subsídios para a história da freguesia dos foros de salvaterra

24
S ub sí doios para a História Da Freguesia O Autor: JOSÉ GAMEIRO (José Rodrigues Gameiro)

Upload: historiasalvaterra

Post on 24-Jun-2015

580 views

Category:

Documents


8 download

DESCRIPTION

Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra de Magos

TRANSCRIPT

Page 1: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

S ub sí doios para a História Da

Freguesia

O Autor:

JOSÉ GAMEIRO

(José Rodrigues Gameiro)

Page 2: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

Subsídios para a história de

FICHA TECNICA:

Titulo: SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DE FOROS DE SALVATERRA: Autor: Gameiro. José Data: SETEMBRO 2007 Editor Gameiro, José Rodrigues Morada: Bº Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 49 Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120- 059 SALVATERRA DE MAGOS * Tel. 263 504 458 * Fax: 263 505 494 * Telem 918 905 704

Fotos da Capa: - Mapa da Freguesia de Foros de Salvaterra * 1936 -Construção da Barragem de Magos *Casamento, Transporte em carroça

Tipo de Edição: Online (( pdf )

Page 3: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

1

NOTA PRÉVIA

No dobrar do século XX, todo o rapazio da vila de Salvaterra de Magos, já

sabia que, aos sábados de manhã, se realizava um casamento na Igreja Matriz,

de gente vinda dos Foros de Salvaterra.

Era de ver, as longas filas de carroças, que chegavam ao Largo

e, logo os animais eram “amarrados” às árvores que ali existiam.

A música, acabava os seus últimos toques, e os noivos

acompanhados dos pais, padrinhos, familiares e convidados,

ajeitavam-se para a entrada naquele templo religioso.

Muitos dos convidados não entravam, aproveitavam o tempo da cerimónia,

para se dispersarem, pelas tabernas, a mais próxima à Igreja era a do Morais, e

aí ofereciam copos de vinho e cigarros, aos homens da vila ali presentes.

Algumas mulheres, iam às lojas, do José Inácio, Pedro Santos, Celestina e

outras, de quem eram clientes anuais, comprar amêndoas e rebuçados. Quando

a cerimónia religiosa terminava, a comitiva, logo se ajeitava para o regresso, os

rapazes, andavam de volta dos carros e recebiam a oferta daquelas doçarias,

tiradas dos “talegos” de pano bem guarnecidos de desenhos. Porque vivi esse

tempo, mais tarde, para uma pesquisa jornalística, fiz a recolha dos usos e

costumes daquelas gentes, contactei com os filhos e netos, dos que iniciaram o

desbravar das terras que, agora são os Foros de Salvaterra. Da terra-mãe,

Salvaterra de Magos, conservavam muitas raízes, nos seus usos e costumes, que

iam para além da indumentária, e da comida.

Na década de 80, Os “ditos populares”, que na origem já se iam perdendo,

estavam bem vivos, nas gentes Foreira, de mais de 70 anos. Tudo isto, e muito

mais já o escrevi na Colecção de Apontamentos Nº 2 “Recordar Também é

Reconstruir!”, recapitulando agora aqui e adicionado algo mais.

Setembro: 2010

O Autor

JOSE GAMEIRO

(José Rodrigues Gameiro)

Page 4: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

2

FOROS DE SALVATERRA

( Subsídios para da História da Freguesia)

A Coutada Real de Salvaterra, em 1520, com extremas, até Benavente,

Coruche e Almeirim, tinha como pertença, entre outros, os lugares de Moita

Paredes, Ameixoeiro e Magos, nomes que, vêm de 1295, e descritos no segundo

Foral de D. Dinis, documento de bom acesso, pois já foi traduzido e impresso

em edição gráfica, com edição da Torre do Tombo de parceria com a Câmara

Municipal. Naqueles sítios, tinham lugar as caçadas de montaria, onde as

batidas começavam na Ómnia de S. Jorge, apertando o cerco lá para os lados de

Moita Paredes, onde eram abatidos; porcos bravos, javalis, gazelas e outros

animais de pelo. Lá mais para as extremas com Benavente, em Bilrete de Cima,

no vale, eram os grous e patos, os grous e faisões, os alvos mais apetecidos.

Naquelas terras de Coutada, era proibido apanhar qualquer peça de caça.

Para estes delitos, o povo recebia penalizações que, iam até à deportação

para as colónias. Num estudo, de 1758, do padre, da vila de Salvaterra de

Magos, Miguel Cerqueira, nos diz: “Naquela planície de charneca, onde os

vizinhos se dispersam pelos sítios do Culmieiro; com nove residentes.

Misericórdia; com um, Coelhos; com cinco, Cabides; com dois, Figueiras; com seis,

vendo-se um conjunto de 23 habitações”.

Tal estudo completa a informação, que junto a um grande braço de água

vindo de outras terras, existe, um vale de terras húmidas (1), com o lugar de

Bilrete de Cima; com nove vizinhos.

As terras arenosas eram conhecidas como “Milagrosas”, das suas profundezas

nasciam águas e plantas que, o homem vinha aproveitando para curar os seus

males, segundo informações de boticários da época.

“No Paul de Magos, existia o “Vale de Unheiros” onde numa nascente com

um pequeno olho de água, brotava um líquido que, o povo dizia substituir o

chá. A voz popular, dizia; “Quem Bebe-se daquela água, passaria a ter mais

vontade de comer ! “ O bruco, uma outra erva de grande poder curativo das vias

urinárias, além das terras do Paul, se colhia em outros sítios do termo da vila de

Salvaterra de Magos. Com a extinção das Coutadas Reais em 1821, a Junta da

Paróquia de Salvaterra de Magos, “aforou”, em 1845 aqueles terrenos que,

viriam a dar lugar às povoações que, hoje fazem parte do concelho.

Os povos que,” colonizaram” aquelas terras não sabiam que estavam debaixo

da alçada de leis anteriores à época romana. Em Portugal, ainda se praticava o

sistema do enfiteuse, um modo de usar as terras, pelos senhorios, já conhecido

dois séculos a. C.

************

(1) - Durante muitos anos, existiu o sítio do Vale do Grou

Page 5: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

3

A POSSE DA TERRA

Quando do aforamento daquelas terras de charneca, os modelos usados pelos

novos donos, foi de origem espontânea, sendo na maioria utilizados alguns

sistemas de pequena “Exploração directa, Parceria ou o Arrendamento”.

As primeiras parcelas de terreno, em licitação pública foram vendidas a

250$000 réis, sendo as seguintes em preços, entre os 1.000 e 3.000$000 réis.

Os anos foram passando, a segunda geração de Foreiros, iniciava, a luta pela

posse da terra por si trabalhada, foram confrontos, que levou muitas famílias

perante as decisões dos tribunais, prolongando-se muitas causas para além da

4ª geração de rendeiros. A saída do decreto-lei n.º 39.917, de 1954, não

contemplou por inteiro os seus direitos, nem um outro de 1976, e só muitos

anos mais tarde, existiu a discussão do projecto de lei 343/IV que, foi aprovado,

e saiu como lei contemplando a legalização da Várgea Fresca e Califórnia. O povo

dos Foros de Salvaterra, conquistava assim um desejo que, durava à muitas

dezenas de anos. O progresso vinha chegando, e o primeiro ramal de

electrificação de algumas zonas, aconteceu no dia 24 de Outubro de 1981, para

comemorar o acontecimento o executivo da Junta de Freguesia, promoveu um

programa com muitos festejos.

BARRAGEM DE MAGOS

No grande Vale da Ameixoeira, onde as águas das

chuvas e, algumas nascentes tinham lugar, aconselharam a

construção da Barragem de Magos. Teve assim inicio, em

1934, a primeira obra de engenharia hidráulica, com

reservatório hídrico, a ser construída em Portugal. Num

trabalho, do Prof. Eng.º Agrónomo, Ruy F. Mayer,

publicado em 1936, eram tornadas públicas pela primeira

vez, que grande parte das terras daquela zona de Charneca,

poderia ser agora, premiada com a rega, no Verão, através

Page 6: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

4

de um sistema de bombagem, beneficiando toda sua vasta área de terreno

areno-arenoso com calhau e alguma argila.

A AGRICULTURA

No início do século XX, as manchas de vinha, pinhal e eucaliptal, ocupavam

já grandes áreas, passando a ser as maiores fontes de rendimento do povo

foreiro. O sobreiro, oriundo da sua antiga charneca, vivia em espaços bem

localizados, convivendo com Chaparral da Casa Roquette, que dava mostras

do seu desaparecimento.

As searas de regadio, mais tarde conheceram os furos artesianos, muitas

vezes a grandes profundidades, que deram àquelas terras aptidões para

grandes colheitas. O vinho, das suas terras areno-arenosas, com uma qualidade

e sabor, muito apreciado que, o mercado identificava ”Vinhos dos Foros de

Salvaterra”. Os seus terrenos frescos, eram procurados para a criação de gado

cavalar.

Uma nova etapa, começou nos terrenos que, durante centenas de anos, davam

sementes de sequeiro, como: o grão, a fava, o milho e o trigo, eram agora

aproveitadas na batata, tomate e cenoura. Estas três culturas agrícolas, estavam

agora a mostrar serem mais produtivas.

O ABASTECIMENTO DA POPULAÇÃO

Por volta de 1968, as mulheres Foreiras, ainda vinham a Salvaterra, fazer as

suas compras “avios” de mercearia aos sábados. Trabalhavam de manhã, e

depois do almoço muitas vinham a pé, ou aproveitavam alguma boleia de

carroça. Após as compras, nas “Lojas” onde se abasteciam com créditos anuais,

lá procurava a Central das carreiras, com as pequenas cestas, cheias de

alimentação para uma semana.

Page 7: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

5

Pelas 15,00 horas, um grande corrupio de passageiros, dava para encher

algumas camionetas, nos transportes públicos. A maioria ficava no Estanqueiro.

Quanto à roupa e calçado, aproveitavam a confiança concedida pelos

comerciantes de Salvaterra, iam suprindo as necessidades e no final, da

temporada, fim do Verão, lá para Setembro, quando as colheitas, e a vindima

estavam feitas, faziam a liquidação das contas.

Mais tarde, naquela época do ano, era no Mercado de Marinhais, que a roupa

e o calçado eram comprados para vestir a família, aproveitando também para a

compra de um porco para a engorda.

DIA DE FESTA CASEIRA

(A Matança do Porco)

Uma outra forma de abastecimento, era a guarda em caixote de madeira

”salgadeira” de carnes de porco. Era um alimento, que entrava em todas as

refeições, especialmente os enchidos (chouriço de carne e chouriço preto), que

tinham origem na matança de um porco. Quando as famílias eram numerosas,

matavam-se dois porcos por ano – um na Primavera um outro no Outono.

Nos dias da matança do porco, eram convidados, alguns familiares e amigos.

Estes, chegavam a vir de terras afastadas, sendo uma forma de reencontro

anual, era dia de festa! Os homens, depois de prepararem uma fogueira com

“caruma”, ajudavam a segurar o porco, com algumas arrobas, em cima de um

estrado, ou mesa de madeira, enquanto o que tinha mais jeito, de faca em

punho, lá a espetava na garganta do animal.

As mulheres, quando o “bicho” sangrava, com um alguidar de barro, sal e

vinagre, recebiam o sangue, que depois servia para os enchidos, de chouriço

preto. Também, em jeito de fila, lá iam dando água, a umas outras que

raspavam os pelos queimados.

Page 8: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

6

As entranhas, do animal eram todas limpas e aproveitadas. Algumas, serviam

logo para o primeiro petisco, caso das tripas, fígados. Quando a matança, era

no Outono, aproveitava-se, para a prova do vinho/ou água-pé.

RELIGIÃO/ FESTAS POPULARES

Desde tempos imemoriais, que a primeira população foreira venerava Nossa

Senhora do Castelo, talvez por se comemorar em 15 de Agosto, feriado

religioso, religiosidade que vinha transmitindo aos seus descendentes. Era dia

de festa, a ida a Coruche, filas de carroças logo “cedinho” com o raiar do sol.

Juntavam-se algumas famílias e amigos, levavam as

suas comidas, em pequenas cestas, que era comida na

encosta do castelo, ou ali perto da estação do comboio,

local onde “amarravam” as bestas. Como o decorrer

dos anos, o padre José Rodrigues Diogo, da paróquia

de Salvaterra, foi estabelecendo contactos mais

aguerridos com muitos paroquiados dos Foros, e com a

sua perseverança não deixou de levar a cabo um

desejo; a construção de uma Igreja naquele lugar.

O povo passou a ter mais religiosidade, em Nossa

Senhora da Conceição “Imaculado Coração de Maria”,, tradição que vinha de há

séculos, em Salvaterra, adoptando-a como sua padroeira, festa que se realiza em

plena época de Verão. Um outro templo religioso foi construído, no sitio da

Várgea Fresca, onde as festividades culminam na 3ª semana de Julho, com a “

Festa da Amizade”.

Page 9: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

7

HINOS À NATUREZA

Nos anos 70, segundo uma recolha que fiz, especialmente na zona de Moita

Paredes e Lagoa, as gerações mais antigas de Foros Salvaterra, conservavam

ainda no seu rico vocabulário, “hinos à natureza”, como:

* As terras da Lezíria, são uma beleza *

* Na Primavera, a formiga em carreiro, sua mesa começa a juntar !

* Tempo quente, Verão, de queimar, Vejo, trigo loiro, pronto a debulhar! *

Cearas de tomate, a vermelhar,

O melão, madura a adocicar!

No Outono, a uva está pronta a vindimar,

Chuvas no Inverno, são de tragar !

Canto e choro a trabalhar,

Que, mais, a terra nos há-de dar!

* E eu, assim vivo desta natureza*

A CASA DOS FOREIROS

Uma habitação típica da Lezíria ribatejana !

A arroteia daqueles terrenos de charneca, foi um longo e lento trabalho de

homens e animais que, ocupou famílias, durante anos e anos, ali instaladas

desde o seu aforamento.

De Salvaterra de Magos, a terra-mãe, saíram os seus primeiros “colonos”,

com seus usos e costumes - danças e cantares da planície ribatejana.

Assim, nasceu o lugar de Foros de Salvaterra !

Os novos foreiros, depressa começaram a construir pequenas casas que, sendo

destinadas à sua habitação, também tinham agregadas divisões, servindo de

Page 10: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

8

espaços para armazém de viveres e adega. Na habitação, muito pobre de

construção, era usado o adobe (terra negra de aluvião e palha) com o reboco das

paredes em massa de cal.

Por perto viviam os animais de trabalho, aquartelados em estábulos

precários. O burro, era a besta mais utilizada, como meio de transporte,

enquanto o gado vacum, além do leite dava a força para o amanho da terra.

Um pequeno forno e um poço, também

tinha lugar nas redondezas, enquanto as

árvores de fruto com hortado, serviam a

família. Num espaço, aramado em rede

feita à mão, viviam as galinhas, enquanto

na pocilga, um porco de engorda, era

alimentado para a matança anual.

A casa com divisões pequenas, cujo estilo de construção, ainda durava nos

anos 50, deste século agora a findar, deu-lhes um lugar típico na Lezíria

ribatejana. O telhado com telha de canudo (a chamada telha portuguesa), era a

cobertura primitiva, dando lugar anos depois, a uma outra de desenho plano, a

Marselha. A entrada da casa, com espaço largo, servia de sala de receber as

visitas e funcionava como cozinha e lugar das refeições.

No fundo uma chaminé de construção junto ao chão, com uma grande boca,

onde durante o dia uma fogueira de lenha se mantinha acesa. Panelas grandes,

de ferro fundido com tripé, ali eram colocadas, para a cozedura das refeições

familiares e também dos animais. A meia altura da empena da chaminé, um

suporte (prateleira), construída em cimento ou madeira, suportava os potes de

barro, com água potável, para a bebida da família.

Na chaminé no início do

fecho do pescoço, no

interior, algumas

peças em ferro, suportavam

os enchidos, na sua cura de

fumeiro Uma outra divisão,

usada como quarto do

casal, tinha a completar,

um outro mais pequeno,

para agrupar as camas dos filhos, enquanto pequenos, consoante os sexos.

No campo do mobiliário, as peças em madeira eram de grande rusticidade,

com um revestimento de uma laca, a que chamavam “vioxene”. As mesas e

cadeiras da cozinha, muitas vezes apresentavam-se pintadas de azul ou verde.

Page 11: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

1934 - Início da construção da Barragem de Magos

1942 – A bacia da Barragem de Magos, cheia de água

1934 – Em dia de vindima, homens foreiros, carregando cestos de uvas

Page 12: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

1934 – Mulheres Foreiras, mondando arroz, no Paul de Magos

1966 - Maria da Silva (Maria Chaparrana),

em dia de Espiga (Quinta-feira de Ascensão)

1983 – Construção de um reservatório de água – abastecimento ao domicilio

Page 13: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

Elevação de Foros Salvaterra a Freguesia

Page 14: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

Igreja dos Foros Salvaterra

Edifício da Extensão do Centro de Saúde - Foros Salvaterra

Page 15: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

9

Nos quartos, viam-se camas de ferro, com algumas peças em metal que, era

limpo periodicamente, para conservarem o brilho.

Na primeira metade do século passado, ainda era muito usual, no chão, uma

massa negra, a que chamavam “pavimento de salão” (1) , sendo semanalmente

“borrifado com água”, ficando macio e brilhante durante algum tempo, dando

estes espaços lugar ao cimento, nas novas construções.

Nas pequenas janelas, no interior das divisões de maior privacidade,

pendiam peças de tecido transparente, a que chamavam cortinados.

Os anos passaram, as vinhas

e o pinhal foram dando lugar

as novos estilos de vida, o

foreiro tradicional, foi

dando lugar, a novos hábitos de

“amanhar a terra” com a

compra de novas alfaias

agrícolas, dedicando-se mais à

cultura de searas de produção

intensiva. Na construção de

habitação, uma nova urbanização, de inicio como que a “receio”, as novas

construções, depressa deram lugar em grande escala a pequenas moradias,

agora chamadas de vivendas. Os terrenos, passaram a ser muito procurados

por gente de fora, que tem modificado os Foros de Salvaterra, com este tipo de

habitação, que passou a ser casa de campo, ou de fim de semana.

**************

AS TRADIÇÕES NO CASAMENTO

Apesar do período de grande transformação, onde o exotismo dos casais já

ter dificuldades em constituir e manter uma família consistente, os foreiros, até

aos bem poucos anos, conservavam nos seus tradicionais costumes, o

casamento como um bem digno de registo.

***********

(1)- Solão=Saibro de Aluvião

A povoação de Foros de Salvaterra, situada entre Coruche e Salvaterra de

Magos, nos finais da década de 80, do século passado, ainda tinha, talvez como

inéditas em Portugal, uma tradição nas suas festas de casamento do seu povo.

Page 16: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

10

Por necessidade de deslocação à Igreja Matriz da vila, os noivos e padrinhos

e restantes convidados eram transportados em vistoso cortejo.

UM CASAMENTO NOS FOROS DE SALVATERRA

Já um distinto cronista(1), tratou desta forma, com a descrição :

“Tem colorido e graça um casamento nos Foros. Os noivos e os seus convidados

montam em burros, cujas albardas vão cobertas de colchas de algodão de cores vistosas,

lembrando uma cavalgada da Idade Média, numa imitação quixotesca.

A noiva, traz um largo e comprido vestido azul com requifes brancos, mantilha branca

na cabeça, onde a laranjeira abunda. O requife faz nos vestidos os mais inéditos

desenhos, que enchem de graça este trajar simples. O noivo, de preto, jaleca, chapeirão

de aba larga, com pena de pavão espetada

no chapéu e, junto à fita e no feito, ramos

de flores de laranjeira”

No dobrar do século, outra

forma de cortejo era usada. No meio

da vasta fila de carroças, um

acordeonista, contratado para os dias da festa, tocava as mais diversas modas,

como: Corridinhos e marchas.

Sendo eu, o responsável, pela feitura da página o “Jornal de Salvaterra”, que

tinha lugar no semanário “Aurora do Ribatejo”, com sede em Benavente.

Um dia, João Pereira (Jope), que de vez enquanto para lá enviava um artigo,

me abordou, entregando-me o texto seguinte:

***********

(1) – Francisco Câncio

O som da música, misturado com a alegre vozearia do enorme trotar dos

animais que, por vezes percorria muitos quilómetros, por terras de areia, onde o

estridente guizalhar dos seus ornamentos que, puxavam as carroças em grande

fila indiana.

O trote certo daqueles, era vigiado pelos condutores, com a ajuda do

inseparável chicote. Em Salvaterra, durante e após a cerimónia matrimonial, os

padrinhos ofereciam um copo de bebida e um cigarro, aos mirones que, se

juntavam perto das escadas da Igreja ou que ou por uma taberna que estava

ali ao lado. O rapazio, esse, em grande correria, acompanhava o cortejo, já no

regresso, até à estrada das “cavalhariças ” (1) apanhando as amêndoas e

rebuçados, agora oferecidos por outros membros comitiva, que as atiravam

Page 17: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

11

para o ar. Ao iniciarem o caminho, os nubentes tomavam o lugar na última

carroça do cortejo, de costas voltadas para o condutor, e acenavam alegremente

para a assistência que no percurso lhes desejavam muitas felicidades.

Durante a viagem, por caminhos difíceis, onde os valados cobertos de

verdura, mostravam ao fundo casas caiadas de branco, demonstrando grande

cuidado dos seus habitantes. Por vezes, algumas amigas da noiva, muito antes

do termo da viagem, esperavam o cortejo e, com arcos engalanados de flores

naturais e de papel, obrigavam os participantes no casamento a percorrer o

espaço que faltava até ao local da boda, acompanhados de músicas e cantares

da região.

À chegada ao local, era sempre um ancião (homem ou mulher) que, dizia os

versos seguintes:

“Vou dar os parabéns aos noivos !

Que por Deus já estão casados !

Se forem muito amiguinhos !

Por Deus serão ajudados !

Foram hoje à Igreja !

Encruzar as mãos em cruz !

Deus queira que se dêem tão bem !

Como a virgem Maria com Jesus !

Antes da entrada no local da boda, uma boa mesa de vários pratos, à base de

carnes e doces, os esperava, com algumas garrafas de vinhos licorosos.

O acordeonista, tocava algumas modas, onde todos os convivas dançavam

durante alguns minutos. Durante a tarde, até à hora de jantar, novamente a

dança ocupava o tempo dos convidados, especial dos mais novos.

********* (1) - Cruzamento Salvaterra/Coruche/Santarém

Os mais velhotes, os homens, entretinham-se a comenta o tempo e o ano

agrícola, e as anedotas sempre picantes de premeio, chegavam assim à noite, já

com uns bons copitos no bucho<.!

Page 18: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

12

As mulheres, essas em grupo, entretinham-se a saber e contar das novidades

locais!

Pela noite dentro e, com o jantar a decorrer, as músicas não paravam, a

convidar sempre um pé de dança, num baile que, durava até sol fora do dia

seguinte. Os noivos, não arredavam pé e, de vez enquanto a pedido, tinham de

dar a sua graça no bailarico.

Após o almoço, depois da tarde ser passada em convívio com os convidados,

recebiam a chave da sua nova habitação, ficam enfim a sós.

A ENTREGA DA CHAVE

Na cerimónia da entrega da chave, os padrinhos e os pais dos noivos e, estes

caminhando a pé até à nova residência, abriam a porta, e após uma dança (uma

última modinha), recebendo a chave das mãos dos padrinhos:

Dizia o noivo para a já sua mulher:

Toma lá esta chave ! Já que és minha mulher ! Para me abris a porta ! A toda a hora

que eu vier !

A noiva ao abrir a porta, aos presentes respondia:

Meu padrinho, minha madrinha e, a todo o acompanhamento; Se meu marido der

licença,

façam favor de entrar para dentro !

Era então o momento das mulheres bisbilhotarem e, os comentários eram

tema de conversa no campo, durante a semana seguinte.

Após uma pequena visita e desejos de boa sorte, os recém-casados, lá ficavam

a sós, pois muitas vezes, no dia seguinte (segunda-feira), era dia de trabalho.

O NATAL DE OUTROS TEMPOS!

Há dias, minha sogra, Rita Silva, de 85 anos de idade, perguntou-me se o dia

de Natal estava perto. Lá lhe fui dizendo que faltavam uns dias, dizendo-me

muito mais puxando pela memória já muito débil. Olhe, talvez não saiba, que

na minha geração, não se dizia os meses do ano;, eram o (S. João, S. Tiago, S.

Miguel, Piedade, Santos e Natal), os outros; Janeiro, Fevereiro, Março, Abril,

Maio e Outubro. Quando eu, era nova, na terra onde nasci – Foros de

Salvaterra, a festa do dia de Natal, resumia-se ao almoço em casa, quer a família

fosse de muitos ou poucos filhos. A comida do almoço, era à base de galinha, e

Page 19: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

13

por vezes lá se matava um coelho e também carne de cabrito, ou carneiro, que

era muito raro, nestas últimas.

Eram animais criados em casa, para se comer algum dia diferente, como,

doença, ou do nascimento de um filho (fazia-se uma canja com arroz). O dia de

Ano Novo, já não tinha grande importância, mas se tinha sobrado alguma coisa

do Natal, servia para a refeição do almoço.

Dois, ou três dias antes do Natal, depois da jorna do trabalho, noite dentro,

algumas vizinhas ou raparigas familiares, juntavam-se em casa de uma delas, e

ali faziam “velhozes” e arroz doce. Os bolos, era coisa desconhecida para

aquele povo rural. Um ou outro, mais endinheirado, lá comprava uns bolos

diferentes.

Como havia cozedura de pão, também se faziam umas “caralhotas” que as

crianças gostavam muito (massa do pão, azeite, canela e açúcar), aliás era um

doce que era feito todo o ano, sempre que o forno era quente e havia pão cosido

de fresco. Ao cair da noite da véspera de Natal, e sempre que o tempo

convidava, todos os vizinhos do canto onde viviam, em grande “ajuntamento”,

a pé com lanternas (umas com velas outras já com petróleo), acesas, lá iam por

estradas de areia – que eram os carreiros das carroças e das manadas de

animais, atravessando pinhais, fazia-mos a entrega de lembranças aos nossos

familiares mais próximos, especialmente aos mais idosos. A romaria, era feita

pelas mulheres e raparigas que cantavam e, no grupo sempre havia um homem

que tocava gaita de beiços, adoçando as “goelas” com uns golos de vinho doce,

ou aguardente (1)

ELEVAÇÃO A FREGUESIA

Com o decreto Nº 73/84 de 31 de Dezembro de 1984, subiu à categoria de

freguesia, e no campo territorial, deixava agora de pertencer à sua terra - mãe,

Salvaterra de Magos, passando a ocupar uma área de terreno de 35,60 Kms2,

com cerca de 5.000 habitantes.

***************

(1) – In Blogue “historia de Salvaterra

O PROGRESSO

Page 20: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

14

A povoação conheceu melhores dias, após a revolução de Abril de 1974, tanto

o comércio e prestação de serviços muito se desenvolveu.

O abastecimento de água que, até ali era o reservatório do poço, foi

desenvolvido e numa primeira fase foram enterrados numa vasta zona, cerca de

70 kms de canalização para o abastecimento domiciliário.

No campo da saúde, foi construído um posto médico para apoio à

população. As vias de comunicação, modernizaram-se com a pavimentação de

muitas delas. No entanto a sua melhor conquista, foi a elevação a freguesia,

que ocorreu no ano de 1984. A Barragem de Magos, foi sofrendo vários arranjos

para o turismo, sendo agora um espaço de grande procura.

*************** *******************

NOTA:

Quando da venda, em 1845, pela Junta da Paróquia de Salvaterra de Magos, dos terrenos

que, foram da Coutada real, estes em grande parte adquiridos por lavradores e proprietários

agrícolas de boas posses, da região, como: As Casas Cadaval, Roquette, Costa Freire, Roberto,

Porfírio Neves da Silva, Rebello de Andrade, Sousa Vinagre, Eugénio de Menezes, entre outros.

A maioria destes terrenos foi sujeita, após a compra a uma colonização expontânea, por

famílias que, ali se instalaram, para transformarem solos bravios, em terras produtivas, de

regime de cultura intensiva. Para a exploração directa dos cultivadores, foram usados os

sistemas; Aforamento, Venda, Arrendamento, e numa pequena escala a Parceria.

Os primeiros Foreiros instalaram-se e construíram habitações para as suas famílias, na situação

de ilegalmente, ou autorizados verbalmente, e nas partilhas dos seus bens, para com as gerações

descendestes, eram usada a repartição de parcelas, onde usavam a sorte do barrete, hábito

ainda usado até a meados do século passado.

Page 21: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

15

Ainda na primeira metade do séc. XX, vários foram os Dec.Leis, publicados, autorizando a

então criada, Junta de Colonização Interna, a comprar em vário pontos do país, terrenos aos

primitivos donos, para uma colonização intensiva.

De modo a sua posse pelos usuários, fosse menos penosa na aquisição, a entrega aos

“colonos/foreiros”, dos terrenos era feita através de escritura de venda/compra, com pagamentos

mensais e durante vários anos

Nos Foros de Salvaterra, alguns terrenos foram assim transaccionados, ao abrigo daquelas

primeiras leis, e só muitos anos depois, em 1987, alguns casos foram solucionados, entre eles os

terrenos da “Califórnia”, na zona da Várzea Fresca, nome que recentemente tinha aparecido na

linguagem do povo.

******************

***********

*********

Page 22: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

16

BIBLIOGRAFIA USADA:

Documentos do Autor :

* SALVATERRA DE MAGOS E O SEU CONCELHO:

Freguesia de Foros de Salvaterra

* OS FOREIROS DA CALIFÓRNIA E VÁRGEA FRESCA

Uma Luta de muitos anos !

* FOROS DE SALVATERRA “HISTÓRIAL”

(Texto oferecido pelo autor, e usado no livro de publicidade das Festas dos

Foros de Salvaterra, no ano 1994, pela sua Comissão),Também foi usado,

pela Câmara Municipal, no livro: “Salvaterra, Paladares Antigos.

* FOROS DE SALVATERRA “Uma terra abençoada pela natureza !”

* Texto da rubrica: - Já sabia, Que !

(Rubrica semanal, que o autor, tinha na rádio de Marinhais-1990)

*Natal de Outros Tempos ! – Autor *** In Internet “História de Salvaterra”

Blogue: http://www.historiadesalvaterra.blogs.sapo.pt

**************** *****************

FOTOS USADAS:

- Pág 3 Monda de Arroz, no Paul de Magos .. 1936 <<<<<<.. a/d

- Pág.3 Construção da Barragem de Magos <.1936 <<<<<<. a/d

- Pág.4 Fazendo a vindima <<<<<<<<1936 <<<<<<. a/d

-Pág.4 Lavrando a terra, com Junta de bois <.1936 <<<<<<. a/d

-Pág.5 Mulheres Foreiras, entrando para as camionetas de transporte

Público <<<<<<<<<<<<<<1960 <<<.. Foto autor

- Pág.5 Francisco Libório e António (Casaquita), este com o burro

Junto à taberna do Leopoldino em Salvaterra, 1967, Foto E.Gageiro

-Pág.7 Rancho Folclórico de Foros de Salvaterra .. 1975 <<<<. a/d

- Pág.7 Casa tradicional de família Foreira<<1950 <<<<<< a/d

- Pág.8 Cama/quarto, Família Foreira<<<< 1950 <<<<<< a/d

-Pág 9 – Família Foreira <<<<<<<<<.. s/d <<<<<<< a/d

-Pág.10 Igreja Matriz e Taberna do Morais <.. s/d <<<<<<< a/d

- Pág.10 Carroças do cortejo de um casamento em Salvaterra <<..a/d

–Pág.13 Uma viúva Foreira e filha, na EN118 (Vale Queimado) 1967

Foto Eduardo Gageiro * Revista Século Ilustrado

-Pág. 15 Grupo de de homens transportando cestos com uva 1936 a/d

Pág. 15 Construção da Barragem de Magos<<<<<<<<<<. a/d

**************

As Fotos do Anexo, foram retidas da edição: Práticas e Saberes das Avós no

Cuidar das Crianças (Pág. 91,92,93) – Autor: João Paulo Vieira Rodrigues

Page 23: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

17

Dedico este livro:

A minha esposa,

Maria da Conceição,

nascida nos Foros de Salvaterra,

Nesta data, minha companheira

de 50 anos!

Page 24: Subsídios Para a História da Freguesia dos Foros de Salvaterra

Edição do Autor

Publicado: http://www.historiasalvaterra.blogs.sapo.pt

Online