soube-se, há poucas semanas, que o superior geral da ... · exponho-me a dar segurança aos fiéis...

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Queridos fiéis: Soube-se, há poucas semanas, que o Superior Geral da Fraternidade S. Pio X, juntamente com os seus dois assistentes, foi convidado por Roma, para uma reunião, em meados de Setembro. Esta notícia foi, possivelmente, causa de grande apreensão para alguns fiéis e, talvez, de alegria para outros. A razão das respectivas atitudes decorre da convicção que uns e outros têm, de que os responsáveis da “Ecclesia Dei” pretendem fazer um acordo com a Fraternidade, com o fim de lhe conferir um estatuto canónico e, assim, do ponto de vista de Roma, dar-lhe uma existência lícita. O temor dos primeiros pode entender-se, porque, até hoje, sempre que houve uma situação parecida, os resultados foram desastrosos para o combate da tradição. Estou a referir-me a todos esses grupos que, depois de terem colaborado connosco, durante anos, quiseram juntar-se a Roma (Redentoristas, Campos, Oasis ou os que, tendo sido membros da Fraternidade, foram-se embora, como “São Pedro” ou o “Bom Pastor”). Todos, adaptando- se inicialmente (num ou noutro ponto) ao que Roma lhes exigiu, acabaram por baixar as armas no combate pela tradição. Existe, pois, o receio que o mesmo possa acontecer com a nossa Fraternidade. Há, contudo, uma grande diferença entre a conduta daqueles que nos abandonaram e a da Fraternidade. Esta provou suficientemente, ao longo dos anos, que não aceitará, jamais, algo que seja contrário ao combate da tradição; estando há mais de dez anos em contacto com Roma, a Fraternidade ainda não aceitou nenhuma das várias propostas feitas por Roma.Quanto às “conversações com Roma”, o seu objectivo foi bem explicitado e defendido pelos nossos quatro Bispos: Não se tratava de nenhum “diálogo”, mas sim de uma tentativa, da nossa parte, de expor qual a razão do nosso combate e de relembrar, a modernistas, a Doutrina Católica. Devemos, portanto, ter cuidado e não cair em espírito de maledicência, condenando Dom Bernard Fellay, suspeitando dele a cada passo ou, como fizeram alguns, dizer que a Fraternidade abandonou o bom combate e já fez um “acordo”. Pensemos bem na malícia de uma tal afirmação que, simplesmente, não corresponde à verdade. Embora seja natural que cada um possa ter as suas dúvidas, dever-se-ia esperar de um bom católico que tivesse cuidado com o que diz dos seus superiores. É bom lembrarmo-nos que afirmar coisas terríveis que, graças a Deus, não são verdade, pode, facilmente, constituir uma calúnia. Tenhamos então o cuidado de, enquanto durarem os contactos com Roma não cair, precipitadamente, numa inquietação para lá do razoável. Tenhamos então a mesma paciência que têm de ter os nossos responsáveis e superiores. Em vez de suspeições e condenações, façamos antes orações. Lembremo-nos da cruzada de terços que o nosso Superior Geral lançou este ano, pedindo que recolhamos, em todo o mundo, 12 milhões de terços (rezados) até Maio de 2012. Com a bênção sacerdotal, cumprimento-vos, Padre Anselmo

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Queridos fiéis:Soube-se, há poucas semanas, que o Superior Geral da Fraternidade S. Pio X, juntamente com os seus dois assistentes, foi convidado por Roma, para uma reunião, em meados de Setembro.Esta notícia foi, possivelmente, causa de grande apreensão para alguns fiéis e, talvez, de alegria para outros. A razão das respectivas atitudes decorre da convicção que uns e outros têm, de que os responsáveis da “Ecclesia Dei” pretendem fazer um acordo com a Fraternidade, com o fim de lhe conferir um estatuto canónico e, assim, do ponto de vista de Roma, dar-lhe uma existência lícita.O temor dos primeiros pode entender-se, porque, até hoje, sempre que houve uma situação parecida, os resultados foram desastrosos para o combate da tradição. Estou a referir-me a todos esses grupos que, depois de terem colaborado connosco, durante anos, quiseram juntar-se a Roma (Redentoristas, Campos, Oasis ou os que, tendo sido membros da Fraternidade, foram-se embora, como “São Pedro” ou o “Bom Pastor”). Todos, adaptando-se inicialmente (num ou noutro ponto) ao que Roma lhes exigiu, acabaram por baixar as armas no combate pela tradição. Existe, pois, o receio que o mesmo possa acontecer com a nossa Fraternidade.Há, contudo, uma grande diferença entre a conduta daqueles que nos abandonaram e a da Fraternidade. Esta provou suficientemente, ao longo dos anos, que não aceitará, jamais, algo que seja contrário ao combate da tradição; estando há mais de dez anos em contacto com Roma, a Fraternidade ainda não aceitou nenhuma das várias propostas feitas por Roma.Quanto às “conversações com Roma”, o seu objectivo foi bem explicitado e defendido pelos nossos quatro Bispos: Não se tratava de nenhum “diálogo”, mas sim de uma tentativa, da nossa parte, de expor qual a razão do nosso combate e de relembrar, a modernistas, a Doutrina Católica.Devemos, portanto, ter cuidado e não cair em espírito de maledicência, condenando Dom Bernard Fellay, suspeitando dele a cada passo ou, como fizeram alguns, dizer que a Fraternidade abandonou o bom combate e já fez um “acordo”. Pensemos bem na malícia de uma tal afirmação que, simplesmente, não corresponde à verdade. Embora seja natural que cada um possa ter as suas dúvidas, dever-se-ia esperar de um bom católico que tivesse cuidado com o que diz dos seus superiores. É bom lembrarmo-nos que afirmar coisas terríveis que, graças a Deus, não são verdade, pode, facilmente, constituir uma calúnia. Tenhamos então o cuidado de, enquanto durarem os contactos com Roma não cair, precipitadamente, numa inquietação para lá do razoável.Tenhamos então a mesma paciência que têm de ter os nossos responsáveis e superiores. Em vez de suspeições e condenações, façamos antes orações. Lembremo-nos da cruzada de terços que o nosso Superior Geral lançou este ano, pedindo que recolhamos, em todo o mundo, 12 milhões de terços (rezados) até Maio de 2012.Com a bênção sacerdotal, cumprimento-vos,Padre Anselmo

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EuconservoaMISSATRADICIONAL,aquelaquefoicodificada,nãofabricada,porSãoPioV.noséculoXVI,conformeumcostumemultissecular.Eurecuso,portanto, o ORDO MISSAE de PauloVI.

Por quê? Porque na realidade, esteOrdoMissaenãoexiste.OqueexisteéumaRevolução litúrgicauniversalepermanente,patrocinadaoudesejadapelo Papa Paulo VI, e que se reveste,momentaneamente, da máscara deOrdo Missae de 3 de abril de �969.É direito de todo e qualquer padrerecusar-se a vestir a máscara destaRevolução litúrgica. Julgo ser meudeverdepadrerecusarcelebraraMissanumritoequívoco.

Se aceitarmos este rito, que favorecea confusão entre a Missa católica e aCeiaprotestante—comoodizemdemaneira equivalente dois cardeais ecomo o demonstram sólidas análisesteológicas — então cairemos semtardar de uma Missa ambivalente(comodefactooreconheceumpastorprotestante) numa missa totalmenteherética e, portanto, nula. Iniciadapelo Papa, depois abandonada porele às igrejas nacionais, a reformarevolucionária da Missa seguirá suamarcha acelerada para o precipício.Comoaceitarsercúmplice?

Perguntar-me-iam:MantendoaMissade sempre, em oposição a todos econtratodos,osenhorrefletiuaquese

expõe?Sim.Eumeexponho,seassimpossodizer,aperseverarnocaminhoda fidelidade a meu sacerdócio, e,portanto,prestaraoSumoSacerdote,nosso Supremo Juiz, o humildetestemunho de meu oficio de padre.Exponho-meadarsegurançaaosfiéisdesamparados,tentadosdecepticismoou de desespero. De fato, todo equalquer padre que conserve o ritoda Missa codificado por São Pio V, ogrande Papa dominicano da Contra-reforma,permitiráaosfiéisparticipardo Santo Sacrifício sem equívocopossível; comungar, sem risco de serenganado,oVerbodeDeusEncarnadoeimolado,tornadorealmentepresentesob as sagradas espécies. Aliás, opadre que se submete ao novo rito,inteiramente forjado por Paulo VI,colabora,desuaparte,parainstaurarprogressivamente uma Missa falsa,em que a presença de Cristo já nãoserá real, mas transformada nummemorial vazio; e por isso mesmo oSacrifício da Cruz já não será real esacramentalmente oferecido a Deus;enfim, a comunhão não passará deuma ceia religiosa em que se comeráumpoucodepãoesebeberáumpoucodevinho;nadamaisdoqueisso;comoentreosprotestantes.

Não consentir em colaborar para ainstauração revolucionária de umamissa equívoca, orientada para adestruiçãodaMissa,seráentregar-seacertasdesventurastemporais,ecertas

DeclaraçãodoReverendíssimoPe.Calmel,OP

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desgraças neste mundo? O Senhor osabe,eSuagraçabasta.Naverdade,agraçadoCoraçãodeJesus,quechegaaté nós pelo Santo Sacrifício e pelosSacramentos, sempre é suficiente. ÉporissoqueNossoSenhornosdiztãotranquilamente: “Aquele que perdera sua vida neste mundo por minhacausa,salva-la-ánavidaeterna”.

Reconheço sem nenhuma hesitaçãoaautoridadedoSantoPadre.Afirmo,no entanto, que qualquer Papa, noexercício de sua autoridade, podecometer abusos de autoridade.Sustento que Paulo VI cometeu umabuso de autoridade de gravidadeexcepcional quando construiu umrito novo da Missa baseado numadefinição de Missa que deixou deser católica. “A Missa”, escreveu eleem seu Ordo Missae, “é a reuniãodo povo de Deus, presidida por umsacerdote, para celebrar o memorialdo Senhor”. Esta definição insidiosaomite propositadamente aquilo quefaz católica a Missa católica, sempreirredutível à ceia protestante. Porquena Missa católica não se trata de ummemorial qualquer, o memorial é detal natureza, que contém realmenteo Sacrifício da Cruz, porque o Corpoe o Sangue de Cristo tornam-serealmente presentes por virtude dadupla consagração. Isto aparece, demodoanãopermitir engano,no ritocodificadoporSãoPioV;masapareceflutuanteeequívoconoritofabricadoporPauloVI.

Damesmamaneira,naMissacatólicao padre não exerce uma simplespresidência;marcadocomumcaráterdivino que o põe à parte por toda aeternidade,eleéoministrodeCristoque, por si mesmo, realiza a Missa;é inadmissível que o padre sejaassemelhado a um pastor qualquer,delegado dos fiéis para liderar a suaassembléia. O que é perfeitamenteevidente no rito da Missa ordenadopor São Pio V torna-se dissimulado,senãoescamoteado,nonovorito.

Portanto,nãosóasimpleshonestidademas infinitamente mais: a honrasacerdotal, exigem de mim não tera impudência de traficar a Missacatólica, recebida no dia de minhaordenação. E porque se trata de serleal, e principalmente em matéria degravidade divina, não há autoridadenomundo,aindaquesejaaautoridadepontifícia,quemopossaimpedir.

Outrossim, a primeira prova defidelidadeedeamorqueopadredevedar a Deus e aos homens é guardarintacto o depósito infinitamenteprecioso que lhe foi confiadoquandoobispolheimpôsasmãos.Éprimeiramente sobre esta prova defidelidadeedeamorquesereijulgadopeloSupremoJuiz.

Espero, com toda a confiança, daVirgemMaria,MãedoSumoSacerdote,quemeconcedapermanecerfielatéàmorte à Missa católica, verdadeira esemequívoco.

Tuussumego,salvummefac.

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Para compreender a piedade deSão Pio X à Imaculada Conceiçãoé preciso recorrer à audiência de��7 de Dezembro de �908, que oPapa concedeu ao Padre Gebhard,Procurador-geral dos Monfortinhos.Nessa audiência, o Papa revelou queconhecia há muito tempo o Tratadoda Verdadeira Devoção à SantíssimaVirgem,deSãoLuísMariaGrigniondeMonfort: «Vossa Santidade conhecehá muito tempo o Tratado do Bem-aventuradodeMonfort»–observouopadre.«Éverdade–respondeuoPapa.–Quisrelê-loantesderedigiraminhaencíclicasobreaSantíssimaVirgem».

Ora, o Protoevangelho (Gen. 3, �5),queéoprimeirofundamentohistóri-codetodaadevoçãoMarianasegun-dooensinamentodePioIXedePioXII,dadoporocasiãodaproclamaçãodos dogmas da Imaculada Conceição(�85��)edaAssunção(�950),estánabase de todo o Tratado, que dele dáo comentário tradicional nestes ter-mos:«Éprincipalmenteporestasúl-timasecruéisperseguiçõesdodiabo,queaumentarãotodososdiasatéao

reino do Anticristo, que se deve ou-vir esta primeira e célebre prediçãoemaldição deDeus, feita noparaísoterrestre, contra a serpente: “Poreiinimizadeentretieamulher,eatuaraçaeasua;elaesmagar-te-áacabeçaetuarmaráslaçosaoseucalcanhar”.NuncaDeusfezeformousenãoumainimizade, mas irreconciliável, quedurará e mesmo aumentará até aofim:éentreMaria,SuadignaMãe,eodiabo.NãosóDeuspôsumainimi-zade, mas inimizades, não somenteentre Maria e o demónio, mas entrearaçadaSantíssimaVirgemearaçadodemónio,entreosfilhose servosda Santíssima Virgem, e os filhos esequazes de Lúcifer. Mas a humildeMaria obterá sempre a vitória sobreesse orgulhoso, e tão grande que iráatélheesmagaracabeçaonderesideo seu orgulho. Os seus humildes es-cravos,queelasuscitaráparafazeraguerra,emuniãocomMaria,esmaga-rãoacabeçadodiaboefarãotriunfarJesusCristo»(VD5�a5��).

É o Protoevangelho a chave da com-preensão da devoção de São Pio X à

SãoPioXeaImaculada

PadreGuydeCastelain

Conhecemos São Pio X pela sua luta contra o Modernismo, pelas disposições que tomou a favor da primeira Comunhão e da Comunhão frequente, pela reforma litúr-gica e gregoriana, ou pela edição do 1º Código de Direito Canónico. É pouco conhe-cido pela sua devoção a Maria. Por ocasião do centenário da sua encíclica Mariana, Fideliter quis preencher esta lacuna e apresentar a devoção à Imaculada do Santo Patrono da Fraternidade fundada por Mons. Lefebvre

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Imaculada.

São Pio X terá a alegria de celebrarum primeiro jubileu Mariano: o daproclamaçãododogmadaImaculadaConceiçãoporPioIX,em�85��.

O Jubileu da Imaculada

Numa carta de 7 de Dezembro de�903, institui súplicas e concede in-dulgências. Numa carta de 8 de De-zembro de �903, publica a famosaOração à Imaculada Conceição, quecomeça com estas palavras: «VirgemSantíssima,queagradastesaoSenhorefostesSuaMãe,imaculadanocorpo,naféenoamor…»Estaoraçãoreto-maoProtoevangelho,traduzidonumacto de piedade: «Eia, bendita Mãe,nossaRainhaeadvogada,quedesdeoprimeiro instantedaVossaconcei-ção esmagastes a cabeça do inimigo!Acolheiassúplicasque,unidosaVósnum só coração, Vos pedimos apre-senteisperanteotronodoAltíssimo,para que nunca caiamos nas embos-cadasquesenospreparam;paraquetodos cheguemos ao porto de salva-ção…»ÉqueSãoPioX,desdeoiníciodoseuPontificado,compreendeuqueentrava no grande combate entre aImaculadaeodiabo.Oseudiscurso-programa de �� de Outubro de �903testemunha-o:«Podeignorar-seado-ençatãoprofundaegravequeinfectaasociedadehumana,equeaarrastaparaaruína?Estadoençaé,arespei-todeDeus,oabandonoeaapostasia.Quempesaestascoisastemodireitodetemerquetalperversãodosespí-

ritos seja o começo dos males anun-ciados para o fim dos tempos, e queverdadeiramente,ofilhodaperdiçãodequemfalaoApóstolotenhajáche-gadoaomeiodenós.»Propondoestabelaoração,oPapasublinhaqueésoboestandartedaImaculadaquesequerlançar na batalha contra «a reuniãodetodasasheresias»queéoModer-nismo,equeénaImaculadaquepõetoda a sua confiança: «Alegrai-vos,VirgemMaria,Vósesmagastestodasasheresiasnomundointeiro.»

A Encíclica do Jubileu

Por ocasião desse primeiro Jubileu,SãoPioXvairedigiraCartaAd diem illum, o grande documento Marianodo seu Pontificado. No seguimentodo Padre Grignion, constrói todo odocumento sobre o Protoevangelho.Começapor recordaro factohistóri-co:«Aover,nofuturo,Mariaesmagara cabeça da serpente, Adão contémaslágrimasqueamaldiçãoarrancavaaoseucoração.»Explica,aseguir,queestedogmaécomoonóqueligatodosos mistérios da fé entre si. Afirma,comoconsequência,que«oanarquis-moencontraasuaruínanodogmadaImaculadaConceiçãodeMaria»,eque,negadoestedogma,«oedifícioda féérevolvidodecimaabaixo».Mostraemseguida,assuasconsequênciasnavida quotidiana: «Quantos socorroseficazes não encontramos, e na suaprópria fonte, para conservar estasmesmas virtudes e praticá-las comoconvém.»Depois,assegura-nosaefi-

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cácia da devoção à Imaculada: «Nin-guém duvida que, se nos confiamosaMariacomoconvém,sentimosqueElaésempreaVirgempoderosíssimaque,comoseupévirginal,despeda-çou a cabeça da serpente.» Enfim,anunciaavitóriaprometidaaonossoapelo:«AVirgemnãodeixarádenossustentar nas nossas provações, pormaisdurasquesejam,demodoque,quotidianamente, possamos repetirestapalavra:hojefoidespedaçadaporElaacabeçadaantigaserpente.»

Uma Fraternidade de Alma

O Padre Mura, no seu livro sobre oCorpoMísticodeCristo,precisaque«asuabelaencíclicanãoé,emsubs-tância, senão uma transposição dolivro A Verdadeira Devoção do Bem-aventuradodeMonfort:«tãobemen-contramos, nesta encíclica Mariana,não somente os pensamentos maisfamiliaresdograndeservodeMaria,mas,muitasvezes,atéassuasexpres-sões.»Comefeito,oPontíficeretomaos grandes temas do Tratado, a talponto que Georges Rigault, no seulivro sobre o apóstolo mariano, nãohesitaemafirmarquePioX«deleseimpregnou, a ponto de ter conferi-doaospensamentoseàspalavrasdeMonfort a soberana autoridade doseu Magistério». É tão verdade que,em��7deDezembrode�908,oSantoPapaabençoaráoTratado da Verdadei-ra Devoção à Santíssima Virgemeseusleitores:«Acedendoàsvossaspreces,recomendamos fortemente o Trata-

do da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem,tãoadmiravelmenteredigidopelo Bem-aventurado de Monfort, econcedemos com amor, aos seus lei-tores,aBênçãoApostólica.»

Nesse mesmo dia, Pio X vai revelaraoPadreGebhard,inscrevendooseunomenasecçãosacerdotaldaConfra-riaMariaRainhadosCorações,terfei-toaconsagraçãomarianamonfortinaàImaculada:«EmlembrançadasVos-sas bodas de ouro sacerdotais – per-gunta-lheoPadre–dignar-se-áVossaSantidadedartambémoVossonomeà nossa associação?» «Sim, de boa-vontademe inscrevononúmerodosPadresdeMaria»,respondeuoPapa.Daí o júbilo dos padres monfortinosnarevistaLe Règne de Jésus par Marie,em �909: «Já foi tempo em que eranecessário,comgrandecópiadeeru-dição, defender uma prática que de-sagradava porque era desconhecida.Hoje, mostra-se ao mundo revestidade suprema aprovação. O Papa faloutãoclaramentequequalquerCatólicocompreenderá.»

O Jubileu de Lurdes

Quatroanosapósojubileudodogma,SãoPioXteráaalegriadecelebrarojubileudaApariçãodaImaculadaMãedeDeusemLurdes.DesdeoiníciodoseuPontificado,SãoPioXtinhaque-ridoembelezaragrutadeLurdesnoVaticano.Umacartade���deJanei-rode�90��aoBispodeTarbesteste-munha-o:«Aprimeiravezquevisitá-mos os jardins do Vaticano, ficámos

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surpreendidos ao verificarmos que,diante da santa imagem da Virgemde Lurdes, não havia uma lâmpadaou outro símbolo de culto. Falámosa Mons. Radini-Tedeschi, exprimin-do-lheoNossodesejodequeagrutafosseembelezadaeprovidadetudoonecessárioparapodercelebrar-sealiaSantaMissa.»

Numa carta de ���� de Dezembro de�907,SãoPioXanunciaqueconvémque ele seja «junto da augusta Mãede Deus, o intérprete do reconheci-mento público». Para isso, nomeia oArcebispodeBordéusLegadoparaas«santassolenidadesquesepreparamemLurdes,porocasiãodocinquente-náriododiaemqueaImaculadaMãedeDeus,emapariçõesmaravilhosas,semanifestounessacidade».

Uma Festa Litúrgica Única

Por ocasião deste segundo JubileuMariano, São Pio X vai estender, àIgreja Católica do mundo inteiro, afestadaApariçãoemLurdesdaBem-aventuradaVirgemMariaImaculada:«Sua Santidade, movido sobretudopela sua devoção constante à MãeImaculadadeDeus,enaesperançadequeodesenvolvimentodocultoàMãeImaculada atrairá à Igreja de Cristo,nestes tempos difíceis, os socorrosmultiplicadosdasuapoderosaprotec-ção,ordenouqueafestadaApariçãoda Bem-aventurada Virgem Imacu-lada seja celebrada anualmente, em��deFevereiro,apartirdopróximoano,cinquentenáriodasApariçõesda

VirgemMãedeDeusnasmargensdoGave.»

As aparições de Lourdes são, actual-mente, as únicas que beneficiam deuma festa inscrita no calendário li-túrgico universal da Igreja: seja nasAméricas, na Europa, na África, naÁsia, ou nas regiões mais recuadasdaOceânia,todososanos,em��deFevereiro, graças a São Pio X, todosos Católicos celebram a Aparição daBem-aventurada Virgem ImaculadaemFrança.

Verifica-se,comSãoPioX,oanúnciodo padre de Monfort: «O Altíssimo,comSuaSantaMãe,devemformar-segrandes santos. Estas grandes almasserãosingularmentedevotasàSantís-simaVirgem.Aformaçãoeaeducaçãodosgrandessantosqueseapresenta-rão no fim do mundo está-lhe reser-vada.»Defacto,SãoPioXéoúltimoPapacanonizado.PelasuadevoçãoàImaculada,SãoPioXprotegeusobre-tudoaFéCatólicadovermeroedordoModernismo.Comefeito,éseguindooensinamentodeSãoLuísMariaqueadevoçãoàImaculadaConceiçãofazosgrandesdefensoresdafé:«ASan-tíssimaVirgemvosdarápartedasuafé,quefoimaiorsobreaTerradoquea fédetodososPatriarcas,Profetas,ApóstolosetodososSantos.Quantomaisganhardesabenevolênciadestaaugusta Princesa e Virgem fiel, maistereisfépuranavossaconduta.»

São Pio X, Papa Mariano, rogai pornós!

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O maior sinal da ira de Deus sobreum povo e a mais terrível puniçãoquesobreelepodedescarregarnestemundo, é permitir que em castigodos seus crimes, venha a cair nasmãos de pastores que mais o sãode nome do que de facto, que maisexercitam contra ele a crueldade delobos famintos que a caridade desolícitos pastores, e que, em lugarde o alimentar cuidadosamente, odilacera e devora com crueldade;que em vez de levar o povo a Deus,o vende a Satanás; que em lugar deo encaminhar para o céu, o arrastacomelesparaoinferno;eemvezdeseremosaldaterraealuzdomundo,sãooseuvenenoeassuastrevas. Porque nós, sacerdotes e pastores,disseSãoGregórioogrande,seremoscondenados diante de Deus como“assassinos das almas que todos os dias vão para a morte eterna pelo nosso silêncio e nossa negligência”.Diz também este mesmo Santo; “Nada há que tanto ultraje a Nosso Senhor (e por conseguinte que mais provoque a sua ira e atraia mais maldições sobre os pastores e sobre o rebanho, sobre os sacerdotes e sobre o povo) como os exemplos de uma vida depravada dados por quem Ele estabeleceu para correcção dos demais; quando pecam os que devem reprimir

pecados”; quando os sacerdotes nãocuidamdasalvaçãodasalmas,quandonão se preocupam mais do que emsatisfazerassuasinclinações,quandotodas as suas afeições terminam emcoisasdaterra;quandosealimentamcomavidezdavãestimadoshomens,quando para satisfazerem as suasambições abandonam os trabalhosde Deus para se entregarem aos domundo, quando ocupando um lugarde santidade se ocupam de questõesterrenaseprofanasenãomaispregamaverdadeirafé,aúnicaqueindicaOCaminhoAVerdadeeAVida.

Quando Deus permite que istosuceda, é prova muito certa de queestáencolerizadocontrao seupovo,sendo este o maior castigo que lhepode enviar neste mundo.*� Por isso

* Porém, este castigo torna-se aindamais severo quando o povo anestesiadopeloPríncipedasTrevasjánãoconsegueentender que os pastores, sejam elessacerdotes ou cardeais, em vez de oconduzir para Deus, o está arrastandopara a condenação eterna. O tempoactual é prova irrefutável deste estadode coisas. Quantos são os católicos quese aperceberam de que até o próprioJoão Paulo II foi proferindo muitas egravíssimas heresias completamentecontráriasàimutáveldoutrinainstituídaporNossoSenhorJesusCristo–edestes,quantossãoosquerecusamaceitartodasasnovas(efalsas)doutrinaspropagadas

QuandoosSacerdotessãoCastigodeDeus

SãoJoãodeEudes

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NossoSenhordiz incessantementeatodos os católicos: “Convertei-vos a Mim e dar-vos-ei pastores segundo o Meu Coração”.Daquiresultamuitoclaramente que o desregramento davidadospastoreséumcastigopelospecadosdopovo;eque,pelocontrário,

pela imensa maioria do clero mundial,a começar pela reforma litúrgica quesubverteu com dano incomensurável oSantoSacrifíciodaMissa?...(N.doT.)

omaiorefeitodamisericórdiadeDeusdirigidoaoSeupovoeamaispreciosagraçaquepodeoutorgar-lhe,édar-lhesacerdotes segundo o Seu Coração,que não buscam mais do que a Suaglóriaeaeternasalvaçãodasalmas.

Consideraqueasverdadesdareligiãosãoeternas,permanentes,invariáveis;nem as subtilezas do engenho aspodemdiminuir,nemacorrupçãodoscostumesouavariedadedostemposaspodemalterar.

Elas são unicamente as que, falandocom todo o rigor, se devem chamarverdades.

Discorram os homens como lhesparecer, sofismem tanto quantoquiseremosmundanoseosdissolutos,revoltem-se contra elas o coraçãohumano e os sentidos; será sempreverdade que não estamos nestemundosenãoparaserviraDeus,paraamar a Deus, para glorificar a Deus,que o nosso único negócio é o dasalvação, que o caminho do inferno

é amplo e muitos seguem por ele,que a senda do céu é estreita, que omundoéinimigodeCristo,equenãohácoisamaisperniciosadoqueseguirasmáximasdomundo.

Será sempre verdade que uma vidamole e regalada não pode ser vidacristã;queninguémserádiscípulodeCristosenãotemumavidamortificada,que o carácter do cristianismo é acaridade,ahumildade,amortificaçãoe a regularidade de costumes; que opecado é o maior de todos os malese, propriamente falando, o únicomal;queasadversidadeseascruzessão tesouros para quem delas sabeaproveitar;quetodaanossafelicidadeconsisteemestarnagraçadeDeus,eamaiordasdesventurasmorrerfora

VerdadesdareligiãoCatólica

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da sua graça; que há um inferno,ondeopoderdeDeusacendeumfogoeterno para castigar eternamenteos pecadores; e que para chegar aocéu há somente dois caminhos: o dainocênciaouodapenitência.

Será sempre verdade que nem osque cometem injustiças, nem osdesonestos,nemoslibidinosos,nemosadúlteros,nemosqueseentregamaoutrosinfamespecados,nemosqueretêm o alheio, nem os avarentos,nem os dados à embriaguez, nemos murmuradores, nem os que nãoperdoam do coração as injúrias,nemosquevivemderapina,nemosidólatras, nem os hereges, nem osque estão fora do grémio da SantaIgrejaCatólicaApostólicaRomanaounão se submetem às suas decisões,- será sempre verdade que estes não

possuirãooreinodeDeus.

Esta é a doutrina da nossa religião,estasasverdadeseternasqueaIgrejaaprendeu do próprio Jesus Cristo.Eisalei,eisobjectodanossacrença.Estessãoosprincípiospelosquaissegovernam os santos; e é sobre estasverdadespráticasquetodoshavemosdeserjulgados.

Vivamos como quisermos, seja qualforonossoestado,condiçãoouclasse,por esta regra se há - de governar anossavida.

Ó meu Deus, em que insondávelabismo de reflexões não mergulhamestas verdades! Que manancialinesgotáveldearrependimentosedejustos sobressaltos não brota destasmesmasreflexões!

EmNomedaSantíssimaTrindade

A Santa Sé Apostólica e o Estadoespanhol, animados pelo desejo deassegurar uma fecunda colaboração,com o objectivo dum maior bempara a vida religiosa e civil da naçãoespanhola, determinaram estipular

uma Concordata, que resumindo osconvéniosanterioreseintegrando-os,constituaanormaquehá-deregularasrecíprocasrelaçõesdasAltaspartescontratantes, em conformidade comaLeideDeuseatradiçãocatólicadaNaçãoespanhola.

AspectosfundamentaisdaConcordatade��7deAgostode�953,entreoEstadoEspanholeaSantaSé

��

Artigo � - A religião Católica,Apostólica, Romana continua sendoaúnicadaNaçãoespanhola,egozarádos direitos e prerrogativas que lhecorrespondememconformidadecomaLeiDivinaeoDireitoCanónico.

Art��

� - O Estado espanhol reconhece àIgrejaCatólicaocarácterdesociedadeperfeitaegarante-lheo livreeplenoexercíciodoseupoderespiritual,bemcomodasuajurisdição,assimcomoolivreepúblicoexercíciodoculto.

�� -Emparticular,aSantaSépoderálivremente promulgar e publicar emEspanhaqualquerdisposiçãorelativaaogovernodaIgrejaecomunicarsemimpedimentocomosprelados,ocleroeosfiéisdopaís,damesmaformaqueestespoderãofazê-locomaSantaSé.

Gozarão das mesmas faculdadesos Ordinários, bem como as outrasautoridades eclesiásticas, no queconcerneaoseucleroefiéis.

Art3

� - O Estado Espanhol reconhece apersonalidade jurídica internacionaldaSantaSéedoEstadodaCidadedoVaticano.

��-Paramanter,naformatradicional,as amistosas relações entre a SantaSé e o Estado espanhol, continuarãopermanentemente acreditados umembaixador da Espanha junto daSantaSéeumNúncioApostólicoemMadrid.EsteseráodecanodoCorpo

diplomático, nos termos do direitoconsuetudinário.

Art��

� - O Estado espanhol reconhece apersonalidade jurídica bem como aplenacapacidadedeadquirirpossuireadministrartodaaespéciedebensa todas as instituições e associaçõesreligiosasexistentesemEspanhaàdatada entrada em vigor da Concordata,e que estiverem constituídas emharmonia com o Direito Canónico;particularmente as dioceses com assuasinstituiçõesanexas,asparóquias,asOrdenseCongregaçõesreligiosas,as sociedades de vida em comum,bem com os Institutos secularesde perfeição cristã canonicamentereconhecidos,sedeDireitoPontifícioou de Direito diocesano, as suasprovínciaseassuascasas.

Art 5- O Estado espanhol terá porfestivososdiasestabelecidoscomotaispelaSantaIgrejanoCódigodeDireitoCanónico, ou noutras disposiçõesparticularessobrefestividadeslocais,e outorgará, em sua legislação, asfacilidades necessárias para que osfiéis possam cumprir nesses dias osseusdeveresreligiosos.

Asautoridadescivis,tantonacionaiscomo locais, velarão pela devidaobservância do descanso nos diasfestivos.

Art 6 - Conforme às concessões dosSumosPontíficesSãoPioVeGregórioXIII,ossacerdotesespanhóiselevarão

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diariamente preces pela Espanhae pelo chefe do Estado, segundo afórmula tradicional e as prescriçõesdaSagradaLiturgia.

Art7-Paraanomeaçãodosarcebispose bispos residenciais bem como oscoadjutores com direito a sucessão,continuarão em vigor as normas doacordoestipuladoentreaSantaSéeogovernoespanholem7deJunhode�9���.

Art���-Osclérigoseosreligiososnãoestarão obrigados a assumir cargospúblicosoufunçõesosquais,segundoasnormasdoDireitoCanónico,sejamincompatíveiscomoseuestado.

Para ocupar empregos ou cargospúblicosnecessitamdo“nihilobstat”doseuOrdináriopróprio,bemcomodoOrdináriodolugarondehouveremde desempenhar a sua actividade.Revogado o “nihil obstat,” nãopoderãocontinuaraexercê-los.

Art �5 - Os clérigos e religiosos,sejam estes professos ou noviços,estão isentos do serviço militar,conformemente aos cânones ���� e6���doDireitoCanónico.

Art�6

� - Os prelados mencionados nonúmero �� do Canon ���0 do CódigodeDireitoCanóniconãopoderãosercitadosperanteumjuizleigosemquepreviamentesetenhaobtidoalicençadaSantaSéApostólica.

�� - A Santa Sé consente em que as

causas contenciosas sobre bens oudireitos temporais, nas quais foremaccionados clérigos ou religiosos,sejamtramitadasperanteosTribunaisdoEstado,comnotificaçãopréviaaoOrdináriodolugaremqueseinstruio processo, ao qual deverão tambémser comunicadas pontualmenteas correspondentes sentenças edecisões.

3 - O Estado reconhece e respeita acompetência privativa dos Tribunaisda Igreja naqueles delitos queexclusivamente violam uma leieclesiástica,conformeaoCanon���98doCódigodeDireitoCanónico.

ContraassentençasdestesTribunaisnãoprocederárecursoalgumperanteasautoridadescivis.

�� - A Santa Sé consente em que ascausas criminais contra os clérigosou religiosos, para os outros delitosprevistospelasleispenaisdoEstado,sejam julgadas pelos Tribunais doEstado.

Contudo,aautoridadejudicial,antesde proceder, deverá solicitar, semprejuízo das providências cautelaresaplicáveis, e com a devida reserva, oconsentimentodoOrdináriodolugaremqueseinstruioprocesso.

No caso em que este, por gravesmotivos, se creia no dever denegar esse consentimento, deverácomunicá-loporescritoàautoridadecompetente.

O processo desenvolver-se-á com as

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necessárias cautelasparaevitar todaapublicidade.

Oresultadodainstrução,assimcomoa sentença definitiva do processo,tanto em primeira como ulteriorinstância,deverãoserdiligentementenotificados ao Ordinário do lugaracimamencionado.

5 - Em caso de detenção ou prisão,osclérigosereligiososserãotratadoscomasconsideraçõesdevidasaoseuestadoegrauhierárquico.

Aspenasdeprivaçãodeliberdadeserãocumpridasnumacasaeclesiásticaoureligiosa, que a juízo do Ordináriodo lugar e da autoridade judicialdo Estado, ofereça as convenientesgarantias; ou pelo menos, em locaisdistintos dos destinados a leigos, anãoserqueacompetenteautoridadeeclesiástica tenha reduzido ocondenadoaoestadolaical.

6 - Em caso de decretar-se embargojudicial de bens, deixar-se-á aoseclesiásticos o que seja necessáriopara a sua honesta sustentação e odecoro do seu estado, ficando de pé,contudo,aobrigaçãodepagarquantoantesaosseuscredores.

7-Osclérigoseosreligiosospoderãoser citados como testemunhasperante os Tribunais do Estado;contudo se se tratar de juízoscriminais por delitos cominadospela Lei com penas graves, deverásolicitar-sealicençadoOrdináriodolugar em que se instrui o processo.

Todavia, em nenhum caso poderãoser requeridos pelos magistrados,nem por outras autoridades, paraministrarem informações sobrepessoas ou matérias de que hajamobtidoconhecimentoporvirtudedassuasfunçõessagradas.

Art�7-Ousodohábitoeclesiásticoou religioso por parte de leigos oupor clérigos ou religiosos a quemtal tenha sido vedado por decisãofirme das autoridades eclesiásticascompetentes, está proibido e serácastigado, uma vez comunicadaoficialmente ao governo, com asmesmas sanções e penas que seaplicamaosqueindevidamenteusamouniformemilitar.

Art �8- A Igreja pode reclamarlivremente dos fiéis as prestaçõesautorizadas pelo Direito Canónico,organizar colectas e receber somase bens, móveis e imóveis, para aprossecuçãodosseusprópriosfins.

Art�9

� - A Igreja e o Estado estudarão,de comum acordo, a criação dumadequadopatrimónioeclesiásticoqueassegure uma conveniente dotaçãodo culto e do clero. ��-Entretanto, oEstado,atítulodeindemnizaçãopelaspassadas desamortizações de benseclesiásticosecomocontribuiçãoemfavor da obra da Igreja em prol daNação,assinar-lhe-áanualmenteumaadequadadotação.Estacompreenderá,particularmente, as consignaçõescorrespondentes aos Arcebispos e

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Bispos diocesanos, os Coadjutores,auxiliares, Vigários gerais, CabidosCatedralícios e das Colegiadas, ocleroparoquial,assimcomotodasasatribuições em favor dos SeminárioseUniversidadeseclesiásticaseparaoexercíciodoculto.

Noqueserefereàdotaçãodebenefíciosnão consistoriais, bem como àssubvenções para os Semináriose Universidades eclesiásticas,continuarão em vigor as normasfixadasnosrespectivosacordosde�6deJulhoe8deSetembrode�9��6.

3-OEstado,fielàTradiçãonacional,concederá anualmente subvençõespara a construção e conservação deTemplos paroquiais e reitorais, bemcomo Seminários; o fomento dasOrdens, Congregações e InstitutoseclesiásticosconsagradosàactividademissionáriaeocuidadodosMosteirosde relevante valor histórico emEspanha, assim como para auxiliaro sustento do Colégio Espanhol deSão José e da igreja e residênciaespanholasdeMontserrat,emRoma.

��-OEstadoprestaráasuacolaboraçãoà Igreja para criar e financiarinstituições assistenciais em favordocleroancião,enfermoouinválido.Igualmente assinará uma adequadapensão aos Prelados residenciais,que por razões de idade ou saúde seretiremdocargo.

Art��0

� - Gozarão de isenção de impostos

e contribuições de índole estatal oustatal oulocal:

Asigrejasecapelasdestinadasaoculto, e outrossim, os edifícios elocais anexos destinados ao seuserviço ou a sede de associaçõescatólicas;

A residência dos Bispos, doscónegosedossacerdotescomcurade almas, sempre que o imóvelsejapropriedadedaIgreja;

Os locais destinados a oficinasdaCúriaDiocesana,bemcomoaoficinasparoquiais;

As Universidades eclesiásticase os Seminários destinados àformaçãodoclero;

AscasasdasOrdens,CongregaçõeseInstitutosreligiososesecularescanonicamente estabelecidos emEspanha;

Os Colégios e outros centros deensinodependentesdahierarquiaeclesiástica que possuam acondiçãodebenéfico-docentes.

Estão compreendidos nesta isençãoos passais, jardins e dependênciaspertencentes aos imóveis acimamencionados,semprequenãoestejamdestinadosa indústriaouaqualqueroutrousodecarácterlucrativo.

Art����

�-Ficagarantidaainviolabilidadedasigrejas,capelas,cemitérioserestanteslugares sagrados, segundo prescreve

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o Canon ��60 do Código de DireitoCanónico.

�� - Fica igualmente garantida ainviolabilidade dos Palácios e Cúriasepiscopais,dosSeminários,dascasase despachos paroquiais e reitorais,bem como das casas religiosascanonicamenteestabelecidas.

3 - Salvo em caso de urgentenecessidade, a força pública nãopoderáentrarnosreferidosedifícios,para o exercício das suas funções,semoconsentimentodacompetenteautoridadeeclesiástica.

��-Seporgravenecessidadepública,particularmenteemtempodeguerra,fossenecessárioocuparalgunsdestesedifícios, dever-se-á previamenteobter o acordo do Ordináriocompetente.

5 - Estes edifícios não poderão serdemolidossemoacordodoOrdináriocompetente,salvoemcasodeabsolutaurgência,comopormotivodeguerra,incêndioouinundação.

6 - Em caso de expropriação porutilidade pública, será semprepreviamente ouvida a autoridadeeclesiástica competente, incluso noqueserefereaovalordaindemnização.Não se procederá a nenhum acto deexpropriação sem que aos bens aexpropriar, quando seja o caso, lhessejaretiradooseucaráctersagrado.

Art��3-OEstadoEspanholreconheceplenos efeitos civis ao matrimóniocelebrado segundo as normas do

DireitoCanónico.

Art����

� - O Estado Espanhol reconhece acompetência exclusiva dos TribunaiseDicastérioseclesiásticosnascausasreferentesànulidadedomatrimóniocanónicobemcomodaseparaçãodoscônjuges,nadispensadomatrimóniorato e não consumado e noprocedimento relativo ao PrivilégioPaulino.

��-IntroduzidaeadmitidaperanteoTribunaleclesiásticoumademandadeseparaçãooudenulidade,correspondeaoTribunalcivildeterminar,perantea solicitação da parte interessada,as normas e medidas cautelares queregulem os efeitos civis relacionadoscomoprocessopendente.

3 - As sentenças e resoluções deque se trate, quando sejam firmes eexecutivas, serão comunicadas peloTribunal eclesiástico ao competenteTribunal civil, o qual decretará onecessárioparaasuaexecução,noqueconcerne a efeitos civis, e ordenará– quando se trate de nulidade, dedispensa « super rato» ( matrimóniorato e não consumado) ou aplicaçãodo Privilégio Paulino- que sejamanotadasnoregistodoestadocivilàmargemdasactasdomatrimónio.

�� - Em geral, todas as sentenças,decisões em via administrativa edecretos emanados das autoridadeseclesiásticas, em qualquer matériadentrodoâmbitodasuacompetência,

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possuirão também efeitos na ordemcivil,quandotiveremsidocomunicadosàscompetentesautoridadesdoEstado,asquaisprestarãoigualmenteoapoionecessárioparaasuaexecução.

Art��5

�-ASantaSedeconfirmaoprivilégioconcedido a Espanha de que sejamconhecidasedecididasdeterminadascausasperanteoTribunaldaRotadaNunciatura Apostólica, conforme o« Motu próprio » Pontifício de 7 deAbril de �9��7, o qual restabelece oreferidoTribunal.

�� - Sempre integrarão o Tribunal daSagradaRotaRomanadoisauditoresdenacionalidadeespanhola,osquaisocuparão as cátedras tradicionais deAragãoeCastela.

3 - Na regulamentação jurídica domatrimónio para os não baptizadosnão se estabelecerão impedimentosopostosàLeinatural.

Art��6-Emtodososcentrosdocentes,de qualquer ordem ou grau, sejamestataisounão,omagistérioajustar-se-á aos princípios do Dogma e daMoraldaIgrejaCatólica.

Os Ordinários exercerão livrementeasuaMissãodevigilânciasobreestescentros docentes no que concerne àpurezadaFé,aosbonscostumes,eàeducaçãoreligiosa.

Os Ordinários podem exigir quenão sejam permitidos, ou que sejamretirados os livros, publicações e

material de ensino contrários aoDogmaeàMoralCatólica.

Breves Comentários

Contrariamente ao que em geral su-cede ( como por exemplo: acordosde Latrão com a Itália em �9��9, eConcordata com Portugal em �9��0)esta Concordata de �953 foi assi-nada de boa fé por parte do poderrte do podercivil; efectivamente o governoespanhol nutria sinceros propósitosde reconstituição católica da suaPátria, após mais de um século deliberalismocorruptor.Narealidadeasautoridades espanholas sabiam quedenadaservecombaterocomunismose não se açoitar simultaneamenteo liberalismo- o qual actua pelasedução.

Ao reconhecer a Santa Madre Igrejacomo SOCIEDADE PERFEITA, oEstado espanhol reconhece a sua(dele) legítima autoridade temporalcomo essencialmente submetidaà soberania de Nosso SenhorJesus Cristo, consubstanciandoformalmente essa hierarquizaçãoao proclamar constitucionalmente aSantaIgrejacomoumaAUTORIDADEDEDIREITOPÚBLICO.

ConsagrandooDireitoCanónicocomooúnicoaplicávelaomatrimónioentrebaptizados,aConcordataestatuíaquenãosóaoscatólicoseravedadoescolherqualqueroutra forma jurídicaparaoseuenlace,(earecepçãodobaptismogozava da presunção de Direito)como também que os matrimónios

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entre não baptizados (outros simintrinsecamenteindissolúveis)senãopodiam furtar aos princípios geraisdaTeologiaCatólica.

No que concerne ao Magistériopúblico e particular tinha ele de seCONFORMAR POSITIVAMENTE,emtodasasmatérias,comoDogmae a Moral Católicas. Analogamente,todos os órgãos de comunicaçãosocialeramobrigadosaestaprestaçãopositiva. E eram proibidas todas as

manifestações públicas de carácternãocatólico.

Desgraçadamenteoespíritoea letradestaConcordataforamradicalmentedesautorizadospeloConcílioVaticanoII.Aindaem�967(Francofaleceuem��0/��/�975) foi autorizado o cultopúbliconãocatólico,emboramantidaaconfessionalidadedoEstado,aqualsó foi abolida pela Constituição delida pela Constituição de�978.

DesdequeoMotu ProprioSummorum Pontificum, de 7 de julho de ��007,relaxou a grave perseguição contraa Missa Tridentina, muitos padresdiocesanos foram em busca dos pa-dresdaTradiçãoparaaprenderacele-brarnoritotradicionaldaIgreja.Emtodo o mundo surgiram celebraçõesdemissasorganizadasporpequenosgrupos,dentromesmodasparóquiasouemcapelas.Amaioriadosbispos

diocesanos não gostou nada desseressurgimento da missa tradicionale impôs condições exageradas e semsentido,comocertopadrequeéobri-gado pelo bispo a celebrar versus po-pulum,quandoopróprioPapaexaltaa celebração versus Deum. Apesardisso,poucoapoucoosfiéisquenãofrequentavam as igrejas da Tradiçãopassaramateracessoàliturgiatradi-cional;aFraternidadeSãoPioXedi-

PrefáciodolivrodeDom Lourenço Fleichman, OSBDomLourençoFleichman,OSB

“A Missa Tridentina -AMissaTridentina-

Explicações das orações e das cerimônias da Santa Missa”

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touumfamosoDVDparaensinarospadres a celebrar. Porém faltava dar,a todos, elementos mais espirituaiscapazesdemostraraSantaMissanãoapenas no seu aspecto litúrgico, nassuas rubricas, mas no sentido maisprofundodassuasoraçõeseritos.

Uma primeira confusão de doutrinaprecisavaseresclarecida,poisoPapaBento XVI descreveu o rito tradicio-nalcomosendoumaforma extraordi-náriadoritoromano,ficandoamissadePwauloVIdefinidacomoforma or-

dinária.Tiveaoportunidadedeescre-ver no nosso site Permanência umarefutaçãodessaidéia,quetranscrevoaseguir:

“Analisandofriaeteologicamenteosdois ritos, vê-se que não cabe estaaproximação. Ao contrário, trata-se de duas concepções diferentes daMissaeédeextremaimportânciaqueselhescompreendaoporquê.Porora,apresentamosumresumoesquemáti-co,paraposteriordesenvolvimento:

MISSATRIDENTINA MISSADEPAULOVI

Sacrifício Banquete

Ação sacrifical (fazei ISTO) Memorial da Ceia (em MEMÓRIA de mim)

Renovação incruenta do Sacrifício da Cruz

Narração da Instituição da Eucaristia

As diferenças aparecem ainda nos aspectos secundários:

Língua sagrada para um sacrifício Vernáculo, para uma refeição

Todos virados para o altar do sacrifício

Todos em torno da mesa do banquete

Missa odiada pelos protestantesMissa concebida com ajuda

de seis pastores e com o aplauso dos protestantes

“Ficaclaroquesetrataderitosdiferen-tes e que não é tão simples assim di-zerquedevemosaceitaramissanovacomo plenamente católica. Graves di-ficuldadesteológicasnosimpõemumaatitudededefesadafé,poisoritonovo‘afasta-senotodocomonodetalheda

concepção católica da missa tal comodefinidanoConcíliodeTrento’”(Card.OttaviannieBacci,�969).QuandoumjovempadreordenadononovoritodePauloVIaprendeacele-brar no rito tridentino algo de novoocorreemsuavidasacerdotal.Écomo

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se, de repente, o sacerdócio fizessesentidoparaele;pelaprimeiravezeletem consciência de estar sendo alter Christusnoaltar.Bastamalgunsme-ses para o padre conceber a idéia denãomaiscelebrarnoritodePauloVI.Infelizmente, a maioria não chega arealizar esse intento, com medo dasperseguições.

“A crise da Igreja é a crise da missa e do sacerdócio católico”. Estas palavras deMons.MarcelLefebvre,queeucitodememória,definemdemodoprecisoagravidade da crise da Igreja. Se o sa-cerdóciofoiatingidopelonovoespíri-toquepassouareinarcomoConcílioVaticano II, nada mais lógico do queassistirmos a uma mudança profun-da e radical no ato sacerdotal que éoSantoSacrifíciodaMissa. Amissafoioprimeiroalvodarevolução;otiromortalaatingiuemplenocoração.

Poucos anos após a instituição damissanova,umobservadormaisdis-traído concluiria, sem hesitar, pelodesaparecimento completo da Mis-saTridentina.Umaum,os focosderesistência foram sendo controladospelasautoridadesdaIgreja.OpróprioPapaPauloVIfaziadeclaraçõesmos-trando que havia, no Vaticano, umaintençãomuitoclaradelevaradianteareformalitúrgica,anulandoqualquertipodeoposição. Aomesmotempo,bisposecardeaismanifestavamsenti-mentosopostos.OCardealGut,pre-feitodaCongregaçãodoCultoDivino,declarouqueoPapa“cedeu a pressões,

muitas vezes contra seu desejo�”.Causaestranheza,aquemviveuessaépocade rudes combates para a manuten-ção da liturgia tradicional, ler hojedeclaraçõesdePauloVItrazidasàluzporseus interlocutores,ondeoPapaafirma ter sido enganado por AnibalBugnini.Aquestãoquesecolocaine-vitavelmenteéessa: se tinhaconsci-ência de ter sido enganado, por queassinou? O diálogo que transcrevo aseguirfoirelatadoporumpadrefran-cês,Mons.JacquesMasson,queteveumaconversacomofamosoteólogooratoriano,PadreLouisBouyer,dian-te de um grupo de seminaristas. OPadre Bouyer relatou, nessa ocasião,a seguinte entrevista privada com oPapaPauloVI��:

“Escrevi ao Santo Padre, o Papa Paulo VI, para lhe apresentar minha demissão como membro da Comissão encarregada da Reforma Litúrgica. O Santo Padre me convocou imediatamente:

Paulo VI —Padre, o senhor é uma auto-ridade incontestável e incontestada, por seu conhecimento profundo da liturgia e da Tradição da Igreja,e um especialista nesse domínio. Não entendo porque o se-nhor apresentou sua demissão, quando sua presença é mais do que preciosa, ela é indispensável!Padre Bouyer—Santidade, se eu sou um especialista nesse domínio, eu lhe

� Documentation Catholique,Documentation Catholique,�6/��/�969,nº�55�,pag.�0��8.�� Mgr Jacques Masson, site Her-Mgr Jacques Masson, site Her-mas–�ºdeoutubrode��009.

��0

direi em toda simplicidade que eu peço demissão porque não estou de acordo com as reformas que o senhor nos impõe! Porque razão o senhor não leva em con-sideração os nossos comentários, porque o senhor faz o contrário?Paulo VI —Mas, não compreendo: eu não imponho nada, nunca impus nada nesse ponto, me remeto inteiramente à competência dos senhores e às suas pro-postas. É o senhor quem me apresenta as propostas. Quando o Padre Bugnini vem aqui, ele me declara: “Eis o que os espe-cialistas pedem”. E como o senhor é um dos especialistas nessa matéria, eu me remeto aos seus juízos.Padre Bouyer— No entanto, quando estudávamos uma questão e escolhía-mos o que podíamos propor ao senhor, em consciência, o Padre Bugnini tomava o nosso texto, e depois nos dizia, após ter consultado o senhor: – “O Santo Padre deseja que os senhores introduzam estas mudanças na liturgia”. E como eu não estou de acordo com estas propostas, porque elas estão em ruptura com a Tra-dição da Igreja, por isso eu peço demis-são.Paulo VI — De modo algum, Padre, acredite, o Padre Bugnini me diz exa-tamente o contrário. Eu jamais recusei nenhuma das suas propostas. O Padre Bugnini vinha me ver e me dizia: “Os especialistas da Comissão, encarrega-dos da Reforma Litúrgica, pedem isso e aquilo”. E como eu não sou especialista em Liturgia, repito, sempre me remeti aos senhores. Eu nunca disse essas coi-sas a Mons. Bugnini. Fui enganado, o

Padre Bugnini me enganou e enganou ao senhor.E o padre Bouyer terminou assim aconversa.Eis,carosamigos,comofoifeitaareformalitúrgica!

Se o leitor deseja outro depoimentode peso, é o mesmo Mons. JacquesMassonquemrelataaconferênciadoCardealThiandoun,(naépocanãoeraCardeal), então arcebispo de Dakar,quandofoivisitar,em�97�,osemi-náriodeÉcône:

“O senhor talvez não saiba, mas quando Mons. Bugnini fez celebrar, na reunião do Sínodo dos Bispos, ad experimen-tum, seu projeto de Missa Nova, o NovusOrdo, houve uma reação de protestos da parte dos bispos presentes. Apesar dis-so, sem entendermos bem como, Bugnini conseguiu reverter a situação e fez pre-valecer suas idéias junto ao Papa Paulo VI, o qual promulgou o NovusOrdo. O Papa promulgou: Romalocutaest... só podíamos obedecer! Mas ninguém que-ria essa missa revolucionária”.

Aquestãoquesecolocadiantedocar-deal é a seguinte: se a missa nova émanifestamente revolucionária, porqueobedecer?É legítimoobedeceraumaleirevolucionária?Podemosafir-marqueessaleirevolucionárianosédadapelaIgreja?PodeaIgreja,Espo-sadeCristo,nosdaruma lei revolu-cionária?

Fases da crise

A missa de Paulo VI foi, portanto,imposta à Igreja a partir do �º Do-

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mingodoAdvento,emdezembrode�969. No início da década de 70, omundo assistiu a uma enxurradade destruições na vida litúrgica dospovos católicos. Em cada paróquiaospadresseesmeravamemsuplan-tar os delírios do seu vizinho. Al-guns arrancavam os lindos bancosde madeira, doados, talvez, pelasfamílias do bairro, substituindo-osporcadeirasdeplástico;outrosdes-truíram altares e retábulos, sem sepreocuparem com os laços centená-riosqueligavamasfamíliasàquelasobrasdearteedepiedadecristã;aslindasmesasdecomunhãoviraram,quasetodas,sucataouentulho,easpiedosas imagens dos santos forampara o depósito da igreja, quandonãodestruídasnasedederevolução.Demodoqueémuitodifícil,paraosjovens de hoje, sejam eles sacerdo-tes ou fiéis, compreenderem o sen-timento de assalto, de surpresa oude decepção que enchia os coraçõesdaqueleshomens,amaioriajáfaleci-da.Eumesmo,quandojovem,passeiporsituaçõesdifíceisporcausades-sacrise,comorelatoagora:

Euteria,naépoca,meus�5anos.Opárocodobairroanunciara,namis-sadodomingo,oiníciodanovidade:a comunhão seria distribuída nasmãosdosfiéis.Para justificar,expli-cara que esse modo de distribuir aSagrada Eucaristia era tradicional,muito antigo. Terminada a missa,chameimeuirmãoefomosàsacris-tia. O padre, muito alto, recebeu os

dois pirralhos minúsculos: — O que desejam os meninos?,perguntoucomseu sotaque alemão. Tremendo, tal-vezgaguejando,conteiaopadreoqueeulerahaviapoucosdias:noCanadá,duranteacomunhãodadanamão,ashóstiassaíramdocibório,formaramumcírculonoar,ecaíramnochão.Opadre,depoisdemeouvir,disse-me:—Então traga-me documentos provan-do isso que me diz.Movidopornãoseique tipo de audácia, respondi: — O senhor, então, devia mostrar os docu-mentos provando que a comunhão na mão é tradicional.Opadrenosdespe-diu,bondosamente.

Nessa época já era preciso procurarpadres mais conservadores para es-capardasmissassacrílegas.Emoutraocasião,jácommeus�8anos,entreiem pelo menos quatro igrejas, emNova Friburgo, tentando encontraruma missa aceitável. Na catedral,uma senhora estava no altar juntocomopadre;naigrejadeSãoBento,reinavaagritaria,bateriaeviolão;nobairrodeOlaria,opadreeracomunis-ta...Voltamosparacasasemmissa.Adioceseeragovernada,naépoca,porDom Clemente Isnard. E o próprioDomClementeprotagonizouumepi-sódiovergonhoso,queénarradoemuma conferência em ��00��. O bispo,da Ordem de São Bento, revela, en-tusiasmado consigo mesmo, comoconseguiuludibriaraCúriaRomana,mais especificamente a Congregaçãopara o Culto Divino, quando da tra-dução oficial do Ordinário da Missa

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dePauloVI.O textodaConferênciaEpiscopal Francesa havia sido recu-sado por Roma. Este mesmo texto,numaversãoemportuguês,foiapre-sentadoàmesmaCongregação.Comonãohaviaespecialistaemlínguapor-tuguesanodicastérioromano,otex-tofoiaprovado:

“(…)Nossa sorte é que no momento não havia na Congregação perito em língua portuguesa. Desta forma obtivemos apuração da simplificação do Cânon Romano, que tinha sido apresentada pelos franceses e negada (…) Nós sim-plesmente havíamos copiado a proposta francesa.”3

— Bravo, digamos a Dom Clementeduasvezes:—Bravo,Excelência!Pelaobra-prima de esperteza contra seussuperioresimediatos,eporterconse-guidoparaoBrasilumtextodeplorá-vel,cheiodeerrosdoutrinárioseab-surdos litúrgicos, como a “tradução”doEt cum spiritu tuo,por“Eleestánomeiodenós”,alémdeoutraspérolas.

Graçasaatitudesdessegênero,hoje,quando um jovem de �8 anos en-tra numa igreja para participar deum grupo carismático ou para atu-arnuma“pastoral”, comodizanovalinguagem,encontraumaigreja,umaarte, um ambiente que pouco diferede um templo protestante. Para ele,aquelaéasuaigreja,aqueeleconhe-ce;nãopodeperceberque,háquaren-

3 Dom Clemente Isnard, O.S.B.Dom Clemente Isnard, O.S.B.Encontro de Liturgistas do Brasil, BeloHorizonte,��8dejaneirode��00��.

ta anos, ela era diferente em pontosfundamentais.Nãoapenasporqueti-nhaummobiliáriodiferenciado:altar,mesadecomunhão,sacrário,imagens;mas,sobretudo,porquerespiravaumambiente, uma espiritualidade total-mente diversa da atual. A igreja eraolugarsagrado,amoradadeDeus,osantuárioacolhedoresilenciosoondeasalmasiambuscarapazinterior,oequilíbrio diante das vagas incertasdomundo.OsrituaisdaSantaIgrejaespelhavamomesmoespíritodereco-lhimentoeadoração,doolharqueseelevaacimadasamarrasdeummundocadadiamaisenlouquecido.Nolugarda guitarra ou do violão, soavam demodo solene e majestoso os órgãos,cantava-se o gregoriano, oração emformademúsica.Ospadresnãoeram“colegas”dosjovens:vestiamsuaba-tina negra que os distinguia dos de-mais,eoselevavaemsuamansaau-toridadedivina.Ora,estascoisasnãoexistiam apenas porque os homenshaviam escolhido a arte, a calma e aespiritualidade. A Santa Igreja, comsuasolicitudematernal,nãopermitiaaosseusfilhoscontaminarem-secomoutroespíritoquefossediferentedapura expressão do dogma católico.Bulas, Motos Próprios, Encíclicas,anterioresaoConcílioVaticanoII,de-terminavamadoutrinaeadisciplinaaseremguardadasportodos,dentrodecasaounaparóquiadobairro.Nãohaviacomosedestruiresseconjuntosemqueomarteloestivessenasmãosdasautoridades.

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O martelo litúrgico

“Vaticano II foi 1789 dentro da Igreja”.AfraseédoCardealSuenens.

“Constatamos que (Gaudium et Spes) atua como um anti-Syllabus.” CardealRatzinger��.

Essas duas citações mostram bem opapeldeVaticanoIIcomomarteloau-toritárionadestruiçãodopatrimôniodafécatólica.Eofatodetersidoessemartelodestruidordafémanipuladopelasautoridadeseclesiásticasexplicaasubmissãopassivadomundointei-ro, como mostrou o Cardeal Thian-dounnacitaçãoanterior.

Outro aspecto a ser assinalado nomesmo sentido é o abuso de autori-dade da parte dos bispos, ao imporo novo Missal. Se hoje, após o Motu Proprio de ��007, muitos padres sãoimpedidosporseusbisposdecelebraraSantaMissadesempre,nosúltimosquarentaanososimplesdesejodesecelebrar esta missa já era motivo deperseguição.Apartirde�97��,algunspadres aceitaram celebrar escondidoparanossosamigosdaPermanência.Juntos com Gustavo Corção, íamosparaa“catacumba”eláreencontráva-mos,maravilhados,aMissaverdadei-ra.Atéqueopadre,sentindo-sepres-sionado, nos dizia não poder maiscelebrar. Julio Fleichman conta emseulivrodememórias5aconversaque�� Les Principes de la théologie catho-lique,Téqui,�985.5 “A Crise é de Fé e é Grave”, Ed.“ACriseédeFéeéGrave”,Ed.Permanência,�99��.

tevecomDomManuelCintra,entãobispodePetrópolis,homembastanteconservador.Eleacabarade“proibir”aoFreiSeverinoGisderOFM,decele-braremnossacasadeveraneio,ondenos escondíamos uma vez por mês,para a Missa. Meu pai ajoelhou-sediante do bispo, suplicando que nãooproibisse,quenãoestávamosfazen-donadadeerrado,queeraumamissaescondida, sem propaganda... Nadademovia o bispo. Finalmente, expli-cou:“—Dom Eugênio6 nos fez prometer que nunca permitiríamos essa missa”.Desceuomartelo,maisumavez,emnomedaautoridade,emnomedeVa-ticanoII.Eficamossemmissa.

Apesar desse esforço descomunale autoritário para que não houves-se mais a Missa Tridentina, a mis-sa católica, a missa de sempre, estafoi preservada nas catacumbas dostemposmodernos,quesão,hoje,ascapelas,centrosdemissa,casaspar-ticulares, cinemasabandonados,ga-ragens e galpões. Graças à corajosareaçãodeDomMarcelLefèbvre,emseuSemináriodeEcône,naSuíça,ede Dom Antônio de Castro Mayer,emsuadiocesedeCampos,noRiodeJaneiro, a missa e a liturgia da Tra-dição forampreservadas, celebradascomtodasuaelevaçãoepompa.Nãose pode contar a história da MissaTridentina sem citar esses dois pre-lados.

Em 3 de outubro de �98��, diante6 Dom Eugênio Sales, Cardeal Ar-DomEugênioSales,CardealAr-cebispodoRiodeJaneiro(�97�-��00�).

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da evidência de que a FraternidadeSãoPioXsefortaleciadeanoaano,JoãoPauloII,pelaCircularQuattu-or Abhinc Annos, lançouumIndultoque, na teoria, permitia a celebra-ção da Missa Tridentina. Tais eramas condições para se obter o indul-to que, na prática, foi letra morta.Porém, o fato de o Papa emitir umindulto “permitindo” a celebraçãoda Missa Tridentina revelava umacontradição. Primeiro, relativa aopassado, visto que a Bula Quo Pri-mum Tempore,deSãoPioV,de�570,davaumindultoperene,válidoparasempre, para que todos os padrespudessem celebrar esta missa semescrúpulos;aomesmotempo,oSan-to Papa proibia a todos os bispos epreladosdeimpediraospadresestacelebração. Como a Bula nunca foirevogada, o novo indulto é inócuo,sem valor. Mas o “indulto” de JoãoPauloIImostrou-semaistardeigual-mentecontraditório,quandooCar-dealSticklerrevelouterparticipado,em�986,deumacomissãoencarre-gadaderesponderaduasperguntas:a)seaMissadeSãoPioVhaviasidoproibida;b)seumbispopodiaproi-bir um padre de celebrar esta Mis-sa. Oito, de nove cardeais, respon-deram à primeira questão dizendoque esta Missa nunca fora proibidalegalmente,eosnoveresponderamqueumbisponãopodiaproibirumsacerdotedecelebrá-la.Portanto,o“indulto” de �98�� de nada valia e,naprática,aMissacontinuou“proi-

bida”.Outrofatordepesoapareceubemmaistarde,comoMotu Propriode ��007. O Papa Bento XVI abre odocumentodizendoqueaMissadeSãoPioVnuncaforaproibida.

As Grandezas da Missa de São Pio V

Eis,enfim,opontoemqueestamos.A Missa católica encontra seu lugardedireito,mesmoqueparcialmente.Tornou-se possível aos padres co-nhecerecelebraramissadossantos,a missa formadora da Cristandade,mesmo quando perseguidos. As in-formaçõesestãoaoalcancedetodos.Estaéamissaverdadeira,quenuncadevia ter sido perseguida, que nun-cadeviaterdesaparecido.AhistóriadesseMissalabrangenadamenosdoque�500anos:vaidosApóstolosatéoConcíliodeTrento.O feitodeSãoPio V foi monumental, aliando umprofundo conhecimento da históriadosritoseorações,umdomínioper-feitodoespíritodaliturgiaromanaea sabedoria própria dos santos, tan-to na escolha correta do que deviaser suprimido ou conservado, comotambémnomododepreservarosri-tos centenários da Igreja. NenhumadessastrêsqualidadesseencontranaReformadePauloVI.

TamanhaéagrandezadesseMissalesuaimportâncianaobradesantifica-ção das almas que os liturgistas nãodescansaram no árduo trabalho decomentá-la, explicá-la e de ofereceraossacerdotesefiéisumconhecimen-tomaiscompletodaquiloqueé,nada

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maisnadamenos,ocentrodavidaca-tólica.

Já no século XVIII, Pierre Le Brun(�66�-�7��9) escreveu seu famoso“Explication de la Messe”7,quecausougrande impacto nos estudos sobre aLiturgia.DomProsperGuérangerfoio restaurador da liturgia romana naFrançagalicana.EstudouerestaurounãoapenasoCantoGregoriano,mastambém o próprio espírito da Litur-gia,emlivrosfamososcomoL´Année Liturgique e Institutions Liturgiques8. Trabalhousemdescansoparalevarosbisposfrancesesàunidadedaliturgiaromana. O inglês Adrian Fortescue(�87��-�9��3) escreveu Ceremonies of the Roman Rite Described 9. Mons.Pierre Batifol (�86�-�9��9) escreveuLeçons sur la Messe�0, além de outroslivros sobre a história da liturgia. AinfluênciadeSãoPioXjásefaziasen-tir. O santo Papa da comunhão dascriancinhas insistia para que o povocatólicovivessedemodoprofundoaSanta Liturgia. Aliás, é coisa curiosanareformadeVaticanoIIobloqueiopara a comunhão das crianças. Co-mungaminfiéis,heréticosedivorcia-dos;oprópriopovocatólicojánãosepreparamaisparaacomunhãoevive,em muitos casos, no sacrilégio; masasinocentescrianças,queaosseisou

7 ReeditadoporEditionsduCerf,Paris,�9��9.8 Paris, �878.Paris,�878.9 Burns, Oates & Washbourne ltd; 5ª ed., 1934.�0 J. Gabalda, �9��7.J.Gabalda,�9��7.

sete anos vibram de alegria, quandoaprendemoCatecismo,porpoderemse aproximar da Santa Mesa, essasnãopodemcomungar.

Jámaispróximosdenós,outroslitur-gistas escreverão tratados importan-tessobreaMissaTridentina.Algunsdentre eles, imbuídos, é verdade, deum espírito de contestação próprioaosdesviosdoMovimentoLitúrgico.Porém suas pesquisas históricas fo-ramadmiráveis,esetornaramfontede melhor conhecimento sobre a Li-turgia.DomBernardBotte:Le Canon de la messe romaine�� e L´Ordinaire de la messe���; Dom Bernard Capelle,Histoire de la Messe�3; Joseph AndreJungmann, Missarum Sollemnia���;Aimé-Georg Martimort, L´Eglise en prière-Introduction à la Liturgie�5 emuitosoutros.

ChegamosassimaestaediçãodaMis-saTridentina– Explicaçõesdosritos e orações da Santa Missa.Voltamos a Dom Guéranger. Nossointuito, como já disse, é dar aos no-vos padres que estão descobrindoa liturgia tradicional da Igreja umaformação mais espiritual, que lhessirvaparaacelebraçãodaSantaMis-sa diária; que os sacerdotes possam,ajudados por Dom Guéranger, rezarestas preces litúrgicas no verdadeiroespírito católico,aquelequepresidiu�� Louvain, �935.Louvain,�935.��� Louvain, �953.Louvain,�953.�3 Louvain, �96��.Louvain,�96��.��� Herder, �9��8.Herder,�9��8.�5 Desclée e Cia., �965.DescléeeCia.,�965.

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aelaboração,acomposiçãoeousodetãoprofundasorações.

Em meus anos de noviciado tive aoportunidade de estudar toda essafascinante história da nossa missa.EunãoestavanumBrasilesvaziadodesuaseivacatólica;encontrava-mena França, onde não se andava 50Km sem que se encontrasse a Mis-sa Tridentina. Numa conversa depasseio,umdosmongesdiziaqueamissanoritodominicano,porserdoséculoXIII,eramaisantigadoqueamissadeSãoPioV.Rebatiesseerrohistórico,argumentandoqueSãoPioVsócodificaraamissa jáexistente,masopadreinsistia.Foiassimquelimuitosdesseslivroseconseguiesta-belecer uma ordem cronológica dasoraçõesdoOrdináriodamissa.Des-

seestudoprocedeaindicaçãocrono-lógicaacrescentadaaotítulodecadaoração,notextodo livro.NoséculodeSãoGregórioMagno(séc.VI),to-dasaspartesessenciais,aestruturada missa, já estavam presentes. Nofinal do século XIII, já não faltavaquase nada, era então a missa quehojecelebramos.SãoPioVnadamaisfezdoqueeliminarcertosexcessos,conservando aquilo que os séculostrouxeramdecatólicoequeformameste extraordinário monumento dafécatólica:aMissadeRitoLatino,aMissadoConcíliodeTrento,aMis-sadeSãoPioV.Qualquerquesejaonomequeusemos,trata-sedaúnicaMissa, aquela que renova de modoincruento o Sacrifício redentor doCalvário.

DomLourençoFleichman,OSB

Junhode��0�0,

naFestadeSãoJoãoBatista

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Osocorrodosdoentesemoribundosconta-se entre as sete obras demisericórdia corporal. A visita dosdoentes é portanto particularmenteeficaz no domínio da graça. NossoSenhor, Ele próprio, nos dirá : Euestivedoente,evósmehaveisvisitado(Mt. ��5,36). Jesus se lembrará denossamisericórdiaenosestabeleceránoSeuReino.

Todoobomcristãodeveriaportantosercostumeironasvisitasaosdoentes.Omaisfrequenteéseremosdoentespessoas de idade: uma velha tia, umavô, um membro da Capela tornadoentrevado… infelizmente certaspessoas negligenciam esta caridadeelementar, não por malícia, mas porfalta de habilidade. Eis portantoalguns conselhos práticos, lançadosum pouco desordenadamente sobreopapel.

Antes de tudo, não esqueçamosnunca a dimensão espiritual doempreendimento. O cristão visita osdoentes certamente para os distrair,para os alegrar, para os encorajar;mas igualmente para prepará-los,ainda que de forma longínqua, para

amorte.Nósdevemosrecordar,comdelicadezaedoçura,aossofredoresqueasenfermidadesdavelhiceoferecemuma ocasião de praticar a renúncia,atitude esta que nós negligenciamosfrequentementeduranteosanossãosda nossa vida. As longas horas desolidão oferecem igualmente ocasiãode rezar, particularmente o terço. Énecessário, efectivamente, recuperaras orações perdidas duma juventudesem dúvida um pouco tíbia. Énecessário, igualmente, substituir osmongesemonjas,osquaisnãomaisexistem,equeportantonãooxigenamjáaIgrejamilitanteepadecentecomasuapiedadediscretaeregular.

Tomemos assim o hábito de recitaro terço com os nossos doentes, namedidadopossível.Talministra-lhesumenormeconforto.Seosdoentessemanifestamreticentes,nãohesitemosem insistir junto deles sobre anecessidadedestaoraçãoedeixemos-lhes um terço. Diante de vós elesnão o recitarão; todavia regressadosà sua solidão… Facultemos-lheslivros de devoção simples e sólidos,proponhamos-lhes de lermos umpouco com eles, discutamos sobre

AVisitadosDoentes

P.JohnBrucciani,FSSPX

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as alegrias dos Céus, da bondade deDeus que parte em busca da ovelhaperdida.

Ulteriormente, questionemos osdoentes com tacto e discrição noqueconcerneaoseupassado.Todaagentegostadecontarasuajuventude.É refrescante o reviver as nossasalegrias passadas. Interessemo-nosporsuasfamílias.Osdoentesficarão,frequentemente, felizes por falaremdosseusfilhos,netos,etc.Porvezesestarão mesmo, justificadamente,orgulhososdeles.Estarãoosdoentesmuitas vezes desolados porque osseus filhos vivem longe da Fé e daGraça. Muitos doentes idosos vivemsolitariamente acabrunhados sobestefardobempesado,enósdevemosprocurar ajudá-los, com um ouvidopaciente e atento, com os nossosencorajamentos, com a segurançahonestaerealdanossaoração.

Sefornecessário,falemosaosdoentesdo sacerdote, dos Sacramentos;da Confissão, da Comunhão.Frequentemente os nossos amigos,doentesouidosos,nãoousamsolicitaro sacerdote, porque têm medo deincomodar.Énecessárioexplicar-lhesqueosacerdoteestá láprecisamenteparaisso,aexemplodeNossoSenhorJesusCristo,OQualfoiliteralmenteassoberbado pela multidão dedoentes,estropiadosecoxos.

Ousemossolicitaraosnossosdoentesos seus conselhos e advertências.Mesmo alguém muito diminuídofisicamente pode revelar-se dumasabedoria extraordinária, ou dumpragmatismofabuloso.Osnossosavóspossuemaindaassimumaexperiênciadevidabemmaiordoqueanossa.Efundamentalmente, o nosso gestopode-lhes revelar “que eles servemaindaparaqualquercoisa,”parafalarsemrodeios.Efectivamente,omundomoderno não sabe mais o que fazercom os doentes e os moribundos(a total descristianização tornou amorte uma realidade obscena- daí acremação) e os nossos veteranos davidasentem-no.Elespodemsentir-seexcluídos,ou“amais”.Demonstremosque muito pelo contrário, pela suasabedoria, a sua experiência e a suapiedade,elesdemaneiranenhumaseencontramamais!

Em poucas palavras: Quando dasnossas visitas junto dos infelizese sofredores, mostremos-lhes oquantosãoamados,oquantosetemnecessidadedassuasoraçõesedoseuapoio,comoelessãoafortunadosemdispor de tempo para prepararemo seu decesso. Invejemos essesdoentes, enchamo-los de alegria.Recordemo-nos,QUENÃOSEDEVEDESPREZAR UM HOMEM NA SUAVELHICE, PORQUE TAMBÉM NÓSENVELHECEREMOS(Eccl.8,6).

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Da omissão em si mesma

Euacuso-medeteromitidoosmeuspecados de omissão; de me ter con-tentado com o mal que não cometipara levar comigo na eternidade; deterconsideradoamoralcristãunica-mentecomoumamortificaçãoenãocomoumavida,comoumamutilaçãoenãocomoumaexpansão,comoumtravãoenãocomoumimpulsodepro-gresso,comoummuroderesguardoenãocomoumtrampolim.

Eu acuso-me de ter olhado o bem afazercomoumdeverbastanteimpre-ciso, preferencialmente facultativo edepressacumprido,demeterpersu-adidoqueacóleraeternadeDeuseraunicamente provocada pela impie-dade e pelos pecados contra a santavirtude; de ter baptizado como bomcristãoumsenhorquevaiàMissaaoDomingo, cumpre o preceito pascal,e de maneira nenhuma dá ocasiãoa que falem dele; de ter consideradoexcelentecristãoosenhorquerecebeocleroàsuamesaelevaumcírionaprocissãoedecristãocomoeramne-cessários muitos aquele senhor que,dentrodecasa,protestaruidosamen-te contra os inimigos da ordem e dasãdoutrina.

A omissão de adorar na oração

Eu acuso-me de ter olvidado que aoração é uma adoração, de não tercompreendido que é necessário queoNomedeDeussejasantificado,queoSeuReinochegue,equeaSuavon-tadesejacumpridaantesqueElenosconceda,oumelhor,afimdequeElenosconcedaonossopão.

Euacuso-medeterinquietadoaDeuscomosmeus interesses,semprevia-menteeumeterocupadodosSeus.

Euacuso-mede ter invocadoaDeusà maneira dos pagãos, unicamentepara obter êxitos e curas, sobretudoquando,encontrando-seesgotadososmeioshumanos,aintervençãosobre-naturalsurgia,oucomoumtrunfoamaisnojogo,oucomoaúltimacartaajogar.

A oração pela sua alma

Eu acuso-me portanto de não terpossuído o cuidado da minha belezasobrenatural; de não ter solicitado aDeusestadelicadeza,esteesmeroes-piritualoqual constituia forma re-quintada do Amor Divino; acuso-medeapenashaversolicitadoagraçadasalvação, e não a graça para ser beloebomsegundoabelezaeabondadeDivinas, vivendo a Sua Vida sobre-

ExamedeConsciênciadumCristãoMediocre

JacquesDebout

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natural;acuso-medenãohavervistonaGraçasenãoumpára-raiosenãoavestenupcial,apenasumagarantiaenãoumvalorpositivo.

Eu acuso-me de não ter deplorado aminha impurezasenãocomoumpe-rigo e não como uma vilania, o meuegoísmoapenascomoerrodecálculoenãocomoumaenfermidade,omeuorgulho como uma desordem e nãocomoumadeformidade.

Acerca do valor da oração

Euacuso-medenãohaveracreditadoprofundamente no poder da oração;denelanãoteracreditadosenãoàfor-çadenervos,sobapressãodaangús-tiaecomoummeiodesesperado;deterrezadosemfervoresimplesmentepara não perder Deus, último recur-so,assimeumepossafiarnosmeusrecursos, nosmeuscálculos, nasmi-nhasoportunidades.

Euacuso-medeterprocuradoaPro-vidênciaquaseunicamentenaminhaprópriaactividade;denãohavercom-preendidoqueaminhaacção,paraserforte,felizeútil,temnecessidadequeoSenhoredifiqueolareguardeaci-dade;euacuso-medenãotercompre-

endidoqueaquelesquerezamobrammaispelomundoqueaquelesquetra-balham,equeJosuéfraquejanocom-batequandoesmorecemnaoraçãoosbraçoserguidosdeMoisés.

Euacuso-medenuncameteracusadode ignorância religiosa, de nem delame desculpar, a tal ponto esta igno-rância me parece normal, acuso-medetersidolevadoapensarqueadoci-lidademedispensavadaciência,queestapobrezadeespíritopredispunhaparaoReinodeDeus,equeseriaperi-gosoultrapassarafédocarvoeiro.

Euacuso-medemetercompletamen-tedesinteressadodaDoutrinaCristâ,sobpretextodeassimnelamaisres-peitarosmistérioseocaráctersagra-do,detersidoaliáspersuadidoqueodever é de essência exclusivamenteprática, que no domínio intelectualnãoexisteoutraobrigaçãosenãoobe-decer,queparaserumbomcristãoénecessárioobservarosMandamentosdeDeus,bemcomoosdaSantaIgre-ja,queésuficienterecitaroSímbolodosApóstolos,emesmodesaberres-ponder“Ámen”.

3�

Existem dois modos de considerar avida Cristã, quer como uma série deMandamentos, quer como uma vidavirtuosa.

Para aquele que faz consistir areligião católica numa longa lista deobrigações e interditos, a vida cristãtorna-se rapidamente pesada, atémesmo intolerável, e estas pessoaslibertam-sedessacangalogodesdeaprimeiraprovação.Éocasodemuitoscatólicosque,apósteremrecebidoumaeducaçãocatólicaeobservadomaisoumenososMandamentos,consideram,umavezatingidaaidadeadulta,quepelaféjáfizeramosuficiente,equeétempoderecuperaremasualiberdadeedegozaremfinalmenteavida.

Mesmo se estes católicos nãoperderam todos a Fé, mesmo quesaibam que o Decálogo está inscritonocoraçãodecadahomem,emesmoquereconheçamqueorespeitopelosdez Mandamentos é necessário paraa constituição do bem comum dasociedade, nada impede que a suafé seja morta. Eles perderam estaCaridade que constitui a alma davida Cristã, e não compreenderamque a nossa religião católica é umareligião de Amor, não num sentidohumanitarista, mas no sentido ondea Caridade constitui uma AMIZADECOM DEUS, como diz São Tomás.

Como prova do Seu amor Deus SeencarnouemorreupornósnaCruz.Mas, ai de nós, o que muitos nãologramalcançar,équeaamizadenãopodeserverdadeirasemreciprocidade,quer dizer, não se pode dizer que seamaverdadeiramenteaDeussemLhequererBem,(eoBemdeDeusconsisteno anúncio da Sua Glória extrínsecaproclamada pela criatura racional)e sem fazermos tudo o que está aonossoalcanceparaquetalserealize.

Éportantourgenteocompreendereensinaràjuventudequeavidacristãé uma vida virtuosa. Se as virtudes,quesãoboasdisposiçõesdaalmaparapraticar o Bem, se não encontramsolidamente ancoradas na alma dasnossas crianças, é de temer que areligiãonãosejasenãoconvencional,resumindo-se numa vaga oraçãoquotidianaenumaassistênciapassivaàMissadominical.

Sem virtude, nenhuma felicidade épossívelsobreaTerra.Afelicidadenãoreside na posse dos bens temporais,nem no uso dos prazeres carnais,nem na procura das honras, porquesãobensquepassam, transeuntes,equenãosãosuficientesparacumulara nossa alma em busca do Infinito.A verdadeira felicidade encontra-seunicamente em Deus, n’Aquele quenós podemos alcançar pelas três

MandamentosouVirtudes?

AbbéJeanMarieSalaun

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VirtudesTeologais:AFé,aEsperança,eaCaridade,eporumavidaconformeà nossa natureza, quer dizerconformeàmoralidadeCatólicacujosfundamentossãoasquatroVirtudesCardeais:Força,Temperança,Justiça,ePrudência.

Embora a aquisição duma virtuderequeira a repetição de actos bons,ela necessita igualmente da ajudade Deus e portanto da oração .Efectivamente as virtudes Teologais

ultrapassam as forças humanas naexacta medida em que tais virtudespossuemDeuscomoobjecto;quantoàs virtudes Cardeais Sobrenaturais,seriapresunçãoopretenderaíchegarcom as nossas próprias forças, poisque a nossa humana natureza estáprofundamente ferida pelo pecadooriginal. Possa esta expressão deSanto Afonso de Ligório ser melhorcompreendida: Aquele que reza salva-se, aquele que não reza condena-se.

Vidades.Paulo,PaidosEremitas

São Paulo, pai dos Eremitas, teveS. Jerónimo por biógrafo. Nasceuno interior da Tebaida, no seculoIII. Instruiu-se nas línguas grega eegípcia, e quanto mais adiantavanas ciências humanas, tanto maiso Espirito Santo o iluminava nosconhecimentosdivinos.Desdeaidadedecatorzeanos,todooseuestudoselimitou à doutrina de Jesus Cristo.Aosquinzeficouórfãodepaiemãe;ecomotinhasóumairmã, jácasadao santo mancebo viu-se herdeiro demuitosbens.

Os horríveis estragos, que a

perseguiçãodeDéciofazianoEgiptoenaTebaida,obrigarammuitoscristãosarefugiar-senosdesertos.Retirou-sePauloparaumacasadecampomuitoafastada.

Tevenessaalturanotíciadeocunhadomaquinar denunciá-lo aos tiranos,movido pela cobiça de se apoderardos seus bens. Resolveu Pauloabandonar tudo, e retirou-se paraumas montanhas incultas e muitolongínquas.Tinhaentão����anos.

O seu primeiro propósito era dartempo a que tormenta passasse; aProvidência dispôs todavia de modo

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diferente. Aquele Senhor infundiu-lhetãoardentedesejodesesepultarnaquela solidão, que desde logoformouaheróicaresoluçãodepassarnela todososdiasdavida.Começoua penetrar pouco a pouco por essevasto deserto, vencendo o terror e onatural sobressalto que ao princípiolheinfundiaavistadetodaaespéciede animais ferozes. No sopé dumamontanhadeparoucomumacaverna,cujo ingresso estava cerrado comuma pedra. Afastando-a, achou umaespéciedesalãoaqueserviamdetectoos ramos entrelaçados duma velhapalmeira. Aos pés da árvore nasciaumabelafontedeáguacristalina.

Desde aquele momento nuncamais teve outra ocupação, alem decontemplar as grandezas divinas eas verdades eternas, gastando naoraçãodiasenoites.Nãoseinquietounem com o alimento nem com ovestido; a palmeira da gruta, com assuas grandes folhas e com tâmaras,forneceu-lhe uma coisa e outra. Daliemdiante,dispôsDeusqueumcorvolhetrouxessecadadiameiopão,comoao Santo Profeta Elias. Este milagredurouatéaodiadasuamorte.

Tinha já o Santo Eremita ��3 anos,90dosquaispassadosnaquelegénerode vida, quando o Senhor permitiuque Santo Antão – que nesse tempocontava 90 anos, e há muito vivianoutro deserto, fosse possuídodo desejo de saber se por aquelasparagens haveria outro solitário a

professar uma vida como a sua. Nanoite seguinte assaltou-o um sonho,emqueoSenhor lhedeuaconhecerque efectivamente havia naquelassolidõesumeremitamaisantigoemaissanto.Logoquesefezdia,Antãopôs-seacaminho,semqueoembaraçasseopesodosanos e, entregando a suadirecção à Providência foi andando,andando, sem mesmo saber o rumoque levava. Ao terceiro dia avistouuma caverna; pouco depois entrounela,apesardaescuridãoe,lançandoavistaparatodososlados,enxergouuma luz a pouca distância. O ruido,que fazia andando sobre o cascalho,advertiu Paulo, que veio logo fecharaporta.Correuosantoancião,e foipostar-se junto do umbral da porta,conjurandooservodeDeusaquelhaabrisse.–Bemsabes,dizia,quemeusou,enãoignorasomotivoprincipalda minha viagem; sei que não soudigno de te ver, apesar disso estouresolvidoanãomeapartardaquisemte ter visto. Morrerei à tua porta,e terás ao menos o trabalho de mesepultar.

Paulo,voltando-separaAntão,disse-lhe: «Vês este que vens procurandocomtantotrabalho?Nãoémaisqueum corpo consumido pela velhice, eque em breve se converterá em pó.Ora diz-me: Que é que se passa nomundo? Fabricam-se ainda casasnovas e sumptuosos palácios nasantigascidades?Queméqueimperanaterra?Háaindahomensinsensatose cegos que adorem os demónios e

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vivamnastrevasdaidolatria?»

Antão respondeu a todas estasperguntas. Continuando os dois emamenos colóquios, viram chegar ocorvocomumpãonobico,evoandosuavemente foi-o pôr entre os dois.S.Paulodisse:«Hásessentaanosqueeste corvo me traz meio pão cadadia,porémhojeNossoSenhorJesusCristoquis,porteurespeito,dobrararação.»

AmbosderamgraçasaDeus,edepoisde orar sentaram-se a comer juntoda fonte. Ao outro dia, Paulo dissea Antão que sentia aproximar-se amorteequeDeusotinhaenviadoaliparaquedessesepulturaaoseucorpo.Aoouvirestaspalavras,SantoAntãopediuaPauloqueaomenosrogasseaDeusagraçademorrercomele.

«NãodevesanteporatuaconveniênciaàglóriadeDeus,respondeuPaulo;osteusdiscípulosaindatêmnecessidadedosteusexemplos.Agoraqueropedir-te uma graça e é que procures e metragasomanto,quetedeixouoBispoAtanásio;desejoquesirvademortalhaaomeucorpo».DizS.Jerónimoqueistofoiapenasumcaridosopretextopara poupar Antão à dor de o verexpiar; ou então o querer significar-lhe deste modo que desejava morrernaféecomunhãodeSantoAtanásio.

Antão não ousou replicar-lhe;beijando-lheamão,pôs-seacaminho,e chegou desalentado ao mosteiro.Perguntaram-lhe dois dos seusdiscípulosondeestiveratantotempo,

ao que respondeu: «Pobre de mim,quesouindignodonomedesolitário!ViElias,viJoãonodeserto,eviPaulonoParaíso».

E sem acrescentar mais nada, pegouno manto de Atanásio e voltou paraagrutadePaulo,caminhandoatodaapressa.Namanhãdodia seguinte,viu subir ao céu a alma de Paulotoda resplandecente no meio dosAnjos, dos Apóstolos e dos Profetas.Comoveu-o muito esta visão e,banhadoemlagrimas,comorostoporterra,começouabradar:«Amadopai,porque me deixaste assim? Porquehavia de te conhecer tão tarde, paratãodepressateperder?»

Depoisselevantou,animadodenovoalento,econtinuouocaminho.Tendoentradonagruta,encontrouocorpodePaulocomosjoelhosdobradoseasmãospostas.Estavamorto.Cobriuosanto corpo com o manto, trouxe-oparaforadacovaecomeçouacantaros hinos e os salmos, segundo ocostumedaIgreja.

Antãoenterrouosantocorpo,ficandocomatúnicadePaulo,tecidacomasfolhasdapalmeira.

OImperadormandoutransportaraspreciosasrelíquiasdobem-aventuradoEremita para Constantinopla, sendodepois transladadas para Veneza em�����0.Em�38�,LuísI,reidaHungria,obteve-as do senado de Veneza ecolocou-ascomgrandesolenidadenaigrejadeS.Lourenço.S.Paulomorreunoanode3����.

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PapaJoãoXXI

ÉcomgostoquevamostransmitiroquesesabedavidadeSuaSantidade,oPapaJoãoXXI,Papaportuguês.

Seu nome de baptismo era PedroJulião,filhodeumafamíliabastantecatólica, cujo pai, Julião Rebelo eraum reconhecido médico. Supõe-seque tenha nascido por volta do ano�������,edesdemuitocedoestejovemPedroseapaixonoupelavidadeJesusCristo. Fez peregrinações com ospais a Santiago de Compostela, quelhe davam muita Fé, e também seapaixonou pela Medicina, pois diziaque gostaria de curar os doentespobres.

NasceuemLisboa,nafreguesiadeS.Julião,próximodoTerreirodoPaço,esegue,portantoaprofissãodoseupai.EstudaemPariscomnotáveismestresdaépoca,comoSantoAlbertoMagno,etendocomocondiscípulosS.Tomásde Aquino e S. Boaventura, grandesnomes do cristianismo. Destaca-senaFilosofiacomoTratadoSummular Logicales, cujo estudo irá atravessarséculos, com ��60 edições em todaa Europa, traduzido para o grego ehebraico.

Mestre de Medicina consagrado,ensina na Universidade Italiana deSiena,de�����6a���5��.Provadasuavastíssimaculturacientíficaencontra-se na obra De Oculo; um Tratado deOftalmologia que conhece ampla

difusãonasuniversidadeseuropeias.Quando Miguel Ângelo adoecegravemente dos olhos, devido aoárduolaborconsumidonadecoraçãoda Capela Sistina, encontra remédionumareceitadePedroJulião.Desuaautoria ainda, o Thesaurus Pauperum(Tesouro dos Pobres), em que tratade varias doenças e suas curas, comcercadeumacentenadeedições,para���línguas.

Já no domínio da Teologia, é autorde comentários ao pseudo-Dionísioe Scientia Libri de Anima. Encontra-se por publicar a obra De Tuenda Valentudine, manuscrita em Paris,dedicada a Dona Branca, mulherdo Rei Luís VIII de França, filha deAfonsoIXdeCastela.

Antes de ���6�, ano em que é eleitodecano da Sé de Lisboa, PedroJulião ingressa no sacerdócio. O ReiAfonso III confia-lhe o priorado daigrejadeSantoAndré,deMafra,em���63, na altura em que é elevadoa cónego e deão da Sé de Lisboa, eposteriormente, Tesoureiro-mor daSédoPortoePriornaColegiadaRealdeSantaMariadeGuimarães.AposamortedeD.MartinhoGeraldes,PedroJuliãoénomeadoArcebispodeBragapeloPapaGregórioX(���73).Umanodepois, participa no XIV ConcilioEcuménico de Lião. Altura em queGregório X o eleva a Cardeal-bispo,com o título de Tusculum-Frascati, o

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quepermiteaoPontíficepodercontarcom os serviços médicos do sábioportuguês. Regressa ao arcebispadode Braga, ate ser nomeado o seusucessor,D.Sancho.

De regresso a corte pontifícia,Gregório X, nomeia-o seu médicoprincipal,em���75.AeleiçãodePedroJulião em conclave realizado emViterbo decorre num período muitoconturbado por tensões políticase religiosas, com alguns cardeais asofreremviolênciasfísicas.FoieleitoPapaa��0deSetembrode���76.

Pouco mais de 8 meses irão marcaro breve pontificado de João XXI,caracterizado pela fidelidade ao XIVConcilioEcuménicodeLião.Apressa-seacriarumTribunal,parajulgarosquehaviammolestadooscardeaisnoconclavequeoelegera,eemborasemsucesso, levar por diante a missãoencetada por Gregório X, de reunira Igreja Grega à Igreja Romana doOcidente.

Esforça-se por libertar a Terra Santaempoderdosturcos.Tentareconciliargrandes nações europeias, como aFrança, Alemanha e Castela, dentrodo espirito da unidade cristã. Nessesentido, envia Legados Pontifícios aRodolfo de Habsburgo e a Carlos deAnjou, embora sem sucesso. Sumo-pontíficedotadoderarasimplicidade,recebetantoosricoscomoospobres.DanteAlighieri,poetaitaliano(���65-�3���),nasuafamosaDivina ComédiacolocaaalmadeJoãoXXInoParaíso,

entre as almas que rodeiam a almade S. Boaventura, apelidando-o de“aquele que brilha em doze livros”,mençãoclaraadozeTratadosescritospelo erudito pontífice português.(Paraíso,CantoXII).

OReiaragonêsAfonsoX,oSabio,paidaRainhaSantaIsabel,esposadoReiportuguêsD.Dinis,elogia-oemformadecanção.

Mecenasdeartistasedeestudantes,étidonasuaépocaporegrégiovarãode letras; grande filósofo; clérigouniversale completocientista, físicoenaturalista.Maisdadoaoestudodoque às tarefas pontifícias, João XXIdeleganocardealOrisini,futuroPapaNicolauIII,osassuntoscorrentesdaSéApostólica.

Ao sentir-se doente retira-se para acidadedeViterbo,ondemorrea�6deMaiode���77,com5�anos,vitimadopelo desmoronamento das paredesdo seu aposento. Estando o PalácioApostólico em obras, e sepultadojunto do altar-mor da catedral deS. Lourenço daquela cidade. Noseculo XVI, durante os trabalhosde reconstrução do templo, os seusrestossãotransladadosparamodestoe ignorado túmulo, mas nem aquiencontraorepousodefinitivo.DiziaosenhorpadreOliveirosdeJesusReis,que o nosso Pedro Julião deve teradoptadoonomeJoãoXXI,porquenasuacasapaternavenerava-semuitoS.João Baptista, assim como José doEgipto,etodaasualongahistória.