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60 www.backstage.com.br REPORTAGEM nos palcos e nos negócios SUCESSO nos palcos e nos negócios SUCESSO uma época em que se diz que não se compra discos e que o negócio da música está em apuros, é de-cepcionante quando uma rádio não se importa com a banda. Só pen- saram na repercussão que teriam. Esse é o pior momento para fazer algo do tipo. Dar as coisas de graça”. O desabafo de Jack White (voz e guitarra), da banda White Stripes, que está fazen- do sucesso estrondoso na Inglaterra e EUA, é contra uma rádio de Chicago que havia recebido o CD inédito “Icky Thump” antes do lançamento pelo grupo e resolveu tocar inteiro na emis- sora, sem autorização. Esta situação narrada pelo vocalista White, líder da banda, numa entrevista recente por telefone ao repórter brasileiro William Helal Filho é um dos motivos - ainda que não seja a única causa - do aumento mundo afora do fenômeno de artistas Num contexto de crise na indústria da música, artistas mostram bom desempenho fora dos palcos, associando seus nomes a marcas e empresas N Fernando Magalhães [email protected] Foto: Marcos Hermes / Divulgação

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60 www.backstage.com.br

REPORTAGEM

nos palcos e nos negócios

SUCESSOnos palcos e nos negócios

SUCESSO

uma época em que se diz que não se compra discos e queo negócio da música está em apuros, é de-cepcionantequando uma rádio não se importa com a banda. Só pen-

saram na repercussão que teriam. Esse é o pior momento parafazer algo do tipo. Dar as coisas de graça”. O desabafo de JackWhite (voz e guitarra), da banda White Stripes, que está fazen-do sucesso estrondoso na Inglaterra e EUA, é contra uma rádio

de Chicago que havia recebido o CD inédito “Icky Thump”antes do lançamento pelo grupo e resolveu tocar inteiro na emis-sora, sem autorização.

Esta situação narrada pelo vocalista White, líder da banda,numa entrevista recente por telefone ao repórter brasileiroWilliam Helal Filho é um dos motivos - ainda que não seja aúnica causa - do aumento mundo afora do fenômeno de artistas

Num contexto de crise na indústria da música, artistas mostram bomdesempenho fora dos palcos, associando seus nomes a marcas e empresas

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REPORTAGEM

que cada vez mais se tornam marcas.O exemplo mais bem sucedido no

Brasil é o da cantora Ivete Sangalo, hojeuma marca forte também no mundo dos

negócios. Ela é dona do grupo “Caco deTelha” que prevê faturar nada menosque R$ 40 milhões este ano. O grupoaguarda uma decisão da justiça parainaugurar ainda em 2007 uma casa deshows para 12 mil pessoas em Salvador.Além disso, atua em várias áreas de en-tretenimento, tem uma agência demarketing promocional, uma gravadora,uma produtora de DVDs e organiza fes-tas de formaturas a baile de debutantesem todo o país.

“É muito importante, principalmentepara o artista que está começando, o selode um artista conhecido”, destaca paraBackstage Eduardo Scott, assessor deimprensa de Ivete Sangalo ao se referir aCaco Discos, gravadora da cantora quenão tem preconceito com relação a esti-los musicais. Grava desde axé-music eforró até sertanejo. A gravadora é apenasuma das sete empresas que utilizam amarca da artista-empresária. Todas sãodirigidas por Jesus Sangalo e um grupode sete executivos que têm cerca de300 funcionários.

Livros e camisetas

Outro exemplo de sucesso de artistasque estão levando mais do que músicapara o público é o da banda Detonautas.Formado por Tico Santa Cruz no vocal,

Renato Rocha na guitarra, Tchello no baixo,Fábio Brasil na bateria e o DJ Cléston nas pickups e na percussão, o grupo tem à venda umainfinidade de produtos. Quem acessa o site

www.detonautas.com.br encontra umícone para a loja onde vai encontrar decamisas e adesivos a bonés com alogomarca da banda que surgiu em1997 a partir de um encontro virtual nainternet entre amigos de diversos esta-dos do país.

DJ Cléston conta que o grupo come-çou a vender produtos mais como meiode promoção do nome Detonautas naocasião do lançamento do primeiro discoem 2002 (Detonautas Roque Clube).

Como deu certo, eles prosseguiram. “To-das as bandas estão seguindo este cami-nho com sucesso. É também um meio desobreviver num mercado que sofre com a

pirataria”, explica.A banda vende 2.500 bonés e camisas

todo ano, centenas de CDs e DVDs nosshows pelo Brasil, mas prefere não falarde lucratividade. “Nosso objetivo não é olucro em si. O importante é expandir amarca”, garante o DJ que é o responsávelpelos produtos do grupo.

Até livro a banda já publicou. Emagosto de 2006 saiu “Mais Além”, publi-cação com fotos, ilustrações, quadrinhose relatos contando histórias da banda nasestradas e nos palcos do país. Aliás, naobra há imagens do guitarrista RodrigoNetto, detonauta que a banda perdeuapós ser baleado numa tentativa de assal-to na zona norte do Rio.

Com agenda de shows lotada no Bra-sil e no exterior até o fim do ano, o rapperMarcelo D2 também mostra que tem ta-lento para os negócios. Em 2005, o cantorlançou com Carol Aguiar (sua cunhadae sócia), a Manifesto 33 1/3. A partir deentão, o projeto cresceu e, hoje, os mode-los masculinos do cantor que antes esta-vam disponíveis somente no eixo Rio-SãoPaulo já podem ser comprados em todo osul e sudeste, Distrito Federal, Bahia,Ceará e Pernambuco. Este mês a Mani-

“O exemplo mais bem sucedido no Brasil éo da cantora Ivete Sangalo, hoje uma marca forte

também no mundo dos negócios. Ela é dona do grupo“Caco de Telha” que prevê faturar nada menos que

R$ 40 milhões este ano”

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REPORTAGEM

No Brasil o fenômeno de artistas

que associam seus nomes ou criam

suas próprias marcas e empresas

ocorre há cerca de uma década

para cá, no exterior é fato comum há

muito mais tempo.

No início do ano a imprensa mun-

dial registrou o fim de uma batalha

judicial entre a Apple e os Beatles

pelo uso de marca. A informação de

Londres dizia que um acordo fora

firmado entre a empresa tecnoló-

gica Apple computer e a Apple

Corps, a companhia fonográfica

fundada pelos Beatles há mais de

25 anos.

A briga legal entre as duas em-

presas data de 1980, quando

George Harrison viu um anúncio

dos computadores Apple numa re-

vista e percebeu que poderia haver

um conflito de marcas com a em-

presa dos Beatles.

A empresa dos Beatles (de pro-

NO EXTERIOR, ARTISTAS FATURAM HÁ MUITO MAIS TEMPO

festo 33 1/3 chega a Rondônia, Roraimae Manaus.

Empregos diretos e

indiretos

Por enquanto, a marca de D2 atendeapenas ao público masculino, mas já es-tão sendo desenhadas coleções da grifepara mulheres e crianças com previsãode lançamento em 2008 e 2009, respec-tivamente. No papel, está o projeto delançar calçados e de exportar os produ-tos da marca.

Para a sócia do rapper, Carol Aguiar,“artistas que gerenciam sua própria mar-ca é um fenômeno mais comum no exte-rior e que começa a se multiplicar aquino país”. Segundo ela, Marcelo D2 per-cebeu um nicho entre o público hip hop,o que o motivou a lançar a grife. “Marce-lo nunca encontrou uma marca nacionalcom roupas no estilo dos rappers e achoumelhor ele mesmo criar uma. Dizia queviajava para o exterior para comprar suas

priedade de Paul McCartney, Ringo

Star e das famílias de John Lennon e

George Harrison) foi fundada em

1968, e tem como logotipo uma

maçã verde, ao tempo que a fabri-

cante americana, de 1976, usa

como símbolo uma maçã verde.

Os Rolling Stones, que podem ser

chamados de Rolling Stones S/A, é ou-

tro exemplo de banda que vem de lon-

ga data aumentando seu faturamento.

O conglomerado Stones é formado por

um grupo de empresas – Promotour,

Promopub, Promotone e Musidor –,

cada uma dedicada a um ramo de

atividade. As companhias têm sede

na Holanda, país que oferece vanta-

gens fiscais.

Só para se ter uma idéia o guitar-

rista Keith Richards e Mick Jagger,

juntos, receberam na última década

mais de US$ 50 milhões apenas em

direitos autorais – US$ 4 milhões

apenas para que a Microsoft usasse

a música “Start Me Up” na campa-

nha de lançamento do sistema

operacional Windows 95. Com a

venda de discos, foram outros US$

460 milhões.

Sucesso no mundo inteiro, o Iron

Maiden, mais uma vez, vira inspira-

ção para modelo de tênis exclusivo.

A marca Vans projetou e fabricou

um modelo de tênis da banda. Ver-

sões limitadas dos dois modelos da

Vans (“Sk8-Hi” e “Classic Slip-On”)

devem ser lançados em breve. A

Nike já havia feito tênis do Iron

Maiden, porém, estes não foram

comercializados.

A marca Vans já colocou no mer-

cado tênis em parceria com outras

bandas como Slayer, Motorhead,

Peal Jam e Bad Religion. E, no Bra-

sil, bandas fizeram contrato com a

marca lançando também modelos

de tênis, como a Garage Fuzz,

Square entre outras.

roupas, naquele estilo que gosta e, então,surgiu a idéia que hoje é a Manifes-

to”, explica.A empresária não revela o rendi-

mento anual com a grife e outros pro-dutos da marca de seu sócio, massabe-se que ela gera empregos. A ma-nifesto tem apenas dez funcionários,

Para a sócia do rapperMarcelo D2, Carol

Aguiar, “artistas quegerenciam sua

própria marca é umfenômeno mais

comum no exteriore que começa a

se multiplicar aquino país

mas gera dezenas de empregos indire-tos.

Pode acontecer também de ummúsico lançar sua marca, de ela fazersucesso e ele optar por deixar o ramodos negócios. Foi o que aconteceucom Igor Cavalera, baterista do Sepul-tura. Em 1995, Cavalera e o empresá-rio, Alberto Hiar, criaram a Cavalera,uma marca que se destacou no cená-rio nacional por traduzir o universo damúsica em suas camisas como se fos-sem outdoors.

Hoje Igor não faz mais parte da so-ciedade, mas está sempre presente emlançamento de coleções, além de pre-parar trilha sonora para os eventos co-ordenados pelo amigo Alberto, o Tur-co, como é conhecido.

Atualmente, a Cavalera conta com11 lojas próprias, no Rio e em São Pau-lo, uma franquia em Goiânia, além deestar presente em cerca de 700 lojasdo ramo no país.