sociologia da educacao

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Governo do estado do Maranhão

secretaria de estado da ciência, tecnoloGia, ensino superior e desenvolviMento tecnolóGico

universidade estadual do Maranhão - ueMa

núcleo de tecnoloGias para educação - ueManet

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

cleide aparecida Faria rodriGuesMárcia derbli schaFranskirita de cássia da silva oliveira

São Luís2010

Governadora do Estado do Maranhãoroseana sarney Murad

Reitor da uEMaproF. José auGusto silva oliveira

Vice-reitor da uemaproF. Gustavo pereira da costa

Pró-reitor de administraçãoproF. José bello salGado neto

Pró-reitor de PlanejamentoproF. José GoMes pereira

Pró-reitor de GraduaçãoproF. porFírio candanedo Guerra

Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduaçãoproF. Walter canales sant’ana

Pró-reitora de Extensão e assuntos EstudantisproFª. Grete soares pFlueGer

Chefe de Gabinete da ReitoriaproF. raiMundo de oliveira rocha Filho

Edição: universidade estadual do Maranhão - ueManúcleo de tecnoloGias para educação - ueManet

Coordenador do uemaNetproF. antonio roberto coelho serra

Coordenadora PedagógicaproFª. Maria de FátiMa serra rios

Coordenadora do Curso de Pedagogia, a distância: proFª. heloísa cardoso varão santos

Coordenadora da Produção de Material Didático uemaNet:caMila Maria silva nasciMento

Responsável pela Produção de Material Didático uemaNet:cristiane costa peixoto

Revisão:liliane Moreira liMa

lucirene Ferreira lopes

Diagramação: JosiMar de Jesus costa alMeida

luis Macartney sereJo dos santos

tonho leMos Martins

Capa: luciana vasconcelos

universidade estadual do Maranhão

Núcleo de Tecnologias para Educação - UemaNetCampus Universitário Paulo VI - São Luís - MAFone-fax: (98) 3257-1195http://www.uemanet.uema.bre-mail: [email protected]

O conteúdo deste fascículo foi cedido à Universidade Estadual do Maranhão - UEMA pela Universidade Estadual de Ponta Grossa - PR, que autorizou sua reprodução com atualizações: revisão de linguagem, capa, cores e diagramação de uso exclusivo do Núcleo de Tecnologias para Educação - UemaNet.

R696s Rodrigues, Cleide Aparecida Faria

Sociologia da educação 1./ Cleide Aparecida Faria Rodrigues, Márcia Derbli Schafranski e Rita de Cássia da Silva Oliveira. Ponta Grossa: Ed.UEPG, 2009.

163 p. il.

Licenciatura em Pedagogia - Educação a distância.

1. Sociologia da educação. 2. Sociologia e sociedade. 3. Sociedade e economia. 4. Estado, política e sociedade. I. Schafranski, Márcia Derbli. II. Oliveira, Rita de Cássia da Silva. III.T.

CDD : 370.193

João carlos GoMes

Reitor

carlos luciano sant’ana varGas

Vice-reitor

pró-reitoria de assuntos adMinistrativos

Ariangelo Hauer Dias

pró-reitoria de Graduação

Graciete Tozetto Góes

divisão de educação a distância e de proGraMas especiais

Maria etelvina Madalozzo raMos - cheFe

núcleo de tecnoloGia e educação aberta e a distância

Leide Mara Schmidt - Coordenadora GeralCleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Pedagógica

sisteMa universidade aberta do brasil

Hermínia Regina Bugeste Marinho - Coordenadora GeralCleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora AdjuntaElenice Parise Foltran - Coordenadora de Curso

colaborador Financeiro

Luiz Antonio Martins Wosiak

colaboradora de planeJaMento

Silviane Buss Tupich

colaboradores eM eadDênia Falcão de BittencourtJuciMara roesler

colaboradores de inForMática

Carlos Alberto VolpiCarmen Silvia Simão CarneiroAdilson de Oliveira Pimenta JúniorJuscelino Izidoro de Oliveira JúniorOsvaldo Reis JúniorKin Henrique KurekThiago Luiz DimbarreThiago Nobuaki Sugahara

colaboradores de publicação

Maria Beatriz Ferreira - RevisãoSozângela Schemin da Matta - RevisãoEdson Gil Santos Jr. - DiagramaçãoEloise Guenther - DiagramaçãoLuan Dione Rein - DiagramaçãoPaulo Henrique de Ramos - Ilustração

colaboradores operacionais

Edson Luis MarchinskiJoanice Kuster de AzevedoJoão Márcio Duran InglêzMaria Clareth SiqueiraMariná Holzmann Ribas

Todos os direitos reservados ao Ministério da Educação Sistema Universidade Aberta do Brasil

Ficha catalográfica elaborada pelo Setor de Processos Técnicos BICEN/UEPG.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância - NUTEAD

Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4748 - CEP 84030-900 - Ponta Grossa - PR

Tel.: (42) 3220-3163

www.nutead.uepg.br

2010

APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL

Prezado estudante,

Inicialmente queremos dar-lhe as boas-vindas à nossa instituição e

ao curso que escolheu.

Agora, você é um acadêmico da Universidade Estadual de Ponta

Grossa (UEPG), uma renomada instituição de ensino superior que

tem mais de cinquenta anos de história no Estado do Paraná, e

participa de um amplo sistema de formação superior criado pelo

Ministério da Educação (MEC) em 2005, denominado Universidade

Aberta do Brasil (UAB).

O Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) não propõe a criação de uma nova instituição de ensino superior, mas sim, a articulação das instituições públicas já existentes, possibilitando levar ensino superior público de qualidade aos municípios brasileiros que não possuem cursos de formação superior ou cujos cursos ofertados não são suficientes para atender a todos os cidadãos.

Sensível à necessidade de democratizar, com qualidade, os cursos

superiores em nosso país, a Universidade Estadual de Ponta Grossa

participou do Edital de Seleção UAB nº 01/2006-SEED/MEC/2006/2007

e foi contemplada para desenvolver seis cursos de graduação e quatro

cursos de pós-graduação na modalidade a distância.

Isso se tornou possível graças à parceria estabelecida entre o

MEC, a CAPES e as universidades brasileiras, bem como porque

a UEPG, ao longo de sua trajetória, vem acumulando uma rica

tradição de ensino, pesquisa e extensão e se destacando também

na educação a distância.

A UEPG é credenciada pelo MEC, conforme Portaria nº 652, de 16

de março de 2004, para ministrar cursos superiores (de graduação,

sequenciais, extensão e pós-graduação lato sensu) na modalidade

a distância.

Os nossos programas e cursos de EaD apresentam elevado padrão de

qualidade e têm contribuído, efetivamente, para a democratização

do saber universitário, destacando-se o trabalho que desenvolvemos

na formação inicial e continuada de professores. Este curso não

será diferente dos demais, pois a qualidade é um compromisso da

Instituição em todas as suas iniciativas.

Os cursos que ofertamos, no Sistema UAB, utilizam metodologias,

materiais e mídias próprios da educação a distância que, além de

facilitarem o aprendizado, permitirão constante interação entre

alunos, tutores, professores e coordenação.

Este curso foi elaborado pensando na formação de um professor

competente, no seu saber, no seu saber fazer e no seu fazer saber.

Também foram contemplados aspectos éticos e políticos essenciais

à formação dos profissionais da educação.

Esperamos que você aproveite todos os recursos que oferecemos

para facilitar o seu processo de aprendizagem e que tenha muito

sucesso na trajetória que ora inicia.

Mas, lembre-se: você não está sozinho nessa jornada, pois fará

parte de uma ampla rede colaborativa e poderá interagir conosco

sempre que desejar, acessando nossa Plataforma Virtual de

Aprendizagem (MOODLE) ou utilizando as demais mídias disponíveis

para nossos alunos e professores.

Nossa equipe terá o maior prazer em atendê-lo, pois a sua

aprendizagem é o nosso principal objetivo.

EQUIPE DA UAB/UEPG

APRESENTAÇÃO

Prezado estudante,

A disciplina Sociologia da Educação se configura no Curso de

Pedagogia como uma possibilidade de oferecer aos estudantes

(futuros professores) conhecimento sobre a complexidade da

realidade com a qual terão que enfrentar no desempenho das suas

atividades profissionais.

Oportunizará o estudo da dimensão social dos sujeitos, da sua

ligação à sociedade e, sobretudo, da dialética que se estabelece

entre estas instâncias, permitindo a análise sociológica do processo

didático-pedagógico.

Contamos com a participação da equipe de professores: Cleide

Aparecida Faria Rodrigues, Márcia Derbli Schafranski e Rita de

Cásia da Silva Oliveira da Universidade Estadual de Ponta Grossa e

do professor especialista da UEMA responsável pela mediação da

disciplina.

Neste módulo contemplamos conteúdos indispensáveis à formação

pedagógica para que você, caro estudante, compreenda e

analise as funções da educação e da escola na estrutura social

e as mudanças na sociedade, ampliando, assim, a visão sobre

a realidade e a sua responsabilidade social como profissional da

educação, podendo atuar de maneira crítica e competente face

a realidade do fenômeno educativo em suas múltiplas relações

econômicas, ético-políticas e sociais.

Você terá oportunidade de produzir conhecimentos, participando

do processo de transformação da educação brasileira, exercendo a

docência de modo competente.

Lembramos que você não está sozinho nesta caminhada, pois uma

ampla rede de profissionais estará a disposição para interagir com

você.

Desejamos sucesso e bons momentos de estudo!

EQUIPE DA UEMANET

PALAVRAS DAS PROFESSORAS

OBJETIVO E EMENTA

UNIDADE 1

SOCIOLOGIA: a ciência da sociedade .................................... 19Conceito e Objeto de Estudo ...................................... 21 O Surgimento da Sociologia: fundamentos históricos e epistemológicos .................................................... 25Paradigmas sociológicos: contribuições de Durkheim, Weber e Marx ...................................................... 37

UNIDADE 2

A ORDEM ECONÔMICA DA SOCIEDADE ................................. 65 O Conceito de Trabalho ........................................... 67 O Trabalho ao longo da História: diferentes concepções ......... 71 Os Diferentes modos de Produção ............................... 77O Trabalho na Sociedade Globalizada: desafios no século XXI .... 97O Trabalho e a Educação .......................................... 101

UNIDADE 3

ESTADO, POLÍTICA E SOCIEDADE ....................................... 107Estado: sociedade política e sociedade civil ................... 111As Teorias do Estado ............................................... 117

SUMÁRIO

O Século XX e as mudanças na concepção e nas funções do Estado .............................................................. 133

PALAVRAS FINAIS .................................................. 153

REFERÊNCIAS ...................................................... 155

NOTAS SOBRE AS AUTORAS ....................................... 159

PENSE ATIVIDADES ATENÇÃO

ÍCONES

Orientação para estudoAo longo desta apostila, serão encontrados alguns ícones utilizados

para facilitar a comunicação com você.

Saiba o que cada um signifi ca.

SUGESTÃO DE FILMES SAIBA MAIS REFERêNCIAS

OBJETIVOS E EMENTA

Objetivos

• Desenvolver atitude científica diante da realidade social e

educacional.

• Analisar a contribuição dos autores clássicos ao surgimento e

desenvolvimento da Sociologia.

• Refletir sobre a importância do trabalho na vida individual e na

organização social.

• Caracterizar os paradigmas teóricos que norteiam o pensamento

sociológico atual.

• Analisar a relação Estado-sociedade a partir de um referencial

teórico e crítico.

• Compreender a importância da ciência sociológica na formação

do educador.

Ementa

• Contexto histórico e epistemológico em que surge a Sociologia.

Os autores clássicos da Sociologia: Durkheim, Marx e Weber. Os

métodos de investigação e principais temáticas abordadas pelos

clássicos. O trabalho nas diferentes sociedades. Concepções

teóricas de Estado. A globalização e o Estado contemporâneo.

PALAVRAS DAS PROFESSORAS

A teoria em si só não transforma o mundo. Pode contribuir para a sua transformação, mas para isso tem que sair de si mesma, e em primeiro lugar tem que ser assimilada pelos que vão ocasionar, com seus atos reais, efetivos, tal transformação (VASQUEZ, 1968).

Prezado estudante,

A partir deste momento você está convidado a refletir conosco

sobre questões importantes relacionadas à sociedade, as quais

repercutem na educação e na prática pedagógica do professor,

uma vez que esta prática não se dá no vazio, mas está diretamente

relacionada a um contexto histórico e cultural específico, sugerindo

que estejamos atentos aos condicionantes de ordem econômica,

política e social que exercem influência sobre a educação e sobre

o trabalho docente.

Pelo fato de analisar a sociedade sob o prisma dos diversos olhares

que as diferentes perspectivas analíticas ensejam, a Sociologia

possibilita uma ampliação da compreensão da realidade social e

educacional. Daí a sua importância nos cursos de formação de

professores.

Podemos afirmar que o trabalho docente guarda relações diretas

com a estrutura e com a organização social e, em consequência,

com os processos decorrentes. Assim sendo, a formação do

professor precisa estar ancorada em sólidos conhecimentos

sobre a realidade social, para que possamos ter maior clareza

de propósitos e dar um direcionamento às nossas ações, mesmo

reconhecendo os condicionantes históricos, sociais e culturais que

interferem em nosso trabalho.

Portanto, os conhecimentos oriundos da ciência sociológica, ao

propiciarem a reflexão, problematização e discussão da realidade,

nos fornecem categorias de análise úteis à compreensão da

dinâmica da vida social como um todo e do fenômeno educativo

em particular, podendo também levar-nos a desenvolver atitudes

que incitem a mudança.

-Então, pronto(a) para iniciar seus estudos?

Cleide Aparecida Faria Rodrigues

Márcia Derbli Schafranski

Rita de Cássia da Silva Oliveira

SOCIOLOGIA: a ciência da sociedade Márcia derbli schaFranski

1UNIDADE

OBJETIVOS DESTA UNIDADE:

Caracterizar a Sociologia como ciência, discorrendo sobre suas principais atribuições;

Analisar o contexto histórico-social que propiciou o surgimento e o desenvolvimento da Sociologia;

Compreender a organização social como determinante das relações dos homens entre si, mediatizados pelo mundo;

Analisar a sociedade sob a ótica do paradigma do consenso e sob a ótica do paradigma do conflito.

ROTEIRO DE ESTUDOS

• Conceito e objeto de estudo

• O surgimento da Sociologia: fundamentos históricos e

epistemológicos

• Paradigmas sociológicos: as contribuições de Durkheim, de

Weber e de Marx Márcia Derbli Schafranski

20

PARA INÍCIO DE CONVERSA

Prezado estudante,

Nesta unidade você terá a oportunidade de melhor analisar e com-

preender a vida social, a partir dos acontecimentos históricos que

deram origem ao desenvolvimento da sociedade capitalista. Pode-

rá entender que a Sociologia se insere como ciência extremamente

necessária à formação do profissional da educação à medida que

lhe oferece subsídios teóricos capazes de levá-lo a melhor situar-se

diante do contexto social e educacional, estabelecendo os vínculos

entre o modelo de organização social vigente e a educação.

Também compreenderá que, desde a sua formação, essa ciência

buscou não apenas refletir sobre a sociedade, mas, também, im-

plementar estratégias de ação que permitissem interferir nos ru-

mos da civilização.

Os sociólogos, sejam eles conservadores ou revolucionários, antigos

ou atuais, procuram fazer do conhecimento sociológico um instru-

mento de ação, quer seja para manter quer seja para transformar

a sociedade existente.

Você terá, pois, a oportunidade de conhecer as ideias de diferentes

teóricos que contribuíram para a constituição e consolidação dessa

ciência, e de compreender que existem diferentes maneiras de se

analisar e de se posicionar diante da sociedade e da educação.

Aprenderá também que esse posicionamento se relaciona

diretamente com a concepção de escola e de trabalho pedagógico

dos profissionais da educação

Bom trabalho!

20

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 21

CONCEITO E OBJETO DE ESTUDO

O que é Sociologia?

Em linhas gerais, existem muitas definições para explicar o

significado da Sociologia. No sentido etimológico, sociologia

significa estudo da sociedade. O vocábulo é formado pela palavra

de origem latina socius (sociedade) e pela palavra grega logia

(estudo).

Conforme Broom e Seznick (1979, p.2):

A Sociologia é uma das Ciências Sociais. Seu objetivo mais amplo é descobrir a estrutura básica da sociedade humana, identificar as principais forças que mantêm os grupos unidos ou que os enfraquecem e verificar que condições transformam a vida social.

21

O filósofo grego Aristóteles enunciou o princípio

básico da Sociologia afirmando que:

“O HOMEM É UM ANIMAL SOCIAL”

(Aristóteles – 384-322 a.C).

22

Quais as principais ideias implícitas nessa definição?

A Sociologia é uma ciência, ou seja, envolve um conjunto de

conhecimentos sistemáticos, organizados sobre a sociedade. A

ciência procura descobrir os fatos tais como são, independentemente

do seu valor emocional. Baseia-se na observação e na pesquisa e

não em sentimentos e crenças subjetivas a respeito dos fenômenos.

- O objeto de estudo da Sociologia é a sociedade humana, sua

estrutura básica, a coesão e a desintegração dos grupos, bem

como a transformação social. Portanto, seu objeto de estudo

não envolve as ações individuais, mas as interações humanas, ou

seja, o homem convivendo com seus semelhantes.

- Existem diferentes modos de enfocar o estudo da sociedade.

Um deles enfatiza a adesão à ordem social existente, e o outro

enfatiza a dinamicidade do social e os fatores que podem

contribuir para a sua transformação.

Charon (1999) afirma que compete à Sociologia responder três

perguntas básicas a respeito do ser humano:

O que somos?

Somos seres inacabados, adotamos as regras, os princípios

morais, os valores da sociedade em que vivemos, construindo a

nossa personalidade em contato com nossos semelhantes. Alguns

autores, como Chales Cooley e George Mead, destacam que a

própria natureza humana é aprendida, por meio das interações

sociais que desenvolvemos. Como essa interação ocorre por

toda a vida, estamos constantemente nos modificando e nos

socializando à medida que convivemos com outras pessoas e

situações.

O que mantém coesa a sociedade?

Qual a natureza da ordem social?

22

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 23

Ao mesmo tempo em que vamos sendo socializados, vamos

interiorizando os costumes, os valores, as normas, os padrões

de comportamento da sociedade. A ordem é mantida graças aos

agentes socializadores, como a família, as escolas, a religião,

os meios de comunicação etc. No entanto, como veremos

posteriormente, alguns sociólogos vieram a demonstrar que a

manutenção da ordem nem sempre visa ao bem da coletividade,

mas, em muitos casos, visa a adequar as pessoas para a aceitação

de regras que convêm aos grupos dominantes da sociedade.

Por que existem desigualdades entre os homens?

Alguns pensadores consideram que os homens são naturalmente

desiguais em talentos, habilidades, enfim, atribuem as diferenças

sociais a fatores de ordem individual. Os filósofos gregos, por

exemplo, em sua maioria, consideravam os homens como

naturalmente desiguais e diziam que a harmonia social seria

obtida à medida que cada indivíduo desempenhasse uma atividade

conforme suas aptidões. É nesse sentido que Platão em sua obra

“República” diz que a sociedade justa aceitaria a divisão entre

trabalhadores, guerreiros e filósofos, segundo suas aptidões.

Participavam da vida política da polis grega (cidade-estado) os

homens livres, sendo excluídos os escravos, as mulheres e crianças.

Outros estudiosos, no entanto, vêm demonstrar que a desigualdade

entre os homens não depende apenas dos atributos individuais,

mas, é socialmente produzida. Autores como Thomas More

(1478-1535) e Tommaso Campanella (1568-1639), em suas obras,

imaginavam uma sociedade onde as desigualdades sociais não se

fizessem presentes. Mais recentemente, o pensamento socialista,

opondo-se ao ideário capitalista, defende que as desigualdades

entre os homens guardam relações com a forma como se dão

as interações entre os homens na sociedade dividida em classes

sociais. Como veremos, essa questão será devidamente discutida

na Seção 3 desta unidade de estudo.

23

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 25

O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA: fundamentos históricos e epostemológicos

Antecedentes históricos

A sociologia pode ser entendida como uma das manifestações

do pensamento moderno. Ela não é fruto das ideias de alguns

pensadores, mas é produto de uma nova forma de pensar a

natureza e a sociedade. A sua formação constitui um acontecimento

complexo para o qual concorreram circunstâncias históricas e

intelectuais e intenções práticas.

Que circunstâncias foram essas?

O surgimento da Sociologia guarda relações com as transformações

ocorridas na sociedade europeia a partir do século XVII. A revolução

científi ca iniciada por Issac Newton (1642-1752), que formulou a

lei da gravitação universal, abriu caminho para o estudo racional do

universo e das leis que o regem e trouxe a crença no cientifi cismo,

O emprego sistemático da razão, do livre exame da realidade – traço que

caracterizava os pensadores do século XVII, os chamados racionalistas – representou

grande avanço para libertar o conhecimento

do controle teológico, da tradição, da “revelação” e,

consequentemente, para a formulação de uma nova atitude intelectual diante

dos fenômenos da natureza e da cultura (MaRTINS,

1990, p.18).

26

opondo-se às explicações de ordem religiosa ou metafísica.

A nova forma de conhecer a natureza, na qual a observação e

a experimentação são elementos fundamentais, influenciou

estudiosos de outros campos, que passaram a acreditar que, se era

possível estudar cientificamente o universo, também seria possível

estudar cientificamente a sociedade, formulando leis explicativas

para os fenômenos sociais.

Também, no final do século XVII, a burguesia comercial, formada

essencialmente por comerciantes e banqueiros, sustenta ativo o

comércio entre os países europeus e estende seu raio de atuação,

comprando e vendendo mercadorias a todos os pontos do mundo.

O capital mercantil gradativamente se estende também à produção

manufatureira, levando ao desenvolvimento de um novo processo

produtivo em contraposição ao das corporações de ofício.

O desenvolvimento da manufatura fez com que houvesse um

interesse cada vez maior pelo aperfeiçoamento das técnicas de

produção, tendo em vista o aumento dos lucros. Surge então

o processo denominado maquinofatura, quando o trabalho

anteriormente realizado com as mãos ou com as ferramentas passa

a ser desenvolvido por meio de máquinas, o que vem a elevar o

volume da produção de mercadorias.

No século XVIII, o surgimento da máquina a vapor trouxe profundas

alterações no processo produtivo, assegurando as bases para a

expansão da indústria, com a utilização cada vez maior de trabalho

assalariado, desenvolvido sob condições desumanas de exploração.

Veja, agora, como se estruturaram as relações de trabalho a partir

da revolução industrial.

A partir da Revolução Industrial o trabalho assalariado tornou-se

fundamental no sistema fabril, ocorrendo a exploração da mão-

de-obra feminina e infantil.

O quase desaparecimento dos pequenos proprietários rurais, dos artesãos independentes, a imposição de prolongadas horas de trabalho, tiveram um efeito traumático sobre milhões de seres

humanos ao modificar radicalmente suas formas tradicionais de vida.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 27

Segundo Martins (1990, p.11-12):

A revolução industrial signifi cou algo mais que a introdução da máquina a vapor e dos sucessivos aperfeiçoamentos de métodos produtivos. Ela representou o triunfo da indústria capitalista, capitaneada pelo empresário capitalista que foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras e as ferramentas sob seu controle, convertendo grandes massas humanas em simples trabalhadores despossuídos.

Como consequências desse processo, citam-se o aumento da

prostituição, dos suicídios, do alcoolismo, do infanticídio, da

criminalidade, da violência, principalmente nos centros urbanos

industrializados, que passavam por um vertiginoso crescimento

demográfi co, sem possuir, no entanto, uma estrutura de moradias,

serviços sanitários, atendimento à saúde, capazes de acolher a

população que se deslocava do campo.

Deste modo, ao mesmo tempo em que aumentou a produtividade

com o desenvolvimento da divisão social do trabalho, a Revolução

Industrial também se manifestou com a miséria de milhares de

trabalhadores desempregados, sendo que crianças, mulheres e

homens eram obrigados a cumprir uma jornada de trabalho de até

12 horas diárias, privados de seus direitos políticos e sociais.

Os efeitos catastrófi cos desta Revolução para a classe trabalhadora

geraram sentimentos de revolta traduzidos externamente na

forma de destruição de máquinas, sabotagens, explosão de

ofi cinas, roubos e outros crimes, que deram lugar à criação de

associações livres e sindicatos que permitiram o diálogo de classes

organizadas, cientes de seus interesses com os proprietários dos

instrumentos de trabalho.

Essa situação da classe operária levou à formação dos primeiros

sindicatos, à elaboração do pensamento socialista e ao surgimento

de inúmeros movimentos, levantes e revoltas de trabalhadores,

que marcaram toda a vida europeia no século XIX.

a Revolução Industrial determinou o aparecimento

do proletariado e o papel histórico que

ele desempenharia na sociedade capitalista.

28

O pensamento dos fi lósofos iluministas franceses no século XVIII

se opunha aos fundamentos da sociedade feudal, aos privilégios

de sua classe dominante e às restrições que esta classe impunha

aos interesses econômicos e políticos da burguesia. Propunham a

valorização da razão, considerada o mais importante instrumento

para se alcançar qualquer tipo de conhecimento, a valorização do

questionamento, da investigação e da experiência como forma de

conhecimento tanto da natureza quanto da sociedade. Apregoavam

a crença nos direitos naturais que todos os indivíduos possuem em

relação à vida, à liberdade, à posse de bens materiais.

Como ideólogos da burguesia, os iluministas consideravam as

instituições existentes injustas e irracionais, criticando a monarquia

absolutista, que assegurava privilégios a uma pequena camada

da população constituída por quinhentas pessoas, quando nesse

momento a França possuía vinte e três milhões de habitantes.

O que é o Iluminismo?

O Iluminismo é o movimento cultural que se desenvolveu

na Inglaterra, Holanda e França, nos séculos XVII e XVIII.

Nessa época, o desenvolvimento intelectual, que vinha

ocorrendo desde o Renascimento, deu origem a ideias de

liberdade política e econômica, defendidas pela burguesia. Os

fi lósofos e economistas que difundiam essas ideias julgavam-

se propagadores da luz e do conhecimento, sendo, por isso,

chamados de iluministas. O Iluminismo trouxe consigo grandes

avanços que, juntamente com a Revolução Industrial, abriram

espaço para a profunda mudança política determinada pela

Revolução Francesa. O precursor desse movimento foi o

matemático francês René Descartes (1596-1650), considerado

o pai do racionalismo. Em sua obra “Discurso do método”,

ele recomenda, para se chegar à verdade, que se duvide de

tudo, mesmo das coisas aparentemente verdadeiras. A partir

da dúvida racional pode-se alcançar a compreensão do mundo,

e mesmo de Deus.

Você sabia que...

...outro fator importante na consolidação da ordem social capitalista foi o Iluminismo?

Conheça, então, algumas ideias dos fi lósofos iluministas que contribuíram para a consolidação da sociedade burguesa.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 29

Com a Revolução Francesa ocorrida em 1789 e que teve por lema

os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade consolida-se a

sociedade capitalista. A burguesia, ao tomar o poder em 1789,

insurgiu-se definitivamente contra os fundamentos da sociedade

feudal, ao construir um Estado que assegurasse sua autonomia

diante da Igreja e que incentivasse e protegesse a empresa

capitalista.

Que transformações ocorreram na sociedade a partir da Revolução Francesa?

Em menos de um ano, a velha estrutura e o Estado monárquico

estavam liquidados, inclusive abolindo radicalmente a antiga

forma de sociedade e suas tradicionais instituições, seus arraigados

costumes e hábitos, promovendo sensíveis alterações na economia,

na política e na vida cultural.

Nesse contexto se situam a abolição das corporações e dos grêmios

e a promulgação de legislação que limitava os poderes patriarcais

na família, fragilizando os abusos da autoridade do pai e

forçando-o a uma divisão igualitária da propriedade. Confiscaram-

se propriedades da Igreja, suprimiram-se os votos monásticos, e

a educação ficou sob a responsabilidade do Estado. Acabaram-se

antigos privilégios de classe, e surgiu o incentivo e o amparo ao

empresário.

Você sabia que a primeira Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi votada no dia 2 de outubro de 1789?

Essa declaração sintetizou em dezessete artigos e um preâmbulo

os ideais libertários e liberais da primeira fase da Revolução

Francesa. Pela primeira vez são proclamados as liberdades e

os direitos fundamentais do Homem (ou do homem moderno, o

homem segundo a burguesia) de forma ecumênica, visando abarcar

toda a humanidade. Promulgada pela ONU (Orgnização das Nações

Unidas).

Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/95/Declaration_des_Droits_de_l%27Homme_et_du_Citoyen_de_1793.jpg

Dec

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30

Cumpre destacar que, embora idealizada e dirigida pela burguesia,

a Revolução Francesa só se tornou vitoriosa porque teve como

aliados trabalhadores urbanos e camponeses pobres, que também

estavam insatisfeitos com a exploração da nobreza feudal.

Ao assumir os rumos da sociedade, a burguesia apregoava

a necessidade de garantir o direito “natural”, “sagrado”,

“inalienável” e “inviolável” da propriedade privada. Caberia ao

indivíduo fazer de sua propriedade o que achasse melhor, desde

que não prejudicasse outros, porque, assim, poderia desenvolver

ao máximo suas potencialidades.

Porém, ao estabelecer a propriedade privada dos meios de

produção, não garantiu à maioria da população das sociedades

modernas o acesso à propriedade dos meios de subsistência.

Assim, o surgimento da sociologia reflete as transformações

e contradições do mundo moderno. A procura de explicações

para as modificações estruturais, ocorridas com o advento da

nova sociedade, gerou a construção do pensamento sociológico,

decorrente da necessidade de o homem situar-se diante das

transformações históricas vigentes.

O positivismo de Augusto Comte

As importantes transformações sociais ocorridas e suas conse-

quências despertaram a necessidade de investigação. O

surgimento da Sociologia tem como pano de fundo a existência

de uma burguesia que se distanciara de seu projeto de igualdade

e fraternidade e que, crescentemente, se comportava no plano

político de forma menos liberal e mais conservadora, utilizando

intensamente os seus aparatos repressivos e ideológicos para

assegurar a sua dominação.

Na terceira década do século XIX acirram-se na sociedade francesa

as crises econômicas e a luta de classes. Assim, este estado de

crise e desorganização levou Augusto Comte (1798-1857) a criar a

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 31

Sociologia, visando entender a sociedade para poder reorganizá-la.

Para ele, as ideias religiosas haviam perdido sua força, não sendo

capazes, portanto, de contribuir para a reorganização da sociedade.

Filósofo francês considerado o pai da Sociologia. Foi amigo do

socialista utópico Saint-Simon que o infl uenciou na criação de uma

ciência social e de uma política científi ca. Partindo de uma crítica

científi ca da teologia e entre 1851 e 1854 publica o “Sistema de

política positiva” ou “Tratado de sociologia” que institui a religião

da humanidade. Tendo se proclamado “Grande Sacerdote da

Humanidade”, em 1847 instituiu um “calendário positivista” no qual

os santos foram substituídos pelos grandes pensadores da história.

Para reorganizar a sociedade seria necessário restabelecer a ordem,

criando um conjunto de crenças comuns a todos os homens. Comte

sustentava ainda o estabelecimento de princípios norteadores do

conhecimento humano por meio de leis imutáveis, conforme as

ciências físico-naturais.

Assim, o funcionamento da sociedade obedeceria a diretrizes

predeterminadas para promover o bem-estar do maior número

possível de indivíduos. Desse modo, a Sociologia foi inicialmente

por ele denominada de “Física Social”, devendo utilizar em suas

investigações o mesmo método sistemático daquelas ciências.

Em suas pesquisas, ele salientou a necessidade de se evitarem as

crises sociais ou, se possível, de prevê-las. Basicamente, a ciência

conduziria à previdência, a qual daria subsídios à ação.

Um aspecto característico das ideias de Comte é a sua preocupação

com a complementaridade necessária entre a ordem e o progresso

para que possa haver equilíbrio na nova sociedade. Assim deveria

ser, criando um conjunto de crenças comuns a todos os homens,

visando a reverter a situação de desorganização social vivenciada

pelas sociedades europeias e a alcançar gradativamente o progresso.

Para Comte, o método científi co é o único válido para se chegar ao

conhecimento. Refl exões ou juízos que não podem ser comprovados

pelo método científi co, como os postulados da metafísica, não

levam ao conhecimento e não têm valor.

Isidore auguste MarieFrançois Xavier Comte(1798-1857)

Você sabia que...

Comte considerava perniciosas as ideias dos

iluministas, aos quais chamava de “doutores

de guilhotina”, por terem contribuído para a

desorganização da sociedade então existente, gerando a “desintegração social” e a desunião entre os homens.

32

No mapa mundi, localize O Positivismo no Brasil: O lema da bandeira brasileira é de inspiração positivista: “Ordem e Progresso”. a frase original, formulada por Comte era: “o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fi m”. a adoção desse lema se deve à infl uência de Benjamim Constant que era adepto do positivismo.

Você já ouviu falar na Lei dos três Estados? Esta lei foi formulada

por Augusto Comte.

Segundo a Lei dos Três Estados as sociedades humanas passam por

três estágios de evolução histórica. O primeiro é o teológico, no

qual os fenômenos são apresentados como sendo produzidos pela

ação de seres sobrenaturais que interferem arbitrariamente no

mundo.

O segundo é o metafísico, no qual os fenômenos são engendrados

por forças abstratas.

O último estágio é o positivo, em que o ser humano desiste de

procurar as causas íntimas dos fenômenos para, através da

observação e do método científi co, estabelec er as leis gerais que

os regem. O estado positivo, portanto, corresponde à maturidade

do espírito humano que não é mais enganado por explicações

vagas, uma vez que pode alcançar o real, o certo e o preciso.

Assim, opondo-se à concepção do direito natural e do pacto

social e às doutrinas teológicas, Augusto Comte preconizava o

emprego de novos métodos no exame científi co dos problemas

sociais, substituindo as interpretações metafísicas e preconizando

o estabelecimento da autoridade e da ordem pública contra os

abusos do individualismo do liberalismo.

O que é o liberalismo?

O liberalismo é uma doutrina ou corrente do pensamento

político que defende a maximização da liberdade individual

mediante o exercício dos direitos e da lei. O liberalismo defende

uma sociedade caracterizada pela livre iniciativa integrada

num contexto defi nido. Tal contexto geralmente inclui um

sistema de governo democrático, o primado lei, a liberdade

de expressão e a livre concorrência econômica. O liberalismo

rejeita diversos axiomas fundamentais que dominaram vários

sistemas anteriores de governo político, tais como o direito

divino dos reis, a hereditariedade e o sistema de religião

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 33

oficial. Os princípios fundamentais do liberalismo incluem a

transparência, os direitos individuais e civis, especialmente o

direito à vida, à liberdade, à propriedade, um governo baseado

no livre consentimento dos governados e estabelecido com base

em eleições livres; igualdade de todos os cidadãos diante da lei.

Do ponto de vista social, Comte afirma que a sociedade dever ser

dividida em classes, em dirigentes e dirigidos, como forma de se

manter em harmonia na convivência social. Essa visão mostra que

ele considerava a sociedade como um organismo heterogêneo,

cujas partes deveriam trabalhar solidárias para o bem de todos.

Conforme Martins (1990, p. 44), nos trabalhos de Comte:

[...] sociologia e positivismo aparecem intimamente ligados, uma vez que a criação desta ciência marcaria o triunfo final do positivismo no pensamento humano.

Monumento a augusto Comte, localizado na Praça da SorbonneFonte: www.igrejapositivistabrasil.org.br/pari.html

34

Assim, a ciência da sociedade deve contribuir para que, através

da descoberta de leis gerais, invariáveis que regem a sociedade, o

Estado possa providenciar ações no sentido de reorganizar a ordem

social. Para Comte, a Harmonia é a lei natural invariável que deve

reger tanto a sociedade como a natureza.

A ideia central dessa corrente positiva de pensamento sobre o

conceito e o método em sociologia está, portanto, fundamentada

nas seguintes premissas essenciais:

• a sociedade pode ser epistemologicamente assimilada à

natureza, isto é, as leis que regem a natureza são as mesmas

da sociedade e, portanto, o método que serve para descobrir

essas leis não é diferente do método que se aplica nas ciências

naturais: o mesmo caráter de observação “neutra”, objetiva e

desligada dos fenômenos;

• a sociedade é regida por leis naturais, isto é, leis invariáveis,

independentes da vontade e da ação humana, tal como a lei da

gravidade ou do movimento da terra em torno do sol. Reina na

sociedade uma harmonia semelhante à natureza, uma espécie

de harmonia natural, tendendo sempre os fenômenos para o

equilíbrio;

• a sociedade deve ser organizada respeitando-se suas leis

naturais que levam à constante evolução do espírito humano.

Aos segmentos da sociedade, como os do proletariado e das

mulheres, caberia educar os seus espíritos no sentido de que

compreendessem que os fenômenos sociais são fruto de leis

naturais e, portanto, inevitáveis, cabendo, pois, uma atitude

científi ca de sábia resignação.

Considerando que o positivismo enfatiza a ordem e a harmonia

social, quais seriam os pressupostos da educação segundo

Augusto Comte?

Veja a seguir como Comte se posiciona em relação a essa questão.

Epistemologia é o estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultado das ciências já constituídas, que visa determinar os fundamentos lógicos, valor e o alcance de seus Objetivos.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 35

Além de uma reformulação geral das ciências e da organização socio-

política, Comte projetou uma nova ordem espiritual, inspirada

na hierarquia e na disciplina da Igreja Católica. Sua doutrina se

distanciava, porém, da teologia cristã, que ele rejeitava por se

basear no sobrenatural e não no materialismo científico. Ele via

a humanidade como uma entidade una que denominou Grande

Ser e preconizou a construção de templos positivistas, onde a

humanidade e não a divindade seria venerada.

Tendo a ordem como valor supremo, era fundamental para Comte

que os membros de uma dada sociedade aprendessem desde cedo

a importância da obediência e da hierarquia, as quais seriam

função prioritária da escola.

Segundo ele, a evolução do indivíduo segue um trajeto semelhante

à evolução das sociedades. Assim, na infância passa-se por uma

espécie de estado teológico, quando a criança tende a atribuir a

forças sobrenaturais os acontecimentos de sua vida. A maturidade

do espírito seria encontrada na ciência.

Por isso, a escola de inspiração positivista prioriza os estudos

científicos colocando os estudos literários em segundo plano.

Comte acreditava ainda que todos os seres humanos possuem

instintos egoístas e altruístas. Compete à educação desenvolver

nos educandos o sentimento de solidariedade e o altruísmo, em

detrimento do egoísmo. O objetivo mais nobre da vida consiste em

dedicar-se a outras pessoas.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 37

PARADIGMAS SOCIOLÓGICOS: contribuições de Durkheim, Weber e Marx

Embora inicialmente atrelada ao positivismo de Augusto Comte, a

Sociologia não segue apenas uma orientação teórico-metodológica

para a explicação da realidade social, pois, conforme o

posicionamento dos teóricos, as relações sociais, as desigualdades

e a mudança podem ser explicadas de maneira distinta.

O Paradigma do Consenso, estruturado a partir das ideias de

Comte, enfatiza os aspectos integrativos da sociedade e considera

os indivíduos unidos por valores comuns, o que gera um consenso

espontâneo na sociedade.

Conforme já vimos anteriormente, esse paradigma enfatiza a

ordem, a coesão, o equilíbrio da sociedade e acredita que cada

uma das partes (indivíduos, grupos e instituições) deve funcionar

adequadamente para não prejudicar o funcionamento e a harmonia

do organismo social como um todo.

Nessa perspectiva a educação é tida como fator de integração

à sociedade constituída, sem que se questione sua estrutura e

organização. A educação cumpre um papel instrucional devendo

adequar a força de trabalho às necessidades do sistema capitalista.

Por sua vez, as desigualdades sociais são explicadas em termos de

diferenças e méritos individuais.

O estudo da sociedade pode ser realizado segundo dois

paradigmas ou modelos de análise, conforme a orientação teórico/

metodológica adotada pelo cientista social. São eles: o Paradigma do Consenso e o

Paradigma do Confl ito.

38

Como o Paradigma do Conflito se posiciona em relação a essas questões?

O Paradigma do Conflito, conforme o nome indica, enfatiza os

processos dissociativos da sociedade, acredita que os grupos sociais

se encontram em permanente conflito e denuncia as relações de

dominação entre os grupos e classes sociais. Para este paradigma,

o consenso existente na sociedade é imposto pelos grupos que

detêm o poder.

Enfatiza, também,o significado político e social da educação e dos

processos educativos que se desenvolvem na escola, os mecanismos

utilizados pelo sistema capitalista para poder se perpetuar e a

possibilidade da educação poder contribuir para a transformação

da sociedade.

PARADIGMAS SOCIOLÓGICOS

CARACTERÍSTICAS CONSENSO CONFLITO

Concepção de sociedade Uma unidade baseada na ordem moral

Um sistema de forças em desequilíbrio e conflito

permanente

Base da coesão social Consenso espontâneoConsenso ideológico. Força e

poder

Ênfase Integração Conflito e mudança

Principal preocupação Aspectos normativos e formais da sociedade

Mudança social e análise do poder

Função da educação Integração, manutenção do consenso

Estabelecimento e manutenção da dominação

O Paradigma do consenso - a contribuição de DURKHEIM

Conforme você pode constatar, o pensador francês Augusto Comte

é considerado o “fundador” da Sociologia. No entanto, Émile

Durkheim é quem irá sistematizar esta nova ciência. Durkheim e

seus colaboradores emanciparam a sociologia da filosofia social,

colocando-a como disciplina científica rigorosa. Sua preocupação

foi definir o método e as aplicações desta nova ciência.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 39

Émile Durkheim (1858-1917)Fonte: www.bolender.com/Sociological%20Theory/Durkheim

Nasceu em Épinal, no noroeste da França. Viveu numa família

muito religiosa, pois seu pai era um rabino. Porém, não seguiu o

caminho da família, optando por uma vida secular. Desde jovem, foi

um opositor da educação religiosa e defendia o método científi co

como forma de desenvolvimento do conhecimento.

Formou-se em Filosofi a, no ano de 1882. Cinco anos após sua

formatura, foi trabalhar na Universidade de Bourdeaux na França,

como professor de pedagogia e ciência social. Neste período,

começaram seus estudos sobre Sociologia.

O Positivismo, que pusera os fi lósofos diante de uma realidade

social a ser especulada, transformou-se, em Durkheim, numa

real postura empírica, centrada naqueles fatos que poderiam ser

observados, mensurados e relacionados através de dados coletados

diretamente pelo cientista.

Procurando garantir à Sociologia um método tão efi ciente

quanto o desenvolvido pelas ciências naturais, Durkheim defi niu

o tipo de acontecimentos sobre os quais o sociólogo deveria se

debruçar e os aconselhava a encarar os fatos sociais como coisas,

fenômenos exteriores, que deveriam ser medidos, observados e

comparados independentemente do que os indivíduos pensassem

ou declarassem a seu respeito.

Ex: São exemplos de fatos sociais: regras de convivência, regras

jurídicas, morais, religiosas, sistemas fi nanceiros, costumes,

tradições etc. Devido ao caráter impositivo desses fatos, os

indivíduos são levados a se comportar de acordo com as regras

preestabelecidas pelas gerações anteriores. Caso isso não ocorra o

indivíduo pode ser sancionado com punições que vão desde o riso,

a zombaria, a exclusão do grupo, e até mesmo, em casos mais

graves ser acionado judicialmente.

Por outro lado, ao observar os fatos sociais vigentes na sociedade

o indivíduo pode ser deferido com sentimentos de aprovação,

medalhas, honrarias etc.

Foi Durkheim quem delimitou com clareza o

objeto e o método de estudo da Sociologia, elaborando um conjunto coordenado

de conceitos e de técnicas de pesquisa que, embora norteados por princípios

das ciências naturais, guiavam o cientista para

o discernimento de um objeto de estudo próprio e dos meios adequados para

interpretá-lo.

40

Fatos sociais são maneiras de sentir, pensar e agir padronizadas e socialmente sancionadas. Esse conceito nos permite perceber que os fatos sociais apresentam algumas características. Quais seriam elas?

Características dos fatos sociais

• Coercitividade - relacionada com a força dos padrões culturais dos grupos que os indivíduos integram. Esses padrões culturais são de tal maneira fortes, que obrigam os indivíduos a cumpri-los.

• Exterioridade - esta característica está ligada ao fato de que os

padrões da cultura são exteriores aos indivíduos, ou seja, vêm

do exterior e são independentes das suas consciências.

• Generalidade – os fatos sociais existem não para um indivíduo

específi co, mas para a coletividade. Podemos perceber a

generalidade pela propagação das tendências dos grupos pela

sociedade, por exemplo.

COMO DURKHEIM EXPLICA ESSE FATO?

Durkheim atribui esse fato ao que denomina consciência coletiva.

Sua teoria sociológica buscou demonstrar que os fatos sociais

têm existência própria e independente daquilo que pensa e faz

cada indivíduo em particular. Assim, embora todos possuam suas

“consciências individuais”, seus modos próprios de se comportar e

de interpretar a vida, no interior de qualquer grupo ou sociedade,

existem formas padronizadas de conduta e de pensamento.

Assim, a consciência coletiva não se baseia na consciência dos

indivíduos singulares ou de grupos específi cos, mas está espalhada

por toda a sociedade. Ela revela o tipo da sociedade, que não seria

apenas o produto das consciências individuais, mas algo diferente,

que se imporia aos indivíduos e perduraria através das gerações.

a consciência coletiva representa a forma moral vigente na sociedade e está espalhada por toda a sociedade impondo-se aos indivíduos. Ela aparece como regras fortes e estabelecidas que delimitam o valor atribuído aos atos individuais. Ela defi ne o que, numa sociedade, é considerado moral ou imoral, adequado ou inadequado.

Provavelmente você já deve ter passado por situações em que não concorda com certas convenções impostas pela sociedade, mas, mesmo assim, se sente obrigado a segui-las. Lembre algumas dessas situações vivenciadas por você e sobre os motivos que o levaram a agir da maneira imposta pela sociedade.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 41

Uma vez identificados e caracterizados os fatos sociais, a

preocupação de Durkheim dirigiu-se para a conduta necessária

ao cientista, a fim de que seu estudo tivesse realmente bases

científicas.

Você já percebeu que os positivistas valorizam a objetividade no estudo dos fenômenos sociais. Assim sendo, que atitude deve ser adotada pelo sociólogo ao analisar a realidade social para que seus estudos tenham caráter científico?

Para Durkheim, como para todos os positivistas, não haveria

explicação científica se o pesquisador não mantivesse certa

distância e neutralidade em relação aos fatos, resguardando a

objetividade de sua análise. É preciso que o sociólogo deixe de lado

seus valores e sentimentos pessoais em relação ao acontecimento

a ser estudado, pois eles nada têm de científico e podem distorcer

a realidade dos fatos.

Durkheim e a ordem social

Durkheim compartilhava com Comte a preocupação com a

ordem social. No período de suas pesquisas, as constantes crises

econômicas, o desemprego e a miséria entre os trabalhadores

estavam contribuindo para que o socialismo ganhasse força.

Porém ele não concordava com as teorias socialistas que davam

enfoque especial aos fatos econômicos considerando-os a raiz

da crise social. Sustentava a ideia de que os problemas não se

resumiam à natureza econômica, mas sim à fragilidade da moral

vigente.

Uma solução adotada por ele para restabelecer a ordem seria a

criação de novas ideias morais a fim de resgatar a consciência

do dever, possibilitar relações estáveis entre os homens e, por

conseguinte, neutralizar a crise econômica.

42

A divisão social do trabalho

Demonstrando otimismo em relação ao industrialismo, Durkheim

afirmava que a divisão do trabalho, ao invés de gerar conflitos, trazia

maior solidariedade entre os homens. As tarefas especializadas,

ao tornarem os indivíduos interdependentes, contribuíam para

aumentar a produtividade.

Para ele, são resultados da divisão do trabalho social:

1) aumento da força produtiva;

2) aumento da habilidade do trabalho;

3) rápido desenvolvimento intelectual e material das sociedades;

4) integração e estruturação da sociedade mantendo a coesão

social e tornando seus membros interdependentes;

5) equilíbrio, harmonia e ordem devido à necessidade de união

pela semelhança e pela diversidade;

6) intensificação da solidariedade social.

Para Durkheim, a solidariedade social é a grande responsável pela

coesão surgida entre os indivíduos que, unidos, lutam contra as

ameaças externas.

A solidariedade, ou seja, o conjunto de laços que efetivamente

prendem os elementos ao grupo, pode ser de dois tipos:

solidariedade mecânica e solidariedade orgânica.

A solidariedade mecânica é típica das sociedades simples,

constituídas por um sistema de segmentos homogêneos e semelhantes

entre si. Os membros da sociedade em que domina a solidariedade

mecânica estão unidos pela tradição, por laços de parentesco.

A solidariedade orgânica, resultante da divisão social do

trabalho, é fruto das diferenças profissionais. Essas diferenças

unem os indivíduos pela necessidade de troca de serviços e pela

sua interdependência.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 43

Para Durkheim, a Sociologia tem por fi nalidade não só explicar a sociedade como

encontrar remédios para a vida social. a sociedade,

como todo organismo, apresentaria estados normais

e patológicas, isto é, saudáveis e doentios.

Por intermédio da instrução pública, consegue-se que o indivíduo,

construindo sua consciência comum e social, supere a si mesmo,

libertando-se de visões puramente egoístas e de interesses

materiais imediatistas.

Segundo esse autor, um fato social pode ser considerado como

normal quando se encontra generalizado pela sociedade ou quando

desempenha alguma função importante para sua adaptação ou sua

evolução.

Assim, Durkheim afi rma que o crime, por exemplo, é normal não

só por ser encontrado em qualquer sociedade, em qualquer época,

como também por representar a importância dos valores sociais

que repudiam determinadas condutas como ilegais e as condenam

a penalidades.

A generalidade de um fato social, isto é, sua unanimidade, é

garantia de normalidade na medida em que representa o consenso

social, a vontade coletiva ou o acordo de um grupo a respeito de

uma determinada questão.

Partindo do princípio de que o objetivo máximo da vida social

é promover a harmonia da sociedade consigo mesma e com as

demais sociedades, e que essa harmonia é conseguida através

do consenso social, a “saúde” do organismo social se confunde

com a generalidade dos acontecimentos e com a função destes

na preservação dessa harmonia, desse acordo coletivo que se

expressa sob a forma de sanções sociais.

Quando um fato põe em risco a harmonia, o acordo, o consenso e,

portanto, a adaptação e evolução da sociedade, estamos diante de um

acontecimento de caráter ruim e de uma sociedade doente. Portanto,

normal é aquele fato que não extrapola os limites dos acontecimentos

mais gerais de uma determinada sociedade e que refl ete os valores e

as condutas aceitas pela maior parte da população.

Do que foi exposto conclui-se que Durkheim se propôs à tarefa de

realizar uma teoria da investigação sociológica. E foi o primeiro

sociólogo que conseguiu atingir seu objetivo, em condições difíceis

e com um êxito que só pode ser contestado quando se toma uma

44

posição diferente em face das condições, limites e ideais de

explicação científica na Sociologia.

Durkheim afirmava que a sociedade industrial estava submersa em um estado de anomia. Você sabe o que significa essa afirmação?

A anomia, conforme Durkheim implica na ausência de regras

claramente estabelecidas que pudessem reger e controlar a conduta

dos indivíduos. A partir daí, em uma de suas teses, sustentava que

o estado de anomia incidia diretamente no crescente número de

suicídios.

Para Durkheim, a sociologia deveria ter ainda por objetivo comparar

as diversas sociedades. Constituiu assim o campo da morfologia

social, ou seja, a classificação das espécies sociais.

Durkheim considerava que todas as sociedades haviam evoluído

da forma social mais simples, igualitária, reduzida a um único

segmento onde os indivíduos se assemelhavam aos átomos. Desse

ponto de partida, foi possível uma série de combinações, das quais

se originaram outras espécies sociais identificáveis no passado e

no presente, tais como os clãs e as tribos.

Embora preocupado com as leis gerais capazes de explicar a

evolução das sociedades humanas, Durkheim ateve-se também às

particularidades da sociedade em que vivia e aos mecanismos de

coesão dos pequenos grupos, à formação de sentimentos comuns

resultantes da convivência social.

Distinguiu diferentes instâncias da vida social e seu papel na

organização social, como a educação, a família e a religião.

Pode-se dizer que, com Durkheim, já se delineava uma apreensão

da Sociologia em que se relacionava harmonicamente o geral e

o particular numa busca que ainda não expressava a noção de

totalidade.

Uma vez que a teoria sociológica de Durkheim enfatiza a ordem, a integração do indivíduo à sociedade, qual seria a função da educação segundo esse autor?

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 45

Durkheim e a educação

A educação é considerada por Durkheim como um fato social, uma

vez que se impõe coercitivamente, independentemente da vontade

individual. A ação educativa permitirá uma maior integração do

indivíduo à sociedade e também lhe permitirá desenvolver uma

forte identifi cação com o sistema social do qual faz parte.

Assim sendo, o trabalho dos adultos é fundamental para que a

criança incorpore os princípios da sociedade da qual faz parte. A

educação consiste na socialização metódica das novas gerações e

visa integrar o ser individual, constituído pelos estados mentais

que se realacionam apenas conosco mesmos, com o sistema de

ideias que exprime a maneira de ser dos grupos dos quais fazemos

parte.

Veja, agora, como Durkheim conceitua a educação:

A educação é a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre

as gerações que não se encontram ainda preparadas para a

vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver, na criança,

certo número de estados físicos, intelectuais e morais,

reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo

meio especial a que a criança particularmente se destine

(DURKHEIM, 1978, p. 41).

Considerando as sociedades em diferentes lugares e épocas

históricas, pode-se observar que cada uma delas possui um sistema

de educação que se impõe aos indivíduos. Assim, se compararmos a

educação ateniense (grega) com a educação romana da antiguidade,

verifi ca-se que enquanto em Atenas procurava-se formar espíritos

delicados, prudentes, capazes de admirar o belo e os prazeres

da especulação, em Roma, buscava-se formar homens de ação,

apaixonados pela glória militar.

Durkheim considera a sociedade determinante na formação da personalidade

individual e na sua integração ao meio social.

assim, é uma ilusão acreditar que podemos

educar nossos fi lhos como queremos, pois existem

costumes aos quais somos obrigados a nos conformar,

pois, caso contrário podemos gerarconsequencias sérias

na vida de nossos fi lhos. Você concorda com essa

afi rmação?

46

No entanto, é possível observar que numa mesma sociedade e época

histórica a educação apresenta também um caráter diferenciado,

donde conclui-se que a educação tem um caráter uno e um caráter

múltiplo.

Durkheim procurou demonstrar que não podemos escapar de uma

formação voltada para o bem-estar da sociedade em que vivemos,

e que, se nos desviarmos deste caminho, poderemos causar muito

desconforto à criança e até a sua marginalização e exclusão do meio

social, pelas difi culdades que ela enfrentaria se não conhecesse e

se não adaptasse aos valores e necessidades da sociedade em que

estará inserida. Assim, a educação deve funcionar como elemento

adaptador e normalizador da integração do indivíduo à sociedade.

Analisando a dinâmica da sociedade capitalista, Durkheim atribui

um papel fundamental ao Estado que, como “cérebro social” e

órgão acima dos interesses individuais, deve responsabilizar-

se por orientar e supervisionar a educação, levando-a a cumprir

suas fi nalidades sociais. Assim, compete à escola, por meio de

suas normas e conteúdos, inculcar nos indivíduos os valores que

contribuam para a harmonia da sociedade.

O Paradigma do Conflito: a contribuição de Karl Marx

Conforme você pode constatar, os positivistas tinham uma visão

otimista em relação à sociedade capitalista. No entanto, Karl Marx

não compartilhava com suas ideias, vendo a sociedade capitalista

sob uma ótica pessimista. Marx centrava suas análises nos processos

de exploração e dominação da classe burguesa sobre a classe

proletária. Conheça agora algumas ideias essenciais do pensamento

marxista.

Marx nasceu numa família judia de classe média em Trier, sul

da Alemanha. Em 1835, com dezessete anos Marx ingressou na

Universidade de Bonn para estudar Direito, mas, já no ano seguinte,

transferiu-se para a Universidade de Berlim, onde a infl uência

O caráter uno da educação diz respeito às maneiras comuns de agir e pensar, pelo fato dos indivíduos estarem inseridos num mesmo contexto social. Ex: como brasileiros falamos a mesma língua, temos uma história comum, estamos sujeitos às mesmas leis.

O caráter múltiplo da educação se refere ao aspecto diferenciador da educação, mesmo que os indivíduos estejam inseridos no mesmo contexto. Ex: na sociedade de castas, como a indiana, a educação variava de uma casta para a outra, o mesmo ocorrendo na sociedade estamental da Idade Média. atualmente, nas sociedades capitalistas, a educação, embora sendo um direito de todos e um dever do Estado, também se apresenta diferenciada, guardando relações com o sistema de estratifi cação social vigente.

Karl Marx (1818-1883)

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 47

de Hegel era bastante sentida. Doutorou-se em Jena em 1841,

com uma tese sobre as “Diferenças da fi losofi a da natureza em

Demócrito e Epicuro”. Nesse mesmo ano, concebeu a ideia de um

sistema que combinasse o materialismo de Ludwig Feuerbach com

a dialética idealista de Hegel. Impedido de seguir uma carreira

acadêmica, tornou-se, em 1842, redator-chefe da Gazeta Renana.

Com o fechamento do jornal pelos censores do governo prussiano,

em 1843, Marx emigra para a França. Casa-se com Jenny von

Westphalen em 1843. Desse casamento, Marx teve cinco fi lhos:

Franziska, Edgar, Eleanor, Laura e Guido. Franziska, Edgar e Guido

morreram na infância, provavelmente pelas péssimas condições

fi nanceiras a que a família estava submetida.

Para Marx e seu colaborador Friederich Engels, a função da Sociologia

não poderia se limitar apenas a solucionar os problemas sociais

para restabelecer a ordem e o bom funcionamento da sociedade,

como imaginavam os positivistas, mas deveria contribuir para

realizar mudanças radicais na sociedade, unindo teoria e ação,

ciência e os interesses da classe proletária.

A formação teórica do socialismo marxista constituiu uma

complexa operação intelectual e crítica de assimilação das três

principais correntes do pensamento europeu do século passado – o

socialismo, a dialética e a economia política.

Anteriormente ao socialismo marxista, existiu o socialismo

utópico, cujos principais expoentes foram Owen e Saint-Simon.

Porém, na visão de Marx e Engels, embora os socialistas utópicos

tivessem elaborado uma crítica à sociedade burguesa, eles não

apresentaram meios para mudar efetivamente a realidade social.

Segundo Marx e Engels, os socialistas utópicos não apresentam

nenhuma iniciativa histórica e nenhum movimento político que

lhes sejam próprios. Idealistas, não reconhecem quais seriam as

condições materiais da emancipação. Ainda consideram que eles

eram moralistas, pois pretendiam reformar a sociedade pela força

do exemplo, acreditando que as experiências em pequenas escalas

poderão se frutifi car e se expandir, por meios pacífi cos.

O Marxismo interpreta a vida social conforme a

dinâmica da luta de classes e prevê a transformação das

sociedades de acordo com as leis do desenvolvimento

histórico de seu sistema produtivo.

48

Segundo Gomes (1989, p.36), são pontos principais do pensamento

marxista:

a) Os fatores econômicos são os deteminantes fundamentais da

estrutura e da mudança. A organização social envolve três

aspectos: as forças materiais de produção como base, ou

seja, os métodos através dos quais o homem assegura sua

subsistência, relacionando-se com a natureza: as relações de

produção, que envolvem relações e direito de propriedade

bem como as relações entre os homens: as superestruturas

legais e políticas e as ideias e formas de consciência social.

b) A história é a história da luta de classes: as classes sociais são

os grupos mais importantes da sociedade e se encontram em

oposição, com base em sua posição econômica e em fatores

divergentes.

c) A cultura das sociedades de classe é caracterizada pela

ideologia, ou seja, as ideias estão intimamente condicionadas

pelo meio de produção. A classe que controla os meios de

produção controla também os meios de produção e difusão

intelectual, inclusive a educação.

O núcleo do pensamento de Marx é sua interpretação do homem

e começa com a necessidade de sobrevivência humana. A história

se inicia com o próprio homem que, na busca da satisfação de

necessidades, trabalha sobre a natureza. À medida que realiza

esse trabalho, o homem se descobre como ser produtivo e passa a

ter consciência de si e do mundo. Percebe-se então que “a história

é o processo de criação do homem pelo trabalho humano.

A teoria econômica marxista procura explicar como o modo de

produção capitalista propicia a acumulação contínua de capital,

e sua resposta está na confecção das mercadorias. Elas resultam

da combinação de meios de produção (ferramentas, máquinas e

matéria-prima) e do trabalho humano.

No marxismo, a quantidade de trabalho socialmente necessária

para produzir uma mercadoria é o que determina o seu valor. A

ampliação do capital ocorre porque o trabalho produz valores

Segundo Marx a infraestrutura, modo como denominava a base econômica da sociedade, determina a superestrutura que é dividida em ideológica (ideias políticas, religiosas, morais, fi losófi cas) e política (Estado, polícia, exército, leis, tribunais). Portanto, a visão que temos do mundo e a nossa psicologia são refl exo da base econômica de nossa sociedade. as ideias que surgiram ao longo da história se explicam pelas sociedades nas quais seus mentores estavam inseridos.Elas são oriundas das necessidades das classes sociais daquele tempo.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 49

superiores ao dos salários (que é a força de trabalho). Esse

diferencial, que irá se tornar um conceito fundamental da teoria

de Marx, é considerado a fonte dos lucros e da acumulação

capitalista.

Para Marx cada capitalista divide seu capital em duas partes: uma

para adquirir insumos (máquinas, matérias-primas) e outra para

comprar força de trabalho. A primeira, chamada capital constante,

somente transfere o seu valor ao produto final; a segunda, chamada

capital variável, ao utilizar o trabalho dos assalariados, adiciona

um valor novo ao produto final. É este valor adicionado, que é

maior que o capital variável (daí o nome “variável”: ele se expande

no processo de produção), que é repartido entre capitalista e

trabalhador. O capitalista entrega ao trabalhador uma parte do

valor que este último produziu, sob forma de salário, e se apropria

do restante sob a forma de mais-valia.

Na verdade, o trabalhador produz mais do que foi calculado, ou

seja, a força de trabalho cria um valor superior ao estipulado

inicialmente. Esse trabalho excedente não é pago ao trabalhador

e serve para aumentar cada vez mais o capital. Insere-se, neste

ponto, a questão da alienação - o produtor não se reconhece no

que produz; o produto surge como um poder separado do produtor.

O produto surge então como algo separado, como uma realidade

soberana – o fetichismo da mercadoria. Mas o que faz com que

o homem não perceba? A resposta, de acordo com Marx, está na

ideologia dominante, que procura sempre retardar e disfarçar as

contradições politicamente. Portanto, a luta de classes só pode ter

como objetivo a supressão dessa extorsão e a instituição de uma

sociedade na qual os produtores seriam senhores de sua produção.

Supondo que um operário leve 2 horas para fabricar um par de

sapatos. Nesse período produz o suficiente para pagar o seu

trabalho. Porém ele permanece mais tempo na fábrica, produzindo

mais de um par de sapatos e recebendo o equivalente à confecção

de apenas um. Numa jornada de 8 horas, por exemplo, são

produzidos quatro pares. O custo de cada par continua o mesmo,

assim como o salário do proletário.

50

Com isso ele trabalha 6 horas de graça, reduzindo o custo e

aumentando o lucro do patrão. Esse valor a mais é apropriado pelo

capitalista e constitui o que Marx chama de Mais–Valia Absoluta.

Além do operário permanecer mais tempo na fábrica, o patrão

pode aumentar a produtividade com a aplicação de tecnologia.

Com isso o operário aumenta a produtividade, porém seu salário

não aumenta. Surge a Mais-Valia Relativa.

Conheça, agora, um pouco mais do materialismo histórico e dialético.

O Materialismo histórico

A história do homem é a história da luta de classes. Para Marx a

evolução histórica se dá pelo antagonismo irreconciliável entre

as classes sociais de cada sociedade. Foi assim na escravista

(senhores de escravos - escravos), na feudalista (senhores feudais

- servos) e assim é na capitalista (burguesia - proletariado).

Entre as classes de cada sociedade há uma luta constante por

interesses opostos, eclodindo em guerras civis declaradas ou não.

Na sociedade capitalista, a que Marx e Engels analisaram mais

intrinsecamente, a divisão social decorreu da apropriação dos

meios de produção por um grupo de pessoas (burgueses) e outro

grupo expropriado possuindo apenas seu corpo e capacidade de

trabalho (proletários). Estes são, portanto, obrigados a trabalhar

para o burguês. Os trabalhadores são economicamente explorados,

e os patrões obtêm o lucro através da mais-valia.

O Materialismo dialético

Tem por pressuposto fundamental o fato de que o mundo não é uma

realidade estática, mas é dinâmica, pois, no contexto dialético,

também o espírito não é consequência passiva da ação da matéria,

podendo reagir sobre aquilo que o determina. Isso signifi ca que a

consciência, mesmo sendo determinada pela matéria e estando

historicamente situada, não é pura passividade: o conhecimento

do determinismo liberta o homem por meio da ação deste sobre o

Os dois elementos principais do marxismo são o materialismo dialético, para o qual a natureza, a vida e a consciência se constituem de matéria em movimento e evolução permanente, e o materialismo histórico, para o qual o modo de produção é a base determinante dos fenômenos históricos e sociais, inclusive as instituições jurídicas e políticas, a moralidade, a religião e as artes.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 51

mundo, possibilitando inclusive a ação revolucionária. Assim, Marx

se denominava um materialista, não idealista. O Materialismo

Histórico e o Materialismo Dialético podem, grosso modo, serem

tomados por termos intercambiáveis, sendo o primeiro mais

adequado ao se tratar de “coisas humanas” e o segundo adequado

para aspectos não-humanos universais.

A alienação

Na análise do pensamento marxista é importante destacar também o conceito de alienação. Para Marx, a divisão social do trabalho não gerou maior solidariedade entre os homens, mas contribuiu para a sua alienação. Ou seja, o capitalismo tornou o trabalhador alienado, isto é, separou-o de seus meios de produção (suas terras, ferramentas, máquinas etc), que passaram a pertencer à classe dominante, a burguesia.

Desse modo, para poder sobreviver, o trabalhador é obrigado a alugar sua força de trabalho à classe burguesa, recebendo um salário por esse aluguel. Como há mais pessoas que empregos, ocasionando excesso de procura, o proletário tem de aceitar, pela sua força de trabalho, um valor estabelecido pelo seu patrão. Caso ache que é pouco, ou que está sendo explorado, o patrão estala os dedos e milhares de outros aparecem em busca do emprego. Portanto, é aceitar ou morrer de fome. Com a alienação nega-se ao trabalhador o poder de discutir as políticas trabalhistas, além

de serem excluídos das decisões gerenciais.

Considerando as relações de exploração da sociedade capitalista

e o antagonismo entre as classes sociais, veja a seguir como

Marx analisa a educação.

Marx e a educação

Marx acreditava que na sociedade capitalista a educação faz parte

da superestrutura e é um instrumento de dominação e controle,

usado pelas classes dominantes. Por isso, as ideias passadas pela

52

escola à classe dos trabalhadores (que Marx denominava de classe

proletária) criam uma falsa consciência, que a faz aceitar as ideias

dos grupos dominantes e a impede de perceber os interesses de

sua classe. Assim, para ele, não pode existir educação livre ou

universal enquanto existirem classes sociais.

Assim, Marx não via com bons olhos uma educação oferecida pelo

Estado-Nação burguês, capitalista, basicamente por desacreditar

no currículo que ela traria e na forma como seria ensinado. Ele

defende a educação intelectual, física e técnica, denominada de

“onilateral” (múltipla), a que difere da visão de educação integral,

porque esta tem uma conotação moral e afetiva, imprópria para o

ambiente escolar.

O que disse a este homem ?

QueTabalhasse mais depressa.

Quanto lhe paga?

20 Reais por dia.

A onde vai buscar o dinheiro para lhe pagar?

Vendo a mercadoria E quem faz a mercadoria ?

Ele!

E quanta mercadoria Faz ele por dia ?

Num valor de 240 Reais.

Então não é você que lhe paga, mas é ele que lhe paga 220

Reais por dia para que lhe diga que trabalhe mais depressa.

Hum !

Mas sou eu o proprietário

das máquinas.e como consequiu essas máquinas ?

Vendi a mercadoria

e comprei as máquinas

E quem fez a mercadoria?

CUIDADO!!

Eles Podem Ouvir!!

SACOU?!

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 53

A contribuição de Max Weber

Embora tenha recebido influência do pensamento marxista, Weber

não concorda que é o princípio da economia que domina todas as

esferas da vida social, sendo inclusive o fator determinante da

estratificação social. Para ele somente a análise detalhada da rea-

lidade poderia definir os fatores que o estão gerando.

Max Weber nasceu na cidade de Erfurt, na Alemanha, numa família

de burgueses liberais. Desenvolveu estudos de direito, filosofia,

história e sociologia. Filho de uma família de classe média alta,

com o pai advogado, Weber encontrou em sua casa uma atmosfera

intelectualmente estimulante. Trabalhou na Universidade de

Berlim como livre-docente, ao mesmo tempo em que era assessor

do governo. Cinco anos depois, escreveu sua tese de doutoramento

sobre a história das companhias de comércio durante a Idade Média.

A seguir escreveu a tese “A História das Instituições Agrárias”.

Casou-se, em 1893, com Marianne Schnitger e, no ano seguinte,

tornou-se professor de economia na Universidade de Freiburg,

transferindo-se, em 1896, para a de Heidelberg.

Weber não via nenhum atrativo no socialismo, o qual, segundo

ele, poderia acentuar os aspectos negativos da racionalização.

Influenciado por Nietzsche, a sua visão sociológica dos tempos

modernos era melancólica e pessimista; uma postura de resignação

diante da realidade social.

Dentro das coordenadas metodológicas que se opunham à

assimilação das ciências sociais aos quadros teóricos das ciências

naturais, Max Weber concebe o objeto da sociologia como,

fundamentalmente, “a captação da relação de sentido” da ação

humana. Em outras palavras, conhecer um fenômeno social seria

extrair o conteúdo simbólico da ação ou ações que o configuram.

O que é ação social segundo Weber?

Por ação social, Weber entende “aquela cujo sentido pensado

pelo sujeito ou sujeitos é referido ao comportamento dos outros;

orientando-se por ele o seu comportamento”. Tal colocação do

Max Weber (1864-1920)

54

O método compreensivo, defendido por Weber, consiste em entender o sentido que as ações de um indivíduo contêm e não apenas o aspecto exterior dessas mesmas ações. Se, por exemplo, uma pessoa dá a outra um pedaço de papel, esse fato, em si mesmo, é irrelevante para o cientista social. Somente quando se sabe que a primeira pessoa deu o papel para a outra como forma de saldar uma dívida (o pedaço de papel é um cheque) é que se está diante de um fato propriamente humano, ou seja, de uma ação carregada de sentido. O fato em questão não se esgota em si mesmo e aponta para todo um complexo de signifi cações sociais, na medida em que as duas pessoas envolvidas atribuem ao pedaço de papel a função do servir como meio de troca ou pagamento; além disso, essa função é reconhecida por uma comunidade maior de pessoas.

problema de como abordar o fato signifi ca que não é possível

propriamente explicá-lo como resultado de um relacionamento

de causas e efeitos (procedimento das ciências naturais), mas

compreendê-lo como fato carregado de sentido, isto é, como

algo que aponta para outros fatos e somente em função dos quais

poderia ser conhecido em toda a sua amplitude.

O principal objetivo de Weber é compreender o sentido que cada

pessoa dá à sua conduta e perceber assim a sua estrutura inteligível

e não a análise das instituições sociais como dizia Durkheim.

Assim, propõe que se deve compreender, interpretar e explicar

respectivamente, o signifi cado, a organização e o sentido, assim

como evidenciar irregularidade das condutas.

Com este pensamento, Weber não possuía a ideia de negar

a existência ou a importância dos fenômenos sociais, dando

relevância à necessidade de entender as intenções e motivações

dos indivíduos que vivenciam essas situações sociais. Ou seja, a

sua ideia é que no domínio dos fenômenos naturais só se podem

aprender as regularidades observadas por meio de proposições de

forma e natureza matemática. É preciso explicar os fenômenos

por meio de proposições confi rmadas pela experiência, para poder

ter o sentimento e compreendê-las.

Você sabe dizer que tipos de ação social as pessoas desenvolvem?

Segundo Weber, a captação desses sentidos contidos nas ações

humanas não poderia ser realizada por meio, exclusivamente,

dos procedimentos metodológicos das ciências naturais, embora

a rigorosa observação dos fatos (como nas ciências naturais) seja

essencial para o cientista social.

A teoria weberiana distingue quatro tipos de ação social:

• A ação racional com relação a um objetivo é determinada por

expectativas no comportamento, tanto de objetos do mundo

exterior como de outros homens, e utiliza essas expectativas

como condições ou meios para alcance de fi ns próprios

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 55

racionalmente avaliados e perseguidos. É uma ação concreta

que tem um fim específico. Por exemplo: o engenheiro que

constrói uma ponte.

• A ação racional com relação a um valor é aquela definida

pela crença consciente no valor - interpretável como ético,

estético, religioso ou qualquer outra forma - absoluto de uma

determinada conduta. O ator age racionalmente aceitando

todos os riscos, não para obter um resultado exterior, mas para

permanecer fiel à sua honra, qual seja, à sua crença consciente

no valor. Por exemplo, um capitão que afunda com o seu navio.

• A ação afetiva é aquela ditada pelo estado de consciência ou

humor do sujeito. É definida por uma reação emocional do

ator em determinadas circunstâncias e não em relação a um

objetivo ou a um sistema de valor, por exemplo, a mãe quando

bate em seu filho por ele se comportar mal.

• A ação tradicional é aquela ditada pelos hábitos, costumes,

crenças transformadas numa segunda natureza. Para agir

conforme a tradição o ator não precisa conceber um objeto,

ou um valor nem ser impelido por uma emoção, pois obedece

a reflexos adquiridos pela prática. Ex: durante muito tempo

acreditou-se que a mulher era menos inteligente do que o

homem, sem questionar-se cientificamente a veracidade desse

fato.

As soluções encontradas por Weber para os intrincados problemas

metodológicos que ocuparam a atenção dos cientistas sociais do

começo do século XX permitiram-lhe lançar novas luzes sobre vários

problemas sociais e históricos e fazer contribuições extremamente

importantes para as ciências sociais.

Particularmente relevantes foram seus estudos sobre a sociologia

da religião, mais exatamente suas interpretações sobre as relações

entre as ideias e atitudes religiosas, por um lado, e as atividades e

organização econômica correspondentes, por outro.

Com os trabalhos de Weber foi possível elaborar uma verdadeira

teoria geral capaz de confrontar-se com a de Marx.

56

A primeira ideia que ocorreu a Weber na elaboração dessa teoria

foi a de que, para conhecer corretamente a causa ou causas

do surgimento do capitalismo, era necessário fazer um estudo

comparativo entre as várias sociedades do mundo ocidental e as

outras civilizações, principalmente as do Oriente, onde nada de

semelhante ao capitalismo ocidental tinha aparecido.

Depois de exaustivas análises nesse sentido, Weber foi conduzido

à tese de que a explicação para o fato deveria ser encontrada na

íntima vinculação do capitalismo com o protestantismo.

Assim, de modo simplificado, pode-se dizer que as relações

entre a cultura protestante e o “espírito do capitalismo” estão

relacionadas principalmente com a doutrina da predestinação e

da comprovação — entendidas aqui, respectivamente, como a

ideia de que Deus decretou o destino dos homens desde a criação

e a ideia de que certos sinais da vida cotidiana podem indicar

quais são os eleitos por Deus.

Conquanto, para os católicos, há certos elementos atenuantes que

permitem ao crente cometer certos deslizes, para os protestantes,

sobretudo os calvinistas, a exigência de uma comprovação de que

se é eleito impõe vastas restrições à liberdade do fiel, de modo

a levar a uma total racionalização da vida. Essa racionalização,

entendida como uma “ascese intramundana”, isto é, uma visão de

mundo que propõe a iluminação através da santificação de cada ato

particular do cotidiano —, abre um campo para o enaltecimento do

trabalho, visto como a marca da santificação. É essa característica

que permite a articulação entre a ética protestante, por um lado,

e o espírito do capitalismo, por outro.

Weber, assim como Durkheim, considera que existe uma separação

entre ciência e ideologia. Para ele também há uma separação entre

política e ciência, pois a esfera da política é irracional, influenciada

pela paixão, e a esfera da ciência é racional, imparcial e neutra.

O homem político apaixona-se pela luta, tem um princípio

de responsabilidade, de pensar as consequências dos atos. O

político, entende, por direção do Estado, a correlação de força

e a capacidade de impor sua vontade a demais pessoas e grupos

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 57

políticos. É luta pelo poder dentro do Estado. Já o cientista deve

ser neutro, amante da verdade e do conhecimento científi co; não

deve emitir opiniões e sim pensar segundo os padrões científi cos,

deve fazer ciência por vocação. Se o cientista apaixonar-se pelo

objeto de sua investigação não será nem imparcial nem objetivo.

Para Weber, a administração burocrática apresenta algumas

características básicas (racionais) que devem proporcionar sua

efi ciência. Dentre elas podem-se citar:

- Na organização burocrática, a fonte de poder são as leis -

isso tende a evitar o arbítrio pessoal, na medida em que os

funcionáriois devem submissão às leis (normas, portarias) e

não às pessoas. Isso dá maior estabilidade ao funcionário, pois

a autoridade é inerente ao cargo e não à pessoa que o ocupa.

- A organização burocrática é hierarquizada - a atribuição de

responsabilidades é acompanhada de uma divisão hieráquica

do poder que visa a um maior controle das atividades realizadas

pelos membros da organização. Os ocupantes de posições

superiores controlam os que estão em posições inferiores

ou apenas aqueles que estão em posições imediatamente

inferiores.

- As posições são ocupadas em função do mérito de seus

ocupantes – com isso se pretende que as posições da hierarquia

sejam ocupadas pelos mais capazes e não por critérios de

amizade, parentesco ou afi nidade com os chefes.

- Cada uma das posições possui competência específi ca - a

hierarquização das posições implica delimitação de tarefas,

direitos e deveres. Cada posição na escala hierárquica tem

sua função específi ca. Com isso se pretende determinar

responsabilidades e garantir a execução das tarefas.

- Distinção entre o público e o privado – durante muitos séculos

era comum que os funcionários obtivessem benefícios pessoais

em decorrência do cargo que ocupavam. A isso se denomina

patrimonialismo, em que o cargo é considerado como parte

do patrimônio do funcionário. A administração burocrática cria

Weber também é conhecido pelo seu estudo

da burocratização da sociedade, presente na

formação dos Estados modernos e do capitalismo

em que a formação de ambos exigia uma

administração estável, disciplinada e racional.

Com o corpo burocrático, o Estado poderia cumprir

efi cientemente seu objetivo precípuo, que é administrar

a vida pública de uma nação; e a empresa poderia

cumprir o seu, que é o de gerar lucros.

58

uma série de regimentos e normas para obrigar os funcionários

a distinguirem claramente que o prestígio, o poder e os recursos

inerentes ao cargo existem para o bom funcionamento da

organização e não devem ser usados em benefício pessoal.

Qual a contribuição de Weber para a educação?

Weber e a educação

Weber não dedicou um artigo e nem um capítulo de livro à

educação, embora tenha feito referências esparsas ao tema no

decurso de sua produção acadêmica. Para Weber a educação é um

elemento que contribui para a seleção social e possui finalidades

distintas de acordo com o tipo de dominação existente numa

determinada sociedade.

Assim, cultura e educação são analisadas por ele como mecanismos

que contribuem para manutenção de uma situação de dominação

– seja mediante o costume, a dominação tradicional, o aparato

racional-legal, a dominação burocrática, ou pela influência

pessoal, dominação carismática.

Convém ressaltar que a dominação ocorre em diferentes instituições,

inclusive na escola. A esse respeito, o autor esclareceu que:

O âmbito da influência com caráter de dominação sobre as relações sociais e os fenômenos culturais é muito maior do que parece à primeira vista. Por exemplo, é a dominação que se exerce na escola que se reflete nas formas de linguagem oral e escrita consideradas ortodoxas. Os dialetos que funcionam como linguagem oficial das associações políticas autocéfalas, portanto, de seus regentes, vieram a ser formas ortodoxas de linguagem oral e escrita e levaram às separações ‘nacionais’ (por exemplo, entre a Alemanha e a Holanda). Mas a dominação exercida pelos pais e pela escola estende-se para muito além da influência sobre aqueles bens culturais (aparentemente apenas) formais até a formação do caráter dos jovens e com isso dos homens (WEBER, 1997 p.172).

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 59

Weber atribui um importante papel às famílias no processo de

socialização das crianças. Em Economia e Sociedade, o autor, ao se

referir às formas de criação dos direitos subjetivos, fez uma menção

à importância da família na educação dos jovens e das crianças.

Ele enfatizou que o repúdio ao divórcio nas classes médias estava

relacionado às dificuldades que a desagregação familiar traz para

a educação das crianças e jovens.

Com o refinamento da cultura, tornam-se cada vez maiores as

exigências dos indivíduos quanto ao cuidado dos filhos por parte dos

casais. Dessa forma, o autor torna explícito que a sua abordagem

da educação não se restringe ao âmbito da escola.

Considera que a obtenção de vantagens econômicas leva os indivíduos

a circunscrever a educação a um grupo reduzido de pessoas, pois,

quanto mais reduzido o grupo de uma associação que lhe possibilite

legitimações e conexões economicamente aproveitáveis, maior é o

prestígio social dos seus membros.

No capitalismo, cuja dominação possui um caráter racional-legal

por meio do qual a burocracia assume sua maior expressão, há a

necessidade de funcionários especializados. “Toda a burocracia

busca aumentar a superioridade dos que são profissionalmente

informados, mantendo secretos os seus conhecimentos e intenções”

(WEBER, 1997, p. 269).

Nas burocracias, os títulos educacionais são símbolos de prestígio social

e utilizados muitas vezes como vantagem econômica. Na atualidade, o

diploma teria o mesmo valor que a ascendência familiar, no passado.

A educação é justamente um dos recursos utilizados pelas pessoas

que ocupam posições de maior privilégio e poder para manterem

e/ou melhorarem seu status, sendo que os diplomas e certificados

desempenham um caráter seletivo, monopolizando posições vantajosas.

Síntese

A Sociologia é uma das Ciências Sociais e tem por objeto de estudo a

sociedade humana, sua estrutura básica, a coesão e a desintegração

60

dos grupos, bem como a transformação social. Seu objeto de estudo

não envolve, pois, as ações individuais, mas as interações humanas,

o homem convivendo com seus semelhantes.

- A Sociologia surgiu como resultado da tentativa de compreensão

das novas situações sociais geradas pela nascente sociedade

capitalista. Ela é fruto da dupla revolução que se realizou na

Europa: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa.

- Existem diferentes modos de enfocar o estudo da sociedade. Um

deles, representado pelo Paradigma do Consenso, que enfatiza

a adesão à ordem social existente, e o outro, representado pelo

Paradigma do Conflito, que enfatiza a dinamicidade do social e

os fatores que podem contribuir para a sua transformação.

- Augusto Comte, considerado o criador da Sociologia e adepto

do Paradigma do Consenso, tinha por objetivo reorganizar

a sociedade pelo restabelecimento da ordem, criando um

conjunto de crenças comuns a todos os homens. Para ele,

a escola deve priorizar os estudos científicos, colocando os

estudos literários em segundo plano. Acreditava que todos

os seres humanos possuem instintos egoístas e altruístas,

devendo a educação desenvolver nos educandos o altruísmo e

o sentimento de solidariedade em detrimento do egoísmo.

- Émile Durkheim, também vinculado ao Paradigma do Consenso,

definiu como objeto da Sociologia os fatos sociais, considerados

como coisas, ou seja, realidades exteriores, que deveriam ser

medidos, observados e comparados independentemente do

que os indivíduos pensassem ou declarassem a seu respeito.

A educação é considerada por Durkheim como fato social,

uma vez que se impõe coercitivamente aos indivíduos,

independentemente da vontade individual. A função da

educação, para esse sociólogo, é propiciar a maior integração

do indivíduo à sociedade, permitindo-lhe desenvolver uma

forte identificação com o sistema social do qual faz parte.

- Karl Marx, cujas ideias o situam no Paradigma do Conflito,

possuía uma visão pessimista do sistema capitalista e

denunciou os processos de exploração e dominação da classe

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 61

burguesa sobre a classe proletária. Para Marx, a educação é um

instrumento de dominação e de controle usado pelas classes

dominantes. Assim, para ele, não pode existir educação livre

ou universal enquanto existirem classes sociais.

- Max Weber discorda de Marx quando este afi rma que é o

princípio da economia que domina todas as esferas da vida

social. Weber opõe-se ainda às coordenadas metodológicas que

preconizavam a assimilação das ciências sociais aos quadros

teóricos das ciências naturais. Para ele, o objeto da sociologia

consiste fundamentalmente na captação da relação de sentido

da ação humana. Importantes são seus estudos sobre a religião

e sobre a burocratização da sociedade, presente na formação

dos Estados modernos e do capitalismo. Para Weber, a

educação é um elemento que contribui para a seleção social e

possui fi nalidades distintas de acordo com o tipo de dominação

existente numa determinada sociedade.

Conceitue Sociologia e explique o objetivo dessa

ciência.

Qual a relação entre as Revoluções Francesa e Industrial

e o surgimento da Sociologia?

Explique de que maneira a ordem social instituída pelo

capitalismo trouxe modifi cações nas relações que se

estabelecem entre os indivíduos.

Quais as principais diferenças entre as teorias de

Durkheim e de Karl Marx?

Sintetize a contribuição de Weber para a Sociologia.

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4

5

62

Articulando

Converse com uma professora das séries iniciais do ensino

fundamental de uma escola pública e pergunte-lhe sobre as

situações de confl ito vivenciadas no cotidiano da sala de aula

e a que ela atribui essas situações. Investigue também como

essas situações têm sido resolvidas. Transcreva a resposta da

professora, relacionando-a a algumas noções tratadas neste

capítulo.

DURKHEIM, E. Educação e sociologia. 11. ed. São Paulo:

Melhoramentos, 1978.

MARTINS, C.B. O que é sociologia. 26. ed. São Paulo: Brasiliense,1990.

MARX, K. O capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971.

WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São

Paulo: Pioneira, 1967.

TEMPOS MODERNOS

Focaliza a vida urbana nos Estados Unidos nos anos 30,

imediatamente após a crise de 1929, quando a depressão

atingiu toda sociedade norte americana, levando grande parte

da população ao desemprego e à fome. A fi gura central do fi lme

é Carlitos, o personagem clássico de Chaplin que, ao conseguir

emprego numa grande indústria, transforma-se em líder grevista,

conhecendo uma jovem por quem se apaixona. O fi lme focaliza a

vida na sociedade industrial caracterizada pela produção com base

no sistema de linha de montagem e especialização do trabalho. É

uma crítica à “modernidade” e ao capitalismo representado pelo

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 63

modelo de industrialização, no qual o operário é engolido pelo

poder do capital e perseguido por suas ideias “subversivas”. Na

segunda parte do filme são tratadas as desigualdades entre a vida

dos pobres e das camadas mais abastadas, mostrando que a mesma

sociedade capitalista, que explora o proletariado, alimenta todo

conforto e diversão da burguesia.

A ORDEM ECONôMICA DA SOCIEDADE

2UNIDADE

OBJETIVOS DESTA UNIDADE:

Analisar a evolução da concepção de trabalho nas sociedades humanas;

Identificar os diferentes modos de produção surgidos ao longo da história das sociedades humanas;

Compreender o trabalho na sociedade contemporânea;

Refletir sobre as relações de trabalho na sociedade globalizada;

Analisar a relação entre trabalho e educação.

ROTEIRO DE ESTUDOS

• O conceito de trabalho

• O trabalho ao longo da história: diferentes concepções

• Os diferentes modos de produção

• O trabalho na sociedade globalizada: desafios no século XXI

• O trabalho e a educação

rita de cássia da silva oliveira

66

PARA INÍCIO DE CONVERSA

Você já deve ter refletido sobre o trabalho e certamente percebeu

que, ao longo da existência humana, o conceito de trabalho sofreu

alterações conforme a maneira como o homem se relaciona com a

atividade que desenvolve ou como a sociedade se organiza.

A relação entre o trabalho e o homem é tão antiga quanto a

história da humanidade. Para muitos estudiosos é essa relação

a responsável pelas profundas mudanças sociais, destacando as

descobertas científicas e tecnológicas que provocaram novas

formas de organização e produção.

O trabalho caracteriza o homem em seu processo de formação

enquanto sujeito inserido em uma sociedade. Porém, as diferentes

relações que o homem estabelece com o seu trabalho nem sempre

propiciam a ele uma sensação de liberdade e realização; ao

contrário, por muitas vezes o fazem se sentir oprimido, explorado

e alienado intelectual, política e socialmente.

Neste texto procura-se esclarecer o conceito de trabalho e

as diferentes concepções a ele atribuídas ao longo da história.

Também são abordados os diferentes modos de produção e os

processos do trabalho.

É feita uma análise sobre a alienação que sofre o trabalhador

na sociedade capitalista. Por último destaca-se o trabalho na

sociedade globalizada e o papel da escola e, em especial, do

professor na contemporaneidade.

O trabalho constitui um tema relevante na sociedade

contemporânea, à medida que envolve e interessa a todos os

homens.

Leia com atenção e reflita sobre o tema.

Boa aprendizagem!

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 67

O CONCEITO DE TRABALHO

A palavra trabalho origina-se do vocábulo latino tripaliare, do

substantivo tripalium – instrumento de tortura. Assim, tripalium

era um aparelho de tortura formado por três paus, que servia

para manter presos os animais que ofereciam resistência ao por

ferradura.

Também era usado para prender os condenados humanos. Deriva

daí uma concepção negativa, à medida que se associa trabalho à

tortura, sofrimento, exploração, pena, labuta e constrangimento.

Entretanto, a essa visão negativa de trabalho se sobrepõe a ideia

de que através do trabalho, o homem transforma a natureza, se

humaniza, transforma a si e ao mundo em que vive.

“Toda atividade desenvolvida pelo ser humano – seja ela física ou

mental – é considerada trabalho. Dele resultam bens e serviços.

É trabalho tanto a atividade do operário de uma indústria como

a do arquiteto que projeta os bens a serem produzidos por essa

indústria. Assim, tanto a atividade manual como a atividade

intelectual são trabalhos, desde que tenham resultado a

obtenção de bens e serviços” (OLIVEIRA, 2001, p.97).

68

O trabalho satisfaz três necessidades fundamentais da nossa

natureza: a necessidade de subsistir (função econômica), a de

criar (função psicológica) e a de colaborar (função social).

Existe, assim, uma fronteira muito sutil no conceito de trabalho

enquanto fator de realização humana e em oposição o trabalho

como tripalium, que contém em si uma conotação negativa e

opressora. Nem sempre é muito clara essa diferenciação para o

trabalhador e para a sociedade.

A palavra trabalho entendida como obra a fazer ou execução de

uma obra surge nos fi nais do século XV, e o signifi cado da palavra

trabalhador aparece nos fi nais do século XVII.

O trabalho é um processo entre a natureza e o homem, processo

em que se realiza, regula e controla, mediante sua própria ação,

seu intercâmbio com a natureza. Os homens produzem através

do trabalho, e através do trabalho também se relacionam com a

natureza e com os outros homens.

O trabalho pode ser defi nido como realização de tarefas que

envolvem esforço físico e mental, objetivando produzir bens e

serviços para satisfazer as necessidades humanas.

O homem produz a sua existência, cria, interfere e transforma

a natureza com objetivo, com intenção, para satisfazer as suas

necessidades; o animal, entretanto, age apenas por instinto,

visando à sobrevivência, à defesa, à busca de alimentos e abrigo.

O homem age sobre a natureza adaptando-a aos seus interesses,

criando cultura. Essa intervenção constitui, segundo Severino

(1994, p.48), “o âmbito da prática produtiva dos homens [...],

através dela os homens passam a produzir os bens materiais que

precisam, além dos meios de produção desses bens”.

O trabalho que o homem realiza, ou seja, essa ação humana

transformadora, não é solitária; ao contrário, é social:

As necessidades do homem são satisfeitas a partir de condutas sociais consideradas adequadas em um determinado momento e lugar. Assim os homens se relacionam para produzirem a própria existência (ARANHA, 1989, p. 4).

O trabalho deve satisfazer as necessidades humanas e ser fator de realização pessoal e social.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 69

Dessa maneira, pode-se afi rmar que o ato de transformar e intervir

sobre a natureza é um ato de liberdade. Mesmo a natureza se

apresentando com seus determinismos, cabe ao homem, através

do trabalho, atuar, criar e superar esses determinismos, projetando

mudanças, realizando projetos.

As atividades exercidas pelo homem através do trabalho podem

ser de duas naturezas: manual e intelectual. Todo trabalho é uma

combinação desses dois tipos de atividades, embora predomine

uma delas.

Quanto à execução, o trabalho pode ser classifi cado conforme o

grau de capacidade exigido das pessoas que o exercem. Assim,

pode ser: trabalho qualifi cado, quando é exigido do trabalhador

certo grau de aprendizagem para a sua realização; trabalho não

qualifi cado quando não se exige nenhuma aprendizagem específi ca.

O trabalho intelectual é, geralmente, qualifi cado. Em decorrência,

pode-se constatar também os salários que são atribuídos

às diferentes atividades desenvolvidas, conforme o grau de

competência exigido para o cumprimento das tarefas.

As relações que o homem estabelece pelo trabalho, não apenas

com a natureza, mas interindividuais, de troca e de intercâmbio

entre si, contribuem para a organização da sociedade. Dessa

maneira, a sociedade se constitui em um conjunto de indivíduos

interagindo, infl uenciando e sendo infl uenciados por um complexo

de fatores sociais, políticos, econômicos, educacionais e culturais.

O trabalho propicia ao homem a capacidade de intervir e superar

os desafi os que lhe são impostos; de conhecer a si mesmo, suas

habilidades e limitações; de ampliar a convivência e gerar novos

relacionamentos fortalecendo a afetividade e o companheirismo; de

impor disciplina e controle sobre as atividades realizadas. Por meio

do trabalho o homem conhece a natureza, os outros e a si mesmo.

Na próxima seção, você terá a oportunidade de entender as

diferentes concepções de trabalho ao longo da história das

sociedades humanas e perceber como ocorre o processo de

trabalho e as referidas mudanças.

a evolução do trabalho acompanha o

desenvolvimento do homem? Justifi que seu ponto de

vista.

O TRABALHO AO LONGO DA HISTÓRIA:

diferentes concepções

O trabalho entendido como a ação humana transformadora,

realizada na natureza e na sociedade, é um conceito que

acompanha o homem durante toda a sua existência. Esse conceito

encerra um paradoxo: o trabalho como sacrifício e o trabalho

enquanto realização. Segundo Oliveira (1987, p.5):

[...] a história do trabalho comecou quando o homem buscou os meios de satisfazer suas necessidades – a produção de vida material. A busca se reproduz historicamente em toda a ação humana para que o homem possa continuar sobrevivendo. Na medida em que a satisfação é atingida, ampliam-se as necessidades a outros homens e criam-se as relações sociais que determinam a condição histórica do trabalho.

Analise agora como se deu a evolução do trabalho ao longo do

tempo.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 71

72

O trabalho na sociedade greco-romana

O trabalho na sociedade greco-romana era entendido de maneira

diferente da que se entende hoje. Os gregos faziam uma distinção

entre o trabalho braçal, o trabalho manual do artesão, e o

trabalho daqueles que discutem e procuram resolver os problemas

da sociedade (trabalho intelectual).

São três as concepções de trabalho: labor, poiesis e práxis.

Por labor se entendia o esforço físico voltado para a sobrevivência

do corpo, caracterizada pela atividade passiva e submissa ao ritmo

da natureza. Por exemplo, o trabalho de quem cultiva a terra.

A poiesis referia-se ao fazer, ao indivíduo que criava um produto

com o auxílio de instrumentos ou mesmo com as próprias mãos. É

o trabalho do escultor e do artesão.

A práxis era a atividade do indivíduo que se utilizava do discurso,

da palavra, como uma maneira de encontrar soluções para governar

e propiciar bem-estar aos cidadãos. É a vida pública, a política. A

atividade era livre, sem a existência de um produto material.

As diferenças eram tidas como naturais entre os homens que

desempenhavam trabalho manual e os que desempenhavam

atividades intelectuais e políticas.

Na Grécia, os cidadãos eram responsáveis pela organização e

controle da polis (cidade-estado). Deveriam ter tempo livre para

poderem se dedicar ao exercício da cidadania e à refl exão do bem-

governar. Já a atividade manual era considerada uma atividade

degradante e seria desenvolvida pelos escravos e não cidadãos.

Essa mesma concepção persistiu em Roma reforçando cada vez mais

as diferenças entre os indivíduos que desempenhavam a arte de

governar e os que desenvolviam atividades braçais, consideradas

inferiores, aos quais eram negados o ócio e o lazer.

as concepções de trabalho variavam conforme as atividades que eram desenvolvidas.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 73

Em Atenas, na época clássica, quando os poetas cômicos qualificavam um homem por seu ofício (Eucrates, o comerciante de estopa; Lisicles, o comerciante de carneiros), não era precisamente para honrá-los; só é homem por inteiro quem vive no ócio. Segundo Platão, uma cidade bem-feita seria aquela na qual os cidadãos fossem alimentados pelo trabalho rural de seus escravos e deixassem os ofícios para a gentalha: a vida “virtuosa”, de um homem de qualidade, deve ser “ociosa” [...].Para Aristóteles, escravos camponeses e negociantes não poderiam ter uma vida “feliz”, quer dizer, ao mesmo tempo próspera e cheia de nobreza: podem-no somente aqueles que têm os meios de organizar a própria existência e fixar para si mesmos um objetivo ideal. Apenas esses homens ociosos correspondem moralmente ao ideal humano e merecem ser cidadãos por inteiro: “A perfeição do cidadão não qualifica o homem livre, mas só aquele que é isento das tarefas necessárias das quais se incumbem servos, artesãos e operários não especializados; estes últimos não serão cidadãos, se a constituição conceder os cargos públicos à virtude e ao mérito, pois não se pode praticar a virtude levando-se uma vida de operário ou de trabalhador braçal”. Aristóteles não quer dizer que um pobre não tenha meios ou oportunidades de praticar certas virtudes, mas sim que

a pobreza é um defeito, uma espécie de vício.

(VEYNE, P. Trabalho é ócio. In: aRIES, P. DuBY, G. História da vida privada. v.I, Do Império Romano ao ano mil. São Paulo, Companhia das Letras, 1990, p.124-5).

O trabalho na Sociedade Medieval

Baseada na economia de subsistência, com a maioria dos indivíduos

presos à terra, pouco se alterou no conceito de trabalho na Idade

Média.

A Igreja católica pregava o desapego às riquezas materiais e

condenava o enriquecimento. O trabalho deveria ser apenas um

meio de subsistência, de disciplina do corpo e purificação da mente.

Não era tolerada qualquer rebeldia às normas estabelecidas, e a

escravidão era justificada pela ordem divina.

Fonte: http://br.geocities.com/fcpedro/pesagem135.gif (acessado em 29 de setembro de 2008)

74

As atividades agrícolas e artesanais pertenciam aos servos, que

poderiam possuir suas ferramentas e dominar o saber técnico da

produção, porém eram destituídos de poder político.

Nas classes senhoris, a ociosidade era necessária para se dedicarem

às funções ditas mais nobres, como a política, a guerra, a caça, o

sacerdócio e, em última instância, ao exercício do poder.

O Processo de trabalho

O processo histórico do trabalho é compreendido pela forma

como os homens produzem os meios materiais. O escravismo, o

feudalismo e o capitalismo são formas sociais nas quais se tecem

as relações que dominam o processo de trabalho.

O objeto de trabalho é a matéria com que se trabalha: pode-

se considerar a matéria bruta ou recursos naturais, quando se

encontra em seu estado natural, e matéria-prima é a matéria que

já sofreu a intervenção do homem, mas ainda não foi convertida

em produto.

Pode-se considerar meios de trabalho ou instrumentos de

produção todos os instrumentos que o homem utiliza para

realizar a transformação da matéria e do ambiente em que

ocorre essa transformação.

Os instrumentos que auxiliam na transformação direta da

matéria-prima são as ferramentas de trabalho, os equipamentos

e as máquinas. Os instrumentos de produção que atuam

indiretamente são o local de trabalho, as condições físicas

necessárias. Assim:

Instrumento de produção é todo bem utilizado pelo ser humano na

produção de outros bens e serviços (OLIVEIRA, 2001, p. 101).

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 75

O processo de trabalho é a combinação do objeto, dos meios, da força e do

produto.

as forças produtivas alteram-se ao longo da

história. Nas sociedades mais simples, utilizavam-se instrumentos simples,

acionados pela força humana, por animais e pela

energia produzida pela água e pelos ventos. Com

o advento da Revolução Industrial (século XVIII) com

a invenção das máquinas, as fontes de energia

passaram a ser o vapor e a eletricidade. Como

decorrência modifi caram-se os meios de produção

e as técnicas de trabalho; consequentemente as forças

produtivas também se alteraram.

Outro conceito relevante:

[...] a força de trabalho é a energia humana empregada no processo de transformação, mas não pode ser confundida com o trabalho (o trabalho é o rendimento da força de trabalho) (OLIVEIRA, 1987, p. 7).

Os instrumentos de trabalho ajudam os homens a alcançarem

maior efi ciência no seu trabalho.

A matéria-prima e os instrumentos de produção são elementos

indispensáveis para se produzir algo e recebem o nome de meios

de produção. Considera-se meios de produção todos os objetos

materiais que intervêm no processo produtivo.

O conjunto de meios de produção mais o trabalho humano

chama-se de forças produtivas.

Produto é o valor criado pelo trabalho e corresponde ao objeto

produzido para satisfazer as necessidades humanas. O trabalho não

se interrompe no produto porque o seu valor de uso se completa

no seu valor de troca.

Com a ciência e a tecnologia as forças produtivas passaram a se

converter em agentes de sua acumulação, modifi cando a inserção

dos cientistas e técnicos na sociedade, e a força capitalista

encontra-se no monopólio dos conhecimentos e da informação

(OLIVEIRA, 2001).

O trabalho é um ato social porque é realizado na sociedade, e,

para produzir os bens e serviços de que os homens necessitam, os

indivíduos estabelecem relações uns com os outros. Gera-se assim

uma interdependência de funções, conforme a especialização

exigida de cada indivíduo para o desempenho, o que se pode

chamar de divisão técnica do trabalho.

Segundo Severino (1994, p.151), “esta divisão técnica acaba sendo

sobreposta por uma outra forma de divisão entre os homens: a

divisão social do trabalho”.

As relações que se estabelecem entre os seres humanos na

produção, na troca e na distribuição de bens e serviços são

chamadas de relações de produção. Elas determinam a organização

76

e o funcionamento da sociedade, assim como caracterizam os

diferentes tipos de sociedade (OLIVEIRA, 2001).

O modo de produção ou sistema econômico caracteriza a sociedade

de acordo com a maneira como a sociedade produz seus bens e

serviços. Conforme a época histórica, a sociedade se organiza para

produzir e para distribuir essa produção, variando, assim, o seu

modo de produção.

A história da humanidade é a história da transformação da

sociedade humana pelos diversos modos de produção.

Fonte: http://arquivo.sinbad.ua.pt/disqsws/image.aspx?� lename=2006003881- thumb.jpg&root=&catalog=Cartazes

Os modos de produção não permanecem invariáveis, estáticos, parados. No curso do desenvolvimento da História, os modos de produção encontram-se em constante processo de transformação.

Torna-se importante, assim, conhecer os diferentes modos de

produção: primitivo, escravista, asiático, feudal e capitalista.

Na seção seguinte, você terá a oportunidade de refl etir sobre

como o homem, ao longo da história, se organiza e produz para

garantir a sua sobrevivência. As forças produtivas e as relações de

produção constituem os modos de produção de uma sociedade.

Siga em frente porque ainda há muito que aprender!

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 77

OS DIFERENTES MODOS DE PRODUÇÃO

A seguir, serão abordados os diferentes modos de produção, a

saber: primitivo, escravista, asiático, feudal e capitalista.

Modo de Produção Primitivo

As formações primitivas são conhecidas também como comunidades

tribais, estudadas por Marx e Engels como representantes da

última sociedade sem classes, e era organizada na forma primitiva

de economia como a caça, pesca, criação, primeiras formas de

agricultura (OLIVEIRA, 1987):

As atividades vinculadas à produção nas sociedades tribais estão associadas aos ritos e mitos, ao sis-tema de parentesco, às festas, às artes, enfim a toda a vida social, econômica, política e religiosa (TOMAZI, 1993, p. 39).

As sociedades realizavam o trabalho coletivo em busca da

produção necessária para satisfazer as necessidades sociais e

materiais. Dessa forma, dedicavam poucas horas de atividades

diárias voltadas à produção.

78

O modo de produção primitivo designa uma formação econômica e social que abrange um período muito longo, desde o aparecimento da sociedade humana. A comunidade primitiva existiu durante centenas de milhares de anos, enquanto o período compreendido pelo escravismo, feudalismo e capitalismo mal ultrapassa cinco milênios (OLIVEIRA, 2001, p. 106).

Alimentavam-se da coleta e extrativismo, caçavam animais

para se alimentar e para usar as peles como roupas, pescavam

e colhiam frutos silvestres. Muitas vezes, ficavam subordinadas à

natureza, às variações climáticas e também à redução da caça,

da pesca e dos frutos silvestres. Eram nômades, não praticavam a

agricultura nem o pastoreio. Os homens extraiam da natureza os

bens necessários à vida.

Na sua opinião, atualmente, o homem está valorizando e respeitando a natureza?

Possuíam um grande conhecimento do meio em que viviam,

conhecendo as plantas, os animais e utilizando-os quando

necessário para alimentação, cura ou rituais. Assim, a relação com

a natureza, atribuindo a terra um valor cultural, considerando

os frutos e os animais que ela fornece para a sobrevivência da

tribo, era condição de sobrevivência. A terra era o meio básico

para o funcionamento das comunidades tribais.

Não acumulavam riquezas, mas produziam apenas para conseguir

as condições necessárias para sobrevivência, utilizando o restante

do tempo livre para se divertir, dançar, caçar, pescar, plantar e

colher e participar dos ritos. As atividades eram interligadas e não

podiam ser entendidas separadamente, pois eram caracterizadas

pelo sentido de unidade no cotidiano dessas sociedades.

O trabalho era realizado em conjunto e o resultado era coletivo,

com uma relação de ajuda e respeito entre todos os membros da

comunidade. Não existia desigualdade entre os homens, tudo era

comum.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 79

A defesa da tribo era realizada pelo grupo e consideravam-se

chefes os que tinham mais experiência e conhecimento. Não existia

o Estado porque todos eram iguais, não ocorrendo a dominação

de uns sobre os outros. Não há classes sociais nem poder político

determinado, apesar de possuírem diferentes estruturas sociais

políticas e econômicas.

A primeira divisão social do trabalho era realizada pela economia

de posição, que era estabelecida de acordo com as formas de

cooperação existentes no interior da comunidade: por idade, por

sexo e por parentesco.

A cooperação por idade referia-se à capacidade produtiva dos

membros da comunidade, ou seja, as tarefas eram distribuídas

entre jovens, adultos e idosos conforme a capacidade física e as

necessidades, diversificando as funções.

A cooperação por sexo referia-se às tarefas atribuídas aos homens

e às mulheres no plano da organização familiar ou na organização

comunitária, o que Durkheim denomina de solidariedade social.

O trabalho baseado nas relações de parentesco era a forma mais

complexa de cooperação comunitária, porque envolvia relações

de produção, relações políticas e questões ideológicas.

A fixação da comunidade na terra levou à formação gradativa

da economia de excedentes, com a distribuição complexa, o

que contribuiu para a desintegração da organização comunitária

tribal.

A sedentarização, fixada pela prática da agricultura sistemática,

promove o avanço na relação entre o homem e o meio natural. A

atividade econômica da coleta, fundamental como atividade de

subsistência, juntamente com a criação natural, é ultrapassada

pela produção sistemática de gêneros agrícolas e pela criação

seletiva, e que se dá a reprodução das espécies vegetais e

animais que interessam à alimentação (OLIVEIRA, 1987, p.11).

80

Com relação especifi camente ao trabalho no Brasil, o processo

se iniciou no século XVI, com a chegada dos portugueses e a

dominação dos índios que aqui viviam. A dominação aconteceu

ora pacifi camente, ora pela força, e teve, como consequência o

extermínio gradativo dos índios.

Existe uma grande diversidade do índio brasileiro. Hoje, ainda

se encontram, no Brasil, muitas comunidades indígenas, grupos

tribais ou nações indígenas que, embora não tenham desaparecido,

sofreram muitas transformações. Gradativamente ocorreu a

aculturação das diferentes migrações, com a aquisição de hábitos

e valores que divergem da formação de origem das comunidades.

Entretanto, sofreram muitas transformações e gradativamente

sofreram a aculturação das diferentes migrações, adquirindo

hábitos e valores que divergem da origem das comunidades.

Na sua região existe algum grupo indígena? Informe-se a respeito da organização do trabalho nessa comunidade e compare com o que estudou sobre o tema.

Modo de Produção Escravista

Predominou na Antiguidade e, no Brasil, existiu durante a

Colônia e o Império.

Os meios de produção, ou seja, terras e instrumentos de produção,

acrescentados os escravos, eram considerados propriedade

do senhor. O escravo era considerado como um instrumento,

comparado a um animal ou uma ferramenta. A única obrigação

que o senhor tinha para com o escravo era a de alimentá-lo bem

para que ele não perdesse a saúde e consequente capacidade de

trabalho.

Dessa maneira, as relações que se estabeleciam na sociedade

escravista era de poder, de domínio, na qual um pequeno número

de senhores exploravam os escravos, que não possuíam nenhum

direito.

O trabalho nas sociedades indígenas no Brasil, não obstante as diferentes formas de organização social, econômica, política e cultural dos diversos grupos tribais, tem um traço comum marcado pelas relações de parentesco, pelas obrigações rituais e míticas, que é a não-existência de uma separação entre as atividades produtivas e as outras (TOMaZI, 1993, p.63).

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 81

Ser escravo significa que um homem é propriedade jurídica

de outro homem. Como propriedade, o escravo é obrigado a

trabalhar para o seu dono, produzindo riqueza e prestando

serviços gerais. Como produtor de riqueza, trabalha no campo,

nas minas, no artesanato. Como prestador de serviços, trabalha

nas atividades domésticas, na fiscalização da produção, como

criador de egionários, como preceptor, como escritor, como

médico, como agente de negócios (OLIVEIRA, 1987, p.31).

Segundo Oliveira (2001, p.106), “os senhores eram proprietários

da força de trabalho (os escravos), dos meios de produção (terras,

gado, minas, instrumentos de produção)”. Eram também donos

dos produtos do trabalho. O escravo podia ser vendido, doado,

trocado, alugado. O mesmo ocorria com todos os seus filhos e com

os bens que eventualmente possuísse.

O trabalho escravo no Brasil inicia com a escravidão indígena, que

aconteceu nos primeiros anos da chegada dos portugueses e depois

teve continuidade com o escravo africano.

Os portugueses, num primeiro momento, tentaram a colaboração

dos habitantes nativos por meio da troca de alguns produtos.

Como os índios não responderam às expectativas, os colonizadores

tentaram escravizá-los, o que também não alcançou êxito porque

os indígenas não se subordinaram a essa situação. Diante disso, os

portugueses foram buscar em outros continentes a mão de obra

para o trabalho, já que a intenção era obter lucro com as novas

terras descobertas. Encontraram, então, em território africano a

mão de obra necessária, utilizando a força produtiva do negro.

Iniciava-se, assim, o tráfico e a escravidão no Brasil.

O escravo, além de trabalhar na agricultura, também desempenhava

outras tarefas no campo e na cidade. Vivia em condições difíceis,

com trabalho precário e muitos castigos.

Com a pressão dos ingleses em expandir o mercado de seus

produtos industrializados, uma pressão externa se acentuou

82

para a supressão do tráfi co de escravos, o que ofi cialmente foi

estabelecido por lei em 1850.

Eram divergentes os interesses dos cafeicultores diante dessa lei.

Muitos eram favoráveis à abolição do sistema escravocrata porque

fi caria muito caro o preço dos escravos com o fi m do tráfi co.

Entretanto, outros exerciam forte força interna para que se

mantivessem os escravos trabalhando principalmente na plantação

de café. Essa realidade perdurou por mais de 38 anos.

Tanto é que o Brasil foi o último país da América Latina a abolir

a escravidão, o que aconteceu ofi cialmente em 1888. Proibiam

os negros de se tornarem proprietários de terras e os escravos

passaram a assalariados nas lavouras e nas fábricas.

Nesse modo de produção surge o Estado para garantir os interesses

e a dominação dos senhores. Acentuou-se a divisão em classes:

uma minoria (os senhores) explorava o trabalho da maioria (os

escravos). As leis garantiam aos senhores o direito de explorarem

os escravos; o exército defendia o país contra agressões externas

e também defendia os senhores – que controlavam os escravos –

contra as revoltas dos escravos.

Modo de Produção Asiático

O modo de produção asiático predominou no Egito Antigo, na

China, na Índia, entre os astecas do México e os incas do Peru,

como também na África do século passado.

Esse modo de produção possuía uma hierarquia bem determinada.

Na base estava o camponês, que entregava toda a sua produção ao

Estado, e os escravos que faziam o serviço pesado. O excedente

da produção possibilitava que muitos homens fossem deslocados

para formar o exército; outro grupo volta-se para a construção de

obras monumentais como pirâmides, templos, canais de irrigação;

e outros ainda se tornavam sacerdotes destinados à preservação

do saber sagrado.

A CAÇA AOS AFRICANOS

Para os nativos da África – o berço da humanidade, segundo estudos recentes – a chegada dos portugueses signifi cava destruição. Os africanos, tidos como inferiores, foram capturados e forçados a trabalhar nos canais plantados nas ilhas do atlântico. E desde 1441 começaram a ser levados para Portugal. um século depois, o fl amengo Nicolau Cleynaerst faz esta observação sobre o reino Ibérico: “Tudo ali pulula de escravos; todos os trabalhos são executados por negros e mouros cativos, dos quais Portugal está tão cheio que, segundo creio, existem em Lisboa mais escravos e escravas dessa espécie do que portugueses livres” (aLENCaR,F; CaRPI,L; RIBEIRO,M.B. História da sociedade brasileira. Rio de Janeiro, Livro Técnico, 1979, p. 9).

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 83

Dessa maneira, todos eram defendidos pelo exército, constituído

pelos excedentes de homens, deslocados pelo faraó para essa função.

Os sacerdotes, por sua vez, cercavam o faraó, cuidando e reforçando

sempre seu caráter religioso e também para fortalecer e manter

essa estrutura de poder.

Não existia a propriedade privada. As terras eram propriedade do

Estado e, no Egito, o Faraó era o Estado.

Os sacerdotes, os nobres, os guerreiros e os funcionários constituíam

os grupos privilegiados. Os trabalhadores eram explorados pelo

Estado e racionalizavam as funções. Assim nem todos produziam

alimentos porque já havia excedentes na produção. O excedente

produzido era consumido por esses homens que eram deslocados

para o desempenho de outras funções que não a da produção.

O poder do faraó não era tanto econômico ou político, mas era mais

ideológico, pois ele era visto como Deus. Logo, tudo pertencia a ele:

a terra e o povo. Era um poder teocrático porque ideologicamente

ele estava revestido de um poder divino e, embora fosse humano,

manipulava bem essa ideia.

Assim, muitos fatores contribuíram para o fi m do modo de pro-

dução asiático. Entre eles, a propriedade da terra que pertencia

aos nobres, o alto custo de manutenção dos setores improdutivos

(guerreiros, sacerdotes, funcionários da corte) e da edifi cação de

obras suntuosas (palácios, templos e túmulos reais) além da pró-

pria rebelião dos escravos.

um dos aspectos mais negativos do modo de

produção asiático era o seu custo, representado

pela manutenção dos sacerdotes, a edifi cação de templos, e isso consumia a

parcela maior do excedente produzido pela sociedade

inteira. avalia-se que a construção da Pirâmide

de Quéops tenha ocupado 100.000 trabalhadores durante cerca de vinte

anos! Sua alimentação e vestimenta, apesar de bem pobres, deve ter absorvido a capacidade de produção

de excedentes de cerca de 3 milhões de camponeses! Os sacerdotes não são o único grupo que compõe a parte privilegiada da sociedade.

a seu lado desfi lam os nobres, os funcionários e os

guerreiros.

84

Modo de Produção Feudal

Com a decadência da escravidão, surgiu a estruturação da socie-

dade feudal. O modo de produção feudal predominou na Europa

ocidental durante a Idade Média, permanecendo até o fi nal do

século XVI. No Japão, foi consolidada no século XVIII (OLIVEIRA,

2001).

A sociedade feudal baseava-se no servilismo. Estruturava-se ba-

sicamente em senhores e servos, com relações de produção com

base na propriedade do senhor sobre a terra e um grande poder

sobre o servo.

A propriedade feudal era

constituída, no mínimo, de

uma aldeia, das terras dos

camponeses, da fl oresta, das

pastagens comuns, da igreja,

da casa paroquial e das terras

pertencentes a ela, da casa

do senhor, que possuía o

moinho, o forno e o celeiro,

bem como as melhores terras

da propriedade. A produção

nesse sistema tinha como base

o trabalho na terra e esta se

subdividia, basicamente, em três partes: uma para a plantação de

outono, outra para a de primavera e uma outra, a do pousio, isto é, uma

porção, ou gleba, de terra que fi cava descansando, sem plantação.

Dessa maneira, anualmente se fazia um rodízio entre as diversas

glebas de terra, de tal maneira que sempre uma delas descansava

enquanto as outras estavam produzindo de modo intercalar, ora com

a plantação de outono, ora com a plantação de primavera.

(TOMAZI, N. Iniciação à Sociologia. São Paulo: Atual, 1993).

Fonte: http://br.geocities.com/mcrost00/20040707a_feudalismo.htm

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 85

As características que predominavam nesse sistema, segundo

Tomazi (1993), eram:

• a terra – o principal meio de produção através do qual as

relações sociais se desenvolvem, sendo uma economia agrícola;

• os trabalhadores – com direito de cultivarem a terra cedida

pelo senhor, mas eram obrigados a pagar impostos, rendas e

cultivar a terra que o senhor conservava para si. Uma parte

do que o servo produzia pertencia a ele, porém não tinha a

propriedade da terra. Trabalhava um pouco para si e outra

para o senhor;

• estabelecia-se uma rede de vínculos entre os senhores e os

servos, direitos e deveres e até muitos não gozavam da própria

liberdade, porém não eram escravos. O servo, como pessoa,

não era propriedade do senhor.

As atividades de exploração da terra e a sujeição do trabalhador

eram fixadas por um aparato jurídico-político baseado em direitos

e poderes do senhor das terras, chamado de senhorio.

O poder econômico, representado pela propriedade da terra, e o

poder político, pela elaboração das leis e a exigência de que os

servos a cumprissem, pertencia aos senhores.

Segundo Oliveira (1993, p. 17), são três as formas principais de

apropriação da renda no feudalismo:

A primeira, a corvéia, na qual o camponês trabalha o seu próprio

pedaço de terra e realiza o trabalho compulsório nas terras

exclusivas do senhor, como construir e manter as estradas e pontes.

A segunda, a banalidade, era paga pelos servos e camponeses pelo

uso do moinho, do forno, dos tonéis e também por residirem na

aldeia. Por sua vez, a terceira era o censo, um imposto pago pelos

homens livres, caracterizado pela exploração de terras comuns ao

senhor e ao camponês, que recebia, pelo seu trabalho, uma parte

da produção para o seu sustento e o restante era apropriado pelo

senhor.

86

Apesar de o trabalho vinculado à terra ser o preponderante

na sociedade feudal, isso não significa que outras formas de

trabalho não existissem. Atividades artesanais nas cidades ou

mesmo dentro do feudo e atividades comerciais nas cidades

completam as outras formas de trabalho (TOMAZI, 1993, p.47).

As associações dos trabalhadores de diferentes ofícios é um traço

marcante na sociedade feudal. Essas associações (corporações

de ofício) possuíam uma ordenação bastante rígida. Havia uma

regulamentação que estabelecia o conceito de ofício, criava os

mecanismos de controle da profissão (quem é que podia exercê-

la) e ainda determinava um grupo de conselheiros, encarregados

de fazer observar os estatutos da associação. Essas associações

se tornaram conhecidas como corporações de ofícios (TOMAZZI,

1993, p.48).

À medida que a exploração dos servos se intensificava, diminuía

o rendimento deles na agricultura. Procuravam cercear também

o desenvolvimento das cidades e a própria produtividade dos

artesãos.

Você sabe o que são corporações de ofício?

A sociedade feudal se sustentou por muito tempo devido a

solidariedade entre as famílias senhoriais, pelo cumprimento

irrestrito de compromissos, juramentos, e também pela presença

da Igreja sancionando seus compromissos e definindo claramente

o lugar das classes servis nessa comunidade. Desse modo, os

senhores (nobreza, clero) conseguem não só manter pleno domínio

da situação, mas também fazer com que essa dominação seja

aceita pelos dominados (TOMAZI, 1993).

As relações feudais começaram a perder a sua eficiência no

século XIV. A fome devido as chuvas intensas que atrapalharam

as colheitas na Europa, a Peste Negra, com milhares de mortes,

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 87

as revoltas camponesas e o excesso da exploração dos senhores

feudais foram causas da queda da sociedade feudal, dando início

às relações de produção capitalista.

Modo de Produção Capitalista

Com a decadência da sociedade feudal, a partir do século XI surgiu o

capitalismo, atribuído a alguns fatores. Entre eles: o crescimento da

população na Europa, o desenvolvimento das técnicas agrícolas e o

renascimento urbano e comercial.

O capitalismo surgiu na Europa ocidental, e a Inglaterra é citada

como exemplo por se constituir um dos primeiros países onde se

desenvolveram as relações capitalistas.

O móvel do capitalismo é a chamada Revolução Industrial, caracterizada pela evolução tecnológica aplicada na produção e a consequente revolução nos processos de produção e nas relações sociais, combinação que confere um caráter social a essa Revolução (OLIVEIRA, 1987, p.75).

A Revolução Industrial, além de substituir o trabalho manual pela

máquina, eliminou também as formas anteriores de apropriação do

trabalho pelo Estado e pelas corporações.

A ruptura das relações feudais promoveu uma ruptura também do

trabalhador com os meios de produção, no campo e nas manufaturas.

O trabalho se transforma em força de trabalho e passa a ser uma

mercadoria que pode ser negociada. A concepção de trabalho sofre

modificações.

A separação entre o capital e o trabalho originou duas classes sociais:

a burguesia e o proletariado. Pode-se afirmar que a essência do

sistema capitalista encontra-se na separação entre o capital e

o trabalho. Surge assim, o trabalhador livre assalariado, que

vivia exclusivamente de seu trabalho, e o burguês ou capitalista,

proprietário dos meios de produção.

88

Estabelecem-se as relações assalariadas de produção. A burguesia

detém a propriedade privada dos meios de produção e estabelece

as relações de produção capitalista.

As desigualdades sociais são a base da formação das classes sociais. As relações entre os homens se caracterizam por relações de oposição, antagonismos, exploração e complementaridade entre as classes sociais (COSTA, 1997, p. 85).

A burguesia detém o capital. Entende-se por capital não apenas

o dinheiro aplicado no mercado fi nanceiro, mas são considerados

capitalistas todos os proprietários de meios de produção (terras,

minas, usinas, fábricas), os donos de bancos e de empresas urbanas

e rurais.

Por sua vez, o trabalhador é livre para trabalhar na sociedade

capitalista, mas vende a sua força de trabalho para os proprietários

dos meios de produção, os donos do capital.

Fonte: http://br.geocities.com/mcrost00/20040707a_feudalismo.htm

a primeira experiência de utilização da força de trabalho livre e estrangeira no Brasil foi realizada pelo Senador Vergueiro, grande fazendeiro da região oeste de São Paulo, que, em 1846, trouxe 364 famílias da alemanha e da Suíça. Em 1852, importou mais 1500 colonos e, posteriormente, se propôs a trazer mais 1000 colonos por ano. Isso era feito com a ajuda fi nanceira do governo da província de São Paulo, que arcava com os custos da importação e ainda subvencionava as empresas agenciadoras de mão de obra estrangeira (TOMaZI, 1993, p. 67).

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 89

No capitalismo nem sempre se investe no que é necessário à

população, mas privilegia-se aquilo que dá lucro. Para assegurar

a defesa dos seus interesses econômicos, os donos do capital

controlam três esferas da sociedade: a política, a jurídica e a

ideológica.

Na esfera política controlam o Estado, reforçando o poder de seus

partidos políticos, elegendo a maioria dos cargos políticos com

seus representantes, controlando também as forças de defesa do

estado: as forças armadas e as polícias estaduais.

Na esfera jurídica, em diferentes dimensões, aprovam as leis que

defendem seus interesses e os do capital.

Acrescidos a essas está também a esfera ideológica, fazendo a

população acreditar que as ideias vinculadas são de seu interesse,

embora, na realidade, os interesse sejam da classe dominante. No

capitalismo estabelece-se o domínio do trabalho pelo capital e a

mais-valia torna-se a marca registrada dessa dominação.

Essa é uma questão fundamental na compreensão do trabalho no capitalismo. Nos processos de produção anteriores, o escravo, o servo da gleba, o artesão são categorias que se confundem com umsistema individualizado de produção de riqueza com mecanismos de compulsão. O capitalismo veio e libertou o trabalhador dessa compulsão, derrubando os privilégios das profissões e proclamando a liberdade total da indústria e do trabalho. Essa liberdade, contudo, acaba por determinar o enriquecimento das classes dominantes, já que a própria liberdade era o móvel da competição no mercado de trabalho emergente no capitalismo (OLIVEIRA,1987, p. 79).

No capitalismo, a mecanização revoluciona o modo de produção.

Os trabalhadores são expropriados da produção e vendem sua

força de trabalho por um salário. A força de trabalho se torna uma

mercadoria, surgindo os contratos entre capitalista e operário, em

que um compra a força de trabalho e, em troca, paga ao operário

uma quantia em dinheiro, que se configura como salário.

90

O salário deve corresponder a uma quantia em dinheiro que permita

ao operário condições para alimentar-se, vestir-se, cuidar dos filhos

com dignidade. A isso Adam Smith considera a criação de valor do

trabalho, à medida que afirmava que a riqueza de uma nação dependia

essencialmente da produtividade baseada na divisão do trabalho.

O salário também varia conforme a natureza do trabalho, as

habilidades e qualificação necessárias para o desempenho das

atividades correspondentes.

Há dois aspectos a considerar: um é o valor da força de trabalho, o

salário, e o outro é o quanto esse trabalho rende ao capitalista. Esse

valor excedente produzido pelo operário é o que Marx chama de

mais-valia. A mais-valia, ou seja, as horas trabalhadas, acumuladas

e reaplicadas no processo produtivo, gera o lucro, que é apropriado

pelo capitalista. Esse processo denomina-se acúmulo de capital.

Existem duas maneiras de aumentar a mais-valia: a primeira é ampliar a carga horária de trabalho dos operários, denominada mais-valia absoluta. Já quando a utilização de mais equipamentos e tecnologias torna o trabalho mais produtivo, recebe o nome de mais valia-relativa.

Recorde-se do significado da “mais-valia” estudado na 1ª unidade e exemplifique, a mais-valia absoluta e a mais-valia relativa.

Essa relação entre capitalista e trabalhador é conflituosa, à medida que o trabalhador se sente explorado e fica insatisfeito com o salário que recebe. Por outro lado, o capitalista não aumenta o salário alegando diversos fatores, entre eles, os impostos, o aumento da matéria prima etc. Os conflitos, não por raras vezes, culminam em greves e confrontos e, pela negociação, se estabelece um

equilíbrio precário e transitório.

Essa análise da questão do trabalho na sociedade capitalista foi

realizada por Marx, no século XIX, que ressaltava a existência

do conflito entre as classes capitalista e trabalhadora e por ele

identificada como a mola propulsora dos avanços, constituindo a

própria história da sociedade.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 91

As diferenças de classes sociais não se reduzem a uma diferença

quantitativa de riquezas, mas expressam uma diferença de

existência material. Os indivíduos de uma mesma classe social

partilham de uma situação de classe comum, que inclui va-

lores, comportamentos, regras de convivência e interesses. A

essas diferenças econômicas e sociais segue-se uma diferença

na distribuição de poder. Diante da alienação do operariado, as

classes economicamente dominantes desenvolveram formas de

dominação políticas que lhes permitem apropriar-se do aparato do

poder do Estado e, com ele, legitimar seus interesses sob a forma

de leis e planos econômicos e políticos (COSTA, 1997, p. 91).

A ideia de alienação

Você se recorda do significado do termo “alienação”, estudado na primeira unidade?

Nas sociedades modernas, ao mesmo tempo em que o trabalho

é a realização de si mesmo, com a condição humana de intervir

e transformar a natureza e a sociedade em que vive, surge,

paradoxalmente, o homem como uma negação de si mesmo,

como sujeito social e histórico, negando-lhe a liberdade e a sua

identidade nas relações de trabalho.

Existem vários sentidos para o conceito de alienação.

Etimologicamente a palavra alienação vem do latim alienare,

alienus, que significa pertencer ao outro. Alienar é tornar alheio,

não pertence a você, é transferir ao outro o que é seu.

92

Assim, alienação é o estado de o indivíduo não deter o controle

sobre si mesmo, perdendo a sua própria identidade, pela privação

de seus direitos fundamentais.

Chauí (1995, p.170) define: [...] a alienação é o fenômeno pelo qual

os homens criam ou produzem alguma coisa, dão independência a

essa criatura como se ela existisse por si mesma e em si mesma,

deixam-se governar por ela como se ela tivesse poder em si e

por si mesma, não se reconhecem na obra que criaram, fazendo-a

um ser-outro, separado dos homens, superior a eles e com poder

sobre eles.

No sentido jurídico, alienação significa a perda do usufruto ou

posse de um bem ou direito pela venda, hipoteca etc. No aspecto

religioso, chama-se alguém de alienado quando aparece a idolatria,

e a pessoa a ela se submete. No senso comum, costuma-se chamar

alienada a pessoa que demonstra falta de interesse a questões

sociais e políticas relevantes.

Segundo Aranha (1993, p.12),

[...] para Marx, que analisou esse conceito básico, a alienação não é puramente teórica, pois se manifesta na vida real do homem, na maneira pela qual, a partir da divisão social do trabalho, o produto de seu trabalho deixa de lhe pertencer.

A alienação dos direitos fundamentais ocorre na prática

do trabalhador. Na sociedade capitalista, o trabalhador é

desapropriado dos meios de produção (ferramentas, matéria-

prima, terra e máquina), que constituem uma propriedade

privada, pertencem ao capitalista. O trabalhador é separado do

produto do seu trabalho, que não lhe pertence porque também

é apropriado pelo capitalista. O trabalho alienado desumaniza o

homem. Chama-se a isso de alienação econômica.

O operário deixa de ser o centro da sua própria vida, não tendo o

direito à escolha do seu salário, horário, ritmo de trabalho, suas

condições de moradia, seu tempo de lazer. Torna-se alienado, e sua

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 93

identidade é defi nida pelo mercado. O que importa é o valor do que

ele produz, ou seja, a mercadoria, e é essa mercadoria que defi ne

as suas condições de vida e de trabalho, a sua própria identidade.

O sistema capitalista impede a solidariedade e articulação do

operário.

O homem também se tornou alienado politicamente, pois:

[...] princípio da representatividade, base do liberalismo, criou a ideia de estado como um órgão político imparcial, capaz de representar toda a sociedade e dirigi-la pelo poder delegado pelos indivíduos (COSTA, 1997, p. 85).

O homem não se reconhece como produtor das instituições

sociopolíticas. Na sociedade contemporânea, o trabalho e sua

ideologia se tornam instrumentos de submissão política.

Entretanto, segundo Marx, o Estado representa a classe

dominante e age conforme os interesses dela, desmascarando a

falsa imparcialidade. Assim, as relações que se estabelecem na

sociedade estão permeadas pelo jogo do poder.

Com relação à política, você se considera um cidadão participativo ou alienado?

A alienação intelectual ocorre pela separação entre o trabalho

manual, com a produção de mercadorias, e o trabalho intelectual,

com a produção de ideias.

a alienação é o processo de coisifi cação do

homem através do trabalho.

Desse modo, a divisão técnica do trabalho social, destinada

a garantir a produção econômica, leva a uma divisão social

do trabalho técnico, de tal modo que o poder econômico,

caracterizado pela propriedade dos meios de produção e dos

bens produzidos, transmuta-se pelo poder político, traduzido

pela disposição do domínio sobre os próprios sujeitos produtores.

É que o poder político, para se constituir e se consolidar,

precisa integrar tantos elementos econômicos como elementos

ideológicos, unindo e fazendo convergir aspectos das esferas

do saber e do poder (SEVERINO, 1994, p. 69).

94

Com a divisão social do trabalho, a filosofia passou a se tornar atividade

de um grupo. Criou-se a representação social do homem e da sociedade,

sendo esta também parcial e refletindo os interesses de um grupo,

mesmo proclamando o Estado como legítimo e representante de todos.

O poder também resultou na alienação do homem.

Surge a dicotomia entre concepção e execução do trabalho, na

qual, segundo Taylor, um pequeno grupo de pessoas é responsável

pela criação, concepção do que será produzido, e outro grupo se

responsabiliza pela execução do trabalho, de maneira parcelada,

a medida que cada um participa apenas de uma parte do processo.

Introduz-se a racionalização do trabalho e da produção, através de

um método científico que ficou conhecido como taylorismo, “que

visa aumentar a produtividade, economizando tempo, suprimindo

gestos desnecessários e comportamentos supérfluos no interior

do processo produtivo” (ARANHA, 1993, p.13). Esse novo sistema

alcançou sucesso e se expandiu além das fábricas, atingindo outros

segmentos como os esportes, a medicina e a escola.

Fortalece-se, aqui, a fragmentação de funções, através do

parcelamento de tarefas, considerado por Taylor como importante

para a maior rapidez e eficiência no processo. O setor de

planejamento passou a ser imprescindível, com o desenvolvimento

da burocratização e a sofisticação nas formas de execução.

Segundo Aranha (1993, p.13):

[...] a burocracia e o planejamento se apresentam como imagem de neutralidade e eficácia da organização, como se estivessem baseados num saber objetivo, competente, desinteressante”.

Porém, essa pseudo-neutralidade encerra um conteúdo ideológico

e político, o que se considera uma técnica social de dominação.

O taylorismo substitui a coação visível, a violência por formas

mais sutis de dominação, diluídas na organização burocrática.

A eficiência torna-se um dos principais critérios para a

produção e esta é estimulada através de prêmios, gratificações

e promoções.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 95

A ordem burocrática limita a espontaneidade, a iniciativa e,

portanto, a liberdade dos indivíduos, submetendo-os a uma

homogeneização em nome do controle e da eficiência (ARANHA,

1996, p. 24).

Os marxistas e humanistas criticaram modelo, alegando que as

esse atividades eram repetitivas, fragmentadas e sem sentido,

destituindo o operário da capacidade de criar, de ser autônomo, o

que mais contribuía para a sua alienação.

Henry Ford utilizou-se das ideias tayloristas e introduziu a linha

de montagem para os sistemas da indústria automobilística,

chamados de fordismo, exigindo dos homens apenas procedimentos

mecânicos, dispensando qualquer possibilidade de iniciativa própria.

A produção ocorria em grande escala e a um preço mais baixo. Era a

despersonalização do trabalhador, reduzindo-o a um mero autômato

cumpridor de ordens e de ritmos alheios à sua vontade.

A técnica é referenciada e invade outras dimensões da vida

humana, como a vida familiar e afetiva e, vista primeiramente

como libertadora, gera uma ordem tecnocrática opressiva.

Conforme afirma Albornoz (2004, p. 40),

[...] no mundo industrial falta o vínculo entre o trabalho e o resto da vida. Para agir livremente deixa-se o tempo que sobra do trabalho. Assim se separa totalmente trabalho de lazer, de prazer, de cultura, de renovação de forças anímicas.

Ou seja, com a racionalização do processo de trabalho, desaparece

a valorização do homem, os sentimentos, as emoções e os desejos.

Só pela crítica, pela ação política consciente e transformadora ao

sistema econômico, à política e à filosofia é que os homens podem

recuperar sua condição humana. Por isso, os marxistas vinculam a

crítica da sociedade à ação política (COSTA, 1997).

97SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2

O TRABALHO NA SOCIEDADE GLOBALIZADA: desafios no século XXI

No mundo globalizado as fronteiras são mais flexíveis. Os avanços

da informática e da tecnologia alteraram significativamente as

relações de trabalho. As informações se processam em um ritmo

acelerado, e a ciência cada vez mais se torna indissociável dos

processos produtivos.

Com a invenção de máquinas cada vez mais sofisticadas, não por

raras vezes se dispensa a atividade humana, reduzindo-a apenas à

supervisão e ao controle.

Como afirma Aranha (1996, p. 25)

[...] o cotidiano do homem se transforma, passando a ser marcado pela automação em todas as esferas, de tal modo que, na era da reprodução técnica, a máquina constitui o intermediário constante entre o homem e o mundo.

98

No mundo do trabalho atual, o foco não é mais as relações de

oposição entre o proprietário da fábrica e o operário, mas desloca-

se para os administradores e tecnoburocratas que dirigem as

fábricas e empresas, procurando dar a ilusão de que:

[...] a máquina livra o homem do duro conflito patrão-empregado, libera o seu tempo para outras atividades, mais prazerosas, criando ainda a expectativa da possibilidade de melhor distribuição das riquezas (ARANHA, 1996, p. 25).

Surgem novos mecanismos de exploração menos evidentes, mas

ainda prevalece a concentração de renda e o impedimento da

distribuição homogênea da riqueza. Desencadeia-se a globalização

da economia. Assim, com os avanços tecnológicos, a robotização

e a automação das empresas provocaram profundas modificações

no trabalho. Pelo crescimento da automação, acentua-se o

desemprego, a redução do tempo de trabalho e do tempo livre.

Na sociedade do conhecimento, na qual o profissional deverá

interagir com máquinas sofisticadas, é premente dominar

informações e estar qualificado para desempenhar as tarefas e

tomar as decisões necessárias.

O trabalhador hoje é valorizado pelo conhecimento, pelo

dinamismo, pela criatividade e empreendedorismo. A qualificação

profissional reflete os conhecimentos, habilidades cognitivas e

comportamentais que permitem ao cidadão/produtor trabalhar

As mudanças que se processaram no século XX foram marcadas

pela ciência e pela tecnologia [...] que vem transformando

rapidamente os usos e costumes dos habitantes de todo o

globo terrestre. Dentre as conquistas tecnológicas, destacam-

se os transportes ultra-rápidos, a automação, a comunicação

eletrônica. Aviões, rádio, televisão, fax, satélites e a rede cada

vez mais expandida da Internet subvertem o espaço e o tempo

do homem contemporâneo, aproximando os povos e alterando a

maneira de pensar e trabalhar (ARANHA, 1996, p. 234).

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 99

intelectualmente, de forma a utilizar os conhecimentos técnicos e

científicos para resolver problemas da prática social e produtiva.

A sociedade atual fortalece a cultura da informação, com um grande

volume de informações que circulam pelos meios de comunicação

de massa, diminuindo distância, estreitando intercâmbios, porém

descaracterizando culturas tradicionais e ampliando a massificação

em detrimento da informação crítica.

Muitas empresas fazem fusões, acordos internacionais e novas

exigências são colocadas para os trabalhadores, surgindo novas

profissões. Além disso, o crescimento da população, o fenômeno da

longevidade e a crescente urbanização são apontados como fatores

que provocam mudanças na vida do homem contemporâneo.

Com as mudanças no mundo do trabalho, a atividade produtiva passa

a depender de conhecimentos, reclamando por um outro perfil de

trabalhador: mais criativo, crítico, pensante e participativo.

Uma relação de trabalho é dignificante quando possibilita ao

homem desenvolver de maneira autônoma formas de cultura e

lazer, quando educa seus filhos, vive dignamente, quando não

desumaniza e lhe dá reais condições de conquistar a cidadania

plena.

Surge, portanto, a necessidade de se resgatarem os princípios do

homem-cidadão e transformar o debate sobre a valorização do

trabalho numa questão política.

Mas, para formar o homem que possa usufruir de uma cidadania

plena, a educação possui grande influência, em suas diferentes

modalidades. Essa relação entre trabalho e educação será

abordada a seguir.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 101

O TRABALHO E A EDUCAÇÃO

Com as profundas mudanças que se registram nas sociedades em

geral e as modificações nas concepções de trabalho, os profissionais

são constantemente ameaçados pelo risco da alienação. Entre

esses profissionais estão incluídos os professores.

O professor estabelece um contato direto (presencial ou

virtualmente) com os alunos, e é nessa relação que são passados

os valores, hábitos, formas de pensar, agir, é inculcada a ideologia

que pode reproduzir e reforçar o sistema vigente, ou estimular

a formação de cidadãos críticos e criativos, questionadores e

participativos da sociedade, os quais irão interferir e contribuir

para as mudanças e evoluções sociais.

Assim, compete ao professor transmitir os conteúdos de maneira

contextualizada, com ética e seriedade, comprometidos com

uma prática social politizada. Em contrapartida, se o professor

tiver sua ação docente baseada na repetição, memorização, sem

qualquer crítica, reflexão ou inserção no contexto social, estará

certamente contribuindo para a alienação dos alunos e a sua

própria, exercendo a chamada violência simbólica.

102

Como você vê a profissão de professor?Ela pode ser considerada vocação?

A ingenuidade de que para ser professor basta ter vocação ou

desprendimento generoso, ou mesmo que é uma missão ou

sacerdócio, deve ser superada. O compromisso do professor é com

a formação dos cidadãos, com a compreensão sistematizada da

educação, possibilitando um trabalho pedagógico de qualidade que

supere o senso comum, para uma atividade intencional e crítica.

Para isso se faz necessária, além da valorização da profissão do

magistério, uma boa formação dos profissionais e condições de

trabalho, entre elas: condições materiais adequadas, atualização

permanente, plano de carreira e salários dignos.

Para um bom trabalho docente pode-se destacar, segundo Aranha

(1996), três aspectos importantes:

• Qualificação – o professor deve possuir conhecimentos científicos

indispensáveis para o ensino do conteúdo específico.

• Formação pedagógica – as atividades desenvolvidas devem ser

sistematizadas, refletidas e comprometidas, superando o senso

Segundo Bourdieu e Passeron, a violência simbólica é exercida

pelo poder de imposição das ideias transmitidas por meio da

comunicação cultural, da doutrinação política e religiosa, das

práticas esportivas, da educação escolar. Enquanto no caso

da persuasão convencemos alguém por meio de argumentos,

deixando em aberto a possibilidade de discordância e, portanto,

do pensamento divergente. Por meio da violência simbólica

as pessoas são levadas a agir e a pensar de uma determinada

maneira imposta, sem se darem conta de que agem e pensam

sob coação. Nesse sentido, a cultura e os sistemas simbólicos em

geral podem se tornar instrumentos de poder quando legitimam

a ordem vigente e tornam homogêneos o comportamento

social” (ARANHA, 1996, p.188-189).

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 103

comum. Cabe ao professor, além do domínio teórico, possuir

o domínio técnico, possibilitando desenvolver habilidades que

viabilizem a atividade docente.

• Formação ética e política – a educação, por muitas vezes, se

faz através de exemplos.

Como futuro professor, quais dos aspectos citados você considera o mais importante? Algum deles é dispensável para a formação do professor?

O professor deve se pautar em valores sólidos, éticos e

comprometidos com a formação do cidadão inserido em uma

sociedade mais justa, aceitando e respeitando as diferenças

individuais.

O professor não pode estar alienado dos acontecimentos que o

rodeiam; ao contrário, precisa estar inserido no seu contexto

social, político e econômico, tendo a educação como mediadora

capaz de instrumentalizar os alunos, pelos conteúdos, para uma

ação transformadora.

Além disso, a formação ética e política permitem uma melhor compreensão a respeito do que é relevante ensinar e de como fazê-lo, a fi m de não cair no enciclopedismo, no academicismo ou no tecnicismo (ARANHA, 1996, p. 152).

A pedagogia que se exige hoje é pautada pelas transformações do mundo do trabalho, deve atender às demandas dos avanços tecnológicos e seus impactos sobre a vida social. Destaca-se o papel do conhecimento, na sociedade contemporânea, como fator decisivo para a produção de bens e serviços. Os recursos naturais, a mão de obra ou o capital não constituem o recurso econômico básico, mas foram substituídos pelo conhecimento, o qual é necessário para a criação de novos produtos, para maior competitividade no mercado de trabalho e para a atualização.

Aqui está o relevante papel da escola e do professor, voltando sua atenção para o processo de ensino aprendizagem, ou seja, como os alunos aprendem para satisfazer suas necessidades e propiciar um

É preciso que possamos tornar a educação verdadeiramente

universal, formativa, que socialize a

cultura herdada, bem como dê a todos os

instrumentos de crítica dessa mesma cultura. E isso só será possível pelo desenvolvimento

da capacidade de trabalho (intelectual

e manual) integrados. Portanto, a educação

deve instrumentalizar o homem como um ser

capaz de agir sobre o mundo e ao mesmo tempo compreender

a ação exercida. a escola não deve ser a

transmissora de um saber acabado e defi nitivo, não

pode separar teoria e prática, educação e vida.

a escola ideal não pode separa cultura-trabalho-

educação (aRaNHa, 1989, p. 57).

104

desenvolvimento de habilidades, competências e conhecimentos indispensáveis para formação de cidadãos conscientes, críticos e participativos.

Qual o papel do professor na sociedade contemporânea?

Compete ao educador assumir uma postura crítica-reflexiva para

estar atento e saber enfrentar os conflitos surgidos dos avanços

tecnológicos e das modificações sociais.

Percebe-se, então, que o mundo do trabalho encontra-se sob um

processo de reestruturação produtiva e organizacional que aponta

para o esgotamento do modelo taylorista-fordista, estabelecendo

novos cenários produtivos.

As transformações que se processam no mundo do trabalho

evidenciam um novo paradigma de organização das relações

econômicas, sociais e políticas.

Esse paradigma com diferentes denominações: mundialização,

globalização, terceira revolução industrial e tecnológica se apoia,

fundamentalmente, na conjugação de abertura de mercados e no

desenvolvimento acelerado da tecnologia microeletrônica.

Nesse cenário contraditório em que, por um lado, presenciam-se

grandes avanços tecnológicos, progresso científico e intelectual,

por outro lado revela a violência, a fome, os desempregados e a

miséria.

Enumere algumas consequências da globalização na sociedade brasileira.

Apesar da globalização da economia, a sociedade se apresenta

individualista e excludente. Os valores proclamados como

qualidade, competitividade, produtividade e ética servem para

mascarar uma realidade.

Na perspectiva do trabalho da sociedade do conhecimento, a

criatividade, a capacitação permanente, o desenvolvimento de

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 105

habilidades e competências, os valores para uma convivência

saudável, o domínio do conhecimento e da tecnologia também

constituem compromisso da escola e do professor.

Síntese

Nesta unidade você teve oportunidade de perceber que o

trabalho assumiu diferentes concepções no decorrer da história

humana. Assim, o trabalho evoluiu juntamente com o homem e

com as organizações sociais. O processo histórico do trabalho é

compreendido pela maneira como os homens produzem seus meios

materiais e através dos quais tecem as relações sociais.

Os modos de produção primitivo, o escravista, asiático, feudal e

capitalista são abordados, procurando-se caracterizar cada um

deles, refl etindo sobre a nossa realidade atual.

Em especial, na sociedade brasileira, com o capitalismo,

evidenciam-se alguns conceitos importantes tais como: trabalho,

capital, salário, ideologia, alienação, classe social, forças

produtivas.

O trabalho na sociedade globalizada e os desafi os no século XXI

também são abordados, referenciando principalmente a evolução

científi ca e tecnológica que alteraram signifi cativamente as

relações de trabalho.

Por último, fez-se uma refl exão sobre a educação e o trabalho do

professor na sociedade contemporânea.

Com essas breves noções teóricas torna-se possível entender a

relevância que o trabalho possui para o homem e, dependendo da

forma como ele é desenvolvido, estabelece-se a organização das

sociedades.

Consulte:

CaRMO, P.S. História e ética do trabalho no Brasil. São

Paulo: Moderna, 1988.

JaCCaRD, P. História social do trabalho das origens

até aos nossos dias. Lisboa: Livros Horizonte, 1974.

LaRa, S. H. Escravidão, cidadania e história do

trabalho no Brasil. Projeto História. São Paulo: EDuC,

nº 16, 1998.

LEONaRDI, V.; HaRDMaN, F. F. História da indústria e

do trabalho no Brasil. São Paulo: Ática, 1991.

NaSCIMENTO, a. E.; BaRBOSa, J. P. Trabalho:

história e tendências. São Paulo: Ática, 1996.

OLIVEIRa, C. R.de. História do trabalho. São Paulo:

Ática, 1998.

TuMENEFF, I. História do trabalho. São Paulo: Nosso

Livro, 1934

106

Sintetize a evolução do conceito de trabalho através

da história.

Elabore um esquema sobre os diferentes modos de

produção e a seguir identifi que formas similares desses

modos de produção na sociedade brasileira.

Trabalho e educação são inseparáveis. Comente essa

afi rmação.

Pesquise, em jornais e revistas, reportagens que

exemplifi quem como ocorrem as relações de trabalho

na sociedade brasileira atual.

1

2

3

4

Articulando

Entreviste alguns professores e verifi que as condições de

trabalho desses profi ssionais na nossa sociedade. Anote

suas conclusões.

ESTADO, POLÍTICA E SOCIEDADE

3UNIDADE

OBJETIVOS DESTA UNIDADE:

Refletir sobre a importância do Estado na vida individual e social;

Comparar as teorias do Estado de origem liberal e as de inspiração marxista;

Analisar o Estado capitalista à luz das teorias críticas;

Compreender os princípios que fundamentam o Estado neoliberal;

Analisar a influência da organização do Estado na sociedade brasileira.

ROTEIRO DE ESTUDOS

• Estado: sociedade política e sociedade civil

• As teorias do Estado

• O Século XX e as mudanças na concepção e nas funções do

Estado

cleide aparecida Faria rodriGues

108

PARA INÍCIO DE CONVERSA

Olá, estudante

Você já parou para pensar como é grande a influência do Estado

em nossas vidas?

Não? Então, comece agora.

Saiba que praticamente toda a vida dos cidadãos gira hoje em

torno de estruturas criadas pelo Estado. Essas estruturas vão

desde a expedição de documentos pessoais como registro de

nascimento, carteira de identidade, carteira profissional, título

de eleitor, passando por arrecadação de impostos, penalidades

e sanções diversas, empresas estatais, serviços públicos, ensino

público, assistência médica e social, aposentadorias e pensões,

até o registro de óbito, por ocasião da morte.

O Estado está sempre vigilante, controlando a vida das pessoas e

dos grupos, planejando, legislando, fiscalizando, punindo, traçando

políticas diversas, assistindo, educando e, mais ainda, interferindo

nos rumos da economia, não somente como órgão de fiscalização e

controle, mas também como produtor e direcionador do mercado.

Quando fazemos esse tipo de reflexão percebemos que boa parte

daquilo que fazemos, temos e somos se relaciona às ações do

Estado.

A interferência do Estado pode ser positiva, mas também pode

ocasionar problemas para a vida dos cidadãos e para o bem-estar

dos grupos e da sociedade. É positiva quando assegura ao ser

humano condições dignas de vida individual e social, oportunizando

trabalho, saúde, segurança, proteção, habitação, estabilidade

política, respeito à individualidade e à liberdade.

A omissão ou o mau uso da máquina estatal pode ocasionar

problemas como desemprego, miséria, violência, impostos

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 109

abusivos, baixos salários, restrições às liberdades de expressão,

crença, associação e outros.

Comumente as pessoas pouco se preocupam em saber como e por

que o Estado traça suas políticas e define suas prioridades – quase

sempre essas discussões se acaloram em períodos eleitorais e

arrefecem logo depois.

Entretanto, o Estado não para e, mesmo sem que o percebamos,

ele está agindo e intervindo nos rumos da vida do país e de cada

uma de seus habitantes.

Tais constatações fazem com que compreendamos a importância

da política na existência de cada um de nós e a necessidade de

sermos cidadãos conscientes e atuantes na vida da comunidade,

do país e do mundo em que vivemos.

Mas, afinal, o que é o Estado? Como se constitui e age esse ser

aparentemente abstrato? Como se dá a participação do cidadão

comum no interior do Estado?

Para respondermos essas e outras questões, ultrapassando o senso

comum, precisamos buscar o auxílio de teorias capazes de embasar

e orientar as nossas reflexões. É o que faremos a seguir.

Bons estudos!

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 111

ESTADO: sociedade política e sociedade civil

ESTADO: significado e amplitude do termo

O Estado é a maior organização política que a humanidade já

conheceu, só superada hoje pela comunidade internacional. O seu

poder de dominação se exerce sobre um território e um conjunto

demográfico.

Estão, portanto, presentes no Estado três elementos essenciais:

poder político, povo e território (GRUPPI, 1986).

O Estado legisla, aplica as leis e pune quem as desrespeita – tem

poder de subordinar a sociedade que nele vive; pode impor, coagir

(usar a força física – polícia, exército, tribunais) ou convencer (usar

o seu poder para incutir normas, ideias, valores). Na atualidade, o

Estado exerce o seu poder de convencimento por meio de múltiplas

instituições, destacando-se os meios de comunicação de massa.

112

O termo Estado refere-se apenas à organização política da sociedade?

O termo Estado é tomado, comumente, em sua concepção restrita,

ou seja, como sinônimo de sociedade política e se refere à nação

política e juridicamente organizada.

O marxista italiano Antonio Gramsci elaborou uma concepção

ampliada de Estado, de grande aceitação nas ciências sociais,

conceituando-o como o conjunto formado por sociedade política

mais sociedade civil, que abrange tanto a direção intelectual

e moral exercida por um grupo ou classe sobre o conjunto da

sociedade (hegemonia), como o poder decorrente do exercício

legal e institucionalizado da força no seio da sociedade (coerção).

A concepção de Estado formulada por Gramsci se destaca porque

equaciona o papel desempenhado pelo povo na organização do

Estado, enfatizando a importância das organizações da sociedade

civil, tais como sindicatos, empresas, igrejas, partidos políticos,

clubes, movimentos populares, associações culturais e outros. Tais

organizações, segundo esse autor, têm um importante papel na

educação da população e podem infl uenciar os rumos do Estado.

Antonio Gransci nasceu em 23/1/1891 em Ales, Sardenha. Morreu em

Roma, em 27/4/1937. Suas noções de pedagogia crítica e instrução

popular foram teorizadas e praticadas décadas mais tarde por

educadores brasileiros. Gramsci desacreditava de uma conquista do

poder que não fosse precedida por mudanças de mentalidade. Para

ele, os agentes principais dessas mudanças seriam os intelectuais e

um dos seus instrumentos mais importantes seria a escola.

O Estado contemporâneo

Desde o Estado absolutista, primeiro modelo de Estado, até a

contemporaneidade, ocorreram mudanças econômicas, políticas e

sociais, que implicaram em alterações no poder e no tamanho do

Estado. A compreensão do papel do Estado em nossos dias depende

da análise dessas transformações.

Você sabia que... Gramsci é uma das referências do pensamento de esquerda no século XX e que as suas ideias marcaram signifi cativamente o pensamento pedagógico brasileiro principalmente nas décadas de 1970 e 80?

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 113

O homem contemporâneo viu agigantar-se o aparato do Estado nos

diversos países do mundo, que passou a interferir cada vez mais na

esfera privada, nos diversos países do mundo.

Com isso, ampliaram-se as preocupações de cientistas políticos e

sociais em torno do Estado, alimentadas primeiramente pelo seu

exagerado crescimento nas esferas social, política e econômica

e, mais recentemente, pela crise do gigantismo estatal, tanto

nas sociedades capitalistas como no extinto mundo socialista,

passando pela contestação do desempenho do setor governamental

e desembocando nas teorias do Estado mínimo.

Regimes totalitários, economias totalmente planifi cadas, guerras,

torturas e execuções em massa são alguns exemplos do crescimento

exagerado e nocivo do Estado durante o século XX.

Contudo, na segunda metade daquele século, começa a ocorrer

o movimento inverso: transnacionalização da economia,

desarmamento das grandes potências, redução da burocracia

estatal, privatização de serviços públicos, descrédito e decréscimo

da representatividade dos governos (COSTA, 1997).

Assistiu-se, no fi nal do século passado, a um verdadeiro desmonte

do Estado, impulsionado por acontecimentos, como a queda do

socialismo real, a crise da social-democracia, a globalização

econômica e a difusão do ideário neoliberal, que vem se tornando

hegemônico nos dias atuais.

Todos esses fatos infl uenciaram os rumos das políticas econômicas

e sociais nos diversos países do mundo. O Estado nacional enfrentou

grandes mudanças e passou pela revisão de suas funções. A

inefi ciência e o gigantismo estatal passaram a ser apontados como

fontes de inúmeros problemas, e as propostas privatizantes e

descentralizadoras se apresentaram, no cenário político e social,

como as únicas soluções possíveis.

Todavia, não se trata apenas de discutir o tamanho do Estado,

mas de estabelecer o seu verdadeiro papel nas sociedades

contemporâneas ou, ainda, de determinar até onde e quando a

sua intervenção se faz necessária e benéfi ca.

Estado mínimo: modelo de Estado que

interfere minimamente na vida econômica e

social. Preconiza a não intervenção em prol da liberdade individual e

da competição entre os agentes econômicos. a

única forma de regulação econômica admitida é

feita pelas forças do mercado, consideradas as

mais racionais e efi cientes possíveis.

114

Diante do cenário descrito, como se apresenta hoje o Estado no Brasil?

Panorama Nacional

O papel do Estado no Brasil tende a ser visto com reservas. O país

possui uma arraigada tradição de autoritarismo e centralização das

decisões nas mãos do setor governamental, e as ações do Estado

têm, muitas vezes, efeitos desmobilizadores sobre as organizações

populares.

A situação é agravada por certos segmentos da sociedade civil que

carecem de organização, coesão e poder de luta, o que faz com

que, quase sempre, o povo espere passivamente soluções vindas

de cima e conduza ao poder líderes populistas que procuram

manipular as massas.

Além disso, o serviço público em nosso país apresenta uma

imagem bastante negativa, marcada por morosidade, clientelismo

e inoperância.

Tais fatos têm contribuído para o descrédito da população

em relação aos políticos e às políticas públicas, e favorecido a

aceitação de teorias que defendem a redução do tamanho do

Estado, sem que se avaliem, com cuidado, as possíveis perdas que

podem advir.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 115

Você acha que o Estado brasileiro é intervencionista e controlador? Por quê?

Comparado a outros países, o Estado brasileiro, ao menos à

primeira vista, não parece particularmente grande. Contudo,

considerando-se o contexto concreto de sua história, verifi ca-se o

seu papel intervencionista e controlador: é um Estado que gasta

mais do que arrecada, que se sobrepõe aos movimentos de base,

que desenvolve estratégias de apadrinhamento e protecionismo,

que invade desnecessariamente espaços produtivos e, sobretudo,

que é extremamente inefi ciente (DEMO, 1996).

No decorrer da história, observa-se que o Estado brasileiro, em

diversas ocasiões, teve presença marcante nos rumos da economia

do país. Essa presença não resultou de um planejamento cuidadoso,

mas de circunstâncias diversas que forçaram o governo a intervir

crescentemente no sistema econômico.

Tais circunstâncias não se referem apenas à conjuntura interna

do país; dizem respeito, também, às crises internacionais e ao

avanço do capital estrangeiro. A associação do Estado brasileiro a

blocos de interesses diversos, ocorrida em diferentes momentos

da história do país, tem comprometido a coerência das políticas

e das decisões governamentais e prejudicado a capacidade de o

país planejar e decidir sobre questões de longo prazo (ABRANCHES

apud IANNI, 1989).

A maior parte das políticas sociais adotadas pelo Brasil têm sido

contraditórias e inefi cazes, marcadas pela exclusão dos menos

favorecidos e defi nidas ao sabor das circunstâncias e dos interesses

dos políticos para, supostamente, atender áreas carentes como

habitação, saúde e educação, que acabam sendo relegadas a

um plano secundário, pois não representam ameaça concreta à

estabilidade do sistema.

Lamentavelmente, a sociedade brasileira é profundamente

desigual: convive-se com extremos de atraso e progresso, grandes

fortunas e imensa miséria. Os recursos públicos, além de escassos,

são, muitas vezes, desperdiçados.

Para Demo (1996), o Estado, no Brasil, é uma mistura do que existe de pior no capitalismo liberal e no socialismo real.

a tradição de extremas e crescentes desigualdades

econômicas, que se expressam nos índices de desemprego, subemprego, subnutrição e analfabetismo, na presença

constante de menores carentes e abandonados, no

favelamento das cidades, na miséria social do campo,

na violência urbana e na marginalidade, representa

a nossa faceta capitalista. O Estado autoritário, inefi ciente,

parasitário e corporativista, hábil em esquemas de

desmobilização da sociedade civil e profundamente

burocratizado, é a faceta que nos aproxima do socialismo

real.

Você concorda com a afi rmativa desse autor?

116

Avanços recentes na área das políticas sociais, a redução das desigualdades e a maior estabilidade econômica conquistada nos últimos anos pelo Brasil têm contribuído para minimizar esse quadro, melhorar o padrão de vida dos segmentos mais humildes da população; contudo ainda há muito a fazer, pois isso não signifi ca que tais problemas tenham sido defi nitivamente solucionados. Além disso, a recente crise mundial ocasionada pela situação caótica da economia americana põe em risco as conquistas já efetuadas por diversos países do mundo.

Face à complexidade da realidade brasileira, o repensar criticamente a função do Estado e das políticas públicas se faz condição necessária e indispensável para que se possa avançar rumo à democratização da sociedade.

Tradicionalmente, na sociedade brasileira, as políticas públicas são apresentadas à sociedade como práticas neutras, desvinculadas dos interesses políticos de grupos ou classes. Essa concepção procurou consolidar a imagem do Estado como organismo que se coloca acima dos confl itos sociais, para melhor normatizá-los.

O que são práticas neutras? É possível afirmar que existem práticas neutras na política?

São consideradas práticas neutras aquelas que não têm conotação política, que não exigem um posicionamento do sujeito social.

Não existem práticas neutras na política e tampouco em outros setores da vida social. Todas as ações de natureza política exigem tomadas de posições, ou seja, saída da neutralidade. Por isso, uma análise crítica das funções do Estado supõe a superação das interpretações ingênuas que lhe atribuem o papel de agente neutro, responsável pelo bem comum, desvinculando-o do jogo de poder que se faz presente em todas as sociedades. Exige também que se explicitem os propósitos do Estado nas sociedades contemporâneas, procurando desvendar suas reais intenções, num determinado momento histórico e numa conjuntura social específi ca.

O aprofundamento dessas questões conduz ao estudo de aspectos relacionados à teoria política e à concepção de Estado, bem como

à análise das relações entre Estado, política e poder.

Segundo pesquisa recente divulgada pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, a classe média já representa 52% da população das regiões metropolitanas do país. Esse dado se junta à outra constatação, feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica aplicada (IPEa), de que atualmente 3 milhões de pessoas deixaram a faixa de pobreza, passando a ganhar mais de 207,50 reais per capita, por mês. Se essa tendência for mantida, o futuro do nosso país terá alicerces mais sólidos. (O Reino do Meio. (Revista Veja, 13 de agosto, 2008, p. 68).

Você acredita que essa tendência se manterá?

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 117

AS TEORIAS DO ESTADO

No decorrer do tempo, vários estudiosos se dedicaram a explicar a

natureza do Estado e as funções que lhe competem. Assim foram

elaboradas várias teorias sobre o Estado.

Analisando as teorias do Estado, CARNOY (1990) identifica duas

concepções antagônicas, que vêm sendo elaboradas ao longo dos

últimos séculos. A primeira, embasada no pensamento liberal,

supõe um Estado neutro, não condicionado pelo poder econômico,

autônomo em relação à sociedade civil e que expressa a vontade

geral. É o Estado promotor do bem comum, pairando acima dos

conflitos de classe e da realidade socio-histórica.

A outra é a tendência de inspiração marxista que procede à análise

do Estado capitalista numa sociedade marcada por desigualdades

e conflitos que lhe são inerentes, dada a natureza de classes

dessa mesma sociedade. Esta última concepção remete a autores

como Marx, Gramsci e Poulantzas, que oferecem uma visão

crítica do Estado capitalista, a partir da qual se torna possível

a compreensão de suas contradições e a busca de alternativas

capazes de superá-las.

118

A Concepção Liberal

O Estado Moderno, dotado de um poder próprio, independente de

quaisquer outros poderes, começou a nascer na segunda metade

do século XV na França, Inglaterra e Espanha, estendendo-se

posteriormente a outros países europeus.

Você se recorda do período histórico denominado Idade Moderna? Quais as transformações que ocorreram nesse período?

O período histórico conhecido como Idade Moderna, que vai do século

XV ao século XVIII, é marcado por grandes transformações sociais,

políticas e econômicas, que ocasionaram o desmoronamento do

mundo feudal e o surgimento do Estado moderno.

A primeira forma de Estado moderno foi o absolutismo, resultante

do apoio que a nova classe social em ascensão - a burguesia -

dispensou aos monarcas, como forma de enfraquecer o poder da

aristocracia feudal - camada que se opunha aos seus interesses.

O Estado absolutista centralizou todas as decisões políticas e

estendeu seus domínios por vastos territórios antes controlados

pelos senhores feudais. Assim, a realeza passou a se responsabilizar

diretamente pela administração econômica, pela justiça e pelo

poder militar.

O Estado absolutista, após atingir seu apogeu, passou a enfrentar

inúmeros movimentos oposicionistas, decorrentes da sua expansão

e da forte interferência que exercia na vida econômica das nações,

o que acabou por contrariar os interesses da burguesia.

Consequentemente, a burguesia passou a opor-se ao poder real

e ao Estado absolutista, elaborando e difundindo um sistema

de ideias que favorecesse suas atividades econômicas e que

consolidasse o seu poder político – o liberalismo. Desse modo, o

Estado absolutista, através do mercantilismo e do colonialismo,

proporcionou a acumulação primitiva do capital, necessária para

que a burguesia efetivasse a lenta transição do feudalismo ao

capitalismo.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 119

O Estado Liberal

O termo liberal imediatamente nos faz lembrar liberdade –

portanto, pode-se afirmar que o Estado liberal é aquele que preza

a liberdade acima de tudo: liberdade individual, de iniciativa, de

pensamento, de expressão de credo, de culto, de associação e

outras.

Para os liberais, o Estado tem por finalidade organizar o poder

político e propiciar as condições para o livre desenvolvimento das

atividades dos cidadãos, individualmente ou organizados conforme

interesses comuns.

A visão liberal clássica separa o Estado da sociedade civil,

considerando-o esfera exclusiva da política, enquanto que a

sociedade civil seria o espaço das atividades econômicas e sociais.

Assim sendo, essa sociedade não pode intervir nos mecanismos

administrativos do Estado e, em contrapartida, o Estado não

interfere nas atividades socioeconômicas, restritas à esfera

privada (KRUPPA, 1993).

Esse modelo de Estado afirmou-se a partir da Revolução Francesa

(1789), quando a burguesia, após tomar o poder político dos

monarcas, descentralizou o Estado em três poderes: executivo,

legislativo e judiciário.

Nesse Estado, a maior autoridade centrava-se no poder legislativo,

surgindo assim o Estado de Direito, no qual o poder dos governantes

é limitado pelo conjunto de leis que estabelecem os direitos e

deveres dos cidadãos (FERREIRA, 1993).

A sociedade burguesa implantou-se sob a bandeira do livre

mercado e promoveu uma separação mais nítida entre o público

e o privado. O Estado liberal - novo modelo surgido a partir

dessas transformações - apresentou-se, simultaneamente, como

representante do primeiro e guardião do segundo.

O pensamento liberal concebe o homem como um ser naturalmente

livre e defende a propriedade da terra para todos os cidadãos.

120

Nessa linha de pensamento destaca-se John Locke (1632-1704),

para quem o homem é proprietário de si mesmo e se apropria das

demais coisas pelo seu trabalho, que é o uso de seu próprio corpo,

excluindo, dessa forma, os privilégios de nascimento e defendendo

a igualdade entre todos os homens.

Segundo o liberalismo, que carrega em seu bojo um forte componente

de individualismo, o Estado deve organizar os indivíduos livres,

institucionalizando os direitos e deveres civis a serem cumpridos.

Adam Smith (1723-1790), o principal expoente do liberalismo

econômico, considera que uma das principais funções do Estado

é garantir ao cidadão o exercício de seus direitos naturais,

assegurando-lhe a liberdade para realizar o seu bem-estar pessoal

e social a partir da utilização do mercado, onde impera o livre jogo

da oferta e da procura (COTRIN, 1997).

Economista e fi lósofo escocês, teve como cenário para a sua vida

o atribulado século das Luzes, o século XVIII. É o pai da economia

moderna, e é considerado o mais importante teórico do liberalismo

econômico. É autor de “Uma investigação sobre a natureza e a

causa da riqueza das nações”, a sua obra mais conhecida, e que

continua sendo referência para gerações de economistas. Nessa

obra procurou demonstrar que a riqueza das nações resultava

da atuação de indivíduos que, movidos apenas pelo seu próprio

interesse (self-interest), promoviam o crescimento econômico e a

inovação tecnológica.

Você já ouviu a expressão “a mão invisível do mercado”? Sabe o que isso significa?

Essa expressão diz respeito à convicção de um grupo de economistas

que acredita que o Estado não necessita regular a economia, pois

ela se equilibra por si mesma, em decorrência da lei da “oferta

e da procura”. Consequentemente, acredita-se que o Estado não

deve interferir no controle de preços, na oferta de mercadorias

e em outros setores importantes para o bem estar da população.

O Estado liberal adotou a teoria da mão invisível, surgida a partir

da obra de Adam Smith intitulada A riqueza das nações, que

Valores do liberalismo:

O liberalismo foi a expressão do pensamento da burguesia europeia em ascensão e o instrumento por ela utilizado para edifi car o nascente sistema capitalista. Os valores básicos da doutrina liberal - a igualdade jurídica, a propriedade privada, a intolerância religiosa e fi losófi ca, e a liberdade pessoal e social - serviram de bandeira na luta travada por essa classe para tornar-se dominante do ponto de vista político e hegemônica nos planos econômico e cultural.

Adam Smith (1723-1790)Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 121

partiu dos princípios do trabalho como principal fonte de riqueza

e da autorregulação do mercado. Dessa forma, seria dispensável

qualquer interferência do poder público; haveria uma lógica

interna, um ordenamento natural por trás da aparente desordem

da sociedade capitalista, que tornaria desnecessária a intervenção

do Estado na economia (FERREIRA, 1993). O lema desse modelo

era “laissez-faire, laissez-passer, le monde vá de lui même”(deixe

fazer, deixe passar, o mundo caminha por si mesmo).

Esse Estado, por conseguinte, pouco interfere na economia,

tampouco se preocupa em traçar políticas sociais capazes de reduzir

as desigualdades e de favorecer as camadas mais necessitadas da

população. Para o liberalismo são as leis do mercado que regulam a

distribuição das riquezas, sendo o esforço e o talento individuais os

atributos que determinarão o sucesso ou o fracasso dos indivíduos

na sociedade.

Baseado nesses princípios, o Estado liberal conquistou o seu

espaço, implantou a economia da livre concorrência, derrubou as

monarquias e se impôs como um modelo que perdura até hoje,

embora passando por diversas reformulações.

Entretanto, a tão propalada autorregulação do mercado,

preconizada pelos liberais, não ocorreu conforme as expectativas.

O capitalismo tornou-se um sistema econômico selvagem, no qual

passou a imperar a lei do mais forte e em que foram continuamente

desrespeitados os direitos inalienáveis do homem defendidos pela

Revolução burguesa (direitos à igualdade, à liberdade, à vida e à

propriedade).

De que forma os princípios do liberalismo se implantaram na sociedade concreta?

Os princípios de igualdade jurídica e liberdade individual,

corolários do liberalismo, aparentemente presentes na relação

de produção capitalista, sempre ocultaram a existência de uma

profunda desigualdade social, decorrente da extração da mais-

valia do trabalho assalariado. De fato, a igualdade jurídica não

significou igualdade social. A liberdade concreta e o direito à

122

propriedade se restringiram aos detentores de bens materiais e a

defesa da abolição dos escravos, assim como a tolerância religiosa

e fi losófi ca, deram-se principalmente em função de interesses

comerciais.

A doutrina liberal trouxe avanços na organização do Estado?

Apesar das críticas feitas ao sistema liberal, é preciso reconhecer que

o liberalismo aplicado à organização do Estado e à esfera da produção

econômica (trabalho livre) assegurou aos trabalhadores, principalmente

aos europeus, a conquista de importantes direitos, destacando-se a

cidadania política, isto é, o direito de participar da vida política e de

procurar interferir nos assuntos e na orientação do Estado.

Ao contrário do que ocorreu na Europa, no Brasil a expansão do

capitalismo não representou a conquista da cidadania para o povo

em geral. A modernização econômica não conseguiu incorporar

o que há de moderno na política, ou seja, a participação, sem

restrições, das massas populares na vida política e sua possível

infl uência nos rumos do Estado.

A concepção marxista

Você já estudou Karl Marx na 1ª unidade, agora conhecerá mais

algumas ideias dos teóricos marxistas a respeito do Estado. Como

você já deve ter percebido, atualmente é difícil analisar a sociedade

humana sem se referir, em maior ou menor grau, à produção de

Karl Marx, apesar da polêmica causada por suas ideias.

Os pensadores marxistas rejeitam a ideia de que o Estado se

orienta idealmente para o bem comum, o interesse geral ou a

justiça igual para todos.

Ao contrário, acreditam que ele é, sempre, o defensor dos

interesses de certos grupos ou classes.

Segundo Gruppi (1986), é com a concepção marxista que surge

uma visão crítica do Estado e, consequentemente, da democracia

burguesa e do liberalismo. Foi analisando a sociedade capitalista

Para os defensores do liberalismo, o sucesso ou o fracasso de cada ser humano, na vida e na escola, é simplesmente uma questão de talento e de esforço individual, ou seja, autores desconsideram os condicionantes sociopolíticos, culturais e econômicos da educação

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 123

da época em que viveram, que Marx (1818-1883) e Engels (1820-

1895) conseguiram romper com as bases do pensamento liberal

que concebia o Estado como um ente em si mesmo, abstrato e

geral, situado acima dos conflitos da sociedade concreta.

O Estado capitalista, de acordo com esses pensadores, tem sua origem

e fundamento nas desigualdades que são produzidas nas relações de

trabalho e são responsáveis pela divisão da sociedade em classes.

Para Marx, a estrutura social e o Estado nascem do processo

vital dos indivíduos, isto é, da sua existência real, do modo como

trabalham e produzem materialmente (MARX; ENGELS, 1989).

Segundo o marxismo, tanto a consciência do capitalista como a

consciência do trabalhador são formadas através das relações de

produção, que condicionam o desenvolvimento social e os modos

de vida dos homens e da sociedade.

Quais são os fundamentos da teoria marxista do Estado?

Os fundamentos da teoria do Estado de Marx e Engels são resumidos

por Carnoy (1984, p. 20-23) da seguinte forma:

a) As condições materiais de uma sociedade eram consideradas

como a base de sua estrutura social e da consciência humana;

assim sendo, a forma do Estado emerge das relações de

produção e não do desenvolvimento da mente humana ou do

conjunto das vontades dos homens. A base real da sociedade

é a estrutura econômica, sobre a qual se levanta uma

superestrutura jurídica e política.

b) Para esses autores o Estado não representa o bem comum,

mas é a expressão política da classe dominante; o Estado

capitalista atua como mediador do conflito de classes, procura

manter a ordem e assegurar o domínio da burguesia.

c) Marx e Engels enfatizaram o papel repressivo do Estado

enquanto aparelho da burguesia para legitimar seu poder, para

reprimir e forçar a reprodução da estrutura e das relações de

classe. O Estado nas sociedades capitalistas é controlado pela

burguesia e sua função primeira é a coerção.

124

Você acredita que existe igualdade real na sociedade em que vive? Que tipo de igualdade se estende a todos os brasileiros? Existem desigualdades? Quais?

Segundo o marxismo, a igualdade e a liberdade da sociedade

burguesa destinam-se apenas à parcela dominante da sociedade,

e a igualdade jurídica (bandeira da Revolução Burguesa) não passa

de um engodo, sem a igualdade econômico-social.

Mas, será que a igualdade total é possível?

Marx e Engels elaboraram um conceito de Estado como um Estado de

classes em que as relações sociais são antagônicas, contraditórias

e desiguais: sob a aparência de órgão promotor do bem comum,

em nome de um suposto interesse geral e universal exercido sobre

um território delimitado, o Estado defende a propriedade e os

interesses de uma classe particular.

Consequentemente, conforme esses autores, o Estado determina

que a política seja uma esfera restrita à classe dominante e que a

sociedade civil seja despolitizada, uma vez que o poder político é

organizado em benefício de uma classe e em detrimento de outra.

Para o marxismo, o Estado não passa de um comitê da burguesia,

encarregado de gerir os seus negócios, não abrindo nenhuma

concessão à classe operária. Daí a convicção marxista de que

o caminho para a democratização da sociedade é a revolução

permanente, até que o proletariado derrube a burguesia, conquiste

o poder do Estado e crie uma sociedade sem classes.

a) Gramsci: a concepção ampliada de Estado

Você já conhece a concepção de Estado elaborada por Gramsci,

agora analisará com maiores detalhes as ideias desse pensador

italiano que reinterpretou a doutrina marxista, valorizando

aspectos da vida social que não haviam sido realçados pelo

marxismo clássico.

O pensamento marxista sobre o Estado tem um de seus maiores

expoentes em Antônio Gramsci (1891-1937). Esse autor apresenta

uma concepção ampliada do Estado, reinterpretando e expandindo

a derrocada do comunismo!

No fi nal do século passado, com a queda do muro de Berlim e o fi m da união Soviética, o Marxismo perdeu boa parte de sua relevância política no plano mundial. Mas, é bom lembrar que o que fracassou foi o socialismo real. a doutrina marxista continua sendo um referencial importante no contexto das ciências sociais.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 125

o pensamento de Marx. Uma das suas principais contribuições

consiste em destacar a função social das ideias e dos intelectuais,

elementos pouco enfatizados pelo marxismo clássico, como fatores

de mudança social.

Gramsci percebeu que a infraestrutura não era suficiente para

explicar os fenômenos históricos, ou seja, que a estrutura

econômica necessita da mediação dos elementos culturais,

valorativos e ideológicos para se afirmar. Assim, ele ultrapassa

a concepção restrita de Estado, historicamente formulada por

Marx, estabelecendo uma relação dialética entre estrutura e

superestrutura (GRAMSCI, 1991).

O Estado não representa, segundo Gramsci, apenas um poder

coercitivo. Ele compreende coerção mais hegemonia, sociedade

política mais sociedade civil.

A concepção de Estado de Gramsci abrange tanto a sociedade política como a sociedade civil. Você é capaz de caracterizá-las?Recordando...

SOCIEDADE POLÍTICA SOCIEDADE CIVIL - coerção - hegemonia - força - educação - ações repressivas - cultura - sanções - valores - tribunais - ideologia - exército - escola - polícia - partidos políticos

A sociedade política ou Estado, num sentido estrito, se refere aos

aparelhos pelos quais a classe dominante assegura o seu domínio

e exerce o monopólio legal, de fato, a violência. Ela representa

o momento da força e da coerção que se manifesta por meio da

polícia, forças armadas, aplicação da lei.

Já a sociedade civil corresponde a uma complexa rede de funções

educativas, culturais e ideológicas responsáveis pela elaboração

e difusão de valores simbólicos. Esta difusão se dá através de

sistema escolar, igrejas, sindicatos, associações, partidos políticos

126

e outros, abrangendo um conjunto de relações que regulam a vida

intelectual, espiritual e política da sociedade.

A hegemonia na sociedade civil, segundo Gramsci, pode representar

a conquista do poder político no terreno do Estado (sociedade

política), ou seja, as ideias, os valores, a cultura, a educação, a

ação dos intelectuais são fatores fundamentais para a manutenção

ou a mudança da classe dirigente de uma sociedade.

O Estado moderno tem, portanto, duas funções: função coercitiva

e função hegemônica. Ele não representa apenas a violência e a

coerção, mas também o convencimento, o consenso, a adesão que

se dão no plano superestrutural.

Além de um aparelho de comando e repressivo, o Estado abrange

também um conjunto complexo de relações, por meio das quais

se efetiva um trabalho de mediação e de compromisso entre

grupos dominantes, grupos aliados e grupos subordinados, capaz

de determinar unidade de objetivos políticos e econômicos e até

mesmo uma certa unidade de consciência. Assim, além de se afi rmar

pela força, o Estado também exerce um papel adaptador-educador.

As sociedades, em sua evolução, passam por estágios mais

coercitivos ou mais consensuais, o que faz com que a luta de classes

se desloque. No primeiro caso, ela se dá predominantemente no

interior dos aparelhos coercitivos do próprio Estado; no segundo,

ela se processa principalmente nos aparelhos privados da

hegemonia (sociedade civil).

Na sua opinião, a sociedade brasileira se encontra atualmente no estágio mais consensual ou no estágio mais coercitivo? Por quê? Busque exemplos que confirmem sua posição.

Lembre-se que as sociedades mais avançadas e pluralistas se

caracterizam pela predominância da luta de classes no interior

dos aparelhos privados da hegemonia, ou seja, na sociedade civil.

A conquista da hegemonia nessas sociedades se faz, portanto,

pelo caminho da democracia, do voto universal ou representativo,

e não mais pelo movimento revolucionário, o que faz com que

analise as notícias recentes dos meios de comunicação (jornais, revistas, TV, Internet), bem como as propagandas veiculadas nesses órgãos. analise também as propostas apresentadas por partidos políticos e governo. a seguir, procure descobrir como se faz, na sociedade brasileira, o processo de construção da hegemonia de um grupo ou classe e verifi que quais os interesses, valores e normas predominantes.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 127

nessas sociedades tenham especial relevo os órgãos formadores da

consciência: escola, partidos políticos, meios de comunicação de

massa, sindicatos.

Como você pode verificar, na sociedade capitalista contemporânea,

a hegemonia da burguesia significa, segundo Gramsci, tanto a

predominância do seu poder econômico na sociedade capitalista,

como a predominância dos valores e normas burgueses sobre as

classes subordinadas.

Assim, a dominação se dá em dois planos: no plano econômico e

no plano ideológico. Isso ocorre, basicamente, por dois fatores:

a interiorização pelas classes subalternas da ideologia dominante

e a ausência de uma visão de mundo coerente e homogênea, por

parte das classes subalternas, que lhes permita a autonomia.

Na perspectiva gramsciana, o desenvolvimento da consciência

da classe trabalhadora é ponto de máxima importância para a

sua elevação ao poder. Segundo esse autor, a possibilidade de

hegemonia das classes dominadas está diretamente ligada à sua

evolução intelectual e cultural. Desse modo, a educação adquire

importância vital no desenvolvimento da consciência de classe e

na emancipação das massas, seja ela ministrada na escola, nos

demais órgãos da sociedade ou no interior do príncipe moderno

(como denominou o partido político), considerado por Gramsci

como o educador por excelência.

Para Gramsci, a educação pode contribuir para a evolução cultural

e intelectual da classe trabalhadora, assim sendo, a escola de boa

qualidade para todos é condição importante para a construção de

uma sociedade verdadeiramente democrática.

b) Nicos Poulantzas: o Estado e o poder

O interesse pelo pensamento de Poulantzas nasce da necessidade

de compreender o Estado contemporâneo, sob o capitalismo

monopolista; um Estado cujo poder se estende a todos os campos

da vida humana e onde as funções econômicas detêm lugar

dominante no seio do próprio Estado, suplantando, inclusive, as

funções repressivas e ideológicas.

128

Esse autor dá um destaque especial às relações de produção, à

luta de classes e à estrutura de poder no interior do Estado e na

compreensão de uma formação social.

Para Poulantzas (1990), nos dias de hoje, ninguém escapa do

Estado e é cada dia mais evidente que a sua influência se estende

a todos os campos da vida cotidiana. O Estado, no seu atual papel

de acumulação e reprodução do capital, não se limita às suas

funções negativas: proibir, excluir, impedir de fazer, ou, então,

enganar, mentir, ocultar. Ao contrário, ele também age de maneira

positiva: cria, organiza, realiza, transforma.

Durante todo o século XX, o Estado marcou presença maciça em

todas as esferas do social e particularmente na área econômica,

intervindo diretamente na reprodução-organização do capital

social global e se transformando inclusive em produtor econômico.

Poulantzas considera que “o Estado é o centro do exercício do

poder e a luta de classes se dá no coração do próprio Estado,

pois as diversas camadas sociais estão ali representadas”

(1990, p. 147).

Segundo Poulantzas, o funcionamento concreto do Estado e o

estabelecimento de suas políticas não dependem exclusivamente

da classe dominante; dependem também do papel do Estado frente

às classes dominadas. O Estado não é integralmente produzido

pelas classes dominantes e também não é por elas monopolizado,

uma vez que a manutenção da hegemonia exige o estabelecimento

de compromissos provisórios entre o bloco no poder e determinadas

classes.

O Estado, para garantir a hegemonia do bloco no poder, precisa

assegurar os interesses do capital e obter a adesão das massas.

Assim sendo, impõe aos seus aparelhos, quando necessário, certos

compromissos materiais que se fazem indispensáveis à manutenção

da hegemonia. Portanto, o Estado não pode furtar-se de, em certos

casos, tomar medidas de eficácia positiva em relação às massas

populares (escolaridade, emprego, habitação, saúde).

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 129

Ex: De acordo com essa teoria, os trabalhadores lutam para

defender os seus interesses e se utilizam de greves e de outros

meios de pressão para que suas reivindicações sejam atendidas.

Entretanto, isso só ocorrerá quando elas servirem para conseguir a adesão das massas aos interesses do Estado (cooptação).

Dessa forma, o Estado se torna palco do confl ito de classes no qual, às vezes, é possível detectar alianças eventuais entre setores hegemônicos e pequena burguesia; ou, ainda, adesões da burocracia estatal às reivindicações das camadas populares.

Todavia, a máquina do Estado só incorpora as classes subalternas para tornar-se mais permeável aos interesses majoritários da sociedade, nunca para determinar a sua transformação radical (BARRETTO, 1994). Os aparelhos do Estado procuram organizar e unifi car o bloco no poder, ao mesmo tempo em que desorganizam e dividem continuamente as classes dominadas (POULANTZAS, 1990).

O Estado, para garantir a hegemonia do bloco no poder, precisa assegurar os interesses do capital e obter a adesão das massas. Assim sendo, impõe aos seus aparelhos, quando necessário, certos compromissos materiais que se fazem indispensáveis à manutenção da hegemonia. Portanto, o Estado não pode furtar-se de, em certos casos, tomar medidas de efi cácia positiva em relação às massas

populares (escolaridade, emprego, habitação, saúde).

A hegemonia do bloco no poder se impõe não apenas pela violência,

nem tampouco exclusivamente pela ideologia. Ela se consolida pela

materialidade das relações entre o Estado e as massas populares. O

fato de estar a ideologia sempre presente não elimina as ações do

Estado, no sentido de produzir um substrato material que assegure o

consenso das massas em relação ao poder. Isso, segundo Poulantzas,

não exclui a dominação: bem ao contrário, favorece o aumento da

exploração das massas, por meio da mais-valia relativa.

O que significa ideologia para você? Pesquise outros significados para a palavra ideologia.

Segundo Poulantzas, o Estado capitalista tem disseminado o conceito

de democracia, na esfera política, como condição sufi ciente para a

O que é ideologia?

Ideologia: no pensamento Marxista, a ideologia é a imposição camufl ada dos valores e ideias de uma

classe social sobre as demais - no capitalismo, a burguesia

elabora um conjunto de proposições com a fi nalidade

de fazer com que os interesses da classe dominante sejam

assumidos como a visão correta de mundo pela

classe proletária. Desse modo, fi ca mais fácil para a classe dominante manter o

controle da sociedade como um todo. Nessa concepção, a

ideologia, enquanto atividade pensante, serve para mascarar

a realidade e favorece a dominação.

130

sociedade democrática de massa (ideologia capitalista) e deslocado

a luta de classes da esfera econômica para a esfera do voto.

Na arena política todos (ricos e pobres, homens e mulheres,

brancos e negros, jovens e velhos) têm o mesmo poder (pelo voto)

de modifi car ou manter a situação social. Esse fato contribui para

minimizar a gravidade da desigualdade econômica na sociedade

capitalista, em favor da igualdade da vida política, e torna difuso o

confl ito na esfera econômica. Essa meia verdade desvia a atenção

das massas da marginalidade econômica e social que o Estado

burguês continua produzindo (CARNOY, 1984).

c) Claus Offe: o Estado mediador das crises do capitalismo

Offe analisa o Estado capitalista a partir de seu eixo político-

econômico: distribuição de recursos, recrutamento de pessoal,

empregos e salários, procurando esclarecer o modo pelo qual o

Estado contemporâneo se transformou no principal regulador do

mercado de trabalho e no principal agente na implementação de

políticas sociais.Destaca também as ações dos burocratas, que são

os agentes político-administrativos do Estado e que, muitas vezes,

são os principais responsáveis pelos rumos das políticas públicas.

Para Offe (1984), o Estado compõe-se de aparelhos institucionais,

organizações burocráticas, normas e códigos e atua como agente

e regulador das esferas pública e privada.

O autor afi rma que o Estado capitalista se desenvolve em meio a

crises periódicas que decorrem das contradições existentes entre

seus papéis de acumulação e legitimação.

Tal Estado precisa promover a acumulação ampliada do capital e,

ao mesmo tempo, aparentar que é receptivo a todas as classes

sociais, e o faz tomando medidas positivas em relação às massas

para legitimar o seu poder.

Conforme Offe, o Estado capitalista moderno se encarrega de

qualifi car a força de trabalho para o mercado, bem como de

manter, controlar, subsidiar e represar as parcelas dessa força que,

no momento, não tem aproveitamento no processo produtivo.

O que é burocracia?

Burocracia é um conceito administrativo amplamente usado, que se caracteriza principalmente por um sistema hierárquico, com alta divisão de responsabilidades e funções, no qual seus membros executam invariavelmente regras e procedimentos padrões, como engrenagens de uma máquina. É também usado com sentido pejorativo, signifi cando uma administração com muitas divisões, regras e procedimentos redundantes, desnecessários ao funcionamento do sistema. (Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Burocracia. acesso em: 20 set. 2008).

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 131

Entretanto, o próprio Estado mantém a força represada em estado

de prontidão, sempre disponível, em função das necessidades do

mercado. Dessa forma, o Estado se torna o grande regulador do

mercado, bem como o responsável pela preservação do sistema

capitalista como um todo. Assim, o beneficiário das ações e políticas

sociais seria o próprio sistema capitalista (FREITAG, 1987).

Ex: De acordo com essa teoria, a exigência, cada vez maior, de

prolongamento dos estudos (cursos superiores, pós-graduação

e outros) para ingresso posterior no mercado de trabalho seria

uma forma de manter represada a força de trabalho, mantendo-a

afastada por mais tempo do processo produtivo.

Os burocratas do Estado, segundo Offe, são os agentes responsáveis

pela mediação da luta de classes. Nessa mediação eles agem em

defesa dos interesses do capital, que precisam ser atendidos para

assegurar a manutenção do sistema e de seus próprios interesses

pessoais.

Assim, apesar de se apresentarem como elementos neutros, os

burocratas se colocam a serviço do grupo dominante: buscam

a sustentação do sistema, filtram as demandas da sociedade

e atendem preferencialmente as áreas que não ameaçam a

estabilidade do sistema econômico.

Por essa razão, áreas em crise, mas que não ameaçam a

estabilidade do sistema capitalista, são relegadas à periferia do

setor governamental e são minimamente atendidas, somente para

evitar focos de tensão.

Enquadram-se nessa categoria áreas como educação, saúde,

habitação, cujo atendimento se faz apenas no sentido de manter

a população parcialmente satisfeita, atenuando assim os possíveis

conflitos, mas nunca empreendendo ações capazes de solucionar,

definitivamente, os problemas existentes.

Desse modo, a intervenção política gera disparidades entre o nível

possível de progresso e o nível institucionalizado – privilegia áreas

imprescindíveis ao funcionamento do sistema econômico e gera

atraso nas áreas que não o ameaçam (BARRETO, 1994).

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 133

O SÉCULO XX E AS MUDANÇAS NA CONCEPÇÃO E NAS FUNÇÕES DO ESTADO

O século XX inicia-se com o capitalismo em posição hegemônica o

contexto mundial, apesar das crises que vinha enfrentando desde

as últimas décadas do século XIX. Essas crises eram decorrentes

de fatores como: a livre competição sem normas ou freios, as

modifi cações nas relações de trabalho em decorrência da revolução

industrial, o desmantelamento da sociedade rural e o crescimento

da população nas cidades.

No início do século XX, na Europa, a livre concorrência dá lugar ao

capitalismo de monopólios, o que contribui para acentuar, ainda

mais, as desigualdades sociais e a concentração de renda, típicas

desse modelo econômico.

Fatores como a ascensão de regimes totalitários (Comunismo, Nazismo

e Fascismo), a quebra da bolsa de Nova York (1929), seguida de

falências, retração do mercado e desemprego em massa, e a violenta

depressão econômica instaurada na década de 30 demonstraram a

fragilidade do sistema capitalista e a necessidade de promover sua

a teoria de Offe contribui para explicar, ao menos em parte, por que a educação, historicamente, não recebe

a merecida atenção dos governos. Tal situação está se modifi cando em função

da importância que o conhecimento e a escolaridade adquiriram na atual sociedade

capitalista.

134

recomposição, antes que a crise abalasse as bases do modelo liberal.

Para atenuar os males do capitalismo e impedir o avanço do socialismo

surge o Estado de Bem Estar Social (Welfare State).

O Estado de Bem Estar Social

O modelo de Estado de Bem Estar Social foi gestado na Europa, nas

primeiras décadas do século XX, e teve no economista inglês John Maynard

Keynes (1883-1946), defensor da intervenção estatal na economia e de

uma política de pleno emprego, um de seus teóricos mais destacados.

Em 1926, Keynes publicou um artigo intitulado “The end of laissezfaire” (o fi m do deixe-fazer), criticando duramente o liberalismo. Face à crise mundial de 1929, o autor defendia a necessidade de reformar o Estado capitalista antes que ele se destruísse totalmente. No livro de sua autoria, denominado “a Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda” (1936), sugeriu a harmonização da economia de mercado, baseada na propriedade privada, com políticas capazes de regular a economia e de assegurar maior estabilidade ao sistema (LOPES, 1995).

O Estado benfeitor combate o excessivo individualismo do sistema capitalista liberal e procura atenuar as desigualdades sociais com medidas de controle da economia, estímulos à produção e garantia de melhor distribuição de bens e serviços.

Contrariando os princípios do liberalismo, os teóricos do Estado de Bem Estar defendem a intervenção do Estado na economia para garantir a empregabilidade através de uma política fi nanceira de incentivo à empresa privada, de modo a gerar mais empregos. Além disso, as empresas estatais também deveriam absorver os trabalhadores em disponibilidade. Caso essas medidas não fossem sufi cientes para gerar o pleno emprego, o Estado deveria oferecer

uma ajuda social aos desempregados (FERREIRA, 1993).

Assim, é implementado o salário-desemprego, seguido de outras

medidas de proteção ao trabalhador, tais como: redução da

jornada de trabalho, descanso semanal, férias remuneradas,

auxílio funeral à família, aposentadorias e pensões, e outras

políticas sociais congêneres.

Você sabia que...

...no fi nal do século XIX, ocorreram vários confl itos entre patrões e empregados? Oprimidos pelas relações desumanas de trabalho do sistema capitalista, os trabalhadores começam a se organizar em sindicatos, associações e partidos políticos, de modo a garantir melhores condições de trabalho. Por seu lado, os patrões passam a investir mais em maquinaria, de modo a substituí-los, incrementando a produção em massa. Tais confl itos vão marcar o século XX e conturbar as relações de produção, situação agravada pelas duas guerras mundiais, geradoras de desemprego e miséria, e pela Revolução Russa (1917), primeira vitória da classe operária e ameaça concreta aos interesses da burguesia capitalista mundial.

O Estado de Bem Estar Social procura combinar os princípios do liberalismo econômico com as políticas voltadas para o bem estar e os interesses da classe trabalhadora.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 135

Para cobrir as novas necessidades surgidas, o Estado criou

órgãos públicos e ampliou signifi cativamente o número de seus

funcionários.

Para fazer frente às despesas decorrentes dessas políticas, o

Estado passou a cobrar taxas e impostos da grande burguesia e

de segmentos sociais de grande poder aquisitivo, acumulando um

fundo próprio de riquezas – o fundo público – que se tornou alvo

das ambições burguesas e foco de lutas internas entre setores

da própria burguesia, os quais, quando fi cavam fora da partilha

dos recursos públicos, incentivavam protestos contra os gastos

excessivos do Estado, que passou a ser considerado um agente

redistribuidor de riquezas (FERREIRA, 1993).

O Welfare State (Estado de bem-estar) constituiu-se, portanto,

numa proposta intermediária entre o capitalismo liberal,

extremamente individualista, e o socialismo real, cerceador da

liberdade individual.

COVRE (1991) considera o Estado benfeitor como uma estratégia

capitalista para deter o avanço da classe operária e do socialismo do

Leste Europeu, desmobilizando os trabalhadores e conformando-

os ao sistema.

De fato, o capitalismo, para superar a crise que se apresentava,

altera determinadas regras do liberalismo criando aparelhos de

consumo coletivo e leis de proteção ao trabalhador, mas não muda

a sua essência, baseada na acumulação ampliada do capital e na

propriedade privada dos meios de produção.

O modelo do Bem Estar Social teve boa aceitação nos ano 50, 60

e 70. Após duas guerras mundiais, a humanidade se defrontava

com a necessidade de criar mecanismos estabilizadores da

economia e de incentivar a ajuda recíproca entre os cidadãos para

promover a reconstrução dos países devastados, contrapondo-

se ao individualismo do modelo liberal. Tais fatores, acrescidos

do acelerado desenvolvimento capitalista que sucede às guerras

mundiais, favoreceram a expansão do Estado de Bem Estar.

Você sabia que...

...o governo de Getúlio Vargas (1930-1945) implantou no

Brasil medidas de “bem estar social”, a exemplo do que

acontecia em outros países do mundo. assim é que foram

criados benefícios como o sistema de aposentadoria e

pensões e a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.

as políticas do Estado de Bem Estar Social

benefi ciaram sensivelmente as classes trabalhadoras,

proporcionando-lhes assistência à saúde e à

educação, aposentadoria, auxílio à maternidade e à

infância, proteção aos idosos, férias remuneradas etc. Em

contrapartida, ocasionaram o “inchaço” e o endividamento

do Estado, o que acabou por ocasionar a falência

desse modelo e reforçou a concepção da efi ciência do Estado “enxuto” (mínimo).

136

O Estado benfeitor não seria um modelo ideal de Estado, uma vez que aparentemente combinou o melhor do Liberalismo (liberdade, livre iniciativa) e do Socialismo (políticas de proteção social)? Por que ele fracassou?

O paradigma do desenvolvimento sustentado pelo Estado, começa

a demonstrar sinais de exaustão nos anos 70, quando os países

capitalistas avançados passam a enfrentar problemas, como a

redução do ritmo de crescimento, o aumento das taxas de inflação

e a instalação de um longo período recessivo. Além disso, os gastos

sociais com desemprego e aposentadorias custaram bilhões ao

Estado benfeitor.

Desse modo, ao mesmo tempo em que o capitalismo vai se tornado

oligopolista e transnacional, intensificando e generalizando a

reprodução ampliada do capital em todo o mundo, entra em crise

o Welfare State, que havia atingido o seu apogeu nos anos 60. Esse

Estado viu-se impossibilitado de continuar implementando políticas

públicas e de promover, concomitantemente, a acumulação

ampliada do capital.

Também se atribui a crise desse modelo de Estado aos avanços

das conquistas dos trabalhadores e à incapacidade do Estado em

aumentar sua arrecadação por meio de subsídios diretos e indiretos.

O Estado assumiu encargos excessivos e envolveu-se em conflitos e

contradições decorrentes do esgotamento dos recursos econômicos.

E é justamente no campo das políticas sociais que esses conflitos

eclodem com maior frequência; para economizar, os governos

cortam benefícios sociais e privatizam serviços públicos, entrando

em atrito com a classe trabalhadora.

À medida que a crise se agravou nos países capitalistas avançados,

ela se fez sentir ainda mais aguda nos países periféricos, cujas

iniciativas de introdução de benefícios sociais sem o devido

planejamento e o necessário crescimento econômico foram ainda

mais desastrosas do que nos países ricos.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 137

O Brasil também enfrentou essa crise?

No caso brasileiro, observa-se que as tentativas de implantação

do modelo de “Bem Estar Social” não foram bem sucedidas, em

função dos baixos índices de desenvolvimento econômico e social.

Rapidamente o país perdeu a sua capacidade de implementar

políticas públicas em face da escassez de recursos e da elevação

das taxas de juros internacionais.

Essa conjuntura contribuiu para solapar o regime militar e perdurou

durante a transição democrática, fazendo com que a década de

1980 seja rotulada de “a década perdida”.

O Estado Neoliberal

A crise dos países capitalistas avançados e do Estado de Bem Estar

cria um terreno fértil para os defensores da volta aos princípios

liberais repensados à luz da nova conjuntura mundial - o chamado

neoliberalismo. Seu receituário para curar a crise compreende

estratégias como: manter um Estado forte no controle do dinheiro,

desenvolver amplos programas de privatização, efetuar cortes nos

gastos sociais, enfraquecer os sindicatos, estabelecer altas taxas

de juro, promover a reforma fi scal com corte de impostos nas

faixas de maior renda e manter elevados índices de desemprego,

de modo a criar um “exército de reserva” (LOPES, 1995).

O discurso em defesa do neoliberalismo esboça-se a partir dos

anos 40, mas não tem, de início, grande repercussão. Sua origem

encontra-se na obra de Frederico Hayek, escrita em 1944 e

denominada “O caminho da servidão”. Nesse texto, o autor afi rma

que a intervenção estatal é uma ameaça à liberdade econômica e

política e uma barreira à própria democracia (ANDERSON, 1995).

Para combater o keynesianismo e preparar as bases para um

novo capitalismo, Frederico Hayek, Milton Friedman, Karl Popper

e outros teóricos fundam, em 1947, na Suíça, uma associação

internacional, denominada “Sociedade de Mont Pélerin.” Seus

Exército de reserva: segundo Marx, uma reserva

de mão de obra que pode ser utilizada ou desprezada

à vontade, conforme as exigências da economia. Quando se abrem novos

mercados se faz necessária convertê-la em força de

trabalho. Essa força será despedida rapidamente

assim que diminua a demanda ou o exija a

mecanização (Disponível em: http:// ivairr.sites.uol.com.br/ marx.htm. acesso

em: 20 ag. 2009).

138

associados consideram a ordem social-democrática como um

empecilho à liberdade dos cidadãos, defendem a desigualdade

como medida necessária que deveria premiar os mais aptos e a

livre concorrência como condição fundamental para a prosperidade

de todos.

Para os neoliberais, o livre mercado é a forma mais sólida e eficaz

de funcionamento do sistema econômico: o indivíduo desenvolve

suas potencialidades através do uso de sua liberdade, e a pobreza

individual ocorre devido ao mau uso dessa liberdade. A caridade

pública deve ser evitada, pois pode provocar o desinteresse da

pessoa em manter-se por meio de seus próprios esforços.

O setor público é considerado extremamente ineficiente, e os

neoliberais responsabilizam-no pela crise econômica, enquanto

que o privado é tido como um modelo de equidade, qualidade e

eficiência. Daí a tese do Estado mínimo, que diminui seus gastos

liberando o comércio no nível internacional e repassando para o

setor privado serviços como fornecimento de energia, habitação,

transportes, educação, saúde e outros, que passam a ser regidos

pela lógica do mercado.

Conforme Brandão (1991, p.94), o modelo econômico neoliberal,

em linhas gerais, apresenta as seguintes características:

• o Estado só deve intervir na ordem econômica e social nos casos

de defesa contra agressões externas, administração da justiça,

reorganização do mercado e produção de bens públicos, desde

que falhem os mecanismos autorregulatórios;

• a participação do Estado na economia deve ser mínima;

• o sistema político e o sistema econômico devem ser

institucionalmente autônomos, estabelecendo-se uma

distinção nítida entre o público e o privado.

O neoliberalismo compreende, portanto, um discurso e um

receituário de regras práticas ligadas ao governo e à reforma do

Estado.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 139

Para Cunha (1994, p. 8), o Estado neoliberal é “um tecnocracismo

ligado aos conceitos de moderno, efi ciente e fl exível”. Todavia,

como ideologia dominante, não se restringe à economia, mas

engendra-se na sociedade como uma forma de viver que privilegia

o individual em detrimento do coletivo, produzindo uma espécie

de “darwinismo social”, onde só os mais fortes sobrevivem.

Em linhas gerais, o neoliberalismo político e econômico pode

ser encarado como uma reação crítica ao Estado de Bem-Estar,

que procura enfrentar a mais recente crise do capitalismo com

estratégias que possibilitem a sua recomposição.

Dentre as principais preocupações dos educadores na atualidade está aquela relacionada à aplicação das políticas neoliberais na educação e nos sistemas de ensino. Você já pensou nesse assunto? Não? Então não deixe de ler o texto a seguir e de refletir a respeito.

...discutir, criticar, discordar, concordar

PARA REFLETIR

Neoliberalismo e Edicação

[...] A retórica neoliberal atribui um papel estratégico à educação e determina-lhe basicamente três objetivos:

1) Atrelar a educação escolar à preparação para o trabalho e a pesquisa acadêmica ao imperativo do mercado ou às necessidades da livre iniciativa. Assegura que o mundo empresarial tem interesse na educação porque deseja uma força de trabalho qualifi cada, apta para a competição no mercado nacional e internacional. Fala em nova vocacionalização, isto é, numa profi ssionalização situada no interior de uma formação geral, na qual a aquisição de técnica e linguagens de informática e o conhecimento de matemática e

Principais propostas do neoliberalismo:

Estado mínimo;

Desregulamentação da economia;

Privatização das empresas estatais;

Enxugamento de gastos públicos;

Diminuição de impostos;

Estímulo às atividades produtivas;

Livre funcionamento do mercado.

140

ciências adquirem relevância. Valoriza as técnicas de organização, o raciocínio de dimensão estratégica e a capacidade de trabalho cooperativo [..].

2) Tornar a escola um meio de transmissão dos seus princípios doutrinários. O que está em questão é a adequação da escola à ideologia dominante. Esta precisa sustentar-se também no plano das visões do mundo, por isso, a hegemonia passa pela construção da realidade simbólica. Em nossa sociedade a função de construir a realidade simbólica é, em grande parte, preenchida pelos meios de comunicação de massa, mas a escola tem um papel importante na difusão da ideologia oficial. [...]

3) Fazer da escola um mercado para os produtos da indústria cultural e da informática, o que aliás é coerente com a ideia de fazer a escola funcionar de forma semelhante ao mercado, mas é contraditório porque, enquanto, no discurso, os neoliberais condenam a participação direta do Estado no financiamento da educação, na prática, não hesitam em aproveitar os subsídios estatais para divulgar seus produtos didáticos e paradidáticos.

Enquanto o liberalismo político clássico colocou a educação entre os

direitos do homem e do cidadão, o neoliberalismo, segundo Tomás

Tadeu da Silva, promove uma regressão da esfera pública, na medida

em que aborda a escola no âmbito do mercado e das técnicas de

gerenciamento, esvaziando, assim, o conteúdo político da cidadania,

substituindo-o pelos direitos do consumidor. [...]. (Disponível em:

http://www.cefetsp.br/edu/eso/neoeducacao1.html. Acesso em: 19

de ag. 2008).

Como você percebeu, os destinos da escola pública preocupam

sobremaneira os educadores, uma vez que a educação para

o neoliberalismo se reduz à condição de mercadoria. Visa-se a

despolitização do processo educativo e a sua conversão em

bem de mercado. A ética individualista é adotada na escola e é

referendada pelo mercado de trabalho. Nessa perspectiva o outro

não passa de um mero competidor e o campo educativo é guiado

por uma concepção produtivista e empresarial.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 141

O Brasil e o Neoliberalismo

A década de 1980 assiste à instalação de governos neoliberais em

vários países, destacando-se o de Margareth Thatcher (1979) na

Inglaterra e o de Ronald Reagan (1980) nos Estados Unidos.

A onda neoliberal recebeu impulso significativo com o

desmoronamento do socialismo real da URSS e do Leste Europeu,

ocorrido entre 1989 e 1991. A vitória do Ocidente na guerra fria

representou o triunfo de um modelo de capitalismo que se opõe ao

Estado de Bem Estar e à economia mista.

Esse modelo, embora tenha favorecido o enriquecimento de certas

nações, foi desastroso para muitos países pobres, acentuando a

desigualdade e o empobrecimento e trazendo nítidos benefícios

às elites econômicas.

A América Latina que, nas décadas de 1960 e 1970, havia sido

palco de regimes burocrático-autoritários (O’ DONNEL, 1985), com

Estados fortes, associados à burguesia nacional e às transnacionais,

não escapou da onda neoliberal.

Importantes países latino-americanos como o Chile, o Brasil, o

Peru e o México aderiram ao ideário neoliberal, como estratégia

para a contenção da hiperinflação.

No Brasil, em meados da década de 1980, começa a se acentuar a

tendência que propõe a redução do tamanho do Estado e reivindica

a abertura da economia para o mercado externo, a restrição da

atuação estatal em vários setores da vida nacional e a ampla

privatização dos serviços públicos. Essa tendência se fortalece

significativamente no Brasil dos anos 90 e articula elite dirigente,

políticos e empresários em torno de propostas de desmonte do

Estado.

De que forma o Estado brasileiro passou a ser visto a partir dos meados dos anos 80 do século passado? Por que ocorreu essa mudança?

142

Em nosso país, o Estado, antes considerado o principal agente do

desenvolvimento, passou a ser duramente criticado. Conforme

SILVA (1994), adotou-se um raciocínio maniqueísta polarizado em

dois extremos: um campo bom (o capitalismo, a livre iniciativa

e o empresariado) e um campo mau (a intervenção estatal, o

funcionalismo público e os políticos).

Assim sendo, ocorreu um refl uxo dos movimentos sociais e certo

recuo das esquerdas brasileiras na década de 1990, mergulhadas

numa conjuntura internacional em que o poder, o dinheiro e os

meios de comunicação de massa se mobilizaram para convencer

o mundo de que o neoliberalismo era o único caminho possível

(FRIGOTTO, 1994).

Em países como o Brasil, com uma sociedade civil que, há longos

anos, vem enfrentando o risco constante de desemprego e

sofrendo com a instabilidade econômica, se torna fácil combater

o gigantismo do Estado e disseminar, entre o povo, as teorias do

Estado mínimo. Dessa maneira, também o cidadão comum, às

vezes mal informado, acaba se transformando num defensor do

desmonte do Estado, sem calcular as perdas que poderão advir.

É comum em nosso país que a mesma parcela da população que acredita que o Estado é um mal na sociedade, esteja cobrando do Estado, e com razão, a garantia dos direitos da cidadania, relativos à saúde, segurança e educação (GOHN, 1991).

Para os grupos dominantes da sociedade brasileira, o neoliberalismo passou a ser a política por excelência, o que fez com que passassem a apelar para estratégias privativistas de forma indiscriminada, como se elas fossem a solução para todos os males da sociedade (Id.ibid., 1991).

Todavia, esse não foi um fenômeno restrito às fronteiras nacionais; ao contrário, ele diz respeito às intensas transformações ocorridas no cenário mundial, que provocaram mudanças na concepção do papel e das funções do Estado nas sociedades contemporâneas,

decorrentes da mais recente etapa da evolução capitalista.

Essa conjuntura permite interpretar a tentativa brasileira de

reajuste do papel do Estado ocorrida nas últimas décadas do século

a nova ordem mundial se baseia na crescente internacionalização do capital, na predominância e volatilidade do capital fi nanceiro, na invasão dos oligopólios transnacionais e no domínio da informação.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 143

XX, não como um movimento isolado, mas como uma manifestação,

talvez de forma atrasada, do que já vinha ocorrendo nos países

capitalistas avançados, desde a década de 1970, quando já era

possível visualizar o capitalismo transpondo fronteiras, mares e

oceanos.

O neoliberalismo está em crise!

PARA REFLETIR

O panorama internacional está se modificando rapidamente,

em função da atual crise do mercado, neste início do século

XXI. A crise do sistema financeiro internacional está mostrando

que deixar os mercados absolutamente livres e isentos de

qualquer regulação acaba sendo um equívoco. Até o governo

americano (Bush) que é um grande modelo de governo liberal

está, hoje, promovendo a estatização de determinadas

empresas para evitar uma crise mais profunda. Isso acaba por

reforçar a postura dos defensores do Estado intervencionistas,

ou seja, com a nova ordem global as ideias de Keynes voltaram

à cena – não se sabe por quanto tempo...

Neoliberalismo e Globalização

O fenômeno da globalização, intensificado após a Segunda Guerra

Mundial, se estende hoje a todas as esferas da vida coletiva e se

propaga pelos quatro cantos do mundo. Entretanto, ele não pode

ser tomado como um fato acabado - é um processo em marcha,

cujos resultados nem sempre serão previsíveis.

A globalização se caracteriza pela crescente interdependência

das economias dos diversos países do mundo, o que também tem Fonte: http://images.google.com.br/images?um=1&hl=pt-BR&q=cultura+planet%C3%a1ria &btnG=Pesquisar+imagens

Glob

aliza

ção

144

ocasionado mudanças significativas nos planos político, social e

cultural. Ianni (1989) destaca o enfraquecimento do Estado-Nação,

incapaz de se opor ao dinamismo da economia internacional,

à torrente de superioridade financeira, política e militar dos

grandes centros do poder, funcionando como uma mera correia de

transmissão da economia mundial à economia nacional.

Para esse autor, o globo, hoje, é:

[...] o território no qual todos se encontram relacionados e atrelados, diferenciados e antagônicos essa descoberta surpreende, encanta, atemoriza.Trata-se de uma ruptura drástica nos modos de ser, pensar e fabular, abalando não só as convicções, mas também as visões de mundo (IANNI, 1992, p. 33).

A globalização que se acha em curso nesta altura da história apresenta,

segundo IANNI (1992, p. 58-59), as seguintes características:

a) a energia nuclear tornou-se a mais poderosa técnica de guerra

e, hoje, é acessível não somente às grandes potências, mas

também a países de segundo e terceiro escalão;

b) a revolução da informática coloca nas mãos dos donos do

poder, mas também de países secundários, uma capacidade

excepcional de formar e informar, seduzir e induzir;

c) o sistema financeiro é organizado internacionalmente, de

conformidade com a economia capitalista mundial e de acordo

com as determinações dos países dominantes, sendo que,

nessa organização, exercem papéis destacados instituições do

dinheiro global como o Fundo Monetário Internacional (FMI),

o Banco Mundial ou Banco Internacional de Reconstrução e

Desenvolvimento (BIRD), o Convênio Geral de Tarifas e Comércio

(GATT) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

(OCDE);

d) a moeda global é o dólar, e o inglês se transforma em língua

universal;

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 145

e) o ideário neoliberal adquire predomínio mundial, como

ideologia e como prática, modo de compreender e de agir,

forma de gestão do mercado e de poder político, concepção

do público e do privado, ordenação da sociedade e visão de

mundo.

A crescente interdependência econômica entre os vários países do mundo trouxe vantagens para as nações menos desenvolvidas? Ela também ocasionou problemas ?

A intensificação da globalização trouxe vantagens dos pontos

de vista financeiro, científico e tecnológico. Ela contribuiu

para flexibilizar as fronteiras nacionais, aproximando os povos,

favorecendo a internacionalização da economia e a troca de

informações, conhecimentos e tecnologia.

Por outro lado, ela também é responsável pelo reaquecimento de

conflitos étnicos, culturais e religiosos, bem como pela acentuação

das desigualdades entre pessoas e, sobretudo, entre nações.

O processo de globalização, ao ultrapassar o campo econômico,

passou também a significar globalização do poder, da cultura e da

informação.

O poder político concentrou-se nas mãos dos grandes órgãos

financiadores internacionais, enquanto que os governos nacionais

se viram fragilizados, curvando-se às suas exigências.

Criou-se uma cultura planetária, em que, nos quatro cantos do

planeta, cultivam-se os mesmos ídolos e se consomem os mesmos

produtos.

As grandes redes de comunicação global transformaram o mundo

numa vasta aldeia, onde a informação chega instantaneamente a

qualquer lugar do planeta.

Os padrões de qualidade de produtos, serviços e tecnologia

são medidos por critérios internacionais, exigindo maiores

investimentos em pesquisa e atualização constante dos recursos

humanos.

Cultura Planetária

146

Em sua marcha pelo mundo, a globalização vem signifi cando

inclusão e exclusão. Se, por um lado, ela vem gerando aproximação,

cooperação e integração, por outro, reproduz contradições,

miséria, marcas, estigmas e alienação (IANNI, 1992).

Ao mesmo tempo em que caem as fronteiras nacionais e assiste-

se a incríveis avanços científi cos e tecnológicos, constata-

se a multiplicação da miséria. À medida que se ampliam

signifi cativamente as possibilidades de comunicação e de

conhecimento, aumenta também a distância entre instruídos

e não-escolarizados, sendo que estes últimos tendem a formar,

nos próximos anos, uma enorme massa de excluídos em virtude

não apenas da pobreza, mas da impossibilidade de acesso ao

conhecimento.

O caminho escolhido pelo capitalismo para se recuperar de sua

mais recente crise foi o da globalização econômica. Para isso

vem adotando a superestrutura ideológica e as formas de gestão

do neoliberalismo. Entretanto, apesar da internacionalização

da economia, a sociedade atual se apresenta profundamente

individualista e excludente. Os novos valores proclamados

(qualidade, competitividade, produtividade) servem apenas para

camufl ar essa realidade.

Nessa nova conjuntura, os maiores prejudicados são, sem dúvida,

os assalariados, aqueles que veem falir o sistema previdenciário, a

saúde, a educação e não têm como escapar das limitações do projeto

neoliberal, que vem reduzindo, cada vez mais, os investimentos

em políticas sociais e impedindo que signifi cativas camadas da

população tenham acesso aos bens sociais e à cidadania plena.

Tudo isso põe em evidência a necessidade de mais e melhor

educação, não apenas para atender às exigências internacionais

em termos de padrões de competitividade e qualidade, mas,

sobretudo, para que se dê a formação de cidadãos capazes de

compreender as transformações que vêm ocorrendo e de lutar

pelos seus direitos e pelos interesses maiores da coletividade.

Características da globalização:

Integração econômica - bens, produtos, serviços, capital;

Principal forma: concorrencial;

Homogeneização dos centros urbanos;

Expansão das corporações para fora de seus núcleos geopolíticos;

Revolução tecnológica: comunicações e eletrônica;

Reorganização geopolítica em blocos econômicos regionais (fi m das ideologias?);

Hibridização entre culturas locais e uma cultura de “massa” universal.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 147

Educação como política de Estado resgata dívida social

PARA REFLETIR

[...] O Ministro da Educação Fernando Haddad ao apresentar

as linhas gerais do Plano de Desenvolvimento da Educação

(PDE) em evento realizado pela Presidência da República [...]

explicou que a educação brasileira estaria hoje no patamar

de desenvolvimento alcançado por países desenvolvidos nos

anos 20 ou 30 do século passado. “É preciso reunir vontade

política e participação das famílias para resgatar essa dívida”

ressalta.

Haddad acredita que, pela primeira vez, o país experimenta

crescimento econômico aliado a um plano para melhorar a

qualidade da educação. “Investiu-se muito em infraestrutura,

mas faltou investir no povo”, avalia, referindo-se a momentos

de crescimento da economia, como nas décadas de 30,

50 e 70, em que não houve expressivo investimento em

educação. Na visão de Haddad, os investimentos financeiros

precisam estar ligados à formação de professores, avaliação e

responsabilização dos gestores públicos.

Segundo o ministro, a educação deve se transformar em valor

social tanto para os governantes quanto para as famílias.

“Esse esforço deve agregar todos, criando uma agenda de

Estado que não admita descontinuidades causadas por trocas

de governos.” No balanço sobre as políticas de educação

realizadas no país, a qualidade ganhou lugar de destaque.

Para Haddad, o Brasil já alcançou padrões satisfatórios de

quantidade, em que há altas taxas de matrícula, por exemplo,

mas ainda não assegura o aprendizado efetivo dos alunos.

Segundo o ministro, o PDE assume tal desafio, ao vislumbrar

a educação como sistema e focar metas que buscam maior

eficácia do ensino.

148

Políticas – Ao tratar a educação de maneira fragmentada,

as políticas de educação teriam criado os problemas

enfrentados atualmente, como a falta de professores com

formação específica, sobretudo no ensino médio. “A falta

de investimentos em educação superior hoje prejudica a

educação básica e, por isso, faltam professores de química,

física e matemática”, exemplifica. [...].

O ministro ainda citou outros prejuízos causados pela

priorização de um nível educacional em detrimento de outro,

como a distribuição de recursos da merenda escolar ou dos

livros didáticos apenas a alunos do ensino fundamental. “A

merenda para alunos do ensino infantil assegura alunos mais

bem preparados na pré-escola e o livro didático para o ensino

médio também é imprescindível à formação desses alunos”,

afirma.

Para o ministro, as taxas de retorno dos investimentos em

educação são garantidas. “A dívida educacional se paga uma

vez só porque quando se assegura educação de qualidade a

uma geração, não há retrocesso. Pais bem formados zelam

pela educação dos filhos”, conclui.

Fonte: Portal MEC

Publicado em 07/11/2007

(Disponível em: http://www.contee.org.br/noticias/educacao/

nedu81.asp. acesso em 02 de set. 2008).

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 149

Síntese

Nesta unidade você teve oportunidade de refletir a respeito dos

diversos modelos de Estado, surgidos a partir do início da era

moderna. Constatou que o Absolutismo foi o primeiro modelo do

Estado moderno, que consolidou o poder dos reis e o seu domínio

sobre um determinado território. Esses reis, mais tarde, foram

derrotados pela burguesia, sua antiga aliada, que se sentiu tolhida

em seus propósitos de enriquecimento e se voltou contra eles.

Para conquistar liberdade econômica e poder político a burguesia

edificou o Estado liberal, modelo que permanece vivo até o

presente, embora tenha sofrido reformulações. A principal delas

resultou num novo modelo denominado Estado de Bem Estar

Social, que combina elementos constitutivos do capitalismo e da

doutrina socialista.

O Estado benfeitor ocasionou inúmeras conquistas para as classes

trabalhadoras, mas acabou falindo em virtude de gastos excessivos e

da impossibilidade de continuar promovendo o acúmulo de capital.

Tais fatos contribuíram para reforçar teorias que já vinham sendo

elaboradas desde os anos 40, a respeito de um Estado mínimo,

ou seja, de um modelo de Estado que pouco interfere nos rumos

da sociedade e que apoia a privatização dos serviços públicos.

Em virtude do resgate de princípios básicos do liberalismo, esse

modelo denominou-se Estado Neoliberal.

Os problemas enfrentados pelo capitalismo em sua trajetória

histórica foram abordados à luz de teóricos críticos desse sistema,

que alertam para os males do capitalismo, enquanto doutrina que

supervaloriza o individual em detrimento do social.

Também foram analisadas questões concernentes ao Estado

atual, como o neoliberalismo e a globalização ressaltando suas

consequências na sociedade e na educação. Certamente a discussão

em torno das funções e do alcance da intervenção do Estado na

sociedade não se esgotará brevemente. O embate continua: de um

lado estão os defensores do intervencionismo estatal, do outro, os

que acreditam nas políticas de caráter liberal.

150

Contudo, a situação de crise a que está submetida a sociedade

contemporânea leva ao reconhecimento da necessidade de uma

mudança qualitativa no papel do Estado, que deve ser capaz de

conciliar liberdade econômica com justiça social e desenvolvimento

humano.

Estabeleça diferença entre o Estado liberal e o Estado

de inspiração marxista.

Identifi que a concepção de Estado que norteia dois dos

principais partidos políticos brasileiros.

Elabore uma crítica ao Estado capitalista, a partir das

teorias estudadas.

Leia o texto abaixo e estabeleça relações com o conte-

údo estudado. Anote suas conclusões.

O Analfabeto Político

Bertolt Brecht

O pior analfabeto é o analfabeto político.

Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos

políticos.

Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do

peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio

dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa

o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil

que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor

abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político

vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores

do povo (...).

(Disponível em: http://www.culturabrasil.pro.br/ rechtantologia. Acesso em 12/08/2008)

1

2

3

4

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 3 151

Consulte:

GRuPPI, L. Tudo começou com Maquiavel. Trad. Dario Canali.

5. ed. Porto alegre: L&PM Editores, 1986. 94 p.

CaRNOY, M. Educação, Estado e economia. São Paulo:

Cortez: autores associados, 1984.

DEMO, P. Política Social, Educação e Cidadania.

Campinas, São Paulo: Papirus, 1996 (Coleção Magistério:

formação e trabalho pedagógico).

VORRaBER, M. C. (Org.). Escola básica na virada do

século: cultura, política e currículo. São Paulo: Cortez,

1996.

PERONI, V. Política educacional e papel do

Estado: no Brasil dos anos 90. São Paulo: Xamã, 2003.

NEVES, L. M. W. Educação e política no limiar do século

XXI. Campinas, São Paulo: autores associados, 2000.

Analise a interferência do Estado na sociedade brasileira

atual, indicando as medidas que você considera

positivas e aquelas que você considera desnecessárias

ou negativas.

Aticulando

Entreviste cinco pessoas que fazem parte da comunidade escolar (pais, professores, funcionários, gestores) de uma escola de Ensino Fundamental (1ª a 4ª série) e verifi que como elas interpretam o papel do Estado na escola pública (É positivo? Pode melhorar? O que falta?). Anote as respostas e faça um breve relatório.

5

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | PALAVRAS FINAIS 153

PALAVRAS FINAIS

Prezado estudante,

Esperamos que, ao término deste estudo, você tenha alcançado

os objetivos da nossa proposta de trabalho, ampliando seus

conhecimentos e percebendo, com maior clareza, as múltiplas

relações que se estabelecem entre os homens nas diferentes

formas de organização social, ao longo da história da humanidade.

Na sociedade atual, na qual predomina o conhecimento como

fonte de sabedoria e riqueza, novas experiências se impõem aos

indivíduos, à sociedade e às instituições, advindo daí a necessidade

de se repensar o cenário educacional e profissional.

É atribuição da universidade, contribuir para que os estudantes

se tornem sujeitos capazes de construir elementos que favoreçam

a compreensão crítica da realidade. As escolas, de modo geral,

precisam preparar os alunos para novos desafios como a capacitação

tecnológica, a diversidade cultural, a alfabetização tecnológica, a

superinformação, o relativismo ético e a consciência ecológica.

154

Tudo isso exige o conhecimento de várias ciências, dentre elas a

Sociologia, que se dedica especificamente ao estudo da realidade

social.

Formar um professor não significa apenas favorecer o acúmulo

de informações e a aquisição de determinadas habilidades. A

formação docente, na atualidade, exige que o professor tenha

uma compreensão ética e crítica do avanço do conhecimento

e da tecnologia, para colocá-los a serviço do desenvolvimento

individual e coletivo.

Assim sendo, por meio dos estudos sociológicos, buscamos

elementos capazes de fundamentar a prática dos profissionais

da educação, contribuindo para a ampliação de instrumentos de

análise da sociedade e da escola.

Agradecemos a sua participação e o parabenizamos pelo seu

empenho nos estudos. Caso seja de seu interesse, colocamo-nos

à disposição para contatos posteriores, uma vez que o campo de

estudos da Sociologia é rico e vasto e que os avanços tecnológicos

contribuem para aproximar cada vez mais os seres humanos.

Aqui ficam nossos votos de êxito em sua trajetória acadêmica e

profissional.

As autoras

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | REFERêNCIAS 155

REFERêNCIAS

ALBORNOZ. S. O que é trabalho. São Paulo: Brasiliense, 2004.

ARANHA, M. L. Filosofia da Educação. 2. ed. São Paulo: Moderna,

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2. ed. São Paulo: Moderna, 1993.

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QUINTANEIRO, T.; BARBOSA, M.L.; OLIVEIRA, M. G. Um toque de

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REVISTA NOVA ESCOLA. Grandes pensadores. Abril Cultural, São

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SAVIANI, D. Pedagogia Histórico-crítica: primeiras aproximações.

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política e na política da pedagogia. In; GENTILI, P.; SILVA, T. T.

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WEBER, M. Biografia de Max Weber. México, Fondo de Cultura

Económica, 1997.

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | NOTAS SOBRE AS AUTORAS 159

NOTAS SOBRE AS AUTORAS

Cleide Aparecida Faria Rodrigues

Pedagoga, Especialista em Métodos e Técnicas de Ensino pela

Universidade Federal do Paraná e Mestre em Educação pela

Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Atualmente

é professora do Departamento de Educação, Coordenadora

Pedagógica do Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância

(NUTEAD), Coordenadora do Centro de Formação Continuada,

Desenvolvimento de Tecnologia e Prestação de Serviços para as

Redes Públicas de Ensino (CEFORTEC) e Coordenadora Suplente do

Programa Universidade Aberta do Brasil – ( UAB/ UEPG). Dentre

seus trabalhos publicados destacam-se a co-autoria dos livros

Sociologia: consensos e conflitos e Curso Normal Superior com

Mídias Interativas: um projeto inovador para a formação de

professores.

Márcia Derbli Schafranski

Pedagoga, professora de Sociologia do Departamento de Educação

da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Especialista em

Metodologia do Ensino Superior e Mestre em Educação pela UEPG.

Doutoranda em Educação pela Universidade de Estremadura –

Espanha, onde recebeu o Diploma de Estudos Avançados (Suficiência

Investigadora). Dentre seus trabalhos publicados destacam-se a

co-autoria do livro Sociologia: consensos e conflitos e a autoria do

livro Pedagogia no ensino superior: sociedade cognitiva.

160

Rita de Cássia da Silva Oliveira

Pedagoga, Gerontóloga pela SBGG, Doutora em Filosofia e Ciências

da Educação pela Universidade de Santiago de Compostela –

Espanha. Professora Associada do Departamento de Educação e do

Mestrado em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Educação Permanente de

Jovens, Adultos e Idosos. Coordenadora da Universidade Aberta

para a Terceira Idade e Universidade Continuada para a Terceira

Idade na UEPG. Autora de diversos artigos científicos e do livro

Terceira Idade: do repensar dos limites aos sonhos possíveis,

editado pela Paulinas. Entre seus trabalhos destaca-se ainda o livro

no qual é autora e organizadora intitulado Sociologia: consensos e

conflitos, editado pela UEPG.

UemaNet - Núcleo de Tecnologias para EducaçãoInformações para estudo

Central de Atendimento0800-280-2731

Siteswww.uema.br

www.uemanet.uema.br

http://ava.uemanet.uema.br

universidade estadual do Maranhão – ueMa

núcleo de tecnoloGias para educação – ueManet

Caro Estudante,

No sentido de melhorar a qualidade do material didático, gostaríamos que você re-spondesse às questões abaixo com presteza e discernimento. Após, destaque a folha da apostila e entregue ao seu Tutor. Não é necessário assinar.

Município: _________________________________ Pólo: _______________________

Turma: _________ Data: _____/ _____/__________

Responda as questões abaixo de forma única e objetiva

[O] - ótimo, [B] – bom, [R] - regular, [I] - insuficiente

1 Qualidade gráfica [O] [B] [R] [I]1.1 Encadernação gráfica1.2 Formatação da apostila1.3 Ícones apresentados são informativos1.4 Tamanho da fonte (letra)1.5 Tipo de fonte está visível (Arial, Times New Roman...)1.6 Qualidade de ilustração

2 Conteúdo [O] [B] [R] [I]2.1 Coesão2.2 Coerência2.3 Contextualizado com a realidade e prática2.4 Organização2.5 Programa da disciplina (Ementa)2.6 Incentiva à pesquisa

3 Atividades [O] [B] [R] [I]3.1 Atividades relacionadas com a proposta da disciplina3.2 Atividades relacionadas com a realidade e a prática3.3 Relacionadas ao conteúdo3.4 Contextualizadas com a prática3.5 Claras e de fácil entendimento3.6 Estão relacionadas com as questões das avaliações3.7 São Problematizadoras e incentivam à reflexão3.8 Disponibilizam uma bibliografia complementar

o Material cheGa eM teMpo hábil? siM ( ) não ( )