser cumprido pelos diferentes
funcionrios envolvidos no trabalho, apesar do tema j ser conhecido e divulgado pelas
suas respectivas polticas. A ao intersetorial foi lanada como uma das diretrizes das
polticas sociais, na tentativa de ser uma estratgia central para superar as deficincias
das polticas pblicas e maximizar a efetividade das aes desenvolvidas. Porm, a
lgica de implementao dessas polticas dificulta este processo.
As estruturas setorializadas tendem a tratar o cidado e seus problemas de forma
fragmentada, com servios executados solitariamente, embora as aes sejam dirigidas
para o mesmo pblico e ocorrerem no mesmo espao territorial. Conduzem a uma
articulao desarticulada e obstacularizam os projetos de gestes democrticas e
inovadoras. O planejamento tenta articular as aes e servios, mas, sua execuo
desarticula e perde de vista a integralidade do indivduo (JUNQUEIRA, 1997). Para o
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autor, a gesto de cada poltica obedece, na maioria das vezes, aos interesses de grupos
existentes no interior das instituies e no s necessidades da populao, apesar do
discurso de profissionais comprometidos com uma postura que procura superar a lgica
das polticas setoriais.
A construo efetiva da intersetorialidade constitui um desafio, tendo em vista
aspectos relacionados s diversas lgicas organizacionais que regem as polticas
setoriais, disputa por recursos e status entre os setores envolvidos e complexidade de
distintos processos de intermediao com capacidades tambm distintas. Como afirma
Andrade (2006), a interveno intersetorial tarefa bastante audaciosa e passa,
necessariamente, pela construo criativa de um novo objetivo de interveno comum
aos diferentes setores do Estado que lidam com a questo social.
Segundo Inojosa, intersetorialidade a articulao de saberes e experincias
com vistas ao planejamento, para realizao e avaliao de polticas, programas e
projetos, com o objetivo de alcanar resultados sinrgicos em situaes complexas
(2001, p. 105). uma nova forma de trabalhar, de governar e de construir polticas
pblicas que pretende possibilitar a superao da fragmentao dos conhecimentos e das
estruturas sociais para dar repostas significativas s demandas da populao.
Essa ao vem em contraposio lgica setorial e precisa basear-se na
populao, reconhecendo os indivduos e grupos sociais, considerando as suas
condies e peculiaridades de vida, demandas e expectativas. Esta maneira de trabalhar
se baseia na insuficincia da especializao, na necessidade de criar novas alternativas.
Essas, por sua vez, dependem da articulao de outros saberes, outras foras. Para isso,
o primeiro passo seria reconhecer as limitaes da setorialidade, da fragmentao (cada
qual detm uma parte da verdade, mas no a totalidade). Dessa forma, necessrio
reconhecer que:
Os espaos da intersetorialidade, portanto, so espaos de compartilhamento de saber e de poder, de construo de novas linguagens, de novos conceitos que no se encontram estabelecidos ou suficientemente experimentados. H necessidade de um exerccio permanente de pacincia e de negociao, pois ningum est acostumado a ficar pensando no assunto que do outro; alm disso, algumas vezes se percorrem caminhos j esgotados setorialmente, outras vezes surgem questes novas que jamais seriam pensadas do ponto de vista setorial (Rede Unida).
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Para Sposati (2006) a aplicao da intersetorialidade no permite ter um padro
ou uma referncia absoluta ou hegemonia. Ainda mais em um pas como o nosso to
heterogneo.
Nas polticas sociais a idia de complementariedade fundamental. Uma
necessita do apoio das outras, possibilitando uma articulao de distintos setores sociais
e a descoberta de caminhos para a ao. Todas as polticas sociais devem operar a referncia e contra-referncia interna e externa. Este processo no exclusividade de determinada poltica social, mas de todas aquelas que possuem a leitura integral e integradora de necessidades sociais. A intersetorialidade , ao mesmo tempo, objeto e objetivo das polticas sociais, e como tal o tambm da assistncia (SPOSATI, 2004, p. 39).
2.4 O grau de conhecimento mtuo entre as polticas
A intersetorialidade uma nova prtica social que vem sendo construda a partir
da existncia de profundas insatisfaes, principalmente no que se refere capacidade
das organizaes sociais em dar respostas s demandas sociais e aos problemas
complexos de nosso mundo. Trata-se, portanto, de buscar alcanar resultados integrados visando a um efeito sinrgico. Transpondo a idia de transdisciplinaridade para o campo das organizaes, o que se quer muito mais que juntar setores, criar uma nova dinmica para o aparato governamental, com base territorial e populacional (INOJOSA, 2001, p.105).
Para que haja um trabalho intersetorial entre as polticas pblicas
imprescindvel a participao dos diversos atores nestes espaos de implementao.
Assim, as diversas demandas devem passar a ser atendidas de forma integrada, tanto
intersetorialmente quanto interinstitucionalmente. Intersetorialidade implica tambm em
modificar as relaes de poder que j esto arraigadas na cultura poltica da sociedade
brasileira (YAAKOUB, 2005).
Segundo Pereira (2004), os recentes avanos nas pesquisas tm demonstrado que
um dos principais problemas enfrentados na operacionalizao da poltica de assistncia
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social braseira a impreciso conceitual desta poltica e a conseqente falta de clareza
de seus papis, compromissos e aes.
Dessa forma, iniciamos a discusso de mais duas de nossas hipteses: a de que a
desinformao por parte dos agentes das diversas polticas setoriais, sobre os projetos e
programas da PNAS, como tambm o desconhecimento dos agentes da poltica de
assistncia social sobre os programas das demais polticas so motivos que tendem a
dificultar a materializao da assistncia social na perspectiva da intersetorialidade.
Objetivamos identificar o grau de conhecimento sobre os programas de
assistncia social por parte dos tcnicos das polticas setoriais de sade, educao e
assistncia social, assim como, o grau de conhecimento dos tcnicos da poltica de
assistncia social sobre os diversos programas e projetos das outras polticas setoriais, a
fim de, investigar se o conhecimento sobre os referidos programas de cada poltica, ou a
falta dele pode dificultar na efetivao do trabalho intersetorial.
Para isso, perguntamos aos gestores e tcnicos das 3 polticas de estudo se,
conhecem os programas desenvolvidos pelas outras polticas no municpio, assim como,
o pblico alvo de cada programa, o local onde so desenvolvidas as atividades, horrio
de funcionamento, e por fim, se costumam fazer encaminhamentos para os servios
oferecidos pelas outras polticas.
Os gestores entrevistados mostraram ter conhecimento sobre os programas das
outras polticas, principalmente nos mais divulgados e conhecidos como o Programa
Bolsa Famlia e PETI da secretaria assistncia social; Programa Sade da Famlia
(PSF) e Programas de Vacinao da secretaria sade; Educao de Jovens e Adultos
(EJA) e o programa Sergipe Alfabetizado da secretaria educao. Podemos inferir que
os gestores tm um conhecimento muito superficial sobre os programas citados,
principalmente no que se refere s condicionalidades dos mesmos.
Quanto ao grau de conhecimento dos tcnicos das polticas de assistncia social,
educao e sade sobre os programas desenvolvidos pela poltica de assistncia social,
os dados obtidos esto expostos a partir do grfico abaixo.
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Grfico 01 Conhecimento dos tcnicos das 3 reas sobre os programas da assistncia social
Fonte: Entrevistas, 2008.
Podemos perceber que, entre os programas citados, os mais conhecidos pelos
tcnicos entrevistados das 3 reas so o Programa Bolsa Famlia e o PETI, totalizando
100%. Como era de se esperar, entre os tcnicos da assistncia social, pudemos notar
que o grau de conhecimento sobre os programas citados encontra-se bem distribudo.
O grfico 2 revela o conhecimento dos programas da poltica de sade e,
novamente, os tcnicos das 3 polticas estudadas conhecem os programas mais
divulgados, como o Programa Sade da Famlia e o Pr-Natal. Esses de fato so os
grandes carro-chefe da rea da sade. Isso, no entanto, no torna os outros programas
menos importantes. Considermos relevante chamar ateno para um dado que ilustra
essa tendncia em lateralizar certos programas menos enfatizados pela gesto.
Referimo-nos ao Programa Protege, que, entre os entrevistados da educao somente
10%, ou seja 01 tcnico, afirmou conhecer ou j ter ouvido falar no programa. O mesmo
dado obtivemos com os tcnicos da sade. Os tcnicos da assistncia social afirmam
no conhecer o programa.
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O Programa Protege est ligado ao Pr-natal, um exame que a gestante faz
logo no inicio da gravidez que pode detectar vrias patologias.
Grfico 02
Fonte: Entrevistas, 2008.
O grfico 3 que mensura o conhecimento dos programas da poltica de educao,
nos mostra a mesma tendncia dos anteriores. O Programa Brasil Alfabetizado o
grande conhecido por todos os entrevistados. Os demais programas apresentaram uma
freqncia de conhecimento muito parecida.
Dessa forma podemos inferir que os programas mais conhecidos pelos tcnicos
de estudo so os mais divulgados por suas respectivas secretarias ou pela mdia.
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Grfico 3
Fonte: Entrevistas, 2008.
No que diz respeito ao conhecimento dos tcnicos da assistncia social sobre os
seus prprios programas, podemos notar, com base no grfico abaixo que, os programas
mais conhecidos so respectivamente: o Programa Bolsa Famlia, PETI e PROJOVEM.
100% dos entrevistados afirmaram conhecer. J o menos conhecido o Benefcio de
Prestao Continuada (BPC), somente 70% ou 07 dos 10 entrevistados conhecem o
benefcio. A partir da analise do grfico podemos constatar que os tcnicos da
assistncia conhecem os seus programas.
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Grfico 4 Conhecimento dos tcnicos da assistncia social sobre seus prprios programas
Fonte: Entrevistas, 2008.
Tentando entender o porqu desse desconhecimento ou pouco conhecimento
sobre os programas das 3 reas citados anteriormente, inserimos no formulrio de
entrevista perguntas como tempo de trabalho; por que escolheu a rea e o grau de
afinidade com a rea.
Podemos considerar nesta anlise a seguir o tempo em que os tcnicos
entrevistados esto atuando nas suas respectivas reas de trabalho. Dos tcnicos que
trabalham h mais de 05 anos na rea temos: 60% da sade, 40% da educao e
somente 20% da assistncia social. Trabalham de 03 a 05 anos: 50% da assistncia
social, 40% da educao e 20% da sade.
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Grfico 5
Fonte: Entrevistas, 2008.
Sobre a escolha da rea de trabalho levantamos questes como: vocao,
melhores oportunidades no mercado de trabalho, melhor remunerao ou est nessa rea
porque foi o que apareceu. Para 50% dos tcnicos da sade a escolha da rea se deu
por vocao. J para 50% dos tcnicos da assistncia e da educao esto nessa rea
porque foi o que apareceu no momento. Como podemos ver no grfico abaixo.
Grfico 6
Fonte: Entrevistas, 2008.
Quando perguntamos sobre a afinidade com a rea de tabalho, 80% dos
entrevistados afirmaram que tm muita afinidade com a rea de trabalho.
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Gfico 7
Fonte: Entrevistas, 2008.
Consideradas as possveis interferncias que o perfil dos tcnicos pode ter em
relao ao grau de conhecimento sobre os programas, passemos agora a expor os dados
que tratam do conhecimento que os mesmos possuem acerca das chamadas
condicionalidades dos programas citados anteriormente. Verificamos que todos os
tcnicos da assistncia social e da educao afirmam conhecer as condicionalidades. J
dos tcnicos da sade 30% ou 03 dos 10 entrevistados, afirmam no conhecer. Os
percentuais esto detalhados no grfico abaixo, que revela a diferena entre as polticas.
Grfico 8
Fonte: Entrevistas, 2008.
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O Centro Referncia de Assistncia Social - CRAS a porta de entrada dos
usurios da rede de proteo social do SUAS. So unidades pblicas estatais que
materializam a poltica de Assistncia Social e esto localizados em reas com maiores
ndices de vulnerabilidade e risco social. Neles so desenvolvidos os servios
socioassistenciais da proteo social bsica por meio do Programa de Ateno Integral
Famlia.
Perguntamos aos entrevistados se sabem o que o CRAS do municpio e onde
se localiza. Notamos novamente que os tcnicos da assistncia e da educao afirmam
conhecer o CRAS, bem como, onde se localiza e horrio de funcionamento. J 40% dos
tcnicos da sade no o conhecem, ou pelo menos no com essa nomenclatura,
con