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Page 1: SUJEITOS PERIFÉRICOS-só texto)

SUJEITOS PERIFÉRICOS: uma análise de processos de inclusão/ exclusão em meio

à violência, tráfico e pobreza.

Os problemas sociais diretamente ligados ao tráfico de drogas e a marginalidade em

comunidades pobres tem tido uma constante exposição nos meios midiáticos, vem sendo

alvo de projetos sociais assim como de políticas de segurança por meio do poder público. O

que se percebe, entretanto, é que por mais que estes projetos possam ser válidos, no sentido

de ter saldos positivos, não alcançam o cerne do problema extremamente relacionado com a

dinâmica da sociedade em geral. Como diz (FERREIRA, 2001) “os limites destes campos

(políticas sociais e de segurança) estão dados pelo movimento mais amplo que inclui

precária e instavelmente não apenas aqueles que vivem nas comunidades, mas também

vários atores ligados às atividades sociais”. As políticas de segurança, por sua vez, têm

desempenhado nada mais além de “remediar” o problema da violência. O delegado Hélio

Luz (ex-chefe da polícia civil do Rio de Janeiro) no documentário “Notícias de uma guerra

particular”, comenta em relação a função remediadora da polícia: estes ao matar ou prender

marginais utilizam a tática do “bandido analgésico” que passa a dor de cabeça para logo vir

a ter uma outra dor, já que surgirão outros para ocupar seu lugar.

A escolha de estudar os processos de “exclusão” se deu pela vivência que tive por

muito tempo em comunidades que vivenciam estes processos - além de morar atualmente

no Recanto do Lira mais conhecido como Vila Capim, freqüentemente tenho acompanhado

a rotina de bairros como Vila Embratel, Mauro Fecury, Vila Ariri, todos estes localizados

em zonas periféricas de São Luís do Maranhão.

Tomar como ponto de partida os sujeitos destes processos e o que eles falam acerca

de sua situação, foi pela não correspondência do que se diz comumente sobre eles e os seus

próprios discursos – não que pense que os discursos proferidos sobre tais comunidades não

estejam relacionados com a realidade, mas estão envoltos por relações de poder, sobre os

quais os próprios sujeitos da exclusão não têm domínio. Então a tarefa que proponho fazer

é semelhante à que Foucault chama de “insurreição dos discursos”, por fazer falar quem

geralmente não é ouvido e revelar aquilo que é ocultado pelos que tem o direito à fala,

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conforme a ativação de discursos locais e marginalizados e daí partir para análise científica

de tais discursos.

Trata-se, na verdade, de fazer que intervenham saberes locais, descontínuos, desqualificados, não legitimados, contra a instância teórica unitária que pretendia filtrá-los, hierarquizá-los, ordená-los em forma de conhecimento verdadeiro.1

(FOUCAULT, 1999: 13).

A pesquisa tentará identificar os processos de exclusão e inclusão social em

comunidades periféricas onde o cotidiano se dá em meio ao tráfico de drogas, ao vício, a

violência e a pobreza. Para tanto, procuraremos perceber esses processos de inclusão/

exclusão, que apesar de parecerem contraditórios e se anular um ao outro, podem se

apresentar juntos em uma mesma situação, aproximando-se do que FERREIRA chama de

“exclusão integrativa”.

Desta maneira, procuraremos nos sujeitos destes processos - os quais resolvi chamar

de “sujeitos periféricos” - as formas de incluir-se nos “processos de valorização”. Isto nos

obriga a considerar as maneiras não legítimas de participar dos processos de inclusão/

exclusão, tais como: tornar-se traficante, ladrão, prostitutas; como também àquelas

legitimadas pela sociedade: recorrência ao estudo, inserção em políticas públicas, trabalho

assalariado.

Atentando que no contexto estudado – tal como outros contextos sociais - os

sujeitos reproduzem a lógica da inclusão da estrutura social mais ampla (macro social), mas

que apresentam particularidades impostas pelo espaço em que vivem.

“No centro destas situações de exclusão encontram-se os atores que, ao nosso ver,

ocupam posições de particular visibilidade. Situamos no campo de fronteira entre o

global e o local, em pontos onde as estruturas sociais em movimento esgarçam-se,

e mais finalmente expõe suas contradições”.(FERREIRA, 2001)

Quando nos referimos a reprodução da estrutura social não falamos reprodução

mecânica; como se o macro social fosse algo como o ditador de todas as especificidades

percebidas na vida social, e este grande e totalitário ditador determinasse a sociedade a

maneira de se configurar de uma fronteira a outra. Tentaremos ver como reprodução se dá

nestas comunidades tendo em vista que são contextos sociais particulares, que possuem

suas relações próprias e nem por isso deixam de ser reflexo da estrutura social, mas também

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de maneira própria. Como diria FERREIRA (2001) “Não há reprodução sem a produção de

novas relações”.

OBJETIVO GERAL

Identificar como se configuram os processos de exclusão/inclusão nas comunidades

estudadas partindo dos atores envolvidos em tais processos.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Identificar os atores sociais envolvidos na situação problema (exclusão em

comunidades periféricas) e obter seus relatos acerca da situação;

Confrontar os discursos destes atores com a produção teórica já produzida a respeito

da temática da exclusão;

Verificar as relações existentes entre estes processos e as contradições e estruturas

da sociedade em geral.

REVISÃO TEÓRICA

No texto “As Armadilhas da exclusão: Um desafio para a análise” Mônica Ferreira

faz a discussão da “situação” da exclusão e localiza esta discussão a configuração atual do

neoliberalismo, argumenta que este termo acabou sendo banalizado, de maneira que é

utilizado para referir-se a diversas situações sem a possibilidade de interpretação exata do

que significa na realidade.

“descrevendo tanto processos quanto sujeitos, tanto estados quanto

situações, tanto contingências quanto estruturas históricas; um termo utilizado

como categoria sociológica ou como denúncia de situações vividas, como

manchete de jornal ou como justificativa para a configuração de políticas públicas

(tanto à esquerda quanto à direita)” (FERREIRA, 2002)

Refere-se também a uma fragmentação dos “estados” de exclusão em nossa

sociedade, que cria uma gama de excluídos em diversos âmbitos: econômico, social,

político; o que cria diferentes alternativas a estas exclusões fragmentadas, como se a

1 Quando Foucault se refere a “verdades” e a “conhecimentos verdadeiros”; ele não está jogando com o jogo do verdadeiro ou falso, não está afirmando seu estatuto de verdade, mas fazendo a crítica destes. Afirma que todas verdades constituídas nas sociedades estão relacionadas ao exercício de poder.

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questão da exclusão pudesse ser resolvida a partir de técnicas resolutivas: políticas sociais,

educação, ações afirmativas, dentre outras. O que talvez dificulta a discussão da inclusão e

exclusão na sociedade como processos que não estão por se anular.

“Isso significa que aqueles que já foram vistos como marginais e agora são mais

conhecidos como excluídos, são parte integrante de um sistema que, ao se

desenvolver, cria excedentes populacionais úteis, excluídos dos processos de

trabalho. Mas que são incluídos no processo de valorização, por meio de formas

indiretas de subordinação”. (FERREIRA, 2001)

Esta discussão torna possível o uso de categorias como “exclusão integrativa” –

processos que por mais que possibilitem a inserção dos indivíduos em determinada(s)

esfera(s) da vida social não retiram dele a condição de excluídos em outras esferas. Assim

como “inclusão marginal” – inclusão conseguida pelos indivíduos pelos mais diversos

meios, que possam assegurar a sobrevivência e o acesso aos “processos de valoração”,

“atividades que colocam sempre em cheque os limites entre o legal e o legítimo”

(FERREIRA, 2002)

Daí a decisão em tratar os termos exclusão/inclusão como processos que não

anulam “estados” e “situações” inclusórias ou o seu contrário; e que não as acham

incongruentes e sim reflexo das contradições da sociedade.

METODOLOGIA

Tendo em vista o alcance das informações, dados, dentre outros elementos que nos

auxiliarão no tipo de pesquisa que iremos realizar; podemos indicar alguns instrumentos

que de início parecem ser os mais adequados tais como: entrevistas realizadas nas

comunidades, observação participante, documentários que tenham como o foco o objeto de

estudo e bibliografias sobre a temática. No decorrer da pesquisa exploratória se nos parecer

necessário recorrer a outros métodos que reforcem os já indicados ou mesmo os descartem

isso acontecerá, sem receio algum metodológico.

Já a metodologia usada para o alcance dos processos de exclusão dos sujeitos

periféricos, é aquela já mencionada: tentar partir dos discursos proferidos pelos próprios

atores dos processos para chegar aos processos. Não rejeitaremos a produção teórica já

existente sobre o tema, todavia buscaremos confrontá-la ao observado na realidade;

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utilizaremos conceitos e categorias no intuito de auxilio do conhecimento do real e não

como o próprio real. Como argumenta FERREIRA (2001) análise científica deverá “des-

substantivar tais categorias e surpreendê-las em sua própria história”.

CRONOGRAMA

BIBLIOGRAFIA

FERREIRA, Mônica Dias Peregrino ; CUNHA, Marize Bastos da . O imponderável nos

tempos neoliberais: as possibilidades da análise de atores populares nas estruturas em ação

e os processos de exclusão. In: ANPED, 2001, Caxambu. Intelectuais, conhecimento e

espaço público.

FERREIRA, Mônica Dias Peregrino . As Armadilhas da exclusão: Um desafio para a

análise. In: ANPED, 2002, Caxambu. Educação: manifestos, lutas e utopias.

FOUCAULT, Michel. Em Defesa da Sociedade: Curso no Collége de France (1975 -1976). Trad. Maria GALVÃO. São Paulo: Martins Fontes, 1999.