suplemento alimentar em pó - nutrisus com múltiplos micronutrientes

18
1 Ministério da Saúde Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde Suplemento alimentar com múltiplos micronutrientes em pó para implantação do NutriSUS Agosto de 2014 Relatório de Recomendação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS – CONITEC – 130

Upload: duongthien

Post on 10-Jan-2017

217 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

1

Ministério da Saúde

Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos

Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde

Suplemento alimentar com múltiplos

micronutrientes em pó para implantação do

NutriSUS

Agosto de 2014

Relatório de Recomendação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS – CONITEC – 130

CONITEC

2014 Ministério da Saúde.

É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que

não seja para venda ou qualquer fim comercial.

A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é da

CONITEC.

Informações:

MINISTÉRIO DA SAÚDE

Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos

Esplanada dos Ministérios, Bloco G, Edifício Sede, 8° andar

CEP: 70058-900, Brasília – DF

E-mail: [email protected]

Home Page: www.saude.gov.br - > CONITEC

1

CONITEC

CONTEXTO

Em 28 de abril de 2011, foi publicada a Lei n° 12.401 que dispõe sobre a assistência

terapêutica e a incorporação de tecnologias em saúde no âmbito do SUS. Esta lei é um marco

para o SUS, pois define os critérios e prazos para a incorporação de tecnologias no sistema

público de saúde. Define, ainda, que o Ministério da Saúde, assessorado pela Comissão

Nacional de Incorporação de Tecnologias – CONITEC, tem como atribuições a incorporação,

exclusão ou alteração de novos medicamentos, produtos e procedimentos, bem como a

constituição ou alteração de protocolo clínico ou de diretriz terapêutica.

Tendo em vista maior agilidade, transparência e eficiência na análise dos processos de

incorporação de tecnologias, a nova legislação fixa o prazo de 180 dias (prorrogáveis por mais

90 dias) para a tomada de decisão, bem como inclui a análise baseada em evidências, levando

em consideração aspectos como eficácia, acurácia, efetividade e segurança da tecnologia,

além da avaliação econômica comparativa dos benefícios e dos custos em relação às

tecnologias já existentes.

A nova lei estabelece a exigência do registro prévio do produto na Agência Nacional de

Vigilância Sanitária (ANVISA) para que este possa ser avaliado para a incorporação no SUS.

Para regulamentar a composição, as competências e o funcionamento da CONITEC foi

publicado o Decreto n° 7.646 de 21 de dezembro de 2011. A estrutura de funcionamento da

CONITEC é composta por dois fóruns: Plenário e Secretaria-Executiva.

O Plenário é o fórum responsável pela emissão de recomendações para assessorar o

Ministério da Saúde na incorporação, exclusão ou alteração das tecnologias, no âmbito do

SUS, na constituição ou alteração de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas e na

atualização da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), instituída pelo

Decreto n° 7.508, de 28 de junho de 2011. É composto por treze membros, um representante

de cada Secretaria do Ministério da Saúde – sendo o indicado pela Secretaria de Ciência,

Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) o presidente do Plenário – e um representante de

cada uma das seguintes instituições: ANVISA, Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS,

Conselho Nacional de Saúde - CNS, Conselho Nacional de Secretários de Saúde - CONASS,

Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde - CONASEMS e Conselho Federal de

Medicina - CFM.

2

CONITEC

Cabem à Secretaria-Executiva – exercida pelo Departamento de Gestão e Incorporação

de Tecnologias em Saúde (DGITS/SCTIE) – a gestão e a coordenação das atividades da

CONITEC, bem como a emissão deste relatório final sobre a tecnologia, que leva em

consideração as evidências científicas, a avaliação econômica e o impacto da incorporação da

tecnologia no SUS.

Todas as recomendações emitidas pelo Plenário são submetidas à consulta pública

(CP) pelo prazo de 20 dias, exceto em casos de urgência da matéria, quando a CP terá prazo de

10 dias. As contribuições e sugestões da consulta pública são organizadas e inseridas ao

relatório final da CONITEC, que, posteriormente, é encaminhado para o Secretário de Ciência,

Tecnologia e Insumos Estratégicos para a tomada de decisão. O Secretário da SCTIE pode,

ainda, solicitar a realização de audiência pública antes da sua decisão.

Para a garantia da disponibilização das tecnologias incorporadas no SUS, o decreto

estipula um prazo de 180 dias para a efetivação de sua oferta à população brasileira.

3

CONITEC

SUMÁRIO

1. RESUMO EXECUTIVO .............................................................................................................. 4

2. A DOENÇA .................................................................................................................................... 6

3. A TECNOLOGIA ......................................................................................................................... 7

4. ESTUDO DE AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE DA AÇÃO NO ÂMBITO DO SUS

(ENFAC) ................................................................................................................................................... 11

5. AQUISIÇÃO DO PRODUTO PARA INICIO DA AÇÃO EM 2014 ...................................... 12

6. PLANO DE EXPANSÃO DA COBERTURA DO NUTRISUS .............................................. 13

7. FOMENTO À INCORPORAÇÃO DE TECNOLOGIA E PRODUÇÃO NACIONAL DO

MEDICAMENTO (PDP) ......................................................................................................................... 13

8. PROPOSTA ORÇAMENTÁRIA .............................................................................................. 13

9. CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 14

10. RECOMENDAÇÃO DA CONITEC ......................................................................................... 14

11. CONSULTA PÚBLICA .............................................................................................................. 14

12. DELIBERAÇÃO FINAL ............................................................................................................ 15

13. DECISÃO ..................................................................................................................................... 15

14. REFERENCIAS .......................................................................................................................... 16

4

CONITEC

1. RESUMO EXECUTIVO

Tecnologia: Suplemento alimentar com múltiplos micronutrientes em pó para implantação do NutriSUS.

Indicação: Prevenção e controle da anemia ferropriva.

Demandante: Secretaria de Atenção à Saúde – SAS/MS.

Contexto: No Brasil, 20,9% das crianças menores de 5 anos possuem anemia causada por deficiência de ferro (PNDS 2006). O público mais vulnerável são as crianças menores de 24 meses, pois tem como consequência danos ao desenvolvimento neuropsicomotor, repercussões futuras na idade escolar e na adolescência, gerando adultos com menor capacidade produtiva, o que repercute na economia dos países. A prevenção da anemia e, segundo estudos científicos, a suplementação da alimentação infantil com múltiplos micronutrientes, incluindo ferro é uma alternativa inovadora à suplementação com ferro e à biofortificação de alimentos.

Evidências: Estudo multicêntrico envolvendo as universidades avaliou a efetividade da fortificação com vitaminas e minerais na prevenção da deficiência de ferro e anemia aplicada em crianças menores de um ano, em várias cidades brasileiras. Os resultados foram positivos, pois a anemia foi 38% menor em relação ao grupo controle, que recebeu sulfato ferroso, além da boa aceitabilidade das crianças com o uso do sachê.

Impacto Orçamentário: 1ª compra (prevista para ser distribuída a partir de ago/2014), serão gastos R$ 2.500.000,00, com a aquisição de 20.000.000 sachês para atender a 331.019 crianças. Para a 2ª compra (distribuição prevista para fev/2015), estima-se gastar R$ 10.250.000,00; para adquirir 82.000.000 sachês que serão oferecidos a 683.000 crianças. Para os demais meses de 2015, a previsão orçamentária será de R$ 17.640.000,00 para compra de 141.112.000 sachês e previsão de ampliação do programa para 1.176.000 crianças.

Recomendação da CONITEC: Na 26ª reunião da CONITEC, realizada no dia 09/06/2014, os membros da CONITEC deliberaram, por unanimidade, pela incorporação de suplemento de vitaminas e minerais na educação infantil.

5

CONITEC

Consulta Pública: A consulta pública foi realizada entre o período de 07/07/2014 até 30/07/2014. Não foram recebidas contribuições na consulta pública do tema.

Deliberação Final: Na 27ª reunião do plenário do dia 07/08/2014 foi recomendado a incorporação do suplemento alimentar em pó com múltiplos micronutrientes para fortificação da alimentação infantil no âmbito do Programa NutriSUS. Foi assinado o Registro de Deliberação nº 95/2014.

6

CONITEC

SUPLEMENTO ALIMENTAR COM MÚLTIPLOS MICRONUTRIENTES EM PÓ PARA IMPLANTAÇÃO DO NUTRISUS

Demandante: Secretaria de Atenção à Saúde – SAS/MS

2. A DOENÇA

Os primeiros anos de vida se configuram em um período de intenso

crescimento e desenvolvimento, sendo, portanto, uma fase dependente de vários

estímulos para garantir que as crianças cresçam de forma saudável. As práticas

alimentares inadequadas nos primeiros anos de vida estão intimamente relacionadas à

morbimortalidade de crianças, representada por doenças infecciosas, afecções

respiratórias, cárie dental, desnutrição, excesso de peso e carências específicas de

micronutrientes como de ferro, zinco e vitamina A.

As principais consequências da deficiência de ferro são anemia, deficiência

cognitiva, de desempenho físico e aumento das mortalidades materna e infantil. Essa

carência está associada a prejuízos no desenvolvimento neurológico e psicomotor das

crianças, comprometendo a capacidade de aprendizagem, além da diminuição da

imunidade celular, que resulta em menor resistência às infecções e baixa

produtividade em adultos (WHO, 2001).

Estima-se que um quarto da população mundial tenha anemia, sendo

considerada um grave problema de saúde pública e a deficiência nutricional de maior

magnitude no Brasil. Dentre os grupos mais susceptíveis para os efeitos prejudiciais da

deficiência, estão os menores de dois anos, devido ao alto requerimento de ferro para

o crescimento, que dificilmente será atingido somente pela alimentação.

Os resultados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde - 2006 apontaram

uma prevalência de anemia de 20,9% em crianças menores de cinco anos, e entre a

faixa etária de 6 a 23 meses, a prevalência alcança 24,1% das crianças, demonstrando a

7

CONITEC

necessidade da implantação de uma ação eficaz para a prevenção da anemia na

infância (Brasil, 2009).

A ocorrência da deficiência de ferro possui profundas implicações no

desenvolvimento econômico de um país, particularmente em termos de enormes

custos para saúde pública (WHO, 2006). Essa relação ocorre em virtude das crianças

acometidas com a deficiência, em especial aquelas em idade escolar, estarem sujeitas

a um comprometimento de sua saúde e desenvolvimento, pior status cognitivo e

intelectual, o que provavelmente contribuirá para a transmissão intergeracional da

pobreza (GRANTHAM-MCGREGOR et al., 2007; WALKER et al., 2007; ENGLE et al.,

2007; 2011).

Em termos de saúde pública, a relevância da anemia por deficiência de ferro

não se deve apenas à amplitude de sua ocorrência, mas em função dos efeitos

deletérios que ocasiona à saúde, além de ser um importante indicador de nutrição e

saúde (WHO, 2006).

3. A TECNOLOGIA

SUPLEMENTO ALIMENTAR PARA IMPLANTAÇÃO DA ESTRATÉGIA NUTRISUS –

FORTIFICAÇÃO DA ALIMENTAÇÃO INFANTIL COM MICRONUTRIENTES EM PÓ.

Em 2011, a Organização Mundial da Saúde passou a recomendar a estratégia

de fortificação dos alimentos com múltiplos micronutrientes como alternativa à

suplementação com ferro isolado, com o intuito de aumentar a ingestão de vitaminas

e minerais em crianças (WHO, 2011). Já foi demonstrado que a estratégia reduz no

período de um ano, a deficiência de ferro em 51% e anemia em 31% (DE-REGIL et al.,

2011).

Atualmente, mais de 44 países no mundo adotam a estratégia de fortificação

com múltiplos micronutrientes no conjunto de ações voltadas para a prevenção e

controle da anemia. Destacam-se nas Américas: México, Peru, Bolívia e Equador.

8

CONITEC

Esse tipo de estratégia, amplamente estudada e implementada com sucesso

em diferentes continentes, já acumula muitas evidências de eficácia e efetividade e

teve essa importância reconhecida, em guias específicos, como o da Organização

Mundial da Saúde (ENGLE et al., 2007; BHUTTA et. al., 2008; DEWEY; YANG; BOY, 2009;

De-REGIL et al., 2011; WHO, 2011).

Atualmente no Brasil, no âmbito da Política Nacional de Alimentação e Nutrição

– PNAN, o Ministério da Saúde adota três estratégias de prevenção e controle da

anemia: a educação alimentar e nutricional, a fortificação obrigatória das farinhas de

trigo e milho e a suplementação preventiva para grupos vulneráveis. A educação

alimentar e nutricional é contemplada na publicação dos “Dez passos da alimentação

saudável para crianças menores de dois anos” e na Estratégia Nacional para Promoção

do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável no SUS - Estratégia

Amamenta e Alimenta Brasil. Outra estratégia é a fortificação das farinhas de trigo e

milho, vendidas no país, obrigatoriamente fortificadas com ferro e ácido fólico, por

meio da normativa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa (RDC 344 de 13

de dezembro de 2002); e finalmente o Programa Nacional de Suplementação de Ferro

(PNSF) o qual prevê suplementação universal de sulfato ferroso a crianças de 6 a 24

meses, gestantes e lactantes (BRASIL 2005).

Frente às evidências e recomendações da OMS, a Coordenação-Geral de

Alimentação e Nutrição (CGAN/MS) vem estudando a estratégia de fortificação com

múltiplos micronutrientes em pó, desde 2009. Para tanto, em setembro de 2011, o

Ministério da Saúde, em parceria com o Unicef/Brasil, realizou uma Oficina de

Trabalho sobre a Estratégia de Fortificação infantil com múltiplos micronutrientes no

Brasil, na qual se reuniram representantes do Ministério da Saúde, Anvisa e sociedades

médicas, pesquisadores brasileiros e internacionais e representantes dos governos do

México, Peru e Equador, tendo como principal objetivo conhecer as experiências bem-

sucedidas de programas de fortificação caseira com micronutrientes em pó e debater

os desafios para a implementação da estratégia no Brasil.

Em maio de 2012 foi estabelecida a prioridade do cuidado integral de crianças

de zero a seis anos pela Ação Brasil Carinhoso, componente do Plano Brasil Sem

9

CONITEC

Miséria, do Plano PluriAnual – PPA 2012/2015 (Programa de Segurança Alimentar e

Nutricional – 2069), do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (2012 /

2015) e do Planejamento Estratégico do Ministério da Saúde (2011- 2015), a

implantação da estratégia de fortificação infantil com múltiplos micronutrientes em pó

(NutriSUS). Tal estratégia se destina ao controle e prevenção da anemia ferropriva e

outras carências nutricionais, sendo assumida como compromisso do Ministério da

Saúde e ação opcional para os estados e municípios que realizarem a adesão à

estratégia por meio da pactuação anual junto ao Programa Saúde na Escola.

O NutriSUS irá contemplar, inicialmente, as crianças matriculas em creches por

entender que os estabelecimentos de ensino se configuram como espaço privilegiado

para ações de promoção de hábitos de vida saudáveis, em virtude de seu potencial

para produzir impacto sobre a saúde, comportamentos e desenvolvimento de

habilidades para a vida de todos os membros da comunidade escolar. Acredita-se que

estes ambientes são propícios para a execução das ações realizadas coletivamente e se

configuram numa oportunidade de fortalecimento das ações intersetoriais.

Considerando a prioridade do governo, a partir do segundo semestre de 2014,

será iniciada no Brasil, uma parceria dos Ministérios da Saúde e da Educação, a

estratégia de fortificação da alimentação infantil com micronutrientes em pó –

NutriSUS, como ação optativa nas creches participantes do Programa Saúde na Escola.

A estratégia consiste na adição direta de 1 sachê com múltiplos micronutrientes em pó

aos alimentos que a criança, com idade entre seis e quarenta e oito meses, irá

consumir em uma de suas refeições diárias oferecidas nas creches.

Os sachês com múltiplos micronutrientes em pó são embalados

individualmente na forma de sachês (1g), contendo 15 micronutrientes (entre

vitaminas e minerais), conforme quadro 1. Os suplementos serão adquiridos pelo

Ministério da Saúde e distribuídos para os estados e municípios que realizaram a

adesão à estratégia por meio da pactuação anual com o Programa Saúde na Escola.

10

CONITEC

Quadro 1 – Composição do produto:

Composição do produto Dose

Vitamina A RE Vitamina D Vitamina E TE Vitamina C Vitamina B1 Vitamina B2 Vitamina B6 Vitamina B12 Niacina Ácido Fólico Ferro Zinco Cobre Selênio Iodo

400 µg 5 µg 5 mg 30 mg 0,5 mg 0,5 mg 0,5 mg 0,9 µg 6 mg 150 µg 10 mg 4,1 mg 0,56 mg 17 µg 90 µg

A adesão à estratégia iniciou-se no dia 4 de abril, por meio da pactuação anual

do PSE 2014/2015. Os municípios que aderiram até o dia 15 de maio receberão os

sachês no segundo semestre de 2014 para iniciar a suplementação nas creches.

Àqueles que realizarem a adesão até o dia 6 de junho serão contemplados com a

estratégia em 2015. Os resultados da adesão até o dia 15 de maio contemplaram 1.718

municípios, 5.413 creches e 331.019 educandos.

Para apoiar a implantação da estratégia, foram desenvolvidas algumas ações: a)

estudo de avaliação da efetividade da ação no âmbito do SUS (ENFAC); b) aquisição do

produto para inicio da ação em 2014; c) plano de expansão da cobertura do NutriSUS;

d) fomento à incorporação de tecnologia e produção nacional do medicamento (PDP);

e) proposta orçamentária.

11

CONITEC

4. ESTUDO DE AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE DA AÇÃO NO ÂMBITO DO

SUS (ENFAC)

O ENFAC foi realizado no período de junho de 2012 a julho de 2013 em quatro

cidades brasileiras – Goiânia (GO), Olinda (PE), Porto Alegre (RS) e Rio Branco (AC). O

objetivo do estudo foi avaliar a efetividade do sachê de micronutrientes, a adesão por

mães e a aceitação por parte das crianças de 6 a 8 meses atendidas na rede de atenção

do SUS e contribuir para a implementação da estratégia no Brasil.

Em maio/2014, foram publicados os primeiros resultados do estudo

comparando-se as crianças do grupo controle e intervenção (Figura 1).

23,1%

37,3%

17,4%

61,5%

14,3%*

29,9%*

7,9%*

24,9%*

Anemia Deficiência de ferro Deficiência de

Vitamina A

Insuficiência de

Vitamina E

Controle Intervenção

Figura 1 – Resultados do ENFAC quanto à prevalência de anemia, deficiência de ferro, deficiência de

vitamina A e insuficiência de vitamina E.

Em se tratando do perfil saúde das crianças participantes do estudo, foram

obtidos os seguintes resultados (Figura 2).

12

CONITEC

Figura 2 – Resultados do ENFAC quanto à prevalência de febre e chiado no peito nos últimos 15 dias.

Para viabilizar a realização desta pesquisa, os sachês com múltiplos

micronutrientes foram doados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)

e o financiamento foi do Ministério da Saúde/Coordenação-Geral de Alimentação e

Nutrição - CGAN, com gerência administrativo-financeiro do Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, processo nº 552747/2011-4).

5. AQUISIÇÃO DO PRODUTO PARA INICIO DA AÇÃO EM 2014

Para a implantação da nova estratégia de prevenção e controle da anemia no

país, o Ministério da Saúde ficou responsável pela aquisição e distribuição dos sachês

de múltiplos micronutrientes para os Estados e Municípios.

Deste modo, para iniciar a estratégia no segundo semestre/2014, serão

adquiridos 20 milhões de sachês, quantidade suficiente para atender 331.019 crianças

matriculadas nas creches prioritárias que realizaram a adesão ao Programa Saúde na

Escola no ciclo 2014/2015. Inicialmente participarão da estratégia todos os municípios

das Regiões Norte, Nordeste, Vale do Jequitinhonha e Mucuri (Semiárido de Minas

Gerais) e municípios integrantes da Agenda de Intensificação da Atenção Nutricional à

13

CONITEC

Desnutrição Infantil/ANDI. Nas Regiões Centro Oeste, Sudeste Sul, os municípios com

mais de 110 crianças matriculadas em creches que fizeram adesão ao PSE.

6. PLANO DE EXPANSÃO DA COBERTURA DO NUTRISUS

Para o primeiro semestre/2015 serão atendidos todos os municípios e creches

selecionadas no momento da adesão até o dia 06 de junho de 2014. Desta forma,

espera-se atender cerca de 683.000 crianças a partir de 2015.

Considerando a efetividade da fortificação com micronutrientes e a capacidade

produtiva dos insumos no país, a expectativa da Coordenação é a médio prazo

expandir a estratégia para a atenção básica do SUS, de forma a substituir o sulfato

ferroso isolado distribuído na atenção básica pelo sachê de micronutrientes em pó.

7. FOMENTO À INCORPORAÇÃO DE TECNOLOGIA E PRODUÇÃO

NACIONAL DO MEDICAMENTO (PDP)

Devido à falta de oferta do produto no mercado nacional, o Ministério da

Saúde firmou uma Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) com o

Laboratório Farmacêutico da Marinha do Brasil (LFM) mediante Termo de

Compromisso assinado em 11 de abril de 2013 para produção do medicamento no

país. O objetivo dessa parceria é o desenvolvimento e a transferência de tecnologia do

medicamento e do produto Micronutrientes sachê de 1 g contendo vitaminas e

minerais, como descrito na quadro 1. Tal produção deverá ser capaz de atender a

todos os municípios que aderiram ao NutriSUS a partir de 2015 e atender à expansão

da estratégia para a atenção básica do SUS.

8. PROPOSTA ORÇAMENTÁRIA

Para os próximos anos, considerando a perspectiva de ampliação da estratégia,

avaliou-se o impacto orçamentário para aquisição dos sachês de múltiplos

micronutrientes em pó, conforme detalhamento abaixo:

14

CONITEC

2014¹ (1ª compra)² 2014¹ (2ª compra)³ 20154

Estimativa de crianças atendidas

331.019 683.000 1.200.000

Previsão orçamentária

R$ 2.500.000,00 R$ 10.250.000,00 R$ 17.640.000,00

Nº sachês 20.000.000 82.000.000 144.000.000

1) As despesas decorrentes desta aquisição serão custeadas pela Funcional

Programática: Alimentação e Nutrição para a Saúde 10.306.2015.8735.

2) 2014 (1ª compra): Os sachês serão distribuídos em agosto/2014. 3) 2014 (2ª compra): Os sachês serão distribuídos em fevereiro/2015. 4) 2015: Os sachês serão distribuídos em fevereiro/2016.

9. CONCLUSÃO

Por fim, considerando que a anemia configura-se como importante problema

de saúde pública e traz graves repercussões no desenvolvimento infantil, propõem-se

o NutriSUS como estratégia inovadora para a prevenção e controle da anemia e outras

carências nutricionais específicas no Brasil. Para tal, a Secretaria de Atenção à Saúde

do Ministério da Saúde solicitou a apreciação pela Comissão Nacional de Incorporação

de Tecnologia no SUS – CONITEC/SCTIE quanto à incorporação deste suplemento na

rede de atenção do SUS, tendo em vista que o sache com múltiplos micronutrientes

ainda não está contemplado na Relação Nacional de Medicamentos (RENAME, 2013).

10. RECOMENDAÇÃO DA CONITEC

Na 26ª reunião da CONITEC, realizada no dia 09/06/2014, os membros da

CONITEC presentes deliberaram, por unanimidade, pela incorporação de suplemento

de vitaminas e minerais na educação infantil. A matéria seguirá para consulta pública.

11. CONSULTA PÚBLICA

O Relatório da proposta de incorporação do suplemento de vitaminas e

minerais na educação infantil foi disponibilizado em consulta pública entre o período

de 07/07/2014 até 30/07/2014 para manifestação da sociedade civil a respeito da

15

CONITEC

recomendação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema

Único de Saúde – CONITEC. Não foram recebidas contribuições na consulta pública do

tema.

12. DELIBERAÇÃO FINAL

Os membros da CONITEC presentes na reunião do plenário do dia 07/08/2014

deliberaram, por unanimidade, por recomendar a incorporação do suplemento

alimentar em pó com múltiplos micronutrientes para fortificação da alimentação

infantil no âmbito do Programa NutriSUS.

Foi assinado o Registro de Deliberação nº 95/2014.

13. DECISÃO

PORTARIA Nº- 28, DE 13 DE AGOSTO DE 2014

Torna pública a decisão de incorporar o suplemento alimentar em pó com múltiplos micronutrientes para fortificação da

alimentação infantil no âmbito do Programa NutriSUS.

O SECRETÁRIO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INSUMOS ESTRATÉGICOS DO

MINISTÉRIO DA SAÚDE, no uso de suas atribuições legais e com base nos termos dos

art. 20 e art. 23 do Decreto 7.646, de 21 de dezembro de 2011, resolve:

Art. 1º Fica incorporado o suplemento alimentar em pó com múltiplos micronutrientes

parafortificação da alimentação infantil no âmbito do Programa NutriSUS.Art.

2º O relatório de recomendação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias

no SUS (CONITEC) sobre essa tecnologia estará disponível no endereço

eletrônico:http://portal.saude.gov. br/ conitec.

Art. 4º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

CARLOS AUGUSTO GRABOIS GADELHA

Publicação no Diário Oficial da União: DOU nº 155 de 14 de agosto de 2014, pág. 63.

16

CONITEC

14. REFERENCIAS

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução RDC nº 344 de 13 de dezembro de 2002. Aprova o regulamento técnico para a fortificação das farinhas de trigo e das farinhas de milho com ferro e ácido fólico. Diário Oficial da União, Brasília-DF, Seção 1, 18 de dezembro de 2002.

Bhutta, Z. A., Ahmed, T., Black, R. E., Cousens, S., Dewey, K., Giugliani, E., ... & Shekar, M. (2008). What works? Interventions for maternal and child undernutrition and survival. The Lancet, 371(9610), 417-440.

Brasil. Ministério da Saúde. Pesquisa nacional de demografia e saúde da criança e da mulher – PNDS 2006: dimensões do processo reprodutivo e da saúde da criança. Ministério da Saúde, Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. 2009.

De-Regil LM, Suchdev OS, Vist GE, Walleser S, Peña-Rosas JP. Home fortification of foods with multiple micronutrient powders for health and nutrition in children under two years of age (Review). The Cochrane Library 2011, Issue 9.

Dewey KG, Yang Z, Boy E. Systematic review and meta-analysis of home fortification of complementary foods. Maternal and Child Nutrition, 2009, v. 5, p. 283–321.

Engle PL, Black MM, Behrman JR, Cabral de Mello M, Gertler PJ, Kapiriri L, Martorell R, Young ME; International Child Development Steering Group. Strategies to avoid the loss of developmental potential in more than 200 million children in the developing world. Lancet, 2007. 369(9557): p. 229-42.

Engle, P.L.,Fernald, L.C.H., Alderman,H., Behrman,J., O'Gara,C.,Yousafzai, A., Cabral de Mello,M., Hidrobo,M.,Ulkuer,N., Ertem,I.,Iltus,S. and the Global Child Development Steering Group. Strategies for reducing inequalities and improving developmental outcomes for young children in low-income and middle-income countries. Lancet, 2011. 378(9799): p. 1339-53.

Engstrom EM, Castro IRR, Portela M, Cardoso LO, Monteiro CA. Efetividade da suplementação diária ou semanal com ferro na prevenção da anemia em lactentes. Rev. Saúde Pública. 2008 Oct;42(5):786-95.

WHO - World Health Organization, FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations. Guidelines on food fortification with micronutrients. 2006.

World Health Organization. Guideline: Use of multiple micronutrient powders for home fortification of foods consumed by infants and children 6–23 months of age. Geneva: WHO: 2011.