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SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL: UMA REFLEXÃO TEÓRICO-ANALÍTICA Samuel Carvalho De Benedicto (UFLA) [email protected] Ângelo Constâncio Rodrigues (UFLA) [email protected] Aline Micheli da Silva Penido (UFLA) [email protected] RESUMO O propósito deste ensaio teórico é analisar diversos aspectos ligados ao surgimento e evolução da responsabilidade social empresarial. O estudo parte da perspectiva de que a partir das décadas finais do século XX, a sociedade internnacional passa por profundas e significativas mudanças, emergindo novas tendências econômicas, sociais e culturais. Esse contexto contribuiu para a efetivação de mudanças de paradigmas em muitas dimensões e amplitudes do conhecimento humano, mormente, nas ciências sociais aplicadas. É nesse contexto, pressionado pela própria sociedade, que o homem começa a perceber sua responsabilidade para com o bem-estar social da humanidade nos dias atuais e de suas futuras gerações, incluindo aí a preservação do meio ambiente, sobretudo dos recursos naturais não renováveis. Diante da falência do Estado, de sua incapacidade de encontrar soluções e fazer os investimentos necessários para mudar tal situação, torna-se necessário que o setor empresarial, as Organizações Não Governamentais, o governo e a sociedade como um todo, assuma sua parcela de responsabilidade em busca de mudanças significativas. Surge nesse contexto, o denominado “terceiro setor” que congrega um Pool de organizações sem finalidades lucrativas (Institutos, ONG’s, Fundações, etc.), que angariam e administram recursos financeiros, geralmente voltados “ações sociais”, tais como: investimento em educação através da concessão de bolsas de estudos ou a fundação de escolas; patrocínio de atletas e outras modalidades esportivas; criação e manutenção de clubes com finalidades diversas; combate à fome e a exclusão social; defesa do meio ambiente; proteção aos indígenas; instalação e manutenção de creches, orfanatos, asilos, sanatórios e hospitais. O envolvimento das empresas com essas ações têm recebido a denominação de “responsabilidade social empresarial” ou “cidadania empresarial”. XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

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  • SURGIMENTO E EVOLUO DA

    RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL: UMA REFLEXO

    TERICO-ANALTICA

    Samuel Carvalho De Benedicto (UFLA) [email protected]

    ngelo Constncio Rodrigues (UFLA) [email protected]

    Aline Micheli da Silva Penido (UFLA) [email protected]

    RESUMO O propsito deste ensaio terico analisar diversos aspectos ligados ao surgimento e evoluo da responsabilidade social empresarial. O estudo parte da perspectiva de que a partir das dcadas finais do sculo XX, a sociedade internnacional passa por profundas e significativas mudanas, emergindo novas tendncias econmicas, sociais e culturais. Esse contexto contribuiu para a efetivao de mudanas de paradigmas em muitas dimenses e amplitudes do conhecimento humano, mormente, nas cincias sociais aplicadas. nesse contexto, pressionado pela prpria sociedade, que o homem comea a perceber sua responsabilidade para com o bem-estar social da humanidade nos dias atuais e de suas futuras geraes, incluindo a a preservao do meio ambiente, sobretudo dos recursos naturais no renovveis. Diante da falncia do Estado, de sua incapacidade de encontrar solues e fazer os investimentos necessrios para mudar tal situao, torna-se necessrio que o setor empresarial, as Organizaes No Governamentais, o governo e a sociedade como um todo, assuma sua parcela de responsabilidade em busca de mudanas significativas. Surge nesse contexto, o denominado terceiro setor que congrega um Pool de organizaes sem finalidades lucrativas (Institutos, ONGs, Fundaes, etc.), que angariam e administram recursos financeiros, geralmente voltados aes sociais, tais como: investimento em educao atravs da concesso de bolsas de estudos ou a fundao de escolas; patrocnio de atletas e outras modalidades esportivas; criao e manuteno de clubes com finalidades diversas; combate fome e a excluso social; defesa do meio ambiente; proteo aos indgenas; instalao e manuteno de creches, orfanatos, asilos, sanatrios e hospitais. O envolvimento das empresas com essas aes tm recebido a denominao de responsabilidade social empresarial ou cidadania empresarial.

    XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUO A integrao de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentvel.

    Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

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    Palavras-chaves: Palavras-Chave: Responsabilidade Social Empresarial, Aes Sociais, Sociedade, Estado.

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    1. Introduo

    A economia capitalista produziu mudanas nas relaes sociais e de trabalho. Esse processo histrico de apropriao do trabalho e sua "transformao em mercadoria tm contribudo para a gerao de riqueza para uma minoria e pobreza para uma maioria absoluta. Apesar da crise atual do capitalismo, os fatos mostram que h grande acumulao de capital ou riqueza nas mos de grupos minoritrios. A controvrsia centra-se na questo das injustias e desigualdades sociais que levam um alto percentual da populao mundial a viver na linha demarcatria entre a pobreza e a misria absoluta (AQUINO, 1994).

    Ao longo dos sculos, surgiram muitas correntes ideolgicas nos meios acadmicos, religiosos e do Estado sobre uma "responsabilidade social" das foras de produo, mas o poder hegemnico nunca demonstrou uma ampla disposio em socorrer os menos favorecidos e promover um desenvolvimento eqnime. Historicamente houve, j no sculo XVI, na Inglaterra, uma lei que buscava amparar os "miserveis e vagabundos" (Poor Law ou Lei dos Pobres), mas sem o sucesso esperado. Ao longo dos sculos seguintes foram vrias as tentativas de implantao de uma forma de eqanimidade social e amparo aos desvalidos, sem com tudo, encontrar uma motivao capaz de mobilizar a classe hegemnica (AQUINO, 1994, p. 10-12).

    Embora, ao longo do sculo XX, o mundo tenha vivenciado um considervel desenvolvimento social e econmico, ainda h muito que mudar quanto a melhoria das condies de vida das populaes. H muito que se investir nas ofertas de trabalho e renda, no combate excluso social, no analfabetismo, na diminuio da mortalidade infantil, na sade pblica, na preservao do meio ambiente, ou seja, na construo de uma sociedade mais justa e igualitria. Porm, o Estado desde o Absolutismo, passando por todos os estgios conhecidos historicamente, at a consolidao da democracia atual na maioria dos pases, no tem sido capaz de resolver tais problemas. Sabe-se que os Estados so e sempre sero necessrios, mas os mesmos se tm mostrado incapazes de resgatar a enorme dvida social existente no mundo.

    Diante da falncia do Estado, de sua incapacidade de encontrar solues e fazer os investimentos necessrios para mudar tal situao, torna-se necessrio que o setor empresarial, as Organizaes No Governamentais, o governo e a sociedade como um todo, assuma sua parcela de responsabilidade em busca de mudanas significativas. Surge nesse contexto, o denominado terceiro setor que congrega um Pool de organizaes sem finalidades lucrativas (Institutos, ONGs, Fundaes, etc.), que angariam e administram recursos financeiros, geralmente destinando-os s parcelas mais desfavorecidas da sociedade.

    Nesse contexto de dinamismo, de globalizao com acesso s informaes multifacetrias surgiram as administraes empresariais com uma viso moderna avanada (ou ps-moderna para muitos) da realidade a qual esto inseridas. Pautados nessa viso futurista, muitas empresas tm sido levadas a praticar algumas "aes sociais", tais como: investimento em educao atravs da concesso de bolsas de estudos ou a fundao de escolas; patrocnio de atletas e outras modalidades esportivas; criao e manuteno de clubes com finalidades diversas; combate fome e a excluso social; defesa do meio ambiente; proteo aos indgenas; instalao e manuteno de creches, orfanatos, asilos, sanatrios e hospitais. O envolvimento das empresas com essas aes mencionadas tem recebido a denominao de responsabilidade social ou cidadania empresarial.

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    O propsito principal deste ensaio terico analisar o tema da Responsabilidade Social Empresarial (RSE), dentro de um contexto histrico e de mudanas sociais crescentes. Diante da lacuna existente com respeito literatura ligada ao tema, no demais afirmar que um trabalho desta natureza torna-se til e mesmo necessrio, contribuindo para colocar esse importante tema no centro das discusses acadmicas, empresariais e da sociedade como um todo.

    O arcabouo terico do trabalho est dividido em duas etapas. Na primeira delas busca-se fazer uma anlise contextual do surgimento da responsabilidade social e o modo com que a mesma passou gradativamente a incorporar as estratgias e objetivos organizacionais, assim como as razes que levaram as empresas a adotarem este papel. Na segunda etapa so discutidos conceitos relacionados responsabilidade social; o papel da empresa socialmente responsvel diante da sociedade; os aparentes motivos do surgimento da responsabilidade social e; as estratgias de valorizao da imagem empresarial.

    2. Surgimento e evoluo histrica da responsabilidade social

    A expresso "responsabilidade social" foi escrita pela primeira vez em um manifesto de 120 industriais ingleses. O documento menciona que a "responsabilidade dos que dirigem a indstria manter um equilbrio justo entre os vrios interesses dos pblicos, dos consumidores, dos funcionrios, dos acionistas. Entretanto, as primeiras manifestaes em defesa dessa idia surgiram no incio do sculo XX, com os americanos Charlies Eliot (1906), Hakley (1907) e John Clark (1916), e em 1923 com o ingls Oliver Sheldon (OLIVEIRA, 2000, p. 2).

    Oliver Sheldon, em 1923, em seu livro The Philosophy of Management visava abranger a totalidade da administrao, ou seja, a correlao e posicionamento da empresa frente a sociedade, numa tentativa de fundir a tica social com a prtica da administrao. Sheldon estabeleceu um conjunto de princpios que visava dar equilbrio entre a abordagem cientifica da produo e a responsabilidade social da administrao. Nesse processo o autor deixava claro que a mecnica da produo era secundria em relao ao elemento humano. Desse modo, Sheldon ampliou a abrangncia do conceito de administrao, fazendo com que o mesmo no estivesse mais limitado produtividade interna da empresa, mas sim a um conjunto de princpios e valores considerados relevantes pela sociedade (ORCHIS; YUNG; MORALES, 2000, p. 4).

    O novo direcionamento administrativo ganhou impulso aps a Primeira Guerra Mundial, quando viu-se uma cooperao intensa entre a indstria e a comunidade pautada na necessidade de reconstruo de muitas naes. Nesse perodo houve um crescimento das associaes de indivduos na sociedade, a exemplo dos sindicatos, igrejas e clubes polticos que, alm de visarem a melhoria das condies do trabalhador, desejavam a melhoria geral da sociedade. Esse esprito de ajuda mtua que se iniciou na sociedade, aliado ao conhecimento cientfico aplicado administrao, ancorado nas idias de Sheldon comea a despertar a responsabilidade social nos objetivos empresariais (ORCHIS; YUNG; MORALES, 2000, p. 4-6).

    Um fato interessante que trouxe a pblico a discusso sobre a insero da empresa na sociedade e suas responsabilidades ocorreu em 1953 nos Estados Unidos. Nesse perodo, a empresa A.P. Smith Manufacturing Company enfrentou problemas com os seus acionistas, que contrariavam a doao de recursos financeiros Universidade de Princeton. Neste perodo, a justia americana estabeleceu a lei da filantropia corporativa, determinando que

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    uma corporao poderia buscar o desenvolvimento social (ASHLEY; COUTINHO; TOMEI, 2000, p. 2-5).

    Na dcada de 1950, nos Estados Unidos o meio empresarial e acadmico inicia uma discusso respeito da importncia da responsabilidade social pelas aes de seus dirigentes. No incio da dcada de 1960, o tema comea a ser popularizado nos Estados Unidos. Os acontecimentos e as transformaes sociais destacam os problemas scio-econmicos e, de certa forma, preparam o ambiente para a aceitao da idia. Na Europa, as idias sobre responsabilidade social se multiplicam a partir da dcada de 1960, com artigos de revistas e notcias de jornais que refletem a novidade oriunda dos EUA. Durante essa dcada, os autores europeus Kenneth Galbraith, Vance Packard e Rachel Carson se destacaram apresentando problemas sociais e suas possveis solues. Ao final dessa dcada, nos Estados Unidos, as empresas j se preocupavam com a questo ambiental e em divulgar suas atividades no campo social (OLIVEIRA, 2000, p. 2).

    A dcada de 1970 chega com a preocupao de como e quando a empresa deveria responder sobre suas obrigaes sociais. A demonstrao para a sociedade das aes empresariais torna-se extremamente importante. Durante essa dcada, a doutrina se difunde pelos pases europeus, tanto nos meios empresariais, quanto nos acadmicos. Na Alemanha percebe-se o rpido desenvolvimento do tema, com cerca de 200 das maiores empresas desse pas, integrando os balanos financeiros aos objetivos sociais. Isso j na metade da dcada. Porm a Frana que d o passo oficial na formalizao do assunto nessa mesma dcada. o primeiro pas a "obrigar as empresas a fazerem balanos peridicos de seu desempenho social no tocante mo de obra e s condies de trabalho (OLIVEIRA, 2000, p. 2-3).

    Na dcada de 1980, o aumento das presses sobre as empresas pela busca de alteraes nos aspectos econmicos, desponta-se como terreno propcio discusso e difuso das idias de responsabilidade social. Mormente nos pases em via de democratizao poltica, esse tema passa a ser associado com a tica empresarial e com a qualidade de vida no trabalho (DE BENEDICTO, 2002).

    Com uma maior participao de diversos autores de renome na questo da responsabilidade social, a dcada de 1990 apresenta a discusso sobre as questes ticas e morais nas empresas, envolvendo a questo ambiental, a educao e s grandes diferenas que caracterizam as injustias sociais, o que contribui de modo significativo para a definio do papel das organizaes. Hoje, o tema responsabilidade social assume um aspecto tico-empresarial to forte, ao ponto de estar transformando-se em uma doutrina empresarial, sem a qual no h sucesso (DE BENEDICTO, 2002).

    3. Conceitos relacionados responsabilidade social

    A responsabilidade social empresarial entendida como o relacionamento tico da empresa com todos os grupos de interesse que influenciam ou so impactados pela atuao da mesma, assim como o respeito ao meio ambiente e investimento em aes sociais. Compreende uma expanso e evoluo do conceito de empresa para alm do seu ambiente interno. Neste caso, como a empresa est inserida na sociedade, pode-se vislumbrar uma relao de interdependncia entre ambas. No mbito comunitrio esta responsabilidade se traduz na prtica de aes concretas que tragam benefcios sociedade, e devolvam, criem ou recriem as condies necessrias para o desenvolvimento crescente da cidadania.

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    As definies com respeito responsabilidade social possuem grande vnculo com o conceito de cidadania, e mais particularmente, da cidadania participativa. Lima (2000, p. 2) concorda ao afirmar que:

    As organizaes empresarias, graas riqueza que acumulou e que tm o potencial de concentrar, trazem em si o grande potencial de mudar e melhorar o ambiente social. Este poder de transformao tem encontrado na literatura um conjunto de terminologias que surgem na tentativa de identific-lo e caracteriz-lo, a saber: cidadania empresarial, filantropia empresarial, filantropia estratgica, solidariedade corporativa, responsabilidade social empresarial, organizao-cidad.

    O conceito de cidadania empresarial, diz respeito, principalmente, a uma atitude pr-ativa que as organizaes privadas devem ter diante dos diversos problemas que a comunidade na qual se inserem apresenta, agindo de forma transformadora e assumindo-se como entes dotados de responsabilidade cvica. Mesmo como entidade distinta das pessoas, as corporaes tm responsabilidades semelhantes a um indivduo. Cidadania empresarial pode, ento, ser entendida como uma relao de direitos e deveres entre empresas e seu mbito de relaes. um conceito multi-facetado que aproxima o interesse dos negcios e seus stakeholders1 com os interesses da sociedade mais genericamente (SCHOMMER; FISCHER, 1999, p. 103).

    Tradicionalmente, o termo responsabilidade social foi entendido como sendo a obrigao do administrador de prestar contas dos bens recebidos por ele. Entretanto essa viso no se aplica realidade atual, pois, a empresa no se resume exclusivamente no capital. Sabe-se que sem os recursos naturais (matria-prima) e os recursos humanos (inteligncia e trabalhos dos homens), ela no gera riquezas, no satisfaz s necessidades humanas, no proporciona o progresso e no melhora a qualidade de vida. Por isso, afirma-se que a empresa est inserida em um ambiente social (OLIVEIRA, 2000, p. 2).

    O termo "Responsabilidade Social" nem sempre significa a mesma coisa para todos. Para muitos, ele representa a idia de responsabilidade ou obrigao legal, enquanto para outros indica um comportamento responsvel no sentido tico; outros o assumem com um sentido de socialmente consciente. Para outros, ainda, o significado do termo equipara-se a uma contribuio caridosa. Alguns poucos o vem como uma espcie de dever, impondo aos administradores das empresas, padres mais altos de comportamento que aqueles impostos aos cidados.

    Duarte e Dias (1986) afirmam que no existe um conceito nico para responsabilidade social. Porm, se pode destacar trs aspectos comuns e que so a essncia da responsabilidade social: i) a ampliao do alcance da responsabilidade da empresa, que no mais se limita aos interesses dos acionistas; ii) a mudana na natureza das responsabilidades que ultrapassam o mbito legal e envolve as obrigaes morais ditadas pela tica e; iii) a adequao s demandas sociais no fornecimento de produto, servios de qualidade, preo justo e sem prejuzo ao meio-ambiente, postura transparente e tica da empresa que permite sua ao social na forma de doaes/patrocnios sade, educao, s artes, aos esportes.

    Bacellar e Knorich (2000) explicam a funo da responsabilidade social empresarial nas seguintes palavras:

    "(...) uma exigncia cada vez mais presente a adoo de padres de conduta tica que valorizem o ser humano, a sociedade e o meio ambiente. Relaes de qualidade constroem-se a partir de valores e condutas capazes de satisfazer

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    necessidades e interesses dos parceiros, gerando valor para todos. Empresas socialmente responsveis esto melhor preparadas para assegurar a sustentabilidade a longo prazo dos negcios, por estarem sincronizadas com as novas dinmicas que afetam a sociedade e o mundo empresarial. O necessrio envolvimento de toda a organizao na prtica da responsabilidade social gera sinergias, precisamente com os pblicos dos quais ela tanto depende, que fortalecem seu desempenho global. A empresa socialmente responsvel quando vai alm da obrigao de respeitar as leis, pagar impostos e observar as condies adequadas de segurana e sade para os trabalhadores, e faz isso por acreditar que assim ser uma empresa melhor e estar contribuindo para a construo de uma sociedade mais justa (...)

    (...) a prtica da responsabilidade social revela-se internamente na constituio de um ambiente de trabalho saudvel e propcio realizao profissional das pessoas. A empresa, com isso aumenta sua capacidade de recrutar e manter talentos, fator chave para seu sucesso numa poca em que criatividade e inteligncia so recursos cada vez mais valiosos. A competio acirrada torna vital a fidelizao dos consumidores, que tm cada vez mais acesso informao e educao. A adoo de um comportamento que ultrapassa exigncias legais agrega valor imagem da empresa, aumentando o vnculo que os consumidores estabelecem com ela (BACELLAR; KNORICH, 2000, p. 7).

    Toldo (2000) apresenta a responsabilidade social como um reencontro do capital com as finalidades sociais, deixadas de lado quando o lucro passou a ser o objetivo final de qualquer atividade empresarial. Desse modo, as aes de responsabilidade social vm tentar superar a distncia entre o social e o econmico, com a proposta de resgatar a funo social das empresas.

    Agir responsavelmente significa estar comprometido com uma misso, uma causa ou idias baseadas em valores considerados relevantes pela cultura social. Por isso, plenamente desejvel que a prtica socialmente responsvel de empresa esteja inserida em sua filosofia como parte integrante dos objetivos empresariais. A adoo de uma prtica socialmente responsvel pode ser despertada a partir de convices pessoais dos dirigentes ou por concepes grupais. Aps o surgimento dessas convices necessrio um trabalho interno na empresa objetivando produzir uma cultura grupal socialmente responsvel. Caso haja na empresa uma subcultura pautada em paradigmas contrrios prtica da responsabilidade social a organizao, certamente, ter dificuldades para levar cabo esse empreendimento.

    O desenvolvimento da comunidade na qual est inserida, a preservao do meio ambiente, uma comunicao transparente interna e externa, o investimento no ambiente de trabalho, no bem estar dos funcionrios, o retorno aos acionistas, a satisfao dos clientes, os investimentos em educao, sade e esportes, so exemplos de aes que caracterizam a responsabilidade social das empresas.

    3.1 A empresa socialmente responsvel e a sociedade

    A nova concepo emergente de que a empresa tem responsabilidades que vo alm da gerao de riquezas para seus acionistas, investidores e dirigentes. Ela tem um compromisso com o desenvolvimento da sociedade2. Sua contribuio ao bem pblico no se limita gerao de empregos e pagamento de impostos. Ela precisa assumir um compromisso de parceria com a sociedade, produzindo aes duradouras que levem em conta o bem-estar da comunidade na qual a empresa est inserida. Afinal de contas, as relaes entre a sociedade e a empresa, so relaes de troca, uma no sobrevive sem a outra, ou seja, o colapso da sociedade determinaria automaticamente a extino de qualquer modalidade de empresa.

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    Segundo Ioschpe (1997) as empresas podem ser vistas sob trs ngulos, de acordo com seus princpios, crenas, valores, objetivos e sua prtica: i) a empresa que somente um negcio, cujo centro de interesse o lucro a qualquer custo; ii) a empresa como uma organizao social, por ser formada por grupos de pessoas, numa relao de interdependncia com ela e; iii) a empresa-cidad3, que contribui para a elevao do meio social em que vive, operando sob uma concepo estratgica e uma compreenso tica.

    Corroborando com essa idia Steiner e Miner (1997) afirmam que a abordagem da responsabilidade social empresarial passou por trs estgios:

    a) Maximizao dos Lucros - A administrao da empresa deveria concentrar-se no uso eficiente dos recursos para produzir bens ou servios desejados pelos consumidores de modo a vend-los a preos que estes estivessem dispostos a pagar, visando assim maximizar lucros no curto prazo;

    b) Equilbrio de Interesses O objetivo era maximizar os lucros longo prazo, equilibrando assim os interesses dos acionistas, funcionrios, consumidores, comunidade;

    c) Administrao Scio-Econmica - O objetivo aqui deixa de ser apenas o lucro em si, mas tambm a busca concreta da melhoria da qualidade de vida ou do bem-estar da sociedade.

    Ansoff, Declerck e Hayes (1990) falam de trs diferentes graus de interesse social apresentados pelas empresas: i) um conceito tradicional de preocupao mxima com a funo econmica e mnima com a responsabilidade social; ii) um novo conceito de intercmbio dos papis econmicos e no-econmicos e; iii) um conceito mais radical que privilegia a responsabilidade social, deixando a funo econmica em segundo plano.

    3.2 Aparentes motivos do surgimento da responsabilidade social

    A responsabilidade social nasce do desejo das empresas de adquirirem o respeito e admirao das pessoas e comunidades que so influenciadas por suas atividades. Essa responsabilidade se refere tica, que direciona aes e relaes com todos os pblicos com os quais interage, sejam eles: fornecedores, consumidores, governo, meio-ambiente, comunidade, colaboradores ou acionistas. Ultrapassa as obrigaes legais da empresa e suas prticas filantrpicas, apoiando uma mudana significativa em sua atitude (DE BENEDICTO, 2002).

    As empresas comeam a assumir uma postura voltada para a disseminao de valores ticos e a busca contnua de melhorias internas e resultados baseados em um cdigo de tica que considera todos os pblicos com os quais se relaciona. Atitudes ticas, como o cuidado com o meio ambiente e a comunidade, por exemplo, colaboram para a formao de uma imagem positiva do chamado "consumidor cidado". Alm disso, essas atitudes possibilitam a colaborao das comunidades onde as empresas atuam, para a melhor realizao de seu trabalho, entre outros benefcios (DE BENEDICTO, 2002).

    Nesse sentido, Duarte e Dias (1986, p. 114), afirmam que " claro que numa sociedade informada e crtica como a atual, uma postura socialmente responsvel constitui a melhor base para uma slida imagem e para a aceitao social da empresa". certo que as empresas no existem apenas para explorar recursos econmicos e humanos, mas tambm para contribuir com o desenvolvimento social.

    Falando sobre essa temtica, Orchis, Yung e Morales (2000) defendem que:

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    "Pode-se entender como tica da responsabilidade social a capacidade de avaliar conseqncias, para a sociedade, de atos e decises que tomamos visando a objetivos e metas prprios de nossas organizaes, no se pode fazer unicamente uma anlise estratgica dessa responsabilidade, quer dizer, no se quer garantir simplesmente a sobrevivncia das organizaes. necessria uma anlise da responsabilidade, fundamentada no sentido da justia e definida como a capacidade de deliberar e decidir no s com base nos interesses individuais, mas tambm do grupo (ORCHIS; YUNG; MORALES, 2000, p. 7).

    Toda empresa-cidad incorpora em seus valores e em suas atividades, a tica empresarial como norteadores e pr-requisito fundamental. Esses valores so pautados em um conjunto de princpios ticos que produzem aes e atitudes, voltadas para a valorizao da qualidade, para o respeito ao consumidor e ao meio ambiente, envolvendo tambm o respeito para com todos os agentes que se relacionam com a empresa, ou seja, funcionrios, fornecedores, clientes, scios, acionistas, comunidade e governo.

    A questo da participao das empresas privadas na soluo de necessidades pblicas est na agenda do momento, tanto por sua dimenso quanto pelas demandas sociais que afetam suas atividades. Mendona (2000, p. 6) menciona que:

    Embora alguns defendam que a responsabilidade das empresas privadas na rea pblica limita-se ao pagamento de impostos e ao cumprimento das leis, crescem os argumentos de que seu papel no pode ficar restrito a isso, at por uma questo de sobrevivncia das prprias empresas. Outro argumento o fato de que adotar posturas ticas e compromissos sociais com a comunidade pode ser um diferencial competitivo e um indicador de rentabilidade e sustentabilidade no longo prazo. A idia de que os consumidores passam a valorizar comportamentos nesse sentido e a preferir produtos de empresas identificadas como ticas, cidads ou solidrias.

    O Grande questionamento aqui : a responsabilidade social seria realmente uma preocupao da empresa ou somente uma forma de satisfazer os participantes influentes para fazer uso dos mesmos em prol de si mesma? Seria a responsabilidade social uma mera ferramenta de publicidade com vistas a ganho de imagem, cooperao ou aceitao dos mesmos? Ou seria um verdadeiro comprometimento com interesses que transcendam as fronteiras da empresa?

    Ao que parece, a insero da responsabilidade social empresarial no surge como obra do acaso. A mesma se d quando a organizao percebe que lucrar s custas da sade dos funcionrios, da degradao do meio ambiente e desconsiderando a existncia da sociedade gera-se prejuzo incalculvel (TORRES, 1999).

    Investir em uma gesto socialmente responsvel pode parecer, a grosso modo, sinnimo de aumento de custos. Entretanto, as experincias das empresas que adotaram a responsabilidade social como estratgia demonstram que ela pode ser considerada um investimento, pois apresenta um custo-benefcio capaz de trazer de volta tudo que foi aplicado e muito mais.

    De acordo com Grajew4 (2000) a gesto empresarial com Responsabilidade Social pode trazer inmeros benefcios para a organizao. Dentre esses se destacam: i) a valorizao da imagem institucional e da marca; ii) maior lealdade de todos os pblicos, inclusive do consumidor; iii) maior capacidade de recrutar e de manter talentos; iv) flexibilidade e capacidade de adaptao, alm da sobrevivncia da empresa em longo prazo; maior importncia organizao conferida pela comunidade. Outro aspecto de grande importncia abordado por Grajew, a atratividade e a reteno dos bons profissionais, ou seja, cada vez mais, os bons

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    profissionais, quando podem escolher, preferem trabalhar em empresas socialmente responsveis.

    3.3 Responsabilidade social e valorizao da imagem empresarial

    Paralelamente ao mercado material, voltado apenas para a comercializao dos seus produtos e servios, as empresas tm expandido sua ao mercadolgica para um mercado simblico, ou seja, um mercado voltado para a identidade da marca empresarial. Atuando no mercado simblico, as empresas passam a desenvolver aes sociais, objetivando a fixao de uma boa imagem da organizao junto aos diversos pblicos do mercado.

    A imagem da empresa afeta diretamente o seu valor no mercado. Um maior acesso a investimentos e melhoria na performance financeira resultado evidente da valorizao da imagem, atravs da adoo de polticas e prticas de Responsabilidade Social.

    Para trabalhar a imagem da empresa, primeiramente, necessrio trabalhar a sua identidade. Apesar de parecerem conceitos similares, eles diferenciam-se entre si, visto que entende-se por identidade aquilo que uma organizao e como deseja ser percebida; enquanto a imagem a maneira com que essa organizao realmente percebida por seus pblicos (BUENO et al, 2000, p. 7).

    A formao da imagem organizacional ocorre quando o pblico lana mo de uma gama de referncias pessoais para verificar se uma determinada idia merece a sua aceitao e o seu interesse. Essas referncias, resultantes de experincias pessoais, so confrontadas e as idias consideradas verdadeiras formam as crenas. Essas crenas associadas idia da empresa ou produto, constri a imagem do pblico. Por isso, o peso das aes realizadas pelas empresas, os seus valores e a sua identidade tero grande influncia para a formao da sua imagem (DE BENEDICTO, 2002).

    As empresas julgam de grande importncia trabalhar a identidade da organizao, construindo sua marca e associando a ela os valores relevantes para a sociedade. Esses valores so representados, no somente pelas caractersticas e benefcios relacionados ao produto ou servio, mas tambm pela responsabilidade social da instituio.

    Quando a imagem que uma pessoa faz de uma organizao favorvel, isto colabora para que essa pessoa apresente atitudes igualmente favorveis para com a instituio. Embora a imagem no seja o nico fator a definir os atos de uma pessoa em relao a uma organizao, ela fundamental. Quanto mais a imagem organizacional estiver fixada para a pessoa, mais ela se tornar uma referncia. Desse modo, quanto mais fixada essa imagem estiver, torna-se muito mais difcil convencer uma pessoa de que a imagem que ela faz de determinada empresa no corresponde realidade (BACELLAR; KNORICH, 2000).

    Desenvolver uma imagem positiva perante os pblicos requer investimentos e trabalho persistente, mormente pelo fato de as pessoas terem uma tendncia a conservar a imagem j formada anteriormente. Isto se constitui num instrumento poderoso, pois, se de um lado uma vantagem para as empresas que j se deram conta disto, o mesmo poder contribuir para a desvalorizao de empresas que no se preocupam com a sua imagem. Para a obteno de uma boa imagem e a preservao da mesma no mercado, as empresas SE utilizam de atividades e instrumentos diversos tornando-se mais agradveis aos olhos de seus pblicos. As aes que a empresa faz, voltadas para a sociedade, influenciam fortemente a imagem organizacional (TORQUATO, 1991).

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    Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

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    Atuando em algumas dessas reas, a empresa poder ter associada a sua imagem, a idia de preocupao com a sociedade, ou seja, de uma empresa que assumiu a sua parte na responsabilidade social. Para que a empresa consiga passar para os seus pblicos a sua identidade, necessrio que os funcionrios tenham internalizado os seus valores. Assim, a conduta deles ser condizente com a imagem que se deseja criar.

    O processo de melhoria da imagem empresarial pode dar-se atravs de vrios instrumentos. Um dos mais poderosos instrumentos a divulgao de informaes a respeito da organizao, de sua filosofia, poltica e recursos, assim como as aes sociais por ela praticadas. Tornar isso conhecido predispe as pessoas a uma atitude mais favorvel em relao empresa e aos seus produtos (BUENO et al, 2000).

    4. Consideraes finais

    A evoluo do pensamento social e a crescente conscientizao da sociedade a respeito de valores sociais, resultantes da evoluo histrica e econmica da sociedade, acarretaram em uma nova abordagem administrativa empresarial. A partir do momento em que as pessoas passaram a questionar os impactos que a ao empresarial acarretava para a sociedade, criou-se uma demanda por um posicionamento mais responsvel da empresa perante a mesma.

    A difuso do conceito de responsabilidade social como uma extenso do papel da empresa, que deixa de ser apenas gerar lucro, pagar impostos, gerar empregos e prover a sociedade com produtos e tecnologia, faz com que a mesma seja vista como co-responsvel pela promoo do desenvolvimento e do bem-estar da sociedade na qual est inserida, atravs de um relacionamento tico e transparente, do respeito ao meio ambiente e da promoo dos interesses da sociedade.

    Dentro do conceito de responsabilidade social, o fator mais importante a tica. A responsabilidade social corporativa est entremeada de questes ticas de extrema importncia. A empresa que atua de forma responsvel deve atentar para que estes valores estejam de fato presentes em toda a extenso de seus negcios, ou podem correr o risco de ter sua atuao m percebida pela sociedade de um modo geral, o que poderia gerar um efeito oposto ao desejado, ou seja, uma desvalorizao de sua imagem. Assim, uma empresa que desenvolve uma srie de projetos sociais para a comunidade, mas no trata seus funcionrios de forma adequada, ou aceita produtos de fornecedores de desempenho tico duvidoso, pode suscitar questes na sociedade, e colocar em dvida a existncia de uma verdadeira responsabilidade social.

    A sociedade pode beneficiar-se bastante da atuao socialmente responsvel das empresas. Estas so uma das maiores foras motoras dentro do modelo atual de organizao econmica, reunindo assim grande potencial para a realizao de transformaes. A partir do momento em que as empresas passam a transformar esse potencial em ao, podem ser antevistas grandes possibilidades de mudanas positivas.

    Ser uma empresa-cidad mostra um grau de maturidade em termos de desenvolvimento social e representa olhar a comunidade envolvida em suas aes como pblico prioritrio, ainda que essas aes permaneam buscando o lucro e a competitividade no mercado. Alm da exigncia e da preocupao moral com o tema, a adoo da responsabilidade social tambm traz uma srie de benefcios para a empresa, como motivao do pblico interno, ganhos de imagem, maior satisfao do consumidor, diversidade no ambiente de trabalho e cooperao da comunidade, dentre outros. Esse outro motivo para se considerar a responsabilidade

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    social extremamente importante no contexto empresarial. A responsabilidade social no um modismo, e sim uma realidade no contexto empresarial, que acarreta em alteraes gradativas de comportamento e valores nas organizaes, devendo estar presente nas decises de seus administradores e balizando seu relacionamento com a sociedade.

    Notas

    1. Stakeholders so todos os pblicos que exercem influncia ou so influenciados diretamente pela empresa, ou seja, os funcionrios, consumidores, fornecedores, acionistas, governo e sociedade.

    2. A sociedade aqui entendida como uma reunio de pessoas ligadas pelos mesmos laos e interesses. As pequenas sociedades so concebidas pelo autor como grupos sociais ou comunidades. Para um melhor entendimento desta temtica, ver Pereira, L.; Foracchi, M. M. (Org.). Educao e sociedade. So Paulo, CEN, 1969.

    3. O conceito de empresa-cidad uma referncia direta s empresas que praticam a responsabilidade social. Esse conceito no s atual como tambm tem despertado muito o interesse de diversas reas do conhecimento no sentido de agregar valor s aes desenvolvidas na responsabilidade social. Para uma melhor compreenso do tema, ver Torquato Do Rego, F. G. Cultura, Poder, Comunicao e Imagem: Fundamentos para a nova empresa. So Paulo, Pioneira, 1991; Martinelli, Antnio Carlos. Desenvolvimento Social Sustentado. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1997.

    4. Oded Grajew fundador do Instituto Ethos de Empresas e responsabilidade Social. Esta se constitui numa organizao de terceiro setor, fundada em 1998, com objetivos voltados para as questes sociais do Brasil. Essa organizao agrega variadas empresas que desejam praticar a responsabilidade social e trabalha no preparo de materiais voltados para essa temtica. Ver www.institutoethos.org.br e www.valoronline.com.br.

    5. Referncias

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  • 411Programa de Apoio Iniciao Cientfica - PAIC 2010-2011

    RESUMO

    A fim de garantir uma relao sustentvel entre o consumo e o meio ambiente, o presente artigo visa analisar a possibilidade de Responsabilizao Socioambiental das empresas pelos dejetos e rejeitos produzidos por seus produtos durante toda a cadeia produtiva, ou seja, a busca pela anlise do ciclo de vida dos produtos, como forma de diminuir o impacto ambiental. A partir dos dados tericos analisados, buscou-se verificar os principais tipos de responsabilidades imputadas s empresas e qual o momento em que essas responsabilidades acabam para o produtor. Posteriormente, faz-se a anlise da possibilidade da aplicao da Logstica Reversa como alternativa capaz de prevenir a degradao do meio ambiente.

    Palavras-chave: Responsabilidade Socioambiental; Empresas; Consumo Sustentvel; Dano Ambiental.

    RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL DAS EMPRESAS A APLICAO DO PRINCPIO DA RESPONSABILIDADE ESTENDIDA DO PRODUTOR NA BUSCA PELA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

    Rhaisa Regina Macedo Denis*Karlo Messa Vettorazzi**

    * Aluna de 3 ano do curso de Direito da FAE Centro Universitrio. Bolsista do Programa de Apoio Iniciao Cientfica (PAIC 2010 - 2011) da FAE Centro Universitrio. E-mail: [email protected].

    ** Mestre em Direito Socioambiental (PUC-PR). Coordenador do Ncleo de Prtica Jurdica e Professor da FAE Centro Universitrio. E-mail: [email protected]

  • FAE Centro Universitrio | Ncleo de Pesquisa Acadmica - NPA412

    INTRODUO

    Com o crescimento desenfreado na industrializao, devido ao atual modelo econmico capitalista, a preocupao com o meio ambiente tem aumentado. Essa preocupao est relacionada ao fato de como o homem usa, transforma e destina os recursos naturais gerando, assim, a degradao do meio ambiente.

    importante ressaltar que as responsabilidades imputadas s empresas (civil, social, socioambiental e ps-consumo) devem ser respeitadas pelas mesmas e cobradas, quando necessrio, pelo Poder Pblico, para que o consumo sustentvel acontea. Alm dessas responsabilidades, o consumidor tambm deve ser conscientizado de como colaborar para diminuir o impacto ambiental.

    O presente trabalho trata, de modo especfico, de cada responsabilidade imputada s empresas. No primeiro tpico, aborda-se sobre a responsabilidade civil propriamente dita, a qual abrange os seus requisitos: o dano, a ao e o nexo de causalidade. No segundo tpico, trata-se da responsabilidade social das empresas, bem como da responsabilidade voltada ao meio ambiente, a chamada responsabilidade socioambiental. Na responsabilidade socioambiental, ainda abordado, com maior nfase, sobre o dano ambiental. No ltimo tpico, a responsabilidade civil do produtor, aborda a responsabilidade ps-consumo e a logstica reversa, um tema bastante atual e muito polmico.

    Com toda a anlise das responsabilidades das empresas, busca-se entender como e at que ponto uma empresa pode responder pelos danos causados pelo descarte incorreto de seus produtos. Surgem, a partir dessa anlise, as seguintes questes: A responsabilidade do produtor termina com a distribuio do produto ou com o descarte do mesmo? E quando a finalidade do produto acaba para o consumidor, quem ser responsvel pelos efeitos desse descarte?.

    1 RESPONSABILIDADE CIVIL

    O vocbulo responsabilidade oriundo do verbo latino respondere, o qual designa o fato de ter algum se constitudo garantidor de algo. Tal termo contm, portanto, a raiz latina spondeo, frmula pela qual se vinculava, no Direito Romano, o devedor nos contratos verbais para estabelecer uma obrigao a quem assim respondia. No entanto, segundo Diniz (2007), a afirmao de que o responsvel ser aquele que responde e que responsabilidade a obrigao do responsvel ou o resultado da ao pela qual a pessoa age ante esse dever, ser insuficiente para solucionar o problema e

  • 413Programa de Apoio Iniciao Cientfica - PAIC 2010-2011

    para conceituar a responsabilidade. Devido a esses fatos, grandes so as dificuldades que a doutrina tem enfrentado para conceituar a responsabilidade civil.

    Qualquer atividade que gera um prejuzo traz em seu bojo, como fato social, o problema da responsabilidade. Essa responsabilidade destina-se a restaurar o equilbrio moral e patrimonial provocado pelo autor do dano, e esse interesse em restabelecer a harmonia e o equilbrio violados pelo dano constitui a fonte geradora da responsabilidade civil. (GONALVES, 2008)

    Para o Direito brasileiro, responsabilidade civil uma obrigao de reparar um dano gerado na relao entre pessoas, que dever ser considerada as condies e em qual medida a pessoa ser responsabilizada. Conforme leciona Maria Helena Diniz (2007, p. 35), a responsabilidade civil :

    a aplicao de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razo de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposio.

    Essa responsabilidade pode ser contratual, por fundamentar-se em um contra-to; ou extracontratual, por decorrer de exigncia legal (responsabilidade legal), de ato ilcito (responsabilidade por ato ilcito), ou, at mesmo, por ato lcito (responsabilidade por risco) (SILVA, 2010, p. 314-135). A grande problemtica dessa responsabilidade a caracterizao de seus pressupostos necessrios sua configurao.

    Para Marty e Raynaud (1962, p. 352), o fato danoso, o prejuzo e o liame entre eles tido como sendo a estrutura comum da responsabilidade. Savatier (1951) apresenta a culpa e a imputabilidade como seus pressupostos. E Trabucchi (1977) exige o fato danoso, o dano e a antijuridicidade ou culpabilidade para a caracterizao.

    Com base nos dados apresentados acima, nota-se que a responsabilidade civil requer a existncia de um dano, uma ao ou conduta e um nexo de causalidade entre o dano e a ao, os quais sero tratados com mais detalhes a seguir.

    1.1 Dano

    um requisito da responsabilidade civil, pois resulta em obrigao de ressarcir, visto que no poder haver ao de indenizao sem a existncia de um dano a um bem jurdico, sendo imprescindvel a prova real e concreta dessa leso.

    O dano pode ser definido como a leso (diminuio ou destruio) que, devido a certo evento, sofre uma pessoa contra sua vontade, em qualquer bem ou interesse jurdico, patrimonial ou moral (BOVE, 1960, p.144). Ainda, h a possibilidade de cumulao de indenizao de um dano material e moral: So cumulveis as indenizaes por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato. (STJ, Smula 37).

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    Os requisitos para a caracterizao de um dano so: a diminuio ou destruio de um bem jurdico; a efetividade ou certeza do dano; a causalidade; a subsistncia do dano no momento da reclamao do lesado; a legitimidade; e a ausncia de causas excludentes de responsabilidade.

    No primeiro requisito a diminuio ou destruio de um bem jurdico, patri-monial ou moral, pertencente a uma pessoa , o dano acarreta leso nos interesses de outrem, tutelados juridicamente, sejam eles econmicos ou no. Essa leso acarreta em um prejuzo, que designado como um dano real. Na efetividade ou certeza do dano, para a caracterizao do dano, este deve ser real e efetivo, sendo necessria a sua demonstrao e evidncia em face dos acontecimentos e sua repercusso sobre a pessoa ou patrimnio, pois no possvel existir uma leso hipottica. J a causalidade a relao entre a falta e o prejuzo causado, ou seja, o dano dever estar encadea-do com a causa produzida pelo lesante. Outro requisito a subsistncia do dano no momento da reclamao do lesado, pois se o dano j foi reparado pela vtima, a leso ainda subsistir pelo quantum da reparao, ou se um terceiro j reparou o dano, fi-car sub-rogado no direito do prejudicado. A legitimidade est relacionada no caso de pleitear a reparao do dano, ou seja, ser titular do direito atingido. E o ltimo requisito se refere ausncia de causas excludentes de responsabilidade, pois alguns danos no resultam em dever ressarcitrio, como os causados em caso fortuito, fora maior ou culpa exclusiva da vtima. (DINIZ, 2007, p. 63)

    O dano ainda dividido em patrimonial e extrapatrimonial ou moral. Para Agostinho Alvim, o termo:

    dano, em sentido amplo, vem a ser a leso de qualquer bem jurdico, e a se inclui o dano moral. Mas, em sentido estrito, dano , para ns, a leso do patrimnio; e patrimnio o conjunto das relaes jurdicas de uma pessoa, apreciveis em dinheiro. Aprecia-se o dano tendo em vista a diminuio sofrida no patrimnio. Logo, a matria do dano prende-se da indenizao, de modo que s interessa o estudo do dano indenizvel. (ALVIM, 1972, p. 171-172)

    O dano patrimonial considerado a leso concreta, que afeta um interesse relativo ao patrimnio da vtima, consistente na perda ou deteriorao, total ou parcial, dos bens materiais que lhe pertencem , sendo suscetvel de avaliao pecuniria e de indenizao pelo responsvel. Os danos patrimoniais abrangem, tambm, os danos emergentes (o que o lesado efetivamente perdeu) e os lucros cessantes (o aumento que seu patrimnio teria, mas deixou de ter, em razo do evento danoso).

    Enquanto o dano extrapatrimonial a leso ou violao a um interesse juridi-camente protegido, independentemente de qualquer repercusso na esfera ntima do lesado. Nesse contexto, possvel analisar que para a ocorrncia do dano extrapatrimo-nial basta a violao de um direito ou leso de um interesse juridicamente protegido.

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    O dano extrapatrimonial ou moral , segundo Carlos Roberto Gonalves:

    o que atinge o ofendido como pessoa, no lesando seu patrimnio. leso de bem que integra os direitos da personalidade, como a honra, a dignidade, a intimidade, a imagem, o bom nome etc., como se infere dos arts. 1, III, e 5, V e X, da Constituio Federal, e que acarreta ao lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhao. (GONALVES, 2008, p. 359)

    Portanto, dano material o que afeta somente ao patrimnio do ofendido, e o moral o que somente ofende ao devedor como ser humano, no lhe atingindo o patrimnio. importante ressaltar, tambm, que o dano extrapatrimonial abrange o dano ambiental, o qual ser tratado a seguir.

    1.2 Ao

    A ao um ato humano que, segundo Diniz:

    poder ser ilcita ou lcita A responsabilidade decorrente de ato ilcito baseia-se na idia de culpa, e a responsabilidade sem culpa funda-se no risco, que se vem impondo na atualidade, principalmente ante a insuficincia da culpa para solucionar todos os danos. O comportamento do agente poder ser uma comisso ou uma omisso. A comisso vem a ser a prtica de um ato que no se deveria efetivar, e a omisso, a no-observncia de um dever de agir ou da prtica de certo ato que deveria realizar-se. A omisso e, em regra, mais freqente no mbito da inexecuo das obrigaes contratuais. (DINIZ, 2007, p. 39)

    Conforme disposto nos artigos 186 e 187, do novo Cdigo Civil, ato ilcito :

    Art. 186. Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilcito.

    Art. 187. Tambm comete ato ilcito o titular de um direito que, ao exerc-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econmico ou social, pela boa-f ou pelos bons costumes.

    O ordenamento jurdico brasileiro estabelece o ilcito como fonte da obrigao de indenizar danos causados vtima, ou seja, quem o praticar ter o dever de reparar o prejuzo resultante. Segundo o artigo 927, do Cdigo Civil: Art. 927. Aquele que, por ato ilcito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repar-lo.

    Contrapondo a responsabilidade civil com a culpa, caracterizada como uma violao de um dever contratual ou extracontratual, tem-se a responsabilidade civil sem culpa. Nesta, o agente dever ressarcir o prejuzo causado, mesmo que isento de culpa, porque sua responsabilidade imposta por lei independentemente de culpa,

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    e mesmo sem necessidade de apelo ao recurso da presuno. Como no h que se falar em imputabilidade de conduta, tal responsabilidade s ter cabimento nos casos expressamente previstos em lei, como o artigo 927, pargrafo nico do Cdigo Civil:

    Art. 927. [...]

    Pargrafo nico. Haver obrigao de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

    1.3 Nexo de Causalidade

    Segundo Diniz, a responsabilidade civil:

    no pode existir sem a relao de causalidade entre o dano e a ao que o provocou. O vnculo entre o prejuzo e a ao designa-se nexo causal, de modo que o fato lesivo dever ser oriundo da ao, diretamente ou como sua conseqncia previsvel. Tal nexo representa, portanto, uma relao necessria entre o evento danoso e a ao que o produziu, de tal sorte que esta considerada como sua causa. (DINIZ, 2007, p. 107)

    2 RESPONSABILIDADE SOCIAL

    O termo responsabilidade pode ser interpretado conforme dois sentidos, segundo o autor Villey (1977). O primeiro sentido est vinculado ao Direito Romano, no qual a culpa do demandado no a causa da obrigao, pois h vrios casos de responsabilidade sem culpa. O segundo sentido vincula-se concepo moderna de cunho moral, fortemente influenciada pela doutrina crist tendo como pano de fundo a ideia de um julgamento divino (e uma consequente sano), adquirindo um carter individual (cada um ser julgado por suas prprias aes) com destaque para a inteno subjetiva (culpa).

    possvel analisar que a responsabilidade associa-se a uma justa reparao ou a um justo equilbrio rompido, ainda que de forma lcita, ou seja, uma recuperao da situao anterior, sendo necessrio somente o nexo causal entre o prejuzo e o agente, como tratado na responsabilidade civil.

    A responsabilidade social das empresas considerada mais como uma responsabilidade moral, levando em considerao a relao tica e transparente entre a empresa e seu pblico. Nota-se a presena da responsabilidade social em uma

  • 417Programa de Apoio Iniciao Cientfica - PAIC 2010-2011

    empresa quando ela estabelece metas compatveis com o desenvolvimento sustentvel da sociedade para a preservao de recursos ambientais e culturais.

    Essa relao transparente a clareza qualitativa e quantitativa da informao na relao jurdica. Essa relao transparente deve ser aplicada no fornecimento de infor-maes verdadeiras e relevantes sobre os produtos e servios, bem como da situao pessoal, nos contratos a prazo e de longa durao. Esse princpio da transparncia est previsto no artigo 4 do Cdigo de Defesa do Consumidor:

    Art. 4 A Poltica Nacional das Relaes de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito sua dignidade, sade e segurana, a proteo de seus interesses econmicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparncia e harmonia das relaes de consumo, atendidos os seguintes princpios:

    importante ressaltar que a responsabilidade social se difere da filantropia empresarial. Pois, enquanto esta foge do objeto da empresa, inserindo-se na ideia de humanitarismo, de voluntariedade, aquela associa-se diretamente ao negcio, pois no est no campo da responsabilidade estritamente moral, na convico ntima de que se deva contribuir para o bem-estar da sociedade. Mas, quando a empresa vai alm das exigncias legais, trata-se de filantropia e no de responsabilidade social.

    Segundo Fabiane Lopes Bueno Netto Bessa (2006, p. 141), a responsabilidade social diz respeito ao:

    agir em conformidade com o direito, com a funo social da empresa e com os princpios de direito privado, sempre orientados pelo princpio da boa-f. E isso em toda e qualquer etapa do negcio. As balizas da livre-iniciativa e, portanto, da responsabilidade social encontram-se no ordenamento jurdico e variam conforme a extenso do interesse pblico envolvido.

    Segundo Melo Neto e Froes (2002, p. 78), a Responsabilidade Social das Empresas consiste na sua deciso de participar mais diretamente das aes comunitrias na regio em que est presente e minorar possveis danos ambientais decorrente do tipo de atividade que exerce.

    A empresa socialmente responsvel aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes envolvidas no negcio (acionistas, funcionrios, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente), de forma a conseguir incorpor-los no planejamento de suas atividades, buscando atender s demandas de todos. agir em conformidade com o direito, com a funo social e o princpio da boa-f.

  • FAE Centro Universitrio | Ncleo de Pesquisa Acadmica - NPA418

    O papel do Estado, nessa situao, de interferir na vida do cidado para pro-mover os fins sociais, os quais nem sempre atendem a todos os cidados. A preocupao aqui no a de agradar a todos, mas a de impor condutas segundo critrios de propor-cionalidade entre meios e fins, e as quais devem estar pautadas pelo interesse pblico e no de grupos especficos. Juntamente com a promoo da funo social, a boa-f o esprito que anima a ideia de responsabilidade social das empresas.

    Atualmente, os consumidores buscam empresas que j possuem responsabilidade social, a qual um fator to importante para as empresas, assim como a qualidade do produto ou do servio, a competitividade nos preos e a marca comercialmente forte.

    Segundo a Corporate Social Responsibility Europe ONG internacional:

    Vm-se dizendo que as companhias tm dois tipos de responsabilidades responsabilidades comerciais (de conduzir seus negcios de maneira bem-sucedida) e responsabilidades sociais (seu papel junto sociedade e comunidade). Isto , atividades que vo alm da produo de resultados financeiros que algumas empresas vm desenvolvendo, protegendo o meio ambiente, cuidando de seus empregados, sendo ticas em suas relaes comerciais e se envolvendo com a comunidade prxima ao local em que operam. (BESSA, 2006, p. 130-131)

    Assim, pode-se afirmar que, no plano da legitimao e conformao da atividade da empresa no sentido de atender sua responsabilidade social, o Direito brasileiro cumpriu seu papel: a responsabilidade social no facultada ao meio empresarial, mas traduz um conjunto de valores e instrumentos coordenados voltados promoo da cidadania, mas que tem como mecanismo preponderante a conciliao de interesses e no o duelo, pois, aqui, se apenas um for vencedor, todos perdem.

    Considerando a boa-f e a observncia dos parmetros do balano social, a empresa passa a ser considerada um centro de desenvolvimento ambiental com reflexos sociais, envolvendo comunidades, regies e indivduos trabalhadores na mesma mentali-dade. Em grande escala, j se observa a mudana de mentalidade que afeta a populao mundial, gerando a expectativa de geraes futuras mais conscientes e responsveis.

    2.1 Responsabilidade Socioambiental

    Com o processo constituinte brasileiro, surgem grandes inovaes em relao tradio constitucional, as quais possibilitaram a insero dos novos direitos na Carta Magna, constituindo, tambm, as bases para a evoluo dos direitos socioambientais.

  • 419Programa de Apoio Iniciao Cientfica - PAIC 2010-2011

    Segundo Vladimir Passos de Freitas (2008, p. 241), os novos direitos socioambientais:

    rompem com os paradigmas da dogmtica jurdica tradicional, contaminada pelo apego ao excessivo formalismo, pela falsa neutralidade poltica e cientfica e pela excessiva nfase nos direitos individuais

    [...]So direitos que no se enquadram nos estreitos limites do dualismo pblico-privado, inserindo-se dentro de um espao pblico no-estatal.

    Nesse contexto, o Estado exerce um papel fundamental na promoo dos direitos socioambientais, pois eles s se efetivam mediante a ativa promoo de polticas pblicas. Distinguem-se, portanto, dos direitos clssicos, em que o papel do Estado se d apenas em sua garantia, por meio de instrumentos repressivos quando so violados.

    Como visto, o dever jurdico de evitar a consumao dos danos ambientais se apresenta em diversas convenes, declaraes e sentenas de tribunais internacionais, como na legislao nacional e internacional. Essas fontes normativas apontam para a necessidade de prever, prevenir e evitar os prejuzos sade humana e ao meio ambiente. Para alm do ente estatal e das empresas, essa preveno exige atitude individual de ateno para com o meio ambiente. (MACHADO, 2002, p. 71)

    Nesse contexto do dever jurdico de evitar o dano:

    No somente o Estado que tem o dever legal e funo de preservar o meio ambiente. Trata-se de responsabilidade compartida de entes individuais e coletivos, pblicos e privados. Sobre as empresas recai a responsabilidade de cumprir a funo social, a o exerccio da responsabilidade socioambiental, promovendo aes para preservar o meio ambiente. (PRONER; CORRA, 2010, p. 1649)

    A Responsabilidade Socioambiental pode ser entendida como um sistema de gesto adotado por empresas pblicas e privadas que tem por objetivo providenciar a incluso social (Responsabilidade Social) e o cuidado ou conservao ambiental (Responsabilidade Ambiental). A responsabilidade socioambiental um conceito que se aplica a toda cadeia produtiva do produto, pois de interesse comum e, portanto, deve ser difundido ao longo de todo e qualquer processo produtivo.

    Assim como de iniciativa privada a adoo de polticas empresariais de res-ponsabilidade socioambiental, , tambm, dever do cidado-consumidor proceder com o descarte de forma correta, tornando-se, assim, mais uma pea fundamental na responsabilidade socioambiental. Contudo, para que esse cidado exera um papel consciente na sociedade, necessria a educao e conscincia ambiental, assim como o acesso informao ambientalmente qualificada.

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    Para se ter efetividade na responsabilidade socioambiental necessrio pensar nela como fruto de um crescimento econmico, pautado em qualidade e no em quan-tidade de crescimento. Esse crescimento econmico um meio e no um fim, para que as sociedades atinjam seus objetivos (VEIGA, 2007, p. 46).

    No que se refere s empresas, a responsabilidade socioambiental:

    uma vertente da responsabilidade social e no se preocupa normativamente com preveno e preservao ambiental, mais sim com os aspectos propagandsticos, procurando demonstrar ao consumidor o que faz para conservar o meio ambiente e atrair cada vez mais consumidores e investidores para sua empresa. A sociedade se beneficia dessa iniciativa das empresas, mesmo que no seja totalmente espontnea. (PRONER; CORRA, 2010, p. 1649).

    2.1.1 Dano Ambiental e Reparao

    A devastao ambiental no um privilgio de nossos dias, tendo em vista que um fenmeno que acompanha o homem desde os primrdios de sua histria. O que recente a percepo jurdica desse fenmeno, at como consequncia de um bem jurdico novo denominado meio ambiente (MILAR, 2007, p. 809).

    Segundo Helli Alves de Oliveira (1990, p. 49), o dano ecolgico pode ser definido como qualquer leso ao meio ambiente causada por condutas ou atividades de pessoa fsica ou jurdica de Direito Pblico ou de Direito Privado. Em harmonia com esse conceito, encontra-se, disposto no artigo 225, 3 da Constituio Federal, a responsabilidade por esse dano:

    Art. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes.

    3 - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitaro os infratores, pessoas fsicas ou jurdicas, a sanes penais e administrativas, independentemente da obrigao de reparar os danos causados.

    Alm do dano ecolgico, qualquer dano causado a um bem de interesse pblico pode gerar trs tipos de responsabilidades, independentes entre si: a administrativa, a criminal e a civil; como j relatada a responsabilidade civil acima.

  • 421Programa de Apoio Iniciao Cientfica - PAIC 2010-2011

    Alm do disposto no artigo 225, 3 da Constituio Federal, a Lei n 6.938 de 31/08/1981 dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente, com nfase nas penalidades ao poluidor no artigo 141:

    2.1.2 Tipos de Reparao

    O dano ecolgico passvel de reparao, mesmo no repercutindo diretamente sobre uma pessoa ou sobre um bem, conforme disposto no artigo 14, 1, da Lei n 6.938/1981, acima citado.

    A indenizao considerada um tipo de reparao, sendo o tipo mais comum. Ela utilizada quando a mera composio monetria satisfatria para a reparao do prejuzo. Outro meio utilizado a recomposio ou reconstituio da situao anterior ao dano, pois, nessa situao, a simples indenizao monetria do dano no o suficiente, presente no artigo 225, 2, da Constituio Federal:

    Art. 225.[...]

    2 - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com soluo tcnica exigida pelo rgo pblico competente, na forma da lei.

    A Lei n 6.938/1981 fala em dano causado ao meio ambiente ou a terceiro, e nessas situaes o dano reparvel. Quando o dano for causado diretamente a um

    1 Art 14 - Sem prejuzo das penalidades definidas pela legislao federal, estadual e municipal, o no cumprimento das medidas necessrias preservao ou correo dos inconvenientes e danos causados pela degradao da qualidade ambiental sujeitar os transgressores:

    I - multa simples ou diria, nos valores correspondentes, no mnimo, a 10 (dez) e, no mximo, a 1.000 (mil) Obrigaes Reajustveis do Tesouro Nacional - ORTNs, agravada em casos de reincidncia especfica, conforme dispuser o regulamento, vedada a sua cobrana pela Unio se j tiver sido aplicada pelo Estado, Distrito Federal, Territrios ou pelos Municpios.

    II - perda ou restrio de incentivos e benefcios fiscais concedidos pelo Poder Pblico;

    III - perda ou suspenso de participao em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crdito;

    IV - suspenso de sua atividade.

    1 - Sem obstar a aplicao das penalidades previstas neste artigo, o poluidor obrigado, independentemente da existncia de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministrio Pblico da Unio e dos Estados ter legitimidade para propor ao de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

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    terceiro, ou seja, a uma pessoa, esta ser ressarcida. Se, porm, o dano for causado ao meio ambiente, a beneficiria da indenizao ser a coletividade, pois se torna a prejudicada.

    Segundo Nlson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery:

    Como no h modo de ressarcir diretamente a coletividade, a Lei de Ao Civil Pblica (art. 13) estabeleceu que a indenizao pelo dano causado reverter a um Fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participaro necessariamente o Ministrio Pblico e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados recomposio dos bens lesados. O referido Fundo, com a denominao de Fundo Federal de Defesa dos Direitos Difusos FDDD, est hoje regulamentado pela Lei 9008, de 1995, que criou o Conselho Gestor daquele Fundo, e pelo Decreto 1306, de 1994. (NERY JR; NERY, 2010, p. 1360).

    2.1.3 Natureza da Responsabilidade

    A responsabilidade pode ser fundada na culpa da vtima ou somente a responsa-bilidade objetiva por dano ambiental. A responsabilidade adotada pelo Direito brasileiro o princpio da responsabilidade objetiva pelo dano ecolgico, a qual est acom-panhada de uma diminuio do nus da prova da exigncia do nexo de causalidade entre o prejuzo sofrido e a atividade danosa ao meio ambiente. Nessa responsabilidade, bastam a existncia do dano e o nexo com a fonte poluidora ou degradadora.

    3 RESPONSABILIDADE CIVIL DO PRODUTOR

    Pela Lei n 8.078/90, o produtor responder, independentemente da existncia de culpa, pela reparao dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricao, construo ou apresentao de seus produtos, bem como por informaes insuficientes ou inadequadas sobre sua utilizao e riscos.

    Essa responsabilidade est prevista no artigo 931, do Cdigo Civil: Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresrios individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulao.

    Baseado no artigo citado, a responsabilidade civil do produtor pautada na ideia da responsabilidade objetiva, na qual a reparao do dano causado independe de culpa, como j mostrado no tpico anterior.

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    3.1 Responsabilidade Ps-Consumo

    Ao analisar a responsabilidade das empresas, necessrio tomar cuidado para no atribuir toda a culpa pela degradao ambiental ao mercado produtivo, pois esse pautado pela lei da oferta e da procura, a qual defende a ideia da produo de acordo com o que o consumidor deseja.

    Assim, segundo Luciano Furtado Loubet:

    a responsabilidade que antes era atribuda somente s empresas, agora deve ser tambm dividida com o consumidor, que, com sua atitude mais ou menos conscientizada, poder contribuir mais ou menos para a degradao do ambiente em que vive. (FREITAS, 2008, p. 246-247)

    Dessa forma, o consumidor que no se importa com o ciclo de produo da coisa comprada (consumismo irresponsvel), certamente alimentar nas empresas a existncia de um no compromisso com o meio ambiente e com a sociedade.

    Contudo, ntido que o mercado produtivo no ser controlado apenas pela atitude do consumidor, pois improvvel que o consumidor atinja um nvel de cons-cientizao necessrio e suficiente para essa mudana, alm de o consumidor no possuir todos os mecanismos para controlar a produo. Nessa situao, necessria a interveno do Estado para coibir atitudes abusivas das empresas, responsabilizando-as por esses abusos e pelos custos do valor do bem ambiental utilizado.

    Segundo conceito apresentado pela Procuradora de Justia do Ministrio Pblico do Rio Grande do Sul, Silvia Cappeli:

    a responsabilidade ps-consumo consiste no dever dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de coletar, transportar e dar destino final adequado aos resduos slidos gerados pelos produtos ou por suas embalagens. (CAPELI, 2004, p. 9).

    A responsabilidade ps-consumo transferida para o fornecedor do produto que obteve lucro na operao. Assim, cabe ao gerador do produto, depois de vendido e consumido, a responsabilidade de coletar e dar destinao final ao resduo (resduo propriamente dito ou a embalagem que o envolvia).

    Portanto, a responsabilidade pela gerao de resduos do consumo , inicialmente, do consumidor e, posteriormente, do Poder Pblico, que cobra impostos para tais servios (exemplo: coleta e tratamento de resduos slidos). Porm, quando o consumo de determinado produto causar risco anormal ao meio ambiente, possvel aplicar-lhe a responsabilidade ps-consumo com base nos dois fatores de riscos supracitados.

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    A responsabilidade ps-consumo est ligada diretamente gesto dos resduos slidos provocados pelo descarte do produto aps a sua utilizao pela sociedade. A tendncia dessa responsabilidade aumentar cada vez mais, devido ao crescimento da populao urbana e pela diminuio ou encarecimento das reas destinadas a aterros sanitrios.

    Dentro dessa ideia, surge a da Logstica Reversa, termo bastante amplo utilizado a todas as operaes relacionadas com a reutilizao de produtos e materiais. Refere-se a todas as atividades logsticas de coletar, desmontar e processar produtos e/ou materiais usados a fim de assegurar uma recuperao sustentvel. Essa recuperao preocupa-se com o retorno de produtos e materiais ao processo de produo da empresa, enquanto a logstica tradicional trata do fluxo de sada dos produtos.

    Em conjunto com a logstica reversa, encontra-se a logstica verde ou ecolgica, a qual age no sentido de minimizar o impacto ambiental, no s dos resduos na esfera da produo e do ps-consumo, mas de todos os impactos ao longo do ciclo de vida dos produtos.

    3.2 O Ciclo de Vida do Produto

    A vida de um produto, baseado em sua logstica reversa, no termina com a sua simples entrega ao cliente, pois, aps a perda de sua finalidade, o produto deve retornar ao seu ponto de origem para ser adequadamente descartado, reparado ou reaproveitado.

    Segundo Kotler (2000), o ciclo de vida do produto dividido em quatro estgios: a introduo, o crescimento, a maturidade e a declnio. O primeiro estgio, a introduo, consiste no perodo em que o produto est sendo introduzido no mercado, no sendo perceptvel a presena de lucros nesse estgio, devido s grandes despesas com a sua introduo. O crescimento um perodo de rpida aceitao do produto no mercado e um aumento substancial dos lucros. A maturidade representa um perodo de baixa no crescimento de vendas, pois o produto j conquistou a aceitao da maioria dos compradores, podendo estabilizar ou declinar os lucros. O ltimo estgio, declnio, o perodo em que as vendas caem consideravelmente e os lucros desaparecem.

    A dinmica do processo se d por um conjunto de atividades que uma empresa realiza para coletar, separar, embalar e expedir itens usados, danificados ou obsoletos dos pontos de consumo at os locais de reprocessamento, revenda ou de descarte.

    No caso de embalagens, os fluxos de logstica reversa acontecem, basicamente, em funo de sua reutilizao ou devido s restries legais. Como as restries ambientais no Brasil, com relao a embalagens, no so to rgidas, a deciso sobre a utilizao de embalagens retornveis ou reutilizveis se restringe aos fatores econmicos.

  • 425Programa de Apoio Iniciao Cientfica - PAIC 2010-2011

    Segundo Lacerda (2002), no sistema de Logstica Reversa, os materiais podem retornar de vrias formas como: retornar ao fornecedor quando houver acordos nesse sentido; ser revendidos, se ainda estiverem em condies adequadas de comercializa-o; ser recondicionados, desde que haja justificativa econmica; e ser reciclados, se no houver possibilidade de recuperao. Todas essas alternativas geram materiais rea-proveitados, que entram de novo no sistema logstico direto. Em ltimo caso, o destino pode ser o seu descarte final.

    Segundo Paulo Roberto Leite, denomina-se logstica reversa de ps-venda:

    a rea de atuao que se ocupa do equacionamento e operacionalizao do fluxo fsico e das informaes logsticas correspondentes de bens de ps-venda, sem uso ou com pouco uso, que por diferentes motivos retornam aos diferentes elos da cadeia de distribuio direta, que se constituem de uma parte dos canais reversos pelo qual fluem estes produtos. Seu objetivo estratgico o de agregar valor a um produto logstico que devolvido por razes comerciais, erros no processamento dos pedidos, garantia dada pelo fabricante, defeitos ou falhas de funcionamento no produto, avarias no transporte, entre outros motivos. Esse fluxo de retorno se estabelecer entre os diversos elos da cadeia de distribuio direta, dependendo do objetivo estratgico ou motivo de seu retorno. A logstica reversa de ps-venda deve, portanto, planejar, operar e controlar o fluxo de retorno dos produtos de ps-venda por motivos agrupados nas classificaes: Garantia / Qualidade, Comerciais e de Substituio de Componentes. (LEITE, 1999, p. 4)

    A logstica reversa de ps-consumo a rea de atuao que igualmente equaciona e operacionaliza o fluxo fsico e as informaes correspondentes de bens de ps-consumo descartados pela sociedade, que retornam ao ciclo de negcios ou ao ciclo produtivo pelos canais de distribuio reversos especficos. Constituem-se bens de ps-consumo os produtos em seu fim de vida til.

    A logstica reversa de ps-consumo dever planejar, operar e controlar o fluxo de retorno dos produtos de ps-consumo ou de seus materiais constituintes, classificados em: Em condies de uso; Fim de vida til; e Resduos industriais. A primeira classificao, Em condies de uso, refere-se s atividades em que o bem ainda apresenta interesse de reutilizao, adentrando novamente ao mercado at atingir o fim de vida til.

    No caso de bens de ps-consumo descartveis, havendo condies logsticas, os produtos so retornados por meio do canal reverso de Reciclagem Industrial, em que os materiais constituintes so reaproveitados e se constituiro em matrias-primas secundrias, que retornam ao ciclo produtivo pelo mercado, ou, no caso de no haver as condies acima mencionadas, sero destinadas ao Destino Final, ou seja, aos aterros sanitrios, lixes e incinerao com recuperao energtica.

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    CONCLUSO

    Com a presente pesquisa, foi possvel constatar que a responsabilidade das empresas, adotada pelo Direito brasileiro, baseada no princpio da responsabilidade objetiva pelo dano ecolgico, ou seja, a exigncia do nus da prova do nexo de causali-dade entre o prejuzo e a atividade danosa diminuda, bastando somente a existncia do dano e o nexo com a fonte poluidora para a responsabilizao da empresa.

    Alm disso, foi possvel observar que, assim como as empresas so responsveis pela adoo de polticas empresariais de responsabilidade socioambiental, , tambm, dever do cidado-consumidor proceder com o descarte do produto de forma correta.

    Encontra-se, aqui, duas peas fundamentais para a conservao do meio am-biente, o cidado-consumidor e a empresa produtora. Porm, para que o cidado--consumidor exera seu papel consciente na preservao do meio ambiente, ne-cessria a educao e conscientizao ambiental, bem como o acesso informao ambientalmente qualificada.

    Foi analisado, tambm, que a responsabilidade socioambiental das empresas se aplica a todo o ciclo de vida do produto, ressaltando que essa responsabilidade no se extingue com a aquisio do produto por parte do consumidor. Em conjunto com essa responsabilidade, foi detectada a presena da Logstica Reversa, que consiste em operaes relacionadas com a reutilizao de produtos e materiais e, tambm, uma forma de diminuir o impacto ambiental e possibilitar uma relao entre o consumo e o meio ambiente, o chamado consumo sustentvel.

  • 427Programa de Apoio Iniciao Cientfica - PAIC 2010-2011

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  • FACOM - n 17 - 1 semestre de 200770

    Silvio Luiz Tadeu Bertoncello e Joo Chang Jnior

    RESUMO: A responsabilidade social das empresas

    um tema atual e, nos ltimos anos, vem sendo consolidada crena que as empresas

    devem assumir um papel mais amplo perante a sociedade que no somente o de maximizao de lucro e criao de riqueza. Como veremos nesse artigo, o

    crescente aumento da complexidade dos negcios, o avano de novas tecnologias, o

    incremento da produtividade levou a um aumento significativo da competitividade entre

    as empresas e, desta forma, elas tendem a investir mais em processos de gesto de forma

    a obter diferenciais competitivos. Para as empresas, a responsabilidade social pode ser vista como uma estratgia a mais para manter ou aumentar sua rentabilidade e potencializar o seu desenvolvimento. Isto explicado ao se

    constatar maior conscientizao do consumidor o qual procura por produtos e prticas que gerem melhoria para o meio ambiente e a comunidade.

    J que a responsabilidade social corporativa tem se apresentado como um tema

    cada vez mais importante no comportamento das organizaes e tem exercido impactos

    nos objetivos e nas estratgias das empresas, este artigo tem como proposta apresentar

    um ensaio terico sobre o entendimento da Responsabilidade Social e se esta prtica pode

    trazer benefcios de diferenciao.

    PALAVRAS-CHAVE: Responsabilidade Social, Estratgia de

    Diferenciao.

    ABSTRACT:

    The corporate social responsibility is a current issue and lately has been consolidated the idea that companies should assume a broader role towards the society than that of wealth creation and profits maximization.

    As we will see in this article, the increase in businesses complexity, the improvement of new technologies, the increase of productivity, caused a significant increase in the competitiveness among companies, bringing them to invest more in managing processes to obtain competitive differentiation.

    For the companies, the corporate social responsibility has been perceived as an additional strategy to keep or enlarge their profitability and to reinforce their development. This is explained due to the increase of the customers awareness regarding to products and practices that bring benefits to the environment and the community.

    Since the corporate social responsibility has been presented more and more as an important issue in the behavior of corporations and it put forth impacts in the objectives and strategies of companies, the proposal of this article is to present an abstract about the understanding of Social Responsibility and whether this practice can bring benefits of differentiation.

    KEYWORDS:

    Corporate Social Responsibility, Differentiation Strategy

    INTRODUOO crescente aumento da complexidade dos negcios, o avano de novas

    tecnologias, o incremento da produtividade levou a um aumento significativo da competitividade entre as empresas e, desta forma, elas tendem a investir mais em processos de gesto de forma a obter diferenciais competitivos. Ashley (2002, p.3) afirma que, por outro lado, as crescentes disparidades e desigualdades sociais obrigam a que se repense o desenvolvimento econmico social e ambiental. Assim, para responder a este desafio necessrio buscar novas respostas visando um

    A importncia da Responsabilidade Social Corporativa como fator de

    diferenciao.

  • FACOM - n 17 - 1 semestre de 2007 71

    desenvolvimento econmico sustentvel que englobe os aspectos sociais, econmicos e ambientais. Para as empresas, a responsabilidade social pode ser vista como uma estratgia a mais para manter ou aumentar sua rentabilidade e potencializar o seu desenvolvimento. Isto explicado ao se constatar maior conscientizao do consumidor o qual procura por produtos e prticas que gerem melhoria para o meio ambiente e a comunidade. Alm disso, o crescimento econmico s ser possvel se estiver alicerado em bases slidas e, portanto deve haver um desenvolvimento de estratgias empresariais competitivas que passem por solues ambientalmente sustentveis, socialmente corretas e economicamente viveis. (LewIs, 2003, p.356)

    HIsTRICO DA ResPONsABILIDADe sOCIALA relao entre as empresas e a sociedade

    baseia-se num contrato social que evolui conforme as mudanas sociais e as conseqentes expectativas da sociedade. Nesse contrato a sociedade legitima a existncia da empresa, reconhecendo suas atividades e obrigaes, bem como estabelecendo limites legais para sua atuao. A sociedade tem o direito de mudar suas expectativas dos negcios como instrumento da prpria sociedade.

    Com as mudanas ocorridas no sculo XXI, a transformao no contrato social entre a sociedade e os negcios fez-se necessria e as organizaes passaram ento a entender que era preciso assumir responsabilidades a fim de atender s novas exigncias e desta forma, comeam a questionar seu posicionamento sobre isso. As dvidas permeiam em distinguir quais so efetivamente as responsabilidades da empresa para com a sociedade e qual o limite da ao empresarial sobre estas.

    A teoria sobre Responsabilidade social surgiu na dcada de 1950 sendo um de seus precursores Bowen (1957, p.03). O autor baseou-se na idia de que os negcios so centros vitais de poder e deciso e que as aes das empresas atingem a vida dos cidados em muitos pontos, questionou quais as responsabilidades com a sociedade que se espera dos homens de negcios, e defendeu a idia de que as empresas devem compreender melhor seu impacto social, e que o desempenho social e tico deve ser avaliado por meio de auditorias e devem ainda ser incorporados gesto de negcios.

    Na dcada de 60 vrios trabalhos de autores

    como Keith Davis (1967) e J. McGuire (1963), so publicados e as discusses em torno do conceito de responsabilidade social comeam a se alastrar. Nesta fase predomina a viso de que a responsabilidade das empresas vai alm da responsabilidade de maximizar lucros e incorporam-se a esta a necessidade de uma postura pblica perante os recursos econmicos e humanos da sociedade e a vontade de ver esses recursos utilizados para fins sociais mais amplos e no simplesmente para os interesses privados dos indivduos.

    Nos anos 70, a Responsabilidade social das empresas passou a fazer parte do debate pblico dos problemas sociais como a pobreza, desemprego, diversidade, desenvolvimento, crescimento econmico, distribuio de renda, poluio, entre outros. em conseqncia disso, houve nova mudana no contrato social entre os negcios e a sociedade, o que gerou o envolvimento das organizaes com os movimentos ambientais, preocupao com a segurana do trabalho e regulamentao governamental.

    De acordo com Carrol (1999, p.282), essa alterao no contrato estava presente no relatrio Social Responsabilities of Business Corporation Report, formulado pelo Comitee for Ec