sociologia da educacao - texto especificidade 2-libre

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1 A ESPECIFICIDADE DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO Ms. Maria Clara Ramos Nery 1.Relação de interdependência entre o surgimento de uma ciência e de uma instituição social e as transformações presentes na estrutura social. Para pensarmos a Sociologia da Educação, devemos pensar e compreender um elemento histórico fundamental da Sociologia enquanto ciência. A Sociologia enquanto ciência vai surgir no século XIX, como uma resposta intelectual para os problemas que a sociedade estava apresentando. Neste sentido, temos elementos importantes a considerar. Um deles é, justamente, a significação do século XVIII, para o surgimento da Sociologia como ciência. Este século, é o século onde temos a presença de uma dupla revolução: a Revolução industrial, de caráter econômico e social e a Revolução Francesa, de caráter eminentemente político, onde temos a burguesia, enquanto classe social, tomando o poder na França e expandindo-se para todo o mundo, ou seja, internacionalizando-se. O outro elemento é que os processos destas duas revoluções, são significativos, porque foram a força motriz da consolidação do modo de produção capitalista. Este modo de produção tem como característica básica, a posse privada, particular dos meios de produção. Afirma Meksenas: Esse modo de produção que se originou do comércio e da manufatura foi responsável pelo desenvolvimento de novas invenções, técnicas, aumento das atividades produtivas, dando origem à moderna industria. A intensa urbanização do nosso século é fruto desse processo e o aparecimento de classes sociais também o é. Agora, sob a sociedade capitalista, a fonte de riquezas não é mais a terra, mas sim a propriedade de fábricas, máquinas, bancos, isto é, a propriedade dos meios de produção. Assim, os poucos proprietários dos meios de produção se constituem na classe empresarial (burguesia) enquanto uma imensa maioria de pessoas não-proprietárias se constitui na classe trabalhadora (proletariado), que, para sobreviver, troca sua capacidade de trabalho por salário (Meksenas, 2005, p:29) Ou seja, tudo o que uma sociedade necessita para produzir seus bens, são de controle privado, de posse particular de uma minoria, os detentores dos meios de produção. Este aspecto é de fundamental importância, na medida em que esta transformação no contexto das sociedades contemporâneas, principalmente as sociedades do mundo Ocidental, fez com que a sociedade se tornasse um problema. Haviam muitas questões de ordem social para serem resolvidas. Então,

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1

A ESPECIFICIDADE DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Ms. Maria Clara Ramos Nery

1.Relação de interdependência entre o surgimento de uma ciência e de uma

instituição social e as transformações presentes na estrutura social.

Para pensarmos a Sociologia da Educação, devemos pensar e compreender um elemento

histórico fundamental da Sociologia enquanto ciência. A Sociologia enquanto ciência vai surgir

no século XIX, como uma resposta intelectual para os problemas que a sociedade estava

apresentando. Neste sentido, temos elementos importantes a considerar. Um deles é, justamente,

a significação do século XVIII, para o surgimento da Sociologia como ciência. Este século, é o

século onde temos a presença de uma dupla revolução: a Revolução industrial, de caráter

econômico e social e a Revolução Francesa, de caráter eminentemente político, onde temos a

burguesia, enquanto classe social, tomando o poder na França e expandindo-se para todo o

mundo, ou seja, internacionalizando-se.

O outro elemento é que os processos destas duas revoluções, são significativos, porque

foram a força motriz da consolidação do modo de produção capitalista. Este modo de produção

tem como característica básica, a posse privada, particular dos meios de produção. Afirma

Meksenas:

Esse modo de produção que se originou do comércio e da manufatura foi responsável pelo desenvolvimento de novas invenções, técnicas, aumento das atividades produtivas, dando origem à moderna industria. A intensa urbanização do nosso século é fruto desse processo e o aparecimento de classes sociais também o é. Agora, sob a sociedade capitalista, a fonte de riquezas não é mais a terra, mas sim a propriedade de fábricas, máquinas, bancos, isto é, a propriedade dos meios de produção. Assim, os poucos proprietários dos meios de produção se constituem na classe empresarial (burguesia) enquanto uma imensa maioria de pessoas não-proprietárias se constitui na classe trabalhadora (proletariado), que, para sobreviver, troca sua capacidade de trabalho por salário (Meksenas, 2005, p:29)

Ou seja, tudo o que uma sociedade necessita para produzir seus bens, são de controle privado,

de posse particular de uma minoria, os detentores dos meios de produção. Este aspecto é de

fundamental importância, na medida em que esta transformação no contexto das sociedades

contemporâneas, principalmente as sociedades do mundo Ocidental, fez com que a sociedade se

tornasse um problema. Haviam muitas questões de ordem social para serem resolvidas. Então,

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no século XIX, surge a Sociologia, como uma resposta intelectual para os problemas que a

sociedade estava a apresentar.

Temos então agora, a partir do século XIX, notadamente em 1839, ano em que Augusto

Comte nomeou a então física social de Sociologia, uma ciência com objeto e métodos de

investigação, que buscará responder às principais questões que se apresentavam no universo

social de então. Encontramo-nos numa sociedade marcada por contradições, consequentemente

por crises de caráter econômico, político e também cultural. É uma sociedade onde temos a

vigência do conflito. Outro não poderia ser o contexto de surgimento então da Sociologia, como

dissemos anteriormente.

A Sociologia em seu primeiro momento podemos verificar que tem um caráter

conservador, na medida em que encontrar-se-á preocupada com a ordem que se perde com o

advento do modo de produção capitalista, neste sentido a grande preocupação é com o

restabelecimento com a antiga ordem. Por isso podemos dizer que seu caráter no período de seu

surgimento pode ser considerado enquanto conservador. Segundo Maksenas(2005), pode-se

afirmar que a sociologia é fruto de uma época, de nova organização social, de uma

transformação social. A nova ordem social está instaurada, portanto, é necessário ser explicada,

entendida.

Os autores considerados clássicos da Sociologia são: Karl Marx (1818-1883), Émile

Durkheim (1858-1917) e Max Weber (1864-1920). Estes autores objetivaram desenvolver

teorias que até hoje se constituem enquanto base explicativa e de interpretação da sociedade

capitalista. Estas teorias são: a teoria crítica ( Karl Marx), a teoria funcionalista ( Emile

Durkheim) e, a teoria compreensiva(Max Weber), dizendo de outra forma: sociologia crítica,

sociologia funcionalista e sociologia compreensiva, respectivamente.

Como podemos pensar a educação no contexto desta nova sociedade e desta nova ciência?

Deve ficar entendido que os processos culturais no contexto das sociedades capitalistas,

fazem com que tenhamos forte concepção de que a ciência é a fonte de toda e qualquer

explicação para o estar no mundo. Segundo Maksenas(2005), nesse sentido a própria vida

moderna só poderá ser entendida sobre a ótica da ciência, melhor dizendo, sobre a ótica dos

métodos científicos e, neste processo a educação também vai sofrer transformações na medida

em que passa a refletir valores que tem a ciência como base, deixando então de refletir valores

religiosos anteriormente presentes no contexto da sociedade feudal. Afirma Maksenas:

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Será nesse contexto ideológico da nascente sociedade industrial que nasce uma nova instituição responsável por essa educação: a escola. Percebemos que uma das características da revolução ideológica capitalista foi transportar uma educação que durante o feudalismo ocorria na família e na Igreja para a instituição da escola. Nasce assim a escola: uma instituição com normas específicas, agentes próprios ( diretores, professores, alunos, orientadores pedagógicos etc.) e toda uma hierarquia. A escola se propõe o objetivo de preparar os indivíduos para a vida em sociedade ao mesmo tempo que desenvolve suas aptidões pessoais. Com isso, nasce também nova estrutura de ensino: muitas salas de aula, muitos alunos numa só sala, provas, notas, porcentagens de freqüência, carteiras em filas, diplomas. Tudo com o objetivo de educar uma massa cada vez maior de indivíduos, tentando adapta-los aos valores dessa nova sociedade capitalista do século XVIII. A escola que conhecemos hoje é, portanto, produto dos séculos XVIII e XIX, período em que aparece a idéia da necessidade de educação publica e obrigatória para todas as pessoas (Maksenas, 2005, p:30).

Como podemos ver e depreender das considerações de Maksenas ( 2005), surge no

contexto social, na nova ordem capitalista a necessidade de explicar a realidade, mas também a

necessidade de criar-se espaços para preparar indivíduos que se adaptem à nova ordem

estabelecida, ao novo sistema. A escola será então de certa forma a instituição que terá este

papel de preparação de indivíduos que devem estar adequados ao sistema social.

Pelo que podemos depreender das considerações acima, é importante verificar a relação

de interdependência presente entre contexto social, o surgimento da ciência e o surgimento da

escola enquanto instituição. Neste sentido toda transformação nas estruturas sociais originou

novas formas de ser enfocada a realidade social vivenciada por indivíduos e grupos e novas

instituições sociais, com funções específicas, sendo a escola uma das principais instituições.

Neste sentido, deve-se compreender também que teremos “novas sociologias” e dentre elas

surge a Sociologia da Educação, que se constitui na ciência que vai investigar, interpretar e

analisar a escola como instituição social, considerando os processos sociais que a envolvem.

Salienta Demeterco que: “[...]todas as transformações vividas pela sociedade trouxeram novos

temas para discussão no campo da Educação, entendida aqui por Meksenas, como o conjunto

de várias “maneiras de transmitir e assegurar a outras pessoas os conhecimentos de crenças,

técnicas e hábitos que um grupo social já desenvolveu a partir de suas experiências de

sobrevivência” (Demeterco, 2007, p:7)”. De certa forma o campo de estudos da Sociologia da

Educação pode ser diversificado, mas mesmo em sua diversificação ele necessita de

instrumental teórico-metodológico detalhado e específico, que permita a compreensão dos

elementos presentes no contexto social, histórico, político, cultural e econômico sobre o qual se

assenta a educação.

1.2 –A educação como processo socializador

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O que podemos entender por socialização? Anteriormente já nos referimos a esse

respeito, quando tratamos da relação de interdependência entre o surgimento de uma ciência e

de uma instituição social e as transformações presentes na estrutura das sociedades. Neste

sentido creio que podemos pensar que a socialização é o processo de adequação do indivíduo ao

sistema social. Viver em sociedade significa estar de certa forma “enquadrado” ao sistema

social, seguindo as regras e normas sociais estabelecidas,.

O processo de socialização permite a manutenção e a sobrevivência da sociedade. Na

medida em que indivíduos e grupos pautam sua conduta pelas normas e regras previstas

socialmente encontram-se adaptados a sociedade e esta então pode manter-se coesa e em

harmonia como nos diriam os positivistas e os funcionalistas.Neste sentido o processo de

socialização é o fator que permite verificarmos a existência de vínculos sociais que

consolidados mantém a sociedade harmonicamente constituída e em ordem.

A educação, pode e deve ser concebida como uma das principais instâncias de

socialização das novas gerações. A educação permite que nos constituamos enquanto seres

sociais em nosso estar no mundo, pois deve ser compreendida, segundo (Oliveira,2005) como

processo social de caráter permanente no contexto das sociedades humanas, que é responsável

pelo nosso ajustamento aos padrões culturais vigentes. Claro está então, que uma das principais

tarefas da educação no contexto das sociedades encontra-se no fato, de fazer com que nossos

interesses individuais sejam realizados através dos interesses sociais. Neste sentido a educação,

enquanto fonte de socialização nos faz verificar que sozinhos nada conseguimos, precisamos

dos outros e precisamos de certa forma estarmos adequados às regras coletivas.

Afirma Meksenas (2005): “[...] o ser humano só desenvolve potencialidades em contato com

outras pessoas, com o meio social. A convivência no grupo, por sua vez, só é possível se o

indivíduo acatar certas regras comuns a todos, se for capaz de “abrir mão”de alguns de seus

desejos para ter outros, socialmente aceitos(MEKSENAS, 2005, p:40)”. Viver em sociedade

nos pede justamente isto, que de certa forma consigamos “abrir mão”de alguns de nossos

desejos em nome do coletivo.Neste sentido, podemos dizer que o processo de socialização se

realiza em sua plenitude na medida em que podemos realizar este gesto, pois a função social da

educação é justamente evitar a contradição sempre presente entre os interesses pessoais e os

interesses sociais(Meksenas, 2005).

A educação deve fazer com que o indivíduo internalize idéias e procedimentos que

fazem parte do meio social, pois a educação enquanto instância transmissora dos padrões morais

aceitos socialmente permite a própria reprodução da sociedade. Afirma Meksenas: “A educação

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é una: deve inculcar no indivíduo idéias que fazem parte do meio social em que vive. Como

vimos, a sociedade se caracteriza por ser um corpo cuja tendência natural é o progresso e a

harmonia; a garantia dessa tendência nos é dada pela moral social, que impõe ao indivíduo a

conduta exigida pela sociedade. Nesse contexto, a educação se caracteriza por ser o ato de

transmissão dessa moral (Meksenas, 2005, p.41)”.

Ao mesmo tempo, a educação é múltipla, na medida em que envolve uma soma de

conhecimentos diferentes, que variam de indivíduo para indivíduo, considerando-se o contexto

social. Embora seja una, dentro desta mesma unidade encontramos uma diversidade de

conhecimentos. Novamente, afirma Meksenas: “A educação é múltipla, além de uma, porque,

ademais dos valores comuns a todos os indivíduos de uma sociedade, que ela transmite, existe

uma soma de conhecimentos distintos, que variam de classe para classe social ou de profissão

para profissão. Portanto, apesar de ela ser uma, pode existir dentro dessa unidade uma certa

diversidade ou especialização de conhecimentos(Meksenas, 2005, p.42)”. Os aspectos citados

pelo nosso referido autor, de certa forma nos demonstram a dialeticidade presente na educação

enquanto processo socializador.

1.3 A educação como processo de controle social

Vimos a educação em sua função socializadora, mas é importante verificarmos que a

educação também possui, junto com outras instituições sociais, a função de realizar o controle

social. Não podemos separar a educação de sua função de controle social, que se encontra

sempre relacionado com uma forma disciplinar de reger as condutas, que virá a garantir a

permanência e sobrevivência das sociedades.

O que podemos entender por controle social? São todos os mecanismos que coagem

indivíduos e grupos a agirem, a se comportarem de conformidade com as regras e normas

estabelecidas pela sociedade. Em sociedade temos sempre algum tipo de controle, que pode ser

de caráter individual ou ser de caráter social, pois não podemos viver numa sociedade sem

qualquer forma de controle, na medida em que ninguém saberia ao certo o seu padrão adequado

de comportamento, a norma de conduta a seguir e assim por diante. Não dá para vivermos em

sociedade sem que existam formas de controle, pois este mesmo controle rege nossa conduta e

estabelece repertórios de ações individuais e coletivas e padrões sociais de comportamento, que

nos permitem circular com certa segurança no meio social, no exercício de nossos papéis

sociais.

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Os padrões sociais de comportamento,ou padrões de comportamento, podem ser

entendidos enquanto “regularidades”, regularidades estas que são impostas pela sociedade para

todos os indivíduos e que vão determinar as condutas dos indivíduos e grupos, determinada

pelos padrões culturais. Segundo Oliveira (2005), a educação tem por finalidade ajustar os

educandos aos padrões culturais vigentes. Este processo de adequação permite que os

educandos possam ser capazes de estarem integrados na sociedade de forma adequada ao

próprio desenvolvimento da cultural. Sendo assim, a sociedade se mantém em ordem.

Temos em sociedade elementos formais de controle social e elementos informais de

controle social. Comparando o direito, com a educação, podemos entender o direito, enquanto

elemento formal de controle social, na medida em que suas normas e regras, se encontram no

campo do obrigatório, não sendo, portanto, facultativo. A educação pode ser considerada

enquanto elemento informal de controle social, na medida em que se encontram presentes

elementos que se inserem no campo do facultativo, no campo da cultura, mas salientamos que

mesmo no campo do facultativo, encontramos determinações que estabelecem condutas e

padrões comportamentais aceitos socialmente, neste sentido, deve ficar entendido que o

conjunto de normas e de regras presentes na sociedade, sobrepõem-se ao indivíduo, fazendo

com que ele se adapte ao meio social. Reiteramos que a educação possui esta função social, ou

seja, prepara indivíduos para se adequarem ao sistema, sendo assim as normas e regras sociais

exercem papel norteador das condutas, permitindo a construção de específicos repertórios de

ações individuais e coletivas.

PONTO FINAL

Neste capítulo vimos a relação de interdependência entre o surgimento de uma ciência e

de uma instituição social que é a escola e as próprias transformações presentes na estrutura

social que fizeram com que a escola surgisse para preparar aos indivíduos a adequarem-se ao

sistema, portanto, é importante sempre fazermos a relação entre estrutura social e suas

conseqüências, pois nada encontra-se constituído fora de seu efetivo contexto. Vimos também a

educação como processo socializador, onde este mesmo processo permite e garante a

sobrevivência da sociedade, na medida em que a educação se constitui enquanto uma das

principais instâncias de socialização das novas gerações.

Ao mesmo tempo, no decorrer deste capítulo vimos a educação como processo de

controle social, onde em sua função socializadora a educação também tem a função de realizar o

controle social, forma disciplinar de reger as condutas, que possibilita a garantia e a

permanência das sociedades. Portanto, a sociologia da educação nos permite perceber a relação

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entre contexto social e o que ele origina no contexto das sociedades. A educação encontra-se

contida na estrutura social, portanto ela em todas as suas funções, refletirá o que encontra-se

presente num contexto mais amplo.

ATIVIDADE

Como uma atividade de estudo, cremos que a seguinte questão se faz importante: na

constituição de nossa personalidade individual, devemos considerar os determinantes sociais?

Procure fundamentar sua resposta com base no que foi trabalhado do texto, onde vimos a

própria função social da educação, processos de socialização e mecanismos de controle social.

Disserte a respeito.

Com base no que vimos, disserte sobre a especificidade da Sociologia da Educação.

Observe que no texto encontram-se todos os elementos que lhe permitem visualizar o que é de

mais específico deste campo da sociologia.

EXERCÍCIOS DE AUTO-ESTUDO

1)-A Sociologia como ciência que possui objeto de investigação e método, surge como resposta

intelectual às transformações sociais ocorridas com a consolidação do capitalismo. As

revoluções que marcaram este período foram:

a)-( )Revolução Francesa e Revolução industrial

b)-( )Revolução industrial somente

c)-( )Revolução francesa somente

d)-( )Nenhuma das respostas é a correta.

2)-No contexto da sociedade capitalista a fonte de riqueza é:

a)-( )a propriedade de terras

b)-( )propriedade de fábricas

c)-( )propriedade de capital

d)-( )nenhuma das alternativas é a correta

3)-A Sociologia em seu surgimento apresenta um caráter:

a)-( )libertador

b)-( )crítico

c)-( )conservador

d)-( )nenhuma das alternativas é a correta

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4)-A instituição social que nasce com a sociedade capitalista é:

a-( )a família

b)-( )a escola

c)-( )a igreja

d)-( )nenhuma das alternativas é a correta

5)-O processo de socialização permite:

a)-( )a transformação da sociedade

b)-( )a mudança social

c)-( )a manutenção e a sobrevivência da sociedade

d)-( )nenhuma das alternativas anteriores é a correta

6)-Controle social pode ser entendido como:

a)-( )mecanismos que coagem indivíduos e grupos a agirem, de conformidade com as normas

e as regras sociais.

b)-( )mecanismos de integração que fazem com que indivíduos não se sintam coagidos a

agirem de conformidade com as normas e regras sociais

c)-( )mecanismo de socialização que permite que a liberdade individual se sobreponha a

liberdade coletiva.

d)-( )nenhuma das alternativas é a correta.

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

Como questão de reflexão deixamos a pergunta: qual o papel da educação no contexto

da nossa vida? Qual o papel fundamental da educação no contexto das sociedades?

DICA DE ESTUDO

Uma importante dica de estudo é a leitura do livro de Paulo Meksenas, onde trabalha

no segundo capitulo a educação segundo o funcionalismo, onde você encontrará elementos que

lhe permitem visualizar a função social da educação, na medida em que ela é fator de

socialização.

BIBLIOGRAFIA

DEMETERCO, Solange Menezes da Silva (2007). Sociologia da Educação. Curitiba.

Iesde/Brasil.

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MEKSENAS, Paulo (2005). Sociologia da Educação. Introdução ao estudo da escola no

processo de transformação social. São Paulo.Edições Loyola.

OLIVEIRA, Pérsio Santos de(2005). Introdução à Sociologia da Educação. São Paulo.

Editora Ática.

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OS TEÓRICOS CLÁSSICOS E SUAS CONCEPÇÕES SOBRE A

EDUCAÇÃO – principais pressupostos teóricos.

Ms. Maria Clara Ramos Nery

Anteriormente vimos a especificidade da Sociologia da Educação, vimos também a

função social da educação. Neste momento de nossa disciplina, vamos trabalhar com os

clássicos da Sociologia – Marx, Durkheim e Weber, e suas concepções acerca da educação, o

que trazem de específico e suas contribuições.

Karl Marx (1818-1883) e a educação

Primeira mente, devemos ter claro que a principal questão sociológica se traduz por ser

a relação indivíduo e sociedade. Neste sentido, cremos que se torna necessário trabalhar os

autores clássicos da sociologia e a forma como eles respondem a esta principal questão

sociológica. Vamos começar com Karl Marx (1818-1883). Para Marx, a sociedade determina o

indivíduo através das condições materiais de existência. Pode-se verificar então que estamos

diante de uma concepção de caráter determinista.

O critério de compreensão da relação indivíduo e sociedade em Marx, é como vimos o

critério econômico. Para nosso autor de referência somos determinados em função de nossas

condições materiais de existência e, somente neste sentido a sociedade determina o indivíduo.

Neste sentido, para o marxismo o pensamento, a visão de homem e de mundo, são resultado das

condições materiais. Portanto, o mundo material deve ser considerado como anterior ao espírito

e este mesmo espírito deriva das condições materiais.

Observem o que nos afirma Silva:”O materialismo marxista considera o mundo como uma

realidade dinâmica, um complexo de processos, que exige observarmos a realidade

dialeticamente, isto é, em que ponto a realidade influencia a idéia e a idéia influencia a

realidade. Assim, o espírito não é conseqüência passiva da ação da matéria, podendo reagir

sobre aquilo que o determina, libertando o ser humano por meio de sua ação sobre o mundo,

permitindo, assim, no futuro, a ação revolucionária (SILVA, at all, 2006, p.49)”. Pode-se

perceber então, que em Marx encontramos a presença da ação do homem no mundo, ou seja, o

homem, a partir de sua compreensão da realidade, partindo desta mesma realidade, teria o papel

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de exercer em seu estar mundo uma ação transformadora. Uma pergunta importante deve ser

feita: é a idéia que faz o real, ou o real que faz a idéia?

Numa concepção marxista, é o real que faz a idéia, pois é no campo da realidade concreta, que

se encontram as condições de possibilidade para realizações. Não é tendo por base as idéias que

a vida do homem no mundo será explicada e sim através da atividade material humana, da

práxis, que vamos compreender as idéias, a visão de homem e de mundo. Marx assinada que;

“as idéias dominantes na sociedade, são as idéias da classe dominante”.(Silva, 2006).

Compreendido o próprio ponto de partida da concepção marxista da relação indivíduo e

sociedade vamos agora trabalhar a questão da educação. Como Marx via a educação? Como

uma concepção marxista trabalha com a educação?

Primeiramente, torna-se necessário repetir que em Marx, são as relações sociais de

produção, as relações econômicas fatores determinantes da sociedade. Toda formação social

possui uma infra-estrutura, onde temos as relações sociais de produção e uma superestrutura,

onde temos três instâncias, a instância ideológica, jurídico-política. A infra-estrutura determina

a superestrutura social, que por sua vez, legitimaria as relações sociais de produção presentes na

infra-estrutura. Considerando a superestrutura, em Marx, podemos verificar que a educação, faz

parte da superestrutura social, na instância ideológica.

O termo ideologia aqui para nós assume aspecto fundamental. Em Marx, a ideologia

constitui-se enquanto uma distorção do pensamento que se origina das contradições sociais e

que oculta estas mesmas contradições, que por sua vez se manifestam nas idéias, visões de

mundo e de homem, crenças e nas próprias categorias de conhecimento. Afirma Silva (2006):

“A ideologia impede que o proletário tenha consciência da própria submissão, porque camufla

a luta de classes ao representar, de forma ilusória, a sociedade, mostrando-a como uma e

harmônica. Além disso, segundo Marx, a ideologia esconde que o Estado, longe de representar

o bem comum, é a expressão da classe dominante(SILVA, at all. 2006, p:43)”. Podemos então

verificar que a ideologia se constitui enquanto uma visão “falsa” da realidade, na medida em

que escamoteia, esconde aspectos desta mesma realidade.

Já dissemos que a educação encontra-se na esfera superestrutural da sociedade, e é

atinente à esfera ideológica. Marx, não trabalhou especificamente com a educação, mas

podemos ver, considerando que as idéias dominantes na sociedade, são as idéias da classe

dominante, no marxismo então, a educação, ou o processo educativo seria transmissor da

ideologia dominante. Afirma Silva, o seguinte:

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A esperança de Marx por uma nova sociedade não pode ser construída sem a presença da ação educativa. No Manifesto, ele deixa claro que a educação deve ser levada em consideração no momento de se elaborar qualquer projeto de superação das relações sociais burguesas. É preciso, segundo ele, arranca-la da influência da classe dominante, do modo burguês de ver o mundo, se não quisermos que as crianças sejam transformadas em “simples objetos de comércio, em simples instrumentos de trabalho”(Marx, 1984, p.32). Entre as medidas a serem implementadas para que um novo tipo de educação seja desenvolvido, é preciso uma “educação pública e gratuita de todas as crianças”. Pensando a educação como parte de sua utopia revolucionaria.Marx identificou nela uma arma valiosa a ser empregada em favor da emancipação do ser humano, de sua libertação da exploração e do jugo do capital – a construção da sociedade comunista(Silva at all, 2006,p.52).

Pode-se verificar que a concepção marxista acerca da educação e do próprio papel dela

no contexto da sociedade capitalista, envolve uma concepção de caráter crítico e, neste sentido,

também se pode dizer que a concepção marxista permitiu a que se tivesse uma percepção do

processo educativo de caráter mais questionador, neste sentido a sociologia da educação

modifica-se com as questões levantadas pelo marxismo, enquanto instância supraestrutural de

caráter ideológico. Cabe salientar que em Marx o que se expressa de forma clara é a

transformação da sociedade capitalista, para uma forma mais igualitária e justa de sociedade.

Em Marx, a educação é um instrumento, no contexto da sociedade capitalista, pelo qual

os dominados internalização os valores e visão de mundo da classe dominante, mas isto não nos

retira a possibilidade de refletirmos acerca de uma pedagogia que possa ser um meio pelo qual

se pode superar a ordem social capitalista, sempre desigual e, marcadamente excludente. Afirma

Silva (2006): “Tomando as idéias de Marx para uma educação que vise à realização e à

formação de uma personalidade humana unificada e plena, é necessário considerar a educação

não um problema individual, privado, sujeito a um processo de aperfeiçoamento espiritual, e,

sim, um problema social, dependente da transformação da estrutura econômica da

sociedade.Como, para ele, o homem é a essência que se faz a si mesmo, a prática educativa

pode se tornar uma atividade favorável não apenas para formar pessoas, como também para

transformar a sociedade(Silva, att all, 2006,p.51)”.

Sendo entendido o que nos coloca Silva, pode-se verificar que a educação com um

papel social marcadamente crítico, questionador da ordem vigente.A educação pode contribuir

para a mudança da ordem social na medida em que permite através do processo de ensino

aprendizagem o próprio rompimento com dominação estabelecida pela classe dominante.

Paulo Freire, foi um dos pedagogos brasileiros que buscou transformar o papel

“conservador” da educação, dando-lhe um caráter transformador, na medida em que o processo

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de ensino-aprendizagem se fazia a partir da própria realidade do aluno, realidade esta marcada

pelos laços fortes da desigualdade social. De qualquer forma é importante percebermos que em

Marx a transformação da sociedade envolve a presença da ação educativa. A sociedade

capitalista, com suas contradições, não pode ser transformada, superada, sem consideração do

processo educativo no que ele tem de supraestrutural e, sendo assim de legitimador da

“nova”ordem social.

EMILE DURKHEIM (1858-1917) e a educação

Como Emile Durkheim, responderá à principal questão sociológica, que é a relação

indivíduo e sociedade? Em Durkheim, encontramo-nos também diante do determinismo. Só que

o determinismo de nosso referido autor é diferenciado se consideramos Marx. Em Durkheim a

sociedade determina o indivíduo através das normas, regras sociais, que são produzidas

coletivamente. Neste sentido nossa maneira de pensar, de sentir, de agir, encontram-se

determinadas pela sociedade. Para Durkheim a educação se constituiria como a principal fonte

de socialização, na medida em que, ela (a educação) permitiria a internalização das normas e

regras presentes na sociedade. Neste sentido, encontramos em Durkheim a concepção de que o

processo de socialização é o mesmo que o processo de educação, pois é pelo ato de educar que

os indivíduos e grupos acabam por interiorizar todos os elementos da moral que encontram-se

presentes no meio social. Afirma Atisiano:

Essa socialização, segundo Durkheim, compõe o processo de aprendizagem social que permite a absorção das formas de viver da sociedade, seja pensamentos, atitudes, símbolos e regras. No bojo dessa socialização, está a moral da sociedade, a qual é constituída por alguns tipos de regras, direitos e deveres, sistema de recompensa e castigo, etc. Essa mesma moral também faz parte da linha mestre de ensino nas escolas, ou seja, as práticas pedagógicas adotadas na educação não são desvinculadas da estrutura social à qual pertence. Os mesmos princípios desenvolvidos na sociedade, por meio de outras instituições sociais, são adotados na escola, a fim de acompanhar “a constituição e as necessidades do organismo social” (Tura, 2001, p.49). O fim último da escola como reguladora social é “difundir uma moral laica racional, que proporcionasse a coação social” (Souza, 1994,p.8)(ATISIANO, 2006, p.33).

Conforme nos afirma Atisiano(2006), podemos verificar, que a escola, enquanto

instituição social reflete os elementos presentes na sociedade e o processo de ensino-

aprendizagem é o processo que também permite e estabelece formas de regulação social

adequando indivíduos e grupos à própria estrutura da sociedade. Deve-se verificar que a

instituição do Estado é reguladora da ordem social, estabelecendo-se a ordem no contexto das

sociedades complexas. A educação, na medida em que é uma das funções do Estado, também é

reguladora da moral vigente na sociedade.

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Segundo Demeterco(2007), Durkheim focalizou em sua concepção sociológica as

estruturas bem como as instituições sociais, considerando as novas relações de poder que se

instauravam em sua época. Estava preocupado com elementos de desagregação social que

concebia estarem presentes em sua sociedade. A educação para ele se constituía num processo

contínuo que permitiria a ordem e a estabilidade social, uma vez que determinados valores

éticos fossem passados e internalizados por indivíduos e grupos.

A educação enquanto instituição social reflete elementos da sociedade na qual se

encontram contidos indivíduos e grupos. Afirma Demeterco, com relação à educação numa

concepção durkheimiana: “Deve procurar restabelecer o consenso, a manutenção e a

continuidade do grupo social, transformando o homem num ser social, interiorizando os

valores e as maneiras de ser, pensar e agir do seu grupo. Isso tudo serviria para se criar e

manter mecanismos de regulação social, valorizando então a disciplina, a obediência e o

respeito à autoridade (Demeterco, 2007, p:15)”. Podemos verificar antão como dissemos

anteriormente que para Durkheim a educação se constitui então, no principal elemento de

socialização, na medida em que, permite a adequação pela internalização dos valores, normas e

regras sociais, de indivíduos e grupos ao contexto social mais amplo.

O fato social na concepção de Durkheim

Na abordagem de Durkheim, encontramos como objeto de investigação sociológica o

fato social, que podemos definir enquanto o conjunto de normas e de regras estabelecidas

coletivamente. Constituem-se em toda maneira de pensar, de agir e de sentir, que exercem sobre

indivíduos e grupos coerção exterior, que são independentes das concepções individuais. Neste

sentido, possuem uma força coercitiva sobre indivíduos e grupos, independentemente de suas

vontades individuais. Os fatos sociais, segundo nosso autor de referência, possuem como

características, serem coercitivos, exteriores e genéricos, sem estas características não

encontramo-nos diante de um fato social, segundo a concepção de Durkheim, pois estas

características são condicionantes e explicativas do fato social (Atisiano, 2006). Que relação

podemos fazer entre o fato social e a educação?

A educação, em Durkheim, tem poder coercitivo sobre indivíduos e grupos fazendo com

que estejam adequados às normas, aos costumes, aos hábitos estabelecidos na sociedade, neste

sentido, fazer parte da sociedade é estar agindo de acordo com o socialmente

determinado e, podemos verificar que a escola, enquanto instituição social é força motriz

da absorção do que encontra-se presente no contexto social. Afirma Atisiano o seguinte:

15

Para Durkheim, a educação exerce coerção sobre os indivíduos, obrigando-os a se conformarem aos seus conteúdos, costumes e hábitos, desenvolvidos na escola e presentes na sociedade, isto é, para que sejamos aceitos na coletividade em que vivemos, é preciso que nos adaptemos às posturas por ela determinadas. A educação também se apresenta de forma exterior ao indivíduo, ou seja, não cabe a ele decidir ou desejar ser educado conforme os padrões estipulados pela sociedade, isso já é definido antes mesmo do seu nascimento, tem existência própria. E, por fim, a educação tem um aspecto geral, não se trata de um caso isolado e, sim de um mecanismo adotado da maior parte dessa sociedade. O sistema educativo de determinada sociedade tem características imbricadas de costumes, hábitos e crenças, condizentes com a realidade social, política, econômica e cultural. Quando Durkheim o caracteriza como um fato social, não basta observar o comportamento individual para entender sua extensão. Ele definiu as três características citadas acima para que entendamos que um fato social só é explicado por meio de outro fato social a partir da investigação das instituições e a explicação do seu funcionamento. A educação – fato social e instituição, apresenta-se independente dos indivíduos, ela é uma força maior do que eles, que lhes dita comportamentos exigidos pela sociedade. Note-se também que Durkheim era ciente da importância dos indivíduos para a constituição a sociedade, do fato social ou de uma instituição, todavia, não era parte que lhe interessava, e sim a influência que o todo tinha sobre as partes, por isso, tanta ênfase nas instituições e suas diretrizes(ATISIANO, 2006, p.30).

Atisiano(2006), estabelece a própria definição das características dos fatos sociais, a

coercibilidade, a exterioridade e a generalidade, sendo que esta característica é a mais

sociológica das características se assim podemos dizer, na medida em que é a partir da

generalidade que os indivíduos e grupos reproduzem sem si as regras, normas, costumes,

crenças etc, presentes na sociedade, que estabelecem padrões comportamentais e repertórios de

ações coletivas, que permitem a ordem e a coesão social. Salienta a autora, que em Durkheim a

preocupação fundamental não encontrava-se na priorização dos indivíduos, mas das instituições

sociais e suas determinações, pois a manutenção da ordem, coesão e consenso sociais lhe era

importante.

O que verificamos ser uma tônica no pensamento de Durkheim, encontra-se no fato de

que no contexto das sociedades complexas, caracterizadas por uma divisão do

trabalho(especialização) que é mais desenvolvida do que nas sociedades denominadas de

simples, as várias instituições presentes na sociedade acabam por exercerem suas funções

determinadas a fim de integrar aos indivíduos. A educação para Durkheim, envolve então, a

ação que as gerações adultas exercem sobre as gerações mais jovens, que ainda não se

encontram preparadas para a vida social. A educação tem por objetivo fazer com que se

desenvolva na criança e nos jovens características notadamente morais, em estrita consonância

com os valores exigidos socialmente.

Durkheim, não estava preocupado com a transformação da sociedade capitalista, mas

sim com a sua regulação. Concebe a educação enquanto elemento que integra a sociedade, na

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medida em que deve existir para manter a ordem social. Não é tarefa da educação a

transformação da ordem social, notadamente da ordem social capitalista, mas sim a própria

reprodução dos valores morais, éticos dessa sociedade. Nesse sentido a educação numa

concepção durkheimiana não tem a função de mudar, mas sim de reproduzir. (Meksenas, 2005).

Max Weber (1864-1920) e a educação

Vimos anteriormente a concepção de Durkheim acerca da significação da educação no

contexto social. Agora vamos trabalhar com as concepções de Max Weber sobre a educação,

abordando alguns aspectos importantes de sua teoria. Como Weber concebe a relação indivíduo

e sociedade? Principal questão sociológica? Em Weber, não estamos diante de determinismos,

pois em sua concepção da relação indivíduo e sociedade, podemos dizer que trás para “dentro”

da sociologia o indivíduo enquanto “construtor” de seu universo social. Para Weber o indivíduo

em interação, trocando sentidos e significados, compartilhando esses mesmos sentidos e

significados, constrói a sociedade. Este é um primeiro momento, na concepção da relação

indivíduo e sociedade em Weber. O indivíduo como construtor do universo social, somente num

segundo momento é que teremos a determinação do social sobre o individual.

Weber, recusará uma concepção determinista, na medida em que enquanto seres

humanos em nosso ato de nomear as coisas, damos-lhe existência, damos-lhe vida, porque

atribuímos significados. O homem em seu estar no mundo então, constrói seu próprio universo

– o universo social, que por sua vez exercerá sobre nós sua determinação e, nesta determinação

Weber também considera os aspectos de caráter econômico.

O ponto de partida de Weber para compreender a sociedade, se constituía na

compreensão da ação do homem. Para ele era necessária investigar, interpretar e analisar a ação

do homem em seu estar no mundo e os sentidos e significados que seriam força motriz desta

mesma ação.Para ele, seu ponto de partida encontra-se na ação social e na concepção de que a

sociologia é uma ciência compreensiva.

Dialoga com a teoria marxista, mas afasta-se de Marx na medida em que ao explicar a

sociedade parte das relações estabelecidas pelos homens no contexto da sociedade capitalista e

não centraliza sua análise em determinantes econômicos. Considera a existência de inúmeros

grupos sociais em sociedades diferentes, que envolvem culturas diferentes e que, portanto,

devem ser consideradas também na ação educativa. Não nega taxativamente a luta de classes,

mas considera que não se encontra nela todas as causas e conseqüentes transformações

sociais.E, ainda, em Weber a sociedade não é uma força exterior sobre indivíduos e grupos que

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lhes determina, mas o próprio resultado de processos interativos. Afirma Rodrigues: “A

sociologia do alemão Max Weber(1864-1920) tem como premissa a idéia de que a sociedade

não é apenas uma “coisa” exterior e coercitiva que determina o comportamento dos

indivíduos, mas sim o resultado de uma enorme e inesgotável nuvem de interações

interindividuais. A sociedade para Weber não é aquilo que pesa sobre o indivíduo, mas aquilo

que se veicula entre eles. As conseqüências dessa visão para a sociologia da educação, é claro,

serão bastante significativas(RODRIGUES, 2007, p.51)”. Chama a atenção Rodrigues, para a

concepção diferenciada que Weber realiza, considerando-se os determinismos de Marx e

Durkheim, embora Weber não tenha produzido uma teoria sociológica sobre a educação.

Para Weber, segundo Rodrigues (2007), os homens vêem o mundo no qual se

encontram inseridos a partir de seus valores. São os valores que são compartilhados que são

internalizados pelos indivíduos, ou seja, são subjetivados de formas distintas, de acordo com o

processo de interação em que indivíduos estão inseridos. O mesmo meio social pode ter

significados, sentidos diferenciados para os indivíduos e, portanto, pode originar diferentes

formas de agir, na medida em que agimos conforme assimilamos os elementos culturais e

também conforme os diferentes tipos de racionalidade empregados. Afirma Rodrigues: “A

realidade é concebida por Weber, então, como o encontro entre os homens e os valores aos

quais eles se vinculam e os quais articulam de modos distintos no plano

subjetivo(RODRIGUES, 2007, p.52-53). Sendo assim, a sociedade não se constitui em um

bloco mas numa rede onde encontram-se presentes inter-relações. Pode-se verificar então que

em Weber, os valores que internalizamos são força motriz de nosso agir, então, agimos em

função dos valores que internalizamos em nossa interação com o outro.Afirma Weber, citado

por Rodrigues:

[...]por “ação” (incluindo a omissão e a tolerância) entendemos sempre um comportamento compreensível com relação a “objetos”, isto é, um comportamento especificado ou caracterizado por um sentido (subjetivo) “real” ou “mental”, mesmo que ele não seja quase percebido. (..)A ação que especificamente tem importância para a sociologia compreensiva é, em particular, um comportamento que: I. está relacionado ao sentido subjetivo pensado daquele que age com referência ao comportamento de outros;2.está co-determinado no seu decurso por esta referência significativa e, portanto, 3. pode ser explicado pela compreensão a partir deste sentido mental (subjetivamente)(WEBER, apud RODRIGUES, 2007, p.54)

Segundo Rodrigues(2007), agir em sociedade envolve sempre algum grau de

racionalidade por parte de quem age e esta mesma racionalidade envolve a racionalidade de

cada indivíduo que se encontra referida a racionalidade de outros indivíduos, porque estamos

em interação.

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Tipos de ação social

Em Weber, podemos perceber, segundo Nery (2007) que a concretude das normas e

regras sociais se realiza somente quando essas normas e regras encontram-se presentes em cada

indivíduo pelo processo de interação e internalização e se manifestam em cada indivíduo sob a

forma de motivação. Cada indivíduo age em sociedade tendo como ponto de referência um

motivo que pode ser determinado pela tradição, pelo afeto e pela racionalidade. Neste momento

de sua teoria Weber estabelecerá os tipos de ação social que se realizam em nossa vida em

sociedade, pois o objetivo que se expressa na ação social é o que nos permite o desvendar seu

próprio sentido, uma vez que cada indivíduo acaba por considerar no seu agir a resposta ou a

reação de outros indivíduos. São quatro os tipos de ação social estabelecidos por Weber:

- ação social tradicional – é a ação que é determinada por um costume, por um hábito, na qual o

ator social obedece a reflexos que são enraizados de longa prática. É a que é determinada por

hábitos, costumes e crenças e que acaba por ser transformada em uma segunda natureza. Neste

tipo de ação social reproduzimos padrões sociais que são consagrados pelos costumes e pelas

tradições que vivenciamos em nossa convivência social;

- ação social afetiva – tem como característica fundamental ser emotiva, ser determinada por

afetos ou até mesmo por estados sentimentais. Afirma Nery (2007): “Pode ser uma ação reativa

de caráter emocional do ator social em dada circunstância, em dado instante de sua vida, não

sendo determinada por um objetivo ou por um sistema de valores(NERY, 2007, p.39).”

-ação social racional com relação a valores: tem como característica fundamental ser a ação

que é determinada pela crença consciente em um dado valor que é considerado significativo por

parte do ator social. De certa forma, agimos de conformidade com os nossos princípios morais e

éticos e acabamos por “racionalizar” nosso agir de conformidade com estes princípios.

- ação social com relação a fins – tem como característica básica ser ação que realizamos

enquanto atores sociais tendo como referência, ou motivação nossos objetivos considerando os

meios que dispomos para atingi-los.

Em nosso viver em sociedade, enquanto atores sociais, no exercício de nossos papéis

sociais encontramo-nos diante destas formas de agir, ou seja, estas ações sociais funcionam

como forças motivacionais de nosso agir cotidiano.

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Weber é um autor que procurou investigar, interpretar e analisar a sociedade moderna,

complexa, a sociedade capitalista, portanto. É uma sociedade que se pauta pela racionalidade.

Weber irá nos falar de uma modernidade desumanizante (Carvalho, 2006), na qual prevalece o

que denomina de desencantamento do mundo. O homem da “modernidade racional” é um

homem desencantado, pois vive no mundo do império da lei e da razão e, educar neste mundo

tem aspectos diferenciados do que educar antes dessa transformação, no entanto, afirma

Carvalho:

Se o destino do homem é enfrentar a vida racionalizada, isto exige uma virilidade tamanha para podermos aceitar, sem ilusões políticas, religiosas, filosóficas, educacionais, o caráter inelutável desse processo. Significa aceitarmos tudo o que há de mais terrível e doloroso, como também de mais alegre e exuberante na existência. Aqueles que concebem a metafísica, isto é, que constroem mundos para além desse, que profetizam e esperam a superação do espetáculo da finitude, desprezando o que ocorre aqui e agora, supondo existir outra vida, igualam-se ao “homem da ordem”: o homem burocrático. Carismática e dionisíaca, portanto, é a educação que afirma sem reserva, o fatum, que aceita que ele se afirme por meio do homem que espelha o mundo, que traduz a vida, que nos dá chance de formar a personalidade. Segundo o ponto de vista de Max Weber, se é possível construir uma ação educativa na modernidade, ela deve estar fundada num questionamento permanente de suas próprias condições(CARVALHO, 2006, p.71-73).

A educação para Weber, no contexto de uma sociedade marcadamente racionalizada

estaria em estreita relação com a estratificação social, com meios de distinção e de obtenção de

certas honras que envolvem o poder e o dinheiro(Rodrigues, 2007). Afirma Rodrigues: “ No

modelo ideal weberiano a educação é, conforme o caso, socialmente dirigida a três tipos de

finalidades: despertar do carisma, preparar o aluno para uma conduta de vida e transmitir

conhecimento especializado(RODRIGUES, 2007, p.66)”. O primeiro tipo de educação – do

carisma, não se aplicaria as pessoas normais, não se constituindo, portanto, numa pedagogia,

pois não se pode ensinar o carisma, não se pode preparar para o carisma, este pode ser

concebido enquanto um “dom” pessoal. O segundo tipo – conduta de vida, Weber denomina de

pedagogia do cultivo. Forma o homem culto. Afirma Rodrigues:

Ao segundo tipo, Weber chama de pedagogia do cultivo. Ela procura formar um tipo de homem que seja culto, onde o ideal de cultura depende da camada social para a qual o indivíduo está sendo preparado, e que implica em prepara-lo para certos tipos de comportamento interior(ou seja, para a reflexividade) e exterior ( ou seja, um determinado tipo de comportamento social). Tal processo educacional assumia o aspecto de uma “qualificação cultural, no sentido de uma educação geral, e destinava-se ao mesmo tempo, à composição de determinado grupo de status( sacerdotes, cavaleiros, letrados, intelectuais humanistas, etc.), e à composição do aparato administrativo típico das formas tradicionais de dominação política(RODRIGUES, 2007, p.67).

20

Neste segundo tipo, podemos verificar que envolve aqui uma educação para a

qualificação cultural, onde uma educação geral parece ser prioritária. E o terceiro tipo de

educação é denominado por Weber, segundo Rodrigues (2007), uma pedagogia do treinamento,

envolvendo uma racionalização da vida social e a própria burocratização do aparato público de

nominação de caráter político. Neste tipo de educação envolve um preparo especializado no

sentido de transformar o indivíduo num técnico, num perito. Entendemos que a pedagogia do

treinamento é predominante no contexto da modernidade, ao mesmo tempo em que é uma

pedagogia que envolve a ascensão social e a obtenção de status privado.

Afirma Rodrigues: “ Weber via na pedagogia do treinamento, imposta pela

racionalização da vida, o fim da possibilidade de desenvolver o talento do ser humano, em

nome da preparação para a obtenção de poder e dinheiro. A racionalização é inexorável,

invencível, e a educação especializada, a lógica do treinamento, para Weber, também é. Para

ele, não há nada que se possa fazer a respeito(RODRIGUES, 2007, p.69)”. Neste sentido

encontramos em Weber um certo pessimismo com relação à sociedade moderna. Também pode-

se perceber em Weber que lhe é imprescindível o enfrentamento do mundo burocrático, onde

encontra-se presente a racionalidade, para que a vida e o mundo social não deixem de ser uma

possibilidade. Para Weber esta deveria ser a responsabilidade da ação educativa (Rodrigues,

2007).

PONTO FINAL

Neste capítulo, vimos os teóricos clássicos e suas concepções sobre a educação, bem

como seus principais pressupostos teóricos. São autores clássicos da sociologia que são

importantes para que compreendamos a forma como responderam à principal questão

sociológica. Marx, Durkheim e Weber, estabeleceram através de suas teorias, elementos que até

hoje fazem parte da compreensão sociológica, na medida em que podemos ainda aplica-los em

vários momentos, quer compreendamos as classes sociais, os fatos sociais e as ações sociais.

Eles nos permitiram entender de melhor forma a relação indivíduo e sociedade e, vermos as

determinações sociais sobre as ações de indivíduos e grupos no contexto das sociedades. Sem

estes autores certamente não teríamos instrumentos consistentes para compreendermos nosso

próprio agir, nossas idéias e visões de mundo. Como pensar a educação se não estamos em

contato com os pressupostos teóricos dos clássicos da Sociologia e da Sociologia aplicada à

Educação? Estas são questões importantes que nos permitem pensar os clássicos e seus objetos

de investigação sociológica dentro de parâmetros adequados à uma ciência que surge

fundamentalmente para conservar uma ordem social vigente, mas que aos poucos vai se

transformando em uma forma de análise mais crítica da realidade social.

21

Saber a diferença entre os autores clássicos da Sociologia nos permite termos

parâmetros de análise e de compreensão da realidade, inclusive da realidade social

contemporânea, pois é sempre a partir dos clássicos que a sociologia atual se estabelece. Eles

foram a base de toda uma estrutura de conhecimento que nos permitiu investigar, interpretar e

analisar a realidade envolvente.

TEXTO COMPLEMENTAR

O desenvolvimento do diploma universitário das escolas de comércio e engenharia, e o

clamor universal pela criação dos certificados educacionais em todos os campos levam à

formação de uma camada privilegiada nos escritórios e repartições. Esses certificados apóiam as

pretensões de seus portadores de intermatrimônios com famílias notáveis ( nos escritórios

comerciais as pessoas esperam naturalmente a preferência em relação à filha do chefe), as

pretensões de serem admitidos em círculos que seguem “códigos de honra”, pretensões de

remuneração “respeitáveis” em vez da remuneração pelo trabalho realizado, pretensões de

progresso garantido e de pensões na velhice e, acima de tudo, pretensões de monopolizar cargos

social e economicamente vantajosos. Quando ouvimos de todos os lados, a exigência de uma

adoção de currículos regulares e exames especiais, a razão para isso é, decerto, não uma “sede

de educação” surgida subitamente, mas o desejo de restringir a oferta dessas posições e de sua

monopolização pelos donos dos títulos educacionais. Como a educação necessária à aquisição

do título exige despesas consideráveis e um período de espera de remuneração plena, essa luta

significa um recuo para o talento (carisma) em favor da riqueza, pois os custos “intelectuais”

dos certificados de educação são sempre baixos, e com o crescente volume desses certificados

os custos intelectuais não aumentam, mas decrescem (...). Por trás de todas as discussões atuais

sobe as bases do sistema educacional, se oculta em algum aspecto mais decisivo a luta dos

“especialistas” contra o tipo mais antigo de “homem culto”. Essa luta é determinada pela

expansão irresistível da burocratização de todas as relações públicas e privadas de autoridade e

pela crescente importância dos peritos e do conhecimento especializado. Essa luta está presente

em todas as questões culturais íntimas (Weber, Burocracia, citado por Rodrigues, 2007, p.68).

QUESTÃO PARA REFLEXÃO Qual a contribuição dos clássicos da Sociologia para que possamos compreender a

educação hoje?

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EXERCÍCIO DE AUTO-ESTUDO

1)-A principal questão sociológica no contexto da atualidade é:

a)-( )a relação indivíduo e sociedade

b)-( )a relação entre indivíduos e grupos

c)-( )a relação entre sociedade e capitalismo

d)-( )nenhuma das alternativas é a correta

2)-O objeto de investigação sociológica em Marx, Durkheim e Weber, respectivamente é:

a)-( )classes sociais, fatos sociais e ação social

b)-( )ação social, fatos sociais e classes sociais

c)-( )fatos sociais, classes sociais e ação social

d)-( )nenhuma das alternativas é a correta.

3)-Em Marx a educação encontra-se, considerando a relação entre infra e superestrutura:

a)-( )esfera infraestrutural da sociedade

b)-( )esfera superestrutural da sociedade

c)-( )esfera econômica da sociedade

d)-( )nenhuma das alternativas é a correta

4)-Em Durkheim os determinantes do social sobre o individual se fazem a partir das:

a)-( )regras e normas sociais

b)-( )instituições sociais

c)-( )classes sociais

d)-( )nenhuma das alternativas anteriores é a correta

5)-Os tipos de ação social estabelecidos por Weber são:

a)-( )ação social carismática, ação social afetiva, ação social tradicional

b)-( )ação social racional-legal, carismática, afetiva e racional conforme valores

c)-( )ação social tradicional, afetiva, racional conforme valores e racional conforme fins

d)-( )nenhuma das alternativas é a correta.

6)-Em Weber podemos falar de uma pedagogia do:

a)-( )treinamento

b)-( )do espaço escolar

c)-( )do espaço social onde temos a esfera pública

d)-( )nenhuma das alternativas é a correta.

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ATIVIDADE

Caro aluno, como atividade de estudo, procure fazer um quadro comparativo

envolvendo a concepção da relação indivíduo e sociedade em Marx, Durkheim e Weber, bem

como a concepção de educação.Você verá que feito este quadro comparativo terá elementos

fundamentais dos autores mencionados neste capítulo.

DICAS DE ESTUDO.

Como dica de estudo, sugerimos a leitura do livro de Alberto Tosi Rodrigues, intitulado

Sociologia da Educação, datado de 2007, editado pela editora Lamparina.

BIBLIOGRAFIA

ATISIANO, Regiane Aparecida (2006). A Educação sob o enfoque de Émile Durkheim. In

Sociologia e Educação. Leituras e Interpretações. São Paulo. Avercamp. Editora.

CARVALHO, Alonso Bezerra de. A Sociologia Weberiana e a Educação. In Sociologia e

Educação. Leituras e Interpretações. São Paulo. Avercamp. Editora.

DEMETERCO, Solange Menezes da Silva (2007). Sociologia da Educação. Curitiba.

Iesde/Brasil.

MEKSENAS, Paulo (2005). Sociologia da Educação. Introdução ao estudo da escola no

processo de transformação social. São Paulo.Edições Loyola.

NERY, Maria Clara R. (2007). Sociologia Contemporânea. Curitiba. Editora do Iesde.

RODRIGUES, Alberto Tosi. (2007). Sociologia da Educação. São Paulo. Editora Lamparina.

SILVA & CARVALHO, Wilton Carlos Lima da & Alonso Bezerra de (2006) .

(2006).Contribuições do Materialismo Histórico para a Educação. In. Sociologia e Educação.

Leituras e Interpretações. São Paulo. Avercamp. Editora.

24

EDUCAÇÃO ENQUANTO INSTÂNCIA CONSERVADORA

Vimos anteriormente os teóricos clássicos da sociologia e suas concepções acerca da

educação. Agora vamos trabalhar com a educação em seu aspecto conservador e em seu aspecto

de libertação, de transformação da realidade social vivenciada por indivíduos e grupos.

As tendências conservadoras da educação.

A partir de Durkheim tivemos a origem de uma série de teorias pedagógicas, na medida

em que a concepção sociológica de educação de caráter funcionalista influiu em muitas das

abordagens sobre a educação no contexto da denominada pedagogia moderna. São denominadas

de conservadoras, na medida em que têm como fundamento base a noção de que a sociedade é

uma soma de indivíduos que deverão ser preparados para serem adequados à vida social através

do processo educativo. São conservadoras também, porque não concebem a transformação do

mundo atual, ou seja, não envolve a transformação da sociedade capitalista, com suas

contradições e desigualdades, mas pregam sua reprodução através da adequação dos indivíduos

ao sistema, à vida social (Meksenas, 2005). São três, segundo Meksenas as tendências que

merecem destaque na contemporaneidade: a pedagogia tradicional, a pedagogia nova e a

pedagogia tecnicista.

Algumas palavras sobre a pedagogia tradicional.

Na pedagogia tradicional podemos considerar que o indivíduo é um “assimilador” que

deve ser adaptado ao contexto social envolvente. Parte do princípio de que o indivíduo deve

assimilar os conhecimentos acumulados no decorrer do desenvolvimento do homem em seu

estar no mundo. Afirma Meksenas: “Parte do princípio de que a melhor forma de adaptar e

preparar o indivíduo para a vida em sociedade é fazer com que assimile uma série de

conhecimentos referentes à cultura e a ciência, acumulados no decorrer do desenvolvimento da

civilização humana (MEKSENAS, 2005, P.52). O aluno seria neste contexto um simples

receptor de informações, que lhe permitam o enriquecimento de sua cultura individual, que lhe

possibilite desenvolver funções úteis no contexto da sociedade. Se recobramos Weber neste

momento era justamente isto que Weber condenava, se assim podemos dizer no contexto das

sociedades modernas, o próprio surgimento de “cultos especialistas”.

Aqui estamos diante da simples transmissão de conhecimentos acumulados

historicamente. Nestes aspectos a figura do professor vai assumir papel central, na medida em

25

que é o grande transmissor de informações que são necessárias aos alunos. Ele é o “dono” de

um saber acumulado que deve transmitir. Ele, professor, portanto, detém todo o poder, cabendo

ao aluno ouvi-lo silenciosamente, para poder enriquecer sua cultura individual. Aquele que de

melhor forma apreender as informações fornecidas encontrar-se-á apto para concorrer no

mercado de trabalho, bem como estará mais bem adaptado ao sistema, podendo galgar os mais

promissores postos na escala social. Aqui, encontramos a ascensão social intimamente ligada à

educação, mas esta mesma ascensão social constitui-se por ser não uma obra coletiva, mas uma

obra de caráter individual, pois depende fundamentalmente do esforço individual(

Meksenas,2005).

Estamos diante do conhecimento enciclopédico. Afirma Meksenas: “Em resumo, o

professor, que deve transmitir as verdades científicas, passa a ser centro do processo

educativo. A aula deve, portanto, girar em torno da figura do professor que deve ser também a

autoridade responsável pelo bom desempenho do ensino e da ordem dentro da sala de aula. Ao

aluno, cabe apenas acatar as decisões sem questioná-las(MEKSENAS, 2005, p.52). Que

capacidade crítica desenvolve o aluno para a compreensão de seu estar no mundo? Que

questionamentos da realidade social vivenciada pode realizar sendo apenas um receptor de

informações? São questões que de certa forma devem nos acompanhar quando nos deparamos

com a pedagogia tradicional? Embora possamos pensar que não haja mais lugar para este tipo

de pedagogia, no contexto de uma sociedade capitalista, marcadamente concorrencial e no

próprio contexto de uma sociedade informacional, será que este tipo de pedagogia tem

decretado o seu final, a sua inadequação? Entendemos que não. Em muitos cursos ainda existe

esta forma de pensar e, ainda muitos educadores professam esta forma de agir pedagógico.

Algumas palavras sobre a pedagogia nova

Na pedagogia tradicional, verificamos que a melhor forma de adequar o indivíduo para

a vida em sociedade é fazer com que ele assimile os conhecimentos referentes aos

conhecimentos acumulados no desenvolvimento da civilização. Já na pedagogia nova o que

temos como principal pressuposto é fazer com que em vez de acumular os conhecimentos

produzidos pela humanidade ele deva aprender a maneira como esses conhecimentos se criam.

O aspecto fundamental no contexto da pedagogia nova, encontra-se no fato de que o

indivíduo deve saber das formas e métodos que permitam chegar às informações produzidas e

acumuladas pela civilização humana. Nesta forma de pedagogia o fundamental objetivo diz

então respeito ao ato de ensinar o aluno a produzir conhecimento e não a simplesmente

transmiti-lo. Afirma Meksenas: “ Se o objetivo não é transmitir conhecimento, mas ensinar o

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aluno a produzi-lo, então a figura do aluno deve ser tão importante quanto a do professor. Este

passa a se ver como orientador. A aula expositiva não se faz necessária. Mais importantes que

a exposição do professor se tornam os trabalhos em grupo, a dinâmica, o debate, pois todas

essas técnicas levam à valorização da experiência, da prática, enfim, do aprender

fazendo(MEKSENAS, 2005, p.51). Podemos perceber que encontramos aqui uma forma mais

dinâmica do próprio processo de ensino-aprendizagem, na medida em que o aluno acaba por

possuir um papel mais ativo, mais construtor diríamos assim de sua aprendizagem sob a

orientação do professor. Há o reconhecimento do papel ativo do aluno na absorção das formas e

métodos que lhe permita chegar às informações.

No contexto da pedagogia nova haveria na relação professor-aluno no que concerne ao

processo de ensino-aprendizagem uma relação de cunho mais democrático. Mas esta

democracia que se supõe existente acaba por não se referir, segundo Meksenas (2005), à

igualdade de oportunidade para todos, ou seja, não envolve o questionamento da realidade

presente nas sociedades capitalistas marcadamente desiguais, pois a democracia que se faz

envolve a liberdade de ascender socialmente, mantendo-se a competição, não sendo

questionada, ou não levando ao questionamento a realidade de uma sociedade capitalista, da

realidade social vivenciada, mantendo-se de forma camuflada o princípio da adaptação do

indivíduo à sociedade, sem que seja construída uma consciência crítica que leve à sua

transformação.

Algumas palavras sobre a pedagogia tecnicista.

Estamos diante de uma nova pedagogia de caráter conservador – a pedagogia tecnicista.

Ela encontra-se diretamente relacionada com os determinantes de mercado da sociedade

capitalista. Tem como pressuposto o fato de que o indivíduo encontra-se adaptado à sociedade,

recebendo informações a partir dos determinantes de estímulo-resposta. As informações se

constituiriam no estímulo, estimulo ao qual deve o indivíduo apresentar uma resposta adequada

(Meksenas, 2005).

Neste tipo de pedagogia encontramos o fato de que encontra-se a cargo dos especialistas

da educação estabelecer e elaborar os estímulos e os programas de ensino. O papel do professor

se modifica, na medida em que a ele fica restrita a aplicação dos estímulos e dos programas em

sala de aula. O professor agora tem o papel de ser o instrutor de ensino, o próprio treinador se

assim podemos dizer. Afirma Meksenas: “O professor-instrutor representa o elemento que

treina ou adestra o aluno a realizar com êxito uma tarefa qualquer(MEKSENAS, 2005, p.54)”.

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Podemos verificar que no contexto da sociedade capitalista, de acordo com as próprias

necessidades do sistema o papel do professor foi se alterando paulatinamente.

Esta pedagogia tem como objetivo principal o rápido treinamento do aluno para sua

também rápida profissionalização. Afirma Meksenas (2005): “As aulas passam a se organizar

através de recursos audiovisuais, textos programados ou livros didáticos que se estruturam no

eixo pergunta-resposta. Ao aluno não cabe o direito ao debate ou questionamento. Apenas

reação aos estímulos que o instrutor lhe determinar. Nesse contexto não se valorizam as aulas

expositivas(pedagogia tradicional) nem os trabalhos em grupo(pedagogia nova), ao contrário,

o aluno se vê muitas vezes sozinho diante de um texto que deverá seguir com perguntas e

respostas. Nem instrutor nem aluno debatem(MEKSENAS, 2005, p.54).

Pela afirmação de Meksenas, podemos verificar que não encontramos a forma dialógica

do processo de ensino-aprendizagem. Esta ausência do diálogo é fator obstaculizador do

advento de uma consciência crítica que permita a ação transformadora da sociedade.Trata-se de

uma tendência pedagógica conservadora, como se tratavam as anteriores tendências que vimos.

Em todas o objetivo primordial é a adaptação e adequação do indivíduo à sociedade, mas na

mesma forma em que indivíduos e grupos se encontram adaptados à sociedade, reproduzem esta

mesma sociedade em suas condutas, em suas visões de mundo e de homem em seu ato de viver

coletivamente, mantendo-se assim a ordem estabelecida, sem questionamentos e sem

transformações radicais em sua estrutura, mantendo-se assim a configuração social que se

alicerça na desigualdade e na exclusão, como é o contexto da sociedade capitalista.

Como se manifestam as tendências pedagógicas conservadoras no contexto da educação

brasileira? (Algumas palavras)

Na escola brasileira, segundo Meksenas(2005), não podemos encontrar considerando-se

as práticas pedagógicas uma das três tendências aplicadas em seu sentido puro, no sentido de

serem aplicadas exclusivamente. Encontramos um universo híbrido que envolve as três

tendências pedagógicas modernas, na medida em que historicamente não aplicamos um dos

modelos em sua totalidade.

Nas salas de aula brasileira, podemos encontrar a mistura das três técnicas – pedagogia

tradicional, nova pedagogia e pedagogia tecnicista, o que pode significar que ainda em termos

das salas de aula brasileira encontramo-nos diante de um processo de ensino-aprendizagem de

caráter conservador, na medida em que são essas tendências que se mesclam e se confundem.

Verificando este aspecto, podemos questionar como questiona Rodrigues: “Como compreender

28

os debates e conflitos sociais que envolvem a educação contemporânea sem levar em conta a

configuração atual dos conflitos em torno da economia e do Estado capitalista? Como entender

a escola e o ensino atuais sem entender o confronto hoje colocado entre os interesses privados

e a regulamentação do Estado?(RODRIGUES, 2007, p.91)”

Responder a estas questões, envolverá a construção de uma consciência crítica da realidade

social vivenciada. Afirma ainda Rodrigues: “As concepções de mundo, as idéias e os valores

que as pessoas compartilham entre si e que ensinam a seus filhos e alunos não são dádivas do

céu; são construídas na teia cotidiana de relações e interações. São invenções do homem, são

construções sociais. E são sempre resultado dos conflitos e dos consensos que se estabelecem

na sociedade, são fruto das relações de poder e da violência (física ou simbólica) que alguns

grupos ou classes são capazes de exercer sobre outros (RODRIGUES, 2007, p.91)” O processo

de ensino-aprendizagem com todos aqueles que nele se encontram envolvidos não pode ficar

imune aos questionamentos da ordem social. É por este aspecto que podemos conceber a

educação brasileira como ainda conservadora, repetimos, na medida em que nas salas de aula as

três tendências pedagógicas encontram-se mescladas e, portanto, em pleno século XXI, não

temos ainda o verdadeiramente novo na educação.

PONTO FINAL

É importante, que com este capítulo, caros alunos, vocês possam compreender que os

processos de ensino-aprendizagem relacionado com aqueles que nele se encontram envolvidos

não está isento dos próprios questionamentos da ordem social. Pensar a educação e seu

consecutivo processo de ensino-aprendizagem é sempre manter a relação com a estrutura social

mais ampla, sob pena de não podermos compreender os elementos constitutivos da realidade

que perpassam os processos educativos. Neste capítulo vimos as tendências conservadoras da

educação na tridimensionalidade de suas faces, para que possamos compreender e até mesmo

nos questionarmos acerca de nossa própria prática. Compreender as três faces conservadoras da

educação presentes em nossa realidade educacional nos permite verificarmos em nossa

realidade cotidiana de professores, de pedagogos até que ponto estamos de certa forma somente

reproduzindo práticas que não possibilitam o surgimento de uma educação de caráter mais

libertador, que envolveria indivíduos e grupos na luta pela cidadania e pela própria busca de

melhores e mais dignas condições de existência.

TEXTO COMPLEMENTAR

29

Podemos afirmar que a pedagogia tradicional sempre foi o eixo central da escola

brasileira, desde os tempos das primeiras escolas leigas e públicas que se estabeleceram por

ocasião da vinda de D. João VI para o Brasil em 1808. Nas décadas de 1920 e 1930, o cenário

cultural e educacional do Brasil passa por mudanças significativas. Dos vários acontecimentos

que mudaram o rumo de nossa educação, merece destaque a criação, em 1924, da ABE

(Associação Brasileira de Educação). Nessa associação aparece um grupo de educadores

liderados pelo sociólogo Fernando de Azevedo, que se articulam em torno do “Movimento

Renovador do Ensino”. Eles serão os primeiros porta-vozes da pedagogia nova no Brasil. Com

isso, podemos afirmar que nas décadas de 1920/1930 surgem no país as primeiras idéias da

pedagogia nova. Entretanto, por não se conseguirem viabilizar, as propostas dessa pedagogia

serão pouco adotadas. Apenas recentemente começam a ser mais debatidas entre nós e passam,

junto com a pedagogia tradicional, a fazer parte das práticas escolares.

A pedagogia tecnicista começa a ser muito difundida e até se torna um dos pilares da

proposta metodológica para o ensino oficial brasileiro no período subseqüente a 1970. Com a

instauração do regime militar em 1964 a tônica que tecnocratas e generais procuram dar ao

ensino vai na linha profissionalizante da mão-de-obra: capacitar trabalhadores de modo rápido.

Na verdade, a maior preocupação dos introdutores da tendência tecnicista no Brasil era evitar ao

máximo que a escola fosse local de debate e questionamento da vida nacional e, nesse contexto

político, a proposta tecnicista parecia ser a ideal.(MEKSENAS, 2005, p.55-56).

QUESTÃO PARA REFLEXÃO

Em que aspecto as concepções conservadoras da educação contribuem para a

manutenção da ordem vigente no contexto da sociedade brasileira?

EXERCÍCIO DE AUTO-ESTUDO

1)-Na pedagogia tradicional o aluno é basicamente um:

a)-( )assimilador

b)-( )transmissor

c)-( )receptor

d)-( )nenhuma das alternativas é a correta

2)-No contexto da pedagogia nova, o aluno deva:

a-( )transmitir os conhecimentos acumulados

b-( )aprender a maneira como esses conhecimentos acumulados se criam

30

c-( )receber ensinamentos da forma como os conhecimentos são transmitidos

d-( )nenhuma das alternativas anteriores.

3)-A pedagogia tecnicista se encontra diretamente relacionada com:

a-( )os determinantes de mercado da sociedade capitalista

b-( )a escola nova e suas formas de transmissão de conhecimentos

c-( )a escola tradicional e suas formas de transmissão de conhecimentos

d-( )nenhuma das alternativas anteriores

4)-A pedagogia tecnicista encontra-se diretamente relacionada com:

a-( )rápido treinamento do aluno para uma rápida profissionalização

b-( )rápido desenvolvimento escolar

c-( )rápido desenvolvimento nas formas de transmitir conhecimento

d-( )nenhuma das alternativas anteriores

5)-No contexto da pedagogia tecnicista podemos verificar que:

a-( )a educação encontra-se a cargo de especialistas

b-( )a educação encontra-se a cargo de instituições religiosas

c-( )a educação encontra-se a cargo da família

d-( )nenhuma das alternativas anteriores

6)-Na pedagogia tradicional o centro do processo educativo é:

a-( )o professor

b-( )o aluno

c-( )o especialista

d-( )nenhuma das alternativas anteriores é a correta.

ATIVIDADE

Caro aluno, procure fazer um quadro comparativo abrangendo as três tendências

pedagógicas da educação, envolvendo o item concepção de educação. Você verá que terá de

forma clara a diferença das três tendências pedagógicas presentes no contexto da educação

brasileira.

DICAS DE ESTUDO.

31

Sugerimos, como dica de estudo a leitura do livro de Paulo Meksenas SOCIOLOGIA

DA EDUCAÇÃO – Introdução ao estudo a escola no processo de transformação social. Datado

de 2005, editado pelas editoras Loyola.

BIBLIOGRAFIA.

MEKSENAS, Paulo. (2005). Sociologia da Educação. Introdução ao Estudo da escola no

processo de transformação social. São Paulo Edições Loyola.

RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da Educação. 2007. São Paulo. Editora Lamparina.

32

TENDÊNCIA PROGRESSISTA DA EDUCAÇÃO E AS

DETERMINAÇÕES DA ESTRUTURA SOCIAL SOBRE A

EDUCAÇÃO.

Em nossa abordagem anterior vimos as tendências conservadoras na educação. Nesta

parte de nossa disciplina trabalharemos fundamentalmente com dois aspectos que são

importantes as tendências progressistas da educação e as determinações da estrutura social sobre

a educação. Estes temas encontram-se relacionados, na medida em que as tendências

educacionais ou pedagógicas na se encontram refratárias aos determinantes estruturais que se

apresentam no contexto social envolvente.

É, como vimos em nossas abordagens anteriores, principalmente na abordagem de

Marx, que a partir da incorporação dos pressupostos marxistas a pedagogia possuirá concepções

mais críticas a respeito do processo educativo, do processo de ensino-aprendizagem e sua

relação com a sociedade. Esta mudança notadamente começa a ocorrer a partir da década de 70,

onde muitos sociólogos procuraram desenvolver concepções mais críticas acerca da educação e

de seu próprio papel na sociedade.

A sociedade capitalista é uma sociedade marcadamente desigual e excludente, na

medida em que nela encontram-se presentes o próprio processo da luta de classes, onde temos

uma relação desigual entre capital e trabalho. Desigual porque na medida em que o capital,

representado pela burguesia, tenta conservar seu status quo, seus privilégios, sendo dono dos

meios de produção, o trabalho, representado pela classe trabalhadora, detentora unicamente de

sua força de trabalho, tenta transformar sua realidade que é sofrida na medida em que sofre as

contradições do modo de produção capitalista. Neste sentido a relação entre estas classes é

marcadamente antagônica e desigual.

Considerando estes aspectos e verificando que a escola é antes de tudo uma instituição

social que não é refratária ao que se encontra presente no contexto social mais amplo, pode-se

depreender que a desigualdade presente na estrutura social perpassa os espaços da escola, pois a

classe que detém o poder econômico no contexto das sociedades, detém também o poder

ideológico, jurídico e político desta mesma sociedade. Neste sentido considerando-se a relação

entre infra e superestrutura social, podemos observar que a escola sendo superestrutural

reproduz as relações presentes no contexto da infra-estrutura e exerce também o papel de

legitimadora destas mesmas relações, relações estas que são desiguais, mas ocorre que todo

sistema origina em si sua força contrária, este é um aspecto dialético presente na própria vida –

33

tudo está pleno de seu contrário e, assim podem-se construir concepções e visões de homem e

de mundo de caráter mais progressista dentro do próprio ambiente escolar, no contexto das

relações cotidianas, ou seja, no mundo da vida.

A escola não necessariamente deva reproduzir as relações presentes no contexto da infra

estrutura, enquanto instância superestrutural que é, ela pode também ser a força contrária que

sendo dinâmica permita uma análise crítica da realidade social vivenciada por indivíduos e

grupos e, em sendo assim levar aos caminhos que possibilitem transformações nos processos de

desigualdades sociais presentes na sociedade, principalmente através do processo de

conscientização do aluno de sua própria realidade social vivenciada. A escola não pode resumir-

se a um papel meramente reprodutor da ordem vigente, ela também é fonte ou força motriz de

concepções e visões do processo de ensino-aprendizagem mais progressistas que levariam a

transformação da sociedade e consequentemente da própria escola.

Na escola enquanto instituição social, que reproduz as contradições presentes no

contexto da sociedade mais ampla, encontramos também segundo Meksenas(2005), quando se

refere a Georges Snyders forças progressistas que estão presentes nas resistências ao sistema

que os alunos podem apresentar, na presença de professores progressistas e questionadores da

ordem vigente, com uma nova concepção de mundo e de homem para além do próprio sistema e

encontramos a pressão dos denominados movimentos populares. Já dissemos anteriormente que

a escola por ser uma instituição social não é refratária ao que se passa na sociedade, portanto,

também incorpora em seu interior os movimentos que buscam questionar e transformar a ordem

instituída.

Devemos compreender que o processo educativo pode ter caráter conservador ou

inovador dependendo do contexto histórico e social no qual se encontra contido. Segundo

Oliveira (2005), a educação se constitui enquanto uma verdadeira técnica social, como uma

metodologia que tem por finalidade influenciar o comportamento humano, visando a que se

adapte aos padrões instituídos de interação e de organização social. Afirma Oliveira:”A

educação como processo social deve ser aberta, democrática, para preparar ou equipar as

pessoas ou grupos para a mudança social, isto é, para o aperfeiçoamento progressivo do

homem e a construção de um mundo melhor(OLIVEIRA, 2005, p.28). Na atualidade, neste

contexto de uma sociedade pós-moderna, onde as certezas caíram por terra, a escola pode ser

um espaço de resistência com reflexões e compreensões de uma realidade social complexa,

globalizada e marcadamente excludente.

Concepção libertadora da educação

34

A pedagogia libertadora, como é denominada esta nova concepção da educação

questiona drasticamente as formas de educação conservadoras, para ela há nestas formas de

educação o processo de domesticação dos alunos, no sentido de adaptá-los ao sistema, fazendo

com que o aluno entenda sua condição sócio-histórica como natural e não como construção

humana que o homem realiza em seu estar no mundo, na medida em que pauta-se pela

transmissão do conhecimento não trabalhando com elementos de cunho mais questionadores da

ordem social, política, econômica e cultural na qual o aluno encontra-se inserido. Afirma

Meksenas:

Em outras palavras, a pedagogia libertadora não está preocupada apenas com a cultura individual do aluno, nem em modelar o seu comportamento para viver na sociedade capitalista, ao contrário: a proposta da pedagogia libertadora é partir dos problemas enfrentados pelo aluno no seu cotidiano para que ele possa compreender criticamente a sua classe social de origem de modo a ter uma prática transformadora da realidade que o cerca. Em resumo, a preocupação central é aprender a ler nas desigualdades do capitalismo os caminhos que possam levar à alteração dessa mesma sociedade. Nesse sentido, a pedagogia libertadora é progressista: coloca como eixo central a relação educação-política(MEKSENAS, 2005, p.87)

Pode-se verificar a diferença da forma de pensar a educação no contexto da pedagogia

libertadora. Entender de forma crítica o seu cotidiano, permite ao aluno a construção de uma

consciência crítica e questionadora da realidade na qual ele vive. Se observamos bem no

contexto da sociedade brasileira a educação libertadora não nasceu no contexto da instituição

escola, mas fora dela. Nasceu no contexto dos movimentos sociais em sua luta, nasceu no

contexto da busca por melhores condições de trabalho da denominada classe trabalhadora.

Afirma Meksenas: “ Nesse contexto, a pedagogia libertadora aparece como a pedagogia dos

oprimidos: pessoas da classe trabalhadora que foram excluídos prematuramente da escola.

Não por acaso, essa tendência nasce da prática de alfabetização e adultos (MEKSENAS, 2005,

p.88). Meksenas demonstra claramente que a pedagogia libertadora tem sua nascente nos

segmentos excluídos dos bancos escolares em função de entrada prematura no mercado de

trabalho.

Determinações da estrutura social sobre a educação – algumas palavras.

Vimos anteriormente os pressupostos de uma educação libertadora. Neste sentido

podemos perguntar: o que ocorre no contexto de nossa sociedade que a educação não assume

um caráter mais progressista, libertador? Pensarmos neste aspecto é pensarmos justamente a

questão da estrutura social, pois, repetimos a escola, o próprio processo educativo não se

encontra ausente das determinações presentes na estrutura social.

35

Segundo Oliveira(2005), a estrutura social se constitui no conjunto de partes que estão

concatenadas, encadeadas, que permitem a formação do todo. Afirma Oliveira: “Dito de outro

modo, estrutura social é a totalidade dos status existentes em um determinado grupo social ou

em uma sociedade ( OLIVEIRA, 2005, p.35)”. Pelo que podemos observar a estrutura social

envolve então as partes que são constitutivas de uma totalidade, neste sentido podemos verificar

que toda estrutura social envolve elementos econômicos, ideológicos, jurídicos e políticos,

formando uma totalidade.

Afirma Oliveira: “Cada um dos participantes de uma estrutura desempenha o papel

correspondente à posição social que ocupa. O conjunto de todas as ações que são realizadas

quando os membros de um grupo desempenham seus papéis sociais compõe a organização

social. Esta corresponde, portanto, ao funcionamento do organismo social (OLIVEIRA, 2005,

p.35). Estamos diante, então de dois conceitos fundamentais – estrutura social e organização

social, sendo que a estrutura envolve os atores sociais no exercício de seus papéis sociais e a

organização social, que envolve o próprio funcionamento do denominado organismo social.

Neste sentido, pode-se observar, seguindo-se Oliveira (2005), que a estrutura social acaba por

nos dar uma idéia, uma visão de estática, é o que está presente, já a organização social, nos dá

uma idéia de dinâmica, na medida em se encontram envolvidos os atores sociais e as relações

que estabelecem. Segundo Nery (2007), é um espaço de caráter pluridimensional no qual se

encontram posicionados os atores sociais.

Pensar na estrutura social é também pensar no modo de produção que constitui a

estrutura. É importante que recobremos a concepção marxista acerca da estrutura social. Na

concepção marxista temos de forma clara a formação social composta da infra e da

superestrutura social. É importante que vejamos a relação entre estas duas “forças” que formam

a sociedade. A relação é a seguinte: a infra-estrutura, onde se encontram as bases econômicas da

sociedade, as relações de produção, determina a superestrutura, neste sentido a forma como os

homens se organizam para produzir os bens que necessitam (modo de produção) é a base infra-

estrutural de toda e qualquer sociedade, mas como dissemos anteriormente a infra-estrutura

determina a superestrutura, que por sua vez é composta das instâncias ideológica, jurídica e

política. Vamos ver alguns aspectos referentes à superestrutura social, principalmente no que diz

respeito às suas instâncias.

Na instância ideológica encontramos presentes todas as instituições que de certa forma

transmitem valores, hábitos, conhecimentos, crenças presentes na sociedade – a escola, a igreja,

os partidos políticos, etc., fazem parte da instância ideológica da formação social; a instância

36

jurídica envolve a lei; e a instância política, envolve as relações de poder, configurada na

instituição do Estado, no contexto das sociedades modernas.

Ocorre que a superestrutura, determinada pela infra-estrutura, tem papel legitimador das

relações que se encontram presentes na própria infra-estrutura, sendo assim muitas das idéias

que professamos podem legitimar as relações de desigualdade presentes na base da formação

social. A lei pode também exercer esta mesma forma de legitimação, bem como a instituição do

Estado. Em resumo: a infra-estrutura, determina a superestrutura e a superestrutura, legitima,

ratifica as relações presentes na infra-estrutura social.

O que podemos pensar da educação? Como podemos ver a educação faz parte da instância

ideológica, neste sentido pode transmitir todos os valores, hábitos e crenças presentes na

sociedade. Se a sociedade é desigual, a educação poderá transmitir os valores da classe que tem

poder dominante. Neste sentido, segundo Nery(2007), a educação na sociedade desigual,

desigualdade esta estabelecida na estrutura social, leva a que indivíduos e grupos internalizem

os valores daqueles que são dominantes e exercem o poder na estrutura da sociedade. Neste

sentido, se consideramos Marx, podemos dizer que no contexto de uma sociedade de classes a

educação vai transmitir os valores da classe dominante. Afirma Oliveira:

A educação depende do modo de viver total de uma sociedade. Assim, a espécie de educação difere de acordo com os tipos de sociedade(...)Por isso, não só são diversos os sistemas educativos e as instituições educacionais, assim como cada sociedade tem seus próprios tipos ideais de homens e heróis culturais, que os jovens seguem como exemplo.(...) O modo de produção da sociedade determina não só o sistema de estratificação social ( castas, estamentos ou classes sociais) e de educação, como também o modo de pensar e agir dos indivíduos na sociedade. No entanto, esta determinação não é absoluta. A educação dada dentro de uma determinada sociedade, muda com o correr do tempo, à medida que a sociedade muda. Só a partir do surgimento e consolidação do modo de produção capitalista é que a educação se desenvolveu em complexos sistemas de ensino(OLIVEIRA, 2005, p.50-51)

Oliveira, chama a atenção para o fato de termos uma relação de interdependência entre a

estrutura social e a educação ou até mesmo sistemas de ensino. Já dissemos anteriormente que a

educação não é refratária ao que se encontra presente no contexto social mais amplo e,

salientamos que é compreendendo a relação entre estrutura e educação que podemos

compreender porque não existe essa isenção da educação com os determinantes presentes na

sociedade. De certa forma podemos até mesmo dizer que há também uma relação de

interdependência entre estrutura social e o próprio sistema escolar.

TEXTO COMPLEMENTAR

37

Como vimos, ma questão central para a sociologia é a de identificar qual o peso que têm

sobre as relações sociais da vida cotidiana as estruturas sociais já estabelecidas, consolidadas, já

institucionalizadas. Isto é, saber em que medida um determinado fenômeno social como, por

exemplo, uma reforma ( burocrática, política, cultural) do sistema de ensino, é resultante do

modo atual pelo qual as instituições sociais já estabelecidas ( o Estado, as Igrejas, o mercado

etc.)estão organizadas ou, por outro lado, é resultante das ações inovadoras de sujeitos sociais

interessados em modificar o funcionamento dessas instituições. É preciso levar em consideração

a autoridade ( capacidade de fazer-se obedecer) e a legitimidade (o que dá fundamento à

obediência)das instituições, isto é, das estruturas da sociedade e, ao mesmo tempo, o modo

como as disputas se dão entre os diferentes sujeitos (grupos, classes, etc.) que atuam na vida

social. Os processos sociais gerais são, no fim das contas, resultado da interação entre os

sujeitos e as estruturas.

Assim, o sociólogo precisa ter sempre um olho para as estruturas (aquilo que está

estabelecido) e outro olho para os processos (aquilo que está em mudança). Permanência e

mudança são resultantes da tensão que sempre existe entre o peso das instituições e a

capacidade de ação dos sujeitos. Pois as práticas dos sujeitos, estarão, com certeza, orientadas

para manter ou mudar os conteúdos das estruturas(RODRIGUES, 2007, p:86).

PONTO FINAL

Caros alunos, vimos neste capítulo uma abordagem sobre as tendências progressistas da

educação e as determinações da estrutura social sobre a mesma educação. Neste sentido é

importante que vocês todos retenham o seguinte aspecto: que termos tendências progressistas ou

tendências conservadoras acerca da educação, envolve sempre trabalharmos com os

determinantes da estrutura social. Como poderemos pensar a educação, repetimos, se não

trabalhamos com os determinantes estruturais que estão a lhe envolver? É sempre importante

que este aspecto esteja presente toda vez que vamos pensar a educação enquanto instituição

social contida numa sociedade. As instituições sociais são praticamente determinadas por um

contexto social mais amplo e da mesma forma o refletem. Este é o ponto central através do qual

devemos trabalhar, quando nos propomos, investigar, interpretar e analisar a educação enquanto

instituição social.

EXERCÍCIO DE AUTO-ESTUDO

1)-A proposta da pedagogia libertadora consiste em:

a-( )partir dos problemas enfrentados pelo aluno no seu cotidiano para que ele possa entender

criticamente a sua realidade social

38

b-( )partir dos problemas enfrentados pelo aluno para a manutenção da ordem social vigente.

c-( )partir dos problemas enfrentados coletivamente para buscar uma transformação da

realidade social vivenciada por indivíduos e grupos;

d-( )nenhuma das alternativas é a correta.

2)-A pedagogia libertadora, de caráter progressista envolve;

a-( )trabalhar com os determinantes da sociedade capitalista, para a manutenção da ordem

social vigente

b-( )a construção de uma consciência crítica e questionadora da realidade social na qual o

aluno vive;

c-( )a construção de uma consciência profissional na qual o aluno perceba-se como

significativo transmissor de conhecimento

d-( )nenhuma das alternativas anteriores é a correta

3)-A pedagogia libertadora trabalha com a concepção de que:

a-( )cada um dos participantes de uma estrutura desempenha o papel correspondente à

posição que ocupa.

b-( )cada um dos participantes de uma estrutura desempenha o papel correspondente à sua

classe social, visando a manutenção da ordem estabelecida;

c-( )cada um dos participantes de uma estrutura não pode desempenhar o papel

correspondente à sua classe social, na medida em que esta forma de educação não aborda a

questão das classes sociais

d-( )nenhuma das alternativas anteriores é a correta.

4)-A organização social sempre nos leva a ter uma idéia de:

a-( )dinâmica

b-( )estática

c-( )de equilíbrio

d-( )nenhuma das alternativas anteriores é a correta.

5)-A escola, os partidos políticos, a igreja, fazem parte da instância:

a-( ) política

b-( )ideológica

c-( )econômica

d-( )nenhuma das alternativas anteriores é a correta

6)-Segundo Oliveira, podemos verificar que temos:

a-( ) uma relação de interdependência entre estrutura social e a educação

39

b-( )uma relação de independência entre estrutura social e a educação

c-( )uma relação de dependência entre estrutura social e a educação

d-( )nenhuma das alternativas anteriores é a correta.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO

Uma questão importante para reflexão, envolve questionarmo-nos: Por que no contexto

da realidade brasileira, não teve impulso e desenvolvimento uma concepção de educação de

caráter mais progressista?

ATIVIDADE

Caro aluno, considerando tudo o que vimos, procure responder por que no contexto da

sociedade brasileira a concepção de educação de caráter libertador não se sobrepôs à educação

de caráter conservador? Procure fazer uma dissertação abordando este aspecto para que você

possa recobrar todo o conteúdo ministrado neste capítulo.

DICAS DE ESTUDO

Caros alunos, sugiro a leitura do livro de Pérsio Santos de Oliveira – Introdução à

Sociologia da Educação, da editora Ática, datado de 2005, 3ª. Edição. É um livro básico de

Sociologia da Educação, que possui exercícios que vão auxiliá-los numa maior compreensão de

nossa disciplina.

BIBLIOGRAFIA

OLIVEIRA, Pérsio Santos de(2005).Introdução à Sociologia da Educação. São Paulo. Editora

Ática.

MEKSENAS, Paulo (2005). Sociologia da Educação. Introdução ao estudo da escola no

processo de transformação social. São Paulo.Edições Loyola.

NERY, Maria Clara R. (2007). Sociologia Contemporânea. Curitiba. Editora do Iesde.

RODRIGUES, Alberto Tosi. (2007). Sociologia da Educação. São Paulo. Editora Lamparina.

40

AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS E A EDUCAÇÃO

Neste momento de nossa disciplina, vamos trabalhar agora com as instituições sociais e

a educação. Vamos abordar a família como primeira instituição socializadora, a instituição

religiosa como também instituição socializadora, a instituição do Estado, como instituição de

controle social de caráter formal e os meios de comunicação social em sua relação com a

educação. É importante termos claros os elementos fundamentais destas instituições em sua

relação com a educação, para que possamos compreender os aspectos que envolvem a educação

enquanto instância de adequação do indivíduo ao meio social envolvente.

Estamos contidos numa realidade social e por assim estarmos a ela devemos nos

adequar, sob pena de sentirmo-nos desadequados ao nosso meio social e, sendo assim

sofreremos por esta mesma desadequação fundamentalmente em nosso psiquismo ,pois

sentirmo-nos não enquadrados ao nosso meio social envolve sofrimentos de ordem psíquica que

fazem com que nossa personalidade possa em certos momentos se desintegrar e encontrar-se um

“ego esburacado”, como nos diz fundamentalmente a psicanálise. Por tanto a educação em sua

concepção mais ampla, de certa forma protege-nos contra a desfragmentação do ego. Vamos ver

agora alguns elementos contribuintes para a manutenção de nossa mesma estrutura psíquica.

Segundo Oliveira (2005), desde que nascemos, somos colocados no mundo, enquanto

indivíduos iniciamos nosso aprendizado das regras presentes no contexto da sociedade e

aprendemos quais os procedimentos mais adequados para nela vivermos e convivermos

adequadamente. Vamos aprendendo na medida em que nos desenvolvemos pelo processo de

interação com o outro e com o meio as regras significativas que nos permitem circular no

espaço social de forma adequada e construindo padrões de comportamento que são considerados

fundamentais para nossa vivencia em sociedade, neste sentido a educação é um processo

contínuo que não se encerra no contexto de nossa existência.

Durkheim, em sua teoria sociológica, já nos falará que recebemos a sociedade como por

herança, com todos os seus valores, hábitos, crenças, normas de trato social, normas jurídicas,

religião e assim por diante. Neste sentido são as gerações anteriores que deixam para as novas

gerações instrumentos sociais através da educação que lhes permitem circular dentro do espaço

de possibilidades que é o espaço social. Pensarmos em termos das instituições sociais é

pensarmos, segundo Oliveira (2005), em todo um conjunto de regras, repetimos, e de

procedimentos que se encontram padronizados e que são aceitos pela sociedade e de certa forma

garantem a própria sobrevivência desta mesma sociedade. Afirma Oliveira: “[...[instituição

41

social é um conjunto de regras e procedimentos padronizados, reconhecidos, aceitos e

sancionados pela sociedade e que têm grande valor social. São os modos de pensar, de sentir e

de agir que a pessoa encontra preestabelecidos e cuja mudança se faz muito lentamente, com

dificuldade ( OLIVEIRA, 2005, p.62). Pelas palavras de Oliveira, podemos depreender a

significação das instituições sociais para indivíduos e grupos, pois não nos encontramos

distantes de todo um universo envolvente, que construímos e que nos constitui, que é a

sociedade.

Em toda e qualquer instituição social, seja ela a família, a igreja, a escola e os próprios

meios de comunicação de massa, encontramos a presença de regras e de certos procedimentos

que são padronizados e que contribuem para que seja mantida a organização dos grupos e a

própria “satisfação das necessidades dos indivíduos que dele participam ( OLIVEIRA, 2005,

P.63)”.Portanto, compreender as instituições sociais é de fundamental importância para até

mesmo compreendermos a nós mesmos e nossas circunstâncias.

Oliveira (2005), assinala para dois elementos importantes quando trabalhamos com as

instituições sociais. A presença do grupo social e da instituição social, enquanto realidades de

caráter distinto, mas fundamentalmente interdependentes. O grupo social diz respeito a reunião

de indivíduos que interagem atendendo às suas necessidades. E quando trabalhamos com as

instituições sociais, estamos trabalhando com todo um conjunto de regras e de normas, que se

encontram padronizadas no contexto social, que permitem que indivíduos e grupos, possam

construir específicos repertórios de ações individuais e coletivas, que lhes permitam circular

adequadamente no contexto social mais amplo. Afirma Oliveira: “Assim, os grupos sociais (

família, Igreja, escola, por exemplo) são reuniões de indivíduos, isto é, referem-se a indivíduos

com objetivos comuns, em um processo de interação mais ou menos contínuo. Já as instituições

sociais referem-se às regras e procedimentos padronizados dos diversos grupos( OLIVEIRA,

2005, p.63)”. A diferenciação que faz Oliveira, é extremamente significativa, na medida em que

nos permite clarificar os aspectos específicos do grupo social e das instituições sociais.

A primeira instituição socializadora - a família e a educação

Devemos compreender que a família é a principal instituição socializadora com a qual

temos efetivo contato. É instância socializadora de caráter informal. Entendamos aqui neste

momento de nossos estudos que a educação é mais abrangente do que simplesmente pensarmos

na escola ou em nosso processo de escolarização (Demeterco, 2007). É pela educação que nos

socializamos, é pela educação que perdemos nosso caráter eminentemente biológico e

internalizamos todos os elementos de nosso caráter social. Pois o homem é sempre

42

tridimensional, ou seja, é um ser biológico, psíquico e social. É, então, pela educação que vamos

perdendo paulatinamente elementos puramente biológicos de nosso ser e vamos adquirindo

elementos sociais que nos permite estar no mundo de forma mais integrada e, podemos dizer

que até mesmo nossa personalidade individual vai se configurando em função desta interação

que fazemos com o outro e com nosso ambiente.

Há certo consenso entre autores em conceituar família como um grupo de pessoas ligadas por laços de casamento e/ou afetivos, por consangüinidade ou adoção, constituindo um único lar, onde seus membros interagem uns com os outros por meio de seus papéis de pai, de mãe, marido, esposa, filho e filha, e relacionam-se com os demais grupos da sociedade.A organização pai-mãe-filhos é chamada tradicionalmente de família nuclear, em oposição à chamada família extensa, que seria composta pelos mesmos elementos da família nuclear acrescida de agregados de vários tipos, como avós, primos, empregados e ouros. No Ocidente, há muito tempo a família nuclear tem sido o padrão encontrado. Alguns autores afirmam, inclusive, que a família extensa jamais existiu por aqui. De qualquer forma, a família é vista como a mais antiga instituição que compõe a sociedade ( DEMETERCO, 2007, p:26).

É através dos contextos sócio-históricos que temos a própria constituição da família.

Entendemos que família e educação em muitos momentos de nossa vivencia social possuem

objetivos que são comuns (Demeterco, 2007). O conceito de família como dissemos

anteriormente envolve a própria criação do homem em seu viver histórico e social, portanto,

segundo Demeterco(2007), não é um objeto material, mas praticamente é uma idéia, idéia esta

que acaba por se constituir no próprio modo de se ordenar e até mesmo de se integrar a vida

social.

Qual ou quais as funções específicas da família? Segundo Oliveira(2005), podemos

compreender que a família possui algumas funções que lhe são específicas no universo da

formação dos indivíduos. Possui a função sexual, a função reprodutiva, a função econômica e a

função educacional. A função sexual e a função reprodutiva, garante satisfações sexuais do

homem e da mulher e também garantem a própria reprodução da espécie. A função de caráter

econômico garante todos os meios de sobrevivência, garante as condições materiais necessárias

ao desenvolvimento dos indivíduos. A função educadora, segundo Oliveira (2005), envolve a

transmissão dos valores, hábitos, crenças, ritos e mitos que são padrões culturais presentes na

sociedade e, é por esta razão que a família é sempre concebida como a primeira instituição

socializadora.

Oliveira(2005), assinala para a função socializadora da família na constituição da

personalidade dos indivíduos em sua fase inicial, notadamente na infância, primeira fase de

socialização. Assinala para o fato de que no processo de socialização considerando-se a família

encontramos duas fases distintas. Afirma Oliveira: [...] a socialização primária: aquela que o

43

indivíduo sofre na infância, convertendo-o em um novo membro da sociedade; na socialização

primária, como já dissemos, destaca-se principalmente o papel da família que transmite

conteúdos cognitivos que variam de uma sociedade para outra; a socialização

secundária:aquela que ocorre posteriormente e que leva a interiorizar setores particulares do

mundo objetivo da sua sociedade.( OLIVEIRA, 2005, p:66). Pelo que nos salienta Oliveira,

podemos verificar que a socialização primária e a socialização secundária constituem-se como

instâncias que se encontram imbricadas com a função da família no contexto das sociedades.

No contexto da atualidade, podemos verificar que a instituição da família conforme nos

diz Oliveira (2005), vem perdendo suas próprias funções pedagógicas, embora esteja a exercer

forte influência na formação das gerações mais jovens e das crianças enquanto instituição de

socialização. A família na atualidade, mantendo-se enquanto fundamental instituição de

socialização está de reconfigurando, homem e mulher no papel social de pai e de mãe estão

experenciando novas formas de exercício destes mesmos papéis. Na medida em que a mulher

agora é integrante do mercado de trabalho e atua neste de forma mais ativa, sendo também

mantenedora do lar, favorece à reconfiguração acima mencionada. As atribuições familiares

agora parecem estar sendo cada vez mais divididas entre homem e mulher. O homem não tem

mais o papel de exclusivo ordenador e mantenedor do lar, mas o de “companheiro” e de

administrador conjunto, se assim podemos dizer. Também, concebemos por estes aspectos que

há uma certa crise no contexto da família, sem que ela perca seu papel significativo de primeira

instância de socialização.Afirma Oliveira (2005):

A família é a primeira agência de controle social da qual a criança participa, ocorrendo aí uma socialização baseada em contatos primários, mais afetivos, diretos e emocionais. Ela é uma instituição basicamente conservadora e, como tal, no mundo de hoje, não tem encontrado condições de rápida adequação à nova realidade social em que está inserida. E é justamente aí que se encontra um dos principais aspectos da crise que abala a família nas sociedades modernas, em vertiginoso processo de mudança social. Dessa forma encontramos famílias que tem normas rígidas, hierarquia bem definida e pouca flexibilidade quanto à educação dos filhos, como também encontramos famílias com poucas regras, onde os pais não se envolvem muito com o estabelecimento de limites para os filhos – pode ser, por exemplo, que não haja horários para comer ou dormir. Encontramos, ainda, famílias cuja característica é o relacionamento íntimo entre os seus membros; passam muito tempo juntos e os papéis de cada um nem sempre são muito bem definidos. Há muito carinho e assistência entre os familiares, bem como espírito de lealdade ( OLIVEIRA, 2005, p:66).

Oliveira, assinala, então, para aspectos presentes na estrutura familiar de hoje, no

contexto das sociedades contemporâneas, que acabam por exigir novas configurações da

instituição família. Há uma crise pelas variadas formas que a família assume no contexto social

envolvente. A família nuclear não é mais a forma predominante, sem contar que é cada vez mais

crescente o que se uso denominar de conflito de gerações que estão nas sociedades atuais no

44

cerne da instituição familiar. De certa forma, também, a Educação não é mais atributo

exclusivo da esfera familiar, esta agora também disputa com a escola e outros agentes sociais a

função de socialização de seus membros (Demeterco, 2007).

A instituição religiosa e a educação

Para pensarmos a instituição religiosa e a educação, devemos portanto, pensar a respeito

da própria função da religião no contexto das sociedades. A religião possui uma dupla função:

uma função social, que podemos compreender até mesmo como uma função socializadora, na

medida em que enquanto grupo social adapta indivíduos e grupos ao contexto social envolvente,

pois dá-se como força constituinte da coesão e do ordenamento social. Quando fazemos

referência à função social da religião e de fundamental importância que compreendamos que a

religião é vivenciada coletivamente, através de crenças expressas, ritos visíveis, culto exterior e

cerimônias públicas. É, portanto, construção humana que se manifesta coletivamente, na medida

em que é parte integrante da sociedade que a influencia e é influenciada por ela. E, uma função

psicossocial, na medida em que se constitui enquanto um universo que possibilita o encontro de

uma estrutura de plausibilidade para indivíduos e/ ou grupos.

A sociedade é fruto das relações que se estabelecem entre os grupos humanos, que

buscam sobreviver em seu sentido imediato e histórico. É a partir da necessidade de

sobrevivência imediata e histórica que cerca a todos os seres humanos, que se constituem

universos de representações coletivas. Devemos, segundo Oliveira (2005) compreender a Igreja

enquanto um especifico grupo social, na medida em que nele encontramos indivíduos que

possuem uma mesma fé e que se encontram ligados pelas mesmas regras, bem como encontram-

se ligados à um mesmo líder espiritual. Neste sentido, toda e qualquer Igreja, tem como função

específica a formação religiosa de indivíduos e grupos.

É sempre necessário que todo indivíduo possua um referencial no qual posa se apoiar e

estabelecer a lógica de seus procedimentos e agir dentro dos espaços de interlocução que lhe são

facultados no interior do contexto por ele vivenciado. Neste sentido ele necessita de um discurso

que uma vez internalizado lhe permita a construção do referencial que para ele funcionará como

guia e possibilitará a que possa situar-se dentro dos parâmetros aceitos pela sociedade.

Os valores morais, éticos, culturais, as regras e as normas presentes no universo social

possuem esta função, que permite aos indivíduos interagir e organizar seus padrões

comportamentais dentro do estabelecido, do permitido, do aceito e não aceito, demonstrando

também este aspecto a característica normativa da Igreja em sua função social. Neste sentido

45

devemos compreender que toda e qualquer Igreja se consubstancia a partir das determinações da

realidade social, pois a religião é “coisa” social, conforme nos diriam os funcionalistas.

O contexto do campo religioso nacional brasileiro da atualidade, denota que estão

ocorrendo rupturas com relação às concepções das igrejas tradicionais e históricas, pela

pluralidade das relações presentes no campo social, político, econômico e cultural. A partir

desta pluralidade, marca da secularização, as referidas igrejas distanciaram-se das necessidades

objetivas e subjetivas de seu público-alvo, levando à busca de espaços alternativos de discurso

fácil, que internalizados pelos indivíduos e grupos os constituem subjetivamente.

Por estes aspectos acima mencionados, podemos verificar a própria função educativa da

religião, no sentido de que ela reproduz todos os elementos presentes no contexto social mais

amplo, constituindo personalidades, na medida em que é internalizada por indivíduos e grupos

e, por sua vez, também permitem a construção de repertórios de ações individuais e coletivas

fazendo com que se possa circular adequadamente no contexto social mais amplo.

A instituição do Estado e a educação

Entendamos, caros alunos que a instituição do Estado, possui o poder de coerção, no

sentido de que é a única instituição no contexto das sociedades complexas que tem para si o

atributo de recorrer à violência física para cumprir com todos os seus objetivos (Oliveira,

2005).Então, podemos compreender que a instituição do Estado, é a instituição significativa de

controle social, pois ela tem na lei o elemento fundamental de execução de suas funções.

Observemos que determinados costumes quando passam para a esfera da lei, se constituem

enquanto obrigatórios, neste sentido encontra-se presente um processo de coercibilidade no que

concerne à vontade individual. Nenhum de nós pode pensar ou dizer se quer ou não cumprir

determinada lei, esta exerce um poder coercitivo sobre os indivíduos, pois todos nós estamos

obrigados a cumprir certa lei.

Afirma Demeterco(2005):

O Estado é uma das principais partes da estrutura social e também uma das mais influentes sobre todo o andamento e a organização da sociedade. Tem importantes funções externas e internas, ligadas à administração pública e relações internacionais. Ao conceito de Estado ligam-se os conceitos de soberania e de autonomia. A soberania do Estado é assegurada pelo monopólio da regulamentação da força dentro de suas fronteiras; só ele tem autoridade e poder legítimos para regulamentar o uso da força, em qualquer circunstância. Assim, pode-se resumir as funções do Estado como sendo:a garantia da soberania nacional do país, a manutenção da ordem e a promoção do bem-estar social. Na sociedade atual, as funções do Estado aumentam na mesma proporção

46

que essa sociedade se diversifica e se torna cada vez mais complexa(DEMETERCO, 2007, p.69-70).

Demeterco(2007), salienta para o aspecto da primordial função do Estado, em nosso

entendimento, que se constitui na de ser a instituição que tem a seu cargo a manutenção da

ordem social.

É no contexto do século XX, que vamos ter o crescente desenvolvimento nas sociedades

modernas do próprio compromisso do Estado para com a educação. Neste sentido, segundo

(Oliveira, 2005), o Estado, cada vez mais teve a seu cargo os compromissos com as funções da

educação, envolvendo estas funções planejamento e integração da educação aos contexto da

sociedade envolvente. Cabe ao Estado, portanto, a prática de uma política educacional que torne

efetiva a própria realização desta tarefa que incumbe ao Estado.

Oliveira (2005), define política educacional, enquanto as medidas de caráter político

que são impostas no campo da educação. A esta política cabe a ampliação do número de

escolas, o número de salas de aula, a manutenção de condições para que significativo

contingente populacional a ela tenha acesso. Neste sentido, podemos depreender que a educação

de certa forma, deve estar subordinada às próprias condições do país e de sua época. Vejamos

agora o que nos dizem os artigos 205 e 206 de nossa Constituição sobre a educação, para que

tenhamos clara as atribuições do Estado acerca da própria política educacional:

Art.205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Art.206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II- liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III- pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V – valorização dos profissionais do ensino, garantidos, na forma da lei, planos de carreira para o magistério público, com piso salarial e profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos; VI – gestão democrática de ensino público na forma da lei; VII – garantia de padrão de qualidade.

Podemos então observar que o Estado em sua política educacional estabeleceu

instrumentos que demonstram estar a educação adequada a nova realidade política, social e

econômica da sociedade, neste sentido podemos verificar que a própria sociedade deve fornecer

à educação todos os recursos necessários, na medida em que a educação não é refratária as

alterações presentes no contexto social mais amplo. Entendamos que é ao Estado que cabe

estabelecer as diretrizes à educação obrigatória. Mas no caso brasileiro, encontramos embora a

47

Constituição seja demasiadamente clara, um verdadeiro caos, encontra-se instalado na educação

brasileira, na medida em que encontramos descasos por parte do poder público para com a

educação, notadamente marcada, como nos diz Demeterco (2007), pelo fracasso escolar, pela

má remuneração dos professores e pelo péssimo estado das escolas públicas. Neste sentido a

educação, a educação deveria ser repensada no contexto de nossa sociedade por parte dos

segmentos administrativos do Estado, elaboradores das políticas educacionais.

Os meios de comunicação social e a educação

No contexto da atualidade, não podemos negar a forte influência dos meios de

comunicação de massa nas sociedades. Podemos observar que estes fornecem informações que

não se encontram mais restritas à regiões ou partes determinadas do mundo, neste sentido

podemos dizer que o mundo não possui mas espaços que nos são desconhecidos, encontra-se

interligado e de dentro de nossas casas podemos chegar ao absurdo de vermos uma guerra em

andamento em qualquer lugar do mundo, como pudemos ver a guerra dos Estados Unidos

contra o Iraque.

No campo das comunicações, do campo dos meios de comunicação de massa podemos

dizer que o mundo é uma “aldeia global”, onde a maioria dos segmentos sociais tem acesso à

informações dos lugares mais distantes, mais remotos. Este fato altera drasticamente até mesmo

o processo educativo. Este fortalecimento das informações e dos meios de comunicação de

massa, perpassam este mesmo processo educativo fazendo com que em muitos momentos

tenhamos que repensar nossas próprias práticas educativas. Afirma Oliveira: “Até algum tempo

atrás, a família e a escola eram, sem dúvida, as grandes instituições encarregadas da educação

assistemática e sistemática. Com o surgimento e desenvolvimento dos poderosos veículos de

comunicação de massa – televisão, rádio, cinema e imprensa ( jornais e revistas) – essa

situação alterou-se substancialmente(OLIVEIRA, 2005, p.78)”. Este aspecto exige de nós,

como dissemos anteriormente atitudes questionadoras com relação à educação, ao processo

educativo.

As informações transmitidas pelos meios de comunicação de massa, o são enquanto

uma forma de transmissão de caráter fácil, na medida em que se constituem em uma forma de

lazer, permitindo que as pessoas entrem em contato com assuntos da atualidade. Esta facilidade

e esta certa ausência de elaborações mais aprimoradas no contato com os meios de

comunicação, fazem com que no contexto das sociedades acabem por gozar de forte prestígio

junto à população ( Oliveira, 2005).

48

Afirma Oliveira o seguinte: “Com isso, as instituições sociais básicas no processo de

socialização ( família, Igreja e escola), estão perdendo a influência sobre as gerações mais

jovens, já que os conhecimentos transmitidos por elas não coincidem, muitas vezes, com o

interesse dos jovens. Assim é que o ensino transmitido pela escola, vem sendo afetado pelos

maiôs de comunicação de massa, principalmente a televisão( OLIVEIRA, 2005,p:78)”. Novas

necessidades principalmente na geração mais jovem são criadas pela influência principalmente

da televisão. Novas formas de ver o mundo, novas maneiras de pensar, de sentir e de agir são

veiculadas, fazendo com que, repetimos, novas necessidades sejam criadas e, neste sentido a

escola deveria acompanhar este processo, por esta razão ela deve ser repensada diante da

influência dos meios de comunicação de massa.

Observemos, que hoje a criança leva para a escola uma série de informações sobre os

mais variados temas e, a escola não pode deixar de acompanhar todo este processo. Os

professores hoje, devem constantemente estar atualizados para fazer frente ao acumulo de

informações que seus alunos trazem de seus lares, através dos meios de comunicação de massa.

Se assim não procederem estarão de certa forma alicerçados numa ilusão, bem como a

instituição escolar. Ilusão esta que envolve pensar que todo o conhecimento é adquirido através

do ensino, mas a realidade está a nos dizer que muito do que as novas gerações conhecem

encontra-se fora e para além da escola. Afirma Oliveira: “A concorrência movida pelos meios

de comunicação à família e à escola, ameaçando o status dessas agências tradicionais de

educação, não deve ser encarada como uma competição destruidora. A família e a escola são

instituições que necessitam apenas adaptar-se à realidade dos dias atuais( OLIVEIRA, 2005,

p.81). Oliveira assinada para a necessidade da re-adaptação da escola à realidade social

envolvente.

PONTO FINAL

Caros alunos, neste capítulo vimos as instituições sociais e a educação. Neste sentido

devemos pensar e termos como uma conclusão desta parte de nossos estudos que toda a

instituição social envolve sempre o fornecimento de regras, normas e também de determinados

procedimentos que por serem coletivos são padronizados e contribuem para que a organização

social seja devidamente mantida. Pensarmos as instituições sociais é trabalharmos com todo um

conjunto de normas e de regras sociais que homogeneízam comportamentos, padrões

comportamentais, fazendo com que a sociedade encontre-se em ordem, na medida em que

padronizações comportamentais e de repertórios de ações individuais e coletivas, permitem uma

maior coesão e ordenamento social. Esta idéia é importante de ser retida por todos os alunos e,

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que possam ter clara a própria função da instituição social. Da mesma forma, a família tem

como “responsabilidade” social fundamental ser a instância socializadora de caráter informal.

QUESTÕES DE AUTO-ESTUDO

1)-A escola enquanto instituição social, é uma instituição em que:

a-( )o contexto social é reproduzido

b-( ) o contexto social não é reproduzido, pois a escola é refratária às determinações sociais

c-( )o contexto social não é reproduzido, pois a escola não é refratária as determinações do

social.

d-( )nenhuma das alternativas é a correta.

2)-Na escola, enquanto instituição social, segundo Oliveira o processo educativo, pode ter um

caráter marcadamente:

a-( )transformador e liberal-progressista

b-( )conservador ou inovador dependendo do contexto históricos

c-( )marcadamente conservador

d-( )nenhuma das alternativas é a correta

3)-A proposta pedagógica libertadora envolve, fundamentalmente:

A( )a concepção de que o aluno não é agente de transformação histórica

b-( )a concepção de que o aluno é agente social que propicia a conservação da ordem vigente

c-( )a concepção de que é a partir dos problemas enfrentados pelo aluno no seu cotidiano que

formamos uma consciência crítica de forma a gerar uma prática transformadora da realidade.

d-( )nenhuma das alternativas é a correta.

4)-A estrutura social envolve:

a-( )o papel correspondente à posição que o ator social ocupa no contexto de uma sociedade

dada;

b-( )o conjunto de ações sociais não determinados pela posição que o indivíduos ocupa no

contexto social

c-( )o conjunto e ações sociais determinadas pelos sujeitos sociais em relação de

independência das posições sociais que ocupam no contexto das sociedades

d-( )nenhuma das alternativas é a correta.

5)-A relação entre infra e superestrutura pode ser resumida da seguinte forma:

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a-( )a superestrutura determina a infra-estrutura e esta legitima e ratifica as relações

peresentes na superestrutura.

b-( )a infra-estrutura é determinada pela superestrutura, sendo que a infra estrutura determina

as relações presentes na superestrutura;

c-( )a infra estrutura determina a superestrutura, e esta legitima e retifica as relações

presentes na infra-estrutura;

d-( )nenhuma das alternativas é a correta.

6)-É correto dizer, segundo Oliveira que:

a-( )-o modo de produção da sociedade determina não só o sistema de estratificação social e

de educação, como também o modo de pensar e de agir dos indivíduos no contexto das

sociedades;

b-( )o modo de produção da sociedade não determina o sistema de estratificação social e de

educação, mas determina o modo de pensar e de agir de indivíduos no contexto das sociedades

c-( )o modo de produção da sociedade determina o sistema de estratificação social, bem

como determina as relações sociais de produção, sem os determinantes presentes no contexto

social mais amplo;

d-( )nenhuma das alternativas é a correta.

TEXTO COMPLEMENTAR.

A tecnologia dentro da sala de aula

O avanço da concepção moderna da educação, esteve relacionado a várias outras

grandes mudanças que ocorreram no século XIX. Uma delas foi o desenvolvimento da

impressão e o advento da “cultura dos livros”. A distribuição em massa de livros, jornais e

outros meios impressos foi um aspecto tão característico da sociedade industrial quanto o foram

as máquinas e as fábricas. A educação trouxe as habilidades da leitura, da escrita e da

aritmética, abrindo o acesso ao mundo da mídia impressa. Nada representa melhor a escola do

que o livro escolar ou livro-texto. Para muitos, tudo isso está destinado a mudar com o uso

crescente dos computadores e das tecnologias multimídia na educação. Será que a internet, o

CD-ROM e o vídeo irão substituir cada vez mais o livro didático? E será que as escolas

continuarão existindo em um formato semelhante ao atual se, na hora de aprender, as crianças

libarem o computador em vez de ouvirem o professor? Há quem diga que as novas tecnologias

não apenas se somarão ao currículo existente, como acabarão enfraquecendo-o e transformando-

o, pois os jovens de hoje já estão crescendo em uma sociedade voltada para a informação e para

51

a mídia, estando bem mais familiarizados com as tecnologias desta do que a maioria dos adultos

– inclusive seus professores. Alguns estudiosos que observam esse fenômeno falam de uma

“revolução na sala de aula” – o advento da “realidade virtual do desktop” e da sala de aula sem

paredes. Poucas dúvidas restam em relação ao fato de que os computadores ampliaram as

oportunidades na educação. Eles oferecem às crianças a chance de trabalharem de forma

independente, de pesquisarem tópicos com ajuda de recursos on-line e de aproveitarem

softwares educativos que permitem a elas progredirem em seu ritmo. No entanto, a visão ( ou

pesadelo) de salas de aula com crianças que aprendem exclusivamente através de computadores

individuais ainda não se transformou em realidade. Na verdade, a imagem da “sala de aula sem

paredes” parece bastante distante por uma simples razão: não existem computadores suficientes

na escola ou em casa! Mesmo escolas que possuam muitos recursos precisam desenvolver

programas de revezamento que estabeleçam horários para que os alunos possam utilizar as

estações de trabalho. Em escolas que contam com um número limitado de computadores, é

provável que os alunos passem apenas alguns minutos por semana diante de um computador, ou

tenham aulas de tecnologia da informação em pequenos grupos. A maioria dos lares ainda não

possui um computador. Em segundo lugar, a maior parte dos professores ainda vê os

computadores como um suplemento para as aulas tradicionais, e na como um instrumento para

substituí-las. Os alunos podem utilizar os computadores para concluir tarefas que estejam dentro

do currículo-padrão, como produzir um projeto de pesquisa ou investigar os acontecimento do

dia. Mas são poucos os educadores que encontram na tecnologia da informação um meio capaz

de substituir o aprendizado e a interação com professores humanos. O desafio para os

professores é aprender a integrar as novas tecnologias da informação às aulas de uma forma

significativa e sensata em termos educacionais. (ANTHONY GIDDENS. Sociologia. Pgs. 407-

408, 2005.)

QUESTÃO DE REFLEXÃO

Caros aluno uma questão para reflexão que consideramos importante é: a educação no

contexto de uma sociedade capitalista, marcadamente excludente tem o papel fundamental de

levar à transformação da ordem social? Fundamente sua resposta.

ATIVIDADE

Já que neste momento de nossos estudos estamos trabalhando com a questão da

educação e as instituições sociais, com base no texto complementar que trata das novas

tecnologias no contexto da sala de aula, responda: como os professores no contexto da

52

sociedade brasileira e da educação brasileira podem se preparar para esta “nova forma de

ensino-aprendizagem?

DICAS DE ESTUDO

Como dica de estudo, sugiro a leitura do livro de Anthony Giddens – Sociologia, da

Editora Artmed, publicado em 2005, no que concerne à educação no contexto das sociedades

contemporâneas. Este livro é muito importante e de forte auxilio se quisermos conhecer a

própria abrangência da sociologia, dos estudos em sociologia.

BIBLIOGRAFIA

DEMETERCO, Solange Menezes da Silva (2007). Sociologia da Educação. Curitiba.

Iesde Editora.

GIDDENS, Anthony (2005). Sociologia. São Paulo. Editora Artmed.

OLIVEIRA, Pérsio Santos de(2005).Introdução à Sociologia da Educação. São Paulo. Editora

Ática.

53

A RELAÇÃO ENTRE MUDANÇA SOCIAL E A EDUCAÇÃO. A relação entre mudança social e a educação nos permite compreender que o processo

de socialização nunca se completa, na medida em que a capacidade humana de transformar sua

realidade é algo que está sempre presente. O homem está sempre construindo seu mundo e

sendo construído por ele. Essa nossa capacidade faz com que sempre nos encontremos diante de

um universo dinâmico e a realidade na qual vivemos nunca pode ser pensada em termos

definitivos, mas sempre relativizados.

Certamente, não podemos distanciar a mudança social da educação, na medida em que

são partes que se encontram imbricadas. As mudanças sociais, segundo Demeterco (2007),

possuem como características serem permanentes, serem coletivas, pois tendem a afetar todo o

grupo social, alteram a estrutura social e, são transformadoras da história do grupo. Neste

sentido, resumindo, a estrutura social nunca permanece igual. Ela passa por processos de

mudança social. A mudança social, como o termo indica, significa transformações nas formas

de vida presentes nas sociedades (Oliveira, 2005). Devemos compreender também, como nos

assinala Oliveira(2005), que a intensidade das mudanças sociais encontram-se inter-relacionadas

com as características típicas de cada sociedade. Nas sociedades complexas, como as nossas

sociedades as mudanças sociais são rápidas e intensas.

Afirma Oliveira: “O ritmo da mudança social depende do maior ou menor número de contatos

sociais com outros povos, do desenvolvimento dos meios de comunicação e também de certas

atitudes individuais e sociais, que o aceleram ou dificultam. A multiplicidade de contatos com

os povos de costumes, padrões de vida e técnicas diversas faz acelerar as mudanças sociais(

OLIVEIRA, 2005, p.87). Segundo nosso autor, há duas formas de se estabelecer a mudança

social: através de forças que são endógenas ( internas), ou seja, por transformações que ocorrem

dentro da sociedade, ou por forças exógenas(externas), por transformações que ocorrem fora da

sociedade, ou seja, por outras sociedades, no contexto da difusão cultural. Oliveira (2005),

considera que difundir técnicas é mais fácil do que a difusão de valores éticos, religiosos,

morais, etc., na medida em que estes se encontram impregnados por reações de caráter emotivo,

que muitas vezes são difíceis de assimilar.

Observemos que no contexto das sociedades um elemento cultural quando é

considerado significativo e encontra-se de pleno acordo com a própria cultura de uma dada

sociedade é certamente, de mais fácil assimilação. A aceitação de novos valores culturais é

determinada pelo elemento – novidade. Toda a novidade é mais fácil de aceitar. Afirma

54

Oliveira:”As novidades se referem quase sempre a aspectos não-essenciais da

cultura(OLIVEIRA, 2005, p.88). Pelo que podemos compreender, neste momento de nossos

estudos, é que existem muitos fatores que são causadores de mudança, mudanças estas que

alteram o próprio traço marcante da sociedade. As mudanças de caráter tecnológico, não se

constituem enquanto tal em apenas mudanças das técnicas utilizadas, elas fomentam também

modificação nos hábitos, nos costumes, e, até mesmo nas formas de ver o mundo. O que

queremos dizer e demonstrar neste momento é a relação de interdependência existente entre

mudanças de caráter técnico e mudanças estritamente de caráter cultural, embora devamos

compreender que as mudanças de caráter cultural se fazem de forma mais lenta no contexto

social, na medida em que podem haver formas de resistências. Salientamos, novamente, que a

educação não se encontra refratária a todos estes processos, ou seja, das mudanças endógenas e

das mudanças exógenas. Afirma Oliveira:

As invenções e a difusão cultural são processos que ocasionam as mudanças sociais, pois suscitam modificações nos costumes, relações sociais e instituições. Essas alterações pode ser de pequeno porte, passando até despercebidas, ou podem alterar quase todos os setores da vida social. A invenção de uma nova tinta pode causar alterações somente no campo artístico; mas a invenção da televisão, por exemplo, influenciou as diversões, a política, a educação, os hábitos familiares, a propaganda,etc. Mudanças gradativas não destroem as instituições sociais existentes. Geralmente, visam apenas a melhorá-las. Já as mudanças profundas e violentas alteram todo o sistema de relações sociais. As mudanças gradativas, que procuram melhorar as instituições sem destruí-las, sem romper com os costumes, são chamadas de reformas. A mudança social profunda e violenta, que destrói ou procura destruir a ordem social existente, substituindo-a por outra contrária, chama-se revolução(OLIVEIRA, 2005, p.90).

No contexto da sociedade atual, pelo impacto da aplicação das novas tecnologias nas

mais diversas áreas, estamos experenciando uma verdadeira revolução e esta mesma revolução

de caráter técnico está também modificando nossa visão de mundo e de homem, na medida em

que o mundo não é mais restrito, regionalizado, mas é amplo e estamos também experenciando

um intenso processo de difusão cultural.

O processo de desenvolvimento econômico e sua influência na educação

Nesse momento de nossos estudos devemos entender a íntima relação entre

desenvolvimento econômico e sua influência na educação. Numa sociedade desenvolvida

economicamente a educação também encontrar-se-á desenvolvida, no sentido do atendimento

aos recursos necessários para o desenvolvimento de políticas educacionais de caráter inclusivo.

Já nas sociedades em desenvolvimento, como se costume denominar encontramos uma certa

defasagem entre elementos de desenvolvimento econômico e a existência de políticas

educacionais mais adequadas e, por assim dizer, a caminho do desenvolvimento. Nenhuma

55

sociedade poderá dizer-se desenvolvida se não tiver também uma educação desenvolvida, ou

seja, um elevado grau de desenvolvimento educacional de sua população. Afirma Oliveira: “Há

necessidade de se incrementar o processo educativo, mas, acima de tudo, é necessário se fazer

o mesmo com o desenvolvimento econômico. Para promover o desenvolvimento, a educação

deve caminhar paralelamente com outros fatores: aumento do processo de industrialização,

melhor distribuição de terras no campo, programas sanitários e melhor distribuição da renda

nacional. Só a existência de uma moderna infra-estrutura econômica é que vai permitir um

desenvolvimento maior da sociedade nos seus vários aspectos(OLIVEIRA, 2005, p.97)”.

No contexto de nossa realidade social brasileira, o que observamos é que não encontramos

elementos de desenvolvimento em vários setores da sociedade, saneamento, saúde,

redistribuição de renda e, a própria educação. E, neste sentido podemos observar que a

sociedade carece de políticas públicas que lhe garanta e determine o que podemos denominar de

ritmos de desenvolvimento. Encontramos em nossa sociedade uma contradição – somos um país

subdesenvolvido, na medida em que muitos outros fatores não estão sendo atendidos pelas

políticas governamentais e, no entanto, a prática discursiva realizada por parte de nossas

autoridades, parece priorizar a educação, mas, salientamos que a educação em si mesma não é

força propulsora de desenvolvimento de um país.

Esta é a contradição que se apresenta: não se atende à elementos básicos de garantias de

melhores condições de vida por parte principalmente dos segmentos subalternos da sociedade e

costuma-se colocar a educação como principal problema nacional. Há ainda uma nova

contradição – a educação, não possui investimentos claros que lhes possibilite elevado grau de

desenvolvimento para atender aos anseios da sociedade, principalmente repetimos, no que

concerne aos segmentos subalternos da população brasileira.

Devemos considerar sempre a educação como um investimento, na medida em que é

elemento fundamental para a formação de capital humano e de capital familiar, segundo

Oliveira (2005), e a instituição do Estado no contexto das sociedades é a instituição que

concorre para a formação do capital humano e social do trabalhador através da instância escolar.

O processo de globalização e a educação

Pensarmos o processo de globalização e a educação é pensarmos numa característica

específica do modo capitalista de produção que é a busca de novos mercados. Em variados

períodos de nossa história mundial experenciamos este processo de busca de novos mercados

consumidores. Esta busca de novos mercados ocorreu nos séculos XVI, XIX e XX. Hoje, século

56

XXI, encontramos ainda esta busca inerente ao sistema sócio-econômico capitalista, mas agora

de caráter diferenciado, no sentido de que agora estão presentes as novas tecnologias da

educação e invenções eletrônicas que como resultado traz o encurtamento das distâncias.

Estamos diante da globalização.

Como podemos definir a globalização? Segundo Johnson(1997), a globalização se constitui

num processo onde a vida social nas sociedades Ocidentais é de certa forma afetada por

influências internacionais, que envolvem os mais amplos aspectos, políticos, comerciais e

culturais. Giddens, ao trabalhar com as dimensões da globalização afirma o seguinte:

A globalização é muitas vezes retratada apenas como um fenômeno econômico. Muito disso se deve ao papel das corporações transnacionais, cujas operações massivas se expandem através de fronteiras nacionais, influenciando os processos de produção global e a distribuição internacional do trabalho. Alguns assinalam a integração eletrônica dos mercados financeiros globais e o enorme volume de fluxo de capital global. Outros se concentram na abrangência sem precedentes do comércio mundial, envolvendo uma variedade de bens e serviços muito maior do que antes. Embora as forças econômicas sejam uma parte integrante da globalização, seria errado sugerir que elas sozinhas a produzam. A globalização é criada pela convergência de fatores políticos, sociais, culturais e econômicos. Foi impelida, sobretudo, pelo desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação que intensificaram a velocidade e o alcance da interação entre as pessoas ao redor do mundo(GIDDENS, 2005, p.61).

Considera-se a forma mais poderosa de globalização a de caráter econômico. No

contexto da economia globalizada as empresas denominadas de transnacionais realizam suas

transações econômicas simultaneamente em vários países diferentes e acabam por explorar as

condições locais. A globalização em sua dimensão econômica pode ser entendida enquanto

também um complicador das relações econômicas, na medida em que é concentradora de

riquezas, de poder econômico e, é um forte desestabilizador das relações de trabalho, no

contexto do capitalismo industrial. Com o processo de globalização entendemos que se

agudizam os fatores de precarização do mundo do trabalho. Este processo de

transnacionalização do capital financeiro internacional teve início basicamente nos anos 70 e

intensificou-se com o colapso do socialismo nos anos de 1989-1991, estabelecendo-se o

processo de interligação mundial dos mercados, segundo Oliveira (2005).

É importante salientar que a globalização não se restringe apenas às determinações

econômicas do capital financeiro internacional, mas temos também implicações de caráter

político e de caráter cultural, onde estamos nos deparando com o enfraquecimento das tradições

e das próprias identidades culturais, na medida em que identidades híbridas estão se

constituindo. Ou seja, estamos vivenciando um processo de diversidades culturais de impactos

57

nunca antes vistos em nossa história Ocidental. Segundo Giddens (2005), a globalização está

afetando nossa vida cotidiana, na medida em que está a gerar mudanças na natureza de nossas

próprias experiências.

Afirma Giddens: “Como as sociedades nas quais vivemos passa por profundas

transformações, as instituições estabelecidas que outrora as sustentavam perderam seu lugar.

Isso está forçando uma redefinição de aspectos íntimos e pessoais de nossas vidas, tais como a

família, os papéis de gênero, a sexualidade, a identidade pessoal, as nossas interações e nossas

relações de trabalho. O modo como pensamos nós mesmos e nossas ligações com outras

pessoas está sendo profundamente alterado pela globalização(GIDDENS, 2005,

p.68).Considerando-se notadamente as implicações de caráter cultural, vamos nos deparar com a

educação. Neste sentido, devemos perceber no contexto de uma sociedade globalizada,que a

educação não se encontra imune a este processo, na medida em que as exigências de um

profissional mais qualificado se fazem cada vez mais presentes.

A educação no contexto da atualidade, também está a responder às necessidades de uma

economia de mercado, cada vez mais globalizada e também mais excludente. Cada vez mais no

contexto das sociedades está a se pregar o fim da escola pública, da escola gratuita e mantida

pelo Estado. Estamos diante de uma lógica da privatização, cabendo ao estado a garantia da

educação para os segmentos subalternos da população, através de bolsas de estudo em escolas

particulares, ou financiando os estudos desse segmento para que posteriormente à formatura

retornem ao Estado o benefício recebido.

A escola dentro do contexto de uma sociedade globalizada está sendo repensada, na

medida em que ela está passando paulatinamente a funcionar aos moldes de uma empresa ou

microempresa, no sentido de que, salienta Meksenas(2005), deve funcionar como estimuladora

da competição, pois encontra-se contida num contexto marcadamente concorrencial, bem como

não deve depender dos recursos advindos do Estado e por fim, contar com financiamentos

privados, com ajuda da comunidade ou com a ajuda de voluntários, que se intitulam “amigos da

escola”. Afirma Meksenas: “Estimula a iniciativa individual ao mesmo tempo que nega valores

e trabalhos coletivos(MEKSENAS, 2005, p. 127). Este é um aspecto muito importante

salientado por Meksenas, na medida em que no contexto das sociedades globalizadas agudiza-se

a concepção individualista de homem e de mundo e, desta forma, podemos até mesmo dizer que

os vínculos sociais se tornam cada vez mais flexíveis.

A prática discursiva da denominada qualidade total passa a fazer parte integrante da

própria prática discursiva das escolas em seus setores administrativos, demonstrando este

58

aspecto a transformação da concepção de escola, transformação esta que a vincula ao

funcionamento de uma empresa que deve gerar lucros.

Toda uma concepção de homem e de mundo está sendo alterada pelo processo de

globalização. Cada vez mais estamos nos firmando em uma concepção individualista,

concorrencial, de elevado nível de competição, que está a exigir, repetimos, cada vez mais

intensa qualificação para o trabalho, para o mercado. A escola não foge à estas múltiplas

determinações advindas com o processo de globalização.

PONTO FINAL

Neste capítulo vimos fundamentalmente que nosso processo de socialização não é

completo ao longo de nossa vida; vimos também que a própria estrutura social não permanece a

mesma e sempre a mudança se faz, no contexto das sociedades, na medida em que a

intensidade das mudanças sociais que se estabelecem, encontram-se em relação de

interdependência com as características típicas de toda e qualquer sociedade do mundo

Ocidental capitalista. Vimos também, trabalhando com elementos estruturais que o

desenvolvimento econômico possui influência no processo educativo, demonstrando na

concretude da realidade que a sociedade não poderá dizer-se desenvolvida economicamente se

não tiver como conseqüência uma educação desenvolvida. No que concerne ao processo de

globalização e a educação, vimos que no século XXI encontramos nova forma de expansão do

capital, na medida em que na atualidade são as novas tecnologias que fazem toda a

diferenciação no processo de expansão do capital financeiro internacional. Estes aspectos são

importantes de serem considerados e analisados pela ótica da educação na medida em que,

como sabemos a educação não se encontra indiferente a tudo o que acontece no contexto da

sociedade.

QUESTÕES DE AUTO – ESTUDO

1)-A adoção de novas tecnologias, também pode ser relacionada com uma revolução, na medida

em que se alteram drasticamente muitos elementos presentes em nossa realidade. Alterando-se

materialmente nossa realidade, pelo emprego de novas tecnologias, temos:

a-( )conseqüente alteração na visão de mundo e de homem de indivíduos e grupos

b-( )conseqüente alteração na visão da economia por parte dos técnicos na sociedade

c-( )conseqüente alteração na circulação do capital no contexto da circulação financeira

d-( )nenhuma das alternativas é a correta

59

2)-O processo de desenvolvimento econômico encontra-se em relação de interdependência com:

a-( )a economia

b-( )a educação

c-( )a vida subjetiva de indivíduos e grupos

d-( )nenhuma das alternativas anteriores

3)-No contexto da realidade nacional, encontramos defasagem entre:

a-( )elementos do desenvolvimento econômico e a existência de políticas educacionais mais

adequadas

b-( )elementos do desenvolvimento econômico e a existência de políticas econômicas mais

adequadas

c-( )elementos do desenvolvimento econômico e a existência de políticas públicas mais

adequadas

d-( )nenhuma das alternativas anteriores

4)-A educação no contexto da formação do capital humano pode e deve ser vista enquanto um:

a-( )elemento motivador

b-( )um investimento

c-( )um fator moderador

d-( )nenhuma das alternativas anteriores

5)-Segundo Johnson a globalização pode ser definida como:

a-( )um processo de nacionalização do capital financeiro internacional

b-( )um processo de internacionalização do capital financeiro internacional

c-( )um processo onde a vida social nas sociedades Ocidentais é afetada por influências

internacionais

d-( )nenhuma das alternativas anteriores

6)-A escola no contexto de uma sociedade globalizada está sendo pensada como:

a-( )uma empresa ou microempresa

b-( )uma estrutura a ser estudada

c-( )uma infra-estrutura a ser repensada

d-( )nenhuma das alternativas anteriores.

TEXTO COMPLEMENTAR

60

A ascensão do individualismo.

Na era atual, os indivíduos têm muito mais oportunidade de moldar suas próprias vidas

do que antes. Antigamente, a tradição e o costume exerciam uma forte influência sobre a

trajetória de vida das pessoas. Fatores como classe social, gênero, etnicidade e até filiação

religiosa poderiam fechar certos caminhos para os indivíduos ou ainda abrir outros. Nascer

como filho primogênito de um alfaiate, por exemplo, poderia significar que um jovem

aprenderia o ofício de seu pai e o praticaria por toda a sua vida. A tradição sustentava que a

esfera natural da mulher era dentro de casa; sua vida e identidade eram largamente definidas

pela identidade de seu marido ou pai. No passado, as identidades pessoais dos indivíduos eram

formadas no contexto da comunidade em que nasciam. Valores, estilos de vida e éticas

predominantes nessa comunidade, forneciam diretrizes relativamente fixas, segundo as quais as

pessoas viviam suas vidas.

Nas condições da globalização, no entanto, estamos diante de um movimento rumo a

um novo individualismo, no qual as pessoas devem ativamente se autoconstituir e construir suas

próprias identidades. O peso da tradição e os valores estabelecidos estão perdendo importância à

media que as comunidades locais interagem com uma nova ordem global. Os “códigos sociais”,

que antes guiavam as escolhas e as atividades das pessoas, afrouxaram-se significativamente.

Hoje, por exemplo, o filho primogênito do alfaiate poderia escolher quantos caminhos desejasse

para erigir seu futuro, as mulheres não estão mais restritas ao domínio doméstico, e muitas das

outras sinalizações que moldavam a vida das pessoas têm desaparecido. As estruturas

tradicionais de identidade estão dissolvendo-se e novos padrões de identidade estão surgindo. A

globalização está forçando as pessoas a viver de um modo mais aberto e reflexivo. Isso significa

que estamos constantemente respondendo e nos ajustando às mudanças de ambiente ao nosso

redor; como indivíduos, evoluímos com e dentro de um contexto mais amplo em que vivemos.

Até as pequenas escolhas que fazemos em nossas vidas cotidianas – o que vestimos, como

gastamos nosso tempo de lazer, como cuidamos de nossa saúde e de nossos corpos – são parte

de um processo em curso de criação e recriação de nossas auto-identidades(ANTHONY

GIDDENS. Livro Sociologia, editado pela Artmed, no ano de 2005).

QUESTÃO PARA REFLEXÃO

No contexto de uma sociedade globalizada, marcadamente excludente qual a função que

está assumindo a educação enquanto instituição de formação de indivíduos e grupos?

61

ATIVIDADE

Como atividade, considerando fundamentalmente o que trabalhamos sobre o processo

de globalização e a educação, procure traçar um paralelo da concepção de escola anterior à

globalização e da concepção de escola na vigência da globalização, para que você possa ter

clara a própria dimensão que a escola assume no contexto de uma sociedade marcadamente

globalizada e por conseqüência excludente. Qual o papel do aluno? Qual o papel do professor?

DICAS DE ESTUDO

Sugerimos a leitura do livro de Paulo Meksenas – Sociologia da Educação – Introdução

ao estudo da escola no processo de transformação social. Das edições Loyola, publicado no ano

de 2005.

BIBLIOGRAFIA

GIDDENS, Anthony (2005). Sociologia. São Paulo. Editora Artmed.

JOHNSON, Allan G. (1997).Dicionário e Sociologia. Guia prático da linguagem sociológica.

Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editores.

MEKSENAS, Paulo (2005). Sociologia da Educação. Introdução ao estudo da escola no

processo de transformação social. São Paulo. Edições Loyola.

OLIVEIRA, Cláudia Regina de (2005). Neoliberalismo, globalização e pós-modernidade. In:

Sociologia Textos e Contextos. Canoas. Editora da Ulbra.

OLIVEIRA, Pérsio Santos de(2005).Introdução à Sociologia da Educação. São Paulo. Editora

Ática.

62

EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: aspectos sociológicos da

educação contemporânea.

Vimos anteriormente alguns determinantes da relação entre mudança social e a

educação abordando mudança social e o processo educativo, o processo de desenvolvimento

econômico e sua influência na educação e finalmente o processo de globalização e a educação.

Neste momento vamos abordar a educação contemporânea em seus aspectos sociológicos

trabalhando com as noções de estrutura, sujeito, processos sociais e as relações de poder

vinculadas com a educação.

No contexto da atualidade uma eficiente análise sociológica da educação envolve a

consideração de alguns conceitos que são fundamentais como os conceitos de estrutura, de

sujeito, de processos sociais e da relação entre o poder e o processo educativo, portanto, uma

análise sociológica da educação não pode prescindir da consideração destes conceitos sob pena

da ausência da eficácia. Os conceitos acima referidos a partir do século XX, permitem a

construção de um instrumental analítico que nos permitem visualizar a educação e mesmo o

processo educativo sem pressupostos compartimentarizados, polarizados, fazendo com que o

estudioso da educação possa realizar uma análise não restrita à superficialidades, mas uma

análise mais essencial e profunda.

O conceito de estrutura social

O conceito de estrutura é de fundamental importância para uma análise sociológica,

para uma análise que visa a compreensão da vida social, da vida de indivíduos e grupos no

contexto das sociedades. Não existe sistema social que esteja isento de uma estrutura, ela nos

permite explicar as diferenças entre os mesmos sistemas sociais e os padrões sociais que regem

as experiências de indivíduos e grupos no contexto das sociedades, em suma, o conceito de

estrutura nos coloca diante da compreensão da vida social.

Segundo Johnson(1997), a estrutura de todo e qualquer sistema social envolve a análise

de características que lhe são básicas, as relações e a distribuição. As relações de certa forma

são os elementos que ligam entre si as partes do sistema social, que nos permite visualizar o

sistema enquanto uma totalidade. É pelas relações sociais que se estabelecem que podemos

compreender a totalidade do sistema social, na medida em que as relações se constituem no

grande elo de ligação entre as partes que constituem o todo. Afirma Johnson: “As “partes”

podem variar das posições que indivíduos ocupam a sistemas inteiros, como grupos,

63

organizações, comunidades e sociedades ( JOHNSON, 1997, p.98). Neste sentido, Johnson nos

demonstra que as relações sociais são de caráter variável, estando intimamente relacionadas

com a estrutura, ou seja, as partes tem características estruturais.

No contexto das sociedades podemos verificar várias estruturas, por exemplo, as

estruturas de poder, as estruturas dos próprios papeis sociais que desempenham indivíduos e

grupos, as estruturas educacionais, as estruturas religiosas, as estruturas da comunicação e assim

por diante. Então, toda e qualquer estrutura nos demonstra a própria freqüência e duração do

processo de interação entre os diferentes membros da unidade social, ou seja, a estrutura nos

demonstra as formas de ligação que indivíduos e grupos estabelecem no contexto das interações

que desenvolvem no contexto da sociedade (Jonhnson, 1997).

Um outro aspecto de caráter significativo, como dissemos anteriormente é a

característica da distribuição.A distribuição encontra-se relacionada à estrutura, ou seja, é um

aspecto estrutural. É pela distribuição que podemos verificar as várias distribuições dos

indivíduos no contexto do sistema social, que podemos observar, por exemplo, os próprios

níveis de renda, de prestígio e de acesso à educação, etc. A distribuição certamente nos falará de

um lugar ocupado pelo indivíduo no contexto do sistema social.

Trabalharmos com uma análise estrutural da sociedade, envolve toda uma percepção da

própria significação dos sistemas de relações que indivíduos e grupos estabelecem e que nos

permite a compreensão da realidade social em sua essência. Como poderemos compreender a

sociedade sem compreendermos sua estrutura? Como poderemos compreender a relação entre

sociedade e educação sem que possamos compreender as relações sociais e a distribuição dos

próprios atores sociais no contexto do sistema social em sua totalidade? São questões que se

fazem importantes, na medida em que a educação não se encontra solta no espaço, ela encontra-

se inserida numa estrutura. Numa análise sociológica nada se encontra solto no ar, nem

indivíduos, nem grupos, nem o sistema educacional. Para que possamos compreender

adequadamente a educação no contexto das sociedades, devemos compreender de antemão a

estrutura social na qual se encontra inserida, sob pena de nossa análise ficar a dever em termos

da profundidade e abrangência de suas dimensões.

O conceito de sujeito

Pensarmos o sujeito no contexto sociológico é pensarmos em termos do agente. O

sujeito social encontra-se inserido em uma estrutura, encontra-se inserido em um espaço social e

com ele interage. Não se encontra “solto”, não pode ser visto em seu “si mesmo”, mas contido

64

no emaranhado das relações sociais que regem a vida cotidiana. O sujeito pode ser

compreendido enquanto uma personalidade que se socializa, que é levada a adequar-se ao seu

meio social envolvente e que de certa forma sofre em si os determinantes deste mesmo meio.

Compreender o sujeito social no contexto da atualidade é de certa forma compreender o

indivíduo contido numa estrutura, que o determina e é determinada por ele. Alain Touraine, nos

fala do sujeito da seguinte forma: “ O sujeito não é simplesmente uma forma da razão. Ele só

existe mobilizando o cálculo e a técnica, mas da mesma forma a memória e a solidariedade e,

sobretudo, batalhando, indignando-se, esperando, inscrevendo a sua liberdade pessoal em

combates sociais e liberações culturais. O sujeito, mais ainda que razão, é liberdade, libertação

e negação (TOURAINE, 2003, p.75)”. Vejam caros alunos, a própria definição de sujeito que

nos faz Touraine, é agente, não é um ser meramente passivo que sofre as influências do meio

social em que vive, é construtor de seu mundo, mas também, repetimos é constituído pelo

próprio mundo que ele cria. Aqui estamos diante de uma relação que podemos dizer entre

criador e criatura, na medida em que construímos todo um universo social que sobre nós terá

suas influências.

Segundo Touraine(2003), o sujeito não se constitui fora do espaço social, fora da

relação que estabelece com as estruturas sociais vigentes, ele se faz neste processo de interação

intensa com a estrutura na qual encontra-se contido. São significativas as palavras de Touraine,

quando afirma que:

A construção do sujeito não culmina jamais na organização de um espaço psicológico, social e cultural perfeitamente protegido. O afastamento da mercadoria e da comunidade nunca está totalmente acabado. O espaço da liberdade se vê constantemente invadido e o sujeito se constitui não somente por aquilo que rejeita, mas também pelo que afirma. Ele não é nunca senhor de si mesmo e do seu meio e sempre faz alguma aliança com o diabo contra os poderes estabelecidos, com o erotismo que subverte os códigos sociais e com uma figura supra-humana, divida, de si mesmo. Aqueles que reduziram o ser humano àquilo que ele faz o encerram da dependência em face da técnica, das empresas e dos estados. O sujeito deve trapacear com as categorias da prática social. Longe de ser o arquiteto de uma cidade ideal, ele faz postiças combinações sempre limitadas e frágeis entre a ação instrumental e a identidade cultural, extraindo a primeira do mundo da mercadoria e a segunda do espaço comunitário( TOURAINE, 2003, pgs.79-80)

Touraine fala de nossas fragilidades enquanto agentes de transformação. Para nosso

autor de referência o sujeito se constitui no espaço social, o sujeito se constitui no espaço da

luta, na sua realidade cotidiana, podemos dizer que se constitui também pelos fantasmas de um

mundo construído que o subjuga e o submete. Touraine, também nos demonstra a não

passividade do sujeito que se constitui nos processos sociais, na sua relação com as estruturas

sociais. É no seu fazer que o sujeito vai se constituir na abordagem contemporânea de Touraine,

65

ao mesmo tempo em que o sujeito, enquanto agente de transformação histórica é dotado de

fragilidades, mas mesmo assim se constitui paulatinamente, repetimos, no decorrer de sua luta.

O conceito de processos sociais

Pensarmos os processos sociais é justamente pensarmos acerca da interação entre os

sujeitos e as estruturas sociais. É pensarmos nesta relação de reciprocidade, é pensarmos como

dissemos anteriormente na relação que se estabelece entre criador e criatura. Da mesma forma,

pensarmos em processos sociais também envolve dirigirmos nosso olhar para as mudanças que

ocorrem na estrutura, naquilo que encontra-se em efetiva mudança, pois somos impregnados por

estas mesmas mudanças. Afirma Rodrigues o seguinte quando faz a relação entre os sujeitos

sociais e os processos sociais: “Assim, o sociólogo precisa ter sempre um olho para as

estruturas ( aquilo que está estabelecido) e outro olho para os processos ( aquilo que está em

mudança). Permanência e mudança são resultantes da tensão que sempre existe entre o peso

das instituições e a capacidade de ação dos sujeitos. Pois as práticas dos sujeitos, estarão com

certeza, orientadas para manter ou mudar os conteúdos das estruturas( RODRIGUES, 2007,

p.86). Os processos sociais, então, sento a relação entre o sujeito e as estruturas nos permite

uma visão adequada da realidade, na medida em que consideramos partes que são significativas

para uma análise de cunho sociológico na contemporaneidade, a relação sujeito e estrutura

social.

Lá no início de nossa abordagem, quando trabalhamos com os clássicos da sociologia,

vocês devem lembrar que colocamos como a principal questão sociológica a relação indivíduo e

sociedade. Na contemporaneidade esta relação se mantém, mas agora sobre nova configuração,

ou seja, a relação sujeito e estrutura social, que caracteriza todo e qualquer processo social, ou

seja, que caracteriza todo e qualquer processo de mudança no contexto das sociedades

complexas, globalizadas e marcadamente excludentes.

Relações entre de poder e o processo educativo.

Rodrigues(2007), em sua abordagem faz algumas questões que são significativas para

que possamos pensar as relações de poder e o próprio processo educativo. Questiona da seguinte

forma: “Como compreender os debates e conflitos sociais que envolvem a educação

contemporânea sem levar em conta a configuração atual dos conflitos em torno da economia e

do Estado capitalista? Como entender a escola e o ensino atuais sem entender o confronto hoje

colocado entre os interesses privados e a regulamentação do Estado?(RODRIGUES, 2007,

p.91). Nossa maneira de pensar o mundo, nossa forma de interagir com a realidade social

envolvente, são expressões de nossas construções sociais. Nossa visão de mundo e de homem

66

encontra-se intimamente relacionada com os conflitos e os próprios consensos que se

estabelecem no interior da sociedade, de certa forma são resultado das relações de poder e de

força, podendo ser física ou simbólica que indivíduos e grupos podem exercer uns com relação

aos outros.

As relações educacionais, não se encontram ausentes das determinações presentes na

estrutura de poder vigente no contexto das sociedades. De certa forma são resultado do poder

econômico e do poder político que se encontram estabelecidos no próprio contexto da estrutura

social. Pensar os processos educacionais é fundamentalmente considerar estes aspectos, na

medida em que a educação não está ausente dos determinantes de poder presentes no contexto

social envolvente. Não podemos pensar os processos educativos, sem exercer uma análise

acerca das estruturas de poder vigentes no contexto da sociedade. O que temos hoje? Uma

sociedade capitalista, globalizada, excludente e, a presença de uma concepção de Estado que

está minimizando cada vez mais sua participação no contexto social de supridor das garantias de

benefícios sociais, principalmente aos segmentos subalternos da sociedade. Neste sentido,

entendemos que as relações de poder e de força , principalmente considerando-se a instituição

do Estado se agudizam, notadamente no campo da estrutura econômica. Os processos

educativos se ressentem desta realidade.

Por outro lado, não podemos deixar de considerar o mundo das idéias, que é o mundo

trabalhado pela educação. As relações de dominação no campo ideológico encontram-se

presentes também no processo educativo. Afirma Rodrigues:

As idéias e valores, o mundo da cultura, enfim, o conteúdo que ao fim e ao cabo é ensinado nas relações educacionais, são fruto da luta cotidiana por interesses econômicos e poder político. O próprio método, a pedagogia com a qual se ensinam esses conteúdos contém, à luz da análise sociológica, um viés ideológico. Os grupos e classes dominantes procuram sempre fazer com que as idéias e os valores aceitos por todos sejam os seus próprios valores e idéias. As práticas pedagógicas, isto é, os princípios e métodos que informam as técnicas educacionais estão sujeitas ao conflito ideológico vigente uma dada sociedade.(RODRIGUES, 2007, p. 92).

Caros alunos, vejam nas palavras de Rodrigues, que os processos educativos não são neutros no

contexto das sociedades. Vejam que as relações de poder presentes no contexto social mais

amplo, perpassam a esfera educacional abrangendo a quase totalidade de seus processos, de suas

metodologias, de sua pedagogia. Pensar a educação sem pensar as relações de poder

estabelecidas é realizar uma análise sociológica da educação pela metade, pois devemos

compreender que aquele segmento que na sociedade detém o poder econômico, acaba por deter

o poder cultural e o poder político desta mesma sociedade, como dissemos anteriormente. Para

67

entender a educação no contexto de hoje, faz-se necessária a compreensão dos denominados

processos de reestruturação econômica e cultural presentes(Rodrigues, 2007).

PONTO FINAL

O que é importante pensarmos a respeito da educação contemporânea? É importante

pensarmos sobre conceitos que na atualidade da interpretação sociológica da realidade são

fundamentais, como os conceitos de estrutura, de ação, de processos sociais e poder. Foi

justamente o que buscamos trabalhar neste capítulo, para que vocês caros alunos, consigam

compreender o que é importante enquanto instrumento de análise no campo da sociologia nos

dias atuais. Creio que podemos dizer: “chaves analíticas”. O que vimos acerca dos conceitos que

estudamos neste capitulo, foi que os conceitos funcionam como chaves analíticas que nos

permitem compreender a realidade, compreender sociologicamente a realidade. Fazer uma

interpretação sociológica da realidade adequada envolve usar de chaves analíticas também

adequadas.

QUESTÕES DE AUTO-ESTUDO

1)-Pensar acerca da estrutura, envolve trabalhar com os elementos básicos que são:

a)-( )as relações e a distribuição

b-( )a relação e a educação

c-( )a relação e a cultura

d-( )nenhuma das alternativas anteriores

2)-A distribuição é sempre um aspecto

a)-( )relacional

b-( )estrutural

c-( )dimensional

d-( )nenhuma das alternativas anteriores

3)-Pensar o sujeito, em termos sociológicos envolve pensar o:

a-( )sistema estrutural

b-( )o agente

c-( )a contingência

d-( )nenhuma das alternativas anteriores

4)-O sujeito segundo Touraine, não se constitui:

68

a-( )fora do espaço social

b-( )no espaço social

c-( )na dimensão estrutural da sociedade

d-( )nenhuma das alternativas anteriores

5)-Pensarmos os processos sociais é pensarmos acerca da relação de reciprocidade entre:

a-( )sujeitos e as estruturas sociais

b-( )aspectos econômicos e estruturas sociais

c-( )aspectos educacionais e estruturas sociais

d-( )nenhuma das alternativas anteriores

6-As relações educacionais não se encontram ausentes das determinações presentes na:

a-( )estrutura de poder

b-( )na estrutura econômica

c-( )na escola

d-( )nenhuma das alternativas anteriores

TEXTO COMPLEMENTAR

A defesa do sujeito

Há grande continuidade que vai da consciência moral, eu submete o indivíduo a

deveres, até à consciência política, que conduz ao sacrifício por uma causa coletiva ou

transcendente E, como escapar a essas duas ordens de deveres sem abandonar-se a um

individualismo puro, que se vê cada vez mais invadido pelos estímulos do consumo de massa,

ou ao contrário, levado pelas pulsões impessoais do desejo?

Aqui é necessário voltar ao nosso ponto de partida. O indivíduo das sociedades

hipermodernas se acha constantemente submetido a forças centrífugas, ao mercado de um lado,

à comunidade de outro. A oposição entre essas forças resulta muitas vezes na divisão do

indivíduo, que se torna ou um consumidor ou um membro fiel da comunidade. O sujeito se

manifesta em primeiro lugar e antes de tudo pela resistência a essa divisão, pelo desejo de

individualidade, isto é, de reconhecimento de si mesmo em cada comportamento e em cada

relação social. Em algumas regiões da América Latina, por exemplo, há grupos étnicos lutando

por sua sobrevivência econômica e pelo reconhecimento de sua cultura. Às vezes proclamam a

sua vontade de defesa comunitária. Na maioria dos casos, porém, dissolvem-se nas camadas

inferiores da sociedade urbana, procurando um emprego, recursos e possibilidades de educação

69

para os filhos. Mas há casos também de grupos que procuram combinar a defesa da própria

identidade cultural com uma maior participação no sistema econômico e político. A essa altura,

eles se tornam capazes de ação coletiva e até de um movimento social. Estes procuram

conscientemente uma resposta à pergunta que apresentei sob forma genérica: Como combinar

cultura e economia? Isso supõe a abertura da comunidade e a reconstrução, além do mercado, de

um sistema de produção, de um sistema de ação histórica. Mas essa abertura e essa

reconstrução, essa superação da comunidade pela cultura e do mercado pelo trabalho, supõem a

intervenção de uma ação coletiva. Não há possibilidade de construção do sujeito fora da

referência a tal ação coletiva. Eis porque o ponto central de minha reflexão é aquele onde a

idéia de sujeito se une à de movimento social(ALAIN TOURRAINE, do livro Podemos Viver

Juntos?Iguais e diferentes. Publicado em 2003 pela editora Vozes).

QUESTÃO PARA REFLEXÃO

Pensar a educação é considerarmos fundamentalmente o sujeito enquanto atente de

transformação. Para Touraine o sujeito não se encontra forma do espaço social, o sujeito nele

está contido, mas de que forma o sujeito se constrói segundo nosso autor de referência neste

espaço social?

ATIVIDADE

Caro aluno, como atividade procure responder as seguintes questões: Como podemos

pensar a constituição do sujeito hoje? Quem é o sujeito? Como este se constitui no contexto

social? A educação encontra-se imune às relações de poder e de força presentes no contexto das

sociedades?

DICAS DE ESTUDO

Como dica de estudo, deixo a indicação do livro de Alain Touraine: Podemos viver

juntos? Iguais e diferentes. Publicado no ano de 2003, pela editora Vozes. É uma obra

significativa que analisa principalmente os elementos que constituem os sujeitos na

contemporaneidade. O autor referido, faz toda uma discussão acerca do conceito de sujeito.

Quem é o sujeito hoje? É uma pergunta fundamental que se faz o autor e que nos permite

compreender a própria interação entre sujeito e estrutura enquanto formadora dos mais diversos

processos sociais.

BIBLIOGRAFIA

70

JOHNSON, Allan G. (1997).Dicionário e Sociologia. Guia prático da linguagem sociológica.

Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editores.

RODRIGUES, Alberto Tosi (2007). Sociologia da Educação. São Paulo. Editora Lamparina.

TOURAINE, Alain. (2003). Podemos viver juntos? Iguais e diferentes. Petrópolis. Vozes.

.

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TEORIAS CONTEMPORÂNEAS QUE CONTRIBUEM PARA

PENSARMOS A EDUCAÇÃO.

Anteriormente trabalhamos praticamente com os aspectos sociológicos da educação

contemporânea onde de fundamental importância para que se possa pensar a educação no

contexto de uma abordagem sociológica o conceito de estrutura, o conceito de sujeito, o

conceito de processos sociais e as relações de poder e o processo educativo. Agora vamos

trabalhar com alguns autores significativos, não porque tivessem abordado diretamente a

educação, mas porque suas teorias no contexto da contemporaneidade são de fundamental

importância para que possamos pensar o homem e sua sociedade. Pierre Bourdieu, Michel

Foucault, Anthony Giddens e Norbert Elias, são autores que na sociologia contemporânea tem

tido significação pela abrangência de suas teorias. Estes autores nos permitem refletir acerca dos

mais variados aspectos sociais e também, trabalhando-se com relações acerca da própria

educação.

Verificaremos aspectos da Sociologia Contemporânea, na medida em que a concepção

sociológica na contemporaneidade é diferenciada da que se praticava há algum tempo atrás. Não

que os autores clássicos da sociologia não sejam ainda significativos. Eles o são, mas os autores

mencionados acima revisitaram e realizaram uma re-leitura dos clássicos, criando algo novo no

contexto dos estudos sociológicos, mais próximos de nossa realidade social atual, mais de

acordo com os processos sociais contemporâneos.

NORBERT ELIAS –(1897-1990)

Em sua produção sociológica Elias, vai se dedicar a problemas fundamentais para que

se pudesse compreender as características específicas do mundo ocidental.) o objeto de análise

da sociologia de Elias envolvem a sociedade de corte, onde aborda o Antigo Regime, o processo

civilizador, onde demonstra quais são as forças motrizes que moveram o homem à civilização,

demonstrando os aspectos essências desta mudança. Envolve também as relações de poder e o

conceito de habitus, as relações de interdependência entre o eu e o nós, analisa a morte, o

tempo, o lazer e os esportes ( Nery, 2007). A sociologia de Elias é denominada por muitos

estudiosos de sua obra, como uma sociologia processual. Para Elias era importante estabelecer

uma relação de interdependência entre a estrutura de personalidade e a estrutura social,

recusando-se a uma concepção polarizada da relação individuo e sociedade, portanto. Afirma

Elias:

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Por mais certo que seja que toda pessoa é uma entidade completa em si mesma, um indivíduo que se controla e que não poderá ser controlado ou regulado por mais ninguém se ele próprio não o fizer, não menos certo é que toda a estrutura de seu autocontrole, consciente e inconsciente, constitui um produto reticular formado numa interação contínua de relacionamentos com outras pessoas, e que a forma individual do adulto é uma forma específica de cada sociedade [...] o indivíduo sempre existe em nível mais fundamental, na relação com os outros e essa relação tem uma estrutura particular que é específica de sua sociedade. Ele adquire sua marca individual a partir da história dessas relações, dessas dependências, e assim, num contexto mais amplo, da história de toda a rede humana em que cresce e vive. Essa história e essa rede humana estão presentes nele e são representadas por ele, quer ele esteja de fato em relação com outras pessoas ou sozinho, quer trabalhe ativamente numa grande cidade ou seja um náufrago numa ilha a mil milhas de sua sociedade (ELIAS, 1994,p:31)

Deve ser observada a relação de interdependência sempre presente na concepção de

Elias, na medida em que podemos dizer que o meu eu individual é também constituído pelo meu

eu social.Para a consecução de seus objetivos, Elias propõe o conceito de configuração social,ou

figuração social como é concebido por alguns autores. Ele irá de certa maneira se opor ao

conceito de sociedade, na medida em que o conceito de sociedade tem caráter estático para

nosso autor de referência, pois o conceito de configuração é dinâmico, uma vez que o indivíduo

não pode ser pensado em oposição à sociedade.

O conceito de interdependência é significativo na medida em que é também inerente ao

conceito de figuração no contexto da obra de Elias, uma vez que acaba por se constituir em um

dos elementos que se encontram presentes nas relações sociais que analisadas em seu conjunto,

são o que nosso autor denominará de figuração. Neste sentido as relações de interdependência

existente entre os atores sociais passam a ser devidamente explicadas pelo conjunto das relações

que os atores sociais estabelecem entre si, permitindo a formação de grupos sociais , sendo que

cada qual possui a sua dinâmica específica(Brandão, 2006).

A sociologia processual

Norbert Elias, trabalhará em sua sociologia numa perspectiva de longo prazo, esta

perspectiva lhe permite a articulação entre os elementos de personalidade dos indivíduos e as

estruturas sociais (Nery, 2007). Elias, trabalhará de forma diferenciada a história, na qual

encontram-se inseridos indivíduos e grupos. Trabalha não com uma abordagem de cunho

determinista, para ele a análise histórica envolve uma perspectiva de longa duração, como nos

diz Brandão (2006), na medida em que as transformações sociais de caráter significativo

acabam por ocorrerem após longos períodos de tempo.

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Elias critica o fato de os historiadores trabalharem com a concepção de época, pois é

justamente este aspecto que para nosso autor retira todo o dinamismo da construção humana de

seu mundo, na medida em que não é encarada de forma processual (Nery, 2007). A História,

passa a ser para nosso autor, um processo que reflete todo o fluxo das interações existentes e

que se realizam entre indivíduo e sociedade. Esta forma processual de conceber podemos

verificar nas palavras do próprio Elias, quando afirma que: “O padrão social a que o individuo

fora inicialmente obrigado a se conformar por restrição externa é finalmente reproduzido, mais

suavemente ou menos, no seu íntimo através de um autocontrole que opera mesmo contra seus

desejos conscientes. Desta forma, o processo sócio-histórico de séculos, no curso do qual o

padrão do que é julgado vergonhoso e ofensivo é lentamente elevado, reencena-se em forma

abreviada na vida do ser humano individual(ELIAS, 1995, p:134)”.

Neste sentido, podemos dizer que em Elias, as mudanças que se encontram presentes

nos costumes sociais acabam por ser internalizadas pelos indivíduos, moldando sua maneira de

pensar, sua maneira de sentir e sua maneira de agir(Nery, 2007). Portanto, encontramo-nos

diante de um autor que de forma alguma poderá ser considerado determinista, pois sempre está a

considerar o papel do indivíduo no contexto social mais amplo, na medida em que se encontra

em estreita relação de interdependência com o seu contexto, é por esta razão que teremos em

Elias a sociedade dos indivíduos. Elias, não irá negar a coercibilidade presente na estrutura

social, mas observe-se que ele coloca esta mesma coerbilidade em relação de interdependência

com as estruturas da personalidade. Em sua consideração da história, ou seja da estrutura social

em interdependência com a personalidade individual, encontramos a própria formação de uma

Segunda natureza que é inerente aos indivíduos e grupos no contexto da sociedade.

Afirma Brandão: “Quando ele afirma que “muito do que fazemos é cego, sem

finalidade e involuntário”, ?Elias apenas está explicitando a idéia de que as figurações

formadas, pelos e entre os indivíduos na sociedade, são processos não planejados nem

intencionais. As relações de interdependência, que emergem dessas figurações, podem até ser

intencionais, mesmo assim, poderão produzir conseqüências não intencionais, ou terem sido

originadas de outras interdependências humanas não intencionais (Brandão, 2006, p.87).

Nestas palavras de Brandão, cremos que pode ser entendida a questão da Segunda natureza de

que nos fala o próprio Elias.

O conceito de habitus

É no conceito de habitus, que se encontra explícita a questão da Segunda natureza que

envolve aos indivíduos na relação de interdependência existente entre personalidade individual

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e personalidade social. Segundo Nery(2007), para Elias, os controles sociais paulatinamente são

condicionados e internalizados pelos indivíduos desde a infância, possibilitando um processo de

autocontrole..

O habitus , será o fator que indicará os padrões de comportamento que são

paulatinamente desenvolvidos, aceitos e também exigidos socialmente para o convívio no

interior das denominadas configurações sociais, que se expressam de forma decisiva na

formação das imagens do eu e do nós e sobre a produção e reprodução das identidades-eu e nós

ao longo das gerações(Nery, 2007).

Elias, em sua sociologia processual nos permite fazer uma análise de caráter

psicossociológico, que será sempre necessária para que possamos abordar os processos

educativos e a própria função social da educação no contexto das sociedades contemporâneas. A

abrangência de sua abordagem sociológica pode nos permitir compreender a escola, ou as

instituições escolares enquanto estruturas que abrigam personalidades individuais e como estas

estão em relação de interdependência, permite a compreensão da formação de uma Segunda

natureza que pode estar a influenciar maneiras de pensar, de sentir, de agir, e também padrões

comportamentais em processos interativos, como é o processo educacional.

PIERRE BOURDIEU (1930-2002), sua concepção sociológica e a educação.

Pierre Bourdieu foi um sociólogo francês cuja contribuição foi fundamental

principalmente no campo da teoria sociológica de caráter mais geral e da interação entre

educação e cultura. Sua formação envolve a Sociologia, a Filosofia, a Antropologia e a

Estatística. Sua principal contribuição encontra-se no fato de que estabeleceu a relação dialética

entre estruturas sociais e estruturas mentais que se encontra presente no processo de

dominação(Nery, 2007). Neste sentido procurou trabalhar profundamente com os elementos de

mediação entre o agente social e a sociedade. Podemos dizer então, que procurou trabalhar a

relação entre ator social e estrutura social, dando significativa contribuição à sociologia

contemporânea.

Afirma Nery: [...]Bourdieu vai trabalhar em suas concepções com o que pode ser

denominado como lógica da prática, no sentido de que as ações de indivíduos e grupos

presentes na sociedade possuem uma lógica que lhes é intrínseca, determinada pela estrutura

da sociedade e pelas relações de poder nela presentes. Assim, pode-se constatar que a obra de

Bourdieu afirma-se como inovadora no campo das ciências sociais. Seus objetos de análise são

vários – por exemplo, sociedades tribais, os sistemas de ensino, os processos de reprodução, a

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lógica da distinção, reprodução, poder simbólico, capital, campo, habitus,etc.( NERY, 2007).

Nery deixa clara a abrangência da abordagem da sociologia de Bourdieu, na medida em que

procura articular dialeticamente ator social e estrutura social. Salientamos que em Bourdieu o

conceito de habitus, de campo e de reprodução, são significativos, para que também possamos

compreender a educação. Vamos agora ver estes conceitos para que depois possamos fazer a

relação com a educação.

O conceito de habitus em Bourdieu

O conceito de habitus em Bourdieu é um conceito significativo, na medida em que

permite com que trabalhemos as formas que indivíduos e grupos orientem sua ação no contexto

das sociedades enquanto resultado das relações sociais, ao mesmo tempo em que envolve a

reprodução das relações objetivas que causaram a orientação das ações dos mesmos indivíduos

e grupos.Afirma Bourdieu, citado por Ortiz, em sua definição de habitus:

Sistema de disposições duráveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionarem como estruturas estruturantes, isto é, como princípio que gera e estrutura as práticas e as representações que podem ser objetivamente “regulamentadas” e “reguladas” sem que por isso sejam o produto de obediência de regras, objetivamente adaptadas a um fim, sem que se tenha necessidade da projeção consciente deste fim ou do domínio das operações para atingi-lo, mas sendo, ao mesmo tempo, coletivamente orquestradas sem serem o produto da ação organizadora de um maestro (BOURDIEU, apud ORTIZ, 1983, p.15)

Pelo que pudemos observar, vamos verificar que o conceito de habitus, acaba por

representar uma relação de reciprocidade, reciprocidade esta presente entre o mundo objetivo da

estrutura social e o mundo subjetivo das individualidades(Nery, 2007).Entendamos este aspecto,

caros alunos, no sentido de que o habitus se constitui enquanto um sistema de esquemas

individuais que se constitui através do contexto social, mas esta constituição sendo internalizada

por indivíduos e grupos, se manifesta como estruturante das mentes, na medida em que é

adquirido, formado pela experiência prática, no contexto da realidade cotidiana.

Neste sentido o habitus é social e individual, expressando a relação de interdependência

presente entre o ator social e a sua realidade social mais ampla. Afirma Nery: Os indivíduos

incorporarão determinado habitus, em função da estrutura do contexto social, das relações

presentes no contexto social. É um conceito que faz a mediação entre internalização e

exteriorização e demarca a relação de interdependência presente entre indivíduo e

sociedade.(NERY, 2007, p.59). Nery aponta para o aspecto da relação de interdependência entre

ator social e realidade social. Para Bourdieu a realidade social tem força estruturante da mente

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de indivíduos e grupos, na medida em que estes internalizam esta mesma realidade que irá por

fim dirigir suas ações.

Subjetividade e objetividade encontram-se em Bourdieu em relação de

interdependência. Os indivíduos expressam socialmente seu habitus de classe, por exemplo.

Refletem em seu comportamento elementos da estrutura social, neste sentido, podemos dizer

que até mesmo reproduzem em suas práticas sociais os determinantes estruturais mais

abrangentes. As visões de homem e de mundo, por exemplo, não encontram-se isentas das

determinações da realidade objetiva.Afirma Busetto:

As disposições tratadas por Bourdieu, na sua definição de habitus, devem ser entendidas como competências, atitudes, tendências e formas de perceber, pensar e sentir adquiridas e interiorizadas pelos indivíduos em virtude de suas condições objetivas de existência. É profundamente interiorizado e não implica consciência dos agentes para ser eficaz, sendo capaz de inventar outros meios de desempenhar as antigas funções diante de situações novas e, assim ele permite aos agentes se orientarem em seu espaço social e adotarem práticas que estão de acordo com sua vinculação social. Possibilita ao agente, a elaboração de estratégias antecipadoras que são conduzidas por esquemas inconscientes, ou seja, esquemas de percepção, de apreciação e de ação resultantes do trabalho pedagógico e de socialização, ao qual o agente é submetido, e de”experiências primitivas”(como a primeira educação familiar), que estão ligadas ao agente e têm um peso desmesurado em relação às experiências posteriores(BUSETTO, 2006, p.119-120).

Busetto(2006), deixa claro alguns aspectos significativos do conceito de habitus

em Bourdieu, neste sentido o habitus envolve a interiorização da exterioridade, sendo

esta a estrutura social mais ampla. Repetimos, interiorizamos as estruturas sociais

envolventes e adquirimos nossas competências, formulamos nossas estratégias a partir

deste processo de interiorização ou internalização. Podemos até mesmo dizer, que a

estrutura educacional é também produtora de um habitus.

O CONCEITO DE CAMPO

O conceito de campo é um conceito significativo na obra de Bourdieu. O campo em

Bourdieu, pode ser entendido enquanto espaço de luta, espaço no qual se travam as relações

sociais considerando-se os interesses específicos de indivíduos e grupos. Os atores sociais

agirão dentro de um campo que é determinado socialmente equacionando a relação existente

entre ação de caráter subjetivo e ação de caráter objetivo, envolvendo esta a estrutura da

sociedade. Há sempre na sociologia de Bourdieu o que está objetivamente estruturado, na

medida em que o campo não envolve o que se encontra determinado pelas ações individuais dos

atores sociais (Nery, 2007). Neste sentido, também, podemos dizer que é no contexto do campo

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que o habitus se estrutura, esta é a relação que podemos verificar entre campo e habitus,

segundo Busetto(2007).

A REPRODUÇÃO

Para Bourdieu é de fundamental importância a dimensão social na qual se constituem

as relações entre os atores sociais e as estruturas de poder. Estas que se reproduzem, ou

reproduzem o próprio sistema objetivo de dominação, que é interiorizado como subjetividade.

Nesse sentido a sociedade deve ser apreendida como estratificação de poder. Quando Bourdieu

escreve sua obra A Reprodução, define a escola como o espaço onde encontramos formas de

serem legitimadas as desigualdades sociais presentes na estrutura mais ampla, na medida em

que esta mesma escola deve ser entendida de acordo com as dimensões das classes sociais. É

um espaço social que segundo nosso autor, encontra-se relacionado com a reprodução das

relações de dominação presente na sociedade.

Bourdieu, na obra acima citada vai contestar a concepção de que a escola seria a

promotora de ascensão social e de liberdade para o indivíduo. Em sua pesquisa sobre a escola

francesa e sua estrutura constata que ela em realidade não promovia a liberdade individual e

nem favorecia a ascensão social, na medida em que nela estavam reproduzidas

fundamentalmente as relações de classe, neste sentido, enquanto espaço de reprodução

favoreceria a própria legitimação das desigualdades sociais.

Afirma Busetto: “Do ponto de vista da análise, deixa claro que a escola e sua prática

somente podem ser entendidas e compreendidas quando relacionadas ao conjunto das relações

entre as classes sociais. E, mais ainda, a caracteriza como um campo que, mais do que

qualquer outro, está orientado para a sua própria reprodução, dado que, entre outras razões,

ela tem o domínio da sua própria reprodução, embora submetida às pressões externas,

geralmente advindas das estratégias dos diferentes grupos e/ou classes sociais na obtenção ou

ampliação de capital cultural(BUSETTO, 2006, p.127). Busetto, nos deixa claro então a

significação da escola na concepção sociológica de Pierre Bourdieu. Ela não se manifesta

enquanto uma instituição neutra, mas uma instituição que acaba por produzir e reproduzir as

relações de classes pertencentes à estrutura social.

Neste sentido, ela(escola) não miniminiza as desigualdades sociais, mas as reproduz, na

medida em que pode ser concebida como espaço que transmite cultura. Mas que cultura ela

transmite? A cultura da classe dominante no contexto das sociedades. A estratégia em que esta

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transmissão se manifesta, encontra-se no fato de que ela apresenta de certa forma a sua cultura,

o próprio conhecimento, enquanto neutros e legítimos, que possuem um caráter de

universalidade, escondendo o fato de que a cultura transmitida pela escola é produto do

denominado arbitrário cultural, na medida em que a cultura transmitida é socialmente

interessada ou atende socialmente aos interesses dos segmentos dominantes da sociedade. São

significativas as palavras de Busetto, quando aponta que:

Então, não é por acidente que os filhos das classes dominantes têm mais sucesso na obtenção da cultura escolar e, consequentemente, ingressam mais ampla e facilmente na universidade. Como membros de famílias portadoras de considerável capital cultural, tanto intelectual quanto material, eles adquirem um habitus social bastante concordante com o habitus escolar. Daí a facilidade deles na aquisição dos procedimentos, esquemas operatórios de pensamento e linguagem mais enfaticamente exigidos pela escola, uma vez que, para eles, ao contrário dos filhos pertencentes a segmentos sociais culturalmente desfavorecidos, a experiência escolar é um prolongamento da vida familiar e do seu grupo social. Enquanto, para os filhos das classes dominantes, a cultura escolar é a sua própria cultura – porém, reelaborada e sistematizada – para os filhos das classes dominadas, a cultura da escola é experimentada como uma “cultura estrangeira”. Na transmissão de conhecimentos, a escola se orienta, segundo Bourdieu, pela “pedagogia do implícito”, isto é, o sucesso do aluno na aquisição da cultura escolar supõe, de forma implícita, a posse de um capital cultural herdado pelos alunos oriundos das famílias das classes dominantes. A escola, assim, contribui com a reprodução social, ou seja, a garantia da dominação pelos setores sociais dominantes(BUSETTO, 2006, p.128)

Busetto (2006), analisando Bourdieu, nos deixa claro o aspecto da forma como a escola

reproduz a dominação de classes presente no contexto da sociedade. Estabelece a relação

diferenciada que indivíduos e grupos da classe dominante concebem a escola e nela encontram

uma própria extensão de sua visão de mundo e os indivíduos e grupos da classe dominada de

certa forma a esta concepção devem se submeter, na medida em que a escola lhes transmite uma

cultura “estrangeira”, uma cultura que não se coaduna com a sua própria visão de mundo. Este

aspecto é de suma importância se objetivamos compreender a diferença da própria aquisição de

conhecimentos entre os segmentos dominantes e os segmentos dominados.

Considerando o processo de “democratização” do ensino, pode-se verificar uma forte

elevação de diplomados no contexto da sociedade, neste sentido, segundo Busetto(2006) a

instituição escolar na função social de reprodutora da cultura dominante, acaba por substituir

paulatinamente, as desigualdades de acesso ao ensino agora, pelas desigualdades de currículos,

alicerçadas nas escolhas de cursos e unidades de ensino que possuem um determinado poder

simbólico. Neste sentido os alunos pertencentes aos segmentos dominantes da sociedade, podem

escolher o que podemos chamar das melhores e mais eficientes instituições escolares, as que

possuem maior capital cultural, enquanto que os alunos pertencentes aos segmentos dominados

da sociedade circulam num espaço de escolha reduzido, na medida em que somente podem

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escolher aquelas instituições que se coadunam com suas condições materiais de existência e que

acabam por ter um baixo capital cultural.

MICHEL FOUCAULT – e a educação

Michel Foucault (1926-1984), escreveu várias obras tratando os elementos que se

encontram presentes no que ele classifica de uma sociedade disciplinar. Segundo Nery(2007)

Foucault, se nos apresenta como um “desvelador-revelador”, do que é cotidiano, trabalhando

funamentalmente com as estratégias de poder-saber presentes no que podemos denominar de

mundo da vida. Afirma Nery: Há no pensamento foucaultiano a fundamentação no relacional,

no sentido da percepção de que a constituição do sujeito encontra-se diretamente vinculada

com a constituição da sociedade, pois as forças que compõem o indivíduo subjetivamnte são

também dadas pela objetividade da realidade social, o que significa dizer que as sociedades

estabelecem formas específicas de configuração dos sujeitos (NERY, 2007). Pode-se observar

que Foucault vai também estabelecer a relação de interdependência presente entre o sujeito e a

própria estrutura da sociedade. As estruturas sociais então, são constituintes dos sujeitos, na

medida em que é através dela que se criam visões de homem e de mundo, que dirigirão as

condutas, as formas de agir na sociedade, por parte de indivíduos e grupos. .

A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO

Segundo Nery (2007), tentar clarificar a problemática da constituição do sujeito, que é

determinada por realidades sociais específicas, por contextos sócio-históricos específicos, vai

se constituir em toda linha argumentativa de nosso autor de referência em toda a sua

diversidade. Afirma Nery:

Foucault, parte da verificação das diferentes formas de objetivação do sujeito como formas de investigação, interpretação e análise: objetivação do sujeito vivente – o sujeito produtivo, biológico, econômico, do discurso; objetivação do sujeito dividido de si mesmo e perante os outros – objetivação que transforma o sujeito em objeto passível de ser dividido e, as formas pelas quais o ser humano é transformado em sujeito – o ser humano torna-se sujeito. A constituição do sujeito moderno, a constituição do indivíduo, são explicados por Foucault a partir dos modos de objetivação e modos de subjetivação do indivíduo. Caros alunos, este deve ser um aspecto que deve ficar bem claro no âmbito da análise de Foucault. Foucault, nos permite perceber que - a objetividade da coexistência social, origina a constituição de uma subjetividade, de uma concepção do sujeito, a qual é sempre contextualizada(NERY, 2007,p:70)

Podemos verificar que Foucault, parte do sujeito concreto, do sujeito contido em uma

realidade, em uma estrutura que sofre os efeitos desta mesma estrutura, estrutura esta que é

constitutiva de subjetividades. É de sujeitos inseridos num universo mais amplo de que vai nos

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falar Foucault. Há em nosso autor de referência a relação de determinação da realidade objetiva

sobre a realidade subjetiva. Afirma Nery, que: “[...]a objetividade da coexistência social

origina a constituição de uma subjetividade, de uma concepção do sujeito, a qual marca dado

período histórico e, chegando ao nosso período histórico, encontramos o produtor, o

consumidor de bens materiais e simbólicos, que na objetividade da realidade social, não é

mais sujeito, na concepção plena da palavra, mas objeto,receptáculo das múltiplas

determinações presente em nossas sociedades disciplinares(NERY, 2005, p.5)”.É no contexto

das sociedades disciplinares que o sujeito encontra-se submetido às estruturas sociais, políticas,

econômicas e culturais. Neste sentido podemos dizer que enquanto submetidos às estruturas

somos efetivamente produto destas mesmas estruturas que se impõem sobre nós. Foucault, não

vai deixar muito espaço para o império da vontade individual, esta encontra-se submersa nas

estruturas, se assim podemos dizer.

PODER E RESISTÊNCIA

Pensarmos o poder e a resistência em Foucault, é pensarmos de forma dialética, no

sentido de que todo o sistema origina em si mesmo sua força contrária. Todas as formas de

poder denunciadas por Foucault, envolvem elementos de resistência. O poder em Foucault deve

ser concebido enquanto uma estratégia, pois é sempre um exercício, é sempre instauração de

uma tensão, de um confronto sempre existente entre poder e resistência.(Nery, 2005). Este é um

campo significativo da abordagem de Foucault, na medida em que objetiva mostrar que as

formas de poder encontram-se contidas em todos os setores de nossas vidas, tendo inclusive se

constituído em nossa realidade vivenciada o que Foucault, denomina de “tecnologia geral do

indivíduo”, manifesta em nossa contemporaneidade por formas particulares de controle do

corpo, que é sistemático e também silencioso, o que podemos também denominar de controle

disciplinar.

Afirma Nery:

Todo poder, na concepção de Foucault, gera o que poderíamos dizer de sua força contrária, ou seja, formas de resistência. Esta resistência não mais no sentido macro mas no sentido micro, ou seja, resistências que se fazem no centro da realidade cotidiana de indivíduos e grupos. Para que fique claro, devemos pensar em termos de micro-revoluções que fazemos em nossa realidade cotidiana. O poder como planejamento de uma ação envolve alguns elementos significativos: é sempre formador de um contra-poder; é sempre contido por formas específicas de resistência; é, sempre uma relação de força. E, sendo assim é multiplicação permanente de utilização de forças, ou seja, é sempre difuso, se espalha por variados espaços da existência cotidiana de indivíduos e grupos. Forma-se, portanto, na produção do pensamentos, no âmbito dos discursos, nas atitudes, nas idéias, nas palavras e nos atos, ou seja, o poder constitui um campo de micro-poderes(Nery,2005,p.5).

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O aspecto fundamental que nos aponta Nery, é justamente a constituição no contexto da

estrutura social de micro-poderes, que perpassam toda a realidade cotidiana de indivíduos e

grupos, ao mesmo tempo estes micro-poderes que se fazem inclusive no âmbito dos discursos,

podem ser também fontes de resistências, mas salientamos que em Foucault, as estruturas de

poder que submetem aos indivíduos é fonte geradora de subjetividades, subjetividades estas

que, portanto, são construídas historicamente. Como podemos pensar as instituições escolares

tendo como referência Foucault?

O conceito de dispositivo, presente na concepção de Foucault é significativo para

respondermos à questão proposta. O fundamental dispositivo é denominado por Foucault de

“poder-saber”, na medida em que este envolve uma racionalidade interna de produção, envolve

uma lógica de procedimentos. É pelo dispositivo que as determinações sociais encontram-se

como que naturalizadas. É significativo o entendimento do dispositivo enquanto uma forma de

poder que subjuga e sujeita, na medida em que também é uma prática que estabelece rupturas e

que pode fazer surgir formas de luta que se encontram contra o processo de dominação que

pode se instaurar (Nery, 2005). Se pensarmos a instituição escolar, encontramos nela poderes

disciplinares e o dispositivo “poder-saber”, como que formando mentes e controlando os

corpos, naturalizando as contradições presentes no contexto social, ao mesmo tempo ela

também poderá ser um espaço de resistência, porque o poder é relacional e as subjetividades são

constituídas nesta relação, em espaço sócio-histórico específico.

ANTHONY GIDDENS(1938- ) e a educação

O britânico Anthony Giddens é um dos sociólogos mais produtivos da atualidade. Suas

obras envolvem as abordagens de campos mais diversificados, construindo uma teoria

sociológica específica alicerçada no conceito de reflexividade, na medida em que a realidade

nos atinge, mas ao mesmo tempo em que isto ocorre manifesta-se em nos formas específicas de

elaboração desta mesma realidade e, desta forma sempre somos capazes de criar algo de novo,

uma terceira via que nos permite circular adequadamente nos espaços sociais. Em Giddens, são

significativos os aspectos de estrutura social e sistema social, sua teoria envolve a dualidade

entre ação – e estrutura, dualidade esta significativa no contexto da sociologia hoje. Neste

sentido a estrutura é internalizada pelos atores sociais e são de certa forma exteriorizadas em

suas subjetividades por estes mesmos atores sociais

TEORIA DA ESTRUTURAÇÃO

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Giddens vai romper com a concepção polarizada entre objetivismo e subjetivismo,

trabalhando com estes elementos em uma relação de interdependência, embora existam entre

eles uma tensão de caráter reflexivo no plano social. Apresenta uma concepção da vida social de

caráter descontinuísta e a concepção reflexiva da denominada regularidade social. Neste sentido

pode-se verificar que em Giddens a concepção de estrutura, encontra-se diretamente vinculada

ao conceito de ação, ou seja, estrutura e ação possuem em nosso autor de referência uma relação

de interdependência, repetimos. Cabe salientar que ação e estrutura, no contexto da sociologia

contemporânea de hoje, são as duas chaves analíticas mais significativas ( Nery, 2007). Afima

Nery:

É processual a noção de estrutura em Giddens, dizendo estas respeito às práticas que são padronizadas e são recorrentes no agir de indivíduos e/ou grupos, situadas no tempo e no espaço. Considerando este aspecto pode-se observar que os indivíduos vivem e se organizam através de processos que são dinâmicos no campo da interação social, mas ao mesmo tempo, também constatam-se a presença de limites à autonomia de ação dos indivíduos, os quais acabam por estabelecer o que se denomina de regularidade da conduta. A conduta dos indivíduos não seria, portanto, nem mecânica, nem aleatória, pois existe o elemento que conduz à padronização no tempo e no espaço, ao mesmo tempo, também, não é rígida, pois existe um espaço “permitido” de autonomia nas ações (NERY, 2007, p.68).

Em Giddens, encontramos espaço para uma autonomia do indivíduo, na medida em que

ele é capaz de elaborar a realidade que o cerca e agir, no campo da interação social. Mas esta

autonomia na possui um caráter total, ela é de certa forma, se assim podemos dizer também

limitada pela regularidade da conduta que se encontra estabelecida no processo de interação,

mas o que é fundamental perceber é que a padronização dos comportamentos e condutas de

indivíduos e grupos não se faz de forma rígida, na medida em que existe um espaço que

estabelece o que “é permitido”, no contexto da estrutura social. Afirma Nery: Neste sentido a

concepção de estrutura encontra-se sempre falando-nos de uma duplicidade, no sentido de que

levam à viabilidade da ação e ao mesmo tempo limitam esta mesma ação(NERY, 2007, p.68).

Toda a concepção de Giddens, no contexto da teoria da estruturação nos permite

verificar a ausência da rigidez no que diz respeito às padronizações sociais. As padronizações

sociais possuem um caráter dinâmico, no tempo e no espaço, na medida em que não nos

encontramos distanciados de nossa realidade social envolvente. Nosso autor de referência na

medida em que articula teoria da ação e processos de reprodução social, desarticula o conceito

de estrutura, na medida em que distinguindo, de um lado, o estrutural enquanto o conjunto de

regras e de recursos organizados de maneira recursiva e, de outro lado os próprios sistemas

sociais, ou seja, o conjuntos estruturais, que podem ser entendidos enquanto relações entre os

atores sociais ou coletividades reproduzidas e organizadas como práticas sociais dotadas de

regularidade ( NERY, 2007).

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Para Giddens a tecnologia da informação está sendo integrada aos processos

educacionais. Este não é um campo isento de preocupações, na medida em que aqueles que não

estiverem familiarizados com o próprio uso do computador, ou que não tiverem acesso a eles,

possam sofrer as conseqüências de uma forma de pobreza informacional. Este é um aspecto

importante, na medida em que se sabe que nem todos tem acesso às tecnologias da informação.

Outro aspecto importante que considera Giddens, é o processo de privatização do ensino

na medida em que cada vez mais empresas privadas estão se incorporando à administração das

atividades educacionais. As instituições escolares estão sendo foco de interesses comerciais na

atualidade, o que pode fazer com que os pressupostos básicos do processo educativo possa ser

redefinido.

Para Giddens, a forma com que estão organizadas as escolas e o próprio sistema de

ensino tendem a manter as desigualdades de gênero. Ainda se mantém regras que tendem a

especificar o espaço do masculino e o espaço do feminino no contexto das instituições

escolares, bem como ainda se trabalham com textos que veiculam idéias estabelecidas acerca de

gênero. Embora haja ainda a presença destes elementos há no que concerne ao desempenho

escolar uma maior eficiência das meninas com relação aos meninos. O fracasso escolar parece

estar associado aos indivíduos do sexo masculino, na medida em que também problemas de

ordem social são determinantes destes aspectos, problemas sociais maiores como o crime, o

desemprego e a própria ausência de uma figura paterna atuante.

As novas tecnologias, para nosso autor de referência e a economia do conhecimento,

como ele assim denomina, estão a modificar a forma como compreendemos a educação e o

próprio ensino escolar: de certa forma a educação formal parece estar cedendo lugar à noção de

aprendizado que se estende por toda a vida ( Giddens, 2005). Ao longo da vida, os indivíduos e

grupos parecem ter mais oportunidades de se desenvolverem em atividades que envolvam o

aprendizado e o treinamento fora dos espaços tradicionais das salas de aula ( Giddens, 2005).

Este é um aspecto importante, pois no contexto da atualidade a escola não é mais a única fonte

de transmissão de conhecimento, de saberes, no contexto das sociedades contemporâneas, outras

fontes estão sendo experenciadas por indivíduos e grupos.

PONTO FINAL

Caros alunos, neste capítulo vimos alguns autores contemporâneos que na dimensão de

suas teorias nos permitem inclusive pensarmos o contexto do espaço educacional. Na

contemporaneidade das concepções sociológicas, pensarmos a educação envolve também entrar

84

em contato com as novas teorias que nos fazem aprofundar em elementos analíticos nossa

própria forma de ver a educação hoje. Os autores que vimos nos permitem então, a partir da

dimensão de suas teorias podermos ter o que chamamos de chaves analíticas que nos levam a

repensar a educação em nossa realidade. Os autores mencionados nos demonstram novas

dimensões de análise que não podem deixar de fazer parte integrante de uma concepção

sociológica contemporânea de educação. Sem compreendermos os autores mencionados e os

fundamentos de suas teorias dentro dos seus aspectos básicos, que obedecem aos limites do

presente livro, não podemos avançar em nossas análise e forma de ver a educação inserida no

contexto social envolvente.

QUESTÕES DE AUTO-ESTUDO

1)-A sociologia de Norbert Elias, é considerada por muitos como uma sociologia:

a-( )processual

b-( )funcional

c-( )estrutural

d-( )nenhuma das alternativas anteriores

2)-O habitus em Norbert Elias, se constitui enquanto uma:

a-( )estrutura

b-( )um processo social dentro da estrutura

c-( )uma segunda natureza

d-( )nenhuma das alternativas anteriores

3)-O conceito de habitus em Bourdieu representa:

a-( )uma reciprocidade entre o mundo objetivo da estrutura social e o mundo subjetivo da

individualidade

b-( )uma segunda natureza

c-( )uma estrutura

d-( )nenhuma das alternativas anteriores

4)-Em Bourdieu:

a-( )objetividade e individualismo encontram-se interdependentes

b-( )objetividade e estrutura são interdependentes

c-( )objetividade e subjetividade são interdependentes

d-( )nenhuma das alternativas anteriores

85

5)-Em Foucault é de fundamental importância o estudo:

a-( )das relações de poder presentes na realidade cotidiana

b-( )das relações de poder somente presentes na estrutura

c-( )das relações de poder somente presentes na esfera social

d-( )nenhuma das alternativas é correta

6-)-Para Giddens, como estão organizadas as escolas e o sistema de ensino, tendem a:

a-( )manter a desigualdade de gênero

b-( )manter a transformação da estrutura

c-( )manter as relações de classe

d-( )nenhuma das alternativas anteriores.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO

O emprego das novas tecnologias no contexto da educação, no contexto da realidade

brasileira estão a efetivamente democratizar o processo educativo?

ATIVIDADE

Caro aluno, como atividade, sugerimos fazer um quadro comparativo de cada um dos

autores citados, trabalhando fundamentalmente com a concepção de indivíduo e sociedade em

cada um dos autores. Procure fazer este quadro comparativo, considerando o item, repetimos, -

relação indivíduo e sociedade. Para que você mesmo possa construir um eficiente instrumento

de estudo, na medida em que com este quadro você possa ter claros os aspectos distintivos de

cada um dos autores por nós mencionados.

DICAS DE ESTUDO

Como dica de estudo, sugerimos a leitura do livro de Norbert Elias – A Sociedade dos

Indivíduos. É uma obra importante para que você possa ter clara a relação de interdependência

entre estrutura social e estrutura de personalidade. É uma obra significativa que nos permite

desenvolver uma concepção mais aprofundada da própria relação indivíduo e sociedade.

BIBLIOGRAFIA

86

BRANDÃO, Carlos da Fonseca. (2006). A Sociologia Figuracional de Norbert Elias. In:

Sociologia e Educação – leituras e interpretações. São Paulo. Avercamp Editora.

BUSETTO, Áureo (2006). A Sociologia de Pierre Bourdieu e sua análise sobre a escola. In:

Sociologia e Educação – leituras e interpretações. São Paulo. Avercamp Editora.

ELIAS, Norbert. (1995). A Sociedade dos Indivíduos. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editores.

GIDDENS, Anthony. (2005) Sociologia. São Paulo. Artmed.

NERY, M.C.R. (2007). Sociologia Contemporânea. Curitiba. Iesde Editora.

.

87

A EDUCAÇÃO NO BRASIL

Neste momento de nossos estudos, entendemos que convém um olhar sobre a educação

em nossa sociedade. Discutimos durante todos os capítulos do presente material vários aspectos

que fazem parte da sociologia e da sociologia da educação. Convém agora refletirmos sobre a

educação em nossa realidade. Caber salientar que no contexto do presente século, a educação

figura como um significativo componente de crescimento econômico. Segundo Meksenas

(2005), se faz necessário pensar também a educação como fator de diminuição das

desigualdades sociais tão presentes e agudas em nossa sociedade.

Os problemas brasileiros no que tange a educação são muitos, mas o que se apresenta de

forma mais aguda é sem sombra de dúvidas o fracasso escolar. No contexto da sociedade da

informação, onde recursos tecnológicos estão sendo cada vez mais usados, em nossa sociedade

ainda deparamos com o fantasma do fracasso escolar. Podemos até mesmo dizer que estamos

diante de um problema social de ordem estrutural, na medida em que esse mesmo fracasso

escolar reproduz todo um processo de desigualdade social presente em nossa realidade. Até

mesmo podemos dizer que é reflexo da aguda desigualdade social presente em nosso país.

Este fracasso escolar deve ser pensado e refletido sociologicamente, a Sociologia da

Educação pode dar sua contribuição. Pensar sociologicamente o fracasso escolar nos remete

para a estrutura familiar, neste sentido, nos remete para o próprio capital cultural familiar. Há

sim um contribuinte familiar para o fracasso escolar, neste sentido o capital cultural familiar de

alguma forma tem força determinante na forma como os pais irão perceber a educação de seus

filhos. Ao mesmo tempo o capital cultural familiar encontra-se em estreita relação com as

condições materiais de existência das famílias e, aqui encontramos outro determinante, o

determinante da desigualdade social presente em nossa realidade, como dissemos anteriormente.

Segundo Meksenas(2005), 93% das crianças ricas concluem seus estudos fundamentais

e seguem posteriormente em seus estudos, enquanto que 63% das crianças das classes

trabalhadoras o conseguem e nem sempre seguem em seus estudos. Ora, este fato assinalado por

Oliveira, demonstra claramente a marca da desigualdade social, que se lembramos Bourdieu a

escola irá reproduzir, pois reproduz o que se encontra presente na estrutura envolvente. Os

filhos dos trabalhadores no contexto da sociedade brasileira, muito cedo deixam seus estudos

para integrarem-se no mercado de trabalho, foi também por esta razão que em nossa sociedade

foram criados os denominados ensinos supletivos, para atender às necessidades dos segmentos

sociais subalternos da população, já que os segmentos dominantes desta forma de ensino, não

tinham e não tem necessidade.

88

Seguindo-se a lógica de Bourdieu ele vai nos demonstrar e alertar para o fato de ser a

escola uma das estratégias de manutenção do status social ou de ascensão social. O

investimento feito pelas famílias na escolarização de seus filhos, encontra-se diretamente

relacionado às condições de possibilidade que os fazem perceber a escola enquanto forte

instrumento de mobilidade social. Pode-se perceber então, que para as classes sociais a escola o

próprio papel da escola não se restringe somente à transmissão de conhecimentos, mas contribui

para a manutenção de um dado status social. Não nos esqueçamos que o capital cultural familiar

está diretamente relacionado com a condição de classe e, se nos encontramos em uma sociedade

marcadamente desigual e excludente o capital cultural familiar no que concerne aos

investimentos na educação dos filhos obedecerá a essa mesma determinação de classe. Neste

sentido, seguindo-se Bourdieu, podemos perceber que na escola encontramos o domínio da

reprodução social e a legitimação das desigualdades sociais. Este é um aspecto pelo qual

podemos pensar e refletir sociologicamente os ín dices apresentados por Meksenas(2005).

Outro aspecto significativo, encontra-se relacionado com a própria instituição do

Estado. Como são os investimentos do Estado brasileiro no campo da Educação? Não são os

índices ainda adequados às necessidades da maioria da população. O Brasil ainda é um dos

países que menos investe em educação, considerando-se ainda outros países latino-americanos.

No contexto da atualidade as escolas públicas não estão tendo adequados investimentos

funcionando em condições precárias. Se associamos educação à desenvolvimento, podemos

verificar que nos investimentos feitos para a educação no Brasil ainda estamos carecendo de

melhor aproveitamento dos recursos produzidos socialmente, ainda estamos carecendo de

políticas públicas que priorizem o universo educacional e que permitam o acesso à instituição

escolar por parte de considerável contingente da população brasileira.

Os problemas da desigualdade social refletem-se no contexto da sala de aula. Pode-se

perceber que segundo Oliveira(2005), encontramos uma inadequação entre a escola e o seu

aluno, especialmente o aluno que é mais carente principalmente economicamente. Afirma

Oliveira: “Com base em pesquisas e estudos realizados recentemente, sabemos que muitos dos

fracassos dependem do preparo das crianças.As crianças culturalmente marginalizadas, que

provêm de lares economicamente desfavorecidos, nascem e crescem em ambientes que não lhes

proporcionam a estimulação e o treinamento que seriam necessários para seu bom

desenvolvimento social e intelectual( Oliveira, 2005, p.125). Nos dizeres de Oliveira podemos

depreender que a ausência de condições materiais de existência sofrida pelas famílias dos

segmentos subalternos da sociedade brasileira, não permite e isto é natural e quase óbvio a

construção de um significativo capital cultura, na medida em que fundamentalmente não

permite um significativo capital econômico.

89

Outro aspecto importante, diz respeito à mobilidade social. Há na sociedade brasileira

uma prática discursiva que atribui também à escola, ao ensino formal, portanto, papel

significativo no que concerne à mobilidade social. O que estamos vendo em nossa realidade?

Que a educação no contexto da mobilidade social e no contexto da própria neutralização das

desigualdades sociais não está a cumprir com estes objetivos. Afirma Oliveira: “O efeito direto

da educação sobre a mobilidade social e os ganhos é muito baixo. A origem social de classe,

isto é, a classe social de onde as crianças provêm, é uma variável que explica com bastante

clareza a trajetória educacional e ocupacional das pessoas (Oliveira, 2005, p.127). Não há

como termos dúvidas quanto a este aspecto assinalado por Oliveira. Para que tenhamos uma boa

educação e o fim do fracasso escolar, os investimentos na melhoria da condição de vida da

população devem ser mais substanciais por parte do Estado, na medida em que o rendimento

escolar e a própria concepção da importância dos estudos encontra-se diretamente relacionado

com as condições materiais de existência ( Oliveira, 2006).

No contexto de uma sociedade marcadamente excludente como a nossa, as

determinações da estrutura sócio-econômica da população, são fatores contribuintes para um

certo grau de declínio da educação no Brasil, notadamente no ensino fundamental, basicamente

pelas razões que colocamos acima, mas também porque parece não haver vontade política de

melhorar substancialmente o sistema educacional brasileiro, fato contraditório no contexto de

um mundo globalizado em que a qualificação é fundamental. Neste sentido, podemos perguntar:

como teremos profissionais devidamente qualificados no contexto da sociedade se o ensino

fundamental não é atendido em suas necessidades mais básicas pelo Estado?

No contexto da realidade brasileira persiste ainda o analfabetismo. Notadamente ele

demonstra uma situação de atraso bem como marginaliza considerável contingente da

população. No que tange ao analfabetismo temos a ele ainda acrescido o denominado

analfabetismo funcional que se caracteriza pelo fato de uma pessoa não possuir os recursos

mínimos para operar um computador e seus programas básicos(Demeterco, 2007),

principalmente quando verificamos que a maioria da população brasileira não tem condições

materiais para adquirir seu computador. Pensarmos a educação no Brasil hoje, é pensarmos,

refletirmos de forma crítica sobre determinantes claros de nossa realidade social envolvente.

Demeterco (2007), assinala para mais um outro problema que temos presente em nossa

realidade, quando aponta para o preconceito que é vivenciado dentro da escola enquanto um

problema da Educação brasileira, na medida em que assume graves proporções na realidade

vivendiada por milhões de alunos que são segregados em função de sua condição racial, social

ou educacional. A escola de certa forma como anteriormente dissemos, reproduz o que se

90

encontra presente no contexto da sociedade, no contexto da estrutura social. Há preconceitos

fortes em nossa sociedade com relação à pobreza, parece que temos no imaginário coletivo uma

associação entre miséria e criminalidade. Este tipo de preconceito perpassa as paredes das salas

de aula. Da mesma forma, podemos falar do preconceito racial, que é presente no Brasil de

forma sub-reptícia, que é velado, mas se manifesta em muitas formas de expressões, piadas com

relação aos negros, inferiorização dos negros, etc., em suma não vivemos uma democracia

racial, na medida em que segundo Demeterco(2007), este fato se expressa fundamentalmente

nos indicadores sociais do país, notadamente àqueles que dizem respeito à educação e à

remuneração salarial. Há também profundas diferenças de gênero principalmente no que à

remuneração pelo trabalho. São fatores, repetimos, que também perpassam as paredes das salas

de aula.

Estamos novamente no palco da desigualdade social, que também diz respeito à

Educação. As conseqüências da desigualdade social, pelo que estamos vendo são enormes.

Afirma Meksenasw(2005): “As conseqüências dizem respeito a modelos de vida, nos quais a

maior parte da população trabalhadora perdeu o direito de sonhar e de projetar uma vida

digna. A ausência de perspectivas econômicas, políticas, sociais e culturais produz o aumento

brutal da violência e do desrespeito às leis(MEKSENAS, 2005, p. 131). Meksenas, alerta para o

que se pode produzir no contexto da desigualdade social. Salienta o autor para o fato de que a

desigualdade social não se constitui enquanto sinônimo de pobreza, ela é sim sinônimo de

concentração de renda, isto é, de produzirmos riqueza sem a devida distribuição desta. Afirma

Meksenas: “Assim, o combate à desigualdade social requer que os governantes de um país

tenham a coragem de priorizar as políticas públicas de redistribuição da riqueza acumulada (

MEKSENAS, 2005, P. 132). A distribuição de renda, faz-se com a priorização de políticas

públicas que envolvam educação, saúde, alimentação, habitação, lazer, transporte etc., conforme

consta em nossa Constituição Federal.

Meksenas(2005), alerta para outro aspecto da educação no Brasil, fruto da desigualdade

social: No Brasil uma criança leva em média 9 anos para concluir a 6ª série do ensino

fundamental, parte das crianças repetem três anos em seu ensino fundamental até concluir a 6ª

série. O que este fato salientado por Meksenas indica? Uma forte presença da desigualdade no

contexto da educação. Mekisenas(2005), alerta para o fato da presença da desigualdade no

campo educacional brasileiro.

Gostaríamos no âmbito do capítulo final, que envolve a Educação no Brasil, poder falar

de progressos, mas a realidade objetiva, que constitui nossas subjetividades, não nos permite.

Vivemos em uma sociedade marcadamente desigual e excludente. Desigualdade e exclusão

91

estas que se encontram presentes nos processos educativos e nos investimentos Estatais para a

educação. É grave a realidade educacional brasileira em todos os níveis, do ensino fundamental

ao ensino superior e, a sociologia da educação, por ser sociologia deve analisar criticamente a

realidade social envolvente, sob pena até mesmo de não ser uma sociologia.

Pensar a educação no Brasil hoje, é pensarmos diretamente na desigualdade social que

faz parte da estrutura de nossa sociedade. Andamos muito pouco para a frente, no que concerne

a educação. Uma questão fundamental fica para nossa reflexão: pode a educação superar as

desigualdades sociais? Pelo que vimos no contexto da sociedade brasileira, há um problema

mais premente a ser atacado que é o problema de uma estrutura social desigual que remete seus

tentáculos à todos os outros campos da sociedade, educacional, cultural, social e econômico.

Pensemos a este respeito. Pensemos.

PONTO FINAL

Caros alunos, neste capitulo de nosso livro buscamos trabalhar especificamente com a

educação em nossa realidade nacional, procurando detectar mais problemas do que esperanças,

pois se não pensamos, refletimos acerca de todos os problemas que envolvem o campo

educacional brasileiro certamente ficam encurtadas as possibilidades de transformá-lo. São

inúmeros os problemas relacionados com a educação em nosso país, mas o que mais chama a

atenção é justamente a ausência de políticas educacionais que efetivamente gerem a

democratização do ensino, demonstrando a ausência da relação que em nossa realidade existe

entre desenvolvimento econômico e processo educacional. É importante refletirmos sobre estes

aspectos, na medida em que a realidade somente começa a se transformar na medida em que se

torna realidade pensada, realidade refletida.

QUESTÕES DE AUTO-ESTUDO

1)-São inúmeros os problemas no que tange à educação no contexto da realidade brasileira, mas

o que deve ser salientado é:

a)-( )o fracasso escolar

b- ( )o desenvolvimento econômico

c- ( )o desenvolvimento social

d- ( )nenhuma das alternativas anteriores

2)-Os problemas oriundos da desigualdade social, no que concerne à educação, conforme nosso

texto:

92

a-( )refletem-se na estrutura do estado

b-( )reflete-se na sala de aula

c-( )reflete-se no corpo administrativo das escolas

d-( )nenhuma das alternativas é a correta

3)-Há duas formas de analfabetismo no contexto de nossa realidade nacional:

a-( )analfabetismo estrutural e analfabetismo social

b-( )analfabetismo e analfabetismo funcional

c-( )analfabetismo funcional e analfabetismo social

d-( )nenhuma das alternativas é a correta

4)-A escola:

a-( )reproduz o que está presente na sociedade envolvente

b-( )reproduz o que está presente nas relações subjetivas de poder

c-( )reproduz o que está presente na superestrutura social,

d-( )nenhuma das alternativas anteriores

5)-Meksenas, alerta para o que se pode produzir na escola, com relação à

a-( )desigualdade social

b-( )igualdade social

c-( )igualdade de gênero

d-( )nenhuma das alternativas anteriores

6)-Paulo Meksenas, com relação à desigualdade social não a concebe como sinônimo de

pobreza, mas sim como sinônimo de:

a-( )de concentração de renda

b-( )de concentração de capital social

c-( )de concentração de capital cultural

d-( )nenhuma das alternativas anteriores.

TEXTO COMPLEMENTAR

Nas sociedades que transformam o sucesso e o êxito econômico em valores supremos, o

status social dos que são afastados provisória ou definitivamente do mercado de trabalho, ou

que exercem uma atividade intermediária situada entre o emprego permanente e o desemprego,

só pode ser desvalorizado.

93

Os indivíduos que se vêem confrontados com essa situação humilhante podem,

evidentemente, atribuir à sociedade a responsabilidade na preservação das desigualdades e das

injustiças, ou aos efeitos da crise econômica no desenvolvimento de novas formas de pobreza, e

assim elaborar auto-justificativas e racionalizações quanto ao auxílio e à intervenção que

recebem.

A idéia de uma causalidade econômica e social pode de fato levar aqueles que ocupam

os últimos degraus da hierarquia social a provar ao seu meio que eles não são individualmente

responsáveis por sua condição social. Essa explicação é todavia incapaz de recuperar

inteiramente sua dignidade e protegê-los do processo dos profissionais da ação social e de todos

os que associam a preguiça e a má vontade à pobreza.

É por essa razão que os indivíduos atendidos pelos serviços sociais, quando falam de si

mesmos, sentem necessidade de lembrar o caso dos “falsos pobres”, ou seja, das pessoas que

não fazem nenhum esforço para procurar um emprego e que se aproveitam da assistência. O

medo de serem comparados a “essa gente”, que, ao menos em parte, pode-se dizer que é

responsável por sua situação, e a necessidade de se distanciarem dessas pessoas são sinais da

interiorização de uma identidade negativa que marca profundamente as relações com o

outro.(texto de Serge Paugam, de seu livro Desqualificação Social, ensaio sobre a nova pobreza,

2003, p. 281).

QUESTÃO PARA REFLEXÃO

A desigualdade social presente no contexto de nossa sociedade leva à profundas formas

de desqualificação de indivíduos e grupos. Como o Estado brasileiro poderia minimizar as

profundas conseqüências da desigualdade social para significativo contingente populacional da

sociedade brasileira?

ATIVIDADE

Caro aluno, como atividade deixamos para vocês a tentativa da resposta à seguinte

questão: pode a educação superar as desigualdades sociais? Tente respondê-la considerando o

que se encontra neste material instrucional. Consulte autores aqui abordados. É um bom

exercício de reflexão, na medida em que a realidade precisa mais de perguntas adequadas que

levem sempre a respostas adequadas.

94

DICAS DE ESTUDO

Como dica de estudo, deixo para vocês a indicação do livro Desqualificação Social,

ensaio sobre a nova pobreza. De Serge Paugam, publicado no ano de 2003.

BIBLIOGRAFIA.

DEMETERCO, Solange Menezes da Silva (2007). Sociologia da Educação. Curitiba. Editora

Iesde.

MEKSENAS, Paulo (2005). Sociologia da Educação. Introdução ao estudo da escola no

processo de transformação social. São Paulo. Edições Loyola.

OLIVEIRA, Pérsio Santos de(2005).Introdução à Sociologia da Educação. São Paulo. Editora

Ática.

95

SER PROFESSOR

Caros alunos, este é um capítulo de nosso livro diferente, porque ele se traduz enquanto

uma reflexão. Reflexão que devemos fazer sobre o nosso futuro ou presente “fazer”, ou seja, ele

propõe uma reflexão acerca de ser professor. O que é ser professor no contexto de uma

realidade social, política, econômica e cultural como a nossa realidade brasileira? O que é ser

professor num contexto em que pelo emprego de novas tecnologias a própria escola está se

tornando uma empresa ou microempresa? Cremos que devemos pensar a este respeito.

Certamente não temos respostas prontas, talvez tenhamos mais perguntas do que respostas, mas

as perguntas adequadas à realidade se traduzem enquanto conhecimento mais eficaz acerca da

realidade que queremos compreender, que queremos enfim questionar. Georges Gudsdorf,

afirma o seguinte: “O teórico considera a educação como um trabalho em larga escala; o

professor sabe, por experiência, que essa perspectiva técnica e industrial não passa de uma

longínqua aproximação do fenômeno. A realidade fundamental continua sendo esse diálogo

aventuroso, durante o qual dois homens de maturidade desigual confrontam-se, mas onde cada

um a seu modo, dá testemunho perante outro das possibilidades humanas (GUDSDORF, 1987,

p.26)”. As palavras de nosso autor referido são lapidares quando buscamos pensar o “ser

professor.

Para pensarmos o “ser professor” o próprio Gudsdorf, escreve uma obra em que aborda

a duas questões fundamentais: professor para que?

Professor para quem? Estas são duas questões de caráter fundamental, na medida em que nos

faz refletir de forma mais essencial sobre nossa prática, sobre o nosso ato de ser professor. Para

que somos professores? Para garantirmos nossa sobrevivência? No contexto da realidade

brasileira a situação do professor não é muito privilegiada, então este tipo de resposta a esta

pergunta, não nos permite chegarmos a abrangência do que ela efetivamente representa. Ela nos

exige maior profundidade, de certa forma nos exige estarmos na frente do espelho de nós

mesmos e nos perguntarmos: professor para que?

No contexto de nossa realidade como é a situação dos professores? Andando de escola

em escola para exercer o seu ofício e também, e porque não dizer garantir sua sobrevivência. Há

muito que ser professor no contexto de nossa realidade deixou de ser um sinal de certo status

diante da estrutura social. Hoje o professor é um trabalhador como outro qualquer, apenas é um

trabalhador que lida com elementos da produção de conhecimento e com elementos que

permitem a formação intelectual e porque não dizer moral de outro ser humano. Há uma forma

96

de nomear o professor hoje por alguns sindicatos vinculados à classe dos professores – o

operário da educação.

Somos operários sim, porque estamos sempre construindo, construindo recursos para

que nossos alunos tenham a posse de um saber e possam se manejar de forma mais livre e

coerente no contexto de suas realidades sociais vivenciadas. Operários porque estamos sempre

construindo novas formas nos processos de ensino-aprendizagem que possibilitem aos nossos

alunos a compreensão do mundo e nesta mesma compreensão a capacidade de relacionar

conhecimentos, de relacionar estrutura social e sujeito social. Operários porque estamos

buscando construir sujeitos que estão no mundo em interação, trocando sentidos, trocando

significados e construindo o que nós denominamos de universo social, que terá influência sobre

nossa constituição.

Operários, porque trabalhamos com o sentido único da construção, a construção na qual

estamos operando é nosso próprio aluno. Este ser em formação que necessita de nosso auxilio e

de nossa mão firme para lhe dizer a diretriz, o caminho a seguir , com toda a segurança, sem a

sombra da dúvida em nossas almas, mas da permanência da dúvida metódica que produz a

ciência. Afirma Gudsdorf: “Toda aprendizagem de um saber é uma evocação do ser. O aluno,

aquele que não sabe, e no entanto, o sujeito e o objeto de uma vocação para o saber, que é

também um apelo do ser. O desenvolvimento intelectual é a contrapartida, talvez o reverso,

talvez a expressão ou o símbolo de uma odisséia da consciência pessoal. Cada homem é assim,

o herói de seu próprio romance de formação, cujas peripécias situam-se entre afirmações-

limite, idênticas para todos e que se impõem, sem discussão ao consenso

universal(GUDSDORF, 1987, p. 19)”. Professor para que? Para que possamos auxiliar na

construção de sujeitos, de seres capazes de transformar o mundo, compreendendo suas

fragilidades, compreendendo a fragilidade e as múltiplas determinações da estrutura social,

sujeitos que sabem que é coletivamente que se transforma a realidade, na medida em que:

SONHO QUE SE SONHA SÓ, É SÓ UM SONHO QUE SE SONHA SÓ. SONHO QUE SE

SONHA JUNTO, É REALIDADE, como nos diz Raul Seixas.

Num mundo em que vivemos tão individualista, determinado pelos ditames do eu, no

contexto de uma sociedade narcisista e egocêntrica esta frase de nosso músico brasileiro, tem

muito significado. E nós professores, enquanto operários, temos sobre nós a incumbência de

levar a que nossos alunos percebem a própria significação do coletivo no contexto de uma

sociedade globalizada, egóica e marcadamente excludente.

Professores para quem?

97

Esta é a outra questão de fundamental importância. A quem nós destinaremos todo

nosso trabalho, toda nossa busca? Quem efetivamente no contexto de nossa realidade desigual

necessita de nosso poder-saber? A chamada elite dominante no contexto das sociedades

desiguais, tem seus próprios intelectuais, tem seus próprios professores, se assim podemos

dizer. Quem acompanhará os segmentos subalternos da população brasileira? Quem a eles se

vinculará, no sentido de aos poucos ser o elementos facilitador para as suas descobertas

enquanto sujeitos capazes de modificar toda uma estrutura? Quem com eles trabalhará as

questões dos processos sociais, onde temos a efetiva relação de interdependência entre estrutura

social e sujeito? A resposta depende de uma profunda análise de nosso efetivo papel social no

contexto de nossa sociedade. Não é nunca uma resposta pronta, acabada, é sempre uma resposta

em construção.

A pedagogia crítica, tão machucada no contexto de nossa sociedade necessitaria que

respondêssemos a esta questão da forma mais honesta e fiel que possamos responder.

Você já se perguntou neste sentido? A quem efetivamente você destinará todo o seu saber?

Paulo Freire, vai inclusive nos falar em uma pedagogia da autonomia, uma pedagogia onde

teríamos então sujeitos capazes de não serem ambivalentes e em sentido sociológico, traduzirem

adequadamente toda a sua realidade social vivenciada.

Você já pensou nas dimensões de uma pedagogia da autonomia no contexto de nossa

realidade? Você já pensou nos embates que você poderá travar na medida em que sua

concepção de sujeito norteia toda a preparação de suas aulas, todas as palavras que você escreve

no quadro, todas as suas indicações de leitura. Toda a temática do trabalho em grupo que você

solicita?

Ser professor, no contexto de uma realidade social como a nossa, uma dura realidade,

envolve questionar-se acerca do desempenho de seu trabalho e acerca da própria realidade

social vivenciada. Ser professor, exige ser um observador do espírito humano ao mesmo tempo

em que exige ser um questionador. Ser professor, envolve saber que a realidade é infinita e que

nossa capacidade humana de compreende-la é finita. São importantes novamente as palavras de

Gudsdorf, quando aponta que:

Existem grandes e pequenos espíritos. Sem dúvida, a educação pode, de certo modo, alargar e desenvolver o espaço mental, apoiando-se nas possibilidades naturais. Mas deve levar em conta, de início, a envergadura própria de cada um, que consagra diferenças intrínsecas, como também limites impossíveis de serem transpostos. A experiência do professor, adquirida através da prática e da sagacidade, é, na verdade, esse dom de discernimento dos espíritos que, ao pressentir as possibilidades de cada um, propõe-lhes fins ao seu alcance, assim como os meios de alcança-los, através da utilização das suas capacidades(GUDSDORF, 1987,p.20)”

98

Gudsdorf, está a nos demonstrar que ser professor é lidar com a própria descoberta de

capacidades, capacidades humanas também infinitas. Questionar-se: professor para que? E

professor para quem?, envolve estarmos comprometidos até mesmo com um projeto de

sociedade, um projeto de sociedade que prioriza, repetimos a construção de sujeitos, de atores

sociais aptos na capacidade de compreensão do real.

Uma nova pergunta, aos moldes de Hegel, deve ser feita: É a idéia que faz o real ou o

real que faz a idéia? Parece uma pergunta um tanto boba, mas ser professor sabendo para quem

destinará sua prática, envolve responde-la de forma mais crítica. Ora, é o real que faz a idéia.

Na prática discursiva que vivenciamos no contexto de nossa sociedade individualista,

certamente a resposta viria em seu sentido contrário, mas a realidade não é assim. Lidamos com

seres de carne e osso, que necessitam sobreviver e ter condições materiais de existência para

enfrentar as contradições presentes em sua realidade. A idéia não faz o real, porque são sempre

necessárias condições de possibilidade para que a idéia se realize e todos nós professores

comprometidos com nossa prática sabemos disso, é preciso ter-se condições de plausibilidade,

condições de possibilidade para que tenhamos idéia sobre as coisas, idéias sobre os outros.

Ser professor hoje, fatalmente não é fácil e nem pode sê-lo. É um constante desafio à nossa

postura em nosso estar no mundo. Voltemos para as questões iniciais; Professor para que? E,

professor para quem? Pense em respondê-las. E, novamente recorremos a Gudsdorf, para que

possamos compreender a dimensão da educação para o denominado espírito humano, afirma

nosso autor de referência:

Cada homem tem uma história, ou ainda, cada homem é uma história. Cada vida se apresenta como uma linha de vida. O ensino seria um aspecto do período ascendente dessa história: assinala o crescimento mental, intrinsecamente ligado ao crescimento orgânico. Sua função é permitir uma tomada de consciência pessoal no ajustamento do indivíduo com o mundo e com os outros. Vemos, aqui, que o sistema escolar não se basta; as lições do professor compõem-se com outras influências, impossíveis de enumerar, na mesma obra de aperfeiçoamento progressivo e aleatório. A formação de um homem, se for exatamente compreendida como a vinda ao mundo de uma personalidade, como o estabelecimento dessa personalidade no mundo e na humanidade, torna-se um fenômeno de uma amplitude cósmica(GUDSDORF, 1987, p.13)

Importante o que nos aponta Gudsdorf, ser professor, ter como fonte de seu trabalho

toda uma descoberta das múltiplas dimensões do humano é encontrar sim “um fenômeno de

uma amplitude cósmica”. Isto é importante, na medida em que nos deparamos também, com a

99

dimensão da nossa própria responsabilidade social que envolve nosso ato de ensinar. Pensemos

a respeito destes aspectos.

TEXTO COMPLEMENTAR

(...)Não cabe dúvida de que o cérebro necessita do abraço para seu desenvolvimento, e

as mais importantes estruturas cognitivas dependem deste alimento afetivo para alcançar um

nível adequado de competência. Não devemos esquecer, como Leontiev destacou há bastantes

anos, que o cérebro é um autêntico órgão social, necessitando de estímulos ambientais para seu

desenvolvimento. Sem aconchego afetivo o cérebro não pode alcançar seus ápices mais

elevados na aventura do conhecimento.

Se o cérebro é o órgão social por excelência, é preciso reconhecer que os sentidos se

constroem a partir da vivência cultural, em permanente interação com o meio ambiente e a

linguagem. A cultura nada mais é do que um grande dispositivo para acondicionar cérebros e,

por isso, não é de forma alguma acidental que se prefira uma determinada mediação perceptual

sobre as outras, dependendo dos interesses predominantes de poder. É isto que a sociedade

ocidental faz ao favorecer a percepção visual-auditiva acima da percepção táctil.

Encher a vida cotidiana de ternura exige uma inversão sensorial que vai desde a

vivência perceptual mais próxima até a desarticulação de complexos códigos que nos indicam

corredores preestabelecidos de semantização do mundo. É necessária uma inversão sensorial

para ressignificar a vida diária, para aceder, como nos grandes ritos iniciáticos, a uma alteração

do estado de consciência que nos obrigue a deslocar as fronteiras dentro das quais foi

aprisionado nosso sistema de conhecimento(RESTREPO, Luis Carlos apud ASSMANN, Hugo.

2001, p.31)

PONTO FINAL

Caro aluno, neste capítulo não teremos nosso costumeiro ponto final, na medida em que

todo o capitulo pode ser entendido como ponto final, na medida em que ele mesmo é conclusivo

e busca chamar para uma reflexão mais ampla acerca do ser professor.

QUESTÕES DE AUTO-ESTUDO

100

Neste capítulo, por sua estrutura e por seu objetivo de ser uma chamada à reflexão, não

cabem caros alunos, questões de auto-estudo, o capítulo em sua íntegra propõe-se a ser uma

questão ampla de auto-estudo.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO

Todo o capítulo se constitui numa questão para reflexão. E, isto é importante que você

caro aluno considere. Cada um lerá o capítulo com todas as suas dimensões, com ele dialogará e

elaborará por certo sua própria reflexão.

ATIVIDADE

Leia atentamente ao texto complementar colocado no capítulo, para que você possa

refletir sobre mais uma dimensão que abrange o nosso “ser professor”.

DICA DE ESTUDO

Como dica de estudo deixo a indicação da leitura do livro Professores Para Que? Para

uma Pedagogia da Pedagogia de George Gudsdorf, publicado em 1987 pela editora Martins

Fontes. É um livro importante que trabalha com questões importantes no campo da pedagogia.

BIBLIOGRAFIA

ASSMANN, Hugo. (2001) Reencantar a Educação. Rumo à sociedade aprendente.

Petrópolis. Editora Vozes.

GUDSDORF, Georges. (1987)Professores para que? Para uma pedagogia da pedagogia.

São Paulo. Martins Fontes.

101

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na confecção de nosso livro texto, procuramos envolver elementos que permitam uma

compreensão mais globalizante da realidade. Certamente são inúmeros os livros de Sociologia

da Educação que encontramos e que foram publicados. Procuramos seguir alguns pressupostos

que consideramos importantes, sendo que o mais significativo diz respeito a trabalhar com

elementos que permitam ao aluno estabelecer uma visão da realidade individual e coletiva mais

ampla e mais questionadora, permitindo que ele possa aos poucos em sua compreensão da

realidade pelos instrumentos que dispõe investigar, interpretar e analisar de forma mais

abrangente o real.

Procuramos trabalhar dos clássicos aos autores contemporâneos, na medida em que suas

teorias fundamentalmente contribuem para que se possa pensar a educação e, aqui salientamos

não que tenham sido estabelecidas especificamente teorias acerca da educação, mas teorias que

nos permitem pensar a educação enquanto chaves analíticas que podemos dispor para abranger

o universo educacional adequadamente em suas múltiplas dimensões.

Buscamos também trabalhar alguns elementos que mais levassem à reflexão do que

propriamente um trabalho com elementos fechados das teorias. Não que a teoria não esteja

presente, mas buscamos trabalhar de certa forma para além das teorias, dando as mãos aos

questionamentos que sempre se fazem necessários quando trabalhamos com a Sociologia da

Educação, na medida em que esta não pode ser considerada de forma fechada e

compartimentarizada, pois é múltipla e possui várias faces, permitindo que possamos ver a

educação nas mais diferentes faces sem que esta visualização careça de aprofundamentos.

A sociologia da educação, área do conhecimento nova, nos permite aplicando a

sociologia e principalmente a sociologia em sua dimensão critica, pensar a educação em sua

multiplicidade e em sua especificidade enquanto contida no contexto de uma estrutura social,

pois a educação encontra-se em estreita relação com os determinantes de uma estrutura social,

na medida em que podemos dizer que: conforme é a sociedade assim estará configurada a

educação. Pensar no campo da Sociologia da Educação é pensar a educação em sua dupla face,

estruturante e estruturada, compondo a formação de indivíduos e grupos no contexto das

realidades sociais.

102

GABARITO POR CAPITULO DAS QUESTÕES DE AUTO-

ESTUDO.

Capitulo 1

1-A

2-B

3-C

4-B

5-C

6-A

CAPITULO 2

1-A

2-A

3-B

4-A

5-C

6-A

CAPITULO 3

1-A

2-B

3-A

4-A

4-A

6-A

CAPÍTULO 4

1-A

2-B

103

3-A

4-A

5-B

6-A

CAPITULO 5

1-A

2-B

3-C

4-A

5-C

6-A

CAPITULO 6

1-A

2-B

3-A

4-B

5-C

6-A

CAPITULO 7

1-A

2-B

3-B

4-B

5-A

6-A

104

CAPITULO 8

1-A

2-C

3-A

4-C

5-A

6-A

CAPITULO 9

1-A

2-B

3-B

4-A

5-A

6-A

105

INTRODUÇÃO

Caros alunos, neste nosso livro trabalharemos inicialmente com os elementos que

denotam a especificidade da Sociologia da Educação, ao mesmo tempo em que veremos a

educação enquanto processo socializador e também a educação enquanto processo de controle

social. Num segundo momento trabalharemos os principais pressupostos dos clássicos da

sociologia, dos autores como Marx, Durkheim e Weber e em que aspectos suas concepções nos

permitem compreender a educação enquanto fenômeno social estruturante e estruturado.

Num novo momento deste trabalho, abordaremos as formas com que temos em nossa

sociedade os elementos da concepção conservadora da educação no contexto de nossa realidade

social, no sentido de trabalharmos com três formas de pedagogia – a pedagogia tradicional, a

pedagogia nova e a pedagogia tecnicista, que são formas conservadoras com que a educação se

manifesta no contexto de nossos bancos escolares. Após trabalhamos com os elementos da

tendência progressista da educação ao mesmo tempo em que trabalhamos as determinações da

estrutura social sobre a mesma educação. Este é um aspecto importante, na medida em que a

própria tendência progressista da educação envolve a consideração da estrutura social

abrangente para que se possa partir para pensar a educação no contexto notadamente da

sociedade brasileira.

Num outro momento deste trabalho, buscamos trabalhar com as instituições sociais e a

educação, apresentando-se aqui os meios de comunicação de massa também enquanto

instituição social, na medida em que se constituem enquanto um poder estruturante de forte

influência no campo educacional e as instituições sociais como a família, a instituição religiosa,

o Estado e a educação. No próximo capítulo procuramos trabalhar com elementos da

globalização e sua relação com a educação, sem deixarmos de considerar os processos de

desenvolvimento econômico e a sua influência no contexto da educação, em nossa abordagem

da relação entre mudança social e a educação.

Trabalhamos também com uma abordagem acerca da educação contemporânea,

centralizando a análise nos aspectos sociológicos da educação contemporânea, abrangendo

conceitos chaves como o conceito de estrutura, de sujeito, de processos sociais e da relação

entre o poder e o processo educativo, que envolvem sempre toda e qualquer análise sociológica

que se queira crítica da realidade social vivenciada por indivíduos e grupos. Logo trabalhamos

com teorias contemporâneas que contribuem para pensar-se a educação, para tanto abordamos

autores como Norbert Elias, Pierre Bourdieu, Michel Foucault e Anthony Giddens, no que estes

106

autores geraram “luz” para que possamos pensar também a educação no contexto das

sociedades complexas, globalizadas e marcadamente excludentes.

Trabalhamos também aspectos da educação no Brasil. Buscamos neste capítulo uma

reflexão acerca de alguns elementos fundamentais da educação no contexto da realidade

brasileira atual, como por exemplo o analfabetismo funcional e estrutural e, por último,

propomos uma reflexão acerca do ser professor. Este é um capítulo diferencial dos demais, pois

ele é uma proposta, mais do que todo um trabalho com teorias e práticas acerca da educação.

Nossa intenção foi justamente fomentar a reflexão, a reflexão sempre necessária acerca de ser

professor no contexto de uma realidade social principalmente como a nossa realidade social

brasileira. O último capítulo então e uma proposta, nada mais que isto, uma proposta para se

pensar o ser professor e o que efetivamente isto significa.