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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONEGÓCIOS SUCESSÃO DA GESTÃO NA AGRICULTURA FAMILIAR: UM ESTUDO DE CASO NO ASSENTAMENTO SANTA OLGA NO MUNICÍPIO DE NOVA ANDRADINA EM MATO GROSSO DO SUL FABIANO GRETER MOREIRA DOURADOS/MS 2014

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM AGRONEGCIOS

    SUCESSO DA GESTO NA AGRICULTURA FAMILIAR:

    UM ESTUDO DE CASO NO ASSENTAMENTO SANTA OLGA

    NO MUNICPIO DE NOVA ANDRADINA EM MATO GROSSO

    DO SUL

    FABIANO GRETER MOREIRA

    DOURADOS/MS

    2014

  • FABIANO GRETER MOREIRA

    SUCESSO DA GESTO NA AGRICULTURA FAMILIAR:

    UM ESTUDO DE CASO NO ASSENTAMENTO SANTA OLGA

    NO MUNICPIO DE NOVA ANDRADINA EM MATO GROSSO

    DO SUL

    Dissertao apresentada Universidade

    Federal da Grande Dourados Faculdade

    de Administrao, Cincias Contbeis e

    Economia, para obteno do Ttulo de

    Mestre em Agronegcios.

    ORIENTADORA: Profa. Dra. Madalena

    Maria Schlindwein

    DOURADOS/MS

    2014

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS

    FACULDADE DE ADMINISTRAO, CINCIAS CONTBEIS E ECONOMIA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM AGRONEGCIOS

    Fabiano Greter Moreira

    SUCESSO DA GESTO NA AGRICULTURA FAMILIAR:

    UM ESTUDO DE CASO NO ASSENTAMENTO SANTA OLGA

    NO MUNICPIO DE NOVA ANDRADINA EM MATO GROSSO

    DO SUL

    BANCA EXAMINADORA

    ORIENTADORA: Profa. Dra. Madalena Maria

    Schlindwein - UFGD

    Profa. Dra. Jaqueline Severino da

    Costa - UFGD

    Prof. Dr. Moacir Piffer

    UNIOESTE

    DOURADOS/MS

    2014

  • DEDICATRIA

    Dedico este trabalho a todos os

    agricultores familiares do Projeto de

    Assentamento Santa Olga, pela confiana

    e pacincia ao me receberem em seus lotes

    nesta pesquisa.

    Dedico, ainda, a todos os pequenos

    produtores rurais de nosso pas. Que esta

    pesquisa institua subsdios para a

    permanncia do homem no campo, bem

    como suas tradies e hbitos adquiridos

    ao longo da histria.

  • AGRADECIMENTOS

    Primeiramente, agradeo a Deus, que conduziu os meus passos, me deu foras e

    sabedoria e sempre iluminou o meu caminho, mesmo nos momentos mais difceis, em que

    batia o cansao e o sono. Ele me levantou e me guiou at aqui.

    minha famlia, que sempre me incentivou na busca do conhecimento. De forma

    especial e carinhosa, agradeo a minha namorada, Luciana Codognoto da Silva, que sempre

    esteve ao meu lado, me fortalecendo e me apoiando, com sua sabedoria e ateno, durante as

    limitaes, angstias e alegrias desta jornada acadmica.

    A minha orientadora, professora Dra. Madalena Maria Schlindwein, por confiar em

    meu trabalho e por me conduzir os caminhos desta pesquisa e despertar em mim o desejo de

    continuar trilhando esse caminho. Muito obrigado, Professora, pela oportunidade de trabalhar

    com voc.

    Aos professores do Programa de Ps-Graduao em Agronegcios da Universidade

    Federal da Grande Dourados UFGD, pelo conhecimento compartilhado. Em especial,

    agradeo professora Dra. Jaqueline Severino da Costa e ao professor Dr. Moacir Piffer, da

    Unioeste/Toledo, pelas contribuies durante as bancas de qualificao e defesa desta

    dissertao.

    Agradeo a todos que, direta ou indiretamente, contriburam para que eu pudesse

    findar mais essa etapa de minha vida, fator de alegria e superao, diante dos vrios

    obstculos e virtudes de uma caminhada que est apenas comeando.

  • RESUMO

    A permanncia e a continuidade das pequenas propriedades no Brasil, sobretudo na

    Agricultura Familiar, dentro dos assentamentos rurais, no so apenas um desafio, mas a

    sobrevivncia do campo como histria de desenvolvimento rural e social e, ainda, a produo

    local de alimentos de uma sociedade. A migrao do campo para a cidade uma realidade,

    pois a busca de melhores condies de rendimentos, de estudos para os mais jovens e a

    ausncia de aptido pelo campo por parte de alguns produtores geram a no permanncia e/ou

    somente um local de moradia tranquila, sossegada e/ou apenas de descanso nos finais de

    semana. A pesquisa objetivou analisar a percepo dos agricultores sobre a Sucesso da

    Gesto na Agricultura Familiar no Projeto de Assentamento (PA) Santa Olga, localizado no

    municpio de Nova Andradina, em Mato Grosso do Sul. A metodologia utilizada neste estudo

    est baseada em um estudo de caso, com coleta de dados por meio da aplicao de

    questionrios aos assentados visitados, totalizando 120 lotes. Os principais resultados

    mostram que a percepo de sucesso dos assentados do PA Santa Olga sobre a preparao de

    sucessores nos lotes pequena e a grande maioria dos produtores ouvidos durante esta

    pesquisa no realiza nenhuma estratgia de continuidade, as fontes de rendimentos so

    complementadas com atividades no agrcolas, a carncia de assistncia tcnica rural aos

    assentados so fatores de descaso pelos rgos competentes e a ausncia de cooperao dos

    produtores desestimula as organizaes coletivas no assentamento. Os discursos dos

    agricultores familiares se convergem ao tratar sobre a sucesso da gesto na propriedade, pois

    o processo sucessrio define no somente o futuro daquele lote, mas os discursos sociais,

    culturais e polticos de uma comunidade local.

    Palavras-Chave: Continuidade e permanncia. Desenvolvimento local. Polticas pblicas no

    campo.

  • ABSTRACT

    The permanence and continuity of small farms in Brasil, especially in Family Agriculture

    within the rural settlements are not only a challenge, but the survival of the field as history of

    rural and social development and also the local food production of a society. Migration from

    the countryside to the city is a reality, as the search for better income conditions, studies for

    the young and the lack of fitness the field by some producers generate the non-permanence

    and / or only one place of residence peaceful, quiet and / or just rest on weekends. The

    research aimed to analyze the perception of farmers on the Succession Management in Family

    Farming in the Settlement Project (PA) Santa Olga, located in Nova Andradina in Mato

    Grosso do Sul. The methodology used in this study is based on a study case, with data

    collection through the use of questionnaires to visited settlers, totaling 120 lots. The main

    results show that the perception of succession of the PA Santa Olga sitting on preparing

    successors in lots is small and the vast majority of producers heard during this research takes

    no continuity strategy, the sources of income are complemented by activities not agricultural,

    lack of technical assistance to rural settlers are neglect factors by the competent bodies and

    the lack of cooperation of producers discourages collective organizations in the settlement.

    The speeches of the family farmers converge to treat about succession management in the

    property because the succession process not only defines the future of that lot, but the social

    discourses, cultural and political of a local community.

    Key Words: Continuity and permanence. Local development. Public policies in the field.

  • LISTAS DE ILUSTRAES

    Figura 1 - Mapa do Muncipio de Nova Andradina no mbito de Brasil e estado de Mato

    Grosso do Sul .......................................................................................................................... 44

    Figura 2 - Mapa do Projeto de Assentamento Santa Olga em Nova Andradina/MS .............. 46

    Figura 3 - Mapa dos Assentamentos Rurais de Mato Grosso do Sul criados pelo INCRA e/ou

    pelo Governo Estadual (1980-2009) ....................................................................................... 51

    Figura 4 Composio das fontes de rendimento de acordo com o nvel salarial mensal (at

    01 S M) .................................................................................................................................... 63

    Figura 5 Composio das fontes de rendimento de acordo com o nvel salarial mensal (mais

    de 01 S M a 02 S M) ............................................................................................................... 64

    Figura 6 Composio das fontes de rendimento de acordo com o nvel salarial mensal (mais

    de 02 S M a 03 S M) ............................................................................................................... 65

    Figura 7 Composio das fontes de rendimento de acordo com o nvel salarial mensal (mais

    de 03 S M) ............................................................................................................................... 66

    Figura 8 - Produtos, culturas, animais e outras atividades do campo que geram renda aos

    assentados ................................................................................................................................ 67

    Figura 9 - Percentual de Produtores do Assentamento Santa Olga que esto preparando um

    Sucessor para a Gesto da Propriedade ................................................................................... 69

    Figura 10 - Nvel de Escolaridade dos possveis Sucessores do Assentamento Santa Olga ... 71

    Figura 11 - Percentual de Recebimento de Assistncia Tcnica Rural dos assentados do PA

    Santa Olga ............................................................................................................................... 75

  • LISTAS DE TABELAS

    Tabela 1 - Total de projetos, rea, capacidades e famlias assentadas no Brasil, em Mato

    Grosso do Sul e Nova Andradina, no ano de 2014 ................................................................. 51

    Tabela 2 - Total de estabelecimentos e rea da Agricultura Familiar e No Familiar, no

    municpio de Nova Andradina ................................................................................................ 53

    Tabela 3 - Total de projetos, rea, capacidades e famlias assentadas de forma analtica no

    municpio de Nova Andradina, no ano de 2014 ...................................................................... 54

    Tabela 4 - Estrutura da diviso do uso da terra no Assentamento Santa Olga, no municpio de

    Nova Andradina em Mato Grosso do Sul ............................................................................... 56

    Tabela 5 - Quantidade de moradores por famlia nos lotes do Assentamento Santa Olga

    .................................................................................................................................................. 57

    Tabela 6 - Quantidade de moradores residentes no Assentamento e o sexo da populao

    pesquisada ............................................................................................................................... 58

    Tabela 7 - Nvel de escolaridade dos proprietrios responsveis pelos lotes e demais

    residentes no Assentamento Santa Olga ................................................................................. 59

    Tabela 8 - Nvel de idade dos proprietrios responsveis pelos lotes e demais residentes no

    Assentamento Santa Olga ....................................................................................................... 60

    Tabela 9 - Rendimentos mensais das famlias residentes no Assentamento Santa Olga ........ 62

    Tabela 10 - Fontes de rendimentos das famlias residentes no Assentamento Santa Olga ..... 62

    Tabela 11 - Ocupao atual dos possveis Sucessores no Assentamento Santa Olga ............. 71

  • Tabela 12 - Destino das propriedades, a partir das respostas dos Responsveis pelos lotes do

    Assentamento Santa Olga, caso no ocorra sucesso ............................................................. 73

    Tabela 13 - Anlise de participao dos assentados na Associao/Cooperativa do

    Assentamento Santa Olga ....................................................................................................... 74

    Tabela 14 - Dificuldades enfrentadas nos lotes do Assentamento Santa Olga e as melhorias

    sugeridas pelos assentados ...................................................................................................... 76

  • LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AGRAER Agncia de Desenvolvimento Agrrio e Extenso Rural

    ATER Assistncia Tcnica e Extenso Rural

    CNA Confederao Nacional da Agricultura

    CONAB Companhia Nacional de Abastecimento

    CONTAG Confederao Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

    COOPAOLGA Cooperativa de Produo dos Agricultores Familiares do Assentamento

    Santa Olga

    DAP Declarao de Aptido ao Pronaf

    EMATER Empresas de Assistncia Tcnica e Extenso Rural de cada Estado

    FAE Federao da Agricultura do Estado

    FETAF Federao dos Trabalhadores da Agricultura Familiar

    FETAG Federao dos Trabalhadores na Agricultura

    FETAGRI/MS Federao dos Trabalhadores na Agricultura e Pastoral a Terra

    FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    INCRA Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria

    IPADES Instituto de Pesquisa Aplicada em Desenvolvimento Econmico

    Sustentvel

    MDA Ministrio do Desenvolvimento Agrrio

    MDS Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome

    OCB Organizao das Cooperativas do Brasil

    OCE Organizao das Cooperativas de cada Estado

    ONU Organizao das Naes Unidas

    PA Projeto de Assentamento

    PAA Programa de Aquisio de Alimentos

    PIB Produto Interno Bruto

    PNAE Programa Nacional de Alimentao Escolar

    PNATER Poltica Nacional de Assistncia Tcnica e Extenso Rural

    PNPB Programa Nacional de Produo e Uso de Biodiesel

    PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

    PRONATER Programa Nacional de Assistncia Tcnica e Extenso Rural

  • SAF Secretaria da Agricultura Familiar

    SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas

    SEPROTUR Secretaria de Estado do Desenvolvimento Agrrio, da Produo, da

    Indstria, do Comrcio e do Turismo

    UFGD Universidade Federal da Grande Dourados

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................................................... 15

    1.1 O problema e sua importncia ............................................................................................ 16

    1.2 Justificativa ........................................................................................................................ 19

    1.3 Objetivos ........................................................................................................................... 21

    1.4 Estrutura do trabalho ......................................................................................................... 21

    2 REVISO BIBLIOGRFICA .......................................................................................... 22

    2.1 Trajetria terica da gesto empresarial ............................................................................ 22

    2.2 Desenvolvimento local na Agricultura Familiar: espao, territrios e multiterritorialidades

    .................................................................................................................................................. 26

    2.3 Reforma agrria e Agricultura Familiar ............................................................................ 29

    2.4 Gesto e processos sucessrios ......................................................................................... 32

    2.5 Polticas pblicas de apoio ao pequeno produtor .............................................................. 40

    3 METODOLOGIA .............................................................................................................. 43

    3.1 rea de estudo ................................................................................................................... 44

    3.2 Populao estudada e fonte de dados ................................................................................ 47

    4 RESULTADOS E DISCUSSES ..................................................................................... 50

    4.1 Agricultura Familiar e a No-Familiar e projetos de Assentamentos no Brasil, em Mato

    Grosso do Sul e no municpio de Nova Andradina ................................................................. 50

    4.2 Caracterizao scio demogrfica do projeto de Assentamento Santa Olga .................... 55

    4.3 Caracterizao de Sucessores e no Sucessores do Projeto de Assentamento Santa Olga e

    a gesto organizacional dos assentados .................................................................................. 69

    5 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................ 77

    REFERNCIAS .................................................................................................................... 81

    APNDICES .......................................................................................................................... 88

  • 15

    1 INTRODUO

    Segundo dados apresentados pelo Ministrio do Desenvolvimento Agrrio MDA

    (2014), a Agricultura Familiar uma das atividades econmicas mais importantes do mundo,

    pois alm de ser a responsvel pela produo da maior parte dos alimentos, concentra cerca de

    03 bilhes de pessoas em sistemas de produes familiares. Por isso, a Organizao das

    Naes Unidas (ONU) declarou o ano de 2014 como o Ano Internacional da Agricultura

    Familiar. Estes produtores representam mais de um tero da populao mundial e produzem

    cerca de 70% dos alimentos que so consumidos no planeta.

    No Brasil, quando se fala em produtos que esto diariamente mesa dos brasileiros,

    pode-se dizer que eles so predominantemente advindos da Agricultura Familiar, que gera

    empregos para mais de 12 milhes de brasileiros e que representa 74% da mo de obra

    empregada no campo, mobilizando as economias locais. Alm disso, o setor responde por

    33% do PIB da agropecuria brasileira e 10% do PIB nacional, com mais de 4,3 milhes de

    estabelecimentos rurais no territrio brasileiro, com rea ocupada de mais de 80 milhes de

    hectares no pas, destacando-se na produo de mandioca (88,3%), feijo (68,7%), leite

    (56,4%), sunos (51%) e milho (47%), produtos diariamente utilizados, direta ou

    indiretamente, pelos consumidores e agroindstrias no pas (MDA, 2014).

    O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE, por meio do Censo

    Agropecurio de 2006, revelou que o estado de Mato Grosso do Sul possui 64.862

    estabelecimentos rurais, destes, a grande maioria, aproximadamente 63%, pertence

    Agricultura Familiar (IBGE, 2006).

    Segundo Lourenzani et al. (2008), a Agricultura Familiar tem assumido, ao longo do

    tempo, um papel socioeconmico de grande relevncia no mbito do agronegcio brasileiro.

    Seu desenvolvimento entendido como uma das pr-condies para uma sociedade

    economicamente mais eficiente e socialmente mais justa. Para tanto, existem, segundo os

    autores, fatores que afetam significativamente o desempenho dos empreendimentos rurais,

    muitos dos quais fogem do controle da unidade de produo, enquanto outros, como a gesto

    da produo, esto mais diretamente vinculadas ao seu controle.

    A Agricultura Familiar no um termo novo, mas passou a contemplar novas

    significaes ao propor um tratamento mais analtico de sua terminologia, o que possibilitou

    sua ampliao nas discusses acadmicas, nas polticas de estado e no mbito dos

    movimentos sociais (DAL SOGLIO; KUBO, 2009). Assim, a disponibilizao de mtodos

    gerenciais, apropriados para a Agricultura Familiar, visa contribuir para a promoo da

  • 16

    sustentabilidade econmica desses empreendimentos. Nesse contexto, a gesto nas

    propriedades rurais exige, cada vez mais, eficincia no gerenciamento de melhores formas de

    organizao, bem como a estabilizao das famlias na regio em que esto inseridas.

    1.1 O problema e sua importncia

    O xodo rural ainda persiste, pois, muitos produtores buscam uma vida nova na cidade

    e/ou em outras atividades que lhes forneam melhores condies de vida e/ou salrio, fator

    que pode contribuir para a falta de futuras geraes na gesto das propriedades rurais, em

    especial no mbito da agricultura familiar. Em decorrncia disso, nos ltimos anos,

    importantes discusses acadmicas vm sendo suscitadas no contexto dos empreendimentos

    rurais presentes no pas.

    Para Curioni (2009), esta migrao se d mediante a busca de melhores condies de

    vida e emprego, em virtude de crises socioeconmicas e da reduo de vagas de trabalho no

    campo, intensificadas pela falta de infraestrutura e renda, fatores fundamentais para a

    motivao da migrao campo-cidade. De acordo com Spanevello (2012), a permanncia dos

    filhos na condio de sucessores familiares pode ser compreendida por meio de dois

    momentos. No primeiro, at a dcada de 1970, as possibilidades sucessrias eram maiores; no

    segundo perodo, no sculo XXI, a continuidade das propriedades passa por mudanas,

    especialmente em decorrncia do maior fluxo migratrio juvenil, podendo no haver a

    sucesso.

    Camarano e Abramovay (1999) comentam que, dentre os estudos realizados sobre os

    movimentos migratrios rurais, esto presentes temas, como o envelhecimento e a

    predominncia de pessoas do sexo masculino na populao que vive no campo, prevalecendo,

    cada vez mais, a sada dos jovens do meio rural. Nas concepes de Woortmann (1990), a

    migrao no apenas consequncia da inviabilizao de suas condies de existncia, mas

    parte integrante de suas prprias prticas de reproduo social. O autor cita ainda trs

    modalidades de migrao: a migrao do pai, a emigrao definitiva e a migrao pr-

    matrimonial. A primeira modalidade assegura a permanncia do pai na hierarquia da famlia;

    a segunda trata da emigrao definitiva, que faz com que algum da famlia permanea para

    manter a propriedade; e a terceira modalidade o momento em que o jovem constitui uma

    famlia.

  • 17

    Na literatura, as contribuies para a delimitao conceitual da Agricultura Familiar

    tm se apoiado nos critrios definidos pela Lei n 11.326, de 24 de julho de 2006, dentre os

    quais, cita-se: a rea do estabelecimento ou empreendimento rural que no deve exceder

    quatro mdulos fiscais1; a mo de obra utilizada nas atividades econmicas desenvolvidas

    deve ser predominantemente da prpria famlia; a renda familiar deve ser exclusivamente

    originada dessas atividades; e o estabelecimento ou empreendimento dever ser dirigido pela

    famlia (IBGE, 2006).

    Amparado nesta discusso, a delimitao conceitual da Agricultura Familiar tem se

    apoiado em duas principais vertentes: a primeira, que considera que a moderna Agricultura

    Familiar uma nova categoria, gerada no bojo das transformaes e experimentada pelas

    sociedades capitalistas desenvolvidas; a segunda, que defende ser a Agricultura Familiar no

    Brasil um conceito em evoluo, com significativas razes histricas, conforme apontam os

    estudos de Tedesco (1999). Em direo aos pressupostos apregoados pela segunda vertente,

    Huges Lamarche (1993) e Nazareth Wanderley (1999) definem a Agricultura Familiar como

    um conceito genrico, que incorpora diferentes situaes, sendo o campesinato uma dessas

    formas diferenciadas de trabalho e de produo no campo.

    Para Camarano e Abramovay (1999), a populao rural brasileira atingiu seu maior

    nmero populacional no ano de 1970, com 41 milhes de habitantes, o que correspondeu, na

    poca, a 44% do total da populao brasileira. Desde ento, o meio rural vem sofrendo um

    declnio populacional relativo e absoluto, chegando, em 2010, a um total de 29,8 milhes de

    habitantes ou 18,5% do total nacional (IBGE, 2010). A reduo da participao da populao

    rural deve-se, fundamentalmente, aos movimentos migratrios: no estado de Mato Grosso do

    Sul, a populao rural chega a 352.786 habitantes, representando 16,7%, de acordo com o

    censo demogrfico (IBGE, 2010).

    O envelhecimento da populao uma realidade na maioria dos pases. Portanto,

    evidente que a melhoria da qualidade de vida da populao aumente as expectativas de

    consumo e bem-estar. Entretanto, quando se trata do meio rural, o fenmeno de

    envelhecimento da populao acompanhado de outro fator, o xodo da juventude do campo

    para os centros urbanos, fenmeno que traz consigo o problema da reproduo social da

    Agricultura Familiar, pois, sem atrativos, o jovem migra para as cidades, fazendo com que a

    1 O conceito de mdulo fiscal derivado da ideia de propriedade familiar. Trata-se de uma unidade de medida, expressa em

    hectares, que busca exprimir a interdependncia entre a dimenso, a situao geogrfica dos imveis rurais , a forma e as

    condies do seu aproveitamento econmico. Disponvel em: < http://www.incra.gov.br/perguntas>. Acesso em: 02 set.

    2014. O tamanho do mdulo fiscal do muncipio de Nova Andradina 40 hectares.

    http://www.incra.gov.br/perguntas

  • 18

    faixa etria da populao no meio rural seja de pessoas acima de 40 anos, conforme

    evidenciado nos estudos de Godoy (2010).

    Segundo estudos de Petinari et al. (2008), os motivos que levam os jovens a

    abandonarem o campo e, assim, no trabalharem com suas famlias, migrando para os centros

    urbanos, devem-se, em parte, ao tamanho das propriedades, que geralmente so pequenas,

    como no caso dos Projetos de Assentamentos. Entretanto, as aptides e as ndoles do prprio

    jovem e as atratividades das grandes cidades contribuem para que estes busquem novos

    horizontes e tentem construir vida nova em outro local, motivos que traduzem a importncia

    deste estudo sobre sucesso da gesto no Assentamento Rural.

    Vrios so os estudos que abordam a sucesso da gesto na Agricultura Familiar no

    Brasil, com enfoque mais geral nos quesitos da hereditariedade, da transmisso da

    propriedade, do xodo rural dos jovens, da masculinizao e do envelhecimento dos

    produtores/produtoras. Dentre eles, destacam-se: Woortmann (1990), Abramovay et al. (1998;

    2004), Camarano e Abramovay (1999), Carneiro (2001), Costa (2006), Brumer (2007),

    Petinari et al. (2008), Spanevello (2012), Brumer e Anjos (2012), Stropasolas (2013). Alm

    disso, estudos realizados nos Assentamentos Rurais no estado de Mato de Grosso do Sul, que

    tambm primam pelos temas de sucesso da gesto, aproximam-se na mesma direo dos

    trabalhos j mencionados, segundo evidenciado em Dotto (2011) e Facioni (2013).

    Em pesquisas realizadas sobre esta temtica no Municpio de Nova Andradina,

    encontrou-se um trabalho referente ao Projeto de Assentamento Teijim, realizado por

    Furlanetto (2012), que pesquisou os frutos do cerrado como potencial de preservao e

    gerao de renda aos assentados como forma sustentvel de produo. J no Projeto de

    Assentamento Santa Olga, objeto deste estudo, foram encontrados apenas dois trabalhos

    publicados em anais e peridicos, os quais tratam de assuntos, como o desenvolvimento local

    e segurana alimentar nos municpios que compem o Consrcio de Segurana Alimentar do

    Vale do Ivinhema (SILVA et al., 2010) e outro trabalho que destaca o circuito curto de

    produo e comercializao de produtos da Agricultura Familiar (ANDRADE et al., 2011).

    Durante o levantamento de dados para esta pesquisa, no foram identificados estudos

    relacionados temtica da sucesso na gesto da Agricultura Familiar no mbito dos Projetos

    de Assentamentos no municpio pesquisado.

    Para tanto, de alta relevncia o estudo dos aspectos inerentes s deficincias da

    gesto e dos processos sucessrios na Agricultura Familiar no municpio de Nova Andradina,

    situado no interior do estado de Mato Grosso do Sul, uma vez que nesse cenrio tambm se

    encontram presentes os aspectos culturais, polticos e econmicos necessrios para a

  • 19

    importante demarcao de uma forte cadeia produtiva na regio, que ser abordada neste

    estudo.

    Desta forma, fica evidente a importncia deste estudo e da problemtica da sucesso

    da gesto nos empreendimentos familiares, sobretudo na esfera da Agricultura Familiar, tanto

    para o mbito socioeconmico, quanto para a regio de Nova Andradina. A sucesso da

    gesto deve ser tratada antes mesmo de se ter um sucessor, pontuando a inteno e o que se

    deve fazer para que acontea a continuidade da propriedade, diferindo de todos os trabalhos j

    realizados, os quais enfocaram a migrao e/ou a continuidade dos jovens no meio rural.

    Neste sentido, faz-se o seguinte questionamento nessa pesquisa: Quais so as perspectivas

    referentes sucesso da Gesto nas propriedades rurais no Projeto de Assentamento Santa

    Olga, localizado no municpio de Nova Andradina, regio sudeste do estado de Mato Grosso

    do Sul?

    1.2 Justificativa

    A questo geral na elaborao do problema de pesquisa deste estudo relaciona-se

    sucesso da gesto nos estabelecimentos rurais no mbito da Agricultura Familiar. Busca-se

    entender como realizado esse processo e quais so as condies que influenciam a

    permanncia ou no dos seus sucessores. Aborda-se a questo da continuidade dos familiares,

    de acordo com as condies econmicas e sociais transmitidas pelos agricultores a seus filhos,

    e as formas de estimular a sua permanncia no campo.

    A relevncia desse trabalho est em demonstrar a importncia do resgate do papel do

    homem e da mulher do campo como atores sociais influentes ao longo da histria da produo

    agrcola do Brasil. A escolha dessa temtica de pesquisa ocorre em virtude da clara realidade

    do xodo rural no Brasil, fator que compromete a cadeia produtiva, que faz parte da histria

    das famlias no campo. A Sucesso da Gesto na Agricultura Familiar deve ser encarada no

    somente como uma continuidade da produo rural, mas como busca de formas de trabalho e

    de diversificao de produo, bem como dos fatores econmicos e sociais inseridos no

    municpio de sua origem.

    Muito se tem falado sobre a expanso de cursos que visam s capacitaes e

    consultorias neste setor de produo, mas pouco se tem estudado sobre as formas como

    acontece o processo de sucesso na gesto do agronegcio em locais considerados perifricos

    geogrfica e economicamente no Brasil. Logo, a partir destas indagaes que surge o

  • 20

    interesse em dar voz s pessoas que, por muito tempo, foram pouco ouvidas, tanto acadmica

    quanto socialmente e, acima de tudo, registrar importantes locais ainda pouco explorados em

    termos de pesquisas, como o caso do contexto abordado neste estudo.

    O municpio de Nova Andradina est localizado nos limites fsicos das divisas dos

    estados de So Paulo e Paran. Conta com um nmero populacional estimado de 50.010

    habitantes (IBGE, 2014) e passou a ser reconhecido como um importante plo de exportao

    pecuria da regio Centro-Oeste do Brasil e para alguns pases rabes como Egito, Arbia

    Saudita, Lbano, entre outros. Desde 2010, percebeu-se a instalao de um considervel

    nmero de Indstrias Sucroenergticas na regio. Ademais, o municpio de Nova Andradina

    tem se apresentado como umas das maiores bacias leiteiras do estado de Mato Grosso do Sul,

    mas pouco se tem feito para promover a permanncia do produtor no campo e o futuro da

    cadeia produtiva, posto que importante parcela da produo agropecuria da regio tem

    cedido lugar s novas tecnologias e s novas formas de produo.

    Para tanto, relevante a problematizao dos aspectos que fazem referncia sucesso

    e estruturao das formas de gesto nas propriedades rurais no contexto supracitado. Uma

    vez que, neste cenrio tambm se encontram presentes os aspectos culturais, polticos e no

    somente os econmicos, necessrios para uma importante demarcao de uma forte cadeia

    produtiva na regio.

    Para Silvestro (2001), a sucesso aparece como tema intrnseco realidade das

    famlias, as quais tomam decises sem qualquer tipo de orientao profissional. Por isso, os

    processos sucessrios devem ser discutidos e organizados pelos prprios movimentos sociais

    no campo, de modo que tudo isso contribua para organizar a poltica fundiria especfica s

    regies de preponderncia da Agricultura Familiar.

    Outro fator delimitador desta pesquisa a temtica que ser explorada, pois os estudos

    j realizados priorizaram a questo sucessria apenas dos jovens, buscando a sua inteno e o

    seu interesse de continuar ou no a vida no campo. Este trabalho segue a orientao de

    gesto, ou seja, conforme os autores que tratam da sucesso e gesto familiar (LODI, 1987;

    RICCA, 2007; COSTA, 2006; CARNEIRO, 2001), a sucesso inicia-se no bero familiar, ou

    seja, o responsvel da famlia atribui responsabilidades e tarefas aos membros e ele quem

    prepara e incentiva a futura gerao que vai administrar a propriedade, proporcionando os

    subsdios necessrios para iniciar as atividades e as escolhas adequadas para promover a

    sustentabilidade familiar. Lembrando que, cada membro tem suas aptides e seus interesses

    pessoais, mas a vida no campo se apresenta ao sucessor por meio do responsvel daquela

    propriedade.

  • 21

    1.3 Objetivos

    O objetivo geral deste estudo analisar a percepo dos agricultores sobre a Sucesso

    da Gesto na Agricultura Familiar no Projeto de Assentamento (PA) Santa Olga, localizado

    no municpio de Nova Andradina, interior do estado de Mato Grosso do Sul.

    Especificamente, pretende-se:

    Descrever a Agricultura Familiar e No Familiar em termos de estabelecimentos e rea

    para o Brasil, para o estado de Mato Grosso do Sul e para o municpio de Nova

    Andradina;

    Caracterizar e analisar os fatores demogrficos e socioeconmicos da populao

    residente no Assentamento Santa Olga, destacando fatores, como: a composio

    familiar, as atividades produtivas e o rendimento gerado;

    Mensurar e identificar a inteno de sucesso familiar no Assentamento Santa Olga.

    1.4 Estrutura do Trabalho

    O trabalho est estruturado em quatro partes, alm desta breve introduo. No segundo

    item apresenta-se a reviso bibliogrfica e terica, com o intuito de evidenciar os processos

    sucessrios da gesto no mbito da Agricultura Familiar, a gesto das propriedades rurais e o

    desenvolvimento local e regional de seus territrios. Em seguida, destaca-se a utilizao do

    mtodo da pesquisa, como um estudo de caso, com pesquisa de campo e de literatura, por

    meio de aplicao de questionrios no Projeto de Assentamento Santa Olga. Com os

    resultados e discusses, apresentam-se a Agricultura Familiar no Brasil, no estado de Mato

    Grosso do Sul e no muncipio de Nova Andradina, a caracterizao dos fatores demogrficos

    e socioeconmicos da populao do Assentamento pesquisado e as perspectivas de sucesso

    da gesto da propriedade expostas pelos responsveis das famlias assentadas.

  • 22

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    A reviso bibliogrfica refere-se anlise dos aspectos tericos e empricos que

    envolvem a temtica desta pesquisa. Ser destacada a trajetria da gesto empresarial,

    priorizando os conceitos de gesto e as teorias administrativas e uma reviso terica sobre

    desenvolvimento local e regional e suas aplicaes e potencialidades. Em seguida, a reviso

    de literatura abordar o papel da organizao, da reforma agrria, dos conceitos de

    Agricultura Familiar, da gesto, dos Assentamentos Rurais, dos processos sucessrios no

    mundo, no Brasil e no estado de Mato Grosso do Sul, da gesto na sucesso familiar e do

    desenvolvimento local da Agricultura Familiar.

    2.1 Trajetria Terica da Gesto Empresarial

    A palavra Gesto vem do latim [gerentia, de gerere, fazer], que significa ato de gerir,

    as funes do gerente, gesto, administrao, ou seja, administrar negcios pblicos e

    particulares diante de um conjunto de princpios, normas e funes, que tem por finalidade

    ordenar os fatores de produo, os controles de sua eficincia e eficcia, visando obter os

    resultados desejados e as metas determinadas (MAXIMIANO, 2008).

    As teorias e tcnicas utilizadas na administrao das organizaes constituem-se em

    escolas que orientam a ao dos administradores, diante de seus princpios e doutrinas para

    resolver problemas prticos. A administrao comeou a nascer como corpo independente de

    conhecimentos na Europa do sculo XVIII, durante a Revoluo Industrial. Naquela poca, as

    primeiras fbricas modernas comearam a colocar em prtica diversos conceitos que se

    tornariam universais nos sculos seguintes. Um desses conceitos era a diviso do trabalho. A

    partir do incio do sculo XX, a organizao eficiente do trabalho nas empresas tornou-se a

    base do desenvolvimento da teoria e da prtica da administrao. Maximiano (2008) traz o

    enfoque das principais ideias e teorias da escola clssica de administrao do sculo XX,

    como destaca o Quadro 1.

  • 23

    Frederick Taylor

    Administrao

    Cientfica

    Henry Ford

    Linha de Montagem

    Henri Fayol

    Processo de

    Administrao

    Max Weber

    Teoria da

    Burocracia

    * Aplicao de

    mtodos de

    pesquisa para

    identificar a melhor

    maneira de

    trabalhar.

    * Seleo e

    treinamentos

    cientficos de

    trabalhadores.

    * Especializao do

    trabalhador.

    * Fixao do

    trabalhador no posto de

    trabalho.

    * Trabalho (produto

    em processo de

    montagem) passa pelo

    trabalhador.

    * Administrao da

    empresa distinta das

    operaes de

    produo.

    * Administrao

    processo de planejar,

    organizar, comandar,

    coordenar e controlar.

    * Autoridade tem a

    contrapartida da

    obedincia.

    * Autoridade

    baseia-se nas

    tradies, no

    carisma e em

    normas racionais e

    impessoais.

    * Autoridade

    burocrtica base

    da organizao

    moderna.

    Quadro 1: Os primeiros clssicos da escola de administrao, com suas teorias e seus princpios

    organizacionais.

    Fonte: Elaborao prpria a partir de Maximiano (2008).

    No Quadro 1 Max Weber relata que, todas as organizaes existem pelo principal

    motivo, alcanar objetivos, por meio de aes coordenadas de grupos de pessoas, sejam

    organizaes formais, regidas por regulamentos ou grupos sociais informais, regidos por

    relaes pessoais.

    As atividades gerenciais das organizaes nascem com a teoria administrativa de

    autoria de Henri Fayol (1841-1925), que definiu vrias funes administrativas para organizar

    a administrao das empresas, de maneira que, os seus princpios como diviso do trabalho,

    autoridade, disciplina, unidade de comando, unidade de direo, remunerao, ordem, esprito

    de equipe, equidade e outros se concentrem na estrutura organizacional, compreendendo as

    funes de planejamento, organizao, comando, coordenao e controle da posio gerencial

    das empresas (MONTANA; CHARNOV, 2010).

    Alm da teoria administrativa idealizada por Fayol, citada por Montana e Charnov

    (2010), Maximiano (2008) descreve a administrao cientfica liderada por Frederick

    Winslow Taylor, que tinha como princpio o estudo da racionalizao do trabalho, alm de

    pesquisar o tempo do trabalho e sua influncia na eficincia da produo e a melhoria do

    processo no que concerne o relacionamento de pessoal e a reduo de desperdcios. Em

    seguida, destaca o autor que, o papel de Henry Ford e sua linha de montagem, com a

  • 24

    uniformidade das atividades e peas, eram o de promover o trabalho especializado e a origem

    do controle de qualidade.

    Ao lado de Taylor, Henri Fayol definiu o papel do gerente, ou seja, os princpios de

    administrao com enfoque nos processos de planejar, organizar, dirigir e controlar, criando o

    conhecimento administrativo moderno e a estrutura hierrquica da organizao. Para concluir

    os autores clssicos da escola de administrao, surge o pesquisador das organizaes

    formais, Max Weber, que fez estudos pioneiros sobre as burocracias representadas por todas

    as organizaes que possuem um tipo ideal de exercer a dominao por meio das leis, regras

    de autoridade e disciplina, independentes dos interesses pessoais, seguindo uma lgica

    impessoal (MAXIMIANO, 2008).

    O autor comenta que o ato de gerir uma organizao o processo dinmico de tomada

    de deciso e a realizao de aes por meio de princpios interligados e/ou funes gerenciais,

    com enfoque funcional, cujo idealizador foi o engenheiro francs Henri Fayol, que salientou o

    modelo de organizao concentrado em cinco processos, a saber: o Planejamento que a

    deciso futura da administrao presente da organizao que procura influenciar as prticas e

    os objetivos em longo prazo; a Organizao um processo de ordenar os recursos disponveis

    para a realizao dos objetivos, resultando na estrutura organizacional desta diviso; a

    Liderana, processo de administrao de pessoas, possibilitando a realizao das atividades

    por meio de sua coordenao, direo e participao da equipe para que os objetivos sejam

    alcanados; a Execuo, processo que consiste na realizao efetiva das atividades planejadas,

    seja por meio das pessoas e/ou demais estruturas da organizao; e o Controle que visa

    assegurar a realizao dos objetivos e/ou atividades planejadas, comparando os resultados

    obtidos e o andamento de todos os processos.

    Para Motta e Vasconcelos (2010), a boa organizao das empresas condio

    indispensvel para que os objetivos do processo produtivo e do trabalho sejam alcanados. A

    eficincia do trabalho se d por meio das divises de responsabilidades, delegaes e

    centralizao de tomada de deciso, obedecendo aos interesses comuns, de forma que o

    andamento da atividade dever atender s necessidades da organizao e no apenas das

    pessoas. A administrao rural pode ser entendida como o estudo que considera a organizao

    e a operao de uma empresa agrcola, visando o uso mais eficiente dos recursos para obter

    resultados compensadores e contnuos, conscientemente dirigidos.

    A discusso do papel organizacional nas propriedades rurais no mbito da Agricultura

    Familiar envolve todas as capacidades e limitaes dos produtores rurais em torno de sua

    gesto, que caracterizada por suas localidades geogrficas e fora de vontade em

  • 25

    transformar e melhorar suas condies de vida, atravs de novos processos e tecnologias, e

    diante de um cenrio calcado na falta de conhecimento e/ou interesse na busca de ferramentas

    de assistncia ao seu negcio.

    Assim, para Arajo (2010), desenvolver uma gesto organizada, fortalecer a cadeia

    produtiva, com novas tcnicas e assistncias apropriadas, agregar mais conhecimento e

    atender s necessidades dos produtores rurais contribui para tornar atrativo e vivel o

    desenvolvimento rural e a integrao das atividades rurais.

    A organizao dos produtores rurais dentro da porteira, conforme evidencia Arajo

    (2010), tem como base os sindicatos locais, denominados, respectivamente, de Sindicato dos

    Trabalhadores Rurais e Sindicatos Rurais, com sede nos Municpios. Em termos de Estados,

    os sindicatos unem-se na respectiva federao: Federao dos Trabalhadores na Agricultura

    FETAG, Federao dos Trabalhadores da Agricultura Familiar FETAF e a Federao da

    Agricultura do Estado FAE, com sede na capital de cada Estado. As federaes em mbito

    nacional esto representadas pela Confederao Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

    CONTAG e a Confederao Nacional da Agricultura CNA, com sede em Braslia.

    Vilpoux e Oliveira (2011) retratam que a cooperao na Agricultura Familiar,

    mediante os arranjos com as interaes nos mercados, objetiva trabalhar as relaes de

    dependncias destes com os intermedirios. Para os autores, uma das dificuldades para tal

    concretizao refere-se atenuada participao das associaes e das cooperativas neste

    processo, fazendo com que o fornecedor procure pontos de referncias onde lhes so

    atribudos valores mais elevados, substituindo a compra direta aos produtores, seja no campo

    formal ou informal do capital social.

    Para Lourenzani (2006), o desempenho da Agricultura Familiar determinado por um

    conjunto grande de variveis, seja decorrente das polticas pblicas e da conjuntura

    macroeconmica ou de especificidades locais e regionais. O mesmo autor ainda explica que a

    elaborao de projetos agrcolas para a solicitao de crdito, a tomada de deciso sobre o que

    produzir, a escolha da tecnologia a ser adquirida, o processo de compra de insumos, a venda

    de produtos, o acesso aos mercados e a complexidade de funes, concomitantemente, exigem

    capacitaes gerenciais, ausentes na maioria dos produtores rurais.

  • 26

    2.2 Desenvolvimento Local na Agricultura Familiar: espao, territrios e

    multiterritorialidades

    Furtado (1964, p. 29) destaca que: [...] o desenvolvimento um processo de

    mudana social, pelo qual crescentes necessidades humanas preexistentes ou criadas pela

    prpria mudana so satisfeitas por meio de uma diferenciao do sistema produtivo

    decorrente da introduo de inovaes tecnolgicas.

    Para Amaral Filho (2009), o desenvolvimento regional um processo de ampliao

    contnua da capacidade de agregao de valor sobre a produo, bem como da capacidade de

    fluxo da regio, cuja diviso a reteno do excedente econmico gerado na economia local

    e/ou a conduo de excedentes provenientes de outras regies, processo que tem como

    resultado a ampliao do emprego, do produto e da renda local e/ou da regio.

    Ademais, novos estudos foram realizados sobre o tema desenvolvimento regional e,

    segundo o mesmo autor, citando os estudos de Krugman (1991), o papel dos agentes locais

    (atores protagonistas) um fator decisivo no desenvolvimento com suas antecipaes, o

    comportamento futuro da economia local, as tendncias determinantes nos estudos especficos

    das particularidades e de suas dinmicas organizacionais territoriais locais.

    O grau de autonomia comercial, tecnolgica e financeira interrelaciona as empresas e

    os sistemas produtivos locais, entendido como meio, de acordo com Amaral Filho (2009). E

    referindo-se aos trabalhos de Garofoli (1992) nos sistemas industriais da Itlia, o autor destaca

    que os fatores histricos, sociais e culturais estabelecidos nas comunidades e nas instituies

    locais proporcionam uma coordenao mais eficiente do processo e contribui para a

    descentralizao administrativa, fiscal e financeira entre as instncias governamentais.

    Para Martins (2002, p. 53), [...] o verdadeiro diferencial do desenvolvimento local

    no se encontra em seus objetivos (bem-estar, qualidade de vida, endogenia, sinergias), mas

    na postura que atribui e assegura comunidade o papel de agente e no somente participante

    do desenvolvimento. Isto implica rever a participao das pessoas em todo o processo (do

    planejamento ao), devendo resultar tanto em melhorias efetivas das condies materiais

    de vida como assegurar a continuidade do processo.

    O Instituto de Pesquisa Aplicada em Desenvolvimento Econmico Sustentvel

    IPADES (2010) destaca que o desenvolvimento regional deve ser entendido como uma forma

    mais adequada para um equilbrio natural na utilizao e dinamizao de um territrio,

    gerindo, de maneira eficaz, os fatores de desenvolvimento no melhor uso dos recursos e na

    garantia de uma maior participao dos diferentes atores. O que caracteriza o processo de

  • 27

    desenvolvimento econmico local o protagonismo dos atores locais na formulao de

    estratgias, na tomada de decises econmicas, na sua implementao e na autonomia desses

    agentes no desenvolvimento econmico.

    Compartilhando da ideia de Amaral Filho (2009) e Martins (2002), Buarque (1998)

    comenta que o desenvolvimento local representa uma particular transformao nas bases

    econmicas e na organizao social de uma localidade e/ou unidade territorial, processo

    endgeno capaz de promover o dinamismo econmico e melhorar a qualidade de vida das

    pessoas, resultante da mobilizao das sinergias da sociedade local. Alm disso, as

    oportunidades sociais e a viabilidade econmica local esto inseridas em uma realidade na

    qual interage e recebe influncias e presses peculiares, requerendo sempre a mobilizao e

    aes dos atores locais em torno de um objetivo coletivo. Mais precisamente em relao ao

    objeto de pesquisa deste estudo, Buarque (1998, p. 11), menciona que os Assentamentos

    Rurais da reforma agrria [...] so uma forma particular de desenvolvimento local delimitado

    pelo espao da comunidade vinculada aos Projetos de Assentamentos, promovendo um

    dinamismo econmico e social dos produtores rurais locais.

    Perante os estudos de Buarque (1998), de Martins (2002), de Furtado (1964) e de

    Amaral Filho (2009), Sen (2000, p. 02) se refere s pessoas como [...] agentes da economia e

    do desenvolvimento, as quais, por meio de oportunidades sociais adequadas, de liberdades

    polticas e de facilidades econmicas podem efetivamente moldar fronteiras, construir novos

    caminhos e participar ativamente da sociedade, contribuindo, assim, na melhoria dos padres

    de vida e no desenvolvimento econmico da comunidade a qual pertence sua liberdade.

    Segundo Lourenzani (2006), os agricultores familiares so os que mais geram

    empregos e fortalecem o desenvolvimento local, pois distribuem melhor a renda, alm de

    serem os responsveis por uma parte significativa da produo nacional, respeitando mais o

    meio ambiente e, principalmente potencializando a economia dos municpios onde vivem.

    relevante ressaltar a importncia do dinamismo da economia para o desenvolvimento local.

    Em regies e municpios pobres, deve-se perseguir, com rigor, o aumento de renda e da

    riqueza local por meio de atividades econmicas viveis e competitivas, com capacidade de

    concorrer nos mercados locais, regionais e, no limite, nos mercados globais. Assim, com

    economia eficiente, competitiva e gerando riqueza local sustentvel, pode-se falar

    efetivamente em desenvolvimento local, segundo bem salientou Buarque (2002).

    De acordo com Santos (2005), o desenvolvimento local pode ocorrer em reas e

    setores que seguramente apresentam vantagens competitivas a serem desenvolvidas ou

    exploradas com base em suas potencialidades, desde que sejam criadas externalidades

  • 28

    adequadas. Entretanto, preciso destacar que os setores e as atividades econmicas mais

    simples e atualmente no competitivas, devem ser estimulados a alcanar a produtividade e a

    qualidade, de forma a se tornarem competitivas em mdio e longo prazo. A construo da

    competitividade nos espaos locais aumenta a importncia e a necessidade do estado como

    organizador dos investimentos, que visam s externalidades, com destaque especial para a

    educao.

    Para Raffestin (1993), espao e territrio no correspondem ao mesmo valor

    geogrfico, pois o territrio se forma a partir de um determinado espao, construdo por

    qualquer ator; j o espao dado, ou seja, um local de possibilidades que o ator pode praticar

    ou manifestar sua inteno de se apoderar dele. Ainda nas palavras de Raffestin (1993), o

    espao representado pelo modo de produo e suas utilidades sociais, construdas nas

    relaes de poder de cada sistema topogrfico. Os indivduos ocupam pontos no espao de

    maneira econmica, politica, social e cultural. Esto distribudos de forma aleatria, regular

    ou concentrados e organizados por um campo de operao, de acordo com sua estrutura e suas

    relaes de poder neste territrio. Este territrio produzido no espao possui um limite, que

    manifestado em uma determinada rea em que preciso delimitar as operaes de acordo com

    as relaes estabelecidas entre o espao e os atores envolvidos.

    O mesmo autor comenta, ainda, que os atores agem de modo a manter as relaes de

    poder, assegurando funes de controle e influncias sobre os demais envolvidos na rede de

    organizao territorial e diante de um conjunto de fatores econmicos, polticos, sociais e/ou

    culturais, combinados por mudanas no arcabouo social e diante de um domnio do espao e

    das relaes de poder daquele sistema territorial. Logo, a construo do territrio nasce a

    partir de relaes de espao, sociedade e tempo do vivido territorial e, sobretudo por

    intermdio de um sistema de relaes existenciais/produtivas. Os atores, com seus

    comportamentos associados organizao do espao, a sociedade em que estes se manifestam

    em todas as escalas espaciais, sociais e tecidas pelas relaes de poder, e a conduta adotada

    por cada sujeito em posse de um territrio, compem o senso de identidade, de exclusividade

    e de interao humana no espao, concebendo a territorialidade deste sujeito, ligada no espao

    homem-meio (RAFFESTIN, 1993).

    Com base nos estudos de Raffestin (1993), Santos (1996) destaca o espao geogrfico

    como uma ordem tcnica cientfica informacional, por meio das aes globalizadas,

    constituindo uma razo global e uma razo local. Estas razes no espao globalizado

    transportam o universal ao local, atravs da transformao e interveno de interesses

  • 29

    unilaterais, que afetam a sociedade e seu territrio, resolvendo aspectos socioeconmicos

    globalizados, mas, agravando outros, como problemas sociais e locais territorializados.

    Santos (1996) comenta, ainda, que a ao globalizada ou apenas espaos de

    globalizao se associam a normas de espacializao em diversos pontos informacionais,

    como os pontos econmicos, sociais, polticos e culturais, aes percebidas enquanto

    desterritorializadas, pois o mundo um conjunto de possibilidades, estando sujeito s

    oportunidades e s condies locais. Em suma, o espao globalizado depende das

    virtualidades do lugar, agindo como norma neste espao territorial. A ordem local prima os

    parmetros de socializao com base no cotidiano, localmente vivido, reunindo a

    comunicao interna dos envolvidos, enquanto a ordem global desterritorializada, constituda

    de um espao de fatores externos, prima informao, com parmetros de razo tcnica e

    operacional, externas escala do cotidiano. Contudo, cada lugar , ao mesmo tempo, objeto

    de uma razo global e de uma razo local, convivendo e defrontando com o mundo, de acordo

    com a sua prpria ordem.

    Para Haesbaert (2001), a territorialidade ou territrios so vistos como uma

    localizao num espao fsico, com identidade cultural e controle espacial onde vivem,

    conforme suas relaes de poder e estratgias identitrias, divididas entre suas relaes

    polticas, econmicas, culturais e sociais, ordenadas no espao local no qual o individuo est

    inserido. A partir do momento em que ocorre a desmaterializao das relaes sociais do

    individuo, surge o enfraquecimento das identidades territoriais, onde a lgica territorial que

    mais delimitada e fixa incide para uma lgica mais flexvel ou de rede, no se limitando

    apenas ao territrio, mas ultrapassando seus limites e fronteiras, definido, por Raffestin

    (1993), como desterritorializao, entendida enquanto uma superao do espao pelo tempo.

    , pois, nestas relaes de poder que se estabelecem a luta pela terra e as analogias

    envolvendo os aspectos referentes sucesso da gesto.

    2.3 Reforma Agrria e Agricultura Familiar

    Para Martins (2003), a Reforma Agrria num pas como o Brasil apresenta-se como

    um processo de distribuio e redistribuio de terras e de correo cclica da estrutura

    fundiria concentracionista. Tal fato implica em estar centrado num projeto poltico e social

    de fortalecimento e expanso da Agricultura Familiar, fator que ampliar sua viabilidade,

    diversificando e multiplicando os mecanismos de acesso a terra.

  • 30

    De acordo com o Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria INCRA

    (2011), a Reforma Agrria o conjunto de medidas para promover a melhor distribuio da

    terra, mediante modificaes no regime de posse e uso, objetivando atender aos princpios de

    justia social, desenvolvimento rural sustentvel e aumento de produo. Essa concepo

    estabelecida pelo Estatuto da Terra (Lei n 4504/64). Na prtica, a Reforma Agrria

    proporciona, dentre outras coisas, uma democratizao da estrutura fundiria, melhoria na

    renda das famlias, reduo da migrao e promoo da cidadania.

    De forma diferenciada, Buarque (2002) comenta que, cada vez mais, esse local est

    sendo intensamente influenciado e impactado por processos globais de mudanas econmica,

    tecnolgica e institucional, que determinam seu futuro, suas dificuldades e oportunidades.

    Assim, entender a localidade no desenho da economia mundial uma forma de reduo das

    distncias fsicas e de quebra de fronteiras, buscando o que preconiza o desenvolvimento local

    que interage e recebe influncias, dependendo das prprias capacidades dos atores locais e das

    suas potencialidades.

    O que a Reforma Agrria desenvolvida no pas objetiva a implantao de um novo

    modelo de Assentamento, baseado na viabilidade econmica, na sustentabilidade ambiental e

    no desenvolvimento territorial. Para tanto, se faz necessria adoo de instrumentos

    fundirios adequados a cada pblico e a cada regio, a adequao institucional e normativa a

    uma interveno rpida e eficiente dos instrumentos agrrios, o forte envolvimento dos

    governos estaduais e das prefeituras, a garantia do reassentamento dos ocupantes no ndios

    de reas indgenas, a promoo da igualdade de gnero na Reforma Agrria, alm do direito

    educao, cultura e seguridade social nas reas reformadas (INCRA, 2011).

    Para Navarro et al. (2010), a primeira expresso de Agricultura Familiar ocorreu no

    ano de 1993 em um seminrio sobre polticas agrcolas realizado em Belo Horizonte,

    organizado pela Confederao Nacional dos Trabalhadores da Agricultura - CONTAG, que

    deveria designar aquele conjunto de produtores. Ademais, os autores evidenciam ainda que,

    com a criao do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF,

    em julho de 1996, a expresso Agricultura Familiar definitivamente se consagrou,

    institucionalizando tal noo e delimitando, por sua vez e objetivamente, o grupo de

    produtores sob sua definio.

    A Lei n 11.326, de 24 de julho de 2006, sancionada pela Presidncia da Repblica,

    estabelece as diretrizes para a formulao da Poltica Nacional da Agricultura Familiar e

    Empreendimentos Familiares Rurais. Considera-se agricultor familiar e empreendedor

    familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4504.htm

  • 31

    seguintes requisitos: no detenha, a qualquer ttulo, rea maior do que 04 (quatro) mdulos

    fiscais - que varia entre cinco e 110 hectares, dependendo da localidade; utilize

    predominantemente mo-de-obra da prpria famlia nas atividades econmicas do seu

    estabelecimento ou empreendimento; tenha percentual mnimo da renda familiar originada de

    atividades econmicas do seu estabelecimento ou empreendimento; dirija seu estabelecimento

    ou empreendimento com sua famlia e, ainda, silvicultores, aquicultores, extrativistas, povos

    indgenas, integrantes de comunidades remanescentes de quilombos rurais e demais povos e

    comunidades tradicionais que atendam, simultaneamente, a todos os requisitos de que trata a

    lei supracitada (BRASIL, 2006).

    Ao longo dos anos, os Assentamentos se constituram em um tipo de consagrao da

    luta a conquista da terra que logo se desdobraram em novas perspectivas: de produo,

    renda, moradia e condies dignas de vida, promovendo, portanto, novas frentes que podem

    ser resumidas na busca por crdito, assistncia tcnica e infraestrutura fsica, econmica e

    social. Para Silva (2011), as polticas pblicas aplicadas orientao dos sistemas produtivos

    dos Assentamentos Rurais devem ser direcionadas e sustentadas nos seguintes eixos: fomento,

    extenso rural qualificada e em quantidade suficiente, investimento/logstica e segurana

    alimentar. Dessa forma, podem conduzir a um processo de desenvolvimento econmico-

    democrtico, com a participao dos assentados e das suas organizaes.

    De acordo com Santos (2011), tais desafios so considerados grandes, embora, em

    termos tecnolgico-produtivos, j exista bastante acmulo para o desenvolvimento de

    tecnologias apropriadas Agricultura Familiar no Brasil. O maior deles reside no processo de

    capacitao e formao dos agricultores e agricultoras. Por isso, a gesto, como

    desenvolvimento local, precisa ganhar amplitude de cobertura das necessidades e deficincias

    nos Assentamentos Rurais, exigindo mtodos adequados para cada regio e/ou localidade,

    traando medidas de permanncia do homem no campo, como empresrio rural e no apenas

    como assentado.

    Neste sentido, Sangalli (2013) evidencia que a Nova Poltica de Assistncia Tcnica e

    Extenso Rural - ATER prioriza aes educativas, as quais devem ser desenvolvidas de forma

    participativa e direcionadas para os agricultores familiares tradicionais ou de Assentamentos

    rurais. E, ainda, que papel dos tcnicos a socializao de tecnologias apropriadas,

    especialmente em associaes, cooperativas ou grupos informais que so mediadores na busca

    de melhorias tecnolgicas, gerenciais ou de outra natureza. Os produtores rurais podem

    participar de um sistema de cooperativismo, composto de cooperativas locais, vinculadas

    Organizao das Cooperativas de cada Estado OCE, esta afiliada Organizao das

    http://reformaagrariaemdebate.blogspot.com.br/2011/01/modo-de-producao-assentamentos-rurais.html

  • 32

    Cooperativas do Brasil OCB e tambm s associaes locais ou setoriais, representadas por

    Federaes Estaduais ou mesmo Nacionais, segundo bem salientou Arajo (2010).

    Conforme descrio de Tsukamoto e Asari (2003), o INCRA afirma que a

    caracterstica principal do programa de Assentamento a criao de novas pequenas

    propriedades em terras que, na maioria das vezes, se encontram totalmente ociosas ou com

    baixa utilizao na produo agrcola. O Assentamento significa, portanto, a incorporao de

    novas terras ao processo produtivo do pas, com a consequente criao de empregos e

    distribuio de renda, beneficiando a camada de pequenos agricultores que forma a clientela

    tpica da Reforma Agrria e do INCRA, um processo muito importante no contexto de

    desenvolvimento do pas.

    Nas concepes de Batalha (2012), a gesto dos empreendimentos rurais est

    relacionada a vrias adversidades especficas do campo, como: a sazonalidade da produo, a

    perecibilidade dos produtos, as variaes climticas, os preos dos produtos agrcolas, a

    gerao de informaes, a tomada de deciso, o planejamento e controle da produo, a

    logstica, a cultura e a capacitao do produtor, a assistncia tcnica, a extenso rural, as

    finanas, os custos e a contabilidade. Enfim, como todas as empresas que possuem suas

    peculiaridades, destacando a importncia do planejamento na gesto rural.

    Para atingir o equilbrio no empreendimento rural de pequeno porte, a propriedade

    deve ser encarada como uma empresa. Assim, aspectos como: a capacitao gerencial, a

    adequao tecnolgica e o desempenho econmico devem estar atrelados cadeia produtiva,

    aos seus canais de distribuio e s necessidades dos consumidores, reforando a ideia de que

    a mudana de postura dos produtores rurais ocorrer por meio de estratgias com base nos

    recursos disponveis no empreendimento, na vocao do produtor e nas condies de

    mercado. Em sntese, Bergamasco e Norder (1996) destacam que o Assentamento Rural

    uma das formas objetivas de se fazer reforma agrria, acreditando eles que, de maneira

    genrica, os Assentamentos Rurais podem ser definidos como a criao de novas unidades de

    produo agrcola, por meio de polticas governamentais, visando equalizao do uso da

    terra em benefcio de trabalhadores rurais sem-terra ou com pouca terra.

    2.4 Gesto e Processos Sucessrios

    De acordo com Fennell (1981), em geral, os termos herana e sucesso so usados

    alternadamente, sendo que a herana refere-se transferncia de ativos de negcios e a

  • 33

    sucesso corresponde entrega da gesto e controle da propriedade. Sendo questes

    importantes tanto para a estrutura da agricultura como para os formuladores de polticas

    rurais, muitas vezes, passam a serem negligenciadas em seu campo socioeconmico. A

    preocupao do autor para com a comunidade europeia, em virtude do envelhecimento dos

    proprietrios e das perspectivas incertas no campo, considerando que as informaes e as

    prticas de sucesso conduzem formulao de novas politicas pblicas rurais.

    Burton e Walford (2005) destacam os estudos realizados no sudeste da Inglaterra,

    abordando a sucesso mltipla dos agricultores familiares, ao demonstrarem que os fatores

    que influenciam na sucesso esto centrados em torno da estrutura dos aspectos sociais e de

    negcio da unidade familiar, como o grau em que os membros da famlia podem trabalhar

    juntos como uma unidade e em que medida tal fato previsto e planejado. Outro fator de

    importncia, destacado pelos autores, o tamanho da propriedade, um indicador relevante

    para o potencial da sucesso nas propriedades rurais.

    Gasson e Errigton (1993) descreveram que a formao de futuras geraes de

    agricultores composta por trs partes: a sucesso profissional, isto , a passagem da gerncia

    do negcio, do poder e da capacidade de utilizao do patrimnio para a prxima gerao; a

    transferncia legal da propriedade da terra e dos ativos existentes; e a aposentadoria quando

    cessa o trabalho e o poder da atual gerao sobre os ativos que compe a unidade produtiva.

    Inwood e Sharp (2012) em pesquisa sobre a interface urbano-rural, a adaptao

    agrcola e a sucesso para agricultores familiares nos municpios de Midwestern, regies

    metropolitanas de Columbus, Ohio e Michigan, nos Estados Unidos, destacam que a relao

    de existncia de um sucessor na propriedade rural cria oportunidades para a reestruturao da

    empresa agrcola, por meio de novas diversificaes e expanses, trazendo novas habilidades,

    conhecimentos e inovaes, com o desejo de garantir a transferncia intergeracional, bem

    como os comportamentos estratgicos de negcios. Salientam, ainda, os autores que, caso o

    herdeiro esteja presente na propriedade rural, visualiza-se a necessidade de maximizar a

    receita para acomodar os membros da famlia adicional, devendo explorar maneiras de

    expandir a capacidade produtiva da propriedade, por meio da ampliao de terras ou atravs

    do aumento da produo existente, como a expanso do gado e/ou gros.

    Em uma pesquisa realizada na Estnia, Grubbstrom e Soovali-Sepping (2012)

    ressaltam que a transferncia de terras para a prxima gerao inclui os ativos tangveis e

    intangveis, envolvendo as partes fsicas como terrenos e casas e os ativos intangveis

    como os conhecimentos da explorao especficos da Agricultura Familiar que implica nos

    valores emocionais e sentimentais associados a terra e que podem influenciar na sucesso da

  • 34

    propriedade. De acordo com os autores, a questo de gnero outro fator relevante na deciso

    sobre quem pode ser designado como o sucessor na propriedade, conforme a relao entre

    homem e mulher e seu acordo sobre diferentes tipos de atividades e reas dentro da

    propriedade, criando estabilidade sobre os planos futuros e gesto da mesma, com

    predominncia, muitas vezes, masculina.

    Propriedades rurais que no possuem herdeiros e/ou sucessores entram em um estado

    esttico em seu crescimento e desenvolvimento de estratgias dos negcios, no exercendo

    nenhum tipo de investimento. Porm, algumas podem at continuar a gerir o mix atual da

    empresa, permanecendo com as terras e demais estruturas. Em alguns casos, a tomada de

    deciso impede novas melhorias infraestrutura, caso ocorra o encerramento das atividades,

    podendo vender e/ou leiloar as propriedades, em virtude da trajetria de declnio, ligadas

    falta de um sucessor/herdeiro e estagnao do desenvolvimento das empresas, conforme

    afirmam os estudos de Inwood e Sharp (2012).

    Pode ser evidenciada em estudos realizados em propriedades rurais na Sucia, por

    Hansson et al. (2013), a influncia da famlia para a diversificao dos negcios, sendo ela

    considerada essencial para melhorar o crescimento econmico rural, o emprego e a migrao

    dos produtores. Ressaltam, ainda, os autores que a pluriatividade do agricultor em buscar

    atividades geradoras de renda e em operaes no agrcolas proporciona maior estabilidade e

    meios de subsistncia para ele e sua famlia. So apresentados, tambm, estratgias de

    diversificao, como: desenvolvimento de novos produtos para os mercados existentes,

    produtos em novos mercados e servir novos mercados com novos produtos, por meio de

    recursos das atividades agrcolas existentes. Assim, a diversificao da explorao agrcola

    pode ser vista como uma resposta criativa e uma forma de inovao concebida pelo agricultor

    aos membros da famlia e ao futuro da gesto da propriedade, de acordo com suas

    caractersticas pessoais e satisfao de vida.

    Para Ricca (2007), as empresas familiares sofrem grandes problemas no que concerne

    sucesso. Por isso, devem ser planejadas com muita antecedncia e implementadas de forma

    gradual, pois, quando isso acontece, suas chances de xito so maiores. Muitas vezes, a falta

    de profissionalizao em nvel de gesto aumenta o risco de descontinuidade, onde o sucesso

    e a continuidade das empresas esto pautados nos dilemas das mudanas na organizao, na

    famlia e na distribuio da propriedade em que a atuao do responsvel patriarcal seja mais

    profissional, refletindo a exatido do mundo real.

    De acordo com Costa (2006), a anlise de empresa/famlia passa pelo processo

    sucessrio, pela gesto empresarial determinada pela relao familiar, pela participao de

  • 35

    esposa e filhos, seus valores e aptides e pelo grau de envolvimento e atuao dos membros

    com o negcio. O planejamento da sucesso deve ser isento, o quanto possvel, de emoes,

    pois o ponto em questo a continuidade da atividade, devendo a escolha do sucessor ser

    marcada com os mesmos objetivos da empresa.

    Brumer (2007) considera que a sucesso geracional na Agricultura Familiar no

    apenas para os participantes da famlia envolvida, mas tambm reproduo dessas unidades

    de produo, ao meio social das reas rurais e estrutura do setor. Segundo o autor, alguns

    fatores das perspectivas de sucesso so identificados, como: a localizao do

    estabelecimento e sua proximidade com as regies mais desenvolvidas; a idade do pai, do

    qual depende a transferncia do poder e da propriedade; e o tamanho do estabelecimento.

    Em qualquer empreendimento familiar, neste caso, na Agricultura Familiar, as

    questes sucessrias exigem do negcio a continuidade do carter familiar da gesto e do

    trabalho. Por isso, na maioria dos casos, quando se possui mais de um sucessor, os conflitos

    geracionais aparecem de forma direta de uma gerao para outra, pois, dependendo do

    tamanho da propriedade, no se permite a viabilidade econmica s futuras geraes

    (ABRAMOVAY et al., 1998).

    Para Kiyota et al. (2012), a organizao das responsabilidades e atividades em

    determinadas etapas da produo faz com que os sucessores conheam mais o processo e

    possam aperfeioar continuamente suas funes, integrando os jovens na tomada de decises

    e na gesto das atividades da unidade de produo, como o planejamento das

    responsabilidades que os preparam para a sucesso futuramente. Mas, tudo isso, de acordo

    com Spanevello (2012), se encontra em poder do pai, que detm o comando da gesto da

    propriedade. Mesmo diante de o filho estar preparado para suced-lo, o responsvel deve agir

    para que acontea a transferncia da sucesso.

    O interesse para a sucesso ou no est relacionado a diferentes inseres com o

    trabalho familiar e a propriedade, podendo acontecer de maneira veemente intensa, mas, por

    outro lado, existe um total desinteresse por parte dos envolvidos. Vrias situaes so citadas

    por Stropasolas (2013), dentre elas: filhos que so designados a sucessores; filhos que no

    demonstram e no pretendem assumir a propriedade, recusando-se a suceder aos pais e, at

    mesmo, seu estilo de vida; e filhos que demonstram interesse pela continuidade das atividades

    no campo, porm, se esbarram em outros fatores, tais como terras insuficientes e capitais

    financeiros escassos, favorecendo a migrao do campo para a cidade para no comprometer

    a reproduo familiar.

  • 36

    Quando se trata da questo de gnero na sucesso familiar, compartilhando os estudos

    de Brumer e Anjos (2012), Stropasolas (2013) comenta que o filho homem, perante o pai, se

    destaca entre as atividades no campo. Por outro lado, a mulher envolvida em atividades

    domsticas e incentivada aos estudos, rompendo com a possibilidade de permanecer no meio

    rural, de forma a recebendo apenas sua parte de herana conforme a lei, mas desvinculada da

    unidade produtiva. A escolha do sucessor assegura a continuidade da unidade de produo e a

    permanncia do grupo familiar no campo, diferindo-se dos sistemas de reproduo cultural,

    social e econmico, conforme a hierarquia interna das famlias, segundo bem evidenciou

    Carneiro (2001).

    Abramovay et al. (2004) destaca que a transmisso e as perspectivas da sucesso

    profissional interferem nos comportamentos gerenciais e produtivos de qualquer empresa

    familiar. Porm, as unidades produtivas sem sucessores dificilmente contaro com novos

    investimentos e melhorias, pois esta situao uma ameaa continuidade e encontra-se

    inibida no s por razes econmicas, mas, tambm, pela natureza da relao entre as

    geraes e os gneros, estimulando os jovens a buscar diferentes alternativas de vida.

    Segundo Costa (2006), o processo sucessrio passa por trs momentos distintos.

    Inicia-se com o momento dos primeiros conflitos, onde o pai encara a decadncia e o sucessor

    entra no negcio. O segundo momento o da harmonia: o pai se sente mais tranquilo e age

    como gestor do sucessor e trabalha em conjunto com o filho. No terceiro momento, o pai

    passa a ter medo de perder o controle e a resistncia de abrir mo da gesto do negcio, a

    fase crtica de possuir um sucessor preparado para assumir seu lugar, mas que se esbarra na

    dificuldade do responsvel passar o seu negcio adiante.

    Segundo Abramovay et al. (1998, p. 66), o [...] processo sucessrio na Agricultura

    Familiar est articulado em torno da figura paterna, que determina o momento e a forma da

    passagem das responsabilidades sobre a gesto do estabelecimento para a prxima gerao.

    Dentre as diversas unidades de produo adotadas na propriedade, sejam elas de monocultura,

    criao de animais, entre outros, Stropasolas (2013) aponta que os sistemas de produo

    diversificados (combinao de duas ou mais exploraes) so os que contribuem

    permanentemente para o envolvimento de todos os membros da famlia nas atividades rurais,

    incluindo a fora de trabalho dos filhos na execuo das tarefas, aumentando a participao

    nas decises da unidade familiar, promovendo o interesse dos jovens, bem como a renda e as

    responsabilidades sobre o uso da terra.

    O mesmo autor aponta, ainda, que o desejo dos agricultores em transferir a

    propriedade aos filhos est relacionado diretamente ao paradoxo de suas escolhas, que permite

  • 37

    oportunizar aos jovens a tradio de seus antepassados ou a necessidade de buscar alternativas

    melhores de vida na cidade. Em virtude da falta de oportunidade e autonomia financeira nas

    geraes atuais no campo, podem ocorrer conflitos no processo sucessrio, margeando a

    contribuio de motivao dos filhos na no permanncia, com maior nfase entre as

    mulheres.

    Outro fator gerencial de relevncia para o processo de sucesso a delegao de poder

    por parte do responsvel pela propriedade, que um dos momentos mais complexos do

    processo de gesto no campo. Mas, por outro lado, a nica forma de avaliar e motivar o futuro

    sucessor dos negcios ressaltar que, estilos de gestores conservadores e centralizadores nas

    tomadas de decises corroboram para problemas de sucesso familiar, que acabam

    engessando a criatividade e a soluo de problemas na propriedade. Caso a sucesso

    profissional no se concretize, devido resistncia de mudanas, a falta de comunicao

    adequada e os embates entre responsvel e futuro sucessor podem levar a organizao

    falncia e morte empresarial no ciclo de vida dos negcios, conforme apontou Brumer

    (2007).

    Logo, foram realizados, neste estudo, levantamentos de pesquisas relacionados

    sucesso e permanncia dos jovens na Agricultura Familiar, mais precisamente em Projetos

    de Assentamentos localizados no estado de Mato Grosso do Sul. No entanto, poucos estudos

    foram encontrados nessa temtica. O primeiro deles, Dotto (2011) realizou estudos nos

    Projetos de Assentamentos Campanrio, no Municpio de So Gabriel do Oeste, Conquista,

    em Campo Grande, e Guariroba, em Terenos. O autor buscou analisar os fatores de influncia

    na permanncia dos jovens no campo e/ou sua migrao pra outras atividades. Visando

    compreender os parmetros de vida do jovem e sua participao nessa dinmica, os

    responsveis da famlia no foram ouvidos nesta pesquisa, pois o objetivo principal foi

    identificar os elementos que condicionam o jovem a permanecer ou no no campo, atribudos

    como consequncia ao xodo rural juvenil, em virtude da busca de lazer e demais alternativas

    de cidade na cidade. Foram pesquisados apenas os jovens da famlia, com o intuito de analisar

    a sua permanncia no campo, e no os responsveis da famlia como nesta pesquisa.

    O estudo de Facioni (2013), realizado no Projeto de Assentamento Capo Bonito I, no

    Municpio de Sidrolndia, buscou apurar as intenes de sucesso na famlia com o pai, a me

    (cnjuge) e tambm com os prprios jovens (possveis sucessores) que se fizeram presentes

    no momento da entrevista. O autor buscou apontar o percentual de possveis sucessores e

    quais eram as dificuldades de suas permanncias no campo, objetivando verificar as

    perspectivas de permanncia ou sada dos jovens do meio rural e a avaliao do pai enquanto

  • 38

    fator decisivo no processo de sucesso, onde, a no participao dos jovens nas decises e nas

    atividades do campo, aliados renda, contribuem para que eles fiquem ou no na propriedade.

    De acordo com Lodi (1987), a famlia, mais precisamente o fundador e/ou gestor da

    propriedade, o principal responsvel pelas futuras geraes no negcio. nele que se

    concentra a sobrevivncia da empresa, bem como suas relaes e a maturidade de superar os

    desafios na fase de sucesso. A gesto familiar, para Ricca (2007), deve acontecer em longo

    prazo, no misturando as relaes afetivas de famlia com a gesto da propriedade, sendo que

    o acesso dos membros da famlia para a sucesso do comando depender da motivao e

    interesse do mesmo. Porm, o tomador de deciso dever realizar o planejamento de formao

    da sucesso dos lderes, de acordo com os interesses e a satisfao das necessidades pessoais

    de seus membros.

    A sucesso empresarial, por ser um tema delicado de ser tratado, deve ser conduzida

    com muita habilidade pelo responsvel da famlia, ato que deveria ocorrer na propriedade

    enquanto o gestor goza de condies plenas de sade fsica e mental, com o controle e poder

    da empresa, consolidando a sucesso de forma gradual e efetiva. Com uma viso de empresa

    familiar, Costa (2006) comenta que a explorao econmica de bens e servios voltada

    satisfao das necessidades humanas e da constituio de espao de funcionalidade, realizada

    por meio das divises das atividades, difere do contexto famlia, que envolve os laos afetivos

    e o objetivo de procriao.

    O processo de sucesso um perodo muito delicado dentro da organizao, conforme

    aponta Lodi (1987), e que, para Costa (2006), deve ser conduzido adequadamente, caso

    contrrio, em virtude de renovao ou finalizao das atividades, um dos maiores desafios

    saber quando, para quem e como deve ocorrer. Lembrando que, quanto mais cedo for a

    integrao do proprietrio e sucessor, melhor ser a adaptao e tempo suficiente para

    correes futuras no rumo dos negcios, delegando, gradualmente, as responsabilidades e o

    comando de forma que o fundador tenha sua sada gradativa e efetiva.

    A sucesso nas propriedades deve ser preparada ainda quando os filhos so pequenos,

    sendo necessrias algumas medidas que antecedem as fases do processo sucessrio. Logo,

    Lodi (1987) cita trs grupos que esto ligados diretamente formao dos futuros sucessores:

    a formao de base dos sucessores: inicia no bero, a base do futuro sucessor, atribudo na

    educao que recebe da famlia e na vocao despertada pelo trabalho da propriedade; o seu

    plano de desenvolvimento: o sucessor deve possuir total conhecimento do negcio, bem como

    do processo produtivo, do ambiente que est inserido, da sociedade no mbito cultural, social

    e poltico; as medidas de carter organizacional e jurdico: a preparao do ambiente para o

  • 39

    futuro sucessor, no que se refere s adequaes estruturais e passagem de gesto da

    propriedade.

    Uma nova realidade de mudanas nos padres de sucesso na Agricultura Familiar

    est sendo introduzida na atual conjuntura do campo. De acordo com os estudos de Carneiro

    (2001), so atribudos alguns fatores para o melhor andamento deste processo, como: a

    disponibilidade de terras suficientes sustentao da famlia, a mecanizao iniciada no ano

    de 1960, a reduo da mo de obra na produo e a forte atrao dos valores urbanos sobre os

    jovens para o trabalho assalariado.

    Para Lodi (1987), possuir viso empresarial em uma empresa familiar gerir o

    negcio com estilo prprio, ter vocao, coragem, talento e capacidade de enfrentar os

    desafios de maneira gerencial. Pois, quando atingir determinada idade e/ou no estar em

    plenas condies para tocar a propriedade, alternativas devem ser tomadas para o andamento

    do processo produtivo, que poder acontecer com a sucesso de um membro da famlia e/ou

    ter algum de fora da famlia para dar continuidade, ou seja, um arrendatrio, por exemplo, ou

    vender a propriedade, possibilidades que o responsvel dever ter em evidncia em sua

    trajetria empresarial.

    A tomada de deciso e a responsabilidade da propriedade podem ser compreendidas

    pelo processo de trabalho onde haja um chefe de famlia, um pai e/ou responsvel que toma

    decises sobre o uso da terra e demais atividades de emprego e comercializao dos produtos.

    Porm, o chefe de famlia vai, alm disso, integrando toda a famlia no trabalho e a sua

    participao nas decises, como bem ressaltou Almeida (1986).

    Seguindo o pensamento de Almeida (1986), de acordo com Carneiro (2001, p. 24),

    [...] o pai responsvel pela manuteno do grupo familiar, com as responsabilidades de

    zelar por este patrimnio coletivo, cuidando de transmiti-lo s demais geraes. Logo,

    processos de sucesso sem planejamento contribuem para o desaparecimento das empresas

    familiares. Por isso, a necessidade de se elaborar um planejamento estratgico de longo prazo

    para a gesto da sucesso de grande importncia para a continuidade da propriedade e para

    os negcios. E, ainda, conforme enfatiza Ricca (2007), isso deve comear no bero familiar,

    atribuindo os conhecimentos das atividades de operaes e em seguida a sua hierarquia

    organizacional aos futuros sucessores.

  • 40

    2.5 Polticas Pblicas de Apoio ao Pequeno Produtor

    Vrios so os programas e as aes realizados pelo Governo Federal, por meio do

    Ministrio de Desenvolvimento Agrrio - MDA juntamente com a Secretaria da Agricultura

    Familiar - SAF, para o fortalecimento e apoio aos pequenos produtores. Dentre os quais, o

    acesso ao crdito rural, a assistncia tcnica, a gerao de renda, a agregao de valor, entre

    outros que contribuem e promovem o desenvolvimento da Agricultura Familiar no pas, nos

    estados e municpios.

    O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF, criado

    em meados de 1996, financia projetos individuais ou coletivos, que geram renda aos

    agricultores familiares e assentados da reforma agrria. O programa discute sobre a

    necessidade do crdito, seja ele para o custeio da safra ou atividade agroindustrial,

    investimento em mquinas, equipamentos ou infraestrutura de produo e servios

    agropecurios ou no agropecurios e, ainda, o Pronaf Mulher, Pronaf Jovem, Pronaf

    Agroindstria, Pronaf Eco, Pronaf Floresta, Pronaf Agroecologia, entre outros.

    Ao fazer uso da linha de crdito, a famlia deve procurar o sindicato rural ou a empresa

    de Assistncia Tcnica e Extenso Rural - ATER e/ou Empresas de Assistencia Tcnica e

    Estenso Rural de cada Estado - EMATER para obteno da Declarao de Aptido ao Pronaf

    - DAP, que ser emitida segundo a renda anual e as atividades exploradas, direcionando o

    agricultor para as linhas especficas de crdito a que tem direito (BRASIL, 1996).

    Diante do contexto da Poltica Nacional de Assistncia Tcnica e Extenso Rural -

    PNATER, foi construda, em parceria com as organizaes governamentais e no

    governamentais de Assistencia Tcnica e Extenso Rural e a sociedade civil organizada e

    instituda pelo Governo Federal em 2003, atravs do Programa Nacional de Assistncia

    Tcnica e Extenso Rural - PRONATER, princpios do desenvolvimento sustentvel,

    incluindo a diversidade de categorias e atividades da agricultura familiar, considerando

    elementos como: gnero, gerao e etnia e o pa