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7/26/2019 Soteriologia - Alister E. McGrath

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A salvação

Um tema central da mensagem cristã é que a condição humana foitransformada, de alguma forma, pela morte e ressurreição de Jesus Cristo.Esse processo costuma ser descrito como "salvação". A palavra "salvação" éempregada no sentido mais amplo, não ostante seu signi!cado espec!co,como veremos logo adiante.

# importante saer que o termo "salvação" não possui necessariamenteuma conotação especi!camente cristã, e pode ser empregado no sentidosecular. $or e%emplo, era comum para os autores soviéticos, especialmenteem !ns da década de &'(), falar de *enin como "salvador" do povo russo.+s golpes militares em Estados africanos na década de &')freq-entemente criavam "conselhos de salvação nacional" que procuravamrestaurar a estailidade poltica e econmica. Assim é que salvação podeser um termo meramente secular, relacionado com a emancipação polticaou com a usca humana da liertação.

/esmo no plano religioso, a salvação não é uma idéia especi!camentecristã. 0ão todas, porém muitas religi1es do mundo possuem conceitos desalvação. 2e uma religião para outra e%istem diferenças enormes a respeitoda idéia de como a salvação é otida e do modelo ou forma que a salvaçãodeve tomar.

Ao começar o estudo da teologia da salvação, precisamos ter em menteduas quest1es. Em primeiro lugar, como a salvação em si deve serentendida. 2e que modo a noção cristã da nature3a da salvação se tornadistintiva4 Em segundo lugar, como é possvel a salvação e como, de modo

particular, ela est5 fundamentada na hist6ria de Jesus Cristo4 +u então, emoutras palavras, qual o fundamento da salvação de acordo com ocristianismo4 Essas perguntas t7m sido o8eto de intensa discussão em todaa hist6ria cristã. A seguir, e%aminaremos revemente alguns desses temas.

Começaremos por considerar a primeira questão9 + que e a salvação4. Umamaneira de iniciar o estudo desse tema consiste em re:etir sore algumasimagens da salvação apresentadas nas cartas de $aulo.

;magens paulinas da sad<ação

Em todas as suas cartas, $aulo emprega uma rica série de imagens para

iluminar e esclarecer os enefcios que Cristo garante para aqueles quecr7em. Ele sup1e claramente que seus leitores terão capacidade paraentender o que essas analogias devem transmitir. A seguir, estudaremosalgumas dessas analogias a !m de avaliar a import=ncia que possuem.

A primeira imagem é a da pr6pria salvação. + termo tem in>merossigni!cados, inclusive de liertação de perigos ou do cativeiro, ou liertaçãode alguma forma de doença fatal. 0oç1es como "cura" e "lieração" podemser includas nesse importante termo paulino. Agostinho de ?ipona comparaa ;gre8a a um hospital pelo fato de estar cheia de pessoas em processo decura. $aulo v7 a salvação com dimens1es passadas @ por e%emplo emomanos ,(B @, presentes

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@ como em & Corntios &,& @ e futuras, como em omanos &,&&. Assim, apalavra "salvação" refereDse a uma coisa que 85 aconteceu no passado, est5ocorrendo no presente e ter5 lugar no futuro.

Uma segunda imagem importante é a de adoção. Em v5rias partes, $aulofala de cristãos como "adotados" na famlia de 2eus

m ,&F.(G H& B,FI. AdmiteDse, de modo geral, que $aulo aqui se inspiraem uma pr5tica de car5ter 8urdico, comum cultura grecoD romanaemora se deva oservar que se trata de uma pr5tica não reconhecida pelalegislação 8udaica tradicionalI. 2e acordo com muitos intérpretes de $aulo,falar dos "crentes" como adotados na famlia de 2eus é a!rmar que elescompartilham os mesmos direitos de herança que Jesus Cristo compartilhae, por conseguinte, receerão a gl6ria que Cristo alcançou emora ha8amde conseguir isto s6 depois de participarem dos sofrimentos de CristoI.

0a época da eforma, no século KL;, muitos pensadores atriuram grande

import=ncia imagem de 8usti!cação. Especialmente nas cartas que tratamda relação do cristianismo com o 8udasmo como as cartas aos H5latas eaos omanosI, $aulo a!rma que os que cr7em foram "8usti!cados pela fé"por e%emplo, m F,&D(I. A!rmaD se com isso uma mudança da condição

 8urdica do crente diante de 2eus e sua garantia, em >ltima an5lise, deasolvição diante de 2eus, apesar da condição humana de pecado. + termo"8usti!cação" e o vero "8usti!car" passaram a signi!car "o relacionamentocorreto com 2eus" ou talve3 o "tornarDse correto diante de 2eus".

Uma quarta imagem é a de redenção. + principal signi!cado desse termo é"garantir a liertação de alguém mediante pagamento". 0o mundo antigo

que serviu de pano de fundo para o pensamento de $aulo, o termo podia serusado para aludir liertação de prisioneiros de guerra ou para garantia dalierdade daqueles que se vendiam como escravos, muitas ve3es pararessarcir uma dvida de famlia. A idéia 5sica de $aulo parece signi!car quea morte de Cristo garante a lierdade dos crentes contra a escravidão da leiou da morte para que possam se tornar servos de 2eus iCor M,()G N,(I.

+ $+O*E/A 2E A0A*+H;AG PA*LAQR+ C+/+ EPHASE

Em um captulo anterior, oservamos como o uso teol6gico de analogiaslevantou algumas quest1es interessantes. Até onde podem ser levadasessas analogias4 $or e%emplo, ao pensar em 2eus

como "pai", estaramos supondo que 2eus se8a de se%o masculino4Pemelhante questão surge com relação ao pensamento a respeito dasalvação, e por conseguinte e%aminaremos a questão tomando a imagemda salvação como "resgate".

A imagem da morte de Cristo como resgate tornouDse um tema deimport=ncia central para os autores patrsticos gregos, como ;reneu. + 0ovo

 Sestamento fala de Jesus que d5 a vida em resgate dos pecadores /c&),BFG iSm (,MI. Tuais são, então, as implicaç1es dessa imagem4 A palavra"resgate" sugere tr7s idéias correlatasG

& *iertação 9 o resgate é alguma coisa que consegue a lierdade para umapessoa mantida em cativeiro.

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(. $agamento9 o resgate é uma soma de dinheiro paga para conseguir aliertação de alguém.

. Alguém a c8uem o resgate épagoD, o resgate geralmente é pago a umapessoa que capturou outra.

0ão h5 d>vida de que o 0ovo Sestamento proclama que fomos liertados docativeiro pela morte e ressurreição de Jesus. omos liertados do cativeiro,do pecado e do medo da morte m ,(&G ? (,&FI. E claro tamém que o0ovo Sestamento entende a morte de Jesus como preço que tinha de serpago para conseguir nossa liertação iCor M,()G N,(I. Po esses doisaspectos, o uso da palavra "redenção" nas Escrituras corresponde aosentido comum da palavra. /as o que di3er sore a terceira acepção4

+ 0ovo Sestamento não sugere em nenhuma parte que a morte de Jesus foio preço pago a alguém por e%emplo, ao demnioI para conseguir aliertação. Alguns autores patrsticos, contudo, supunham que podiam levar

a analogia até o e%tremo, declarando que 2eus nos tinha liertado do poderdo demnio oferecendoDlhe Jesus como preço de nossa liertação.

+rgenes entre apro%imadamente &F e cerca de (FBI, que foi talve3 omais especulativo dos te6logos da patrstica primitiva, pensava assim. Pe amorte de Cristo era um resgate, argumentava +rgenes, esse resgatedeveria ter sido pago a alguém. /as a quem4 0ão podia

ser pago a 2eus porque 2eus não estava mantendo os pecadores comoreféns. $ortanto, o resgate tinha de ser pago ao demnio.

Hreg6rio /agno entre apro%imadamente FB) e M)BI desenvolveu ainda

mais essa idéia. + demnio tinha adquirido sore a humanidade decadadireitos que 2eus era origado a respeitar. + >nico meio possvel de liertara humanidade da dominação e da opressão sat=nica darDseDia se porventurao demnio superasse os limites de sua pr6pria autoridade, vendoDseorigado a perder seus direitos. E como isto poderia ser conseguido4Hreg6rio sugere que poderia ser alcançado se uma pessoa sem pecadoentrasse no mundo, mantendo, porém, a forma de uma pessoa pecadoranormal. + demnio não oservaria isto a não ser quando fosse 85 tardedemais. Ao e%igir autoridade sore essa pessoa pecadora, o demnioultrapassaria os limites da sua autoridade, sendo assim origado a perderseus direitos.

Hreg6rio sugere a imagem de um an3ol com a isca, em que a humanidadede Cristo é a isca e sua divindade, o an3ol. + demnio, como um grandemonstro marinho, morde a isca e depois descore, tarde demais, o an3ol. "Aisca tenta para fa3er o an3ol pegar. Assim foi que o pr6prio 0osso Penhor,vindo redimir a humanidade, se transformou como que em um an3ol, paracausar a morte do demnio." +utros autores e%ploraram outras imagenspara e%plicar a mesma idéia de armadilha armada para surpreender odemnio. Alguns compararam a morte de Cristo a uma rede armada paraapanhar p5ssaros ou a uma ratoeira. oi este aspecto do signi!cado da cru3que causou maior inquietação posteriormente. $arecia que 2eus era

culpado do engano.

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+nde se nota mais claramente esse tema é, talve3, nos escritos de u!node Aquiléia entre apro%imadamente BF e B&)I, particularmente nae%posição que fa3 do Credo dos Ap6stolos datada apro%imadamente do anoB))9

VA !nalidade da encarnaçãoW era que a virtude divina do ilho de 2eus

pudesse ser como uma espécie de an3ol escondido so a forma de carne

humana V... W para atrair o prncipe do mundo para uma disputa,D para que oilho pudesse oferecer a ele a sua carne humana como isca e para que adivindade, que estava oculta, pudesse apanh5Dlo e prend7Dlo no an3ol V...W.2epois, da mesma maneira como o pei%e que morde a isca do an3ol não s6não consegue livrarDse dela mas acaa sendo arrancado para fora da 5guapara servir de alimento para os outros, assim aquele que tinha o poder damorte pegou o corpo de Jesus na morte, sem perceer o an3ol da divindadeescondido dentro da isca. Ao engolir o an3ol, o inimigo foi imediatamente

apanhado. As portas do inferno foram destrudas e ele foi retirado do fossopara se tornar alimento para os outros.

As imagens de vit6ria sore o demnio e%erceram uma grande atraçãopopular. A idéia medieval da "aniquilação do inferno" d5 testemunho dessepoder. Conforme essa idéia, depois que morreu na cru3, Cristo desceu aoinferno e destruiu os port1es infernais para que as almas aprisionadaspudessem ser liertadas. A idéia permaneceu um tanto apagada, éverdadeI em & $edro ,&D((, que fa3 refer7ncia a Cristo "pregando aosespritos na prisão". + hino "L6s, coros da 0ova Jerusalém", escrito porulert de Chartres falecido em &)(I, e%prime esse tema em dois versos

que aludem imagem de Cristo como o "leão de Jud5" Ap F,FI, derrotandoPatan5s, a serpente Hn ,&FI9

+ leão de Jud5 rompe seus grilh1es e esmaga a caeça da serpente e lançaseu clamor no reino da morte para despertar os mortos aprisionados.

Ao seu comando, as profunde3as do aismo do inferno devolvem sua presa,Da multidão dos que foram resgatados segue seu caminho, com Jesus frenteX.

&. or JudahXs lion ursts his chains<Cmshing the serpentXs head,D<And criesaloud through deathXs domain<So YaZe the imprisoned dead.<2evouring

depths of hell their pre[<At his command restore,D<?is ransomed hostspursue their Ya[<here Jesus goes efore.

Pemelhante idéia se encontra em "$iers $loYman", um dos poemas maisimportantes da lngua inglesa do século K;L. 0esse poema, $iers adormece esonha com Cristo arindo os port1es do inferno e di3endo as seguintespalavras a Patan5s9

Aqui est5 minha alma como resgate de todas estas almas pecadoras, pararesgatar as que merecerem. Elas são minhas, saram de mim e, portanto,tenho todo direito a elas V...W. Su, através da falsidade e do crime, e contratudo o que é 8usto, arreataste o que me pertence, dentro de meu pr6prio

campo. Eu, com toda 8ustiça, recupero estas almas pagando o resgate, semrecorrer a nenhum outro meio. + que adquiriste por artifcio é reconquistado

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pela graça V...W. E, assim como uma 5rvore fe3 Adão e toda humanidadeperecerem, da mesma forma a 5rvore do meu suplcio os recondu3ir5 vida.

 Seorias sore a reconciliação

2epois de termos e%aminado algumas imagens licas da salvação e o

modo como devem ser interpretadas, podemos agora começar a considerarcomo esses temas foram e%plorados e desenvolvidos na tradição teol6gicacristã. Esta parte da teologia cristã é descrita tradicionalmente como"teorias da reconciliação". A palavra "reconciliação" tradu3 o termo ingl7satonment, que remonta ao ano &F(M, quando o escritor ingl7s \illiam

 S[ndale entre apro%imadamente &F'B e &FMI empreendeu a tradução do0ovo Sestamento em ingl7s. 0aquela época, não e%istia uma palavra emingl7s que e%primisse o signi!cado de "reconciliação" e%piaçãoI. S[ndaleteve de inventar uma palavra, criando assim atDoneDment, que logo passoua signi!car "os enefcios que Jesus Cristo oferece aos que cr7em através desua morte na cru3". Essa palavra incomum é muito pouco usada no ingl7s

moderno e perceeDse que tem um saor arcaico. $ara evitar a impressãode que o pensamento cristão pareça estar desatuali3ado, os te6logos deho8e preferem tratar desse tema como "doutrina da ora de Cristo".

A seguir, e%aminaremos tr7s aordagens sore a cru3 que tiveram um papelimportante na teologia cristã. Elas não esgotam de maneira alguma are:e%ão cristã sore esse tema de grande import=ncia.

A CU] C+/+ PAC;^C;+

Em primeiro lugar, o 0ovo Sestamento, partindo das imagens e e%pectativasdo Antigo Sestamento, apresenta a morte de Cristo na cru3 como sacrifcio.

Essa visão, que est5 especialmente relacionada com a carta aos ?ereus,apresenta a oferta sacri!cal de Cristo como um sacrifcio verdadeiro eperfeito, capa3 de cumprir aquilo que os sacrifcios do Antigo Sestamento s6podiam pre!gurar, mas não podiam cumprir. 2e modo particular, o uso que$aulo fa3 do termo grego hilasterion, comumente tradu3ido como "sede damiseric6rdia" m ,(FI, tamém tem sua import=ncia aqui, pela origemque tem nos rituais sacri!cais do Antigo Sestamento, que tratam dapuri!cação do pecado.

Essa idéia é desenvolvida posteriormente na tradição cristã. $ara ahumanidade ser restituda a 2eus, o mediador deveria sacri!car a si

mesmoG sem esse sacrifcio, a restituição a 2eus seria impossvel. Atan5sioa!rma que o sacrifcio de Cristo era superior aos sacrifcios e%igidos naAntiga Aliança so v5rios aspectos9

Cristo oferece um sacrifcio que é !dedigno, de efeito permanente e denature3a segura. +s sacrifcios oferecidos de acordo com a *ei não eram!dedignos, porque tinham de ser oferecidos todos os dias e precisavamsempre ser puri!cados. $elo contr5rio, o sacrifcio do Palvador foi oferecidos6 uma ve3 e cumprido em sua integridade, tendo assim um efeitopermanente.

Esse argumento é desdorado ulteriormente nas Cartas pascais deAtan5sio, escritas todos os anos para celerar a festa da $5scoa. 0essas

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cartas, Atan5sio discorre sore a idéia do 0ovo Sestamento de que e%isteuma importante analogia entre a morte de Cristo na

cru3 e o sacrifcio do cordeiro na festa 8udaica da $5scoa, que comemora aliertação de ;srael do Egito9

VCristoW, vindo verdadeiramente de 2eus $ai, encarnouDse por n6s de modoque pudesse oferecerDse ao $ai por n6s para nos resgatar através de suaoferta e seu sacrifcio V...W. Este é aquele que nos tempos antigos foisacri!cado como um cordeiro, tendo sido pre!gurado naquele cordeiro.$osteriormente, foi imolado por n6s. "Cristo, nossa $5scoa, é imolado" &Corntios F,NI.

Agostinho de ?ipona trou%e uma nova lu3 para e%plicar toda a discussãosore a nature3a do sacrifcio de Cristo, e%pondo uma de!nição convincentedo sacrifcio em sua ora A Cidade de 2eus9 "Um verdadeiro sacrifcio éoferecido em toda ação designada para nos unir com 2eus em uma ami3ade

santa". Com ase nessa de!nição, Agostinho não teve di!culdade para falarda morte de Cristo como sacrifcio9 "$or sua morte, que certamente é umverdadeiro e >nico sacrifcio oferecido por n6s, ele puri!cou, aoliu ee%tinguiu toda culpa pela qual os principados e poderes nos mantinhamlegalmente presos para pagar a pena". 0esse sacrifcio. Cristo era aomesmo tempo vtima e sacerdote,D ele se ofereceu como sacrifcio9 "Ele seofereceu em sacrifcio pelos nossos pecados. E onde é que ele encontrouaquela oferta, a vtima pura que deveria oferecer4 Ele ofereceu a si mesmo,uma ve3 que nenhum outro podia ser encontrado para o sacrifcio".

Essa maneira de entender o sacrifcio de Cristo viria a ter uma import=ncia

decisiva em toda a ;dade /édia para con!gurar o entendimento ocidental arespeito da morte de Cristo. 2ada a import=ncia de Agostinho, podemoscitar na ntegra a passagem que se destaca como a e%pressão mais sucintade suas idéias a respeito9

Assim, o verdadeiro /ediador, que "tomou a forma de um servo" para setornar "o mediador entre 2eus e a humanidade, a pessoa de Cristo Jesus" &

 Sim6teo (,FI, receeu o sacrifcio na "forma de 2eus" ilipenses (,NDI, emunião com o $ai, com quem ele é um >nico 2eus. E, contudo, na "forma

de servo", ele determinou que haveria de ser o sacrifcio, em ve3 de receero sacrifcio para impedir que alguém pudesse pensar que tal sacrifcio

devesse ser oferecido a qualquer criatura. Assim ele é ao mesmo temposacerdote que fe3 a olação de si mesmo e tamém a pr6pria olação.

?ugo de Pão Ltor falecido em &&B(I, escrevendo no incio do século K;;,considerou as imagens de "sacrifcio" oportunas para e%plicar a l6gicainterior do sentido da morte de Cristo na cru3. Cristo podia ser um sacrifcioe!ca3 para o pecado da humanidade precisamente porque podia apresentarnossa nature3a pecadora decada diante de 2eus9

2a nossa nature3a ele tomou a vtima para nossa nature3a, de modo quetoda a oferta consumida que tinha sido oferecida pudesse vir daquilo que énosso. Ele assim fe3 para que a redenção a ser oferecida pudesse ter umne%o conosco, por sua nature3a tirada da nossa nature3a. 2everemosverdadeiramente nos transformar em participantes dessa redenção se

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formos unidos pela fé com o redentor que estaeleceu a ami3ade conoscopor sua carne.

A e!c5cia do sacrifcio de Cristo permanece, portanto, em sua humanidadee em sua divindade.

A CU] C+/+ L;S_;A+ segundo modo de considerar o signi!cado da cru3 arange uma série depassagens licas que destacam a noção da vit6ria divina sore forçashostis. + 0ovo Sestamento a!rma que 2eus nos deu a vit6ria pelaressurreição de Jesus Cristo. "Hraças se8am dadas a 2eus que nos deu avit6ria por 0osso Penhor Jesus Cristo" iCor &F,FNI. A ;gre8a primitiva segloriava com o triunfo de Cristo na cru3 e com a vit6ria que ele conquistousore o pecado, a morte e Patan5s. /as de que maneira essa vit6ria podeser entendida4 Tuem é que foi derrotado4 E de que maneira4

+s autores cristãos dos cinco primeiros séculos sentiamDse fortementeatrados pelas imagens de Cristo otendo vit6ria pela cru3. Era

claro para eles que Cristo tinha vencido a morte, o pecado e o diao. 2amesma forma como 2avi matou Holias com suas pr6prias armas, assimCristo derrotou o pecado com a pr6pria arma do pecado, que é a morte. $oruma derrota manifesta, a vit6ria foi conquistada contra uma multidão deforças ocultas que tirani3avam a humanidade.

Autores patrsticos como Atan5sio de Ale%andria e Agostinho de ?iponaempregaram um grande n>mero de imagens fundamentais para e%plicar anature3a da escravidão humana so o pecado e a maneira como fomos

liertados pela morte e ressurreição de Cristo. #ramos mantidos atadospelos laços do temor da morte. #ramos prisioneiros do pecado. #ramosapanhados nas armadilhas do poder do diao. Com grande hailidade, estesescritores construram um quadro coerente do dilema humano. +s sereshumanos são mantidos como presas de forças hostis e são incapa3es de seliertar sem um au%lio e%terno. Era preciso haver alguém que viesse entrarnessa prisão e liertar os prisioneiros. Alguém de fora da situação humanateria de entrar em nossa condição humana para nos liertar. Alguém teriade romper os laços que nos mantinham cativos. + tema é retomadoin>meras ve3es9 somos apanhados em nossa situação, e a >nica esperançaque nos resta é uma liertação vinda de fora.

2e acordo com esse modo de ver, Cristo, por sua morte e ressurreição,enfrentou e desarmou a multidão de forças hostis que coletivamente nosmantinham em cativeiro. A cru3 e a ressurreição representam um atodram5tico da liertação divina pelo qual 2eus lierta seu povo do cativeirodas forças hostis como uma ve3 liertou seu povo ;srael do cativeiro doEgito. + autor do século ;; ;reneu de *ião a!rma9 "+ Lero de 2eus foi feitocarne para que pudesse destruir a morte e nos restituir vida, uma ve3 queest5vamos presos pelos laços do pecado, tendo nascido no pecado, vivendoso o domnio da morte".

Essa nota de triunfo levou os cristãos a se valer das imagens da culturaromana do perodo cl5ssico tardio nas maneiras de representar os enefcios

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que Cristo conquistou na cru3. A vit6ria de Cristo era representada comouma grande procissão triunfal, compar5vel

quelas que eram feitas na antiga oma, em que os grandes feitos militaresde seus her6is eram celerados. Em sua forma cl5ssica, a parada triunfalacompanhava o her6i vitorioso desde o Campo de /arte através das ruas deoma, para terminar no Semplo de J>piter na Colina do Capit6lio. A paradatinha na vanguarda os soldados do general vencedor, que levavam muitasve3es carta3es com di3eres que descreviam o general e seus feitos, ouentão mostravam mapas dos territ6rios conquistados. +utros soldadoscondu3iam carros contendo o utim que era tra3ido para o tesouro de oma.Uma parte da parada era formada pelos prisioneiros de guerra, muitasve3es chefes de cidades ou pases derrotados, que vinham condu3idosalgemados.

Esse era um curto passo que os autores cristãos primitivos davam paratransformar essas imagens na proclamação de Cristo como her6i vencedor.

Esse simolismo poderoso assentouDse !rmemente no 0ovo Sestamento,que falava de Cristo vitorioso que "tornou o cativeiro cativo" Ef B,I.Emora esse tema possa ser visto em algumas peças de arte cristã desseperodo primitivo, o impacto mais dram5tico que teve foi nos hinos daquelaépoca. Um dos mais elos hinos da ;gre8a Cristã da época retrata aprocissão triunfal de Cristo e celera sua vit6ria sore os inimigos.

+ hin6grafo Len=ncio ?on6rio Clementiano ortunato entreapro%imadamente F) e cerca de M&)I nasceu em Ceneda, perto de Sreviso,no norte da ;t5lia. SornouDse cristão quando ainda criança e estudou emavena e /ilão. SornouDse conhecido como e%celente poeta e orador, vindo

posteriormente a ser eleito ispo de $oitiers por volta de F''. Ele élemrado principalmente por ser autor do poema "Le%illa regis prodeunt"Avançam as andeiras reaisI. 2e acordo com uma tradição emcomprovada, no ano FM' Panta adegunda presenteou um grandefragmento daquilo que se acreditava ser a verdadeira cru3 de Cristo cidade de $oitiers, na H5lia meridional. adegunda tinha otido essefragmento do imperador Justino ;;. ortunato foi a pessoa escolhida parareceer a relquia na chegada a $oitiers. Tuando os portadores do sagradofragmento

encontravamDse apro%imadamente a duas milhas de dist=ncia da cidade,

ortunato, acompanhado de uma grande multidão de !éis e entusiastas,alguns desfraldando andeiras, levando cru3es e outros instrumentossagrados, foram ao encontro dos que tra3iam a relquia. Enquantomarchavam, cantavam o hino que ortunato tinha composto para a ocasião.+ hino foi logo incorporado ao +fcio do 2omingo da $ai%ão da ;gre8aocidental, sendo utili3ado ainda em nossos dias. A seguir são transcritas tr7sestrofes do te%to original em latim, seguidas de uma tradução literalG

Le%illa egis prodeunt9 Avançam os estandartes do ei,D

ulget Crucis m[sterium resplandece o mistério da cru3

Tua vita mortem pertulit pela qual a vida venceu a morteEt morte vitam protulit. e pela morte a vida triunfou

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Aror decora et fulgida `rvore ela e refulgente

+rnata egis purpura, ornada com a p>rpura do ei,

Electa digno stipite >nico madeiro digno de tocar

 Sam sancta memra tangere. aquele corpo santssimo.Oeata cu8us rachiis Aençoados raços da alança.

$retium pependit saeculi,D que pesou o resgate do mundo

Ptatera facta corporis ao receer aquele corpo

 Sulitque praedam tartari. que arreata a presa aos infernos.

A prop6sito, convém notar aqui a import=ncia dos hinos e c=nticos cristãoscomo meio de tornar as a!rmaç1es doutrinais memor5veis e acessveis scomunidades. +s hin5rios da ;gre8a Cristã costumam ser as a!rmaç1es mais

importantes e memor5veis da doutrina.IA CU] E + $E2R+

Uma terceira aordagem do sentido da morte de Cristo constitui uma sériede passagens licas que tratam das noç1es

de 8u3o e perdão. A compreensão da ora de Cristo descrita acima possuimuitos pontos de atração, por causa do seu sentido dram5tico. 0o entanto,e%istem aqui alguns pontos fracos. $ara o autor do século K;; Anselmo deCantu5ria, dois pontos fracos são de import=ncia toda especial. Em primeirolugar, dei%aDse de e%plicar por que 2eus quereria nos resgatar. Em segundo

lugar, não valeria muito a pena saer como Jesus Cristo estava envolvido noprocesso da redenção. Anselmo achou que era necess5rio e%plicar melhor aquestão. $ara satisfa3er essa necessidade, ele elaorou uma forma deencarar a ora de Cristo que destaca a idéia central da retidão da oracriada. 2eus criou o mundo de uma certa forma que e%prime a nature3adivina. Ele tamém criou os seres humanos para que pudessem go3ar daami3ade de seu Criador na eternidade. E esta !nalidade parece ter sidofrustrada pelo pecado humano, que aparece como uma arreira entre ahumanidade e 2eus. oi introdu3ida, assim, uma ruptura fundamental nacriação. A ordem moral foi violada. 2essa maneira, sup1eDse que deveriahaver uma redenção da humanidade para que a retidão natural da ordem

criada pudesse ser restaurada. 0esse sentido, Anselmo entende a redençãocomo restauração da humanidade ao seu estado original na criação.

Como é, então, que podemos ser redimidos4 Anselmo ressalta que 2eus seoriga a nos redimir de um modo compatvel com a ordem moral da criação,re:etindo sua pr6pria nature3a. 2eus não pode criar o universo de umamaneira como e%pressão da sua vontade e da sua nature3a e, de maneiratotalmente diferente, violar a ordem moral agindo de um modocompletamente distinto, para redimir a humanidade. 2eus deve nos redimirde uma maneira compatvel com sua pr6pria nature3a e seus desgnios. Aredenção deve, em primeiro lugar, ser uma redenção moral e, em segundo

lugar, deve ser vista como moral. 2eus não pode empregar um padrão demoralidade em uma determinada circunst=ncia e outro padrão em outras

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circunst=ncias. $ortanto, 2eus est5 como que origado por si mesmo arespeitar a ordem moral da criação.

2epois de ter resolvido essa questão, Anselmo passa a considerar o modocomo a redenção se torna possvel. + dilema fundamental pode serresumido da seguinte maneira9 2eus não pode nos redimir para go3armosde sua ami3ade sem antes tratar do pecado humano. + pecado é a rupturada ordem moral do universo, que representa a reelião da criação contra ocriador. + pecado representa um insulto e uma ofensa a 2eus. A situaçãodeve, portanto, ser corrigida antes que se restaure a ami3ade entre 2eus ea humanidade. 2eus deve então "reparar" a situação de modo compatvelnão s6 com a divina miseric6rdia mas tamém com a divina 8ustiça.Anselmo introdu3 aqui o conceito de "satisfação", que signi!ca pagamentoou ressarcimento da ofensa causada pelo pecado humano. Uma ve3 que fordada a satisfação, a situação poder5 voltar ao normal. $orém, é preciso darantes a satisfação.

+ prolema, como Anselmo oserva, é que os seres humanos não t7mcapacidade para prestar essa satisfação, que est5 muito além de seusrecursos. Eles precisam oferecer a satisfação, mas não podem. Ahumanidade deve dar satisfação de seus pecados, mas não pode. 2eus nãoé origado a dar essa satisfação, mas poderia fa37Dlo se fosse apropriado.$ortanto, argumenta Anselmo, se 2eus viesse a se tornar um ser humano, o2eusDpessoa poderia então ter a origação como ser humanoI e acapacidade como 2eusI de dar a satisfação necess5ria. Assim, aencarnação leva a uma solução 8usta do dilema humano. A morte de Jesusna cru3 demonstra a oposição total de 2eus ao pecado, emora ao mesmotempo forneça os meios pelos quais o pecado pode ser verdadeiramenteperdoado, !cando assim aerto o caminho para a renovação da ami3adeentre a humanidade e 2eus.

A idéia fundamental é que o valor da satisfação assim oferecida tem de serequivalente ao peso do pecado humano. Anselmo argumenta que o ilho de2eus se encarnou para que Cristo, na condição de 2eus encarnado, pudessepossuir tanto a origação humana de pagar a satisfação como a capacidadedivina de pagar uma satisfação da grande3a necess5ria para a redenção.Esta idéia é retomada

!elmente pela Pra. Cecil . Ale%ander em seu famoso hino do século

K;K intitulado "Shere is a Hreen ?ill ar AYa[" E%iste ao longe uma colinaverde8anteI9

0ão havia outro capa3 de pagar o preço do pecado,D P6 Ele poderia arir asportas do céu para podermos entrar5

A ase teol6gica da noção de "satisfação" foi mais plenamente desenvolvidano século K;;; por Som5s de Aquino, que fundamenta em tr7s consideraç1esa propriedade da "satisfação de Cristo" para compensar o pecado humano9

A satisfação propriamente dita se d5 no momento em que alguém oferece pessoa ofendida alguma coisa que lhe causa uma satisfação maior que o6dio da ofensa. Assim, Cristo, sofrendo em conseq-7ncia do amor e daoedi7ncia, ofereceu a 2eus alguma coisa maior do que poderia ser paga

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em ressarcimento de toda ofensa da humanidade,D primeiro, por causa dagrande3a do amor, em conseq-7ncia do qual ele sofreu,D segundo, porcausa da dignidade da vida que ele entregou em satisfação, que era a vidade 2eus e de um ser humano,D terceiro, por causa da arang7ncia total desua pai%ão e da grande3a do sofrimento que ele tomou sore seus omros.

 Som5s de Aquino segue aqui Anselmo, ao a!rmar que a dignidade inerente morte de Cristo est5 fundamentada em sua divindade. $or que a morte deCristo é tão signi!cativa e possua a capacidade de nos redimir4 Argumenta

 Som5s de Aquino9 porque ele @ e s6 ele @ é o 2eus encarnado. Como di3 Som5s de Aquino9 "A dignidade da carne de Cristo deve ser considerada nãode acordo com a nature3a da carne, mas conforme a pessoa que assumiuessa carne, que era 2eus, de quem oteve essa dignidade in!nita". Em

(. Shere Yas no other good enough<So pa[ the price of sin,D<?e onl[ couldunlocZ the gate,<+f heaven, and let us in.

resposta questão de por que a morte de uma pessoa deveria ter essesigni!cado de salvação, Som5s de Aquino a!rma que a import=ncia de Cristonesse assunto não est5 na humanidade, mas na divindade.

0o entanto, apesar dessa 7nfase na divindade de Cristo, é claro que Som5sde Aquino tomou cuidado para e%plicar que a import=ncia da humanidadede Cristo não deve ser negligenciada. $odeDse argumentar que a tanto aprimeira como a terceira consideração de Som5s de Aquino atriuem umlugar importante humanidade de Cristo no processo da redenção,destacando a import=ncia salv!ca do amor e no sofrimento de Cristo.Anselmo demonstrava uma tend7ncia a tratar a humanidade de Cristo como

sendo um pouco mais que o meio pelo qual Cristo podia assumir a penadevida ao pecado humano. Som5s de Aquino pode, assim, fa3er umaa!rmação mais positiva do papel soteriol6gico da humanidade de Cristo.

Como é que o ato de Cristo na cru3 pode nos afetar4 2e que maneiraparticipamos dos enefcios de sua morte e ressurreição4 Anselmo achavaque esse ponto não precisava ser discutido e por isso não prossegue nesseassunto,D porém, houve alguns autores posteriores que acharam que aquestão precisava, sim, ser tratada. Assim, pois, podem ser e%postas tr7smaneiras de compreender como os crentes se relacionam com Cristo.

$articipação. $ela fé, aqueles que cr7em participam em Jesus Cristo. Eles

estão "em Cristo", conforme a conhecida e%pressão usada por $aulo. Elessão assimilados em Cristo e participam de sua vida ressuscitada.Conseq-entemente, participam de todos os enefcios conquistados porCristo mediante sua oedi7ncia na cru3.

epresentação. Cristo é o representante da aliança da humanidade. $ela fé,todos n6s somos arangidos pela aliança entre 2eus e a humanidade. Sudoo que Cristo conquistou para n6s é posto nossa disposição, em virtude daaliança. Assim como 2eus fe3 a aliança com ;srael, do mesmo modotamém fe3 semelhante aliança com a ;gre8a. Cristo, pela oedi7ncia nacru3, representa o povo da aliança de 2eus, conquistando enefcios para

esse povo na qualidade de representante desse povo. Ao receer a fé, aspessoas entram no

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=mito da aliança e assim participam de todos os enefcios que Cristoconquistou.

Pustituição. Cristo é visto aqui como um sustituto nosso. Seramos n6s deser cruci!cados por causa de nossos pecados, mas Cristo é cruci!cado emnosso lugar. 2eus permite que Cristo !que em nosso lugar, tomando soreseus omros nossa culpa, para que a 8ustiça de Cristo conquistada pelaoedi7ncia na cru3 possa ser a nossa 8ustiça.

Palvação, pecado e Cristo

+ que é o pecado4 0a linguagem cotidiana, a palavra "pecado" signi!cauma "falta moral", um "ato imoral", mas na teologia o signi!cado é maispreciso. + sentido fundamental de "pecado" é de alguma coisa que separa ahumanidade de 2eus. A salvação é o rompimento da arreira de separaçãoda humanidade de 2eus graças intervenção de Cristo. /uitos te6logoscristãos v7em esta idéia pre!gurada e simoli3ada em um incidente

ocorrido por ocasião da morte de Cristo, quando o véu do Semplo se rasgouem duas partes /t (N,F&I. Como a grande cortina separava o Panto dosPantos do espaço do Semplo reservado gente comum, o rompimento dovéu signi!cava a remoção das arreiras entre a humanidade e 2eus, pelamorte de Cristo.

+ pecado é a anttese da salvação. # tarefa astante f5cil elaorar uma listade conceitos fundamentais da salvação encontrados no 0ovo Sestamento erelacion5Dlos com os correspondentes conceitos de pecado. Algunse%emplos poderão a8udar a esclarecer essa questão.

Como então esse ne%o entre pecado e salvação aparece na pessoa de Jesus

Cristo como salvador da humanidade4 Como é que a ora salv!ca de Cristose relaciona com o desassossego humano4 A questão foi tratada pelote6logo i3antino 0icolau Caasilas nascido apro%imadamente em &((I aoa!rmar que a morte de Cristo ocorreu de maneira que ele podia lidar com astr7s fontes de a:ição

$ecado Palvação

Alienação econciliação

Cativeiro *iertação

Culpa $erdãoCondenação Justi!cação

2oença Cura

Estar perdido Per reencontrado

da humanidade pecadora, a saer, a nature3a transit6ria e !nita, a condiçãode pecado e o destino decisivo da mortalidade. Em cada um destesaspectos, a!rma Caasilas, Cristo entrou na situação humana paratransform5Dla. Ao se encarnar, ele transformou a nature3a humana. Aomorrer na Cru3, derrotou o pecado. E pela ressurreição ele derrotou o poder

da morte. Ao fa3er essas tr7s coisas. Cristo aoliu os ost5culos com que a

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humanidade deparava no caminho de retorno a 2eus, passando a participarda comunhão com o criador e redentor

Uma visão um pouco diferente surgiu no seio da teologia reformada nosséculos KL; e KL;;, emora as idéias em 8ogo possam remontar a um perodoem anterior. Esta visão refereDse normalmente ao "trplice ofcio de Cristo",com respeito s tr7s funç1es que Cristo desempenha no drama daredenção. A!rmaDse que Cristo cumpriu os tr7s grandes "ofcios" ou "papéis"do Antigo Sestamento9 profeta, sacerdote e rei. Essas tr7s categoriasaparecem como sum5rio conveniente de tudo o que Cristo reali3ou pararedimir seu povo. Jesus é profeta9 /ateus (&,&&< *ucas N,&M,D sacerdote9?ereus (,&NG ,&< e rei9 /ateus (&,F< (N,&&G assim. Cristo reuniu em suapessoa os tr7s grandes ofcios do Antigo Sestamento. Jesus é o profeta que,como /oisés, podia ver 2eus face a face 2t &N,&FIG ele é o rei que, como2avi, estaelecer5 um novo povo de 2eus para reinar sore esse povo com

 8ustiça e compai%ão (Pm N,&(D&MI< ele é o sacerdote que puri!car5 o povo

de seus pecados. Assim, os tr7s donsoferecidos a Jesus pelos reis magos ou s5ios do +riente, conforme /t (,&D&(I representam essa trplice função.

+ te6logo rançois Surrettini, de Henera &M(D&MNI, e%p1e essa visãocom grande clare3a. Ele identi!ca a trplice crise da humanidade comoconstando de "ignor=ncia, culpa e su8eição ao pecado" e a!rma que Cristoassume cada uma dessas necessidades e as transforma pela redenção queoperou por meio da cru3 e ressurreição.

A trplice miséria da humanidade, resultante do pecado, ou se8a, a

ignor=ncia, a culpa e a opressão com su8eição ao pecado, e%igia esse trpliceofcio. A ignor=ncia é sanada pelo ofcio profético, a culpa pelo ofciosacerdotal e a opressão com su8eição ao pecado é remediada pelo ofcioreal. A u( do profeta dissipa as trevas do erro,D o mérito do sacerdoteapaga a culpa e otém a reconciliação,D o poder do rei desfa3 a su8eição aopecado e morte. + profeta nos mostra 2eus, o sacerdote nos condu3 a2eus e o rei nos coloca 8unto de 2eus e nos glori!ca com ele. + profetailumina a mente pelo dom da intelig7ncia, o sacerdote conforta o coração ea consci7ncia pelo dom da consolação, o rei su8uga as m5s inclinaç1es pelodom da santi!cação.

Esse modelo de ensinamento se propagou pela teologia reformada tardia,como se pode saer pelos escritos do grande te6logo de $rinceton, noséculo K;K, Charles ?odge &N'ND&NI, para quem a humanidade decadanecessita de "um salvador que se8a um profeta para nos instruir, umsacerdote para nos reconciliar e interceder por n6s e um rei para nosgovernar e proteger".

A PA*LAQR+, Cristo e a vida redimida

Como vimos anteriormente, um aspecto da noção cristã de salvação é queesta est5 especi!camente ligada morte e ressurreição de Cristo. Este é ummodo importante como a noção cristã de salvação pode ser distinguida da

idéia comum de liertação ou autoDreali3ação, ou das idéias de salvaçãoencontradas em outras

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religi1es. E%iste, todavia, outro modo como a idéia cristã da salvação est5especi!camente unida a Jesus de 0a3aré, a saerG Cristo fornece um modeloou paradigma da vida redimida. Em certo sentido, Cristo d5 forma oucon!guração espec!ca e%ist7ncia cristã.

Em geral, o cristianismo genuno a!rma que a vida cristã se torna possvelpor meio de Cristo, sempre distinguindo dois caminhos diferentes, segundoos quais a vida cristã que resulta é "amoldada" ou "especi!cada" por CristoG

&. A vida cristã toma a forma da tentativa contnua do !el de imitar Cristo.Ao se tornar cristão, o !el trata Cristo como e%emplo da relação ideal com2eus e com o pr6%imo e tenta imitar essa relação. Essa atitude de"imitação" pode ser notada nas oras de alguns autores espirituaismedievais. Um e%emplo cl5ssico é o de Som5s de bempis, no famosoop>sculo A imitação de Cristo. Essa importante ora da espiritualidademon5stica p1e 7nfase na responsailidade humana para acomodar nossavida ao e%emplo dado por Cristo, especialmente no tocante idéia de

"carregar a cru3".

(. A vida cristã é um processo de "conformação a Cristo" em que osaspectos e%ternos da vida do !el são a8ustados ao relacionamento internocom Cristo pela fé. Esta atitude é caracterstica de autores como /artinho*utero e João Calvino e aseiaDse na idéia segundo a qual 2eus amolda o !el semelhança de Cristo por meio do processo de renovação e regeneraçãooperado pelo Esprito Panto.

Entrosamento com o te%to

+ te%to que apresentamos para estudo ulterior é tirado de um sermão

pregado por Agostinho de ?ipona, um dos maiores te6logos da ;gre8a cristã.Agostinho era considerado um grande pregador, l>cido e !rme, e seusserm1es cont7m passagens detalhadas, porém

astante acessveis, sore os principais temas da teologia cristã. 0ão é desurpreender que ele pregasse comumente sore o sentido da cru3 e osentido pelo qual a morte e a ressurreição de Cristo são garantia dasalvação da humanidade. + sermão citado aseiaDse na parte de aerturado quinto captulo do Apocalipse, a partir do qual Agostinho indaga como sepode pensar em Cristo considerandoDo ao mesmo tempo leão e cordeiro9 "oleão de Jud5" e o "cordeiro de 2eus" que tira os pecados do mundo.

Pe Cristo não tivesse sido condenado morte, a morte não teria perecido. +demnio foi vencido por seu pr6prio troféu de vit6ria. + demnio sahou dealegria quando sedu3iu o primeiro homem e o precipitou na morte.Pedu3indo o primeiro homem, o demnio o matou,D matando o >ltimohomem ele perdeu o primeiro homem cado em sua armadilha. A vit6ria de0osso Penhor Jesus Cristo veio na hora em que ele ressuscitou dos mortos esuiu ao céu. oi nesse ponto que o te%to do Apocalipse que ouvistes ho8efoi cumprido9 "+ leão da trio de Jud5 saiu vencedor" Apocalipse F,FI.Aquele que tinha sido imolado como cordeiro é ho8e chamado o leão, isto é,leão por causa da coragem, cordeiro por causa da inoc7ncia,D leão porque

não foi vencido, cordeiro por causa de sua mansidão. $or sua morte, ocordeiro imolado venceu o leão "que vagueia uscando alguém para

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devorar" & $edro F,I. + diao, por outro lado, é chamado aqui leão porcausa da sua condição selvagem e não por sua ravura V...W + diao saltoude alegria quando Cristo morreu,D e com a pr6pria morte de Cristo o diaofoi vencido9 ele mordeu a isca da ratoeira, ele alegrouDse com a morte deCristo, acreditando que era o senhor da morte. $orém, aquilo que tinha

causado sua alegria sacudiu a isca diante dele. A cru3 do Penhor foi aratoeira do diao9 a isca que o apanhou foi a morte do Penhor