subsídios para a história da tauromaquia em salvaterra de magos - séc xix, xx e xxi

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SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA 

TAUROMAQUIA EM 

SALVATERRA DEMAGOS 

Séc. XIX, XX, XXI  

************** ****** 

Autor: Gameiro, José Editor: Gameiro, José Rodrigues 

Morada: Bairro Pinhal da Vila

Rua Padre Cruz, Lote 4 2120-059 Salvaterra de Magos 

 [email protected] Edição: Online http://www.historiades alvaterra,blogs.sapo.pt 

 Janeiro 2011  

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Para os meus sobrinhos: 

Cláudio José,Rogério,

Diogo,Mariana,Rui, e 

Cláudio Nuno,Cujo grande apoio não devo esquecer,sempre atento na colaboração,nesta e nas anteriores edições online já  publicadas 

Com um carinho especial, para o meu cunhado,Manuel Fernandes Travessa, um apaixonado,destas “coisas” dos toiros. 

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Por último, para o meu cunhado: Ma Travessa,Um apaixonado, O MEU CONTRIBUTO  

Sou descendente de gente simples docampo, meu avô paterno, foi campino,como foram todos os seus irmãos.

A minha passagem pelo mundo dafesta brava, cingiu-se apenas na escrita

de uma ou outra notícia, ou artigo de alguma efeméride,como: “Os 76 anos sobre a morte do famoso toureiro

ribatejano, natural de Salvaterra de Magos; Vicente Roberto” ,que foi publicada no “Diário do Ribatejo”, ou as entrevistassobre: “Os 50 anos da inauguração da praça de toiros de

Salvaterra”  e, a entrevista ao antigo forcado, “ José Hipólito –  Figura Típica da Terra”  que foram publicados no jornal 

“ Aurora do Ribatejo”. 

Em 1976, fiz notícia jornalística, de uma jornadareivindicativa de toiros de morte em Portugal, que teve lugarno salão nobre do Clube Desportivo Salvaterrense, e, na suasequência, meses depois levou à morte de toiros na praça de

Salvaterra. Um outro artigo fiz sair no já desaparecido jornalVale do Tejo, quando do falecimento do aficionado AntónioCadório.

De vez enquanto lá me aparecem pedindo a minha ajuda,entusiastas destas coisas dos toiros, ou estudantesinteressados em saber algo sobre a morte do Conde dos

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Arcos, ocorrida num brinco de toiros, aqui em Salvaterra. Esta

morte, para muitos é ainda uma incógnita e motivo degrandes discussões entre aficionados, e não só, também osque gostam de “contos e lendas” ligados à terra, tentamdesvendar o que apenas se sabe pelo que está escrito.

O meu espólio sobre a temática taurina em Salvaterra,sendo guardado ao longo de muitas décadas, não é coisa quevalha, são documentos recolhidos por carolice, que cruzamdados sobre lavradores/ganadeiros que aqui tinham terras,

desde o séc. XIX, e faziam criação de toiros. O campino tinhalugar de destaque naquelas importantes casas agrícolas, comoguardador das manadas de gado bravo. Os cavaleiros,toureiros e moços de forcados, são outros componentes queenriqueceram a festa brava nos séc. XX e XXI, desta vilaribatejana. Com tais documentos, pensei se não valeria apena agrupar todo este material e, com ele fazer um livro,para não se perder tanta informação, que muito valerá aos

interessados em aprofundarSendo uma tradição de séculos, não só ribatejana, aqui

está esta edição  – “Subsídios para a Hist ória da Tauromaquia

em Salvaterra de Magos- séc. XIX, XX e XXI” .É um pequeno trabalho que ficará ao dispor de quem um

dia queira fazer um estudo profundo da história datauromaquia em Salvaterra de Magos.

Se isso vier a acontecer, já me sinto contente !!

Janeiro de 2011

JOSE GAMEIRO

(José Rodrigues Gameiro)

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I

A Última corrida de Touros em Salvaterra

Nota Prévia

A trágica morte do jovem fidalgo, Manuel José deNoronha e Menezes, 7º Conde dos Arcos, filho doMarquês de Marialva, numa corrida de touros, emSalvaterra de Magos, tem servido para muita transcriçãoao longo dos tempos, levou a que Luiz Augusto Rebelloda Silva, numa das suas obras marcantes, e um marcode referencia do romantismo português, no séc. XIX.

Ao longo dos tempos, em tudo quanto é editado sobreSalvaterra, não deixa de aparecer ,” A Morte do Condedos Arcos”. Conto que sendo romanceado, segundoalguns autores, foi escrito cerca de 70 anos depois doacontecimento.

A MORTE DO CONDE DOS ARCOS

“O sr. D. José, primeiro do nome, era em Salvaterra umrei em férias. – A verdade é que os maldizentes notavam,em segredo, que Sua Majestade, estava sempre aotorno e o Marquês no trono. O prolóquio fundava-se nahabilidade mecânica do monarca como torneiro, e nocarácter dominador do marquês como ministro.

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Vicejavam os campos em plena primavera. A

amendoeira cobria-se de flores, os bosques esfolhavam-se, as veigas vestiam-se e matizavam-se, e a brisadoidejava indiscreta arregaçando o lenço à donzelaque passava, ou roubando um beijo à rosa perfumada.

Tudo eram alegrias e cânticos… os rouxinóis nas moitas,o coração nos amores, e a natureza nos sorrisos ao solesplêndido que a dourava.

O Rei estava em férias em Salvaterra e, uma touradareal chamara a corte a restante fidalguia do país a estavila. Os fidalgos respiravam nestas ocasiões menosoprimidos. Não os assombrava tão de perto a privançado ministro. Os touros eram bravos, os cavaleiros destros,o anfiteatro pomposo, e o cortejo das damas adorável.O prazer na boca de todos. Por cúmulo de venturas oMarquês de Pombal ficara em Lisboa, retido peloconflito com o embaixador de Espanha.

Contava-se em segredo nos recantos do palácio odiálogo entre o enviado castelhano e o secretário deestado português, louvando-o uns em voz alta, para osecos daquelas paredes repetirem os elogios,crucificando-o outros sem piedade, para saciarem osódios.

As devotas e os fidalgos puritanos eram pelo espanhol,

e pediam a Deus que os rebates da guerra próximadespenhassem o plebeu nobilitado do seu pedestalpolítico. Os magistrados e os homens de capa e volta,defendiam o marquês e respondiam com meios sorrisosàs fogosas jaculatórias dos zelosos do trono e do altar.

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O Marquês de Pombal, tinha-se negado com firmeza

às concessões exigidas imperiosamente pelo governocastelhano: – Muito bem, - atalhou o embaixador  – um exército desessenta mil homens entrará em Portugal e fará … - O quê ?  –  Perguntara o marquês, sorrindo-se com a

tremenda luneta assentada e no tom mais indiferente.

- Fará entender a razão e a justiça de el-rei, meu amo,a Sua Majestade, e a vossa excelência!  –  Redarguiumeia oitava acima o espanhol, supondo o ministrofulminado.

Sebastião José de Carvalho franziu as sobrancelhas,carregou a viseira, e cravando a vista e a luneta nodiplomata, retorquiu-lhe friamente:- Sessenta mil homens muita gente é para casa tãopequena; mas querendo Deus, el-rei meu amo e senhor,

sempre há-de achar onde possa hospedá-la. Maispequena era Aljubarrota e lá couberam os que D. Joãode Castela trouxe.

Vossa excelência pode responder isto ao seugoverno. E, levantando-se para despedir o embaixador,acrescentou:

- Bem sabe vossa excelência que pode tanto cada umem sua casa, que mesmo depois de morto é precisos

quatro homens para o tirarem!

O embaixador saiu jurando por  Dyos y la VirgemSantíssima, e o marquês preparou-se para a guerra.

O caso é, como dizia o nosso Zeferino na Sobrinha do Marquês, que Sebastião José de Carvalho foi um grandeministro e que fez muito pela nação. Hoje há menos

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quem responda assim à letra às ameaças dos

estrangeiros.

Berra-se muito, dorme-se a sono solto ao som dos hinospatrióticos e depois salva o castelo de madrugada eestá salva a pátria.

O marquês de Pombal prezava as artes e protegia eanimava as classes médias. Esse pouco que o reinoprogrediu deveu-se a ele. Se a indústria nunca acaboude sair da infância, a culpa quase toda foi dos mausgovernos que sucederam ao seu, e também do povoque não quis trabalhar deveras…

Mas vamos aos touros reais. Dessesé que o ministro não gostava nada.

Queria-os ao arado e não à farpa,e parecia-lhe melhor, que os

toureadores, sendo fidalgos, servissemo Estado com a pena ou com aespada, e, sendo mecânicos, quelavrassem, tecessem e ganhassem

honradamente a vida, enriquecendo-se a si e à nação.

Mas el-rei D. José, cedendo em tudo ao marquês,quanto aos touros não admitia reflexões. Nisto era rei avaler e Bragança legitimo. Os fidalgos sabiam-no e por 

isso desfrutavam doces prazeres – a satisfação do gostonacional e a contradição da vontade do ministro.

Desatendê-la sem perigo e pela mão do soberano erapara eles um deleite e um triunfo. Nestas funções nãovigorava a severidade das últimas pragmáticas. Outromotivo de júbilo.

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Quem queria podia arruinar-se em luxuosos vestidos,

enfeites e toucados.

As bordaduras e os recamos de ouro, os veludos esedas de fora, talhados à francesa, resplandeciamconstelados de pérolas e diamantes. Por cima dos maisricos trajos e das mais vistosas cores desenrolavam-se osanéis ondeados das empoadas cabeleiras. As damasostentavam as graças de seus donaires e tufados, eemoldurando o belo oval dos rostos nos penteadoscaprichosos, sorriam-se para os gentis campeadores, eseus olhos cheios de luz e de promessas estimulavam atéos tímidos.

Correram-se as cortinas da tribuna real. Rompem asmúsicas. Chegou el-rei, e logo depois entra peloscamarotes o vistoso cortejo, e vê-se ondear um oceanode cabeças e de plumas. Na praça ressoam brava

alegria as trombetas, as charamelas e os timbales.

Aparecem os cavaleiros, fidalgos distintos todos, com oconto das lanças nos estribos e os brasões bordados noveludo das gualdrapas dos cavalos. As plumas doschapéus debruçam-se em matizados cocares, e asespadas em bainhas lavradas pendem de soberbastalins.

Os capinhas e forcados, vestem com garbo àcastelhana antiga. No semblante de todos brilha oardor e o entusiasmo.

O Conde de Arcos, entre os cavaleiros, era quem davamais na vista. O seu trajo, cortado à moda da corte de

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Luiz XV, de veludo preto, fazia realçar a elegância do

corpo.

Na gola da capa e no corpete sobressaiam as finasrendas da gravata e dos punhos. Nos joelhos as ligasbordadas deixavam escapar com artificio os tufos decambraieta alvíssima.

O conde não excedia a estatura ordinária; mas,esbelto e proporcionado todos os seus movimentos eramgraciosos.

As faces eram talvez pálidas de mais, porém animadasde grande expressão, e o fulgor das pupilas negrasfuzilava tão vivo e por vezes tão recobrado, que setornava irresistível.

Filho do marquês de Marialva e discípulo querido deseu pai, do melhor cavaleiro de Portugal, e talvez da

Europa, a cavalo, a nobreza e a naturalidade do seuporte enlevavam os olhos.

Ele e o corcel, como que ajustados em uma só peça,realizavam a imagem do centauro antigo. A bizarriacom que percorreu a praça, domando sem esforço ofogoso corcel, arrancou prolongados e repetidosaplausos.

Na terceira volta, obrigando o cavalo quase aajoelhar-se diante de um camarote, fez que uma damaescondesse turvada no lenço as rosas vivíssimas do rosto,que decerto descobririam o melindroso segredo da suaalma, se em momentos rápidos como o faiscar dorelâmpago pudesse alguém adivinhar o que só doissabiam.

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El-rei, quando o mancebo o cumprimentou pelaúltima vez, sorriu-se, e disse voltando-se: - Porque virá oconde quase de luto à festa ? Principiou o combate.

Não é propósito nosso descrever uma corrida detouros. Todos teem assistido a elas e sabem de memóriao que o espectáculo oferece de notável. Diremos sóque a raça dos bois era apurada, e que os touros secorriam desembolados, à espanhola.

Nada diminuía, portanto, as probabilidades do perigoe a poesia da luta. Tinham-se picado alguns bois. Abriu-se de novo a porte do curro, e um touro preto investiucom a praça.

Era um verdadeiro boi de circo. Armas compridas ereviradas nas pontas, pernas delgadas e nervosas,indício de grande ligeireza, sinal de força prodigiosa.

Apenas tocara o centro da praça, estancou comodeslumbrado, sacudiu a fronte e, escavando a terraimpaciente, soltou um mugido feroz no meio do silêncio,que sucedera às palmas e gritos dos espectadores.

Dentro em pouco as capinhas, saltando a pulos astrincheiras, fugiam à velocidade espantosa do animal, edois ou três cavalos expirantes, denunciavam a sua fúria.

Nenhum dos cavaleiros se atreveu a sair contra ele.Fez uma pausa. O touro pisava a arena ameaçador eparecia desafiar em vão um contendor.

De repente viu-se o Conde dos Arcos firme na selaprovocar o ímpeto da fera e a haste flexível do rojão

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ranger e estalar, embebendo o ferro no pescoço

musculoso do boi.

Um rugido tremendo, uma aclamação imensa doanfiteatro inteiro, e as vozes triunfais das trombetas acharamelas encerraram esta sorte brilhante. Quando onobre mancebo passou a galope por baixo docamarote, diante do qual pouco antes fizera ajoelhar ocavalo, a mão alva e breve de uma dama deixou cair 

uma rosa, e o conde, curvando-se com donaire sobre osarções, apanhou a flor do chão sem afrouxar a carreira,levou-a aos lábios e meteu-a no peito. Investindo depoiscom o touro, tornado imóvel com a raiva concentrada,

rodeou-o estreitando em volta dele os círculos atéchegar quase a pôr-lhe a mão na nuca.

O mancebo desprezava o perigo e pago até damorte pelos sorrisos, que seus olhos furtavam de longe,levou o arrojo a arrepiar a testa do touro com a pontada lança.

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Precipitou-se então o animal com fúria cega e

irresistível.O cavalo baqueou trespassado e o cavaleiro, feridona perna, não pôde levantar-se. Voltando sobre ele oboi enraivecido arremessou-o aos ares, esperou-lhe aqueda nas armas, e não se arredou senão quando,assentando-lhe as patas sobre o peito, conheceu que oseu inimigo era um cadáver.

Este doloroso lance ocorreu com a velocidade doraio. Estava já consumada a tragédia e não haviaexpirado ainda o eco dos últimos aplausos.

De repente um silêncio, em que se conglobammilhares de agonias, emudeceu o circo. Rei, vassalos edamas, meio corpo fora dos camarotes, fitavam a praçasem respirar e erguiam logo a vista ao céu como paraseguir a alma que para lá voava envolta em sangue.

Quando mancebo, dobrado no ar, exalava a vidaantes de tocar no chão, um gemido agudo, compostode soluços e choro, caiu sobre o cadáver como umalágrima de fogo.

Uma dama desmaiada nos braços de outras senhorassoltara aquele grito estridente, derradeiro ai do coraçãoao rebentar do peito. El-Rei D. José com as mãos norosto, parecia petrificado. A corte desta vez

acompanhava-o na sua dor. Mas o drama ainda nãotinha concluído. Quem sabe!?

O terror e a piedade iam cortar de novas mágoas opeito a todos. O Marquês de Marialva assistira a tudo doseu lugar.

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Revendo-se na gentileza do filho, seus olhos seguiam-

lhe os movimentos brilhando a cada sorte feliz.

Logo que entrou o touro preto, carregou-se de umanuvem o semblante do ancião. Quando o Conde dosArcos saiu a farpeá-lo, as feições do pai contraíram-se ea sua vista não se despregou mais da arriscada luta.

De repente o velho saltou um grito sufocado e cobriuos olhos, apertando depois as mãos na cabeça. Os seusreceios haviam-se realizado. Cavalo e cavaleiro rolavamna arena, e a esperança pendia de fio ténue !

Cortou-lhe rapidamente a morte, e o marquês perdidoo filho, luz da sua alma e ufania de suas cãs, não preferiuuma palavra, não derramou uma palavra; mas os

  joelhos fugiam-lhe trémulos, e a elevada estaturaelevou-se vergando ao peso da mágoa excruciante.

Volveu, porém, em si, decorridos momentos aliviapalidez do rosto tingiu-se de vermelhidão febrilsubitamente. Os cabelos desgrenhados e hirtosrevolveram-se-lhe na fronte inundada de suor frio comoas sedas da juba de leão irritado.

Nos olhos amortecidos faiscou instantâneo, masterrível, o sombrio clarão de uma cólera, em que todas

as ânsias insofridas da vingança se acumulavam.

Em um ímpeto a presença reassumiu as proporçõesmajestosas e erectas como se lhe corresse nas veias osangue do mancebo que perdera.

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Levando por acto instintivo a mão ao lado, para

arrancar da espada, meneou tristemente a cabeça. Asua boa espada, cingira-a ele próprio ao filho neste diaque se convertera para sua casa em dia de eterno luto.

Sem querer ouvir nada, desceu os degraus doanfiteatro, seguro e resoluto como se as neves desetenta anos lhe não branqueassem a cabeça.  –  Suamajestade ordenou ao marquês de Marialva, queaguarde as suas ordens!  – disse um camarista, detendo-o pelo braço.

O velho estremeceu como se acordasse sobressaltado,e cravou no interlocutor os olhos desvairados, em quereluzia o fulgor concentrado dum pensamento imutável .

Desviando depois a mão que o suspendia, baixou maisdois degraus.

- Sua majestade entende foi já bastante desgraçado enão quer perder nele dois vassalos… - El-rei manda nos vivos e eu vou morrer!  –  atalhou oancião, em voz áspera, mas sumida  – Aquele é o corpodo meu filho! – e apontava para o cadáver  – Está ali!

Sua majestade pode tudo menos desarmar o braço dopai, menos desonrar os cabelos brancos do criado que oserve há tantos anos. Deixe-me passar, e diga isto.

D. José vira o marquês levantar-se e percebera a suaresolução. Amava no estribeiro-mor as virtudes e alealdade nunca desmentidas. Sabia que da sua bocanão ouvira senão a verdade, e a ideia de o perder assimera-lhe insuportável.

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Apenas lhe constou que ele não acedia à sua

vontade, fez-se branco, cerrou os dentes convulsos e,debruçado para fora da tribuna, aguardou em ansiososilêncio o desfecho da catástrofe.

A esse tempo já o marquês pisava a praça, firme eintrépida como os antigos romanos diante da morte.

Dentro do peito o seu coração chorava, mas os olhosáridos queimavam as lágrimas quando subiam arebentar por eles.

Primeiro do que tudo queria a vingança.

Por impulso instantâneo, todo o ajuntamento se pôs depé.

Os semblantes consternados e os olhos arrasadoságua, exprimiam, aquela dolorosa contenção deespírito, em que um sentido parece concentrar todos.

- Deixai-o ir ao velho fidalgo! A mágoa, que o trespassa,não tem igual. O fogo, que lhe presta vida e forças, é adesesperação. Deixai-o ir, e de joelhos!Saudai a majestade do infortúnio. O pai angustiado

ajoelhou junto do corpo do filho e pousou-lhe depois umósculo na fonte. Desabrochou-lhe o talim e cingiu-o,levantou-lhe do chão a espada e correu-lhe a vista pelofio e pela ponta de dois gumes.

Passou depois a capa no braço e cobriu-se. Decorridosinstantes estava no meio da praça e devorava o tourocom a vista chamejante, provocando-o para ocombate.

Cortado de comoções tão cruéis, não lhe tremia obraço e os pés arreigavam-se na arena como se um

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puder oculto e superior lhos tivesse ligado

repentinamente à terra.

Fez no circo um silêncio gélido, tremendo e tãoprofundo, que poderiam ouvir-se até as pulsações docoração do marquês, se naquela alma de bronze ocoração valesse mais do que a vontade.

O touro arremete contra ele. Uma e muitas vezes oinveste ego e irado, mas a destreza do marquês esquivasempre a pancada. Os ilhais da fera urfam de fadiga, aespuma franja-lhe a boca, as pernas vergam e resvalam,e os olhos amortecem de cansaço. O ancião zomba dasua fúria. Calculando as distâncias, frustra-lhe todos osgolpes sem recuar um passo. O combate demora-se.

A vida dos espectadores resume-se nos olhos. Nenhumusa desviar a vista de cima da praça. A imensidade da

catástrofe imobiliza todos. De súbito solta el-rei um grito erecolhe-se para dentro da tribuna.O velho aparava a peito descoberto a marrada do

touro, e quase todos ajoelharam para rezarem por almado último marquês de Marialva.

A aflitiva pausa apenas durou momentos. Por entre asnévoas, de que a pupila trémula se embaciava, viu-se ohomem crescer para a fera, a espada fuzilar nos ares e

logo após sumir-se até aos copos entre a nuca doanimal.

Um bramido, que atroou o circo, e o baque do corpoagigantado na arena, encerraram o estremo acto dofunesto drama. Clamores uníssonos saudaram a vitória.

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O marquês, que tinha dobrado o joelho com a força

do golpe, levantava-se mais branco do que umcadáver. Sem fazer caso dos que o rodeavam, tornou aabraçar-se com o corpo do filho, banhando-o delágrimas e cobrindo-o de beijos.

O touro ergueu-se, e, cambaleando com a sezão damorte, veio apalpar o sitio onde queria expirar. Ajuntouali os membros e deixou-se cair sem vida ao lado docavalo do conde dos Arcos.

Nesse momento os espectadores olhando para atribuna real estremeceram. El-rei, de pé e muito pálido,tinha junto de si o marquês de Pombal, coberto de pó ecom sinais de ter viajado depressa.

Sebastião José de Carvalho voltava de propósito ascostas à praça falando com o monarca. Punia assim a

barbaridade do circo.  – Temos guerra com a Espanha,senhor.

E inevitável. Vossa majestade não pode consentir queos touros lhe matem o tempo e os vassalos. Secontinuássemos nesse caminho … cedo iria Portugal àvela.

- Foi a última corrida marquês. A morte do conde dos

Arcos acabou os touros reais enquanto eu reinar  – Assim o espero da sabedoria de vossa majestade.

Não há tanta gente nos seus reinos, que possa dar-seum homem por um touro.

- El-rei consente que vá em seu nome consolar omarquês de Marialva ?

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- Vá ! É pai. Sabe o que há-de dizer-lhe…!

- O mesmo que ele me diria a mim, se Henrique estivessecomo está o conde. El-rei saiu da tribuna, e o marquêsde Pombal, entrando na praça em toda a majestade dasua elevada estatura, levantou nos braços o velhofidalgo, dizendo-lhe com voz meiga e triste:

- Sr. Marquês! Os portugueses, como V. exª., são paradarem exemplos de grandeza de alma e não para osreceberem.

Tinha um filho e Deus levou-lho. Altos juízos seus!

A Espanha declara-nos a guerra e el-rei, meu amo esenhor, precisa do conselho e da espada de v.exª. etravando-lhe da mão, levou-o quase nos braços até ometerem na carruagem.

D. José I, cumpriu a palavra dada ao seu ministro.No seu reinado não mais se picaram touros reais emSalvaterra.” 

********************

************

*******

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II

O CONDE DOS ARCOS - A SUA ORIGEM E MORTE

NOTA PREVIA

É pela carta real de 2 de Fevereiro de 1620 que, pela

primeira vez se fala deste título; Conde dos Arcos. É um

título atribuído com conotação à povoação de Arcos

de Valdevez.

Segundo alguns historiadores, o nascimento do 7º

Conde dos Arcos; D. Manuel José de Noronha e

Menezes, terá acontecido em Marvila, no ano de 1740.

Em 1989, quando pesquisava o local onde teria existido

o “Teatro Régio de Salvaterra”, pessoas que agora

teriam 115 anos de idade, disseram-me que na meninice

deles, o povo falava que o sítio onde teria acontecido a

corrida, era num terreno aberto, por detrás do Paço das

Damas. Lembravam-se, que no primeiro quartel do séc.

XX, aquela zona foi urbanizado com algumas casas. E

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que alguns lhe chamavam “Canto da Ferrugenta”, 

outros o “Páteo do Pardalada”.

Quanto ao registo da morte sabe-se foi feito nosserviços da secretaria do paço real de Salvaterra e, domesmo, fez notícia a “ Gazeta de Lisboa”, jornal daépoca. 

A POLÉMICA

A curiosidade em conhecer melhor o que foi escritopor Rebello da Silva, sobre a “Última corrida de toiros emSalvaterra e a morte do Conde dos Arcos” tem levada àrealização de vários colóquios, onde as inúmerasintervenções, causam sempre alguma polémica.Também em 2003, Vitor Escudero, considerado um

investigador no mundo dos toiros, em Portugal,Arraigadamente disse numa reunião de aficionados,

realizada em Salvaterra, “É uma das maiores mentiras danossa História”, o Conde dos Arcos morreu, na Murteira(Samora Correia).

**********

De acordo com o registo cronológico dos titulares “Conde dos Arcos”,

  regista-se a sua morte em 1779, mas em documentos usados

posteriormente, como: “certidão de óbito”, a sua morte ocorreu em 10

de Fevereiro de 1778.

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Já antes, Pizarro Monteiro, falecido em 1991, deixou

escrito em 1982, que a morte do Conde dos Arcos,

nunca aconteceu de maneira trágica em Salvaterra,

mas sim de morte natural, conforme uma oração

fúnebre deixada escrita em 1778.

Também quando das obras, realizadas na Igreja Matriz

da vila, em 1958, o padre José Rodrigues Diogo, pároco

da freguesia, em presença de três pedras tumulares em

frente ao altar daquele templo, disse: Uma delas é doBispo João Soalhães, fundador da Igreja, em 1296, cujo

orago é S. Paulo. Uma outra é, do Conde dos Arcos, veio

do convento de Jericó, quando do sismo de 1858.

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III

TOIROS DE MORTE EM SALVATERRA

Depois do acontecido em 1762, com a morte do

Conde dos Arcos, vários abusos com mortes de toiros

aconteceram em praças portuguesas.

Em 1921, Joaquim Mella, na praça de toiros das

Caldas da Rainha, estoqueou um toiro e, logo de seguia

em Salvaterra de Magos, o toureiro “Faculdades”, quemuitas vezes fez parelha com os irmãos Roberto(s),

abateu toiros o que deu origem à publicação de uma

nova lei que revogava as anteriores proibições, que

vinham de 1837 e 1838.

Novamente e apesar das proibições, em 1927, foram

mortos toiros em praças de Portugal. Novo decreto-lei,

foi publicado no Diário do Governo, de 11 de Abril de

1928, estabelecendo pesadas sanções para os

prevaricadores, bem como aos proprietários das praças.

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Em 1952, Manuel dos Santos, estoqueou um toiro no

Campo Pequeno e, mais tarde coube a vez ao matador 

António dos Santos. Os anos decorriam e os aficionados,

toureiros e ganadeiros pugnavam, mesmo em surdina,

pela morte dos toiros na arena, das praças portuguesas,

Aproveitando as incertezas políticas que pairavam em

Portugal, depois da revolução dos cravos, em 1974,

novamente o “mundo” ligado a festa tauromáquica,

realiza em Salvaterra de Magos, no dia 18 de Dezembro

de 1976, no salão do Clube Desportivo local, um

colóquio, Da reunião, fiz noticia que foi  publicada no

  jornal “Diário do Ribatejo” em 18 de Dezembro de 1976,

que aqui transcrevo:“Sim, toiros de morte em Salvat erra de Magos foi a palavra de 

ordem, no colóquio realizado no passado dia 18, no Salão do 

Clube Desportivo Salvaterrense. Promovido pela Comissão 

Pró-Toiros de Morte em Portugal e apoiada pela Comissão da 

Praça de Toiros de Salvaterra, e na sequência de outras 

sessões sobre o mesmo tema, foi levada a efeito uma sessão e esclarecimento sobre a situação da tauromaquia em 

Portugal e dar a conhecer o ponto da situação sobre o 

movimento que se está a desenvolver para as corridas na 

próxima temporada, sejam integrais. Compunham a mesa do 

colóquio: Dr. Queirós (advogado), José Júlio, Parrreirita 

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Cigano, António Portugal, Ludovino Bacatume Mestre Batista 

(toureiros). Rogério Amaro (critico e pegador de toiros), João Ramalho(ganadeiro) João Mascarenhas, Chony, Francisco 

Rocha (aficionados), e ainda as senhoras; Isabel Cadencio e 

Carolina Bacatum. Foram ainda convidado e, estiveram 

presentes; forcados, campinos e alguns elementos da 

Comissão que tinham em seu poder a gerência da praça de 

toiros da misericórdia local.Abriu o colóquio, o sr, Chony que fez algumas 

considerações sobre as perspectivas e a sua viabilidade dos 

toiros de morte em Portugal. Seguidamente foi dada a palavra 

ao ganadeiro João Ramalho, que fez uma síntese dos toiros 

de lide e as dificuldades na sua criação. O dr. José Queiró,

começou a sua intervenção, por fazer algumas considerações ao processo judicial, onde estão envolvidos os matadores e 

cavaleiros, que intervieram na já célebre corrida de 31 de 

Outubro do corrente ano, em Vila Franca de Xira. Depois fez 

algumas análises ao Decreto-Lei, que proíbe os toiros de 

morte em Portugal e que data de 1836,e que foi confirmado 

pelo Decreto de 1919, que prevê para as infracções nalguns pontos multas de 2$00 e 15$00, mais tarde em 1921 saiu a 

Portaria que vem de igual modo regulamentar as corridas de 

toiros e suas implicações, ainda em 1928, saiu outro Decreto- 

Lei sobre igual matéria e que na opinião jurista, tal matéria 

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publicada, está desde há muito ultrapassada, e que urge 

modificar. Pela sua intervenção recebeu grandes aplausos.O crítico de toiros do “jornal de noticias” e forcado, Rogério 

Amaro, iniciou a sua intervenção sobre o papel dos moços de 

forcados e a necessidade de os agrupamentos serem 

reduzidos, se os toiros de morte for uma realidade, foi muito 

aplaudido. José Júlio, António Portugal e Parreirita Cigano 

descreveram cada uma à sua maneira o papel do matador de toiros, em Portugal e em Espanha, Por todos foi condenado o 

obsoleto Decreto, que ainda regula as corridas com toiros de 

morte em Portugal. As senhoras, Isabel Cadencio e Carolina 

Bacatum, referiram-se ao papel das senhoras no ambiente 

tauromáquico, aplaudiram e incentivaram os elementos da 

Comissão Pró-Toiros de Morte a prosseguir a sua luta, que era aliás a luta de todos os aficionados.

O sr. João Mascarenhas, que na sua intervenção, empregou 

grande entusiasmo e bastante aficion, começou por exortar os 

presentes a apoiar a Comissão, que está a trabalhar no 

projecto, que se espera dentro de algum tempo venha a ser 

entregue ao governo. Fez uma critica, às ausências dos aficionados, que servem nos meios da comunicação social, e 

manifestou a sua grande alegria, por naquela sala encontrar 

grande número de jovens e que se estava em presença de 

novos aficionados. Loduvino Bacatum, também deu uma 

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achega, focando os aspectos dos toureiros, que sendo 

reconhecidos como trabalhadores na sua profissão, nalguns Ministérios, inclusive o do Trabalho, não podiam ser 

matadores de toiros, em Portugal, também deu a conhecer 

pormenores ao público presente de como tem sido o 

“mister”de empresário neste país, e que num futuro muito

próximo, tal condição, terá que ser mais humana.

Ao entrar-se no período de perguntas aos elementos que compunham a mesa, assistiu-se a um dialogo, muito vivo e 

entusiasta, com perguntas que pelo seu conteúdo, verificava- 

se que os aficionados Salvaterrianos, estavam deveras 

preocupados com o futuro das corridas de toiros, muito 

especialmente com as de toiros de morte, sendo muito 

frequente ouvir- se “a petição  para a frente” , começar com os toiros de morte em Portugal, ela se efective, mas terminaram,

com a morte do Conde de Arcos, na Primavera de 1762.

Por último foram exibidos filmes, dando conta à assistência de 

como são frias e sem motivação, as corridas de toiros em 

Portugal, em paralelo com as realizadas em Espanha, onde o 

público vê o espectáculo, cheio de vibração quando o matador remata a faena, com o estoque final. A assistência, cerca de 

três centenas e meia de pessoas, saiu deveras entusiasmada,

assinando por fim as listas, para a respectiva petição de toiros 

de morte em Portugal. 18- 12-76 * JOSE GAMEIRO

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IVCRIADORES DE TOIROS EM SALVATERRA 

Nota Prévia

No séc. XIX, existem registos de lavradores deSalvaterra de Magos, para além de terem, a sua

actividade agrícola, desenvolviam a criação de gado

bravo. Havia as pequenas e grandes ganadarias.

Nas pequenas, trabalhavam um restrito grupo que

não passavam do Moiral, Contra Moral e Campinos.

Nos meses da Primavera e Verão, o gado pastava nas

terras frescas da bacia do rio Tejo. Como no campo de

Salvaterra e Lezíria Grande (Vila Franca de Xira).

No tempo de Outono e Inverno, alimentavam-se do

pasto da charneca, lá para os lados do Chaparral e

Coelhos, pastando algumas vezes nas terras frescas, que

viriam a pertencer anos depois à Barragem de Magos.

RODRIGO FERREIRA DA COSTA (Dr.)

Natural de Salvaterra de Magos, foi médico e criador 

de gado bravo, por volta de 1873, forneceu vários curros

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de toiros para a praça do Campo de Sant`Ana. Falecer 

em 1878, na sua terra-natal.

ANTONIO FERREIRA ROQUETTE

Natural de Salvaterra de Magos, teve casa agrícola

nesta vila, foi criador de toiros, com divisa: turquesa e

branco. Os seus toiros gozavam de grande fama. Enviou

alguns curros para a praça de Sant`Ana, em Lisboa e

chegou a fornecer curros para Madrid. O lavrador de

Alpiarça, João Ignácio da Costa, comprou-lhe alguns

toiros, para apurar as suas rezes. Tal como seu irmão,

José Ferreira Roquette, foi toureiro e cavaleiro amador,

conseguindo grande popularidade.

JOSE LUIZ DE BRITO SEABRA

Nasceu em Salvaterra de Magos, em 30 de Agosto de

1845, foi dono com sua mãe do palacete construído

nesta vila, que mais tarde passou a propriedade da

família Monte Real. Foi lavrador e ganadeiro, presidenteda câmara municipal de Salvaterra de Magos, membro

da Junta Geral do Distrito de Santarém. Foi sócio

fundador do Real Club Tauromachico Portuguez,

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fundado em 23 de Fevereiro de 1892. Faleceu em

Valada, no dia 27 de Julho de 1893.

ANTONIO JOSE FERREIRA DA SILVA

Nasceu a 19 de Setembro de 1889, filho do ganadeiro

com o mesmo nome, forneceu toiros para serem corridos

em várias praças dos pais, a sua divisão era Azul, e as

manadas pastavam nos campos de Salvaterra.

ROBERTO DA FONSECA JUNIOR

Nasceu em Salvaterra de Magos, filho reconhecido do

antigo bandarilheiro, Roberto da Fonseca, quando da

abertura do seu testamento * Nos últimos anos do séc.XIX, pretendeu ser toureiro, convencido de que não

tinha aptidões artísticas, dedicou-se à criação de toiros

de lide.

JOSE FERREIRA ROQUETTE

 JFR

Nasceu em Salvaterra de Magos, era irmão de António

Roquette, teve uma manada de toiros bravos, com a

divisa verde.

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JOÃO ANTÓNIO FERNANDES

Pequeno lavrador, natural de Salvaterra de Magos,

tinha uma vacada e, alguns toiros de selecção, que

pastavam nos campos da vila, junto ao Tejo. Forneceu

curros para várias praças dos pais.

ROBERTO & ROBERTO

(Vicente Roberto e Roberto da Fonseca),

RR 

Nasceram em Salvaterra de Magos, comobandarilheiros ganharam fama e proveito, dedicaram-se

à agricultura e tiveram uma ganadaria de toiros de lide,

que pastavam nos seus campos de Salvaterra. Um curro

de toiros desta ganadaria, foi corrido na arena do

Campo de Sant`Ana, em Dezembro de 1987, onde teve

lugar a última corrida nesta praça. Actuaram os

cavaleiros Casimiro Monteiro, Alfredo Tinoco, José Bento

de Araújo e D. Luiz do Rego.

Estes ganadeiros integraram em Portugal, o primeiro

lote, que construíram “Tentaderos” para testarem as suas

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vacas e, para tal construíram um, na sua Herdade dos

Coelhos.

FRANCISCO FERREIRA LINO

FFL 

*  Nasceu em Salvaterra de Magos, filho de João Francisco

Lino, iniciou a actividade agrícola, aos 18 anos, depois

de passar pelo comércio em Lisboa. De pequeno

lavrador, foi comprando propriedades e, por volta de

1915, acabou de construir o seu Palacete, cujo começo

vinha antes do terramoto de 1909, na sua Quinta da

Ómnia. A sua ganadaria, teve início naquela época,

sendo os seus animais oriundos de António Ferreira

Roquette.

JOSE VICENTE DA COSTA RAMALHO

Filho do lavrador e benemérito, Gaspar da Costa

Ramalho, em 1936, era detentor de casa agrícola, com

criação de toiros, que pela fama adquirida nas praças

portuguesas, começaram a ser solicitados para as

arenas de Espanha.

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IRMÃOS ROBERTO

(Vicente Roberto Ferreira da Fonseca, Roberto Ferreira da

Fonseca (Dr.) e,

João Roberto Ferreira da Fonseca)

IR 

Receberam por herança casa agrícola e ganadaria, de

seu pai João Roberto, que por sua vez recebeu da firma

Roberto & Roberto. A Ganadaria, na primeira metade

do séc. XX, muita fama lhes deu. 

JOÃO RAMALHO

(JOÃO JOSE DE MORAES SARMENTO COSTA RAMALHO)

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Nasceu em Salvaterra de Magos, filho do lavrador e

ganadeiro; José Vicente da Costa Ramalho * Sede:

Quinta da Gatinheira (Salvaterra de Magos) * Divisa: Lilás

e Branco 

* Historial: Em 1961 compra 30 vacas Toiros a José

Pedrosa e 1 toiro e 4 vacas “Chamaco”, vindas de Pinto

Barreiros, com ferro de irmãos Roberto (Salvaterra de

Magos) * Em 1963, compra 8 vacas Urquijo x Alves do

Rio, a Dr. José Manuel Andrade (linha toda dada ás

filhas: Thereza e Helena Ramalho)

JOSE LUIS PEREIRA DIAS

Natural da Malveira (Oeste), na década de 70 do séc.

XX, veio para Salvaterra de Magos, onde tem morada *

Divisa: Azul e Preto * Toiros oriundos: José Manuel

Andrade, Engº Ruy Gonçalves e Cabral de Ascensão *

Antiguidade: 1976

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FELICIDADE DIAS 

(Felicidade da Conceição Filipe Pereira Dias)

* Nos anos 70 do séc. XX, fixou residência em Salvaterra

de Magos * esposa do ganadeiro José Dias e, mãe dos

Irmãos Dias * Divisa: Encarnado e Amarelo * Toiros

oriundos: Andrade Salgueiro e Manuel César Rodrigues *

Ganadaria conhecida desde 1984.

IRMÃOS DIAS

José Luís Pereira Dias e Felicidade da Conceição FilipePereira Dias

Filhos de José Dias e Felicidade Dias,

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* Ganadaria desde 1976 * Tem sede em Salvaterra de

Magos (Ribatejo) * Toiros oriundos de Norberto Pedroso,

que iniciou uma ganadaria em 1910, com vacas

portuguesas de Manuel Duarte Oliveira e Condessa da

Junqueira. De Emílio Infante da Câmara, também

adquiriu algumas vacas e sementais.

THEREZA E HELENA RAMALHO

(Thereza Margarida e Helena Rita Bastos de Moraes

Sarmento Ramalho)

*Morada na Quinta da Gatinheira (Salvaterra de Magos)

* Divisa: Laranja e Verde Musgo

* A sua ganadaria é oriunda de seu pai JoãoRamalho. Antiguidade já conhecida em 1976, nos

últimos anos deixaram de ter registo, passando os seus

animais a integrar a ganadaria de seu pai, com o fim de

serem corridos em Espanha.

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CRIADORES DE CAVALOS EM SALVATERRA

Nota Prévia

As terras de Salvaterra de Magos, junto ao rio Tejo,

férteis em aluvião, onde a erva fresca era muito

convidativa para a criação de gado cavalarem.

Nas Estatísticas de Portugal, dos últimos anos do séc.

XIX, constam que a produção animal, de gado bovino,

cavalar e asno, criada neste concelho, tinha grande

peso na economia do pais, quer em quantidade e

qualidade. O burro, era aproveitado em grande

quantidade para os cruzamentos com (égua/cavalo),

dando origem ao Macho/Mula, para os trabalhos mais

exigentes da lavoura.

Entre os vários criadores do gado da raça cavalar,

constava a casa agrícola, Cadaval, de Muge.

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PORFIRIO NEVES DA SILVA

Natural de Salvaterra de Magos, foi grande lavrador 

com terras no concelho onde nasceu e, nos concelhos

vizinhos. Era respeitado por todo o Ribatejo

(anteriormente Estremadura), pela dedicação a que se

entregou à criação do gado cavalar. Nos registos

antigos do Ministério do Exército, verifica-se que foi muito

pretendido, pela qualidade do seu gado, que

apresentava na remonta, todos os anos.

Em 1907, foi Administrador-Interino da Câmara

Municipal da sua terra-natal, o que lhe valeu o seu

toponímico à rua que mais tarde passou a Gen.

Humberto Delgado.

JOÃO OLIVEIRA E SOUSAOliveira e Sousa, sendo engenheiro,

pertenceu aos quadros do exército, com

o posto de Capitão.

Era abastado lavrador, com residência

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em Salvaterra de Magos, contava em 1935, com

propriedade nos concelhos de Salvaterra de Magos,

Coruche, Benavente, Vila Franca e Azambuja.

Também possuía propriedades no norte do pais, pois

era oriundo da zona da Guarda.

Na sua actividade agro-pecuária, dedicava grande

apreço pela criação do gado cavalar, onde incluía

bons exemplares nascidos de uma éguada da raça

lusitana, que pastava por vezes na Lezíria Grande (Vila

Franca de Xira). A sua coudelaria, proveio de António

José da Silva, que em 1893, já cuidava de criar bons

exemplares de cavalos, destinados à remonta, realizada

pelo exercito português. Com a sua morte, os filhos,continuaram a casa agrícola (Oliveira e Sousa,

Herdeiros), tendo os netos o cuidado de continuarem a

administram a Casa Agrícola. As instalações da

Coudelaria, são na Quinta do Massapez, em Salvaterra

de Magos

IRMÃOS ROBERTO

(João Roberto da Fonseca, em 1939, com 78 anos de

idade, pai de Vicente Roberto da Fonseca; de Roberto

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da Fonseca (Dr.) e de João Roberto Ferreira da

Fonseca), tendo a sua casa agrícola, dedicava especial

atenção à criação do gado bravo e do gado cavalar.

Teve exemplares em várias exposições em Salvaterra.

Em 1928 recebeu um diploma, pela presença de 10

poldros, considerados de grande qualidade, numa

exposição do então Ministério da Guerra.

ANTONIO DA SILVA LAPA

Natural de Salvaterra de Magos, desde jovem, como

agricultor interessou-se pela criação de gado cavalar.

Depressa, escolheu e veio a manter uma raça de

cavalos que destinava à cavalaria militar e desportiva.Para esse tipo de exemplares, usava o cruzamento do

Português “Alter” com “Zapota”, animal das terras da

Andaluzia (Espanha). Aos 76 anos de idade, ainda era

um credenciado criador de cavalos.

MENEZES & IRMÃO, LDªOs irmãos José Eugénio de Menezes e António

Eugénio de Menezes, fundaram uma Sociedade

Agrícola. Por falecimento deste último, passou a

pertencer à firma, seu filho, António de Menezes. Foram

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criadores de cavalos raça Lusitano, em terras de

Salvaterra e do Pombalinho (Santarém).

JOSE LOPES FERREIRA LINO

Nasceu em Salvaterra de Magos, em 1914, na década

de 60, sendo funcionário da câmara municipal de

Salvaterra de Magos, fazia uma pequena agricultura e,

tinha gosto pela criação de cavalos e éguas, que

pastavam nas terras de Alcamé (Vila Franca),

apresentando-os depois à venda na Remonta Anual,

que o exército fazia em Salvaterra de Magos.

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Sendo um grande aficionado da festa brava, possuía

um jogo de cabrestos, que fazia exibir nas Festas da

terra.

***********************

******* *******

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VI

A DINASTIA ROBERTO

Nota Prévia

Desde menino de escola, ouvia falar dos Roberto(s).Diziam que foram toureiros. Nesse tempo, talvez em 1955,

passando eu, na rua Cândido dos Reis (Antiga Rua S.

António), dei comigo envolvido entre uma multidão, que

em grande alegria descerravam uma placa de

homenagem aos irmãos toureiros. Esse grande número

de pessoas, estavam ali com os representantes da Casa

do Ribatejo, deixando uma lápide na parede, por cima

da porta de um prédio da família, o seu preito de

gratidão, aos homens que um dia honraram Salvaterra e

o Ribatejo, com as suas belas actuações em praças de

toiros de Portugal e Espanha.

O tempo passou…! Nunca mais, os seus conterrâneos se

lembraram deles, nem uma rua com o seu topónimo.

Foram simplesmente esquecidos. Os autarcas, aqueles

que decidem, nunca tiveram em conta, o seu valor 

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artístico que levou a todos os cantos, o nome de

Salvaterra, nem a lembrança da sua benemerência. A ORIGEM

O nome Roberto referenciado em Salvaterra deMagos, nos meados do séc. XVIII, segundo algunsestudos genealógicos, estará ligado aos falcoeiros,vindos da Holanda, como mestres daquela arte.Henrique Jacob (1744-1829), um deles, casou com Ana

Josefa de Vasconcellos, desta vila, e daí o início dadinastia – Os Jacob (s).António Roberto da Fonseca, tal como os seus irmãos

Luís Roberto da Fonseca, Tito da Fonseca e Antão Joséda Fonseca, nasceram em Angra do Heroísmo (Açores),vindo ainda crianças para Lisboa.

Estando instalados em Salvaterra de Magos, segundoalgumas crónicas da época, tropas da última das trêsinvasões francesas, Um outro grupo de militares, estava

aquartelado no lado norte do Tejo, num palacete deValada. Aqui em Salvaterra de Magos, houve forteconfronto com o exército português, tendo o povo localmuito ajudado nesse combate militar.

Muitos residentes da vila foram foragidos. AntónioRoberto da Fonseca, recebeu a protecção dos Condede Almada, que tinham á época um palacete na vila.

(1). Aos 12 anos de idade, mostrou algumas aptidõespara enfrentar toiros de lide. Seus irmãos, Tito, Luís e, oAntão, também exprimiam este gosto e, tourearamalguns anos.

********

(1)  – Palacete, que tendo brasão de pedra dos Almadas, nos anos 50do séc. XX, era propriedade da família Roquette *

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ANTÓNIO ROBERTO DA FONSECA,Nele foi encontrada muita aficion, foi bandarilheiro

profissional, a sua apresentação pública, foi na entãopequena povoação da Glória (Glória do Ribatejo),depois de receber lições de: Manuel Faria, AntónioCordeiro e Vicente Tinoco, afamados lidadores daépoca. Toureou na antiga praça de toiros existente noSalitre (Lisboa), com seus irmãos; Antão e Luís Roberto,

que faleceu em 1862.* Retirou-se da profissão depicar toiros, em 1859, bastantevelho e arruinado de saúde.Veio a falecer em Salvaterrade Magos, a 21 de Março de1882. Os seus três filhos;Vicente Roberto, Roberto

Jacob da Fonseca e JoãoRoberto, tambémenveredaram pela arte do toureio.

Algumas crónicas da época, da especialidade taurina,conservam textos, das actuações destes “monstros” datauromaquia portuguesa, que foram Vicente e Robertoda Fonseca. A tourear, ganharam fama e proveito, masforam humildes na vida cívica.

Depois de retirados das arenas, recolheram-se à vidada agricultura, na sua terra natal, Salvaterra de Magos.

A agricultura, e a criação de gado bravo, foramcaminhos bem aproveitados, que deixaram a seusdescendentes. Em relação ao filho, João Roberto daFonseca, atingiu um plano pouco lisonjeiro nesta artedos toiros.

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VICENTE ROBERTO 

Nasceu na vila de Salvaterra de Magos, em 1836.

Foram seus pais, António Roberto da Fonseca e D. Maria

Gertrudes da Fonseca. Seu pai, foi também um toureiro

distinto. Vicente Roberto, chegou a aprender o ofício de

alfaiate; manifestando, porém decidida vocação para o

toureio, principiou a aplicar-se à arte tauromáquica,

toureando em Almada com 13 anos de idade.

O Conde de Vimioso, que assistia à corrida ao ver a

maneira como Vicente Roberto acabava de evidenciar 

a sua aptidão para as lides

taurinas, depois da corridadesceu à arena, abraçou-o,

incentivando-o ao estudo, e

ofereceu-lhe um trajo de “luces”

de bandarilheiro. Fato de azul e

oiro, que seria o primeiro, que

vestiu de uma brilhante carreira.Quando aprendia o ofício de alfaiate, em Vila Franca

de Xira, fez parte da filarmónica da terra, no intuito de

aproveitar o denominado “BOI PARA  A MUSICA”, o que

se costumava tocar nas corridas no Ribatejo. Aos 18

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anos, começou a apresentar-se como toureiro de

profissão, juntamente com seu pai e seu irmão João

Roberto, que era igualmente um excelente executante,

entre outros artistas.

Em 1858, estreou-se na praça de toiros do Campo de

Sant`Ana, e estão bem vivas na memória de todos as

ovações que ali alcançou. A sua reputação firmou-se

cada vez mais, e em 1861, entrou para o quadro de

artistas contratados pelo empresário Domingos Alegria.

Os críticos da época, não se fartavam de o elogiar,

sempre que actuava, os jornais chegavam a fazer 

segunda edição, só para venda em Lisboa.

O seu primeiro benefício realizou-se em 1862,apresentando-se nele também seu irmão, Roberto da

Fonseca, que sendo convidado a tomar parte se

recusara, dizia: não ter grande habilidade, grande era a

sua grande modéstia.

A insistência foi muita, actuou e brilhou na arena de

tal sorte que depois veio a tornar-se um dos mais

notáveis mestres do toureio nacional. É impossível dar 

nota de todos os triunfos, ovações e festas artísticas de

Vicente Roberto; o público correia sempre pressuroso a

saudá-lo freneticamente e os bilhetes atingiam um

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preço elevadíssimo, com praças sempre cheias. Toureou

em todas as praças de Portugal, e pela primeira vez, em

1865, na de Badajoz, correndo touros desembolados e

com sorte inovadoras, como a “Cadeira”, alcançando

um legítimo sucesso.

Em 1892, foi convidado pela nova sociedade

“Empresa Tauromáquica Lisbonense”, para actuar com

seu irmão Roberto da Fonseca, no dia 18 de Agosto, na

corrida à portuguesa, na inauguração da praça de

touros do Campo Pequeno, em Lisboa. Na Figueira da

Foz, toureou a 10 de Setembro de 1888, numa sorte de

cadeira, ficou gravemente ferido e teve de recorrer a

uma enfermaria da misericórdia local. Debatendo-seentre a vida e a morte, recebeu inúmeras provas de

simpatia e dedicação, tanto do digno provedor 

comendador Afonso Ernesto de Barros, que havia pouco

tempo tinha sido agraciado com o titulo de visconde da

Marinha Grande, como de Frederico Nogueira de

Carvalho, Fernando de Mello, José Jardim, que

pertenciam ao pessoal médico e enfermagem do

hospital.

Apenas se restabeleceu do lamentável desastre,

contemplou aquela instituição, com um importante

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donativo, e no seu testamento deixou-lhe mais um

legado. Com tal colhida, a sua saúde agravou-se, ficou

débil cada vez mais, e a medicina usando todos os

recursos declarou-se impotente, e após um doloroso e

prolongado martírio, faleceu às 11 horas da manhã, do

dia 1de Junho de 1896, rodeado de toda a família que

durante tanto tempo disputou à morte aquela preciosa

existência. Pessoa dedicada ao bem e ao útil, e que

mais uma vez deu eloquentes provas de grande

amizade e solidariedade que havia entre os irmãos

Roberto, o seu sobrinho, o nosso prezadíssimo amigo e

distinto bandarilheiro João Roberto, que algum dia será

o digno representante dessa raça de artistas(1).

PRIMEIRO ANO APÓS A SUA MORTE

O jornal semanário “ PRETO E BRANCO” publicado em

1867, faz o elogio fúnebre a Vicente Roberto, quando da

passagem do primeiro aniversário após a sua morte.

************ 

(1) - Foi testamenteiro do tio; Roberto Jacob da Fonseca e continuou com acasa agrícola, deixando depois a seus filhos, que passaram a usar o ferroIrmãos Roberto 

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enormemente nos últimos anos. Amigo delicado,

galgava por cima das maiores dificuldades e sacrifícios 

para servir os seus amigos, fazendo um perfeito 

contraste com a sociedade actual, tão degenerada; 

filantropo benemérito, via na felicidade dos outros a sua 

própria felicidade; era assim que despendia uma grande 

parte da sua fortuna, adquirida já nos trabalhos da arena, já na agricultura e criação de gado bravo, em 

proteger hospitais, montepios e outras casas de 

beneficência, e em socorrer muita pobreza ignorada,

enxugando muitas lágrimas e fazendo renascer a 

esperança no peito dos desgraçados.

Como bandarilheiro, Vicente Roberto, ocupou desde 

muito novo um dos primeiros lugares entre os mais 

ilustres artistas tauromáquicos de Portugal.

Ágil, audacioso e infatigável, a sua vida de toureiro foi 

uma série ininterrupta de calorosos triunfos; só seu 

irmão Roberto Jacob da Fonseca, o podia igualar no 

trabalho de bandarilhas, nos recortes à cabeça do toiro 

sem o auxilio da capa e em outras sortes que executava 

com graça e arte inexcedíveis e que faziam bramir de 

entusiasmo os aficionados.

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A sua fama de lidador exímio estendeu-se até à 

própria Espanha, chegando a tourear em Badajoz, com 

seu irmão Roberto da Fonseca, touros desembolados.

Ali, as espanholas que se deliciavam com essas lutas 

titânicas entre o homem e o animal, e que aplaudem 

com frenesim o pouco edificante espectáculo do toiro 

que ajoelha agonizante aos pés do matador, as espanholas, delirantes de entusiasmo ao ver o grande 

artista endoidecer, subjugar e dominar o toiro com voltas 

e mais voltas garbosas da sua capa vermelha,

prorromperem na mais veemente manifestação,

cobrindo o distintíssimo artista com uma nuvem de flores 

e palmas. Dessas ovações delirantes que lhe 

embriagaram a alma, conservava Vicente Roberto as 

mais saudosas recordações. E nos últimos anos de sua 

vida como não lhe seria doloroso ver-se impossibilitado 

para o toureio que tanto amava por causa da cruciante 

doença que dia a dia lhe vinha minando a existência! 

De vez em quando, a pedido dos amigos, lá descia à 

arena para colocar um magistral par de ferros em que se 

revelava sempre o primoroso e distinto artista de outros 

tempos.

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Vicente Roberto, que durante a vida se viu rodeado dos 

maiores afectos e admirações, depois de morto teve 

todas as honrarias a que tinha direito, sendo conduzido 

à sua última morada por entre alas compactas dos 

amigos. Vicente Roberto, evidenciando mais uma vez os 

seus sentimentos piedosos, deixou em testamento 

vários legados às Misericórdias; de Salvaterra de Magos, Figueira da Foz, Coruche, Santarém e ao 

Montepio de Salvaterra.

O grande artista reviverá na memória da família 

amantíssima, no coração da qual deixou um imenso 

vácuo, e na lembrança dos que tiveram a felicidade de 

privar com ele, e conhecer as qualidades do seu 

belíssimo carácter.

(Coimbra, 1 de Junho de 1897  – António Júlio (Vale de 

Sousa)

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ROBERTO JACOB DA FONSECA

“ Um amigo aficionado de Salvaterra, pede-me duas

linhas sobre o ex-bandarilheiro, que foi Roberto Jacob

da Fonseca.

 Artista de um valor tão extraordinário, que é das tarefas

mais difíceis falar dessa glória da tauromachia

portugueza, que foi a maior figura do toureio antigo, e a

nossa maior relíquia, que hoje possuímos, vivendo na sua

linda Salvaterra, de tão grandes e históricas tradições

taurinas.

Inaugura-se hoje ali, a sua

nova praça de touros, que a

aficion do Ribatejo, aguardava

com impaciência, e a ela vae

assistir, dirigindo a sua primeira

corrida de touros o bomvelhinho, Roberto da Fonseca,

que foi um toureiro tão extraordinário, que a sua grande

fama não só foi conhecida em Portugal, chegando até

às praças de Hespanha, onde tanto se exige dos seus

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artistas, e ali Roberto da Fonseca, fez a mais brilhante

das figuras, honrando a arte portugueza, de lidar rezes

bravas. Recorda-me ainda com saudade, a tarde que o

vi pela primeira vez, em uma festa artística, dos Irmãos

Robertos, na extinta praça do Campo de Sant`Ana,

onde o querido bandarilheiro, tantas tardes de glória

teve em companhia do seu irmão Vicente, outro grande

artista já falecido, e do seu sobrinho o nosso amigo João

Roberto da Fonseca, actualmente retirado das lides

taurinas, mas ainda um verdadeiro aficionado, e um dos

mais reputados ganaderos portuguezes. Roberto da

Fonseca, que ainda hoje não teve quem o egualasse,

  reuniu à sua esbelta figura, grandes conhecimentos,grande hagilidade, de que era possuidor, tornando-se o

primeiro bandarilheiro portuguez, saindo das sortes com

elegância e frescura, pisando sempre os verdadeiros

terrenos, e assim cravava no morilho dos touros

excelentes pares de bandarilhas, que os velhos

aficionados ainda hoje recordam com grande saudade.

Com a moleta, foi dos artistas portuguezes o primeiro,

que se dedicou a este toureio do vizinho reino, para o

que tinha muita habilidade, tendo tardes em que estava

primoroso.

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  Ainda inaugurou a praça do Campo Pequeno a 18 de

  Agosto de 1892, em companhia dos seus colegas; ALFREDO

TINOCO, MINUTO, FERNANDO OLIVEIRA, VICENTE ROBERTO,

 JOSÉ PEIXINHO, JOÃO CALABAÇA e RIO SANCHO  , todos eles

  já falecidos. Dos onze artistas, que há 28 anos

inauguraram a nova praça de Lisboa, apenas existem

ROBERTO JACOB DA FONSECA, JOÃO ROBERTO, RAFAEL

PEIXINHO e PESCADEIRO, este ausente em Hespanha, e

hoje retirado do toureio

. Depois da inauguração do Campo Pequeno, em

poucas corridas Roberto da Fonseca tomou parte,

despediu-se ao público aficionado, na festa artística que

  seu sobrinho, João Roberto ali realizou, estando

magistral.

Dedicou-se depois à sua lavoura em Salvaterra,

encontrando-se ainda hoje à frente da sua casa

agrícola, o que foi um dos melhores ornamentos das

touradas em Portugal. Um grupo de amigos de Coruche,

pediu-lhe a sua presença na praça da terra e, em 18 de Agosto de 1899, toureou pela última vez.

  Já muito velhinho, apareceu em 17 de Novembro de

1921,a presidir a corrida organizada pela Associação dos

Toureiros Portugueses, no campo pequeno, amparado

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por José Bento Araújo, desceu à arena e aí recebeu do

público que esgotava a praça, a maior ovação da sua

vida, pois a aficion não o havia esquecido.

Hoje, dia 1 de Agosto de 1920, vae inaugurar como

director da corrida, a nova praça, onde estará presente

o distinto e apreciado cavaleiro tauromáquico JOSE

CASIMIRO, outra glória da nova geração, e estamos

certos que a sua primeira sorte, será oferecida ao

 respeitável toureiro, que com a sua presença, ali se vão

iniciar de novo as corridas de touros em Salvaterra.” 

O SEU TESTAMENTO

Roberto Jacob da Fonseca, que na sua juventude foi

bandarilheiro, tal como seu irmão Vicente, granjeou

fama e fortuna, nas arenas de Portugal e Espanha. No

seu último testamento, deixou expresso toda a sua

vontade, várias vezes modificada, antes de falecer. Este

último desejo, foi fechado no dia 24 Agosto de 1920,tendo o seu falecimento ocorrido no dia 8 de Maio de

1923, com 79 anos de idade.

. Uma certidão foi passada, por António Emiliano Garrido

da Silva, há época secretário da administração do

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concelho de Salvaterra de Magos, a pedido do seu

testamenteiro, o sobrinho João Roberto da Fonseca.

“Eu, Roberto Jacob da Fonseca, solteiro, de setenta e nove

anos de edade, natural da freguesia da vila e concelho de

Salvaterra de Magos, onde resido, filho legitimo de António

Roberto da Fonseca e de Maria Gertrudes Roberto, jáfalecidos, faço o meu testamento pela forma seguinte:

Seguinte: - Em primeiro lugar declaro que de mulher ser livre,

com quem podia casar: houve um filho que é Roberto da

Fonseca Júnior, casado, natural e morador em Salvaterra de

Magos e a quem pelo presente testamento eu reconheço e

perfilho, para que ele tenha e gose todos os direitos, que a lei

concede aos filhos perfilhados.  – Pelas forças da metade livre

aliás, da metade, cuja livre desposição a lei me permite, deixo:

- A Dona Vitalina Pasehoa (da Fonseca), solteira, de Salvaterra

de Magos, o seu uso fructo, de todas as minhas terras, para que

o gose enquanto viva for, ficando a propriedade das mesmasterras a seus filhos, se, casando, e do matrimónio os vier a ter;

e os não tendo, ficará do, aliás, ficará por sua morte a

propriedade dita a meu sobrinho João Roberto da Fonseca; no

caso de este ser falecido, ficará tal propriedade a seus filhos,

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dele meu sobrinho. Ao dicto meu sobrinho João Roberto da

Fonseca deixo em plena propriedade todos os meus celeiros,

abegoarias e palheiros, incluindo o terreno das cavalariças, que

está por vedar, bem como a chamada casa da capela e da

machina. 

Com o ónus de ser meu primeiro testamenteiro. Como

especial demoustração da minha amizade, deixou-lhe todos osmeus brindes e objectos artísticos, que passarão para a sua

posse nas trez victrines

que estão encerrados com os que pertenceram a meu irmão

Vicente Roberto, e a meu sobrinho já pertencem, segundo

disposição testamentaria do dito meu irmão. Se á data da

minha morte meu sobrinho fôr falecido ficarão estes legados a

seus filhos.  –  A cada um dos filhos de meu sobrinho João

Roberto da Fonseca, deixo a minha corrente e relógio de ouro.

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 –  Aos filhos de Roberto Anica, deixo duzentos escudos.  – A

Vicente Anica deixo cento e cincoenta escudos.  – Deixo mais:

- cento e cincoenta escudos a cada um dos seguintes: António

Anica- A João Carvalho Anica duzentos e cincoenta escudos,

aos filhos do falecido Doutor Gregorio Fernandes, um conto de

reis para todos, e á Excelentíssima Senhora Dona Sofia

Rodrigues Fernandes trezentos escudos, pedindo desculpa atodos da singela lembrança, que lhes deixo, signal apenas da

muito veneração em que tenho a memoria do Doutor Gregorio

Fernandes; a cada um dos meus afilhados: Dona Amélia

Garcia de Carvalho, Vicente Roberto Garcia de Carvalho, e

Roberto Isaac da Nazareth, cento e cincoenta escudos; - A

Vitalina Isaac, duzentos escudos; ao meu amigo Joaquim

Paulino Duarte, ou caso seja falecido, a sua esposa, duzentos

escudos, ao meu afilhado Armando Santos ficará pertencendo

o meu anel de brilhantes, que está em uma caixinha de metal

dentro da montra. A Manuel Aleixo de Carvalho, se á data do

meu falecimento estiver ao serviço da Sociedade Roberto &

Roberto, cento e cincoenta escudos; - aos meus velhos creados

Manoel Bernardino, Francisco Feijão, Miguel Galricho,

Roberto Gil e Francisco Morcego, se á data do meu

falecimento estiverem ao serviço da Sociedade Roberto &

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Roberto, cem escudos a cada um; se alguns deles tiver falecido

no dito serviço, revertará a importância do seu legado para

seus legítimos herdeiros; - A cada creado que na minha casa,

ou na sociedade Roberto & Roberto, tiver mais de cinco anos

de serviço, cincoenta escudos; - ao abegão Lino da Silva

duzentos escudos, se

estiver de Roberto &Roberto, e, caso tenha

falecido nesse serviço,

fica a mesma

importância cabendo a

seus filhos; aos meus

servidores Manoel

Ribeiro e Joaquim Almeida, se ainda o forem á data da minha

morte, cem escudos a cada; a Justa Pereira Lérias, duzentos

escudos, e a sua filha mais velha cincoenta escudos, a Maria

das Dores Carcereira, cem escudos; a Urbina Conceição e

Rosa Pirralha, se estiverem ao meu serviço, cem escudos a

cada uma; deixo ainda ao Hospital da Santa casa da

Misericórdia de Salvaterra de Magos, mil e quinhentos

escudos; ao Hospital da Santa Casa da Misericórdia de

Coruche, mil escudos, ao Hospital de Jesus Christo da Santa

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casa da Misericórdia de Santarém, Santarém, quinhentos

escudos, ao Hospital da Misericórdia da Figueira da Foz

quinhentos escudos; Quero que aos pobres de Salvaterra sejam

distribuídos cento e cincoenta escudos em esmolas; e que por

alma de meus paes e irmãos, se apliquem trinta missas, e por

minha alma vinte, todas de esmola não inferior a um escudo;

Se á data da morte existir Instituição que destribuahabitualmente sopa aos pobres de Salvaterra, quero lhe sejam

entregues duzentos escudos. Se por enfelecidade dos que

precisam, tal instituição não existir, será esta quantia devidida

por quinze jornaes, sendo nove de Lisboa, á escolha do meu

testamenteiro, e seis do Porto á escolha do meu amigo velho

amigo Júlio Gama, Redactor das Gasetas das Aldeias, a esses

 jornaes espero dever a fineza da distribuição pelos seus pobres,

das quantias que lhes forem entregues, deixando eu aqui á

Imprensa do meu paiz o meu agradecimento, pelo carinho,

com que sempre se referiu á minha família, apreciando-nos

como artistas.

As contribuições a pagar pelo usofructo das propriedades que

fica a Dona Vitalina Paschoa da Fonseca, e a devida pelos

legados em dinheiro a particulares, ficam a cargo da minha

testamentaria. Todos os legados em dinheiro serão pagos em

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moeda corrente no paiz e cumpridos dentro do ano posterior á

minha morte. Quero que por sua morte sejam depositados no

meu jazigo a já referida Dona Vitalina Paschoa da Fonseca e

meu sobrinho João Roberto da Fonseca, sua mulher e filhos, a

não ser que, por sua vontade ou de seus herdeiros hajam de o

ser em outro local. Nomeio meus testamenteiros: em primeiro

lugar meu sobrinho João Roberto da Fonseca, e em segundolugar o meu amigo Joaquim Ferreira Pedroza, a quem peço

aceite este encargo e a lembrança de trezentos escudos. Quero

que dos benefícios deste testamento seja excluído quem, sob

qualquer protesto, ou com qualquer intuito que não seja o de

fazer cumprir extremamente as suas, suas cláusulas. Tomar a

iniciativa de sobre ele levantar, aliás levantar letigio ou pleito.

E, no caso por mim não esperado, que tal se dê, se considedará

como não excripto tudo o que a esse referi. Quero que o meu

funeral, modesto, mas decente seja ordenado pelo meu

testamenteiro. E assim tenho feito o meu testamento, que quero

revogue qualquer outro que em data anterior, tenha feito.

E declaro que o mandei escrever, e que depois de o ter bem

lido e conferido e achado em tudo, conforme com a minha

ultima vontade, rubriquei as folhas e assigno no final,

conscientemente e livre de qualquer coacção ou imposição.

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Em tempo declaro que os legados a Urbina Conceição e Rosa

Piralho serão de duzentos escudos, e não de cem, como por

lapso se escreveu. E tendo novamente lido todo o meu

testamento, achei em tudo conforme com a minha ultima

vontade e conscientemente e livremente o vou assignar depois

de ter rubricado as folhas, tendo tudo sido encripto a meu rogo.

Salvaterra de Magos, vinte e quatro de agosto de milnovecentos e vinte. ainda em tempo uma declaração:

a meu sobrinho João Roberto da Fonseca, e na sua falta a seus

filhos, deixo como atrás digo todos os objectos artísticos e

brindes, com as vitrines em que estão guardados, tanto os

meus, como os que foram de meu irmão Vicente, quer sobre

este haja ou não disposição testamentária em favor do dito meu

sobrinho; porem quero que, comquanto se faça arrolamento e

avaliação desses objectos em qualquer tempo, para efeitos

convenientes, nunca a sua entrega possa ser exigida sem que

passe um ano sobre a minha morte. Uma vez mais li todo o

meu testamento, e parecendo-me nele deixar bem expresso o

meu pensamento o declaro a expressão da minha ultima

vontade, pelo que muito livre e espontaneamente o vou

assignar, depois de rubricar as folhas. Salvaterra de Magos,

vinte e quatro de Agosto de mil novecentos e vinte aliás

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Salvaterra de Magos, vinte e quatro de Agosto de mil

novecentos e vinte (assignado) Roberto Jacob da Fonseca”

- Saibam quantos virem este auto de aprovação de testamento

cerrado, que aos vinte e quatro dias do mez de agosto do ano

de mil novecentos e vinte, nesta vila de Salvaterra de Magos e

escriptório da Firma Comercial Roberto & Roberto, na rua

denominada do almirante candido dos reis, onde vim euNotário Francisco César Gonçalves. O chamado do testador;

aqui estava pessoalmente presente Roberto Jacob da Fonseca,

solteiro, proprietário, de maior edade; Sui guris, anarador nesta

mesma vila de Salvaterra, e as trez testemunhas edoneas,

adeante nomeadas e no fim assignadas; e tanto eu notario

como as ditas testemunhas conhecemos aquele testador

Roberto Jacob da Fonseca pelo próprio e nos certificamos de

que ele está em seu perfeito juízo e de livre de toda e qualquer

coação. E por ele testador Roberto Jacob da Fonseca me foi

apresentado neste acto, em presença das mesmas testemunhas,

este testamento e disposição, declarando como ela é a sua

ultima vontade, o qual testamento, que eu vi, sem o ler está

escripto por pessoa diversa do testador , está rubricado e

assignado pelo mesmo testador, contem cinco laudas e mais

trez linhas de outra lauda e não tem borrão algum, entrelinhas,

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emenda, ou nota marginal. E por verdade lavrei este auto, que

principiei em logo em seguida á assignatura do testamento e o

continuei sem interrupção, sendo testemunhas a tudo presentes

desde o principio até ao fim. Carlos de Novaes Barreiros,

Chefe da Secretaria da Câmara Municipal deste concelho  –  

Manoel da Silva Robeiro, Chefe da Repartição de Finanças

deste mesmo concelho  –  e José de Vasconcelos, Thesoureiroda Fazenda Publica deste concelho. Todos trez casados, de

maior edade, cidadãos portuguezes, hábeis para testemunhas,

residentes nesta vila de Salvaterra de Magos, os quaes todos

assignam, com os seus nomes a dita primeira testemunha

Carlos de Novaes Barreiros, o qual efectivamente o leu neste

acto, em voz alta pelo testador em lugar deste e vão agora

todos assignar, como fica dito. E eu referido Notário Francisco

César Gonçalves o escrevi e assigno em raso depois de

egualmente lida em voz alta esta declaração por mim Notário e

pela dita primeira testemunha para esse fim indicado pelo

testador. Declaro que li este auto de aprovação do meu

testamenteiro e o reconheci conforme a minha vontade  – (ass)

Roberto Jacob da Fonseca. (assignados sobre duas estampilhas

fiscaes no valor total de um escudo e cincoenta centavos, e

devidamente inutilizadas) Roberto Jacob da Fonseca - Carda

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Silva Ribeiro  –  José de Vasconcelos  –  O Notário Francisco

César Gonçalves. Emolumentos seis escudos e cincoenta

centavos. Tem mais coladas duas estampilhas de contribuição

industrial no valor total de oitenta e dois centavos e uma

estampilha fiscal de um centavo e meio todas devidamente

inutilisadas e assignadas pelo Notário Francisco César

Gonçalves . (Na capa do testamento) Testamento de RobertoJacob da Fonseca, aprovado nesta vila de Salvaterra de Magos

aos vinte e quatro de Agosto de mil novecentos e vinte perante

mim Notário (ass) Francisco César Gonçalves. E nada mais

constava do dito testamento cerrado que bem e fielmente para

aqui fiz copiar em mão e poder do apresentante a quem o

entreguei do que dou fé . Foi lavrado nesta Administração o

respectivo auto de abertura apresentação e publicação deste

mesmo testamento, como consta do livro numero dois de autos

de abertura ou publicação de testamentos cerrados de folhas

um a folhas dois sob numero um. Administração do Concelho

de Salvaterra de Magos, oito de Maio de mil novecentos e

vinte e trez. António Emiliano Garrido da Silva. E por ser

verdade fiz passar a presente cópia de certidão que assigno e

vae autenticada com o selo branco desta secretaria” 

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JOÃO ROBERTO DA FONSECA

Nasceu em Salvaterra de Magos, no

dia 19 de Março de 1860, sendo

neto, de António Roberto da

Fonseca, foi-lhe dado o nome do

pai. Por ter ficado órfão muito cedo,

foram seus tios; Vicente e Roberto,

que o protegeram e foram seus mestres na vida artística.

Toureou pela primeira vez em Alcácer do Sal, a pedido

do avô de João Núncio. A partir daí os convites não mais

pararam. Toureou depois em Vila Franca de Xira,

Santarém e Coruche. Em 1878, apresentou-se no CampoSant`Ana, num espectáculo taurino, em benefício de

uma creche. Um ano depois, esteve na Barquinha,

alternou com seus tios e Marcel Botas, os toiros eram do

dr. Máximo da Silva Falcão. Esteve brilhante a tourear,

nas sortes de saída do curro e junto às trincheiras.

Os cartazes de algumas praças de Portugal

anunciavam-no em destaque e, em 1982, actuou em

Lisboa, com João Costa, afamado bandarilheiro. João

Roberto, nesta corrida esteve de tal sorte que deu um

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brilharete a bandarilhar. Com a doença de seu tio

Vicente, começou a ser mais solicitado em Lisboa,

fazendo um contrato de seis épocas. Demolida a praça

de Sant`Ana, João Roberto passou a ser visto, na arena

do Campo Pequeno. Pelos êxitos alcançados, a sua

presença era muito solicitada em vários pontos do país,

pois deliciava os espectadores no capear na sorte de

“cadeira”, e na sorte de bandarilhar. Em Portalegre, no

ano de 1895, fez a sua despedida das arenas..

Um tempo depois, ainda pisou o recinto da praça da

sua terra - Salvaterra de Magos, num festival de

beneficência. Com a morte de João Roberto, terminou

a mais notável geração de toureiros, da mesma família,em Portugal.

Foram seus filhos: Vicente Roberto da Fonseca,

nasceu em 2 de Dezembro de 1891, Dr. Roberto Ferreira

da Fonseca e João Roberto Fonseca

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VII 

BANDARILHEIROS

Nota Prévia

Muitos nomes dos salvatorianos ilustres que pelo seu

destemido valor, actuaram em praças do país, quer como cavaleiros, quer como bandarilheiros, não tiveram

grande espaço nas crónicas taurinas, dos jornais da

época. Da nobre família Costa Freire, sabe-se Joaquim

Pedro da Costa Freire, foi um grande equitador, com

fama em todo o Ribatejo toureiro. Outros dos seus

membros, ainda no séc. XIX, foram amadores

tauromáquicos, disso atesta as recordações de

ramalhetes de flores, bem guardados no palacete da

família.

ROGÉRIO AMARO

Rogério Amaro, nasceu em Salvaterra de Magos, em

1943, conseguiu a alternativa de bandarilheiro.

Durante muitos anos foi peão de brega, dos

cavaleiros; Simão da Veiga Júnior e João Branco Núncio 

e, dos matadores de toiros;   Manuel dos Santos e

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Diamantino Viseu, entres outros. Terminou a sua longa

carreira ligada aos toiros, como director de corridas.

JOAQUIM DA CONCEIÇÃO

Em 10 de Maio de 1953, numa

corrida realizada, em Salvaterra

de Magos, sua terra natal,

fez prova de alternativa de

Aspirante a Bandarilheiro.

Na comissão de apreciação

esteve presente o matador de

toiros Diamantino Viseu.

FRANCISCO FAZ-CORDAS

“El-Palhota”, nasceu em Salvaterra de Magos, foi viver 

para Vila Franca de Xira, onde esperava encontrar,

espaço para a sua aficion, pois os toiros eram a sua

paixão. Entrou no mundo da tauromaquia, como

Bandarilheiro. A sorte não lhe sorriu, para sobreviver,com um pouco de habilidade, lá foi vivendo, fazendo os

seus pequenos trabalhos artísticos, em ferro e arame,

com motivos taurinos.

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ANTÓNIO CADÓRIO

Nasceu em 27 de Dezembro de 1921, ainda jovem, na

aprendizagem da arte de sapateiro, ficou a ser 

conhecido pelo “Mestiço” . Foi aprendiz do mestre

daquela arte, João Ferreira, conhecido por João

Coxinho, por ter uma perna amputada.

Como as muitas tertúlias que

existiam dos 52 sapateiros existentes

na vila de Salvaterra de Magos, a do

mestre João Coxinho, torcia pelo

matador de toiros; Diamantino Viseu.

Cadório, grande aficionado, sempre viveu para a

tauromaquia, queria ser bandarilheiro. Desejando ter lugar e brilhar nas arenas, sonhando abalou até Vila

Franca de Xira.

Ali, viveu toda a sua vida com a profissão de

sapateiro. Dos seus sonhos, mais não fez que ensinar a

arte de tourear, numa escola que montou. De lá saíram

toureiros de fama, como José Júlio e José Falcão, poisqueria que eles brilhassem mais nas arenas, que os seus

conterrâneos; Irmãos Vicente e Roberto da Fonseca.

Já entrado na idade, António Cadório, regressou à sua

Salvaterra. Comigo falou algumas vezes das suas

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frustrações e, até da maneira como era ignorado pelas

gentes da sua geração, pois dos novos já o esperava. Ia

fazendo os seus “biscates” de sapateiro. Viajava muitas

vezes na carreira, pois ia levar/buscar calçado, aos seus

antigos fregueses (Vila Franca, Alhandra e arredores).

Era na estação das carreiras, que me falava da bela

arte de tourear a pé, como que tentando convencer-

me: “há muitos anos que não se toureia com sortes de

“gaiola” e de “navalha”, como ouvia dizer na nossa  

terra, quando era miúdo, que aqueles brilharam e

tiveram glória, fama e proveito.

”António Cadório, faleceu no dia 20 de Outubro de

1979. Um dia a sua prima Conceição, que lhe deraalbergue, deu-me o seu BI, para aproveitar a fotografia,

afim de ilustrar um artigo que mais tarde publiquei no já

extinto jornal Vale do Tejo. Maurício do Vale, tendo por 

Cadório, grande respeito e afeição, escreveu no jornal

“Vida Ribatejana”, um artigo que aqui registamos.

ANTÓNIO CADÓRIO, MUITO COLHIDO PELA VIDA

MORREU NOS CORNOS DA DOENÇA!

“Estou arrumado”, dizia-me há tempos no Campo

Pequeno, quando à hora do sorteio por ali apareceu,

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conseguiram sair da penumbra, mas não puderam ir 

além: outros, nem uma coisa nem outra. Com uma vida

repartida por Vila Franca de Xira, Alhandra e Salvaterra

de Magos, António Cadório nunca soube fechar as portas

  para quem quer que fosse! Moços pobres, sem

“padrinhos”, batiam-lhe à porta, e ele aí estava com as

suas ganas e o seu saber.

Uma vida que valia a pena historiar e que, só por si,

seria um romance, um drama. Vivendo pobremente,

arranjava sempre aquele tempo e aquele mínimo de

cifrões para andar com os seus “maletillas”, de tenta em

tenta, daqui para ali.

 A

“Palha Blanco” viu-o muitas vezes encostado à

trincheira a ver seus pupilos treinar. E pedia aos

toureiros que aconselhassem os seus rapazes, dizendo a

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estes que ouvissem aqueles. Tinha bom sentido toureiro,

  pelo que também opinava quando observava treinos de

“maestro”, como acontecia, às vezes, com Mário Coelho. 

 Este, aliás confessou sensibilizado que era de Cadório a

 primeira muleta com que citou um bezerro (numa ferra,

  já lá vai um bom par de anos!), bem como o escutava

quando trocavam impressões sobre toureio.

  Morreu António Cadório! Muito colhido pela vida,

morreu nos cornos da doença! Morreu um dos poucos

  poetas do toureio! Sonhador que era diante dos seus

“maletillas”, sonhando neles os êxitos que em si não

viveram, António Cadório merece o respeito de todos

nós, da Festa! Porque viveu, sonhando! Porque amou a

Festa, sonhando! Porque, talvez morresse nos cornos da

doença, sonhando que um toiro o matara na mais

imponente Monumental ou… na sua linda “Palha

 Blanco” 

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Sepultado, no cemitério de Salvaterra de Magos, sua

terra-natal, o “Mestiço” como era conhecido, tem na

sua pedra tumular, uma poucas palavras; “uma

lembrança dos aficionados de Vila Franca de Xira”. Os

aficionados da sua terra, continuaram a tê-lo no

esquecimento.

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VIII

CAVALEIROS TAUROMÁQUICOS

TRAVESSA FERNANDES 

(Rogério Manuel Silva

Travessa Fernandes),tal

como seu irmão Cláudio

José, entrou como

cavaleiro tauromáquico,

depois de actuar empraças de Portugal, Espanha e, nos EUA (Califórnia).

Fez a sua prova de cavaleiro praticante, em

Santarém, conforme noticiou o Jornal o Ribatejo, na sua

edição de 15 de Março de 1990. 

Recebeu a alternativa, na monumental de Cascais,

no dia 24 de Julho de 1994, apadrinhado por José

Manuel Cortes. Daqui em diante, foram poucas as

corridas em que esteve presente. Com seu irmão,

associou-se na exploração de uma escola de ensino de

cavalos e cavaleiros.

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CLAUDIO JOSÉ 

(Cláudio José Silva Fernandes

Travessa). Tal como seu irmão

Rogério, desde muito novo teve o

sonho ser cavaleiro tauromáquico

e chegar à alternativa!

Depois de actuar, em Espanha,

durante alguns anos como Rojenedor, foi até aos EUA,

onde toureou na Califórnia. Em Salvaterra, no dia 30 de

Agosto de 1998, aos 23 anos de idade, obteve a

alternativa, sendo seu padrinho Joaquim Bastinhas. Nos

anos seguinte, ainda esteve presente nos cartazes decorridas em Portugal e Espanha. Um Acidente, levou-o a

ficar ausente dos redondéis. Com seu irmão Rogério

montou, uma escola de ensinamento de cavalos e

cavaleiros.

ANA BATISTA

(Ana Cristina Marramaque Batista), natural deSalvaterra de Magos, nasceu no dia 16 de Junho de1978.

Ana Batista, desde muito nova quis ser cavaleiratauromáquica.

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A sua apresentação pública, vestindo de fato curto,

foi na praça de toiros da sua terra-natal, em 1988, ondelhe foi destinado um novilho, toureando com oPraticante Cláudio José.

A sua alternativa, ocorreu doisanos depois, na praça de toiros deCoruche, em 8 de Julho de 2000,sendo seu padrinho; JoaquimBastinhas. A sua carreira tem sidode grandes êxitos, tem estadopresente em todas as arenas dePortugal.

Como figura do toureio a cavalo, também é muitoapreciada em Espanha, onde se desloca todas astemporadas taurinas.

OUTROS CAVALEIROS AMADORES

Depois da praça de toiros de Salvaterra, ser 

inaugurada, em 1920, alguns amadores, pelo gosto de

tourear a cavalo, não deixaram de ser solicitados a

actuar em arena, pois tinham angariado alguma

experiência. Passaram a constar em cartazes de festivais

taurinos em várias localidades do Ribatejo,

MÁRIO MARQUES

Mário Monteiro Marques, nascido a 17 de Maio de

1925, desde muito novo mostrou aptidões para a arte

equestre, era um artista na forma de ensinar os animais.

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Um acidente de viação, ocorrido em 25 de Março de

1858, tirou-lhe a vida e com ele foi o seu grande sonho.

MONICA MONTEIRO

Mónica Monteiro, ainda menina, já manifestava o

gosto de andar a cavalo, pouco depois mostrava

grande tendência para a aficion, o toureio equestre era

a sua paixão. O Jornal o Ribatejo, na sua edição de 18

de Outubro de 1990, dava a

noticia que ela actuava,

com Cláudio Travessa, entre

outros amadores, numespectáculo em Santarém.

A sua apresentação pública, em Salvaterra de Magos,

sua terra-natal, foi em 1992. Os empresários depressa

viram nela uma cavaleira tauromáquica com arte, que

podia empolgar o público aficionado, nas praças de

toiros portuguesas. Treinava afincadamente, esperando

a sua oportunidade, foi convidada num programa

especial da Rádio Ribatejo, coordenado pelo crítico,

Paulo Beja, esteve ao lado de Ana Batista e Sónia

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Matias. Em 1993, na Nazaré, num festival taurino, em dia

de carnaval, Mónica caiu do cavalo e, foi internada de

urgência em Leiria, tinha fractura de crâneo. O estado

de coma durou alguns dias, já estava internada no

hospital de Santa Maria. Recuperada, na época

seguinte, foi a Lagos tourear fazendo a prova de

cavaleira praticante, apareceu vestida com uma casa

de cor bordeaux filada a oiro. O sonho de ser cavaleira

tauromáquica, era uma meta, treinava diariamente. Um

dia quando regressava a casa pela estrada, o

movimento de carros era imenso, um pesado, apitou por 

detrás, o animal teve medo, a Mónica caiu, ficou

paraplégica. Andou de cadeira de rodas, depois comduas canadianas, depois ainda, só apoiada numa

canadiana.

Não ficou esquecida, em 1997, o grande aficionado

salvaterrense; Manuel Fernandes Travessa, em conjunto

com um grupo de amigos, onde a família Telles esteve

presente, foi homenageado em Salvaterra de Magos.

************* 

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IX 

CRITICOS TAUROMÁQUICOS

D. PACO 

(ROBERTO FERNANDES)

Num dia de Agosto de 1959, com a tarde a despedir-

  se do calor, a brisa já se sentia convidando os clientes

do Café Ribatejano, a aproveitarem as sombras

daquelas árvores em frente, iguais

a tantas outras em todo o jardim

do Largo dos Combatentes. Na

esplanada, debaixo de uma

dessas sombras, sentado numa

cadeira de ferro, um homem já

entrado na idade, refrescava-se com uma água fresca,

daquelas engarrafadas.

  Andava eu, por ali pois esperava a chegada da

carreira das 17,00 horas, que tinha paragem em frente

ao edifício da escola. O homem, viu-me vestido a

preceito, fardado com boné (era a farda de

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empregado da camionagem), dirigiu-me a palavra:

Então moço, esperas alguma coisa!

Lá respondi ao que estava e, porque estava, enfim a

conversa foi ao ponto de saber de quem eu era e, filho.

Enfim, todos aqueles pormenores de quem tem

alguma curiosidade. Lá respondi, chamo-me:

 José Rodrigues Gameiro !!

Convidou-me para me sentar, e beber uma água,

fazer-lhe companhia. De chofre, disse-me; eu conheço

o teu pai, é o “Zé Pataco” (1), é jardineiro na câmara,

  somo velhos amigos de juventude. Quando cá venho,

conversamos muito sobre a nossa terra. Também ouvi

falar e conhecia grande parte da tua família, o teubisavô, o teu avô e os irmãos dele, foram grandes

campinos. Naqueles meus 14 anos de idade, fiquei algo

confuso. Agora o curioso era eu! Então o senhor é de

cá de Salvaterra! Sou, venho cá passar uma semana de

férias todos os anos. Um ano de ausência, as saudades é

muitas da família, da minha terra e dos amigos. Olha,******** 

(1)  – A alcunha de Pataco, vinha de meu bisavô que a deixou a alguns 

descendentes.

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  já perguntei ao meu amigo Zé Pataco, que me

confirmasse quem era aquele José Gameiro, que

escreve no jornal “Aurora do Ribatejo”, jornal que leio

todas as semanas. Afinal és tu…! 

Estava eu, pronto para continuar a conversa, mas

com a chegada da carreira, lá me despedi, com um

aperto de mão.

O homem, ainda me disse, volto cá para o ano e,

temos muito que conversar….! À noite, em casa, lá fiz a

conversa sobre tal encontro, meu pai informou-me: É o

Roberto da Ferradora, é neto do Roberto que foitoureiro. Olha, ele é muito apaixonado por toiros, julgo

que faz criticas das corridas.

Um ano se tinha passado ! 

Um dia estava eu, na Central das Carreiras, na rua

Heróis de Chaves, a preparar os volumes dasencomendas, para seguirem para Marinhais e Glória do

Ribatejo, quando do lado do Jardim do Lopes, vinha um

homem vestido a preceito, com chapéu preto na

cabeça, acercou-se de mim, cumprimentou-me e num

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instante: “Já não se lembra de mim!...” Apresentou-se,

  recordou o nosso encontro, no ano anterior. “Olhe,

trago-lhe aqui um livro que lhe quero oferecer, são os “

  Anais de Salvaterra de Magos”. O ano passado, ainda

  soube pelo seu pai e, por outras pessoas amigas, que

tem gosto em saber coisas da nossa terra!

De imediato, abriu o livro e nele fez uma pequenadedicatória. Nessa noite e nas seguintes, o livro foi todo

lido página por página e agora faz parte do meu

espólio. Quanto ao Roberto Fernandes (D. Paco), nunca

mais o vi, nem soube quem era um tal RUI DE

SALVATERRA, que em 1935, fazia crónicas

tauromáquicas.

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XMOÇOS DE FORCADO

Nota Prévia

O rei D. José, determinou em 1762, que no seu reinadonão haveria mais corridas reais, em Salvaterra foi a

última. Mais tarde, em 1836, a rainha D. Maria II, assinou

o decreto que seríamos proibidos os toiros de morte, em

praças de Portugal. O palácio real de Salvaterra, há

muito tinha desaparecido após alguns incêndios e, da

derrocada provinda do sismo, de 1858. O espaço ondetinha ocorrido, a morte do Conde dos Arcos, estava

agora rodeado de construções, era conhecido pelo

Canto da Ferrugenta (1). Os toiros passaram a ser 

pegados. Os monteiros da choça, foram convertidos em

*******(1) - Joaquina Mendes, José Caleiro, Rosa Mendonça e Francisco

Costa(pessoas que viveram em dois séculos)  – Foram por mim

entrevistados em 1989, para um trabalho “Em busca do Teatro Real

da Ópera de Salvaterra de Magos”. 

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moços de forcados. O povo fornecia os seuselementos, aqueles mais destemidos, estavam sempre

na primeira fila 

Quando da inauguração da praça de toiros de

Salvaterra de Magos, em 1 de Agosto de 1920, o grupo

de forcados, foi chefiado pelo capataz; Manuel Burrico,

de Vila Franca de Xira.  Bastava haver um festival

tauromáquico em Salvaterra de Magos, ou em vilas dos

arredores, logo se formava um grupo de forcados, como

foi o caso de um que foi actuar a Leiria, em 1966, num

festival a favor do União de Leiria, entre outros figurou

António Santos Paulo, conhecido por António Béu.

1942 - Grupo de Forcados de Salvaterra numa corrida após o ciclone 

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  Manuel Fróis Marques

(Manuel Lazão); morreu, em

1948, num acidente, num

circo, na Feira de Setembro

de Benavente, quando

agradecia ao público

depois de ter pegado um

bezerro, uma marrada,

pelas costas, fracturou-lhe a

coluna

grupo de forcados 

profissional de Manuel 

Faia, Manuel dos Reis 

(Manuel Ferrador),primeiro lado direito 

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1956 - Grupo de Forcados de Salvaterra 

1969  – Grupo de Forcados de Salvaterra 

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ANTÓNIO LAPA

Nasceu em Salvaterra de Magos, desde jovem

manifestou o gosto pela pega dos toiros. Seu pai,

também já tinha pegado toiros nas arenas. Um dia veio

ter às minhas mãos uma página do já desaparecido

  jornal “O Diabo”, era do dia 22 de Outubro de 1985 e,

tinha um artigo assinado por Miguel Alvarenga, que pela

 sua importância e significado aqui o transcrevemos:

ADEUS DE ANTÓNIO LAPA

“ Dizem-me que te fostes embora, António Lapa.

Que entregaste a jaqueta ao Francisco Costa e te

despediste das arenas em Alcácer. Não pude lá estar.

Mas não quis deixar passar o

momento de aqui te prestar a

minha homenagem.

Ao teu valor, António Lapa. Ao

forcado completo que tu foste.

A mais que isso, António: àamizade que se fez forte no

México e se foi prolongando por 

estes tempos fora. Lembro-me desse mês inesquecível .

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Dessa camaradagem sem fim que fui encontrar entre

vocês todos, nesse México que não esquecemos mais.

Comigo, com todos os outros. O Hilário, o Costa, o

Silvino, o Fazé, o António Santos. Todos. Agora; dizem-

me que te foste embora. Que disseste adeus a uma

carreira que abraçaras de alma e coração, durante o

qual nunca, mas nunca, esqueceste tudo o que devias

ao mestre Nuno Salvação Barreto. Dizia-lo com respeito.

Com admiração. Com a firmeza e a justiça que

caracterizam os homens de bom carácter. Como tu,

António Lapa. Recordar-te, daqui te enviar o maior dos

abraços que houver na terra, é a minha homenagem na

hora da tua partida. Simples, António Lapa. Mas sentida.Adeus António Lapa! “ 

JOSE CARLOS HIPOLITO

Conhecia-o das brincadeiras das épocas carnavalescas

e, da fama que espalhava enquanto moço de forcado

Um dia pedi-lhe uma entrevista para eu publicar no

  jornal “Aurora do Ribatejo”. Os dados que me

concedeu, foram publicados assim:

JOSÉ CARLOS HIPÓLITO

(O Timpanas)

- FIGURA TIPICA DA NOSSA TERRA –  

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Homem pequeno, com 53 anos de idade, dotado de

uma traquinice que o faz estar constantemente sempre

bem disposto.

Pelo Carnaval, desde há muitos anos, é o grande

animador das festas do nosso burgo, sendo tal a

imaginação e o talento nas figuras

por si encarnadas , que deixam sempre saudades.

No entanto o seu semelhante pode contar com ele nas

horas difíceis, estando sempre atento e vigilante no seu

posto de bombeiro voluntário, pois dá o seu contributo à

Associação de Bombeiros desta vila. Mas o seu grande

“martírio”, onde as saudades o vão corroendo, é a festa

brava. Quando fala de tauromaquia todo o seupequeno corpo se modifica, as contracções notam-se

na sua face, os seus nervos de aço com que ainda há

poucos anos empolgava multidões nas Praças de Toiros,

ficam fluidos  –  É um homem vencido, cheio de

saudades!... . Na esperança que nos identificasse uma

fotografia de foi publicada, em 1957, na edição especial

do Jornal – Vila Ribatejana. Logo que poisou os olhos no

retrato mostrou-se nervoso, a sua calma desapareceu e

nos seus olhos algo bulia, o que não evitou que mesmo

disfarçadamente tentasse limpar uma lágrima rebelde

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que já o incomodava. E enquanto me ia informando

dos nomes dos componentes do Grupo, Disse-nos;

“Olhe, foi neste grupo que peguei toiros pela primeira

vez e, foi em Coruche, já lá vão cerca de 30 anos”. Uma

das suas salas está repleta de quadros, onde se podem

apreciar várias sequências de pegas de caras, por si

efectuadas em centenas de actuações nas Praças de

Toiros, tanto no País como no Estrangeiro. Hoje,

exercendo a profissão de metalúrgico, foi na sua vida do

campo que começou os seus

primeiros contactos com os toiros.

Naquele tempo, ainda havia a

grade  –  uma forma de trabalhar aterra  –  onde os bois, alguns bravos,

depois de “bruxados”, tornavam-se

dóceis. Voltando à tauromaquia,

vai-nos dizendo: “ Tenho muita estima pelo Sebastião

Nabiço e, também pelo Manuel Faia. Olhe! já me ia

esquecendo do Albino Fróis Marques e do seu irmão, o

Manuel Lazão. A eles devo muito do que sei da difícil

arte de pegar toiros”. 

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“ No entanto não me posso esquecer do Manuel dos

Reis, o Manuel Ferrador, pois com ele tive tardes

inesquecíveis. Bom companheiro!...

Ao ver-mos uma foto, num daqueles imensos quadros

pregados na parede, onde José C. Hipólito esteve na

cabeça de um possante toiro (510 Kgs), diz-nos que esta

pega foi na Nazaré. Apontando para umas outras,

informa-nos “Aqui foi no Campo Pequeno, a critica da

época, por esta pega me chamou o Pegador de Toiros

mais pequeno de Portugal  –  O Pigmeu com braços de

aço. Esta aqui, foi em Salvaterra com um “bicho” dos

Robertos, também com cerca de 600 Kgs. Foi tão

grande o delírio do público que um espectador, nasbarreiras me levantou em peso, tal era o seu entusiasmo.

A um canto, num pequeno móvel, está a sua jaqueta,

o barrete, calção e os sapatos. Mostra-nos um álbum

com características orientais e, diz-nos: “ Aqui guardo

imensas recordações de algumas celebridades do nosso

mundo tauromáquico”, e mostra-nos actuações com o

mestre João Branco Núncio, mestre David Ribeiro Telles,

Manuel dos Santos, Diamantino Viseu, Ricardo

Chibanga, José Rosa Rodrigues e outros. “Olhe, aqui

nesta foto, foi quando o Manuel dos Santos fez a sua

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festa de despedida, no Campo Pequeno. Neste grupo

(o de Adelino de Carvalho) estou eu e o Manuel

Ferrador. Esta fotografia, tem uma dedicatória do

Manuel dos santos, a mim” 

“Numa digressão que fiz à China, onde o Manuel dos

Santos, nos levou  –  éramos três forcados  –  pois ele

organizou várias corridas em Hong-Kong, a praça foi

construída em canas de Bambu e, comportava cerce

de 8.000 espectadores. O Chibanga também foi.

“Olhe, em cerca de 5 meses que lá estivemos, peguei 36

toiros e, numa das corridas actuei com uma costela

partida, como pode ver por esta fotografia”. “ No

entanto por causa dos toiros, estive duas vezes emRoma, uma no México e outra na Venezuela”. 

Enquanto decorria a nossa conversa e nos mostrava

centenas e centenas de fotografias, vai-nos dizendo

que, no entanto depois destes anos todos a pegar toiros

e de muita “porrada” ter levado, não pode esquecer 

tardes memoráveis que, viveu !

Um pequeno desgosto o acompanha e, diz-nos

“Ainda não fiz a minha festa de despedida !” “À cerca

de 5 anos, tentei organizar uma corrida. A então

Comissão da nossa Praça, depois de concordar, vai

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criando dificuldades, e eu, já tinha a oferta de toiros,

cavaleiros e forcados e, se fosse necessário, alguns

toureiros também se me ofereceram. Tive de desistir, pois

a Comissão por ter começado a arrepiar caminho,

dificultou, dizendo que não poderia emprestar a Praça.

Olhe, que eu oferecia a receita para o Hospital. Não

chego a compreender como me puderam fazer aquilo.

E num tom magoado diz-nos, actuei em tantos festivais

graciosamente para a Misericórdia. No entanto não

perdi ainda a esperança de fazer a minha festa de

despedida e na minha terra, vou começar os meus

contactos novamente e espero que a actual Comissão

da Praça de Toiros me ajude, emprestando-me a praça,pois em contrapartida, a receita será para o Hospital”.

E assim deixamos o José Carlos Hipólito  – O Timpanas

de Salvaterra – entregue às suas recordações e tristezas.

O Pigmeu, com braços de aço, com alguém um dia lhe

chamou!

Que a sua ambição se realize, é o nosso grande desejo.

******

Muitos outros nomes perderam-se, porque envergaram

a jaqueta poucas vezes e, outros enveredaram por 

outros grupos, como: António Rogério Amaro

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XICAMPINOS

Nota Prévia

Moço Nogeiro, Roupeiro Novo, Roupeiro Velho,Contra-Moiral, Moiral e Campino-Mor, era a hierarquia

do homem que guardava toiros no Ribatejo, aindaconhecida por volta de 1930.

O Campino, era uma figura de grande respeito entreos seus pares e, muito estimados pelos patrões. Notrabalhar os cabrestos para a recolha dos toiros empraça. Na condução do gado nas pastagem e, acaminho das localidades onde os curros de toiros iam ser corridos, o povo respeitava-os por “grandes varas”.

No dobrar do séc. XX, os terrenos de pastagemencurtaram. As ganadarias, passaram por uma lentamudança, notava-se mais naquelas alicerçadas emhábitos que vinham de séculos anteriores. O Feitor,Campino e Moiral, as três grandes figuras da Lezíriaribatejana, estavam em desaparecimento.

UMA FAMILIA DE CAMPINOS

António da Silva Cantante, meu avô paterno, tinhauma irmandade de cinco rapazes e uma rapariga. Unstinham no apelido; Silva e outros, Galricho.

A alcunha de “Pataco”, veio de meu bisavô, MiguelGalricho, por ter recebido a oferta de mais um pataco,para trabalhar na Casa do Barão de Salvaterra.

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A notícia do pagamento de mais dois vinténs, correu

em toda a Lezíria, o que reconhecia no meio dacampinagem, o seu valor de grande vara. A inveja foital, que não o livrou da alcunha de “Pataco” que deixouà descendência.

Já o meu Trisavô, foi um respeitável Campino-Mor, nasvacadas do rei D. Miguel, que pastavam em terras deSalvaterra e Pancas.

O antigo bandarilheiro Roberto Jacob da Fonseca,mais tarde lavrador e ganadeiro, contemplou o filhodeste no seu Testamento, entre muitos trabalhadores dasua casa agrícola.

ALGUMAS HISTÓRIAS

Andava eu, pelos 14 anos de idade já escrevia para o jornal “Aurora do Ribatejo”. Do meu avô ouvi relatos da

sua antiga vida de campino. Dessas recordações,guardei alguns apontamentos,

Agora para este trabalho, lá fui “rebuscar” aquelas informações, Meu avô, António da Silva Cantante,conhecido por António Pataco, viveu toda a sua vidade campino, no campo junto das manadas de toiros.

Um dia já entrado na idade, deixou a campinagem efoi guardar uma éguada afilhada, com 50 cabeças, dacasa agrícola Menezes & Irmão, Ldª. No mês de S. Tiago,de 1944, deixou de todo aquela actividade, mas os seusdois irmãos, Éramos quatro rapazes, sendo todos filhos domesmo pai e mãe, mas tínhamos nomes diferentes, OManuel, morreu cedo.

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O João e o José, continuaram na ganadaria Irmãos

Roberto.Os anos tinham passado, a idade e as forças, já não o

deixavam “dar conta do recado”, como ele um dia medisse: “Os toiros bravos que conhecia como a palma dassuas mãos, já não lhe obedeciam, aos gritos…É toirolindo…!

“Já não era aquela “vara” de outros tempos…” 

“Estava farto de tanta canseira, tantos foram frios dosinvernos e os calores de muitos verões, anos a fio, emque esteve sentado na sela, com a manta aos ombros -a manta lombeira, quer cai-se geada, quer chovesse,guardando tantas cabeças de gado, que lhe perdeu oconto…” 

A “velhice” tinha chegado ! 

Deixou na vila, a casa onde vivia, na rua d` água e,

recolheu-se, com minha avó Emília e, meus tios; Manuele Luís, numa pequena barraca de caniço, que construiu,nos terrenos do Rego, que alugou ao Dr. José deMenezes, seu antigo patrão. Ali vivia, do sustento dealgumas vacas leiteiras, com a venda de leite, poiscriava vitelos. Nos valados, perto dos poços onde asmulheres lavavam roupa (1), eram o local ondeapascentava o gado, a erva fresca abundava.

Um dia sentado num pequeno banco, com fundo de“sumaúma” por ele entrançada, como bem sabiamfazer os campinos, além de esteiras e, fechar garrafõesde vidro com cordel - disse-me: “Quando fores grandenunca queiras ser campino, aquilo é um trabalho dosDiabos; ama-se mais os animais do que a família.

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Teu pai, não quis ser campino, também não quisaprender a endireitar a “Espinhela” (2) e fez bem!

*******

(1)  – Pequenos tanques de cerca de um metro de fundo, onde a águaera constante, as mulheres esgotavam-no, na lavagem da roupa.No fundo tinham pedra para assento dos pés, em cima no terreno,uma laje para a lavagem da roupa. Estendiam a roupa branca pela

erva, para corar.*********

(2)  – Endireitar a Espinhela; era endireitar a coluna vertebral, que eleaprendeu com os campinos mais antigos  – Os bezerros ficavam com ascostas tortas porque o parto, algumas vezes acontecida com as vacasem pé e, os bezerros nestas condições tinham dificuldade em começar aandar. Depois da mãe, comer a placenta e limpar o animal com a língua,os campinos tapavam o pequeno animal e puxavam-no com uma corda(para evitar as marradas da vaca). O mais dextro, punha a cabeça dovitelo entre as pernas e, com as mãos fazia massagens ao longo das

suas costas. Minutos depois o pequeno animal já andava para junto damãe. Cheguei a ver avô fazer isto a alguns homens que o procuravamcom dores nas costas.

Dizia-me, eu, comecei aos 10 anos a guardar os boisda tralhoada, depois passei para as manadas de toirosbravos.

Ao entrar nos 25 anos de idade, um dia cheguei a

campino-mor, numa casa agrícola da vila, de Salvaterrade Magos. Ainda, trabalhei com meu pai e, os meusirmãos João e o José, nos Roberto & Roberto, aquelesirmãos que, ganharam uma fortuna a tourearem emEspanha. As suas lembranças, eram sempre uma“lengalenga” do seu tempo de campinagem.

“Aquela dos toiros que iam ser corridos em Santarém!

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Saíram da Herdade dos Coelhos, atravessaram a vila,

ao cair da tarde de sexta-feira, foram toda a noite pelaestrada do meio, pelos campos de Muge e Benfica,saíram para lá de Almeirim, quando o sol dava osprimeiros sinais de vida, estavam a atravessar a ponte doTejo, com todo aquele mar de gente, viam-se osbarretes, os chapéus, coletes e casacos, voavam no ar,a querer tirarem os toiros que a gente mantinha entre oscabrestos. Aquela malandragem não nos davadescanso e, éramos para aí uns 30 campinos. O curro,tinha de estar em Santarém, na tarde de sábado para acorrida de domingo à tarde.

Eram dias de grande trabalheira, mas também a gentese vingava, era cá cada varada naqueles costados.

Também me contou, uma outra de um curro de toiros,que tinha de ser corrido em Vila Franca e, como eracostume, saiam dos Coelhos, ao inicio da tarde, para

aproveitar a maré do Tejo e, atravessar para Valada,através dos mouchões, ia-mos pelos campos daAzambuja e, a chegada a Vila Franca, a meio da tardede sábado, para serem corridos no domingo às cinco datarde. “A trabalheira começava logo depois doMaçapez, ia-mos por Trás-Monturos, a rapaziada nãodeixava os toiros descansados, alguém tinha passado osegredo, queriam tirá-los do meio dos cabrestos, aopassar da ponte da vala.

A gente percebia daquilo, já estávamos habituados e,a vara trabalhava logo nos “costados” deles. Depois emValada e na Azambuja, era de ver gente a escorrer sangue, aqueles diabos não deixavam os animaissossegados e, davam-nos muito trabalho, para manter ogado no meio dos cabrestos.

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Varada neles..! Era a ordem do campino-mor. LinoGaroto. Os nossos cavalos, os toiros e cabrestos,babavam-se por todo o lado.

Meu avô, gostava de beber o seu copito e, quandoficava um pouco “enxergado” como ele dizia, lá selembrava de tocar um vira do campo ou o fandango,numa pequena gaita-de-beiços, já muito velhinha e

desafinada.

1936 – Quatro irmãos campinos

Com a música do fandango, ficava empolgado detal maneira, que não resistia a tentar fazer o jogo depernas. Era de ver e ouvir …! 

Nunca se esquecia dos campinos, seus camaradas deoutros tempos. Hó, que grande gente!

Grandes varas….!

Os seus três irmãos; João da Silva Galricho, José daSilva Galricho e Manuel da Silva, conhecido por (ManuelPataco), o seu primo João Vitorino, o Lino da Silva,

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alcunhado por Lino Garoto, o Joaquim Quartilho, o

Francisco Almeida e o Fernando Nobre.Muitos outros que vieram mais tarde como: Manuel

Luís, José Duarte Cantador, conhecido por “José daMoira” e, o Manuel Bernardo, estes últimos acabaram noJosé Lino.

TRAJE DO CAMPINO

No dobrar do século XX, os campinos, aquela genteque lidava com o gado bravo em plena Lezíriaribatejana, ainda mostrava a pele curtida por mil sóis.Os mais novos, já usavam o boné na cabeça, colete ecalça de ganga ou cotim, em dias de trabalho e, lá se

via, muito poucos, com a cara ornamentada com umapequena e larga patilha na cara, um pouco abaixo daorelha. As grandes suíças quepor vezes “beijavam” osbigodes, com duas pontasbem finas e enroladas, foramcaindo em desuso por voltados anos 30, época da últimageração de antigos campinos,

muitos deles conhecidos erespeitados por grandes“Varas”. 

O Campino, homem detêmpera rija, hábitos muito

antigos, ainda tinha e tem vaidade em mostrar o seu

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vestuário. A jaqueta brincheta, barrete preto e cinta da

mesma cor, era vestuário em tempo de trabalho. Emdias de festa, era substituído por um outro maissobranceiro e luzidio, como: Barrete verde, comcercadura vermelha. Colete vermelho, ou azul, atadocom cordões na frente enfeitados com botõesmetálicos, mostrando nas costas, desenhos genuínos,feitos muitas vezes por familiares.

O ferro da casa agrícola (de que era trabalhador) éusado, no peito (lado esquerdo), em ferragemlatão/cobre, em forma de brasão ou emblema.

A cinta vermelha, de lã com franjas, tem a função deapertar o corpo do campino. A camisa branca justa decolarinho redondo, pode ter efeitos desenhados, deuma fina linha.

O calção, de fazenda rapada azul-escuro, ou preto,

enfeitado com botões metálicos do lado de fora daperna. A meia branca é usada por cima do joelho,arrendada, feita à mão. Os sapatos de salto deprateleira, usados com fivelas e espora.

OS RANCHOS FOLCLÓRICOSE A CONSERVAÇÃO DOS USOS E COSTUMES

Quando do aparecimento dorancho da Casa do Povo deSalvaterra de Magos, em 1980, sendoo garante da preservação edivulgação desta forma de vestir do

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nosso povo, usa nas suas actuações, o vestuário de

campino e camponesa em dia de festa.

Para a confecção das roupas, recorreu-se a uma dasúltimas costureira, que ainda sabia confeccionar estetipo de roupa, na vila, a artesã, Elvira Santana.

Do vestuário do início do século XX e, muito usadoainda em 1920, a saia da mulher tinha uma roda (4panos), franzida na cintura por um cós. A saia de castor,de cor vermelha, era usada por debaixo, na segundaposição.

Nos anos seguintes já no início da década de 50passou a usar-se nos dias festivos a saia de castor (hoje,conhecido como feltro de 15) e, foi reduzido para trêspanos, como foi mostradopelo Rancho dos

Trabalhadores do NúncioCosta.

No rodado da saia, maistarde, já em 1960, era usualver-se o tecido de nome“riscado”, na confecção dasblusas (camisas), dasmulheres e camisas dos

homens, entrava a “populine”. sendo o garante dapreservação e divulgação desta forma de vestir donosso povo, usa nas suas actuações, o vestuário decampino e camponesa em dia de festa.

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Agora por tudo quanto é recinto de feira, exposições

e corridas de toiros, o campino deixou o copo de vinho,adaptou-se ao seu tempo, o copo de cerveja.

*********************

***************

XII A ORIGEM DA PRAÇA DE TOIROS

Segundo algumas publicações dos últimos anos do séc.

XIX, em Salvaterra de Magos, foi inaugurada no dia 2 de

Agosto de 1891, uma praça de toiros construída emmadeira, com capacidade para cinco mil lugares,

sendo propriedade do hospital de Portalegre.

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Se não fora uma reportagem, feita a José Luís das

Neves, para o jornal “Aurora do Ribatejo” quando da

passagem do meio século da inauguração da praça de

toiros, não estariam disponíveis ao conhecimento

público, alguns documentos sobre esta importante obra. 

“  A praça de toiros é devida à acção de um grupo de

beneméritos; FRANCISCO MARIA GONÇALVES, AUGUSTO

DA SILVA, MANUEL LOPES GONÇALVES, LUIZ GONÇALVES

DA LUZ, ANTÓNIO HENRIQUES ALEXRANDRE, AUGUSTO

GONÇALVES DA LUZ, CARLOS ALBERTO REBELO, PEDRO

DE SOUSA MARQUES e JOSÉ LUIS DAS NEVES, que se

constituíram em Comissão Construtora da Praça de

Toiros”.  A obra ficou concluída em 1920, mas só foi entregue à

Santa Casa da Misericórdia de Salvaterra de Magos, no

dia 16 de Março de 1924, conforme consta da acta que

faz referência ao ofício da “Comissão” que entregava a

chave da praça.

Num estudo editado em livro sobre a Misericórdia de

Salvaterra de Magos, levado a cabo pelo Dr. José

Asseiceira Cardador, em 1968, podemos ler algumas

cópias de actas e ofícios.

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Naquela edição de José Cardador, ele referencia que

  se serviu de documentos, que estavam na posse de

Fernando de Sousa Marques, filho de Pedro de Sousa

  Marques, membro da comissão, onde transcreveu uma

Circular:

“De há muito que os salvaterrenses, e outros mais, cuja

longa permanência aqui os leva a considerar esta

também sua terra natal, vêm mostrando desejos, de

voltarem a possuir novamente uma PRAÇA DE TOUROS,

nesta localidade. E, para essa ideia se torne um facto,

combinaram os abaixo-assinados reunirem-se quanto

antes, o que fizeram ontem, em casa dum dos

  signatários, deliberando o seguinte: Procurar levar aefeito a construção, desse dito edifício e, uma vez

concluído, oferecê-lo ao Hospital da Misericórdia desata

vila; - Diligenciar falar e escrever a todos, sem excepção,

afim de angariar os donativos precisos para a

construção imediata do referido edifício, ficando todo e

qualquer desses donativos à responsabilidade dos

mesmos signatários, que prestarão contas a seu devido

tempo, ou antes mesmo, se lhes for exigido. Inútil seria

dizer que a construção de tal edifício de espectáculos

  representará mais um engrandecimento para a nossa

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terra e uma dádiva, cremos, de importante valor para o

nosso hospital, casa de caridade, esta que tão digna e

merecedora é que a ajudem. Assim, pois espera a

Comissão que todos a coadjuvem, por toda e qualquer 

forma, procurando vencer sempre dificuldades que

apareçam, afim de se conseguir principiar e chegar à

conclusão de tão útil e desejado edifício. Nesta

esperança, e agradecendo, antecipadamente se

 subscreve com toda a consideração e respeito.

Salvaterra de Magos, 18 de Setembro de 1919

* A Comissão *

Um oficio, com data de 18 de Setembro, dirigido ao

presidente da câmara Municipal de Salvaterra de

  Magos, pedindo a cedência gratuita de terreno com

  sessenta metros de diâmetro, no largo dos moinhos,

para nele se construir a praça de touros. Um outro com

a mesma data, enviado ao Ministro das Finanças, são

  referidos no livro do Dr. Cardador, onde se pede que

  sejam concedidos pinheiros, do Pinhal do Escaroupim.

Um outro documento do espólio de Sousa Marques, é o

original da ultima folha de férias semanal.” 

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O ofício, com o número 9 reza assim: A Associação de

Benemerência – Misericórdia de Salvaterra de Magos;

  À Excelentíssima Comissão Construtora da Praça de

Touros desta Vila  –  Tendo chegado às minhas mãos o

ofício de V.Exª, que acompanhava a chave da Praça

de Touros, eu, em nome da Comissão Administrativa

tenho a honra de lhes agradecer a sua benemérita

intenção, e bem assim a todos os senhores que

concorreram para a construção, daquela propriedade,

que quiseram ser de grande humildade, colocando

apenas na sua frente, por cima da porta grande “

PRAÇA DE TOUROS DE SALVATERRA” 

E, de lhes notificar que a acta da sessão de hoje lhesfica exarado um voto de louvor pela sua bela intenção.

Saúde e Fraternidade.

Salvaterra de Magos, 16 de Março de 1924

(a)  – O Presidente José Eugénio de Menezes

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PRAÇA DE TOUROS DE SALVATERRA DE MAGOS 

Folha de Férias - 14 de Agosto de 1920 

Operários que trabalharam na praça de touros 

Augusto da Silva …… 7 dias 19,000 réis 133,000 réis

Bernardino Silva ……..7 dias 17,000 réis 119,000 réis

Jozé Torroais ………. 7 dias 17,000 réis 119,000 réisJozé Vedigal ……….. 7 dias 17,000 réis 119,000 réis

Francisco Remundo 7 dias 17,000 réis 119,000 réis

Libório Netto ………. 7 dias 16,000 réis 112,000 réis

Francisco Almeida… 7 dias 16,000 réis 112,000 réis

Justiniano Valente… 7 dias 16,000 réis 112,000 réis

Manuel Faz-Cordas .. 4 e ¼ 16,000 réis 68,000 réis

Manoel Montoia …. 2 e ½ 17,000 réis 37,000 réisConstantino……… 6 dias 17,000 réis 102,000 réis

Jozé Miguel …….. 2 e ¾ 17,000 réis 46,600 réis

Jozé Traveça …….. 7 dias 15,000 réis 105,000 réis

Beijamim Baranda 7 dias 11,000 réis 77,000 réis

Francisco Santana .. 1 dia 13,000 réis 13,000 réis

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Manoel Borrego … 1 e ½ 6,000 réis 9,000 réis

Francisco Vitorino .. 6 dias 4,000 réis 24,000 réisAntónio Ferreira … 4 e ½ 4,000 réis 18,000 réis

António Baía ….. 7 dias 5,000 réis 35,000 réis

Manoel Boneco … 7 dias 5,000 réis 35,000 réis

António Remundo 7 dias 4,000 réis 35,000 réis

Manoel Figaredo .. 7 dias 13,000 réis 91,000 réis

O CICLONE DESTRUIU A PRAÇA DE TOIROS 

Seis meses tinham passado, da comemoração dos 20

anos, da inauguração, quando no dia 15 de Fevereiro

de 1941, um forte ciclone que fustigou todo o país,

arruinou quase todo o edifício da praça de toiros. A sua

  reconstrução ficou a dever-se aos beneméritos; Gaspar 

da Costa Ramalho e Jorge de Melo e Faro (Conde de

  Monte Real) e sua esposa D. Teresa Castro Pereira

Guimarães de Melo e Faro. 

O primeiro, arcou com as despesas das bancadas, queforam construídas em cimento, substituindo as de

madeira. O casal Monte Real, custeou as paredes

interiores, com seus pilares em tijolo e entre várias

divisões, os curros.

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Para festejar a sua reconstrução, foram organizados

alguns festejos, onde se incluiu uma brilhante corrida,

com a participação graciosa dos toureiros espanhóis;

Domingos Ortega e Luís Miguel Dominguim. A este

espectáculo, assistiu o presidente da república, Óscar 

Carmona.

Com a receita dos espectáculos, foi entregue ao

Hospital da Santa Casa, um valor de 13.851$50 e um

outro de 115.176$65.

A CONSERVAÇÃO DA PRAÇA

 A praça de toiros, tem tido ao longo dos anos altos ebaixos no campo da sua conservação. Em 1939, A

Revista Ilustrada “A Hora”, numa reportagem sobre o

concelho, dava conta que o edifício dava mostras de

um estado de ruínas. Em 1976, uma comissão que

tomou conta do seu funcionamento, além de efectuar 

obras nas bancadas, aproveitando o seu espaço paramais 900 lugares de espectadores, apetrechou-a de

iluminação de grande potencia, dando origem à

 realização de espectáculos nocturnos.

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Em 1986, a Provedoria da Misericórdia, custeou a

instalação de coberturas, para o sector “Sombra” , e nos

lugares destinados às entidades oficiais. O Mesmo

aconteceu no espaço destinado à presença da banda

de música, por cima da zona dos curros.

Também, com uma série de homenagens que

ficaram registadas no interior da praça.

Na frente, no espaço, onde se encontrava a palavra

“DE”, foi colocada uma placa em mármore, com os

nomes dos seus obreiros. Daí para cá a provedoria sob a

presidência de Armando Rafael Oliveira, tem destinado

alguns cuidados na conservação de todo o edifício da

Praça de Toiros de Salvaterra de Magos.

A PRAÇA DE TOIROS FEZ 50 AN0S ! 

A Reportagem

“A convite de José Gameiro, colaborador, do

semanário “Aurora do Ribatejo”, com redacção emBenavente, assumi há pouco tempo a direcção do

“Jornal de Salvaterra” uma página dedicada aos

assuntos do concelho.

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A praça de toiros de Salvaterra, está prestes a fazer 

meio século de inaugurada, justo é que dê aos seus

leitores alguns dados históricos da obra. O único

membro da Comissão Construtora, felizmente ainda vivo

e de boa saúde, encontra-se entre nós, é empregado

no Grémio da Lavoura local, José Luiz das Neves.

Contactado uns dias antes, ficou à nossa disposição

para uma entrevista. Eu, e o colaborador deste jornal,

José Gameiro, fomos encontrá-lo à sua mesa de

trabalho numa sala do rés-do-chão, do edifício, entre

guias de entrega de sementes e, lá se dispôs a transmitir-

nos as suas recordações. “A ideia da construção daPraça surgiu no meu estabelecimento de mercearia e

vinhos, situado na rua Direita, onde mais tarde veio a

estabelecer-se Manuel Xavier da Silva,

ali mesmo junto ao cruzamento com a Trav. do Martins”

- “Pensamos na sua construção por inveja da quehavia em Benavente. Quando em 1918, depois de assistir 

à inauguração desta, alguns aficionados de Salvaterra,

se juntaram na minha loja e mostraram “ferro” por 

estarmos tão atrasados em relação aos nossos vizinhos.

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Ali mesmo foi decidido que teríamos dentro de pouco

tempo uma praça melhor que a “deles”. O soco na

mesa, que frisou as últimas palavras, deu-nos a medida

certa da

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vibração que ainda produz no nosso entrevistado a

recordação da cena passada em 1918.

-“E olhem, que ficou realmente melhor”, continuou o

Sr. José Luís das Neves, que não tivemos coragem para

interromper. Construída em alvenaria, enquanto que a

de Benavente era de adobes e desapareceu uns meses

depois, pelo tremor de terra, enquanto a nossa está aí que se pode ver !” 

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“O grande problema como devem calcular”, continuou

o nosso entrevistado em resposta a nova pergunta,

“foram aonde arranjar dinheiro”. 

“Depois de se conseguir por intermédio do então

Ministro do Comércio, Jorge Nunes, que a madeira

necessária fosse oferecida pelo estado e cortada no

Escaroupim, o dinheiro para o resto foi conseguido comofertas: dois tostões deste, três tostões daquele, um

cruzado do outro, foram as migalhas que juntas a ofertas

maiores formaram 74 contos de réis e picos que custou a

nossa praça”. 

Quais foram as maiores e menor oferta em dinheiro que

conseguiram para a construção? Perguntámos !

“Olhem, se não me falha a memória, a maior foi do sr.

Porfírio Neves da Silva, que ofereceu um conto de réis,

que na altura era uma quantia choruda e a menor… “O

sorriso do nosso entrevistado faz-nos antever uma

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revelação sensacional. “Foi do sr. José de Menezes, que

ofereceu 500 mil réis para não pensarem mais nisso! “.  

Pessoa amiga tinha feito chegar à mão, do José

Gameiro, incansável nesta pesquisas, que supúnhamos

serem da inauguração da praça e, pedimos ao sr. José

das Neves que as identificasse; Eram realmente da

corrida inaugural e com uma lágrima teimosa a querer 

fazer das suas, lá nos indicou o sr. Roberto Jacob da

Fonseca, inteligente da corrida; os srs. Henrique Avelar 

da Costa Freire; Porfírio Neves da Silva; João Oliveira e

Sousa; João Vasco, Sílvio Moiro, Administrador; Manuel

Caetano Doutor, Corneteiro; Henrique José Ferreira

Martins, farmacêutico e animador do “Grupo do TiMartins” que se dedicava a patuscadas, Fernando Luís

das Neves, pai do nosso entrevistado, enfim um nunca

acabar de recordações. “Olhe, este aqui de chapéu,

sou eu!”. 

José das Neves, mais à vontade e visivelmente

emocionado abre por sua vez o seu rosário de

recordações e mostra-nos jornais da época, programas

das corridas, e como curiosidade uma folha de férias;

Vimos, revimos tudo, e de repente “Olhem, tudo isto

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ofereço ao Zé Gameiro, pelo interesse que tem nestas

coisas da nossa terra” 

“Reparámos que na folha de férias, sendo a última da

semana na obra; os pedreiros ganhavam entre 15 e 17

tostões e os serventes, entre um cruzado e oito tostões e,

36 trabalhadores em 7 dias receberam 234.710 réis (dois

dias de ordenado dum pedreiro de 1970).

Um exemplar do jornal “A Elite”, chama-nos a atenção

por na página 2, numa lista de 11 nomes, 10 terem à

frente uma cruz. “É que todos esses já morreram, só falto

eu, ainda cá estou” explica o nosso entrevistado,

dizendo serem os componentes da Comissão

Construtora da Praça. “Neste último, já não serei eu apôr a cruz…! 

- Eram o Pedro Sousa Marques, Luiz Gonçalves da Luz,

Augusto da Luz, Carlos Alberto Rebelo, Francisco Maria

Gonçalves, Augusto da Silva, Manuel Lopes Gonçalves,

Francisco Morais, António Henriques Alexandre, Augusto

de Almeida e José Luiz das Neves: Um grupo que

continha 5 operários, 4 comerciantes, 1 proprietário e 1

industrial de barbearia. A Comissão organizadora das

corridas era composta por: António de Sousa Vinagre,

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Dr. Armando de Sousa Calado, Dr. Roberto Ferreira da

Fonseca, José Rebelo Andrade e Henrique Costa Freire.

- Apontando para os programas que tínhamos entre

mãos, actuaram nesta 1ª corrida: Cavaleiros; José

Casimiro e Adolfo Macebeiro Tomé, Vital Francisco

Rocha, Mateus Falcão e Manuel doa Santos, da Golegã.

- O grupo de Forcados; comandados por Manuel

Burrico.

Os 10 touros foram generosamente oferecidos pela

ganadaria Roberto & Roberto. - Não entregamos logo a

Praça à “Misericórdia”, afirma em resposta a uma nossa

nova pergunta.

- Durante um ano e tal, organizamos toiradas evacadas para arranjar dinheiro, para pagar as dividas

que ainda havia”.

- Nesse tempo era fácil organizar corridas, como fumar 

um cigarro… Não havia tantos papéis e tantas coisas a

tratar e quando pensávamos fazer, fazíamos”. 

- “Além de mais, não queríamos que aparecessem no

hospital contas para pagar 

por despesas que nós fizemos.

A Praça foi entregue livre de

todos os encargos”. -

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Sabendo o que lhe custou colaborar na obra, se voltasse

ao ano de 1918, faria parte da Comissão Construtora da

Praça? Perguntámos.

“Apesar das muitas canseiras e do trabalho que tive,

se voltasse atrás fazia exactamente o mesmo, juntava-se

as mesmas pessoas e construíamos a Praça que está ao

cimo da Avenida. Não dou por mal empregado o

tempo que me ocupou”.- O nosso entrevistado é

interrompido e chamado à realidade pelo “interfone”

(um tubo metido na parede que liga a sala onde

estamos, com o 1º andar, em cada terminal tem um

bocal, com tampa), perguntavam-lhe assuntos de

serviço.Faziam-no voltar a 1970. Já na mesa do seu serviço,

observava mais uma vez as fotografias que lhe

trouxemos.

Abre a gaveta e pega numa lupa; “ Este esteve

muitos anos em Lisboa… Estoutro foi para Muge… A

mulher do Luiz Caleiro, tem ainda a mesma cara… dizia,

revivendo os 27 anos que tinha em 1920.

José António Teodoro Amaro (Tamaro) – José Gameiro

*****

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Nota: Original da entrevista, entregue na redacção do Jornal “Aurora do

Ribatejo”, mas por motivos de paginação e outros, foi publicada, com algumas alterações como se encontra publicada na edição de 1 de Agosto de 1970.

*********** 

Quando a praça de toiros fazia 72 anos de inaugurada, fiz sair no 

dia 22 de Julho de 1992, no Jornal Vale do Tejo, uma artigo sobre a 

efeméride, soube que José Luiz das Neves, depois de reformado, foi 

de abalada com sua esposa, até Leiria, para casa de seu filho José Luís. Aí faleceu e ali foi sepultado.

A CORRIDA INAUGURAL

Da edição do jornal “A Manhã” de 6 de Agosto de

1920, que já usamos anteriormente, transcrevemos as

crónicas do jornalista Batista Duarte, das corridasinaugurais do Taurodromo que se encontra à entrada da

vila de Salvaterra de Magos.

“Com o cadáver do Conde dos Arcos estatelado na arena,

ensopado do seu sangue Marialva as almas opressas ainda

ante a figura romana, vestida de lenda, do velho fidalgo,

estribeiro-mor da corte, que de um golpe afundara a sua

espada, até aos copos, na nuca do toiro negro, nervoso e

brusco, que lhe estripara o filho, na própria tribuna onde

assistira ao espectáculo, “de toiros” ante a corte deslumbrante,

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trapos à francesa constelados de pérolas, cabeleiras em

anéis, recamos de oiro e toucados milagrosos, o senhor rei D.José prometeu a Sebastião de Carvalho e Melo:

-Foi a ultima corrida, Marquês. A morte do Conde dos

Arcos, acabou os touros reais em Salvaterra, enquanto eu for

rei…. O ministro, que vinha de levantar a luva que lhe lançara

D. José Torrero, embaixador espanhol, fitou o soberano e

retorquiu: -Assim o espero da sabedoria de vossa majestade.Sucedeu isto no Verão de 1762. Estamos em 1920.

O Marquês de Pombal morreu há muito. Os reis passaram.

A promessa dos toiros passou também. O Ribatejano tem a

fidalguia, do sangue quente, o ar livre, criador: possue a

nobreza do trabalho, das searas e a visão sadia da Lezíria,

onde as terras frescas que orlam o rio Tejo, estão mescladasde rebanhos e manadios pastando em sossego.

Salvaterra, ostenta pergaminhos; tem um Hospital da

Misericórdia, que é pobre como todos os hospitais, tem uma

mocidade destra e portuguesíssima, tem os homens feitos de

coração forte e mãos amigas, tem o respeito das suas

velhices e um grande amor às coisas tradicionais.E Salvaterra, fez uma praça de toiros, imponente, hoje uma

das melhores da província, que custou cinquenta contos!

Inaugurou-a há três dias. A promessa do senhor D. José, está

absolutamente perdida para a história local. As duas touradas

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de Domingo e Segunda-Feira passada foram duas “toiradas

reais!”….  “A praça é alegre, tem uma ordem de camarotes,

dois sectores sombra e dois sol e, comporta cinco mil

pessoas. A comissão organizadora das corridas era composta

por; António Sousa Vinagre, incansável trabalhador para a

organização das festas, Dr. Roberto Ferreira da Fonseca, Dr.

Armando dos Santos Calado, José Rebelo de Andrade e

Henrique da Costa Freire. A primeira corrida por profissionais,foi brilhantíssima. Tudo quanto há conhecido de bons

aficionados, caiu em peso em Salvaterra de Magos.

À frente desses aficionados vimos o bom “velhote” e antigo

lavrador ribatejano; António Roberto Casaleiro, vulgo o

“Compadre Casaleiro”, decano dos aficionados, que apesar 

dos seus 75 anos ainda corre lesto, com o seu grandeentusiasmo, a uma boa corrida de toiros. Dos Camarotes

pendiam lindas colchas, tudo numa decoração deslumbrante,

que juntamente com as toilettes das senhoras, davam um

conjunto encantador. A populaça que mostrava ter vindo dos

campos da lezíria, davam uma riqueza de cores garridas no

seu vestuário, que sombreava as casacas e chapéu alto demuitos presentes. Mas eis que principia a função, a música dá

brilho ao espectáculo, na presidência está a veneranda

relíquia da tauromaquia portugueza, o grande bandarilheiro,

que o Campo de Sant`Ana aplaudiu freneticamente; Roberto

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da Fonseca, com os seus 84 anos, mostra uma figura esbelta

vencendo a idade. Com um sorriso compassivo à rapaziada,a praça a ir abaixo de tantas palmas, lenços e manifestações,

enquanto a banda executa o Hino Roberto da Fonseca.

Como o lindo circo ribatejano, fervia de entusiasmo febril.

De repente e a um sinal do director da corrida, o silêncio

trespassa os aficionados; sai dos curros o toiro com o nome

“Padeiro”. É um bicho de linda estampa, nobre e bravo, quearranca de largo a largo, fino sangue. José Casimiro, que

brindara a Roberto da Fonseca, faz um toureio magistral, à

maneira Marialva, elegante e viril, inaugurando assim a praça

de Salvaterra, outrora corte de folguedos. Foram quatro ferros

cumpridos, dois à meia volta e dois à tira, e dois curtos a

fechar. O último dos quais de uma sorte digna de respeito.O grupo de forcados entra no meio do redondel, e o seu

cabo Manuel Burrico, com o seu barrete oferece a pega a todo

o público.

De imediato perfila-se e vai para a cara do bicho, com uma

valente pega, que leva os espectadores ao rubro. E com este

começo foi a corrida por ali fora, como vamos descrever.Se bravo e nobre foi o primeiro touro de cavalo, não

sabemos que dizer do sexto, “Cochicho” de seu nome, e que

lhe chama o moiral, touro de bravura, metendo a cabeça ao

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estribo, do cavaleiro mal via o cite. José Casimiro, toureia

com alegria e arte, crava ferros com febril entusiasmo.

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Grande ovação recebe do público, da qual compartilha com

lavrador, João Roberto, sobrinho dos ex-bandarilheiros;

Vicente e Roberto da Fonseca. O forcado, de seguida voltou a

fazer uma rija pega. O outro cavaleiro, foi o simpático artista,Adolfo Macedo, que também teve dois touros muito bravos; o

“Casquinha” e o “Gavião”. Pena foi que o artista lhes tivesse

dado uma lide muito precipitada, quase sempre à meia volta.

Se toureia com mais calma e tem saído mais vezes à tira,

como lhe indicaram os seus amigos, tinha feito um figurão.

Os toiros-reais! Há muito que se não vê nas nossasarenas, quatro toiros de cavalo tão bravos!....

Os nossos parabéns à firma Roberto & Roberto, por tão

bravo curro oferecido. Dos nossos bandarilheiros; Teodoro e

Tomé, muito bem em quites, e com bandarilhas tiveram bons

pares.  – Rocha, Falcão, Vital e Manuel dos Santos, da

Golegã. O último toiro, de nome “Criminoso”, foi o mais bravotouro de pé.Teodoro Gonçalves, dedicou a sua faena ao seu

colega e ex-bandarilheiro, João Roberto, que saiu magnifica.

A direcção do velho Roberto da Fonseca, foi uma grande

licção!...Ainda lá tem a ralé do toureador o bom velhote !

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A arrelia dele, se os animais eram mal corridos!....

SEGUNDA CORRIDA 

A segunda corrida, foi na Segunda – Feira, dia 2 de Agosto de 1920.

Logo pela madrugada, houve espera de gado. Os toiros saíram do

campo, cercados por cerca de 50 cavaleiros, bem montados, todosde pampilho. À frente do gado, que vinha na ponta da unha, viam-se

o lavrador Francisco Ferreira Lino e o cavaleiro José Casimiro.

À entrada da vila, eram perseguidos por gente a pé, numa algazarra,

tentando acompanhar o cortejo. O povo que enchia o largo da

entrada da praça, logo vibrou, aos gritos de lá vêm eles!!

Os barretes e jaquetas no ar, tentavam tresmalhar algum toiro do

curro, que vinha entre os cabrestos.

Entrada de toiros no 2º dia da inauguração

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A arte dos campinos, em conservar os animais bem juntos aos

cabrestos, era comentada aqui e ali. Que grandes homens, quegrandes varas !!

As várias facetas de uma entrada de toiros, por ser um espectáculo

esplêndido e cheio de alegria, onde o homem ribatejano, ali mostra a

sua galhardia nas esperas, são de uma descrição sempre

mesquinha. A condução do gado, desfez-se com a entrada pela

porta grande da praça, não houve problemas com os animais que

estavam seleccionados para a corrida que teria lugar pelas 5 horas

da tarde.

À hora marcada, a praça estava à cunha. Os cavaleiros amadores;

Adolfo Macedo e José Casimiro, apresentaram-se em arena, trajando

de curto, sendo acompanhados pelos bandarilheiros amadores:

D. Carlos Mascarenhas, D. Pedro de Bragança, Patrício Cecilio,

Francisco d`Oliveira, João Malhou da Costa e Rafael Gonçalves.

Os campinos de serviço eram; António Eugénio de Menezes

(Abegão), Joaquim Coimbra, Manuel Coimbra, Francisco Souto

Barreiros. Careca; António José Rebelo de Andrade. Papagaio; D.

Baltazar de Freitas Lino e ainda o Grupo Moços de Forcados de

Santarém. A corrida foi animada, os toiros que couberam a Adolfo

Macedo, não sendo bravos, não complicaram a lide, nem às pegas

dos forcados. José Casimiro, lidou com saber o primeiro bicho, quesaiu manso perdido e no qual cravou dois bons ferros compridos e

um curto. No segundo, ofereceu a sorte a Roberto da Fonseca que

era bravíssimo, e em seguida toureou bem, cravando dois soberbos

ferros compridos e três curtos magistrais. No sexto toiro, dedicou um

par dos ferros curtos aos seus amigos de Salvaterra, especialmente

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ao grupo do “Ti Martins”. Os amadores; D. Carlos Mascarenhas, D.

Pedro de Bragança, Patrício Cecilio, Francisco d` Oliveira, JoãoMalhou da Costa e Rafael Gonçalves., todos tourearam e farpearam

bem. Foi ainda lidado um novilho, pelo filho mais novo do

bandarilheiro Teodoro, tendo dois pares de João Malhou, sido pouco

feliz. Os forcados amadores; tendo como capataz Jaime Godinho,

portaram-se á altura da sua fama; de caras e á cernelha.

A pega de cara do primeiro touro efectuada de recurso e feita pelo

cabo, Jaime Godinho, foi magistral.

Palmas e voltas ao redondel, do qual compartilharam; Moura,

Barreno e Matos, assim como os irmãos Coimbra. A Direcção da

corrida, esteve a cargo do amador da velha guarda, o salvaterriano,

Rui Rebelo de Andrade, executada, com maestria. Foi um primor ….! 

Enfim assistimos a duas touradas famosas, que não sendo reais,

não tentaram desfazer a lenda que conta Rebelo da Silva, mas

ficaram nos anais da tauromaquia salvaterrense. O curro foi oferecido

pelo novo ganadero; Francisco Ferreira Lino, com toiros oriundos da

antiga ganadaria; António Ferreira Roquette. O fotógrafo “Gambeta” e

outros, tiraram a diversos grupos e, a vários aspectos da assistência,

algumas fotografias, que ficarão para a história local.” 

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***************

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XIII

UMA VIAGEM DE VILA FRANCA DE XIRA,ATÉ SALVATERRA

Foi um dia para não esquecer pelos seus

participantes.

Realizava-se a segunda corrida da inauguração da

praça de toiros de Salvaterra de Magos. Uma comitiva

de Vila Franca de Xira, foi convidada. Cerca de 50

rapazes, que vieram a

Grupo visitante, à chegada no cais da vala real

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Salvaterra, deram o nome Vila Clube Taurino ao

agrupamento. Os simpáticos rapazes alugaram duas

grandes fragatas, que navegou através do rio Tejo e, da

vala real da vila.

Numa fragata, foi organizada uma casa de jantar, com

um grande toldo e, ali nada faltava; mesas cadeiras;

casa de banho ao fundo; relógio de parede  –  tudo

decorado com muito gosto. Um guarda-vento, servia de

guichet para a entrada das comidas, pois durante a

Desfile dos visitantes – Largo dos Combatentes

viagem de ida foi servido o almoço e lanche. As

refeições eram feitas numa cozinha e entravam para a

casa de jantar, pelo dito guichet. A despensa era um

encanto..!

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Estava guarnecida, de cestos de verga com galinhas e

coelhos, além de um carneiro vivo, também para matar 

e comer a bordo. O peixe para se conservar fresco,

estava metido em canastras, forradas a erva de

espadanas. A fruta era em grande quantidade. Algumas

caixas de cerveja estavam juntas a barris de vinho

(branco e preto). Para refrescar estes líquidos também se

preveniram de caixas com gelo. Uma cozinheira e duas

ajudantes, confeccionaram seis pratos em cada

refeição. Tendo a cozinha começado a laborar pelas 5da manhã. A primeira refeição, foi servida pelas 10,00

horas e chegou até às 13,00 horas. A outra um pouco

mais frugal, começou pelas 15,00 horas e, havia quem

estivesse acabar pelas 17,00 horas, quando o cais da

vala de Salvaterra estava à vista e, uma multidão

acenava e gritava, sons ainda não percebíveis, pelos

visitantes.

A outra fragata, foi destinada a camarata, com uma

cama para cada passageiro, pois estava destinado

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  141

passar a noite na vila vizinha. Havia lavatório, espaço de

WC e guarda fato.

Chegados a Salvaterra e, com as embarcações já

atracadas, delas saiu o som da estudantina, sob a

direcção de Sabino Gomes, tocando a pandeireta, com

alegria e salero o dr. Genso. Iniciaram a caminhada

pela rua da Capela da Misericórdia, rodeados de muita

gente, passaram pela Igreja Matriz e do jardim do

edifício municipal.

A multidão acompanhante fez crescer o cortejo, até à

praça de toiros. Um tempo depois, com a praça

esgotada e em delírio, decorreu a corrida. A noite já

chegava, foram levantados muitos brindes pelos nossosamigos de Vila Franca, não esquecendo o jornal “A

Manhã”, a quem todos os visitados dedicaram uma

estima. Endoidecido de alegria, perguntava Sabino

Gomes, com muita graça: - Gostaram do nosso lugre de

recreio?!... A noite foi passada em diversas casas

agrícolas, cujas famílias se empenharam em bem

receber.

Pela meia manhã de terça-feira, com a maré a

convidar o regresso, Carlos Gonçalves, lavrador de Vila

Franca e presidente do grupo e o “maitre d`hotel”, de

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quem todos recebiam ordens, com grande prazer,

elogiando até os seus apetitosos menús. Despediu-se

das entidades e do povo de Salvaterra, com comovidos

abraços, dizendo: Até nisto foi à portuguesa antiga, a

festa de Salvaterra de Magos.” 

* B. Duarte *

Os periódicos da época, deram destaque ao

acontecimento, especialmente o jornal “A Época” que

ilustrou as suas páginas, com fotografias, dos barcos a

navegarem na vala real de Salvaterra e, o grupo de

visitantes no cais e em frente ao edifício da escola, no

Largo dos Combatentes, a caminho da praça de toiros.” 

********************

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****************

XIV 

TOIROS EM DIA DE FEIRA

NO DOBRAR DO SÉC. XX

No dobrar do século XX, o espectáculo taurino, tinha

na sua raiz emoções que vinham de tempos imemoriais.

Leis e mais leis, vieram condicioná-lo, a última foi com o

Decreto-Lei 306/91 de 7 de Agosto, completado com o

Decreto Regulamentar Nº 62/91 de 29 de Novembro,

que queria harmonizar o espectáculo taurino aos

tempos que corriam.

Um novo “espartilho”, para a festa taurina, pois tudo

mudou e nada passaria a ser como dantes!

A tauromaquia vinha deixando de ter aquele

encanto, mesmo para os aficionados. Para os outros

ainda era uma festa ver todo aquele aparato, fora da

praça de toiros. Em 1950, a feira franca de Salvaterra,

ocorria como todos os anos em Maio e, nesse dia,

realizava-se uma das muitas corridas que tinham lugar 

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anualmente na praça de toiros da vila. No mês de

Setembro, realizava-se a feira da vizinha vila de

Benavente e, uma semana depois, a de Salvaterra.

Este dia festivo, contava sempre com uma corrida de

toiros. Há já algum tempo, o cartaz estava na rua onde

anunciava que vinham actuar os mestres cavaleiros;

João Branco Núncio e Simão da Veiga. Os espadas,

eram os matadores de toiros; Diamantino Viseu e Manuel

dos Santos. Abrilhantava a corrida a banda de música

dos bombeiros da vila. Os toiros eram da ganadaria

Irmãos Roberto e, os forcados, eram do grupo de

Manuel Faia, onde pegavam O Timpanas e Manuel

Ferrador, homens da terra. As “claques de aficionados”que aqui existiam, tinham agora mais uma vez

oportunidade de ver actuar os seus ídolos, pois ao longo

do ano, dividiam-se em acérrima discussão. Um grupo;

apoiava João Núncio, um outro Simão da Veiga.

Quanto aos matadores de toiros; era de ouvir qual o

grupo de aficionados, que sobrepunha o seu toureiro,

em relação aos outros.

As discussões tinham lugar, nas oficinas dos mestres

sapateiros, nas oficinas dos barbeiros e, continuava na

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sede do Clube Desportivo local, pois aí à noite nos jogos

das cartas, lá vinha à baila a aficion.

Naquele domingo de Setembro, os aficionados

visitantes que enchiam por completo as “tascas” da

feira e, as tabernas na procura dos bons “petiscos” da

terra, na hora da entrada param a corrida perdiam-se

entre a multidão.

O muro da Horta do Sopas, estava repleto de curiosos

vendo os cavaleiros “passeando” os cavalos.. Nas

  janelas da praça, os espectadores, empoleirados no

gradeamento, tinham os olhos postos no mar de gente

que enchia a avenida, na esperança de verem chegar 

os toureiros. De repente, gritam, lá vêm eles !!Eram os matadores, entre o seu stafe, que vinham à

“paisana”, com os trajes de luces por baixo. Vinham da

Pensão do Café Ribatejano, onde estavam alojados.

De imediato foram rodeados por aquele multidão de

aficionados, até entrarem na praça. A corrida, estava

esgotada de espectadores e, durou cerca de três horas.

No final o matador, Manuel dos Santos, que foi o

triunfador, saiu pela porta grande, levado em ombros,

entre o delírio da multidão, que percorreu a avenida, a

rua Marquês de Pombal, a rua Heróis de Chaves e, por 

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fim chegou à Pensão. De imediato, numa das janelas,

agradeceu os aplausos daqueles aficionados que

delirantemente lhe batiam palmas.

*************

EMBOLADORES /FARPEADORES 

  José Venscelau, já no início do século XX, esmerava-

se na feitura, de farpas/ ou bandarilhas, embolando

também os toiros em dias de corria. As embolas,

construídas à base de couro e que servem para cobrir os

cornos dos toiros, pois as pegas, aconselhavam o seu

uso. Este trabalho artesanal, transmitiu a seu filho

António, com quem trabalhou durante muitas dezenas

de anos a difícil maneira de ornamentar os ferros

(farpas),que são acessórios necessários nos espectáculos

taurinos, Tal artesanato, foi continuado na família, por 

João Aleluia (João Venscelau), sendo as farpas, muito

procuradas especialmente por emigrantes, para

decoração das suas tertúlias.

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XVA ORIGEM DO TOIRO DE LIDE

Da pena de António Relvado, colaborador que foi

do extinto Jornal Vale do Tejo, JVT, transcrevemos com a

devida vénia, o seu artigo.

“O toiro de lide constitui a maior  inovação Espanholana criação de animais. Antes que os Ingleses

começassem a formar importantes raças Vacuns e

Porcinas, durante os séculos XVII e XVIII, inclusive antes

de 1791, criou-se o LIVRO GENEALOGICO DO CAVALO,

de puro sangue Inglês, ia-se seleccionar em Espanha o

toiro de lide, pois os primeiros ganadeiros espanhóis

controlavam e anotavam a sua genealogia,

comportamento e características nos primeiros livros de

ganadarias.

Das civilizações do passado chegou-nos alguns enigmas

difíceis de decifrar. Em torno do toiro existem pinturas

rupestres e representando o toiro desde o V ao III milénio

antes de Cristo.

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Segundo numerosos arqueólogos, estas figuras foram

realizadas com a finalidade de indicar a existência de

caça abundante.

A fauna predominante ma Península Ibérica, durante

o Paleolítico era composta por cavalos, toiros, veados,

  javalis e outras espécies de menor porte. O toiro

selvagem da Pré-História tinha como finalidade

alimentar o homem, caçá-lo, e usá-lo como elemento

de trabalho. O uro ou toiro selvagem, estava

domesticado no oriente desde épocas mais remotas.

Assim, chegou à Europa Central e Nórdica formaram-se

muitas raças alpinas e centro europeias actuais.

As sucessivas variações climatéricas determinaram astrocas de flora e fauna, eliminando numerosas espécies.

Na Península Ibérica o clima nunca foi demasiado

rigoroso não alterando a flora e a fauna originando

migrações de gado vacum da Europa Central e Norte

de África, pois a Península estava unida ao Norte de

África.A ERA DO TAURO

A era do Tauro corresponde aos anos 4513 a 2353

antes de Cristo, caracteriza-se pelas diversas civilizações

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históricas por culto a divindades taurinas. Em todas as

culturas Mediterrâneas e no mundo Celta a crença

mágica das virtudes genéticas do toiro e a sua

transmissão ao homem fizeram dele figura sacra e

objecto de culto e de numerosos ritos religiosos e

celebrações festivas. Assim, na Mitologia Grega aparece

em forma de Minitauro. No Egipto, o Boi Ápis e o deus

da fecundação e da abundância, os Hebreus

adoravam o bezerro de ouro, na Babilónia são os toiros

alados e ainda temos o Celta Tamos e o toiro Irlandês

Cualungé. O mundo romano adoptou o culto de origem

Persa Mitra, o jovem deus que sacrifica o toiro primordial

para fazer surgir o mundo. Há 2000 anos Júlio César descrevia o Uro que habitava na selva Hercínia na

Alemanha, junto ao rio Danúbio de carácter indómito,

enorme bravura e ligeireza assim como o divertimento

que constitua a sua caça pelos jovens. Era um animal

enorme e perigosíssimo que povoava os bosques da

Europa Central e Nórdica. Os Alemães chamavam-lhe

Auerochs ou toiro selvagem. Foi Júlio César que

introduziu o vocábulo uros na língua latina. O uro foi

extinto na Europa na Idade Média, é o antepassado

selvagem de todas as raças bovinas existentes.

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O toiro de lide actual é de todos os descendentes

directos o que melhor conserva as suas características.

O TOIRO NA HISPÃNIA

O toiro bravo descendente do uro ou toiro selvagem

da idade média, que abundava em toda a Europa,

trazido pelos Celtas. Situou-se no Norte de Espanha e

Portugal, tendo-se juntado com o gado procedente do

Norte de África durante o período glaciar.

Como na cultura Greco-Romana, o toiro está muito

ligado às raízes culturais Hispânicas. É o animal mais

emblemático, ao ponto de simbolizar a festa popular, e

a sua figura traduz todas as artes, desde as pinturas

rupestres aos toscos verracos ibéricos, as tendências

modernas da cultura Espanhola e Portuguesa,

representado em desenhos, gravados, pinturas,

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esculturas e por pressuposto na nossa literatura. O toiro

representa um papel fundamental na economia da

península ibérica, pois modifica a paisagem devido à

necessidade das grandes vacadas, e propicia à criação

de feiras de gado que tanta importância tem para o

desenvolvimento dos povos e cidades.

O toiro de lide teve como, origem e solar em

Espanha, e desde aqui se estendeu e exportou a

Portugal, a França e numerosos países do Continente

Americano, principalmente durante o no séc. XX.

Graças à concorrência de interesses de uma cultura

popular com profunda raiz taurina, as práticas equestres

dos nobres e cavaleiros da Idade Média. A destrezapara o jogo com toiros do pessoal encarregado do seu

manejo nas herdades e nos matadouros, assim como a

inteligente arte de criar e seleccionar dos ganaderos,

criou-se um belo animal, uma das maiores jóias da

zootécnica mundial.”

**************************

P.S. - Muitos anos já passaram, as tertúlias nas pequenas

oficinas de Sapateiros e Barbeiros desapareceram. Agora em

Salvaterra de Magos existe a Tertúlia do Clube Taurino

Salvaterrense, com sede na rua do Rossio

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

- Revista” Branco e Negro” ………………….. 1897 

- Jornal “A Elite” ……………. 1 de Agosto de 1920

- Jornal “A Manhã” ……… 6 de Agosto de 1920- Revista ”Touros e Toureiros” ………………. 1932 

- Revista “A HORA” …………………………… 1939 

- Jornal “Aurora do Ribatejo” ………………… 1970 

* Reportagem dos 50 anos da inauguração

da Praça de Toiros)

- Livro “Contos e Lendas” edição “Colecção Civilização” Última Corrida de Touros em Salvaterra * Rebello da Silva

- Livro “A Misericórdia de Salvaterra” – Dr. José Asseiceira

Cardador * Edição: 1968

* Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide  – 

Edições: 1986 e 1990

* A Origem do Toiro de Lide *Jornal Vale do Tejo, 199923.03.2000 – Pág. 15

* Jornal Vale do Tejo (António Cadorio) ……. Ano 1999 

- Artigo de José Gameiro

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CAPITULOS: 

Pág. 3 – I Última Corrida de Toiros em Salvaterra

Pág. 21 - II O Conde dos Arcos – Sua Origem

Pág. 20 – III Toiros de Morte em Salvaterra

Pág .32 – IV Criadores de Toiros de Salvaterra

Pág. 41 – V Criadores de Cavalos em Salvaterra

Pág. 47 – VI A Dinastia RobertoPág. 75 – VII Bandarilheiros

Pág. 83 - VIII Cavaleiros Tauromáquicos

Pág. 88 - IX Críticos Tauromáquicos

Pág. 92 - X Moços de Forcado

Pág. 103 - XI Campinos

Pág. 112 -XII A Origem da Praça de ToirosPág. 138- - XIII Uma viagem de Vila Franca de Xira

Até Salvaterra

Pág.142 - XIV Toiros em dia feira, no dobrar do séc. XX

Pág.147 - XV A Origem do Toiro de Lide

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Fotos:

Pág. 9 – Escritor Rebello da Silva –  Foto a/dPág. 13  –  Painel em Azulejo  –  Morte do Conde dosArcos * Foto do AutorPág. 23  – 1950, Pintura, embalagem da caixa de bolos“Marialvas” Produto fabricado por Francisco Fonseca 

- Pintura de Martin Maqueda

Pág. 25 – Certidão de Óbito Conde dos ArcosPág. 31 - Noticia da Morte de Toiros em Salvaterra, com

bilhete de entrada na corridaPág. 45 – Jogo de Cabrestos, da Casa Agrícola José

Lino, trabalhados pelos campinos num jogo dePerícia, na Avenida da vila, pelas “Festas dos Toiros e do Fandango” –  1966 * O Lavrador,

José Lino acompanha o desenrolar do trabalho doscampinos José da Moira e Manuel Bernardo -Foto Autor- 1988

Pág. 49 – António Roberto da Fonseca * a/dPág. 50 – Vicente Roberto da Fonseca * a/dPág. 59 – Vicente Roberto da Fonseca * a/dPág. 64 – Jarras de Porcelana, com Baquetes de Flores,

Troféus conquistados pelos toureiros Irmãos

Roberto - AutorPág. 66  –  Um dos três Armários dos Troféus dosBandarilheiros – Irmãos Roberto (s) – AutorPág. 73 – João Roberto da Fonseca (Lavrador) – a/dPág. 74 - Irmãos; Vicente Roberto da Fonseca, Roberto

Ferreira da Fonseca (Dr.) e João Roberto daFonseca ª a/d

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Pág. 76 – Joaquim da Conceição, Bandarilheiro ª a/dPág. 77 – António Cadório * a/dPág. 80 – António Cadório e seus alunos; José Julio

e José Falcão * Foto Jornal ….. Pág. 83 - Rogério Travessa, Cavaleiro Tauromáquico,

no dia da sua alternativa, em Cascais ª a/dPág. 84 - Cláudio José, no dia da sua alternativa, em

Salvaterra de Magos * a/dPág. 85 – Ana Batista, Cavaleira Tauromáquica,

no dia da sua alternativa, em Coruche * a/dPág. 86 - Mónica Monteiro, Aprendiz de Cavaleira

Tauromáquica * a/dPág. 96 - António Lapa, Pegador de Toiros * a/dPág. 99 – José Carlos Hipólito, Pegador de Toiros ª a/dPág. 112 – José Luiz das Neves – Membro da Comissão

que construiu a Praça de Toiros em SalvaterraPág. 122 – 1ª Roberto da Fonseca, Director da CorridaInaugural da Praça de Toiros de Salvaterra

 – 1 de Agosto de 1920 * a/d2ª Público assistindo à corrida inauguralda Praça de Toiros de Salvaterra * a/d

- Entrada de Toiros para a Corrida Inauguralda Praça de Toiros de Salvaterra * a/d

Pág. 123 - 1970 - Página de Salvaterra, no Jornal“Aurora do Ribatejo – Benavente, publicandoa reportagem dos 50 anos da inauguração

da Praça de Toiros de Salvaterra * José Amaroe José Gameiro

Pág. 127 – Manuel Burrico, Forcado que chefiou o grupo

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na inauguração da Praça de Toiros de SalvaterraPág. 133 – Cartaz da 1ª Corrida inaugural da Praça de

Toiros de Salvaterra * a/d

Pág. 109 - Campino do Ribatejo, em traje de trabalho * a/d Pág. 111 - Campino* “A Tradição já não é o que era”? 

* mgomes,blogspot.com/…/campino-doribatejohtml

***********************

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EDIÇÕES PUBLICADAS PELO AUTOR: 

*Salvaterra de Magos, “Vila Histórica no coração 

do Ribatejo” – Monografia

1ª Edição 1985 – 2ª Edição 1992 Esgotadas)

” RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR “ 

Colecção de Apontamentos Nº 0 – Nº 45