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ESPECIAL | Lei do Orçamento do Estado para 2010 Na sequência da publicação da Lei do Orçamento do Estado para 2010 no Diário da República de hoje, efectuamos em seguida uma breve síntese das principais medidas fiscais introduzidas, com inclusão das alterações efectuadas relativamente à Proposta de Lei n.º 9/XI que foi objecto do nosso flash fiscal do passado dia 27 de Janeiro. CÓDIGO DO IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DAS PESSOAS SINGULARES IRS Regime simplificado em sede de IRS Fixa-se um limite único de € 150.000,00 para o enquadramento no regime simplificado de tributação, pondo termo à diferenciação entre as vendas e os demais rendimentos da categoria B. O referido valor passa a ser também aquele que releva para efeitos de dispensa de aplicação do regime contabilístico trazido pelo novo Sistema de Normalização Contabilística. Por outro lado, elimina-se o rendimento líquido mínimo a considerar para efeitos de apuramento do rendimento tributável no âmbito deste regime. As alterações introduzidas não visam apenas simplificar este regime, mas pretendem ainda prosseguir uma tributação mais conforme ao princípio da capacidade contributiva. Actos isolados Na mesma linha de simplificação do IRS, sujeita-se os rendimentos provenientes de actos isolados às regras gerais de determinação do rendimento tributável da respectiva categoria de rendimentos, designadamente, ao regime simplificado ou ao regime de contabilidade organizada, em função do respectivo valor.

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Page 1: SPECIAL | Lei do Orçamento do Estado para 2010 · Entre os benefícios fiscais visados por esta norma (e, deste modo, limitados pela mesma) encontram-se os previstos em acréscimos

ESPECIAL | Lei do Orçamento do Estado para 2010

Na sequência da publicação da Lei do Orçamento do Estado para 2010 no Diário da República de hoje,

efectuamos em seguida uma breve síntese das principais medidas fiscais introduzidas, com inclusão das

alterações efectuadas relativamente à Proposta de Lei n.º 9/XI que foi objecto do nosso flash fiscal do passado

dia 27 de Janeiro.

CÓDIGO DO IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DAS PESSOAS SINGULARES – IRS

Regime simplificado em sede de IRS

Fixa-se um limite único de € 150.000,00 para o enquadramento no regime simplificado de tributação, pondo

termo à diferenciação entre as vendas e os demais rendimentos da categoria B. O referido valor passa a ser

também aquele que releva para efeitos de dispensa de aplicação do regime contabilístico trazido pelo novo

Sistema de Normalização Contabilística.

Por outro lado, elimina-se o rendimento líquido mínimo a considerar para efeitos de apuramento do

rendimento tributável no âmbito deste regime.

As alterações introduzidas não visam apenas simplificar este regime, mas pretendem ainda prosseguir uma

tributação mais conforme ao princípio da capacidade contributiva.

Actos isolados

Na mesma linha de simplificação do IRS, sujeita-se os rendimentos provenientes de actos isolados às regras

gerais de determinação do rendimento tributável da respectiva categoria de rendimentos, designadamente, ao

regime simplificado ou ao regime de contabilidade organizada, em função do respectivo valor.

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Declaração de rendimentos – dispensa e alteração dos prazos de entrega

Consagra-se a dispensa da entrega da declaração de rendimentos para quem aufira rendimentos do trabalho

dependente de montante inferior a € 4.104,00.

Por outro lado, ainda que apenas a partir de 1 de Janeiro de 2011, são alterados os prazos de entrega das

declarações de rendimentos Modelo 3 do IRS, passando a entrega, por sujeitos passivos que apenas hajam

recebido ou a cuja disposição apenas tenham sido colocados rendimentos das categorias A e H, a ser devida

durante os meses de Março ou Abril, consoante seja efectuada em suporte de papel ou por transmissão

electrónica de dados e a entrega por sujeitos passivos que se encontrem nos restantes casos a ser devida

durante os meses de Abril ou Maio, consoante seja efectuada no primeiro ou segundo daqueles formatos.

Taxas liberatórias

Uniformiza-se à taxa de 20% a generalidade das taxas liberatórias previstas no Código do IRS, o que se traduz

numa redução das taxas actualmente aplicáveis a realidades como determinadas indemnizações auferidas por

não residentes em território português, até agora sujeitas à taxa de 25%.

Em sentido inverso, passam a ser tributadas à referida taxa de 20% determinados rendimentos auferidos por

não residentes em Portugal até agora tributados à taxa de 15%, como é o caso de certos rendimentos de

capitais, dos rendimentos decorrentes de intermediação na celebração de quaisquer contratos, de actividades

profissionais e de outras prestações de serviços, bem como dos rendimentos provenientes da propriedade

intelectual ou industrial ou da prestação de informações respeitantes a uma experiência no sector industrial,

comercial ou científico.

Esta alteração terá por efeito o agravamento em 5% da tributação final dos rendimentos desta natureza – da

qual destacamos as prestações de serviços e os royalties – auferidos por pessoas singulares residentes em

territórios com os quais não exista convenção com vista a evitar a dupla tributação.

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Taxas especiais

Estende-se à generalidade dos rendimentos de capitais devidos por entidades não residentes, quando não

sujeitos a retenção na fonte, a taxa especial de 20%, até agora aplicável apenas a juros e lucros naquelas

condições, deixando aqueles de ser obrigatoriamente englobados com os restantes rendimentos.

Rendimentos produzidos em anos anteriores

Estende-se aos rendimentos prediais (rendas dos prédios rústicos, urbanos e mistos, pagas ou colocadas à

disposição dos respectivos titulares em ano distinto daquele que lhes dá origem) o mecanismo de atenuação do

efeito decorrente da eventual subida de escalão de tributação em resultado da concentração num ano de

rendimentos que, em condições normais, deveriam ter sido repartidos por anos anteriores.

Alarga-se ainda para seis o número de anos (actualmente apenas de quatro) aos quais podem ser imputados os

rendimentos ao abrigo deste mecanismo.

Sujeitos passivos com deficiência

À semelhança do já estabelecido para o ano de 2009, prorroga-se para o ano de 2010 a exclusão de tributação

parcial, com o limite de € 2.500,00 por categoria de rendimentos, dos rendimentos brutos de cada uma das

categorias A, B e H auferidos por sujeitos passivos com deficiência, sendo os mesmos considerados em apenas

90%. Recorde-se que a exclusão de tributação dos rendimentos auferidos por sujeitos passivos com

deficiência, já consagrada relativamente a anos anteriores, surgiu na sequência da polémica substituição,

através da Lei do Orçamento do Estado para 2007, dum regime de isenção parcial dos rendimentos por um

regime de dedução à colecta que se revelou penalizador para os sujeitos passivos com deficiência. Assim,

permanecem aplicáveis não só a aqui referida exclusão de tributação de 10% relativamente aos rendimentos

brutos de cada uma das categorias A, B e H, nos termos acima referidos, mas também as deduções à colecta do

IRS relativas às pessoas com deficiência, previstas no artigo 87.º do respectivo Código.

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Deduções ambientais

Alarga-se a dedução à colecta do IRS actualmente prevista para as despesas incorridas com equipamentos e

veículos «amigos do ambiente» às efectuadas com equipamentos e obras de melhoria das condições de

comportamento térmico de edifícios, dos quais resulte directamente o seu maior isolamento. Contudo, limita-

se a possibilidade de dedução à colecta deste tipo de despesas a uma vez em cada período de quatro anos.

IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DAS PESSOAS COLECTIVAS – IRC

Isenção de lucros distribuídos a não residentes – Directiva mãe-filhas

Estende-se o regime de isenção aplicável aos lucros colocados à disposição de estabelecimentos estáveis

situados, ou entidades residentes, em Estados membros da União Europeia, nos termos da Directiva n.º

90/435/CEE, do Conselho, de 23 de Julho de 1990, aos restantes países do Espaço Económico Europeu,

contemplando deste modo países como a Islândia, a Noruega e o Liechtenstein.

Eliminação da dupla tributação económica de lucros distribuídos

No mesmo sentido, estende-se o regime da eliminação da dupla tributação económica previsto no Código do

IRC relativamente aos lucros distribuídos, nas condições no mesmo previsto, por entidades residentes, ou

estabelecimentos estáveis situados, nos restantes países do Espaço Económico Europeu.

Adicionalmente, consagra-se expressamente a regra que, em respeito pelo direito comunitário, vinha já sendo

aplicada pelas empresas do sector dos seguros, consistente na aplicação do regime de eliminação total da dupla

tributação económica, independentemente dos requisitos quanto à participação, dos rendimentos de

participações sociais de sociedades residentes em Estados membros da União Europeia (e agora também no

Espaço Económico Europeu) em que tenham sido aplicadas as reservas técnicas daquelas sociedades.

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Depreciações efectuadas com viaturas

Inclui-se expressamente os veículos eléctricos no leque de viaturas sujeitas ao limite de depreciações aceites

como custo para efeitos fiscais, remetendo para portaria do membro do Governo responsável pela área das

finanças a definição do limite do custo de aquisição ou do valor de reavaliação para esse efeito.

Mais-valias realizadas com a alienação de acções - Reinvestimento dos valores de realização

Para efeitos do regime de exclusão de tributação em 50% do valor das mais-valias e menos-valias realizadas

com a transmissão onerosa de partes de capital, elimina-se a possibilidade do reinvestimento dos valores de

realização ser efectuado em títulos do Estado Português, disposição que, aliás se mostra contrária ao direito

comunitário e cuja revogação se impunha.

A actual redacção do artigo 48.º do Código do IRC possibilita que, verificados que estejam determinados

requisitos, a diferença positiva entre as mais-valias e as menos-valias realizadas mediante a transmissão

onerosa de partes de capital, incluindo a sua remição e amortização com redução de capital, sejam tributadas

apenas em 50%, quando o valor de realização correspondente à totalidade dos referidos activos seja

reinvestido na aquisição de – entre outros activos – títulos do Estado Português. Em virtude da sua natureza

discriminatória face aos títulos dos restantes Estados membros da União Europeia, esta possibilidade não

subsistirá.

Dedução de prejuízos fiscais

Reduz-se de seis para quatro anos o período em que é admitido o reporte de prejuízos fiscais apurados, para

efeitos de dedução aos lucros tributáveis apurados em exercícios posteriores.

Esta é porventura a alteração mais relevante em matéria de IRC, na medida em que não sendo previsto

qualquer regime transitório significará que, para efeitos da matéria colectável referente ao período de 2010 dos

sujeitos passivos deste imposto, apenas serão reportáveis, para efeitos de dedução ao lucro tributável apurado,

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os prejuízos fiscais apurados nos períodos de 2006, 2007, 2008 e 2009, deixando de o ser os prejuízos que

tenham sido apurados nos períodos de 2004 e 2005.

Resultado da liquidação

Estabelece-se o aumento da colecta mínima das entidades que exerçam, a título principal, uma actividade de

natureza comercial, industrial ou agrícola que usufruam dos benefícios fiscais elencados no artigo 92.º do

Código do IRC de 60% para 75% da colecta de IRC que seria apurada se o sujeito passivo não usufruísse tais

benefícios fiscais. Esta alteração significará, em situações extremas, uma limitação ao usufruto de benefícios

fiscais num montante correspondente a 15% do valor de imposto liquidado.

Entre os benefícios fiscais visados por esta norma (e, deste modo, limitados pela mesma) encontram-se os

previstos em acréscimos de depreciações e amortizações resultantes de reavaliação efectuada ao abrigo de

legislação de carácter fiscal, a criação de emprego para jovens e os benefícios no âmbito do mecenato. A

referida limitação abrange ainda o direito à transmissibilidade dos prejuízos fiscais no âmbito de operações de

reestruturação ao abrigo da neutralidade fiscal nos termos do Código do IRC e, bem assim, a possibilidade de

dedução, para efeitos de apuramento do respectivo lucro tributável, das contribuições suplementares para

fundos de pensões e equiparáveis destinadas à cobertura de responsabilidades com benefícios de reforma que

resultem da aplicação das normas internacionais de contabilidade adoptadas pela União Europeia ou do SNC,

consoante os casos.

Tributação autónoma de bónus e outras remunerações variáveis pagas a gestores, administradores ou

gerentes

Sujeita-se a uma tributação autónoma à taxa de 35% os encargos relativos a bónus e outras remunerações

variáveis pagas a gestores, administradores ou gerentes quando estas representem uma parcela superior a 25%

da remuneração anual e possuam valor superior a € 27.500,00, salvo se o seu pagamento estiver subordinado

ao diferimento de uma parte não inferior a 50% por um período mínimo de três anos e condicionado ao

desempenho positivo da sociedade ao longo desse período.

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Relativamente à delimitação dos beneficiários das remunerações visadas pela tributação autónoma em apreço,

notamos que a mesma abrange não apenas as remunerações pagas a «administradores» e «gerentes», mas

também as pagas a «gestores». Não se encontrando ainda legalmente definido o conceito de «gestor»,

chamamos a atenção para o facto do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais ter manifestado a necessidade

de se precisar tecnicamente este conceito, pelo que se aguardam novidades nesta matéria.

No que respeita à delimitação das realidades remuneratórias abrangidas pela disposição em apreço, cumpre

salientar, em primeiro lugar, que poderão ser sujeitas a tributação autónoma, não apenas os bónus, mas

também quaisquer remunerações variáveis. Por outro lado, a opção pelo conceito “encargos” leva-nos a

concluir pela sujeição à tributação autónoma em apreço de realidades como as gratificações de balanço

referentes ao período de 2009, cujo gasto já foi contabilisticamente reconhecido naquele período (via accrual),

e que apenas serão pagas em 2010.

Adicionalmente, importa ter presente que para que se verifique a sujeição será igualmente necessário que tais

remunerações cumpram os seguintes requisitos: (i) representem uma parcela superior a 25% da remuneração

anual e (ii) possuam valor superior a € 27.500. Não obstante, ainda que seja esse o caso, a tributação não terá

lugar sempre que o seu pagamento esteja subordinado ao diferimento de uma parte não inferior a 50% do

respectivo montante por um período mínimo de três anos e seja condicionado ao desempenho positivo da

sociedade ao longo desse período.

Por conseguinte, cada sujeito passivo deverá apurar o montante correspondente ao somatório dos encargos

totais com remunerações fixas e variáveis que suporta com cada administrador, gerente ou gestor por forma a

verificar se os encargos com as referidas as remunerações variáveis representam mais do que 25% do

montante total daquele somatório e ultrapassam o valor dos € 27.500. Relativamente aos casos em que tal se

verifique, poderá ser equacionado o diferimento do pagamento de 50% do seu montante por um período

mínimo de três anos, sendo o mesmo condicionado ao desempenho positivo da sociedade.

Finalmente, importa notar que a tributação autónoma em apreço visa apenas os sujeitos passivos de IRC

residentes em território português ou os estabelecimentos estáveis instalados em Portugal de sociedades não

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residentes em território português, pelo que não será aplicável aos encargos com remunerações variáveis pagas

a administradores, gerentes ou gestores por entidades não residentes em território português.

De acordo com o artigo 158.º da Proposta do OE, a Lei do Orçamento do Estado para 2010 entrará em vigor

no dia seguinte à sua publicação, não sendo estabelecida qualquer excepção ou regime transitório no que

respeita à entrada em vigor da disposição em apreço.

Tributação autónoma excepcional do sector financeiro

Em sentido idêntico, sujeita-se a uma tributação autónoma à taxa única de 50% os gastos ou encargos relativos

a bónus e outras remunerações variáveis, pagas ou apuradas em 2010 por instituições de crédito e sociedades

financeiras, a administradores ou gerentes, quando estas representem uma parcela superior a 25% da

remuneração anual e possuam valor superior a € 27.500,00.

São a este respeito aplicáveis, com as devidas adaptações, os comentários expostos a respeito da tributação

autónoma anteriormente analisada.

Directiva Juros e Royalties – reembolso do imposto retido

Inclui-se menção legal expressa ao prazo de dois anos para apresentação do pedido de reembolso parcial do

imposto que tenha sido retido na fonte por falta de prova nos prazos e nas condições legalmente estabelecidas

dos elementos que permitem a aplicação da taxa de retenção na fonte reduzida no âmbito do regime definido

pela Directiva dos Juros e Royalties (Directiva n.º 2003/49/CE, do Conselho, de 3 de Junho), devendo para o

efeito ser apresentado um formulário de modelo aprovado pelo membro do Governo responsável pela área das

finanças e, quando necessário, acompanhado de outros elementos que permitam aferir a legitimidade do

reembolso.

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Regras transitórias para o regime simplificado

Estabelece-se um regime transitório para os sujeitos passivos abrangidos pelo regime simplificado de

determinação do lucro tributável, cujo período de validade ainda esteja em curso no primeiro dia do período de

tributação que se inicie em 2010, de acordo com o qual aqueles se mantêm no regime simplificado de

determinação do lucro tributável até ao final desse período, findo o qual lhes poderá ser aplicável a dispensa de

adopção do Sistema de Normalização Contabilística prevista no artigo 10.º do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13

de Julho, caso se trate de entidades que exerçam qualquer actividade comercial, industrial ou agrícola, que não

realizem na média dos últimos três anos um volume de negócios superior a € 150.000,00.

consagra-se a possibilidade de opção, por parte dos sujeitos passivos nas referidas circunstâncias, pela

aplicação das taxas gerais de IRC.

IMPOSTO SOBRE O VALOR ACRESCENTADO – IVA

Emissões de CO2 - Regra da inversão dos sujeitos passivos

À semelhança do que sucedeu nos sectores dos resíduos e da construção civil, por motivos de prevenção da

fraude, introduz-se no sector das emissões de CO2 o mecanismo de inversão dos sujeitos passivos, que

obrigará os adquirentes de direitos de emissão, reduções certificadas de emissões ou unidades de redução de

emissões de gases com efeito de estufa, a autoliquidarem o IVA que se mostre devido por estas operações.

Exclusão do ISV da base de incidência do IVA

Na sequência de jurisprudência do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias sobre dupla tributação no

caso de impostos sobre automóveis que incidam sobre a matrícula ou registo, é estabelecida uma autorização

legislativa ao Governo, no sentido de excluir o ISV da base de incidência do IVA. A perda de receita no IVA

será no entanto compensada através de um reforço de 20% do ISV. Perspectiva-se ainda a publicação de regras

de controlo e divulgação de preços de modo a que os operadores económicos não procedam a um agravamento

dos preços.

Créditos Incobráveis em Processo Extrajudicial de Conciliação

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Alarga-se as situações em que é possível recuperar o IVA respeitante a créditos incobráveis aos Processos

Extrajudiciais de Conciliação (para além dos processos judiciais já previstos como a execução e insolvência),

beneficiando os credores que recorram a esta via. Este procedimento é mediado pelo IAPMEI, com vista à

facilitação de um acordo, entre a empresa em dificuldade e os seus credores.

Isenção de IVA nas vendas a exportadores nacionais

Esclarece-se que a isenção nas vendas de mercadorias a exportadores nacionais superiores a € 1.000 é aferida

por factura e propõe-se a introdução de uma nova condição à aplicação da isenção de IVA nas vendas a

exportadores nacionais: o período que decorre entre a data da factura, emitida pelo fornecedor, e a data de

aceitação da declaração aduaneira de exportação não pode exceder 30 dias. O prazo para entrega do certificado

de exportação ao respectivo fornecedor é fixado em 90 dias, a contar da data da factura emitida pelo

fornecedor.

Autorização legislativa – Regras de localização de serviços

Estabelece-se uma autorização legislativa para a transposição do artigo 3.º da Directiva 2008/8/CE no que

respeita a regras de localização de serviços – Pacote IVA.

Autorização legislativa – Evasão fiscal ligada às importações

Concede-se uma autorização legislativa para a transposição da Directiva 2009/69/CE, com alterações no artigo

16.º do Regime do IVA nas Transacções Intracomunitárias (importações de bens com destino a outro Estado-

membro).

Autorização legislativa – Directiva n.º 2009/162

Autoriza-se o Governo a proceder à transposição para a ordem jurídica interna da Directiva n.º 2009/162/CE,

que altera diversas disposições da Directiva n.º 2006/112/CE, designadamente quanto às regras de localização

aplicáveis aos fornecimentos de gás.

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Autorização legislativa – Combustíveis gasosos

Autoriza-se o Governo a revogar o regime especial de tributação em IVA dos combustíveis gasosos.

IMPOSTO SOBRE OS VEÍCULOS – ISV

Abate de veículos

Mantém-se o incentivo fiscal à destruição de automóveis em fim de vida, por redução do ISV na aquisição de

veículos novos. São, no entanto, elevadas as exigências ambientais prosseguidas por este incentivo, mediante a

redução do nível de emissões dos veículos objecto deste benefício, de 140g/km para 130 g/km.

Actualização dos Escalões de Emissões do ISV

São actualizados os escalões de CO2 em -10g/km. A actualização é concentrada nos últimos dois escalões do

ISV, respeitantes aos automóveis mais poluentes.

Alteração dos requisitos para admissão temporária de veículos

Altera-se os requisitos gerais para admissão temporária de veículos matriculados noutros Estados-Membros,

beneficiando agora deste regime os veículos matriculados em nome de pessoa sem residência normal em

Portugal (por oposição ao actual regime em que se exige que o veículo esteja matriculado em nome de pessoa

não residente).

TAXAS E CONTRIBUIÇÕES

Contribuição para o Audiovisual

O valor mensal da Contribuição para o Audiovisual a cobrar em 2010 desce para € 1,74 (€ 1,75 em 2009).

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IMPOSTO MUNICIPAL SOBRE A TRANSMISSÃO ONEROSA DE IMÓVEIS – IMT

Actualização do Valor Isento de IMT

É actualizado de € 89.700 para € 90.418 o valor isento de IMT na aquisição de prédio urbano ou de fracção

autónoma de prédio urbano destinada exclusivamente à habitação própria permanente.

Actualização dos escalões de tributação

São actualizados em 0,8% os escalões de tributação em sede de IMT relativamente à aquisição de prédios

destinados exclusivamente a habitação.

IMPOSTO DO SELO – IS

Eliminação de diversas verbas da Tabela Geral do IS (TGIS)

A Lei do Orçamento do Estado para 2010 elimina diversas verbas da TGIS, algumas das quais com relevo

significativo, mais concretamente:

Verba 3 - aplicável a autos e termos efectuados perante tribunais e serviços, estabelecimentos ou

organismos do Estado, Regiões Autónomas e autarquias locais, ainda que personalizados, incluindo os

institutos públicos;

Verba 7 - aplicável ao depósito, em quaisquer serviços públicos, dos estatutos de associações e outras

instituições cuja constituição deles dependa;

Verba 8 - aplicável aos escritos de quaisquer contratos não especialmente previstos na TGIS;

Verba 12 - aplicável a licenças emitidas por diversas entidades públicas;

Verba 13 - aplicável aos livros dos comerciantes;

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Verba 15 - aplicável aos actos notariais e praticados por conservadores, entidades e profissionais com

competência para autenticar documentos particulares, entre outros, isto é, propõe-se designadamente

eliminar o IS nas escrituras, na habilitação de herdeiros e de legatários, nos testamentos;

Verba 19 - aplicável à publicidade na via pública;

Verba 20 - aplicável a registos e averbamentos em conservatórias de bens móveis;

Verba 26 - aplicável às entradas de capital, ou seja, prevê-se designadamente eliminar o IS à taxa de

0,4% actualmente incidente sobre as constituições e aumentos de capitais em espécie das sociedades

de capitais.

ESTATUTO DOS BENEFÍCIOS FISCAIS – EBF

Isenção de IMI e IMT aplicável a fundos de investimento imobiliário

Restringiu-se o âmbito da isenção de IMI e de IMT aplicável aos prédios integrados em fundos de

investimento imobiliário aos fundos abertos, passando os prédios integrados em fundos de investimento

imobiliário fechados a ser sujeitos às taxas gerais daqueles impostos.

Sociedades de Investimento Imobiliário e às Sociedades de Investimento Mobiliário

Prevê-se a extensão do regime fiscal actualmente aplicável aos fundos de investimento às Sociedades de

Investimento Imobiliário e às Sociedades de Investimento Mobiliário.

Sociedades de Investimento Imobiliário de capital variável

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Prevê-se estender às Sociedades de Investimento Imobiliário de capital variável a isenção de IMI e IMT

actualmente aplicável aos fundos de investimento imobiliário, fundos de pensões e fundos de poupança-

reforma.

Alargamento da dedução à colecta de investidores singulares em capital de risco (Business Angels)

Ciente da importância destas actividades e do estímulo que poderão conferir à economia portuguesa, o

Governo assegura aos Investidores em Capital de Risco a possibilidade de deduzirem à sua colecta em IRS do

próprio ano, até ao limite de 15% desta, 20% do valor investido por si ou pela sociedade por quotas

unipessoais de que sejam sócios.

Todavia, este regime não se aplica a:

Investimentos em sociedades cotadas em bolsa cujo capital seja maioritariamente detido por outras

sociedades (excepção feita a investimentos efectuados em Sociedades de Capital de Risco e em Fundos

de Capital de Risco); e

Investimentos em sociedades sujeitas a regulação pelo Banco de Portugal ou pelo Instituto dos Seguros

de Portugal.

Esclarece-se ainda que por valor investido se deverá entender entradas de capitais em dinheiro destinadas à

subscrição ou aquisição de quotas ou acções ou à realização de prestações acessórias ou suplementares de

capital em sociedades que canalizem essas entradas de capital para a realização de investimentos com

potencial de crescimento e valorização.

Alteração das regras relativas às isenções de Imposto Municipal sobre Imóveis

Atribui-se carácter automático à isenção de IMI aplicável a todos os imóveis classificados como monumento

nacional ou como imóvel de interesse público ou de interesse municipal. Recorde-se que actualmente o

carácter automático desta isenção está reservado apenas aos imóveis que tenham beneficiado da isenção de

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IMT, devendo nos restantes casos a isenção ser reconhecida mediante requerimento apresentado para o efeito

pelos sujeitos passivos.

A Lei do Orçamento de Estado para 2010 reduz de 90 para 60 dias, contados da verificação do facto

determinante da isenção, o prazo para os contribuintes requererem o reconhecimento das isenções de IMI

aplicáveis a imóveis utilizados na prossecução dos fins, designadamente, de associações religiosas,

associações de utilidade pública administrativa e de mera utilidade pública, instituições particulares de

solidariedade social e entidades a elas legalmente equiparadas, entidades licenciadas na Zona Franca da

Madeira, associações desportivas legalmente constituídas, estabelecimentos de ensino particular integrados no

sistema educativo, bem como para o reconhecimento da isenção de IMI prevista para imóveis integrados em

empreendimentos a que tenha sido atribuída utilidade turística.

Fim da dedução à colecta relativa à aquisição de computadores

A Lei do Orçamento do Estado para 2010 revoga o artigo 68.º do EBF que estabelecia, mediante certos

requisitos, a possibilidade de deduzir à colecta 50 % dos montantes despendidos com a aquisição de

computadores de uso pessoal, incluindo software, aparelhos de terminal, bem como com equipamento

relacionado com redes de banda larga de nova geração, até ao limite de € 250.

OUTROS INCENTIVOS

Instrumentos de dívida pública destinados a jovens

No âmbito da Lei do Orçamento do Estado fica o Governo autorizado a atribuir os seguintes benefícios fiscais

ao investimento em instrumentos de dívida pública:

Dedução à colecta de 20% dos valores aplicados em instrumentos de dívida pública no respectivo ano

por sujeito passivo com relações familiares com o jovem, com os seguintes limites máximos:

€ 400 por sujeito passivo com idade inferior a 35 anos;

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€ 350 por sujeito passivo com idade compreendida entre os 35 e os 50 anos; e

€ 300 por sujeito passivo com idade superior a 50 anos.

Consagração de um regime fiscal mais favorável relativamente ao resgate das importâncias aplicadas

nos instrumentos de dívida, que inclui a possibilidade de isenção do pagamento de impostos e a

consagração de que a matéria colectável não pode ser constituída por mais de dois quintos do

rendimento e que a taxa de tributação autónoma não pode ser superior a 20%;

Definição das situações em que a fruição do benefício de dedução à colecta poderá ficar sem efeito,

podendo as importâncias deduzidas ser acrescidas à colecta do IRS.

Incentivos à Investigação e Desenvolvimento (I&D)

Tendo em vista o fomento da contratação de profissionais qualificados alarga-se de 50% para 70% a taxa

incremental no cálculo da dedução à colecta de IRC, sempre que estejam em causa despesas incorridas com a

contratação de doutorados, no âmbito de actividade de investigação e desenvolvimento ampliando-se também

o limite deste incentivo de 1,5 para 1,8 milhões de euros.

Reforço dos incentivos à criação de emprego

A Lei do Orçamento do Estado para 2010 estabelece para este ano a cumulação do benefício que confere aos

sujeitos passivos de IRC e aos sujeitos passivos de IRS com contabilidade organizada a possibilidade de

consideração como custo de 150% dos encargos correspondentes à criação líquida de postos de trabalho para

jovens e para desempregados de longa duração, admitidos por contrato de trabalho por tempo indeterminado,

com os incentivos ao emprego previstos noutros diplomas, quando aplicáveis ao mesmo trabalhador ou posto

de trabalho, nomeadamente em sede de Segurança Social.

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Prorrogação do Regime Fiscal de Apoio ao Investimento (“RFAI”)

A Lei do Orçamento do Estado para 2010 prorroga, por mais um ano, a vigência do RFAI, aprovado pelo

artigo 13.º da Lei n.º 10/2009, de 10 de Março, que permite aos sujeitos passivos que efectuem em 2010

investimentos considerados relevantes, designadamente, deduções à colecta do IRC, isenção de IMI (por um

período até cinco anos, relativamente aos prédios da sua propriedade que constituam investimento relevante),

isenção de IMT e de Imposto do Selo (relativamente às aquisições de prédios que constituam investimento

relevante).

Regime fiscal do Fundo Imobiliário Especial de Apoio às Empresas

Estabelece-se a aplicação ao Fundo Imobiliário Especial de Apoio às Empresas, criado pelo Decreto-Lei n.º

104/2009, de 12 de Maio, do regime fiscal especial aplicável aos fundos de investimento imobiliário para

arrendamento habitacional (FIIAH) e às sociedades de investimento imobiliário para arrendamento

habitacional (SIIAH).

CÓDIGO DO PROCEDIMENTO E DO PROCESSO TRIBUTÁRIO – CPPT

Introdução da arbitragem no processo tributário

Por forma a combater o prejuízo económico decorrente da morosidade da justiça tributária, fica o Governo

autorizado a instituir, em 2010, a arbitragem, como forma alternativa de resolução conflitos em matéria

tributária.

Execução fiscal por coimas decorrentes da responsabilidade civil

Tendo o Supremo Tribunal Administrativo recentemente decidido que não podia operar, por falta de norma

para o efeito, a reversão contra administradores e gerentes por dívidas resultantes de coimas aplicadas a

pessoas colectivas, a Lei do Orçamento do Estado para 2010 vem agora prever a inclusão de tal norma. Assim,

prevê-se que passem a estar compreendidas no âmbito do processo de execução fiscal as coimas e outras

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sanções pecuniárias decorrentes da responsabilidade civil determinada nos termos do Regime Geral das

Infracções Tributárias, deixando de haver o apontado impedimento à reversão.

Designação por despacho do órgão de execução fiscal

A Lei do Orçamento do Estado para 2010 prevê que o dirigente máximo do serviço possa designar, por

despacho, qual o serviço de finanças competente para cobrar coercivamente qualquer dívida tributária.

Actualmente, a execução estava a cargo, na generalidade dos casos, do serviço de finanças do domicílio ou

sede do devedor ou da situação dos bens, prevendo-se agora que esta regra se mantenha apenas nos casos em

que não seja designado outro órgão de execução. Sublinhe-se que a Proposta não exige fundamentação ou um

motivo atendível para esta designação, o que poderá bulir com princípios constitucionais caso o contribuinte

veja as suas garantias diminuídas.

Compensação de dívidas fiscais por iniciativa dos contribuintes

Estabelece-se a possibilidade de os contribuintes requererem a compensação das suas dívidas fiscais com

créditos não tributários sobre entidades que integrem a administração directa do Estado. Esta medida

inovadora visa resolver a manifesta injustiça decorrente das situações em que os contribuintes não podiam

solver as suas dívidas tributárias porque não conseguiam que o Estado pagasse atempadamente os seus

créditos não tributários.

Compensação de créditos fiscais por iniciativa da Administração Tributária

Em linha com a jurisprudência do Supremo Tribunal Administrativo, é alterado-se o Código do Procedimento

e do Processo Tributário no sentido de se clarificar que a compensação de dívidas de tributos por iniciativa da

Administração Tributária apenas pode ocorrer, salvo o consentimento do contribuinte, uma vez esgotados os

prazos de reacção ao dispor deste contra o processo executivo ou contra a liquidação de imposto.

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Suspensão de processos de execução

A Lei do Orçamento do Estado para 2010 prevê igualmente a possibilidade de suspensão do processo de

execução fiscal mediante apresentação de garantia com base na manifestação da intenção de apresentar

reclamação graciosa ou impugnação judicial. Trata-se da benéfica correcção de uma incongruência das normas

actualmente em vigor, que não compatibilizavam o prazo de pagamento voluntário das dívidas com os prazos

de reacção (administrativa e/ou judicial), com prejuízo do contribuinte.

Órgão de execução fiscal

Admite-se a atribuição da competência para a execução fiscal a entidade distinta do órgão periférico regional

da área do domicílio ou sede do devedor quando esteja em causa a racionalidade de meios e de eficácia da

cobrança.

Compensação com créditos tributários por iniciativa do contribuinte

As condições e procedimentos de aplicação do regime da compensação com créditos tributários por iniciativa

do contribuinte deixam de poder ser regulamentados por Portaria do membro de Governo responsável pela

área das finanças.

Compensação com créditos não tributários por iniciativa do contribuinte

A compensação com créditos sobre o Estado de natureza não tributários por iniciativa do contribuinte deixa de

depender do reconhecimento por despacho ministerial de que a dívida cumpre os requisitos referidos.

Declaração de situação contributiva – clarificação legal

Estabelece-se a introdução de uma norma nos termos da qual se clarifica que os contribuintes que obtenham a

suspensão do processo de execução fiscal se consideram como tendo a situação tributária regularizada.

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Citações e notificações por via electrónica

Prevê-se a possibilidade de a Administração Tributária efectuar as notificações e citações para a Caixa Postal

Electrónica dos contribuintes, explicitando-se quando é que as mesmas se consideram efectuadas.

Regime de pagamento em prestações: consequências da falta de pagamento

De acordo com a Lei do Orçamento do Estado para 2010, o regime do pagamento em prestações das dívidas

tributárias apenas se considera incumprido quando se verifique a falta de pagamento de três prestações

sucessivas, ou de seis interpoladas, (ao contrário do regime actual em que tal consequência decorre da simples

falta de pagamento de qualquer prestação). Prevê-se ainda que seja concedido ao contribuinte um prazo

suplementar de 30 dias para que este proceda ao pagamento das prestações incumpridas.

Regime de pagamento em prestações: alargamento do número de prestações

A Lei do Orçamento do Estado para 2010 prevê que, em casos muito excepcionais, o número de prestações

mensais, que pode actualmente chegar a 5 anos, seja alargado até 10 anos. Prevê-se igualmente a concomitante

extensão, de 5 para 8 anos, do período máximo de contagem dos juros de mora nos casos em que a dívida

tributária seja paga em prestações. O limite máximo de 8 anos para a contagem dos juros não parece, contudo,

estar de acordo com o número máximo de prestações prevista, que é de 10 anos. Prevê-se também que os

planos prestacionais actualmente em vigor possam vir a beneficiar deste alargamento das prestações para 10

anos.

REGIME GERAL DAS INFRACÇÕES TRIBUTÁRIAS

Utilização de programas informáticos não certificados

Passa a prever-se expressamente a punição da utilização de programas ou equipamentos informáticos de

facturação que não estejam certificados pela Direcção-Geral dos Impostos com coima variável entre € 250 e €

12.500.

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OUTRAS MEDIDAS

Alteração da taxa de juros de mora a favor do Estado e entidades públicas

Prevê-se, finalmente, a alteração da taxa de juros de mora para as dívidas ao Estado e outras entidades

públicas, incluindo dívidas tributárias, que actualmente apresenta o usurário valor de 1% ao mês. Estabelece-se

agora que esta taxa é definida anualmente, utilizando-se a média das médias mensais das taxas EURIBOR a

doze meses, verificadas nos últimos doze meses, acrescida de um diferencial de 5 pontos percentuais.

Redução especial de taxa de juro em determinados planos de pagamento prestacional

Estabelece-se uma redução da taxa de juro de mora aplicável aos planos prestacionais celebrados ao abrigo do

artigo 13.º do Decreto-Lei n.º 42/2001, de 9 de Fevereiro, até 31 de Dezembro de 2010. A taxa será de 1% ao

ano nas situações em que seja prestada garantia bancária pelo executado e de 3% ao ano nas situações em que

o executado constitua hipoteca voluntária em primeiro grau sobre imóveis não afectos à exploração. São ainda

introduzidas alterações ao disposto no referido diploma, no sentido de se alargar até 120 o número máximo de

prestações, em situações devidamente tipificadas.

Regularização tributária de rendimentos colocados fora do território português

Consagra-se um novo “regime excepcional de regularização tributária de elementos patrimoniais que não se

encontrem no território português” – a 31 de Dezembro de 2009 (abreviadamente designado por “RERT II”),

em moldes similares ao regime aprovado pela Lei do Orçamento do Estado para 2005.

O RERT II dirige-se à regularização de “elementos patrimoniais” que não se encontrem em território

português, e que poderão consistir em depósitos, certificados de depósito, valores mobiliários e outros

instrumentos financeiros, mediante a sua declaração e o pagamento de uma taxa especial de 5% que incide

sobre a totalidade da valorização dos elementos patrimoniais em causa.

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Relativamente à Proposta de Lei, a Lei do Orçamento do Estado para 2010 vem alargar o âmbito deste regime

às pessoas colectivas, deixando de ser exclusivo das pessoas singulares.

Por outro lado, na sequência das dúvidas suscitadas no âmbito da Proposta de Orçamento do Estado para 2010

relativamente à obrigatoriedade de repatriamento dos elementos patrimoniais objecto de regularização, foi

introduzida disposição que prevê expressamente, relativamente aos elementos patrimoniais que se

encontrassem em Estados fora da União Europeia ou fora do Espaço Económico Europeu, a obrigatoriedade

de transferir aqueles elementos para conta aberta em nome do sujeito passivo junto de uma instituição de

crédito domiciliada em território português ou para uma sucursal instalada neste território por uma instituição

de crédito não residente. Além de suscitar a dúvida se será possível aplicar este regime a situações em que os

elementos não sejam “depositáveis” em instituições de crédito residentes em território português ou em

sucursais aqui instaladas de instituições de crédito residentes, consideramos que a disposição em apreço se

revela contrária ao direito comunitário na medida em que discrimina as instituições de crédito com residência

fiscal noutros Estados membros da União Europeia, bem como as sucursais de instituições de crédito

residentes instaladas nalgum daqueles Estados membros.

A regularização tem como principais efeitos a extinção das obrigações tributárias exigíveis em relação aos

elementos e rendimentos declarados e a exclusão da responsabilidade por infracções tributárias (crimes e/ou

contra-ordenações) referentes à ocultação ou alteração dos elementos patrimoniais regularizados

Como principais novidades face ao RERT que vigorou em 2005, temos a exclusão da aplicação deste regime

aos elementos patrimoniais situados em países ou territórios considerados não cooperantes pelo Grupo de

Acção Financeira (GAFI) todavia, até à presente data, o GAFFI não possui uma lista desses países. Acresce

que foi eliminada a redução da taxa especial para metade quando o património fosse investido em títulos do

Estado Português.

Outra novidade, não isenta de críticas, é a previsão de uma penalização fiscal, consubstanciada numa

majoração em 50% do imposto que seria devido, em relação aos rendimentos correspondentes aos elementos

patrimoniais não declarados, omitidos ou inexactos. Esta penalização, tal como se encontra redigida, parece

indicar uma obrigação de declarar e dar a tributar todos os elementos patrimoniais que não se encontrem no

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território português, mesmo em relação àqueles em que nenhuma questão fiscal se suscita, o que seria

manifestamente inaceitável.

DISPOSIÇÕES DIVERSAS COM RELEVÂNCIA TRIBUTÁRIA

Incentivos à aquisição de empresas em situação económica difícil

À semelhança do que sucedeu no OE para 2009, prevê-se a aplicação aos processos aprovados pelo Instituto

de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento no âmbito do Sistema de Incentivos à

Revitalização e Modernização do Tecido Empresarial (SIRME) do regime de incentivos à aquisição de

empresas instituído pelo Decreto-Lei n.º 14/98, de 28 de Janeiro.

Combate à fraude e à evasão fiscal

De acordo com a Lei do Orçamento do Estado para 2010, o Governo propõe-se apresentar à Assembleia da

República, até ao final de Junho de 2010, um relatório detalhado sobre a evolução do combate à fraude e à

evasão fiscais em todas as áreas da tributação, designadamente transmitindo dados estatísticos sobre os

procedimentos de inspecção tributária conduzidos e infracções tributárias praticadas e salientando os

resultados da utilização de instrumentos tais como a avaliação indirecta da matéria colectável e a derrogação

administrativa do dever de segredo bancário.

AUTORIZAÇÕES LEGISLATIVAS

Criação de Regime Fiscal Especial de Apoio às PME

A Lei do Orçamento do Estado para 2010 autoriza o governo a criar um conjunto de incentivos fiscais de

apoio às Pequenas e Médias Empresas (“PME”) com capital disperso em mercado organizado, fomentando o

acesso destas entidades a estes mercados.

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A autorização legislativa perspectiva as seguintes medidas:

Criação de uma majoração em IRC até 200% dos gastos relacionados com a primeira admissão de PME

a um Mercado Organizado de Capitais com vista à dispersão do respectivo capital social, incluindo,

designadamente taxas, comissões e outros custos de admissão ou de intermediação devidamente

justificados a partir do período de tributação, inclusive, em que se verifique a admissão da empresa ao

mercado organizado, desde que incorridos nesse período de tributação, no anterior ou no seguinte;

Criação de uma dedução à colecta de IRS, com vigência máxima de 5 anos, até 25% dos valores

aplicados na aquisição de acções de PME no âmbito de subscrição de capital, por estas, em Mercado

Organizado de Capitais, e na aquisição de unidades de participação em fundos de investimento

mobiliário, que se constituam e operem de acordo com a legislação nacional, até o limite global de €

500.

Esclarece-se ainda que o benefício da majoração de gastos em IRC será apenas aplicável às PME que

dispersem em Mercado Organizado de Capitais, por qualquer forma, pelo menos 25% do respectivo capital

social. Adicionalmente, perspectiva-se a possibilidade de este benefício ser cumulável com outros benefícios,

designadamente com o benefício de remuneração convencional do capital social, constante do artigo 81.º da

Lei n.º 67.º-A/2007, de 31 de Dezembro da Lei (que aprovou o OE para 2008), bem como com os benefícios

fiscais relativos à interioridade, desde que globalmente não ultrapassem € 200.000 por entidade beneficiária,

durante um período de três anos.

Criação de um Regime Geral de Taxas da Administração do Estado

A Lei do Orçamento do Estado para 2010 contempla uma autorização legislativa ao Governo para a criação de

um regime geral de taxas da Administração do Estado, mediante o qual se deverá definir:

A incidência subjectiva e objectiva das taxas;

Os critérios materiais de quantificação das taxas e exigências de fundamentação económica e financeira;

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Os critérios materiais para agravamento e desagravamento das taxas ditados por razões de ordem

extrafiscal;

As regras para a revisão periódica e publicitação das taxas.

Estabelece-se ainda que as taxas da administração do Estado deverão estar subordinadas ao princípio da

equivalência, procurando a sua estrutura e montante reflectir o custo inerente às prestações administrativas ou

o respectivo valor de mercado.

Internacionalização fiscal

O Governo compromete-se a estimular a internacionalização das empresas portuguesas e o investimento

estrangeiro no País, designadamente através do relançamento e aceleração do processo de negociação de

acordos sobre troca de informações sobre elementos fiscalmente relevantes para o apuramento da situação

tributária dos residentes e da negociação de Convenções para evitar a Dupla Tributação, com especial atenção

aos Estados africanos, asiáticos e latino-americanos.

Regras de localização de serviços para efeitos de IVA

Prevê-se uma autorização legislativa para a transposição do artigo 3.º da Directiva 2008/8/CE no que respeita a

regras de localização de serviços – Pacote IVA.

Evasão fiscal ligada às importações

Prevê-se uma autorização legislativa para a transposição da Directiva 2009/69/CE, com alterações no artigo

16.º do Regime do IVA nas Transacções Intracomunitárias (importações de bens com destino a outro Estado-

membro).

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Directiva n.º 2009/162

Autoriza-se o Governo a proceder à transposição para a ordem jurídica interna da Directiva n.º 2009/162/CE,

que altera diversas disposições da Directiva n.º 2006/112/CE, designadamente quanto às regras de localização

aplicáveis aos fornecimentos de gás.

Combustíveis gasosos

Autoriza-se o Governo a revogar o regime especial de tributação em IVA dos combustíveis gasosos.

Novo Código dos Impostos Especiais sobre o Consumo

Concede-se ao Governo uma autorização legislativa para a aprovação de um novo Código dos Impostos

Especiais sobre o Consumo, com vista a transpor para o direito interno a Directiva n.º 2008/118/CE, do

Conselho, de 16 de Dezembro.