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0 UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL DEJAIR ZANOTTO CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE REMUNERAÇÃO E SALÁRIO

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL

DEJAIR ZANOTTO

CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE REMUNERAÇÃO E SALÁRIO

Canoas

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1

2008

DEJAIR ZANOTTO

CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE REMUNERAÇÃO E SALÁRIO

Monografia Final apresentada como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Direito na Universidade Luterana do Brasil.Área de Concentração: Direito do Trabalho

Orientador: Prof. Otavio Dutra Vieira

Canoas

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2008

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PARECER DE ADMISSIBILIDADE

Ilmo. Sr. Dr.Coordenador de MonografiaCurso de DireitoUniversidade Luterana do BrasilCanoas/RS

Senhor Coordenador:

Ao examinar o Trabalho de Curso intitulado CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE REMUNERAÇÃO E SALÁRIO realizado por Dejair Zanotto, por mim orientado, verifico estar o mesmo apto a ser submetido a avaliação da banca examinadora.

Canoas, 04 de junho de 2008.

_________________________________Prof. Orientador

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4

Dedicatória

 

Aos meus Pais Nilo e Helma Zanotto,

pela vida, amor e a educação recebida.

A minha Esposa Ivanilde, pela tolerância

com que encarou  as minhas ausências, pela

dedicação e espírito de sacrifício consentido

durante a minha formação.

Aos meus filhos, Leticia e Lucas, que

muitas vezes tiveram que suportar a minha

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5

ausência, a falta de carinho e atenção.

 

Agradecimentos

Agradeço a Deus, pelo dom da vida e

por ter iluminado meu caminho durante todos

estes anos.

Ao Professor Otavio Dutra Vieira,

orientador do meu trabalho, pela paciência e

competência e dedicação na execução do

trabalho.

Aos docentes do curso de Direito da

Universidade, que contribuíram, de alguma

forma para minha formação.

Agradeço a todos que de forma ou de

outra possibilitaram a conclusão deste curso, a

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6

todos, a minha sincera gratidão. 

 

A maior recompensa do nosso trabalho

não é o que nos pagam por ele, mas aquilo em

que ele nos transforma.

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7

John Ruskin

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RESUMO

A humanidade vem experimentando mudanças a uma velocidade realmente espantosa com paises rompendo estruturas milenares, evolução tecnológica sendo medida em dias e produtos ficando obsoletos da noite para o dia, provocando assim, mudanças nos processos organizacionais das empresas. Com tantas mudanças, mercado passou a estabelecer estratégias de desenvolvimento e capacitação de seus funcionários estimulando seu crescimento pessoal recompensando por seu desempenho, criatividade e iniciativa. Surgem então, nestes novos tempos, novas formas de recompensar seu pessoal. A Remuneração Variável surge como desafio para que as pessoas se sintam estimuladas e desafiadas a atingirem suas metas e objetivos. O presente trabalho apresenta os vários tipos de remuneração protegidos e amparados pela tutela da legislação brasileira. Apresentamos os princípios norteadores do salário. Diferenças entre salário e remuneração e por fim, os vários tipos de remuneração variável como gueltas e Stock options.

Palavras chave: Salário – remuneração variável – empregador – empregado - adicional -

gueltas - Stock options

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9

ABSTRACT

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Key words: xxx – xxxxx – xxxxx – xxxxx

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10

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................10

1 NOÇÕES SOBRE SALÁRIO E REMUNERAÇÃO.................................................121.1 DIFERENÇA ENTRE SALÁRIO E REMUNERAÇÃO.........................................121.2 REGRAS GERAIS DE PROTEÇÃO AO SALÁRIO............................................161.2.1 Proteção contra abusos do empregador......................................................161.2.1.1 Princípio da irredutibilidade do salário...........................................................161.2.1.2 Princípio da inalterabilidade prejudicial..........................................................171.2.1.3 Princípio da integralidade do salário..............................................................171.2.1.4 Princípio da pontualidade no pagamento.......................................................181.2.2 Proteção contra a imprevidência e os credores do empregado.................191.2.2.1 Impenhorabilidade.........................................................................................191.2.2.2 Proteção contra familiares do empregado e contra a sua própria imprevidência.............................................................................................................201.2.3 Proteção contra credores do empregador...................................................201.2.3.1 O princípio da intangibilidade do salário........................................................20

2 FORMAS DE ESTIPULAÇÃO DO SALÁRIO........................................................252.1 SALÁRIO POR UNIDADE DE TEMPO...............................................................252.2 SALÁRIO POR UNIDADE DE OBRA OU PRODUÇÃO.....................................262.3 SALÁRIO POR TAREFA OU MISTO .................................................................272.4 NATUREZA JURÍDICA DO SALÁRIO................................................................272.5 VERBAS QUE POSSUEM NATUREZA SALARIAL SEGUNDO A CLT............282.6 VERBAS QUE NÃO POSSUEM NATUREZA SALARIAL SEGUNDO A CLT...29

3 OUTRAS PARCELAS............................................................................................313.1 GUELTAS............................................................................................................313.2 STOCK OPTIONS ..............................................................................................333.3 DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO..........................................................................373.4 ADICIONAIS LEGAIS..........................................................................................393.4.1 Adicional de Horas Extras..............................................................................393.4.2 Adicional Noturno...........................................................................................403.4.3 Adicional de Insalubridade............................................................................403.4.4 Adicional de Periculosidade..........................................................................41

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3.4.5 Adicional de Transferência ...........................................................................423.5 REMUNERAÇÃO VARIÁVEL COMO ATRATIVO PARA MELHORA DE PERFORMANCE DE RESULTADOS.......................................................................42

CONCLUSÃO............................................................................................................44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS.........................................................................46

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INTRODUÇÃO

Com a revolução industrial, o trabalho humano passou a ser considerado

como mais um insumo produtivo.

A competição comercial neste mundo globalizado acirrou-se de tal forma que

o pagamento de salário tradicional não mais atende as necessidades das estruturas

organizacionais.

O foco das empresas não é mais seus produtos e processos, mas suas

competências básicas e sua capacidade de reação e aprendizado, isto é, de criar

novas competências.

Esta nova realidade define então, um papel decisivo dos recursos humano na

competitividade das empresas. A produtividade do trabalhador não poder mais ser

obtida e medida pelos métodos tradicionais de pagamento de salários.

O salário, enquanto instituição, é um conceito ligado ao velho paradigma do

trabalhador como fator de produção.

O desafio atual das empresas é desenvolver sistemas de participação em

resultados. Quando bem concebidos, os sistemas de remuneração podem se tornar

uma importante ferramenta de gestão das empresas.

O presente trabalho trata da Remuneração Variável como sinalização para o

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trabalhador de recompensa por seus esforços que pode ser obtida através de

sistemas de premiação ou remuneração por habilidades, dividindo-se em três

capítulos a saber.

No primeiro capítulo trataremos das noções de salário e remuneração e seus

princípios protetores.

No segundo capítulo abordaremos as formas de estipulação de salários e sua

natureza jurídica.

No terceiro e último capítulo comentaremos sobre outras parcelas de

Remuneração Variável.

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1 NOÇÕES SOBRE SALÁRIO E REMUNERAÇÃO

As pessoas ao desenvolverem a sua atividade laboral, aguardam receber, ao

final do período (quinzenal, mensal, etc.), a contraprestação pela dedicação a esta

atividade. Pode-se afirmar que a pessoa recebe uma renda (salário/remuneração)

pela “venda” da sua força de trabalho e esta é a força motriz pela qual se dedica

anos de tempo de trabalho.

Quando se fala em salário, vem logo no pensamento a quantia que devemos

pagar ou receber pelo serviço prestado, porém isso ultrapassa somente as questões

numerárias, tornando-se uma matéria complexa, pois o salário em muitas vezes é

uma soma de valores que representam diversos pagamentos e ressarcimentos,

sendo complexo a separação de verbas salariais ou não.

1.1 DIFERENÇA ENTRE SALÁRIO E REMUNERAÇÃO

Isto posto, passemos à diferenciação entre salário e remuneração. Iniciemos

com o conceito de salário.

De acordo com Maurício Godinho Delgado1, salário é “o conjunto de parcelas

contraprestativas pagas pelo empregador ao empregado em decorrência da relação

de emprego”.

Para Amauri Mascaro Nascimento2, salário é “o conjunto de percepções

econômicas devidas pelo empregador ao empregado, não só como contraprestação

do trabalho, mas também pelos períodos em que estiver à disposição daquele

aguardando ordens, pelos descansos remunerados, pelas interrupções do contrato

de trabalho ou por força da lei”.

Já Mozart Victor Russomano3, define salário como “o valor pago, diretamente,

pelo empresário ao trabalhador como contraprestação do serviço por este realizado”.

1 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2005. p. 206.2 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 78.3 RUSSOMANO, Mozart Victor. Curso de Direito do Trabalho. Curitiba: Juruá, 2002. p. 97.

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José Martins Catharino4 informa que salário é aquele devido ao empregado

por estar realmente trabalhando ou por estar à disposição do empregador, situação

equiparada por lei à prestação efetiva de serviços.

Com relação à remuneração, Delgado5 afirma que existem três vertentes na

jurisprudência brasileira:

Aquela que equivale o conceito de salário e remuneração, já que seus

termos seriam os conjuntos de parcelas contraprestativas na relação

empregatícia;

A que busca a diferenciação entre salário e remuneração baseada na

natureza específica do primeiro e da genérica da segunda, especialmente

no tocante às parcelas devidas do empregador;

E a mais adotada pelos juristas, que segue a CLT em seu art. 457,

seguido do art. 76 e leis posteriores à constituição federal de 1988, na

qual se admite duas variantes de interpretação, ao considerar salário

como contraprestação empresarial que englobaria parcelas

contraprestativas devidas e pagas pelo empregador ao empregado, em

virtude da relação de emprego, elegendo o termo remuneração para

adicionar, ao salário contratual, as gorjetas recebidas pelo trabalhador,

ainda que pagas por terceiros.

Deste entendimento, a Súmula 354 do TST 6se pronuncia:

As gorjetas cobradas pelo empregador na nota de serviços ou oferecidas espontaneamente pelos clientes, integram a remuneração do empregado, não servindo de base de cálculo para as parcelas de aviso prévio, adicional noturno, horas extras e repouso semanais remunerado.

Levando-se em consideração o que foi exposto acima, salário é a retribuição

pelo trabalho prestado paga diretamente pelo empregador. Assim, só é salário aquilo

que é pago pelo empregador e só aquilo que corresponda a uma contribuição que

represente um acréscimo patrimonial por uma prestação de serviço.

Integram o salário, além da importância fixa estipulada, as comissões,

4 CATHARINO, José Marthins. Tratado Jurídico do Salário. São Paulo: LTr, 1994. p.105.5 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2005. p. 206-207.6 CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 1167.

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porcentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagem e abonos pagos pelo

empregador.

Não se incluem, no salário, as ajudas de custo e as diárias de viagens que

excedam a 50% (cinqüenta por cento) do salário percebido pelo empregado.

A remuneração é o montante que inclui o salário bem como as parcelas

recebidas de terceiros em função do contrato de trabalho como, por exemplo, as

gorjetas, vale-transporte, participação nos lucros, etc.

José Martins Catharino7 ensina que o vocábulo remuneração é de origem

latina, dem de “remuneration”, do verbo “remumeror”, composto de “re” que dá a

idéia de reciprocidade e de “muneror”, recompensar.

Em outras palavras, no ordenamento jurídico brasileiro, corresponde a

totalidade de bens fornecidos (utilidades) ou devidos aos empregado pelo serviço

prestado, inclusive parcela a cargo de terceiros (gorjetas).

Entende-se como gorjeta, o pagamento feito por terceiros ao empregado, seja

de forma espontânea, que é a gorjeta dada pelo cliente; seja de forma obrigatória,

que é a gorjeta cobrada do cliente pelo o estabelecimento através da nota de

serviços.

Para bem compreender a distinção entre salário e remuneração, faz-se

necessário verificar a redação da CLT em seus artigos 457 e 4588:

Art. 457 - Compreende-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber. (Redação dada pela Lei n.º 1.999 , de 01-10-53, DOU 07-10-53) § 1º - Integram o salário não só a importância fixa estipulada, como também as comissões, percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagens e abonos pagos pelo empregador. (Redação dada pela Lei n.º 1.999 , de 01-10-53, DOU 07-10-53) § 2º - Não se incluem nos salários as ajudas de custo, assim como as diárias para viagem que não excedam de 50% (cinqüenta por cento) do salário percebido pelo empregado. (Redação dada pela Lei n.º 1.999 , de

7 CATHARINO, José Martins. Tratado Jurídico do Trabalho. São Paulo: Ltr, 1994. p. 208 CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 311-325.

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01-10-53, DOU 07-10-53) § 3º - Considera-se gorjeta não só a importância espontaneamente dada pelo cliente ao empregado, como também aquela que for cobrada pela empresa ao cliente, como adicional nas contas, a qualquer título, e destinada à distribuição aos empregados. (Parágrafo incluído pelo Decreto-Lei n.º 229 , de 28-02-67, DOU 28-02-67 )

Art. 458 - Além do pagamento em dinheiro, compreende-se no salário, para todos os efeitos legais, a alimentação, habitação, vestuário ou outras prestações in natura que a empresa, por força do contrato ou do costume, fornecer habitualmente am empregado. Em caso algum será permitido o pagamento com bebidas alcoólicas ou drogas nocivas. (Redação dada pelo Decreto-Lei n.º 229 , de 28-02-67, DOU 28-02-67 ) § 1º - Os valores atribuídos às prestações in natura deverão ser justos e razoáveis, não podendo exceder, em cada caso, os dos percentuais das parcelas componentes do salário mínimo (arts. 81 e 82 ). (Parágrafo incluído pelo Decreto-Lei n.º 229 , de 28-02-67, DOU 28-02-67 ) § 2º - Para os efeitos previstos neste Art., não serão consideradas como salário as seguintes utilidades concedidas pelo empregador: (Parágrafo incluído e renumerado pelo Decreto-Lei n.º 229 , de 28-02-67, DOU 28-02-67 e alterado pela Lei n.º 10.243 , de 19-06-01, DOU 20-06-01) I - vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos aos empregados e utilizados no local de trabalho, para a prestação do serviço; (inciso acrescentado pela Lei n.º 10.243 , de 19-06-01, DOU 20-06-01) II - educação, em estabelecimento de ensino próprio ou de terceiros, compreendendo os valores relativos à matrícula, mensalidade, anuidade, livros e material didático; (inciso acrescentado pela Lei n.º 10.243 , de 19-06-01, DOU 20-06-01) III - transporte destinado ao deslocamento para o trabalho e retorno, em percurso servido ou não por transporte público; (inciso acrescentado pela Lei n.º 10.243 , de 19-06-01, DOU 20-06-01) IV - assistência médica, hospitalar e odontológica, prestada diretamente ou mediante seguro-saúde; (inciso acrescentado pela Lei n.º 10.243 , de 19-06-01, DOU 20-06-01) V - seguros de vida e de acidentes pessoais; (inciso acrescentado pela Lei n.º 10.243 , de 19-06-01, DOU 20-06-01) VI - previdência privada; ( inciso acrescentado pela Lei n.º 10.243 , de 19-06-01, DOU 20-06-01) § 3º - A habitação e a alimentação fornecidas como salário-utilidade deverão atender aos fins a que se destinam e não poderão exceder, respectivamente, a 25% (vinte e cinco por cento) e 20% (vinte por cento) do salário-contratual. (Parágrafo incluído pela Lei n.º 8.860 , de 24-03-94, DOU 25-03-94) § 4º - Tratando-se de habitação coletiva, o valor do salário-utilidade a ela correspondente será obtido mediante a divisão do justo valor da habitação pelo número de co-habitantes, vedada, em qualquer hipótese, a utilização da mesma unidade residencial por mais de uma família. (Parágrafo incluído pela Lei n.º 8.860 , de 24-03-94, DOU 25-03-94).

1.2 REGRAS GERAIS DE PROTEÇÃO AO SALÁRIO

À vista do caráter eminentemente alimentar do salário, a ordem jurídica

brasileira lhe outorga proteção contra as mais variadas formas de abuso do

empregador e de terceiros.

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A Convenção n. 95 da OIT, há muito incorporada ao ordenamento jurídico

nacional (Decreto n. 41.721/57), elenca em seu corpo inúmeras formas de proteção

ao salário, como determinação de pagamento em moeda de curso legal,

impenhorabilidade do salário, pagamento de salário em prazo razoável, dentre

outras.

No tocante às medidas de proteção do salário, vale trazer à baila valiosa lição

de José Augusto Rodrigues Pinto9:

O sistema de proteção fecha um círculo em volta do salário, preservando-o dos atos capazes de violar-lhe a integridade e a intangibilidade. Dentro desse círculo ele está protegido contra:a) os abusos do empregador; b) a imprevidência e os credores do empregado; c) os credores do empregador.

Analisaremos, a seguir, essas modalidades de proteção.

1.2.1 Proteção contra abusos do empregador

1.2.1.1 Princípio da irredutibilidade do salário

Por este princípio, de acordo com o preceito constitucional (art. 7º, VI), não

pode o empregador reduzir os salários dos seus empregados. O princípio em tela

acha-se agasalhado, também, no art. 468, da CLT, que veda quaisquer alterações

das condições de trabalho, que sejam prejudiciais aos empregados.

A exceção à referida regra da irredutibilidade encontra-se no próprio texto

constitucional, no qual se permite que, mediante convenção ou acordo coletivo,

sejam fixados critérios para uma redução generalizada dos salários, em situações

excepcionais.

Para se atender ao comando constitucional, somente por convenção ou

acordo coletivo é que pode haver redução salarial, não sendo possível que lei

infraconstitucional disponha sobre a matéria.9 PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de Direito Individual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2000. p. 34.

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1.2.1.2 Princípio da inalterabilidade prejudicial

A inalterabilidade prejudicial é tratada, de forma genérica, no Artigo 468 da

CLT10. Na esteira de tal princípio, o empregador não pode modificar a forma e o

modo de pagamento do salário, isto é, não cabe ao empregador, por exemplo,

transformar o salário pago por unidade de tempo em salário por unidade de obra,

tampouco procede alteração que transforme o salário composto em salário simples.

1.2.1.3 Princípio da integralidade do salário

Com exceção das deduções decorrentes de adiantamentos, de dispositivos

de lei e normas coletivas - Artigo 462, CLT11, não se admitem outros abatimentos

nos salários do empregado, nisso residindo o princípio da integralidade, segundo o

qual deve o salário ser integralmente pago.

Portanto, de fora a parte as deduções previstas em lei e em normas coletivas,

veda-se, no sistema brasileiro, qualquer outro abatimento salarial. O princípio tem o

objetivo evitar que o empregado seja coagido ou induzido pelo empregador a utilizar-

se de armazéns ou serviços por este fornecidos.

Em suma, pode-se dizer que no Brasil é vedada a prática de expediente que

consiste no pagamento do salário por meio de utilidades, vales, bônus, ou quaisquer

outras formas representativas de moeda (truck system).

São descontos autorizados por lei aqueles atinentes a adiantamentos, entre

outros: contribuições previdenciárias, contribuição sindical, imposto de renda, aviso

prévio devido pelo empregado, indenizações por danos dolosos ou culposos (estes

desde que existente previsão contratual), para quitar débito de habitação adquirida

junto ao Sistema Financeiro Habitacional, para quitar empréstimos, financiamentos e

10 Artigo 468, CLT – Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim, desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia.11 Artigo 462, CLT – Ao empregador é vedado efetuar qualquer desconto nos salários dos empregados, salvo quando este resultar de adiantamentos, de dispositivos de lei ou de contrato coletivo.

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operações de arrendamento mercantis concedidos por instituições financeiras, etc.

1.2.1.4 Princípio da pontualidade no pagamento

As garantias que cercam o pagamento do salário distribuem-se em torno de

quatro pontos: certeza do pagamento, época do pagamento, lugar do pagamento e

forma do pagamento.

a) Certeza do pagamento:

O salário deve ser pago mediante recibo assinado pelo empregado (art. 464,

CLT12), mesmo porque o seu pagamento somente se prova documentalmente,

admitindo-se, excepcionalmente, a confissão do credor quanto ao recebimento.

Atualmente, aceita-se o pagamento efetuado por meio de crédito em conta bancária

do empregado, cujo comprovante, respectivo tem força de recibo.

b) Época do pagamento:

O pagamento do salário não deve ser estipulado por período superior a um

mês (art. 459, CLT13), salvo quando se tratar de comissões, percentagens e

gratificações, que poderão ser exigidas trimestralmente .

Os salários devem ser quitados até o 5º dia útil do mês subseqüente ao

vencido, se estipulado o pagamento por mês (art. 459, §1º, CLT), e imediatamente,

se estipulado por prazo inferior (Código Civil, art. 331).

A retenção dolosa de salário constitui crime (art. 7º, X, CF88), a ser tipificado

em legislação ordinária, muito embora o Código Penal regulamente indiretamente o

sobredito delito ao cuidar da apropriação indébita.

12 Artigo 464, CLT – O pagamento do salário deverá ser efetuado contra recibo, assinado pelo empregado; e se tratando de analfabeto, mediante sua impressão digital, ou não sendo esta possível, a seu rogo.13 Artigo 459, CLT – O pagamento de salário que seja a modalidade de trabalho, não deve ser estipulado por período superior a um mês, salvo no que concerne a comissões, percentagens e gratificações.

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21

c) Lugar do pagamento:

O salário deve ser pago em dia útil e no local de trabalho, dentro do horário

de serviço ou imediatamente após o encerramento deste, salvo quando efetuado por

depósito em conta bancária (art. 465, CLT14).

d) Forma de pagamento:

O salário deve ser pago em moeda corrente do país. Se estipulado o salário

em moeda estrangeira, seu pagamento se fará, necessariamente, em moeda de

curso legal, convertida no câmbio do dia.

Existem, ainda, outras regras contidas na legislação trabalhista referentes à

forma de pagamento dos salários a saber: uma parcela dos salários pode ser

adimplida em utilidades (art. 458, CLT); pelo menos 30% do salário deve ser pago

em dinheiro (art. 82, parágrafo único, CLT); algumas utilidades têm o respectivo

valor previsto na própria CLT (art. 458, §3º, CLT) e outras nas tabelas dos decretos

de salário mínimo.

1.2.2 Proteção contra a imprevidência e os credores do empregado

1.2.2.1 Impenhorabilidade

De acordo com o art. 649, IV, do CPC15, o salário é absolutamente

impenhorável, salvo para pagamento de prestação alimentícia:

IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família,

14 Artigo 465, CLT – O pagamento dos salários será efetuado em um dia útil e no local do trabalho, dentro do horário do serviço e imediatamente após o encerramento deste, salvo quando efetuado por depósito em conta bancária. (...)15 BRASIL. Código de Processo Civil. Disponível em http//www.senado.gov.br. Acesso em 25 maio 2008

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os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3º deste artigo.

1.2.2.2 Proteção contra familiares do empregado e contra a sua própria

imprevidência

O salário deve ser pago diretamente ao empregado, ainda que menor de 18

anos (art. 439, CLT). Ressalte-se que, quanto ao menor de 18 anos, apenas na

rescisão contratual é que ele deverá estar assistido pelos responsáveis legais.

Não se admite, dada a índole alimentar do salário, a estipulação em favor de

terceiro, a cessão de crédito trabalhista, enfim, qualquer forma contratual que leve o

empregado a se despojar do seu crédito salarial em favor de outrem, frustrando-lhe

a função alimentar.

1.2.3 Proteção contra credores do empregador

1.2.3.1 O princípio da intangibilidade do salário

O art. 449 da CLT preceitua que os direitos oriundos da existência do contrato

de trabalho subsistirão em caso de falência, concordata ou dissolução da empresa.

De acordo com a nova Lei de Falências (Lei n. 11.101/05), os créditos

trabalhistas, assim como os decorrentes de acidentes de trabalho, continuam

superprivilegiados, até o limite de 150 salários mínimos por credor (art. 83)16:

Art. 83 – A classificação dos créditos na falência obedece a seguinte ordem:I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinqüenta) salários mínimos por credor e decorrentes de acidente de trabalho.

Desta forma, o salário representa um dos assuntos mais vibrantes do Direito

do Trabalho, não só pelo fato da ordem jurídica preocupar-se sobremaneira com a

sua proteção, mas também, e principalmente, porque dele depende a subsistência

do trabalhador. Aliás, não é à toa que diversos tratados jurídicos já foram escritos

sobre o tema.

16 BRASIL. Lei de Falências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em 18 maio 2008.

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23

Persistem, no entanto, discussões doutrinárias e jurisprudenciais acerca do

nível de proteção outorgado ao salário, como, por exemplo, o princípio da

impenhorabilidade do salário.

Como forma de proteção ao salário, ainda podemos considerar o princípio de

isonomia salarial, no qual se apresenta a igualdade salarial como uma garantia de

que a todo trabalho igual deve corresponder pagamento igual.

A ordem jurídico-trabalhista brasileira oferece proteção contra discriminações

gerais, envolvendo, por exemplo, tipos variados de empregados (mulher, menor e

portador de deficiência) e de situações contratuais, ao lado da proteção contra

discriminações que repercutem diretamente na temática salarial. Disso se conclui

que a possibilidade de equiparação vai além dos salários, abarcando condições

ínsitas ao contrato de trabalho, a exemplo dos dias de férias, dos valores das

diárias, da concessão de prêmios, dentre outras.

Nesse sentido, para que possa haver equiparação, cumpre sejam atendidas

seis identidades necessárias, a saber: funcional; produtiva; qualitativa; de

empregador; de local de trabalho; e de tempo de serviço.

Na funcional, é importante distinguir os conceitos de tarefa, função e cargo,

haja vista que, na equiparação, o que importa é a identidade de função. Função é o

trabalho que a pessoa efetivamente exerce, enquanto tarefas são as atribuições que

compõem a função. Assim, uma função pode englobar uma única tarefa ou um feixe

de tarefas reunidas em um todo unitário.

A identidade produtiva diz respeito à capacidade de produzir, devendo, assim,

ser aferida tendo em vista a conjugação dos meios de produção colocados à

disposição do empregado, dentre os quais inclui-se o fator tempo.

A identidade qualitativa pertence ao requisito legal da "mesma perfeição

técnica". Deve ser avaliada concretamente, de acordo com as exigências relativas à

fabricação do produto ou à execução do serviço. É diferencial qualitativo na aferição

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24

do trabalho comparado.

A identidade do empregador somente apresenta dificuldades quando se trata

de grupo empresarial, pois a existência do grupo de empregadores não afasta a

possibilidade de equiparação entre empregados vinculados a empresas distintas do

grupo, tendo em vista a presença de solidariedade ativa e passiva entre os seus

integrantes.

Em relação é equiparação por local de trabalho, entende-se como serviços

prestados na “mesma localidade”. Esta expressão tem sido entendida na

jurisprudência como mesmo município ou mesma região metropolitana.

Por fim, a diferença de tempo de serviço na função, e não no emprego, não

poderá ser superior a dois anos (Súmula 6, inciso II, do TST)17. Questão interessante

surge quando o paradigma exerce a função em períodos descontínuos. Nesses

casos, a jurisprudência tem entendido que os períodos devem ser somados, para se

justificar o tratamento diferenciado.

Nem sempre a equiparação salarial é possível. Os fatores excludentes da

equiparação salarial dizem respeito à readaptação profissional e à existência de

quadro de carreira devidamente homologado.

No que diz respeito à readaptação profissional de empregado incapacitado, o

§4º, do art. 461, da CLT, a medida prevista, de cunho social, visa com que as

empresas mantenham a política de readaptação dos que sofreram doença ou

acidente, sem que estejam sujeitas a ameaças de ações judiciais.

Em relação ao quadro de carreira, este não é obrigatório, mas, uma vez

adotado pelo empregador, deverão ser garantidas aos empregados promoções

alternadas, por merecimento e antiguidade, dentro de cada categoria profissional

(art. 461, § 2º e §3º, CLT). A expressão categoria profissional corresponde às

categorias administrativas constitutivas das diversas carreiras do quadro.

17 Súmula 6, inciso II, TST – Para efeito de equiparação de salários em caso de trabalho igual, conta-se o tempo de serviço na função e não no emprego.

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25

Disso decorre que as promoções estão circunscritas às classes de salários

em que se subdivide cada categoria ou cada cargo, não havendo, portanto,

possibilidade de promoção para categoria ou cargo diverso.

Já a transposição de uma categoria para outra, ou de um cargo para outro,

constitui reclassificação, a qual, por seu turno, não necessita obedecer aos critérios

alternativos de antiguidade e merecimento, podendo o empregador, livremente,

estabelecer essa forma de acesso com base apenas no merecimento.

As normas para a homologação do quadro de carreira estão dispostas na

Portaria n. 08/87, do Ministério do Trabalho.

Em relação aos empregados públicos vinculados à administração direta,

autárquica e das fundações, há mandamento constitucional (art. 37, XIII) vedando a

possibilidade de equiparação.

O art. 37, inciso XIII, da CF/8818 veda a equiparação de qualquer natureza

para o efeito de remuneração do pessoal do serviço público, sendo juridicamente

impossível a aplicação da norma infraconstitucional prevista no art. 461 da CLT19

quando se pleiteia equiparação salarial entre servidores públicos,

independentemente de terem sido contratados pela CLT.

No próximo capítulo veremos as formas de estipulação do salário e sua

natureza jurídica.

18 Art. 37, Inciso XIII, CF/88 - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público.19 Art. 461 - Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado ao mesmo empregador, na mesma localidade, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo, nacionalidade ou idade.§ 1º - Trabalho de igual valor, para os fins deste Capítulo, será o que for feito com igual produtividade e com a mesma perfeição técnica, entre pessoas cuja diferença de tempo de serviço não for superior a 2 (dois) anos.§ 2º - Os dispositivos deste artigo não prevalecerão quando o empregador tiver pessoal organizado em quadro de carreira, hipótese em que as promoções deverão obedecer aos critérios de antigüidade e merecimento.§ 3º - No caso do parágrafo anterior, as promoções deverão ser feitas alternadamente por merecimento e por antigüidade, dentro de cada categoria profissional.§ 4º - O trabalhador readaptado em nova função por motivo de deficiência física ou mental atestada pelo órgão competente da Previdência Social não servirá de paradigma para fins de equiparação salarial.

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26

2 FORMAS DE ESTIPULAÇÃO DO SALÁRIO

Considerando-se que salário é a retribuição pelo trabalho prestado paga

diretamente pelo empregador, passemos a analisar as suas formas de estipulação.

Basicamente, são duas as modalidades de aferição do salário, conforme

Arnaldo Süssekind, citando Garcia Oviedo20:

O salário por tempo, ou por unidade de tempo, e o salário por peça, ou por unidade de obra. Entre ambas pode situar-se, como forma intermédia, o salário-tarefa. É salário por unidade tempo o que só tem em conta o trabalho que se realiza durante um certo período (hora, semana, mês), sem a estimação de um resultado concreto.

Prossegue o Prof. Süssekind21, na mesma obra:

O salário por unidade de tempo corresponde a uma importância fixa, paga em razão do tempo que o empregado permanece à disposição do empregador, independentemente do montante de serviços executados nos correspondentes períodos. Neste grupo estão os horistas, diaristas, quinzenalistas e mensalistas, cujos horários correspondem, respectivamente, às horas, aos dias, às semanas, às quinzenas e aos meses de trabalho. Continua o autor: A forma de estipulação do salário é que subordina a designação de horista, diarista, mensalista, etc., podendo o seu pagamento ser efetuado semanalmente, quinzenalmente ou mensalmente.

Assim, o salário pode ser estipulado com base no tempo, na produção, na

tarefa e no lucro.

2.1 SALÁRIO POR UNIDADE DE TEMPO

É aquele que o número de horas é a base de apuração do valor da

remuneração. O salário por unidade de tempo é aquele que fixa o valor da

importância paga em razão do tempo que o empregado permanece à disposição do

empregador, independentemente dos serviços prestados.

O salário será determinado de acordo com a duração do trabalho. O salário

20 SUSSEKIND, Arnaldo; TEIXEIRA FILHO, João de Lima. Instituições de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2002. p. 403.21 SUSSEKIND, Arnaldo; TEIXEIRA FILHO, João de Lima. Instituições de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2002. p. 404.

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27

por unidade de tempo não sofre influência direta do rendimento do empregado nem

do resultado obtido pelo empregador, pois se relaciona com o tempo gasto na

prestação do serviço.

As unidades de tempo utilizadas são a hora, o dia, a semana, o mês e,

excepcionalmente o ano. Estas unidades de tempo servem de base para o cálculo.

Costuma-se pagar o salário por hora, para trabalhadores “horistas” de atividades

que pouco exigem qualificação profissional.

Mas, por exemplo, para o pessoal de escritório, via de regra, costuma-se

remunerá-lo com base no mês. Já o salário calculado por dia de serviço, é o mais

adequado a empregados que prestam serviços intermitentes, ainda que

continuados, como é o caso das trabalhadoras domésticas.

O salário por unidade de tempo apresenta algumas inconveniências:

a) Imprecisão, ao remunerar de forma igual tanto o trabalhador mais ativo e

hábil, como o incapaz, ambos recebendo a mesma coisa;

b) Injusto, ao remunerar igualmente esforços desiguais, bem como aquele

trabalhador que aumentar o esforço, quem se beneficia é o empregador

com um preço de custo diminuído, sem que o trabalhador participe dessa

vantagem;

c) Se não favorece o rendimento, o trabalhador não tem interesse no

resultado.

Ainda que não haja reciprocidade entre trabalho e ganho, o salário por

unidade de tempo, ao se buscar, pode-se afirmar, um valor “médio”, acrescentando

que as normas do direito positivo italiano provam que o sistema mais comum, poder-

se-ia mesmo dizer basilar da retribuição, é o tempo.

2.2 SALÁRIO POR UNIDADE DE OBRA OU PRODUÇÃO

O salário por produção ou por unidade de obra é aquele não leva em

consideração o tempo gasto na execução do serviço, mas o próprio serviço

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28

realizado. Seu valor é ajustado para cada unidade de obra, por exemplo, quantidade

de frutos colhidos.

Porém o total do salário varia de acordo com o número de unidades

produzidas. Apesar do fator tempo não ser considerado para efeito de cálculo da

remuneração, a jornada máxima de oito horas diárias e 44 horas semanais de

trabalho é obrigatória, ressalvada a prestação de horas extras, na forma legal.

Em suma o salário por unidade de obra ou produção é variável.

2.3 SALÁRIO POR TAREFA OU MISTO

O salário por tarefa ou misto é entendido como uma modalidade de Salário

por obra ou produção, na qual a tarefa a ser executada pelo empregado é estipulada

pelo empregador.

Ao findar a tarefa, o empregado pode ir embora mais cedo para casa, ou

começar a realizar o serviço do dia seguinte, angariando compensação.

O salário por tarefa corresponde a uma importância fixa, paga em razão de

períodos preestabelecidos, desde que o empregado execute, nesses períodos, um

mínimo predeterminado de serviço.

É uma forma mista de salário, que abrange os dois primeiros, pois leva em

conta o resultado da produção num determinado espaço de tempo.

2.4 NATUREZA JURÍDICA DO SALÁRIO

Segundo Alice Monteiro de Barros22, são várias as teorias que surgiram para

explicar a natureza jurídica do salário, destacando-se entre elas:

a) A que considera o salário como o preço do trabalho. Esse posicionamento,

segundo a autora, típico do liberalismo econômico, vigorava no tempo em

22 BARROS. Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008 p. 740

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29

que se equiparava o trabalho a uma mercadoria, não se justificando nos

dias atuais;

b) A corrente que sustenta que o salário é uma indenização paga ao

empregado como compensação pelas energias por ele despendidas em

virtude da relação contratual;

c) A corrente que afirma a natureza alimentícia do salário;

d) A corrente que atribui ao salário a natureza da contraprestação pelo

serviço prestado;

e) Dever de retribuição pelo fato do empregado se integrar na empresa.

Para Vólia Bomfim Cassar23, são quatro as correntes principais sobre a

natureza jurídica do salário. São elas:

a) Considera salário como preço do trabalho pois antigamente trabalho era

considerado mercadoria;

b) Para a segunda vertente o salário é uma indenização paga ao empregado

como compensação pelas energias despendidas;

c) Como natureza alimentar pois essencial para o trabalhador é sobreviver;

d) Consiste no dever de retribuição em razoa do caráter sinalagmático

comutativo e oneroso do contrato.

2.5 VERBAS QUE POSSUEM NATUREZA SALARIAL SEGUNDO A CLT

A composição do salário demonstra a existência de distintas modalidades de

salários: as chamadas parcelas salariais. Embora todas tenham a mesma natureza,

possuem estrutura jurídica e dinâmica operacional do cotidiano do Direito.

Segundo Rodrigo Schwarz24, as verbas que possuem natureza salarial e que

devem repercutir nas demais verbas remuneratórias são:

a) Salário básico

b) Comissões e percentagens

23 CASSAR. Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. Niterói/RJ: Impétus, 2008. p. 773-77424 SCHWARZ. Rodrigo Garcia. Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007 p. 108

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30

c) Gratificações

d) Adicionais

e) Abonos

2.6 VERBAS QUE NÃO POSSUEM NATUREZA SALARIAL SEGUNDO A CLT

A onerosidade do contrato empregatício manifesta-se, objetivamente, através

do recebimento pelo empregado de um conjunto de parcelas econômicas retributivas

da prestação dos serviços ou retributivas em face da simples existência da relação

de emprego.

Trata-se de diversificado número de parcelas contraprestrativas ventiladas

pela normatividade heterônoma trabalhista ou instituídas pela vontade unilateral do

empregador ou bilateral das partes.

Há entretanto, no contexto da relação de emprego um universo talvez ainda

mais diversificado e amplo de parcelas econômicas pagas ao trabalhador sem

caráter salarial. Parcelas que, embora entregues pelo empregador ao seu

empregado, não o são com a qualidade e objetivo contraprestativos, sendo

transferidas efetivamente com distinta natureza e finalidades jurídicas25.

As verbas que não possuem natureza salarial são26:

a) Ajuda de custo e diárias para viagens

b) Participação nos lucros

c) Programa de Alimentação do Trabalhador

d) Vale Transporte

e) Salário Família

f) Salário maternidade

g) Acidente do Trabalho

h) FGTS

i) Seguro Desemprego

25 DELGADO. Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2005. p. 69926 SCHWARZ. Rodrigo Garcia. Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007 p. 113

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31

j) Contribuições Previdenciárias

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32

3 OUTRAS PARCELAS

3.1 GUELTAS

A palavra “guelta” é uma corruptela da palavra “Geld”, que, em alemão,

quando precedida do prenome “Wechsel”, significa troco (“Wechselgeld”). A prática

da “guelta” originou-se no mercado farmacêutico, década de 60, mais conhecida

popularmente como “B.O” - “bom para otário” – pois os medicamentos bonificados

eram indicados pelos balconistas.

Trata-se de um procedimento pelo qual o fabricante/parceiro incentiva a

venda de seus produtos pelos vendedores de outrem (outra empresa).

Assim, guelta pode ser entendida como um valor pago habitualmente a

empregados, a título de incentivo, por conta de terceiros. A guelta passa a ser um

importante instrumento do marketing de incentivo, praticado no incremento de

vendas de determinados produtos, como os das vendas de eletrodomésticos e

medicamentos.

Poderíamos exemplificar da seguinte forma: empregados das grandes redes

de eletrodomésticos passam a receber um “prêmio” – guelta - de determinada

fabricante de televisor, cada vez que sugerirem e venderem a um cliente algum

produto em detrimento ao do concorrente, também exposto na mesma loja

empregadora.

Outro exemplo é o do gerente do banco que indica, ao correntista, uma

bandeira de cartão de crédito ao invés de outra.

A questão que se impõe é se a guelta integra ou não a remuneração do

trabalhador. De acordo com o art. 457 da CLT “compreendem-se na remuneração

do empregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago

diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que

receber”.

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33

A gorjeta é remuneração, na medida em que a anotação da CTPS – Carteira

de Trabalho e Previdência Social – do empregado deve trazer o seu valor, ainda que

seu valor seja estimativo, conforme o art. 29, §1º, da CLT:

Art. 29, §1º, CLT - as anotações concernentes à remuneração devem especificar o salário, qualquer que seja a sua forma de pagamento, seja em dinheiro ou em utilidade, bem como a estimativa da gorjeta.

Neste particular a doutrina divide-se entre os que entendem que a guelta não

é remuneração, e aqueles que veêm semelhanças entre gorjeta e guelta, portanto,

esta compõe a remuneração salarial.

Como as gueltas ainda não reguladas em lei, nem sumuladas pela orientação

do Tribunal Superior do Trabalho, a dúvida reside em saber, se o mesmo tratamento

das gorjetas pode ser aplicado às gueltas.

Atualmente, entre alguns Tribunais Regionais inferiores, já se extrai um

posicionamento no sentido de que, se a empresa empregadora participa do

processo de “premiação”, ao consentir a prática, auxiliar na demonstração de quem

vendeu o quê, encaminhar listas e controles ao fabricante, receber o dinheiro da

“bonificação” e repassar ao seu empregado, então, a guelta pode ser considerada

parte integrante da sua remuneração.

Os juízes que adotam esse raciocínio vão além e argumentam que a empresa

empregadora é beneficiada com a guelta, pois o estímulo das vendas, ainda que de

determinadas marcas, acaba sempre gerando lucro ao estabelecimento final,

interessado na “premiação” de seus vendedores.

Em outras palavras, os que defendem a guelta como remuneração, justificam

que o empregador, além de participar ativamente do procedimento das gueltas, tem

ganhos, diretos ou indiretos, com a “premiação” de seus vendedores, dividindo com

terceiros a obrigação contratual e exclusiva de remunerar sua mão-de-obra,

devendo sofrer o ônus dessa “delegação”27.

Assim, predomina o entendimento na Justiça do Trabalho de que as gueltas 27 DUARTE, Juliana Bracks. A prática das gueltas e sua repercussão no contrato de trabalho. Disponível em: http://www.migalhas.com.br/mostra_noticia_articuladas.aspx?cod=6045 Acesso em 30 março 2008.

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34

pagas habitualmente por terceiros constituem contraprestação pelo trabalho

realizado, por força do contrato mantido com o empregador, assemelhando-se às

gorjetas. Por isso, teriam natureza salarial.

Já os que entendem que a guelta não se trata de remuneração, justificam que

estas não influem na relação empregatícia, por se tratar de um pagamento sui

generis, desvinculado do contrato de trabalho e, portanto, sem natureza salarial, já

que são pagas diretamente pelos fornecedores, sem ingerência do empregador.

Assim, a guelta não tem natureza salarial, quando esta é quitada pelos

fornecedores, a fim de fomentar as vendas de seus produtos comercializados no

estabelecimento comercial da empresa parceira, trata-se de incentivo pecuniário aos

vendedores que privilegiam a sua marca em detrimento das demais, no momento da

oferta aos clientes.

Ou seja, a guelta não se caracteriza por ser remuneração, mesmo que

habituais, pois não são quitadas diretamente pelo empregador.

Estabelece-se a diferença entre guelta e gorjeta neste caso. A gorjeta é

aquela paga pelo cliente como recompensa pela bom serviço prestado pelo

empregado da empresa. E a guelta representa um incentivo que o fornecedor dos

produtos oferece ao empregado da empresa que os comercializa.

3.2 STOCK OPTIONS

Desde o final do século XX, com a transferência de investimentos de

empresas estrangeiras para o Brasil, o sistema de remuneração adotado pelas

empresas brasileiras modificou-se drasticamente, alterando o cenário empresarial e

influenciando diretamente a política de recursos humanos.

Passou a ser introduzido uma nova política de remuneração: o sistema de

remuneração variável. Desta forma, deixa-se de lado o modelo único do sistema de

salário fixo.

A mais importante estratégia de remuneração variável passou a ser a

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35

promessa da distribuição agressiva de planos de opções de compra de ações por

preço prefixado (“employee stock options”).

Tal procedimento passou a ser implantado no Brasil, para que os empregados

estrangeiros mantivessem os benefícios, quando eram empregados da matriz da

empresa no exterior. Em seguida, passou-se a ofertar tais benefícios para os

empregados brasileiros contratas e, posteriormente, estendido aos demais

empregados brasileiros da empresa.

O termo “stock option” significa, segundo o dicionário Barron’s Dictionary of

Legal Terms28: “a outorga a um indivíduo do direito de comprar, em uma data futura,

ações de uma sociedade por um preço especificado ao tempo em que a opção lhe é

conferida, e não ao tempo em que as ações são adquiridas”.

A ‘stock option’ é um mecanismo jurídico contemplado por um ou mais

contratos celebrados entre a empresa (ou um seu agente fiduciário, que é uma

espécie bem particular de representante) e o executivo, tendo por objeto garantir

que este último, cumpridas determinadas condições vinculadas ao alcance de

determinadas metas ou o transcurso de certo período de tempo, possa adquirir um

percentual do capital da empresa a um preço pré-determinado.

O intervalo de tempo entre a atribuição das opções e a compra de ações

transforma o plano em típico sistema de remuneração diferida, na medida em que

quem recebe as opções de ações não pode dispor imediatamente do valor potencial

dessa remuneração.

Ao se instituir a “stock options” como forma de remuneração variável, a

empresa objetiva, em primeiro lugar, manter o empregado considerado “talento” da

empresa e, em segundo lugar, atingir resultados positivos por meio de uma parceria

entre os acionistas e empregados da empresa. É um sistema que busca o ganho de

todas as partes envolvidas no trabalho.

28 CALVO, Adriana. A natureza jurídica dos planos de opções de compra de ações no direito do trabalho - (“employee stock option plans”). Disponível em: http://www.calvo.pro.br/artigos/stock_options.htm. Aceso em 21 abril 2008.

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36

As ações no sistema de “stock options” originam-se de duas fontes: a)

concessões feitas pelos próprios acionistas da empresa ou seus principais

investidores; b) da emissão de um novo lote de ações destinado à realização do

plano de opções de compra.

No primeiro caso, há concordância prévia dos acionistas, contratualmente

estabelecida, criando o plano de “stock options” e permitindo que haja uma redução

em sua participação, atual ou futura, em prol dos futuros beneficiários das opções de

compra.

No segundo, em relação à emissão de novas ações, há a possibilidade de se

realizar um compromisso de investimento, através de futuro aporte de capital, pelo

qual os acionistas comprometem-se a subscrever as ações necessárias à

implementação do plano de “stock options”, destinando-as contratualmente a este

fim.

Ou se busca uma alternativa, na qual o lote de novas ações emitidas é

transferido para uma outra sociedade de fins específicos que funcionará como

veículo na implementação do plano de opções de compra.

Assim, para que haja um plano de “stock options”, deve haver

necessariamente abdicação contratualmente estabelecida por parte dos acionistas

ou principais investidores da empresa de uma parcela de seus direitos sobre o

capital social efetivamente detido, ou de seus direitos sobre subscrições futuras de

ações.

Deve ser ressaltado que as estruturas acima representam apenas algumas

das possibilidades de implementação de planos de “stock options”, podendo ser

adaptadas à necessidade e peculiaridades de cada empresa específica.

O plano de "stock option" nada mais é do que a concessão futura do direito de

opção de compra de ações a empregados da companhia ou de suas subsidiárias,

que adquirem o direito de exercer a compra de ações, mediante o pagamento de um

preço pré-fixado.

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37

As variações do mercado poderão afetar o valor das ações no momento da

negociação. O empregado verificará a existência de lucro ou não na revenda das

ações, se o valor futuro da ação tiver um valor maior que o valor de emissão.

Quanto à legislação trabalhista brasileira, não há a regulamentação sobre o

plano de “stock options” nas relações do trabalho até agora. Portanto, em princípio,

não existe proibição quanto à adoção destes tipos de planos acionários, tendo em

vista a autonomia das partes na regulação do conteúdo do contrato de trabalho

prevista no artigo 444 da CLT29 .

Adriana Calvo30 entende que:

A questão da natureza jurídica do plano de “stock options” é extremamente relevante, uma vez que caso a opção de compra de ações seja considerada como um benefício concedido aos empregados, dotado de natureza jurídica salarial, far-se-ia necessária a sua inclusão na base de cálculo de todos os direitos trabalhistas e encargos sociais.

Por outro lado, na hipótese de se constatar que o “stock option plan” é um contrato de natureza meramente mercantil, totalmente desvinculado do contrato de trabalho, os ganhos eventualmente auferidos por empregados, quando da venda das ações adquiridas através do plano, não teriam nenhuma implicação trabalhista.

Segundo Calvo31, resumidamente, os principais requisitos apresentados pela

doutrina e pela jurisprudência brasileira são:

1. Expectativa de direito: o plano de “stock options” é uma mera expectativa de direito, já que o empregado pode exercer o seu direito de compra ou não, somente após o término do período de carência.

2. Risco mercantil: trata-se de uma operação financeira que envolve riscos para o empregado, pois se na ocasião do exercício do direito à compra de ações, o valor das ações estiver menor do que o valor da opção, não haverá qualquer ganho para o empregado.

3. Onerosidade: trata-se de um contrato oneroso, pois o empregado para exercer o seu direito de compra deverá desembolsar o valor da opção.

4. Eventualidade: os ganhos que o empregado pode obter são eventuais, já que dependerá da flutuação do valor das ações no mercado.

29 CALVO, Adriana. A natureza jurídica dos planos de opções de compra de ações no direito do trabalho. (“employee stock option plans”). Disponível em: http://www.calvo.pro.br/artigos/stock_options.htm. Acessado em 21 de abril de 2008.30 CALVO, Adriana. A natureza jurídica dos planos de opções de compra de ações no direito do trabalho. (“employee stock option plans”). Disponível em: http://www.calvo.pro.br/artigos/stock_options.htm. Acessado em 21 de abril de 2008.31 CALVO, Adriana. A natureza jurídica dos planos de opções de compra de ações no direito do trabalho. (“employee stock option plans”). Disponível em: http://www.calvo.pro.br/artigos/stock_options.htm. Acessado em 21 de abril de 2008.

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38

Isso exposto, conclui-se que o entendimento da natureza jurídica do plano de

“stock option”, majoritariamente, é o de contrato mercantil, desvinculado do contrato

de trabalho, cujos eventuais ganhos auferidos por empregados, no momento da

venda das ações adquiridas através do plano, não teriam implicação trabalhista.

3.3 DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO

O décimo terceiro salário, ou gratificação natalina, consiste no pagamento de

um salário extra ao trabalhador no final de cada ano, ou na proporção de 1/12 avos

por mês ou fração acima de 15 dias de exercício durante o respectivo ano civil,

correspondente ao valor da remuneração percebida em dezembro.

O art. 7º da Constituição Federal de 1988 garante o décimo terceiro ao

trabalhador de todas as categorias. Ela possui natureza salarial. O parágrafo 1º do

art. 457 da CLT inclui expressamente as gratificações ajustadas ao enumerar os

elementos componentes do salário.

O décimo terceiro salário é proporcional aos meses de serviço do empregado

em cada ano, motivo pelo qual deve entrar na formação da maior remuneração

mensal, com a parcela equivalente à contraprestação de cada mês (1/12 da

gratificação paga em cumprimento à Lei nº. 4.090, se o empregado tiver trabalhado

em todos os meses do correspondente ano).

O pagamento, pelo empregador, será realizada até o dia 20 de dezembro de

cada ano, tomando-se por base a remuneração devida nesse mês calculando-a em

proporção ao tempo de serviço do empregado no ano em curso.

O valor da gratificação corresponderá a 1/12 da remuneração devida em

dezembro por mês de serviço no respectivo ano, sendo que a fração igual ou

superior a quinze dias será havida como mês integral.

Calcula-se o décimo terceiro salário sobre o salário integral do trabalhador a

partir da seguinte fórmula: valor do salário ÷ 12 x n.º de meses trabalhados. O

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39

trabalhador deixa de ter direito a 1/12 avos relativos ao mês de trabalho, quando

tiver mais de 15 faltas não justificadas no mês.

As médias dos demais rendimentos como hora extra e comissões adicionais

são também somadas ao valor do salário usado como base para o cálculo do

décimo terceiro. Os trabalhadores, que só recebem comissão, devem calcular o

décimo terceiro salário com base na média aritmética das comissões recebidas

durante o ano.

Integra o décimo terceiro salário:

a) Auxílio-doença previdenciário: a empresa deve pagar o décimo terceiro

salário dos primeiros 15 dias de um empregado que se afasta por motivo de doença

por um período maior de 15 dias. A partir do 16º dia, o contrato de trabalho é

suspenso e a empresa fica isenta do pagamento. Assim, a empresa paga o período

anterior e posterior ao afastamento do seu empregado.

b) Auxílio-doença por acidente de trabalho: as faltas do empregado,

decorrentes de acidente de trabalho, não são consideradas para cálculo de

gratificação natalina. Neste caso, o décimo terceiro salário é pago integralmente,

pois não se considera o tempo que o empregado esteve ausente por motivo de

acidente de trabalho.

c) Adicional noturno: como o adicional noturno, pago com habitualidade,

integra o salário do empregado para todos os efeitos, integra também a gratificação

natalina.

d) Adicional de Insalubridade: tomando-se como base a remuneração do mês

de dezembro, de acordo com o tempo de serviço do empregado, no ano em curso,

para cálculo da gratificação natalina, os adicionais de insalubridade, ao comporem a

remuneração do mês de dezembro, são computados para o cálculo do décimo

terceiro salário.

3.4 ADICIONAIS LEGAIS

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40

Trata-se de um acréscimo salarial decorrente da prestação de serviços do

empregado em condições mais gravosas. Pode ser dividido em: horas extras,

noturno, insalubridade, periculosidade e de transferência.

3.4.1 Adicional de Horas Extras

Segundo o Artigo 7º, Inciso XVI da Constituição Federal de 1988 o adicional

de horas extras é devido pelo trabalho extraordinário à razão de pelo menos 50%

sobre o valor da hora normal.

Segundo Sérgio Pinto Martins32, o adicional de horas extras tem natureza

salarial e não indenizatória, pois remunera o trabalho prestado após a jornada

normal.

Conforme a Súmula 226 do TST a gratificação por tempo de serviço integrará

as horas extras.

Já a Súmula 264 do TST informa que a remuneração do serviço

complementar é composto do valor da hora normal, integrado por parcelas de

natureza salarial acrescido do adicional previsto em lei, contrato, acordo, convenção

coletiva ou sentença normativa.

As horas extras não sofrerão repercussão do adicional de insalubridade, pois

o mesmo é calculado sobre o salário mínimo conforme disposto no Artigo 192 da

CLT33, e o adicional de horas extras é calculado sobre a hora normal conforme § 1º

do artigo 59 da CLT34.

3.4.2 Adicional Noturno

32 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2007. p. 233.33 Artigo 192, CLT – O exercício do trabalho em condições insalubres, acima dos limites de tolerância estabelecidos pelo Ministério do Trabalho assegura a percepção de adicional respectivamente de 40%, 20% e 10% do salário mínimo da região, segundo se classifiquem nos graus máximo, médio e mínimo.34 Artigo 59, § 1, CLT – A duração normal do trabalho poderá ser acrescida de horas suplementares, em número não excedente de duas, mediante acordo escrito entre empregador e empregado, ou mediante contrato coletivo de trabalho.

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41

O adicional noturno é devido ao empregado urbano que trabalhar no período

compreendido entre 22 e 5 horas.

O trabalhador rural terá direito ao adicional no período de 21 horas de um dia

às 5 horas do dia seguinte na lavoura; entre as 20 horas de um dia às 4 horas do dia

seguinte, na pecuária (art. 7º da Lei 5.889/73).35

Segundo a Súmula 60 do TST se o adicional noturno for pago com

habitualidade, integra o cálculo do salário do empregado para todos os efeitos.

O pagamento do adicional noturno depende de uma condição que é o

trabalho à noite. Se o trabalho deixa de ser prestado no período noturno, perde o

trabalhador ao direito adicional que não se incorpora ao seu contrato de trabalho.

3.4.3 Adicional de Insalubridade

Conforme disposto no artigo 192 da CLT, o adicional de insalubridade é

devido ao empregador que presta serviços em atividades insalubres, sendo

calculado à razão de 10% (grau mínimo), 20% (grau médio) e 40% (grau máximo)

sobre o salário mínimo.

A Orientação Jurisprudencial 2 da SDI do TST36 entende que, mesmo na

vigência na Constituição Federal de 1988, a base de cálculo do adicional de

insalubridade é o salário mínimo.

Segundo Sergio Pinto Martins37, o inciso XXIII do art. 7º da CF/88 não dispõe

que o adicional de insalubridade é calculado sobre a remuneração, mas sim, que se

trata de um adicional de remuneração.

Segundo o mesmo autor, é vedado o cálculo do adicional de insalubridade

sobre o salário contratual, pois inexiste previsão legal.

35 PINTO, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2007. p. 23436 CARRION. Valentin, Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 1313.37 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2007. p. 237

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42

A Súmula 17 do TST38 prevê que o adicional de insalubridade devido a

empregado ou percebe, por força de lei, convenção ou sentença normativa, salário

profissional, será sobre este calculado.

O artigo 194 da CLT39 expressa no sentido de que o adicional de

insalubridade cessará com a eliminação do risco à saúde ou integridade física. Logo,

cessada a causa, deixa de existir o direito ao pagamento do adicional, não se

incorporando ao salário.

3.4.4 Adicional de Periculosidade

Segundo Sergio Martins40, o adicional de periculosidade é devido ao

empregado que presta serviços em contato permanente com elementos inflamáveis

ou explosivos. O contato permanente tem sido entendido como diário.

Conforme o § 1º do Artigo 193 da CLT, o adicional será de 30% sobre o

salário sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou participações

nos lucros da empresa.

A natureza do adicional de periculosidade é de salário, pois remunera o

trabalho em condições perigosas e não de indenização. Adicional é espécie de

salário.41

A Súmula 39 do TST preceitua que os empregados que operam bomba de

gasolina têm direito ao adicional de periculosidade.

Faz jus ao adicional de periculosidade o empregado exposto

permanentemente ou de forma intermitente, sujeita-se a condições de risco.

38 CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 1315.39 CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 190-191.40 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2007. p. 238.41 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2007. p. 239.

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Foi estendido também o adicional de periculosidade aos empregados que

trabalham com energia elétrica (Lei 7.369/85) e radiações ionizantes, através da

Portaria do Ministério do Trabalho 3.393/87.

Incide o adicional de periculosidade apenas sobre o salário básico do

empregado e não sobre tal salário acrescido de outros adicionais.42

3.4.5 Adicional de Transferência

Conforme artigo 469, § 3º da CLT, o adicional de transferência é devido ao

empregado quando o mesmo for transferido provisoriamente para outro local, desde

que importe mudança de sua residência.

O referido adicional não é devido nas transferências definitivas.

O percentual deste adicional é de 25% sobre o salário. O adicional de

transferência será pago enquanto existir o fato gerador que é a transferência

provisória. Não se incorpora ao salário.

Se a transferência for definitiva, o adicional deixa de ser pago ou então é

indevido.

3.5 REMUNERAÇÃO VARIÁVEL COMO ATRATIVO PARA MELHORA DE

PERFORMANCE DE RESULTADOS

O mercado globalizado vem sendo marcado por constantes mudanças, onde

se torna imprescindível administrar bem seus recursos humanos para ser

competitiva, a organização moderna encontra na atração, desenvolvimento e

fidelização de talentos algumas de suas maiores preocupações.

Nesse sentido, um plano de Remuneração Variável, segundo gestores de

grandes empresas, adequadamente estruturado e implantado, constitui ferramenta

42 CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho – Súmula 191 do TST. São Paulo: Saraiva, 2008. p.1316.

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de grande poder para vencer esse desafio.

Segundo Lucilene Faquim43 em seu artigo Empresas adotam novos modelos

de remuneração, na medida em que a crise financeira mundial se instala no Brasil,

provocando um agravamento da situação econômica:

As empresas trabalham mais fortemente com mudanças organizacionais, seja nas suas estratégias, nas suas estruturas ou na implementação de programas de qualidade e de melhoras contínuas.

O consultor de RH Vicente Picarelli Filho44 comenta no mesmo artigo que,

O grande desafio da área de RH, considerando as dificuldades econômicas dos próximos anos, será tratar do assunto remuneração. A questão será como equilibrar os resultados alcançados pela organização com o reconhecimento financeiro da participação dos empregados na geração destes resultados, evitando desemprego e redução de salário.

No Brasil há um predomínio de participação nos resultados. Os sistemas de

remuneração podem ser adequados às características do tipo de mão-de-obra

empregada, podendo, desta forma, aplicar até mais de um programa de

remuneração.

Poderá ser proporcionado ganhos em função da produtividade ou do valor do

cargo para a empresa.

No mercado existem hoje vários tipos de remuneração tais como:

remuneração variável por habilidades e competências, funcional, participação nos

lucros e resultados, prêmios, etc.

É preciso ter claro o objetivo e buscar as melhorias do processo através de

análises estratégicas verificando se a estrutura salarial atende aos objetivos da

empresa.

43 FAQUIM, Lucilene. Empresas adotam novos modelos de remuneração. Revista RJ em Síntese – JAN-FEV/1999 ANO IV – p. 25 a 27.44FAQUIM, Lucilene. Empresas adotam novos modelos de remuneração. Revista RJ em Síntese – JAN-FEV/1999 ANO IV – p. 25 a 27.

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45

CONCLUSÃO

A preocupação com o trabalho é bastante antiga. O embate entre o capital e o

trabalho não é recente e a formação histórica da sociedade com a conseqüente

divisão dessas entre dominantes de dominados sempre teve por fundamento a

transformação da atividade produtiva em trabalho desligado de outras esferas da

vida, e, portanto, alienado, contabilizado e imposto por aqueles que se aproveitam

do fruto deste trabalho.

Trabalho este, que deve ser pago, recompensado por quem o toma. Não só

por salário, mas por vários tipos de remuneração que foram surgindo ao longo do

caminho.

A remuneração variável tradicional é, em geral, aplicada apenas para os

executivos e para pessoal de vendas, sob o pressuposto que somente estes têm

influência decisiva sobre os resultados da empresa.

Ou ainda, a remuneração variável á aplicada para obter-se produtividades

máximas dentro dos limites impostos pelos processos produtivos.

Com tantas mudanças, imprevisíveis e incontroláveis, as organizações

precisam estar preparadas para também mudar constantemente e de forma radical,

precisam ser flexíveis. A produtividade é variável, mas o trabalhador é estimulado

também a propor mudanças no processo produtivo.

Quando a remuneração fixa é definida em patamares elevados, consoante a

períodos de bons resultados financeiros da empresa, as crises de mercado

provocam de imediato, a compressão da rentabilidade da empresa podendo levar a

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cortes de pessoal como conseqüente desestimulo e perda de confiança dos

funcionários da empresa.

Pode-se concluir que neste cenário, a remuneração variável permite a

empresa pagar baseada, principalmente na sua capacidade de pagar, trazendo

vantagens para a empresa e empregados, simultaneamente.

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